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 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO NO PROCESSO EDUCACIONAL Tatiana Cortez Nunes 1 Yara Aparecida Couto (O)  2  Introdução  Na área de Educação Física Escolar muitas discussões sobre os conteúdos que devem ser trabalhados pelos professores, as abordagens e áreas de conhecimentos que ela abrange, além disso, estudamos o movimento, com técnicas sofisticadas buscando a perfeição e adotamos como nossos conteúdos das áreas mais diversas como as médicas, as biológicas e humanas entre outras, por muitas vezes como docentes esquecemos, o nosso ponto chave que é o ser humano historicamente criado e culturalmente desenvolvido de uma maneira integral e única, destacado pelo Coletivo de Autores (1998). Como podemos ver a formação profissional do profissional de Educação Física sempre foi muito precária DAOLIO (2004) ressalta, os profissionais formados por volta de 1980 tinham como formação a predominância de conhecimentos voltados para a área  biológica, tais profissionais não tiveram acesso às discussões socioculturais e ainda o mesmo autor, o corpo era visto como um conjunto de sistemas e não como cultura, o esporte era de alto rendimento ou passa tempo, não lidava com os fenômenos políticos e culturais da época, a Educação Física não tinha o caráter cultural, essa concepção nos chama atenção para as atuais dificuldades que encontramos ainda nos dias atuais. O Coletivo de Autores vem reforçar a citação acima e nos mostrar uma nova tentativa de inovar e buscar uma nova reflexão para a Educação Física quando destaca, no  passado a perspectiva da Educação Física, tinha como objetivo o desenvolvimento da aptidão física do homem, onde a contribuição histórica é relativa aos interesses da classe dominante, mantendo uma estrutura capitalista, mas hoje nossa área começou a ter uma nova reflexão, sob um aspecto lúdico buscando investigar a criatividade humana e à adoção de uma postura investigativa e produtora de cultura. 1  Aluna da I Turma do Curso de Especialização em Educação Física Escolar (lato sensu) do DEFMH/UFSCar.  2  Professora Assistente do DEFMH/UFSCar e do Curso de Especialização em Educação Física Escolar.  

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EDUCAO FSICA ESCOLAR E CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO NO PROCESSO EDUCACIONAL Tatiana Cortez Nunes1 Yara Aparecida Couto (O) 2

Introduo

Na rea de Educao Fsica Escolar h muitas discusses sobre os contedos que devem ser trabalhados pelos professores, as abordagens e reas de conhecimentos que ela abrange, alm disso, estudamos o movimento, com tcnicas sofisticadas buscando a perfeio e adotamos como nossos contedos das reas mais diversas como as mdicas, as biolgicas e humanas entre outras, por muitas vezes como docentes esquecemos, o nosso ponto chave que o ser humano historicamente criado e culturalmente desenvolvido de uma maneira integral e nica, destacado pelo Coletivo de Autores (1998). Como podemos ver a formao profissional do profissional de Educao Fsica sempre foi muito precria DAOLIO (2004) ressalta, os profissionais formados por volta de 1980 tinham como formao a predominncia de conhecimentos voltados para a rea biolgica, tais profissionais no tiveram acesso s discusses socioculturais e ainda o mesmo autor, o corpo era visto como um conjunto de sistemas e no como cultura, o esporte era de alto rendimento ou passa tempo, no lidava com os fenmenos polticos e culturais da poca, a Educao Fsica no tinha o carter cultural, essa concepo nos chama ateno para as atuais dificuldades que encontramos ainda nos dias atuais. O Coletivo de Autores vem reforar a citao acima e nos mostrar uma nova tentativa de inovar e buscar uma nova reflexo para a Educao Fsica quando destaca, no passado a perspectiva da Educao Fsica, tinha como objetivo o desenvolvimento da aptido fsica do homem, onde a contribuio histrica relativa aos interesses da classe dominante, mantendo uma estrutura capitalista, mas hoje nossa rea comeou a ter uma nova reflexo, sob um aspecto ldico buscando investigar a criatividade humana e adoo de uma postura investigativa e produtora de cultura.1 2

Aluna da I Turma do Curso de Especializao em Educao Fsica Escolar (lato sensu) do DEFMH/UFSCar. Professora Assistente do DEFMH/UFSCar e do Curso de Especializao em Educao Fsica Escolar.

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Devido a essa tentativa de mudana na concepo de Educao Fsica DAOLIO (2004) ainda afirma, que cultura o principal conceito para a Educao Fsica, na perspectiva que o movimento humano o nosso estudo, mas o carter social e cultural que a Educao Fsica deve exercer em seus alunos no pode ser deixado de lado, devemos assumir a responsabilidade que nos foi dada, transmitindo e ensinando conhecimentos que transformem a realidade social. Nesse estudo a compreenso do indivduo quanto ser cultural e suas relaes inter-pessoais se faz presente e MEDINA (1948) menciona, o homem s pode evoluir, cada vez mais, atravs da percepo gradual que se d em relao a si mesmo, em relao aos outros, em relao ao mundo, assim nosso papel como educadores o de proporcionar essa interao e conhecimento cada vez maior do ser humano com o mundo e suas relaes. Na perspectiva de OLIVEIRA (2004) a Educao Fsica existe em funo do homem, enquanto ser individual e social, sendo assim temos que entender o indivduo como um todo, nas suas vrias formas de se relacionar com o mundo e a Educao Fsica como Cultura Corporal de Movimento tm que estar atenta as individualidades. Com esses subsdios tericos mencionados, prope-se desenvolver uma investigao da Educao Fsica Escolar quanto Cultura Corporal de Movimento. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que apresenta como mtodo entrevistas semi-estruturadas com os 52 alunos e 5 professores.

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A Educao Fsica e sua origem no Brasil

No passado, a Educao Fsica teve seus paradigmas estritamente ligados s instituies militares e classe mdica (higienista). Com a viso de melhorar a qualidade de vida, muitos mdicos adotaram a forma higienista e buscaram modificar os hbitos de sade e higiene da populao (BRASIL, 2001). Seguindo a mesma meno acima, a Educao Fsica favorecia a educao do corpo, tendo como meta a constituio de um fsico saudvel e equilibrado organicamente, ou seja, menos suscetvel s doenas. Alm disso, havia o pensamento poltico e intelectual da poca, uma preocupao com o melhoramento gentico da raa humana. Com a miscigenao entre escravos, havia o temor de uma mistura que desqualificasse a raa branca. Dessa forma, a educao sexual associada Educao Fsica deveria prevenir homens e mulheres da responsabilidade de manter a soberania racial branca. Ainda Brasil (2001), destaca que, embora a elite imperial estivesse de acordo com os pressupostos higinicos, eugnicos e fsicos, havia ainda uma forte oposio s atividades fsicas por conta do trabalho fsico e do trabalho escravo. Tudo o que prescindia esforo fsico era visto com maus olhos e isso dificultava a obrigatoriedade da Educao Fsica nas escolas. O mesmo autor, dentro de tudo isso, as instituies militares sofreram influncia da filosofia positivista, favorecendo o desenvolvimento da educao do fsico. Era de fundamental importncia formar indivduos fortes e saudveis que defendessem a ptria e seus ideais, pois s assim alcanariam ordem e o progresso. Em 1851, teve a Reforma Couto Ferraz, que tornou obrigatria a Educao Fsica nas escolas dos municpios da Corte. Os pais no viram com bons olhos essa nova realidade, pois no aceitavam o fato de seus filhos estarem ligados s atividades que no fossem intelectuais. Mas houve uma maior tolerncia idia de ginstica pelos meninos, uma vez que se associavam s instituies militares, mas, em relao s meninas, os pais proibiram a participao de suas filhas (BRASIL, 2001). Ainda tirado da mesma fonte bibliogrfica, no ano de 1882, Rui Barbosa deu seu parecer sobre o Projeto 224, no qual defendeu a incluso da ginstica nas escolas,

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equiparou os professores dessa modalidade a outras disciplinas e ainda destacou a importncia de se ter um corpo saudvel para sustentar a atividade intelectual. O mesmo autor continua, no incio deste sculo, a Educao Fsica ainda recebia o nome de ginstica e foi includa no currculo do Estado da Bahia, Cear, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco e So Paulo. Nessa mesma poca, a Educao Fsica sofria uma forte influncia do movimento escola-novista, que evidenciou a importncia da atividade fsica no desenvolvimento integral do ser humano. A Educao Fsica que se aplicava tinha seus pilares nos mtodos europeus, os quais se firmavam em princpios biolgicos. A base do movimento era de natureza cultural, poltica e cientfica conhecidas como: Movimento Ginstico Europeu, e foi primeira sistematizao da Educao Fsica no Ocidente, citao de BRASIL, (2001). Mesmo autor, destaca na dcada de 30, no Brasil, dentro de um contexto histrico e poltico mundial, com vista s idias nazistas e fascistas que associavam a eugenizao da raa Educao Fsica, ganhou foras. O exrcito passou a comandar um movimento em prol Educao Fsica que se mesclava aos objetivos patriticos e uma preparao pr-militar. O discurso passou de eugnico para dar lugar s idias higienistas e de prevenes s doenas. O perodo higinico foi duradouro. Apesar de algumas mudanas comearem a acontecer, como a incluso da Educao Fsica nos currculos na tentativa de valorizar e mostrar os benefcios para o ser humano, isso no poderia ser considerado garantia melhora para o componente curricular, uma vez que faltavam profissionais capacitados principalmente nas escolas primrias, destaca BRASIL (2001). Apenas em 1937 que se fez a primeira referncia Educao Fsica em textos constitucionais federais, incluindo-a como prtica obrigatria e no mais apenas como disciplina curricular. E ainda destacava-se o adestramento fsico como maneira de preparar a juventude para defender a nao e para o cumprimento dos deveres com a economia (BRASIL, 2001). Segundo o BRASIL (2001) os anos 30, que era a poca da industrializao e urbanizao, fez com que a Educao Fsica ganhasse novas atribuies: fortalecer o trabalhador para melhorar sua capacidade produtiva e desenvolver o esprito de cooperao em benefcio da coletividade.

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At a promulgao das leis e diretrizes de base de 1961, houve um amplo debate sobre o sistema de ensino brasileiro. Nessa lei, ficou determinada a obrigatoriedade da Educao Fsica para as escolas primrias e de ensino mdio. Sendo assim, o esporte passou a ocupar um lugar cada vez maior durante as aulas. O processo de esportivizao da Educao Fsica Escolar iniciou com a introduo do Mtodo Desportivo Generalizado, que significou uma contraposio aos antigos mtodos de ginstica tradicional e uma tentativa de incorporar o esporte, j que era uma instituio bastante independente, adequando-o ao objetivo e prticas pedaggicas, BRASIL (2001). Aps 1964, a educao no geral adotou uma viso tecnicista, onde o ensino tinha que formar mo-de-obra qualificada, os cursos tcnicos profissionalizantes se difundiram e a Educao Fsica tinha um carter instrumental, que era o de desenvolver atividades prticas voltadas para o desempenho tcnico e fsico do aluno, mesmo autor acima. Na dcada de 70, ainda havia a funo para a manuteno da ordem e do progresso. O governo investiu na Educao Fsica em funo de diretrizes pautadas no nacionalismo, na integrao social e na segurana nacional, pois visavam um exrcito forte saudvel e a desmobilizao das foras polticas oposicionistas. As atividades esportivas tambm eram importantes para a melhoria da fora de trabalho com vista no milagre econmico brasileiro, nesse perodo os laos se firmavam com destaque no futebol, na Copa do Mundo de 1970, o mesmo autor. Em 1971, a Educao Fsica Escolar, a partir de um decreto, considerou: a atividade que por meios, processos e tcnicas, desenvolve e aprimora foras fsicas, morais, cvicas, psquicas e sociais do educando (BRASIL, p.22, 2001). A falta de especificidade do decreto manteve a nfase na aptido fsica. A partir da 5 srie, a iniciao esportiva tornou-se um dos eixos fundamentais de ensino na busca de novos talentos para representarem ptria em competies internacionais. Essa poca chamada de modelo piramidal norteou as diretrizes polticas da Educao Fsica. Na dcada de 80, menciona BRASIL (2001) afirma que esse modelo comeou a ser sentido e contestado: o Brasil no passou a ser um competidor de elite internacional e nem to pouco aumentou o nmero de adeptos a atividades fsicas. Iniciou-se uma crise de identidade no discurso da Educao Fsica, que originou uma mudana nas polticas educacionais: a Educao Fsica Escolar que priorizava o esporte nas 5 e 8 sries do

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primeiro grau, passou a dar origem de 1 a 4 sries e tambm pr-escola. O enfoque passou a ser o desenvolvimento psicomotor do aluno, tirando da escola funo de promover os esportes de alto rendimento. BRASIL (2001) destaca que os debates, as publicaes, os cursos de psgraduao, o aumento de livros e revistas entre outros, difundiram e argumentaram as novas tendncias da Educao Fsica. As relaes entre Educao Fsica e sociedade passaram a ser discutidas sob teorias crticas da educao: questionou-se seu papel e sua dimenso poltica. Ocorreu uma mudana no enfoque, tanto aos objetivos e contedos, quanto aos pressupostos pedaggicos de ensino e aprendizagem. Ampliaram a viso para uma rea biolgica, enfatizaram e reavaliaram as dimenses psicolgicas, sociais, cognitivas e afetivas, concebendo o aluno como ser humano integral. Abarcaram-se em objetivos educacionais mais amplos, sob a perspectiva de contedos diversificados e no mais apenas em esportes, em pressupostos pedaggicos mais humanos e ao no adestramento de seres humanos. A Educao Fsica atual, mesmo com tantas divergncias, busca o desenvolvimento integral do ser humano, sob dimenses pedaggicas, sociolgicas e filosficas. Mas segundo o Coletivo de Autores, (p.36,1992), nossa Educao Fsica Escolar, tem como objeto de estudo o desenvolvimento da aptido fsica, o que tem contribudo historicamente para a defesa dos interesses da classe no poder, mantendo a estrutura da sociedade capitalista.

Cultura corporal de Movimento e os contedos da Educao Fsica Escolar

Educao Fsica Escolar trata-se de uma matria curricular com contedos prprios, onde deve estar ligada a um conjunto de conhecimentos originados no domnio acadmico da Educao Fsica, assim como apontado por SAVANI (1994). Educao Fsica primeiramente precisa identificar os objetivos, contedo, mtodos de ensino e de avaliao em funo das caractersticas, necessidades e histrico social nos quais esto envolvidos, do contrrio criam-se uma Educao Fsica Escolar negativa, sem contedos e princpios definidos para sua prtica, OLIVEIRA (1991), citado por DAOLIO (2004). Sem uma sistematizao, organizao no se consegue desenvolver uma aprendizagem significativa e que esteja de acordo com as necessidades dos alunos.

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De acordo com BRASIL MINISTRIO da EDUCAO de 2001, temos os seguintes referenciais como objetivos do ensino fundamental: .Compreender a cidadania como participao social e poltica exercendo seu direito e respeitando o do outro; .Ter uma postura crtica e transformadora nas diferentes situaes sociais; .Conhecer e valorizar a pluralidade sociocultural do pas em que vive sem nenhum tipo de discriminao seja ela social, cultural, de crena, sexo ou outras caractersticas individuais ou coletivas; .Desenvolver o conhecimento e o sentimento de confiana em suas capacidades afetivas, fsicas, cognitivas, ticas, esttica, de inter-relao pessoal e de insero social para buscar conhecimento e exercer sua cidadania; .Conhecer e cuidar do prprio corpo; .Utilizar diferentes formas de linguagem para se comunicar e se expressar. .Saber ler e interpretar as diferentes fontes de informao. .Questionar a realidade, a capacidade critica para formular e resolver os problemas. O componente curricular, Educao Fsica ainda est muito vinculada aos conhecimentos tratados na biologia, psicologia e na pedagogia, afirmao feita por SERGIO (1991), acredito que todos esses contedos estejam dentro da grade curricular que trata a Educao Fsica, mas tambm entendo que somos capazes de desenvolver nossos prprios conhecimentos enfatizando nossas necessidades. Os contedos organizados surgem, segundo LIBNEO, 1985:39; citado por um Coletivo de Autores, atravs de contedos culturais, onde os conhecimentos so relativamente autnomos, incorporados pela humanidade e reavaliados pela realidade social, ou seja, nos so impostos culturalmente pela sociedade ... os contedos so exteriores ao aluno que devem ser assimilados e no simplesmente reinventados. Como professores temos que estar capacitados a fim de interagir com os alunos fazendo com que eles aprendam o que esta sendo trabalhado e seu aprendizado esteja ligado e associado significao humana e social que ele representa. Alm dos contedos sobre desenvolvimento motor e de coordenao que a Educao Fsica deve trabalhar, temos que dar enfoque aos contedos de ensino sobre a relevncia social e seu sentido.

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Os contedos abordados devem estar de acordo com a capacidade cognitiva e a prtica social do aluno, ao seu prprio conhecimento e s possibilidades enquanto sujeito histrico, Coletivos de Autores (p.31) de forma sistemtica e metodolgica, visando sempre s carncias e as necessidades dos alunos. Nossa rea de estudo muito ampla, pode ser denominada cultura corporal, onde temas ou formas de atividades corporais so aplicados, o homem incorpora sua cultura corporal dispondo sua intencionalidade do conceito produzido pela conscincia corporal citao do livro Coletivo de Autores (p.62). Segundo LEONTIEV (1981), citado pelo coletivo de autores, as significaes no so eleitas pelo homem, elas penetram as relaes com as pessoas que formam sua esfera de comunicaes reais, as atividades assumem diferentes sentidos dependendo da realidade de cada aluno, do seu cotidiano, das relaes pessoais e perspectivas. Meno do mesmo livro acima, por consideraes como essas se pode dizer que os temas abordados nas escolas expressam um sentido/significado onde se interpenetram, dialeticamente, a intencionalidade/objetivos do homem e as intenes/objetivos da sociedade, (p.62) e diante disso a Educao Fsica sobre o aspecto do sentido/significado abrange a relao entre: jogos, ginstica, esportes e danas os problemas sociais que esto interligados. Alm de jogos, esportes, ginstica e dana, outros temas cabem Educao Fsica tratar, bem como os problemas scio-poltico atuais, discusses e reflexes desses problemas se faz necessrias afim de que o aluno entenda a realidade social interpretando-a e explicando-a a partir dos seus interesses de classe social, cabe a escola promover ao aluno a preocupao o senso crtico da prtica social.

Jogo

HUIZINGA (1951: 3-31) citado por KISHIMOTO (1999, p.23), caracteriza o jogo como elemento da cultura, omite os jogos de animais e analisa apenas os produzidos pelo meio sociais, apontando as caractersticas: o prazer, o carter no srio, a liberdade, a separao dos fenmenos do cotidiano, as regras, o carter fictcio ou representativo e sua

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limitao no tempo e no espao, o prazer fator integral do jogo, mas devemos destacar que o desprazer o elemento que o caracteriza, defendido por VYGOTSKY. Quando HUIZINGA aponta o carter no srio durante o jogo, no quer dizer que para criana a brincadeira no seja sria para ela, pois o riso, o ldico, o cmico se contrapem ao trabalho, que uma atividade considerada sria, destacado por KISHIMOTO (1999, P.24) e ainda afirma que o jogo tem que ser uma ao voluntria, livre, se imposta deixa de ser jogo. O jogo satisfaz uma necessidade do ser humano em especial de ao e a do prazer. O jogo como contedo nas aulas de Educao Fsica deve possibilitar um maior repertrio de movimentos corporais e estimular o cognitivo, por proporcionar as crianas situaes de tomada de decises rpidas e resolues de problemas criadas durante a atividade, Coletivo de Autores (1992). Segundo, OLIVEIRA (2004), a Educao Fsica muito mais que o adestramento e vigor fsico do corpo, a cooperao tambm formula valores para o grupo. E como ferramenta, o jogo a forma mais simples e natural para o desenvolvimento do sentimento de trabalho em grupo (p.98). Quando se est jogando as decises tomadas devem partir do que a maioria decidir num contexto de se chegar a melhor estratgica a ser tomada pelo grupo e o que for decidido todos devem seguir, a democracia entra em vigor. Quando se prtica um jogo, existem regras a serem seguidas, quanto mais rgidas tanto maior a ateno exigida, nas escolas as regras so fundamentais, pois permite criana a percepo da passagem do jogo para o trabalho, meno do Coletivo de Autores (1992). No apenas no mbito escolar, mas tambm em todas as situaes que tenhamos o convvio social, necessitamos de regras para um melhor relacionamento. Seguindo HUIZINGA, CAILLOIS (1958: 42-3), citado por KISHIMOTO (1999), aponta como caracterstica do jogo: a liberdade de ao do jogador, a separao do jogo em limites de espao e tempo, a incerteza que predomina o carter improdutivo de no criar nem bens nem riqueza e suas regras, a criana ao brincar no est preocupada em habilidades motoras, aquisio de conhecimentos, ela simplesmente brinca sem se preocupar. Sendo assim, o jogo deve ser usado na Educao Fsica como estratgia para se estimular um aprendizado significativo e pertinente ao cotidiano dos alunos.

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Esporte

Segundo, BRASIL MINISTRIO da EDUCAO (2001), considera-se esportes as prticas que tm um carter oficial e competitivo, organizado em federaes regionais, nacionais e internacionais e tm a funo de organizar a atuao amadora e profissional. Necessitam de equipamentos sofisticados e certos campos como piscinas, bicicletas, ginsio etc. Mas no livro, Educao Fsica e o conceito de cultura de DAOLIO (2004), ele cita alguns autores que defendem o esporte na Educao Fsica como patrimnio cultural da humanidade e que deve ser apreendido por todas as crianas nas aulas por proporcionar situaes de movimento, com essa afirmao o esporte tm que ser trabalhado de maneira a estimular as possibilidades de movimento. Os esportes so praticados pelo homem desde as pocas mais remotas. Em francs, etimologicamente, tem o sentido de desporto e que os ingleses alteraram para sport. O termo significava prazer, divertimento e descanso. Apoiado neste conceito, o ldico aparece como sua caracterstica bsica, na medida em que o esporte sempre um jogo. Sendo assim, torna-se difcil delimitar o campo conceitual do esporte segundo OLIVEIRA (1983) menciona ... a colocao de Educao Fsica como sinnimo de esporte induz a conceb-la, essencialmente, como competio e cria o recorde como seu objetivo fundamental. Apesar das variaes entre esporte-trabalho e esporte-lazer, obras com contedos sociolgicos observam o esporte tanto como preenchimento do tempo livre como tambm meio de sobrevivncia. O autor OLIVEIRA (1983), faz uma crtica ao esporte que busca a superao fsica dos alunos ao citar: Nas escolas, a busca de campees conduz especializao prematura, inibindo o desenvolvimento do potencial psicomotor das crianas (p. 76), cria-se os medos, os traumas que surgem na Educao Fsica Escolar impossibilitando assim a descoberta do movimento e da expressividade corporal. Os professores devem trabalhar os esportes durante as aulas, mas sob o aspecto ldico, de sociabilizao, do conhecimento corporal, baseando o respeito aos amigos, s regras e os caminhos encontrados para solucionar o problema e no o resultado em si.

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Nos pases de lnguas germnicas, com conceitos antigos de se entender a Educao Fsica, foi adotado o termo esporte generalizado, que significa qualquer modalidade de exerccio fsico. A supervalorizao do esporte na Educao Fsica pode, sem dvida, acarretar problemas incontrolveis se a idia de recorde for o objetivo fundamental, OLIVEIRA (2004). A busca deve ser o desenvolvimento global do aluno, visando os aspectos fsicos, mas no como tcnica de movimento, mas sua busca para o melhoramento e o caminho que ele percorreu at atingir o seu melhor. Assumimos que os indivduos so nicos, com potencialidades e vivncias diferentes; buscamos a autonomia do aluno e no o aperfeioamento tcnico que tem como objetivo os campeonatos de alto rendimento, citado pelo mesmo autor acima. Os esportes que se destacam na mdia tambm fazem parte do contedo da Educao Fsica Escolar, mas devem ser trabalhado sobre diferentes enfoques o da apreciao e da discusso de aspectos tcnicos, tticos e estticos. Incluem-se neste bloco informaes como histrias das origens e caractersticas dos esportes, jogos, lutas e ginsticas, valorizao e apreciao dessa modalidade, destacado por BRASIL (p.50, 2001).

Dana e Atividades Rtmicas

A dana considerada uma expresso representativa, por meio da linguagem corporal possvel transmitir sentimentos, emoes ocorridas no nosso cotidiano. As primeiras danas foram s imitativas, onde os danarinos imitavam situaes que desejavam que se tornassem realidade, acreditavam que foras desconhecidas impossibilitavam suas realizaes, Coletivos de Autores (p.82, 1992). O homem foi danarino instintivamente, ao contemplar a natureza, passou a imit-la, deixando emergir de seu ntimo, emoes que se concretizavam em movimentos corpreos expressivos. Havia uma necessidade particular do ser humano em danar, mesmo com toda a luta pela sobrevivncia, ele aos poucos se tornava artista, a partir dessa citao podemos notar que existe uma necessidade constante do ser humano em danar, em se expressar e em mostrar sentimentos muitas vezes ocultos a linguagem verbal.

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O ser humano se expressa das mais diversas maneiras, comunica-se atravs de aes, de posturas e atitudes, por meio de movimentos, gestos, sem necessariamente danar. Os movimentos rotineiros transformam-se em dana a partir do momento em que assumimos uma nova postura, podendo ser diferenciada ao unir-se ao carter expressivo transformando o movimento corporal em poesia declamado pelo corpo, ZONTA (1994). A mesma autora ainda defende, que a dana um conjunto de gestos e emoes, sentimentos opostos que se unem e contagiam. A vibrao aos poucos toma conta dos movimentos e o que era simples e cotidiano se transforma em arte. Essa linguagem permite sentir alegria, tristeza, angstia, enfim, os sentimentos afloram e por mais que no aceitamos ou no conseguimos entender o seu real significado, a dana nos transforma. O movimento cotidiano ganha vida na dana acontece uma entrega, uma doao, onde os mesmos se confundem se transformam e se transmitem, o corpo e a alma se fundem os sentimentos e as emoes esto tanto na pele, quanto na alma. O que leva o homem danar mais uma necessidade interior do que fsica. Ele expressa os seus sentimentos de: desejos, alegrias, pesares, respeito, temor, poder, entre outros, sem nenhuma restrio. Garantindo essa afirmao diz FUX (p.2, 1983) "Quando o corpo se move e se expressa est nos dizendo a verdade", porque o corpo no mente, excluindo a possibilidade de atuao como personagem. Essa linguagem no-verbal de uma riqueza enorme e denota os estados interiores, ou seja, nosso mundo interno e ns como professores no podemos negar esse direito aos nossos alunos. Segundo BRASIL (2001) a Dana um bloco de contedo que inclui as manifestaes da cultura corporal, orientadas por estmulos sonoros que visa expresso e comunicao por meio do movimento do corpo. Sendo assim, temos que criar situaes incentivando e estimulando nossos alunos a se expressarem sem medo, pois por muitas vezes esses sentimentos so sufocados por essa sociedade neoliberal na qual vivemos, onde o que conta so as noes da boa educao que culturalmente nos foram ensinadas. A sociedade nos coloca limites, regras e obrigaes deste que nascemos-nos modificando e moldando como robs que seguem ordens sem muitas indagaes, cabe a ns professores libertar e incentivar o ser humano crtico, livre para tomar decises e buscar melhora na sua qualidade de vida.

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A importncia da Educao Fsica Escolar na Sociedade

De acordo com BETTI & ZULIANI (2002), a Educao Fsica Escolar, em conjunto com uma concepo educacional, vem a formao da criana e do jovem como uma educao integral, ou seja, o desenvolvimento da personalidade do aluno como ser crtico e conhecedor das mais diversas formas de comunicao. Os mesmo autores acima destacam que a Educao Artstica, a Educao Moral e Cvica e a Educao Fsica no se enquadram nos atuais currculos escolares, ocupando assim um lugar incmodo na Escola. So atividades complementares e relativamente isoladas nos currculos escolares, com os objetivos determinados, na maioria das vezes, de fora para dentro: treinamento pr-militar, eugenia, nacionalismo, preparao de atletas etc. Graas a estudos e debates, essa concepo tradicionalista mostra seu esgotamento, dando lugar cultura corporal e esportiva que os autores BETTI e ZULIANI (2002), denominam de maneira mais ampla de cultura corporal de movimento. Os meios de comunicao divulgam idias sobre a cultura corporal de movimento, onde muitas produes so direcionadas ao pblico adolescente. Crianas iniciam-se muito precocemente s prticas corporais e esportivas dos adultos, sendo que na maioria das vezes, seu contedo tcnico-cientfico insuficiente. Nosso ritmo e estilo de vida nos tornam sedentrios e com hbitos alimentares e corporais prejudiciais nossa sade. As crianas que permanecem muitas horas na televiso e nos computadores diminuem a atividade motora, abandonam a cultura dos jogos infantis e favorecem a substituio da experincia de praticar esporte pela de assistir o esporte, afirmao feita por BETTI & ZULIANI (2002). O professor de Educao Fsica Escolar tem, por meio de atividades atrativas, seduzir seus alunos ao hbito da cultura corporal de movimentos, explicando e estimulando seus alunos sobre a importncia de se fazer atividades fsicas e assim criar hbitos saudveis. Segundo CUNHA (1996) citado por GALVO (2002), o papel do professor no se encontra claramente definido e nem valorizado. No texto de BETTI & ZULIANI (2002) so dadas Educao Fsica novos objetivos sobre a sua prtica pedaggica:

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A Educao Fsica deve assumir a responsabilidade de formar um cidado capaz de posicionar-se criticamente diante das novas formas da cultura corporal de movimento... A Educao Fsica enquanto componente curricular da Educao Bsica deve assumir ento uma outra tarefa: introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidado que vai produzi-la, reproduzi-la e transform-la (p. 75).

Na citao dos autores acima, fica claro que os objetivos se modificaram e que nossa funo como professores nos proporcionam maiores responsabilidades, pois estamos ajudando na formao do carter de nossos alunos, preparando-os para a vida com deveres e direitos, tendo uma viso crtica e tica para viverem em sociedade. A integrao que possibilitar o usufruto da cultura corporal de movimento h de ser plena afetiva, social, cognitiva e motora. Vale dizer, a integrao de sua personalidade apontamento feito por BETTI (1992 1994a). Para a formao social, no basta que o aluno trabalhe as habilidades fsicas e tticas, que so necessrias, mas no nicas. Temos que aprender a nos organizarmos socialmente para praticar os esportes coletivos, compreender as regras, aprender a respeitar seus adversrios e seus companheiros, no os vendo como inimigos, mas como integrantes participativos e essenciais para que se possa realizar a competio. Nesse sentido, a Educao Fsica, num processo longo, deve levar seus alunos a descobrirem motivos e sentidos nas prticas corporais, favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas para com elas, levar aprendizagem de comportamentos adequados sua prtica, levar ao conhecimento, compreenso e anlise de seu intelecto os dados cientficos e filosficos relacionados cultura de movimento, dirigir sua vontade e sua emoo para a prtica e a apreciao do corpo em movimento, BETTI (1992). Atravs da Educao Fsica, podemos adquirir um maior conhecimento dos alunos, mas sem perder a especificidade dos contedos que ela abrange, preciso assumir uma ao pedaggica propondo uma vivncia impregnada da corporeidade do sentir e do relacionar-se, o professor deve provocar esses sentimentos em seus alunos, atravs da cultura corporal de movimento. A Educao Fsica deve, progressiva e cuidadosamente, conduzir o

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aluno a uma reflexo crtica que o leve autonomia no usufruto da cultura corporal do movimento, esse processo tem fases onde devemos respeitar os nveis de desenvolvimento e interesses dos nossos alunos, destacado por BETTI (1994a, 1994b). Segundo BETTI & ZULIANI (2002), essas fases referidas devem obedecer a uma ordem: Primeira fase do Ensino Fundamental (1 a 3 / 4 anos): devemos considerar que a atividade corporal um elemento fundamental da vida infantil e que a estimulao psicomotora adequada e diversificada, guarda as relaes com o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criana; devem-se destacar atividades que visem o desenvolvimento das habilidades motoras bsicas, jogos e brincadeiras de variados tipos de atividades de autotestagem. A partir do 4 e 5 ano do Ensino Fundamental, deve-se promover a iniciao nas formas culturais do esporte, das atividades rtmicas, dana e das ginsticas. A aprendizagem de uma habilidade tcnica deve ser secundria em relao ao desenvolvimento do esprito ldico e prazeroso e levar em conta o potencial psicomotor dos alunos. O aperfeioamento tcnico e ttico deve ficar para 7 e 8 anos do Ensino Fundamental, quando se pode iniciar um trabalho voltado para aptides fsicas, entendidas como o desenvolvimento global e equilibrado das capacidades fsicas. Na segunda fase, iniciam-se os conceitos tericos sobre a cultura corporal do movimento, sempre buscando uma ligao entre conhecimento e prtica e a inter-relao com outras matrias. As diferentes e multifacetadas expresses de cultura corporal devem ser trabalhadas nas escolas como contedo, sistematicamente e metodologicamente, respeitando e valorizando o contexto social no qual esto sendo desenvolvidos. Buscando assim verificar, analisar, discutir e encontrar solues para os mais diversificados problemas, s assim se tornar possvel o conhecimento contextualizado e transformador, na qual os professores vm tentando realizar. de fundamental importncia o desenvolvimento da cultura corporal de movimento, nas escolas, mas deve ser tratado como contedo curricular e no como simples atividades prticas sem nenhum tipo de reflexo, requer uma metodologia motivadora e criativa ao contrrio do modelo punitivo como tradicionalmente era desenvolvido quando

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surgem apenas como reflexo da esportivizao excessiva da Educao Fsica, destaca OLIVEIRA (2004). J est mais que explcito a forte influncia da mdia na esportivizao, onde advoga equivocadamente que o esporte de alto rendimento sinnimo de Educao Fsica, correspondendo assim a todos os contedos da Cultura Corporal. BRACH (2003) citado por OLIVEIRA (2004), destaca a distncia do esporte de alto rendimento com a Educao Fsica: as relaes entre educao fsica e esporte so geradoras de tenses j que se constituem em dois universos simblicos, distintos, nem sempre compatveis (p. 88). funo da Educao Fsica preparar os alunos a serem praticantes lcidos e ativos, onde incorporem em suas vidas os esportes e os demais componentes da cultura corporal. Precisamos prepar-los para se tornem consumidores do esporte-espetculo, assumindo uma viso crtica do sistema esportivo profissional, tendo conhecimentos dos interesses polticos e econmicos.

Escola na Sociedade atual

A autora ZOUZA (2003), faz uma crtica s escolas pblicas, afirma que vivemos uma crise no sistema de ensino a muitos anos, devido a sucessivos governos que no se comprometem em investir na educao e assim os resultados so: professores insatisfeitos com os baixos salrios e falta de reconhecimento, falta de estruturao nas instituies escolares, falta de material e instalaes adequadas entre outros problemas que j conhecemos. Em A Educao na cidade citado por FREIRE, 1996 o autor, discute em 1989, o descaso com patrimnio e as condies materiais em que se encontrava para trabalhar, tal realidade deixou o autor horrorizado e desestimulado, ainda hoje, em 2006 o quadro continua o mesmo se que no piorou, no h material para se trabalhar, no h incentivo e nem apoio governamental. A mesma pergunta que o autor acima citado se faz: "Como cobrar das crianas um mnimo de respeito s carteiras escolares, a mesas, s paredes se o Poder Pblico revela absoluta desconsiderao coisa pblica? (p.50). Por muitas vezes me fiz essa pergunta e me senti mal por repreender meus alunos sobre atos impensados, se o descaso vem do poder

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maior, como exigir dos nossos alunos atitudes de respeito e valorizao se essa ao no recproca. SOUZA (2003) nos mostra outro fator para o fracasso escolar pblico, a escola foi estruturada para ensinar a elite, pois no passado quem tinha o direito de estudar eram crianas que j eram de uma classe econmica privilegiada, no sistema atual, a escola pblica so para pobres e assim as escolas no teriam se adaptados a essa nova realidade, isso ajuda a explicar a situao na qual estamos lecionando. Alm de todos esses problemas, ainda estamos vivendo um processo de descaracterizao da instituio escolar, pois ela vem perdendo seu carter de formao social, vem se negando a assumir sua funo, sendo apenas um meio de transferncia do saber, de informao e segundo FREIRE (1996), ensinar um ato culturalmente construdo, onde os valores variam de acordo com a poca, localidade em que esto inseridos, podendo ser modificados e alterados ao longo dos tempos. A escola ao longo dos anos vem se negligenciando e negando-se ao seu papel socializante, a formao social deu lugar a contedos fragmentados sem ligaes diante do contexto dos alunos, esses contedos passaram a serem entendidos como transferncias de informaes, um simples canal de transferncia de conhecimento, FREIRE (1996). A prtica educativa tem que ser clara em seus conceitos, ter decncia e tica, quando isso deixa de acontecer ocorre perda do fundamental da aprendizagem que , o formador de carter, "Educar substancialmente formar", FREIRE (p.37, 1996), a aprendizagem um ato culturalmente construdo e sofrem vrias influncias no decorrer dos tempos, mas no perder sua essncia e funo que no meu entender e com base nos autores citados acima o de formar e apenas o de informar. Abordar assuntos como preconceitos, relaes sociais do trabalho, ecologia, sade, distribuio de renda e outros, a reflexo pode possibilitar ao aluno entender a realidade social, segundo Coletivo de Autores (1992, p.63), cabe a escola promover a apreenso da prtica social. Portanto, os assuntos devem ser buscados dentro dela. O mesmo autor citado acima ainda destaca, quando abordamos os problemaspolticos atuais no se trata de doutrinar e sim propor a escola objetivos claros de acordo com a classe trabalhadora, visando uma leitura da realidade estabelecendo projetos polticos buscando assim uma mudana social.

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Na minha concepo, a instituio escolar precisa ter e colocar em prtica o seu projeto pedaggico com clareza nos seus objetivos, de forma a preparar seus alunos para serem cidados crticos capazes de lerem realidade na qual esto inseridos.

Procedimentos Metodolgicos

O caminho norteador desta pesquisa a abordagem qualitativa e as entrevistas semi-estruturada: Como j mencionado anteriormente o estudo qualitativo, pois:

o termo pesquisa ganha novo significado, passando a ser concebido como uma trajetria circular em torno do que se deseja compreender, no se preocupando nica e/ou aprioristicamente com princpios, leis e

generalizaes, mas voltando o olhar qualidade, aos elementos que sejam significativos para o observador-investigador GARNICA (p.111, 1997).

De acordo com ANDR (1995), a pesquisa qualitativa se contrape ao esquema quantitativista, que fragmenta o objeto de estudo, analisando-os isoladamente. A abordagem qualitativa prima por compreender o todo, ou seja, considerando todos os componentes de uma situao. A entrevista semi-estruturada (semi-dirigida), pois de acordo com AMADO e FERREIRA (2002), constitui-se como uma fonte oral de anlise, a qual se legitima como uma fonte histrica, dado seu valor informativo e por incorporar perspectivas ausentes na literatura. Nas entrevista realizadas nesta pesquisa seguiu um roteiro de questes elaboradas previamente orientadas pelo objeto de estudo, mas com a flexibilidade de adicionar outras questes para dvidas que surgirem durante a mesma, e tambm permitiu que os entrevistados fizessem suas observaes e sugestes. Como afirmam THOMAS e NELSON (2002, p. 34), durante a entrevista, o pesquisador pode reformular questes e fazer mais algumas perguntas para esclarecer as respostas e assegurar resultados mais vlidos.

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As perguntas elaboradas para os alunos entrevistados foram: 1. O que voc mais gostou nas aulas de Educao Fsica? 2. O que voc aprendeu durante as aulas? (Anexo 1). O trabalho iniciou-se no dia 01/03/2006, participaram dessa pesquisa duas terceiras sries e trs quartas do Ensino Fundamental, a faixa etria dos alunos so de nove a treze anos aproximadamente, o levantamento ocorreu na Escola Estadual Ernesto Masselani da cidade de Mato, localizada na periferia da cidade e encontra-se em uma comunidade muito carente. Nesse estudo entrevistei 52 alunos sendo, 31 da terceira srie e 21 da quarta, os alunos foram escolhidos de forma aleatria e a entrevista teve duas questes abertas, mencionada acima. Num segundo momento desse estudo entrevistei cinco professoras de outros componentes curriculares (as professoras de salas), com uma pergunta: 1. Qual o papel da Educao Fsica no processo educacional do aluno? (Anexo2).

Estruturao e contedo das aulas

Para sistematizar melhor e organizar os contedos das aulas optei dividir as aulas em propostas pedaggicas foram desenvolvidos cinco: Proposta 1. Estava enfrentando muitos problemas de comportamento, os alunos eram muitos arredios e violentos, devido seus histricos de vida e as condies precrias nas quais vivem ento como artifcio pedaggico, apliquei uma aula dentro da sala, utilizei as regras do futebol para esclarecer e argumentar a deslealdade durante os jogos, transferi situaes que ocorrem durante os jogos para o cotidiano em que se encontravam e quais os problemas que podemos sofrer mediante o desrespeito com os colegas, expliquei sobre as conseqncias de sofrermos uma leso na coluna vertebral e a importncia de conhecer seu prprio corpo. Como conseqncias de atos de indisciplina foram aplicadas atitudes mais enrgicas para manter a ordem na sala como, deixar algumas crianas sem aulas de Educao Fsica e em certas ocasies, salas inteiras ficavam dentro das classes com contedos tericos,

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sabemos que pertinentes aulas com contedos tericos dentro das salas, mas para os alunos devido o ambiente encarado como conseqncia de ato de indisciplina. Objetivo: tentamos com essa proposta diminuir as agresses entre os alunos, conscientizando-os sobre as conseqncias de atos impensados. Proposta 2. Foram aplicadas atividades diversificadas e at possibilitar vivenciar ambientes diferentes do escolar, algumas aulas se realizaram na praa que se localiza ao lado da escola, na tentativa de proporcionar um ambiente mais agradvel, muitas atividades foram praticadas nesse espao como alguns jogos recreativos, brincadeiras de roda, cantigas danadas e cantadas, assim como jogos imitativos que criassem situaes em que o aluno pudesse se expressar de maneira livre de qualquer tipo de preconceito e ainda fundamentos e regras do handball com algumas adaptaes entre outras atividades. Objetivo: proporcionar uma maior integrao no grupo e estimular as possibilidades de movimento. Proposta 3. Caa ao Tesouro atividade interdisciplinar, realizado na praa ao lado da escola, foram escondidas oito pistas no espao e os alunos tinham que procurar essas pistas ao encontrar tinham que se direcionar ao professor responsvel, o professor lia a prova somente quando todos estavam sentados e o grupo que tinha achado tinha o direito de resposta se no soubesse passava para a prxima sala, os objetivos dessa atividade eram: estimular o trabalho em grupo, cumprir as regras do jogo, procurar ss pistas em grupo e responder perguntas pertinentes s aulas dadas de todas as disciplinas. No final da atividade eles encontravam um ba que estava enterrado com a seguinte frase: NOSSOS MAIORES TESOUROS SO: NOSSOS PAIS, AMIGOS E PROFESSORES e como estvamos na semana da Pscoa, eles criaram a expectativa de encontrar um ba cheio de chocolates e quando viam que era uma frase a decepo era geral, mas aps lerem mensagem ficavam felizes e diziam que todos ganharam, pois todos haviam participado e se divertido. Ns os professores doamos trs reais cada um para presentear nossos alunos com um saquinho de chocolates no final da atividade Objetivo: por se tratar de uma atividade interdisciplinar, resgatamos contedos desenvolvidos durante as aulas, bem como o trabalho em grupo, a cooperao, o respeito s regras e a solidariedade.

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Proposta 4. Os problemas de agressividade no eram amenizados e sob a orientao de outros professores, decidi passar o filme: A Corrente do Bem, onde mostrava vrios problemas sociais vivenciados quotidianamente pelos alunos, o contedo do filme era um garoto com a mesma faixa etria dos alunos, enfrentava vrios problemas como o alcoolismo, a prostituio, a convivncia com as drogas, o preconceito, a pobreza entre outros, mas mesmo com todas as dificuldades ele no desistia de lutar pelos seus sonhos e nem se tornou uma pessoa m, diante dessa situao um professor aplica um trabalho para a turma e o tema era: Ter uma idia para mudar o mundo e coloca-la em prtica. Partindo desse contexto direcionei um projeto escolhido por eles, de como poderamos estar ajudando a mudar o mundo os temas foram: Terceira srie A: reciclagem de lixo. Terceira srie B: arrecadao de sabonetes, pasta dental e papel higinico para doao aos Alcolatras Annimos. Quarta srie A: campanha sobre preveno de drogas. Quarta srie B: fiscalizao de brigas na hora do almoo. Quarta srie C: arrecadao de brinquedos e roupas para doao no orfanato. Objetivo: mostrar que existem outras pessoas que tambm possuem problemas, nem por isso desistem de seus sonhos e ideais. Ainda nessa mesma proposta, possibilitar uma mudana de comportamento tornando assim seres crticos e agentes transformadores da realidade. Proposta 5. Como estava no perodo da Copa do Mundo de Futebol, tivemos que desenvolver atividades que situassem os alunos aos acontecimentos mundiais. Iniciei esse novo trabalho fundamentando as dimenses do que a Copa Mundial de Futebol, depois o reconhecimento da quadra, dando os fundamentos do futsal, as diferenas entre as modalidades futebol e futsal, aulas tericas e prticas enfocando habilidades motoras e a descoberta de possibilidades de movimento. O projeto ainda visava criatividade, cada sala tinha que montar um pas prprio com diversidades e elementos tpicos de cada regio e esses tinha que estar representados na bandeira criada por eles e confeccionada com cartolina e papel crepom, como um dos objetivos era realizar uma

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atividade que mobilizasse toda a unidade escolar construmos uma bandeira do Brasil, com doze cartolinas emendadas cedida pelas classes com recortes de revistas e a participao de todas as salas na construo dessa bandeira, teve a colaborao de dos alunos em todos os estgios, deste a doao dos materiais at o acabamento final, as crianas ainda realizaram o desfile representando a abertura da Copa de Futebol Ernesto Masselani, criando assim uma situao nunca proposta antes. Aps o desfile, foram realizados os jogos inter-classes com o intuito de simular a sensao vivida pelos atletas, mas reforando sempre o prazer do jogo em si e no o resultado final, a regra de fundamental importncia era de no haver brigas, pois essas iriam eliminar automaticamente a sala do campeonato. No fim dos jogos novamente realizamos o desfile de encerramento, nesse dia os pais foram convidados para assistirem, mas a presena foi mnima. Objetivo: alm de possibilitar a oportunidade de vivencias, conscientizar sobre a importncia da sociabilizao e integrao, do valor do jogo ressaltando a viso do HUIZINGA (p.9, 1999) assim como o entendimento das regras e fundamentos do futebol.

Anlise dos contedos

Das cinco professoras entrevistadas, trs destacaram a importncia da Educao Fsica Escolar na construo do carter e valorizao da auto-estima dos alunos, BETTI e ZULIANI (2002) nos do subsdios tericos e ressaltam a formao educacional de maneira integral, o desenvolvimento da personalidade dos alunos e o ser crtico que devemos trabalhar em nossas aulas, as entrevistadas destacaram a eficcia do trabalho e que nos dias atuais indispensvel que ocorra a interdisciplinaridade e ainda declararam que a Educao Fsica no podia continuar sendo vista como uma aulinha onde o professor d a bola para as crianas brincarem. Tm que haver uma conscientizao da importncia da Educao Fsica como um dos alicerces para a construo do processo educacional. Uma declarou que a Educao Fsica importante e na correo e conscientizao da postura, no raciocnio e na vida dos alunos. Outra entrevistada destaca que a Educao Fsica, mobiliza interesse, ativa a participao, desafia o pensamento e melhora a auto-estima.

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Nas entrevistas com os alunos quando eu os perguntava o que haviam aprendido, obtive as respostas mais variadas como: aprendi educao, a jogar futebol certo, temos que respeitar e aceitar os erros dos outros, respeito pelos adversrios no jogo, evitar brigas, no ser mal educado, entre outras declaraes. Na proposta do Caa ao Tesouro os alunos resolveram o problema de andar em grupo com a idia de darem as mos lembrando que no Coletivo de Autores (1992) h citao que o jogo tem como uma das finalidades estimular o cognitivo, a tomada rpida de decises e resolues de problemas, alm disso, praticaram o trabalho em grupo, a solidariedade e a cooperao estiveram presentes, OLIVEIRA (2004) ressalta que a forma mais simples e natural para se desenvolver o trabalho em grupo por meio do jogo e vale destacar que essa soluo partiu dos prprios alunos que conseguiram trabalhar de maneira dinmica, atingindo a proposta inicial que era procurarem e responderem as perguntas. Os alunos entenderam e gostaram da proposta nessa atividade no havia ganhadores e sim alegria por estarem participando se divertindo e aprendendo e que no fundo todos possuam um tesouro maior e muito mais valioso que os chocolates esperados por eles. Essas informaes foram respostas dos alunos durante as entrevistas. Na Corrente do Bem no foi possvel finaliza-la, pois o perodo da Copa do Mundo se aproximou, mas iniciei e os alunos demonstraram grande interesse e mobilizao para elaborao de estratgias a fim de sensibilizar a comunidade. A Copa de Futebol do Ernesto Masselani, todos os alunos participaram dos processos de construo e elaborao, deste a criao dos pases, das bandeiras at aos jogos inter-classes de futsal, foi uma atividade que mobilizou toda a unidade escolar, muitos dos alunos nunca tinham vivenciado tal momento, os alunos tiveram conscincia do papel que desenvolveram durante o processo desse projeto, da participao de cada um como agente integrante e atuante na realizao da atividade. Nos relatos os sentimentos eram: orgulho, alegria, felicidade, o trabalho em grupo, a cooperao, satisfao, educao, surpresa (no imaginavam que iria ficar to lindo). Nos jogos inter-classes houve a participao de todos os alunos, destacando a importncia do prazer, do carter no srio, destacado por HUIZINGA (1999) nesta proposta, o esporte praticado teve o carter ldico de sociabilizao e no a de superao fsica como nos alerta OLIVEIRA (1983) ao fazer uma crtica a Educao Fsica Escolar que busca campees nas escolas.

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Consideraes Finais

A Educao Fsica Escolar guarda lembranas a todos que a freqentaram, uns a lembram como uma experincia prazerosa e de sucesso, outros como algo ruim e de sensao de incompetncia. (BRASIL, 2001). Temos que tentar durante as aulas no deixar uma Educao Fsica com sentimentos de fracasso e incompetncia, mesmo com vrios erros e incertezas temos que buscar o melhor para realizar um trabalho srio, construtor de conhecimentos e carter e como destaca FRIRE (p. 37, 1996) Educar substancialmente formar. Durante as aulas foram estimuladas atividades esportivas, a dana, os jogos, permitindo a vivncia de movimentos, buscando estimular a criatividade e o senso crtico dos alunos, na resoluo de problemas e melhoramento no convvio social dando alicerces para a formao do senso crtico e a leitura da realidade. Havia muitos problemas de agressividade com os alunos, onde vrios fatores sociais contriburam para essa situao, eles no possuem estrutura familiar, os problemas sociais afetam muito o comportamento desses alunos, mas ainda havia a dvida, pois no sabia se era devido liberdade que a Educao Fsica lhes proporcionava, o contato direto com o outro, a possibilidade da percepo corporal todos esses fatores que ocasionam maior liberdade e integrao com seu corpo, com o do outro e a relao dele com o ambiente dificultava ou no meu trabalho de docente. Houve uma boa aceitao dos alunos quando me receberam, mesmo se tratando de uma professora que eles no conheciam e que no fazia parte da comunidade, iniciei as aulas aplicando atividades em crculos e conversando sobre as regras de convivncias, no houve maiores problemas at ento. Essa realidade durou pouco, logo vieram os testes, observei um grande problema de agressividade e a tentativa de se impor ao grupo e a mim, eles no se respeitavam, passaram a se agredirem e a me testar comearam a responder e agir com hostilidade comigo. O processo educacional recproco, h um intercmbio de informaes e formao muito grande, aprendo cotidianamente com essas crianas to carentes e

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necessitadas, a situao precria, no h interesses governamentais de resolverem os problemas sociais encontrados nessa comunidade e com isso nosso trabalho torna-se mais complicado, o descaso notoriamente observvel, o trabalho no fcil, mas nunca passou pela minha cabea desistir. Com base nas atividades e intervenes feitas durante as aulas, foram analisadas possveis mudanas atitudinal e comportamental ocorridas nas relaes entre professor e aluno e aluno com aluno, ou seja, no convvio escolar. Defendo que o papel do professor e da escola, dentre outros, o de proporcionar uma aprendizagem autntica, possibilitando a aquisio de conhecimentos, onde nossos alunos possam ter condies de discernir e distinguir o que lhe benfico lembrando que FREIRE (1996) se refere a descaracterizao da instituio escolar, pois ela vem se negando ao seu papel de formao social. Precisamos desenvolver o carter e ajudar na formao da personalidade crtica, de integrao, para que nossos alunos possam conviver se respeitando mutuamente e valorizando o prximo. Fica evidente a responsabilidade dos professores, em especfico o de Educao Fsica, mas para isso, torna-se necessrio se ter profissionais capacitados para assumir e desenvolver tantos conceitos. Sabemos da sua importncia no trabalho cultural, corporal de movimento e dos valores sociais a serem atingidos, mas na realidade o trabalho como docente se tornou mais difcil, pois h cada vez mais complicaes nas escolas devido a razes sociais e materiais, no h o comprometimento poltico e nem profissional, as condies encontradas atualmente na rede de ensino pblica de pssima qualidade ressaltando que em 1989 FREIRE j nos chamava ateno para esse tipo de problema e ainda nos dias atuais a realidade a mesma se que no piorou, mas nem por isso vamos deixar de executar um bom trabalho com nossos alunos, nossa falta de responsabilidade no pode ser justificada com a falta de comprometimento. Como j disse anteriormente acredito ter acrescentado no processo educacional dos alunos, tentei dar o meu melhor, buscando atividades diferenciadas, como professora sempre estive disposta a lutar por eles, sempre pronta a ouvir, discutir e interagir tentado assim fortalecer um dos alicerces nesse processo to longo e rduo a que estamos disposta a acrescentar.

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Acredito que a Educao Fsica como Cultura Corporal de Movimento se tornou, nos dias atuais, uma ferramenta indispensvel no processo educacional dos alunos.

Referncias AMADO, J.; FERREIRA, M. de M. Usos e abusos da histria oral. 5a. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. ANDR, M. E. D. A. Etnografia da prtica escolar. Campinas-SP: Papirus editora, p.7-33, 1995. BETTI, M; ZULIANI, L. R. Revista Mackenzie de Educao Fsica e Esporte. V.I, n.1, p. 73-81, 2002. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educao fsica. So Paulo: Cortez, 1992. DAOLIO, J. Educao Fsica e o conceito de cultura. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. FUX, M. Dana, experincia de vida. 3. ed. So Paulo: Summus, 1983. 15 vol. GARNICA, A. V. M. Algumas notas sobre pesquisa qualitativa e fenomenologia. Interface comunicao, sade e educao. V.1, n.1, p. 109-121. ago. 1997. KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educao. 3. ed. So Paulo: Cortez, 1999. KORSAKAS, P. Esporte na escola: vilo da histria? Revista Presente! Salvador, v. 53, n. 14, p. 11-17, 2006.

MANOEL, E. J. Educao Fsica Escolar. So Paulo: EPU: Editora da Universidade de So Pulo, 1988. MEDINA, J. P. S. A Educao Fsica cuida do corpo... e mente. 5. ed. Campinas: Papirus, 1948. Parmetros Curriculares Nacionais: Educao Fsica/ Ministrio da Educao. Secretaria da Educao Fundamental. - 3. ed. Braslia: A Secretaria, 2001. 96p: il; 16x23cm.

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Anexo 1

Entrevistas com os alunos:

Perguntas: 1 - O QUE VC MAIS GOSTOU NAS AULAS DE EDUCAO FSICA? 2- O QUE VC APRENDEU NAS AULAS DE EDUCAO FSICA?

Respostas: 3 sries: Aluno 1: 1- Dos esportes. 2- Aprendi mais exerccios, treino de futebol, ser goleiro e zagueiro. Aluno 2: 1- Gostei mais do handebol. 2- Aprendi a ficar mais educado e a ficar quieto na sala de aula. Aluno 3: 1- Jogo de queimada. 2- Aprendi o futebol, a jogar queimada, ter mais educao e que temos que respeitar mais o erro dos outros. Aluno 4: 1- Handebol e o que aprendi do futsal. 2- Aprendi a me movimentar sem me machucar, aprendi outros esporte: o handebol, futsal, as regras do jogo e as diferenas das duas modalidades (futsal e futebol). Aluno 5: 1- Handebol e das brincadeiras. 2- Handebol. Aluno 6: 1- Da Copa.

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2- No bater mais nas meninas e no futebol aprendi a cobrar falta, dando chance de todos participarem. Aluno 7: 1- Futebol. 2- Futebol no pode fazer muita falta e no pode brigar. Aluno 8: 1- Cada macaco no seu galho. 2- Aprendi a bater falta, a competir com o outro time, a jogar queimada e a desenhar. Aluno 9: 1- Gostei mais de jogar as queimadas diferentes. 2- Aprendi que tem que falar certo Educao Fsica e que no Fsica, tem que respeitar o parceiro, para jogar tem que ter o adversrio. Aluno 10: 1- Ter sido goleiro. 2- Aprendi a jogar futsal, a correr, brincar e desenhar. Aluno 11: 1- Das queimadas diferentes. 2- A jogar bola certo, queimadas diferentes e a no brigar com a professora. Aluno 12: 1- Brincadeiras. 2- Aprendi a no brigar mais, a respeitar os mais velhos e o handebol e o futebol. Aluno 13: 1- Jogar bola de treinar. 2- Eu aprendi a jogar bola, a correr, a treinar e a respeitar a professora. Aluno 14: 1- Treino de futebol. 2- Aprendi mais exerccios, ser goleiro e zagueiro. Com os castigos acho que melhorei e passei a obedecer mais os professores. Aluno 15:

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1- Handball, queimada, a brincar ensinando. 2- Aprendi a ficar educado. Os amigos e a professora me ajudaram. Aluno 16: 1- Queimada e futebol. 2- Aprendi a jogar queimada, futebol, ter educao e respeitar o erro. Aluno 17: 1- Handball e futsal. 2- Aprendi a movimentar sem me machucar, regras do jogo de handball e futsal e as diferenas entre as duas modalidades, minha perna era mais pesada e agora nem tanto. Aluno 18: 1- Handball e brincadeiras. 2- No tenho vergonha e melhorei nas brincadeiras. Aluno 19: 1- Futebol: cobrar a falta e dar possibilidade de todos participarem. 2- Aprendi a no bater nas meninas e cobrar falta no futebol. Aluno 20: 1- Futebol. 2- Aprendi que no posso fazer muita falta e brigar. Aluno 21: 1- Futebol, queimada e desenhar. 2- Aprendi a bater falta, competir com outro time. Aluno 22: 1- Queimada diferente. 2- Aprendi a falar Educao Fsica e no somente Fsica e que tenho que respeitar o parceiro para jogar. Aluno 23: 1- Brincadeiras e jogos. 2- Aprendi a trabalhar em grupo e movimentar mais o corpo. Aluno 24: 1- Futsal, correr, brincar e desenhar.

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2- Aprendi a ser goleiro (foi muito bom para a auto-estima) e a brincar. Aluno 25: 1- Jogar bola e queimada diferente. 2- Aprendi a jogar bola certo. Aluno 26: 1- Handball e futebol. 2- Aprendi a no brigar e respeitar os mais velhos e tambm a jogar. Aluno 27: 1- Jogar bola, correr, treinar. 2- Aprendi a no fazer mais baguna e a jogar bola. Aluno 28: 1- Caa ao tesouro e da Copa. 2- Aprendi que o que vale participar e no s ganhar. Aluno 29: 1- Queimada, treino de futebol, histria em quadrinho. 2- Aprendi a no falar junto com a professora e tambm aprendi a jogar e no fazer arte. Aluno 30: 1- Desenhos e brincadeiras. 2- Aprendi a desenhar e brincar na quadra. Aluno 31: 1- Brincadeiras. 2- Aprendi a brincadeira Mustaf e a gostar da escola.

4sries: Aluno 1: 1- Queimada, do treino de futebol. 2- Histrias em quadrinho, a no falar junto com a professora. Aluno 2: 1- Brincar. 2- Aprendi a desenhar e a brincar na quadra.

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Aluno 3: 1- De trabalhos em grupo. 2- Aprendi a movimentar mais o corpo e a trabalhar em grupo. Aluno 4: 1- Da brincadeira Mustaf. 2- Os jogos e as brincadeiras. Aluno 5: 1- De cada macaco no seu galho. 2- Aprendi brincadeiras novas e a no responder. Aluno 6: 1- Da Copa. 2- A jogar futebol certo e a respeitar o companheiro. Aluno 7: 1- Das brincadeiras com bola. 2- Jogar bola. Aluno 8: 1- Da brincadeira escravos de j. 2- Nada. Aluno 9: 1- Handebol e do Taet. 2- A ser mais educado. Aluno 10: 1- Copa e do desfile. 2- No fazer baguna e a jogar futebol certo. Aluno 11: 1- Da atividade do celebro e do Taet. 2- Novas brincadeiras.

Aluno 12: 1- Cada macaco no seu galho. 2- A brincar e novas brincadeiras.

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Aluno 13: 1- Ameba. 2- Ter educao

Aluno 14: 1- Gostei mais do Caa ao Tesouro. 2- No bater nas meninas e brincar.

Aluno 15: 1- Mais d: Cada Macaco no seu Galho e Teat. 2- No brigar, e brincar. Aluno 16: 1- Do Caa ao Tesouro e Ameba. 2-

Anexo 2

Entrevista com os professores:

Pergunta: QUAL O PAPEL DA EDUCAO FSICA NO PROCESSO EDUCACIONAL DO ALUNO?

Respostas: Professora A

Sem dvida alguma, dependendo da maneira como so ministradas, as aulas de educao fsica podem auxiliar (e muito) no processo educacional pelo qual o aluno est sujeito.

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Nessas aulas, o educando tem a possibilidade de desenvolver suas habilidades motoras e fsicas, aprimorar as intelectuais (que so teorizadas nas aulas com a professora regular) e, por fim, desenvolver a auto-estima das crianas e o sentimento de pertena. Entretanto, para que esse processo todo ocorra e seja eficiente, necessrio que haja a interdisciplinaridade; isso significa que deve haver um trabalho interligado entre os professores. Vrios exemplos podem ser citados, que inclusive aconteceram nesse ano escolar de 2006. Houve o exemplo do filme que a educadora fsica passou, chamado Corrente do Bem. Esse foi o escolhido, porque nossos alunos apresentam problemas semelhantes aos abordados: pais alcolatras, usurios de drogas ilcitas, pais separados, prostituio... Enfim, essa iniciativa da professora, abriu espao para uma srie de discusses que at ento eram tidas como problemas conhecidos, mas intocveis. Devido essa iniciativa, foi possvel que eu abordasse de diversas maneiras os temas tratados e os explorasse da melhor maneira possvel: debates, redaes, busca de alternativas para estes... Alm disso, o trabalho da educadora fsica no limitou-se a mostrar os problemas por meio do filme; tambm trabalhou atividades posteriores com os alunos na minha opinio, a mais significativa foi a de escutar as propostas dos alunos do que fariam para mudar o mundo, e o mais importante: coloc-las em prtica. Minha turma, uma quarta srie, optou por conscientizar as pessoas a acabar com as drogas. Ento, elaboramos um projeto no qual descrevamos todo o processo que deveria ser seguido para concluir nosso trabalho. Ainda estamos com a atividade em processo; mas, j conversamos bastante com as crianas, montamos cartazes e placas de que no se deve usar drogas. O prximo passo espalh-los pela escola e comunidade. Paralelo a esse trabalho estamos conscientizando as pessoas que convivem conosco sobre os problemas que as drogas causam. Pensamos que o boca-a-boca tambm pode ser muito eficiente nesses casos. Todas as crianas esto muito envolvidas nessa atividade, e estiveram durante todo o processo. O que eu pretendo dizer com todo esse exemplo?: simples. A educao fsica auxiliou e facilitou muito a minha relao com os problemas de meus alunos. Afinal, pude

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tratar destes de maneira geral e ao mesmo tempo direcionada. Geral por meio das atividades realizadas e direcionadas na medida em que eu conhecia cada vez mais a vida de cada um deles e buscava, atravs de conversas encontrar alternativas. Poderia aqui transcorrer entre outras tantas atividades que foram de fundamental importncia durante esse primeiro semestre do ano letivo, mas creio que o fundamental a ser dito aqui que o professor de educao fsica no pode mais conviver com o velho preconceito: um professor que chega e d a bola para os alunos brincarem. Pode at ser que haja pessoas que encarem dessa forma a profisso, entretanto ela vai muito, alm disso, hoje posso afirmar que indispensvel vida escolar de qualquer aluno, e que uma pena se grande parte dos professores regulares ainda a encara como folga. Afinal, ela o complemento que falta aos nossos alunos para a formao unilateral que os cidados gregos recebiam, e que hoje falta tanto em nossos cidados: intelectuais, politizados e com o corpo so.

Professora B

Sabemos a importncia da interdisciplinaridade para formar o aluno integralmente. O processo educacional bem amplo e o entendo como uma grande construo que precisa ser feita com um alicerce bem firme. Penso que a Educao Fsica parte dos tijolos necessrios para erigir esta construo. Da ser imprescindvel a realizao de um trabalho srio nesta disciplina. O professor PEB I (professor de sala nas 1 a 4 srie) necessita entender que por meio da Educao Fsica muitos objetivos so alcanados. necessrio saber que no uma aulinha; uma aula como em qualquer outra disciplina. Em nossa Escola Estadual Ernesto Masselani, a professora de Educao Fsica tem nos ensinado que alm de jogos, ginsticas, danas a Educao Fsica esta totalmente interligada no processo educacional. Visando isso a professora mobilizou a equipe de professores e a equipe tcnica para a realizao de algumas atividades que envolviam varias reas do conhecimento: Caa tesouro: desenvolvendo muitas habilidades com todos os alunos e a unio que os mesmos precisavam ter para achar o tesouro.

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Filme A corrente do bem: em cada sala de aula explorou um tema, tais como: violncia, drogas, cooperao, etc. Atividades sobre a copa do mundo: aula terica sobre o futebol e seus fundamentos, criao de bandeiras, paises e at torcidas organizadas. Todas estas atividades se transformaram em projetos dentro da escola, pela

fora e determinao com que os mesmos foram alavancados. Observamos que a Educao Fsica parte integrante e importante no processo educacional se a mesma for bem trabalhada, a construo ser edificada com maior consistncia.

Professora C

A Educao Fsica, mobiliza interesses, ativa a participao, desafia o pensamento e melhora a alto-estima. medida que os educandos confiam, arriscam a dizer o que sentem, pensam, querem, desta forma teram voz, sero cidados. Os temas desenvolvidos na unidade escolar integram as atividades de Educao Fsica e Educao Artstica.

Professora D

Sim, na prpria sade, na prtica de exerccios fsicos, disciplina e postura.

Professora E

Claro que ajuda! Mexe com o corpo, tudo: coordenao motora, penso se as crianas ficassem na sala de aula s 4 horas. At psicologicamente ajuda muito. Tem tanta coisa, mantm o fsico, tanta coisa, no me lembro muito. Ajuda em tudo, nem tem como responder. Quando foi tirado o professor, se no precisava, ento porque voltaram. Porque muito importante.

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