Rosa Passos

2
56 PLANO BRASÍLIA Cultura Por: Djenane Arraes | Fotos: Vitor Sá C erto dia Rosa Passos recebeu de um amigo o acervo completo da obra de Elizeth Cardoso, também conhe- cida como “Divina”. Junto com o presente veio um bilhete: “Elizeth está esquecida e você poderia ser a pessoa que a traria de volta à lembrança do público”. Desafio feito, desafio cumprido. Depois de dois meses de pesquisa de repertório e cinco dias de gravação no formato ao vivo no estúdio, Rosa Passos rememorou a ídolo de gerações por meio do disco “É Luxo Só”, lançado pela Biscoito Fino. Em vez de um repertório óbvio que marcou a carreira da Divina – canções como “Barracão” e “Naquela Mesa” –, Rosa preferiu seguir um caminho inusitado. Incluiu no disco clássi- cos como “Diz que Fui Por Aí”, imortalizado pela voz miúda de Nara Leão, ou “As Rosas Não Falam”, de Cartola. “Mas o que pouca gente sabe é que Elizeth foi a primeira a gravar essas músicas”, explicou. “Eu também não me vejo cantando ‘Barracão’ ou ‘Canção do Amor Demais’”. A canção título foi um presente que Elizeth recebeu de Ary Barroso. Ele estava acompanhando um ensaio e achou que o show carecia de um final mais virtuoso. Então pediu para que Elizeth passasse à noite na casa dele. A cantora atendeu ao pedido do compositor e foi surpreendida com “É Luxo Só”. Adorou. “Inclusive, já havia gravado essa música. Eu a incluí no CD ‘Pano Para Manga’. Essa agora foi a minha segunda leitura e o nome do disco foi escolhido propositadamente por causa desta história”, disse. “É Luxo Só” chama a atenção pela interpretação que Rosa Passos imprime ao repertório. Está aí um cuidado especial que ela procura ter não apenas neste disco, mas em toda a obra dela. Afinal, são 16 discos de carreira onde ela apresenta as próprias composições e também faz um trabalho peculiar como intérprete de grandes mestres do cancioneiro popular brasileiro. “É um desafio sempre você fazer uma homenagem a uma cantora como Elizeth Cardoso. Foi a mãe de todas as cantoras, como disse Chico Buarque. E é verdade”, afirmou. “Você precisa imprimir a sua personalidade numa música que já foi interpretada por outros cantores. É aí que você tem que ter um diferencial, senão vai cair num lugar comum e tende a cantar igual a outra pessoa. Isso não é uma homenagem. É um cover.” “É Luxo Só” foi gravado em cinco dias no esquema ao vivo no estúdio. “Gosto mais assim porque a gente pega toda energia e emoção junto com os músicos. Fica aquela coisa boa, quente”, explicou. “Nem tudo mundo faz isso, porque é muito difícil. Você precisa estar firme e ter afinidade com os músicos. Mas eu já faço isso há muito tempo e gosto de gravar assim. Essa coisa de você procurar cabelo em ovo não é comigo.” CARREIRA INTERNACIONAL Além do timbre único da baiana erradicada em Brasília, o disco tem forte base jazzística e, ao mesmo tempo, fácil de cair no gosto popular. Está aí uma mistura não muito fácil de Sob as bênçãos de Elizeth Cardoso, a cantora Rosa Passos lança “É Luxo Só”, um dos discos da carreira da Divina mais apreciados pelos seus admiradores Rosa encontra a Divina

description

Matéria sobre É Luxo Só de Rosa Passos - Revista Plano Brasília

Transcript of Rosa Passos

Page 1: Rosa Passos

56 PLANO BRASÍLIA

CulturaPor: Djenane Arraes | Fotos: Vitor Sá

Certo dia Rosa Passos recebeu de um amigo o acervo completo da obra de Elizeth Cardoso, também conhe-cida como “Divina”. Junto com o presente veio um

bilhete: “Elizeth está esquecida e você poderia ser a pessoa que a traria de volta à lembrança do público”. Desafio feito, desafio cumprido. Depois de dois meses de pesquisa de repertório e cinco dias de gravação no formato ao vivo no estúdio, Rosa Passos rememorou a ídolo de gerações por meio do disco “É Luxo Só”, lançado pela Biscoito Fino.

Em vez de um repertório óbvio que marcou a carreira da Divina – canções como “Barracão” e “Naquela Mesa” –, Rosa preferiu seguir um caminho inusitado. Incluiu no disco clássi-cos como “Diz que Fui Por Aí”, imortalizado pela voz miúda de Nara Leão, ou “As Rosas Não Falam”, de Cartola. “Mas o que pouca gente sabe é que Elizeth foi a primeira a gravar essas músicas”, explicou. “Eu também não me vejo cantando ‘Barracão’ ou ‘Canção do Amor Demais’”.

A canção título foi um presente que Elizeth recebeu de Ary Barroso. Ele estava acompanhando um ensaio e achou que o show carecia de um final mais virtuoso. Então pediu para que Elizeth passasse à noite na casa dele. A cantora atendeu ao pedido do compositor e foi surpreendida com “É Luxo Só”. Adorou. “Inclusive, já havia gravado essa música. Eu a incluí no CD ‘Pano Para Manga’. Essa agora foi a minha segunda leitura e o nome do disco foi escolhido propositadamente por causa desta história”, disse.

“É Luxo Só” chama a atenção pela interpretação que Rosa Passos imprime ao repertório. Está aí um cuidado especial que ela procura ter não apenas neste disco, mas em toda a obra dela. Afinal, são 16 discos de carreira onde ela apresenta as próprias composições e também faz um trabalho peculiar como intérprete de grandes mestres do cancioneiro popular brasileiro. “É um desafio sempre você fazer uma homenagem a uma cantora como Elizeth Cardoso. Foi a mãe de todas as cantoras, como disse Chico Buarque. E é verdade”, afirmou. “Você precisa imprimir a sua personalidade numa música que já foi interpretada por outros cantores. É aí que você tem que ter um diferencial, senão vai cair num lugar comum e tende a cantar igual a outra pessoa. Isso não é uma homenagem. É um cover.”

“É Luxo Só” foi gravado em cinco dias no esquema ao vivo no estúdio. “Gosto mais assim porque a gente pega toda energia e emoção junto com os músicos. Fica aquela coisa boa, quente”, explicou. “Nem tudo mundo faz isso, porque é muito difícil. Você precisa estar firme e ter afinidade com os músicos. Mas eu já faço isso há muito tempo e gosto de gravar assim. Essa coisa de você procurar cabelo em ovo não é comigo.”

Carreira internaCionalAlém do timbre único da baiana erradicada em Brasília,

o disco tem forte base jazzística e, ao mesmo tempo, fácil de cair no gosto popular. Está aí uma mistura não muito fácil de

Sob as bênçãos de Elizeth Cardoso, a cantora Rosa Passos lança “É Luxo Só”, um dos discos da carreira da Divina mais apreciados pelos seus admiradores

Rosaencontra aDivina

Page 2: Rosa Passos

PLANO BRASÍLIA 57

ServiçoRosa Passos É Luxo Sówww.biscoitofino.com.br

conseguir, o que só aumenta os méritos da obra. O resultado está nas boas vendagens. É um dos mais populares lançados por Rosa. Está aí mais uma vitória para uma carreira iniciada de forma peculiar. Ela tornou-se uma das artistas brasileiras atuais mais respeitadas no exterior. Atraiu o público ao apre-sentar uma música brasileira e internacionalizada, ao mesmo tempo. Não demorou a ser convidada aos maiores festivais de jazz da Europa e dos Estados Unidos. Rosa Passos é doutora honoris causas da Berkeley Jazz School, que é uma das maiores e mais importantes do mundo. Para completar, ela foi atração no Lincoln Center no Carnegie Hall, em Nova York.

“Toquei em 35 países do mundo, passei 18 anos viajando para o exterior junto com grandes músicos. A imprensa es-trangeira dizia que meu jeito lembrava Ella Fitzgerald. Mesmo assim passei cinco anos sem tocar no meu país por falta de convites. Tem gente que achava que eu morava em Nova York, ao passo que sempre estive aqui em Brasilia”, justificou. Mas esta realidade começa a mudar. Embora ainda seja um nome brasileiro forte no cenário internacional, o santo de caso começa a fazer milagre e Rosa Passos não é mais um nome distante para as pessoas do próprio país.

São Paulo, por exemplo, é uma das praças que a recebe na atualidade, em especial por causa do circuito formado pela rede de teatros SESC. Ainda não é suficiente. Rosa ainda alme-ja tocar mais no Rio de Janeiro. “Os fãs querem que eu vá para

lá, mas as propostas não são apropriadas. Não é arrogância minha, mas eu tenho uma carreira e idade que me permite não entrar em um esquema qualquer. Não posso sair tocan-do em qualquer lugar e de qualquer jeito. Mas soube que não é algo comigo: é uma dificuldade da própria cidade por causa da falta de espaços.”

Mas e Brasília? Rosa escolheu justo a capital para o lançamento de “É Luxo Só”, que acontece nos dias 2 e 3 de março, no Teatro Oi Brasilia. Além dos clássicos de Elizeth Cardoso (serão nove faixas do disco), a cantora promete in-terpretar clássicos de Djavan. Aliás, este é o próximo projeto de Rosa: gravar só canções do compositor alagoano. “Adoro ele. Gostaria muito, inclusive, que ele cantasse uma faixa comigo”. Depois da capital, os possíveis destinos de Rosa são Belo Horizonte, Salvador e São Paulo. Quanto ao resto do Brasil, tudo que ela precisa para comparecer e ecoar sucessos da Divina, além de outras grandes canções, é de um bom convite.