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RODRIGO ROMERO CORRÊA Deformidades flexurais em eqüinos: estudo retrospectivo e análise crítica São Paulo 2006

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RODRIGO ROMERO CORRÊA

Deformidades flexurais em eqüinos: estudo retrospectivo e análise crítica

São Paulo 2006

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RODRIGO ROMERO CORRÊA

Deformidades flexurais em eqüinos: estudo retrospectivo e análise crítica

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Clínica Cirúrgica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção de título de Mestre em Medicina Veterinária

Departamento: Cirurgia Área de Concentração: Clínica Cirúrgica Veterinária Orientador: Prof. Dr. André Luis do Valle De Zoppa

São Paulo 2006

FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome: CORRÊA, Rodrigo Romero Título: Deformidades flexurais em eqüinos: estudo retrospectivo e análise crítica

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Clínica Cirúrgica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção de título de Mestre em Medicina Veterinária

Data___/___/___

Banca Examinadora

Prof. Dr. _________________________ Instituição _____________________ Assinatura ________________________ Julgamento ____________________ Prof. Dr. _________________________ Instituição _____________________ Assinatura ________________________ Julgamento ____________________ Prof. Dr. _________________________ Instituição _____________________ Assinatura ________________________ Julgamento ____________________

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Israel e Maria Alice

Aos meus avós, Manoel e Rosa, Benedito e Rosa

Às minhas irmãs, Fabiana e Deborah

Aos meus tios, Sérgio e Vanda

RESUMO

CORRÊA, R. R. Deformidades flexurais em eqüinos: estudo retrospectivo e análise crítica. [Equine flexural deformities: retrospective study and critical analisys]. 2006. 76 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

A restrição de uma articulação em posição flexionada ou a inabilidade de estender

completamente a articulação é chamada de deformidade flexural dos membros. As

deformidades flexurais dos eqüinos podem ser classificadas como congênitas ou adquiridas

após o nascimento. Em muitos casos, a única anormalidade encontrada é a diminuição de

mobilidade da articulação acometida. A palpação dos tendões envolvidos combinada com a

avaliação radiográfica é de grande valia para a confirmação da suspeita clínica. No presente

trabalho foram revisadas 28 fichas clínicas de animais em que as deformidades flexurais

foram diagnosticadas. Destes casos clínicos, 22 eram deformidades flexurais adquiridas

(correspondente a 78,57% do total) e 6 eram deformidades congênitas (21,43% do total). Os

casos foram classificados de acordo com o tipo de deformidade, articulação envolvida, sexo,

raça, idade, tratamento instituído, e evolução. Das deformidades congênitas, destacam-se

66,67% de acometimento da articulação metacarpo-falangeana, e de 33,33% de acometimento

da articulação interfalangeana distal. Nas deformidades adquiridas, 76,19% foram

classificadas como sendo de grau II, e 19,05% de grau III. Notou-se grande associação da

ocorrência de deformidades flexurais com casos de osteodistrofia fibrosa, sugerindo

sinergismo no desenvolvimento destas afecções. As técnicas de tratamento para as

deformidades flexurais podem ser mais efetivas se realizadas em conjunto, cabendo ao clínico

conhecê-las e aplicá-las corretamente.

Palavras-chave: Eqüinos, Membro locomotor, Deformidade flexural, Tendões.

ABSTRACT

CORRÊA, R. R. Equine flexural deformities: retrospective study and critical analisys. [Deformidades flexurais em eqüinos: estudo retrospectivo e análise crítica]. 2006. 76 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

Joint restriction in a flexed position or incapacity to completely move a joint is called flexural

deformity. Equine flexural deformities can be classified as congenital or acquired after birth.

In many cases, the only abnormality found is the reduction mobility. Muscles palpation

combined with radiographic evaluation are essential to confirm the diagnosis. For this study

were revised 28 clinical records of animals, which had flexural deformities diagnosis. From

this total, 22 (78,57%) presented acquired flexural deformities and 6 (21,43%) presented

congenital deformities. The cases were classified according to the type of deformity, affected

joint, sex, breed, age, treatment and evolution. From the total congenital deformities, 66,67%

envolved the metacarpophalangeal joint, and 33,33% envolved the distal interphalangeal joint.

From the total acquired deformities, 76,19% were classified as degree II and 19,05% as

degree III. Medical literature presents a wide variety of treatments that can be used in many

cases of flexural deformities, resulting recovery without collateral effects. Some types of

clinical therapy were not administered on the evaluated animals. Clinicians must know all the

techniques for the treatment of flexural deformities and how to administer them properly in

each case. Flexural deformities could be associated with osteodystrophy cases, suggesting

synergic developmental effects. Treatment techniques for the flexural deformities can be

better when realized together. The clinician must know the techniques and use then with the

correct form.

Key words: Equine, Locomotor limb, Flexural deformity, Tendon.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 14

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................... 15

2.1 Deformidades flexurais............................................................................................ 15

2.2 Deformidades flexurais congênitas......................................................................... 15

2.2.1 Etiologia................................................................................................................... 16

2.2.2 Sinais clínicos.......................................................................................................... 17

2.2.3 Diagnóstico.............................................................................................................. 19

2.2.4 Tratamento............................................................................................................... 20

2.3 Deformidades flexurais adquiridas......................................................................... 25

2.3.1 Incidência................................................................................................................. 25

2.3.2 Etiologia................................................................................................................... 25

2.3.3 Deformidades flexurais interfalangeanas................................................................. 27

2.3.4 Deformidades flexurais metacarpo / metatarso-falangeanas................................... 31

2.4 Deformidades flexurais cárpicas............................................................................. 37

2.5 Técnicas cirúrgicas................................................................................................... 39

2.5.1 Desmotomia do acessório do tendão flexor digital profundo.................................. 39

2.5.2 Tenotomia do flexor digital profundo..................................................................... 41

2.5.3 Desmotomia do acessório do tendão flexor digital superficial............................... 42

2.5.4 Tenotomia do flexor digital superficial................................................................... 43

2.5.5 Desmotomia do suspensor do boleto...................................................................... 43

2.6 Complicações............................................................................................................ 44

2.7 Técnica de indução de relaxamento muscular ainda não padronizada em

eqüinos: toxina botulínica........................................................................................ 44

3 MATERIAL E MÉTODO.......................................................................................... 46

4 RESULTADOS............................................................................................................ 47

4.1 Deformidades flexurais em geral............................................................................ 47

4.1.1 Classificação dos casos de deformidades flexurais do HOVET-USP no

período estudado..................................................................................................... 47

4.1.2 Classificação dos casos de deformidades flexurais de acordo com a

articulação envolvida............................................................................................... 48

4.1.3 Classificação dos casos de deformidades flexurais de acordo com o sexo dos

animais..................................................................................................................... 48

4.1.4 Classificação dos casos de deformidades flexurais de acordo com a raça dos

animais..................................................................................................................... 49

4.1.5 Classificação dos casos de deformidades flexurais de acordo com o tipo de

tratamento instituído.......................... ...................................................................... 49

4.1.6 Classificação dos casos clínicos revisados de acordo com a evolução dos casos... 50

4.2 Deformidades flexurais congênitas......................................................................... 51

4.3 Deformidades flexurais adquiridas......................................................................... 53

5 DISCUSSÃO................................................................................................................ 59

5.1 Deformidades flexurais congênitas......................................................................... 59

5.2 Deformidades flexurais adquiridas......................................................................... 64

5.2.1 Deformidades interfalangeanas distais.................................................................... 65

5.2.2 Deformidades flexurais metacarpo / metatarso-falangeanas................................... 67

5.2.3 Deformidades flexurais cárpicas.............................................................................. 70

5.3 Toxina Botulínica...................................................................................................... 71

6 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 72

REFERÊNCIAS........................................................................................................... 73

1 INTRODUÇÃO

As deformidades flexurais dos membros locomotores em eqüinos são consideradas

como inabilidade dos animais em estender os membros completamente. Geralmente, a

hiperflexão resulta em diferenças do comprimento das unidades musculotendíneas em relação

aos ossos da região acometida. Diferentes estruturas anatômicas podem estar envolvidas,

incluindo os tendões flexores, o aparelho suspensor, a cápsula articular, a fáscia da região,

ossos e pele (HUNT, 2003).

O termo deformidade flexural ou tendões contraídos tem sido utilizado

tradicionalmente para representar várias deformidades flexoras nos membros. Todavia, o

potencial para contração deste tecido é limitado. O defeito primário não está necessariamente

no tendão. Em muitos casos, o comprimento funcional efetivo da unidade musculotendínea é

menor que o necessário para que se mantenha o alinhamento normal do membro, mas isto não

deve implicar em um defeito primário no tendão em si. O termo contratura de tendões tornou-

se de uso comum, sendo um meio efetivo de se descrever a afecção (STASHAK, 1994).

Estas afecções apresentam manifestações clínicas e prognósticos diferentes, devendo

ser identificados antes do início do tratamento. Em determinadas situações, a condição ocorre

simultaneamente com deformidades articulares, e esta possibilidade deverá ser seriamente

considerada, se as articulações não revelarem mobilidade (WAGNER, 1994).

As alterações podem ser encontradas nas articulações interfalangeana distal,

metacarpo/metatarso-falangeanas, rádio-cárpica-metacárpicas e, raramente, na região társica.

As deformidades podem estar presentes ao nascimento do animal, ou se desenvolverem em

qualquer fase da vida (AUER, 1992). Considerada como afecção componente da Síndrome

Ortopédica do desenvolvimento, as deformidades flexurais podem ser de origem congênita ou

adquirida (THOMASSIAN, 1996).

O objetivo do presente trabalho é realizar estudo bibliográfico das deformidades

flexurais dos eqüinos, e comparar com os dados obtidos em estudo retrospectivo dos casos

atendidos no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da

Universidade de São Paulo, no período de junho de 1995 a maio de 2005. Objetiva-se

também determinar a incidência das afecções, suas características, e a evolução clínico-

cirúrgica para obtenção de melhores índices de sucesso no tratamento das deformidades

flexurais.

15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Deformidades flexurais

Em eqüinos, a restrição de uma articulação em posição flexionada ou a inabilidade de

estender completamente a articulação é chamada de deformidade flexural dos membros

(ADAMS; SANTSCHI, 1999). Em muitos potros acometidos, as unidades musculotendíneas

dos flexores digital superficial e profundo e seus ligamentos acessórios, o ligamento

suspensor do boleto, as cápsulas articulares e os ligamentos colaterais impedem a extensão

normal da articulação. Ocasionalmente, podem-se encontrar ossos malformados em animais

com deformidades flexurais congênitas, mas estes raramente ocorrem simultaneamente nas

deformidades flexurais adquiridas. As deformidades flexurais envolvem mais comumente o

carpo, o boleto e a articulação interfalangeana distal (ADAMS; SANTSCHI, 1999).

O termo tendões contraídos deve ser evitado pelo motivo de que os tendões não

estarão contraídos, e sim relativamente mais curtos em relação às estruturas do esqueleto. O

termo aceito atualmente é deformidade flexural (JANSSON; SONNICHSEN, 1995).

Esta condição acomete principalmente animais jovens, embora ocasionalmente ocorra

em eqüinos adultos e pôneis. As deformidades adquiridas são divididas em deformidade

interfalangeana distal, observada em animais com mais de seis meses de idade, e deformidade

metacarpo-falangeana, observada em animais com um ou dois anos de idade (WYN-JONES

et al., 1985).

2.2 Deformidades flexurais congênitas

As deformidades flexurais congênitas geralmente são identificadas nas articulações

metacarpo-falangeana ou rádio-cárpica-metacárpica, e menos freqüentemente nas articulações

interfalangeana distal e tíbio-társica-metatársica. Não são raros os casos de mais de uma

articulação acometida em um mesmo animal, embora as deformidades normalmente sejam

centradas primariamente ao redor de uma articulação do membro (EMBERTSON, 1994;

GREET; CURTIS, 2003).

16

As deformidades flexurais congênitas nas articulações metacarpo ou metatarso-

falangeanas são usualmente bilaterais e envolvem a maioria das estruturas anatômicas da

região (ADAMS et al., 1992).

2.2.1 Etiologia

Trabalhos específicos são necessários para o entendimento de todos as variáveis que

levam às deformidades. As causas das alterações parecem ser multifatoriais em sua origem, e

freqüentemente são de difícil explicação. Doenças adquiridas pela égua durante a prenhez

podem causar o desenvolvimento de deformidades flexurais em potros. Ingestão de agentes

teratogênicos e alterações genéticas têm sido associadas (AUER, 1992; WAGNER, 1994).

Alterações neuromusculares, defeitos na formação de elastina e problemas relacionados à

aderência das fibras de colágeno podem também estar envolvidos com a patogênese (HUNT,

2003).

As deformidades congênitas são identificadas ao nascimento do animal e são de causa

desconhecida. Embora o mal posicionamento uterino do feto seja discutido como causa da

alteração, devido ao volume do útero e a inabilidade de movimentação do feto, é improvável

que esta seja a causa da deformidade (HUNT, 2003; LOKAI, 1992). Foi proposta uma teoria

de hereditariedade das deformidades flexurais relacionada ao garanhão. Isso não pôde ser

comprovado, pois não houve repetibilidade nos animais gerados pelos garanhões em estudo

(LOKAI, 1992; OWEN, 1975).

A etiologia também pode estar ligada a alguns fatores nutricionais da égua, por

exemplo a ingestão de plantas do gênero Astragalus que foram descritas em uma propriedade.

Estudos epidemiológicos são de difícil realização, pois a ocorrência das deformidades é

esporádica. A diferença de apresentação, severidade e resposta ao tratamento podem indicar

que o potro pode possuir diferentes deformidades e várias etiologias para estas

(MATTHIESSEN, 1994).

Existe a hipótese de que a base etiológica da síndrome seja a instabilidade articular

associada às malformações ósseas que resultam em contratura muscular compensatória

(STASHAK, 1994).

Há um relato de oito potros com intensa flexão metacarpo-falangeana que se

considerou resultar de uma recente mutação genética dominante do garanhão (HUTT, 1968),

17

e outro relato de três casos de deformidade flexural congênita em potros de éguas de uma

fazenda na qual ocorreu um surto de gripe durante a prenhez das mesmas (FESSLER, 1977).

2.2.2 Sinais clínicos

Muitos potros nascem com leve deformidade flexural metacarpo-falangeana, causando

discreta flexão que se resolve dentro das primeiras horas de vida. Nestes casos, a deformidade

flexural é bilateral, ou acomete os quatro membros. A alteração que ocorre no tendão flexor

digital superficial resulta em posicionamento vertical das articulações; se os tendões flexores

profundos também apresentarem alteração, os talões também sofrerão elevação. Em casos

graves, a articulação metacarpo-falangeana não poderá ser manualmente reposicionada

(WAGNER, 1994).

Potros recém-nascidos apresentando deformidade em região interfalangeana distal

poderão apresentar apoio do membro somente na região das pinças dos cascos. As

deformidades em região metacarpo ou metatarso-falangeanas poderão algumas vezes impedir

que o animal se mantenha em estação. A região cárpica também comumente apresenta este

tipo de alteração. O animal poderá se manter em posição quadrupedal, mas manterá seu peso

deslocado para os membros posteriores (AUER, 1992).

Casos mais brandos poderão passar despercebidos, até que o potro tente erguer-se. As

deformidades flexurais congênitas metacarpo-falangeanas e rádio-cárpica-metacárpicas

podem ser entidades diferentes, visto que diferem em suas respostas ao tratamento. Ademais,

o prognóstico na deformidade flexural metacarpo-falangeana é geralmente mais favorável

quando comparado à deformidade flexural carpiana (WAGNER, 1994).

Comumente podem estar acometidos os tendões flexores digitais superficial e

profundo, possibilitando graus de deformidades que podem variar desde a discreta projeção

cranial da articulação metacarpo-falangeana, até aquelas em que a articulação envolvida é

utilizada para apoio no solo e locomoção, com graves prejuízos aos tecidos (THOMASSIAN,

1996). De modo geral, tanto o tendão flexor digital superficial quanto o profundo estarão

envolvidos. O comprometimento de apenas o tendão flexor digital profundo pode se

manifestar como uma deformidade flexora da articulação metacarpo-falangeana. É difícil

determinar o comprometimento individual dos tendões nestes casos, e freqüentemente, o

18

comprometimento primário parece ser uma contratura da fáscia cárpica e do ligamento palmar

(STASHAK, 1994).

Nos casos de deformidades flexurais decorrentes do comprometimento dos tendões

flexores digitais, em graus que obriguem o potro apoiar involuntariamente a articulação

metacarpo-falangeana e interfalangeana distal no solo, a lesão cutânea pode aprofundar-se,

expondo as estruturas componentes da articulação e causar artrite infecciosa extremamente

grave (ADAMS, 1990; THOMASSIAN, 1996).

Em alguns casos, os potros apóiam todo o peso na face dorsal da articulação

metacarpo-falangeana, podendo resultar em artrite séptica e decúbito prolongado (JOHNSON,

1973).

Mais raramente poderão estar envolvidos os tendões carpo-radial e carpo-ulnar,

mantendo a articulação carpiana em permanente posição de flexão. Secundariamente, poderão

estar envolvidos os ligamentos caudais da articulação rádio-cárpica-metacárpica, o que

conferirá irreversibilidade ao processo (THOMASSIAN, 1996).

As anormalidades flexurais congênitas rádio-cárpica-metacárpicas variam desde muito

brandas até muito graves. Se o membro puder ser realinhado manualmente, o prognóstico será

bom quanto à resolução. Se não, a deformidade provavelmente envolve mais que a unidade

musculotendínea; a cápsula articular e os ligamentos intercarpianos podem ser os elementos

constritores. A avaliação radiográfica da articulação nestes casos é recomendável antes do

início da terapia, para que se garanta a ausência de anormalidades ósseas (GREET; CURTIS,

2003; WAGNER, 1994).

Clinicamente, o potro ao nascer apresentará dificuldades em manter-se em posição

quadrupedal, e até em locomover-se, na dependência dos tendões envolvidos e do grau de

deformidade. Quando estão envolvidos os tendões dos músculos carpo radial e carpo ulnar,

em que as articulações carpianas permanecem fletidas em ângulo caudal abaixo de 90 graus, o

animal não conseguirá levantar-se e conseqüentemente, não irá mamar o colostro no momento

fisiológico adequado à transferência de imunidade passiva (THOMASSIAN, 1996).

Em casos mais severos de deformidades flexurais carpianas, o potro não consegue

estender totalmente esta articulação. Esta contratura exagerada é agravada pelos tendões

flexores carpo-ulnar e ulnar lateral (GREET; CURTIS, 2003).

19

reforço da angulação anormal. Fetos com menos de nove meses de gestação foram observados

com tais lesões, sugerindo que a anormalidade original pode ser de natureza óssea. Portanto, o

potro deve ser examinado em busca de malformações cranianas, escoliose, cifose, e

anormalidades em outras articulações, além das articulações nitidamente acometidas. Potros

com graves deformidades flexurais carpianas freqüentemente exibem grave prognatismo e

afrouxamento das articulações metacarpo-falangeanas. Alternativamente, a carência de

desenvolvimento normal das células do corno motor na medula espinhal poderá conduzir o

desenvolvimento musculotendinoso anormal (WAGNER, 1994).

2.2.3 Diagnóstico

As deformidades flexurais congênitas comumente envolvem as articulações rádio-

cárpica-metacárpicas, tíbio-társica-metatársicas, metacarpo-falangeanas e metatarso-

falangeanas, isoladamente ou em conjunto. Ambos os membros anteriores estão normalmente

envolvidos, e ocasionalmente outras deformidades do esqueleto estão evidentes, como

deformidades de membros posteriores, de coluna, de cavidade nasal e oral. Esporadicamente,

outras alterações envolvendo as articulações escápulo-umeral, úmero-rádio-ulnar e fêmoro-

tíbio-patelar poderão ocorrer em combinação com outras anormalidades do esqueleto (HUNT,

2003).

As características demonstradas por potros com deformidades flexurais facilitam o

diagnóstico em muitos casos. A região acometida deve ser palpada e manipulada com o

animal sustentando o peso, e com o membro em flexão. Em muitos casos, a única

anormalidade encontrada é a diminuição de mobilidade da articulação acometida, ou da região

articular. Deve-se ter atenção ao fazer a correção da deformidade manualmente. A resistência

à extensão é um bom indicador para o prognóstico e poderá auxiliar na indicação do

tratamento para o potro. A palpação dos tendões flexores durante a manipulação pode auxiliar

a determinação de quais estruturas estão envolvidas. Alguns autores têm sugerido que ambos

os tendões flexores digital superficial e profundo, e algumas vezes o ligamento suspensor do

boleto, estão envolvidos. A avaliação radiográfica tem sido indicada para determinar a

existência de alterações ósseas associadas (AUER, 1992).

21

deformidade está associada com um mal posicionamento uterino. O restante deste grupo

geralmente responde bem à utilização de talas. O princípio básico do tratamento é a extensão

forçada do membro para induzir o reflexo miotático inverso e conseqüente relaxamento dos

músculos flexores (STASHAK, 1994). Existem, comercialmente, talas moldáveis que

permitem o ajuste de cada região do membro do animal, facilitando o posicionamento

desejado para cada caso (HUNT, 2003).

O tratamento inclui a imobilização com tala e suporte do membro com ferrageamento

corretivo. O potro e a égua devem ser mantidos fora da cocheira o máximo de tempo possível,

com restrição de movimentos em piquetes pequenos. A dieta deve ser limitada a pasto e água,

além dos cascos serem grosados duas vezes por semana até mostrarem melhora do

posicionamento. Normalmente, após um mês de tratamento, já podem ser observadas

melhoras consideráveis (OWEN, 1975). A melhor resposta ao tratamento ocorre se o animal

iniciar a terapia logo após ao nascimento. Este tratamento pode ser iniciado com a colocação

de uma tala no membro acometido, que deve ser confortável para o potro e retirada para

descanso a cada 3 horas. A circulação pode ser prejudicada nesta região se a tala usada estiver

muito longa ou apertada (JOHNSON,1973).

Quando se faz o uso de talas, o clínico deve tomar extremo cuidado em relação à

indução de feridas por compressão. As talas devem ser utilizadas por curtos períodos, sendo

programadas para serem mantidas por 4 a 6 horas, e retiradas por mais 4 a 6 horas. Os gessos

são mais efetivos, desde que adequadamente aplicados, requerem menores cuidados e

resultam em menores quantidades de feridas por pressão (HUNT, 2003). Várias talas e

aparelhos são recomendados, como as talas feitas com tubos de PVC (cloreto de polivinil). As

talas podem ser feitas a partir de tubos de PVC e também moldadas com calor, para

assumirem a conformação desejada. Durante o apoio do peso no membro, são constantemente

aplicadas forças de tensão nas unidades flexoras, induzindo o relaxamento flexor. Todos os

tipos de talas exigem colocação estratégica de proteções, avaliação constante e troca para

evitar necrose de pele. Problemas ainda mais graves podem resultar do uso inadequado das

talas e bandagens (GREET; CURTIS, 2003; STASHAK, 1994).

Potros que apresentam deformidades flexurais que não são responsivas ao uso de

prolongamentos de casco podem ser tratados com imobilizações com gesso, incorporando o

casco na imobilização. Este tipo de tratamento causa o relaxamento das unidades

musculotendíneas em poucos dias (10 a 14 dias), facilitando a resolução do problema. O

gesso deve ser trocado a cada duas semanas para permitir a crescimento do animal. As

imobilizações podem ser utilizadas em associação com a aplicação endovenosa de

22

oxitetraciclina, especialmente nos casos de deformidades severas de carpo (ADAMS, 1990;

AUER, 1992).

Quando se consegue o posicionamento desejado do membro após a utilização das talas

ou gesso, o animal deverá ser exercitado diariamente, possivelmente com a associação de

fármacos antiinflamatórios, para manutenção da mobilidade adquirida. Em casos de

deformidades severas, deve-se assegurar que o animal será mantido em local seguro e com

piso macio, para prevenir lesões de tecidos moles e parede dorsal dos cascos por impacto

contra o solo (AUER, 1992).

O potro recém-nascido que apresenta deformidades flexurais deve ser tratado o mais

rápido possível com ferrageamento corretivo, principalmente usando ferraduras leves, e

presas com cravos leves e pequenos (COSGROVE, 1955). A aplicação de prolongamentos

acrílicos ou placas metálicas em região da pinça do casco do membro com deformidade

flexural tem sido utilizada no tratamento da afecção (ADAMS, 1990; ADAMS; SANTSCHI,

1999). Além de proteger a região contra o impacto excessivo e indesejado, este

prolongamento induz o alongamento do tendão flexor digital profundo durante a

movimentação do membro. Estes prolongamentos podem ser aplicados com sucesso em

potros com deformidades leves da articulação metacarpo-falangeana, onde os potros não

podem sustentar o peso sobre o membro sem projetar a articulação em sentido dorsal. Após o

potro conseguir sustentar o apoio sobre o membro, a deformidade é aliviada em

aproximadamente duas semanas. Nesta fase, os prolongamentos devem ser removidos

(AUER, 1992).

Altas doses de oxitetraciclina têm sido usadas com sucesso para o tratamento de

deformidades flexurais. É recomendada a administração de 2 a 4 gramas deste fármaco no

tratamento das deformidades flexurais congênitas em eqüinos. O medicamento deve ser

administrado por via intravenosa, lentamente, e não deve ser utilizada em neonatos que não

apresentem valores normais de creatinina sérica. A oxitetraciclina é utilizada uma vez ao dia,

ou a cada dois dias, perfazendo um total de três a quatro doses (ADAMS; SANTSCHI, 1999;

HUNT, 2003). Complicações deste tratamento incluem insuficiência renal, diarréia, e mais

comumente, relaxamento excessivo de outras articulações normais. O mecanismo de ação de

indução do relaxamento permanece incerto (EMBERTSON, 1994; HUNT, 2003; KASPER et

al., 1995; LOKAI, 1992). O protocolo recomendado por Kasper et al. (1995) e Lokai (1992) é

a administração de 3 g de oxitetraciclina, por via intravenosa, em dose única ou duas doses

com intervalo de 24 horas. Esta dose é equivalente a 70mg/kg , considerando potros com 45

23

kg, dose bem mais alta que a usada para tratamento de infecções bacterianas, que seria de 3 a

5 mg/kg, por via intravenosa a cada 12 horas.

Sabe-se que a oxitetraciclina, e não os veículos de diferentes marcas, é a responsável

pela melhora clínica (LOKAI, 1992). Tem se postulado que a oxitetraciclina é capaz de quelar

os íons de cálcio livres e prevenir o influxo do mesmo nas fibras musculares, induzindo o

relaxamento muscular (AUER, 1992; EMBERTSON, 1994). Isto pode resultar em passivo

aumento do comprimento muscular e concomitante correção da deformidade em 24 a 48

horas. Casos leves de deformidades flexurais, que são provavelmente devido a alguma forma

de miotonia, podem responder a este tratamento com completa correção (AUER, 1992). Essa

terapia não é eficaz em casos de deformidade adquirida ou de deformidade congênita severa

(LOKAI, 1992).

Drogas antiinflamatórias não esteroidais podem auxiliar na resolução do problema,

mas deve-se ter cuidado com a possibilidade de indução de úlcera gástrica (ADAMS, 1990).

O uso por curto período de tempo de fenilbutazona ou flunixin-meglumine pode auxiliar na

redução da dor e na utilização do membro (ADAMS; SANTSCHI, 1999). Estes fármacos são

indicados no combate à dor induzida pelo alongamento dos tecidos moles contraídos causados

pela sustentação do peso, imobilizações ou gesso, ou exercícios de alongamento passivo

(EMBERTSON, 1994).

As cirurgias para transecção dos ligamentos frenadores, tendões ou cápsula articular

raramente são necessárias para o tratamento das deformidades flexurais congênitas, e devem

ser reservadas para casos que não responderam à terapia clínica. Os procedimentos usuais

incluem a tenotomia dos flexores digitais superficial e profundo, ou a desmotomia dos

acessórios destes tendões (ADAMS; SANTSCHI, 1999).

Nas deformidades metacarpo-falangeanas, acredita-se que o ligamento frenador

proximal exerça um limite funcional para a extensão da superfície dorsal interfalangeana. A

liberação deste ligamento pode permitir a movimentação do boleto (BARR; SCHRAMME,

1998). Em deformidades cárpicas, a desmotomia do frenador proximal pode ser importante

para liberação de estruturas imediatamente distais ao carpo. Este procedimento ainda tem

resultados inconsistentes em relação aos dois tipos de alterações. A técnica cirúrgica pode

ainda ser associada às terapias não cirúrgicas (talas, gesso, fisioterapia, ferrageamento com

prolongamento das pinças) (ADAMS, 1990).

A desmotomia do acessório do flexor digital profundo pode ser usada como tratamento

da deformidade induzida pela alteração deste músculo, e foi introduzida por Lysholt e

Sonnichsen em 1969. Este procedimento cirúrgico mostra alta taxa de recuperação em todas

24

as raças nos casos de deformidades flexurais interfalangeanas e evita consideravelmente os

riscos associados com a secção do tendão flexor, além de não ser necessária a associação com

o ferrageamento corretivo (SONNICHSEN, 1982).

Subluxação e hiperextensão da articulação interfalangeana proximal e da articulação

metacarpo-falangeana pode ser causada pela transecção do ligamento suspensório (ADAMS,

1992).

A transecção da cápsula articular cárpica palmar foi também indicada para potros com

deformidade cárpica severa. Deformidades flexurais específicas irão determinar o adequado

procedimento cirúrgico. Não é recomendada a transecção dos tendões flexores ou do

ligamento suspensor do boleto em animais que futuramente irão desenvolver atividades

atléticas. A artrodese pode ser o tratamento de escolha para animais com deformidades

flexurais com marcada flexão e anormalidades ósseas (ADAMS; SANTSCHI, 1999).

Alguns casos de transecção do ligamento palmar e das cápsulas média cárpica e

antebraquiocárpica têm sido relatados em casos de deformidades carpianas. O canal cárpico é

aberto pelo acesso medial. As articulações são identificadas e subseqüentemente liberadas por

meio de uma incisão horizontal de medial a lateral. Ainda não foram citados resultados

satisfatórios (AUER, 1992).

Em casos graves, a transecção dos tendões, ligamentos e estruturas periarticulares

pode ser realizada como último procedimento na tentativa de liberar o movimento da

articulação envolvida. Normalmente, os membros não podem ser estendidos antes da incisão

da cápsula articular (ADAMS, 1990). Pode ser necessária a utilização de um fixador externo

para a indução de uma artrodese (ADAMS, 1992).

Casos severos de deformidades flexurais que envolvam as articulações interfalangeana

proximal e metacarpo-falangeana, devido ao prognóstico pobre para o restabelecimento da

função total do membro, raramente são tratados (ADAMS, 1992).

Em casos severos de deformidade carpiana, a correção cirúrgica pode ser feita por

meio da secção do tendão flexor carpo-ulnar e do tendão flexor ulnar lateral. Para isso é

necessária a incisão palmar da fibrocartilagem do carpo. O prognóstico para esses casos é

reservado (GREET; CURTIS, 2003).

25

2.3 Deformidades flexurais adquiridas

2.3.1 Incidência

As deformidades flexurais adquiridas ocorrem comumente desde os primeiros dias até

o segundo ano de vida do animal. Envolvem com maior freqüência a articulação

interfalangeana distal, a articulação metacarpo-falangeana e rádio-cárpica-metacárpica

(HUNT, 2003).

Estes tipos de deformidades são as que apresentam maior incidência, manifestando-se,

em geral, a partir da desmama e acometendo os dois membros anteriores dos potros.

Raramente a afecção se manifesta nos membros posteriores, causando quadros de impotência

funcional motora grave (THOMASSIAN, 1996).

Estes potros parecem normais, porém na medida em que crescem, a conformação se

torna inadequada, até o ponto de não conseguirem se manter em estação (JOHNSON, 1973).

McDiarmid (1999) relatou cinco casos de deformidades flexurais adquiridas

metacarpo-falangeanas em cavalos adultos, onde observou que a idade dos animais

acometidos various entre 8 e 14 anos.

2.3.2 Etiologia

O desenvolvimento destas alterações está muitas vezes relacionado à dor. Qualquer

manifestação de dor em um membro irá iniciar um reflexo de flexão para a retirada do

membro do solo, o que resulta em contração dos músculos flexores e posição alterada da

articulação. A dor pode se originar de fisite, osteocondrite dissecante, artrite séptica,

ferimentos nos tecidos moles ou infecções dos cascos, com ou sem comprometimento da

falange distal. A fisite é comumente observada em animais com deformidades flexurais. As

deformidades adquiridas também foram associadas à osteocondrite dissecante das articulações

escápulo-umeral e fêmuro-tíbio-patelar. A dor proveniente das fises ósseas resulta em

distribuição inadequada da carga de peso sobre o membro, podendo iniciar contração

muscular secundária e encurtamento das unidades musculotendíneas. Qualquer causa de dor

27

2.3.3 Deformidades flexurais interfalangeanas

Este tipo de deformidade envolve o tendão flexor digital profundo. Muitas podem ser

as causas destas deformidades, e mais de uma causa pode estar presente em um mesmo

animal. A predisposição genética ao rápido crescimento ósseo, nutrição inadquada causada

por desequilíbrio dietético mineral ou por ingestão excessiva de alimentos, dor causada por

outros distúrbios do esqueleto, e falta de exercício foram, todas, causas implicadas

(WAGNER, 1994).

Em potros, este tipo de deformidade é observada mais freqüentemente entre 6 semanas

e 8 meses de idade. Os animais acometidos são os que apresentam crescimento rápido, e são

amamentados por éguas de alta produção leiteira. Nestes animais, pode-se observar o aumento

do ângulo formado entre a parede dorsal do casco e o chão da região de contato com a sola.

Esta deformidade pode ocorrer rapidamente do terceiro ao quinto dia de idade do animal,

onde nota-se a elevação da região dos talões em relação ao chão, e o animal tende a apoiar

todo o peso nas pinças dos cascos. Nos casos de desenvolvimento gradual da deformidade, os

talões tendem a manter contato com o chão, mas crescem excessivamente. Após 2 a 3 meses,

os talões podem crescer o suficiente para ter o mesmo comprimento da parede dorsal do casco

em região de pinça (ADAMS; SANTSCHI, 1999).

Segundo estudo realizado com 40 cavalos, a maior ocorrência deste tipo de afecção é

entre o terceiro e oitavo mês de idade. A causa é multifatorial, podendo estar envolvida uma

dieta pobre em proteínas e carboidratos, desbalanceamento mineral, ou ainda excesso de

proteína e carboidrato comprometendo o crescimento dos ligamentos e tendões.

Suplementação alimentar pode estar envolvida também na patogênese, além das condições

dolorosas de osteocondrose (WAGNER et al., 1985b).

Os sinais clínicos iniciais incluem projeção dorsal da região supra-coronária, aumento

da altura dos talões em comparação com o tamanho da pinça e falta de contato dos talões com

o solo após casqueamento. Eventualmente, os cascos podem se tornar achatados na região da

pinça, e a parede dorsal se tornar plana (HUNT, 2003).

O ligamento frenador distal, com origem na parte caudal da articulação rádio-cárpica-

metacárpica e inserção no tendão flexor digital profundo, pode estar acometido neste tipo de

deformidade. Nestes casos, ocorrerá a flexão da articulação interfalangeana distal, o talão se

tornará elevado, e o casco terá aspecto quadrado (WAGNER, 1994; WAGNER et al., 1985b).

28

Segundo Thomassian (1996), estas deformidades podem ser classificadas da seguinte

maneira:

- Grau I: Ocorre discreta elevação do talão com tensão aumentada no tendão flexor digital

profundo. A muralha do casco tende à perpendicularização em relação ao eixo

podofalangeano-solo. O ângulo metacarpo-falangeano permanece inalterado.

- Grau II: A muralha do casco adquire completa perpendicularidade em relação ao eixo

podofalangeano-solo, com crescimento anormal dos talões e tendência ao encastelamento.

Ocorre desgaste da pinça.

- Grau III: Observa-se evidente projeção cranial da muralha podendo até, nos casos mais

graves, onde o ligamento suspensor do boleto participa do processo da contratura, ocorrer o

apoio da região cranial das articulações interfalangeanas no solo. Nesta situação haverá

crescimento exagerado do casco que não sofre desgaste, e em alguns casos, poderão ser

observados ferimentos profundos da articulação metacarpo-falangeana ou metatarso-

falangeana.

A anormalidade primária na deformidade flexural interfalangeana parece ser um

encurtamento relativo da unidade musculotendínea flexora digital profunda. No entanto, uma

vez que a enfermidade evolui para o grau II, ocorrem alterações patológicas na cápsula

articular e em outros tecidos da região interfalangeana, resultando em um estado de anquilose

fibrosa irreversível, se estes casos não forem tratados prontamente (STASHAK, 1994).

O diagnóstico baseia-se na apresentação clínica do processo, no diferencial quanto às

estruturas atingidas, e na ocorrência de fatores etiológicos predisponentes. Nos graus de

deformidades mais graves, os exames radiográficos e ultrassonográficos permitem que se

avalie o nível de comprometimento de estruturas articulares que podem interferir nos

resultados dos tratamentos a serem instituídos, assim como a evolução das alterações que

puderem ser diagnosticadas. As alterações secundárias mais importantes localizam-se nos

ossos e articulações, que variam desde osteítes e osteoperiostites até artrite infecciosa por

ação exógena (THOMASSIAN, 1996).

Segundo Auer (1992), o tratamento clínico deve ser baseado na associação de terapias

e mudanças de manejo, descritos a seguir:

- Correção da dieta: o balanço nutricional é importante para o normal desenvolvimento do

esqueleto e da ossificação endocondral. Além disso, pode-se realizar avaliação da água e do

solo em relação à concentração mineral. Se necessário, os ajustes devem ser realizados

imediatamente após a identificação do desequilíbrio.

29

- Antiinflamatórios não-esteroidais: o alongamento passivo dos tendões encurtados é um

processo doloroso. Deve-se fazer a utilização de baixas doses de antiinflamatórios visando

facilitar a sustentação do animal em posição quadrupedal e a deambulação. Potros com dor

nos membros tendem a permanecer maior tempo em decúbito.

- Exercício: é importante que os animais acometidos sejam exercitados freqüentemente. A

combinação da utilização de analgésicos e a proteção dos cascos, associadas ao exercício

podem permitir o alongamento da estrutura muscular e corrigir o problema, entretanto é

importante que a região da pinça do casco esteja adequadamente protegida, para evitar

problemas sépticos locais.

- Extensão na pinça dos cascos: a aplicação de extensões nas ferraduras na região da pinça dos

cascos é uma das formas mais efetivas de tratamento das deformidades flexurais. O objetivo

deste tratamento é proteger a pinça e evitar o uso excessivo desta região. Adicionalmente,

estas extensões movem a distribuição do peso do animal para as porções posteriores do casco,

e ainda atrasam o momento de saída do casco do chão, gerando maior tensão sobre os tecidos

moles palmares ou plantares da região falangeana. A utilização isolada do casqueamento com

redução da altura dos talões é contra-indicada como tratamento único, devido à diminuição da

sustentação do peso nesta área, e a indução da utilização da pinça do casco como região que

recebe o impacto durante a troca do passo. Entretanto, o casqueamento dos talões associado à

utilização de prolongamento na região da pinça mostrou ser um tratamento efetivo.

- Imobilização com gesso: A imobilização do membro causa relaxamento temporário dos

tendões, e este fato pode ser aplicado ao tratamento das deformidades flexurais. Estas

imobilizações devem incluir o casco, e ser mantidas de 10 até no máximo 14 dias. Devido às

complicações associadas com esta forma de tratamento, elas são raramente utilizadas.

A terapia inicial nos casos brandos de deformidade flexural interfalangeana adquirida

deve envolver o tratamento nutricional (redução da ingestão de calorias e balanceamento do

conteúdo mineral dos alimentos). Uma intensa produção leiteira por uma égua, resultando em

superalimentação do potro, justifica o desmame precoce. Curativos volumosos e talas servem

para tirar tensão sobre as estruturas de tecidos moles, permitindo ainda o realinhamento

adequado do membro. Outras medidas que podem auxiliar incluem o casqueamento, para

aumentar a tensão sobre o tendão flexor digital profundo, e uso de ferraduras com extensões

na região da pinça para auxiliar a extensão do tendão acometido (ADAMS; SANTSCHI,

1999; JOHNSON,1973; WAGNER, 1994; WAGNER et al., 1985b).

A terapia cirúrgica é bem sucedida quando realizada precocemente, portanto devem-se

fazer avaliações periódicas do progresso do membro acometido, se a terapia inicialmente

30

escolhida for conservadora. Caso não se observe nenhuma melhora substancial em 3 a 4

semanas, a intervenção cirúrgica é indicada. Nestes casos, geralmente se realiza a desmotomia

do acessório do tendão flexor digital profundo, associada à utilização de ferraduras corretivas

(WAGNER, 1994; WAGNER et al., 1985b). Este procedimento cirúrgico foi originalmente

descrito por Lysholt e Sonnichsen (1969), e até hoje é um método indicado para a correção

desta afecção (JANSSON; SONNICHSEN, 1995).

A desmotomia do acessório do tendão flexor digital profundo é o tratamento de

escolha para potros com deformidades leves que não apresentaram melhora após 10 dias de

tratamento conservativo. A cirurgia é simples, muito efetiva para as deformidades leves e

normalmente corrige a deformidade imediatamente (ADAMS; SANTSCHI, 1999). Quando

combinada com o programa de casqueamento corretivo, a função e a conformação do casco

apresentarão grande melhora (HUNT, 2003). A intervenção cirúrgica imediata é recomendada

no início de casos cuja rápida correção da deformidade flexora é necessária para evitar o

desenvolvimento de alterações articulares degenerativas permanentes, em animais em que se

pretende desenvolver atividades atléticas (ADAMS; SANTSCHI, 1999; STASHAK, 1994).

Em alguns casos podem-se ter algumas complicações secundárias, como aderência da

bainha flexora ao tendão, com áreas de fibrose em região de tendão flexor digital profundo,

sendo esta uma desvantagem da técnica da desmotomia do acessório (LOSE; HOPKINS,

1977).

A alternativa para esta cirurgia é o ferrageamento corretivo utilizado por longo

período, associado a analgésicos e fisioterapia. Este tratamento pode ser demorado, caro, e o

resultado pode ser um animal adulto com deformidades no casco, ou a indução de laminite

traumática do membro acometido (ADAMS; SANTSCHI, 1999).

Em estudo realizado com 40 cavalos após 4 anos da realização da desmotomia do

acessório do tendão flexor digital profundo, e tratamento pós-cirúrgico com ferrageamento

corretivo, mostrou que 35 cavalos não apresentaram mais claudicação, realizando atividades

atléticas normalmente (WAGNER et al., 1985b).

Cavalos jovens com moderada deformidade flexural necessitam de tratamento

cirúrgico. A desmotomia do acessório do tendão flexor digital profundo pode obter sucesso

em casos onde o ângulo entre a superfície dorsal do casco e o chão é de até 90 graus, e onde a

deformidade do casco e a remodelação da falange distal ainda não ocorreram. Alguns animais

com deformidades moderadas podem necessitar a tenotomia do flexor digital profundo para a

correção da alteração. Em algumas situações, a desmotomia pode ser realizada primeiro, e a

tenotomia realizada posteriormente, se necessário (ADAMS; SANTSCHI, 1999). Se for

32

gravemente acometidos têm tendência de passar por rápidos picos de crescimento

(WAGNER, 1994).

Em indivíduos jovens submetidos à superalimentação, com potencial para rápido

crescimento, o tendão flexor digital superficial que está ancorado na metáfise do rádio e nas

falanges média e proximal, exerce tensão flexora sobre a articulação metacarpo-falangeana,

causando a deformidade flexural. O crescimento compensatório a um período de má

alimentação pode também induzir este tipo de deformidade (WYN-JONES et al., 1985).

Três estruturas sustentam a articulação metacarpo-falangeana durante a fase de

sustentação do peso do animal: o tendão flexor digital superficial, o tendão flexor digital

profundo e o ligamento suspensor do boleto. As deformidades flexurais metacarpo-falangenas

podem ser primariamente causadas por um encurtamento das unidades musculotendíneas do

flexor digital superficial. Secundariamente, pode ocorrer o encurtamento das mesmas

unidades do flexor digital profundo, que faz com que esta estrutura limite o retorno da

articulação à posição normal. Raramente, o ligamento suspensor do boleto pode ser a estrutura

limitante (ADAMS; SANTSCHI, 1999).

Nos casos em que somente o tendão flexor digital superficial está acometido, a

articulação metcarpo-falangeana é mantida em posição de flexão anormal, e pode-se observar

a quartela verticalizada, enquanto o casco permanece relativamente normal em relação ao

solo. Nestes casos, os tendões extensores ficam sob considerável tensão (KNOTTENBELT;

PASCOE, 1998).

Segundo Thomassian (1996), as deformidades metacarpo-falangeanas podem ser

classificadas em:

- Grau I: Ocorre apenas ligeiro desvio cranial da articulação metacarpo-falangeana com

discreto aumento de seu ângulo anterior.

- Grau II: Ocorre perpendicularização do eixo metacarpo-falangeano.

- Grau III: Observa-se evidente projeção cranial da articulação metacarpo-falangeana. Nestas

condições poderá ocorrer tensão do tendão extensor digital lateral que fica proeminente na

face crânio-lateral do metacarpo.

Em função das estruturas acometidas, e do grau de deformidade, o animal apresentará

quadro clínico bem definido e fácil de ser identificado. Quando apenas o tendão flexor digital

superficial encontra-se envolvido no processo, o cavalo terá projeção cranial da articulação

metacarpo ou metatarso-falangeana, caracterizando o que popularmente é denominado de

emboletamento. Esta apresentação estática do animal em termos de aprumos irá proporcionar

sobrecarga na articulação envolvida, e perda da capacidade da absorção de impacto mecânico,

33

predispondo a região a graves traumatismos. O animal apresentará claudicação variável,

tendendo a um forte movimento cranial da articulação, e tem-se a sensação que ocorrerá,

mesmo que momentaneamente, a perda da capacidade de sustentação do corpo

(THOMASSIAN, 1996).

É importante a determinação de todas as estruturas envolvidas para a formulação da

terapia e para o fornecimento do prognóstico. Nestas deformidades geralmente se observa

acometimento do tendão flexor digital superficial; em outros casos, podem estar acometidos

os tendões flexores digitais superficial e profundo de forma associada, ou até mesmo do

ligamento suspensor do boleto (WAGNER, 1994).

A inspeção do membro permite a designação da deformidade com sendo leve,

moderada e severa. A resposta à terapia varia de acordo com o grau de severidade da lesão. A

severidade das lesões observadas radiograficamente varia com o grau e o tempo de duração da

deformidade, entretanto casos moderados e severos apresentam imagens radiográficas

semelhantes (WAGNER et al., 1985a).

Radiograficamente, as lesões podem apresentar-se em graus variados, dependendo da

duração e severidade da flexão. Em casos leves, a articulação pode estar projetada

cranialmente, e demonstrar discreta artrite. A articulação interfalangeana distal pode estar

subluxada, com a região proximal da falange média angulada cranialmente. A flexão da

articulação metacarpo-falangeana e a subluxação da articulação interfalangeana distal

aumenta proporcionalmente com a severidade da condição. Alterações ósseas nos sesamóides

proximais, no terço dorsal do terceiro metacarpiano, no osso navicular e na falange distal são

encontrados em casos moderados a severos (WAGNER et al., 1985a).

O tratamento precoce para potros com deformidades flexurais metacarpo-falangeanas

consiste em controle da dor com o uso de analgésicos, restrição de exercício, e correção de

possíveis desequilíbrios nutricionais. Situações extremas de alteração na angulação dos cascos

devem ser corrigidas por meio de casqueamento, respeitando-se os limites para cada caso

(HUNT, 2003; WAGNER, 1994).

Segundo Auer (1992), o tratamento clínico consiste na associação de mudanças de

manejo, utilização de fármacos, casqueamento e ferrageamento corretivos, e fisioterapia como

descrito a seguir:

- Avaliação e correção do manejo e da alimentação: o principal grupo acometido é dos potros

que são submetidos à superalimentação e exercícios para serem vendidos precocemente.

- Casqueamento e ferrageamento corretivos: devem ser realizados cuidadosamente nos

animais com este tipo de deformidade. Os prolongamentos da ferradura em região de pinça

34

podem ser utilizados com sucesso nestes casos, principalmente em situações onde o

diagnóstico é realizado precocemente. No momento da mudança de passo do animal, o casco

irá demorar mais tempo para sair do chão, e maior tensão será exercida sobre os tendões

flexores durante a fase caudal do passo, facilitando a extensão do membro.

- Antiinflamatórios não esteroidais: podem ser utilizados com o intuito de obter controle da

dor. Desta forma, o animal distribuirá maior carga de peso sobre o membro acometido,

facilitando o alongamento dos tendões flexores e seus ligamentos acessórios.

- Fisioterapia: pode auxiliar na resolução das deformidades flexurais. A manutenção do

membro contralateral em elevação faz com que o animal distribua maior carga de peso sobre

o membro acometido, forçando a realização do movimento de extensão. Adicionalmente, o

animal deve ser estimulado a andar desta forma. Durante a fase de sustentação do membro

elevado, grande parte da carga de peso do animal será transmitida à pessoa que está

realizando a elevação. O membro oposto será avançado rapidamente, e todo o peso será nele

sustentado. Repetindo-se este tipo de fisioterapia várias vezes ao dia, pode-se conseguir maior

elasticidade nos tendões flexores.

- Imobilizações: podem facilitar a resolução das deformidades, principalmente nos casos

diagnosticados de forma precoce. Deve-se ter cuidado para prevenir a indução de feridas por

compressão. Sabe-se que o exercício é uma das formas de indução do relaxamento da região

flexora, mas nestes casos, não se pode realizá-lo adequadamente.

- Ferraduras com barras verticais: A utilização de ferraduras com barras verticais unidas a

tubos que podem ser fixados em região proximal à articulação do boleto pode ser uma forma

efetiva de tratamento. Com este material, o membro é forçado a se manter em extensão

durante todo o tempo. Deve-se ter cuidado para o animal não lesionar o membro contralateral

com este tipo de aparelho corretivo.

A adição de extensões em região de pinça prolonga o momento de saída do membro

do chão, e aumenta a duração da sustentação do peso pelo flexor digital superficial e

ligamento suspensor do boleto. Muitos animais com este tipo de deformidade voltam a

realizar suas funções atléticas após a realização deste ferrageamento (WAGNER et al.,

1985a).

A elevação dos talões reduz a tensão nas unidades musculotendíneas do flexor digital

profundo, que permite que a articulação metacarpo-falangeana assuma uma posição mais

próxima do normal. O ângulo do casco é muito pouco influenciado pela tensão no tendão

flexor digital superficial (ADAMS; SANTSCHI, 1999; WAGNER et al., 1985a).

35

Nas deformidades flexoras metacarpo-falangeanas, no passado, era geralmente

recomendado elevarem-se os talões com ferraduras corretivas. Acreditava-se que a elevação

dos talões criava um relaxamento relativo da tensão no tendão flexor digital profundo, o que,

por sua vez, causava uma sobrecarga seletiva nas estruturas de apoio restantes, e abaixaria a

articulação metacarpo-falangeana. Posteriormente, outras pesquisas demonstraram que, apesar

da tensão no tendão flexor digital profundo se alterar com a angulação do casco, não há

diferença significativa na tensão do tendão flexor digital superficial ou no ligamento

suspensório com a alteração do ângulo do casco. Este achado, associado à percepção de que o

tendão flexor digital profundo está implicado em alguns casos de deformidade flexural

metacarpo-falangeana, torna difícil acreditar na racionalidade de se elevar os talões para

aumentar a angulação do casco (STASHAK, 1994).

Caso não se obtenha nenhuma melhora com a terapia clínica, pode-se realizar a

desmotomia do acessório do tendão flexor digital superficial, e do acessório do tendão flexor

digital profundo, em alguns casos de deformidade moderada (AUER, 1992; HUNT, 2003;

WAGNER, 1994).

A desmotomia do acessório do flexor digital profundo associada ao ferrageamento

corretivo permitiu que 3 em 5 cavalos realizassem as funções a que foram submetidos. Esta

desmotomia é um tratamento efetivo para as deformidades metacarpo-falangeanas. Devido a

este tipo de deformidade ser associada ao tendão flexor digital superficial, o papel da

desmotomia do acessório do flexor digital profundo na sua correção é de difícil explicação.

Acredita-se que a deformidade metacarpo-falangeana é conseqüência de graus variados de

envolvimento dos tendões flexores superficial e profundo e ligamento suspensor do boleto

(WAGNER et al, 1985b).

A intervenção cirúrgica imediata é também indicada no início de casos cuja rápida

correção da deformidade flexora é necessária para evitar o desenvolvimento de alterações

articulares degenerativas permanentes (STASHAK, 1994).

Se a causa da deformidade não for diagnosticada e corrigida, o resultado do tratamento

cirúrgico pode ser apenas temporário. Potros com deformidade metacarpo-falangeana severa,

resultando em projeção permanente da articulação em sentido cranial, raramente respondem

favoravelmente ao tratamento clínico ou cirúrgico. A transecção de ambos os ligamentos

acessórios dos tendões flexores, ou do tendão flexor digital superficial, podem resultar em

melhora mais efetiva em casos de deformidade avançada (HUNT, 2003).

A desmotomia do acessório do tendão flexor digital superficial aumenta

significativamente a tensão sobre este tendão e sobre o ligamento suspensor do boleto. Nestes

36

casos pode-se observar também a diminuição do ângulo dorsal metacárpico-falangeano

durante a fase de sustentação do peso, ou seja, a cirurgia permite maior extensão desta

articulação. Este tipo de cirurgia parece resultar em aumento do comprimento das unidades

musculotendíneas do flexor digital superficial in vitro. Este aumento do comprimento durante

a sustentação do peso pode ser evidenciado pelo deslocamento distal da cabeça muscular e

pela hiperextensão das articulações do boleto e carpo (ALEXANDER et al., 2001).

Os resultados dos tratamentos cirúrgicos nas deformidades flexurais da articulação

metacarpo-falangeanas são menos previsíveis que nas deformidades interfalangeanas distais.

Vários tratamentos cirúrgicos estão à disposição. Se o tendão flexor digital superficial é o

mais tenso, tanto a tenotomia do flexor digital superficial quanto a desmotomia de seu

acessório podem ser realizadas. A tenotomia do flexor digital superficial é simples e não tão

drástica em termos de aspecto estético e capacidade funcional pós-operatória, quanto a

tenotomia do flexor digital profundo. A desmotomia do acessório do flexor digital superficial

tem obtido bons resultados, porém existem citações de falhas na obtenção de melhora

utilizando esta técnica. A cirurgia em questão é mais difícil que a desmotomia do acessório do

tendão flexor digital profundo, podendo haver o desenvolvimento de nova deformidade

flexural e problemas com o canal cárpico (STASHAK, 1994).

Casos de deformidades flexurais severas após longo período de claudicação sem

sustentação do membro, não respondem a desmotomia dos ligamentos acessórios. Nestes

casos, pode-se tentar a realização da tenoplastia com alongamento dos tendões flexores,

associada à imobilização com gesso por longo período, ou a osteotomia associada à artrodese

de boleto (AUER, 1992).

Uma última cirurgia que pode ser considerada quando o problema não responde às

outras formas de tratamento é a desmotomia do suspensor do boleto. A retração do ligamento

suspensor do boleto pode ser um efeito secundário final de uma deformidade flexora

prolongada da articulação metacarpo-falangeana. Provavelmente, na maioria das vezes, a

incapacidade de responder aos outros procedimentos cirúrgicos é devido à fibrose e contração

da cápsula articular do boleto, ligamentos sesamoideos e outras estruturas associadas à região.

A desmotomia do suspensor do boleto é uma medida final drástica, podendo-se esperar uma

subluxação interfalangeana proximal como seqüela. Este método de tratamento deve ser

utilizado como último recurso e após discussão detalhada com o proprietário (STASHAK,

1994).

Em animais com acometimento dos 4 membros por deformidades flexurais, que

realizam o tratamento e a resposta ocorre de forma mais rápida em 3 membros, pode-se ter

37

grande dificuldade para se conseguir a melhora deste último membro. O animal poderá relutar

em apoiar o membro acometido, e utilizar somente 3 membros para se locomover. Uma forma

de se obrigar a utilização do membro é elevar o membro contralateral, obrigando o animal a

utilizar a manter apoio e realizar a extensão do membro lesionado. Este procedimento pode

ser realizado em associação com a administração de analgésicos (WYN-JONES et al., 1985).

No passado, a uniformidade de respostas insatisfatórias ao tratamento desta

enfermidade pode ser, em parte, explicada pela inabilidade em se determinar o nível de

acometimento da condição (WAGNER et al., 1985b).

O prognóstico para cavalos com deformidades flexurais adquiridas leves da

articulação metacarpo-falangeana depende da resposta à terapia instituída, e pode ser

considerado satisfatório para montaria. Nos casos de deformidades severas, dificilmente

consegue-se a correção da lesão (ADAMS; SANTSCHI, 1999). O prognóstico é ruim para as

deformidades flexurais adquiridas metacarpo-falangeanas em cavalos adultos, secundárias à

lesões tendíneas em região metacárpica palmar (MCDIARMID, 1999).

2.4 Deformidades flexurais cárpicas

Deformidades flexurais cárpicas adquiridas são normalmente resultado de trauma com

subseqüente desuso ou não sustentação do peso sobre o membro acometido. O carpo é

projetado anteriormente, e com o tempo, se torna restrito à posição flexionada. A deformidade

pode ocorrer secundária a qualquer injúria, mas observa-se mais freqüentemente a associação

com fraturas de olécrano, onde a articulação do cotovelo é mantida em extensão, e o carpo

mantido flexionado (ADAMS; SANTSCHI, 1999).

Potros com injúrias debilitantes que provocam a não sustentação do peso sobre o

membro devem ser tratados inicialmente com imobilizações, visando prevenir a ocorrência de

deformidades flexurais. Exercícios que induzem o alongamento do membro também são

indicados. Um plano alternativo para estas duas terapias deve ser estabelecido para cada caso

em conjunto com exercícios controlados, caso a injúria inicial permita este tipo de tratamento.

É importante não demorar em iniciar a fisioterapia como tratamento, bem como ter cuidado

para não induzir a formação de escaras pelo uso das talas (AUER, 1992).

O tratamento para as deformidades flexurais cárpicas em potros é baseado na

eliminação da causa primária, e se o problema for reconhecido precocemente, o tratamento

38

conservativo geralmente é efetivo. O programa nutricional baseado no crescimento do potro

deve ser revisado, e os erros nutricionais corrigidos, caso encontrados. Em algumas situações,

o programa nutricional destes animais encontra-se adequado, e o tratamento tem sido baseado

empiricamente com a redução da quantidade energética da alimentação, visando reduzir a

velocidade de crescimento do potro. Correção da dieta, exercícios controlados e utilização de

antiinflamatórios não esteroidais têm sido utilizados no tratamento clínico destes animais. A

alimentação baseada em grãos ou outros alimentos ricos em energia devem ser evitados para

as éguas, visando reduzir a quantidade energética do leite e não permitir que os potros tenham

acesso ao alimento junto da égua. Em potros com deformidade severa, pode-se utilizar a

limitação da ingestão de leite, permitindo o contato direto com a égua somente em alguns

períodos do dia. As deformidades podem demorar semanas ou até meses para serem

corrigidas. Talas, bandagens ou a utilização sistêmica de oxitetraciclina podem auxiliar o

tratamento. Estes tratamentos terão pequena vida útil se a causa primária não for corrigida

(HUNT, 2003).

Em casos que não respondem à terapia clínica, a tenotomia do ulnar lateral e do flexor

carpo ulnar podem ser realizadas com bons resultados. Os tendões são acessados por meio de

incisão de pele lateral de aproximadamente 5 centímetros de comprimento, centrada ao nível

da fise distal do rádio. Os dois tendões são facilmente palpados sob a pele. O tecido

subcutâneo é divulsionado, e os tendões são isolados cerca de 2 centímetros proximal ao

bordo proximal do osso carpo acessório. A transecção dos tendões é então realizada. A

manipulação passiva da região cárpica pode demonstrar a grande mobilidade obtida com este

procedimento (AUER, 1992).

Como cuidados pós-operatórios, deve-se fazer uma bandagem compressiva associada

a uma tala na região cárpica. Enquanto o animal está sob efeito da anestesia, o membro deve

ser forçado a permanecer na posição adequada. A bandagem deve ser trocada a cada 4 dias, e

mantida durante 2 semanas. Caminhadas com o animal puxado pelo cabresto são importantes

nas primeiras 3 a 4 semanas. Assim que o animal estiver colocando grande carga de peso

sobre o membro, a tala deve ser removida (AUER, 1992).

39

2.5 Técnicas cirúrgicas

2.5.1 Desmotomia do acessório do tendão flexor digital profundo

O ligamento acessório do tendão flexor digital profundo se origina no ligamento

cárpico palmar, e se une ao tendão flexor digital profundo em região de terço médio

metacárpico. Funcionalmente, este ligamento atua prevenindo a extensão excessiva do tendão

flexor digital profundo durante a máxima extensão das articulações digitais. A maior força

exercida sobre este ligamento ocorre durante o final da fase de apoio do passo (BUCHNER et

al., 1996).

O tratamento de escolha para as deformidades flexurais de grau I é a desmotomia do

acessório do tendão flexor digital profundo. O ligamento deve ser acessado através da face

lateral ou medial do membro, permitindo que os dois membros sejam operados sem

necessidade de mudar o decúbito do animal durante o ato cirúrgico (AUER, 1992). O acesso

ao ligamento pela face lateral do membro é mais simples por envolver a dissecção de menor

número de estruturas, mas o acesso medial tem sido usado por motivos cosméticos (redução

da visualização de feridas e cicatrizes) (WHITE, 1995).

Os melhores resultados cirúrgicos são alcançados quando o animal é operado até os 6

meses de vida, ou o mais rápido possível após o reconhecimento da deformidade flexural, em

casos em que o casqueamento e ferrageamento corretivos já foram realizados (WHITE, 1995).

Uma incisão de pele de aproximadamente 5 centímetros, centrada na junção do terço

proximal e médio do terceiro metacarpiano, é realizada sobre o tendão flexor digital profundo.

O tecido subcutâneo é divulsionado de forma romba, e as estruturas tendinosas são

identificadas. No acesso medial, o plexo neurovascular deve ser cuidadosamente deslocado,

permitindo acesso às estruturas profundas. A palpação cuidadosa do paratendão, e a

identificação do tendão flexor digital profundo e seu ligamento acessório, permite a palpação

e a separação das duas estruturas. Uma pinça hemostática curva é introduzida e avançada até

o lado oposto do membro, seguida de cuidadosa rotação e tração do ligamento para fora dos

bordos da incisão de pele (AUER, 1992).

Após nova avaliação e identificação deste ligamento, o mesmo é seccionado com

auxílio de lâmina de bisturi. A extensão da região interfalangeana distal permite a

visualização do afastamento das extremidades seccionadas. O espaço deve ser palpado, e em

40

caso de identificação de fibras remanescentes, estas devem ser seccionadas. Após completa

divisão do ligamento acessório, um espaço de aproximadamente 1 centímetro entre as

extremidades seccionadas deve se tornar evidente durante a extensão passiva do membro

(AUER, 1992).

O paratendão, o tecido subcutâneo e a pele devem ser suturados com material

absorvível sintético número 2-0 ou 3-0, em padrão contínuo. Deve-se ter cuidado com a

utilização de suturas intradérmicas, utilizadas visando melhor resultado cosmético. Deve-se

utilizar pensos compressivos no pós-operatório durante 2 a 3 semanas, sem incluir o casco. As

bandagens devem ser trocadas a cada 3 ou 4 dias. Ocasionalmente, a utilização de proteções

ou extensões na região da pinça podem ser indicadas. Os animais são submetidos a exercícios

controlados em 3 a 6 dias após a cirurgia. Exercício livres a pasto são indicados após 2

semanas. Para controlar a dor, podem-se utilizar agentes antiinflamatórios não-esteroidais em

baixas doses (AUER, 1992).

A correção da deformidade normalmente é observada imediatamente após a

recuperação anestésica, mas em alguns casos, entretanto, são necessários alguns dias para se

observar melhora (JANSSON; SONNICHSEN, 1995).

De forma alternativa, a desmotomia do acessório do flexor digital profundo pode ser

realizada guiada por ultrassonografia. Dentre as vantagens desta técnica, estão o menor

tamanho de incisão de pele quando comparada à técnica tradicional, possibilidade de seleção

do melhor local para realização da cirurgia, redução do tempo para sutura, pois não é

necessária a aproximação do tecido subcutâneo, e subjetivamente, menor edema pós-

operatório. Além disso, foram observadas menores cicatrizes cirúrgicas (WHITE, 1995).

A fibroplasia formada na região operada reúne as extremidades seccionadas após

algum tempo. Em casos selecionados, a fibroplasia da região pode resultar em aparência

cosmética indesejável. Massagens diárias podem auxiliar a reduzir o volume local. Nos casos

de deformidades metacarpo-falangeanas, devem-se utilizar talas anguladas para manter a

articulação na posição anatômica (AUER, 1992).

A realização da desmotomia do acessório do tendão flexor digital profundo antes de 1

ano de vida do animal foi associada com maiores sucessos no treinamento e em corridas sem

claudicação, quando comparados aos animais operados após 1 ano de idade (WHITE, 1995).

Após esta desmotomia, as forças que são normalmente distribuídas neste ligamento,

devem ser redistribuídas em outras estruturas ou membros. Não são observadas alterações nas

forças de reação a partir do solo ou em relação à hiperextensão da articulação metacarpo-

falangeana, indicando que não existe redistribuição de peso sobre o membro contralateral. Foi

41

observada maior força aplicada ao tendão flexor digital superficial durante a fase média de

apoio do membro no chão durante o passo, e sobre o tendão flexor digital profundo ao final da

fase de apoio (BUCHNER et al., 1996).

Em trabalho realizado utilizando 29 casos de deformidade flexural interfalangeana,

obteve-se sucesso com o tratamento utilizando a desmotomia do acessório do flexor digital

profundo associada ao casqueamento com diminuição dos talões e ferrageamento com

prolongamentos na região das pinça do casco. Em vinte e seis casos (90 %) obteve-se sucesso,

em 1 caso (3 %) obteve-se melhora, e insucesso em 2 casos (7 %). A alta taxa de sucesso

neste estudo claramente indica que a cirurgia é efetiva para o tratamento das deformidades

flexurais adquiridas da articulação interfalangeana distal (JANSSON; SONNICHSEN, 1995).

2.5.2 Tenotomia do flexor digital profundo

Deformidades flexurais de grau II não são normalmente corrigidas após a desmotomia

do acessório do tendão flexor digital profundo, obtendo-se maior sucesso com a utilização da

tenotomia do flexor digital profundo. Inicialmente a tenotomia deve ser avaliada como um

procedimento de salvamento; entretanto, alguns animais evoluem tornando-se aptos para o

esporte. Dois acessos cirúrgicos têm sido propostos para a realização desta técnica (AUER,

1992).

O acesso distal deve ser realizado na face palmar e mediana, na região da articulação

interfalangeana proximal, e a incisão da bainha tendínea deve ser feita imediatamente distal à

bifurcação do tendão flexor digital superficial. O tendão flexor digital profundo é identificado,

exteriorizado e seccionado usando lâmina de bisturi. A imediata retração das extremidades

seccionadas pode ser notada dentro da bainha tendínea. Podem ser utilizadas suturas com

nylon para previnir a retração excessiva destas extremidades. A sutura da bainha tendínea

pode ser realizada se necessário, seguida da sutura de subcutâneo e pele. Enquanto o animal

está sob efeito da anestesia geral, este deve ser casqueado, dando forma semelhante à normal.

A correção pós-operatória é normalmente imediata, e pode ser associada à grande dor

regional. Como resultado da duração do desenvolvimento das deformidades flexurais de grau

II, os tecidos moles da região, como cápsula articular, ligamentos, e tecidos periarticulares na

superfície palmar das falanges, podem estar significativamente contraídos. A utilização deste

acesso cirúrgico não resulta em marcada elevação da pinça do casco durante a sustentação do

42

peso, como acontece em casos de ruptura deste tendão na região do osso navicular. Em alguns

casos, pode ser necessária a utilização de ferraduras com extensão na região dos talões

(AUER, 1992).

A transecção do tendão flexor digital profundo na região média metacarpiana deve ser

realizada com cuidado. Nesta altura, o procedimento pode ser realizado tanto no aspecto

medial, quanto no lateral. A vantagem deste acesso é a grande distância do casco e o fato de

não ser necessária a invasão da bainha tendínea. Adicionalmente, o procedimento é mais

facilmente realizado, quando comparado ao acesso na região interfalangeana. Entretanto, a

cicatriz associada ao ponto de tenotomia é uma seqüela indesejável. O controle pós-operatório

deve ser realizado como descrito para o acesso na região interfalangeana (AUER, 1992).

2.5.3 Desmotomia do acessório do tendão flexor digital superficial

A transecção do ligamento acessório do tendão flexor digital superficial deve ser

realizada em casos onde o tendão está com maior tensão à manipulação. Dois acessos

cirúrgicos foram propostos para esta intervenção. As delimitações para ambos os acessos são

as mesmas, e consistem na fise medial do rádio, a castanha e a veia cefálica. Uma incisão de

pele de aproximadamente 10 cm de comprimento deve ser realizada paralela à castanha, e

cranial à veia cefálica. O tecido subcutâneo deve ser divulsionado de forma romba, e os ramos

da veia cefálica devem ser isolados. Pode-se fazer dupla ligadura e secção destes ramos. Em

uma das técnicas, o ligamento acessório deve ser seccionado cranial ao músculo flexor carpo

radial. O forame oval, na fáscia carpal pode servir como bordo distal da incisão da

desmotomia. A fáscia carpal deve ser seccionada cuidadosamente, e a bainha flexora do

músculo flexor carpo radial deve ser identificada. A veia cefálica e o músculo flexor carpo

radial são deslocados, e a desmotomia deve ser realizada cuidadosamente. Após a transecção,

a cabeça radial do músculo flexor digital profundo e a bainha cárpica se tornam visíveis. Após

hemostasia, deve-se fazer a sutura da fáscia cárpica, subcutâneo e pele (AUER, 1992).

Outra técnica proposta utiliza como acesso a bainha do tendão flexor carpo radial.

Após retração do tendão flexor carpo radial dentro da bainha, a parede crânio-lateral do

ligamento acessório é identificada. Uma pinça Kelly curva deve ser posicionada por baixo do

bordo distal, e posteriormente tracionada. A transecção cuidadosa do ligamento deve ser

realizada em direção proximal. Deve-se ter cuidado para não lesionar a artéria nutrícia do

43

tendão flexor, que entra ao redor do bordo proximal do ligamento acessório. Após completa

transecção, consegue-se fazer a visualização das estruturas internas ao ligamento. Erros

durante a entrada na bainha cárpica, na maioria dos casos não apresentam grandes

conseqüências. A sutura da bainha tendínea é realizada utilizando material absorvível

sintético 2-0 ou 3-0, em padrão contínuo. As demais estruturas são suturadas como de rotina.

No período pós-operatório, deve-se utilizar bandagem compressiva na região durante 2 a 3

semanas. A bandagem deve ser trocada a cada 3 a 4 dias (AUER, 1992).

Em casos severos, ambos os ligamentos acessórios dos tendões flexores digital

superficial e profundo devem ser seccionados (WAGNER et al., 1985b).

2.5.4 Tenotomia do flexor digital superficial

A tenotomia do flexor digital superficial pode ser realizada na região média

metacárpica como descrito para a tenotomia do flexor digital profundo. O procedimento

diferencia somente em relação à estrutura a ser identificada, exteriorizada e seccionada

(AUER, 1992)

2.5.5 Desmotomia do suspensor do boleto

Como alternativa adicional, a desmotomia dos ramos medial e lateral do suspensor do

boleto pode ser realizada como última forma de tratamento em casos que persistem com a

deformidade. Entretanto, a subseqüente subluxação da articulação interfalangeana proximal é

esperada. Uma pequena incisão deve ser realizada diretamente sobre o ramo do ligamento

suspensor, e um tenótomo curvo deve ser introduzido pela incisão. Deve-se associar

movimento de rotação ao de introdução do tenótomo para passar por trás do ligamento. Por

meio de tração do tenótomo, o ligamento deve ser seccionado. Deve-se ter cuidado para evitar

danos à vascularização digital e à cápsula articular. A pele deve ser suturada utilizando pontos

simples separados. O mesmo procedimento deve ser realizado no lado oposto do membro.

Outra técnica envolve a desmotomia de ambos os ramos através do mesmo acesso, entretanto

44

a incisão de pele será maior que para a técnica anterior, e a dissecção das estruturas da região

será necessária (FACKELMAN, 1971).

2.6 Complicações

A indução de escaras por compressão é a complicação mais freqüente da utilização de

talas. Deve-se dar cuidado especial na realização do acolchoamento das talas, e em relação à

inspeção diária das regiões de maior predileção. Caso aconteçam focos de necrose, a pressão

local deve ser avaliada. A aplicação alternada ou a remoção temporária das talas podem ser

soluções para o problema. Curativos locais diários são necessários, especialmente no período

inicial (AUER, 1992).

Deiscência da sutura e infecções são as complicações mais freqüentes encontradas

após o tratamento cirúrgico. Caso se faça a identificação dos sinais inicias de complicações,

como febre, leucocitose, aumento de temperatura no foco cirúrgico ou dor aumentada, deve-se

tomar as devidas precauções para controlar as alterações locais e sistêmicas (AUER, 1992).

2.7 Técnica de indução de relaxamento muscular ainda não padronizada em eqüinos:

toxina botulínica

A utilização de bloqueadores neromusculares tem sido de grande auxílio no tratamento

da espasticidade muscular local. A toxina botulínica é capaz de inibir o espasmo muscular

através do bloqueio seletivo da liberação de acetilcolina na junção neuromuscular, tanto nas

fibras extrafusais como nas intrafusais. O efeito desta toxina é dose-dependente, e

normalmente dura de 2 a 4 meses (VAN KUJIK, 2002).

O primeiro estudo realizado com a toxina botulínica, utilizando adequados métodos

científicos, foi feito por Simpson et al. (1996), que avaliou a espasticidade muscular em

membros superiores de 39 indivíduos.

O uso intramuscular da toxina botulínica do tipo A vem se tornando uma efetiva e bem

estabelecida forma de tratamento para espasticidade. A utilização deste produto em pacientes

com contraturas musculares de membros superiores após traumatismos em Sistema Nervoso

45

Central mostrou redução do tônus muscular, alívio da dor, melhora nos movimentos para

higiene pessoal e para função motora. Pacientes com espasticidade extensora podem se

beneficiar com respeito à habilidade de locomoção, às dores nos dedos e desenvolvimento de

deformidades. Em oposição a esta vantagem, existe um fator limitante relacionado ao alto

custo do produto (HESSE et al., 2001).

A vantagem da toxina botulínica, em relação a outros fármacos utilizados no

tratamento da espasticidade muscular, é a capacidade de promover o relaxamento somente na

musculatura onde foi feita a injeção (PANDYNAN et al., 2002), e não induzir distúrbios

sensoriais (VAN KUJIK, 2002).

O tratamento com toxina botulínica tipo A induz a redução da espasticidade, mas não

necessariamente causa redução da capacidade de força de uma articulação. Como explicação

para isto, entende-se que o tratamento com toxina botulínica tipo A pode reduzir o número de

unidades motoras ativas nos músculos tratados, fazendo com que um menor número de

unidades motoras de controle estejam disponíveis para o Sistema Nervoso Central. Sugere-se

que esta redução contribui para uma otimização da produção de força muscular

(PANDYNAN et al., 2002).

46

3 MATERIAL E MÉTODO

Realizou-se estudo retrospectivo dos casos clínicos de eqüinos, atendidos no Serviço

de Clínica Médica de Eqüinos e Cirurgia de Grandes Animais do Hospital Veterinário da

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (HOVET-

USP), com diagnóstico de deformidades flexurais, no período de junho de 1995 a maio de

2005. As fichas clínicas, características dos casos, tratamentos instituídos e evolução foram

confrontados com os dados obtidos na revisão bibliográfica.

Os casos clínicos foram inicialmente classificados em deformidades flexurais

congênitas ou adquiridas, e de acordo com a região acometida, sexo e tratamento instituído.

As fichas dos animais com deformidades flexurais adquiridas foram subdivididas de

acordo com o sexo, idade, raça, histórico, articulações envolvidas, grau de deformidade, tipo

de tratamento e evolução dos casos. As deformidades congênitas foram classificadas em

relação à raça, sexo, articulações envolvidas, tratamento e evolução.

47

4 RESULTADOS

Os resultados obtidos na revisão das fichas clínicas serão descritos abaixo.

4.1 Deformidades flexurais em geral

4.1.1 Classificação dos casos de deformidades flexurais do HOVET-USP no período estudado

Foram revisadas 28 fichas clínicas de animais em que as deformidades flexurais foram

diagnosticadas. Destes casos clínicos, 22 eram deformidades flexurais adquiridas

(correspondente a 78,57% do total) e seis eram deformidades congênitas (21,43% do total). O

gráfico representativo desta classificação é apresentado na figura 1.

Figura 1 - Classificação dos casos de deformidades flexurais do

HOVET-USP no período estudado

79%

21%

deformidades flexurais adquiridas

deformidades flexurais congênitas

48

4.1.2 Classificação dos casos de deformidades flexurais de acordo com a articulação

envolvida

Das fichas clínicas avaliadas, 27 apresentavam a descrição das regiões acometidas.

Dentre elas, 10 eram relacionadas a articulação interfalangeana distal (37,04%), 15 eram

relacionadas as articulações metacarpo/metatarso-falangeanas (55,55%), e duas eram

relacionados as articulações interfalangeana distal e metacarpo-falangeana (7,41%). A figura

2 ilustra a classificação das regiões envolvidas.

Figura 2 - Classificação dos casos de deformidades flexurais de

acordo com a articulação envolvida

37%

56%

7%

interfalangeana distal metacarpo/metatarso-falangeana interfalangeana distal e metacarpo-falangeana

4.1.3 Classificação dos casos de deformidades flexurais de acordo com o sexo dos animais

Dos casos clínicos revisados, 27 continham a descrição do sexo dos animais. Destes,

14 eram fêmeas (51,85%) e 13 eram machos (48,15%).

49

4.1.4 Classificação dos casos de deformidades flexurais de acordo com a raça dos animais

Uma grande variedade de raças foi identificada entre os casos de deformidades

flexurais. Dos 28 casos, quatro eram da raça Quarto-de-milha (14,30%), três da raça

American Trotter (10,71%), três Mangalarga Paulista (10,71%), três Mangalarga Marchador

(10,71%), um Puro Sangue Árabe (3,57%), um Crioula (3,57%), um Paint Horse (3,57%), um

Campolina (3,57%), um Pônei (3,57%), e 10 eram sem raça definida (35,72%). A figura 3

representa a divisão entre as raças dos casos estudados.

4.1.5 Classificação dos casos de deformidades flexurais de acordo com o tipo de tratamento

instituído

Vinte e sete fichas clínicas citaram o tipo de tratamento indicado para o caso. Destas,

18 casos foram tratados cirurgicamente (66,67%) e nove casos tratados de forma clínica

(33,33%). Esta divisão é representada pela figura 4.

Figura 3 - Classificação dos animais com deformidades flexurais de acordo com a raça dos animais

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

Quarto-de- milha

American Trotter

Mangalarga Paulista

Mangalarga Marchador

Puro Sangue Árabe

Crioula Paint Horse Campolina Ponei SRD

% incidência

50

Figura 4 - Classificação dos casos de deformidades flexurais de

acordo com o tipo de tratamento instituído

67%

33%

Cirúrgico Clínico

4.1.6 Classificação das fichas clínicas revisadas de acordo com a evolução dos casos

Vinte e quatro fichas clínicas citaram a evolução do caso em questão. Em 15 casos

(62,50%) foi obtido sucesso com o tratamento instituído. Nove casos (37,50%) não obtiveram

sucesso com o tratamento, dentre eles um caso de óbito não relacionado à deformidade ou ao

tratamento, e um caso onde foi realizada a eutanásia do animal (indicada por motivo de

quebra da imobilização após realização de tenotomia). O gráfico representativo desta

classificação é apresentado na figura 5.

51

Figura 5 - Classificação dos casos de deformidades flexurais de

acordo com a evolução dos casos

62%

38%

Sucesso Insucesso

4.2 Deformidades flexurais congênitas

Dentre os seis casos de deformidades flexurais congênitas avaliados, notou-se que

quatro eram fêmeas (66,67%) e dois eram machos (33,33%).

Na análise das raças, observou-se que três animais eram sem raça definida (50,0%),

um Paint Horse (16,67%), um American Trotter (16,67%) e um pônei (16,67%).

Em relação à articulação envolvida, quatro casos (66,67%) mostraram acometimento

da articulação metacarpo/metatarso-falangeana e dois casos (33,33%) da articulação

interfalangeana distal (figura 6). Notou-se também que dos casos estudados, cinco animais

(83,33%) tinham acometimento de membros anteriores e um animal tinha acometido tanto os

membros anteriores, como os membros posteriores.

52

Figura 6 - Imagem digitalizada de caso de deformidade flexural congênita, com acometimento

da articulação interfalangeana distal

A forma de tratamento realizado foi cirúrgica em três casos (50%), e clínica em outros

três casos (50,0%). Nos casos cirúrgicos de deformidade interfalangeana distal, realizou-se a

desmotomia do acessório do flexor digital profundo; já nos casos de acometimento

metacarpo-falangeano, o procedimento foi a tenotomia do flexor digital superficial. Nos casos

com opção pelo tratamento clínico, realizou-se imobilização com talas isoladamente,

associação da imobilização com a administração de oxitetraciclina (um grama por via

intravenosa, uma vez ao dia, durante três dias) e de antiinflamatórios não esteroidais

(cetoprofeno na dose de 2,2 mg/kg, uma vez ao dia, durante 3 dias), e na utilização de

ferraduras com prolongamentos em região de pinça. Dos animais tratados cirurgicamente,

todos evoluíram com sucesso. Dos tratados clinicamente, dois casos evoluíram com sucesso, e

um caso evoluiu para óbito por motivo não relacionado à deformidade flexural (pneumonia).

53

4.3 Deformidades flexurais adquiridas

Em vinte e dois animais, dentre os descritos anteriormente, foram diagnosticados

casos de deformidades flexurais adquiridas. Dentre eles, 11 animais (50%) eram fêmeas, e 11

animais (50%) eram machos.

Observou-se grande variedade com relação à idade dos animais. Três (13,64%)

apresentaram idade de até seis meses (idade mínima de três meses), quatro (18,18%) tinham

idade entre seis meses e dois anos, cinco (22,73%) entre dois e seis anos, sete (31,82%) entre

seis e dez anos, e três animais (13,64%) tinham idade acima de dez anos. A figura 7

representa a distribuição da idade dos animais que apresentaram deformidades flexurais

adquiridas.

Observou-se grande variação entre as raças dos 22 animais estudados com este tipo de

alteração, sendo elas: um Puro Sangue Árabe (4,55%), dois American Trotter (9,09%), três

Mangalarga Paulista (13,64%), sete sem raça definida (31,82%), um Crioula (4,55%), quatro

Quarto-de-milha (18,18%), três Mangalarga Marchador (13,64%) e um Campolina (4,55%).

A divisão das raças está representada pela figura 8.

Figura 7 - Classificação das deformidades flexurais adquiridas de acordo com a idade dos animais

14%

18%

23%

31%

14%

até 6 meses entre 6 meses e 2 anos entre 2 e 6 anos entre 6 e 10 anos acima de 10 anos

54

Dezoito fichas dos animais acometidos por deformidades flexurais adquiridas

continham informações em relação ao histórico dos animais. Observou-se maior incidência de

animais que claudicavam do membro acometido por longo período de tempo, onde o histórico

mínimo de claudicação foi de três meses (oito casos, representando 44,44% do total). Foram

também observados sete casos de animais que anteriormente desenvolveram osteodistrofia

fibrosa (38,89%) e três casos (16,67%) de animais que receberam um trauma sobre a região

envolvida (impacto do membro contra objetos ou solo).

A articulação envolvida foi especificada em 21 das fichas clínicas avaliadas (figura 9).

Destas, 17 referiram acometimento de membros anteriores (80,95%), e quatro acometimento

de membros posteriores (19,05%). Em 11 casos (52,38%) observou-se acometimento da

articulação metacarpo-falangeana (figura 10). Os oito casos de deformidades interfalangeanas

distais (figura 11) representaram 38,10% do total, e em dois casos foram acometidas tanto a

articulação metacarpo-falangeana como a interfalangeana distal (9,52%).

Figura 8 - Classificação das deformidades flexurais adquiridas de acordo com a raça dos animais

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

Quarto-de- milha

American Trotter

Mangalarga Paulista

Mangalarga Marchador

Puro Sangue Árabe

Crioula Campolina SRD

% incidência

55

Figura 10 - Imagens digitalizadas de um caso de deformidade flexural adquirida metacarpo-

falangeana

A - Observa-se o apoio dos membros anteriores de um eqüino no pós-operatório imediato, após

realização de tenotomia do flexor digital superficial

B - Membro anterior direito, no detalhe, onde ainda observa-se o apoio com projeção cranial da

articulação metacarpo-falangeana

Figura 9 - Classificação das deformidades flexurais adquiridas de acordo com a articulação envolvida

38%

52%

10%

interfalangeana distal metacarpo-falangeanas interfalangeana distal e metacarpo-falangeana

A B

56

Figura 11 - Imagem digitalizada de um caso severo de deformidade flexural adquirida

interfalangeana distal em membro posterior

O grau de deformidade foi avaliado em 21 dos casos revisados. Em 16 casos (76,19%)

foram observadas deformidades de grau II. As deformidades de grau III (19,05%) foram

relatadas em quatro casos, e em um caso a de grau I (4,76%). A figura 12 representa esta

classificação de acordo com o grau de acometimento.

Figura 12 - Classificação das deformidades flexurais adquiridas de acordo com o grau de acometimento

5%

76%

19%

Grau I Grau II Grau III

57

Dos casos avaliados, 15 animais (71,43%) foram tratados cirurgicamente, e seis casos

(28,57%) clinicamente. Na terapia cirúrgica, os procedimentos realizados nas deformidades

metacarpo-falangeanas foram a tenotomia do flexor digital superficial ou a desmotomia de

seu ligamento acessório. Nas deformidades interfalangeanas distais, os procedimentos

cirúrgicos utilizados foram a tenotomia do flexor digital profundo (figura 13), ou a

desmotomia do seu acessório. Em um caso foi realizada uma tenotomia em “Z” e a sutura das

extremidades do tendão (alongamento do tendão), sem obtenção de sucesso. O tratamento

clínico para ambas as deformidades foi baseado em casqueamento corretivo com diminuição

dos talões, administração de antiinflamatórios não esteroidais (fenilbutazona na dose de 4,4

mg/kg, duas vezes ao dia durante três dias, e uma vez ao dia durante dois dias), extensão

manual do membro e suplementação mineral. Em um dos casos clínicos de deformidade

metacarpo-falangeana, o tratamento consistiu em realização de fisioterapia (extensão manual

do membro e eletroestimulação da região acometida) e utilização de ferradura fechada com

aumento de altura dos talões, obtendo-se sucesso. Dos animais submetidos à cirurgia, 13

fichas citaram a evolução dos casos; em oito animais obteve-se sucesso pós-operatório

(61,54%) e cinco foram os casos de insucesso (38,46%), sendo estes devido à quebra da

imobilização com gesso e instabilidade do membro, recidiva da afecção, e outra causa não

relacionada com a cirurgia (colite). Dos animais tratados clinicamente, três casos (60%) não

obtiveram sucesso no tratamento, enquanto dois casos (40%) evoluíram com sucesso. Nos

casos de insucesso, o proprietário não autorizou o encaminhamento do animal para a terapia

cirúrgica.

58

Figura 13 - Imagem digitalizada da técnica de tenotomia do flexor digital profundo para

tratamento de deformidade flexural interfalangeana distal, no momento da

individualização e exteriorização do tendão

59

5 DISCUSSÃO

A classificação das deformidades flexurais em animais jovens pode ser difícil de se

realizar no momento do exame clínico, se o animal não é acompanhado desde o nascimento.

Para se classificar as deformidades adquiridas em potros, torna-se necessária a identificação

da causa primária da deformidade, fato que em alguns casos pode ser um fator limitante. O

envolvimento de fatores genéticos, como o rápido desenvolvimento, pode impossibilitar a

diferenciação entre deformidade congênita ou adquirida. Animais que não são acompanhados

por profissionais habilitados não permitem a realização desta classificação. Nestes casos, não

se sabe se a deformidade era discreta o suficiente para o proprietário não percebê-la, ou se a

deformidade se desenvolveu juntamente com o crescimento do animal. Dos casos revisados

no HOVET-USP, 21,43 % do total apresentam deformidades flexurais congênitas, onde a

classificação foi designada pelo fato dos animais já apresentarem a deformidade ao

nascimento. Dos vinte e dois casos de deformidades flexurais adquiridas, 3 casos (13,64%)

apresentaram idade de 0 a 6 meses. Nestes casos, a classificação foi designada pelo fato dos

proprietários não identificarem alterações ao nascimento do animal, e pela identificação de

uma alteração primária, como por exemplo, a osteodistrofia fibrosa.

5.1 Deformidades flexurais congênitas

Dentre os casos de deformidades congênitas, não se observou histórico de distocia ao

nascimento do animal. Este fato pode ser explicado pelo menor grau de deformidade dos

potros, e pelo pequeno número de animais acompanhados. O parto fisiológico das éguas que

geraram potros com deformidades flexurais congênitas não está de acordo com as citações de

Hunt (2003), Kasper et al. (1995) e Matthiessen (1994).

Observou-se maior incidência, nas deformidades congênitas, de acometimento de

membros anteriores, e em um caso de membros anteriores e posteriores, em relação às

articulações metacarpo/metatarso-falangeanas, concordando com Hunt (2003).

Contrariamente às citações deste autor, as lesões avaliadas foram predominantemente

unilaterais.

60

A determinação de qual músculo estava envolvido em cada tipo de deformidade

flexural foi realizada de acordo com o posicionamento do membro acometido. Casos onde o

animal apresentou projeção cranial ou verticalização da articulação metacarpo-falangeana

foram considerados como alterações do músculo flexor digital superficial, e a projeção cranial

da região interfalangeana foi considerada como acometimento do músculo flexor digital

profundo. Essas considerações foram baseadas na localização anatômica da inserção dos

tendões flexores digitais superficial e profundo, sendo respectivamente a articulação

interfalangeana proximal e a falange distal, corroborando com as informações de Wagner

(1994).

No estudo retrospectivo realizado foi identificado acometimento das articulações

interfalangeanas distais em 33,33% dos casos, e das articulações metacarpo/metatarso-

falangeanas em 67,67% dos casos. Não foram observados acometimentos das articulações do

carpo. O resultado de maior acometimento metacárpico/metatársico-falangeano está de acordo

com as citações de Embertson (1994) e Greet e Curtis(2003).

As deformidades severas dos músculos flexores digitais podem induzir o apoio do

membro diretamente sobre a região acometida, e a não utilização da sola do casco como ponto

de recebimento de impacto. Este tipo de apoio predispõe a lesões de pele e do tecido articular

envolvido, e posteriormente a indução de artrite séptica, podendo ser fatal para o animal

(ADAMS, 1990; THOMASSIAN, 1996). No estudo retrospectivo não foram observados

casos de artrite séptica secundários ao apoio inadequado causado pelas deformidades

flexurais. Os casos mais severos, onde os animais apresentavam apoio sobre a articulação

envolvida, apresentaram somente lesão de tecido dérmico, não chegando a comprometer a

articulação. O tempo de evolução com o apoio desta forma não foi suficiente para a indução

de artrite séptica. Nestas situações, os proprietários tendem a procurar atendimento veterinário

em menor período de tempo, fato não observado enquanto o animal é capaz de manter o apoio

sobre os cascos.

Concordando com Auer (1992), o diagnóstico das deformidades flexurais congênitas

foi baseado na apresentação clínica do animal. O exame físico de rotina neste tipo de

alteração é baseado no posicionamento do animal quando em posição quadrupedal, e na

capacidade de extensão e flexão da articulação envolvida. A palpação dos tendões e

ligamentos regionais deve ser realizada com o membro em apoio e em elevação. O principal

exame auxiliar a ser realizado é o radiográfico, visando a avaliação da integridade óssea e

articular. Nos casos revisados, foram realizadas radiografias de todas as articulações

envolvidas. Não foram identificados casos de mal formações ósseas, nem doenças associadas

61

ao tecido ósseo ou articular. O exame ultrassonográfico das articulações ou dos músculos

envolvidos não foi realizado. A identificação de lesões nestes tecidos-alvo da ultrassonografia

não é comum de ocorrer.

O tratamento para os animais foi instituído imediatamente após o diagnóstico da

afecção. A agressividade do tratamento e a determinação de seus tipos variaram de acordo

com a severidade das lesões, concordando com Embertson (1994). Os procedimentos

cirúrgicos foram realizados objetivando a possibilidade de realização futura de atividades

esportivas do animal. O acompanhamento dos animais tratados até o início das atividades

esportivas não foi realizado, não permitindo avaliar se a opção de tratamento foi a ideal, pelo

critério escolhido no exame clínico.

O tratamento clínico freqüentemente baseia-se na imobilização do membro acometido.

O princípio da imobilização é induzir relaxamento reflexo das estruturas flexoras do membro.

Este procedimento pode ser feito adequadamente com talas de PVC ou gesso. No estudo

realizado, as imobilizações foram confeccionadas com PVC. Independente do tipo de

imobilização escolhida, os membros dos animais foram recobertos previamente com material

para acolchoamento, visando a prevenção da formação de escaras. As imobilizações foram

trocadas periodicamente, visando moldá-las ao novo formato ósseo e tamanho do animal em

crescimento. Após a retirada da imobilização, o animal foi movimentado com freqüência para

assegurar a mobilidade obtida. Estas informações concordam com as citações de Auer (1992),

Greet e Curtis (2003) e Stashak (1994).

A utilização de ferraduras prolongadas na região da pinça, aplicação de

prolongamentos acrílicos ou placas metálicas na região da pinça dos cascos dos membros

acometidos foram descritas com sucesso por Adams (1990), Adams e Santschi (1999), Auer

(1992) e Crosgrove (1955). O princípio dos prolongamentos de casco está em exercer maior

tensão nas estruturas flexoras do membro durante a fase caudal do passo. Dessa forma, pode-

se induzir o alongamento das estruturas flexoras, e permitir maior mobilidade das estruturas

acometidas pela deformidade. Além disso, os prolongamentos protegem a região da pinça do

casco e as estruturas dorsais de região interfalangeana e metacarpo-falangeana do impacto

promovido pelo posicionamento inadequado destas estruturas no solo. Este recurso clínico foi

utilizado nos casos revisados neste estudo. A confecção das ferraduras com prolongamentos

deve ser realizada por pessoas com experiência em ferrageamento, para garantir adequado

posicionamento da ferradura no casco, e conforto ao animal em tratamento. O serviço de

ferrageamento no HOVET-USP é terceirizado, não havendo profissional apto para realizar as

técnicas com precisão. Atualmente existem Médicos Veterinários particulares que prestam

62

serviço de casqueamento e ferrageamento, mas os clientes dos Hospitais Veterinários, na

maioria dos casos, não possuem condições financeiras para pagar estes procedimentos

particulares, ou relutam em aceitar maiores gastos do que estão acostumados com os

ferradores que contratam com maior freqüência. A utilização de ferraduras com

prolongamentos deve ser avaliada nos casos de deformidades flexurais, visando aumentar os

índices de sucesso no tratamento clínico, não só dos animais atendidos em Hospitais

Veterinários, mas também nos animais tratados à campo.

Juntamente com a utilização de talas ou prolongamentos em região de pinça de casco,

pode-se optar pela administração intravenosa de oxitetraciclina. A aplicação deve ser lenta, e

geralmente são utilizadas altas doses do fármaco (dois a quatro gramas), sendo repetidas

diariamente, durante poucos dias, segundo Hunt (2003) e Kasper et al. (1995). O protocolo

utilizado nos casos clínicos revisados de deformidades flexurais congênitas foi na dose de um

grama, por via intravenosa, uma vez ao dia, durante três dias. Esta conduta, isoladamente ou

associada à imobilização com talas, se mostrou efetiva, embora o número de casos seja

pequeno. Não foram observados efeitos colaterais como diarréia ou insuficiência renal. O

tratamento com oxitetraciclina não foi utilizado nos casos de deformidades flexurais

adquiridas, assim como citado por Lokai (1992).

Os fármacos antiinflamatórios não esteroidais podem ser utilizadas em associação aos

tratamentos citados anteriormente. O princípio da utilização é baseado no controle da dor

causada pela extensão do membro, e estimulação do uso do mesmo para o apoio do animal

(ADAMS, 1990; ADAMS; SANTSCHI, 1999; EMBERTSON, 1994). Os animais acometidos

pelas deformidades, após imobilização do membro, foram medicados com cetoprofeno, na

dose de 2,2 mg/kg, uma vez ao dia durante três dias. O cetoprofeno foi escolhido para os

potros porque além de mostrar maior ação analgésica, parecem provocar menores índices de

lesões gástricas. A fenilbutazona não foi utilizada nestes casos, mesmo tendo boa atuação no

controle da dor dos membros dos eqüinos. O custo do tratamento com antiinflamatórios em

potros é pequeno, e a seleção dos princípios ativos foi baseada em potência de ação

antiinflamatória e analgésica, com menores efeitos indesejados. A utilização de analgésicos

em geral, e não só de antiinflamatórios não esteroidais, pode ser indicada no tratamento das

deformidades flexurais. Nos casos em que a dor não é controlada, esta pode influenciar

negativamente sobre o relaxamento muscular e o estímulo fisioterápico de alongamento das

unidades musculotendíneas acometidas.

Os animais submetidos ao tratamento clínico, embora representem a menor parte dos

animais deste estudo, responderam satisfatoriamente à terapia. As deformidades flexurais

63

congênitas apresentam melhor resposta ao tratamento clínico quando comparadas às

deformidades adquiridas, por serem normalmente tratadas logo após a identificação da

deformidade, e por se tratarem de animais mais jovens e de crescimento exponencial.

Nos casos de deformidades flexurais congênitas interfalangeanas em que realizou-se o

tratamento cirúrgico, o procedimento de escolha foi a desmotomia do acessório do flexor

digital profundo. Os procedimentos mais agressivos como a transecção da cápsula articular e

dos tendões não foram necessários, concordando com Adams & Santschi (1999). Em casos

graves, a transecção dos tendões, ligamentos e estruturas periarticulares podem ser realizadas

como último procedimento na tentativa de liberar o movimento da articulação envolvida.

Estas técnicas de tratamento são agressivas à fisiologia do membro, e a cicatrização

inadequada destas estruturas pode causar restrições de movimento, e futura queda de

performance. As técnicas de tratamento clínico são preconizadas inicialmente para estes

animais, mesmo em casos de envolvimento severo do membro.

A desmotomia do acessório do tendão flexor digital profundo tem sido usada com

sucesso no tratamento de deformidades flexurais interfalangeanas distais (SONNICHSEN,

1982). Como já citado para a desmotomia do acessório do flexor digital superficial, a

desmotomia do acessório do flexor digital profundo também é pouco agressiva à locomoção

dos eqüinos, e não exclui a possibilidade de associação à outras terapias clínicas. A

associação do tratamento com a aplicação de prolongamentos em região de pinça de casco

deve ser avaliada de acordo com cada caso. Deve-se lembrar que, além da função de indução

do alongamento nas estruturas flexoras, os prolongamentos também atuam protegendo a

região contra impactos excessivos exercidos durante o apoio do membro contraído. A

associação destas terapias pode ser ditada pela severidade de cada caso. Neste estudo

retrospectivo, associação da desmotomia do acessório do flexor digital profundo com a

aplicação de ferraduras com prolongamentos não foi utilizada. Isto não foi necessário por

motivo do animal já restabelecer o apoio do casco no solo como era objetivo do tratamento.

Nas deformidades metacarpo/metatarso-falangeanas, acredita-se que o ligamento

acessório do flexor digital superficial exerça um limite funcional para a extensão da superfície

dorsal interfalangeana (BARR; SCHRAMME, 1998). Nestas afecções, a desmotomia do

acessório do tendão flexor digital superficial permite maior movimentação da articulação, e

juntamente com outras terapias clínicas, a realização do tratamento destes animais. Este

procedimento cirúrgico é menos agressivo à fisiologia da locomoção dos eqüinos, e permite,

na maioria dos casos, a utilização dos animais para o esporte.

64

A transecção dos tendões flexores, ligamentos e estruturas periarticulares pode ser

necessária para se conseguir a extensão do membro em casos severos. A indicação deste tipo

de tratamento ocorre somente em casos de tentativa de salvamento de um animal em que se

tenha interesse zootécnico. Esta técnica não é indicada em animais em que a vida esportiva ou

a estética dos membros seja fundamental para a utilização do cavalo (ADAMS, 1990;

ADAMS et al., 1992). A tenotomia do flexor digital superficial foi realizada com sucesso

dentre os casos estudados. Não existiram informações referentes à utilização destes animais

para o esporte, não permitindo a avaliação da técnica quanto ao retorno dos animais à função.

5.2 Deformidades flexurais adquiridas

As deformidades flexurais adquiridas avaliadas neste estudo ocorreram somente nas

articulações metacarpo/metatarso-falangeanas e interfalangeanas distais. Este achado está de

acordo com Hunt (2003), que cita que estas articulações são mais freqüentemente acometidas,

juntamente com a articulação rádio-cárpica-metacárpica.

Foi observada grande variação em relação à idade dos animais, variando desde 3

meses até 29 anos. A maioria dos animais acometidos apresentavam acima de 2 anos de idade,

diferentemente do relatado por Hunt (2003).

Observou-se maior incidência de acometimento de membros anteriores (80,95%) nos

casos de deformidades flexurais adquiridas, corroborando com a citação de Thomassian

(1996).

O desenvolvimento destas alterações está muitas vezes relacionado à dor. Qualquer

dor em um membro irá iniciar um reflexo de flexão para a retirada do membro do solo, o que

resulta em contração dos músculos flexores e posição alterada da articulação. A reduzida

distribuição do peso sobre o membro pode causar esta síndrome (HUNT, 2003; STASHAK,

1994). Estes dados confirmam os achados do presente estudo, onde 44,44% do total de

animais claudicavam do membro acometido por longo período de tempo, e 16,67% de

animais receberam um trauma sobre a região envolvida pela deformidade. Independente do

fator de indução de lesão direta sobre o membro, ou de doença metabólica associada, estes

casos de deformidades adquiridas foram secundários à processos dolorosos do membro.

65

Potros jovens, alimentados em éguas com grande produção de leite em bom pasto são

susceptíveis ao rápido crescimento primário das placas distais de crescimento de metacarpo

ou metatarso, e o crescimento do esqueleto ocorre de forma desproporcional ao crescimento

dos tendões flexores (WYN-JONES et al., 1985). Tanto a superalimentação quanto as rações

não balanceadas são incriminadas como causas destas alterações (STASHAK, 1994). Na

revisão dos casos clínicos, foi observado que 38,89% dos animais apresentaram osteodistrofia

fibrosa. Esta situação, que envolve um sério distúrbio metabólico, geralmente é originada pela

subnutrição ou desbalanço mineral severo. Não foram observados casos de superalimentação

causando deformidades flexurais. A maioria dos animais acometidos pertenciam à pessoas de

baixa renda, com menor nível de instrução e menor condição financeira para alimentar os

animais corretamente ou reconhecer as afecções dos mesmos.

A maioria dos animais com osteodistrofia fibrosa mostrou em seu histórico a

alimentação baseada em farelo de trigo, alimento que é muito rico em fósforo, e pobre em

cálcio. O metabolismo destes minerais no organismo ocorre de forma associada, e a

eliminação do excesso de fósforo ingerido pelo animal acarreta em eliminação indesejada de

cálcio. Como forma de manter a calcemia, o organismo libera maiores concentrações de

paratormônio, que induz a retirada de cálcio do tecido ósseo, e a liberação deste elemento na

circulação. A densidade óssea dos animais acometidos por esta afecção é muito baixa,

causando claudicação severa que perdura se não tratada corretamente. A condição real de

criação de cavalos no Brasil, com alimentação preparada empiricamente na maioria dos casos,

predispõem às osteodistrofias, e secundariamente, às deformidades flexurais. Deve-se

lembrar que o mecanismo de indução da deformidade, nestes casos, pode ser também

relacionado à dor nos membros causada pela afecção primária. Este tipo de desbalanço

nutricional não foi citado na literatura internacional, parecendo ser uma particularidade do

sistema nacional de produção de eqüinos, principalmente dos proprietários que tem menor

poder aquisitivo e menor conhecimento das necessidades nutricionais dos eqüinos.

5.2.1 Deformidades interfalangeanas distais

Os sinais clínicos iniciais incluem projeção dorsal da região supra-coronária, aumento

da altura dos talões em comparação com o tamanho da pinça e falta de contato dos talões com

o solo após casqueamento (HUNT, 2003). Estes achados foram comumente observados nas

66

avaliações clínicas dos animais do estudo, além da identificação de cascos achatados na

região da pinça, dando aspecto plano à parede do casco. A mudança de conformação do casco

pode ser explicada pelo apoio do casco em pinça, e distribuição inadequada de forças sobre o

estojo córneo.

O diagnóstico baseia-se na apresentação clínica do processo, no diferencial quanto às

estruturas atingidas, e na ocorrência de fatores etiológicos predisponentes. Na revisão dos

casos, notou-se que o exame radiográfico foi utilizado com maior freqüência dentre as

deformidades flexurais, não só pelo fato de suspeita de lesões ósteo-articulares, mas também

pela maior disponibilidade de realização do exame no Serviço de Clínica Médica de Eqüinos

(HOVET-USP), no período estudado.

O tratamento clínico preconizado nos casos revisados foi baseado na imobilização do

membro, associada ao casqueamento corretivo (abaixamento dos talões), administração de

antiinflamatórios não esteroidais e mudanças na dieta, corroborando com Auer (1992). A

correção da causa primária da afecção foi tratada como primordial para o sucesso na terapia.

Em nenhum caso foi recomendada a realização de exercício controlado, que pode ser

explicado pelo fato de que a maioria dos animais apresentava graus elevados de claudicação.

Antiinflamatórios não esteroidais foram utilizados em todos os casos. Como citado

anteriormente, observou-se grande incidência de animais com deficiências nutricionais, o que

justificou a mudança da dieta dos animais acometidos, e a suplementação dos mesmos nas

fases iniciais de tratamento.

Neste estudo, não houve a necessidade de se intervir cirurgicamente nos casos onde o

tratamento clínico foi instituído. A persistência da afecção após tratamento clínico pode estar

relacionada à não identificação da causa primária da afecção, e manutenção do estímulo

doloroso no membro. Casos leves a moderados que não resultem em nenhum tipo de melhora

após tratamento clínico, podem necessitar de reavaliação do animal e do diagnóstico inicial

antes da indicação do tratamento cirúrgico. Segundo Hunt (2003), casos onde a deformidade

persiste após um ou dois meses de tratamento conservativo, pode-se recomendar a realização

de procedimentos cirúrgicos. Como consenso, o clínico deve avaliar a evolução de cada caso

isoladamente, e de acordo com as necessidades e possibilidades da realização do

procedimento cirúrgico, indicar ou não a cirurgia. É importante lembrar que, na maioria dos

casos, quanto mais precoce a indicação do procedimento cirúrgico, maiores as chances de se

alcançar bons resultados com a terapia.

A tenotomia do flexor digital profundo e a desmotomia de seu acessório foram

utilizadas como procedimentos de escolha para os casos de deformidades flexurais adquiridas

67

interfalangeanas. A tenotomia deve ser avaliada adequadamente em relação à utilização do

animal para esporte e em relação às complicações pós-operatórias, como por exemplo, o apoio

do membro somente em talões e bulbo devido à elevação da pinça. Em alguns casos pode ser

necessária a utilização de ferraduras com prolongamentos em região posterior aos talões, na

tentativa de evitar a elevação da pinça e a indução de lesões em região de bulbo. Em um dos

casos revisados foi realizada a imobilização do membro com intuito de manter a estabilidade

do apoio no solo.

A literatura fornece dados referentes ao prognóstico das deformidades flexurais

interfalangeanas adquiridas que devem ser avaliados com cautela. Segundo Adams e Santschi

(1999), o prognóstico para cavalos jovens com deformidades leves ou moderadas da

articulação interfalangeana distal é bom para o uso atlético do cavalo, enquanto animais com

deformidades flexurais severas desta articulação tem prognóstico ruim. Deve-se lembrar que

não existem regras para a evolução do tratamento das deformidades. Casos de deformidades

leves podem responder insatisfatoriamente mesmo quando tratados cirurgicamente, da mesma

forma que pode-se obter sucesso no tratamento de deformidades severas com a desmotomia

do acessório do flexor digital profundo. No estudo retrospectivo não foi possível o

acompanhamento dos animais com este tipo de deformidade utilizando suas fichas clínicas, e

a avaliação prognóstica em relação à vida esportiva dos animais não foi realizada. No Brasil

ainda não existem estudos que avaliam por longo período de tempo os animais com esta

afecção.

5.2.2 Deformidades flexurais metacarpo / metatarso-falangeanas

O número de machos e fêmeas acometidos foi distribuído proporcionalmente,

concordando com Wagner et al. (1985a).

O perfil da maioria dos animais atendidos no HOVET-USP mostra freqüente

desequilíbrio nutricional, principalmente relacionado à subnutrição. Os desequilíbrios

minerais são freqüentes, e os casos de osteodistrofia fibrosa não são raros, como observado no

histórico dos animais com deformidades flexurais adquiridas. A correção de dieta em animais

subalimentados que terão crescimento compensatório pode predispor ao desenvolvimento

deste tipo de deformidade, como citado por Wyn-jones et al. (1985). No presente estudo não

68

foi possível a determinação deste tipo de situação devido à escassez de informações de

histórico apresentadas nas fichas clínicas dos animais.

Como descrito por Thomassian (1996), o envolvimento clínico de diferentes estruturas

anatômicas poderá alterar os achados clínicos evidentes destas deformidades. O envolvimento

do músculo flexor digital profundo poderá ocorrer simultaneamente ao do flexor digital

superficial, e os sinais clínicos de deformidade metacarpo-falangeana se associarem aos de

interfalangeana distal. Poderão, nestes casos, ocorrer projeção cranial metacarpo-falangeana,

projeção cranial interfalangeana, e achatamento de superfície dorsal do casco, sinais clínicos

que foram bem evidenciados em uma das fichas clínicas.

As alterações radiográficas podem apresentar-se em graus variados. Sinais de doença

articular degenerativa e discreta subluxação interfalangeana podem ser observados. Os dados

de resultados ao exame radiográfico não foram catalogados por ser muito pequeno o número

de fichas que apresentavam estas descrições. Não existem achados patognomônicos para as

deformidades flexurais. Desta forma, o exame radiográfico não é suficiente para a

confirmação de um caso desta afecção, corroborando com Wagner et al. (1985a).

O tratamento clínico para as deformidades flexurais adquiridas metacarpo-falangeanas

foi baseado na correção da dieta, abaixamento dos talões e utilização de ferraduras com

prolongamento em região de pinça, antiinflamatórios não esteroidais e fisioterapia,

semelhante ao descrito por Auer (1992). O tratamento fisioterápico consistiu na extensão

manual do membro várias vezes ao dia, e em dois animais que foram mantidos internados,

foram realizadas seções de eletroestimulação. Outros aparelhos de fisioterapia podem ser

usados, como por exemplo o ultra-som terapêutico, mas dependem da disponibilidade do

aparelho e de pessoas habilitadas para utilizá-los corretamente. A indicação de cada forma de

tratamento, ou a associação de algumas delas variou de acordo com a gravidade de cada caso.

A imobilização dos membros é de difícil realização nos eqüinos adultos. Normalmente

utilizam-se materiais como PVC, madeira, ou segmentos de gesso sintético para confecção

das talas. O membro deve ser devidamente acolchoado, e como tentativa de conter o membro

imobilizado, faz-se externamente um penso esparadrapado. Neste procedimento, observa-se

grande dificuldade para a adaptação dos animais à imobilização, e a baixa resistência da

mesma. Uma alternativa de maior custo e risco envolvido é a imobilização com gesso

sintético. O animal deve ser submetido à anestesia dissociativa ou geral, e após realinhamento

do membro acometido, este deve ser recoberto por algodão ortopédico e externamente por

gesso sintético. Outro problema associado à esta técnica é a recuperação anestésica do animal

com o membro imobilizado. Além de ser bastante trabalhosa, existe o risco de quebra da

70

tenotomia do flexor digital superficial com a desmotomia do acessório do flexor digital

profundo, fatos que corroboram com Adams e Santschi (1999) e Wagner (1994). O tratamento

específico para este tipo de deformidade baseado na premissa de que somente o músculo

flexor digital superficial está envolvido pode não gerar bons resultados, se lembrarmos que o

tendão flexor digital profundo e o ligamento suspensor do boleto podem ter papel de restringir

a extensão da articulação, se também acometidos.

A palpação dos tendões flexores digitais superficial e profundo, e do ligamento

suspensor do boleto com o membro em máxima extensão, foi utilizada rotineiramente na

determinação de qual procedimento cirúrgico deve ser indicado, semelhante às citações de

Wagner et al. (1985b). A identificação de maior tensão a palpação do tendão flexor digital

superficial pode ser indicativo de que a desmotomia de seu acessório, ou mesmo a tenotomia,

sejam as melhores escolhas terapêuticas. O mesmo critério é válido para o tendão flexor

digital profundo.

As técnicas cirúrgicas foram também realizadas em associação com o tratamento

clínico descrito anteriormente, corroborando com Wagner et al. (1985b), que observou bons

resultados com a desmotomia do acessório do flexor digital profundo associada à utilização de

ferraduras com prolongamentos em região de pinça. No presente estudo foram observados

casos onde o tratamento cirúrgico foi instituído em associação com a administração de

antiinflamatórios, imobilizações, fisioterapia ou suplementação mineral.

5.2.3 Deformidades flexurais cárpicas

Deformidades flexurais adquiridas do carpo são normalmente resultado de trauma com

subseqüente desuso ou não sustentação do peso sobre o membro acometido. O carpo é

projetado anteriormente, e com o tempo, se torna restrito à posição flexionada (ADAMS;

SANTSCHI, 1999). É imprescindível para o tratamento destas deformidades, como já descrito

para as deformidades de outras regiões, a correção da causa primária que levou à alteração

cárpica. Alterações dietéticas, ou causas de dor no membro devem ser avaliadas e tratadas

cuidadosamente antes de se pensar em correção da deformidade. No estudo retrospectivo

realizado, não foi identificado nenhum caso de deformidade flexural cárpica, sugerindo que a

incidência deste tipo de afecção é infreqüente em nosso meio.

71

5.3 Toxina Botulínica

O bloqueio neuromuscular seletivo pode ser de grande valia no tratamento das

deformidades flexurais, pois consegue induzir relaxamento somente na musculatura de

interesse. A movimentação do membro, em geral, não é acometida, e as técnicas de

administração do produto são bastante simples. Fatores limitantes para o emprego desta

técnica em eqüinos incluem: ausência de determinação de dose de toxina por musculatura ou

por quilo de peso do animal, determinação dos pontos de injeção por músculo (pontos de

maior espasticidade), conhecimento do efeito esperado, tempo de duração do efeito e o preço

do produto. Em humanos, esta técnica é utilizada com bastante freqüência em adultos que

sofreram acidentes e desenvolveram espasticidade muscular e em crianças com paralisia

cerebral, como auxílio no controle dos movimentos. O tempo de duração do efeito observado

em humanos varia em torno de quatro meses. Se este tempo de duração for o mesmo em

eqüinos, com apenas uma aplicação do produto, talvez seja possível o tratamento das

deformidades flexurais leves e moderadas. Outro fator importante a ser observado, é que o

tratamento com a toxina botulínica não exclui a possibilidade de associação com outros

tratamentos clínicos ou cirúrgicos. Em humanos, a técnica é sempre empregada associada à

fisioterapia (van KUJIK, 2002). Baseado na fisiologia e na farmacologia do produto pode-se

imaginar que os resultados serão promissores no tratamento da espasticidade dos eqüinos,

cabendo ao clínico indicar a utilização correta do produto. Outras situações como miopatias

do exercício, tendinites severas, rupturas parciais de tendões, tenorrafias, também poderão ser

auxiliadas com a administração local de toxina botulínica.

72

6 CONCLUSÃO

O estudo retrospectivo e a análise crítica das fichas clínicas avaliadas nos permitem

concluir:

1- O maior número de casos observados de deformidades flexurais adquiridas pode

não ser a real proporção da população estudada. Os casos de deformidades flexurais

congênitas demonstram melhor prognóstico quando tratados à campo, em comparação com as

deformidades adquiridas, não tornando necessário o encaminhamento destes animais aos

centros de tratamento;

2- A osteodistrofia fibrosa parece ter um caráter determinante no desenvolvimento das

deformidades flexurais adquiridas na população estudada. Neste grupo, observou-se grande

freqüência desta afecção de forma associada às deformidades adquiridas;

3- As técnicas de tratamento quando realizadas de forma associada podem ter ação

sinérgica, e devem ser utilizadas em conjunto sempre que possível.

73

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