Sabedoria do Campo

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No interior de São José do Divino existe uma comunidade chamada Jericó, nome achado na bíblia e, de tão bonito, foi dado a esse lugar tão rico em natureza. Nela morava o seu Clarindo Primo de Sampaio que era fazendeiro e já foi prefeito de Piracuruca. Seu Clarindo criava gado em uma propriedade de 240 hectares, a qual ele herdou de seu pai. Propriedade esta que os filhos, dentre eles seu Antonio Batista de Sampaio, herdaram mais tarde, 44 hectares cada um. Seu Antonio Jericó, como é mais conhecido, conta que na época da sua juventude, seu pai comprou uma casa em Piracuruca para colocar os filhos para estudar. Mas somente uma se interessou pelos estudos, se formando professora. Os outros se interessaram mesmo foi pela lida na roça e voltaram para a propriedade aos poucos. E um deles foi o seu Antonio, que mesmo não tendo completado os estudos, é muito curioso e sempre está em busca de mais informações que melhorem a produção de sua terra. Ele conta que recebe muitas visitas de técnicos de diversos órgãos governamentais e instituições não-governamentais que vão para conhecer o terreno fértil que ele tem, e ele aproveita para pegar algumas dicas. Além disso, ele também busca informações através de programas de televisão. Para ele a propriedade é boa porque ali tudo eles tem: frutas, verduras, legumes. Laranja, mamão, banana, umbu verdadeiro, acerola, goiaba e caju são algumas frutas cultivadas. O pé de caju da família coloca de julho a fevereiro, mesmo a região não sendo muito famosa pela produção de caju. Segundo seu Antonio o segredo do cajueiro é que ele fica perto da caixa d’água e, assim, pega água na raiz o verão inteiro. Lá também tem abóbora, coentro, cebolinha, milho, feijão e já preparam a terra para plantar o arroz. Além de bodes, bois, peixes e porcos. Diversidade de alimentos que garantem a Segurança e a Soberania Alimentar e Nutricional da família. De lá eles tiram quase Piauí Ano 1 | nº 09 | janeiro | 2009 São José do Divino - PI Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Sabedoria do campo A sabedoria e a curiosidade de um agricultor familiar de São José do Divino 1 Seu Antonio Jericó e o plantio de melancia O plantio de frutíferas é bem variado Projeto Piloto

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No interior de São José do Divino existe uma comunidade chamada Jericó, nome achado na bíblia e, de tão bonito, foi dado a esse lugar tão rico em natureza. Nela morava o seu Clarindo Primo de Sampaio que era fazendeiro e já foi prefeito de Piracuruca. Seu Clarindo criava gado em uma propriedade de 240 hectares, a qual ele herdou de seu pai. Propriedade esta que os filhos, dentre eles seu Antonio Batista de Sampaio, herdaram mais tarde, 44 hectares cada um.

Seu Antonio Jericó, como é mais conhecido, conta que na época da sua juventude, seu pai comprou uma casa em Piracuruca para colocar os filhos para estudar. Mas somente uma se interessou pelos estudos, se formando professora. Os outros se interessaram mesmo foi pela lida na roça e voltaram para a propriedade aos poucos.

E um deles foi o seu Antonio, que mesmo não tendo completado os estudos, é muito curioso e sempre está em busca de mais informações que melhorem a produção de sua terra. Ele conta que recebe muitas visitas de técnicos de diversos órgãos governamentais e instituições não-governamentais que vão para conhecer o terreno fértil que ele tem, e ele aproveita para pegar algumas dicas. Além disso, ele também busca informações através de programas de televisão.

Para ele a propriedade é boa porque ali tudo eles tem: frutas, verduras, legumes. Laranja, mamão, banana, umbu verdadeiro, acerola, goiaba e caju são algumas frutas cultivadas. O pé de caju da família coloca de julho a fevereiro, mesmo a região não sendo muito famosa pela produção de caju. Segundo seu Antonio o segredo do cajueiro é que ele fica perto da caixa d’água e, assim, pega água na raiz o verão inteiro.

Lá também tem abóbora, coentro, cebolinha, milho, feijão e já preparam a terra para plantar o arroz. Além de bodes, bois, peixes e porcos. Diversidade de alimentos que garantem a Segurança e a Soberania Alimentar e Nutricional da família. De lá eles tiram quase

Piauí

Ano 1 | nº 09 | janeiro | 2009São José do Divino - PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Sabedoria do campoA sabedoria e a curiosidade de um agricultor

familiar de São José do Divino

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Seu Antonio Jericó e o plantio de melancia

O plantio de frutíferas é bem variado

Projeto Piloto

tudo, ficando muito pouco a ser comprado na cidade. E o mais importante: totalmente orgânico e, portanto, livre de agrotóxicos.

Seu Antonio conta que já usou muito veneno por acreditar que eles realmente eram essenciais. Mas chegou a conclusão que não vale a pena, tanto financeiramente, pois se gastava muito com eles, quanto na parte da saúde. Foi quando um agrônomo que fez uma visita à propriedade lhe deu um pé de nim, que hoje está grande e suas folhas são usadas como defensivo natural.

O agricultor acredita que o veneno que é colocado na plantação faz é chamar mais os insetos e para ajudar a combater as pragas também usa fumo e sabão neutro. “A praga foi inventada por nós mesmos. O meu filho e meu compadre matavam os sapos e quando a gente plantava as pragas vinham. Por isso aqui eu não deixo matar nem uma cobra, porque sei que os animais ajudam a controlar a natureza”, declara.

Ter conhecimento sobre as coisas é essencial para seu Antonio. E foi através do conhecimento que ele tem buscado a melhor forma de plantar suas culturas. Ele cita o exemplo da banana que ele trabalhava demais para plantar e depois aprendeu que deve plantar na lua cheia com a cova de 30 centímetros. Antes ele plantava com a cova funda e nunca dava.

O conhecimento também é usado no plantio de milho consorciado com a melancia. Depois que ele planta a melancia e ela começa a vingar, é hora de plantar o milho com a terra forrada, para que retenha mais água e ela não se perca com a evaporação.

Abigail Lourdes, filha de seu Antonio e dona Jesus, conta que a região que eles moram é mais conhecida como bacia leiteira pelo grande número de cabeças de gado e a produção elevada de leite. Mas seu Antonio conta que somente quem cria muito gado é quem não tem prejuízo. Como a produção é

escoada para as indústrias de leite, o preço pago pelo litro é baixo e chega a custar cerca de 70 centavos.

Se o pequeno agricultor colocar todos os seus gastos na ponta do lápis irá perceber que ele gasta praticamente o dobro para manter a vaca. Por isso que ele pretende deixar de criar gado para investir na ampliação dos açudes para a criação de mais peixes e estão pensando na criação de uma bacia leiteira de leite de cabra, explorando um novo mercado e o dom de dona Jesus na cozinha. Ela é conhecida como uma das melhores cozinheiras da região, fazendo queijos, doces e bolos que rapidamente são vendidos nas feira de São José do Divino aos domingos.

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Hortaliças são cultivadas de forma orgânica

Abigail ajuda na plantação e a desenvolver a propriedade

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O PROJETO PILOTO DO P1+2 ESTÁ SENDO DESENVOLVIDO COM OS SEGUINTES APOIOS:

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e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

e Nutricional

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