Rodrigo barbosa

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Universidade Presbiteriana Mackenzie 1 AS IMPLICAÇÕES ÉTICAS DO PROBLEMA DA LIBERDADE EXISTENCIALISTA EM SARTRE Rodrigo Barboza dos Santos (IC) e Graciela Deri de Codina (Orientador) Apoio: PIBIC CNPq Resumo O presente artigo tem como finalidade a exposição da liberdade e suas implicações éticas, de acordo com o existencialismo do filósofo francês Jean-Paul Sartre. Tal problemática é importante por discutir o problema das escolhas para o gênero humano, sendo elas fáceis ou difíceis. Quanto maior for o grau de dificuldade da escolha, mais livre se torna o homem, pois este só pode ser livre se existir algo que lhe sirva de barreira para atingir suas finalidades. Portanto, sendo o homem livre, precisa escolher o melhor sempre, pois todas as suas ações trazem consigo consequências. Por meio de leituras sistemáticas das obras de Sartre, percebemos que várias de suas questões éticas estão presentes na sociedade pós-moderna. O homem estando livre e podendo escolher o mundo em que vive, é responsável pelo que escolhe, pois este mundo é consequência de suas ações. Palavras-chave: existência, liberdade, ética Abstract This article aims to exposure of freedom and its ethical implications, according to the existentialism of the French philosopher Jean-Paul Sartre. This issue is important for mankind to show that there will always be choices, and they are easy or difficult. The greater the degree of difficulty of the choice becomes more free the man, because this can only be free if there is something that will serve as a barrier to achieving its goals. Therefore, since man is free to choose the best forever, for all his actions bring consequences. Through systematic readings of the works of Sartre, we realize that many of his ethical issues are present in postmodern society. The man being free and being able to choose the world you live in, is responsible for what they experience, because this world is a consequence of their actions. Key-words: existence, freedom, ethics

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Em parceria com a Professora Helena Abascal, publicamos os relatórios das pesquisas realizados por alunos da fau-Mackenzie, bolsistas PIBIC e PIVIC. O Projeto ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA difunde trabalhos e os modos de produção científica no Mackenzie, visando fortalecer a cultura da pesquisa acadêmica. Assim é justo parabenizar os professores e colegas envolvidos e permitir que mais alunos vejam o que já se produziu e as muitas portas que ainda estão adiante no mundo da ciência, para os alunos da Arquitetura - mostrando que ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA.

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AS IMPLICAÇÕES ÉTICAS DO PROBLEMA DA LIBERDADE EXISTENCIALISTA EM SARTRE

Rodrigo Barboza dos Santos (IC) e Graciela Deri de Codina (Orientador)

Apoio: PIBIC CNPq

Resumo

O presente artigo tem como finalidade a exposição da liberdade e suas implicações éticas, de acordo com o existencialismo do filósofo francês Jean-Paul Sartre. Tal problemática é importante por discutir o problema das escolhas para o gênero humano, sendo elas fáceis ou difíceis. Quanto maior for o grau de dificuldade da escolha, mais livre se torna o homem, pois este só pode ser livre se existir algo que lhe sirva de barreira para atingir suas finalidades. Portanto, sendo o homem livre, precisa escolher o melhor sempre, pois todas as suas ações trazem consigo consequências. Por meio de leituras sistemáticas das obras de Sartre, percebemos que várias de suas questões éticas estão presentes na sociedade pós-moderna. O homem estando livre e podendo escolher o mundo em que vive, é responsável pelo que escolhe, pois este mundo é consequência de suas ações.

Palavras-chave: existência, liberdade, ética

Abstract

This article aims to exposure of freedom and its ethical implications, according to the existentialism of the French philosopher Jean-Paul Sartre. This issue is important for mankind to show that there will always be choices, and they are easy or difficult. The greater the degree of difficulty of the choice becomes more free the man, because this can only be free if there is something that will serve as a barrier to achieving its goals. Therefore, since man is free to choose the best forever, for all his actions bring consequences. Through systematic readings of the works of Sartre, we realize that many of his ethical issues are present in postmodern society. The man being free and being able to choose the world you live in, is responsible for what they experience, because this world is a consequence of their actions.

Key-words: existence, freedom, ethics

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Introdução

Seria difícil expor a filosofia de Jean-Paul Sartre, filósofo francês, sem ao menos fazer uma

breve referência ao contexto em que seu pensamento foi forjado. Sartre foi diretamente

influenciado pelo método fenomenológico de Edmund Husserl e o existencialismo de Sören

Kierkegaard e Martin Heidegger.

Sartre nasceu em 1905 e faleceu em 1980, portanto foi contemporâneo da Segunda Guerra

Mundial, que eclodiu em 1939 e acabou em 1945. Neste período, a França foi invadida e

ocupada pelos nazistas. Cerca de 55 milhões de pessoas morreram nessa guerra, enquanto

35 milhões de pessoas ficaram feridas.

A economia alemã passava por uma grave crise financeira, pois havia perdido a Primeira

Guerra Mundial, que ocorreu anos antes. Adolf Hitler, político alemão, estimulou o

sentimento de revolta na nação alemã, conquistou o poder e fortaleceu o Estado Nazista.

Aquelas pessoas tidas como “indesejáveis” 1, como os judeus, ciganos, homossexuais e

comunistas (Sartre recebeu a acusação de ser comunista) eram levados para campos de

concentração, onde eram humilhados, torturados e exterminados. A linha de frente dos

soldados nazistas, aqueles que eram considerados da tropa de elite, era a SS, que era

formada a partir da sigla alemã Schutzstaffel, que significa escudo de proteção2. O maior

dos campos de concentração era Auschwitz, na Polônia, onde se estima que morreram

cerca de quatro milhões de pessoas. Esse contexto é importante para tornar inteligíveis as

motivações de Sartre. Conforme se tornou evidente, Sartre viveu em um período histórico

marcado pela intolerância política e racial. Aparentemente, qualquer tentativa de demonstrar

que o ser humano é livre é facilmente refutada. Como alguém poderia lutar por um ideal

comunista se isso implicaria na sua morte? Os caminhos da liberdade parecem estar

obstruídos. Mas será que essa proposição é verdadeira? Sartre diria que não, pois segundo

sua tese, nada tira a liberdade do homem. Isso ficará mais claro durante a exposição que se

seguirá no decorrer desse trabalho.

Sartre, filosofo francês contemporâneo da Segunda Guerra Mundial, foi levado como preso

político ao campo de concentração pelos nazistas alemães. Por meio de sua perseverança e

fé em si próprio, Sartre corajosamente conseguiu fugir do campo de concentração. Essa

talvez tenha sido a sua maior motivação para acreditar na liberdade, pois mesmo com a

situação sendo adversa, ele conseguiu atingir seu objetivo, realizar seu projeto. Mas o que

1 Cf. o termo utilizado por Gilberto Cotrim no livro História Global: Brasil e Geral. 2 Idem.

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seria a liberdade sem as situações adversas? A resposta dessa pergunta será mostrada em

breve.

Sartre buscava uma filosofia do cotidiano. Numa conversa com seu amigo Raymond Aron,

conheceu o método fenomenológico de Husserl3. O método em questão é uma ciência de

essências. Ou seja, analisava o fenômeno não apenas “como aparece ou se manifesta ao

homem em condições particulares, mas aquilo que aparece ou se manifesta em si mesmo,

como é em si, na sua essência (ABBAGNANO, 2007. P. 511)”. Com isso, Sartre, descobriu

uma filosofia que combinava com sua vontade, pois seu desejo era falar sobre as coisas

como elas são cotidianamente, sem o auxílio da metafísica.

Conviveu com Camus e Merleau-Ponty. Era muito amigo de Albert Camus, mas

divergências políticas levaram ambos a se tornarem inimigos. Enquanto Camus criticava o

marxismo, Sartre defendia as ideias socialistas. Junto a Maurice Merleau-Ponty, Sartre

fundou a revista Les Temps Moderns (Tempos Modernos), na qual publicavam artigos de

cunho filosófico e político.

Sartre, além de escrever obras filosóficas, escreveu também literatura, romances e peças.

Segundo o autor, suas novelas, em especial A náusea e Entre quatro paredes, eram

destinadas àqueles que não conseguiam entender a complexidade de O ser e o nada,

considerada por muitos estudiosos como sua obra principal.

Um soldado que serve sua pátria numa guerra pode se considerar inocente, mesmo levando

a holocausto vários seres humanos? Sartre diria que ele não é, de forma alguma, inocente.

O centro da filosofia sartreana é a liberdade. Segundo o autor em questão, tudo o que é

vivido e presenciado está diretamente ligado à liberdade. A liberdade faz parte do universo

humano. Na realidade, o universo humano é a própria liberdade. O homem pode escolher

qualquer coisa, só não pode se abster de realizar uma escolha. Se um soldado faz parte da

ofensiva de uma guerra, ele o faz de acordo com sua livre escolha. Poder-se-ia argumentar

que a pátria possa ter convocado este soldado contra sua vontade. Mas será este um bom

motivo para isentá-lo de uma possível escolha quanto servir sua pátria numa guerra? Essa

investigação é coerente. Se o soldado foi convocado, aparentemente seu destino está

traçado e não existem escolhas. No entanto, quando a investigação está num nível mais

profundo, percebe-se claramente que essa tese pode ser facilmente refutada. O convocado

para servir na guerra pode decidir não se apresentar ao batalhão e se tornar um desertor.

Pode também se suicidar. Nada impede que ele não se apresente ao batalhão a fim de

guerrear por sua pátria. Cabe a ele escolher uma das várias possibilidades de seu

desenvolvimento futuro. Independentemente de sua escolha, existirão consequências. Se

3 Cf. a introdução do livro Existência e liberdade, do filósofo Paulo Perdigão.

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for para a guerra, a consequência é a morte de várias pessoas e, possivelmente, até a sua.

Se escolher não se apresentar ao batalhão, corre o risco de ser preso ou de ser visto como

um traidor. Se ele opta pelo suicídio, coloca um ponto final em sua vida.

O senso comum ou até mesmo correntes filosóficas tomam o homem como um conjunto de

determinismos dados a priori. Dizem que o futuro está estabelecido por alguma entidade,

seja Deus ou a natureza. Sartre discorda dessa tese. Segundo Sartre, o homem é livre e

nada determina sua ação. O que existe são as circunstâncias em que o homem está

inserido, o que, segundo veremos adiante, afirma a liberdade. Sartre trabalha com a

hipótese da não existência de Deus. Sendo assim, o homem não está dado a priori. E

mesmo que houvesse um Deus, esse Deus teria dado ao homem livre-arbítrio, o que

tornaria o homem responsável por suas ações. Portanto, o homem se encontra livre num

mundo que resiste à sua liberdade e lhe impõe obstáculos. Dado o problema, se faz

necessário explicar ontologicamente o homem, pois isso tornará possível e clara a

discussão aqui pretendida.

Referencial teórico

Antes de poder refletir a respeito do Ser em suas diversas formas de manifestação, Sartre

percebeu que era necessário abordar o Ser de maneira ontológica, pois esse Ser ainda lhe

era algo obscuro. Tomou para si o método fenomenológico de Edmund Husserl, que aborda

o Ser sem utilizar as questões metafísicas.

Em primeiro lugar, como será demonstrado através de sua obra O Ser e o Nada, contestou

a teoria de Aristóteles sobre o Ser ser potência. Isso, segundo Sartre, apenas coloca em

dúvida a capacidade de conhecer do Ser. Ora, não existe uma essência obscura por detrás

do fenômeno. Os fenômenos se mostram sem colocar nenhum obstáculo no percurso.

Portanto, já que não há uma essência oculta e o Ser é o que é, ele só pode existir em ato.

Contudo, o Ser do fenômeno não se esgota em apenas uma aparição. O Ser se revela na

série de aparições inerentes a ele. O Ser é o que é e não há motivos para ele ser

exatamente dessa maneira ou de outra. Sua existência é contingente.

O homem, este Ser complexo, não é somente um corpo. Ele é também consciência.

Quando alguém se coloca com os olhos muito próximos de um quadro, esse quadro passa a

ser algo ilegível. O mesmo ocorre com a consciência: para ela ser consciente de algo, deve

recuar perante seu objeto para torna-lo legível. A consciência, estando inserida no Ser e no

mundo, deve se distanciar do seu Ser para ser consciente dele. A consciência é separada

do Ser pelo Nada. Esse Nada não é ausência, como um simples espaço vazio, ele é pura

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negatividade. Quando a consciência recua diante do Ser, ela injeta negatividade nele. Isso

torna possível a existência dos juízos. Questiona-se o motivo das coisas serem como são,

não de outra maneira. A consciência é algo sempre inacabado, pois sempre lhe falta algo.

Caso ela fosse a manifestação da completude, ela seria uma coisa dada e incapaz de levar

a efeito o movimento negativo.

Assim sendo, o homem, formado pelo Ser e pela consciência, busca sempre a sua

completude. Busca a sua plena realização. Sartre recorre à Fenomenologia do Espírito,

retomando o que Hegel dizia. Segundo Hegel, o Absoluto se rompe e dá origem a duas

instâncias aparentemente diferentes, mas ontologicamente idênticas: o sujeito e o objeto. A

História daria conta de reconciliar essas suas instâncias, trazendo novamente a completude

do Absoluto. O sujeito, semelhante à consciência, e o objeto, semelhante ao Ser,

aparentemente são duas coisas diferentes, mas estão intimamente ligados. Quando a

consciência se reconcilia com o Ser, quando a totalidade se completa, então o homem

passa a ser algo acabado. Esse acabamento, que é o objetivo da consciência,

representaria, como um irônico paradoxo, o fim da existência do Ser, a sua morte. A

consciência tenta preencher o ser com aquilo que a ela falta. A sede, por exemplo, significa

a ausência de água por determinado tempo. A consciência ultrapassa o dado, que é a sede,

e visa à totalidade de seu ato, que é a sede saciada. Assim feito, retorna para o dado e

causa o desejo de beber. O desejo, portanto, representa uma falta. Ninguém deseja aquilo

que não lhe falta. A consciência não existe sem seu Ser, sem um objeto. Ela se dirige ao

objeto com intencionalidade. Quem ama, por exemplo, ama alguma coisa.

Outro fator importante para a compreensão do problema apresentado é a temporalidade,

que está intimamente ligada à consciência. Ela tem o caráter de permanência-mudança.

Com o passar do tempo, embora existam mudanças, há sempre algo que permanece. Esse

conceito é uma retomada ao conceito alemão Alfhebung, utilizado por Hegel. A História não

é uma sucessão de períodos desconexos. Os fatos históricos estão interligados. Embora

haja mudança, a realização da liberdade hegeliana, algo permanece. A permanência do

passado é imanente ao Ser. É possível escolher o futuro, mas o passado está petrificado e

sempre permanecerá intimamente ligado ao Ser. No caso da temporalidade sartreana, é

imprescindível a relação entre passado, presente e futuro, que torna possível a sucessão

lógica dos instantes. Esses instantes trazem consigo uma falta. O presente sempre é uma

falta do futuro e o futuro sempre é uma falta do passado. A temporalidade traz consigo e

negatividade. O passado não é mais, o futuro não é ainda e o presente é um inexistente

limite entre passado e futuro. O movimento da temporalidade existe somente na

consciência, pois o Ser desconhece esse movimento. A consciência foge do passado rumo

ao futuro. Ficar no passado representaria sua petrificação, sua morte. A consciência nadifica

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o passado, mas não se livra completamente dele, pois ele sempre permanece. O passado é

como um peso que o Ser não pode deixar de carregar, mas não determina, efetivamente, o

futuro. O futuro é um conjunto de possíveis formas de desenvolvimento. Querer algo no

presente não significa a sua obtenção no futuro. Isso acontece dessa maneira por causa da

liberdade intrínseca ao homem e ao seu projeto.

A liberdade

Ainda em O Ser e o Nada, Sartre afirmou que o homem é regido pelo princípio de liberdade.

A liberdade é o poder escolher entre possíveis. Quando se escolhe uma possibilidade, se

exclui as outras. As possibilidades não podem ser totalmente realizadas, pois isso

significaria a perda da escolha, pois tudo iria se realizar. Seria absurdo conceber uma

liberdade onde todos os possíveis se realizassem, pois a liberdade é a autonomia em

escolher uma entre várias possibilidades de desenvolvimento. No entanto, a liberdade exige

algo que a contrarie. Se não houver resistência do mundo, não há liberdade. A liberdade

não faria sentido algum se o homem não precisasse fazer escolhas. Se a finalidade fosse

alcançada apenas com o pensar, não haveria diferença entre a realidade e a imaginação.

Portanto, a ação humana proporciona a liberdade.

É importante, também, perceber as diferenças entre a liberdade existencialista e a liberdade

definida pelo senso comum. Em primeiro lugar, o senso comum acredita que só é possível

ser livre quando nada age sobre o ser. Ora, essa definição é em si mesma um grande

equívoco, pois a liberdade exige a ação. O que caracteriza a liberdade humana é o poder

agir frente à opressão que se manifesta no mundo.

Sartre afirmava categoricamente que a essência humana não era um dado a priori. Era algo

construído a partir da existência. Recusava a hipótese de um Deus criador ou de uma

natureza prévia. Estando no mundo, o homem construiria sua essência. Se não existe um

Deus, então também não existem valores já determinados. Sendo assim, os valores devem

ser sempre inventados pelo sujeito da ação. Isso caracteriza mais uma forma de

manifestação da liberdade humana.

Os deterministas costumavam confundir liberdade com vontade. Diziam eles que a liberdade

só existe quando há o uso da vontade. Afirmavam que o ambiente e o período histórico em

que o ser foi forjado determinavam as ações desse sujeito.

Em toda e qualquer modalidade de escolha, a consciência coloca um fim a ser alcançado.

Isso acontece na vontade, onde a consciência determina o fim a ser alcançado, seja ele a

obtenção de determinada objeto, a conquista de determinada honra ou qualquer outro fim.

Se for assim, as emoções também não tiram a liberdade do homem. Na emoção, a

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consciência elege uma finalidade. Poder-se-iam argumentar que não é possível resistir às

emoções, como por exemplo, o medo. Mais uma vez, o que se tem é uma falácia. Um

sujeito poderia argumentar que o medo de algo lhe tira a liberdade. Mas o que na realidade

está acontecendo é o fato desse sujeito não refletir a respeito desse medo. As emoções são

utilizadas pelo sujeito com a finalidade de fugir da realidade que lhe escapa, pois esta não é

determinada por nada e está sendo construída em um movimento ininterrupto.

As ações do homem no mundo são movidas pelas motivações. Um sujeito tenta se perceber

de determinado jeito no futuro e retorna ao presente com a finalidade de realizar esse futuro.

As decisões tomadas atribuem sentido aos motivos. O sujeito age de tal forma para

possibilitar o pleno desenvolvimento de seu ideal.

Quanto ao mundo, é evidente que ele resiste à liberdade. Querer algo não significa

necessariamente obter esse algo. Essa resistência é vista como o grande elemento que

obstrui a realização da liberdade. Contudo, Sartre prova o contrário. O lugar do nascimento

não tira a liberdade, pois ele nada é em si mesmo. Ele só é algo, ou mesmo um obstáculo,

porque assim é percebido pela consciência e determinado pelo projeto. Um lugar só é longe

se há o desejo de alcançá-lo, caso contrário, nada representaria. Aquilo que é percebido,

embora esteja geometricamente mais distante, está mais perto do que aquilo que

ignoramos, mesmo estando geometricamente mais perto. O mesmo se aplica aos objetos

que cercam o sujeito. Eles se tornam obstáculos somente quando a consciência assim o

define. Uma montanha é um obstáculo para quem quer escalá-la. A mesma montanha é

objeto de admiração e beleza por alguém que não tenha tal pretensão. Outro fator que não

tira a liberdade humana, mesmo que alguns digam o contrário, é o passado. O passado é

imutável, mas não determina o futuro. Querer algo no passado não implica,

necessariamente, querer esse algo no presente ou no futuro.

Quanto aos outros, a situação muda um pouco. Nesse caso, o que se tem é várias

subjetividades, e não objetos petrificados. Cada uma dessas subjetividades traz consigo

alguns valores. Esses valores não são impostos, cabendo a cada um escolher se aceita ou

não esses valores. Se um sujeito é chamado de covarde, ele realmente se torna covarde se

aceitar esse valor. Caso contrário, esse atributo resultaria em falácia. Ao contrário do que

possa parecer, a morte não tira a liberdade. Quando a morte chega, já não há liberdade

para ser limitada, pois a consciência já não existe mais. Portanto, somos forçados a

acreditar que nada tira a liberdade humana. A liberdade encontra no mundo limites que ela

mesma coloca. Sendo assim, é totalmente correto afirmar que se pode escolher qualquer

coisa, menos deixar de escolher. Mesmo quando o homem decide cruzar os braços e não

fazer nada, ele já está realizando uma escolha. O homem está condenado a ser livre.

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Condenado porque foi lançado ao mundo independentemente de sua vontade e livre porque

sempre deve escolher.

Esse imanente liberdade traz consigo dois tipos de angústia. A angústia temporal mostra

que um sujeito não pode apoiar suas decisões nem em si mesmo, pois o passado não

determina o presente e nem o presente determina o futuro, enquanto os possíveis

escolhidos sempre estão em risco de mudar, pois o futuro não é dominado.

O segundo tipo de angústia, a ética, é de profunda importância para a realização deste

trabalho. Os valores são criados constantemente e o homem é forçado a escolher uma

conduta a cada momento. A angústia se dá pelo fato do homem não ter onde se apoiar, já

que não existem valores pré-determinados. O certo e o errado são intencionados pela

consciência de cada pessoa e não há nada que indique como deve ser uma ação. Assim

sendo, nenhum valor é gratuito, pois atende a certa coerência interna de cada projeto. O

arrependimento, por exemplo, não representa a escolha de um valor equivocado, e sim a

mudança de um projeto, que neste momento optou por um valor diferente daquele em que

havia optado no passado. Já que não existem valores definidos a priori, somos levados a

acreditar que os responsáveis por nossos atos e pela significação do mundo somos nós

mesmos, pois quando escolhemos algo para nós, automaticamente estamos escolhendo

algo por todo o mundo. Quando escolho, escolho por toda a humanidade. Contudo, não é

tão simples assim. Alguém que mata nem sempre gostaria de ver outros matando. Logo,

essa escolha nem sempre é consciente. E se todos matassem iguais a mim? Como seria o

mundo? Provavelmente seria um caos. Isso torna necessário que pensemos o que

aconteceria se todos agissem como eu. Precisamos escolher o que fazer com a liberdade

que se manifesta na vida de todos.

Há aqueles que tentam dissimular a angústia pra tentar escapar das responsabilidades

implicadas pela liberdade. Culpam Deus, a natureza, os pais ou quaisquer outros elementos.

Dizem que o ser humano é um dado acabado e imutável. Por exemplo, o covarde não pode

mudar sua essência, pois sempre será covarde. Portam-se como objetos e não percebem

que o ser humano está em constante mutação. Outros aceitam valores impostos sem ao

menos refletir sobre eles. Sartre discorda totalmente dessas ideias. Para ele, o herói se faz

herói e o covarde se faz covarde. Além do covarde se fazer covarde, ele é inteiramente

responsável por sua covardia, pois poderia mudar seus atos e, consequentemente, deixar

de seu um covarde. Portanto, a escolha não pode ser realizada de qualquer jeito. Cada um

dos homens deve escolher o melhor, pois sua escolha contempla toda a humanidade.

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Método

Foi utilizado um método qualitativo, de leitura e interpretação de textos filosóficos, com

fichamentos e anotações, que serão importantes para a elaboração do artigo. Após o

levantamento das questões éticas no artigo “O existencialismo é um humanismo”,

desenvolvemos uma leitura sistemática de trechos de “O ser e o nada” direcionados às

questões levantadas na nossa introdução, ou seja, à relação entre a liberdade e suas

implicações no agir ético.

Paulo Perdigão (1995) retoma e organiza sistematicamente a teoria existencialista de Jean-

Paul Sartre, na qual este afirma que o homem está condenado a ser livre, podendo escolher

qualquer coisa, menos deixar de escolher. Afirma isso pois rejeita a hipótese de um Deus

criador ou de natureza humana. Por outro lado, Gerd Bohrnheim (1997) aprofundou mais

nas teorias existencialistas, contemplando com exatidão as problemáticas existentes na

filosofia de Sartre.

Resultados e Discussão

Sartre era um filósofo engajado em questões políticas e sociais. Uma de suas discussões

básicas era a liberdade e suas consequências éticas. É exatamente a respeito da liberdade

que esse trabalho se dará.

Para definir o que é a liberdade e como ela se relaciona com as questões éticas, é

necessário, antes de tudo, compreender o pensamento existencialista de Sartre. O

existencialismo, fundado pelo filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard, é uma corrente

filosófica que foi duramente atacada durante o século XX. Segundo o texto de Sartre O

existencialismo é um humanismo, os comunistas acusavam o existencialismo de ser uma

doutrina que levava as pessoas a um profundo desespero, por tornar a ação humana

impossível. Sartre, ao contrário do que diziam os comunistas, afirmava que o

existencialismo torna a ação e a vida humana possível. O existencialismo parte sempre da

subjetividade humana, ou seja, da consciência individual do sujeito. E essa subjetividade foi

também criticada pelos marxistas, que afirmam que, com ela, o homem vive isolado em si

mesmo, esquecendo o que é a solidariedade. Esses críticos esquecem o pensamento

intersubjetivo de Sartre.

Outros críticos também acusam o existencialismo de evidenciar a desonra humana e

desconsiderar o lado luminoso da vida. Muitos até se assustam com os romances

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existencialistas. Mas o que assusta essas pessoas é o otimismo do existencialismo, pois

sempre deixa escolhas aos homens. O que agrada os críticos são leituras de doutrinas que

tornam o sujeito resignado e sem escolhas, tendo como máxima o fato do indivíduo não

dever fazer nada que ultrapasse seus limites. Já os cristãos acusam o existencialismo de

negar Deus e seus valores morais, tornando a vida e a ação gratuitas. Assim sendo, não se

pode julgar a ação de ninguém, pois não existiria um bem definido a priori. Essa crítica será

rebatida por Sartre no seu texto.

O existencialismo é dividido em dois: o cristão e o ateu. Ambos partem do pressuposto de

que a existência precede a essência e de que o homem sempre parte da subjetividade. O

existencialismo ateu suprime a ideia de Deus e seus valores. Sartre explica que quando se

admite a ideia de um Deus criador, denomina-se esse Deus como um ser superior, que sabe

muito bem o que criou. Um homem produz objetos para determinadas finalidades. Assim,

pode-se afirmar que Deus criou os homens para determinada finalidade.

Para Sartre, o existencialismo ateu é mais coerente, pois deve ser suprimida a ideia de

Deus e de natureza humana. Assim, no homem, a existência precede a essência. Primeiro o

homem existe, para depois ser algo. O homem se constrói sempre e não há nenhuma

natureza humana que o acorrente, pois Deus não existe. O homem é aquilo que ele faz e

projeta ser e fazer. O homem faz escolha, mesmo quando “cruza os braços” e decide não

fazê-las. Nas palavras de Sartre:

“O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente. Afirma que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito: este ser é o homem, ou, como diz Heidegger, a realidade humana. O que significa, aqui, dizer que a existência precede a essência? Significa que, em primeira instância, o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só posteriormente se define. O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada: só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo. Assim, não existe natureza humana, já que não existe um Deus para concebê-la. O homem é tão-somente, não apenas como ele se concebe, mas também como ele se quer; como ele se concebe após a existência, como ele se quer após esse impulso para a existência. O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo. É também a isso que chamamos de subjetividade: a subjetividade de que nos acusam. Porém, nada mais queremos dizer senão que a dignidade do homem é maior do que a da pedra ou da mesa. Pois queremos dizer que o homem, antes de mais nada, existe, ou seja, o homem é, antes de mais nada, aquilo que se projeta num futuro, e que tem consciência de estar se projetando no futuro” (SARTRE, 1973. P. 12).

As escolhas do homem não são tão simples quanto aparentam ser. Ao se escolher, o

homem escolhe o gênero humano. Portanto, a escolha deve ser a melhor possível, pois

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acarreta uma grande responsabilidade. O homem nunca faz uma escolha gratuita. O homem

inventa sua própria lei. O homem se constrói escolhendo sua moral. Ele é puro

compromisso. Por causa do compromisso, deve querer sua liberdade e a liberdade dos

outros. Por causa dessa vontade de liberdade, se pode julgar a conduta daqueles que dizem

que a existência e a liberdade são gratuitas. Sartre chama aqueles que inventam desculpas

deterministas para fugirem da liberdade de covardes, pois eles tentam fugir da

responsabilidade de ter que escolher. O homem sempre deve inventar, em nome da

liberdade, para agir. Quando o homem percebe que jamais poderá escapar de sua

responsabilidade, ele é tomado por uma imensa angústia. Portanto, ele deve questionar se

suas ações são corretas. Essa angústia no homem não leva ao quietismo, pois ele é natural

de todos que têm responsabilidade. A angústia é a condição da ação humana.

Por ter levado o existencialismo a uma posição ateia, Sartre afirma convictamente que no

mundo só existem homens. Se não existe uma natureza e nem um Deus criador, formulador

de leis e que pode castigar, então tudo é permitido. Essa visão que o senso comum tem do

existencialismo ateu é uma falácia. Realmente, não existem leis a priori. O homem deve

inventar suas leis e valores morais de uma maneira que todos sejam beneficiados. Não há

natureza humana e nem determinismos. O homem é pura liberdade. Só que esse homem

livre é responsável por tudo o que fizer. Com isso, deve-se seguir a máxima kantiana, na

qual Kant afirma que não se pode fazer com o outro aquilo que você não quer que façam

com você. E Sartre é bem firme na sua ideia, representada a seguir: “O homem está

condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre

porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer” (SARTRE, 1973.

P. 15).

Logo, todos os valores existentes são inventados pelo homem. Como os valores são

inventados, pode-se dizer que a vida não tem sentido a priori, sendo necessário o homem

dar sentido à vida. Os valores são esses sentidos escolhidos pelo homem.

A responsabilidade do homem é muito ampla. A força da paixão jamais poderá ser usada

como desculpa. O homem deve escolher o que fazer com essa paixão. Por não existir Deus,

não há sinais no mundo. Mas se houvessem sinais, o homem deveria interpretá-los para

poder agir. Jamais poderia também se apoiar em uma moral universal, a saber, aquela

moral que se aplique a todas as pessoas, visto que ela é muito ampla e lembrando que não

existe natureza humana. Cabe ao homem sempre decidir o que é melhor por meio de sua

subjetividade.

Além de ser angústia, o homem também é desespero. O desespero se dá porque o homem

percebe que se limita a contar com o que depende de sua vontade e o que torna a ação

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dele possível. Ele nunca deve agir com esperança. Isso não significa que o homem deva se

abandonar ao quietismo, e sim ligar-se a um compromisso dispensando a esperança. O

quietismo é a atitude das pessoas que acham que só os outros podem agir de determinadas

maneiras. O existencialismo é oposto ao quietismo, visto que ele diz que o homem nada

mais é que sua vida e que só existe na medida em que se realiza.

O existencialismo está longe de ser pessimista. Ele é dotado de tamanha dureza otimista

que consegue causar grande euforia, principalmente nos críticos. O covarde, segundo o

existencialista, é o responsável por sua covardia, pois ele se construiu como covarde por

meio de seus atos. O covarde existencialista é culpado por ser covarde. O que torna alguém

covarde ou herói é o conjunto de todos os seus atos. O existencialismo é a doutrina mais

otimista que existe, pois coloca o destino dos homens nas mãos dos próprios homens. Só

há esperança na ação do homem e o ato é o único meio que permite ao homem viver. No

entanto, uma ação se dá no mundo sensorial. Pela subjetividade, além de descobrirmos a

nós mesmos, descobrimos também os outros. Isso é semelhante ao padrão de medida do

reconhecimento da consciência proposto por Hegel, na Fenomenologia do Espírito. Pelo

cogito percebemos também que o outro é tão certo como nós mesmos. Os outros são

condições de nossa própria existência. O outro torna possível o conhecimento e a verdade

que tenho sobre mim. O outro é uma liberdade posta em minha face. Descobrimos assim

um mundo chamado intersubjetividade, no qual o homem decide o que ele é e o que são os

outros.

Embora não exista natureza humana, há condição humana. Essa condição é o conjunto de

limites que determinam a situação do homem no mundo. Os limites são objetivos e

subjetivos. Objetivos porque todos os homens os vivem. Subjetivos porque nada são se os

homens não os vivem.

Sartre era também humanista, no sentido de que o homem está constantemente fora de si e

projetando-se, tornando possível sua existência. O homem é constante superação. Só há o

universo humano, que é subjetividade. A superação e a subjetividade (no sentido do homem

não estar fechado em si mesmo e estar presente em um universo humano) formam o

humanismo existencialista. Humanismo por ser o homem o único legislador de sua vida e

porque apenas no abandono ele decidirá sobre si. O homem se realiza como ser humano

quando procura fora de si um fim. O homem precisa se encontrar consigo mesmo e ter a

ciência de que nada pode salvá-lo dele mesmo. O existencialismo é um otimismo e, apenas

por má-fé, os críticos dizem que o existencialismo é uma doutrina do desespero.

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

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Conclusão

Assim sendo, o existencialismo pressupõe liberdade. Essa liberdade traz consigo

responsabilidade e outras características, tais como angústia e desespero. Conclui-se,

portanto, que independentemente das circunstâncias, o homem é livre. Isso jamais poderá

ser mudado, o que acarreta responsabilidade e compromisso. Apresentar e analisar a

dialética entre liberdade e responsabilidade foi o objetivo dessa pesquisa, questões que nos

conduzem às implicações éticas desta problemática.

Após levantadas as questões pertinentes à liberdade, de acordo com a filosofia

existencialista de Sartre, ficou evidente o tamanho da responsabilidade do homem quanto

ao agir ético. Estando condenado à liberdade, o homem deve escolher o melhor para si e

para os outros. Está vedada a hipótese do homem não escolher, visto que a omissão ou a

abstenção também são escolhas.

Referências

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BOHRNHEIM, Gerd Alberto. Sartre: metafísica e existencialismo. São Paulo. Perspectiva,

2007.

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2010.

GILES, Thomas Ransom. História do existencialismo e da fenomenologia. São Paulo. EPU,

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PERDIGÃO, Paulo. Existência e liberdade: uma introdução á filosofia de Sartre. Porto

Alegre. L&PM, 1995.

SARTRE, Jean-Paul. A náusea. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2006.

SARTRE, Jean-Paul. A prostituta respeitosa. São Paulo: Papirus, 1992.

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo in Os Pensadores. São Paulo.

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SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada – Ensaio de Ontologia Fenomenológica. Rio de

janeiro. Editora Vozes, 2009.

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