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Roteiro ASSIS Roteiro ASSIS Escuta, escuta! Não ouves a voz das profundezas? Sim. O Subásio é o mesmo e lá em baixo Assis descansa; em torno, a coroa das colinas úmbricas. (...) Vem da terra o eco daquele passo bendito de Francisco, que sigo sem alcançar. Interrogo as ressonâncias íntimas e ouço, admirado, um murmúrio humilde na mais secreta palpitação de meu coração. (...) Dai-me de novo aquele canto, é o cântico de Deus. Criaturas irmãs, ajudai-me a subir, a vibrar, a sentir. Aquele canto arrebatará minha alma deste barulho infernal, para longe da terra, para sempre. Então, num imenso e profundo silêncio, ecoa mansamente a música divina. Cada forma de existência emite uma nota. Oro na minha prece ouço Deus como um canto imenso e sublime que emana de todas as criaturas. Cantam todas as expressões de Deus, a terra e o céu, a luz e a vida, a ordem e o pensamento. A minha alma se torna bem pequenina, mas emite harmonia e a cada nota, sintonizo gradualmente; a ressonância me invade, a vibração me eleva, o arrebatamento me conduz. Já não sou eu, mas uma harpa na qual ressoa o Universo. É uma prece na qual se cala. É a união com Deus. (Ascese Mística, cap. XV, p.181-182) A região de nascimento de Pietro Ubaldi imprimiu no autor suas características. O misticismos de sua terra, tendo como máxima representação a cidade de Assis, é um marco definidor de seu espírito. Visita-a, fotografava-a, a pequena era presença constante. A conversão do jovem Francisco, depois de 25 anos de vida comum, com o reconhecimento gradual de Cristo como o ideal de vida, tornar-se-ia a luz que guiaria a vida de Ubaldi. Assis é a memória da abertura de um coração à graça divina. *** (...) Como todos, ele [Pietro Ubaldi] trazia em si as notas da sua raça; a característica úmbrica, assinalando o tipo geral italiano. Diz-se que os antigos romanos possuíam o dom da vontade e do equilíbrio, os toscanos o da expressão e os umbros o da intuição. Assim, o lugar do nascimento e o tipo da sua gente, taciturna, sóbria, trabalhadora, já esboçavam um pouco o seu destino. (História de um homem, cap. IV, p.42) Aproxime-se mais e observe a estrutura da grandiosa Basílica de São Francisco. Composta por três igrejas sobrepostas, a sua primeira estrutura foi iniciada no ano de 1228, um dia após a canonização de Francisco.

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Roteiro ASSIS

Roteiro ASSIS

Escuta, escuta! Não ouves a voz das profundezas? Sim. O Subásio é o mesmo e

lá em baixo Assis descansa; em torno, a coroa das colinas úmbricas. (...) Vem da

terra o eco daquele passo bendito de Francisco, que sigo sem alcançar. Interrogo

as ressonâncias íntimas e ouço, admirado, um murmúrio humilde na mais secreta

palpitação de meu coração.

(...)

Dai-me de novo aquele canto, é o cântico de Deus. Criaturas irmãs, ajudai-me a

subir, a vibrar, a sentir. Aquele canto arrebatará minha alma deste barulho infernal,

para longe da terra, para sempre.

Então, num imenso e profundo silêncio, ecoa mansamente a música divina. Cada

forma de existência emite uma nota. Oro na minha prece ouço Deus como um canto

imenso e sublime que emana de todas as criaturas. Cantam todas as expressões

de Deus, a terra e o céu, a luz e a vida, a ordem e o pensamento. A minha alma se

torna bem pequenina, mas emite harmonia e a cada nota, sintonizo gradualmente;

a ressonância me invade, a vibração me eleva, o arrebatamento me conduz. Já não

sou eu, mas uma harpa na qual ressoa o Universo. É uma prece na qual se cala. É

a união com Deus.

(Ascese Mística, cap. XV, p.181-182)

A região de nascimento de Pietro Ubaldi imprimiu no autor suas características. O misticismos

de sua terra, tendo como máxima representação a cidade de Assis, é um marco definidor de

seu espírito. Visita-a, fotografava-a, a pequena era presença constante.

A conversão do jovem Francisco, depois de 25 anos de vida comum, com o reconhecimento

gradual de Cristo como o ideal de vida, tornar-se-ia a luz que guiaria a vida de Ubaldi. Assis é

a memória da abertura de um coração à graça divina.

***

(...) Como todos, ele [Pietro Ubaldi] trazia em si as notas da sua raça; a

característica úmbrica, assinalando o tipo geral italiano. Diz-se que os antigos

romanos possuíam o dom da vontade e do equilíbrio, os toscanos o da expressão

e os umbros o da intuição. Assim, o lugar do nascimento e o tipo da sua gente,

taciturna, sóbria, trabalhadora, já esboçavam um pouco o seu destino.

(História de um homem, cap. IV, p.42)

Aproxime-se mais e observe a estrutura da grandiosa Basílica de São Francisco.

Composta por três igrejas sobrepostas, a sua primeira estrutura foi iniciada no ano de 1228,

um dia após a canonização de Francisco.

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Roteiro ASSIS

No piso mais inferior, localiza-se a cripta, com o túmulo do Santo. Na porção do meio,

encontra-se a basílica inferior com cenas da paixão de Cristo e da vida de São Francisco.

Acima, na Basílica Superior, distinguindo-se da outra, temos uma grandiosa nave gótica

iluminada por vitrais coloridos. O contraste entre as duas acentua seus significados: a basílica

inferior com traços de cripta representa a penitência, já a superior traz a leveza e luz da glória.

***

Peregrinei por toda esta minha terra úmbrica e além de seus confins, corri no

encalço de suas subterrâneas descendências, ressurgidas em terras limítrofes.

Nestas me detive longamente, para me encontrar a mim mesmo. Nos seus silêncios

austeros e sublimes, minha alma viveu sua mais intensa maturação. Os horizontes

altíssimos de suas montanhas me deram a sensação de Deus.

Peregrinei por toda esta terra franciscana de Assis à irmã Gubbio; do Subásio ao

Alverne; da Porciúncula a Greccio. Andei apaixonadamente interrogando as antigas

pedras, para que me contassem o segredo de sua história. Estreitei-as ao coração,

banhei-as de lágrimas. E falei: Dizei-me, vós que o vistes, o São Francisco humilde

e pobre, recordais? Não é possível que um hálito de seu imenso respiro não tenha

ficado em vós também; não é possível que o seu abrasante amor não vos tenha

percorrido com uma vibração tão poderosa, que até agora não permaneça e que

deveis comunicar-me. Não ouvistes? E por que não falais?

Falai, imensos horizontes, narrai-me os êxtases, os trabalhos, as penas daquele

coração. De torrão em torrão andei invocando a longínqua lembrança Pedi aos

declives inundados de sol, as selvosas montanhas, às veredas, às humildes

casinholas, às capelinhas perdidas, aos doces recantos do campo — sempre à

espera de uma arcana revelação Interior que me dissessem: é aqui, foi aqui, não

vês? Aqui está a pequena figura do Santo, queimando, consumida pela sua paixão;

não ouves a sua voz harmoniosa e persuasiva que fala da perfeita alegria? (Ascese

Mística, cap. XV, p.179)

Leia em Ascese Mística, dois capítulos destinados à experiência de Pietro Ubaldi aqui nesta

basílica: O irmão Francisco e Paixão.

Em um, o autor narra a alegria que transbordava de São Francisco de Assis expressão de seu

amor a Deus, no outro, a dor de Jesus Cristo durante a Paixão.

***

Oração a São Francisco de Assis Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida, que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade;

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Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, Fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois, é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna. Amém!

***

Nas antigas cidades medievais da sua Úmbria, as pedras antigas lhe contavam

então histórias estranhas, macabras, dilacerantes, (...). Aquelas pedras se

animavam e lhe falavam, como transmitindo antigas vibrações de fatos longínquos,

ali acontecidos, vibrações de que se haviam saturado e que então restituíam.

Quando, nas tétricas noites hibernais, já homem, ele vagava pelas antigas ruas de

Assis ou de Gubbio, as cidades do silêncio e do sonho, as velhas paredes lhe

pareciam animar-se daquela vida profunda que possuem as coisas mortas, que não

obstante não podem morrer. Ele interrogava as velhas paredes que tanto tinham

vivido, entre as quais o homem por tão longo tempo havia passado, com as suas

lutas e as suas dores. Certas vielas tortuosas, em que gostava de vaguear,

especialmente à luz incerta da tarde, provocavam-lhe, às vezes, estranha

estupefação, como imprevista revelação. E ali ficava atento, de alma suspensa

diante do grande mistério do tempo, do mistério daquela inexorável e eterna

palpitação, ali retida, não se sabe por que milagre, naquelas pedras. Permanecia

ali, atento, espreitando a magia dessas fixações e desses retornos, dessas

sobrevivência de coisas longínquas, renascendo aos fluxos para repetir, com uma

estranha e profunda música, a eterna identidade do drama humano. E o seu espírito

escrutava, buscando a recôndita imagem do eterno através do respiro dos séculos,

a imagem gravada na alma daquelas cidades. O seu espírito interrogava,

procurando encontrar, na voz das árvores, das rochas, do vento, na voz da terra e

do céu, no fundo da grande voz do silêncio, a voz de Deus.

Escutava à noite o zumbir da tempestade, ululando ao longo das velhas paredes,

como se arrastasse consigo uma fuga de espíritos, sibilando antigas histórias de

ódio e de vingança. E sentia que as trevas o miravam e lhe falavam. E interrogava-

as, e como um rabdomante à procura de subterrâneas correntes de água, vagava

indeciso, parando entre as velhas casas. Foi aqui, foi lá, onde, como? Não

encontrava, não percebia nada, claramente; não obstante, ele estava ligado

àquelas cidades por uma indecifrável, angustiada nostalgia de um grande afeto,

tragicamente espedaçado.

(História de um homem, cap. V, p.48-49)

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Roteiro ASSIS

***

Assis, Quinta-feira Santa, 1937

Peregrino de dor e de paixão, eu me aproximo de Ti, Senhor. (...)

Chego a Assis, ao anoitecer da Quinta-feira Santa. Sete velas e mais sete, em duas

ordens bem visíveis, ardem, solitárias, na basílica de Francisco. (...)

Como era belo contemplar, lá fora, antes do ocaso, sobre o doce e extenso vale

úmbrico e os reflexos do Tescio4, os pinheiros ondeando ao vento, contra os

diáfanos esplendores da distância!

E, mais tarde, a lua cheia surgindo do Subásio5, a mole do templo, irreal entre

pálidas luzes, e a imensa campina adormecida.

Hora de doces colóquios de espírito com a alma do criado, no intenso

pressentimento de primavera. Hora de ternas recordações para mim, nesta doce

terra de Assis, onde tão profundamente tenho vivido e que tanto tenho amado. Hora

em que o Céu e a Terra refletem, amigos, um sorriso comum e se estreitam num

fraterno amplexo.

Parecem em paz, mas é aparência do momento.

Vive dentro de mim a visão da realidade

Eu senti verdadeiramente a Terra tremer.

(Ascese Mística, cap. XXVI, p.211-217)

Basílica de Santa Clara Mas nem tudo, no seu espírito, era trágica tristeza. Havia luz também, e quanta luz!

Lembrava-se de haver sido trocado, em criança, mais na vista interior do que nos

olhos, certa tarde, numa igreja, por uma luz amiga que fluía do alto, não sabia como.

Contou o fato, mas ninguém o compreendeu, e então se calou. Mas nunca o

esqueceu!

(...)

Depois, nas suas úmbricas cidades do silêncio, sobrepondo-se ao terror das

atrocidades medievais, reencontrou, com a mesma angustiada nostalgia, o encanto

de uma figura simples e humilde, que passava fazendo o bem. Irradiava tamanho

esplendor espiritual, que todas as trevas se dissolviam ante ela, todos os terrores

se dissipavam, os ódios desapareciam e as dores eram consoladas. Era a figura

de São Francisco. (História de um homem, cap.V, p.48)

Estamos diante da Basílica de Santa Clara. Ela que, aos 17 anos, ouviu e sentiu o amor

de Cristo através da vida de Francisco tornar-se-ia a fundadora da ordem franciscana

para mulheres.

Fonte:

http://www.cruzterrasanta.com.br/historia-de-santa-clara/69/102/#c

http://www.assisionline.com/assisi__162.html

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Roteiro ASSIS

***

Assim amou Assis primeiramente, depois amou Gubbio, como à sua pequenina

irmã franciscana. Conheceu depois a Itália inteira, a Europa e as Américas, mas

nenhuma cidade encontrou a que pudesse amar mais do que aquelas duas.

(...)

Naqueles lugares reencontrou o sentido mais profundo do seu destino, reencontrou

engrandecida aquela primeira luz da sua infância, alcançou a visão daquela

afirmação que ultrapassa a terrificante prova da vida, encontrou a força de se

redimir superando os terrores do passado, consequências naturais de suas grandes

culpas e dos seus desvios.

(História de um homem, cap.V, p.48)

Igreja de San Rufino Era certo que percebia esta sintonização, instintiva e indiscutível, com ambientes

históricos contendo condições de vida que ele verificava estar revivendo, agora, de

maneira inversa, contraditória, como uma compensação. Por que esta

sintonização, esta atração de simpatia justamente por aqueles ambientes, e como

nunca esta correspondência de posições contrárias? Não podia cientificamente

negar, "a priori", a possibilidade desta impregnação vibratória das coisas, nem a

sua atual irradiação, após a saturação no passado, nem a possibilidade de um

hiper-sensitivo, como ele, pesquisar essas correntes vibratórias, registrá-las e com

elas sintonizar-se, fosse por concordância ou dissonância, simpatia ou antipatia,

segundo a natureza das próprias ondas psíquicas. As últimas descobertas

científicas o induziam a admitir a possibilidade de estabelecer relações com ondas

longínquas, a nova ciência das vibrações o levava justamente a tais conclusões.

(...)

Ele era, portanto, um investigador nato. E queria resolver não só o problema do

conhecimento sem sentido universal, mas sobretudo no sentido particular do seu

próprio destino.

(História de um homem, cap.V, p.52)

Esta é a Igreja de São Rufino, local inspirador e de início da entrega de Francisco à graça

divina. Para conhecê-la, basta seguir.

Um projeto do