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Ensino Fundamental 2 Data / / Nome N o 6 o ano História Prof. Caco ROMA ANTIGA – REPÚBLICA E IMPÉRIO A REPÚBLICA ROMANA A organização do governo republicano de Roma Ficha 16 O historiador grego Políbio (aproximadamente 200- 118 a.C) foi uma testemunha ocular da vida na república romana e em sua obra “Histórias”, volume VI, descreve o “Ordenamento do Governo Republicano”, explicando o funcionamento desse governo. O texto de Políbio certamente expressa os ideais re- publicanos de Roma, ainda que a atuação e as manobras dos políticos que exerciam o poder ou mesmo as circunstâncias reais pudessem originar distorções e desvios de rumo. Ainda assim, trata-se de um documento de valor inesti- mável, por seu rigor e clareza. Assim, vale a pena conhecê-lo para se ter uma ideia das primeiras instituições republicanas na história da humanidade e observar como – num certo sentido – elas não perderam a atualidade. Ordenamento do governo republicano “Em Roma, os cônsules são os árbitros de todos os negócios públicos, porque todos os outros magistrados - exceto os tribunos da plebe – lhes são subordinados e a eles obedecem. São eles que apresentam os embaixadores ao Senado, que tomam as decisões urgentes e têm o controle das leis e dos negócios públicos. A eles compete convocar as Assembleias e executar suas deliberações. Nos negócios de guerra e na condução das batalhas, têm autoridade quase absoluta, a eles cabe impor aos cidadãos as contribuições que julguem convenientes, nomear os tribunos (comandantes), arregimentar os soldados e escolher os melhores entre eles. Além disso, em campanha, têm plena faculdade de punir quem quer faça parte do exército, além de poder gastar o dinheiro público como e quando acharem oportuno, pois são acompanhados sempre por um questor, que executa o que eles lhe ordenam. O Senado se ocupa de todos os delitos cometidos na Itália, que requerem um julgamento público, ou seja, as traições, as conjurações, os envenenamentos e os assassinatos, e se encarrega de qualquer indivíduo ou cidade da Itália que precise mover um processo, ou ser punido, ou necessite de socorro ou defesa. O Senado também dispõe sobre os embaixadores que devem ser mandados para o estrangeiro, seja para fazer a paz, seja para comunicar advertências ou imposições, seja para estipular pactos ou receber a submissão dos povos ou declarar guerra. E o Senado se ocupa também do modo como devem ser recebidos em Roma os embaixadores estrangeiros e de responder suas demandas. Reconstituição do Senado romano para série de TV 1

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Ensino Fundamental 2

Data

/ /

Nome No

6o ano

História – Prof. Caco

Roma antiga – RePúbliCa e imPÉRio

a RePúbliCa Romana

a organização do governo republicano de Roma

Ficha 16

O historiador grego Políbio (aproximada mente 200-118 a.C) foi uma testemunha ocular da vida na república romana e em sua obra “Histórias”, volume VI, descreve o “Ordenamento do Governo Republicano”, explicando o funcio namento desse governo.

O texto de Políbio certamente expressa os ideais re-publicanos de Roma, ainda que a atuação e as manobras dos políticos que exerciam o poder ou mesmo as circuns tâncias reais pudessem originar distorções e desvios de rumo.

Ainda assim, trata-se de um documento de valor inesti-mável, por seu rigor e clareza. Assim, vale a pena conhecê-lo para se ter uma ideia das primeiras instituições republicanas na história da humanidade e observar como – num certo sentido – elas não perderam a atualidade.

ordenamento do governo republicano

“Em Roma, os cônsules são os árbitros de todos os negócios públicos, porque todos os outros magistrados - exceto os tribunos da plebe – lhes são subordinados e a eles obedecem. São eles que apresentam os embaixadores ao Senado, que tomam as decisões urgentes e têm o controle das leis e dos negócios públicos. A eles compete convocar as Assembleias e executar suas deliberações. Nos negócios de guerra e na condução das batalhas, têm autoridade quase absoluta, a eles cabe impor aos cidadãos as contribuições que julguem convenientes, nomear os tribunos (comandantes), arregimentar os soldados e escolher os melhores entre eles. Além disso, em campanha, têm plena faculdade de punir quem quer faça parte do exército, além de poder gastar o dinheiro público como e quando acharem oportuno, pois são acompanhados sempre por um questor, que executa o que eles lhe ordenam.

O Senado se ocupa de todos os delitos cometidos na Itália, que requerem um julgamento público, ou seja, as traições, as conjurações, os envenenamentos e os assassinatos, e se encarrega de qualquer indivíduo ou cidade da Itália que precise mover um processo, ou ser punido, ou necessite de socorro ou defesa. O Senado também dispõe sobre os embaixadores que devem ser mandados para o estrangeiro, seja para fazer a paz, seja para comunicar advertências ou imposições, seja para estipular pactos ou receber a submissão dos povos ou declarar guerra. E o Senado se ocupa também do modo como devem ser recebidos em Roma os embaixadores estrangeiros e de responder suas demandas.

Reconstituição do Senado romano para série de TV

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a parte do povo no governo republicano de Roma

Mas também ao povo cabe uma parte muito importante no governo da República, porque os prêmios e os castigos que são uma força indispensável em todo Estado e sociedade humana, estão principalmente na mão do povo. É ele quem julga os que exerceram qualquer magistratura e só ele pode pronunciar sentenças de morte. A esse propósito, vale lembrar e louvar como junto aos roma-nos vige um costume segundo o qual, quando um cidadão tiver sido condenado a morte por todas as tribos, à exceção de uma, possa o condenado deixar a cidade em exílio espontâneo.

Além disso, o povo elege os magistrados, escolhendo-os entre os cidadãos mais beneméritos, sendo, numa república, o poder o mais belo prêmio da virtude. Também depende do povo a aprova-ção das leis; e, o que é da maior importância, o povo delibera em torno da paz e da guerra. Enfim, é o povo que confirma e ratifica quanto se refere às alianças, à cessação das hostilidades e os acordos com os outros povos.

Assim, portanto, a autoridade é repartida entre os cônsules, o Senado e o povo. Agora, diremos como cada um dos três poderes deve agir em relação aos outros dois.

autoridade absoluta

Quando está em campanha com o exército, o cônsul é investido de autoridade absoluta, mas na realidade não pode concluir nada sem o beneplácito do Senado e do povo. Ao primeiro destes compete autorizar as despesas para os víveres, os uniformes, os soldos, além de confirmar ou não o comando militar do cônsul, depois de este havê-lo mantido por um ano, e, por fim, autorizar o triunfo, por meio do qual se dá a ver aos ci-dadãos a obra do general investido do comando supremo. De outra parte, o consenso do povo é absolutamente necessário aos cônsules para a cessação das hostilidades, porque só o povo pode ratificar tratados com outros povos. Mas, o que mais conta, os cônsules devem, depondo seu poder, prestar contas ao povo do seu trabalho. Do que se vê que de nada vale a autoridade dos cônsules sem o consentimento do Senado e do povo.

E mesmo o Senado, que é de tal modo poderoso, está sujeito a autoridade do povo, porque nos processos por crime de Estado não pode pronunciar sentença de morte sem a aprovação das Assembleias. Além disso, o povo tem a faculdade de aprovar ou não propostas de lei destinadas a diminuir a autoridade que os costumes atribuem ao Senado, ou a cassar qualquer prerrogativa ou honra; ou, o que é mais grave ainda, o povo pode – por meio de um tribuno da plebe que oponha o seu veto – impedir não só as deliberações do Senado, como sua própria reunião. Desse modo, o Senado teme o povo e procura agradá-lo.

Mas o povo, por sua vez, também está sujeito ao Senado, porque a este cabe a superintendência de todos os trabalhos públicos contratados pelos censores, como restaurações e construções de edi-fícios, e todos os trabalhos a serem feitos nos cursos d’água, nas pontes, nas minas, nas áreas rurais públicas, em suma onde quer que se estenda a propriedade do Estado romano; trabalhos estes dos quais cada um pode tirar suas vantagens. Além disso, ficando a cargo dos senadores a maior parte dos litígios financeiros mais importantes, o povo tem interesse em não se opor ao Senado em suas deliberações. E do mesmo modo dificilmente os cidadãos se opõem às propostas dos cônsules, pois sabem que em caso de guerra estarão sob a sua autoridade.

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equilíbrio de poderes

Assim equilibrada a autoridade de cada um dos três poderes não seria possível encontrar uma república melhor constituída do que esta, tanto na guerra como na paz. Quando um perigo esterno iminente obriga todos a sentirem e agirem em concordância, tal e tanto se torna o poder desse governo, que nada é esquecido e todos voltam seu pensamento à defesa do Estado, de modo que ninguém retarda a execução das deliberações necessárias e todos, em público e em particular, cooperam para o sucesso do empreendimento. Assim a República romana se torna invencível e atinge todos os seus objetivos. E também quando, livres de ameaças externas, os romanos, vivendo na abundância, proveniente das vitórias, e gozando de sua prosperidade, ficam inclinados, como sempre sucede, à arrogância e ao orgulho, então sobretudo se pode ver como a República carrega ela mesma o remédio para os seus males, porque cada um dos três órgãos do Estado está atento para impedir a prepotência dos outros dois, de modo que nenhum se sobreponha aos outros, mas todos os três permaneçam em seu lugar, ou porque freados, ou porque não ousam, por respeito a eles, ultrapassar os seus próprios poderes.”

Curiosidades:

* Cada senador tinha uma vara de madeira (de onde vem 1a vara, 2a vara, usado até hoje no direito, etc). O símbolo do senado é um feixe de varas. Uma vara se quebra facil-mente, unidas não se quebram. Feixe de varas, fascio – fascismo vem daí também. O fascio é o símbolo de união dos senadores, a união das varas.

*Quando o Egito era então governado por sua última faronisa, Cleópatra 7a, que sabia que o Egito cairia nas mãos de Roma, decide então “colocar um ovo da serpente no ninho da águia”, ou seja, ter um filho com Cesar, para desta forma perpetuar a cultura e os interesses egípcios mesmo que territorialmente dominados. (serpente era o símbolo do Egito, o rio Nilo, serpentuoso; águia era o símbolo de Roma).

*Vermelho é a cor fundamental do Império Romano = sangue e poder.

Outra novidade romana é o estandarte, a bandeira.

SPQR = Senatus PopulusQue Romanus.

A águia norte-americana tem uma inscrição em latim, E pluribus unum (eu sou o primeiro entre muitos), ramos de oliveira e flechas.

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o imPÉRio Romano

Da crise ao PrincipadoGilberto Salomão*

Os séculos II e I a.C. são tidos como o período de crise da República Romana. O modelo político centrado na supremacia do Senado, enquanto instrumento de poder da elite patrícia, sofreu uma forte contestação, fruto da ação de diferentes setores da sociedade: uma camada de comerciantes extre mamente enriquecidos com a expansão de Roma; a massa de plebeus miseráveis e descontentes; e o enorme contingente de escravos. Além disso, não podem ser descartadas as pretensões políticas dos generais, fortalecidos pela crescente importância do Exército na vida romana.

Assim, esses dois séculos foram marcados por uma imensa instabilidade política, na qual revoltas de escravos, guerras civis, ditaduras, tentativas de golpe e governos formalmente ilegais sucederam-se.

Em meio a essa crise, formou-se uma aliança envolvendo Crasso e Pompeu, dois generais que se fizeram eleger cônsules em 62 a.C. Paralelamente, entretanto, crescia a fama de Caio Júlio, também general, que havia acabado de conquistar a Gália, detentor de um prestígio cada vez mais amplo junto à plebe romana – e, notadamente, junto ao Exército.

Líder do chamado partido popular – uma entidade informal, mas que congregava os setores não ligados à velha aristocracia patrícia –, Júlio era sobrinho e herdeiro de Mário, ex-ditador, detentor de imensa fortuna e respeitado pelo Exército. Caio Júlio somou a esses elementos uma notável ca-pacidade militar, responsável por inúmeros triunfos, tão caros à mentalidade expansionista romana.

Primeiro triunvirato

Ante o crescente prestígio de Júlio, Crasso e Pompeu viram-se obrigados a aceitar sua presença no poder, criando uma fórmula chamada de Triunvirato, ilegal e não prevista na composição institu-cional da República.

A morte de Crasso, em 53 a.C., fez com que a oposição entre Pompeu, direto representante dos interesses da aristocracia patrícia, e Júlio ficasse explícita. O fortalecimento militar de Júlio, que acabara de derrotar definitivamente os gauleses, fez com que o Senado passasse a temer suas ambições políticas. Por isso, numa tentativa de detê-lo, em 49 a.C. Pompeu foi nomeado cônsul único pelo Senado. Ao mesmo tempo, chamou Júlio de volta a Roma, numa clara manobra para esvaziar seu poder militar.

Pronunciando a famosa frase Alea jacta est (“A sorte está lançada”), Caio Júlio entrou em Roma à frente de seus exércitos, configurando um inegável golpe de Estado. Aclamado pela população e pelas tropas que deveriam defender Roma, Júlio se impôs ao Senado. Abalado pelo prestígio popular de Júlio, Pompeu fugiu para a Grécia, onde foi derrotado em 48 a.C.

O amplo prestígio popular e militar de Júlio obrigou o Senado a se curvar diante dele. A con-cessão do título de César, que lhe dava formalmente o poder ditatorial, foi a prova mais concreta desse recuo senatorial.

Entretanto, tal recuo não se manifestou de modo concreto. Os quatro anos da ditadura de Júlio César foram marcados por crescentes atritos com o Senado. Tais atritos nasciam de sua origem pobre, ainda que aristocrática, e, principalmente, da percepção que os senadores tinham do real projeto político de César: instalar um regime monárquico, fortemente apoiado no Exército; regime no qual, inevitavelmente, o Senado teria sua importância restringida.

Paralelamente, César buscava ampliar sua base de apoio junto ao Exército, cercando-se cada vez mais de seus generais, principalmente Marco Antônio, e afastando gradativamente o Senado das

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decisões. Também as conquistas militares, como as da Hispânia e do Egito, aumentaram ainda mais sua popularidade, ampliando a necessidade de o Senado conter a ameaça representada pelo herdeiro de Mário. Isso foi obtido por meio do assassinato de Júlio César, perpetrado por um grupo de sena-dores ligados a Pompeu e, também, de senadores do próprio círculo íntimo de César.

Segundo triunvirato

Entretanto, a reação militar e popular que se seguiu ao assassinato de César deteve o projeto senatorial de restaurar o poder. Ao contrário do que pretendia o Senado, a morte do ditador teve o efeito de motivar a unidade do Exército e de transformá-lo em um real elemento de poder.

Assim, na prática, foi o Exército que assumiu o controle de Roma, o que pode ser facilmente observado pela composição do governo que ascendeu logo a seguir, composto por Otávio, sobrinho-neto e herdeiro de Júlio César, Lépido, antigo comandante das forças de cavalaria de César, e Marco Antônio, o general mais hábil do ditador assassinado. Foram eles que, em 43 a.C., formaram o Se-gundo Triunvirato.

A ascensão do Segundo Triunvirato ao poder sintetiza uma realidade: a República estava defi-nitivamente superada, mesmo que ainda existisse formalmente. O título de cônsul, dado a Antônio e Otávio, era apenas uma tentativa de amparar legalmente um poder que, de fato, se centrava no Exército – e não mais nas instituições republicanas.

Em 33 a.C, Lépido foi afastado do poder e os domínios romanos foram divididos entre Antô-nio, que controlava as províncias orientais do Império, e Otávio, governando a Itália e as províncias ocidentais. Essa divisão do poder era apenas um prenúncio do conflito entre ambos.

O conflito envolveu o Egito, então governado por Cleópatra, antiga amante e aliada de César (tendo inclusive gerado um filho deste). Foi com ela que Marco Antônio buscou aliar-se contra Otávio. A última guerra civil da República terminou em 31 a.C., com os suicídios de Antônio e Cleópatra, após a grande derrota de Ácio, na Grécia, e a vitória definitiva de Otávio, que transformou o Egito em sua província pessoal.

o Principado

Forjava-se assim um poder pessoal que passava muito distante da autoridade formal do Sena-do. O uso da riqueza egípcia por Otávio permitiu-lhe financiar um exército poderoso, diretamente submetido a ele. Ao mesmo tempo, parte da colheita egípcia foi seguidamente utilizada para a dis-tribuição de trigo à plebe romana, o que concedeu a Otávio um amplo apoio popular.

Diante de tal poder, o Senado se viu obrigado à submissão, concedendo a Otávio uma série de títulos. O primeiro deles foi o de Princeps Senatus, ou Primeiro Senador, o que lhe permitia presidir o Senado. A simples concessão desse título já representa uma clara inversão na própria estrutura da República.

A existência de um poder acima do Senado significava um passo decisivo no caminho da cen-tralização do poder. Esse período, inclusive, é conhecido como Principado, dando a entender que já não é exatamente a forma republicana de governo que tem o poder em Roma.

Os demais títulos recebidos por Otávio apenas confirmaram essa tendência: Imperator, ou Comandante-em-chefe do Exército; Tribuno da Plebe, que lhe dava o direito de falar em nome do povo nas reuniões do Senado; e Pontífice Máximo, que lhe concedia a chefia da religião oficial. Outro título, o de Procônsul, dava a ele a autoridade sobre as províncias do Império.

O último e mais importante título de Otávio foi o de Augusto. Tal título não tem exatamente uma conotação política, mas, sim, religiosa. Seu significado, o de um soberano que se assemelha

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aos deuses, dava-lhe um poder acima do poder meramente terreno. Significava um poder absoluto, vitalício, bem como o direito de escolher seu sucessor. Esse título, por seu caráter formal, consolida a tendência que já se verificava: a do retorno de Roma à ordem monárquica, pondo fim, definitiva-mente, à República – e dando início ao Alto Império.

organização social e econômica do império

A sociedade foi dividida em três ordens, segundo um critério censitário: a Senatorial, que possuía privilégios políticos; a Equestre, que permitia o acesso aos cargos públicos; e a Inferior, que abrangia a maioria dos cidadãos. Com isso, Otávio ganhava o apoio dos comerciantes ricos, enquanto que, como forma de compensar a perda de poder do Senado, cumulava os senadores com regalias que os tornavam dependentes do poder imperial.

O controle sobre a plebe era efetuado por meio da política de concessão de alimentos, política essa iniciada por Júlio César e ampliada por Otávio. A isso se somou a criação de grandes espaços públicos para a realização de jogos, corridas de bigas e combates de gladiadores, de modo a dar à plebe uma forma de diversão que permitisse manter a revolta social em um nível controlável. Era a política do “pão e circo”. Ao mesmo tempo, o controle sobre a massa de escravos era realizado por uma ampla política repressiva, natural num Estado plenamente militarista como era o Império Romano.

Em termos econômicos, o Império assentava-se sobre o trabalho escravo e o domínio das pro-víncias. O escravo era a base de toda a produção romana, tanto na agricultura quanto na mineração. Era também largamente empregado em atividades não produtivas, notadamente urbanas: professores, serviçais domésticos, músicos, etc.

Quanto às províncias, eram fundamentais não apenas pelos tributos que pagavam, mas também pelo comércio altamente lucrativo que Roma mantinha com elas, permitindo o escoamento da vasta produção dos latifúndios escravistas.

a plenitude do império

A consolidação do poder romano explica-se, em grande parte, pelo refreamento do ímpeto das conquistas. Se comparado ao período da República, o Império representou muito mais uma fase de consolidação das fronteiras e do domínio romano do que propriamente de expansão.

Cláudio, que governou entre 41 e 54, conquistou a Mauritânia e consolidou o domínio sobre a Bretanha. Trajano (98-117) realizou as últimas conquistas do Império, incorporando a Dácia (atual Romênia), a Armênia e a Mesopotâmia. A partir daí tratava-se apenas de consolidar os domínios do Império. Adriano (117-138) deu início à edificação de grandes muralhas de pedra nas fronteiras imperiais; Marco Aurélio (161-180), o “imperador filósofo”, defendeu as fronteiras do Danúbio das invasões bárbaras.

O fim das conquistas significou, a curto prazo, a plenitude do Império. Seu efeito imediato foi o da paz interna, da consolidação das fronteiras, com o dinheiro antes usado em guerras sendo utilizado para investimentos na atividade econômica. Não por acaso, o século 2 é o período da Pax Romana, a paz romana, significando o apogeu e a prosperidade de Roma e das províncias.

Entretanto, embora o primeiro efeito do fim das conquistas tenha sido benéfico, seus efeitos num intervalo mais longo foram terríveis para a estrutura romana. Veremos essas consequências ao analisarmos o período conhecido como Baixo Império. Antes, é necessário estudarmos uma impor-tante força social que surgiu naquela época: o Cristianismo.

http://educacao.uol.com.br/historia/roma-alto-imperio.jhtm

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Roma, de cidadezinha a império

Quem nunca ouviu falar em Roma, a capital da Itália?

É lá que se localizam o Vaticano, onde fica o papa, e a sede do Roma, famoso clube de futebol, onde tantos craques brasileiros já jogaram (um deles, Falcão, chegou a ser chamado de “Rei de Roma”!). Roma é uma cidade muito antiga, fundada, segundo a lenda, em 753 a.C. por dois irmãos, Rômulo e Remo, que, após terem sido abandonados pela mãe, foram criados por uma loba. Na verdade, não se sabe com certeza quando e como foi fundada a cidade. Sabe-se, no entanto, que ela surgiu às margens do rio Tibre, alguns quilômetros da costa, em um ponto estratégico: por ali passava uma rota de sal que ligava o litoral ao interior.

Roma compreendia, inicialmente, uma área resultante da junção de sete colinas e desde o início foi habitada por pessoas de diferentes origens. Roma era uma das pequenas cidades da região do Lácio, na Itália central, motivo pelo qual a língua falada por seus habitantes era chamada de latim. A cidadezinha foi governada por reis por bastante tempo. Durante certo período, esteve dominada pelos etruscos, povo que vivia ao norte e que se expandiu por grande parte da Itália nos séculos VII e VI a.C. Toda a história posterior de Roma mostra a influência etrusca. Com os etruscos os romanos aprenderam a ler o futuro nas entranhas de animais e no movimento dos pássaros no céu. Dos etruscos os romanos herdaram os jogos de gladiadores, lutadores que combatiam em homenagem a uma pessoa importante que havia morrido. E, entre todas as influências, talvez a mais importante seja o papel de destaque da mulher na sociedade.

Segundo a tradição, em 509 a.C. os romanos acabaram com a realeza, então nas mãos dos etruscos, e instauraram um regime republicano. Na República, o poder passou a ser exercido por dois magistrados eleitos, os cônsules, que tinham mandatos de um ano. Havia ainda o senado, que reunia ex-magistrados e as pessoas mais velhas. O próprio nome senado quer dizer “lugar dos mais velhos”. O povo se reunia em assembleias para discutir os seus problemas, e todos os homens adultos eram soldados, sendo, portanto, responsáveis pela defesa da cidade.

A República durou até 31 a.C. Durante todos esses séculos, Roma expandiu-se, conquistando pouco a pouco primeiro o território do Lácio, depois a Itália central e por fim toda a península Itálica. No final do século III a.C. os romanos começaram a conquistar todo o Mediterrâneo. Nessa época, o exército já não era composto de soldados camponeses mas sim de soldados profissionais, que, apoiando os grandes generais, deram início às guerras civis. Júlio César, general conquistador da Gália, a atual França, tornou-se ditador e foi posteriormente assassinado, acusado de ambicionar ser rei, algo que os romanos, desde sua revolta contra a realeza etrusca, não admitiam. Seu herdeiro e sucessor, Otávio, derrotou o rival Marco Antônio e implantou um novo regime, que nós chamamos de império e que os próprios romanos preferiam denominar de principado, regime em que havia um príncipe ou primeiro.

Basílica e praça de São Pedro, no Vaticano.

Guerreiro etrusco esculpido em bronze.

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Estátua de Augusto com couraça, datada de pouco depois de 20 a.C. (Museu do Vaticano, Roma).

o império fundado por augusto

Após o assassinato de Júlio César, Otávio, seu sobrinho e filho adotivo, lutou contra Marco Antônio, que se havia aliado a Cleópatra. Em 31 a.C. tornou-se governante sem rivais e, aos poucos, foi implantado o novo regime. O senado lhe deu o nome de Augusto, o Sagrado, e ele passou a adotar o nome de César como um título. Após sangrentas guerras civis — lutas entre os romanos —, que duraram, ao todo, mais de cinqüenta anos, Augusto apresentou seu novo regime político como se fosse uma restauração da antiga República romana. Segundo o próprio Augusto:

[...] pela restauração da República, fui chamado de Augusto, por uma resolução do Senado. As portas de minha casa foram oficialmente decoradas com lauréis, a coroa cívica [um ramo de carvalho] foi colocada por sobre a entrada e, na Cúria Júlia, foi exposto o escudo dourado da bravura, que o Senado e o povo me haviam conferido por minha valentia, clemência, justiça e piedade, como aparece no próprio escudo.

(Apud P. A. Brunt e J. M. Moore. Res Gestae divi Augusti — The achievements of the Divine Augustus. Oxford University Press. 1967)

Ninguém se iludia, no entanto, pois a restauração da República não passava de aparência. O que o Império representou, nesse primeiro momento, foi a restauração da paz, após tantas guerras civis. O Império Romano fundado por Augusto durou muitos séculos, mas foi se transformando continuamente ao longo do tempo e, em pouco mais de duzentos anos, os imperadores não faziam questão de serem considerados simples príncipes do senado, adotando o título de senhores (domini), como se os cidadãos romanos fossem seus escravos. A expansão do cristianismo foi outro fator que trouxe grandes modificações para esse Império, em especial a partir da conversão do imperador Constantino, no início do século IV d.C.

Biblioteca: FUNARI, Pedro Paulo, Império e família em Roma São Paulo, Atual, 2000.

o fim do império romano

No início da crise do século III, as áreas economicamente mais importantes estavam no Oriente e no sul do Império: o Egito e a Síria eram grandes produtores agrícolas, uma situação diferente da vivida pela Itália. Na verdade, o mundo romano continuava sendo marcado por uma grande diversidade geográfica, que, por sua vez, estava ligada ao próprio tamanho da região controlada. Isso dificultava muito o trabalho do governo, pois os funcionários que deveriam executar as ordens dos imperadores e controlar seus súditos muitas vezes se envolviam em corrupção, defendendo os interesses de seus amigos, parentes e protegidos.

O declínio das cidades também contribuiu para o enfraquecimento do governo. Os membros da cúria de cada cidade eram os responsáveis pela cobrança e pelo pagamento dos impostos, e com isso a crise virou um grande problema. Os impostos cobrados vinham aumentando ano a ano, prejudicando os interesses desses aristocratas. Muitos deles, assim, deixaram as cidades, que com isso perderam seus protetores tradicionais. Quem cuidaria agora das obras públicas, quem ergueria hospitais, alimentaria os pobres e defenderia os direitos dos cidadãos? O papel de protetor das cidades passou, então, para as mãos dos bispos.

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Cristo era visto, muitas vezes, como um professor, à moda dos filósofos pagãos. Caixa de Marfim, século V.

Os bispos eram os chefes da Igreja em cada região, e geralmente viviam em uma grande cidade. Possuíam considerável autoridade, por desempenharem um papel religioso tão importante. Com as doações dos imperadores para a Igreja, começaram a enriquecer, e puderam assim realizar obras de caridade. Muito cultos e educados, sabiam organizar embaixadas até a corte imperial para pedir aos imperadores vantagens para suas cidades. Alguns bispos chegaram a enviar missões diplomáticas para negociar com os bárbaros que continuavam invadindo o Império e ameaçando os habitantes. Com isso, a Igreja passou a ter um poder cada vez maior sobre a sociedade romana, sendo capaz de controlar não só a religião, mas até mesmo o comportamento dos fiéis.

Os antigos senhores das cidades, por sua vez, iam viver em suas fazendas. Ficavam mais próximos de suas propriedades e de seus investimentos, trabalhando para aumentar suas posses. Muitas dessas propriedades tinham como centro as chamadas vilas, verdadeiras mansões cercadas por muros. Os senhores viviam aí, protegidos de invasores, ladrões e cobradores de impostos (normalmente os homens mais ricos eram os que pagavam menos impostos),escrevendo cartas e lendo as obras-primas da literatura romana. Viviam do que seus empregados produziam, do que vendiam e dos produtos que recebiam dos camponeses endividados.

Esses camponeses eram pequenos proprietários empobrecidos, vizinhos dos aristocratas. Viviam como dependentes das grandes vilas, onde buscavam empréstimos e proteção. Em troca, trabalhavam para os grandes proprietários quase de graça, como se fossem escravos. Muitas vezes, ainda, eram obrigados a pagar uma taxa, uma parte daquilo que produziam com seu trabalho. No final do século IV, a distinção entre homem e escravo havia perdido a importância. Era mais importante ser rico do que livre, pois uma família pobre e uma família de escravos viviam quase da mesma maneira.

Assim, enquanto nas cidades o poder ficou nas mãos dos bispos, nos campos concentrou-se nas dos grandes proprietários. O governo romano perdeu força: já não era capaz de cobrar os impostos de maneira eficiente, nem mesmo de pagar os exércitos. A sociedade romana continuava existindo, mas o Império não conseguia realizar sua defesa. Em 395, com a morte do imperador Teodósio, o Império foi dividido em duas partes, o Império Romano do Ocidente e o do Oriente, cada parte sob o comando de um de seus filhos. Mas os dois Impérios eram muito diferentes: o Oriente era bem mais rico, e concentrava as regiões mais férteis do Império, e as cidades e o comércio ainda eram muito ativos. Isso ajuda a entender por que no século V essa parte resistiu às invasões, enquanto o Ocidente foi sendo pouco a pouco dominado por diversos povos.

Os bárbaros, que no século III tinham começado a pressionar o Império e a atravessar as fronteiras, haviam passado por uma importante mudança de atitude. Enquanto antes o interesse deles era principalmente saquear, e por isso ficavam pouco tempo nas regiões invadidas, logo passaram a se instalar no interior do mundo romano. Os imperadores que reinaram no Ocidente nessa época foram fracos e tiveram pouca influência: na prática, o Império já estava dividido em vários reinos

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bárbaros. Em 476, o último imperador romano foi deposto, e com isso o Império Romano do Ocidente deixou de existir de maneira definitiva. No Oriente, o Império continuou existindo por muitos séculos ainda, mas com o passar do tempo foi ficando cada vez mais diferente do antigo Império romano: surgia assim o Império Bizantino.

Na verdade, Roma já havia perdido seu poder e sua importância muito tempo antes. A cidade que conquistara o mundo começou a perder sua independência política no início do Império, quando o poder foi centralizado nas mãos de um único homem. No século II d.C., a Itália perdeu importância econômica para as outras províncias e passou a depender delas para se manter. Com Constantino e a fundação de Constantinopla, Roma nunca mais foi a capital de seu antigo Império. Era o fim do Império romano e do mundo antigo, e o início de uma nova era, a Idade Média.

o fim do dinheiro?

O uso das moedas foi uma característica importante da sociedade romana. Com elas, as pessoas podiam pagar impostos, comprar produtos e até mesmo viajar de um lado a outro do Mediterrâneo carregando dinheiro. Ao longo do século IV, no entanto, a utilização das moedas entrou em crise. Alguns impostos começaram a ser cobrados em produtos (cereais, artesanato etc.), pois a inflação fazia a moeda perder valor muito rápido. É provável que alguns comerciantes, sobretudo os mais pobres, tenham passado a preferir objetos em vez de moedas. Elas continuaram sendo usadas, no entanto. Era com elas que o governo pagava suas despesas, e tinham muitos usos nas cidades. Mesmo assim, o passar do tempo as moedas foram perdendo importância e ficando mais raras.

Bibliografia: MACHADO, Carlos Augusto, Roma e seu Império – São Paulo, Saraiva 2000.

No final do império, o poder dos grandes proprietários se tornou incontestável no Ocidente. Basílica de Junius Bassus, Roma, século IV.

ReViSÃo De Roma antiga

♦ Os romanos herdaram muitos costumes etruscos, como o uso da toga, o símbolo dos fasces, a coroa de ouro, a interpretação dos sinais da natureza, a arquitetura das casas e templos e a engenharia hidráulica (canais de irrigação e aquedutos).

Fasces: feixes de varas amarradas com uma correia junto com um machado. As varas significavam o poder de castigar, e o machado, de condenar à morte.

♦ Derrubada a monarquia, o símbolo dos fasces continuou a ser utilizado como poder de Roma sobre os povos dominados.

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♦ Eram considerados cidadãos romanos os grandes proprietários de terras, chamados patrícios, que constituíam a camada mais rica da sociedade. A maioria da população era composta por pequenos proprietários rurais, lavradores, comerciantes e artesãos, chamados de plebeus.

Plebeus: massa, multidão.

♦ A República dos cidadãos ricos – “coisa pública” – O sistema de governo que se desenvolveu nesse período incluía o Senado, as Magistraturas e a Assembleia Popular.

♦ Os plebeus fizeram importantes conquistas durante o período republicano: o direito de se casar com patrícios, o fim da escravidão por dívidas, direito de serem sacerdotes e magistrados. No entanto, apenas os plebeus ricos se beneficiaram com essas mudanças.

♦ A expansão militar romana ocorreu principalmente durante a República. Para os romanos a guerra era uma verdadeira arte, além de ter um caráter cívico e até religioso. Era um ato sagrado, justo e necessário.

♦ A expansão territorial romana, um dos maiores impérios da Antiguidade. A expansão romana intensificou o trabalho escravo, devido ao grande número de prisioneiros de guerra.

♦ Roma tornou-se uma cidade superpovoada. Os pobres – chamados de proletários, termo derivado de prole, que significa filhos.

♦ As vitórias militares deram prestígio e popularidade aos generais romanos.

♦ A inauguração do império – O imperador era a autoridade máxima, era “magnífico”, “venerado”. O imperador concentrava em suas mãos todos os poderes. Ele governava o Império, decidia as leis, exercia o comando do exército e nomeava os membros do Senado. A sucessão imperial não obedecia nenhuma regra fixa. O poder era de origem militar e o próprio imperador escolhia seu sucessor.

♦ “Penso realmente que (...) a paixão pelos gladiadores e cavalos é, por assim dizer, concebida no ventre materno (...) Poucos são os que falam de qualquer outro assunto em suas casas e, ao entrar numa sala de aula, de que mais se trata a conversa dos jovens, a não ser de combates e corridas? Tácito.

♦ A luta entre escravos e os proprietários de escravos, que se prolongou por um século, atingiu seu ponto culminante com a revolta de Espártaco.

♦ A situação da mulher romana se alterou muito no decorrer da história. Do conservadorismo dos tempos da Monarquia e da República até as liberdades da época do Império. Do ponto de vista jurídico a mulher era tratada como inferior, passando da autoridade do pai à autoridade do marido.

♦ Durante os primeiros trezentos anos do Império Romano, muitos povos que viviam nas proximidades do Mar Mediterrâneo foram congregados a égide do imperador. Essa unidade de pessoas diferentes facilitou as relações entre esses povos, promovendo um rico intercâmbio de conhecimentos e um notável desenvolvimento econômico.

♦ Durante o Império Romano surgiu o cristianismo. Essa nova religião se espalhou por várias partes do mundo durante os últimos dois mil anos, e sua importância se expressa de múltiplas formas na vida das pessoas do Ocidente. Até a contagem do tempo passou a ser feita tendo como referência a data que a Igreja estabeleceu para o seu início – o ano em que nasceu Jesus Cristo.

♦ Nos séculos III, IV e V, a vida dos romanos sofreu intensas mudanças ante a retração do escravismo, a expansão do cristianismo e as invasões bárbaras. Esse processo fez parte do período de decadência do Império Romano.

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