Rosa Maria nº7

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junho ‘14 l dezembro ‘14 · semestral Associação Renovar a Mouraria www.renovaramouraria.pt directora l Inês Andrade distribuição gratuita

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jun-dez 2014

Transcript of Rosa Maria nº7

Page 1: Rosa Maria nº7

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Jaacute partiu um pulso um peacute um joelho e algumas costelas E esteve prestes a ter uma perna amputada Cataratas audiccedilatildeo reduzida pedras biliares Satildeo vaacuterias as maleitas que afectam a dona Emiacutelia mas a maioria delas jaacute passa-ram haacute mais de trinta anos Hoje aos cem desce (e sobe) do terceiro andar que habita na Travessa do Jordatildeo e pal-milha a escadaria ateacute ao Largo das Olarias onde frequen-ta a mercearia da dona Helena Assim fez por exemplo no dia em que nos concedeu esta entrevista numa terccedila--feira 13 de Maio

Sempre foi caseirinha mas manteacutem este giro entre as rotinas habituais e todos os anos haacute um dia em que nunca fica em casa 11 de Maio Ainda este ano laacute esteve ela no Terreirinho sentada no seu banquinho com a nora Isau-ra de 75 anos com quem vive como matildee e filha Eacute o dia da Procissatildeo da Nossa Senhora da Sauacutede a mais antiga do paiacutes que vem dos tempos das Descobertas (em 1570) por devoccedilatildeo dos artilheiros de Satildeo Sebastiatildeo na Mouraria que rogaram com ecircxito pelo fim da peste em Lisboa

Emiacutelia de Jesus Moreira Costa nasceu no distrito de Castelo Branco ndash na Quinta das Pereiras Belmonte ndash no dia 12 de Dezembro de 1913 trecircs anos depois da Implantaccedilatildeo da Repuacuteblica Oacuterfatilde de pai ainda antes de nascer foi a mais nova de seis irmatildeos e goza da maior longevidade em toda a famiacutelia Tem um filho de 75 anos e um neto de cinquen-ta a mesma idade que tinha quando enviuvou e comeccedilou a trabalhar em casa como ama de crianccedilas ndash uma delas a Ana filha da dona Helena da mercearia que ainda lhe chama ldquoavoacuterdquo Usa preto haacute meio seacuteculo e desde que perdeu o seu companheiro nunca mais foi ao cinema Chegou a ver o Capas Negras vezes sem conta mas jaacute natildeo se lembra da his-toacuteria desse filme de 1947 em que a Amaacutelia Rodrigues teve um estrondoso ecircxito tinha Emiacutelia 34 anos

Passou por duas guerras mundiais entrou e saiu da mais longa ditadura da Europa ocidental (viveu-a dos 20 aos 60 anos) assistiu agrave massificaccedilatildeo da electricidade do telefone da maacutequina de lavar roupa da televisatildeo (tinha 44 anos quando nasceu a RTP) e da internet que a nora costuma

usar em especial o Facebook Natildeo sabe ler nem escrever mas natildeo se atrapalhou jaacute com 88 anos quando o euro substituiu o escudo em 2002 na sequecircncia da entrada de Portugal na Comunidade Econoacutemica Europeia em 1986 Vive um paiacutes resgatado pela terceira vez desde a Democra-cia instaurada em 1974 Primeiro pelo FMI em 1977 e 1983 e agora pela troika do FMI com o Banco Central Europeu e a Comissatildeo Europeia ateacute ao passado dia 17 de Maio

As telenovelas satildeo a sua distracccedilatildeo mas tambeacutem acom-panha as notiacutecias e tem dois pivocircs preferidos Rodrigo Guedes de Carvalho da SIC e Judite de Sousa da TVI ldquoEacute muito simpaacutetica e explica muito bem as coisas Estaacute ago-ra na China com o Cavaquinho [Cavaco Silva] para ver o que eacute que se pode fazer com Portugal para as ajudasrdquo Consegue imaginar-se a viver sem televisatildeo ldquoAi jaacute natildeo podia Entatildeo eacute que morria estuacutepida mesmordquo

A quem viver nos proacuteximos cem anos deixa um conselho ldquoJuizinho muita paciecircncia Ser bom para as pessoas natildeo le-vantar falsos testemunhos natildeo matar natildeo roubar nada dissordquo

Viver sem televisatildeo ldquoNatildeo podia Entatildeo eacute que morria estuacutepida mesmordquoNasceu em Belmonte no ano de 1913 e vive na Mouraria haacute mais de setenta Conversou com o ROSA MARIA e respondeu agraves perguntas que recolhemos pelo bairro entre os seus vizinhos com idades dos 10 aos 90 anos

Emiacutelia Costaanos

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

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Entrevista Fotografia Marisa Moura

Margarida Guerrinha 10 anos Na sua infacircncia havia tantas coisas como hoje Ao que eacute que brincavaResposta A trabalhar A trabalhar desde os seis anos Tomava conta de um menino que ainda natildeo tinha um ano mas era um gordo e eu tinha que descer umas escadas com ele ao colo Levava-o agraves costas e um dia pumba vamos os dois pela escada a baixo [risos] A patroa deu-me uma palmada e eu fugi para a minha matildee mas ela foi-me laacute levar outra vez Soacute ia a casa aos domingos Nunca tive uma boneca sequer Depois comecei a trabalhar no que aparecia A cavar Ainda hoje sei tudo do campo Soacute jaacute me esqueci das datas para semear Do resto ainda me lembro de tudo Regar sachar aterrar Tirar aacutegua para um picanccedilo agrave matildeo com o balde O campo tem muita coisa bonita

Tatiana Barros 20 anos Como eacute que a chegada da Ditadura interferiu na sua vida Destruiu algum sonho ou objectivoResposta Os sonhos para mim eram soacute trabalhar mais nada Gostava de ter ido agrave escola e muita coisa mas natildeo podia Morava numa pequena povoaccedilatildeo a escola era muito longe e natildeo havia trans-porte E tinha que trabalhar Vim para Lisboa tinha uns 20 anos Servir Natildeo era um sonho A minha matildee disse-me ldquoVai para o peacute da tua irmatilderdquo E eu fui Pedi a uma senhora que me lesse os anuacutencios e ela disse-me ldquoOlha Emiacutelia estaacute aqui um bomrdquo Foi bom foi Ateacute fome laacute passei Ah pois Muito ricos mas

A minha colega cozinheira tambeacutem estava aflita Soacute comiacuteamos o que vinha da mesa E davam-nos pimentos fritos Diz-me ela ldquoOacute Emiacutelia vamos arranjar outra casa e vamos as duas emborardquo Ela tambeacutem natildeo sabia ler e disse ldquoVou pedir a uma senhora que eacute minha conhecida para ver se ela nos acolherdquo Laacute nos arran-jou outra casa na Avenida da Liberdade Fomos Ai Jesus Era uma casa enorme muito luxo Cadeiras douradas moacuteveis lindos tudo muito lindo mas Comer eacute que natildeo era com eles Fui outra vez para casa da minha irmatilde Mas eu natildeo gostava

do meu cunhado de maneira que decidi voltar para a terra A passagem custava 10 escudos Natildeo tinha explicaccedilatildeo o que a gente ganhava Era muito pouco 15 ou 16 escudos 20 escudos jaacute era muito E soacute tiacutenhamos uma folga de quinze em quinze dias Era uma escravatura Deitava-me agraves vezes agraves duas horas trecircs horas e tinha de me levantar agraves cinco Meti-me no comboio e laacute fui Ai Jesus Eu dizia mal agrave minha vida Natildeo sabia o que havia de fazer Natildeo queria estar laacute na terra mas tambeacutem natildeo queria pesar agrave minha irmatilde Um dia deu-me uma veneta e vim para Lisboa outra vez

A minha matildee tinha enviado uma carta agrave minha irmatilde para ela ir buscar-me agrave estaccedilatildeo mas ela natildeo foi Entretanto vinha no comboio um senhor laacute da nossa terra o senhor Bidarra uma pessoa muito boa Cheguei agrave estaccedilatildeo esperei esperei Ele natildeo me deixou ali sozinha Jaacute era quase uma hora da noite e chovia que Deus mandava ldquoA menina Emiacutelia conhece a senhora Damianardquo Era uma senhora de laacute da terra porteira na Bica Ele chamou um taacutexi e levou-me laacute Eu soacute pedia agrave Nossa Senhora que me acompanhasse [chora] A criatura levantou-se estavam os filhos a dormir No outro dia perguntou a uma senhora ldquoOacute dona Rosa a senhora natildeo precisa de uma empregadardquo ldquoOlhe por acaso precisordquo Era para fazer rissoacuteis e essas coisas para as confeitarias E laacute estive Depois aconteceu qualquer coisa na vida dela e deixou de fazer os pasteacuteis Era no quinto andar No andar de baixo havia uma pensatildeo com doze quartos Fui laacute perguntar ldquoOacute senhora Juacutelia a senhora precisa de uma empregadardquo Ao tempo que ela andava com o olho em mim Foi a minha segunda matildee Era uma senhora Ainda tenho ali uma fotografia dela Ela jaacute me tinha dado um toque mas custava--me deixar a dona Rosa Mas como ela coitada jaacute natildeo podia ter-me Laacute fiquei na pensatildeo

Foi aiacute que conheci o meu marido Era hoacutespede conhecido da famiacutelia deles Esta-va divorciado haacute quatro meses e esteve ali uns tempos Laacute nos enamoraacutemos Ele per-guntou agrave senhora Juacutelia ldquoAquela rapariga que a senhora tem aiacute ela eacute boa rapariga natildeo eacuterdquo E diz ela assim ldquoEacute uma joacuteia Natildeo tem estudos mas eacute muito boa raparigardquo Um dia vou levar a aacutegua e as toalhas e ele fez ali uma cantiga [risos] Eu nem disse que sim nem que natildeo ldquoOacute dona Juacutelia o se-nhor Fernando disse-me isto assim-assim O que eacute que a senhora achardquo ldquoOlha filha faz o que entenderes mas acho que fazes bem Sempre vais para a tua casinhardquo ldquoMas eu tenho medo que ele se aborreccedila e me deixerdquo ldquoOlha que natildeo eacute rapaz para issordquo E natildeo foi [chora] Foi a melhor coisa que eu tive na minha vida Primeiro vivemos num quarto em Satildeo Paulo [Cais do Sodreacute] e depois eacute que arranjaacutemos esta casa Antes de o conhecer ainda estive no Bairro das Coloacutenias

Hugo Mauriacutecio 30 anos Como viveu a primeira e a segunda guerras mundiaisResposta Jaacute natildeo me lembro dessas coisas Agraves vezes havia assim uma revoluccedilatildeo e assim Umas coisas Havia tiro para caacute tiro para acolaacute Eu morava ali no Bairro das Coloacutenias que era quase soacute terras Um dia de manhatilde fomos agrave varanda e o tanque da roupa estava com balas Meu Deus Nessa noite a gente natildeo conseguiu dormir Aquilo era de um dia para o outro Depois acalmava Nem sei para que era Ainda nem conhecia o meu marido

Gertrudes Dias 40 anos Em 2014 esta-mos num estado calamitoso nomeada-mente na Sauacutede e na Educaccedilatildeo Houve alguma altura nestes cem anos em que tenha sentido que o paiacutes funcionou bem com as coisas a preccedilos acessiacuteveis e as pessoas a viverem em espiacuterito de amizadeResposta Eu natildeo filha A gente soacute via era pobreza Por isso eacute que faziam da gente escrava As melhoras jaacute soacute vieram muito tarde Comeccedilou tudo a abrir os olhos E depois quando se deu a revolta do 25 de Abril entatildeo foi Haacute pouco tem-po eacute que haacute essa coisa das caixas [pensotildees] Antigamente natildeo havia A mim natildeo me cortaram nada porque natildeo tinha A troika maldita nunca mais tira de caacute os peacutes Soacute tecircm feito mal Metem o nariz em tudo Deviam fazer as coisas de outra maneira

Anabela Mota 50 anos Que alimentaccedilatildeo manteacutem para chegar a esta idadeResposta Uma sopinha patildeozinho com qualquer coisa feijatildeo batatas arroz massa Enjoei tudo desde a doenccedila que tive [pedra na vesiacutecula] Agora jaacute como um bocadinho de bacalhau mas pouco Adorava cafeacute e bebia a toda a hora mas agora natildeo posso beber para natildeo ficar com a tensatildeo alta A gente quando nasce jaacute traz o destino marcado para viver ou morrer Natildeo eacute o que se come nem nada disso Tudo eacute o destino O que Deus manda mais nada

Ilda Novo 60 anos Como foi voltar a viver em Liberdade aos 60 anosResposta Eu nessa altura natildeo pensava nada estava caacute no meu buraco E assim te-nho passado e assim estou Trabalhei mui-to muito Quando comeccedilo a desenterrar coisas caacute na minha cabeccedila passo noites que natildeo durmo Mas natildeo tomo comprimidos Natildeo dorme hoje dorme amanhatilde Rezo o terccedilo Por enquanto graccedilas a Deus natildeo me habituei a nada disso Parte dos remeacutedios que me receitaram jaacute os rejeitei

Maria Joseacute Luiacutes 70 anos Ainda consegue tratar de si proacutepriaResposta Natildeo tenho fraldas natildeo tenho nada disso graccedilas ao Nosso Senhor E tomo banho sozinha Dantes levantava-me mais cedo agora natildeo eacute preciso somos soacute as duas Nos dias que natildeo tenho que fazer levanto--me pelas oito e meia nove horas Hoje levantei-me eram sete arranjei-me e fui-me embora agrave mercearia Em jejum Soacute em jejum eacute que posso fazer as coisas Se como e me baixo vai tudo fora Cheguei laacute havia de ser oito e meia Ningueacutem me deixa tra-zer nada Ia a sair e o meu vizinho ldquoQuer que lhe leve alguma coisardquo Trouxe-me o saco do bacalhau

Jorge Bastos 80 anos Ateacute que idade pensa chegarResposta Eu soacute queria chegar ateacute amanhatilde Ficava feliz Desde que Deus Nosso Senhor me leve para um bom lugar Mas isto natildeo eacute o que eu quero eacute o que Ele quer Faccedila-se a sua vontade

Helena Oliveira 90 anos Com esta idade o que eacute que andamos caacute fazerResposta O que eacute que eu ando aqui a fa-zer Soacute ando aqui a penar A gente sendo velha eacute soacute penar Chatear os outros Eu natildeo queria que fosse assim Sempre pedi a Deus que mesmo que levasse o meu marido agrave minha frente que me levasse numa hora soacute Mas Deus natildeo quis que eu fosse com ele

D Emiacuteliaresponde

Com os nove vizinhos que fizeram as perguntas e com a preciosa colaboraccedilatildeo de todos os que ajudaram a concretizar esta entrevista Agradecemos em especial ao Sr Joseacute Ferreira da Charcutaria Beiratildeo agrave Paleta da Muacutesica da Mouraria a Gostar Dela Proacutepria e agrave D Laurinda Barbosa do restaurante A Vaidosa do Terreirinho que nos conduziram agrave D Emiacutelia E tambeacutem agrave D Maria Ameacutelia Miranda que tanto se empenhou a ajudar-nos a encontrar os entrevistadores com as idades certas

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Intendente Sai Antoacutenio Costa O presidente da Cacircmara Municipal de Lisboa Antoacutenio Costa passou trecircs anos no Largo do Inten-dente Pina Manique para onde transferiu o quartel-general da autarquia em Abril de 2011 no arranque do PDCM ndash Programa de Desenvolvi-mento Comunitaacuterio da Mouraria quando toda esta zona era um fantasma por reanimar Regressou aos Paccedilos do Concelho no passado mecircs de Abril cedendo as instalaccedilotildees agrave Junta de Freguesia de Arroios presidida por Margarida Martins rosto da associaccedilatildeo Abraccedilo Vai tratar de ldquooutras Mourariasrdquo segundo anunciou em Marccedilo numa reuniatildeo de cacircma-ra Entretanto em Maio apoacutes as eleiccedilotildees europeias em face dos resultados desfavoraacuteveis aos socialistas anunciou a sua candidatura agrave lideranccedila do Partido Socialista de olhos postos nas legislativas do proacuteximo ano nas quais poderaacute tornar-se primeiro-ministro

entra uma residecircncia para estudantes Na mesma reuniatildeo de cacircmara no dia 26 de Marccedilo foi aprovado o projecto para uma residecircncia de estudantes no Largo do Intendente a ser explorada pela Universidade de Lisboa com capacidade para 239 camas

O Mob jaacute caacute estaacute O espaccedilo Mob deixou o Bairro Alto onde a renda era incomportaacutevel e abriu portas na Rua dos Anjos 12F em Abril apoacutes trecircs meses sem casa Nasceu haacute dois anos de uma parceria com a Associaccedilatildeo de Combate agrave Precariedade ndash Precaacuterios Inflexiacuteveis (atendem agraves sextas das 19h agraves 20h) e com a cooperativa cultural Crew Hassan A mobilizaccedilatildeo continua no Intenden-te reforccedilada com o Habita ndash Colectivo pelo Direito agrave Habitaccedilatildeo e agrave Cidade que ali dinamiza assembleias todas as segundas agraves 18h Continuam as festas tambeacutem Na inauguraccedilatildeo a muacutesica esteve por conta dos DJ Golpe de Estado Mais informaccedilotildees em moblisboaorg

E haacute tambeacutem uma nova (id)entidade O crescente nuacutemero de inquilinos no Intendente jaacute justifica um BI Nasceu assim em Maio o colectivo Bairro Intendente que inclui comerciantes (A Vida Portuguesa Bike Pop Horiginal etc) e entidades culturais (Largo Residecircncias Casa Independente Sport Club Intendente Mob etc) sedeados no Largo do Intendente Pina Manique na Rua dos Anjos e na Rua do Benformoso esta uacuteltima colada agrave Mouraria Comunicam eventos conjuntamente em bairrointen-dentewordpresscom e no Facebook

Futuras agentes de geriatria Dezassete mulheres com idades entre os 20 e os 50 anos estatildeo em formaccedilatildeo na Mouraria desde Fevereiro para se tornarem agentes de geriatria com equivalecircncia ao 9ordm ano Aleacutem de enriquecerem em mateacuterias que vatildeo do Inglecircs agrave Matemaacutetica e agrave Histoacuteria recebem uma bolsa de 140 euros men-sais ou valor aproximado se jaacute recebiam apoios anteriores E ganham empregabi-lidade para o futuro tratando de quem tanto precisa os mais idosos (ver outras iniciativas para seniores da Mouraria na paacutegina 11)A formaccedilatildeo resulta de um protocolo entre o gabinete municipal GABIP Mouraria e o Instituto do Emprego e Formaccedilatildeo Profissional em parceria com a Obra Social das Irmatildes Oblatas do Santiacutessimo Redentor que encaminhou cerca de metade das formandas Estaratildeo prontas para exercer a profissatildeo quando o curso acabar em Novembro de 2015

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Calccedilada Agostinho de Carvalho Xadrez da discoacuterdia Os passeios da Calccedilada Agostinho de Carvalho tecircm desde Marccedilo trecircs controversas aacutereas Um lado desta iacutengreme rua manteve a calccedilada portuguesa o outro ficou dividido em dois tipos esse mesmo pavi-mento num quarto do passeio e o resto com uma argamassa cinzen-ta escura que a todos desagrada incluindo ao presidente da Cacircma-ra de Lisboa Antoacutenio Costa

A situaccedilatildeo levou mesmo uma moradora a agendar uma reuniatildeo na junta de freguesia ldquoNo dia em que a obra ficou pronta marquei logo para mostrar o meu desagradordquo conta Ana Silva 57 anos desde os 12 por aqui Havia uma agravante estava finalizada a empreitada que manteve a rua esventrada durante o Inverno apoacutes o rebentamento do colector de esgotos mas ficaram por unir as pedras do empedrado por onde circula o tracircnsito ldquoEle [Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior] ligou logo a algueacutem ao peacute de mim e isso foi rapidamente arranjadordquo O presidente da cacircmara jaacute tinha sido chamado ao local pelo proacuteprio Miguel Coelho e no dia dessa visita a nossa vizinha estava agrave janela ldquoO Antoacutenio Costa pergun-tou-me o que eacute que eu achava e eu respondi que jaacute tinha uma reuniatildeo marcada Ateacute ele concordou que aquele novo pavimento eacute muito bruto Disse que talvez em bege ficasse melhorrdquo As obras foram da responsabilidade da cacircmara mas o presi-dente da junta admite vir a embelezar aquele trecho O objectivo do poleacutemico material eacute evitar quedas sobretudo entre as pessoas mais idosas mas os moradores rejeitam tal argumento salientando que as pedras pretas da calccedilada portuguesa jaacute tecircm uns ldquobiquinhos anti-derrapantesrdquo como diz Joatildeo Brito dono da Leitaria do Benformoso ndash 52 anos haacute 38 residente na calccedilada Concordam com ele octogenaacuterios como a dona Helena Almeida Pior a cobertura em causa (tambeacutem usada no parque infantil da Rua da Guia) eacute das mais caras feita agrave base de resinas epoacutexi segundo explicaccedilotildees do arquitecto da junta Joseacute Carvalhei-ra Indignou tambeacutem o facto de o novo piso ter sido posto quando no dia anterior jaacute ali se tinha colocado a calccedilada portuguesa Fez-se e desfez-se para pior

Estacionamento condicionado na Rua da Guia Assim que terminarem as festas dos Santos Populares comeccedilaraacute na Rua da Guia a construccedilatildeo de um estacionamento para 11-13 lugares no local onde hoje estaacute a ram-pa em frente ao preacutedio devoluto Os moradores do Largo da Severa e das ruas do Capelatildeo da Guia e Joatildeo do Outeiro foram convocados no passado dia 16 de Maio pelo presidente da Junta de Freguesia de Santa Maior para serem informados e auscultados ldquoAjudem-me a decidir nesta questatildeo essencial para a qual natildeo encontrei melhor soluccedilatildeordquo disse Miguel Coelho agraves cerca de quinze pessoas presentes na Casa da Covilhatilde adiantando que esta eacute uma alternativa ldquomenos radicalrdquo em relaccedilatildeo agrave intenccedilatildeo da cacircmara municipal que seria de instalar um pilarete a interditar a zona A Rua Marquecircs de Ponte de Lima passaraacute a estar controlada pela EMEL reservada a residentes implicando o paga-mento anual de um selo no valor de 12 euros ldquoO Largo da Severa natildeo foi feito para ter carros mas sim esplanadasrdquo explicou E aos desagradados moradores da Rua da Mouraria que natildeo seratildeo considerados utentes da zona lembrou ldquoO oacuteptimo eacute inimigo do bomrdquo

Maacutescaras do ano

Neste Carnaval o Grupo Gente Nova realizou mais um animado concurso de maacutescaras Os vencedores foram a princesa Carina Letiacutecia 5 anos (primeiro lugar) o mexicano Gonccedilalo Fernandes 7 anos (segundo) e o poliacutecia Marco Francisco Sousa 10 anos (terceiro)

Uma das aulas de inglecircs com a professora Joana Pessoa no GABIP Mouraria

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Croacutenica

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Haacute 24 anos que trabalho na Mouraria e como estudante de Sociologia eacute uma sorte ter um marchante devoto do bairro como colega Chega abril e o Nuno nem com aacuteguas mil deixa de cumprir a tradiccedilatildeo A azaacutefama inicia- -se com os preparativos para as marchas populares No escritoacuterio surgem os primeiros relatos do recrutamento das medidas para os fatos ficarem ldquoa matarrdquo as primeiras marcaccedilotildees a escolha dos pares e as tentativas de convencer os mais indecisos A marcha comeccedila a ganhar forma O Nuno espera escrupulosamente pela hora do iniacutecio do ensaio sobe rua desce rua decora as letras e as marcaccedilotildees O entusiamo eacute notoacuterio no seu semblante

Os comportamentos e as dinacircmicas recorrentes ano apoacutes ano permitem a transmissatildeo de fatos culturais de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo perpetuando assim natildeo soacute a tradiccedilatildeo mas tambeacutem a rivalidade entre bairros O Nuno ilustra brilhantemente tudo aquilo que estudamos nos manuais acadeacutemicos sobre identidade Como ele diz ldquoHaacute sempre uns bairrismos depois haacute as picardias uma claque grita mais alto a outra grita mais alto ehellip envolveu-se tudo agrave porrada no pavilhatildeordquo

Eacute interessante constatar que a cacircmara municipal promove os bairros divulgando os costumes enraizados na populaccedilatildeo como atraccedilatildeo mas os marchantes natildeo datildeo grande importacircncia agrave parte turiacutestica do evento referindo-se agraves festas populares como uma festa deles e para eles ldquoA gente sente mais (eu sinto mais) a volta ao bairro do que descer a Avenidardquo As marchas e os bairros fundem-se assim em tradiccedilotildees significados rivalidades sentimentos de pertenccedila e identidades coletivas

Ser marchante envolve um conjunto de disposiccedilotildees forjadas ao longo dos tempos - e ser marchante da Mouraria natildeo eacute o mesmo que ser marchante em Alfama ldquoIeacute ieacute ieacute a nossa marcha eacute que eacuterdquo Ainda assim sendo nossa natildeo eacute ldquonossardquo da mesma maneira para todos ldquoO orgulho do bairro eacute do bairro mas se natildeo se for na marcha natildeo eacute a mesma coisa Tem de se ir para sentir o que eacute aquilordquo Eacute este orgulho este sentimento de pertenccedila enraizado que muitas vezes transborda e acerta em cheio na claque da marcha vizinha ldquoIeacute ieacute ieacute a Mouraria eacute que eacuterdquo

Joseacute Luiacutes Elvas trabalha num banco de imagens e eacute finalista da licenciatura de Sociologia na Faculdade de Ciecircncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

ldquoIeacute ieacute ieacute a nossa marcha eacute que eacuterdquo

Primeira sala de consumo assistido de drogas prestes a nascer na Mouraria

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Mais de vinte pessoas da Mouraria jaacute cantaram em frente agraves cacircmaras do projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar Dela Proacutepria Em cima o quarteto Fateh Charan Kuidip e Sewak Abaixo Maria de Lurdes Santos Ao alto a fadista Elvira Igreja

FotografiaRaquel Cavaleiro MPAGDP

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Podemos ateacute dizer que a Mouraria estaacute na moda Mas natildeo haacute fachada caiada que o escon-da a droga continua na rua Perpetua o gueto no bairro afasta moradores turistas e investi-dores traz criminalidade e prostituiccedilatildeo destroacutei famiacutelias e estigmatiza consumidores

Em 2012 num edifiacutecio da Calccedilada de Santo de Andreacute cedido pela cacircmara nasceu o In Mou-raria centro de apoio a toxicodependentes ge-rido pelo GAT (Grupo Portuguecircs de Activistas sobre Tratamentos de VIHSIDA) Ali os con-sumidores encontram enfermeiros e psicotera-peutas que jaacute os conhecem Ali ouvem conse-lhos de ex-consumidores Ali se fazem as pontes com o centro de emprego Haacute merendas casa--de-banho e roupeiro datildeo-se seringas novas ca-chimbos e preservativos fala-se de sexo seguro e do contaacutegio de doenccedilas associado ao consumo de drogas em condiccedilotildees insalubres Tambeacutem se fazem rastreios de VIH e Hepatite B e C

Ricardo Fuertes que coordena este centro e trabalhou numa sala de consumo assistido de drogas em Barcelona sente-se de matildeos atadas Os consumidores entram satildeo aconselhados recebem seringas novas Mas chega a altura em que precisam de injectar heroiacutena ou fumar crack ndash e tecircm de o ir fazer para a rua sozinhos em caso de overdose abrigados numa ruiacutena ou

acocorados atraacutes de um carro no Benformoso A ideia de consumo assistido estaacute prevista na lei desde 1999 mas nunca foi posta em praacutetica Parece que eacute desta a versatildeo final do relatoacuterio da Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede de Lisboa e Vale do Tejo e do SICAD (ex-Instituto da Dro-ga e da Toxicodependecircncia) que recomenda a criaccedilatildeo de uma ldquoestrutura de consumo segurordquo de drogas nesta zona seraacute entregue ao Presiden-te da Cacircmara Municipal de Lisboa ainda neste Veratildeo Foi ateacute identificado o lugar ideal a Rua da Palma perto do futuro centro de sauacutede do Martim Moniz e da futura esquadra da PSP

A decisatildeo teacutecnica estaacute tomada Falta a poliacute-tica Ateacute ao fecho desta ediccedilatildeo Antoacutenio Costa nada tinha dito Resta saber se a sua candidatu-ra agrave lideranccedila do PS (e quiccedilaacute agraves legislativas do proacuteximo ano) condicionaraacute a sua decisatildeo Sabe-mos que este eacute um tema sensiacutevel campo feacutertil para populismos e preconceitos

Jaacute se tentou criar um espaccedilo assim em 2006 com a Estrateacutegia Municipal de Intervenccedilatildeo para as Dependecircncias que previa o alargamento da actividade dos Gabinetes de Apoio aos Toxico-dependentes situados em Chelas e em Benfica Passariam a chamar-se Instalaccedilotildees de Consumo Apoiado para a Recuperaccedilatildeo A sua abertura chegou a estar marcada para o segundo tri-mestre desse ano decorria entatildeo o conturbado mandato de Carmona Rodrigues independente apoiado pelo PSD (partido que mais contes-tava estes espaccedilos nas discussotildees municipais) Sempre adiada Tambeacutem no Porto se discutia o tema pela voz do padre Joseacute Maia presidente da Fundaccedilatildeo Filos

Joatildeo Meneses (coordenador do GABIP Mouraria) e Luiacutes Mendatildeo (presidente do GAT) acreditam que os moradores compreendem o que agora se propotildee natildeo um ldquospa do consumordquo mas uma casa de acolhimento que aproveite os teacutecnicos de intervenccedilatildeo comunitaacuteria meacute-dicos e enfermeiros para criar empatia com os consumidores e apostar na sua regeneraccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional Ou seja uma casa como o In Mouraria mas com um quarto a mais Seraacute desta 3Joatildeo Berhan

E vocecircjaacute cantouSe gosta de cantar natildeo se espante se for abordado por uma simpatia de cabelo curto e oacuteculos redondos chamada Ana Paula Silvestre mais conhecida por Paleta Velhos e novos nacionais e estrangeiros amadores e profissionais tecircm cantado pelas ruas da Mouraria juntando-se a centenas de outras vozes do Minho ao Algarve Mais de vinte pessoas do bairro jaacute gravaram e muitas outras estatildeo na mira desta caccediladora de vozes que eacute uma das guias turiacutesticas da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria e a ponta-de-lanccedila da Mouraria no projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar Dela Proacutepria criado em 2011 pelo realizador Tiago Pereira O objectivo eacute gravar cinco projectos musicais por semana para criar o maior arquivo de muacutesica portuguesa As participaccedilotildees nacionais estatildeo em facebookcomamusicaportuguesaagostardelapropria e as da Mouraria organizadas no canal A Muacutesica da Mouraria a Gostar dela Proacutepria em httpmmagdptumblrcom Jaacute satildeo tantas que nem temos espaccedilo nesta ediccedilatildeo para citar todos os artistas e menos ainda para publicar todas as fotografias Eacute bom sinal

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o chafariz do largo dos trigueiros eacute muito viajado Sabia que o chafariz do Largo dos Trigueiros eacute muito viajado Nos meados do seacuteculo XIX surge como bebedouro puacuteblico do passeio da Costa do Castelo Em 1888 numa

solicitaccedilatildeo do regedor da paroacutequia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo eacute plantado no Largo da Achada Eacute aiacute que o ilustrador e aguarelista Alfredo Roque Gameiro o torna famoso em duas obras (ver paacutegina 26) Nos anos 40 muda-se para o Terreirinho

das Farinhas actual Largo dos Trigueiros Este pequeno largo de origem marginal (que o olisipoacutegrafo Norberto de Arauacutejo

descreveu como um ldquocapricho de construccedilatildeo de acasordquo e uma soluccedilatildeo de ldquourbanistas antigosrdquo na correcccedilatildeo dos declives da encosta) eacute hoje um dos locais mais prazenteiros da Mouraria E este velhinho bebedouro eacute o seu ex-liacutebris

Primeiro Encontro Ravidassia na Mouraria

Mais de cem ravidasis encheram a Sala Fernando Mauriacutecio do Grupo Desportivo da Moura-ria no passado dia 9 de Maio para receberem uma sumidade Sant Niranjan Dass Ji liacuteder do santuaacuterio Dera Sach Khand em Ballan na regiatildeo indiana do Punjab Natildeo eacute a primeira vez que Sant Niranjan vem agrave Mouraria mas eacute uma estreia enquanto liacuteder de uma religiatildeo Dantes representava o movimento Ravidass integrado na religiatildeo Sique agora representa a religiatildeo Ravidassia Dharam resultante de um corte radical com o siquismo em 2010 Dantes vinha como ravidasi agora como ravidassia segundo a terminologia adoptada desde que o seu santuaacuterio decretou a nova religiatildeo na sequecircncia de um atentado na Aacuteustria A presenccedila policial natildeo passou despercebida Tem sido imprescindiacutevel desde que este liacuteder ficou ferido em 2009 em Viena no atentando feito por radicais siques que chegou mesmo a matar o seu parceiro Sant Rama Nand Seguiram-se tumultos por toda a Iacutendia e o santuaacuterio decretou a nova religiatildeo Isto sob uma chuva de criacuteticas de outros santuaacuterios radivasis que apelaram agrave uniatildeo entre todos os siques e se mantiveram como tal Ambos os alvos do atentado de Viena tinham estado em Portugal na semana anterior se-gundo Davinder Lakha 43 anos residente na Mouraria e liacuteder do Shri Guru Ravidass Sabha ndash o templo ravidassia situado nos Anjos que por ser pequeno demais para estas recepccedilotildees obrigou ao aluguer de sala no Desportivo Este seraacute o uacutenico templo ravidassia em Portugal segundo Davinder estimando-se que no total existam 1500 ravidasis neste nosso paiacutes de dez milhotildees de habitantes Na Aacuteustria satildeo o dobro numa populaccedilatildeo de oito milhotildeesConotados com a classe baixa (dalit os intocaacuteveis) os ravidasis caracterizam-se por seguirem o Guru Ravidass nascido nessa casta em 1377 Um uacutenico guru Jaacute o siquismo caracteriza-se pelos seus dez gurus O primeiro eacute o Guru Nadak nascido em 1469 e o uacuteltimo eacute Gobind Singh que morreu em 1708 sem nomear sucessor alegando que o poder corrompe os humanos Ravidass teraacute sido forte fonte de inspiraccedilatildeo do quinto guru sique A recente cisatildeo tem sido analisada pela imprensa internacional como uma luta dos dalit por uma efectiva igualdade social

ReFood finalmente na Mouraria Diz-se ldquorifudrdquo Eacute um projecto de voluntariado que recolhe comida na restauraccedilatildeo e a distribui pelos mais carenciados ldquoFoodrdquo em inglecircs eacute ldquocomidardquo ldquoRerdquo vem de reciclar ou reutilizar O projecto foi criado haacute trecircs anos pelo americano Hunter Halder num espaccedilo cedido pela Igreja da Nossa Senhora de Faacutetima na Praccedila

de Espanha No ano passado abriu novos nuacutecleos primeiro em Telheiras depois na Estrela e no Lumiar Distribui quinhentas refeiccedilotildees diaacuterias e tem centenas de voluntaacuterios Estatildeo em curso dezenas de aberturas com juntas de freguesia que cederatildeo espaccedilos No nosso bairro a ReFood iniciou as primeiras reuniotildees no ano passado mas soacute agora se consolidou o projecto sendo entretanto estendido a todos os bairros da freguesia de Santa Maria Maior Porquecirc a demora ldquoIa haver eleiccedilotildees e quisemos evitar acusaccedilotildees de aproveitamento poliacutetico como estava a acontecer noutros locaisrdquo esclarece Joatildeo Pedro Moreira bancaacuterio e coordenador deste nuacutecleo da ReFood entatildeo tesoureiro da Junta de Freguesia do Socorro Jaacute sem funccedilotildees poliacuteticas coordena o nuacutecleo de Santa Maria Maior e estaacute prestes a ter o aval de um espaccedilo cedido pela junta de freguesia

Nasceu a Comissatildeo Social de Freguesia de Santa Maria Maior Qualquer cidadatildeo pode e deve integrar uma comissatildeo social de freguesia ndash um oacutergatildeo previsto na lei desde 2006 mas que soacute recentemente ganhou vida praacutetica Em Santa Maria Maior a comissatildeo nasceu no dia 1 de Abril e o seu ecircxito soacute depende da motivaccedilatildeo de cada um dos seus membros Na reuniatildeo de arranque no salatildeo nobre da Academia de Recreio Artiacutestico na Rua dos Fanqueiros estiveram cinquenta das 65 entidades convocadas tendo sido dos encontros mais participados de Lisboa ndash com as associaccedilotildees da Mouraria em claro destaque No acircmbito desta comissatildeo estaacute a ser elaborado pela Universidade Catoacutelica um detalhado diagnoacutestico social do territoacuterio que serviraacute de base agrave actuaccedilatildeo dos grupos a constituir para abordagens que vatildeo desde as crianccedilas aos idosos agrave pobreza agrave violecircncia domeacutestica ou agrave toxicodependecircncia

Mais uma primavera sem jardim O jardim da Calccedilada do Monte jaacute deveria ter sido inaugurado em Setembro de 2013 Apoacutes sucessivos adiamentos a data passou para o passado mecircs de Abril mas nada O jardim foi anunciado pela cacircmara municipal como o maior parque puacuteblico dentro do espaccedilo urbano de Lisboa com um investimento de 847 mil euros

As obras jaacute comeccedilaram em Fevereiro de 2013 Depois pararam porque alegadamente havia achados arqueoloacutegicos As obras natildeo avanccedilam Natildeo haacute jardim nem respostas

Centro de Inovaccedilatildeo tambeacutem continua adiado Os adiamentos marcam tambeacutem o Centro de Inovaccedilatildeo na Mouraria (CIM) o espaccedilo de empreendedorismo e cultura no quarteiratildeo dos Lagares que deveria ter sido inaugurado em Janeiro A insolvecircncia da construtora Contrope-Congevia atrasou a obra orccedilamentada em cerca de 2 milhotildees de euros

Devia estar concluiacuteda no primeiro trimestre deste ano ou em Abril Natildeo esteve Mas jaacute faltou mais Os tapumes saiacuteram entretanto de cena deixando vislumbrar o edifiacutecio branco quase finalizado

A nova sede da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior foi inaugurada em Maio no edifiacutecio do Elevador do Castelo com acesso pela rua da Madalena ou abaixo pela dos Fanqueiros O nuacutemero de telefone central passou a ser o 210 416 300

BREVES

Tome nota Novos contactos da Junta

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Carla Rosado

Sabia que Texto e Ilustraccedilatildeo Nuno Saraiva

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 07রোউজো মোরযো

haacutebitos Texto e Fotografia Joseacute Fernandes

Parmod Kumar fiel ao movimento Hare Krishna e aluno das aulas de portuguecircs da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria

A marca de Deus

A tilaka (tambeacutem conhecida por tilka ou tika) eacute usada especialmente na testa sobre um dos principais centros ener-geacuteticos (chacras) do corpo o terceiro olho mas tambeacutem noutras onze partes incluindo os peacutes Eacute um siacutembolo de pro-tecccedilatildeo e santificaccedilatildeo

Esta marca eacute proacutepria da cultura hindu que assenta na suprema trindade Bra-hma-Vishnu-Shiva (Brahma cria Vishnu preserva e Shiva destroacutei) mas que tem inuacutemeras ramificaccedilotildees religiosas entre as quais sobressai o movimento Hare Krish-na fiel a Krishna ndash uma figura central do hinduiacutesmo que para uns foi uma encar-naccedilatildeo de Vishnu na Terra e para outros a representaccedilatildeo uacutenica de um deus su-premo Tambeacutem a tilaka assume diversas variantes consoante tambeacutem a condiccedilatildeo social (a casta) de cada um

Destacam-se duas versotildees Uma em forma de U ou de V como um diapasatildeo ou tridente ao alto Outra horizontal

composta por trecircs linhas geralmen-te com um ponto vermelho ao centro A primeira eacute tiacutepica dos que mais adoram Vishnu Eacute a tilaka vaishnava A segunda prevalece entre mais proacuteximos de Shiva e chama-se tilaka shaivites

A simbologia de cada uma destas versotildees tambeacutem varia Para uns as duas linhas do ldquodiapasatildeordquo podem representar as paredes de um templo de Krishna e Radha (sua mulher) O espaccedilo entre cada uma dessas linhas representaraacute o local onde o casal teraacute vividoPara outros cada linha representa Brahma e Shiva sendo o espaccedilo intersticial a casa de Vishnu Outros ainda defen-dem que em causa estatildeo cada uma das margens do Yamuna um dos principais

rios do Norte da Iacutendia A tilaka deve ser aplicada com o dedo anelar da matildeo di-reita ou por um material metaacutelico O traccedilo inicial deve ter aproximadamente a largura do espaccedilo entre as sobran-celhas de maneira a que se consigam desenhar duas linhas verticais Por fim faz-se a parte do U mais proacuteximo do na-riz Nessa altura apela-se ao poder dos rios da Iacutendia recitando-se este mantra Om gange cha yamune chaiva godavari sa-rasvati narmade sindhu kaveri jalersquosmin sannidhim kuru (Oacute Ganges Yamuna Godavari Sarasvati Narmada Sindhu e Kaveri tornem-se presentes nestas aacuteguas) A tinta pode ser feita a par-tir de vaacuterios materiais argila accedilafratildeo alume iodo cacircnfora cinzas ou sacircndalo Vendem-se preparados sob por exemplo a designaccedilatildeo gopi chandan Se a cor for vermelha kumkum ou sindur ver secccedilatildeo Conversas de Bazar na paacutegina 27)

Haacute quem use esta marca no dia-a-dia outros apenas em ocasiotildees especiais Entre as mulheres assume a forma de um uacuteni-co ponto vermelho que simboliza em especial a forccedila feminina Eacute o chama-do bindi bem mais popularizado aqui no ocidente do que a tilaka Este estaacute associado a Parvati deusa-matildee segun-da consorte de Shiva (a primeira eacute Sati) e progenitora de Ganhesha o popular elefante siacutembolo da sabedoria inte-lectual Segundo a tradiccedilatildeo o bindi era usado soacute pelas mulheres casadas mas deixou de lhes estar limitado e massifi-cou-se como um acessoacuterio de moda

Por que eacute que algumas pessoas desenham no centro da testa uma espeacutecie de tridente ou diapasatildeo Faz parte da cultura hindu Chama-se tilaka ndash ldquomarcardquo em sacircnscrito

Paacutetio do ColeginhoRua a Rua TextoPedro Santa Rita

Mar

isa M

oura

No Paacutetio do Coleginho ainda podemos encontrar o que resta da antiga Mouraria das quintas e hortas Eacute uma viagem num tempo em que a cidade de Lisboa era um aglomerado de aldeias separadas pelo verde dos campos que o crescimento urbano uniu Alcandorado na Colina do Castelo o paacutetio ainda guarda as memoacuterias bucoacutelicas que despertam os nossos sentidos Pela Rua Marquecircs de Ponte de Lima chega-se a este atraveacutes de uma iacutengreme calccedilada a fazer lembrar os antigos quebra-costas a subida a pique faz-se por entre preacutedios de belos azulejos padratildeo do seacuteculo XIX e as desgastadas

paredes cor-de-rosa de janelas gradeadas do Mosteiro de Santo Antatildeo o Velho ndash o primeiro coleacutegio dos Jesuiacutetas em Portugal no seacuteculo XVI No topo da calccedilada a paisagem eacute dominada pelas traseiras do mosteiro com o seu claustro manuelino hoje considerado um dos mais belos da cidade de Lisboa Do lado oposto ao mosteiro entre dois preacutedios avistamos um moribundo portatildeo de alvenaria com portas em chapa indica-nos a entrada do que resta de uma antiga quinta que em tempos galgava a encosta ateacute ao Teatro Taborda na Costa do Castelo A rua eacute subitamente dividida por um velho e rangente portatildeo que abre para um pequeno paacutetio um corredor estreito pavimentado em macadame ladeado por casas simples de dois andares do seacuteculo XIX e abruptamente fechado por um muro alto de pedra Sobre este penduram-se as videiras e assomam as copas das laranjeiras que nascem do outro lado um pedaccedilo verde de uma quinta que outrora pertencia ao mosteiro e residecircncia habitual da passarada que enche de chilreios e melodias as manhatildes soalheiras do paacutetio Entre as sonoridades canoras e caninas (haacute muitos catildees por este quintais) o tempo eacute marcado pelos sons graves e fortes que se soltam hora apoacutes hora dos sinos da Igreja da Graccedila confirmando a boa acuacutestica do espaccedilo O paacutetio vai fazendo o seu quotidiano entre as conversas das(os) vizinhas(os) o ritual do estender da roupa e agrave tardinha a chegada atribulada dos carros ndash aliaacutes eacute o uacutenico momento do dia

em que se ouvem os carros no paacutetio como se este fosse um cantinho protegido dos ruiacutedos da cidade Encaixado numa ldquoachadardquo da Colina do Castelo e rodeado por preacutedios as vistas e o horizonte do paacutetio satildeo dominadas pelo omnipresente Convento e Igreja da Graccedila que do alto da Colina de Santo Andreacute contempla a Costa do Castelo numa curiosa sobreposiccedilatildeo de planos a torre sineira e a fachada da igreja parecem emergir das copas arredondadas dos pinheiros mansos que arborizam o miradouro altaneiro da Graccedila Poreacutem entre o paacutetio e a colina da Graccedila existe um curioso diaacutelogo e jogo de perspectivas vista do paacutetio a colina com a sua Igreja parece estar fisicamente tatildeo proacutexima e omnipresente que nos impede de contemplar toda a encosta e o vale que separa as duas colinas Pelo contraacuterio para quem lanccedila o olhar do Miradouro da Graccedila o paacutetio tem tendecircncia a diluir-se por entre o contiacutenuo de casas telhados becos ruelas e escadinhas o mesmo acontecendo com as pessoas e os seus olhares Um outro momento maacutegico ocorre agrave noite quando as luzes brancas que iluminam o monumento da Graccedila produzem um claratildeo tatildeo intenso que parece derramar a sua luz sobre o paacutetio que se funde com o halo amarelo e tremeluzente dos antigos candeeiros do seacuteculo XIX Ao silecircncio do paacutetio vai chegando tambeacutem a algaraviada de vozes indistintas que descem do miradouro atravessadas pelo miado estridente e agressivo dos gatos da Mouraria Eacute a hora dos gatos

reportagem FotografiaCarla Rosado

TextoTeresa Melo

Chinesescelebraram o ano novo no Martim Moniz

Fechada a escola baacutesica da Madalena Santa Clara ou BaixaA escola baacutesica da Madalena cujo encerramento jaacute esteve previsto para o ano lectivo que agora termina deveraacute fechar no proacuteximo ano altura em que estaraacute finalmente pronta a nova escola no Campo de Santa Clara que substituiraacute as velhas escolas baacutesicas do Agrupamento Gil Vicente

Ateacute aqui tudo bem Ateacute o transporte que era uma preocupaccedilatildeo de muitos pais da Mouraria tambeacutem estaacute garantido seja atraveacutes da rede de transporte escolar municipal os Alfacinhas seja atraveacutes da junta de freguesia ldquoEstamos disponiacuteveis para se necessaacuterio criar um serviccedilo de transporte Natildeo seraacute por isso que as crianccedilas deixaratildeo de ir agrave escolardquo garante Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que integra cinco bairros Mouraria Alfama Castelo Baixa e Chiado

Haacute todavia uma duacutevida uma vez que tambeacutem abriraacute a nova Escola da Baixa que poder de escolha teratildeo os actuais utentes da escola da Madalena ldquoSeraacute um escacircndalo se essa escola natildeo estiver aberta a essas crianccedilas e eu farei ouvir bem alto a minha indignaccedilatildeordquo avisa Miguel Coelho As acessibilidades escolares satildeo competecircncia da cacircmara e do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas este presidente de junta tem uma palavra a dizer Alguns alunos da Mouraria poderatildeo assim frequentar a nova escola do agrupamento Gil Vicente junto agrave Feira da Ladra e outros a Escola da Baixa

A primeira funcionaraacute no antigo Convento do Desagravo do Santiacutessimo Sacramento com capacidade para 475 crianccedilas que vem substituir as velhas escolas baacutesicas do agrupamento ndash Madalena Seacute Infanta D Maria (Campo de Santa Clara) Marqueses de Taacutevora (Largo da Graccedila) Convento do Salvador (Alfama) e o Jardim de Infacircncia de Satildeo Vicente Manteacutem-se a EB1 Castelo que eacute a uacutenica em boas condiccedilotildees de funcionamento A Escola da Baixa funcionaraacute no antigo convento e tribunal da Boa Hora agrave Rua Nova do Almada tem capacidade para 150 crianccedilas (cinquenta em jardim de infacircncia) e insere-se na poliacutetica municipal de atracccedilatildeo de jovens famiacutelias agrave baixa pombalina

Colina de Santanaa poleacutemica continuaO Hospital Miguel Bombarda fechou em 2012 e para o seu lugar foi arquitectado um projecto imobiliaacuterio que inclui um hotel e uma torre de 12 andares O Hospital do Desterro fechou em 2007 e estaacute em obras para um espaccedilo de residecircncias artiacutesticas e produccedilatildeo hortiacutecola explorado pela Mainside a promotora da LX Factory em Alcacircntara Os hospitais de Satildeo Joseacute Santa Marta e dos Capuchos que servem residentes da Mouraria seratildeo transferidos para Marvila Aiacute integraratildeo o novo Hospital de Todos os Santos que incluiraacute tambeacutem o Curry Cabral o Dona Estefacircnia e a Maternidade Alfredo da Costa e que abriraacute em 2020 (esteve para ser jaacute em 2016) Os poleacutemicos projectos tecircm ido a debate na assembleia municipal e discutidos publicamente por cidadatildeos comuns e entidades como a Associaccedilatildeo Portuguesa pela Arte Outsider o ICOM-Portugal a Ordem dos Enfermeiros a Ordem dos Meacutedicos o Grupo de Amigos de Lisboa e a Sociedade de Geografia de Lisboa Os contestataacuterios dos projectos manifestaram-se no uacuteltimo desfile do 25 de Abril 3AAMC

Ano Cristatildeo 2014 l Dia de Ano Novo 1 de Janeiro

Ano Chinecircs 471 l Dia de Ano Novo 1 de Fevereiro

Ano Hindu 1936 l Dia de Ano Novo (Gudi Padwa tambeacutem conhecido como Samvatsar Padvo Yugadi ou Navreh) 31 de Marccedilo

Ano Sikh 546 l Dia de Ano Novo (Vaisakhi) 14 de Abril

Ano Budista 2558 l Dia de Ano Novo (Vesak ou Buda Purnima) 12 de Maio

Ano Judaico 5774 l Dia de Ano Novo (Rosh Hashanaacute) 5 de Setembro gt no proacuteximo dia 25 de Setembro comeccedila o ano de 5775

Ano Muccedilulmano 1435 l Dia de Ano Novo (Al-Hijra ou Muharram) 5 de Novembro gt no proacuteximo dia 25 de Outubro comeccedila o ano de 1436

Em que ano estamosDepende do aniversaacuterio do profeta de cada cultura sendo que a maioria dos dias de Ano Novo variaacutevel em funccedilatildeo de calendaacuterios lunares A Terra essa para os cientistas existe haacute 45 mil milhotildees de anos Os primeiros hominiacutedeos teratildeo surgido haacute uns cinco milhotildees e a actual espeacutecie de seres humanos homo sapiens sapiens haacute duzentos mil anos

Pela primeira vez a comunidade chinesa festejou a chegada do novo ano num evento puacuteblico organizado por todas as associaccedilotildees chinesas de Lisboa em parceria com a cacircmara municipal e a embaixada da Repuacuteblica Popular da China No passado dia 1 de Fevereiro o Ano do Cavalo chegou em grande ao Martim Moniz

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1408

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1410

editorial estaacute bem middot estaacute mal

s

Carla

Ros

ado

E se daqui a 100 anos alguns de noacutes ainda caacute estivermos As probabilidades natildeo satildeo assim tatildeo absurdas Na Mouraria haacute duas pessoas com 100 anos Uma delas a dona Almerinda faz 101 jaacute em Agosto Tentaacutemos entrevistaacute-la nesta ediccedilatildeo mas uma queda tem-na mantido menos conversadora e teremos de aguardar A outra eacute a dona Emiacutelia Respondeu a nove perguntas que recolhemos pelo bairro entre pessoas dos 10 anos aos 90 anos (ver paacutegina 2) A dona Emiacutelia falou-nos por exemplo da ldquoescravaturardquo em que viveu O seu testemunho mostra-nos que o mundo mudou bastante num seacuteculo mas a humanidade jaacute nem tanto A ceacutelebre Liberdade--Igualdade-Fraternidade decretada na Revoluccedilatildeo Francesa haacute mais de duzentos anos continua uma receacutem-nascida com quase tudo por aprender Resultado alguns bebeacutes que hoje conhecemos poderatildeo estar daqui a 100 anos a dar uma entrevista como esta sobre vivecircncias que muito nos fazem pensarldquoA Histoacuteria julgar-nos-aacute pela diferenccedila que todos os dias fizermos na vida das crianccedilasrdquo disse Nelson Mandela (1918-2013) Ele ficou na Histoacuteria como siacutembolo da luta pela igualdade E noacutes como podemos ficar O que eacute que cada um de noacutes aqui e agora pode fazer para que os nossos bebeacutes venham a ter recordaccedilotildees mais felizes do que as da nossa centenaacuteria vizinha Nesta ediccedilatildeo o nosso contributo eacute o de sempre ajudar a que nos conheccedilamos um pouco melhor pois natildeo haacute liberdade igualdade nem fraternidade que resista agrave ignoracircncia E desta vez temos vaacuterias inovaccedilotildees Temos um tema (intergeraccedilotildees) que marca grande parte dos artigos temos um texto traduzido (paacutegina 22 em bengali) e temos uma nova secccedilatildeo Conversas de Bazar (paacutegina 27) A propoacutesito de produtos agrave venda nos bazares da Mouraria a Rosa Maria descobre pessoas e estoacuterias do mundo Deixamos por outro lado de editar a Dobra das Palavras ndash jaacute sentimos saudades dela mas aguentamos quando pensamos nas estreias desta ediccedilatildeo e na recente secccedilatildeo Haacutebitos que nos acompanha desde o nuacutemero anterior (neste estudamos o haacutebito hindu de desenhar siacutembolos na testa ndash a tilaka paacutegina 7) Abraccedilos a todos E natildeo se esqueccedilamhellip O que podemos fazer noacutes hoje para que o ano de 2114 veja os nossos centenaacuterios bebeacutes sorrir

O Mercado de Fusatildeo na Praccedila Martim Moniz estaacute mais acolhedor com os novos bancos num espaccedilo verde Estivesse a muacutesica um pouquinho mais baixa e o relax seria perfeito

O ROSA MARIA eacute um jornal sobre as pessoas e os acontecimentos da Mouraria mas tambeacutem sobre assuntos nacionais e internacionais relacionados com os seus residentes criado para preservar e divulgar o seu imenso patrimoacutenio humano histoacuterico e culturalO ROSA MARIA eacute um jornal comunitaacuterio produzido por todos os que queiram participar (jornalistas fotoacutegrafos ilustradores designers graacuteficos voluntaacuterios e moradores ou trabalhadores do bairro) e que se pautem pelos princiacutepios da solidariedade do rigor e da qualidade O ROSA MARIA eacute parte integrante da comunidade em que se insere mas totalmente comprometido com o coacutedigo deontoloacutegico que enquadra o exerciacutecio da liberdade de imprensa e independente de facccedilotildees religiosas poliacuteticas e econoacutemicasO ROSA MARIA eacute editado pela Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria desde 2010 com periodicidade semestral O seu nome eacute inspirado na miacutetica Rosa Maria imortalizada no fado Haacute Festa na Mouraria ndash uma mulher atrevida e virtuosa como esta publicaccedilatildeogt Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar nordm 899 de 9 de Junho sobre Registo dos Oacutergatildeos de Comunicaccedilatildeo Social

ROSA MARIA middot Estatuto Editorial

De olho em 2114

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Ros

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O que diratildeo os turistas das ldquoescadinhas WCrdquo por detraacutes da paragem onde fazem fila para o eleacutectrico 28 Noacutes dizemos isto inadmissiacutevel

FICHA TEacuteCNICA middot Direcccedilatildeo Inecircs Andrade Direcccedilatildeo graacutefica Hugo Henriques Ediccedilatildeo fotograacutefica Carla Rosado Ediccedilatildeo editorial Marisa Moura Revisatildeo Joatildeo Berhan e Joana Chocalhinho Publicidade Susana Simpliacutecio Traduccedilatildeo Moin uddin Ahamed e Pedro Leader Ilustraccedilatildeo Alexandra Belo Aude Barrio Hugo Henriques Nuno Saraiva Viacutetor Mingacho Passatempos Aude Barrio e Joatildeo Madeira Fotografia Augusto Fernandes Carla Rosado Diogo Lin Helena Colaccedilo Salazar Heacutelio Balinha Joseacute Fernandes Marisa Moura Nuno Moratildeo Paulo Marques Sophie Cadet Teresa Melo Yolanda Bettencourt Texto Ana Luiacutesa Rodrigues Carmen Correia Daniela Silva Joatildeo Berhan Joseacute Fernandes Luiacutes Elvas Luiacutesa Rego Marisa Moura Nuno Catarino Oriana Alves Pedro Santa Rita Raquel Albuquerque Ricardo Miguel Vieira Rita Pascaacutecio Teresa Melo Agradecimentos especiais a Andreacute Alves Antogravenia Tinture Claacuteudia Henriques Edgar Clara Heacutelder Oliveira Hugo Curado Maria Coimbra Mariana Melo Nuno Franco Paula Cosme PintoExpresso Sandra Bernardo Siacutelvia de Melo Olivenccedila e Vitorino Coragem E ainda pela cedecircncia de imagens Duck Production EGEACJoseacute Frade Museu da CidadeCML Maria do Ceacuteu Barata Nuno BotelhoExpresso Raquel CavaleiroMPAGDP e Site Norberto Arauacutejo (1889-1952) wwwnorbertoaraujoorg (copyright 2012) Joseacute Vicente de Braganccedila Jorge Quina Ribeiro de Arauacutejo e Herdeiros de Norberto de Arauacutejo Capa Helena Colaccedilo Salazar middot Propriedade Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Redacccedilatildeo administraccedilatildeo e publicidade Beco do Rosendo nordm 8 1100-460 Lisboa Tel +351 218 885 203 Tm +351 922 191 892 rosamariarenovaramourariapt Impressatildeo Funchalense ndash Empresa Graacutefica SA Distribuiccedilatildeo Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Versatildeo digital wwwrenovaramourariapt Tipos de letra Atlantica Lisboa e Tramuntana gt Ricardo Santos Depoacutesito legal 31008510 Periodicidade Semestral Tiragem 10 000 exemplares Nuacutemero sete Junho 2014 Nordm Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaccedilatildeo Social) 126509 Correcccedilatildeo Na ediccedilatildeo anterior a fotoacutegrafa Helena Colaccedilo Salazar natildeo foi incluiacuteda na ficha teacutecnica E o jornalista Samuel Alematildeo ficou na redacccedilatildeo mas sem referecircncia ao trabalho de ediccedilatildeo que tambeacutem prestou

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 11রোউজো মোরযো

reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

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Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

বথিনএই শবদযোিথয অযোযনরত সকি শিকারথী এর পরশত সমান মথনাথযাি এবং সমান অগাশকার সদযা তাথদর সক কাথস অনিীিন কাথি সবতাশক সেষা করা হয যাথত তাথদর পথক কাথসর সাবথজকট সমপনত রকম ব িমযে হযএর জনযে মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিয ২০১১ সত এশব নং ৭৫ নামক একটি নতন পদধশত সশষ করা হথযথছ যাথত কথর তাথদর সযন কাথস অনিীিন কাথি তাথদর সকি সাবথজকট এর মমতারত বেথত কষ নাহ হয

এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

পতত শিজ িাষা শিকার শবিািীয পরান কািতা কািত ালহ এর সাথর অশিবাসীথদর জনযে পতত শিজ কাস সমবনীয অননযে তরযে এবং শবশিনন কিিাশদ সমপথকত আিাপকাথি শতশন জানান সযপরশত মিবার এবং বহসপশত বার সকািrdquo ১১৩০ হথত ১২৩০rdquo পযতনত শিি-শকথিার সদর পতত শিজ িাষা শিকা সদযা হয

তদপশরএই কাস সমথহ তারা শবশিনন রথপ অনিীিন কথর রাথকন সযমনশবশিনন রকম িবদ উচারথণর মাযেথম তাথদর সঠিক িাথব পতত শিজ শবশিনন িবদ উচারণ শিিাথনা হযতাথদর সক শেতাঙকন এর মাযেথম শবশিনন শজশনস পথতর সাথর পশরশেত করাথনা হযতাথদর সক সংিীত েেত ার মাথম অরবা পরথতযেক সদথির শবশিনন সকৌতক িনাথনা এবং তাথদর কাছ সরথক িনার মাযেথম তাথদর সক এথক অথনযের সাথর অথিােনায মতত কশরথয পতত শিজ িাষার অথনক েেত া করাথনা হয আর এিাথবই তারা ীথর ীথর পতত শিজ িাষায শিিথত ও পডথত শিথি যায

শতশন আথরা বথিনঅথনক শিকারথী সক তাথদর জীবথনর শবশিনন রকম অশিজঞতার করা বিথত বিা হথয রাথক এমশন একজন বাংিাথদিী পতত শিজ িাষা শিকারথী উজবিতার কাথছ তার শবথিষ একটি অশিজঞতার করা জানথত োওযা হথি সস বথি থয সি একটি পাস-কওযার (ইসার-সানথড) অনষাথন সস অংিগহন কথর সসিাথন সস অথনক আথিা সদথি যা তাথক অশিিত কথর আর এই অনষাথন সস শবশিনন রকম েকথিে িায সস আথরা জানায সয সসিাথন সবাই এথক অপরথক সহথযাশিতা কথর সযমন

আথযিা যার বযস ৭ বছর সস ও বাংিাথদিী (সস ইদাশনং পতত িাি

এ এথসথছ তাই িাষা জাথন না) আথযিা সবিাবতই অথনক শকছ জাথন না ও সবার কাথছ শজথগেস করথতশছি এো ওো শক আর অনযে সবাই তাথক অনবাদ কথর বিশছি সয এোর নাম

এছাডাওসরেণী-কথক অথনক সময তারা যশদ শিশককার শবশিনন পরথনের মাথন বেথত না পাথর তিন শিকারথীরা এথক অথনযের সহথযাশিতা সনয

পরাপত বযসথদর জনযে কাস ির হয দপর ২০০ ো হথত শবথকি ৪০০ পযতনত এই কাস এ পরাপত বযস অশিবাসীথদর পতত শিজ িাষায বাকযে িঠন এবং বাথকযের সংশমরেন শিিাথনা হয তাছাডাওশবশিনন িথবদর মাযেথম বাথকযের সঠিক উচারণ সিিাথনা হয এবং শবশিনন ছশবর মাযেথম দদনশদিন সববহত দতজসপতাশদর নাম সিিাথনা হয এবং সংিযোর পশরেয ও সববহার সিিাথনা হয

সবতপশর বযেকযোরণ ও একো িবই পরথযাজনীয অযোয যা তাথদর সক শিকা সদযা িবই দরকার কারণ অশিবাসী শিি-শকথিাররা বযেকযোরণ এর শবশিনন াপ িথিা বথে উঠথত পারথছ নাহ কারণ তাথদর সরথক আমাথদর বযেকযোরণ একে শিনন আর এর জনযে তারা ঠিক মত আমাথদর বযেকযোরণ িথিা সক উপিশধি করথত পারথছ না এর দরন তারা পরীকায সতমন একো িাথিা করথত পারথছ নাহ তাই হযতবাহ আিামী বছর ৪রত সগড(শবদযোিথযর পাঠথরেণী) উততীণত হথত পারথব নাহ

(উথলেিযে আমাথদর সদথি সযমন পরাইমারী শবদযোিথযর সমাপনী পরীকা সিষ হয ৫ম সরেনীর পর পতত িাি এ হয ৪রত সরেনীর পর এবং এই পরীকা ো জাতীয িাথব হয)

সি সরথক েথর পডা শিিথদর জনযে করণীয আথিােনা সবথেথয িরবিপণত াপ হথত পাথর পরথতযেক সকই দাশযতব শনথয তাথদর সাথর আথিােনা করা উশেত বন সদর উশেত তাথদর দদনশদিন কাযতকরম এর সবিযো এবং শকিাথব পতত শিজ িাষার অনিীিন করা হথয রাথক সি তা বণতনা করা তাথদর কাথছ যারা শনযশমত সথি যায না অরবা সমপণত রথপ সি তযোি কথর সেথিথছ তাথতই কথর হথব শক তারা ও িাষা শিকার সকথত আগহী হথব আবার অনযে শদথক তাথত হথব শক তারা তাথদর অনযে সদথির বন সদর সাথর ও সযািাথযাি করথত পারথব এথত কথর আমাথদর সমৌরাশরযা সত বসবাস কশর সকি বহমাশতক জনিশষ নানান জাশতর ও বহসংসশতর শবকাি ঘেথব

িাষা শিকার সকথত শপতামাতার িশমকা অনসবীকাযত তাথদর সক শবদযোিথযর শবশিনন আোর অনষাথন আমনতরণ জানাথনা সযথত পাথর সযমন বড-শদথনর(খীষ মাস) অনষাথন অরবা বাশষতক পকত ার সিথষ েিােথির শদথন এথত কথর তারাও উদীশপত হথবন এবং শনথজথদর সনতান সদর সিিার জনযে উদীপত করথবন এবং উনারাও সামাশজক িাথবই পতত শিজ সমাথজ মীসার সথযাি পাথবন

উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

Carla

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 2: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1402

Jaacute partiu um pulso um peacute um joelho e algumas costelas E esteve prestes a ter uma perna amputada Cataratas audiccedilatildeo reduzida pedras biliares Satildeo vaacuterias as maleitas que afectam a dona Emiacutelia mas a maioria delas jaacute passa-ram haacute mais de trinta anos Hoje aos cem desce (e sobe) do terceiro andar que habita na Travessa do Jordatildeo e pal-milha a escadaria ateacute ao Largo das Olarias onde frequen-ta a mercearia da dona Helena Assim fez por exemplo no dia em que nos concedeu esta entrevista numa terccedila--feira 13 de Maio

Sempre foi caseirinha mas manteacutem este giro entre as rotinas habituais e todos os anos haacute um dia em que nunca fica em casa 11 de Maio Ainda este ano laacute esteve ela no Terreirinho sentada no seu banquinho com a nora Isau-ra de 75 anos com quem vive como matildee e filha Eacute o dia da Procissatildeo da Nossa Senhora da Sauacutede a mais antiga do paiacutes que vem dos tempos das Descobertas (em 1570) por devoccedilatildeo dos artilheiros de Satildeo Sebastiatildeo na Mouraria que rogaram com ecircxito pelo fim da peste em Lisboa

Emiacutelia de Jesus Moreira Costa nasceu no distrito de Castelo Branco ndash na Quinta das Pereiras Belmonte ndash no dia 12 de Dezembro de 1913 trecircs anos depois da Implantaccedilatildeo da Repuacuteblica Oacuterfatilde de pai ainda antes de nascer foi a mais nova de seis irmatildeos e goza da maior longevidade em toda a famiacutelia Tem um filho de 75 anos e um neto de cinquen-ta a mesma idade que tinha quando enviuvou e comeccedilou a trabalhar em casa como ama de crianccedilas ndash uma delas a Ana filha da dona Helena da mercearia que ainda lhe chama ldquoavoacuterdquo Usa preto haacute meio seacuteculo e desde que perdeu o seu companheiro nunca mais foi ao cinema Chegou a ver o Capas Negras vezes sem conta mas jaacute natildeo se lembra da his-toacuteria desse filme de 1947 em que a Amaacutelia Rodrigues teve um estrondoso ecircxito tinha Emiacutelia 34 anos

Passou por duas guerras mundiais entrou e saiu da mais longa ditadura da Europa ocidental (viveu-a dos 20 aos 60 anos) assistiu agrave massificaccedilatildeo da electricidade do telefone da maacutequina de lavar roupa da televisatildeo (tinha 44 anos quando nasceu a RTP) e da internet que a nora costuma

usar em especial o Facebook Natildeo sabe ler nem escrever mas natildeo se atrapalhou jaacute com 88 anos quando o euro substituiu o escudo em 2002 na sequecircncia da entrada de Portugal na Comunidade Econoacutemica Europeia em 1986 Vive um paiacutes resgatado pela terceira vez desde a Democra-cia instaurada em 1974 Primeiro pelo FMI em 1977 e 1983 e agora pela troika do FMI com o Banco Central Europeu e a Comissatildeo Europeia ateacute ao passado dia 17 de Maio

As telenovelas satildeo a sua distracccedilatildeo mas tambeacutem acom-panha as notiacutecias e tem dois pivocircs preferidos Rodrigo Guedes de Carvalho da SIC e Judite de Sousa da TVI ldquoEacute muito simpaacutetica e explica muito bem as coisas Estaacute ago-ra na China com o Cavaquinho [Cavaco Silva] para ver o que eacute que se pode fazer com Portugal para as ajudasrdquo Consegue imaginar-se a viver sem televisatildeo ldquoAi jaacute natildeo podia Entatildeo eacute que morria estuacutepida mesmordquo

A quem viver nos proacuteximos cem anos deixa um conselho ldquoJuizinho muita paciecircncia Ser bom para as pessoas natildeo le-vantar falsos testemunhos natildeo matar natildeo roubar nada dissordquo

Viver sem televisatildeo ldquoNatildeo podia Entatildeo eacute que morria estuacutepida mesmordquoNasceu em Belmonte no ano de 1913 e vive na Mouraria haacute mais de setenta Conversou com o ROSA MARIA e respondeu agraves perguntas que recolhemos pelo bairro entre os seus vizinhos com idades dos 10 aos 90 anos

Emiacutelia Costaanos

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 03রোউজো মোরযো

Entrevista Fotografia Marisa Moura

Margarida Guerrinha 10 anos Na sua infacircncia havia tantas coisas como hoje Ao que eacute que brincavaResposta A trabalhar A trabalhar desde os seis anos Tomava conta de um menino que ainda natildeo tinha um ano mas era um gordo e eu tinha que descer umas escadas com ele ao colo Levava-o agraves costas e um dia pumba vamos os dois pela escada a baixo [risos] A patroa deu-me uma palmada e eu fugi para a minha matildee mas ela foi-me laacute levar outra vez Soacute ia a casa aos domingos Nunca tive uma boneca sequer Depois comecei a trabalhar no que aparecia A cavar Ainda hoje sei tudo do campo Soacute jaacute me esqueci das datas para semear Do resto ainda me lembro de tudo Regar sachar aterrar Tirar aacutegua para um picanccedilo agrave matildeo com o balde O campo tem muita coisa bonita

Tatiana Barros 20 anos Como eacute que a chegada da Ditadura interferiu na sua vida Destruiu algum sonho ou objectivoResposta Os sonhos para mim eram soacute trabalhar mais nada Gostava de ter ido agrave escola e muita coisa mas natildeo podia Morava numa pequena povoaccedilatildeo a escola era muito longe e natildeo havia trans-porte E tinha que trabalhar Vim para Lisboa tinha uns 20 anos Servir Natildeo era um sonho A minha matildee disse-me ldquoVai para o peacute da tua irmatilderdquo E eu fui Pedi a uma senhora que me lesse os anuacutencios e ela disse-me ldquoOlha Emiacutelia estaacute aqui um bomrdquo Foi bom foi Ateacute fome laacute passei Ah pois Muito ricos mas

A minha colega cozinheira tambeacutem estava aflita Soacute comiacuteamos o que vinha da mesa E davam-nos pimentos fritos Diz-me ela ldquoOacute Emiacutelia vamos arranjar outra casa e vamos as duas emborardquo Ela tambeacutem natildeo sabia ler e disse ldquoVou pedir a uma senhora que eacute minha conhecida para ver se ela nos acolherdquo Laacute nos arran-jou outra casa na Avenida da Liberdade Fomos Ai Jesus Era uma casa enorme muito luxo Cadeiras douradas moacuteveis lindos tudo muito lindo mas Comer eacute que natildeo era com eles Fui outra vez para casa da minha irmatilde Mas eu natildeo gostava

do meu cunhado de maneira que decidi voltar para a terra A passagem custava 10 escudos Natildeo tinha explicaccedilatildeo o que a gente ganhava Era muito pouco 15 ou 16 escudos 20 escudos jaacute era muito E soacute tiacutenhamos uma folga de quinze em quinze dias Era uma escravatura Deitava-me agraves vezes agraves duas horas trecircs horas e tinha de me levantar agraves cinco Meti-me no comboio e laacute fui Ai Jesus Eu dizia mal agrave minha vida Natildeo sabia o que havia de fazer Natildeo queria estar laacute na terra mas tambeacutem natildeo queria pesar agrave minha irmatilde Um dia deu-me uma veneta e vim para Lisboa outra vez

A minha matildee tinha enviado uma carta agrave minha irmatilde para ela ir buscar-me agrave estaccedilatildeo mas ela natildeo foi Entretanto vinha no comboio um senhor laacute da nossa terra o senhor Bidarra uma pessoa muito boa Cheguei agrave estaccedilatildeo esperei esperei Ele natildeo me deixou ali sozinha Jaacute era quase uma hora da noite e chovia que Deus mandava ldquoA menina Emiacutelia conhece a senhora Damianardquo Era uma senhora de laacute da terra porteira na Bica Ele chamou um taacutexi e levou-me laacute Eu soacute pedia agrave Nossa Senhora que me acompanhasse [chora] A criatura levantou-se estavam os filhos a dormir No outro dia perguntou a uma senhora ldquoOacute dona Rosa a senhora natildeo precisa de uma empregadardquo ldquoOlhe por acaso precisordquo Era para fazer rissoacuteis e essas coisas para as confeitarias E laacute estive Depois aconteceu qualquer coisa na vida dela e deixou de fazer os pasteacuteis Era no quinto andar No andar de baixo havia uma pensatildeo com doze quartos Fui laacute perguntar ldquoOacute senhora Juacutelia a senhora precisa de uma empregadardquo Ao tempo que ela andava com o olho em mim Foi a minha segunda matildee Era uma senhora Ainda tenho ali uma fotografia dela Ela jaacute me tinha dado um toque mas custava--me deixar a dona Rosa Mas como ela coitada jaacute natildeo podia ter-me Laacute fiquei na pensatildeo

Foi aiacute que conheci o meu marido Era hoacutespede conhecido da famiacutelia deles Esta-va divorciado haacute quatro meses e esteve ali uns tempos Laacute nos enamoraacutemos Ele per-guntou agrave senhora Juacutelia ldquoAquela rapariga que a senhora tem aiacute ela eacute boa rapariga natildeo eacuterdquo E diz ela assim ldquoEacute uma joacuteia Natildeo tem estudos mas eacute muito boa raparigardquo Um dia vou levar a aacutegua e as toalhas e ele fez ali uma cantiga [risos] Eu nem disse que sim nem que natildeo ldquoOacute dona Juacutelia o se-nhor Fernando disse-me isto assim-assim O que eacute que a senhora achardquo ldquoOlha filha faz o que entenderes mas acho que fazes bem Sempre vais para a tua casinhardquo ldquoMas eu tenho medo que ele se aborreccedila e me deixerdquo ldquoOlha que natildeo eacute rapaz para issordquo E natildeo foi [chora] Foi a melhor coisa que eu tive na minha vida Primeiro vivemos num quarto em Satildeo Paulo [Cais do Sodreacute] e depois eacute que arranjaacutemos esta casa Antes de o conhecer ainda estive no Bairro das Coloacutenias

Hugo Mauriacutecio 30 anos Como viveu a primeira e a segunda guerras mundiaisResposta Jaacute natildeo me lembro dessas coisas Agraves vezes havia assim uma revoluccedilatildeo e assim Umas coisas Havia tiro para caacute tiro para acolaacute Eu morava ali no Bairro das Coloacutenias que era quase soacute terras Um dia de manhatilde fomos agrave varanda e o tanque da roupa estava com balas Meu Deus Nessa noite a gente natildeo conseguiu dormir Aquilo era de um dia para o outro Depois acalmava Nem sei para que era Ainda nem conhecia o meu marido

Gertrudes Dias 40 anos Em 2014 esta-mos num estado calamitoso nomeada-mente na Sauacutede e na Educaccedilatildeo Houve alguma altura nestes cem anos em que tenha sentido que o paiacutes funcionou bem com as coisas a preccedilos acessiacuteveis e as pessoas a viverem em espiacuterito de amizadeResposta Eu natildeo filha A gente soacute via era pobreza Por isso eacute que faziam da gente escrava As melhoras jaacute soacute vieram muito tarde Comeccedilou tudo a abrir os olhos E depois quando se deu a revolta do 25 de Abril entatildeo foi Haacute pouco tem-po eacute que haacute essa coisa das caixas [pensotildees] Antigamente natildeo havia A mim natildeo me cortaram nada porque natildeo tinha A troika maldita nunca mais tira de caacute os peacutes Soacute tecircm feito mal Metem o nariz em tudo Deviam fazer as coisas de outra maneira

Anabela Mota 50 anos Que alimentaccedilatildeo manteacutem para chegar a esta idadeResposta Uma sopinha patildeozinho com qualquer coisa feijatildeo batatas arroz massa Enjoei tudo desde a doenccedila que tive [pedra na vesiacutecula] Agora jaacute como um bocadinho de bacalhau mas pouco Adorava cafeacute e bebia a toda a hora mas agora natildeo posso beber para natildeo ficar com a tensatildeo alta A gente quando nasce jaacute traz o destino marcado para viver ou morrer Natildeo eacute o que se come nem nada disso Tudo eacute o destino O que Deus manda mais nada

Ilda Novo 60 anos Como foi voltar a viver em Liberdade aos 60 anosResposta Eu nessa altura natildeo pensava nada estava caacute no meu buraco E assim te-nho passado e assim estou Trabalhei mui-to muito Quando comeccedilo a desenterrar coisas caacute na minha cabeccedila passo noites que natildeo durmo Mas natildeo tomo comprimidos Natildeo dorme hoje dorme amanhatilde Rezo o terccedilo Por enquanto graccedilas a Deus natildeo me habituei a nada disso Parte dos remeacutedios que me receitaram jaacute os rejeitei

Maria Joseacute Luiacutes 70 anos Ainda consegue tratar de si proacutepriaResposta Natildeo tenho fraldas natildeo tenho nada disso graccedilas ao Nosso Senhor E tomo banho sozinha Dantes levantava-me mais cedo agora natildeo eacute preciso somos soacute as duas Nos dias que natildeo tenho que fazer levanto--me pelas oito e meia nove horas Hoje levantei-me eram sete arranjei-me e fui-me embora agrave mercearia Em jejum Soacute em jejum eacute que posso fazer as coisas Se como e me baixo vai tudo fora Cheguei laacute havia de ser oito e meia Ningueacutem me deixa tra-zer nada Ia a sair e o meu vizinho ldquoQuer que lhe leve alguma coisardquo Trouxe-me o saco do bacalhau

Jorge Bastos 80 anos Ateacute que idade pensa chegarResposta Eu soacute queria chegar ateacute amanhatilde Ficava feliz Desde que Deus Nosso Senhor me leve para um bom lugar Mas isto natildeo eacute o que eu quero eacute o que Ele quer Faccedila-se a sua vontade

Helena Oliveira 90 anos Com esta idade o que eacute que andamos caacute fazerResposta O que eacute que eu ando aqui a fa-zer Soacute ando aqui a penar A gente sendo velha eacute soacute penar Chatear os outros Eu natildeo queria que fosse assim Sempre pedi a Deus que mesmo que levasse o meu marido agrave minha frente que me levasse numa hora soacute Mas Deus natildeo quis que eu fosse com ele

D Emiacuteliaresponde

Com os nove vizinhos que fizeram as perguntas e com a preciosa colaboraccedilatildeo de todos os que ajudaram a concretizar esta entrevista Agradecemos em especial ao Sr Joseacute Ferreira da Charcutaria Beiratildeo agrave Paleta da Muacutesica da Mouraria a Gostar Dela Proacutepria e agrave D Laurinda Barbosa do restaurante A Vaidosa do Terreirinho que nos conduziram agrave D Emiacutelia E tambeacutem agrave D Maria Ameacutelia Miranda que tanto se empenhou a ajudar-nos a encontrar os entrevistadores com as idades certas

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Intendente Sai Antoacutenio Costa O presidente da Cacircmara Municipal de Lisboa Antoacutenio Costa passou trecircs anos no Largo do Inten-dente Pina Manique para onde transferiu o quartel-general da autarquia em Abril de 2011 no arranque do PDCM ndash Programa de Desenvolvi-mento Comunitaacuterio da Mouraria quando toda esta zona era um fantasma por reanimar Regressou aos Paccedilos do Concelho no passado mecircs de Abril cedendo as instalaccedilotildees agrave Junta de Freguesia de Arroios presidida por Margarida Martins rosto da associaccedilatildeo Abraccedilo Vai tratar de ldquooutras Mourariasrdquo segundo anunciou em Marccedilo numa reuniatildeo de cacircma-ra Entretanto em Maio apoacutes as eleiccedilotildees europeias em face dos resultados desfavoraacuteveis aos socialistas anunciou a sua candidatura agrave lideranccedila do Partido Socialista de olhos postos nas legislativas do proacuteximo ano nas quais poderaacute tornar-se primeiro-ministro

entra uma residecircncia para estudantes Na mesma reuniatildeo de cacircmara no dia 26 de Marccedilo foi aprovado o projecto para uma residecircncia de estudantes no Largo do Intendente a ser explorada pela Universidade de Lisboa com capacidade para 239 camas

O Mob jaacute caacute estaacute O espaccedilo Mob deixou o Bairro Alto onde a renda era incomportaacutevel e abriu portas na Rua dos Anjos 12F em Abril apoacutes trecircs meses sem casa Nasceu haacute dois anos de uma parceria com a Associaccedilatildeo de Combate agrave Precariedade ndash Precaacuterios Inflexiacuteveis (atendem agraves sextas das 19h agraves 20h) e com a cooperativa cultural Crew Hassan A mobilizaccedilatildeo continua no Intenden-te reforccedilada com o Habita ndash Colectivo pelo Direito agrave Habitaccedilatildeo e agrave Cidade que ali dinamiza assembleias todas as segundas agraves 18h Continuam as festas tambeacutem Na inauguraccedilatildeo a muacutesica esteve por conta dos DJ Golpe de Estado Mais informaccedilotildees em moblisboaorg

E haacute tambeacutem uma nova (id)entidade O crescente nuacutemero de inquilinos no Intendente jaacute justifica um BI Nasceu assim em Maio o colectivo Bairro Intendente que inclui comerciantes (A Vida Portuguesa Bike Pop Horiginal etc) e entidades culturais (Largo Residecircncias Casa Independente Sport Club Intendente Mob etc) sedeados no Largo do Intendente Pina Manique na Rua dos Anjos e na Rua do Benformoso esta uacuteltima colada agrave Mouraria Comunicam eventos conjuntamente em bairrointen-dentewordpresscom e no Facebook

Futuras agentes de geriatria Dezassete mulheres com idades entre os 20 e os 50 anos estatildeo em formaccedilatildeo na Mouraria desde Fevereiro para se tornarem agentes de geriatria com equivalecircncia ao 9ordm ano Aleacutem de enriquecerem em mateacuterias que vatildeo do Inglecircs agrave Matemaacutetica e agrave Histoacuteria recebem uma bolsa de 140 euros men-sais ou valor aproximado se jaacute recebiam apoios anteriores E ganham empregabi-lidade para o futuro tratando de quem tanto precisa os mais idosos (ver outras iniciativas para seniores da Mouraria na paacutegina 11)A formaccedilatildeo resulta de um protocolo entre o gabinete municipal GABIP Mouraria e o Instituto do Emprego e Formaccedilatildeo Profissional em parceria com a Obra Social das Irmatildes Oblatas do Santiacutessimo Redentor que encaminhou cerca de metade das formandas Estaratildeo prontas para exercer a profissatildeo quando o curso acabar em Novembro de 2015

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Calccedilada Agostinho de Carvalho Xadrez da discoacuterdia Os passeios da Calccedilada Agostinho de Carvalho tecircm desde Marccedilo trecircs controversas aacutereas Um lado desta iacutengreme rua manteve a calccedilada portuguesa o outro ficou dividido em dois tipos esse mesmo pavi-mento num quarto do passeio e o resto com uma argamassa cinzen-ta escura que a todos desagrada incluindo ao presidente da Cacircma-ra de Lisboa Antoacutenio Costa

A situaccedilatildeo levou mesmo uma moradora a agendar uma reuniatildeo na junta de freguesia ldquoNo dia em que a obra ficou pronta marquei logo para mostrar o meu desagradordquo conta Ana Silva 57 anos desde os 12 por aqui Havia uma agravante estava finalizada a empreitada que manteve a rua esventrada durante o Inverno apoacutes o rebentamento do colector de esgotos mas ficaram por unir as pedras do empedrado por onde circula o tracircnsito ldquoEle [Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior] ligou logo a algueacutem ao peacute de mim e isso foi rapidamente arranjadordquo O presidente da cacircmara jaacute tinha sido chamado ao local pelo proacuteprio Miguel Coelho e no dia dessa visita a nossa vizinha estava agrave janela ldquoO Antoacutenio Costa pergun-tou-me o que eacute que eu achava e eu respondi que jaacute tinha uma reuniatildeo marcada Ateacute ele concordou que aquele novo pavimento eacute muito bruto Disse que talvez em bege ficasse melhorrdquo As obras foram da responsabilidade da cacircmara mas o presi-dente da junta admite vir a embelezar aquele trecho O objectivo do poleacutemico material eacute evitar quedas sobretudo entre as pessoas mais idosas mas os moradores rejeitam tal argumento salientando que as pedras pretas da calccedilada portuguesa jaacute tecircm uns ldquobiquinhos anti-derrapantesrdquo como diz Joatildeo Brito dono da Leitaria do Benformoso ndash 52 anos haacute 38 residente na calccedilada Concordam com ele octogenaacuterios como a dona Helena Almeida Pior a cobertura em causa (tambeacutem usada no parque infantil da Rua da Guia) eacute das mais caras feita agrave base de resinas epoacutexi segundo explicaccedilotildees do arquitecto da junta Joseacute Carvalhei-ra Indignou tambeacutem o facto de o novo piso ter sido posto quando no dia anterior jaacute ali se tinha colocado a calccedilada portuguesa Fez-se e desfez-se para pior

Estacionamento condicionado na Rua da Guia Assim que terminarem as festas dos Santos Populares comeccedilaraacute na Rua da Guia a construccedilatildeo de um estacionamento para 11-13 lugares no local onde hoje estaacute a ram-pa em frente ao preacutedio devoluto Os moradores do Largo da Severa e das ruas do Capelatildeo da Guia e Joatildeo do Outeiro foram convocados no passado dia 16 de Maio pelo presidente da Junta de Freguesia de Santa Maior para serem informados e auscultados ldquoAjudem-me a decidir nesta questatildeo essencial para a qual natildeo encontrei melhor soluccedilatildeordquo disse Miguel Coelho agraves cerca de quinze pessoas presentes na Casa da Covilhatilde adiantando que esta eacute uma alternativa ldquomenos radicalrdquo em relaccedilatildeo agrave intenccedilatildeo da cacircmara municipal que seria de instalar um pilarete a interditar a zona A Rua Marquecircs de Ponte de Lima passaraacute a estar controlada pela EMEL reservada a residentes implicando o paga-mento anual de um selo no valor de 12 euros ldquoO Largo da Severa natildeo foi feito para ter carros mas sim esplanadasrdquo explicou E aos desagradados moradores da Rua da Mouraria que natildeo seratildeo considerados utentes da zona lembrou ldquoO oacuteptimo eacute inimigo do bomrdquo

Maacutescaras do ano

Neste Carnaval o Grupo Gente Nova realizou mais um animado concurso de maacutescaras Os vencedores foram a princesa Carina Letiacutecia 5 anos (primeiro lugar) o mexicano Gonccedilalo Fernandes 7 anos (segundo) e o poliacutecia Marco Francisco Sousa 10 anos (terceiro)

Uma das aulas de inglecircs com a professora Joana Pessoa no GABIP Mouraria

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Croacutenica

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Haacute 24 anos que trabalho na Mouraria e como estudante de Sociologia eacute uma sorte ter um marchante devoto do bairro como colega Chega abril e o Nuno nem com aacuteguas mil deixa de cumprir a tradiccedilatildeo A azaacutefama inicia- -se com os preparativos para as marchas populares No escritoacuterio surgem os primeiros relatos do recrutamento das medidas para os fatos ficarem ldquoa matarrdquo as primeiras marcaccedilotildees a escolha dos pares e as tentativas de convencer os mais indecisos A marcha comeccedila a ganhar forma O Nuno espera escrupulosamente pela hora do iniacutecio do ensaio sobe rua desce rua decora as letras e as marcaccedilotildees O entusiamo eacute notoacuterio no seu semblante

Os comportamentos e as dinacircmicas recorrentes ano apoacutes ano permitem a transmissatildeo de fatos culturais de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo perpetuando assim natildeo soacute a tradiccedilatildeo mas tambeacutem a rivalidade entre bairros O Nuno ilustra brilhantemente tudo aquilo que estudamos nos manuais acadeacutemicos sobre identidade Como ele diz ldquoHaacute sempre uns bairrismos depois haacute as picardias uma claque grita mais alto a outra grita mais alto ehellip envolveu-se tudo agrave porrada no pavilhatildeordquo

Eacute interessante constatar que a cacircmara municipal promove os bairros divulgando os costumes enraizados na populaccedilatildeo como atraccedilatildeo mas os marchantes natildeo datildeo grande importacircncia agrave parte turiacutestica do evento referindo-se agraves festas populares como uma festa deles e para eles ldquoA gente sente mais (eu sinto mais) a volta ao bairro do que descer a Avenidardquo As marchas e os bairros fundem-se assim em tradiccedilotildees significados rivalidades sentimentos de pertenccedila e identidades coletivas

Ser marchante envolve um conjunto de disposiccedilotildees forjadas ao longo dos tempos - e ser marchante da Mouraria natildeo eacute o mesmo que ser marchante em Alfama ldquoIeacute ieacute ieacute a nossa marcha eacute que eacuterdquo Ainda assim sendo nossa natildeo eacute ldquonossardquo da mesma maneira para todos ldquoO orgulho do bairro eacute do bairro mas se natildeo se for na marcha natildeo eacute a mesma coisa Tem de se ir para sentir o que eacute aquilordquo Eacute este orgulho este sentimento de pertenccedila enraizado que muitas vezes transborda e acerta em cheio na claque da marcha vizinha ldquoIeacute ieacute ieacute a Mouraria eacute que eacuterdquo

Joseacute Luiacutes Elvas trabalha num banco de imagens e eacute finalista da licenciatura de Sociologia na Faculdade de Ciecircncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

ldquoIeacute ieacute ieacute a nossa marcha eacute que eacuterdquo

Primeira sala de consumo assistido de drogas prestes a nascer na Mouraria

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Mais de vinte pessoas da Mouraria jaacute cantaram em frente agraves cacircmaras do projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar Dela Proacutepria Em cima o quarteto Fateh Charan Kuidip e Sewak Abaixo Maria de Lurdes Santos Ao alto a fadista Elvira Igreja

FotografiaRaquel Cavaleiro MPAGDP

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Podemos ateacute dizer que a Mouraria estaacute na moda Mas natildeo haacute fachada caiada que o escon-da a droga continua na rua Perpetua o gueto no bairro afasta moradores turistas e investi-dores traz criminalidade e prostituiccedilatildeo destroacutei famiacutelias e estigmatiza consumidores

Em 2012 num edifiacutecio da Calccedilada de Santo de Andreacute cedido pela cacircmara nasceu o In Mou-raria centro de apoio a toxicodependentes ge-rido pelo GAT (Grupo Portuguecircs de Activistas sobre Tratamentos de VIHSIDA) Ali os con-sumidores encontram enfermeiros e psicotera-peutas que jaacute os conhecem Ali ouvem conse-lhos de ex-consumidores Ali se fazem as pontes com o centro de emprego Haacute merendas casa--de-banho e roupeiro datildeo-se seringas novas ca-chimbos e preservativos fala-se de sexo seguro e do contaacutegio de doenccedilas associado ao consumo de drogas em condiccedilotildees insalubres Tambeacutem se fazem rastreios de VIH e Hepatite B e C

Ricardo Fuertes que coordena este centro e trabalhou numa sala de consumo assistido de drogas em Barcelona sente-se de matildeos atadas Os consumidores entram satildeo aconselhados recebem seringas novas Mas chega a altura em que precisam de injectar heroiacutena ou fumar crack ndash e tecircm de o ir fazer para a rua sozinhos em caso de overdose abrigados numa ruiacutena ou

acocorados atraacutes de um carro no Benformoso A ideia de consumo assistido estaacute prevista na lei desde 1999 mas nunca foi posta em praacutetica Parece que eacute desta a versatildeo final do relatoacuterio da Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede de Lisboa e Vale do Tejo e do SICAD (ex-Instituto da Dro-ga e da Toxicodependecircncia) que recomenda a criaccedilatildeo de uma ldquoestrutura de consumo segurordquo de drogas nesta zona seraacute entregue ao Presiden-te da Cacircmara Municipal de Lisboa ainda neste Veratildeo Foi ateacute identificado o lugar ideal a Rua da Palma perto do futuro centro de sauacutede do Martim Moniz e da futura esquadra da PSP

A decisatildeo teacutecnica estaacute tomada Falta a poliacute-tica Ateacute ao fecho desta ediccedilatildeo Antoacutenio Costa nada tinha dito Resta saber se a sua candidatu-ra agrave lideranccedila do PS (e quiccedilaacute agraves legislativas do proacuteximo ano) condicionaraacute a sua decisatildeo Sabe-mos que este eacute um tema sensiacutevel campo feacutertil para populismos e preconceitos

Jaacute se tentou criar um espaccedilo assim em 2006 com a Estrateacutegia Municipal de Intervenccedilatildeo para as Dependecircncias que previa o alargamento da actividade dos Gabinetes de Apoio aos Toxico-dependentes situados em Chelas e em Benfica Passariam a chamar-se Instalaccedilotildees de Consumo Apoiado para a Recuperaccedilatildeo A sua abertura chegou a estar marcada para o segundo tri-mestre desse ano decorria entatildeo o conturbado mandato de Carmona Rodrigues independente apoiado pelo PSD (partido que mais contes-tava estes espaccedilos nas discussotildees municipais) Sempre adiada Tambeacutem no Porto se discutia o tema pela voz do padre Joseacute Maia presidente da Fundaccedilatildeo Filos

Joatildeo Meneses (coordenador do GABIP Mouraria) e Luiacutes Mendatildeo (presidente do GAT) acreditam que os moradores compreendem o que agora se propotildee natildeo um ldquospa do consumordquo mas uma casa de acolhimento que aproveite os teacutecnicos de intervenccedilatildeo comunitaacuteria meacute-dicos e enfermeiros para criar empatia com os consumidores e apostar na sua regeneraccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional Ou seja uma casa como o In Mouraria mas com um quarto a mais Seraacute desta 3Joatildeo Berhan

E vocecircjaacute cantouSe gosta de cantar natildeo se espante se for abordado por uma simpatia de cabelo curto e oacuteculos redondos chamada Ana Paula Silvestre mais conhecida por Paleta Velhos e novos nacionais e estrangeiros amadores e profissionais tecircm cantado pelas ruas da Mouraria juntando-se a centenas de outras vozes do Minho ao Algarve Mais de vinte pessoas do bairro jaacute gravaram e muitas outras estatildeo na mira desta caccediladora de vozes que eacute uma das guias turiacutesticas da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria e a ponta-de-lanccedila da Mouraria no projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar Dela Proacutepria criado em 2011 pelo realizador Tiago Pereira O objectivo eacute gravar cinco projectos musicais por semana para criar o maior arquivo de muacutesica portuguesa As participaccedilotildees nacionais estatildeo em facebookcomamusicaportuguesaagostardelapropria e as da Mouraria organizadas no canal A Muacutesica da Mouraria a Gostar dela Proacutepria em httpmmagdptumblrcom Jaacute satildeo tantas que nem temos espaccedilo nesta ediccedilatildeo para citar todos os artistas e menos ainda para publicar todas as fotografias Eacute bom sinal

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o chafariz do largo dos trigueiros eacute muito viajado Sabia que o chafariz do Largo dos Trigueiros eacute muito viajado Nos meados do seacuteculo XIX surge como bebedouro puacuteblico do passeio da Costa do Castelo Em 1888 numa

solicitaccedilatildeo do regedor da paroacutequia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo eacute plantado no Largo da Achada Eacute aiacute que o ilustrador e aguarelista Alfredo Roque Gameiro o torna famoso em duas obras (ver paacutegina 26) Nos anos 40 muda-se para o Terreirinho

das Farinhas actual Largo dos Trigueiros Este pequeno largo de origem marginal (que o olisipoacutegrafo Norberto de Arauacutejo

descreveu como um ldquocapricho de construccedilatildeo de acasordquo e uma soluccedilatildeo de ldquourbanistas antigosrdquo na correcccedilatildeo dos declives da encosta) eacute hoje um dos locais mais prazenteiros da Mouraria E este velhinho bebedouro eacute o seu ex-liacutebris

Primeiro Encontro Ravidassia na Mouraria

Mais de cem ravidasis encheram a Sala Fernando Mauriacutecio do Grupo Desportivo da Moura-ria no passado dia 9 de Maio para receberem uma sumidade Sant Niranjan Dass Ji liacuteder do santuaacuterio Dera Sach Khand em Ballan na regiatildeo indiana do Punjab Natildeo eacute a primeira vez que Sant Niranjan vem agrave Mouraria mas eacute uma estreia enquanto liacuteder de uma religiatildeo Dantes representava o movimento Ravidass integrado na religiatildeo Sique agora representa a religiatildeo Ravidassia Dharam resultante de um corte radical com o siquismo em 2010 Dantes vinha como ravidasi agora como ravidassia segundo a terminologia adoptada desde que o seu santuaacuterio decretou a nova religiatildeo na sequecircncia de um atentado na Aacuteustria A presenccedila policial natildeo passou despercebida Tem sido imprescindiacutevel desde que este liacuteder ficou ferido em 2009 em Viena no atentando feito por radicais siques que chegou mesmo a matar o seu parceiro Sant Rama Nand Seguiram-se tumultos por toda a Iacutendia e o santuaacuterio decretou a nova religiatildeo Isto sob uma chuva de criacuteticas de outros santuaacuterios radivasis que apelaram agrave uniatildeo entre todos os siques e se mantiveram como tal Ambos os alvos do atentado de Viena tinham estado em Portugal na semana anterior se-gundo Davinder Lakha 43 anos residente na Mouraria e liacuteder do Shri Guru Ravidass Sabha ndash o templo ravidassia situado nos Anjos que por ser pequeno demais para estas recepccedilotildees obrigou ao aluguer de sala no Desportivo Este seraacute o uacutenico templo ravidassia em Portugal segundo Davinder estimando-se que no total existam 1500 ravidasis neste nosso paiacutes de dez milhotildees de habitantes Na Aacuteustria satildeo o dobro numa populaccedilatildeo de oito milhotildeesConotados com a classe baixa (dalit os intocaacuteveis) os ravidasis caracterizam-se por seguirem o Guru Ravidass nascido nessa casta em 1377 Um uacutenico guru Jaacute o siquismo caracteriza-se pelos seus dez gurus O primeiro eacute o Guru Nadak nascido em 1469 e o uacuteltimo eacute Gobind Singh que morreu em 1708 sem nomear sucessor alegando que o poder corrompe os humanos Ravidass teraacute sido forte fonte de inspiraccedilatildeo do quinto guru sique A recente cisatildeo tem sido analisada pela imprensa internacional como uma luta dos dalit por uma efectiva igualdade social

ReFood finalmente na Mouraria Diz-se ldquorifudrdquo Eacute um projecto de voluntariado que recolhe comida na restauraccedilatildeo e a distribui pelos mais carenciados ldquoFoodrdquo em inglecircs eacute ldquocomidardquo ldquoRerdquo vem de reciclar ou reutilizar O projecto foi criado haacute trecircs anos pelo americano Hunter Halder num espaccedilo cedido pela Igreja da Nossa Senhora de Faacutetima na Praccedila

de Espanha No ano passado abriu novos nuacutecleos primeiro em Telheiras depois na Estrela e no Lumiar Distribui quinhentas refeiccedilotildees diaacuterias e tem centenas de voluntaacuterios Estatildeo em curso dezenas de aberturas com juntas de freguesia que cederatildeo espaccedilos No nosso bairro a ReFood iniciou as primeiras reuniotildees no ano passado mas soacute agora se consolidou o projecto sendo entretanto estendido a todos os bairros da freguesia de Santa Maria Maior Porquecirc a demora ldquoIa haver eleiccedilotildees e quisemos evitar acusaccedilotildees de aproveitamento poliacutetico como estava a acontecer noutros locaisrdquo esclarece Joatildeo Pedro Moreira bancaacuterio e coordenador deste nuacutecleo da ReFood entatildeo tesoureiro da Junta de Freguesia do Socorro Jaacute sem funccedilotildees poliacuteticas coordena o nuacutecleo de Santa Maria Maior e estaacute prestes a ter o aval de um espaccedilo cedido pela junta de freguesia

Nasceu a Comissatildeo Social de Freguesia de Santa Maria Maior Qualquer cidadatildeo pode e deve integrar uma comissatildeo social de freguesia ndash um oacutergatildeo previsto na lei desde 2006 mas que soacute recentemente ganhou vida praacutetica Em Santa Maria Maior a comissatildeo nasceu no dia 1 de Abril e o seu ecircxito soacute depende da motivaccedilatildeo de cada um dos seus membros Na reuniatildeo de arranque no salatildeo nobre da Academia de Recreio Artiacutestico na Rua dos Fanqueiros estiveram cinquenta das 65 entidades convocadas tendo sido dos encontros mais participados de Lisboa ndash com as associaccedilotildees da Mouraria em claro destaque No acircmbito desta comissatildeo estaacute a ser elaborado pela Universidade Catoacutelica um detalhado diagnoacutestico social do territoacuterio que serviraacute de base agrave actuaccedilatildeo dos grupos a constituir para abordagens que vatildeo desde as crianccedilas aos idosos agrave pobreza agrave violecircncia domeacutestica ou agrave toxicodependecircncia

Mais uma primavera sem jardim O jardim da Calccedilada do Monte jaacute deveria ter sido inaugurado em Setembro de 2013 Apoacutes sucessivos adiamentos a data passou para o passado mecircs de Abril mas nada O jardim foi anunciado pela cacircmara municipal como o maior parque puacuteblico dentro do espaccedilo urbano de Lisboa com um investimento de 847 mil euros

As obras jaacute comeccedilaram em Fevereiro de 2013 Depois pararam porque alegadamente havia achados arqueoloacutegicos As obras natildeo avanccedilam Natildeo haacute jardim nem respostas

Centro de Inovaccedilatildeo tambeacutem continua adiado Os adiamentos marcam tambeacutem o Centro de Inovaccedilatildeo na Mouraria (CIM) o espaccedilo de empreendedorismo e cultura no quarteiratildeo dos Lagares que deveria ter sido inaugurado em Janeiro A insolvecircncia da construtora Contrope-Congevia atrasou a obra orccedilamentada em cerca de 2 milhotildees de euros

Devia estar concluiacuteda no primeiro trimestre deste ano ou em Abril Natildeo esteve Mas jaacute faltou mais Os tapumes saiacuteram entretanto de cena deixando vislumbrar o edifiacutecio branco quase finalizado

A nova sede da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior foi inaugurada em Maio no edifiacutecio do Elevador do Castelo com acesso pela rua da Madalena ou abaixo pela dos Fanqueiros O nuacutemero de telefone central passou a ser o 210 416 300

BREVES

Tome nota Novos contactos da Junta

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Carla Rosado

Sabia que Texto e Ilustraccedilatildeo Nuno Saraiva

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 07রোউজো মোরযো

haacutebitos Texto e Fotografia Joseacute Fernandes

Parmod Kumar fiel ao movimento Hare Krishna e aluno das aulas de portuguecircs da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria

A marca de Deus

A tilaka (tambeacutem conhecida por tilka ou tika) eacute usada especialmente na testa sobre um dos principais centros ener-geacuteticos (chacras) do corpo o terceiro olho mas tambeacutem noutras onze partes incluindo os peacutes Eacute um siacutembolo de pro-tecccedilatildeo e santificaccedilatildeo

Esta marca eacute proacutepria da cultura hindu que assenta na suprema trindade Bra-hma-Vishnu-Shiva (Brahma cria Vishnu preserva e Shiva destroacutei) mas que tem inuacutemeras ramificaccedilotildees religiosas entre as quais sobressai o movimento Hare Krish-na fiel a Krishna ndash uma figura central do hinduiacutesmo que para uns foi uma encar-naccedilatildeo de Vishnu na Terra e para outros a representaccedilatildeo uacutenica de um deus su-premo Tambeacutem a tilaka assume diversas variantes consoante tambeacutem a condiccedilatildeo social (a casta) de cada um

Destacam-se duas versotildees Uma em forma de U ou de V como um diapasatildeo ou tridente ao alto Outra horizontal

composta por trecircs linhas geralmen-te com um ponto vermelho ao centro A primeira eacute tiacutepica dos que mais adoram Vishnu Eacute a tilaka vaishnava A segunda prevalece entre mais proacuteximos de Shiva e chama-se tilaka shaivites

A simbologia de cada uma destas versotildees tambeacutem varia Para uns as duas linhas do ldquodiapasatildeordquo podem representar as paredes de um templo de Krishna e Radha (sua mulher) O espaccedilo entre cada uma dessas linhas representaraacute o local onde o casal teraacute vividoPara outros cada linha representa Brahma e Shiva sendo o espaccedilo intersticial a casa de Vishnu Outros ainda defen-dem que em causa estatildeo cada uma das margens do Yamuna um dos principais

rios do Norte da Iacutendia A tilaka deve ser aplicada com o dedo anelar da matildeo di-reita ou por um material metaacutelico O traccedilo inicial deve ter aproximadamente a largura do espaccedilo entre as sobran-celhas de maneira a que se consigam desenhar duas linhas verticais Por fim faz-se a parte do U mais proacuteximo do na-riz Nessa altura apela-se ao poder dos rios da Iacutendia recitando-se este mantra Om gange cha yamune chaiva godavari sa-rasvati narmade sindhu kaveri jalersquosmin sannidhim kuru (Oacute Ganges Yamuna Godavari Sarasvati Narmada Sindhu e Kaveri tornem-se presentes nestas aacuteguas) A tinta pode ser feita a par-tir de vaacuterios materiais argila accedilafratildeo alume iodo cacircnfora cinzas ou sacircndalo Vendem-se preparados sob por exemplo a designaccedilatildeo gopi chandan Se a cor for vermelha kumkum ou sindur ver secccedilatildeo Conversas de Bazar na paacutegina 27)

Haacute quem use esta marca no dia-a-dia outros apenas em ocasiotildees especiais Entre as mulheres assume a forma de um uacuteni-co ponto vermelho que simboliza em especial a forccedila feminina Eacute o chama-do bindi bem mais popularizado aqui no ocidente do que a tilaka Este estaacute associado a Parvati deusa-matildee segun-da consorte de Shiva (a primeira eacute Sati) e progenitora de Ganhesha o popular elefante siacutembolo da sabedoria inte-lectual Segundo a tradiccedilatildeo o bindi era usado soacute pelas mulheres casadas mas deixou de lhes estar limitado e massifi-cou-se como um acessoacuterio de moda

Por que eacute que algumas pessoas desenham no centro da testa uma espeacutecie de tridente ou diapasatildeo Faz parte da cultura hindu Chama-se tilaka ndash ldquomarcardquo em sacircnscrito

Paacutetio do ColeginhoRua a Rua TextoPedro Santa Rita

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No Paacutetio do Coleginho ainda podemos encontrar o que resta da antiga Mouraria das quintas e hortas Eacute uma viagem num tempo em que a cidade de Lisboa era um aglomerado de aldeias separadas pelo verde dos campos que o crescimento urbano uniu Alcandorado na Colina do Castelo o paacutetio ainda guarda as memoacuterias bucoacutelicas que despertam os nossos sentidos Pela Rua Marquecircs de Ponte de Lima chega-se a este atraveacutes de uma iacutengreme calccedilada a fazer lembrar os antigos quebra-costas a subida a pique faz-se por entre preacutedios de belos azulejos padratildeo do seacuteculo XIX e as desgastadas

paredes cor-de-rosa de janelas gradeadas do Mosteiro de Santo Antatildeo o Velho ndash o primeiro coleacutegio dos Jesuiacutetas em Portugal no seacuteculo XVI No topo da calccedilada a paisagem eacute dominada pelas traseiras do mosteiro com o seu claustro manuelino hoje considerado um dos mais belos da cidade de Lisboa Do lado oposto ao mosteiro entre dois preacutedios avistamos um moribundo portatildeo de alvenaria com portas em chapa indica-nos a entrada do que resta de uma antiga quinta que em tempos galgava a encosta ateacute ao Teatro Taborda na Costa do Castelo A rua eacute subitamente dividida por um velho e rangente portatildeo que abre para um pequeno paacutetio um corredor estreito pavimentado em macadame ladeado por casas simples de dois andares do seacuteculo XIX e abruptamente fechado por um muro alto de pedra Sobre este penduram-se as videiras e assomam as copas das laranjeiras que nascem do outro lado um pedaccedilo verde de uma quinta que outrora pertencia ao mosteiro e residecircncia habitual da passarada que enche de chilreios e melodias as manhatildes soalheiras do paacutetio Entre as sonoridades canoras e caninas (haacute muitos catildees por este quintais) o tempo eacute marcado pelos sons graves e fortes que se soltam hora apoacutes hora dos sinos da Igreja da Graccedila confirmando a boa acuacutestica do espaccedilo O paacutetio vai fazendo o seu quotidiano entre as conversas das(os) vizinhas(os) o ritual do estender da roupa e agrave tardinha a chegada atribulada dos carros ndash aliaacutes eacute o uacutenico momento do dia

em que se ouvem os carros no paacutetio como se este fosse um cantinho protegido dos ruiacutedos da cidade Encaixado numa ldquoachadardquo da Colina do Castelo e rodeado por preacutedios as vistas e o horizonte do paacutetio satildeo dominadas pelo omnipresente Convento e Igreja da Graccedila que do alto da Colina de Santo Andreacute contempla a Costa do Castelo numa curiosa sobreposiccedilatildeo de planos a torre sineira e a fachada da igreja parecem emergir das copas arredondadas dos pinheiros mansos que arborizam o miradouro altaneiro da Graccedila Poreacutem entre o paacutetio e a colina da Graccedila existe um curioso diaacutelogo e jogo de perspectivas vista do paacutetio a colina com a sua Igreja parece estar fisicamente tatildeo proacutexima e omnipresente que nos impede de contemplar toda a encosta e o vale que separa as duas colinas Pelo contraacuterio para quem lanccedila o olhar do Miradouro da Graccedila o paacutetio tem tendecircncia a diluir-se por entre o contiacutenuo de casas telhados becos ruelas e escadinhas o mesmo acontecendo com as pessoas e os seus olhares Um outro momento maacutegico ocorre agrave noite quando as luzes brancas que iluminam o monumento da Graccedila produzem um claratildeo tatildeo intenso que parece derramar a sua luz sobre o paacutetio que se funde com o halo amarelo e tremeluzente dos antigos candeeiros do seacuteculo XIX Ao silecircncio do paacutetio vai chegando tambeacutem a algaraviada de vozes indistintas que descem do miradouro atravessadas pelo miado estridente e agressivo dos gatos da Mouraria Eacute a hora dos gatos

reportagem FotografiaCarla Rosado

TextoTeresa Melo

Chinesescelebraram o ano novo no Martim Moniz

Fechada a escola baacutesica da Madalena Santa Clara ou BaixaA escola baacutesica da Madalena cujo encerramento jaacute esteve previsto para o ano lectivo que agora termina deveraacute fechar no proacuteximo ano altura em que estaraacute finalmente pronta a nova escola no Campo de Santa Clara que substituiraacute as velhas escolas baacutesicas do Agrupamento Gil Vicente

Ateacute aqui tudo bem Ateacute o transporte que era uma preocupaccedilatildeo de muitos pais da Mouraria tambeacutem estaacute garantido seja atraveacutes da rede de transporte escolar municipal os Alfacinhas seja atraveacutes da junta de freguesia ldquoEstamos disponiacuteveis para se necessaacuterio criar um serviccedilo de transporte Natildeo seraacute por isso que as crianccedilas deixaratildeo de ir agrave escolardquo garante Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que integra cinco bairros Mouraria Alfama Castelo Baixa e Chiado

Haacute todavia uma duacutevida uma vez que tambeacutem abriraacute a nova Escola da Baixa que poder de escolha teratildeo os actuais utentes da escola da Madalena ldquoSeraacute um escacircndalo se essa escola natildeo estiver aberta a essas crianccedilas e eu farei ouvir bem alto a minha indignaccedilatildeordquo avisa Miguel Coelho As acessibilidades escolares satildeo competecircncia da cacircmara e do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas este presidente de junta tem uma palavra a dizer Alguns alunos da Mouraria poderatildeo assim frequentar a nova escola do agrupamento Gil Vicente junto agrave Feira da Ladra e outros a Escola da Baixa

A primeira funcionaraacute no antigo Convento do Desagravo do Santiacutessimo Sacramento com capacidade para 475 crianccedilas que vem substituir as velhas escolas baacutesicas do agrupamento ndash Madalena Seacute Infanta D Maria (Campo de Santa Clara) Marqueses de Taacutevora (Largo da Graccedila) Convento do Salvador (Alfama) e o Jardim de Infacircncia de Satildeo Vicente Manteacutem-se a EB1 Castelo que eacute a uacutenica em boas condiccedilotildees de funcionamento A Escola da Baixa funcionaraacute no antigo convento e tribunal da Boa Hora agrave Rua Nova do Almada tem capacidade para 150 crianccedilas (cinquenta em jardim de infacircncia) e insere-se na poliacutetica municipal de atracccedilatildeo de jovens famiacutelias agrave baixa pombalina

Colina de Santanaa poleacutemica continuaO Hospital Miguel Bombarda fechou em 2012 e para o seu lugar foi arquitectado um projecto imobiliaacuterio que inclui um hotel e uma torre de 12 andares O Hospital do Desterro fechou em 2007 e estaacute em obras para um espaccedilo de residecircncias artiacutesticas e produccedilatildeo hortiacutecola explorado pela Mainside a promotora da LX Factory em Alcacircntara Os hospitais de Satildeo Joseacute Santa Marta e dos Capuchos que servem residentes da Mouraria seratildeo transferidos para Marvila Aiacute integraratildeo o novo Hospital de Todos os Santos que incluiraacute tambeacutem o Curry Cabral o Dona Estefacircnia e a Maternidade Alfredo da Costa e que abriraacute em 2020 (esteve para ser jaacute em 2016) Os poleacutemicos projectos tecircm ido a debate na assembleia municipal e discutidos publicamente por cidadatildeos comuns e entidades como a Associaccedilatildeo Portuguesa pela Arte Outsider o ICOM-Portugal a Ordem dos Enfermeiros a Ordem dos Meacutedicos o Grupo de Amigos de Lisboa e a Sociedade de Geografia de Lisboa Os contestataacuterios dos projectos manifestaram-se no uacuteltimo desfile do 25 de Abril 3AAMC

Ano Cristatildeo 2014 l Dia de Ano Novo 1 de Janeiro

Ano Chinecircs 471 l Dia de Ano Novo 1 de Fevereiro

Ano Hindu 1936 l Dia de Ano Novo (Gudi Padwa tambeacutem conhecido como Samvatsar Padvo Yugadi ou Navreh) 31 de Marccedilo

Ano Sikh 546 l Dia de Ano Novo (Vaisakhi) 14 de Abril

Ano Budista 2558 l Dia de Ano Novo (Vesak ou Buda Purnima) 12 de Maio

Ano Judaico 5774 l Dia de Ano Novo (Rosh Hashanaacute) 5 de Setembro gt no proacuteximo dia 25 de Setembro comeccedila o ano de 5775

Ano Muccedilulmano 1435 l Dia de Ano Novo (Al-Hijra ou Muharram) 5 de Novembro gt no proacuteximo dia 25 de Outubro comeccedila o ano de 1436

Em que ano estamosDepende do aniversaacuterio do profeta de cada cultura sendo que a maioria dos dias de Ano Novo variaacutevel em funccedilatildeo de calendaacuterios lunares A Terra essa para os cientistas existe haacute 45 mil milhotildees de anos Os primeiros hominiacutedeos teratildeo surgido haacute uns cinco milhotildees e a actual espeacutecie de seres humanos homo sapiens sapiens haacute duzentos mil anos

Pela primeira vez a comunidade chinesa festejou a chegada do novo ano num evento puacuteblico organizado por todas as associaccedilotildees chinesas de Lisboa em parceria com a cacircmara municipal e a embaixada da Repuacuteblica Popular da China No passado dia 1 de Fevereiro o Ano do Cavalo chegou em grande ao Martim Moniz

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1408

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1410

editorial estaacute bem middot estaacute mal

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Carla

Ros

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E se daqui a 100 anos alguns de noacutes ainda caacute estivermos As probabilidades natildeo satildeo assim tatildeo absurdas Na Mouraria haacute duas pessoas com 100 anos Uma delas a dona Almerinda faz 101 jaacute em Agosto Tentaacutemos entrevistaacute-la nesta ediccedilatildeo mas uma queda tem-na mantido menos conversadora e teremos de aguardar A outra eacute a dona Emiacutelia Respondeu a nove perguntas que recolhemos pelo bairro entre pessoas dos 10 anos aos 90 anos (ver paacutegina 2) A dona Emiacutelia falou-nos por exemplo da ldquoescravaturardquo em que viveu O seu testemunho mostra-nos que o mundo mudou bastante num seacuteculo mas a humanidade jaacute nem tanto A ceacutelebre Liberdade--Igualdade-Fraternidade decretada na Revoluccedilatildeo Francesa haacute mais de duzentos anos continua uma receacutem-nascida com quase tudo por aprender Resultado alguns bebeacutes que hoje conhecemos poderatildeo estar daqui a 100 anos a dar uma entrevista como esta sobre vivecircncias que muito nos fazem pensarldquoA Histoacuteria julgar-nos-aacute pela diferenccedila que todos os dias fizermos na vida das crianccedilasrdquo disse Nelson Mandela (1918-2013) Ele ficou na Histoacuteria como siacutembolo da luta pela igualdade E noacutes como podemos ficar O que eacute que cada um de noacutes aqui e agora pode fazer para que os nossos bebeacutes venham a ter recordaccedilotildees mais felizes do que as da nossa centenaacuteria vizinha Nesta ediccedilatildeo o nosso contributo eacute o de sempre ajudar a que nos conheccedilamos um pouco melhor pois natildeo haacute liberdade igualdade nem fraternidade que resista agrave ignoracircncia E desta vez temos vaacuterias inovaccedilotildees Temos um tema (intergeraccedilotildees) que marca grande parte dos artigos temos um texto traduzido (paacutegina 22 em bengali) e temos uma nova secccedilatildeo Conversas de Bazar (paacutegina 27) A propoacutesito de produtos agrave venda nos bazares da Mouraria a Rosa Maria descobre pessoas e estoacuterias do mundo Deixamos por outro lado de editar a Dobra das Palavras ndash jaacute sentimos saudades dela mas aguentamos quando pensamos nas estreias desta ediccedilatildeo e na recente secccedilatildeo Haacutebitos que nos acompanha desde o nuacutemero anterior (neste estudamos o haacutebito hindu de desenhar siacutembolos na testa ndash a tilaka paacutegina 7) Abraccedilos a todos E natildeo se esqueccedilamhellip O que podemos fazer noacutes hoje para que o ano de 2114 veja os nossos centenaacuterios bebeacutes sorrir

O Mercado de Fusatildeo na Praccedila Martim Moniz estaacute mais acolhedor com os novos bancos num espaccedilo verde Estivesse a muacutesica um pouquinho mais baixa e o relax seria perfeito

O ROSA MARIA eacute um jornal sobre as pessoas e os acontecimentos da Mouraria mas tambeacutem sobre assuntos nacionais e internacionais relacionados com os seus residentes criado para preservar e divulgar o seu imenso patrimoacutenio humano histoacuterico e culturalO ROSA MARIA eacute um jornal comunitaacuterio produzido por todos os que queiram participar (jornalistas fotoacutegrafos ilustradores designers graacuteficos voluntaacuterios e moradores ou trabalhadores do bairro) e que se pautem pelos princiacutepios da solidariedade do rigor e da qualidade O ROSA MARIA eacute parte integrante da comunidade em que se insere mas totalmente comprometido com o coacutedigo deontoloacutegico que enquadra o exerciacutecio da liberdade de imprensa e independente de facccedilotildees religiosas poliacuteticas e econoacutemicasO ROSA MARIA eacute editado pela Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria desde 2010 com periodicidade semestral O seu nome eacute inspirado na miacutetica Rosa Maria imortalizada no fado Haacute Festa na Mouraria ndash uma mulher atrevida e virtuosa como esta publicaccedilatildeogt Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar nordm 899 de 9 de Junho sobre Registo dos Oacutergatildeos de Comunicaccedilatildeo Social

ROSA MARIA middot Estatuto Editorial

De olho em 2114

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Ros

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O que diratildeo os turistas das ldquoescadinhas WCrdquo por detraacutes da paragem onde fazem fila para o eleacutectrico 28 Noacutes dizemos isto inadmissiacutevel

FICHA TEacuteCNICA middot Direcccedilatildeo Inecircs Andrade Direcccedilatildeo graacutefica Hugo Henriques Ediccedilatildeo fotograacutefica Carla Rosado Ediccedilatildeo editorial Marisa Moura Revisatildeo Joatildeo Berhan e Joana Chocalhinho Publicidade Susana Simpliacutecio Traduccedilatildeo Moin uddin Ahamed e Pedro Leader Ilustraccedilatildeo Alexandra Belo Aude Barrio Hugo Henriques Nuno Saraiva Viacutetor Mingacho Passatempos Aude Barrio e Joatildeo Madeira Fotografia Augusto Fernandes Carla Rosado Diogo Lin Helena Colaccedilo Salazar Heacutelio Balinha Joseacute Fernandes Marisa Moura Nuno Moratildeo Paulo Marques Sophie Cadet Teresa Melo Yolanda Bettencourt Texto Ana Luiacutesa Rodrigues Carmen Correia Daniela Silva Joatildeo Berhan Joseacute Fernandes Luiacutes Elvas Luiacutesa Rego Marisa Moura Nuno Catarino Oriana Alves Pedro Santa Rita Raquel Albuquerque Ricardo Miguel Vieira Rita Pascaacutecio Teresa Melo Agradecimentos especiais a Andreacute Alves Antogravenia Tinture Claacuteudia Henriques Edgar Clara Heacutelder Oliveira Hugo Curado Maria Coimbra Mariana Melo Nuno Franco Paula Cosme PintoExpresso Sandra Bernardo Siacutelvia de Melo Olivenccedila e Vitorino Coragem E ainda pela cedecircncia de imagens Duck Production EGEACJoseacute Frade Museu da CidadeCML Maria do Ceacuteu Barata Nuno BotelhoExpresso Raquel CavaleiroMPAGDP e Site Norberto Arauacutejo (1889-1952) wwwnorbertoaraujoorg (copyright 2012) Joseacute Vicente de Braganccedila Jorge Quina Ribeiro de Arauacutejo e Herdeiros de Norberto de Arauacutejo Capa Helena Colaccedilo Salazar middot Propriedade Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Redacccedilatildeo administraccedilatildeo e publicidade Beco do Rosendo nordm 8 1100-460 Lisboa Tel +351 218 885 203 Tm +351 922 191 892 rosamariarenovaramourariapt Impressatildeo Funchalense ndash Empresa Graacutefica SA Distribuiccedilatildeo Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Versatildeo digital wwwrenovaramourariapt Tipos de letra Atlantica Lisboa e Tramuntana gt Ricardo Santos Depoacutesito legal 31008510 Periodicidade Semestral Tiragem 10 000 exemplares Nuacutemero sete Junho 2014 Nordm Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaccedilatildeo Social) 126509 Correcccedilatildeo Na ediccedilatildeo anterior a fotoacutegrafa Helena Colaccedilo Salazar natildeo foi incluiacuteda na ficha teacutecnica E o jornalista Samuel Alematildeo ficou na redacccedilatildeo mas sem referecircncia ao trabalho de ediccedilatildeo que tambeacutem prestou

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 11রোউজো মোরযো

reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

Mais Proximidade Melhor Vidawwwmpmvpt

E-mail geralmpmvptTelefones 213 425 268 967 258 892

967 257 550

Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1412

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 13রোউজো মোরযো

25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 15রোউজো মোরযো

Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

notiacutecias ARM

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

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ccedilotildees

por

Ale

xand

ra B

elo

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tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

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tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

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ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

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asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

tinua

a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

ento

vaacuter

ios

luga

res n

ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

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plan

ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

Cas

a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

aria

mod

esta

que

natildeo

era

nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

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senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

esp

anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

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inha

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umas

tert

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s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

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ada

Neg

reiro

srdquo

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go

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Rex

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ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

fim-d

e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

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assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

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C

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t o B

ucha

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tica

rdquo

Pap

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ia

da do

na O

tiacutelia

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ndo

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miuacute

do v

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aqu

i tra

zer a

s mei

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inha

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das m

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s tia

s par

a ar

ranj

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apr

ovei

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par

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mpr

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rom

os e

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stas

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alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

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s a

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laria

do

nordm

25 d

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s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

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a m

as d

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rnai

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do

o G

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upa

Jorg

e o

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se a

luga

vam

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s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

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ica

na ru

a do

Ter

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nordm

11 F

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m ti

o m

eu q

ue

me

falo

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le e

me

mos

trou

era

eu

aind

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iuacutedo

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Paacuteti

o

do

Cole

ginh

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ra e

star

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dos

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gar agrave

bol

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vont

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subi

am

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do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

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liza

Ta

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m p

or a

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os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

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nte d

e Lim

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o nuacute

mer

o 28

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e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

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a um

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na m

ais p

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o ba

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rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

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xist

iam

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olta

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i era

um

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ria h

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tam

beacutem

um

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uma

torr

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ccedilatildeo

de c

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ambeacute

m p

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anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

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enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

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gar d

e br

inca

deira

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gaacuteva

mos

agrave b

ola

agrave a

panh

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con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

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gar agrave

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a na

rua

e ha

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sem

pre

o m

edo

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tira

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aut

orid

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beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

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por i

sso

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am se

mpr

e agrave

coca

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pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

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corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

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nccedilad

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ra

sent

ada

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Ros

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estaacute

Va

mos

and

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obr

igad

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a su

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O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

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est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

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Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

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cria

nccedila

ndash de

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oca

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rand

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rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

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reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

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boet

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os n

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u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

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io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

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no b

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o po

r m

uito

s an

os V

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na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

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s 25

anos

na

cas

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fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

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cia

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quan

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or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

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lam

ada

e co

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a sin

gula

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ozos

fez

par

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imei

ra g

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atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

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os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

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u o

cine

ma

port

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s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

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tros

real

izad

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A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

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s cla

ros-e

scur

os d

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em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

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film

es D

a M

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ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

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ve d

ificu

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es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

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onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

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afeacute

Brilh

ante

na

s es

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nhas

de

Satilde

o C

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se

rviu

pa

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bapt

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um

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naacuterio

de

Xav

ier

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u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

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nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

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Satildeo

Cris

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elem

bra

a so

rrir

ldquoF

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de

uma

band

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rock

nos

fina

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s ano

s 70

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maacutem

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ria M

od-

erna

em

hom

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em a

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tabe

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men

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A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

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bert

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No

imag

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io d

e M

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l con

tinua

m v

ivas

as

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s da

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por

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lava

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de

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gava

m n

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Mas

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heu

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M

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

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উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

Carla

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1422

reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

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Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 3: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 03রোউজো মোরযো

Entrevista Fotografia Marisa Moura

Margarida Guerrinha 10 anos Na sua infacircncia havia tantas coisas como hoje Ao que eacute que brincavaResposta A trabalhar A trabalhar desde os seis anos Tomava conta de um menino que ainda natildeo tinha um ano mas era um gordo e eu tinha que descer umas escadas com ele ao colo Levava-o agraves costas e um dia pumba vamos os dois pela escada a baixo [risos] A patroa deu-me uma palmada e eu fugi para a minha matildee mas ela foi-me laacute levar outra vez Soacute ia a casa aos domingos Nunca tive uma boneca sequer Depois comecei a trabalhar no que aparecia A cavar Ainda hoje sei tudo do campo Soacute jaacute me esqueci das datas para semear Do resto ainda me lembro de tudo Regar sachar aterrar Tirar aacutegua para um picanccedilo agrave matildeo com o balde O campo tem muita coisa bonita

Tatiana Barros 20 anos Como eacute que a chegada da Ditadura interferiu na sua vida Destruiu algum sonho ou objectivoResposta Os sonhos para mim eram soacute trabalhar mais nada Gostava de ter ido agrave escola e muita coisa mas natildeo podia Morava numa pequena povoaccedilatildeo a escola era muito longe e natildeo havia trans-porte E tinha que trabalhar Vim para Lisboa tinha uns 20 anos Servir Natildeo era um sonho A minha matildee disse-me ldquoVai para o peacute da tua irmatilderdquo E eu fui Pedi a uma senhora que me lesse os anuacutencios e ela disse-me ldquoOlha Emiacutelia estaacute aqui um bomrdquo Foi bom foi Ateacute fome laacute passei Ah pois Muito ricos mas

A minha colega cozinheira tambeacutem estava aflita Soacute comiacuteamos o que vinha da mesa E davam-nos pimentos fritos Diz-me ela ldquoOacute Emiacutelia vamos arranjar outra casa e vamos as duas emborardquo Ela tambeacutem natildeo sabia ler e disse ldquoVou pedir a uma senhora que eacute minha conhecida para ver se ela nos acolherdquo Laacute nos arran-jou outra casa na Avenida da Liberdade Fomos Ai Jesus Era uma casa enorme muito luxo Cadeiras douradas moacuteveis lindos tudo muito lindo mas Comer eacute que natildeo era com eles Fui outra vez para casa da minha irmatilde Mas eu natildeo gostava

do meu cunhado de maneira que decidi voltar para a terra A passagem custava 10 escudos Natildeo tinha explicaccedilatildeo o que a gente ganhava Era muito pouco 15 ou 16 escudos 20 escudos jaacute era muito E soacute tiacutenhamos uma folga de quinze em quinze dias Era uma escravatura Deitava-me agraves vezes agraves duas horas trecircs horas e tinha de me levantar agraves cinco Meti-me no comboio e laacute fui Ai Jesus Eu dizia mal agrave minha vida Natildeo sabia o que havia de fazer Natildeo queria estar laacute na terra mas tambeacutem natildeo queria pesar agrave minha irmatilde Um dia deu-me uma veneta e vim para Lisboa outra vez

A minha matildee tinha enviado uma carta agrave minha irmatilde para ela ir buscar-me agrave estaccedilatildeo mas ela natildeo foi Entretanto vinha no comboio um senhor laacute da nossa terra o senhor Bidarra uma pessoa muito boa Cheguei agrave estaccedilatildeo esperei esperei Ele natildeo me deixou ali sozinha Jaacute era quase uma hora da noite e chovia que Deus mandava ldquoA menina Emiacutelia conhece a senhora Damianardquo Era uma senhora de laacute da terra porteira na Bica Ele chamou um taacutexi e levou-me laacute Eu soacute pedia agrave Nossa Senhora que me acompanhasse [chora] A criatura levantou-se estavam os filhos a dormir No outro dia perguntou a uma senhora ldquoOacute dona Rosa a senhora natildeo precisa de uma empregadardquo ldquoOlhe por acaso precisordquo Era para fazer rissoacuteis e essas coisas para as confeitarias E laacute estive Depois aconteceu qualquer coisa na vida dela e deixou de fazer os pasteacuteis Era no quinto andar No andar de baixo havia uma pensatildeo com doze quartos Fui laacute perguntar ldquoOacute senhora Juacutelia a senhora precisa de uma empregadardquo Ao tempo que ela andava com o olho em mim Foi a minha segunda matildee Era uma senhora Ainda tenho ali uma fotografia dela Ela jaacute me tinha dado um toque mas custava--me deixar a dona Rosa Mas como ela coitada jaacute natildeo podia ter-me Laacute fiquei na pensatildeo

Foi aiacute que conheci o meu marido Era hoacutespede conhecido da famiacutelia deles Esta-va divorciado haacute quatro meses e esteve ali uns tempos Laacute nos enamoraacutemos Ele per-guntou agrave senhora Juacutelia ldquoAquela rapariga que a senhora tem aiacute ela eacute boa rapariga natildeo eacuterdquo E diz ela assim ldquoEacute uma joacuteia Natildeo tem estudos mas eacute muito boa raparigardquo Um dia vou levar a aacutegua e as toalhas e ele fez ali uma cantiga [risos] Eu nem disse que sim nem que natildeo ldquoOacute dona Juacutelia o se-nhor Fernando disse-me isto assim-assim O que eacute que a senhora achardquo ldquoOlha filha faz o que entenderes mas acho que fazes bem Sempre vais para a tua casinhardquo ldquoMas eu tenho medo que ele se aborreccedila e me deixerdquo ldquoOlha que natildeo eacute rapaz para issordquo E natildeo foi [chora] Foi a melhor coisa que eu tive na minha vida Primeiro vivemos num quarto em Satildeo Paulo [Cais do Sodreacute] e depois eacute que arranjaacutemos esta casa Antes de o conhecer ainda estive no Bairro das Coloacutenias

Hugo Mauriacutecio 30 anos Como viveu a primeira e a segunda guerras mundiaisResposta Jaacute natildeo me lembro dessas coisas Agraves vezes havia assim uma revoluccedilatildeo e assim Umas coisas Havia tiro para caacute tiro para acolaacute Eu morava ali no Bairro das Coloacutenias que era quase soacute terras Um dia de manhatilde fomos agrave varanda e o tanque da roupa estava com balas Meu Deus Nessa noite a gente natildeo conseguiu dormir Aquilo era de um dia para o outro Depois acalmava Nem sei para que era Ainda nem conhecia o meu marido

Gertrudes Dias 40 anos Em 2014 esta-mos num estado calamitoso nomeada-mente na Sauacutede e na Educaccedilatildeo Houve alguma altura nestes cem anos em que tenha sentido que o paiacutes funcionou bem com as coisas a preccedilos acessiacuteveis e as pessoas a viverem em espiacuterito de amizadeResposta Eu natildeo filha A gente soacute via era pobreza Por isso eacute que faziam da gente escrava As melhoras jaacute soacute vieram muito tarde Comeccedilou tudo a abrir os olhos E depois quando se deu a revolta do 25 de Abril entatildeo foi Haacute pouco tem-po eacute que haacute essa coisa das caixas [pensotildees] Antigamente natildeo havia A mim natildeo me cortaram nada porque natildeo tinha A troika maldita nunca mais tira de caacute os peacutes Soacute tecircm feito mal Metem o nariz em tudo Deviam fazer as coisas de outra maneira

Anabela Mota 50 anos Que alimentaccedilatildeo manteacutem para chegar a esta idadeResposta Uma sopinha patildeozinho com qualquer coisa feijatildeo batatas arroz massa Enjoei tudo desde a doenccedila que tive [pedra na vesiacutecula] Agora jaacute como um bocadinho de bacalhau mas pouco Adorava cafeacute e bebia a toda a hora mas agora natildeo posso beber para natildeo ficar com a tensatildeo alta A gente quando nasce jaacute traz o destino marcado para viver ou morrer Natildeo eacute o que se come nem nada disso Tudo eacute o destino O que Deus manda mais nada

Ilda Novo 60 anos Como foi voltar a viver em Liberdade aos 60 anosResposta Eu nessa altura natildeo pensava nada estava caacute no meu buraco E assim te-nho passado e assim estou Trabalhei mui-to muito Quando comeccedilo a desenterrar coisas caacute na minha cabeccedila passo noites que natildeo durmo Mas natildeo tomo comprimidos Natildeo dorme hoje dorme amanhatilde Rezo o terccedilo Por enquanto graccedilas a Deus natildeo me habituei a nada disso Parte dos remeacutedios que me receitaram jaacute os rejeitei

Maria Joseacute Luiacutes 70 anos Ainda consegue tratar de si proacutepriaResposta Natildeo tenho fraldas natildeo tenho nada disso graccedilas ao Nosso Senhor E tomo banho sozinha Dantes levantava-me mais cedo agora natildeo eacute preciso somos soacute as duas Nos dias que natildeo tenho que fazer levanto--me pelas oito e meia nove horas Hoje levantei-me eram sete arranjei-me e fui-me embora agrave mercearia Em jejum Soacute em jejum eacute que posso fazer as coisas Se como e me baixo vai tudo fora Cheguei laacute havia de ser oito e meia Ningueacutem me deixa tra-zer nada Ia a sair e o meu vizinho ldquoQuer que lhe leve alguma coisardquo Trouxe-me o saco do bacalhau

Jorge Bastos 80 anos Ateacute que idade pensa chegarResposta Eu soacute queria chegar ateacute amanhatilde Ficava feliz Desde que Deus Nosso Senhor me leve para um bom lugar Mas isto natildeo eacute o que eu quero eacute o que Ele quer Faccedila-se a sua vontade

Helena Oliveira 90 anos Com esta idade o que eacute que andamos caacute fazerResposta O que eacute que eu ando aqui a fa-zer Soacute ando aqui a penar A gente sendo velha eacute soacute penar Chatear os outros Eu natildeo queria que fosse assim Sempre pedi a Deus que mesmo que levasse o meu marido agrave minha frente que me levasse numa hora soacute Mas Deus natildeo quis que eu fosse com ele

D Emiacuteliaresponde

Com os nove vizinhos que fizeram as perguntas e com a preciosa colaboraccedilatildeo de todos os que ajudaram a concretizar esta entrevista Agradecemos em especial ao Sr Joseacute Ferreira da Charcutaria Beiratildeo agrave Paleta da Muacutesica da Mouraria a Gostar Dela Proacutepria e agrave D Laurinda Barbosa do restaurante A Vaidosa do Terreirinho que nos conduziram agrave D Emiacutelia E tambeacutem agrave D Maria Ameacutelia Miranda que tanto se empenhou a ajudar-nos a encontrar os entrevistadores com as idades certas

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1404

Intendente Sai Antoacutenio Costa O presidente da Cacircmara Municipal de Lisboa Antoacutenio Costa passou trecircs anos no Largo do Inten-dente Pina Manique para onde transferiu o quartel-general da autarquia em Abril de 2011 no arranque do PDCM ndash Programa de Desenvolvi-mento Comunitaacuterio da Mouraria quando toda esta zona era um fantasma por reanimar Regressou aos Paccedilos do Concelho no passado mecircs de Abril cedendo as instalaccedilotildees agrave Junta de Freguesia de Arroios presidida por Margarida Martins rosto da associaccedilatildeo Abraccedilo Vai tratar de ldquooutras Mourariasrdquo segundo anunciou em Marccedilo numa reuniatildeo de cacircma-ra Entretanto em Maio apoacutes as eleiccedilotildees europeias em face dos resultados desfavoraacuteveis aos socialistas anunciou a sua candidatura agrave lideranccedila do Partido Socialista de olhos postos nas legislativas do proacuteximo ano nas quais poderaacute tornar-se primeiro-ministro

entra uma residecircncia para estudantes Na mesma reuniatildeo de cacircmara no dia 26 de Marccedilo foi aprovado o projecto para uma residecircncia de estudantes no Largo do Intendente a ser explorada pela Universidade de Lisboa com capacidade para 239 camas

O Mob jaacute caacute estaacute O espaccedilo Mob deixou o Bairro Alto onde a renda era incomportaacutevel e abriu portas na Rua dos Anjos 12F em Abril apoacutes trecircs meses sem casa Nasceu haacute dois anos de uma parceria com a Associaccedilatildeo de Combate agrave Precariedade ndash Precaacuterios Inflexiacuteveis (atendem agraves sextas das 19h agraves 20h) e com a cooperativa cultural Crew Hassan A mobilizaccedilatildeo continua no Intenden-te reforccedilada com o Habita ndash Colectivo pelo Direito agrave Habitaccedilatildeo e agrave Cidade que ali dinamiza assembleias todas as segundas agraves 18h Continuam as festas tambeacutem Na inauguraccedilatildeo a muacutesica esteve por conta dos DJ Golpe de Estado Mais informaccedilotildees em moblisboaorg

E haacute tambeacutem uma nova (id)entidade O crescente nuacutemero de inquilinos no Intendente jaacute justifica um BI Nasceu assim em Maio o colectivo Bairro Intendente que inclui comerciantes (A Vida Portuguesa Bike Pop Horiginal etc) e entidades culturais (Largo Residecircncias Casa Independente Sport Club Intendente Mob etc) sedeados no Largo do Intendente Pina Manique na Rua dos Anjos e na Rua do Benformoso esta uacuteltima colada agrave Mouraria Comunicam eventos conjuntamente em bairrointen-dentewordpresscom e no Facebook

Futuras agentes de geriatria Dezassete mulheres com idades entre os 20 e os 50 anos estatildeo em formaccedilatildeo na Mouraria desde Fevereiro para se tornarem agentes de geriatria com equivalecircncia ao 9ordm ano Aleacutem de enriquecerem em mateacuterias que vatildeo do Inglecircs agrave Matemaacutetica e agrave Histoacuteria recebem uma bolsa de 140 euros men-sais ou valor aproximado se jaacute recebiam apoios anteriores E ganham empregabi-lidade para o futuro tratando de quem tanto precisa os mais idosos (ver outras iniciativas para seniores da Mouraria na paacutegina 11)A formaccedilatildeo resulta de um protocolo entre o gabinete municipal GABIP Mouraria e o Instituto do Emprego e Formaccedilatildeo Profissional em parceria com a Obra Social das Irmatildes Oblatas do Santiacutessimo Redentor que encaminhou cerca de metade das formandas Estaratildeo prontas para exercer a profissatildeo quando o curso acabar em Novembro de 2015

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Calccedilada Agostinho de Carvalho Xadrez da discoacuterdia Os passeios da Calccedilada Agostinho de Carvalho tecircm desde Marccedilo trecircs controversas aacutereas Um lado desta iacutengreme rua manteve a calccedilada portuguesa o outro ficou dividido em dois tipos esse mesmo pavi-mento num quarto do passeio e o resto com uma argamassa cinzen-ta escura que a todos desagrada incluindo ao presidente da Cacircma-ra de Lisboa Antoacutenio Costa

A situaccedilatildeo levou mesmo uma moradora a agendar uma reuniatildeo na junta de freguesia ldquoNo dia em que a obra ficou pronta marquei logo para mostrar o meu desagradordquo conta Ana Silva 57 anos desde os 12 por aqui Havia uma agravante estava finalizada a empreitada que manteve a rua esventrada durante o Inverno apoacutes o rebentamento do colector de esgotos mas ficaram por unir as pedras do empedrado por onde circula o tracircnsito ldquoEle [Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior] ligou logo a algueacutem ao peacute de mim e isso foi rapidamente arranjadordquo O presidente da cacircmara jaacute tinha sido chamado ao local pelo proacuteprio Miguel Coelho e no dia dessa visita a nossa vizinha estava agrave janela ldquoO Antoacutenio Costa pergun-tou-me o que eacute que eu achava e eu respondi que jaacute tinha uma reuniatildeo marcada Ateacute ele concordou que aquele novo pavimento eacute muito bruto Disse que talvez em bege ficasse melhorrdquo As obras foram da responsabilidade da cacircmara mas o presi-dente da junta admite vir a embelezar aquele trecho O objectivo do poleacutemico material eacute evitar quedas sobretudo entre as pessoas mais idosas mas os moradores rejeitam tal argumento salientando que as pedras pretas da calccedilada portuguesa jaacute tecircm uns ldquobiquinhos anti-derrapantesrdquo como diz Joatildeo Brito dono da Leitaria do Benformoso ndash 52 anos haacute 38 residente na calccedilada Concordam com ele octogenaacuterios como a dona Helena Almeida Pior a cobertura em causa (tambeacutem usada no parque infantil da Rua da Guia) eacute das mais caras feita agrave base de resinas epoacutexi segundo explicaccedilotildees do arquitecto da junta Joseacute Carvalhei-ra Indignou tambeacutem o facto de o novo piso ter sido posto quando no dia anterior jaacute ali se tinha colocado a calccedilada portuguesa Fez-se e desfez-se para pior

Estacionamento condicionado na Rua da Guia Assim que terminarem as festas dos Santos Populares comeccedilaraacute na Rua da Guia a construccedilatildeo de um estacionamento para 11-13 lugares no local onde hoje estaacute a ram-pa em frente ao preacutedio devoluto Os moradores do Largo da Severa e das ruas do Capelatildeo da Guia e Joatildeo do Outeiro foram convocados no passado dia 16 de Maio pelo presidente da Junta de Freguesia de Santa Maior para serem informados e auscultados ldquoAjudem-me a decidir nesta questatildeo essencial para a qual natildeo encontrei melhor soluccedilatildeordquo disse Miguel Coelho agraves cerca de quinze pessoas presentes na Casa da Covilhatilde adiantando que esta eacute uma alternativa ldquomenos radicalrdquo em relaccedilatildeo agrave intenccedilatildeo da cacircmara municipal que seria de instalar um pilarete a interditar a zona A Rua Marquecircs de Ponte de Lima passaraacute a estar controlada pela EMEL reservada a residentes implicando o paga-mento anual de um selo no valor de 12 euros ldquoO Largo da Severa natildeo foi feito para ter carros mas sim esplanadasrdquo explicou E aos desagradados moradores da Rua da Mouraria que natildeo seratildeo considerados utentes da zona lembrou ldquoO oacuteptimo eacute inimigo do bomrdquo

Maacutescaras do ano

Neste Carnaval o Grupo Gente Nova realizou mais um animado concurso de maacutescaras Os vencedores foram a princesa Carina Letiacutecia 5 anos (primeiro lugar) o mexicano Gonccedilalo Fernandes 7 anos (segundo) e o poliacutecia Marco Francisco Sousa 10 anos (terceiro)

Uma das aulas de inglecircs com a professora Joana Pessoa no GABIP Mouraria

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 05রোউজো মোরযো

Croacutenica

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Haacute 24 anos que trabalho na Mouraria e como estudante de Sociologia eacute uma sorte ter um marchante devoto do bairro como colega Chega abril e o Nuno nem com aacuteguas mil deixa de cumprir a tradiccedilatildeo A azaacutefama inicia- -se com os preparativos para as marchas populares No escritoacuterio surgem os primeiros relatos do recrutamento das medidas para os fatos ficarem ldquoa matarrdquo as primeiras marcaccedilotildees a escolha dos pares e as tentativas de convencer os mais indecisos A marcha comeccedila a ganhar forma O Nuno espera escrupulosamente pela hora do iniacutecio do ensaio sobe rua desce rua decora as letras e as marcaccedilotildees O entusiamo eacute notoacuterio no seu semblante

Os comportamentos e as dinacircmicas recorrentes ano apoacutes ano permitem a transmissatildeo de fatos culturais de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo perpetuando assim natildeo soacute a tradiccedilatildeo mas tambeacutem a rivalidade entre bairros O Nuno ilustra brilhantemente tudo aquilo que estudamos nos manuais acadeacutemicos sobre identidade Como ele diz ldquoHaacute sempre uns bairrismos depois haacute as picardias uma claque grita mais alto a outra grita mais alto ehellip envolveu-se tudo agrave porrada no pavilhatildeordquo

Eacute interessante constatar que a cacircmara municipal promove os bairros divulgando os costumes enraizados na populaccedilatildeo como atraccedilatildeo mas os marchantes natildeo datildeo grande importacircncia agrave parte turiacutestica do evento referindo-se agraves festas populares como uma festa deles e para eles ldquoA gente sente mais (eu sinto mais) a volta ao bairro do que descer a Avenidardquo As marchas e os bairros fundem-se assim em tradiccedilotildees significados rivalidades sentimentos de pertenccedila e identidades coletivas

Ser marchante envolve um conjunto de disposiccedilotildees forjadas ao longo dos tempos - e ser marchante da Mouraria natildeo eacute o mesmo que ser marchante em Alfama ldquoIeacute ieacute ieacute a nossa marcha eacute que eacuterdquo Ainda assim sendo nossa natildeo eacute ldquonossardquo da mesma maneira para todos ldquoO orgulho do bairro eacute do bairro mas se natildeo se for na marcha natildeo eacute a mesma coisa Tem de se ir para sentir o que eacute aquilordquo Eacute este orgulho este sentimento de pertenccedila enraizado que muitas vezes transborda e acerta em cheio na claque da marcha vizinha ldquoIeacute ieacute ieacute a Mouraria eacute que eacuterdquo

Joseacute Luiacutes Elvas trabalha num banco de imagens e eacute finalista da licenciatura de Sociologia na Faculdade de Ciecircncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

ldquoIeacute ieacute ieacute a nossa marcha eacute que eacuterdquo

Primeira sala de consumo assistido de drogas prestes a nascer na Mouraria

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Mais de vinte pessoas da Mouraria jaacute cantaram em frente agraves cacircmaras do projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar Dela Proacutepria Em cima o quarteto Fateh Charan Kuidip e Sewak Abaixo Maria de Lurdes Santos Ao alto a fadista Elvira Igreja

FotografiaRaquel Cavaleiro MPAGDP

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Podemos ateacute dizer que a Mouraria estaacute na moda Mas natildeo haacute fachada caiada que o escon-da a droga continua na rua Perpetua o gueto no bairro afasta moradores turistas e investi-dores traz criminalidade e prostituiccedilatildeo destroacutei famiacutelias e estigmatiza consumidores

Em 2012 num edifiacutecio da Calccedilada de Santo de Andreacute cedido pela cacircmara nasceu o In Mou-raria centro de apoio a toxicodependentes ge-rido pelo GAT (Grupo Portuguecircs de Activistas sobre Tratamentos de VIHSIDA) Ali os con-sumidores encontram enfermeiros e psicotera-peutas que jaacute os conhecem Ali ouvem conse-lhos de ex-consumidores Ali se fazem as pontes com o centro de emprego Haacute merendas casa--de-banho e roupeiro datildeo-se seringas novas ca-chimbos e preservativos fala-se de sexo seguro e do contaacutegio de doenccedilas associado ao consumo de drogas em condiccedilotildees insalubres Tambeacutem se fazem rastreios de VIH e Hepatite B e C

Ricardo Fuertes que coordena este centro e trabalhou numa sala de consumo assistido de drogas em Barcelona sente-se de matildeos atadas Os consumidores entram satildeo aconselhados recebem seringas novas Mas chega a altura em que precisam de injectar heroiacutena ou fumar crack ndash e tecircm de o ir fazer para a rua sozinhos em caso de overdose abrigados numa ruiacutena ou

acocorados atraacutes de um carro no Benformoso A ideia de consumo assistido estaacute prevista na lei desde 1999 mas nunca foi posta em praacutetica Parece que eacute desta a versatildeo final do relatoacuterio da Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede de Lisboa e Vale do Tejo e do SICAD (ex-Instituto da Dro-ga e da Toxicodependecircncia) que recomenda a criaccedilatildeo de uma ldquoestrutura de consumo segurordquo de drogas nesta zona seraacute entregue ao Presiden-te da Cacircmara Municipal de Lisboa ainda neste Veratildeo Foi ateacute identificado o lugar ideal a Rua da Palma perto do futuro centro de sauacutede do Martim Moniz e da futura esquadra da PSP

A decisatildeo teacutecnica estaacute tomada Falta a poliacute-tica Ateacute ao fecho desta ediccedilatildeo Antoacutenio Costa nada tinha dito Resta saber se a sua candidatu-ra agrave lideranccedila do PS (e quiccedilaacute agraves legislativas do proacuteximo ano) condicionaraacute a sua decisatildeo Sabe-mos que este eacute um tema sensiacutevel campo feacutertil para populismos e preconceitos

Jaacute se tentou criar um espaccedilo assim em 2006 com a Estrateacutegia Municipal de Intervenccedilatildeo para as Dependecircncias que previa o alargamento da actividade dos Gabinetes de Apoio aos Toxico-dependentes situados em Chelas e em Benfica Passariam a chamar-se Instalaccedilotildees de Consumo Apoiado para a Recuperaccedilatildeo A sua abertura chegou a estar marcada para o segundo tri-mestre desse ano decorria entatildeo o conturbado mandato de Carmona Rodrigues independente apoiado pelo PSD (partido que mais contes-tava estes espaccedilos nas discussotildees municipais) Sempre adiada Tambeacutem no Porto se discutia o tema pela voz do padre Joseacute Maia presidente da Fundaccedilatildeo Filos

Joatildeo Meneses (coordenador do GABIP Mouraria) e Luiacutes Mendatildeo (presidente do GAT) acreditam que os moradores compreendem o que agora se propotildee natildeo um ldquospa do consumordquo mas uma casa de acolhimento que aproveite os teacutecnicos de intervenccedilatildeo comunitaacuteria meacute-dicos e enfermeiros para criar empatia com os consumidores e apostar na sua regeneraccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional Ou seja uma casa como o In Mouraria mas com um quarto a mais Seraacute desta 3Joatildeo Berhan

E vocecircjaacute cantouSe gosta de cantar natildeo se espante se for abordado por uma simpatia de cabelo curto e oacuteculos redondos chamada Ana Paula Silvestre mais conhecida por Paleta Velhos e novos nacionais e estrangeiros amadores e profissionais tecircm cantado pelas ruas da Mouraria juntando-se a centenas de outras vozes do Minho ao Algarve Mais de vinte pessoas do bairro jaacute gravaram e muitas outras estatildeo na mira desta caccediladora de vozes que eacute uma das guias turiacutesticas da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria e a ponta-de-lanccedila da Mouraria no projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar Dela Proacutepria criado em 2011 pelo realizador Tiago Pereira O objectivo eacute gravar cinco projectos musicais por semana para criar o maior arquivo de muacutesica portuguesa As participaccedilotildees nacionais estatildeo em facebookcomamusicaportuguesaagostardelapropria e as da Mouraria organizadas no canal A Muacutesica da Mouraria a Gostar dela Proacutepria em httpmmagdptumblrcom Jaacute satildeo tantas que nem temos espaccedilo nesta ediccedilatildeo para citar todos os artistas e menos ainda para publicar todas as fotografias Eacute bom sinal

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1406

o chafariz do largo dos trigueiros eacute muito viajado Sabia que o chafariz do Largo dos Trigueiros eacute muito viajado Nos meados do seacuteculo XIX surge como bebedouro puacuteblico do passeio da Costa do Castelo Em 1888 numa

solicitaccedilatildeo do regedor da paroacutequia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo eacute plantado no Largo da Achada Eacute aiacute que o ilustrador e aguarelista Alfredo Roque Gameiro o torna famoso em duas obras (ver paacutegina 26) Nos anos 40 muda-se para o Terreirinho

das Farinhas actual Largo dos Trigueiros Este pequeno largo de origem marginal (que o olisipoacutegrafo Norberto de Arauacutejo

descreveu como um ldquocapricho de construccedilatildeo de acasordquo e uma soluccedilatildeo de ldquourbanistas antigosrdquo na correcccedilatildeo dos declives da encosta) eacute hoje um dos locais mais prazenteiros da Mouraria E este velhinho bebedouro eacute o seu ex-liacutebris

Primeiro Encontro Ravidassia na Mouraria

Mais de cem ravidasis encheram a Sala Fernando Mauriacutecio do Grupo Desportivo da Moura-ria no passado dia 9 de Maio para receberem uma sumidade Sant Niranjan Dass Ji liacuteder do santuaacuterio Dera Sach Khand em Ballan na regiatildeo indiana do Punjab Natildeo eacute a primeira vez que Sant Niranjan vem agrave Mouraria mas eacute uma estreia enquanto liacuteder de uma religiatildeo Dantes representava o movimento Ravidass integrado na religiatildeo Sique agora representa a religiatildeo Ravidassia Dharam resultante de um corte radical com o siquismo em 2010 Dantes vinha como ravidasi agora como ravidassia segundo a terminologia adoptada desde que o seu santuaacuterio decretou a nova religiatildeo na sequecircncia de um atentado na Aacuteustria A presenccedila policial natildeo passou despercebida Tem sido imprescindiacutevel desde que este liacuteder ficou ferido em 2009 em Viena no atentando feito por radicais siques que chegou mesmo a matar o seu parceiro Sant Rama Nand Seguiram-se tumultos por toda a Iacutendia e o santuaacuterio decretou a nova religiatildeo Isto sob uma chuva de criacuteticas de outros santuaacuterios radivasis que apelaram agrave uniatildeo entre todos os siques e se mantiveram como tal Ambos os alvos do atentado de Viena tinham estado em Portugal na semana anterior se-gundo Davinder Lakha 43 anos residente na Mouraria e liacuteder do Shri Guru Ravidass Sabha ndash o templo ravidassia situado nos Anjos que por ser pequeno demais para estas recepccedilotildees obrigou ao aluguer de sala no Desportivo Este seraacute o uacutenico templo ravidassia em Portugal segundo Davinder estimando-se que no total existam 1500 ravidasis neste nosso paiacutes de dez milhotildees de habitantes Na Aacuteustria satildeo o dobro numa populaccedilatildeo de oito milhotildeesConotados com a classe baixa (dalit os intocaacuteveis) os ravidasis caracterizam-se por seguirem o Guru Ravidass nascido nessa casta em 1377 Um uacutenico guru Jaacute o siquismo caracteriza-se pelos seus dez gurus O primeiro eacute o Guru Nadak nascido em 1469 e o uacuteltimo eacute Gobind Singh que morreu em 1708 sem nomear sucessor alegando que o poder corrompe os humanos Ravidass teraacute sido forte fonte de inspiraccedilatildeo do quinto guru sique A recente cisatildeo tem sido analisada pela imprensa internacional como uma luta dos dalit por uma efectiva igualdade social

ReFood finalmente na Mouraria Diz-se ldquorifudrdquo Eacute um projecto de voluntariado que recolhe comida na restauraccedilatildeo e a distribui pelos mais carenciados ldquoFoodrdquo em inglecircs eacute ldquocomidardquo ldquoRerdquo vem de reciclar ou reutilizar O projecto foi criado haacute trecircs anos pelo americano Hunter Halder num espaccedilo cedido pela Igreja da Nossa Senhora de Faacutetima na Praccedila

de Espanha No ano passado abriu novos nuacutecleos primeiro em Telheiras depois na Estrela e no Lumiar Distribui quinhentas refeiccedilotildees diaacuterias e tem centenas de voluntaacuterios Estatildeo em curso dezenas de aberturas com juntas de freguesia que cederatildeo espaccedilos No nosso bairro a ReFood iniciou as primeiras reuniotildees no ano passado mas soacute agora se consolidou o projecto sendo entretanto estendido a todos os bairros da freguesia de Santa Maria Maior Porquecirc a demora ldquoIa haver eleiccedilotildees e quisemos evitar acusaccedilotildees de aproveitamento poliacutetico como estava a acontecer noutros locaisrdquo esclarece Joatildeo Pedro Moreira bancaacuterio e coordenador deste nuacutecleo da ReFood entatildeo tesoureiro da Junta de Freguesia do Socorro Jaacute sem funccedilotildees poliacuteticas coordena o nuacutecleo de Santa Maria Maior e estaacute prestes a ter o aval de um espaccedilo cedido pela junta de freguesia

Nasceu a Comissatildeo Social de Freguesia de Santa Maria Maior Qualquer cidadatildeo pode e deve integrar uma comissatildeo social de freguesia ndash um oacutergatildeo previsto na lei desde 2006 mas que soacute recentemente ganhou vida praacutetica Em Santa Maria Maior a comissatildeo nasceu no dia 1 de Abril e o seu ecircxito soacute depende da motivaccedilatildeo de cada um dos seus membros Na reuniatildeo de arranque no salatildeo nobre da Academia de Recreio Artiacutestico na Rua dos Fanqueiros estiveram cinquenta das 65 entidades convocadas tendo sido dos encontros mais participados de Lisboa ndash com as associaccedilotildees da Mouraria em claro destaque No acircmbito desta comissatildeo estaacute a ser elaborado pela Universidade Catoacutelica um detalhado diagnoacutestico social do territoacuterio que serviraacute de base agrave actuaccedilatildeo dos grupos a constituir para abordagens que vatildeo desde as crianccedilas aos idosos agrave pobreza agrave violecircncia domeacutestica ou agrave toxicodependecircncia

Mais uma primavera sem jardim O jardim da Calccedilada do Monte jaacute deveria ter sido inaugurado em Setembro de 2013 Apoacutes sucessivos adiamentos a data passou para o passado mecircs de Abril mas nada O jardim foi anunciado pela cacircmara municipal como o maior parque puacuteblico dentro do espaccedilo urbano de Lisboa com um investimento de 847 mil euros

As obras jaacute comeccedilaram em Fevereiro de 2013 Depois pararam porque alegadamente havia achados arqueoloacutegicos As obras natildeo avanccedilam Natildeo haacute jardim nem respostas

Centro de Inovaccedilatildeo tambeacutem continua adiado Os adiamentos marcam tambeacutem o Centro de Inovaccedilatildeo na Mouraria (CIM) o espaccedilo de empreendedorismo e cultura no quarteiratildeo dos Lagares que deveria ter sido inaugurado em Janeiro A insolvecircncia da construtora Contrope-Congevia atrasou a obra orccedilamentada em cerca de 2 milhotildees de euros

Devia estar concluiacuteda no primeiro trimestre deste ano ou em Abril Natildeo esteve Mas jaacute faltou mais Os tapumes saiacuteram entretanto de cena deixando vislumbrar o edifiacutecio branco quase finalizado

A nova sede da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior foi inaugurada em Maio no edifiacutecio do Elevador do Castelo com acesso pela rua da Madalena ou abaixo pela dos Fanqueiros O nuacutemero de telefone central passou a ser o 210 416 300

BREVES

Tome nota Novos contactos da Junta

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Carla Rosado

Sabia que Texto e Ilustraccedilatildeo Nuno Saraiva

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 07রোউজো মোরযো

haacutebitos Texto e Fotografia Joseacute Fernandes

Parmod Kumar fiel ao movimento Hare Krishna e aluno das aulas de portuguecircs da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria

A marca de Deus

A tilaka (tambeacutem conhecida por tilka ou tika) eacute usada especialmente na testa sobre um dos principais centros ener-geacuteticos (chacras) do corpo o terceiro olho mas tambeacutem noutras onze partes incluindo os peacutes Eacute um siacutembolo de pro-tecccedilatildeo e santificaccedilatildeo

Esta marca eacute proacutepria da cultura hindu que assenta na suprema trindade Bra-hma-Vishnu-Shiva (Brahma cria Vishnu preserva e Shiva destroacutei) mas que tem inuacutemeras ramificaccedilotildees religiosas entre as quais sobressai o movimento Hare Krish-na fiel a Krishna ndash uma figura central do hinduiacutesmo que para uns foi uma encar-naccedilatildeo de Vishnu na Terra e para outros a representaccedilatildeo uacutenica de um deus su-premo Tambeacutem a tilaka assume diversas variantes consoante tambeacutem a condiccedilatildeo social (a casta) de cada um

Destacam-se duas versotildees Uma em forma de U ou de V como um diapasatildeo ou tridente ao alto Outra horizontal

composta por trecircs linhas geralmen-te com um ponto vermelho ao centro A primeira eacute tiacutepica dos que mais adoram Vishnu Eacute a tilaka vaishnava A segunda prevalece entre mais proacuteximos de Shiva e chama-se tilaka shaivites

A simbologia de cada uma destas versotildees tambeacutem varia Para uns as duas linhas do ldquodiapasatildeordquo podem representar as paredes de um templo de Krishna e Radha (sua mulher) O espaccedilo entre cada uma dessas linhas representaraacute o local onde o casal teraacute vividoPara outros cada linha representa Brahma e Shiva sendo o espaccedilo intersticial a casa de Vishnu Outros ainda defen-dem que em causa estatildeo cada uma das margens do Yamuna um dos principais

rios do Norte da Iacutendia A tilaka deve ser aplicada com o dedo anelar da matildeo di-reita ou por um material metaacutelico O traccedilo inicial deve ter aproximadamente a largura do espaccedilo entre as sobran-celhas de maneira a que se consigam desenhar duas linhas verticais Por fim faz-se a parte do U mais proacuteximo do na-riz Nessa altura apela-se ao poder dos rios da Iacutendia recitando-se este mantra Om gange cha yamune chaiva godavari sa-rasvati narmade sindhu kaveri jalersquosmin sannidhim kuru (Oacute Ganges Yamuna Godavari Sarasvati Narmada Sindhu e Kaveri tornem-se presentes nestas aacuteguas) A tinta pode ser feita a par-tir de vaacuterios materiais argila accedilafratildeo alume iodo cacircnfora cinzas ou sacircndalo Vendem-se preparados sob por exemplo a designaccedilatildeo gopi chandan Se a cor for vermelha kumkum ou sindur ver secccedilatildeo Conversas de Bazar na paacutegina 27)

Haacute quem use esta marca no dia-a-dia outros apenas em ocasiotildees especiais Entre as mulheres assume a forma de um uacuteni-co ponto vermelho que simboliza em especial a forccedila feminina Eacute o chama-do bindi bem mais popularizado aqui no ocidente do que a tilaka Este estaacute associado a Parvati deusa-matildee segun-da consorte de Shiva (a primeira eacute Sati) e progenitora de Ganhesha o popular elefante siacutembolo da sabedoria inte-lectual Segundo a tradiccedilatildeo o bindi era usado soacute pelas mulheres casadas mas deixou de lhes estar limitado e massifi-cou-se como um acessoacuterio de moda

Por que eacute que algumas pessoas desenham no centro da testa uma espeacutecie de tridente ou diapasatildeo Faz parte da cultura hindu Chama-se tilaka ndash ldquomarcardquo em sacircnscrito

Paacutetio do ColeginhoRua a Rua TextoPedro Santa Rita

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No Paacutetio do Coleginho ainda podemos encontrar o que resta da antiga Mouraria das quintas e hortas Eacute uma viagem num tempo em que a cidade de Lisboa era um aglomerado de aldeias separadas pelo verde dos campos que o crescimento urbano uniu Alcandorado na Colina do Castelo o paacutetio ainda guarda as memoacuterias bucoacutelicas que despertam os nossos sentidos Pela Rua Marquecircs de Ponte de Lima chega-se a este atraveacutes de uma iacutengreme calccedilada a fazer lembrar os antigos quebra-costas a subida a pique faz-se por entre preacutedios de belos azulejos padratildeo do seacuteculo XIX e as desgastadas

paredes cor-de-rosa de janelas gradeadas do Mosteiro de Santo Antatildeo o Velho ndash o primeiro coleacutegio dos Jesuiacutetas em Portugal no seacuteculo XVI No topo da calccedilada a paisagem eacute dominada pelas traseiras do mosteiro com o seu claustro manuelino hoje considerado um dos mais belos da cidade de Lisboa Do lado oposto ao mosteiro entre dois preacutedios avistamos um moribundo portatildeo de alvenaria com portas em chapa indica-nos a entrada do que resta de uma antiga quinta que em tempos galgava a encosta ateacute ao Teatro Taborda na Costa do Castelo A rua eacute subitamente dividida por um velho e rangente portatildeo que abre para um pequeno paacutetio um corredor estreito pavimentado em macadame ladeado por casas simples de dois andares do seacuteculo XIX e abruptamente fechado por um muro alto de pedra Sobre este penduram-se as videiras e assomam as copas das laranjeiras que nascem do outro lado um pedaccedilo verde de uma quinta que outrora pertencia ao mosteiro e residecircncia habitual da passarada que enche de chilreios e melodias as manhatildes soalheiras do paacutetio Entre as sonoridades canoras e caninas (haacute muitos catildees por este quintais) o tempo eacute marcado pelos sons graves e fortes que se soltam hora apoacutes hora dos sinos da Igreja da Graccedila confirmando a boa acuacutestica do espaccedilo O paacutetio vai fazendo o seu quotidiano entre as conversas das(os) vizinhas(os) o ritual do estender da roupa e agrave tardinha a chegada atribulada dos carros ndash aliaacutes eacute o uacutenico momento do dia

em que se ouvem os carros no paacutetio como se este fosse um cantinho protegido dos ruiacutedos da cidade Encaixado numa ldquoachadardquo da Colina do Castelo e rodeado por preacutedios as vistas e o horizonte do paacutetio satildeo dominadas pelo omnipresente Convento e Igreja da Graccedila que do alto da Colina de Santo Andreacute contempla a Costa do Castelo numa curiosa sobreposiccedilatildeo de planos a torre sineira e a fachada da igreja parecem emergir das copas arredondadas dos pinheiros mansos que arborizam o miradouro altaneiro da Graccedila Poreacutem entre o paacutetio e a colina da Graccedila existe um curioso diaacutelogo e jogo de perspectivas vista do paacutetio a colina com a sua Igreja parece estar fisicamente tatildeo proacutexima e omnipresente que nos impede de contemplar toda a encosta e o vale que separa as duas colinas Pelo contraacuterio para quem lanccedila o olhar do Miradouro da Graccedila o paacutetio tem tendecircncia a diluir-se por entre o contiacutenuo de casas telhados becos ruelas e escadinhas o mesmo acontecendo com as pessoas e os seus olhares Um outro momento maacutegico ocorre agrave noite quando as luzes brancas que iluminam o monumento da Graccedila produzem um claratildeo tatildeo intenso que parece derramar a sua luz sobre o paacutetio que se funde com o halo amarelo e tremeluzente dos antigos candeeiros do seacuteculo XIX Ao silecircncio do paacutetio vai chegando tambeacutem a algaraviada de vozes indistintas que descem do miradouro atravessadas pelo miado estridente e agressivo dos gatos da Mouraria Eacute a hora dos gatos

reportagem FotografiaCarla Rosado

TextoTeresa Melo

Chinesescelebraram o ano novo no Martim Moniz

Fechada a escola baacutesica da Madalena Santa Clara ou BaixaA escola baacutesica da Madalena cujo encerramento jaacute esteve previsto para o ano lectivo que agora termina deveraacute fechar no proacuteximo ano altura em que estaraacute finalmente pronta a nova escola no Campo de Santa Clara que substituiraacute as velhas escolas baacutesicas do Agrupamento Gil Vicente

Ateacute aqui tudo bem Ateacute o transporte que era uma preocupaccedilatildeo de muitos pais da Mouraria tambeacutem estaacute garantido seja atraveacutes da rede de transporte escolar municipal os Alfacinhas seja atraveacutes da junta de freguesia ldquoEstamos disponiacuteveis para se necessaacuterio criar um serviccedilo de transporte Natildeo seraacute por isso que as crianccedilas deixaratildeo de ir agrave escolardquo garante Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que integra cinco bairros Mouraria Alfama Castelo Baixa e Chiado

Haacute todavia uma duacutevida uma vez que tambeacutem abriraacute a nova Escola da Baixa que poder de escolha teratildeo os actuais utentes da escola da Madalena ldquoSeraacute um escacircndalo se essa escola natildeo estiver aberta a essas crianccedilas e eu farei ouvir bem alto a minha indignaccedilatildeordquo avisa Miguel Coelho As acessibilidades escolares satildeo competecircncia da cacircmara e do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas este presidente de junta tem uma palavra a dizer Alguns alunos da Mouraria poderatildeo assim frequentar a nova escola do agrupamento Gil Vicente junto agrave Feira da Ladra e outros a Escola da Baixa

A primeira funcionaraacute no antigo Convento do Desagravo do Santiacutessimo Sacramento com capacidade para 475 crianccedilas que vem substituir as velhas escolas baacutesicas do agrupamento ndash Madalena Seacute Infanta D Maria (Campo de Santa Clara) Marqueses de Taacutevora (Largo da Graccedila) Convento do Salvador (Alfama) e o Jardim de Infacircncia de Satildeo Vicente Manteacutem-se a EB1 Castelo que eacute a uacutenica em boas condiccedilotildees de funcionamento A Escola da Baixa funcionaraacute no antigo convento e tribunal da Boa Hora agrave Rua Nova do Almada tem capacidade para 150 crianccedilas (cinquenta em jardim de infacircncia) e insere-se na poliacutetica municipal de atracccedilatildeo de jovens famiacutelias agrave baixa pombalina

Colina de Santanaa poleacutemica continuaO Hospital Miguel Bombarda fechou em 2012 e para o seu lugar foi arquitectado um projecto imobiliaacuterio que inclui um hotel e uma torre de 12 andares O Hospital do Desterro fechou em 2007 e estaacute em obras para um espaccedilo de residecircncias artiacutesticas e produccedilatildeo hortiacutecola explorado pela Mainside a promotora da LX Factory em Alcacircntara Os hospitais de Satildeo Joseacute Santa Marta e dos Capuchos que servem residentes da Mouraria seratildeo transferidos para Marvila Aiacute integraratildeo o novo Hospital de Todos os Santos que incluiraacute tambeacutem o Curry Cabral o Dona Estefacircnia e a Maternidade Alfredo da Costa e que abriraacute em 2020 (esteve para ser jaacute em 2016) Os poleacutemicos projectos tecircm ido a debate na assembleia municipal e discutidos publicamente por cidadatildeos comuns e entidades como a Associaccedilatildeo Portuguesa pela Arte Outsider o ICOM-Portugal a Ordem dos Enfermeiros a Ordem dos Meacutedicos o Grupo de Amigos de Lisboa e a Sociedade de Geografia de Lisboa Os contestataacuterios dos projectos manifestaram-se no uacuteltimo desfile do 25 de Abril 3AAMC

Ano Cristatildeo 2014 l Dia de Ano Novo 1 de Janeiro

Ano Chinecircs 471 l Dia de Ano Novo 1 de Fevereiro

Ano Hindu 1936 l Dia de Ano Novo (Gudi Padwa tambeacutem conhecido como Samvatsar Padvo Yugadi ou Navreh) 31 de Marccedilo

Ano Sikh 546 l Dia de Ano Novo (Vaisakhi) 14 de Abril

Ano Budista 2558 l Dia de Ano Novo (Vesak ou Buda Purnima) 12 de Maio

Ano Judaico 5774 l Dia de Ano Novo (Rosh Hashanaacute) 5 de Setembro gt no proacuteximo dia 25 de Setembro comeccedila o ano de 5775

Ano Muccedilulmano 1435 l Dia de Ano Novo (Al-Hijra ou Muharram) 5 de Novembro gt no proacuteximo dia 25 de Outubro comeccedila o ano de 1436

Em que ano estamosDepende do aniversaacuterio do profeta de cada cultura sendo que a maioria dos dias de Ano Novo variaacutevel em funccedilatildeo de calendaacuterios lunares A Terra essa para os cientistas existe haacute 45 mil milhotildees de anos Os primeiros hominiacutedeos teratildeo surgido haacute uns cinco milhotildees e a actual espeacutecie de seres humanos homo sapiens sapiens haacute duzentos mil anos

Pela primeira vez a comunidade chinesa festejou a chegada do novo ano num evento puacuteblico organizado por todas as associaccedilotildees chinesas de Lisboa em parceria com a cacircmara municipal e a embaixada da Repuacuteblica Popular da China No passado dia 1 de Fevereiro o Ano do Cavalo chegou em grande ao Martim Moniz

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1410

editorial estaacute bem middot estaacute mal

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E se daqui a 100 anos alguns de noacutes ainda caacute estivermos As probabilidades natildeo satildeo assim tatildeo absurdas Na Mouraria haacute duas pessoas com 100 anos Uma delas a dona Almerinda faz 101 jaacute em Agosto Tentaacutemos entrevistaacute-la nesta ediccedilatildeo mas uma queda tem-na mantido menos conversadora e teremos de aguardar A outra eacute a dona Emiacutelia Respondeu a nove perguntas que recolhemos pelo bairro entre pessoas dos 10 anos aos 90 anos (ver paacutegina 2) A dona Emiacutelia falou-nos por exemplo da ldquoescravaturardquo em que viveu O seu testemunho mostra-nos que o mundo mudou bastante num seacuteculo mas a humanidade jaacute nem tanto A ceacutelebre Liberdade--Igualdade-Fraternidade decretada na Revoluccedilatildeo Francesa haacute mais de duzentos anos continua uma receacutem-nascida com quase tudo por aprender Resultado alguns bebeacutes que hoje conhecemos poderatildeo estar daqui a 100 anos a dar uma entrevista como esta sobre vivecircncias que muito nos fazem pensarldquoA Histoacuteria julgar-nos-aacute pela diferenccedila que todos os dias fizermos na vida das crianccedilasrdquo disse Nelson Mandela (1918-2013) Ele ficou na Histoacuteria como siacutembolo da luta pela igualdade E noacutes como podemos ficar O que eacute que cada um de noacutes aqui e agora pode fazer para que os nossos bebeacutes venham a ter recordaccedilotildees mais felizes do que as da nossa centenaacuteria vizinha Nesta ediccedilatildeo o nosso contributo eacute o de sempre ajudar a que nos conheccedilamos um pouco melhor pois natildeo haacute liberdade igualdade nem fraternidade que resista agrave ignoracircncia E desta vez temos vaacuterias inovaccedilotildees Temos um tema (intergeraccedilotildees) que marca grande parte dos artigos temos um texto traduzido (paacutegina 22 em bengali) e temos uma nova secccedilatildeo Conversas de Bazar (paacutegina 27) A propoacutesito de produtos agrave venda nos bazares da Mouraria a Rosa Maria descobre pessoas e estoacuterias do mundo Deixamos por outro lado de editar a Dobra das Palavras ndash jaacute sentimos saudades dela mas aguentamos quando pensamos nas estreias desta ediccedilatildeo e na recente secccedilatildeo Haacutebitos que nos acompanha desde o nuacutemero anterior (neste estudamos o haacutebito hindu de desenhar siacutembolos na testa ndash a tilaka paacutegina 7) Abraccedilos a todos E natildeo se esqueccedilamhellip O que podemos fazer noacutes hoje para que o ano de 2114 veja os nossos centenaacuterios bebeacutes sorrir

O Mercado de Fusatildeo na Praccedila Martim Moniz estaacute mais acolhedor com os novos bancos num espaccedilo verde Estivesse a muacutesica um pouquinho mais baixa e o relax seria perfeito

O ROSA MARIA eacute um jornal sobre as pessoas e os acontecimentos da Mouraria mas tambeacutem sobre assuntos nacionais e internacionais relacionados com os seus residentes criado para preservar e divulgar o seu imenso patrimoacutenio humano histoacuterico e culturalO ROSA MARIA eacute um jornal comunitaacuterio produzido por todos os que queiram participar (jornalistas fotoacutegrafos ilustradores designers graacuteficos voluntaacuterios e moradores ou trabalhadores do bairro) e que se pautem pelos princiacutepios da solidariedade do rigor e da qualidade O ROSA MARIA eacute parte integrante da comunidade em que se insere mas totalmente comprometido com o coacutedigo deontoloacutegico que enquadra o exerciacutecio da liberdade de imprensa e independente de facccedilotildees religiosas poliacuteticas e econoacutemicasO ROSA MARIA eacute editado pela Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria desde 2010 com periodicidade semestral O seu nome eacute inspirado na miacutetica Rosa Maria imortalizada no fado Haacute Festa na Mouraria ndash uma mulher atrevida e virtuosa como esta publicaccedilatildeogt Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar nordm 899 de 9 de Junho sobre Registo dos Oacutergatildeos de Comunicaccedilatildeo Social

ROSA MARIA middot Estatuto Editorial

De olho em 2114

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O que diratildeo os turistas das ldquoescadinhas WCrdquo por detraacutes da paragem onde fazem fila para o eleacutectrico 28 Noacutes dizemos isto inadmissiacutevel

FICHA TEacuteCNICA middot Direcccedilatildeo Inecircs Andrade Direcccedilatildeo graacutefica Hugo Henriques Ediccedilatildeo fotograacutefica Carla Rosado Ediccedilatildeo editorial Marisa Moura Revisatildeo Joatildeo Berhan e Joana Chocalhinho Publicidade Susana Simpliacutecio Traduccedilatildeo Moin uddin Ahamed e Pedro Leader Ilustraccedilatildeo Alexandra Belo Aude Barrio Hugo Henriques Nuno Saraiva Viacutetor Mingacho Passatempos Aude Barrio e Joatildeo Madeira Fotografia Augusto Fernandes Carla Rosado Diogo Lin Helena Colaccedilo Salazar Heacutelio Balinha Joseacute Fernandes Marisa Moura Nuno Moratildeo Paulo Marques Sophie Cadet Teresa Melo Yolanda Bettencourt Texto Ana Luiacutesa Rodrigues Carmen Correia Daniela Silva Joatildeo Berhan Joseacute Fernandes Luiacutes Elvas Luiacutesa Rego Marisa Moura Nuno Catarino Oriana Alves Pedro Santa Rita Raquel Albuquerque Ricardo Miguel Vieira Rita Pascaacutecio Teresa Melo Agradecimentos especiais a Andreacute Alves Antogravenia Tinture Claacuteudia Henriques Edgar Clara Heacutelder Oliveira Hugo Curado Maria Coimbra Mariana Melo Nuno Franco Paula Cosme PintoExpresso Sandra Bernardo Siacutelvia de Melo Olivenccedila e Vitorino Coragem E ainda pela cedecircncia de imagens Duck Production EGEACJoseacute Frade Museu da CidadeCML Maria do Ceacuteu Barata Nuno BotelhoExpresso Raquel CavaleiroMPAGDP e Site Norberto Arauacutejo (1889-1952) wwwnorbertoaraujoorg (copyright 2012) Joseacute Vicente de Braganccedila Jorge Quina Ribeiro de Arauacutejo e Herdeiros de Norberto de Arauacutejo Capa Helena Colaccedilo Salazar middot Propriedade Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Redacccedilatildeo administraccedilatildeo e publicidade Beco do Rosendo nordm 8 1100-460 Lisboa Tel +351 218 885 203 Tm +351 922 191 892 rosamariarenovaramourariapt Impressatildeo Funchalense ndash Empresa Graacutefica SA Distribuiccedilatildeo Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Versatildeo digital wwwrenovaramourariapt Tipos de letra Atlantica Lisboa e Tramuntana gt Ricardo Santos Depoacutesito legal 31008510 Periodicidade Semestral Tiragem 10 000 exemplares Nuacutemero sete Junho 2014 Nordm Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaccedilatildeo Social) 126509 Correcccedilatildeo Na ediccedilatildeo anterior a fotoacutegrafa Helena Colaccedilo Salazar natildeo foi incluiacuteda na ficha teacutecnica E o jornalista Samuel Alematildeo ficou na redacccedilatildeo mas sem referecircncia ao trabalho de ediccedilatildeo que tambeacutem prestou

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 11রোউজো মোরযো

reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

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E-mail geralmpmvptTelefones 213 425 268 967 258 892

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Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

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m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

ais r

esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

qui j

ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

to

enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

agrave a

panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

ia e

tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

ndav

am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

o in

spiro

u en

quan

to

real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

fez

par

te d

a pr

imei

ra g

eraccedil

atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

div

isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

as

lava

deira

s ta

bern

as g

aleg

os c

arvo

aria

s da

s bi

lhas

de

leite

que

che

gava

m n

uma

carr

occedila

ou

da

senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

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ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

a fa

miacuteli

a lu

so-e

span

hola

o b

airr

o aj

udav

a agrave

iden

tidad

e de

M

anue

l M

ozos

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aacute ch

amav

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e lsquoo

esp

anho

lrsquo

Em E

span

ha c

hava

m-m

e lsquoo

por

tugu

ecircsrsquo E

ntatildeo

diz

ia

que

era

da M

oura

ria e

pro

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rdquo

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

stra

ccedilotildees

por

Ale

xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

ue c

ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

tinua

a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

ento

vaacuter

ios

luga

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ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

a es

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ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

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a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

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mod

esta

que

natildeo

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nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

er o

senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

esp

anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

inha

alg

umas

tert

uacutelia

s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

srdquo

Anti

go

Cin

ema

Rex

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ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

fim-d

e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

e Es

tica

rdquo

Pap

elar

ia

da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

era

miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

inha

s tia

s par

a ar

ranj

ar e

apr

ovei

tava

par

a co

mpr

ar c

rom

os e

revi

stas

aos

qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

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s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

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quec

irdquo

Paacuteti

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ginh

oPa

ra e

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ais r

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arda

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bol

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subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

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quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

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ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

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soria

is c

omo

a do

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circ

ulav

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rua

A ru

a er

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gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

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panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

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sem

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o m

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ir a

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ia e

tira

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rdquo A

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orid

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beacutem

pro

ibia

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ndar

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calccedil

o ndash

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sso

as v

arin

as a

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am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

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m p

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Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

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dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

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Afin

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dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

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cria

nccedila

ndash de

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fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

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l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

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preg

ados

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Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

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spiro

u en

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real

izad

or

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cine

ma

C

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uma

obra

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lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

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par

te d

a pr

imei

ra g

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atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

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Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

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es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

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ns-

port

ou c

oisa

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ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

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esp

accedilos

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os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

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isotildees

peq

uena

srdquo c

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Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

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o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

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rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

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port

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bert

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No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

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lava

deira

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bern

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aleg

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aria

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s bi

lhas

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leite

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che

gava

m n

uma

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occedila

ou

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senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

afe

ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

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এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

পতত শিজ িাষা শিকার শবিািীয পরান কািতা কািত ালহ এর সাথর অশিবাসীথদর জনযে পতত শিজ কাস সমবনীয অননযে তরযে এবং শবশিনন কিিাশদ সমপথকত আিাপকাথি শতশন জানান সযপরশত মিবার এবং বহসপশত বার সকািrdquo ১১৩০ হথত ১২৩০rdquo পযতনত শিি-শকথিার সদর পতত শিজ িাষা শিকা সদযা হয

তদপশরএই কাস সমথহ তারা শবশিনন রথপ অনিীিন কথর রাথকন সযমনশবশিনন রকম িবদ উচারথণর মাযেথম তাথদর সঠিক িাথব পতত শিজ শবশিনন িবদ উচারণ শিিাথনা হযতাথদর সক শেতাঙকন এর মাযেথম শবশিনন শজশনস পথতর সাথর পশরশেত করাথনা হযতাথদর সক সংিীত েেত ার মাথম অরবা পরথতযেক সদথির শবশিনন সকৌতক িনাথনা এবং তাথদর কাছ সরথক িনার মাযেথম তাথদর সক এথক অথনযের সাথর অথিােনায মতত কশরথয পতত শিজ িাষার অথনক েেত া করাথনা হয আর এিাথবই তারা ীথর ীথর পতত শিজ িাষায শিিথত ও পডথত শিথি যায

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আথযিা যার বযস ৭ বছর সস ও বাংিাথদিী (সস ইদাশনং পতত িাি

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As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1422

reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1426

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 4: Rosa Maria nº7

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Intendente Sai Antoacutenio Costa O presidente da Cacircmara Municipal de Lisboa Antoacutenio Costa passou trecircs anos no Largo do Inten-dente Pina Manique para onde transferiu o quartel-general da autarquia em Abril de 2011 no arranque do PDCM ndash Programa de Desenvolvi-mento Comunitaacuterio da Mouraria quando toda esta zona era um fantasma por reanimar Regressou aos Paccedilos do Concelho no passado mecircs de Abril cedendo as instalaccedilotildees agrave Junta de Freguesia de Arroios presidida por Margarida Martins rosto da associaccedilatildeo Abraccedilo Vai tratar de ldquooutras Mourariasrdquo segundo anunciou em Marccedilo numa reuniatildeo de cacircma-ra Entretanto em Maio apoacutes as eleiccedilotildees europeias em face dos resultados desfavoraacuteveis aos socialistas anunciou a sua candidatura agrave lideranccedila do Partido Socialista de olhos postos nas legislativas do proacuteximo ano nas quais poderaacute tornar-se primeiro-ministro

entra uma residecircncia para estudantes Na mesma reuniatildeo de cacircmara no dia 26 de Marccedilo foi aprovado o projecto para uma residecircncia de estudantes no Largo do Intendente a ser explorada pela Universidade de Lisboa com capacidade para 239 camas

O Mob jaacute caacute estaacute O espaccedilo Mob deixou o Bairro Alto onde a renda era incomportaacutevel e abriu portas na Rua dos Anjos 12F em Abril apoacutes trecircs meses sem casa Nasceu haacute dois anos de uma parceria com a Associaccedilatildeo de Combate agrave Precariedade ndash Precaacuterios Inflexiacuteveis (atendem agraves sextas das 19h agraves 20h) e com a cooperativa cultural Crew Hassan A mobilizaccedilatildeo continua no Intenden-te reforccedilada com o Habita ndash Colectivo pelo Direito agrave Habitaccedilatildeo e agrave Cidade que ali dinamiza assembleias todas as segundas agraves 18h Continuam as festas tambeacutem Na inauguraccedilatildeo a muacutesica esteve por conta dos DJ Golpe de Estado Mais informaccedilotildees em moblisboaorg

E haacute tambeacutem uma nova (id)entidade O crescente nuacutemero de inquilinos no Intendente jaacute justifica um BI Nasceu assim em Maio o colectivo Bairro Intendente que inclui comerciantes (A Vida Portuguesa Bike Pop Horiginal etc) e entidades culturais (Largo Residecircncias Casa Independente Sport Club Intendente Mob etc) sedeados no Largo do Intendente Pina Manique na Rua dos Anjos e na Rua do Benformoso esta uacuteltima colada agrave Mouraria Comunicam eventos conjuntamente em bairrointen-dentewordpresscom e no Facebook

Futuras agentes de geriatria Dezassete mulheres com idades entre os 20 e os 50 anos estatildeo em formaccedilatildeo na Mouraria desde Fevereiro para se tornarem agentes de geriatria com equivalecircncia ao 9ordm ano Aleacutem de enriquecerem em mateacuterias que vatildeo do Inglecircs agrave Matemaacutetica e agrave Histoacuteria recebem uma bolsa de 140 euros men-sais ou valor aproximado se jaacute recebiam apoios anteriores E ganham empregabi-lidade para o futuro tratando de quem tanto precisa os mais idosos (ver outras iniciativas para seniores da Mouraria na paacutegina 11)A formaccedilatildeo resulta de um protocolo entre o gabinete municipal GABIP Mouraria e o Instituto do Emprego e Formaccedilatildeo Profissional em parceria com a Obra Social das Irmatildes Oblatas do Santiacutessimo Redentor que encaminhou cerca de metade das formandas Estaratildeo prontas para exercer a profissatildeo quando o curso acabar em Novembro de 2015

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Calccedilada Agostinho de Carvalho Xadrez da discoacuterdia Os passeios da Calccedilada Agostinho de Carvalho tecircm desde Marccedilo trecircs controversas aacutereas Um lado desta iacutengreme rua manteve a calccedilada portuguesa o outro ficou dividido em dois tipos esse mesmo pavi-mento num quarto do passeio e o resto com uma argamassa cinzen-ta escura que a todos desagrada incluindo ao presidente da Cacircma-ra de Lisboa Antoacutenio Costa

A situaccedilatildeo levou mesmo uma moradora a agendar uma reuniatildeo na junta de freguesia ldquoNo dia em que a obra ficou pronta marquei logo para mostrar o meu desagradordquo conta Ana Silva 57 anos desde os 12 por aqui Havia uma agravante estava finalizada a empreitada que manteve a rua esventrada durante o Inverno apoacutes o rebentamento do colector de esgotos mas ficaram por unir as pedras do empedrado por onde circula o tracircnsito ldquoEle [Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior] ligou logo a algueacutem ao peacute de mim e isso foi rapidamente arranjadordquo O presidente da cacircmara jaacute tinha sido chamado ao local pelo proacuteprio Miguel Coelho e no dia dessa visita a nossa vizinha estava agrave janela ldquoO Antoacutenio Costa pergun-tou-me o que eacute que eu achava e eu respondi que jaacute tinha uma reuniatildeo marcada Ateacute ele concordou que aquele novo pavimento eacute muito bruto Disse que talvez em bege ficasse melhorrdquo As obras foram da responsabilidade da cacircmara mas o presi-dente da junta admite vir a embelezar aquele trecho O objectivo do poleacutemico material eacute evitar quedas sobretudo entre as pessoas mais idosas mas os moradores rejeitam tal argumento salientando que as pedras pretas da calccedilada portuguesa jaacute tecircm uns ldquobiquinhos anti-derrapantesrdquo como diz Joatildeo Brito dono da Leitaria do Benformoso ndash 52 anos haacute 38 residente na calccedilada Concordam com ele octogenaacuterios como a dona Helena Almeida Pior a cobertura em causa (tambeacutem usada no parque infantil da Rua da Guia) eacute das mais caras feita agrave base de resinas epoacutexi segundo explicaccedilotildees do arquitecto da junta Joseacute Carvalhei-ra Indignou tambeacutem o facto de o novo piso ter sido posto quando no dia anterior jaacute ali se tinha colocado a calccedilada portuguesa Fez-se e desfez-se para pior

Estacionamento condicionado na Rua da Guia Assim que terminarem as festas dos Santos Populares comeccedilaraacute na Rua da Guia a construccedilatildeo de um estacionamento para 11-13 lugares no local onde hoje estaacute a ram-pa em frente ao preacutedio devoluto Os moradores do Largo da Severa e das ruas do Capelatildeo da Guia e Joatildeo do Outeiro foram convocados no passado dia 16 de Maio pelo presidente da Junta de Freguesia de Santa Maior para serem informados e auscultados ldquoAjudem-me a decidir nesta questatildeo essencial para a qual natildeo encontrei melhor soluccedilatildeordquo disse Miguel Coelho agraves cerca de quinze pessoas presentes na Casa da Covilhatilde adiantando que esta eacute uma alternativa ldquomenos radicalrdquo em relaccedilatildeo agrave intenccedilatildeo da cacircmara municipal que seria de instalar um pilarete a interditar a zona A Rua Marquecircs de Ponte de Lima passaraacute a estar controlada pela EMEL reservada a residentes implicando o paga-mento anual de um selo no valor de 12 euros ldquoO Largo da Severa natildeo foi feito para ter carros mas sim esplanadasrdquo explicou E aos desagradados moradores da Rua da Mouraria que natildeo seratildeo considerados utentes da zona lembrou ldquoO oacuteptimo eacute inimigo do bomrdquo

Maacutescaras do ano

Neste Carnaval o Grupo Gente Nova realizou mais um animado concurso de maacutescaras Os vencedores foram a princesa Carina Letiacutecia 5 anos (primeiro lugar) o mexicano Gonccedilalo Fernandes 7 anos (segundo) e o poliacutecia Marco Francisco Sousa 10 anos (terceiro)

Uma das aulas de inglecircs com a professora Joana Pessoa no GABIP Mouraria

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Croacutenica

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Haacute 24 anos que trabalho na Mouraria e como estudante de Sociologia eacute uma sorte ter um marchante devoto do bairro como colega Chega abril e o Nuno nem com aacuteguas mil deixa de cumprir a tradiccedilatildeo A azaacutefama inicia- -se com os preparativos para as marchas populares No escritoacuterio surgem os primeiros relatos do recrutamento das medidas para os fatos ficarem ldquoa matarrdquo as primeiras marcaccedilotildees a escolha dos pares e as tentativas de convencer os mais indecisos A marcha comeccedila a ganhar forma O Nuno espera escrupulosamente pela hora do iniacutecio do ensaio sobe rua desce rua decora as letras e as marcaccedilotildees O entusiamo eacute notoacuterio no seu semblante

Os comportamentos e as dinacircmicas recorrentes ano apoacutes ano permitem a transmissatildeo de fatos culturais de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo perpetuando assim natildeo soacute a tradiccedilatildeo mas tambeacutem a rivalidade entre bairros O Nuno ilustra brilhantemente tudo aquilo que estudamos nos manuais acadeacutemicos sobre identidade Como ele diz ldquoHaacute sempre uns bairrismos depois haacute as picardias uma claque grita mais alto a outra grita mais alto ehellip envolveu-se tudo agrave porrada no pavilhatildeordquo

Eacute interessante constatar que a cacircmara municipal promove os bairros divulgando os costumes enraizados na populaccedilatildeo como atraccedilatildeo mas os marchantes natildeo datildeo grande importacircncia agrave parte turiacutestica do evento referindo-se agraves festas populares como uma festa deles e para eles ldquoA gente sente mais (eu sinto mais) a volta ao bairro do que descer a Avenidardquo As marchas e os bairros fundem-se assim em tradiccedilotildees significados rivalidades sentimentos de pertenccedila e identidades coletivas

Ser marchante envolve um conjunto de disposiccedilotildees forjadas ao longo dos tempos - e ser marchante da Mouraria natildeo eacute o mesmo que ser marchante em Alfama ldquoIeacute ieacute ieacute a nossa marcha eacute que eacuterdquo Ainda assim sendo nossa natildeo eacute ldquonossardquo da mesma maneira para todos ldquoO orgulho do bairro eacute do bairro mas se natildeo se for na marcha natildeo eacute a mesma coisa Tem de se ir para sentir o que eacute aquilordquo Eacute este orgulho este sentimento de pertenccedila enraizado que muitas vezes transborda e acerta em cheio na claque da marcha vizinha ldquoIeacute ieacute ieacute a Mouraria eacute que eacuterdquo

Joseacute Luiacutes Elvas trabalha num banco de imagens e eacute finalista da licenciatura de Sociologia na Faculdade de Ciecircncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

ldquoIeacute ieacute ieacute a nossa marcha eacute que eacuterdquo

Primeira sala de consumo assistido de drogas prestes a nascer na Mouraria

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Mais de vinte pessoas da Mouraria jaacute cantaram em frente agraves cacircmaras do projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar Dela Proacutepria Em cima o quarteto Fateh Charan Kuidip e Sewak Abaixo Maria de Lurdes Santos Ao alto a fadista Elvira Igreja

FotografiaRaquel Cavaleiro MPAGDP

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Podemos ateacute dizer que a Mouraria estaacute na moda Mas natildeo haacute fachada caiada que o escon-da a droga continua na rua Perpetua o gueto no bairro afasta moradores turistas e investi-dores traz criminalidade e prostituiccedilatildeo destroacutei famiacutelias e estigmatiza consumidores

Em 2012 num edifiacutecio da Calccedilada de Santo de Andreacute cedido pela cacircmara nasceu o In Mou-raria centro de apoio a toxicodependentes ge-rido pelo GAT (Grupo Portuguecircs de Activistas sobre Tratamentos de VIHSIDA) Ali os con-sumidores encontram enfermeiros e psicotera-peutas que jaacute os conhecem Ali ouvem conse-lhos de ex-consumidores Ali se fazem as pontes com o centro de emprego Haacute merendas casa--de-banho e roupeiro datildeo-se seringas novas ca-chimbos e preservativos fala-se de sexo seguro e do contaacutegio de doenccedilas associado ao consumo de drogas em condiccedilotildees insalubres Tambeacutem se fazem rastreios de VIH e Hepatite B e C

Ricardo Fuertes que coordena este centro e trabalhou numa sala de consumo assistido de drogas em Barcelona sente-se de matildeos atadas Os consumidores entram satildeo aconselhados recebem seringas novas Mas chega a altura em que precisam de injectar heroiacutena ou fumar crack ndash e tecircm de o ir fazer para a rua sozinhos em caso de overdose abrigados numa ruiacutena ou

acocorados atraacutes de um carro no Benformoso A ideia de consumo assistido estaacute prevista na lei desde 1999 mas nunca foi posta em praacutetica Parece que eacute desta a versatildeo final do relatoacuterio da Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede de Lisboa e Vale do Tejo e do SICAD (ex-Instituto da Dro-ga e da Toxicodependecircncia) que recomenda a criaccedilatildeo de uma ldquoestrutura de consumo segurordquo de drogas nesta zona seraacute entregue ao Presiden-te da Cacircmara Municipal de Lisboa ainda neste Veratildeo Foi ateacute identificado o lugar ideal a Rua da Palma perto do futuro centro de sauacutede do Martim Moniz e da futura esquadra da PSP

A decisatildeo teacutecnica estaacute tomada Falta a poliacute-tica Ateacute ao fecho desta ediccedilatildeo Antoacutenio Costa nada tinha dito Resta saber se a sua candidatu-ra agrave lideranccedila do PS (e quiccedilaacute agraves legislativas do proacuteximo ano) condicionaraacute a sua decisatildeo Sabe-mos que este eacute um tema sensiacutevel campo feacutertil para populismos e preconceitos

Jaacute se tentou criar um espaccedilo assim em 2006 com a Estrateacutegia Municipal de Intervenccedilatildeo para as Dependecircncias que previa o alargamento da actividade dos Gabinetes de Apoio aos Toxico-dependentes situados em Chelas e em Benfica Passariam a chamar-se Instalaccedilotildees de Consumo Apoiado para a Recuperaccedilatildeo A sua abertura chegou a estar marcada para o segundo tri-mestre desse ano decorria entatildeo o conturbado mandato de Carmona Rodrigues independente apoiado pelo PSD (partido que mais contes-tava estes espaccedilos nas discussotildees municipais) Sempre adiada Tambeacutem no Porto se discutia o tema pela voz do padre Joseacute Maia presidente da Fundaccedilatildeo Filos

Joatildeo Meneses (coordenador do GABIP Mouraria) e Luiacutes Mendatildeo (presidente do GAT) acreditam que os moradores compreendem o que agora se propotildee natildeo um ldquospa do consumordquo mas uma casa de acolhimento que aproveite os teacutecnicos de intervenccedilatildeo comunitaacuteria meacute-dicos e enfermeiros para criar empatia com os consumidores e apostar na sua regeneraccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional Ou seja uma casa como o In Mouraria mas com um quarto a mais Seraacute desta 3Joatildeo Berhan

E vocecircjaacute cantouSe gosta de cantar natildeo se espante se for abordado por uma simpatia de cabelo curto e oacuteculos redondos chamada Ana Paula Silvestre mais conhecida por Paleta Velhos e novos nacionais e estrangeiros amadores e profissionais tecircm cantado pelas ruas da Mouraria juntando-se a centenas de outras vozes do Minho ao Algarve Mais de vinte pessoas do bairro jaacute gravaram e muitas outras estatildeo na mira desta caccediladora de vozes que eacute uma das guias turiacutesticas da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria e a ponta-de-lanccedila da Mouraria no projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar Dela Proacutepria criado em 2011 pelo realizador Tiago Pereira O objectivo eacute gravar cinco projectos musicais por semana para criar o maior arquivo de muacutesica portuguesa As participaccedilotildees nacionais estatildeo em facebookcomamusicaportuguesaagostardelapropria e as da Mouraria organizadas no canal A Muacutesica da Mouraria a Gostar dela Proacutepria em httpmmagdptumblrcom Jaacute satildeo tantas que nem temos espaccedilo nesta ediccedilatildeo para citar todos os artistas e menos ainda para publicar todas as fotografias Eacute bom sinal

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o chafariz do largo dos trigueiros eacute muito viajado Sabia que o chafariz do Largo dos Trigueiros eacute muito viajado Nos meados do seacuteculo XIX surge como bebedouro puacuteblico do passeio da Costa do Castelo Em 1888 numa

solicitaccedilatildeo do regedor da paroacutequia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo eacute plantado no Largo da Achada Eacute aiacute que o ilustrador e aguarelista Alfredo Roque Gameiro o torna famoso em duas obras (ver paacutegina 26) Nos anos 40 muda-se para o Terreirinho

das Farinhas actual Largo dos Trigueiros Este pequeno largo de origem marginal (que o olisipoacutegrafo Norberto de Arauacutejo

descreveu como um ldquocapricho de construccedilatildeo de acasordquo e uma soluccedilatildeo de ldquourbanistas antigosrdquo na correcccedilatildeo dos declives da encosta) eacute hoje um dos locais mais prazenteiros da Mouraria E este velhinho bebedouro eacute o seu ex-liacutebris

Primeiro Encontro Ravidassia na Mouraria

Mais de cem ravidasis encheram a Sala Fernando Mauriacutecio do Grupo Desportivo da Moura-ria no passado dia 9 de Maio para receberem uma sumidade Sant Niranjan Dass Ji liacuteder do santuaacuterio Dera Sach Khand em Ballan na regiatildeo indiana do Punjab Natildeo eacute a primeira vez que Sant Niranjan vem agrave Mouraria mas eacute uma estreia enquanto liacuteder de uma religiatildeo Dantes representava o movimento Ravidass integrado na religiatildeo Sique agora representa a religiatildeo Ravidassia Dharam resultante de um corte radical com o siquismo em 2010 Dantes vinha como ravidasi agora como ravidassia segundo a terminologia adoptada desde que o seu santuaacuterio decretou a nova religiatildeo na sequecircncia de um atentado na Aacuteustria A presenccedila policial natildeo passou despercebida Tem sido imprescindiacutevel desde que este liacuteder ficou ferido em 2009 em Viena no atentando feito por radicais siques que chegou mesmo a matar o seu parceiro Sant Rama Nand Seguiram-se tumultos por toda a Iacutendia e o santuaacuterio decretou a nova religiatildeo Isto sob uma chuva de criacuteticas de outros santuaacuterios radivasis que apelaram agrave uniatildeo entre todos os siques e se mantiveram como tal Ambos os alvos do atentado de Viena tinham estado em Portugal na semana anterior se-gundo Davinder Lakha 43 anos residente na Mouraria e liacuteder do Shri Guru Ravidass Sabha ndash o templo ravidassia situado nos Anjos que por ser pequeno demais para estas recepccedilotildees obrigou ao aluguer de sala no Desportivo Este seraacute o uacutenico templo ravidassia em Portugal segundo Davinder estimando-se que no total existam 1500 ravidasis neste nosso paiacutes de dez milhotildees de habitantes Na Aacuteustria satildeo o dobro numa populaccedilatildeo de oito milhotildeesConotados com a classe baixa (dalit os intocaacuteveis) os ravidasis caracterizam-se por seguirem o Guru Ravidass nascido nessa casta em 1377 Um uacutenico guru Jaacute o siquismo caracteriza-se pelos seus dez gurus O primeiro eacute o Guru Nadak nascido em 1469 e o uacuteltimo eacute Gobind Singh que morreu em 1708 sem nomear sucessor alegando que o poder corrompe os humanos Ravidass teraacute sido forte fonte de inspiraccedilatildeo do quinto guru sique A recente cisatildeo tem sido analisada pela imprensa internacional como uma luta dos dalit por uma efectiva igualdade social

ReFood finalmente na Mouraria Diz-se ldquorifudrdquo Eacute um projecto de voluntariado que recolhe comida na restauraccedilatildeo e a distribui pelos mais carenciados ldquoFoodrdquo em inglecircs eacute ldquocomidardquo ldquoRerdquo vem de reciclar ou reutilizar O projecto foi criado haacute trecircs anos pelo americano Hunter Halder num espaccedilo cedido pela Igreja da Nossa Senhora de Faacutetima na Praccedila

de Espanha No ano passado abriu novos nuacutecleos primeiro em Telheiras depois na Estrela e no Lumiar Distribui quinhentas refeiccedilotildees diaacuterias e tem centenas de voluntaacuterios Estatildeo em curso dezenas de aberturas com juntas de freguesia que cederatildeo espaccedilos No nosso bairro a ReFood iniciou as primeiras reuniotildees no ano passado mas soacute agora se consolidou o projecto sendo entretanto estendido a todos os bairros da freguesia de Santa Maria Maior Porquecirc a demora ldquoIa haver eleiccedilotildees e quisemos evitar acusaccedilotildees de aproveitamento poliacutetico como estava a acontecer noutros locaisrdquo esclarece Joatildeo Pedro Moreira bancaacuterio e coordenador deste nuacutecleo da ReFood entatildeo tesoureiro da Junta de Freguesia do Socorro Jaacute sem funccedilotildees poliacuteticas coordena o nuacutecleo de Santa Maria Maior e estaacute prestes a ter o aval de um espaccedilo cedido pela junta de freguesia

Nasceu a Comissatildeo Social de Freguesia de Santa Maria Maior Qualquer cidadatildeo pode e deve integrar uma comissatildeo social de freguesia ndash um oacutergatildeo previsto na lei desde 2006 mas que soacute recentemente ganhou vida praacutetica Em Santa Maria Maior a comissatildeo nasceu no dia 1 de Abril e o seu ecircxito soacute depende da motivaccedilatildeo de cada um dos seus membros Na reuniatildeo de arranque no salatildeo nobre da Academia de Recreio Artiacutestico na Rua dos Fanqueiros estiveram cinquenta das 65 entidades convocadas tendo sido dos encontros mais participados de Lisboa ndash com as associaccedilotildees da Mouraria em claro destaque No acircmbito desta comissatildeo estaacute a ser elaborado pela Universidade Catoacutelica um detalhado diagnoacutestico social do territoacuterio que serviraacute de base agrave actuaccedilatildeo dos grupos a constituir para abordagens que vatildeo desde as crianccedilas aos idosos agrave pobreza agrave violecircncia domeacutestica ou agrave toxicodependecircncia

Mais uma primavera sem jardim O jardim da Calccedilada do Monte jaacute deveria ter sido inaugurado em Setembro de 2013 Apoacutes sucessivos adiamentos a data passou para o passado mecircs de Abril mas nada O jardim foi anunciado pela cacircmara municipal como o maior parque puacuteblico dentro do espaccedilo urbano de Lisboa com um investimento de 847 mil euros

As obras jaacute comeccedilaram em Fevereiro de 2013 Depois pararam porque alegadamente havia achados arqueoloacutegicos As obras natildeo avanccedilam Natildeo haacute jardim nem respostas

Centro de Inovaccedilatildeo tambeacutem continua adiado Os adiamentos marcam tambeacutem o Centro de Inovaccedilatildeo na Mouraria (CIM) o espaccedilo de empreendedorismo e cultura no quarteiratildeo dos Lagares que deveria ter sido inaugurado em Janeiro A insolvecircncia da construtora Contrope-Congevia atrasou a obra orccedilamentada em cerca de 2 milhotildees de euros

Devia estar concluiacuteda no primeiro trimestre deste ano ou em Abril Natildeo esteve Mas jaacute faltou mais Os tapumes saiacuteram entretanto de cena deixando vislumbrar o edifiacutecio branco quase finalizado

A nova sede da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior foi inaugurada em Maio no edifiacutecio do Elevador do Castelo com acesso pela rua da Madalena ou abaixo pela dos Fanqueiros O nuacutemero de telefone central passou a ser o 210 416 300

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Tome nota Novos contactos da Junta

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Carla Rosado

Sabia que Texto e Ilustraccedilatildeo Nuno Saraiva

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 07রোউজো মোরযো

haacutebitos Texto e Fotografia Joseacute Fernandes

Parmod Kumar fiel ao movimento Hare Krishna e aluno das aulas de portuguecircs da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria

A marca de Deus

A tilaka (tambeacutem conhecida por tilka ou tika) eacute usada especialmente na testa sobre um dos principais centros ener-geacuteticos (chacras) do corpo o terceiro olho mas tambeacutem noutras onze partes incluindo os peacutes Eacute um siacutembolo de pro-tecccedilatildeo e santificaccedilatildeo

Esta marca eacute proacutepria da cultura hindu que assenta na suprema trindade Bra-hma-Vishnu-Shiva (Brahma cria Vishnu preserva e Shiva destroacutei) mas que tem inuacutemeras ramificaccedilotildees religiosas entre as quais sobressai o movimento Hare Krish-na fiel a Krishna ndash uma figura central do hinduiacutesmo que para uns foi uma encar-naccedilatildeo de Vishnu na Terra e para outros a representaccedilatildeo uacutenica de um deus su-premo Tambeacutem a tilaka assume diversas variantes consoante tambeacutem a condiccedilatildeo social (a casta) de cada um

Destacam-se duas versotildees Uma em forma de U ou de V como um diapasatildeo ou tridente ao alto Outra horizontal

composta por trecircs linhas geralmen-te com um ponto vermelho ao centro A primeira eacute tiacutepica dos que mais adoram Vishnu Eacute a tilaka vaishnava A segunda prevalece entre mais proacuteximos de Shiva e chama-se tilaka shaivites

A simbologia de cada uma destas versotildees tambeacutem varia Para uns as duas linhas do ldquodiapasatildeordquo podem representar as paredes de um templo de Krishna e Radha (sua mulher) O espaccedilo entre cada uma dessas linhas representaraacute o local onde o casal teraacute vividoPara outros cada linha representa Brahma e Shiva sendo o espaccedilo intersticial a casa de Vishnu Outros ainda defen-dem que em causa estatildeo cada uma das margens do Yamuna um dos principais

rios do Norte da Iacutendia A tilaka deve ser aplicada com o dedo anelar da matildeo di-reita ou por um material metaacutelico O traccedilo inicial deve ter aproximadamente a largura do espaccedilo entre as sobran-celhas de maneira a que se consigam desenhar duas linhas verticais Por fim faz-se a parte do U mais proacuteximo do na-riz Nessa altura apela-se ao poder dos rios da Iacutendia recitando-se este mantra Om gange cha yamune chaiva godavari sa-rasvati narmade sindhu kaveri jalersquosmin sannidhim kuru (Oacute Ganges Yamuna Godavari Sarasvati Narmada Sindhu e Kaveri tornem-se presentes nestas aacuteguas) A tinta pode ser feita a par-tir de vaacuterios materiais argila accedilafratildeo alume iodo cacircnfora cinzas ou sacircndalo Vendem-se preparados sob por exemplo a designaccedilatildeo gopi chandan Se a cor for vermelha kumkum ou sindur ver secccedilatildeo Conversas de Bazar na paacutegina 27)

Haacute quem use esta marca no dia-a-dia outros apenas em ocasiotildees especiais Entre as mulheres assume a forma de um uacuteni-co ponto vermelho que simboliza em especial a forccedila feminina Eacute o chama-do bindi bem mais popularizado aqui no ocidente do que a tilaka Este estaacute associado a Parvati deusa-matildee segun-da consorte de Shiva (a primeira eacute Sati) e progenitora de Ganhesha o popular elefante siacutembolo da sabedoria inte-lectual Segundo a tradiccedilatildeo o bindi era usado soacute pelas mulheres casadas mas deixou de lhes estar limitado e massifi-cou-se como um acessoacuterio de moda

Por que eacute que algumas pessoas desenham no centro da testa uma espeacutecie de tridente ou diapasatildeo Faz parte da cultura hindu Chama-se tilaka ndash ldquomarcardquo em sacircnscrito

Paacutetio do ColeginhoRua a Rua TextoPedro Santa Rita

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No Paacutetio do Coleginho ainda podemos encontrar o que resta da antiga Mouraria das quintas e hortas Eacute uma viagem num tempo em que a cidade de Lisboa era um aglomerado de aldeias separadas pelo verde dos campos que o crescimento urbano uniu Alcandorado na Colina do Castelo o paacutetio ainda guarda as memoacuterias bucoacutelicas que despertam os nossos sentidos Pela Rua Marquecircs de Ponte de Lima chega-se a este atraveacutes de uma iacutengreme calccedilada a fazer lembrar os antigos quebra-costas a subida a pique faz-se por entre preacutedios de belos azulejos padratildeo do seacuteculo XIX e as desgastadas

paredes cor-de-rosa de janelas gradeadas do Mosteiro de Santo Antatildeo o Velho ndash o primeiro coleacutegio dos Jesuiacutetas em Portugal no seacuteculo XVI No topo da calccedilada a paisagem eacute dominada pelas traseiras do mosteiro com o seu claustro manuelino hoje considerado um dos mais belos da cidade de Lisboa Do lado oposto ao mosteiro entre dois preacutedios avistamos um moribundo portatildeo de alvenaria com portas em chapa indica-nos a entrada do que resta de uma antiga quinta que em tempos galgava a encosta ateacute ao Teatro Taborda na Costa do Castelo A rua eacute subitamente dividida por um velho e rangente portatildeo que abre para um pequeno paacutetio um corredor estreito pavimentado em macadame ladeado por casas simples de dois andares do seacuteculo XIX e abruptamente fechado por um muro alto de pedra Sobre este penduram-se as videiras e assomam as copas das laranjeiras que nascem do outro lado um pedaccedilo verde de uma quinta que outrora pertencia ao mosteiro e residecircncia habitual da passarada que enche de chilreios e melodias as manhatildes soalheiras do paacutetio Entre as sonoridades canoras e caninas (haacute muitos catildees por este quintais) o tempo eacute marcado pelos sons graves e fortes que se soltam hora apoacutes hora dos sinos da Igreja da Graccedila confirmando a boa acuacutestica do espaccedilo O paacutetio vai fazendo o seu quotidiano entre as conversas das(os) vizinhas(os) o ritual do estender da roupa e agrave tardinha a chegada atribulada dos carros ndash aliaacutes eacute o uacutenico momento do dia

em que se ouvem os carros no paacutetio como se este fosse um cantinho protegido dos ruiacutedos da cidade Encaixado numa ldquoachadardquo da Colina do Castelo e rodeado por preacutedios as vistas e o horizonte do paacutetio satildeo dominadas pelo omnipresente Convento e Igreja da Graccedila que do alto da Colina de Santo Andreacute contempla a Costa do Castelo numa curiosa sobreposiccedilatildeo de planos a torre sineira e a fachada da igreja parecem emergir das copas arredondadas dos pinheiros mansos que arborizam o miradouro altaneiro da Graccedila Poreacutem entre o paacutetio e a colina da Graccedila existe um curioso diaacutelogo e jogo de perspectivas vista do paacutetio a colina com a sua Igreja parece estar fisicamente tatildeo proacutexima e omnipresente que nos impede de contemplar toda a encosta e o vale que separa as duas colinas Pelo contraacuterio para quem lanccedila o olhar do Miradouro da Graccedila o paacutetio tem tendecircncia a diluir-se por entre o contiacutenuo de casas telhados becos ruelas e escadinhas o mesmo acontecendo com as pessoas e os seus olhares Um outro momento maacutegico ocorre agrave noite quando as luzes brancas que iluminam o monumento da Graccedila produzem um claratildeo tatildeo intenso que parece derramar a sua luz sobre o paacutetio que se funde com o halo amarelo e tremeluzente dos antigos candeeiros do seacuteculo XIX Ao silecircncio do paacutetio vai chegando tambeacutem a algaraviada de vozes indistintas que descem do miradouro atravessadas pelo miado estridente e agressivo dos gatos da Mouraria Eacute a hora dos gatos

reportagem FotografiaCarla Rosado

TextoTeresa Melo

Chinesescelebraram o ano novo no Martim Moniz

Fechada a escola baacutesica da Madalena Santa Clara ou BaixaA escola baacutesica da Madalena cujo encerramento jaacute esteve previsto para o ano lectivo que agora termina deveraacute fechar no proacuteximo ano altura em que estaraacute finalmente pronta a nova escola no Campo de Santa Clara que substituiraacute as velhas escolas baacutesicas do Agrupamento Gil Vicente

Ateacute aqui tudo bem Ateacute o transporte que era uma preocupaccedilatildeo de muitos pais da Mouraria tambeacutem estaacute garantido seja atraveacutes da rede de transporte escolar municipal os Alfacinhas seja atraveacutes da junta de freguesia ldquoEstamos disponiacuteveis para se necessaacuterio criar um serviccedilo de transporte Natildeo seraacute por isso que as crianccedilas deixaratildeo de ir agrave escolardquo garante Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que integra cinco bairros Mouraria Alfama Castelo Baixa e Chiado

Haacute todavia uma duacutevida uma vez que tambeacutem abriraacute a nova Escola da Baixa que poder de escolha teratildeo os actuais utentes da escola da Madalena ldquoSeraacute um escacircndalo se essa escola natildeo estiver aberta a essas crianccedilas e eu farei ouvir bem alto a minha indignaccedilatildeordquo avisa Miguel Coelho As acessibilidades escolares satildeo competecircncia da cacircmara e do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas este presidente de junta tem uma palavra a dizer Alguns alunos da Mouraria poderatildeo assim frequentar a nova escola do agrupamento Gil Vicente junto agrave Feira da Ladra e outros a Escola da Baixa

A primeira funcionaraacute no antigo Convento do Desagravo do Santiacutessimo Sacramento com capacidade para 475 crianccedilas que vem substituir as velhas escolas baacutesicas do agrupamento ndash Madalena Seacute Infanta D Maria (Campo de Santa Clara) Marqueses de Taacutevora (Largo da Graccedila) Convento do Salvador (Alfama) e o Jardim de Infacircncia de Satildeo Vicente Manteacutem-se a EB1 Castelo que eacute a uacutenica em boas condiccedilotildees de funcionamento A Escola da Baixa funcionaraacute no antigo convento e tribunal da Boa Hora agrave Rua Nova do Almada tem capacidade para 150 crianccedilas (cinquenta em jardim de infacircncia) e insere-se na poliacutetica municipal de atracccedilatildeo de jovens famiacutelias agrave baixa pombalina

Colina de Santanaa poleacutemica continuaO Hospital Miguel Bombarda fechou em 2012 e para o seu lugar foi arquitectado um projecto imobiliaacuterio que inclui um hotel e uma torre de 12 andares O Hospital do Desterro fechou em 2007 e estaacute em obras para um espaccedilo de residecircncias artiacutesticas e produccedilatildeo hortiacutecola explorado pela Mainside a promotora da LX Factory em Alcacircntara Os hospitais de Satildeo Joseacute Santa Marta e dos Capuchos que servem residentes da Mouraria seratildeo transferidos para Marvila Aiacute integraratildeo o novo Hospital de Todos os Santos que incluiraacute tambeacutem o Curry Cabral o Dona Estefacircnia e a Maternidade Alfredo da Costa e que abriraacute em 2020 (esteve para ser jaacute em 2016) Os poleacutemicos projectos tecircm ido a debate na assembleia municipal e discutidos publicamente por cidadatildeos comuns e entidades como a Associaccedilatildeo Portuguesa pela Arte Outsider o ICOM-Portugal a Ordem dos Enfermeiros a Ordem dos Meacutedicos o Grupo de Amigos de Lisboa e a Sociedade de Geografia de Lisboa Os contestataacuterios dos projectos manifestaram-se no uacuteltimo desfile do 25 de Abril 3AAMC

Ano Cristatildeo 2014 l Dia de Ano Novo 1 de Janeiro

Ano Chinecircs 471 l Dia de Ano Novo 1 de Fevereiro

Ano Hindu 1936 l Dia de Ano Novo (Gudi Padwa tambeacutem conhecido como Samvatsar Padvo Yugadi ou Navreh) 31 de Marccedilo

Ano Sikh 546 l Dia de Ano Novo (Vaisakhi) 14 de Abril

Ano Budista 2558 l Dia de Ano Novo (Vesak ou Buda Purnima) 12 de Maio

Ano Judaico 5774 l Dia de Ano Novo (Rosh Hashanaacute) 5 de Setembro gt no proacuteximo dia 25 de Setembro comeccedila o ano de 5775

Ano Muccedilulmano 1435 l Dia de Ano Novo (Al-Hijra ou Muharram) 5 de Novembro gt no proacuteximo dia 25 de Outubro comeccedila o ano de 1436

Em que ano estamosDepende do aniversaacuterio do profeta de cada cultura sendo que a maioria dos dias de Ano Novo variaacutevel em funccedilatildeo de calendaacuterios lunares A Terra essa para os cientistas existe haacute 45 mil milhotildees de anos Os primeiros hominiacutedeos teratildeo surgido haacute uns cinco milhotildees e a actual espeacutecie de seres humanos homo sapiens sapiens haacute duzentos mil anos

Pela primeira vez a comunidade chinesa festejou a chegada do novo ano num evento puacuteblico organizado por todas as associaccedilotildees chinesas de Lisboa em parceria com a cacircmara municipal e a embaixada da Repuacuteblica Popular da China No passado dia 1 de Fevereiro o Ano do Cavalo chegou em grande ao Martim Moniz

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1410

editorial estaacute bem middot estaacute mal

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Carla

Ros

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E se daqui a 100 anos alguns de noacutes ainda caacute estivermos As probabilidades natildeo satildeo assim tatildeo absurdas Na Mouraria haacute duas pessoas com 100 anos Uma delas a dona Almerinda faz 101 jaacute em Agosto Tentaacutemos entrevistaacute-la nesta ediccedilatildeo mas uma queda tem-na mantido menos conversadora e teremos de aguardar A outra eacute a dona Emiacutelia Respondeu a nove perguntas que recolhemos pelo bairro entre pessoas dos 10 anos aos 90 anos (ver paacutegina 2) A dona Emiacutelia falou-nos por exemplo da ldquoescravaturardquo em que viveu O seu testemunho mostra-nos que o mundo mudou bastante num seacuteculo mas a humanidade jaacute nem tanto A ceacutelebre Liberdade--Igualdade-Fraternidade decretada na Revoluccedilatildeo Francesa haacute mais de duzentos anos continua uma receacutem-nascida com quase tudo por aprender Resultado alguns bebeacutes que hoje conhecemos poderatildeo estar daqui a 100 anos a dar uma entrevista como esta sobre vivecircncias que muito nos fazem pensarldquoA Histoacuteria julgar-nos-aacute pela diferenccedila que todos os dias fizermos na vida das crianccedilasrdquo disse Nelson Mandela (1918-2013) Ele ficou na Histoacuteria como siacutembolo da luta pela igualdade E noacutes como podemos ficar O que eacute que cada um de noacutes aqui e agora pode fazer para que os nossos bebeacutes venham a ter recordaccedilotildees mais felizes do que as da nossa centenaacuteria vizinha Nesta ediccedilatildeo o nosso contributo eacute o de sempre ajudar a que nos conheccedilamos um pouco melhor pois natildeo haacute liberdade igualdade nem fraternidade que resista agrave ignoracircncia E desta vez temos vaacuterias inovaccedilotildees Temos um tema (intergeraccedilotildees) que marca grande parte dos artigos temos um texto traduzido (paacutegina 22 em bengali) e temos uma nova secccedilatildeo Conversas de Bazar (paacutegina 27) A propoacutesito de produtos agrave venda nos bazares da Mouraria a Rosa Maria descobre pessoas e estoacuterias do mundo Deixamos por outro lado de editar a Dobra das Palavras ndash jaacute sentimos saudades dela mas aguentamos quando pensamos nas estreias desta ediccedilatildeo e na recente secccedilatildeo Haacutebitos que nos acompanha desde o nuacutemero anterior (neste estudamos o haacutebito hindu de desenhar siacutembolos na testa ndash a tilaka paacutegina 7) Abraccedilos a todos E natildeo se esqueccedilamhellip O que podemos fazer noacutes hoje para que o ano de 2114 veja os nossos centenaacuterios bebeacutes sorrir

O Mercado de Fusatildeo na Praccedila Martim Moniz estaacute mais acolhedor com os novos bancos num espaccedilo verde Estivesse a muacutesica um pouquinho mais baixa e o relax seria perfeito

O ROSA MARIA eacute um jornal sobre as pessoas e os acontecimentos da Mouraria mas tambeacutem sobre assuntos nacionais e internacionais relacionados com os seus residentes criado para preservar e divulgar o seu imenso patrimoacutenio humano histoacuterico e culturalO ROSA MARIA eacute um jornal comunitaacuterio produzido por todos os que queiram participar (jornalistas fotoacutegrafos ilustradores designers graacuteficos voluntaacuterios e moradores ou trabalhadores do bairro) e que se pautem pelos princiacutepios da solidariedade do rigor e da qualidade O ROSA MARIA eacute parte integrante da comunidade em que se insere mas totalmente comprometido com o coacutedigo deontoloacutegico que enquadra o exerciacutecio da liberdade de imprensa e independente de facccedilotildees religiosas poliacuteticas e econoacutemicasO ROSA MARIA eacute editado pela Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria desde 2010 com periodicidade semestral O seu nome eacute inspirado na miacutetica Rosa Maria imortalizada no fado Haacute Festa na Mouraria ndash uma mulher atrevida e virtuosa como esta publicaccedilatildeogt Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar nordm 899 de 9 de Junho sobre Registo dos Oacutergatildeos de Comunicaccedilatildeo Social

ROSA MARIA middot Estatuto Editorial

De olho em 2114

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Carla

Ros

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O que diratildeo os turistas das ldquoescadinhas WCrdquo por detraacutes da paragem onde fazem fila para o eleacutectrico 28 Noacutes dizemos isto inadmissiacutevel

FICHA TEacuteCNICA middot Direcccedilatildeo Inecircs Andrade Direcccedilatildeo graacutefica Hugo Henriques Ediccedilatildeo fotograacutefica Carla Rosado Ediccedilatildeo editorial Marisa Moura Revisatildeo Joatildeo Berhan e Joana Chocalhinho Publicidade Susana Simpliacutecio Traduccedilatildeo Moin uddin Ahamed e Pedro Leader Ilustraccedilatildeo Alexandra Belo Aude Barrio Hugo Henriques Nuno Saraiva Viacutetor Mingacho Passatempos Aude Barrio e Joatildeo Madeira Fotografia Augusto Fernandes Carla Rosado Diogo Lin Helena Colaccedilo Salazar Heacutelio Balinha Joseacute Fernandes Marisa Moura Nuno Moratildeo Paulo Marques Sophie Cadet Teresa Melo Yolanda Bettencourt Texto Ana Luiacutesa Rodrigues Carmen Correia Daniela Silva Joatildeo Berhan Joseacute Fernandes Luiacutes Elvas Luiacutesa Rego Marisa Moura Nuno Catarino Oriana Alves Pedro Santa Rita Raquel Albuquerque Ricardo Miguel Vieira Rita Pascaacutecio Teresa Melo Agradecimentos especiais a Andreacute Alves Antogravenia Tinture Claacuteudia Henriques Edgar Clara Heacutelder Oliveira Hugo Curado Maria Coimbra Mariana Melo Nuno Franco Paula Cosme PintoExpresso Sandra Bernardo Siacutelvia de Melo Olivenccedila e Vitorino Coragem E ainda pela cedecircncia de imagens Duck Production EGEACJoseacute Frade Museu da CidadeCML Maria do Ceacuteu Barata Nuno BotelhoExpresso Raquel CavaleiroMPAGDP e Site Norberto Arauacutejo (1889-1952) wwwnorbertoaraujoorg (copyright 2012) Joseacute Vicente de Braganccedila Jorge Quina Ribeiro de Arauacutejo e Herdeiros de Norberto de Arauacutejo Capa Helena Colaccedilo Salazar middot Propriedade Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Redacccedilatildeo administraccedilatildeo e publicidade Beco do Rosendo nordm 8 1100-460 Lisboa Tel +351 218 885 203 Tm +351 922 191 892 rosamariarenovaramourariapt Impressatildeo Funchalense ndash Empresa Graacutefica SA Distribuiccedilatildeo Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Versatildeo digital wwwrenovaramourariapt Tipos de letra Atlantica Lisboa e Tramuntana gt Ricardo Santos Depoacutesito legal 31008510 Periodicidade Semestral Tiragem 10 000 exemplares Nuacutemero sete Junho 2014 Nordm Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaccedilatildeo Social) 126509 Correcccedilatildeo Na ediccedilatildeo anterior a fotoacutegrafa Helena Colaccedilo Salazar natildeo foi incluiacuteda na ficha teacutecnica E o jornalista Samuel Alematildeo ficou na redacccedilatildeo mas sem referecircncia ao trabalho de ediccedilatildeo que tambeacutem prestou

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 11রোউজো মোরযো

reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

Mais Proximidade Melhor Vidawwwmpmvpt

E-mail geralmpmvptTelefones 213 425 268 967 258 892

967 257 550

Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

notiacutecias ARM

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

stra

ccedilotildees

por

Ale

xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

ue c

ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

tinua

a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

ento

vaacuter

ios

luga

res n

ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

a es

plan

ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

Cas

a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

aria

mod

esta

que

natildeo

era

nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

er o

senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

esp

anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

inha

alg

umas

tert

uacutelia

s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

srdquo

Anti

go

Cin

ema

Rex

ldquoTin

ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

fim-d

e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

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tica

rdquo

Pap

elar

ia

da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

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miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

inha

s tia

s par

a ar

ranj

ar e

apr

ovei

tava

par

a co

mpr

ar c

rom

os e

revi

stas

aos

qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

fato

s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

ais r

esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

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ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

to

enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

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ola

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panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

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gar agrave

bol

a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

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tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

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am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

o in

spiro

u en

quan

to

real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

fez

par

te d

a pr

imei

ra g

eraccedil

atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

div

isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

as

lava

deira

s ta

bern

as g

aleg

os c

arvo

aria

s da

s bi

lhas

de

leite

que

che

gava

m n

uma

carr

occedila

ou

da

senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

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ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

a fa

miacuteli

a lu

so-e

span

hola

o b

airr

o aj

udav

a agrave

iden

tidad

e de

M

anue

l M

ozos

ldquoC

aacute ch

amav

am-m

e lsquoo

esp

anho

lrsquo

Em E

span

ha c

hava

m-m

e lsquoo

por

tugu

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ntatildeo

diz

ia

que

era

da M

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nto

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17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

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a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

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রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

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l Moz

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Larg

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Inte

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s m

ais r

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tinua

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eita

r o b

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requ

ento

vaacuter

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luga

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ovos

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oana

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ccedilatildeo

Reno

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Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

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a ta

sca

um

a ce

rvej

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mod

esta

que

natildeo

era

nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

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com

o m

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m

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nhec

er o

senh

or R

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ria u

ma

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idad

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anhoacute

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udo

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Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

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uacutelia

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pess

oalm

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Neg

reiro

srdquo

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Cin

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Rex

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ha se

ssotildee

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antis

e a

ctiv

idad

es p

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Maj

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nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

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ros c

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O pr

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m

ais p

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ica

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Ter

reirr

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nordm

11 F

oi u

m ti

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falo

u de

le e

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mos

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star

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e jo

gar agrave

bol

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vont

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Col

egin

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quel

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port

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ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

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quei

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-pat

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sem

pat

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Rua

Mar

quecircs

de Po

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e Lim

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o nuacute

mer

o 28

ond

e m

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orda

Man

uel

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com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

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i era

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ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

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As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

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reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

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Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

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Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 5: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 05রোউজো মোরযো

Croacutenica

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Haacute 24 anos que trabalho na Mouraria e como estudante de Sociologia eacute uma sorte ter um marchante devoto do bairro como colega Chega abril e o Nuno nem com aacuteguas mil deixa de cumprir a tradiccedilatildeo A azaacutefama inicia- -se com os preparativos para as marchas populares No escritoacuterio surgem os primeiros relatos do recrutamento das medidas para os fatos ficarem ldquoa matarrdquo as primeiras marcaccedilotildees a escolha dos pares e as tentativas de convencer os mais indecisos A marcha comeccedila a ganhar forma O Nuno espera escrupulosamente pela hora do iniacutecio do ensaio sobe rua desce rua decora as letras e as marcaccedilotildees O entusiamo eacute notoacuterio no seu semblante

Os comportamentos e as dinacircmicas recorrentes ano apoacutes ano permitem a transmissatildeo de fatos culturais de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo perpetuando assim natildeo soacute a tradiccedilatildeo mas tambeacutem a rivalidade entre bairros O Nuno ilustra brilhantemente tudo aquilo que estudamos nos manuais acadeacutemicos sobre identidade Como ele diz ldquoHaacute sempre uns bairrismos depois haacute as picardias uma claque grita mais alto a outra grita mais alto ehellip envolveu-se tudo agrave porrada no pavilhatildeordquo

Eacute interessante constatar que a cacircmara municipal promove os bairros divulgando os costumes enraizados na populaccedilatildeo como atraccedilatildeo mas os marchantes natildeo datildeo grande importacircncia agrave parte turiacutestica do evento referindo-se agraves festas populares como uma festa deles e para eles ldquoA gente sente mais (eu sinto mais) a volta ao bairro do que descer a Avenidardquo As marchas e os bairros fundem-se assim em tradiccedilotildees significados rivalidades sentimentos de pertenccedila e identidades coletivas

Ser marchante envolve um conjunto de disposiccedilotildees forjadas ao longo dos tempos - e ser marchante da Mouraria natildeo eacute o mesmo que ser marchante em Alfama ldquoIeacute ieacute ieacute a nossa marcha eacute que eacuterdquo Ainda assim sendo nossa natildeo eacute ldquonossardquo da mesma maneira para todos ldquoO orgulho do bairro eacute do bairro mas se natildeo se for na marcha natildeo eacute a mesma coisa Tem de se ir para sentir o que eacute aquilordquo Eacute este orgulho este sentimento de pertenccedila enraizado que muitas vezes transborda e acerta em cheio na claque da marcha vizinha ldquoIeacute ieacute ieacute a Mouraria eacute que eacuterdquo

Joseacute Luiacutes Elvas trabalha num banco de imagens e eacute finalista da licenciatura de Sociologia na Faculdade de Ciecircncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa

ldquoIeacute ieacute ieacute a nossa marcha eacute que eacuterdquo

Primeira sala de consumo assistido de drogas prestes a nascer na Mouraria

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Mais de vinte pessoas da Mouraria jaacute cantaram em frente agraves cacircmaras do projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar Dela Proacutepria Em cima o quarteto Fateh Charan Kuidip e Sewak Abaixo Maria de Lurdes Santos Ao alto a fadista Elvira Igreja

FotografiaRaquel Cavaleiro MPAGDP

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Podemos ateacute dizer que a Mouraria estaacute na moda Mas natildeo haacute fachada caiada que o escon-da a droga continua na rua Perpetua o gueto no bairro afasta moradores turistas e investi-dores traz criminalidade e prostituiccedilatildeo destroacutei famiacutelias e estigmatiza consumidores

Em 2012 num edifiacutecio da Calccedilada de Santo de Andreacute cedido pela cacircmara nasceu o In Mou-raria centro de apoio a toxicodependentes ge-rido pelo GAT (Grupo Portuguecircs de Activistas sobre Tratamentos de VIHSIDA) Ali os con-sumidores encontram enfermeiros e psicotera-peutas que jaacute os conhecem Ali ouvem conse-lhos de ex-consumidores Ali se fazem as pontes com o centro de emprego Haacute merendas casa--de-banho e roupeiro datildeo-se seringas novas ca-chimbos e preservativos fala-se de sexo seguro e do contaacutegio de doenccedilas associado ao consumo de drogas em condiccedilotildees insalubres Tambeacutem se fazem rastreios de VIH e Hepatite B e C

Ricardo Fuertes que coordena este centro e trabalhou numa sala de consumo assistido de drogas em Barcelona sente-se de matildeos atadas Os consumidores entram satildeo aconselhados recebem seringas novas Mas chega a altura em que precisam de injectar heroiacutena ou fumar crack ndash e tecircm de o ir fazer para a rua sozinhos em caso de overdose abrigados numa ruiacutena ou

acocorados atraacutes de um carro no Benformoso A ideia de consumo assistido estaacute prevista na lei desde 1999 mas nunca foi posta em praacutetica Parece que eacute desta a versatildeo final do relatoacuterio da Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede de Lisboa e Vale do Tejo e do SICAD (ex-Instituto da Dro-ga e da Toxicodependecircncia) que recomenda a criaccedilatildeo de uma ldquoestrutura de consumo segurordquo de drogas nesta zona seraacute entregue ao Presiden-te da Cacircmara Municipal de Lisboa ainda neste Veratildeo Foi ateacute identificado o lugar ideal a Rua da Palma perto do futuro centro de sauacutede do Martim Moniz e da futura esquadra da PSP

A decisatildeo teacutecnica estaacute tomada Falta a poliacute-tica Ateacute ao fecho desta ediccedilatildeo Antoacutenio Costa nada tinha dito Resta saber se a sua candidatu-ra agrave lideranccedila do PS (e quiccedilaacute agraves legislativas do proacuteximo ano) condicionaraacute a sua decisatildeo Sabe-mos que este eacute um tema sensiacutevel campo feacutertil para populismos e preconceitos

Jaacute se tentou criar um espaccedilo assim em 2006 com a Estrateacutegia Municipal de Intervenccedilatildeo para as Dependecircncias que previa o alargamento da actividade dos Gabinetes de Apoio aos Toxico-dependentes situados em Chelas e em Benfica Passariam a chamar-se Instalaccedilotildees de Consumo Apoiado para a Recuperaccedilatildeo A sua abertura chegou a estar marcada para o segundo tri-mestre desse ano decorria entatildeo o conturbado mandato de Carmona Rodrigues independente apoiado pelo PSD (partido que mais contes-tava estes espaccedilos nas discussotildees municipais) Sempre adiada Tambeacutem no Porto se discutia o tema pela voz do padre Joseacute Maia presidente da Fundaccedilatildeo Filos

Joatildeo Meneses (coordenador do GABIP Mouraria) e Luiacutes Mendatildeo (presidente do GAT) acreditam que os moradores compreendem o que agora se propotildee natildeo um ldquospa do consumordquo mas uma casa de acolhimento que aproveite os teacutecnicos de intervenccedilatildeo comunitaacuteria meacute-dicos e enfermeiros para criar empatia com os consumidores e apostar na sua regeneraccedilatildeo e formaccedilatildeo profissional Ou seja uma casa como o In Mouraria mas com um quarto a mais Seraacute desta 3Joatildeo Berhan

E vocecircjaacute cantouSe gosta de cantar natildeo se espante se for abordado por uma simpatia de cabelo curto e oacuteculos redondos chamada Ana Paula Silvestre mais conhecida por Paleta Velhos e novos nacionais e estrangeiros amadores e profissionais tecircm cantado pelas ruas da Mouraria juntando-se a centenas de outras vozes do Minho ao Algarve Mais de vinte pessoas do bairro jaacute gravaram e muitas outras estatildeo na mira desta caccediladora de vozes que eacute uma das guias turiacutesticas da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria e a ponta-de-lanccedila da Mouraria no projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar Dela Proacutepria criado em 2011 pelo realizador Tiago Pereira O objectivo eacute gravar cinco projectos musicais por semana para criar o maior arquivo de muacutesica portuguesa As participaccedilotildees nacionais estatildeo em facebookcomamusicaportuguesaagostardelapropria e as da Mouraria organizadas no canal A Muacutesica da Mouraria a Gostar dela Proacutepria em httpmmagdptumblrcom Jaacute satildeo tantas que nem temos espaccedilo nesta ediccedilatildeo para citar todos os artistas e menos ainda para publicar todas as fotografias Eacute bom sinal

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1406

o chafariz do largo dos trigueiros eacute muito viajado Sabia que o chafariz do Largo dos Trigueiros eacute muito viajado Nos meados do seacuteculo XIX surge como bebedouro puacuteblico do passeio da Costa do Castelo Em 1888 numa

solicitaccedilatildeo do regedor da paroacutequia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo eacute plantado no Largo da Achada Eacute aiacute que o ilustrador e aguarelista Alfredo Roque Gameiro o torna famoso em duas obras (ver paacutegina 26) Nos anos 40 muda-se para o Terreirinho

das Farinhas actual Largo dos Trigueiros Este pequeno largo de origem marginal (que o olisipoacutegrafo Norberto de Arauacutejo

descreveu como um ldquocapricho de construccedilatildeo de acasordquo e uma soluccedilatildeo de ldquourbanistas antigosrdquo na correcccedilatildeo dos declives da encosta) eacute hoje um dos locais mais prazenteiros da Mouraria E este velhinho bebedouro eacute o seu ex-liacutebris

Primeiro Encontro Ravidassia na Mouraria

Mais de cem ravidasis encheram a Sala Fernando Mauriacutecio do Grupo Desportivo da Moura-ria no passado dia 9 de Maio para receberem uma sumidade Sant Niranjan Dass Ji liacuteder do santuaacuterio Dera Sach Khand em Ballan na regiatildeo indiana do Punjab Natildeo eacute a primeira vez que Sant Niranjan vem agrave Mouraria mas eacute uma estreia enquanto liacuteder de uma religiatildeo Dantes representava o movimento Ravidass integrado na religiatildeo Sique agora representa a religiatildeo Ravidassia Dharam resultante de um corte radical com o siquismo em 2010 Dantes vinha como ravidasi agora como ravidassia segundo a terminologia adoptada desde que o seu santuaacuterio decretou a nova religiatildeo na sequecircncia de um atentado na Aacuteustria A presenccedila policial natildeo passou despercebida Tem sido imprescindiacutevel desde que este liacuteder ficou ferido em 2009 em Viena no atentando feito por radicais siques que chegou mesmo a matar o seu parceiro Sant Rama Nand Seguiram-se tumultos por toda a Iacutendia e o santuaacuterio decretou a nova religiatildeo Isto sob uma chuva de criacuteticas de outros santuaacuterios radivasis que apelaram agrave uniatildeo entre todos os siques e se mantiveram como tal Ambos os alvos do atentado de Viena tinham estado em Portugal na semana anterior se-gundo Davinder Lakha 43 anos residente na Mouraria e liacuteder do Shri Guru Ravidass Sabha ndash o templo ravidassia situado nos Anjos que por ser pequeno demais para estas recepccedilotildees obrigou ao aluguer de sala no Desportivo Este seraacute o uacutenico templo ravidassia em Portugal segundo Davinder estimando-se que no total existam 1500 ravidasis neste nosso paiacutes de dez milhotildees de habitantes Na Aacuteustria satildeo o dobro numa populaccedilatildeo de oito milhotildeesConotados com a classe baixa (dalit os intocaacuteveis) os ravidasis caracterizam-se por seguirem o Guru Ravidass nascido nessa casta em 1377 Um uacutenico guru Jaacute o siquismo caracteriza-se pelos seus dez gurus O primeiro eacute o Guru Nadak nascido em 1469 e o uacuteltimo eacute Gobind Singh que morreu em 1708 sem nomear sucessor alegando que o poder corrompe os humanos Ravidass teraacute sido forte fonte de inspiraccedilatildeo do quinto guru sique A recente cisatildeo tem sido analisada pela imprensa internacional como uma luta dos dalit por uma efectiva igualdade social

ReFood finalmente na Mouraria Diz-se ldquorifudrdquo Eacute um projecto de voluntariado que recolhe comida na restauraccedilatildeo e a distribui pelos mais carenciados ldquoFoodrdquo em inglecircs eacute ldquocomidardquo ldquoRerdquo vem de reciclar ou reutilizar O projecto foi criado haacute trecircs anos pelo americano Hunter Halder num espaccedilo cedido pela Igreja da Nossa Senhora de Faacutetima na Praccedila

de Espanha No ano passado abriu novos nuacutecleos primeiro em Telheiras depois na Estrela e no Lumiar Distribui quinhentas refeiccedilotildees diaacuterias e tem centenas de voluntaacuterios Estatildeo em curso dezenas de aberturas com juntas de freguesia que cederatildeo espaccedilos No nosso bairro a ReFood iniciou as primeiras reuniotildees no ano passado mas soacute agora se consolidou o projecto sendo entretanto estendido a todos os bairros da freguesia de Santa Maria Maior Porquecirc a demora ldquoIa haver eleiccedilotildees e quisemos evitar acusaccedilotildees de aproveitamento poliacutetico como estava a acontecer noutros locaisrdquo esclarece Joatildeo Pedro Moreira bancaacuterio e coordenador deste nuacutecleo da ReFood entatildeo tesoureiro da Junta de Freguesia do Socorro Jaacute sem funccedilotildees poliacuteticas coordena o nuacutecleo de Santa Maria Maior e estaacute prestes a ter o aval de um espaccedilo cedido pela junta de freguesia

Nasceu a Comissatildeo Social de Freguesia de Santa Maria Maior Qualquer cidadatildeo pode e deve integrar uma comissatildeo social de freguesia ndash um oacutergatildeo previsto na lei desde 2006 mas que soacute recentemente ganhou vida praacutetica Em Santa Maria Maior a comissatildeo nasceu no dia 1 de Abril e o seu ecircxito soacute depende da motivaccedilatildeo de cada um dos seus membros Na reuniatildeo de arranque no salatildeo nobre da Academia de Recreio Artiacutestico na Rua dos Fanqueiros estiveram cinquenta das 65 entidades convocadas tendo sido dos encontros mais participados de Lisboa ndash com as associaccedilotildees da Mouraria em claro destaque No acircmbito desta comissatildeo estaacute a ser elaborado pela Universidade Catoacutelica um detalhado diagnoacutestico social do territoacuterio que serviraacute de base agrave actuaccedilatildeo dos grupos a constituir para abordagens que vatildeo desde as crianccedilas aos idosos agrave pobreza agrave violecircncia domeacutestica ou agrave toxicodependecircncia

Mais uma primavera sem jardim O jardim da Calccedilada do Monte jaacute deveria ter sido inaugurado em Setembro de 2013 Apoacutes sucessivos adiamentos a data passou para o passado mecircs de Abril mas nada O jardim foi anunciado pela cacircmara municipal como o maior parque puacuteblico dentro do espaccedilo urbano de Lisboa com um investimento de 847 mil euros

As obras jaacute comeccedilaram em Fevereiro de 2013 Depois pararam porque alegadamente havia achados arqueoloacutegicos As obras natildeo avanccedilam Natildeo haacute jardim nem respostas

Centro de Inovaccedilatildeo tambeacutem continua adiado Os adiamentos marcam tambeacutem o Centro de Inovaccedilatildeo na Mouraria (CIM) o espaccedilo de empreendedorismo e cultura no quarteiratildeo dos Lagares que deveria ter sido inaugurado em Janeiro A insolvecircncia da construtora Contrope-Congevia atrasou a obra orccedilamentada em cerca de 2 milhotildees de euros

Devia estar concluiacuteda no primeiro trimestre deste ano ou em Abril Natildeo esteve Mas jaacute faltou mais Os tapumes saiacuteram entretanto de cena deixando vislumbrar o edifiacutecio branco quase finalizado

A nova sede da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior foi inaugurada em Maio no edifiacutecio do Elevador do Castelo com acesso pela rua da Madalena ou abaixo pela dos Fanqueiros O nuacutemero de telefone central passou a ser o 210 416 300

BREVES

Tome nota Novos contactos da Junta

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Carla Rosado

Sabia que Texto e Ilustraccedilatildeo Nuno Saraiva

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 07রোউজো মোরযো

haacutebitos Texto e Fotografia Joseacute Fernandes

Parmod Kumar fiel ao movimento Hare Krishna e aluno das aulas de portuguecircs da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria

A marca de Deus

A tilaka (tambeacutem conhecida por tilka ou tika) eacute usada especialmente na testa sobre um dos principais centros ener-geacuteticos (chacras) do corpo o terceiro olho mas tambeacutem noutras onze partes incluindo os peacutes Eacute um siacutembolo de pro-tecccedilatildeo e santificaccedilatildeo

Esta marca eacute proacutepria da cultura hindu que assenta na suprema trindade Bra-hma-Vishnu-Shiva (Brahma cria Vishnu preserva e Shiva destroacutei) mas que tem inuacutemeras ramificaccedilotildees religiosas entre as quais sobressai o movimento Hare Krish-na fiel a Krishna ndash uma figura central do hinduiacutesmo que para uns foi uma encar-naccedilatildeo de Vishnu na Terra e para outros a representaccedilatildeo uacutenica de um deus su-premo Tambeacutem a tilaka assume diversas variantes consoante tambeacutem a condiccedilatildeo social (a casta) de cada um

Destacam-se duas versotildees Uma em forma de U ou de V como um diapasatildeo ou tridente ao alto Outra horizontal

composta por trecircs linhas geralmen-te com um ponto vermelho ao centro A primeira eacute tiacutepica dos que mais adoram Vishnu Eacute a tilaka vaishnava A segunda prevalece entre mais proacuteximos de Shiva e chama-se tilaka shaivites

A simbologia de cada uma destas versotildees tambeacutem varia Para uns as duas linhas do ldquodiapasatildeordquo podem representar as paredes de um templo de Krishna e Radha (sua mulher) O espaccedilo entre cada uma dessas linhas representaraacute o local onde o casal teraacute vividoPara outros cada linha representa Brahma e Shiva sendo o espaccedilo intersticial a casa de Vishnu Outros ainda defen-dem que em causa estatildeo cada uma das margens do Yamuna um dos principais

rios do Norte da Iacutendia A tilaka deve ser aplicada com o dedo anelar da matildeo di-reita ou por um material metaacutelico O traccedilo inicial deve ter aproximadamente a largura do espaccedilo entre as sobran-celhas de maneira a que se consigam desenhar duas linhas verticais Por fim faz-se a parte do U mais proacuteximo do na-riz Nessa altura apela-se ao poder dos rios da Iacutendia recitando-se este mantra Om gange cha yamune chaiva godavari sa-rasvati narmade sindhu kaveri jalersquosmin sannidhim kuru (Oacute Ganges Yamuna Godavari Sarasvati Narmada Sindhu e Kaveri tornem-se presentes nestas aacuteguas) A tinta pode ser feita a par-tir de vaacuterios materiais argila accedilafratildeo alume iodo cacircnfora cinzas ou sacircndalo Vendem-se preparados sob por exemplo a designaccedilatildeo gopi chandan Se a cor for vermelha kumkum ou sindur ver secccedilatildeo Conversas de Bazar na paacutegina 27)

Haacute quem use esta marca no dia-a-dia outros apenas em ocasiotildees especiais Entre as mulheres assume a forma de um uacuteni-co ponto vermelho que simboliza em especial a forccedila feminina Eacute o chama-do bindi bem mais popularizado aqui no ocidente do que a tilaka Este estaacute associado a Parvati deusa-matildee segun-da consorte de Shiva (a primeira eacute Sati) e progenitora de Ganhesha o popular elefante siacutembolo da sabedoria inte-lectual Segundo a tradiccedilatildeo o bindi era usado soacute pelas mulheres casadas mas deixou de lhes estar limitado e massifi-cou-se como um acessoacuterio de moda

Por que eacute que algumas pessoas desenham no centro da testa uma espeacutecie de tridente ou diapasatildeo Faz parte da cultura hindu Chama-se tilaka ndash ldquomarcardquo em sacircnscrito

Paacutetio do ColeginhoRua a Rua TextoPedro Santa Rita

Mar

isa M

oura

No Paacutetio do Coleginho ainda podemos encontrar o que resta da antiga Mouraria das quintas e hortas Eacute uma viagem num tempo em que a cidade de Lisboa era um aglomerado de aldeias separadas pelo verde dos campos que o crescimento urbano uniu Alcandorado na Colina do Castelo o paacutetio ainda guarda as memoacuterias bucoacutelicas que despertam os nossos sentidos Pela Rua Marquecircs de Ponte de Lima chega-se a este atraveacutes de uma iacutengreme calccedilada a fazer lembrar os antigos quebra-costas a subida a pique faz-se por entre preacutedios de belos azulejos padratildeo do seacuteculo XIX e as desgastadas

paredes cor-de-rosa de janelas gradeadas do Mosteiro de Santo Antatildeo o Velho ndash o primeiro coleacutegio dos Jesuiacutetas em Portugal no seacuteculo XVI No topo da calccedilada a paisagem eacute dominada pelas traseiras do mosteiro com o seu claustro manuelino hoje considerado um dos mais belos da cidade de Lisboa Do lado oposto ao mosteiro entre dois preacutedios avistamos um moribundo portatildeo de alvenaria com portas em chapa indica-nos a entrada do que resta de uma antiga quinta que em tempos galgava a encosta ateacute ao Teatro Taborda na Costa do Castelo A rua eacute subitamente dividida por um velho e rangente portatildeo que abre para um pequeno paacutetio um corredor estreito pavimentado em macadame ladeado por casas simples de dois andares do seacuteculo XIX e abruptamente fechado por um muro alto de pedra Sobre este penduram-se as videiras e assomam as copas das laranjeiras que nascem do outro lado um pedaccedilo verde de uma quinta que outrora pertencia ao mosteiro e residecircncia habitual da passarada que enche de chilreios e melodias as manhatildes soalheiras do paacutetio Entre as sonoridades canoras e caninas (haacute muitos catildees por este quintais) o tempo eacute marcado pelos sons graves e fortes que se soltam hora apoacutes hora dos sinos da Igreja da Graccedila confirmando a boa acuacutestica do espaccedilo O paacutetio vai fazendo o seu quotidiano entre as conversas das(os) vizinhas(os) o ritual do estender da roupa e agrave tardinha a chegada atribulada dos carros ndash aliaacutes eacute o uacutenico momento do dia

em que se ouvem os carros no paacutetio como se este fosse um cantinho protegido dos ruiacutedos da cidade Encaixado numa ldquoachadardquo da Colina do Castelo e rodeado por preacutedios as vistas e o horizonte do paacutetio satildeo dominadas pelo omnipresente Convento e Igreja da Graccedila que do alto da Colina de Santo Andreacute contempla a Costa do Castelo numa curiosa sobreposiccedilatildeo de planos a torre sineira e a fachada da igreja parecem emergir das copas arredondadas dos pinheiros mansos que arborizam o miradouro altaneiro da Graccedila Poreacutem entre o paacutetio e a colina da Graccedila existe um curioso diaacutelogo e jogo de perspectivas vista do paacutetio a colina com a sua Igreja parece estar fisicamente tatildeo proacutexima e omnipresente que nos impede de contemplar toda a encosta e o vale que separa as duas colinas Pelo contraacuterio para quem lanccedila o olhar do Miradouro da Graccedila o paacutetio tem tendecircncia a diluir-se por entre o contiacutenuo de casas telhados becos ruelas e escadinhas o mesmo acontecendo com as pessoas e os seus olhares Um outro momento maacutegico ocorre agrave noite quando as luzes brancas que iluminam o monumento da Graccedila produzem um claratildeo tatildeo intenso que parece derramar a sua luz sobre o paacutetio que se funde com o halo amarelo e tremeluzente dos antigos candeeiros do seacuteculo XIX Ao silecircncio do paacutetio vai chegando tambeacutem a algaraviada de vozes indistintas que descem do miradouro atravessadas pelo miado estridente e agressivo dos gatos da Mouraria Eacute a hora dos gatos

reportagem FotografiaCarla Rosado

TextoTeresa Melo

Chinesescelebraram o ano novo no Martim Moniz

Fechada a escola baacutesica da Madalena Santa Clara ou BaixaA escola baacutesica da Madalena cujo encerramento jaacute esteve previsto para o ano lectivo que agora termina deveraacute fechar no proacuteximo ano altura em que estaraacute finalmente pronta a nova escola no Campo de Santa Clara que substituiraacute as velhas escolas baacutesicas do Agrupamento Gil Vicente

Ateacute aqui tudo bem Ateacute o transporte que era uma preocupaccedilatildeo de muitos pais da Mouraria tambeacutem estaacute garantido seja atraveacutes da rede de transporte escolar municipal os Alfacinhas seja atraveacutes da junta de freguesia ldquoEstamos disponiacuteveis para se necessaacuterio criar um serviccedilo de transporte Natildeo seraacute por isso que as crianccedilas deixaratildeo de ir agrave escolardquo garante Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que integra cinco bairros Mouraria Alfama Castelo Baixa e Chiado

Haacute todavia uma duacutevida uma vez que tambeacutem abriraacute a nova Escola da Baixa que poder de escolha teratildeo os actuais utentes da escola da Madalena ldquoSeraacute um escacircndalo se essa escola natildeo estiver aberta a essas crianccedilas e eu farei ouvir bem alto a minha indignaccedilatildeordquo avisa Miguel Coelho As acessibilidades escolares satildeo competecircncia da cacircmara e do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas este presidente de junta tem uma palavra a dizer Alguns alunos da Mouraria poderatildeo assim frequentar a nova escola do agrupamento Gil Vicente junto agrave Feira da Ladra e outros a Escola da Baixa

A primeira funcionaraacute no antigo Convento do Desagravo do Santiacutessimo Sacramento com capacidade para 475 crianccedilas que vem substituir as velhas escolas baacutesicas do agrupamento ndash Madalena Seacute Infanta D Maria (Campo de Santa Clara) Marqueses de Taacutevora (Largo da Graccedila) Convento do Salvador (Alfama) e o Jardim de Infacircncia de Satildeo Vicente Manteacutem-se a EB1 Castelo que eacute a uacutenica em boas condiccedilotildees de funcionamento A Escola da Baixa funcionaraacute no antigo convento e tribunal da Boa Hora agrave Rua Nova do Almada tem capacidade para 150 crianccedilas (cinquenta em jardim de infacircncia) e insere-se na poliacutetica municipal de atracccedilatildeo de jovens famiacutelias agrave baixa pombalina

Colina de Santanaa poleacutemica continuaO Hospital Miguel Bombarda fechou em 2012 e para o seu lugar foi arquitectado um projecto imobiliaacuterio que inclui um hotel e uma torre de 12 andares O Hospital do Desterro fechou em 2007 e estaacute em obras para um espaccedilo de residecircncias artiacutesticas e produccedilatildeo hortiacutecola explorado pela Mainside a promotora da LX Factory em Alcacircntara Os hospitais de Satildeo Joseacute Santa Marta e dos Capuchos que servem residentes da Mouraria seratildeo transferidos para Marvila Aiacute integraratildeo o novo Hospital de Todos os Santos que incluiraacute tambeacutem o Curry Cabral o Dona Estefacircnia e a Maternidade Alfredo da Costa e que abriraacute em 2020 (esteve para ser jaacute em 2016) Os poleacutemicos projectos tecircm ido a debate na assembleia municipal e discutidos publicamente por cidadatildeos comuns e entidades como a Associaccedilatildeo Portuguesa pela Arte Outsider o ICOM-Portugal a Ordem dos Enfermeiros a Ordem dos Meacutedicos o Grupo de Amigos de Lisboa e a Sociedade de Geografia de Lisboa Os contestataacuterios dos projectos manifestaram-se no uacuteltimo desfile do 25 de Abril 3AAMC

Ano Cristatildeo 2014 l Dia de Ano Novo 1 de Janeiro

Ano Chinecircs 471 l Dia de Ano Novo 1 de Fevereiro

Ano Hindu 1936 l Dia de Ano Novo (Gudi Padwa tambeacutem conhecido como Samvatsar Padvo Yugadi ou Navreh) 31 de Marccedilo

Ano Sikh 546 l Dia de Ano Novo (Vaisakhi) 14 de Abril

Ano Budista 2558 l Dia de Ano Novo (Vesak ou Buda Purnima) 12 de Maio

Ano Judaico 5774 l Dia de Ano Novo (Rosh Hashanaacute) 5 de Setembro gt no proacuteximo dia 25 de Setembro comeccedila o ano de 5775

Ano Muccedilulmano 1435 l Dia de Ano Novo (Al-Hijra ou Muharram) 5 de Novembro gt no proacuteximo dia 25 de Outubro comeccedila o ano de 1436

Em que ano estamosDepende do aniversaacuterio do profeta de cada cultura sendo que a maioria dos dias de Ano Novo variaacutevel em funccedilatildeo de calendaacuterios lunares A Terra essa para os cientistas existe haacute 45 mil milhotildees de anos Os primeiros hominiacutedeos teratildeo surgido haacute uns cinco milhotildees e a actual espeacutecie de seres humanos homo sapiens sapiens haacute duzentos mil anos

Pela primeira vez a comunidade chinesa festejou a chegada do novo ano num evento puacuteblico organizado por todas as associaccedilotildees chinesas de Lisboa em parceria com a cacircmara municipal e a embaixada da Repuacuteblica Popular da China No passado dia 1 de Fevereiro o Ano do Cavalo chegou em grande ao Martim Moniz

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1410

editorial estaacute bem middot estaacute mal

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Carla

Ros

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E se daqui a 100 anos alguns de noacutes ainda caacute estivermos As probabilidades natildeo satildeo assim tatildeo absurdas Na Mouraria haacute duas pessoas com 100 anos Uma delas a dona Almerinda faz 101 jaacute em Agosto Tentaacutemos entrevistaacute-la nesta ediccedilatildeo mas uma queda tem-na mantido menos conversadora e teremos de aguardar A outra eacute a dona Emiacutelia Respondeu a nove perguntas que recolhemos pelo bairro entre pessoas dos 10 anos aos 90 anos (ver paacutegina 2) A dona Emiacutelia falou-nos por exemplo da ldquoescravaturardquo em que viveu O seu testemunho mostra-nos que o mundo mudou bastante num seacuteculo mas a humanidade jaacute nem tanto A ceacutelebre Liberdade--Igualdade-Fraternidade decretada na Revoluccedilatildeo Francesa haacute mais de duzentos anos continua uma receacutem-nascida com quase tudo por aprender Resultado alguns bebeacutes que hoje conhecemos poderatildeo estar daqui a 100 anos a dar uma entrevista como esta sobre vivecircncias que muito nos fazem pensarldquoA Histoacuteria julgar-nos-aacute pela diferenccedila que todos os dias fizermos na vida das crianccedilasrdquo disse Nelson Mandela (1918-2013) Ele ficou na Histoacuteria como siacutembolo da luta pela igualdade E noacutes como podemos ficar O que eacute que cada um de noacutes aqui e agora pode fazer para que os nossos bebeacutes venham a ter recordaccedilotildees mais felizes do que as da nossa centenaacuteria vizinha Nesta ediccedilatildeo o nosso contributo eacute o de sempre ajudar a que nos conheccedilamos um pouco melhor pois natildeo haacute liberdade igualdade nem fraternidade que resista agrave ignoracircncia E desta vez temos vaacuterias inovaccedilotildees Temos um tema (intergeraccedilotildees) que marca grande parte dos artigos temos um texto traduzido (paacutegina 22 em bengali) e temos uma nova secccedilatildeo Conversas de Bazar (paacutegina 27) A propoacutesito de produtos agrave venda nos bazares da Mouraria a Rosa Maria descobre pessoas e estoacuterias do mundo Deixamos por outro lado de editar a Dobra das Palavras ndash jaacute sentimos saudades dela mas aguentamos quando pensamos nas estreias desta ediccedilatildeo e na recente secccedilatildeo Haacutebitos que nos acompanha desde o nuacutemero anterior (neste estudamos o haacutebito hindu de desenhar siacutembolos na testa ndash a tilaka paacutegina 7) Abraccedilos a todos E natildeo se esqueccedilamhellip O que podemos fazer noacutes hoje para que o ano de 2114 veja os nossos centenaacuterios bebeacutes sorrir

O Mercado de Fusatildeo na Praccedila Martim Moniz estaacute mais acolhedor com os novos bancos num espaccedilo verde Estivesse a muacutesica um pouquinho mais baixa e o relax seria perfeito

O ROSA MARIA eacute um jornal sobre as pessoas e os acontecimentos da Mouraria mas tambeacutem sobre assuntos nacionais e internacionais relacionados com os seus residentes criado para preservar e divulgar o seu imenso patrimoacutenio humano histoacuterico e culturalO ROSA MARIA eacute um jornal comunitaacuterio produzido por todos os que queiram participar (jornalistas fotoacutegrafos ilustradores designers graacuteficos voluntaacuterios e moradores ou trabalhadores do bairro) e que se pautem pelos princiacutepios da solidariedade do rigor e da qualidade O ROSA MARIA eacute parte integrante da comunidade em que se insere mas totalmente comprometido com o coacutedigo deontoloacutegico que enquadra o exerciacutecio da liberdade de imprensa e independente de facccedilotildees religiosas poliacuteticas e econoacutemicasO ROSA MARIA eacute editado pela Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria desde 2010 com periodicidade semestral O seu nome eacute inspirado na miacutetica Rosa Maria imortalizada no fado Haacute Festa na Mouraria ndash uma mulher atrevida e virtuosa como esta publicaccedilatildeogt Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar nordm 899 de 9 de Junho sobre Registo dos Oacutergatildeos de Comunicaccedilatildeo Social

ROSA MARIA middot Estatuto Editorial

De olho em 2114

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Carla

Ros

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O que diratildeo os turistas das ldquoescadinhas WCrdquo por detraacutes da paragem onde fazem fila para o eleacutectrico 28 Noacutes dizemos isto inadmissiacutevel

FICHA TEacuteCNICA middot Direcccedilatildeo Inecircs Andrade Direcccedilatildeo graacutefica Hugo Henriques Ediccedilatildeo fotograacutefica Carla Rosado Ediccedilatildeo editorial Marisa Moura Revisatildeo Joatildeo Berhan e Joana Chocalhinho Publicidade Susana Simpliacutecio Traduccedilatildeo Moin uddin Ahamed e Pedro Leader Ilustraccedilatildeo Alexandra Belo Aude Barrio Hugo Henriques Nuno Saraiva Viacutetor Mingacho Passatempos Aude Barrio e Joatildeo Madeira Fotografia Augusto Fernandes Carla Rosado Diogo Lin Helena Colaccedilo Salazar Heacutelio Balinha Joseacute Fernandes Marisa Moura Nuno Moratildeo Paulo Marques Sophie Cadet Teresa Melo Yolanda Bettencourt Texto Ana Luiacutesa Rodrigues Carmen Correia Daniela Silva Joatildeo Berhan Joseacute Fernandes Luiacutes Elvas Luiacutesa Rego Marisa Moura Nuno Catarino Oriana Alves Pedro Santa Rita Raquel Albuquerque Ricardo Miguel Vieira Rita Pascaacutecio Teresa Melo Agradecimentos especiais a Andreacute Alves Antogravenia Tinture Claacuteudia Henriques Edgar Clara Heacutelder Oliveira Hugo Curado Maria Coimbra Mariana Melo Nuno Franco Paula Cosme PintoExpresso Sandra Bernardo Siacutelvia de Melo Olivenccedila e Vitorino Coragem E ainda pela cedecircncia de imagens Duck Production EGEACJoseacute Frade Museu da CidadeCML Maria do Ceacuteu Barata Nuno BotelhoExpresso Raquel CavaleiroMPAGDP e Site Norberto Arauacutejo (1889-1952) wwwnorbertoaraujoorg (copyright 2012) Joseacute Vicente de Braganccedila Jorge Quina Ribeiro de Arauacutejo e Herdeiros de Norberto de Arauacutejo Capa Helena Colaccedilo Salazar middot Propriedade Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Redacccedilatildeo administraccedilatildeo e publicidade Beco do Rosendo nordm 8 1100-460 Lisboa Tel +351 218 885 203 Tm +351 922 191 892 rosamariarenovaramourariapt Impressatildeo Funchalense ndash Empresa Graacutefica SA Distribuiccedilatildeo Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Versatildeo digital wwwrenovaramourariapt Tipos de letra Atlantica Lisboa e Tramuntana gt Ricardo Santos Depoacutesito legal 31008510 Periodicidade Semestral Tiragem 10 000 exemplares Nuacutemero sete Junho 2014 Nordm Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaccedilatildeo Social) 126509 Correcccedilatildeo Na ediccedilatildeo anterior a fotoacutegrafa Helena Colaccedilo Salazar natildeo foi incluiacuteda na ficha teacutecnica E o jornalista Samuel Alematildeo ficou na redacccedilatildeo mas sem referecircncia ao trabalho de ediccedilatildeo que tambeacutem prestou

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 11রোউজো মোরযো

reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

Mais Proximidade Melhor Vidawwwmpmvpt

E-mail geralmpmvptTelefones 213 425 268 967 258 892

967 257 550

Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

notiacutecias ARM

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

stra

ccedilotildees

por

Ale

xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

ue c

ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

tinua

a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

ento

vaacuter

ios

luga

res n

ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

a es

plan

ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

Cas

a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

aria

mod

esta

que

natildeo

era

nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

er o

senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

esp

anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

inha

alg

umas

tert

uacutelia

s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

srdquo

Anti

go

Cin

ema

Rex

ldquoTin

ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

fim-d

e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

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tica

rdquo

Pap

elar

ia

da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

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miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

inha

s tia

s par

a ar

ranj

ar e

apr

ovei

tava

par

a co

mpr

ar c

rom

os e

revi

stas

aos

qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

fato

s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

ais r

esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

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ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

to

enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

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ola

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panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

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gar agrave

bol

a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

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tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

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am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

o in

spiro

u en

quan

to

real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

fez

par

te d

a pr

imei

ra g

eraccedil

atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

div

isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

as

lava

deira

s ta

bern

as g

aleg

os c

arvo

aria

s da

s bi

lhas

de

leite

que

che

gava

m n

uma

carr

occedila

ou

da

senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

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ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

a fa

miacuteli

a lu

so-e

span

hola

o b

airr

o aj

udav

a agrave

iden

tidad

e de

M

anue

l M

ozos

ldquoC

aacute ch

amav

am-m

e lsquoo

esp

anho

lrsquo

Em E

span

ha c

hava

m-m

e lsquoo

por

tugu

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ntatildeo

diz

ia

que

era

da M

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nto

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17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

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a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

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রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

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l Moz

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Larg

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Inte

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s m

ais r

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tinua

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eita

r o b

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requ

ento

vaacuter

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luga

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ovos

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oana

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ccedilatildeo

Reno

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Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

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a ta

sca

um

a ce

rvej

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mod

esta

que

natildeo

era

nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

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com

o m

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m

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nhec

er o

senh

or R

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ria u

ma

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idad

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anhoacute

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udo

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Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

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uacutelia

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pess

oalm

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Neg

reiro

srdquo

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Cin

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Rex

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ha se

ssotildee

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antis

e a

ctiv

idad

es p

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Maj

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nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

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ros c

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O pr

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m

ais p

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ica

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Ter

reirr

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nordm

11 F

oi u

m ti

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falo

u de

le e

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mos

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star

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e jo

gar agrave

bol

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vont

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Col

egin

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quel

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port

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ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

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quei

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-pat

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sem

pat

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Rua

Mar

quecircs

de Po

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e Lim

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o nuacute

mer

o 28

ond

e m

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orda

Man

uel

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com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

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i era

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ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

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As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

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reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

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Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

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Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 6: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1406

o chafariz do largo dos trigueiros eacute muito viajado Sabia que o chafariz do Largo dos Trigueiros eacute muito viajado Nos meados do seacuteculo XIX surge como bebedouro puacuteblico do passeio da Costa do Castelo Em 1888 numa

solicitaccedilatildeo do regedor da paroacutequia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo eacute plantado no Largo da Achada Eacute aiacute que o ilustrador e aguarelista Alfredo Roque Gameiro o torna famoso em duas obras (ver paacutegina 26) Nos anos 40 muda-se para o Terreirinho

das Farinhas actual Largo dos Trigueiros Este pequeno largo de origem marginal (que o olisipoacutegrafo Norberto de Arauacutejo

descreveu como um ldquocapricho de construccedilatildeo de acasordquo e uma soluccedilatildeo de ldquourbanistas antigosrdquo na correcccedilatildeo dos declives da encosta) eacute hoje um dos locais mais prazenteiros da Mouraria E este velhinho bebedouro eacute o seu ex-liacutebris

Primeiro Encontro Ravidassia na Mouraria

Mais de cem ravidasis encheram a Sala Fernando Mauriacutecio do Grupo Desportivo da Moura-ria no passado dia 9 de Maio para receberem uma sumidade Sant Niranjan Dass Ji liacuteder do santuaacuterio Dera Sach Khand em Ballan na regiatildeo indiana do Punjab Natildeo eacute a primeira vez que Sant Niranjan vem agrave Mouraria mas eacute uma estreia enquanto liacuteder de uma religiatildeo Dantes representava o movimento Ravidass integrado na religiatildeo Sique agora representa a religiatildeo Ravidassia Dharam resultante de um corte radical com o siquismo em 2010 Dantes vinha como ravidasi agora como ravidassia segundo a terminologia adoptada desde que o seu santuaacuterio decretou a nova religiatildeo na sequecircncia de um atentado na Aacuteustria A presenccedila policial natildeo passou despercebida Tem sido imprescindiacutevel desde que este liacuteder ficou ferido em 2009 em Viena no atentando feito por radicais siques que chegou mesmo a matar o seu parceiro Sant Rama Nand Seguiram-se tumultos por toda a Iacutendia e o santuaacuterio decretou a nova religiatildeo Isto sob uma chuva de criacuteticas de outros santuaacuterios radivasis que apelaram agrave uniatildeo entre todos os siques e se mantiveram como tal Ambos os alvos do atentado de Viena tinham estado em Portugal na semana anterior se-gundo Davinder Lakha 43 anos residente na Mouraria e liacuteder do Shri Guru Ravidass Sabha ndash o templo ravidassia situado nos Anjos que por ser pequeno demais para estas recepccedilotildees obrigou ao aluguer de sala no Desportivo Este seraacute o uacutenico templo ravidassia em Portugal segundo Davinder estimando-se que no total existam 1500 ravidasis neste nosso paiacutes de dez milhotildees de habitantes Na Aacuteustria satildeo o dobro numa populaccedilatildeo de oito milhotildeesConotados com a classe baixa (dalit os intocaacuteveis) os ravidasis caracterizam-se por seguirem o Guru Ravidass nascido nessa casta em 1377 Um uacutenico guru Jaacute o siquismo caracteriza-se pelos seus dez gurus O primeiro eacute o Guru Nadak nascido em 1469 e o uacuteltimo eacute Gobind Singh que morreu em 1708 sem nomear sucessor alegando que o poder corrompe os humanos Ravidass teraacute sido forte fonte de inspiraccedilatildeo do quinto guru sique A recente cisatildeo tem sido analisada pela imprensa internacional como uma luta dos dalit por uma efectiva igualdade social

ReFood finalmente na Mouraria Diz-se ldquorifudrdquo Eacute um projecto de voluntariado que recolhe comida na restauraccedilatildeo e a distribui pelos mais carenciados ldquoFoodrdquo em inglecircs eacute ldquocomidardquo ldquoRerdquo vem de reciclar ou reutilizar O projecto foi criado haacute trecircs anos pelo americano Hunter Halder num espaccedilo cedido pela Igreja da Nossa Senhora de Faacutetima na Praccedila

de Espanha No ano passado abriu novos nuacutecleos primeiro em Telheiras depois na Estrela e no Lumiar Distribui quinhentas refeiccedilotildees diaacuterias e tem centenas de voluntaacuterios Estatildeo em curso dezenas de aberturas com juntas de freguesia que cederatildeo espaccedilos No nosso bairro a ReFood iniciou as primeiras reuniotildees no ano passado mas soacute agora se consolidou o projecto sendo entretanto estendido a todos os bairros da freguesia de Santa Maria Maior Porquecirc a demora ldquoIa haver eleiccedilotildees e quisemos evitar acusaccedilotildees de aproveitamento poliacutetico como estava a acontecer noutros locaisrdquo esclarece Joatildeo Pedro Moreira bancaacuterio e coordenador deste nuacutecleo da ReFood entatildeo tesoureiro da Junta de Freguesia do Socorro Jaacute sem funccedilotildees poliacuteticas coordena o nuacutecleo de Santa Maria Maior e estaacute prestes a ter o aval de um espaccedilo cedido pela junta de freguesia

Nasceu a Comissatildeo Social de Freguesia de Santa Maria Maior Qualquer cidadatildeo pode e deve integrar uma comissatildeo social de freguesia ndash um oacutergatildeo previsto na lei desde 2006 mas que soacute recentemente ganhou vida praacutetica Em Santa Maria Maior a comissatildeo nasceu no dia 1 de Abril e o seu ecircxito soacute depende da motivaccedilatildeo de cada um dos seus membros Na reuniatildeo de arranque no salatildeo nobre da Academia de Recreio Artiacutestico na Rua dos Fanqueiros estiveram cinquenta das 65 entidades convocadas tendo sido dos encontros mais participados de Lisboa ndash com as associaccedilotildees da Mouraria em claro destaque No acircmbito desta comissatildeo estaacute a ser elaborado pela Universidade Catoacutelica um detalhado diagnoacutestico social do territoacuterio que serviraacute de base agrave actuaccedilatildeo dos grupos a constituir para abordagens que vatildeo desde as crianccedilas aos idosos agrave pobreza agrave violecircncia domeacutestica ou agrave toxicodependecircncia

Mais uma primavera sem jardim O jardim da Calccedilada do Monte jaacute deveria ter sido inaugurado em Setembro de 2013 Apoacutes sucessivos adiamentos a data passou para o passado mecircs de Abril mas nada O jardim foi anunciado pela cacircmara municipal como o maior parque puacuteblico dentro do espaccedilo urbano de Lisboa com um investimento de 847 mil euros

As obras jaacute comeccedilaram em Fevereiro de 2013 Depois pararam porque alegadamente havia achados arqueoloacutegicos As obras natildeo avanccedilam Natildeo haacute jardim nem respostas

Centro de Inovaccedilatildeo tambeacutem continua adiado Os adiamentos marcam tambeacutem o Centro de Inovaccedilatildeo na Mouraria (CIM) o espaccedilo de empreendedorismo e cultura no quarteiratildeo dos Lagares que deveria ter sido inaugurado em Janeiro A insolvecircncia da construtora Contrope-Congevia atrasou a obra orccedilamentada em cerca de 2 milhotildees de euros

Devia estar concluiacuteda no primeiro trimestre deste ano ou em Abril Natildeo esteve Mas jaacute faltou mais Os tapumes saiacuteram entretanto de cena deixando vislumbrar o edifiacutecio branco quase finalizado

A nova sede da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior foi inaugurada em Maio no edifiacutecio do Elevador do Castelo com acesso pela rua da Madalena ou abaixo pela dos Fanqueiros O nuacutemero de telefone central passou a ser o 210 416 300

BREVES

Tome nota Novos contactos da Junta

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Carla Rosado

Sabia que Texto e Ilustraccedilatildeo Nuno Saraiva

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 07রোউজো মোরযো

haacutebitos Texto e Fotografia Joseacute Fernandes

Parmod Kumar fiel ao movimento Hare Krishna e aluno das aulas de portuguecircs da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria

A marca de Deus

A tilaka (tambeacutem conhecida por tilka ou tika) eacute usada especialmente na testa sobre um dos principais centros ener-geacuteticos (chacras) do corpo o terceiro olho mas tambeacutem noutras onze partes incluindo os peacutes Eacute um siacutembolo de pro-tecccedilatildeo e santificaccedilatildeo

Esta marca eacute proacutepria da cultura hindu que assenta na suprema trindade Bra-hma-Vishnu-Shiva (Brahma cria Vishnu preserva e Shiva destroacutei) mas que tem inuacutemeras ramificaccedilotildees religiosas entre as quais sobressai o movimento Hare Krish-na fiel a Krishna ndash uma figura central do hinduiacutesmo que para uns foi uma encar-naccedilatildeo de Vishnu na Terra e para outros a representaccedilatildeo uacutenica de um deus su-premo Tambeacutem a tilaka assume diversas variantes consoante tambeacutem a condiccedilatildeo social (a casta) de cada um

Destacam-se duas versotildees Uma em forma de U ou de V como um diapasatildeo ou tridente ao alto Outra horizontal

composta por trecircs linhas geralmen-te com um ponto vermelho ao centro A primeira eacute tiacutepica dos que mais adoram Vishnu Eacute a tilaka vaishnava A segunda prevalece entre mais proacuteximos de Shiva e chama-se tilaka shaivites

A simbologia de cada uma destas versotildees tambeacutem varia Para uns as duas linhas do ldquodiapasatildeordquo podem representar as paredes de um templo de Krishna e Radha (sua mulher) O espaccedilo entre cada uma dessas linhas representaraacute o local onde o casal teraacute vividoPara outros cada linha representa Brahma e Shiva sendo o espaccedilo intersticial a casa de Vishnu Outros ainda defen-dem que em causa estatildeo cada uma das margens do Yamuna um dos principais

rios do Norte da Iacutendia A tilaka deve ser aplicada com o dedo anelar da matildeo di-reita ou por um material metaacutelico O traccedilo inicial deve ter aproximadamente a largura do espaccedilo entre as sobran-celhas de maneira a que se consigam desenhar duas linhas verticais Por fim faz-se a parte do U mais proacuteximo do na-riz Nessa altura apela-se ao poder dos rios da Iacutendia recitando-se este mantra Om gange cha yamune chaiva godavari sa-rasvati narmade sindhu kaveri jalersquosmin sannidhim kuru (Oacute Ganges Yamuna Godavari Sarasvati Narmada Sindhu e Kaveri tornem-se presentes nestas aacuteguas) A tinta pode ser feita a par-tir de vaacuterios materiais argila accedilafratildeo alume iodo cacircnfora cinzas ou sacircndalo Vendem-se preparados sob por exemplo a designaccedilatildeo gopi chandan Se a cor for vermelha kumkum ou sindur ver secccedilatildeo Conversas de Bazar na paacutegina 27)

Haacute quem use esta marca no dia-a-dia outros apenas em ocasiotildees especiais Entre as mulheres assume a forma de um uacuteni-co ponto vermelho que simboliza em especial a forccedila feminina Eacute o chama-do bindi bem mais popularizado aqui no ocidente do que a tilaka Este estaacute associado a Parvati deusa-matildee segun-da consorte de Shiva (a primeira eacute Sati) e progenitora de Ganhesha o popular elefante siacutembolo da sabedoria inte-lectual Segundo a tradiccedilatildeo o bindi era usado soacute pelas mulheres casadas mas deixou de lhes estar limitado e massifi-cou-se como um acessoacuterio de moda

Por que eacute que algumas pessoas desenham no centro da testa uma espeacutecie de tridente ou diapasatildeo Faz parte da cultura hindu Chama-se tilaka ndash ldquomarcardquo em sacircnscrito

Paacutetio do ColeginhoRua a Rua TextoPedro Santa Rita

Mar

isa M

oura

No Paacutetio do Coleginho ainda podemos encontrar o que resta da antiga Mouraria das quintas e hortas Eacute uma viagem num tempo em que a cidade de Lisboa era um aglomerado de aldeias separadas pelo verde dos campos que o crescimento urbano uniu Alcandorado na Colina do Castelo o paacutetio ainda guarda as memoacuterias bucoacutelicas que despertam os nossos sentidos Pela Rua Marquecircs de Ponte de Lima chega-se a este atraveacutes de uma iacutengreme calccedilada a fazer lembrar os antigos quebra-costas a subida a pique faz-se por entre preacutedios de belos azulejos padratildeo do seacuteculo XIX e as desgastadas

paredes cor-de-rosa de janelas gradeadas do Mosteiro de Santo Antatildeo o Velho ndash o primeiro coleacutegio dos Jesuiacutetas em Portugal no seacuteculo XVI No topo da calccedilada a paisagem eacute dominada pelas traseiras do mosteiro com o seu claustro manuelino hoje considerado um dos mais belos da cidade de Lisboa Do lado oposto ao mosteiro entre dois preacutedios avistamos um moribundo portatildeo de alvenaria com portas em chapa indica-nos a entrada do que resta de uma antiga quinta que em tempos galgava a encosta ateacute ao Teatro Taborda na Costa do Castelo A rua eacute subitamente dividida por um velho e rangente portatildeo que abre para um pequeno paacutetio um corredor estreito pavimentado em macadame ladeado por casas simples de dois andares do seacuteculo XIX e abruptamente fechado por um muro alto de pedra Sobre este penduram-se as videiras e assomam as copas das laranjeiras que nascem do outro lado um pedaccedilo verde de uma quinta que outrora pertencia ao mosteiro e residecircncia habitual da passarada que enche de chilreios e melodias as manhatildes soalheiras do paacutetio Entre as sonoridades canoras e caninas (haacute muitos catildees por este quintais) o tempo eacute marcado pelos sons graves e fortes que se soltam hora apoacutes hora dos sinos da Igreja da Graccedila confirmando a boa acuacutestica do espaccedilo O paacutetio vai fazendo o seu quotidiano entre as conversas das(os) vizinhas(os) o ritual do estender da roupa e agrave tardinha a chegada atribulada dos carros ndash aliaacutes eacute o uacutenico momento do dia

em que se ouvem os carros no paacutetio como se este fosse um cantinho protegido dos ruiacutedos da cidade Encaixado numa ldquoachadardquo da Colina do Castelo e rodeado por preacutedios as vistas e o horizonte do paacutetio satildeo dominadas pelo omnipresente Convento e Igreja da Graccedila que do alto da Colina de Santo Andreacute contempla a Costa do Castelo numa curiosa sobreposiccedilatildeo de planos a torre sineira e a fachada da igreja parecem emergir das copas arredondadas dos pinheiros mansos que arborizam o miradouro altaneiro da Graccedila Poreacutem entre o paacutetio e a colina da Graccedila existe um curioso diaacutelogo e jogo de perspectivas vista do paacutetio a colina com a sua Igreja parece estar fisicamente tatildeo proacutexima e omnipresente que nos impede de contemplar toda a encosta e o vale que separa as duas colinas Pelo contraacuterio para quem lanccedila o olhar do Miradouro da Graccedila o paacutetio tem tendecircncia a diluir-se por entre o contiacutenuo de casas telhados becos ruelas e escadinhas o mesmo acontecendo com as pessoas e os seus olhares Um outro momento maacutegico ocorre agrave noite quando as luzes brancas que iluminam o monumento da Graccedila produzem um claratildeo tatildeo intenso que parece derramar a sua luz sobre o paacutetio que se funde com o halo amarelo e tremeluzente dos antigos candeeiros do seacuteculo XIX Ao silecircncio do paacutetio vai chegando tambeacutem a algaraviada de vozes indistintas que descem do miradouro atravessadas pelo miado estridente e agressivo dos gatos da Mouraria Eacute a hora dos gatos

reportagem FotografiaCarla Rosado

TextoTeresa Melo

Chinesescelebraram o ano novo no Martim Moniz

Fechada a escola baacutesica da Madalena Santa Clara ou BaixaA escola baacutesica da Madalena cujo encerramento jaacute esteve previsto para o ano lectivo que agora termina deveraacute fechar no proacuteximo ano altura em que estaraacute finalmente pronta a nova escola no Campo de Santa Clara que substituiraacute as velhas escolas baacutesicas do Agrupamento Gil Vicente

Ateacute aqui tudo bem Ateacute o transporte que era uma preocupaccedilatildeo de muitos pais da Mouraria tambeacutem estaacute garantido seja atraveacutes da rede de transporte escolar municipal os Alfacinhas seja atraveacutes da junta de freguesia ldquoEstamos disponiacuteveis para se necessaacuterio criar um serviccedilo de transporte Natildeo seraacute por isso que as crianccedilas deixaratildeo de ir agrave escolardquo garante Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que integra cinco bairros Mouraria Alfama Castelo Baixa e Chiado

Haacute todavia uma duacutevida uma vez que tambeacutem abriraacute a nova Escola da Baixa que poder de escolha teratildeo os actuais utentes da escola da Madalena ldquoSeraacute um escacircndalo se essa escola natildeo estiver aberta a essas crianccedilas e eu farei ouvir bem alto a minha indignaccedilatildeordquo avisa Miguel Coelho As acessibilidades escolares satildeo competecircncia da cacircmara e do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas este presidente de junta tem uma palavra a dizer Alguns alunos da Mouraria poderatildeo assim frequentar a nova escola do agrupamento Gil Vicente junto agrave Feira da Ladra e outros a Escola da Baixa

A primeira funcionaraacute no antigo Convento do Desagravo do Santiacutessimo Sacramento com capacidade para 475 crianccedilas que vem substituir as velhas escolas baacutesicas do agrupamento ndash Madalena Seacute Infanta D Maria (Campo de Santa Clara) Marqueses de Taacutevora (Largo da Graccedila) Convento do Salvador (Alfama) e o Jardim de Infacircncia de Satildeo Vicente Manteacutem-se a EB1 Castelo que eacute a uacutenica em boas condiccedilotildees de funcionamento A Escola da Baixa funcionaraacute no antigo convento e tribunal da Boa Hora agrave Rua Nova do Almada tem capacidade para 150 crianccedilas (cinquenta em jardim de infacircncia) e insere-se na poliacutetica municipal de atracccedilatildeo de jovens famiacutelias agrave baixa pombalina

Colina de Santanaa poleacutemica continuaO Hospital Miguel Bombarda fechou em 2012 e para o seu lugar foi arquitectado um projecto imobiliaacuterio que inclui um hotel e uma torre de 12 andares O Hospital do Desterro fechou em 2007 e estaacute em obras para um espaccedilo de residecircncias artiacutesticas e produccedilatildeo hortiacutecola explorado pela Mainside a promotora da LX Factory em Alcacircntara Os hospitais de Satildeo Joseacute Santa Marta e dos Capuchos que servem residentes da Mouraria seratildeo transferidos para Marvila Aiacute integraratildeo o novo Hospital de Todos os Santos que incluiraacute tambeacutem o Curry Cabral o Dona Estefacircnia e a Maternidade Alfredo da Costa e que abriraacute em 2020 (esteve para ser jaacute em 2016) Os poleacutemicos projectos tecircm ido a debate na assembleia municipal e discutidos publicamente por cidadatildeos comuns e entidades como a Associaccedilatildeo Portuguesa pela Arte Outsider o ICOM-Portugal a Ordem dos Enfermeiros a Ordem dos Meacutedicos o Grupo de Amigos de Lisboa e a Sociedade de Geografia de Lisboa Os contestataacuterios dos projectos manifestaram-se no uacuteltimo desfile do 25 de Abril 3AAMC

Ano Cristatildeo 2014 l Dia de Ano Novo 1 de Janeiro

Ano Chinecircs 471 l Dia de Ano Novo 1 de Fevereiro

Ano Hindu 1936 l Dia de Ano Novo (Gudi Padwa tambeacutem conhecido como Samvatsar Padvo Yugadi ou Navreh) 31 de Marccedilo

Ano Sikh 546 l Dia de Ano Novo (Vaisakhi) 14 de Abril

Ano Budista 2558 l Dia de Ano Novo (Vesak ou Buda Purnima) 12 de Maio

Ano Judaico 5774 l Dia de Ano Novo (Rosh Hashanaacute) 5 de Setembro gt no proacuteximo dia 25 de Setembro comeccedila o ano de 5775

Ano Muccedilulmano 1435 l Dia de Ano Novo (Al-Hijra ou Muharram) 5 de Novembro gt no proacuteximo dia 25 de Outubro comeccedila o ano de 1436

Em que ano estamosDepende do aniversaacuterio do profeta de cada cultura sendo que a maioria dos dias de Ano Novo variaacutevel em funccedilatildeo de calendaacuterios lunares A Terra essa para os cientistas existe haacute 45 mil milhotildees de anos Os primeiros hominiacutedeos teratildeo surgido haacute uns cinco milhotildees e a actual espeacutecie de seres humanos homo sapiens sapiens haacute duzentos mil anos

Pela primeira vez a comunidade chinesa festejou a chegada do novo ano num evento puacuteblico organizado por todas as associaccedilotildees chinesas de Lisboa em parceria com a cacircmara municipal e a embaixada da Repuacuteblica Popular da China No passado dia 1 de Fevereiro o Ano do Cavalo chegou em grande ao Martim Moniz

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1408

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editorial estaacute bem middot estaacute mal

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E se daqui a 100 anos alguns de noacutes ainda caacute estivermos As probabilidades natildeo satildeo assim tatildeo absurdas Na Mouraria haacute duas pessoas com 100 anos Uma delas a dona Almerinda faz 101 jaacute em Agosto Tentaacutemos entrevistaacute-la nesta ediccedilatildeo mas uma queda tem-na mantido menos conversadora e teremos de aguardar A outra eacute a dona Emiacutelia Respondeu a nove perguntas que recolhemos pelo bairro entre pessoas dos 10 anos aos 90 anos (ver paacutegina 2) A dona Emiacutelia falou-nos por exemplo da ldquoescravaturardquo em que viveu O seu testemunho mostra-nos que o mundo mudou bastante num seacuteculo mas a humanidade jaacute nem tanto A ceacutelebre Liberdade--Igualdade-Fraternidade decretada na Revoluccedilatildeo Francesa haacute mais de duzentos anos continua uma receacutem-nascida com quase tudo por aprender Resultado alguns bebeacutes que hoje conhecemos poderatildeo estar daqui a 100 anos a dar uma entrevista como esta sobre vivecircncias que muito nos fazem pensarldquoA Histoacuteria julgar-nos-aacute pela diferenccedila que todos os dias fizermos na vida das crianccedilasrdquo disse Nelson Mandela (1918-2013) Ele ficou na Histoacuteria como siacutembolo da luta pela igualdade E noacutes como podemos ficar O que eacute que cada um de noacutes aqui e agora pode fazer para que os nossos bebeacutes venham a ter recordaccedilotildees mais felizes do que as da nossa centenaacuteria vizinha Nesta ediccedilatildeo o nosso contributo eacute o de sempre ajudar a que nos conheccedilamos um pouco melhor pois natildeo haacute liberdade igualdade nem fraternidade que resista agrave ignoracircncia E desta vez temos vaacuterias inovaccedilotildees Temos um tema (intergeraccedilotildees) que marca grande parte dos artigos temos um texto traduzido (paacutegina 22 em bengali) e temos uma nova secccedilatildeo Conversas de Bazar (paacutegina 27) A propoacutesito de produtos agrave venda nos bazares da Mouraria a Rosa Maria descobre pessoas e estoacuterias do mundo Deixamos por outro lado de editar a Dobra das Palavras ndash jaacute sentimos saudades dela mas aguentamos quando pensamos nas estreias desta ediccedilatildeo e na recente secccedilatildeo Haacutebitos que nos acompanha desde o nuacutemero anterior (neste estudamos o haacutebito hindu de desenhar siacutembolos na testa ndash a tilaka paacutegina 7) Abraccedilos a todos E natildeo se esqueccedilamhellip O que podemos fazer noacutes hoje para que o ano de 2114 veja os nossos centenaacuterios bebeacutes sorrir

O Mercado de Fusatildeo na Praccedila Martim Moniz estaacute mais acolhedor com os novos bancos num espaccedilo verde Estivesse a muacutesica um pouquinho mais baixa e o relax seria perfeito

O ROSA MARIA eacute um jornal sobre as pessoas e os acontecimentos da Mouraria mas tambeacutem sobre assuntos nacionais e internacionais relacionados com os seus residentes criado para preservar e divulgar o seu imenso patrimoacutenio humano histoacuterico e culturalO ROSA MARIA eacute um jornal comunitaacuterio produzido por todos os que queiram participar (jornalistas fotoacutegrafos ilustradores designers graacuteficos voluntaacuterios e moradores ou trabalhadores do bairro) e que se pautem pelos princiacutepios da solidariedade do rigor e da qualidade O ROSA MARIA eacute parte integrante da comunidade em que se insere mas totalmente comprometido com o coacutedigo deontoloacutegico que enquadra o exerciacutecio da liberdade de imprensa e independente de facccedilotildees religiosas poliacuteticas e econoacutemicasO ROSA MARIA eacute editado pela Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria desde 2010 com periodicidade semestral O seu nome eacute inspirado na miacutetica Rosa Maria imortalizada no fado Haacute Festa na Mouraria ndash uma mulher atrevida e virtuosa como esta publicaccedilatildeogt Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar nordm 899 de 9 de Junho sobre Registo dos Oacutergatildeos de Comunicaccedilatildeo Social

ROSA MARIA middot Estatuto Editorial

De olho em 2114

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O que diratildeo os turistas das ldquoescadinhas WCrdquo por detraacutes da paragem onde fazem fila para o eleacutectrico 28 Noacutes dizemos isto inadmissiacutevel

FICHA TEacuteCNICA middot Direcccedilatildeo Inecircs Andrade Direcccedilatildeo graacutefica Hugo Henriques Ediccedilatildeo fotograacutefica Carla Rosado Ediccedilatildeo editorial Marisa Moura Revisatildeo Joatildeo Berhan e Joana Chocalhinho Publicidade Susana Simpliacutecio Traduccedilatildeo Moin uddin Ahamed e Pedro Leader Ilustraccedilatildeo Alexandra Belo Aude Barrio Hugo Henriques Nuno Saraiva Viacutetor Mingacho Passatempos Aude Barrio e Joatildeo Madeira Fotografia Augusto Fernandes Carla Rosado Diogo Lin Helena Colaccedilo Salazar Heacutelio Balinha Joseacute Fernandes Marisa Moura Nuno Moratildeo Paulo Marques Sophie Cadet Teresa Melo Yolanda Bettencourt Texto Ana Luiacutesa Rodrigues Carmen Correia Daniela Silva Joatildeo Berhan Joseacute Fernandes Luiacutes Elvas Luiacutesa Rego Marisa Moura Nuno Catarino Oriana Alves Pedro Santa Rita Raquel Albuquerque Ricardo Miguel Vieira Rita Pascaacutecio Teresa Melo Agradecimentos especiais a Andreacute Alves Antogravenia Tinture Claacuteudia Henriques Edgar Clara Heacutelder Oliveira Hugo Curado Maria Coimbra Mariana Melo Nuno Franco Paula Cosme PintoExpresso Sandra Bernardo Siacutelvia de Melo Olivenccedila e Vitorino Coragem E ainda pela cedecircncia de imagens Duck Production EGEACJoseacute Frade Museu da CidadeCML Maria do Ceacuteu Barata Nuno BotelhoExpresso Raquel CavaleiroMPAGDP e Site Norberto Arauacutejo (1889-1952) wwwnorbertoaraujoorg (copyright 2012) Joseacute Vicente de Braganccedila Jorge Quina Ribeiro de Arauacutejo e Herdeiros de Norberto de Arauacutejo Capa Helena Colaccedilo Salazar middot Propriedade Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Redacccedilatildeo administraccedilatildeo e publicidade Beco do Rosendo nordm 8 1100-460 Lisboa Tel +351 218 885 203 Tm +351 922 191 892 rosamariarenovaramourariapt Impressatildeo Funchalense ndash Empresa Graacutefica SA Distribuiccedilatildeo Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Versatildeo digital wwwrenovaramourariapt Tipos de letra Atlantica Lisboa e Tramuntana gt Ricardo Santos Depoacutesito legal 31008510 Periodicidade Semestral Tiragem 10 000 exemplares Nuacutemero sete Junho 2014 Nordm Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaccedilatildeo Social) 126509 Correcccedilatildeo Na ediccedilatildeo anterior a fotoacutegrafa Helena Colaccedilo Salazar natildeo foi incluiacuteda na ficha teacutecnica E o jornalista Samuel Alematildeo ficou na redacccedilatildeo mas sem referecircncia ao trabalho de ediccedilatildeo que tambeacutem prestou

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 11রোউজো মোরযো

reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

Mais Proximidade Melhor Vidawwwmpmvpt

E-mail geralmpmvptTelefones 213 425 268 967 258 892

967 257 550

Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

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O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

ais r

esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

qui j

ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

to

enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

agrave a

panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

ia e

tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

ndav

am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

o in

spiro

u en

quan

to

real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

fez

par

te d

a pr

imei

ra g

eraccedil

atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

div

isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

as

lava

deira

s ta

bern

as g

aleg

os c

arvo

aria

s da

s bi

lhas

de

leite

que

che

gava

m n

uma

carr

occedila

ou

da

senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

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ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

a fa

miacuteli

a lu

so-e

span

hola

o b

airr

o aj

udav

a agrave

iden

tidad

e de

M

anue

l M

ozos

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aacute ch

amav

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e lsquoo

esp

anho

lrsquo

Em E

span

ha c

hava

m-m

e lsquoo

por

tugu

ecircsrsquo E

ntatildeo

diz

ia

que

era

da M

oura

ria e

pro

nto

rdquo

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

stra

ccedilotildees

por

Ale

xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

ue c

ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

tinua

a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

ento

vaacuter

ios

luga

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ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

a es

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ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

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a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

aria

mod

esta

que

natildeo

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nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

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senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

esp

anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

inha

alg

umas

tert

uacutelia

s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

srdquo

Anti

go

Cin

ema

Rex

ldquoTin

ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

fim-d

e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

e Es

tica

rdquo

Pap

elar

ia

da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

era

miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

inha

s tia

s par

a ar

ranj

ar e

apr

ovei

tava

par

a co

mpr

ar c

rom

os e

revi

stas

aos

qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

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s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

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falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

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unca

m

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quec

irdquo

Paacuteti

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ginh

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ais r

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bol

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subi

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ao P

aacutetio

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Col

egin

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quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

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ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

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o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

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iacutelia

ldquoEst

a er

a um

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na m

ais p

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ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

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eccedila

a en

umer

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os e

stab

elec

imen

tos q

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xist

iam

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olta

ldquoAqu

i era

um

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rvoa

ria h

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tam

beacutem

um

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rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

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rdquo T

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m p

erm

anec

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s mem

oacuteria

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soria

is c

omo

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circ

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rua

A ru

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deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

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panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

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o m

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ir a

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ia e

tira

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pro

ibia

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ndar

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calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

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am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

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m p

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Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

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ho)

assin

ala

ldquoAqu

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bap

tizad

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orrin

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dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

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Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

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ando

obr

igad

o E

a su

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atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

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dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

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cria

nccedila

ndash de

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fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

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reja

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Soc

orro

(Col

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ho)

Com

o m

ilhar

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e lis

boet

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l Moz

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asce

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Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

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preg

ados

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Com

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m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

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con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

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uou

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o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

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spiro

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izad

or

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cine

ma

C

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uma

obra

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lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

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par

te d

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imei

ra g

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atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

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Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

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es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

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ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

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esp

accedilos

pe

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os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

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Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

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deira

s em

cas

as e

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isotildees

peq

uena

srdquo c

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Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

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o C

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Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

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Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

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uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

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natildeo

vin

gou

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as a

lei

taria

ali

cont

inua

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port

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bert

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No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

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tinua

m v

ivas

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im

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as p

ovoa

das

por

varin

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lava

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bern

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aleg

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aria

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lhas

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leite

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gava

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uma

carr

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da

senh

ora

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vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

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airr

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cons

truiacute

do c

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pass

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esen

te t

al c

omo

os lu

gare

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

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এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

পতত শিজ িাষা শিকার শবিািীয পরান কািতা কািত ালহ এর সাথর অশিবাসীথদর জনযে পতত শিজ কাস সমবনীয অননযে তরযে এবং শবশিনন কিিাশদ সমপথকত আিাপকাথি শতশন জানান সযপরশত মিবার এবং বহসপশত বার সকািrdquo ১১৩০ হথত ১২৩০rdquo পযতনত শিি-শকথিার সদর পতত শিজ িাষা শিকা সদযা হয

তদপশরএই কাস সমথহ তারা শবশিনন রথপ অনিীিন কথর রাথকন সযমনশবশিনন রকম িবদ উচারথণর মাযেথম তাথদর সঠিক িাথব পতত শিজ শবশিনন িবদ উচারণ শিিাথনা হযতাথদর সক শেতাঙকন এর মাযেথম শবশিনন শজশনস পথতর সাথর পশরশেত করাথনা হযতাথদর সক সংিীত েেত ার মাথম অরবা পরথতযেক সদথির শবশিনন সকৌতক িনাথনা এবং তাথদর কাছ সরথক িনার মাযেথম তাথদর সক এথক অথনযের সাথর অথিােনায মতত কশরথয পতত শিজ িাষার অথনক েেত া করাথনা হয আর এিাথবই তারা ীথর ীথর পতত শিজ িাষায শিিথত ও পডথত শিথি যায

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আথযিা যার বযস ৭ বছর সস ও বাংিাথদিী (সস ইদাশনং পতত িাি

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As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1422

reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1426

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 7: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 07রোউজো মোরযো

haacutebitos Texto e Fotografia Joseacute Fernandes

Parmod Kumar fiel ao movimento Hare Krishna e aluno das aulas de portuguecircs da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria

A marca de Deus

A tilaka (tambeacutem conhecida por tilka ou tika) eacute usada especialmente na testa sobre um dos principais centros ener-geacuteticos (chacras) do corpo o terceiro olho mas tambeacutem noutras onze partes incluindo os peacutes Eacute um siacutembolo de pro-tecccedilatildeo e santificaccedilatildeo

Esta marca eacute proacutepria da cultura hindu que assenta na suprema trindade Bra-hma-Vishnu-Shiva (Brahma cria Vishnu preserva e Shiva destroacutei) mas que tem inuacutemeras ramificaccedilotildees religiosas entre as quais sobressai o movimento Hare Krish-na fiel a Krishna ndash uma figura central do hinduiacutesmo que para uns foi uma encar-naccedilatildeo de Vishnu na Terra e para outros a representaccedilatildeo uacutenica de um deus su-premo Tambeacutem a tilaka assume diversas variantes consoante tambeacutem a condiccedilatildeo social (a casta) de cada um

Destacam-se duas versotildees Uma em forma de U ou de V como um diapasatildeo ou tridente ao alto Outra horizontal

composta por trecircs linhas geralmen-te com um ponto vermelho ao centro A primeira eacute tiacutepica dos que mais adoram Vishnu Eacute a tilaka vaishnava A segunda prevalece entre mais proacuteximos de Shiva e chama-se tilaka shaivites

A simbologia de cada uma destas versotildees tambeacutem varia Para uns as duas linhas do ldquodiapasatildeordquo podem representar as paredes de um templo de Krishna e Radha (sua mulher) O espaccedilo entre cada uma dessas linhas representaraacute o local onde o casal teraacute vividoPara outros cada linha representa Brahma e Shiva sendo o espaccedilo intersticial a casa de Vishnu Outros ainda defen-dem que em causa estatildeo cada uma das margens do Yamuna um dos principais

rios do Norte da Iacutendia A tilaka deve ser aplicada com o dedo anelar da matildeo di-reita ou por um material metaacutelico O traccedilo inicial deve ter aproximadamente a largura do espaccedilo entre as sobran-celhas de maneira a que se consigam desenhar duas linhas verticais Por fim faz-se a parte do U mais proacuteximo do na-riz Nessa altura apela-se ao poder dos rios da Iacutendia recitando-se este mantra Om gange cha yamune chaiva godavari sa-rasvati narmade sindhu kaveri jalersquosmin sannidhim kuru (Oacute Ganges Yamuna Godavari Sarasvati Narmada Sindhu e Kaveri tornem-se presentes nestas aacuteguas) A tinta pode ser feita a par-tir de vaacuterios materiais argila accedilafratildeo alume iodo cacircnfora cinzas ou sacircndalo Vendem-se preparados sob por exemplo a designaccedilatildeo gopi chandan Se a cor for vermelha kumkum ou sindur ver secccedilatildeo Conversas de Bazar na paacutegina 27)

Haacute quem use esta marca no dia-a-dia outros apenas em ocasiotildees especiais Entre as mulheres assume a forma de um uacuteni-co ponto vermelho que simboliza em especial a forccedila feminina Eacute o chama-do bindi bem mais popularizado aqui no ocidente do que a tilaka Este estaacute associado a Parvati deusa-matildee segun-da consorte de Shiva (a primeira eacute Sati) e progenitora de Ganhesha o popular elefante siacutembolo da sabedoria inte-lectual Segundo a tradiccedilatildeo o bindi era usado soacute pelas mulheres casadas mas deixou de lhes estar limitado e massifi-cou-se como um acessoacuterio de moda

Por que eacute que algumas pessoas desenham no centro da testa uma espeacutecie de tridente ou diapasatildeo Faz parte da cultura hindu Chama-se tilaka ndash ldquomarcardquo em sacircnscrito

Paacutetio do ColeginhoRua a Rua TextoPedro Santa Rita

Mar

isa M

oura

No Paacutetio do Coleginho ainda podemos encontrar o que resta da antiga Mouraria das quintas e hortas Eacute uma viagem num tempo em que a cidade de Lisboa era um aglomerado de aldeias separadas pelo verde dos campos que o crescimento urbano uniu Alcandorado na Colina do Castelo o paacutetio ainda guarda as memoacuterias bucoacutelicas que despertam os nossos sentidos Pela Rua Marquecircs de Ponte de Lima chega-se a este atraveacutes de uma iacutengreme calccedilada a fazer lembrar os antigos quebra-costas a subida a pique faz-se por entre preacutedios de belos azulejos padratildeo do seacuteculo XIX e as desgastadas

paredes cor-de-rosa de janelas gradeadas do Mosteiro de Santo Antatildeo o Velho ndash o primeiro coleacutegio dos Jesuiacutetas em Portugal no seacuteculo XVI No topo da calccedilada a paisagem eacute dominada pelas traseiras do mosteiro com o seu claustro manuelino hoje considerado um dos mais belos da cidade de Lisboa Do lado oposto ao mosteiro entre dois preacutedios avistamos um moribundo portatildeo de alvenaria com portas em chapa indica-nos a entrada do que resta de uma antiga quinta que em tempos galgava a encosta ateacute ao Teatro Taborda na Costa do Castelo A rua eacute subitamente dividida por um velho e rangente portatildeo que abre para um pequeno paacutetio um corredor estreito pavimentado em macadame ladeado por casas simples de dois andares do seacuteculo XIX e abruptamente fechado por um muro alto de pedra Sobre este penduram-se as videiras e assomam as copas das laranjeiras que nascem do outro lado um pedaccedilo verde de uma quinta que outrora pertencia ao mosteiro e residecircncia habitual da passarada que enche de chilreios e melodias as manhatildes soalheiras do paacutetio Entre as sonoridades canoras e caninas (haacute muitos catildees por este quintais) o tempo eacute marcado pelos sons graves e fortes que se soltam hora apoacutes hora dos sinos da Igreja da Graccedila confirmando a boa acuacutestica do espaccedilo O paacutetio vai fazendo o seu quotidiano entre as conversas das(os) vizinhas(os) o ritual do estender da roupa e agrave tardinha a chegada atribulada dos carros ndash aliaacutes eacute o uacutenico momento do dia

em que se ouvem os carros no paacutetio como se este fosse um cantinho protegido dos ruiacutedos da cidade Encaixado numa ldquoachadardquo da Colina do Castelo e rodeado por preacutedios as vistas e o horizonte do paacutetio satildeo dominadas pelo omnipresente Convento e Igreja da Graccedila que do alto da Colina de Santo Andreacute contempla a Costa do Castelo numa curiosa sobreposiccedilatildeo de planos a torre sineira e a fachada da igreja parecem emergir das copas arredondadas dos pinheiros mansos que arborizam o miradouro altaneiro da Graccedila Poreacutem entre o paacutetio e a colina da Graccedila existe um curioso diaacutelogo e jogo de perspectivas vista do paacutetio a colina com a sua Igreja parece estar fisicamente tatildeo proacutexima e omnipresente que nos impede de contemplar toda a encosta e o vale que separa as duas colinas Pelo contraacuterio para quem lanccedila o olhar do Miradouro da Graccedila o paacutetio tem tendecircncia a diluir-se por entre o contiacutenuo de casas telhados becos ruelas e escadinhas o mesmo acontecendo com as pessoas e os seus olhares Um outro momento maacutegico ocorre agrave noite quando as luzes brancas que iluminam o monumento da Graccedila produzem um claratildeo tatildeo intenso que parece derramar a sua luz sobre o paacutetio que se funde com o halo amarelo e tremeluzente dos antigos candeeiros do seacuteculo XIX Ao silecircncio do paacutetio vai chegando tambeacutem a algaraviada de vozes indistintas que descem do miradouro atravessadas pelo miado estridente e agressivo dos gatos da Mouraria Eacute a hora dos gatos

reportagem FotografiaCarla Rosado

TextoTeresa Melo

Chinesescelebraram o ano novo no Martim Moniz

Fechada a escola baacutesica da Madalena Santa Clara ou BaixaA escola baacutesica da Madalena cujo encerramento jaacute esteve previsto para o ano lectivo que agora termina deveraacute fechar no proacuteximo ano altura em que estaraacute finalmente pronta a nova escola no Campo de Santa Clara que substituiraacute as velhas escolas baacutesicas do Agrupamento Gil Vicente

Ateacute aqui tudo bem Ateacute o transporte que era uma preocupaccedilatildeo de muitos pais da Mouraria tambeacutem estaacute garantido seja atraveacutes da rede de transporte escolar municipal os Alfacinhas seja atraveacutes da junta de freguesia ldquoEstamos disponiacuteveis para se necessaacuterio criar um serviccedilo de transporte Natildeo seraacute por isso que as crianccedilas deixaratildeo de ir agrave escolardquo garante Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que integra cinco bairros Mouraria Alfama Castelo Baixa e Chiado

Haacute todavia uma duacutevida uma vez que tambeacutem abriraacute a nova Escola da Baixa que poder de escolha teratildeo os actuais utentes da escola da Madalena ldquoSeraacute um escacircndalo se essa escola natildeo estiver aberta a essas crianccedilas e eu farei ouvir bem alto a minha indignaccedilatildeordquo avisa Miguel Coelho As acessibilidades escolares satildeo competecircncia da cacircmara e do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas este presidente de junta tem uma palavra a dizer Alguns alunos da Mouraria poderatildeo assim frequentar a nova escola do agrupamento Gil Vicente junto agrave Feira da Ladra e outros a Escola da Baixa

A primeira funcionaraacute no antigo Convento do Desagravo do Santiacutessimo Sacramento com capacidade para 475 crianccedilas que vem substituir as velhas escolas baacutesicas do agrupamento ndash Madalena Seacute Infanta D Maria (Campo de Santa Clara) Marqueses de Taacutevora (Largo da Graccedila) Convento do Salvador (Alfama) e o Jardim de Infacircncia de Satildeo Vicente Manteacutem-se a EB1 Castelo que eacute a uacutenica em boas condiccedilotildees de funcionamento A Escola da Baixa funcionaraacute no antigo convento e tribunal da Boa Hora agrave Rua Nova do Almada tem capacidade para 150 crianccedilas (cinquenta em jardim de infacircncia) e insere-se na poliacutetica municipal de atracccedilatildeo de jovens famiacutelias agrave baixa pombalina

Colina de Santanaa poleacutemica continuaO Hospital Miguel Bombarda fechou em 2012 e para o seu lugar foi arquitectado um projecto imobiliaacuterio que inclui um hotel e uma torre de 12 andares O Hospital do Desterro fechou em 2007 e estaacute em obras para um espaccedilo de residecircncias artiacutesticas e produccedilatildeo hortiacutecola explorado pela Mainside a promotora da LX Factory em Alcacircntara Os hospitais de Satildeo Joseacute Santa Marta e dos Capuchos que servem residentes da Mouraria seratildeo transferidos para Marvila Aiacute integraratildeo o novo Hospital de Todos os Santos que incluiraacute tambeacutem o Curry Cabral o Dona Estefacircnia e a Maternidade Alfredo da Costa e que abriraacute em 2020 (esteve para ser jaacute em 2016) Os poleacutemicos projectos tecircm ido a debate na assembleia municipal e discutidos publicamente por cidadatildeos comuns e entidades como a Associaccedilatildeo Portuguesa pela Arte Outsider o ICOM-Portugal a Ordem dos Enfermeiros a Ordem dos Meacutedicos o Grupo de Amigos de Lisboa e a Sociedade de Geografia de Lisboa Os contestataacuterios dos projectos manifestaram-se no uacuteltimo desfile do 25 de Abril 3AAMC

Ano Cristatildeo 2014 l Dia de Ano Novo 1 de Janeiro

Ano Chinecircs 471 l Dia de Ano Novo 1 de Fevereiro

Ano Hindu 1936 l Dia de Ano Novo (Gudi Padwa tambeacutem conhecido como Samvatsar Padvo Yugadi ou Navreh) 31 de Marccedilo

Ano Sikh 546 l Dia de Ano Novo (Vaisakhi) 14 de Abril

Ano Budista 2558 l Dia de Ano Novo (Vesak ou Buda Purnima) 12 de Maio

Ano Judaico 5774 l Dia de Ano Novo (Rosh Hashanaacute) 5 de Setembro gt no proacuteximo dia 25 de Setembro comeccedila o ano de 5775

Ano Muccedilulmano 1435 l Dia de Ano Novo (Al-Hijra ou Muharram) 5 de Novembro gt no proacuteximo dia 25 de Outubro comeccedila o ano de 1436

Em que ano estamosDepende do aniversaacuterio do profeta de cada cultura sendo que a maioria dos dias de Ano Novo variaacutevel em funccedilatildeo de calendaacuterios lunares A Terra essa para os cientistas existe haacute 45 mil milhotildees de anos Os primeiros hominiacutedeos teratildeo surgido haacute uns cinco milhotildees e a actual espeacutecie de seres humanos homo sapiens sapiens haacute duzentos mil anos

Pela primeira vez a comunidade chinesa festejou a chegada do novo ano num evento puacuteblico organizado por todas as associaccedilotildees chinesas de Lisboa em parceria com a cacircmara municipal e a embaixada da Repuacuteblica Popular da China No passado dia 1 de Fevereiro o Ano do Cavalo chegou em grande ao Martim Moniz

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1410

editorial estaacute bem middot estaacute mal

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Carla

Ros

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E se daqui a 100 anos alguns de noacutes ainda caacute estivermos As probabilidades natildeo satildeo assim tatildeo absurdas Na Mouraria haacute duas pessoas com 100 anos Uma delas a dona Almerinda faz 101 jaacute em Agosto Tentaacutemos entrevistaacute-la nesta ediccedilatildeo mas uma queda tem-na mantido menos conversadora e teremos de aguardar A outra eacute a dona Emiacutelia Respondeu a nove perguntas que recolhemos pelo bairro entre pessoas dos 10 anos aos 90 anos (ver paacutegina 2) A dona Emiacutelia falou-nos por exemplo da ldquoescravaturardquo em que viveu O seu testemunho mostra-nos que o mundo mudou bastante num seacuteculo mas a humanidade jaacute nem tanto A ceacutelebre Liberdade--Igualdade-Fraternidade decretada na Revoluccedilatildeo Francesa haacute mais de duzentos anos continua uma receacutem-nascida com quase tudo por aprender Resultado alguns bebeacutes que hoje conhecemos poderatildeo estar daqui a 100 anos a dar uma entrevista como esta sobre vivecircncias que muito nos fazem pensarldquoA Histoacuteria julgar-nos-aacute pela diferenccedila que todos os dias fizermos na vida das crianccedilasrdquo disse Nelson Mandela (1918-2013) Ele ficou na Histoacuteria como siacutembolo da luta pela igualdade E noacutes como podemos ficar O que eacute que cada um de noacutes aqui e agora pode fazer para que os nossos bebeacutes venham a ter recordaccedilotildees mais felizes do que as da nossa centenaacuteria vizinha Nesta ediccedilatildeo o nosso contributo eacute o de sempre ajudar a que nos conheccedilamos um pouco melhor pois natildeo haacute liberdade igualdade nem fraternidade que resista agrave ignoracircncia E desta vez temos vaacuterias inovaccedilotildees Temos um tema (intergeraccedilotildees) que marca grande parte dos artigos temos um texto traduzido (paacutegina 22 em bengali) e temos uma nova secccedilatildeo Conversas de Bazar (paacutegina 27) A propoacutesito de produtos agrave venda nos bazares da Mouraria a Rosa Maria descobre pessoas e estoacuterias do mundo Deixamos por outro lado de editar a Dobra das Palavras ndash jaacute sentimos saudades dela mas aguentamos quando pensamos nas estreias desta ediccedilatildeo e na recente secccedilatildeo Haacutebitos que nos acompanha desde o nuacutemero anterior (neste estudamos o haacutebito hindu de desenhar siacutembolos na testa ndash a tilaka paacutegina 7) Abraccedilos a todos E natildeo se esqueccedilamhellip O que podemos fazer noacutes hoje para que o ano de 2114 veja os nossos centenaacuterios bebeacutes sorrir

O Mercado de Fusatildeo na Praccedila Martim Moniz estaacute mais acolhedor com os novos bancos num espaccedilo verde Estivesse a muacutesica um pouquinho mais baixa e o relax seria perfeito

O ROSA MARIA eacute um jornal sobre as pessoas e os acontecimentos da Mouraria mas tambeacutem sobre assuntos nacionais e internacionais relacionados com os seus residentes criado para preservar e divulgar o seu imenso patrimoacutenio humano histoacuterico e culturalO ROSA MARIA eacute um jornal comunitaacuterio produzido por todos os que queiram participar (jornalistas fotoacutegrafos ilustradores designers graacuteficos voluntaacuterios e moradores ou trabalhadores do bairro) e que se pautem pelos princiacutepios da solidariedade do rigor e da qualidade O ROSA MARIA eacute parte integrante da comunidade em que se insere mas totalmente comprometido com o coacutedigo deontoloacutegico que enquadra o exerciacutecio da liberdade de imprensa e independente de facccedilotildees religiosas poliacuteticas e econoacutemicasO ROSA MARIA eacute editado pela Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria desde 2010 com periodicidade semestral O seu nome eacute inspirado na miacutetica Rosa Maria imortalizada no fado Haacute Festa na Mouraria ndash uma mulher atrevida e virtuosa como esta publicaccedilatildeogt Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar nordm 899 de 9 de Junho sobre Registo dos Oacutergatildeos de Comunicaccedilatildeo Social

ROSA MARIA middot Estatuto Editorial

De olho em 2114

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Ros

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O que diratildeo os turistas das ldquoescadinhas WCrdquo por detraacutes da paragem onde fazem fila para o eleacutectrico 28 Noacutes dizemos isto inadmissiacutevel

FICHA TEacuteCNICA middot Direcccedilatildeo Inecircs Andrade Direcccedilatildeo graacutefica Hugo Henriques Ediccedilatildeo fotograacutefica Carla Rosado Ediccedilatildeo editorial Marisa Moura Revisatildeo Joatildeo Berhan e Joana Chocalhinho Publicidade Susana Simpliacutecio Traduccedilatildeo Moin uddin Ahamed e Pedro Leader Ilustraccedilatildeo Alexandra Belo Aude Barrio Hugo Henriques Nuno Saraiva Viacutetor Mingacho Passatempos Aude Barrio e Joatildeo Madeira Fotografia Augusto Fernandes Carla Rosado Diogo Lin Helena Colaccedilo Salazar Heacutelio Balinha Joseacute Fernandes Marisa Moura Nuno Moratildeo Paulo Marques Sophie Cadet Teresa Melo Yolanda Bettencourt Texto Ana Luiacutesa Rodrigues Carmen Correia Daniela Silva Joatildeo Berhan Joseacute Fernandes Luiacutes Elvas Luiacutesa Rego Marisa Moura Nuno Catarino Oriana Alves Pedro Santa Rita Raquel Albuquerque Ricardo Miguel Vieira Rita Pascaacutecio Teresa Melo Agradecimentos especiais a Andreacute Alves Antogravenia Tinture Claacuteudia Henriques Edgar Clara Heacutelder Oliveira Hugo Curado Maria Coimbra Mariana Melo Nuno Franco Paula Cosme PintoExpresso Sandra Bernardo Siacutelvia de Melo Olivenccedila e Vitorino Coragem E ainda pela cedecircncia de imagens Duck Production EGEACJoseacute Frade Museu da CidadeCML Maria do Ceacuteu Barata Nuno BotelhoExpresso Raquel CavaleiroMPAGDP e Site Norberto Arauacutejo (1889-1952) wwwnorbertoaraujoorg (copyright 2012) Joseacute Vicente de Braganccedila Jorge Quina Ribeiro de Arauacutejo e Herdeiros de Norberto de Arauacutejo Capa Helena Colaccedilo Salazar middot Propriedade Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Redacccedilatildeo administraccedilatildeo e publicidade Beco do Rosendo nordm 8 1100-460 Lisboa Tel +351 218 885 203 Tm +351 922 191 892 rosamariarenovaramourariapt Impressatildeo Funchalense ndash Empresa Graacutefica SA Distribuiccedilatildeo Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Versatildeo digital wwwrenovaramourariapt Tipos de letra Atlantica Lisboa e Tramuntana gt Ricardo Santos Depoacutesito legal 31008510 Periodicidade Semestral Tiragem 10 000 exemplares Nuacutemero sete Junho 2014 Nordm Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaccedilatildeo Social) 126509 Correcccedilatildeo Na ediccedilatildeo anterior a fotoacutegrafa Helena Colaccedilo Salazar natildeo foi incluiacuteda na ficha teacutecnica E o jornalista Samuel Alematildeo ficou na redacccedilatildeo mas sem referecircncia ao trabalho de ediccedilatildeo que tambeacutem prestou

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 11রোউজো মোরযো

reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

Mais Proximidade Melhor Vidawwwmpmvpt

E-mail geralmpmvptTelefones 213 425 268 967 258 892

967 257 550

Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

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(উথলেিযে আমাথদর সদথি সযমন পরাইমারী শবদযোিথযর সমাপনী পরীকা সিষ হয ৫ম সরেনীর পর পতত িাি এ হয ৪রত সরেনীর পর এবং এই পরীকা ো জাতীয িাথব হয)

সি সরথক েথর পডা শিিথদর জনযে করণীয আথিােনা সবথেথয িরবিপণত াপ হথত পাথর পরথতযেক সকই দাশযতব শনথয তাথদর সাথর আথিােনা করা উশেত বন সদর উশেত তাথদর দদনশদিন কাযতকরম এর সবিযো এবং শকিাথব পতত শিজ িাষার অনিীিন করা হথয রাথক সি তা বণতনা করা তাথদর কাথছ যারা শনযশমত সথি যায না অরবা সমপণত রথপ সি তযোি কথর সেথিথছ তাথতই কথর হথব শক তারা ও িাষা শিকার সকথত আগহী হথব আবার অনযে শদথক তাথত হথব শক তারা তাথদর অনযে সদথির বন সদর সাথর ও সযািাথযাি করথত পারথব এথত কথর আমাথদর সমৌরাশরযা সত বসবাস কশর সকি বহমাশতক জনিশষ নানান জাশতর ও বহসংসশতর শবকাি ঘেথব

িাষা শিকার সকথত শপতামাতার িশমকা অনসবীকাযত তাথদর সক শবদযোিথযর শবশিনন আোর অনষাথন আমনতরণ জানাথনা সযথত পাথর সযমন বড-শদথনর(খীষ মাস) অনষাথন অরবা বাশষতক পকত ার সিথষ েিােথির শদথন এথত কথর তারাও উদীশপত হথবন এবং শনথজথদর সনতান সদর সিিার জনযে উদীপত করথবন এবং উনারাও সামাশজক িাথবই পতত শিজ সমাথজ মীসার সথযাি পাথবন

উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

Carla

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

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Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 8: Rosa Maria nº7

reportagem FotografiaCarla Rosado

TextoTeresa Melo

Chinesescelebraram o ano novo no Martim Moniz

Fechada a escola baacutesica da Madalena Santa Clara ou BaixaA escola baacutesica da Madalena cujo encerramento jaacute esteve previsto para o ano lectivo que agora termina deveraacute fechar no proacuteximo ano altura em que estaraacute finalmente pronta a nova escola no Campo de Santa Clara que substituiraacute as velhas escolas baacutesicas do Agrupamento Gil Vicente

Ateacute aqui tudo bem Ateacute o transporte que era uma preocupaccedilatildeo de muitos pais da Mouraria tambeacutem estaacute garantido seja atraveacutes da rede de transporte escolar municipal os Alfacinhas seja atraveacutes da junta de freguesia ldquoEstamos disponiacuteveis para se necessaacuterio criar um serviccedilo de transporte Natildeo seraacute por isso que as crianccedilas deixaratildeo de ir agrave escolardquo garante Miguel Coelho presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que integra cinco bairros Mouraria Alfama Castelo Baixa e Chiado

Haacute todavia uma duacutevida uma vez que tambeacutem abriraacute a nova Escola da Baixa que poder de escolha teratildeo os actuais utentes da escola da Madalena ldquoSeraacute um escacircndalo se essa escola natildeo estiver aberta a essas crianccedilas e eu farei ouvir bem alto a minha indignaccedilatildeordquo avisa Miguel Coelho As acessibilidades escolares satildeo competecircncia da cacircmara e do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo mas este presidente de junta tem uma palavra a dizer Alguns alunos da Mouraria poderatildeo assim frequentar a nova escola do agrupamento Gil Vicente junto agrave Feira da Ladra e outros a Escola da Baixa

A primeira funcionaraacute no antigo Convento do Desagravo do Santiacutessimo Sacramento com capacidade para 475 crianccedilas que vem substituir as velhas escolas baacutesicas do agrupamento ndash Madalena Seacute Infanta D Maria (Campo de Santa Clara) Marqueses de Taacutevora (Largo da Graccedila) Convento do Salvador (Alfama) e o Jardim de Infacircncia de Satildeo Vicente Manteacutem-se a EB1 Castelo que eacute a uacutenica em boas condiccedilotildees de funcionamento A Escola da Baixa funcionaraacute no antigo convento e tribunal da Boa Hora agrave Rua Nova do Almada tem capacidade para 150 crianccedilas (cinquenta em jardim de infacircncia) e insere-se na poliacutetica municipal de atracccedilatildeo de jovens famiacutelias agrave baixa pombalina

Colina de Santanaa poleacutemica continuaO Hospital Miguel Bombarda fechou em 2012 e para o seu lugar foi arquitectado um projecto imobiliaacuterio que inclui um hotel e uma torre de 12 andares O Hospital do Desterro fechou em 2007 e estaacute em obras para um espaccedilo de residecircncias artiacutesticas e produccedilatildeo hortiacutecola explorado pela Mainside a promotora da LX Factory em Alcacircntara Os hospitais de Satildeo Joseacute Santa Marta e dos Capuchos que servem residentes da Mouraria seratildeo transferidos para Marvila Aiacute integraratildeo o novo Hospital de Todos os Santos que incluiraacute tambeacutem o Curry Cabral o Dona Estefacircnia e a Maternidade Alfredo da Costa e que abriraacute em 2020 (esteve para ser jaacute em 2016) Os poleacutemicos projectos tecircm ido a debate na assembleia municipal e discutidos publicamente por cidadatildeos comuns e entidades como a Associaccedilatildeo Portuguesa pela Arte Outsider o ICOM-Portugal a Ordem dos Enfermeiros a Ordem dos Meacutedicos o Grupo de Amigos de Lisboa e a Sociedade de Geografia de Lisboa Os contestataacuterios dos projectos manifestaram-se no uacuteltimo desfile do 25 de Abril 3AAMC

Ano Cristatildeo 2014 l Dia de Ano Novo 1 de Janeiro

Ano Chinecircs 471 l Dia de Ano Novo 1 de Fevereiro

Ano Hindu 1936 l Dia de Ano Novo (Gudi Padwa tambeacutem conhecido como Samvatsar Padvo Yugadi ou Navreh) 31 de Marccedilo

Ano Sikh 546 l Dia de Ano Novo (Vaisakhi) 14 de Abril

Ano Budista 2558 l Dia de Ano Novo (Vesak ou Buda Purnima) 12 de Maio

Ano Judaico 5774 l Dia de Ano Novo (Rosh Hashanaacute) 5 de Setembro gt no proacuteximo dia 25 de Setembro comeccedila o ano de 5775

Ano Muccedilulmano 1435 l Dia de Ano Novo (Al-Hijra ou Muharram) 5 de Novembro gt no proacuteximo dia 25 de Outubro comeccedila o ano de 1436

Em que ano estamosDepende do aniversaacuterio do profeta de cada cultura sendo que a maioria dos dias de Ano Novo variaacutevel em funccedilatildeo de calendaacuterios lunares A Terra essa para os cientistas existe haacute 45 mil milhotildees de anos Os primeiros hominiacutedeos teratildeo surgido haacute uns cinco milhotildees e a actual espeacutecie de seres humanos homo sapiens sapiens haacute duzentos mil anos

Pela primeira vez a comunidade chinesa festejou a chegada do novo ano num evento puacuteblico organizado por todas as associaccedilotildees chinesas de Lisboa em parceria com a cacircmara municipal e a embaixada da Repuacuteblica Popular da China No passado dia 1 de Fevereiro o Ano do Cavalo chegou em grande ao Martim Moniz

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1408

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1410

editorial estaacute bem middot estaacute mal

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Carla

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E se daqui a 100 anos alguns de noacutes ainda caacute estivermos As probabilidades natildeo satildeo assim tatildeo absurdas Na Mouraria haacute duas pessoas com 100 anos Uma delas a dona Almerinda faz 101 jaacute em Agosto Tentaacutemos entrevistaacute-la nesta ediccedilatildeo mas uma queda tem-na mantido menos conversadora e teremos de aguardar A outra eacute a dona Emiacutelia Respondeu a nove perguntas que recolhemos pelo bairro entre pessoas dos 10 anos aos 90 anos (ver paacutegina 2) A dona Emiacutelia falou-nos por exemplo da ldquoescravaturardquo em que viveu O seu testemunho mostra-nos que o mundo mudou bastante num seacuteculo mas a humanidade jaacute nem tanto A ceacutelebre Liberdade--Igualdade-Fraternidade decretada na Revoluccedilatildeo Francesa haacute mais de duzentos anos continua uma receacutem-nascida com quase tudo por aprender Resultado alguns bebeacutes que hoje conhecemos poderatildeo estar daqui a 100 anos a dar uma entrevista como esta sobre vivecircncias que muito nos fazem pensarldquoA Histoacuteria julgar-nos-aacute pela diferenccedila que todos os dias fizermos na vida das crianccedilasrdquo disse Nelson Mandela (1918-2013) Ele ficou na Histoacuteria como siacutembolo da luta pela igualdade E noacutes como podemos ficar O que eacute que cada um de noacutes aqui e agora pode fazer para que os nossos bebeacutes venham a ter recordaccedilotildees mais felizes do que as da nossa centenaacuteria vizinha Nesta ediccedilatildeo o nosso contributo eacute o de sempre ajudar a que nos conheccedilamos um pouco melhor pois natildeo haacute liberdade igualdade nem fraternidade que resista agrave ignoracircncia E desta vez temos vaacuterias inovaccedilotildees Temos um tema (intergeraccedilotildees) que marca grande parte dos artigos temos um texto traduzido (paacutegina 22 em bengali) e temos uma nova secccedilatildeo Conversas de Bazar (paacutegina 27) A propoacutesito de produtos agrave venda nos bazares da Mouraria a Rosa Maria descobre pessoas e estoacuterias do mundo Deixamos por outro lado de editar a Dobra das Palavras ndash jaacute sentimos saudades dela mas aguentamos quando pensamos nas estreias desta ediccedilatildeo e na recente secccedilatildeo Haacutebitos que nos acompanha desde o nuacutemero anterior (neste estudamos o haacutebito hindu de desenhar siacutembolos na testa ndash a tilaka paacutegina 7) Abraccedilos a todos E natildeo se esqueccedilamhellip O que podemos fazer noacutes hoje para que o ano de 2114 veja os nossos centenaacuterios bebeacutes sorrir

O Mercado de Fusatildeo na Praccedila Martim Moniz estaacute mais acolhedor com os novos bancos num espaccedilo verde Estivesse a muacutesica um pouquinho mais baixa e o relax seria perfeito

O ROSA MARIA eacute um jornal sobre as pessoas e os acontecimentos da Mouraria mas tambeacutem sobre assuntos nacionais e internacionais relacionados com os seus residentes criado para preservar e divulgar o seu imenso patrimoacutenio humano histoacuterico e culturalO ROSA MARIA eacute um jornal comunitaacuterio produzido por todos os que queiram participar (jornalistas fotoacutegrafos ilustradores designers graacuteficos voluntaacuterios e moradores ou trabalhadores do bairro) e que se pautem pelos princiacutepios da solidariedade do rigor e da qualidade O ROSA MARIA eacute parte integrante da comunidade em que se insere mas totalmente comprometido com o coacutedigo deontoloacutegico que enquadra o exerciacutecio da liberdade de imprensa e independente de facccedilotildees religiosas poliacuteticas e econoacutemicasO ROSA MARIA eacute editado pela Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria desde 2010 com periodicidade semestral O seu nome eacute inspirado na miacutetica Rosa Maria imortalizada no fado Haacute Festa na Mouraria ndash uma mulher atrevida e virtuosa como esta publicaccedilatildeogt Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar nordm 899 de 9 de Junho sobre Registo dos Oacutergatildeos de Comunicaccedilatildeo Social

ROSA MARIA middot Estatuto Editorial

De olho em 2114

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O que diratildeo os turistas das ldquoescadinhas WCrdquo por detraacutes da paragem onde fazem fila para o eleacutectrico 28 Noacutes dizemos isto inadmissiacutevel

FICHA TEacuteCNICA middot Direcccedilatildeo Inecircs Andrade Direcccedilatildeo graacutefica Hugo Henriques Ediccedilatildeo fotograacutefica Carla Rosado Ediccedilatildeo editorial Marisa Moura Revisatildeo Joatildeo Berhan e Joana Chocalhinho Publicidade Susana Simpliacutecio Traduccedilatildeo Moin uddin Ahamed e Pedro Leader Ilustraccedilatildeo Alexandra Belo Aude Barrio Hugo Henriques Nuno Saraiva Viacutetor Mingacho Passatempos Aude Barrio e Joatildeo Madeira Fotografia Augusto Fernandes Carla Rosado Diogo Lin Helena Colaccedilo Salazar Heacutelio Balinha Joseacute Fernandes Marisa Moura Nuno Moratildeo Paulo Marques Sophie Cadet Teresa Melo Yolanda Bettencourt Texto Ana Luiacutesa Rodrigues Carmen Correia Daniela Silva Joatildeo Berhan Joseacute Fernandes Luiacutes Elvas Luiacutesa Rego Marisa Moura Nuno Catarino Oriana Alves Pedro Santa Rita Raquel Albuquerque Ricardo Miguel Vieira Rita Pascaacutecio Teresa Melo Agradecimentos especiais a Andreacute Alves Antogravenia Tinture Claacuteudia Henriques Edgar Clara Heacutelder Oliveira Hugo Curado Maria Coimbra Mariana Melo Nuno Franco Paula Cosme PintoExpresso Sandra Bernardo Siacutelvia de Melo Olivenccedila e Vitorino Coragem E ainda pela cedecircncia de imagens Duck Production EGEACJoseacute Frade Museu da CidadeCML Maria do Ceacuteu Barata Nuno BotelhoExpresso Raquel CavaleiroMPAGDP e Site Norberto Arauacutejo (1889-1952) wwwnorbertoaraujoorg (copyright 2012) Joseacute Vicente de Braganccedila Jorge Quina Ribeiro de Arauacutejo e Herdeiros de Norberto de Arauacutejo Capa Helena Colaccedilo Salazar middot Propriedade Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Redacccedilatildeo administraccedilatildeo e publicidade Beco do Rosendo nordm 8 1100-460 Lisboa Tel +351 218 885 203 Tm +351 922 191 892 rosamariarenovaramourariapt Impressatildeo Funchalense ndash Empresa Graacutefica SA Distribuiccedilatildeo Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Versatildeo digital wwwrenovaramourariapt Tipos de letra Atlantica Lisboa e Tramuntana gt Ricardo Santos Depoacutesito legal 31008510 Periodicidade Semestral Tiragem 10 000 exemplares Nuacutemero sete Junho 2014 Nordm Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaccedilatildeo Social) 126509 Correcccedilatildeo Na ediccedilatildeo anterior a fotoacutegrafa Helena Colaccedilo Salazar natildeo foi incluiacuteda na ficha teacutecnica E o jornalista Samuel Alematildeo ficou na redacccedilatildeo mas sem referecircncia ao trabalho de ediccedilatildeo que tambeacutem prestou

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 11রোউজো মোরযো

reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

Mais Proximidade Melhor Vidawwwmpmvpt

E-mail geralmpmvptTelefones 213 425 268 967 258 892

967 257 550

Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

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17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

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luga

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agrave a

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bol

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

বথিনএই শবদযোিথয অযোযনরত সকি শিকারথী এর পরশত সমান মথনাথযাি এবং সমান অগাশকার সদযা তাথদর সক কাথস অনিীিন কাথি সবতাশক সেষা করা হয যাথত তাথদর পথক কাথসর সাবথজকট সমপনত রকম ব িমযে হযএর জনযে মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিয ২০১১ সত এশব নং ৭৫ নামক একটি নতন পদধশত সশষ করা হথযথছ যাথত কথর তাথদর সযন কাথস অনিীিন কাথি তাথদর সকি সাবথজকট এর মমতারত বেথত কষ নাহ হয

এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

পতত শিজ িাষা শিকার শবিািীয পরান কািতা কািত ালহ এর সাথর অশিবাসীথদর জনযে পতত শিজ কাস সমবনীয অননযে তরযে এবং শবশিনন কিিাশদ সমপথকত আিাপকাথি শতশন জানান সযপরশত মিবার এবং বহসপশত বার সকািrdquo ১১৩০ হথত ১২৩০rdquo পযতনত শিি-শকথিার সদর পতত শিজ িাষা শিকা সদযা হয

তদপশরএই কাস সমথহ তারা শবশিনন রথপ অনিীিন কথর রাথকন সযমনশবশিনন রকম িবদ উচারথণর মাযেথম তাথদর সঠিক িাথব পতত শিজ শবশিনন িবদ উচারণ শিিাথনা হযতাথদর সক শেতাঙকন এর মাযেথম শবশিনন শজশনস পথতর সাথর পশরশেত করাথনা হযতাথদর সক সংিীত েেত ার মাথম অরবা পরথতযেক সদথির শবশিনন সকৌতক িনাথনা এবং তাথদর কাছ সরথক িনার মাযেথম তাথদর সক এথক অথনযের সাথর অথিােনায মতত কশরথয পতত শিজ িাষার অথনক েেত া করাথনা হয আর এিাথবই তারা ীথর ীথর পতত শিজ িাষায শিিথত ও পডথত শিথি যায

শতশন আথরা বথিনঅথনক শিকারথী সক তাথদর জীবথনর শবশিনন রকম অশিজঞতার করা বিথত বিা হথয রাথক এমশন একজন বাংিাথদিী পতত শিজ িাষা শিকারথী উজবিতার কাথছ তার শবথিষ একটি অশিজঞতার করা জানথত োওযা হথি সস বথি থয সি একটি পাস-কওযার (ইসার-সানথড) অনষাথন সস অংিগহন কথর সসিাথন সস অথনক আথিা সদথি যা তাথক অশিিত কথর আর এই অনষাথন সস শবশিনন রকম েকথিে িায সস আথরা জানায সয সসিাথন সবাই এথক অপরথক সহথযাশিতা কথর সযমন

আথযিা যার বযস ৭ বছর সস ও বাংিাথদিী (সস ইদাশনং পতত িাি

এ এথসথছ তাই িাষা জাথন না) আথযিা সবিাবতই অথনক শকছ জাথন না ও সবার কাথছ শজথগেস করথতশছি এো ওো শক আর অনযে সবাই তাথক অনবাদ কথর বিশছি সয এোর নাম

এছাডাওসরেণী-কথক অথনক সময তারা যশদ শিশককার শবশিনন পরথনের মাথন বেথত না পাথর তিন শিকারথীরা এথক অথনযের সহথযাশিতা সনয

পরাপত বযসথদর জনযে কাস ির হয দপর ২০০ ো হথত শবথকি ৪০০ পযতনত এই কাস এ পরাপত বযস অশিবাসীথদর পতত শিজ িাষায বাকযে িঠন এবং বাথকযের সংশমরেন শিিাথনা হয তাছাডাওশবশিনন িথবদর মাযেথম বাথকযের সঠিক উচারণ সিিাথনা হয এবং শবশিনন ছশবর মাযেথম দদনশদিন সববহত দতজসপতাশদর নাম সিিাথনা হয এবং সংিযোর পশরেয ও সববহার সিিাথনা হয

সবতপশর বযেকযোরণ ও একো িবই পরথযাজনীয অযোয যা তাথদর সক শিকা সদযা িবই দরকার কারণ অশিবাসী শিি-শকথিাররা বযেকযোরণ এর শবশিনন াপ িথিা বথে উঠথত পারথছ নাহ কারণ তাথদর সরথক আমাথদর বযেকযোরণ একে শিনন আর এর জনযে তারা ঠিক মত আমাথদর বযেকযোরণ িথিা সক উপিশধি করথত পারথছ না এর দরন তারা পরীকায সতমন একো িাথিা করথত পারথছ নাহ তাই হযতবাহ আিামী বছর ৪রত সগড(শবদযোিথযর পাঠথরেণী) উততীণত হথত পারথব নাহ

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সি সরথক েথর পডা শিিথদর জনযে করণীয আথিােনা সবথেথয িরবিপণত াপ হথত পাথর পরথতযেক সকই দাশযতব শনথয তাথদর সাথর আথিােনা করা উশেত বন সদর উশেত তাথদর দদনশদিন কাযতকরম এর সবিযো এবং শকিাথব পতত শিজ িাষার অনিীিন করা হথয রাথক সি তা বণতনা করা তাথদর কাথছ যারা শনযশমত সথি যায না অরবা সমপণত রথপ সি তযোি কথর সেথিথছ তাথতই কথর হথব শক তারা ও িাষা শিকার সকথত আগহী হথব আবার অনযে শদথক তাথত হথব শক তারা তাথদর অনযে সদথির বন সদর সাথর ও সযািাথযাি করথত পারথব এথত কথর আমাথদর সমৌরাশরযা সত বসবাস কশর সকি বহমাশতক জনিশষ নানান জাশতর ও বহসংসশতর শবকাি ঘেথব

িাষা শিকার সকথত শপতামাতার িশমকা অনসবীকাযত তাথদর সক শবদযোিথযর শবশিনন আোর অনষাথন আমনতরণ জানাথনা সযথত পাথর সযমন বড-শদথনর(খীষ মাস) অনষাথন অরবা বাশষতক পকত ার সিথষ েিােথির শদথন এথত কথর তারাও উদীশপত হথবন এবং শনথজথদর সনতান সদর সিিার জনযে উদীপত করথবন এবং উনারাও সামাশজক িাথবই পতত শিজ সমাথজ মীসার সথযাি পাথবন

উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

Carla

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 23রোউজো মোরযো

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 9: Rosa Maria nº7

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1410

editorial estaacute bem middot estaacute mal

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E se daqui a 100 anos alguns de noacutes ainda caacute estivermos As probabilidades natildeo satildeo assim tatildeo absurdas Na Mouraria haacute duas pessoas com 100 anos Uma delas a dona Almerinda faz 101 jaacute em Agosto Tentaacutemos entrevistaacute-la nesta ediccedilatildeo mas uma queda tem-na mantido menos conversadora e teremos de aguardar A outra eacute a dona Emiacutelia Respondeu a nove perguntas que recolhemos pelo bairro entre pessoas dos 10 anos aos 90 anos (ver paacutegina 2) A dona Emiacutelia falou-nos por exemplo da ldquoescravaturardquo em que viveu O seu testemunho mostra-nos que o mundo mudou bastante num seacuteculo mas a humanidade jaacute nem tanto A ceacutelebre Liberdade--Igualdade-Fraternidade decretada na Revoluccedilatildeo Francesa haacute mais de duzentos anos continua uma receacutem-nascida com quase tudo por aprender Resultado alguns bebeacutes que hoje conhecemos poderatildeo estar daqui a 100 anos a dar uma entrevista como esta sobre vivecircncias que muito nos fazem pensarldquoA Histoacuteria julgar-nos-aacute pela diferenccedila que todos os dias fizermos na vida das crianccedilasrdquo disse Nelson Mandela (1918-2013) Ele ficou na Histoacuteria como siacutembolo da luta pela igualdade E noacutes como podemos ficar O que eacute que cada um de noacutes aqui e agora pode fazer para que os nossos bebeacutes venham a ter recordaccedilotildees mais felizes do que as da nossa centenaacuteria vizinha Nesta ediccedilatildeo o nosso contributo eacute o de sempre ajudar a que nos conheccedilamos um pouco melhor pois natildeo haacute liberdade igualdade nem fraternidade que resista agrave ignoracircncia E desta vez temos vaacuterias inovaccedilotildees Temos um tema (intergeraccedilotildees) que marca grande parte dos artigos temos um texto traduzido (paacutegina 22 em bengali) e temos uma nova secccedilatildeo Conversas de Bazar (paacutegina 27) A propoacutesito de produtos agrave venda nos bazares da Mouraria a Rosa Maria descobre pessoas e estoacuterias do mundo Deixamos por outro lado de editar a Dobra das Palavras ndash jaacute sentimos saudades dela mas aguentamos quando pensamos nas estreias desta ediccedilatildeo e na recente secccedilatildeo Haacutebitos que nos acompanha desde o nuacutemero anterior (neste estudamos o haacutebito hindu de desenhar siacutembolos na testa ndash a tilaka paacutegina 7) Abraccedilos a todos E natildeo se esqueccedilamhellip O que podemos fazer noacutes hoje para que o ano de 2114 veja os nossos centenaacuterios bebeacutes sorrir

O Mercado de Fusatildeo na Praccedila Martim Moniz estaacute mais acolhedor com os novos bancos num espaccedilo verde Estivesse a muacutesica um pouquinho mais baixa e o relax seria perfeito

O ROSA MARIA eacute um jornal sobre as pessoas e os acontecimentos da Mouraria mas tambeacutem sobre assuntos nacionais e internacionais relacionados com os seus residentes criado para preservar e divulgar o seu imenso patrimoacutenio humano histoacuterico e culturalO ROSA MARIA eacute um jornal comunitaacuterio produzido por todos os que queiram participar (jornalistas fotoacutegrafos ilustradores designers graacuteficos voluntaacuterios e moradores ou trabalhadores do bairro) e que se pautem pelos princiacutepios da solidariedade do rigor e da qualidade O ROSA MARIA eacute parte integrante da comunidade em que se insere mas totalmente comprometido com o coacutedigo deontoloacutegico que enquadra o exerciacutecio da liberdade de imprensa e independente de facccedilotildees religiosas poliacuteticas e econoacutemicasO ROSA MARIA eacute editado pela Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria desde 2010 com periodicidade semestral O seu nome eacute inspirado na miacutetica Rosa Maria imortalizada no fado Haacute Festa na Mouraria ndash uma mulher atrevida e virtuosa como esta publicaccedilatildeogt Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar nordm 899 de 9 de Junho sobre Registo dos Oacutergatildeos de Comunicaccedilatildeo Social

ROSA MARIA middot Estatuto Editorial

De olho em 2114

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O que diratildeo os turistas das ldquoescadinhas WCrdquo por detraacutes da paragem onde fazem fila para o eleacutectrico 28 Noacutes dizemos isto inadmissiacutevel

FICHA TEacuteCNICA middot Direcccedilatildeo Inecircs Andrade Direcccedilatildeo graacutefica Hugo Henriques Ediccedilatildeo fotograacutefica Carla Rosado Ediccedilatildeo editorial Marisa Moura Revisatildeo Joatildeo Berhan e Joana Chocalhinho Publicidade Susana Simpliacutecio Traduccedilatildeo Moin uddin Ahamed e Pedro Leader Ilustraccedilatildeo Alexandra Belo Aude Barrio Hugo Henriques Nuno Saraiva Viacutetor Mingacho Passatempos Aude Barrio e Joatildeo Madeira Fotografia Augusto Fernandes Carla Rosado Diogo Lin Helena Colaccedilo Salazar Heacutelio Balinha Joseacute Fernandes Marisa Moura Nuno Moratildeo Paulo Marques Sophie Cadet Teresa Melo Yolanda Bettencourt Texto Ana Luiacutesa Rodrigues Carmen Correia Daniela Silva Joatildeo Berhan Joseacute Fernandes Luiacutes Elvas Luiacutesa Rego Marisa Moura Nuno Catarino Oriana Alves Pedro Santa Rita Raquel Albuquerque Ricardo Miguel Vieira Rita Pascaacutecio Teresa Melo Agradecimentos especiais a Andreacute Alves Antogravenia Tinture Claacuteudia Henriques Edgar Clara Heacutelder Oliveira Hugo Curado Maria Coimbra Mariana Melo Nuno Franco Paula Cosme PintoExpresso Sandra Bernardo Siacutelvia de Melo Olivenccedila e Vitorino Coragem E ainda pela cedecircncia de imagens Duck Production EGEACJoseacute Frade Museu da CidadeCML Maria do Ceacuteu Barata Nuno BotelhoExpresso Raquel CavaleiroMPAGDP e Site Norberto Arauacutejo (1889-1952) wwwnorbertoaraujoorg (copyright 2012) Joseacute Vicente de Braganccedila Jorge Quina Ribeiro de Arauacutejo e Herdeiros de Norberto de Arauacutejo Capa Helena Colaccedilo Salazar middot Propriedade Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Redacccedilatildeo administraccedilatildeo e publicidade Beco do Rosendo nordm 8 1100-460 Lisboa Tel +351 218 885 203 Tm +351 922 191 892 rosamariarenovaramourariapt Impressatildeo Funchalense ndash Empresa Graacutefica SA Distribuiccedilatildeo Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Versatildeo digital wwwrenovaramourariapt Tipos de letra Atlantica Lisboa e Tramuntana gt Ricardo Santos Depoacutesito legal 31008510 Periodicidade Semestral Tiragem 10 000 exemplares Nuacutemero sete Junho 2014 Nordm Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaccedilatildeo Social) 126509 Correcccedilatildeo Na ediccedilatildeo anterior a fotoacutegrafa Helena Colaccedilo Salazar natildeo foi incluiacuteda na ficha teacutecnica E o jornalista Samuel Alematildeo ficou na redacccedilatildeo mas sem referecircncia ao trabalho de ediccedilatildeo que tambeacutem prestou

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 11রোউজো মোরযো

reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

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E-mail geralmpmvptTelefones 213 425 268 967 258 892

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Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

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m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

ais r

esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

qui j

ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

to

enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

agrave a

panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

ia e

tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

ndav

am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

o in

spiro

u en

quan

to

real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

fez

par

te d

a pr

imei

ra g

eraccedil

atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

div

isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

as

lava

deira

s ta

bern

as g

aleg

os c

arvo

aria

s da

s bi

lhas

de

leite

que

che

gava

m n

uma

carr

occedila

ou

da

senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

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ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

a fa

miacuteli

a lu

so-e

span

hola

o b

airr

o aj

udav

a agrave

iden

tidad

e de

M

anue

l M

ozos

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aacute ch

amav

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e lsquoo

esp

anho

lrsquo

Em E

span

ha c

hava

m-m

e lsquoo

por

tugu

ecircsrsquo E

ntatildeo

diz

ia

que

era

da M

oura

ria e

pro

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rdquo

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

stra

ccedilotildees

por

Ale

xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

ue c

ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

tinua

a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

ento

vaacuter

ios

luga

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ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

a es

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ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

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a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

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mod

esta

que

natildeo

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nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

er o

senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

esp

anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

inha

alg

umas

tert

uacutelia

s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

srdquo

Anti

go

Cin

ema

Rex

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ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

fim-d

e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

e Es

tica

rdquo

Pap

elar

ia

da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

era

miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

inha

s tia

s par

a ar

ranj

ar e

apr

ovei

tava

par

a co

mpr

ar c

rom

os e

revi

stas

aos

qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

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s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

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quec

irdquo

Paacuteti

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ginh

oPa

ra e

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ais r

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arda

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bol

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subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

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quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

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ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

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soria

is c

omo

a do

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circ

ulav

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rua

A ru

a er

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gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

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panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

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sem

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o m

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ir a

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ia e

tira

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rdquo A

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orid

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beacutem

pro

ibia

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ndar

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calccedil

o ndash

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sso

as v

arin

as a

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am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

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m p

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Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

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dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

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Afin

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dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

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cria

nccedila

ndash de

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fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

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l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

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preg

ados

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Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

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spiro

u en

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real

izad

or

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cine

ma

C

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uma

obra

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lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

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par

te d

a pr

imei

ra g

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atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

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Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

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es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

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ns-

port

ou c

oisa

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ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

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esp

accedilos

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os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

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isotildees

peq

uena

srdquo c

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Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

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o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

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rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

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port

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bert

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No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

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lava

deira

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bern

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aleg

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aria

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s bi

lhas

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leite

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che

gava

m n

uma

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occedila

ou

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senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

afe

ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

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এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

পতত শিজ িাষা শিকার শবিািীয পরান কািতা কািত ালহ এর সাথর অশিবাসীথদর জনযে পতত শিজ কাস সমবনীয অননযে তরযে এবং শবশিনন কিিাশদ সমপথকত আিাপকাথি শতশন জানান সযপরশত মিবার এবং বহসপশত বার সকািrdquo ১১৩০ হথত ১২৩০rdquo পযতনত শিি-শকথিার সদর পতত শিজ িাষা শিকা সদযা হয

তদপশরএই কাস সমথহ তারা শবশিনন রথপ অনিীিন কথর রাথকন সযমনশবশিনন রকম িবদ উচারথণর মাযেথম তাথদর সঠিক িাথব পতত শিজ শবশিনন িবদ উচারণ শিিাথনা হযতাথদর সক শেতাঙকন এর মাযেথম শবশিনন শজশনস পথতর সাথর পশরশেত করাথনা হযতাথদর সক সংিীত েেত ার মাথম অরবা পরথতযেক সদথির শবশিনন সকৌতক িনাথনা এবং তাথদর কাছ সরথক িনার মাযেথম তাথদর সক এথক অথনযের সাথর অথিােনায মতত কশরথয পতত শিজ িাষার অথনক েেত া করাথনা হয আর এিাথবই তারা ীথর ীথর পতত শিজ িাষায শিিথত ও পডথত শিথি যায

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আথযিা যার বযস ৭ বছর সস ও বাংিাথদিী (সস ইদাশনং পতত িাি

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As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1422

reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1426

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 10: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1410

editorial estaacute bem middot estaacute mal

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E se daqui a 100 anos alguns de noacutes ainda caacute estivermos As probabilidades natildeo satildeo assim tatildeo absurdas Na Mouraria haacute duas pessoas com 100 anos Uma delas a dona Almerinda faz 101 jaacute em Agosto Tentaacutemos entrevistaacute-la nesta ediccedilatildeo mas uma queda tem-na mantido menos conversadora e teremos de aguardar A outra eacute a dona Emiacutelia Respondeu a nove perguntas que recolhemos pelo bairro entre pessoas dos 10 anos aos 90 anos (ver paacutegina 2) A dona Emiacutelia falou-nos por exemplo da ldquoescravaturardquo em que viveu O seu testemunho mostra-nos que o mundo mudou bastante num seacuteculo mas a humanidade jaacute nem tanto A ceacutelebre Liberdade--Igualdade-Fraternidade decretada na Revoluccedilatildeo Francesa haacute mais de duzentos anos continua uma receacutem-nascida com quase tudo por aprender Resultado alguns bebeacutes que hoje conhecemos poderatildeo estar daqui a 100 anos a dar uma entrevista como esta sobre vivecircncias que muito nos fazem pensarldquoA Histoacuteria julgar-nos-aacute pela diferenccedila que todos os dias fizermos na vida das crianccedilasrdquo disse Nelson Mandela (1918-2013) Ele ficou na Histoacuteria como siacutembolo da luta pela igualdade E noacutes como podemos ficar O que eacute que cada um de noacutes aqui e agora pode fazer para que os nossos bebeacutes venham a ter recordaccedilotildees mais felizes do que as da nossa centenaacuteria vizinha Nesta ediccedilatildeo o nosso contributo eacute o de sempre ajudar a que nos conheccedilamos um pouco melhor pois natildeo haacute liberdade igualdade nem fraternidade que resista agrave ignoracircncia E desta vez temos vaacuterias inovaccedilotildees Temos um tema (intergeraccedilotildees) que marca grande parte dos artigos temos um texto traduzido (paacutegina 22 em bengali) e temos uma nova secccedilatildeo Conversas de Bazar (paacutegina 27) A propoacutesito de produtos agrave venda nos bazares da Mouraria a Rosa Maria descobre pessoas e estoacuterias do mundo Deixamos por outro lado de editar a Dobra das Palavras ndash jaacute sentimos saudades dela mas aguentamos quando pensamos nas estreias desta ediccedilatildeo e na recente secccedilatildeo Haacutebitos que nos acompanha desde o nuacutemero anterior (neste estudamos o haacutebito hindu de desenhar siacutembolos na testa ndash a tilaka paacutegina 7) Abraccedilos a todos E natildeo se esqueccedilamhellip O que podemos fazer noacutes hoje para que o ano de 2114 veja os nossos centenaacuterios bebeacutes sorrir

O Mercado de Fusatildeo na Praccedila Martim Moniz estaacute mais acolhedor com os novos bancos num espaccedilo verde Estivesse a muacutesica um pouquinho mais baixa e o relax seria perfeito

O ROSA MARIA eacute um jornal sobre as pessoas e os acontecimentos da Mouraria mas tambeacutem sobre assuntos nacionais e internacionais relacionados com os seus residentes criado para preservar e divulgar o seu imenso patrimoacutenio humano histoacuterico e culturalO ROSA MARIA eacute um jornal comunitaacuterio produzido por todos os que queiram participar (jornalistas fotoacutegrafos ilustradores designers graacuteficos voluntaacuterios e moradores ou trabalhadores do bairro) e que se pautem pelos princiacutepios da solidariedade do rigor e da qualidade O ROSA MARIA eacute parte integrante da comunidade em que se insere mas totalmente comprometido com o coacutedigo deontoloacutegico que enquadra o exerciacutecio da liberdade de imprensa e independente de facccedilotildees religiosas poliacuteticas e econoacutemicasO ROSA MARIA eacute editado pela Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria desde 2010 com periodicidade semestral O seu nome eacute inspirado na miacutetica Rosa Maria imortalizada no fado Haacute Festa na Mouraria ndash uma mulher atrevida e virtuosa como esta publicaccedilatildeogt Publicado em conformidade com o Decreto Regulamentar nordm 899 de 9 de Junho sobre Registo dos Oacutergatildeos de Comunicaccedilatildeo Social

ROSA MARIA middot Estatuto Editorial

De olho em 2114

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O que diratildeo os turistas das ldquoescadinhas WCrdquo por detraacutes da paragem onde fazem fila para o eleacutectrico 28 Noacutes dizemos isto inadmissiacutevel

FICHA TEacuteCNICA middot Direcccedilatildeo Inecircs Andrade Direcccedilatildeo graacutefica Hugo Henriques Ediccedilatildeo fotograacutefica Carla Rosado Ediccedilatildeo editorial Marisa Moura Revisatildeo Joatildeo Berhan e Joana Chocalhinho Publicidade Susana Simpliacutecio Traduccedilatildeo Moin uddin Ahamed e Pedro Leader Ilustraccedilatildeo Alexandra Belo Aude Barrio Hugo Henriques Nuno Saraiva Viacutetor Mingacho Passatempos Aude Barrio e Joatildeo Madeira Fotografia Augusto Fernandes Carla Rosado Diogo Lin Helena Colaccedilo Salazar Heacutelio Balinha Joseacute Fernandes Marisa Moura Nuno Moratildeo Paulo Marques Sophie Cadet Teresa Melo Yolanda Bettencourt Texto Ana Luiacutesa Rodrigues Carmen Correia Daniela Silva Joatildeo Berhan Joseacute Fernandes Luiacutes Elvas Luiacutesa Rego Marisa Moura Nuno Catarino Oriana Alves Pedro Santa Rita Raquel Albuquerque Ricardo Miguel Vieira Rita Pascaacutecio Teresa Melo Agradecimentos especiais a Andreacute Alves Antogravenia Tinture Claacuteudia Henriques Edgar Clara Heacutelder Oliveira Hugo Curado Maria Coimbra Mariana Melo Nuno Franco Paula Cosme PintoExpresso Sandra Bernardo Siacutelvia de Melo Olivenccedila e Vitorino Coragem E ainda pela cedecircncia de imagens Duck Production EGEACJoseacute Frade Museu da CidadeCML Maria do Ceacuteu Barata Nuno BotelhoExpresso Raquel CavaleiroMPAGDP e Site Norberto Arauacutejo (1889-1952) wwwnorbertoaraujoorg (copyright 2012) Joseacute Vicente de Braganccedila Jorge Quina Ribeiro de Arauacutejo e Herdeiros de Norberto de Arauacutejo Capa Helena Colaccedilo Salazar middot Propriedade Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Redacccedilatildeo administraccedilatildeo e publicidade Beco do Rosendo nordm 8 1100-460 Lisboa Tel +351 218 885 203 Tm +351 922 191 892 rosamariarenovaramourariapt Impressatildeo Funchalense ndash Empresa Graacutefica SA Distribuiccedilatildeo Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria Versatildeo digital wwwrenovaramourariapt Tipos de letra Atlantica Lisboa e Tramuntana gt Ricardo Santos Depoacutesito legal 31008510 Periodicidade Semestral Tiragem 10 000 exemplares Nuacutemero sete Junho 2014 Nordm Registo ERC (Entidade Reguladora para a Comunicaccedilatildeo Social) 126509 Correcccedilatildeo Na ediccedilatildeo anterior a fotoacutegrafa Helena Colaccedilo Salazar natildeo foi incluiacuteda na ficha teacutecnica E o jornalista Samuel Alematildeo ficou na redacccedilatildeo mas sem referecircncia ao trabalho de ediccedilatildeo que tambeacutem prestou

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reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

Mais Proximidade Melhor Vidawwwmpmvpt

E-mail geralmpmvptTelefones 213 425 268 967 258 892

967 257 550

Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

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inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

fato

s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

ais r

esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

qui j

ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

to

enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

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panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

ia e

tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

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am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

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obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

o in

spiro

u en

quan

to

real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

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par

te d

a pr

imei

ra g

eraccedil

atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

div

isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

as

lava

deira

s ta

bern

as g

aleg

os c

arvo

aria

s da

s bi

lhas

de

leite

que

che

gava

m n

uma

carr

occedila

ou

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senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

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ctiv

o

E de

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ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

a fa

miacuteli

a lu

so-e

span

hola

o b

airr

o aj

udav

a agrave

iden

tidad

e de

M

anue

l M

ozos

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aacute ch

amav

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e lsquoo

esp

anho

lrsquo

Em E

span

ha c

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m-m

e lsquoo

por

tugu

ecircsrsquo E

ntatildeo

diz

ia

que

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da M

oura

ria e

pro

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rdquo

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

stra

ccedilotildees

por

Ale

xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

ue c

ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

tinua

a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

ento

vaacuter

ios

luga

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ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

a es

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ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

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a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

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mod

esta

que

natildeo

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nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

er o

senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

esp

anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

inha

alg

umas

tert

uacutelia

s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

srdquo

Anti

go

Cin

ema

Rex

ldquoTin

ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

fim-d

e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

e Es

tica

rdquo

Pap

elar

ia

da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

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miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

inha

s tia

s par

a ar

ranj

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apr

ovei

tava

par

a co

mpr

ar c

rom

os e

revi

stas

aos

qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

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rnai

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rta

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upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

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s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

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ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

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falo

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le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

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quec

irdquo

Paacuteti

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ginh

oPa

ra e

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em m

ais r

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arda

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bol

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subi

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ao P

aacutetio

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Col

egin

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port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

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ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

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o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

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iacutelia

ldquoEst

a er

a um

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ais p

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ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

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uel

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eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

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xist

iam

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olta

ldquoAqu

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rvoa

ria h

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tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

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rdquo T

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m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

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circ

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rua

A ru

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gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

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panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

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via

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ia e

tira

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ibia

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ndar

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calccedil

o ndash

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sso

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arin

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ndav

am se

mpr

e agrave

coca

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pas

sage

m p

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Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

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nccedilad

a pe

la s

enho

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ada

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r sol

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Larg

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omo

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Va

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ando

obr

igad

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O P

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-an

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om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

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ar m

ais

prol

onga

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atildeo s

oacute um

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prim

ento

circ

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bel

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ece

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uel d

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cria

nccedila

ndash de

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fant

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enro

lava

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re o

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reja

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orro

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ho)

Com

o m

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Ass

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dos

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preg

ados

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Com

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o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

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con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

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uou

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o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

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spiro

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real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

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par

te d

a pr

imei

ra g

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atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

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Esc

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Supe

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e Te

atro

e C

inem

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ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

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onta

gem

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tros

real

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A

rela

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a co

m L

isboa

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s cla

ros-e

scur

os d

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em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

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nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

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Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

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deira

s em

cas

as e

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isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

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veze

s le

vava

nom

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o C

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Brilh

ante

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s es

cadi

nhas

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Satilde

o C

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vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

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Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

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itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

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কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

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As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

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শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

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reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1422

reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 23রোউজো মোরযো

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1426

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 11: Rosa Maria nº7

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reportagem Texto Luiacutesa RegoFotografia Yolanda Bettencourt

reportagem Texto Marisa MouraFotografia Teresa Melo

Dona A vive no segundo andar em preacutedio centenaacuterio num dos becos da Mouraria Chega-se laacute subindo uns estreitos lanccedilos de escadas de madeira E eacute agrave entrada de um apartamento minuacutesculo e velhiacutessimo que aguardamos que a senhora termine a higiene serviccedilo prestado pelo apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia de Lisboa A vida diaacuteria desta mu-lher de 65 anos praticamente acamada depende muito da equipa do Mais Proximidade Melhor Vida (MPMV) um projecto inserido no Centro Social Paro-quial de Satildeo Nicolau que apoia pessoas idosas residentes na zona da Baixa de Lisboa ldquoO foco eacute o combate ao isolamen-tordquo natildeo a caridade ndash explica Leonor Morais Barbosa assistente social e gestora de caso no MPMV

Com um grupo de voluntaacuterios tratam da aquisiccedilatildeo de medicamentos de apoio psicoloacutegico e de fisioterapia que no caso desta senhora inclui pintar E nada a faz mais feliz diz ela No acircmbito da cinesio-terapia pinta quadros (flores paisagens eleacutectricos) uma paixatildeo que descobriu haacute anos no Centro de Medicina de Reabili-taccedilatildeo de Alcoitatildeo quando recuperava de uma queda da cama numa madrugada em que quase perdeu a vida

O Mais Proximidade faz o acompanha-mento de 122 utentes sobretudo mulhe-res com uma meacutedia de idades de 86 anos

na freguesia de Santa Maria Maior Foram sinalizados enquanto frequentadores do centro de conviacutevio da paroacutequia de Satildeo Nicolau A missatildeo eacute ldquoreduzir o impacto da solidatildeo e isolamento das pessoas idosas residentes na Baixa e proporcionar maior qualidade de vida para que os uacutelti-mos anos sejam passados sem ansiedade tristeza ou carecircncias de qualquer nature-zardquo Agora tambeacutem na Mouraria o projec-to vai acompanhar mais 21 pessoas com mais de 65 anos financiado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado desde 2011 para reabilitaccedilatildeo do bairro atraveacutes da Cacircmara Municipal de Lisboa O projecto MPMV comeccedilou a ser esbo-ccedilado em 2006 quando Maria de Lourdes Miguel integrou a direcccedilatildeo do Centro So-cial e Paroquial de Satildeo Nicolau Foi investi-gar a razatildeo por que soacute 10 da populaccedilatildeo idosa da freguesia frequentava o centro Onde estavam as outras pessoas Com a ajuda dos alunos de Serviccedilo Social da Uni-versidade Catoacutelica fez-se entatildeo um inqueacute-rito porta-a-porta tendo-se concluiacutedo que a grande maioria dessa gente oculta vivia em pisos elevados ndash quartos quintos ou sextos andares ndash em preacutedios degradados sem elevador ou luz nas escadas sem vizi-nhanccedila e portanto em situaccedilatildeo de isola-mento e solidatildeo Era urgente intervir junto destas pessoas Nasceu entatildeo o projecto

Os Mais Soacutes assente em voluntariado que em 2010 se transformou no Mais Proximi-dade Melhor Vida jaacute com uma equipa de cinco profissionais a tempo inteiro

A ldquomaria dos afectosrdquo Rute Lopes 36 anos eacute a Maria dos Afetos Auxiliar de geriatria trabalha no apoio domiciliaacuterio da Santa Casa da Misericoacuter-dia desde 2010 Tem um horaacuterio duro que inclui noites fins-de-semana e feriados Poreacutem permite-lhe ter parte do dia para ldquoacudirrdquo a trecircs pessoas idosas as suas pri-meiras clientes a quem disponibiliza um amplo lote de serviccedilos de apoio domici-liaacuterio com uma tabela agrave hora ou ao mecircs sempre com boacutenus de afecto Com site e paacutegina no Facebook mas ainda sem sede fiacutesica a pequena empresa nascida no bair-ro no iniacutecio deste ano tem visto a sua ac-tividade crescer graccedilas ao passa-palavra

Ao que diz Rute cai na graccedila das suas clientes sabe que ldquocada pessoa idosa inde-pendentemente das suas limitaccedilotildees gosta de sentir que eacute o centro das atenccedilotildees Por isso tambeacutem ofereccedilo serviccedilo de cabelei-reira Neste trabalho criar empatia eacute muito importanterdquo A Maria dos Afetos que em

breve ganharaacute novo focirclego quando se con-cretizar uma parceria com a cacircmara muni-cipal atraveacutes do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria eacute uma iniciativa que surgiu para responder a carecircncias natildeo preenchidas pelas estruturas de apoio a pessoas idosas mas tambeacutem para aproveitar as qualidades que Rute Lopes reuacutene

ldquoJaacute sabia cozinhar (tive um restauran-te) sei coser trabalhei de cabeleireira tirei o curso de geriatria sei reconhecer doenccedilas aprendi as teacutecnicas um pouco de psicologia enfermagem Este traba-lho eacute muito compensador Claro que para comeccedilar qualquer coisa eacute preciso algum sacrifiacutecio Mas quando gostamos do que fazemos daacute-se sempre um jeitordquo

Maria dos Afetoswwwmariadosafetoscom

E-mail mariadosafetosgmailcomTelefone 963 140 146

Mais Proximidade Melhor Vidawwwmpmvpt

E-mail geralmpmvptTelefones 213 425 268 967 258 892

967 257 550

Obras a preccedilode amigoJaacute estaacute no terreno a ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra Foi criada a pensar especialmente nos idosos mais desfavorecidos da Mouraria mas todos podem requisitar os serviccedilos ateacute noutros bairros ldquoAs obras satildeo feitas por gente mal-intencionada que quer ganhar muito e trabalhar pouco Enganam ateacute pessoas que sabem que satildeo carenciadasrdquo diz Luiacutes Lin 57 anos criado na Mouraria filho de uma portuguesa e de um chinecircs imigrante que fabricava malas em casa na Rua das Farinhas

Eacute o presidente da ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra e promete honestidade qualidade e tambeacutem seguranccedila jaacute que os seus clientes satildeo sobretudo pessoas idosos vulneraacuteveis e haacute que garantir a idoneidade de quem entra nas suas casas

A ADAO eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos e estava para nascer desde que comeccedilou a reabilitaccedilatildeo da Mouraria por ideia de Joatildeo Meneses coordenador do GABIP (Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria) da Mouraria Luiacutes Lin

foi convidado a liderar o projecto por ser do bairro e ter expe-riecircncia na gestatildeo de obras (tem sido comerciante de vestuaacuterio e restauraccedilatildeo mas sempre foi dado ao bricolage e gere obras de maiores dimensotildees para amigos) A demora de trecircs anos ficou a dever-se primeiro agrave escolha da equipa certa e depois ao processo de extensatildeo da parceria agrave Junta de Freguesia de Santa Maria Maior que complementaraacute o financiamento

da associaccedilatildeo ateacute entatildeo suportado pelo PDCM ndash Programa de Desenvolvimento Comunitaacuterio da Mouraria da Cacircmara Municipal de Lisboa

Seraacute atraveacutes da ADAO que a junta realizaraacute os seus serviccedilos de pequenas reparaccedilotildees aos fregueses mais carenciados Nove pessoas constituem esta equipa que vecirc assim estendida a sua intervenccedilatildeo aos demais bairros da junta Alfama Castelo Baixa e Chiado O nuacutecleo duro inclui mais dois homens da Mouraria Manuel Carvalho nascido no Largo dos Trigueiros e morador na Rua dos Cavaleiros e Rogeacuterio Carvalho de Satildeo Cristoacutevatildeo E tambeacutem a mulher de Luiacutes Lin Rute Lopes a Maria dos Afetos (ver texto acima)

Com essa ligaccedilatildeo a associaccedilatildeo potildee em praacutetica o primeiro dos seus objectivos listados no site ldquoAtender agraves dificuldades dos habitantes da freguesia (deficientes condiccedilotildees de habi-tabilidade carecircncia econoacutemica exclusatildeo social problemas de sauacutede dificuldades de acesso agrave educaccedilatildeo)rdquo

ADAO ndash Associaccedilatildeo Dedos agrave Obra | wwwdedosaobraptE-mail geraldedosaobrapt

Telefones 917 067 457 912 657 416 915 515 804

Mais respostasagrave idade da solidatildeoJuntam mimos agraves ajudas mais elementares como as da Santa Casa Uma chama-se Maria dos Afetos A outra Mais Proximidade Melhor Vida Satildeo duas novas organizaccedilotildees a trabalhar caacute no bairro para os idosos Fomos vecirc-las em acccedilatildeo

Rute Lopes a ldquomaria dos afectosrdquo numa das visitas a Fernanda Antunes para limpezas e companhia

Luiacutes Lin (agrave esquerda) e Rogeacuterio Carvalho trabalham juntos em vaacuteriasobras dentro e fora do acircmbito da ADAO

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

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aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

o in

spiro

u en

quan

to

real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

fez

par

te d

a pr

imei

ra g

eraccedil

atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

div

isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

as

lava

deira

s ta

bern

as g

aleg

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arvo

aria

s da

s bi

lhas

de

leite

que

che

gava

m n

uma

carr

occedila

ou

da

senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

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ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

a fa

miacuteli

a lu

so-e

span

hola

o b

airr

o aj

udav

a agrave

iden

tidad

e de

M

anue

l M

ozos

ldquoC

aacute ch

amav

am-m

e lsquoo

esp

anho

lrsquo

Em E

span

ha c

hava

m-m

e lsquoo

por

tugu

ecircsrsquo E

ntatildeo

diz

ia

que

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da M

oura

ria e

pro

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rdquo

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

stra

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por

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xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

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BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

ue c

ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

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a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

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vaacuter

ios

luga

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ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

a es

plan

ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

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a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

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mod

esta

que

natildeo

era

nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

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senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

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anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

inha

alg

umas

tert

uacutelia

s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

srdquo

Anti

go

Cin

ema

Rex

ldquoTin

ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

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e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

e Es

tica

rdquo

Pap

elar

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da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

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miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

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s tia

s par

a ar

ranj

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apr

ovei

tava

par

a co

mpr

ar c

rom

os e

revi

stas

aos

qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

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s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

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eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

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esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

qui j

ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

to

enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

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panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

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tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

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am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

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a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

বথিনএই শবদযোিথয অযোযনরত সকি শিকারথী এর পরশত সমান মথনাথযাি এবং সমান অগাশকার সদযা তাথদর সক কাথস অনিীিন কাথি সবতাশক সেষা করা হয যাথত তাথদর পথক কাথসর সাবথজকট সমপনত রকম ব িমযে হযএর জনযে মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিয ২০১১ সত এশব নং ৭৫ নামক একটি নতন পদধশত সশষ করা হথযথছ যাথত কথর তাথদর সযন কাথস অনিীিন কাথি তাথদর সকি সাবথজকট এর মমতারত বেথত কষ নাহ হয

এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

পতত শিজ িাষা শিকার শবিািীয পরান কািতা কািত ালহ এর সাথর অশিবাসীথদর জনযে পতত শিজ কাস সমবনীয অননযে তরযে এবং শবশিনন কিিাশদ সমপথকত আিাপকাথি শতশন জানান সযপরশত মিবার এবং বহসপশত বার সকািrdquo ১১৩০ হথত ১২৩০rdquo পযতনত শিি-শকথিার সদর পতত শিজ িাষা শিকা সদযা হয

তদপশরএই কাস সমথহ তারা শবশিনন রথপ অনিীিন কথর রাথকন সযমনশবশিনন রকম িবদ উচারথণর মাযেথম তাথদর সঠিক িাথব পতত শিজ শবশিনন িবদ উচারণ শিিাথনা হযতাথদর সক শেতাঙকন এর মাযেথম শবশিনন শজশনস পথতর সাথর পশরশেত করাথনা হযতাথদর সক সংিীত েেত ার মাথম অরবা পরথতযেক সদথির শবশিনন সকৌতক িনাথনা এবং তাথদর কাছ সরথক িনার মাযেথম তাথদর সক এথক অথনযের সাথর অথিােনায মতত কশরথয পতত শিজ িাষার অথনক েেত া করাথনা হয আর এিাথবই তারা ীথর ীথর পতত শিজ িাষায শিিথত ও পডথত শিথি যায

শতশন আথরা বথিনঅথনক শিকারথী সক তাথদর জীবথনর শবশিনন রকম অশিজঞতার করা বিথত বিা হথয রাথক এমশন একজন বাংিাথদিী পতত শিজ িাষা শিকারথী উজবিতার কাথছ তার শবথিষ একটি অশিজঞতার করা জানথত োওযা হথি সস বথি থয সি একটি পাস-কওযার (ইসার-সানথড) অনষাথন সস অংিগহন কথর সসিাথন সস অথনক আথিা সদথি যা তাথক অশিিত কথর আর এই অনষাথন সস শবশিনন রকম েকথিে িায সস আথরা জানায সয সসিাথন সবাই এথক অপরথক সহথযাশিতা কথর সযমন

আথযিা যার বযস ৭ বছর সস ও বাংিাথদিী (সস ইদাশনং পতত িাি

এ এথসথছ তাই িাষা জাথন না) আথযিা সবিাবতই অথনক শকছ জাথন না ও সবার কাথছ শজথগেস করথতশছি এো ওো শক আর অনযে সবাই তাথক অনবাদ কথর বিশছি সয এোর নাম

এছাডাওসরেণী-কথক অথনক সময তারা যশদ শিশককার শবশিনন পরথনের মাথন বেথত না পাথর তিন শিকারথীরা এথক অথনযের সহথযাশিতা সনয

পরাপত বযসথদর জনযে কাস ির হয দপর ২০০ ো হথত শবথকি ৪০০ পযতনত এই কাস এ পরাপত বযস অশিবাসীথদর পতত শিজ িাষায বাকযে িঠন এবং বাথকযের সংশমরেন শিিাথনা হয তাছাডাওশবশিনন িথবদর মাযেথম বাথকযের সঠিক উচারণ সিিাথনা হয এবং শবশিনন ছশবর মাযেথম দদনশদিন সববহত দতজসপতাশদর নাম সিিাথনা হয এবং সংিযোর পশরেয ও সববহার সিিাথনা হয

সবতপশর বযেকযোরণ ও একো িবই পরথযাজনীয অযোয যা তাথদর সক শিকা সদযা িবই দরকার কারণ অশিবাসী শিি-শকথিাররা বযেকযোরণ এর শবশিনন াপ িথিা বথে উঠথত পারথছ নাহ কারণ তাথদর সরথক আমাথদর বযেকযোরণ একে শিনন আর এর জনযে তারা ঠিক মত আমাথদর বযেকযোরণ িথিা সক উপিশধি করথত পারথছ না এর দরন তারা পরীকায সতমন একো িাথিা করথত পারথছ নাহ তাই হযতবাহ আিামী বছর ৪রত সগড(শবদযোিথযর পাঠথরেণী) উততীণত হথত পারথব নাহ

(উথলেিযে আমাথদর সদথি সযমন পরাইমারী শবদযোিথযর সমাপনী পরীকা সিষ হয ৫ম সরেনীর পর পতত িাি এ হয ৪রত সরেনীর পর এবং এই পরীকা ো জাতীয িাথব হয)

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িাষা শিকার সকথত শপতামাতার িশমকা অনসবীকাযত তাথদর সক শবদযোিথযর শবশিনন আোর অনষাথন আমনতরণ জানাথনা সযথত পাথর সযমন বড-শদথনর(খীষ মাস) অনষাথন অরবা বাশষতক পকত ার সিথষ েিােথির শদথন এথত কথর তারাও উদীশপত হথবন এবং শনথজথদর সনতান সদর সিিার জনযে উদীপত করথবন এবং উনারাও সামাশজক িাথবই পতত শিজ সমাথজ মীসার সথযাি পাথবন

উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

Carla

Ros

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Mar

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oura

Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 23রোউজো মোরযো

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 12: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1412

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25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemosAs crianccedilas da Escola Baacutesica da Madalena viveram em grande o 40ordm aniversaacuterio da Revoluccedilatildeo dos Cravos Visitaram uma prisatildeo plantaram cravos pintaram quadros na Casa da Achada escutaram pessoas que viveram na ditadura ndash desde amigos do bairro como a Dona Ermelinda ao poliacutetico Joatildeo Soares e agrave senhora que tornou esta revoluccedilatildeo conhecida pelos cravos Celeste Caeiro A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria acompanhou tudo neste blog n wwwvamosfalardeabrilblogspotpt

reportagem Texto Teresa Melo Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 13রোউজো মোরযো

25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 15রোউজো মোরযো

Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

notiacutecias ARM

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eacutelio

Bal

inha

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inga

cho

Depo

imen

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Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

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BB

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BB

BB

BB

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BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

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o co

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l Moz

os

Larg

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Inte

nden

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seio

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orqu

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rote

iro

dese

nhad

o po

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teci

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om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

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xist

ir e

luga

res q

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asce

ram

nos

ano

s m

ais r

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tes

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aliz

ador

con

tinua

a a

prov

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r o b

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requ

ento

vaacuter

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luga

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ovos

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pare

cend

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ada

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oana

s a

Cas

a In

depe

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te a

Cas

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Ach

ada

ou a

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ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

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um

a ta

sca

um

a ce

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mod

esta

que

natildeo

era

nad

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que

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oje

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inha

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com

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vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

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senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

esp

anhoacute

is so

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udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

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ua d

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junt

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Mar

tim M

oniz

ond

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je e

staacute

uma

loja

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reve

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nica

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que

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s inf

antis

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ctiv

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ara

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as s

obre

tudo

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fim-d

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sem

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mpr

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tica

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Pap

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tiacutelia

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s mei

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s tia

s par

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Maj

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nos d

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s a

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ontin

uava

com

o po

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de c

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se a

luga

vam

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s de

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nava

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tos p

ara

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nhor

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O pr

eacutedio

m

ais p

eque

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e Lisb

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ica

na ru

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m ti

o m

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me

falo

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le e

me

mos

trou

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eu

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Paacuteti

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ginh

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ais r

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dos

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gar agrave

bol

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vont

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subi

am

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do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

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am d

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liza

Ta

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m p

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os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

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o 28

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orou

con

tinua

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asa

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fam

iacutelia

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a um

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ais p

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o ba

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rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

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umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

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xist

iam

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um

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tam

beacutem

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uma

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ccedilatildeo

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m p

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em a

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s mai

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soria

is c

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nado

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circ

ulav

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rua

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gaacuteva

mos

agrave b

ola

agrave a

panh

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con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

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gar agrave

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rua

e ha

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sem

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o m

edo

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tira

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pro

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e agrave

coca

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pas

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Igre

ja d

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corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

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bap

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ordquo s

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do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

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com

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i a m

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A p

ergu

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ada

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Va

mos

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asse

-an

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inte

rrom

pido

par

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est

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ais

prol

onga

do n

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cum

prim

ento

circ

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Afin

al

dona

Isa

bel

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Man

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cria

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mun

do in

fant

il se

des

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lava

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Lar

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a Ro

sa e

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reja

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orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

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dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

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ristoacute

vatildeo

Mas

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con

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io d

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todo

s co

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Mar

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Pont

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Lim

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difiacute

cil p

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com

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de

cine

ma

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gula

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fez

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aliz

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gues

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cine

ma

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s 90

Te

m re

aliz

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docu

men

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e ta

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m fo

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pon-

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l pel

a m

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tros

real

izad

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A

rela

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iacutentim

a co

m L

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corr

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port

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mar

em

esp

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pe

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os e

nun

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Tal c

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inca

-

deira

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cas

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Man

uel

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veze

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vava

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Brilh

ante

na

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pa

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naacuterio

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Xav

ier

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iacutetico

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pass

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Larg

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elem

bra

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erna

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lei

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No

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Mas

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

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উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

Carla

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1422

reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

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Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

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Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

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Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 13: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 13রোউজো মোরযো

25 de Abril Somos pequenos mas natildeo esquecemos

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 15রোউজো মোরযো

Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

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ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

o in

spiro

u en

quan

to

real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

fez

par

te d

a pr

imei

ra g

eraccedil

atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

div

isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

as

lava

deira

s ta

bern

as g

aleg

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arvo

aria

s da

s bi

lhas

de

leite

que

che

gava

m n

uma

carr

occedila

ou

da

senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

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ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

a fa

miacuteli

a lu

so-e

span

hola

o b

airr

o aj

udav

a agrave

iden

tidad

e de

M

anue

l M

ozos

ldquoC

aacute ch

amav

am-m

e lsquoo

esp

anho

lrsquo

Em E

span

ha c

hava

m-m

e lsquoo

por

tugu

ecircsrsquo E

ntatildeo

diz

ia

que

era

da M

oura

ria e

pro

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rdquo

Foto

grafi

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eacutelio

Bal

inha

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stra

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por

Ale

xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

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BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

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BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

ue c

ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

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a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

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vaacuter

ios

luga

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ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

a es

plan

ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

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a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

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um

a ta

sca

um

a ce

rvej

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mod

esta

que

natildeo

era

nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

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senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

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anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

inha

alg

umas

tert

uacutelia

s Fo

i aqu

i a uacute

nica

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que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

srdquo

Anti

go

Cin

ema

Rex

ldquoTin

ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

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e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

e Es

tica

rdquo

Pap

elar

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da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

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miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

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s tia

s par

a ar

ranj

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apr

ovei

tava

par

a co

mpr

ar c

rom

os e

revi

stas

aos

qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

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s de

Car

nava

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tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

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esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

qui j

ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

to

enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

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e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

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ola

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panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

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tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

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am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

বথিনএই শবদযোিথয অযোযনরত সকি শিকারথী এর পরশত সমান মথনাথযাি এবং সমান অগাশকার সদযা তাথদর সক কাথস অনিীিন কাথি সবতাশক সেষা করা হয যাথত তাথদর পথক কাথসর সাবথজকট সমপনত রকম ব িমযে হযএর জনযে মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিয ২০১১ সত এশব নং ৭৫ নামক একটি নতন পদধশত সশষ করা হথযথছ যাথত কথর তাথদর সযন কাথস অনিীিন কাথি তাথদর সকি সাবথজকট এর মমতারত বেথত কষ নাহ হয

এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

পতত শিজ িাষা শিকার শবিািীয পরান কািতা কািত ালহ এর সাথর অশিবাসীথদর জনযে পতত শিজ কাস সমবনীয অননযে তরযে এবং শবশিনন কিিাশদ সমপথকত আিাপকাথি শতশন জানান সযপরশত মিবার এবং বহসপশত বার সকািrdquo ১১৩০ হথত ১২৩০rdquo পযতনত শিি-শকথিার সদর পতত শিজ িাষা শিকা সদযা হয

তদপশরএই কাস সমথহ তারা শবশিনন রথপ অনিীিন কথর রাথকন সযমনশবশিনন রকম িবদ উচারথণর মাযেথম তাথদর সঠিক িাথব পতত শিজ শবশিনন িবদ উচারণ শিিাথনা হযতাথদর সক শেতাঙকন এর মাযেথম শবশিনন শজশনস পথতর সাথর পশরশেত করাথনা হযতাথদর সক সংিীত েেত ার মাথম অরবা পরথতযেক সদথির শবশিনন সকৌতক িনাথনা এবং তাথদর কাছ সরথক িনার মাযেথম তাথদর সক এথক অথনযের সাথর অথিােনায মতত কশরথয পতত শিজ িাষার অথনক েেত া করাথনা হয আর এিাথবই তারা ীথর ীথর পতত শিজ িাষায শিিথত ও পডথত শিথি যায

শতশন আথরা বথিনঅথনক শিকারথী সক তাথদর জীবথনর শবশিনন রকম অশিজঞতার করা বিথত বিা হথয রাথক এমশন একজন বাংিাথদিী পতত শিজ িাষা শিকারথী উজবিতার কাথছ তার শবথিষ একটি অশিজঞতার করা জানথত োওযা হথি সস বথি থয সি একটি পাস-কওযার (ইসার-সানথড) অনষাথন সস অংিগহন কথর সসিাথন সস অথনক আথিা সদথি যা তাথক অশিিত কথর আর এই অনষাথন সস শবশিনন রকম েকথিে িায সস আথরা জানায সয সসিাথন সবাই এথক অপরথক সহথযাশিতা কথর সযমন

আথযিা যার বযস ৭ বছর সস ও বাংিাথদিী (সস ইদাশনং পতত িাি

এ এথসথছ তাই িাষা জাথন না) আথযিা সবিাবতই অথনক শকছ জাথন না ও সবার কাথছ শজথগেস করথতশছি এো ওো শক আর অনযে সবাই তাথক অনবাদ কথর বিশছি সয এোর নাম

এছাডাওসরেণী-কথক অথনক সময তারা যশদ শিশককার শবশিনন পরথনের মাথন বেথত না পাথর তিন শিকারথীরা এথক অথনযের সহথযাশিতা সনয

পরাপত বযসথদর জনযে কাস ির হয দপর ২০০ ো হথত শবথকি ৪০০ পযতনত এই কাস এ পরাপত বযস অশিবাসীথদর পতত শিজ িাষায বাকযে িঠন এবং বাথকযের সংশমরেন শিিাথনা হয তাছাডাওশবশিনন িথবদর মাযেথম বাথকযের সঠিক উচারণ সিিাথনা হয এবং শবশিনন ছশবর মাযেথম দদনশদিন সববহত দতজসপতাশদর নাম সিিাথনা হয এবং সংিযোর পশরেয ও সববহার সিিাথনা হয

সবতপশর বযেকযোরণ ও একো িবই পরথযাজনীয অযোয যা তাথদর সক শিকা সদযা িবই দরকার কারণ অশিবাসী শিি-শকথিাররা বযেকযোরণ এর শবশিনন াপ িথিা বথে উঠথত পারথছ নাহ কারণ তাথদর সরথক আমাথদর বযেকযোরণ একে শিনন আর এর জনযে তারা ঠিক মত আমাথদর বযেকযোরণ িথিা সক উপিশধি করথত পারথছ না এর দরন তারা পরীকায সতমন একো িাথিা করথত পারথছ নাহ তাই হযতবাহ আিামী বছর ৪রত সগড(শবদযোিথযর পাঠথরেণী) উততীণত হথত পারথব নাহ

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উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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oura

Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 23রোউজো মোরযো

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1426

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 14: Rosa Maria nº7

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 15রোউজো মোরযো

Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

notiacutecias ARM

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

stra

ccedilotildees

por

Ale

xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

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ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

tinua

a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

ento

vaacuter

ios

luga

res n

ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

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plan

ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

Cas

a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

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mod

esta

que

natildeo

era

nad

a do

que

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oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

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eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

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senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

esp

anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

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inha

alg

umas

tert

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s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

srdquo

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go

Cin

ema

Rex

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ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

fim-d

e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

e Es

tica

rdquo

Pap

elar

ia

da do

na O

tiacutelia

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ndo

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miuacute

do v

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aqu

i tra

zer a

s mei

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inha

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oacute e

das m

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s tia

s par

a ar

ranj

ar e

apr

ovei

tava

par

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mpr

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rom

os e

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stas

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qua

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s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

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s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

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rnai

s N

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rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

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s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

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Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

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m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

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irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

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ra e

star

em m

ais r

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dos

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gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

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liza

Ta

mbeacute

m p

or a

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os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

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a er

a um

a zo

na m

ais p

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ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

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ria

uma

torr

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ccedilatildeo

de c

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rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

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enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

agrave a

panh

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con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

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gar agrave

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a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

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ir a

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tira

r a b

ola

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aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

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am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

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do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

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ra

sent

ada

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anha

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Larg

o da

Ros

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estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

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a su

a irm

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O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

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est

ar m

ais

prol

onga

do n

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oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

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cria

nccedila

ndash de

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oca

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rand

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rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

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boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

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ase

todo

s co

ntin

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no b

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o po

r m

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s an

os V

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na

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Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

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spiro

u en

quan

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or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

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lam

ada

e co

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a sin

gula

r M

ozos

fez

par

te d

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imei

ra g

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atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

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os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

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atro

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a q

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u o

cine

ma

port

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s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

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tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

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s cla

ros-e

scur

os d

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em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

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ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

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peq

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onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

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afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

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vatildeo

se

rviu

pa

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bapt

izar

um

caf

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naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

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s ano

s 70

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maacutem

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ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

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men

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A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

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anue

l con

tinua

m v

ivas

as

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agen

s da

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das

por

varin

as

lava

deira

s ta

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as g

aleg

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arvo

aria

s da

s bi

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de

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che

gava

m n

uma

carr

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ou

da

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ora

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figos

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Ve

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Mas

o s

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heu

para

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ctiv

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M

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17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

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উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

Carla

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1422

reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

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Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

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Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

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Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 15: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 15রোউজো মোরযো

Sabichatildeo O Quiz da Mouraria

O ldquosabichatildeo-morrdquo Alexandre Oviacutedio tem posto agrave prova os neuroacutenios de equipas como os Bora Laacute os Cabrotildeezinhos ou os Falta Aqui Algueacutem que satildeo as trecircs mais pontuadas O primeiro campeonato arrancou no dia 12 de Marccedilo e tem sido uma animaccedilatildeo Acontece agraves quartas-feiras das 19h30 agraves 24h quinzenalmente Cada inscriccedilatildeo custa cinco euros por pessoa com jantar incluiacutedo

Rebaldaria a Jam da Mouradia

Improvisar eacute a palavra de (des)ordem de Afonso Castanheira (contrabaixo) Diogo Vida (piano) e Nuno Moratildeo (bateria) Eacute o trio residente na Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria desde Abril agraves sextas-feiras pelas 22h quinzenalmente Entrada livre Alterna com o jaacute miacutetico Karaoke ao Vivo cujo acompanhamento musical cabe a Joatildeo Madeira na guitarra ou no piano

Toda a pessoa singular ou colectiva que queira apresentar uma ideia concretizada ou por concretizar tem antena aberta na Mouradia ldquoMeia palavrardquo pode bastar para encontrar os parceiros certos na hora certa - e este pode ser o siacutetio certo para esse encontro O projecto Mais Proximidade Melhor Vida foi o primeiro a apresentar-se no dia 3 de Abril Todas as quintas-feiras entre as 19h30 e as 21h

A Renovar desafiou os soacutecios a contribuiacuterem para o reforccedilo das receitas da associaccedilatildeo dinamizando eles proacuteprios actividades Danccedilar cantar cozinhar ou outra coisa qualquer De dia ou de noite na uacuteltima sexta-feira de cada mecircs A Ana Luiacutesa Rodrigues do ROSA MARIA fez as honras da estreia trazendo agrave Mouradia o cantor e guitarrista brasileiro Celinho Burlamaqui Intimismo e alegria marcaram essa noite no dia 17 de Abril em veacutesperas de Paacutescoa ndash numa quinta-feira excepcionalmente

Haacute ainda mais vida no Beco do Rosendo

Quatro diplomas de calceteiro foram os presentes mais valiosos na festa do sexto aniversaacuterio da Renovar no passado dia 22 de Marccedilo No Beco do Rosendo entre fados e sardinhas subiram ao palco as pessoas que tornaram mais bonito e seguro este recanto do Poccedilo do Borrateacutem Foram elas Mamadou Raya Diallo (60 anos) Braima Candeacute (26) Mamadu Baldeacute (22) e o nosso vizinho Joseacute Bernardino (19 anos) entretanto integrado na equipa da associaccedilatildeo Numa parceria com a Santa Casa da Misericoacuterdia que identificou os formandos e com a empresa de construccedilatildeo civil QCI que deu a formaccedilatildeo melhoraacutemos ainda mais este espaccedilo ao abrigo do projecto Da Casa Para o Beco apoiado pelo programa municipal BIPZIP ndash Bairros e Zonas de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria de Lisboa

Toxicodependecircncia e urinol a ceacuteu aberto caracterizavam este beco onde estaacute sedeada a creche Encosta do Castelo da Santa Casa e passou a estar desde Dezembro de 2012 a nossa sede Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria Agora com as novas obras ganhou melhor pavimento canteiros e corrimotildees que melhoram a acessibilidade a moradores e visitantes E uma churrasqueira comunitaacuteria que estaraacute ao rubro neste arraial

A reabilitaccedilatildeo do beco passa ainda pela intervenccedilatildeo (em curso) da EbanoCollective uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos que actua em espaccedilos puacuteblicos em diaacutelogo com a arte e a pesquisa etnograacutefica de cada local especiacutefico Lisboa ganhou mais uma reabilitaccedilatildeo - e os quatro calceteiros mais um visto no passaporte da empregabilidade

Para conheceres todas as actividades culturais e sociais da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria consulta wwwrenovaramourariapt e procura por Renovar a Mouraria no Facebooknota O Mercadinho do Beco que se realiza no uacuteltimo saacutebado de cada mecircs soacute regressa no final de Julho Em Junho estamos em arraial todos os dias (consulta o programa das festas na paacutegina 14)

Guias do Mundo na Mouraria

A Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria em parceria com o Instituto Marquecircs de Valle Flocircr acaba de colocar o bairro da Mouraria na rede internacional MygranTour ndash Rotas Urbanas Interculturais Eacute uma rede de guias migrantes que permite a cidadatildeos oriundos de outras partes do mundo mostrarem os bairros onde escolheram viver tal como eles os vecircem ndash convidando todos os que por laacute passam a olhar para as ruas com outros olhos e a escutar novas histoacuterias

O projecto nasceu em Turim em 2010 numa parceria entre o operador turiacutestico italiano Viaggi Solidali a fundaccedilatildeo de empreendedorismo social ACRA e a Oxfam Itaacutelia filial da rede anti-pobreza Oxfam Eacute agora alargado a nove cidades europeias Naacutepoles Roma Milatildeo Florenccedila Geacutenova Paris Marselha Valecircncia e Lisboa Esta nova fase resulta do co-financiamento da Uniatildeo Europeia para formar vinte novos guias em cada uma destas cidades para promover o respeito muacutetuo e valorizar as diferenccedilas culturais entre paiacuteses europeus de acolhimento e paiacuteses natildeo-membros de todo o mundo

Os novos guias da Mouraria satildeo do Brasil Congo Iratildeo Bangladesh Paquistatildeo da Poloacutenia e da Ucracircnia entre outros paiacuteses Um convite a conhecer as mil e uma Mourarias a natildeo perder

Jornalismo Comunitaacuterio Que Voz tem a Mouraria

Uma tertuacutelia organizada pelo ROSA MARIA no dia 19 de Fevereiro teve como mote Que Voz tem a Mouraria A resposta natildeo podia ter ficado mais clara ldquoO Largo e a Marta jaacute saiacuteram em trinta mil siacutetios na comunicaccedilatildeo social mas as pessoas ali do Intendente ficaram a conhecer pelo Rosa Maria o meu percurso O jornal consegue realmente chegar a muita gente que natildeo utiliza nenhum dos outros meiosrdquo Palavras de Marta Silva fundadora do Largo Residecircncias e protagonista da secccedilatildeo Passeando Com na ediccedilatildeo de Junho de 2013 A sala encheu-se de vozes e na mesa de oradores estiveram Ana Luiacutesa Rodrigues (jornalista e membro fundador do ROSA MARIA) Claacuteudia Henriques (promotora do projecto de raacutedio Vozes do Intendente e investigadora no Centro de Investigaccedilatildeo Media e Jornalismo da Universidade Nova de Lisboa) e Vitorino Coragem (repoacuterter freelancer ex-colaborador do Diaacuterio de Notiacutecias da Folha de Satildeo Paulo La Opinioacuten de Granada e do extinto jornal lisboeta A Capital)

4 percursos 6 liacutenguas 7 dias da semana middot Mouraria das Tradiccedilotildees middot Mouraria do Fadomiddot Do Castelo agrave Mouraria middot Mouraria dos Povos e das Culturas

Haacute visitas em portuguecircs espanhol inglecircs francecircs italiano alematildeo

Informaccedilotildees e reservas wwwrenovaramourariaptvisitasguiadasrenovaramourariapt Telefones +351 927 522 883 ou +351 218 885 203

Histoacuteria e estoacuterias com gente dentro

A Marta Silvafundadora do Largo Residecircncias ao centro sentada E quem tiver curiosidade em conhecer a equipa do ROSA MARIA estaacute com sorte Nesta foto estatildeo a directora (Inecircs Andrade sentada agrave mesa) o designer graacutefico (Hugo Henriques agrave porta) a delegada comercial (Susana Simpliacutecio agrave porta no interior) e um dos primeiros voluntaacuterios da redacccedilatildeo o jornalista Antoacutenio Henriques entre a Marta e a Inecircs

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i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

o in

spiro

u en

quan

to

real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

fez

par

te d

a pr

imei

ra g

eraccedil

atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

div

isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

as

lava

deira

s ta

bern

as g

aleg

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arvo

aria

s da

s bi

lhas

de

leite

que

che

gava

m n

uma

carr

occedila

ou

da

senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

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ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

a fa

miacuteli

a lu

so-e

span

hola

o b

airr

o aj

udav

a agrave

iden

tidad

e de

M

anue

l M

ozos

ldquoC

aacute ch

amav

am-m

e lsquoo

esp

anho

lrsquo

Em E

span

ha c

hava

m-m

e lsquoo

por

tugu

ecircsrsquo E

ntatildeo

diz

ia

que

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da M

oura

ria e

pro

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rdquo

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

stra

ccedilotildees

por

Ale

xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

ue c

ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

tinua

a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

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vaacuter

ios

luga

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ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

a es

plan

ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

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a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

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mod

esta

que

natildeo

era

nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

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senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

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anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

inha

alg

umas

tert

uacutelia

s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

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Anti

go

Cin

ema

Rex

ldquoTin

ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

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e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

e Es

tica

rdquo

Pap

elar

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da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

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miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

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s tia

s par

a ar

ranj

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apr

ovei

tava

par

a co

mpr

ar c

rom

os e

revi

stas

aos

qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

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s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

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esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

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ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

to

enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

agrave a

panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

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tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

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am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

বথিনএই শবদযোিথয অযোযনরত সকি শিকারথী এর পরশত সমান মথনাথযাি এবং সমান অগাশকার সদযা তাথদর সক কাথস অনিীিন কাথি সবতাশক সেষা করা হয যাথত তাথদর পথক কাথসর সাবথজকট সমপনত রকম ব িমযে হযএর জনযে মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিয ২০১১ সত এশব নং ৭৫ নামক একটি নতন পদধশত সশষ করা হথযথছ যাথত কথর তাথদর সযন কাথস অনিীিন কাথি তাথদর সকি সাবথজকট এর মমতারত বেথত কষ নাহ হয

এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

পতত শিজ িাষা শিকার শবিািীয পরান কািতা কািত ালহ এর সাথর অশিবাসীথদর জনযে পতত শিজ কাস সমবনীয অননযে তরযে এবং শবশিনন কিিাশদ সমপথকত আিাপকাথি শতশন জানান সযপরশত মিবার এবং বহসপশত বার সকািrdquo ১১৩০ হথত ১২৩০rdquo পযতনত শিি-শকথিার সদর পতত শিজ িাষা শিকা সদযা হয

তদপশরএই কাস সমথহ তারা শবশিনন রথপ অনিীিন কথর রাথকন সযমনশবশিনন রকম িবদ উচারথণর মাযেথম তাথদর সঠিক িাথব পতত শিজ শবশিনন িবদ উচারণ শিিাথনা হযতাথদর সক শেতাঙকন এর মাযেথম শবশিনন শজশনস পথতর সাথর পশরশেত করাথনা হযতাথদর সক সংিীত েেত ার মাথম অরবা পরথতযেক সদথির শবশিনন সকৌতক িনাথনা এবং তাথদর কাছ সরথক িনার মাযেথম তাথদর সক এথক অথনযের সাথর অথিােনায মতত কশরথয পতত শিজ িাষার অথনক েেত া করাথনা হয আর এিাথবই তারা ীথর ীথর পতত শিজ িাষায শিিথত ও পডথত শিথি যায

শতশন আথরা বথিনঅথনক শিকারথী সক তাথদর জীবথনর শবশিনন রকম অশিজঞতার করা বিথত বিা হথয রাথক এমশন একজন বাংিাথদিী পতত শিজ িাষা শিকারথী উজবিতার কাথছ তার শবথিষ একটি অশিজঞতার করা জানথত োওযা হথি সস বথি থয সি একটি পাস-কওযার (ইসার-সানথড) অনষাথন সস অংিগহন কথর সসিাথন সস অথনক আথিা সদথি যা তাথক অশিিত কথর আর এই অনষাথন সস শবশিনন রকম েকথিে িায সস আথরা জানায সয সসিাথন সবাই এথক অপরথক সহথযাশিতা কথর সযমন

আথযিা যার বযস ৭ বছর সস ও বাংিাথদিী (সস ইদাশনং পতত িাি

এ এথসথছ তাই িাষা জাথন না) আথযিা সবিাবতই অথনক শকছ জাথন না ও সবার কাথছ শজথগেস করথতশছি এো ওো শক আর অনযে সবাই তাথক অনবাদ কথর বিশছি সয এোর নাম

এছাডাওসরেণী-কথক অথনক সময তারা যশদ শিশককার শবশিনন পরথনের মাথন বেথত না পাথর তিন শিকারথীরা এথক অথনযের সহথযাশিতা সনয

পরাপত বযসথদর জনযে কাস ির হয দপর ২০০ ো হথত শবথকি ৪০০ পযতনত এই কাস এ পরাপত বযস অশিবাসীথদর পতত শিজ িাষায বাকযে িঠন এবং বাথকযের সংশমরেন শিিাথনা হয তাছাডাওশবশিনন িথবদর মাযেথম বাথকযের সঠিক উচারণ সিিাথনা হয এবং শবশিনন ছশবর মাযেথম দদনশদিন সববহত দতজসপতাশদর নাম সিিাথনা হয এবং সংিযোর পশরেয ও সববহার সিিাথনা হয

সবতপশর বযেকযোরণ ও একো িবই পরথযাজনীয অযোয যা তাথদর সক শিকা সদযা িবই দরকার কারণ অশিবাসী শিি-শকথিাররা বযেকযোরণ এর শবশিনন াপ িথিা বথে উঠথত পারথছ নাহ কারণ তাথদর সরথক আমাথদর বযেকযোরণ একে শিনন আর এর জনযে তারা ঠিক মত আমাথদর বযেকযোরণ িথিা সক উপিশধি করথত পারথছ না এর দরন তারা পরীকায সতমন একো িাথিা করথত পারথছ নাহ তাই হযতবাহ আিামী বছর ৪রত সগড(শবদযোিথযর পাঠথরেণী) উততীণত হথত পারথব নাহ

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উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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oura

Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 23রোউজো মোরযো

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

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Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

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Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

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Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 16: Rosa Maria nº7

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

gran

de c

omun

idad

e de

esp

anhoacute

is so

bret

udo

gale

gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

inha

alg

umas

tert

uacutelia

s Fo

i aqu

i a uacute

nica

vez

que

vi

pess

oalm

ente

o

Alm

ada

Neg

reiro

srdquo

Anti

go

Cin

ema

Rex

ldquoTin

ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

fim-d

e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

e Es

tica

rdquo

Pap

elar

ia

da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

era

miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

inha

s tia

s par

a ar

ranj

ar e

apr

ovei

tava

par

a co

mpr

ar c

rom

os e

revi

stas

aos

qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

fato

s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

ais r

esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

qui j

ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

to

enca

nado

que

circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

agrave a

panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

e ha

via

sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

ia e

tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

ndav

am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

sage

m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

and

ando

obr

igad

o E

a su

a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

do C

om eacute

inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

mun

do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

o in

spiro

u en

quan

to

real

izad

or

de

cine

ma

C

om

uma

obra

ac

lam

ada

e co

nsid

erad

a sin

gula

r M

ozos

fez

par

te d

a pr

imei

ra g

eraccedil

atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

e C

inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

onta

gem

de

film

es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

ela

vive

satilde

o re

corr

ente

s nos

seus

film

es D

a M

oura

ria e

m p

artic

ular

tra

ns-

port

ou c

oisa

s pa

ra o

ecr

atilde ldquo

Hab

ituei

-me

a fil

mar

em

esp

accedilos

pe

quen

os e

nun

ca ti

ve d

ificu

ldad

es

Tal c

omo

inve

ntav

a br

inca

-

deira

s em

cas

as e

div

isotildees

peq

uena

srdquo c

onta

Man

uel

Agraves

veze

s le

vava

nom

es

o C

afeacute

Brilh

ante

na

s es

cadi

nhas

de

Satilde

o C

ristoacute

vatildeo

se

rviu

pa

ra

bapt

izar

um

caf

eacute-ce

naacuterio

de

Xav

ier

o se

u m

ais m

iacutetico

film

e

Qua

ndo

pass

a ju

nto

agrave Le

itaria

Mod

erna

do

Larg

o de

Satildeo

Cris

toacutevatilde

o r

elem

bra

a so

rrir

ldquoF

iz p

arte

de

uma

band

a de

rock

nos

fina

is do

s ano

s 70

a qu

e cha

maacutem

os L

eita

ria M

od-

erna

em

hom

enag

em a

o es

tabe

leci

men

tordquo

A b

anda

natildeo

vin

gou

ndash m

as a

lei

taria

ali

cont

inua

de

port

as a

bert

as

No

imag

inaacuter

io d

e M

anue

l con

tinua

m v

ivas

as

im

agen

s da

s ru

as p

ovoa

das

por

varin

as

lava

deira

s ta

bern

as g

aleg

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arvo

aria

s da

s bi

lhas

de

leite

que

che

gava

m n

uma

carr

occedila

ou

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senh

ora

que

vend

ia

figos

no

Ve

ratildeo

Mas

o s

eu fi

lme

do b

airr

o eacute

cons

truiacute

do c

om

pass

ado

e pr

esen

te t

al c

omo

os lu

gare

s que

esc

ol-

heu

para

est

e ro

teiro

afe

ctiv

o

E de

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ctos

se

trat

am

Nas

cido

num

a fa

miacuteli

a lu

so-e

span

hola

o b

airr

o aj

udav

a agrave

iden

tidad

e de

M

anue

l M

ozos

ldquoC

aacute ch

amav

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e lsquoo

esp

anho

lrsquo

Em E

span

ha c

hava

m-m

e lsquoo

por

tugu

ecircsrsquo E

ntatildeo

diz

ia

que

era

da M

oura

ria e

pro

nto

rdquo

Foto

grafi

a H

eacutelio

Bal

inha

Ilu

stra

ccedilotildees

por

Ale

xand

ra B

elo

e Vi

tor M

inga

cho

Depo

imen

to re

colh

ido

por A

na L

uiacutesa

Rod

rigue

s

রোউজা মারিযা

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

BB

16 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

17 Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo1416

Ros

a M

aria

nordm 7

junh

o lsquo14

middot dez

embr

o rsquo14

রোউজা মারিযা

17 R

osa Maria nordm 7

junho lsquo14 middot dezembro rsquo14

pass

eand

o co

m M

anue

l Moz

os

Larg

o

do

Inte

nden

teO

pas

seio

com

eccedilou

num

a es

plan

ada

do In

tend

ente

ndash p

orqu

e o

rote

iro

dese

nhad

o po

r Man

uel eacute

teci

do c

om lu

gare

s de

ante

s que

jaacute n

atildeo e

xist

em

luga

res d

e an

tes q

ue c

ontin

uam

a e

xist

ir e

luga

res q

ue n

asce

ram

nos

ano

s m

ais r

ecen

tes

O re

aliz

ador

con

tinua

a a

prov

eita

r o b

airr

o ldquoF

requ

ento

vaacuter

ios

luga

res n

ovos

que

fora

m a

pare

cend

o c

omo

a es

plan

ada

das J

oana

s a

Cas

a In

depe

nden

te a

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a da

Ach

ada

ou a

Ass

ocia

ccedilatildeo

Reno

var a

Mou

raria

rdquo

Cerv

ejar

ia

Ram

iro

ldquoEra

um

a ta

sca

um

a ce

rvej

aria

mod

esta

que

natildeo

era

nad

a do

que

eacute h

oje

V

inha

aqu

i lan

char

com

o m

eu a

vocirc E

le c

onhe

cia

e e

u fiq

uei t

ambeacute

m

a co

nhec

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senh

or R

amiro

que

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gal

ego

Hav

ia a

qui n

a M

oura

ria u

ma

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idad

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esp

anhoacute

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gosrdquo

Man

uel M

ozos

reco

rda

tam

beacutem

a C

erve

jaria

Por

tuga

l Fi

cava

no

nordm

202

da R

ua d

a Pa

lma

junt

o ao

Mar

tim M

oniz

ond

e ho

je e

staacute

uma

loja

de

reve

nda

ldquoT

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alg

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uacutelia

s Fo

i aqu

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nica

vez

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vi

pess

oalm

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Alm

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Rex

ldquoTin

ha se

ssotildee

s inf

antis

e a

ctiv

idad

es p

ara

as c

rianccedil

as s

obre

tudo

ao

fim-d

e--

sem

ana

e e

u ia

laacute se

mpr

e P

assa

va fi

lmes

do

Wal

t Disn

ey d

os ir

matildeo

s Mar

x o

C

harlo

t o B

ucha

e Es

tica

rdquo

Pap

elar

ia

da do

na O

tiacutelia

ldquoQua

ndo

era

miuacute

do v

inha

aqu

i tra

zer a

s mei

as d

a m

inha

av

oacute e

das m

inha

s tia

s par

a ar

ranj

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tava

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rom

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revi

stas

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qua

drad

inho

s ndash F

alcatilde

o Ti

ntin

Maj

or A

lvega

FBI

rdquo A

nos d

epoi

s a

pape

laria

do

nordm

25 d

a Ru

a do

s Cav

alei

ros c

ontin

uava

com

o po

nto

de c

ompr

a m

as d

e jo

rnai

s N

a po

rta

ao la

do

o G

uard

a-Ro

upa

Jorg

e o

nde

se a

luga

vam

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s de

Car

nava

l e fa

tos p

ara

a pr

ociss

atildeo d

a Se

nhor

a da

Sauacute

de

O pr

eacutedio

m

ais p

eque

no d

e Lisb

oaldquoF

ica

na ru

a do

Ter

reirr

inho

nordm

11 F

oi u

m ti

o m

eu q

ue

me

falo

u de

le e

me

mos

trou

era

eu

aind

a m

iuacutedo

E n

unca

m

ais m

e es

quec

irdquo

Paacuteti

o

do

Cole

ginh

oPa

ra e

star

em m

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esgu

arda

dos

e jo

gar agrave

bol

a agrave

vont

ade

subi

am

ao P

aacutetio

do

Col

egin

ho ldquoA

quel

es

port

otildees s

ervi

am d

e ba

liza

Ta

mbeacute

m p

or a

qui j

ogaacutem

os m

uito

hoacute

quei

-em

-pat

ins ndash

sem

pat

insrdquo

Rua

Mar

quecircs

de Po

nte d

e Lim

aN

o nuacute

mer

o 28

ond

e m

orou

con

tinua

a se

r a c

asa

de

fam

iacutelia

ldquoEst

a er

a um

a zo

na m

ais p

aciacutefi

ca d

o ba

irrordquo

rec

orda

Man

uel

que

com

eccedila

a en

umer

ar

os e

stab

elec

imen

tos q

ue e

xist

iam

agrave v

olta

ldquoAqu

i era

um

a ca

rvoa

ria h

avia

tam

beacutem

um

a ba

rbea

ria

uma

torr

efac

ccedilatildeo

de c

afeacute

rdquo T

ambeacute

m p

erm

anec

em a

s mem

oacuteria

s mai

s sen

soria

is c

omo

a do

ven

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enca

nado

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circ

ulav

a na

rua

A ru

a er

a lu

gar d

e br

inca

deira

ldquoJo

gaacuteva

mos

agrave b

ola

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panh

adardquo

con

ta

ldquoMas

naq

uela

altu

ra n

atildeo se

pod

ia jo

gar agrave

bol

a na

rua

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sem

pre

o m

edo

de v

ir a

poliacutec

ia e

tira

r a b

ola

rdquo A

aut

orid

ade

tam

beacutem

pro

ibia

o a

ndar

des

calccedil

o ndash

por i

sso

as v

arin

as a

ndav

am se

mpr

e agrave

coca

Agrave

pas

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m p

ela

Igre

ja d

o So

corr

o (o

Col

egin

ho)

assin

ala

ldquoAqu

i fui

bap

tizad

ordquo s

orrin

do agrave

dec

lara

ccedilatildeo

sole

ne

ldquoMan

el e

ntatildeo

com

o va

i a m

atildeerdquo

A p

ergu

nta

eacute la

nccedilad

a pe

la s

enho

ra

sent

ada

a ap

anha

r sol

no

Larg

o da

Ros

aldquoA

h c

omo

estaacute

Va

mos

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obr

igad

o E

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a irm

atilderdquo

O P

asse

-an

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inte

rrom

pido

par

a um

est

ar m

ais

prol

onga

do n

atildeo s

oacute um

cum

prim

ento

circ

unst

anci

al

Afin

al

dona

Isa

bel

conh

ece

Man

uel d

esde

cria

nccedila

ndash de

sde

a eacutep

oca

em q

ue g

rand

e pa

rte

do

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do in

fant

il se

des

enro

lava

ent

re o

Lar

go d

a Ro

sa e

a Ig

reja

do

Soc

orro

(Col

egin

ho)

Com

o m

ilhar

es d

e lis

boet

as M

anue

l Moz

os n

asce

u na

Ass

o-ci

accedilatildeo

dos

Em

preg

ados

do

Com

eacuterci

o e

m S

atildeo C

ristoacute

vatildeo

Mas

ao

con

traacuter

io d

e qu

ase

todo

s co

ntin

uou

no b

airr

o po

r m

uito

s an

os V

iveu

na

Rua

Mar

quecircs

de

Pont

e de

Lim

a at

eacute ao

s 25

anos

na

cas

a da

fam

iacutelia

mat

erna

N

atildeo eacute

difiacute

cil p

erce

ber

com

o es

ta v

ivecircn

cia

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spiro

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izad

or

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cine

ma

C

om

uma

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lam

ada

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nsid

erad

a sin

gula

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ozos

fez

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te d

a pr

imei

ra g

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atildeo d

e re

aliz

ador

es p

ortu

gues

es fo

rmad

os

pela

Esc

ola

Supe

rior d

e Te

atro

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inem

a q

ue m

arco

u o

cine

ma

port

uguecirc

s a p

artir

dos

ano

s 90

Te

m re

aliz

ado

ficccedilatilde

o e

docu

men

taacuterio

e ta

mbeacute

m fo

i res

pon-

saacuteve

l pel

a m

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gem

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es d

e ou

tros

real

izad

ores

A

rela

ccedilatildeo

iacutentim

a co

m L

isboa

e o

s cla

ros-e

scur

os d

e qu

em n

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

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এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

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As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

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reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1426

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

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Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 17: Rosa Maria nº7

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Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

বথিনএই শবদযোিথয অযোযনরত সকি শিকারথী এর পরশত সমান মথনাথযাি এবং সমান অগাশকার সদযা তাথদর সক কাথস অনিীিন কাথি সবতাশক সেষা করা হয যাথত তাথদর পথক কাথসর সাবথজকট সমপনত রকম ব িমযে হযএর জনযে মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিয ২০১১ সত এশব নং ৭৫ নামক একটি নতন পদধশত সশষ করা হথযথছ যাথত কথর তাথদর সযন কাথস অনিীিন কাথি তাথদর সকি সাবথজকট এর মমতারত বেথত কষ নাহ হয

এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

পতত শিজ িাষা শিকার শবিািীয পরান কািতা কািত ালহ এর সাথর অশিবাসীথদর জনযে পতত শিজ কাস সমবনীয অননযে তরযে এবং শবশিনন কিিাশদ সমপথকত আিাপকাথি শতশন জানান সযপরশত মিবার এবং বহসপশত বার সকািrdquo ১১৩০ হথত ১২৩০rdquo পযতনত শিি-শকথিার সদর পতত শিজ িাষা শিকা সদযা হয

তদপশরএই কাস সমথহ তারা শবশিনন রথপ অনিীিন কথর রাথকন সযমনশবশিনন রকম িবদ উচারথণর মাযেথম তাথদর সঠিক িাথব পতত শিজ শবশিনন িবদ উচারণ শিিাথনা হযতাথদর সক শেতাঙকন এর মাযেথম শবশিনন শজশনস পথতর সাথর পশরশেত করাথনা হযতাথদর সক সংিীত েেত ার মাথম অরবা পরথতযেক সদথির শবশিনন সকৌতক িনাথনা এবং তাথদর কাছ সরথক িনার মাযেথম তাথদর সক এথক অথনযের সাথর অথিােনায মতত কশরথয পতত শিজ িাষার অথনক েেত া করাথনা হয আর এিাথবই তারা ীথর ীথর পতত শিজ িাষায শিিথত ও পডথত শিথি যায

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আথযিা যার বযস ৭ বছর সস ও বাংিাথদিী (সস ইদাশনং পতত িাি

এ এথসথছ তাই িাষা জাথন না) আথযিা সবিাবতই অথনক শকছ জাথন না ও সবার কাথছ শজথগেস করথতশছি এো ওো শক আর অনযে সবাই তাথক অনবাদ কথর বিশছি সয এোর নাম

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উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 23রোউজো মোরযো

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 18: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1418

Umaya uma menina bengali de 9 anos e Ioana romena de 11 anos vizinhas e colegas descrevem episoacutedios diverti-dos quando potildeem em praacutetica o novo idioma ldquoO meu pai quando ia agrave loja do pai da Umaya chegava e na liacutengua dele apontava e dizia as coisas que queria mas ningueacutem o entendiardquo conta Ioana no meio de muitas risadas Ambas frequentam as aulas de Portuguecircs Liacutengua Natildeo-Materna da escola baacutesica da Rua da Madalena onde 60 da populaccedilatildeo estudantil eacute constituiacuteda por 16 nacionalidades

Estas aulas promovem ldquomaior igualdade no acesso e sucesso de todos os alunosrdquo explica a professora Carla Carvalho sempre empenhada em ldquofazecirc-los compreender que a aprendizagem da liacutengua portuguesa natildeo deve ser entendida como uma imposiccedilatildeordquo mas como ldquoum meio po-deroso para se expressaremrdquo Eacute assim desde 2011 na EB1 nordm 75 da Madalena O desafio estaacute na criaccedilatildeo de metodologias que se centrem natildeo soacute na formaccedilatildeo mas tambeacutem na promo-ccedilatildeo da interculturalidade Entre as soluccedilotildees estatildeo por exem-plo os almoccedilos vegetarianos especialmente pensados para as crianccedilas hindus

As estrateacutegias satildeo distintas e funcionam em duas aulas todas as terccedilas e quintas Das 11h30 agraves 12h30 os mais novos exploram a oralidade e identificam fonemas Desenhar conversar e ouvir cantigas e lengalengas ldquoestimula os pri-meiros passos para o domiacutenio da liacutengua e assim mais faacutecil seraacute chegar agrave sua escritardquo refere a professora

Tradutores natildeo faltam Ujjawal que vem do Bangladesh tenta entusiasmado des-crever as suas feacuterias de Paacutescoa ldquoEu vi muitas luzes e comi chocolatesrdquo Ali todos ajudam Por exemplo a Ayeesha (bengali de sete anos que chegou recentemente a Portu-gal) tem traduccedilatildeo simultacircnea dos colegas conterracircneos quando natildeo entende as perguntas da professora

No grupo da tarde para os mais velhos as liccedilotildees satildeo das 14h agraves 16h e focam a construccedilatildeo fraacutesica e interpretaccedilatildeo das palavras A realizaccedilatildeo de exerciacutecios de audiccedilatildeo ligados agrave numeraccedilatildeo ou agrave associaccedilatildeo de imagens eacute uma praacutetica frequente A gramaacutetica eacute tambeacutem alvo de mais atenccedilatildeo jaacute que no proacuteximo ano lectivo os meninos imigrantes que estejam em Portugal haacute mais de um ano jaacute natildeo seratildeo dispensados do exame nacional da quarta classe

Integraccedilatildeo contra O abandono escolarO diaacutelogo eacute uma prioridade Por um lado explicar em portuguecircs as suas rotinas e costumes perante os colegas obriga o aluno a colocar em praacutetica o que foi aprenden-do exercitando a capacidade linguiacutestica Por outro lado desperta-os para o respeito pela multiculturalidade tatildeo enraizada na Mouraria

Os objectivos das aulas estendem-se aos pais convida-dos a participar nas actividades extracurriculares como as festas de Natal ou o final do ano lectivo Assim estimulam--se o combate ao abandono e ao insucesso dos seus des-cendentes e o reforccedilo da formaccedilatildeo profissional facilitando a integraccedilatildeo e a igualdade dos imigrantes na comunidade portuguesa ldquoNo fundo eacute natildeo desistir dos miuacutedosrdquo subli-nha a professora Carla ldquoMostrar que acreditamos mesmo neles e valorizar as suas conquistas A escola eacute issordquo

উদাহরণ সবরপ উমাযা এবং ইযনা এই দজন শিকারথী এর সাথর করা হয আমাথদর উমাযার বযস ৯ বছর থস বাঙাশি আর ইউনা এর বযস ১১ সস হথিা সরামাশনতারা ই সি এ একসাথর পডািনা করথছ এবং তারা পরশতথবিী ও বথেতাথদর সাথর করা হথি ইযনা হাসথত হাসথত তাথদর দদনশদিন জীবথনর একটি ঘেনা বথিইযনা বথি তার বাবা মাথে মাথে উমাযার বাবার সদাকাথন সযথতন এবং শবশিনন দদনশদিন দতজসপতাশদ সকনার সেষা করথতন শকনত উশন পতত শিজ িাষা জানথতন না তাই ইযনার বাবার আথাি শদথয সদশিথয বিথতন সয আমার এই শজশনসটি িািথব শকনত উশন সরামাশন িাষায বিথতন তাই উমাযার বাবা শকছই বেথতন নাহ কারণ উশনও পতত শিজ িাষাও জানথতন নাহ সরামাশন িাষাও জানথতন নাহ তাই অথনক সময তাথদর মথযে সহজ সাারণ শজশনস িথিা শনথয বোপরা করথত অথনক কষ সপাহাথত হত

বততমাথন মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয সবতথমাে ১৬ টি জাতীযতার িতকরা পরায ৬০ িাি অশিবাসী শিকারথীরা পডািনা করথছন

শবিািীয শিশককা কািতা কািত ালহ এর সাথর করা হথি উশন

বথিনএই শবদযোিথয অযোযনরত সকি শিকারথী এর পরশত সমান মথনাথযাি এবং সমান অগাশকার সদযা তাথদর সক কাথস অনিীিন কাথি সবতাশক সেষা করা হয যাথত তাথদর পথক কাথসর সাবথজকট সমপনত রকম ব িমযে হযএর জনযে মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিয ২০১১ সত এশব নং ৭৫ নামক একটি নতন পদধশত সশষ করা হথযথছ যাথত কথর তাথদর সযন কাথস অনিীিন কাথি তাথদর সকি সাবথজকট এর মমতারত বেথত কষ নাহ হয

এই রথনর সমরড ি মাত িাষা শিকা উননশত করণ ই নই আমথদর সমাজ সববসা এবং বহজাশতক সংসশত এর উননযন সাথন ও উপকাথর আসথত পাথর থযমন আথরা শকছ উদাহরণ সবাথরাপ সদযা সযথত পাথর উদাহরণ শহদি ছাত-ছাতীথদর সক সকাথির নাসা শহথসথব শনরাশমষ িাবার সদযা সযথত পাথর এরকম আথরা শকছ সমরড তারা অনিীিন করথছন

কিথনা অনবাথদর পরথযাজন হথি অনবাদথকর অিাব হথব নাহ পরশত মি এবং বহসপশত বাথর সকাি ১১৩০ সরথক দপর ১২ ৩০ ো পযতনত পতত শিজ তাশবিক কাস হই তার পর সমৌশিক কাস হই সযমন কশবতা িানশেতাঙকন সকৌতক ইতযোশদ এিাথবই সকি ছাত ছাতীথদর সক উতসাশহত করা হই তাথদর শনথজথদর সংসশতর মজার শবষয িথিা সক পতত শিজ এ সিিার জনযে এ সত কথর শিকারথী রা িব সহথজ পতত শিজ শিিথত শিথি

পতত শিজ িাষা শিকার শবিািীয পরান কািতা কািত ালহ এর সাথর অশিবাসীথদর জনযে পতত শিজ কাস সমবনীয অননযে তরযে এবং শবশিনন কিিাশদ সমপথকত আিাপকাথি শতশন জানান সযপরশত মিবার এবং বহসপশত বার সকািrdquo ১১৩০ হথত ১২৩০rdquo পযতনত শিি-শকথিার সদর পতত শিজ িাষা শিকা সদযা হয

তদপশরএই কাস সমথহ তারা শবশিনন রথপ অনিীিন কথর রাথকন সযমনশবশিনন রকম িবদ উচারথণর মাযেথম তাথদর সঠিক িাথব পতত শিজ শবশিনন িবদ উচারণ শিিাথনা হযতাথদর সক শেতাঙকন এর মাযেথম শবশিনন শজশনস পথতর সাথর পশরশেত করাথনা হযতাথদর সক সংিীত েেত ার মাথম অরবা পরথতযেক সদথির শবশিনন সকৌতক িনাথনা এবং তাথদর কাছ সরথক িনার মাযেথম তাথদর সক এথক অথনযের সাথর অথিােনায মতত কশরথয পতত শিজ িাষার অথনক েেত া করাথনা হয আর এিাথবই তারা ীথর ীথর পতত শিজ িাষায শিিথত ও পডথত শিথি যায

শতশন আথরা বথিনঅথনক শিকারথী সক তাথদর জীবথনর শবশিনন রকম অশিজঞতার করা বিথত বিা হথয রাথক এমশন একজন বাংিাথদিী পতত শিজ িাষা শিকারথী উজবিতার কাথছ তার শবথিষ একটি অশিজঞতার করা জানথত োওযা হথি সস বথি থয সি একটি পাস-কওযার (ইসার-সানথড) অনষাথন সস অংিগহন কথর সসিাথন সস অথনক আথিা সদথি যা তাথক অশিিত কথর আর এই অনষাথন সস শবশিনন রকম েকথিে িায সস আথরা জানায সয সসিাথন সবাই এথক অপরথক সহথযাশিতা কথর সযমন

আথযিা যার বযস ৭ বছর সস ও বাংিাথদিী (সস ইদাশনং পতত িাি

এ এথসথছ তাই িাষা জাথন না) আথযিা সবিাবতই অথনক শকছ জাথন না ও সবার কাথছ শজথগেস করথতশছি এো ওো শক আর অনযে সবাই তাথক অনবাদ কথর বিশছি সয এোর নাম

এছাডাওসরেণী-কথক অথনক সময তারা যশদ শিশককার শবশিনন পরথনের মাথন বেথত না পাথর তিন শিকারথীরা এথক অথনযের সহথযাশিতা সনয

পরাপত বযসথদর জনযে কাস ির হয দপর ২০০ ো হথত শবথকি ৪০০ পযতনত এই কাস এ পরাপত বযস অশিবাসীথদর পতত শিজ িাষায বাকযে িঠন এবং বাথকযের সংশমরেন শিিাথনা হয তাছাডাওশবশিনন িথবদর মাযেথম বাথকযের সঠিক উচারণ সিিাথনা হয এবং শবশিনন ছশবর মাযেথম দদনশদিন সববহত দতজসপতাশদর নাম সিিাথনা হয এবং সংিযোর পশরেয ও সববহার সিিাথনা হয

সবতপশর বযেকযোরণ ও একো িবই পরথযাজনীয অযোয যা তাথদর সক শিকা সদযা িবই দরকার কারণ অশিবাসী শিি-শকথিাররা বযেকযোরণ এর শবশিনন াপ িথিা বথে উঠথত পারথছ নাহ কারণ তাথদর সরথক আমাথদর বযেকযোরণ একে শিনন আর এর জনযে তারা ঠিক মত আমাথদর বযেকযোরণ িথিা সক উপিশধি করথত পারথছ না এর দরন তারা পরীকায সতমন একো িাথিা করথত পারথছ নাহ তাই হযতবাহ আিামী বছর ৪রত সগড(শবদযোিথযর পাঠথরেণী) উততীণত হথত পারথব নাহ

(উথলেিযে আমাথদর সদথি সযমন পরাইমারী শবদযোিথযর সমাপনী পরীকা সিষ হয ৫ম সরেনীর পর পতত িাি এ হয ৪রত সরেনীর পর এবং এই পরীকা ো জাতীয িাথব হয)

সি সরথক েথর পডা শিিথদর জনযে করণীয আথিােনা সবথেথয িরবিপণত াপ হথত পাথর পরথতযেক সকই দাশযতব শনথয তাথদর সাথর আথিােনা করা উশেত বন সদর উশেত তাথদর দদনশদিন কাযতকরম এর সবিযো এবং শকিাথব পতত শিজ িাষার অনিীিন করা হথয রাথক সি তা বণতনা করা তাথদর কাথছ যারা শনযশমত সথি যায না অরবা সমপণত রথপ সি তযোি কথর সেথিথছ তাথতই কথর হথব শক তারা ও িাষা শিকার সকথত আগহী হথব আবার অনযে শদথক তাথত হথব শক তারা তাথদর অনযে সদথির বন সদর সাথর ও সযািাথযাি করথত পারথব এথত কথর আমাথদর সমৌরাশরযা সত বসবাস কশর সকি বহমাশতক জনিশষ নানান জাশতর ও বহসংসশতর শবকাি ঘেথব

িাষা শিকার সকথত শপতামাতার িশমকা অনসবীকাযত তাথদর সক শবদযোিথযর শবশিনন আোর অনষাথন আমনতরণ জানাথনা সযথত পাথর সযমন বড-শদথনর(খীষ মাস) অনষাথন অরবা বাশষতক পকত ার সিথষ েিােথির শদথন এথত কথর তারাও উদীশপত হথবন এবং শনথজথদর সনতান সদর সিিার জনযে উদীপত করথবন এবং উনারাও সামাশজক িাথবই পতত শিজ সমাথজ মীসার সথযাি পাথবন

উপসংহাথর শিশককা কািতা কািত ালহ বথিন এই পরথেষার মি িকযে হথিাই অশিবাসী শিকারথী রা সযন কাথির যাতাকথি শপথষ না যায আমরা শবশাস কশর সয তারা তাথদর জীবথনর মি িথক সপৌছাইথত পারথবই আর এর জনযেই আমরা সি এ আশছ শনথজর হাথত তাথদর সদির িশবষযেত িডার জনযে

As aulas para as crianccedilas ajudam tambeacutem os pais pois nas famiacutelias imigrantes os filhos satildeo os principais tradutores

Uma escola muitas nacionalidades Na Mouraria coexistem 51 nacionalidades estando 16 delas representadas na escola baacutesica da Madalena Fomos ver como se gerem diferentes culturas e assistimos agraves aulas de portuguecircs para crianccedilas imigrantes

একটি শবদযোিযঅথনক জাতীযতার সমৌরাশরযাথত ৫১ টি জাতীযতার সিাকজন বসবাস কথরন তাথদর মথযে ১৬ টি জাতীযতার অশিবাসীরা মাডাথিনা পরারশমক শবদযোিথয পডািনা কথরন আমরা সসই সি এ শিথযশছিাম সদিার জনযে শকিাথব তারা এই শিনন রকম সংসশতর থিাকজনথক পতত শিজ িাষা শিকার সকথত এবং তাথদর শনজসব সংসশতর েেত া করথত সহথযাশিতা কথর রাথকন

সিশিকা সতথরসা সমি

শেত-গাহক কািতা রসাদ

অনবাদক সমাহামমদ মঈন উশদন আহথমদ

(শিি-শকথিারথদর জনযে সয পতত শিজ িাষা কাস টি সদযা হয তা তাথদর শপতা মাতা সকও িাষা শিিাথত সহাযক কারণ অশিবাসী পশরবাথরর সনতাথনরা তাথদর শপতা-মাতার আদিত অনবাদক রথপ সহথযাশিতা করথত পাথর)

reportagem Texto Teresa MeloFotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

Carla

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oura

Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 23রোউজো মোরযো

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1426

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 19: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 19রোউজো মোরযো

Texto Paula Cosme Pinto ExpressoFotografia Nuno Botelho Expresso

Uma Chavepara a Vida

Eram casos de exclusatildeo social extrema Alguns nas ruas da Mouraria haacute mais de vinte anos Uma casa eacute o ponto de partida neste modelo de reabilitaccedilatildeo social para muitos ainda desconhecido o Housing First

ldquoPensava que ia morrer na rua ainda natildeo acreditordquo M roiacutea as unhas encardidas na tentativa de se acalmar encolhido contra o vidro da carrinha da associaccedilatildeo Crescer na Maior Consigo levava um cobertor atado com uma corda e uma mochila Ao fim de dezoito anos na rua era soacute o que possuiacutea Agora tudo mudava ia ter uma casa soacute sua Estaacutevamos em Outubro de 2013

M era um dos 47 sem-abrigo sinalizados pela Cres-cer na Maior associaccedilatildeo que no fim de 2012 recebeu um desafio do Gabinete de Apoio ao Bairro de Inter-venccedilatildeo Prioritaacuteria da Mouraria ajudar aquelas pessoas a saiacuterem da rua ldquoA experiecircncia de terreno desde 2003 dizia-nos que a maioria destes casos tinha consumos de substacircncias e patologia mental Era prioritaacuteria a pre-senccedila de um psiquiatra na ruardquo conta Ameacuterico Nave coordenador da equipa ldquoDepois questionaacutemos o paradigma satildeo as pessoas que natildeo querem sair da rua ou satildeo as estruturas existentes que natildeo se adequamrdquo

Uma casa e seis visitas mensais Perceberam que o encaminhamento para centros de acolhimento natildeo funcionava nos casos de maior exclusatildeo social Foi a pensar nessas pessoas que surgiu o programa de reabilitaccedilatildeo Eacute Uma Casa basea-do no modelo norte-americano Housing First Aleacutem da equipa que todos os dias palmilha o bairro foram atri-buiacutedas sete casas individuais A casa eacute apenas o ponto de partida e as regras satildeo poucas tecircm de contribuir com 30 de quaisquer rendimentos que tenham ou venham a ter e aceitar seis visitas por mecircs da equipa

Nasceu assim um novo projecto Housing First em Lisboa a primeira cidade europeia a adoptaacute-lo pela matildeo da Associaccedilatildeo para o Estudo e Integraccedilatildeo Psicos-social (AEIPS) Desde 2009 esta associaccedilatildeo jaacute tirou da rua 80 pessoas com doenccedila mental e pretende reabi-litar outras 400 ao abrigo da Estrateacutegia Europa 2020 da Comissatildeo Europeia

ldquoDeve estar cheia de pulgasrdquoNum destes sete casos soacute depois da entrada na casa eacute que a equipa da Crescer na Maior percebeu que o utente tinha um peacute partido fruto de uma agressatildeo na rua ldquoFizeram radiografia e estava partido Soacute me deram uns comprimidosrdquo conta H que hoje pre-cisa de ajuda para andar E quando uma segunda pessoa precisou de internamento compulsivo tambeacutem a poliacutecia reagiu mal agrave autorizaccedilatildeo oficial do delegado de sauacutede ldquoIsto vai ser lindo Eacute sem-abrigo deve estar cheia de pulgas Pocirc-la no carro onde an-dam os turistas que satildeo roubados natildeo tem jeito ne-nhumrdquo argumentou um dos agentes naquela tarde de Outubro de 2013 Mais uma vez tambeacutem no hospi-tal o internamento durou pouco

Testemunha o director do serviccedilo de Psiquiatria Geral e Transcultural do Centro Hospitalar Psiquiaacutetrico de Lisboa (CHPL) Antoacutenio Bento ldquoAgraves vezes fico com as pessoas nos braccedilos porque natildeo haacute quem lhes quei-ra dar acompanhamento Jaacute vi muitos voltarem para a rua e morreremrdquo O psiquiatra que em 1994 fundou a primeira equipa de rua da Santa Casa da Misericoacuterdia de Lisboa (SCML) acredita que ldquocomeccedilar por tirar as pessoas da rua e pocirc-las numa casa autonomamente eacute um bom comeccedilordquo mas rejeita esta soluccedilatildeo ldquocomo uma panaceiardquo E questiona ldquoO que eacute feito da Estrateacute-gia Nacional para a Integraccedilatildeo de Pessoas Sem-Abrigo que deu tanto alarido em 2009rdquo

O Censos 2011 apontava 241 casos de sem-abrigo em Lisboa mas a SCML contabilizou 852 em 2013 Mais de metade dormia na rua havendo vagas nos albergues

Contas simples Os sete casos da Mouraria [satildeo dez entretanto] contaram em 2013 com o financiamento total do municiacutepio de Lisboa Em 2014 o apoio camaraacuterio ao projecto continua estando a Crescer na Maior tambeacutem em conversaccedilotildees com o Serviccedilo de Intervenccedilatildeo nos Comportamentos Aditivos e nas Dependecircncias (SICAD) e a Administraccedilatildeo Regional de Sauacutede (ARS) e a identificar outros possiacuteveis investidores ldquoEstamos atentos aos fundos europeus e queremos sensibilizar algumas instituiccedilotildees privadasrdquo revela Ameacuterico Nave que pretende alargar o projecto a mais oito casos urgentes ainda este ano ldquoAssumimos um compromisso com estas pessoas ndash e a uacuteltima coisa que pode acontecer eacute terem de voltar para a rua onde jaacute perderam tanto tempo das suas vidasrdquo

As contas satildeo simples segundo dados do SICAD o custo meacutedio mensal por utente num centro de acolhimento pode rondar os 927 euros No caso do projecto Eacute Uma Casa cada utente representa um custo de 379 euros Conclui Ameacuterico Nave ldquoO mais im-portante nem satildeo os valores eacute o facto de se resolver a geacutenese do problemardquo

Testemunhos

ldquoNatildeo me ficaram apenas com o dinheiro ficaram--me com a dignidaderdquo J 50 anos mais de vinte a vi-ver na rua (nigeriano enganado agrave chegada a Portugal sob promessa de emprego na construccedilatildeo civil rouba-ram-lhe a documentaccedilatildeo pessoal)

ldquoUma bola de neve Ia a entrevistas mas dar como morada um albergue natildeo cai bemrdquo S 50 anos ca-torze na rua (professor de golfe de Cascais que numa situaccedilatildeo de desemprego e divoacutercio se refugiou em drogas e perdeu tudo)

ldquoQuando saiacutea do Juacutelio de Matos ningueacutem me propu-nha nada e eu voltava para a ruardquo P 30 anos dez na rua (tentou viver sozinha aos 13 anos apoacutes ter ficado oacuterfatilde de matildee e tido maacute relaccedilatildeo com a madrasta desco-nhecendo-se entatildeo a sua esquizofrenia)

ldquoQuando recebo o subsiacutedio a prioridade passou a ser comprar comida Jaacute natildeo tinha amor pela vidardquo M 42 anos dezoito na rua (toxicodependente desde a morte do pai a matildee expulsou-o de casa no dia em que M assumiu um roubo do irmatildeo toxicodependente desde a mesma altura)

M eacute uma das dez pessoas apoiadas pela Crescer na Maior Em troca tem de aceitar seis visitas por mecircs e contribuir com 30 de rendimentos que venha a obter

Nota l Este artigo eacute uma versatildeo resumida da reportagem de oito paacuteginas publicada na Revista do jornal Expresso no dia 15 de Marccedilo de 2014 com texto de Paula Cosme Pinto e fotografia de Nuno Botelho Incluiacutea quatro caixas com casos de pessoas alojadas que o Expresso acompanhou durante sete meses

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Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

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Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 20: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1420

Sempre que chove haacute noites em claro no Largo das Olarias E laacutegrimas ateacute ldquoEle ainda vai dormindo mas eu natildeo consigordquo conta Isabel Amoedo 82 anos doen-te renal choro faacutecil ldquoDe vez em quando estou a dor-mir e pum cai uma viga laacute em cima Ou enche o bidatildeo e ensopa-nos a camardquo acrescenta Luiacutes Amoedo um doente cardiacuteaco de 84 anos que sobe incansaacutevel ao andar de cima para ajeitar o arsenal de oleados bidons e mangueiras que drenam as aacuteguas para a rua Assim evi-tam danos ainda maiores no penuacuteltimo andar que este casal arrendou haacute 45 anos ndash ela costureira ele serralheiro

ndash ldquonos tempos do senhor tenente-coronel [senhorio] com tudo arranjadinhordquo por 2200 escudos mensais (11 euros contra os cem euros actuais) Hoje com reformas que somam 550 euros (donde ainda ajudam uma filha desem-pregada) cada dia eacute uma luta e as noites pesadelos

Entre os senhorios semelhantes inquietaccedilotildees ldquoLevantava-me com o barulho da chuva a ter de to-mar Valdispert Queria arranjar o que conseguisse Cheguei a subir ao telhado do 74 feita maluca a ten-tar limpar o algerozrdquo conta Maria Joana Figueiredo 36 anos Eacute tetraneta do homem que mandou construir no seacuteculo XIX vaacuterios preacutedios no Largo das Olarias incluindo a morada do casal Amoedo e o nuacutemero 74 que inclui um charmoso jardim e que foram vendidos em Janeiro ao fun-do imobiliaacuterio Sustentoaacutesis Todos em elevado estado de degradaccedilatildeo como aliaacutes mais de 150 edifiacutecios deste bairro lisboeta de seis mil residentes Na capital do paiacutes 14 dos edifiacutecios estatildeo degradados e 5 desocupados segundo um levantamento de 2012 da Cacircmara Municipal de Lisboa que estimou serem necessaacuterios oito (indisponiacuteveis) milhotildees de euros para as respectivas obras segundo anunciou o vereador do urbanismo Manuel Salgado em Maio desse ano

O vazio instalou-se no preacutedio habitado pelos Amoe-do haacute cerca de uma deacutecada desde que um incecircndio

destruiu o telhado ldquoSe eles tivessem feito logo as obras natildeo tinha chegado a este pontordquo comenta Luiacutes recordando o dia em que o tecto da cozinha abateu ldquoSei que receberam o dinheiro do seguro mas aquilo nunca ficou como deve ser O mestre-de-obras dizia que enquanto natildeo tivesse or-dem para avanccedilar o trabalho ficava provisoacuterio As pessoas comeccedilaram a ir embora Uns faleceram outros tinham casa na terra e foram para laacuterdquo A vida fica dependente da casa Evitam-se ateacute passeios mais demorados com medo que os habituais curtos-circuitos desencadeiem algum incecircndio

Versatildeo dos senhorios ldquoAquilo ficou assim porque vivia laacute um senhor com problemas mentais e houve um grande incecircndio A famiacutelia pagou um baluacuterdio pelo arranjo mas como todos acham que os senhorios satildeo os maus da fita e satildeo para extorquir cobraram mas fizeram um peacutessimo tra-balhordquo garante Joana

Do tetravocirc Figueiredo agrave inquilina ilegal As habitaccedilotildees vazias ensombram o largo mas uma delas chegou a ser ocupada em 2004 sem autorizaccedilatildeo das pro-prietaacuterias E quem a ocupou A inconformada Joana filha de uma delas ldquoFoi abuso de poder como diz a minha matildeerdquo Montou um atelier por onde passaram trinta artistas e reani-mou o jardim com uma horta ao cuidado da vizinha Adria-na Freire da Cozinha Popular da Mouraria Passou tambeacutem a mostrar os imoacuteveis a potenciais investidores

Haacute trecircs seacuteculos o tetravocirc de Joana (Macaacuterio Figuei-redo um comerciante de sapatos a quem reza a lenda saiu a lotaria por duas vezes) investiu em imoacuteveis e numa educaccedilatildeo esmerada para as trecircs filhas que tocavam pia-no e falavam francecircs A famiacutelia destacou-se nas letras neste paiacutes que ainda hoje tem os mais elevados iacutendices de analfabetismo da Europa Mas tal natildeo impediu as di-ficuldades financeiras que culminariam na degradaccedilatildeo dos edifiacutecios ao ponto de comeccedilarem a chegar intima-ccedilotildees judiciais para obras coercivas Isto nos tempos do avocirc de Joana ia entatildeo o patrimoacutenio na quarta geraccedilatildeo e corria a deacutecada de 90 do seacuteculo passado ldquoEle era militar e tinha a poliacutecia a bater-lhe agrave portardquo recorda esta descen-dente autora do documentaacuterio Ai Mouraria Curtas do Bairro de 2013 e aspirante agrave realizaccedilatildeo de um filme sobre o patrimoacutenio da famiacutelia ldquoIsto eacute a metaacutefora de um paiacutesrdquo

Desconfianccedila depressatildeo e siacutendrome de avestruzA sinopse uma famiacutelia de militares e meacutedicos em que os herdeiros satildeo maioritariamente mulheres Duas fo-ram roubadas pelos maridos logo na segunda geraccedilatildeo Desconfianccedila Casamentos com separaccedilotildees de bens obrigatoacuterias Depois a trageacutedia um meacutedico vecirc o filho varatildeo de trecircs anos morrer de pneumonia Depressatildeo e excessiva protecccedilatildeo dos proacuteximos filhos Desconfianccedila e negaccedilatildeo instalam-se no ADN da famiacutelia ldquoA minha avoacute morreu em 1986 e desde entatildeo a casa nunca foi mexida Eacute o esquema da avestruz Bloqueio Nisto tudo se eu dizia al-guma coisa respondiam-me lsquonatildeo arranjes problemasrsquo Ca-sas da famiacutelia vazias e noacutes a pagarmos rendas noutros siacutetios lsquoBora laacute ser colectivistasrsquo Natildeo As pessoas natildeo conseguem organizar-se nem sequer dentro das suas proacuteprias famiacuteliasrdquo

O pesadelo toca a todos senhorios e inquilinos ldquoJaacute recebi ameaccedilas por telefonerdquo garante Joana Isto apoacutes a famiacutelia tentar um aumento ao abrigo da poleacutemica

PREacuteDIOS DA MOURARIATRISTE FADOldquoA metaacutefora de um paiacutesrdquo O Largo das Olarias alberga preacutedios decadentes onde habitam pessoas em situaccedilatildeo decadente A reabilitaccedilatildeo estaacute prestes a comeccedilar Mas como chegou a este ponto Eis a histoacuteria contada por Maria Joana Figueiredo cineasta e herdeira de imoacuteveis que jaacute vatildeo na seacutetima geraccedilatildeo e que foram vendidos em Janeiro Um caso de poliacuteciahellip e psicologia

Luiacutes Amoedo numa pausa durante a cansativa subida ao telhado

Alice e Luiacutes Amoedo agrave janela satildeo dos poucos moradores do preacutedio vendido pela famiacutelia Figueiredo ao Grupo Libertas

reportagem Texto Marisa Moura Fotografia Carla Rosado

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

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reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

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Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 21: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 21রোউজো মোরযো

Carla

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Lei nordm 312012 que haacute dois anos veio des-congelar rendas dos anos 90 e facilitar processos de despejo afectando em espe-cial os mais idosos ldquoO Estado tem de ter soluccedilotildees para estas pessoas natildeo podem ser os senhorios a fazer de Seguranccedila Socialrdquo lamenta ldquoPor exemplo a minha matildee e as minhas tias satildeo todas professoras de liceu Funcionaacuterias puacuteblicas Chegaram a ter de dar explicaccedilotildees para haver um extrardquo diz esta herdeira que eacute a mais nova de cinco irmatildeos e matildee de uma menina de quatro anos ndash representante da seacutetima geraccedilatildeo ldquoHaacute muita vergonha em relaccedilatildeo aos in-quilinos face a uma responsabilidade que sabiam que tinhamrdquo aponta ldquoAnda toda a gente cheia de medo Medo de tudo da solidatildeo de tudordquo

Programas municipais ineficazesA famiacutelia chegou a tentar fazer obras no iniacutecio da deacutecada de 2000 ainda nos tem-pos do ldquosenhor tenente-coronelrdquo Ten-taram atraveacutes do Recria ndash o primeiro de vaacuterios programas camaraacuterios anunciados em vaacuterios anos (Recria Recriph Rehabita e Solarh) e que na Mouraria tiveram os mais baixos iacutendices de execuccedilatildeo segun-do um relatoacuterio de 2013 realizado pelo ISCTEDinamia no acircmbito da avaliaccedilatildeo ao Programa de Desenvolvimento Comu-nitaacuterio da Mouraria implementado pela Cacircmara Municipal de Lisboa desde 2010 neste bairro onde desde os anos 80 exis-tem gabinetes de reabilitaccedilatildeo local como o actual Gabinete de Apoio ao Bairro de Intervenccedilatildeo Prioritaacuteria (GABIP) da Mou-raria da Cacircmara Municipal de Lisboa O valor a suportar apesar da compartici-paccedilatildeo continuava alto para a disponibili-dade da famiacutelia

ldquoNatildeo eacute para um hotelrdquo Vaacuterios investidores visitaram os preacutedios nas Olarias ldquoChegaram a oferecer dois milhotildees de euros mas a famiacutelia insistiu em manter o patrimoacuteniordquo Mas eis que no passado mecircs de Janeiro satildeo vendidos trecircs preacutedios incluindo o do jardim Comprou-os por cerca de 15 milhotildees de euros o fundo de investimento Sustentoacuteasis que inclui capi-tal francecircs e que se estreia num bairro his-toacuterico ldquoForam os uacutenicos que olharam para aquilo com algum amorrdquo constata Joana O que ali nasceraacute ldquoHaja o que houver ha-veraacute sempre o jardimrdquo garantiu ao ROSA MARIA a gestora de projecto Honorina Silvestre do grupo Libertas responsaacutevel pela gestatildeo teacutecnica do projecto e parte do investimento Mais ldquoA proposta que temos na cacircmara eacute para uma aacuterea residencial natildeo eacute para um hotelrdquo assegurou a porta-voz Estaacute tudo em aberto em discussatildeo na cacirc-mara municipal Por outro lado na junta de freguesia jaacute estatildeo reservados 500 mil euros para aplicar daqui a dois anos na rea-bilitaccedilatildeo desta aacuterea

Por executar estatildeo tambeacutem os delicados realojamentos dos inquilinos ldquoNunca mais nos disseram nada Dinheiro natildeo quere-mos Queremos um buraco para bastar ateacute Deus nos levarrdquo afirmaram os Amoedo em Maio Terminou todavia a primeira parte deste filme cujo desfecho (a venda a estrangeiros) se afigurava inevitaacutevel ldquoAs coisas foram-se arrastando a cacircmara foi fechando os olhos os senhorios recebendo algumas rendas os inquilinos conseguindo casas por vinte euros Os problemas tecircm de ser vistos de todos os acircngulos Toda a gente tem a sua verdaderdquo diz uma das vendedoras Verdades que se passaram na Mouraria mas que se podiam ter passado em qualquer outro bairro de Portugal

ldquoIsto eacute Portugal no seu melhorrdquoHouve pacircnico na Mouraria no dia do temporal que fez cair pedaccedilos da cobertura do Estaacutedio da Luz e adiou um deacuterbi em Fevereiro E em muitos outros dias

ldquoSenti pacircnico Estou aqui com uma direc-tardquo diz Joseacute Martins morador na Rua da Guia Ali bombeiros representantes da cacircmara o presidente da junta e curiosos juntam-se frente ao preacutedio envolto em ta-pumes e chapas que envergonham o bairro haacute mais de vinte anos ndash a fachada frontal daacute para a Rua dos Cavaleiros por onde pas-sa o turiacutestico eleacutectrico 28

Eacute a manhatilde do dia 9 de Fevereiro do-mingo A noite passou-se entre os es-trondos das chapas a bater e o medo que se soltassem como acontecera na tarde anterior com a cobertura do Estaacute-dio da Luz Pior em dezenas de casas da Mouraria a noite passou-se entre baldes escoamentos e oraccedilotildees que aguentassem os tectos e os curtos-circuitos

Vistorias e editais em ldquoaacuteguas de bacalhaurdquo Alice Costa Pinto 64 anos (na foto) tam-beacutem ali estava Vizinha de Joseacute na mesma rua jaacute sobreviveu ao desabamento do corredor instantes apoacutes ter passado por ele Tambeacutem assistiu iacutentegra agrave queda da enorme chamineacute que partiu o telhado do terceiro andar que a famiacutelia habitava desde os tempos da sua bisavoacute Nessa noite dez meses antes desta manhatilde de Fevereiro teve de abandonar a casa com o marido acom-panhados pela Protecccedilatildeo Civil Tiveram guarida em familiares e ocuparam depois o andar debaixo dos mesmos senhorios com menos uma assoalhada e o triplo da renda entatildeo deixada pelos anteriores inquilinos

precisamente pela degradaccedilatildeo ndash um bura-co no tecto da cozinha teima em crescer

As rendas nesse preacutedio estatildeo entre os 30 e os 100 euros Os proprietaacuterios netos dos primeiros senhorios natildeo fazem obras A cacirc-mara faz vistorias tira medidas fotografa e coloca editais na porta a obrigar a soluccedilotildees imediatas ldquoMas fica sempre tudo em aacuteguas de bacalhau Eacute uma coisa que ningueacutem en-tende Eacute Portugal no seu melhor Fica-se agrave espera de uma desgraccedilardquo critica Joseacute nos seus quarentas Em Maio o ROSA MARIA perguntou por novidades ldquoNa semana pas-sada vieram caacute os senhorios para tratarem de um novo orccedilamento Havia um do ano passado mas era muito carordquo conta Alice Porque natildeo mudam de preacutedio ldquoUma pes-soa vai perdendo a acccedilatildeordquo

Voltando agrave tal manhatilde de Fevereiro O que fazia tanta gente na Rua da Guia Os bombeiros avaliavam como subiriam ao topo do tal edifiacutecio-moribundo para fixa-rem as chapas Os curiosos indignavam-se O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo largava o telemoacutevel ldquoA uacutenica coisa que posso fazer eacute chamar a atenccedilatildeo da cacircmara para o potencial de perigosidade que isto temrdquo Avisos natildeo faltam haacute anos

Este imoacutevel nos nuacutemeros 23-25 da Rua da Guia pertence agrave Cacircmara Municipal de Lisboa tal como outro no Beco das Gra-lhas junto agrave Rua das Farinhas tambeacutem assistido nessa manhatilde O grupo Libertas (ver texto ao lado) chegou a analisar este imoacutevel em concreto mas ldquoproblemas de iacutendole administrativa difiacuteceis de resolverrdquo levaram os investidores a desistir segundo Honorina Silvestre porta-voz destes po-tenciais compradores

Este eacute o telhado do preacutedio onde habita o casal Amoedo nas Olarias Natildeo eacute caso uacutenico na Mouraria

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1422

reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

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Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 22: Rosa Maria nº7

Os Ministars e os Onda Choc estavam na berra em Portugal e na Mouraria tambeacutem Mas por caacute havia miuacute-dos igualmente fatildes de outras cantorias as das marchas populares ldquoA primeira letra acho que falava das Desco-bertasrdquo recorda Bruna Fernandes 31 anos matildee de um menino de quatro anos e de uma menina que nasceraacute em Outubro Tinha 10 anos quando nos anos 90 integrou as primeiras marchas infantis desta era mais recente ndash sucessoras das primordiais em que Fernando Mauriacutecio desfilava aos 13 anos em 1947 antes de se tornar no ldquorei do fado casticcedilordquo A Bruna ainda eacute jovem mas jaacute eacute do tem-po em que ainda natildeo existiam os desfiles infantis orga-nizados pela Cacircmara Municipal de Lisboa que animaram a pequenada entre 1996 e 2006 em Beleacutem

Na Mouraria dos anos 90 mais de vinte miuacutedos entre os 10 e os 15 anos marchavam sob a coordenaccedilatildeo de Iola Costa (prima da Bruna ensaiadora aos 18 anos) e Erme-linda Brito hoje com 73 anos entatildeo presidente da Junta de Freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo e chefe do departamento de qualidade da Ucal em Loures Tudo a marchar Umas vezes ensaiavam na Vila do Castelo protegidos do tracircnsito onde moram ainda hoje as primas Bruna e Iola ndash filhas das irmatildes Cila e Laurinda donas do conhecido restaurante O Trigueirinho no Largo dos Tri-gueiros onde tambeacutem chegaram a ensaiar Outras vezes era no Largo da Rosa ou junto agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

ldquoQuando eles se portavam malhellip a certa altura arran-jei um apitordquo recorda Ermelinda divertida Foi a mento-ra dessas marchas nascidas anos antes dos desfiles mu-nicipais E tambeacutem autora das letras ateacute ao ano passado altura em que deixou de presidir agrave junta e que coinciden-temente acabou a marcha infantil da Mouraria

Trabalho de equipa e responsabilidade Dessa ldquotropardquo que marchava sob o apito de Ermelinda trecircs ldquosoldadosrdquo ainda caacute estatildeo no bairro Aleacutem da Bruna estaacute o seu inseparaacutevel irmatildeo Jorge de 29 anos e o amigo Ivo de 27 que ainda hoje eacute marchante O rigor dos ensaios eacute precisamente o que os manos Fernandes mais recordam pela positiva

ldquoA responsabilidade os horaacuterios o trabalho de equi-pardquo Satildeo detalhes que ali importavam e que ainda hoje

prezam nas suas vidas pessoais e profissionais Ela eacute en-fermeira no Hospital Garcia de Orta em Almada licen-ciada Ele estaacute imigrado na Beacutelgica desde Marccedilo como teacutecnico de elevadores saiacutedo de Portugal com o 10ordm ano incompleto a trabalhar como secretaacuterio num escritoacuterio de uma oacuteptica

Ficaram para a vida os ensinamentos do rigor e do bairrismo responsaacutevel ldquoAprendi a dar muito mais valor ao siacutetio onde vivo a intervir Por exemplo se vemos um toxicodependente a drogar-se na rua ao peacute de crianccedilas ali a brincar a gente eacute capaz de ir laacute chamaacute-lo agrave atenccedilatildeordquo diz a Bruna E completa o Jorge ldquoPessoas que morem aqui haacute pouco tempo se calhar natildeo fazem issordquo

Novas geraccedilotildees outras motivaccedilotildeesO rigor marcava tambeacutem as marchas dos adultos ndash que os Fernandes bairristas como satildeo obviamente tambeacutem integraram ldquoToda a gente fazia o que ensaiador dizia e bem feito Havia respeito Os ensaios eram como um trabalhordquo recorda o Jorge que se estreou nos crescidos com 17 anos E natildeo foi logo aos 16 como a irmatilde porque ldquoera muito magrinhordquo e eacute da praxe comeccedilar por carregar os arcos que pesam cerca de 30 quilos Foi marchante grauacutedo dos 17 aos 22 anos com um regresso haacute dois anos aos 27 A mana marchou por uma deacutecada ateacute haacute seis anos pelos 26

ldquoDeixou de ser seacuterio Saiacuteram os pais entraram os filhoshellip e passou a ser apenas engraccediladordquo argumentam estes irmatildeos dados agraves tradiccedilotildees Sempre conviveram com pessoas mais velhas Diariamente em casa ldquocom os avoacutes ateacute eles morreremrdquo e nas habituais sardinhadas organi-zadas pelo pai que era treinador de futebol caacute no bairro e guarda-costas de profissatildeo (chegou a ser seguranccedila do Dom Duarte Pio) Bruna eacute descendente desta famiacutelia de ori-gens espanholas que habita na Vila do Castelo desde a sua bisavoacute paterna e sublinha ldquoDantes havia os senhores das marchas nem toda a gente entrava mas depois ateacute jaacute vinham pessoas de fora do bairrordquo Os irmatildeos desmotiva-ram-se Mas nunca se desligaram totalmente e ainda visitam os ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria E este ano o Jorge de feacuterias por caacute ateacute comentou o bom ambiente que laacute sentiu

O que eacute feito dessa maltaE os outros miuacutedos que ensaiavam nos anos 90 o que eacute feito deles ldquoForam saindo daqui As mulheres juntaram-se muito cedo ou foram para a faculdade Os rapazes foram ficando caacute com os paisrdquo conta a Bruna E estudaram menos O Jorge constata ldquoEntre todos os meus amigos soacute um eacute que foi para a faculdade O resto saiu tudo da escola com o sexto ou o nono anordquo Fazem parte das negras estatiacutesticas da escolaridade onde Portugal surge como o penuacuteltimo paiacutes menos escolarizado do chamado mundo desenvolvido soacute menos mal do que a Turquia e o Meacutexico segundo a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE) E haacute a falta de empregohellip ldquoMuitos tambeacutem natildeo procuramrdquo atira a Bruna ldquoEacute tiacutepico dos bairros Fica-se ali pelo cafeacuterdquo

O uacuteltimo resistente eacute o Ivo Dos primeiros mini mar-chantes dos anos 90 eacute o uacutenico que continua a mar-char pela Mouraria Encontraacutemo-lo num dos ensaios no Grupo Desportivo da Mouraria numa sexta-feira de Maio Nem o cansaccedilo dos turnos nocturnos que o trabalho por ve-zes exige desencoraja este bairrista Vai estando presente nos dois meses de ensaios das 21h agraves 23h30 Todavia entre tantos afazeres maacute sorte a nossahellip ficou sem tempo para dar uma entrevista ao ROSA MARIA

Mais crise menos filhos e menos marchas O Ivo e os irmatildeos Fernandes satildeo dos tempos em que havia crianccedilas com fartura caacute no bairro Todavia Ermelinda recorda que houve anos em que natildeo se fizeram marchas infantis porque ldquouns ainda eram muito pequeninos outros jaacute grandes demaisrdquo Sinais dos tempos A incerteza desmotiva a paternidade neste paiacutes que eacute o mais envelhecido da Europa (haacute quarenta anos pelo contraacuterio tinha a populaccedilatildeo mais jovem de todas) e o sexto em todo o mundo com o Japatildeo a liderar O Jorge por exemplo viu-se obrigado a emigrar por isso mesmo por causa da incerteza ldquoSempre tive noccedilatildeo de que natildeo ia ter um filho soacute por ter Teria de ter condiccedilotildeesrdquo testemunha Apesar de nunca ter estado desempregado decidiu juntar-se ao cunhado na Beacutelgica em busca da ldquooportunidade de uma vida mais estaacutevel com outros horizontes constituir famiacuteliardquo

Os irmatildeos Bruna e Jorge Fernandes na Vila do Castelo onde ensaiavam as primeiras marchas infantis e onde mora a famiacutelia haacute cinco geraccedilotildees

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1422

reportagem Texto Carmen Correia e Marisa MouraFotografia Joseacute Fernandes

A idade avanccedila as marchas ficam

Como estaratildeo hoje os miuacutedos que faziam as marchas infantis na Mouraria Fomos agrave procura deles e encontraacutemos trecircs Uma viagem ao bairro (e ao paiacutes) dos anos 90 E dos anos 30 tambeacutem no iniacutecio das marchas populares

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1424

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 23: Rosa Maria nº7

Os tempos satildeo efectivamente diferentes Mais ainda se com-pararmos com a deacutecada de 30 quando nasceram as marchas populares (ver ldquoA origem das marchas popularesrdquo) As crianccedilas jaacute trabalhavam Era o caso de Fernando Mauriacute-cio nos anos 40 ldquoEm 1947 com ape-nas 13 anos de idade trabalhava jaacute como manufactor de calccedilado e can-tava em associaccedilotildees de recreio (hellip) Em 29 de Junho do mesmo ano participa jaacute na marcha infantil da Mouraria repre-sentando o Conde Vimioso com Clotilde Monteiro no papel de Severardquo Esta eacute uma passagem da sua biografia patente no site do Museu do Fado

O espiacuterito das DescobertasA marcha infantil que todos os anos desfila na Avenida da Liberdade eacute a da Sociedade de Instruccedilatildeo e Beneficecircncia A Voz do Operaacuterio que estreou em 1988 (uma data consensual apesar de vaacuterias outras serem por vezes indicadas) Mas por toda a cidade foram nascendo projectos de palmo e meio surgindo depois um movimento mais seacuterio entre 1996 e 2006 as Marchas Populares Infantis de Lisboa Nesse periacuteodo milhares de crianccedilas ndash incluindo as da Mouraria ndash desfilaram anualmente em Beleacutem o bairro dos monumentos agraves Descobertas onde o ditador Salazar realizou a miacutetica Exposiccedilatildeo do Mundo Portuguecircs em 1940 Cada ediccedilatildeo reunia cerca de trinta freguesias e cinquenta instituiccedilotildees com subsiacutedios municipais que rondavam os 1600 euros por cada junta de freguesia

O objectivo estava impresso num folheto de 2006 (que viria a ser o uacuteltimo) ldquoEsta iniciativa apre-senta para a Cidade o preservar de uma identidade e de uma memoacuteria cultural que se pretende fomentar nas geraccedilotildees mais novas Desta forma eacute possiacutevel ter crianccedilas pais escolas associaccedilotildees e juntas de freguesia absorvidos de um espiacuterito que para aleacutem de recreativo simboliza a alma lsquoalfa-cinharsquordquo Assinado Seacutergio Lipari Pinto vereador da Acccedilatildeo Social e Educaccedilatildeo

Mouraria sem marcha este anoA iniciativa acabou em 2007 mas cada junta e colectividade continuou a financiar-se como pocircde Na Mouraria a marcha infantil tambeacutem continuou e teve ateacute um momento alto em 2011 Ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo marchou em directo na SIC no programa Boa Tarde apresentado por Ana Marques

Estava esta marcha em grande dinacircmica desde o ano anterior reunindo a energia (e o investimento) de duas juntas a de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo presidida por Ermelinda Brito e a do Socorro por Maria Joatildeo Correia Recorda a veterana ldquoEu tinha dito agrave Maria Joatildeo lsquoSe ganhares as eleiccedilotildees para o ano fazemos juntasrsquordquo E fizeram Assim foi por trecircs anos ateacute ao ano passado Agora com a extinccedilatildeo das juntas (ambas integram a mega freguesia de Santa Maria Maior desde as autaacuterquicas de Setembro de 2013) extinguiu-se tambeacutem a marcha infantil Veremos quando

reanimaraacute As marchas nascem e renascem Assim tem sido ateacute hoje tanto nas miuacutedas como nas grauacutedas

A marcha infantil da Mouraria esteve em directo na SIC em 2011 ensaiada pelo vizinho Viacutetor Hugo (na foto acima ao centro com chapeacuteu) e acompanhada pela veterana Ermelinda Freitas (agrave esquerda de azul) e Maria Joatildeo Correia entatildeo presidente da junta de freguesia do Socorro (agrave direita)

A origem das marchas populares

As celebraccedilotildees do Santo Antoacutenio existem desde o seacuteculo XII mas as marchas populares que integram as festas do padroeiro de Lisboa tal como as conhecemos soacute nasceram com a ditadura do Estado Novo haacute oitenta anos Resultaram de uma mistura entre os ranchos folcloacutericos regionais e as chamadas Marches aux Flambeaux ndash marchas dos archotes realizadas em Franccedila em homenagem agrave Revoluccedilatildeo Francesa num ambiente militar com bandeiras e archotes acesos transformados por caacute nos balotildees populares Aportuguesaram-se sob a designaccedilatildeo ldquomarchas ao filamboacuterdquo com especial adesatildeo entre actores do teatro que as encenavam pelo Carnaval e lhes chamavam Festas de Entrudo Eis os momentos-chave das Marchas Populares de Lisboa

1932 3 O director do Parque Mayer Campos Figueira pretende reanimar o recinto de teatros populares e pede ajuda a Joseacute Leitatildeo de Barros director do jornal Notiacutecias Ilustrado proacuteximo do entatildeo mi-nistro das financcedilas Antoacutenio de Oliveira Salazar que instauraria no ano seguinte o regime do Estado Novo (1933-1974) Organiza-se um concurso de ranchos folcloacutericos na veacutespera do dia de Santo Antoacutenio Na noite de 12 de Junho desfilam em concurso os bairros de Campo de Ourique (vencedor com trajes do Minho) Alto do Pina e Bairro Alto com massiva divulgaccedilatildeo na imprensa

1934 3 Haacute oitenta anos nasceram as marchas populares como hoje as conhecemos Num evento organizado pela Cacircmara Munici-pal de Lisboa estiveram representados doze bairros cada um com 24 pares e doze arcos Desfilaram do Terreiro do Paccedilo pela Aveni-da da Liberdade ateacute ao Parque Eduardo VII no sentido inverso ao actual que desce da rotunda do Marquecircs ateacute aos Restauradores E houve versotildees infantis

1935 3 Repete-se o evento e populariza-se a canccedilatildeo Laacute Vai Lisboa interpretada por Beatriz Costa com letra de Norberto de Arauacutejo e muacutesica de Raul Ferratildeo Segue-se um grande interregno devido agrave crise econoacutemica desencadeada pela guerra civil espanhola (1936-39) e pela Segunda Guerra Mundial (1939-45)

1947 3 Reediccedilatildeo do evento em grande escala pelo oitavo cen-tenaacuterio da conquista de Lisboa aos mouros Houve marchas um cortejo sobre a histoacuteria da cidade e um campeonato mundial de hoacutequei-em-patins ganho por Portugal Fernando Mauriacutecio aos 13 anos desfila na marcha infantil da Mouraria

1948-1988 3 Nestes quarenta anos as ediccedilotildees foram irre-gulares Primeiro por desmotivaccedilatildeo depois apoacutes a revoluccedilatildeo democraacutetica de 1974 pela opccedilatildeo de cortar radicalmente com o regime fascista caracterizado por apostar na animaccedilatildeo do povo em detrimento da educaccedilatildeo e liberdade de expressatildeo e pensamento

1988 3 As Marchas Populares de Lisboa tornam-se a partir daqui um evento anual inin-terrupto ateacute hoje Entre os anos de 1986 e 2006 a cacircmara promoveu tambeacutem as Marchas Populares Infantis de Lisboa num desfile regular em Beleacutem na semana anterior ao feriado de Santo Antoacutenio

Os manos Fernandes

na infacircncia num dos

desfiles municipais e a prima

Lola em pregotildees junto

agrave Igreja de Satildeo Cristoacutevatildeo

FONTES Lisboa Marcha haacute Oitenta Anos pelo olisipoacutegrafo Appio Sottomayor na brochura Marchas Populares 2012 Cacircmara Municipal de LisboaEGEAC Uma ldquoTradiccedilatildeo Inventadardquo em 1932 por Isabel Lucas Diaacuterio de Notiacutecias 2005

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

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Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 24: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro lsquo1424

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Telma Pereira mora no Intendente e usa a voz como instrumento Encontrou uma oportunidade uacutenica para ldquoconviver trocar ideias e conhecer o processo de criaccedilatildeo de um muacutesico com o trabalho e o percurso como os do Carlos Em cada ensaio apren-de-se imenso Eacute uma aprendizagem con-tiacutenuardquo Refere-se a Carlos Barretto figura proeminente do jazz nacional ao longo de mais de duas deacutecadas

Contrabaixista com uma soacutelida dis-cografia ao leme do seu trio Lokomotiv integrou o trio de Bernardo Sassetti aleacutem de trabalhar nas artes visuais Estaacute a desen-volver uma residecircncia artiacutestica na Mou-raria Fruto de uma parceria com o Largo Residecircncias estaacute a trabalhar num espaccedilo que foi um salatildeo de jogos No nuacutemero 193 da Rua do Benformoso funciona um atelier de ensaio e criaccedilatildeo e eacute aiacute que tem trabalhado em muacutesica e pintura desde Maio de 2013 encetando tambeacutem uma ligaccedilatildeo agrave comunidade local

Eacute isso mesmo que destaca a flautista Juacutelia Neves 27 anos originaacuteria do Brasil e uma das residentes Vecirc a experiecircncia como uma ldquooportunidade de ter mais con-tacto com a linguagem do jazz e conhecer melhor esta zona do Intendente com tan-tas coisas e pessoas interessantesrdquo

A ideia surgiu certa vez que Barretto foi tocar ao antigo Espaccedilo SOU ldquoEm con-versa com a Marta Silva [fundadora do Largo Residecircncias] surgiu a possibilidade de se trabalhar numa residecircncia artiacutestica A Marta tratou de arranjar um espaccedilo e eu sugeri em troca oferecer serviccedilos agrave comu-nidade Essa ideia foi tomando forma e aconteceurdquo

A primeira actividade passou pela abertura de portas para audiccedilotildees para jo-vens muacutesicos residentes na zona A ideia inicial foi criar uma orquestra para que

trabalhando semanalmente essas pessoas pudessem desenvolver as suas capacidades individuais com o objectivo de integrar um grupo Nasceu a In Loko Band

O primeiro momento de visibilidade deste trabalho aconteceu no final de Julho do ano passado quando a banda se apre-sentou ao vivo no Largo do Intendente Para a primeira actuaccedilatildeo da mini-orques-tra foram seleccionados sete jovens muacute-sicos locais aos quais se juntou o proacuteprio contrabaixista os habituais parceiros do trio Lokomotiv (Maacuterio Delgado na gui-tarra e Joseacute Salgueiro na bateria) e ainda a cantora convidada Selma Uamusse

Muacutesica e pedagogia tambeacutem para crianccedilas Dessa combinaccedilatildeo de muacutesicos profissio-nais e iniciantes resultou um espectaacuteculo que nas palavras de Barretto ldquoacabou por ser meio jazz meio world musicrdquo O envol-vimento da comunidade local atraveacutes da muacutesica acaba por encontrar um paralelo com a Orquestra TODOS um grupo que trabalha a integraccedilatildeo reunindo muacutesicos de vaacuterias nacionalidades e culturas mas este projecto diferencia-se por se direc-cionar para um grupo mais jovem em que a vertente educativa e pedagoacutegica tem maior importacircncia

O trabalho do contrabaixista com a co-munidade natildeo se fica por aqui Outra das actividades que Barretto tem promovido eacute um atelier para crianccedilas entre os 6 e os 12 anos ldquoIncutimos neles algumas noccedilotildees mu-sicais como tocar em grupo improvisar ou mesmo experimentar vaacuterios instrumentos diferentesrdquo Uma outra actividade dirigida a um puacuteblico mais velho eacute a promoccedilatildeo de workshops de improvisaccedilatildeo para muacutesicos com alguma experiecircncia musical em que se possa ldquocombinar o prazer de tocar em gru-po com a capacidade de improvisar algordquo

Jams quinzenais no IntendenteTodas estas actividades satildeo complemen-tadas com o ciclo de concertos em forma-to jam session que tem decorrido no Cafeacute Largo (ao Intendente) Agraves terccedilas-feiras agrave noite com uma regularidade quinzenal Carlos Barretto toca ao vivo na companhia do seu grupo de muacutesicos locais Actuan-do de uma forma regular os muacutesicos vatildeo ganhando experiecircncia de palco e isso re-flecte-se na sua proacutepria evoluccedilatildeo musical

Para o contrabaixista esta tem sido uma experiecircncia humana muito rica ldquoTenho conhecido as pessoas que vivem aqui haacute muitos anos tenho conhecido gente incriacute-vel gente muito boa Satildeo pessoas que estatildeo dispostas a colaborar em todas as nossas actividadesrdquo A residecircncia duraraacute enquan-to o imoacutevel continuar disponiacutevel

Crianccedilas e jovens estatildeo a fazer muacutesica com o conhecido muacutesico de jazz Carlos Barretto no Largo Residecircncias Nasceu a In Loko Band

In Loko Band numa das apresentaccedilotildees no Cafeacute Largo ao Intendente com Jorge Mendonccedila Oliveira (percussatildeo) Carlos Barretto (contrabaixo) Philip Santos (bateria convidado) Juacutelia Neves (flauta) Diogo Picatildeo (saxofone) e Luiacutes Bastos (clarinete convidado) E a Telma Pereira Natildeo esteve neste dia

reportagem Texto Nuno CatarinoFotografia Augusto Fernandes

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 25: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 25রোউজো মোরযো

Texto Oriana Alves Fotografia Nuno Moratildeo

Uma extensa colecccedilatildeo de fado em vinil Trofeacuteus e medalhas incluindo a de Comendador da Grande Ordem de Meacuterito de 2001 Dezenas de fotografias e notiacutecias de jornais Poemas que lhe dedicaram A certi-datildeo militar que regista ldquolecirc e escreve malrdquo e contra a qual se revoltou fazendo a quar-ta classe e cultivando-se

ldquoao ponto de manter uma conversaccedilatildeo fosse com quem fosserdquo No museu improvisado por Antoacutenio Piedade na al-deia de Carvoeira concelho de Torres Vedras os objectos de Fernando Mauriacutecio dispostos com amor contam histoacute-rias partilhadas pelo amigo do fadista que o povo haacute mais de vinte anos coroou com o cognome de ldquoRei do Fadordquo

Em Marccedilo passado quando Antoacutenio Piedade recebeu em casa o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior Miguel Coelho natildeo foi a primeira vez que um au-tarca tentou convencecirc-lo a oferecer a Lisboa o espoacutelio do fadista A diferenccedila eacute que desta vez o pedido veio acom-panhado da promessa de que o destino seria a Mouraria

Fora das opccedilotildees por ser ldquodemasiado pequenardquo estaacute a casa onde Mauriacutecio nasceu e viveu na Rua do Cape-latildeo haacute anos transformada em loja de muacutesica e filmes indianos entretanto encerrada Sem revelar a locali-zaccedilatildeo exacta Miguel Coelho adianta que haacute dois espa-ccedilos em vista ambos muito proacuteximos do Largo da Guia que em breve teraacute um busto do fadista ldquoagora em fase de produccedilatildeordquo e que deveraacute passar a chamar-se Largo Fernando Mauriacutecio caso a assembleia municipal aprove a proposta da junta

O Museu Fernando Mauriacutecio ldquofuncionaraacute como um poacutelo do Museu do Fado na Mouraria beneficiando de enquadramento teacutecnico daquela instituiccedilatildeordquo e abri-raacute ateacute ao final do ano ldquoidealmente em Julhordquo quando se assinalam onze anos da sua morte

O amigo de confianccedila

ldquoO Fernando soacute natildeo deixou tudo na Mouraria porque natildeo encontrou ningueacutem de confianccedilardquo admite Antoacutenio Em contrapartida o fadista conhecia bem o gosto do amigo pelo coleccionismo e pela histoacuteria de Lisboa e sempre que visitava a quinta trazia-lhe uma peccedila antiga da cidade

Conheceram-se haacute mais de quarenta anos nos fados onde Antoacutenio Piedade ldquocomovia os nervosrdquo e ldquocurava o stressrdquo do emprego na Central de Cervejas ldquoPor essa altura jaacute era uma loucura quando ele entrava em qualquer ladordquo Jantavam duas ou trecircs vezes por semana no Verdemar ou no Solar dos Presuntos na Rua das Portas de Santo Antatildeo ldquoum prato de berbigatildeo ou uma cabeccedila de peixe de que ele gostava muitordquo Depois seguiam para o Bairro Alto para o Mesquita onde foi muito tempo artista privativo ldquoAntes do 25 de Abril natildeo se andava no Bairro Alto pelos passeios havia sempre um certo perigo era um ninho de prostitutas e onde havia mulheres na rua havia sempre zaragatardquo

Se a garganta natildeo estava a cem por cento afinava a voz nas estaccedilotildees do metro ldquoPorque o Fernando era purista rigoroso Os guitarras quando o acompanhavam tremiam de gozo de emoccedilatildeo Nunca cantou nada de ningueacutem e nunca pediu um poema os poetas eacute que lhos ofereciam O Maacuterio Raiacutenho fez-lhe o Testamento Fadista porque jaacute muita gente tinha cantado coisas delerdquo

Da Mouraria de Lisboa e do Fado

ldquoEle natildeo via muito bem e nas jogatanas no Largo da Guia quando comeccedilava a perder mandava as cartas para o chatildeo Era uma risota Era um brincalhatildeordquo Chorar chorava pelas mulheres ndash ele por elas e elas por ele Eacute dele a quadra ldquoSe o fado eacute tristeza ou dor Se eacute ciuacuteme ou pecado Que seraacutes tu meu amor Toda vestida de fadordquo

Quando andava mal de amores era em Alfama que se curava na Parreirinha ldquocom os fados da Argentinardquo Por aquelas ruas lhe gritaram muitas vezes ldquoTu eacutes nossordquo E era Mas sobretudo era ldquoum filho da Mouraria um coraccedilatildeo fabuloso um fadista que deixou escola Quando morre gente desta fica um vaziordquo O vazio que todos os anos reuacutene vizinhos famiacutelia amigos e uma longa lista de ldquomauricianosrdquo que assinalam o seu desaparecimento a 15 de Julho de 2003 aos 69 anos com uma maratona de fado no cruzamento da Rua da Mouraria com a Rua do Capelatildeo Este ano a festa eacute no saacutebado dia 12 Se tudo correr bem com estaacutetua rua e museu ldquoOnde ele estiver estaacute feliz de voltar agravequelas ruelas agrave gente que ele adoravardquo

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O amigo Antoacutenio Piedade guardou tudo com amor na sua quinta em Torres Vedras por onde ldquojaacute passaram grandes vozesrdquo e ldquoa Cristina Branco comeccedilou a cantarrdquo

Lisboa coroa o ldquoRei do FadordquoQuando passam onze anos sobre a morte de Fernando Mauriacutecio o espoacutelio do fadistaregressa finalmente agrave Mouraria ldquoagrave gente que ele adoravardquo

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 26: Rosa Maria nº7

reportagem Texto Raquel AlbuquerqueFotografia Paulo Marques

Histoacutericas aguarelas A Mouraria teve a honra de ser retratada por aquele que eacute o expoente maacuteximo da aguarela nacional Alfredo Roque Gameiro nascido haacute 150 anos A Rua do Capelatildeo a Rua da Mouraria o Coleacutegio dos Meninos Oacuterfatildeos o Arco do Marquecircs do Alegrete a Rua do Ben-formoso o Largo da Achada a Rua das Farinhas Estes e outros locais da Moura-ria foram retratados por Roque Gameiro

Aquele que eacute considerado o expoente maacuteximo da aguarela em Portugal nasceu em 1864 em Minde Santareacutem tendo vivido em Lisboa onde desenvolveu grande parte do seu trabalho e foi pro-fessor na Escola Industrial do Priacutencipe Real falecendo em 1935 Frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa e a Escola de Artes de Leipzig na Alemanha com especialidade em litografia

Apesar de se ter iniciado como dese-nhador-litoacutegrafo foram as aguarelas que o tornaram ceacutelebre e com as quais obte-ve vaacuterios preacutemios nacionais e internacio-nais E foi com essa teacutecnica que retratou o nosso bairro e outras zonas de Lisboa e arredores

Compreender a cidadeO seu objectivo era ajudar a compreen-der a transformaccedilatildeo da cidade no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX pois via com ldquodesgosto profundordquo o desa-parecimento de espaccedilos e caracteriacutesti-cas mais pitorescas que tinha chegado a conhecer

Esse fasciacutenio que sentiu ao chegar agrave capital vindo do mundo rural e a tris-teza que o assolava ao ver desaparecer pormenores que o inspiraram na primei-ra visita ficaram patentes nas palavras que escreveu no proacutelogo do livro Auto da Lisboa Velha de autoria de Afonso Lopes Vieira poeta natural de Leiria e seu grande amigo residente durante cerca de quinze anos no Largo da Rosa onde hoje existe um busto seu

A maior parte das obras do pintor estatildeo hoje expostas na sua terra natal no Museu da Aguarela Roque Gameiro Muitas delas estiveram este ano na ex-posiccedilatildeo O Mar a Serra a Cidade na Galeria dos Paccedilos do Concelho em Lisboa de 19 de Marccedilo a 25 de Abril Esta exposiccedilatildeo contou com sessenta aguarelas e teve o objectivo de comemorar os 150 anos do seu nascimento

As obras podem ser vistas em exposi-ccedilotildees permanentes no museu de Minde e noutros locais como o Museu do Chia-do onde estatildeo representadas zonas do paiacutes como a Praia da Maccedilatildes e a Nazareacute No Museu da Cidade esteve ateacute aos anos 80 a pintura do Arco do Marquecircs do Ale-grete actual Rua do Arco do Marquecircs do Alegrete ao Martim Moniz ndash arco esse que existiu ateacute 1961 e que se situava na-quela que foi a fronteira medieval de Lis-boa onde havia as Portas de Satildeo Vicente na muralha que protegia a cidade dos ataques castelhanos O paradeiro dessa aguarela (ver imagem ao lado numa ver-satildeo a preto e branco) eacute agora desconhe-cido Desapareceu numa altura em que se montava uma exposiccedilatildeo na Amadora

A atracccedilatildeo de Roque Gameiro pelo passado levou-o a documentar grafica-mente vaacuterios locais e detalhes da cidade na esperanccedila de que assim fossem de al-guma forma preservados Graccedilas ao seu trabalho podemos hoje observar como a passagem do tempo marcou os luga-res muito diferentes do que eram haacute cem anos quando Roque Gameiro os ilustrou

Mouraria nas artes TextoDaniela Correia Silva

Cristina Gonccedilalves ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo

A atleta que faz de cada dia uma provaNascida na Mouraria haacute 36 anos Cristina Gonccedilalves foi a primeira mulher na Selecccedilatildeo Nacional de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral E medalhada oliacutempica

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As Escadinhas da Sauacutede satildeo uma prova de vida para Cristina Gonccedilalves atleta paraoliacutempica nascida na Mouraria haacute 36 anos Com a ajuda da matildee e apoiada em duas canadianas sobe e desce as escadas todos os dias mais do que uma vez para apanhar a carrinha do Centro de Educaccedilatildeo Especial Rainha Dona Leo-nor que a espera todas as manhatildes perto da Capela da Nossa Senhora da Sauacutede e laacute a deixa ao final da tarde O mais difiacutecil segundo conta satildeo os dias de chuva quando tudo fica escorregadio e a matildee tem de ir limpandoo corrimatildeo agrave medida que se apoia

Por difiacutecil que seja subir e descer as escadas todos os dias essa eacute apenas parte da prova de persistecircncia e esforccedilo de Cristina que foi convidada em 2003

com 25 anos para fazer parte da Selecccedilatildeo Nacio-nal de Boccia a principal modalidade para atletas com paralisia cerebral

ldquoNunca esperei subir tatildeo altordquo Cristina ainda se lembra quando os pais achavam que os convites para os treinos no estrangeiro natildeo eram verdade ldquoO meu pai natildeo me deixou ir ao primeiro porque natildeo acreditourdquo

Quatro ouros entre incontaacuteveis trofeacuteusAos 12 anos comeccedilou a fazer atletismo no mesmo cen-tro de educaccedilatildeo especial onde estaacute hoje e onde entrou ainda aos trecircs anos Mais tarde aos 16 experimentou boccia ldquoAo princiacutepio ia nervosa ateacute tremia Depois foi passando fui aprendendordquo conta Os bons resultados

na modalidade valeram-lhe o convite para entrar na selecccedilatildeo viria a ser ela a primeira mulher na equipa

Satildeo muitos os treinos e estaacutegios dentro e fora do paiacutes que hoje fazem parte do seu curriacuteculo Ao longo dos uacuteltimos anos multiplicaram-se as me-dalhas e trofeacuteus todos expostos num armaacuterio da sala da casa onde vive com a matildee Hoje jaacute satildeo difiacuteceis de contar mas entre eles estatildeo quatro medalhas de ouro duas de prata e uma de bronze resultado da partici-paccedilatildeo em dois jogos paraoliacutempicos um campeonato do mundo duas taccedilas do mundo e dois campeonatos europeus

A melhor recordaccedilatildeo que guarda eacute da participa-ccedilatildeo nos jogos paraoliacutempicos na Greacutecia em 2004 ldquoA equipa de Portugal ficou em primeiro lugar Foi lindo ouvir o nosso hino e receber a medalhardquo Depois veio o Mundial de Boccia no Rio de Janeiro em 2006 e os paraoliacutempicos em Pequim em 2008

Desistir natildeo eacute com ela Cristina sempre viveu na Mouraria e se haacute coisa de que gosta aleacutem do desporto eacute de passear por Lisboa Dos seus primeiros anos de vida quando adoe-ceu eacute a matildee que melhor se lembra Ainda natildeo tinha um ano quando lhe foi diagnosticada jaacute tarde uma meningite que viria a ser a causa da paralisia cerebral Aos trecircs anos entrou no centro de educaccedilatildeo especial onde comeccedilou a ser acompanhada Aos cinco anos era a matildee que a levava ao colo para onde quer que fossem ateacute que as vaacuterias operaccedilotildees a que foi sujeita permitiram lentamente que comeccedilasse a andar O resto coube-lhe a si conquistar os bons resultados como atleta o convi-te para a Selecccedilatildeo e as viagens que fez pelo mundo fora

A matildee aos 79 anos marcada pelo cansaccedilo admite jaacute ter dito agrave filha para desistir de ser atleta ldquoTambeacutem jaacute tentei que a carrinha a viesse buscar agrave rua que fica no cimo das escadas da Sauacutede Era mais faacutecil mas eacute ela que natildeo lhes quer pedirrdquo Cristina sorri reflectindo a forma doce e tranquila com que reage ao que a rodeia ldquoNatildeo quero Vou continuar a ir por baixordquo Deixar de ser atleta ldquoEnquanto puder natildeo deixordquo

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Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 27: Rosa Maria nº7

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 27রোউজো মোরযো

Desci as escadas do Beco do Rosendo onde mora a Mouradia ndash Casa Comunitaacuteria da Mouraria e logo agrave direita no Poccedilo do Borrateacutem parei agrave porta do supermercado Chen nunca tinha visto uma ldquobatatardquo assim Os clientes que entravam e saiacuteam falavam portuguecircs cantonecircs mandarim e inglecircs Sabiam ao que iam enquanto eu olhava perdida para tanta coisa nova Entrei e vi produtos de toda a Aacutesia China Iacutendia Vietname e Tailacircndia Natildeo soacute os produtos satildeo diferentes mas as proacuteprias embalagens fazem uma cozinha mais bonita Tem de se sentir alegre quem cozinha com tanta cor

Peguei num saco de tapioca pearl e perguntei agrave Manuela moccedilambicana haacute quarenta anos em Portugal como eacute que se podia cozinhar ldquoas bolinhas brancasrdquo Enquanto ia fazendo o inventaacuterio da loja explicou-me ldquoDaacute para tudo Sopa canja e ateacute aquela coisa com arroz e leiterdquo ldquoArroz docerdquo ldquoSim isso mesmo mas com tapiocardquo Depois perdi-me noodles dourados de batata doce latas de manteiga de amendoim que

lembram as embalagens antigas de Cerelac carne de caranguejo ginger beer e papads com cominhos tudo pronto a usar Com outra embalagem-misteacuterio na matildeo ouvi a voz da Manuela a responder a um cliente muito raacutepida mas noutra liacutengua Perguntei-lhe que liacutengua era ldquoCantonecircs Falo portuguecircs cantonecircs e mandarimrdquo E explica-me sem se distrair ldquoIsso que tem aiacute na matildeo eacute hulin seco Tem todas as vitaminas e eacute remeacutedio para tudo Fortalece o corpo Leve leverdquo

Saiacute da Coetraliz com uma embalagem de hulin (como natildeo) e segui caminho Mais agrave frente entrei pela Rua do Benformoso Gosto tanto desta rua Eacute bonita daquelas que precisam de mais amor Se continuasse chegaria agrave mesquita mas entrei a meio caminho no mini-mercado e talho Halal para comprar uma peccedila de fruta e ter uns minutos de sombra Aproveitei para conhecer melhor o talho jaacute que ali estava Ao fundo agrave esquerda enquanto comia a fruta comprada encontrei uma embalagem verde e branca linda

linda Li Registered Sat-Isagbol Psyllium Husk Best Quality As instruccedilotildees explicavam que podia tomar com aacutegua leite sumo ou lassi Perguntei-me se seria mais um ldquocura-tudordquo para beber Estava nisto quando percebi que Salauddin Chowdhury do Bangladesh e haacute nove meses em Lisboa me sorria Perguntei se aquele poacute branco tambeacutem servia de remeacutedio ldquoNatildeo natildeo isso eacute para limparrdquo ldquoMas estaacute na secccedilatildeo da comidardquo ldquoAh mas eacute para limpar o corpo como quando se come demais Eacute um laxante Um laxante muito forterdquo Rimos os dois pelo absurdo comprei o sat-isabol (para decorar a prateleira) e falaacutemos da sua chegada a Lisboa de como estaacute a ser viver nesta cidade do trabalho das pessoas Salauddin respondeu a tudo e fomos conversando ateacute serem horas

Saiacute com o adeus simpaacutetico de Salauddin e decidi a caminho do Grupo Desportivo subir pela Rua dos Cavaleiros Mas natildeo resisti e entrei na Bijucacaacute para ver aquelas

pulseiras com guizos para o peacute Mal entrei Ismail levantou-se para me cumprimentar O portuguecircs perfeito de Ismail levou-me a perguntar haacute quantos anos eacute que vivia em Portugal Ismail sorriu ldquoSou portuguecircs Os avoacutes paternos eram de Porbandar e os maternos de Jamnagar todos do Grande Gujarat Depois da Segunda Guerra Mundial emigraram para Moccedilambique coloacutenia portuguesa O meu pai era portanto portuguecircs e a minha matildee quando casou ficou com a nacionalidaderdquo Ismail eacute tatildeo portuguecircs quanto eu Neste ldquosentir-se em casardquo imediato ficaacutemos mais de uma hora agrave conversa Ismail contou-me histoacuterias que atravessam paiacuteses e mares Chegou a Portugal em 79 como retornado Tinha 20 anos ldquoViemos atraacutes da bandeirardquo Teve uma casa de jogos mas as leis mudavam tatildeo depressa que foi trabalhar nas obras onde recebia o dinheiro que dava por um quarto ldquoCompreendo o 25 de Abril mas quebrou-nos o futuro Laacute estudava quando cheguei tive de pedir a nacionalidade como qualquer indiano que chega hoje a Portugalrdquo Falaacutemos dos anos de transiccedilatildeo do que ficou em Moccedilambique do hino nacional de como eacute trabalhar no bairro

e ateacute de Scolari Depois da loja Ismail vende o hijab o lenccedilo muccedilulmano Explicou-me quando eacute que se usa a henna mehak que vem de Karachi e como aplicar o kajal nos olhos

E mostrou-me ainda dois frascos de poacute sindur tambeacutem conhecido por kumkum Nova liccedilatildeo o sindur vermelho para fazer aquela bolinha entre as sobrancelhas eacute sinal de casamento (ver secccedilatildeo Haacutebitos na paacutegina 7) Comprei um payal para o peacute a pulseira que estava na montra uma fita vermelha com guizos para pocircr agrave volta do tornozelo e danccedilar Hoje vou agrave festa na Mouraria com um pouco de Iacutendia no peacute

Do laxante ao

hino nacional

Texto Rosa MariaFotografia Carla Rosado

A Rosa Maria andou a ldquoserendipendiarrdquo pelos bazares da Mouraria Curiosa com os estranhos produtos que por caacute se vendem com roacutetulos em liacutenguas que natildeo entende encantou-se sobretudo com as pessoas Aqui fica a sua partilha Para a proacutexima ediccedilatildeo haacute mais

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Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

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Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 28: Rosa Maria nº7

publicidade

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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a Ju

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de F

regu

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a em

Set

embr

o

Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 29: Rosa Maria nº7

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 29রোউজো মোরযো

voxmourisco

Maria do Livramento a Mento cozi-nha todos os dias Dos seus 64 anos 35 foram passados no nuacutemero 30 da Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo no pequeno restaurante africano que lhe permi-tiu criar cinco filhos sem parar ldquoNum dia nascia a crianccedila no outro estava a trabalharrdquo Eacute a matriarca de uma das famiacutelias mais emblemaacuteticas do bairro conhecida como ldquoos Mentordquo

Cachupa muamba e arroz de atum fazem parte do menu do Satildeo Cristoacute-vatildeo (o restaurante) Pipo o filho mais novo com 26 anos ajuda ao fim do dia ndash ele que ldquopor pouco natildeo nas-ceu laacute dentrordquo O principal ajudante eacute o sobrinho Eduardo de 57 anos filho da sua irmatilde mais velha

Maria vive hoje fora da Mouraria com os dois filhos mais novos e o com-panheiro de longa data Heacutelder que eacute pai de uma das suas filhas avocirc de duas netas e habitueacute no Satildeo Cris-toacutevatildeo A amizade que os une tem 42 anos lembra Maria Conheceu-o pouco depois de chegar a Lisboa haacute 44 anos vinda da cidade da Praia

em Cabo Verde onde deixou os pais e os irmatildeos Quando chegou pensou ldquoSe gostar fico caacuterdquo E foi ficando

O restaurante surgiu depois quan-do aos 29 anos soube de um portuguecircs retornado de Angola que ia sair do paiacutes e tinha um restaurante para passar Maria jaacute tinha dois filhos ndash um de-les entretanto emigrado Aos poucos a famiacutelia foi aumentando e assistindo agraves mudanccedilas do bairro agraves pessoas que chegaram e partiram agraves lojas e restau-rantes que abriram e fecharam Agrave par-te de tudo Maria manteve-se ldquoJaacute me viciei Estou bem aqui Gosto distordquo

Jaacute tem quatro netos Numa fotogra-fia pendurada na parede do restauran-te estatildeo duas delas Estar rodeada pela famiacutelia encurta a distacircncia da terra natal ldquoCabo Verde eacute aqui Eu nunca saiacute de laacute Aqui oiccedilo as minhas mornas tenho a minha alma a minha muacutesica sem sentir aquela saudade lsquolastimadarsquo Eacute uma saudade leverdquo Quanto aos dias

futuros soacute tem um desejo mostrar aos cinco filhos os ldquosiacutetios todosrdquo do paiacutes onde nasceu ldquoSe um dia pudeacutessemos ir todos isso sim gostavardquo

No princiacutepio eacute tudo muito bonito No dia da mulher distribuiacuteram flores coisa que eu nunca tinha visto O ATL saiu daqui para Satildeo Cristoacutevatildeo mas saiu de um cubiacuteculo para umas instalaccedilotildees fabulosas Entretanto haacute funccedilotildees da cacircmara que passaram para as juntashellip Vamos ver gt Ana Isabel Esteves 37 anosAuxiliar de acccedilatildeo educativa na escola Gil Vicente Mora na Rua dos Lagares (antiga freguesia do Socorro)

Estava toda a gente habituada a ir agrave junta aqui agora eacute preciso ir aos serviccedilos centrais E por exemplo havia uma senhora que punha os editais aqui pela rua Mas ainda agora em relaccedilatildeo ao IRS aqui nas Olarias natildeo estava nada no placard gt Maria de Lurdes Ferreira 40 anosTeacutecnica de panificaccedilatildeoMora na Rua das Olarias (antiga freguesia do Socorro)

Utilizei recentemente os serviccedilos da acccedilatildeo social junto agrave Seacute e fui muito bem atendido Atenciosos e comunicativos Mas vejo varrerem por exemplo na Rua do Terreirinho e nunca ali na calccedilada E o lixo se houvesse caixotes no Veratildeo natildeo havia tantas moscas gt Jorge Silva 53 anosSapateiro desempregadoMora na Calccedilada Agostinho de Carvalho(antiga freguesia do Socorro)

Mil vezes melhor As ruas estatildeo mais limpas desde que caacute estaacute este senhor [Miguel Coelho presidente da junta] Estavam uma vergonha e com buracos por todo o lado Ele anda sempre a mandar arranjar tudo Passa pela gente e sorri E eu natildeo votei nele gt Luiacutesa Reis 66 anosFloristaMora na Rua do Terreirinho (antiga freguesia do Socorro)

Continua a faltar poliacutecia Isto aqui eacute uma pouca--vergonha com a droga Seja de manhatilde ou hora de almoccedilo estatildeo aqui a picar Tambeacutem fazem aqui as necessidades liacutequidas e soacutelidas e passam-se semanas e semanas que isto natildeo eacute lavado gt Zulmira Paulino 79 anosReformadaMora no Beco do Castelo(antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Jaacute se nota o bairro mais limpo O novo presidente eacute uma pessoa muito consciente dos problemas e sempre disponiacutevel Ainda deve haver alguma dificuldade em relaccedilatildeo agrave terceira idade Estatildeo sempre a precisar de melhoramentos pequenas obras em casa mas eles ainda natildeo estatildeo em pleno para poderem funcionar a 100 gt Antoacutenio Pinto 64 anosReformado ex-chefe de traacutefego na RenexMora na Rua da Madalena (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

O lixo estaacute melhor embora por exemplo aos domingos andem por aqui turistas e haja lixo colchotildees e madeiras na rua O vidratildeo da igreja estaacute sempre cheio com garrafas no chatildeo e o do Largo da Rosa estaacute num siacutetio que natildeo tem loacutegica nenhuma e tira a beleza ao largo gt Helena Marques 57 anosLojista desempregadaMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)

Meia duacutezia de meses ainda natildeo daacute para ver o valor das pessoas Mas havia passeios a 2 euros e meio e parece que passou a 7 euros e meio Eacute uma coisa irrisoacuteria nem dois maccedilos de tabaco mas para certas pessoas jaacute faz diferenccedila gt Alfredo Vicente 78 anosOperaacuterio quiacutemico reformadoMora na Rua das Farinhas (antiga freguesia de Satildeo Cristoacutevatildeo e Satildeo Lourenccedilo)Q

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Mento Cabo Verde em Satildeo Cristoacutevatildeo

Entrevistas Marisa MouraFotografias agrave direita Paulo MarquesFotografias agrave esquerda Sophie Cadet

retrato de famiacutelia Texto Raquel Albuquerque Fotografia Joseacute Fernandes

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

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10nomes

de peixe

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ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 30: Rosa Maria nº7

Passatempos infantisAude Barrio

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 31: Rosa Maria nº7

Musse de Manga

middot 1 Lata de polpa de manga

middot 2 Pacotes de natas frias para bater

middot 1 Lata de leite condensado

Bater as natas juntar o leite condensado e envolver a polpa de manga

Rosa Maria nordm 7junho lsquo14 middot dezembro rsquo14 31রোউজো মোরযো

Feijoada agrave Brasileira1 kg Feijatildeo preto seco 1 Chispe de porco 1 Orelha de porco 1 kg Entremeada com osso (manta de porco) 1 Chouriccedilo de carne 1 Chouriccedilo preto 1 Cebola 4 Dentes de alho 1 Folha de louro Sal qb Banha qb Couve cortada em caldo verde Farinha de mandioca (pau) Linguiccedila Laranja

O feijatildeo e a carneApoacutes demolhar o feijatildeo durante 24 horas em aacutegua fria cozecirc-lo durante uma hora Retirar o feijatildeo e reservar a aacutegua da cozedura Fazer um refogado com a banha a cebola e o alho Acrescentar a aacutegua do feijatildeo e as carnes Depois de cozidas parti-las e juntar o feijatildeo Deixar tudo em lume brando durante uma hora Cortar a laranja em meias-luas e colocaacute-la por cima do feijatildeo e da carne

A couveNuma frigideira deitar um fio de oacuteleo e um dente de alho picado Quando o alho estiver frito juntar a couve cortada e saltear

A mandioca com linguiccedilaTirar a pele agrave linguiccedila e picaacute-la numa picadora Colocar numa frigideira em lume brando juntar a mandioca e envolver tudo

Servir em trecircs recipientes diferentes Pode acompanhar tambeacutem com arroz branco

Moqueca feijoada muamba e livros

Alcaide Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo nordm 32

914 548 014

Por Joatildeo Madeira

Algures na Mouraria mais precisamente na Rua de Satildeo Cristoacutevatildeo damos de caras com a moqueca de camaratildeo mais famosa do bairro e arredores A receita essa a Sandra natildeo revela ou natildeo fosse o segredo a alma do negoacutecio Faz em Junho sete anos que a Sandra e o Valter reabriram o Alcaide trazendo consigo sabores que falam portuguecircs ndash de Angola a Cabo Verde passando pelo Brasil e desembarcando nesta terra de mouros A feijoada agrave brasileira e a muamba de galinha completam o top 3 liderado pela incontornaacutevel moqueca de camaratildeo A musse de manga a tarte de cocircco e a tarte de pastel de nata prometem adoccedilar os paladares mais exigentes Os sons quentes africanos (tocados ao vivo todos os saacutebados) datildeo o toque final nesta experiecircncia de sentidos Foi aqui que ocorreu a gestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo Renovar a Mouraria que agora com a sua Rota das Tasquinhas e Restaurantes encaminha curiosos a provar os sabores do Alcaide Conta a Sandra que ainda se lecirc em guias turiacutesticos menos recentes que a Mouraria eacute uma zona perigosa e a evitar Apesar disso os clientes aparecem ansiosos por testemunhar a renovaccedilatildeo do bairro No Alcaide eacute tambeacutem possiacutevel ler livros pois a vizinha Casa da Achada ndash Centro Maacuterio Dioniacutesio instalou aqui o primeiro poacutelo da sua biblioteca onde uma vez por mecircs faz lanccedilamentos de livros por vezes tambeacutem com atuaccedilatildeo do Coro da Achada

Descubra

10nomes

de peixe

solu

ccedilotildees

Texto Rita PascaacutecioFotografia Sophie Cadet

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

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Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China

Page 32: Rosa Maria nº7

banda desenhada Texto e IlustraccedilatildeoNuno Saraiva

Rosa Maria nordm 6dezembro lsquo13 middot junho lsquo14

Chen Wue Hua ensinou piano a crianccedilas na Igreja Evangeacutelica chinesa de Arroios e veio morar para perto delas

Chen Wue Hua eacute desinibida diante de uma cacircmara fotograacutefica Com 37 anos rosto arredondado cabelo curto e olhos recortados sorri abertamen-te faz poses e ateacute graceja em chinecircs para o marido e a filha de 5 anos que a acompanham na sessatildeo numa tarde de segunda-feira em Abril no Merca-do de Fusatildeo do Martim Moniz

Foi com a mesma descontracccedilatildeo que dias antes esteve na Associa-ccedilatildeo Renovar a Mouraria para can-tar Amo-te China (um claacutessico de 1979 originalmente composto para o filme Compatriotas Aleacutem-Mar) e depois uma muacutesica tradicional in-diacutegena de Taiwan para o projecto A Muacutesica Portuguesa a Gostar dela Proacutepria (ver paacuteg 5) ldquoGostei muito da experiecircncia porque tive contacto com pessoas que estavam interessa-das na minha muacutesicardquo conta Natural de Wenzhou proviacutencia de Zhejiang no Leste da China Wen Hua seguiu

os ritmos das pautas musicais por in-fluecircncia da famiacutelia Na escola estudou a arte e formou-se no conservatoacuterio tornando-se professora de muacutesica es-pecializada em piano

A pianista que agora eacute ama

Em finais de 2008 deixou o ensino e rumou a Portugal onde jaacute se encon-trava desde 2000 o marido que traba-lhava num restaurante chinecircs na linha de Sintra A adaptaccedilatildeo agrave nova reali-dade cultural e profissional natildeo a ate-morizou e garante que se sentiu logo em casa ldquoGosto imenso de Portugal e deste clima Mal cheguei adaptei-me muito bemrdquo

Passam agora em Junho cinco me-ses que vive na Mouraria vinda da Ta-pada das Mercecircs Mudou-se para estar mais perto da comunidade chinesa que conheceu na Igreja Evangeacutelica

chinesa de Arroios ensinando can-to e piano agraves crianccedilas paixatildeo que a levou a criar uma actividade de tempos livres na sua proacutepria casa

O seu lugar favorito na Mouraria eacute o Mercado de Fusatildeo onde brinca re-gularmente com a filha - uma espeacutecie de chinatown lisboeta onde se concen-tra a maioria dos sul-asiaacuteticos da cida-de devido ao poacutelo comercial chinecircs ali existente

Wue Hua desconhece a muacutesica portuguesa e os seus protagonistas mas alimenta o sonho estudar no con-servatoacuterio em Portugal Soacute lhe falta dominar o portuguecircs mas para isso ainda tem tempo pois natildeo tenciona voltar agrave China Para Wue Hua estar na Mouraria eacute estar em casa

da capa agrave contracapa Texto Ricardo Miguel Vieira Fotografia Helena Colaccedilo Salazar

p p p p

Chen Wue Hua

Na Mouraria como na China