RUPTURA EM CUNHA
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – UFPA
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE MARABÁ
CURSO DE ENGENHARIA DE MINAS E MEIO AMBIENTE
Bruna Kharyn de Assunção Barbosa
Tipos de Ruptura em Taludes:
Ruptura em Cunha
Marabá - PA
2012
Bruna Kharyn de Assunção Barbosa
Tipos de Ruptura em Taludes:
Ruptura em Cunha
Marabá - PA
2012
Trabalho apresentado como parte da avaliação da disciplina de Mecânica das Rochas II no curso de graduação em Engenharia de Minas e Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará.
Docente: Profa. Karina Fischer Lima Santiago
Introdução
Em várias obras, tais como estradas, fundações, barragens e minas a céu aberto,
existe a necessidade de se estimar o grau de estabilidade de taludes, sejam eles naturais
ou construídos pelo homem.
Taludes são superfícies de fronteira entre o ar e a rocha, podendo ser verticais ou
inclinados, ou corpos de obras de terra, como uma barragem ou aterro.
O nível de segurança e os métodos de planejamento de taludes dependem do tipo
de obra a ser realizada. Em obras como estradas urbanas, ferrovias, prédios e barragens
é preciso segurança total, o tempo todo, dado que acidentes nesses tipos de construções
teriam grandes perdas materiais e humanas, superando mesmo os elevados custos de
escavação e suportes de rochas. Já em estradas de transporte e, principalmente, em
minas a céu aberto, os gastos com a completa segurança tornariam os projetos inviáveis.
No caso da mineração, as escavações têm como principal utilidade a retirada de material
estéril e sua separação do minério. Os taludes são, em geral, temporários devido ao
crescimento constante da mina. Portanto as medidas de segurança tomadas devem ser
para curto e médio prazo e levando em conta os menores gastos possíveis de modo a
maximizar o lucro. Sendo mais barato escolher um ângulo seguro para cortes de taludes
do que remediar uma situação de insegurança ou mesmo acidente, grande parte do
projeto de taludes constitui-se em definir seu ângulo, entendendo que taludes muito
aplainados significam escavação demasiada e taludes íngremes demais podem aumentar
a quantidade de tempo gasto com bloqueios em estradas de transporte e o número de
acidentes e perdas.
Assim, é importante compreender os tipos de instabilizações que podem ocorrer
em taludes.
Na maioria das rochas duras e em algumas mais brandas também, as
descontinuidades pré-existentes controlam os modos de deslocamentos de rochas de
modo que os principais tipos de rupturas são deslizamentos (slidings). Esse trabalho
trata de apresentar os métodos empregados em análise de rupturas em cunha (wedge
sliding) de acordo com o modo mais geral, considerando ângulo de atrito interno da
rocha, coesão e pressão de água.
Ruptura em Cunha – Definição
De acordo com Goodman (1989), ruptura ou deslizamento em cunha é um dos
três modos básicos de ruptura em taludes de rochas duras. A cunha em si é uma
formação muito simples, sendo o resultado da intersecção de dois planos de
descontinuidade que estabelecem um bloco tetraédrico. O deslizamento pode ocorrer
sem nenhuma característica de rompimento estrutural bastando que a linha de
intersecção das descontinuidades aflore escavação adentro. [figura B pag. 295 goodman
e fig. cunha 297].
É preciso observar ainda que as descontinuidades constituintes das cunhas
podem tanto ser planares e lisas (características consideradas no tratamento analítico do
problema), como podem ser uma série de famílias de descontinuidades pouco
espaçadas. No último caso, o tratamento analítico ainda é baseado na premissa de que as
rupturas ocorrem em estruturas planares, mas a determinação das direções (dip
direction) e mergulhos (dip) e das posições destes planos podem apresentar dificuldades
práticas. A ruptura de uma cunha não-planar como a da figura [FIGURAS 4.22 E 4.23
AZEVEDO 237] provavelmente ocorreu gradualmente com deslocamentos de pequenos
blocos de rocha sem movimentação violenta. Já a figura 3 mostra uma cunha para a qual
a ruptura ocorreu de forma violenta e repentina ao longo da linha de intersecção. A
geometria para fins de análise considerada é a da figura 1, sendo que o plano de menor
inclinação é, por convenção, chamado de plano A e o plano mais íngreme é o plano B.
Análise da Ruptura por Cunha
Na análise e planejamento de taludes, é necessário avaliar-se as características de
resistência a cisalhamento das descontinuidades controladoras do padrão de ruptura, o
que freqüentemente requer testes de campo e de laboratório. No entanto, se a direção do
corte pode ser alterada para atender às propriedades estruturais do maciço, é possível
escolher a orientação da escavação de modo que a ruptura não possa ocorrer,
independente do ângulo de atrito das descontinuidades.
O primeiro passo a ser dado em uma análise de estabilidade é a determinação
das relações entre as diversas famílias de descontinuidades no maciço rochoso e seu
potencial cinético de instabilidade por meio de uma análise cinemática com projeção
estereográfica. O segundo passo é determinar a resistência ao cisalhamento nos planos
de descontinuidades ou quais os blocos de rochas que podem movimentar-se, através de
ensaios in situ ou de laboratório. Finalmente, o terceiro passo é determinar as condições
de fluxo de água pelas descontinuidades ou em maciços intensamente fraturados, por
meio de poços e/ou de avaliação de campo, de modo a caracterizar as pressões de água
atuantes em blocos potencialmente instáveis.
Análise cinemática de ruptura em cunhas
Cinemática refere-se ao movimento de corpos sem referência às forças que
causam essa movimentação. Muitos cortes de rochas ficam estáveis em taludes
íngremes apesar de conterem planos de fraqueza íngremes com resistência muito baixa.
Isso ocorre quando não há liberdade para o bloco se mover ao longo da superfície
devido à presença de crescimentos rochosos no caminho. Em caso de tais rochas
bloqueadoras serem removidas do caminho por erosão, escavação ou crescimento de
fraturas, o talude falhará imediatamente. Goodman (1989) apresenta a análise
cinemática a seguir com base nessa consideração, de que existe bloqueio de rochas ao
longo do plano de movimentação dos blocos, para que mínimas referências sejam feitas
aos parâmetros de forças, mas sim às orientações das estruturas.
A primeira coisa a saber a respeito da análise cinemática é que o método de
realização mais utilizado é o da projeção estereográfica, dada sua praticidade, e que os
elementos lineares básicos de qualquer maciço rochoso são: D, vetor direção do
mergulho (dip vector), N, normal ou pólo (normal vector) e I, linha de intersecção
(intersection line). [inserir figura 8.4 goodman 302]
Primeiramente deve-se compreender a análise cinemática da ruptura planar.
Qualquer bloco tendendo a deslizar numa única superfície plana vai transladar para
baixo paralelamente ao mergulho D do talude. Se o corte do talude for feito com um
ângulo α em relação à horizontal, as condições de ruptura são simplesmente que D
esteja direcionado ao espaço livre da escavação (pit) e que seu mergulho seja inferior ao
ângulo α. [figura 8.5 a goodman 303] A figura [8.5 b 303] mostra um corte de talude
plotado estereograficamente (círculo maior). Os requisitos cinemáticos para a ruptura
planar são satisfeitos se o vetor mergulho de uma possível superfície de ruptura plota-se
na área hachurada acima do circulo maior, o que significa que o ângulo de corte α é
mais alto que o ângulo de mergulho do talude. Na situação da figura, o plano de D1
deslizaria já o plano D2 não.
Assim, conhecido o vetor de mergulho D de uma superfície de fraqueza
potencialmente problemática é possível determinar o ângulo limite de segurança (ou
seja, aquele mais íngreme possível) correspondente ao corte de uma determinada
direção, que pode ser modificada de acordo com as condições do talude, simplesmente
aplicando-se a construção da figura [8.5 c 303]. Para um corte com direção (strike) 1 o
ângulo α1 máximo é o mergulho do círculo maior passando pela direção 1 e por D1. Do
mesmo modo, para o strike 2 o α2 mais alto é o mergulho do circulo maior que passa
pelo strike 2 e por D1. Para ruptura planar ocorrendo num único plano de fraqueza,
pode-se ver que a liberdade cinemática para deslizamento só ocorre em metade do
conjunto de possibilidades de orientações de corte. Cortes quase paralelos à direção de
mergulho do plano de fraqueza serão estáveis mesmo que quase verticais.
Compreendido o caso da ruptura planar, basta saber que para a ruptura em cunha
a análise cinemática se dá exatamente do mesmo modo, exceto que em vez do elemento
linear D, utiliza-se o elemento linear I, visto que as cunhas são formadas da intersecção
de dois planos de fraqueza, sendo, portanto, a linha de intersecção o elemento que
melhor a define.
Antes de exemplificar a análise de uma cunha, no entanto, é preciso relembrar
que para plotar a intersecção entre dois planos há duas técnicas estereográficas: medição
direta do ângulo do ponto de intersecção entre os círculos maiores que representam os
planos, ou através dos pólos destes planos que ao serem alinhados formam um círculo
maior cujo pólo é por sua vez é a intersecção dos dois planos estudados. Essa técnica é
considerada mais prática pela menor quantidade de marcações no papel de projeções
(apenas os pólos em vez dos planos) e também pela facilidade em campo de plotar o
pólo. Goodman (1989) utiliza-se esse último método.
Sendo assim, pode-se analisar a figura [8.6 304], que se trata da análise
cinemática de possíveis falhamentos em cunha para um maciço rochoso composto de
três famílias de juntas. Se um corte for feito com a direção mostrada, apenas as cunhas
formadas pelos planos 1 e 3 ou 1 e 2 teriam o potencial de romper, já que a cunha 2 e 3
está mergulhando em direção oposta à da escavação. Se o corte for inclinado ao ângulo
α determinado pelo circulo maior passando pelo I3, e com a direção determinada para o
corte, então apenas a cunha formada pelos planos 1 e 2 seria capaz de deslizar (por
conta de o corte ser mais íngreme que a linha de intersecção desta cunha). No entanto,
neste caso, como o ângulo desta cunha é muito baixo, Goodman (1989) considera que
ela não deve causar maiores problemas.
Na prática, com o levantamento de descontinuidades é provável que se gere uma
multiplicidade de descontinuidades e muitos vetores de mergulho, vetores normais e
linhas de intersecção. Contudo é possível reduzir o numero de linhas para uma
quantidade mais viável de análise preparando uma projeção simples como a da figura
[8.8 a 305], a partir do desenho de um círculo de raio 90-ϕ – onde ϕ é o ângulo de atrito
interno – concêntrico à rede estereográfica. A área fora do círculo (hachurada na
imagem) contém as linhas que mergulham a um ângulo inferior a ϕ. Portanto, todos os
vetores I e D dentro dessa área podem ser eliminados da análise, afinal rupturas planares
e em cunha, por ação da gravidade, só podem ocorrer se D ou I forem mais íngremes
que ϕ. Mesmo assim, no caso de uma cunha muito aguda em cujos planos de
descontinuidade haja qualquer rugosidade ocorre aumento considerável de resistência
ao movimento, tal que I freqüentemente inclina-se bem mais que ϕ sem que aconteça
deslizamento da cunha.
Análise do FS de cunhas, considerando-se o atrito
A fim de analisar as condições de estabilidade de taludes, uma medida muito
utilizada é o fator de segurança (FS), um índice obtido a partir da razão entre as forças
que tendem a resistir ao deslizamento, FR, e as forças que tendem a produzir
deslizamento, FD.
Para a análise desse índice, consideram-se os elementos estereográficos
apresentados na figura [17.7 p 307 Hudson].
O FS de uma cunha, considerando-se apenas o atrito como a resistência
oferecida ao deslizamento, e sendo os ângulos de atrito de ambos os planos iguais a ϕ, é
dado por:
FS=(Ra+Rb) tanϕ
Wsenψi
Onde Ra e Rb são as reações normais nos planos A e B mostradas na figura
[Azevedo 4.25 pag 240], ψi é o ângulo de inclinação da linha de intersecção e W é o
peso da cunha.
Seguindo a figura acima, para encontrar Ra e Rb, calcula-se:
Ra sen( β− 12δ )=Rb sen(β+ 1
2δ )
Ra cos(β− 12 δ )−Rb cos( β+ 1
2 δ )=W cosψi
Que resolvido e somados Ra e Rb, resulta em:
R a+R b=W cosψi sen β
sen 12 δ
Ou seja:
FS= sen β
sen 12δ
tan ϕtanψi
FSw=k FSp
Em que:
k= sen β
sen 12 δ
FSp= tan ϕtanψi
O fator de segurança FSw é o FS de uma cunha suportada apenas pelo atrito
enquanto o FSp é o FS de um plano de ruptura no qual a face do talude está inclinada
com um ângulo ψfi; o plano de ruptura está inclinado com o ângulo ψi; k é o fator de
cunha que conforme a equação acima depende do ângulo entre os planos que compõem
a cunha (δ , que é a agudez da cunha) e do ângulo entre a bissetriz da cunha e a
horizontal (β, que é a verticalidade da cunha). Valores do fator de cunha, k, para uma
faixa de valores de β e δ são apresentados na figura [4.26 242 azevedo].
O fator de segurança para este caso simples – isto é, considerando-se somente o
atrito como força de resistência ao movimento – pode facilmente ser calculado,
encontrando-se os ângulos β e δ por meio da projeção estereográfica das feições que
definem o talude. No entanto, quando se analisa um caso mais complexo, onde os
ângulos de atrito de cada um dos planos são diferentes, e a coesão e a pressão da água
são consideradas, as equações ficam muito longas e complexas. Utilizar os ângulos β e
δ deixa de ser apropriado. Uma análise em termos de mergulhos e de suas direções é
mais interessante.
Análise da ruptura por cunha, incluindo coesão e pressão da água
Considera-se uma cunha de geometria apresentada na figura [4.27a pag 244
azevedo], na qual a superfície superior do talude pode ser oblíqua.
A altura total do talude H definida na figura [b] é a diferença total de elevação
vertical entre as extremidades superior e inferior da linha de intersecção ao longo da
qual se admite que o deslizamento vá ocorrer.
A distribuição da pressão de água considerada é baseada na hipótese de que a
cunha é impermeável e que a água entra pelo topo da cunha, através das linhas de
intersecção 1 e 2. A distribuição de pressão resultante é mostrada na figura [b], sendo
que a máxima pressão ocorre ao longo da linha de intersecção 5 e a pressão é nula nas
linhas 1, 2, 3 e 4. Essa distribuição representa as condições extremas que podem
acontecer durante uma chuva intensa.
Sendo muito importante a correta identificação das linhas de intersecção dos
vários planos a fim de evitar confusões, define-se:
1- Intersecção do plano A com a face do talude;
2- Intersecção do plano B com a face do talude;
3- Intersecção do plano A com a parte superior do talude;
4- Intersecção do plano B com a parte superior do talude; e
5- Intersecção dos planos A e B.
Lembra-se que o deslizamento se dá ao longo de 5.
O FS do talude é assim derivado da analise mais detalhada apresentada por Hoek
et al. (1973):
INSERIR FORMULA DA PAGINA 243 4.48 NO LIVRO DO AZEVEDO E A
DESCRIÇAO DAS VARIAVEIS NA 244, JUNTAR AS DUAS E DAR UM JEITO DE
FICAR MAIS ARRUMADO AQUI!
Cartas de Estabilidade de Cunhas Apenas para Atrito
Considerando a coesão nos planos A e B nula e o talude completamente
drenado, o fator de segurança fica reduzido a:
FS=A tan ϕa+B tan ϕb
Os fatores adimensionais A e B dependem das direções de mergulho e dos
mergulhos dos dois planos. Valores para estes fatores foram calculados para uma faixa
de geometrias de cunhas e os resultados são apresentados na série de cartas a seguir
[figuras 4.30 a 4.37 pag 248 azevedo].
Vários cálculos têm mostrado que a ruptura de uma cunha com FS> 2, obtido de
cartas de estabilidade de cunha somente por atrito é improvável de acontecer mesmo
sob a combinação mais severa de condições às quais o talude possa estar submetido.
Com base nestes cálculos, Hoek et al. (1981) sugerem que as cartas de estabilidade de
cunhas somente para atrito sejam utilizadas para definir aqueles taludes adequadamente
estáveis e que possam ser ignorados em análises subseqüentes. Para aqueles em que o
FS seja inferior a 2 a situação é considerada potencialmente instável e deve-se examiná-
los com maiores detalhes.
Em muitos problemas práticos que envolvam o projeto de taludes em minas a
céu aberto ou cortes de estrada estas cartas fornecem informações suficientes. Deve-se
ter maiores cuidados, contudo, com taludes já escavados, pois para eles as cartas têm
utilidade limitada. De acordo com Hoek et al. (1973) apud Azevedo e Marques (2006),
poucos taludes requerem uma análise detalhada e deve-se ter em mente o tempo gasto
em tal tipo de análise, quando métodos mais simples (já apresentados) são adequados.