Rumo a uma educação Integral: Uma visão Transpessoal sobre educação e o desenvolvimento do ser
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1
SOCIEDADE PARANAENSE DE ENSINO E INFORMÁTICA FACULDADES SPEI
UNIVERSIDADE INTERNACIONAL DA PAZ- UNIPAZ UNIPAZ-SUL
DIOGO SILVEIRA HEREDIA Y ANTUNES
RUMO A UMA EDUCAÇÃO INTEGRAL:
UMA VISÃO TRANSPESSOAL SOBRE EDUCAÇÃO E O
DESENVOLVIMENTO DO SER
PORTO ALEGRE
2013
2
SOCIEDADE PARANAENSE DE ENSINO E INFORMÁTICA FACULDADES SPEI
UNIVERSIDADE INTERNACIONAL DA PAZ- UNIPAZ UNIPAZ-SUL
RUMO A UMA EDUCAÇÃO INTEGRAL:
UMA VISÃO TRANSPESSOAL SOBRE EDUCAÇÃO E O
DESENVOLVIMENTO DO SER
PORTO ALEGRE
2013
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Sociedade Paranaense de Ensino e Informática – Faculdades SPEI e Universidade Internacional da Paz UNIPAZ-SUL, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Estudos Avançados sobre Psicologia Transpessoal.
Orientador: Jorge Trevisol
3
TERMO DE APROVAÇÃO
Rumo a uma educação Integral:
Uma visão transpessoal sobre educação e o desenvolvimento do Ser
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do titulo de Especialista em Estudos Avançados sobre Psicologia Transpessoal através das Faculdades SPEI e UNIPAZ-SUL. Coordenador do Curso: Mauro Luiz Pozatti
PORTO ALEGRE 2013
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço à dúvida que me mantém alerta e buscador,
Agradeço a serenidade para aceitar e desfrutar da dúvida,
Agradeço a vida pela dúvida e fundamentalmente agradeço àqueles e àquilo que geram e
entretém a vida que chamo de minha.
5
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo refletir a respeito do ser humano e da educação. Descreve
uma proposta teórica que busca contribuir para o desenvolvimento harmônico do ser e dos
coletivos humanos em sua integralidade e complexidade. É um estudo transcultural que
integra minha experiência pessoal enquanto humano e educador com o conhecimento de
tradições de sabedoria, da filosofia, da psicologia transpessoal, da física quântica e de
alguns campos da biologia. Reflete sobre o “porquê educar?”, o “quem educamos?” e o “o
que lhe ensinar?”. É uma jornada profunda, que mesmo que venha sendo trilhada por
sujeitos há milênios nos guarda ainda mistérios a serem explorados e comumente encontra
um abismo que a separa de nossa experiência de vida e prática enquanto educadores seja
em espaços formais ou informais. Tenho a intenção que este trabalho contribua para que
nossa prática enquanto educadores seja repensada e transformada.
Palavras chave: Educação Integral; Busca da Inteireza; Desenvolvimento Humano.
6
RESUMEN
Este trabajo tiene como objetivo reflexionar sobre el ser humano y la educación. Describe
una propuesta teórica que busca contribuir al desarrollo armónico del ser humano y de la
colectividad en su totalidad y complejidad. Se trata de un estudio transcultural que integra
mi experiencia personal como un ser humano y educador con el conocimiento de las
tradiciones de sabiduría, la filosofía, la psicología transpersonal, la física cuántica y
algunos campos de la biología. Reflexiona sobre el "por qué educar?", El "quién educar" y
"¿qué enseñar?". Es un viaje profundo que incluso si estaban siendo pisoteados por los
sujetos durante miles de años bajo custodia misterios aún por explorar y por lo general
encontrar un abismo que separa a nuestra experiencia y la práctica de la vida como
educadores ya sea en el sector formal o informal. Tengo la intención de que este trabajo
contribuye a nuestra práctica como educadores sean repensadas y transformadas.
Palabras clave: Educación Integral, Búsqueda de la Totalidad; Desarrollo Humano.
7
LISTA DE FORMULAÇÕES IMAGÉTICAS:
Formulação Imagética 1- O Universo..................................................................................12
Formulação Imagética 2: Campos de possibilidades da Consciência..................................13
Formulação Imagética 3- Mapa do Ser................................................................................14
Formulação Imagética 4 – Experiência Humana da Consciência........................................21
Formulação imagética 5 - Desenvolvimento Espiralático das Fases da Vida......................22
Formulação imagética 6- Integração harmônica (esq.) e desarmônica (dir.)
da Consciência humana........................................................................................................23
Formulação imagética 7 - Nível superior reprime níveis inferiores e “dobra” níveis
superiores, impedindo seu desenvolvimento........................................................................24
Formulação Imagética 8: Os quatro pilares da educação propostos por Delors e o Quinto
proposto por Pozatti..............................................................................................................26
Formulação imagética 9 – Os 4 Caminhos do Conhecimento.............................................28
Formulação imagética 10 – Qualidades arquetípicas...........................................................35
Formulação Imagética 11 - Valores Humanos Universais...................................................39
Formulação Imagética 12 – Mapa Educacional Integrado.................................................41
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9 2 CRISE DE PARADIGMAS ............................................................................................. 9
3 EDUCAR PARA QUE? ................................................................................................. 11
4 EDUCAR QUEM? .......................................................................................................... 11 4.1 Campo material ......................................................................................................... 14 4.2 Campo Vital ............................................................................................................... 16 4.3 Campo Mental ........................................................................................................... 17 4.4 Campo Supra mental ................................................................................................. 19 4.5 Consciência da Unidade ............................................................................................ 20 4.6 Aspectos Hilo-Holotrópico: o Ser no Universo ......................................................... 20
5 FASES DA VIDA: CICLOS DE DESENVOLVIMENTO DO SER ......................... 22 6 TORNAR-SE PESSOA EM UMA PERSPECTIVA TRANSPESSOAL .................. 23 7 RUMO A UMA EDUCAÇÃO INTEGRAL ................................................................. 25
7.1 Aprender a existir numa determinada realidade ........................................................ 25 7.1.1 Aprender a conhecer ........................................................................................... 26 7.1.2 Aprender a fazer ................................................................................................. 31 7.1.3 Aprender a conviver ........................................................................................... 31 7.1.4 Aprender a amar ................................................................................................. 33 7.1.5 Aprender a Ser .................................................................................................... 34 7.1.6 Qualidades Arquetípicas ..................................................................................... 34 7.1.7 Valores humanos universais ............................................................................... 38
7.2 O desenvolvimento harmônico do ser nos seus diferentes ciclos de vida ................. 42
7.3 Aprender a significar realidades diferentes ............................................................... 44 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 45
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 46
9
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo refletir a respeito do ser humano e da educação.
Descreve uma proposta teórica que busca contribuir para o desenvolvimento harmônico do
ser e dos coletivos humanos em sua integralidade e complexidade.
Este trabalho é um estudo transcultural que integra a revisão de literatura que
realizei sobre o tema com as experiências que tive nos últimos anos nos campos da
educação e saúde, em especial participando do Movimento Guerreiros do Coração,
trabalhando com um grupo de jovens chamado Projeto Jaguar e como aluno do curso de
estudos avançados em psicologia transpessoal. Foi fortemente influenciado pelas
proposições feitas pelo professor Mauro Pozatti sobre uma educação voltada para a busca
da inteireza do Ser.
Discuti mais a fundo os pontos propostos pelo autor citado anteriormente, integrei
novos autores e minha própria visão sobre o tema. Busquei contribuições em vários
campos do conhecimento, principalmente na sabedoria das tradições sapienciais, em
autores da física quântica, psicologia transpessoal, biologia e educação. A visão trazida
aqui propõe uma superação da visão materialista cartesiana de ser humano e de educação.
Apesar de que em alguns momentos vou citar a escola, não farei uma distinção
entre educação escolar e não escolar, entendo que as reflexões contidas aqui podem
contribuir tanto para o re-pensar de espaços educacionais formais (escolas, projetos de
extensão, universidades, etc.) como informais (Espaços de educação popular, etc.).
2 CRISE DE PARADIGMAS
Recebemos constantemente o convite de transformarmos as crenças e valores
compartilhados por nós humanos. Este convite se torna cada vez mais claro à medida que
velhas crises derivadas de nossa visão de mundo materialista se agravam, o capitalismo se
fortalece, fortalecendo consigo a busca desenfreada pelo lucro, o consumismo e a
exploração. A fome segue mesmo que produzamos alimentos suficientes para alimentar a
todos os humanos, pequenas e grandes violências, implícitas ou explicitas, “explodem”
diariamente em nossas relações, a crise ecológica toma proporções mundiais... Passamos a
perceber que o desenvolvimento “exterior”, tecnológico, não foi acompanhado por um
10
desenvolvimento “interior”, da consciência, que nos permita lidar com sabedoria com a
tecnologia que desenvolvemos (WILBER, 2000). Essas crises cada vez mais exigem que
mudemos nossa forma de ver, ser e agir no mundo, exigindo também novos modelos
educacionais (CAPRA, 2006).
Como resolver essas crises não é o problema, existem soluções simples para elas,
mas para isso, é preciso uma mudança radical nas nossas percepções, no nosso pensamento
e nos nossos valores (CAPRA 2006), buscando transformações internas da humanidade e a
ascensão para um nível mais complexo de consciência (GROF, 2000).
Ao mesmo tempo em que o paradigma vigente tem nos conduzido a essas crises,
novas descobertas da ciência não tem sido explicadas pelo paradigma Cartesiano. Apenas
para citar alguns exemplos, Dean Radin (2008) faz uma meta análise com 1019 estudos na
área da parapsicologia, que envolviam “conexão de mente para mente (telepatia),
percepção de objetos ou eventos à distância (clarividência), percepção da ocorrência de
eventos futuros (pré-cognição) e a interação entre a mente e a matéria (psicocinese)”
(RADIN, 2008, p.16). Estes estudos, desenvolvidos com rigor metodológico por diversos
grupos de pesquisa no mundo, mostraram resultados estatísticos impressionantes que não
podem ser explicados pelo materialismo.
Em especial a física quântica (GOSWAMI, REED e GOSWAMI 2008), a biologia
(SHELDRAKE, 1993; GOSWAMI, 2009) e a psicologia (GROF, 2000; RADIN, 2008)
trazem evidências que põem em xeque o materialismo e têm permitido a emergência de
novas visões de mundo, mais integradoras e sustentáveis. Essas novas perspectivas têm
sido chamadas de Holística (CREMA, 1989), Transdisciplinar (NICOLESCU, 1999; 2005)
ou Integral (WILBER, 2000).
Essas visões buscam compreender o Universo e seus constitutivos em sua
totalidade e complexidade, não apenas um universo constituído de matéria, mas também de
outros “campos”. É um resgate do termo grego “Kósmos, que significa o todo padronizado
de toda a existência, incluindo os reinos físico, emocional, mental e espiritual. A realidade
suprema, não meramente o cosmos ou dimensão física, [material]” (WILBER, 2000, p.10).
São perspectivas integrativas de todos os aspectos construtivos e colaborações preciosas
provenientes da ciência, filosofia, arte, da moral e tradições. (WILBER, 2000).
Esta transformação radical em nossa forma de compreender o universo e o Ser
humano nos exige e possibilita buscarmos novas formas de educar. Através de uma
abordagem transcultural, busquei “beber da fonte” de autores de ponta dentro da educação,
11
da física, da filosofia, da psicologia e da biologia, integradas a sabedoria das tradições e as
minhas próprias experiências. Espero então que este trabalho possa inspirar propostas
pedagógicas que contribuam para o desenvolvimento mais harmônico do ser.
3 EDUCAR PARA QUE?
Diferentes perspectivas podem nortear a resposta desta pergunta. A educação é
“uma ato de intervenção no mundo” (FREIRE, 1996, p.109) e entendo que deva contribuir
para o desenvolvimento mais pleno e harmônico do Ser e dos coletivos humanos em seus
diferentes ciclos de desenvolvimento. A educação deve ser capaz de proporcionar que cada
indivíduo e grupo sejam capazes de responder aos desafios da vida e deve contribuir para o
desenvolvimento harmônico dos seres em suas relações consigo, com os outros seres, com
o planeta e com o cosmos (WEIL, 2002; DELORS, 2006; Pozatti, 2003; 2007). Enquanto
professores, a mudança na nossa forma de ver e ser no mundo é imperativa para a
transformação da nossa educação.
Escolhi o termo educação integral, mas propostas semelhantes a esta têm sido
discutidas por outros autores utilizando os termos educação transpessoal (NETO, 2006;
TREVISOL, 2008), transdisciplinar (NICOLESCU, 2005), ou educação para a inteireza do
Ser (POZATTI, 2003; 2007).
4 EDUCAR QUEM?
Uma vez que entendemos que a educação deva contribuir para o desenvolvimento
mais pleno e harmônico do ser em cada uma das fases da vida, temos que entender que ser
é este e como é o universo em que vive.
Em uma perspectiva materialista, o ser é resultado da organização aleatória das
partículas fundamentais (átomos) em estruturas cada vez mais complexas, �Moléculas�
Células � Órgãos� Corpo. Podemos chamar esta perspectiva de causação ascendente,
fruto da evolução de milhões de anos. Pensamentos e emoções são o resultado das
interações destes elementos (GOSWAMI, 2009).
Não compartilho desta perspectiva. Novas descobertas da Física, da Biologia e da
Psicologia têm nos permitido outro olhar sobre o Ser. Em primeiro lugar, a concepção de
que universo não é constituído apenas de matéria. O Universo, que poderíamos chamar
também de Consciência, Kósmos, Totalidade, Brama, Tao, etc. é formado por um aspecto
12
Denso (Imanente, matéria, Soma, Vixnu, Yang) e um aspecto Sutil (transcendente, Shiva,
Yin), que podemos representar pela seguinte formulação imagética:
Formulação Imagética 1- O Universo
O aspecto sutil da totalidade ainda pode ser observado a partir de três
possibilidades, Campo Vital, Campo mental e Campo Supra mental e o aspecto denso, a
partir do campo material (ver Formulação Imagética 2). Cada um desses aspectos são
“mundos de possibilidades” ou domínios que podem ser explorados pelo nosso ser a partir
das funções da consciência propostas por Jung: Sensações, emoções, pensamento e
intuição (POZATTI, 2007; GOSWAMI, 2009).
Denso Mundo Imanente
Matéria Yin
Sutil Mundo Transcendente
Yang
Universo Consciência
Kósmos Totalidade
Tao
13
Formulação Imagética 2: Campos de possibilidades da Consciência
Estes campos são conhecidos há milênios e podemos encontrar referências a eles
em diferentes Tradições, desde os Povos Nativos Americanos, aos Egípcios, aos Indianos,
Chineses, Japoneses, etc. (ARRIEN, 1997; POZATTI, 2007).
Assim, os quatro elementos são símbolos que através das qualidades que
representam, eram utilizados por estas culturas para explicar a constituição do universo.
Nesta pesquisa são um elemento organizador que possibilitam integrar diversos aspectos
com relação ao universo, ao ser humano e à educação. Utilizarei a simbologia dos quatro
elementos para a formulação de um Mapa do Ser, onde correlacionarei os Elementos ao
corpo de experiência e função da consciência do Ser. Como podemos observar na
formulação imagética a seguir:
Material
Vital
Mental
Supra mental
Consciência
14
Formulação Imagética 3- Mapa do Ser
Adaptado de Frosi (2010)
Este mapa representa a percepção que temos enquanto indivíduos, mas cada um
desses aspectos mostrados na formulação imagética 3 se manifesta ainda nos coletivos
humanos. Vejamos em mais detalhes como percebemos os efeitos desses campos.
4.1 Campo material
Experimentamos o campo material através de nosso corpo biológico formado pelos
diversos sistemas (muscular, ósseo, respiratório, circulatório, etc.), que experienciamos
através das sensações (visão, audição, olfato, tato e paladar) (GOSWAMI, 2009). Não
carece de grandes explicações para podermos visualizá-lo, envolve tudo aquilo que
percebemos com os nossos sentidos: casas, carros, ar, outras pessoas e outros seres. Além
disso, tem sido largamente estudado por todas as áreas da ciência, entre elas a biologia e
por várias das disciplinas do campo da Saúde (medicina, enfermagem, fisioterapia,
educação física, farmácia, etc.), que investem grande parte de suas pesquisas e tecnologias
de cuidado sobre ele.
Fogo
Ar Terra
Água
Mental Pensamentos
Vital Emoções
Corpo Biológico Sensações
Supra mental Intuição
Éter: Consciência
Transcendência
15
Talvez a grande questão seja que o que acreditávamos ser separado de nós está na
realidade intimamente entrelaçado e as repercussões deste efeito sobre nós e nossa saúde é
um tema pouco explorado. Este entrelaçamento pode ser observado a partir do resultado de
algumas pesquisas realizadas com rigorosa metodologia. Para citar apenas alguns
exemplos, o simples fato de pensar em alguém, influencia seu sistema nervoso autônomo.
Ou então, em outra pesquisa realizada por diversos grupos de pesquisa e relatada por Dean
Radin (2008), dois sujeitos eram convidados a ficar juntos por alguns minutos, depois eram
separados em salas que os isolavam de todo e qualquer contato ou onda eletromagnética.
Cada um foi ligado a um eletro encefalograma (ECG), em um determinado momento era
disparado um estímulo visual para um dos sujeitos, o que repercutia em atividade cerebral
que era acusada no ECG. O curioso é que no mesmo período do estímulo disparado para
um dos sujeitos, as ondas cerebrais do outro também eram afetadas. Estes estudos mostram
fortes evidências de que eles de alguma forma estavam entrelaçados e que este
entrelaçamento repercutia no seu corpo biológico.
Algumas experiências que talvez algum de nós tenha vivenciado com relação a este
entrelaçamento são mulheres que passam a menstruar juntas uma vez que estão
convivendo.
Já estudamos muito sobre o corpo biológico, mas o corpo não vai à escola. Nossa
educação é absolutamente centrada no pensamento, resumindo o corpo a poucos períodos
de educação física.
Alguns elementos são importantes para o desenvolvimento do corpo biológico:
-Desenvolvimento de Práticas Corporais (Jogos, Artes Marciais, Lutas, Dança,
Esportes e Ginástica)
-Educação Sensorial
-Alimentação Saudável.
Alguns elementos importantes para desenvolver o campo material:
- Harmonização dos ambientes
- Limpeza dos espaços
- Estética
16
4.2 Campo Vital
No século XIX e mesmo no início do Século XX, o corpo vital desempenhava um
papel essencial no pensamento biológico, isto mudou quando o DNA foi descoberto, pois
aparentemente toda a informação necessária para o funcionamento biológico se
apresentava ali (LIPTON, 2007; GOWAMI, 2009).
No entanto, em 1980 iniciou-se o projeto Genoma, na busca de mapear os Genes
humanos. Esperava-se que o corpo humano tivesse um gene para cada uma das 100 mil
proteínas que nos compõe e mais 20 mil genes para regular a atividade de codificação
destas proteínas. Ou seja, deveríamos ter para existir (em uma perspectiva materialista) 120
mil genes. Mas possuímos apenas 25 mil genes (LIPTON, 2007). Onde está o restante de
informação necessária para que você possa estar aqui lendo este trabalho?
E não é só isso, em nenhum lugar do código genético se encontram as
informações para a morfogênese (as instruções que deveriam ditar como o corpo cria sua
morfologia). Esse fato nos faz ponderar a possibilidade de que os mapas para a
morfogênese estão fora do meio físico, e uma das possibilidades para isso são os campos
morfogenéticos, campos não locais e não físicos descritos pelo biólogo Rupert Sheldrake.
O campo vital é o campo de percepção dos sentimentos. É um conceito básico nas
medicinas orientais, que há séculos vem estudando e desenvolvendo mapas (como o
sistema dos meridianos e os Chakras) e terapêuticas para este corpo (como a Medicina
Tradicional Chinesa e a Ayurveda). Para os praticantes de Artes Marciais ou de práticas
terapêuticas orientais é fácil a percepção da existência deste corpo. podemos senti-lo como
calor, frio, formigamento ou pressão em determinadas partes do corpo. Essas sensações são
a forma como percebemos a movimentação deste corpo. Outro elemento de fácil percepção
para qualquer um de nós é um aperto no peito quando sentimos tristeza, ou a sensação do
peito transbordando ao sentirmos amor.
Quanto à influência desse campo em coletivos, suspeita-se que os organismos
biológicos têm conexões não locais por meio dos sentimentos, o que gera uma consciência
de espécie, esta percepção aparentemente ficou oculta nos seres humanos em função do
predomínio das funções mentais (GOSWAMI, 2009). Entendo assim que nossos
relacionamentos com outros seres estão intimamente ligados aos nossos vínculos
17
emocionais. Assim, em um nível coletivo, é a partir (ou pelo menos com grande influência)
dos vínculos emocionais que geramos, que se estruturam nossas relações sociais.
Pouco ou nada tem sido trabalhado em nosso processo educacional sobre
aprendermos a lidar com as emoções. Da mesma maneira, nossas formas de nos
relacionarmos com outros seres não entram, na prática, no escopo de habilidades que
buscam ser devolvidas na escola.
Alguns elementos são importantes para o desenvolvimento do corpo Vital
-Prática de Chi kung;
- Aprendizagem emocional
- Alimentação natural;
- Contemplação;
Alguns elementos importantes para desenvolver o campo Social são:
-Desenvolvimento de relações harmônicas
Possíveis práticas: Rodas de partilha, Psicodrama, Dinâmicas da Análise
Transacional, arteterapia, Terapia Comunitária.
4.3 Campo Mental
O campo mental ou a mente, também é de fácil percepção para nós, pois é o campo
dos nossos pensamentos, o que dá significado ao mundo (GOSWAMI, 2009). Desde a
máxima “penso, logo, existo” de Descartes, tem sido hiper valorizado em nossa cultura.
Um exemplo disso é nossa educação escolar e universitária, que passa em grande parte
pelo desenvolvimento intelectual, pouco desenvolvendo as sensações, emoções e intuição.
Uma questão importante, de que a ciência materialista insistentemente relaciona a
mente como estando localizada no Cérebro. Mas vamos retomar a pesquisa citada na p.13
onde houve uma comunicação não local entre os cérebros de dois sujeitos, ou pesquisas
que demonstram a possibilidade de “transmissão” de imagens entre sujeitos sem uma
comunicação local entre eles, em outras palavras as imagens foram transmitidas através do
pensamento, ou de telepatia (RADIN, 2008). Ou ainda a pesquisa com o título is your
brain necessary? (Seu cérebro é necessário?) publicada na Science de 1980 e citada por
18
Radin (2008) e Lipton (2007) onde um rapaz com hidrocefalia tinha uma massa encefálica
insignificante e um QI acima da média, trabalhava, se relacionava, etc. Essa e outras
questões nos levam a crer que a mente é um campo sutil, que pode ser acessado por nós e
que tem o cérebro como um órgão “correlato” no corpo biológico (GOSWAMI, 2009).
Algumas pesquisas nos indicam a formação de uma espécie de campo mental
coletivo, que pode inclusive influenciar na matéria. Talvez a principal pesquisa que
demonstre tal efeito seja do Projeto de Consciência Global. O projeto consiste em espalhar
pelo mundo diversos geradores de números aleatórios, ou seja, máquinas que geram
aleatoriamente sequências de zeros e de uns. Ao final de um determinado período de
tempo, o número de “zeros” e “uns” gerados é bastante aproximado, com uma pequena
diferença estatística.
Com esta pesquisa foi possível observar que fenômenos marcantes divulgados pela
mídia em escala global influenciam estas sequências. Observou-se em eventos como o 11
de setembro, ou a morte da princesa Daiana, um desvio muito significativo nas sequências
geradas. Os pesquisadores minuciosamente questionaram as razões para tal efeito (erro nas
máquinas, erro estatístico, etc.) a conclusão final é de que a focalização de milhares de
espectadores ao mesmo tempo em um determinado elemento gera um padrão de coerência
que influencia estes aparelhos (RADIN, 2008). Que outros elementos esta coerência pode
influenciar?
Estas experiências sugerem que de atenção focalizada por uma pessoa ou por um
grupo pode influenciar a matéria, nossos corpos e nosso comportamento. Imagine os
efeitos que a compreensão deste campo pode ter na nossa forma de viver. Quem sabe isto
incentive a criação de grupos de oração em centros de saúde... Mas imagine também os
efeitos negativos que tal campo pode causar quando em desarmonia ou em coerência com
uma intenção “desarmônica”. Ainda sabemos muito pouco sobre este campo mental
coletivo, mas as evidências de sua existência são irrefutáveis, e aplicações para ela como
grupos de meditação ou oração já podem ser propostas.
Alguns elementos são importantes para o desenvolvimento do corpo Mental:
-Desenvolvimento da linguagem
- Desenvolvimento da memória
- Desenvolvimento da lógica
-Atitude mental positiva
19
Alguns elementos importantes para desenvolver campo mental coletivo são:
-Grupos que gerem intenções “positivas” conjuntas. Pode ser realizado através de
grupos de oração, de meditação, de partilha, etc.
Pode ser também fortemente influenciado pelos meios de comunicação, o que nos
leva a pensar na importância da apresentação nas redes de TV, jornal e rádio de
informações que gerem sentimentos positivos (amor, alegria, segurança...) nas pessoas e
não o oposto. Uma alternativa interessante é a utilização de rádios comunitárias.
4.4 Campo Supra mental
Campo de percepção onde surgem as intuições e os sonhos. Tem sido muito
explorado pela psicologia transpessoal. De certa forma, entendemos este campo como o
acesso do indivíduo ao inconsciente coletivo, que pode ser realizado através dos Estados
Ampliados de Consciência. Segundo Jung (2000), diferente do inconsciente pessoal, este
campo não tem sua origem em experiências ou aquisições pessoais, é uma camada mais
profunda, sendo inata e nunca antes tendo estado consciente. Ainda segundo o mesmo autor,
contrariamente à psique pessoal ele possui conteúdos e modos de comportamento, que
apresentam semelhanças em toda parte e em todos os indivíduos. “Em outras palavras, são
idênticos em todos os seres humanos, constituindo portanto um substrato psíquico comum de
natureza psíquica supra pessoal que existe em cada indivíduo” (JUNG, 2000, p15).
Os conteúdos do inconsciente coletivo são chamados arquétipos. O arquétipo representa
essencialmente um conteúdo inconsciente, o qual se modifica uma vez que é percebido e trazido à
consciência do sujeito, assumindo matizes que variam de acordo com a consciência individual na
qual se manifesta, assim, a interpretação desses modelos, em diferentes tempos, por
diferentes povos, repercute de formas distintas na sua constituição cultural.
Tem um grande potencial educacional, pois o acesso a este campo pode trazer
profundos insights psicológicos relativos à história pessoal do sujeito, dificuldades
emocionais, problemas interpessoais, questões filosóficas, metafísicas e espirituais (GROF,
2000).
20
Alguns elementos são importantes para o desenvolvimento do campo Supra mental:
- Desenvolvimento da intuição através de técnicas que induzam a Estados Ampliados de
Consciência: Respiração Holotrópica, Seções de Jornada, Imaginação Ativa, Respiração
Integrativa e outras técnicas de Expansão da Consciência;
- Trabalho com sonhos.
4.5 Consciência da Unidade
Este é o domínio de unidade transcendental. Aqui a unidade do Kósmos fica
evidente para o Ser, mas há dois estágios, no primeiro, ainda há a instância do outro (eu) e
Kósmos. Há a percepção de uma “totalidade”, mas esta separada de mim, é possível
comungar profundamente com ela, mas não é possível tornar-se uno com ela (WILBER,
2010).
O passo seguinte é ir além. Não só comungar com a Totalidade, mas se tornar uno
com ela. Todo o dualismo sujeito-objeto, eu-outros, é transcendido. Eu e o Kósmos
passamos a ser um (WILBER, 2010). Estes níveis de consciência são raramente acessados
por nós humanos. Há alguns relatos na história de sujeitos como Buda ou Cristo que
tiveram tal experiência. Ele é alcançado quando os outros campos são desenvolvidos em
harmonia.
4.6 Aspectos Hilo-Holotrópico: o Ser no Universo
Uma vez manifesto, o ser humano existe em uma determinada “faixa da realidade”,
onde tem acesso a uma série de experiências através das sensações, emoções, pensamento
e intuição. Mas, há uma grande gama de informações que não são acessadas pelo ser
humano em seu estado de vigília (que também pode ser chamado de estado Hilotrópico ou
estado comum de consciência), mas que vibram no universo. O acesso a estas informações
se dá através dos Estados Ampliados ou Holotrópicos de Consciência, experiências
espontâneas, mas que podem ser facilitadas através de algumas práticas. Nestes estados há
uma profunda mudança qualitativa no modo de sentir e experimentar a realidade
(TREVISOL, 2008).
21
Assim, podemos fazer um corte, estado comum de consciência ou hilotrópico, e
Estado Ampliado de Consciência, ou holotrópico. Há uma correlação entre estes estados e
as ondas cerebrais, sendo que no estado de vigília, emitimos ondas beta que podem ser
percebidas através de eletro encefalograma. Nas experiências em estado ampliado de
consciência, que também podem ser chamadas de experiência de pico, o cérebro emite
ondas delta, extremamente lentas (TREVISOL, 2008).
Podemos representar estes estados de consciência através da seguinte formulação
imagética.
Formulação Imagética 4 – Experiência Humana da Consciência
Mais adiante veremos com mais detalhes este ponto.
Material
Vital Mental
Supra mental
CONSCIÊNCIA TOTALIDADE
ESPECTRO DA REALIDADE HUMANA
SERES HUMANOS
22
5 FASES DA VIDA: CICLOS DE DESENVOLVIMENTO DO SER
Diversos autores como Piaget, Maslow, Clare Graves, etc. se debruçaram sobre o
desenvolvimento do ser humano através de diferentes olhares, mas todos eles trazem em
comum a percepção do desenvolvimento se dando em uma série de estágios, ou ondas que
se desdobram. Os estágios anteriores formam o substrato e a base dos estágios posteriores.
Este desenvolvimento não é rígido e linear, é fluido, com espirais, redemoinhos e saltos
(WILBER, 2000). Podemos representar esta forma de ver as fases da vida através das
seguintes formulações imagéticas:
Formulação imagética 5 - Desenvolvimento Espiralático das Fases da Vida
(POZATTI, 2007)
Em minha formação na Educação física estudamos separadamente o
desenvolvimento motor e o desenvolvimento psicológico da criança e posteriormente em
outra disciplina, estudamos o envelhecimento. Esta fragmentação dificulta a compreensão
da vida como um todo. Creio ser fundamental observar o desenvolvimento humano
integrando os diversos aspectos de nosso ser. Por exemplo, o desenvolvimento motor, o
psicológico (emocional e intelectual), as transformações nas escalas de valores e nos
aspectos sociais e culturais que se desenvolvem em cada etapa da vida, em toda a vida.
0-1 1-8
8-13
13-21
21-34
34-55
55 ...
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A compreensão do processo como um todo é importante, pois estes elementos estão
interligados de diversas formas e educar em harmonia com as características do ciclo de
desenvolvimento do ser é fundamental. Minha intenção inicial era fazer este trabalho de
integrar os estudos de diversos autores, mas é extenso demais para este momento.
6 TORNAR-SE PESSOA EM UMA PERSPECTIVA TRANSPESSOAL
Em uma perspectiva Transpessoal, basicamente o desenvolvimento do ser se dá ao
longo de sua vida avançando de forma inteira sobre estas ondas. A falha na integração das
experiências de níveis mais baixos pode resultar em neuroses e dificulta o acesso a níveis
mais elevados (WILBER, 2010) (Formulação Imagética 6).
Os níveis anteriores quando não bem integrados podem influenciar os níveis
posteriores. Suas distorções podem ser transferidas aos níveis acima “dobrando” esses
níveis, mantendo-os presos a alguns padrões. Os níveis imediatamente acima são
especialmente vulneráveis a estas distorções (WILBER, 2010)
Exemplos disso são sujeitos adultos presos a algum trauma da infância, que quando
vivenciam situações semelhantes projetam a experiência e a forma de lidar com esta
situação e se comportam como crianças.
Formulação imagética 6- Integração harmônica (esq.) e desarmônica (dir.)
da Consciência humana. À direita, níveis inferiores mal integrados dobram níveis superiores
impedindo seu desenvolvimento
Outro exemplo é que enquanto humanidade podemos observar a dificuldade de
muitos sujeitos em integrarem o nível emocional (vital) e a intuição (supra metal). Para que
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acessemos o nível supra mental, teremos que aprender a lidar com nossas emoções
(GOSWAMI, 2009).
Os níveis de cima podem integrar ou reprimir/dissociar os níveis de baixo, mas não
vice versa. Por exemplo, em uma criança que não apresenta seu ego bem estruturado, os
pais ou autoridades que já o tem efetivamente transferem para a criança as “distorções” de
seus egos. Mesmo um nível que antes não apresentava problemas, pode passar a apresentar
a partir da influência de um nível superior. (WILBER, 2010).
Esta repressão é facilmente observada em nossa sociedade. Grande parte da
população e do poder está distribuída nos níveis azul (rígido, autoritário, com regras bem
estabelecidas) e laranja (competitivo, individualista, racional). Estes níveis, além de
travarem conflitos entre si, por exemplo, a disputa religião (dogmatismo) e ciência, travam
disputas com os outros níveis, buscando manter e reforçar seus valores e por consequência
seu poder. O exemplo disso são as comunidades tribais que têm sido dizimadas ao longo
dos últimos séculos. Ou a resistência aos valores do Green Peace, do respeito aos
homossexuais, da espiritualidade (dentro da ciência), etc. (Figura 7).
Formulação imagética 7 - Nível “dominante” reprime níveis inferiores e “dobra” níveis
superiores, impedindo seu desenvolvimento
Sobe o ego, ele em si é uma estrutura benigna e necessária para a passagem entre o
nível pré consciente (vital) e o superconsciente (supra mental). O problema é a
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identificação total com ele e a estagnação no nível mental de desenvolvimento. Cabe à
educação auxiliar o ser nesta jornada.
7 RUMO A UMA EDUCAÇÃO INTEGRAL
Com esta visão mais ampla de ser humano percebemos que o sistema educacional
corrente é realmente restrito e limitado (NETO, 2006). Nascer não basta para que se dê um
desenvolvimento pleno e harmônico do ser em seus diferentes ciclos de desenvolvimento.
Caminhar em direção à Inteireza é iniciar uma jornada em busca de “si-mesmo”
(GUARDINI, 1987; JUNG, 2001), é ir ao encontro das estruturas coesas mais profundas
do ser (MOORE; GILLETTE, 1993). Isto só é possível através do desenvolvimento
harmônico do Ser em todas as suas dimensões (individuais e coletivas) e em cada fase de
seu desenvolvimento e a educação é peça chave nesta caminhada.
Uma vez que explicitamos a nossa concepção de ser humano e a possibilidade de
desenvolvimento de alguns de seus aspectos (corpos e campos coletivos), vamos nos
debruçar sobre alguns pontos fundamentais para que o processo de desenvolvimento do Ser
se dê em direção à sua inteireza. Pozatti (2003; 2007) coloca a necessidade da educação se
focar em três aspectos:
1) aprender a existir numa determinada realidade (hilotrópico)
2) o desenvolvimento harmônico do ser nos seus diferentes ciclos de
Consciência
3) Aprender a significar realidades diferentes (holotrópico)
7.1 Aprender a existir numa determinada realidade
Com relação ao primeiro aspecto, à educação cabe fornecer, de algum modo, os
mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola
que permita navegar através dele (DELORS, 2006). Para isso, entendemos que a educação
deva contribuir para o desenvolvimento de alguns: a) saberes, b) valores e c) qualidades do
ser e d) deve também proporcionar o desenvolvimento de todos os corpos (aspectos
individuais) e campos (aspectos coletivos) do ser, já discutidos anteriormente.
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De acordo com o biólogo Bruce Lipton, “quanto mais consciência um organismo
tem de seu ambiente, mais chances tem de sobreviver” (LIPTON, 2007, p.49). Podemos
expandir essa afirmação, colocando que quanto mais ampliada estiver nossa consciência,
mais “chances” teremos de ter uma vida saudável, harmônica, ética e feliz em nossas
relações conosco, com os outros, com o planeta e com o Kósmos.
Desenvolvendo saberes: Os cinco pilares da educação
Formulação Imagética 8: Os quatro pilares da educação propostos por Delors (2006) e o Quinto
proposto por Pozatti (2007).
7.1.1 Aprender a conhecer
Por esse aprendizado, pretende-se que cada um desenvolva autonomia para
compreender o mundo que o rodeia. Mas ele também passa por desenvolver o prazer de
conhecer, instigar a curiosidade inerente a cada ser humano (FREIRE, 1996; DELORS,
2006).
Fogo
Ar Terra
Água
Aprender a Fazer Éter Aprender a SER
Aprender a Conviver
Aprender a Conhecer
Aprender a Amar
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Com a quantidade de informações produzidas pelo homem, é cada vez mais inútil,
para não dizer impossível, tentar conhecer tudo (DELORS, 2006) isto não quer dizer que a
escola deva abandonar totalmente os conteúdos, mas ela deve desenvolver no aprendiz a
autonomia na busca do conhecimento. Isso inclui explorar quatro aspectos: Os caminhos
do conhecimento (Ciência, Tradições sapienciais, Filosofia e Arte), as formas de explorá-
los (Holologia e Holopráxis), saber discernir entre os conhecimentos pertinentes e estar
consciente de que podemos estar errados ou não ter certeza sobre algo.
Quanto aos caminhos do conhecimento, existem diferentes caminhos para
entendermos o mundo, cada um deles com diferentes formas de explorá-lo e explicá-lo. A
ciência tem como regras a necessidade de uma fundamentação lógica coerente, que resista
a argumentações contrárias e que seja verificável, através de processos de observação
experimentação ou dedução que demonstrem a verificação da validade destas formulações
(GAYA, 2008), está pautada principalmente na utilização da razão (refletir e significar o
mundo) e da sensação (aquilo que pode ser mensurável) (POZATTI; 2007).
“O conhecimento filosófico é lógico-dedutivo. Suas hipóteses e proposições visam
uma representação coerente da realidade estudada” (GAYA, 2008, p.36), desta forma, está
pautada entre a intuição e a razão (possibilidade de fundamentar de forma lógica as
informações que foram intuídas), utilizando mais uma ou as das duas funções conforme a
orientação de cada escola (WEIL, D`AMBROSIO & CREMA, 1993).
A religião (Tradições sapienciais) nasce da experiência direta de sujeitos a Estados
Ampliados de Consciência, é guiada pela intuição e pela emoção (sentir que aquilo que foi
acessado tem fundamentos), tais experiências podem ser compartilhadas entre sujeitos que
as tiveram na busca de consenso. A arte desenvolve-se quando manifestamos o mundo, em
especial os sentimentos, através de algo material, domínio das sensações (som, escultura,
desenho, etc.) (POZATTI, 2007).
Essas quatro abordagens não são iguais, mas muitas vezes são tratadas com
divergência e contradição, como se apenas uma delas carregasse a verdade, mas entendo
que podem ser tomadas como complementares. Com relação à ciência e às Tradições
sapienciais, por exemplo, podemos dizer que ambas são empíricas, mas uma é
experimental e racional (Ciência) e outra é experimental e intuitiva (Tradições sapienciais)
(CREMA, 1989).
Os quatro caminhos do conhecimento devem ser explorados nos espaços
educacionais. Em conjunto com eles, reforçamos a importância de serem desenvolvidas as
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quatro funções da consciência (sensações, emoções, pensamento e intuição), pois estas
fazem a conexão do ser com o mundo que nos rodeia.
IntuiçãoSensação
Pensamento FILOSOFIACIÊNCIA
TRADIÇÕES SAPIENCIAIS
ARTE
Formulação imagética 9 – Os 4 Caminhos do Conhecimento
Adaptado de POZATTI, 2007, p.42
A compreensão do mundo através destes quatro caminhos requer a reflexão e o
estudo dos seus fundamentos teóricos e ao mesmo tempo o desenvolvimento da prática de
conhecê-lo e experimentá-lo. Trabalhamos com a perspectiva de Pierre Weil, da Holologia
e da Holopráxis.
A Holologia Compreende a dimensão do saber através do estudo, da partilha, do
ver, onde o foco principal está na palavra e no pensamento. A Holopráxis compreende a
dimensão do saber através do experienciar (sensorial, emocional, intuicional...). Abrange
um conjunto dos métodos experienciais de vivência para conhecer o mundo. Temos como
exemplos de Holopráxis atividades de diversas tradições como meditações do Budismo, do
Sufismo, a Yoga, o Tai Chi, o Ai Ki Do, Seções de Jornada, entre outras. Temos também
as técnicas mais modernas como a respiração holotrópica, renascimento, bioenergética, etc.
Nossa educação tem se focado demasiadamente no conhecimento racional
(holologia), em uma lógica bancária de depósito do conhecimento no aluno, que será
questionado posteriormente sobre este e deve devolvê-lo, sem mais nem menos (FREIRE,
1996), perspectiva essa que não permite jamais, por exemplo, que o aluno saiba mais ou
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discorde do professor. Tem dado ainda pouquíssima atenção à experimentação do mundo e
ao desenvolvimento harmônico e integral do Ser. Mas “ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou construção” (FREIRE,
1996, p.22) ou em outras palavras, proporcionar ao aluno experiências que lhe possibilitem
acessar informações e integrá-las a seu ser.
Os grandes índices de reprovação, somados à crise de valores, à disseminação da
violência, da depressão, etc. são apenas alguns exemplos que têm mostrado desarmonias
em nossa forma de viver e a ineficácia da atual abordagem educacional. Uma
transformação metodológica no ensinar que abranja a holologia e holopráxis é uma
alternativa possível, ela possibilita um movimento dinâmico entre o fazer e o pensar sobre
o fazer.
A escolha de quais os conhecimentos pertinentes a serem desenvolvidos com os
alunos é um tema de fundamental atenção. Sempre que escolhemos ensinar algo, estamos
excluindo outros conhecimentos. Cabe assim escolhermos os ensinamentos mais relevantes
naquele contexto para aqueles alunos. Se pensarmos na escola, talvez tenhamos até que
deixar de lado alguns dos temas desenvolvidos hoje, para que outros mais pertinentes com
o momento que vivemos possam ser trabalhados.
Importante reforçar que por conhecimento não entendemos apenas informações
mentais, mas informações acessadas através do corpo, das emoções, conhecimento sobre as
relações, sobre aspectos espirituais, etc. Conhecimento este que não é só adquirido nos
espaços formais, mas em experiências informais, cheias de significação, vividas na rua, no
trabalho, na sala de aula, nos recreios... (FREIRE, 1996).
Um dos pontos fundamentais na escolha dos conhecimentos pertinentes para o
aluno é considerar qual o sentido daquele conhecimento no seu contexto sócio-cultural, e
levando em conta as curiosidades e necessidades do aluno. Essas questões estão muito
ligadas também à fase da vida e ao nível de consciência do sujeito, que podem ser
compreendidas a partir da dinâmica da espiral, proposta por Don Beck (vMEMES) que já
discutimos. Um ponto fundamental aqui é respeitar o saber do aluno, saberes socialmente
construídos na sua prática comunitária (FREIRE, 1996).
Ainda sobre o conhecimento pertinente, fundamentalmente, o conhecimento deve
contribuir para o desenvolvimento harmônico do Ser e da comunidade (MORIN, 2005).
Deixa-se de aprender muitas coisas necessárias e muito do conhecimento acaba sendo
usado de forma danosa, assim, tanto o desconhecimento, como o conhecimento desconexo
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do todo, utilizado de forma ingênua, (sem falar quando o conhecimento é utilizado de
forma mal intencionada) podem ser destrutivos para o Ser. Para citar apenas um exemplo
contempla o desconhecimento por parte da população em geral e o mau uso do
conhecimento por parte dos experts1, temos o efeito nefasto dos pesticidas, plásticos e
várias outras substâncias que são utilizadas em larga escala pela nossa sociedade e são
danosas à saúde dos seres humanos e de outros (COLBORN, DUMANOSKI & MYERS,
2002).
É papel da escola desenvolver no aluno a capacidade de discernir entre os
conhecimentos pertinentes ou não, em outras palavras, que ele aprenda a selecionar as
informações importantes para si, para que não fique “submergido em ondas de informação
mais ou menos efêmeras” (DELORS, 2006, p.89).
Por fim, temos que perceber que existem incertezas a respeito do que pensamos
saber sobre o mundo:
As ciências permitiram que adquiríssemos muitas certezas, mas igualmente revelaram, ao longo do século XX, inúmeras zonas de incerteza. A educação deveria incluir o ensino das incertezas que surgiram nas ciências físicas (microfísicas, termodinâmica, cosmologia), nas ciências da evolução biológica e nas ciências históricas (MORIN, 2005, p.16)
Estudar essas zonas de incerteza, da mesma forma que compreender que o que
consideramos verdade se transforma ao longo do tempo graças a novas descobertas, é um
ponto importante para estarmos abertos ao novo. Nesse mesmo sentido, é interessante
buscar compreender as verdades que são trazidas por outras culturas, abrindo a percepção
do ser a outras possibilidades de ver e existir no mundo. Estar aberto ao novo é um ponto
fundamental no desenvolvimento do Ser, isto implica ser capaz de abrir mão do seu ponto
de vista quando ele se torna obsoleto.
Como desenvolver:
- Trabalhar com os 4 caminhos do conhecimento
1 Peritos. Mas prefo utilizar o termo em ingles, pois passa a idéia de “espertos” o que muitas vezes não
corresponde às suas ações.
31
- Desenvolver Estudos (Holologia) e Práticas (Holopráxis) a respeito dos “conhecimentos”
pertinentes historicamente construídos
7.1.2 Aprender a fazer
Aprender a fazer pressupõe desenvolver no estudante determinadas habilidades e
competências que permitam que ele seja autônomo na realização de determinadas tarefas.
Está relacionado a todos os fazeres importantes para a vida do aprendiz no seu contexto
cultural e social.
Está também “estreitamente ligado à questão da formação profissional”, mas
(DELORS, 2006, p.93) este ponto merece atenção especial, pois as constantes
transformações no mundo do trabalho e o não conhecimento da área de trabalho na qual no
futuro o aprendiz irá se ocupar tornam um tanto obsoleta a noção de qualificação
profissional e, graças a isso levam a que se dê importância ao desenvolvimento das
competências pessoais (DELORS, 2006), ou seja, desenvolver as habilidades e qualidades
do sujeito (as quais discutiremos mais adiante).
Da mesma forma como o conhecimento pertinente, devem ser levados em conta
quais os fazeres, habilidades e competências pertinentes para serem desenvolvidas com os
aprendizes. Nesta escolha, além de dar atenção para as necessidades sócio-culturais dos
sujeitos, deve ser dada atenção às habilidades latentes de cada aprendiz.
Como desenvolver:
- Pode parecer brincadeira, mas só há uma forma de aprender a fazer, Fazendo.
7.1.3 Aprender a conviver
Aprender a conviver não diz respeito apenas à convivência com os outros, mas a
desenvolver relações harmônicas consigo, com os outros seres, com o planeta e com a
Totalidade.
Nossos vínculos sociais estão intimamente ligados a nossos vínculos emocionais
com os outros seres. E aprender a desenvolver relações harmônicas está intimamente
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ligado com aprender a amar, entendemos que amor é um ponto central na convivência
humana, é através dele que desenvolvemos relações de aceitação e respeito, tanto de si
mesmo como do outro (MATURANA, 2009). O planeta necessita, em todos os sentidos,
de compreensão mútua. “A compreensão mútua entre os seres humanos, quer próximos,
quer estranhos, é daqui para frente vital para que as relações humanas saiam de seu estado
de incompreensão” (MORIN, 2005, p. 17).
O nível de desenvolvimento da Consciência do Ser está diretamente ligado à forma
como nos relacionamos com os outros. Partimos de uma identidade Egocêntrica, onde o
sujeito tem dificuldade em se colocar no lugar do outro. O desenvolvimento do ser vai se
dando em direção à diminuição do egocentrismo, passando por uma mudança radical
quando o sujeito passa para uma identidade etnocêntrica e posteriormente sociocêntrica,
tendo a possibilidade de se colocar no lugar do outro, mas ainda impõe uma série de
divisões relativas à etnia ou níveis sociais. Transpondo-se este nível, abre-se então a
possibilidade de identificar-se com uma identidade mundicêntrica, onde passa a ser capaz
de reconhecer todos os seres como seus semelhantes, ao que Morin chamou de identidade
planetária. O ultimo estágio, é a identidade Kosmocêntrica, o ser é capaz de se perceber
como parte da Totalidade, este nível é acessado por pouquíssimas pessoas (WILBER,
2000; 2004).
Esta “escalada” de desenvolvimento individual se expressa de forma idêntica nos
coletivos humanos, podemos observar isto quando estudamos o desenvolvimento da
Consciência e dos valores ao longo da história nas diferentes culturas (WILBER, 2000).
“O destino planetário do gênero humano é outra realidade chave até agora ignorada
pela educação” (MORIN, 2005, 17). Uma vez que nos tornamos capazes de nos
compreender como habitantes de um mesmo planeta, temos a possibilidade de
compreender que estamos totalmente interligados por um sistema vivo (biosfera), um
sistema de transportes, de telecomunicações e uma economia global, é preciso que nos
demos conta que temos todos um futuro comum. A isto Morin (2005) chama de perceber a
identidade terrena.
Só há uma questão nesta afirmação. Apenas 30% da população mundial está em um
nível mundicêntrico do desenvolvimento do Ego. Desta Forma, 70% não é capaz de
compreender a identidade terrena (WILBER, 2000). O que fazer? É preciso trabalhar para
um desenvolvimento saudável e sustentável da consciência humana, contribuindo para que
esta esteja em harmonia em cada ciclo e possa evoluir em seu desenvolvimento, galgando
33
níveis mais complexos de consciência. É preciso desenvolver o respeito e a identidade de
grupo entre os sujeitos nas comunidades em que vivem e gradualmente ampliar a
consciência do pertencimento a “ninhos” maiores até, quem sabe, atingirmos em grande
escala uma identidade mundicêntrica.
Como desenvolver:
- Dinâmicas de Grupo
- Desenvolvimento de valores
- Aprender a Amar
7.1.4 Aprender a amar
“Eu te amo e te aceito, mesmo que nem sempre te compreenda”. Essa frase, muitas
vezes repetida no grupo dos Guerreiros do Coração ilustra o primeiro passo para a
compreensão e aceitação de si e do outro, saber amar.
Cabe aqui fazer um comentário aos professores. Aquele que se propõe a contribuir
para que o outro se desenvolva o faz por amor e tem de fazer com amor. O amor é a
emoção que amplia e estabiliza as relações (MATURANA, 2009), é também o caminho
para trazer à tona o mais profundo da personalidade do homem. Ninguém pode conhecer a
essência do outro se não o ama. Pelo ato do amor se é capaz de contemplar os traços
essenciais da pessoa amada; até contemplar seus potenciais que ainda estão por mostrar-se.
O que ama vê mais além e busca que o outro consume suas capacidades não exploradas
(FRANKL, 1979). Assim, para ensinar, é fundamental que os professores vejam esse ato
como um ato de amor.
Em comunhão com aprender a amar está o aprendizado de curar-se. Se
conceituarmos “a saúde humana como a consciência de bem-estar resultante de um
processo contínuo de harmonização entre os aspectos físicos, psíquicos, sociais, culturais,
ambientais (em seu nível de realidade) e espirituais (entre níveis de realidade)” (POZATTI,
2003, p.118) então aprender a curar-se compreende desenvolver a sensibilidade para
perceber os desequilíbrios que ocorrem nos diferentes campos do seu ser e da sua vida e
saber equilibrá-los.
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Como desenvolver: - Práticas que desenvolvam o quarto Chakra - Cura de medos e traumas emocionais
7.1.5 Aprender a Ser
A condição humana deve ser o objeto essencial de todo o ensino (MORIN, 2005).
Todos os outros aprendizados convergem para esse ponto que é representado pelo centro –
core - do Mapa do Ser humano. Ele representa a possibilidade de Transcendência, de
transformação, a superação do ser fragmentado, oprimido, opressor, violento, apático,
neurótico, normótico... em direção ao Ser harmônico. Isto só pode ser alcançado se
acreditarmos que a mudança é possível. Uma terrível estagnação tem nos tomado frente às
crises que enfrentamos, ecológicas, sociais, econômicas, frente à poluição e à opressão,
como se tivesse que ser assim, ou pior, como se sempre tivesse sido assim e como se fosse
ser assim para sempre.
Esse processo passa necessariamente pelo empoderamento do sujeito e dos
coletivos. Este “conceito”, desenvolvido nas obras de autores como Amartya Sem
(FAERSTEIN, 2000), economista indiano e do antropólogo Carlos Castañeda (SD; 2000;
2004), é um dos pontos centrais de aprender a ser. Adquirir poder pessoal é o caminho para
a manifestação dos potenciais, para tornar-se líder de si mesmo, e para, em cada fase da
vida, alcançar a harmonia consigo mesmo, com os outros, com o planeta e com o universo
(POZATTI, 2003).
A manifestação deste aprendizado nos professores passa, por exemplo, pela
corporeificação das palavras, pelo exemplo, pela coerência entre os ideais e as ações, pelo
respeito pelo aluno e bom senso (FREIRE, 1996).
Como desenvolver: - Desenvolvimento harmônico das outras quatro aprendizagens
7.1.6 Qualidades Arquetípicas
Discutimos anteriormente o conceito de Inconsciente Coletivo, onde colocamos que
as informações contidas neste campo não físico que podem ser acessadas por nós são
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chamadas de arquétipos. Estes arquétipos se manifestam através das lendas, dos contos de
fadas e dos sonhos (JUNG, 2000). Utilizamos o trabalho de Mauro Pozatti (2007, p. 55-
57), que organiza estas qualidades arquetípicas através de algumas “figuras”. Estas estão
na formulação imagética 10, abaixo. A seguir trazemos as qualidades e efeitos observados
quando estes arquétipos se manifestam através de nosso comportamento.
Formulação imagética 10 – Qualidades arquetípicas
Arquétipos, qualidades e efeitos:
Pioneiro- Qualidades: alegria, amorosidade, agressividade, ardência, automotivação,
brilho, contundência, diversão, emotividade, entusiasmo, expansividade, expressividade,
heroísmo, impaciência, intensidade, paixão, provocação, sedução, velocidade e vibração.
Efeitos: busca pelo novo; sair do obsoleto; desejo de ir além.
Fogo
Ar Terra
Água
Guerreiro Líder
Mensageiro
Éter Ser Inteiro
Sábio Iniciado Aprendiz
Curador Amante Artesão
Visionário Rei
Pioneiro
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Rei- Qualidades: auto-suficiência, calor, confiança, coragem, criatividade, dinamicidade,
energia, estimulação, felicidade, força, galanteio, generosidade, integridade,
magnanimidade, motivação, nobreza, poder, prazer, ritmo, vigor e vitalidade. Efeitos:
implanta sua visão de mundo; procura instaurar um novo reino; organiza seu mundo;
estabiliza.
Visionário- Qualidades: entusiasmo, espiritualização, excentricidade, fulgor,
grandiosidade, imprevisibilidade, intuição, irradiação, liberdade, místico, otimização,
purificação, simplicidade, sublimação, transcendência e transmutação. Efeitos: busca o
significado último; é vidente; conecta com o desconhecido; com o profundo; intui o oculto.
Amante- Qualidades: aconchego, agradável, apego, constância, determinação, fertilidade,
força, funcionalidade, imediatismo, instintividade, manifestação, naturalidade, orgulho,
percepção, persistência, possessividade, presença, receptividade, reprodução, ritmo,
sensibilidade, sensorialidade, sentimentalismo, simplicidade, sintonização, superstição e
vínculo. Efeitos: busca o entusiasmo; busca o sensorial; quer satisfazer seus desejos e
necessidades.
Curador - Qualidades: afinação, apoio, bondade, cautela, coerência, coesão,
confiabilidade, correção, eficiência, equilíbrio, firmeza, força, fundamentação,
incondicionalidade, interesse, nutrição, organização, perseverança, pontualidade,
positividade, previsibilidade, segurança, solidez, tranqüilidade, união. Efeitos: busca o
vínculo com tudo; reconhece o poder curativo do amor; sente empatia pelo outro.
Artesão- Qualidades: aplicação, percepção artística, autocontrole, capacidade,
concreticidade, conservadorismo, construtividade, criatividade, decisão, dedicação,
durabilidade, estabilidade, estruturação, exatidão, experimentação, experiência, formação,
instrumentalização, limitação, materialismo, objetividade, paciência, perfeccionismo,
perseverança, pragmatismo, praticidade, precisão, produtividade, realismo, secura,
tecnicidade, trabalho. Efeitos: busca a inteireza com beleza; padrão estético; ordena suas
experiências sensoriais; tece novos significados.
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Mensageiro- Qualidades: abrangência, agilidade, agradabilidade, amizade, comunicação,
curiosidade, delicadeza, desapego, discursividade, elegância, estímulo, fraternalidade,
interesse, leveza, liberdade, paciência, percepção, proximidade, relação, sociabilidade,
racionalidade, transmissibilidade. Efeitos: trânsito entre fronteiras; conhecimento de novos
caminhos, busca de novos ritmos, novas tribos.
Guerreiro - Qualidades: análise, categorização, classificação, criticidade, determinação,
discernimento, disciplina, distância, exatidão, frieza, idealismo, imparcialidade,
impassibilidade, impessoalidade, inteligência, logicidade, mentalização, motivação,
objetividade, ordenamento, pensamento, perfeccionismo, poder, solução, treinamento e
verdade. Efeitos: escolhe um caminho para seguir; busca a impecabilidade; é decidido;
determinado; desenvolve um propósito e se compromete a atingi-lo.
Líder - Qualidades: associatividade, clareza, compreensividade, conceituação,
concentração, conhecimento, criação, dinamização, direção, filosofia, estética,
intelectualidade, intenção, juízo, participação, ponderação, refinamento, significação,
sofisticação, tranqüilidade, unificação e utopia. Efeitos: reconhece e utiliza sua autoridade
e seus potenciais; posiciona-se; possui abertura e flexibilidade.
Aprendiz: Qualidades: criatividade, difusão, diversão, emotividade, encantamento,
envolvimento, esperança, estimulação, experimentação, fantasia, fecundidade, fertilização,
fluência, imaginação, impressionabilidade, informalidade, originalidade, receptividade,
romantismo, sensibilidade, sonho. Efeitos: quer conhecer; busca o profundo; busca a luz;
aprende novas tecnologias.
Iniciado- Qualidades: catarse, complexidade, depuração, dramaticidade, emocionalidade,
emotividade, exacerbação, excitação, exuberância, hipersensibilidade, instabilidade,
interpretação, paixão, redenção, resistência, sensualidade e temperamentalidade. Efeitos:
busca a transformação; aprende sobre limites; sobre mortalidade; sobre renúncia.
Sábio- Qualidades: amorosidade balsâmica, compassividade, devoção, empatia, grandeza,
humanidade, impermanência, insondabilidade, intimidade, magia, magnetismo, melodioso,
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misterioso, piedoso, privado, profundeza, regenerabilidade, subjetividade e sutileza.
Efeitos: percebe o que está além; pratica o desapego e o perdão; harmoniza energias
interiores; busca a plenitude.
Como desenvolver:
Estas qualidades podem ser desenvolvidas através de atividades que exijam a
manifestação de determinadas qualidades para que sejam executadas. A este trabalho
damos o nome de Trabalho com os Arquétipos.
7.1.7 Valores humanos universais
Em diferentes comunidades (e mesmo dentro da mesma comunidade) são
compartilhados valores diferentes. Um desafio para a humanidade é a busca por valores
universais, ou o que poderíamos chamar de uma ética universal que possibilite que
convivamos de forma mais harmônica na “era planetária”, que nos auxilie a superar a
violência, a exploração, a desigualdade, os valores do consumismo exacerbado e do lucro a
qualquer preço (FREIRE, 1996).
Os valores propostos pelo Programa de Educação em Valores Humanos
desenvolvido por Sai Baba, que são na realidade inerentes a toda a humanidade, podem nos
indicar uma direção a seguir. Não são inerentes no sentido de que são algo dado, foram
construídos social e historicamente, mas são potenciais latentes na Consciência de toda
humanidade; isso, se conseguirmos atingir um nível de maturidade para manifestá-los e
vivê-los em nossas relações.
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Formulação Imagética 11 - Valores Humanos Universais
A Verdade é tomar consciência da verdadeira essência do ser e do universo. É
perceber que o universo não é composto apenas de matéria, mas uma Totalidade, composta
por diferentes campos onde todas as coisas e seres estão entrelaçados (MARTINELLI,
1996).
A Não violência não é uma postura passiva, muito pelo contrário, é uma forma de
lutar o “bom combate” sem o uso da violência. É adotar posturas e ações que sejam menos
agressivas e ao mesmo tempo não ser conivente com a fome, a violência, etc.
A Ação Correta é agir a partir da voz interna, ao que Dom Juan (CASTANHEDA,
2004) chamaria de “seguir caminhos que têm coração”. Ela surge a partir do
aprimoramento do caráter e da contínua busca por si mesmo (MARTINELLI, 1996).
O Amor é a energia de unidade e transformação. Nós humanos nos originamos do
amor e ele possibilita a revelação do nosso ser profundo, sagrado, transcendental e
sublime, permitindo que este ser vá ao encontro do outro na construção de relações de
aceitação e respeito (MARTINELLI, 1996; MATURANA 2009).
Vemos a Paz como um estado de harmonia interior, resultado de uma visão não
fragmentada. Esta paz no coletivo possibilitará a paz social, que pode ser entendida como
Fogo
Ar Terra
Água
Ação Correta Éter Paz
Não violência
Amor
Verdade
40
um estado de harmonia e fraternidade entre os homens e as nações e em um âmbito mais
amplo, chegaremos a um estado de harmonia com a natureza e o planeta (WEIL, 2002).
Como desenvolver:
- Contação de histórias que revelem a conduta de sujeitos agindo a partir destes valores.
- Dilemas morais, que possibilitem a discussão de um tema “polêmico” e a reflexão a
respeito dos valores.
- O convite a experienciar tais valores. Por exemplo: hoje vou tomar uma atitude menos
violenta, buscando manter essa consciência ao longo de todas as ações do meu dia.
- O Exemplo dos professores
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ÉTER: Aprender a Ser- Consciência Transcendência- Ser inteiro - Paz
Formulação Imagética 12 – MAPA EDUCACIONAL INTEGRADO
A formulação imagética acima integra os diversos aspectos relacionados às
aprendizagens discutidas até aqui. Cada um desses elementos pode estar mais ou menos em
foco durante o processo Educacional.
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7.2 O desenvolvimento harmônico do ser nos seus dif erentes ciclos de vida
Entramos então no segundo ponto, o desenvolvimento da espiral da Consciência.
Mais uma vez, assim como o desenvolvimento dos corpos e campos, os elementos
discutidos até agora dentro das cinco aprendizagens fundamentais, dos valores e do
desenvolvimento de qualidades humanas, são degraus que servirão para a escalada da
consciência, que se manifestam de forma distinta em cada momento de vida do ser
humano. Desta forma, terão de ser trabalhados nos espaços educacionais de forma
diferente em cada fase da vida. Não me aterei em descrever como devam ser trabalhados
em cada uma das fases, este é um trabalho longo, que não cabe nesta obra. Além do mais já
citei alguns aspectos relativos a características importantes de cada fase, o que já nos dá,
enquanto educadores, substrato suficiente para com o conhecimento que temos e um pouco
de criatividade desenvolvermos atividades com nosso aprendizes.
Fundamentalmente falarei sobre como facilitar a passagem de um nível para outro
através de uma pedagogia iniciática. A passagem de uma fase para outra, mais atualizada
em termos de valores, papel social, etc. exige uma “morte” dos aspectos até o momento
valorizados e o nascimento de novas possibilidades. Esta passagem pode ser facilitada com
a utilização de Ritos de Passagem.
Um Rito de passagem é uma experiência que marca uma transição entre algo que
foi e algo que virá, algo que tem que morrer e algo que está por renascer, tendo sido
utilizados de diferentes formas por várias culturas ao longo dos séculos (GROF, 2000). De
maneira geral tem basicamente cinco passos, o primeiro é perceber o obsoleto, o que tem
de morrer pois não está mais coerente com o momento de vida do sujeito, o segundo é
manifestar o desejo de fazer a passagem, ou seja estar disposto a abrir mão deste obsoleto.
O Terceiro é o processo de morte-renascimento propriamente dito, que pode ser realizado
de diferentes formas. O quarto passo é o acolhimento do iniciado pelos já iniciados e o
quinto é a celebração deste feito.
Um rito de passagem sempre é conduzido por alguém que já tenha passado por
processos ritualísticos, que já tenha acessado níveis de consciência mais maduros que
aquele que está por ser iniciado. É uma experiência muito marcante que tem de ser
conduzida com responsabilidade e amorosidade.
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A não passagem para outro nível quando já é hora de fazê-lo pode acarretar em uma
série de problemas. Por exemplo, para que a psicologia do homem maduro exista é preciso
haver uma morte simbólica. “O ego do menino tem que 'morrer'. O antigo modo de ser,
agir, pensar e sentir tem que 'morrer' para que o novo homem possa surgir” (MOORE;
GILLETTE, 1993, p.6). Para os autores, o homem maduro é centrado, ético, amoroso,
posicionado etc., enquanto o traficante de drogas, o líder político indeciso, o marido que
bate na mulher, o jovem executivo metido a importante são alguns exemplos da
manifestação da psicologia do menino nas ações do homem adulto. Apesar dos autores
falarem sobre o desenvolvimento do homem, esse processo é observado de forma muito
semelhante também nas mulheres.
Zoja (1992) propõe que a formação de gangues e o uso de drogas, estão
relacionados com a ausência desses ritos. Segundo o autor estes atos são uma busca de
reproduzir os rituais iniciáticos, para ser aceito em um grupo e ter um papel bem definido
na sociedade, fatores que eram promovidos por essa prática. Pode-se observar inclusive
que os passos dos ritos de entrada em uma gangue muitas vezes são semelhantes aos
passos dos ritos de passagem. O autor expõe que:
Quase nunca se entrega às drogas um sujeito de meia idade, com situação familiar e de trabalho satisfatórias e já consolidadas pelo tempo. Neste sentido [o autor] acha correto afirmar que o comportamento do dependente de droga, ao se proclamar “sou um drogado” não é só uma fuga a um outro mundo, o mundo da droga, mas também uma ingênua e inconsciente tentativa de conseguir uma identidade e um papel definidos, mesmo se negativamente, pelos valores correntes neste mundo. Não portanto como uma fuga da sociedade, como normalmente se pensa, e sim como uma tentativa desesperada de unir-se a ela, ocupando um lugar.
(ZOJA, 1992, p.22)
Estes e vários outros exemplos poderiam ser dados a respeito da não passagem a
níveis de consciência mais complexos e coerentes com o momento de vida dos sujeitos e
coletivos. Neste sentido proponho o resgate de uma pedagogia iniciática com a utilização
de ritos de passagem.
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7.3 Aprender a significar realidades diferentes
O acesso a realidades usualmente desconhecidas ocorre através de estados
holotrópicos2 ou ampliados de consciência (GROF, 2000) e uma vez ampliada (ou
expandida), a consciência conecta-se com significados que podem ir além da realidade
usualmente percebida por membros de uma determinada espécie (POZATTI, 2007).
O acesso a estes estados de consciência é conhecido por muitas culturas do mundo
todo, que desenvolveram diversas técnicas para alcançá-los. Essas técnicas envolvem
trabalhos respiratórios, com hiper ou hipoventilação, música, danças e outras formas de
movimento, isolamento social e privação sensorial, meios fisiológicos como jejum ou
privação do sono, meditação, orações, substâncias psicotrópicas de plantas e animais e
outras práticas espirituais (GROF, 2000).
Nos estados holotrópicos ocorre uma mudança qualitativa de consciência de forma
profunda e fundamental. Como já havia discutido anteriormente, podem ocorrer profundos
insights psicológicos relativos à história pessoal do sujeito, dificuldades emocionais,
problemas interpessoais, questões filosóficas, metafísicas e espirituais (GROF, 2000). A
utilização de tais técnicas na educação dos sujeitos pode nos trazer diversas contribuições.
Alguns dos resultados podem ser observados em Antunes (2009; 2011) Antunes e Pozatti
(2011), Frosi e Pozatti (2011), Stanislav Grof (2000) e do autor com Cristina Grof (2010).
Como desenvolver:
- Respiração Holotrópica
- Seções de Jornada
- Respiração Integrativa
- Outras técnicas de meditação e expansão da consciência
2 Holotrópico significa “orientado para a totalidade/inteireza ou indo em direção à totalidade/inteireza”
(GROF, 2000).
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Preencher de informações a mente de corpos sentados já não nos satisfaz enquanto
humanos. É preciso algo mais, é preciso uma forma de educar que toque, que transforme,
que permita que a vida brote de forma inteira e no caminho da harmonia e respeito.
No entanto, aplicar propostas para uma educação integral, especialmente nos
espaços de educação formal, se confronta com diversos desafios. O processo de trabalho,
os valores dos colegas, famílias e aprendizes e nossos mesmos, muitas vezes levam a uma
série de resistências e conflitos. Mas aí se dá o real desafio de intervir enquanto educador
na complexidade da vida. Tal movimento subversivo, ousado e “transgressor” é possível e
necessário. O momento em que vivemos enquanto humanidade nos permite e nos tenciona
à implementação de novas propostas educacionais.
Adotar uma proposta voltada para uma educação integral exige grandes mudanças
na prática dos professores. Exige antes de mais nada que o professor ingresse em uma
jornada em busca de sua inteireza.
Para aqueles que compartilham das perspectivas trazidas neste trabalho, creio que é
preciso pensarmos estratégias e orientar nosso trabalho não só para aplicar propostas como
estas, mas também para disseminá-la entre nossos colegas.
Ainda há muito que descobrir. Propostas como as trazidas aqui ainda são novas,
especialmente em espaços educacionais formais, mas já existem algumas experiências
relacionadas a elas desenvolvidas pela Unipaz Sul e pelo movimento Guardiães do
Amanhã, com grupos de homens, mulheres, jovens e crianças, com belíssimos resultados.
Tal estrutura e objetivos têm o potencial de atingir resultados inimagináveis em uma lógica
Cartesiana e disciplinar.
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