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XII WORKSHOP DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DO CENTRO PAULA SOUZA –
Saberes e práticas contemporâneas em gestão e inovação na Educação Profissional e em Sistemas Produtivos
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São Paulo, 03 - 05 de outubro de 2017
ISSN: 2175-1897
O Curso Técnico em agropecuária frente aos novos desafios do cenário rural contemporâneo
Ivone Barbosa Targa1, Roberto Kanaane2
Resumo – O presente artigo analisa o papel do curso técnico em agropecuária
módulo integrado ao Ensino Médio na formação de jovens de uma escola
estadual no interior de São Paulo, bem como o perfil e as expectativas desses
frente aos novos desafios do mundo rural contemporâneo. Através de pesquisa
de campo que contemplou um questionário, buscando-se caracterizar o perfil do
jovem que almeja esse curso, considerando os aspectos socioeconômicos e
culturais. Trata-se de uma pesquisa com metodologia descritiva associada a
estudo de caso, do qual pôde ser verificado um perfil de alunos muito jovens e
mais motivados pelo prosseguimento nos estudos em nível superior na mesma
área de formação técnica do que pela inserção no mercado de trabalho.
Palavras-chave: Curso técnico em agropecuária, educação profissional agrícola,
curso técnico integrado ao ensino médio.
Abstract - The present article analyzes the role of the technical course in
agricultural and livestock module integrated to the High School in the training of
young people of a state school in the interior of São Paulo, as well as the profile
and expectations of these in front of the new challenges of the contemporary rural
world. Through a field research that contemplated a questionnaire, seeking to
characterize the profile of the young person who seeks this course, considering
the socioeconomic and cultural aspects. It is a research with a descriptive
methodology associated with a case study, from which a profile of very young
students could be verified and more motivated by the continuation in the studies,
at a higher level, in the same area of technical training than by the insertion in the
market of work. .
Keywords: Technical course in agriculture, agricultural professional education,
integrated technical course to high school
1. Introdução
1 Pós-Graduação, Extensão e Pesquisa do Centro Paula Souza – [email protected] 2 Pós-Graduação, Extensão e Pesquisa do Centro Paula Souza – [email protected]
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O avanço tecnológico tem feito a área rural passar por profundas
transformações. Uma grande quantidade de pessoas foi substituída por máquinas
eficientes, porém a necessidade de mão-de-obra especializada tem se tornado
cada vez mais significativa. Mesmo na agricultura, comenta Dellors (2012), existe
a necessidade de rever as competências, a importância de saber fazer, não
cabendo mais as qualificações por imitação ou repetição.
Schwab (2016) afirma sua convicção de que estamos no início de um
período marcado por significativas mudanças tecnológicas. Transformações que
podem otimizar oportunidades, sendo possível o seu controle através de formas
de colaboração compartilhada. O autor acredita na inovação tecnológica como
percursora de progresso econômico e elevação da humanidade, desde que se
pratique a responsabilidade coletiva. A quarta revolução industrial, segundo ele,
seria a mais radical sob os aspectos sociais, políticos e econômicos desde a
Revolução Neolítica (desenvolvimento da agricultura), uma vez que
transformações que levavam dezenas de séculos para concretizarem-se, agora
demoram décadas. Esses novos direcionamentos permitiriam um novo modelo de
desenvolvimento, com uma nova postura diante da natureza e de todos os
recursos advindos dela. E nesse contexto percebe-se a necessidade de pessoas
cada vez mais qualificadas e protagonistas no processo de transformação.
O presente artigo analisa as tendências do curso técnico em agropecuária
e as expectativas dos jovens que procuram essa formação. A pesquisa de cunho
exploratório procura identificar o cenário e os anseios desses jovens em questão,
utilizando como referencial teórico o contexto contemporâneo e abordando temas
como agronegócio e agricultura familiar como base de fundamentação teórica.
Neste sentido questiona-se: quais as perspectivas que o aluno visualiza frente ao
curso técnico em agropecuária, após a sua conclusão?
Em função do exposto tem-se como objetivo geral: Identificar as
perspectivas dos alunos frente ao curso técnico em agropecuária após a sua
conclusão. Quanto aos objetivos específicos tem-se: Caracterizar as tendências
atuais do curso técnico em agropecuária frente ao cenário rural. Dessa forma,
esse trabalho contribui para uma reflexão mais ampla sobre a dinâmica dos
cursos agrícolas e seu reflexo para a sociedade.
2. Referencial Teórico
A história da agricultura no Brasil se deu desde os primórdios da
colonização de forma exploratória. Os recursos ecológicos eram utilizados para
obtenção de lucros imediatos. Para analisarmos o contexto da educação
profissional rural no Brasil, como enfatizou Gritte (2008), precisamos considerar
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todo o contexto social que a priori foi relevante como modelo socialmente
reconhecido, que consistia em um Brasil colônia, latifundiário, escravocrata e
assim permaneceu por mais de três séculos.
Durante o período de colonização, constatou-se que os jesuítas exerceram
um papel singular na educação e catequização de filhos de colonos e indígenas.
No entanto, como direciona Sobral (2005), esses religiosos foram os primeiros
mestres de agricultura sem, contudo, ter o objetivo de ensino curricular ou
pretensão de transmitir conhecimentos especializados, mas como uma forma de
organização das fazendas que lhes garantissem uma sustentação básica.
A introdução da agricultura a partir da monocultura continuou com o caráter
exploratório, incorporando o trabalho forçado dos escravos, o que gerou o
chamado Modelo Predatório de Agricultura, caracterizado pela produção
destrutiva gerada por práticas e técnicas descuidadas e despreocupação com a
biodiversidade local. É nessa concepção que surgiu o conceito do modelo rural
brasileiro (PÁDUA, 2010).
Para Schmidt, Turnes e Guzzatti (2013) a agricultura familiar foi precária
até 1930, permanecendo em posição de dependência de “senhores” ou “coronéis”
até às décadas entre 1930 e 1970, quando ocorre a abertura do mercado interno,
passando então a ser chamada de Marginal, uma vez que tais atividades não
gozavam de políticas públicas. Após 1967, houve uma modernização de técnicas,
mas a estrutura agrária era a mesma. Em meados dos anos 90 a especificidade
da agricultura passa a ser reconhecida pelo Estado, recebendo políticas
diferenciadas, fato que contribui com a expansão do empreendedorismo entre os
jovens rurais. Os autores continuam descrevendo que o meio rural mudou e
consequentemente o jovem rural também mudou, suas expectativas de consumo,
trabalho e lazer tendem a ser diferentes das gerações passadas.
Kuazaqui & Kanaane (2004) sinalizam que o termo “agricultura” era
empregado amplamente à todos os setores que envolvessem esse tipo de
atividade, assim como os produtores que atendiam a demanda, sem necessidade
de especializações. Com o crescimento populacional otimizou-se pela quantidade
de alimentos como consequência do aumento do consumo, sendo necessária
uma nova visão contraposta ao antigo conceito de agricultura e pecuária.
José Graziano da Silva, eleito em 2016 pela segunda vez ao cargo de
diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a agricultura e
Alimentação, cargo que ocupará até 2019, reforça a ideia de que o campo não
pode mais ser identificado somente com a agricultura e a pecuária. As atividades
agropecuárias podem ser combinadas com áreas não agrícolas. No meio rural,
novos cenários estão sendo projetados como: turismo rural, turismo pedagógico,
exploração da paisagem, cultura e agroindústria (SILVA, 1999, p.35). Graziano
coordenou em 2001 o Programa Fome Zero, dando também início à sua
implementação, contribuindo com sua formação como agrônomo, professor e
escritor.
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Segundo Schmidt W.; Turnes V.A.; Guzzatti T. (2013), o espaço rural
deixou de ser apenas agrícola para ser multifuncional. Entende-se como noção de
multifuncionalidade o sinônimo de “muitas funções”. O termo, inicialmente
utilizado na agricultura familiar, foi desenvolvido em políticas públicas francesas
na década de 90. Ser multifuncional na agricultura é reconhecer que o meio rural
exerce uma função que vai além de aspectos econômicos, promovendo também
uma visão de sustentabilidade. Dessa forma, é preciso compensar tais serviços
ou bens públicos que não são remunerados pelos mercados.
Além disso, ocorre uma forte articulação entre a vida rural e a urbana tanto
na dimensão social e cultural, quanto na econômica, assim é possível traçar
estratégias e transformar paradigmas, principalmente em relação aos jovens
rurais e suas novas identidades. Por outro lado, com a integração entre rural e
urbano o grau de possibilidades e oportunidades se potencializam. É o que José
Graziano (SILVA, 1999) já identificava como pluriatividade, conceito de meio rural
que combina atividade agrícola e não agrícola. Termo também utilizado por
Oliveira, Freitas e Miorim (2015).
A idéia de multifuncionalidade também agregou valores à produção rural.
Enquanto na concepção produtivista evidencia-se a quantidade de alimentos e
matéria prima com preço baixo, mas que representa desgaste e destruição de
recursos ambientais, muitas vezes desnecessários à visão de sustentabilidade, o
multifuncionalismo valoriza a agricultura consciente, a garantia de segurança
alimentar e a produção de alta qualidade, visando também à proteção do
ambiente em que são produzidos.
Malacarne, R; Brunstein, J.; Brito, M.D. (2014) observam que as pessoas
são educadas para serem empregadas e criticam a falta de estímulo das
instituições de ensino para o empreendedorismo. No contexto da educação
agropecuária, os autores apontam que o mercado seleciona jovens preparados
para lidar com temas como o desenvolvimento sustentável, o qual concebe o
crescimento econômico, a conservação ambiental e o desenvolvimento social. De
acordo com os autores acima citados, tem-se que as escolas necessitam atentar
para as frequentes demandas mercadológicas, proporcionando currículos
condizentes com a atualidade e que favoreçam o desenvolvimento de
competências necessárias para que os alunos possam responder às
necessidades da sociedade, com profissionalismo e comprometimento. Dessa
forma, o futuro técnico em agropecuária apresenta condições de participar de
forma ativa nas organizações através de ações que promovam um futuro
sustentável à medida que o curso esteja sintonizado com as demandas de
mercado.
Araújo Neto e Costa (2005) definem o Agronegócio como uma “evolução
natural da agropecuária”, necessário para um novo cenário de múltiplas
operações, que incluem, por exemplo, os insumos tidos até então como produtos
não rurais. São os casos dos fertilizantes inorgânicos, adubos e defensivos. O
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autor observa que o setor, antes essencialmente primário e com caráter de
autossuficiência, passa a ter uma expansão no crescimento das operações. O
objetivo da produção rural, antes direcionada à demanda final, passa a ser mais
complexa, introduzindo-se no setor a tecnologia dos processos produtivos para
produções agropecuárias (utilização de tratores, implementos agrícolas, centros
de processamento, instrumentos de financiamento à produção, atividades de
pesquisa e desenvolvimento e serviços de logística dos produtos rurais e
agroindustriais).
Segundo a secretaria Especial de Agricultura Familiar e do
desenvolvimento agrário – (SEAD) a Agricultura Familiar tem dinâmica e
características diferenciadas, pois nela a gestão se dá pelo compartilhamento,
sendo a atividade produtiva voltada à agropecuária e encarada como a principal
fonte de renda. Tem-se, também, uma relação particular com a terra, local de
trabalho e moradia. Para Régis Borges de Oliveira, coordenador-geral de
Monitoramento e Avaliação da Sead ( desde 2013), esse tipo de atividade vai
além da economia e geração de renda, pois a Agricultura Familiar tem um valor
cultural e de preservação da tradição local (SEAD, 2016).
“O Brasil precisa de uma agropecuária que seja economicamente sólida,
mas também requer regiões rurais prósperas e mais justas no tocante à
distribuição da riqueza gerada” (LOPES, SARTI e OTERO, 2014). Expandir a
capacidade de gerar tecnologia e intensificar o processo de inovação, são fatores
que contribuem com o crescimento da agricultura brasileira, mas tornar esses
instrumentos acessíveis à todas as regiões e aos produtores é um desafio que
precisa ser enfrentado para que significativas transformações ocorram, assim
como, políticas públicas de valorização e incentivo ao meio rural.
Guedes, Torres e Campos (2014) observam que o desenvolvimento das
tecnologias implica em conhecimentos e habilidades cada vez maiores no espaço
rural. No entanto, o processo de urbanização e o despreparo dos pequenos
produtores têm levado à uma redução na disponibilidade de mão de obra
qualificada. Além disso, é indispensável ressaltar a importância da
profissionalização, que se incumbirá de atender um mercado exigente e
competitivo. Para isso, é preciso incentivar uma cultura de empreendedorismo,
com jovens qualificados e que tenham condições de desenvolverem-se frente aos
novos processos tecnológicos aplicados nas propriedades rurais.
Outro importante fator que precisa ser analisado, segundo Vieira Filho
(2014) é a capacidade de absorção de conhecimento na produção agrícola. Para
o autor não basta avaliar somente a distribuição tecnológica, mas de que forma
ela está sendo gerenciada. Análises mostram que a educação é um ponto
primordial no desenvolvimento da agropecuária.
Em função do exposto e considerando o cenário apresentado, evidencia-se
a importância de uma educação rural consistente, coesa e que atenda as novas
exigências da contemporaneidade. Os jovens egressos dos cursos de
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agropecuário têm uma gama de oportunidades e um mercado em expansão, no
entanto, devem enfrentar conflitos e a responsabilidade de abolir de vez o
preconceito que permeia o fato de que ser rural é ser necessariamente
retrógrado.
3. Método
Adotou-se a metodologia descritiva associada a estudo de caso. Foi
realizada uma pesquisa de campo com coleta de dados em locus, sendo alunos
de uma escola estadual agrícola (ETEC) do interior de São Paulo, vinculada ao
Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza – CEETEPS. A amostra
não probabilística conforme Vergara (2013) é representada por 30 alunos do
curso de agropecuária módulo integrado ao ensino médio.
A coleta de dados deu-se em junho de 2017 através de questionários,
abordando aspectos socioeconômicos, culturais e as perspectivas que os alunos
visualizam frente ao curso técnico em agropecuária.
Foi realizada uma avaliação quali e quantitativa, analisando-se também as
questões abertas, avaliadas e interpretadas à luz da proposta de pesquisa.
4. Resultados e Discussão
Foram enviados questionários para 30 alunos, dos quais retornaram 15 no
período de 10 de junho a 2 de julho. 33,3% dos respondentes possuem de 14 a
15 anos e 66,7% têm de 16 a 17 anos. 73,3% são meninas e 26,7% meninos.
26,7% cursam o 3º ano, 46,6% cursam o 2º ano e 26,7% cursam o primeiro ano.
No que diz respeito aos dados socioeconômicos, 73,3% dos alunos analisados
nunca trabalharam e 6,7% trabalham atualmente.
O graf.1 demonstra que a principal motivação ao escolher o curso técnico
está relacionada à obtenção de uma experiência prévia, objetivando prosseguir o
curso da área agrícola em nível superior.
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Gráfico 1 : Motivação ao escolher o curso técnico
Fonte: Dados de pesquisa
Dos 27% que indicaram outros motivos, relataram como motivação à
obtenção de conhecimentos para aplicar em uma propriedade rural própria em um
futuro de longo prazo e o fato de se identificarem com o curso. Para Sampaio
(2009) em sua revisão sobre a obra de Abraham Maslow, a motivação é um fator
unicamente interno. Segundo ele, há autores que interpretam Maslow traçando
uma retórica simplista e reducionista, deixando de considerar a heterogeneidade
das necessidades de motivação, uma vez que os indivíduos interagem e nessa
interação buscam razões e significados que os satisfaçam. Por outro lado, é
possível se atentar às necessidades e demandas como sinalizadores dos graus
de satisfação que possam promover a motivação.
Com relação às dificuldades enfrentadas no curso técnico, 46,7% afirmam
não as terem; 26,7% relatam dificuldades nas aulas teóricas técnicas; 6,7% nas
aulas práticas técnicas; 6,7% nas aulas regulares de ensino médio; 6,7% na
associação entre teoria e prática e 6,7% apontam outras dificuldades, entre elas a
falta de afinidade com o ensino técnico.
Dentre os respondentes, 47% sinalizam a profissão como o principal foco
de importância nos estudos, seguido de autoconhecimento e diploma para
prosseguir nos estudos, conforme gráfico 2.
Gráfico 2 : Importância dos estudos
Fonte: Dados de pesquisa
13%
7%
53%
27%
Ingressar no Mercado de Trabalho
Aplicar os conhecimentos adquiridos no empreendimento rural da famíliaObter um experiência prévia específica, objetivando prosseguir o curso da área em nível superiorAlmejar um empreendimento rural próprio
Outra razão
40%
47%
13%Autoconhecimento
Autoestima
Profissionalização
Busco apenas o diploma paraprosseguir em nível superior
Outra razão
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Weinberg (2014) cita que desde o fim do século 20 as instituições de
ensino se sentem responsáveis pela missão de contribuir para a melhoria das
condições de engajamento de seus egressos no mercado de trabalho. Tais
informações respondem em parte pelo grau de relevância que os alunos
analisados depositam na profissionalização, visualizando esta oportunidade como
estímulo entre escola e trabalho. O autor segue descrevendo uma renovação no
modo de se construir o conhecimento a partir do “aprender fazendo” baseado na
criatividade, qualidade e inovação. Entretanto, na Educação Profissional as
transformações levaram a uma nova pedagogia do “aprender resolvendo”, fato
analogamente comparável a porcentagem de respondentes que relatam ser o
autoconhecimento um fator importante no processo de aprendizagem.
Com relação à identificação com o curso, 60% se identificam totalmente,
13,3% pouco se identificam e 26,7% se identificam parcialmente. As razões são: 1
– Ter formação em outra área de conhecimento, por isso, apesar de gostar do
curso, não se identifica totalmente; 2 – ter propriedade rural na família e almejar
seguir com os negócios; 3 – Gostar de atividades rurais; 4 – Interesse em
continuar os estudos na área em nível superior; 5 – Dificuldade com os conteúdos
técnicos.
Ao término do curso, 53,4% dos respondentes pretendem ingressar no
ensino superior em curso da área agrícola; 13,3% pretendem aplicar os
conhecimentos nos negócios da família; 20% buscam inserção no mercado de
trabalho com os conhecimentos obtidos no curso e 13,3% almejam continuar sua
formação através de cursos na área.
Dos fatores mencionados como responsáveis pela opção pelo curso,
aparecem: conhecimento de profissionais que atuam na área (13,3%); influência
da família (13,3%); desenvolvimento de uma carreira na área (20%); interesse de
prosseguir os estudos na mesma área em nível superior (33,4%). Além de 20%
que indicam outros fatores, como: obtenção de autoconhecimento, interesse na
conclusão do ensino médio e afinidade com a área.
Dos estudantes analisados, 47% consideram que as disciplinas tratadas no
curso atendem satisfatoriamente à obtenção dos conhecimentos em agropecuária
e para 33% o atendimento é muito satisfatório, conforme indicado no gráfico 3. As
razões que justificam as percentagens citadas são: a excelência na formação,
tanto na base tecnológica quanto no preparo do corpo docente técnico; o fato do
conhecimento prévio adquirido promove condições de aplicações práticas em
empreendimentos futuros e/ou no ingresso em nível superior da área. Além das
aulas serem completas e dinâmicas. Os 20% que relatam o atendimento como
parcialmente satisfatório enunciam: a duração do curso ser curta; a falta de
suporte e de conhecimentos em algumas disciplinas.
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Gráfico 3 : Relação entre as disciplinas tratadas no curso e o conhecimento da área
Fonte: Dados de pesquisa
O estágio supervisionado para 53,3% dos respondentes é muito importante
e para 46,7% importante. Os motivos apontados são: uma forma de autoavaliação
do que se aprendeu; promoção da segurança necessária para uma prática bem
executada; conhecimento na prática a fim de amadurecer a vocação para
prosseguir na área e maior ênfase na aprendizagem.
Dentre as disciplinas julgadas como de maior relevância na formação
profissional, foram citadas: uso de solo e água (pela importância do uso
consciente); plano de negócios (devido ao caráter de planejamento e promoção
da produtividade e sucesso no empreendimento); reprodução animal, agricultura
orgânica e disciplinas ligadas à pecuária, como nutrição animal e microbiologia
(por identificação pessoal e interesse no conhecimento adquirido para prosseguir
em estudos da área em nível superior, como por exemplo, no curso de medicina
veterinária).
Das razões que os atraíram pela área e as percepções desses alunos
sobre o mercado de trabalho oferecido pelo curso, foram apontados: o interesse
por mostrar o que está por trás de um alimento, como é produzido, como se deve
tratar o solo, pela importância da área de conhecimento essencial a todos, a
agroecologia, o fato da área de agropecuária crescer cada vez mais no país. Com
relação ao mercado, é descrito como: diversificado, com falta de mão de obra
qualificada, precário e pouco atrativo quanto à remuneração, área em constante
expansão devido ao caráter de imprescindibilidade dos alimentos e a
incorporação de inovações nos métodos de trabalho e a desvalorização da área.
Para Barros (2014) parece claro que inovações e investimentos no segmento
agrícola continuarão impulsionando o crescimento brasileiro. No entanto, é
preciso pensar em políticas públicas que lidem com tamanha fragilidade no setor.
5. Considerações finais
33%
47%
20% Muito satisfatória
Satisfatória
Parcialmente satisfatória
Pouco satisfatória
Não satisfatória
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Pôde-se constatar que os alunos do curso técnico integrado ao ensino
médio da instituição analisada têm como principal motivação à obtenção de uma
experiência prévia para prosseguir em curso da área em nível superior. Quando
apontam a profissionalização como principal foco de importância em relação aos
estudos, eles a identificam como forma de continuação na formação, mais do que
uma relação com a inserção no mercado de trabalho. Maia (2014) sinaliza que
uma menor presença de jovens na população rural indicaria um fluxo desses para
os centros urbanos, isso ocorreria devido à busca por melhores oportunidades de
emprego, fato que se intensifica com o aumento da escolaridade. O autor
reconhece os ganhos de produtividade agrícola, que atenuam os impactos da
escassez de mão-de-obra, mas coloca o fator do êxodo demográfico como uma
questão vulnerável e persistente.
Os alunos se identificam com o curso escolhido e 53% deles pretendem
ingressar em cursos de nível superior na mesma área de formação técnica, sendo
esse também o principal motivo pela opção pelo curso.
Dos respondentes, 47% consideram que as disciplinas tratadas no curso
atendem satisfatoriamente à obtenção dos conhecimentos em agropecuária e isso
é justificado pela excelência na formação e preparo do corpo docente. Os alunos
classificam o estágio supervisionado muito importante como forma de
autoavaliação e aperfeiçoamento do aprendizado.
Quanto aos atrativos pela área agrícola, eles apontam à importância do
setor pelo caráter de imprescindibilidade para a população. Reconhecem a
expansão do segmento no país, mas consideram o mercado de trabalho precário,
pouco atraente quanto à remuneração e com escassa mão-de-obra qualificada.
Para Buainain (2014) o resultado da baixa produtividade e remuneração até
praticamente final do século 20 se deu pela expansão da mão-de-obra rural,
gerada de um lado pelo crescimento populacional e de outro pelo foco de
tecnologia em algumas localidades, como substituta do trabalho braçal. Fatores
esses, submersos em um ambiente caracterizado pela falta de proteção e direitos
trabalhistas.
Dessa forma, conclui-se que os objetivos foram alcançados, embora se
entenda que estudos posteriores poderão ser realizados no intuito de ampliar o
escopo e contribuir com pesquisas voltadas à formação e perspectivas de jovens
no cenário rural.
Referências
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