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CADERNO CRH, Salvador, v. 22, n. 56, p. 297-309, Maio/Ago. 2009 297 Marco Aurélio Santana, Ruy Braga O presente artigo analisa a relação estabelecida entre a sociologia do trabalho e o sindicalismo no Brasil. Isso é feito cobrindo-se três momentos dessa relação. Tendo como pano de fundo as suces- sivas conjunturas políticas e econômicas, partimos daquela primeira geração de sociólogos do trabalho até o período recente, buscando identificar os pontos mais característicos dessa trajetó- ria. Trabalhamos com a hipótese segundo a qual, ao longo de sua trajetória, a sociologia do trabalho no Brasil foi marcada, em seus primórdios, pela busca de afirmação e profissionalização (1950/1960); posteriormente, desenvolveu um forte engajamento político-social, assumindo um caráter público e servindo para conformar certas identidades sociais (1970/1980); por fim, teria derivado para uma sociologia para as políticas públicas (1990/2000). PALAVRAS-CHAVE: sociologia do trabalho, identidades sociais, trabalhadores, sindicalismo. DOSSIÊ SOCIOLOGIA DO TRABALHO E PROFISSIONALIZAÇÃO Na apresentação que fez do livro de Juarez Rubens Brandão Lopes, A crise do Brasil arcaico (1967), notável estudo inspirado em Weber sobre a prática das relações de trabalho brasileiras no final da década de 1950, a partir de indústrias têxteis em dois municípios localizados no Estado de Minas Gerais, Leôncio Martins Rodrigues observou: O mérito maior dessa publicação – que aproveita as melhores contribuições da moderna Sociologia Industrial – consiste, a nosso ver, em ter posto de lado as considerações normativas e ideológicas que habitualmente se infiltram nos escritos refe- rentes à classe operária (Rodrigues, 1967). Sabemos que, no decorrer do período de O PÊNDULO OSCILANTE sociologia do trabalho e movimento sindical no Brasil 1 Marco Aurélio Santana * Ruy Braga ** profissionalização das ciências sociais no Brasil, especialmente a partir do início dos anos 1960, as visões totalizantes de nossa realidade social foram, até certo ponto, secundarizadas pelos estudos que sucederam as obras seminais de Sérgio Buarque, Raymundo Faoro e Gilberto Freyre. A profissiona- lização do campo sociológico brasileiro priorizou trabalhos mais voltados para o esclarecimento sis- temático de aspectos até então não suficientemen- te estudados de nossa formação histórica. Repre- sentativa desse momento, a observação de Leôn- cio Martins Rodrigues sintetiza uma preocupação permanente da sociologia do trabalho desse perío- do: diferenciar-se dos estudos “militantes” sobre os trabalhadores brasileiros – especialmente, da- queles oriundos do Partido Comunista Brasileiro (PCB) –, para ser capaz de consolidar um campo reflexivo fundamentalmente orientado pela socio- logia profissional acadêmica. No contexto da profissionalização de sua prática, a sociologia do trabalho, nos anos 1960, ocupou-se principalmente da formação de uma “nova” classe operária surgida durante a urbaniza- ção, industrialização e modernização acelerada da * Doutor em Sociologia. Professor do Programa de Pós- Graduação em Sociologia e Antropologia da Universida- de Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Largo de S. Francisco, 1 - Sala 420. Centro. Cep: 20051- 070. Rio de Janeiro - RJ - Brasil. [email protected] ** Doutor em Ciências Sociais. Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Pau- lo - USP. [email protected] 1 O presente artigo é uma versão revista e ampliada do artigo publicado em Work & Occupations, n. 36, 2009

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    O presente artigo analisa a relao estabelecida entre a sociologia do trabalho e o sindicalismo noBrasil. Isso feito cobrindo-se trs momentos dessa relao. Tendo como pano de fundo as suces-sivas conjunturas polticas e econmicas, partimos daquela primeira gerao de socilogos dotrabalho at o perodo recente, buscando identificar os pontos mais caractersticos dessa trajet-ria. Trabalhamos com a hiptese segundo a qual, ao longo de sua trajetria, a sociologia dotrabalho no Brasil foi marcada, em seus primrdios, pela busca de afirmao e profissionalizao(1950/1960); posteriormente, desenvolveu um forte engajamento poltico-social, assumindo umcarter pblico e servindo para conformar certas identidades sociais (1970/1980); por fim, teriaderivado para uma sociologia para as polticas pblicas (1990/2000).PALAVRAS-CHAVE: sociologia do trabalho, identidades sociais, trabalhadores, sindicalismo.

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    SOCIOLOGIA DO TRABALHO EPROFISSIONALIZAO

    Na apresentao que fez do livro de JuarezRubens Brando Lopes, A crise do Brasil arcaico(1967), notvel estudo inspirado em Weber sobre aprtica das relaes de trabalho brasileiras no finalda dcada de 1950, a partir de indstrias txteis emdois municpios localizados no Estado de MinasGerais, Lencio Martins Rodrigues observou:

    O mrito maior dessa publicao que aproveitaas melhores contribuies da moderna SociologiaIndustrial consiste, a nosso ver, em ter posto delado as consideraes normativas e ideolgicasque habitualmente se infiltram nos escritos refe-rentes classe operria (Rodrigues, 1967).

    Sabemos que, no decorrer do perodo de

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    Marco Aurlio Santana*

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    profissionalizao das cincias sociais no Brasil,especialmente a partir do incio dos anos 1960, asvises totalizantes de nossa realidade social foram,at certo ponto, secundarizadas pelos estudos quesucederam as obras seminais de Srgio Buarque,Raymundo Faoro e Gilberto Freyre. A profissiona-lizao do campo sociolgico brasileiro priorizoutrabalhos mais voltados para o esclarecimento sis-temtico de aspectos at ento no suficientemen-te estudados de nossa formao histrica. Repre-sentativa desse momento, a observao de Len-cio Martins Rodrigues sintetiza uma preocupaopermanente da sociologia do trabalho desse pero-do: diferenciar-se dos estudos militantes sobreos trabalhadores brasileiros especialmente, da-queles oriundos do Partido Comunista Brasileiro(PCB) , para ser capaz de consolidar um camporeflexivo fundamentalmente orientado pela socio-logia profissional acadmica.

    No contexto da profissionalizao de suaprtica, a sociologia do trabalho, nos anos 1960,ocupou-se principalmente da formao de umanova classe operria surgida durante a urbaniza-o, industrializao e modernizao acelerada da

    * Doutor em Sociologia. Professor do Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Antropologia da Universida-de Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.Largo de S. Francisco, 1 - Sala 420. Centro. Cep: 20051-070. Rio de Janeiro - RJ - Brasil. [email protected]

    ** Doutor em Cincias Sociais. Professor do Programa dePs-Graduao em Sociologia da Universidade de So Pau-lo - USP. [email protected]

    1 O presente artigo uma verso revista e ampliada doartigo publicado em Work & Occupations, n. 36, 2009

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    sociedade brasileira. O processo de industrializa-o dirigido pelo Estado populista,2 nos anos1950, redefiniu a estrutura de classes do pas,reestruturando as instituies polticas oligrquicasdominadas pelas antigas aristocracias rurais e con-solidando o advento de um novo proletariado deorigem rural: massa urbana recm-chegada do cam-po, vivendo nas periferias dos centros urbanosindustriais e sem vnculos simblicos, polticosou organizativos com a antiga classe operria for-mada no incio do sculo XX.

    No era de se estranhar, portanto, que a re-lao entre as massas operrias e o Estadopopulista estivesse no centro das preocupaesdessa nascente sociologia profissional do trabalho.Ao menos duas vertentes interpretativas se conso-lidaram naquele perodo: em primeiro lugar, sur-giram estudos que buscavam investigar a relaodos trabalhadores com os sindicatos por meio daproblematizao das origens culturais e regionaisda classe operria (Lopes, 1964; Rodrigues, 1970).Em seguida, vieram as investigaes dedicadas relao entre o sindicalismo e o Estado populistana formao da conscincia de classe (Simo, 1966;Rodrigues, 1968).

    De acordo com Vianna (1986a), esses estu-dos, que praticamente inauguraram a sociologiaprofissional do trabalho no Brasil, j eram marca-dos pela concepo de que, antes de 1930, o pro-letariado industrial, formado majoritariamente porimigrantes e orientado pela ideologia anarquista,havia conseguido garantir sua autonomia, espon-taneidade e mpeto de luta, mas que, emcontrapartida, no ps-1930, com a constituio deum novo proletariado de origem rural, portadorde certa passividade poltica e sem contato comideologias anticapitalistas, a classe operria teriase tornado uma presa fcil das manipulaes des-se Estado populista.

    DA SOCIOLOGIA PROFISSIONAL QUES-TO DO TRABALHO NO BRASIL

    Acompanhando a profissionalizao das ci-ncias sociais no Brasil, a reflexo desse perodoadquiriu formas claramente identificadas com asdiferentes interpretaes da sociedade capitalistaindustrial moderna: a escola estadunidense das re-laes industriais (Elton Mayo) e a sociologia dotrabalho francesa (Georges Friedmann, Pierre Naville,Alain Touraine...), notadamente (Lopes, 1964;Rodrigues, 1970). O contraste com a gerao anteri-or de estudos baseados nas anlises de intelectuaisvinculados organicamente aos diferentes partidospolticos operrios, sobretudo, ao PCB, tornou-sepatente (Miglioli, 1963).

    Para os pioneiros da sociologia profissionaldo trabalho brasileira, tratava-se de uma luta sim-blica travada no terreno cientfico contra as ideo-logias poltico-programticas orientadas por tradi-es partidrias. Da o desejo de forte diferencia-o verificado em alguns dos mais importantesestudos dessa poca. Nas palavras de Guimares:

    Para os pioneiros da construo do campo da So-ciologia do Trabalho Industrial, o estudo da rea-lidade social do trabalho era terreno onde se tra-vava uma batalha crucial: a batalha pela cons-truo de um campo de investigaes sociolgi-cas sobre o trabalho e os trabalhadores. Ou seja,naquele momento, estava em jogo um desafio oda legitimao da Sociologia enquanto discipli-na, capaz de gerar uma nova abordagem da rea-lidade social (2004, p. 43).

    J em meados dos anos 1970, contudo, asnoes de passividade poltica e de ausncia deconscincia de classe do novo proletariado in-dustrial, presentes nas anlises sociolgicas dadcada anterior, iriam ser rapidamente substitu-das por outras diametralmente opostas: aradicalidade e a combatividade do novosindicalismo. Vejamos... No dia 12 de maio de1978, os trabalhadores da fbrica de caminhesSaab-Scania, no ABCD paulista,3 decidiram pa-

    2 Uma das principais caractersticas do fenmeno populista o tipo de vnculo carismtico estabelecido entre asmassas urbanas e o lder poltico. Esse fato supe a utili-zao de um diversificado sistema de tcnicas polticasutilizadas para construir o consentimento das classes tra-balhadoras ao projeto poltico populista, alm de garantira adeso das classes mdias urbanas (Ianni, 1978). Maisrecentemente tem-se buscado rediscutir a noo depopulismo. Ver, entre outros, Ferreira (2001).

    3 Zona industrial formada por sete municpios da RegioMetropolitana da cidade de So Paulo: Santo Andr (A),So Bernardo do Campo (B), So Caetano do Sul (C),Diadema (D), Mau, Ribeiro Pires e Rio Grande da Serra.

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    rar as mquinas e cruzar os braos. Reivindicandoum aumento salarial em torno de 20%, os 2 mil tra-balhadores metalrgicos daquela empresa promove-ram o incio de uma greve que iria marcar poca. Aparalisao da Saab-Scania iniciou um intenso mo-vimento grevista que espalharia por toda a regio doABCD paulista e para alm dela, com importantesdesdobramentos polticos na luta contra a ditaduracivil-militar implantada no Brasil ps-1964.

    Os movimentos que tiveram lugar no ABCDpaulista no final dos anos 1970 inauguraram umaampla luta contra a superexplorao do trabalho ea legislao poltica repressiva que atrelava o mo-vimento sindical ao Estado e restringia as formasde representao dos trabalhadores. Marcadas pelaespontaneidade e por sua radicalidade, tais grevesinauguraram o que seria uma nova prtica sindi-cal e poltica. Rejeitando a colaborao, os pactossociais e o imobilismo que, em seu entendimento,haviam caracterizado boa parte da esquerda brasi-leira at ento, as greves do ABCD criaram ummovimento social fundado no confronto social ena independncia de classe.

    Aps o grande ciclo grevista do final dos anos1970, especialmente com as greves de 1978-1979, adcada de 1980 iniciou-se com um claro refluxo daao sindical. Se, entre 1978 e 1979, o nmero detrabalhadores em greve saltou de meio milho paramais de trs milhes e duzentos mil, em 1980, con-tudo, esse nmero cai para oitocentos mil. A com-binao da derrota da grande greve dos 41 diasno ABCD paulista, no incio de 1980, com arecesso econmica, lanou o movimento sindicalna direo do terreno econmico-corporativo, preo-cupado com a preservao dos empregos e com agarantia do poder aquisitivo dos salrios.

    A tendncia ao declnio das greves somentefoi revertida a partir de 1983, com o ressurgimentode um ativismo sindical fortemente engajado noterreno da poltica e, em grande medida, sustenta-do pelo sucesso do movimento pelas Eleies Di-retas para Presidente da Repblica tambm co-nhecido como movimento pelas Diretas J. Essemovimento agregou diversos setores da sociedadebrasileira, tendo tomado parte dele vrios partidos

    polticos de oposio ao regime civil-militar, almde lideranas sindicais, intelectuais, estudantis ejornalsticas, tais como, Luiz Incio Lula da Silvae Fernando Henrique Cardoso.

    Sinteticamente, aps algumas manifestaespblicas nos Estados de Pernambuco e de Gois,ocorre um primeiro comcio no dia 27 de novem-bro de 1983, na cidade de So Paulo. Com o cres-cimento do movimento, que coincidiu com o agra-vamento da crise econmica em que coexistiamum processo hiperinflacionrio (a taxa de inflaochegou a 239% no ano de 1983) e uma profundarecesso , ocorreu um novo ciclo de mobilizaodos sindicatos. Em 1984, o movimento sindicalreuniu condies para se mobilizar abertamente.Marcado para o dia do aniversrio da cidade deSo Paulo (25 de janeiro), o primeiro grande com-cio da campanha por eleies diretas para presi-dente foi viabilizado por Franco Montoro, entogovernador paulista, na Praa da S. A partir da,o movimento ganhou as ruas e a mdia.

    Mesmo depois da relativa derrota do movi-mento pelas Diretas j,4 na segunda metade dosanos 1980, o movimento sindical brasileiro viveuum momento de forte ascenso, traduzido pela re-novao de seu impulso grevista. O pice do movi-mento grevista dos anos 1980 ocorreu em 1988,quando tivemos 63,5 milhes de jornadas de traba-lho paradas um volume superior ao de todos osanos anteriores. A durao das greves foi de, emmdia, sete dias em 1987 e nove dias em 1988.Essa dcada assistiu, tambm, ao ressurgimento dasgreves gerais, que procuraram assumir uma dimen-so nacional: 21 de julho de 1983, 12 de dezembrode 1986, 20 de agosto de 1987 e, coroando essa fasede greves nacionais, 14 e 15 de maro de 1989 (ver,para mais detalhes, Noronha, 1992).

    4 Durante o ms de abril de 1984, o ento presidente-general Joo Figueiredo promoveu o conhecido Pacote deAbril, aumentando a censura sobre a imprensa e promo-vendo prises e aberta violncia policial. A Emenda dasDiretas, batizada com o nome do deputado federal autorda emenda constitucional, deputado Dante de Oliveira,foi derrotada na Cmara dos Deputados no dia 25 de abrilde 1984 (para uma detalhada descrio dos acontecimen-tos, ver Oliveira e Leonelli, 2004). No entanto, o movi-mento pelas Diretas J teve grande importncia naredemocratizao do Brasil.

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    Essa ltima grande greve geral exigiu a re-posio das perdas salariais decorrentes das pol-ticas de ajuste inflacionrio e objetivou garantir umapoltica econmica favorvel aos interesses dos tra-balhadores, tendo atingido cerca de 35 milhes detrabalhadores. Trata-se do movimento grevista demaior envergadura da histria das greves gerais dopas e da mais importante greve geral dos anos1980 que paralisou amplos setores ligados in-dstria, transportes, funcionalismo pblico e ser-vios em praticamente todas as principais capitaisdo pas (Antunes, 1995).

    Alm das greves gerais, os anos 1980 pre-senciaram, tambm, a ecloso de vrias greves comocupao de fbricas. Em 23 de novembro de 1981,o ciclo grevista com ocupao comea com a greveda Ford em So Bernardo do Campo. Essa foi umagreve muito peculiar, pois alimentada pelo protes-to contra a condenao de Lula e de outros impor-tantes sindicalistas cassados pela Lei de Seguran-a Nacional (Brito, 1989). Em 1985, ocorreu a gre-ve de 28 dias dos operrios metalrgicos da Gene-ral Motors de So Jos dos Campos, realizada en-tre os meses de abril e maio.

    Em maro de 1989, a regio de Contagem,no Estado de Minas Gerais, viveu duas ocupaesde fbricas: as greves da Belgo-Mineira e daMannesmann. A resistncia dos trabalhadores ameaa de desocupao da fbrica pela polcia che-gou a ponto de eles cercarem os galpes onde dor-miam com arame farpado, tambores de leo e pls-tico, ameaando incendiar as plantas fabris casohouvesse a entrada da Polcia Militar. Situao si-milar ocorreu em novembro de 1988, quando osmetalrgicos da Companhia Siderrgica Nacionalde Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro,deflagraram sua quarta greve na dcada de 1980.Ocorreu a ocupao da fbrica por dezesseis dias ea invaso por tropas do exrcito que reprimiramos operrios, deixando atrs de si um saldo detrs trabalhadores mortos (Graciolli, 1997).

    Sinteticamente, pela importncia doativismo sindical e pelo nmero de greves, os anos1980 podem ser considerados a dcada de ourodo movimento sindical brasileiro. Ao mesmo tem-

    po em que avanava em seus nveis de mobilizao,ganhava tambm em conformao poltico-institucional. Ser ao longo dessa dcada que vera-mos o sindicalismo brasileiro formando centrais sin-dicais de corte nacional, que dariam vertebrao ssuas lutas gerais, como, por exemplo, a Central ni-ca dos Trabalhadores (CUT), em 1983, e a fundaoe o crescimento de um partido poltico de forte mar-ca sindical em sua origem, o Partido dos Trabalhado-res (PT), em 1980. Esses dois elementos, inclusive,serviriam de pontos de apoio tambm para o desen-volvimento do novo sindicalismo.

    Assim, tnhamos um movimento dos traba-lhadores em franco ascenso poltico-institucional,com forte presena no cenrio e no debate polticomais geral, com amplo poder de mobilizao e ori-entao voltada para base de trabalhadores dascategorias profissionais. Tudo isso se refletiu, comovimos, em um enorme volume de greves. Grevesem empresas, greves setoriais, greves nacionais,greves com ocupao de fbricas. Naturalmente, asociologia do trabalho brasileira no poderia atra-vessar inclume esse perodo e rapidamente pas-sou a privilegiar a observao da vida cotidianadas fbricas e a construo subjetiva da experin-cia do trabalho fabril.

    Uma marcante presena do marxismo comoprincipal instrumento terico de anlise tempe-rado pela recepo dos trabalhos de HarryBraverman e de Edward Palmer Thompson5 pdeser claramente identificada em praticamente toda adcada. Como era de se esperar, o estudo das gre-ves e conflitos sociais mudou seu foco do desem-penho das lideranas sindicais, dcadas de 1960e 1970, para a anlise da relao entre as reivindi-caes dos trabalhadores, as condies do proces-so de trabalho e as prticas sociais inovadoras queemergiam do cho de fbrica.

    Na verdade, esse novo estilo investigativoemergiu caracterizado por uma forte crtica que-las anlises que consideravam a classe trabalhado-ra brasileira passiva e destituda de conscin-

    5 Acerca da recepo da obra de Thompson no Brasil, in-cluindo as produes historiogrfica e sociolgica, verMattos(2006).

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    cia de classe. Ao estudarem as prticas sociaisdos trabalhadores no cho de fbrica, os novospesquisadores foram revelando, por meio de seusestudos de caso, grupos de trabalhadores hetero-gneos, capazes de desenvolver complexas estra-tgias de resistncia dominao e disciplinafabril. Segundo Sader e Paoli,

    Os pesquisadores das cincias sociais nos anos 80se viram diante de um momento poltico marca-do por movimentos vrios de luta contra opres-ses diversas, cujo processo tirava de cena os atri-butos de alienao e heteronomia tradicional-mente atribudos aos trabalhadores (1986, 60).6

    Por meio da experincia do novo sindica-lismo, os socilogos do trabalho brasileiros pas-saram a encarar o desafio de reconstruir uma in-terpretao cientfica acerca das prticas sociais dostrabalhadores, sustentada na recuperao do sig-nificado da perspectiva dos mltiplos sujeitos quea construam. A interlocuo da sociologia do tra-balho com esses novos sujeitos polticos fez comque as relaes entre a vida fabril e a vida extrafabrilfossem valorizadas, destacando os vnculos entre,de um lado, as prticas e as representaes sociaisconstrudas na famlia, na escola, nos bairros ope-rrios e, de outro, o cotidiano produtivo (Lobo;Soares, 1985; Cabanes, 2002).

    UMA SOCIOLOGIA PBLICA DO TRABALHO

    Como era de se esperar, os socilogos brasi-leiros mostraram-se profundamente atrados pelocarter inovador das demandas surgidas no con-texto das grandes lutas de classes do final dos anos1970 e, em um momento, marcado pelo avanodos movimentos populares contra o regime auto-ritrio, ajudaram a construir a identidade desse

    novo sujeito poltico: o novo sindicalismo. Umaespcie de vnculo orgnico entre estudiosos esindicalistas foi sendo forjado, legitimando a opi-nio segundo a qual o novo sindicalismo co-roou a ao de um grupo social que, embora des-frutando de uma situao salarial relativamentevantajosa, estava igualmente submetido a difceiscondies de trabalho impostas pelas empresas nocontexto do regime civil-militar, razo pela qualseria capaz de assumir a vanguarda de um movi-mento de contestao ao autoritarismo da gestoda fora de trabalho.

    perfeitamente possvel afirmar que, ao lon-go dos anos 1970 e 1980, forjou-se uma sociologiapblica orgnica do trabalho no Brasil, confor-me a definio recentemente consagrada porMichael Burawoy (2005). Alis, no nos esquea-mos de que os conceitos gramscianos de intelec-tual orgnico e de hegemonia tornaram-se moe-da corrente nesse perodo, nas fileiras do movi-mento sindical combativo, e o prprio AntonioGramsci foi alado curiosa condio de intelec-tual semioficial do PT e da CUT.7 Nesses ter-mos, a sociologia do trabalho brasileira, agora p-blica e orgnica, cumpriu com um importantepapel na tarefa de garantir e legitimar o juzo se-gundo o qual o novo sindicalismo, ao enfrentarconjuntamente as gerncias e os militares, articu-lando a crtica ao autoritarismo fabril crtica aoautoritarismo estatal, delineava uma autntica al-ternativa dos trabalhadores aos dilemas vividospela transio democrtica brasileira.

    Alm da noo de alternativa dos trabalha-dores, outra ideia muito marcante da sociologiapblica do trabalho brasileira do perodo e quefoi central para a consolidao da ideia do novosindicalismo a noo de ruptura radical como passado. Para Francisco Weffort, um dos princi-pais expoentes dessa nova vertente terica, o gol-pe de 1964 teria aberto a perspectiva de repensartanto terica quanto politicamente a participaoda classe trabalhadora na cena poltica brasileira:

    6 Partindo aqui de uma linha um tanto esquemtica, dir-amos que, onde antes se via a importncia do PartidoComunista e de sua organizao para os trabalhadores,com certo tom oficial, passou-se a ver as bases sociolgi-cas e suas determinaes, que teriam como efeito analti-co a ideia de passividade; agora, frente ao forte ascensooperrio, ia-se em busca do trabalhador puro, autno-mo, at entoperdido e soterrado nas leituras e pr-ticas que primavam pelo foco nas lideranas, partidos,mquinas sindicais e opresso das empresas.

    7 Acerca da influncia do pensamento de Gramsci no PT,assim como na sociologia e cincia poltica brasileiras, verBianchi (2007).

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    O perodo ps-64 representa uma ruptura, oumelhor, oferece as bases para uma ruptura, aonvel das elites intelectuais e polticas, da ima-gem elitista feita sobre a classe operria. Oelitismo veio tona, o que cria a possibilidade dese formular um ponto de vista novo sobre o quepode vir a ser a participao da classe operriaem nossa poltica (Weffort, 1976, p. 82).

    A viso da histria marcada pela rupturaradical com o passado, contudo, no significavaapenas uma distino entre partes, mas, em gran-de medida, veio somada valorizao de uma daspartes em que se cindira a histria, jogando-se aoutra imediatamente para o espao do negativo,uma espcie de anjo cado do processo. Sintoma-ticamente, tanto a velha sociologia profissionaldo trabalho quanto a nova sociologia orgnica

    do trabalho elegem o perodo 1930-64 como o mo-

    mento da produo do erro da classe operria. Dessemodo, as anlises realizadas sob essa perspectivano s passaram ao largo das possveis continui-dades e semelhanas entre os perodos nos quaisdividiam a histria, como tambm tiveram dificul-dades em perceber suas especificidades.

    No caso da constituio do novo sindica-lismo, tanto a ideia da ruptura como a dadesqualificao de outros perodos produziramefeitos discursivos e prticos, levando a uma con-fuso entre o que e o que deve ser. Se a velhasociologia profissional do trabalho partiu da su-posta positividade de um dos perodos (velhaclasse trabalhadora imigrante) para tentar enten-der a negatividade do outro (novo proletariadode origem rural, refm do Estado populista), anova sociologia pblica do trabalho brasileirapartiu da suposta negatividade de um dos per-odos (sindicalismo pelego, colaboracionista...)para a proposio da positividade de outro (onovo sindicalismo, combativo e autntico).

    Diferentemente, porm, dos estudos da ve-lha sociologia profissional do trabalho, algunsestudos da nova sociologia pblica do trabalhotiveram forte influncia sobre o movimento sindi-cal, fornecendo-lhe e com ele adquirindo novasdimenses, em um contexto marcado porredefinies e disputas. A divergncia e a disputade posies nos campos poltico e sindical leva-

    ram ao estabelecimento de uma via de mo duplaentre os sindicalistas e o meio acadmico. Assim,se a identificao das correntes interpretativas comos grupos sindicais envolvidos refletiu simpatiase proximidades com tendncias polticas, os aca-dmicos contriburam, com suas anlises, igual-mente, para reforar a identidade dos grupos unsem relao aos outros.

    a partir dessa relao que se estabelece-ram os marcos centrais que informaram suas vi-ses acerca do passado e do presente, balizando ocorte entre o velho e o novo. A consolidao,nos estudos acadmicos, de uma viso crtica acercado papel desempenhado pelos militantes do PCBe pelo movimento sindical no perodo 1945-64 deu-se, sobretudo, com os ensaios de Weffort (1973;1978a), um dos mais vigorosos pilares de susten-tao da nova sociologia pblica do trabalho. Aleitura do passado apresentada pelo autor no es-tava desarticulada de suas prticas e projetos nopresente. Ao longo da dcada de 1970, Weffort foiativo participante dos debates travados no campopoltico sobre a formao de um partido de natu-reza popular e socialista no Brasil, o que resultouem sua associao ao grupo que se engajou na cons-truo do PT.8

    A produo acadmica de Weffort acerca doperodo anterior a 1964, segundo sua prpria in-teno, mantm claras relaes com a sua inseroe orientao no campo poltico. Para ele,

    ... a reviso crtica do passado no se refere ape-nas ao passado [...] o problema que inevitavel-mente se coloca em face das questes do presen-te de uma esquerda perplexa e desvinculada daclasse operria o da avaliao crtica da heran-a recebida.[...] Com que parte da herana deve-mos ficar? (Weffort, 1978b, p. 17-18).

    Em suas reflexes acerca das orientaes daclasse operria no pr-1964, Weffort (1973; 1978a)8 Francisco Weffort uma figura-chave desse perodo.Alm da qualidade de sua interpretao terica sobre asociedade brasileira e latino-americana, especialmente pre-sente em seus estudos sobre o populismo, Weffort foium destacado dirigente do PT, chegando ao cargo de Se-cretrio-Geral do partido j no incio da dcada de 1980.Imediatamente aps a derrota de Luiz Incio Lula da Silvapara Fernando Henrique Cardoso, em 1994, Weffort dei-xou a secretaria-geral do PT para assumir transformisti-camente o cargo de Ministro da Cultura do governo deFernando Henrique Cardoso.

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    confere centralidade prtica sindical do PCB, vis-ta como agente fundamental na constituio do queele chama de sindicalismo populista. Segundo suaanlise, o sindicalismo praticado por aqueles mili-tantes teria sido pautado pelo reformismo naciona-lista; pelo controle das massas, com vistas a dar con-tinuidade ao populismo; pela centralidade atribu-da ao Estado, e no sociedade civil, como espaode interveno; pela orientao dirigida para a atua-o nos setores decadentes da economia (indstriatradicional) e junto ao setor pblico; pela prioridadedada aos objetivos polticos em detrimento dos eco-nmicos. Na viso do autor, sob essa orientao, osindicalismo do perodo 1945-64 revelou-se incapazde assumir o controle da classe operria dos setoresprivados modernos, aqueles setores potencialmentedecisivos do movimento operrio.

    Alm disso, essa prtica, em seu conjunto,teria resultado na dependncia do movimento sin-dical em relao ao Estado e no distanciamentodas bases. Esse ltimo aspecto apresentava os li-mites fundamentais da orientao stalinista, queno priorizava as organizaes das bases operri-as nas empresas, nico fundamento slido de qual-quer perspectiva de reorganizao do conjunto domovimento operrio em um sentido democrtico eindependente (Weffort, 1978a, p. 3).

    Um dos principais pontos realados na an-lise acima o pouco empenho dos comunistas naalterao da estrutura sindical ento vigente. As-sim, seja nas origens do sindicalismo populista(1945-46), seja em seu perodo de amadurecimen-to e configurao final (1955-64), os comunistasteriam dado vida estrutura sindical corporativa,sem apresentar qualquer caminho para sua supe-rao. Um exemplo disso, ainda de acordo comWeffort, seria o seu reduzido empenho no comba-te ao imposto sindical, elemento essencial ma-nuteno e reproduo da referida estrutura.

    Apesar das tentativas de se fazer ressalvas posio de Weffort, empreendidas por autores li-gados ou no s foras polticas em disputa (verTroyano, 1978; Maranho, 1979; e Delgado, 1986),as formulaes que buscaram ler o passado alterna-tivamente no avanaram muito, assumindo posi-

    o subalterna no campo analtico. Assim como napoltica, onde o novo sindicalismo, a CUT e o PTiam ocupando cada vez mais espaos e se transfor-mando em foras hegemnicas frente a um PCB queia perdendo cada vez mais terreno, no mundo dasanlises, a interpretao de Weffort (1973; 1978a)tornou-se a leitura hegemnica acerca do passado,preparando o terreno para as futuras investigaesque encontravam, na crtica s prticas presentes epretritas do PCB, seu terreno familiar.

    A FABRICAO DA IDENTIDADE: a sociolo-gia pblica e o novo sindicalismo

    A importncia e a centralidade assumidaspelas formulaes do autor podem ser constata-das pelas diversas pesquisas que as utilizaram.Mesmo nos estudos posteriores que buscaram asua relativizao, as ideias de Weffort continua-ram servindo como um contraponto analtico mui-to frequente. Observando o discurso dos novossindicalistas, vamos perceber que eles tambm ti-nham uma postura bastante crtica acerca do pas-sado. Tomemos como exemplo sua viso sobre aprtica do sindicalismo antes de 1964, no que dizrespeito sua lgica de ao, em geral, e suaposio sobre a estrutura sindical, em particular.

    Segundo Luiz Incio Lula da Silva, entopresidente do Sindicato dos Metalrgicos de SoBernardo do Campo:

    ... teramos de fazer uma certa diviso do movi-mento sindical (entre) antes e aps 64. [...] Euacredito que o movimento sindical antes de 64foi muito usado politicamente, fazia-se talvezuma politicalha, em vez de defender realmentea categoria (NAP.PT-SP, 1981, p. 28).

    Ainda segundo Lula,

    ... o sindicalismo pr-1964 no teria sido autno-mo e independente, porque muitos movimentoseram feitos por interesses polticos, muitas vezesem benefcio de quem estava no poder e mesmode quem no estava, mas queria chegar l (Lulada Silva, 1978, p. 54).

    Por sua vez, Jos Ibrahim, um dos lderes dagreve de Osasco de 1968 e um dos principais repre-

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    sentantes do pensamento das Oposies Sindicaisem fins dos anos 1970, considerava que as tentati-vas de ruptura com a estrutura sindical no perodopr-1964 no seguiram passos corretos, isto , aorientao assumida nesse sentido no teria sido apoltica ... mais consequente de romper com essaestrutura sindical. Porque ela estava sendo feita decima, e o rompimento tem de comear de baixo.(1980, p. 69). Para Olvio Dutra, ento um expoenteda nova viso sindical no setor bancrio, o ... novosindicalismo no podia reproduzir os erros dopassado, criando organismos que no tinham mai-or vinculao com a base (1984, p. 144).

    Efetivando a ligao entre a luta que travavano presente contra o peleguismo e as questesdo passado, Lula chegou a dizer que:

    Os homens que esto todos a, toda a cpula dosindicalismo composta por homens de antes de64. Isso tambm define o pelego: o cara conseguese moldar a qualquer tipo de governo. [...] Novivi bem a poca do Joo Goulart, mas acho queele ouvia muito dirigente sindical de gabinete,sem base popular (NAP.PT-SP, 1981, p. 29).

    Sinteticamente, o sindicalismo do passadoera visto pelos novos sindicalistas como sembases, de cpula, de gabinete, distante da classetrabalhadora e orientado por interesses polticos.Essa viso marcou algumas das concepes queinformaram inicialmente as prticas do novosindicalismo, nas quais as representaes negati-vas acerca do passado eram presena constante,indicando as prticas a serem ultrapassadas nopresente. A negao radical do passado, ou daimagem que se tinha dele, serviu de apoio na bus-ca por uma ruptura entre o novo e o velho.Mas essa no foi sua nica base de sustentao.Esse processo recebeu o reforo de anlises queviam, na conjuntura ps-1964, fortes indcios dedistines e rupturas. Em certos casos, os estudosacabavam por apresentar um misto de anlise aca-dmica e programa de ao, apontando, a partirdo contraste entre o novo e o velho, qual de-veria ser a orientao no campo sindical.9

    Sinteticamente, a emergncia da nova clas-se operria produziu alteraes no campo sindicalque explicitaram as limitaes da estrutura sindi-cal corporativa, a qual tenderia, com isso, a serempurrada para a mudana. Assim, se, no passa-do, o movimento sindical pde se acomodar ouser acomodado... estrutura oficial, nesse novocontexto pareciam ser poucas as chances de aco-modao ao modelo vigente. Essa nova conforma-o da classe repercutiu tambm no espao polti-co, ainda que, em um primeiro momento, de for-ma indireta.

    Tanto quanto os estudos acadmicos, os ato-res mais diretamente envolvidos no movimentosocial tambm pareciam se empenhar em marcaras diferenas desse novo sindicalismo em rela-o trajetria histrica do movimento dos traba-lhadores e em ressaltar que estavam construindouma trajetria alternativa. A ideia do novo, emtermos da composio da classe trabalhadora e dasua orientao poltica, um ponto central no dis-curso do sindicalista Lula, conforme podemosobservar nessa entrevista concedida em 1979:

    O que est existindo l no ABC, principalmenteem So Bernardo, uma massa jovem de traba-lhadores, pessoas que no aceitam esse tipo deexplorao, que querem participar da vida pol-tica do pas, que no viveram o populismo deGetlio Vargas (NAP.PT-SP, 1981, 179).

    Um dos argumentos mais utilizados pelosnovos sindicalistas para se distinguirem das li-deranas do passado era a sua posio crtica di-ante da estrutura sindical corporativa brasileira,vista como um entrave imposto ao movimento dostrabalhadores. Segundo Lula, o movimento sindi-cal teria esse cordo umbilical preso ao Minist-rio do Trabalho (NAP.PT-SP, 1981, p. 66). A es-trutura sindical brasileira, construda de cima parabaixo, seria, no seu entender, totalmente inade-quada, cabendo aos trabalhadores acabar com acontribuio sindical que atrela o sindicato ao Es-

    9 No que se refere s prticas sindicais, Weffort (1972)assinala as distines entre as greves de Contagem e Osascode 1968, organizadas pela base e por empresa, e os movi-mentos do sindicalismo cupulista do perodo 1945-64.

    Segundo sua anlise, que subestima e desprestigia o pa-pel da ao do sindicato oficial naqueles movimentos,poderamos reconhecer, na experincia das greves de 1968,as caractersticas de uma futura organizao sindical in-dependente e autnoma.

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    tado. O sindicato ideal aquele que surge espon-taneamente, que existe porque o trabalhador exigeque ele exista (idem, p. 45).

    Esses argumentos servem para explicitaralguns dos pilares do novo sindicalismo: a crti-ca radical aos mecanismos de tutela do sindicatopelo Estado e a luta pela liberdade e pela autonomiasindicais. Autonomia no s em relao ao Estado,mas tambm em face dos partidos polticos, evitan-do-se, assim, desviar o movimento dos interessesimediatos dos trabalhadores. Para Lula, esse seriaum ponto de distino entre o novo e o velhosindicalismo. No seu entender, o que havia muda-do no sindicalismo brasileiro era o fato de que al-guns dirigentes sindicais buscavam tornar osindicalismo independente de uma vez por todas.

    As vises expostas at aqui, cunhadas naconfluncia entre os estudos sociolgicos e a din-mica do movimento sindical, cumpriram um pa-pel destacado no contexto de fabricao da identi-dade do novo sindicalismo. Tais concepes atin-giram grande importncia em meio luta travadano campo poltico que ampliou suas dimensese seus impactos , coroando o carter pblico eorgnico dessa sociologia do trabalho que se reno-vou conjuntamente com o movimento sindical bra-sileiro nas dcadas de 1970 e 1980.

    UMA SOCIOLOGIA PARA AS POLTICASPBLICAS?

    Batizada pelos economistas brasileiros dea dcada perdida, os anos 1980 terminaramimersos em uma profunda recesso econmica,associada a uma clara guinada poltica: pela pri-meira vez na histria brasileira, um candidato deorigem operria e dirigente emblemtico do novosindicalismo, Luiz Incio Lula da Silva, disputacom chances reais de vitria a presidncia da Re-pblica. A derrota eleitoral nas eleies de 1989para Fernando Collor de Mello, contudo, tradu-ziu-se em um duro golpe para as pretenseshegemnicas do PT e da CUT, alm de expressaruma flagrante derrota daquele projeto poltico for-

    jado nas dcadas de 1970 e 1980, genericamentesocialista e caracterizado pelas noes de alter-nativa dos trabalhadores e independncia pol-tica de classe.

    No terreno da economia, por sua vez, a dca-da de 1990 nasceu em meio a uma grande recessoque atingiu fortemente o conjunto da estrutura pro-dutiva brasileira em especial, os setores operriostradicionais , inaugurando um perodo marcadopela diminuio dos postos de trabalho, pela redu-o do nmero de empregos formais, pela modifi-cao do meio ambiente empresarial na direo daspolticas de subcontratao, terceirizao eflexibilizao das relaes de trabalho...

    Tomados de surpresa, segmentos importan-tes do movimento sindical brasileiro procuraramfazer frente ao que se passava por meio da partici-pao no processo de modernizao conservado-ra dirigido pelas empresas. A experincia dasCmaras Setoriais e o chamado Acordo dasMontadoras tornaram-se os grandes divisores deguas para o movimento sindical brasileiro her-deiro do novo sindicalismo, assim como confi-gurou um grande desafio para os socilogos, espe-cialmente, aqueles vinculados ao PT e CUT.

    De fato, nos primeiros anos da dcada de1990, ocorreu um acalorado debate no interior domovimento sindical brasileiro e que contou coma participao de diversos socilogos sobre aexperincia das Cmaras Setoriais (Cardoso eComin, 1993; Diniz, 1993; Arbix, 1995; Oliveira eComin, 1999). As Cmaras Setoriais constitu-ram uma proposta de modernizao do setorautomobilstico brasileiro, organizada em torno denegociaes que envolveram as empresas, o Esta-do e os sindicatos dos trabalhadores.10

    Nesse modelo, as empresas se disporiam agarantir os empregos dos operrios por um deter-minado perodo e a ampliar a capacidade produti-va do setor, o Estado se comprometeria a diminuira carga tributria para estimular o consumo de car-ros, e os trabalhadores aceitariam moderar suas

    10 Posteriormente, o modelo foi expandido para outrossetores da indstria nacional, sem, contudo, obter a mes-ma repercusso e adeso por parte dos trabalhadores (verMello e Silva, 1999).

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    reivindicaes em troca da manuteno do nvelde emprego e da correo dos salrios que pas-sou a ser feita mensalmente pela mdia das varia-es dos ndices do ms anterior. O contexto demontagem desse arranjo institucional, num passem tradio de negociaes tripartites, explica, emboa medida, a ateno que as Cmaras Setoriaismereceram por parte dos movimentos sociais, deintelectuais acadmicos e da grande imprensa.

    A essncia da proposta que foi bastantedebatida na poca, no interior tanto do PT quantoda CUT apontava para o estabelecimento demecanismos tripartites de negociao de preos,salrios e tributos, ao longo de toda a cadeia pro-dutiva, objetivando a criao de uma espcie deFrum Nacional de Negociaes, com a partici-pao de entidades nacionais de trabalhadores eempresrios, incluindo representantes do Con-gresso Nacional e de entidades da sociedade civil(Singer, 1994).

    Em 1994, quando o debate sobre o tema foiretomado no interior do PT, por ocasio da cam-panha presidencial de Lula, chegou-se a uma es-pcie de consenso em torno desses mecanismostripartites de negociao: nos termos aprovados no9 Encontro Nacional do PT, as Cmaras Setoriaiscorrespondiam a um importante instrumento dedemocratizao da vida econmica, podendocontribuir para o controle social sobre osoligoplios e assumir um papel fundamental naimplementao da poltica industrial.11

    Independentemente das polmicas em tornoda avaliao dos resultados das Cmaras Setoriais,12

    cabe realar que, com esse debate, o movimento sin-dical brasileiro logrou construir, a partir de institui-es no-acadmicas notadamente, o Dieese (De-partamento Sindical de Estatsticas e Estudos S-cio-Econmicos) e o Desep (Departamento de Es-tudos Sociais, Econmicos e Polticos da CUT) ,

    um discurso analtico capaz de interagir com a so-ciologia profissional acadmica em condies derelativa igualdade. Naturalmente, a participaode assessores sindicais, muitos deles socilogose economistas, tanto no Dieese quanto no Desep todos muito familiarizados com a linguagem aca-dmica, os mtodos e as tcnicas da pesquisaprofissional foi de fundamental importncia paraque essa situao de relativa igualdade entre omovimento sindical e a sociologia profissionalpudesse se tornar vivel.13

    Por mais que existam polmicas em tornodas razes capazes de explicar as recentes trans-formaes do movimento sindical brasileiro, incontestvel que a transio da dcada de 1980para os anos 1990 foi marcada pela substituio deum estilo de ao sindical baseado na centralidadedo conflito por outro estilo que claramente privile-gia as prticas de negociao, ou, ao menos, comoindicou Rodrigues (1995), de cooperaoconflitiva. A relao de grande parte da sociologiado trabalho com o sindicalismo, nesse perodo, evo-luiu em relativa harmonia com os novos tempos.Por tudo que representou e pelo momento histricono interior do qual se desenvolveu, o debate sobreas Cmaras Setoriais encerrou um ciclo dessa re-lao, ao mesmo tempo em que inaugurou outro.

    Por um lado, aquele vnculo solidrio entreacadmicos e lideranas sindicais marcado pelocarter crtico, militante e interdependente de umdilogo que chegou a forjar certo consenso em tor-no do lugar e das tarefas histricas do novosindicalismo brasileiro foi esgarado e superado.O prprio lcus do dilogo mudou: da academiapara as instituies de pesquisa construdas pelomovimento sindical. Na verdade, o debate sobre asCmaras Setoriais pode ter representado o come-o de uma renovada instrumentalizao da socio-logia do trabalho, cujo sentido apontava ineluta-velmente para a formulao de polticas pblicas.

    11 Ver, para mais detalhes, Diretrio Nacional do PT (1998).12 De fato, para as montadoras o acordo foi muito vantajo-so, aumentando as vendas. J o nmero de empregos nosetor caiu. No tocante aos salrios, dados do DIEESE de-monstram que os nveis salariais foram estabilizados, semhaver, todavia, nenhuma recuperao das perdas sofridasanteriormente (ver dados citados por Anderson, 1997).

    13 A consolidao e desenvolvimento desses corpos tc-nicos por dentro ou vinculados s estruturas sindicaisfez com que mesmo as Organizaes No-Governamen-tais, que, em fins dos anos 1970 e durante os anos 1980,auxiliaram o sindicalismo com seus assessores, dimi-nussem muito seu grau de insero e ao.

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    Nesses termos, digna de nota a recente incorpo-rao direta de acadmicos aos rgos do governo,especialmente ao Ministrio do Trabalho e Empre-go (MTE), com a eleio de Lula e que passaram formulao imediata e ao debate de tais polticas.

    CONSIDERAES FINAIS

    A anlise da relao entre a sociologia dotrabalho e o sindicalismo no Brasil deixa claro queela experimenta um movimento quase pendular: dacrtica terico-metodolgica ao engajamento socialdos estudos sobre o trabalho da dcada de 1950, asociologia do trabalho brasileira emerge, nos anos1960, marcada por um primeiro ciclo deprofissionalizao. Da renovao das lutas sociaisacompanhadas por uma nova onda de engajamentosocial, presente nas dcadas de 1970 e de 1980,passamos para um novo ciclo de profissionalizaonas dcadas de 1990 e 2000. Uma profissionalizaoque tem em comum com aqueles trabalhos pionei-ros da dcada de 1960 o cuidado com os mtodose as tcnicas de pesquisa, assim como com a valo-rizao instrumental do conhecimento sociolgi-co. Entretanto, as coincidncias acabam quandopensamos nos diferentes tipos de audincia dodiscurso sociolgico.

    Se, na dcada de 1960, os primeiros socilo-gos do trabalho lutaram simbolicamente por formarum campo singular e uma audincia acadmica paraacolher a sociologia do trabalho nascente, diferenci-ando-a daquele tipo de conhecimento poltico-programtico acerca da classe trabalhadora, de as-cendncia stalinista, a partir dos anos 1990, a dire-o muda no sentido de uma audincia cada vezmais extra-acadmica cujos interesses gravitam emtorno das polticas pblicas e, consequentemente,do poder de Estado. A vitria eleitoral de LuizIncio Lula da Silva, em 2002, parece ter coroadoesse novo ciclo de profissionalizao, com a entre-ga do Ministrio do Trabalho brasileiro para o con-trole da CUT e, posteriormente, da Fora Sindical.A sociologia pblica ter sido definitivamente subs-tituda por uma sociologia para as polticas pbli-

    cas no Brasil? Ou estaria o pndulo dos estilossociolgicos prestes a oscilar novamente, inaugu-rando um novo perodo?

    (Recebido para publicao em abril de 2009)(Aceito em julho de 2009

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    Marco Aurlio Santana, Ruy Braga

    THE ROCKING PENDULUM - sociology oflabor and unions movement in Brazil

    Marco Aurlio SantanaRuy Braga

    The present paper analyzes the relationshipestablished between sociology of labor and theunionism in Brazil. That is done by covering threemoments of that relationship. Having as a backdropthe successive political and economicalconjunctures, we go from that first generation ofwork sociologists to the recent period, trying toidentify the most characteristic points in thattrajectory. We work with the hypothesis accordingto which, along its trajectory, sociology of labor inBrazil was marked, in its origins, by the search foraffirmation and professionalism (1950/1960); later,it developed a strong political and socialengagement, assuming a public character andserving to conform to certain social identities (1970/1980); finally, it would have turned into a sociologyfor public policies (1990/2000).

    KEYWORDS: sociology of labor, social identities,workers, unionism.

    Marco Aurlio Santana - Doutor em Sociologia pela UFRJ. Professor do Departamento de Sociologia eCoordenador do Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Antropologia da UFRJ. Desenvolve pesquisas narea de Sociologia do Trabalho, com nfase em trabalhadores, sindicatos e aes coletivas. Publicou, entreoutros: Homens partidos: comunistas e sindicatos no Brasil (So Paulo, Boitempo, 2001) e Sociologia dotrabalho no mundo contemporneo (em co-autoria com Jos Ricardo Ramalho, 2 edio, Rio de Janeiro:Zahar ed., 2009).

    Ruy Braga - Doutor em Cincias Sociais pela Unicamp. Professor do Departamento de Sociologia da USP.Diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic USP). Desenvolve pesquisas nas reas deSociologia do Trabalho e Teoria Sociolgica. Sua mais recente publicao o livro intitulado Infoproletrios:Degradao real do trabalho virtual (em co-autoria com Ricardo Antunes).

    PENDULE OSCILLANT - la sociologie dutravail et laction des syndicats au Brsil

    Marco Aurlio SantanaRuy Braga

    Ce travail consiste en lanalyse de la relationexistante entre la sociologie du travail et lesyndicalisme au Brsil. Pour ce faire, trois momentsde cette relation ont t pris en considration. Nousavons comme toile de fond les diverses conjoncturespolitiques et conomiques, et comme point dedpart, la premire gnration de sociologues dutravail jusqu une priode rcente, en essayantdidentifier les lments les plus caractristiques decette trajectoire. Nous sommes partis de lhypothseque tout au long de sa trajectoire, la sociologie dutravail a t marque, au Brsil et ses tous premiersdbuts, par la recherche dune affirmation et duneprofessionnalisation (1950/1960); elle sest ensuitedveloppe dans le sens dun engagement politiqueet social considrable en assumant un caractrepublic et en permettant de constituer certainesidentits sociales (1970/1980); enfin, elle serait allevers des politiques publiques (1990/2000).

    MOTS-CLS: sociologie du travail, identits sociales,travailleurs, syndicalisme.