PAGANDO PELOS SERVIÇOS AMBIENTAIS Uma proposta para a Reserva Extrativista Chico Mendes
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Romantismo – principais
características:
• Individualismo
• Liberdade
• Nacionalismo
Romantismo no Brasil - Cor local
• Indianismo
•Naturismo
• Linguagem
Nascido no município de Messejana, próximo de
Fortaleza, José de Alencar foi morar no Rio com apenas 11
anos. Filho de José Martiniano de Alencar e Ana Josefina de
Alencar, o jovem foi influenciado pelos ideais políticos do
pai, senador, assim como o irmão, diplomata.
Formado em direito, o escritor atuou como
advogado, jornalista, dramaturgo e até como político. A
primeira obra, “Cinco Minutos”, foi lançada em 1856. A
segunda, “A Viuvinha”, foi publicado no ano seguinte. “O
Guarani”, obra mais famosa de José de Alencar, data do
mesmo ano.
Nas suas obras, Alencar demonstra uma
preocupação com a cultura nacional. Buscando retratar o
Brasil através de diferentes temáticas: indianistas,
regionalistas, históricas e urbanas. José de Alencar
morreu em 1872 de tuberculose. Anos mais tarde, foi
homenageado como patrono da cadeira nº 23 na Academia
Brasileira de Letras, fundada por Machado de Assis.
Análise: Iracema – José de Alencar
• Obra publicada em 1865;
• Romance de cunho Indianista & Histórico;
• Lenda do Ceará;
• Narrativa lírica;
• Temática principal: a formação do povo brasileiro /
narrativa alegórica (Iracema + Martim = Moacir / primeiro
brasileiro);
• Narrador / Foco Narrativo: 3ª pessoa onisciente
(apresenta uma visão idealizada da narrativa);
• Espaço: praias da costa cearense;
• Tempo: início do século XVII;
• Linguagem: formal com expressões indianistas e ritmo
poético (prosa poética);
“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a
jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares que brilhais
como líquida esmeralda aos raios do Sol nascente,
perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros.
Serenai verdes mares, e alisai docemente a vaga
impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à
flor das águas.”
• Comparação e metáforas:
“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no
horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de
mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna,
e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não
era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no
bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a corça
selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do
Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação
tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a
verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”
• Adjetivação abundante: O adjetivo é empregado por Alencar para colorir a
linguagem, enfeitar a frase, trabalhar a melodia, enriquecida pelo termo mais sonoro,
mais de acordo com o nível poético que o escritor pretende alcançar.
• A descrição do cenário é esplêndida, minuciosa, correspondendo ao
deslumbramento do povo português diante da paisagem brasileira.
• Alencar procurou descrever os costumes indígenas, apoiado em longos e contínuos
estudos sobre a vida primitiva dos primeiros habitantes do Brasil.
Comprometido com o nacionalismo e o americanismo do movimento
romântico, o romance narra a lenda (criada pelo próprio Alencar) da
origem do Ceará e da civilização brasileira, fruto do amor proibido entre
o português Martim e a virgem Iracema, uma jovem índia.
Iracema é um anagrama de América
Diferentes tribos indígenas habitavam o
Ceará. Uma delas era a dos Tabajaras
que dominavam o interior e também era
a tribo de Iracema.
A outra era a dos Pitiguaras, inimiga
dos primeiros, que habitava o litoral.
Iracema era filha de Araquém, pajé
dos Tabajaras. Um dia ela estava
sentada à sombra de uma palmeira,
brincava com sua ará, quando ouviu um
ruído entre as folhagens e viu diante de
si um guerreiro branco, Martim.
Iracema atirou-lhe uma flecha, ferindo-
lhe levemente o rosto.
Ele sorri e a jovem corre para
estancar-lhe o sangue e quebra a
flecha em sinal de paz.
O guerreiro é levado à cabana
de Araquém, sendo recebido com
hospitalidade, embora viesse de
uma tribo inimiga, pois era amigo
dos pitiguaras.
Combinaram esperar a volta de
Caubi, irmão de Iracema, para
guiar Martim de volta à sua tribo.
Iracema se enamorou de
Martim e foi por ele
correspondida, mas ela não
podia se casar, porque era a
guardiã da Jurema, bebida
sagrada. Irapuã, chefe dos
tabajaras e apaixonado por
Iracema, jura matar Martim.
Enquanto isso Poti, irmão das
armas de Martim, descobre seu
paradeiro. Combina com
Iracema a fuga de Martim. Antes
da partida, porém, Iracema
torna-se mulher de Martim.
Iracema guiava Martim e Poti, que
propõe que Martim devolvesse a jovem à
cabana do pai, mas ela recusa-se a
abandonar o esposo, deixando para trás
o lar, a família, os irmãos, sua cultura e
sua posição diante da tribo.
Quando já estavam em terras
pitiguaras, foram alcançados pelos
guerreiros tabajaras liderados por Irapuã.
Trava-se uma luta sangrenta da qual os
tabajaras saem derrotados. Iracema
chora por seus irmãos, mas segue
Martim.
Iracema, Martim e Poti mudam-se
para um lugar paradisíaco. Iracema
espera um filho e, durante algum
tempo, vivem plenamente felizes.
Porém, logo depois, Martim passa a
sentir saudades da civilização /
Portugal. Iracema percebe e definha.
Martim e Poti partem para a guerra
contra os brancos tapuias (holandeses)
- que se aliaram aos tabajaras contra os
pitiguaras, amigos dos portugueses.
Partem sem se despedir de Iracema,
que a partir de então passa os dias
esperando o regresso de Martim, cada
vez mais fraca.
Um dia recebe a visita de sua ará, que
passa a lhe fazer companhia. Poti e
Martim voltam triunfantes, pois haviam
vencido a luta.
O coração de Iracema renasce, mas
logo se entristece novamente, já que
Martim está sempre com o pensamento
longe dela.
Novamente Martim e Poti se ausentam
para novas batalhas. No mesmo momento
em que celebravam a vitória, nascia
Moacir, filho da dor e do sofrimento de
Iracema. Caubi a visita e pretende ficar
para ajudá-la, mas Iracema pede que ele
retorne para junto do pai.
Muito fraca, Iracema não consegue amamentar o filho, pois o leite secara.
Para salvar o filho, a índia coloca os filhotes de uma cadela para sugar
em seus seios a fim de estimular a produção de leite.
Assim consegue devolver o alimento ao filho Moacir.
No retorno ao lar, Martim vem apreensivo. Ao chegar encontra Iracema
com os filhos nos braços, à beira da morte, já sem poder amamentar o filho.
Embora Martim a cerque de atenções e carícias, já era tarde. Martim
enterra seu corpo sob uma palmeira onde a ará fica a gritar o nome Iracema.
Martim parte com o filho e fica quatro anos fora. Algum tempo depois
retorna com muitos guerreiros brancos, que têm por missão transformar os
índios em cristãos e dar início ao efetivo processo de colonização. Poti é
batizado e recebe o nome do santo do dia.
Muitas vezes Martim voltou às terras onde viveu com Iracema para
matar a saudade. O pássaro ainda cantava na palmeira, mas já não
repetia o nome de Iracema.
“ Tudo passa sobre a terra.”
Importância de Iracema para obra:
Simboliza a presença do elemento nacional, cor local – executado por
meio de comparações com a natureza / heroína romântica (submissa
a Martin e sacrifica-se pelo homem que ama;
Temas abordados pela obra:
• A felicidade primitiva dos selvagens, corrompida pela aproximação
com o colonizador;
• Ideia do Bom Selvagem (Rousseau);
• O amor de uma índia por um estrangeiro;
• Morte da heroína;
• Exótico da paisagem;
Impedimentos que se estabelecem na relação de Iracema &
Martim:
- Social = tribos inimigas
- Religioso = Iracema é uma vestal de Tupã e detentora do segredo da
Jurema
- Moral = honra do herói romântico
Realismo2ª met. do séc. XIX
Movimento com enfoque em temas sociais e
cotidianos
Reprodução da realidade
Antirromantismo
Erudição de estilo / linguagem tenta resgatar a
fala das pessoas
Personagens com personalidades complexas
Amores banais / atitudes frias e planejadas
Observação / visão objetiva
Realismo no Brasil
Marco inaugural: Memórias Póstumas de Brás Cubas,
Machado de Assis
Critica às elites da época do Império e a exposição da
verdade sobre o ser humano com ironia e humor reflexivo
Tendência pessimista em suas obras
Seus personagens são movidos pela satisfação de suas
vontades pessoais e assumem uma postura condenável
Características primordiais: digressão e metalinguagem
CAPÍTULO LXXI / O SENÃO DO LIVRO
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu
não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros
capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco
da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz
certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o
maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de
envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e
nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são
como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param,
resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e
caem...
Assim eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência dasjanelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abriroutra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.Talvez não entendas o que aí fica; talvez queiras uma coisa mais concreta,um embrulho, por exemplo, um embrulho misterioso. Pois toma lá oembrulho misterioso.
Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadasrecebidas, — transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria.Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, daspernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição,agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhepagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam assutilezas do maroto!
CAPÍTULO CXXXIX / DE COMO NÃO FUI MINISTRO D’ESTADO................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
Precedendo elementos da Modernidade• CAPÍTULO LV / O VELHO DIÁLOGO DE ADÃO E EVA
BRAS CUBAS ................................?
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BRÁS CUBAS ....................................!
VIRGÍLIA ............................................!
Gênero: romance memorialista e realista
Estilo: realismo psicológico
Temática: análise acerca da alma humana / análiseestrutural da sociedade burguesa / obra de cunhometalinguístico
Narrador: Brás Cubas – irônico, debochado, arrogante e pessimista
Observação: Humanitismo – “sistema de filosofiadestinado a arrumar todos os demais sistemas”
Criador: Quincas Borba
Sátira do cientificismo do período / darwinismo social/ justificativa para sentimentos e atitudes
• Sabina – irmã (disputa pela herança)
• Cotrim – cunhado (homem semescrúpulos)
Família
• Marcela
• Eugênia
• Virgília
• Nha Loló
Mulheres
• Prudêncio (de oprimido a opressor)
• Dona Plácida (Virtude x Necessidadesocial)
Escravos
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber queele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto comele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai.Reconheço que era um modelo. Argüiam-no de avareza, e cuide quetinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude e asvirtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o deficit.Como era muito seco de maneiras tinha inimigos, que chegavam aacusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o demandar com freqüência escravos ao calabouço, donde eles desciam aescorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e osfujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos,habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que essegênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir àíndole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais.
...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nadamenos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.
Saímos à varanda, dali à chácara, e foi então que notei uma circunstância.Eugênia coxeava um pouco, tão pouco, que eu chegueia perguntar-lhe se machucara o pé. A mãe calou-se; a filha respondeusem titubear:— Não, senhor, sou coxa de nascença.
“Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço,precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os finssecretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira,ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça ealguma devoção, -- devoção, ou talvez medo; creio que medo”.
Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias;punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa defreio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o,dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, — algumas vezesgemendo, — mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um— “ai, nhonhô!” — ao que eu retorquia: — “Cala a boca, besta!”
Mas adverti logo que, se não fosse D. Plácida, talvez os meus amorescom Virgília tivessem sido interrompidos, ou imediatamentequebrados, em plena efervescência; tal foi, portanto, a utilidade davida de D. Plácida. Utilidade relativa, convenho; mas que diacho háabsoluto nesse mundo?
Capítulo CLXDas negativas
Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessosnarrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a invençãodo emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstiaque apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro logar entre oshomens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína edirecta inspiração do céu. O acaso determinou o contrário; e aí vosficais eternamente hipocondríacos.Este último capítulo é todo denegativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro,não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessasfaltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor domeu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semi-demência do Quincas Borba. Somadas umas cousas e outras, qualquerpessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e,conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porqueao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequenosaldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: -- Nãotive filhos, não transmiti a nenhuma creatura o legado da nossamiséria.
Aluísio Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalves de
Azevedo), caricaturista, jornalista, romancista e diplomata,
nasceu em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857, e faleceu em
Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913. Era filho do
vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de D.
Emília Amália Pinto de Magalhães e irmão mais moço do
comediógrafo Artur Azevedo.
Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São
Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Desde cedo
revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que
certamente o auxiliou na aquisição da técnica que empregará
mais tarde ao caracterizar os personagens de seus romances.
Em 1881, Aluísio lança O mulato, romance que
causou escândalo entre a sociedade maranhense pela crua
linguagem naturalista e pelo assunto tratado: o preconceito
racial. Quase todos os jornais da época tinham folhetins, e foi
num deles que Aluísio passou a publicar seus romances. A
princípio, eram obras menores, escritas apenas para garantir a
sua sobrevivência.
Depois, surgiu nova preocupação no universo de
Aluísio: a observação e análise dos agrupamentos humanos,
a degradação das casas de pensão e sua exploração pelo
imigrante, principalmente o português. Dessa preocupação
resultariam duas de suas melhores obras: Casa de
pensão (1884) e O cortiço (1890).
Naturalismo
A) ZOOMORFISMO
B) INSTINTOS: SEXO
C) PATOLOGIAS : regras de Pombinha
D) ESPAÇOS COLETIVOS
E) DETERMINISMO: Meio
(TAINE) Raça
Momento Histórico
LIVRE- ARBÍTRIO
• “satisfação de animal no cio”
• “fartum de bestas no coito”
• “Iam e vinham como formigas”
• “E o Firmo bêbado de volúpia, enroscava-se todoao violão; e o violão e ele gemiam com o mesmogosto, grunhindo, ganindo, miando, com todas asvozes de bichos sensuais, num desespero deluxúria que penetra até o tutano com línguafiníssima de cobra.”
• “Firmo e o Jerônimo atassalharem-se , como doiscães que disputam uma cadela da rua(...)
Aspectos principais acerca do romance: Obra prima do Naturalismo brasileiro;
“O cortiço representa o painel social crítico do Rio de Janeiro da 2ª metade do século deXIX, visto que o enredo tende a evidenciar um espaço marcado pela degradação e pormazelas sociais;
A obra literária é estruturada pela gênero narrativo: romance naturalista = romance detese = romance experimental (visão cientificista acerca do meio e das ações praticadas pelaspersonagens / degradação do espaço gera a zoomorfização e o determinismo daspersonagens);
Linguagem: por ser uma obra cientificista, a linguagem tem a preocupação com averacidade dos fatos (documental, descritiva e sensorial – a partir de recursos sinestésicos onarrador transmite ao leitor as características do espaço):
“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a suainfinidade de portas e janelas alinhadas. (...) A roupa lavada, que ficara de véspera noscoradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão,esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam umapalidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas. Entretanto, das portassurgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhardas ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiroquente do café aquecia, suplantando todos os outros; (...)”
Foco narrativo: 3ª pessoa onisciente / registra os fatosnos mínimos detalhes e capta todos os pormenores doespaço e dos personagens:
“João Romão não saia nunca a passeio, nem iaà missa aos domingos; tudo que rendia a sua venda emais a quitanda seguia direitinho para a caixaeconômica e daí então para o banco. Tanto assim que,um ano depois da aquisição da crioula, indo em hastapública algumas braças de terra situadas ao fundo dataverna, arrematou-as logo e tratou, sem perda detempo, de construir três casinhas de porta e janela. Quemilagres de esperteza e de economia não realizou elenessa construção! Servia de pedreiro, amassava ecarregava barro, quebrava pedra; pedra, que o velhaco,fora de horas, junto com a amiga, furtavam à pedreirado fundo, da mesma forma que subtraiam o material dascasas em obra que havia por ali perto.”
Espaço: o ambiente do romance é o Rio de Janeirodurante o Segundo Reinado. “O cortiço” registra omomento de expansão da cidade, a transformação daárea do botafogo, as chácaras dando lugar as ruas,alamedas, sobrados e cortiços (progresso e urbanização)
O cortiço O sobrado
• Cortiço: construção horizontal, depropriedade de João Romão, é habitadopor pessoas simples e trabalhadores
• Sobrado: construção vertical, depropriedade de Miranda, habitado poruma burguesia que vive de aparênciasocial.
• Muro: simboliza a desigualdade socialentre esses dois espaços
• A condição climática do espaço vaiinfluenciar o comportamento daspersonagens
Tempo: cronológico em função da preocupação cientificista, a narrativa preocupa-se emregistrar ações vivenciadas pelas personagens de forma linear:
“João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceuentre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; etanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrãopara a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o queestava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro”.
Personagens de destaque:
João Romão e Bertoleza: proprietário do cortiço / figura do capitalista, e sua amasiada, aescrava Bertoleza
RESUMO DO ENREDO
• É a história do Cortiço – personagem principal da obra.“Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia,ganhando forças, socando-se de gente.(...) Eram cinco horas damanhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a suainfinidade de portas e janelas alinhadas.”
• João Romão, português, trabalha em uma vendinha emBotafogo, quando o dono da venda decide voltar para Portugal,João Romão recebe a venda e mais um dinheiro comopagamento de salários vencidos.
• Junta-se a Bertoleza – escrava quitandeira, que vendia peixesfritos e iscas de boi, submissa e trabalhadeira. Bertoleza pagavaao seu dono todo mês para manter-se livre e juntava dinheiropara comprar sua carta de alforria.
• João Romão simula uma carta de alforria e a dá à Bertoleza queem troca passa a ser o braço direito de João Romão.
• Romão compra o terreno ao lado da venda e constrói o cortiçocom material roubado das fábricas em construção na redondezado cortiço e com a ajuda de Bertoleza.
• Além de alugar as casinhas do cortiço, João Romão monta umrestaurante para vender almoço aos trabalhadores das fábricas.
• Ao lado do cortiço, constrói um casarão, um outro português,mas de classe elevada, com certos ares de pessoaimportante, o Senhor Miranda, cuja mulher leva vidairregular. Miranda não se dá com João Romão, nem vê combons olhos o cortiço perto de sua casa.
• Os dois mantêm uma relação de inveja um pelo outro, poisRomão inveja a vida pomposa de Miranda; enquanto Mirandainveja a liberdade de Romão, pois Miranda, precisa viver comuma mulher que o trai, para poder manter ser status.
• No cortiço moram os mais variados tipos: brancos, pretos,mulatos, lavadeiras, malandros, assassinos, vadios, benzedeirasetc. Entre outros: a Machona, lavadeira gritalhona, "cujos filhosnão se pareciam uns com os outros"; Alexandre, mulatopernóstico; Pombinha, moça franzina que se desencaminha porinfluência das más companhias; Rita Baiana, mulata faceira queandava amigada na ocasião com Firmo, malandro valentão;Jerônimo e sua mulher, e outros mais.
• João Romão compra uma pedreira que existe no fundo docortiço e passa a enriquecer de modo acelerado, pois a cidadedo Rio está passando por um processo de urbanização e as ruassão pavimentadas com paralelepípedos retirados das pedreiras.
• No cortiço há festas com certa freqüência, destacando-se nelasRita Baiana como dançarina provocante e sensual, o que fazJerônimo perder a cabeça. Enciumado, Firmo acaba brigandocom Jerônimo e, hábil na capoeira, abre a barriga do rival com anavalha e foge.
• Naquela mesma rua, outro cortiço se forma. Os moradores docortiço de João Romão chamam-no de "Cabeça-de-gato"; comorevide, recebem o apelido de "Carapicus“ (peixe mais vendidopor Bertoleza). Firmo passara a morar no "Cabeça-de-Gato",onde se torna chefe dos malandros.
• Jerônimo, que havia sido internado em um hospital após a brigacom Firmo, arma uma emboscada traiçoeira para o malandro eo mata a pauladas, fugindo em seguida com Rita Baiana,abandonando a mulher.
• Querendo vingar a morte de Firmo, os moradores do "Cabeça-de-gato" travam séria briga com os "Carapicus". Um incêndio,porém, em vários barracos do cortiço de João Romão põe fim àbriga coletiva.
• O português, agora endinheirado, reconstrói o cortiço, dando-lhe nova feição e pretende realizar um objetivo que há temposvinha alimentando: casar-se com uma mulher "de finaeducação", legitimamente.
Personagens de destaque:
João Romão e Bertoleza: proprietário do cortiço / figura do capitalista, e sua amasiada, aescrava Bertoleza
“Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com maisardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais durasprivações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendotravesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida arranjava-lhe, mediantequatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha, a Bertoleza, crioula trintona,escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada com um português quetinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade.”
Leandra: apelidada de machona, é mãe de Das Dores, Neném e Agostinho. Ela é lavadeira.
Augusta carne-mole: mulher de Alexandre, é lavadeira e vive grávida, uma de suas filhas, aJuju, mora na cidade com sua madrinha, uma prostituta chamada Léonie.
Alexandre: mulato, soldado, pernóstico e de bigodes pretos.
Leocádia, casada com Bruno, é expulsa de casa porque é pega em adultério e depois éperdoada por ele.
Paula: conhecida como bruxa, enlouquece e tenta incendiar o cortiço 2 vezes.
Marciana e Florinda: Mãe e filha. Marciana enlouquece depois que a filha engravida dobalconista da venda de João.
Albino: mora no cortiço, é lavadeiro e homossexual.
Dona Isabel: viúva lavadeira, espera que o casamento da filha tire ela definitivamente docortiço.
Pombinha: filha de Isabel, casa-se para agradar a mãe mas logo depois abandona o maridopara tronar-se amante de Léonie.
Léonie: prostituta de luxo, seduz pombinha e depois se torna companheiras.
Jerônimo e Piedade: imigrantes portugueses que, posteriormente, mudam-se para o cortiço.Ressaltar o abrasileiramento de Jerônimo: pinga + café + mulata
Rita Baiana e Firmo: Rita Baiana representa a sensualidade encarnada, enquanto que Firmo éa figura do negro jogador de capoeira e que domina muito bem uma navalha
Leónie: prostituta que estabelece a iniciação de Pombinha na vidasexual e na prostituição;
Cortiço: ser biológico na construção de todo o enredo / ao longo danarrativa e com a ascensão de João Romão sofre um processo demetamorfose.
Negociante português, estabelecido na Rua doHospício com uma loja de fazendas por atacado.
Dona Estela era uma mulherzinha levada da breca:achava-se casada havia treze anos e durante essetempo dera ao marido toda sorte de desgostos.
“E ela também, ela também gozou, estimulada por aquela circunstância picante doressentimento que os desunia; gozou a desonestidade daquele ato que a ambos acanalhavaaos olhos um do outro; estorceu-se toda, rangendo os dentes, grunhindo, debaixo daquele seuinimigo odiado, achando-o também agora, como homem, melhor que nunca, sufocando-o nosseus braços nus, metendo-lhe pela boca a língua úmida e em brasa. Depois, num arranco decorpo inteiro, com um soluço gutural e estrangulado, arquejante e convulsa, estatelou-se numabandono de pernas e braços abertos, a cabeça para o lado, os olhos moribundos e chorosos,toda ela agonizante, como se a tivessem crucificado na cama. A partir dessa noite, da qual sópela manhã o Miranda se retirou do quarto da mulher, estabeleceu-se entre eles o hábito deuma felicidade sexual, tão completa como ainda não a tinham desfrutado, posto que noíntimo de cada um persistisse contra o outro a mesma repugnância moral em nadaenfraquecida.”
Zulmira: filha de Miranda e Estela
Botelho: agregado da casa
Isaura: jovem mulata
Leonor: negrinha virgem
Valentim: um moleque que havia sido alforriado por Dona Estela
Henrique: sobrinho de D. Estela / terá um caso com a tia
• A CRÍTICA DO CAPITALISMO E ANÁLISE DA LUTA DECLASSES:
O Cortiço aborda a ambição e a exploração do homem pelopróprio homem. De um lado João Romão que aspira àriqueza e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro, agentalha, caracterizada como um conjunto de animais,movidos pelo instinto sexual e pela fome.
• DETERMINISMO:
Segundo os determinista o comportamentohumano é condicionado por três fatores: araça(o fator biológico, genético), o meio ( ofator social); e o momento (o fator histórico).
Em O cortiço nota-se nitidamente a análisedeterminista em personagens como Bertoleza(devido à sua raça – negra -; sua condiçãosocial – pobre -; e momento histórico –escravismo no Brasil), a personagem vive emorre de maneira degradante.
• ZOOMORFISMO:As personagens adquirem características de“bicho” à medida que não apresentam algumgrau de intelectualidade que os diferenciariados outros animais.
“Não podia chegar à janela sem receber no rostoaquele bafo, quente e sensual, que oembebedava com o seu fartum [fedor] debestas no coito. (...) Daí a pouco, em volta dasbicas eram um zunzum crescente; umaaglomeração tumultuosa de machos e fêmeas.”
• CIENTIFICISMO – PATOLOGIASEm O cortiço, há uma série de doenças e o que na época eram
considerados distúrbios patológicos como a loucura e ohomossexualismo presentes.
Zulmira, filha de Miranda, por exemplo, não podia sequer sair ajanela para não adquirir as moléstias que vinham do cortiço:“Vá passando, menos as de casa aberta, que isso é perigoso porcausa das moléstias...”
Pombinha, filha da lavadeira Isabel, não menstruava, apesar daidade já avançada: “A filha era a flor do cortiço. Chamavam-lhePombinha. Bonita, posto que enfermiça [doente] e nervosa aoúltimo ponto; loura, muito pálida, com uns modos de meninade família. A mãe não lhe permitia lavar, nem engomar, mesmoporque o médico proibira expressamente.”