Roteiro 7 - Outubro - Mulher e violências

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Roteiro 7: Mulher e Violências Objetivo : Proporcionar aos jovens um momento de sensibilização frente as violências sofridas pelas mulheres em nossa sociedade, que à luz do evangelho reflitam sobre essas situações e questionem-se sobre as alterações necessárias que precisamos realizar. 1)Acolhida: O(A) animador(a) do encontro irá explicar que todos os integrantes presentes irão participar de uma audiência pública, que deverão se manifestar sobre os acontecimentos e cenas que presenciarão no meio da sala após o final de cada história. Se o grupo for grande primeiro acontecerá o debate em pequenos grupos e posteriormente um representante fala em nome de todos. Muitos são os tipos de violências e uma ação violenta não tem apenas uma única consequência, uma violência física pode desencadear machucados no corpo e também ser uma violência moral. Por esse motivo falamos sempre em violências (no plural). 2)Dinamizando: Momento VER: Cena 1: violência doméstica - física A mulher chega em casa do trabalho, tem muitas coisas para fazer ainda como limpar a casa, lavar roupa e cuidar das crianças. O homem embriagado chega em casa e reclama que a mulher não fez as suas funções em casa. Ela pede para ele colaborar, pois está cheia de tarefas e não está dando conta. Ele reclama que é função dela e que ele não vai ajuda-la. Ela diz que o mundo mudou e que ele tem que colaborar na família também. Ele sente-se ofendido e bate na mulher. (atores saem de cena) Animador(a) lê a informação: - Seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica. - Machismo (46%) e alcoolismo (31%) são apontados como principais fatores que contribuem para a violência. ( Pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, realizada pelo Instituto Avon / Ipsos entre 31 de janeiro a 10 de fevereiro de 2011.) - O parceiro (marido ou namorado) é o responsável por mais 80% dos casos reportados A Pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado foi realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESI. Momento do debate : Cada participante deve fazer alguma reflexão sobre a cena vista. Cena 2: Assédio Sexual e Moral Ambientação: A sala deve estar preparada anteriormente. No centro, um espaço livre para a encenação dos esquetes teatrais, nas laterais fileiras para os “jurados-platéia”. CUIDADOS : Anteriormente devem-se escolher os jovens que farão as cenas e ensaiar previamente.

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Roteiro 7: Mulher e Violências

Objetivo: Proporcionar aos jovens um momento de sensibilização frente as violências sofridas pelas mulheres em nossa sociedade, que à luz do evangelho reflitam sobre essas situações e questionem-se sobre as alterações necessárias que precisamos realizar.

1)Acolhida: O(A) animador(a) do encontro irá explicar que todos os integrantes presentes irão participar de uma audiência pública, que deverão se manifestar sobre os acontecimentos e cenas que presenciarão no meio da sala após o final de cada história. Se o grupo for grande primeiro acontecerá o debate em pequenos grupos e posteriormente um representante fala em nome de todos. “Muitos são os tipos de violências e uma ação violenta não tem apenas uma única consequência, uma violência física pode desencadear machucados no corpo e também ser uma violência moral. Por esse motivo falamos sempre em violências (no plural).” 2)Dinamizando: Momento VER: Cena 1: violência doméstica - física A mulher chega em casa do trabalho, tem muitas coisas para fazer ainda como limpar a casa, lavar roupa e cuidar das crianças. O homem embriagado chega em casa e reclama que a mulher não fez as suas funções em casa. Ela pede para ele colaborar, pois está cheia de tarefas e não está dando conta. Ele reclama que é função dela e que ele não vai ajuda-la. Ela diz que o mundo mudou e que ele tem que colaborar na família também. Ele sente-se ofendido e bate na mulher. (atores saem de cena) Animador(a) lê a informação: - Seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica. - Machismo (46%) e alcoolismo (31%) são apontados como principais fatores que contribuem para a violência. ( Pesquisa Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil, realizada pelo Instituto Avon / Ipsos entre 31 de janeiro a 10 de fevereiro de 2011.) - O parceiro (marido ou namorado) é o responsável por mais 80% dos casos reportados A Pesquisa Mulheres Brasileiras nos Espaços Público e Privado foi realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESI. Momento do debate: Cada participante deve fazer alguma reflexão sobre a cena vista. Cena 2: Assédio Sexual e Moral

Ambientação: A sala deve estar preparada anteriormente. No centro, um espaço livre para a encenação dos esquetes teatrais, nas laterais fileiras para os “jurados-platéia”.

CUIDADOS: Anteriormente devem-se escolher os jovens que farão as cenas e ensaiar previamente.

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A mulher está parada num ponto de ônibus. Chega um homem e começa a olhar para o corpo dela. Ela sorri sem graça. Ele começa a conversar com ela, quer saber onde ela vai. Ela responde em poucas palavras. Ele chega cada vez mais perto, ela sente-se incomodada. Ele passa a mão em seu corpo e diz palavras (como gostosa, vem ficar comigo). Ela se irrita e chinga-o (o que é isso? O que vocês está pensando?). Ele diz que é homem e ela está se oferecendo com aquela roupa justinha. Ele a agarra (agora você vai vir comigo), ela começa a gritar e a debater, escuta-se algum barulho, ele foge. Animador lê: O Unicef avalia que uma mulher entre 10 no mundo é vítima de um estupro uma vez na sua vida. Segundo a maioria dos estudos publicados sobre o tema, as mulheres violentadas o são, na maioria das vezes, por um homem que elas conhecem. No ano de 2010, o Disque-Denúncia do Rio de Janeiro registrou 1.432 cadastros de violências contra mulher. No topo da lista estão as agressões domésticas, que totalizaram 902 denúncias. Os estupros representam 482 cadastros, seguidos de atentado violento ao pudor (30) e até tráfico de mulheres. Momento do debate e reações da “plateia”. Possibilidades Cena 3 (o grupo pode montar a sua cena): Desigualdade salarial entre mulher e homem; mulher que tem que trabalhar e ainda cuidar da casa e da família; A Jovem que sofre preconceito pelo seu comportamento afetivo enquanto os meninos são estimulados a ficar com todas. O apelo midiático de sexualização e banalização da mulher.

3)Iluminação Bíblica: Momento JULGAR:

*Momento de acolhida bíblica – canto de aclamação *Leitura Bíblica: Jo 4, 1 – 30 Fazer a leitura algumas vezes, depois em grupo conversar sobre o que entendeu do texto. *Algumas questões que podem ajudar na reflexão: -Qual a atitude de Jesus com a mulher? Ele agiu como os outros agiam? -Qual a reação da mulher com a atitude de Jesus? -O que Jesus Cristo oferece para a mulher? -O que oferecemos as mulheres hoje? -Quais as dificuldades encontradas pela mulher samaritana? -Quais as dificuldades encontradas pelas mulheres hoje? -Como podemos seguir à atitude de Cristo nas relações com as mulheres? Música: Maria Maria (Milton Nascimento) Maria, Maria É um dom, uma certa magia Uma força que nos alerta Uma mulher que merece Viver e amar Como outra qualquer Do planeta Maria, Maria É o som, é a cor, é o suor É a dose mais forte e lenta De uma gente que rí Quando deve chorar

E não vive, apenas aguenta Mas é preciso ter força É preciso ter raça É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca Maria, Maria Mistura a dor e a alegria Mas é preciso ter manha É preciso ter graça É preciso ter sonho sempre Quem traz na pele essa marca

Possui a estranha mania De ter fé na vida.... Mas é preciso ter força É preciso ter raça É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca Maria, Maria Mistura a dor e a alegria... Mas é preciso ter manha É preciso ter graça É preciso ter sonho sempre

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Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania De ter fé na vida... Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!! Lá Lá Lá Lerererê Lerererê Lá Lá Lá Lerererê Lerererê (repete) Mas é preciso ter força É preciso ter raça

É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca Maria, Maria Mistura a dor e a alegria... Mas é preciso ter manha É preciso ter graça É preciso ter sonho, sempre Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania De ter fé na vida

Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei!! Lá Lá Lá Lerererê Lerererê Lá Lá Lá Lerererê Lerererê Hei! Hei! Hei! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Ah! Hei! Lá Lá Lá Lerererê Lerererê! Lá Lá Lá Lerererê Lerererê!...

5)Assumindo compromisso com a vida: Momento AGIR

O Dia Nacional da Juventude desse ano traz como tema "Juventude e protagonismo feminino" e lema

"Jovens mulheres tecendo relações de vida". O DNJ será comemorado no dia 30 de outubro, você sabe

como seu vicariato e diocese celebrará esse momento? Já pensou como em seu grupo e paróquia pode fazer

acontecer essa reflexão? Como irão colaborar com o DNJ?

A proposta é nesse momento fazer a construção de como o grupo irá abordar, colaborar de forma prática com o DNJ em sua comunidade e/ou diocese.

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O DNJ 2011

*Blog DNJ 25 anos:

http://dnj25anos.redejuventude.org.br/

*Site da PJ: http://pj.org.br/

ANEXO - Texto para o aprofundamento bíblico

Encontros e diálogos entre a samaritana e Jesus Texto extraído do Livro Bíblia e Educção Popular: encontros de solidariedade e diálogo. 1. Movimentos e aproximações O capítulo 4 do Evangelho de João narra uma discussão teológica entre Jesus e a mulher samaritana a partir de elementos que constituem necessidades do cotidiano: pão, fome, água, sede, carência, relação. Com um olhar que se movimenta

em várias direções, tomamos o texto como memória de ações e protagonismos de mulheres, como proposta comunitária que direciona a ação missionária para fora dos limites geográficos e como estrutura narrativa que combina forma e conteúdo, ajudando a explicitar os processos de construção e produção textual. Nesta análise, um dos instrumentais úteis será a construção social dos gêneros masculino e feminino. Este instrumental trata da construção a

Este roteiro foi produzido por Renata

Zanella, assessora da PJ do Vicariato de

Porto Alegre.

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partir de elementos que constituem necessidades do cotidiano: pão, fome, água, sede, carência, relação. A partir de alguns momentos que este texto provoca, queremos motivar para refletir sobre os encontros e os diálogos que acontecem. 2. Encontros e diálogos que rompem fronteiras O encontro acontece na terra da mulher, a Samaria. Jesus é quem se desloca de sua terra, seus limites, seu chão e atravessa a terra estrangeira. Ele deixa a Judéia e volta para a Galiléia. Neste trajeto, o texto informa o óbvio para a comunidade que vive naquela região. É o caminho conhecido, mas o texto faz questão de afirmar novamente. Caminhos, quando já são conhecidos, são trilhados mecânica e irrefletidamente. Dizer o óbvio provoca a atenção. Dizer que era necessário passar por Samaria provoca na pessoa leitora e na ouvinte a possibilidade de pensar por que se está dizendo o que já é conhecido e aprendido. Neste caso, remonta-se a um conflito antigo entre pessoas judias e samaritanas. O conflito é de origem étnico-religiosa, com conseqüências sociais e políticas. No Antigo Testamento, recebemos a informação histórica sobre as causas do conflito. As pessoas samaritanas são remanescentes de um processo de colonização promovido pela dominação assíria, que trazia pessoas de outras regiões colonizadas e as misturava com os habitantes locais. Tal processo gerou reações de desprezo e rivalidades entre aquelas pessoas que se consideram "legítimos filhos de Israel" e aquelas que são "misturadas". Podemos encontrar estes relatos em 2Reis 17,24-31, Eclesiástico 50,26 e Esdras 4,2-9. Esta carga histórica de rivalidade e conflito está presente na memória das pessoas que guardam o relato do encontro de Jesus com a samaritana como testemunho de sua fé. A afirmação de que Jesus, para chegar até seu destino, precisa passar pela Samaria, desencadeia estas lembranças na memória. Repetir o que já é conhecido, em situações conflituosas, pode ter esta função: verbalizar para provocar a reflexão. Neste contexto de conflito, o encontro e o diálogo entre Jesus e a samaritana rompem barreiras étnico-geográficas. Ela é mulher e é samaritana. Sua condição de gênero impede que converse com um homem em lugar público e, especialmente,

perto do poço (no imaginário daqueles grupos, o poço é um lugar mítico, simbólico da erótica, relacionamento amoroso - Gênesis 24 e 29; Êxodo 2,11-22). Sua pertença a um povo resulta em problemas para estabelecer relações de amizade e confiança, de ajuda e solidariedade com alguém do povo inimigo. O início da conversa da mulher explicita o conflito. Não há intenção de esconder, nem de empurrar o conflito para longe. Apesar das rivalidades, os dois querem conversar. Talvez seja por causa do conflito que o diálogo acontece. Este encontro abre as fronteiras das concepções teológicas que delimitam e excluem pessoas. Encontros são sempre possibilidades a serem construídas, ou melhor, possibilidades a serem reconhecidas. As barreiras entre as pessoas "escolhidas" e as pessoas estrangeiras também sofrem abalos na postura de Jesus e desta mulher. Ver e testemunhar, encontrar e falar da experiência do encontro com Jesus são características básicas para o discipulado no Evangelho de João, como podemos ver em 1,29-37; 1,40-49. As mulheres no Evangelho de João percebem e reconhecem Jesus e, a partir daí, testemunham, transmitem e anunciam o evangelho. Assumem a tarefa ministerial na igreja e missionária no mundo. 3. Encontro e diálogos sobre a vida e o cotidiano "Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? A gente não quer só comida, A gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida,... A gente não quer só comer, A gente quer comer e quer fazer amor. A gente não quer só comer, A gente quer prazer pra aliviar a dor. A gente não quer só dinheiro, A gente quer dinheiro e felicidade. A gente não quer só dinheiro, A gente quer inteiro e não pela metade Desejo, Necessidade e vontade, Necessidade e desejo." A música dos Titãs nos provoca a reflexão sobre a

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fome e a sede. Você tem fome de quê? Você tem sede de quê? Comida e desejo se juntam na vida diária. Desejo de comida. Necessidade e desejo são situações que se misturam no cotidiano. Os encontros que queremos promover deveriam ser motivados pelo desejo e pela fome de satisfazer nossa vida não pela metade, mas por inteiro, com dignidade. O texto de Jo 4 nos ilumina neste movimento que promove encontros. Comida e água se misturam no diálogo cotidiano-teológico de Jesus e da mulher. São elementos do cotidiano. Jesus tem sede, mas, ao desenvolver sua fala, articula o seu discurso sobre a água usando uma linguagem metafórica. A mulher lida com a água a partir de sua experiência prática. Sua linguagem se desenvolve em nível de preocupações diárias concretas. No imaginário da mulher, a água serve para matar a sede. São duas relações diferenciadas com as concepções e construções do simbólico e do imaginário. Necessidade e desejo aqui se desencontram. Jesus tem sede e a mulher explicita o conflito, a barreira que há entre ambos para a prática da solidariedade. Necessidade e vontade se desencontram no corpo de Jesus. Ele senta para descansar. Está cansado e com sede. Mas a mulher quer falar do conflito, antes de tudo. Seu cansaço e sua sede precisam esperar pela sede de fala da mulher. E Jesus aceita o desafio proposto por ela. Tudo isso acontece na hora sexta. Não é qualquer momento, nem,qualquer lugar. É a mesma hora em que o condenam à morte em outro momento (João 19,14). Outro tema que surge da experiência cotidiana desta mulher é a sua vida matrimonial. Das águas, a conversa toma o rumo dos maridos. Quando estabelecem um acordo no diálogo, Jesus muda de assunto de novo. "Vai, chama teu marido e vem cá!" (v. 16). Ela não tem marido atualmente, mas cinco já tivera. Como lidar com este assunto? Ela pode ter sido divorciada. Os maridos podem ter pedido o divórcio, já que isso era possível e provável, se ela fosse estéril. Ou ela pode ser viúva, como foi Tamar, em Gn 38. Enfim, o tema dos cinco maridos é algo que tem preocupado os exegetas, mas, de acordo com o texto, foi algo que não preocupou Jesus, pois ele não deu continuidade ao assunto, e tampouco o levantou desde uma perspectiva moral.

Bem, o assunto veio à tona porque uma relação de proximidade e confiança se estabeleceu entre Jesus e a mulher. E é a partir deste momento, quando a sua vida pessoal é colocada no centro do diálogo, que a mulher toma outra atitude. A mulher se transforma após este encontro-diálogo. Sua confissão de fé vem a seguir. Ela reconhece Jesus como profeta e como Messias. Diálogos sempre são transformadores. Sempre são motivadores de novas temáticas. Importa que as posturas sejam provocadoras de diálogo, de abertura, de acolhida para que as temáticas que britam a realidade encontrem lugar de reflexão em nossos grupos. 4. Encontros e desencontros Os desencontros e as situações conflituosas são parte constitutiva de nossas reações. Importa tomá-las em conta, enfrentá-las sem medo, com coragem e disposição. Os conflitos devem ser encarados num processo pedagógico, como momentos de crise que proporcionam as paradas necessárias para as mudanças. No entanto, sabemos que não somos educadas e educados para enfrentar conflitos. Somos ensinadas e ensinados a harmonizar, a pacificar. Mas, sabemos também que esta pacificação só será efetiva na medida em que situações conflituosas possam ser debatidas abertamente, sem medo de represálias ou exclusões. Aprendemos deste encontro-diálogo como lidar com os desencontros. Os discípulos querem que Jesus coma e vão buscar comida. Ele, porém, tem sede e quer água. Quando eles voltam, admiram-se, porque ele está falando com uma mulher. E parece que o autor (autores/as) do texto do Evangelho de João também se admira da "inversão de ministérios". Quem deveria anunciar a Jesus foi à cidade para buscar satisfazer simplesmente as necessidades do próprio corpo e do próprio grupo. E o texto apresenta (e elogia), ao final, esta mulher que gasta tempo com Jesus, dialoga em pé de igualdade com ele e depois, transformada pela relação estabelecida, vai à cidade anunciar o mestre e as coisas que ele havia falado. Ela vai para além dela. Os discípulos não conseguem seguir o mesmo caminho: em espírito e verdade. Também no diálogo entre a mulher e Jesus, há um desencontro. Parece, contudo, que é preciso haver

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este desencontro para haver o encontro. A mulher verbaliza esse desencontro e, a partir daí, ele e ela estabelecem uma linguagem comum. 5. Para gerar novos encontros A narrativa do encontro desenvolve uma liturgia. A memória registrada por escrito pode servir como elemento renovador da espiritualidade. Acontece a acolhida, uma confissão, o louvor, a conversão e o testemunho. A trajetória percorrida neste encontro-diálogo pode nos esquentar o coração, renovar nossas forças e sustentar nossas utopias. A tradição coloca a evangelização de Samaria nas mãos de Filipe (At 8,5), com a confirmação dos apóstolos (At 8,14-17). Talvez assim possamos entender o que Jesus diz em Jo 4,37: "Um é o que semeia e outro é o que colhe". Entretanto, mais adiante, na chamada oração sacerdotal, Jesus retoma o testemunho da mulher samaritana "Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio da sua palavra, vierem a crer em mim" (Jo 17,20). Por meio da palavra da mulher, como lemos em Jo 4,39-42, muitas pessoas acreditaram. Não é por acaso que em 4,38 é usado o verbo apostollein. É interessante ainda recordar que, no capítulo anterior do mesmo evangelho, Nicodemos também havia estranhado a fala de Jesus (Jo 3,3-5), no

diálogo entre ambos. Mas, enquanto, no capítulo 3, a conversa parece ter um corte de forma brusca, o texto de Jo 4 vai mais adiante: Jesus aceita o convite da mulher e de seus compatriotas e fica ali por dois dias (4,40). Exatamente o oposto do que lemos em Jo 1,11: "Veio para o que era seu, mas os seus não o acolheram". Uma mulher tem a iniciativa de deixar o cântaro aos pés de Jesus e ir à cidade, falar de sua experiência. Faz uso da mesma frase que Jesus tinha usado em Jo 1,39. Ele disse para os discípulos, ela para a sua gente, seus conterrâneos: "Vinde e vede!" * Elaine Neuenfeldt é assessora e ex-diretora nacional CEBI. É pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB e atualmente contribui na Federação Luterana Mundial, em Genebra. Veja outros livros da mesma autora. Sites: http://www.violenciamulher.org.br/ http://www.disquedenuncia.org.br/?p=692 http://mulheresemmarcha.blogspot.com/

COMITÊ ESTADUAL DO RS [email protected] www.juventudecontraviolencia.blogspot.com