ROSUVASTATINA - cardiol

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4 Reconhecida como uma vastatina to- talmente sintØtica e ativa por via oral, a rosuvastatina apresenta características far- macocinØticas e farmacodinâmicas que certamente vªo transformÆ-la em uma droga de primeira escolha para grande parte dos pacientes com dislipidemia. A partir dessas noçıes introdutórias, a pesquisadora Angela Cheng-Lai, do De- partamento de FarmÆcia do Centro MØ- dico Montefiore, Bronx, Nova York, Es- tados Unidos, nos apresenta uma revi- sªo sobre esse novo e potente inibidor da enzima 3-hidroxi-3-metilglutaril co- enzima A (HMG-CoA) redutase, valori- zando algumas de suas características mais favorÆveis na terapŒutica dos qua- dros de hipercolesterolemia e das dife- rentes formas de dislipidemia: n baixa lipofilicidade, n alta seletividade pelos hepatócitos, n mínimas implicaçıes metabólicas, n baixa propensªo para interaçıes com o citocromo P450 1 . AlØm disso, em estudos clínicos comparativos, a rosuvastatina, adminis- trada em doses de 5 a 10 mg/dia, redu- ziu as taxas sangüíneas de LDL-coleste- rol em níveis significativamente superi- ores aos alcançados com vastatinas con- vencionais, como atorvastatina (10 mg/ dia), pravastatina (20 mg/dia) e sinvas- tatina (20 mg/dia). Ao lado dessa maior eficÆcia em rela- çªo à fraçªo mais aterogŒnica do coleste- rol, a rosuvastatina tambØm apresentou efeitos benØficos sobre outros parâme- tros lipídicos, como aumento de HDL- colesterol e diminuiçªo da trigliceride- mia 1 . PERFIL DE SEGURAN˙A E TOLERABILIDADE TAMBÉM FAVORECE A ROSUVASTATINA Em seu trabalho de revisªo, a pesqui- sadora de Nova York, ressalta que a estru- tura química da rosuvastatina pertence a uma inovadora classe de inibidores da HMG-CoA redutase, em que a adiçªo de um grupo sulfonamido-metano polar es- tÆvel como um componente hidrofílico confere a característica de baixa lipofilici- dade própria dessa droga (quadro 1) 1 . ROSUVASTATINA SEGURAN˙A/TOLERABILIDADE E EFIC`CIA NO TRATAMENTO DE PACIENTES COM DISLIPIDEMIA A rosuvastatina revela índice de lipofi- licidade similar ao da pravastatina, mas bem mais baixo do que o registrado com outras vastatinas (quadro 2). Por outro lado, como demonstra o trabalho de Buckett L, Ballard P, Davidson R et al., enquanto outras vas- tatinas sªo relativamente nªo-seletivas entre os vÆrios tipos de cØlulas, a rosu- vastatina e a pravastatina sªo comprova- damente seletivas para hepatócitos 2 . Deve-se considerar ainda que, como tem sido demonstrado, as vastatinas tra- dicionais ligam-se diretamente, e de uma maneira forte e reversível, a uma Ærea es- pecífica da enzima HMG-CoA. Desse modo, a adiçªo de um grupo sulfonami- do-metano à molØcula de rosuvastatina nªo somente aumenta sua hidrofilicida- de, como amplia sua interaçªo com a en- zima HMG-CoA 1 , proporcionando re- sultados clínicos mais expressivos. GRUPO METANO-SULFONAMIDA REFER˚NCIA CL˝NICA INTERNACIONAL QUADRO 1 Cardio 1-2003 pag 4e5.pm6 02/09/03, 09:36 4

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Reconhecida como uma vastatina to-talmente sintética e ativa por via oral, arosuvastatina apresenta características far-macocinéticas e farmacodinâmicas quecertamente vão transformá-la em umadroga de primeira escolha para grandeparte dos pacientes com dislipidemia.

A partir dessas noções introdutórias,a pesquisadora Angela Cheng-Lai, do De-partamento de Farmácia do Centro Mé-dico Montefiore, Bronx, Nova York, Es-tados Unidos, nos apresenta uma revi-são sobre esse novo e potente inibidorda enzima 3-hidroxi-3-metilglutaril co-enzima A (HMG-CoA) redutase, valori-zando algumas de suas característicasmais favoráveis na terapêutica dos qua-dros de hipercolesterolemia e das dife-rentes formas de dislipidemia:

n baixa lipofilicidade,

n alta seletividade pelos hepatócitos,

n mínimas implicações metabólicas,

n baixa propensão para interações como citocromo P4501.

Além disso, em estudos clínicoscomparativos, a rosuvastatina, adminis-trada em doses de 5 a 10 mg/dia, redu-ziu as taxas sangüíneas de LDL-coleste-rol em níveis significativamente superi-ores aos alcançados com vastatinas con-vencionais, como atorvastatina (10 mg/dia), pravastatina (20 mg/dia) e sinvas-tatina (20 mg/dia).

Ao lado dessa maior eficácia em rela-ção à fração mais aterogênica do coleste-rol, a rosuvastatina também apresentouefeitos benéficos sobre outros parâme-tros lipídicos, como aumento de HDL-colesterol e diminuição da trigliceride-mia1.

PERFIL DE SEGURANÇAE TOLERABILIDADETAMBÉM FAVORECE AROSUVASTATINA

Em seu trabalho de revisão, a pesqui-sadora de Nova York, ressalta que a estru-tura química da rosuvastatina pertence auma inovadora classe de inibidores daHMG-CoA redutase, em que a adição deum grupo sulfonamido-metano polar es-tável como um componente hidrofílicoconfere a característica de baixa lipofilici-dade própria dessa droga (quadro 1)1.

ROSUVASTATINASEGURANÇA/TOLERABILIDADE E EFICÁCIA NOTRATAMENTO DE PACIENTES COM DISLIPIDEMIA

A rosuvastatina revela índice de lipofi-licidade similar ao da pravastatina, mas bemmais baixo do que o registrado com outrasvastatinas (quadro 2).

Por outro lado, como demonstra otrabalho de Buckett L, Ballard P,Davidson R et al., enquanto outras vas-tatinas são relativamente não-seletivasentre os vários tipos de células, a rosu-vastatina e a pravastatina são comprova-damente seletivas para hepatócitos2.

Deve-se considerar ainda que, comotem sido demonstrado, as vastatinas tra-dicionais ligam-se diretamente, e de umamaneira forte e reversível, a uma área es-pecífica da enzima HMG-CoA. Dessemodo, a adição de um grupo sulfonami-do-metano à molécula de rosuvastatinanão somente aumenta sua hidrofilicida-de, como amplia sua interação com a en-zima HMG-CoA1, proporcionando re-sultados clínicos mais expressivos.

GRUPO METANO-SULFONAMIDA

REFERÊNCIA CLÍNICA INTERNACIONAL

QUADRO 1

Cardio 1-2003 pag 4e5.pm6 02/09/03, 09:364

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SEGURANÇA &INTERAÇÃOMEDICAMENTOSA

Considerando em conjunto as infor-mações focalizadas, compreende-se que,como a rosuvastatina sofre um processometabólico lento, além de ser metaboli-zada pelas isoenzimas CYP dentro deum limite mais estreito em comparaçãocom outras vastatinas, é bastante remo-ta a possibilidade de ocorrer interação

com outros agentes medicamentosos. Aeritromicina, o fluconazol ou o cetoco-nazol, por exemplo, não apresentam re-percussões clinicamente significativas nafarmacocinética da rosuvastatina, admi-nistrada na dose de 80 mg/dia1.

O itraconazol, por sua vez, provo-cou moderada elevação da concentraçãoplasmática de rosuvastatina, mas tambémsem significado clínico1.

De acordo com Kemp J, Martin P,Olive MD, o �clearance� renal de digo-

Os dados reunidos pela pesquisa-dora Angela Cheng-Lai demonstramclaramente que a rosuvastatina é umavastatina inovadora, que associamaior eficácia no controle dos lípides

REFERÊNCIAS RECOMENDADAS

Adaptado de Angela Cheng-Lai. Heart Disease, 2003; 5: 74

Absorção

Biodisponibilidade

Efeitos daalimentação

Metabolismo

Lipofilicidade

FLUVASTATINA

98%

24%

Alimentos dimi-nuem o ritmo, masnão o volume da

absorção

Metabolismo ex-tensivamente he-pático, sobretudovia CYP 2C9. Semmetabólitos ativos

3,2

PRAVASTATINA

35%

17%

Alimentos podemaumentar a biodis-ponibilidade, mas

não reduzem aeficácia clínica

Metabolismo hepá-tico para

metabólitos inati-vos ou fracamente

ativos

-0,2

SINVASTATINA

60%�85%

< 5%

Sem efeito

Metabolismo exten-sivamente hepático,em parte pelo CYP

3A4, parametabólitos ativos

4,7

ATORVASTATINA

Rápida

14%

Alimentos diminuemo ritmo da absorção,mas não prejudicam

a eficácia

Metabolismo exten-sivamente hepático(principalmente pelo

CYP 3A4) parametabólitos ativos

4,1

ROSUVASTATINA

Moderadamenterápida

20%

Alimentos reduzemo ritmo da absorçãoem 20%, mas nãoalteram o volume

da absorção

Metabolismo mini-mamente hepático

(via CYP 2C9 eCYP 2C19)

-0,3

LOVASTATINA

30%

< 5%

Alimentos aumen-tam a biodisponibi-lidade em cerca de

50%

Metabolismo ex-tensivamente he-pático pelo CYP

3A4 parametabólitos ativos

4,3

xina elevou-se em 5% quando admi-nistrado concomitantemente com a ro-suvastatina, o que não chegou a ser in-terpretado como uma interação medi-camentosa3.

Por outro lado, Durrington PN,Tuomilehto J, Hamman A et al. realiza-ram um estudo com 216 pacientes comdiabete melito tipo 2, pelo período de24 semanas, confirmando que a co-ad-ministração de rosuvastatina e fenofibra-to foi bem tolerada4.

3. Kemp J, Martin P, Olive MD. Coadministration of rosuvastatin does not alterthe pharmacokinetics of digoxin. Pharmacotherapy, 2001; 21: 1255.

4. Durrington PN, Tuomilehto J, Hamman A et al. Effects of rosuvastatinalone and in combination with fenofibrate on lipid subfractions in patientswith type 2 diabetes, results at 24 weeks. Circulation, 2001; 104 (suppl.II): 177.

1. Angela Cheng-Lai. Rosuvastatin: A new HMG-CoA reductase inhibitorfor the treatment of hypercholesterolemia. Heart Disease, 2003; 5: 72�8.

2. Buckett L, Ballard P, Davidson R et al. Selectivity of ZD4522 forinhibition of cholesterol synthesis in hepatic versus nonhepatic cells (AbstractMoP29;W6). XIIth International Symposium on Atherosclerosis. Stockholm,June 25-29/2000. Atherosclerosis, 2000; 151 (special issue): 41.

sangüíneos e baixo risco de efeitosadversos ou de interações medicamen-tosas. Daí sua indicação preferencialpara alcance das metas lipídicas esta-belecidas pelas Diretrizes sobre dis-

lipidemias, inclusive para diabéticos,que, como foi já bem definido emtodo o mundo, devem atingir cifrasinferiores a 100 mg/dL, mesmo na au-sência de doença arterial coronária1.

CONCLUSÕES PRINCIPAIS

QUADRO 2

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Algumas propriedades farmacocinéticas de vastatinasem pacientes com comprometimentos hepático e renalAlgumas propriedades farmacocinéticas de vastatinasem pacientes com comprometimentos hepático e renal

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