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s N A L M E A ANO VIII N:5 CURSO DE dORNALISMO DA UFSC. FLORIANÓPOLIS, 24 A 31 DE OUTUBRO DE 1990 Mastemem a morte, sempre de tocaia p3 Saibaquem pretende istolendo a p7 , I) Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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s N A LME A

ANO VIIIN:5

CURSO DE dORNALISMO DA UFSC. FLORIANÓPOLIS, 24 A 31 DE OUTUBRO DE 1990

Mastemema morte, sempre

de tocaiap3

Saibaquempretendeistolendo a

p7

,

I)

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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2 ZERO

Para lero 24': Congresso Nacional dos

Jornalistas que inicia dia 31,quarta-feira I e se estende até4 de novembro) já começa com

uma "batata quente": a ameaçado governo "collorido" em im­plodir a vinculação dos regis­tros profissionais ao Ministériodo Trabalho. A questão é polê­mica e. divide a categoria, nãosó entre jornalistas-patrões e

jornalistas-empregados como

questiona outras categorias en­volvidas. Por trás, porém, sur­ge, outra vez, o espectro de umgoverno que só se preocupa com

o topo da pirãmide social. Estaslinhas servem de alerta paraprofissionais e aspirantes e um

bom começo é o texto da contra­capa. Leia e vamos discutir noCongresso, no Curso e onde fornecessário. Conversar é preci­so. Mais que nunca.

'ZERO***

Me/horPeça Gráfica/, /I e 11/ SetUniversitárioMaio 88

Setembro 89Setembro 90

Jornal-laboratório doCurso de Jornalismo daUniversidade Federal deSanta CatarinaColaboração: Pedro MeloDiagramação: Nilva Bian­co, Vivian de AlbuquerqueEdição e supervisão: Pro­fessor Ricardo Barreto(MTb 2708 RS)Edição: Ivaldo Brasil Jr.,Josiane Laps, Kátia Scar­duelli, Nelson Lo�nz,' Pe­dro Saraiva, Rafael Maseli,Raquel D'Avila.Fotografia: AlessandraMeinicke, Cláudio Toldo,Christiane Balbys, LauroMaeda, Pedro Melo, Ra­quel Eltermann, Vivian deAlbuquerqueLaboratório fotográfico:Pedro MeloTextos: Ana Cláudia Me­nezes, Christiane Balbys,Cristina Gallo, Fabiano Me­lato, Ivaldo Brasil Júnior,Jeanine Bellini, LucianaCarvalho, Márcia Dutra,Mariana Baima, Nilva Bian­co, Pedro Saraiva, RosanePorto, Simone Pereira, Sô­nia Bridi.Acabamento e impres­são: ImprefarRedação: Campus Univer­sitário s/ns, CCE-COM,Trindade, CEP 88045, Flo­rianópolis, SCTelefones: (0482)31-9215,31-9490Telefax: (0482) 334069Distribuição gratuitaCirculação dirigida

Debate comedido nãoevidenciou a chapa quevenceria a eleição

Em Branco ganhou o C.A.

Jaques recebeu mais ataques de Gustavo Ide óculos!

Ivaldo estava confiante

ocupada pelo CA, a arrecadaçãode fundos para a entidade. Asrespostas das chapas foram pa­recidas para todas questões: na­da de concreto, apenas a promes­sa de que tudo será feito da me­

lhor maneira possível. Os repre­sentantes da "Balanço Bruxóli­co" e "Em Branco" têm um mes-

dencial, trata-se de uma econo­

mia disfarçada, pois é tão sutilque não chega a causar diferen­ça na conta de luz no final domês.

Criado pelo cientista e políticonorte-americano BenjaminFranklin em 1784, quando resi­dia em Paris, o horário de verãovisa alongar o período solar dodia, representando economia deenergia elétrica. Ele foi implan­tado no país em 1931, no governode Getúlio Vargas, tendo vigora­do, de forma aleatória, mais 14vezes. Foi recuperado em 1985e passou a ser contínuo.Astrônomos afirmam que pa-

e mo objetivo: o melhor para os� alunos. Eles estão somente tra­� çando caminhos diferentes e não� se deram conta disso. Está tudo� na santa paz! A questão mais po­� lêmica do debate ficou por conta&! da mudança de nome do Centro� Acadêmico. Adelmo Genro Filho� ou Raimundo Caruso? Eis a

questão. De resto, quem foi paraver conflito ou divergência ficoua ver navios.

o resultado - Apesar de suadenominação, a chapa Em Bran­co venceu as eleições para o Cen­tro Acadêmico.do Curso de Jor­nalismo totalizando 45 votoscontra os 36 da chapa rival, Ba­lanço Bruxólico. Dos 103 votostotalizados, quatro foram em

branco e 18 foram consideradosnulos. A chapa vencedora temRicardo Jacques na liderança e

urn staff formado par JeanineBellini, Viviane Sommer, Cris­tiano Prim, Suzana Naspolini,Jeferson e Maria Paula. Os elei­tores esperam agora que sua

gestão não passe "em branco".

Horário de verão dura 120 dias

Tucanos decidemdomingofusão com PDT

Ana Cláudia Menezes

Santa Catarina pode assistirbrevemente à formação de um

novo partido político, caso se

confirme a união entre o PSDBe o PDT, originando, inclusive,uma nova sigla. O convite, feitopelo PDT na semana passadaatravés da imprensa, vai ser dis­cutido na reunião da executivaestadual do PSDB, que será rea­lizada no dia' 27 com a partici­pação das lideranças tucanas noestado como os deputados fede­rais Francisco Küster e VilsonSouza e o senador Dirceu Car­neiro.

Para a vereadora Clair Casti­lhos, favorável à coligação, istopode dar ao PSDB um perfil"mais de esquerda", o que faltou,segundo ela, desde a sua funda­ção, durante os trabalhos da As­sembléia Constituinte em 1988."O PSDB é um_partido que nas­

ceu dentro do Congresso Nacio­nal, com as grandes estrelas, de­pois do racha que houve com o

PMDB", admite. O outro seg­mento que não aderiu aos tuca­nos, formou o Centrão, frente po­lítica constituída por senadorese deputados conservadores quetentaram barrar conquistas im­portantes para os trabalhadoresna Constituinte.

Avaliando o resultado daseleições, Clair Castilhos achaque o PSDB era um partido pe­queno e o novo "demais" parabancar uma candidaturamajori­tária. "Nós nunca poderíamoster saído sozinhos", diz ela, refe­rindo-se à não adesão à FrentePopular, que lançou Nelson We­dekin ao governo. Em outros es­

tados, o partido também amar­

gou a derrota nas urnas, mesmoem São Paulo, Minas Gerais éParaná, onde o PSDB tinha con­

dições de chegar ao segundo tur­no. "Isto é uma conseqüência dobipartidarismo", avalia a verea­

dora, que segmentou "demais" edividiu o eleitorado entre e'3-

querda e direita.

O PSDB quer dar continuida­de ao que já vem sendo desen­volvido na Câmara Municipal deFlorianópolis, onde os vereado­res do PDT, PC do B, PV e PTformam uma bancada de oposi­�ão aos políticos conservadores.'Vamos partir do zero e começara crescer, formando bancadasfortes", avalia Clair.

Mariana Baima

O debate ocorrido no últimodia 18 entre as chapas que dispu­tam o Centro Acadêmico do Jor­nalismo, conseguiu alcançar o

recorde de audiência do ano: cer­ca de quinze pessoas se manti­veram na sala pelo tempo, tam­bém recorde, de quarenta minu­tos. Nem as assembléias paradiscussão do novo currículo con­

seguiram tal proeza.O fato, de uma maneira ou de

outra, significou um "certo inte­resse" por parte dos alunos deestarem informados sobre o novo

destino do Centro Acadêmico.Mas com tanto recorde o debateacabou não alcançando seu prin­cipal objetivo: colocar em discus­são as metas de cada chapa. Asduas concorrentes apresenta­ram suas propostas, que apesarde aparentarem divergências,acabam convergindo no que dizrespeito às prioridades do CA.A chapa "Em Branco" constituí­da por sete alunos, já definiuseus pontos prioritários: Sema­na cultural, promoção do 3� SetInterno, de festas, de um infor­mativo quinzenal; de um noti­ciário de rádio interno tambémquinzenal e a participação em

encontros estudantis e congres­sos. Seus rivais, a chapa "Balan­ço Bruxólico", com três vetera­nos no comando, apresentou co­

mo propostas primeiro ouvir "asmassas", mudar o nome do CAe sindicalizar os alunos.Durante a discussão foram le­

vantadas questões importantescomo a posição de cada chapa emrelação ao Zero à Rádio Livre107 a participação do CA nas

eleições no Diretório Central dosEstudantes; a ameaça de extin­ção do registro de jornalista pro­posta pelo Ministro do Trabalho,a "privatização" ou não da sala

Fabiano Melato

A partir da meia-noite do últi­mo sábado, dia 20, o horário deverão voltou a vigorar no Brasil,estendendo-se até 17 de feverei­ro. Com exceção dos estados doNorte e Nordeste (menos Bahia),todos os outros estados tiveramde adiantar em uma hora os seus

relógios. Ano passado, o horáriode verão envolveu 22 estados e

proporcionou uma economia de225 milhões de quilowatts, ou1,2%, equivalente ao consumo

de uma cidade como Brasília du­rante quatro meses. A nível resi-

ra se atingir uma economia real,o horário deveria ter entrado emvigor já no início do mês e se

estender até fim de março. Maspor enquanto vão ser 120 diasmais longos, onde todos os horá­rios - de serviços públicos a

vôos internacionais - continua­rão os mesmos; se um estabele­cimento abria suas portas às 8horas, ele continuará abrindo a

essa hora. E em 17 de fevereiro,quando os relógios deverão ser

atrasados em uma hora, os uni­versitários poderão tambémaprontar seu material escolar: ohorário deverão termina um diaantes do início do semestre letivoda UFSC.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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ZERO

Julgamento simulado na

UFSC condena osassassinos de sindicalista

A revanche de Chico MendesNilva Bianco

Os assassinos de Chico Men­des foram sumariamente con­

denados. Ao menos foi o queaconteceu no Tribunal ChicoMendes, uma simulação do jul­gamento real, previsto para o

dia 12 de dezembro em RioBranco. A sessão aconteceu na

quarta, dia 18 e foi promovidagelo Movimento Estudantil eCentro Acadêmico XI de Feve­reiro, do curso de Direito daUFSC. Várias entidades apoia­ram, entre elas a OAB e a Fe­naj.Ao criar o Tribunal Chico

Mendes, os estudantes de Direi­to abriram espaço para debatessobre temas como direitos hu­manos, reforma agrária, ecolo­gia. Além disso, lembraramque o caso de Chico ainda nãoestá resolvido e divulgaram a,

causa dos seringueiros.Chico Mendes foi assassina­

do no dia 22 de dezembro de1988 em Xapuri, no Acre. Suamilitância junto aos seringuei­ros e povos da floresta incomo­dou os grandes fazendeiros quetinham interesse em explorara área. Sindicalista, lutou poruma forrua menos selvagem deexploração da floresta amazô­nica, através da criação de umareserva extrativista para uso Xapuri. Moreno, traços indíge­dos seringueiros, que cuida- nas, Gumercindo fala de Chico.

_ riam de sua preservação. No Fala de sua luta pela preser­dia 22, às 19 horas, Chico abriu vação dos seringais, da perse­a porta da sua casa. Carregava guição sofrida por parte de gen­uma toalha no ombro e uma te como Darli Alves da Silvalanterna na mão. Ia tomar ba- e seus filhos, Darci e Oloci. Fa­nho, mas não conseguiu ir além mília de matadores fugidos doda porta. A cerca de 16 metros Paraná e Minas Gerais, que se

dali, escondido atrás de um co- estabeleceram no Acre, ondequeiro, Darci Alves da Silva esbarraram na organização dosapontou a espingarda calibre seringueiros, liderados pelo20, atirou e fugiu. Chico Men" sindicalista.des caiu, com mais de 40 perfu- Gumercindo fala da "opera-rações pelo corpo. ção caracol", executada pela fa-As 9h30min do dia 18, o herói mília Alves e seu bando de ma­

caiu com estrondo sobre o tabla- tadores - mais de 30 - parado do auditório da reitoria, in- aterrorizar os seringueiros. Aosterpretado por um aluno de Ar- poucos, um a um, foram assas­

tesCênicas da Udesc. A floresta sinados vários, até chegar a vezsilenciosa e os amigos que zela- de Chico, o mais importante.vam por sua vida choraram en-

\. Ele sabia que estava Jurado detre cantos de pássaros emitidos morte e que os matadores depor um gravador. O auditório Darli estavam se reunindo paraesta cheio, ocupado por estu- decidir

_ quando e como seria o

dantes e câmeras. crime. Numa tentativa de con-

seguir justiça, foi até Umuara­ma, no Paraná, e conseguiu o

mandado de prisão que há anos

havia sido expedido contra Dar­li Alves da Silva.

Gumercindo: "a gente precisa continuar vivo"

Operação caracol

Mas entre as simulações damorte e do julgamento, houveo depoimento real e emocionadode Gumercindo Rodrigues,companheiro de Chico Mendese atual presidente do Sindicatodos Trabalhadores Rurais de

Denúncia

Voltando ao Acre, Chico foidiretamente ao então Superin-

tendente da Polícia Federal deXapuri, Mauro Spósito - atualchefe de gabinete de Romeu Tu­ma. Apresentou carta precató­ria, exigindo providências. Na­da foi feito e dois meses antesde sua morte, Chico mandouuma carta ao juiz de Xapuri,Adair José Loguini, denuncian­do a situação e dando o nome

de todos os que planejavam seu

assassinato. Responsabilizou o

magistrado pelo que pudesse

2 vir a acontecer. Mais uma vez,� nada foi feito. Gumercindo Ro­� drigues, em seu depoimento,� questiona a atitude da políciatil e de pessoas como JoãoBranco,� ex-presidente da UDR no Acre.� Branco é sócio do jornal Rio"" Branco, que dias antes da mor-te de Chico Mendes noticiouque uma "bomba" estava paraexplodir, trazendo conseqüên­cias nacionais e internacionais.

Gumercindo também leu tre­chos do depoimento de DarciAlves da Silva, que cinco diasapós o assassinato entregou-seà polícia. Mais tarde, Darli Al­ves da Silva e Jandir, matadorque morava com a família Al­ves, entregaram-se,mas nãoconfessaram sua participação.Foi Darci que confirmou a cul­pa do pai, afirmando que nãofazia nada sem sua ordem e queeste havia dito ao ordenar o cri­me. "Você tem que merecer os

dois metros de pano que usa".Entre os seringueiros, não

existe nenhuma dúvida de queDarci tenha sido o executor doassassinato. Durante o traba­lho de reconstituição, ele mos­

trou conhecer cada detalhe deterreno que cerca a casa de Chi­co Mendes e da cena do crime.Suspeita-se que naquele mo­

mento Jardeir o acompanhasse.Por mais de um mês, antes docrime, eles revesaram-se nato­caia da casa. Gumercindo ques­tiona: por que depois de estarforagido há cinco dias, Darcientregou-se à polícia? A únicaresposta, segundo ele, é a deque Darci estava protegendopessoas mais importantes en­

volvidas no caso. No final desua exposição, Gumercindo Ro­drigues grita emocionado, pe­dinde ajuda: "A gente quer ficar

Mais um seringueiro ameaçadoO seringueiro e líder sindical Manoel Pereira da Silva está

escondido. Desde a última semana, conforme noticiou a im­prensa nacional no sábado, dia 20, ele fugiu de Rio Branco,capital do Acre, para escapar da "morte anunciada" por fazen­deiros e madeireirosda região da Reserva Extrativista Ca­choeira.O Conselho Nacional de Seringueiros aconselhou Manoel Pe­reira da Silva a se esconder e o Comitê Chico Mendes denun­ciou que os fazendeiros encomendaram suamorte a pistoleirosde aluguel.Manoel Pereira da Silva é diretor do Sindicato dos Serin­

gueiros, Pequenos Agricultores e Assalariados Rurais de RioBranco (Sinpasa) e animador das Comunidades Eclesiais deBase. Segundo o Comitê, a "morte anunciada" do seringueiroestá associada ao fato dele ter impedido que doismil hectaresde florestas da fazenda Paloma, situada ao lado da ReservaCachoeira, fosse queimado. O comitê denuncia ainda quehá pistoleiros e madeireiros dentro da reserva ameaçandoos seringueiros. .

ViVOI a gente precisa continuarvivo!".

o tribunal

O julgamento simulado sóaconteceu à tarde, das 14 atéàs 18 horas. Como juiz, estavaJacinto Nelson de MirandaCoutinho, Procurador do esadodo Paraná. Ele apoiou a inicia­tiva dos estudantes de Direitoda UFSC, afirmando: É neces­

sário que a Justiça se afaste dostextos/e se aproxime do povo".A acusação foi feita por LuizBueno de Aguiar, de São Paulo,e Luís Carlos Fritzen, de Flo­rianópolis. O trabalho dos pro­motores foi baseado nas provascontra Darci e na sua própriaconfissão. Já o trabalho de defe­sa, o mais difícil dada a clarezados fatos, foi desempenhado pe­lo advogado José Soar "Jara­guá", de Florianópolis. Numaexcelente atuação, repleta debom humor, o advogado argu-

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mentou que as provas eram in­suficientes e protestou contra o

abuso de se condenar três.pes­soas, quando apenas uma haviaconfessado o crime e tinha algu­ma evidência contra si.

Depois da teatralização feitapelos advogados, foi a vez dosjurados votarem. Um a um, os

representantes da OAB, Sindi­cato dos Jornalistas, Movimen­to Ecológico, Movimento dos

Estudant§,s de Direito, Movi­mento dos Sem-terra, UFSC,Seminário sobre Universidadee Meio Ambiente e Pastoral daTerra votaram nominalmente e

justificaram o voto. Se depen­desse deles, os acusadosjá esta­riam na prisão, cumprindo de12 a 30 anos.Para os iniciados em Direito,

o Tribunal Chico Mendes ser­

viu também como um impor:tante espaço de questionamen­to do SIstema Judiciário no

Brasil. Jacinto Coutinho levan­tou ainda outra questão, basea­da na brilhante defesa feita porJaraguá: a da relatividade daverdade. E alertou para o fatode que no julgamento oficial, osjurados serão outros, com ou­

tros interesses.Na verdade, denuncia Gu­

mercindo Rodrigues, apesar damorte de Chico Mendes, poucacoisa mudou no remoto e aban­donado Norte (veja texto ao la­do). O sindicalista afirma queé muito provável que ele e vá­rios de seus amigos não che­

�em vivos até o final do ano.

'Mas, se nos pegarem, vai serdentro da luta".

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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ZERO

A região carbonífera atinge hoje20 municípios, o que corresponde a

10% do território do Estado. E um

negócio que só em 89 pagou 3,5 mi­lhões de cruzeiros em impostos. OSindicato dos Mineradores não di­vulga o faturamento global das em-

� p-resas, que têm mais de 100 minas.Mas em todos os municípios, "distri­buição de renda" não é uma expres­são conhecida.O carvão catarinense é de péssi­

ma qualidade. Detudo o que é ex­

traído, apenas 30%é transformadoem carvão pré-lavado, usado nas

usinas termoelétricas Jorge Lacer­da I, II e III, da Eletrosul, com sedeem Tubarão e para a siderúrgica deVolta Redonda no Rio de Janeiro.Os outros 70% são rejeitos piritosos

I (rochas com alta concentração deenxofre), que são depositados a céuaberto. Na região, são 400 hectaresde terra cobertos com rejeitos, queem contato com o sol queimam, libe­rando gás de enxofre. Esses gasessofrem uma transformação na at-

Sônia Bridi mosfera e voltam em chuvas de áci­do sulfúrico. As conseqüências dachuva ácida são doenças de pele, cor­rosão de prédios e casas e a mortedas poucas florestas nativas queainda existem na região.Mais grave ainda é a poluição do

ar, que os metais precipita. O com­

plexo de usinas Jorge Lacerda e as

coquerias (que transformam o car­vão em coque, matéria-prima parasiderurgia) jogam na atmosfera 200mil toneladas de gases, cinzas e me­tais pesados por ano. A falta de cui­dado com o isolamento dos depósitosde rejeitos e a inexistência de lagoasde_decantação para a água usadana lavagem do carvão, contaminamtodos os rios da área. A cidade deCriciúma, a principal do sul do esta­do, com 250 mil habitantes, está naeminência de um colapso no sistemade abastecimento de água. A popu­lação dobrou nos últimos 10 anose não existem alternativas para a

captação de água.No meio rural a situação é ainda

mais grave. A mineração no subsoloprovoca uma reacomodação no len­çol freático. A água escorre paradentro dasminas e de lá é bombeadopara fora. Pelo menos 2 mil poçosartesianos em propriedades ruraissecaram deixando os agricultoresna dependência dos caminhões-pipada prefeitura de Criciúma. Os queutilizam a água para o arroz irriga­do, viram a produtividade cair em40% nos últimos 15 anos.

Deserto NegroO município de Siderópolis, a 10

quilômetros de Criciúma, é umailha no meio da devastação. A cida­de está em cima de um depósito depirita. Nessemunicípio amineraçãoe feita a ceu aberto pela CompanhiaSiderúrgica Nacional- CSN. Houvefesta em Siderópolis há 25 anos paracomemorar a chegada da draglineMarion, uma máquina de fabricaçãoamericana com capacidade para fa­zer sozinha o trabalho de 200 trato­res. Na época, os jornais estampa­ram o fantástico poder da draga:

Fotos: Claudio Toldo Zera

A descoberta de uma gran­de reserva de carvão mineralno subsolo de Criciúma, há 50anos, veio acompanhado deuma euforia coletiva. O "ouro

" .. .-

negro enriquecia a regiao,aumentaria a oferta de traba­lho, deixaria os pobres ricose os ricosmilionários. Meio sé­culo depois, a oferta de empre­gos chega a 40 mil e os ricosestão incrivelmente mais ri­cos. Os pobre estão miseráveise a maior conseqüência da ex­tração de carvão, que não es­

tava nos cálculos dos pionei­ros, é uma poluição assusta­dora que faz milhares de víti­ma todos os anos.

Depois do trabalho da dragline Marion, sobra apenas o desolado lago negro

das áreas mineradoras é de 500 ve­

zes o valor da terra nua", informaVladimir Ortiz, superintendente daFatma (Fundação de Amparo à Tec­nologia e Meio Ambiente). Esse nú­mero explica a resistência da CSNem recuperar a área.A transferência da Marion para

o Rio Grande do Sul é o exemplomais claro da política de exploraçãodo carvão no sul do estado. O fimdas atividades aa estatal deixamummunicípio devastado, sem possi­bilidade de trabalho agrícola e com

60% da população sem emprego."Passei minha infãncia andando debicicleta por aí, buscando bergamo­ta nas colônias", diz, desanimado,o jornalista Ricardo Fabris, 27, queconclui: "agora não hámais colôniase os agricultores estã nas favelascom subempregos ou debaixo dasminas".Síndromes do carvão. Anen­

cefalia é um tabu para os médicosde Criciúma. Estatísticas extra-ofi­ciais dão conta do nascimento de 30crianças sem cérebro no municípioem 8£. Mas ninguém comenta o as­

sunto. Os médicos convencem os

pais que a anomalia foi causada porproblemas genéticos. "Os pais se

sentem culpados e fazem de tudo pa­ra abafar o assunto"iexplica o secre­

tário da saúde Wa mor de Lucca,que é de de Criciúma. Ao assumiro cargo, ele anunciou que a notifi­cação compulsória à saúde públicados nascimentos de crianças anor­

mais seria uma de suas primeirasações. Já passou um ano e a anence­

falia continua desconhecida pela po­pulação.

Mina a céu aberto da Companhia Siderúrgica NacionallCSN1, em Siderópolis. Na paisagem lunar, apenas o eucalipto sobrevive ao solo ácido

gasta a energia equivalente ao con­

sumo de uma cidade com 20 mil ha­bitantes; consegl}e cavar at 50 me­

tros de profundidade (o equivalentea um prédio com 15 andares); e reti­ra 50 toneladas de terra a cada vez

que desce a caçamba, onde cabem3 fuscas. O que não se imaginavaera que hoje um vereador precisasserecorrer à justiça para abrigar a

CSN a manter a draga no municí­pio.O presidente da Câmara Munici­

pal de Siderópolis, Ademir Motta,está com uma ação na justiça paragarantir o cumprimento do Artito255, parágrafo segundo, da Consti­tuição Federal, segundo o qual asempresas mineradoras devem recu­

perar o local explorando com a ter­raplanagem do terreno. A Marioné a responsável pela formação da''paisagem lunar": seismil hectaresde terra onde não resistem nem mi­croorganismos. Napaisagem lunar,os buracos de onde foi extraído o car­vão formam lagos vermelhos com

até 50 metros de profundidade e os

montes de rejeitos chegam a 35 me­tros de altura. O deserto se formaporque a mineração a céu aberto in­verte as camadas do solo: a terrafica por baixoi e na superfície ficamrochas com a to teor de -enxofre. Aúnica planta que se adapta à recom­posição da paisagem é o eucalipto,capaz de suportar solos muito áci­dos."É dever de governo federal dei­

xar a máquina em nosso municípiopor mais dois anos", reivindica o

prefeito de Siderópolis, José Antô­nio Périco. "O custo de recuperação A Marion faz o trabalho de 200 tratores e. causa um estrago proporcional

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·CICERONE• PARABÓLICA

Eventos internacionaismovimentam a primaveraem FlorianópolisCongresso - XI Congresso Bra­sileiro de Relações Públicas e XIXCongresso Interamericano de Re­lações Públicas. O evento se rea­

liza de quarta até sábado no HotelCastelmar com presença de confe­rencistas nacionais e estrangei­ros. Destaque para as conferên­cias "Imprensa: O Compromissocom o Consumidor" com o om­

budsman do jornal "Folha de SãoPaulo", Caio Túlio Costa às 14 ho­ras do dia 25; e "A Classe Política

re o Respeito à Opinião Pública"com o jornalista global AlexandreGarcia, às 9h30min do dia 27. Asolenidade de encerramento seráàs 12h35min no auditório princi­pal do Castelmar, e às 21h30minacontece a festa "Destaques doCongresso". Centro de Conven­ções do Hotel Castelmar, Rua Fe­lipe Schmidt, 200, fone:22-3228.1� Semana das Nações - Oevento que abriu na segunda-foi­ra prossegue com apresentação devídeos, danças, canções e pales­tras sobre os 12 p�íses envolvidos.Durante a manha de quinta-feirahaverá a_presentaç_ões sobre Suri­name, Trmidad e Tobago, Guianae Barbados. A tarde, continuamas apresentações sobre estes paí­ses e mais Panamá, Haiti e China.Na sexta-feira continuam as ex­

posições sobre Moçambique, An­gola e Costa do Marfim durantea manhã, e à tarde é a vez da Gui­né-Bissau e do Senegal. O encer­

ramento será às 18 horas da sex­

ta-feira e o "I Baile das Nações"será às 23 horas na Boate Dizzy.A "1'.' Semana das Nações" se rea­liza 110 Auditório da Reit09ia daUFSC.

• RADIO

Fique ligado: rádiostransmitem programase sons alternativos

Rádio � "Rádio. lOT' - Rádio. pirata quetransnu te a partir das 10 horas da manhãe não tem horário fixo para encerramento.Todos os estilos musicais. Pode ser sintoni­zada nos bairros Trindade, Saco dos Li­mões. Pantanal, Córrego Grande, Agronô­nuca. Serrinha, Carvoeira e imediações daBeira-Mar e Itacorubi. l07MHz."Verde Ambiente" - Programa sobre eco­

logia apresentado por Fernando Boeira. To­das as segundas, quartas e sextas às 18h40min. Rádio União FM, 96.lMHz."Freqüência Urbana" - Toda segunda-fei­ra às 22 horas, na rádio União FM. Progra­ma humorfstico-musical apresentado poruma equipe muito louca que parodia pro­gramas radiofônicos e televisivos no estilobesteirol. Rádio União FM, 96.lMHz."Sincronia Total" - Sob o comando de Penae Zeca. o programa é sobre rock e afins.De t�rça-feira a domingo, às 22 horas. Rá­dIO Lniào FM, 96.lMHz.

• ARTE

Nu artístico dá o tomde curso nas oficinasde artes do CICCurso - "Oficina de Modelo Vivo".Orientação de Fernando Lindoteinscrição na secretaria das Oficina�de Arte do CIC em horário comer­

cial. O curso custa 15 BTNs por mêse inicia com um mínimo de dez fre­qüentadores. O horário será das 19às 21 horas todas as terças-feiras.CIC, Av. Beira-Mar, 5.000, fone:34-2166, ramal 147.

• BARBADA

Liq_uidação - Livraria da FEESC,do Centro de Convivência, está dan­do descontos de 50%. A promoção vaiaté dia 9 de novembro. Aberta das8 até às 18 horas. Fone: 34-0746.

• CINEMA

Cult movies superlotamcinema do CIC e são a

melhor opção na cidade

Cinema - "Celeste" (Percy Adlon1981, 1h45min). Filme alemão d�mesmo diretor de "Bagdá Café" so­

bre o relacionamento entre o escritorfrancês Marcel Proust e sua gover­nanta Celeste Albaret. Filme basea­do no livro "Monsieur Proust", ondeCeleste testemunha seus nove anos

servindo o escritor .. Cópia 16mm, co­re�, lege�dado, ingressos a 100 cru­

ZeIrOS. Dias 24, 25 e 26 (19h30min)e dia 28 (17h30min). CIC, Av. Beira­mar, 5.000, fone 33-2166.

"O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulhere o Amante" (Peter Greenaway1989, 2 horas). Construído em u�prólogo e três atos, o filme desenvol­ve-se num período de dez dias sobo simbolismo das cores e baseado nonúmero sete. Do mesmo diretor de

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"Afogando em Números" e "A Bar­riga do Arquiteto". Até dia 26 às21h30min, dias 27 e 28 às 19h30min. CIC.

"Bagdad Café" (Percy Adlon, 1987,Ih30mm). Gorda burguesaalemãaoser abandonada pelo marido no de­serto d� Mojave acaba encontrandoum cafe de beira de estrada. Comé­dia "cult" alemã de grande sucesso

mundial. A partir de dia 27 às 21h30min. ClC.

Autor critica o medo daspessoas, o conservadorismoe os analistas burgueses

Freire divulga a Somaterapiaem SC no evento de Capoeira

Simone Pereira

"Nós anarquistas sempre luta­mos pelo voto em braco e nulo.Felizmente o povo tomou cons­

ciência de que não deve escolhero menos pior. Está na hora de es­

colhermos o melhor", afirma o es­

critor e psicanalista Roberto Frei­re. Ele veio a Florianópolis parti­cipar de mesa redonda que abriua programação do 3? Batismo Pal­mares do Sul. Freire defende quea evolução do ser humano nãovem do sofrimento e sim do apren­dizado. Por isso, seus livros sem­

pre pregaram "um amor sem pos­se, sem uso e sem abuso".Para ele, a esquerda e a direita

têm o mesmo autoritarismo, en­quanto a mídia executa um traba­lho de alienação do povo, pregan­do uma falsa liberdade que com­

promete a democracia. Seu traba­lho tem base na visão de um mun-

do sem partido - um socialismolibertador - contra qualquer ins­tituição ou poder. Freire contaque abandonou a psicanálise pors�r uma terapia conservadora queVIsa adaptar o indivíduo ao siste­ma. "Os analistas são burgueses,querem ser e fazer os outros" con­testa.Fundador da Somaterapia, uma

anti-terapia, que surgiu na déca­da de 60 para enfrentar o sistemaneurótico implantado com a dita­dura, afirma que sua propostanasceu para militantes revolucio­nários, já que a existente era bur­guesa. Foi preciso criar algo denovo quemcorporasse nas pessoaso seu potencial criativo e que dis­solvesse a couraça desnecessária.Uma. psicologia de homem livre,nascida de uma forma clandestinae à margem do sistema.

A somaterapia usa vários mé­todos técnicos-corporais e é aber-

Freire (de branco) antes de sua palestra

tamente política. O objetivo dessaterapia é levar a pessoa a não acei­tar nenhuma forma de sujeição,ser o que ela realmente é e lutarpelo que acredita. Por isso tem a

capoeira como uma grande aliadada somaterapía, por ser uma daspoucas armas culturais que se

tem no Brasil. Dentro dessa visãoterapêutica que visa colocar parafora as neuroses incorporadas dosistema, existe o princípio de queé necessário libertar o todo (nãoapenas a mente) através do uso

dos sentidos contra a loucura.Livros como "Sem Tesão Não

Há Solução" e "Ame e Dê Vexa­me", fazem desse revolucionáriouma figura nacionalmente conhe­cida e. de grande prestígio. Suacarrerra de escritor começou

�uando escreveu a peça de teatro, Quarto de Empregada", em

1959. Mas, somente em 1964, pu­blicou seu primeiro romance,"Cleo e Daniel". Suas obras pre­gam que viver é amar e para amaré preciso revolucionar. O amor

não é sacrifício, o amor é prazer.A liberdade é a chave de todo o

trabalho do terapeuta que vê na

mentalidade burguesa sua maioradversária. Ele diz estar consta­tando, através de suas pesquisas,que as pessoas preferem ser domi­nadas pelo medo de arriscar.Freire escreveu há algum tem-

2.0 o livro "Soma 1, a Alma e o

Corpo", que trata da fundamen­tação de sua terapia e que em

março pretende lançar o livro "So­ma 2, A Arma é o Corpo - Somae Capoeira", que irá abordar todaa relação da soma com a capoeira.A somaterapia foi implantada em

Santa Catarina há aproximada­mente seis meses.

Lacerda) à esquerda cristã(Alceu Amoroso Lima).Independemente da posi­

ção política dos autores e dotom gradiloqüente dos textos,"Clássicos do JornalismoBrasileiro" é fundamentalpara quem quer entender os

caminhos da imprensa tupi­niquim neste século.Alceu Amoroso Lima foi o

primeiro dos autores reedita­dos a preocupar-se com ques­tões técnicas do trabalho jor­nalístico. O próximo volumea ser editado, de Danton Jo­bim, aprofunda essa tema e

é de grande importância prá­tica para os novos jornalistaspela atualidade dos assuntostratados.

• MEMÓRIA

USP reedita clássicos do jornalismoOs livros da coleção podem

ser comprados com 30% dedesconto nas livrarias docampus da USP. Pedidos pelocorreio podem ser enviados àComArte/Edusp - Av. Prof.Luciano Gualberto, TravessaJ, 137, 6� andar, Cidade Uni­versitária, São Paulo, SP,CEP 05508..

A Universidade de SãoPaulo está realizando um res­

gate de reflexões sobre a ati­vidade jornalística no Brasil.O trabalho, "arqueológico",chama-se "CláSSICOS do Jor­nalismo Brasileiro" e já reedi­tou livros de Barbosa LimaSobrinho, Carlos Lacerda,Rui Barbosa, Alceu AmorosoLima, todos fora de circulaçãohá décadas.A reedição está sendo coor­

denada por José Marques deMelo, diretor da Escola de Co­municaçào e Artes da USP.Os volumes estão sendo pu­blicados pelas editoras Eduspe ComArte, ligadas à univer­sidade. Ideologicamente, os

autores vão da direita (Carlos

A Imprensa e o Dever da Verdade,de Rui Barbosa. 88 páginas. Tiragemde 460 exemplares. Cr$ 720.00.A Missão da Imprensa, de Carlos

Lacerda. 88 páginas. Tiragem de 1.2mil exemplares. Cr$ 800.00.O Jornalismo como Gênero literá­

rio, de Alceu Amoroso Lima. 81 pági­nas. Triagem de 1,2 mil exemplares.Cr$ 800,00.

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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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ZERO 7

"Sem amor,sem prazer,

não há luta. Tem ...

... que saber como lutar.

A arte do povo livre

pode virar produtoda indústria cultural

... A Capoeira P. aarma do corpo e

da mente livres"j)J

Capoeira: à beira da dominaçãoLuciana Carvalho

"Hoje a capoeira é uma indústria", estas são as pala­vras do mestre João Pequeno que participou do 3': Batis­mo de Capoeira Palmares Sul, realizado entre 17 e 20de outubro. O evento foi organizado pela AssociaçãoCultural de Capoeira Ajagunã Palmares Sul com o obje­tivo de divulgar a cultura Afro, principalmente a capoei­ra, e promover a confraternização de seus praticantes.Além das oficinas de capoeira e do "batismo" propria­

mente dito, o evento teve também duas mesas redondas,onde foram discutidos diversos assuntos relacionadosao tema. A primeira mesa redonda foi realizada no dia18 e teve a participação do escritor Roberto Freire, damãe-de-santo Iya Sumabé e dos mestres Bobó e Nô.O Mestre Nô, fundador do Grupo Palmares, do qual

participa a Associação Palmares Sul, falou sobre a inter­nacionalização da dança-luta, afirmando que muitosmestres estão indo para outros países, onde 114 um grau­de interesse pela capoeira. SegundoMestre NO a capoei­ra no Brasil "émuito marginalizada e não se pode sobre­viver somente de suas aulas". Ele afirma que isto não

quer dizer que no exterior os mestres fiquem ricos, aocontrário, o que ocorre é que há um grande interesseem aprender a capoeira e cada vezmais mestres e profes­sores são requisitados para isso. Alguns são manipu­lados, como o Mestre Bobó, que foi para o exterior, gra­vou um disco e não ganhou nenhum direito sobre as

vendas. Para o Mestre Bobó, que falou sobre sua expe­riência como capoeirista, a capoeira pode ser internacio­nalizada, difundida cõmo uma parte da cultura brasi­leira, "mas se a gente facilitar eles vão tomar da mãoda gente".Um outro assunto muito discutido foi a transição da

capoeira de cultura para esporte. Para o mestre Nó os

professores de Educação Física querem tornar a capoeiraum esporte, exigindo que os mestres tenham diplomauniversitário e criando competições que proíbem algunsmovimentos, limitando a liberdade do capoeirista. Paraele isto é um retrocesso pois a capoeira surgiu como

uma manifestação contra a escravidão e agora está sen­

do escravizada. Ele diz que a capoeira pode ser um espor­te, mas deve-se respeitar o fato dela ser um movimento

popular.Como o Mestre Nó, Iya Sumabé, que também parti­

cipou da mesa, entende a capoeira como cultura e esporteao mesmo tempo. Iya afirma que a capoeira "é cultura,é graça, é beleza, é poesia" mas também a consideraum esporte, sendo inclusive uma juíza de capoeira. Elafalou também sobre a relação da mulher e da religiãocom a capoeira. Conforme Iya, amulher encontra mui tasbarreiras na capoeira não só por parte dos capoeiristas,como dos maridos e das próprias mulheres que margina­lizam as mais idosas. Ela ressaltou também o número,muito superior ao do Brasil, de mulheres que estão jo­gando capoeira em outros países. Sobre a religião ela

Nô é um mestre que luta pela liherdade

expôs a proximidade que há entre as religiões herdadasda cultura africana e a capoeira, já que ambas fizeramparte da vida dos escravos negros.Paixão pela liberdade . E é justamente na relaçãodo escravo com a capoeira que se fundamenta a teoriade Roberto Freire sobre a utilização da capoeira na so­

materapia. Freire esclareceu que o uso da capoeira na

terapia tem a função de libertar o corpo do homem,

e como os escravos usavam o seu corpo para lutar pela� liberdade. Para Freire "as pessoas se apaixonam pela� capoeira porque se apaixonam pela liberdade". Ele!l5 acrescenta que "neste momento da vida brasileira é pos­

i sível a libertação do povo se eles transformarem o corpo" numa arma, porque um povo pobre, sem amor, sem pra­� zer não pode lutar. Tem de saber como lutar, então a

.� capoeira pra mim é uma arma popular, uma arma doS: povo que nasceu para a libertação e tem de estar ligadaQ à libertação popular. A nossa grande esperança f o nossotl: corpo livre". Na segunda mesa redonda, que ocorreu

dia 19, os participantes foram o prof. Dr. Eleonor Kunz,o prof. Luiz Canabarro e os mestres João Pequeno, Fer­reirinha e Curió. Novamente retomou-se a industria­lização da capoeira e Eleonor Kunz frisou que a capoeirafaz parte de uma cultura popular "que luta para nãosermassacrada pela cultura burguesa". Para ele quando"não se consegue acabar com a cultura popular procu­ra-se domesticá-la e é o que stá acontecendo com a ca­

poeira".Já o professor Luiz Canabarro afirma que para que

se preserve a capoeira é preciso preservar o mito. Sozi­nha ela é somente umjogo e pa.a o mestreJoão Pequeno,que falou sobre a capoeira no passado e atualmente"ela é uma coisa que nós não podemos dividir porquea capoeira é uma coisa que tá na nossa vida, no nosso

corpo".Dois outros mestres também comentaram as mudan­

ças que aconteceram na capoeira. O mestre Ferreirinhafalou sobre a perda da cultura que envolvia a capoeirae mestre Curió falou sobre a mudança na música. Eleafirma que agora as pessoas somente tocam os instru­mentos, não "sentem mais" o ritmo.

O outro assunto do debate foi o surgimento da capoei­ra. Foram feitas várias pesquisas para saber a sua ori­gem mas não se chegou a nenhuma conclusão. Algunsacham que a capoeira foi trazida pelos africanos e outrosacham que ela foi gerada no Brasil pelos povos escravi­zados. Mestre Nô, por exemplo, defende a tese de quea capoeira surgiu na serra da Barriga, no Quilombodos Palmares.

No sábado, 20, aconteceu o "batismo" onde o capoei­rista, quejá atingiu um certo nível de aprendizado,jogacom um mestre que-não é o seu e é derrubado. Antesde acontecer o batizado, o público, que lotou a barracade lona instalada no Aterro da Baia Sul, assistiu o Boi­de-Mamão, o Cacumbi, a Puxada de Rede e duas apre­sentações de dança afro. Logo depois veio a Roda deMestres onde eles, além de suas habil idades, mostraramtoda a sua manha, adquiridida em uma vida dedicadaà capoeira. Depois aconteceu a apresentação do GrupoMenores do Samba, o batismo e a Troca de Cordéis.Foram batizadas 40 pessoas e a Associação considerou'

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o evento um sucesso porque circularam no batismo, du­rante todo o dia, cerca de duas mil pessoas.

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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina

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Projeto de lei elaboradopelo governo

ressuscita uma antiga ameaça

o fim do diploma em jornalismoPedro Saraiva

Na mesa de um desconhecido secretário da Comissãode Desregulamentação, Carlos Garcia, está um projetode lei que traz novamente à discussão urna conhecidíssimapolêmica: a exigência ou não de diploma para jornalistas.Fazendo parte das medidas de desburocratização estuda­das pelo governo Collor, o projeto determina que o Minis­tério do Trabalho deixe de se responsabilizar pela conces­

são e controle de registros profissionais de diversas catego­rias: jornalistas, arqui tetos, sociólogos, publici tários e eco­

nomistas, entre outras. No entanto, esta mesma lei nãodefine quem passaria a cuidar dos registros profissionaisdestas atividades e sequer esclarece se o registro perma­nece como condição necessária para se trabalhar nestasáreas. Assim.coloca-se em cheque a exigência de diplomapara as profissões atingidas pelo projeto - já que, burocra­ticamente, o diploma serve para se obter o registro profis­sional.Entre os jornalistas a discussão sobre a necessidade

ou lião do diploma não é uma novidade. Desde a consti-. tuinte, que decidiu pela obrigatoriedade do diploma, os

debates sobre esta questão são bastante polêmicos. Tam­bém não é novidade a posição da Federação Nacional dosJOrnalistas, Fenaj, de defesa à exigência do curso superiorpara a prática da profissão. Exatamente por isso, quando

a imprensa divulgou a existência do projeto de lei, Arman­do Rolemberg, presidente da Fenaj, cancelou os compro­missos que tinha fora de Brasília e permaneceu na capitalpara tomar pé da situação e se preparar para discutiro assunto com os ocupantes do Palácio do Planalto.

Ordem ouConselho? Curiosamente, o fim da gerên­cia governamental no registro profissional dos jornalistasé uma reinvindicação antiga da Fenaj. Porém, a reinvin­dicação se completa com a transferência desta responsa­bilidade para o sindicato, e foi exatamente esta a propostade conciliação que Armando Rolemberg apresentou ao

ministro do Trabalho, Antônio Rogério Magri. Caso o go­verno não esteja disposto a entregar aos sindicatos o con­

trole dos registros, a Fenaj sugere outra alternativa: a

formação, num prazo de 180 dias, de uma Ordem ou Conse­lho dos Jornalistas do Brasil, que passaria a cuidar dosregistros profissionais da categoria.Para Rolemberg, o ministro do Trabalho se mostrou

bastante receptivo aos seus argumentos e garantiu quenenhuma lei que acabe com a exigência do diploma paraosjornalistas será elaborada sem que se inicie um diálogocom as categorias envolvidas. Mas é bom lembrar queMagri não é exatamente o nome mais forte na corte collo­rida. E, além disto, no projeto de lei não se mencionouo fim do diploma para os jornalistas, simplesmente nãoestá escrito que ele é necessário. Um mero jogo de pala-

vras, mas que, como enfatiza Rolemberg, "criaria um vá­cuo na legislação que só beneficiaria as empresas de cornu­meação.Assim, como seguro morreu de velho, o presidente da

Fenaj resolveu expor suas idéias para outros membrosdo' governo. Na terça-feira, 23, Rolemberg falou direta­mente com o secretário da Comissão de Desregulamen­tação, Carlos Garcia, e depois colocou o problema ao novo

ministro da Justiça, Jarbas Passarinho, que subiu ao mi­nistério carregado por sua fama de bom negociador. Nomesmo dia, Rolemberg teve uma audiência com o presi­dente interino Itamar Franco na qual expôs a questãoe de quem procurou extrair uma promessa de que o projetonão seria baixado como medida provisória.Além dos contatos com o governo, a Federação Nacional

dos Jornalistas está articulando junto aos sindicatos doseconomistas, arquitetos e demais profissões incluídas no

projeto de lei, um trabalho conjunto de resistência. Naquinta-feira, 25, estava prevista a realização de uma reu­

nião para decidir como será esta atuação em bloco.Até o final da semana se espera que o governo dê uma

resposta mais concreta quanto às propostas feitas pelaFenaj. Resta saber se esta esperada resposta será uma

aceitação das sugestôes feitas, uma contraproposta, ousimplesmente mais uma das nefastas medidas provisóriasdo governo Collor.

Fotos. Lauro Maeda Zero'

Seqüência demovimentos deCaxote: umbotton-turn, umabatida de

, front-side (acima I

e a saída da batida.Uau

Flávio "Teco" Padaratzconquistou o segundo lugar naúltima etapa do circuitomundial, disputada domingopassado na Barra da Tijuca,Rio. Com isto, Teco é agora o

27': no ranking da ASP e podese tornar um back-fourteenpara 91.

Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina