Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto...

10
para Inglaterra, para fugir a possíveis represálias. Enquanto lá estava, deu-se uma tragédia em nossa casa. A Annie ficou doente com escarlatina e morreu. Tinha onze anos. O meu pai voltou, muito pesaroso, no primeiro barco que arranjou, mal lhe mandámos o telegrama, mas só chegou depois do funeral. Mesmo após a sua morte, continuávamos orgulhosos da nossa irmãzinha. Afinal, tinha sido uma das primeiras crianças negras do Norte a frequentar a escola pública, juntamente com as crianças brancas. Em 1861, a guerra eclodiu. O meu pai recrutou soldados negros para lutarem pela União. Os meus irmãos Charles e Lewis foram combater. Foi por esta altura que conheci um soldado chamado Nathan Sprague. Ficámos noivos e casámos em 1863. Enquanto durou a guerra, o meu pai lutou por um tratamento igual para soldados brancos e negros, e encontrou-se várias vezes com Abraham Lincoln. Quando a guerra terminou, Nathan e eu arranjámos casa perto de Rochester. Vivemos algum tempo em casa dos meus pais e foi lá que tivemos os primeiros filhos. Uma noite, em 1872, acordámos com o cheiro de fumo. A nossa casa foi incendiada nessa noite. Foi uma perda enorme para nós, porque tínhamos muitas recordações associadas a ela. Às vezes, ainda vou ao escritório do meu pai, e ajudo-o com a correspondência e a composição do jornal. Talvez o futuro realize o seu sonho. Talvez um dia mais crianças brancas levantem os braços a pedir liberdade. Tenho esperança de que brancos e negros venham a frequentar as mesmas escolas e de que todos sejam livres. Por vezes, as crianças vêem a verdade que os adultos se recusam a encarar. As meninas da escola de Miss Tracy tinham aberto as portas a um futuro risonho quando, naquele dia longínquo, me pediram: “Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado!” Linda Wolvoord; Eric Velasquez Rosetta, Rosetta, sit by me! New York, Marshall Cavendish, 2004 ROSETTA, ROSETTA, SENTA-TE AO MEU LADO! Capítulo 1 O primeiro dia de escola A escola de Miss Tracy ficava perto de nossa casa, mas a mim parecia-me muito distante. Tinha de ir sozinha e estava com medo, porque as alunas eram todas brancas. O meu pai dizia-me para não ter medo das pessoas brancas, e eu bem que tentava. Só que, apesar de já ter nove anos, nunca tinha ido à escola. Nesse dia, nenhum dos meus pais me pôde acompanhar. O meu pai estava a fazer um discurso no Ohio e a minha mãe não se sentia bem. Eu também não queria que ela me acompanhasse. As pessoas podiam rir-se

Transcript of Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto...

Page 1: Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto quando eu tinha seis anos, e o meu pai ... não desejo gastar palavras ou argumentos

para

Ing

late

rra,

par

a fu

gir

a po

ssív

eis

repr

esál

ias.

Enq

uant

o lá

est

ava,

deu-

se u

ma

trag

édia

em

nos

sa c

asa.

A A

nnie

fic

ou d

oent

e co

m e

scar

latin

a

e m

orre

u.

Tinh

a on

ze

anos

. O

m

eu

pai

volto

u,

mui

to

pesa

roso

, no

prim

eiro

bar

co q

ue a

rran

jou,

mal

lhe

man

dám

os o

tel

egra

ma,

mas

cheg

ou d

epoi

s do

fun

eral

. M

esm

o ap

ós a

sua

m

orte

, co

ntin

uáva

mos

orgu

lhos

os d

a no

ssa

irm

ãzin

ha.

Afi

nal,

tinha

sid

o um

a da

s pr

imei

ras

cria

nças

neg

ras

do N

orte

a f

requ

enta

r a

esco

la p

úblic

a, ju

ntam

ente

com

as

cria

nças

bra

ncas

.

Em

186

1, a

gue

rra

eclo

diu.

O m

eu p

ai r

ecru

tou

sold

ados

neg

ros

para

lu

tare

m

pela

U

nião

. O

s m

eus

irm

ãos

Cha

rles

e

Lew

is

fora

m

com

bate

r. F

oi p

or e

sta

altu

ra q

ue c

onhe

ci u

m s

olda

do c

ham

ado

Nat

han

Spra

gue.

Fic

ámos

noi

vos

e ca

sám

os e

m 1

863.

Enq

uant

o du

rou

a gu

erra

, o

meu

pai

luto

u po

r um

tra

tam

ento

igua

l par

a so

ldad

os b

ranc

os e

neg

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e

enco

ntro

u-se

vár

ias

veze

s co

m A

brah

am L

inco

ln.

Qua

ndo

a gu

erra

ter

min

ou,

Nat

han

e eu

arr

anjá

mos

cas

a pe

rto

de

Roch

este

r. V

ivem

os a

lgum

tem

po e

m c

asa

dos

meu

s pa

is e

foi

que

tivem

os o

s pr

imei

ros

filh

os. U

ma

noite

, em

187

2, a

cord

ámos

com

o c

heir

o

de f

umo.

A n

ossa

cas

a fo

i in

cend

iada

nes

sa n

oite

. Fo

i um

a pe

rda

enor

me

para

nós

, por

que

tínha

mos

mui

tas

reco

rdaç

ões

asso

ciad

as a

ela

.

Às

veze

s, a

inda

vou

ao

escr

itóri

o do

meu

pai

, e

ajud

o-o

com

a

corr

espo

ndên

cia

e a

com

posi

ção

do j

orna

l. Ta

lvez

o f

utur

o re

aliz

e o

seu

sonh

o. T

alve

z um

dia

mai

s cr

ianç

as b

ranc

as l

evan

tem

os

braç

os a

ped

ir

liber

dade

. Ten

ho e

sper

ança

de

que

bran

cos

e ne

gros

ven

ham

a f

requ

enta

r

as m

esm

as e

scol

as e

de

que

todo

s se

jam

livr

es. P

or v

ezes

, as

cria

nças

vêe

m

a ve

rdad

e qu

e os

adu

ltos

se r

ecus

am a

enc

arar

.

As

men

inas

da

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la d

e M

iss

Trac

y ti

nham

abe

rto

as p

orta

s a

um

futu

ro r

ison

ho q

uand

o, n

aque

le d

ia l

ongí

nquo

, m

e pe

dira

m:

“Ros

etta

,

Rose

tta,

sen

ta-t

e ao

meu

lado

!”

Lind

a W

olvo

ord;

Eri

c V

elas

quez

Ro

setta

, Ros

etta

, sit

by m

e!

New

Yor

k, M

arsh

all C

aven

dish

, 200

4

ROSE

TTA

, RO

SETT

A, S

ENTA

-TE

AO

MEU

LA

DO

!

Cap

ítulo

1

O p

rim

eiro

dia

de

esco

la

A e

scol

a de

Mis

s Tr

acy

fica

va p

erto

de

noss

a ca

sa,

mas

a m

im

pare

cia-

me

mui

to d

ista

nte.

Tin

ha d

e ir

soz

inha

e e

stav

a co

m m

edo,

por

que

as a

luna

s er

am t

odas

bra

ncas

. O m

eu p

ai d

izia

-me

para

não

ter

med

o da

s

pess

oas

bran

cas,

e e

u be

m q

ue t

enta

va. S

ó qu

e, a

pesa

r de

já t

er n

ove

anos

,

nunc

a tin

ha id

o à

esco

la.

Nes

se d

ia, n

enhu

m d

os m

eus

pais

me

pôde

aco

mpa

nhar

. O m

eu p

ai

esta

va a

faz

er u

m d

iscu

rso

no O

hio

e a

min

ha m

ãe n

ão s

e se

ntia

bem

. Eu

tam

bém

não

que

ria

que

ela

me

acom

panh

asse

. A

s pe

ssoa

s po

diam

rir

-se

Page 2: Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto quando eu tinha seis anos, e o meu pai ... não desejo gastar palavras ou argumentos

do s

eu v

estid

o fl

orid

o e

do s

eu l

enço

ver

mel

ho e

ela

fic

aria

tri

ste.

De

qual

quer

form

a, e

la n

ão q

ueri

a qu

e eu

fos

se à

esc

ola.

Sabi

a o

cam

inho

de

cor,

por

que

o m

eu p

ai o

tin

ha f

eito

com

igo

no

mês

ant

erio

r. E

m A

gost

o, t

ínha

mos

ido

à es

cola

de

Mis

s Tr

acy

e el

e tin

ha-

-me

insc

rito

, de

pois

de

um t

este

que

fiz

par

a m

ostr

ar q

ue e

stav

a ap

ta.

“Não

nada

a t

emer

”, r

epet

ia p

ara

mim

mes

ma,

enq

uant

o pa

ssav

a

deba

ixo

das

árvo

res

fron

dosa

s qu

e bo

rdej

avam

a r

ua. P

or t

odo

o la

do, v

ia

casa

s pi

ntad

as c

om r

elva

dos

ampl

os e

can

teir

os fl

orid

os.

Oxa

lá h

ouve

sse

rapa

riga

s da

min

ha i

dade

na

sala

. Tin

ha u

ma

cert

a

verg

onha

de

nunc

a te

r fr

eque

ntad

o a

esco

la. A

min

ha m

ãe ti

nha-

se o

post

o

quan

do e

u ti

nha

seis

ano

s, e

o m

eu p

ai e

stav

a em

Ing

late

rra,

par

a on

de

tinha

via

jado

dep

ois

da p

ublic

ação

do

seu

prim

eiro

liv

ro.

Com

o o

livro

dizi

a qu

al e

ra o

seu

nom

e de

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ravo

, ond

e vi

via

e qu

em e

ra o

seu

don

o,

este

pod

ia p

rocu

rá-l

o e

capt

urá-

lo d

e vo

lta. A

ssim

, os

amig

os d

o m

eu p

ai

pers

uadi

ram

-no

a em

barc

ar p

ara

Ingl

ater

ra e

a v

iver

dura

nte

algu

m

tem

po.

Eu f

ique

i co

m m

inha

mãe

e o

s m

eus

irm

ãos

na A

mér

ica,

no

Mas

sach

uset

ts.

Cap

ítulo

2

Os

meu

s pa

is

Com

o o

meu

pai

est

ava

fora

, viv

íam

os n

uma

casa

peq

uena

. A m

inha

mãe

tra

balh

ava

num

a fá

bric

a de

sap

atos

e p

reci

sava

de

ajud

a co

m o

s

meu

s ir

mão

s m

ais

novo

s: C

harl

es,

Lew

is e

Fre

deri

ck.

Cos

tum

ava

traz

er

cour

o e

form

as d

e sa

pato

s pa

ra c

asa,

e s

enta

va-s

e pe

rto

da ja

nela

a c

oser

.

Eu f

azia

o a

lmoç

o e

entr

etin

ha o

s m

eus

irm

ãos.

A n

ossa

mãe

tra

balh

ava

dias

a

fio,

fi

ndos

os

qu

ais

leva

va

os

sapa

tos

à fá

bric

a e

rece

bia

o

paga

men

to.

Tam

bém

faz

ia a

lgum

din

heir

o co

m a

ven

da d

o liv

ro d

o m

eu

pai.

Às

veze

s, e

ste

envi

ava

dinh

eiro

das

pal

estr

as q

ue fa

zia

em In

glat

erra

, e

man

dava

car

tas,

que

os

amig

os v

inha

m le

r a

noss

a ca

sa.

dura

nte

o di

a. À

noi

te,

vinh

am à

min

ha e

scol

a ap

rend

er a

ritm

étic

a,

geog

rafi

a e

hist

ória

.

Tant

o em

Fila

délf

ia c

omo

em N

ova

Jérs

ia, f

ique

i em

cas

a de

am

igos

ou p

aren

tes

dos

meu

s pa

is.

Os

meu

s ti

os P

erry

e L

izzi

e er

am t

ão p

obre

s

que

eu, p

or v

ezes

, nem

jant

ava

para

lhes

pou

par

essa

des

pesa

, e c

ompr

ava

as m

inha

s pr

ópri

as v

elas

e s

abão

com

o d

inhe

iro

que

o m

eu p

ai m

e da

va.

Em 1

857,

aqu

ando

de

uma

visi

ta q

ue f

iz à

min

ha f

amíli

a, o

meu

pai

entr

ou n

a lo

ja o

nde

eu e

stav

a e

diss

e:

— R

oset

ta!

Con

segu

imos

! A

Dir

ecçã

o da

s Es

cola

s de

Roc

hest

er v

ai

deix

ar a

Ann

ie f

requ

enta

r a

prim

eira

cla

sse.

Aca

bou

a se

greg

ação

em

Roch

este

r!

Vi l

ágri

mas

nos

olh

os d

o m

eu p

ai. N

ove

anos

de

prot

esto

s co

nsta

ntes

tinha

m f

eito

a d

ifer

ença

. A

min

ha i

rmã

mai

s no

va i

a po

der

freq

uent

ar a

esco

la p

úblic

a da

nos

sa z

ona.

Não

hav

eria

pro

pina

s a

paga

r, n

em n

enhu

m

Mr.

War

ner

que

a ob

riga

sse

a sa

ir.

Todo

o t

raba

lho

árdu

o do

meu

pai

tinha

val

ido

a pe

na.

Cap

ítulo

12

Um

futu

ro r

ison

ho

Qua

ndo

a m

inha

irm

ã co

meç

ou a

fre

quen

tar

a es

cola

, fa

lava

-se

mui

to

de

uma

guer

ra

imin

ente

. O

N

orte

e

o Su

l tin

ham

di

scut

ido

amar

gam

ente

se

os e

stad

os q

ue q

ueri

am f

azer

par

te d

a U

nião

dev

eria

m

tole

rar

a es

crav

atur

a. O

meu

pai

con

tinua

va a

cri

ticar

a e

scra

vatu

ra e

a

pedi

r a

liber

dade

par

a os

neg

ros.

Em

185

9, v

ivem

os t

empo

s di

fíce

is.

Um

bran

co c

ham

ado

John

Bro

wn

atac

ou u

m f

orte

fed

eral

em

Har

per’

s Fe

rry,

na V

irgí

nia,

na

espe

ranç

a de

des

pole

tar

uma

revo

lta d

e es

crav

os.

O

exér

cito

s co

bro

a es

se

ataq

ue

com

pr

ontid

ão,

e Jo

hn

Brow

n fo

i

exec

utad

o.

Rum

orej

ou-s

e qu

e o

meu

pai

tinh

a aj

udad

o Br

own

e e

le t

eve

de

ir

Page 3: Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto quando eu tinha seis anos, e o meu pai ... não desejo gastar palavras ou argumentos

num

a co

nfor

táve

l alm

ofad

a.

Na

sem

ana

segu

inte

, vo

ltava

a

faze

r o

mes

mo.

A

pós

vári

os

inci

dent

es d

este

gén

ero,

o c

ombo

io d

eixo

u de

par

ar n

a no

ssa

cida

de.

Tinh

am m

edo

de q

ue F

rede

rick

Dou

glas

s o

apan

hass

e. E

le e

mba

raça

va a

s

pess

oas

que

eram

pre

conc

eitu

osas

, po

rque

acr

edita

va q

ue a

ver

gonh

a é

um s

entim

ento

pod

eros

o. O

meu

pai

con

tava

-nos

mui

tas

hist

ória

s. U

mas

veze

s, r

iam

o-no

s; o

utra

s ch

oráv

amos

, ao

ver

quã

o di

fíci

l lh

e er

a ab

rir

cam

inho

par

a nó

s no

mun

do.

Cap

ítulo

11

Boas

not

ícia

s!

Qua

ndo

regr

esse

i a c

asa,

o m

eu p

ai c

ontr

atou

um

a pr

ofes

sora

, Mis

s

Phoe

be T

haye

r, p

ara

vir

a ca

sa d

ar-n

os a

ulas

. Por

ser

ain

da p

eque

nina

, a

min

ha ir

mor

dia

os lá

pis

e fa

zia

os s

eus

próp

rios

des

enho

s em

fol

has

no

chão

. Enq

uant

o aj

udav

a os

meu

s ir

mão

s, d

ei-m

e co

nta

de q

ue g

osta

ria

de

ser

prof

esso

ra u

m d

ia.

Qua

ndo

era

dem

asia

do

cres

cida

pa

ra

freq

uent

ar a

s au

las

de M

iss

Thay

er,

o m

eu p

ai

envi

ou-m

e pa

ra o

Ohi

o. E

m 1

854,

com

qui

nze

anos

, fr

eque

ntei

pel

a pr

imei

ra v

ez u

ma

esco

la

supe

rior

, on

de

estu

dei

para

se

r pr

ofes

sora

.

Naq

uela

al

tura

, O

berl

in

Col

lege

er

a um

a da

s

pouc

as e

scol

as q

ue a

ceita

vam

mul

here

s. E

stud

ei

dura

nte

um

sem

estr

e e

fui

dar

aula

s na

Pens

ilvân

ia.

Doi

s an

os d

epoi

s, m

udei

-me

para

Sal

em,

em N

ova

Jérs

ia,

onde

fiz

os

exam

es n

eces

sári

os

para

me

torn

ar u

ma

prof

esso

ra q

ualif

icad

a. E

m N

ova

Jérs

ia,

dei

aula

s a

trab

alha

dore

s. O

s m

eus

alun

os e

ram

jar

dine

iros

, co

zinh

eira

s e

cria

das

Eu q

ueri

a ap

rend

er a

ler

e a

escr

ever

par

a po

der

ler

as c

arta

s do

meu

pai

.

Embo

ra u

ma

senh

ora

Qua

ker

que

nos

visi

tava

me

tenh

a en

sina

do a

lgum

as

letr

as,

a m

inha

mãe

pre

cisa

va d

e m

im e

não

me

deix

ou f

requ

enta

r a

esco

la. N

ão c

onse

guia

ler

, mas

ger

ia b

em a

s co

ntas

. Era

mui

to p

oupa

da e

fez

toda

s as

cor

tinas

e ta

pete

s da

nos

sa c

asa.

Qua

ndo

o m

eu p

ai v

olto

u de

Ing

late

rra,

abr

açou

-nos

com

for

ça.

Tinh

a tid

o m

uita

s sa

udad

es n

ossa

s. Q

ueri

a qu

e eu

tiv

esse

ido

à es

cola

, que

apre

ndes

se a

ler

e q

ue t

ives

se a

mig

os,

incl

uind

o am

igos

bra

ncos

. C

omo

este

era

um

ass

unto

em

que

dis

cord

avam

, os

meu

s pa

is d

iscu

tiam

bas

tant

e

e eu

ouv

ia a

s su

as d

iscu

ssõe

s, e

m a

ltura

s em

que

pen

sava

m q

ue já

est

ava

a

dorm

ir. Qua

ndo

fiz

oito

ano

s, f

ui v

iver

com

as

irm

ãs M

ott,

Mis

s A

biga

il e

Mis

s Ly

dia,

um

as s

enho

ras

Qua

ker

de A

lban

y. M

orei

com

ela

s vá

rios

mes

es.

Tinh

a um

qua

rto

soss

egad

o e

estu

dava

tod

os o

s di

as c

om c

rian

ças

bran

cas

e ne

gras

. M

as a

min

ha m

ãe q

ueri

a-m

e em

cas

a e

o m

eu p

ai

aced

eu.

Qua

ndo

nos

mud

ámos

pa

ra

Roch

este

r,

o m

eu

pai

tent

ou

insc

reve

r-m

e na

esc

ola

públ

ica,

mas

não

con

segu

iu. D

isse

ram

-lhe

que

eu

só p

odia

fre

quen

tar

a es

cola

par

a ne

gros

, qu

e fi

cava

do

outr

o la

do d

a

cida

de. N

o no

sso

bair

ro h

avia

um

a es

cola

púb

lica,

mas

era

para

bra

ncos

.

Por

isso

, tin

ha d

e ir

par

a a

esco

la p

riva

da d

e M

iss

Trac

y. O

meu

pai

era

o

escr

avo

fugi

tivo

mai

s fa

mos

o do

paí

s e

o ún

ico

negr

o a

ter

um j

orna

l, o

Nor

ther

n St

ar.

O j

orna

l er

a pu

blic

ado

em R

oche

ster

e s

egui

a po

r co

rrei

o

para

tod

a a

Am

éric

a. T

odos

con

heci

am a

nos

sa f

amíli

a. O

que

me

diri

am

as m

enin

as b

ranc

as, h

oje

pela

man

hã, q

uand

o m

e vi

ssem

che

gar

à es

cola

dela

s? Eu

tin

ha e

ngra

xado

os

sapa

tos

duas

vez

es e

ent

ranç

ado

o ca

belo

de

três

man

eira

s di

fere

ntes

. A

min

ha m

ãe p

asso

u a

ferr

o a

min

ha s

aia

e a

min

ha b

lusa

. V

i qu

e as

alu

nas

vinh

am p

ara

a es

cola

em

car

ruag

ens

Page 4: Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto quando eu tinha seis anos, e o meu pai ... não desejo gastar palavras ou argumentos

eleg

ante

s. T

odas

ves

tiam

sai

as d

e co

rpo

e tin

ham

laç

os b

onito

s no

cab

elo.

Alg

umas

vir

am-m

e su

bir

as e

scad

as.

— D

isse

ram

-nos

que

vin

has!

— e

xcla

mou

um

a ra

pari

ga r

uiva

.

— V

em b

rinc

ar c

onno

sco

na h

ora

do r

ecre

io! —

ped

iu o

utra

.

Esta

va d

emas

iado

env

ergo

nhad

a pa

ra f

alar

. Se

rá q

ue i

a se

r fe

liz?

Con

tinue

i a s

ubir

os

degr

aus.

Cap

ítulo

3

Sozi

nha

Um

a ve

z na

esc

ola,

dir

igi-

me

ao g

abin

ete

da d

irec

tora

. M

iss

Trac

y

era

uma

mul

her

de a

spec

to s

impl

es.

— V

ejo

que

cons

egui

ste

cá c

hega

r, R

oset

ta —

dis

se-m

e. —

Vai

com

esta

pro

fess

ora.

Segu

i a

prof

esso

ra

e,

enqu

anto

pa

ssáv

amos

pe

lo

corr

edor

, vi

rapa

riga

s a

espr

eita

r de

um

a sa

la d

e ja

nela

s gr

ande

s. F

ui c

ondu

zida

a u

ma

sala

sos

sega

da e

vaz

ia.

Não

est

ava

lá n

ingu

ém.

A p

rofe

ssor

a m

ostr

ou-m

e

uma

secr

etár

ia e

deu

-me

vári

os li

vros

.

— E

stud

a es

tes

livro

s —

ped

iu, s

aind

o em

seg

uida

.

A s

ala

chei

rava

a g

iz e

a c

era.

Sen

tei-

-me.

As

borb

olet

as d

o m

eu e

stôm

ago

mai

s

pare

ciam

tar

taru

gas.

A p

rofe

ssor

a tin

ha id

o

embo

ra a

ntes

de

eu c

onse

guir

seq

uer

fala

r.

Nem

tin

ha

tido

tem

po

de

lhe

perg

unta

r

nada

.

Con

tinue

i se

ntad

a, à

esp

era

de q

ue

algu

ém s

e vi

esse

jun

tar

a m

im.

De

cert

eza

que

em b

reve

me

pori

am n

uma

sala

com

outr

as m

enin

as. T

alve

z es

tives

sem

a p

ensa

r

em q

ue s

ala…

Pas

sou-

se m

uito

tem

po. S

erá

que

tinha

per

cebi

do m

al?

men

te, s

e tiv

esse

agi

do d

e fo

rma

inju

sta.

“O

púb

lico

tem

o d

irei

to d

e ex

igir

que

a co

ndut

a de

Mr.

War

ner

seja

obj

ecto

de

inve

stig

ação

por

par

te d

o

gove

rno”

, es

crev

eu.

Que

ria

que

o pa

ís t

odo

soub

esse

o q

ue s

e tin

ha

pass

ado

com

igo.

Em

Spr

ingf

ield

, no

Illin

ois,

um

jove

m a

dvog

ado

cham

ado

Abr

aham

Lin

coln

leu

o N

orth

ern

Star

. As

min

has

duas

sem

anas

na

esco

la

de M

iss

Trac

y fi

cara

m c

onhe

cida

s em

todo

o p

aís.

O m

eu p

ai e

scre

veu

a M

r. W

arne

r: “

É ve

rdad

e qu

e di

feri

mos

na

cor,

mas

que

m p

ode

dize

r qu

e co

r é

mai

s ag

radá

vel

a D

eus,

ou

mai

s

honr

ada

entr

e os

ho

men

s?

Con

tudo

, nã

o de

sejo

ga

star

pa

lavr

as

ou

argu

men

tos

com

al

guém

qu

e se

m

ostr

ou

tão

chei

o de

or

gulh

o e

prec

once

ito.”

Cha

mav

a a

Mr.

War

ner

“a d

espr

ezív

el m

inor

ia d

e um

”,

uma

vez

que

apen

as e

le s

e tin

ha o

post

o à

min

ha i

nscr

ição

na

esco

la d

e

Mis

s Tr

acy.

Mas

o m

eu p

ai n

ão e

sgot

ava

os s

eus

argu

men

tos

apen

as e

m

cart

as.

Tam

bém

sol

icita

va e

ntre

vist

as c

om a

Dir

ecçã

o da

s Es

cola

s de

Roch

este

r, p

edin

do-l

hes

que

reco

nsid

eras

sem

a s

ua a

titud

e. T

odos

os

anos

,

as e

scol

as r

ecus

avam

ace

itar

os m

eus

irm

ãos

na e

scol

a pú

blic

a ju

nto

de

noss

a ca

sa. O

meu

pai

rip

osta

va:

— M

as e

u pa

go a

con

trib

uiçã

o au

tárq

uica

com

o to

da a

gen

te!

A r

ecus

a m

antin

ha-s

e, t

odav

ia.

E o

meu

pai

con

tinua

va o

s se

us

disc

urso

s in

flam

ados

. Com

o um

a to

rnei

ra q

ue n

ão p

ára

de p

inga

r, r

epet

ia

os s

eus

obje

ctiv

os v

ezes

sem

con

ta. “

O d

irei

to n

ão p

erte

nce

a ne

nhum

sex

o

e a

verd

ade

não

é ex

clus

iva

de n

enhu

ma

cor.

Deu

s é

o no

sso

pai c

omum

e

som

os to

dos

irm

ãos.

O m

eu p

ai n

ão u

sava

a ca

neta

par

a lu

tar

pela

igu

alda

de e

ntre

bran

cos

e ne

gros

. Qua

ndo

eu e

ra c

rian

ça, r

ecus

ava

sent

ar-s

e no

s lu

gare

s

para

neg

ros

nos

com

boio

s. S

enta

va-s

e se

mpr

e na

s ca

rrua

gens

res

erva

das

a

bran

cos.

Alg

uns

guar

da-f

reio

s te

ntav

am e

xpul

sá-l

o, m

as e

le a

garr

ava-

se

com

for

ça a

o lu

gar.

Era

tão

for

te q

ue e

ram

pre

ciso

s se

is h

omen

s pa

ra o

leva

ntar

e

esco

rraç

ar.

Com

o

asse

nto

agar

rado

a

ele.

En

quan

to

a

com

panh

ia e

ncom

enda

va u

m n

ovo

asse

nto,

o m

eu p

ai s

enta

va-s

e no

chã

o,

Page 5: Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto quando eu tinha seis anos, e o meu pai ... não desejo gastar palavras ou argumentos

da m

inha

fam

ília.

Mas

sab

ia q

ue e

stav

a a

faze

r o

que

devi

a. F

ui a

cas

a no

Nat

al e

reg

ress

ei d

e no

vo à

esc

ola.

As

casa

s do

s Q

uake

r sã

o m

uito

sim

ples

. N

o m

eu q

uart

o nã

o ha

via

ador

nos,

cor

es v

ivas

ou

brin

qued

os. M

as a

pren

di a

am

ar o

s liv

ros

e tin

ha

mui

tas

men

inas

com

que

m b

rinc

ar.

As

irm

ãs M

ott

tinha

m u

m p

rim

o em

Fila

délf

ia c

ham

ado

Jam

es M

ott.

A m

ulhe

r de

le, L

ucre

tia, v

inha

vis

itar-

nos

com

fre

quên

cia.

Era

am

iga

do m

eu p

ai e

esc

revi

a so

bre

os d

irei

tos

das

mul

here

s. O

meu

pai

diz

ia q

ue a

s m

ulhe

res

devi

am v

otar

. Sen

táva

mo-

nos

a to

mar

chá

e f

aláv

amos

de

tudo

aqu

ilo q

ue a

s m

ulhe

res

fari

am u

m d

ia.

Eu in

cluí

da!

Fiqu

ei o

rgul

hosa

de

cons

egui

r le

r as

car

tas

do m

eu p

ai,

pouc

o

depo

is

de

esta

r na

es

cola

. C

omec

ei

a es

crev

er-l

he

tam

bém

. Em

bora

estiv

esse

mui

to o

cupa

do,

resp

ondi

a se

mpr

e. E

m M

arço

dis

se-m

e qu

e eu

tinha

um

a no

va i

rmãz

inha

cha

mad

a A

nnie

. Ti

nha

saud

ades

da

min

ha

mãe

. Com

est

a no

va b

ebé,

dec

erto

que

pre

cisa

va d

a m

inha

aju

da. P

or v

olta

da P

rim

aver

a, a

s ir

mãs

Mot

t ac

hara

m q

ue e

u já

sab

ia o

suf

icie

nte

para

pode

r ir

par

a ca

sa m

ais

cedo

. A

grad

eci-

lhes

a a

juda

e d

espe

di-m

e de

las.

Qua

ndo

cheg

uei

a ca

sa,

pus

os b

raço

s à

volta

do

pesc

oço

da m

inha

mãe

,

do m

eu p

ai, d

os m

eus

irm

ãos

e da

min

ha ir

mã,

nov

inha

em

folh

a.

Cap

ítulo

10

O m

eu p

ai r

eage

D

uran

te a

min

ha a

usên

cia,

o m

eu p

ai n

ão ti

nha

desi

stid

o de

cri

ticar

Mr.

War

ner

e as

esc

olas

de

Roch

este

r. N

a m

esm

a al

tura

em

que

eu

part

ia

para

Alb

any,

ele

dir

igia

-lhe

s cr

ítica

s du

ras

no s

eu j

orna

l. U

sava

a c

anet

a

com

o qu

em u

sa u

ma

espa

da, e

luta

va c

om p

alav

ras.

Que

ria

que

as e

scol

as

de R

oche

ster

– q

ue t

inha

m a

luno

s ex

clus

ivam

ente

bra

ncos

– a

ceita

ssem

cria

nças

neg

ras

que

vive

ssem

per

to.

O m

eu p

ai a

chav

a q

ue u

ma

pes

soa

dev

eria

ser

exp

osta

pub

lica-

Esta

va a

pena

s a

faze

r o

que

a pr

ofes

sora

me

man

dara

. D

ecid

i nã

o

volta

r ao

gab

inet

e da

dir

ecto

ra. C

omo

não

podi

a sa

ir e

ir lá

par

a fo

ra, a

bri

os l

ivro

s. C

onse

guia

ler

um

pou

co,

devi

do a

o qu

e as

irm

ãs M

ott

me

tinha

m e

nsin

ado,

mas

ain

da m

e se

ntia

ner

vosa

.

Apó

s m

uita

s ho

ras,

ouv

i o

baru

lho

de p

asso

s. A

s ra

pari

gas

riam

enqu

anto

peg

avam

nos

cas

acos

e s

e en

cam

inha

vam

lá p

ara

fora

. Era

hor

a

do r

ecre

io.

Mis

s Ly

dia

tinha

-me

expl

icad

o qu

e nu

ma

esco

la a

sér

io a

s

cria

nças

saí

am p

ara

brin

car

no i

nter

valo

. Eu

tam

bém

que

ria

corr

er e

salta

r à

cord

a. J

á m

e do

íam

as

cost

as e

os

braç

os d

e es

tar

sent

ada

há t

anto

tem

po. D

e re

pent

e, e

ntro

u um

a pr

ofes

sora

na

min

ha s

ala.

— S

erá

que

poss

o ir

bri

ncar

ago

ra?

— N

ão,

Rose

tta,

vim

ver

o q

ue f

izes

te.

Reso

lve

este

exe

rcíc

io —

diss

e, a

brin

do u

ma

pági

na d

o liv

ro.

Sent

i-m

e tr

iste

e e

nver

gonh

ada.

O m

eu p

rim

eiro

dia

de

esco

la f

oi

mui

to d

uro.

O m

eu p

ai n

ão m

e tin

ha d

ito q

ue e

star

ia s

ozin

ha.

Mas

não

chor

ei o

u di

scut

i. Fi

z o

exer

cíci

o. Q

uand

o o

recr

eio

acab

ou e

a e

scol

a

esta

va d

e no

vo e

m s

ilênc

io,

a pr

ofes

sora

vol

tou.

Viu

o m

eu t

raba

lho

e

diss

e: —

Mui

to b

em. P

odes

ir lá

par

a fo

ra b

rinc

ar.

— M

as j

á to

das

fora

m p

ara

a sa

la.

Não

ter

ei n

ingu

ém c

om q

uem

brin

car.

— N

ão te

impo

rtes

com

isso

. Apr

ovei

ta o

teu

recr

eio.

Sent

ei-m

e no

bal

oiço

, deb

aixo

de

uma

gran

de á

rvor

e. V

i m

enin

as a

olha

rem

par

a m

im e

um

a de

las

acen

ou-m

e. D

epoi

s, v

eio

uma

prof

esso

ra à

jane

la e

man

dou-

as s

enta

r. C

ham

aram

-me

para

den

tro

algu

m t

empo

depo

is.

Fui

à ca

sa d

e ba

nho

e be

bi á

gua.

Tin

ha a

blu

sa e

ngel

hada

e o

s

sapa

tos

arra

nhad

os. O

meu

pai

que

ria

que

eu f

osse

à e

scol

a pa

ra a

pren

der

com

bon

s pr

ofes

sore

s e

esta

r co

m o

utra

s cr

ianç

as.

Mas

est

a es

cola

era

Page 6: Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto quando eu tinha seis anos, e o meu pai ... não desejo gastar palavras ou argumentos

prat

icam

ente

um

a pr

isão

. O q

ue d

iria

à m

inha

mãe

qua

ndo

regr

essa

sse

a

casa

?

Um

a ve

z na

sal

a, d

eite

i a

cabe

ça n

a se

cret

ária

e p

us-m

e a

pens

ar.

Não

pod

ia d

izer

nad

a à

min

ha m

ãe. S

e lh

e co

ntas

se, e

la ia

fic

ar tã

o fu

rios

a

que

nunc

a m

ais

me

deix

aria

ir

à es

cola

. Te

ria

de e

sper

ar e

m c

asa

pelo

regr

esso

do

meu

pai

e f

alta

ria

a m

uita

s au

las.

Dec

idi e

sper

ar p

elo

meu

pai

.

Ele

quer

ia q

ue e

u fo

sse

cora

josa

e h

avia

de

ajud

ar-m

e. F

alta

vam

duas

sem

anas

par

a el

e re

gres

sar.

Cap

ítulo

4

À e

sper

a do

pai

Fo

ram

as

duas

sem

anas

mai

s co

mpr

idas

da

min

ha v

ida.

Tod

os o

s

dias

ia à

esc

ola

e se

ntav

a-m

e na

quel

a sa

la s

ozin

ha. I

a ao

rec

reio

soz

inha

e

alm

oçav

a se

m c

ompa

nhia

. N

ingu

ém m

e da

va a

ulas

. O

uvia

as

rapa

riga

s

bran

cas

a ta

gare

lar

e a

rir,

enq

uant

o fa

ziam

os

exer

cíci

os d

e ar

itmét

ica,

e

cham

ava

a m

im t

oda

a co

rage

m q

ue t

inha

. N

ão f

ugi,

não

chor

ei e

não

deso

bede

ci a

os p

rofe

ssor

es. T

ambé

m n

ão d

isse

nad

a à

min

ha m

ãe. E

sper

ei

pelo

meu

pai

.

Con

tei

a m

im m

esm

a to

das

as s

uas

hist

ória

s fa

vori

tas

de c

rian

ça.

Ass

im, o

tem

po p

assa

va m

ais

depr

essa

. Qua

ndo

era

cria

nça

e es

crav

o em

Mar

ylan

d, o

meu

pai

tin

ha a

pren

dido

a l

er s

ozin

ho.

No

iníc

io,

a pa

troa

bran

ca ti

nha-

lhe

ensi

nado

as

prim

eira

s le

tras

, mas

dep

ois

o pa

trão

tinh

a-a

proi

bido

e e

la t

orna

ra-s

e m

á pa

ra e

le. T

irou

-lhe

tod

os o

s liv

ros,

o q

ue n

ão

o im

pedi

u de

con

tinua

r a

apre

nder

soz

inho

.

As

únic

as p

esso

as q

ue o

aju

dava

m e

ram

uns

rap

azes

bra

ncos

que

tinha

enc

ontr

ado

nas

ruas

de

Balti

mor

e, a

lém

de

algu

ns e

stiv

ador

es d

o

esta

leir

o on

de b

rinc

ava.

Tin

ha m

uito

s am

igos

neg

ros

em B

altim

ore,

e e

les

enco

raja

ram

-no

a co

ntin

uar.

Con

tudo

, não

pod

iam

aju

dá-l

o, p

orqu

e nã

o

long

e po

r ca

usa

de H

orat

io W

arne

r.

Vou

em

brul

har

algu

mas

m

açãs

e

quei

jo

para

co

mer

em

no

com

boio

— d

isse

a m

inha

mãe

.

Tinh

a la

vado

e e

ngom

ado

as m

inha

s ro

upas

tod

as, c

om a

per

feiç

ão

do c

ostu

me.

Dob

rou-

as c

uida

dosa

men

te d

entr

o da

mal

a gr

ande

. D

epoi

s

deu-

me

um p

ar d

e lu

vas

e um

cha

péu.

— S

ê se

mpr

e ed

ucad

a e

asse

ada,

Ros

etta

, e a

juda

as

irm

ãs M

ott.

Não

és u

ma

prin

cesa

— d

isse

-me.

Elas

se

mpr

e te

tr

atar

am

bem

acre

scen

tou

o m

eu p

ai.

Dir

igim

o-no

s à

esta

ção,

e o

meu

pai

levo

u a

min

ha m

ala.

Aju

dou-

me

a su

bir

para

a ca

rrua

gem

e s

ubiu

a s

egui

r.

— T

odos

a b

ordo

! —

gri

tou

o gu

arda

-

frei

o, a

gita

ndo

a la

nter

na.

Nes

sa n

oite

, olh

ei o

s ca

mpo

s e

as c

olin

as

que

desf

ilava

m

dian

te

dos

meu

s ol

hos

e

cont

empl

ei a

s es

trel

as.

Não

dor

mim

os.

Pens

ei

no q

uant

o a

min

ha v

ida

tinha

mud

ado

no d

ecur

so d

e um

ano

. A

ntes

de

part

ir, a

min

ha m

ãe ti

nha-

me

cont

ado

a no

vida

de. N

a pr

óxim

a Pr

imav

era,

iria

ter

out

ro b

ebé.

Pen

sei q

ue s

eria

bom

ter

um

a ir

mãz

inha

, um

a ve

z qu

e

já ti

nha

três

irm

ãos.

Na

man

hã s

egui

nte,

as

duas

irm

ãs M

ott

espe

rava

m-n

os c

om u

m

carr

inho

pux

ado

por

uma

cava

lo.

Com

emos

jun

tos

e, m

ais

tard

e, o

meu

pai d

espe

diu-

se, a

ntes

de

apan

har

o co

mbo

io d

e no

vo.

— E

scre

ver-

te-e

i com

fre

quên

cia

— p

rom

eteu

, ant

es d

e m

e da

r um

gran

de a

braç

o.

Viv

i aq

uele

Inv

erno

tod

o co

m a

s ir

mãs

Mot

t. Em

bora

tiv

esse

um

quar

tinho

meu

, e

um b

onito

edr

edão

na

min

ha c

ama,

tin

ha s

auda

des

Page 7: Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto quando eu tinha seis anos, e o meu pai ... não desejo gastar palavras ou argumentos

E

m b

reve

che

gou

um t

eleg

ram

a, q

ue u

m m

ensa

geir

o fa

rdad

o ve

io

entr

egar

. En

quan

to o

meu

pai

o l

ia,

um s

orri

so d

esen

hou-

se n

a su

a fa

ce.

Mos

trou

-o a

o Sr

. Del

aney

.

— A

s ir

mãs

Mot

t são

um

a es

colh

a ex

cele

nte

— d

isse

est

e.

O m

eu p

ai a

nunc

iou:

Rose

tta,

fi

z pl

anos

no

vos

para

ti.

M

iss

Abi

gail

resp

onde

u

pron

tam

ente

ao

meu

tel

egra

ma

e vo

u en

viar

-te

para

Alb

any.

As

irm

ãs

Mot

t vão

gos

tar

de te

ter

com

ela

s e

freq

uent

arás

a s

ua e

scol

a.

— A

lban

y é

long

e —

dis

se e

u.

— É

ver

dade

— c

onco

rdou

o m

eu p

ai.

— T

reze

ntos

e s

esse

nta

quiló

met

ros.

Lev

ar-t

e-ei

no

com

boio

da

noite

.

Man

dou

algu

ém a

visa

r a

min

ha m

ãe d

e qu

e eu

pre

cisa

va d

e um

a

pequ

ena

mal

a de

rou

pa. N

ão h

avia

tem

po a

per

der.

O a

no e

scol

ar já

tinh

a

com

eçad

o e

ele

não

quer

ia q

ue e

u m

e at

rasa

sse

mai

s. M

ais

tard

e, o

meu

pai

publ

icar

ia u

ma

cart

a no

seu

jorn

al, d

irig

ida

a M

r. W

arne

r. N

ela

diri

a

que

uma

esco

la d

e br

anco

s m

e tin

ha a

ceita

do c

inco

hor

as d

epoi

s de

Mis

s

Trac

y m

e te

r ex

puls

o. O

que

ele

não

dis

se f

oi q

ue a

min

ha n

ova

esco

la

fica

va a

trez

ento

s e

sess

enta

qui

lóm

etro

s de

dis

tânc

ia!

Fize

mos

um

jan

tar

de d

espe

dida

. A

mam

ã se

rviu

o m

eu p

rato

de

fran

go f

avor

ito,

com

abó

bora

e p

uré

de b

atat

a. Q

uase

cho

rei,

mas

a

exci

taçã

o le

vou

a m

elho

r. O

meu

pai

des

crev

eu a

via

gem

com

o se

fos

se

uma

aven

tura

. C

ostu

mav

a vi

ajar

em

gra

ndes

car

ruag

ens

e te

r se

mpr

e

milh

ares

de

pess

oas

a ou

vir

os s

eus

disc

urso

s.

Esta

noi

te, e

u de

ixar

ia o

meu

bel

o qu

artin

ho, c

om a

s co

rtin

as q

ue a

min

ha p

rópr

ia m

ãe f

izer

a, a

min

ha c

ama

fofi

nha,

a m

inha

mãe

e o

s m

eus

irm

ãos.

Iri

a co

m o

meu

pai

apa

nhar

um

com

boio

, qu

e es

tari

a à

noss

a

espe

ra n

a es

taçã

o, e

nvol

to n

uma

nuve

m d

e fu

mo

bran

co.

Pass

aría

mos

a

noite

nos

lug

ares

for

rado

s a

velu

do e

ver

íam

os o

céu

est

rela

do. D

eixa

va a

min

ha f

amíli

a pa

ra i

r es

tuda

r en

tre

estr

anho

s. E

ra m

uito

im

port

ante

que

eu a

pren

dess

e a

ler,

esc

reve

r e

cont

ar.

Só e

ra p

ena

que

tive

sse

de ir

par

a

sabi

am l

er n

em e

scre

ver.

O m

eu p

ai s

abia

que

hav

ia u

ma

rela

ção

dire

cta

entr

e se

r in

stru

ído

e se

r liv

re.

Enqu

anto

eu

agor

a tin

ha l

ivro

s co

m i

mag

ens

e pa

lavr

as f

ácei

s, q

ue

func

iona

vam

com

o liv

ros

de i

nici

ação

à l

eitu

ra,

o m

eu p

ai n

unca

tin

ha

tido

livro

s em

cri

ança

. Peg

ava

na B

íblia

da

patr

oa, q

uand

o es

ta n

ão e

stav

a

em c

asa,

e t

ambé

m c

ostu

mav

a da

r um

a es

prei

tade

la n

os l

ivro

s do

filh

o

mai

s no

vo,

Tom

my.

Alg

uns

jorn

ais

que

enco

ntra

va n

a ru

a se

rvir

am-l

he

igua

lmen

te d

e ap

oio.

O s

eu p

rim

eiro

livr

o cu

stou

cin

quen

ta c

êntim

os e

foi

com

prad

o ao

s

doze

ano

s. C

ompr

ou-o

num

a liv

rari

a, c

om o

din

heir

o qu

e tin

ha g

anho

a

engr

axar

sap

atos

. Se

o m

eu p

ai n

ão t

inha

tan

tos

livro

s qu

anto

eu,

tin

ha

algo

que

não

ten

ho:

amig

os b

ranc

os!

Não

faz

ia i

deia

de

que

Mis

s Tr

acy

não

quer

ia q

ue a

s ra

pari

gas

bran

cas

me

ajud

asse

m, o

u ri

ssem

com

igo,

ou

brin

cass

em c

omig

o no

rec

reio

.

Alg

umas

pes

soas

cha

mav

am a

o m

eu p

ai o

Leã

o N

egro

, por

cau

sa d

a

sua

voz

fort

e e

da s

ua c

orag

em p

ara

fala

r ab

erta

men

te. O

xalá

pud

esse

ser

tão

cora

josa

com

o el

e!

Cap

ítulo

5

O p

ai v

ai à

esc

ola

O

meu

pa

i vo

ltou,

fi

nalm

ente

. En

trou

de

ro

mpa

nte

em

casa

,

carr

egad

o co

m u

ma

mal

a, p

apéi

s e

embr

ulho

s. C

orri

par

a el

e e

abra

cei-

o

com

for

ça. T

odos

tive

mos

dir

eito

a a

braç

os e

bei

jos.

Dep

ois,

sen

tou-

me

nos

seus

joe

lhos

e o

lhou

-me

nos

olho

s. S

abia

que

me

perg

unta

ria

pela

esc

ola.

Os

seus

olh

os b

rilh

avam

e s

ei q

ue e

sper

ava

boas

not

ícia

s.

Não

con

segu

i re

ter

mai

s as

lág

rim

as e

des

atei

a c

hora

r. O

meu

pai

fico

u m

uito

adm

irad

o:

— R

oset

ta, f

ilha,

o q

ue a

cont

eceu

?

A m

inha

mãe

vei

o à

entr

ada

da s

ala,

lim

pand

o as

mão

s ao

ave

ntal

.

Page 8: Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto quando eu tinha seis anos, e o meu pai ... não desejo gastar palavras ou argumentos

Con

tei-

lhe

tudo

:

— P

õem

-me

num

a sa

la s

ozin

ha e

nin

guém

me

ensi

na.

Não

me

deix

am b

rinc

ar c

om a

s ou

tras

men

inas

no

recr

eio

e al

moç

o se

mpr

e se

m

com

panh

ia. S

into

-me

tão

só!

— Q

uem

fez

isso

? A

pró

pria

Mis

s Tr

acy?

— S

im, f

oi e

la q

ue m

e m

ando

u se

ntar

soz

inha

no

prim

eiro

dia

.

— A

man

hã v

ou c

ontig

o à

esco

la.

O m

eu p

ai e

scre

veu

mai

s ta

rde

no s

eu

jorn

al:

“Fiq

uei

choc

ado,

m

agoa

do

e

indi

gnad

o.”

Mis

s Tr

acy

tinh

a-no

s en

gana

do.

Rece

bera

din

heir

o do

meu

pai

, m

as n

ão m

e

deix

ava

freq

uent

ar

as

aula

s.

Tinh

a-m

e

colo

cado

nu

ma

pris

ão,

num

a “c

ela

disc

iplin

ar”,

seg

undo

as

pala

vras

do

meu

pai

.

No

dia

segu

inte

, to

das

as

rapa

riga

s

olha

ram

par

a nó

s, q

uand

o ch

egue

i à

esco

la

acom

panh

ada

pelo

m

eu

pai.

Subi

mos

de

mão

s da

das

os d

egra

us e

fom

os a

o ga

bine

te

da d

irec

tora

.

Cap

ítulo

6

A a

juda

das

cri

ança

s O

meu

pai

foi d

irec

to a

o as

sunt

o:

— A

min

ha f

ilha

diz

que

a m

anté

m a

fast

ada

das

outr

as a

luna

s. É

verd

ade?

— p

ergu

ntou

.

Sim

, é

verd

ade.

Se

o o

tives

se

feito

, te

ria

man

chad

o a

repu

taçã

o da

esc

ola

e o

meu

nom

e.

— P

orqu

ê?

— A

lgum

as d

as fa

míli

as o

por-

se-i

am a

que

ela

est

ives

se n

a m

esm

a

— Q

uere

s os

mel

hore

s pr

ofes

sore

s qu

e eu

te p

uder

arr

anja

r?

— Q

uero

, pai

.

— M

uito

bem

. Vou

man

dar

um t

eleg

ram

a e

vere

mos

o q

ue s

e po

de

faze

r. D

epoi

s de

o m

eu p

ai s

air,

a m

inha

mãe

falo

u co

mig

o na

coz

inha

.

— S

abes

, filh

a, le

r nã

o é

o m

ais

impo

rtan

te d

a vi

da. E

u nã

o se

i ler

e

a m

inha

vid

a é

feliz

. O

teu

pai

ten

tou

ensi

nar-

me,

mas

não

con

segu

i

apre

nder

. Sin

to-m

e fe

liz a

ssim

.

— M

as e

u já

sei

ler

um

boc

adin

ho,

mam

ã. E

tod

as a

s cr

ianç

as

negr

as te

rão

um d

ia d

e ap

rend

er.

— E

u se

i qu

e o

mun

do e

stá

a m

udar

.

Mas

pre

firo

que

fiq

ues

em c

asa,

par

a qu

e nã

o

te m

agoe

m.

— M

amã,

as

men

inas

bra

ncas

que

riam

-

-me

ao p

é de

las.

Gos

tava

m d

e m

im,

tenh

o a

cert

eza.

A

vota

ram

co

ntra

os

pr

ofes

sore

s

para

pod

erem

ter-

me

com

ela

s na

sal

a.

— E

u se

i, eu

sei

.

— Q

uero

bri

ncar

com

ela

s. E

sper

a at

é m

e ve

rem

a s

alta

r à

cord

a.

— É

s um

a m

enin

a m

uito

cor

ajos

a.

Cap

ítulo

9

Rum

o a

Alb

any

Os

sonh

os d

os m

eus

pais

era

m d

ifer

ente

s: a

min

ha m

ãe n

ão q

ueri

a

ver-

me

mag

oada

, o m

eu p

ai q

ueri

a qu

e eu

fos

se b

em s

uced

ida.

Est

ava

tão

inqu

ieta

naq

uela

tar

de q

ue a

min

ha m

ãe m

e de

ixou

ir

ter

com

o m

eu p

ai

ao e

scri

tóri

o, o

nde

o aj

udei

a c

ompo

r as

not

ícia

s do

jorn

al. Q

ue e

xcita

ção!

Eu a

dora

va o

am

bien

te d

o es

critó

rio.

O S

r. D

elan

ey t

ambé

m l

á es

tava

, a

fala

r co

m o

meu

pai

sob

re a

lgun

s ar

tigos

e a

tom

ar n

otas

.

Page 9: Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto quando eu tinha seis anos, e o meu pai ... não desejo gastar palavras ou argumentos

Cap

ítulo

8

Saio

da

esco

la

En

quan

to e

sta

reun

ião

secr

eta

deco

rria

, ex

plic

ávam

os à

min

ha

mãe

a a

titud

e m

arav

ilhos

a qu

e tín

ham

os p

rese

ncia

do n

a es

cola

. Na

man

segu

inte

, dir

igi-

me

para

lá c

om o

s liv

ros

deba

ixo

do b

raço

. Mal

con

tinha

a

aleg

ria.

Qua

ndo

cheg

uei

aos

degr

aus,

enc

ontr

ei M

iss

Trac

y a

barr

ar-m

e a

pass

agem

.

— R

oset

ta, j

á nã

o és

nos

sa a

luna

. Vai

par

a ca

sa, p

or fa

vor.

Com

o nã

o co

mpr

eend

i o

que

ela

dizi

a, f

ique

i al

i es

peca

da,

até

que

ela

o re

petiu

. C

orri

com

mui

ta f

orça

par

a qu

e ni

ngué

m v

isse

as

min

has

lágr

imas

de

verg

onha

. Nem

sei

com

o nã

o de

ixei

cai

r os

liv

ros.

Cor

ri p

ara

dent

ro d

e ca

sa, i

ncap

az d

e re

spir

ar. D

esta

vez

, con

tei à

min

ha m

ãe t

udo

o

que

tinha

aco

ntec

ido.

— E

u sa

bia

que

isto

te c

ausa

ria

tris

teza

— d

isse

-me.

Dep

ois,

ped

iu a

um

rap

az q

ue f

osse

cha

mar

o m

eu p

ai a

o es

critó

rio.

Qua

ndo

ele

cheg

ou a

cas

a, j

á eu

tin

ha e

nxug

ado

as l

ágri

mas

e e

stav

a a

brin

car

com

o L

ewis

e o

Cha

rles

. O m

eu p

ai e

ntro

u na

sal

a e

deu-

me

um

abra

ço. —

Não

te p

reoc

upes

, Ros

etta

, não

te p

reoc

upes

.

— V

ou p

ara

a es

cola

dos

neg

ros,

pai

?

— N

ão, v

ou a

rran

jar-

te u

ma

esco

la m

elho

r.

A m

inha

mãe

est

ava

tris

te e

deu

-me

um a

braç

o.

— F

rede

rick

, eu

dis

se-t

e qu

e a

noss

a fi

lha

não

prec

isa

de s

air

de

casa

. Pre

cisa

de

se s

enti

r pr

oteg

ida.

Nes

te m

omen

to, h

á so

bres

salto

s a

mai

s

no s

eu c

oraç

ão.

O m

eu p

ai o

lhou

-me

nos

olho

s e

perg

unto

u-m

e:

— R

oset

ta, é

s co

rajo

sa?

— S

ou, p

ai.

sala

das

sua

s fi

lhas

. So

mos

um

a es

cola

pri

vada

, po

r is

so t

emos

de

ter

em

aten

ção

os d

esej

os d

os p

ais.

— S

e te

ncio

nava

exc

luir

a m

inha

filh

a, d

evia

ter

-mo

dito

log

o no

iníc

io —

pro

sseg

uiu

o m

eu p

ai.

As

pala

vras

del

e ca

íam

com

o pe

dras

. Le

mbr

ou a

Mis

s Tr

acy

que

paga

ra u

ma

prop

ina

com

o os

out

ros

pais

, nu

ma

voz

firm

e na

qua

l nã

o

havi

a ve

stíg

ios

do s

eu p

assa

do d

e es

crav

o. P

arec

ia u

m s

enad

or o

u um

cong

ress

ista

.

Mis

s Tr

acy

fico

u at

rapa

lhad

a.

— H

aver

ia d

e ce

rtez

a qu

em s

e op

uses

se a

que

a s

ua f

ilha

se s

enta

sse

junt

o da

s al

unas

bra

ncas

.

— N

ão a

cred

ito —

ret

orqu

iu o

meu

pai

. — P

ergu

ntem

os à

s al

unas

.

— M

uito

bem

, per

gunt

ar-l

hes-

ei —

anu

iu M

iss

Trac

y. —

Ven

ham

com

igo.

A d

irec

tora

lev

ou-n

os p

elo

corr

edor

e b

ateu

à p

orta

de

uma

sala

de

aula

. Dep

ois,

ent

rou

na s

ala

conn

osco

, par

a ad

mir

ação

da

prof

esso

ra e

das

alun

as. O

bar

ulho

das

fol

has

cess

ou e

os

rost

os f

icar

am i

móv

eis.

O s

ol d

o

enta

rdec

er e

ntra

va p

elas

jan

elas

gra

ndes

e i

lum

inav

a al

guns

pro

blem

as

escr

itos

no q

uadr

o pr

eto.

Olh

ei p

ara

as a

luna

s. N

enhu

ma

pare

cia

inqu

ieta

.

Alg

umas

sor

rira

m p

ara

mim

.

Mis

s Tr

acy

pedi

u at

ençã

o.

— M

enin

as,

o Sr

. D

ougl

ass

quer

sabe

r se

a s

ua f

ilha

pode

fre

quen

tar

esta

turm

a. Q

uant

as q

uere

m q

ue a

Ros

etta

fiqu

e aq

ui?

Leva

ntem

os

br

aços

, po

r

favo

r. To

das

as r

apar

igas

lev

anta

ram

os

braç

os. M

iss

Trac

y ac

hou

que

as a

luna

s

não

tinha

m c

ompr

eend

ido.

Page 10: Rosetta, Rosetta, senta-te ao meu lado - Linda Wolvoord Rosetta... · A minha mãe tinha-se oposto quando eu tinha seis anos, e o meu pai ... não desejo gastar palavras ou argumentos

— N

ão c

ompr

eend

eram

bem

. Eu

per

gunt

ei q

uant

as a

cham

que

a

Rose

tta

deve

fica

r aq

ui a

ter

aula

s.

As

rapa

riga

s le

vant

aram

de

novo

os

braç

os.

— E

u co

ncor

do!

— E

u ta

mbé

m!

Mis

s Tr

acy

fico

u ve

rmel

ha e

atr

apal

hada

. Cha

mou

as

men

inas

um

a

por

uma,

par

a te

r a

cert

eza.

Um

a de

las

diss

e qu

e nã

o se

impo

rtav

a qu

e eu

fica

sse.

— E

stás

hab

itua

da a

bri

ncar

com

men

inas

neg

ras?

— p

ergu

ntou

a

dire

ctor

a.

A a

luna

não

res

pond

eu.

— E

ond

e é

que

ela

se s

enta

ria?

— q

uis

sabe

r M

iss

Trac

y.

As

alun

as m

anif

esta

ram

-se

em u

níss

ono:

— À

min

ha b

eira

!

— N

ão, à

min

ha!

— R

oset

ta, s

enta

-te

ao m

eu la

do!

Todo

s os

bra

ços

se le

vant

aram

.

O m

eu p

ai o

lhou

par

a m

im e

sor

rim

os a

mbo

s ab

erta

men

te.

Ele

tinha

-me

dito

par

a co

nfia

r no

s br

anco

s. N

enhu

m d

e nó

s es

quec

eria

est

e

dia.

Mai

s ta

rde,

num

a ca

rta

a M

ark

Twai

n, o

meu

pai

esc

reve

u “O

s

cora

ções

das

cri

ança

s es

tava

m c

erto

s.”

Poré

m, M

iss

Trac

y di

sse:

— Is

to n

ão fi

ca a

ssim

!

Cap

ítulo

7

As

obje

cçõe

s do

Sr.

War

ner

Este

ser

ia o

meu

últi

mo

dia

na e

scol

a de

Mis

s Tr

acy.

As

alun

as

quer

iam

que

eu

fica

sse,

mas

a d

irec

tora

não

est

ava

disp

osta

a c

eder

.

Pode

ria

ter

sido

feliz

naq

uela

esc

ola,

se

não

estiv

ésse

mos

em

184

8.

Sem

nos

avi

sar,

Mis

s Tr

acy

conv

ocou

um

a as

sem

blei

a de

pai

s, q

ue

ench

eram

, nes

sa n

oite

, a s

ala

de r

euni

ões.

Não

est

ivem

os p

rese

ntes

, mas

os

noss

os a

mig

os c

onta

ram

-nos

o q

ue t

inha

suc

edid

o. A

dir

ecto

ra p

ergu

ntou

aos

pais

se

conc

orda

vam

com

a m

inha

ins

criç

ão.

Todo

s os

bra

ços

se

leva

ntar

am,

exce

pto

um.

Qua

ndo

ela

perg

unto

u qu

em d

isco

rdav

a, M

r.

Hor

atio

G

. W

arne

r le

vant

ou-s

e.

Era

um

hom

em

pode

roso

, ed

itor

do

Roch

este

r C

ouri

er,

um j

orna

l co

m a

lgum

as c

ente

nas

de l

eito

res.

O j

orna

l

do m

eu p

ai, o

Nor

ther

n St

ar, q

ue s

e pu

blic

ara

pela

pri

mei

ra v

ez e

m 1

847,

era

envi

ado

para

tod

a a

Am

éric

a e

tinh

a m

ilhar

es d

e le

itore

s. O

jor

nal

de

Mr.

War

ner

era

loca

l e

ele

nunc

a tin

ha e

scri

to l

ivro

s ou

via

jado

, co

mo

o

meu

pai

. For

a de

Roc

hest

er, n

ingu

ém c

onhe

cia

Mr.

War

ner.

Nes

sa n

oite

, est

e di

sse:

— N

ão c

reio

que

est

a in

scri

ção

seja

ade

quad

a,

porq

ue t

rai

os l

imite

s qu

e a

soci

edad

e e

a na

ture

za

traç

aram

par

a a

educ

ação

dos

nos

sos

jove

ns.

Dep

ois

inic

iou

um l

ongo

dis

curs

o, n

o qu

al d

izia

que

não

quer

ia q

ue a

sua

filh

a fr

eque

ntas

se a

esc

ola

da

filh

a de

Fre

deri

ck D

ougl

ass.

Fal

ou c

omo

se o

meu

pai

foss

e um

agi

tado

r, a

sol

do d

os a

bolic

ioni

stas

. A

firm

ou

mes

mo

que

o m

eu p

ai n

em s

eque

r er

a de

Roc

hest

er e

que

tinha

vi

ndo

de

outr

o es

tado

pa

ra

pert

urba

r o

soss

ego

de c

idad

ãos

paca

tos.

E c

ontin

uou

com

o m

esm

o

tipo

de a

cusa

ções

.

Dep

ois

dest

e lo

ngo

disc

urso

, M

iss

Trac

y vo

ltou

a pe

rgun

tar

quem

era

a fa

vor

da m

inha

ins

criç

ão.

Os

pais

vot

aram

no

mes

mo

sent

ido.

Con

tudo

, seg

undo

as

regr

as d

a di

rect

ora,

a i

nscr

ição

pode

ria

ser

acei

te

se n

ão h

ouve

sse

nenh

uma

obje

cção

.

— S

ou u

ma

boa

cris

tã e

dis

cord

o da

esc

rava

tura

. C

ontu

do,

sou

tam

bém

res

pons

ável

por

um

am

bien

te s

egur

o e

tran

quilo

na

esco

la,

e a

pres

ença

de

Rose

tta

não

o fa

vore

ce.