RUPTURA OBLÍQUA CONDICIONADA POR FALHA...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL RUPTURA OBLÍQUA CONDICIONADA POR FALHA TRANSCORRENTE NA CAVA A CÉU ABERTO DA MINA DO CAUÊ, ITABIRA, MG. AUTOR: HENRY FRANCISCO GALBIATTI ORIENTADOR: Prof. Dr. Romero César Gomes Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação do Departamento de Engenharia Geotécnica (Mestrado Profissional) do Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil, área de concentração: Geotecnia Aplicada a Mineração. Ouro Preto, 03 de julho de 2006.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

RUPTURA OBLÍQUA CONDICIONADA POR FALHA TRANSCORRENTE NA CAVA A CÉU ABERTO DA MINA

DO CAUÊ, ITABIRA, MG.

AUTOR: HENRY FRANCISCO GALBIATTI

ORIENTADOR: Prof. Dr. Romero César Gomes

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Engenharia Geotécnica (Mestrado Profissional) do Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil, área de concentração: Geotecnia Aplicada a Mineração.

Ouro Preto, 03 de julho de 2006.

G148r Galbiatti, Henry F. Ruptura oblíqua condicionada por falha transcorrente na cava a céu aberto da mina do Cauê, Itabira, MG [manuscrito]. / Henry F. Galbiatti - 2006. xiii, 99 f .: il. color., graf., tabs.

Orientador: Prof. Romero César Gomes.

Área de concentração: Geotecnia. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Departamento de Engenharia Civil. Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil.

1. Falha de carreação - Teses. 2. Taludes em rochas - Teses. 3. Modelos mecânicos - Teses. 4. Estabilidade estrutural - Análise - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Departamento de Engenharia Civil. II. Título.

CDU: 622.015(815.1)

Catalogação: [email protected]

ii

RUPTURA OBLÍQUA CONDICIONADA POR FALHA TRANSCORRENTE NA CAVA A CÉU ABERTO DA MINA DO CAUÊ, ITABIRA, MG.

AUTOR: HENRY FRANCISCO GALBIATTI

Esta dissertação foi apresentada em sessão pública e aprovada em 03 de julho de 2006, pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Dr. Romero César Gomes (Orientador / UFOP) Prof. Dr. Sérgio Augusto Barreto da Fontoura Prof. Dr. Rodrigo Peluci Figueiredo

iii

AGRADECIMENTOS

Como este trabalho foi sendo realizado por partes e sempre nos feriados e finais

de semana, mesmo com todo cuidado, acabei, de alguma maneira, deixando a família

em alguns momentos em segundo plano. Desta forma, agradeço a Inês, Flávia e

Matheus a quem dedicarei este trabalho.

O trabalho foi possível devido uma mudança de cadeiras na CVRD onde sai da

gerência de planejamento e fui para a de geotecnia. Desta forma, busquei conhecimento

específico que tinha somente de maneira genérica. As pessoas que participaram deste

processo e a quem agradeço foram João Bosco Ferreira e José Francisco de Viveiros.

Agradeço aos que vieram posteriormente e que mantiveram a mesma motivação para a

realização deste trabalho. Neste aspecto incluo o Antônio Padovezi.

Por outro lado, na chegada a geotecnia tive como amigos de empreitada o

Armando Mangolim, Luciano Pohl, Ricardo Leão, Antonio Costa, Danilo Almeida,

Tarso Dutra e a todos os funcionários da Gerência de Geotecnia e Hidrogeologia

(GAGHS) que muito me ajudaram. Agradeço aos colegas que chegaram mais

recentemente à equipe como o Germano Lopes, Paulo Gouvêa, Andréa Dornas, Fábio

Horta, Jesus Magno e, principalmente, ao Eudes Friguetto pelas informações repassadas

e discussões.

Em especial, gostaria de agradecer ao Armando Mangolim que considero um

excelente profissional e de grande conhecimento na área de geotecnia. O trabalho ora

desenvolvido baseou-se fortemente em sua idéias.

Aos colegas do mestrado externalizo que foi um grande momento conhecê-los e

mesmo não tendo um contato freqüente com todos, devido às particularidades de cada

um, certamente teremos bons momentos no futuro.

Agradeço, em especial, ao prof. Romero C. Gomes pela orientação, sugestões e

correção do texto e pelo trabalho que vem desenvolvendo na área de geotecnia em

Minas Gerais.

iv

RESUMO

Este trabalho desenvolve um estudo de ruptura em talude de mineração situado

na mina do Cauê, em Itabira, MG, pertencente a Companhia Vale do Rio Doce.

A ruptura denominada de Trinca 1 ocorre no flanco norte do sinclinal Cauê na

região de contato entre o Grupo Nova Lima e o Itabira. O mapeamento mostra que a

trinca está condicionada por falhamento caracterizado como transcorrente. Esta falha foi

desenvolvida por esforços direcionais que cisalharam as rochas preexistentes com

direção NE e as reorientou para uma zona com direção EW.

A ruptura foi caracterizada como sendo oblíqua à direção geral dos taludes e

controlada por falhas situadas nos limites norte e sul e encaixada na foliação. Nas

bordas da Trinca o maciço é mais resistente e o plano de ruptura lateral se ajustou a

essas falhas, motivo pelo qual o movimento é oblíquo.

O deslocamento da massa rompida foi desenvolvido, no primeiro momento, para

a direção EW de oeste para leste com movimento francamente oblíquo ao talude e em

seguida o movimento foi no sentido de azimute 150 graus, de NW para SW, para o

interior da mina. Os deslocamentos acumulados em X, Y e Z a partir de 2000

alcançaram valores de 15 metros. Estes movimentos foram monitorados através da

instalação de prismas interna e externamente à massa rompida e estas informações

foram a base de dados para a tomada de decisão com relação a segurança operativa no

interior da mina e sob a Trinca 1.

O modelo geomecânico executado na região da ruptura foi realizado a partir da

instabilização buscando alcançar dois objetivos básicos que foram compreender os

aspectos geotécnicos que condicionaram a instabilização e garantir que a lavra fosse

continuada até a exaustão da hematita. O modelo usou como referência a classificação

de Bieniawski (1976). Foi confeccionado um mapeamento geomecânico em toda a

extensão instável com a classificação dos tipos de maciço e 22 seções geomecânicas

interceptando a zona instável foram realizadas. Contudo, no desenvolvimento deste

trabalho somente 5 seções representativas foram apresentadas com discussões

pormenorizadas em todas elas.

v

As 5 seções consideradas representativas (E36, S2, S5, T2, T3) foram montadas

e analisadas no Geo-Slope Internacional Inc., versão 4.2. As análises foram realizadas

em duas etapas, a primeira sem estabelecer nenhuma condição específica e a segunda

forçando a análise pelo método de Morgenstern-Price e pelo de Bishop/Janbu no local

da trinca 1. Os resultados confirmaram que os métodos clássicos de análise para ruptura

circular não se aplicam para o tipo de ruptura estudado, conforme anteriormente,

colocado pela equipe de geotecnia da CVRD e descrito neste trabalho.

A situação que melhor explicou a instabilização, no primeiro momento, foi que a

ruptura foi condicionada por um bloco ativo, com recalques decamétricos. Este bloco

ativo impôs um empuxo no bloco passivo representado por um arrimo de quartzito. Por

outro lado, a ruptura não mobilizou a formação ferrífera, que é o arrimo do próprio

bloco de quartzito. Nesta situação, a ruptura poderia ser catastrófica e mobilizaria o

talude total. Como o arrimo de quartzito foi sendo constantemente recalcado o bloco

ativo começou a tombar iniciando um movimento final de ‘toppling’.

O gatilho da ruptura não ficou claramente evidenciado. Não há critérios que

determinem se a trinca 1 iniciou o movimento pela relação estreita com a falha ou pela

perda do arrimo devido à lavra ou, ainda, se por uma condicionante relacionada aos

elevados níveis de água.

Por fim, foram sugeridos alguns critérios de condução dos trabalhos para

instabilizações de grande porte e semelhantes a da Trinca 1.

vi

ABSTRACT

This work gives an overall evaluation of a mining slope failure at Cauê Pit Mine.

This pit mine belongs to the Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) and stands in the

town of Itabira, state of Minas Gerais, Brazil.

The failure called Trinca 1 occurs at the northern flank of Cauê syncline, more

specifically at the contact of Nova Lima and Itabira Groups. Mapping observations

indicate the tension cracks are related to strike-slip fault. This fault was developed by

forces with NE strike, which made all the rocks to get an E-W strike.

The failure is oblique compared with slope directions and is controlled by northern and

southern faults parallel to foliation. At tension crack’s borders, the rocks are more

resistant making the failure surface continues through the fault plane, which explains

the oblique movement.

In the beginning, the material moved from west to east and then turned to

azimuth 150º (from NW to SW) towards the pit. The accumulated displacement of X, Y

and Z-axis reached 15 m since 2000. The displacements were calculated by a

monitoring system composed by a several corner-cube reflecting targets located in and

out of the failure region. The results of this monitoring system were the major rule to

evaluate the safety conditions for operation at the pit and over the tension crack 1

region.

The geo-mechanical’s model of the failure region was developed considering

two basic purposes. First, understand geotechnical features of this instability and then,

give the guidelines to mine all the hematite ore. The model was based in Bieniawski

(1979) rock mass classification. The map covers the entire instability region including

22 cross-sections. This work presents and discusses only five cross-sections.

Stability analyses were performed considering two different conditions in five

representative cross-sections (E36, S2, S5, T2, T3) using the computer code Slope/W.

First, the model was set to run without any specific conditions and then, the

Morgenstern-Price and Bishop/Jambu methods were chose to run stability analysis of

vii

tension crack 1. The results have confirmed that classic circular failure methods cannot

be applied for these kind of failures, as indicated by CVRD staff.

The best explanation for the instability process is to consider that an active block

had a major rule pushing the subsequent rocks, the quartzites, but not occurred through

iron formation. Otherwise, the consequences would be catastrophic mobilizing the

whole slope. Since the quartzites were constantly pushed downwards, the active block

started to fail by toppling.

The causes of the failure are not well understood. There aren’t enough evidences

to associate the initial movements to the strike-lip fault or to the loss of support caused

by mining or even to high water tables.

viii

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS.....................................................................................................iv

RESUMO..........................................................................................................................v

ABSTRACT....................................................................................................................vii

SUMÁRIO........................................................................................................................ix

LISTA DE FIGURAS...................................................................................................... xi

LISTA DE TABELAS................................................................................................... xiii

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1- PROPOSIÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS DO

TRABALHO.....................................................................................01

1.2- LOCALIZAÇÃO DA ÁREA............................................................01

1.3- METODOLOGIA DE TRABALHO................................................03

1.4- BREVE HISTÓRICO DA CVRD EM ITABIRA............................03

1.5- ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO.............................................06

1.6- RESUMO DO CAPÍTULO..............................................................08

CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA

2.1 – QUADRILÁTERO FERRÍFERO - POSIÇÃO GEOTECTÔNICA E

LITOESTRATIGRÁFICA .................................................................. 09

2.2 – SINTESE SOBRE A GEOLOGIA DA REGÃO DE ITABIRA ........13

2.3 – GEOLOGIA DA MINA DO CAUÊ ...................................................19

2.4 – GEOLOGIA DA REGIÃO DA TRINCA 1 ........................................ 22

2.5 – GEOLOGIA ESTRUTURAL DA MINA DO CAUÊ ........................ 24

2.6 – RESUMO DO CAPÍTULO ................................................................. 36

CAPÍTULO 3 – CONCEITO E HISTÓRICO DA TRINCA 1

3.1 – CONCEITUAÇÃO DA TRINCA 1 .................................................... 37

3.2 – HISTÓRICO DA TRINCA 1 .............................................................. 39

ix

3.3 – HISTÓRICO DO MONITORAMENTO DA TRINCA 1 ................46

3.4 - RESUMO DO CAPÍTULO .................................................................55

CAPÍTULO 4 – MODELO GEOTÉCNICO

4.1 – MODELO GEOMECÂNICO............................................................. 57

4.2 – MODELOS DE RUPTURA EM TALUDES..................................... 65

4.3 – ANÁLISE DAS SEÇÕES GEOTÉCNICAS ..................................... 72

4.4 – DISCUSSÃO DOS ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS..................79

4.5– CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO

DA TRINCA........................................................................................81

4.6 – DISPOSICÃO DE REJEITO NA CAVA .......................................... 83

4.7 – EXPERIÊNCIAS E DIRETRIZES PARA RUPTURAS

OBLÍQUAS SEMELHANTES À TRINCA 1................................... 85

4.8 – RESUMO DO CAPÍTULO.................................................................88

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES..................................................................................89

CAPÍTULO 6 – BIBLIOGRAFIA

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA (AUTORES)......................................94 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA (EMPRESAS)................................. .99

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Mapa de localização de Itabira/MG e mapa geológico simplificado do sinclinório

de Itabira com as minas de ferro e a área de estudo.....................................................................02

Figura 1.2 – Gráfico com a movimentação total (minério e estéril) da mina do Cauê de 1942 até

2004 .............................................................................................................................................05

Figura 1.3 – Visão parcial da cava final do Cauê com o lago relacionado à disposição de rejeito

e a pilha de estéril.........................................................................................................................06

Figura 2.1 – Mapa geológico simplificado e coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero

modificado de Marshak & Alkmim (1989), extraído de Varajão (1994)....................................10

Figura 2.2 – Mapa geológico da região de Itabira. Hasui & Magalhães (1998). Modificado..... 16

Figura 2.3 – Mapa geológico simplificado da mina do Cauê ......................................................21

Figura 2.4 – Mapa geológico da área da trinca 1 na aba norte da mina do Cauê.........................23

Figura 2.5 - Mapa simplificado do sinclinal Cauê com as áreas detalhadas estruturalmente.

Região A (S1= 464 medidas/curvas de 1 a 20 % e Lm1/Le1 = 118 medidas), região B (S1= 65

medidas/curvas de 6 %), região C (S1= 50 medidas/curvas de 6 %), região D (S2= 133

medidas/curvas de 2 a 36 %, Lm2/Le2 = 100 medidas e d2 = 41 medidas)..............................25

Figura 2.6 – Diagrama estereográfico dos pólos da foliação S1, 1100 medidas nas regiões

central, sul e noroeste da mina do Cauê. Curvas de 3 a 33 %. Galbiatti (1999)..........................26

Figura 2.7 – Diagrama estereográfico dos pólos da foliação S2, 133 medidas. Curvas de 3,5 a

31,5 %. Galbiatti (1999)...............................................................................................................27

Figura 2.8 – Diagrama estereográfico dos pólos das fraturas mineralizadas com ouro, 751

medidas Curvas de 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7%. Galbiatti (1999)............................................................28

Figura 2.9 – Diagrama estereográfico dos pólos das fraturas sem mineralização (Frs), 279

medidas. Curvas de 1 a 9%. Galbiatti (1999)...............................................................................29

Figura 2.10 – Diagrama estereográfico das atitudes da lineação de interseção (L2), 17 medidas.

Galbiatti (1999) ...........................................................................................................................30

Figura 2.11 – Diagrama estereográfico das atitudes da lineação de crenulação, 36 medidas.

Galbiatti (1999). ..........................................................................................................................30

Figura 2.12 – Diagrama estereográfico das atitudes das lineações mineral 1 (Lm1) e estiramento

(Le1), 404 medidas nas regiões central, noroeste e sul da mina do Cauê. Galbiatti (1999) ........31

xi

Figura 2.13 – Diagrama estereográfico das atitudes das lineações mineral 2 (Lm2) e estiramento

(Le2), relacionadas ao S2, 100 medidas. Galbiatti (1999) .........................................................32

Figura 2.14 – Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B1, 38 medidas.

Galbiatti (1999) ............................................................................................................................33

Figura 2.15 – Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B2, 41 medidas

Galbiatti (1999) ............................................................................................................................34

Figura 2.16 – Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B3, 37 medidas.

Galbiatti (1999) ...........................................................................................................................35

Figura 3.1 – Ilustração de uma falha transcorrente mostrando os movimentos direcionais e a

zona de falha. ..............................................................................................................................37

Figura 3.2 - Bloco esquemático da mina do Cauê com a representação da zona transcorrente e a

Trinca 1.........................................................................................................................................38

Figura 3.3 – Mapa com os deslocamentos de alguns dos prismas no período entre 2002 e

2003..............................................................................................................................................50

Figura 3.4 – Deslocamentos dos prismas entre 2000 e 2003. ......................................................51

Figura 3.5 - Foto com o posicionamento dos prismas instalados no ano de 2004.......................52

Figura 3.6 – Evolução dos prismas na trinca 1 no período de 2004............................................54

Figura 4.1 – Mapa geomecânico na região da trinca 1 na aba norte da mina do Cauê.. ..............64

Figura 4.2 – Principais tipos de deslizamento com os respectivos estereogramas representativos.

Extraído de Fiori & Carmignani (2001).......................................................................................67

Figura 4.3 – Figura 4.3 – Desenho esquemático exemplificando uma ruptura oblíqua ao

talude............................................................................................................................................71

Figura 4.4 – Seção geomecânica E36. (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop;

(a) análise pelo método de Morgenstern-Price............................................................................75

Figura 4.5 – Seção geomecânica S2. (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop; (b)

análise pelo método de Morgenstern-Price. .................................................................................76

Figura 4.6 – Seção geomecânica S5 mostrando a ruptura no local de menor FS e na região do

início da trinca com FS de 2,7......................................................................................................77

Figura 4.7 – Seção geomecânica T2. (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop; (b)

análise pelo método de Morgenstern-Price..................................................................................78

Figura 4.8 – Seção geomecânica T3. A análise foi livre e buscou o menor FS...........................79

xii

Figura 4.9 – Conformação dos taludes na região da trinca 1 com representação do traço das

foliações que ocorrem na área......................................................................................................81

Figura 4.10 – Análises de estabilidade realizadas por Pohl (2002) considerando a elevação do

rejeito na cava do Cauê de acordo com o projeto de GEOCONSULTORIA (2002)...................84

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Leituras de monitoramento dos prismas (período de 30/11/1996 a 15/01/1997).. ..47

Tabela 3.2 – Evolução dos deslocamentos medidos pelos prismas mais representativos do

maciço (período entre 2000 e 2003).............................................................................................48

Tabela 3.3 – Dados da evolução da movimentação dos prismas em 2004 ..................................53

Tabela 4.1 - Descrição e caracterização dos graus de intemperismo da rocha (Brown,

1981).............................................................................................................................................58

Tabela 4.2 – Ensaios manuais para a estimativa da resistência de materiais rochosos................59

Tabela 4.3 – Critérios para a determinação dos espaçamentos das descontinuidades.................60

Tabela 4.4 – Parâmetros do Sistema de Classificação Geomecânica de Bieniawski (1976).......62

Tabela 4.5 – Classes de Maciço do Sistema de Classificação de Bieniawski (1976)

Modificado...................................................................................................................................62

Tabela 4.6. Parâmetros usados nas seções geomecânicas com legenda de cores para as litologias

e classes de maciço. As cores foram padronizadas para todas as seções de análise (Figuras 4.4,

4.5, 4.6, 4.7 e 4.8)........................................................................................................................72

Tabela 4.7 – Fatores de segurança (FS) obtidos nas seções analisadas.......................................74

xiii

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1 - PROPOSIÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS DO

TRABALHO

A proposta deste trabalho é desenvolver estudo de caso de uma ruptura oblíqua

de grandes dimensões, acima de 200 metros de extensão, condicionada por uma falha

transcorrente e ocorrida na Mina do Cauê pertencente a CVRD (Itabira/MG). A

proposta consiste basicamente em consolidar os dados existentes acrescentando novas

análises do mecanismo, bem como uma síntese da evolução histórica da ruptura.

O objetivo do trabalho é caracterizar as condicionantes geotécnicas que

favoreceram a ruptura, as atividades desenvolvidas para explicitar a natureza do

processo, sua evolução e a atuação no sentido de garantir a continuidade da lavra na

região.

1.2 - LOCALIZAÇÃO DA ÁREA

O local de estudo localiza-se no extremo nordeste do Quadrilátero Ferrífero, na

região da cidade de Itabira, no Estado de Minas Gerais (Figura 1.1). Em Itabira existem

várias minas onde a CVRD explota minério de ferro que são: Cauê, Chacrinha, Onça,

Periquito, Dois Córregos e Conceição.

A região de Itabira e a Mina do Cauê foram alvo de estudos geológico-

geotécnicos específicos, mas a área de estudo (aproximadamente entre 300 x 800

metros) foi objeto de análises detalhadas e está restrita a um dos flancos da estrutura

sinclinal do Cauê.

1

QUADRILÁTEROFERRÍFERO

BELO HORIZONTE

ITABIRA MG

OCEANOATLÂNTICO

750 5000

2501000m

HEMATITAITABIRITO ROCHAS INTRUSIVAS

1000m

Escala Gráfica

GP PIRACICABA

MINA DE DOISCÓRREGOS

MINA DE CONCEIÇÃO

MINA DO CHACRINHA

MINA DE PERIQUITO

MINA DO CAUÊ

MINA DO ONÇA

ÁREA DE ESTUDO

Figura 1.1 - Mapa de localização de Itabira/MG e mapa geológico simplificado do sinclinório de Itabira com a localização das minas de ferro e da área de estudo.

2

1.3- METODOLOGIA DE TRABALHO

Este trabalho foi subdividido em linhas de atuação que compreenderam a

análise e a consolidação dos dados desenvolvidos pela equipe de geotecnia da CVRD e

a elaboração do trabalho resgatando a evolução histórica da ruptura e as atividades

desenvolvidas com algumas análises pessoais.

Na fase inicial, foram coletados, consolidados e sistematizados os dados que

estavam dispersos em relatórios em papel e em meio magnético, em diferentes

gerências da empresa. Numa segunda fase, o trabalho foi desenvolvido a partir de uma

análise do autor que procurou estabelecer os aspectos mais importantes no

desenvolvimento da ruptura. Na consolidação do trabalho somente o que foi

considerado mais importante é que será apresentado. Este trabalho pretende ser um

histórico de uma ruptura com evolução não convencional. Atividades de campo foram

realizadas para entendimento da evolução da ruptura e para o desenvolvimento de

algumas das idéias incorporadas ao texto. 1.4 – BREVE HISTÓRICO DA CVRD EM ITABIRA/MG

A Companhia Estrada de Ferro Vitória a Minas (CEFVM) foi inaugurada

oficialmente em 13/05/1904 no trecho entre as estações de Cariacica e Alfredo Maia.

Em 1909 foi criada a Brazilian Hematite Syndicate, de capital britânico, com a

finalidade de explorar as reservas de minério de ferro de Minas Gerais, que comprou a

maioria das ações da CEFVM e selou a união entre os dois grupos. Em 1910, foram

esboçados os primeiros projetos de se levar a ferrovia até Itabira (o que ocorreu apenas

em 1943). Em 1911 a Brazilian Hematite Syndicate passou a se chamar Itabira Iron Ore

Company sob controle do empresário Percival Farquhar. A empresa efetuou o seu

primeiro embarque de minério de ferro pelo Porto de Vitória em julho de 1940.

Em 1941, a onda nacionalista pressionou Percival Farquhar a se associar a

empresários brasileiros, com a transformação da Itabira Iron em duas empresas

nacionais: Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia e Companhia Itabira de

3

Mineração. Em 1° de junho, em decorrência dos Acordos de Washington, Getúlio

Vargas assinou o decreto-lei nº 4.352 e criou a Companhia Vale do Rio Doce. A nova

companhia, uma sociedade anônima de economia mista, encampou as empresas de

Farquhar e a Estrada de Ferro Vitória-Minas. Em 11 de janeiro de 1943 reuniu-se a

Assembléia de constituição definitiva da CVRD, que aprovou os estatutos da empresa,

fixou a sede administrativa em Itabira e o domicílio jurídico no Rio de Janeiro.

Israel Pinheiro foi nomeado primeiro presidente da empresa. A CVRD foi

responsável por 80% das exportações brasileiras de minério de ferro em 1949. Em 1950

é preservada a autonomia da CVRD frente às exigências do Eximbank de reduzir as

funções do presidente a de um mero supervisor.

No início da década de 50, o governo brasileiro assumiu o controle definitivo do

sistema operacional da CVRD e em 1953 foi realizado o primeiro embarque de minério

de ferro para o Japão. Neste mesmo ano a CVRD utilizou, pela primeira vez, um navio

brasileiro, o Siderúrgica Nove, no carregamento de minério para os Estados Unidos. Em

1955 a CVRD revê suas práticas comerciais no exterior e passa a fazer contatos diretos

com as siderúrgicas sem a intermediação dos traders. Em 1962 são assinados contratos

de longo prazo com siderúrgicas japonesas e usinas alemãs. Em 2 de outubro é criada a

subsidiária Vale do Rio Doce Navegação S.A. (Docenave) e, em 1966, é inaugurado o

Porto de Tubarão em Vitória.

Em 1973 a CVRD inaugura a primeira fase da usina de concentração de itabirito na

mina do Cauê, em Itabira/MG, buscando recuperar minério de ferro em rocha de baixo

teor. A figura 1.2 resume as movimentações anuais de minério desde 1942, quando a

CVRD iniciou suas atividades em Itabira. A movimentação total de estéril e minério na

mina do Cauê é enorme e somou até 2004 o valor de 1,54 bilhão de toneladas, sendo

1,027 bilhão de minério e 0,512 bilhão de estéril. A relação estéril-minério global foi da

ordem de 0,50.

4

MOVIMENTAÇÃO TOTAL NA MINA DO CAUÊ (1942 a 2004)

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

1942

1945

1948

1951

1954

1957

1960

1963

1966

1969

1972

1975

1978

1981

1984

1987

1990

1993

1996

1999

2002

( x 1

000)

MOV. TOTAL

MOV.ITABIRITO

MOV.HEMATITA

MOV. ESTÉRIL

INÍCIO DO BENEFICIAMENTO DE ITABIRITOS

RETOMADA DA LAVRA DE HEMATITA

RECORRÊNCIA DEVIDO A RUPTURA

HEMATITA HEMATITA+ITABIRITO

LAVRA CONTEMPLAVA

SOMENTE EXTRAÇÃO DE

HEMATITA

MOVIMENTAÇÃO TOTAL NA MINA DO CAUÊ (1942 a 2004)

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

1942

1945

1948

1951

1954

1957

1960

1963

1966

1969

1972

1975

1978

1981

1984

1987

1990

1993

1996

1999

2002

( x 1

000)

MOV. TOTAL

MOV.ITABIRITO

MOV.HEMATITA

MOV. ESTÉRIL

INÍCIO DO BENEFICIAMENTO DE ITABIRITOS

RETOMADA DA LAVRA DE HEMATITA

RECORRÊNCIA DEVIDO A RUPTURA

HEMATITA HEMATITA+ITABIRITO

LAVRA CONTEMPLAVA

SOMENTE EXTRAÇÃO DE

HEMATITA

Figura 1.2 – Gráfico com a movimentação total (minério e estéril) da mina do Cauê de 1942

até 2004.

Do ponto de vista histórico, é interessante observar que, até 1966, a lavra na

mina do Cauê não movimentava estéril somente minério hematítico. Outro fato

interessante é que somente em 1973 é que se iniciou a movimentação de itabirito com a

construção da usina de beneficiamento do Cauê (Figura 1.2). De 1973 a 1996 as

movimentações são sempre crescentes, declinando, a partir de 1996, em função do

processo de exaustão da mina.

Com a exaustão da jazida, a cava a céu aberto da mina do Cauê passou a ser uma

alternativa para a disposição de estéril e rejeito. Desta forma, a cava volta a ter uso para

a continuidade operacional da Unidade Industrial Cauê que envolve o beneficiamento

de minério das Minas do Meio (Chacrinha e Onça). Atualmente, a cava está dividida

em duas partes, uma usada para a disposição de rejeito (área leste) e a outra usada para a

disposição de estéril (área oeste) conforme pode ser visualizado na figura 1.3.

5

Figura 1.3 – Visão parcial da cava final do Cauê com o lago relacionado a disposição de rejeito e a pilha de estéril.

1.5 – ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO

O trabalho foi dividido em cinco capítulos, além da introdução e bibliografia.

O capítulo 1 é introdutório e apresenta o objetivo do trabalho que é o

desenvolvimento de um estudo de uma ruptura oblíqua de grandes dimensões

condicionada por falha geológica. Adicionalmente, aborda-se a metodologia do

trabalho, estabelecendo, em linhas gerais, os caminhos percorridos para o

desenvolvimento do manuscrito. É apresentado, complementarmente, um resumo

histórico da CVRD mostrando como foi processo de criação da empresa e

complementa-se com o histórico da produção de minério da mina do Cauê até os dias

atuais.

No capítulo 2 abordou-se a descrição da geologia regional do Quadrilátero

Ferrífero, incluindo a posição litoestratigráfica, a geologia regional de Itabira, a

geologia da mina do Cauê e a geologia da trinca 1 com os respectivos mapas

geológicos. Com estas descrições buscou-se dar uma visão geral da macro à micro

estrutura e fazer uma abordagem dos litotipos que serão descritos no desenvolvimento

do trabalho.

6

A partir destas caracterizações desenvolveu-se a análise estrutural descritiva na

mina. Todas as estruturas planares e lineares foram estudadas para darem subsídio a

montagem dos mapas e seções geológicas e geotécnicas abordadas neste e nos capítulos

subsequentes.

No capítulo 3 buscou-se conceituar a ruptura, denomina trinca 1, mostrando onde a

mesma está inserida na mina do Cauê, como é sua geometria e sua evolução. Após,

realizou-se uma descrição histórica das atividades desenvolvidas na mina do Cauê em

função da Trinca 1.

O capítulo 4 abordou os aspectos teóricos e os de campo relacionados ao modelo

geomecânico. Apresentou-se um resumo da caracterização geotécnica através da

discussão do grau de intemperismo, grau de resistência/coerência, espaçamento do

fraturamento, condições das fraturas, RQD e classificação do maciço. Realizou-se uma

descrição detalhada das classes de maciço com a apresentação do mapa geomecânico da

Trinca 1 e adicionalmente realizou-se uma discussão sobre os modelos de ruptura em

taludes e uma caracterização da ruptura oblíqua.

Após, discorreu-se com uma análise das seções geotécnicas e uma discussão

sobre os parâmetros usados. As seções analisadas foram a S2, S5, E36, T2 e T3. Em

todas as seções houve uma primeira análise livre da seção buscando o menor FS e uma

análise no local da ruptura.

Como complemento, foi realizada uma descrição simplificada dos sistemas

hidrogeológicos que ocorrem na mina do Cauê e em que aspecto os mesmos podem

influenciar as análises geotécnicas.

Por último, o capítulo 5 apresenta as conclusões e algumas recomendações do

trabalho.

7

1.6 - RESUMO DO CAPÍTULO

A área de estudo situa-se na mina do Cauê, na cidade de Itabira, Estado de

Minas Gerais (Figura 1.1) e pertence à Companhia Vale do Rio Doce.

Neste capítulo introdutório apresenta-se o objetivo do trabalho que é o

desenvolvimento de um estudo de uma ruptura oblíqua de grandes dimensões

condicionada por falha geológica. O trabalho consiste na consolidação de dados pré-

existentes com o acréscimo de análises personalizadas.

Adicionalmente, aborda-se a metodologia do trabalho, estabelecendo, em linhas

gerais, os caminhos percorridos para o desenvolvimento do manuscrito.

É apresentado, complementarmente, um resumo histórico mostrando como foi a

criação da CVRD e complementa-se com o histórico da produção da mina do Cauê até

os dias atuais (Figura 1.2). A CVRD era composta nas primeiras décadas de vida,

basicamente, pelo complexo industrial de Itabira e a mina do Cauê como carro chefe;

desta forma, o histórico foi considerado apropriado. Observa-se que a mina do Cauê

teve uma movimentação elevadíssima ultrapassando a casa do bilhão de toneladas. A

movimentação de estéril correspondeu aproximadamente à metade da movimentação de

minério com uma relação de 0,5.

Com a desativação parcial da mina do Cauê a cava passou receber estéril e rejeitos

(Figura 1.3).

Por fim, discorreram-se algumas linhas sobre a estruturação do trabalho.

8

CAPÍTULO 2

GEOLOGIA

2.1 - QUADRILÁTERO FERRÍFERO-POSIÇÃO GEOTECTÔNICA

E LITOESTRATIGRÁFICA

As descrições geológicas que se seguem foram consolidadas por Galbiatti

(1999). O referido autor desenvolveu trabalho na mina do Cauê com foco em geologia

estrutural e parte das análises foi aproveitada por fazer parte do contexto geológico

deste trabalho.

O Quadrilátero Ferrífero situa-se na porção sul do Cráton de São Francisco

(Almeida 1977). Esta unidade geotectônica compreende um núcleo cratônico

estabilizado no Proterozóico Inferior. Faixas de dobramentos, geradas no ciclo

Brasiliano, limitam e definem o contorno atual do Cráton de São Francisco.

O Quadrilátero Ferrífero (Figura 2.1) constitui parte do embasamento do cráton e nele

podem ser caracterizadas várias unidades:

• complexo metamórfico;

• seqüências vulcano-sedimentares do tipo “greestone belt” englobadas no

Supergrupo Rio das Velhas;

• coberturas sedimentares plataformais de idade Paleoproterozóicas

representadas pelo Supergrupo Minas e Grupos Sabará e Itacolomi.

Complexo Metamórfico

O embasamento das seqüências supracrustais é representado por vários

complexos metamórficos que são denominados: Bação, Caeté, Belo Horizonte,

Gongonhas e o Complexo Metamórfico Bonfim (Carneiro et al. 1995).

9

Dorr (1969) optou pela hipótese de corpos intrusivos, desconsiderando a

existência de embasamento. Autores como Guimarães (1966), Ladeira (1980), entre

outros, caracterizaram as complexas relações de contato entre estes corpos e as rochas

de cobertura e defendem a idéia de embasamento gnáissico-migmatítico.

Figura 2.1 - Mapa geológico simplificado e coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero, modificado de Marshak & Alkmim (1989), extraído de Varajão (1994).

Estes complexos apresentam-se como produtos de retrabalhamento de corpos

mais antigos em eventos posteriores ao embasamento. São compostos por rochas

10

gnáissicas de composição tonalítica a granítica, e subordinadamente, por granitos,

granodioritos, anfibolitos, intrusões máficas e ultramáficas (Herz 1970, Ladeira et al.

1983).

Supergrupo Rio das Velhas

São rochas metavulcânicas e metassedimentares englobadas sob a denominação

de “Série” Rio das Velhas por Dorr et al. (1957). Em trabalhos mais recentes, a “Série”

passou a categoria de Supergrupo. Este pode ser subdivido em três grupos: Quebra

Osso, Nova Lima e Maquiné.

Schorscher (1978) definiu o Grupo Quebra Osso como basal do Supergrupo Rio

das Velhas. É composto por vulcanitos e sedimentos químicos/clásticos deformados. A

natureza composional dos vulcanitos varia de basaltos komatiíticos a basaltos

tholeíticos, exibindo textura tipo “spinifex” (Ladeira 1981, Schorscher 1992).

O Grupo Nova Lima é constituído por rochas metavulcânicas e

metassedimentares. Almeida (1976), Schorscher (1976) e Ladeira (1980) interpretaram

o Grupo Nova Lima como constituído de seqüências do tipo “greenstone belt”.

Ladeira (1980) subdividiu o Grupo Nova Lima em três unidades, da base para o

topo:

• Unidade Metavulcânica composta por rochas metaultramáficas, metabasaltos,

metacherts, filitos.

• Unidade Metassedimentar Química composta por formação ferrífera tipo

Algoma, carbonatos, xistos, filitos.

• Unidade Metassedimentar Clástica composta por metaconglomerados,

quartzitos, quartzo xistos.

Zucchetti et al. (1996) subdividiram o Grupo Nova Lima em cinco associações,

conforme a ambiência, da base para o topo: metavulcânica plutônica máfica-

ultramáfica, metavulcano-sedimentar química, metassedimentar química pelítica,

metavulcano-sedimentar clástica e metassedimentar clástica marinha (ressedimentada).

O Grupo Maquiné (Dorr et al. 1957) é constituído por quartzitos sericíticos,

filitos e quartzo xistos e foi dividido em duas formações, da base para o topo: Formação

11

Palmital (O’Rourke 1958) e Formação Casa Forte (Gair 1962). Zucchetti et al. (1996)

caracterizaram a ambiência do Grupo Maquiné como uma associação metassedimentar

clástica não marinha (litorânea e fluvial).

Supergrupo Minas

O Supergrupo Minas corresponde a uma cobertura sedimentar plataformal. Foi

definido por Derby (1906) como “Série” Minas e sofreu várias modificações ao longo

do tempo. Foi dividido por Dorr (1969) em quatro grupos, da base para o topo:

Tamanduá, Caraça, Itabira e Piracicaba.

O Grupo Tamanduá foi definido por Simons & Maxwell (1961) e é composto

por quartzitos, filitos, itabiritos filíticos e dolomíticos, além de metaconglomerados.

Simons & Maxwell (1961) incluíram o Grupo Tamanduá na “Série” Rio das Velhas,

enquanto que Dorr (1969) optou por incluí-lo na “Série” Minas.

O Grupo Caraça, composto por metassedimentos clásticos, compreende duas

formações: Moeda e Batatal.

Sobrepondo-se ao Grupo Caraça, tem-se o Grupo Itabira que é constituído por

uma seqüência de sedimentos químicos. Barbosa (1968) atribuiu a deposição desta fase

sedimentar de natureza química e carbonática à peneplanização da área fonte. Dorr

(1969) dividiu o grupo em duas formações, da base para o topo: Cauê e Gandarela. A

Formação Cauê é constituída por formações ferríferas do tipo Lago Superior e por

itabiritos anfibolíticos e dolomíticos. Subordinadamente, ocorrem filitos e itabiritos

manganesíferos. A Formação Gandarela é constituída por rochas carbonáticas e,

subordinadamente, por filitos dolomíticos e itabiritos.

O Grupo Piracicaba foi subdividido por Dorr et al. (1957) em cinco formações,

da base para o topo: Cercadinho, Fecho do Funil, Taboões, Barreiro e Sabará.

Grupo Sabará

Este grupo, concepção de Renger et al. (1994), recobre todas as formações do

Grupo Piracicaba e apresenta, em alguns locais, um contato discordante erosivo com as

12

unidades anteriores e representa uma sedimentação tipo “flysh” (Barbosa 1968, Dorr

1969). É constituído por filitos cloríticos, metaconglomerados, metagrauvacas,

quartzito, metachert, metatufos e metabasaltos. Os metaconglomerados são portadores,

pela primeira vez na seqüência do Supergrupo Minas, de seixos de granito e gnaisse, o

que indica importantes modificações da paleogeografia, com soerguimento de novas

áreas-fonte, aumento da erosão e do gradiente de transporte (Renger et al. 1994).

Almeida et al. (2005) subdivide o grupo e duas formações, a inferior, Formação

Saramenha (Barbosa, 1968) e, a superior, Formação Estrada Real.

Grupo Itacolomi

O Grupo Itacolomi foi denominado de “Série” Itacolomi por Guimarães (1931).

Dorr (1969) manteve a caracterização de “Série” Itacolomi e dividiu-a em duas fácies:

Quartzítica e Santo Antônio. A composição básica é: quartzitos, quartzitos

conglomeráticos e níveis de metaconglomerados com seixos de itabiritos, filitos e

quartzo de veio.

Brajnikov (1949) apresentou a proposição de que a “Seqüência” Itacolomi, nos

arredores de Ouro Preto, é alóctone, tendo sido carreada sobre os xistos e filitos da

“Série” Minas. Alkmim (1988) considerou o Grupo Itacolomi como uma fácies

marginal do Supergrupo Minas, eqüivalente à Formação Moeda.

2.2 - SÍNTESE SOBRE GEOLOGIA DA REGIÃO DE ITABIRA

Derby (1910) e Harder & Chamberlain (1915) fizeram menção sobre a geologia

e a potencialidade dos depósitos ferríferos do Quadrilátero Ferrífero e de Itabira.

Entretanto, trabalhos regionais de detalhe foram executados somente pelo convênio

USGS/DNPM. Neste convênio, o mapeamento geológico restringiu-se às imediações

das formações ferríferas. Mapa geológico de cobertura regional foi desenvolvido por

Hasui & Magalhães (1998) bancado pela CVRD e é apresentado na figura 2.2.

13

Dorr & Barbosa (1963), Schorscher & Guimarães (1976) e Chemale Jr & Quade

(1986) abordaram aspectos relativos à geologia regional e econômica do Distrito

Ferrífero de Itabira e apresentaram proposição de coluna estratigráfica.

Na região de Itabira podem ser descritas as seguintes unidades: Complexo

Metamórfico, Supergrupo Rio das Velhas, Supergrupo Minas, “Granito Borrachudos” e

coberturas terciárias.

Complexo Metamórfico – As unidades que compõem este complexo ocorrem

nos arredores de Itabira e Schorscher & Guimarães (1976) e Schorscher et al. (1982)

diferenciaram dois grupos de rochas graníticas: migmatitos polifásicos sotopostos, em

discordância das demais litologias, e uma seqüência de paragnaisses que estaria em

concordância metamórfica e estrutural com as unidades sobrejacentes.

Chemale Jr. & Quade (1986) propuseram a denominação de Seqüência

Gnáissica para as rochas gnáissicas da região de Itabira que seriam encaixantes do

Distrito Ferrífero de Itabira, já que não foi possível diferenciar migmatitos de

paragnaisses. Ainda, segundo Chemale Jr. & Quade (1986), há uma concordância

estrutural e metamórfica de todas unidades do Distrito, já que o evento que delineou a

foliação principal foi abrangente. A composição das rochas gnáissicas, segundo

Chemale Jr. & Quade (1986), é: gnaisses a biotita, gnaisses félsicos, biotita-gnaisses

porfiroclásticos, biotita xistos e quartzitos micáceos.

Supergrupo Rio das Velhas - Este foi descrito, no Distrito Ferrífero de Itabira,

primeiramente por Dorr & Barbosa (1963), como “Série” Rio das Velhas. Foram

consideradas as rochas mais antigas do distrito. Os autores citados avaliavam que uma

correlação direta com a localidade tipo da “Série” Rio das Velhas era impossível, mas

que, litologicamente, a correlação era estreita e a posição estratigráfica a mesma em

relação à inconformidade da “Série” Minas.

Schorscher & Guimarães (1976) e Chemale Jr. & Quade (1986) não

caracterizaram em suas colunas estratigráficas a existência do Supergrupo Rio das

Velhas. Schorscher & Guimarães (1976) definiram uma unidade equivalente

denominada de Seqüência de Xistos Verdes, enquanto que Chemale Jr. & Quade (1986)

definiram uma Seqüência Vulcano-Sedimentar. Segundo os últimos autores, esta

seqüência ocorre na base do Distrito Ferrífero de Itabira, acompanhando seu contorno

14

com espessura aflorante de até 550 metros. O contato entre as rochas vulcano-

sedimentares e o Supergrupo Minas sobrejacente é também concordante em termos

estruturais e metamórficos. Segundo Chemale Jr. & Quade (1986), a seqüência

apresenta grande variedade litológica, incluindo: anfibolitos e anfibólio xistos;

metaultramafitos, quartzitos e mármores, quartzo-clorita xistos, mica xistos ± granada ±

epidoto, filitos, pequenas intercalações de itabiritos e hematita dura. Em termos gerais,

predominam xistos carbonáticos e quartzo-clorita xistos.

Supergrupo Minas - Este ocorre ao norte da cidade de Itabira. Dorr & Barbosa

(1963) o correlacionaram com a “Série” Minas e atribuíram a este todos os minérios

econômicos do Distrito de Itabira. O Supergrupo foi subdividido em três grupos, da

base para o topo: Caraça, Itabira e Piracicaba.

Devido às características específicas do Distrito de Itabira, como o isolamento

destas unidades do resto do Quadrilátero Ferrífero, os autores não subdividiram os

grupos, exceto o Grupo Itabira com a Formação Cauê.

15

0 2 000m

Sinclinal Cauê

SinclinalDois Córregos

Mina doChacrinha

Mina dePeriquito

Figura 2.3

Complexo MetamorficoGrupo Itabira

Grupo Piracicaba

ZTDFI

ZTANCA

- Zona transcorrentedo Distrito de itabira

-Zona transcorrente da Aba Norte do Sinclinal Cauê

Granito Borrachudos

Grupo Nova Lima- rochas mafica (m) e ultramafica (um)

Figura 2.4

Figura 2.2 – Mapa geológico da região de Itabira. Hasui & Magalhães (1998). Modificado.

16

Chemale Jr. & Quade (1986) subdividiram o Supergrupo Minas nos Grupos

Itabira e Piracicaba, o primeiro representado pela Formação Cauê e o segundo indiviso.

A Formação Cauê é composta, basicamente, por itabiritos e corpos ou lentes de

hematita compacta. Estas rochas formam grandes reservas de minério de ferro que são

exploradas desde a 2a Guerra Mundial. Metapelitos, metavulcânicas e metaintrusivas

ocorrem subordinadamente.

O Grupo Piracicaba foi descrito ocupando a parte central do Sinclinório de

Itabira e é constituído por: quartzitos, quartzitos ferruginosos, quartzitos sericíticos,

filitos e filitos hematíticos.

“Granito Borrachudos” - Este nome foi proposto por Dorr & Barbosa (1963)

para designar rochas graníticas de granulação grossa que afloram no Córrego

Borrachudos, a noroeste de Itabira, e tem ampla ocorrência regional. Os autores

sugerem que o “Granito Borrachudos” poderia representar um granito ígneo, potássico e

formado no estágio final dos tipos discutidos por Read (1955) em “Granite Series in

Mobile Belts”, ou seja, rochas ígneas não metamórficas mais jovens que a “Série”

Minas. Herz (1970), através de estudos petrológicos em ocorrências a norte e sul de

Itabira, manteve a origem ígnea, não metamórfica; contudo concluiu que, a respeito das

condições de recristalização, os corpos são mais similares àqueles de um pegmatito do

que granitos ígneos.

Schorscher et al. (1982) concluíram que as rochas tipo “Granito Borrachudos”

foram formadas por fenômenos cataclásticos ocorrentes na fase inicial do metamorfismo

Minas-Espinhaço, durante a qual haveria a infiltração e metassomatismo de K-

feldspatos sincataclásticos (blastomilonitos metassomatizados). Os autores

caracterizaram que as rochas do embasamento e, possivelmente, a Seqüência de

Paragnaisses seriam as litologias pré-metassomatismo. Neste trabalho caracterizaram,

ainda, que a lineação dada pela biotita e a foliação do “granito” são regionalmente

paralelas; daí ser a rocha tipicamente metamórfica.

Em função destas questões, Chemale Jr. & Quade (1986) incluíram o “Granito

Borrachudos” na Seqüência Gnáissica e denominaram-no como Metagranito

Borrachudos até que fossem obtidos novos dados geoquímicos e geocronológicos de

detalhe desta rocha.

17

Dussin (1994) agrupou regionalmente os “plutons” em duas suites: Guanhães e

Borrachudos, através de características químicas, petrográficas e pelas relações de

campo. A suite Guanhães é representada por “plutons” de composição tonalítica a

granodiorítica, provavelmente deformada durante o orogênese Transamazônica,

aproximadamente 2.2 a 1.9 Ga. ( Siga Jr. 1982, Teixeira et al. 1990 in Dussin 1994). A

suite Borrachudos, por outro lado, é constituída por seis “plutons”: São Félix, Senhora

do Porto, Urubu, Açucena, Itabira e Peti (Chiodi Filho 1989 in Dussin op cit). Dussin

(1994) descreveu que estes “plutons” intrudem nos complexos granito-gnaisses,

geralmente como “plugs”. Eles não intrudem nas seqüências sedimentares Proterozóicas

e não é clara a relação estratigráfica entre eles. Não existem dados de magmatismo

máfico coexistindo com a suite Borrachudos e nem membros intermediários de

nenhuma série diferente (Dussin 1994).

Os granitos da suite Borrachudos foram considerados como geneticamente

relacionados e deformados durante a Orogenia Transamazônica (Herz 1970, Schorscher

& Guimarães 1976, Chemale Jr & Quade 1986, Grossi Sad et al. 1990 in Dussin 1994).

Novos dados geológicos confrontam esta hipótese. Idades U-Pb em zircões, indicam

idades Mesoproterozóicas para o “emplacement” de dois “plutons”. São Félix foi

datado com 1,729 ± 12 Ga e Itauninha com 1,6 Ga (Dussin et al. 1993, Dussin 1994).

Idades K-Ar de 480 Ma nas biotitas de ortognaisses geraram “resetting” de

retrabalhamento post-Brasiliano (Dussin 1994). Estes resultados mostram que o

“emplacement” dos “plutons” foi contemporâneo com a extrusão do vulcanismo ácido

relacionado com as seqüências sedimentares que são largamente distribuídas na

Cordilheira do Espinhaço (Dussin 1994).

Cobertura Cenozóica – Nos mapeamentos geológicos em detalhe

desenvolvidos pela equipe de geólogos da CVRD foram observadas rochas

provavelmente de cobertura terciária em vários locais de Itabira. As rochas descritas

como diamictitos são compostas por fragmentos de hematita e matriz argilosa. Boa

parte destes depósitos estão laterizados e são cortados por falhas recentes. Estas rochas

estão preenchendo espaçamentos de falhas com profundidades variáveis e não foram

desenvolvidos estudos detalhados nesta unidade.

18

2.3 - GEOLOGIA DA MINA DO CAUÊ

A seqüência litoestratigráfica na mina do Cauê está representada pelo Complexo

Metamórfico, Supergrupo Rio das Velhas, Supergrupo Minas e Granito Borrachudos

(Figura 2.3).

Complexo Gnáissico - É composto por rochas gnáissico-migmatíticas. Na

região da mina do Cauê os afloramentos são pobres e posicionam-se como encaixantes

dos Supergrupos Rio das Velhas e Minas. As rochas são descritas genericamente como:

biotita gnaisses, gnaisses félsicos, biotita gnaisses com porfiroclastos, migmatitos e

corpos anfibolíticos.

Supergrupo Rio das Velhas - Aflora na região da mina do Cauê contornando o

sinclinal homônimo. É caracterizado por metavulcânicas e metassedimentos do Grupo

Nova Lima. As rochas descritas são anfibólio xisto, carbonato-clorita-quartzo xisto,

clorita xisto, quartzo-clorita xisto, epidoto xisto, metacherts, metacarbonatos, quartzo-

muscovita-biotita xisto com granadas e anfibolitos. Internamente aos quartzo-clorita

xisto foram observados níveis de formações ferríferas com magnetitas. A caracterização

da gênese destes níveis é muito difícil. Não é possível avaliar se são tipo Algoma ou

Lago Superior.

Supergrupo Minas - O Supergrupo Minas está representado pelos Grupos

Itabira e Piracicaba (Chemale Jr & Quade 1986) que definem o modelamento do

sinclinório de Itabira.

Dorr & Barbosa (1963) descreveram o Grupo Caraça como unidade basal,

composta por: conglomerados, quartzitos, metachert, filitos e quartzo filitos. No

mapeamento realizado na mina do Cauê foram constatadas litologias quartzosas na base

do Supergrupo Minas, mas não existem critérios para classificá-las como pertencentes

ao Grupo Caraça.

O Grupo Itabira foi caracterizado por Dorr & Barbosa (1963) e por todos os

autores posteriores. É composto, basicamente, pela Formação Cauê e as litologias

predominantes são itabiritos e corpos de hematita. Segundo Chemale Jr & Quade (1986)

os itabiritos são constituídos de quartzo e hematita, de granulação fina a média, com

bandas brancas a cinza claras silicáticas e cinza escuras à base de hematita. Além destes

19

minerais, ocorrem sericita, carbonato, clorita, biotita e apatita em percentagens baixas.

Os corpos de hematita encontram-se na forma de lentes ou pequenos corpos em meio

aos itabiritos ou associados a eles. As dimensões são de métricas a dezenas de metros.

Itabiritos carbonáticos não tem sido descritos, contudo no topo da Formação

Cauê, ocorrem rochas decompostas com níveis de itabirito magnético que, em princípio,

podem ser correlacionáveis a itabiritos carbonáticos. São itabiritos com magnetita

intercalados com material amarelo ocre com pintas de caulim. O grau de intemperismo,

porém, dificulta a determinação da rocha. A equipe de geólogos da CVRD caracterizou

esta unidade como sendo correlacionável ao Grupo Piracicaba.

O Grupo Piracicaba foi caracterizado no Distrito Ferrífero de Itabira por Dorr &

Barbosa (1963). Ocupa a parte interna do sinclinal Cauê e é constituído por: quartzitos

ferruginosos, quartzitos sericíticos, quartzitos e filitos.

A análise estrutural descritiva será abordada no item 2.5 neste capítulo e

descreverá as principais estruturas da mina do Cauê.

20

HE

HE

HE

HE

HE

HE

HEHE

HEHE

HEHE

HE

HE

HE

HE

HE

HE

HE

HE

HE

HE

HE

MPMP

MP

MP

MP

MP

MP

MP

MP

MP

CC 09

2832800

3702

00

?

200 m

3702

00

3722

00

2834200

0 200m

Figura 2.3 – Mapa geológico simplificado da mina do Cauê.

21

2.4 - GEOLOGIA DA REGIÃO DA TRINCA 1

A região da Trinca 1 apresenta uma série de litologias e muitas delas bastante

intemperizadas. Mesmo assim, foi possível fazer uma identificação geral para o

mapeamento geológico (Figura 2.4).

A Trinca 1 fica na região de contato entre o Supergrupo Minas e o Rio das

Velhas e a identificação do contato é dificultada pelo fato da região ser muito

tectonizada e pela superposição de uma zona de falha conhecida como falha

transcorrente. Esta falha foi identificada por Hasui e Magalhães (1991) através de

mapeamento geológico estrutural e a ruptura está aparentemente associada e

condicionada por esta estrutura. No item 2.5 a falha será caracterizada sob o ponto de

vista de geologia estrutural.

A maioria das litologias determinadas foi considerada como pertencentes ao

Supergrupo Rio das Velhas, Grupo Nova Lima, que são: XT (xisto indiferenciado), CX

(clorita xisto), XG (xisto grafitoso), XT/AX (xisto e anfibólio xisto interdigitado) ,

XT/QX (xisto e quartzito – interdigitado), B (rochas metabásicas), XT/Mch (xisto

interdigitado com metachert), QT (quartzito), XM (xisto milonitizado). Pertencente ao

Supergrupo Minas determinou-se a Formação Cauê com as formações ferríferas (FF).

No mapa geológico apresentado na figura 2.4 as litologias acima determinadas foram

todas individualizadas.

Por fim, ficaram algumas dúvidas sobre o posicionamento do QF (quartzito

ferruginoso) que é uma unidade transicional entre a FF (formação ferrífera) pertencente

ao Supergrupo Minas e alguns xistos próximos ao contato pertencentes ao Supergrupo

Rio das Velhas. Não há como posicioná-lo com segurança. A outra litologia duvidosa

quanto ao posicionamento é o GN (gnaisse) que quando na base do pacote estudado é

atribuído ao Complexo Gnaíssico, mas quando associado aos xistos deve fazer parte do

Grupo Nova Lima.

22

IIIV

V

V

II

III

II

V

III

II

III

II

IV

III

III

V/III

V /III

IV

V

IV

V

V

IV

V

IV

III

V

IV

V

V/III

V

II

V

V

II

IV

V/III

IV

V

V/III

IV

IV

II I

V /III

V

V

III

V

IV

II

V

V

V

V

IV

V

V

III

V /III

IV

II I

II

II

V

V/II I

IV

IV

V

V/IIIIV

V

IV

IV

V/III

V/III

VB

B

LIMITE PILHA DE ESTÉRIL COM O TALUDEDE ESCAVA ÇÃO DA CAVA

10381030

1043

1013

1002

1038

1015

1007

928

929

1008

984

1008

967

1004

980

999

929

928

929

940

984

954

948

940

938

944

934

938

936932

932

93 0

E-36

E-36

2.834.000

2.833.800 370.

800

E-28-5

E-30-6

E-34-8

371.

000

E-32-7 -9

2.834.400

2.834.200

E-28-5

E-30-6 -8

E-34E-32-7 -9

371.

200

E-38-10

E-40-11

371.

400

E-42-12

E-44-13

S-4

371.

800

371.

600

E-46-14

E-48-15

2.833.800 372.

000

2.834.000

E-38-10

E-40-11

E-42-12

E-44-13

2.834.200

E-46-14 -15

E-48

2.834.400

S-5

S-2

S-2 S-3

S-6

S-5

S-4SP-11(1071,19)

44m proj.topo rochoso

S=88m

15/01/75

NA=74m

1114,5

1031,7

31/10/8 4

NA=22,5mS=60m

990,6B= S=88m

S=80m

992,0

23/06/88

S=134,5mNA=5,2m

NA=14m

1013,7

17/11/76

NA=16mS=90m

topo rochoso

946,5

Seco

20m proj.03/11/95

A=

B=

D

NA=15,4m

30/03/88

S=87mNA=8m

1003,6

A=

DNA=16m23/06/88

S=56,0m

SP-10(1001,27)

topo rochoso45m proj.

989,1

03/11/85

NA=35m30/04/86

S=90m1014,0

904,0

NA=8,6m

S=163m

07/08/86

NA=40m

1012,7

NA=84mS=120m

1000,3

14/01/88

S=57mNA=8m30/01/91

990,6

944,1 (213,5m)

20/08/87

S=72mNA=49m

981,0984,1

26/08/88

NA=64mS=85m

10/09/91

NA=23mS=90m

08/11/89

S=90mNA=25m

971,9

NA=48m05/04/91

S=116m

942,6 (316m)

S=120m

05/04/91

NA=54m

942.8 (320m)

978,2

30/06/89

NA=29mS=121m

914

Out./ 96

NA=0m

30/08/89

NA=26m

968,3

30/08/89

NA=32,10mS=155,5m

S=60m

30/08/89

NA=25m

970 (104m)

NA=39mS =101m

30/09/87

939,9 (198m)

NA=32m31/03/93

S=55m

965,7

NA=21m

986,0

Out./ 96

SP-09(987,03)

NA=5m

938,0

Out./ 96

NA=4m

947,0

Out./ 96

Out./ 96

NA=0

953,0

NA=7mOut./ 96

966,0

967,6

S=94m

S=83mNA=6m31/03/93

942,8

PCA-302

PCA-288

PCA-204

PCA-350

PCA-115

PCA-107 CA-109

CA-186 PCA-201

CA-187

PCA-106

PCA-108

PCA-116

PCA-134

PCA-270

PCA-272

PCA-131

TRINCA 1

PCA-274

PCA-346

PCA-285 PCA-133

PCA-300

PCA-287

PCA-301

PCA-349

CA-129CA-139

PCA-347

PCA-290

PCA-291

PCA-299

PCA-282

PCA-278 PCA-289

PCA-286

PCA-343

PCA-304

CA-141

PCA-338 PCA-339

PCA-308

SM-07

PCA-306

PCA-307

PCA-316

PCA-309

Poço Rebaixamento

PCA-348

SR-02

SM-05

SM-06

TRINCA 2

SM-04

SM-03

Poço Rebaixamento71

70

PCA-303

PCA-312

ESTÉRILPILHA DE

PILHA DE ESTÉRIL

PILHA DE ESTÉRIL

QX/XT

B XT/Mch

QFXT/Mch

CX

XM

FF

XT

XT/AX

B

XG

XT/QX

XT

B

B

GN

B

XT/AX

XGXT/QX

MchXT/AX

B

B

GN

QT

B

QX/XT

QFXM

QF

FF

XG

XG

B

XT/QX

B

B

QX/XT

XT/Mch

XG

XT B

GN

QX/XT

B

XT

GN

FF

XM

QF BQX/XT

B

XT/QX

B

QX/XTB

BQX/XT

QX/XT

B

QX/XT

Cg

?

QT

BB

B

QT

Cg

35

4556 45

73 73

51

70

56

50

40

56

45

43

45

48

48

7073

5147

53

59

4362

58

5343 43

4650

40

63

64

55

7076

45

4567

70

50

4256

5680

70

6843

8486

46

5363

57

98

6088

80

4947

62

85 8574

63

77

28

53 45

6450

76 85

5876

54

636077

7543

80

878070 68 60

64

35

60

8563 80

65868080

73

42

72

75

4 0

50

72

55

58

7 048

LIMITE PILHA DE ESTÉRIL COM O TALUDE DE ESCAVAÇÃODA CAVA

NV

T-2T-3

T-4

T-5

T-3

T-2

~,

~ ~

MAPA GEOLÓGICOMINA CAUETALUDE NORTE

V DRC

ESCALA GRAFICA 0 50 m

CA-129

PCA-289

80

S1,2,3 e T2,3 :SEÇÕES GEOMECÂNICAS

SEÇÕES GEOLÓGICAS AUXILIARES

FURO DE PESQUISA GEOLÓGICA

FURO GEOTÉCNICO

E-28 a E-48 :

CONTATO GEOLÓGICO

SURGÊNCIA DE ÁGUA

FOLIAÇÃO

LEGENDA

E-36

Mapa referência: Geoestrutural (1998)- Modificado

LITOTIPOSCg

Xisto Indiferenciado (XT)

Rochas Metabásicas (B)

Xisto e Quartzito - Xisto Interdigitado (XT/QX)

Xisto e Anfibolio Xisto Interdigitado (XT/AX)

Clorita Xisto (CX)

Gnaisse (GN)

Quartzito (QT)

Xisto Grafitoso (XG)

Quartzito Ferruginoso (QF)

Formação Ferrífera ( - Itabirito/ He)FF

Xisto Interdigitado/ Metachert(XT/Mch)

Xisto Milonitizado (XM)

Canga (Cg)

GN

SEÇÃO GEOTÉCNICAS2

S2

Figura 2.4 - Mapa geológico da área da trinca 1 na aba norte da mina do Cauê.

24 23

2.5 - GEOLOGIA ESTRUTURAL DA MINA DO CAUÊ

O trabalho de geologia estrutural abordado no texto a seguir foi desenvolvido

por Galbiatti (1999) e abrange a mina do Cauê, incluindo a região da Trinca 1, desta

forma foi aproveitado na integralidade.

TERMINOLOGIA

A terminologia usada para estruturas planares e lineares de natureza tectônica é

compatível com as proposições de Ramsay (1967) e Hobbs et al. (1976).

Abaixo, seguem as simbologias usadas:

Sn Estrutura planar penetrativa: acamamento, xistosidade, clivagem;

St Foliação de transposição;

Smn Foliação milonítica;

Fr Fraturas mineralizadas (Frm) e estéreis/secas (Frs);

L Lmn - lineação mineral;

Len - lineação de estiramento mineral;

Ln - lineação de interseção Sn/Sn+1;

Lcr - lineação de crenulação;

dn Fases de deformação;

Fn Geração de dobras relativa à fase dn;

Dn Evento de deformação;

Bn Eixo de dobra;

ANÁLISE ESTRUTURAL DESCRITIVA DA MINA DO CAUÊ

Estruturas planares

Acamamento (So)

O acamamento primário é melhor caracterizado pelos corpos de quartzito no

Grupo Piracicaba que apresentam alternâncias composicionais, como quartzitos grossos

24

intercalados com outros mais finos e, também, com níveis de rocha argilosa. O

acamamento pode ser caracterizado na formação ferrífera em regiões de dobras

mesoscópicas, contudo, na região da Trinca 1 está, normalmente, transposto.

Foliação (S1)

Esta trama planar é a mais importante do Distrito Ferrífero de Itabira, sendo

penetrativa em todas as escalas. É caracterizada pelo bandamento composicional entre

bandas de hematitas, micas, talco e especularita e bandas de quartzo . Ocorre nas

regiões central, sul e noroeste da mina (Figura 2.5).

??

??

Mina do Cauê

Mina do Chacrinha

“Granito Borrachudos”

Zona de transcorrência

LEGENDAGrupo Piracicaba

Grupo ItabiraCorpos de hematita /Itabirito carbonático

Grupo Nova Lima

Complexo Metamórfico

“Granito Borrachudos”

0 1000 m

Região Dd2

Região DS2

Região CS1

Região Dlm2/le2

Região BS1

Região AS1

Região Alm1/le1

ESCALA

Figura 2.5 - Mapa simplificado do sinclinal Cauê com as áreas detalhadas estruturalmente. Região A (S1= 464 medidas/curvas de 1 a 20 % e Lm1/Le1 = 118 medidas), região B (S1= 65 medidas/curvas de 6 %), região C (S1= 50 medidas/curvas de 6 %), região D (S2= 133 medidas/curvas de 2 a 36 %, Lm2/Le2 = 100 medidas e d2 = 41 medidas).

25

Sob o ponto de vista conceitual há uma diferença entre o bandamento e a

foliação que o intercepta. Neste trabalho usou-se o conceito antigo de paralelismo das

estruturas.

Do ponto de vista geotécnico não uma conseqüência danosa usando-se este

conceito.

Em regiões de maior magnitude da deformação, predomina Sm1, facilmente

observável nos flancos do sinclinal Cauê, principalmente nas formações ferríferas e em

rochas mais argilosas do Grupo Piracicaba.

As medidas de campo foram realizadas dentro de regiões específicas, assim

alguns diagramas estereográficos podem não mostrar estruturas maiores. Na figura 2.6,

a guirlanda não define com clareza o sinforme Cauê, pois há poucas medidas na região

SE e NE da mina.

Figura 2.6 - Diagrama estereográfico dos pólos da foliação S1, 1100 medidas nas regiões central, sul e noroeste da mina do Cauê. Curvas de 3 a 33 %. Galbiatti (1999).

Na região norte da mina do Cauê (Aba Norte) as estruturas definem claramente o

desenvolvimento de uma foliação superimposta (S2), como pode ser observado na

figura 2.5, região D.

Foliação (S2 ou St)

A foliação S2 ocorre, basicamente, no flanco norte do Sinclinal do Cauê (Hasui

et al. 1991 e 1998, Olivo 1994, Crocco-Rodrigues et al. 1996 e Galbiatti 1999). É uma

26

foliação de transposição que intercepta a foliação S1, algumas vezes

perpendicularmente. Possui direção EW, subvertical (Figura 2.7).

É uma trama planar penetrativa somente em zona de pequena potência, máximo

de 200 metros. Esta zona de transposição intercepta várias litologias, como as

formações ferríferas, os xistos do Grupo Nova Lima e as rochas gnáissicas. As

extensões laterais da transcorrência, a leste e oeste, estão cobertas por solo.

Figura 2.7 - Diagrama estereográfico dos pólos da foliação S2, 133 medidas. Curvas de 3,5 a 31,5 %. Galbiatti (1999).

Clivagem de crenulação (S3)

São crenulações formadas a partir de microdobramentos das foliações pré-

existentes (S1 e S2). Os planos posicionam-se em torno de NS.

Fraturas (Frm e Frs)

As fraturas são estruturas planares proeminentes em todo Distrito de Itabira,

mormente, na mina do Cauê. Elas ocorrem na forma de sistemas de fraturas, com idades

e características físicas diferentes.

Existe um sistema de fraturas mineralizada com minério aurífero (Frm),

relacionado à zona de transcorrência, que ocorre, principalmente, na porção norte da

mina, próximo ao flanco norte do sinclinal Cauê (Figura 2.8) e que pode se estender nas

porções mais a sul da mina. Na concepção geral, a descrição genérica é feita como

27

fraturas, mas ocorrem falhas devido a movimentações observadas. O espaçamento entre

as fraturas varia de alguns milímetros a metros e nestas podem ocorrer movimentações

milimétricas a decimétricas. Geralmente, são preenchidas por material goethítico,

quartzoso, hematítico e magnetítico. Talco e especularita ocorrem associados. Este

sistema de fraturas tem direções principais com N30-70E, N30-40W e EW. A

localização preferencial deste sistema é na região da zona transcorrente e na faixa

lateral de influência (nas formações ferríferas e nos xistos do Grupo Nova Lima) com,

aproximadamente, 300 m de largura.

Posteriormente, na fase final de desenvolvimento da estruturação da mina do

Cauê, há outro sistema de fraturas que intercepta as Frm. Este apresenta-se com fraturas

secas (Frs) e, raramente, observa-se material de preenchimento. Não há mineralização

associada. Estas fraturas possuem direção entre N15W e N15E, com mergulhos

variáveis, mas, freqüentemente, altos (Figura 2.9). Algumas fraturas EW são mais raras.

Este sistema ocorre em todos os locais da mina do Cauê e sobre todas as litologias e

estruturas planares.

Como condicionante geotécnico a Frs é a mais importante destas estruturas na

região da Trinca 1.

Figura 2.8 - Diagrama estereográfico dos pólos das fraturas mineralizadas com ouro, 751 medidas Curvas de 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7%. Galbiatti (1999).

28

Figura 2.9 - Diagrama estereográfico dos pólos das fraturas sem mineralização (Frs), 279 medidas. Curvas de 1 a 9%. Galbiatti (1999).

Estruturas lineares

Lineação de interseção (L1 e L2)

São duas as lineações de interseção observadas:

L1 - (S0 x S1) - é dada pela interseção entre os planos da foliação S1 e o

acamamento primário S0. É mais claramente observável no Grupo Piracicaba e nas

formações ferríferas. O rumo varia ao redor de 80o (ENE-WSW) com baixo caimento.

Esta lineação é paralela a subparalela aos eixos de dobras (B1) descritos no próximo

item e foi observada em toda extensão da mina do Cauê.

L2 - (S1 x S2) - é a lineação dada pela interseção entre a superfície de S2 e a

foliação S1. O rumo varia ao redor de 110o (ESE-WNW) com baixo caimento. É

paralela a subparalela ao eixo das dobras B2 que ocorrem internamente à zona de

transposicão (Figura 2.10).

29

Figura 2.10 - Diagrama estereográfico das atitudes da lineação de interseção (L2), 17 medidas. Galbiatti (1999).

Lineação de crenulação (Lcr)

Esta lineação é caracterizada pela orientação preferencial das charneiras de

microdobras e está relacionada à clivagem de crenulação S3. Normalmente, desenvolve-

se em rochas como xistos, filitos e corpos de hematita foliada. Tem orientação geral N-

NE (Figura 2.11).

Figura 2.11 - Diagrama estereográfico das atitudes da lineação de crenulação, 36 medidas. Galbiatti (1999).

30

Lineação mineral / Lineação de estiramento (Lm / Le)

A lineação mineral observada refere-se à orientação preferencial de minerais

aciculares orientados como, por exemplo, os anfibólios. Lineação de estiramento é

caracterizada pela deformação de minerais como o quartzo e a hematita. Ambas

lineações foram identificadas na mina do Cauê.

Lineação mineral - A lineação mineral 1 (Lm1) ocorre sobre a foliação (S1) e

sobre a foliação milonítica (Sm1) em toda a mina, exceto nas regiões internas à zona

transcorrente. A segunda lineação mineral (Lm2) ocorre sobre os planos da foliação S2.

Estas lineações podem ser diferenciadas por possuírem rumos diferentes. A Lm1 tem

rumo ENE (Figura 2.12) e a Lm2, rumo ESE (Figura 2.13).

Lineação de estiramento - Da mesma forma que as lineações minerais, duas

lineações de estiramento ocorrem (Le1 e Le2), ambas relacionadas geneticamente e

espacialmente às lineações anteriormente descritas. Estritamente, a Le1 está relacionada

à S1 e a Le2, à S2 (ou St).

Figura 2.12 - Diagrama estereográfico das atitudes das lineações mineral 1 (Lm1) e estiramento (Le1), 404 medidas nas regiões central, noroeste e sul da mina do Cauê. Galbiatti (1999).

31

Figura 2.13 - Diagrama estereográfico das atitudes das lineações mineral 2 (Lm2) e estiramento (Le2), relacionadas ao S2, 100 medidas. Galbiatti (1999).

Dobras

Foram identificadas três famílias de dobras. Cada uma destas famílias tem estilo

estrutural próprio e são claras as relações de cruzamento entre elas.

Dobras (B1)

São dobras inversas e isoclinais e as superfícies axiais são paralelas à foliação

S1. Estas dobras apresentam escala mesoscópica até macroscópica, sendo o sinclinório

de Itabira a envoltória regional de vários sinclinais e anticlinais (Dorr & Barbosa 1963,

Chemale Jr. & Quade 1986). A geometria destas dobras é monoclínica. As amplitudes

variam entre padrões centimétricos a quilométricos. Algumas dobras em bainha foram

observadas na mina do Cauê, contudo não compõem grande acervo. Lineações minerais

(Lm1) e de estiramento (Le1) situam-se, estatisticamente, paralelas ao eixo destas

dobras.

O sinclinório é delineado pela cartografia da Formação Cauê. Em profundidade,

extensa campanha de sondagem caracterizou com precisão os sinclinais. O eixo do

sinclinal Cauê é N80E/25º e o diagrama estereográfico da figura 2.14 mostra as

variações das charneiras das dobras acima descritas. Os dobramentos apresentam-se

32

com domínios diferentes. Nos flancos predominam os “S” tectonitos e nas charneiras,

os “L” tectonitos. A transição entre estes domínios parece ser gradacional.

Figura 2.14 - Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B1, 38 medidas. Galbiatti (1999).

Dobras (B2)

Estas dobras ocorrem internamente à zona de transcorrência. A geometria destas

é monoclínica e a amplitude varia de centímetros a metros. São geradas por esforços

compressivos direcionais relacionados à falha transcorrente. Apresentam charneiras com

orientações variáveis ao redor da direção de S80E e caimentos subhorizontalizados (Figura

2.13).

As lineações mineral 2 (Lm2) e estiramento 2 (Le2) ocorrem estatisticamente

paralelas ao eixo destas dobras que se situa em S80E/10º. Apesar de raras, algumas

dobras com eixos subverticais foram descritas em campo, associadas às dobras

predominantes, contudo não chegam a compor um acervo estatístico de medidas.

33

Figura 2.15 - Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B2, 41 medidas. Galbiatti (1999).

Dobras (B3)

Estas dobras estão registradas mais proeminentemente nos xistos do Grupo Nova

Lima. Apresentam um conjunto variado de estilos com dobras assimétricas,

monoclínicas e kink bands (observadas nas formações ferríferas). A amplitude é

variável entre centimétrica e métrica. O eixo destas dobras situa-se ao redor de

S15W/20º, podendo haver a inversão em N10E/10o.

A clivagem de crenulação S3 é plano axial das dobras, cujas charneiras são

paralelas à lineação de crenulação NS (Figura 2.16).

34

Figura 2.16 - Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B3, 37 medidas. Galbiatti (1999).

35

2.6 - RESUMO DO CAPÍTULO

Neste capítulo abordou-se a descrição da geologia regional do Quadrilátero

Ferrífero, incluindo a posição litoestratigráfica (Figura 2.1), a geologia regional de

Itabira com mapa geológico (Figura 2.2), a geologia da mina do Cauê com mapa

geológico (Figura 2.3) e a geologia da trinca 1 com mapa geológico (Figura 2.4). Com

estas descrições buscou-se dar uma visão geral da macro à micro estrutura e fazer uma

abordagem dos litotipos que serão descritos no desenvolvimento do trabalho.

Especificamente na mina do Cauê discutiu-se a geologia da mina e entorno

buscando caracterizar os litotipos locais e o posicionamento da Trinca 1 que é o motivo

deste trabalho (Figura 2.2). Foi desenvolvido um item com a geologia da Trinca 1 onde

foram descritos os litotipos que compõem esta micro região (Figura 2.4).

A partir destas caracterizações desenvolveu-se a análise estrutural descritiva na

mina do Cauê. Todas as estruturas planares e lineares foram estudadas para darem

subsídio a montagem dos mapas e seções geológicas e geotécnicas abordadas neste e

nos próximos capítulos. A figura 2.5 apresenta um resumo das principais estruturas

planares e lineares que ocorrem na mina do Cauê. Observa-se nesta figura que nas

regiões sul, leste e oeste predomina a foliação S1 e que na região norte há uma falha

transcorrente onde predomina a foliação S2. Esta última estrutura é que condicionou o

desenvolvimento da Trinca 1. As lineações e dobras estudadas, aparentemente, não são

estruturas ativas na Trinca 1.

De maneira mais minuciosa foi montado uma série de estereogramas com as

principais estruturas da mina e da trinca que estão representados desde a figura 2.6 até

2.16.

36

CAPÍTULO 3

CONCEITO E HISTÓRICO DA TRINCA 1

3.1 – CONCEITUAÇÃO DA TRINCA 1

A Trinca 1, desenvolvida na Mina do Cauê, está inserida em uma região de

contato entre os Supergrupos Minas e Rio das Velhas, em um local de interface entre

litologias bastante diferenciadas. Nesta mesma região de contato onde foi desenvolvida

a ruptura há uma falha geológica caracterizada como transcorrente (Hasui et al., 1991).

Uma falha transcorrente na definição geológica é uma falha desenvolvida por

esforços direcionais que geram um cisalhamento nas unidades rochosas. O conceito é o

mesmo desenvolvido para as rupturas cisalhantes em geotecnia; contudo, em geologia,

tem-se uma nomenclatura própria. No caso da geologia, os vetores σ1 e σ3 são os

esforços regionais que foram responsáveis pela modelagem de todo o pacote de rochas.

As magnitudes das zonas de cisalhamento podem ir de centímetros até a ordem de

quilômetros. A Figura 3.1 mostra um esquema básico de uma zona transcorrente como a

da aba norte da Mina do Cauê.

Zona falhada pelos esforços direcionais - Zona transcorrente

Espelhoda falha

Parede dafalha Parede da

falhaLineação

Figura 3.1 – Esquema básico de uma falha transcorrente mostrando os movimentos direcionais e a zona de falha.

37

A zona de falha tem aproximadamente 300 metros de espessura e a extensão de

alguns quilômetros (Figura 3.2).

Localização da Trinca 1

Figura 3.2 – Bloco esquemático da Mina do Cauê com a representação da zona transcorrente e da Trinca 1.

A lineação de estiramento dentro desta zona fica sempre próxima da

horizontalidade. Na Figura 2.5 (capítulo 2), os estereogramas denominados de Região D

- S2 e lm2/le2 mostram claramente a foliação S2 verticalizada, com caimento para norte

e para sul e a lineação horizontalizada. Esta situação é a que rigorosamente define uma

zona transcorrente. Por outro lado, na mesma figura citada, constata-se que os

estereogramas da foliação S1 nas regiões A, B e C e suas respectivas lineações, no

centro da Mina do Cauê, não tem qualquer relação geométrica com o exposto para a

zona transcorrente da aba norte.

Mangolim Filho (1996) caracterizou a Trinca 1 como sendo oblíqua à direção

geral dos taludes e controlada por falhas situadas em seus limites norte e sul e colocou

que a mesma estava encaixada ao longo da foliação. Determinou, adicionalmente, que,

38

nas bordas da Trinca 1, ocorria um maciço mais resistente e que o plano de ruptura

lateral ajustou-se a essa falha (daí, a direção oblíqua).

A caracterização de Mangolim Filho (op cit.) estabeleceu, com clareza, a

conceituação da ruptura naquele momento e, mesmo sem detalhar o conceito de zona

transcorrente, colocou que a ruptura era oblíqua à direção do talude e que estava

encaixada na foliação S2 (Figura 3.2).

Do ponto de vista geológico, uma estrutura transcorrente como a determinada na

região norte da Mina do Cauê ocorre com certa freqüência em outras minas da CVRD,

inclusive no Complexo Itabira. Desta forma, a caracterização deste tipo de estrutura sob

o ponto de vista geotécnico é de grande interesse para efeito dos projetos de

estabilidade de taludes no desenvolvimento da lavra.

3.2 – HISTÓRICO DA TRINCA 1

A região onde a Trinca 1 está situada apresentou os primeiros problemas

geotécnicos em 1991. Nesta época, foi realizado o primeiro trabalho específico

denominado “Modelo Geoestrutural da Mina do Cauê para Subsidiar as Análises de

Taludes” (Hasui et al., 1991). Este trabalho teve um cunho voltado para a geologia

estrutural e setorizou a Mina do Cauê por domínios estruturais. Desta forma, o trabalho

serviu como referência para estudos posteriores.

No ano seguinte, a CVRD contratou um trabalho de cunho geotécnico,

denominado “Estudo de Estabilidade para o Pit Final da Mina do Cauê, Abas Norte

2/3, Nordeste, Este e Sudeste” (GEOPROJETOS,1992). Neste trabalho, nos setores Aba

Norte 2 e 3 que se situavam na região da Trinca 1, já se observavam fatores de

estabilidades inferiores aos dos outros setores e algumas atividades complementares

foram sugeridas, tais como: bermas mais largas em alguns bancos para melhorar a

estabilização, DHP’s (drenos horizontais profundos) e proposição de estudos

posteriores para definições complementares mais precisas.

39

No trabalho da GEOPROJETOS (1992), as seções geotécnicas foram realizadas

com basicamente quatro tipos de rochas, da base para o topo: formação ferrífera (FF),

MC (Minas Caraça), NL (Nova Lima) e QZTOs (quartzitos); contudo, os parâmetros

usados foram de somente três unidades: FF, SE (englobando MC e NL) e ROCHA

(QZTOs).

Em 1995 os problemas geotécnicos foram intensificados por toda a região

conhecida como Aba Norte. As áreas instáveis mais destacadas foram denominadas

Trincas 1 e 2, a primeira relacionada a uma ruptura e a segunda a uma instabilização de

uma pilha de estéril na borda da cava do Cauê. Em julho de 1996, a ESC (Consultoria e

Engenharia Ltda) concluiu relatório relacionado à Trinca 2, denominado: “Diagnóstico

das Condições de Estabilidade da Pilha de Estéril – Setor Norte da Mina do Cauê”

(ESC, 1996). Em dezembro de 1996, foi concluído o primeiro relatório técnico sobre a

Trinca 1 denominado: “Trincas 1 e 2 – Mecanismo de Ruptura – Avaliação da

Estabilidade – Procedimentos de Controle e Níveis de Alerta – Medidas de Defesa na

Estação Chuvosa” (Mangolim Filho,1996).

Neste trabalho, Mangolim Filho (op cit.) caracterizou a Trinca 1 como sendo

oblíqua à direção geral dos taludes e controlada por falhas situadas em seus limites

norte e sul e colocou que a mesma estava encaixada ao longo da foliação. Determinou

adicionalmente que, nas bordas da trinca, ocorria um maciço mais resistente e que o

plano de ruptura lateral se ajustou a essas falhas daí o sentido oblíquo. Por fim,

estabeleceu que o plano de ruptura inferior estava controlado pelo contato com a rocha

pouco alterada a sã.

A partir desta caracterização da estrutura rompida colocou-se, como informação

adicional, que a borda sul servia como um contraforte de classe mais resistente que

impedia, num primeiro momento, o deslocamento da ruptura para dentro da cava.

Nesta época, foram estabelecidos mecanismos para monitoramento da estrutura

como a instalação de piezômetros, marcos superficiais e a contratação de consultoria

técnica internacional. Com o monitoramento, observou-se que alguns piezômetros

foram seccionados no contato entre o pacote de rochas intemperizado (´solo´) e o

maciço rochoso. Os marcos mostraram que os deslocamentos que eram milimétricos na

estação seca passaram a ser centimétricos na estação chuvosa.

40

No auge da estação chuvosa os deslocamentos chegaram a 40 centímetros

diários. O sentido do movimento iniciou-se como oblíquo ao talude, aproximadamente

EW, e não fluíam para o interior da cava. Contudo, no final do período chuvoso, com

deslocamentos elevados, o movimento mudou de direção, para o interior da cava.

Nesta época, a equipe julgou prudente a paralisação temporária da lavra, pois o

maciço da borda oeste, sendo mais delgado do que o do pé poderia romper por

compressão e, assim, desencadear uma ruptura brusca.

O consultor internacional Peter Stacey (in Mangolim Filho, 1996) sugeriu

ampliar o monitoramento superficial adensando o número de prismas inicialmente

instalados, principalmente no maciço resistente do pé da borda oeste. Como a lavra

havia sido retomada, a sugestão do consultor foi paralisar a lavra sob chuvas intensas,

no primeiro momento e, posteriormente, em uma orientação mais específica, sugeriu a

paralisação após chuvas continuadas acima de 50 mm. Complementado a orientação,

com base nos marcos, a lavra também deveria ser suspensa quando a taxa dos

movimentos dobrasse durante três dias consecutivos ou atingisse 5 cm/dia abaixo do

banco 895 e 10 cm/dia acima do banco 895. Este banco era a região de contato entre a

massa rompida e o arrimo de pé e por este motivo os movimentos eram analisados de

forma diferenciada.

Ainda como parte do relatório, Mangolim Filho (1996) fez uma análise sobre a

situação à época da Trinca 1 e diagnosticou que as taxas de deslocamento e o

movimento no sentido oblíquo ao talude não ofereciam riscos imediatos à lavra, por

meio de uma série de análises relacionadas aos prismas e às precipitações.

Estabeleceram-se alguns procedimentos de controle para o período seco, com duas

medições por semana dos prismas e no período chuvoso, com medições diárias. Outro

ponto de controle rigoroso foi o de levantar os dados de chuva no pluviômetro de

manhã e à tarde e diariamente analisar os deslocamentos, obtendo-se o comportamento

deslocamento x tempo x precipitação. Por fim, recomendou-se a inspeção direta dos

taludes, analisando-se possíveis feições indicativas de instabilidade para subsidiar as

decisões.

41

A partir destas análises a lavra poderia ser desenvolvida restritamente e foi

estabelecida uma série de níveis de alerta para várias situações determinadas pelos

dados. Os pontos considerados para alerta foram quantificados em alguns itens:

(i) Deslocamento dos pontos no interior da massa rompida

- Movimento oblíquo ao talude (EW) – para um deslocamento de 20 cm/dia, a

lavra deveria ser paralisada, no caso de uma chuva superior a 50 mm em 24 horas ou

uma chuva superior a 80 mm acumulada em 3 dias; a paralisação deveria ocorrer

também para deslocamentos iguais ou superiores a 50 cm/dia, independentemente da

quantidade de chuva;

- Movimento perpendicular ao talude (N150) – para um deslocamento de 10

cm/dia, a lavra deveria ser paralisada no caso de uma chuva superior a 50 mm em 24

horas ou uma chuva superior a 80 mm acumulada em 3 dias; a paralisação deveria

ocorrer também para deslocamentos iguais ou superiores a 30 cm/dia,

independentemente da quantidade de chuva;

(ii) Deslocamento da borda oeste e pé da ruptura

Estes marcos não poderiam sofrer quaisquer movimentações, pois um

deslocamento nesta região estaria refletindo o início de uma instabilidade geral.

Contudo, uma pequena variação foi estipulada. Para um deslocamento de 2 cm/dia

durante três dias consecutivos, a lavra deveria ser paralisada imediatamente,

independente de chuva; um deslocamento de 5 cm/dia em uma única medida e 20 cm de

deslocamento acumulado também seriam critérios para a paralisação imediata da lavra.

(iii) Chuva crítica. Independente das taxas de deslocamento

Para uma chuva de 50 mm em 24 horas, a lavra deveria ser paralisada, idem para

uma precipitação acumulada de 80 mm em três dias. Nesta situação, haveria uma

paralisação da lavra por 24 horas até uma análise dos deslocamentos. A equipe de

geotecnia ficaria responsável pela liberação da lavra.

42

Mangolim Filho (1996) discutiu também um ponto muito importante relacionado

á confiabilidade do monitoramento. Avaliava que os pontos situados no interior da

massa rompida apresentavam dados consistentes para uma tomada de decisão em tempo

hábil já que, no sentido de movimentação oblíquo ao talude (EW), o comportamento da

massa era elasto-plástico e caracterizava uma ruptura lenta e gradual.

Quanto ao movimento no sentido da cava (N150), o mesmo estava impondo uma

enorme tensão na região da borda oeste mais delgada. Como esta borda é constituída

por maciço resistente, de comportamento elasto-frágil, a ruptura, se ocorresse, poderia

ser do tipo brusca e repentina. Neste caso, para avaliar as condições de estabilidade, o

monitoramento dos prismas do pé da massa mobilizada e os da borda e pé do maciço

resistente seriam de extrema importância. Caracterizava ainda que, nesta região, o

monitoramento executado não estava sendo adequado ao propósito pretendido, pois a

precisão do aparelho não respondia às necessidades dos dados de campo.

Como prognóstico para o controle do desenvolvimento da Trinca 1,

recomendou-se a restrição dos deslocamentos futuros, de modo a não ocorrerem

deslocamentos semelhantes aos ocorridos na estação chuvosa de 1996 e constatou-se

que os deslocamentos EW não constituíam riscos imediatos a lavra pelo fato do

movimento ser lento e porque o material, em caso de ruptura, ficaria retido acima do

banco 835. Entretanto, os deslocamentos N150 constituíam riscos às operações de lavra

pois, em caso de ruptura, os detritos atingiriam o fundo da cava. Assim, dentre várias

medidas tomadas à época, vale a pena salientar que foi sugerido a construção de um

dique no fundo da cava como defesa para uma eventual ruptura e para dar segurança ao

desenvolvimento operacional da lavra.

Mangolim Filho et al. (2002) descreveram que, entre 1997 e 1998, executou-se

um retaludamento parcial da área, concebido para aliviar a carga sobre a área

mobilizada de xistos decompostos e implantar um arrimo de quartzito ferruginoso. Este

arrimo teria a função de bloquear os movimentos e induzir a estabilização do talude,

quando do avanço das escavações para a lavra de hematita situada imediatamente

abaixo. Alguns drenos horizontais profundos foram executados para atuar como solução

43

complementar ao retaludamento, a fim de incrementar o Fator de Segurança global dos

taludes.

A lavra continuou com sucesso até meados de 2000 quando foram constatadas

ocorrências de pressões hidrostáticas não dissipadas pelos drenos. Foi constatado,

adicionalmente, que o maciço de quartzito ferruginoso, deixado como arrimo

estabilizante, não apresentava as características de resistência estimadas a partir de

alguns afloramentos e dos dados de sondagem existentes.

Assim, Mangolim Filho et al. (2002) descreveram a reativação do mecanismo de

ruptura, a partir de análises efetuadas pela própria equipe de geotecnia da empresa e

pelo consultor internacional Peter Stacey. Esta avaliação considerou que o mecanismo

de ruptura não seria catastrófico e que a lavra poderia ser continuada com o apoio de

monitoramento sistemático. Contudo, como não seria possível um novo retaludamento,

a alternativa adotada foi a de continuar com a despressurização do talude através da

implantação de drenos subhorizontais, para evitar que as condições de estabilidade

fossem novamente comprometidas.

Em meados de 2001, começou a ocorrer uma expansão do sistema de trincas

incrementando a área instável e os drenos não se mostraram eficientes o bastante e,

desta forma, o monitoramento do talude foi expandido para toda a área instável e a lavra

foi continuada ao longo do banco 775. Em dezembro de 2001, o deslocamento

acumulado era da ordem de 4 metros e nova rotina de alerta foi estabelecida para dar

garantia na continuidade da lavra. No auge da estação chuvosa houve uma aceleração

dos deslocamentos e os níveis de alerta estabelecidos foram atingidos. Desta forma, a

lavra foi interrompida e o monitoramento foi incrementado, já que a massa mobilizada

em uma possível ruptura seria da ordem de dois milhões de metros cúbicos.

No decorrer de janeiro de 2002, o monitoramento indicou que os movimentos

estavam em processo de aceleração, não havendo evidências de que iriam se estabilizar

e que caminhavam para uma ruptura geral do talude. Novamente, a equipe contou com

o apoio do consultor Peter Stacey para consolidar uma decisão sobre a situação. Destas

análises, definiu-se um modelo para representar o mecanismo de instabilidade, tal que:

44

• A instabilidade estava sendo condicionada por um bloco ativo, que

manifestou um recalque da ordem de 6 metros e deslocamentos de 8

metros no sentido da cava, dando como resultante um deslocamento em

torno de 10 metros;

• Este bloco ativo estaria impondo um empuxo ao arrimo de quartzito, que

atuava como bloco passivo;

• Os recalques, deslocamentos resultantes da ordem de 6 metros a 10

metros, superavam qualquer expectativa em termos de uma avaliação

prévia para a estabilidade do maciço.

Com base no modelo do mecanismo de ruptura definido, a equipe de geotecnia

prognosticou dois cenários principais, ou seja:

Cenário 1: A ruptura mobilizaria somente o arrimo de quartzito. Nesta situação,

a ruptura não seria brusca, podendo ser monitorada para detectar níveis de alerta,

antecedendo os momentos finais. A ruptura mobilizaria parte do talude da mina,

ficando restrita aos bancos 775 e 750, situados acima do fundo da cava;

Cenário 2: A ruptura migra para baixo e mobiliza também a formação ferrífera.

Nesta situação a ruptura seria catastrófica, não indicando sinais prévios do

processo e tenderia a mobilizar o talude como um todo.

Como a cava exaurida da Mina do Cauê seria destinada futuramente à disposição

de rejeitos, a equipe de geotecnia ressaltava que o Cenário 2 seria o mais crítico por

induzir, além da perda da capacidade de acumulação da área, um talude global instável

e capaz de comprometer o sistema previsto.

Como prognóstico final, e em consonância com o consultor Peter Stacey, a

paralisação da lavra, que tinha ocorrido no período chuvoso, foi considerada acertada

em decorrência das incertezas inerentes a este tipo de situação.

Os deslocamentos e a situação de campo denotam um mecanismo de ruptura em

curso, podendo ser iminente e que ambos os cenários admitidos pela equipe são

45

pertinentes. A instalação de novos prismas de monitoramento na formação ferrífera,

abaixo do arrimo de quartzito, poderá dar respaldo para avaliação da maior ou menor

probabilidade de ocorrência dos cenários descritos.

A lavra na aba norte foi mantida paralisada em 2002 e somente poderia ser

retomada se os deslocamentos fossem estabilizados e os procedimentos de

despressurização mostrarem-se eficientes. Desta forma, a lavra não foi mais retomada

devido à continuidade acentuada dos movimentos. Stacey (2002), em relatório técnico

de visita, abordou de forma diferenciada as taxas do movimento da Trinca 1 ao longo

das porções leste e oeste da cava. A área de maior movimento, na porção leste,

corresponderia à área de maior profundidade de exposição do quartzito e em local de

maior inclinação da seção. Esta região era mais sensível à evolução da lavra, enquanto

que a porção oeste tenderia a apresentar movimentos incrementais relacionados a

chuvas e, em pequena escala, à própria lavra.

O consultor descreveu ainda que as feições observadas à época caracterizavam a

evolução do movimento como sendo de toppling, baseando-se em observações de

campo onde foram indentificados ‘grabens’ de fundo e um ‘front’ movendo-se no

sentido da mina e com taludes abatendo no sentido da face. Estas características de

campo definiram a evolução da ruptura para este tipo de movimento.

3.3 – HISTÓRICO DO MONITORAMENTO DA TRINCA 1

O monitoramento da Trinca 1 foi iniciado em 1995 quando os primeiros

trabalhos de monitoramento da ruptura foram estabelecidos. Como pode ser verificado

pelo histórico apresentado no item anterior, a trinca teve dois momentos críticos em

1996 e em 2000. Na primeira fase, os dados de monitoramento foram

irremediavelmente perdidos por estarem em meio magnético e os arquivos foram

danificados. Desta forma, somente pode-se avaliá-los de acordo com as descrições dos

relatórios apresentados no período; contudo, não há como fazer uma análise dos dados.

46

Na etapa relativa ao período de 1996/97 havia 14 prismas de monitoramento

instalados na região da Trinca 1. Foram resgatados os dados parciais dos prismas 10,

11, 12, 13, 14, 18 e 19. Os dois últimos situam-se no banco 865, posicionados na região

imediatamente abaixo da área instável. Para efeito de visualização, na figura 3.3, os

prismas estariam posicionados no banco onde estão situados os prismas 5 e 10, sem

relação alguma com os anteriores.

Para compreensão do controle dos prismas, faz-se o seguinte esclarecimento: a

base onde os marcos eram levantados ficava ao sul da Trinca 1 e, como o sistema de

coordenadas é crescente para norte e para leste, as medidas negativas são as que

crescem no sentido contrário ao das coordenadas geográficas. Para a elevação os

valores são positivos para cima e negativos para baixo. As medições são relativas ao

período de 30/11/1996 a 15/01/1997 e, neste período, os prismas 10, 11, 12, 13 e 14

tiveram um deslocamento de aproximadamente 2 cm que se mantiveram no mês de

dezembro. No início de janeiro o deslocamento acentuou-se e chegou a 20 cm na

direção norte, 5 centímetros na direção leste e a cota sempre com uma pequena variação

da ordem de 2 cm (Tabela 3.1).

Tabela 3.1 – Leituras de monitoramento dos prismas (período de 30/11/1996 a 15/01/1997).

Início Final Período Desl. acum. Norte - Y Desl. acum. Leste X Elev.acum. - ZPrisma 10 30/11/96 15/1/97 45 -17 6 1Prisma 11 30/11/96 15/1/97 45 -19 7 5Prisma 12 30/11/96 15/1/97 45 -19 8 4Prisma 13 30/11/96 15/1/97 45 -24 9 3Prisma 14 30/11/96 15/1/97 45 -10 8 -6Prisma 18 30/11/96 15/1/97 45 -2,5 1.5 1Prisma 19 30/11/96 15/1/97 45 -2 1 -2

Os dados da Tabela 3.1 mostram que os movimentos neste período estavam

direcionados para sudeste, ora mais próximos de leste, ora mais próximos de sul. Os

prismas 18 e 19, que se posicionam no pé da ruptura, apresentaram um movimento

inconsistente devido a imprecisão das medidas.

Mangolim Filho (1996) descreveu que, no auge da estação chuvosa, ocorreram

deslocamentos médios da ordem de 20 cm/dia e máximos de 40 cm/dia e que estes

movimentos eram oblíquos ao talude, com direção aproximada EW, no sentido oeste -

leste. Quanto aos dados relativos ao período pós 2000, o monitoramento está

47

consolidado em planilha e uma análise dos mesmos será apresentada posteriormente.

Neste período foram reinstalados 28 novos prismas para controle com repetição da

numeração de 1 a 28.

Alguns destes prismas foram monitorados até 2003, sendo vários deles perdidos

com a movimentação da ruptura. Em 2003 houve a reinstalação com mais 7 prismas,

numerados de 41 a 47, que estão sendo monitorados até o presente momento.

Tabela 3.2 - Evolução dos deslocamentos medidos pelos prismas mais representativos do maciço (período entre 2000 e 2003).

Prismas Norte - Y Leste - X Cota Data de Inicio

do monitoramento

Data Final do monitoramento

Dias monitorados (continuos e alternados)

Deslocamento acumulado Coordenada

Norte - Y

Deslocamento acumulado Coordenada

Leste - X

Deslocamento acumulado da Elevação - Z

Deslocamento acumulado da Distância - D

P1 2.833.759,15 371.112,49 825,98 12/05/2000 30/01/2002 61864074589257495695611111512146482

293320320218154218218218154216218191218197218

-3,75 0,84 -0,60 -3,406P2 2.833.813,21 371.222,05 823,83 12/05/2000 22/02/2002 -6,13 1,67 -0,05 -6,34P3 2.833.807,11 371.139,41 841,54 12/05/2000 07/06/2002 -13,83 4,13 -1,36 -14,17P4 2.833.862,79 371.251,59 841,73 12/05/2000 04/11/2002 -16,53 5,75 0,07 -17,37P5 2.833.877,30 371.186,39 856,52 12/05/2000 16/12/2001 -4,17 1,50 -1,06 -4,38P6 2.833.873,84 371.117,01 873,43 12/05/2000 08/01/2003 -23,33 5,54 -2,97 -23,42P7 2.833.936,40 371.090,33 899,34 12/05/2000 08/01/2003 -19,19 18,97 -15,47 -25,21P8 2.833.900,06 371.418,90 839,83 24/09/2001 15/01/2002 -8,35 0,22 -1,06 -8,32P9 2.833.916,33 371.559,05 839,40 25/09/2001 20/01/2002 -7,53 0,56 -0,45 -7,14P10 2.833.946,13 371.322,36 868,44 24/09/2001 25/01/2002 -4,19 1,21 -4,13 -4,28P11 2.833.978,98 371.380,72 882,23 24/09/2001 08/01/2003 -20,29 2,58 -15,08 -20,30P12 2.833.964,97 371.519,56 866,66 05/10/2001 27/12/2001 -4,77 -0,06 -3,38 -4,70P13 2.833.759,84 371.189,52 795,25 18/02/2002 11/12/2002 -3,77 1,11 -0,84 -3,71P14 2.833.726,27 371.238,64 768,66 18/02/2002 08/01/2003 -1,07 0,36 -0,06 -1,08P16 2.833.779,04 371.476,02 764,65 18/02/2002 08/01/2003 -0,25 0,06 0,01 -0,28P17 2.833.723,51 371.435,02 733,11 30/05/2002 08/01/2003 -0,04 0,04 0,06 -0,04P18 2.833.727,59 371.590,36 733,71 30/05/2002 04/11/2002 -0,03 0,04 -0,03 -0,01P19 2.833.690,53 371.655,25 733,30 30/05/2002 08/01/2003 -0,03 0,03 0,02 -0,01P20 2.833.663,22 371.131,35 768,21 30/05/2002 08/01/2003 -0,96 0,57 0,22 -1,11P21 2.833.760,24 371.694,39 763,04 30/05/2002 08/01/2003 -0,03 0,00 0,02 -0,02P22 2.833.820,95 371.189,40 844,12 30/05/2002 04/11/2002 -1,03 0,32 0,00 -1,08P23 2.833.753,34 371.025,16 854,00 30/05/2002 06/01/2003 -1,65 0,36 -0,57 -1,50P24 2.833.860,51 371.085,97 888,97 30/05/2002 08/01/2003 -2,97 0,77 -0,38 -2,96P25 2.833.895,40 371.221,04 874,93 30/05/2002 11/12/2002 -1,40 0,49 -0,08 -1,49P26 2.833.918,47 371.369,27 860,28 30/05/2002 08/01/2003 -2,20 0,13 -0,17 -2,21P27 2.833.916,01 371.478,73 855,44 30/05/2002 17/12/2002 -1,28 0,05 0,11 -1,26P28 2.833.969,48 371.442,02 867,79 30/05/2002 08/01/2003 -2,10 0,40 -1,01 -2,07

Neste trabalho, foram escolhidos, dentre os 28 prismas instalados no maciço, os 12

mais representativos para um estudo do comportamento espacial e para uma visão

objetiva do movimento interno e externo da Trinca 1. Como pode ser observado na

Tabela 3.2, com o posicionamento na Figura 3.3, os prismas internos à trinca ou

próximos a seu pé têm movimento para sudeste e os prismas posicionados na extensão

leste da Trinca 1 e a sul da trinca 2 têm movimentos para sul.

48

Como os prismas foram monitorados em diferentes períodos, os monitoramentos

não podem ser comparados de forma direta, exceto se fossem regularizados, situação

que não foi objeto de implementação neste trabalho. Com base nos valores dos

deslocamentos acumulados durante o período abrangido pelas leituras apresentadas na

Tabela 3.2, foram elaborados os gráficos indicados na Figura 3.4, correspondentes à

evolução dos deslocamentos detectados a partir de 2000.

49

3712

00

3714

00

3716

00

3708

00

3710

00

2834000

3718

00

2833800

2833600

2833400

2834000

2834200

2834200

2834400

2834600

3708

00

3710

00

3712

00

3714

00 2833600 3716

00 2833800

2834400

Controle das movimentações dos prismasentre os anos de 2000 e 2002

TRINCA ANTIGALEGENDA

TRINCA RECENTE

PRISMA TOPOGRÁFICO

D850-01

1

2

34

5

6

7

D850-02D850-03

Trincas 1 e 2 - Mina do Cauê

DRENO HORIZONTAL

CAVA

PILHA ESTÉRIL

EROSÃO

CAVA

PILHA ESTÉRIL

ARRIMOS

TRINCA 1

TRINCA 2

C omp anhia

Va le d o R io Doc e

1024

1037

1011

998

985

970

955

940

925

910

895

880

865

850

835

820

805

790

820

835

850

865

790

805

775

760

745

730745

760

775

880

910

895

925

970

955

940

985

998

10501063

S-2S-2

D850-01

1

T-3

T-5

T-5

T-5

T-3

T-3

9

128

1110

Mapa base confeccionado pela equipe GAGHS/2000 - modificado

Os valores de deslocamento dos prismas foram multiplicados por 10 para efeito de representação

PrismasData de Inicio

domonitoramento

Data Final domonitoramento

Diasmonitorados(continuos ealternados)

DeslocamentoacumuladoCoordenada

Norte - Y

Deslocamento acumuladoCoordenada

Leste - X

Deslocamentoacumulado daElevação - Z

Deslocamentoacumulado daDistância - D

P1 12/05/2000 30/01/2002 618 -3,75 0,84 -0,60 -3,406P2 12/05/2000 22/02/2002 640 -6,13 1,67 -0,05 -6,34P3 12/05/2000 07/06/2002 745 -13,83 4,13 -1,36 -14,17P4 12/05/2000 04/11/2002 892 -16,53 5,75 0,07 -17,37P5 12/05/2000 16/12/2001 574 -4,17 1,50 -1,06 -4,38P6 12/05/2000 08/01/2003 956 -23,33 5,54 -2,97 -23,42P7 12/05/2000 08/01/2003 956 -19,19 18,97 -15,47 -25,21P8 24/09/2001 15/01/2002 111 -8,35 0,22 -1,06 -8,32P9 25/09/2001 20/01/2002 115 -7,53 0,56 -0,45 -7,14

P10 24/09/2001 25/01/2002 121 -4,19 1,21 -4,13 -4,28P11 24/09/2001 08/01/2003 464 -20,29 2,58 -15,08 -20,30P12 05/10/2001 27/12/2001 82 -4,77 -0,06 -3,38 -4,70

Figura 3.3 – Mapa com os deslocamentos de alguns dos prismas no período entre 2002 e 2003.

50

PONTO 01PONTO 01 PONTO 07

PONTO 04 PONTO 11

PONTO 06 PONTO 12

Figura 3.4 – Evolução dos deslocamentos medidos por prismas de referência do maciço

Em 2004 foram instalados sete novos prismas (Figura 3.5) e uma análise dos

mesmos mostrou que os movimentos na região da Trinca 1 apresentavam

comportamentos diferentes dependendo do posicionamento. Os prismas 44 e 46 estão

51

dentro da massa rompida, os prismas 41 e 42 no pé da ruptura, os prismas 43 e 47 nas

margens e o prisma 45 está sobre a ruptura em área estável do maciço.

4142

43

44

45

46

474141

42424343

4444

4545

4646

4747

Figura 3.5 – Foto com o posicionamento dos prismas instalados no ano de 2004.

O comportamento dos prismas posicionados no pé da ruptura (41 e 42) indica

movimentos pequenos que não ultrapassam distâncias centimétricas, como se pode

observar nos dados da tabela 3.3 e na Figura 3.6. Os prismas 43 e 47, apesar de estarem

nas margens da ruptura, apresentam comportamentos diferenciados. O local do prisma

43 foi mobilizado pela massa rompida e vem apresentando um movimento para sul, ou

seja, para dentro da cava. O local do prisma 47 continua estável com movimentos

centimétricos para oeste. Fator relevante é que, nos prismas 41, 42 e 47, a cota

apresenta valores positivos, mesmo que pequenos o que implica em uma elevação da

região que serve de arrimo para toda a massa rompida. Os esforços atuantes neste local

estão forçando uma ruptura cisalhante e, se o arrimo não for suficientemente resistente,

um mecanismo global de ruptura ainda poderá ocorrer.

52

Os prismas 44 e 46 apresentam movimentos para sul sendo que o prisma 44 para

sudeste e o prisma 46 francamente para sul. Ambos apresentam movimentos com ordem

de grandeza métrica. O movimento do prisma 46 é diferenciado por haver um

desconfinamento lateral na região deste prisma, sendo que uma grande erosão favorece

um movimento para dentro da mina. Por fim, o prisma 45 apresenta movimentos

centimétricos, caracterizando uma zona mais estável do maciço.

Através da análise do movimento dos prismas, pode-se interpretar que a zona de

locação dos prismas 44 e 46 continua em pleno movimento e o pé (locação do prismas

41 e 42) continua a se comportar como arrimo. Ocorre ainda que a massa rompida

evolui com movimentos métricos e o pé com movimentos centimétricos; desta forma, a

evolução para sul passa por sobre o arrimo.

Tabela 3.3 – Dados da evolução da movimentação dos prismas em 2004.

Prismas Data de Inicio do monitoramento

Data Final do monitoramento

Dias monitorados (continuos e alternados)

Deslocamento acumulado Coordenada

Norte - Y

Deslocamento acumulado Coordenada

Leste - X

Deslocamento acumulado da Elevação - Z

Deslocamento acumulado da Distância - D

P41 20/02/04 26/01/05 336344356107445445299

-0,08 0,00 0,05P42 20/02/04 04/02/05 -0,05 0,01 0,05P43 20/02/04 16/02/05 -1,99 0,76 -0,76 -1,85P44 08/03/04 25/06/04 -2,86 2,00 -1,39P45 08/03/04 03/06/05 0,07 -0,03 0,05P46 08/03/04 03/06/05 -3,57 0,14 2,79 -3,32P47 17/05/04 16/03/05 -0,17 -0,022 0,05

Na Figura 3.6 estão indicados os gráficos de evolução dos movimentos dos

prismas instalados no maciço em 2004, que consubstanciam as discussões de

comportamento dos mesmos descritos previamente.

53

PONTO 01PONTO 41PONTO 43

PONTO 01PONTO 44PONTO 01PONTO 45

PONTO 01PONTO 46 PONTO 01PONTO 47

Figura 3.6 – Evolução dos deslocamentos medidos pelos prismas instalados em 2004

54

3.4 – RESUMO DO CAPÍTULO

Neste capítulo, buscou-se conceituar os princípios e o histórico do processo de

ruptura denominado genericamente como Trinca 1, mostrando onde a mesma está

inserida no contexto da Mina do Cauê, sua geometria e evolução. A Trinca 1 foi

caracterizada por Mangolim Filho (1996) como sendo oblíqua à direção geral dos

taludes e como sendo controlada por falhas situadas em seus limites norte e sul e

encaixada ao longo da foliação. Neste estudo, determinou-se adicionalmente que, nas

bordas prevalece um maciço mais resistente e que o plano de ruptura lateral se ajustou a

essas falhas, caracterizando a direção oblíqua do movimento.

Stacey (2002) estabeleceu que a Trinca 1 evoluiu para um movimento tipo

toppling sob a influência das elevadas pressões de água nos taludes. Caracterizou ainda

que este tipo de ruptura criaria alguns ‘grabens’ em porções de fundo, como foi

efetivamente observado.

Ao se abordar o histórico do problema, foram descritos todos os trabalhos

realizados que tiveram foco na instabilização ocasionada pela Trinca 1. Os principais

trabalhos desenvolvidos sobre a instabilização foram contratados pela equipe da CVRD

e sempre registrados como relatórios internos: Hasui e Magalhães (1991),

GEOPROJETOS (1992), ESC (1996), Mangolim Filho (1996), Mangolim Filho et al.

(2002) e Stacey (2002). Embora considerando a relevância global destes trabalhos,

destacam-se os estudos desenvolvidos por Mangolim Filho (1996), Mangolim Filho et

al. (2002) e Stacey (2002), que abordaram pormenorizadamente o desenvolvimento da

Trinca 1 em seus eventos críticos.

Adicionalmente, descreveu-se também o histórico do monitoramento da Trinca

1. Este trabalho buscou mostrar como os movimentos se desenvolveram a partir de

1996, apesar da pequena disponibilidade de dados neste período. Tais limitações

impediram, por exemplo, que algumas descrições constantes do trabalho de Mangolim

Filho (1996) não puderam ser comprovadas, principalmente as que se referem ao

movimento da massa rompida no sentido EW. Por outro lado, porém, os dados em

55

períodos mais recentes foram resgatados, tratados e sistematizados, ao longo do período

entre 1996 e 2004 permitindo uma avaliação geral e mais atualizada da evolução dos

mecanismos de ruptura da Trinca 1.

56

CAPÍTULO 4

MODELO GEOTÉCNICO

4.1 – MODELO GEOMECÂNICO

Em 1998 a equipe de geotecnia da CVRD contratou e orientou os trabalhos de

campo para a realização de um modelo geomecânico na região das Trincas 1 e 2 na

porção norte da Mina do Cauê com a empresa Geoestrutural. Não houve uma

consolidação deste trabalho em relatório específico, mas os mapas geológicos,

geomecânicos, as seções geológicas e geomecânicas e os parâmetros geotécnicos

ficaram arquivados.

Desta forma, embora os dados apresentados neste capítulo adotem os padrões

usados na confecção dos modelos geomecânicos pela equipe de geotecnia da CVRD,

algumas informações obtidas pela empresa Geoestrutural foram incorporadas mediante

análises específicas desenvolvidas pelo autor deste trabalho.

Os mapas geológico (figura 2.4) e geomecânico (figura 4.1) foram extraído deste

trabalho e tiveram algumas modificações. As seções geológicas e geomecânicas (E28,

30, 32, 34, 36, 38, 40, 42, 44, 46 e 48), além das seções especiais (S-1, 2, 3, 4, 5 e 6 e T-

1, 2, 3, 4 e 5) foram analisadas na integra e as seções especiais estão incorporadas ao

trabalho. Apresenta-se como parte do modelo geomecânico os parâmetros de

caracterização geotécnica usados no desenvolvimento do trabalho.

PARÂMETROS DE CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA

A descrição geotécnica dos taludes da cava baseou-se em conceitos e

simbologias internacionais sugeridos pela International Society for Rock Mechanics -

Suggested Methods (ISRM, 1978) com ajustes e complementos propostos pela

Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE, 1983). Nesta abordagem,

adotou-se o sistema de classificação geomecânica proposto por Bieniawski (1976).

57

GRAU DE INTEMPERISMO

O grau de intemperismo é muitas vezes descrito em geotecnia em termos de grau

de alteração da rocha; contudo, do ponto de vista geológico, os termos são distintos e

deve-se preservar, o conceito de intemperismo. Desta forma, grau de intemperismo

refere-se às características macroscópicas da rocha de acordo com seu grau de

decomposição, sendo expresso com base na proposição de Brown (1981), conforme

Tabela 4.1.

Tabela 4.1 – Descrição e caracterização dos graus de intemperismo da rocha (Brown, 1981).

Grau Tipologia Descrição dos aspectos da rocha

W1 Rocha SãIntemperismo nulo ou incipiente. Minerais preservam brilho original, cor e clivagem.

Eventual descoloração nas descontinuidades. Foliação visível e selada. Resistência original da rocha não afetada pelo intemperismo.

W2 Rocha Pouco Intemperizada

Intemperismo perceptível, cores esmaecidas e perda de brilho. Leve descoloração e oxidação na matriz e ao longo das descontinuidades. Foliação visível e selada. Juntas fechadas, paredes ligeiramente alteradas. Resistência original da rocha parcialmente

afetada pelo intemperismo.

W3Rocha

Moderadamente Intemperizada

A matriz apresenta-se descolorida, com evidências de oxidação. Juntas abertas (< 1.0 mm) e oxidadas, podendo ocorrer material mais alterado ao longo das descontinuidades.

Foliação realçada pelo intemperismo. Resistência afetada pelo intemperismo.

W4 Rocha Muito Intemperizada

Intemperismo muito acentuado, alguns minerais parcialmente decompostos em argilo-minerais. Matriz totalmente oxidada e cores muito modificadas. Fraturas abertas (2 < e <

5 mm) e oxidadas, preenchidas por materiais intemperizados. Foliação realçada pelo intemperismo. Desplacamentos ao longo da foliação. Resistência muito afetada pelo

intemperismo.

W5Rocha

Completamente Intemperizada

Todo o material está completamente intemperizado para solo estruturado. Extremamente descolorido, minerais resistentes quebrados e outros transformados em argilo-minerais.

Foliação preservada. Juntas não discerníveis. Desintegra em água após período de imersão.

W6 Solo Residual Material totalmente transformado em solo. Estruturação da rocha matriz destruída. Prontamente desintegrado em água.

GRAU DE RESISTÊNCIA/COERÊNCIA

Este parâmetro foi estimado com base na apreciação táctil-visual das

características de resistência ao impacto, na trabalhabilidade do material e na estimativa

da resistência à compressão simples. A Tabela 4.2 apresenta os ensaios adotados para

estimar a resistência dos materiais rochosos seguindo orientação da ABGE/CBMG

58

(1983). Para o uso desta tabela quanto da entrada na classificação de Beniawski (1976)

há necessidade de um ajuste, pois esta classificação usa parâmetros de valores

diferentes.

Tabela 4.2 – Ensaios manuais para a estimativa da resistência de materiais rochosos.

Grau Descrição Identificação no CampoValor aproximado da

Resistência Uniaxial (σc) -MPa

R0 Extremamente Fraca

R1 Rocha Muito Fraca

R2 Rocha Fraca

R3Rocha

Medianamente Resistente

R4 Rocha Resistente

R5 Rocha Muito Resistente

R6Rocha

Extremamente Resistente

Espécimes somente lascados com o uso do martelo > 250.0

Penetrada pela ponta do dedo polegar, marcada pela unha, facilmente penetrada pelo canivete e ponta do martelo do geólogo.

Esmigalha-se facilmente sob o impacto de martelo de geólogo, pode ser raspada pelo canivete.

0.25 – 1.0

1.0 – 5.0

Espécimes de mão requerem muitos golpes do martelo para serem quebrados, superfície praticamente não riscada pelo canivete.

5.0 – 25.0

25.0 – 50.0

50.0 – 100.0

100.0 – 250.0

Pode ser raspada com dificuldade com canivetes, marcas podem ser feitas com a ponta do martelo de geólogo, a lâmina do canivete provoca

sulco acentuado na superfície do fragmento de rocha.Espécimes de mão podem ser quebrados sob poucos golpes firmes do

martelo de geólogo, rocha não pode ser riscada com canivete, escavada com desmonte a 'fogo'.

Espécimes de mão requerem alguns golpes do martelo para serem quebrados, superfície dificilmente riscada pelo canivete.

ESPAÇAMENTO DO FRATURAMENTO

O espaçamento do fraturamento considerou o espaçamento médio das juntas e

das fraturas. Na foliação a superfície foi admitida como fratura quando aberta e

separando porções da massa rochosa apresentando superfícies de oxidação, alteração e

esfoliação. Como as falhas estão superimpostas à foliação, somente foram representadas

em mapa o que a escala permitiu.

No mapeamento de superfície, foram estabelecidas estações espaçadas de 15

metros e, em cada estação de medida, o espaçamento médio foi estimado por tipo e

família de estrutura, de acordo com os critérios apresentados na Tabela 4.3.. O grau de

59

fraturamento em sondagens foi estimado por trecho de isofraturamento, com base no

espaçamento das fraturas ao longo do eixo dos testemunhos.

Tabela 4.3 – Critérios para a determinação dos espaçamentos das descontinuidades.

Descrição Espaçamento (cm)Compacto > 300

Maciço 300 - 100 Moderadamente

Fraturado 100 - 30

Fraturado 30 - 5 Fragmentado < 5

CONDIÇÕES DAS FRATURAS Neste item foram adotados os parâmetros propostos pela classificação

geomecânica de Bieniawski (1976) sendo as fraturas analisadas em termos de

persistência, abertura, rugosidade, alteração das paredes e materiais de preenchimento.

RQD – ROCK QUALITY DESIGNATION

Este conceito foi desenvolvido por Deere et al. (1967) visando estabelecer uma

estimativa quantitativa da qualidade do maciço rochoso, com base na razão do

somatório dos fragmentos maiores do que 10 cm pelo total do avanço da manobra

(inferior a 2 m). O RQD foi determinado a partir das sondagens geológicas, realizadas

para montagem das seções geológicas, e em alguns furos de cunho essencialmente

geotécnico. Foram desconsiderados os trechos constituídos por rocha completamente

alterada.

CLASSIFICAÇÃO DO MACIÇO

60

Buscando individualizar e delimitar os horizontes de maciço relativamente

homogêneo no tocante às características geológico-geotécnicas de resistência e

deformabilidade, foi adotada a metodologia de classificação de Bieniawski (1976),

conforme Tabelas 4.4 e 4.5. Através da correlação do RMR desta classificação, torna-se

possível estimar as características de resistência (Hoek & Brown, 1980) dos maciços

rochosos.

Na estimativa do valor do RMR, segundo Hoek & Brown (op cit.), foi adotado a

condição seca, pois a influência da água deverá ser levada em consideração na

estimativa das tensões efetivas nas análises de estabilidade, quando do

dimensionamento dos taludes da cava. Desta forma, o quinto parâmetro de Beniawski

(1976) que é a influência da água é sempre somado aos outros quatro parâmetros

classificatórios. A tabela apresentada não faz o fechamento em 100 pontos devido a

exclusão do item relacionado a componente da água.

A equipe de geotecnia da CVRD incluiu uma nova classe (Classe VI) na

classificação original de Bieniawski (1976) para designar o maciço constituído por

saprolito ou solo estruturado com valores de coesão semelhantes nas minas do Sistema

Sul da CVRD. Esclarece-se que, no contexto da formação ferrífera, a classe VI

apresenta, a rigor, características de resistência muito superiores às que se costumam

obter para os solos rijos estruturados e rochas extremamente intemperizadas

provenientes da alteração de xistos e quartzitos que compõem os demais litotipos da

mina.

A classe VI adotada para a formação ferrífera refere-se à trabalhabilidade com

equipamentos de escavação e de escarificação usados na lavra, para diferenciar dos

horizontes duros, somente escavados a fogo. Contudo, a classe VI não foi usada no

desenvolvimento do modelo geomecânico da Trinca 1 e fica a descrição somente como

uma informação adicional ao trabalho.

61

Tabela 4.4 – Parâmetros do Sistema de Classificação Geomecânica de Bieniawski (1976).

3-10 MPa

1-3 MPa210

90-100 75-90 50-75 25-50 < 2520 17 13 8 3

> 3 m 1 - 3 m 0,3 - 1 m 50-300 mm < 50 mm30 25 20 10 5

25 20 12 6 0

Superfícies muito rugosas.

Não contínuas e fechadas.

Paredes duras.

Peso RelativoEspaçamento de Fraturas

Peso Relativo

4 Condições das Fraturas

Peso Relativo

Superfícies pouco rugosas. Separação <1 mm. Paredes

duras

Superfícies pouco rugosas. Separação <1 mm. Paredes

moles

Superfície estriadas ou

preench.<5mm ou abertura 1-5 mm. Fraturas

continuas

Preenchimento mole >5 mm ou abertura >5 mm.

Fraturas contínuas.

3

Resistência da rocha intacta

Compressão Puntiforme > 8 MPa

Resistência à Compressão

Simples> 200 MPa

2 R.Q.D.%

1

4-8 MPa 2-4 MPa 1-2 MPaUtilizar Ensaio de Compressão

Simples10-25 Mpa

Peso Relativo 15 12 7 4

100-200 MPa 50-100 MPa 25-50 MPa

Tabela 4.5 – Classes de Maciço do Sistema de Classificação de Bieniawski (1976) Modificado.

CLASSE I II III IV V VIRMR 100 - 80 80 - 60 60 – 40 40 – 30 30 – 0 -

TERMO Muito bom Bom Regular Pobre Muito pobre Solo coesivo

DESCRITIVO Very good Good Fair Poor Very poor Stiff soil

DESCRIÇÃO DAS CLASSES DE MACIÇOS

Para uma identificação mais clara das classes de maciço, será feita uma

descrição pormenorizada de forma a ajudar na visualização e caracterização das mesmas

em campo. As classes de maciço estão distribuídas de forma estruturada e a ocorrência

dos litotipos e as ações do intemperismo são determinadas pela proximidade de

aqüíferos constituídos pela formação ferrífera e por metacherts, além da superfície

natural do terreno.

As descrições das classes de maciço foram realizadas com base nos trabalhos de

campo, cujos resultados encontram-se consolidados na Figura 4.1 e nas seções S2, S5,

T2, T3 e E36 indicadas.

62

ClASSE V Ocorre, de forma geral, como nível superficial (entre 10 e 80 m) em

praticamente toda a área mapeada afetada por ações intempéricas. Define, ao longo da

transcorrência, a maioria dos contatos geológicos e boa parte dos diferentes tipos de

maciços. Ocorre como horizonte adjacente aos maciços classe III/V (pacote indivisível

entre ambas classes), ao redor de pontões rochosos e como horizontes métricos

controlados pela foliação no interior de maciços classes III e IV. No pacote de quartzito

ocorre em níveis mais rasos.

ClASSE IV

Horizontes controlados pela foliação ocorrem em toda a região das Trinca 1 e 2

com maior ou menor extensão, em especial, há um horizonte bem definido na base da

Trinca 1 que coincide com a litologia de quartzito ferruginoso e tem grande extensão

conforme mostrado na Figura 4.1. Alguns pontões ocorrem isolados em toda a região

mapeada e também como zonas transicionais nas bordas de maciços III e II.

ClASSE III

Ocorre freqüentemente associado à classe V como pacotes sem grandes

extensões e algumas vezes como núcleos ovalados. Define alguns horizontes

controlados pela foliação em toda a área mapeada. Pode ocorrer como pontões

associados à classe II e, mais freqüentemente, ocorre em níveis mais profundos.

63

II IV

V

V

II

IIIII

V

III

IIIII

II

IV

III

III

V/III

V/III

IV

V

IV

V

V

IV

V

IV

III

V

IV

V

V/III

V

II

V

V

II

IV

V/III

IV

V

V/III

IV

IV

III

V/III

V

V

III

V

IV

II

V

V

V

V

IV

V

V

III

V/III

IV

IIIII

II

V

V/III

IV

IV

VV/IIIIV

V

IV

IV

V/IIIV/III

V

LIMITE PILHA DE ESTÉRIL COM O TALUDE DE ESCAVAÇÃODA CAVA

1038

1030

1043

1013

1002

1038

1015

1007

928

929

1008

984

1008

967

1004

980

999

929

928

929

940

984

954

948

940

938

944

934

938

936932

93 2

93 0

E-36

E-36

2.834.000

2.833.800 370.

800

E-28-5

E-30-6

E-34-8

371.

000

E-32-7 -9

2.834.400

2.834.200

E-28-5

E-30-6 -8

E-34E-32-7 -9

371.

200

E-38-10

E-40-11

371.

400

E-42-12

E-44-13

371.

800

371.

600

E-46-14

E-48-15

2.833.800 372.

000

2.834.000

E-38-10

E-40-11

E-42-12

E-44-13

2.834.200

E-46-14 -15

E-48

2.834.400

S-5

S-2

S-2S-3 S-1

S-5

990,6

Seco

B=

D

30/03/88

S=87mNA=8m

03/11/85

10/09/91

NA=21m

986,0

Out./ 96

SP-09(987,03)

NA=5m

938,0

Out./ 96

NA=4m

947,0

Out./ 96

Out./ 96

NA=0

953,0

NA=7mOut./ 96

966,0

PCA-288

PCA-204

PCA-350

PCA-115

PCA-107 CA-109CA-186

PCA-201

CA-187

PCA-106

PCA-108

PCA-116

PCA-134

PCA-270

PCA-272

PCA-131

TRINCA 1

PCA-274

PCA-346

PCA-285 PCA-133

PCA-300

PCA-287

PCA-301

PCA-349

CA-129

CA-139

PCA-347

PCA-290

PCA-291

PCA-299

PCA-282

PCA-278 PCA-289

PCA-286

PCA-343

PCA-304

CA-141

PCA-338 PCA-339

PCA-308

SM-07

PCA-306

PCA-307

PCA-316

PCA-309

Poço Rebaixamento

PCA-348

SR-02

SM-05

SM-06

TRINCA 2SM-04

SM-03

Poço Rebaixamento71

70

PCA-303

PCA-312

ESTÉRILPILHA DE

PILHA DE ESTÉRIL

PILHA DE ESTÉRIL

XG

QX/XT

3545

56 45

73 73

51

70

56

50

40

56

45

45

48

48

7073

5147

53

59

4362

58

5343 43

46

50

40

63

64

5570

76

45

4567

70

50

4256

5680

70

68

43

8486

46

5363

57

98

6088

80

4947

62

85

77

28

53 45

6450

76 85

5876

54

60

77

7543 80

878070 68 60

64

3560

8 5

63 80

65868080 73

4 2

72

75

40

50

72

55

5 8

7048

LIMITE PILHA DE ESTÉRIL COM OTALUDE DE ESCAVAÇÃODA CAVA

NV

63

Classe III

Classe II

Classe IV

Classe V/III

Classe V

CLASSE DE MAÇICO

PCA-30285 74

63

T-1

T-2T-3

T-2

43

MAPA GEOMECÂNICO

TALUDE NORTE - CAUÊ

V DRC

ESCALA GRAFICA 0 50 m

E-36T-3

Mapa base: Geoestrutural (1998) - Modificado

SEÇÕES GEOLÓGICAS AUXILIARES

CA-129

PCA-289

80

S-2,S-5,T-2, E-36 e T-3

SEÇÕES GEOMECÂNICAS

FURO DE PESQUISA GEOLÓGICA

FURO GEOTÉCNICO

E-28 a E-48 :

CONTATO GEOLÓGICO

SURGÊNCIA DE ÁGUA

FOLIAÇÃO

LEGENDA

Figura 4.1 – Mapa geomecânico na região da trinca 1 na aba norte da mina do Cauê.

64

ClASSE II

Ocorre freqüentemente como pontões em superfície, exceto na porção sudeste da

área mapeada, próximo ao talude contínuo onde é mais freqüente. Ocorre em níveis

profundos do Grupo Nova Lima.

O mapa geomecânico foi realizado com a finalidade de se explicitar a situação

geotécnica na região das trincas 1 e 2. Neste trabalho as descrições focaram

essencialmente a trinca 1.

A Trinca 1 está encaixada a norte e a sul em materiais de classe de maciço IV,

sendo que, a sul, este tipo de maciço está distribuído em toda a extensão da trinca.

Internamente ocorrem núcleos de maciço V/III indiferenciados devido às características

dúbias entre estas classes. A sudeste, há o predomínio da classe II que ocorre por toda

região leste da trinca indo além dos limites mapeados. Na região oeste da trinca 1,

ocorrem várias classes mais resistentes sempre dispostas no sentido EW. A classe V

ocorre em toda a região mapeada e predomina nos limites internos da trinca 1.

4.2 - MODELOS DE RUPTURA EM TALUDES

Há uma série de mecanismos de ruptura descritos na literatura, sendo os mais

conhecidos as rupturas circulares, plano-circulares, planares, ruptura em cunha,

tombamentos e flambagem. Não existem descrições relacionadas a rupturas oblíquas e

condicionadas por zonas de falha transcorrente, desta forma, este tipo de ruptura é

incomum e até, de certa forma, inédita.

Segue uma descrição simplificada dos mecanismos clássicos de ruptura com foco

na área mineral, para efeito de conceituação, mas sem discorrer na formulação

matemática.

65

RUPTURA PLANAR

O escorregamento planar envolve deslocamentos de massa ao longo da direção

de planos de deslizamento que ocorrem praticamente paralelos à direção da face do

talude em superfícies favoráveis tais como planos da foliação, acamamento, falhas,

juntas, etc (Figura 4.2b).

Para que este deslizamento ocorra, as estruturas devem ser aflorantes e

inclinadas na direção da face livre do talude a um ângulo superior ao ângulo de atrito

interno e a um ângulo menor que o da inclinação da superfície livre do talude (Fiori &

Carmignani, 2001). Nas minas da CVRD, em decorrência da geometria operacional dos

bancos e bermas individuais, o talude geral da cava praticada forma um ângulo menor

do que a inclinação da foliação. Assim, este mecanismo não mobiliza o talude geral,

ficando restrito à escala individual de bancada.

Ondulações locais da foliação poderão gerar mecanismos conjugados de cunha e

planar, mesmo para taludes com inclinação inferior ao pólo máximo.

Este tipo de mecanismo poderá mobilizar todas as classes de maciço sendo mais

usuais nas classes II a IV. Nas classes V e VI, as características de baixa resistência dos

litotipos poderão sobrepujar o mecanismo planar, condicionando rupturas do tipo

plano–circular e circular.

No mecanismo de ruptura planar, ocorre a mobilização da resistência ao longo

do plano de foliação dos litotipos e classes de maciço presente. Hoek & Bray (1981)

assumem que, para a análise deste método, as forças geradas pelo peso do bloco

deslizante, pela distribuição de pressão hidráulica na fenda de tração e pela sub-pressão

de água na superfície de escorregamento atuam diretamente no centróide do bloco de

rocha deslizante, não mobilizando momentos. Embora isto acarrete erros quando da

análise de taludes reais, estes podem ser ignorados em termos práticos.

66

Figura 4.2 – Principais tipos de deslizamento com os respectivos estereogramas representativos (Fiori & Carmignani, 2001).

67

RUPTURA PLANO-CIRCULAR

Neste mecanismo, o início da ruptura e parte de seu plano estão inseridos ao

longo da foliação e a saída da mesma ocorre na face ou no pé do talude cortando de

forma oblíqua a estruturação geral do maciço imposta pela foliação.

No trecho plano da ruptura, onde a superfície tem seu início, ocorre a

mobilização da resistência ao longo da foliação. No trecho circular, onde a superfície de

ruptura sai na face do talude, ocorre a mobilização da resistência dos litotipos na

condição oblíqua à foliação. Este mecanismo poderá mobilizar todas as classes de

maciço e litotipos, mesmo os de classe V e VI.

É muito comum a ocorrência deste tipo de ruptura nas minas da CVRD e com

dimensões variadas.

RUPTURA CIRCULAR

A ruptura circular ocorre quando o maciço é muito fraturado ou fortemente

intemperizado e o escorregamento é definido por superfícies múltiplas de diversas

descontinuidades tendendo a uma forma circular. Assim, a condição principal para a

ocorrência deste modo de ruptura, é a existência de várias descontinuidades, com os

mais diversos vetores-mergulho (Figura 4.2a).

Nas minas do Quadrilátero Ferrífero, o mecanismo de ruptura circular mobiliza

freqüentemente maciços de classe V nos taludes. Nessa situação, devido ao elevado

estado de intemperismo, a anisotropia gerada pela foliação poderá ser sobrepujada pela

baixa resistência da classe de maciço dos litotipos presentes.

Este mecanismo afeta os taludes desde a escala de bancadas até os taludes globais

em praticamente todas as cavas.

A ruptura circular é analisada pelos mesmos métodos de equilíbrio-limite

convencionais utilizados para rupturas em solos. Vale observar que, para maciços

rochosos fraturados, a envoltória de resistência pode ser não-circular e, neste caso, os

parâmetros de resistência não são constantes, mas dependentes do estado de tensões

atuantes.

68

Estão disponíveis para uso vários programas computacionais de equilíbrio limite

para cálculos de FS (Fatores de Segurança) em taludes de solo empregando diferentes

métodos (Bishop Simplificado, Janbu Simplificado, Spencer, Morgenstern-Price,

Sarma, etc).

RUPTURA EM CUNHA

Esta ruptura se estabelece quando dois planos de falhas/fraturas se interceptam

segundo um deslizamento translacional (Figura 4.2c). Segundo Fiori & Carminignani

(2001), as forças mobilizantes e resistentes que atuam nos escorregamentos em cunha

requerem análises mais complexas que aquelas envolvidas nos escorregamentos

planares. Se os planos apresentam inclinações muito diferentes, a força normal que atua

em cada um não será igual. Além disso, os planos podem apresentar diferentes graus de

resistência ao escorregamento. A presença de água pode levar à instabilização da cunha

pela ação de pressões surgidas ao longo dos planos envolvidos no deslizamento.

Por outro lado, as superfícies de deslizamento deverão se interceptar e a linha de

interseção deverá aflorar na vertente (face do talude). O caimento da linha de interseção

deverá ser maior que o ângulo de atrito dos planos. Algumas regras foram estabelecidas

como condicionantes geométricas e determinadas por Markland (1972) e Hocking

(1976), expostas a seguir:

(i) Regra de Markland - haverá escorregamento ao longo da linha de interseção se sua

inclinação (plunge) for menor que o ângulo de inclinação aparente da face do talude.

Esta regra garante que o escorregamento dar-se-á ao longo da linha de intersecção da

cunha formada, mobilizando a resistência ao cisalhamento dos dois planos das

respectivas descontinuidades

(ii) Regra de Hocking - se a direção de qualquer uma das descontinuidades estiver entre

as direções do talude e da linha de interseção, o escorregamento irá ocorrer ao longo

desta descontinuidade e não ao longo da linha de interseção; se a Regra de Hocking não

for satisfeita, existirá a formação geométrica de uma cunha, mas o escorregamento dar-

se-á ao longo do plano mais abatido, conseqüentemente mobilizando somente a sua

resistência ao cisalhamento.

69

Este tipo de ruptura ocorre mais freqüentemente nos maciços abaixo da classe IV,

inclusive.

RUPTURA POR TOMBAMENTO (TOPPLING)

Este tipo de ruptura envolve um mecanismo diferenciado no tocante a

movimentação de massas rochosas, pois não está ligado a escorregamentos. Ocorre

quando a direção da face do talude e a direção da descontinuidade são paralelas e o

mergulho da descontinuidade é contrário ao mergulho da face do talude (Figura 4.2d).

Há um tombamento que envolve a rotação de colunas ou blocos de rocha sobre um

ponto fixo.

Markland (1972) estabeleceu que as condições mais favoráveis aparecem

quando duas famílias de juntas se entrecruzam, uma delas mergulhando com alto ângulo

contra a face livre do talude e outra mergulhando no mesmo sentido do talude, porém

com baixo ângulo.

Por vezes, na abertura de cavas, quando litologias apresentam baixas resistências

e são muito deformáveis pode ocorrer um mecanismo de ruptura por desarticulação

progressiva de blocos gerando tombamento e mobilizando o maciço. Dependendo da

magnitude da desarticulação gerada pelo tombamento, pode-se desancadear uma ruptura

final brusca e do tipo circular, mobilizando uma superfície rotacional.

Este tipo de ruptura ocorre em várias classes de maciços e tem-se exemplos nas

minas nas classes III, IV e V.

FLAMBAGEM

Este modo de ruptura ocorre, principalmente, em taludes com alturas elevadas,

pois as camadas delimitadas pelas descontinuidades trabalham como colunas e podem

flambar devido ao peso próprio. Outra situação é devido a um carregamento sobre a

crista não suportável pela coluna. O desconfinamento lateral é devido a

descontinuidades sem resistência ao deslizamento.

Este tipo de ruptura é mais freqüente nas classes II e III em taludes altos.

70

RUPTURA OBLÍQUA

Este tipo de ruptura não é descrito na literatura técnica, seja pela sua ocorrência

restrita, ou por ser de difícil determinação. Mangolim Filho (1996) caracterizou a

ruptura como sendo oblíqua à direção geral dos taludes e controlada por falhas situadas

em seus limites norte e sul e colocou que a mesma está encaixada ao longo da foliação.

As bordas apresentam maciços resistentes e a obliqüidade refere-se à maneira como a

ruptura intercepta o talude.

Na evolução da ruptura oblíqua, Stacey (2002) caracterizou que as feições

indicavam um movimento de toppling baseado em determinações de campo como

abatimentos de fundo e movimentos frontais da massa no sentido do centro da mina.

A figura 4.3 ilustra o mecanismo de ruptura oblíqua com a face frontal livre para

efeito de exemplificação.

Zona transcorrente (foliação verticalizada)

Ruptura oblíqua ao taludecom controle pela foliação

transcorrente e posterior tombamento do bloco

Massarompida

Foliação regional

.

Figura 4.3 – Desenho esquemático exemplificando uma ruptura oblíqua ao talude.

71

4.3 – ANÁLISE DAS SEÇÕES GEOTÉCNICAS

DISCUSSÃO DOS PARÂMETROS

Os parâmetros usados foram aqueles estabelecidos pela CVRD na época em que

este projeto foi realizado (Tabela 4.1). Não será discutida a interpretação dos resultados.

Atualmente, existe uma série de novos ensaios desenvolvidos em trabalhos

subseqüentes nas minas de Itabira e até do Quadrilátero Ferrífero, mas que não serão

apresentados por não fazerem parte do escopo deste trabalho.

Pode-se afirmar, contudo, que os parâmetros são um ponto nefrálgico nas

análises, pois são coletados sempre pontualmente e não representam a totalidade do

pacote rochoso tanto litologicamente como em relação às classes do maciço. Desta

forma, o cuidado na coleta da amostra e na interpretação faz a diferença entre os

trabalhos de baixa e de alta qualidade.

Na montagem das seções geomecânicas, foram considerados os diferentes

litotipos associados às classes de maciço (Tabela 4.6). Buscou-se nas seções

geomecânicas ressaltar visualmente as litologias, contudo respeitando-se as classes de

maciço que, para a análise dos FS, são as de maior importância.

Tabela 4.6. Parâmetros usados nas seções geomecânicas com legenda de cores para as litologias e classes de maciço. As cores foram padronizadas para todas as seções de análise (Figuras 4.4, 4.5, 4.6, 4.7 e 4.8).

FF QF Mch B Gn XT,QX,AX,CX,XG,XMδ (KN/m3) 35 28 20 20 19 20C (Kpa) 40 30 20 35 15 30φ (o) 36 30 28 26 25 25δ (KN/m3) (-) 28 (-) (-) (-) 20C (Kpa) (-) 90 (-) (-) (-) 120φ (o) (-) 30 (-) (-) (-) 28δ (KN/m3) (-) (-) (-) 25 25 25C (Kpa) (-) (-) (-) 300 300 300φ (o) (-) (-) (-) 40 40 40δ (KN/m3) (-) (-) (-) 27 27 27C (Kpa) (-) (-) (-) 380 380 380φ (o) (-) (-) (-) 45 45 45

PARAMETROS GEOTÉCNICOS COM LEGENDA DE CORES DAS SEÇÕES GEOMECÂNICAS

V (V/III)

IV

III

LITOTIPOS CLASSES DE MACIÇO

II

72

DISCUSSÃO DAS SEÇÕES GEOTÉCNICAS

Trabalhou-se com 5 seções especiais que interceptam a Trinca 1 em várias

posições conforme pode ser visto na figura 4.1. As seções são S2, S5, E36, T2 e T3.

O programa usado para análise das seções foi o Geo-Slope Internacional Inc.,

versão 4.2. Em todas as seções apresentadas as cores foram padronizadas, sendo que os

tons mais fortes representam as classes de maciço mais resistentes e as cores mais

brandas as classes de maciço menos resistentes. Este padrão de cores está apresentado

na Tabela 4.6.

Alguns comentários são necessários para melhor entendimento da metodologia

usada na análise das seções. Não houve uma simulação dos níveis de água pelo fato de

se buscar uma visão da época em que o trabalho foi realizado e as condições daquele

momento não poderiam ser alteradas sob pena de não termos uma visão clara. Desta

forma, o nível de água usado nas seções é sempre o que foi estabelecido pela linha

representativa do NA (nível de água) na seção confeccionada. A única unidade

litológica com destaque por ser um aqüífero na análise das seções é o ‘metachert’ que

estabelece uma quebra na linha freática em todas as seções analisadas.

O Fator de Segurança (FS) mínimo usado pela CVRD em talude de mina é de

1,3. Ressalta-se que variações ao redor deste valor ocorrem tanto para baixo quanto para

cima e em qualquer situação são estabelecidas atividades para correções.

As seções geomecânicas foram realizadas buscando confirmar que, em

estruturas como a da Trinca 1, a ruptura não obedece aos métodos convencionais de

ruptura circular. As análises das seções geomecânicas foram feitas como um

contraponto buscando confirmar que os métodos convencionais de ruptura circular não

se aplicam.

Em todas as seções geomecânicas foram analisadas as seguintes situações:

- Menor Fator de Segurança (FS) da seção pelos métodos de Bishop e Janbu;

- Menor FS da seção no rompimento da Trinca 1 pelo método de

Morgenstern-Price;

- Menor FS da seção no rompimento da Trinca 1 pelo método de Bishop.

73

A tabela 4.7 apresenta os resultados consolidados das análises realizadas em

todas as seções .

Tabela 4.7 – Fatores de segurança (FS) obtidos nas seções analisadas.

Seção geomecânica

Número superfícies analisadas

Menor FS da seção (Bishop)

Menor FS da seção (Janbu)

Menor FS no local da ruptura da Trinca

1 - Método Morgenstern-Price

Menor FS no local da ruptura

da Trinca 1 (Bishop)

E 36 15129 1,282 1,211 2,072 2,170S2 15129 1,112 1,034 1,282 1,401S5 11664 1,444 1,383 2,769T2 15129 1,192 1,107 1,291 1,315T3 15129 1,405 1,307 3,607

FATORES DE SEGURANÇA (FS) NAS SEÇÕES GEOMECÂNICAS ESTUDADAS

Pela análise dos dados, pode-se notar que os Fatores de Segurança (FS) são

bastante elevados, principalmente no local da ruptura da Trinca 1, para todas as seções

analisadas. Análises complementares foram realizadas por meio do método de

Morgenstern-Price, cujos valores de FS estão também indicados na Tabela 4.7.

A seção geomecânica E36 intercepta ortogonalmente a Trinca 1 na porção

intermediária e os valores de FS na região são tão elevados que não sinalizaram

processos de instabilização. Se a ruptura não fosse real não seria diagnosticada pela

referida seção (Tabela 4.7, Figura 4.4).

74

Gn

Gn

Gn

QF QF

FF BB

B

B

B

B B

B

B

XT/AT

QX/XT

FINAL DA RUPTURA

INÍCIO DA RUPTURA

o 2.170

E levação (x1000)

0.70 0.72 0.74 0.76 0.78 0.80 0.82 0.84 0.86 0.88 0.90 0.92 0.94 0.96 0.98 1.00 1.02 1.04 1.06 1.08 1.10

a

2.072

Início da ruptura

Final da ruptura

Gn Gn

BB

B

BB

B

B

BQF QF

FF

QX/XTXT/AX

XG

Elevação (x1000)

0.70 0.72 0.74 0.76 0.78 0.80 0.82 0.84 0.86 0.88 0.90 0.92 0.94 0.96 0.98 1.00 1.02 1.04 1.06 1.08 1.10

b

Figura 4.4. Seção geomecânica E36 : (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop; (b) análise pelo método de Morgenstern-Price.

A Seção S2 intercepta a Trinca 1 na porção oeste, em posição próxima ao início

da ruptura. Nas análises, os valores de FS mostraram valores elevados e não sinalizaram

locais instáveis (Tabela 4.7, Figura 4.5). Por outro lado, na análise da seção, o

75

´software´ buscou uma antiga ruptura no nível superior da trinca e o valor de FS nesta

seção ficou em torno de 1.1.

Inicio da ruptura

Final da ruptura

o 1.401

Elevação (x1000)

0.700.720.740.760.780.800.820.840.860.880.900.920.940.960.981.001.021.041.061.081.10

a

1.282

Final da ruptura

Início da

Gn

B

B

B

XT/AX

XT/QX

XG

XT/Mch

QFQF

Gn

Gn

ço

00

0.700.720.740.760.780.800.820.840.860.880.900.920.940.960.981.001.021.041.061.081.10

b

Figura 4.5. Seção geomecânica S2: (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop; (b) análise pelo método de Morgenstern-Price.

A seção geomecânica S5 foi realizada interceptando longitudinalmente a Trinca

1. Buscou-se com esta seção ter uma análise da instabilização no sentido do movimento.

76

O menor valor obtido para FS sequer ocorreu no local do início da ruptura. Desta forma,

e similarmente às seções anteriores, não seria possível detectar a instabilização através

das análises convencionais. A figura 4.6 mostra que o menor valor de FS não está

situado na região da Trinca 1, e sim, em porção inferior ao local do início da trinca, cujo

valor correspondente de FS foi de 2, 769.

1.444

Elevação (x1000)

0.80 0.82 0.84 0.86 0.88 0.90 0.92 0.94 0.96 0.98 1.00 1.02 1.04 1.06 1.08 1.10 1.12 1.14 1.16 1.18 1.20

Início da ruptura

Gn

XT/QX

Gn

BB

B

XT/QX

XT/QX

B

BB

Seção geomecânica S5 - Trinca 1 - Aba Norte - Mina Cauê (Método de Bishop)

o 2.769

Figura 4.6. Seção geomecânica S5 mostrando a ruptura no local de menor FS e na região do início da trinca com FS da ordem de 2,7.

A seção geomecânica T2 intercepta a Trinca 1 de maneira esconsa na mesma

região da interseção da E36, que é ortogonal a estrutura, buscando-se, com esta seção,

agregar conhecimento na região central da ruptura. Entretanto, o menor valor de FS

também não sinalizou a instabilização no local da ruptura. A tabela 4.7 e a figura 4.7

mostram os valores obtidos nos locais de menor FS. Por outro lado, na análise livre da

seção, o programa buscou fatores baixos em uma ruptura pretérita, sendo obtido FS da

ordem de 1.2.

77

Gn

Gn QF

B

B B

QF

FF

B

Início da

Final da ruptura

o

Elevação (x1000)

0.67 0.70 0.73 0.76 0.79 0.82 0.85 0.88 0.91 0.94 0.97 1.00 1.03 1.06 1.09 1.12

a

1.291

Gn

Gn QF

B

B B

QF

FF

B

Início da ruptura

Final da ruptura

Elevação (x1000)

0.67 0.71 0.75 0.79 0.83 0.87 0.91 0.95 0.99 1.03 1.07 b

Figura 4.7. Seção geomecânica T2: (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop; (b) análise pelo método de Morgenstern-Price.

Por fim, a seção geomecânica T3 não intercepta a Trinca 1, mas está situada a

leste da estrutura no sentido do movimento. Nesta seção observam-se as litologias

francamente na posição verticalizada, o que caracteriza a zona de transcorrência. O FS

78

na projeção da Trinca é extremamente elevado, com valor de 3.6, indicando

expressamente que o mecanismo de instabilização não poderia ser determinado. A

tabela 4.7 e a figura 4.8 mostram os menores valores obtidos de FS.

1.405

Elevação (x1000)

0.685 0.725 0.765 0.805 0.845 0.885 0.925 0.965 1.005 1.045 1.085

Projeção da trinca 1

Gn Gn

FF

B BB

B QF

QF

o 3.607

Figura 4.8 – Seção geomecânica T3: valores mínimos de FS.

4.4 - DISCUSSÃO DOS ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS

O modelo hidrogeológico do Distrito Mineiro de Itabira encontra-se detalhado

no relatório específico (MDGEO, 1999), baseado em estudos geológicos e

hidroquímicos realizados no Complexo Itabira. Apresenta-se a seguir apenas uma

síntese das principais unidades aqüíferas da área:

• Sistema Aquífero Itabira: abrange as rochas da formação Cauê e Gandarela, com

aquíferos homônimos. Possui área de recarga nas partes topograficamente mais altas,

incluindo as áreas onde estão localizado as minas e área de descarga natural em

surgências localizadas na face sul da estrutura. Hidroquimicamente, a água do aqüífero

Cauê possui baixa salinidade e é pouco mineralizada;

79

• Sistema Aquífero Piracicaba: correspondente aos quartzitos (aquífero quartzito)

e xistos (aquitardo xisto). Possui área de recarga nas partes topograficamente mais altas

e área de descarga natural em surgências localizadas na face sul da estrutura.

Hidroquimicamente, a água tem média salinidade, é mais mineralizada e apresenta

águas bicarbonatadas cálcio-magnesianas;

• Sistema Aquífero Nova Lima: subdivide-se em aquífero Metachert, com pouca

ocorrência na área, aquiclude e aquitardo em xisto alterado e zonas de aquífero

fraturado em xisto. Ocorre também aquífero em BIFs que é incipiente e de pequena

representatividade. Possui área de recarga por toda a extensão exposta da rocha quando

alterada e a área de descarga natural em pequenas nascentes nos fundos dos vales.

Hidroquimicamente, são aquíferos cuja água possui salinidade mais alta e mais

mineralizada.

• Sistema Aquífero cristalino: é subdividido em zonas aquíferas localizadas em

lineamentos de fraturas ou rocha sã fraturada e aquitardo no manto de intemperismo.

Possui área de recarga por toda a extensão exposta da rocha quando alterada e a área de

descarga natural em pequenas nascentes nos fundos dos vales e de voçorocas.

• Sistema Aquífero coluvionar: correspondente aos colúvios, depósitos de fluxo

de detrito e terraços fluviais e aluvionares. Possui área de recarga por toda a extensão

exposta dos colúvios e a área de descarga natural em pequenas nascentes nos fundos

dos vales. Atua principalmente como vetor de recarga para aquíferos sotopostos.

Mesmo tendo um estudo detalhado dos tipos de estruturas hidrogeológicas as

informações a respeito das condições do nível de água são limitadas. Nas análises, a

formação ferrífera foi considerada drenada devido às condições de rebaixamento que

ocorrem naquela unidade desenvolvidas para as necessidades de lavra. O aqüífero

Metachert foi sempre um ponto de quebra do nível de água. Em todas as seções que o

mesmo aparece, o NA (nível de água) sempre tem um reflexo. Quanto aos aquicludes e

aquitardos em xistos, o NA é sempre muito alto devido às baixas permeabilidades das

litologias que os compõem. Os quartzitos ficam em uma situação intermediária de

permeabilidade entre a formação ferrífera e o Metachert, como pode ser observado nas

seções analisadas.

80

4.5 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA TRINCA

Não há critérios que determinem de forma contundente como a trinca 1 iniciou o

movimento; contudo, algumas considerações podem ser estabelecidas. Na região da

trinca, como foi colocado no desenvolvimento do trabalho, há duas foliações

associadas. A S1 que é a foliação regional e a S2 que é uma foliação transcorrente que

intercepta a anterior. A interseção entre os planos principais destas duas foliações dá

uma linha de interseção em 85/25o (Figura 4.9), que está muito próxima à direção inicial

do movimento que era EW. Salienta-se que estes planos de foliação são de natureza

dúctil mas que, em algumas áreas, podem ser rúpteis e neste caso abrem o maciço para a

ação do intemperismo e das águas de infiltração.

S2

S1

Lower hemisphere - AN-TrascN=101 K=100.00 Sigma=1.000 Peak=29.61

3.0 %

5.9 %

8.9 %

11.9 %

14.9 %

17.8 %

20.8 %

23.8 %

26.7 %

Lower hemisphere - AN 2 - INTER SEÇÃON=3

Lower hem isphere - AN-S1 N=42 K=100.00 Sigma=1.000 Peak=20.69

7.1 %

14.3 %

21.4 %

28.6 %

35.7 %

42.9 %

S2S1 S1 x S2

CONFORMAÇÃO DOS TALUDES OPERACIONAIS NA REGIÃO DA TRINCA 1

ESTEREOGRAMAS DAS FOLIAÇÕES NA REGIÃO DA ZONA TRANSCORRENTE S1(42 medidas)/ S2 (101 medidas).

A REPRESENTAÇÃO É DOS PÓLOS E OS MÁXIMOS SÃO: S1=45/50; S2 =170/80; INTERSEÇÃO S2 x S1 = 85/25;

FACE DO BANCO = N60E/45 (=150/45).

26 45

Figura 4.9 – Conformação dos taludes na região da trinca 1 com representação do traço das foliações que ocorrem na área.

81

Mangolim Filho (1996) descreveu que a trinca estava controlada por falhas em

seus limites norte e sul. A direção destas falhas é exatamente segundo a direção do

plano da foliação transcorrente S2 que é 170/80o.

Desta forma, avalia-se que havia planos de fraqueza no maciço estabelecidos

pelo desenvolvimento da interseção de ambas as foliações. No desenvolvimento do

processo, um fator preponderante para a manutenção da direção do movimento EW foi a

ocorrência de uma classe de maciço mais resistente em toda borda sul da trinca 1. Neste

contato sul, o pacote de quartzito, classe IV, serviu como contra-forte ao movimento até

1996 que era basicamente EW (sentido de oeste para leste).

Mangolim Filho (1996) descreveu ainda que o limite inferior da ruptura da trinca

1 estava controlado pelo contato com a rocha intemperizada e a sã. Esta situação foi

colocada pelo fato de vários piezômetros terem sido seccionados no referido contato. A

seção S5 realizada transversalmente à trinca (Figura 4.6) mostra que, na base da ruptura,

ocorre um xisto classe IV, que é mais resistente que os xistos classe V da superfície.

Por outro lado, pela condicionante hidrogeológica das unidades rochosas que são

aquitardos e aquicludes, o nível de água (NA) sempre foi elevado na região e, conforme

mencionado no capítulo 3, os DHPs (drenos horizontais profundos) não conseguiram

efetuar uma adequada despressurização do maciço nesta região. A água foi fator

preponderante no desenvolvimento do movimento. Desde o início da instabilização, o

movimento da massa nas estações secas sempre foram menores que nas estações

chuvosas.

Pelo exposto, as condicionantes geológicas e hidrogeológicas foram

preponderantes para a deflagração do mecanismo de instabilização.

Do ponto de vista operacional, no período 1997/98, houve um retaludamento

parcial concebido para aliviar a carga sobre a zona mobilizada e para implantar o arrimo

estabilizante de quartzito ferruginoso. Adicionalmente, implantou-se uma campanha de

DHPs (drenos horizontais profundos) de forma a se despressurizar toda a área instável.

Em 2000 o movimento voltou a intensificar-se e observou-se que ambas a medidas não

tinham surtido o efeito esperado. O quartzito não apresentava as características de

resistência estimadas e os DHPs não conseguiram dissipar as pressões hidrostáticas. Em

2001 foram intensificados os drenos, pois não seria possível implantar um novo

82

retaludamento. Nesta época, houve uma expansão do sistema de trincas e o

monitoramento passou a ser o principal item de controle. Os níveis de alerta

estabelecidos desde 1996 haviam sido atingidos e a lavra foi interrompida.

A instabilidade estava condicionada por um bloco ativo que impunha um

empuxo ao arrimo de quartzito que atuava como bloco passivo. Nesta situação, a

ruptura poderia mobilizar somente o arrimo de quartzito ou migrar para baixo

mobilizando a formação ferrífera.

A ruptura mobilizou o arrimo de quartzito que foi sendo constantemente

recalcado e Stacey (2002) caracterizou que o movimento apresentava feições de campo,

como abatimentos de fundo (‘grabens’) e de face que mostravam movimento tipo

‘toppling’. Ressalta-se que o movimento tipo ‘toppling’ estaria condicionado ao

recalque do arrimo de quartzito e que a massa rompida não apresenta as características

típicas deste tipo de ruptuta. A figura 4.9 mostra que ambas as foliações mergulham no

mesmo sentido e para dentro da cava.

4.6 – DISPOSIÇÃO DE REJEITO NA CAVA

A equipe de geotecnia da CVRD conduziu dois projetos para reaproveitamento

da cava do Cauê após a exaustão da lavra. O primeiro projeto foi desenvolvido visando

o uso da cava, em sua parte leste, para a disposição de rejeito e reutilização da água de

forma compartilhada (GEOCONSULTORIA, 2002). O segundo projeto visava o uso

oeste da cava para a disposição de estéril (ECAD, 2000). Ambos os projetos foram

detalhados e estão em desenvolvimento.

No que tange a interferência com a trinca 1, de forma direta, é a disposição de

rejeitos que eleva o NA (nível de água) no interior da cava e que pode intensificar a

instabilização da ruptura. Sob este aspecto foi desenvolvido um trabalho interno

conduzido por Pohl (2002) que avaliou os taludes da cava com uma abordagem

específica na região da trinca 1.

83

1.143

Trinca Existente

FFQF

XTII

XT VI

600

700

800

900

1.203

Trinca Existente

RejeitoFF

QF

XT VI

XTII

XT VI

600

700

800

900

2.272

Trinca Existente

Rejeito

FF

QF

XT VI

XTII

XT VI

600

700

800

900

5.284

Trinca Existente

Rejeito

FF

QF

XT VI

XTII

XT VI

600

700

800

900

14.574

Trinca Existente

Rejeito

FF

QF

XT VI

XTII

XT VI

600

700

800

900

Figura 4.10 – Análises de estabilidade realizadas por Pohl (2002) considerando a elevação do rejeito na cava do Cauê de acordo com o projeto da GEOCONSULTORIA (2002).

Pohl (2002) desenvolveu o trabalho na região da trinca 1 fazendo uma

retroanálise e balizou os parâmetros geomecânicos através deste trabalho. A partir daí

84

fez simulações com o preenchimento do lago conforme pode ser observado na figura

4.8.

De maneira resumida, o aspecto mais importante é que com o preenchimento do

lago e a disposição de rejeitos no pé da ruptura há um favorecimento na estabilidade

devido a formação de um arrimo. Há uma elevação acentuada nos FS conforme o lago

vai sendo elevado e conseqüentemente o nível dos rejeitos.

4.7 – EXPERIÊNCIAS E DIRETRIZES PARA RUPTURAS OBLÍQUAS

SEMELHANTES Á TRINCA 1

As experiências e o aprendizado acumulado com a instabilização da trinca 1 são

inúmeras. Não foi estabelecido um modelo de diretrizes a partir desta instabilização,

mesmo porque existem outros tipos de rupturas que ocorrem em taludes de mina e

padrões de conduta estabelecidos. Contudo, seguem alguns critérios técnicos e

operacionais para condução dos trabalhos em condições semelhantes:

- mapeamento geológico com forte enfoque em geologia estrutural. No

Quadrilátero Ferrífero é comum a ocorrência de falhas transcorrentes com

dimensões variadas e em todas as cavas este tipo de estrutura tem que estar

devidamente caracterizada e detalhada;

- o mapeamento geológico com enfoque nos aspectos litológicos deve estar

suficiente detalhado para responder aos problemas que ocorrem nos taludes

tanto internamente (rupturas globais) quanto externamente (rupturas de

face). Por outro lado, não devem ser tão detalhados a ponto de identificarem

litotipos que tem características geotécnicas comuns e que não agreguem

informações substanciais;

- os modelos geomecânicos tem que estar em consonância com as

particularidades geológicas observadas em campo. Desta forma, a

classificação de Bieniawski (1976, 1989) vem sendo ajustada para rochas

fortemente intemperizadas, contudo devemos ter clarividência quanto aos

ajustes para não deformarmos o modelo citado que é padrão, e perdermos o

poder de comparação;

85

- o modelo geomecânico tem que ter um ‘check’ de confiabilidade através de

análises práticas de campo e não teóricas;

- os controles das movimentações nos taludes tem que ser intensificados em

todos os setores considerados instáveis. Nos setores estáveis as inspeções

periódicas devem ser conduzidas dentro de padrões estipulados e com

freqüência estabelecida;

- quando a instabilização se instala, a implementação complementar dos

prismas tem que ser imediatamente intensificada e todas as informações

monitoradas em períodos a ser estipulado de acordo com a evolução da

instabilização. Como exemplo, a trinca 1, nos momentos iniciais, teve

monitoramento mensal, semanal, diário e nos momentos críticos leituras de 4

em 4 horas;

- a pluviometria tem que ser monitorada, no mínimo, diariamente e, se

possível, automatizada respondendo todas as precipitações horárias ocorridas

no dia;

- gráficos de deslocamento dos prismas, deslocamento x precipitação e

deslocamento x precipitação x tempo devem ser confeccionados

freqüentemente para fundamentarem as decisões de continuidade da lavra;

- equipe com geotécnicos com experiência e consultores nacionais ou

internacionais devem estar envolvidos para a tomada de decisão, pois

acidentes podem ser pessoais e impessoais de grandes dimensões e

conseqüências;

- a operacionalização de DHPs (drenos horizontais profundos) deve ser

enormemente melhorada pelas empresas prestadoras de serviços, pois este

tipo de atividade não respondeu as necessidades de despressurização. A

trinca 1 poderia ter tido outro final se a implantação dos DHPs tivesse

correspondido as necessidades colocadas em projeto;

- estudos hidrogeológicos devem ser bons e realizados por técnicos

experientes, já que são de suma importância e o mercado é carente de

hidrogeólogos com experiência nesta área;

86

- o monitoramento do NA (nível de água) tem que ser primoroso e todos os

esforços devem ser conduzidos para que este trabalho seja mantido no local

da instabilização;

- a operacionalização do retaludamento, quando ocorrer, nas áreas instáveis,

deve ter um critério técnico mais rigoroso que a lavra em um talude

operacional qualquer. O respeito à largura das bermas, altura dos bancos e

ângulos de face tem que ser rigoroso sob pena da instabilização ser

intensificada. A operação de mina tem que ter um fiscal de campo na

implantação do retaludamento;

- pelo fato da ruptura ter iniciado obliquamente ao talude os programas

convencionais de mercado não responderam a este tipo de ruptura e não

ajudaram a estabelecer os FS usualmente aceitos em taludes de minas. Desta

maneira, os itens acima colocados, em conjunto, é que estabeleceram os

critérios de decisão para a continuidade da lavra;

87

4.8 - RESUMO DO CAPÍTULO

Neste capítulo abordou-se os aspectos teóricos e os de campo relacionados ao

modelo geomecânico. Apresentou-se um resumo da caracterização geotécnica através

da discussão do grau de intemperismo (Tabela 4.1), grau de resistência/coerência

(Tabela 4.2), espaçamento do fraturamento (Tabela 4.3), condições das fraturas, RQD e

classificação do maciço (Tabelas 4.4 e 4.5).

Realizou-se uma descrição detalhada das classes de maciço com a apresentação

do mapa geomecânico da Trinca 1 (Figura 4.1) e adicionalmente realizou-se uma

discussão sobre os modelos de ruptura em taludes (Figuras 4.2) e uma caracterização

da ruptura oblíqua da trinca 1 (Figura 4.3)

Após, discorreu-se com uma análise das seções geotécnicas e uma discussão

sobre os parâmetros usados, que estão resumidos na tabela 4.1. As seções analisadas

foram a S2 (Figura 4.5), S5 (Figura 4.6), E36 (Figura 4.4), T2 (Figura 4.7) e T3 (Figura

4.8). Em todas as seções houve uma primeira análise livre da seção buscando o menor

FS e uma análise no local da ruptura. Os dados consolidados estão na tabela 4.2.

Como complemento, foi realizada uma descrição simplificada dos sistemas

hidrogeológicos que ocorrem na mina do Cauê e em que aspecto os mesmos podem

influenciar as análises geotécnicas. Posteriormente foram feitas algumas considerações

sobre o desenvolvimento da trinca 1 e algumas idéias sobre o início do movimento

foram levantadas.

Avaliou-se, resumidamente, a influência da disposição de rejeitos na cava

caracterizando que a elevação do lago estabelece uma disposição que favorece a

elevação dos fatores de estabilidade da ruptura, pois os rejeitos servem com arrimo no

pé da ruptura.

Por fim, estabeleceram-se algumas considerações a respeito da experiência

adquirida pela equipe em rupturas oblíquas e mesmo em situações de rupturas

convencionas.

88

CAPÍTULO 5

CONCLUSÕES ______________________________________________________________________

As conclusões acerca da ruptura que ocorre na região norte da mina do Cauê,

denominada Trinca 1, estão embasadas em dados históricos, geológicos, geotécnicos e

em alguns aspectos hidrogeológicos. Desta forma as conclusões e os procedimentos

adotados foram colocadas dentro dos assuntos correspondentes.

As principais conclusões acerca da Trinca 1 geradas pelas informações

históricas são:

A ruptura iniciou-se com o desenvolvimento da lavra na região norte da mina do

Cauê em local conhecido como Aba Norte, em 1991. Nesta época, as atividades

geológico geotécnicas foram iniciadas, mas no período 1995/96, os problemas se

acentuaram por toda a região;

O movimento da ruptura foi diagnosticado com a instalação de prismas no

interior da massa rompida. O movimento desenvolveu-se em dois sentidos; na

direção EW (de oeste para leste) e na direção de azimute 150 graus (de noroeste

para sudeste). As informações relativas ao movimento EW são de relatórios e as

na direção de 150 são mostradas através das informações em planilhas. No

primeiro momento, o deslocamento no sentido EW é que definiu os limites da

ruptura e, posteriormente, o movimento de azimute 150 predominou e a massa

manteve um caminhamento para o interior da mina;

As informações consolidadas sobre o movimento da massa rompida referem-se,

basicamente, ao período pós-2000. Alguns prismas tiveram medições

continuadas até o ano de 2003, portanto, por um período elevado. Houve

deslocamentos ao redor de 15 metros nas direções leste, oeste e na cota;

Uma série de medidas técnicas e algumas de cunho de segurança operacional

foram tomadas no sentido de garantir a continuidade da lavra na região norte do

Cauê. Estas medidas técnico-operativas referiam-se a possibilidades de controle

89

quanto a uma ruptura brusca e as conseqüências do movimento da massa para o

fundo da cava.

As principais conclusões acerca da Trinca 1 geradas pelos dados geológicos

são:

A Trinca 1 ocorre no contato entre o Supergrupo Minas e o Rio das Velhas, mais

especificamente, entre o Grupo Itabira e Nova Lima;

As litologias do Grupo Nova Lima que afloram no local de estudo são bastante

intemperizadas e identificadas, de forma geral, como xistos indiferenciados,

clorita xistos, xistos grafitosos, anfibólio xistos, anfibolitos, quartzitos,

metabásicas, metachert, xistos interdigitados com metacherts. O Grupo Itabira é

representado pela formação ferrífera predominando os itabiritos e corpos de

hematita. Duas litologias são de difícil posicionamento, os gnaisses e o quartzito

ferruginoso;

Os estereogramas na mina do Cauê mostram que, caminhando de sul para norte,

há uma mudança na orientação da foliação. Na região sul (sudeste e sudoeste), a

foliação tem direção NE, com mergulhos em torno de 45 graus e, na região norte

(local da trinca 1), a foliação tem direção EW com mergulhos subverticais.

Nesta região, foi identificada uma zona de falha caracterizada como

transcorrente. Internamente à zona transcorrente, a lineção está horizontalizada a

sub horizontalizada;

A falha transcorrente que ocorre na região da trinca 1 foi desenvolvida por

esforços direcionais que cisalharam as rochas preexistentes com direção NE e as

reorientou dentro de uma faixa (zona de cisalhamento) com direção EW;

A ruptura está delimitada por falhas em seus limites laterais e inserida em uma

zona transcorrente condicionada por um forte controle estrutural.

As principais conclusões acerca da Trinca 1 geradas pelas informações

geotécnicas são:

O modelo geomecânico executado na região da ruptura foi realizado a partir da

instabilização buscando alcançar dois objetivos básicos que foram compreender

90

os aspectos geotécnicos que condicionavam a instabilização e garantir que a

lavra fosse continuada até a exaustão da hematita;

Os aspectos geotécnicos que condicionaram a ruptura foram atendidos;

A garantia da lavra de hematita foi atendida em aproximadamente 80%, sendo

que uma pequena parte da reserva foi mantida no talude devido a evolução

acentuada da massa rompida;

O modelo geomecânico usou como referência a classificação de Bieniawski

(1976); para tal, elaborou-se um mapeamento geomecânico em toda a extensão

instável com a classificação dos tipos de maciço e ao longo de 22 seções

geomecânicas interceptando toda a zona instável;

No desenvolvimento deste trabalho, apenas 5 seções representativas foram

apresentadas com discussões pormenorizadas;

Os parâmetros para análise foram extraídos do modelo geomecânico e não foram

realizados novos ensaios; consideraram-se as informações daquele momento

como a base para as análises;

As 5 seções consideradas representativas (E36, S2, S5, T2, T3) foram montadas

e analisadas no Geo-Slope Internacional Inc., versão 4.2. As análises foram

realizadas em duas etapas, a primeira sem estabelecer nenhuma condição e a

segunda forçando a análise pelo métodos de Morgenstern-Price e de

Bishop/Janbu no local da trinca 1;

Os resultados confirmaram que os métodos clássicos de análise para ruptura

circular não se aplicavam para aquele tipo de ruptura estudado, conforme

anteriormente colocado pela equipe de geotecnia da CVRD e descrito neste

trabalho;

Mesmo tendo clareza da particularidade do movimento, o desconhecimento

inicial sobre a classificação da ruptura impôs a realização de análises

convencionais para buscar respostas e até locais onde rupturas circulares

pudessem ocorrer;

As informações hidrogeológicos são limitadas e as considerações foram de que,

na formação ferrífera, o nível de água (NA) estava deplecionado e nos xistos

elevado. A pressão de água nos xistos foi um fator preponderante no

desenvolvimento da ruptura;

91

Não foi possível caracterizar o gatilho da ruptura, mas o seu desenvolvimento

esteve relacionado a uma forte condicionante geológica que é a zona

transcorrente, incluindo a interseção de duas foliações e as pressões elevadas de

água no talude;

A situação que melhor explicou a instabilização, no primeiro momento, foi que a

ruptura foi condicionada por um bloco ativo, com recalques decamétricos. Este

bloco ativo impôs um empuxo no bloco passivo representado por um arrimo de

quartzito. Por outro lado, a ruptura não mobilizou a formação ferrífera, que é o

arrimo do próprio bloco de quartzito. Nesta situação, a ruptura poderia ser

catastrófica e mobilizaria o talude total. Como o arrimo de quartzito foi sendo

constantemente recalcado, o bloco ativo começou a tombar iniciando um

processo de “toppling”.

A melhor maneira para conter a instabilização seria fazendo uma recorrência na

massa rompida e uma extensa campanha de drenagem para despressurização. A

recorrência foi feita parcializada e os drenos realizados não conseguiram

despressurizar o talude completamente. Desta forma, o monitoramento foi

sempre o ponto chave nas tomadas de decisão sob o ponto de vista da segurança

operacional;

Rupturas deste tipo ocorrem em outras minas da CVRD e pelo conhecimento

atual da geologia do Quadrilátero Ferrífero, devem ocorrer em vários locais

dentro e fora das minas. Desta forma, a caracterização deste tipo de estrutura sob

o ponto de vista geotécnico é de grande interesse para efeito dos projetos de

estabilidade de taludes.

As recomendações sobre a condução de atividades em rupturas de grande

porte estão diluídas no texto. Contudo, algumas diretrizes podem ser resumidas

pela experiência adquirida:

Mapeamento geológico-estrutural é fundamental em qualquer cava no

Quadrilátero Ferrífero;

Os modelos geomecânicos tem que estar em consonância com as

particularidades geológicas observadas em campo, principalmente no tocante as

classes mais frágeis. Devem passar por ‘check’de campo;

92

As análises de FS com os programas convencionais de mercado não respondem

quando as rupturas são oblíquas ao talude, como a trinca 1. Desta forma, o uso

dos referidos programas servem somente para análise pontuais e não globais.

Avalia-se a necessidade de estudos complementares para o desenvolvimento de

tecnologia que contemple este tipo de instabilização;

Os modelos hidrogeológicos tem que ser melhorados e intensificados para

subsidiar as análises geomecânicas. A instalação de instrumentos para

monitoramento do nível d’água é fundamental para as análises e tomadas de

decisão. A implantação de DHPs (drenos horizontais profundos) deve ser

fomentada para a melhoria dos serviços prestados pelo mercado. Não foi

possível despressurizar a trinca 1 conforme recomendação de projeto;

As inspeções e monitoramento dos taludes devem obedecer padrões estipulados

de análise com freqüências pré estabelecidas. Os setores diagnosticados como

problema devem ter acompanhamento com instrumentos variados,

principalmente, prismas. Complementa-se esta atividade com controle de

pluviometria e com gráficos de deslocamento, deslocamento x pluviometria e

deslocamento x pluviometria x tempo;

Geotécnicos experientes e consultores nacionais e internacionais devem compor

o grupo de decisão quanto a necessidade de atividades de lavra em regiões com

instabilização diagnosticada;

As equipes operacionais, nas regiões instáveis, tem que desenvolver as

atividades com fiscais e dentro de um rigor técnico de projeto que dever ser

maior que em um talude operacional sem qualquer problema;

Este trabalho, como estudo de caso, descreveu a estrutura e os procedimentos

técnicos usados para enfrentar a instabilização de uma ruptura oblíqua em

taludes de mineração. A continuidade deste estudo poderá trazer informações

importantes e complementares na caracterização, desenvolvimento e solução

para estruturas semelhantes.

93

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