Rozenfeld, Cibele (2007). Crenças Sobre Uma Língua e Cultura-Alvo (Alemão) Em Dimensão...

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 259 Rozenfeld, C./Viana, N.  O desestranhame nto Pandaemonium, São Paulo, n. 17, Julho/2011, p. 259-288  www.fflch.usp.br/dlm/alemao/pandaemoniumgermanicum O desestranhamento em relação ao alemão na aprendizagem do idioma: um processo de aproximação ao “outro”  sob a perspectiva da competência intercultural The destrangement  in relation to the German language in the foreign language learning process: approximation to the “other” under the perspective of the Intercultural Competence Cibele Cecilio de Faria Rozenfeld 1 Nelson Viana 2 Abstract:  This article aims to approach, under a critical perspective, images about German language and their speakers, presented by Brazilian university students interested in or engaged in learning this language in the first stage of studies. The purpose is to deal with evidences of the occurrence of stereotypical images and to discuss their implications in/for the teaching- learning process, aiming with this study to show the importance of considering and establishing as a relevant goal in the teaching of German, the necessity of a destrangement  route or  period, through a methodological approach aimed at helping the students in the process of developing intercultural competence. Such discussions are founded in theoretical conceptions related to t he notions of “other” and “self”, intercultural competence, intercultural approach, as well as in results obtained through an investigation conducted within the field of foreign language (German) learning. Keywords: images about German language, destrangement , intercultural competence. 1  Doutora pelo programa de Linguística e Língua Portuguesa da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual de São Paulo, UNESP, campus Araraquara e Mestre na área de Linguística: Ensino de Línguas, pela Universidade Federal d e São Carlos. ([email protected]) 2  Professor do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística (linha de  pesquisa: ensino de línguas) da Universidade Federal de São Carlos.  Doutor em Linguística Aplicada: Ensino de Língua Estrangeira (UFMG) e Mestre em Linguística Aplicada: Ensino/Aprendizagem de Segunda Língua e Língua Estrangeira (Unicamp). ([email protected])

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Social Representations and Langauge Education

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    O desestranhamento em relao ao alemo na

    aprendizagem do idioma: um processo de

    aproximao ao outro sob a perspectiva da competncia intercultural

    The destrangement in relation to the German language in the foreign language learning

    process: approximation to the other under the perspective of the Intercultural

    Competence

    Cibele Cecilio de Faria Rozenfeld1

    Nelson Viana2

    Abstract: This article aims to approach, under a critical perspective, images about German language and their speakers, presented by Brazilian university students interested in or engaged

    in learning this language in the first stage of studies. The purpose is to deal with evidences of

    the occurrence of stereotypical images and to discuss their implications in/for the teaching-

    learning process, aiming with this study to show the importance of considering and establishing

    as a relevant goal in the teaching of German, the necessity of a destrangement route or period, through a methodological approach aimed at helping the students in the process of

    developing intercultural competence. Such discussions are founded in theoretical conceptions

    related to the notions of other and self, intercultural competence, intercultural approach, as well as in results obtained through an investigation conducted within the field of foreign

    language (German) learning.

    Keywords: images about German language, destrangement, intercultural competence.

    1 Doutora pelo programa de Lingustica e Lngua Portuguesa da Faculdade de Cincias e Letras da

    Universidade Estadual de So Paulo, UNESP, campus Araraquara e Mestre na rea de Lingustica:

    Ensino de Lnguas, pela Universidade Federal de So Carlos. ([email protected]) 2 Professor do Departamento de Letras e do Programa de Ps-Graduao em Lingustica (linha de

    pesquisa: ensino de lnguas) da Universidade Federal de So Carlos. Doutor em Lingustica Aplicada: Ensino de Lngua Estrangeira (UFMG) e Mestre em Lingustica Aplicada: Ensino/Aprendizagem de

    Segunda Lngua e Lngua Estrangeira (Unicamp). ([email protected])

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    Resumo: Sob uma perspectiva crtica, so abordadas neste artigo, imagens sobre a lngua alem

    e seus falantes, apresentadas por estudantes universitrios brasileiros, interessados em aprender

    esse idioma ou engajados em estgio inicial de sua aprendizagem. O propsito discutir

    evidncias de imagens estereotipadas, bem como refletir sobre possveis decorrncias dessas

    imagens no/para o processo de ensino-aprendizagem da lngua, buscando, com isso, apontar a

    importncia de se considerar como objetivo relevante no ensino de alemo, a necessidade de um

    percurso de desestranhamento do idioma, por meio de enfoque metodolgico orientado para auxiliar os aprendizes no processo de desenvolvimento de competncia intercultural. Tais

    reflexes tm como base pressupostos tericos como as noes de outro e de prprio, as

    concepes de competncia intercultural e de ensino intercultural, e resultados obtidos em

    pesquisa desenvolvida no campo de ensino e aprendizagem de lngua estrangeira (alemo).

    Palavras-Chave: imagens sobre a lngua alem, desestranhamento, competncia intercultural.

    1. Introduo

    Podemos observar na sociedade contempornea, caracterizada fortemente por

    tecnologias que possibilitam a reduo de distncias, o rompimento de barreiras de

    tempo e a intensificao de contatos entre membros de diferentes culturas, um nmero

    cada vez maior de pessoas que buscam o conhecimento de lngua(s) estrangeira(s).

    Nota-se que tal fato impulsionado, entre outras razes, por demanda do mercado de

    trabalho atual, que exige profissionais capazes de circular sem dificuldades entre

    fronteiras, bem como por necessidade de entender o outro em sua complexidade.

    O ponto de partida da discusso que apresentamos neste trabalho o fato de que

    imagens iniciais da lngua e cultura estrangeira podem exercer forte influncia no

    processo de ensino e aprendizagem. Como postula ALMEIDA FILHO, a lngua

    estrangeira pode significar lngua dos outros, de estranhos, de brbaros, de

    dominadores, ou lngua extica para os alunos (2008:11), fato sobre o qual o professor

    deve refletir.

    Dentre as pessoas que buscam a aprendizagem de uma Lngua Estrangeira (LE)

    comum encontrarmos aquelas que possuem imagens negativas relativas lngua

    alem, originadas por sua sonoridade, frequentemente referida como estranha ou

    rspida; por sua grafia, apontada como impossvel; ou relativas ao povo,

    considerado em geral srio, frio (cf. ROZENFELD, 2007). Como resultado dessas

    caracterizaes, muitas dessas pessoas optam pelo estudo de uma lngua mais fcil,

    menos estranha; outras, entretanto, e em funo de considerarem a importncia da

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    lngua alem em relao a aspectos econmicos, culturais e educacionais, mantm a

    deciso de aprender o idioma e, certamente, adentram/adentraro a sala de aula

    imbudas de tais imagens, fato que poder converter-se em aspecto nocivo

    aprendizagem.

    Em consonncia com essas consideraes, iniciaremos este trabalho tecendo

    algumas reflexes sobre a noo de outro, em relao dicotmica de prprio. Em

    seguida, abordaremos o conceito de competncia intercultural (CI) de acordo com

    estudiosos da rea e relataremos percurso e resultados de pesquisa enfocando imagens

    sobre a lngua alem e sobre o povo a ela relacionado, apresentadas por estudantes

    universitrios na condio de interessados em aprender alemo ou na condio de

    aprendizes desse idioma. Finalizaremos propondo um enfoque orientado pelo/para o

    desenvolvimento da CI como caminho favorvel ao processo de desestranhamento do

    outro, aproximao da cultura-alvo e aprendizagem da lngua.

    Postulamos, com este/neste trabalho, que imagens estereotipadas quanto lngua

    e ao povo alemo so passveis de mudanas, partindo de uma percepo de

    estranhamento e movimentando-se para uma percepo de (relativa) familiaridade (com

    nveis moventes de ajustes) em relao a suas peculiaridades, ou seja, constituindo um

    processo de desestranhamento do outro, como parte do desenvolvimento da

    competncia intercultural.

    2. O prprio e o estranho em LE: uma relao dicotmica

    Levando em considerao o que foi exposto, defendemos que uma maneira de atuar

    favoravelmente no processo de aprendizagem de LE seja rumar em direo melhor

    compreenso do outro, que tambm permite melhor compreenso de si. Para tanto, faz-

    se necessrio, inicialmente, discorrermos sobre os sentidos de outro.

    De forma geral, pode-se afirmar que o outro aquele que se ope ao prprio.

    Existem inmeras marcas apresentadas pelo outro como, por exemplo, outra estatura,

    cor de olhos, forma de vestir, outro nariz, tipo de cabelo, gnero. Para reconhecermos as

    caractersticas da alteridade faz-se necessrio percebermos a distino entre as

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    caractersticas de carter corporal-natural e as de carter scio-cultural (Cf. WEINRICH,

    1998).

    No entanto, as caractersticas naturais corporais, bem como as de carter scio-

    cultural, no necessariamente registram (ou provocam) estranhamento, pois aspectos

    como o vesturio de uma pessoa, moradia ou sua aparncia podem ser percebidos como

    sinais interessantes que marcam um indivduo ou um grupo. Dessa forma, podemos

    concluir que o outro, no necessariamente, causa estranhamento; no a alteridade que

    marca o estranho.

    Quando pessoas desejam falar umas com as outras, mas no so capazes, por

    falarem lnguas diferentes, a lngua do outro pode se apresentar, num primeiro

    momento, como estranha. Todavia, a lngua estrangeira no tem necessariamente a

    caracterstica do estranho. Na verdade, sabe-se que duas pessoas so capazes de se

    comunicar, mesmo uma no tendo conhecimento da lngua da outra, por meio de gestos,

    de outra lngua estrangeira, do olhar, ou mesmo de um tradutor. A lngua estrangeira

    pode soar familiar e assim, por vezes, apesar de no se ter o conhecimento dela,

    possvel inferirmos sentidos, alguns significados de textos ou discursos. Nessa situao,

    a LE outra, mas no estranha.

    Entretanto, nem sempre isso ocorre e, dependendo de variveis que caracterizam

    determinada lngua ou determinado povo, o resultado ao estrangeiro pode ser a

    percepo de algo estranho.

    A questo central, nesse caso, torna-se, portanto, o estranhamento (Fremdheit).

    O estranho definido pelo tipo de interpretao que se faz do outro como tal; o que

    torna o outro instigante ele como estranho, em relao dialtica ao prprio. (Cf.

    WEINRICH 1998).

    O autor BAUSINGER (1998) afirma que o estranho no objetivo. Ele no parece

    estar em coisas concretas como em paisagens, em objetos; trata-se, na verdade, de uma

    atribuio que nasce no plano subjetivo. Quando afirmamos que algo estranho, isso

    significa que estranho para mim, para o prprio. Por essa razo, o estranho no

    sempre estranho, visto que ele pode se relativizar, suavizar ou se deslocar.

    Muitas pessoas privilegiam o prprio e desvalorizam o que estranho. Esse

    fenmeno j bastante conhecido h muitos anos no campo da sociologia como

    etnocentrismo. Porm, mais recentemente, os estudos como de WIERLACHER et. al.

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    (1998) evidenciaram que o outro no necessariamente o estranho. Interpretamos a

    alteridade segundo princpios individuais, segundo lembranas culturais, medos,

    esperana e damos, assim, um sentido de estranhamento especfico (op.cit., 1998).

    De acordo com DORNBUSCH, Todorov reconhece quatro fases na alteridade e

    compreenso do outro (1998:16-17):

    1. Num primeiro momento, assimila-se o outro a si prprio, existindo apenas uma identidade: eu mesmo. Se, por exemplo, estou interessado em culturas distantes das

    minhas, organizo-as de acordo com a minha prpria. Nessa etapa, o meu conhecimento

    do outro apenas quantitativo e no qualitativo.

    2. Num segundo passo, elimina-se a prpria identidade em benefcio do outro. Eliminando a minha subjetividade, acredito estar sendo objetivo. Aqui, novamente,

    tambm temos uma nica identidade: nesse caso, a do outro. Nesta etapa busco, por

    exemplo, o mximo de informaes sobre a Alemanha. [...], tentando ver o mundo

    atravs de seus olhos.

    3. Nesta fase eu reassumo minha prpria identidade [...]. Concluo que meus valores so to relativos quanto os do outro. A dualidade, aqui, substitui a unidade,

    sendo que o eu estabelece-se como diferente do outro.

    4. Na ltima fase do conhecimento [...] eu no quero nem sou mais capaz de me identificar com o outro, nem posso mais identificar-me comigo mesmo. Em outros

    termos: o conhecimento do outro depende de minha prpria identidade. [...] interagindo

    com o outro, portanto, meus conceitos transformaram-se de uma tal maneira que

    responde por ambos - por mim e pelo outro.

    A autora verificou ainda que Todorov distingue, em trabalho anterior (A conquista da

    Amrica), trs planos de alteridade: o axiolgico, o praxiolgico e o epistmico

    (DORNBUSCH 1998: 17). No primeiro plano, axiolgico, faz-se um julgamento de valor

    acerca do outro, no sentido de: ele bom, ou mau, eu gosto, ou no gosto dele,

    ele inferior, ou igual a mim, correspondendo primeira fase de sua diviso

    anterior. No eixo praxiolgico observa-se uma aproximao ou distanciamento do

    outro, adotando os valores do outro ou priorizando a prpria identidade. Este eixo

    identificado segunda e terceira fase da alteridade citadas anteriormente. No eixo

    epistmico nota-se ou o conhecimento ou a desconsiderao da identidade do outro,

    correspondendo, portanto, quarta fase da alteridade (DORNBUSCH 1998: 17-18).

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    HOGREBE (1998), por sua vez, distingue trs negaes centrais, para se afirmar

    que algo estranho (fremd) 3 a algum: a negao do pertencimento, a negao de um

    conhecimento e a de uma confiabilidade4. O primeiro caso refere-se negao do

    pertencimento de coisas ou pessoas a grupos, classes, pores objetivas. No segundo,

    no se trata de questes objetivas, mas de negao de um conhecimento que o prprio

    falante no possui. No terceiro caso, a referncia pode se dar em trs nveis: algo se

    tornou estranho para mim, algo ainda estranho, ou algo no me mais estranho.

    No caso de lngua estrangeira, o estranhamento, em alguns casos, pode significar

    desafio ao aluno, e por essa razo, pode ter como efeito positivo a motivao para a

    aprendizagem. No entanto, ele pode, por outro lado, levar a um bloqueio ou

    distanciamento do objeto de estudo.

    WEINRICH (1998) afirma que o estranhamento da lngua estrangeira o maior

    inimigo da didtica de LE e, por isso, deve-se desvend-lo muito bem para ser possvel

    combat-lo de forma eficaz.5 O autor focaliza aquele estranhamento que leva ao

    distanciamento, ao afastamento em relao ao outro, bem como a falsos julgamentos

    sobre a alteridade.

    Nesse sentido, compreendemos o desestranhamento6 do estranho como

    objetivo central do ensino intercultural: a desconstruo da interpretao que distancia a

    compreenso do outro.

    Na perspectiva do ensino intercultural busca-se alcanar (maior) sensibilizao e

    tolerncia diante das diferenas, no apenas no campo lingustico, mas tambm frente a

    aspectos da cultura-alvo e a caractersticas de seus membros. Alm disso, busca-se a

    3 So liegen der Behauptung, dass etwas jemandem fremd sei, eigentlich drei Verneinungen zugrunde: die

    Verneinung einer Zugehrigkeit, die Verneinung eines Wissens, die Verneinung einer Vertrautheit [...] HOGREBE (1998:104) 4 As tradues das referncias em lngua estrangeira (alemo ou ingls) deste trabalho foram realizadas

    por ns. 5 Die Fremdheit der Fremdsprachen ist die groe Feindin der Fremdsprachendidaktik und man muss sie

    gut ausprhen, um sie wirkungsvoll bekmpfen zu knnen (WEINRICH, 1998:19). 6 Em relao ao prprio termo, torna-se relevante considerar que, em portugus, o vocbulo

    desestranhamento nos auxilia semanticamente a compreender o processo que se apresenta como central

    neste trabalho. Da mesma forma, em lngua inglesa, o termo destrangement, embora no seja utilizado,

    conforme pudemos verificar, em contextos de ensino-aprendizagem de lnguas, apresenta-se tambm

    adequado, uma vez que indica o sentido de tornar familiar algo estranho. Em alemo (idioma-foco do

    estudo), no encontramos um termo que expressasse, sob uma perspectiva de paralelismo semntico, o

    sentido de desestranhamento, sendo Annherung o que pudemos perceber como mais prximo. Por essa

    razo, propomos sua expresso, nesse idioma, por meio do termo Rckentfremdung, com o propsito de

    buscar construir o sentido reverso de Entfremdung.

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    reflexo acerca da prpria identidade e dos prprios valores, que so tomados por vezes

    como verdades absolutas ou naturais e no como produto da influncia scio-cultural.

    Nos estudos da compreenso do outro, destacamos Alois WIERLACHER (1994,

    1998 e KRUSCHE et al. 1990). O autor foi um dos responsveis pela constituio da

    Interkulturelle Germanistik como parte da cincia da cultura que ocorreu nos anos 80 e

    tambm um dos fundadores, da Gesellschaft fr Interkulturelle Germanistik (GIG), em

    1984, na Alemanha. A GIG uma associao que se dedica realizao de eventos,

    promoo de intercmbios na rea e ao desenvolvimento de estudos que estabeleam

    uma relao entre a prpria cultura e a cultura alheia em relao dialtica (Cf.

    WIERLACHER et al., 1998).

    Diante das premissas apresentadas, defendemos como relevante no ensino de

    alemo estabelecer, entre outros objetivos, o de favorecer ao aprendiz o

    desenvolvimento da capacidade de conhecer melhor a prpria identidade e os seus

    valores e o de promover melhor compreenso do diferente, do outro em relao ao

    prprio.

    No prximo item discutiremos o conceito de competncia intercultural como

    habilidade que possibilita alcanar tais objetivos, bem como sua interface com a

    proposta de ensino intercultural, para, em seguida, discutir a importncia desses

    conceitos no ensino e aprendizagem de alemo.

    3. A competncia e o ensino intercultural: breve discusso

    de conceitos e estudos

    Existe um consenso entre estudiosos contemporneos da rea de ensino de LE quanto

    indissolubilidade das noes de lngua e de cultura, principalmente tomando-se a

    vertente antropolgica e simblica de cultura. Todavia, ainda h poucas pesquisas que

    focalizem a relao lngua/cultura na comunicao/interao (Cf. VIANA, 2003: 86).

    A partir da dcada de 70, observamos no campo da Lngustica Aplicada uma

    maior preocupao com o papel da cultura na e com as diferenas culturais para a

    comunicao em LE. Autores como HYMES (1972), CANALE E SWAIN (1980),

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    WIDDOWSON (1978), KRAMSCH (1993) e, no Brasil, ALMEIDA FILHO (2008), so alguns

    exemplos de estudiosos que contriburam fortemente para o paradigma comunicativo

    vigente at a atualidade, o qual evidencia a relevncia de aspectos culturais da lngua-

    alvo no ensino de LE.

    O conceito de Competncia Intercultural (CI) surge a partir dos pilares da

    relao entre lngua e cultura na interao, bem como das concepes de

    interculturalidade, comunicao intercultural, Interkulturelle Germanistik, todos

    com base terica (e aplicao) tambm nos campos da antropologia, da sociologia, da

    psicologia e da comunicao. Tais conceitos adquirem expressividade no contexto

    contemporneo, marcado pela globalizao, pela rpida troca de informaes e

    intercmbio cultural e evidenciam desafios das/nas interaes culturais.

    VOLKMANN et al. (2002) se referem ao conceito de Competncia Intercultural

    como a nova palavra mgica (neues Zauberwort), pois, por seu intermdio, busca-se

    uma comunicao entre culturas mais pacfica e harmnica7. Segundo os autores, a CI

    definida como:

    [...] a capacidade e habilidade de aprendizes de LE, e de forma geral, de atores

    envolvidos em um encontro intercultural, de conhecer as diferenas entre a cultura-alvo

    e a prpria, de reconhecer essas diferenas em situaes concretas e de desenvolver

    estratgias para lidar de forma compreensiva com os costumes da outra cultura8.

    (VOLKMANN et al., 2002:7)

    Conforme VOLLMUTH (2002) se CI no significa o simples conhecimento, mas tambm

    reflexo sobre o outro, necessrio que se team comparaes com a prpria cultura9

    (2002: 49). Para a autora, isso imprescindvel, para que se evite a formao de

    esteretipos e para que se possa transmitir uma impresso realstica e multifacetada da

    cultura-alvo. Nesse sentido, VOLKMANN et al. (2002:7) compreendem o

    desenvolvimento de CI como um objetivo que vai alm da aquisio dos conhecimentos

    7 Als neues Zauberwort hat...der Begriff interkulturellen Kompetenz Konjunktur..Mit ihrer Vermittlung

    wird eine reibungslosere interkulturelle Kommunikation angestrebt [...] 8Der Begriff IK lsst sich allgemein als Fhigkeit und Fertigkeit von Fremdsprachenlernern, ja berhaupt von Akteuren einer interkulturellen Begegnung begreifen, ber Differenzen zwischen der

    eigenen und der Zielkultur zu wissen, diese in konkreten Situationen zu erkennen und Strategien zu

    entwickeln, einfhlsam auf die Gepflogenheit der anderen Kultur einzugehen. 9 Wenn IK nicht blo Kennenlernen, sondern auch Reflexion des Fremden bedeutet, muss man

    Vergleiche mit der eigenen Kultur zulassen.

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    puramente factveis sobre a geografia, costumes e produo lingustica, englobando

    tambm o conhecimento sobre modelos de comunicao e comportamento de pessoas

    de outras culturas.

    STIERSTOFER (2002: 119) enfatiza a dimenso dinmica da CI que visa, por meio

    de desdobramento processual, transpor o vazio entre a LM e a LE e entre a prpria

    cultura e a cultura-alvo. O autor representa tal processo da forma que apresentamos na

    Figura 110

    .

    Lngua estrangeira

    Lngua materna

    Regio de mediao de

    Competncia

    Intercultural

    Lngua estrangeira

    Lngua materna

    Regio de mediao de

    Competncia

    Intercultural

    Figura 1: Representao da regio de mediao da CI

    WEIER (2002: 166) aponta para a dificuldade de definio do termo e atribui tal

    dificuldade s diferentes implicaes relacionadas a ele. A autora caracteriza CI como a

    competncia baseada em capacidades humanas gerais como a de empatia, de tolerncia

    frente a ambiguidades e de manejo de conflitos e postula que a CI deve servir a

    situaes em que esto envolvidas a compreenso entre os povos e a poltica de paz.11

    Ela prope diferentes elementos envolvidos na CI, os quais se encontram representados

    na Figura 2 12

    .

    10 Representao baseada no modelo de STIERSTOFER (2002:119)

    11 Interkulturelle Kompetenz soll (...) der Vlkerverstndigung und Friedenspolitik dienen und basiert

    auf allgemeinmenschlichen Fhigkeiten wie Empathiefhigkeit, Ambiguittstoleranz, Konfliktfhigkeit,

    etc. 12

    Representao baseada no modelo de WEIER (2002:168)

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    marcas da prpria cultura diferenas e semelhanas entre culturas

    Auto-

    esteretipo

    Hetero-

    esteretipo

    Reflexo acerca dos costumes quanto ao comportamento,

    pensamento e julgamento

    Capacidade de resoluo de conflitoTolerncia ambigidade

    Balano da identidade

    Abertura

    Flexibilidade

    Mudana de perspectivaResponsabilidade

    Comunica-bilidade

    Empatia

    da estrutura socialdas caractersticas locais e polticasdos sistemas de normas e valores

    das estruturas do pensamento e do tipo de comportamento de membros da cultura-alvo

    Sensibilizao em relao a:

    Conhecimento

    Figura 2: Representao dos diferentes elementos envolvidos na CI

    Conforme a autora, o autoesteretipo (Autostereotyp) se refere s hipteses explicativas

    de um determinado grupo social para sua autocaracterizao (por exemplo, uma nao

    se explica por meio de sua existncia histrica e social). O heteroesteretipo

    (Hetereostereotyp) representaria as caracterizaes utilizadas para os outros grupos

    sociais.

    BYRAM (2000: s/p) afirma que uma pessoa com algum grau de CI aquela

    capaz de ver relaes entre diferentes culturas tanto internas quanto externas e de

    mediar, ou seja, interpretar cada uma a partir da perspectiva do outro, para os outros ou

    para si mesma 13. Alm disso, essa pessoa se caracteriza por apresentar facilidade para

    13 [] someone with some degree of intercultural competence is someone who is able to see

    relationships between different cultures - both internal and external to a society - and is able to mediate,

    that is interpret each in terms of the other, either for themselves or for other people. It is also someone

    who has a critical or analytical understanding of (parts of) their own and other cultures - someone who is

    conscious of their own perspective, of the way in which their thinking is culturally determined, rather

    than believing that their understanding and perspective is natural.

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    ter uma compreenso crtica e analtica da prpria cultura e de outras, bem como

    conscincia de que sua perspectiva pessoal, sua forma de pensar, no so naturais, mas

    determinadas culturalmente.

    BRUN (2004) afirma que o processo de aprendizagem de uma lngua complexo,

    na medida em que o sujeito se apropria de novos saberes, valores e sentimentos ao

    adquirir conhecimentos desse idioma e desenvolver competncias interculturais. Dessa

    forma, a autora considera importante definir estratgias didticas que favoream

    reflexo e reviso pessoal sobre valores do mundo e que possibilitem e intensifiquem as

    trocas culturais.

    O conceito competncia intercultural encontra seus opositores na justificativa de

    tratar-se de termo abrangente, j abarcado pela noo, por exemplo, de competncia

    social, cultural, pragmtica, a transcultural, alm da competncia comunicativa (cf.

    HAUSSTEIN 2005). Todavia, defendemos a CI como aquela que prioriza e possibilita o

    desenvolvimento da tolerncia, da capacidade de aceitao das diferenas, a melhor

    compreenso do outro e do prprio, bem como possveis reformulaes de (pr)

    conceitos.

    No Brasil, encontramos importantes estudos com foco no ensino de LE com base

    intercultural.

    MOTA et al. (2004) reuniram trabalhos do campo da interculturalidade que

    abordam questes relativas promoo de conscincia cultural crtica em relao

    construo de uma identidade fortalecida, ao desenvolvimento de uma competncia

    multicultural e formao intercultural humanizadora de professores de LEs. Elas se

    opem rigidez pr-fixada dos roteiros didticos de sala de aula, ao silenciamento da

    voz do aluno, imposio de padres interculturais estereotipados e ausncia de uma

    poltica pedaggica que promova a construo de um esprito de cidadania mais

    humana. Dessa forma, as autoras buscam situar a lngua em um contexto scio-cultural

    historicamente constitudo, considerar os componentes identitrios de alunos e integrar

    os contedos lingusticos em cenrios pluriculturais, mediadores de uma

    conscientizao intercultural crtica, a partir do reconhecimento da cultura de origem

    (MOTA et al. 2004: 13)

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    A prpria cultura dificilmente vista de forma crtica, conforme afirma ZINK

    BOLOGNINI (1993). A autora aponta dois principais objetivos do ensino intercultural:

    promover tal viso crtica da prpria cultura e possibilitar o contato com outra.

    Em trabalho que se caracterizou como inovador no campo do ensino e

    aprendizagem de lngua alem, PIRES E ROHRMANN (1990:5) descreveram as diretrizes

    de um livro didtico para ensino de alemo no Brasil com o objetivo do

    desenvolvimento de comunicao intercultural, ou seja, de levar o aluno a

    desenvolver a capacidade de interpretar outras formas de comportamento, concepes

    e valores de uma cultura diferente, tendo como pano de fundo sua prpria cultura e suas

    experincias pessoais. Segundo os autores, a experincia de vida dos alunos brasileiros

    deve ser o ponto de partida do processo de aprendizagem. O livro didtico proposto

    pelos autores tem como principal objetivo levar os alunos aquisio dos

    conhecimentos acerca de uma cultura, at ento estranha, pelo filtro do j conhecido.

    Conclumos este item enfatizando a relevncia de compreender os conceitos de

    lngua e cultura como amplos e indissociveis e de estranho em relao dicotmica ao

    de prprio. Posicionamo-nos ainda em consonncia com estudos que apontam para a

    necessidade de um ensino de alemo por uma perspectiva intercultural, visando a

    compreenso e reelaborao das imagens de alunos quanto lngua e cultura-alvo.

    Abordaremos no prximo item, sob a perspectiva de desestranhamento e do

    desenvolvimento de competncia intercultural, os dados de uma pesquisa cujo enfoque

    recaiu principalmente sobre imagens quanto lngua e povo, apresentadas por

    candidatos a um curso de alemo, bem como por aprendizes que efetivamente o

    realizaram.

    4. A pesquisa: contextualizao, instrumentos, participantes

    e metodologia

    Com base nas discusses tericas apresentadas e nas distintas experincias advindas da

    atuao dos autores deste trabalho, de um lado como professora e pesquisadora da rea

    de ensino de alemo e, de outro, como professor e pesquisador da rea de ensino e

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    aprendizagem de lnguas estrangeiras, intrigou-nos o fato de que existem muitas

    associaes negativas relacionadas ao idioma e ao povo alemo14

    . Diante disso, a mola

    propulsora para o desenvolvimento da pesquisa que apresentaremos foi o fato de que,

    dentre as pessoas que apresentam imagens com carter negativo e estereotipado,

    existem aquelas que:

    a) na busca pela aprendizagem de uma segunda lngua estrangeira,

    reconhecem a importncia do alemo no quadro poltico-econmico

    atual. Todavia, elas se desmotivam a aprend-lo, em decorrncia da

    imagem de que o idioma muito difcil, incompreensvel,

    impossvel, optando frequentemente pela aprendizagem de outra lngua

    estrangeira mais fcil e renunciando, assim, inteno de iniciar a

    aprendizagem do idioma alemo;

    b) apesar de suas imagens estereotipadas de que o idioma alemo difcil,

    ou o povo alemo frio, agressivo, optam, ainda assim, pela

    aprendizagem da lngua, vislumbrando um diferencial no mercado de

    trabalho;

    c) ao iniciarem a aprendizagem de alemo como LE, adentram a sala de

    aula imbudas de imagens estereotipadas sobre a lngua e o povo, antes

    mesmo de terem tido qualquer contato direto com o idioma e a cultura.

    Tais imagens so constitudas, possivelmente, no contexto scio-cultural

    em que esses alunos se encontram;

    d) associam imagens negativas da lngua ao povo (por exemplo: os

    alemes parecem estar sempre brigando, so agressivos).

    Com relao recorrente associao do alemo com lngua difcil, no nos deparamos

    com estudos que possam legitimar essa caracterizao, fato que nos levou a considerar

    tratar-se de um esteretipo. Em nossa percepo, cada lngua possui suas peculiaridades

    14 cf. ROZENFELD (2007), dissertao que analisa as imagens sobre a lngua e a cultura alem: Crenas

    sobre uma lngua e cultura-alvo (alem) em dimenso intercultural de ensino de lngua estrangeira

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    e dificuldades especficas, no existindo lngua fcil ou difcil. Todavia, determinadas

    lnguas so fortemente categorizadas dessa forma no imaginrio de algumas pessoas.

    Observamos, ainda, na prtica de ensino de alguns professores de alemo, que

    eles no revelam, em sua atuao pedaggica, conhecimento ou conscincia acerca das

    implicaes das imagens de seus alunos sobre a lngua e o povo no processo de

    aprendizagem. Por carecerem de tal conhecimento, adotam, por vezes, procedimentos

    em sala de aula que podem intensificar imagens negativas, fato que acreditamos poder

    refletir na aprendizagem reduzindo a motivao para o aprendizado da lngua.

    Tomando tais premissas como ponto de partida, ROZENFELD (2007) desenvolveu

    uma pesquisa com o intuito de analisar imagens sobre o idioma e o povo alemo,

    apresentadas por estudantes universitrios, primeiramente na condio de interessados

    na aprendizagem desse idioma e posteriormente na condio de aprendizes do mesmo,

    em um curso para iniciantes. A autora atribuiu a essas imagens, uma caracterizao

    abarcada pelo conceito de crenas15

    .

    Para a constituio do corpus da pesquisa, foi oferecido, para a comunidade

    acadmica de uma universidade pblica situada no interior paulista, um curso de

    extenso Alemo para iniciantes, cujo grupo deveria ser constitudo por 20 alunos.

    Como procedimento de inscrio ao curso, foi requerido dos interessados o

    preenchimento de uma ficha no formato de questionrio16

    com questes abertas, que era

    acessado pela internet e que deveria ser enviado a um endereo eletrnico criado para

    recepo dos formulrios.

    Alm de dados e informaes pessoais (nome, idade, sexo, indicao do curso de

    graduao que frequentava, ano de ingresso, telefone e email para contato, idade), o

    formulrio continha questes abordando:

    1. informaes acerca do conhecimento de alemo e de outras lnguas

    estrangeiras (francs, espanhol, ingls, outras), com a solicitao de

    15 cf. conceito e caracterizao das crenas cunhados por ROZENFELD (2007) e ROZENFELD E VIANA

    (2008). 16

    Na divulgao do curso, foi informado que a atividade estava relacionada ao desenvolvimento de

    pesquisa de mestrado e solicitou-se no questionrio (ficha de inscrio) a autorizao do candidato para

    utilizao dos dados.

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    indicao do nvel de proficincia e do local onde eventualmente havia

    estudado/aprendido;

    2. imagens sobre a lngua alem: questes sobre razes para se estud-la,

    sobre impresses/percepes ao escut-la, imagens que se faz dela e

    indicaes de possveis razes para isso e sobre contato prvio com o

    idioma;

    3. imagens sobre o povo relacionado ao idioma alemo: questes sobre a

    relao atual e prvia com falantes de lngua alem, imagens sobre o

    povo alemo e possveis razes para elas;

    4. a relao atual com a cultura alem, por exemplo, com a literatura, a

    msica, a arte, com estudos cientficos, lugares, pessoas, etc.

    Foram recebidas 233 inscries, cujos questionrios constituram o corpus da primeira

    fase da pesquisa, em que foram analisados os dados de todos os candidatos. Na segunda

    fase, conforme descreveremos, foram coletados e analisados os dados dos 20 alunos

    selecionados para o curso.

    Tendo como base as respostas contidas nos questionrios (inscries), foi

    possvel traar um perfil dos candidatos ao curso e uma caracterizao das imagens

    preponderantes que eles apresentavam em relao lngua e cultura alems e ao povo.

    Para participao no curso, priorizou-se a seleo de alunos que revelavam

    imagens notadamente estereotipadas sobre a lngua alem (difcil, agressiva, impossvel,

    etc.) e sobre o povo (frios, distantes), e que correspondiam aos critrios para seleo

    estabelecidos e divulgados previamente, a saber: ser brasileiro, estudante de graduao

    ou ps-graduao e no ter conhecimento prvio da lngua.

    Para constituio do corpus na segunda fase da investigao, ou seja, durante o

    curso, alm de tomarmos como base o questionrio enviado para inscrio,

    consideramos ainda as respostas obtidas em questionrio aplicado ao final do curso,

    bem como os dados coletados por meio de duas entrevistas17

    (transcritas) realizadas

    17 Inicialmente concebido e caracterizado como entrevista, o procedimento de coleta desses registros

    ocorreu de maneira mais prxima tcnica de grupo focal que, de forma geral, pode ser entendida,

    segundo IERVOLINO E PELICIONI (2001), como o desenvolvimento de interao propositada

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    com o grupo de aprendizes em sala de aula, e as anotaes (registros) de uma auxiliar de

    pesquisa (uma candidata ao curso, aluna de ps-graduao em Lingustica, que foi

    convidada a participar como aluna-observadora).

    No que concerne ao papel dessa aluna (auxiliar de pesquisa), destacamos que lhe

    foi esclarecido quais eram os objetivos de sua atuao, a saber, observar e anotar

    atitudes e reaes dos demais aprendizes, durante as aulas, ou em conversas extraclasse,

    que pudessem fornecer dados sobre o processo de aprendizagem e as crenas dos

    mesmos.

    Considerando os procedimentos de coleta de dados e a perspectiva

    interpretativista adotada para anlise, apontamos a insero da pesquisa no paradigma

    qualitativo, ressaltando sua caracterstica de estudo exploratrio e sua natureza

    etnogrfica, cuja compreenso, aceita na rea educacional por vrios autores, pode ser

    resumida pelo que aponta MOITA LOPES (1995:23), para quem a pesquisa etnogrfica

    caracterizada por colocar o foco na percepo que os participantes tm da interao

    lingustica e do contexto social em que esto envolvidos.

    Para compreenso mais ampla do contexto de realizao do estudo,

    consideramos pertinente acrescentar informaes referentes ao curso oferecido,

    ressaltando, inicialmente, que ele teve como principais objetivos:

    1. criar ambiente para coleta de dados;

    2. proporcionar conhecimento bsico da lngua alem a estudantes de

    graduao e de ps-graduao: buscar capacitar os alunos nas quatro

    habilidades exigidas no nvel A1, do quadro comum de referncia

    europeu18

    .

    3. estudar a configurao das crenas dos alunos em relao lngua e

    cultura alem, antes, durante e ao final do curso.

    (discusso) entre o pesquisador e os demais participantes, visando obteno de dados a partir de tpicos

    direcionadores, relacionados ao estudo. 18

    Segundo o quadro comum de referncia europeu, o aluno deve, no nvel A1, ter a capacidade de compreender e utilizar frases e expresses cotidianas simples; capacidade de apresentar-se, elaborar

    perguntas simples sobre outras pessoas e responder a perguntas desta natureza; capacidade de comunicar-

    se de maneira simples, quando o (a) interlocutor(a) fala lenta e claramente. (http://www.goethe.de/ins/br/sap/lrn/stf/ptindex.htm).

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    O livro didtico utilizado foi o Tangram Aktuell 1 Lektionen 1- 4. Durante o curso,

    buscamos adotar procedimentos metodolgicos que pudessem contribuir para aumento

    da motivao, do interesse e do prazer na aprendizagem, e para um baixo grau de

    ansiedade, bem como para promover uma aproximao de culturas. Tais propostas

    foram calcadas em pressupostos tericos do ensino intercultural, sob os quais se

    defende, entre outros aspectos, a importncia no processo de ensino de LE de se criarem

    situaes relevantes de comunicao para os alunos, de se promover a discusso acerca

    das diferentes culturas e o desenvolvimento de atividades que possam contribuir para

    melhor compreenso do outro e maior conhecimento do prprio, considerando-se os

    aspectos afetivos e a formao geral do aluno.

    Procuramos diversificar as atividades propostas ao longo do curso, utilizando

    recursos como jogos, msicas, filmes, figuras, simulaes de situaes do dia-a-dia, a

    partir de contedo do livro didtico ou de material extra. Buscou-se constantemente

    criar situaes autnticas de comunicao e interao19, bem como aproveitar as que

    surgissem imprevisvel e naturalmente em sala de aula e que fossem relevantes aos

    alunos, a fim de estimular e motivar o uso verossmil da lngua-alvo.

    Tendo ainda como respaldo os pressupostos do ensino intercultural, procuramos

    levar os alunos reflexo crtica sobre a prpria cultura e possibilitar o contato com

    aspectos da cultura-alvo, por meio de discusses sobre temas distintos relacionados s

    duas culturas envolvidas. Incentivamos ainda a constante busca pelo contato com a

    cultura alem fora de sala de aula, por meio de msicas, filmes, programas de TV e de

    outros recursos possibilitados pela internet.

    Dentre as atividades realizadas, destacamos: a) apresentao de e discusso

    sobre situaes do dia-a-dia como, por exemplo, as formas mais usuais de se apresentar,

    se cumprimentar, de atender ao telefone, de aceitar e recusar convites; b) discusso

    sobre padres de comportamento no Brasil e na Alemanha, com base em dilogos

    realizados (por exemplo, na situao de um encontro com amigos em restaurante, o uso

    de Prost, Guten Appetit, etc), e sobre possveis razes para as diferenas existentes,

    19 Entendemos que a noo de situao autntica relativa e poderia ser discutida mais profundamente,

    na medida em que o contexto o de situaes hipotticas de sala de aula, No entanto, utilizamos o termo

    para nos referir a situaes comunicativas utilizadas em sala de aula.

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    c) indicao de sites e de filmes alemes disponveis em locadoras, d) apresentao,

    didatizao e discusso de msicas e trechos de filmes etc.

    Os filmes selecionados para didatizao foram: Good bye Lenin e Die fetten

    Jahre sind vorbei.

    A escolha do filme Good bye Lenin se deu com o objetivo de promover

    confronto e debate de aspectos da histria alem nele abordados. Alm de fonte de

    insumo significativo, o filme apresenta, em tom que tambm explora o humor, o

    contexto da reunificao da Alemanha. Com base em um roteiro de atividades pr-

    elaborado, foram discutidos (na LM) aspectos desse importante contexto histrico. A

    escolha do segundo filme, por outro lado, ocorreu por razes lingusticas especficas.

    No decorrer do curso, foram coletados dados dos participantes (aprendizes)

    sobre imagens (crenas) acerca do idioma e do povo alemo, em dois momentos, sendo

    o primeiro aps algumas semanas de aula e o segundo, ao final do curso.

    A partir de similaridades encontradas entre as imagens dos alunos do curso e dos

    candidatos a ele, propusemos uma categorizao das crenas, agrupando-as sob as

    denominaes: tipicalizadas, comparativas e relativizadas.

    As crenas tipicalizadas so compreendidas/definidas como aquelas marcadas

    por esteretipos, originados na memria coletiva e no contexto social; as comparativas

    so aquelas decorrentes da comparao com outra lngua estrangeira, e as relativizadas

    so as resultantes de maior reflexo e fundamentao, sendo por vezes embasadas por

    vivncia na cultura-alvo, com membros dela ou com pessoas prximas que trouxeram

    maior fundamentao para a sua constituio.

    Dos dados obtidos na primeira fase, as crenas tipicalizadas, verificadas em

    respostas encontradas nos questionrios dos 233 candidatos (incluindo, portanto,

    aqueles dos estudantes selecionados para o curso), so:

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    Tabela 1: Crenas Tipicalizadas quanto lngua alem

    CRENAS

    TIPICALIZADAS TOTAL

    Descrio

    Difcil 76

    Difcil pronncia; de difcil compreenso; complicada; difcil

    de falar, de pronunciar, extremamente ou bem difcil, um pouco

    difcil

    Fontica forte 45

    Sons guturais, sons difceis; entonao forte; pronncia difcil,

    rpida; difcil pelo r, rspida e seca, so as principais marcas

    Agressiva 15

    Lngua rude; spera; dura; imponente; autoritria;

    imperativa; remete aos brbaros; impositiva; pessoas parecem

    estar brigando

    Palavras grandes 11 Lngua caracterizada por suas palavras grandes

    Estranha 7 Caracterizao da lngua como estranha

    Difcil/muitas

    consoantes 4

    Dificuldade da lngua est no fato de apresentar palavras com

    muitas consoantes

    Uma das mais difceis 2 A lngua caracterizada como uma das mais difceis

    Grafia estranha 2 Apresenta grafia caracterizada como estranha

    Feia 1 A lngua caracterizada como feia

    Lembra Hitler 1 Relao da lngua com a figura de Hitler

    Total (menes) 164 70%

    Nota-se que imagens sobre a lngua alem, com carter estereotipado, correspondem a

    70 % do nmero total de crenas encontradas, percentual bastante significativo e que

    pde confirmar a hiptese inicial da pesquisa. A grande recorrncia da percepo da

    lngua como difcil decorre, prioritariamente, de acordo com os apontamentos, das

    particularidades de sua pronncia. Sobre o povo alemo, foram registradas as imagens

    de carter estereotipado expostas na Tabela 2.

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    Tabela 2: Crenas Tipicalizadas quanto ao povo

    CRENAS

    TIPICALIZADAS Total

    Descrio

    Frios 19 estranhos,racionais

    Fechados 17 reservados, srios, individualistas

    Disciplinados 15

    sistemticos, regrados, organizados, pontuais,

    rigorosos

    Srios 11 Rgidos

    Preconceituosos e/ou

    autoritrios 8

    Racistas, dominantes; autoritrios; xenfobos;

    nacionalistas

    Conservadores 7 nacionalistas, preservam sua cultura

    Nazismo 6

    Associao ao nazismo, a Hitler, abordam o nazismo

    como referncia aos alemes

    Diretos/objetivos 2

    Agressivos 1 rudes, guerreiros

    Organizados 1

    Arrogantes 1

    TOTAL 88

    Com base nos dados da tabela 2, podemos observar que as crenas mais recorrentes

    sobre o povo alemo so sinalizadas por meio dos descritores frio, distante,

    seguidos de fechado, disciplinado e srio. Notamos que foram poucos os

    estudantes que associaram os alemes ao nazismo. Apesar de ainda existir tal

    associao, ela no se configura como amostra representativa. Todavia, existe um

    nmero um pouco maior de estudantes que percebe o povo alemo como

    preconceituoso.

    Observamos, ainda, que as imagens sobre o povo demonstraram ter um carter

    menos estereotipado do que aquelas sobre a lngua. Alm disso, nem todas as imagens

    estereotipadas se configuram como negativas, pois temos, por exemplo, as que

    caracterizam o povo como organizado ou objetivo.

    Entretanto, verifica-se a prevalncia de imagens estereotipadas, de carter

    negativo, tanto em relao lngua, quanto em relao ao povo, o que, seguramente,

    pode resultar em dificuldade, bloqueio ou atitudes de resistncia no/para o processo de

    aprendizagem.

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    Reafirmamos, portanto, nossa defesa em relao necessidade de uma

    perspectiva intercultural no ensino de alemo como LE, visando contribuir para

    proporcionar ou desenvolver o desvelamento de crenas, no sentido de sensibilizao

    dos aprendizes em relao a elas, o que acreditamos, com base nos dados obtidos, ter

    sido possvel no curso que serviu de base para a pesquisa.

    5. O desestranhamento do alemo e indcios de

    desenvolvimento de competncia intercultural

    Com base na anlise dos dados dos 20 participantes da segunda fase da pesquisa,

    obtidos ao incio, durante e ao final do curso, pudemos verificar que suas crenas sobre

    a lngua, com caractersticas inicialmente tipicalizadas e negativas, passaram por um

    processo de relativizao durante o desenvolvimento das aulas (ROZENFELD, 2008:

    178). Tal fato foi mais fortemente observado ao final do curso, conforme podemos

    verificar em trechos extrados dos questionrios respondidos pelos aprendizes. Em

    resposta pergunta sobre a percepo de alterao na viso da lngua, encontramos, por

    exemplo, as seguintes declaraes:

    Nr. 14: (a lngua) se tornou muito mais clara e mais lgica [...] no tenho mais medo de

    dar uma olhada num texto em alemo [...] no ouo mais a lngua com bloqueios

    Nr. 4: Minha viso deu uma guinada de 360 graus20

    , afinal, descobri que o alemo

    uma lngua interessante estruturalmente (quanto formao de palavras), no to

    complexa como eu esperava, nem to difcil quanto as pessoas dizem. [...] Hoje a lngua

    j no me assusta mais.

    Nr: 11: No entendia o mecanismo de formao de palavras e pude ver que simples e

    funcional, uma vez que generalizvel para as mais diversas palavras. A lngua no

    aparenta ser to difcil, porm continuo achando a pronncia um desafio

    Nr2: (minha viso sobre a lngua...) Mudou bastante. J no acho que seja uma lngua

    to complicada de se aprender ou mesmo estranha.

    Nr.3 [...] minha viso foi alterada. Considerava o alemo uma lngua super complexa.

    Hoje ainda considero super complexa, porm, por ter aprendido a lgica da formulao

    das palavras, passei a ter menos medo do idioma.

    20 Inferimos pelo teor da resposta da aluna, que ela quis se referir, metaforicamente, a uma oposio total

    em relao viso anterior, que corresponderia, portanto, a uma alterao de 180 graus, e no 360

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    Nr.9: Muito. Achava que seria muito, muito, muito difcil aprender. Algumas vezes em

    que pensei em estudar alemo, cheguei a duvidar que seria capaz para isso.

    Nr.10:Foi sim (a viso foi alterada sim). [...] a lngua se tornou mais familiar, ela no

    parece mais to spera, to difcil de ser compreendida.

    Nr.13:Aps a apresentao da lngua alem que tive com este curso, descobri que esta

    linguagem no difcil, mas sim, uma lngua com formao de palavras e frases

    diferentes da nossa

    Nr.17: Anteriormente achava somente complicada. Hoje considero uma lngua, alm de

    muito interessante, bem objetiva e detalhada. No considero to complicada mais,

    porm bem trabalhosa.

    Foi possvel observar tambm, nos dados da entrevista final com o grupo, uma mudana

    significativa das crenas, que passaram de tipicalizadas para relativizadas para a maioria

    dos alunos. Ao serem indagados, se a viso que tinham do alemo mudou aps o curso,

    a resposta foi quase unssona: mudou muito. Dela seguiram-se comentrios

    individuais, como, por exemplo:

    Ma: porque antes eu achava que alemo..era uma lngua agressiva..e..no decorrer do

    curso eu descobri que s uma lngua estrangeira, como qualquer outra e..no tem

    mais..a sensao de me assustar assim, uma pessoa falando alemo..sabe,num ta como

    preconceituosamente a gente acredita que esteja xingando a gente

    R: [...] toda aquela parte caracterstica de agressividade da lngua se perdeu. No parece

    mais ser to grave quanto era antes. Parece que suavizou. ((inint)) habituado, mesmo.

    Cr: No sei, pra mim foi muito difcil aprender a falar.. pelos sons, mas..depois que a

    gente aprende, assim, a formao das palavras, at os nmeros, n, que so enormes, a

    a gente v que no difcil, que at mais fcil, lgico, n..eu acho que foi isso

    D: eu acho que ((inint)) aquelas palavras enormes, que nem economista l..

    ((risos))

    D: .. bem clara, n, grande s que.. o significado muito pontual, assim, voc s

    juntou duas coisas que voc quer dizer, ento ela bem..objetiva

    Professor: e isso ento mudou na sua viso..

    D: eu achava ela era complicada, n mas.. tambm um pouco ainda, s que mais..

    mais objetiva do que a nossa..nessa questo da formao mais..mais direta

    E: [...] pra mim..uma viso que eu tinha antes, de que o alemo era mais difcil do que o

    ingls, pra quem nunca ouviu a lngua..pro falante latino, eu acho que ficou mais fcil,

    do que o ingls, do que o francs inclusive..pra um falante latino, porque so bem

    poucas diferenas, n, em termos de fontica. [...] a palavra Name, n.. Name ,..

    Frau..essas palavras,...du, n..voc v mais ou menos igual est no portugus, agora no

    ingls, o a pode teria o som de e, n, o p teria outro som..n.....ento..seria um pouco

    diferente.

    Professor: a definio ento da pronncia mais clara

    E: exato

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    Nota-se que a alterao das crenas quanto lngua, ocorreu, preponderantemente, com

    a relativizao da imagem do alemo como lngua complexa, presente no incio do

    curso. Alguns afirmam ter percebido que ela no to difcil quanto acreditavam, ou

    que uma lngua lgica, clara, apenas diferente, mas no difcil. Outros ainda a

    consideram difcil, porm no mais impossvel, inatingvel, como antes.

    Alguns passam a refletir sobre a presena de imagens estereotipadas com relao

    lngua:

    E: antes eu estava..quando falava.. o que voc acha da lngua e da cultura alem eu falava ah , eu acho complexo. Muito difcil. E esse complexo era carregado de negatividade, porque no tinha..de mitos, n..porque no tinha exemplo nenhum, hoje

    eu acho complexo, mas no no sentido negativo, mas positivo, por exemplo:..sempre

    achei que a lngua alem e a cultura alem, eles eram ligados a..aquelas questes

    abstratas, de ficar realmente..quanto mais complexo um pensamento, uma idia ou..ou

    uma rea do conhecimento, melhor se adequa ao modo de ser do alemo, mas por outro

    lado tem coisas..e isso at um mito mesmo, porque ..quando a gente viu aquele

    exemplo das siglas, n..que eles usam siglas pra um monte de coisas, ele falou at da

    praticidade, tudo, n.. poxa num..num uma tendncia abstrata no..eu acho que pra

    tornar as coisas..mais prticas, determinadas coisas mais prticas, e isso

    uma..questo..de todas culturas, tem coisa que voc abstrai mais, tem coisa que voc

    torna mais.. prtico, [...] por isso..perdeu aquela idia negativa..a questo da

    complexidade alem, como eu disse..

    Verificamos no excerto de E, que ocorreu um processo de reinterpretao da lngua

    como outra. A lngua no deixou de ser complexa para muitos, mas deixou de ser

    estranha. O conceito de complexo foi reinterpretado, reduzindo-se a carga negativa.

    Entendemos tal reinterpretao da lngua como parte do processo de aquisio

    de competncia intercultural no sentido, por exemplo, de VOLKMANN (2002), WEIER

    (2002), STIERHOFER (2002), BYRAM (2002). A lngua alem, antes percebida como

    estranha, passa a ser mais percebida como outra, havendo reviso de esteretipos e

    maior sensibilizao e aceitao do outro.

    No sentido de ALMEIDA FILHO (1993: 7), podemos concluir que se iniciou um

    processo de desestrangeirizao da lngua. Entretanto, em nosso entendimento, o

    processo aponta no para a desestrangeirizao da LE, mas para um desestranhamento

    dela, visto que a lngua permanece(r) estrangeira, porm, no mais estranha.

    De forma geral, os alunos apontaram tambm para um movimento de ampliao

    na curiosidade e no interesse pela lngua:

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    Cr: ((inint)) mesmo aqui na aula..eu lendo.. o enunciado do exerccio, que geralmente

    eu no tenho todo o vocabulrio, mas eu tento entender aquilo ali, eu tenho mais

    interesse em entender, porque eu no acho que impossvel, do jeito que eu pensava..

    D: voc fica mais prximo assim, igual todo mundo falou, n, voc no tem mais aquela

    repulsa assim, pela lngua alem, voc ouvia algum falando, ouvia alguma coisa, voc

    nem olhava..

    M: acho que, como todos, cresceu o interesse, tanto pela lngua quanto pela cultura,

    n..de voc buscar..textos, tentar entender, esse negcio da palavra l, descobrir o que

    aquilo quer dizer ((inint)) acho que isso modificou bastante, a questo do interesse

    mesmo em querer conhecer tanto a lngua quanto a cultura e..at....o interesse assim..de

    querer aprender, de voc ter curiosidade, n, a eu, s vezes eu fico em casa treinando

    sabe, falando em voz alta com..com as meninas l de casa, ou com minha namorada,

    elas no entendem nada

    Aliado a esses dados, verificamos tambm em registro feito pela aluna-observadora,

    evidncias de alteraes e ressignificao das crenas que cederam lugar at mesmo

    descrio de prazer pelo estudo da lngua:

    Dcima aula (30/04): Conversei com um colega de sala. Durante a conversa ele disse-

    me que, antes do curso j pensava em fazer alemo por necessidade de trabalho. No

    entanto, quando ele se imaginava aprendendo a lngua, torcia o nariz e j achava difcil antes mesmo de conhecer, s de pensar j sentia dificuldade. Para ele, hoje, as aulas de

    alemo, so as nicas que do prazer em estudar. A concepo do aluno j mudou

    bastante segundo ele.

    Vigsima aula (04/06): ...A turma chegou a interagir para propor a continuao do

    curso no prximo semestre e tambm para indicar sites interessantes para ler e aprender

    um pouco mais sobre o alemo. Tais acontecimentos denotam motivao para aprender

    alemo. Penso que se h motivao porque muitas idias j foram (des)construdas. A

    pronncia, os sons, a formao das palavras, antes percebidos como o grande monstro do idioma alemo, tambm se transformam em algo menos assustador:

    Com relao s crenas sobre o povo alemo, os dados obtidos ao incio da segunda

    fase, ou seja, no incio do curso, revelam que ainda prevalecem algumas das crenas

    tipicalizadas, por exemplo, as de tratar-se de um povo srio, rgido, distante, formal,

    disciplinado, metdico, arrogante, xenfobo, mas tambm algumas relativizadas como

    inteligente, determinado. Apresentamos, a seguir, alguns excertos que podemos

    considerar como evidncias desse fato:

    Nr.2: Creio ser um povo bem nacionalista [...]

    Nr. 7: O povo alemo parece bastante srio.

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    Nr.9: [...] o que predomina a questo da frieza, da dureza, severidade, disciplina e

    rigidez

    Nr.10: No tenho contato com eles, mas aparentam ser muito formais, frios, distantes

    uns dos outros.

    Nr.3: O pouco que conheo deste povo me faz acreditar que so extremamente

    inteligentes, determinados e metdicos.

    An: eu acho que os alemes, pelas informaes que eu tenho, eu acho eles super

    inteligentes, determinados e metdicos tambm.e..isso o que eu acho do povo, n, por

    causa dos exemplos histricos que a gente tem [...] mas eu sei que eles bebem bastante

    cerveja ((risos)) e.. tem um tal de chucrutes tambm [...]

    E: eu sempre tive uma impresso do povo diferente da cultura. Uma impresso

    negativa, at hoje eu confesso que eu tenho uma impresso negativa

    P: em que sentido negativa?

    E: eu sempre achei um povo um pouco arrogante em relao a outras culturas e o pouco

    que eu sei da histria alem, eles nunca ficaram subjugados l no pas deles, fora em

    outras histrias, mas sempre uma impresso de que eles olham pra todas as outras

    culturas de cima pra baixo

    J: [...]eu no sei, eu acho assim, eu tenho a impresso,que ele um povo bem mais

    disciplinado,ento essa disciplina, assim ..parece que a lngua junto d essa impresso

    tambm, da pessoa ser mais rgida no que faz [...]

    Quando questionados acerca das razes para tais crenas, alguns alunos apontam para

    acontecimentos, sobretudo histricos, que os levaram configurao de suas crenas.

    Por exemplo:

    Lu: ((inint)) o que eu aprendi na aula de histria, sabe, l na escola.., ento agora,

    quando a gente vai falar do povo alemo a gente resgata isso, entendeu, meio

    inevitvel, n no tem jeito. Eu pelo menos no tenho muito conhecimento.. mais o que

    est ali..fossilizado, n, ento voc acaba resgatando aquilo, n.. meio inevitvel.

    Nr.13: Minha opinio se baseia no que aprende-se na escola e no que tenho visto s

    vezes na TV. O povo alemo marcado por ser uma populao com forte xenofobia,

    inteligente, com pensamento voltado para a tecnologia, disciplinados.

    Ao final da segunda fase, ou seja, ao final do curso, a partir da triangulao dos

    registros obtidos nos questionrios, na entrevista e nas anotaes da aluna-observadora,

    verificamos que grande parte dos alunos menciona ainda manter suas crenas. Eles

    acreditam que isso se deve ao contato ainda restrito com o povo alemo e/ou com

    elementos da cultura alem. No entanto, foi possvel observar significativa ampliao da

    curiosidade e do interesse pela cultura-alvo (Excertos dos questionrios):

    Nr.18: Quanto ao preconceito e xenofobia, no pude ver nada que pudesse mudar minha

    viso, gostaria de saber mais sobre a cultura dos alemes.

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    Nr.4: Meu conhecimento no aumentou sobre o povo alemo [...] Contudo algumas

    experincias que a professora contou em sala, garantiram que a minha curiosidade no

    fosse dissipada.

    Nr.6: Continuo pensando que seja um povo que, assim como os outros, possui

    caractersticas especficas de cultura, etc. Porm, a aprendizagem da lngua fez com que

    meu interesse em estudar essa cultura e conhecer mais sobre esse povo aumentasse.

    Alm disso, nota-se a reformulao de algumas generalizaes e reflexo sobre crenas

    tipicalizadas mais comuns, por exemplo:

    Nr. 12: O povo alemo um povo tipicamente europeu, mais frio que os brasileiros,

    existe nos povos alemes uma fama de serem mais rgidos. Esta opinio, por se basear

    em vivncia, no se alterou. Por outro lado, trata-se de um esteretipo e deve-se sempre

    desconfiar de esteretipos.

    Nr.8: [...] acredito que o problema usualmente dado como presente em todo o pas,

    como o xenofobismo, esto restritos a alguns focos de insurgncia. Acredito que pelos

    filmes alemes que tenho visto, eles me parecem menos frios que anteriormente, ainda

    que a imagem de que eles sejam srios permanea.

    Nr.17: Penso que ao invs de frios, conforme disse no questionrio inicial, eles sejam

    mais objetivos e diretos. Isso reflete muito no padro lingustico, gramatical e cotidiano

    dos alemes.

    Nr.14: Continuo achando eles um pouco arrogantes, mas a aproximao com a cultura

    derrubou alguns mitos sobre o povo da Alemanha especialmente.

    Nr.11: Perdi meu vis mais negativo sobre os falantes de alemo. Porm continuo

    achando-os organizados e prticos, caractersticas que considero de grande importncia

    para todos os resultados bem sucedidos que eles alcanaram nas mais diversas reas do

    saber [...]. Apesar de frios, eles possuem uma sensibilidade incrvel [...]

    Nr.9: Um pouco bem mais reservado, mais centrados em si mesmos, mas no no

    sentido negativo [...]

    Nr.5: A resposta continua a mesma, acho que so pessoas fechadas [...] mas a minha

    simpatia e respeito pelos alemes aumentou, pelo conhecimento da lngua e tambm

    pelo jeito que ela vem sendo apresentada (a professora costuma dar informaes sobre

    os costumes e isso parece o bastante para tornar os alemes mais prximos).

    Nr.3: [...] continuo a ach-los frios, objetivos e diretos. No vejo, entretanto, essas

    caractersticas como negativas, encaro apenas como uma viso que tenho dessas pessoas

    Nr.2: Sinceramente, no creio que esses poucos meses de aula tenham sido suficientes

    para criar ou modificar a minha viso pessoal a respeito desses povos. [...] No entanto,

    agora com uma viso j no to crtica e at mais propensa a mudar. [...]

    Nr.10: Continuo sem conhecer nenhum alemo, mas acredito que quando conhecer

    algum, no vou mais encar-lo com aquele preconceito, no vou mais preparada para encontrar uma pessoa fria, rgida e seca.

    Dados obtidos por meio de entrevista (grupo focal), tambm corroboram a ocorrncia de

    alteraes:

    Excertos da entrevista final:

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    R: [...] tirou muito o tabu assim da..da minha cabea..que eu tinha em relao ao pessoal

    germnico

    S: eu achei que, que eles so muito educados..eu achei que no era tanto assim, eu achei

    que eles eram bem arrogantes assim..((inint)) danke pra tudo, Vielen Dank, aqueles

    negcio..

    ((risos))

    Ma: [...] caiu um pouco do meu preconceito de achar que eles eram..sabe..aquelas

    pessoas..sei l..do mal..

    Em relao ampliao de interesse dos alunos em relao cultural alem, so

    verificados aspectos evidenciadores em registros da aluna-observadora:

    Vigsima-quarta-aula (15/06): (sobre a apresentao de trechos dos filmes Good bye

    Lenin e Die fetten Jahre sind vorbei) [...] Observei bastante interesse nos alunos para

    saber um pouco mais sobre a cultura alem.

    Vigsima-stima aula (22/06)

    [...] Novamente a curiosidade com relao cultura alem foi aflorada. Muitas

    perguntas que foram feitas demonstraram interesse pelo idioma e pela cultura alem.

    Sobre as razes para as mudanas nas imagens sobre a lngua e o povo, os

    procedimentos metodolgicos adotados foram apontados pela maioria como tendo sido

    determinantes.

    (Questo: Sua viso da lngua foi alterada aps o curso? O que contribuiu para isso?):

    Nr. 2: Sim. [...] A didtica e dinamicidade nas aulas contriburam para isso

    Nr.4: Sim. [...] a lngua me fascinou. Acredito que a maior responsvel foi a professora,

    que nos fez acreditar que o alemo no era to difcil quanto parecia.

    Nr.6: Sim. As aulas foram o motivo principal para que o meu interesse sobre essa

    lngua aumentasse, uma vez que foram muito motivadoras.

    Nr.11: Sim. Com as aulas e com as discusses realizadas em sala pude ampliar a minha

    percepo sobre a cultura e a lngua alem [...]

    Nr.14: Sim e muito. [...]A metodologia da professora e aproximao com a lngua

    contriburam.

    Postulamos que muitas das imagens de natureza negativa, como a de lngua difcil, ou

    de povo frio, devem-se, comumente, a uma m compreenso das diferenas existentes

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    entre os povos e as culturas. Tal percepo foi apontada por ROZENFELD (2007), que

    afirma:

    Propomos, a partir da fundamentao terica de crenas, do estranho em relao

    dicotmica ao prprio e de competncia intercultural, que as crenas tipicalizadas e

    comparativas quanto lngua e cultura-alvo se originam, muitas vezes, do fato de no

    haver ainda uma boa compreenso das particularidades da lngua e cultura-alvo. Dessa

    forma, inferimos que as crenas tipicalizadas sobre a lngua e cultura-alvo se encontram

    inseridas no incio do processo de aquisio de CI. O desvelamento das crenas, no

    sentido de sua conscientizao, parte necessria desse processo: a partir dele, ser

    possvel (re)avaliar padres culturais da outra e da prpria cultura, reformular conceitos

    e refletir sobre a prpria identidade cultural. (ROZENFELD 2007:178-179)

    6. Consideraes finais

    Este trabalho teve como objetivo discutir a importncia de um percurso de

    desestranhamento em relao ao idioma (e por abrangncia, em relao a

    caractersticas do povo) alemo, no processo de ensino e aprendizagem, sob a

    perspectiva de teorias de ensino e da competncia intercultural, bem como da noo de

    outro e de estranho em relao dicotmica de prprio.

    As reflexes nele apresentadas foram baseadas nos trabalhos de ROZENFELD

    (2007) e ROZENFELD/ VIANA (2008), que abordam resultados de anlise de crenas

    acerca da lngua alem e da cultura-alvo, reveladas em uma pesquisa com estudantes de

    uma universidade pblica, interessados em estudar alemo, e com estudantes/aprendizes

    de um curso de alemo para iniciantes.

    Postulamos neste trabalho que, no ensino de alemo como lngua estrangeira,

    seja considerada e abordada a possvel existncia de imagens prvias estereotipadas

    sobre a lngua e a cultura-alvo, que podem ser nocivas ao processo de aprendizagem.

    Por essa razo, defendemos que o ensino intercultural seja privilegiado, tendo como

    pilares o desenvolvimento da competncia intercultural, que envolve inicialmente, no

    caso desse idioma, a necessidade de um processo de desestranhamento do outro, de

    reflexo e conhecimento acerca do prprio, de entendimento e dilogo entre culturas e

    de aceitao de diferenas. Defendemos, ainda, que o desestranhamento em relao

    lngua e a membros da cultura alem sejam considerados no estabelecimento de

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    objetivos de ensino e de procedimentos metodolgicos, como parte do desenvolvimento

    de competncia intercultural.

    O professor deve considerar o fato de que muitos de seus alunos iniciam a

    aprendizagem de alemo imbudos de imagens de natureza estereotipada com relao

    lngua e ao povo. A existncia de esteretipos entre os alunos j foi apontada em

    investigaes cientficas como prejudicial aprendizagem de LE. Assim, importante

    que o professor reflita sobre tal fato e o considere no mbito do estabelecimento dos

    procedimentos metodolgicos, buscando aqueles que possam levar os alunos reflexo

    crtica sobre suas crenas, sensibilizao em relao a diferenas na forma de pensar

    dos membros da cultura-alvo, ao desestranhamento do outro e desconstruo de

    bloqueios e esteretipos.

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    Gegenstandskonstitution. Akten des III. Internationalen Kongresses der Gesellschaft

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    Recebido em 01/03/2011

    Aprovado em 15/04/2011