Rodrigo Schaefer Competência Comunicativa

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ RODRIGO SCHAEFER PROPOSTA DE AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA COMUNICATIVA INTERCULTURAL DE ALUNOS UNIVERSITÁRIOS Itajaí (SC) 2014

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Rodrigo Schaefer Competência Comunicativa

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  • UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA

    RODRIGO SCHAEFER

    PROPOSTA DE AVALIAO DA COMPETNCIA COMUNICATIVA

    INTERCULTURAL DE ALUNOS UNIVERSITRIOS

    Itaja (SC)

    2014

  • 1

    UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA

    Pr-Reitoria de Pesquisa, Ps-Graduao, Extenso e Cultura - ProPPEC

    Programa de Ps-Graduao em Educao - PPGE

    Curso de Mestrado Acadmico

    RODRIGO SCHAEFER

    PROPOSTA DE AVALIAO DA COMPETNCIA COMUNICATIVA

    INTERCULTURAL DE ALUNOS UNIVERSITRIOS

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao Stricto Sensu em Educao, da

    Universidade do Vale do Itaja, como requisito parcial

    obteno do grau de Mestre em Educao rea de concentrao: Educao (Linha de Pesquisa: Prticas docentes e formao profissional).

    Orientador: Prof. Dr. Jos Marcelo Freitas de Luna

    Itaja (SC)

    2014

  • 2

    UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA

    Pr-Reitoria de Pesquisa, Ps-Graduao, Extenso e Cultura - ProPPEC

    Programa de Ps-Graduao em Educao - PPGE

    Curso de Mestrado Acadmico

    CERTIFICADO DE APROVAO

    RODRIGO SCHAEFER

    PROPOSTA DE AVALIAO DA COMPETNCIA COMUNICATIVA

    INTERCULTURAL DE ALUNOS UNIVERSITRIOS

    Dissertao avaliada e aprovada pela Comisso

    Examinadora e referendada pelo Colegiado do PPGE

    como requisito parcial obteno do grau de Mestre

    em Educao.

    Itaja (SC), 27 de fevereiro de 2014.

    Membros da Comisso:

    Orientador: ______________________________________ Prof. Dr. Jos Marcelo Freitas de Luna

    Membro Externo: _______________________________________

    Prof.a Dr.

    a Maria Inz Probst Lucena

    Membro representante do colegiado: _______________________________________

    Prof.a Dr.

    a Vernica Gesser

  • 3

    Ai, palavras, ai, palavras

    que estranha potncia, a vossa!

    Ai, palavras, ai palavras

    sois de vento, ides no vento,

    no vento que no retorna,

    e, em to rpida existncia,

    tudo se forma e transforma.

    Sois de vento, ides no vento,

    e quedais com sorte nova!

    Ceclia Meireles

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    A meu pai (in memorian).

    A minha me, a minha irm e ao meu cunhado: sem valioso apoio e ajuda eu no poderia ter

    realizado mais esta etapa na minha vida.

    A Deus, responsvel pela minha existncia.

    A meu professor orientador Dr. Jos Marcelo Freitas de Luna pelo incentivo, dedicao e

    companheirismo.

    Ao Programa de Mestrado Acadmico em Educao, por se mostrar solcito em todos os

    momentos.

    A meus colegas do Mestrado, em especial Janete Bridon e Elaine C. S. Martins, por nossa

    trajetria nos primeiros meses de estudos: os trabalhos intensos em grupo, as risadas, as

    brincadeiras, os cafs, os almoos, os desabafos.

    A meu colega doutorando Paulo Roberto Sehnem, pela amizade e pelas discusses sobre o

    tema da minha (nossa) pesquisa.

    A meus amigos de trabalho.

    Aos colegas do Grupo de Pesquisa Estudos Lingusticos e Ensino de Lnguas.

    s professoras Dr.a Maria Inz Probst Lucena e Dr.

    a Vernica Gesser, pelas contribuies

    precisas sobre o assunto da minha pesquisa.

  • 5

    RESUMO

    A presente dissertao, vinculada ao grupo de pesquisa de Estudos Lingusticos e Ensino de

    Lnguas e Linha de Pesquisa de Prticas Docentes e Formao Profissional, teve como

    objetivo elaborar uma proposta metodolgica para avaliao de competncia comunicativa

    intercultural de alunos universitrios. Para obteno de fundamentos tericos, essa pesquisa

    apresentou contribuio de autores que discutem assuntos relacionados interculturalidade e

    avaliao de competncia comunicativa intercultural, entre outros: Castle Sinicrope, John

    Norris e Yukiko Watanable; Darla K. Deardorff; Alvino E. Fantini; e Michael Byram. Para

    coleta de dados aplicamos, com trs grupos de sujeitos, quatro instrumentos adaptados do

    INCA (projeto de Avaliao de Competncia Intercultural). Em seguida procedemos com a

    anlise dos dados obtidos por meio da aplicao com cada um dos grupos de sujeitos, no

    intuito de constatar se os instrumentos referidos so adequados para avaliar as seis dimenses

    de competncia comunicativa intercultural Descoberta de Conhecimento, Empatia, Tolerncia

    Ambiguidade, Respeito ao Outro, Flexibilidade Comportamental e Conscincia

    Comunicativa e seus respectivos nveis de habilidade: Bsico, Intermedirio e Pleno. Os

    dados mostraram que o instrumento adequado para avaliar todas as dimenses de

    competncia comunicativa intercultural, apesar de haver uma menor recorrncia das

    dimenses Tolerncia Ambiguidade, Respeito ao Outro e Conscincia Comunicativa.

    Referente aos nveis de habilidades, foi identificado um maior nmero de recorrncia de nvel

    Pleno. Com base nos dados obtidos prosseguimos com a elaborao da proposta metodolgica

    de avaliao de competncia comunicativa intercultural de alunos universitrios, objetivo

    dessa investigao.

    Palavras-chave: Competncia Comunicativa Intercultural. Avaliao de Competncia

    Comunicativa Intercultural. Instrumentos de Avaliao de Competncia Comunicativa

    Intercultural.

  • 6

    ABSTRACT

    This study is linked to the research group Linguistic Studies and Teaching of Languages, and

    to the Line of Research Teaching Practices and Professional Training. Its objective was to

    design a methodology for assessing the intercultural communicative competence of university

    students. In order to obtain a theoretical foundation, this research presented a contribution of

    some authors who discuss issues related to interculturality and assessing intercultural

    communicative competence. These include, among others: Castle Sinicrope, John Norris and

    Yukiko Watanable; Darla K. Deardorff; Alvino E. Fantini; and Michael Byram. For the data

    collection, four instruments adapted from INCA (Intercultural Competence Assessment

    Project) were applied to three groups of subjects. We then analyzed the data, obtained through

    the application of the questionnaire with the three groups of subjects, to ascertain whether

    these instruments are appropriate for assessing the six dimensions of intercultural

    communicative competence: Discovery of knowledge, Empathy, Tolerance to Ambiguity,

    Respect for Others, Behavioral Flexibility, and Communicative Awareness, as well as their

    skill levels: Basic, Intermediate and Full. The data showed that the instrument is appropriate

    for assessing the six dimensions of intercultural communicative competence, despite the

    lower recurrence of the dimensions Tolerance to Ambiguity, Respect for Others, and

    Communicative Awareness. Regarding the skill levels, a higher number of recurrences of Full

    was identified. Based on the data obtained from the application, we created a methodology for

    assessing intercultural communicative competence among university students.

    Keywords: Intercultural Communicative Competence. Intercultural Communicative

    Competence Assessment. Assessment Tools for Intercultural Communicative Competence.

  • 7

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Dinmica 2: Desenho Primeiro Grupo..................................................................... 70

    Figura 2 - Dinmica 2: Desenho Grupo 1................................................................................. 81 Figura 3 - Dinmica 2: Desenho Grupo 2................................................................................. 82

    Figura 4 - Dinmica 2: Desenho Grupo 3................................................................................. 83

    Figura 5 - Dinmica 2: Desenho Grupo 4................................................................................. 84

    Figura 6 - Dinmica 2: Desenho Grupo 1................................................................................. 86

    Figura 7 - Dinmica 2: Desenho Grupo 2................................................................................. 87

    Figura 8 - Dinmica 2: Desenho Grupo 3................................................................................. 88

    Figura 9 - Dinmica 2: Desenho Grupo 4................................................................................ 89

    Figura 10 - Dinmica 2: Desenho Grupo 5............................................................................... 90

    Figura 11 - Dinmica 2: Desenho Terceiro Grupo ................................................................. 101

  • 8

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Transcrio em portugus do vdeo utilizado na atividade do Cenrio ................. 55

    Quadro 2 - Questes da atividade do Cenrio, em portugus ................................................... 53 Quadro 3 - Instrues da Dinmica 2 ....................................................................................... 57

    Quadro 4 - Roteiro de Observao / Respeito ao Outro ........................................................... 60

    Quadro 5 - Roteiro de observao / Tolerncia Ambiguidade .............................................. 60

    Quadro 6 - Roteiro de observao / Descoberta de Conhecimento .......................................... 61

    Quadro 7 - Roteiro de observao / Empatia ............................................................................ 61

    Quadro 8 - Roteiro de observao / Conscincia Comunicativa .............................................. 62

    Quadro 9 - Roteiro de observao / Flexibilidade Comportamental ........................................ 62

    Quadro 10 - Roteiro de observao / Anotaes gerais............................................................ 63

    Quadro 11 - Questes do Cenrio para o Primeiro Grupo ....................................................... 66

    Quadro 12 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade ....................... 68

    Quadro 13 - Roteiro de Aplicao do Segundo Grupo ............................................................. 72

    Quadro 14 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Cenrio ........................................................................................................................ 74

    Quadro 15 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 1 /Dezesseis Sujeitos..................................................................................78

    Quadro 16 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 1 / Vinte Sujeitos ........................................................................................ 78

    Quadro 17 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 2/ Grupo 1 ................................................................................................... 82

    Quadro 18 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 2 / Grupo 2 .................................................................................................. 83

    Quadro 19 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 2 / Grupo 3 .................................................................................................. 84

  • 9

    Quadro 20 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 2 / Grupo 4 .................................................................................................. 85

    Quadro 21 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 2 / Grupo 1 .................................................................................................. 85

    Quadro 22 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 2 / Grupo 2 .................................................................................................. 86

    Quadro 23 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 2 / Grupo 3 .................................................................................................. 87

    Quadro 24 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 2 / Grupo 4 .................................................................................................. 88

    Quadro 25 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Dinmica 2 / Grupo 5 .................................................................................................. 89

    Quadro 26 -Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Autoavaliao / Dezesseis Sujeitos ............................................................................. 91

    Quadro 27 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Segundo

    Grupo / Autoavaliao / Vinte Sujeitos .................................................................................... 92

    Quadro 28 - Roteiro de Aplicao do Terceiro Grupo ............................................................. 94

    Quadro 29 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Terceiro

    Grupo / Cenrio ........................................................................................................................ 96

    Quadro 30 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Terceiro

    Grupo / Dinmica 1 .................................................................................................................. 99 Quadro 31 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Terceiro

    Grupo / Dinmica 2 ................................................................................................................ 102

    Quadro 32 - Identificao das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Terceiro

    Grupo / Autoavaliao ............................................................................................................ 103

    Quadro 33 - Recorrncia das Dimenses de CCI e dos Nveis de Habilidade do Primeiro

    Grupo + Segundo Grupo + Terceiro Grupo Cenrio / Dinmica 1 / Dinmica 2 / Autoavaliao ......................................................................................................................... 104

    Quadro 34 - Avaliao de CCI do Nmero 1 - Grupo 1 dia 26-10-13 ................................... 128

    Quadro 35 - Recorrncia de CCI nmero 1 ............................................................................ 129

  • 10

    LISTA DE ABREVIATURAS

    CC Competncia Comunicativa

    CCI Competncia Comunicativa Intercultural

    INCA Intercultural Competence Assessment Project

    QECR Quadro Europeu Comum de Referncias para Lnguas

  • 11

    SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................... 14

    2 REFERENCIAL TERICO .............................................................................................. 20 2.1 SOBRE INTERNACIONALIZAO .............................................................................. 20

    2.2 SOBRE INTERCULTURALIDADE E ENSINO DE LNGUAS ..................................... 21

    2.3 SOBRE COMPETNCIA COMUNICATIVA ................................................................. 27

    2.4 SOBRE COMPETNCIA COMUNICATIVA INTERCULTURAL ............................... 29

    2.4.1 Principais abordagens de competncia intercultural ....................................................... 33

    2.5 SOBRE AVALIAO DE COMPETNCIA INTERCULTURAL ................................. 37

    2.5.1 Modelos Indiretos de Instrumentos de Avaliao ........................................................... 38

    2.5.2 Modelos Diretos de Instrumentos de Avaliao .............................................................. 43

    2.5.3 Ferramentas de avaliaes combinadas ........................................................................... 44 3 METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................................... 46

    3.1 CONSIDERAES SOBRE O EMPREGO DOS INSTRUMENTOS AVALIADOS .... 48

    3.1.1 Roteiro de Observao .................................................................................................... 58

    4 APRESENTAO E DISCUSSO DOS DADOS RESULTANTES DA APLICAO

    DOS INSTRUMENTOS AVALIADOS ............................................................................... 64

    4.1 PRIMEIRO GRUPO .......................................................................................................... 65

    4.1.1 Apresentao ................................................................................................................... 65

    4.1.2 Cenrio - sujeitos ............................................................................................................. 65

    4.1.2.1 IDENTIFICAO DAS DIMENSES DE CCI E DOS NVEIS DE HABILIDADE ....................... 67

    4.1.3 Dinmica 1 Apresentao ............................................................................................. 68

    4.1.3.1 DINMICA 1 SUJEITOS................................................................................................. 69

    4.1.4 Dinmica 2 Sujeitos ...................................................................................................... 69

  • 12

    4.1.5 Consideraes do Primeiro Grupo ................................................................................... 70

    4.2 SEGUNDO GRUPO .......................................................................................................... 71

    4.2.1 Apresentao ................................................................................................................... 71 4.2.2 Cenrio ............................................................................................................................ 73

    4.2.2.1 RELATO ......................................................................................................................... 73

    4.2.2.2 IDENTIFICAO DAS DIMENSES DE CCI E DOS NVEIS DE HABILIDADE ....................... 73

    4.2.3 Dinmica 1 ....................................................................................................................... 75

    4.2.3.1 RELATO ......................................................................................................................... 75

    4.2.3.2 IDENTIFICAO DAS DIMENSES DE CCI E DOS NVEIS DE HABILIDADE ....................... 77

    4.2.4 Dinmica 2 ....................................................................................................................... 78

    4.2.4.1 RELATO ......................................................................................................................... 78

    4.2.4.2 IDENTIFICAO DAS DIMENSES DE CCI E DOS NVEIS DE HABILIDADE ....................... 80 4.2.5 Autoavaliao .................................................................................................................. 90

    4.2.5.1 RELATO ......................................................................................................................... 90

    4.2.5.2 IDENTIFICAO DAS DIMENSES DE CCI E DOS NVEIS DE HABILIDADE ....................... 91

    4.2.6 Consideraes do Segundo Grupo ................................................................................... 92

    4.3 TERCEIRO GRUPO .......................................................................................................... 93

    4.3.1 Apresentao ................................................................................................................... 93

    4.3.2 Cenrio ............................................................................................................................ 95

    4.3.2.1 RELATO ......................................................................................................................... 95

    4.3.2.2 IDENTIFICAO DAS DIMENSES DE CCI E DOS NVEIS DE HABILIDADE ....................... 95 4.3.3 Dinmica 1 ....................................................................................................................... 96

    4.3.3.1 RELATO ......................................................................................................................... 96

    4.3.3.2 IDENTIFICAO DAS DIMENSES DE CCI E DOS NVEIS DE HABILIDADE ....................... 98

    4.3.4 Dinmica 2 ....................................................................................................................... 99

  • 13

    4.3.4.1 RELATO ......................................................................................................................... 99

    4.3.4.2 IDENTIFICAO DAS DIMENSES DE CCI E DOS NVEIS DE HABILIDADE ..................... 101

    4.3.5 Autoavaliao ................................................................................................................ 102 4.3.5.1 RELATO ....................................................................................................................... 102

    4.3.5.2 IDENTIFICAO DAS DIMENSES DE CCI E DOS NVEIS DE HABILIDADE ..................... 103

    4.3.6 Consideraes do Terceiro Grupo ................................................................................. 103

    4.4 AVALIAO DE CCI ENCONTRADA POR CADA INSTRUMENTO ..................... 104

    4.4.1 Cenrio .......................................................................................................................... 105

    4.4.2 Dinmica 1 ..................................................................................................................... 106

    4.4.3 Dinmica 2 ..................................................................................................................... 108

    4.4.4 Autoavaliao ................................................................................................................ 110

    4.5 AVALIAO DE CCI ENCONTRADA PELOS QUATRO INSTRUMENTOS ......... 111

    5 PROPOSTA METODOLGICA PARA AVALIAO DE COMPETNCIA

    COMUNICATIVA INTERCULTURAL DE ALUNOS UNIVERSITRIOS ............... 114

    5.1 SOBRE A COMPOSIO DA PROPOSTA EM QUATRO INSTRUMENTOS ......... 114

    5.2 SOBRE A UTILIZAO DO ROTEIRO DE OBSERVAO ..................................... 115

    5.3 CENRIOS ...................................................................................................................... 116

    5.4 DINMICAS ................................................................................................................... 119

    5.5 AUTOAVALIAO ....................................................................................................... 124

    5.6 ALGUMAS SUGESTES COMPLEMENTARES SOBRE A PROPOSTA ................. 126

    5.7 APLICAO EM DESENVOLVIMENTO .................................................................... 127

    6 CONSIDERAES ACERCA DO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ........... 130

    REFERNCIAS ................................................................................................................... 133

    APNDICES ......................................................................................................................... 136

  • 14

    1 INTRODUO

    A literatura em geral aponta para o fato de que o limite entre as naes foi

    significativamente diminudo (DEARDORFF, 2009). Em grande parte, esse fenmeno se d

    por uma interao entre pessoas, quase que constantemente, por meios de comunicao como,

    somente para citar dois exemplos, telefone e Internet. Para confirmar essa assertiva, Deardorff

    diz que:

    No mundo de hoje, as tendncias da globalizao e das novas tecnologias tm tido

    efeitos dramticos nas pessoas ao redor do mundo. Mais pessoas do que nunca antes

    na histria do mundo agora tm contato direto e indireto com outros, e de maneira

    crescente, este contato inclui pessoas de diversas lnguas e origens culturais. Este

    fenmeno tem produzido novas oportunidades de comunicao entre todos os

    envolvidos como novos desafios significantes tambm. (DEARDORFF, 2009, p.

    456, traduo nossa).

    Em que pese a importncia dos recursos referidos para as sociedades do presente, h

    que se afirmar que no basta deter conhecimentos da lngua materna e de lnguas estrangeiras

    para se comunicar eficazmente com o Outro. Ademais do conhecimento de uma lngua,

    reconhecer o modo pelo qual as pessoas se comportam, seus desejos e necessidades, e

    demonstrar respeito quele que diferente lingustica e culturalmente assume um aspecto

    complementarmente relevante.

    Considerando essa realidade, Deardorff (2009) assinala que na atualidade as pessoas

    esto percebendo que precisam desenvolver outras habilidades para se relacionar com pessoas

    de outras culturas, isto , outros comportamentos e estilos que vo alm dos nativos. Alm

    disso, Deardorff (2009) ressalta a noo de que a aceitao, nas diversas formas de interaes,

    no acontece to somente na viso de um sujeito em particular, mas, principalmente, na

    perspectiva do Outro, ou seja, na expectativa do interlocutor.

    Se pensarmos em relao ao sentido da palavra globalizao, qual seja, como um

    processo de conexo econmico, social e cultural entre as naes e pases, podemos pensar

    que este um termo relativamente atual. No entanto, se verificarmos na histria dos pases,

    constataremos que os povos da mesma forma se comunicavam uns com os outros, no que se

    refere, s para citar, troca de mercadorias, comercializao e colonizao, isto , povos

    estrangeiros que no decorrer da histria exploraram outros territrios e povos. Assim, a

    interao e dilogo entre os pases sempre existiram, porm no com tanta intensidade como

  • 15

    nos dias atuais, especialmente devido ao desenvolvimento dos meios de comunicao e de

    transporte. Esse fato leva a crer que, atualmente, o processo de integrao entre os pases

    ocorre de forma mais frequente e constante do que ao longo de toda a histria. Dessa

    constatao, sustentada por Deardorff (2009), emerge a necessidade de os sujeitos serem

    competentes interculturalmente, na inteno de promover o respeito e tolerncia em relao

    ao Outro e possurem atitudes, conhecimentos e habilidades para a promoo do entendimento

    de contextos culturais distintos.

    Levar em considerao que pessoas provenientes de outras culturas apresentam

    comportamentos, vises de mundo, crenas e valores distintos pode ser a chave do sucesso

    para a interao intercultural (DEARDORFF, 2009). Isso nos conduz constatao de que o

    modo como pensamos e agimos com o Outro influencia preponderantemente no processo de

    comunicao, por exemplo, nas relaes interpessoais, nos programas de mobilidade

    estudantil internacional, no mundo dos negcios, entre outras possibilidades.

    Dado o que vimos at aqui, e por outras razes que sero apresentadas a seguir, optei

    por algo relacionado ao tema interculturalidade como objeto de estudo no mestrado. Mas por

    que escolhi interculturalidade? Muito tem a ver com minha formao e parte com os estudos

    no primeiro ano do Grupo de Pesquisa. Explico-me nos prximos pargrafos.

    Em 2007 me formei em Letras Portugus / Ingls. Em 2009 terminei uma

    complementao em Letras Espanhol. Em 2011 fiz uma especializao lato-sensu em

    Interdisciplinaridade na Prtica Pedaggica. Em 2013 terminei outra especializao latu-

    sensu: Traduo em Lngua Espanhola. Professor de espanhol, portugus e Ingls desde 2007,

    sempre me fascinei pelo estudo e ensino de lnguas. No que se refere aprendizagem de

    lnguas, insiro-me no grupo dos indivduos integracionistas, ou seja, aqueles que aprendem

    uma determinada lngua motivados pelo entusiasmo e apreciao da cultura dos povos e dos

    aspectos lingusticos e extralingusticos culturais. Apesar de ter iniciado os estudos de ingls

    em 2003 devido a razes aparentemente instrumentalistas, qual seja, aprender a falar a lngua

    para fazer faculdade de Letras e um dia poder dar aulas de ingls, um desejo gradativo, porm

    paulatino, de conhecer mais a respeito da cultura, do funcionamento da lngua e de sua dita

    importncia na comunicao, isto , na informtica, viagens, internacionalizao dos

    mercados, entre outros, levou-me ao desejo de conhecer outros idiomas, alm dos

    mencionados, italiano e francs. Atuo tambm como tradutor de textos em espanhol, ingls,

    francs e portugus.

  • 16

    Diante do que foi exposto no primeiro pargrafo e de minha experincia na rea de

    lnguas, somando as motivaes advindas dos estudos sobre interculturalidade no Grupo de

    Pesquisa Estudos Lingusticos e Ensinos de Lnguas, optei por desenvolver uma pesquisa que

    tratasse sobre interculturalidade. Realmente esta temtica despertou meu interesse. Descrevo

    posteriormente, a ttulo de ilustrao, a seguinte situao:

    Supomos que uma brasileira visite um estabelecimento num pas estrangeiro.

    Cuidemos que haja duas pessoas, um homem nativo do pas e a referida brasileira, porta de

    um estabelecimento, aguardando para que se abra. Quando finalmente escancarada, o

    homem mal espera para adentrar, e a mulher, entra em seguida. A estrangeira se frustra

    porque pensava que o homem fosse gentil e educado, visto que no seu pas de origem os

    homens costumam dar lugar de passagem primeiramente s mulheres. Ela se surpreende ao

    pensar que o comportamento daquele homem estranho, e no obtm sucesso ao intentar

    compreender o que de fato aconteceu: e se ele por ventura estivesse num momento de clera?

    A mulher, qui, encare o ocorrido como uma ofensa inaceitvel, por mais que tenha

    estudado a lngua daquele pas estrangeiro e aprendido um pouco sobre seus respectivos

    aspectos culturais tpicos e costumeiros. O homem, pelo contrrio, nem ao menos intuiu o

    descontentamento da estrangeira entristecida. Mal sabe ela que no pas em que est algumas

    de suas convenes culturais so distintas das da dela, isto , entrada so os homens que

    entram por primeiro, e, no entanto, sada so as mulheres. Considerando o relato hipottico

    acima: por que a mulher se ofendeu diante da situao? Ela poderia t-la vivenciado de modo

    no to apreensivo, isto , mais compreensvel?

    O homem, ao perceber a frustrao da mulher, poderia ter se aproximado dela e

    explicado a particularidade daquele evento, diminuindo, talvez, a ansiedade dela, uma vez que

    o sucesso nas relaes com pessoas de outras bases culturais envolve um processo de

    adaptao do sujeito a contextos culturais distintos do seu prprio, conforme Bennett:

    O segredo para o desenvolvimento da sensitividade e das habilidades necessrias

    para a comunicao internacional reside primeiramente na viso (ou percepo) que

    cada pessoa possui quando inserida num contexto cultural diferente do seu.

    (BENNETT, 1986, p. 1, traduo nossa).

    A propsito do comportamento da mulher, poderamos dizer que ela demonstrou

    uma atitude firmemente ancorada em valores e culturas de seu pas de origem (BYRAM,

    1992). Neste caso, a estrangeira obteve, ao estudar a lngua e representaes culturais daquele

  • 17

    pas estrangeiro, competncia relativamente lngua, mas dissociada da competncia

    comunicativa intercultural.

    A incorporao da internacionalizao da educao superior obtm fora expressiva

    em meados da dcada de 1990, sobretudo com a popularizao da Internet e do fenmeno da

    globalizao na comunicao entre povos e naes. Para tanto, na atualidade, no podemos

    negar a relevncia que algumas universidades, como a UNIVALI (Universidade do Vale de

    Itaja), FURB (Universidade Regional de Blumenau) e a UNIVILLE (Universidade da Regio

    de Joinville), entre outras, adquirem por se caracterizarem, dentre outras funes, como

    facilitadoras de interao entre culturas distintas. Esta atribuio se materializa por intermdio

    dos programas de mobilidade estudantil e das pesquisas, igualmente de natureza

    internacionalizadas. Para isso, a incorporao da internacionalizao da educao superior se

    faz presente em algumas universidade brasileiras, como as citadas.

    Antes de tomar a deciso de pesquisar interculturalidade, havia pensado em outras

    duas intenes de pesquisas. A primeira versava sobre o fenmeno da interlngua, isto , os

    aspectos gramaticais e fonolgicos de uma determinada lngua refletidos na produo de um

    aprendiz de uma lngua estrangeira, durante o processo de aquisio. Meu objetivo era o de

    analisar a fundo dois aspectos gramaticais em particular praticados por aprendizes de lngua

    estrangeira tanto de espanhol quanto de ingls. Alis, foi com esse projeto por meio do qual

    fui selecionado para realizar o mestrado. No entanto, conforme as aulas do Grupo de Pesquisa

    iam acontecendo, percebi que outra inquietao emergia: o processo tradutrio no ensino de

    lngua estrangeira. Em determinado momento havia-me declarado resoluto: este seria o objeto

    meu de estudo, por mais que no houvesse descrito um objetivo e nem pensado em uma

    problemtica em especfico at ento. Mas o tema interculturalidade o que mais me atraiu

    no final, e por ser um assunto que se faz necessrio presentemente e por demandar pesquisas

    as quais contribuam para essa rea relativamente jovem, incipiente em alguns aspectos, como

    veremos mais adiante.

    Outra explicao que me motivou a pesquisar sobre interculturalidade diz respeito s

    seguintes indagaes: possvel desenvolver um instrumento de avaliao de competncia

    intercultural de alunos universitrios? Quais dimenses poderiam ser utilizadas para a

    avaliao de competncia comunicativa intercultural?

  • 18

    Este trabalho tem por objetivo elaborar uma proposta metodolgica para avaliao da

    competncia comunicativa intercultural de alunos universitrios. Para respectiva consecuo,

    temos os seguintes objetivos especficos:

    conhecer as dimenses e as escalas de avaliao de competncia intercultural;

    empregar as dimenses Respeito ao Outro / Tolerncia Ambiguidade

    Abertura; Descoberta de Conhecimento / Empatia Conhecimento; Conscincia

    Comunicativa / Flexibilidade Comportamental Adaptabilidade - e

    correspondentes escalas de avaliao;

    discutir as dimenses e as escalas de avaliao.

    No entanto, no pretendemos que nosso instrumento se limite somente a alunos

    universitrios, apesar de estarmos elaborando uma proposta metodolgica de competncia

    comunicativa intercultural aplicvel a eles. Queremos dizer que objetivamos que nosso

    instrumento seja utilizado por instituies diversas e para outros grupos de sujeitos. Ou seja,

    nosso instrumento poder transcender o espao acadmico universitrio, sendo possvel sua

    utilizao em instituies, pases e com sujeitos diversos.

    Para a elaborao de um instrumento de avaliao de competncia intercultural,

    estudamos diversos autores especialistas em interculturalidade, inclusive a respeito daqueles

    que discutem sobre a avaliao de CCI, em contextos diversos. Com este exerccio,

    percebemos a inexistncia de um instrumento de avaliao de CCI voltado para alunos

    universitrios, que fosse testado e apoiado na literatura j existente sobre essa rea.

    De incio, o objetivo inicial era de avaliar a competncia intercultural de alunos

    participantes de programas de mobilidade universitria internacional. Sendo assim, nosso

    trabalho objetivava verificar se os alunos participantes de programas de mobilidade

    desenvolvem a competncia intercultural. Aps calorosas discusses que aconteceram entre

    orientador e orientando - por e-mail e nos momentos de orientao - e tambm nas aulas do

    grupo de pesquisa de Estudos Lingusticos e Ensino de Lnguas, do Programa de Mestrado em

    Educao da Univali, discusses referentes a metodologias e pressupostos tericos sobre

    avaliao de competncia intercultural, percebemos que nosso objetivo deveria ser outro. Por

    isso, modificamo-lo para, conforme j mencionado, elaborar uma proposta metodolgica para

    avaliao da competncia comunicativa intercultural de alunos universitrios. Assim,

  • 19

    consideramos a tese de que o instrumento de avaliao de competncia comunicativa

    intercultural que propomos adequado para avaliao da competncia intercultural de alunos

    universitrios.

    Para fins de delimitao do objeto, este trabalho tem como recorte alunos

    universitrios. Elegemos alunos universitrios em razo de que pretendemos comprovar se o

    objetivo desse estudo, mencionado anteriormente, adequado para avaliar a competncia

    comunicativa intercultural desses sujeitos. Outrossim, com frequncia, em algumas

    universidades brasileiras, um nmero considervel de alunos universitrios participam de

    programas de mobilidade estudantil ou recebem alunos estrangeiros participantes de

    disciplinas internacionais. Disso advm a relao direta com o tema interculturalidade e com

    o nosso objetivo. Da mesma forma, o pesquisador demonstra preferncia em lidar com o

    pblico jovem-adulto ou adulto.

    Este trabalho est dividido em seis captulos. O primeiro trata sobre as consideraes

    iniciais, descrevendo, entre outros pontos, os objetivos dessa investigao. O segundo

    discorre sobre a fundamentao terica necessria compreenso da avaliao de

    competncia comunicativa intercultural e execuo dos objetivos. O terceiro, por sua vez,

    apresenta a metodologia: os sujeitos, os instrumentos, as atividades propriamente ditas. No

    quarto apresentamos e discutimos os dados obtidos com trs grupos de pesquisas. Ainda nesse

    captulo, analisamos a CCI dos sujeitos obtida pelos quatro instrumentos. O quinto captulo

    apresenta a elaborao de uma metodologia de avaliao de CCI de alunos universitrios,

    objetivo dessa pesquisa. Por fim, o ltimo captulo aporta algumas consideraes relativas ao

    desenvolvimento da presente investigao.

  • 20

    2 REFERENCIAL TERICO

    Para consecuo dos objetivos, realizamos uma reviso referente literatura

    associada ao objeto dessa investigao, a saber: internacionalizao, interculturalidade e

    ensino de lnguas, competncia comunicativa, competncia comunicativa intercultural, e, por

    fim, avaliao de competncia comunicativa intercultural.

    2.1 SOBRE INTERNACIONALIZAO

    A histria sobre o surgimento da universidade est fortemente relacionada com as

    atividades eclesisticas, quando se delegava aos professores e aos sacerdotes o ensino da

    Doutrina que outrora era realizado pela hierarquia da Igreja. Nesse contexto aparece tambm

    o interesse em formar jovens para reas ditas clssicas como o Direito, a Medicina, a Arte e a

    Filosofia.

    A palavra universidade derivou de universitas, que se caracterizava por apresentar

    um aspecto assaz holstico da realidade. Precisamente pelo fato de a universidade revelar-se

    dentro de uma viso de grupo ou de unio, h de se considerar oportuno o conjunto de

    conhecimentos, atitudes e habilidades que os alunos da Educao Superior precisam ter

    atualmente, num mundo determinado por relaes polticas e sociais. Luna (2012) concebe

    que, para essa dimenso internacional, necessria a compreenso intercultural e lingustica,

    favorecendo a integrao e fortalecimento das capacidades nacionais e regionais. Esse aspecto

    permite inferir que o mercado de trabalho exige profissionais que tenham conhecimento de

    lnguas, que demonstrem conhecimento geral de mundo e que sejam preparados para se

    comunicar com culturas diferentes. A despeito dessa natureza universitas da universidade, as

    instituies do ensino superior deparam com aspectos limitadores da viabilizao da

    internacionalizao de seus currculos, como, por exemplo, professores que ministram

    disciplinas internacionalizadas sem, no entanto, a devida formao para exercer essa funo.

    Muito relacionado com a origem da palavra universidade, est o conceito de

    internacionalizao, definido pelos autores Marginson e Rhoades (2002) como o

    desenvolvimento do aumento de sistemas educacionais integrados e s relaes universitrias

    alm dos limites da nao. Com base nessa assertiva, entendemos que a internacionalizao se

    estabelece com a participao integracionista entre as universidades, docentes e educandos, ou

  • 21

    seja, constituda por uma perspectiva internacional e multicultural, tanto para alunos

    estrangeiros quanto para nativos.

    Em se tratando de internacionalizao, programas como o Cincias Sem Fronteiras e

    o Erasmus tm demonstrado considervel apoio. O Cincias Sem Fronteiras (CsF)1, criado

    pela Presidncia da Repblica do Brasil, e fomentado pelos Ministrios da Cincia,

    Tecnologia e Inovao (MCTI) e do Ministrio da Educao (MEC), e pelas instituies

    CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico) e CAPES

    (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior), possibilita que alunos

    brasileiros estudem em instituies de educao e tecnolgicas de diversas localidades do

    mundo. O objetivo do programa de possibilitar a qualificao e capacitao nas reas das

    cincias e tecnologias. J o Erasmus, um dos programas de mobilidade de estudantes

    universitrios mais utilizados no mundo inteiro, tem mais de 25 anos de existncia. Dentre

    outros objetivos, o programa pretende: a) Apoiar a criao de um Espao Europeu do Ensino

    Superior; e, b) Reforar o contributo do ensino superior e do ensino profissional avanado

    para o processo de inovao. (PARLAMENTO EUROPEU; CONSELHO DA UNIO

    EUROPEIA, 2006). O Erasmus compreende graus de estudos desde a graduao ao ps-

    doutoramento, assim como praticamente todas as reas do conhecimento.

    Nessa seo, discutimos brevemente sobre a histria do surgimento da universidade e

    de seu processo de internacionalizao, assim como dois dos programas que fomentam, na

    atualidade, a mobilidade internacional. Posteriormente estudaremos a literatura referente ao

    ensino de lngua estrangeira aliado a uma perspectiva intercultural, visto que essa relao

    pode contribuir para o processo de internacionalizao e, logo, ao desenvolvimento da CCI.

    2.2 SOBRE INTERCULTURALIDADE E ENSINO DE LNGUAS

    Por vezes, o processo de ensino de lngua estrangeira se atm de maneira especial a

    apresentar para os alunos conhecimentos referentes a caractersticas formais da lngua alvo,

    tais como: utilizao preponderante da gramtica, memorizao de vocabulrio, regras

    particulares da lngua, entre outros. Aspectos concernentes cultura do idioma estrangeiro,

    1 Informaes sobre o Programa Cincia Sem Fronteiras podem ser encontradas no seguinte endereo: . Acesso em: 4 nov. 2013.

  • 22

    que levem os alunos reflexo e ao dilogo com seus pares acerca das manifestaes culturais

    da lngua alvo, nem sempre esto previstos em instituies de ensino de lngua estrangeira.

    Sobre essa questo, Hanna (2013, p. 2) afirma que ao mover-se de uma cultura para outra o

    aprendiz de lnguas se transforma num aprendiz intercultural, e, como tal, necessitar de

    uma abordagem intercultural em seu aprendizado.

    O fato de que nem sempre as aulas de lngua estrangeira contemplam contedos

    socioculturais relativos aos falantes nativos pode dificultar o entendimento mtuo entre os

    falantes da lngua nativa e a estrangeira. Do mesmo modo, a inobservncia quanto a

    elementos interculturais pode inviabilizar a autovalorizao das culturas em questo.

    Deardorff explica que conhecimento por si s no suficiente (DEARDORFF, 2009, p. XIII,

    traduo nossa). Alm do mais, a linguagem por si s pode ser necessria, mas no suficiente

    para a competncia intercultural. Do mesmo modo, de acordo com Deardorff:

    [...] a lngua por si s no faz ningum competente interculturamente e lngua, comportamentos e estratgias internacionais juntos formam atos de fala na negociao intercultural, e da mesma forma acontece na cultura nativa, e todos os

    trs so necessrios para a comunicao intercultural. (DEARDORFF, 2009, p. XIII,

    traduo nossa).

    Para Walesco (2006) o domnio de lnguas estrangeiras facilita a integrao dos

    indivduos nesse novo mundo sem fronteiras e oportuno para o desenvolvimento de uma

    postura crtica em relao cultura materna. Essa afirmativa permite inferir que o sujeito que

    conhece outras culturas e lnguas capaz de no somente compreender a cultura do outro,

    mas de entender e refletir sobre caractersticas culturais que esto intrinsicamente

    relacionadas sua prpria cultura. A esse propsito, qual seja, da aquisio de lngua

    estrangeira calcada numa perspectiva intercultural, vale ressaltar que:

    [...] o indivduo no est simplesmente colocando novos rtulos em velhos

    conceitos, mas est promovendo a construo de uma competncia comunicativa e a

    transformao de si prprio no alargamento de seus horizontes culturais,

    reinventando-se a partir da posio que ocupa em cada contexto cultural,

    discernindo o que representa a sua prpria cultura e o que representa a cultura do

    outro. (REIS; BROCK, 2010, p. 75).

    Vimos descritos nessa sesso aspectos referentes interculturalidade inserida no

    processo de ensino de lngua estrangeira. Dado que, para Hanna (2013, p. 1), [...] a base do

    entendimento intercultural envolve o reconhecimento das similitudes e das dessemelhanas

  • 23

    entre duas ou mais culturas, aspectos concernentes cultura do idioma estrangeiro e

    informaes sobre o modo de vida das pessoas que, conforme j vimos, levem os alunos

    reflexo e ao dilogo entre pessoas de bases culturais distintas no so, muitas vezes, levados

    em considerao nas aulas de lngua estrangeira.

    Cabe-nos agora apresentar um pouco sobre a histria do ensino de lngua estrangeira,

    principalmente no tocante aos anos de 1960 em diante. Essa reviso adquire relevncia em

    razo de que os estudos interculturais no processo de lngua estrangeira so, em parte,

    decorrentes dos estudos relativos interculturalidade que emergem, maiormente, com a

    aproximao recente entre as diversas culturas do mundo, conforme veremos.

    Anteriormente dcada de 1960, o ensino de lngua estrangeira se atinha,

    maiormente, em exercitar o intelecto dos alunos, apoiando-se em exerccios de gramtica e de

    traduo (BROWN, 2000). Isto posto, exerccios de tradues da lngua alvo para a lngua

    materna dos educandos e vice-versa e estudos gramaticais relativos ao funcionamento da

    lngua, por exemplo, recorrentemente faziam parte das atividades de ensino da referida poca.

    J no perodo da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos tinham interesse em ensinar

    outras lnguas para seus soldados, no intuito de que agissem nas batalhas.

    Em meados do sculo XX, a abordagem sobre ensino de lngua predominante era a

    corrente estruturalista, que tinha por representantes tericos principais Saussure e,

    posteriormente, Chomsky. O mtodo estruturalista se apoiava sobremaneira na forma de

    expresso e na forma de contedo da lngua. Em outras palavras, o interesse reside

    particularmente nas regras gramaticais da lngua, e no em to alto grau na comunicao

    propriamente dita. Como estratgias de aquisio de lngua estrangeira, o estruturalismo conta

    com, por exemplo: exerccios de automatizao, de repetio, estratgias de memorizao da

    organizao das palavras em uma frase especfica, entre outros.

    A partir da dcada de 1970, a abordagem estruturalista entra em questionamento,

    visto que ela no atendia mais s mudanas da nova sociedade que aparecia nos anos 1960, ou

    seja, nova atitude comportamental das pessoas e ao desenvolvimento da cincia desse

    perodo (SILVA, 2011). Por essa razo, outra abordagem vem a ser estudada: a competncia

    comunicativa, pois agora a ateno recai sobre a comunicao, capacidade de se ser

    compreendido e de fazer compreender, interpretar e trocar significados adequadamente. Com

    o advento da abordagem comunicativa, o ensino est intimamente relacionado ao significado,

    ao aprendiz e ao contexto lingustico-cultural da lngua alvo.

  • 24

    Posteriormente, na dcada de 1990 em diante, o avano das novas tecnologias de

    informao favorece a comunicao entre as pessoas de modo muito mais frequente e no

    precisa existir, necessariamente, presena fsica num mesmo espao. Para Longaray (2009),

    essa dcada marcada pela insubordinao das relaes sociais aos limites geogrficos.

    Vale ressaltar tambm que, doravante, as culturas encontram-se em corrente inter-

    relacionamento, sendo possvel a ocorrncia de incompreenso comunicativa entre elas.

    Diante desse quadro, os estudos advindos da Competncia Comunicativa Intercultural passam

    a explicar essa nova dinmica da sociedade.

    A abordagem intercultural torna exequvel o prosseguimento da perspectiva ps-

    estruturalista dos anos de 1970 em diante. Seus objetivos visam aprendizagem sobre

    cultura, comparao entre culturas e explorao do significado de cultura (REIS;

    BROCK, 2010, p. 77). Logo, podemos inferir que para o sujeito obter a competncia

    comunicativa intercultural indispensvel compreender a cultura do outro, para ento

    compreender melhor a sua.

    Genc e Bada (2005) asseguram que, para os alunos de lngua estrangeira, o ensino

    tende a no imprimir sentido se eles no conhecerem nada a respeito das pessoas que falam a

    lngua alvo ou do pas no qual a lngua falada. E acrescenta que adquirir uma nova lngua

    significa muito mais do que a manipulao da sintaxe e do lxico (GENC; BADA, 2005, p.

    73, traduo nossa). Seguindo essa linha de raciocnio, o ensino de lnguas deveria no to

    somente propor momentos de estudos formais da lngua, como j o faz, porm aliar a aspectos

    interculturais, no intuito de assimilar a competncia comunicativa a qual vimos discutindo.

    Ao nos referirmos interculturalidade, h de se considerar a definio de cultura

    para, em seguida, definir transculturalismo e multiculturalismo, chegando ento a uma

    definio apropriada de interculturalismo. Para Deardorff (2009), cultura se refere a atitudes,

    valores, crenas, rituais/costumes, e modelos de comportamento com os quais as pessoas

    esto expostas desde o nascimento, e so transmitidas s outras geraes e mantidas por elas.

    Para Reis e Brock (2010), a cultura favorece a sensao de segurana e identidade s pessoas,

    fazendo, assim, parte de um conjunto mais amplo. Transculturalismo, por sua vez, tem

    relao direta s manifestaes culturais coincidentes nas diferentes lnguas e pases. J

    multiculturalismo se refere ao conhecimento de outras culturas para que o sujeito aprecie

    tambm a cultura da lngua alvo, ampliando seu leque de conhecimento de ambas as culturas,

  • 25

    isto , de sua lngua materna e a da lngua estrangeira. Por fim, interculturalismo denota o

    seguinte:

    [...] adotar a perspectiva do intercultural como processo de dilogo, comunicao

    entre pessoas ou grupos pertencentes a culturas diferentes que promove a integrao

    e o respeito diversidade e permite ao educando encontrar-se com a cultura do outro

    sem deixar de lado a sua prpria. (WALESKO, 2006, p. 28.)

    Por isso, discutir questes concernentes interculturalidade no significa meramente

    a exposio dos alunos a informaes de assuntos a propsito de um contedo cultural. Mais

    do que isso, trabalhar com interculturalidade implica favorecer o dilogo entre os sujeitos

    envolvidos, aceitando o diferente. A esse respeito, Deardorff (2009, p. XIII) diz que na

    educao o interesse principal reside no conhecimento de histria, lngua e literatura, por

    exemplo, os chamados produtos de uma cultura, ou cultura objetiva. Segundo o autor, esses

    produtos culturais fazem parte de um valioso instrumento para transmitir aspectos culturais de

    uma determinada cultura. No entanto, para se tornar um sujeito interculturalmente

    competente, de acordo com Deardorff (2009), preciso adotar uma cultura subjetiva, no

    intuito de estimular nos sujeitos fundamentos, habilidades e conhecimentos no tocante

    competncia intercultural. O autor acrescenta: construir relacionamento autntico, portanto,

    a chave nesse processo de aprendizagem cultural observando, ouvindo, e pedindo queles

    que so de procedncia diferente para ensinar, dividir, para iniciar um dilogo juntos, sobre

    necessidades e questes relevantes (DEARDORFF, 2009, p. XIII, traduo nossa).

    valido declarar que o indivduo no se distancia da sua prpria cultura ao deparar

    com elementos culturais da estrangeira. Pelo contrrio, esse processo permite que se reflitam

    questes culturais inerentes as duas em foco, promovendo uma maior conscincia de sua

    prpria identidade e um maior respeito identidade do outro (REIS; BROCK, 2006, p. 78).

    A propsito do tema interculturalidade, relevante descrever sobre a contribuio

    que o Quadro Europeu Comum de Referncias para as Lnguas (QECR) incide sobre as

    relaes interculturais. A seguir, trataremos de discutir sobre o QECR, tais como objetivos e

    sua respectiva relao com a interculturalidade.

    O QECR, lanado em 2001, decorrente das discusses sobre os Objetivos do

    Conselho da Europa, quais sejam: melhorar a intercomunicao europeia; preservar a

    pluralidade lingustica e cultural; e fomentar o enfoque do ensino das lnguas baseado em

    princpios comuns. O escopo primeiro do QECR de estabelecer uma base comum atravs do

  • 26

    documento marco comum. Outrossim, o QECR pretende melhorar a intercomunicao

    europeia, preservar a pluralidade lingustica e cultural, favorecer o respeito e a tolerncia,

    facilitar a mobilidade, desenvolver a conscincia plurilngue e a aprendizagem de lnguas no

    decorrer de toda a vida. O Documento surgiu a partir da unio de trs rgos, oriundos do

    Conselho da Europa: Comit de Ministros de Assuntos Exteriores, Assembleia

    Parlamentarista, Conselho e Cooperao Cultural. Com base nesses trs rgos estabeleceu-se

    o Novo Projeto Educativo. Alm disso, o Conselho e Cooperao Cultural criou a Diviso de

    Polticas Lingusticas. O documento final do QECR possibilitou a criao do Portflio

    Europeu das Lnguas, que tem por objetivo atestar o grau de conhecimento lingustico e

    intercultural do falante de lngua estrangeira.

    Para o QECR (CONSELHO DA EUROPA, 2001), dentro de uma abordagem

    intercultural, o objetivo essencial do ensino de lnguas o de promover o desenvolvimento

    desejvel da personalidade do aprendiz no seu todo, bem como o seu sentido de identidade,

    resultante da experincia enriquecedora da diferena na lngua e na cultura. Ratificando as

    palavras do documento, um dos objetivos principais de possibilitar o intercmbio de

    caractersticas culturais entre vrias naes, aprimorando o desenvolvimento da personalidade

    do indivduo e, ao mesmo tempo, o respeito diversidade.

    O QECR possui as seguintes caractersticas: dirigido aos governos e aos

    profissionais da docncia; um documento bsico para o ensino e aprendizagem de lnguas;

    pretende desenvolver competncias dos falantes: plurilinguismo e pluriculturalidade; contm

    opes metodolgicas e de reflexo; adota o enfoque centrado na ao (usurio como

    agente social); favorece a transparncia de cursos, programas e titulaes e a possvel

    colaborao entre instituies educativas; possibilita o consenso terminolgico; possui um

    sistema comum de certificaes; tem funo descritiva sem pretenso de imposio

    normativa; descreve as atividades comunicativas da lngua por meio dos conhecimentos

    necessrios e das habilidades comunicativas, que se definem como nveis comuns de

    referncias, portanto: A1 = iniciao; A2 = Elementar; B1 = Nvel Limiar; B2 = Nvel

    Vantagem; C1 = Autonomia; C2 = Mestria.

    Em relao a alguns aspectos interculturais descritos nos pargrafos anteriores,

    possvel notar coincidncia com algumas competncias e habilidades esperadas por estudantes

    de lngua estrangeira, de acordo com o QECR, tais como: o aluno possui considervel

    conhecimento de expresses idiomticas e de coloquialismos com conscincia

  • 27

    sociolingusticas e socioculturais; capaz de desempenhar o papel de mediador entre

    locutores da lngua-alvo e da sua comunidade de origem, considerando as diferenas

    socioculturais e sociolingusticas; utiliza a lngua flexivelmente e com eficcia para fins

    sociais; se expressa com confiana, com clareza e educadamente num registro formal ou

    informal, adequado situao.

    Aps discusso sobre interculturalidade e ensino de lngua e sobre o QECR, vejamos

    nas prximas sees contribuies e descries mais aprofundadas da literatura relativas

    Competncia Comunicativa (CC) e Competncia Comunicativa Intercultural (CCI).

    2.3 SOBRE COMPETNCIA COMUNICATIVA

    De um modo geral, para que haja comunicao efetiva entre pessoas, preciso estar

    ciente que a comunicao um processo complexo, sobretudo quando se reporta a realidades

    culturais distintas, ou seja, quando a interao acontece entre indivduos oriundos de

    contextos culturais diferentes. Nesse sentido, a competncia comunicativa vem sendo

    discutida desde muitas dcadas, inclusive no que se refere aquisio de lngua estrangeira.

    A partir dos anos de 1970 so desenvolvidos estudos acerca da Competncia

    Comunicativa (CC), e inclui sociolinguistas como Hymes e Labov e o filsofo da linguagem

    Searle. A viso da linguagem destes autores contribuiu enormemente para desenvolver o que

    atualmente se conhece como enfoque comunicativo (RAMIRO, 2007, p. 63, traduo

    nossa). Doravante, os estudados relacionados aquisio de lngua estrangeira se concentram

    antes no uso comunicativo da lngua do que a aspectos relativos a sua forma, ou seja, ao

    cdigo lingustico, tal como se mostrava preponderante no cerne das contribuies da corrente

    estruturalista.

    No intuito de definir competncia comunicativa, Canale (1995) enuncia que ela

    compreendida como os sistemas implcitos de conhecimento e habilidades requeridos para a

    comunicao (por exemplo, conhecimento do lxico e habilidade de empregar convenes

    sociolingusticas de uma lngua). Desse ponto de vista podemos descrever que a competncia

    comunicativa tem relao com o conhecimento formal, consciente ou inconsciente, que o

    indivduo possui sobre a gramtica de uma lngua no que se refere sintaxe, fonologia,

    semntica e morfologia em consonncia s condies sociolingusticas, dizer, a habilidade

  • 28

    de utilizar, adequadamente, aspectos formais da lngua incorporados a contextos especficos

    da comunicao.

    Ainda Canale (1995, p. 66) distingue quatro caractersticas para a competncia

    comunicativa:

    Competncia Gramatical Tem referncia com o domnio do cdigo lingustico, tanto

    verbal quanto no-verbal.

    Competncia Sociolingustica Diz respeito s convenes socioculturais da

    utilizao da lngua, tais como: variao lingustica de acordo com uma situao

    especfica, a inteno do falante num determinado contexto, adequao da linguagem

    consoante ao registro de linguagem.

    Competncia Discursiva A capacidade de elaborar textos diversos combinados a

    aspectos gramaticais da lngua.

    Competncia Estratgica Habilidade de fazer uso da lngua a partir da utilizao de

    comunicao verbal e no-verbal, no intento de suprir determinadas deficincias de

    comunicao ou para alcanar um nvel maior de xito na comunicao. Por exemplo:

    utilizar gestos para chamar a ateno do ouvinte.

    De acordo com Ramiro, as definies necessrias ao aprendizado de uma lngua se

    classificam em competncias gerais (saber, saber fazer, saber ser) e componentes da

    competncia comunicativa (componente lingustico, sociolingustico, pragmtico e

    estratgico, estabelecendo relaes entre uma e outra) (RAMIRO, 2007, p. 62, traduo

    nossa). Ainda para Ramiro (2007), a competncia comunicativa acionada por intermdio das

    atividades da linguagem as quais se relacionam com a recepo, produo, interao ou

    mediao, tanto no discurso escrito quanto no oral. J as competncias gerais se definem

    como conhecimento declarativo, conhecimento procedimental, e competncia existencial. A

    competncia intercultural, portanto, se situa no interior das competncias gerais (saber ser).

    Como atualmente vivemos numa era caracterizada pela interao constante entre

    pessoas de todo o mundo, os estudos relativos competncia comunicativa podem no

    abarcar em seus pressupostos tericos, de maneira plena, aspectos concernentes s sociedades

    multiculturais, e por consequncia, multilngues. Dito de outro modo, os indivduos, alm da

    necessidade de conhecer outras lnguas, devem demonstrar abertura na interao com pessoas

  • 29

    provenientes de outros povos e culturas, assim como ter a capacidade de se adaptar cultura

    do Outro. Disso, portanto, passemos aos estudos sobre competncia comunicativa

    intercultural.

    2.4 SOBRE COMPETNCIA COMUNICATIVA INTERCULTURAL

    Ao se comunicarem com outras pessoas da mesma cultura, os sujeitos esperam

    encontrar padres de comportamento, culturais e valores idnticos aos seus prprios. Em

    outras palavras, espera-se conformidade no que se refere ao comportamento das pessoas

    pertencentes a um determinado grupo que divide os mesmos traos culturais.

    Por isso, ao interagir com o outro, o desenvolvimento da competncia intercultural se

    caracteriza como algo relevante, uma vez que, nesse caso, os sujeitos podem se confrontar

    com padres culturais distintos em relao s diferentes culturas envolvidas. Para sustentar tal

    assertiva, Dorn e Cavalieri-Koch enunciam o seguinte:

    [...] como a cultura influencia cada aspecto de nossas vidas desde a maneira como nos vestimos maneira como fazemos negcio ns precisamos desenvolver certas atitudes a habilidades para nos tornarmos sujeitos bem-sucedidos, tanto em nosso

    prprio pas como fora dele. Estas habilidades facilitaro a nossa interao efetiva e

    de maneira aceitvel por parte do Outro ao se trabalhar num grupo cujos membros

    so de diferentes origens culturais. (DORN; CAVALIERI-KOCH, 2005, p. 4,

    traduo nossa).

    Nos dizeres de Fantini (2000), Competncia Comunicativa Intercultural (CCI) a

    transcendncia das limitaes da viso de mundo intrnsecas cultura nativa de um indivduo.

    Desse modo, podemos inferir que a CCI permite obter xito nas interaes com indivduos de

    outras culturas, uma vez que, nesse caso, o indivduo no ter unicamente informao

    lingustica, mas tambm desenvolver o relacionamento humano com pessoas de outras

    lnguas e culturas (BYRAM; GRIBOVA; STARKEY, 2002).

    Deardorff (2009) assinala que, apesar da existncia de muitos nomes atribudos

    competncia intercultural, por exemplo, biculturalismo, multiculturalismo, plurilinguismo,

    cooperao intercultural, entre muitos outros, o termo competncia (comunicativa)

    intercultural aceito em muitos trabalhos. Esse termo, alis, provm de outro utilizado h

    muito por profissionais de ensino de lngua, conforme j vimos: competncia comunicativa.

    Existem tambm outros termos que so, na sua essncia, similares entre si: competncia

  • 30

    comunicativa intercultural, comunicao transcultural, sensitividade intercultural, entre

    outros. Essas e outras denominaes foram, assim, usadas ao longo dos anos em referncia

    aos estudos sobre interculturalidade. Deardorff (2009) explica que cada indivduo possui

    competncia comunicativa oriunda de sua lngua nativa (CC1) e, ao manter contatos

    interculturais, desenvolve a sua competncia comunicativa nativa, resultando na competncia

    cultural 2 (CC2). Assim, segundo Deardorff (2009, p. 458, traduo nossa), [...] os que

    optam por adquirir uma segunda competncia comunicativa, CC2, desenvolvem a

    competncia intercultural. A competncia intercultural, ento, reconhece a presena da CC1, e

    o desenvolvimento da CC2. Segundo o mesmo autor, um indivduo que se expressa somente

    na sua lngua verncula ou uma pessoa que tem contato to somente com a sua cultura nativa

    qui no desenvolva a competncia intercultural. Seguindo essa linha de raciocnio,

    possvel inferir que o desenvolvimento de competncia comunicativa se estende a indivduos

    que se relacionam com outras culturas alm de sua nativa.

    Deardorff (2009) pesquisou as ideias e consensos utilizados na literatura sobre a

    construo de competncia intercultural. Como resultado de seus estudos, o autor constatou

    que os atributos mais comumente mencionados na literatura de competncia intercultural so

    os seguintes: flexibilidade, humor, pacincia, abertura, interesse, curiosidade, empatia,

    tolerncia ambiguidade, e suspenso de julgamentos. Sobre as reas inter-relacionadas,

    Deardorff (2009) cita trs: a habilidade de estabelecer e manter relaes, a habilidade de se

    comunicar com o mnimo de perda e distores, e a habilidade de cooperar para realizar

    tarefas e de interesse e necessidades mtuos. Em relao s dimenses, encontrou quatro:

    conhecimento, atitudes, habilidades e conscincia.

    So muitos os aspectos positivos os quais podem ser alcanados por meio dos

    estudos da CCI. De acordo com Willems (2002, p. 19), mediante a educao da ICC: nos

    abrimos em relaes a outros modos de pensar e outras maneiras de lgica; iniciamos uma

    conversao ou contatos escritos com conscincia do papel da habilidade interacional;

    aprendemos a ver que nossa particular viso de mundo apenas uma entre muitas. Disso,

    compreendemos que a competncia comunicativa intercultural favorece o respeito da

    identidade do Outro e respeita a expresso cultural que cada um j possui; propicia uma

    anlise crtica em relao ao que diferente; possibilita uma crtica aos aspectos positivos e

    negativos de cada cultura, sem avaliao ou julgamentos.

  • 31

    De acordo com Deardorff (2009, p. 7, traduo nossa), que define competncia

    intercultural tambm como [...] gesto apropriada e efetiva de interao entre pessoas que,

    em alguns aspectos, representam divergncia ou diferena quanto s orientaes afetivas,

    cognitivas e comportamentais em relao ao mundo, somente um curso ou oficina de estudos

    no suficiente para tornar um sujeito interculturamente competente. Mais do que isso, para

    Deardorff (2009, p. XIII, traduo nossa), [...] a integrao dos aspectos de competncia

    intercultural deve ser direcionado durante toda a educao e desenvolvimento profissional de

    um sujeito. Sobre esse respeito, qual seja, de um desenvolvimento de competncia

    intercultural reflexivo e continuado, Dorn e Cavalieri-Koch (2005) propem que os centros de

    treinamento intercultural podem escolher um treinamento de cultura especfica quando tem-se

    a necessidade de interao com um nmero limitado de culturas. J quando a interao

    acontece com muitas culturas diferentes, pode-se eleger um treino de cultura geral. Esses

    cursos, segundo o autor, possibilitam um bom incio para aprimorar a competncia

    intercultural, e afirma ainda que a competncia intercultural no somente conhecer, mas

    fazer, fazer as coisas certas no momento certo (DORN; CAVALIERI-KOCK, 2005, p. 9).

    Dorn e Cavalieri-Koch (2005, p. 3, traduo nossa) afirmam que [...] a base para os

    nossos julgamentos e comportamento, todos variam, no somente de um pas para o outro,

    mas de uma regio para a outra, de uma pequena empresa para a outra, de um setor

    empresarial para outro. Sua assertiva nos leva a entender que por mais que existam

    similaridades culturais entre as diversas culturas h, do mesmo modo, diferenas que no se

    manifestam nitidamente, primeira vista. Da, portanto, emerge a necessidade do

    desenvolvimento da competncia intercultural dos sujeitos, em concordncia ao que defende

    Deardoff (2009), ou seja, de que preciso adotar uma cultura subjetiva, no intuito de

    possibilitar aos sujeitos fundamentos, habilidades e conhecimentos no tocante competncia

    intercultural.

    Das ponderaes descritas no pargrafo anterior, compreendemos que o

    desenvolvimento da competncia intercultural um processo que ocorre continuamente e que,

    em vez de se assegurar categoricamente que algum interculturalmente competente pleno e

    no tem nada a mais para aprender e desenvolver, opte por afirmar que sim, um sujeito

    competente interculturalmente, entretanto faz-se necessrio introduzir nos sujeitos situaes

    que possibilitem a eles maior reflexo sobre a interculturalidade, ou seja: um processo

    constante.

  • 32

    De acordo com Fantini (2006, p. 12, traduo nossa), Competncia Comunicativa

    Intercultural (CCI) [...] um complexo de habilidades necessrio para desempenhar efetiva e

    apropriadamente a interao com outros indivduos os quais so lingustica e culturalmente

    distintos. Ou seja, com a intensificao constante dos meios de comunicao, a diminuio

    dos limites geogrficos, as trocas comerciais, sociais e culturais entre os vrios pases, de se

    esperar que haja crescente mobilidade entre as naes. Portanto, exige-se um conjunto de

    competncias e habilidades dos sujeitos para que possam se (inter) relacionar de maneira

    efetiva e apropriada.

    De acordo com Sinicrope, Norris e Watanable (2007), algumas universidades de

    lnguas estrangeiras e programas de intercmbio tm oferecido aos alunos a oportunidade de

    desenvolver sua competncia intercultural, ou seja, a chance de se desenvolverem lingustica

    e interculturalmente. Do mesmo modo, segundo os mesmos autores, algumas instituies de

    ensino tm fomentado a formao de novos educadores, lderes e profissionais com

    capacidades necessrias para promover colaborao exitosa entre as culturas.

    Historicamente, os estudos sobre competncia intercultural emergiram a partir dos

    anos de 1950, com base na experincia entre os indivduos do ocidente que trabalhavam no

    exterior. Neste perodo as pesquisas se centravam nos problemas que prejudicavam a

    comunicao entre povos de procedncia distinta. No final dos anos 1970, as pesquisas

    incluam tambm, entre outros, estudos no estrangeiro, negcios internacionais e aculturao

    do estrangeiro. Nessa poca, as pesquisas sobre competncia intercultural utilizavam a

    avaliao das atitudes, personalidades, valores e motivos dos indivduos, geralmente com base

    em autoavaliaes, sondagens, ou entrevistas abertas e fechadas (SINICROPE; NORRIS;

    WATANABE, 2007). Segundo os mesmos autores, os propsitos diziam respeito aos

    seguintes objetivos: [...] explicar os fracassos ultramarinos; prever sucesso ultramarino;

    desenvolver estratgias de seleo pessoal; designar, implementar e testar programas de

    treinamentos e metodologias de preparao (SINICROPE; NORRIS; WATANABE, 2007, p.

    2, traduo nossa).

    Atualmente, os estudos sobre competncia intercultural versam, entre outros

    aspectos, sobre escolas internacionais, formao mdica, intercmbios de curta durao e

    residncia permanente em culturas estrangeiras. Para Sinicrope, Norris e Watanabe (2007), o

    foco da proposta da competncia intercultural tem expandido, assim como as abordagens no

  • 33

    que concerne a sua descrio e avaliao, tais como, sondagens pessoais para autoavaliaes

    comportamentais mais complexas e autoavaliaes de desempenho.

    A seguir faremos a discusso acerca de abordagens e modelos de instrumentos de

    avaliao com base em Sinicrope, Norris e Watanabe (2007), do texto understanding and

    assessing intercultural competence: a summary of theory, research, and practice (technical

    report for the foreign language program evaluation project.). Elegemos esse estudo em razo

    de que ele apresenta uma reviso referente aos principais aportes tericos e modelos de

    avaliao de CCI necessrios ao entendimento desse tema e para a elaborao de quatro

    atividades que constituem o instrumento que ser apresentado no captulo 3, da metodologia.

    Da mesma forma, o texto referido nos auxiliou a encontrar outros autores que discutem sobre

    abordagem e avaliao de CCI.

    2.4.1 Principais abordagens de competncia intercultural

    O Rubens Behavioral Approach to Intercultural Communicative Competence um

    dos primeiros aportes tericos para compreender e avaliar a CCI. O autor Brent D. Ruben,

    criador dessa abordagem, definiu CCI como [...] a habilidade de atuar de maneira a ser

    percebida como relativamente consistente em relao s necessidades, capacidades, objetivos

    e expectativas no contexto dos indivduos num determinado ambiente ao mesmo tempo em

    que satisfaa suas prprias necessidades, capacidades, objetivos e expectativas (RUBEN,

    1976 apud SINICROPE; NORRIS; WATANABE, 2007, p. 5, traduo nossa). Nesse caso,

    podemos inferir que o referido autor se ateve aos estudos de uma abordagem comportamental,

    e no unicamente a conceitos relacionados ao que o indivduo deve conhecer teoricamente

    para ser bem-sucedido em contextos interculturais. De acordo com essa linha de pensamento,

    no seria suficiente ler, por exemplo, autoavaliaes dos indivduos descrevendo situaes

    hipotticas, mas observar as reaes dos indivduos. Segundo o mesmo autor, muitas vezes o

    indivduo at pode saber quais so as atitudes e comportamentos necessrios, porm no

    consegue aplicar tais conhecimentos referentes ao seu prprio comportamento. Os indivduos,

    portanto, devem ser avaliados e observados em situaes anlogas s que eles podem

    vivenciar num futuro.

    Para Ruben (1976 apud SINICROPE; NORRIS; WATANABE, 2007), h sete

    dimenses para competncia intercultural: mostra de respeito; postura de interao; orientao

  • 34

    ao conhecimento; empatia; papel de comportamento auto-orientado; gerenciamento de

    interao; tolerncia ambiguidade.

    Mostra de respeito: o indivduo demonstra respeito em relao ao outro;

    Postura de interao: a habilidade do indivduo de se reportar ao outro de maneira no-

    avaliativa e sem pr-julgamentos.

    Orientao ao conhecimento: a habilidade de perceber o seu prprio conhecimento.

    Em outras palavras, de que o conhecimento e as percepes no so vlidos

    universalmente, e que cada cultura percebe e explica as coisas a sua volta de maneira

    diferente.

    Empatia: a habilidade de se colocar no lugar do outro em contextos diversos.

    Papel de comportamento auto-orientado: habilidade do indivduo de desempenhar

    tarefas e outros papis dentro de contextos de grupo especficos.

    Gerenciamento de interao: habilidade de reconhecer quando a vez do indivduo

    falar e quando a do outro e, troca de papeis na conversao.

    Tolerncia ambiguidade: habilidade em reagir diante de situaes inesperadas ou

    ambguas, sem apresentar desconforto excessivo.

    Os estudos sobre o European Multidimensional Models of Intercultural Competence

    foram realizados por Byram (1997) e Risager (2007). Byram (1997) props cinco modelos

    para competncia intercultural: Atitude; Conscincia cultural crtica; Habilidade de interpretar

    e relacionar; Habilidade de descobrir e interagir; Conhecimento.

    Atitude: habilidade de relativizar os valores culturais referentes aos do prprio

    indivduo e aos do Outro.

    Conscincia cultural crtica: habilidade de fazer avaliaes referentes a prticas e

    elementos culturais relativos prpria cultura do indivduo e a do outro.

    Habilidade de interpretar e relacionar: habilidade de interpretar, relacionar e explicar

    elementos culturais do nativo e os do estrangeiro.

    Habilidade de descobrir e interagir: capacidade de utilizar conhecimento, atitudes e

    habilidades em situaes interculturais.

  • 35

    Conhecimento: conhecimento sobre os aspectos culturais do prprio indivduo e os do

    outro.

    Com base no fundamento terico de Byram (1997), Risager (2007), por sua vez,

    ampliou os estudos a respeito da competncia intercultural. Para esse autor, um modelo de

    competncia intercultural inclui tanto recursos amplos, os quais o indivduo j possui, como

    os estreitos, e estes podem ser avaliados. A autora definiu dez elementos:

    Competncia lingustica.

    Competncia lingustico-cultural e recursos: semnticos e pragmticos.

    Competncia lingustico-cultural e recursos: poticos.

    Competncia lingustico-cultural e recursos: identidade lingustica.

    Traduo e interpretao.

    Textos interpretativos (discursos).

    Uso de mtodos etnogrficos.

    Cooperao transnacional.

    Conhecimento de lngua como conscincia lingustica crtica, tambm como cidado

    do mundo.

    Conhecimento de cultura e sociedade e conscincia cultural crtica, tambm como

    cidado de mundo.

    Em anos posteriores, Byram (1997), dentre outros pesquisadores europeus, com base

    nas pesquisas sobre competncia intercultural anteriores, desenvolveu outras ferramentas de

    avaliao de competncia intercultural. Para esses estudos h duas dimenses: uma para o

    avaliador e outra para o avaliado, contendo trs nveis de habilidade para cada dimenso:

    bsico, intermedirio e pleno. Para o avaliador, a competncia intercultural possui seis

    diferentes dimenses:

    Tolerncia Ambiguidade: habilidade para aceitar situaes ambguas e saber lidar

    com elas.

    Flexibilidade Comportamental: habilidade de adaptar o comportamento do prprio

    indivduo em situaes culturais diferentes das suas.

  • 36

    Conscincia Comunicativa: habilidade de relacionar componentes lingusticos com

    contedos culturais e lidar conscientemente em diferentes contextos culturais.

    Descoberta de Conhecimento: habilidade de adquirir novo conhecimento de cultura e

    utiliz-lo, juntamente com habilidades e atitudes, na interao entre diversas culturas.

    Respeito ao Outro: habilidade de respeitar a cultura do outro, desconstruindo

    esteretipos da cultura estrangeira e a pretenso de que somente a cultura do prprio

    indivduo vlida.

    Empatia: habilidade de entender o que os outros pensam e sentem, se posicionar no

    lugar do outros em situaes concretas.

    Para o avaliado, h trs dimenses, simplificao das seis dimenses do avaliador.

    Abertura: significa abrir-se para o outro em situaes culturais diferentes (Tolerncia

    Ambiguidade + Respeito ao Outro).

    Conhecimento: significa querer conhecer no somente fatos concernentes a outra

    cultura, mas tambm conhecer o sentimento do outro. (Descoberta de Conhecimento

    + Empatia).

    Adaptabilidade: habilidade de adaptar o comportamento e estilos de comunicao do

    indivduo. (Flexibilidade Comportamental + Conscincia Comunicativa).

    De acordo com Sinicrope, Norris e Watanabe (2007), no contexto norte-americano

    surgiu outro modelo: Developmental Model of Intercultural Sensitivity (DMIS) - Modelo de

    Desenvolvimento de Sensitividade Intercultural, de Bennett (1993). Seu modelo diz respeito a

    como os indivduos reagem a contextos culturais diferentes e como as reaes deles evoluem

    com o tempo.

    O modelo de Bennett (1993) consiste em seis dimenses agrupadas em dois estgios:

    etnocntrico e etnorelativo. Para o etnocntrico, a cultura do indivduo a viso central de

    mundo e para o etnorelativo a cultura do indivduo uma de muitas vises de mundo

    igualmente vlidas. Para o nvel etnocntrico, encontramos os trs primeiros estgios:

    negao, defesa e minimizao; Para o nvel etnorelativo, os estgios so: aceitao,

    adaptao e integrao. Em seguida, descrevemos cada um deles.

  • 37

    Negao: quando a cultura do individuo percebida como a nica existente. O

    indivduo evita interagir com outras culturas. Outras culturas so evitadas por meio de

    barreiras psicolgicas, muitas das vezes em forma de isolamento fsico.

    Defesa: quando a cultura do indivduo vista como a nica digna de ser considerada

    adequada. A cultura do indivduo tida como a boa, superior, ao passo que a da do

    estrangeiro constantemente criticada.

    Minimizao: nesse caso, os elementos culturais do indivduo so considerados como

    universais. O indivduo, portanto, espera que o outro demonstre atitudes e

    comportamento similares aos dele, alm de criticar as diferenas.

    Aceitao: quando a cultura do prprio indivduo experienciada como apenas uma

    entre muitas outras expresses culturais. No quer dizer que o indivduo concorda com

    tudo que se refere cultura estrangeira. No entanto, mantm uma postura respeitosa

    diante da cultura do outro.

    Adaptao: quando o indivduo consegue lidar com os aspectos culturais da sua

    prpria cultura e a do outro de maneira respeitosa e tolerante. O indivduo enriquece

    ao ter contato intencional com o Outro. Em outras palavras, o indivduo se relaciona

    empaticamente com o Outro e aprende e aprimora aspectos concernentes a sua prpria

    vida.

    Integrao: O indivduo acrescenta a sua prpria cultura vises de mundos de outras.

    Nesse caso, a cultura do indivduo e a estrangeira se inter-relacionam.

    Os trabalhos sobre competncia intercultural tm emergido em muitos campos, por

    exemplo: na rea da medicina, expatriados, alunos participantes de programas de mobilidade

    internacional. Estudaremos, a seguir, os principais instrumentos de avaliao de competncia

    intercultural existentes.

    2.5 SOBRE AVALIAO DE COMPETNCIA INTERCULTURAL

    Apesar de se revelar como um tema de extrema importncia para o desenvolvimento

    da interculturalidade, sobre a avaliao de competncia intercultural, segundo Deardorff

    (2009, p. 457, traduo nossa), [...] muitas questes importantes permanecem sem soluo,

    inclusive a questo mais fundamental de todas: quais habilidades so necessrias, alm da

  • 38

    lngua, para a interao intercultural exitosa?. O autor acrescenta que a resposta a essa

    indagao pode ser a chave para o processo de avaliao de competncia intercultural.

    Argumenta tambm que a falta de clareza sobre essas questes aumenta a insegurana sobre o

    tema, no obstante os instrumentos j existentes os quais pretendem avaliar competncia

    intercultural, tais como processo de monitoramento intercultural e resultados de experincias

    interculturais. Para ilustrar esse dilema concernente avaliao de competncia intercultural,

    Deardorff pontua que:

    Enquanto alguns do preferencia a instrumentos com ttulos bastante metdicos os

    quais designam componentes de habilidades, outros trazem subcomponentes

    variados de competncia intercultural. Alguns instrumentos atm-se antes lngua

    do que em aspectos interculturais; alguns fazem o contrrio. Outros instrumentos

    do maior nfase ao internacional do que ao intercultural e desse modo excluem

    diferenas relativas s fronteiras nacionais; outros ainda so simplesmente ambguos

    e sua inteno confusa. (DEARDORFF, 2009, p. 457, traduo nossa).

    No que se refere as quatro dimenses de Deardorff (2009) j referidas -

    conhecimento, atitudes, habilidades e conscincia o autor afirma que os avaliadores de

    competncia intercultural avaliam menos frequentemente as dimenses atitudes e conscincia

    do que as outras duas, quais sejam, habilidades e conhecimento. O mesmo autor explica que

    essa realidade se deve ao fato de as dimenses atitude e conscincia no serem facilmente

    avaliadas quantativamente. Apesar disso, Deardorff (2009) defende a noo de que as quatro

    dimenses devem ser complementadas na avaliao de competncia intercultural, uma vez

    que as dimenses atitudes, habilidade e conhecimento promovem conscincia. Ao mesmo

    tempo, a dimenso conscincia estimula as outras trs dimenses.

    Descreveremos nos prximos pargrafos um histrico dos principais modelos de

    avaliao de competncia intercultural.

    2.5.1 Modelos Indiretos de Instrumentos de Avaliao

    Relataremos em seguida os principais modelos indiretos de instrumentos de

    avaliao. A maioria desses instrumentos avaliativos consiste em questionrios de

    autoavaliao, na forma de pesquisas. Objetivamente, os mtodos indiretos dizem respeito a

    situaes interculturais hipotticas, ou seja, os sujeitos imaginam aspectos interculturais,

  • 39

    como aqueles que eles podem enfrentar num determinado encontro com culturas diferentes da

    sua cultura nativa.

    Anteriormente ao ano de 1996 existiam dois instrumentos. Um deles o Behavioral

    Assessment Scale for Intercultural Competence: BASIC (Escala de Avaliao

    Comportamental para Competncia Intercultural), dos autores Koester e Olebe (1988) e

    Ruben e Kealey (1979), usado pelos observadores com o objetivo de avaliar competncia

    comunicativa intercultural considerando, sobretudo, as aes dos sujeitos pesquisados. Nesse

    trabalho inaugurado por Ruben (1976 apud SINICROPE; NORRIS; WATANABE, 2007) e

    baseado nos estudos dele, usou-se a escala Likert, de 4 a 5 pontos, considerando as sete

    dimenses que seguem: mostra de respeito; postura de interao; orientao ao

    conhecimento; empatia; papel de comportamento auto-orientado; gerenciamento de

    interao; tolerncia ambiguidade. Os resultados posteriores de pesquisas sobre este

    instrumento avaliativo mostraram trs tipos de sujeitos: Os do Tipo 1 demonstraram alto nvel

    das dimenses tolerncia ambiguidade, gerenciamento de interao e mostra de respeito,

    incluindo base de conhecimento pessoal. Para Ruben (1976 apud SINICROPE; NORRIS;

    WATANABE, 2007) esses sujeitos foram definidos como comunicadores interculturais

    competentes. Os sujeitos do Tipo II mostraram nvel mdio de tolerncia ambiguidade,

    empatia e respeito. Obtiveram baixo nvel das dimenses papel de comportamento auto-

    orientado e gerenciamento de interao. Este grupo foi classificado como possuidores de

    aspectos comportamentais