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rus obrigatoriamente desenvolverão asdoenças: o HPV necessita de outroselementos, os chamados co-fatores, quefacilitam sua ação. Até recentemente,não havia nenhum alimento entre osprincipais co-fatores - tabagismo, ál-cool, drogas e pílula anticoncepcional eo número de parceiros sexuais. As pes-quisas coordenadas por Willy Beçak,diretor-científico do Instituto Butantan,de São Paulo, demonstram que a Pteri-dium pode ser um poderoso co-fatorque abre caminho para a ação do HPVe a formação de tumores. "No organis-mo humano, além de causar anomali-as cromossômicas, a samambaia agecomo um imunossupressor, diminuin-do a capacidade de resistência do siste-ma de defesa': diz Beçak. Não há con-senso sobre qual composto químico dasamambaia age como imussupressor,mas já se tem como certo que o HPVnão deve ser o único vírus cuja açãopode ser potencializada.

Até agora, pensava-se também que,em sereshumanos, o contato sexual fos-se a única via de contágio das formasmalignas do vírus. Mas os estudos rea-lizados pelas equipes do Butantan e daUniversidadeFederalde SãoPaulo (Uni-fesp), em parceria com a Universida-de de Oslo, na Noruega, sugerem outrapossibilidade: o HPV pode ser trans-mitido também pelo sangue. Pesquisasinicialmente feitas com bovinos mos-traram que o BPV (papilomavírus bo-vino, que apresenta uma estruturamolecular básica comum ao HPV)aloja-se nos linfócitos - células do san-gue que integram o sistema de defesa -como um espaço em que permance la-tente, antes de se espalhar pelo corpo eajudar a desencadear o processo de for-mação de tumores. Os pesquisadoresrecolheram o que julgam ser as primei-ras evidências de que o mesmo proces-so possa ocorrer com seres humanos.Elespróprios insistem: por enquanto, éuma forte indicação, que chama a aten-ção porque transformaria o combate àdoença em um problema mais comple-xo. "Os experimentos de comprovaçãosão fundamentais", ressalta Rita de Cás-sia Stocco dos Santos, pesquisadora doButantan envolvida no trabalho. "Casoa hipótese seja confirmada, a trans-misssão do HPV poderá se equiparar àdo HIV, que causa a Aids."

Charles Lindsey, do Departamentode Biofísica da Unifesp e colaborador

46 • OUTUBRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP 80

Conseguiram. Em OuroPreto, a Pteridium é con-sumida por populaçõespobres na forma de refo-gados, com carnes ou ain-

da em chás. Mas não é um hábito ex-clusivo dos mineiros. Os japonesestambém consomem samambaia, quena Venezuela e na Escócia entra na ali-mentação de bovinos. Segundo Rita,pesquisadores venezuelanos acharamresquícios da samambaia no leite devacas, numa região em que a incidênciade câncer de estômago em humanosera mais alta que a normal.

Um dos méritos do grupo do Bu-tantan foi criar o modelo experimentalem bovinos e procurar entender o efei-to da samambaia em humanos. EmOuro Preto, os pesquisadores estuda-ram 40 moradores, metade consumia asamambaia e a outra metade, não. Aanálise citogenética, que avaliao núme-ro de cromossomos, mutações e que-bras do material genético, mostrouque, no primeiro grupo, a freqüência deanomalias e alterações era cerca de 30%maior. Por isso,uma equipe da Ufop, emparceria com a Secretaria Municipal daSaúde, procura orientar os moradoresde Ouro Preto sobre os males causadospela Pteridium, na tentativa de mudaros hábitos alimentares.

Cristal de HPV: milharesde vírus dentro donúcleo de uma célula

do projeto, colheu um indício que re-força a hipótese. Num estudo paralelo,com 30 mulheres tratadas de infecçãodo HPV; 29 tinham o vírus no sangue.Ficou claro também que o vírus altera omaterial genético: duas mulheres dogrupo apresentavam pelo menos dezvezes mais anomalias cromossômicasque o normal. "Observamos cromosso-mos completamente pulverizados', dizLindsey.A situação que se desenha podeser grave porque os testes realizados emdoações ou transfusões de sangue le-.vam em consideração a Aids, a hepati-te, a sífilis e a doença de Chagas, masnão avaliam a presença do HPV."O sis-tema público de saúde ainda não estápreparado para combater a nova formade transmissão do vírus, se confirma-da",diz Beçak.

A busca da relação do HPV com di-versostipos de câncer começou nos anos80, a partir de estudos em outros paísesque relacionavamo consumo da samam-baia à incidência maior de tumores debexiga e do aparelho digestivo em bovi-nos. De lá para cá, a equipe do Butan-tan, em parceria com a Unifesp e a Uni-versidade Federal de Ouro Preto (Ufop),resolveu verificar se a situação tambémvalia para humanos. Mas precisaramcontar com a sorte e encontrar pessoasque consumissem a planta.

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50 nm-H PV (esferas vermelhas>: associadoa quase todos os casosde câncer de colo de útero

Estabelecida a relação entre a samam-baia e o HPV, os pesquisadores dedi-cam-se agora à etapa mais difícil: ava-liar as novas formas de transmissão dovírus. A observação dos rebanhos bovi-nos levantou uma dúvida: como ani-mais que não haviam mantido relaçõessexuais podiam se contaminar com oBPV? As feridas, que os animais coçamse esfregando uns nos outros, e o usocompartilhado de seringas para aplicarvacinas chamaram a atenção e jogaramas suspeitas sobre o sangue. No finaldos anos 90, as equipes confirmaram apresença do BPV em linfócitos de bo-vinos e indicaram a possibilidade detransmissão pelo sangue, atestada numartigo publicado em 1998 no [ournal ofGeneral Virology.

Um ano antes, ao divulgar os re-sultados iniciais numa conferência in-ternacional sobre papilomavírus, emSiena, na Itália, os brasileiros foramprocurados por pesquisadores da Uni-versidade de Oslo, que buscavam aju-da para solucionar um problema: 56pacientes atendidas no hospital dauniversidade apresentavam câncer decolo de útero, depois de terem sidocompletamente curadas, cinco anosantes, de tumores de mama. Em ne-nhum dos casos houve metástase, o es-palhamento do tumor para outros te-

cidos, mas o câncer reapareceu em ou-tras partes do corpo. A equipe do Bu-tantan analisou amostras de sanguedas mulheres e constatou a presençado HPV nos linfócitos. Entre os maisde 100 tipos do vírus, os que mais in-fectavam as pacientes eram o HPV-16e o HPV-18, ligados aos tumores demama e colo de útero.

"O sangue atuava como meio detransporte do HPV para outras partesdo corpo. Quando o vírus achou ascondições ideais, gerou um novo tipode câncer, mesmo após certo tempo",afirma Beçak. "É a primeira evidênciade que, em humanos, a situação é se-melhante à observada em animais." Para

o PROJETO

Estudos Integrados sobre o PossívelSinergismo entre o Vírus do Papilomae Co-fatores e Oncogenes: EstudosCitogenéticos e Moleculares

MOOALlOAOELinha regular de auxílio à pesquisa

COORDENADORWILLY BEÇAK- Instituto Butantan

INVESTIMENTOR$ 315.886,78

Lindsey, os resultados, mesmo prelimi-nares, causam uma revisão no conheci-mento médico sobre o vírus e podemgerar benefícios concretos para a socie-dade: "Se e quando for incorporado aosexames de rotina, o teste que indica apresença do HPV nos linfócitos poderátornar o diagnóstico de tumores maissimples e menos invasivo"

Os pesquisadores admitem a neces-sidade de buscar mais evidências queconfirmem a transmissão pelo sangue,até porque, em seres humanos, os es-tudos são mais complicados do que emanimais. É certo: a confirmação dessatese só pode vir com a reunião de vá-rias evidências que garantam a valida-de dos resultados experimentais. Nãofoi por acaso que a comunidade cien-tífica internacional recebeu com incre-dulidade os resultados dessa pesquisa,apresentados em 2000 na ConferênciaInternacional de Papilomavírus, naEspanha.

Os pesquisadores pretendem am-pliar os estudos feitos em Ouro Preto eavaliar as gestantes que comem a sa-mambaia, a fim de saber se produzemalterações cromossômicas nos bebês. Aproposta permitirá estabelecer o cruza-mento dos dados obtidos pelos dois es-tudos - o da Pteridium e o do sangue -e, se a hipótese de transferência se con-firmar, será mais um indício de que atransmissão do HPV em humanos podeocorrer via sangue, já que a comunica-ção da mãe com o bebê se dá pela pla-centa. Eles também consideram estudosde grupos da Universidade de Baltimo-re (Estados Unidos), da Universidadede Genebra (Suíça) e da Universidadeda Tailândia, que discutem a possibili-dade de o DNA do vírus ser transporta-do pelo plasma sangüíneo (e não peloslinfócitos) .

Internacionalmente, o esforço con-verge para a produção de uma vacinacapaz de combater o HPV. No Brasil,o projeto de chegar a duas vacinas deDNA de HPV, uma preventiva e outraterapêutica, reúne as equipes do Bu-tantan, da Universidade de São Paulo(USP), da Unifesp e do Instituto Lud-wig de Pesquisas sobre o Câncer, emcolaboração com a Universidade deGlasgow, na Escócia, enquanto outrosgrupos, principalmente nos EstadosUnidos, trabalham com vacina de an-tígenos, que estimula a produção deanticorpos. • I

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