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Roteiro do Trabalho do Campo Região Metropolitana de São Paulo 25/08/2012 Horário Atividade 7:30 Saída da Unesp/Campus de Rio Claro (portaria do Bela Vista, Av.24-A, 1515) 7:45 Passagem pelo Hotel Líder (Rua 3, esquina com Av. 2) 11:00 12:30 Chegada em Guarulhos Visita guiada por moradores ao distrito do Cabuçú 12:30 14:00 Almoço 14:00 16:30 Caminhada até o Pico Pelado observação da ocupação urbana da área (trilha de ± 3km) 16:30 Retorno a Rio Claro Informações importantes 1. Parte da trilha para o Pico Pelado (cerca de 3 km) é íngreme. Será necessário o uso de vestimenta (calça comprida), chapéu ou boné e calçados (tênis) adequados. 2. Levar água e lanche para o almoço, pois o local tem limitada infraestrutura de serviços. Organizadores Maria Isabel Castreghini de Freitas Andréa Aparecida Zacharias Roberto Braga Professores Convidados Marcos Timóteo Rodrigues de Souza Rodrigo Maia Janete Ribeiro de Souza Apoio Guilherme Atauri Maurer Cibele Cristina da Silva

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Roteiro do Trabalho do Campo Região Metropolitana de São Paulo – 25/08/2012

Horário Atividade

7:30 Saída da Unesp/Campus de Rio Claro (portaria do Bela

Vista, Av.24-A, 1515)

7:45 Passagem pelo Hotel Líder

(Rua 3, esquina com Av. 2)

11:00 – 12:30 Chegada em Guarulhos – Visita guiada por moradores

ao distrito do Cabuçú

12:30 – 14:00 Almoço

14:00 – 16:30 Caminhada até o Pico Pelado – observação da ocupação

urbana da área (trilha de ± 3km)

16:30 Retorno a Rio Claro

Informações importantes

1. Parte da trilha para o Pico Pelado (cerca de 3 km)

é íngreme. Será necessário o uso de vestimenta

(calça comprida), chapéu ou boné e calçados

(tênis) adequados.

2. Levar água e lanche para o almoço, pois o local

tem limitada infraestrutura de serviços.

Organizadores

Maria Isabel Castreghini de Freitas

Andréa Aparecida Zacharias

Roberto Braga

Professores Convidados

Marcos Timóteo Rodrigues de Souza

Rodrigo Maia

Janete Ribeiro de Souza

Apoio Guilherme Atauri Maurer

Cibele Cristina da Silva

CARACTERÍSTICAS DA ÁREA

Cabuçu é um distrito de Guarulhos, com área dividida em seis bairros:

- Recreio São Jorge

- Novo Recreio

- Chácaras Cabuçu

- Jardim Monte Alto

- Jardim Siqueira Bueno

- Jardim dos Cardosos

O distrito possui um dos núcleos de entrada ao Parque Estadual da Cantareira (Núcleo

Cabuçu), uma das maiores florestas urbanas do mundo, reserva da biosfera segundo a

Unesco, localizada a 10 Km do centro da capital.

Atualmente é uma região em expansão, com problemas ambientais e sociais decorrentes

do alto índice de desmatamento e da grande quantidade de moradias em áreas de risco.

Assim como na maior parte da periferia da cidade, o Cabuçu possui poucos espaços

reservados ao esporte e a cultura. Sendo que, a maior parte deles é iniciativa da própria

população do distrito. No contexto da Região Metropolitana de São Paulo é considerada

uma região com um baixa criminalidade, embora registre altos níveis de crianças fora

das escolas.

Principais vias da região:

- Avenida Palmira Rossi

- Estrada David Correa

- Rua Paquita

- Avenida Pedro de Souza Lopes

Transporte Público: Na Região atualmente circulam 7 linhas de ônibus municipais e 2

linhas de ônibus intermunicipais , ligando o bairro ao Centro , Vila Rio de Janeiro , Vila

Galvão , Shopping Internacional de Guarulhos e Taboão ( Municipais ) , Tucuruvi e

Tiete ( Intermunicipais ).

(Fonte: Wikipedia)

O DISTRITO DE CABUÇU NA GRANDE SÃO PAULO

Ampliação:

(Fonte: Google Maps)

IMAGENS ILUSTRATIVAS DA REGIÃO A SER VISITADA

Vista de Guarulhos a partir do Pico Pelado, Cabuçu (R. BRAGA, 2011)

Ocupação da Serra da Cantareira (R. BRAGA, 2011)

Subida ao Pico Pelado (R. BRAGA, 2011)

Fonte: Registros fotográficos realizados pelo Prof. Dr. Roberto Braga em excursão

didática de 2011.

TEXTOS DE CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO DE

GUARULHOS (SP) E DO DISTRITO DE CABUÇU

III Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Geociências, 2009

DEGRADAÇÃO DO MEIO FÍSICO EM LOTEAMENTOS NOS BAIRROS

INVERNADA, FORTALEZA E ÁGUA AZUL,COMO ESTUDOS DE CASOS DA

EXPANSÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE GUARULHOS (SP)

MARISA VIANNA MESQUITA

E-mail: [email protected]

Orientador(a): Dr. Antonio Roberto Saad

Co-Orientador: Dr. Antonio Manoel dos Santos Oliveira

O município de Guarulhos encontra-se a nordeste da Região Metropolitana de São Paulo (SP),

sendo um dos 39 municípios localizado no principal eixo de ligação São Paulo/Rio de Janeiro.

Distante 17 km da capital, Guarulhos possui 47 bairros, com uma área de

aproximadamente de 317 km2, abrigando atualmente cerca de 1.300.000 habitantes. Os

principais acessos rodoviários são: Rodovia Fernão Dias (BR-381); Rodovia Presidente Dutra

(BR-116) e Ayrton Senna da Silva (SP-70) que por suas condições geográficas e de fácil

acesso, favorecem um crescimento desordenado da área urbana. No município observa-se um

substrato rochoso de terrenos cristalinos (Pré-Cambrianos) presentes na região norte em

relevos de morros e montanhas e ao sul, terrenos sedimentares (Terciários e Quaternários)

presentes nas colinas, morrotes e nas planícies aluvionares. Guarulhos de acordo com sua

história passou por vários ciclos de uso e ocupação como a fase da extração de ouro e,

posteriormente, o da argila, brita e areia. Em seguida, o ciclo da agricultura e da pecuária e por

fim o industrial. Atualmente o município deixa de ser uma cidade industrial passando a ser uma

cidade de serviços. Desse processo industrial e da expansão urbana é que resultou a quantidade

de problemas ambientais e sociais no município tais como: processos erosivos, desmatamentos,

água e solo contaminados e poluição atmosférica. O presente estudo visa demonstrar as

mudanças ocorridas na ocupação do solo na sua porção norte onde pode-se verificar um avanço

de áreas urbanas representadas pelos bairros Invernada, Fortaleza e Água Azul. Todos esses

bairros possuem crescimento desordenado muitas vezes com predominância de população

de baixa renda e deficiência de infraestrutura urbana, mas que estão em processo de expansão.

Os bairros analisados foram criados ao longo do tempo como pequenos centros urbanizados

que expandiram através de diferentes mudanças e interesses como o processo de mineração,

obras civis de grande porte, além da necessidade da criação de áreas para preservação de

mananciais e de moradia. O estudo pretende diagnosticar e verificar, no Município de

Guarulhos, que a expansão urbana no setor norte vem resultando na manifestação de

problemas de dinâmica superficial e de degradação ambiental, mais importante do que seu

setor ao sul, mais antigo e com áreas urbanas já consolidadas.

Palavras-Chave: Uso e ocupação do solo; Município de Guarulhos; dinâmica superficial.

Dados Acadêmicos: Nível: Doutorado; Título do Projeto: Degradação do meio físico em

loteamentos nos bairros Invernada, Fortaleza e Água Azul, como estudos de casos da

expansão urbana do Município de Guarulhos (SP); Linha de Pesquisa: Planejamento e gestão

do meio físico; Data de entrada na pós-graduação: 30/06/2006; N° de créditos concluídos: 0;

Exame de qualificação: Não; Data prevista para defesa: 31/01/2011; Possui bolsa: Não.

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Referencia Bibliográfica

Google Maps - Disponível em: <www.maps.google.com> Acessado em: 21/08/2012

Wikipedia - Disponível em: <www.wikipedia.com.br> Acessado em: 21/08/2012

OrganizadorElmi El Hage Omar

AutoresAdriana de Araújo Aleixo | Antonio Benedito Prezia | Antonio Manoel dos Santos Oliveira | Beatriz de Aguiar Hanssen | Caetano Juliani | Edson José de Barros | Elton Soares de Oliveira | Gláucia Garcia de C. Guilherme Bagattini | José Elmano de M. Pinheiro | Marcio Roberto M de Andrade | Maria Claudia Viera Fernandes | Sandra Emi Sato | Silvia Piedade de Moraes | Vagner Carvalheiro Porto | William de Queiroz

GUARULHOSTEM HISTÓRIAQUESTÕES SOBRE HISTÓRIA NATURAL, SOCIAL E CULTURAL

1ª EDIÇÃO

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Expansão Urbana e Problemas Geoambientaisdo Uso do Solo em Guarulhos

Marcio Roberto M. de AndradeAntonio Manoel dos Santos Oliveira

A metrópole de São Paulo é considerada a região mais desenvolvida do Brasil e, ao mesmo tempo, a mais populosa. Guarulhos entre os 39 municípios, apresen-tava um crescimento populacional no fi nal do século XX superior a taxa média da região e da capital do Estado de São Paulo, fenômeno este que ainda se mani-festa através de uma das mais elevadas taxas de crescimento da região na primeira década do século XXI.

No Brasil, a grande concentração habitacional em áreas reduzidas é um aspecto em destaque. Conforme Ferraz (1991), este fenômeno resulta de vários fatores, alguns de natureza regional, denunciando uma tendência mundial de migração de massa humana em direção aos centros urbanos, resultando no gigantismo das cidades com toda uma gama imensa de problemas.

Analisando a urbanização no Brasil como um fato, Santos (1993) observa que há na região sudeste brasileira uma signifi cativa mecanização do espaço, desde a segunda metade do século passado, a serviço da expansão econômica, o que desde então contribui para a divisão do trabalho mais acentuada e gera uma tendência à urbanização.

Prandini et al.(1995), a expansão da urbanização na Região Metropolitana de São Paulo se dá sob a ótica quase que exclusiva das razões especulativas de mercado, que vêm ignorando as reais potencialidades e limitações das áreas a serem ocupadas. Isto acaba determinando a ocupação inadequada de regiões e locais extremamente problemáticos, tais como áreas propícias ao desenvolvimento de escorregamentos ou erosões intensas, vertentes sujeitas à eclosão de boçorocas, áreas sujeitas a inundações, terrenos capazes de desenvolver subsidências e colapsos, áreas com nível d’água raso, etc.

O Município de Guarulhos apresenta um cenário geomorfológico contras-tante sobre o qual se estabelece um processo de franca expansão urbana poten-cializada especialmente pelo seu desenvolvimento industrial e de serviços e uma ampla malha viária que de forma constante se amplia na região como um todo..

A construção do espaço urbano, especialmente nas grandes metrópoles, se faz pela ocupação de glebas por tipos de uso com fi nalidades residenciais, comerciais, industriais e de serviços. A vegetação nativa é suprimida para dar lugar a estas ati-vidades e os serviços da biosfera são substituídos por uma dinâmica de processos notadamente oposta. O melhor exemplo é a mudança no sistema formado pela infi ltração e escoamento das águas no solo.

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O parcelamento do solo vai se concretizar, na maioria dos casos, pela execução de expressivas alterações na geometria original dos terrenos para a abertura de loteamentos e eixos viários, levando a verdadeiras intervenções de engenharia civil através de obras de terra pela execução de cortes e aterros de grandes dimensões, práticas de terraplenagem que necessitam, em grande parte das vezes, de áreas fonte conhecidas como áreas de empréstimo, para a retirada e aproveitamento de terras.

Este processo de aplainamento do relevo para ocupação urbana deve ser obri-gatoriamente considerado em qualquer ação de planejamento do uso e ocupação do solo. O sistema urbano precisa ser analisado sob o enfoque da interação entre os fatores naturais e as ações humanas dirigidas ao uso e ocupação das terras, de-vendo ainda considerar a direção do seu crescimento e a gradativa saturação dos núcleos urbanos.

Analisar um ambiente equivale a desmembrá-lo em termos de suas partes componentes e apreender as suas funções internas e externas, com consequente criação de um conjunto integrado de informações representativas (SILVA & SOUZA,1988).

Problemas Geotécnicos da Urbanização em Guarulhos

As alterações potenciais do meio físico por processos tecnológicos precisam ser previstas no caso de projetos urbanísticos e na implantação de grandes infra-estruturas (IPT, 1992). A organização do território exige um diagnóstico preli-minar destinado a esclarecer a escolha do tipo de ocupação do solo compatível às limitações do meio (TRICART, 1977). Este conceito é fundamental para se pla-nejar o desenvolvimento territorial de forma sustentável.

A urbanização observada em Guarulhos traz no seu bojo um histórico alar-mante de problemas geotécnicos onde são marcantes as conseqüências econômicas e impactos ambientais resultantes de loteamentos e condomínios com grandes dimensões, implantados sem os devidos critérios técnicos e em terrenos que apre-sentam condições de fragilidade natural a processos de degradação.

Na periferia da urbanização mais consolidada, onde os remanescentes de terra são mais desvalorizados e há mais oferta de terrenos, pode-se observar a predo-minância de loteamentos ou ocupações implantadas em glebas com topografi a acidentada. Em muitos casos estas ocupações vão confi gurar verdadeiras áreas de risco geológico à erosão e aos escorregamentos.

Principais problemas geológicos/geotécnicos de ordem natural induzidos, resultantes da prática da terraplenagem aplicada ao parcelamento do solo e assentamento urbano, nas condições reinantes no Município de Guarulhos (adaptado de ANDRADE, 2001a).

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Fica evidente que o desenvolvimento econômico de Guarulhos vem ocasio-nando uma urbanização inadequada sobre terras com fortes limitações geotéc-nicas com consequências ambientais graves que marcam o território do município. Erosão intensa, escorregamentos, assoreamentos e enchentes são os fenômenos encontrados, e assim a formação de paisagens degradadas impedem a regeneração natural da Mata Atlântica.

O Relevo na Paisagem de Guarulhos

O relevo do território de Guarulhos é fortemente condicionado pelo substrato geológico da mesma forma como é marcante em todo o Planalto Atlântico que

“com sua paisagem de morros mamelonares e pequenos maciços montanhosos, acidentados e irregulares, criaram sérios problemas para localização das aglome-rações urbanas” (AB’ SABER, 2004). Este fato deve-se a uma estrutura geológica que refl ete um intenso tectonismo com registros que vão desde há 1,6 B.a. (bilhões de anos) no mesoproterozóico (JULIANI, 1993) até cerca de 54 M.a. (milhões de anos) no eoceno-oligoceno (RICCOMINI, 1989).

O relevo de colinas ocorre preferencialmente na região sul, associado aos sedi-mentos Terciários da Bacia de São Paulo, apresentando, por vezes e de forma res-trita, associação com as rochas cristalinas (gnaisse, xisto, fi lito e metanfi bolito).

O mesmo ocorre com o relevo de morrotes, destacando-se a sua presença na transição para o relevo de morros em unidades geológicas cristalinas a leste. Destaca-se ainda a presença de morrotes no extremo sudeste, associados a sedi-mentos Terciários e gnaisses.

O relevo de morros baixos e altos, e de serras, encontram-se sempre asso-ciados ao substrato de origem cristalina, presente na região norte do município. As cristas das serras encontram-se associadas a rocha granítica (Serra do Itaberaba) e a quartzitos e gnaisses (Serra da Pirucaia).

Os morros baixos ocorrem especialmente no alto curso do Rio Cabuçu de Cima (oeste) e nas adjacências do Rio Jaguari (leste). Os morros altos ocorrem

Principais problemas Geológicos/ GeotécnicosProblemas GeológicoGeotécnicos

Condicionantes do meio físico

Erosão e Escorregamentos Forma e declividade das vertentes e tipologia do hori-zonte C pedológico

Assoreamento 47 Áreas localizadas nas cotas mais baixas dos vales principais km2

Recalques e Fundações Presença de Solos Hidromórfi cos Húmicos associados aos Depósitos de Planície Aluvionar

Escavação em obras Presença de Blocos de Rocha associados a Litologia

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amplamente distribuídos numa faixa de leste a oeste na zona norte, associado aos morros baixos e serras.

Degradação Física do Ambiente em Guarulhos

Entre os problemas geoambientais, a degradação do solo pela supressão do solo fértil e pela erosão, especialmente de aterros efetuados com solos siltosos, despontam como o fenômeno mais grave, responsável pela maior proporção dos volumes de sedimentos que assoreiam os cursos d’água e agravam as enchentes urbanas, em muitos casos ocorrendo antes ou após os escorregamentos.

Os solos de alteração de rochas (horizontes C pedológico) do Pré-Cambriano destacam-se por apresentar altos índices de erodibilidade comparados aos sedimentos da Bacia de São Paulo (SANTOS & NAKAZAWA, 1992; ANDRADE, 1999).

Sobre estas rochas cristalinas, amplas áreas são intensamente terraplenadas para a implantação de loteamentos residenciais desconsiderando técnicas que tais condições exigem, especialmente em zonas de declives mais acentuados, bem como em cabeceiras e linhas de drenagem natural. Os solos de alteração de rocha fi cam expostos as chuvas e aos ventos, com o agravante de não apresentarem propriedades agronômicas que permitam a colonização ou plantio de espécies vegetais.

A composição granulométrica dos diferentes solos de alteração de rocha cor-respondente a cada litologia presente, permite analisar o aspecto erodibilidade. É marcante a diferença entre os resultados relativos aos sedimentos da Bacia de São Paulo (Terciário) e aos solos de alteração das rochas cristalinas (Pré-Cambriana),

Classifi cação Morfológica do relevo em Guarulhos Unidade de Relevo Características

Planície Predominam declividades de até 5% e amplitudes inferiores a 10 metros. Canais de drenagem sinuosos quando não retifi cados.

Colinas Predominam declividades de até 30% e amplitudes topográfi cas de até 40 metros. Padrão dendrítico a sub-paralelo com média densidade de drenagem

Morrotes Predominam declividades de até 30% e amplitudes topográfi cas de até 60 metros. Padrão dendrítico a sub-paralelo com média desidade de drenagem

Morros Baixos Predominam declividades com até 45% e amplitudes de até 100 metros. Padrão dendrítico com alta densidade de drenagem

Morros Altos Predominam declividades superiores a 45% e amplitudes de até 150 metros. Padrão dendrítico com alta densidade de drenagem

Serras Predominam declividades superiores a 45% e amplitudes superiores a 150 metros. Padrão dendrítico com alta densidade de drenagem

(ANDRADE, 1999, com base em Ponçano et al., 1979)

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permitindo agrupá-los em dois conjuntos distintos, terrenos cristalinos e terrenos Terciários, que podem apresentar diferenças de erodibilidade da ordem de

uma centena de vezes.Os assoreamentos em fundos de vale, uma das causas principais das enchentes

urbanas, são decorrência direta da erosão. Estudo realizado em área de ocorrência de rochas cristalinas (fi litos) na microbacia do Pau d’alho no bairro do Cabuçu (SOUZA, 2007), demonstra que a taxa de produção específi ca de sedimentos pode alcançar valores cerca de 20 vezes superiores entre a fase de ocupação urbana (im-plantação de loteamentos) em comparação com a fase de ocupação rural (agricul-tura, pastagem, etc.),

Pode-se concluir destes resultados, que os solos de alteração de rocha crista-lina formam um conjunto muito erodível, diferentemente da maioria dos sedi-mentos Terciários da Bacia de São Paulo que podem ser classifi cados como pouco erodíveis. Assim em Guarulhos encontram-se (ANDRADE, 2001a):

Mapa do Relevo em Guarulhos (Laboratório de Geociência da UnG)

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a) Os solos siltosos associados às rochas cristalinas (solo residual saprolí-tico), distribuem-se preferencialmente na região norte do município, numa faixa ampla que abrange desde a porção oeste até a nordeste, destacando-se nos bairros do Cabuçu, Invernada, Bananal, Fortaleza, Capelinha e Aguazul. Afl oram de forma isolada no domínio dos sedimentos Terciários, havendo exposições junto aos fundos de vale na zona central, no bairro da Ponte Grande e de forma mais concentrada no extremo sudeste do território no bairro dos Pimentas e Itaim. Em grande parte ainda ocorrem livre da ocupação urbana que avança;

b) Os solos argilosos associados aos sedimentos Terciários, ocorrem prefe-rencialmente na região sul do município, onde se encontra maior concentração urbana. O limite norte deste conjunto é dado pela Falha do Jaguari, que o separa da região de domínio das rochas cristalinas;

c) Os solos aluviais e hidromórfi cos ocorrem preferencialmente em áreas associadas às várzeas amplas do Rio Tietê e do Rio Baquirivu-Guaçu, onde se encontra uma expressiva ocupação industrial, complementada com o aeroporto internacional. Secundariamente, ocorrem em áreas mais restritas associadas es-pecialmente às várzeas do Rio Cabuçu de Cima, Ribeirão das Lavras, Ribeirão Guaraçau e Rio Jaguari.

As características mais favoráveis às obras de terraplenagem para fi ns de as-sentamento urbano, estão presentes nos solos argilosos em função da sua menor erodibilidade e melhor compactação. Alguns problemas presentes devem-se es-pecialmente à existência de argilas expansivas que podem, em alguns casos, oca-sionar movimentos de massa (empastilhamento e escorregamento) e à ocorrência de fácies franco-argilo-arenosa mais erodível.

Por outro lado, as características mais desfavoráveis para a prática da terra-plenagem estão presentes no conjunto formado pelos solos derivados de rochas cristalinas, especialmente pela sua alta erodibilidade, difi culdade de compactação (micáceo, pouco argiloso e siltoso), problemas de escavação quando ocorrem blocos, desplacamento pelas fraturas e foliação, entre outras.

É percebido que as características de alteração intensa e profunda associada à incoerência dos solos de alteração (saprolítico) das rochas do tipo gnaisse, granito e diorito, são fatores que agravam o efeito da erosão.

Noutro sentido, as características de alteração e coerência observadas para os sedimentos Terciários, assim como para os fi litos e quartzitos, classifi cadas como medianas, revelam maior resistência in situ aos agentes erosivos, o que não vale quando o material é desfragmentado, passando a imperar as características textu-rais da granulometria.

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Planejamento Conservacionista da Região Norte de Guarulhos

A prática da terraplenagem desponta como um dos principais condicionantes dos impactos e degradações ambientais no meio físico ocasionados pela ocupação urbana em Guarulhos. A supressão do solo superfi cial fértil, a erosão intensa e deslizamento de solos, rochas e aterros, o assoreamento de canais e as enchentes, apresentam consequências graves à população, e formam o conjunto de efeitos resultantes de práticas inadequadas de desmatamento e movimentação de terra.

Dentre os fatores de ordem natural e física que regem estes fenômenos, está a constituição dos materiais manipulados na terraplenagem, ou seja os solos e rochas, e as formas que o relevo possui, que é responsável pela intensidade destes processos (ANDRADE, 2001b).

A imagem de satélite mostra o contraste entre a área de ocupação urbana, a sul, impermeabilizando o solo, e a área que ainda apresenta cobertura vegetal, a norte, propiciando a presença dos serviços ambientais da biosfera, como a provisão de água, para o abastecimento; a regulação do escoamento de água; o conforto tér-mico e a redução da poluição.

Imagem de satélite da cidade de Guarulhos

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Entretanto, a expansão urbana dirige-se para norte onde ocorrem os terrenos menos aptos à ocupação, devido ao relevo de maiores amplitudes e declividades, de morros e montanhas, em terrenos cristalinos, cujos solos são mais suscetíveis à erosão e a áreas de risco a escorregamentos, à produção de sedimentos e inten-sifi cação de enchentes.

Assim, o impacto ambiental da expansão urbana é duplo, pois, além da perda dos serviços da biosfera, proporcionados pela cobertura vegetal, como a perda de conforto térmico, perda de mananciais, etc; sua forma inadequada de avançar sobre os terrenos vem gerando os processos geológicos acima referidos, com con-seqüências nefastas sobre o bem estar humano. Além disso, todos estes processos terão conseqüências sobre a área urbanizada, pois esta área a sul encontra-se a jusante da área norte, conforme a disposição das bacias.

Desta forma, a ocupação inadequada nas cabeceiras de drenagem promoverá, além da perda dos mananciais e nascentes, maiores escoamentos de água a jusante. Em condições inadequadas de ocupação, devem ser esperadas enchentes maiores e mais freqüentes nas áreas urbanas a sul. Erosões e escorregamentos constituirão fontes de sedimentos importantes para assorear córregos e rios na área urbanizada intensifi cando as enchentes, caso não sejam promovidas orientações para que o uso e ocupação do solo se realizem de forma adequada às limitações geotécnicas dos novos terrenos que o município vem ocupando.

O planejamento do uso do solo baseado nas características geotécnicas e sob um enfoque conservacionista é condição fundamental para a manutenção dos serviços da biosfera na região norte do município de Guarulhos.

Neste sentido, a criação de Unidades de Conservação de Uso Sustentável como são organizadas no Brasil, em especial as Áreas de Proteção Ambiental, corres-ponde a uma política pública voltada à racionalização das atividades sócio-econô-micas sob uma perspectiva ecológica.

As regiões do Cabuçu, Tanque Grande, Capelinha e Morro Grande, situadas a norte de Guarulhos dependem deste conceito para propiciar condições favoráveis à prática de uma ocupação adequada, com a preservação dos mais importantes mananciais locais de abastecimento de Guarulhos, assumindo medidas e ações necessárias para a prevenção dos processos geológicos referidos e manutenção de serviços ambientais fundamentais ao bem estar da comunidade guarulhense.

Tais medidas podem corresponder não só a criação de novas unidades de con-servação como também e, sobretudo, à orientação de uma ocupação adequada aos condicionantes das novas áreas de expansão da cidade de Guarulhos.

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BIBLIOGRAFIA

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EXPANSÃO URBANA E PROBLEMAS GEOAMBIENTAIS DO USO DO SOLO EM GUARULHOS

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Considerações Finais

Ao enfatizar a periferia na metrópole atual, procurou-se destacar, por extensão, o

aprofundamento da desigualdade que o atual processo de metropolização engendra.

O bairro do Cabuçu passou por profundas transformações que o levaram a se

tornar mais uma periferia que apresenta os conteúdos já muito conhecidos tanto a partir

do processo de urbanização, quanto com a intensificação do processo de

metropolização.

A moderna propriedade do solo continua a se manter enquanto alicerce desse

processo.

No entanto, o percurso verificado desde o início do processo de urbanização a

partir da cidade de São Paulo, foi apresentando novos conteúdos com o passar do

tempo. Se, na primeira metade do século XX, vigorou, primeiro, a formação dos bairros

operários e, em seguida se desenvolveu o processo de periferização, necessário ao

processo produtivo capitalista, no sentido de viabilizar a reprodução do trabalho,

ocorrem alterações, que apresentam seus primeiros sinais a partir da segunda metade do

século XX.

É a partir da década de 70 que se verifica uma alteração nos fluxos migratórios

então vigentes no Brasil. A forte migração do Nordeste em direção ao Sudeste começa a

enfraquecer.

No entanto, neste período, as periferias da agora metrópole de São Paulo já se

encontravam significativamente instaladas neste território.

Com o galopante processo de especulação imobiliária, o crescimento das

periferias não cessou. No entanto, as alterações ocorridas na reprodução do capital na

escala planetária, viriam provocar alterações no conteúdo do crescimento destas

periferias.

A reprodução do trabalho ganha novos conteúdos na metrópole, tanto a partir

das alterações ocorridas a partir da reestruturação produtiva do capital, quanto após o

estágio avançado desse mesmo processo.

Aliás, essa reestruturação teve um papel preponderante no crescimento da

população sobrante. Dessa maneira, a reprodução do trabalho na metrópole passa a ser

constituída (aqui levando-se em conta a sua relação com as periferias da metrópole)

tanto pelo exército de reserva, quanto por esta população sobrante.

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Em função dessa mudança, que marca a segunda metade do século XX, as

periferias na metrópole de São Paulo surgem muito mais a partir da mobilidade desse

contingente (exército de reserva-população sobrante) no território da metrópole que, por

sua vez, não cessa de ampliar-se.

Foi nesse sentido que se discutiu a reposição da periferia enquanto uma

expressão da atual etapa do processo de metropolização.

Fica evidenciado que essa reposição da periferia não responde a muitas das

questões que envolvem a complexidade que marca essa etapa do processo de

metropolização.

No entanto, procurou-se, mais especificamente, com essa argumentação,

enfatizar as influências que parte do capital especulativo vêm provocando no território

da metrópole a partir de seu direcionamento para um processo produtivo industrial em

específico: a indústria da construção civil.

A atuação mais efetiva deste capital especulativo no núcleo da metrópole não

influencia somente o próprio, já que a metrópole é um espaço marcado pela

homogeneidade.

No entanto, e lembrando Lefebvre, ao mesmo tempo em que a metrópole é um

espaço homogêneo, é também um espaço formado por guetos. Essa condição ocorre

porque os mecanismos que interferem decisivamente na reprodução desse espaço são

profundamente marcados pela contradição.

Logo, se a metrópole é marcada por essa profunda contradição, torna-se

necessário destacar que os resultados desse mecanismo (e levando-se em conta a sua

inscrição no espaço) são, ao mesmo tempo, homogêneos e heterogêneos.

Os diferentes lugares da metrópole carregam essa ambigüidade. Isso se deve ao

fato da contradição implícita em seu processo. Um exemplo ilustrativo, e que se

relaciona diretamente à condição do bairro do Cabuçu, é o crescimento dessa população

sobrante, que contraditóriamente acaba sendo inserida na reprodução ampliada do

capitalismo.

Portanto, essa população sobrante e o próprio exército de reserva, ainda

encontram na metrópole as estratégias de sobrevivência que, entretanto, significam, para

eles, um aprofundamento da sua condição de precariedade.

Conclui-se que, dessa maneira, as promessas da modernidade entram na

condição de, cada vez mais, permanecerem na condição de promessas.