Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

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Territorialidade Humana: sua teoria e história. Robert David Sack Cambridge

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Territorialidade Humana:

sua teoria e história.

Robert David Sack

Cambridge

Cambridge University Press

1986

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Introdução.

A Territorialidade Humana é um elemento poderoso e

generalizado em nossas vidas, no entanto, estudos sérios têm somente

delineados seus perímetros. Este livro tenta ajudar a redirecionar as

pesquisas em direção ao âmago da Territorialidade. Concebendo-a como

sendo um meio indispensável, em geral, para o poder em todos os níveis: do

pessoal ao internacional. Uma vez que o assunto é tão vasto e os usos da

Territorialidade são variados, não se pode fazer mais em um único volume do

que oferecer um esquema e esperar que a publicação sirva para estimular

pesquisas futuras. Objetivando preparar o leitor para a filosofia embutida neste

livro, eu gostaria de dizer umas poucas palavras sobre os contextos, aos quais

eu acho que uma discussão frutífera da Territorialidade, pertencente e não

pertencente.

Talvez, as afirmativas melhores publicadas sobre a

Territorialidade Humana tenham vindo dos biologistas e dos críticos sociais.

Que a concebem como um ramo do comportamento animal. Estes escritores

afirmam, que a Territorialidade nos humanos é parte de um instinto agressivo

que é dividido com outros animais territoriais. O ponto de vista apresentado

neste livro é um pouco diferente. Embora, eu veja a Territorialidade como uma

base do poder, eu não a vejo como uma parte de um instinto, nem eu vejo o

poder como essencialmente agressivo. O poder que um pai exerce sobre uma

criança pode ser para o próprio bem da mesma, e este poder pode ou não ser

territorial. Um pai pode decidir que é mais seguro manter a criança dentro de

casa e longe da umidade e do frio da chuva. Mantendo a criança em casa,

conforme nós veremos adiante, é uma restrição territorial. Pode ser uma

estratégia conveniente, mas não é o único meio de manter a criança seca e

aquecida. O pai pode permitir que a criança brinque do lado de fora se ela

estiver com agasalho quente e com roupa de chuva.

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Os humanos podem usar a Territorialidade para uma variedade

de razões geralmente abstratas, poucas se algumas delas forem motivações

por animais. De fato, devido a Territorialidade nos humanos supostamente ser

um controle sobre uma área ou espaço que deve ser concebida e comunicada,

então alguém pode levantar que a Territorialidade, neste sentido, é muito

improvável na maioria senão em todos os animais. A Territorialidade nos

humanos é melhor entendida como uma estratégia espacial para afetar,

influenciar ou controlar fontes e pessoas, controlando área; e, como uma

estratégia, a Territorialidade pode ser ligada e desligada. Em termos

geográficos ela é uma forma de comportamento espacial. A questão então é

descobrir sobre que condições e porquê a Territorialidade é ou não é

empregada.

Este livro examinará a Territorialidade Humana do contexto da

motivação humana. No entanto, ainda permanece o fato que a imagem popular

da Territorialidade parte de trabalhos que enfatizam as ligações biológicas.

Assim, os esforços para desviar a atenção de tais conexões podem ser

confundidos ao se usar um termo que às conota. Apesar das restrições ao

termo Territorialidade (o que certamente não é uma palavra sonoramente

bonita), eu não tenho sido capaz de encontrar uma melhor palavra. Soberania,

propriedade e jurisdição são restritas demais neste âmbito para ser

alternativas adequadas. Embora, sendo um termo impróprio, eu usarei a

Territorialidade e confiarei que as conotações anteriores não desviarão a

atenção do que eu quero acreditar ser o seu significado verdadeiro: é uma

estratégia humana para afetar, influenciar e controlar.

A Territorialidade nos humanos é melhor pensada não como algo

biologicamente motivada, mas sim enraizada socialmente e geograficamente.

Seu uso depende de quem está influenciando e controlando o quê e quem,

nos contextos geográficos de espaço, lugar e tempo. A Territorialidade está

intimamente relacionada em como as pessoas usam a terra e como elas

organizam-se no espaço, e como elas dão sentido ao lugar. Claramente, essas

relações mudam, e a melhor maneira de estudá-las é a de revelar sua

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mudança de caráter em relação ao tempo. A Territorialidade assim repousa

em duas tradições geográficas: a Geografia Social e a Geografia Histórica. Nós

podemos, é claro, afirmar que elas não são realmente interconectadas e

formam uma filosofia única - a Social Histórica. Assim, uns poucos negariam

que estas duas devem ser ligadas e alguns têm sido capazes de incorporar

ambas as tradições em seus trabalhos, não é fácil combiná-las e satisfazer a

todos. O problema reside nas diferenças complexas complexas entre as

filosofias particularistas e a Geografia Histórica, e a filosofia generalizante da

Geografia Social com seu componente teórico - análise espacial. As diferenças

entre o particular e o geral estão confrontadas novamente no resto da Ciência

Social.

A geografia Histórica, que está fortemente aliada com a História,

tende a impor exames detalhados de lugares em certos períodos. Ela pode

empregar generalizações da Geografia Social e de outras Ciências Sociais e

pode chegar a descrições gerais de pessoas e sociedade, mas o seu foco

primário é o entendimento das relações particulares que existiam em um lugar

particular durante um período particular. Geralmente, é “longa” nos fatos e nas

descrições, mas “curta” na teoria. Em termos de filosofia da Geografia, ela

tende a ser ideográfica. A Geografia Social (e seu componente generalizado -

a análise espacial), por outro lado, está mais fortemente aliada às Ciências

Sociais sistemáticas tais como as econômicas, a sociologia e a ciência política,

e tende a formar modelos abstratos das relações social-geográfica e testá-los,

geralmente, em cenários contemporâneos, embora ocasionalmente dados do

passado sejam usados. Na terminologia geográfica essas filosofias são

chamadas “nomotéticas”.

Claramente estas podem ser concebidas como formando em algo

contínuo, e assim elas não precisam a princípio representar filosofias

diferentes. A História e a Geografia Histórica podem usar teorias sociais e

ajudar a reformulá-las, e as teorias sociais podem ser mais precisas e

pertinentes sobre o exame cuidadoso dos historiadores. Ainda na prática -

devido talvez a preferências pessoais na pesquisa, a estilo de análises, há

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lacunas entre o fato e a teoria - a continuidade tem sido fina no meio. Os

historiadores e os geógrafos históricos geralmente criticam os modelos de

ciências sociais sistemáticos como algo histórico e afirmam que quando os

modelos são testados do passado, nós aprendemos muito pouco sobre o

período, porque estes são modelos supergeneralizados, ao invés dos

contextos históricos serem os fatos a serem explicados. Geógrafos sociais e

cientistas sociais são contra que muitos geógrafos históricos e historiadores

estejam desejosos demais em generalizar e a aceitar o fato de que até

mesmo descrições detalhadas devem ser baseadas em generalizações sobre

comportamento e sobre o passado. E é claro, que quando alguém tenta

construir uma ponte entre essas diferenças praticando no meio do contínuo

sempre se corre o risco de não satisfazer alguém no final.

Então é dentro da tradição da Geografia Humana, que em algum

lugar entre as tradições das análises sociais e históricas, que esse trabalho

sobre Territorialidade se baseia. O seguinte contém tanto a teoria e a história

com talvez uma ênfase mais pesada desta primeira, porque o meu treinamento

tem sido na parte espacial-analítica da Geografia Social. Na teoria, eu não

quero falar sobre uma concepção positivista total de uma série de relações

nomotéticas ligadas axiomaticamente e que podem ser usadas para predizer

ações humanas. Ao invés da teoria, eu quero falar sobre um grupo

interrelacionado de características que pode ser usado para explicar ou para

dar sentido ao comportamento. Este significado mais flexível tende a sugerir

menos do que o ideal positivista, porém bem mais do que noções frouxamente

conectadas. Uma importante característica da teoria territorial é que ela é

projetada para revelar razões potenciais para o uso Territorialidade. Quais as

razões usadas depende do contexto atual. Algumas das razões ou efeitos

serão usados em praticamente qualquer situação, e outros ou outras serão

usados somente em contextos particulares. A este respeito, a teoria é

expressa geralmente ou adestrativamente em cima de estruturas sociais, mas

sua especificação e exemplificação depende do contexto histórico-particular e

de agência individual. O objetivo deste livro não é simplesmente testar,

exemplificar ou ilustrar generalizações. Espera-se também que o livro

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aprofunde o nosso entendimento de certos contextos históricos demonstrando

como e porquê a Territorialidade é usada. Ela pode derramar luz,

especialmente, no surgimento da civilização e em facetas críticas da

modernidade.

A Territorialidade então é um uso sensato historicamente do

espaço. Especialmente, uma vez que ela é socialmente construída e depende

de quem está controlando quem e porquê. Ela é o componente geográfico

chave para se entender como a sociedade e o espaço estão interconectados.

Na exploração destes assuntos, o livro não somente usa o passado para

ilustrar a teoria, mas também reconstrói partes da história da Territorialidade,

visando disseminar mais luz no passado e nas organizações sociais presentes.

Mas ao combinar a teoria e a história, o livro não tem pretensão de desvendar

novos fatos históricos ou fontes. Ao invés disso, ele tenta colocar de maneira

antiga e bem conhecida fatos, mas sobre uma luz diferente.

1. O significado da Territorialidade.

A Territorialidade para os humanos é uma estratégia geográfica

poderosa para controlar pessoas e coisas através de um controle de área. Os

territórios políticos e a propriedade privada da terra podem ser as suas formas

mais familiares, mas a Territorialidade ocorre em vários graus e em inúmeros

contextos sociais. Ela é usada nas relações do dia-a-dia e nas organizações

complexas. A Territorialidade é uma expressão geográfica primária do poder

social. Ela é um meio pelo qual o espaço e o tempo estão interrelacionados. A

mudança de funções da Territorialidade nos ajuda a entender as relações

históricas entre a sociedade, o espaço e o tempo.

Este livro explora algumas das mais importantes mudanças que

ocorrem nas relações entre a sociedade e a Territorialidade, desde o começo

da história até o presente. Ele faz, analisando as possíveis vantagens e

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desvantagens que a Territorialidade pode proporcionar, e considerando porque

algumas e não todas surgem somente em períodos históricos. Explorando as

vantagens e desvantagens somos conduzidos à teoria da Territorialidade.

Explorando quando e porquê estas vêm à tona constituem a história da

Territorialidade e a mudança das suas relações com o espaço e a sociedade.

A história da Territorialidade e da relação da Territorialidade com

o espaço-sociedade são informados teoricamente pelas possíveis vantagens

que aqui podemos esperar da Territorialidade. Após introduzir um significado

da Territorialidade neste capítulo, nós exploraremos no capítulo 2 as

vantagens possivelmente teóricas da Territorialidade. Os capítulos

subsequentes considerarão como e quando essas vantagens são usadas

historicamente e os efeitos que elas têm na organização social. No capítulo 3

teremos um esquema das principais mudanças entre a Territorialidade e a

sociedade desde os tempos primitivos até o presente e focalizados nos mais

importantes períodos: o começo da civilização e o começo do Capitalismo. No

capítulo 4 analisaremos o desenvolvimento pré-moderno dentro de uma

organização complexa - a Igreja Católica. Os capítulos 5 e 6, considerarão o

desenvolvimento da Territorialidade do período moderno: o capítulo 5

explorará o surgimento da organização política de 400 anos de idade da

América do Norte; e o capítulo 6 explorará o desenvolvimento da

Territorialidade dentro do ambiente de trabalho para o mesmo período de

tempo.

Estes períodos e contextos foram selecionados para ilustrar os

mais importantes desenvolvimentos históricos no uso da Territorialidade. Eles

nos permitirão ver que alguns efeitos territoriais são universais, ocorrendo em

praticamente qualquer contexto histórico e organização social, e que outros

são específicos a períodos históricos particulares e a organizações, e que

somente a sociedade moderna tende a usar a gama total de possíveis

efeitos. Estudando como a sociedade moderna emprega esta gama

especialmente porque ela emprega os efeitos territoriais que não eram usados

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nas sociedades pré-modernas, nós entenderemos o significado e as

implicações da modernidade e o papel futuro da Territorialidade.

Exemplos de Territorialidade.

Antes de nós considerarmos a teoria e a história da

Territorialidade, nós devemos primeiro descrever o que ela é e o que ela faz.

Para familiarizarmos com a abrangência do nosso assunto, vamos organizar

os usos territoriais em três contextos. O primeiro se refere aos índios

Chippewa da América do Norte e o seu contato com os europeus. E serve para

ilustrar as diferenças nos usos territoriais entre as sociedades pré-modernas e

moderna. O segundo se refere a Territorialidade no lar moderno e o terceiro

considera a Territorialidade no ambiente de trabalho moderno. Ambos

exploram os usos territoriais contemporâneos em contextos familiares de

pequena escala e apontam a onipresença da Territorialidade na vida moderna.

Os Chippewa.

Considere o grupo de índios americanos, chamados Chippewa

ou Ojibwe, os quais nos primeiros dias de contato com os europeus, ocupavam

uma larga área ao redor da metade ocidental do Lago Superior. Os Chippewa

pertencem ao grupo de linguagem Algonkuian, que cobrem a maior parte da

América do Norte Central, exceções do nordeste dos Estados Unidos e

também o centro-sul e porções orientais do Canadá. Haviam bem mais de

20.000 Chippewa no tempo do primeiro contato com os europeus. Embora, os

Chippewa, possuíssem uma linguagem comum, cultura e sistema de crenças,

eles não possuíam uma organização política central. Eles eram mais de uma

coleção de bandos do que uma tribo propriamente dita.

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Os Chippewa eram primariamente caçadores, colhedores e

coletores. Eles viviam de amoras, castanhas, raízes, arroz selvagem, peixe e

de gamos. Aqueles que viviam nas porções sul e oeste do Lago Superior em

áreas que tinham aproximadamente 100 ou mais dias por ano livres do frio,

eram capazes de suplementar as suas dietas cultivando milho e abóbora. Os

seus artefatos incluíam canoas, arcos e flechas, lanças, armadilhas e cestas.

As suas proteções iam desde de os tapís de madeira até alpendres e abrigos

rudimentares. Alguns dentro da comunidade, eram melhores do que outros

para fazer artefatos, mas o conhecimento de como construí-los estava a

disposição de todos. Aqueles que tinham habilidades superiores eram olhados

como os lideres. A liderança era conquistada. O líder não podia impor suas

decisões em cima dos outros e não podia impedir que uma pessoa obtesse a

sua independência. Em termos econômicos, estas pessoas eram igualitárias.

O tamanho das unidades sociais Chippewa além da família

variavam com as estações. Durante a primavera, verão e o começo do outono,

quando as amoras, as raízes, o arroz selvagem e o peixe estão prontos e à

disposição e também quando os gamos adultos eram abundantes, as famílias

se reuniam para formar uma vila de talvez 100 ou 150 pessoas. Durante os

meses de inverno, quando o alimento era escasso, as famílias normalmente se

dispensavam em pequenas unidades, com individualidade doméstica

ocasionalmente solitária. Mesmo famílias simples podiam sobreviver durante

uma estação por si mesmas, elas raramente estavam distantes das outras

durante o inverno, e nos meses mais quentes elas reconstituíam as vilas para

realizar várias atividades econômicas e culturais que requeriam uma

cooperação sustentada. Quando juntos, os membros nos bandos caçavam,

colhiam e dividiam o seu produto. A amizade era estabelecida e os

casamentos planejados. Ser membro de um bando parece ser algo voluntário.

Se a tensão aumentava, ou se as necessidades mudavam, uma família podia

sair de um bando e se juntar a outro.

O que pode-se dizer sobre a organização territorial Chippewa? Está claro que

eles como uma entidade ocupavam uma vasta área. Mas, as suas habitações

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nunca foram claramente ligadas e flutuavam de ano a ano. No leste, os

Chippewa estavam misturados entre os amigáveis Ottawa e os Potawatomi; no

norte eles estavam misturados entre os normalmente amigáveis Cree; e no

oeste com mais Cree e Assiniboin. Os Chippewa tinham grandes dificuldades

com os Dakota do leste das pradarias, que se estabeleciam próximos as suas

fronteiras do sul e do oeste. Mas um amplo trato de desocupação de uma faixa

de terra, proporcionou uma zona neutra entre eles e o seus vizinhos Dakota.

Mesmo que o perímetro da nação Chippewa tenha sido estabelecido, duvida-

se que ele tenha sido circulado por um único Chippewa, ou que muitos entre

eles possuíssem um mapa, representando os seus domínios coletivos.

Os bandos Chippewa, também ocupavam áreas particulares,

mas estes lugares mudaram após muitos anos, conforme as suas

composições sociais. O estabelecimento de um bando em um local particular e

o seu uso das fontes e das áreas ao redor devem ser conhecidos e aceitos

pelos bandos vizinhos. Mas, isso não significa que o bando precisa proclamar

o território específico exclusivamente para seu próprio uso e defendê-lo contra

as incursões de outros Chippewa. A população era esparsa e o alimento

abundante o suficiente de forma que quando um bando usava uma área era

improvável que esta fosse excluída para o uso por outros camaradas.

Indivíduos e famílias dentro desses bandos igualitários não possuíam a terra.

A terra era para o uso da comunidade, e os membros dos bandos tinham

permissão para dividir o seu uso. Um bando podia se apropriar de parte de

uma área para uma família particular, mas isso não significava que a família

possuía a terra e que pudesse excluí-la de outras. Isto se aplica ao uso da

terra para a agricultura bem como para caça e colheita.

A extração de plantio no norte dos grandes lagos, era curta

demais para que Chippewa pudessem praticar a agricultura, mas ao sul e ao

oeste do lago superior, o cultivo do milho e da abóbora formaram um

importante suplemento para a dieta do Chippewa. Estes índios tinham seus

campos próximos as suas vilas. Cada família possuía o seu próprio jardim que

era limpo, plantado e cultivado sozinho, ou o processo podia ter sido coletivo.

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Neste caso, estes jardins não eram claramente demarcados e não possuíam

cercas de territórios.

No tempo do contato europeu, então, essas pessoas dificilmente

eram territoriais como uma nação, embora elas pudessem ter sido,

ocasionalmente, territoriais como bandos individuais ou como famílias dentro

de bandos. Mesmo aqui a sua asserção do controle sobre uma área era

geralmente imprecisa, sisonal e estratégica. Bandos ou famílias podem ter

reclamado uma área somente se eles fossem razoavelmente confiantes que os

recursos continuariam lá e se eles soubessem que haveria competição por

estes recursos por outros grupos. Imaginando essas condições de predomínio

é possível considerar como um grupo “por exemplo” os Chippewa podem

alterar e intensificar o seu uso territorial. Nós dizemos “por exemplo” porque

alguns fatores que nós consideraremos, embora sejam causas importantes de

mudanças no uso territorial em outras sociedades pré-literatas, e embora

presentes na sociedade Chippewa, não são de fato os primários que alteram o

uso territorial Chippewa. E ainda, se referindo a eles como possibilidades que

nos ajudarão a entender como em geral uma sociedade simples e pré-literata

pode desenvolver pressões internas primárias que alteram as relações entre a

Territorialidade e a organização social.

Neste aspecto, suponha que o gamo se torne escasso e também

que os Chippewa do sul devotem mais tempo a agricultura. Suponha também

que para alguns no Minnesota no Wisconsin, os cavalos se tornem parte de

sua cultura. Membros da comunidade podem ainda coletivamente limpar os

campos, plantar e cultivar as colheitas, mas como estas agora colheitas vitais

podem ser protegidas dos animais selvagens, das crianças muito jovens e dos

cavalos? É possível que estas sejam dificuldades menores e que nenhuma

precaução especial seja necessária. A ameaça dos animais selvagens pode

ser desprezadas; os adultos podem supervisionar as crianças e o seu acesso

às colheitas; e os cavalos podem encontrar grama o suficiente para pastar de

forma que eles não vão danificar os jardins. Mas, pode também ser o caso que

mesmo estes não sendo problemas sérios, a comunidade ache mais

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conveniente construir uma cerca nos campos ou colocar os cavalos em cercas

também, ou ambos. Os propósitos desta clara demarcação territorial seriam

estabelecer diferentes graus de acesso a coisas no espaço. Ainda, pouca

coisa precisa ser mudada. A comunidade pode ainda manter os seus objetivos

originais.

Mas não é difícil deixar nossas imaginações avançarem até

condições mais consideráveis de grande tumulto, tornando inevitável partições

territoriais mais complexas. O tamanho da comunidade pode aumentar ao

ponto de esforços de trabalhos comunitários casuais se tornem incontroláveis,

e a pressão da população de outros grupos podem tornar impossível para uma

família simplesmente sair de um bando para outro. Embora, a comunidade

possa ainda ser igualitária - a terra ainda é da comunidade - os campos agora

podem ser alocados a famílias conforme as necessidades básicas, e as

famílias devem demarcar as suas áreas e o acesso deve ser restrito

simplesmente para prevenir um pisotiamento inesperado. As possibilidades

para a Territorialidade podem multiplicar-se dentro desta sociedade igualitária.

Mas, há um ponto em que algumas destas possibilidades podem realmente

interferir nos valores da divisão comunitária e cooperação. Não se quer dizer

que os diferentes usos da Territorialidade em si podem transformar as relações

sociais de, neste caso, uma sociedade igualitária para uma sociedade

estruturada em classes. Mas, a Territorialidade pode ser um catalisador no

processo de mudança e pode ser usada diferentemente em vantagem para

uma classe dividida, bem como para uma sociedade igualitária. Se por

exemplo, uma família Chippewa começasse a reclamar o acesso a algumas ou

todas as fontes da comunidade (recursos), a Territorialidade seria um

mecanismo extremamente útil para afetar essas reclamações.

Estas especulações apontam para a possibilidades das

mudanças territoriais ocorrerem amplamente a partir de forças dentro da

sociedade. Tais transformações têm de fato sido documentadas por várias

sociedades pré-literatas e serão examinadas mais proximamente em um

capítulo subsequente. Mas para os Chippewa, a maioria das transformações

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sociais e territoriais foram impostas pelos europeus e pela economia

americana e política.

O comércio de peles europeu logo pressionou as relações sociais

dentro dos bandos. Ele pressionou os esforços comuns e igualitários. Afetou

os hábitos de caça e a ecologia da área, e pode ter aumentado o controle

territorial individual e de família as custas do acesso comum. Mas, a adoção da

propriedade privada foi seletiva. Alguns alegam que como resultado do

comércio de pelem, algumas famílias entre as tribos de índios de Woodland,

incluindo os Chippewa, parecia ter o seu próprio território de caça que era

passado de pai para filho. Mas, após uma inspeção mais detalhada, a

evidência parece que o controle territorial privado, pode ter sido exercido

somente sobre o acesso às peles e não sobre aos outros recursos. De acordo

com Leacock estes territórios de caça, pelo menos para os Montagnais, “não

envolvia a propriedade real da terra”. As pessoas não podiam armar

armadilhas para caçar animais perto da fronteira dos outros, mas qualquer um

poderia caçar gamos, podia pecar ou podia colher madeiras, amoras ou

cascas de bétula, desde que os produtos da terra fossem para uso e não para

venda.

O assentamento europeu no leste do Alleghenys também

aumentou a pressão sobre a população do meio-oeste, conforme as tribos se

mudavam para mais a oeste com objetivo de encontrar novas terras. A

pressão da população e a confiança em futuros negócios pressionou relações

social-territorial comuns dos bandos; muitas famílias se tornaram dependentes

e hábeis no negócio de peles. Esta adaptação realmente ajudou a estender o

domínio Chippewa e até 1840 os Chippewa cobriam as áreas do Lago

Superior oeste, o leste das margens do Lago Huron, o norte, praticamente, até

as praias da baía de Hudson, o oeste até o lago Winnipeg e o sul até o centro

do Minnesota e Winsconsin.

Mas, o maior efeito do alcance da organização social e territorial

dos Chippewa veio da imposição pelos europeus da hierarquia e da jurisdição

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política-territorial. Desconhecidamente, para os Chippewa e para os

colonizadores originais, as concessões inglesas e as capitanias formando as

unidades territoriais das colônias (ver na figura 1.1) reclamaram muito das

áreas dos Chippewa.

A capitania de Virgínia de 1609 incorporou a parte superior do

meio oeste toda. Mas estas reivindicações não foram reforçadas. Do meio do

século XVII até o meio do século XVIII, a parte superior do meio-oeste estava

nominalmente sobre o domínio francês até que foi dada aos ingleses e a suas

colônias em 1763. E logo a seguir, a Virgínia, Massachusetts, Connecticut e

New York reclamaram parte desta terra. Entre as prioridades do 1o Congresso

dos Estados Unidos, estava a disposição e o governo do território norte-oeste,

aproximadamente, 170 milhões de acres a oeste de Ohio até o Mississípi. Em

1786 e após muitas pelejas, os reclamantes cederam todas estas terras aos

Estados Unidos. E uma série de ordens baseadas na Lei de Tomas Jefferson

de 1783 e 84, culminaram nas ordens de 1787 e 1796, que providenciaram

procedimentos para o governo deste território. O plano (ilustrado pelas áreas 1

e 5 na figura 1.2), foi dividido para o norte-oeste e não menos que três e não

mais do que cinco estados e admitir cada na União, que tinha uma população

de 60 mil. Além disso, a terra seria dividida de acordo com uma grade

retangular regular. As unidades de cada uma ajudariam a delinear as bordas

dos Estados, formar as fronteiras inteiras para os condados e cidades e as

fronteiras para as parcelas de terra à venda (ver figura 1.3).

Estes eram os planos, escritos e mapeados no papel, para uma

terra , virtualmente, desconhecida aos europeus e que, para o seu alcance

rápido, estava a mais de mil milhas de distância da costa oriental do país,

aonde as decisões eram tomadas na ponta de uma caneta. Os americanos de

descendência européia, eles classificavam, dividiam e controlavam as

pessoas, incluindo os Chippewas, somente nas bases de sua localização do

espaço. Esta imposição de território, tinha uma dimensão social e econômica.

A nível social uma nação, um estado ou um vilarejo local, podia incluir uma

sociedade entre um número de jurisdições. As unidades políticas , as quais os

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Chippewa pertenciam, mudavam, freqüentemente, conforme o mapa do

território do norte-oeste tomava forma. Eventualmente, parte dos Chippewa

estavam no Canadá, outra parte no Minnesota e outras em Michigan. E ainda,

uma outra parte em Winsconsin.

Com exceção das reservas, a maioria das terras dos Chippewa

dentro de territórios particulares ou estados. E após estes serem admitidos na

União, a política territorial de parcelamento continuou ao longo das linhas dos

condados e cidades. Subdividindo, ainda mais e segmentando as terras

indígenas antigas. Essas unidades locais, formaram comunidades políticas

para a não preservação dos índios. Bem como, para o estabelecimento dos

europeus. As reservas eram territórios permanentes, somente, se contivessem

terras que os europeus achassem que eram indesejáveis. Além destas

retaliações contra a Territorialidade impor restrições à cultura indígena, as

fronteiras da reserva, geralmente, formavam um entendimento para uma

geometria simétrica dos estados vizinhos. Cortando a terra retangular e

interrompendo os domínios da autoridade local.

Estas novamente impuseram que os territórios políticos (a nação,

o Estado, o condado e a cidade), foram designados para servir as

necessidades da sociedade orientada pelo mercado do homem branco.

Enquanto, as fronteiras impostas segmentavam ainda mais as comunidades

antigas, elas forjavam novas e diferentes comunidades direcionadas para um

sistema de mercado dinâmico. E dentro deste sistema territorial de

parcelamento, tornou-se um veículo primário para a definição de propriedade.

Diferentemente do uso comum da terra pelos índios, o homem branco usava o

território para parcelar a terra, em porções vendáveis. Cada pedaço da

propriedade privada, era um território sobre o controle de um indivíduo. Cada

um tinha um valor monetário, podia ser comprado e vendido várias vezes.

As diferentes funções que os homens brancos e os índios têm

da Territorialidade, lança uma luz nos problemas de relacionamento que eles

tiveram ao longo do tempo. Mas, também serve para ilustrar como o

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estabelecimento e o uso do território, estão interneados com os contextos

sociais e históricos. As linhas acuradas dos mapas políticos e das divisões de

terra pelo homem branco, foram possíveis de serem construídas porque a

sociedade dele era literata. E capaz de imprimir, dividir e determinar longitude

e latitude. Mas, mais fundamental é que, estes territórios foram criados e

usados para suportar a sua sociedade hierárquica complexa, que foi baseada

na propriedade privada. E que o uso do território define e organiza a sua

própria comunidade. Em contraste com um Chippewa, que nasceu em uma

comunidade Chippewa e que foi aceito socialmente e culturalmente pelas

pessoas Chippewa. Uma pessoa de Wisconsin tinha, simplesmente, alguém

que residia entre os cidadões de Wisconsin. Na cultura ocidental moderna

viver simplesmente dentro de um território geralmente capacita alguém a ser

um membro de uma comunidade.

As áreas que foram ocupadas pelos bandos de imigrantes

Chippewa, agora são, virtualmente, labirintos de hierarquias confusas de

territórios políticos, quase políticos e privados (ver figura 1.4). Embora, não

sempre visíveis na terra , elas têm fronteiras precisas e fixas, especificadas em

mapas e documentos. E afetam numerosas numerosos seguimentos de

nossas vidas.

Simplesmente, estando localizando em determinado momento

no lugar x, digamos uma cidade da parte superior do meio-oeste, alguém

estará em um pedaço de terra privada ou pública. Em qualquer caso, alguém

está automaticamente agrupado junto de outras pessoas na mesma

localidade, como estando situados dentro da jurisdição do distrito de polícia a,

do distrito de bombeiros b, do distrito sanitário c, do distrito escolar d, do

distrito de planejamento e, do distrito da corte do estado f, do distrito da corte

federal g, da cidade h, do condado i e do Estado z. Mudar a sua posição

somente um pouquinho, mudará o seu relacionamento com um ou mais de

uma dessas unidades. Bem como, a sua relação com os outros.

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Estabelecendo, a jurisdição política e delimitando a propriedade

privada da terra, são os usos mais familiares da Territorialidade no mundo

ocidental. Entretanto, a Territorialidade tem e continua a ter, importantes

papéis em outros aspectos das relações sociais. Vamos considerar,

brevemente, dois exemplos modernos: a Territorialidade dentro de casa e

dentro do ambiente de trabalho. Cada uma pode ser usada para especificar

significados futuros de Territorialidade. E ilustrar suas interconexões com os

contextos sociais.

O lar.

Considere um pai norte-americano do século XX, que é um

proprietário na antiga terra Chippewa. Ele está em casa, fazendo o trabalho

doméstico e ensinando os seus dois filhos jovens. Enquanto, o pai está

espanando e usando o aspirador, lhe ocorre que as crianças estão na cozinha,

ajudando a lavar os pratos. A dificuldade é que estes jovens ajudantes , estão

próximos de quebrar os pratos. Suas atividades estão acontecendo no

espaço. Em termos geográficos, elas são espaciais. Embora, as redondezas

sejam diferentes, o pai se depara com um problema que se parece muito com

aqueles que os pais Chippewa teriam enfrentado se eles estivessem se

preocupado com seus filhos, que estariam caçando nos campos.

Geograficamente falando, o pai norte-americano e os Chippewa tem somente

duas estratégias para prevenir o desastre. Ele pode ter uma conversa franca

com as crianças, agradecendo por seus esforços, mas explicando que pode

haver dificuldades se elas continuarem. Ele pode também remover os pratos

do seu alcance (e um pai Chippewa, não poderia remover as plantas). Em

nenhuma ocasião o pai está tentando controlar as ações espaciais de suas

crianças e aquilo a que elas têm acesso no espaço, focalizando objetos

específicos nas ações, como os pratos ou as plantas.

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Page 18: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A intenção é alterar o acesso das crianças as coisas no espaço

mas, no exemplo acima, a Territorialidade não está sendo invocada. A

Territorialidade, como a segunda estratégia, é trazida à tona quando o pai

decide simplesmente restringir o aceso das crianças as coisas no espaço

dizendo que “elas não podem entrar na cozinha sem permissão” (ou nos

campos desacompanhadas). Assim, a cozinha ou o campo, está agora fora do

alcance. Aqui o pai está tentando limitar o acesso às coisas impondo um

controle sobre uma área.

Note que a cozinha ou o campo está lá o tempo todo, ela é um

lugar restrito. No caso não-territorial, ela não foi, simplesmente, demarcada

como uma área de controle, no segundo caso, ela foi. em outras palavras, um

lugar pode ser um território em um momento e não mais em outro. Em um

território pode criar um lugar onde anteriormente não existia. Além disso, a

confirmação da Territorialidade pode ser aplicada somente por um tempo

limitado. O pai moderno pode ter dito: não entre na cozinha agora, enquanto

eu estou aspirando!. Ou as restrições territoriais podem ser levantadas quando

os objetos que o pai deseja proteger estão agora no armário fora de alcance.

A cozinha está gravada em outros locais, que também são

territórios; a casa, a cidade e o Estado. A autoridade destes territórios, não foi

diretamente invocada neste caso, mas estava por trás dele e poderia ser

notada em situações que surgissem, mesmo na cozinha. Note, também, que

declarando a cozinha fora dos limites das crianças e reforçando a proibição,

não é o fim do assunto. As afirmações dos pais, têm que ser claras para as

crianças. Elas devem ser capazes de entendê-las e o seu comportamento tem

que ser monitorado. Todas essas tarefas, envolvem mais comportamento no

espaço. Usar a Territorialidade pode ajudar a reduzir alguns tipos de

interações espaciais, na quantidade de monitoração e as destruição dos

pratos. Mas, se as afirmações do controle territorial não podem falhar, então, a

alternativa é uma estratégia espacial não-territorial. Se as crianças, persistem

em entrar na cozinha e tocar nos pratos, o pai pode, fisicamente, ter de

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Page 19: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

remover as crianças. Em termos geográficos, a Territorialidade é uma forma de

interação espacial, que influência outras interações espaciais e requer ações

não-territoriais para sustentá-la. Dentro do contexto da criação da criança e o

lar, o pai Chippewa e o norte-americano, teriam escolhas similares sobre o

papel da Territorialidade. Mas, as escolhas são muito diferentes no contexto do

trabalho. A maioria das pessoas na América do Norte, agora, trabalham em um

lugar que está sobre o controle de outro.

O local de trabalho.

Suponha, que o mesmo pai norte-americano seja empregado

como secretário em um prédio de escritórios modernos. Tipicamente, estes

locais contém quartos grandes cheios de mesas e máquinas de escrever.

Cada mesa foi projetada como uma estação de trabalho. O secretário é

empregado para datilografar e parte do acordo de trabalho é que ele estará no

escritório em sua mesa de trabalho, por um determinado número de horas por

dia, 5 dias na semana, 50 semanas no ano. O secretário moderno pode sair da

estação de trabalho. Mas, se ele o fizer muitas vezes e sem permissão ele

estar violando o contrato de trabalho e pode perder o seu emprego. Mesmo se

o secretário tem permissão de deixar sua estação de trabalho, seus

movimentos dentro do prédio são, provavelmente, restritos. Ele não pode,

simplesmente, andar por qualquer escritório. Talvez, as únicas áreas nas quais

ele é livre para ir, são aquelas projetadas para tráfico, tais como halls e

corredores. E aquelas abertas aos trabalhadores, como banheiros e salas de

café. Para o secretário, a Territorialidade age como uma restrição física.

Após o horário de trabalho, lá pelas 5 da tarde, as funções

territoriais do prédio se tornam invertida. O secretário sai para casa, ao invés

de restringir e modelar suas ações. O prédio está agora fora dos seus limites

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Page 20: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

e do público. Presentes durante o dia , mas dissolvidas durante a noite, estão

as partições territoriais internas de escritórios e estações de trabalho, que

separam trabalhadores e níveis de pessoal. O prédio pode estar ainda

ocupado, mas nesta hora é por faxineiros e pelos vigias noturnos que, igual

aos gerentes de níveis elevados, têm acesso a, praticamente, todas as partes

do prédio.

Mais mudanças eventuais podem ocorrer na Territorialidade do

prédio de escritórios. A firma usando o prédio, pode se mudar ou ir à falência e

o prédio pode ser demolido. Indo mais longe nos seus efeitos geográficos, está

a possibilidade de que, com sistemas modernos de telecomunicações o

escritório, como um território, possa se tornar obsoleto. Porque a maior parte,

senão todo o trabalho de secretário, pode ser feito em algum, até mesmo em

casa.. Isto acaba com a necessidade de pessoas se reunirem em um local,

chamado de escritório. Isto, ainda não elimina, por completo, os territórios de

trabalhos. É preciso ainda restringir o acesso ao local onde o trabalho e o

equipamento serão localizados, mesmo que seja em casa. E os empregadores

podem muito bem ter que entrar na casa, para checar o trabalhador e o

equipamento que ele está usando. O que mudou é a forma da organização

territorial e sua relação com as relações espaciais não-territoriais.

Notas sobre significados.

Está claro, a partir destes exemplos, que a Territorialidade cobre

uma grande área de atividades. Para as quais há, talvez, nomes ricamente

descritivos. Usar-se: quartos, prédios, direitos de propriedade na terra,

soberania política e jurisdições legais sobre área, bem como estradas e

cidades, territórios, não tem nenhum propósito, a menos que o termo alcance o

nosso entendimento sobre elas. Isto significa que a Territorialidade deve ser

definida, amplamente, o suficiente para cobrir estes e outros casos e ainda

ricamente o suficiente para iluminar seus diferentes efeitos. Nós precisamos

saber, não somente o que a Territorialidade é, mas o que ela faz. É

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Page 21: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

principalmente em se ajudar a apontar a importância dos efeitos de um

fenômeno, que está o valor de uma definição.

Uma definição nunca é, completamente, inclusiva. Ela se focaliza

sobre uma ou poucas características de um fenômeno. Um fenômeno que

contém estas características cabe na definição . Ele ainda possuirá, muitas

outras características e pode ter outros nomes. Uma estátua pode ser um

trabalho de arte, um investimento, uma lembrança da habilidade humana, um

pedaço de mármore e uma massa. Cada uma, por sua vez, contribui para o

nosso entendimento dos usos da estátua e efeitos. Uma maçã também é

muitas coisas, a maioria das quais diferentes da estátua . Mas, as duas têm

coisas em comum. As duas ocupam lugar no espaço e ambas tem peso ou

massa. Saber quais são suas massas, significa dizer que a massa está,

claramente, definida. Tal que, pode ser observada em todo tipo diferente de

fenômeno.

Mas, um conceito ou termo precisa ser mais do que claro. Ele

precisa apontar para as conexões com outros atributos. Neste sentido, a

massa não é somente um conceito claro, mas também um útil. Sabendo-se a

massa de um objeto, pode nos ser dito muito sobre as conexões atuais e

potenciais do fenômeno com seu ambiente. Nós gostaríamos de saber, por

exemplo, o quão forte um piso deve ser para suportar a estátua e a maçã. Nós

seríamos capazes de antecipar o impacto que cada uma causaria se jogadas

da janela de um segundo andar. Saber a massa de algo, aumenta a nossa

compreensão daquilo e as suas conexões com o mundo. Mas, de maneira

alguma isso nos diz tudo que se há pra saber sobre o objeto e suas

interrelações. A estátua e a maçã são ambas massas, mas elas exibem muitos

outros atributos definidos e significantes, que elas não partilham e que não

podem ser descobertos, olhando-as somente como exemplos de massa.

O mesmo se aplica sobre a Territorialidade. É uma coisa definir a

Territorialidade. Tal que, um quarto, um lar, um campo, um escritório e uma

cidade, parecem ser exemplos de Territorialidade. É outra coisa diferente, ter a

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Page 22: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

nossa compreensão destes fenômenos e suas interrelações mais profundas,

através do exame delas como território. Condições posteriores ocorrem

somente, se o nosso sentido de Territorialidade é claro e rico o suficiente para

sugerir como elas se junta com outras facetas do comportamento.

Definindo a Territorialidade.

A Territorialidade, simplesmente como o controle da área, serviu

até agora como uma definição curta. Mas esta descrição, nem é precisa, nem

rica o suficiente para nos levar muito adiante. A partir dos nossos exemplos do

pai e das crianças, da secretária no local de trabalho e os membros de uma

sociedade de cata e coleta, pôde ser visto que a Territorialidade envolve a

tentativa, de um indivíduo ou de um grupo, em influenciar ou afetar as ações

de outros, incluindo não-humanos. Isto é importante e ainda o efeito geral deve

ser enfatizado. O qual está elaborado na seguinte definição formal de

Territorialidade. Neste livro a Territorialidade será definida como a tentativa de

um indivíduo ou grupo de afetar, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e

relações, através da delimitação e da afirmação do controle sobre uma área

geográfica. Esta área será chamada: o território. Antes de nós explorarmos o

significado desta definição, alguns esclarecimentos do seu domínio devem ser

feitos.

Novamente, deve ser enfatizado que um local pode ser usado

como território em um momento e não mais em outro. Isto significa que, ao

criarmos um território, nós também poderemos estar criando um tipo de local.

Mas é importante distinguir entre um território como um local e outros tipos de

locais. Diferentemente de outros locais comuns, os territórios requerem esforço

constante para estabelecer e mantê-lo. Eles são resultados de estratégias para

afetar, influenciar e controlar pessoas, fenômenos e relações..

Circunscrevendo coisas no espaço ou em um mapa, como quando um

geógrafo delimita uma área para ilustrar onde o milho cresce ou onde a

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Page 23: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

indústria está concentrada, identificar locais, áreas ou regiões no censo

comum. Mas, não criando propriamente um território. Esta delimitação se torna

um território, somente quando as suas fronteiras são usadas para afetar o

comportamento ou para controlar o acesso. Por exemplo, um local

formalmente geográfico ou uma região, tal como o cinturão do milho ou a área

de manufatura, pode se tornar designado pelo governo como uma região que

vai receber assistência financeira especial ou como uma área que

administrada por uma bancada do governo. Neste caso, as fronteiras da região

estão afetando o acesso aos recursos e ao poder. Elas estão moldando o

comportamento. E assim o local se torna um território. No mesmo raciocínio, o

que os geógrafos de regiões noudais, áreas de mercado ou interiores centrais,

não são, necessariamente, territórios. Essas áreas podem ser, simplesmente,

descrições da Incisões geográficas das atividades no espaço. Elas se tornam

territórios, somente se as fronteiras são usadas por alguma autoridade para

moldar, influenciar ou controlar atividades. Assim, uma cadeia de

supermercados pode usar as áreas de mercado, que são o limite geográfico

atual do alcance do poder de um supermercado para definir a jurisdição de

cada gerente de supermercado. Por exemplo, suas responsabilidades por

propagandas. Uma pessoa ou grupo pode, claro, controlar mais do que um

território. E na sociedade moderna, muitos tipos comuns de lugares devem se

tornar territórios para existirem como lugares.

A Territorialidade não precisa ser uma área defendida, se

considerarmos a área como objeto da defesa e que os defensores devem estar

dentro do território defendido. O território pode ser usado para conter ou

restringir, bem como para excluir. E os indivíduos que exercem controle não

precisam estar dentro do território. E é claro que eles não precisam estar

próximos dele. Uma cerca ou um muro pode controlar, da mesma forma um

sinal de não passe. A definição aponta que a Territorialidade estabelece um

controle sobre uma área, como um meio de controlar as coisas e as relações.

A Territorialidade é uma estratégia para se estabelecer diferentes

graus de acesso às pessoas, coisas e relações. Sua alternativa é sempre uma

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Page 24: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

ação não-territorial. E a ação não-territorial é usada em qualquer caso para

sustentá-la. Por exemplo, se um Chippewa decide colocar cerca ao redor dos

seus jardins. Essas cercas devem ser mantidas pelo trabalho direto físico. E se

elas quebrarem, as crianças e os cavalos, devem ser observados e guardados

por controle não-territorial direto. (Se as crianças do lar moderno, continuarem

a entrar na cozinha, mesmo que o pai tenha dito para não fazê-lo, então, o pai

deve recorrer a uma forma de intervenção não-territorial).

As fronteiras de um território e os meios pelas quais elas foram

comunicadas não são inalteráveis. Propriedades mudam de tamanho, da

mesma forma os estados. Uma cerca fronteiriça pode ser substituída por um

tipo diferente, por exemplo o foço. Uma criança pode reconhecer a entrada de

um quarto como uma fronteira ou até mesmo a porta do quarto fechada. A

maioria dos territórios tendem a ser fixos no espaço geográficos. Mas, alguns

podem mudar, por exemplo, o espaço pessoal ou a distância social que

envolvem uma pessoa viaja com esta pessoa quando ela mantêm a distância.

A convenção entre de navios de guerra para não se aproximarem de outros

navios estrangeiros no alto mar, é um exemplo de território móvel.

Os territórios podem ocorrer em diversos graus. Uma cela numa

prisão de segurança máxima é mais territorial do que uma cela numa cadeia

do estado e que mais territorial do que um quarto numa casa. Uma sala de

aula fechada, com suas carteiras presas ao chão e suas crianças sentando

todos os dias no mesmo lugar, é mais territorial do que uma sala de aula

aberta, que não tem assentos fixos e que cada criança pode se mover durante

uma atividade. Os graus de Territorialidade são mais difíceis de se comparar,

quando selecionamos exemplos de diferentes instituições e sociedades. As

atividades de um trabalhador de uma fábrica de automóveis ou de uma linha

de montagem são mais territorialmente circunscritas do que aquelas de uma

secretária de escritório em uma secretaria? Os pontos de medição mais

precisa da intensidade da Territorialidade, serão estudados mais tarde. Por

hora, deve ser adotado que, embora nós possamos ter estimativas rudes da

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Page 25: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

intensidade do território, as dificuldades surgem quando comparamos um

contexto com outro.

A Territorialidade pode ser afirmada de várias maneiras, estas

incluem a descrição do trabalho, quanto tempo você deve ficar sentado, onde

você está e onde não é permitido ir, etc. Os direitos legais na terra, a força

bruta ou o poder , normas culturais e proibições sobre o uso das áreas e em

formas menores de comunicação, tais como a postura do corpo. Mas,

novamente, se a asserção ou afirmação não é clara e compreensível, então

não está claro se a Territorialidade está sendo exercida.

As definições devem ser claras o suficiente para dizer se alguma

coisa cabe ou cabe na definição. Mas, mesmo uma definição clara tem

algumas confusões na prática. Se eu estou em uma biblioteca e coloco os

meus livros em cima de uma mesa vazia eu estou, simplesmente, me aliviando

de um fardo ou reclamando uma parte da mesa como minha?. E neste último

caso, estou eu afirmando um controle sobre o objeto, a mesa ou sobre o

território que o objeto limita?. Não há mal em admitir-se que caos extremos

ocorrem de uma maneira ou de outra. Uma definição pode ter algumas

exceções ou, então, partes confusas e ainda ser útil, especialmente, quando

há muitos exemplos claros que cai dentro deste domínio.

Considerando a Territorialidade como uma estratégia para

acessos diferenciados, entramos num campo infrutífero, de que se a

Territorialidade Humana está, de alguma maneira biologicamente enraizada.

Tomando isto como uma estratégia, colocamos a Territorialidade, inteiramente,

dentro do contexto das motivações humanas e objetivas. Nossa definição de

Territorialidade, é claro, atravessa as perspectivas e níveis de análises. Ela

envolve as perspectivas dos controlados e daqueles que estão controlando, se

eles são indivíduos ou grupos. Ela discerne sobre os efeitos físicos, sociais e

psicológicos. Este atravessar em outros campos, não é novo para a Geografia

e ocorre de forma paralela pela gama de interconexões que têm se

desenvolvido no resto do campo.

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Page 26: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

O significado da Territorialidade.

A definição formal da Territorialidade , não somente nos diz o que

a Territorialidade é, mas também sugere o que ela pode ser. Essa sugestão

vem de três relações interdependentes, que estão contidas na sua definição.

Essas três explicam a lógica e os significados dos efeitos da Territorialidade.

Primeiro, por definição, a Territorialidade deve envolver uma forma de

classificação por área. Quando alguém diz que alguma coisa ou mesmo

algumas coisas, em um quarto são dele ou estão fora do limite par você ou

ainda que você não pode tocar em nada fora deste quarto, ele está usando

uma área para classificar ou determinar coisas em uma categoria como dele,

não sua. Ele não precisa enumerar ou definir os tipos de coisas que são dele

e não suas. Quando usa a Territorialidade, o pai não tem que dizer a criança o

que ela não pode tocar. Elas, simplesmente, não são admitidas no

compartimento, no quarto. De acordo com Piaget, existem duas maiores

formas de classificação: uma é pelo tipo e a outra é pela área. A

Territorialidade é claro pode empregar ambas, mas ela sempre emprega esta

última.

Segundo, por definição, a Territorialidade deve conter uma forma

de comunicação. Isto pode envolver uma marca ou sinal, tal como é

comumente encontrada em uma fronteira. Ou uma pessoa pode criar uma

fronteira, através de um gesto, tal como apontar. uma fronteira territorial, pode

ser somente a forma simbólica que combina uma afirmação sobre a direção no

espaço e uma afirmação sobre a posse ou exclusão.

Terceiro, cada exemplo de Territorialidade deve envolver uma

tentativa no esforço de controlar o acesso sobre a área e as coisas dentro dela

ou restringir a entrada das coisas de fora. De maneira mais geral, cada

exemplo deve envolver uma tentativa de influenciar as interações.

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Page 27: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Transcressões da Territorialidade serão punidas e isto pode envolver outra

ação não-territorial e territorial.

A lógica da Territorialidade reside no fato de que as vantagens de

usá-la devem estar ligadas, com uma ou mais dessas relações

interconectadas. Uma vez que elas são facetas essenciais da Territorialidade,

as três devem, também, ser as bases para o significado da Territorialidade. É

simples ilustrar como cada uma delas p[ode ser um motivo para usar a

Territorialidade. Considere a 1a característica, de que a Territorialidade envolve

uma forma de definição ou classificação por área. Definição por área pode ser,

extremamente, útil quando não podemos enumerar as coisas, pessoas ou

relações sobre as quais nós queremos ter acesso ou quando nós desejamos

não divulgar tal lista. O time de futebol, treinando para um grande jogo, pode

desejar que o oponente não saiba sobre os novos atletas. Pra ajudar a manter

o segredo, o treinador pode usar a Territorialidade para excluir os

observadores do campo e das arquibancadas.

Considere a segunda característica: se comunicando usando

uma fronteira. A fronteira pode ser um recurso mais simples para comunicar a

posse, do que a enumeração por tipo. Se a criança na cozinha é muito jovem,

ela pode ter dificuldade em, entender que os objetos na cozinha são e não

permitidos se tocar. A Territorialidade pode ser somente um meio de

convenção do desejo dos pais às crianças. Este é, especialmente, o caso se

em algum outro lugar e sobre circunstâncias diferentes, as crianças não são

permitidas tocar em objetos similares, como os pratos. Ao invés de apresentar

às crianças uma regra complicada de que, não é permitido manusear os pratos

é, simplesmente, mais direto dizer a elas, que elas não podem atravessar uma

linha ou entrar ou sair do compartimento.

Considere a terceira característica: o reforço do acesso no

contexto da comunidade de caça Chippewa. Para se certificar que as crianças

não sairiam pelos campos, é mais fácil colocar as crianças dentro de uma

cerca, do que seguí-las por aí. Circunstâncias similares ocorrem em nossa

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Page 28: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

sociedade. É mais fácil supervisionar os prisioneiros, colocando-os atrás das

grades , do que permitir que eles circulem por aí, com guardas os seguindo.

Controlar as coisas territorialmente pode poupar muitos esforços.

Estas três facetas da Territorialidade, podem ser encontradas em

todas as sociedades. Mas, elas por sua vez, geram efeitos potenciais mais

adiante, que podem ser igualmente importantes, mas que ocorrem somente

em contextos históricos particulares. Como isto acontece e quais são os efeitos

, é alguma coisa técnica e que será discutida no capítulo 2. Para propósitos de

ilustração, nós podemos apontar que, classificando-a pelo menos em parte

pela área, ao invés de por tipo e espécie, a Territorialidade pode ajudar

relações a se tornarem impessoais. E pode ajudar a moldar atividades futuras

dentro de uma hierarquia. Nós notamos que os Chippewa, não precisam usar

a Territorialidade para definir os seus membros. Mas o homem branco, sim. A

definição primária de membro dentro de um estado norte-americano ou cidade,

é o domicilio dentro do território político. Esta definição permite que

estrangeiros se tornem membros da mesma comunidade. Além disso,

diferentemente da comunidade Chippewa, o território da cidade age como um

container e como um molde espacial para outros eventos. A influência de uma

cidade e autoridade, embora se espalhe e seja muito ampla, é legalmente

afirmada por suas fronteiras políticas. A cidade territorial se torna um objeto,

pelo qual outros atributos são reafirmados, como no caso do território político

da cidade, que recebe ajuda federal.

Promover relações impessoais e atividades geograficamente

moldadas dentro de uma hierarquia, são duas das muitas conseqüências

identificáveis das três facetas da Territorialidade, que seguem a partir desta

definição. Estas e as outras serão abordadas no capítulo 2, para delimitar os

alcances dos usos territoriais. E ainda, precisamente, se aprofundar no nosso

conhecimento sobre os casos particulares. Os efeitos são potenciais, porque

cada um deles não precisa ser empregado a cada instante da Territorialidade.

E alguns têm sido usados somente em momentos particulares na história.

Uma definição adequada e clara que aponte para as implicações gerais da

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Page 29: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Territorialidade para os humanos, é o que tem faltado nos trabalhos prévios

sobre Territorialidade.

Métodos Prévios.

A maioria da literatura, considerada sobre a Territorialidade, é

sobre o comportamento animal, e não diz respeito a nós. A menos que os

cientistas sociais tenham se valido dela para discutir a Territorialidade

Humana. Embora, não tão volumosas quanto a literatura animal, as discussões

sobre a Territorialidade Humana são extremamente variadas e difíceis de

sintetizar. Não há ainda revisões compreensíveis. E o que vem a seguir, não é

uma tentativa de providenciar uma. Mas sim, uma breve ilustração sobre

problemas-chaves que muitos estudos territoriais humanos sofrem.

De maneira geral, as análises prévias da Territorialidade Humana tem

sido deficiente em três importantes aspectos, com estudos particulares

contendo uma ou mais dessas três deficiências. Primeiro, em muitos casos os

pesquisadores não distinguem, claramente, o termo Territorialidade do termo

espacial. Para eles, temos eventos ocorrendo no espaço e através dele, é

suficiente para que a ação caia na categoria de territorial. Por causa disso,

esses estudos não definem a Territorialidade como um tipo particular de

comportamento no espaço. Eles perdem a oportunidade de oferecer uma

análise sistemática da Territorialidade. Qualquer insight que eles apresentem

são difíceis de se generalizar sobre (existem até mesmo aqueles que usam o

termo, figurativamente, para se referir a território cognitivos).

Muito relacionados com o primeiro, estão os estudos que,

atualmente, focalizam sobre exemplos da Territorialidade Humana , sem

chamá-los como tal.. E o estudo do zoneamento dos direitos da propriedade

privada da terra e da soberania política, geralmente, não reconhece que seus

assuntos pertencem a classe territorial das ações. Assim, nestes estudos fica

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Page 30: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

faltando importantes implicações territoriais. No caso do pai controlando as

suas crianças, é porque nós conhecíamos pelo menos três possíveis efeitos de

Territorialidade, porque nós seríamos capazes de sugerir para o pai recorrer a

ele identificar, por tipo, as coisas que ele desejava controlar. E é este

conhecimento dos efeitos territoriais, que nos faz esperar que o uso da

Territorialidade ocorra em outros contextos diferentes. Não é este efeito que os

estados da nação usam, quando eles declaram soberania sobre todas as

coisas dentro dos seus domínios geográficos?. Os pais e os estados da nação,

não podem listar, provavelmente, o que eles desejam controlar. E não listar o

que está sobre seu controle, permite à Territorialidade esconder o que está

sendo controlado. Considere o número de vezes os pais, simplesmente,

escondem as coisas das suas crianças, e não permitem que elas entrem nos

locais. Ou que o Estado esconda as coisas dos estrangeiros ou mesmo dos

cidadões, para restringir a entrada a áreas ou regiões dentro do país. É

conhecido que a Territorialidade é uma estratégia geral para estabelecer aceso

à coisas e apontar os efeitos, geralmente, esperados, pode ajudar a

aprofundar o nosso entendimento sobre o uso em casos particulares.

Em terceiro, estão os estudos que têm consciência em isolar o

comportamento territorial real nos humanos. Mas que são, em contrapartida,

muito simplórios no seu significado. Eles devem ter se voltado, inteiramente,

para uma escala social-geográfica. Este é o caso da literatura social

psicológica, enquadrando a Territorialidade como uma forma de espaço

pessoal. Outros estudos podem ter sido simplórios demais nos efeitos

territoriais, que eles estipularam. Por exemplo, alguns estudos psicológicos

viram o uso da Territorialidade por um indivíduo, como uma expressão de

característica pessoais e específicas, tais como o desejo pelo domínio ou

segurança. Ligar a Territorialidade às necessidades particulares ocorre,

especialmente, nos estudos que supõem, que os humanos e os animais usam

a Territorialidade pelas mesmas razões biológicas. Por exemplo, como um

meio para se obter alimento, amigos e controlar o tamanho da população.

Focalizar sobre estes efeitos frágeis, pode fazer a Territorialidade nos

humanos, parecer alguma coisa como um instinto, ao invés de uma estratégia

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Page 31: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

que pode ser ligada e desligada. Além disso, estes significados superficiais e

suas ênfases nas escalas particulares, propósitos ou funções estão,

geralmente, incorporados nas definições formais da Territorialidade. O

psicólogo social, explorando somente o nível pessoal e os efeitos psicológicos

da Territorialidade pode defini-la com esta ênfase na mente. Por exemplo, o eu

e a personalidade são partes da definição de Altman de Territorialidade. Como

um mecanismo de regulagem das fronteiras entre eu e outro, que envolve a

personalização ou a construção de um lugar ou abjeto e a comunicação que

pertence a pessoa ou ao grupo. A personalização e a posse são designados

para regular a interação social e para ajudar a satisfazer os vários motivos

sociais e físicos. Ai ocorre o problema oposto de se definir a Territorialidade de

maneira muito geral. Quando se intenciona estudar, simplesmente, o controle

da área, nós somos deixados sem qualquer sugestão sobre propósito ou

intenção, exceto de que a área é ao mesmo tempo um objeto e um fim.

Embora, estas estejam entre as maiores armadilhas nos trabalhos

prévios sobre Territorialidade, poucos pesquisadores às têm evitado. E muitos

daqueles que não têm, não tem nada sobre os aspectos importantes. Ao invés,

de isolar os componentes positivos pouco a pouco, eles serão notados e

incorporados no trabalho a seguir.

A Territorialidade e a Geografia.

Enquanto que, o trabalho sobre Territorialidade tem sido,

geralmente, errôneo sobre o comportamento espacial não-territorial. O

trabalho na Geografia sobre o comportamento espacial tem, geralmente,

ignorado o territorial. Na Geografia, tanto as atividades naturais e humanas ou

culturais, são chamadas espaciais, para lembrar a todos que elas ocorrem

num espaço e tem propriedades espaciais, tais como localização, forma e

orientações. A análise espacial é o ramo da Geografia interessado na

interrelações entre, as atividades na terra e as suas propriedades espaciais.

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Page 32: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Na Geografia Humana, estas incluem não somente as localizações atuais, as

extensões e os padrões das coisas, mas também como estas são descritas e

concebidas em diferentes perspectivas sociais e intelectuais. (O padrão de

identificação da terra, pode ser descrito e avaliado economicamente,

esteticamente, simbolicamente, etc). A preocupação da Geografia com os usos

múltiplos e conceitos de espaço e com a Geografia Histórica dos diferentes

povos, apresentam o espaço como uma moldura complexa, na qual indivíduos

e grupos estão situados. Através, da qual eles interagem e pela qual eles

fazem afirmações. Estas interconexões entre o espaço e o comportamento

residem na Territorialidade, cujo o estudo tem permanecido em segundo plano,

completamente negligenciado pela análise espacial.

As firmas fazendo as incidades estudadas pelos geógrafos, não

somente são lugares ou localidades no espaço com múltiplos significados.

Mas, também, ocorrem e permanecem em um local porque existem

numerosas regras sociais e regulamentações que permitem que algumas

coisas estejam em certos locais e não em outros. Até mesmo o movimento das

pessoas , mercadorias e idéias requerer que a sociedade estabeleça as

estradas e o tipo de transporte e que desaprovem outras atividades de

ocorrem naquele local. As ruas da cidade moderna , são construídas para

bicicletas, carros, caminhões e ônibus e não para pedestres. As auto-estradas

são projetadas para o tráfico de veículos movidos a motores com combustão

interna.

Para a maior parte, as pessoas e suas atividades não podem

encontrar local no espaço sem formas de controle sobre a área - sem a

Territorialidade. O desafio é mostrar como e porque é este o caso.

Infelizmente, os analistas espaciais não têm explorado, sistematicamente, a

Territorialidade para descobrir se há uma lógica no controle territorial, da

mesma forma que tem havido uma exploração na questão se há uma lógica

para a organização espacial não-territorial e interação. Ao invés disso, eles

têm focalizados em objetos que a Territorialidade tem ajudado a formar e a

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Page 33: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

manter e tem deixado a Territorialidade - o agente de ligação geográfico - em

segundo plano.

Os analistas espaciais entendem muito bem que atividades

competem por localização. A este respeito, o foco de suas pesquisas tem sido

sobre o processo de seleção de um lugar sobre outro e o papel

desempenhado pela distância ou a sensibilidade geográfica na conexão

desses locais. Enfatizando a distância, tem conduzido a uma lógica geográfica

baseada nas propriedades métricas do espaço. Mas, os analistas espaciais

não têm, seriamente, considerado a possibilidade que, a lógica geográfica

pode ser estendida até mesmo pela lógica mais complexa envolvida nos usos

territoriais do espaço. A lógica da ação territorial é mais complexa do que a

lógica da distância, porque a Territorialidade está incorporada nas relações

sociais. A Territorialidade é sempre socialmente construída. Ela precisa de um

ato do desejo e envolve múltiplos níveis de razão e significados. A

Territorialidade pode ter implicações normativas também. Deixando de lado os

locais e reforçando os graus de acesso, significa que indivíduos e grupos têm

removido algumas atividades e pessoas de locais e incluindo outras, o que é,

eles têm estabelecido diferentes graus de acesso às coisas.

A Territorialidade, então, forma um cenário para as relações

espaciais humanas e as concepções do espaço. A Territorialidade aponta para

o fato de que as relações espaciais humanas não são neutras. As pessoas,

simplesmente, não interagem no espaço e se movem através do espaço como

bolas de bilhar. Ao invés disso, a interação humana, o movimento e o contato

são também questões de transmissão de energia e informação, para afetar,

influenciar e controlar as idéias e ações de outros e seus acessos às fontes. As

relações espaciais humanas são resultados da influência e poder. A

Territorialidade é a forma espacial primária do poder.

Territorialidade e História.

33

Page 34: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Diferentes sociedades, usam diferentes formas de poder. Elas

têm organizações geográficas diferentes e conceitos de espaço e local. As

áreas geográficas e os significados mudam conforme as sociedades mudam. A

Geografia Histórica está preocupada com essas interconexões. A Geografia

Histórica aponta para o contexto sócio-historicamente dependente da

organização espacial e significado. E a Territorialidade aponta para o fato que,

a organização geográfica e significado, enquanto dependem de muitas coisas,

também pressupõem a manutenção de diferentes graus de acessos às

pessoas, coisas e relações. As organizações espaciais e significados do

espaço têm histórias e como também têm os usos territoriais do espaço; as

três histórias estão, intimamente, ligadas e interrelacionadas.

A lógica da Territorialidade mostrará que, como uma estratégia

espacial ela, geralmente, oferece vantagens para ajudar a afetar, influenciar e

controlar. Estas constituem o domínio da razão ou conseqüência de se usar a

Territorialidade. Elas explicam, como e porquê a Territorialidade está sendo

usada e quais são as bases de sua importância. Se vantagens particulares,

estão usadas ou não em um caso particular depende de quem está

controlando quem e para quê propósitos. Algumas vantagens podem ser

esperadas que se ocorram em praticamente em qualquer situação em

qualquer tempo. Nós encontramos o pai moderno empregando a

Territorialidade na cozinha, porque não se faz necessário a ele explicar o que

ele não quer que seus filhos manuseiem. Nós, também, podemos imaginar o

pai Chippewa usando a Territorialidade pela mesma razão.

Não definir o que está sob o controle de outro é, praticamente,

uma vantagem universal da Territorialidade. Nós podemos esperar que outros

efeitos muito importantes apareçam na maioria dos tipos de sociedades. E

ainda que outros apareçam somente em uns poucos. Por exemplo, a

Territorialidade no mundo moderno é, geralmente, um meio essencial de

definir as relações sociais. Conforme nós apontamos, as pessoas que residem

em uma cidade norte-americana têm acesso aos serviços públicos daquela

34

Page 35: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

cidade. A localização dentro de um território define um membro e um grupo.

Este uso do território - para definir-se como parte de uma comunidade - ocorre

de maneira menor em civilizações pré-modernas e dificilmente ocorre em

sociedades primitivas, onde as relações sociais estão tão claramente e tão

fortemente arrigadas. Os primitivos podem usar a Territorialidade para

delimitar e defender a terra que eles ocupam, mas eles raramente a usam para

se definir a si próprios. Outros efeitos da Territorialidade ocorrem,

primariamente, na sociedade contemporânea. E ainda outros ocorrem, com

igual importância, nas civilizações moderna e pré-moderna. Conforme nós

veremos, os usos da Territorialidade têm sido cumulativos. As sociedades

primitivas encontraram necessidade para uns poucos, as civilizações pré-

modernas empregaram estes e outros mais e a sociedade moderna tem

empregado, virtualmente, a gama total de possíveis efeitos.

Nós temos mencionado um pouco dos possíveis efeitos

territoriais, a facilidade pela qual a Territorialidade pode classificar, comunicar

e reforçar o controle, a facilidade pela ela pode definir as relações sociais

impessoalmente e hierarquicamente. E o que nós devemos considerar agora é

o leque de efeitos, teoricamente, possíveis e suas interrelações. Estes

assuntos estão endereçados na teoria da Territorialidade.

2. Teoria.

Nós notamos que, a definição de Territorialidade contém três

facetas interrelacionadas. A Territorialidade deve propor uma forma de

classificação por área, uma forma de comunicação por fronteira e uma forma

de reforço ou controle. O que será discutido agora é que, aproximadamente,

sete dos outros efeitos potenciais podem estar ligados a estas três facetas. E

que estes efeitos, mais os três originais nos levam a, aproximadamente,

quatorze combinações de características. Notem que, o número preciso não é

35

Page 36: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

o assunto crítico, eles podem ser reduzidos a menos que dez ou quatorze. O

que é crítico, é que a definição de Territorialidade deve ser rica o suficiente

para delimitar o alcance das vantagens potenciais oferecidas por uma

estratégia territorial e um nível de generalidade que seja preciso e útil.

Especificando esses efeitos, como eles estão conectados um ao outro e as

condições sobre as quais eles serão empregadas, constitui a teoria de

Territorialidade.

A teoria será apresentada em duas partes. Primeiro, a

Territorialidade é conceituadamente abstraída da multiplicidade de contextos

social-históricos. Isto permite espaço para descrever a lógica interna da

Territorialidade, para revelar o alcance dos efeitos que constituem o domínio

das razões, para usar estratégias territoriais em oposição a não-territoriais e

suas interrelações lógicas. Segundo, a teoria hipotetiza que, certos contextos

históricos serão desenhados sobre efeitos potenciais específicos e numa

maneira geral se combina contextos históricos com efeitos territoriais.

A teoria é tanto empírica quanto lógica. As primeiras três

tendências são derivadas da definição de Territorialidade. As outras que não

são inteiramente deriváveis da definição, nada mais estão do que,

logicamente, interrelacionadas e ligadas a ela. Chamando, a seguinte análise

de teoria, não significa que nós estamos impondo um método mecânico para

as pessoas e os seus usos do território, pelo contrário, a teoria apresentará os

efeitos do território como possibilidades que vão do físico ao simbólico. O

alcance recheado pelo amplo campo das análises espaciais. Nem a palavra

teoria, significa que predições acuradas sobre a Territorialidade podem ser

feitas. O comportamento humano é de longe muito variável para tornar

possível, previsões sociais precisas de qualquer conseqüência. Ao invés disso,

pela teoria queremos dizer que nós podemos desvendar um sete de

proporções, que são ao mesmo tempo, impiricamente e logicamente

interrelacionados e que podem dar sentido as ações complexas. Em outras

palavras, a teoria pode nos ajudar a entender e a explicar. Mas, não é provável

que ela nos ajude a predizer, precisamente, o que acontecerá no futuro.

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Page 37: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A estrutura complexa da teoria pode ser mais facilmente

visualizada, se nós recorremos a uma analogia da ciência física. Notem que a

teoria contém duas partes - o campo dos efeitos e os seus usos nos casos

históricos - nós podemos dizer sobre o risco de estarmos sendo mecânicos,

que a primeira parte é análoga ao examinar a estrutura atômica da

Territorialidade: As três facetas (a classificação, a comunicação e o reforço)

são o seu “núcleo”. E as dez ou quatorze combinações primárias dos efeitos

ou tendências são as suas “valências”. Estas formam as ligações potenciais

que serão desenhadas, se e quando a Territorialidade é usada. A segunda

parte é análoga , ao se colocar a Territorialidade em uma tabela periódica de

tipos de organizações sócio-históricas e sugerir que existe ligações que podem

ser esperadas quando estes contextos usam a Territorialidade. Esquematizar

as ligações entre os contextos históricos e os efeitos territoriais, serão o

propósito dos capítulos subsequentes.

Antes de retornarmos a teoria, umas poucas palavras sobre o

método e a terminologia estão na pauta. Os efeitos da Territorialidade não são,

simplesmente, relações, porque eles pertencem às pessoas, não aos átomos.

Eles são mais, apropriadamente, chamados de razões potenciais ou causas

ou ainda conseqüências potenciais ou efeitos da Territorialidade. A

probabilidade de um grupo de nomes sobre os outros, depende se um

indivíduo (ou grupo) está estabelecendo novos territórios (neste caso o nome

apropriado seria razões ou causas) ou se ele está usando alguma coisa já

existente (neste caso o nome apropriado seria conseqüências ou efeitos). Para

sabermos se uma coisa é uma razão ou uma causa ou uma conseqüência ou

um efeito, é impossível saber se examinarmos mais proximamente um caso

específico. E ainda assim, haverão muitos que discutiram as pequenas

diferenças existentes entre os dois. Em nome da simplicidade, razões, causas,

conseqüências, efeitos estes serão usados misturadamente para mostrar que

eles são aplicáveis em qualquer caso; e os termos, potencialidades e

tendências cobrirão todas as quatro opções.

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Page 38: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Apesar deste esforço de simplificação, a teoria é ainda complexa

e técnica . Nós precisaremos descrever as dez tendências e as quatorze das

combinações das tendências para um total de vinte e quatro efeitos, isto é

inevitável. A teoria deve ser desenvolvida tão completamente quanto possível,

uma vez que os capítulos históricos são organizados ao redor de reclamações

da teoria. A cada um dos vinte e quatro efeitos será dado um nome do censo

comum. Além disso, para ajudar a distinguir a estrutura interna da teoria, os

dez primeiros receberão um número e as quatorze combinações uma letra

(Por exemplo, a primeira tendência - a classificação - será identificada como 1,

e a terceira combinação - a hierarquia complexa - será identificada como c).

Os números e as letras serão somente usados neste capítulo para referência

cruzada. O restante do livro se referirá às tendência e às combinações por

seus nomes. Omitir as letras e os números, pode tornar o leitor mais difícil de

ser alertado ao fato de que uma tendência particular está sendo endereçada.

Mas, usar somente o nome do efeito, permitirá ao leitor identificá-lo, enquanto

torna a estrutura teórica menos desviante e distrativa para a narrativa.

A construção social da Territorialidade.

A Territorialidade, conceituadamente isolada e descritiva, para

alguns graus distante dos contextos sociais particulares, pode parecer análoga

a questão para o sentido da distância geográfica nas análises espaciais. Uma

diferença crítica é que a Territorialidade é sempre construída socialmente ou

humanamente de uma forma que a distância física não é. Podemos

considerar, de uma maneira rudimentar, o ato de conceber, descrever e medir

distâncias é uma questão de construção social. Da mesma forma são as forças

sociais, que localizam as coisas dentro de certos padrões no espaço. Mas a

Territorialidade é mais intimamente envolvida com o contexto social. A

Territorialidade não existe, a menos que haja uma tentativa de indivíduos ou

grupos em afetar as interações de outros. Não necessariamente esta tentativa

e nem também a interação, precisa existir entre dois objetos no espaço para

haver uma distância especificável entre eles. As distância podem ser

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Page 39: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

comparadas e medidas, mas ainda é pouco que possa se dizer abstratamente

sobre seus potenciais em afetar o comportamento. A sua influência depende

de que haja canais reais de comunicação, tais como estradas, rodovias e

semelhantes que contenham estas distâncias. A substituição indiscriminada

da medição física da distância para os canais de comunicação ou interações

significantes fisicamente e socialmente correm o risco de tratar a distância não

relacionamente.

De maneira diferente da distância, as relações territoriais são

necessariamente constituídas de contextos sociais (de uma maneira geral) nas

quais algumas pessoas ou grupos estão reivindicando acesso diferencial a

coisas e a outros. Por causa disto, mais pode ser dito abstratamente sobre os

efeitos da Territorialidade, do que pode ser dito sobre a distância. E ainda, a

Territorialidade é um produto do contexto social, e o que quer que seja dito

sobre isto, não importa o quão abstrato seja, pode ter implicações normativas

afixadas a ela e desta forma nos levar de volta ao contexto social. É importante

tornar claro que, estas implicações normativas se referem ao julgamento que

as pessoas fazem sobre os usos da Territorialidade. Um efeito da

Territorialidade, deve ser considerado como bom, neutro ou mal. A maioria

pode concordar que, usar a Territorialidade para evitar o acesso das crianças

aos pratos na cozinha, pode ser uma estratégia efetiva e até mesmo benigna.

Para uns poucos isto pode ser ruim, porque os pais não têm que esconder das

crianças os objetos que elas não têm que tocar. As implicações nominativas

das pessoas se referem às ações, e neste caso a ações territoriais, são

importantes partes de seus efeitos. Um pai pode perceber que a

Territorialidade é eficiente, mas pode não usá-la, porque ele acredita que ela é

ruim. A teoria, então, deve ter espaço para os julgamentos, éticos e normativos

, que podem ser feitos por outros para os usos da Territorialidade. Isto ajuda a

ligar a teoria à sociedade. Ainda, a própria teoria não apresentará

procedimentos, pelos quais alguém pode julgar se uma ação é, com seus

próprios méritos, boa ou má.

39

Page 40: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Quando apresentarmos as tendências, os contextos sociais

serão deixados em segundo plano (e embora exemplos específicos sejam

usados para exemplificar os seus significados, eles não devem ser

interpretados como especificando o contexto da tendência) e as implicações

normativas gerais não serão formuladas, até que as combinações sejam

discutidas. É claro que algumas dessas combinações, se diferem uma das

outras no grau de que, elas se dirijam ao que os outros podem rotular como

conotações benignas ou malevolentes. Estes termos normativos, ainda tendem

a ser muito abstratos ou gerais. Mas, por meio de uma ilustração, nós

podemos considerar que, um contexto benigno para alguém pode significar

que uma relação é não-explorativa. Tal contexto pode ser compreendido, a

nível individual, quando um pai usa a Territorialidade para impedir que uma

criança jovem corra pelo trânsito. E em um nível grupal, quando os

trabalhadores de uma fábrica, organizada e controlada democraticamente,

elegem alguns de seus membros para servir como gerentes. Uma relação

territorial malévola, pelo outro lado, pode ser pensada em ocorrer quando

diferentes acessos através da Territorialidade, beneficia aqueles que exercem

a Territorialidade em detrimento àqueles que estão sendo controlados.

Manter as descrições das tendências dos significados neutros e

normativos das combinações, geralmente, ajuda a separar a expressão da

teoria da Territorialidade, das teorias particulares de poder e sociedade. Isto

permite à Territorialidade, um espaço intelectual de si mesmo e evita que a

Territorialidade se torne refém de qualquer teoria ética particular ou teoria do

poder. A segunda parte da teoria nos leva à capacidade destas tendências

terem implicações normativas e assim nos conduzir a tipos particulares de

contextos sociais, que podem empregá-las. Desta forma, a teoria pode ser

religada a casos históricos específicos e a teorias do poder.

Teoria: Parte 1.

As dez tendências da Territorialidade.

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Page 41: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Por definição, a Territorialidade como uma afirmação do controle,

é um ato consciente. A pessoa ou pessoas exercendo a Territorialidade não

precisam estar conscientes dos dez potenciais ou tendências para que esses

efeitos existam. Estas tendências da Territorialidade vêm à tona sobre certas

condições. Além disso, elas não são independentes uma das outras. De fato,

as três primeiras listadas abaixo: a classificação, a comunicação e o reforço,

podem ser consideradas prioritárias logicamente, embora não trincamente.

Elas são as bases, pelas quais as outras sete potencialidades da

Territorialidade serão interrelacionadas. Em qualquer uma ou todas dez podem

ser razões possíveis para o seu uso. Mesmo que as três primeiras não fossem

importantes como razões em alguns casos, elas deveriam, entretanto, ainda

estar presentes, porque elas são partes da definição. Em outras palavras, a

Territorialidade deve propor classificação, comunicação e reforço, mas ela

pode ser causada por uma ou várias ou ainda por todas as dez. Vamos

continuar na ordem, do número 1 até o número 10. E novamente lembrar, que

os termos usados para descrevê-las podem ser aplicados aos contextos

sociais benignos, neutros ou malévolos. Cada tendência está numerada e as

palavras itálizadas servirão como nome das tendências nos capítulos

subsequentes. Conforme a segunda seção mostrará, as tendências estão,

logicamente, interconectadas em várias maneiras. O que vem a seguir, é mais

uma lista de definição das tendências do que uma ilustração das suas

interrelações. A ordem na qual elas são discutidas, sugere como conduz a

outras:

1. A Territorialidade envolve uma forma de classificação que é, extremamente,

eficiente sob certas circunstâncias. A Territorialidade classifica, pelo menos

em parte, por área ao invés de por tipo. Quando nós dizemos que alguma

coisa nesta área ou lugar é nossa ou que está fora do seu limite, nós

estamos classificando ou colocando as coisas numa categoria como, nossa

ou não sua, de acordo com sua localização no espaço. Nós não precisamos

estipular os tipos de coisas no lugar, que são nossa ou não sua. Assim, a

Territorialidade evita, em vários graus, a necessidade por uma enumeração

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Page 42: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

e classificação por tipo e pode ser o único meio de afirmar o controle se nós

não podemos enumerar todos os fatores significantes e relações aos quais

nós temos acesso. Este efeito é, especialmente, útil na arena política, onde

uma parte da política é sua preocupação com condições inéditas e relações.

2. A Territorialidade pode ser fácil para comunicar, porque ela requer um tipo

de marca ou sinal, a fronteira. A fronteira territorial pode ser somente a

forma simbólica que combina a direção no espaço e uma afirmação sobre a

posse ou exclusão. Os sinais de estrada e outros sinais de direção, não

indicam posse. A simplicidade da Territorialidade para a comunicação que

explique o uso constante pelos animais.

3. A Territorialidade pode ser a estratégia mais eficiente para reforçar o

controle, se a distribuição no espaço e tempo, dos recursos ou coisas a

serem controlados, cai entre a onipresença e a imprevissibilidade. Por

exemplo, os modelos da procura animal por alimentos têm mostrado que a

Territorialidade é mais eficiente para os animais, quando o alimento é,

suficientemente, abundante e mais previsível no espaço e tempo quando as

ações não-territoriais são mais adequadas para a situação de conservação.

A mesma coisa tem sido mostrada em caso de, humanos caçando e

sociedades de coleta.

4. A Territorialidade propicia meios de reavivar o poder. Poder e influência, não

são sempre tão tangíveis quanto riachos e montanhas, estradas e casas.

Além disso, o poder e semelhantes são sempre potencialidades. A

Territorialidade torna os potenciais explícitos e reais, tornando-os visíveis.

5. A Territorialidade pode ser usada para desviar a atenção da relação entre o

controlador e o controlado no território. Como quando nós dizemos, é a lei

da terra ou você não pode fazer isto aqui. Afirmações legais e

convencionais do comportamento em territórios, são tão complexas e

importantes e bem entendidas nos indivíduos bem socializados que,

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Page 43: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

geralmente, se despreza tais afirmações e assim o território parece ser o

agente do controle.

6. Ao classificar, pelo menos em parte, por área ao invés de por espécie ou

tipo, a Territorialidade ajuda a constituir relações impessoais. A cidade

moderna é uma comunidade impessoal. O critério primário para pertencer a

ela, é o domicilio dentro do território. A prisão e o local de trabalho, exibem

esta impersonalidade no contexto de uma hierarquia. Um guarda de prisão é

responsável por um bloco de celas, nas quais existem prisioneiros. O

domínio do guarda como supervisor, é definido territorialmente. O mesmo é

verdade na relação entre o capataz e os trabalhadores e uma linha de

montagem e etc.

7. As interrelações entre as unidades territoriais e as atividades que elas

englobam, podem ser tão complicadas que é, virtualmente, impossível

descobrir todas as razões para o controle das atividades territorialmente.

Quando isto acontece, a Territorialidade aparece como meio geral, neutro e

essencial pelo qual o local é feito ou o espaço é limpo e mantido para as

coisas existirem. As sociedades tornam esta função de limpeza do local,

algo explicito e permanente no conceito de direitos de propriedades na terra.

Os muitos controles sobre as coisas distribuídas no espaço, tornam

condensado o ponto vista de que as coisas precisam de espaço para existir.

De fato, elas precisam de espaço no sentido que elas estão localizadas e

precisam de uma área. Mas, a necessidade é territorial, somente quando

existem certos tipos de competição pelas as coisas no espaço. Não é uma

competição por espaço que ocorre, mas sim uma competição por coisas e

relações no espaço.

8. A Territorialidade age como um container ou molde para as propriedades

espaciais dos eventos. A influência e a autoridade de uma cidade, embora

se espalhe à distância, é legalmente afirmada por suas fronteiras políticas.

O território se torna o objeto ao qual outros atributos estão afirmados, como

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Page 44: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

no caso do território político que se torna a unidade a receber a ajuda

federal.

9. Quando as coisas a ser contidas não estão presentes, o território está,

conceituadamente, vazio. De fato, a Territorialidade ajuda a criar a idéia de

um lugar, socialmente, esvaziável. Pegue um pedaço de terra livre na

cidade, ele é descrito como um lote vazio. Embora, não seja fisicamente por

haver nele grama e solo. Ele é esvaziável, porque ele é desprovido de

artefatos de valor social ou econômico ou coisas que tendem a ser

controladas. A este respeito, a Territorialidade, conceituadamente, separa o

lugar das coisas e então recombina-os como uma afirmação de coisas em

lugares e lugares em coisas. Como nós veremos, esta tendência pode ser

combinada com outras para formar um componente, extremamente,

importante da modernidade, que é o espaço esvaziável.

10. A Territorialidade pode ajudar a criar mais Territorialidade e mais

relações para moldar. Quando há mais eventos do que territórios ou quando

os eventos se estendem em grandes áreas maior do que os territórios,

novos territórios são gerados por estes eventos. De maneira contrária,

novos eventos precisam ser produzidos por territórios novos e vazios. A

Territorialidade tende a ser uma preenchedora de espaço.

Estas são as descrições breves das dez conseqüências que nós

hipotetizamos vir do uso da organização territorial e que serão abordadas para

explicar as razões para se ter atividade territorial, ao invés de atividade não-

territorial. Novamente, estas tendências não são independentes e o seu

número preciso definição não é tão critico quanto a questão de que se elas

englobam ou não o domínio dos seus efeitos potenciais. Nem todas precisam

ser usadas, num momento territorial particular na história. E conforme

mencionado, os seus significados ou importâncias dependerão das condições

históricas específicas e de quem controla quem, como e para que propósito.

Algumas de suas interconexões, serão notadas e se tornaram mais aparentes,

conforme nós discutirmos as combinações primárias.

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Page 45: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Combinações primárias.

A maioria do comportamento humano ocorre com hierarquias das

organizações territoriais. Indivíduos moram em cidades, que estão em estados,

que estão em nações. Pessoas trabalham em mesas, que estão em

compartimentos, que estão em prédios. Assim, tudo que nós dissermos sobre

território se aplica por adição à organização territorial hierárquica. Por

exemplo, ter o território usado como molde dentro da hierarquia dos territórios

como no contexto de municípios, estados e nação, pode significa que um

objetivo, tal como um desemprego de 4%, pode ser determinado,

precisamente, para um nível geográfico, tal como o nacional, ao invés de para

outro, tal como o estado ou o município. Determinando tarefas ou

responsabilidades para diferentes níveis territoriais, pode se tornar uma

estratégia política geral. A Territorialidade como um meio de englobar o

conhecimento e a responsabilidade, pode ser usada para determinar o menor

nível e o menor território, o menor conhecimento e responsabilidade e o maior

nível e o maior território.

Neste sentido e ainda sem sermos específicos sobre os

contextos sociais, nós podemos continuar a ilustrar, mais das interrelações

lógicas entre as tendências, considerando as combinações primárias possíveis

e sua importância geral dentro das hierarquias sociais. Nós começaremos com

uma lista, como nós fizemos com as tendências. Esta lista determinará as

relações das tendências e as combinações dentro da hierarquia. A ordem da

lista sugere como as combinações conduzem as outras, mas as maiores

interconexões entre as combinações serão discutidas mais tarde.

A figura 2.1, é uma matriz trançando as conexões entre as

tendências elementares, de 1 a 10, para formar as combinações primárias (de

a a n). A disposição das combinações na figura 2.1, não está em ordem

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Page 46: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

alfabética, como é a ordem na lista das combinações. Isto é porque, a figura

2.1, agrupa as combinações discutidas na lista por suas misturas de

tendências, ao invés de por suas interconexões entre as combinações. (As

dinâmicas entre combinações estão ilustradas na figura 2.2).

A figura 2.1, mostra somente as ligações importantes. O

quadrado escuro significa que, um potencial é, extremamente, importante. E

um quadrado listrado de que ele é moderadamente importante. Um quadrado

branco significa que a tendência não é importante, para aquela tendência

particular, não significa que ele não tem efeito totalmente. (Note, novamente,

que onde o 1, o 2 e o 3, devem ser atributos da Territorialidade, eles não

precisam ser importantes causas ou conseqüências da Territorialidade. Sua

inclusão na matriz era para indicar quando eles, como características da

Territorialidade, também se tornam importantes conseqüências do território).

Sem ligar a Territorialidade a contextos sociais específicos, é impossível ser

mais preciso sobre o grau que cada tendência contribui para a combinação ou

se uma área escurecida pode ser chamada de condição necessária e ou

suficiente. Deve ser lembrado que algumas combinações diferem-se somente

nas conotações e pesos colocados em suas tendências.

a. Talvez, a combinação mais geral é aquela em que todas as dez tendências

podem ser componentes importantes da hierarquia complexa e rígida. 1, 2,

3, 6, 8 são especialmente importantes, porque elas podem permitir a

inclusão hierárquica do conhecimento e responsabilidade, relações

impessoais e canais estritos de comunicação, todos estes componentes

essenciais da burocracia. A força do número 8, as relações impessoais,

afeta o grau da burocracia moderna, de acordo com o critério de Weber.

b. Não somente o escopo do conhecimento pode ser tabelado, de acordo com

os níveis territoriais. Mas, também o escopo da responsabilidade no espaço

e no tempo, através da afirmação 3 e da modelação ao acesso a informação

8. Um planejamento de longo prazo, poderia ser feito sobre a

responsabilidade do maior nível que teria acesso ao maior conhecimento e

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Page 47: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

responsabilidade. E um planejamento de curto prazo ou nenhum

planejamento, seria a responsabilidade do menor nível territorial. Além

disso, uma ação poderia ser subdividida em estágios. O primeiro tendo a ver

com uma iniciação geral da norma e o último tendo a ver com o andamento

dos detalhes. O primeiro seria pertinente aos maiores níveis territoriais e o

último aos menores níveis.

c. Escalões maiores da hierarquia, tendem a usar os territórios para definir (1),

afirmar (2) e moldar grupos (8), com o resultado que os membros podem

ser coletados e tratados com impersonalidade (6). Este é o caminho (1, 3, 6

e 8), para o qual a literatura histórico-antropológica aponta, quando ela

discute sobre a definição territorial das relações sociais. Este é um conceito

relativo e seu oposto é uma definição social do território. As diferenças entre

eles é uma questão de grau. Um caso, relativamente, extremo de uma

definição territorial das relações sociais, pode ser encontrado em nossa

comparação prévia do membro de uma comunidade norte-americana do

século XX, quando comparado com um membro da comunidade Chippewa.

Mesmo na América do Norte, as definições territorial e social podem ser

encontradas no mesmo local. A exigência para se receber a proteção da

polícia, proteção legal e proteção dos bombeiros, de um município

americano, é que a pessoa esteja localizada dentro das fronteiras

geográficas daquela comunidade. Aqueles que não residissem dentro dessa

fronteira, simplesmente, não teriam esses benefícios. Por outro lado, dentro

da mesma cidade, a pessoa sendo um visitante na casa de alguém, não

torna essa pessoa parte do domicilio e não dá ao visitante o direito de usar

os recursos do domicilio. Uma reivindicação atual de Territorialidade, pode

envolver elementos de ambos, como quando uma cidadania política

completa dos municípios americanos, embora avaliada quanto a base da

residência, é somente dada a cidadões americanos. Como nós notamos no

exemplo Chippewa, as sociedades primitivas baseavam-se, quase que

inteiramente em uma definição social de Territorialidade, enquanto as

civilizações, especialmente as sociedades modernas, fazem o contrário.

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Page 48: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Definições territoriais contínuas e intensas conduzem, conforme nós

veremos, a um espaço, conceituadamente, vazio (3).

Uma combinação significante e simples, é aquela em que uma englobação

territorial hierárquica do conhecimento e responsabilidade, pode propiciar

um meio muito eficiente de supervisão. Por exemplo, limitar os movimentos

dos prisioneiros colocando-os em celas, torna mais fácil a tarefa de

supervisioná-los, do que se eles tivessem permissão para andar livremente

pela prisão. É claro que, mesmo uma prisão sem celas, mas com muros ao

redor , propicia um meio mais efetivo de supervisão, do que uma forma não-

territorial de contato, tal como algemando um prisioneiro a um guarda. O

indicador quantitativo importante do grau da eficiência de supervisão, seria a

extensão do controle, por exemplo, os números de supervisores por

supervisionados. Esta medida é um indicador conhecido da estrutura

organizacional e é exibida por todas as organizações territoriais.

A combinação dos elementos que constituem uma definição territorial das

relações sociais (1, 3, 6 e 8), na conjunção com um mecanismo neutro de

limpeza de espaço (7) e, especialmente, um lugar conceituadamente vazio

(9), apontam para a possibilidade em um nível prático de preencher,

esvaziar e rearranjar, continuamente, coisas em um território, com o

propósito de um controle funcional eficiente. Esta constante manipulação

das coisas dentro de um território, conduziriam, em um nível abstrato, a uma

separação conceitual e recombinação das coisas e espaço e assim a um

espaço, conceituadamente, esvaziável. O espaço, não somente um local

como no 9, apareceria como uma moldura funcional eficiente para os

eventos. Os eventos e o espaço pareceriam estar somente relacionados

continuamente . Esta possibilidade é, especialmente, significante na

sociedade moderna e caracteriza o conceito do território, mais intimamente

ligado com os modos modernos de pensamento. A ciência, a tecnologia e o

capitalismo tornam prática a idéia de preenchimento e esvaziamento,

repetido e eficiente e de movimento das coisas dentro do território em todas

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as escalas. Os planejadores esperam que os estados, percam ou ganhem

população ano a ano. E os suportes federais ou estados permitem estas

mudanças. Em uma escala menor, os edifícios servem como moldes

territoriais ou containers, para abrigar primeiro uma indústria, então outra ou

quando ninguém quer alugar o prédio para não conter nada. A mobilidade

geográfica e o poder territorial em um nível político, esvaziando,

preenchendo e organizando a um nível arquitetônico, afrouxam os laços

entre os eventos e o local, entre o território atual e o espaço como um pano

de fundo para a ocorrência dos eventos, pano de fundo que pode ser

descrito abstratamente ou metricamente. As mudanças nas atividades são,

especialmente, prevalentes na cultura moderna. A sociedade de consumo,

torna essa mudança essencial. Geograficamente, a mudança e o futuro são

vistos como um sete de configurações espaciais. Diferentes daqueles que

existem agora ou daqueles que existiam no passado. Um lugar que não

mudou sua aparência, foi ultrapassado pelo tempo, ele permaneceu parado.

Planejar mudança e pensar no futuro, significa imaginar diferentes coisas no

espaço. Isto envolve imaginar separação e a recondenação das coisas no

espaço. A Territorialidade serve como um recurso para manter o espaço

esvaziável e preenchível.

f. As combinações de reificação (4) e o deslocamento (5), podem nos levar a

uma perspectiva mística mágica. A reificação, através do território, é um

meio de tornar a autoridade visível. O deslocamento, através do território,

significa ter as pessoas em manifestações territoriais visíveis como uma

fonte de poder. A primeira torna as fontes de poder proeminentes, enquanto

a segunda às disfarça. Quando as duas são combinadas, elas podem nos

levar a um ponto de vista místico do território ou local. Isto, normalmente,

ocorre dentro dos usos religiosos do espaço. Por exemplo, o catolicismo

reifica, quando faz a distinção entre as fontes primárias do poder, por

exemplo a fé da e a Igreja invisível e as manifestações físicas desta, por

exemplo a Igreja visível. Mas, o catolicismo se desloca quando ele tem seus

adoradores acreditando que as estruturas físicas da Igreja e seus locais

santos, emanam poder. As mesmas relações ocorrem no nacionalismo. O

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território é uma manifestação física da autoridade do Estado. Assim, a

fidelidade ao território ou à terra natal, faz com que o território apareça

como uma fonte de autoridade.

g. O componente territorial nas organizações complexas, pode ter um

momento seu. Por um lado, aumentando a necessidade pela hierarquia e

burocracia. E pelo outro lado, diminuindo a sua efetividade. Isto pode

ocorrer, quando a definição pela área (1), leva não intencionalmente a uma

circunscrição da área errada ou da escala errada e assim nos levar a uma

má escolha do território ou então a um desperdício do processo. A má

escolha, pode ser agravada usando-se o território como um molde (8). A má

escolha e o desperdício diminuiriam a efetividade da organização. Mas,

devido o conhecimento e a responsabilidade dentro da organização serem

divididos de maneira diferente, a responsabilidade para retificar o problema ,

pode cair dentro da hierarquia existente, desta forma intricheirar ou até

mesmo aumentar o papel da burocracia.

h. Deslocamento (5) e multiplicação territorial (10), facilitam para o território

parecer ser o final ao invés do meio de controle. Parecer é enfatizado,

porque a Territorialidade como uma estratégia é sempre um meio para um

fim. A Igreja católica oferece um exemplo disto. No século V depois de

Cristo, os poderes dos arcebispo eram medidos, em parte, pelo número de

dioceses e comunidades sobre seu controle. Para aumentar este poder, um

arcebispo subdividiria a sua atenção. E desta forma, aumentaria o número

de bispos e padres sobre sua supervisão.

i. O componente territorial, pode ter um momento seu para criar diferenças. A

sua facilidade em ajudar a reforçar os diferentes acessos às coisas (3),

pode se tornar institucionalizada em imposto, privilégio e classe.

j. As mesmas tendências que contribuem para a organização efetiva e

burocracia, conforme discutido em a, podem mudar a sua importância ao

serem usadas como um meio geral de dividir e conquistar e tornar a

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Page 51: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

organização mais intricheirada e indispensável para a coordenação das

partes. No contexto do local de trabalho, as dez tendências podem ser

usadas para desabilitar uma força de trabalho e criar a disciplina fabril.

k. Classificação (1) e molde (8), podem ser usados especialmente, sem

intenção, para obscurecer a má escolha do território e eventos, tornando as

pessoas crentes de que a designação de tarefas particulares para territórios

particulares é apropriada, quando de fato as tarefas são designadas para a

escala errada. Um exemplo disto, seria designar maiores responsabilidades

para o abatimento da poluição em níveis locais de governo, quando de fato

as fontes de poluição particulares não são locais.

l. Deslocamento (5) e multiplicação territorial (10), podem desviar a atenção

das causas do conflito social, para conflitos entre os próprios territórios.

Exemplos disto, podem ser vistos na atenção dada às crises urbanas e aos

conflitos entre as cidades do interior versus os subúrbios e ao cinturão da

neve versus o cinturão do sol, ao invés de se dar atenção às relações sócio-

econômicas que causam os conflitos.

m.Moldar a Geografia das ações em várias escalas (8), aliada com o reforço

de responsabilidades de planejamento de longo e curto alcance à

correspondentes níveis de hierarquia (3), dá a organizações a oportunidade

de obscurecer o impacto geográfico de um evento. Isto ocorre, através de

uma especificação correta da Geografia em uma escala, digamos a

nacional, e não em outras ou dividindo uma decisão em partes, tal que o

inicio de uma ação, que pode ser irreversível, é considerado no contexto do

maior território. E a implementação da ação é deixada mais tarde para os

territórios menores. Uma combinação das duas coisas, é encontrada na

história da política dos Estados Unidos com relação ao poder nuclear. Foi

decidido , a um nível nacional, que uma parcela significante da nossa

eletricidade seria gerada por usinas nucleares. Este objetivo era pertinente à

nação como um todo, e estava a caminho antes que as decisões de

localização das fábricas fossem tomadas a níveis locais, e antes mesmo

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Page 52: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

que as decisões de aproveitamento da perdas fossem mesmo

contempladas.

n. As mesmas tendências que podem ajudar a fazer o controle organizacional

hierárquico efetivo (1, 2, 3, 6 e 8 ou a e j), podem se virar contra nós,

conduzindo a uma redução do controle e até mesmo a uma secessão.

Dividir, conquistar, desabilitar e tornar as relações impessoais, podem ser

coisas anuladas pelos potenciais que elas têm de criar desorganização,

alienação e hostilidade. Em muitos casos, a linha de montagem foi muito

longe em englobar e desabilitar. Os trabalhadores têm reagido a afirmações

sem sentido e à alienação com vários graus de resistência. E a indústria

tem, recentemente, começado a explorar novos tipos de organizações,

visando diminuir a limitação territorial dos trabalhadores em níveis menores

de hierarquia. Além disso, aqueles que resistem à limitação, podem fazer

uso dos territórios existentes de várias maneiras, como quando os

prisioneiros, literalmente, tomam posse da cela ou dos pavilhões ou quando

unidades políticas se separam.. Nos casos onde as unidades separadas

tomam uma forma territorial, nós supomos que as razões para o emprego

territorial vem das dez tendências e de suas combinações.

Estes potenciais, então, não são isolados e independentes. A

matriz na figura 2.1, juntamente com as descrições anteriores das

combinações, tornam claro que algumas das usam, exatamente, as mesmas

tendências das outras. Mas, se difere nos pesos atribuídos a elas e às ênfases

impostas em suas conotações e significados normativos. Por exemplo, a

hierarquia e a burocracia (a), a divisão e a conquista (j) e a secessão (n),

todas repousam fortemente nas tendências 1, 2, 3, 6 e 8, mas elas fazem isto

em graus diferentes. A hierarquia e a burocracia (a), podem ser entendidas

tanto como benevolente ou neutras na organização do uso do território. A

divisão e a conquista (j), enfatizam os aspectos negativos de 1, 2, 3, 6 e 8 e

descrevem o que pode ser achado como uma organização malévola. A

secessão (n), descreve a condição na qual um indivíduo ou grupo usa as

tendências territoriais (1, 2, 3, 6 e 8), para diminuir ou remover a autoridade de

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Page 53: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

outros. Similarmente, a ofuscação pela adoção da escala errada do território

(k), é o lado malévolo da má escolha (g). O conflito social, obscurecido pelos

conflitos territoriais, impõe uma ênfase diferente nas mesmas tendências, do

que faz a Territorialidade como um fim (h). A ofuscação pelos estágios, em

termos de tempo e escala (m), é o lado negativo do planejamento de longo e

curto alcance (b). As diferenças (l), é o lado negativo da eficiente supervisão -

a limitação (d).

Estas quatorze combinações, juntamente com as dez tendências

primárias, são razões e causas potenciais e conseqüências e efeitos da

Territorialidade, que estão ligadas a nossa definição. O restante do livro,

ilustrará que estas delimitam o domínio das vantagens potenciais, em um nível

suficientemente preciso e geral, para ser historicamente significante. Algumas

combinações, tais como a divisão e a conquista, têm sido associados com a

Territorialidade antes, mas a maioria das tendências e combinações, não. Isto

é uma pena, porque elas são componentes necessárias no entendimento de

como o efeito da Territorialidade familiar opera. Nós entendemos mais o papel

da Territorialidade em dividir e conquistar, quando nós percebemos que a

Territorialidade permite o emprego conjunto das dez tendências ou que

usando estas dez, com diferenças pequenas na ênfase, pode ajudar as

organizações a se tornarem hierárquicas e burocráticas ou pode ajudar a criar

uma organização ineficiente, ao invés de ajudá-las a dividir e conquistar.

Algumas das combinações, podem ser sintetizadas em

categorias mais gerais, como quando juntamos todas as combinações que

podem ser ofuscantes (k, l, m) - Estas é claro formam um importante

componente da modernidade no capitalismo, de acordo com a teoria Marxista,

como nós veremos, e algumas podem ser mais subdivididas ainda.

Certamente, elas todas podem se tornar mais restritas, como quando a má

escolha (g), é substituída pelo conceito econômico mais restrito da

externalidade ou quando a divisão e a conquista (j), é substituída pelo exemplo

mais restrito da política colonial britânica do século XIX na África. Mas, ao se

fazer alguma coisa neste sentido corremos o risco de nos tornamos gerais ou

específicos demais. Novamente, uma definição e seus vínculos estão em nível

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Page 54: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

próprio que não podem ser provadas abstratamente. Nós somente podemos

ilustrar a utilidade da teoria, em explorar casos de estudo da Territorialidade.

Os potenciais estão mais interrelacionados e suas interconexões

parecem constituir as dinâmicas e estruturas internas da teoria. A figura 2.1,

propõe algumas sugestões sobre interconexões, mais ou menos prováveis,

sobre como algumas potencialidades podem reforçar e algumas podem negar

outras. De uma maneira geral, há sugestão de que a Territorialidade pode

ajudar a aumentar a eficiência de uma organização, se for um estado, um

negócio ou uma igreja, até certo ponto. E isto pode ajudar a mudar os objetivos

de uma organização de benignos para malévolos. Por exemplo, definir as

responsabilidades territorialmente, pode ser eficiente, mas também pode criar

contratempos inadvertidos e más escolhas, quando a definição territorial se

torna um substituto para não se saber o que está sendo controlado. Estas

ineficiências, podem levar a necessidade de mais hierarquia territórios maiores

para coordenar os contratempos e as más escolhas. Mas, eventualmente, o

controle central será prejudicado, isto pode resultar dos níveis locais terem

mais autonomias de fato, senão de jura. Definir as responsabilidades pela

área, pode também ser usado intencionalmente para obscurecer ou disfarçar

processos, aumentar as vantagens daqueles no controle e mudar a

organização de benigna para malévola.

Algumas dessas sugestões estão ilustradas na figura 2.2. Este

diagrama, começa com a adoção ilustrada pela reta até a, de que os objetivos

originais de uma organização são benignos ou neutros e que a instituição parte

das tendências da Territorialidade para aumentar o seu controle hierárquico.

Mas, algumas dessas curvas internas em pontos extremos, sugeridos acima,

podem atrasar e tornar a organização ineficiente. Isto pode aumentar a

autonomia local e até mesmo fragmentar a organização ou isto pode tirar a

organização da neutralidade e levá-la para um estado maléfico de divisão e

conquista daquele que está se controlando. Os círculos apontam para as

curvas que são, especialmente, prevalecentes na sociedade moderna.

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Page 55: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Estas são somente umas poucas das muitas possibilidades que

surgem das interconexões entre os potenciais. Visando acompanhá-las mais

um pouco , a teoria deve se tornar mais explicita sob os tipos de contexto

social que serão empregados nas potencialidades particulares da

Territorialidade. É claro, que deve ser lembrado, que o contexto social nunca

foi completamente ignorado. De uma maneira muito geral, ele está

intrínsicamente ligado na própria definição de Territorialidade, nós somente o

colocamos em segundo plano, mais com relação às tendências e menos com

relação às combinações. A lógica da Territorialidade, pode carregar a

discussão ainda mais além. Mas, somente combinando-a, com mais e mais

tipos explícitos de contextos sociais, que pode ser esperado que se utilize a

Territorialidade. O contexto social deve, agora, ficar no primeiro plano, para

preencher mais das estruturas internas da teoria, tal como a tabela periódica

dos elementos deve estar disponível para que a estrutura atômica de um

átomo possa fazer sentido.

Teoria: Parte 2.

Fronteiras: história e teoria.

A ciência social está familiarizada com inúmeros tipos e modos

de sociedades. Para focalizar a discussão, nós concentraremos nos modelos

sociais de Weber e Marx. Além de serem muito influentes, este modelos têm

norteado uma ampla gama de organizações sociais e tem muito a ver com a

estrutura territorial. De maneira alguma eles são os únicos modelos aos quais

a teoria pode ser combinada.

Weber.

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Page 56: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Duas facetas, especialmente, do trabalho de Weber, têm a ver

com a nossa discussão. A primeira considera as dinâmicas internas das

organizações e especialmente das burocracias, e a segunda norteia o

contexto histórico-social, no qual certas organizações sociais são mais ou

menos prováveis de ocorrer.

Partindo desse segundo exemplo, primeiro, nós notaremos que

Weber se refere a três tipos gerais ou ideais de organizações: a carismática, a

tradicional e a burocrática. A primeira não é necessariamente ligada a qualquer

período ou tipo de sociedade. Seus seguidores e lideres formam uma

organização sem vínculos. Existem poucos oficiais, regras de procedimento e

hierarquias claras. Mas, conforme o grupo persiste e especialmente na

questão da sucessão, o carisma se torna rotilizado. Isto abre caminho para um

dos dois tipos mais formais de organizações: a tradicional e a burocrática.

Conforme o próprio nome, as organizações tradicionais são

encontradas, primariamente, nas sociedades pré-modernas ou civilizações,

contendo classes sociais e divisões complexas de trabalho. Estas

organizações , repousam nos modos tradicionais de conduzir e resolver

problemas. Geralmente, a liderança é tirada de um clã específico, família ou

circulo de amigos. A justificativa para a autoridade é baseada no costume. A

hierarquia pode ser bem desenvolvida e complexa, mas a habilidade de uma

pessoa e a personalidade podem mudar o poder e o objetivo do seu

compromisso. A legitimidade da autoridade, não é tirada de se possuir um

escritório próprio, mas de estar se conectado as posições tradicionais de

liderança. As organizações tradicionais ocorrem através das civilizações pré-

mordenas. E elas caracterizam as organizações quando o carisma se torna

rotineiro. Muitos estudiosos têm chamado as hierarquia tradicionais de

burocracias, mas Weber reserva o termo para as características

organizacionais encontradas, primariamente, nas sociedades modernas que

incluem economias capitalista e socialistas. Nós prosseguiremos com a prática

de chamar todas as organizações de burocráticas, mas até o ponto em que

elas contenham características modernas, tais como as que Weber nota. A

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Page 57: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

banalização do carisma na sociedade moderna, de acordo com Weber,

conduziria, normalmente, a uma organização burocrática. As burocracias, nos

termos de Weber, são caracterizadas pelas linhas formais de comunicação,

também pela hierarquia clara e definições de autoridade e ainda por relações

impessoais, estas constituem as organizações hierárquicas modernas.

Mais especificamente, Weber diz que:

1) Os proprietários de escritórios individuais das burocracias modernas são

pessoalmente livres e sujeitos a autoridade somente com respeito a suas

obrigações oficiais impessoais.

2) As próprias burocracias são organizadas em hierarquias, claramente,

definidas de escritórios.

3) Cada escritório tem uma esfera, claramente, definida de competência no

censo legal.

4) O escritório é preenchido pelo uma relação contratual livre.

5) Os candidatos são selecionados com base nas qualificações técnicas.

Geralmente, por exames ou diplomas técnicos, treinamento ou ambos. Os

candidatos são apontados, não eleitos.

6) Eles são remunerados por salários fixos em dinheiro. O salário é,

primeiramente, estabelecido de acordo com o grau na hierarquia.

7) O escritório é tratado como único ou pelos menos pela ocupação primária

do incumbente.

8) Ele constitui uma carreira. Existe um sistema de promoção, de acordo com

a antigüidade e aquisição ou por ambos. A promoção depende do

julgamento de superiores.

9) O oficial trabalha, inteiramente, separado do proprietário dos meios de

administração.

10) Ele está sujeito a disciplina sistemática e estrita e ao controle da

conduta no escritório.

Por outro lado, as organizações hierárquicas burocráticas que

não são modernas tendem a não ter:

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Page 58: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

a) Uma esfera, claramente, definida de competência, sujeita a regras

impessoais.

b) Uma ordenação racional das relações de superioridade e inferioridade.

c) Um sistema regular de compromissos e promoções com bases em um

contrato livre ou treinamento técnico.

d) Salários fixos.

Notem que a impessoalidade, é a coisa principal na lista. Quanto

maior o grau de impessoalidade, mais moderna é a burocracia.

Pesquisas mais recentes sobre a estrutura organizacional,

consolidaram e estenderam os componentes de Weber e contém sugestões

específicas sobre as suas interconexões. Os objetos de estudo, para a maior

parte delas, têm sido as organizações industriais ocidentais do século XX.

Mas, muitas das variáveis e das suas supostas interconexões podem servir

como guia para uma análise das instituições pré-modernas.

Estes trabalhos recentes, como o de Weber, apontam para o

significado da impessoalidade e imparcialidade dentro da organização

moderna e das estruturas burocráticas. E também sugerem o seguinte, como

importantes facetas das organizações:

Especialização: aquilo que se refere à divisão do trabalho.

Padronização: aquilo que se refere a extensão da regularidade dos

procedimentos na organização.

Formalização: aquilo que se refere ao uso da documentação para a

definição do trabalho e comunicação.

Centralização: aquilo que se refere ao local da autoridade na organização.

Configuração: aquilo que se refere a forma da autoridade e a hierarquia e

também pode, geralmente, ser pelo alcance do controle.

Claro que estas são características muito gerais. Significados

mais específicos, se diferem consideravelmente de estudo a estudo. Existe

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Page 59: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

ainda o consenso de que a especialização, a padronização e a formalização

estão fortemente interrelacionadas e conectadas à estrutura hierárquica das

organizações e também à tecnologia.

Pequenas modificações têm sido feitas na faceta histórica da

formulação de Weber. Com exceção que, conforme nós notamos, outros têm

usado o termo burocracia mais, geralmente, para descrever as hierarquias nas

organizações tradicionais e têm encontrado dentro delas alguns exemplos das

facetas burocráticas modernas, tais como as relações impessoais. Por outro

lado, a maioria das correções têm sido feitas no primeiro aspecto da

formulação de Weber: a descrição dos processos ocorrendo dentro das

organizações modernas e burocracias.. E aqui dois caminhos da pesquisa têm

a ver com a Territorialidade:

Primeiro, conforme nós descrevemos, o trabalho recente em cima

das estruturas organizacionais tem introduzido tais facetas como

padronização, formalização, centralização e configuração, para consolidar

componentes do modelo de Weber. Segundo, a pesquisa em cima das

organizações, têm sido, explicitamente, endereçada às implicações normativas

da burocracia. Weber viu a forma burocrática como, potencialmente, a mais

racional e eficiente. Ele reconheceu algumas das suas características

negativas, tais como a sua tendência em tornar as relações uniformes demais

e impessoais, o que poderia causar a dissolução da organização e poderia

criar oportunidades para níveis carismáticos formar novos. Mas, ele estava

mais impressionado com os potenciais positivos da burocracia, da

racionalidade e da eficiência. Acima de tudo, ele apresentou a burocracia

como um instrumento com potencial para se sair bem.

O lado negativo da burocracia foi investigado e mais elaborado

pelos sucessores de Weber, especialmente, Michels e Merton. Michels,

examinou as organizações socialistas alemãs e encontrou que, apesar do

começo igualitário-idealista, estas organizações se tornaram, gradativamente,

institucionalizadas, autoritárias e rígidas hierarquicamente. Os oficiais se

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Page 60: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

tornaram mais interessados em perpetuar a si próprios e a seus escritórios, do

que se importar com os compromissos originais da organização. Ele atribuiu

estas tendências às burocracias em gerais e chamou-a de “Lei de ferro das

oligarquias”. Merton, descobriu outro lado malévolo da burocracia. Uma ênfase

em cima dos procedimentos formais rígidos das disciplinas e regras, ele

argumentou que deixa os oficiais com uma visão de que, a aderência aos

procedimentos formais é um fim em si próprio. A isto Merton chamou de

deslocamento.

Muitos outros estudos dos problemas da burocracia podem ser

citados. E sua importância coletiva, embora a caracterização de Weber não

estivesse errada, ainda havia mais das dinâmicas internas das burocracias

que, geralmente, às afastam da eficiência e dos efeitos benignos ou neutros.

Assumindo então, que as organizações são dinâmicas, que a sociedade

moderna tem organizações hierárquicas complexas, com características

particulares que Weber chama de burocráticas e que as sociedades

tradicionais possuem os tradicionais “poréns”, geralmente, hierarquias

complexas com poucas características burocráticas modernas, como tudo isto

pode ser ligado a Territorialidade ?

A união ocorre porque muitas destas dinâmicas estão espelhadas

na lógica da Territorialidade. E porque, tanto as organizações tradicionais e

modernas têm empregado a Territorialidade como partes integrais das suas

próprias estruturas. Juntando a pesquisa sobre as facetas modernas da

organização com a Territorialidade , podemos chegar às seguintes

expectativas. Em termos muito gerais, a teoria sugere que a Territorialidade da

sociedade tradicional e a da moderna, pode aumentar a eficiência

organizacional, a centralização e a extensão do controle, mas novamente em

um ponto. A teoria também antecipa, conforme na figura 2.2, que os pontos

extremos podem ser alcançados, tornando possível para a Territorialidade,

enfraquecer uma instituição. As unidades territoriais, podem ser extintas ou se

tornar capturadas por outras organizações. O processo pode ser súbito, como

quando as unidades territoriais geram ineficiências burocráticas e se tornam

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Page 61: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

fim em si próprias. Se nós focalizarmos, especialmente, nas facetas modernas

da burocracia, nós podemos esperar que nas sociedades modernas, mas

também em alguns graus nas sociedades pré-modernas (conforme foi nos

mostrado na nossa discussão sobre a Igreja Católica), que a facilidade da

Territorialidade em propiciar desembaraço de classificação, comunicação e

controle, também pode aumentar a especialização, a padronização e a

formalização até certo ponto. A expressão “até certo ponto”, deve ser

enfatizada, novamente, porque a sociedade na qual essas organizações

ocorrem têm muito a ver com as coisas específicas dessas relações e porque

os pontos críticos nas dinâmicas internas da teoria podem, novamente, ter

alguma coisa a ver com alguns destes efeitos. Estes pontos críticos, são

equivalentes territoriais dos efeitos oligarquicos e conservativos da burocracia .

A lógica interna da teoria, pode ser redefinida para produzir

relações mais especificas, quando o tipo de organização usando a

Territorialidade é mais claramente definido. Conforme nós veremos no capítulo

6, para organizações burocráticas centralizadas e modernas como a militar, a

escola e a fábrica, relações quantitativas especificáveis podem ser esperadas

de conter certos graus de Territorialidade, extensão de controle, hierarquia,

complexidade de tarefa e tecnologia.

Embora muitas relações entre a Territorialidade e as divisões

sociais hierárquicas complexas do trabalho, possam apresentar na praticidade

e organização, nós não devemos perder de vista o fato de que algumas

predominariam na sociedade moderna. Isto significa que alguns dos usos da

Territorialidade dentro de uma organização, dependem da sociedade na qual a

organização ocorre. Os governos de impérios nos estados modernos, têm a

Territorialidade subdividida nos seus domínios, porque a Territorialidade pode

propiciar a estas organizações, algumas vantagens. Mas, justamente por haver

diferenças entre as organizações tradicionais e as burocracias modernas,

também existem diferenças nos efeitos territoriais que elas empregam.

Comparando as dinâmicas destes tipos de organização, com as dinâmicas

potenciais da Territorialidade, pode ajudar a especificar as condições de cada.

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Page 62: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Por exemplo, as organizações tradicionais, diferentemente das burocracias

modernas, não se esperar enfatizar os efeitos da Territorialidade em criar

relações impessoais e espaços, conceituadamente, vazios.

Ainda existem os casos fascinantes e importantes das

organizações pré-modernas, contendo alguns desses efeitos modernos.

Conforme nós veremos, a Igreja Católica é um caso a se apontar. Mas,

também existem o sistema dos mandarins chineses de selecionar oficiais e o

sistema feudal inglês das cortes do rei. Estes sistemas, possuíam aparelhos

territoriais para ajudar a manter as relações a nível impessoal. Um dos

recursos era o rodízio de oficiais de um território a outro ou pelo menos não

estabelecer um oficial na sua região nativa.

Marx.

Uma segunda teoria social que pode ser ligada com sucesso com

a Territorialidade, é o Marxismo. Marx não examinou a possibilidade das

dinâmicas burocráticas como um fenômeno independente. Ao invés disso, os

seus escritos discutem sobre a burocracia como uma instituição a ser

manipulada pela classe dominante. Isto é porque, Marx ensinou que a divisão

social do trabalho, conforme manifestado nos arranjos, especializações e

papéis, é determinada pela divisão econômica do trabalho. As idas e vindas da

burocracia, são ligadas ao desenvolvimento das classes econômicas e suas

interrelações. Uma vez que o comunismo remove o conflito de classe, o

Estado como um agente da opressão, definharia. Marx não se prendeu

diretamente à questão de que, se a burocracia também definharia junto com o

Estado. Mas, em sua crítica inicial a Hegel, ele vê o socialismo simplificando a

burocratização do Estado. Recentemente, os marxistas reconheceram que a

burocratização é uma força a ser considerada nos países socialistas, senão no

mundo utópico do comunismo. As burocracias soviéticas, têm dinâmicas

internas e contradições próprias. As tendências oligarquicas do governo da

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Page 63: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

burocracia por exemplo, podem criar o equivalente da estrutura de classe e

interesses e suas formas, importâncias e dinâmicas são afetadas pelos

contextos social-históricos. Este trabalho literário então, pode adicionar

especificações outras, as direções e as importâncias das dinâmicas dentro da

burocracia.

Mais diretamente, o nosso propósito é que a teoria Marxista do

conflito de classes no capitalismo, quando aplicada na Territorialidade,

separaria as combinações que causam ofuscação da Territorialidade (a k, l e

m), como as mais importantes dos estágios mais avançados do capitalismo. As

combinações que causam ofuscação, seriam esperadas devido a tendência

geral do Capitalismo em disfarçar os conflitos de classe. E por causa da

posição peculiar do trabalho vis-à-vis do Estado e do capital, que tem uma

importância particular, com relação a teoria do Estado. Por outro lado, o

Estado tenta manter o capitalismo, que por sua vez deve conter ou reduzir o

conflito de classe, proclamando ser o campeão das pessoas e um veículo

para se conseguir mercadorias públicas. Este papel duplo, significa que os

recursos e as formas de poder, devem sempre ser disfarçados e as tendências

da Territorialidade, que causam a ofuscação, devem ajudar nisso. A ofuscação

territorial, não precisa ser aplicada somente a nível de Estado ou a nível local.

Ela pode aparecer também no local de trabalho, na escola e nos reinos de

consumo.

Além disso, a teoria Marxista em conjunto com uma análise geral

da modernidade, aponta para o presente e o passado recente, como a hora de

se esperar uma ocorrência mais intensa e mais freqüente do espaço

esvaziável (e). Isto é porque o capitalismo reforçar visão do espaço como uma

moldura para locação e distribuição dos eventos. O capitalismo ajuda a

transformar o espaço local em comodidades. Ele ajuda a ver a superfície da

Terra como uma moldura espacial, na qual, os eventos são locados,

contingentemente e temporariamente. A necessidade do Capitalismo pela

cumulação de capital e por crescimento, torna a mudança superior. E

geograficamente, mudar significa uma relação fluida entre as coisas e o

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Page 64: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

espaço. O futuro e as ações produzidas no futuro, são concebidos de

contínuas alterações das relações geográficas. A Territorialidade então, se

torna um molde para o preenchimento do espaço e para a definição e

manutenção do espaço vazio.

Os seguidores de Weber, bem como os marxistas, apontariam

para o fato de que as civilizações pré-modernas, podem ser diferenciadas nos

seus usos da Territorialidade, mas que as diferenças nos usos entre elas são,

sobre vários aspectos, não tão grandes quanto as diferenças entre os seus

usos e aqueles usos na sociedade moderna. Eles também concordariam, que

somente mais um marco histórico comparável, ocorreu no uso territorial. E este

aconteceu na transição entre a sociedade primitiva e a civilização.

Marx e, especialmente,. Angells, caracterizam o modo primitivo

como, essencialmente, diferente dos outros modos pré-capitalistas. Para eles,

o modo primitivo significa uma sociedade igualitária em pequena escala, com

poucos, senão nenhuma, instituição de opressão. O uso primitivo da

Territorialidade, parecia diferente daquele encontrado nas civilizações, tanto

pré-capitalistas quanto capitalistas. Por exemplo, na sociedade primitiva se

esperaria encontrar o uso freqüente ou intenso da Territorialidade., para formar

relações impessoais (6), para moldar (8), conceituadamente para o local vazio

(9) ou para multiplicar territórios (10) e não se esperaria encontrar a maioria

das combinações , especialmente, a definição territorial para relações sociais

(c).

Há ainda, muito a se dizer sobre as ligações entre a teoria da

Territorialidade e as teorias marxistas de Weber e de outros, sobre o poder e a

organização. Conexões mais específicas, podem e serão feitas mais adiante

no livro e examinadas nos casos concretos e históricos. Ao discutirmos a

modernidade nos capítulos subsequentes, nós consideraremos as

interpretações da Territorialidade pelos neo-Smithianos e pelos neo-

Keynesianos, bem como pelos Weberianos e marxistas. Mas, esse esquema é

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Page 65: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

suficiente para apontar as possíveis áreas sobre as quais, uma história da

Territorialidade se devia concentrar.

A figura 2.3, resume as relações principais que nós

mencionamos, entre os usos da Territorialidade e suas associações com

aqueles contextos social-históricos sugeridos, especialmente, por Marx e

Weber, e o entendimento geral da história. Ela enfatiza, a ampla conexão entre

a Territorialidade e a mudança na economia política. Ela então considera, uma

divisão econômica do trabalho, como sendo um fator primário em determinar

quem controla quem e para que propósito. Isto não significa, é claro, que a

Territorialidade seja afetada por outros fatores, econômicos e não-econômicos.

A figura 2.2, sugere como a organização hierárquica é um fator de influência

na Territorialidade, ela propõe que a maioria das mudanças territoriais podem

ser associadas com as mudanças na economia política. Os dois períodos

históricos críticos, indicados na figura 2.3, são o surgimento das civilizações e

o surgimento do capitalismo e da modernidade(Embora, o capitalismo e a

modernidade não sejam sinônimos - esta última inclui componentes culturais e

ideológicos que não são reduzíveis a termos econômicos - o Capitalismo é um

elemento historicamente crucial do modernismo. E por razões de brevidade, os

dois termos serão às vezes usados intercambiavelmente. Países chamados de

socialistas, como a União Soviética, também são modernos, mas como há

pouco consenso sobre a forma econômica-política deles, o seu uso da

Territorialidade não será discutido separadamente).

No surgimento das civilizações, os efeitos mais importantes da

Territorialidade, são os seus usos para o governo de outros, par definir

relações sociais, para dividir, subjugar e para organizar populações. O efeito

territorial mais importante que acompanha o surgimento do capitalismo, são os

seus usos em espaços, conceituadamente, vazios e criar burocracias

modernas e em camuflar as fontes do poder. Estes esquemas das conexões

predominantes entre as organizações históricas e as funções territoriais e

juntamente com a figura 2.2 e as sugestões gerais contidas na figura 1.2,

servirão como modelos de organização para o resto do livro.

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Page 66: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A figura 2.3, resume as idéias sobre o passado, mas assim

também o faz toda a história escrita, em oposição talvez ao que realmente

aconteceu no passado. Os capítulos subsequentes, tentarão mostrar que o

registro histórico(incluindo o que outros além de Marx e Weber disseram sobre

o passado), tende a confirmar estas associações hipotetizadas e usam a

palavra “tende”, por várias razões. A extensão de tempo e espaço a ser

coberto é muito vasta. Somente as partes principais podem ser

esquematizadas, o que significa uma seleção judiciosa de casos e

amostragem da vasta quantidade de fontes secundárias. A interpretação

histórica está em fluxo contínuo. Visões alternativas são abundantes para

praticamente qualquer período, como também debates sobre a importância do

período e a duração. O que o capitalismo é e quando ele praticamente se

tornou importante, é algo timidamente resolvido. O mesmo ocorre para outros

períodos e organizações sociais. O que Marx e Weber oferecem, são modelos

gerais(e modelos, especialmente, os sociais, são representações parciais e

aproximadas da realidade), um número maior de estudos históricos mais

detalhados, pode ser encontrado, o que tende a aceitar as suas tipologias

sociais gerais. A evidência desses trabalhos detalhados, será usada no

próximo capítulo, para citar as relações sugeridas na figura 2.3; e

especialmente para destacar as duas transações globais - da primitiva para a

civilizada, e da pré-capitalista para a capitalista. Estas mudanças também

serão descritas na conjunção com as mudanças nos conceitos e usos do

espaço e tempo. O capítulo 3 então, é um resumo da história da

Territorialidade, do espaço e do tempo.

A figura 2.3, enfatiza as forças econômicas atrás das relações

social-territoriais. Mas, ela também sugere que vários efeitos territoriais, tais

como definir as coisas pela área e reforçar o acesso, pode ocorrer em

qualquer sociedade, ao passo que outras, tais como o uso da Territorialidade

para tornar relações impessoais e para aumentar a extensão do controle,

podem ser achados em todas as civilizações, porém, principalmente, nas

modernas do que das pré-modernas. Em outras palavras, as instituições com

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Page 67: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

características modernas podem existir dentro das sociedades pré-modernas e

vice-versa. Além disso, o que não está descrito da figura 2.3, mas está

implicado na matriz geral da figura 2.1 e está ilustrado na figura 2.2, é que as

relações entre as pessoas e o território podem sofrer mudanças importantes,

enquanto a sociedade na qual elas ocorrem pode não sofrer. Embora, a

política econômica de uma sociedade, pelo menos no nível da generalização

descrito na figura 2.3, possa permanecer a mesma, os efeitos territoriais sobre

as pessoas e dentro de uma organização, conforme ilustrado pela figura 2.2,

podem ter uma dinâmica própria. O capítulo 4, sobre a Igreja, vai explorar

estas possibilidades. Examinando as dinâmicas territoriais internas das

organizações da Igreja e suas relações com a mudança econômica-política.

A Igreja é um dos exemplos mais duradouros e melhor

documentados, de uma instituição usando a Territorialidade como parte

integral da sua organização. A paróquia , a diocese e a arquidiocese e também

a divisão arquitetural dos prédios das igrejas, claramente, revelam a crença da

Igreja na Territorialidade. Estes aspectos da organização da Igreja, foram

desenvolvidos diferentemente durante os três principais períodos históricos: o

clássico, o feudal e o moderno. Durante o último período, as dinâmicas

internas da Igreja parecem ter resistido, principalmente, a muitas mudanças

político-econômicas externas que acompanharam a modernização. Nos

períodos , romano e feudal , os efeitos territoriais da Igreja foram mais

modernos do que o caso de outras instituições da época. Mas, no final da

Idade Média, os mesmos efeitos serviram para separar a Igreja da sociedade e

isolá-la da mudança social. De forma que, desde então, a reforma da Igreja

serve de exemplo de uma organização arcaica, ao invés de uma organização

moderna. Esta mistura de mudança e persistência das dinâmicas internas e a

resistência à mudança, faz da Igreja um caso importante para o estudo das

interconexões entre a hierarquia, burocracia e a Territorialidade, dos tempos

pré-modernos até o presente.

O capítulo 5, que é sobre o sistema territorial americano, usará a

formação política da América do Norte, do século XVI até o presente, para

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Page 68: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

concentrarmos novamente nos temas do uso moderno da Territorialidade,

especialmente, o seu papel em criar um conceito de espaço esvaziável, de

facilitar a burocracia e de obscurecer as fontes do poder. O capítulo 6, o local

de trabalho, concentrará em como estes mesmos usos modernos da

Territorialidade se desenvolverem nos últimos 300 anos, a níveis locais e

arquiteturais.

3. Modelos históricos: Territorialidade, espaço e

tempo.

Para os humanos a Territorialidade é uma estratégia que afeta,

influencia e controla. Ela é usada em conjunto com as estratégias espaciais

não-territoriais. A seleção da Territorialidade e o efeito, dependem do contexto

social, em como o espaço em geral é usado e concebido e bem como quem

está controlando quem e para que propósitos. Isto significa que a história da

Territorialidade, está intimamente ligada a história do espaço, do tempo e da

organização social. Antes de explorar estas interconexões e, especialmente, a

Territorialidade dentro de dois marcos históricos - o surgimento da civilização e

o surgimento do capitalismo e do mundo moderno - faz-se por bem apontar

algumas tendências históricas gerais da Territorialidade:

Tendências e Complexidades.

Primeiro, existe uma forte evidência indireta de que o número

total de unidades territoriais autônomas no mundo, têm diminuído

enormemente desde os períodos pré-históricos até o presente. O declínio não

tem sido initerrupido, mas desde o surgimento das civilizações, não se tem

dúvidas sobre suas direções gerais. A população total do mundo, durante o

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Page 69: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

período Paleolítico, pode não ter sido mais de 3 milhões. A humanidade era

dividida, em cerca de 100 mil ou mais, pequenas entidades independentes.

Através da observação contemporânea da caça pré-literata das sociedades de

colheita e refletindo sobre os motivos pelos quais tais grupos têm sido

territoriais do passado, nós podemos concluir que, embora cada um destes

povos pré-históricos ocupassem uma área geográfica, nem todos fizeram uso

da Territorialidade e muitos fizeram muitos uso somente intermitentemente. E

mais ainda, havia espaço suficiente para um número de unidades

territorialmente autônomas, que eram na ordem de dezenas de milhares. Isto é

um número muito grande quando comparado com as 150 nações-estados dos

anos 80, que de alguma forma são independentes ou autônomas.

Segundo, desde os tempos pré-históricos, o tamanho dessas

unidades territoriais autônomas têm aumentado, das áreas de coleta e caça e

também das áreas para a agricultura das vilas e povoados, para enormes

impérios estados-nações. (conforme nós notamos com os Chippewa, as

poucas sociedades de caça e coleta que tinham grandes áreas, uma razão

para o seu domínio vasto e não-territorial pode ter sido a escassez e a

imprevissibilidade do alimento e de outros recursos, mesmo se eles pudessem

reforçar a Territorialidade, isto faria, inevitavelmente, da Territorialidade uma

estratégia pobre.)

Terceiro, estas poucas e enormes unidades autônomas, se

tornaram gradativamente subdivididas e fragmentadas em várias sub-unidades

territoriais, estas formam as hierarquias territoriais dentro da sociedade. É

através desta subdivisão que o número total de territórios, além do tipo

autônomo tem aumentado. Os antigos impérios foram subdivididos em uma

multiplicidade de camadas menores de jurisdição, também da mesma forma

foram os espaços de produção e consumo. A criação de enormes complexos

de edifícios, subdivididos em salas e compartimentos, indica os layouts dos

territórios nos menores níveis geográficos. A nação-estado moderna possui

níveis territoriais sem precedentes, para cada reino da vida. As unidades

políticas são hierarquicamente ordenadas, da nação-estado até as

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Page 70: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

administrações locais. E mesmo os distritos com o único propósito; os

escritórios, as fábricas e as casas têm se tornado independente com

hierarquias próprias.

Entender estes padrões gerais e os inúmeros efeitos que eles

englobam, requer desvendar os tipos de territórios e os contextos sociais e

históricos em que eles ocorrem - sabendo especialmente quem está

influenciando e quem está controlando quem e porquê. A teoria da

Territorialidade diz que sociedades que não têm hierarquias formais, classes

econômicas e outros tipos de diferenças institucionalizadas, usariam a

Territorialidade de uma maneira diferente daquela que o fazem. Os

historiadores e os pré-historiadores, sugerem que sociedades, relativamente,

não-hierarquicas (similares aos aborígenes Chippewa), foram comuns antes

do surgimento da civilização e algumas têm persistido até os dias de hoje nos

lugares mais remotos do mundo. Estas têm sido chamadas, por tanto tempo,

de sociedades primitivas, que nós empregaremos o termo, apesar da

conotação negativa que ele tem. No seu uso que se pensa indicar, uma

condescensão sobre a parte da pessoa, presumidamente, não-primitiva que o

usa. Entretanto, o sentido original do termo não é de maneira alguma

pejorativo. Ele significa, primário ou original no tempo ou mesmo na

classificação. O nosso uso do tempo tem a intenção de convencionar o uso

original não-pejorativo. Nós estamos interessados nos tipos de sociedades

primárias, originais ou primitivas e seus usos do espaço e se seus usos se

comportam, conforme aqueles citados na discussão no capítulo 2.

Outro ponto sobre o termo primitivo, é que ele também implica

que os humanos progrediram através de dois estágios no mínimo - do primitivo

para o não-primitivo ou civilizado. Mas, exatamente o que as idéias de estágio

e progresso significam? Alguns diriam que este estágio é uma seqüência

necessária, na qual a sociedade anterior, de alguma forma, causa ou dá

razões para o surgimento da última e que o estágio é também uma progressão

necessária em direção a uma forma maior ou melhor. Tais significados de

estágios são impossíveis de se suportarem, no caso da história humana. E

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Page 71: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

certamente não são o que se intenciona ser os nossos interesses no primitivo,

nas transições do primitivo para o civilizado ou para a questão das transições

do feudalismo para o capitalismo. O nosso interesse em formas particulares

de organização social, incluindo a primitiva, tem a intenção de apontar para o

fato que muitos tipos diferentes de organizações sociais, existiram, que alguns

predominaram somente por períodos particulares e que outros ajudaram a

ocasionar outros.

Estas mudanças e seqüências, entretanto, devem ser separadas

das idéias de que elas foram de alguma forma inevitáveis, necessariamente,

para melhor e em uma direção somente. A idéia de mudança deve permitir ao

fato, que as formas primárias de organizações sociais, não sejam inteiramente

substituídas por formas novas e que as formas novas podem ter algumas

representações anteriores. A idéia de mudança, então, deve ser sensível ao

fato de que organizações do passado persistem , embora de formas alteradas,

com estruturas atuais e que, embora uma estrutura particular possa

predominar, uma sociedade, usualmente, contém outras formas misturadas.

Com referência primitiva, nós podemos dizer que antes de 7 mil

anos atrás, não haviam sociedades cujas características fossem dominadas

por aquelas que são associadas com a civilização. Mas, logo após o período

de 7 mil anos, nós achamos que haviam várias sociedades possuindo

importantes características associadas com a civilização. Isto não significa que

as sociedades primitivas não continham traços dos atributos associados com

as civilizações ou que as civilizações não contém atributos das sociedades

primitivas. As fronteiras das primeiras civilizações, englobavam comunidades

primitivas. As comunidades primitivas, continuavam a existir, além das

fronteiras da civilização. Entretanto, nós devemos assumir que, aquelas que

persistiam, além dos domínios dos impérios, foram ,eventualmente, embora

geralmente indiretamente, alteradas pelas presenças das civilizações. Talvez,

seus costumes e culturas materiais foram mudados ou talvez eles,

simplesmente, foram forçados a se mudar para novas regiões, porque

pressões indiretas da população, demandavam por uma expansão da

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Page 72: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

civilização, isto é a intermistura do velho com o novo. E não somente com

relação ao surgimento do capitalismo, que é o nosso objeto de discussão das

transições e mudanças históricas.

Retornando à caracterização da primitiva, é importante para nós

construir uma descrição mínima desta sociedade, que melhor comporte a

evidência e que enderece os assuntos sobre o uso do espaço e da

Territorialidade, mas a evidência não é tão facilmente compreendida. O

conhecimento sobre a primitiva é indireto e vem de duas fontes diferentes:

primeiro, o registro arqueológico e em segundo, as observações escritas

através da história das sociedades com uso de tecnologias comparáveis

àquelas que foram usadas pelos arqueólogos. Estes registros escritos são

sobre sociedades que indubitavelmente mudaram e que foram influenciadas

pelos contatos com as civilizações. Entretanto, suas tecnologias, organizações

sociais e sistema de crenças são, por outro lado, muitos diferentes dos destas

civilizações e também possuem fortes semelhanças com que nós sabemos

das sociedades primitivas a partir do restos arqueológicos. A abstração e a

combinação dos dois tipos de evidência, apresenta um quadro composto que,

com as devidas precauções, servirá para a caracterização das sociedades

primitivas.

As economias políticas primitivas.

A economia doméstica.

Uma vez que a Territorialidade é uma forma geográfica de poder

e sua importância depende de quem está controlando quem e para quê

propósitos, nós devemos começar as nossas explorações da Territorialidade

nas sociedades primitivas, com um quadro geral de como elas usam o poder e

a autoridade. Isto é melhor alcançado, examinando-se as suas economias

políticas.

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Page 73: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

De una maneira geral, as sociedades primitivas são menos

complexas do que as civilizações. Elas têm menos divisão de trabalho,

especialização interna, menor número de pessoas e contém menores áreas

geográficas. Sua sobrevivência pode ser obtida através de qualquer

combinação de coletas, caça, busca por comida, criação de gado e agricultura.

Virtualmente em todo grupo primitivo, o domicílio é a unidade básica da

produção e consumo. Esta unidade pode ser composta de uma família

primária ou de uma estendida. Uma mistura de domicílios (relacionados ou

não) pode ser chamada de um bando.

Nas sociedades de caça, de coleta e de busca de alimentos, os

bandos são geralmente sisonais. Os domicílios se mudam de acordo com a

distribuição dos recursos e, geralmente, se juntam em bandos novamente

quando é época de esforços cooperativos. Os tamanhos dos bandos variam,

mas raramente eles se aproximam do tamanho, mesmo de uma cidade

moderna pequena. Entre os caçadores e coletores, talvez os esquimós tenham

as maiores vilas, existindo nos locais de boa caça, várias centenas de

habitantes. Os clãs e as tribos, são mais complexos do que os bandos e

podem se manter unidos através dos laços familiares e linhagens, reais e

fictícias. O termo tribo, se refere a uma extensão dos tipos organizacionais.,

muitos dos quais têm sido uma resposta das sociedades primitivas às

pressões da civilização. Para a sociedade primitiva, as forças sociais,

empurrando os indivíduos para grupos maiores, tendem a ser mais fracas,

conforme o tamanho ou nível de complexidade do grupo aumenta. Ela é mais

forte dentro do domicílio e mais fraca dentro da tribo, se e quando ela existe. O

termo geral, comunidade, será usado para abarcar a extensão das unidades

sociais, as quais o domicílio pode pertencer.

A natureza da economia primitiva, repousa nas interrelações

entre seu tamanho pequeno, sua tecnologia acessível e seus valores comuns

igualitários. A figura 3.1, ilustra como cada uma destas reforçar a outra. Sob

muitos aspectos a sociedade primitiva carece de classes econômicas, bem

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Page 74: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

estar herdado e instituições legais, políticas ou administrativas ou ainda do

aparato do Estado para as pessoas. A sociedade primitiva é participatória. Os

conflitos dentro da comunidade não são dirigidos contra as instituições ou

entidades corporativas, mas sobre indivíduos específicos. A liderança é um

consenso e os lideres são aqueles que surgem de acordo com a ocasião.

Pode haver um líder de caça, outro de assuntos espirituais, outro que é o

homem sábio e etc. Estes papéis não são coercivos, eles não são herdados.

Os usos primários institucionalizados do poder podem ser restritivos - não

igualitários - e são aqueles que designariam responsabilidades sob as bases

do sexo e da idade. Esta base consensual da política está intimamente

relacionada com a natureza igualitária do sistema econômico.

Freqüentemente, se ouve que ninguém passa fome em uma comunidade

primitiva, a menos que todos passem. Geralmente, um bom líder de caça doa

a sua porção, então recebe uma porção (modesta) para ele próprio e para

seus dependentes.

A divisão toma a forma da reciprocidade e é reforçada conforme

a figura 3.1 sugere, pelo tamanho pequeno das comunidades. Se um homem

forte começa a usar o seu poder injustamente ou sem sabedoria, aqueles que

estão descontentes ou que estão sendo prejudicados, podem sair para formar

a sua própria comunidade ou se juntarem a outra. Se isto não for possível, a

comunidade pode adotar uma postura de ostracismo com relação ao “brigão”.

Uma vez que estas comunidades são pequenas, os efeitos da ação de alguém

sobre outros pode ser visto rapidamente por todos. Esta intimidade e a

interdependência econômica dos membros da comunidade torna a ajuda

mutual e a cooperação importantes coisas.

Novamente, conforme a figura 3.1 indica, a inegualdade

econômica é mais improvável ainda por se ter uma tecnologia acessível. As

ferramentas podem ser complexas e intrigantes, mas o conhecimento de como

usá-las é largamente difundido. Embora alguns possam ser capazes de fazê-

las melhor do que os outros, isto não torna impossível que os outros a

produzam. O conhecimento da manufatura da ferramenta, não pode ser

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Page 75: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

monopolizado e nem ninguém dentro da comunidade pode monopolizar o

gamo, o peixe, as amoras ou as castanhas. Mesmo se a sociedade é de

agricultura, raramente há uma escassez de terra arável. E então, novamente, a

monopolização dos lotes dentro da comunidade é algo improvável.

Isto não significa, entretanto, que a comunidade não possa

designar lotes diferentes da terra., para ser usados por diferentes domicílios.

Isto pode, freqüentemente, ter sido o caso, mas a terra permaneceria da

comunidade. As designações seriam baseadas na necessidade do domicílio e

seriam periodicamente reavaliadas. A própria terra pode nem sempre ser o

foco primário de valor, geralmente são feitas distinções entre a terra e seus

produtos. A terra em si, não pode ser designada a ninguém em particular. Ao

invés disso, pode ter sido dado a uma pessoa ou uma família o direito de fazer

a colheita das arvores de amora.

A família, os relacionamentos e as amizades ritualizadas

propiciam os canais complexos da reciprocidade, através dos quais o trabalho,

as fontes e os produtos fluem para igualar as discrepâncias e par serem

divididos nas horas de emergências. Não poderiam essas obrigações

familiares recíprocas conter arranjos diferentes de relacionamentos?. Elas

podiam!. A idade e o sexo, conforme nós notamos, podem criar diferenças e é

provável que existam outras que tenham a ver com a habilidade e a

personalidade. Mas, estas não vão sair do controle e permitir que indivíduos e

famílias monopolizem o poder e os recursos, por causa das restrições

impostas em cima das diferenças da tecnologia acessível e da baixa

densidade da população. Em resumo, sobre estas condições a reciprocidade

significa um retorno igual de obrigações.

Nós devemos ressaltar, que o igualitarismo destas comunidades

se aplica primariamente à circulação e ao consumo das necessidades e que

inúmeros tipos de diferenças, existem em outros reinos. As pessoas se diferem

em talentos e habilidades e os povos primitivos também possuem

propriedades pessoais ou privadas. Eles podem possuir as suas próprias

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armas, os seus próprios abrigos e suas próprias vestimentas. Em alguns

casos, eles podem até mesmo possuir, as suas próprias lendas. Mas, estas

diferenças nas habilidades e posses, não impedem que outros tenham uma

sobrevivência, também. Embora estas comunidades sejam pequenas,

pessoais e, geralmente, muito ligadas, elas não são necessariamente

harmoniosas. Os conflitos, mesmo os violentos, estão documentados nas

observações etnológicas e também são partes de muitas destas lendas desses

povos.

O pequeno tamanho destas comunidades e sua falta de

especialização e divisão de trabalho, afeta não somente a sua economia

política, mas também as suas relações com a natureza. Ele faz com que o

contato delas com seus arredores pareça fechado e íntimo. Isto é

freqüentemente expresso no uso da família como uma analogia das relações

entre a sociedade e o mundo. Esta extensão analógica da família contribui

para a visão geral primitiva da unidade da natureza. Ela apresenta a natureza

como pessoal e vital. Ela cria um senso de responsabilidade entre o homem e

a natureza e conduz a importantes conceitos de espaço, local, tempo e

território.

Territorialidade.

A conexão entre um povo primitivo e o local que ele ocupa, se

torna extremamente fechada, deixando de lado o momento em que o local é

territorial ou não, não somente devido a familiaridade e a dependência, mas

também porque as pessoas começam a pensar nelas mesmas como ligadas

organicamente e até mesmo espiritualmente ao local. O seu domínio

geográfico pode ainda ser uma área inteiramente ocupada ou somente os

locais especiais. Em cada caso, acredita-se que a terra é habitada pelos

espíritos dos ancestrais e seu local geográfico no mundo pode ter sido dado a

eles pelos seus deuses. Na Austrália, cada grupo totêmico está associado com

um local, do qual um ancestral totêmico, supostamente, emergiu. Quando uma

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pessoa morre, seu espirito retorna ao lugar da origem totêmica. Os aborígenes

Aranda, do norte da Austrália

se apegam ao seu solo nativo com cada fibra do seu ser. Eles sempre falam

dos seus locais de nascimento com amor e reverência. Hoje as lágrimas vêm

aos seus olhos, quando eles mencionam que um local ancestral tem sido às

vezes violado pelos brancos usurpadores do território do seu

grupo...Montanhas e riachos, primaveras e olhos d’águas, são para eles nada

além de interessante ou bonitas características cênicas...; eles são o trabalho

dos ancestrais, dos quais eles descendem. Eles vêem, registrados nos

arredores, a história antiga das vidas e os atos dos importantes seres a quem

eles reverenciam. Seres que, por um breve momento no espaço, podem tornar

a forma humana, novamente. Seres que, para muitos deles, foram conhecidos

através das suas próprias experiências, como seus pais, avós, irmãos, mães e

irmãs. O campo inteiro é uma árvore da família viva. A história dos seus

ancestrais totêmicos, é para o nativo o que conta desde o começo da sua vida

até o final dela, quando o mundo que ele conhece está sendo moldado e

formado por mãos poderosas.

As formas da paisagem predominantes são geralmente aquelas

incorporadas dos mitos, que ajudam a dar sentido ao espaço vivo. De acordo

com o folclore índio Penobscot, a maioria da paisagem é um resultado das

peregrinações do personagem mítico Gluskabe. As pegadas do sapato de

neve de Gluskabe, estão ainda impressas nas rochas perto de Milla, Maine;

uma rocha de 25 pés de comprimento próximo de Castine é a sua canoa

virada; as rochas que conduzem a ela são as suas pegadas; a montanha de

Kineo é a sua panela virada. Um local na terra e muitos mitos das criações foi

dado às pessoas especificamente pelos deuses. Os Pawnee, por exemplo,

acreditavam que eles foram guiados desde a terra até o presente local pela

mãe Millo.

A crença na habitação da terra pelos espíritos dos ancestrais e

no concedimento místico da terra para as pessoas, é uma razão pela qual é

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provável que, se a comunidade tivesse que impor um controle territorial sobre

a terra, eles o fariam através da definição social do território. Mas, antes que

nós exploremos estes pontos mais profundamente, nós precisamos determinar

que condições fazem as comunidades primitivas usar a Territorialidade.

A teoria sugere que a Territorialidade, pode ser esperada,

simplesmente, porquê ela pode ser um mecanismo eficiente para estabelecer

acessos diferenciais, quando os recursos a serem controlados ocorrem

relativamente de maneira previsível e densa no espaço e no tempo. Limpar,

plantar, retirar as ervas daninhas e colher, são todas atividades estáveis,

densas e previsíveis no espaço e no tempo. E assim, as comunidades

agrícolas, se não for por outra razão além de manter os animais longe e de

prevenir que as pessoas passem pelo caminho, podem ser esperadas usar a

Territorialidade. A necessidade pela Territorialidade na comunidade, também

aumentará se houver competição por terra de fora dela. A mesma lógica se

aplica à estratégia de Territorialidade para os não-agrícolas - os caçadores e

coletores. Eles podem ser esperados de usar a Territorialidade, se os recursos

que eles precisam forem relativamente previsíveis no espaça e no tempo.

Estas expectativas são abundantes na literatura. As comunidades

agrícolas tendem a ser territoriais como um todo e tendem a subdividir a terra

dentro da comunidade. E estas tendências aumentam, conforme a densidade

das populações aumentam. A Territorialidade nas sociedades de caça e coleta

depende da distribuição dos recursos no espaço e no tempo. Duas sociedades

similares social e culturalmente, como por exemplo, Utes e os Paiutes se

diferem em seus graus de Territorialidade, por causa das diferenças na

distribuição dos seus recursos no espaço e no tempo.

A eficiência do acesso é uma razão para a sociedade primitiva

empregar uma estratégia territorial. Mas, outras razões mais fortemente

relacionadas podem também ser encontradas na evidência. Por exemplo, a

facilidade pela qual uma fronteira territorial comunica posse ou controle, pode

ser vantagem particular nas sociedades pré-literatas. Também na medida em

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que o mágico e o ritual, são componentes extensivos das comunidades

primitivas. A reificação e os efeitos de deslocamento da Territorialidade,

podem ser usados como vantagens em demarcar locais sacros e áreas de

tabu. Dados estes efeitos fazem, o sagrado visível e o visível sagrado.

Mas, outras potencialidades tais como a criação de relações

impessoais, o aumento do limite de controle e o efeito do planejamento de

longo e curto alcance, simplesmente, não são usados por uma sociedade que

não seja grande e que não tenha hierarquia e burocracia. E o mais importante,

uma sociedade primitiva, provavelmente, não teria que se definir

territorialmente. Lembremos que, uma definição territorial das relações sociais

é sempre uma questão de grau. Uma definição social significa que, para ter

acesso a terra, uma pessoa deve ser um membro da sociedade, o que na

sociedade primitiva significa participar da história espiritual do grupo. Por

exemplo, na tradição Bakongo

a propriedade do solo é coletiva, mas este conceito é muito complexo. É o clã

ou a família que possui o solo. Mas, o clã ou a família não é composto

somente dos vivos, mas também e, primariamente, dos mortos; que é o

Bakulu. O Bakulu não são todos os mortos do clã; eles são somente os

ancestrais de direito, aqueles que estão levando uma vida bem sucedida em

suas vilas debaixo da terra. Os membros do clã que não respeitam as leis da

tradição...são excluídos da sociedade. É o Bakulu que conquistou os domínios

do clã, com suas florestas e rios, riachos e primaveras. São eles que estão

enterrados nessa terra, eles continuam a comandar a terra. Eles, geralmente,

retornam das suas primaveras e rios e dos riachos. As bestas selvagens da

floresta são os seus bodes, os pássaros são suas aves de criação. São eles

que dão as lagartas comestíveis das árvores, os peixes dos rios, os vinhos das

palmas e as colheitas dos campos. Os membros do clã que estão sob o solo

podem cultivar, colher, caçar, pescar; eles fazem uso do domínio de seus

ancestrais, mas é o morto que permanece como guardião. O clã e o solo que

ele ocupa, constitui uma coisa indivisível e o todo está sobre as regras do

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Page 80: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Bakulu, de maneira que uma alienação total da terra ou de parte dela, é algo

contrário à mentalidade dos Bakongo.

Uma definição social da Territorialidade é encontrada em todas

as sociedades, mas ela constitui o senso social primário do território nas

sociedades primitivas. A vantagem territorial da classificação pela área e não

pelo tipo ou espécie - que é um fator principal na definição territorial das

relações sociais - é desnecessária para uma comunidade primitiva usar para

definir o seu próprio quadro social. O tamanho pequeno e a associação

próxima das pessoas em uma comunidade primitiva, significa que seus

membros estão familiares o suficiente uns com os outros, para requerer um

território e para definir quem e quem não faz te dele. Da mesma forma, não é

necessário identificar estranhos ou não-membros. Eles são simplesmente

aqueles que não têm relações com os membros da sociedade.

Pode se supor que uma definição territorial da comunidade

poderia ser útil com aqueles grupos ou bandos primitivos que permitem a

entrada, relativamente, livre e a saída dos seus membros. Nestes casos,

simplesmente, estabelecendo a residência dentro das fronteiras do grupo,

varia com que a pessoa fosse um membro da comunidade e permitiria à ela o

acesso a seus recursos. E desta forma isto significaria que tal comunidade

estaria usando da Territorialidade para se autodefinir, isto entretanto, não é

real. Primeiro, a entrada nestas comunidades não seria livre, ela ainda

dependeria de um grau considerável de aceitação social e contato pessoal.

Segundo, mesmo se a entrada fosse relativamente livre, seria difícil para uma

sociedade pré-literata, com um alto fluxo de membros, se definir pelas

fronteiras que teriam de ser demarcadas e relembradas ano após ano. Como

tais reivindicações territoriais persistiriam e como elas poderiam ser

transmitidas numa sociedade pré-literata com um alto fluxo?.

Assim parece razoável dizer que quando uma sociedade primitiva

emprega a Territorialidade, ela se define socialmente. Isto se aplica não

somente para o território do grupo inteiro, mas também para as unidade

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Page 81: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

subterritoriais dentro do domínio do grupo, porque estas sociedades não

possuem hierarquias formais e elas não têm membros que excluem outros

membros dos seus recursos. Isto constitui o parcelamento subterritorial, tal

como a designação de território de caças, jardins e construções a famílias. Isto

serve ao propósito de estabelecer e perpetuar diferenças. Mais ainda, possuir

estes tipos de subterritórios não colocar ninguém em desvantagem. Os

direitos de posse são simétricos, eles são usados, primariamente, como

mecanismos para coordenar esforços e para manter pessoas e coisas fora do

caminho dos outros. Se eu não tenho permissão de livre entrada em sua

cabana ou campo eu, entretanto, tenho permissão para entrar em minha

cabana e em meu campo e eu posso negar a você a livre entrada neles.

A figura 3.2, chama a atenção para várias relações entre o

domicílio, a comunidade e a fonte terra, nas sociedades primitivas igualitárias

(pág. 64). Estas se tornam parte dos encontros dos homens com os locais. Os

locais e os eventos, na vida cotidiana e comum, se tornam ligados e infusos

com o significado; e assim como o grupo vê a sua sociedade e o seu habitat

intimamente conectados, assim também o indivíduo vê intimamente

interconectado o seu envolvimento com os eventos e suas configurações

espaciais. Assim, o espaço físico e suas propriedades não são abstratos por

causa das experiências que eles contém. Um lugar é um encontro com

eventos.

Sem a ajuda da tecnologia moderna, que carrega pessoas e

informações a grande distâncias com regularidade, o movimento através do

espaço, se tornaria uma aventura, com a natureza oferecendo ao viajante

experiências inesperadas, conforme ele passasse de lugar em lugar. A este

respeito, nas sociedades primitivas as distâncias também eram

experimentadas, como seqüências de encontros com eventos, conforme a

pessoa se movesse de lugar em lugar, ao invés de considerar as distâncias

que separavam os pontos. Mesmo quando, uma distância métrica estivesse

disponível em unidades de comprimento, digamos pés ou milhas, ou em

unidades de tempo, digamos horas ou dias, a sociedade primitiva encontraria

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Page 82: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

dificuldade em atribuir uma unidade a uma distância particular. Tal unidade

tem pouco significado nas experiências de superar uma separação. Uma

distância de 50 milhas, pode conter uma enorme gama de experiências

imprevisíveis, algumas boas, algumas não. Além disso, estas podem mudar

cada vez que a viagem é feita. Uma viagem de 50 milhas feita em outra

direção, certamente, conterá experiências diferentes. Ou uma jornada de 5

dias, pode se aplicar a uma jornada particular em uma estação, mas não em

outra. A medida abstrata da distância, então, não coincidiria suficientemente

com a variedade de tempo, energia ou experiência de viajar, que terá um valor

muito grande.

Nas sociedades com tecnologias simples, a ligação do espaço e

do tempo com a experiência, despreza a utilidade de um conceito de espaço

abstrato, distância e lugar. Não significa que não é possível considerá-las

abstratamente ou expressar o comportamento em termos de tais sistemas.

Significa não é uma forma dominante e socialmente útil de concebê-las. A

mesma coisa é a verdade do tempo, novamente não significa que o tempo seja

imensurável, pelo contrário, como com o espaço, significa que o tempo e a

experiência estão intimamente interrelacionados que suas medidas seriam

calculadas pelos eventos que são importantes e que estão conectados com a

experiência.

A trajetória do sol através do céu, fases da lua e as mudanças

das estações, tudo isso são pedaços naturais do tempo, que podem ser e que

tem sido contados. Mas, é importante contá-los somente quando eles

correspondem com a duração de eventos importantes. Assim, nas sociedades

de caça e coleta é importante medir o tempo das estações, porque isto marca

a progressão do gamo, das plantas comestíveis e assim também o movimento

das próprias pessoas. Para uma comunidade agrícola, ela marca a hora para

semear, cultivar, tirar as ervas daninhas e colher. O ciclo do sol ajuda a

rotinizar as atividades diárias associadas com o cuidar das plantas e dos

animais domésticos.

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Page 83: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Os primeiros calendários podem ter sido mantidos para ajudar a

marcar o tempo de um nascimento humano. Marshack, argumentou que as

Vênus neolíticas têm linhas ao redor delas que correspondem aos dias e às

fases da lua. Estas podem ter sido usadas para registrar os estágios da

gravidez de uma mulher. Tal registro, poderia dizer a um bando andarilho,

quando deviam parar e se preparar para o nascimento. Mas, é mais raro

encontrar povos pré-literatas mantendo um controle acurado das suas idades,

porque ninguém sabe quanto tempo viverá, e virtualmente não há casos de

sistemas de calendários pré-literatas, que seriam usados como referências

para situar eventos num passado distante. O tempo se torna vago quando se

vai da geração atual até o passado. Até um certo ponto a sucessão dos

ancestrais pode ser lembrada - mas não a sua duração; a partir daí o passado

distante se torna não-literata e mitológico. Um conceito mítico de um passado

distante é uma característica comum da sua visão de mundo.

Nós incluímos a experiência mítico-mágica no contexto da visão

ordinária do espaço e do tempo, porque a visão mítico-mágica da terra é, em

grande escala, uma intensificação da ligação ordinário entre o espaço e o

evento. A relação entre os dois pode ser pensada em termos de uma medição

contínua da intensidade de associação entre o espaço e o tempo e das

experiências únicas que eles parecem conter. Quanto mais intensas forem as

interconexões, é mais provável que elas se tornem conflitantes e assim se

tornem parte da experiência mítico-mágica.

Esta parte da nossa discussão tem a intenção de caracterizar a

visão ordinária (e às vezes mítica) do espaço e do tempo na sociedade

primitiva. É uma visão defendida pelo primitivo em seus dias e dias de

experiência. Mas, devido essas comunidades serem pequenas e estáticas e

seus membros viverem perto da natureza e repetidamente dividirem as

mesmas experiências, ela é também uma caracterização do significado público

ou grupal comum do espaço, do tempo e do lugar. O que significa os contextos

dos seus encontros privados se tornam divididos e publicamente aceitos. Além

disso, esta caracterização pode ser aplicada às experiências comuns, pessoais

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Page 84: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

e até mesmo públicas do espaço, do lugar e do tempo na maioria das

civilizações pré-modernas. A maior parte da população nestas sociedades são

camponeses ligados ao local. Camponeses vivem em comunidades pequenas

e relativamente fechadas. E também aqui as experiências privadas da terra e

do tempo surgem como algo público ou comum.

Esta descrição do senso comum, do espaço e do lugar não se

aplica sem modificações às experiências modernas. A sociedade moderna é

mais dinâmica e envolve massas de pessoas de diferentes backgrounds. A

tecnologia fez lugares distantes acessíveis e a viagem através do espaço algo

confiável. E a ciência tem dado ao público uma descrição do espaço e do

tempo que é abstrata e métrica, uma descrição que é útil no controle da

natureza e que se encaixa mais e mais aos processos da vida social. A

qualidade dinâmica da sociedade faz pouco provável que nós todos possamos

dividir as mesmas experiências pessoais complexas. Além disso, o efeito

nivelador das culturas das massas têm, sob muitos aspectos, diminuído a

variedade de terras. E mesmo muito das experiências pessoais das

localidades podem, sem muitas perdas, serem resumidas dentro do significado

métrico-abstrato do espaço e do tempo. Dentro do transporte das massas,

viajar é sempre experimentado privativamente, conforme a duração no tempo.

E locais como o subúrbio, são tão uniformes que cada um pode ser

experimentado, conforme a localização no espaço. Entretanto, nós ainda

mantemos as experiências privadas, que são variadas demais para serem

reduzidas a relações métricas abstratas e nós, geralmente, queremos ter mais

delas. Mas, isto não altera o fato de que a sociedade moderna repousa em

uma moldura métrica abstrata, para seu significado público de lugar e espaço.

E as pessoas, geralmente, acham esse sistema harmônico com muitas das

suas experiências pessoais.

Civilizações.

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Page 85: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Muito embora, os modelos para as sociedades primitivas (figura

3.1 e 3.2), enfatizem a estabilidade social, essas sociedades mudam e umas

poucas se transformaram nas primeiras civilizações. A palavra civilizado, não

precisa conotar uma mudança para melhor. As civilizações se diferem das

sociedades primitivas em vários aspectos críticos. De maneira geral, as

civilizações não são igualitárias, elas contém elites ou “classes” de uma

maneira ou de outra que podem extrair e consumir os excedentes e suas

economias são redistribuitivas, ao invés de recíprocas. Diferentes das

sociedades primitivas, todas as civilizações são territoriais e usam o território

para ajudar a definir a si próprias e a suas partes. Como as primeiras

civilizações realmente surgiram e em grau elas surgiram independentemente,

é algo incerto, mas as maiores teorias apontam para os processos

fundamentais que, provavelmente, estavam envolvidos e que tem a ver com a

Territorialidade. Estas teorias se diferem, de acordo com as partes do modelo

do equilíbrio primitivo (figura 3.1), que elas acham que foi o primeiro a ser

alterado. O problema fundamental que elas encaram, é explicar o surgimento e

a perpetuação das classes econômicas sociais.

Quase todas as teorias de transição assumem que o excesso

para suportar uma elite foi extraído de uma base agrícola. Algumas apontam

para a possibilidade de que o poder para extrair o excesso, se tornou

concentrado nas mãos de uma elite. Por causa da necessidade de coordenar

esforços para alimentar uma população em crescimento, com uma base de

recursos limitados. A escassez nos recursos pode ter ocorrido por causa de

fatores como a seca ou a pressão da população ou ambos. Em termos da

figura 3.1, tal ocorrência alteraria o componente de baixa densidade. Um caso

paralelo é discutido por aqueles que vêem o aumento no tamanho social e o

surgimento das elites, como uma conseqüência do aumento da especialização

econômica e da interdependência das comunidades agrícolas. Neste caso, as

elites desempenhariam um papel crucial de extrair e redistribuir os recursos.

Outras teorias apontam para a conquista de grupos agrícolas de

nômades como uma força primaria no desenvolvimento das elites. Isto altera a

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Page 86: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

relação igualitária reciprocidade da figura 3.1. Outras ainda enfatizam que as

elites surgiram pelo monopólio de alguma forma de conhecimento ou

tecnologia. Isto alteraria o componente igualitário, por tornar a tecnologia

menos acessível. Em uma sociedade primitiva o conhecimento espiritual ou

religioso, poderia ser uma importante tecnologia a se monopolizar. O espiritual

pervertia a sociedade primitiva e os lideres espirituais poderiam ganhar seus

status, monopolizando poderes que todos pensavam serem essenciais para o

sucesso da comunidade.

Cada teoria sozinha é inadequada como uma explicação geral. E

ainda, cada uma enfatiza alguns fatores que as outras colocam para trás.

Nossa intenção não é discutir sobre os méritos relativos de cada uma e nem

oferecer novos. Ao invés disso, é lançar mão de algumas afirmações de uma

ou duas teorias, visando ilustrar as possíveis mudanças que ocorreram no uso

da Territorialidade, conforme a sociedade mudou de uma economia primitiva

de reciprocidade, para uma economia de estruturas de classes de

redistribuição. Embora, a conquista de uma comunidade agrícola por uma não-

agrícola, possa ser o modelo mais simples de transição, para nossos

propósitos ele é inadequado, porque ele não esclarece como os

conquistadores continuam no poder e se tornam uma elite legítima. Uma

explicação alternativa que pode ajudar com relação a legitimidade de uma elite

e que também permite um alcance das funções territoriais, assume que as

elites surgiram nativamente e combinaram uma papel religioso com um

redistribuitivo. Vejamos como esta alternativa pode servir para a

Territorialidade:

Nós sabemos que o mito, o mágico e o ritual eram inegavelmente

importantes nas sociedades primitivas e que as primeiras civilizações eram,

geralmente, conduzidas por sacerdotes-reis, eles coletavam, estocavam e

redistribuíam os excessos. Os papeis expandidos dos lideres espirituais,

combinados com a interdependência econômica crescente entre as

comunidades, poderia muito bem ser a chave para o surgimento de uma elite

permanente, que era responsável pelo excedente e que exercia controle

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Page 87: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

territorial sobre uma população de camponeses. Para ilustrar os possíveis

passos desta e das mudanças na Territorialidade que a acompanharam,

considere o seguinte caso hipotético. Suponha, se as linhas do Elman Service,

que uma comunidade agrícola A, estabelecida em uma planície fértil e bem

regada, conforme o ponto a na figura 3.3, e situada entre o mar e uma cadeia

de montanhas, a terra é possuída comunalmente, mas dividida pelos

domicílios a uso, conforme a figura 3.2. Um domicílio consome muito do

alimento que ele produz, mas algum é dado para ser consumido fora do

domicílio e algum é distribuído para a comunidade através de rituais e festas.

Suponha que a agricultura seja um sucesso e que a comunidade economize,

após várias gerações, conforme a população aumenta, os habitantes da vila A,

encontram novas vilas (A e B e etc.), modeladas nos mesmos princípios de A

e que também economizam.

Cada comunidade, embora autônoma, pode achar que elas

podem produzir algumas coisas mais efetivamente do que as outras, assim,

alguma espécie de comercio e especialização começa. Uma coisa importante,

os membros das comunidades atribuem a sua boa sorte aos deuses e vêem

em seus lideres espirituais, meios indispensáveis para solicitar assistência

divina. Embora a liderança na arena religiosa, como em outros reinos, não

fosse originalmente uma posição herdada, mas sim algo dado, uma diferença

importante é que, dentro de uma sociedade simples com uma tecnologia

acessível, conhecimento religioso e, especialmente, com encantamentos e

feitiços rituais se oferece então um grande potencial para se manter o segredo,

que é o caso de outras formas de conhecimento especializado. E além disso, a

chave física e os atributos mentais da maioria dos lideres religiosos, pode ter

de fato sido herdada. Não era incomum para os Xamãs, nas sociedades

primitivas, terem visões, escutarem vozes e terem características físicas

marcantes. Tendências como estas, podiam ser passada de uma geração para

outra e a comunidade podia ter pensado que estas características, eram a

chave para o sucesso espiritual. Tais características físicas e mentais,

juntamente com o conhecimento secreto, pode ter propiciado a possibilidade

de um meio poderoso de manter-se a liderança religiosa dentro de uma família

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Page 88: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

e talvez através do pai passando o conhecimento para o seu primeiro filho

nascido.

Uma vez que a vila A é a mais velha, vamos assumir que ele

também seja assumir que também seja a maior e a mais próspera e que sua

família sacerdotal também seja a mais poderosa, as outras podem encorajar

os seus sacerdotes a se casarem com as filhas desta família ou talvez a vila

peça para o segundo filho mais velho desta família, que se estabeleça entre

eles para que se torne um sacerdote local. Conforme o tempo passa, as vilas

se tornam mais interdependentes economicamente e o papel da religião se

torna mais e mais responsabilidade de um a família ou de uma linhagem,

centrado nos sacerdotes da vila A, com ramos familiares em cada uma das

outras vilas, conforme A na figura 3.3. Os rituais de todas as vilas, se tornam

mais e mais responsabilidade da família sacerdotal.

Um componente extremamente importante deste rituais, sempre

será a coleta e o consumo do excedente da comunidade. Com a consolidação

do poder sacerdotal, vem também uma consolidação e uma centralização

desta função econômica. O maior passo para transformar este monopólio

espiritual em econômico é ter-se a família sacerdotal monopolizando o papel

de coordenar e redistribuir o excedente. Assim se torna obrigação da família

sacerdotal, centralizado na vila A, organizar e coordenar a estocagem e a

distribuição ritual e o consumo do excedente para as cerimônias. A estocagem

do excedente, bem como as cerimônias para a sua redistribuição,

provavelmente ocorre num lugar de residência dos lideres espirituais da vila

A. Desta forma, os maiores rituais para todas as vilas podem agora ser

conduzidos em A ou em B (conforme a figura 3.3) tal que os representantes

das outras vilas, conduzidos pelos seus sacerdotes, podem convergir para a

vila A, para as ocasiões principais.

Conforme o alcance e a centralização deste processo aumenta, a

vila A constrói acomodações cerimoniais maiores e armazéns permanentes

maiores. Estas são as fundações para os centros cerimoniais monumentais

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Page 89: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

das civilizações antigas. Neste momento a vila A, se torna uma proto-cidade.

Conforme a centralização religiosa se acelera, também se acelera a

centralização econômica e que a classe religiosa se torna mais intimamente

envolvida com os mecanismo de extrair, estocar e redistribuir o excedente.

Agora o poder da religião e o poder econômico estão firmamente nas mãos de

uma família particular e sua comitiva ou classe. E o mais importante, esta

concentração pode ocorrer com a cumplicidade senão com o encorajamento

da comunidade geral. Os cidadões atribuem o seu próprio sucesso aos

sacerdotes e se o poder e a glória podem ser realçados sacerdotalmente,

também o faz o homem comum. Esta atitude faz com a maioria dos membros

da comunidade, dê de bom grado alguma parte do seu excedente para esta

autoridade central. Fazer isto é algo para o seu próprio benefício, bem como

para o bem da própria comunidade. Desta forma, a concentração do poder

pode ocorrer sem a coerção física. Se alguns são relutantes em dar, a

comunidade pode ser pequena o suficiente para outros notarem e assim os

relutantes serão discriminados pelo resto e ficarão em perigo ou se isso não é

possível, os lideres religiosos poderão humilhar publicamente os relutantes.

Conforme o excedente vem para as mãos dos sacerdotes e

conforme maiores armazéns são construídos, vem a expectativa de que

celeiros serão enchidos e que cotas serão alcançadas. Para se preencher os

celeiros rituais, em algum ponto a classe sacerdotal deve saber o quanto seria

e poderia ser dado por cada unidade de produção, seja ela domicílio ou

comunidade. Estimar e organizar as contribuições, requer registros,

supervisores e administradores. Em outras palavras, isto requer o aparato do

Estado, com administradores e com coletores de impostos, ainda aqui pode

haver a cumplicidade da população.

Neste ponto, nós temos um centro cerimonial maior de uma

proto-cidade, entre uma comunidade agrícola que aumentou em número e

produtividade econômica e que agora tem algo equivalente de uma classe

econômica, aumentando o poder político e responsável em acumular e

redistribuir o excedente. A autoridade final sobre a terra, não reside mais na

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Page 90: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

comunidade ou nos deuses, mas no representante de ambos, o governo e os

sacerdotes-reis. As pessoas podem ainda dar o excedente sem a coerção e a

vida dentro das vilas, pode ser como era antes, com a importante exceção de

que agora, o cidadão está na posição de produzir um excedente, que não será

consumido diretamente pela comunidade local. Mesmo que o excedente que

ele produza não seja mais do que antes, a sua extração e o consumo são

diferentes agora. Ele é mais redistribuitivo do que recíproco, mas agora é

somente uma questão de tempo, antes que o excedente extraído se torne

maior do que antes. E o mais importante para nós, a extração do excedente,

por uma autoridade central e seu eventual fardo pesado, significa que haverá

uma mudança no conceito da terra e de suas pessoas, haverá uma definição

territorial maior de relações sociais. A autoridade central, esperará que cotas

sejam cumpridas e as relações com os camponeses e a terra será em parte

imposta. Esta imposição pode ter várias formas históricas, conforme ilustrado

na figura 3.4.

Modelos territoriais.

Uma forma ilustrada pelo a na figura 3.4, é caracterizada pela

possibilidade de que as economias domésticas comunais, podem ainda ser a

norma, mas que a própria comunidade deve cumprir a cota imposta pela

autoridade central. Se existem muitas vilas, então, estas devem ser agrupadas

dentro dos seus distritos. O ponto chave é que, nos olhos do governo, tanto a

vila quanto os distritos se tornam uma unidade social definida territorialmente e

este território molda outras funções administrativas. Talvez, muitas dessas

vilas se tornem administradas por um magistrado, apontado pelo governo

central ou o mesmo grupo de vilas, deve agora criar trabalhadores ou

soldados. Talvez, o reino imperial se torne governado como se fosse uma

coleção de distritos e da própria terra, embora, teoricamente, o poder dos

sacerdotes-reis esteja ainda nas mãos da vila e de seus camponeses. Esta

forma se aproxima de algumas áreas nas civilizações asiáticas, que extraiam o

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Page 91: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

excedentes das suas vilas, mas deixavam suas organizações internas

virtualmente intocadas.

Outro sete de opções ilustrado por B na figura 3.4, surge

quando nós consideramos que o imposto nas vilas, como aqueles descritos,

podem muito bem alterar as suas relações internas e destruir o seu equilíbrio.

Possivelmente, alguma terra da vila foi alocada para o clã sacerdotal local ou

para suas relações. Esta terra podia ter pertencido aos ancestrais da família da

família sacerdotal local, quando a terra foi distribuída para todos os membros

da comunidade ou a terra sacerdotal pode ter sido adquirida da terra possuída

em comum pela vila. Assim, pode parecer que o sacerdote-rei e sua família,

como se fossem a personificação da sociedade como um todo, tem direitos

sobre a terra comum e que a terra comum de todo lugar se torna parte da

propriedade sacerdotal.

Esta terra obtida, pode agora ser trabalhada pelas vilas como um

meio de pagar os tributos e as taxas, para a classe governante. Esta terra

sacerdotal local, pode não estar sobre a supervisão direta da família

sacerdotal, mas sim sobre as direção de seus agentes ou de um capataz local.

Se nós considerarmos que a elite pode consistir, não somente da classe

sacerdotal, mas também de uma nobreza secular e que podem estar alojadas

em uma porção de terra que eles possuem (mesmo que eles a possuam

indiretamente no nome sacerdote-rei ou de outra autoridade) então nós temos

um modelo de um Estado, cuja autoridade e representantes são mais

descentralizados e que interferem mais na vida dos camponeses. Estes

elementos de posse da terra e de autoridade, correspondem intimamente ao

que tem sido chamado de feudal.

Uma forma mais extrema desta intrusão ocorre, as terras das

vilas são tomadas pela classe dominante e os camponeses são, simplesmente,

servos em Estados vastos, como na Europa Oriental, durante o século XVI e

XVIII (ver a letra c na figura 3.4). A forma mais extrema - a escravidão - ocorre

quando os trabalhadores não tem nenhuma liberdade, quando eles têm donos

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Page 92: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

e quando nem a terra e nem as ferramentas são deixadas em suas posses. A

maior parte do dia de trabalho, deve ser organizada pelos controladores dos

escravos e eles devem providenciar ao escravo as necessidades da vida.

Ainda, outra possibilidade (a letra d na figura 3.4), é que as

conexões na comunidade local, venham se enfraquecer e que os domicílios

dos camponeses venham a possuir a sua própria terra, deixando a sociedade

com proprietários de terra, relativamente, independentes. Alguns dos quais se

tornam mais ricos do que os outros. Uma autoridade central fraca, pode ainda

tentar extrair as taxas, mas a sociedade é composta, primariamente, de

fazendeiros independentes, com os mais ricos empregando ou arrendando

para os mais pobres e até mesmo possuindo escravos. Uma situação não

muito diferente desta, ocorreu na sociedade Viking.

Embora, um destes tipos possa caracterizar uma sociedade

particular em um determinado ponto no tempo, todos podem existir em vários

graus juntos. Além disso, em todos os sistemas exceto os de escravos, os

camponeses, individualmente ou comunamente, possuíam a maioria das suas

ferramentas e implementos. Eles não eram deixados para se virarem sozinhos

e se isso fosse feito, eles estavam no controle da maioria do seu processo de

trabalho. Mesmo quando eles trabalhavam para o lorde da província ou do

estado, eles eram, geralmente, responsáveis pelos detalhes do processo de

trabalho. E usavam os seus próprios implementos para cumprir as suas

obrigações de trabalho. O excedente era extraído e assim as pessoas

trabalhavam e também suportavam uma elite, mas o ritmo do trabalho e seus

detalhes estavam principalmente nas mãos dos camponeses.

Nós temos nos concentrado nas relações entre o lorde, a terra e

o camponês, porque a riqueza das sociedades pré-modernas era baseada na

agricultura. Mas, é mais importante na figura 3.4, notar a posição dos

mercadores que estavam presentes em vários graus em todas as civilizações.

Suas vidas, como aquelas dos camponeses, eram reguladas pela classe

dominante. No caso do tipo a, a maioria dos mercadores estaria concentrada

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Page 93: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

nas cidades capitais, propiciando comodidades escassas e caras para as

classes dominantes. Não somente os seus clientes eram ricos, mas a elite

política ou o governo, provavelmente, licenciou e taxou estes mercadores e

controlou os preços das suas comodidades. A concentração da riqueza nas

cidades imperiais, além disso também teria levado a elas. artesãos e

escultores.

No caso do tipo b - o feudalismo - os mercadores teriam

alimentado a nobreza. Mas, porque eles eram dispersos e, geralmente, viviam

entre os camponeses, deve ter havido uma descentralização maior no controle

do seu negócio. Mesmo os camponeses feudais, podem ter tido um acesso

maior a algumas das mercadorias menos caras. Os mercadores também

devem ter visitado a nobreza nos Estados vastos sob servidão ou c, mas é

improvável que o mercador tenha tido um contato direto com os domicílios dos

camponeses, nos tipos ilustrados em d. Ao invés disso, eles provavelmente

devem ter ficado nas cidades, nas quais as elites residiam e estabeleceram

feiras ocasionais e mercados nas áreas rurais.

Mudanças no espaço, tempo e Territorialidade.

Saber qual dessas relações predomina, é um caso particular que

ajuda a explicar a distribuição da terra e do poder e alguns dos detalhes da

organização espacial. Todos este tipos de divisão resumem os efeitos

territoriais. O sentido de uma comunidade possuir a terra e passá-la de uma

geração para, é substituído em vários graus pela noção de que as classes

dominantes (embora elas possam ser diferentes) são personificações das

pessoas e os deuses e também são as guardiãs da terra; e a terra, como a

fonte básica da riqueza, é um território a ser administrado e um lugar ao qual

as pessoas estão ligadas. Ligar um cidadão ou um proprietário a terra, faz dele

um camponês ou um servo.

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Page 94: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Do ponto de vista do proprietário, a terra em que ele trabalha e a

vila em que ele mora, podem ainda parecer para ele como uma entidade

natural, como o local ao qual ele pertence emocionalmente e espiritualmente.

Ele pode não ter a terrível consciência do fato de que o seu território definido

socialmente, é também um território imposto - formando uma definição

territorial das relações sociais. Mesmo que as fronteiras dos seus territórios

sejam de alguma forma criadas artificialmente ou impostas de cima para baixo,

a imposição da autoridade territorial, pode não ter afetado o seu senso pessoal

de pertencer a um local. A menos que a criação e o conteúdo dos territórios

mudem extremamente rápido e repetidamente, existe uma tendência de um

povo tentar um local como se fosse o seu lar. Isto significa, vê-lo como se

fosse algo socialmente definido, um território natural. Isto pode, entretanto,

requerer esforço considerável para adotar tal atitude e mesmo assim, pode ser

mais frágil e menos envolvente do que a definição social de território, obtida

em uma sociedade primitiva que não tem nenhuma autoridade sobre ela.

Se o camponês vê a si mesmo como parte de um território

imposto ou não, o ponto crucial é que, de cima as autoridades centrais vêem.

Para eles, o camponês é a personificação do instrumento, que faz a terra

produtiva. O camponês se torna a ligação com a terra, a este respeito, bem

como de outras maneiras, a autoridade central divide o seu império e as

pessoas territorialmente, classificando e controlando grupos, tanto os grandes

quantos os pequenos, através do controle de área.

Assim, o surgimento da civilização com que territórios definidos

internamente desta última forma também sirvam como moldes para outras

formas de relações sociais. Um grupo de vilas (dos tipos a, b, c e d de acordo

com a figura 3.4 ou com outras combinações), se torna uma área

administrativa, estabelecida para o surgimento de rendas. E estas áreas, como

na figura 3.5, se tornam unidades administrativas, para o alívio, no caso de

pragas e fome ou para alimentação de soldados, no caso de guerra. As

fronteiras territoriais podem ser usadas deliberadamente para dividir ou

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Page 95: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

subjugar ou conquistar comunidades hostis, pela separação das áreas de

comunidades naturais mais velhas. Em todos estes casos, A Territorialidade

está sendo usada hierarquicamente e assimetricamente. O controle do

território está nas mãos de uma classe dominante e de seus representantes,

quanto maior o número de hierarquias territoriais, mais provavelmente as

fronteiras serão impostas artificialmente e quanto mais os administradores

foram deslocados de território em território, mais a Territorialidade produz,

relações distantes impessoais entre os governos e os governados.

Na pré-moderna a terra era a fonte primária de riqueza e

agricultura a principal ocupação. Mas, não deve ser esquecido que o

surgimento da civilização, também ocasionou o surgimento da cidade e da

arquitetura complexa. Aqui também são encontrados múltiplos territórios, que

moldam os eventos e hierarquicamente e assimetricamente definem as

relações sociais. Os templos e os palácios por exemplo, são subdividos

internamente, na maioria das vezes, para delimitar o grau de sagrado. Quanto

mais sagrado é o lugar, menos acessível ele é para uma pessoa comum.

Somente o mais alto sacerdote, tem permissão de entrar no mais santo dos

lugares e somente a família real e sua comitiva tem permissão de entrar no

coração do palácio ( ver figura 3.6).

Talvez o exemplo mais forte nas civilizações pré-modernas de

uma definição territorial de relações sociais, é o uso do território para definir

toda política da comunidade, do estado ou do império. Este uso do território,

embora importante para os impérios, não foi de maneira alguma preciso para

os padrões modernos. As fronteiras nunca foram delimitadas tão

acuradamente como elas são agora, uma vez que as técnicas de pesquisa e

mapeamento eram limitadas. E os registros das propriedades da terra, não

eram mantidos uniformemente e acuradamente. Um lorde podia saber, que

uma vila e sua terra pertenciam a ele, mas ele e a maioria dos cidadões da vila

podiam não saber exatamente onde a terra da vila começava e terminava. E

ainda, um senso geral da extensão no espaço era claramente parte da

definição de cada civilização. Os imperadores controlavam os povos dentro de

95

Page 96: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

um território, é claro que o imperador controlava qualquer um dentro do

território. Um povo era socialmente diverso, ainda que territorialmente definido.

Estas reivindicações territoriais, bem como outros detalhes da

posse imperial, eram geralmente representados por mapas e às vezes

desenhados em escala com projeções especificas. O tempo também era

geralmente apresentado metricamente por complexos sistemas de calendário.

Estes mapas e calendários eram certamente mais elaborados e abstratos do

que aqueles encontrados nas sociedades primitivas (os primitivos desenharam

mapas, mas não metricamente e nem projetivamente), e a este respeito, eles

podem indicar um nível diferente qualitativamente da noção espacial e

temporal, pelos menos na parte das elites que empregavam estes recursos.

Este nível era diferente daquele existente antes do surgimento das civilizações.

Esta mudança na representação do espaço e do tempo entre as sociedades

primitiva e a civilização, não foi, entretanto, tão profunda quanto a mudança no

uso da Territorialidade. (E, conforme nós veremos mais tarde, uma mudança

mais fundamental no sentido do espaço e do tempo ocorre com outra mudança

fundamental na Territorialidade no tempo do Renascimento). O camponês nas

civilizações pré-modernas, concebia o espaço e o tempo da mesma maneira

ordinária que os primitivos. E mesmo os calendários e mapas mais abstratos

dos oficiais imperiais, eram ornamentados com significados místicos e

ritualísticos. Os sistemas de calendário dos impérios, tinham representações

astrológicas. Os sacerdotes eram os controladores do tempo e o tempo era

controlado para manter o império em harmonia com os céus. Os símbolos do

espaço geográfico, desempenharam um papel especialmente importante em

estabelecer a harmonia imperial. O espaço tinha um conteúdo mítico, por

exemplo, a divisão do império chinês em quatro quartos foi concebidas como

se fosse um espelho da ordem cósmica. Mesmo o sistema de coordenada

métrica, aparentemente moderno encontrado na cartografia chinesa do

terceiro século, estava cheio de significados místicos. Cada quadrado na

grade, era um microcosmo do mundo todo. E cada lado do quadrado continha

parte do significado da direção em que ele apontava.

96

Page 97: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Estes conceitos infusos miticamente do espaço e do tempo,

também foram usados extensivamente nos rituais do governo. Controlar

impérios tão vastos, contendo diferentes tipos de povos, significava se escorar,

fortemente, no ritual. Para garantir o seu sucesso, as novas cidades,

geralmente, eram localizadas e projetadas de acordo com o espaço mítico e

com o tempo. Os investimentos dos governadores, requeriam conexões rituais

entre a capital e o império. A prosperidade da agricultura podia requerer que a

terra fosse fertilizada ritualmente e arada pelos deuses, na forma simbólica do

imperador.

Geralmente, o espaço ritual e o tempo estavam

interrelacionados. Mesmo os conceitos de espaço e de tempo no mundo

clássico, estavam infundidos com este teor. A geometria grega, era sobre

objetos bi ou tridimensionais e não sobre o abstrato, o espaço vazio. A filosofia

grega de espaço, não era sobre um contínuo métrico vazio. Os gregos por

exemplo, não desenvolveram a geometria projetiva. A cosmografia de

Ptolomeu, chegou perto de uma representação abstrata do espaço, mas as

suas projeções não eram sobre objetos sólidos e sua geografia foi intimamente

ligada à astrologia. Finalmente, estas representações de espaço e de tempo,

não constituíam o dia-a-dia das experiências dos camponeses. Para eles, o

espaço ordinário e o tempo eram ainda limitados com as experiências locais e

pessoais.

Capitalismo.

Nós temos falado sobre importantes diferenças entre as

civilizações pré-modernas, visando focalizar sobre as maiores mudanças na

Territorialidade. Mas, nós devemos acrescentar que, não somente as

sociedades pré-modernas foram diferentes, somente uma delas deu

surgimento ao Capitalismo e ao Estado Moderno. Isto deve significar que,

haviam diferenças cruciais entre a Europa Ocidental onde o Capitalismo

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Page 98: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

começou e o resto do mundo. Mas, quais exatamente elas foram ainda

permanece como uma discussão em aberto. São mais claras as características

do sistema econômico atual e as mudanças nos conceitos de espaço, tempo e

Territorialidade que, primeiro o Capitalismo de mercado e depois o Capitalismo

industrial, iniciaram. Novamente, deve ser notado que, embora o Capitalismo e

a modernidade não sejam sinônimos, o primeiro foi um importante componente

do último.

Será recordado do capítulo 2, que as coisas importantes entre os

usos da Territorialidade que pode ser esperado primariamente no Capitalismo

e na era moderna são o sentido de um espaço esvaziável, também o uso

crescente das hierarquias territoriais para relações impessoais e o uso da

Territorialidade para obscurecer as fontes do poder. Aqui nós consideraremos

as interconexões destes efeitos dentro do Capitalismo, concentrando

primariamente no primeiro, porque ele é, ao mesmo tempo, prioritário

historicamente e necessário para os outros. A nota que nós faremos é que, o

uso repetido e consciente do território, como um instrumento para definir,

conter e moldar um povo em movimento e os eventos dinâmicos, conduz a um

sentido de espaço abstrato esvaziável. Isto faz a comunidade parecer ser

artificial, faz o futuro aparecer geograficamente como uma relação dinâmica

entre os povos e os eventos e de que alguma forma os moldes territoriais são

feitos em cima de outros. Isto faz o espaço parecer estar relacionado

amplamente com os eventos.

Mecanismos.

Geralmente, se concorda que uma importante necessidade para

o surgimento do Capitalismo, é um sistema de mercado extensivo, para

comprar e vender comodidades, mas isto dificilmente pode ser o suficiente

para as sociedades tradicionais contendo mercadores e mercados. E ainda,

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Page 99: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

nos casos pré-modernos, a negociação fundamentalmente não altera e nem

desloca as economias domésticas de subsistências, ao invés disso, os

mercadores estão submissos a elas. Em adição, para um segmento comercial,

então, o Capitalismo precisa tornar o trabalho e o capital, dependentes do

comércio. Esta dependência transforma o papel do mercador, de uma pessoa

que supre conveniências para alguém que supre necessidades e transforma o

papel do camponês, de alguém que depende de si mesmo e de sua

comunidade para a subsistência, para alguém que depende do mercado e do

mercador. Estas são as características que nós chamaremos de Capitalismo

Mercante e ilustraremos em a, na figura 3.7. Muitos marxistas, podem não

considerar o Capitalismo Mercante, como um modo distinto de produção, mas

sim uma transição ou uma parte do Capitalismo.

Uma maneira de fixar o capital mercante é “libertar”, os

camponeses da terra, tal que eles entrem no mercado pensando que eles não

têm a opção de retornar à sua subsistência ou a seu modo de vida tradicional,

caso o comércio fali. A venda do seu trabalho e dos seus produtos, devem se

tornar essenciais para a sua sobrevivência. As obrigações econômicas

tradicionais e as relações da comunidades, devem ser diminuídas. E a terra do

típico camponês libertado, se ele tiver alguma, deve ser insuficiente para

proporcionar a ele, alternativa de subsistência. E deve se engajar no trabalho

relacionado com o mercado, seja deixando a terra ou trabalhando nela ou nas

proximidades de sua moradia, para suplementar o seu produto minguado dos

campos pequenos e de suas hortas. Se ele tiver a opção de ignorar o

mercado e viver fora dele na sua própria terra ou então encontrar apoio

suficiente da terra comunal, então a sua conexão com o mercado seria

somente voluntária. O mercado seria então, somente um enfeite comercial

para o modo de vida do camponês.

A alternativa de subsistência, também deve ser tirada dos

maiores proprietários de terra, isto significa que eles devem ser impedidos, por

uma convenção social ou por alternativas mais lucrativas, de trabalhar as suas

próprias terras e assim se tornarem camponeses e também de atrair

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Page 100: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

trabalhadores camponeses para trabalhar nas suas terras, dentro das velhas

relações de costume do feudalismo e da servidão. O lorde da terra, deve ser

colocado em uma posição, tal que a sua escolha racional, seja comprar o

trabalho livre e isto significa que a sua terra deve estar produzindo para o

mercado. Uma rede comercial extensa e penetrante no local, conforme tiveram

porções da Europa, nos séculos XIII e XIV (conforme a Liga Ransiática), era

certamente uma parte crítica da mudança para o Capitalismo, mas em si ela

não “libertou” o trabalho ou o capital. Os detalhes de como esta transição, do

feudalismo para o Capitalismo Mercante, se deu variam de lugar pra lugar na

Europa Ocidental.

Parte das diferenças geográficas, entre o Capitalismo Mercante,

o capitalismo Industrial e as economias pré-capitalistas, estão indicadas

quando a ou b, da figura 3.7 são contrastados com a figura 3.4. No

Capitalismo Mercante (o a da figura 3.7), o domicilio individual continua como

uma unidade de produção. O trabalho ocorre no domicilio e, geralmente, com

ferramentas ou instrumentos que o domicilio possui. A diferença chave entre o

que ocorria antes, nos modos pré-capitalista e agora nos capitalista, é que a

dependência no mercado rompe a conexão do domicilio com a comunidade de

subsistência local. O domicilio, geralmente, tem que comprar matérias primas

do mercado e trazê-las para casa e trabalhar sobre elas e então vender o

produto final de volta para o mercado, visando receber dinheiro para comprar

as necessidades do domicilio. O mercado, geralmente, serve como

intermediário entre a produção do domicilio e o mercado, vive de comprar

barato e vender caro. Ele, normalmente, não possui, organiza ou supervisiona

o processo de produção e a este respeito os marxistas diriam que eles não

extraem o valor do excedente, ele, simplesmente distribui as matérias-primas e

os produtos finais. O proprietário, em algum grau pelo menos, continua na

organização interna do processo de trabalho. Ele decide como ele é feito e em

que passo ele ocorre.

No Capitalismo industrial (o b da figura 3.7), entretanto, o

trabalhador não mais possui as suas próprias ferramentas ou trabalha em sua

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Page 101: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

própria casa. Agora ele tem que trabalhar nas ferramentas e em um local de

trabalho, tal como uma fábrica ou escritório que pertence a um capitalista que

organiza, supervisiona e controla cada faceta do trabalho, o trabalhador não

mais vende o seu próprio produto, agora ele vende o seu tempo de trabalho

para o dono da fábrica . O uso deste tempo é determinado pelo proprietário,

trabalho e casa geralmente são fisicamente separados e territorialmente

entidades distintas e com maridos e mulheres tendo que de trabalhar fora de

casa por longas horas. Outras funções da vida se tornam territorialmente

segmentadas, surgem escolas para tomar conta e educar as crianças e

hospitais para tomar conta dos doentes. Estas outras separações territoriais e

segmentações que acompanham o Capitalismo industrial, têm profundo efeito

em como a Territorialidade é usada no Capitalismo e será abordada mais

tarde. Aqui é importante enfatizar que a comercialização do trabalho e do

capital dentro do Capitalismo Mercante e do Industrial resulta em uma

complexa mudança no locus da força política e na forma que ela é percebida.

A caracterização desta mudança depende, em grande parte, da ideologia de

alguém.

Em sociedades tradicionais ou divididas por classe, o poder

político e o governo estavam, sem dúvida, nas mãos da elite. O poder era

altamente visível e coercivo, qualquer outra função que tenha sido

representada pelo Estado, o seu propósito final era manter a elite através do

reforço da extração do excedente. Mas, no Capitalismo o poder político e o

Estado aparecem em uma luz diferente, eles parecem ser forças

potencialmente neutras. O trabalho e o capital, como fatores de produção

entram em um acordo salário-trabalho ou contrato. Os defensores do

Capitalismo interpretam este acordo, como algo livre e justo, na longa corrida

pelas forças de oferta e procura em um sistema de mercado competitivo. Se o

trabalho pensa que lhe é pago muito pouco, ele pode barganhar por mais ou

então ir para outro lugar e o capital também pode contratar o trabalho que

escolher. No Capitalismo Industrial, o capital pode se mover para novas

localidades, afim de encontrar novos trabalhos e também pode substituir mais

capital e materiais.

101

Page 102: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Para os defensores do Capitalismo, o Estado é ou pode ser um

agente neutro, reforçando, imparcialmente, estes e outros contratos e acordos.

Neste sentido, o econômico e o político parecem ser independentes um do

outro. O econômico é a esfera privada, que no Capitalismo Industrial está

baseada , particularmente, no contrato de trabalho e salário e governada pela

mão invisível do mercado. O político é a arena pública acessível para resolver

conflitos, de acordo com regras justas e procedimentos. Ele assiste a

economia, primariamente, assegurando que acordos sejam cumpridos e

providenciando mercadorias públicas e serviços, tais como estradas, canais,

defesa e justiça. Em retorno, ele recebe legitimação deste recipiente e se

suportar através de taxas. Entretanto os defensores do Capitalismo podem

descordar que os poderes do Estado sejam neutros e devam ser limitados.

Eles também percebem que de fato o papel do Estado é vasto e que a maioria

dos analistas concordariam que o Estado afeta grandes segmentos da vida.

Esta aparência de neutralidade política e quase independência

do econômico, é uma diferença fundamental entre o Estado no Capitalismo e o

Estado nas sociedades pré-capitalista ou divididas por classe. Entretanto, os

defensores do Capitalismo e seus críticos discordam se isso é mais do que

uma aparência. Os marxistas argumentam que, particularmente no Capitalismo

Industrial, a opressão herdada do sistema capitalista, é baseada e ainda

camuflada pelo acordo salário-trabalho, o capital possui os meios de produção

e o trabalho cria valores. Para o trabalhador trabalhar, deve ser dado a ele

algum capital dos valores que ele criar. O contrato de trabalho é um

mecanismo pelo qual o capitalismo esconde a extração do excedente, sob a

máscara de um acordo livre e aberto, em outras palavras, o trabalho é pago

menos do que vale. O capital extrai este dinheiro simplesmente por ter o

poder de reter os empregos. Esta diferença e a extração do excedente é

disfarçada pela aparente liberdade do trabalhador entrar em um contrato de

trabalho. Através deste contrato, o excedente é extraído sem o uso de força e

sem a intervenção política. Ao providenciar o suporte para este contrato e para

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Page 103: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

a propriedade privada dos meios de produção, o Estado sob o Capitalismo é

cúmplice em suportar esta relação desigual.

Não surpreendentemente, as diferenças entre os marxistas e os

não-marxistas, são sobre as visões da economia política e a influência do

Estado com suas respectivas avaliações da Territorialidade. A maior coisa que

os marxistas tendem a ver as unidades políticas, como criando e legitimizando

as diferenças e obscurecendo as fontes do poder, enquanto, os não-marxistas

não o fazem. Nós abordaremos este assunto mais tarde, mas agora é

importante reconhecer que, embora as duas visões possam ver a

Territorialidade empregando diferentes aspectos de efeitos, nem todas as

interpretações dos usos do território no capitalismo caem dentro da divisão dos

marxistas ou não-marxistas. E que as duas visões podem coincidir ,

consideravelmente, com algumas tendências básicas nas relações entre o

surgimento do Capitalismo e com o Estado de um lado e as concepções de

espaço, tampo e Territorialidade de outro.

Ambos concordariam que, além de apresentar o Estado num

papel mais neutro, o Capitalismo tem aumentado a mobilidade geográfica da

população geral. Com o comércio e a mobilidade veio a extensão geográfica

do poder político. Isto ajudou o acesso seguro a novos mercados e a novas

matérias-primas e ajudou a manter o transporte confiável e o salvo-conduto

dentro do domínio. (A integração nacional era interesse da burguesia

emergente e também da monarquia, ela deu ao monarca uma fonte direta de

rendas e ajudou a passar os interesses feudais locais, que diluíram a

autoridade do monarca).

Com o Capitalismo veio a necessidade de uma acumulação

crescente e também de uma inovação. Tanto o mercado quanto o industrial

devem continuar a expandir os seus mercados, para vender (e produzir) mais

e mais novas mercadorias. Se eles não o fazem, eles correm o risco de perder

o seu negócio para outros que o farão, que podem vender mais barato do que

eles. Assim, a mudança se torna algo imperativo do sistema e a racionalização

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Page 104: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

ou uma justificação ideológica para a mudança, se torna personificada na idéia

de progresso. O tempo, como se acredita, levará à mudança, uma mudança

para melhor. Esta abstração e atribuição do valor ao tempo se torna mais

intensa com o crescimento do salário-trabalho e do capitalismo Industrial. Ela

também se torna fortemente interrelacionada com as mudanças nos

significados de espaço e território.

Ideologia.

Muito do pensamento do Renascimento, reflete as necessidades

do novo sistema econômico emergente. O homem tomou o centro do palco e

as sensações do homem foram as fontes primárias do seu conhecimento do

mundo, colocando a experiência, ao invés da escritura, tradição e autoridade

como a fonte de conhecimento aberta para o mundo e para uma visão

experimental e até mesmo científica. Novas necessidades e experiências

podem ser encontradas, viajando-se ou também através de novas

comodidades. A exaltação da riqueza e do consumo (que as novas

denominações protestantes proclamaram na sua idéia de um chamado) é tão

importante como um componente do sucesso do Capitalismo, quanto são os

negócios competitivos de acúmulo e acesso a recursos e mercados, ajudando

a tornar a acumulação da riqueza e dos novos produtos possível, foi um

mecanismos de mercado de oferta e procura que propiciou um mecanismo

poderoso de revelar e medir as necessidades. O mecanismo de mercado

quantifica o valor e conforme o reino da atividade de mercado se expandia,

mais e mais coisas se tornavam valiosas em termos de preço de mercado, ao

invés do seu valor ou utilidade tradicional.

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Page 105: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Quantificar valores, foi paralelo ao uso de medidas na ciência, os

fatos podiam se descritos em termos unidades quantificáveis, tais como

localidades, tamanhos e pesos, tão bem quanto as mercadorias, podiam ser

descritas em termos de preços. Experiências de todos os tipos foram se

tornando mais fáceis de se medir. Usar termos quantitativos para descrever a

realidade impirica e o valor econômico, foi muito mais útil para uma sociedade

dinâmica do que descrevê-los em termos dos seus usos tradicionais ou

costumeiros, que não eram mais partilhados ou sobre a autoridade estava

perdendo a sua legitimidade. Mas a quantificação teve ainda outra

conseqüência, ajudou a tornar outros reinos do ocidente mais abstratos e

autocríticos.

Representar a realidade através de números, não é em si

intrínsicamente mais abstratos do que representar a realidade através de

palavras ou figuras, mas quando isto é acompanhado com um cálculos das

relações quantitativas, tais como uma geometria ou uma álgebra, isto então

reforça uma forma de representação que é precisa e convencional, ainda que

fria e remota pelas complexidades e contradições da experiência ordinária, tal

clareza e distância são características da concepção cientifica em geral. Os

significados dos conceitos científicos são coinciamente criados e chegam

através de um consenso da comunidade cientifica, eles não são vistos como

símbolos naturais, mas sim como construções conscientes. Esta consciência

encoraja a ciência e os reinos relacionados a se tornarem autocríticos de suas

próprias representações. A quantificação engloba clareza, precisão e natureza

pública dos termos científicos, representar a natureza através de termos ou

símbolos bem definidos específicos e geralmente quantificáveis facilita uma

separação e recombinação conceitual prolongada e complexa das partes da

realidade, isto deixa os cientistas alertas que eles estão criando símbolos cujo

significados são negociáveis. Esta atividade conceitual consciente, acrescenta

algo à autocrítica da natureza da ciência, ela promove um alerta de que

alguém está construindo modelos da realidade e não criando realidade ou

afetando a realidade representada. Qualquer coisa que alguém faz, pode

afetar a realidade, mas os cientistas reconhecem que os símbolos usados não

105

Page 106: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

manipulam diretamente as coisas que eles representam (como se acredita ser

o caso no ritual e no mágico). E esta consciência do papel da simbolização,

assistida pelo uso da quantificação, ajudou a aumentar o espirito da

experimentação intelectual nos outros modos de pensamento.

O papel dado pelo Renascimento à observação e à experiência

humana, à quantificação dos fatos e valores e à emergência das ciências não

foram de maneira alguma as causas diretas e os efeitos um do outro e nem

eles dominaram imediatamente o pensamento ocidental, eles foram diferentes

com idéias que foram impostas e reforçadas conforme o capitalismo se

desenvolvia, eles estavam também interrelacionados com as mudanças que

ocorriam nos conceitos e usos do espaço da terra, do território e do tempo. É

claro que o desenvolvimento de um conceito mais métrico-quantitativo do

espaço, do lugar e do tempo tinha um efeito paradoxal de facilitar o

movimento, a coordenação e o controle de atividades sobre a terra, enquanto

removia o significado do espaço e do tempo da experiência mais ordinária. O

espaço e o tempo se tornaram molduras abstratas, as quais os eventos e as

experiências estão relacionados. Esta abstração foi grandemente afetada

pelas idéias ocidentais modernas da realidade, isto ajudou a tornar o

pensamento ocidental autocrítico; e ajudou a diminuir o ritual e a aumentar o

ceticismo.

Espaço e tempo.

O Capitalismo é a primeira economia dinâmica confiável, as

mudanças que o Capitalismo cria são racionalizadas através da crença no

progresso. As pessoas esperam que o futuro signifique mudança para melhor,

isto é verdadeiro. Geralmente, outras sociedades dizem que o futuro podia ser

melhor, mas isto usualmente significa que existem ciclos de bons e maus

tempos e o que aconteceu eventualmente acontecerá novamente ou que

alguma coisa inteiramente nova e revolucionaria ocorrerá, mas somente

através da intervenção divina. A crença na noção ocidental do progresso

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Page 107: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

entretanto, significa crer em uma mudança secular mais ou menos contínua

para melhor, para novo e não disponível até o presente momento e isto

ocorrerá mesmo em condições imprevistas. A fé sega no progresso, como a fé

sega em qualquer coisa, é um uso não sofisticado de uma abstração, mas

haviam bases firmes na sociedade pós-renascentista, para uma crença mais

cautelosa no progresso, que poderia ser tomado como uma generalização

sobre as mudanças que poderiam ocorrer na vida material.

A idéia de progresso bem como as experiências mais mudanas

de mudança na sociedade moderna, estão baseadas na noção métrica

abstrata do tempo. Medir uma passagem do tempo ainda requer medir as

mudanças no mundo material, como o caminho do sol. Entretanto, as

diferenças primárias residem no fato de que a medida pode ter referências

irrestritas, ela pode se referir a eventos familiares, tais como o movimento de

corpo celestes ou a idade das pessoas, mas sua função primária se torna,

simplesmente, servir como uma medida neutra para marcar a duração e a

seqüência de qualquer e de todos os eventos. De fato, ao invés dos eventos

marcarem o tempo, as unidades métricas do tempo têm sido usadas para

definir os eventos, como quando na vida da fábrica o trabalho começa às oito e

termina às seis.

O tempo métrico se torna uma parte importante de uma visão de

mundo, com referência a cada novo avanço nos pedaços do tempo mecânico,

isto permite que o tempo seja medido em unidades menores, iguais e precisas.

Estas unidades, bem como a antiga divisão dos dias, semana e anos começou

a ter valor, conforme o trabalho começou a ser calculado em termos de

compra e venda do tempo de trabalho.

Conforme o tempo métrico foi se tornando livre de qualquer

experiência particular ou contexto, também foi o espaço geográfico. Poucas

sociedades, incluindo Europa medieval, fizeram uso sistemático de uma grade

espacial para representar o mundo. Os chineses fizeram uso de um sistema de

coordenadas, mas isto parece estar cheio de significados espirituais. A

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Page 108: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

geometria grega e a cartografia, estavam mais preocupadas com objetos

sólidos do que com o espaço abstrato, ainda uma parte da matemática grega e

da cartografia tinham o potencial para se referir a terra e ao espaço celeste,

como um sistema métrico. A discussão de Ptolomeu, das projeções e

coordenadas, chegou perto de qualquer formulação pré-moderna para uma

abstração e metrificação do espaço. A este respeito que o sistema de

Ptolomeu tenha sido útil para a Idade Média cristã até 1150, mas não foi usado

para os geógrafos medievais, ao invés disso os cientistas medievais aplicaram-

no no espaço e até mesmo lá ele estava interrelacionado com a astrologia.

Para o espaço da Terra, a Geografia medieval geralmente substituía uma

visão mística derivada da doutrina da Igreja. Em uma importante série de

representações medievais, ilustrada na figura 3.8, a Terra foi dividida em três

regiões, África, Ásia e Europa e estas eram reunidas no centro em Jerusalém.

A importância deste conceito, é que onde quer que alguém estivesse

realmente localizado no espaço físico, isto era algo material, a menos que

alguém estivesse no centro da cidade santa, Jerusalém.

Não somente até o século XV, com o despertar dos interesses na

navegação e comércio, que o sistema de Ptolomeu de mapeamento da Terra

foi redescoberto. O ano de 1405, viu a primeira translação no ocidente das

Geografia de Ptolomeu, a partir daí a representação do espaço, em termos de

coordenadas, tais como a longitude e a latitude, se tornou a concepção

geográfica padrão de espaço. Usar um sistema de coordenadas para

representar um espaço, depende de imaginar o globo não como uma

topografia morta, mas como uma superfície homogênea dirigida por uma grade

uniforme. Um espaço métrico abstrato foi unido a tempo métrico abstrato, para

formar uma moldura de referência geral e precisa, na qual as experiências

humanas estão provavelmente localizadas.

O mapeamento do espaço, em termos de coordenadas, somente

um dos dois instrumentos primários para expressar a consciência do espaço

como uma moldura abstrata para os eventos. O outro foi a descoberta no

século XV, da pintura em perspectiva, antes desta época o conceito de espaço

nas pinturas, estava dominado pela posição e tamanho. O tamanho de objeto

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Page 109: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

e sua posição, na pintura, indicavam alguma coisa da sua importância, mas

nada da sua localização real na realidade geográfica. Dentro do contexto da

pintura em perspectiva, os eventos a serem pintados eram literalmente

pintados em um sistema de coordenadas preexistente, que representava o

próprio espaço. A pintura em perspectiva e a cartografia do Renascimento, se

reforçaram uma a outra. Os artistas estavam conscientes dos novos métodos

cartográficos e os cartógrafos eram, geralmente, artistas. Suas interconexões

podem ter sido tão fortes, que as regras de Ptolomeu para as projeções de

mapa podem ter sido adotadas por Alberti, um dos fundadores da pintura em

perspectiva em suas construções de perspectivas.

Os desenvolvimentos na cartografia e na pintura, foram de

grande importância para conceitualizar e para apresentar um sistema espacial

abstrato, mas empregar um sistema para fins práticos, encontrou vários

empecilhos. O dicionário geográfico de Ptolomeu, que foi usado na

Renascência como base do mapa do mundo conhecido, foi consideravelmente

inexato. A latitude era fácil de ser medida com exatidão no mundo antigo,

através da observação da altura da estrela polar ou do sol. Mas, a longitude

que requeria observações simultâneas em diferentes locais geográficos de

eventos celestiais, não era possível de ser medida em qualquer grau de

exatidão até que peças confiáveis e portáteis foram desenvolvidas no século

XVIII, até lá somente aproximações grosseiras puderam ser feitas.

Apesar destas limitações temporárias da aplicabilidade da

moldura espacial métrica-abstrata, ela foi achada útil o suficiente para permitir

novos desenvolvimentos na projeção de navios e na navegação e estas

inovações tecnológicas ajudaram a melhorar a exatidão dos mapas, mais e

mais coisas se tornaram geograficamente acessíveis e exatamente

localizáveis. Mas, em um mundo complexo alimentado pelo Capitalismo, a

Territorialidade é requerida para clarear o caminho para a acessibilidade

geográfica e vários desenvolvimentos precisaram acontecer antes que o

sistema espacial abstrato pudesse ser incorporado e ligado em sua abstração

ao uso moderno do território.

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Page 110: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Territorialidade.

Um uso moderno do território é baseado principalmente em uma

autoridade política suficiente ou poder para ligar as dinâmicas do Capitalismo,

para ajudar repetidamente a mover, moldar e a controlar a organização

espacial humana em escalas vastas. Este uso moderno do território é primeiro

uma questão de grau e intensidade mas, em algum ponto, ele começa a

conduzir a sentido diferente qualitativamente do território e do espaço. O

território se torna conceituadamente e até mesmo realmente esvaziável e isto

apresenta o espaço como uma superfície real e esvaziável ou estágio no qual

os eventos ocorrem.

Desde o início dos registros históricos, existem casos de

definições territoriais das relações sociais de moldar pessoas para formar

comunidades e de planos abstratos para novas cidades e colônias. Por toda

parte podem ser encontrados exemplos da criação de novas unidades

territoriais políticas, a partir de antigas em uma escala menor da posse da terra

como uma propriedade não cumulativa. Estas definições territoriais devem ter

feito pensar, em algum grau, que a terra bruta era simplesmente uma área do

espaço, mas estas definições dificilmente constituíam uma maioria ou em

muitos casos uma proporção significante dos usos da sociedade e

experiências do território, pelo contrário, a grande maioria das comunidades

foram estabelecidas tão gradativamente e em tão longa duração que mesmo

que a Territorialidade fosse usada para iniciar um assentamento, com a

passagem do tempo o lugar se tornaria uma entidade natural e unificada.

A nível político, o Velho Mundo não encontrou vastas porções de

terra e nem tinha necessidade ou habilidade para criá-las. Mesmo quando um

grupo conquistava outros, os conquistadores, com poucas exceções, tais como

o esforço Mongol para banir os chineses das estepes, não tentavam expulsar

110

Page 111: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

as comunidades preexistentes e suas relações de posse da terra. Para

qualquer valer alguma coisa, ela tinha que ser ocupada por agricultores e a

maioria das terras no velho mundo, era então ocupada. Desalojar populações

residentes, mesmo se um monarca ou Estado tivesse poder para isso,

significava que os refugiados deveriam somente ser removidos e isto era um

empreendimento tedioso e custoso. A conquista no velho mundo, antes da era

da exploração, envolvia subjugar e estabelecer suserania sobre as populações

agrícolas antigas e residentes, isto não envolvia desabrigá-las inteiramente,

mesmo quando estas populações eram vistas de forma inferior por seus

conquistadores.

Embora a Europa medieval, como todas as civilizações,

empregasse uma definição territorial das relações sociais em alguns graus, o

conceito predominante da Territorialidade no mundo antigo, antes do

Renascimento, era de uma definição social e a transição para uma consciência

de uma definição territorial para acompanhar o surgimento do Capitalismo,

teria sido mais gradual se não fossem as descobertas do Mundo Novo. O

Mundo Novo e, especialmente a América do Norte, apresentou aos poderes

europeus uma área vastas, distante, desconhecida e nova, isto significou que,

com a tecnologia limitada e o poder político ao seu dispor, os europeus

poderiam ainda “limpar” muito do espaço e formar territórios em todos os

níveis geográficos, com uma intensidade que era impossível de ser aplicada

no Velho Mundo.

A descoberta do Novo Mundo acelerou o uso de uma definição

territorial, mas levou tempo para este sentido se ligar às abstrações das

representações cartográficas do espaço. Além disso, a intensidade crescente

de uma definição territorial juntamente com o uso de um espaço métrico

abstrato não substituiu e pelo contrário complementou conceitos antigos.

Indicações de mudanças de atitude com relação ao território e ao espaço, são

encontradas em muitas facetas da nova política mundial, especialmente na

América do Norte. A evidência de se pensar no território como um espaço

esvaziável, está indicada cedo nas constituições e concessões americanas,

111

Page 112: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

que delimitaram suas reivindicações usando linhas métricas abstratas de

latitude e pela provisão por uma hierarquia de subterritórios administrativos,

antes que se fizesse o levantamento topográfico da terra e o assentamento.

Isto está indicado pelas alegações européias de que a Terra estava

virtualmente desabitada e pelo deslocamento da maior parte da sua população

aborígene, algumas para reservas. Isto é encontrado na mudança gradual da

definição de comunidade, que primeiro era quando um novo cidadão era

somente admitido com consenso da comunidade, passando para uma

admissão que requeria somente uma residência dentro do território da

comunidade, está indicado pela mudança de uma forma de representação em

que a comunidade era pensada ser uma entidade orgânica com um interesse

comum e assim precisava somente de um representante para dar voz às suas

necessidades, para uma representação proporcional baseadas em censos

periódicos, nos quais a comunidade é pensada mais como uma coleção de

indivíduos, do que como um corpo unificado. Evidências também são

encontradas na Constituição dos Estados Unidos, no uso da representação de

áreas como um instrumento para dividir facções e para balancear o poder, são

também encontradas no parcelamento territorial das terras ocidentais.

Os casos de se tratar o território como um molde esvaziável e

preenchível, multiplicam-se conforme nós se aproximamos do presente. E a

mesma tendência é vista quando nós olhamos os territórios em escalas

geográficas menores dentro das vizinhanças e dos edifícios. A diferença

primária é que aqui diferente do nível político que, devido os mapas de

coordenadas, podia ser representado como um espaço vazio para a partição e

aí preenchimento. A escala menor e os níveis arquiteturais, foram vistos como

esvaziáveis somente após terem sido reduzidos, somente após cada coisa ter

sido colocada em lugar separado. Esta separação não significa uma

diminuição da densidade, pelo contrário, significa primeiro isolar e segmentar

atividades específicas a serem contidas e isto, geralmente, resultou em uma

multiplicação e intensificação da Territorialidade.

112

Page 113: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Antes desta transformação, as ruas das cidades medievais da

Renascença e aquelas outras das sociedades pré-modernas, por exemplo,

estavam lotadas com empurra-empurra de numerosas atividades. Podia se

encontrar mercadores vendendo as suas mercadorias, pedintes, famílias se

socializando, pregoeiros espalhando as notícias, julgamentos públicos e

enforcamentos tudo isso ocorrendo ao mesmo tempo nas ruas e nas praças.

Mas, conforme os interesses comerciais se tornaram mais importantes e

conforme os efeitos do capital comercial expulsou mais e mais os

camponeses, houve um desenvolvimento maior das restrições sobre o acesso

aos espaços públicos, como estradas e praças.

Regras foram criadas, proibindo os mercadores de negociar as

suas mercadorias nas ruas, restringindo os pedintes em certos locais,

proibindo encontros sociais e em geral limitando o uso das ruas e rodovias

somente para o transporte de pessoas e de mercadorias de um lugar para o

outro. Conforme as atividades nas ruas diminuíram e ficaram limpas para os

transporte, a cidade se tornou mais e mais economicamente diferenciada, as

fontes de água foram limpas para armazenagem, as trocas de estoque foram

estabelecidas em áreas acessíveis e com o Capitalismo Industrial a cidade

assumiu a sua forma moderna de áreas residenciais e de distritos de produção

e de negócios. Uma redução correspondente do lugar, através da isolação e

da segmentação, pode ser encontrada a nível da arquitetura doméstica.

Antes da revolução comercial, a principal organização

arquitetural, até mesmo das maiores casas, não era baseada em uma

designação cuidadosa das funções específicas para compartimentos

específicos ou locais, ao invés disso, os lares eram subdivididos em quartos

que podiam servir para múltiplas funções. E na maioria dos casos, cada

compartimento levava um outro, os poucos corredores centrais existiam

somente para o acesso, mas conforme as atividades nas ruas e lojas se

tornavam reduzidas, também elas se tornavam especializadas dentro da casa.

Novos projetos para mansões, continham corredores especificamente para o

movimento e acesso e os compartimentos se tornavam mais e mais

113

Page 114: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

específicos para tipos particulares da funções, logo, casas mais modestas

possuíam plantas-terras especializadas.

A redução e o conceito eventual de esvaziar os locais, ocorreu

mais dramaticamente no ambiente de trabalho. Conforme a figura 3.7 sugere,

uma diferença básica entre o Capitalismo Mercantil e o Industrial, é que neste

último, primariamente, as ferramentas e os locais de produção pertenciam ao

capitalista ao invés de pertencerem aos trabalhadores. Os trabalhadores agora

têm que trabalhar fora de casa, com máquinas que não são deles, isto implicou

que o capitalista, tinha que definir, supervisionar e controlar os mínimos

detalhes do processo de trabalho. Os trabalhadores vinham para fábricas em

horários definidos e eles trabalhavam em locais específicos dentro das fábricas

e em máquinas específicas por intervalos de tempo específicos. Eles não

podiam deixar as suas estações de trabalho sem a permissão e eles não

podiam variar o ritmo do trabalho. Os trabalhadores estavam constantemente

sob os olhares do supervisor e os corpos dos trabalhadores eram pouco mais

do que apêndices das máquinas.

Uma vez que o trabalho agora foi separado de casa e os

membros da família agora estão fisicamente separados durante as horas do

dia, outras instituições geograficamente distintas surgem para suprir os velhos

e os novos serviços para os domicílios. Novas formas territoriais, surgem pra

produção, consumo e vigilância, escola contendo salas de aulas e carteiras

com os assentos nomeados e ordenados, prisões subdividas em celas e

blocos de celas, hospitais e asilos com alas e vilas ordenadas de quartos e

camas. Uma coisa comum para muitas dessas estruturas foi o arranjo dos

lugares que facilitaram o acesso hierárquico, a supervisão e controle.

A divisão crescente do trabalho e a segmentação espacial dos

elementos da vida, reduziu as atividades no espaço. Somente um ou no

máximo uns poucos evento definido ocorreu em local cuidadosamente

preparado. Em muitos casos, os processos que eram segmentados e

organizados, eram tão incomuns que as estruturas designadas para contê-los

114

Page 115: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

não eram adequadas para nada. Quando os processos não eram mais

abrigados no prédio restava a estrutura vazia, abandonada a menos que o

edifício fosse totalmente renovado, mas a maioria dos processos, embora

grandemente subdivididos, segmentados e reduzidos, podiam ser abrigados

dentro de um tipo geral de arquitetura, desde que as partições interiores

fossem flexíveis o suficiente para permitir uma reorganização. As mesmas

estruturas básicas, somente com leves modificações, poderiam então servir

para uma variedade de propósitos, este era o caso para instituições tais como

hospitais, asilos, escolas, prisões ou fábricas. Mesmo os prédios de

apartamento, eram projetados com partições interiores moveis, tal que o

ocupante poderia organizar o espaço interior conforme ele desejasse. Este

sentido de um containner flexível e conceituamente esvaziável, foi incorporado

na língua da arquitetura, os arquitetos ainda construíam edifícios, mas agora

eles o chamavam de volumes ou espaços.

O poder para criar formas arquiteturais versáteis e capazes de

subdividir, organizar e reorganizar cada aspecto interior fez do universo da

construção, algo ao mesmo tempo, conceituamente e realmente, esvaziável e

um espaço reusável ou containner. Ver e usar o espaço como um containner,

a nível arquitetural, ladeia a consciência do espaço geográfico como uma

superfície ou volume na qual os eventos ocorrem. O mesmo sentido

pertencem a ambas as escalas, uma vez que as sociedade moderna possui o

poder, através do territorial, para repetidamente esvaziar, preencher e

reorganizar os eventos no espaço, isto significa que os eventos e o espaço são

conceituadamente separáveis e que um apenas está relacionado com o outro.

As pessoas, as coisas e os processos não estão ancorados a lugar, eles não

são essencialmente e necessariamente do local.

A sociedade moderna é dinâmica, ela coordena populações

vastas e móveis e isto faz locais distantes acessíveis, através de sistemas

uniformes de transporte, além disso a sociedade moderna exalta a ciência e a

tecnologia e estes modos vêem o espaço tão abstrato e métrico quanto a

geometria. Não de se surpreender que a visão técnica da sociedade do

115

Page 116: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

espaço, se torne uma importante, se não a primária, visão prática e

experiência do espaço. De maneira alguma, entretanto, nossa experiência de

lugar é um sentido métrico abstrato, ela é, entretanto, o componente primário

na nossa visão pública e ela afeta até mesmo as nossas experiências pessoais

do mundo. As dinâmicas da sociedade moderna, tornam difíceis as coisas

ficarem paradas criarem raízes, ver os lugares como reuniões de eventos, leva

tempo e em nossa sociedade as coisas mudam rapidamente. Não admirem,

então, que até mesmo a disciplina da Geografia, que está preocupada

principalmente com o lugar e com o espaço, tenha acabado com o ambiente

físico, dentro do espaço métrico isotrópico. Ela também tem enfatizado de

maneira genérica lugares, ao invés de maneira específica e também reduziu

relações físicas em distâncias métricas.

O papel da Territorialidade em forma um sentido de um espaço

abstrato esvaziável, é somente um dos muitos efeitos territoriais possíveis que

podem ser esperados na sociedade moderna. Em adição a isto a teoria sugere

que a Territorialidade, pode ser usada pela sociedade moderna para

desenvolver estruturas burocráticas e para mascarar as fontes do poder. Estes

efeitos e suas relações, para o espaço métrico abstrato, serão examinados

mais tarde quando nós consideraremos o desenvolvimento do sistema

territorial americano e o local de trabalho.

Ao invés de explorar a outra linha divisória descrita no começo

deste capítulo e na figura 2.3, que é a transição para a civilização, e ao invés

de considerar as diferenças nos usos territoriais entre as diferentes civilizações

pré-modernas, o objetivo deste livro será focalizado em questões da

modernidade. Mas, é importante lembrar que nem todo uso significante da

Territorialidade, pode ser ligado diretamente a mudanças na economia política.

As conexões descritas na figura 3.3, que formaram as bases deste capítulo,

sugerem que vários efeitos territoriais, podem ser esperados de ocorrerem em

qualquer sociedade e que algumas características modernas podem ser

encontradas na civilizações pré-modernas e vice-versa. Além disso, a relação

na figura 3.2, bem como a interconexões gerais na figura 3.1, indicam que até

116

Page 117: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

mesmo quando os efeitos territoriais estão ligados às relações econômica-

políticas, ligação nem sempre é forte. A Territorialidade, especialmente dentro

das organizações, pode possuir uma dinâmica própria. Uma organização pode

usar a Territorialidade e se desenvolver e mudar (conforme ilustrado na figura

2.2), mesmo quando a maior economia-política da sociedade não o faz. Para

ilustrar esta conexão complexa entre os efeitos entre os efeitos territoriais

dentro de uma organização e entre a organização e a sociedade, nós

examinaremos os usos modernos e os não tão modernos da Igreja Católica,

em aproximadamente 2.000 anos de sua existência. A Igreja é um arquétipo

da hierarquia organizacional e uma das organizações territoriais mais velhas e

mais explícita. Ela exemplifica, a persistência e a mudança no uso territorial,

através de contextos sociais sucessíveis.

4.A Igreja.

A Igreja Romana Católica contém, os exemplos mais complexos

dos efeitos territoriais. Durante os seus quase 2.000 anos de história, ela

formou um sistema territorial hierárquico elaborado, que tem influenciado os

objetivos da Igreja e a sua política. Até o final da Idade Média, a Igreja era

mais avançada do que a maioria das instituições do seu tempo. Mas, desde o

surgimento do Mundo Moderno, segmentos importantes da organização da

Igreja, começaram a ser pensado de forma conservativa e até mesmo arcaica.

E através de sua história, a Territorialidade tem desempenhado um papel

importante. O que fez a Igreja territorial e como a Territorialidade tem afetado a

natureza da Igreja?

Territórios e a Igreja visível.

A Igreja Católica Romana, começou com um líder carismático e

com um grupo de seguidores fracamente organizado e desenvolveu-se em

uma das maiores, mais claramente articuladas organizações hierárquicas e

burocráticas. As burocracias se desenvolvem, para ajudar a alcançar os

117

Page 118: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

objetivos de uma instituição. Mas, freqüentemente os oficiais da organização,

começam a ter interesses próprios, que se divergem daqueles da instituição.

Tais oficiais subvertem o papel da burocracia, para conseguir os seus próprios

escritórios e status. As ambições desses oficiais são melhor servidas, quando

se fazem os outros acreditarem que suas visões de hierarquia e burocracia

são componentes indispensáveis da organização. A história da Igreja Católica

Romana, tem si do particularmente sucestível a estes conflitos de interesses,

especialmente porquê os objetivos originais e guias da Igreja - a salvação das

almas e a promulgação da virtude - são coisas abstratas e intangíveis. Críticos

da Igreja, argumentam que a hierarquia católica evitou que a Igreja alcançasse

a sua missão religiosa. As autoridades da Igreja não concordam. Elas alegam

que de fato, a sua organização e hierarquia são coisas sagradas e partes

essenciais da Igreja e de sua missão. Ainda mais, mesmo para os apóstolos

da Igreja, a união dos ideais da Igreja e a organização é, geralmente, uma

coisa difícil.

Os interesses hetero e o prático da Igreja e suas interrelações

são refletidos na noção geral de que a Igreja tem duas naturezas. A primeira

inclui o sistema abstrato da crença e valores encontrados nas escrituras, os

quais a Igreja se propõe a representar e aos quais aqueles que já estão no céu

aderiram. Isto será chamado de a Igreja invisível. A segunda se refere as

instituições sociais da Igreja e engloba seus membros, seus oficiais, suas

regras e regulamentos, suas estruturas físicas e propriedades. Isto será

chamado de Igreja visível ou física. Os prédios da Igreja, as propriedades, os

lugares santos, as paróquias, dioceses são elementos na Igreja visível. Não

são coisas simplesmente localizadas no espaço. Elas são lugares separados

por fronteiras, dentro das quais a autoridade é exortada é o acesso é

controlado. Em outras palavras, elas são territórios.

Tipos de territórios da Igreja.

118

Page 119: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A Igreja reconhece e controla muitos tipos de território, mas nós

focalizaremos primariamente em dois: aqueles que são separados como locais

santos e prédios da Igreja, e aqueles que estão ligados às estruturas

administrativas da Igreja, tais como paróquias, dioceses e arquidioceses. Os

lugares santos da Igreja Romana Católica, incluem a localização de eventos

milacurosos, a localização física e a estrutura dos prédios da Igreja. Os prédios

e suas localidades são considerados santos e desde o quarto século da era de

Cristo, eles têm sido consagrados. Todos os locais santos, não igualmente

santos ou sagrados para os católicos. Algumas igrejas são mais santas; além

de serem consagradas, elas têm que ser construídas próximo dos locais de um

evento milacuroso. E nem todos os milagres, são olhados com o mesmo

carisma. Geralmente, a Igreja tem maior consideração com lugares que têm

conexão com Cristo e o Apóstolos. No topo da lista estão os lugares como a

Terra Santa, a Igreja do Santo Sepulcro em Roma e o local da tumba de São

Pedro.

Os locais santos estão ligados com a hierarquia da Igreja porque,

por um lado, os locais mais santos, Geralmente, têm os oficiais de cargo mais

alto na Igreja a cargo deles e, por outro lado, a autoridade de um oficial é em

parte derivada de se ter autoridade sobre um local santo. A tumba de São

Pedro em Roma, dá um peso extra aos bispos de Roma para torná-los

também vigários de São Pedro.

Em escalas geográficas menores, as igrejas católicas são

subdivididas em áreas de vários graus de santidade. Embora, as formas de

seus prédios variem de planos longitudinais para planos centrípetas, elas

rodas contém lugares similares, divididos de acordo com a santidade (figura

4.1). No geral, nós encontramos primeiro o santuário com seu lugar mais

santo, o altar, e então o seu lugar para o coro e presbíteros, em segundo, a

nave que o lugar para a congregação. Aqui também existe uma relação entre a

posição na hierarquia e acessibilidade geográfica. Durante as cerimônias da

Igreja, somente aqueles que são oficiais da igreja têm acesso ao santuário, o

119

Page 120: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

altar é acessível somente para o maior oficial da igreja, enquanto que a nave

é reservada para as pessoas.

O segundo tipo de território da Igreja, que nos diz respeito está

em uma escala geograficamente maior e se refere às unidades associadas

com a organização da Igreja Episcopal (Embora os sistema monásticos

estivessem intermeados com o Episcopal, é este último ao invés do primeiro

que será o foco primário da nossa atenção). A Igreja Católica divide a maior

parte do seu reino em linhas de hierarquia territorial, tais com paróquias,

dioceses, arquidioceses e em algumas áreas em sés metropolitanas (ver

figuras 4.2 e 4.3). Cada um desses territórios é comandado por um oficial da

Igreja, cuja posição no governo da Igreja corresponde à posição na hierarquia

territorial. Os padres têm jurisdição sobre as paróquias, os bispos sobre as

dioceses, os arcebispos sobre as arquidioceses e o Papa sobre todas. A

relação de curso não é perfeita, nem todos os padres têm suas própria

paróquias. E o bispo é o padre da Catedral da sua diocese. Diferente dos

prédios da Igreja e dos lugares santos, as unidades territoriais na segunda

categoria, não são santas. Mesmo assim, elas têm se tornado tão importante

para a Igreja visível quanto são os prédios e os lugares santos.

Estes dois tipos de território, têm muito a ver com a organização

interna da Igreja como uma organização religiosa e eles serão o foco da nossa

atenção. Suas histórias são importantes e seu desenvolvimento, multiplicação

e organização hierárquica serão mostrados estarem fortemente associados

com o desenvolvimento da organização da Igreja. Conforme os críticos têm

apontado, a religião não é o único interesse da Igreja. A Igreja também é uma

instituição política e econômica. Estes outros papéis inevitavelmente afetam as

funções de ambos os tipos dos territórios da Igreja e criam outro tipos também.

Em alguns casos, as funções política, econômica e religiosa da Igreja visível e

seus territórios conduzem a fontes múltiplas e conflitantes de controle. Por

exemplo, a adoção do Cristianismo como a religião de Estado pelo Império

Romano, não somente deu status aos lideres oficiais da Igreja e apressou a

burocratização da Igreja, mas também colocou numerosas unidades territoriais

120

Page 121: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

nas mãos da Igreja. As dioceses Romanas eram territórios com múltiplos

propósitos somente uma das suas funções era religiosa. Além disso, da

metade do quarto século até o final do século VI, os limites geográficos da

Igreja eram os limites práticos do Império. As políticas de dissolução do

Império Romano, estavam longe de sobrepujar as diferenças teológico-

doutrinais como causas do cisma da Católico-Romana com a Ortodoxa

Oriental. Foi uma decisão política dos Papas se aliarem ao ocidente, para

preencher o vazio político deixado pelo colapso do Império. Ligar a Igreja

Católica às fortunas do ocidente, abre os caminhos para os territórios da Igreja

se tornarem uma parte da economia política feudal.

Uma paróquia na Idade Média era, geralmente, uma unidade

político-administrativa e econômica, bem como uma religiosa. Os lideres

seculares na Idade Média exerciam um controle sobre os compromissos dos

padres e bispos e as rendas da propriedade da Igreja e território. Os ricos

fundaram igrejas e deram propriedades para o seu suporte. Em retorno, eles

queriam manter o controle sobre elas. A despeito destas transações seculares,

a Igreja se tornou um importante Estado politicamente soberano com poder

sobre grandes territórios políticos como na formação dos Estados Papais que

começou com as doações de Pepin no século VIII. O efeito destes

empreendimentos políticos e territórios sobre a Igreja foi extremamente

importante. Muito da sua implicação está refletida na mudança de caráter e

funções dos tipos de organizações territoriais a serem considerados - os

territórios Episcopais e os lugares santos e prédios.

A história da Territorialidade dentro da Igreja é complicada,

mesmo quando a investigação é restrita há somente dois tipos de territórios.

Mas, a união da teoria da organização e a Territorialidade, discutida no

capítulo 2, sugere muito efeitos territoriais gerais, que podem ser antecipados

mesmo em um contexto complexo como na história da Igreja. No geral, nós

podemos esperar que a teoria nos guie para um entendimento do uso do

território pela a Igreja. Nós podemos esperar que a Territorialidade ande de

mãos dadas com o desenvolvimento da organização da Igreja e hierarquia.

121

Page 122: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Assim como a hierarquia aumentou, também aumentou a organização.

Especificamente, nós podemos esperar ver uma associação positiva entre o

desenvolvimento do território da Igreja e as dimensões sociológicas da

especialização, padronização, formalização e o alcance organizacional do

controle. Nós também podemos esperar que a Territorialidade tenha ajudado a

criar algumas das facetas modernas da organização da Igreja, tais como a

impersonalidade do escritório e uma intensa definição territorial das relações

sociais. Nós também podemos antecipar que as dinâmicas internas e os

pontos extremos da Territorialidade, tal como ilustrado na figura 2.2, têm

influenciado o desenvolvimento da estrutura da Igreja e os objetivos dela.

Assim, a Territorialidade da Igreja pode ser esperada de se ter criado má

escolha geográfica e desperdícios e ter se tornado um fim em si mesmo.

Estes e outros efeitos territoriais, mencionados no capítulo 2,

guiaram a nossa discussão sobre a Igreja. Mas, duas qualificações devem ser

mantidas em mente. Primeira, focalizar as mudanças organizacionais e

territoriais não significa que estas características possam ser isoladas

prontamente e quantificadas. Os registros da Igreja são vastos mas

incompletos, os historiadores da Igreja não os têm reunidos em termos dos

critérios da teoria organizacional ou com vistas para os efeitos territoriais.

Estas limitações significam que as mudanças entre o território e a organização,

mencionadas acima, podem ser apenas sugestivas. Segundo, uma que nós

estamos concentrando em cima do território da Igreja e somente em dois tipos,

nós também devemos enfatizar somente uma porção do caráter organizacional

da Igreja - a sua estrutura organizacional hierárquica. Isto é claro, é uma faceta

importante da Igreja, mas nós devemos ser cuidadosos para não esquecer que

a Igreja e sua organização possuem outras características. O Clero, por

exemplo, vê a si mesmo como profissionais e profissionais, geralmente, têm

objetivos que diferem dos burocratas. A Igreja também tem pensado nela

mesmo como uma família. Os bispos tendem a cuidar de seus paroquianos,

como um pai cuida das suas crianças, as freiras são “noivas” de Cristo e os

clérigos na Igreja são, geralmente, parte da família no sentido de que eles

vivem juntos e, em geral, comunalmente.

122

Page 123: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A Igreja é, então, muitas coisas, nada menos é um corpo

religioso interessado em assuntos éticos e todas estas características têm

afetado o desenvolvimento da estrutura da Igreja. Entretanto, a Igreja emergiu

como uma das mais extensivas, duradouras organizações burocráticas

hierárquicas no mundo e sua estrutura, por sua vez, tem afetado os seus

objetivos. Sob a luz dos objetivos mundiais da Igreja, está o de mais

impressionante nesta instituição, ao contrário dos outros tipos, tais como

exércitos e governos, que têm declaradamente conceitos mudanos, ela se

tornou tão claramente hierárquica e burocrática.

O Cristianismo primitivo.

Durante a maioria dos 300 anos da história da Igreja, as

comunidades cristãs eram pequenas, variadas no caráter, geograficamente

distantes, compostas geralmente das classes baixa e média e freqüentemente

perseguidas. Elas existiam em uma sociedade contendo outras religiões, que

eram hierarquicamente organizadas com claras unidades territoriais e dentro

de um império que era ele próprio uma mistura de organizações e territórios.

Assim, dentro deste contexto, nós encontramos forças poderosas na Igreja

primitiva resistindo a criação da hierarquia de uma Igreja visível e de um

território. Mesmo quando a Igreja primitiva professou a necessidade pela

organização ela era, geralmente, expressa em termos de modelo de família.

Mas, a despeito desta resistência a organizações mais formais e impessoais e

a uma estrutura da Igreja visível mais clara, os primeiros 300 anos do

Cristianismo mostram um movimento perceptível e relutante partindo de uma

coleção fracamente organizada de seguidores, para um grupo mais organizado

formalmente, impessoalmente e hierarquicamente. Este movimento, foi

acompanhado pelos aumentos na Territorialidade em ambas as escalas, tal

que pelo ano 300 da era de Cristo, ao invés de uma comunidade,

simplesmente, residir e adorar um lugar, os cristãos estavam a caminho de

123

Page 124: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

usar a Territorialidade para ajudar a definir a sua comunidade, os seus lugares

de adoração e suas relações entre si.

O contexto judeu.

O Cristianismo é um ramo do Judaísmo. Cristo e a maioria senão

todos os Apóstolos eram Judeus. A maioria dos cristãos originais, eram Judeus

convertidos e trabalho original da Igreja aconteceu em comunidade judaicas.

Por muitos anos, não estava claro se o Cristianismo era somente mais uma

das seitas judaicas ou um culto misterioso ou realmente outra religião. A

ligação entre o Judaísmo e o Cristianismo tem um grande efeito na

organização cristã. Embora, o Judaísmo fosse uma religião de Estado, ela

gerou numerosos grupos dissidentes, um dos quais foi o Cristianismo primitivo.

O Cristianismo primitivo era, em parte, uma rebelião contra a rígida estrutura

hierárquica do Judaísmo. É significante notar que o Judaísmo também tinha

uma rígida estrutura territorial. A ligação entre as duas é importante porque os

primeiros cristãos, geralmente, criticavam uma através da outra.

O Judaísmo tinha importantes dilemas, os quais encontravam

eco, principalmente, na distinção dos cristãos entre a igreja visível e a invisível.

Os Judeus acreditavam que havia somente um Deus e que ele era

onipresente. E que ainda ele parecia preferir um povo - os Judeus - e parecia

residir na Terra Santa e mais precisamente no Templo. O Templo era o ponto

focal entre o paraíso e a terra e seu interior santo era o mais santos dos locais.

O Templo foi oficialmente sancionado, como o centro da adoração religiosa pra

todos os Judeus. Os judeus, além disso, acreditavam que Deus era acessível a

todo homem, que cada um poderia conhecê-lo através da adoração e da

obediência a seus mandamentos. Eles desenvolveram um elaborado

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Page 125: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

sacerdócio, que trabalhava no Templo e que servia como intermediário entre

Deus e o homem.

A relação entre os Judeus, a terra e Deus é complexa. Deus

tomou Israel como seu povo escolhido. Era uma terra santa, a qual os judeus

deviam fazer por merecer, seguindo os ensinamentos de Deus. Uma das

maneiras de fazer os Judeus aderirem à vontade de Deus, era através do

desenvolvimento de uma hierarquia da Igreja reforçada pela autoridade do

Estado. Quanto mais próxima fosse essa ligação, mais emaranhada se tornava

a Territorialidade do poder político e da prática religiosa. Uma podia ser usada

para suportar a outra. Como uma religião de Estado, os pronunciamentos

sobre os lugares de adoração podiam ser impostos e a concentração sobre um

lugar primário, poderia ajudar a focalizar a autoridade religiosa e a concentrar

politicamente e unificar o Estado. É claro que o judaísmo parece ter levado isto

ao extremo.

O Templo para os Judeus era o lugar mais sagrado de todos. Os

Judeus de Israel eram esperados ali para fazerem as suas adorações e sues

sacrifícios. Embora, Eretz Israel fosse um país pequeno, era difícil para os

Judeus de fora de Jerusalém fazer a viagem mais do que umas poucas vezes

por ano. É provável que outros locais de adoração tenham surgido, mas não

há evidências de que tais lugares fossem encorajados pela ordem

estabelecida. E assumindo que eles eram tolerados, suas funções seriam

restritas porque a Bíblia contém referências à tentativa pelo Judaísmo

organizado de extinguir lugares competidores de sacrifício, embora talvez não

de oração.

A origem e o propósito das primeiras sinagogas não está claro.

As sinagogas são mencionadas somente no final do Velho Testamento e no

Novo. Mas, elas eram escolas, lugares de oração ou lugares de sacrifício?

Parte da dificuldade é porque o termo é grego e parece ter significado um ato,

e então mais tarde um lugar ou uma assembléia. O termo Hebreu para

sinagoga é ‘bet ha-knesset’, e significava originalmente uma casa de reunião.

125

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Um termo de acompanhamento ‘bet ha-midrash’significava lugar de estudo.

Vários estudiosos acreditam que qualquer que fosse as suas funções, a

sinagoga pode ter sido uma instituição antiga contemporânea com o Templo..

Mas, a maioria sugere que ela começou no exílio da Babilônia e que continuou

entre os Judeus que foram viver fora de Eretz Israel até o tempo de Cristo,

quando ela foi também fundada dentro da Terra Santa. Esta interpretação é

sensata, porque o Judeu diáspora precisava de algum lugar dentro do Templo

inacessível. Embora, o propósito para que servia a sinagoga antes de Cristo

ainda permaneça não claro, nós sabemos que após a destruição do Templo e

no ano 70 na era de Cristo as sinagogas foram o principal foco da vida social e

religiosa dos Judeus.

Além do Templo, o Judaísmo também desenvolveu uma rigorosa

hierarquia dos escritórios religiosos, que eram preenchidos por famílias

seletas. No topo estavam os Cohens os sacerdotes que conduziam os serviços

e de onde se selecionava um alto sacerdote ou cabeça da religião. Havia os

Levitas que assistiam no Templo, agiam como guarda dos portões e formavam

o acompanhamento musical para os serviços. Também haviam os grupos que

providenciavam serviços específicos à manutenção e ao ritual do Templo.

O próprio prédio estava nas mãos da hierarquia religiosa. A

estrutura continha sub-áreas, algumas mais sacra do que as outras e o aceso

para os locais mais sacros correspondia a posição de alguém na hierarquia

religiosa. Em Crônicas 1, 28 e em Crônicas 2,3 e 4 são encontradas as

especificações divinas do primeiro Templo, consistindo de um vestíbulo e de

um santuário interior: o lugar mais sagrado de todos. Planos para um segundo

Templo são encontrados em Ezequiel 40-7 e um novo Templo foi construído

após o retorno do exílio da Babilônia. No tempo de Heródes, este segundo

Templo incluía uma cerca ao redor do projeto original de dois compartimentos

do vestíbulo e do interior mais sagrado de todos.

O cercado de alguma forma podia ser ligado à comunidade,

englobando uma variedade de câmaras que eram como escritórios. O espaço

126

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aberto ao sul do Templo era disponível para os Gentis. E havia mais outro,

uma área menor que somente os homens judeus poderiam entrar e ainda uma

outra restritas aos sacerdotes. O santuário interior do Templo, era restrito ao

alto sacerdote e até mesmo ele só tinha permissão de entrada no dia da

expiação dos pecados.

No tempo de Cristo, a teologia judaica se juntou ao

universalismo, mas na prática o Judaísmo era uma organização hierárquica

com uma estrutura territorial hierárquica. Os Judeus ocupavam um Estado

territorial que impunha uma religião de Estado. O Templo era um território de

adoração e o próprio Templo continha uma hierarquia de sub-territórios com o

lugar mais sagrado reservado somente para os mais altos sacerdotes. A este

respeito o Judaísmo não era diferente das outras religiões da época. Lugares

sacros e a hierarquia religiosa eram partes fundamentais das vizinhanças e

das religiões preexistentes no Oriente Médio e também eram importantes

facetas da religião de Roma. A organização hierárquica religiosa, entretanto,

era somente uma fração pequena da hierarquia dentro da civilização Romana.

Assim como o Judaísmo tinha seus dilemas, também tinha o

Cristianismo original. Um em particular - a matéria versus o espiritual - é

especialmente importante para a organização da Igreja. Os primeiros cristãos

eram fortemente escatológicos; eles tentavam vigorosamente não serem

influenciados pelos oficiais, lugares santos e territórios. O Novo Testamento

contém numerosos pronunciamentos contra a organização religiosa. Paulo

escreveu aos Corinthians, que eles próprios, eram um Templo do Deus vivo

(Corinthians 2 ,6:16). De acordo com Matheus, Jesus não gostava de

demonstrações públicas de oração; aqueles que adoram rezar de pé nas

sinagogas e nos cantos da ruas ( Matheus 6:5). Ao invés disso, quando

desejar rezar, entre no seu quarto, feche a porta, ore ao pai que está em

segredo e pai qua está em segredo lhe dará a recompensa abertamente

( Matheus 6:6); e onde dois ou três se reunirem em meu nome ali eu também

estarei entre eles ( Matheus 18:20).

127

Page 128: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

É provável que tais posições contra a organização e a hierarquia

estivessem sendo adotadas por grupos dissidentes Judeus, alguns dos quais

surgiram contra a hierarquia e a religião de Estado, enquanto outros queriam

purificar e reformá-la. Os samaritanos por exemplo tinham construído o seu

próprio Templo em Gerizim e os Essenos se mudaram do templo para Qumran

no Mar Morto. Lá eles estabeleceram um Templo alternativo onde eles

adoraram por m determinado tempo, esperando retornar para Jerusalém

quando o Templo tivesse sido purificado propriamente. Quanto mais tempo

eles permaneciam lá, mais eles acreditavam que Deus seria atraído para

aquele lugar contendo uma comunidade de verdadeiros seguidores. Esta idéia

encontrada nos seus últimos escritos, antecipou que as concepções dos

primeiros cristãos de templo ou de igreja não era de um prédio, mas de uma

comunidade de adoradores; uma definição social do território. Além disso, os

sacrifícios fora do Templo levaram a fundação da aceitação de uma noção

cristã mais geral de um sacrifício simbólico. Estes conceitos incipientes foram

compatíveis com a confiança dos Judeus diáspora nas sinagogas no local do

Templo, como um local de adoração e assembléia. A sinagoga era situada em

qualquer lugar que os crentes se reunissem. Estes experimentos Judeus

dissidentes deram um passo na direção da visão cristã primária de um sentido

de comunidade cristã não-física e não-territorial.

A resistência a hierarquia Judaica, a religião de Estado, e ao

território religioso reforçou a reivindicação cristã pela universalidade. Isto fez a

conversão ser mais fácil. Isto fez as comunidades cristãs serem mais flexíveis.

Mas, também fez O Cristianismo mais incomum e mais difícil para Roma

compreender. Enquanto isso, a perseguição dos Romanos aos cristãos fez dos

cristãos mais conscientes da sua própria identidade e aumentou a

necessidade pela organização, pela reação primária, se esse fosse o motivo,

porque os cristãos primeiros aceitaram melhor a organização e hierarquia é

que, como todos os grupos, eles precisavam de disciplina interna para

continuar a existir. E o Novo Testamento podia ser usado tão facilmente para

justificar a autoridade como podia ser usado para condená-la. As autoridades

construíram seus pronunciamentos em ciam do Novo Testamento, para

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Page 129: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

justificar e estender as suas posições. Apesar da resistência original e sincera

à rígida hierarquia e organização, e apesar do fato de que as descrições da

estrutura da Igreja fossem originariamente tomadas em termos de uma

organização familiar, mais e mais as hierarquias e as características

impessoais começaram a entrar na organização da Igreja: primeiro para definir

as relações entre as comunidades, e segundo para estipular relações entre

elas. Acompanhando estes desenvolvimentos na organização estava uma

maior territorialização da Igreja.

A organização Cristã Inicial.

As comunidades cristãs iniciais estavam geograficamente

dispersas e geralmente eram mini-culturais. A uniformidade em sua

organização não podia ser esperada no começo. Talvez estas comunidades,

que eram originariamente em maior parte de Judeus, pode ter retido alguma

coisa da estrutura comunal Judaica. As comunidades Judaicas diaspóricas,

geralmente, tinham o conselho dos mais velhos para manter a comunidade

junta e para reforçar a disciplina. Este conselhos de presbíteros eram,

geralmente, conduzido por um presidente ou, nos termos cristãos, por um

bispo. Naquelas primeiras Igrejas estabelecidas pelos Apóstolos, os bispos

podem ter sido selecionados pessoalmente, mas em qualquer caso o

presidente ou o bispo, em conjunto com os presbíteros, formavam um corpo de

governo natural dos mais velhos. O Novo Testamento contém poucos termos

de organização consistente com o velho. Paulo, por exemplo, não a palavra

sinagoga nem arquinogogos, nem os títulos Judeus para clérigo. E o papel das

mulheres na sociedade cristã primária é mais liberal do que o papel

desempenhado por elas no Velho Testamento. Fosse uma mistura do velho e

do novo, está claro que os padres da Igreja tinham uma organização em mente

- uma que era provavelmente sensível aos diferentes costumes regionais e às

heranças dos primeiros convertidos. Em Corinthians 1,12:28-30, Paulo

repetidamente se refere aos papéis dos Apóstolos, dos profetas e dos

professores.(Esta lista muda levemente em Corinthians 1, 12:8-10; Romanos

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Page 130: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

12:6-8; e Efésios 4:11). A discussão continua em Clemente 1, 41-2 (escrito

circa na época de Cristo no ano 90), onde os Corinthians são apressados a

seguir a hierarquia. As epístolas de Inácio (circa no ano 100 na era de Cristo)

feitas a várias igrejas menciona um estabelecimento de um governo da Igreja

uniforme baseado no papel do bispo, propriamente estabelecido, ordenado e

assistido por diáconos e presbíteros. Nestes e em outros documentos

contemporâneos nós encontramos preocupações sobre os heréticos, sobre

pregadores itinerantes que não propriamente ordenados e entraram nas

congregações e nós encontramos em geral uma urgente necessidade para

uma organização da Igreja.

Estas cartas foram escritas para as comunidades por homens da

Igreja altamente respeitáveis que eram de outras comunidades, e esse pessoal

“de fora” fazia as visitas, o que sugere a voluntariedade de uma comunidade e

de seu bispo em reconhecer e submeter-se e uma autoridade maior. No final

do século II, a hierarquia tanto dentro de uma comunidade como entre

comunidades estava se tornando solidificada e explícita. Isto é revelado por

exemplo os registros dos encontros dos conselhos. Estes conselhos seguiram

um modelo após o encontro dos Apóstolos que ocorreu entre o ano 50 da era

de Cristo e 52 em Jerusalém. Provavelmente nenhum outro conselho foi

realizado no primeiro século (não há registro deles), mas há registros de vários

no segundo século e mais ainda no terceiro. As disputas entre e dentro das

congregações eram geralmente discutidas nestas assembléias locais e

regionais, a partir delas pode ser compreendida a formação da hierarquia da

Igreja. Por exemplo, os conselhos da África, realizados em Cartage e

começando no ano de 251, foram convocados por Cipriano e ilustram que

havia naquele tempo uma conexão hierárquica estabelecida entre os oficiais

da Igreja de Roma e os oficiais nas capitais das províncias. O propósito do

conselho foi endereçado a questão se um grupo cristão dissidente dentro da

comunidade estava correto em tirar o poder de seu bispo Cipriano. O problema

surgiu quando Cipriano teve que deixar sua congregação pra escapar da

perseguição Romana. Enquanto estava fora, membros dissidentes da

congregação depuseram Cipriano e elegeram o seu próprio bispo e então

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Page 131: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

apelaram à Roma para uma confirmação. Roma não aprovou e Cipriano

convocou um conselho para decidir então que era o legítimo bispo. Este

conselho em Cartage saiu em favor de Cipriano e pediu pelo consentimento de

Roma, que foi então dado. As decisões deste e de outros sínodos eram

geralmente enviadas pra Roma para serem aprovadas, o que indica que

mesmo neste período primário o ocupante daquela sé era considerado

primeiro entre os iguais.

Lá pelo terceiro século, nos termos de Weber, a Igreja estava a

caminho de desenvolver hierarquias definidas dos escritórios. Cada

comunidade estava começando a ter uma esfera definida de competência em

um senso administrativo e o protetor do escritório estava se tornando sujeito à

disciplina sistemática. Mas, a burocracia da Igreja estava ainda embriônica e

facetas particularmente modernas, como a impersonalidade ainda não

estavam em evidência. As comunidades eram pequenas e dispersas. O bispo

era selecionado pela congregação e era suposto a servir toda vida. Ele e os

membros da Igreja local, conhecia um aos outros, sua vivência não era

derivada somente do seu ofício. E embora ele fosse consagrado por outros

bispos, ele e os outros oficiais da Igreja não precisavam de treinamento formal

para exercer o ofício. Dada esta organização emergente e largamente pessoal,

o que pode ser dito da sua Geografia? A Igreja primária usava a

Territorialidade para reforçar a disciplina e a coerção? Os bispos usavam-na

para definir o seu domínio de responsabilidades?

Territorialidade.

As comunidades cristãs estavam localizadas no espaço. Os

cristãos geralmente viviam próximos um dos outros nas cidades e eles se

reuniam para adorar. Os cristãos em cada cidade tendiam a formar uma

comunidade única e uma comunidade ou cidade para a maior parte tinha um

bispo e uma organização governamental. A comunidade era geograficamente

focalizada e, em menores, o bispo mantinha a autoridade pessoal sobre seus

131

Page 132: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

assistentes e paroquianos. Caso a comunidade fosse grande em população e

área e se estender-se além dos limites da cidade até os arredores do interior, o

bispo da cidade permitia que os diáconos viajassem para locais específicos

para presidir sobre alguns aspectos da adoração. O bispo dava tais

concessões pessoalmente e ainda que relutantemente toda congregação

esperava se reunir na cidade para ocasiões importantes e em alguns casos até

mesmos para eucaristia, especialmente nos dias de festa. Conforme Inácio

disse: ‘não deixe ninguém fazer nada com relação à Igreja sem o bispo. Deixe

que a eucaristia considerada válida seja aquela realizada pelo bispo ou por

alguém que ele aponte’.

As cidades Romanas tinham fronteiras administrativas

relativamente bem delimitadas. As cidades grandes, além disso, eram

geralmente as capitais da província. A questão surge naturalmente se as

comunidades cristãs primárias não eram somente geograficamente localizadas

e focalizadas, mas se elas também se definiam territorialmente, talvez usando

os limites da cidade ou do interior do território para classificar e moldar a

comunidade. À primeira vista, dificilmente seria surpresa se elas fizessem isto,

porque isto era a prática geral para definir comunidades políticas, e de que

outra forma elas poderiam chegar à indicação de se ter virtualmente um bispo

para cada cidade? O status não-oficial e geralmente marginalizado do

Cristianismo sugere que nesta escala geográfica as comunidades cristãs

individuais começaram como grupos não-territoriais, e então, talvez no

segundo século, o lugar, senão o território, se tornou parte da definição da

comunidade. No terceiro século, o grupo pode ter até mesmo usado a

Territorialidade para suplementar as suas próprias definições sociais e para

ajudar a manter estrangeiros fora e para ajudar na imposição da disciplina. O

território era ainda uma unidade primariamente englobando uma organização

social viável e assim socialmente definida.

No primeiro século, talvez devido a escatologia e ao caráter

peripatético dos Apóstolos, os padres da Igreja saiam pelo caminho para fazer

ver a Igreja visível e que ela não está ancorada a nenhum território. As cartas

132

Page 133: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

da Igreja primária ( as cartas de Paulo aos Corinthians, as primeiras epístolas

de Clemente para os Corinthians, as epístolas de Inácio para os Efésios,

Magnésios, Trallians e Romanos), se referem a uma Igreja ser em um lugar (e

não) de um lugar e às vezes surgindo em um lugar. Embora, freqüentemente

se referindo ao governo da Igreja, estas cartas não falam diretamente sobre o

território. As cartas de Paulo aos Corinthians se referem à necessidade para

autoridade e hierarquia da Igreja e também avisos para a congregação está

alerta quanto aos profetas itinerantes, que podem desviar a congregação do

verdadeiro caminho da fé. As cartas reconhecem que a congregação ou

comunidade está na cidade e que normalmente há uma por cidade e o

conceito de profetas itinerantes sugere que a posição de um bispo ou clérigo

tenha se tornado geograficamente fixada. Mas, nenhuma menção é feita de se

usar os limites da cidade ou alguma outra fronteira especificável como um

meio de definir ou de impor uma jurisdição a uma congregação. O mesmo

pode ser dito de Clemente e mais ainda das epístolas de Inácio. Elas exortam

demais a congregação a seguir os seus bispos elas incentivam contra os

falsos profetas, os pregadores itinerantes e os faladores. Elas alertam contra

se ter tais pessoas ‘entre você’ e elas incentivam a congregação a ‘não admiti-

las’, mas novamente não há nenhum uso explícito do território para confirmar o

controle sobre a comunidade. É claro que isto que se esperava, porque elas

não tinham ainda nenhuma autoridade para recorrer nas afirmações

territoriais.

Ainda os traços do começo da mudança são talvez revelados em

uma das cartas de Inácio, na qual em um ponto ele se refere a si mesmo como

o bispo da Síria. Enquanto, isto é quase um exemplo, a forma de se referir se

torna mais comum no final do segundo século, e no terceiro a conexão entre

um bispo e um local, senão um território, se torna explícita. Os conselhos

contém representantes para os lugares e eles pedem às congregações para

excluir os heréticos dos seus lugares. O exemplo do grau ao qual um lugar, ou

talvez um território, tenha começado a ser associado com a autoridade está

parece na controvérsia cercando o bispo Origem. As influências ocultas

teológicas são complexas mas as geográficas são simples. Origem era da

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Page 134: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Alexandria. Ele foi convidado pelos bispos da Cesárea e Jerusalém para

pregar na Palestina.. Isto enraiveceu o seu próprio bispo, Demetrius da

Alexandria. Origem mais tarde retornou para Jerusalém ode ele foi ordenado

como padre por seu bispo. Esta transgressão de Jerusalém que foi vista por

Demetrius como a prerrogativa de Alexandria enfureceu Demetrius tanto que

baniu Origem e convocou dois sínodos (no ano de 321 da era Cristo) para

censurar a ordenação de Origem. Aqui claramente uma área ou território

administrativo está ligado à autoridade, mas exemplos de controles territoriais

mais fortes não ocorreram, e talvez não pudessem ocorrer, até que a Igreja

não fosse mais um movimento subterrâneo.

Assim, por mais de 300 dos primeiros anos da história da Igreja

nós encontramos uma progressão gradual geralmente relutante para um

começo não-territorial até a emergência da Territorialidade no nível episcopal.

A mesma tendência pode ser vista em escala menor a nível dos lugares santos

e prédios da Igreja.

Muitos dos padres Apostólicos viam a Terra Santa

diferentemente daquela que viam os Judeus. Poucos acreditavam no

Cristianismo como sendo, em qualquer sentido, um lugar específico e há

pouco para sugerir que eles pensassem de Israel ou até mesmo de Jerusalém,

como lugares especialmente sagrados. Uma separação espacial similar é

encontrada na sua falta de entusiasmo para separar lugares específicos para

adoração. Nós notamos que na sua profissão primária a Igreja é uma

comunidade de adoradores e nós mencionamos a resistência de Cristo dos

Apóstolos para os edifícios formais de rezas. Deus e a comunidade estavam

irremediavelmente ligados. A vida não era pra ser dividida em partes seculares

e sagradas. No termos de Davi, ‘Adoração não podia ser extraída do processo

de viver e resumida em um lugar secular. Uma vez que Deus era onipresente a

todo lugar que era santo’. De acordo com Saint Daniel, ‘Não é um lugar que é

chamado de Igreja nem uma casa feita de pedra e terra’... O que é a Igreja

então? É a reunião santa daqueles que vivem em retidão’. Embora tais

sentimentos possam ser encontrados bem no terceiro século, os cristãos se

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Page 135: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

reuniam para rezar, e a conveniência para se encontrar em um lugar

específico gradualmente levou ao uso daquele lugar como constituindo uma

parte básica da congregação.

As comunidades cristãs eram geralmente pequenas, pobres e

clandestinas e até a metade do terceiro século os encontros e adoração

ocorriam em casas privadas. Nos dois primeiros séculos, estas eram

geralmente ocupadas por uma ou mais famílias cristãs e abriam para a

congregação em ocasiões religiosas. Depois disso, era comum para uma casa

desocupada ser dada ou doada para a congregação e usada somente para o

propósito de encontros e para orações. Mesmo assim as casas ainda

pertenciam a um ou mais indivíduos porque a Igreja não era reconhecida pela

Lei Romana e não podia possuir propriedade até o início do quarto século.

Mesmo quando uma casa de encontro era ocupada por uma família, logo se

desenvolvia uma diferenciação interna das suas partes, cada parte era locada

para funções específicas e para personagens da escala. Por exemplo, uma

diferenciação geográfica do compartimento para eucaristia é encontrada na

seguinte descrição do terceiro século:

Escolha os lugares para os irmãos com cuidado e serenidade. E

para os presbíteros deixe ser escolhido um lugar na parte leste da casa; e

deixe o trono do bispo ser colocado no meio dela e deixe os presbíteros sentar

com ele. E novamente, deixe o leigo sentar em outra parte da casa na direção

do leste...Mas com os diáconos, deixe um ficar sempre com as obrigações da

eucaristia; e deixe outro sem elas perto da porta para observar aqueles que

entram.

Os quartos geralmente eram modificados para se adequarem à

necessidade da adoração. Em uma ocasião um compartimento foi aumentado,

‘um estrado foi colocada, provavelmente para a cadeira do bispo, contra a

parede leste, além do qual estava uma pequena sacristia...Parece ter havido

também algumas câmaras para catecismo e para pequenos batismos.

135

Page 136: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

No final do terceiro século nós encontramos Igrejas construídas

com propósito, algumas das quais eram estruturas impressionantes; e no

começo do século IV os importantes negócios da Igreja eram esperados de

serem conduzidos especificamente dentro dos prédios da Igreja. No sínodo de

Cirta ( no ano 305) foi anotado que os bispos se encontraram numa casa

particular porque as Igrejas foram destruídas e não tinham sido restauradas.

Nas vésperas da sua aceitação por Roma, o Cristianismo,

embora relutante, tinha começado a criar uma Igreja visível e territorial. A

hierarquia da Igreja tinha se tornado explícita e os oficiais da Igreja tinha se

tornado em algum grau separados do resto da comunidade de adoradores. A

adoração estava sendo confinada mais e mais aos prédios da Igreja, a parte

sagrada da vida tinha sido separada em alguma extensão da secular. Os

prédios da Igrejas e suas partes reacenderam enormemente o governo da

Igreja bem como o sagrado. A própria comunidade e a autoridade dos bispos

estavam se tornando mais e mais territoriais. Os bispos eram de uma cidade, e

o tamanho da cidade afetava o prestígio do ofício.

A Igreja Romana primária.

Uma vez que o império Romano adotou o Cristianismo, no início

do século IV, o aparato inteiro do governo de Roma estava à disposição da

Igreja e os oficiais da Igreja. A escala e a autoridade estavam mais claramente

especificadas. Os bispos cobravam taxas de consagração ou ordenados de

acordo com o valor das suas sés, as classes entre o clero geralmente eram

traduzidas nos níveis dos lucros e os estágios regulares para o sacerdócio

eram introduzidos. O tamanho das comunidades da Igreja e o aparato da

Igreja aumentaram a um ponto onde, nas grandes cidades, as relações entre o

bispo e seus paroquianos, e até entre o bispo e o quadro da Igreja, eram

geralmente impessoais. Além disso, os fundos se tornaram disponíveis para

construir igrejas e os cristãos podiam reformar as basílicas Romanas antigas e

os templos. Não somente a adoração foi territorializada dentro do prédio das

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Page 137: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

igrejas, mas também foi a comunidade toda territorializada. O poder dos

oficiais da Igreja, voltou ao Estado e se tornou definido de acordo com as

fronteiras administrativas territoriais do Império das dioceses. O conceito de

lugar sagrado em geral começou a assumir importantes papéis na vida cristã.

Não estava restrito somente aos prédios da igreja, que estavam para ser

consagrados, mas se aplicou também a lugares nos quais os milagres

ocorriam, particularmente na Terra Santa. Alguns ainda resistiram a estas

mudanças, mas a direção geral foi em direção a uma centralização hierárquica

maior, a diferenciação e a Territorialidade.

A fonte mais rica que ilustra a ligação entre a burocratização e a

Territorialidade é o registro acumulado dos conselhos da Igreja e os cânones

que foram promulgados. O número destes conselhos aumentou enormemente

uma vez que a Igreja tinha sido reconhecida por Roma. Nós ressaltamos, que

os conselhos eram convocados pelos bispos ou pelos metropolitanos das

maiores cidades. Este costume continuou, mas agora o formato dos encontros

era modelado conforme o sistema político legal do Senado Romano e os

Imperadores eram convocados e presidiam sobre muitas pessoas importantes.

Estes eram chamados de conselhos ecumênicos. A religião era o interesse

primário da Igreja mas questões da fé eram, desde o princípio, inseparáveis

dos assuntos da organização, o que explica porque muito deste negócio dos

conselhos se referia à organização.

O inicio do quarto século, onde o Cristianismo se tornou a religião

oficial do Império, até o colapso de Roma no século V, define o período

durante o qual o Império Romano ajudou a organizar e a consolidar o

Cristianismo. Os registros da Igreja mostram que deve ter havido centenas de

conselhos regionais e quatro ecumênicos durante este período. Mesmo uma

lista breve de todos os cânones que estes conselhos promulgaram seria

constituída de volumes. O melhor uso do espaço aqui seria resumir os

resultados desses conselhos primários, o de Nicea e o do Antióquia, para dar o

sabor destes encontros e a atenção dada à organização, e então tirar uma

amostra do resto e separar aqueles cânones referentes à Territorialidade e à

137

Page 138: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

hierarquia. Estes serão discutidos de acordo com as tendências e

combinações das tendências da Territorialidade que eles exemplificam.

O primeiro e extremamente conselho ecumênico, o de Nicea, foi

convocado no ano de 325 pelo Imperador Constantino para se referir à heresia

Ariana, que tem o nome devido a Arius, que proclamava que o filho não tinha a

imagem e semelhança do pai. A heresia foi rejeitada pelo conselho e uma

doutrina “verdadeira” foi apresentada no Credo de Nicine. Esta declarava que

o pai e o filho dividem a mesma essência divina. Após isto ter sido resolvido (e

uma época oficial para a Páscoa ter sido estabelecida), Arius foi exilado por

Constantino por cinco anos, e o conselho se prendeu a assuntos da disciplina

da Igreja em vinte Cânones. Estes incluíam regras como: proibir as eleições de

neófitos para o sacerdócio ou episcopado; a exclusão de eunucos auto-

infligidos dos lugares santos; rescindir a ordenação imprópria de bispos e

padres; declarar que aqueles que deixaram a Igreja por causa de perseguições

devem ser admitidos após doze anos de penitência; proibir a negação da

comunhão para alguém que esteja prestes a morrer; proibir que bispos, padres

e diáconos tivessem mulheres, outras que não fossem suas parentes, em suas

casas; expulsar clérigos culpadas de usura; e ordenar que as preces durante

os Domingos e Pentecostes fossem ditas de pé.

Em adição, entre estes cânones muitos se relacionavam

explicitamente com o território e o lugar. O Cânone quatro declara que um

bispo deveria ser consagrado por todos os bispos da província, mas se isso

fosse impossível, então deveria ser feitos pelo menos por três com o

consentimento escrito dos bispos ausentes e uma confirmação posterior da

metrópole. O Cânone cinco ordena que aquele que tivesse sido excomungado

pelo seu bispo deveria ser negado a ele a comunhão por outros bispos. O

Cânone quinze proíbe os bispos, diáconos e padres de deixar suas próprias

cidades (congregações) para outros. Se eles fizerem são forçados a voltar

atrás. O Cânone dezesseis é similar ao quinze exceto que ele é endereçado

aos bispos de outras congregações em não receberem ou seduzirem bispos

ou diáconos de outras congregações. Se um bispo ordenava um homem

138

Page 139: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

pertencendo a outra igreja, a ordenação era inválida. Os Cânones seis e sete

se referem às disputas jurisdicionais e territoriais entre bispos e metropolitanos

ou arcebispos. A autoridade do arcebispo ou metropolitano era reafirmada e

alguma hierarquia entre os metropolitanos era estipulada. O Cânone dezoito

se refere ao território interno dos prédios da igreja. Ele os diáconos de dar

eucaristia aos padres, de recebê-la antes dos padres e de se sentarem entre

eles.

O conselho de Antióquia, no ano de 341, é importante por sua

mistura de política e teologia, e por seus cânones territoriais. ( Há um

desacordo se eles foram realmente promulgados em 341 ou antes.). O

conselho começou dedicando a chave de ouro de Antióquia. Mais de noventa

bispos foram neste conselho, nenhum dele era do oeste e muitos eram

Arianos. Eusébio de Nicomédia foi o principal bispo. Ele tinha usurpado a sede

Constantinopla, e era, entre outras coisas, dito como responsável pelos

assassinatos que ocorreram quando ele estava presente em Alexandria. Ele foi

condenado e substituído por Gregório, um Ariano. Além de atuar nas intrigas, o

conselho formulou Credos referente ao filho e ao pai e promulgou vinte cinco

cânones. O número três proíbe ou padres e os diáconos de se ausentarem por

longos períodos de suas dioceses. O número cinco estabelece que se algum

padre ou diácono se opõe ao seu próprio bispo e se separa da Igreja e reúne

uma congregação particular e desobedece os conselhos do seu bispo, ele

deve ser deposto. O número seis proíbe os bispos de receberem alguém

excomungado por outro bispo. O número nove ordena que todos os bispos de

uma província deve obedecer o metropolitano e dar a ele a precedência. O

número onze estabelece que nenhum bispo ou padre pode ir ao Imperador

sem o consentimento escrito do bispo da sua província. O número treze depõe

um bispo que ordena sem ter sido convidado em outra província. O número

quinze não permite apelação de uma decisão unânime do sínodos provinciais.

(Encarando este fato ele faz a hierarquia parar no nível do arcebispo. Ele é

virtualmente autônomo. Ainda que aproximações de Roma fossem permitidas

em certas ocasiões o número quinze de fato desencoraja tais aproximações).

O número dezesseis estabelece que um bispo que não tenha sido escolhido

139

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em um sínodo regular - um que não tenha metropolitano - deve ser deposto

mesmo se tiver sido eleito pelas pessoas da sua diocese. O número vinte e um

proíbe os translados de bispos de uma sé para outra e o número vinte dois

proíbe os bispos de interferirem na sé de outros bispos.

Conforme estes conselhos revelam, uma vez que o Cristianismo

tinha a autoridade legal de Roma por de trás, uma aceleração dramática

ocorreu na definição da hierarquia da Igreja e no seu uso da Territorialidade.

Inúmeros outros conselhos e seus cânones também revelam que a autoridade

dentro da hierarquia estava intimamente relacionado ao território. A teoria da

Territorialidade pode ajudar a clarear porque isto seria o caso. Uma

consideração mais básica é que o Império tinha uma população vasta

geograficamente dispersa e com vários graus de mobilidade, e tais condições

fariam a Territorialidade o meio mais simples e mais claro para definir e dividir

as populações em grupos e atribuir a elas a supervisão dos oficiais da Igreja.

É claro que as fronteiras territoriais, para a maior parte, já estavam claramente

demarcadas como jurisdições e geralmente reconhecida pela população. A

Igreja podia simplesmente usá-las como um molde para a sua própria

autoridade. No final do quarto século as comunidades cristãs urbanas em

muitos casos cresceram até um ponto onde o conhecimento pessoal dos

congregantes e pressão informal dos companheiros não eram suficiente para

definir uma comunidade ou para reforçar uma disciplina. Mas a autoridade

efetiva poderia ser obtida reforçando as asserções territoriais de controle.

A Igreja não controlava a residência dos paroquianos embora

alguns cânones afetassem os movimentos de longo alcance. Por exemplo, em

Arles, no ano de 314, o número dezesseis (que parece ser o mesmo número

cinqüenta e três de Elvira, no ano de 305 e 306), e o de Antióquia, no ano de

341, o número seis, ordenam que para alguém excomungado receber a

comunhão novamente, ele deve receber a comunhão no mesmo lugar onde

ele foi excomungado, o que significa que a pessoa deve estar, ou retornar, a

uma jurisdição territorial. Para a maior parte os cânones usavam um lugar de

residência do indivíduo dentro do território da Igreja como uma meio de incluir

140

Page 141: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

aquela pessoa a um sete particular do Clero ou a uma igreja particular, como

em Nicea, no número cinco, onde se a comunhão fosse negada em um lugar

não podia ser recebida em outro. A Igreja, entretanto, podia e tentou controlar

a localização geográfica dos seus oficiais e usava a Territorialidade para

mantê-los no lugar, para definir e delimitar suas autoridades, define os canais

de comunicação, e para englobar hierarquicamente as responsabilidades da

Igreja. Mas fazendo isto a Igreja se abriu para outros efeitos territoriais, tais

como a possibilidades de más escolhas e abuso da autoridade território, e a

possibilidade de ter o território se tornando um fim ao invés de um meio,

também a possibilidade de ter o território criando diferenças nos acessos aos

recursos e autoridade. Virando para a associação geral entre a hierarquia e o

território, é impressionante quanto atenção foi dada aos cânones em definir e

delimitar as responsabilidades entre os arcebispos, bispos, padres e outros

oficiais da Igreja usando circunscrições territoriais da autoridade. Nós

encontramos estipulações gerais que todos os clérigos, incluindo os monges, e

os prédios da igreja que eles ocupavam, estão sob autoridade do bispo

daquela jurisdição (Chalcedon, ano de 451, cânones quatro e cinco); que todas

as disputas dentro de uma diocese deve ser levadas ao bispo (Chalcedon, ano

de 451, cânone nove) e não for resolvida eles devem ir ao arcebispo ou

metropolitano e não a outra província, e além disso todos os clérigos

ordenados em uma comunidade permaneçam naquela comunidade (Arles, ano

314, cânone dois). Os cânones assim tornam o arcebispo extremamente

poderoso e mais ou menos autônomo com relação a sua própria sé. Sua

autoridade é difícil senão impossível de ser questionada se nem o bispo e nem

o padre podem ir ao Imperador para apelar sem o consentimento do arcebispo

(Antióquia, ano 341, cânones onze e quinze) . O arcebispo deve ser obedecido

(Antióquia, ano 341, cânone nove) e deve estar envolvido nos compromissos

dos bispos dentro de sua província. Se por algum motivo ele estiver incapaz de

cumprir a sua função pelo menos três outros bispos dentro da arquidiocese

devem representá-lo ( Nicea, ano 325, cânone quatro; Arles, ano 314, cânone

vinte).

141

Page 142: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A hierarquia da Igreja existe além do metropolitano ou arcebispo,

embora ela não esteja ainda trabalhada completamente neste período. Há,

entretanto, referências nos conselhos com relação ordem do metropolitanos,

usualmente se referindo a Roma primeiro (Nicea, no ano 325, cânones seis e

sete; Chalcedon, ano 451, cânone vinte e oito), o que corresponde a

autoridade que a Igreja de Roma realmente exercia neste tempo.

Uma vez que o território estava intimamente conectado com a

definição de autoridade, a primeira forma para os oficiais da Igreja resistirem à

autoridade era saírem dos seus territórios. A evidência para esta prática são

inúmeras proibições contra ela. Por exemplo, há regras contra um bispo deixar

a sua diocese sem a permissão e geralmente cânones separados

especificavam quais seriam as conseqüências (Nicea, ano 325, cânone quinze;

Arles, ano 314, cânones dois e dezessete; Antióquia, ano 341, cânones treze,

vinte e um, e vinte e dois; e Sárdica, ano 347, cânone um). Há proibições

contra diáconos e presbíteros deixarem a diocese ou paróquia de suas igrejas

sem a permissão(Arles, ano 314, cânones dois e vinte e um); Laodicea, entre

341-381, cânones quarenta e um, e quarenta e dois). Há proibições contra um

bispo receber ou atrair presbíteros, diáconos e outros, e às vezes cânones

separados especificavam as conseqüências ( Nicea, 325, cânone dezesseis;

Antióquia, 341, cânones seis e treze; Arles, 314, cânone dezessete; Sárdica,

347, cânone dezenove; Chalcedon, 451, cânone vinte).

Estas movimentações ilegais dos oficiais da Igreja revelavam

más escolhas e abusos entre a autoridade territorial e as individuais e relações

a serem controladas. A única forma de prevenir uma escolha errada era ter

maiores autoridades territoriais reforçando proibições contra tais movimentos e

coordenando as atividades dos pequenos territórios. A este respeito além da

Territorialidade oferecer vantagens à hierarquia ela tem um momento seu para

aumentar a necessidade por mais hierarquia e burocracia enquanto diminui a

sua própria eficácia.

142

Page 143: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Talvez o atrito territorial mais óbvio para o funcionamento suave

da burocracia venha do fato de que a Territorialidade também tenha tendência

em ser usada para criar diferenças entre as unidades e assim entre os oficiais

que às governam. Embora tratadas em muitos aspectos como níveis

equivalentes dentro de uma hierarquia, cada sé não era de fato igual em poses

e prestígio. Os avisos contra a translação de uma sé para outra, conforme

expresso pelo bispo Hosius, “a causa sendo bem conhecida; por nunca se ter

visto um bispo que deixasse um bispado grande para pegar um outro menor”,

e os avisos no conselho do quarto sínodo em Cartage, em circa ano de 398,

cânone vinte e sete, estabelecendo que nem o bispo e nem um outro

eclesiástico deveria ir de um lugar menor para outro mais importante sem o

consentimento escrito de seu superior., isto claramente revela que as fortunas

diferentes das unidades territoriais eram claramente um fator.

Ligar a hierarquia com a Territorialidade agravou as diferenças

verticais. Os arcebispos comandam os recursos de suas províncias. Eles

também são responsáveis pela disciplina e doutrina da Igreja e era eles que

convocavam e presidiam os conselhos onde doutrinas e políticas de longo

alcance são preparadas. Ser um arcebispo dava a estes privilégios e ser o

arcebispo de Constantinopla ou de Roma dava ainda mais. Não é surpresa

que os cânones revelam que o controle sobre um específico território era

geralmente considerado como um fim ao invés de um meio para um fim, e que

os conflitos sobre assuntos teológicos e até mesmo sobre personalidades

eram geralmente deslocados como conflitos entre territórios.

A Territorialidade não pode somente clarificar as relações da

autoridade, ela pode torná-las impessoais. Quem que assumisse um

arcebispado teria controle total sobre a hierarquia da Igreja dentro de um

território. O pronunciamento de Chalcedon, no ano de 451, de que o bispo

controla todos os monges e novos prédios dentro do território (cânone quatro),

e que o clérigo das capelas e os monastérios estão submissos a seus bispos

(cânone oito), tem uma áurea impessoal. Assim também tem aqueles cânones

estipulando o relacionamento dos paroquianos com o bispo. Em Arles, no ano

143

Page 144: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

de 314, o cânone dezesseis, por exemplo, estabelece que aqueles que foram

excomungados deverão receber a comunhão no mesmo lugar onde eles foram

excomungados. Estes e outros cânones apontam claramente para o potencial

de usar a Territorialidade como um modelo impessoal. Novos paroquianos

podem ser moldados à comunidade de uma igreja em virtude da sua

localização e padres, bispos e outros oficiais podem ser ligados uns aos outros

e às comunidades pelo local. As dimensões geográficas de qualquer nova

regra são moldadas pelas fronteiras territoriais das comunidades, Claramente,

mesmo neste estágio primário, os potenciais impessoais estão lá. Mas nós

podemos supor que somente nos centros urbanos muito grandes, onde os

oficiais das Igrejas chegavam a ser centenas e os congregantes milhares, este

potencial teve um impacto significante. Além disso, após a dissolução do

Império, este potencial estava obscurecido e não se tornou novamente

importante até os séculos onze e doze.

O uso do território aprece também causar mais território no

sentido de que as definições da autoridade se tronam mecanismo básicos para

a organização da Igreja, e também no sentido de que criar novas dioceses e

paróquias se trona um meio de realçar a presença de um bispo ou de um

arcebispo. Em Chalcedon, no ano de 451, o cânone doze, proíbe qualquer de

dividir sua província par obter cartas patentes do Imperador, e em Sárdica, no

ano de 347, o cânone seis, proíbe a consagração de um bispo para um local

pequeno quando um padre é suficiente.(Ver também Laodicea, ano 341-81,

cânone cinqüenta e sete).

Então muitos dos cânones são regras sobre as condutas das

paróquias, dioceses ou arquidioceses que as pessoas a quem elas se aplicam

devem ter sido supervisionadas. Era comum a prática em alguns casos para

as regras serem promulgadas para classes de territórios. O territórios pode ser

usado para desviar a atenção das fontes de conflito, sejam elas teológicas ou

pessoais, e o território pode fazer com que o problema pareça ser um conflito

entre lugares. A sé de Constantinopla compete com a sé de Roma, a de

Alexandria com Jerusalém e Antióquia. A sé se torna um objeto de orgulho. Em

144

Page 145: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

combinação, então, estas tendências podem então fazer o território parecer

ser um fim ao invés de um meio.

Da evidência dos cânones não parece que a Igreja visse seus

territórios episcopais como espaços conceituadamente esvaziáveis e

preenchíveis.. O mais próximo que eles chegaram de uma concepção de

espaço vazio pode ter sido quando a Igreja decretou, no século XII, que as

paróquias deviam ser erguidas onde não havia nenhuma. Outra tendência,

entretanto, vem da anterioridade destes documentos. A reificação está

ocorrendo através do processo inteiro de tornar a Igreja visível. Alusões a esta

tendência são encontradas quando a congregação, a paróquia e as dioceses

são citadas como sendo a Igreja física. A paróquia é a partir deste dia citada

como uma reificação da comunidade cristã. Mas as referências mais

abundantes da reificação se referem ao nível dos prédios da Igreja. Conforme

citado anteriormente, no terceiro século, o prédio da igreja estava já se

tornando um lugar santificado, contendo uma hierarquia de locais dentro dele

que eram acessíveis aos diferentes níveis da hierarquia da Igreja. Em Gangra,

no ano de 325, o cânone cinco, excomunga aqueles que desprezam a igreja, a

casa de Deus, e o cânone seis desaprova encontros religiosos particulares

fora da igreja, sem o consentimento do bispo. Em Nicene, no ano 325, o

cânone dezoito, proíbe diáconos de se sentarem entre os padres. Em

Laodicea, no ano de 341-81, nós encontramos que os heréticos não são

permitidos em colocarem os pés na igreja, no cânone quinze nós encontramos

que somente aqueles apontados podem ascender ao púlpito, e cânone

dezenove diz que somente os clérigos têm permissão de se aproximar do altar

e se comunicar. Os diáconos e os membros de outras ordens inferiores não

podem sentar na presença de uma padre, a menos que tenham permissão

para fazer isto pelo padre (cânone vinte). O tão chamado ‘ágape’ não deve ser

realizado na igreja e ninguém deve colocar poltronas nas casas de Deus

( cânone vinte e oito). As mulheres não podem se aproximar do altar (cânone

quarenta e quatro); e os padres não devem entrar e tomar seus assentos

próximos ao altar antes do bispo fazer a sua entrada (cânone cinqüenta e

seis).

145

Page 146: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Além disso, os clérigos são proibidos de viver em outros lugares

e de terem outras atividades específicas em qualquer partes. Eles não podem

oferecer sacrifício fora da igreja, eles não podem entrar em lugares públicos ou

realizar funções religiosas em cemitérios pagãos. Estipulações posteriores

consagrando e subdividindo o uso do prédio da igreja continuaram até o final

da Idade Média.

A reificação está muito proximamente ligada ao processo de

deslocamento. Em alguns casos é impossível dividir a linha entre elas,

Geralmente, a reificação torna visível o agente influenciador ou controlador.

Ela o trás a realidade. O prédio da igreja, bem como a paróquia e a diocese,

nos lembram, através da reificação, de Deus e da comunidade cristã. O

deslocamento vai além de nos fazer perder a visão do fato de que o território é

um mecanismo ou um instrumento e ao invés disso ele leva as pessoas a

acreditarem que de alguma forma o território é um objeto representado. Os

prédios como locais consagrados podem realmente ser percebidos como se

tivessem poderes próprios. O poder é realçado quando o lugar é

especialmente sacro e quando o prédio contém relíquias. Peregrinações são

feitas a local porque o próprio local pode trazer conforto ou cura. Danificar um

prédio consagrado ou entrar em um lugar santo impropriamente, pode fazer

mal a você. A reificação e o deslocamento fazem com que os lugares pareçam

ter poderes.

O início da Idade Média.

Com a conversão de Constantino (em circa, no ano de 313), a

Igreja recebeu a proteção e o estímulo do Império. É claro que a influência do

Império sobre a Igreja foi muito maior do que a influência da Igreja sobre o

Império. Enquanto houve um Imperador cristão a Igreja pôde ser uniforme e

organizada, mas enormemente dependente do poder secular. O período

próximo ao ano 500 marca o começo de uma queda, e por várias centenas de

146

Page 147: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

ano, uma retração do desenvolvimento da uniformidade crescente das regras

da Igreja.

Quando o Império Ocidental sucumbiu, a Igreja foi deixada como

um modelo de uma organização religiosa sem nenhuma equivalente, maior, ou

uma organização secular para suportá-la. A Igreja não podia sozinha

preencher o vazio político, então ela teve que fazer alianças com os novos

poderes emergentes no ocidente que tinham o potencial de se tornar grandes

poderes. Os invasores Germânicos e seus herdeiros, os príncipes feudais,

imaginavam suas posições como sacerdotes-reis divinamente ungidos. Eles

exerciam um forte controle sobre a Igreja e suas terras e transformaram os

conselhos religiosos em assembléias nacionais (freqüentadas por

lordes seculares bem como por bispos da Igreja) sobre as quais eles

presidiam. A aliança da Igreja Ocidental com estes poderes seculares

aumentou a distância entre o oriente e o ocidente, e aumentou ainda mais a

dependência da Igreja por forças políticas emergentes. Exceto pelo Império de

Carlos Magno, estes ditadores seculares não desenvolveram num sistema

político unificado substancial. Ao invés disso, as entidades políticas eram

fragmentadas em uma teia e sempre em mudança de pequenos reinos que

tendiam a dividir a Igreja em uma série de unidades nacionais pequenas e

locais. Esta época sombria não produziu conselhos ecumênicos e sínteses

grandes. Ao invés disso, os conselhos foram locais e muitos dos cânones

revelaram o grau ao qual os precursores do feudalismo tinham desatado a

autoridade hierárquica e controle territorial. Esta “feudalização” da Igreja veio a

ser revestida no século XII que marca o início do final do feudalismo em geral

e um ressurgimento na hierarquia e organização da Igreja.

A feudalização.

Do final do século VI até o século XI, nós encontramos uma

eufeudalização progressiva da Igreja Católica que diminuiu consideravelmente

sua organização hierárquica e autoridade territorial. . No fundo da hierarquia

147

Page 148: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

da Igreja os efeitos da eufeudação podem ser vistos no aumento das igrejas

privadas sobre as quais a Igreja oficial tinha pouco controle. A prática Romana

ocasional de uma família bastada doando uma igreja ou capela e escolhendo

seu padre se tornou desenfreada após a quebra do Império. A Igreja logo

reconheceu e sancionou sua prática. Em Orleans, no ano 541, o cânone trinta

e três, requeria formalmente que qualquer um que quisesse fundar uma

paróquia deveria providenciar o seu suporte com propriedade e clero. Muitos

dos que construíram e doaram estas igrejas privadas também queriam para

eles próprios e para seus herdeiros o direito de apontar o clero. Estes e outros

privilégios eram parcialmente concedidos aos fundadores enquanto a Igreja

ainda tentava manter algum grau de controle.

A hierarquia da Igreja tentou manter alguma autoridade

requerendo que os compromissos clericais fosse aprovados pelo bispo e que o

bispo seria ainda responsável pela consagração de padres e de prédios de

igreja (Orange, ano de 441, cânone dez). Mas se o bispo não aceitasse as

escolhas do fundador, ele era obrigado a encontrar alguém que fosse

aprovado pelo fundador ( Toledo, ano de 655, cânone dois). A Igreja não

somente concedia muitos dos compromissos ao fundador, mas também

permitia a ele alienar à propriedade (Frankfort, ano de 794). Mesmo o direito

da proteção era alienável. Em muitos casos a Igreja era realmente transferida

da família do fundador e dos proprietários posteriores do domínio ao qual ela

era fixada., e por uma transação comercial se tornava a proteção de pessoas

que viviam a distância dela e que não tinham motivo especial para se

interessar pelos adoradores.

O problema do controle e território era ainda mais complicado

pelo fato de que os bispos eram geralmente os fundadores e proprietários de

tais igrejas em dioceses que não eram as suas (Orange, 441, cânone dez).

Mesmo aquelas igrejas que não eram particulares e eram parte da

organização diocesana freqüentemente se tornavam equivalentes das igrejas

particulares porque as residências dos padres precisavam de proteção física

da nobreza local. Em efeito tais igrejas se tornaram feudos do lorde local.

148

Page 149: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Transformações similares ocorreram nos escalões mais altos da

Igreja. Os bispos e arcebispos não eram somente líderes religiosos de vastas

áreas mas também lordes de Estado. Camponeses e nobreza eram

geralmente vassalos dos bispos e arcebispos que eram capazes de organizar

exércitos e manter a lei e a ordem. Mas estes prelados por sua vez eram

vassalos de uma maior nobreza e de reis. (No século X, Otto I da Alemanha

fez cortes de numerosos bispos e desta forma de seus vassalos diretos.). Os

líderes tinham muitas razões para se interessarem em quem era apontado

para as sés dentro dos seus domínios e se esforçavam muito para influenciar

tais escolhas. Freqüentemente estes esforços tinham sucesso.

O processo da eufeudação acordou a burocracia e hierarquia da

Igreja bem como a sua rigidez territorial. A perda do controle por Roma

significou tanto um ganho de autonomia sobre a parte das unidades locais

quanto um ganho de controle sobre essas unidades por autoridades seculares.

Em ambos os casos o controle territorial local enfraqueceu o poder de Roma.

O papel crescente da autoridade secular nos assuntos da Igreja,

entretanto, não diminuiu a importância da Igreja como uma instituição religiosa

nos olhos dos contemporâneos. Pelo contrário, ela sugere que o sacro e o

secular não podiam ser separados, que o sacro está presente em todos os

reinos da vida. A penetração da comunidade local pela religião e assuntos da

Igreja é mais claramente vista no papel dos próprios edifícios da Igreja. A lei da

Igreja permanecia improdutiva na sua visão de que a igreja era um local

consagrado, e que a adoração deveria ocorrer dentro de suas paredes e de

que o território da igreja devia ser divididos em partes mais ou menos

sagradas aos quais os membros da comunidade teriam acessos

diferenciáveis. Mas o ambiente da comunidade local fez essas distinções de

uso rígidas serem difíceis de se impor. Durante o início da Idade Média, o

prédio da igreja era geralmente a estrutura maior e mais segura na

comunidade e se tornou costume colocar algumas partes do prédio para uso

não-religiosos. Em tempos de instabilidade política, a igreja servia como um

149

Page 150: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

local de defesa. Em outros tempos ela era um lugar de encontro para os

assuntos da vila, uma prefeitura, um hospital ou uma hospedagem.

O final da Idade Média e a Renascência.

O feudalismo começou a definhar e até mesmo a ser revestido

nos séculos XII e XIII. As causas são muito complexas para serem citadas

aqui, mas alguns dos efeitos significantes das mudanças foram estes. As

unidades econômicas e políticas relativamente fechadas e insulares do

feudalismo foram sendo transformadas em uma economia mais aberta e

interdependente. O papel da superstição senão da religião na vida cotidiana foi

reduzido de tal forma pelo aumento no secularismo e empiricismo. O Rei se

tornou menos de uma pessoa abençoada e mais de um ditador secular. Sob

muitos aspectos a sociedade em geral estava mais desejosa em ter a Igreja

controlando as funções religiosas e a Igreja ativamente assumiu este papel.

Mas, mais e mais o termo da Igreja veio àqueles que foram ordenados pela

hierarquia da Igreja e não aqueles que eram membros da Igreja no sentido

mais amplo. A tentativa da Igreja em restabelecer o controle dela sob a sua

própria hierarquia levou a um estreitamento do domínio religioso. Conselhos

ecumênicos foram convocados, os cânones de leis se tornaram codificados e

extensos. A disciplina da Igreja para a maior aumentou e Papa se tornou um

foco inegável da liderança da Igreja.

Uma estratégia geral para acompanhar a centralização da Igreja

e sua tentativa de retomar o controle foi reafirmar a Territorialidade e aumentar

a possibilidade de forças seculares tomarem o controle do território da Igreja.

Isto ocorreu pelas reclamações reiteradas nos cânones dos primeiros

períodos. O poder dos bispos é reafirmado sobre aqueles em seu território. No

conselho de Lateran, ano de 1123, o cânone dezenove ordenava que os

monastérios reconhecessem seu bispos e em Lateran, em 1215, o capítulo 9,

era ordenado que os bispos providenciassem tudo dentro das suas dioceses

150

Page 151: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

para uso nos mesmos rituais. Para prevenir a má escolha, abusos e uso do

território como um fim, proibições familiares contra pluralidades e translações

foram promulgadas (Lateran, ano de 1179, cânones treze e quatorze; Lateran,

ano de 1215, capítulo vinte e nove; e Lions, ano de 1274, cânone dezoito).

Similarmente nós encontramos as proibições de bispos interferindo dentro das

jurisdições de outros, como em Lateran, em 1139, cânone três ( proibindo os

bispos de receberem aqueles que foram excomungados por outros bispos), e

Lions, 1274, cânone quinze (proibindo os bispos de ordenar aqueles que

pertencessem a outra Igreja). Também foram promulgadas restrições

familiares sobre o poder dos bispos quando em visitações (Lateran, 1215,

capítulos trinta e três e trinta e quatro).

Novas proibições foram colocadas para prevenir o controle dos

oficiais da Igreja pela investidura e pelo fortalecimento do poder do Papa. Isto

fez os ofícios da Igreja mais burocráticos e hierárquicos. Em Roma, em 1059,

o cânone seis, proíbe os padres e outros clérigos de receberem igrejas

particulares. Em Clermont, em 1095, o cânone cinco proíbe o apontamento de

leigos e de qualquer abaixo do subdiácono para os bispados; o cânone seis

proíbe a compra de um benefício; o cânone quinze e dezesseis proíbe o

clérigo de receber qualquer preferência eclesiástica de leigos e também deles

fazerem qualquer investimento; e o cânone dezoito proíbe o leigo de ter

capelões que não estejam sobre a autoridade de um bispo. Estes foram

repetidos e elaborados em outros concílios posteriores e formaram partes da

posição da Igreja sobre investimento. Em Lateran, em 1112, o Papa Pascal

revogou o direito do investimento. Em Lateran, em 1123, o cânone vinte e dois,

declara nulo e em branco todas as ordens conferidas inapropriadamente a

bispos, o cânone quatorze proíbe o leigo de interferir com a propriedade da

Igreja. Em Lateran, em 1139, se ordena que as pessoas leigas que tiverem

propriedades da Igreja devem retorná-las ao bispo, e em Dalmatia, em 1199, o

cânone oito, condena o leigo de patrocinar oficiais da Igreja.

Deter o poder do secular e aumentar a burocracia do oficialato da

Igreja focalizou a autoridade da Igreja no topo. O papa mudou de uma posição

151

Page 152: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

entre os bispos de primus inter parus para soberano absoluto da Igreja. Uma

das justificativas mais importantes para o papel central do Papa foi a doação

ilegítima de Constantino. Este documento foi interpretado como dizendo que o

Papa sozinho poderia depor e restituir bispos; que ele sozinho pode fazer

novas leis, heregir novos bispados e dividir os velhos, Ele sozinho pode

transladar bispos e os seus legados têm o precedente sobre todos os bispos.

Em 1335, o Papa exerceu o seu direito de apontar e de conduzir eleições

locais de clérigos. Embora este direito de apontar parecesse tornar o poder do

Papa absoluto, em muitos aspecto ele enfraqueceu o controle efetivo sobre a

Igreja ao longo do tempo. Em primeiro lugar ele podia possivelmente não

conhecer todas as pessoas que ele estava apontando, e elas muito

freqüentemente eram patrocinadas por forças locais que já estavam no poder.

Segundo, os príncipes achavam que uma centralização do poder da Igreja em

Roma seria mais fácil de se lidar (ou ignorar) do que uma multidão de fontes

diferentes.

Durante este período poucas mudanças na atitude oficial

ocorreram em relação à igreja como um prédio (embora muitos dos hereges

fossem hostis aos prédios da igreja). Ela continuou o primeiro e mais

importante local consagrado que tinha divisões internas de santidade do

pórtico ao altar. As velhas regras prescrevendo a conduta apropriada nas sub-

áreas dentro do prédio da igreja continuaram aplicáveis, mas da mesma forma

continuou o costume de usar a igreja para propósitos seculares. A despeito do

fato de que a parte final da Idade Média foi um tempo um pouco mais secular,

e que a própria Igreja estava pronta para aumentar a distância entre o secular

e o sagrado, o prédio da igreja geralmente continuava a estrutura física mais

importante na comunidade e seu uso não refletia as distinções entre o sagrado

e o secular. Ao invés disso, ela continuava a servir, entre outras funções, como

a prefeitura, local de defesa, local de refúgio e hospital.

A separação da Igreja do resto da sociedade está talvez mais

claramente ilustrada em dois exemplos não-territoriais, mais espaciais. O

primeiro tem a ver com a posição do padre durante o serviço. Era costume até

152

Page 153: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

o século XII para o padre ficar de frente para a congregação durante o serviço;

mas as reformas Gregorianas do final do século XI e XII tem o padre agora

encarando o altar e dando a sua costa para a congregação, desta forma

aumentando a ‘distância pessoal’ entre o padre e os paroquianos. O segundo

tem a ver com a acessibilidade da própria Bíblia, declarando que somente o

clérigo deveria possuí-la. Em 1080 a Igreja proibiu qualquer leigo de até

mesmo ler a Bíblia em sua totalidade. “A partir do Waldenses em diante tentar

examinar a Bíblia se tornou prova presumível de heresia.”

A partir do século XII, a Igreja fez um esforço concentrado para

restabilizar e ampliar a sua organização formal e hierarquia. Isto foi feito em

grande escala pelo restabelecimento da ligação entre a hierarquia, o poder e a

Territorialidade, e pela redução da autonomia local das unidades territoriais e

o controle sobre elas pelo poder secular. Dentro da Igreja, a impersonalidade

dos oficiais cresceu, e os cânones- lei foram ampliados e codificados, a

organização foi centralizada, e o poder hierárquico e Territorialidade foram

feitos explícitos. Mas, no século XIV a máquina do governo, suas regras,

regulamentos e tamanho começaram a ruir. Havia corrupção, ineficiência e

prostituição ostensiva dos valores, tudo isto foi manifestado no uso do território

pela Igreja. O acesso territorial diferenciado aos recursos criou enormes

diferenças na hierarquia da Igreja e entre a Igreja e o mundo secular. O

controle do território e o compromisso com uma sé em particular geralmente se

tornou um fim em si mesmo. Este valor do controle territorial aumentou os

números de transferências e pluralidades (de más escolhas) entre indivíduos e

territórios. Além disso, os esforços da Igreja na consolidação a fez mais

separada e visível para a comunidade. O líder onipresente da Igreja, o Papa,

passou a representar a própria Igreja..

O fim do século XIV também o crescente desassossego social e

o ressentimento geral com as autoridades que atuaram na reforma. Profundas

mudanças econômicas estavam ocorrendo. Os números de desabrigados

aumentou e as cidades estavam crescendo no tamanho. Os interesses

seculares tendiam a estancar em algumas restrições da Igreja sobre negócios

153

Page 154: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

e usura. A separação e até o mesmo distanciamento da Igreja era parte do

desligamento geral da atual mudança político-econômica. Como o lorde da

terra, conservador e dono da propriedade, a Igreja não era simpática às

necessidades dos novos interesses capitalistas emergentes. O Capitalismo,

conforme Weber indicou, não florescia nos locais dominados pela Igreja

católica. Muitos líderes do governo que se aliaram com os interesses

capitalistas tinham a intenção de se apropriar ou “nacionalizar” a propriedade

da Igreja. E a corrupção na Igreja estava por toda parte. A consolidação

hierárquica e territorial do poder da Igreja e sua visibilidade crescente deu ao

insatisfeito politicamente um objetivo claro. Se a corrupção da Igreja não fosse

maior do que nunca (e provavelmente era), a fonte parecia ser mais

prontamente identificável. Eram as facetas visíveis da Igreja que os reformistas

atacaram.

A Reforma e o após.

Importantes mudanças ocorreram na Igreja Católica desde de a

Reforma, mas em termos de Territorialidade e hierarquia estas foram menores

quando comparadas com a variedade de estruturas organizacionais que

ocorreram dentro das denominações Protestantes. As estruturas destas

denominações demonstram novamente que a Territorialidade está associada

com a hierarquia organizacional e a burocracia. Além disso, o estabelecimento

das primeiras Igrejas Protestantes repete, embora num espaço de tempo mais

curto, os antigos dilemas cristão com respeito a hierarquia da Igreja, ao

território e ao propósito religioso. Apesar do fato de que o Protestantismo

oferece um leque maior de alternativas para as questões da estrutura da Igreja

e fé do que ofereceu o catolicismo, é importante reconhecer que o

Protestantismo encontrou problemas com respeito a autoridade e a fé que

foram similares àqueles que nós descrevemos para o primeiro catolicismo, e

que a Territorialidade novamente desempenhou um papel previsível. Nós

destacaremos alguns desses assuntos com relação a estrutura da Igreja

154

Page 155: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Protestante e ao território antes de sumarizar algumas das mudanças da pós-

reforma na organização da Igreja Católica.

Protestantismo.

As reformas Protestantes atacaram os elementos mais visíveis

da Igreja católica: a hierarquia dos oficiais da Igreja, seus rituais, e seus

monumentos físicos. O próprio prédio da igreja, que era consagrado pela

tradição da Igreja, era distinguido como a maior entidade territorial. A maior

parte das paróquias ou dioceses geográficas não foi mencionada. Conforme

nós notamos, o ataque a consagração dos prédios, e as orações em prédios,

não era novo no Cristianismo. É encontrado também no Velho e no Novo. É

encontrado no conselho do quarto século de Gangra pelos seguidores de

Erustatius, e novamente nas vésperas das Reformas no movimento dos

Alumbrados ou Illuminati, e os Anabatistas.

Estes grupos escolheram as facetas mais visíveis da igreja por

causa desses aspectos, que eram pensados como se tivessem desviado a

atenção dos objetivos verdadeiros do Cristianismo. Os líderes da Reforma

alegavam que a hierarquia da Igreja subverteu os princípios fundamentais

contidos nas escrituras e que somente havia um meio de repará-los que era

purificar a Igreja da sua organização e voltar as condições do Cristianismo

primitivo. Atacando a hierarquia e a Igreja visível, o Protestantismo, como o

Cristianismo primitivo, tinham o objetivo de separar o sagrado do secular. Ao

invés de se ocupar somente com o segmento da vida, a disciplina Protestante

queria penetrar cada faceta da vida. A ênfase do Protestantismo sobre

“riqueza conforme o trabalho” e em “um chamado” fez este movimento de vital

interesse para o Capitalismo. A ligação entre o Capitalismo e o Protestantismo

foi fortalecida por fortes laços políticos nos países capitalistas emergentes. O

Protestantismo se tornou a religião do Estado para a maioria das nações

capitalistas mais avançadas na Europa.

155

Page 156: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

As condições do Cristianismo primitivo que Lutero desejava

restabelecer foram definidas por ele em termos extremamente pessoais e

idealístico que vinham sendo baseados primariamente na fé. Lutero atacou as

distinções entre os padres e os leigos. Ele condenou aqueles que achavam a

religião no alimento e nas vestimentas, nos lugares santos e nos dias santos.

Às vezes ele permitia que as igrejas fossem simplesmente locais convenientes

de adoração: “Nós não devemos restringir o prédio de igrejas adequadas e

seus adornos, nos não podemos viver sem eles. E a adoração pública deve

ser corretamente conduzida da maneira mais adequada. Mas deve haver um

limite para isto, e nós devemos tomar cuidado para que as intenções da

adoração sejam pura ao invés de monetárias.” Mas, em outros tempos ele as

teria eliminado todas junto. “A Igreja não tem mais nenhum laço com uma

cidade, pessoal ou tempo.” Ele via a forma física como desviando a atenção do

sagrado: “Nós somos desviados dos mandamentos de Deus por tal barulho e

agitação.”

Não é preciso dizer que uma comunidade de fé não é fácil de se

estabelecer. Uma organização religiosa precisa mais do que isso para a

direção, especialmente porquê, como os cristão primitivos antes, os

Protestantes não estavam operando em um vácuo social. Eles estavam

competindo com a Igreja Católica, com um grupo burguês de fé Protestante, e

talvez mais significativamente, eles estavam encravados nas instituições

políticas que continuariam a usar as organizações da Igreja para suplementar

o seu controle. Na Europa, a Igreja e o Estado estavam intimamente ligados, e

assim teria que ser segundo as perspectivas contemporâneas, pois salvar

almas ainda era um negócio sério. Uma organização religiosa não poderia

esperar se sustentar sem algum suporte político. E os interesses políticos

viram estes novos grupos religiosos como um meio para os fins políticos.

A comunidade de Lutero da fé precisaria de uma organização

mais visível, quer Lutero quisesse ou não, e o sucesso do seu movimento

forçou a se referir aos assuntos organizacionais. Seus assuntos sugerem que

156

Page 157: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

ele preferia uma forma onde a congregação ou a assembléia cristã tivesse o

direito a julgar, apontar e a dispensar os ensinadores. Ele notou que até

mesmo a Igreja primitiva tinha disciplina e que se a Igreja atual não pudesse

reforçar suas regras então as autoridades civis deveriam fazê-lo. Isto não

significava que um grupo era separado do outro, porque as autoridades civis

também eram cristãs. Significava que a Igreja precisava da autoridade civil

para ajudá-lo na reforma. Chamando as autoridades seculares para suportar e

impor a conduta da Igreja resultou numa ligação forte entre a Igreja e o Estado.

Em muitos países o Luteranismo se tornou a religião do Estado.

Lutero era também contra os prédios da igreja ou os tolerava

como convenientes, mas lugares inconsagrados para assembléia e adoração.

Tolerar as igrejas significava tolerar ou encorajar a adoração nelas e isto

levantou o problema de decidir que outras funções elas eram permitidas de

conter. Isto não era uma questão insuperável para as comunidades

Protestantes porque ao ligar o religiosos a vida secular, a comunidade impôs

restrições severas nesta última. Vários reformistas Protestantes tentaram banir

a leitura de qualquer outra coisa que não fosse a Bíblia e canto de qualquer

outra coisa que não fosse os hinos, tal que permitindo a adoração dentro de

um prédio pode não ter feito muito diferente o que acontecia dentro do prédio

do que acontecia fora dele.

Ao nível episcopal, Lutero aceitou, sem questionamento, o uso da

paróquia e da diocese. Isto foi compreensível porque a paróquia tinha se

tornado também uma unidade secular de administração e se o Luteranismo

recebesse o apoio do Estado, o governo provavelmente usaria os territórios

políticos existentes para definir e moldar a comunidade religiosa. Lutero

insistia no atendimento obrigatório da igreja dentro da paróquia até mesmo

para os não crentes, para ser reforçado pela autoridade secular local; “quem

quer que estivesse na paróquia era da paróquia.”

A paróquia continuava a ser político-administrativa bem como

uma unidade da igreja. No Luteranismo Sueco, antiga hierarquia Católica e a

157

Page 158: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

estrutura territorial episcopal forma mantidas virtualmente intactas. A única

mudança significativa foi na liturgia e nos procedimentos da escolha. A velha

estrutura da paróquia continuou e se tornou uma unidade de consenso. O

padre da paróquia registrava todos os eventos principais tais como

nascimentos, mortes, posses de terras e valores das fazendas. Se qualquer

um entrasse na paróquia ele tinha que se registrar com o padre da paróquia.

Quando o governo Sueco reconheceu oficialmente os direitos de outras

religiões, a estrutura da paróquia pertencia a elas também. Uma área não-

Luterana deveria ter uma igreja não-Luterana que deveria ter a

responsabilidade de manter os registro da paróquia.

Assim Lutero não se dedicou muito ao governo da Igreja (embora

desde o começo o Luteranismo fosse firmamente ligado à hierarquia do

governo e as igrejas Luteranas mantivessem as formas episcopais Católicas),

Calvin tinha muito mais a dizer sobre o governo da Igreja, e os primeiros

movimentos Calvinistas “coexistiram” com tais governos ao invés de se

tornarem uma parte deles. O ataque de Calvin à Igreja católica foi similar ao de

Lutero, mas os interesses de Calvin no governo e disciplina vieram da sua

crença de que a fé não era suficiente para definir uma comunidade. Uma vez

que Calvin via o homem como maior pecador do que via Lutero, Calvin

acreditava que o homem precisava de mais guia e supervisão. O homem tinha

o desejo de fazer o bem, mas não podia ter sucesso sem a ajuda da Igreja.

Para um Calvinista, a fé era um presente de Deus, dada para uns poucos que

tinham sido predestinados para a salvação. Mas até mesmo eles não eram

perfeitos na sua fé, e nenhum sinal visível diferenciava estes daqueles

reprovados. A Igreja, da necessidade, inclui ambos, e ambos precisam da

orientação e da disciplina da Igreja.

O governo da igreja de Calvin foi projetado para trabalhar com o

governo secular, e em particular o governo da cidade de Genebra. A Igreja

tinha quatro camadas de oficiais: os doutores em ensino, os pastores de

pregação, os anciões da disciplina, e os diáconos administrativos. O corpo

central do governo da Igreja, o consistório, era composto de ministros e de

158

Page 159: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

representantes do conselho da cidade que cooptaram pelo Clero. Outro corpo,

a companhia venerável dos pastores, era composto de todos os pastores e de

dois anciões selecionados pelos conselhos. Estes corpo propunha a legislação

para o consistório e também analisava a indicação dos pastores.

O governo da Igreja e a disciplina era para ser aplicados

territorialmente. O prédio da igreja e para ser mantido, mas não consagrado.

Calvin tinha a mesma bivalência para estrutura como tinha Lutero. Ele

acreditava que as igrejas eram necessárias devido a necessidade de oferecer

uma assembléia para a comunidade, mas elas não eram especialmente

sagradas e nem eram para ser chamadas de casa de Deus: “Deixe aqueles

que atribuem à Igreja poder no sentido comum, ouçam o que Hilório tem a

dizer sobre esse assunto, ‘nós fazemos errado em venerar a Igreja de Deus

nos tetos e nos edifícios.’” As igrejas eram simplesmente locais de adoração e

por causa das rígidas regras sobre o comportamento do público, o alcance real

da conduta permissível dentro delas era bem pequeno. As igrejas rurais eram

fechadas quando não eram usadas para adoração.

Calvin, pelas mesmas razões que Lutero, manteve as paróquias

como um meio de definir e moldar a comunidade. Antes da Reforma, Genebra

era dividida em cinco paróquias. Calvin redefiniu as fronteiras para dividir a

cidade em três. A supervisão da comunidade pelo consistório deveria ocorrer

em parte territorialmente, Dois membros do consistório, acompanhados pelo

pastor, deveriam visitar cada paróquia regularmente tal que “seus olhos

deveriam estar sobre as pessoas.” A fronteira da paróquia era essencial para

definir as funções críticas; “para se trazer crianças ao catecismo e para se

receber o sacramento, as fronteiras da paróquia devem ser o máximo possível

obedecidas.”

Outros reformistas Protestantes foram além do que Calvin e

Lutero foram, não somente atacaram as organizações da igreja, mas tentaram

evitar a criação de novas; uns poucos até mesmo atacaram a paróquia. John

Smythe, por exemplo, em seus “Princípios e avaliações com relação a Igreja

159

Page 160: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

visível”, de 1607, tentou definir as verdadeiras manifestações de um governo

cristão da Igreja. Uma comunhão da fé genuína ou “santos”, disse Smythe,

produziria uma Igreja visível. “A Igreja visível é somente uma sociedade

religiosa que Deus ordenou aos homens na terra. Todas as sociedades

religiosas exceto aquela da Igreja visível são ilegais e entre as mais notórias

destas estão: as Abadias, os monastérios, os conventos, as catedrais, os

colégios e as paróquias.”

Os primeiros elementos Batistas e Congressionalistas não foram

organizados ao longo das linhas da paróquia e suas visões sobre o prédio da

igreja eram bem mais flexíveis do que as dos Luteranos e dos Calvinistas.

Talvez os amigos ou Quakers fossem e continuem sendo o grupo com a

menor hierarquia; e ,não surpreendentemente, suas divisões, mesmo na

Europa, não eram baseadas nas paróquias nem os seus prédios eram

consagrados ou especificados somente para adoração. Eles eram casas de

“encontro”. E até mesmo entre os Quakers havia a tendência a uma leve

reflexão espacial ou territorial da hierarquia. As casas de encontro geralmente

tinham assentos separados para os mais velhos do grupo.

As condições incomuns dentro dos Estados Unidos da separação

da Igreja e do Estado se espalharam no contínuo organizacional das

denominações cristã na direção de uma menor hierarquia e rigidez e menor

Territorialidade. Com exceções das denominações dos Episcopalians e de

alguns Metodistas, a fé americana Protestante do século XX não faz

referência a paróquias ou dioceses ao descrever suas estruturas.

Congregantes são concebidos em termos não-territoriais, embora geralmente

espaciais. As congregações podem formar regiões noudais. Uma igreja pode

decidir não se localizar próximo de outra com a mesma denominação por

medo que não haja congregantes o suficiente para encher ambas. Mas que

prédio uma pessoa vai escolher para freqüentar não é uma questão de

domicílio, mas sim de conveniência.

160

Page 161: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Assim as bases da freqüência não estão ligadas às regras sobre

a residência, algumas igrejas Protestantes usam os territórios para definir o

domínio da responsabilidade entre os seus oficiais de mais alto nível. No

sentido mais fraco os territórios podem ser usados simplesmente como um

mecanismo de agrupar as igrejas e congregações quando se é pra mandar

delegados para os conselhos de mais alto nível da Igreja. Tal Territorialidade

suave é usada pelos Quakers para selecionar delegados para os encontros

nacionais. Um pouco mais fortes são aquelas poucas denominações

Protestantes que têm alguém como um bispo observando a conduta dos

ministros dentro de uma unidade territorial.

A pós-reforma da Igreja.

No extremo final do contínuo territorial ainda reside a Igreja

Católica. Mas mesmo ai tem havido relaxamento no controle territorial em

níveis dos paroquianos. Agora é possível para os Católicos freqüentar missas

em igrejas que não são as das suas paróquias. É também possível se casar,

batizar e comungar em igrejas diferentes da sua se houver uma permissão da

própria igreja. Estas condições foram iniciadas para refletir uma população

mais geograficamente móvel. Ainda, a hierarquia da Igreja continua tão

territorial quanto antes. Assim, nos últimos 400 anos em geral a organização

da Igreja Católica comparada a outras Igrejas tem parecido menos moderna ou

mais tradicional.

A Reforma foi parte das mudanças radicais históricas; entre elas

o surgimento do Capitalismo, do individualismo, e o questionamento da

autoridade tradicional. Estes foram desenvolvimentos poderosos. Diferente das

mudanças nos mundos Clássico e Feudal que tiveram efeitos profundos na

Igreja, estes desenvolvimentos modernos tiveram relativamente pouca

repercussão na estrutura e doutrina da Igreja Católica. Em seus esforços para

retomar o terreno perdido nas Reformas, e na sua subsequente expansão no

Novo Mundo, África e Ásia, a Igreja continuou a consolidar a sua autoridade

161

Page 162: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

bem como lutar velhas batalhas tais como os assuntos do feudalismo. Foram

dados passos em direção ao estabelecimento de uma maior impersonalidade

na disciplina e no ofício da Igreja, e um reforço mais rígido na escolha por

exame, promoção por mérito, e padronização do pagamento por salário ou

comissão. Apesar do fato de que estes se tornaram os elementos dos

governos modernos e dos negócios incorporados em suas próprias

burocracias, os grandes e conservadores holdings econômicos da Igreja, o seu

compromisso com outras formas organizacionais tais como o modelo de

família, o seu compromisso com a tradição e o rito, e sua perda de influência

naquelas áreas do mundo que foram a vanguarda do desenvolvimento

econômico impediram a estrutura da Igreja de se desenvolver em linhas mais

modernas e impediram a Igreja de se tornar uma força para a mudança.

Nós agora já vimos porque a Igreja empregava a Territorialidade

e nós vimos como esses efeitos foram componentes integrais da organização

da Igreja e ajudaram a forma aquelas facetas da estrutura da Igreja que

parecem modernas, especialmente aquelas referente às relações hierárquicas

impessoais. Mas os efeitos da impersonalidade dentro da hierarquia da Igreja

pôde somente avançar até antes de entrar em conflito com o compromisso da

Igreja da tradição, do ritual e outros modelos organizacionais. As duas outras

maiores contribuições da Territorialidade para a modernidade - a camuflagem

das fontes do poder e a apresentação de um espaço esvaziável e preenchível

- foram de menos uso para a Igreja. A Igreja estava mais interessada em fazer

o seu poder visível do que disfarçá-lo. Isto significa se apoiar na reificação e no

deslocamento que, conforme nós notamos, não é a mesma coisa de que

camuflar as fontes do poder.

Esvaziamento e preenchimento repetido do espaço também não era um

uso importante do território da Igreja. Em larga escala geográfica este uso

aparece quando o poder político suficiente existe para realmente se planejar,

mudar, estabelecer, ou remover largas populações. Embora a Igreja tivesse o

aval de Espanha e Portugal para redistribuir populações dos nativos

americanos e asiáticos, estes esforços dirigidos da igreja forma pequenos e

162

Page 163: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

curtos comparados com aqueles ligado às venturas territoriais políticas dos

poderes coloniais..

A Igreja possuía poder o suficiente para controlar o que ocorria

dentro dos seus prédios. Mas esta escala era uma forma arquitetural

tradicional e ritual que impedia o espaço da Igreja de se tornar concebido

como um molde conceituadamente esvaziável e preenchível. O prédio da

Igreja estava geralmente sem os paroquianos. Mas isto não significa que ele

era então pensado como um vácuo, potencialmente preenchível com

atividades inespecificadas. Pelo contrário, cada detalhe do prédio da Igreja

continha um significado simbólico e usos preestabelecidos (embora as

atividades seculares ocorressem dentro dele conforme nós vimos na Idade

Média), e a estrutura inteira, como um local consagrado, nunca estaria sem o

conteúdo espiritual. Isto novamente é muito diferente do sentido arquitetural

moderno de que os edifícios podem ser projetados como conchas contendo

volumes ou espaços que pode ser colocado para uso múltiplos e interligados.

É claro, que para ter o poder territorial de esvaziar e preencher o espaço e

conceber o espaço como uma moldura contingente inibe o sentido de que o

espaço e o local são preenchidos com a experiência e a importância espiritual.

Os efeitos territoriais de obscurecer as fontes de conflito e de

conceituadamente e realmente esvaziar e preencher o espaço, bem como de

criar relações impessoais, são os componentes mais importantes da

Territorialidade moderna. Para explorá-los nós retornaremos aos reinos que

exerciam enormes poderes sobre o comportamento espacial enquanto

desprezavam o conteúdo e o significado do local e do espaço: os reinos da

política e do trabalho. A organização política e o trabalho foram as áreas mais

intimamente associadas com as mudanças no Capitalismo e cada uma exibiu

efeitos territoriais modernos, mas em escalas geográficas diferentes.

5. O sistema territorial Americano.

A Reforma foi uma grande transformação ocasionada pelo

Renascimento e pelo surgimento do Capitalismo. As outras foram a exploração

163

Page 164: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

do mundo, as descobertas e as colonizações. O vasto continente Norte

Americano, com sua população relativamente esparsa de indígenas na época

do contato, propiciou aos colonos norte-europeus Protestantes o mais fértil dos

solos para o desenvolvimento de uma economia-política moderna. Como e

porquê a Territorialidade se tornou um instrumento de assentamento e de

governo e quais são seus componentes modernos?

Descoberta e colonização.

Emergência do espaço e do território abstrato.

Os usos modernos do território não apareceram de uma vez só.

As concessões e alvarais para o Novo Mundo eram documentos

primariamente feudais nos quais os monarcas concediam privilégios

econômicos e políticos para pessoas e companhias. As condições

apresentadas no Novo Mundo eram tão diferentes dos casos prévios de

expansão territorial que as velhas formulas foram forçadas a ter novos

nuances. Da perspectiva territorial, o que se destaca aos olhos modernos

sobre o começo das “descobertas” é a natureza geométrica abstrata para as

reivindicações de soberania sobre uma área. Estas reivindicações parecem ser

a pré-condição natural para limpar um lugar para comunidade e autoridade e

para moldar outras e mais específicas organizações sociais. Em sua escala e

intensidade, e não menos em sua concepção, esta filosofia para pessoa e

lugar tem uma áurea moderna. Ela aponta para uma definição territorial

explícita e intensa das relações sociais. Quando as relações entre as pessoas

e o território mudam freqüentemente a definição territorial conduz a um senso

abstrato do território e do espaço, no qual é separável conceituadamente dos

eventos que ele contém. Em resumo, desde o começo os europeus pareciam

estar empregando a Territorialidade em um grau abstratamente significante e

isto ao mesmo tempo pressupõe e reforça a concepção abstrata do espaço.

164

Page 165: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A presença no século XVI de um uso mais moderno do território e

do espaço é clara no retrospecto, e ainda as concepções contemporâneas

foram de fato uma mistura complexa do novo e do velho. A maioria dos

observadores dificilmente estavam alertas das mudanças que estavam

ocorrendo. É claro que as características do espaço e do território que nós

associamos com os usos modernos são até hoje desconhecidas e nós temos

penetrado em níveis diferentes de consciência social em diferentes graus e em

diferentes períodos. Estes pontos sobre os estágios do desenvolvimento e os

níveis de penetração serão retomados, mas devemos primeiramente

considerar a aparência inicial geral da visão moderna de espaço.

As descobertas e os novos significados de espaço e território,

foram parte de duas mudanças sociais fundamentais: a substituição da velha

ordem econômica do feudalismo pelo Capitalismo; e a substituição da

mentalidade medieval pela Renascência. O Capitalismo Mercante tirou a

Europa de uma economia e política feudal fragmentado e celular, para uma

rede econômica global baseada em um punhado de sistemas econômicos e

políticos nacionais procurando novos mercados, novas rotas de transporte e

aumentando a jurisdição territorial. E de tradicional para outra mundialmente

intelectual, a orientação surgiu como uma curiosidade vital sobre o mundo, um

apetite insaciável por novas experiências e o Protestantismo para justificá-las.

A visão do espaço terrestre que predominava nos mil anos entre

a queda de Roma e época das descobertas derivou das experiências

geográficas de uma sociedade feudal fechada e da influência da interpretação

da Igreja Católica da Bíblia. A primeira oferecia uma conceituação comum de

espaço, de lugar e de distância intimamente ligada com as experiências diárias

dos seus conteúdos. Ela era baseada no mesmo sentido de espaço que nós

descrevemos para as sociedades primitivas e de camponeses. Os eventos e

as Experiências, e não a locação no espaço abstrato, definiam os lugares e as

distâncias. Embora fosse possível medir rudemente as distâncias entre os

locais, estas unidades abstratas tinham poucas relações com experiências

concretas. Além disso, o mundo medieval simplesmente não tinha o aparato

165

Page 166: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

técnico para representar acuradamente até mesmo áreas locais. Os mapas

medievais de terra eram esquetes (ver a figura 5.1) contendo escalas e

distorções numerosas. Quando lugares distantes eram coletados juntos dentro

de um sistema conceituadamente abstrato era na conformidade com a

cosmografia religiosa. A representação visual deste mundo usualmente tinha a

terra dividida em três regiões: a África, Ásia e a Europa; e estas eram

geralmente centradas em Jerusalém (ver figura 3.8). A importância desta

concepção é que onde quer que alguém estivesse realmente localizado no

espaço físico é irrelevante; a pessoa deveria empenhar-se para estar no centro

- em Jerusalém.

Ao invés de usar esse sistema simbólico fechado, os

exploradores pensavam o espaço da terra (e o tempo) mais abstratamente e

geometricamente: a longitude, latitude, distância e o tempo eram referências

espaciais primarias. Exemplos podem ser encontrados no ocidente e em

outras civilizações de pessoas usando o sistema de coordenadas para

descrever a Terra. Mas conforme nós notamos estes tinham importâncias

diferentes e foram usados para propósitos diferentes do que o caso do sistema

ocidental emergente de relações espaciais. O sistema de coordenada chinês

foi infundido com significados cósmicos; cada quadrado era um microcosmo do

mundo. As grades que costumavam mapear os planos das cidades e das

propriedades de terra no Império Romano não sugerem uma concepção de um

contínuo espacial abstrato. Ao invés disso, as unidades estavam amarradas e

geralmente ligadas às propriedades de terras preexistentes e conformadas

com a topografia local.

O tempo bem como o espaço foi lentamente alterado pelos

eventos pós-Renascência. O mundo simplesmente não ficaria esperando o

tempo passar até a segunda vinda de Cristo. O surgimento e a queda do Velho

Mundo tinha sido redescoberto. Os europeus estavam agora ciente de que as

civilizações mudam através do tempo. Na verdade, a nova ordem econômica

estava para impelir o ocidente em uma era de mudança rápida e não paralela.

A sociedade atual estava sendo compreendida de maneira diferente das

166

Page 167: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

sociedades passadas e o futuro teria ainda diferenças maiores no estoque.

Para muitos, estas mudanças forma para melhor; a passagem do tempo

estava para se tornar a estrada para o progresso. Como uma medida da

mudança e do progresso, o tempo se tornou abstrato para eventos

particulares. E esta abstração aumentava, conforme o tempo se tornava mais

finamente medido e as unidades de trabalho se tornaram definidas por ele.

Estas mudanças na consciência do espaço da terra e o tempo

não tiveram efeito imediato na política ocidental e na especulação teórica

sobre o território e a sociedade. O pensamento Renascentista sobre o território

continuava no modelo medieval a ser limitado por duas áreas principais. Uma

era a relação do tamanho geográfico com o processo político. Outra eram os

méritos das diferentes formas das propriedades de terra ou de direitos de

propriedade. Estes foram discutidos abstratamente, mas o entendimento geral

e que a despeito das suas origens, as relações territoriais foram primeiro

definidas socialmente. Elas tendiam a englobar comunidades orgânica reais.

Uma comunidade em geral era pensada como sendo uma entidade unificada

com um propósito comum. Embora muitas comunidades não-geográficas

existissem (as comunidades dos cristãos para um), os territórios eram

geralmente vistos como ligações das entidades sociais coesas. Para o

feudalismo este era o caso especialmente nas escalas geográficas mais baixas

- o imóvel e a cidade - onde o político e o econômico eram conciliáveis. Aqui a

comunidade e o território eram praticamente sinônimos. Esta associação e

percebida claramente nas visões contemporâneas predominantes sobre a

representação da comunidade.

Uma vez que as necessidades essenciais e os objetivos da

comunidade eram para ser divididos entre os seus membros, uma

representação resultaria se alguém pudesse transferir estas necessidades

para o governo. Este alguém, fosse eleito ou não, era um representante. Este

sistema era forma costumeira antes do século XVII, mas não parece ter

recebido um nome. Nós vamos chamá-lo de “representação orgânica”, embora

ele possua característica similares àquelas descritas por Burke na

167

Page 168: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

“representação visual.” Diferente da visão moderna de representação

proporcional a representação orgânica não via a tarefa de representação

refletir os números dos indivíduos na comunidade. Cada comunidade era vista

como uma entidade única com um desejo comum e uma necessidade, e desta

forma cada comunidade, independente da sua população, podia ser

representada por uma única pessoa que tinha conhecimento sobre a

comunidade e era sensível aos seus interesses. Aquela pessoa nem mesmo

precisaria ser da comunidade que ela representava. Não foi até o século XVIII

(conforme demonstrado nas constituições locais adotando a representação

proporcional) que tal visão foi seriamente desafiada, embora não totalmente

substituída. Aí se tornou fortemente evidente que as comunidades geográficas

não estavam mais necessariamente unidas em seus interesses, mas ao invés

disso elas geralmente eram coleções de indivíduos com interesses e

necessidades diferentes e competitivos. Com mais esta definição territorial de

relações sociais vem a necessidade de conceber um sistema com algum tipo

de representação proporcional.

O Velho Mundo via a Territorialidade primariamente como

socialmente definida, mas os eventos estavam quase para mudar isto. A

consciência do Novo Mundo acelerou uma abstração do espaço, porque as

Américas apresentaram aos poderes europeus um espaço vasto, distante,

desconhecido e novo. Isto significou que com a tecnologia limitada e o poder

político ao seu dispor, os europeus podiam “limpar” o espaço e formar

territórios para organizar e preencher em seus níveis geográficos como uma

intensidade que era impossível encontrar no Velho Mundo. Novamente é

importante notar esta realização e o uso do espaço que não ocorreu de uma

vez. Ela é de fato ainda emergente e intensa. As descobertas, entretanto,

deram um enorme impulso ao processo.

As reivindicações coloniais.

168

Page 169: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

As bulas papais Alexandrinas de 1493 são o primeiro exemplo do

que parece para nós e o que foi para um número de gerações, em efeito, uma

definição territorial métrica abstrata total das relações sociais. Estes

documentos, logo suplantados pelo Tratado de Tordesilhas, em 1493,

reconhecia a autoridade da Espanha sobre qualquer terra não-cristã

descoberta a aproximadamente 100 léguas ao oeste de Açores e das Ilhas

Cabo Verde, e para Portugal a autoridade era reconhecida sobre novas

descobertas ao leste. Esta linha era de fato uma latitude de pólo a pólo. Pela

primeira vez na história um sistema geométrico abstrato tinha sido usado para

definir uma vasta área (global) de controle. Até o século XV isto pode não ter

parecido tão grande e abstrato uma divisão geométrica do mundo por causa

das descobertas de Colombo e suas sucessoras imediatas não seriam os

continentes mas inúmeras ilhas fora da costa da Ásia. O termo ilha aparece

freqüentemente no próprio Tratado de Tordesilhas e é através das ilhas que o

Papa justificava o seu envolvimento porque, de acordo com a Igreja, a doação

ilegítima do oitavo século de Constantino incluía um legado para a Igreja das

ilhas na porção ocidental no Império Romano. Estendendo a fronteira do velho

Império para incluir o Oceano Atlântico, este documento foi interpretado pelos

Papas como um meio que eles tinham autoridade para garantir o domínio

sobre as ilhas naquele mar bem como no Mediterrâneo.

As concessões papais de domínio para Espanha e Portugal

foram dificultadas pelas obrigações religiosas e seculares. Num lado religioso

esperou-se que a Espanha e Portugal tivessem autoridade e responsabilidade

por todas as almas dentro dos seus respectivos domínios. Como uma

concessão secular ela interpretada como uma extensão da autoridade feudal

sobre qualquer entidade política que este territórios pudessem conter.

Não somente a vastidão do Novo Mundo foi subestimada, mas

também as primeiras indicam que o final do século XV até o meio do século

XVI esperava-se que os habitantes desses reinos possuíssem costumes e

unidades territoriais que eram similares àquelas dos europeus. A conquista

então necessitaria de uma soberania estabelecida sobre estas pessoas e suas

169

Page 170: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

terras. A suposição de que as novas terras conteriam velhos tipos de

organizações políticas é vista na linguagem das primeiras concessões. As

Cartas de Patente do Rei Henrique VII para John Cabot, em 1496, declaram

que Cabot deve subjugar, ocupar e possuir todas as cidades, castelos e ilhas

que eles encontrassem e que ele também poderia subjugar, ocupar e possuir

todos os vassalos e governadores, impondo as mesmas regras, títulos e

jurisdições das mesmas vilas, cidades e castelos e das terras até aqui

encontradas, e a concessão a Sir Walter Raleigh, em 1584, deu a ele

autoridade sobre as terras, territórios e países que foram conquistados e sobre

suas cidades, castelos, vilarejos e vilas.

Embora os exploradores entrassem em contato com altas

civilizações nas Américas Central e Sul, eles não encontraram tais cidades,

castelos e vilas da forma esperadas por muitos na América do Norte, e

gradualmente o caminho foi aberto para os territórios norte-americanos se

tornarem presentes para o público como uma terra selvagem e, em termos de

conteúdo social, como um espaço vazio. Muitos dos nativos norte-americanos

que os europeus encontraram tinham economias primitivas com o uso comunal

da terra. Eles praticavam agricultura mas também eram caçadores e coletores.

Seus campos pareciam vagos e desarrumados para os olhos europeus e, com

exceção do cachorro, eles não tinham animais doméstico. Seus costumes e

usos da terra pareciam tão estranhos e seus processos políticos tão indistintos

que muitos europeus concluíram que os índios eram subumanos e que

poderiam e deveriam ser removidos da terra.

Em sua “História geral da Virgínia, Nova Inglaterra e das Ilhas

Summer”, John Smith descreve os índios ( voltando atrás, porque ele tinha

escrito antes que eles eram gentis e generosos) como “pérfidos e inumanos;

besta cruéis com uma brutalidade maior do que as próprias bestas”, e o amigo

de Smith, Purchase, argumentou ( de acordo com Jennings) que “o cristão

inglês deve com todo direito tomar a terra dos índios porque Deus intencionou

que suas terras deveria ser cultivadas e não deixadas nas condições de um

170

Page 171: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

lugar selvagem e desabitado, que eles, os selvagens, não faziam mais do que

habitar.”

Embora esta idéia de desabitado fosse contrária ao fato, ela se

tornou uma racionalização das expropriações européias das terras dos índios

e foi usada por colonização européia como uma desculpa para remover os

povos aborígenes de todos os lugares. Definir os índios como selvagens ou

subumanos foi um passo importante na sua remoção porque os europeus

contemporâneos geralmente alegavam que “invadir e despossuir as pessoas

de um país civilizado não-ofensor violaria a moralidade e transgrediriam os

princípios das leis internacionais.” Os índios conquistados eram tratados

diferentemente do que os europeus. A maioria dos colonos holandeses em

Nova Iorque não eram despojados de suas terras quando os ingleses

tomavam a colônia. Ao invés disso, eles simplesmente pedidos para obedecer

a lei inglesa ao invés da lei holandesa. Nem todos os Irlandeses foram

removidos de suas terras quando os ingleses plantaram colônias em Ulster. Os

holandeses e os Irlandeses eram cristãos e os ingleses pensavam que os

primeiros, especialmente, eram um povo civilizado cujos direitos de

propriedades deveriam ser respeitados. Acreditar que os índios eram não-

civilizados e selvagens, mais do que qualquer coisa, diminuiu a

responsabilidade dos europeus com as reclamações de terra pelos índios e fez

a grande expansão das Américas parecer espaço vazio para se tomar.

É claro que a expulsão dos índios foi mais fácil de se pensar do

que se fazer. Os índios, em maiores números do que os primeiros

colonizadores europeus, geralmente eram capazes de usá-los. Em muitos

casos dois grupos viviam misturados, às vezes em amizade, mas geralmente

não, e geralmente afetando a cultura um do outro. Alguns europeus falaram

contra a apropriação da terra dos índios. Mas estes eram geralmente

argumentos vazios e aqueles que os faziam ficariam felizes de possuir a terra

dos índios se a oportunidade surgisse. Roger Williams, que tentou proteger o

direito de Salém a terras que foram compradas dos índios ao invés da Coroa

171

Page 172: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Inglesa, teve que justificar o fato de que a terra pertencia aos índios. De

acordo com Cronon, Williams argumentou

que o Rei tinha cometido uma injustiça ao dar o país para seus assuntos

ingleses que pertenciam aos índios nativos. Mesmo se os índios usassem a

terra diferentemente do que os ingleses, eles entretanto a possuíam pelo

direito de a terem ocupado primeiro e pelo direito das mudanças ecológicas

que eles tinham operado nela. Se os índios tinham conduzido a agricultura ou

não, eles caçavam por todo país, e pela expedição das suas viagens de caça,

eles queimavam todos os arbustos no país, uma ou duas vezes por ano. A

queima de madeira, de acordo com Williams, era uma melhoria que deu aos

índios tanto o direito ao solo quanto o rei da Inglaterra poderia reclamar para

as suas florestas imperiais. Se o inglês podia invadir os territórios de caça dos

índios e reclamar direito de propriedade sobre eles porque eles estavam sendo

improdutivos, então os índios poderiam fazer da mesma forma com os parques

de jogos reais.

Mas, os argumentos pelos direitos indígenas, fossem eles para

proveito próprio ou não, foram descartados pelo clamor pelas terras indígenas.

No começo do século XVII, a caracterização dos índios e suas relações não-

agriculturais com a terra como subumanos serviu como razão para a expansão

branca. Em 1629, o governador Winthrop de Massachusetts declarou que a

maioria da terra na América estava sobre a rubrica legal do vacuum

domicilium porque os índios não a tinham subjugado, e John Cotton escreveu

que “em um solo vago aquele que tomar posse e realizar culturas e

benfeitorias nele tem direitos sobre ele.” Esta posição persistiu através do

século XIX. O chefe de justiça Marshall em 1823, argumentou que os índios

eram bárbaros selvagens cuja ocupação era a guerra e cuja subsistência era

dirigida da floresta e além disso a lei que regula as relações entre o

conquistador e o conquistado era incapaz de se aplicar a pessoas sob tais

circunstâncias.

172

Page 173: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

As concessões do Novo Mundo descrevem as reivindicações

territoriais abstratamente e geometricamente e, em conjunto com a limpeza

conceitual e real das terras dos índios, as linhas geométricas da autoridade

territorial se tornam uma vassoura para a limpeza do espaço e um mecanismo

de manutenção das comunidades territorialmente instituídas. A primeira

concessão de Virgínia em 1606 estabelecia jurisdição sobre um território

definido pelas linhas de latitude, entre 34o e 45o ao norte e a mais de 100

milhas da praia. Ele foi usado para estabelecer dois assentamentos em

alguma parte no espaço métrico, um entre 34o e 41o ao norte, e outro a 38o e

45o ao norte. Cada um tinha uma reivindicação para os recursos a 50 milhas

ao norte e ao sul e a 100 milhas ao oeste. Estas reivindicações foram

elaboradas e estendidas na segunda (1609) e terceira (161-12) concessões. A

terceira estendeu as reivindicações marítimas para 300 léguas, mas nenhuma

continha detalhes sobre como os territórios seriam subdivididos adiante.

No dia 3 de Fevereiro de 1618, a companhia deu à colônia

autoridade para conceder incorporações e em 1619 os procedimentos da

primeira assembléia de Virgínia menciona que os representantes foram de

cada incorporação e plantação. No dia 24 de agosto de 1621, as ordenanças

de Virgínia estabeleceram uma assembléia geral baseada na representação

da burguesia de cada uma cidade, de cem ou de outras plantações em

particular. Assim no início de 1618, e certamente em 1621, uma colônia

contendo somente umas poucas milhares de pessoas estabelecia subdivisões

territoriais para representações políticas. Em 1634, a assembléia geral criou a

forma de condado do governo local e assim uma organização territorial

hierárquica foi instituída. As concessões de Virgínia usavam fronteiras métricas

abstratas, mas não elaboraram o tipo de subdivisões territoriais. As primeiras

concessões das colônias subsequentes eram para serem feitas e na ocasião

descreviam procedimentos para uma representação real. Na realidade, elas

aparentavam freqüentemente ter uma filosofia flexível e até mesmo

experimental para a Territorialidade subdividindo o espaço.

173

Page 174: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A concessão de 1629-30 para Sir Robert Heath definiu seus

domínios como:

Todo aquele território ou trilha de terra, situado e estando dentro dos domínios

da América, se estendendo do final norte das ilhas Lucke, que ficavam nos

mares da Virgínia, e dentro de seis e trinta graus da latitude norte para o oeste

até os mares do sul, e então para o sul até o rio St. Matthias, que bordeava a

costa da Flórida, e dentro de um e trinta graus da latitude norte, e então para

oeste numa linha direta até o mar do sul já citado acima.

Isto deu a ele poderes plenos para transformar vilas em

municípios, e municípios em cidades para os méritos dos habitantes e a

conveniência dos lugares com privilégios e imunidades condizentes para

serem erguidas e incorporadas, e fazer todo o resto diferente e singular,

baseado nas primícias que parecerem mais convenientes para ele ou para

eles. Uma declaração e proposta do proprietário de terra da Carolina, em

1663, artigo 4, contém estipulações para unidades sub-territoriais e para

representações de área. Ela declara que:

Nós devemos dar poderes a maior parte dos proprietários livres ou a seus

deputados ou representantes para serem escolhidos entre eles mesmos; dois

de cada tribo, divisão ou paróquia, de maneira que todos concordem, para

fazer suas próprias leis, com a orientação e o consentimento do governador e

do conselho.

A concessão da Ilha Rhode, em 1663, (suas fronteiras foram

estabelecidas em concessões prévias), cobra aquela assembléia geral edifique

e estabeleça lugares e cortes de jurisdição e prescreva, limite e distinga os

números e ligações de todos os lugares, vilarejos ou cidades. A concessão da

província de Maine, em 1639, permite a incorporação das cidades, municípios

e lugarejos com todas as liberdades e coisas pertencentes aos mesmos

e concede pleno poder e autoridade para dividir toda e qualquer parte dos

territórios aqui concedidos, em províncias, condados, cidades, lugarejos,

174

Page 175: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

centenas ou paróquias em outras partes ou porções. Se estabelecendo em

todas ou em cada uma delas, para apontar ou lotear tais porções de terras

para usos públicos.

A concessão de Nova Cesárea ou New Jersey, em 1664, criou

uma assembléia geral

para estabelecer taxas iguais dentro dos vários recintos, centenas, paróquias,

feudos ou qualquer outra divisão que seja feita e estabelecida na dita

província. E para dividir tal província em centenas, paróquias, tribos ou

divisões que eles acharem adequadas, e que tal representação deve ser

baseada nas divisões dessas áreas.

Na Constituição Fundamental da província de New Jersey do

Leste, em 1683, são encontradas filosofias geográficas até mais flexíveis para

representação. A representação para o grande conselho é destacada, mas

sem pontos específicos porque as unidades territoriais não estão fixadas ainda

em número e tipo:

Considerando que até o presente não há tantas cidades construídas como

poderia ter, nem províncias divididas em condados como deveriam estar

divididas, e que consequentemente nenhuma divisão certa pode ser feita de

quantos devem ser escolhidos de cada cidade e condado; embora até o

presente quatro e vinte serão escolhidos para as oito cidades e oito e quarenta

para o condado.

A concessão para William Penn, em 1681, é notavelmente

métrica. Ela deu a ele toda terra

ligada ao leste pelo Rio Delaware, a partir de 12 milhas de distância ao norte

da cidade de New Castle até os graus três e quarenta da Latitude Norte, e a

partir da nascente do rio citado, as ligações ao leste são determinadas por

uma linha meridiana, a ser desenhada da nascente do rio citado, até os graus

175

Page 176: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

três e quarenta. As terras citadas se estende a oeste cinco graus na longitude,

a serem consideradas nas fronteiras leste citadas; e as terras citadas a serem

ligadas ao norte pelo começo da latitude norte de três e quarenta graus, e no

sul por um circulo desenhado a 12 milhas de distância da parte norte e oeste

de New Castle até o começo da latitude de quarenta graus ao norte, e então

por uma linha reta a oeste até o limite da longitude acima citada.

Dentro deste domínio Penn recebeu o poder absoluto para dividir

o dito país em cidades, centenas e condados, e para promover e incorporar

cidades em municípios e municípios em grandes cidades. Penn tentou fazer

isto em seu elaborado trabalho “Diretrizes do Governo” (1682-96 e 1701) que

continha esquema detalhados de unidades sub-territoriais.

Os planos de 1669 para a Carolina foram talvez os mais

fantásticos e elaborados esquemas para o parcelamento territorial hierárquico.

Supostamente ele era pra ter sido delineado por Locke, mas nunca foi

totalmente colocado em prática. A extensão para a qual a hierarquia é

estipulada pode ser vista a partir da primeira de muitas regras com relação às

subdivisões das terras:

Toda província deve ser dividida em condados, formando quadrados; cada

condado deve consistir de oito senhorios, oito baronatos e quatro recintos; e

cada recinto deve consistir de seis colônias. Cada senhorio, baronato e colônia

deve consistir de doze mil acres. Tal que estabelecendo e plantando nas

terras, o balanço do governo pode ser preservado.

Estas concessões oferecem evidências para atitudes

experimentais e abstratas com reação ao território e a comunidade em uma

larga escala geográfica. O que pode ser dito sobre as atitudes em relação a

comunidade e a terra a um nível mais local? Embora a resposta seja

complexa, aqui também nós encontraremos evidências para uma concepção

mais abstrata progressivamente de espaço. Embora as concessões primárias

contivessem várias características feudais, o tipo de título de terra que a

176

Page 177: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

maioria geralmente estipulava foi modelado após o título de terra de

Greenwich Leste no condado de Kent. (As concessões de terra em Maryland e

Pensilvânia foram modeladas após o título de terra no bispado de Durham que

foi muito parecido com o de Kentish). As características gerais dos títulos de

Kentish, ou títulos de terras livres ou comuns como eles eram chamados, eram

que:

1. A terra era partida livremente em porções iguais entre os herdeiros homens

desde que não houvesse primogênito na descendência de propriedade em

Kent. 2. Os homens de Kent poderiam livremente vender ou dar suas terras e

poderiam acionar a justiça pelos mesmos motivos na corte do Rei, mesmo

contra os seus lordes. 3. Os procedimentos da corte eram mais diretos e

menos incômodos do que em qualquer outra parte. E 4. Todos os homens de

Kent nasciam livre; a vilania era desconhecida em Kent.

Conceder terra conforme a prática em Kent significava que o

sistema menos complicado feudamente de títulos de terra seria praticado nas

colônias da América do Norte. Este tipo de propriedade de terra foi o melhor

encontrado para as relações comerciais especulativas envolvendo uma

população móvel, comprando e vendendo terras inexploradas e concebendo-a

como parcelas do espaço quantificáveis e valiosas.

Assim esses sistema de terras descomplicado encorajou uma

concepção abstrata do lugar, os primeiros colonos tinham que vir e conhecer a

terra e queriam fincar raízes. Mas o conhecimento geográfico era limitado,

especialmente porquê haviam poucos deles e a terra era muito vasta. Algum

grau de conhecimento é mostrado nas primeiras reivindicações de terra para

os condados, cidades e para a propriedade de terra privada. As reivindicações

de terra geralmente mencionavam as características naturais tal como a costa,

um rio, um riacho ou uma colina. Freqüentemente nomes índios para os locais

e descrições foram incluídas nas primeiras reivindicações européias de terra.

Por exemplo, a porção de terra comprada dos índios em 1636 por William

Pychon descreve a propriedade em Springfield como

177

Page 178: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

o solo e o muckeosquittaj or madows, accomsick, no outro lado de Guana; e

todo o solo em muckeosquittaj no lado de Agaam, exceto Cottinackeesh ou o

solo que agora está plantado. E todo o solo no lado leste do Rio Quinnecticot,

alcançando a quatro ou cinco milhas de extensão ao norte do final de

Masaksicke até o Rio Chickuppe.

Um indivíduo viria conhecer os conteúdos da sua fazenda e de

alguma coisa da sua própria cidade, mas a vastidão da terra e a escassez dos

seus habitantes europeus tornou improvável que ele conhecesse bem a área

adjacente que existiria até a próxima cidade. Assim, a formação das cidades

era geralmente irregular, deixando em aberto, espaços não reclamados. Até

que no século XVIII, Massachusetts requereu que os assentamentos fossem

contínuo para facilitar a proteção dos colonos durante as rebeliões índias. E

mesmo se área fosse diretamente adjacente àquela que estava sendo

assentada, isto ainda não significava que aqueles que estavam sendo

assentados a conhecessem em primeira mão. A terra era geralmente colocada

a disposição antes que ela fosse pesquisada. Isto ocorreu até 1715, quando

Massachusetts fez o seu primeiro esforço concentrado para prospectar as

terras antes de colocá-las a disposição, neste caso as terras entre os rios

Connecticut e Merrimac. As prospecções neste período descreviam a terra nos

termos mais superficiais, em parte porque elas estavam se tornando abstratas

e geométricas. O aumento na precisão espacial ocorreu no meio do século

XVIII ao descrever-se a terra em termos de retangulações ou distâncias

simples e direções a partir de um único ponto que era geralmente conhecido

às custas da menção das suas características físicas locais e história. Por

exemplo, o tipo de detalhe físico e cultural, embora modesto, contido no

acordo de 1636 com William Pychon (acima) está ausente em um mesmo ato

do século XVIII de um mesmo município que transferiu os direitos a duas

cidades definidas abstratamente como

o conteúdo total de seis milhas em largura e sete milhas em extensão e as

cidades a serem situadas em uma forma regular no canto sudoeste do dito

178

Page 179: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

trato de terra começando no canto nordeste de uma nova cidade chamada e

conhecida pelo nome de New Framingham e a partir daí indo até o norte e o

leste para incluir as duas cidades acima descritas e colocá-las em uma forma

regular conforme dito acima.

A América do Norte e a Irlanda.

Uma breve comparação dos processos na América do Norte com

aqueles acompanhando a colonização inglesa da Irlanda (que foi outra área

grande da expansão inglesa além-mar naquela época) ilustra quanto mais

abstratas foram as reivindicações territoriais norte-americanas, e quanto mais

vazia a terra parecia. O inglês tinha invadido a Irlanda no século XII desde ai

tinha feito reivindicações de um tipo ou de outro sobre a terra irlandesa. O

conhecimento sobre os costume irlandeses e Geografia estava disponível para

os ingleses e embora alguns irlandeses não fossem agricultores eles todos

eram cristão, embora para os ingleses Protestantes após o reinado de

Henrique VIII talvez do tipo errado. De fato eles eram cristãos por mais tempo

do que os ingleses.

O longo conhecimento e o contato da Inglaterra com a Irlanda, e

sua aceitação invejável dos irlandeses como humanos e cristãos, adicionava

detalhes específicos e geralmente significativos para a imagem inglesa da

terra irlandesa que era impossível conceituadamente de se apagar. Esta

familiaridade tornou difícil para os ingleses pensarem a Irlanda como um

espaço vazio que podia ser geometricamente subdividido em unidades

territoriais, isto é visto nos graus com que os mapas as prospecções e os

planos das plantações inglesas na Irlanda se conformavam com o contexto

irlandês rico preexistente.

Os ingleses prospectaram as terras irlandesas antes que eles

empregassem maiores esforços na colonização nos séculos XVI e XVII. Estes,

bem como os registros dos atos de propriedade, apontam para o grau na qual

as plantações inglesas eram enxertadas nas propriedades irlandesas

179

Page 180: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

preexistentes. Os planos geralmente incluíam a disseminação dos irlandeses

dentro das plantações inglesas. Por exemplo, o decreto inglês precedendo as

ordens de 1608 com relação a fundação para a plantação de terras

confiscadas nos Estados de Ulster na parte quatro diz que “os usuários dessas

terras seriam de vários tipos. 1. Ingleses e Escoceses que quisessem plantar

suas porções com inquilinos ingleses e escoceses. 2. Pessoas que estivessem

servindo na Irlanda que pudessem pegar inquilinos ingleses ou irlandeses a

sua escolha e 3. Nativos desses condados, que deviam ser proprietários

livres.”

Então a prospecção da terra se dá de condado a condado. Para

prevenir a necessidade de futuras prospecções, havia a estipulação de que

medidas de terras preexistentes e unidades deveriam der usadas: nas

palavras do decreto para evitar confusão e o trabalho de se medir o condado

inteiro outra vez, cada ballyboe (unidade irlandesa de área) deve ter os mesmo

laços e quantidade que são conhecidos, estabelecidos e usados na época da

partida do Traidor Tyrone. Instruções posteriores sobre a conformação aos

usos da terra preexistente são encontradas nas “Ordens e condições a serem

observadas pelos usuários sobre a distribuição e plantação das terras

confiscadas no Ulster” (de uma cópia impressa em 1608), e nos “Artigos para

instruções de quais devem ser os comissários apontados para as plantações

da Irlanda.” Estes, por exemplo, expressão a necessidade de se ser cuidadoso

em distinguir as terras confiscadas das outras terras, e que a divisão de terra

dentro dos condados deve reconhecer os limites antigos das velhas paróquias

ou estarem ligados pelos conhecidos Metts e nomes, com a menção particular

tanto do número e do nome de cada Ballyboe, Tath, Polle ou Quarto ou recinto

similar irlandês de terra, e dar a cada uma porção um nome próprio para ser

conhecida.

As prospecções inglesas de Ulster em 1618 (dez anos após os

planos para o assentamento) ilustram ainda mais o quão detalhado foi o

conhecimento para a terra e quanto a população nativa e o conhecimento do

passado foi incorporado nos novos assentamentos. Um exemplo típico está na

180

Page 181: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

prospecção de Pynnar. Para o condado de Cavan, Pynnar começa com a

menção de 3.000 acres possuídos por Sir James Hamilton. Os nomes das

principais terras são Keneth, 2.000 acres, e Casbell, 1.000 acres. Pynnar

descreve a terra de Casbell da seguinte forma:

Sob esta proporção está construído um castelo muito forte e grande de

Calcário, chamado de Castelo de Aubignie, com as armas do Rei esculpidas

em uma pedra sobre o portão. Este Castelo tem cinco compartimentos de

altura, com quatro torres redondas por flanco, o corpo do Castelo tem

cinqüenta pés de comprimento, e vinte e oito pés de largura. E há uma junção

de um bawne de Calcário no final do Castelo, com oitenta pés quadrados com

dois flancos de quinze pés de altura. Ele é muito solidamente construído, e

certamente bem trabalhado. Neste castelo ele próprio habita, e mantêm

moradia com sua esposa e família. Este castelo é situado no encontro de cinco

caminhos, e guarda toda aquela parte do país.

Ele continua a descrever o número de proprietários ingleses e

aldeões na suas terras, os proprietários de terras e suas características, bem

como a prospectar as terras loteadas para os servidores e os nativos.

Os assentados ingleses na Irlanda podiam saber muito mais do

que sabiam aqueles na América do Norte sobre a terra na qual eles estavam

sendo assentados. Os mapas, as prospecções e os acordos continuavam a

incorporar características detalhadas da terra e o uso da terra irlandesa

preexistente com suas práticas e divisões. Além disso, os planos de

assentamento tinham a população irlandesa misturada entre a inglesa.

Compare isto com as reivindicações abstratas do controle territorial feitas pelas

concessões da América do Norte. Aqui uma característica física pode ser

mencionada, lá um nome indígena, mas mais o sentido predominante é o da

reivindicação e subdivisão de um espaço vazio.

181

Page 182: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

As definições sociais diminuídas de um

Território.

Na sua fundação, praticamente toda colônia na América do Norte

Britânica estava usando formas geométricas abstratas para reclamar a terra, e

estavam preparando um meio de subdividir seu território em níveis

convenientes e números de unidades sub-territoriais. Até mesmo os sub-

territórios eram pensados pelos contemporâneos como estando, pelo menos

em parte, definindo as relações sociais e são vistos na freqüência com a

palavra “conveniência” é usada para justificar o seu estabelecimento. Além

disso, a liberdade dada aos colonos para determinar o mais conveniente tipo,

nível e número de unidades sub-territoriais sugere também que a relação entre

as pessoas e o território é em alguns aspectos como um gigantesco

experimento social no uso do espaço, para afetar, organizar e controlar o

comportamento.

Também acompanhando a criação territorial das unidades sociais

estava o sentimento de que estas unidades deviam englobar as entidades

sociais orgânicas. Mas a vitalidade desta visão foi diminuída conforme o papel

do comércio e da mobilidade geográfica aumentou. A batalha perdida para

reter um sentido definido socialmente de comunidade em nível local está

ilustrada por toda América do Norte, mas também mais fortemente no caso

puritano.

Os puritanos se estabeleceram na Nova Inglaterra para

estabelecer teocracias, e a paróquia desempenhou uma grande parte na

definição e organização da comunidade. A cidade de Nova Inglaterra era uma

paróquia com autoridade civil outorgada. O caráter dinâmico dos eventos no

Novo Mundo foi logo reconhecido pelos colonizadores e foram incorporados na

estrutura da Igreja. Em 1648, os puritanos estabeleceram regras nas quais os

pregadores e paroquianos poderiam mudar de paróquias. Mas, essas

concessões para a mobilidade não foram suficientes sempre para manter a

182

Page 183: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

comunidade e a paróquia como uma entidade única. As fronteiras da paróquia,

especialmente nas cidades, eram geralmente ignoradas. Igrejas separadas

surgiram o que não coincidia com os territórios preexistentes, e algumas

denominações não reconheciam as paróquias de maneira alguma.

Outros indícios de uma perda da definição social de território

pode ser visto no aumento da ênfase sobre as residências como uma definição

para a adesão nas comunidades da Nova Inglaterra. Entre as razões para

manter a sociedade da Nova Inglaterra fechada estava o desejo de que elas

contivessem cidadãos, divisões religiosas compatíveis e que não seriam

atrapalhados como eles eram na Inglaterra com o fardo de suportar os pobres.

O meio direto de afastar aqueles que eram indesejáveis era criar restrições

legais para residência. A terra da cidade pertencia inicialmente aos fundadores

e novos moradores tinham que ser aprovados pelos homens da cidade antes

que eles pudessem se estabelecer na comunidade e possuir a terra. Isto

significava que a cidade se preocuparia somente com aqueles pobres que

eram membros da comunidade.

Umas das primeiras tentativas registradas de restringir a entrada

na Nova Inglaterra é encontrada em uma regra de 1639 para a vila de

Sandwich que estabelecia um princípio geral de entrada conforme a seguir: “E

para melhor realizar os negócios entre eles, é assim ordenado que nenhum

homem deve ser admitido como habitante em Sandwich, ou gozar de

privilégios, sem a provação da Igreja e de Mr. Theo Prence, ou de qualquer um

dos assistentes que eles escolherem.” Regras similares foram estabelecidas

por outras cidades, mas geralmente era o caso de que se outra cidade

garantisse receber de volta os seus imigrantes, então ele poderia ficar por um

pouco mais; mas cedo ou tarde ele teria que pedir pela admissão à cidade na

qual ele agora residia. Em 1636, a colônia de Plymouth estabeleceu regras

para os novos moradores, estipulando que “nenhuma pessoa vindo de outras

partes seria permitida como habitante na sua jurisdição sem aprovação do

governador e de dois magistrados no mínimo”, e no mesmo ano Boston

estabeleceu regulamentos para controlar até mesmo a estadia de convidados

183

Page 184: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

ordenando que “nenhum homem da cidade deve abrigar estranhos em suas

casa por mais de 14 dias, sem comunicar aqueles que são apontados para

ordenar os negócios da cidade.”

Para proteger ainda mais a entrada, muitas comunidades

estipularam que ninguém era permitido vender terras a estranhos sem

aprovação da comunidade. Em uma disputa sobre transações de terra, a

cidade de Sudbury, em 1636, afirmou que Richard Fairbanke “tinha vendido a

dois estranhos as duas casa no final de Sudbury que eram de William

Balstones, contrário a uma ordem anterior, assim a venda deveria ser anulada,

e o dito Richard Fairbanke deveria pagar por seu rompimento acima citado.” E

em 1657, a corte de Plymouth respondendo as queixas da cidade de Taunton

para o efeito que

Algumas pessoas sem posses e difamadas se estabeleceram na dita cidade

para habitar aqui, não tendo a aprovação de nenhum dos dois magistrados de

acordo com uma ordem da corte, e contrários às opiniões dos habitantes. A

corte determinou que: 1. nenhuma pessoa será abrigada por qualquer

habitante da cidade , ou a pena a ser estabelecida será de vinte shillinges para

cada semana que eles abrigarem a pessoa sem a aprovação de cinco homens

escolhidos e apontados para ordenar os negócios públicos da cidade; e 2. Da

mesma forma é ordenado que, você deve tomar cuidado com os homens da

sua cidade, para que nenhuma pessoa ou pessoas da sua cidade vendam,

deixe de herança ou dêem a casa ou a terra para qualquer pessoa, de modo a

trazer pessoas para habitar entre eles, mas que devam ter aprovação de dois

magistrados no mínimo de acordo com a ordem antiga da corte, que terão

como resposta o desdém se fizerem o contrário.

Muitas comunidades adotaram tais restrições na adoção de

membros visando controlar o acesso à propriedade da terra e especialmente

controlar a elegibilidade para o alívio dos pobres. Mas a maioria das

comunidades estavam se tornando maiores, e os estrangeiros entrando nelas

estavam aumentando em números. Para manter a ordem e propiciar o serviço

184

Page 185: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

social, um critério mais indulgente para residência era necessário. Um

consenso formado baseado em uma cláusula em uma lei adotada em

Plymouth, em 1642, estabelecia que “cada pessoa que vivesse e estivesse

estabelecida em qualquer cidade e não fosse contestada no prazo de três

meses após a sua chegada neste caso seria declarada como habitante

daquele lugar.” “Advertência”, como era chamada, tinha o efeito de mudar para

a Territorialidade algumas das definições de adesão de membro da

comunidade. Simplesmente estar em um lugar por três meses sem ser

encontrado ou sem se tornar um empecilho, permitia a alguém se tornar um

membro da comunidade e elegível para o alívio do pobre. O alerta também foi

logo adotado por outras comunidades da Nova Inglaterra e foi incorporado em

1672 nos Artigos da Confederação (o Artigo XIII). Mas, a população e a

mobilidade geográfica continuavam a crescer até o ponto em que as

comunidades não podiam pagar e nem suportar por todos os pobres que

entravam e que não eram alertados. Então, o século XVIII viu uma extensão

do tempo que uma pessoa deveria residir antes de ser aceita na comunidade e

sendo elegível para o alívio do pobre ou melhor dizendo a ajuda para sua

sobrevivência. Prolongar o tempo também foi calculado para fazer os governos

coloniais, e mais tarde o Estado, se tornarem parte da obrigação da ajuda ao

pobre. O Estado só veio a fazer isto no século XIX e isto permitiu que as

comunidades locais diminuíssem o tempo para residência.

O aumento da população, a mobilidade geográfica e as

divergências internas fizeram a Nova Inglaterra parecer mais com as

comunidades de conveniência do que com entidades orgânicas; e nos meados

do século XVIII essas tendências davam mais reconhecimento legal quando as

concessões coloniais continham não somente as estipulações para a

representação proporcional, mas também pedidos para o repartimento

periódico baseado no censo. Isto significava que as entidades territoriais eram

oficialmente reconhecidas como moldes convenientes e contingentes e não

simplesmente como entidades orgânicas. A representação proporcional foi um

importante elemento na filosofia política dos federalistas e uma parte da

Constituição. Mas, antes de examinar a evidência do período revolucionário,

185

Page 186: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

nós devemos notar que haviam ainda outros usos da Territorialidade na era

colonial.

Outros efeitos territoriais.

As concessões do territórios eram bases predominantes da

organização do governo colonial, mas logo ocorreram assentamentos sem tais

concessões. Dois famosos são de Plymouth e de New Haven. É interessante

que as colônias não concedidas ou companhias tinham eventualmente que

reclamar o território e faziam isto comprando-o de índios (ver notações

precedentes de Roger Williams). Enquanto as compras não podiam ser vistas

da perspectiva dos índios, os colonizadores acreditavam que o território era

necessário e de uma forma que os europeus lhe reconheceriam. As colônias

que tinham terras concedidas tinham menos compulsão em se estabelecer

com os índios morando dentro da concessão porque, da perspectiva européia,

os europeus já a possuíam. A Territorialidade foi o modo preferido de governo

e este modo gerou mais território. Formariamente as colônias não-territoriais

também tinham que reivindicar terras de si próprias ou eram incorporadas em

colônias adjacentes que tinham feito tais reivindicações.

O período colonial exibe muito dos efeitos territoriais que nós

esperaríamos de uma organização hierárquica emergente. Ele foi usado pelos

governos para definir os reinos de controle e as hierarquias de

responsabilidade. Mas, ele também teve o efeito inesperado de criar más

escolhas e abusos. Isto parece não-intencional porque nenhuma evidência

clara existe de que a Territorialidade foi usada na época para disfarçar as

fontes do poder. Sobre as muitas más escolhas e abusos, um exemplo

obscuro com relação a estrutura da paróquia da Nova Inglaterra vale a pena

ser descrito simplesmente por causa que seus efeitos eram tão claramente

inesperados.

186

Page 187: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Conforme nós notamos, Massachusetts estava preocupada que a

paróquia e a autoridade civil deveriam coincidir e que o congressionalismo

deveria ser a religião oficial. E o Clero da colônia, originariamente seria querido

para ser suportado por contribuições voluntárias dos seus paroquianos. Mas

uma vez que as contribuições voluntárias não estavam vindo em quantidade

suficiente, em 1650, o governo teve que promulgar taxas para suportar o

Clero. As taxas a se pagar ao Clero foram estabelecidas em bases

proporcionais. Mesmo aqueles que não eram congressionalistas deviam ser

taxados para suportar tanto as funções e eclesiásticas da cidade em 1692 o

suporte do Clero da cidade pelas taxas da cidade foi reiterado na concessão

dada a William e Mary. Em 1728, exceções a estas taxas foram dadas aos

Anabatistas e aos Quakers, e em 1734 aos Batistas. Mas, não haviam

exceções para aqueles congressionalistas leais que não queriam suportar a

sua igreja particular ou ministro e ainda para aqueles que queriam como

congressionalistas. O único jeito que eles tinham de escapar de uma taxa

dupla era se converter a uma das religiões existentes para suportar a paróquia

daquela igreja. A parte central deste paradoxo é que enquanto o controle

territorial ocorria parcialmente bem no estabelecimento formal de domínios de

responsabilidade para suportar e para a freqüência da Igreja Congressional,

ele não ocorria bem em conter as pessoas que ele intencionava controlar.

O sistema territorial colonial teve importantes conseqüências para

o governo e para a concepção das comunidades, mas não deve ser esquecido

que a intenção primária da colonização era providenciar riqueza para o país-

mãe. Dar concessões territoriais ajudava o país-mãe a explorar os recursos do

Novo Mundo. Para ajudar com o estímulo da exploração, uma porção

significante das primeiras concessões continha uma longa lista de recursos

que eram reivindicados dentro do território. Estas listas são surpreendentes na

luz do fato de que a Territorialidade pode tornar possível estabelecer

simplesmente que uma reivindicação estava sendo feita para qualquer coisa

de valor dentro das fronteiras da concessão, e assim invocar a vantagem

territorial de classificar por área e não por tipo. Mas, talvez houvesse a

necessidade de lembrar os colonizadores dos itens em demanda e talvez era

187

Page 188: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

o costume então nomear o que era de valor ao invés de usar um termo

abstrato tal como recurso. Em todo caso, as listas nos lembram que a

colonização era uma aventura econômica em uma época em que a Europa

estava entrando em uma economia global de comércio. Nomear as coisas de

valor a serem tiradas da terra torna claro que a terra era primariamente de

valor até aqui uma vez que ela continha os recursos e as comodidades. Mas,

as comodidades mudam conforme os mercados mudam. A posse de terra é

especulativa em uma economia de mercado. A mudança da natureza das

comodidades e suas flutuações nos valores estimula a noção de que o espaço

e seus locais uma vez podem ser preenchidos com coisas de valor, e que em

outra vez, pode ser esvaziado do valor; aquele espaço é meramente uma

moldura na qual as comodidades são locadas; e aquele lugar e eventos estão

relacionados contingentemente. Esta noção é reforçada pelo meio

desembaraçado de possuir a propriedade e pelo sistema métrico abstrato de

descrever a propriedade e o território político. Juntos estes apresentam o

espaço como um sistema abstrato, conceituadamente e quase sempre

realmente esvaziável e preenchível.

O período revolucionário e a expansão para o

oeste.

No século XVI até o século XVIII - durante os quais a exploração

e a colonização da América do Norte aconteceu - foi um período de mudança

econômica e política para o resto do mundo ocidental. As nacões-estados

estavam sendo forjadas e a maior parte da Europa Ocidental estava se

tornando o foco de uma economia global emergente. Não de se surpreender

que este período também viu o desenvolvimento das importantes novas idéias

na política. Filósofos como Hobbes, Locke, Rousseau, Bodin, Montesquieu, e

seus contemporâneos realizaram análises sistemáticas da natureza da

sociedade e do governo. Eles estavam interessados em que as sociedades

188

Page 189: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

realmente eram e como elas podiam ou deveriam ser. Coletivamente seus

questionamentos levantaram vários assuntos interrelacionados que tiveram a

ver com o desenvolvimento da organização política americana.

Entre as questões mais importantes que eles levantaram se

referem ao melhor tipo de governo. As maiores escolhas da época eram a

monarquia, aristocracia, democracia (direta, por exemplo, sem

representantes, ou indireta, por exemplo, com representantes) ou algumas

misturas destas. Intimamente ligada com a questão do governo ideal esta a

concepção do tipo de sociedade que era ou devia ser governada. Esta

comunidade seria dividida em classes sociais e econômicas, caso sim de que

tipos? Esta comunidade seria grande ou pequena em tamanho e população?

Quais seriam as suas facções sociais predominantes?

Cada filosofo descreveu de alguma forma diferentemente as

condições do atual e do ideal. Além disso, a maioria pensou que o tipo de

governo deveria se combinar com o tipo de sociedade. Haviam teorias

medonhas como a de Hobbes, que focalizava primariamente na explicação e

justificativa da concentração do poder em um monarca. O poder do soberano

era transferido a ele com o consentimento dos seus submissos para preveni-

los de perseguir seus próprios interesses e se meterem em conflitos

prolongados. A sociedade sem o governo seria um caos. Ela estava em um

estado de natureza e permaneceria assim a menos que as pessoas dessem a

alguém a autoridade para ser um soberano.

Em comparação com este estado de natureza qualquer abuso

real do poder empalidece. Os outros viram as relações mais complexas entre a

sociedade e o governo. Eles acreditavam que era importante ter os interesses

da sociedade representados (organicamente, que é até o século XVIII) e não

ter poder demais concentrado em um único ofício. Balancear o poder a

temperaria, varia justa e a legitimaria. Havia o específico, mas a consideração

prática de como a sociedade deveria ser subdivida e representada, e como as

divisões territoriais e hierarquias seriam parte do sistema de poder. Alguns até

189

Page 190: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

mesmo consideravam como estas partes e suas funções seriam afetadas pelo

tamanho e escala da sociedade.

Era geralmente afirmado que os Estados grandes com inúmeros

povos como na Inglaterra e na França continham mais facções, grupos de

interesses ou classes do que os pequenos tais as cidades-estados. Quando a

sociedade era grande e continha classes tais como uma aristocracia, um Rei e

o povo, seus interesses separados de alguma forma refletiriam no governo;

talvez por se ter um monarca voluntariamente delegado para as comunidades

de graus de interesses e de independência (conforme Bodin) ou por ser ter

mais divisões formais ou constitucionais de poder. Isto significava dividir o

poder legislativo entre a aristocracia e o povo enquanto se tinha o poder

executivo residindo num monarca (conforme Montesquieu). Outros que viam a

sociedade como uma multiplicidade de interesses acreditavam que alguns

desses interesses eram localizados no espaço, e que o governo deveria

manter um balanço entre as unidades locais. Isto podia ser conseguido através

de alguma forma de representação geográfica. Milton e Hume, por exemplo,

viram uma divisão de representantes baseada em uma escala geográfica. Eles

insistiram com os conselhos locais de cada condado para se referir a questões

de interesse comum e o conselho nacional para lidar com o resto. Havia

alguns como Rousseau que acreditavam que a comunidade devia ser pequena

e desta forma relativamente homogênea com relação aos interesses de classe.

Isto varia que o desejo das pessoas se tornasse o interesse do grupo e

tornaria possível a democracia pura (a democracia do governo sem

representantes) que seria preferível à democracia indireta. Estados que eram

grandes em população e área tinham suas vantagens, mas eles não uniformes

nos interesses e poderiam não ter democracias verdadeiras.

Os fundadores.

Estes e outros ramos da teoria política foram selecionados e

transformados pelos fundadores para formar novas visões de governo para se

190

Page 191: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

encaixar as novas sociedades. Nas véspera de se escrever a Constituição,

havia algum consenso sobre os assuntos. Geralmente se acreditava que um

largo território político e uma grande população ofereciam algumas vantagens,

especialmente nas áreas de relações estrangeiras e de defesa, mas era difícil

governar democraticamente. Era pensado que superconcentrações de poder

deviam ser evitadas - mas como? Defendia-se que interesses diferentes ou

facções da sociedade deviam ser representados - mas quais ele seriam e

como? O governo democrático era a melhor forma, mas as suas virtudes

seriam alcançadas somente em pequenas comunidades? Além disso, não

importava se o governo era ou não misturado ou se o poder estava

balanceado, naquele tempo somente dois tipos de estados-territórios eram

conhecidos. Por um lado estava o Estado unitário dentro qual as organizações

sub-territoriais como condados e cidades derivavam dos seus poderes e muito

da existência de uma autoridade nacional ou central, uma existência que

poderia ser revogada se o governo central assim escolhesse. No outro lado

estavam as confederações formada pela união de autônomos e estados

territoriais independentes que renunciavam virtualmente nenhuma autoridade

para o governo confederal ou liga. Esta última forma caracterizava as colônias

e a sua união durante a Revolução e sobre os artigos da Confederação. Antes

de se escrever a Constituição nenhuma posição intermediária clara entre o

confederal e o unitário ou a forma nacional era conhecida. O problema primário

para os fundadores, então, era encontrar um meio de balancear os interesses

e prevenir concentrações de poder para um grande território,

democraticamente governado.

Uma alternativa para continuar a se ter a confederação com

algumas modificações, era a posição favorável pelos anti-federalistas de

convenções de ratificação do Estado, muitos dos quais não viam nenhuma

solução porque eles acreditavam que nações grandes e populosas não podiam

ser verdadeiramente republicanas. Eles argumentavam que uma nação grande

tentando ser democrática eventualmente viria a ter uma forma unitária de

governo e aqueles que a governassem teriam poder demais e assim seriam

uma ameaça para a democracia. Os representantes seriam remotos demais, e

191

Page 192: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

a representação demais impessoal e aristocrática para ser responsável com o

povo, tudo isto aumentaria a probabilidade de que facções fortes tomassem o

poder. A separação de funções em níveis nacionais não era o suficiente para

checar e balancear. O único de se preservar a liberdade e ainda manter as

vantagens do tamanho seria restringir a concentração de poder no topo

através de alguma forma de confederação - muito parecida com aquela sobre

os artigos da Confederação.

A visão oposta (expressa no plano de Virgínia, por exemplo) era

a favor de um Estado unitário ou nacional democraticamente através de

representação indireta. Ela defendia que a única forma de manter as

vantagens de tamanho era o Estado renunciar a soberania para uma

autoridade central. Para prevenir a supercentralização do poder, as funções do

governo (legislativo, executivo e judicial) deveriam estar separadas em ramos

e proporcionariam checagem e balanços uma sobre a outra.

O solo comum para ambas posições era o desejo partilhado por

um governo democrático, seu medo por uma superconcentração do poder

dentro da hierarquia e sua visão de que a sociedade americana não continha

ou não deveria conter uma classe aristocrática. A oposição ao plano unitário

não veio somente do desejo dos anti-federalistas ou confederalistas de ter o

Estado retendo a soberania porque eles já eram entidades existentes com

interesses, mas de uma suspeita genuína de democracia indireta em

organizações de larga escala e uma preocupação de que o perigo de se

concentrar o poder não seria diminuído somente por se dividir as funções.

O compromisso de posição profundo e revolucionário veio

primariamente de uns poucos federalistas. Eles afirmavam que era errado

acreditar que a democracia florescia primariamente em pequenos territórios.

Eles argumentavam que pequenas sociedades, ao contrário da crença

convencional, eram mais propícias a serem divididas em facções e tirânicas do

que as maiores. Madison em particular via a sociedade americana como

composta de facções; algumas como a de manufatura, agricultura, a rica e a

192

Page 193: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

pobre, eram prováveis de durar muito tempo, enquanto outras eram mais

efêmeras. Mais importante, facções ou classes não correspondiam

necessariamente ou não corresponderiam a entidades territoriais. As partições

territoriais eram de algum modo como moldes impessoais para um sistema

geográfico fluido. Conforme Madison descreveu, “estas classes (dentro de uma

área) entendem muito menos de interesses e negócios de cada um do que

homens da mesma classe habitando distritos diferentes.”

Quanto maior a escala da sociedade, maiores as chances de que

nenhuma facção pudesse controlar o governo enquanto o contrário era

verdade, para as menores escalas. Não eram os grandes mas os pequenos

Estados que ameaçavam a democracia. Ter-se grandes áreas e muitos

cidadãos por representante, precisamente porquê isto aumentava a

impersonalidade, dava aos representantes alguma liberdade dos interesses

provinciais e faccionais. A concentração e o poder das facções podia ser

reduzido mais dando-se a eles vários caminhos ou escapes para checar e

balancear a influência um do outro. A Territorialidade era um meio essencial de

providenciar tais balanços para eles e para o governo em geral. Uma vez que

os territórios não coincidiam com a distribuições das facções, com a

representação territorial e com a definição territorial das constituintes, isto em

diferentes escalas, entre outras coisas, fragmentaria as facções. Par Madison,

“dividir e controlar o inegável axioma da tirania, é, sobre certas circunstâncias,

a única política na qual uma república pode ser administrada sobre princípios

justos.”

Embora não fosse um membro da Convenção Constitucional,

Jefferson defendeu visões sobre o território que foram sentidas na Convenção

e após. Ele acreditava que os americanos dividiam interesses comuns como

numa economia agrária e que a democracia podia operar somente através da

participação direta nos menores níveis possíveis. Ele estavam especialmente

concentrado sobre a má escolha do território e responsabilidade. Para

Jefferson, teria sido ideal se maiores níveis territoriais tivessem sido dados

somente àquelas funções que não poderiam ser endereçadas pelas unidades

193

Page 194: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

menores. Para os Estados Unidos, isto significava que quase todos os

assuntos seriam locais ou do estado, exceto os assuntos de defesa e

estrangeiros.

Não é pela consolidação, ou concentração de poderes, mas por sua

distribuição que o bom governo é efetivado . Este grande país ainda não foi

dividido em Estados, esta divisão deve ser feita, cada um deve fazer por si

mesmo o que se refere a si diretamente, e que pode ser feito pode ser feito

muito melhor do que por uma autoridade distante. Cada Estado novamente

está dividido em condados, cada um para tomar conta do que está dentro das

suas fronteiras locais; cada condado está dividido em cidades ou vilas, para

administrar os seus detalhes mais minuciosos; e cada vila está dividida em

fazendas, para serem governadas cada uma por seu proprietário individual.

Nós temos sido dirigidos de Washington para quando plantar, e quando colher,

em breve será a mesma coisa quando quisermos pão.

As visões de Madison eram aquelas para prevalecer na

Constituição e sue entendimento da sociedade americana seria o mais

profético. Além disso, a consideração detalhada de Jefferson da hierarquia

territorial propiciou o molde usado para organizar os novos territórios dos

Estados. Suas propostas forma incorporadas na ordenação do nordeste e na

prospecção de terras, e sua imagem de autoridade local e independência

estava para servir como um impulso para uma visão mais realística de um

governo forte centralizado e de uma sociedade de facções.

A Constituição.

A primeira destilação das idéias dos fundadores sobre o governo

americano está na Constituição dos Estados Unidos. Este documento usa o

território para definir as constituintes para diferentes partes de um governo. A

versão sem correções estipulava (no Artigo I, seção 2): que os membros casa

seriam escolhido

194

Page 195: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

a cada dois anos pelas pessoas de vários Estados e os eleitores em cada

Estado deveriam ter qualificações para eleitores dos ramos mais numerosos

da Legislatura do Estado. Os representantes devem ser agrupados entre os

vários Estados que podem ser incluídos dentro desta união, de acordo com

seus respectivos números. A enumeração real deve ser feita dentro de três

anos após o primeiro encontro do Congresso dos Estados Unidos, e dentro de

cada termo subsequente dos dez anos.

O Senado seria composto por “dois senadores de cada Estado,

escolhidos pela Legislatura” (Artigo I, seção 3). O presidente representando o

país todo seria escolhido pelo processo de eleição. “Cada Estado deveria

apontar, de uma maneira que a Legislatura deveria dirigir um número de

eleitores, igual ao número total se senadores e representantes pelo qual o

Estado poderia ser representado no congresso.” O presidente é eleito pelos

eleitores através de um sistema complexo de votação e contagem. (O

processo foi corrigido em 25 de setembro de 1804, no Artigo XII).

A compreensão de que estas unidades de representação não

eram inteiramente unidades orgânicas, mas eram pelo menos em parte

jurisdições convenientes para populações móveis está demonstrada pela

provisão para representação proporcional que deve ser ajustada a cada dez

anos de acordo com os resultados do censo nacional. A representação

proporcional e as regras para o reagrupamento começaram a ser incorporadas

no governo colonial nas vésperas da revolução, e em 1780 todas as colônias

originais elegeram suas câmaras por voto popular direto e a maioria tinha

requerimentos distritais severos para equalizar os distritos de voto.

O sistema americano de governo estabelecido entre 1776 e 1789

pode ter sido a conceber as suas sub-unidades, os Estados, como territórios

genéricos - todos parecido em sua forma e lugar no governo. O nome de

nenhum Estado aparece dentro da Constituição. Embora um Estado possa ter

mais representantes do que outro, isto pode mudar novamente conforme a

população muda. Tratar os Estados como iguais torna mais simples para os

195

Page 196: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

novos Estados serem admitidos. Os sentidos que os territórios servem como

moldes convenientes e eles são eles mesmos sujeitos da mudança está

construído no processo constitucional para adicionar novos Estados. Mesmo

as fronteiras e os números dos Estados existentes podem mudar. O Artigo IV,

seção 3, afirma que:

Novos Estados podem ser admitidos pelo Congresso nessa união: mas

nenhum novo Estado será formado ou erigido dentro da jurisdição de qualquer

outro Estado; e nenhum outro Estado será forçado a se unir a dois ou mais

Estados, ou a partes de Estados, sem o consentimento das Legislaturas dos

Estados referentes bem como do Congresso.

Não há estipulações constitucionais com relação aos números

dos novos Estados nem as provisões dos seus tamanhos. A Constituição

estabelece simplesmente que: “O Congresso terá poder para dispor de e fazer

todas as mudanças necessárias e regulamentações com respeito ao território

ou a outra propriedade pertencendo aos Estados Unidos.” (Artigo IV, seção 3)

“e garantir a cada Estado na União uma forma republicana de governo.” (Artigo

IV, seção 4).

Os procedimentos gerais para entalhar novos Estados no oeste

americano foram delimitados na Ordenância Nordeste de 1787 passada sob os

Artigos da Confederação. Esta Ordenância foi baseada em parte nos planos

de Jefferson de 1784 para um governo temporário das terras do oeste cedidas

por Virgínia para o Congresso e para sua divisão em Estados para entrarem

na União; em parte pela Ordenância de 1785; em parte pelos reportes do

comitê do dia 10 de Maio de 1786, dia 19 de Setembro de 1786 e 26 de Abril

de 1787. Estas ordenâncias e relatórios propiciaram duas inovações

territoriais. Primeiro, os territórios no Noroeste eram esperados para serem

divididos de acordo com as linhas paralelas a eles de longitude e latitude, e

estas formariam os componentes das fronteiras dos Estados quando viáveis e

as fronteiras para praticamente todos os condados, cidades e parcelas

privadas de terra. Este sistema retangular de prospecção de terra foi usado

196

Page 197: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

subseqüentemente através de muitas partes do oeste. Segundo, o território

Noroeste eventualmente era composto entre dois e cinco estados. O número

exato no final dependeria do número de assentamentos na região (Jefferson,

entretanto, tinha planos diferentes sobre o número e a locação dos Estados,

ver figura 1.2). Isto significava que não somente as populações estavam

nestes territórios para mudar, mas o números exato de estados e suas

fronteiras eram negociáveis. Formar novos estados envolveria uma

interrelação dinâmica entre as pessoas e a terra. Uma vez que as fronteiras

dos estados fossem criadas, um estado precisaria de 60.000 habitantes livres

para ser admitido na Confederação. Quando a Constituição substituiu os

Artigos da confederação, a Ordenância do noroeste foi completada e adotada

pelo Congresso na Ordenância de 1787. Para formar novos estados se

seguiria geralmente os procedimentos descritos nas ordenâncias prévias. Suas

fronteiras dependeriam em parte da distribuição da população. Eram

entendidos que as fronteiras dos estados já admitidos na União ainda

poderiam ser mudadas, mas somente de acordo com os procedimentos

descritos no Artigo IV, seção 3, na Constituição. Todos os estados tinham

autoridade para subdividir e alterar os seus territórios dentro das suas

fronteiras, assim continuava em uma escala geográfica menor às dinâmicas

entre as pessoas e o território.

O poder para subdividir a área em unidades convenientes de

‘condados, cidades, vilarejos, castelos, feudos etc.’ conforme estipulado nas

primeiras concessões, tinham se tornado agora o poder dos camponeses para

reivindicarem, e dos legisladores para criarem, unidades políticas de estados

em condados ou cidades, e para dispor da seções e quartos de seções da

terra; e a maioria destas unidades serão dispostas corretamente em territórios

geométricos. Este era um sistema bem adequado para aqueles tempos. A

América do início do século XIX continha uma economia comercial

rapidamente crescendo, com uma base industrial em desenvolvimento. A

população estava crescendo através de aumento natural e especialmente

através da imigração, e o país tinha vastas terras ao seu dispor. Vender a terra

imediatamente aumentaria as divisas para o governo federal e em longo

197

Page 198: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

período aumentaria a base industrial e comercial da economia. Uma economia

comercial e industrial em crescimento requer liberdade de mobilidade

geográfica tanto para o trabalho quanto para o capital. O capital deve ser

permitido de ser investido em diferentes locais, oferecendo diferentes misturas

de materiais, trabalho e de suporte de governo, enquanto o trabalho deve ser

móvel o suficiente para seguir os investimentos do capital. Isto significa que

deve haver um único conjunto de leis regulamentando as atividades comerciais

sobre o país todo; leis uniformes para banco, crédito, dinheiro e etc. Isto

significa que a propriedade na terra deve ser facilmente comprada e vendida.

E isto também significa que as comunidades políticas de cidades para

condados e estados, devem estar prontas para acomodar o capital e o

trabalho, para oferecer a eles leis, escolas, polícia e proteção militar e outros

serviços básicos, e isto deve ser feito sem se impor restrições na mobilidade

futura ou nas suas conexões com outros locais. Estas unidades territoriais

podem diferir em contextos culturais, no grau em que elas encorajam o capital

ou o trabalho, mas elas não podem diferir no ponto onde elas obstruem a

mobilidade de dois. As condições geográficas estabelecidas nas leis e

ordenâncias para subdividir territórios, para admitir novos estados e para

prospectar e subdividir a terra ofereceram uma hierarquia indefinidamente

expansível e subdividível de unidades territoriais políticas, cada uma com

alguma economia, mas todas dentro de um sistema unificado.

Uma vez que essas promulgações legislativas providenciavam os

containners geográficos para uma população em movimento em uma

economia dinâmica, elas próprias não definiam o balanço entre uma

autonomia local e a integração nacional, entre os interesses do fazendeiro

local, do trabalhador, do mercador e do industrialista. As políticas nos níveis

nacional, do estado e local reuniam diferentes interesses em diferentes

regiões, e estas mudavam o tempo todo. Além disso, em virtude de más

escolhas e abusos, as formas territoriais criavam problemas para coordenar;

problemas que atrapalham qualquer organização territorial hierárquica.

Felizmente, a Constituição oferecia orientação a respeito deste aspectos do

estado e das relações federais. Em adição as numerações de poderes dado ao

198

Page 199: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

governo federal e a afirmação no Artigo X de que “Os poderes não delegados

para os Estados Unidos pela Constituição, nem proibidos pelos estados, são

reservados para os estados respectivamente ou para as pessoas,” duas partes

da Constituição tiveram um grande impacto em definir as interrelações entre os

níveis territoriais.

Primeiro, é o Artigo I, seção 8, começando com a afirmação de

que “O Congresso, deve oferecer, para o bem estar dos Estados Unidos” e

então enumerando os poderes, e daí concluindo com a frase no último

parágrafo na seção 8, de que o Congresso deve “fazer todas as leis que forem

necessárias e próprias para levar à execução os poderes já citados.” Os

conservadores ou os construcionistas rígidos interpretam a última frase bem

limitadamente, enquanto os liberais interpretam-na amplamente. Emprestando

algum peso à última interpretação está o número federalista 31, explicam do

porquê o poder do governo federal não pode ser absolutamente definido e

limitado.

Segundo, entre os poderes enumerados no Artigo I, está a

cláusula do comércio interestados (seção 8, cláusula 3) afirmando que “O

Congresso deve ter poder para regular o comércio com as nações estrangeiras

e entre os vários estados” que, em conjunto com outras autoridades

constitucionais, tem sido usado como um meio de limitar os podres do estado

e dos governos locais, para estabelecer leis que de alguma restringem os

movimentos das pessoas e do capital. Dados os requerimentos de uma

economia comercial dinâmica, parece inevitável que estas provisões

constitucionais seriam eventualmente interpretadas e usadas para aumentar a

integração nacional limitando a autonomia local. Isto não foi claramente

antecipado até mesmo por aqueles entre os fundadores que viram o futuro dos

Estados Unidos repousar no comércio e na indústria. Madison e Hamilton

expressaram preocupação que apesar do balanço de poderes oferecido pela

Constituição havia ainda uma grande chance para o balanço oscilando em

favor dos estados. De acordo com Hamilton

199

Page 200: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Sempre será mais fácil para os governos dos estados passar dos limites das

autoridades nacionais do que o governo nacional passar dos limites das

autoridades dos estados. Porque um homem justo está mais ligado à sua

família do que à sua vizinhança, e à sua vizinhança a mais do que à

comunidade ao largo, as pessoas de cada estado deveriam estar aptas para

sentir um preconceito maior em relação aos seus governos locais do que em

relação ao governo da União.

Os usos para o qual a Territorialidade foi colocada foi colocada

no período colonial foram repetidos ainda mais intensamente no tempo da

Revolução; especialmente aqueles que a ver com o esvaziamento e

preenchimento conceitual dos espaços, com a definição das relações sociais

territorialmente e a organização de hierarquias complexa. Os fundadores

assumiram que o seu governo teria um sistema territorial hierárquico. O

problema era evitar suas armadilhas e usar isto para vantagem. Para alguns, a

maior preocupação era a tendência para a Territorialidade em diferentes níveis

da hierarquia em criar diferenças no conhecimento e responsabilidade, dando

àqueles que tinham acesso ao topo maiores poderes do que àqueles mais

abaixo. Uma vez que tais diferenças existiam até mesmo nas mais bem

intencionadas sociedades, eles poderiam corromper aqueles no poder e limitar

as liberdades dos cidadãos comuns. As eleições democráticas poderiam não

ser o suficiente para restringi-las porque o tamanho do país e seu número de

cidadãos tornavam a representação remota e impessoal. Também, havia a

preocupação de que as responsabilidades seriam dadas aos níveis errados do

governo. Estas más escolhas do poder e responsabilidade criariam injustiças e

ineficiências.

Nem todos viram o potencial da Territorialidade para englobar o

conhecimento e a responsabilidade primariamente em uma luz negativa. Os

federalistas acreditavam que a distância dos representantes no nível local

seria um benefício. Isto dava ao representante uma perspectiva mais alta e o

faria menos suscetível às pressões faccionais. Os federalistas achavam o

principal meio de assegurar a liberdade era remover as responsabilidades do

200

Page 201: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

nível local, que estava misturado com as facções, e dar o poder ao governo

federal. É claro, que até mesmo os proponentes de um governo nacional mais

forte concordavam com os anti-federalistas na necessidade de serem

cautelosos com a concentração demais de poder. É nesta maneira com que a

preocupação foi conduzida territorialmente que nós encontramos uma grande

e original contribuição - o uso do efeito da Territorialidade de dividir e

conquistar para checar e balancear as concentrações do poder.

A filosofia era original na sua concepção e nos seus detalhes.

Desta forma dividir e conquistar ou checar e balancear o poder tinha que ser a

vantagem de alguns grupos em relação a outros, aqueles que eram para ser

checados e balanceados nunca foi uma questão de consenso entre os

fundadores. Alguns viam que os grupos deviam ser divididos em facções, mas

outros reconheciam que os estados e o governo federal (e aqueles que

controlavam eles) eram os poderes a serem checados e balanceados. O papel

da Territorialidade foi, entretanto, entendido e apreciado. A Territorialidade

ofereceu um instrumento versátil para o controle, um que não precisava

enumerar os indivíduos e grupos a serem englobados. Não precisando

identificar o que está sendo controlado, e ainda dando poder aos territórios

com vários graus de autoridade e permitindo a sua multiplicação, isto

significava conceber o território no abstrato como um meio de definir e moldar

as relações sociais.

Novamente, nós devemos alertar que a nossa discussão tem

enfatizado o uso dos efeitos mais modernos da Territorialidade. Estes não

removem os velhos, mas ao invés disso se misturam com eles. Nós

encontramos neste período, como também nos períodos prévios, esforços

concentrados para manter a relação entre as pessoas e o lugar íntima; para

criar o sentido de que a comunidade é mais do que uma conveniência. O final

do século XVIII e o começo do século XIX, a vida americana estava cheia de

patriotismo nacional e de amor pela terra. Este período cultivou uma paixão

pelas fronteiras da América e geralmente colocava a América como uma

sociedade enraizada na terra. Logo se viu que o manifesto do destino da

201

Page 202: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

América era ocupar o continente de mar a mar. A lealdade ao lugar estava

dirigida também à região, ao estado e à comunidade local. Haviam novos

ingleses e sulista, vermontes e virginianos. Apesar das formas mecânicas

abstratas de assentamento empregadas nas ordenâncias do noroeste, e a

rápida ocupação geográfica desta área, muitos dos primeiros colonizadores

ainda esperavam criar unidades orgânicas fechadas. Em Ohio, por exemplo,

inicialmente se praticou a regra da Nova Inglaterra de chamado, mas logo os

requisitos para residência tiveram que ser relaxados para acomodar com as

realidades da mobilidade geográfica. Ainda o sentido de que as pessoas e os

lugares devem ser mais do que relacionados continuamente permaneceu um

importante componente nas expectativas da América sobre a comunidade.

Mas as expectativas eram difíceis de ser alcançadas em uma sociedade

dinâmica. As pessoas gradativamente se conscientizaram da tensão entre a

necessidade de se mover e o desejo de ficar. Criar raízes se tornou um ideal

em oposição a não criar raízes.

Perspectivas sobre os efeitos territoriais do

século XX.

O desenvolvimento do sistema político americano do século XIX

é instrutivo nos usos territoriais. A secessão do sul propicia uma ilustração

dramática das complexidades da Territorialidade. A Guerra Civil merece uma

consideração cuidadosa de uma perspectiva territorial, mas não será

explorada aqui porque, a longo prazo, ela não alterou apreciavelmente a

direção das relações intergovernamentais apontadas nesta última seção. O

sistema político americano no século XIX continuava a se estabelecer em cima

de dois dos três efeitos territoriais modernos enfatizados até agora, são eles:

esvaziar o espaço conceituadamente e usar a Territorialidade para criar

relações impessoais nas estruturas burocráticas complexas. O perfil geral

pode ser visto na continuação dos assentamentos no oeste; a remoção dos

índios para as reservas; o aumento no número de estados e municípios e de

distritos com propósitos especiais; o aumento na hierarquia governamental e

202

Page 203: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

burocracia; e especialmente a centralização do poder no governo federal e

seus ramos executivos.

Estas tendências territoriais modernas, entretanto, tiveram de

alguma forma manifestações diferentes no século XX. A fronteira foi

oficialmente finda como uma área contínua em 1890; os espaços vazios literais

da América foram preenchidos. Assim, a expansão e intensificação do

Capitalismo fez os efeitos territoriais modernos de espaço vazio

conceituadamente e de burocracia impessoal serem ainda mais uma parte

integrante do ambiente geográfico. Um crescente sistema financeiro

interconectado estava penetrando em cada faceta da vida. Para manter a

economia crescendo mais mercadorias tinham que ser produzidas e novos

tipos de produtos tinham que ser inventados. Produzir comodidades incluía

não somente coisas físicas para consumo, mas estender os serviços de todos

os tipos e até mesmo ter mais facilidade de lazer.

Tudo podia ser uma comunidade. Cada produto tinha uma

variedade de formas e os produtores dirigiam a sua atenção crescente para a

propaganda e o marketing para assegurar que os consumidores desejariam o

produto e veriam-no como uma forma diferente dos outros que eram quase

idênticos. Conforme os números e tipos de produtos se multiplicavam, o

aumento da atenção para a propaganda e o marketing deu aos negócios um

grau de controle sobre o consumo e permitiu ser sincronizado com a produção.

A penetração crescente do mercado foi tanto causada quanto ajudada pela

tecnologia e pelas inovações da comunicação. A mobilidade geográfica do

capital, do trabalho e da comunicação explodiram. Do ponto de vista

econômico, isto o efeito de fazer os lugares e o espaço se parecerem ainda

mais com as comodidades, e de moldar a sociedade em massas que eram

simultaneamente produtores e consumidores.

Embora parte de uma massa abstrata, as pessoas ainda se

diferem em suas características e nas suas conexões sociais. Da perpectiva

econômica estas diferenças eram usadas para definir mercados para os

203

Page 204: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

produtos, e os novos produtos eram provocar a mudança de grupos,

subgrupos e até mesmo de indivíduos. Embora nós possuíssemos as

características de idade, sexo, etnia, e embora nós possuíssemos laços

familiares e ocupações, nosso lugar dentro dessas categorias era mais

dinâmico do que nunca, e através das comodidades nós consumiríamos, bem

como os efeitos que nós esperaríamos que elas produzissem, nos estaríamos

continuamente nos apresentando como novos indivíduos, como pertencendo a

novos grupos e associações. Mas, tanto a nossa posição geográfica quanto as

nossas identidades (ou imagens) se tornariam mutáveis. Nós nos veríamos

mais e mais como agentes potencialmente livres e independentes escolhendo

o nosso próprio local , a nossa própria ocupação e o nosso padrão de

consumo. É este estado alto de individualismo e mobilidade na sociedade

massa que constitui o contexto significante para examinar os usos da

Territorialidade no século XX.

O primeiro dos dois efeitos modernos - o espaço esvaziável e as

relações impessoais - são claramente evidentes na América moderna. Embora

os Estados Unidos esteja literalmente preenchido quando comparado aos seus

usos da terra nos séculos anteriores, o aumento da mobilidade geográfica e a

contínua modificação do lugar torna o significado econômico-público do

espaço mais e mais um sistema métrico de localidades e distâncias, ao qual os

eventos estão conectados contingentemente. Dentro deste contexto, os

territórios políticos continuam a ser moldes convenientes para trânsito do

trabalho e do capital. Eles são moldes que podem ser conceituadamente

esvaziáveis e preenchidos, e estas hierarquias da Territorialidade que definiam

as comunidades reforçam as relações impessoais. Além disso, a multiplicação

das hierarquias territoriais e seu cada vez mais importante papel na

organização das relações sociais aumentou a concentração do poder nos

níveis mais altos do governo federal. Isto ajudou a aumentar a burocratização

do governo e aumentou o poder dos ramos federais.

Os teóricos do espectro político completo provavelmente

concordariam, se a questão tivesse sido apresentada a eles, de que os efeitos

204

Page 205: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

territoriais de esvaziar o espaço conceituadamente e de aumentar a

impersonalidade e a burocracia intensificaram neste século. E exatamente

quais são os índices e o que eles significam, dependeria de que filosofia

política alguém está usando. Ao invés de considerar como os conservadores e

os radicais poderiam traçar os detalhes das relações históricas entre o

território, o governo e a sociedade nos últimos oitenta anos da história

americana, nós tomaremos uma filosofia geral mais breve e apontaremos

como as perspectivas teóricas de cada um levará a avaliações diferentes do

processo em geral. Em termos de teoria da Territorialidade isto significa que as

diferentes filosofia políticas enfatizaram especialmente as partes diferentes dos

grupos “fechados” ou efeitos, e vai interpretá-los diferentemente.

Os economistas mais políticos podem concordar que tem havido

uma elaboração contínua dos dois primeiros efeitos modernos da

Territorialidade - esvaziamento do espaço conceituadamente e o avanço da

impersonalidade e burocracia. Mas, a maioria dos economistas políticos

descordariam sobre a importância que eles atribuem a eles, e eles

descordariam especialmente no papel que eles atribuem ao terceiro efeito

territorial moderno - usar o território para camuflar as fontes do poder. Para

ilustrar estas diferenças na avaliação da Territorialidade do Capitalismo no

século XX, nós examinaremos como elementos diferentes do espectro político

- chamados neo-Smithianos, neo-Keynesianos e neo-Marxistas (nomeados

após os três economistas políticos influentes, Smith, Keynes e Marx) -

conduziriam quatro questões interrelacionadas no desenvolvimento do

território político americano se essas questões fossem expostas por eles. As

questões são: Porque alguns processos políticos são territoriais; porque eles

ocorrem em escalas territoriais diferentes; porque há uma tendência para

concentração em uma maior escala, por exemplo, a nacional; e porque tem

havido tanto uma multiplicação em números de estado e níveis locais e

também um aumento na uniformidade entre eles.

Os nomes neo-Smithianos, neo-Marxistas e neo-Keynesianos

podem ser mais precisos e serem menos pensados do que são os nomes

205

Page 206: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

conservador, liberal e radical. Eles são ainda imprecisos. Quando nós nos

referimos a um neo-Smithiano, por exemplo, nós estamos discutindo sobre um

indivíduo que provavelmente não concordaria com todas as posições de Smith.

A teoria do valor do trabalho, por exemplo, não seria defendida por qualquer

contemporâneo de Smith. Um indivíduo, é claro, pode assumir posições que

são Smithiana, Keynesiana e Marxista.

Estas questões serão exploradas dentro do contexto americano,

mas elas podem ser reconhecidas por Smithianos, Keynesianos e Marxistas

conforme elas se aplicam em parte para outros sistemas capitalistas. Isto

significa que as nossa filosofia para estas questões e a nossa revisão das

posições da política de direita, de centro e de esquerda são em parte teóricas,

se referindo ao geral das relações que pode ser esperado entre o governo e a

economia nas sociedades capitalistas, e em parte específica para o contexto

americano com seus costumes, leis e provisões constitucionais para delegar

responsabilidades a diferentes níveis e ramos do governo. Estas quatro

questões relatadas serão apresentadas primeiro dos lados neo-Smithianos e

neo-Keynesianos e então da perpectiva do neo-Marxista.

Porque o território?

Os neo-Smithianos vêem o governo no Capitalismo como

desempenhando o papel do juiz no sistema de mercado Capitalista. Governo

limpa o campo para o jogo do Capitalismo e se certifica que os jogadores

obedeçam as regras. Os neo-Smithianos vêem o mecanismo do mercado

conforme Adam Smith via. Cada indivíduo possuiria seu próprio auto-interesse

e através da mão invisível do mercado viria o avanço de tudo. Assim, os neo-

Smithianos percebem que o sistema de mercado não pode providenciar tudo.

Ele necessita ter o campo limpo e as regras do jogo reforçadas. Em termos

econômicos modernos isso significa que há certas mercadorias ou serviços

chamadas de mercadorias públicas que somente o governo pode oferecer. Os

neo-Keynesianos concordam que o governo deve providenciar mercadorias

206

Page 207: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

públicas, mas a posição extrema dos neo-Smithianos confina o governo

exclusivamente a este papel.

“As mercadorias públicas puras” estão aproximadamente nos

serviços, tais como a defesa da lei e nacional. Para uma mercadoria pública

ser pura ela necessita possuir três características:

1. Primeiro ela é uma reunião de suprimentos. Isto significa que o suprimento

de uma particular quantidade para qualquer pessoa não diminui a

possibilidade de suprir a mesma quantidade de mercadoria ao mesmo preço

para qualquer outro.

2. Segundo é a impossibilidade de exclusão (não há exclusividade). Esta

característica tem duas partes:

a. Significa que o suprimento para qualquer pessoa evita a mercadoria de

ser inacessível para qualquer outra pessoa que deseja ter acesso a ela.

b. Significa que as pessoas que não paguem pela mercadoria ou serviço

não podem ser excluídas dos seus benefícios ou dores. Isto geralmente

se referia ao problema da livre escolha. O outro lado do problema da livre

escolha é a tendência para as pessoas em “camuflarem” suas

preferências para este tipo de mercadoria.

3. Terceiro é a impossibilidade de rejeição: isto significa que uma vez que o

serviço é empregado ele deve ser completamente e igualmente consumido

por todo, mesmo aqueles que não desejavam .

Um bem público é impuro quando uma ou todas estas

características não são cumpridas. As características 2 e 3 constituem uma

externalidade do bem público. Isto significa que aquelas pessoas que não

querem o bem ou aquelas que não, ou aquelas que não revelam as suas

preferências porque elas esperam-na de qualquer forma, ainda serão afetados

por sua provisão. As externalidades podem ser positivas ou negativas. Um

caso trivial de uma externalidade negativa (mas não de um bem público puro)

pode surgir se você comprar uma camisa berrante e a veste no escritório. Eu

comprei a camisa porque eu gostei dela, e a loja vendeu-a pra mim porque

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Page 208: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

eles queriam fazer um lucro. A loja e eu - as duas partes da troca - ficamos

satisfeitos. Mas quando eu visto a camisa, as pessoas podem se ofender. E se

elas se ofendem, elas seriam afetadas pelo produto, embora elas não fizessem

parte dessa negociação, e o desconforto de cada não diminui o desconforto

dos outros.

Para o neo-Smithianos, o papel do governo seria limitar as

externalidades negativas em massa e propiciar positivas. A principal razão

porque isso recai sobre o governo é que oferecer mercadorias públicas puras

para um grande número de pessoas requer uma enorme quantidade de

dinheiro. As companhias privadas também não teriam suficiente capital ou

poderia não esperar receber um retorno adequado sobre o investimento, se

eles sozinhos tivessem que oferecer o bem. Especificamente, por causa da

não-exclusividade, é racional (por exemplo, no interesse de cada pessoa) e

não voluntário contribuir para oferta deste bem (por exemplo, comprá-lo)

porque a longo prazo ele seria oferecido de qualquer forma. A não participação

de um indivíduo seria racional mesmo quando o bem é impuro, se benefícios

suficientes viessem para ele, uma vez que o bem se torna disponível e sua

falta de participação não afetaria apreciavelmente a probabilidade da sua

provisão. Esta racionalidade da não-participação é geralmente citada como um

problema na lógica da ação coletiva. Isto significa que ela pode parecer estar

no alto interesse de um indivíduo em não participar de grupos grandes, que se

tornam após até mesmo um bem público impuro, porque as conseqüências do

seu esforço individual seria pequena e a sua não-participação pouparia tempo

e ou dinheiro dele e dificilmente seria sentida a falta dela, enquanto a

participação dos outros indivíduos asseguraria a provisão do bem. Claro que

isto é um problema porque se todo mundo pensasse da mesma forma

ninguém participaria voluntariamente.

Para a maior parte, para assegurar a provisão dos bem públicos

era preciso que houvesse algum tipo de coerção ou incentivo adicional para

cooperação. Em alguns casos isto seria conseguido através da distribuição de

algum bem privado somente para aqueles que contribuíssem. Mais

208

Page 209: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

freqüentemente cabe ao Estado “coagir” as pessoas a contribuírem ou para

assegurar a uma participação.

Os neo-Smithianos e os neo-Keynesianos podem concordar que

alguns bens públicos se aproximam (se é que não alcançam) à pureza e que o

Estado precisa ajudar a providenciá-los. Eles discordam sobre a freqüência

que isto ocorre e sobre o grau de ajuda. Isto em si explicaria o papel do

governo no Capitalismo senão o seu aumento no tamanho e as suas funções.

Mas o nosso primeiro problema é focalizar sobre porque o papel do governo é

territorial.

Ainda concentrados na falha dos lugares de mercado como

justificativas para o governo, nós achamos que o papel do governo em

providenciar mercadorias públicas territorialmente pode ser explicado de duas

maneiras. Primeiro, sabe-se que as externalidades tendem a ser contíguas no

espaço geográfico. Mas esta adjacência no espaço é mais provável como

sendo resultado do fato de que as mercadorias públicas são providenciadas

territorialmente. A segunda razão é consequentemente mais fundamental. Ela

alega que as mercadorias públicas são providenciadas por unidades territoriais

políticas, porque elas podem arrecadar taxas para suportá-las enquanto

tentam conter ou excluir as externalidades e os mercadores livres. As razões

para a Territorialidade dos bens públicos é, então, a razão para a

Territorialidade das unidades políticas. Isto oferece um meio de definir e

moldar uma comunidade.

Níveis de territórios.

Para os quase puros bens públicos como a justiça e a defesa, o

território seria a nação-estado. Mas, em muitos casos os bens públicos podem

ser entregues mais efetivamente se a nação estiver dividida em unidades

administrativas locais. Pode ser mais eficiente em um país grande ter muitas

209

Page 210: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

cortes federais dispersas geograficamente, cada uma com sua própria área de

jurisdição, do que ter todos os julgamentos realizados em um lugar. A lógica

por trás de estabelecer estes e outros tipos de distritos para propósitos

administrativos ou especiais conduz à possibilidade de organizar o governo,

simplesmente por delegar responsabilidades. Puramente nas bases da

eficiência, poderia ser argumentados que os diferentes bens públicos

tenderam a ser oferecidos mais eficientemente em escalas geográficas

diferentes. (Em termos técnicos eles teriam economias diferentes de escala e

diferentes alcances e limites). Levando em conta somente isto, e deixando de

lado o fato de que os Estados Unidos, por exemplo, tem as fileiras do governo

já colocadas e protegidas pela Constituição Federal e do Estado, poderia ser

defendido que uma forma eficiente de provisão seria de ter jurisdições e

propósitos separadas ou unidas para cada bem público. Assim poderia haver

um distrito de polícia, um distrito de bombeiros, um distrito de costura, um

distrito escolar e etc. Esta lógica de proliferação, entretanto, é logo exaurida.

Muitos serviços não completamente independentes um do outro e

podem se beneficiar dividindo as fronteiras com os serviços que podem

teoricamente ter algumas escalas geográficas diferentes. A proteção de

incêndio complementa a proteção da polícia, e ambos podem ajudar o distrito

da escola. Além disso, isto pode ocasionar, de termos todos dividindo as

fronteiras em um distrito com multi-propósitos. Além disso, a existência de

muitos distritos com propósitos especiais tornaria mais difícil para manter a

responsabilidade dos servidores públicos. Assim a vantagem de se proliferar

os distritos com único propósito deve ser comparada contra as vantagens de

diminuir o número através da consolidação. Simplesmente então, por uma

questão de eficiência, um estado unitário terá que ter várias escalas territoriais

para dispensar os bens públicos nacionais. Muita cosia permanece em aberto.

No caso dos Estados Unidos, a Constituição garantiu que os níveis menores

na forma dos governos dos estados existiriam e que estes teriam poder para

taxar, para eleger oficiais e para dispensar os seus próprios bens públicos

locais. Os estados por sua vez podem subdividir suas unidades e delegar

poderes a elas se eles desejarem. Como uma federação, os Estados Unidos

210

Page 211: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

contém uma hierarquia territorial política pela lei bem como pela conveniência

econômica. Mas, a união das duas não é sempre suave.

Oferecer bens públicos, geralmente em várias escalas

geográficas, é o coração do domínio concedido ao governo pela economia

política conservadora. Por si só, e interpretado rigidamente não se oferece

muito para o governo fazer exceto suprir um ambiente propicio para o

Capitalismo; assim o papel limitado que ele desempenha pode expandir

conforme a economia nacional expande. Deve também ser notado que embora

este papel limitado esteja baseado na visão teórica da economia política neo-

Smithiana, os interesses de negócios reais não tem resistido às provisões do

governo quanto isto combinava com eles. Os neo-Keynesianos, claro,

concordam que o governo precisa providenciar bens públicos, mas eles

também acreditariam que as obrigações do governo devem englobar muito

mais mercadorias públicas impuras e que o Capitalismo deve ser assistido pela

intervenção das expansões federalmente fundadas.

Aumentando o papel do território nacional.

Territorialidade os bens públicos providenciados por uma

hierarquia de lugares, cada um tentando excluir competidores livres e conter

as externalidades, isto geralmente conduz a grande número de problemas

causados primariamente pelo fato de que o território nem sempre contém o

que se espera dele conter. Na economia, as incontáveis conseqüências de

uma ação são chamadas de “spillovers” e estes criam uma maior necessidade

por uma coordenação governamental em maior escala. Por exemplo, todos

podem concordar que a provisão de uma educação adequada para a nossa

juventude é sempre de interesse nacional. Suponha que “x” é o total que tal

educação custaria por estudante. De acordo com a teoria neo-Smithiana, a

educação seria privada exceto para os realmente necessitados, que teriam

que receber ajuda de algum tipo de nível governamental local. Se a

responsabilidade pela educação do pobre fosse inteiramente deixada na mão

211

Page 212: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

das unidades territoriais locais (distritos escolares, ou mesmo de condados e

estados) haveria uma tendência para sub-oferecer a educação pública para os

pobres. Os fundos seriam derivados de taxas locais, e por um lado áreas

pobres achariam difícil senão impossível assegurar taxas o suficiente para

alcançar o nível “x”. Pelo outro lado, uma área rica não estaria interessada em

pagar pela educação de outras. Uma vez que, eles também estavam pagando

pela sua própria educação. Além do mais, se eles que tivessem que pagar por

tal educação generosamente ou mesmo adequadamente, eles poderiam atrair

mais pessoas pobres para aquele território e aumentar a sua taxa de impostos.

O único meio de se ter o pobre sendo ajudado adequadamente seria ter (ou

pelo menos parte) do encargo assumido por uma grande unidade territorial

política, e isto pode conduzir o governo a um papel maior do que os neo-

Smithianos desejariam.

Ter uma maior organização territorial política engloba e coordena

menores que podem ser o único meio de assegurar a cooperação e a

eficiência entre as unidades locais. A ausência de tal cooperação poderia levar

a uma provisão abaixo do esperado dos bens públicos, e sito logo apareceria

como uma externalidade negativa nível nacional. A citação a seguir mostra

como pode ser difícil a cooperação sem a ajuda de uma autoridade maior.

... duas jurisdições podem ambas investir juntamente em uma facilidade

pública necessária com o resultado de que a facilidade será oferecida, e

qualquer economia de escala conseguida neste investimento tornará as coisas

mais baratas para cada jurisdição. Entretanto, se uma área investe

independentemente ela pode conseguir a facilidade, mas a um custo maior. O

dilema é que, sem a colusão ou cooperação entre as jurisdições, a ação

racional individual de cada governo é investir independentemente. A mesma

lógica se aplica também a competição de taxas. Duas jurisdições podem ter

incentivos fortes em aumentar as taxas locais, mas esta ação tomada

independentemente por uma jurisdição favorecerá a outra jurisdição

encorajando a migração. Novamente, sem a colusão, os serviços de cada

jurisdição tenderão a se deteriorará ou ambas jurisdições começarão a se

212

Page 213: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

individar. Este problema se aplica especialmente com freqüência ao contexto

urbano, no qual um grande número de jurisdições se ligam a outras.

Assim, se este tipo de problema será ou não incorporado pelo

modelo neo-Smithiano é uma questão em aberto. Assim, um meio lógico de

referência a ele é envolver unidades territoriais-governamentais de maiores

níveis, tais questões bem como outras criadas e agravadas pelo parcelamento

territorial, seriam funções justificáveis de governo na filosofia política neo-

Keynesiana. A visão neo-Keynesiana veria o governo não somente como

oferecedor dos bens públicos e como regulador e facilitador do mercado

privado, mas também como engenheiro social e como árbitro dos conflitos

entre os grupos. Os neo-Keynesianos veriam muito mais dos problemas da

ação coletiva, das externalidades, e spillovers constituindo assuntos de

interesses nacional. É claro, que os problemas de distribuição geográficas

desiguais dos recursos são geralmente criados ou agravados pela

Territorialidade e para os neo-Keynesianos estes assuntos se tornariam

preocupações apropriadas para o Estado.

Os neo-Keynesianos mais do que os neo-Smithianos esperariam

aumentos no tamanho do governo e os dois atribuiriam isto ao aumento geral

na complexidade e na escala da sociedade. Além disso, os dois esperariam

que o topo da hierarquia do governo assumisse um papel maior. No caso dos

Estados Unidos isto significaria uma mudança no poder dos estados para o

governo federal, e dentro de cada nível, do legislativo para o executivo, porque

maiores níveis territoriais e ramificações têm acessos a informações maiores e

têm distritos eleitorais mais amplos. Os neo-Keynesianos podem desejar esta

mudança enquanto os neo-Smithianos podem vê-la somente como um meio

para conseguir o acesso justo e distribuição. Uma vez que os estados têm

responsabilidades mais limitadas, suas políticas são de curto alcance quando

comparadas às nacionais. Os estados e as localidades não podem formular os

seus próprios planos sem conhecer o que a política nacional será, enquanto a

política nacional raramente leva em consideração os planos da comunidade

local.

213

Page 214: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Aumento nos números e na uniformidade dos

territórios.

Até mesmo o papel restrito do governo, visualizado pela teoria

neo-Smithiana resultaria em um parcelamento territorial e hierarquia e levaria a

uma relação de multiplicação territorial e integração ou uniformidade. A

Constituição oferece os fundamentos legais tanto para a proliferação territorial

quanto para a uniformidade nos Estados Unidos. Com respeito à multiplicação

dos territórios, a Constituição (Artigo IV, Seção 3) espera que novos estados

sejam formados e admitidos. Estes deveriam ser regulares com respeito ao

governo, uma vez que eles teriam de ser modelados pelas constituições de um

dos trezes estados originais. Os níveis e autoridades da jurisdição do sub-

estado seriam deixados para cada estado decidir. Mas, diferente da relação

entre os estados e a nação destacada na Constituição Federal, qualquer

providência de um estado em se subdividir em jurisdições menores seria uma

delegação da autoridade do estado que em qualquer tempo poderia ser

alterada ou revogada pelo estado. Apesar de tal descrição nos poderes dos

estados há notavelmente pouca variedade nos níveis hierárquicos e funções

das subdivisões entre os estados. A maioria dos estados são subdivididos

essencialmente em dois níveis governamentais básicos; o condado e a capital

ou cidade, embora haja muitos de cada um e também distritos com propósitos

especiais que não se encaixam facilmente em nenhum dos dois.

A maioria das explicações territoriais de porque há unidades

menores, também a explicações da proliferação. Aumentar a complexidade e a

especialização resulta na tendência por um parcelamento territorial maior para

ajudar a oferecer bens e serviços. A visão neo-Keynesiana é cética, quanto o

quão justos e democráticos são os territórios e seus serviços. Os neo-

Keynesianos apontam para o desbalanço e para as diferenças em riquezas e

acessos que caracterizam os territórios. Por exemplo, eles apontam que o rico

214

Page 215: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

e não o pobre são aqueles que podem se mudar para locais mais desejáveis.

Então, neste sentido, somente o rico tem o voto. O capital é mais móvel que o

trabalho e uma comunidade que tem feito investimentos públicos em infra-

estrutura pode ser deixada na mão quando o capital encontra passos mais

verdes. Os ricos são mais móveis e sua ausência torna a comunidade ainda

mais pobre. Nós vemos esta tendência no trabalho no “vôo branco”, também

na situação geral na cidade do interior e na remoção do capital do Cinturão da

Neve para o Cinturão do Sol ou para países estrangeiros. A reação neo-

Keynesiana seria uma simpatia pelo deslocamento e uma crença de que o

governo federal tem a responsabilidade de pelo menos facilitar estas

transições.

O lado oposto da multiplicação dos territórios é o seu aumento na

uniformidade. Estas unidades territoriais oferecendo aos cidadãos e aos

negócios vantagens através da criação de misturas geográficas diferentes de

oportunidades, ainda são parte de um sistema econômico político único e têm

sido submetidas a padrões e procedimentos mais uniformes para permitir a

mobilidade e a integração das atividades. Com relação a isto, o alcance da

autoridade local tem diminuído e a uniformidade de padrões tem aumentado,

Novamente, a idéia geral de que o crescimento econômico envolve a

diferenciação hierárquica territorial e a integração pode ser usada para explicar

a tendência à integração. A teoria neo-Smithiana não tem muito a dizer sobre

isto, exceto em fazer apelos pelo menor governo possível e nos níveis mais

baixos, enquanto que os grandes negócios e os seus aliados políticos têm

geralmente endossado o papel do governo no aumento da uniformidade. Nem

a teoria neo-Keynesiana adicionou algo à explicação da uniformidade, além de

ver a uniformidade política nacional como um antídoto para as injustiças locais.

As perspectivas neo-Marxistas.

215

Page 216: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A teoria neo-Marxista vê uma relação diferente entre o político e

o econômico no Capitalismo e assim também um diferente papel para o

território. A teoria marxista não vê a política como um árbitro neutro, permitindo

às regras de livre empreendimento para operar. A política não é uma unidade

autônoma, mas não está ligada de maneira simples ao econômico. Os estado

existe para auxiliar os interesses do capital, mas também interfere contra o

capital e a favor do trabalho. O capitalismo torna o governo por um lado a sua

mão-de-obra e pelo outro o campeão das vítimas do sistema.

As relações são complexas por causa da existência de diferentes

tipos de capital e trabalho, e por causa dos diferentes níveis de estado que têm

diferentes ligações a diferentes seguimentos de cada. Cada vez que o estado

age, seja para ajudar uma porção do trabalho ou uma porção do capital, ele

altera e até mesmo agrava as tensões entre o trabalho e o capital. A semente

do conflito está na exploração do trabalho pelo o capital. Os neo-Marxistas

concordam que o Estado capitalista oferecer bens públicos, mas a economia

na sua capacidade como um oferecedor de bens privados, cria e até mesmo

aumenta as tensões e os deslocamentos. Conforme o Capitalismo se

desenvolve estes antagonismos potenciais crescem e assim também crescem

o papel do governo em endereçar, reprimir ou deslocá-los. Por exemplo, o

capital deve ser deixado livre para procurar custos mais baixos. Isto pode

significar uma liberdade para se mudar para diferentes locais que oferecem

matéria-prima ou custo de trabalho mais baixos. Mas ao se mudar, o capital

pode deixar uma comunidade na mão. Também o capital deve constantemente

inventar novos produtos e tornar os velhos obsoletos. Edifícios e sistema de

transporte e todo o ambiente da construção, são comodidades geralmente

comprados como bens públicos com os fundos públicos. O Capitalismo

constantemente sujeita estes à obsolescência. A invenção de uma nova forma

de transporte pode destruir uma cidade tornando obsoletas as suas velhas

formas de capital e de força de trabalho. Contradições como estas envolve o

Estado em uma complexa rede de relações entre os seguimentos do trabalho

e do capital. Assim, é sempre interesse do capital , senão sempre interesse do

estado desviar a atenção do problema fundamental: o conflito entre o trabalho

216

Page 217: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

e o capital. Assim não é surpresa de que, da perspectiva marxista, o maior

conjunto de efeitos territoriais a se esperar no Capitalismo são aqueles

relacionados em obscurecer as fontes do poder e desviar a atenção dos seus

propósitos; assim na seguinte discussão da visão marxista do território político

nós exploraremos como os marxistas endereçariam estes quatro assuntos

pertencentes à Territorialidade no século XX da América do Norte, mas

enfatizam a sua preocupação de que o território político pode ser ofuscativo.

A teoria marxista esperaria que os níveis do governo do Estado

tivessem o efeito não somente de suprir os bens públicos em um nível

econômico, que no caso dos Estados Unidos significa suprir pelo menos

aqueles serviços destacados na Constituição, mas também providenciar

ambientes geográficos que reproduzam a cultura e as mentalidades dos

diferentes seguimentos da força de trabalho. Viver em uma vizinhança

desprevilegiada significa que os serviços públicos que alguém recebe são

abaixo da média e que a expectativa de alguém sobre esses serviços pode

ser ainda mais baixa. Isto significa que um grupo de pessoas será produzido

esperando pagamentos mais baixos e empregos sem expressão. O oposto é

caso nos distritos com aluguéis altos e comunidades mais afluentes. Aqui as

pessoas crescem recebendo mais e esperando mais.

Os governos e as comunidades locais também podem dar às

pessoas o sentido de que elas podem participar e dar foz aos seus interesses.

Isto pode ser um sentido falso, uma vez que o poder do governo local em

afetar mudanças fundamentais é limitado. Este sentido de participação pode

servir para legitimar governo enquanto atende um pouco das necessidades do

cidadão. E também pode servir às diferentes necessidades do capital. Os

negócios se operam em níveis diferentes. Enquanto a telefonia e o telégrafo

americano procuram se aliar ao governo federal, as indústrias de construção

procuram ajuda através das casas de governos locais.

O aumento no número dos territórios governamentais locais pode

dividir e fragmentar a consciência da classe trabalhadora. As pessoas podem

217

Page 218: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

formar alianças com seus vizinhos e distritos, ao invés de que com suas

classes. Além disso, as localidades irão competir entre elas pelos recursos

escassos ao invés de se confrontar com os ricos. Assim o território pode

desviar a atenção do conflito entre o trabalho e o capital e focalizar em um

conflito colocando um distrito contra o outro, a cidade contra o subúrbio, o

Cinturão do Sol contra o Cinturão da Neve, ou os trabalhadores da América

contra os trabalhadores do México. Mas juntar pequenas unidades políticas

para formar maiores, como é o caso na forma metropolitana do governo,

também pode ser desvantagens para os pobres porque isto pode aumentar os

custos da campanha e da propaganda política. Isto dificultaria para o pobre

concorrer para um cargo público.

A hierarquia territorial permite, no caso da má escolha de poder e

responsabilidade, que se possa camuflar mais adiante o uso do poder. É

possível delegar a unidades locais de governo a responsabilidade de resolver

problemas que não são possíveis para elas. A tarefa de prevenir o crime pode

ser dada à jurisdição local, embora a incidência do crime esteja diretamente

relacionada com o estado da economia, que é uma questão nacional. Delegar

erroneamente as responsabilidades para os territórios pode ser uma estratégia

para descarregar as decisões políticas impopulares. Um presidente

conservador pode não querer o bem estar como sendo uma responsabilidade

nacional. Dar às comunidades locais a responsabilidade pela assistência aos

pobres pode dar a aparência de que alguma coisa está sendo feita para ajudar

os pobres, quando de fato o problema é nacional em escopo e em causa.

Segundo os marxistas, a uniformidade é mais facilmente

alcançada em um estado unitário, no qual as divisões territoriais são

primariamente devidas a eficiência na administração e na provisão dos bens

públicos e serviços. Mas no caso de um sistema federal, os Estados Unidos

em particular, os territórios de níveis mais baixos, por exemplo, os estados,

são originariamente autônomos e Constitucionalmente retém um significante

quadro de autoridades. Assim, neste caso, alguém esperaria que a

uniformidade fosse mais difícil de ser alcançada. Mas as mesmas força

218

Page 219: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

econômicas que fazem tais unidades e suas subdivisões necessárias e

importantes, também requerem que elas não sejam tão diferentes e que de

fato elas se tornem mais semelhantes para facilitar o movimento das pessoas,

dos bens e do capital.

Conforme nós notamos antes, para os Estados Unidos, a base

legal para a uniformidade, como para a multiplicidade, pode ser encontrada na

Constituição. Em adição às implicações constitucionais da uniformidade entre

as Constituições dos estados (Artigo IV, Seção 4) e a asserção constitucional

de que as leis nacionais são as leis supremas da terra (Artigo VI), a

Constituição tem oferecido vários mecanismos para afetar a uniformidade.

Existem os poderes enumerados e exclusivos do Congresso (Artigo I, Seção 8)

incluindo a autoridade em cunhar dinheiro, regular o comercio entre os estados

e coletar taxas. Existem restrições explícitas sobre os poderes dos estados e

proibições contra o Congresso tratar os estados diferentemente. Por exemplo,

existe o direito do impedimento, existe a afirmação de que nenhuma taxa ou

imposto deve ser cobrados sobre artigos exportados para qualquer estado

(Artigo I, Seção 9) e de que nenhuma preferência será dada por qualquer

regulamentação de comércio ou acordo a portos de um estado sobre outros

(Artigo I, Seção 9). Existem as restrições específicas sobre os estados no

Artigo I, Seção 10. Existem também as provisões de que as jurisdições dos

estados não devem interferir com as liberdades civis individuais. Por exemplo:

“Os cidadãos de cada estado devem ter todos os privilégios e as imunidades

dos cidadãos nos outros estados” (Artigo IV, Seção 2) e a provisão na Emenda

XIV de que “Nenhum estado deve forçar ou impor qualquer lei que abolirá os

privilégios os as imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos. De acordo com

Gordon Clark a interpretação pelas cortes desta e de outras provisões tem

despojado os governos locais “de qualquer poder que possa significativamente

manter as exclusividades e possibilidades da autonomia local no reino

econômico. E o poder político e econômico tem se tornado espacial e

administrativamente centralizado”.

219

Page 220: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Os marxistas enfatizariam que estas e outras bases legais têm

sido usadas para a vantagem do capitalismo. A uniformidade permite ao

indivíduo - como consumidor e produtor - de ser livre das restrições territoriais

locai. A uniformidade permite a mobilidade do capital, do trabalho e dos

produtos. A importância geral é que os estados originariamente autônomos em

muitos aspectos têm se tornado pouco mais do que moldes ou receptáculos

para o capital fluido e o trabalho. Este papel passivo dos territórios locais é

ideologicamente justificado ao garantir a nossa liberdade de escolha e

movimento. Não levou muito tempo para as forças do Capitalismo usarem as

provisões constitucionais para limitar as diferenças geográficas e para

aumentar a uniformidade nacional. O grau no qual as concessões

constitucionais têm sido interpretadas em favor da centralização e da

uniformidade e o grau ao qual a penetração do Capitalismo tem estendido o

significado da interconexão econômica estão ilustrados na interpretação legal

da “Cláusula do Comércio” e no direito do Congresso em imprimir dinheiro.

Originalmente a “Cláusula do Comércio” foi pensada para ser

aplicada somente sobre o mercado; entretanto, a cláusula rapidamente se

tornou aplicável ao movimento de todas as comodidades, do trabalho e até

mesmo da informação entre e dentro dos estados.

As transações de negócios, se for mais através da troca de dinheiro e ou

comodidades, ou tão implícita quanto na s obrigações de um contrato que

afetam as leis de comércio entre os estados, também foram incluídas dentro

do escopo da cláusula de concessão de autoridade. Isto também deu ao

Congresso o direito de regular o comércio entre os estados. O Congresso

pode estabelecer padrões , condições, preços e até mesmo as taxas do

comércio.

A cláusula dando ao Congresso a autoridade de imprimir dinheiro

“tem sido interpretada como se aplicável virtualmente a todos os aspectos de

dinheiro e de troca, incluindo a velocidade de circulação do dinheiro, a forma

que o dinheiro toma e o pagamento uniforme dos débitos.

220

Page 221: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Esta visões marxistas com relação ao papel das unidades

territoriais sub-nacionais podem ser estendidas para incluir o papel das

nações-estados dentro de uma economia global. Na teoria, as nações-estados,

diferentes dos sub-estados, são politicamente autônomas e a despeito dos

esforços das Nações Unidas e das alianças regionais, não existe ainda um

federalismo global ou um confederalismo, aproximando até mesmo as

unidades centralizadas fracamente das treze colônias originais. Entretanto, as

ligações econômicas internacionais têm levado a um grau de interdependência

e de cooperação que tem tendido ao nível de impedimentos nacionais para

uma economia global. As moedas nacionais são fortalecidas, os sistemas de

contabilidade são padronizados e os débitos são geralmente honrados, e,

embora as tarifas sejam comuns uma interferência excessiva na negociação

internacional levará a represálias e a bloqueios internacionais que são

equivalentes a declarações de guerra. Assim. Apesar da ausência de uma

autoridade política central, uma rede econômica internacional tem surgido

obedecendo as regras que ajudam a aumentar a fluidez das mercadorias do

capital e a diminuir as diferenças econômicas internacionais.

Ainda, este sistema cresce a um grau de diferença geográfica

que não interfere com a mobilidade do capital e oferece ao capital misturas

vantajosas de oportunidade geográficas. Assim um país pode oferecer taxas

mais baixas, um outro salários mais baixos, e um outro estabilidade política e

etc. Oferecendo diferentes pacotes sócios-econômicos, as nações-estados

então competem para atrair um porção da economia global. Além disso, se as

funções das nações-estados são criar pacotes geográficos diferentes que

contribuem com o capital, então essas funções não podem ser preenchidas a

menos que o nacionalismo encuque a lealdade e a ofereça legitimidade para

estas unidades territoriais. Ao fazer isto, o nacionalismo desvia a atenção do

nível global para o nível nacional. Ele desvia a atenção das relações globais

entre o capital e o trabalho para questões políticas internacionais e sub-

nacionais. Em outras palavras, o nacionalismo usa a Territorialidade para

obscurecer o conflito de classe nas maiores escalas geográficas.

221

Page 222: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Aplicando a teoria da Territorialidade para as organizações

políticas da América do Norte, tem ajudado a explicar como e porquê as

unidades territoriais políticas desenvolveram-se e os efeitos que elas têm tido

no processo político americano. Todas essas tendências da teoria podem ser

argumentadas como sendo uma evidência no sistema político americano

contemporâneo, mas novamente as combinações modernas são

especialmente importantes. Os teóricos político-econômicos de todos os tipos

defenderiam que o desenvolvimento da mobilidade de massa geográfica do

Capitalismo e a comodificação do lugar tem intensificado o sentido de que o

território é esvaziável e preenchível conceituadamente e que o espaço é um

sistema métrico abstrato contingentemente relacionado aos eventos. O

desenvolvimento das hierarquias dos territórios tem definido as comunidades

para conter, conduzir e moldar os processos geograficamente dinâmico; tem

também aumentado o efeito da impersonalidade; e, em muitos casos, tem

aumentado a burocratização e a centralização do poder. Discordâncias

poderiam surgir com respeito a avaliação destes efeitos e se ou não

Territorialidade é usada pra obscurecer as relações do poder. O debate sobre

essas questões têm tomado a forma de perguntas com relação as razões para

a Territorialidade dos bens públicos, os números de territórios e suas escalas

geográficas e as razões para concentrar e centralizar a autoridade. O espectro

político total assume que o território e os bens públicos estão funcionalmente

interconectados porque o território está sendo usado como um mecanismo

para controlar e moldar as externalidades, os competidores livres, e para

englobar o domínio dos usuários e dos contribuintes. A hierarquia territorial é

também pensada como sendo inevitável nos sistemas políticos capitalistas

complexos, porque os bens públicos têm diferentes alcances geográficos e

porque existe a necessidade de coordenar os spillovers e as más escolhas. Os

neo-Smithianos acrescentam que a proliferação dos territórios resulta dos

diferentes alcances dos bens públicos e também de uma expressão de

liberdade da população em escolher e controlar os seus próprios ambientes

sociais.

222

Page 223: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A teoria neo-Keynesiana aponta para o perigo que vem do

parcelamento territorial. Ela enfatiza as más escolhas entre as jurisdições e

como, isso aumenta as diferenças (uma tendência freqüentemente associada

com o parcelamento territorial) e como o território pode se tornar um fim ao

invés de um meio. Mas, os neo-Keynesianos não vêem estas questões como

tendo sido criadas e usadas pelo capital para atrapalhar a classe trabalhadora.

A posição neo-Marxista estende o criticismo e reformula-o

mostrando os efeitos negativos do território em ser de acordo com os

interesses do capital . O território se torna (geralmente inconscientemente)

uma ferramenta do rico para explorar as massas. O território ajuda a “dividir e

conquistar” o pobre fragmentando-o em distritos eleitorais. Isto desloca a

atenção do conflito social para o conflito territorial e isto ajuda a evitar o

confrontamento de assuntos socialmente sensíveis.

O nível político é uma das duas esferas intimamente ligadas aos

usos modernos da Territorialidade. A outra é o local de trabalho. E, conforme

nós veremos, o desenvolvimento e as interpretações da Territorialidade nesta

escala pequena ou micro levanta questões similares àquelas que nós

confrontaremos no nível dos territórios políticos. É claro que ambos os níveis

da Territorialidade estão conectados.

6. O local de trabalho.

Virtualmente cada faceta da vida agora ocorre em um lugar

separado e distinto reservado especificamente para aquela atividade. As

fábricas têm estações de trabalhos para os trabalhadores da área de

estocagem para as ferramentas e suprimentos, escritórios para as secretarias

e para o gerenciamento. As escolas têm salas de aulas para diferentes séries

e escritórios para os administradores, e a casa tem partições separadas para

viver, jantar, recreação e para dormir. As doenças são mantidas nos hospitais

223

Page 224: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

com alas e enfermarias para diferentes tipos de doenças e para diferentes

necessidades. Os criminosos estão nas prisões contendo celas e blocos de

celas para separar as categorias de transgressores. Os insanos estão nos

asilos. Os mais velhos estão nas casas de repouso. Nós vamos aos museus

para ver grandes trabalhos de arte; para a salas de sinfonia por causa de

concertos; para os teatros por causa das peças. As ruas são reservadas

somente para movimentação, as lojas são locais de compra de produtos, os

parques são locais para recreação e os estádios abrigam esportes

organizados. A lista pode ser continuada adicionando tipos de fábricas,

escritórios, escolas, casas, prisões, asilos, casas de repouso, museus, casas

de sinfonia, teatros, ruas, lojas, parques e estádios. Mas estes são o suficiente

para sugerir como a maior parte de nossas atividades - e é claro a maior parte

de nossas vidas - estão tão espacialmente segmentadas e

compartimentalizadas. Porque esta segmentação espacial surgiu e quais são

as suas conseqüências? A resposta é mais claramente vista quando nós

agrupamos os processos históricos do período Moderno pelos seus efeitos

territoriais.

O espaço esvaziável e impessoal.

Estas tendências na segmentação manifestam intenso e

minucioso controle territorial. Para o trabalho ocorrer como ele ocorre em uma

fábrica moderna, para o aprendizado ocorrer como ele ocorre em uma escola

moderna, significa que o poder legal e social deve ser mantido para excluir

todas as outras atividades de um local e para organizar todos os detalhes que

servem ao propósito dessas atividades. É em locais especificados para

atividades tais como trabalho, recreação, aprendizado e para cura que nós

experimentamos a Territorialidade mais intensamente. Nós estamos tão

acostumados com essas formas penetrantes de segmentação espacial que

nós podemos esquecer não somente que essas são unidades territoriais , mas

também que elas são novas naquilo.

224

Page 225: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Antes do surgimento do Capitalismo, o trabalho, a educação, a

cura e a família eram em maior parte espacialmente interligados. O trabalho

geralmente ocorria em casa ou próximo dela para a grande maioria e também

a casa era o lugar da instrução. O doente e o mais velho não eram comumente

separados fisicamente do resto da comunidade. Os criminosos eram punidos

publicamente através da humilhação, da tortura, da mutilação ou da morte;

mas eles normalmente não eram confinados a prisões. As ruas das vilas e das

cidades continham múltiplas atividades, elas não eram artérias para o

transporte. O mercado era realizados nas casas, nas lojas e nos lugares

públicos, e o entretenimento ocorria praticamente em qualquer parte.

As coisas não eram geograficamente “bonitinhas” e organizadas

no mundo pré-moderno. Nada tinha o seu lugar. Uma amostra desta mistura

geográfica está representadas nas figuras da época. Uma cena de Hogarth

(figura 6.1), por exemplo, mostra o quão bagunçadas as cidades pré-

industriais eram. Lyn Lofland captura algumas destas intermisturas nas

palavras quando ela apresenta o seu “Retrato Composto da Cidade Pré-

industrial”.

Imagine você caindo por meio de uma máquina do tempo, no meio de alguma

cidade

mítica Pré-industrial composta. Você está perplexo, primeiro de tudo, pela

grande quantidade de atividades aqui. Mercadores, operando em seus

pequenos espaços, espalhando as suas mercadorias na rua. Próximo a eles,

uma escola de algum tipo parece estar em aula e você se pergunta como os

estudantes podem se concentrar. Um vendedor ambulante está indo em

direção de você, gritando as maravilhas de suas mercadorias, e fora do

burburinho das ruas, você pode apenas notar os gritos de outros vendedores

ambulantes se movendo através das outras ruas. Um homem pára o vendedor

e eles começam a negociar sobre o preço de um item. Então você nota que os

mercadores mais imóveis também estão envolvidos em tal negociação,

algumas de longa duração. Aqui e ali, um encontro inesperado chamou a

225

Page 226: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

atenção da multidão e os espectadores se envolveram eles mesmo na

interação. Todo mundo está gritando com muitos insultos indo e vindo.

Descendo a rua, um pedinte, seus olhos obviamente sem visão,

sua face cheia de cicatrizes de queimaduras, ele estende a mão em um gesto

de pedido de ajuda. Conforme você passa pelas ruas você nota que elas estão

cheias de pedintes. Alguns parecem serem membros de uma ordem religiosa,

outros são aleijados ou mutilados, mas muitos parecem não ter nenhuma

aflição no corpo. Dentre os pedintes, muitos são crianças; algumas estão com

adultos, mas um grande número “trabalha” sozinha.

Você vira uma esquina e você fica perplexo com uma visão

repulsiva aos seus olhos modernos; um homem foi pregado pelas orelhas em

uma porta. Perguntando você descobre, que este é o seu castigo por enganar

os seus clientes. Ele é um mercador e ele foi pregado na porta do seu próprio

estabelecimento. Agora um grande choro atrai a sua atenção você vira outra

esquina e descobre três pessoas, esfarrapadas, sendo conduzidas através das

ruas com chicotadas e empurrões. Mais tarde, nos arredores da cidade, você

vê o resto de corpos pendurados em grilhões e alguns em algum tipo de gaiola

elevada. Um ou dois dos grilhões sustentam corpos inteiros; o resto, pendura

somente “pedaços”.

De volta à cidade, um ator ambulante ou cantor da rua ou

contador de história atraiu uma multidão e ele está no meio de uma

performance. Em uma praça, você vê um orador público pregando de maneira

monótona absolutamente coisa nenhuma e você fica maravilhado com a

paciência dos seus ouvintes.

De repente o pregoeiro da cidade aparece, gritando para todos

que passam que um incêndio está acontecendo em tal lugar. Você segue a

multidão e, chegando no local, você assiste os cidadãos tentando lutar contra

as chamas. Ninguém em especial parece estar encarregado daquilo e os

esforços para conter ou para extinguir o fogo parecem sem esperanças. As

226

Page 227: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

pessoas estão trazendo coisas das suas casas para ajudar - panelas ou

baldes - correndo para o poço com elas e então retornando para jogar águas

nas chamas. Tudo é um caos. Eventualmente, após destruir muitos dos

edifícios na área onde ele começou, o fogo se extingue por si mesmo.

Assistindo as pessoas correrem pela água, você as segue e pára

por um momento perto de uma fonte ou de um poço, onde você vê homens e

mulheres se banhando, lavando roupas e fofocando. Você vê homens com

grandes baldes virem e encherem os seus baldes e então se apressarem para

entregar a água nas casas vizinhas. E você vê as mulheres indo com jarros

para pegarem a sua própria água.

O choque inicial desse lugar estranho começa a passar, você

começa a notar coisas que de primeira não atraíram a sua atenção. A

imundice total das ruas lhe assombra. Em todo lugar parece haver refugo, lixo

e excremento humano e animal. E então você nota que pela primeira vez o

grande número de animais nas ruas - porcos comendo lixo, insetos atraídos

pelo excremento, cachorros brigando por ossos etc. Há até mesmo animais

maiores, cavalos e bois puxando carroças através das ruas tumultuadas e

pequenas, e outros animais sendo levados pelo mercado. E por toda parte

crianças: brincando nas ruas, correndo para cima e para baixo nos becos

apertados; zombando dos aleijados e dos pedintes; cutucando com varas um

homem possivelmente retardado que é incapaz de se proteger. Aqui e ali elas

são ajuntadas nos jogos por um adulto, e suas sensibilidades modernas são

despertadas pelas descoberta de que os seres humanos podem achar o

sofrimento dos outros tão divertido.

Esta bagunça geográfica e social foi característica da maioria das

cidades pré-modernas, mas na Europa do norte, e então na América do Norte,

uma mudança geográfica maior ocorreu com o surgimento do Capitalismo. O

espacial muda do pré-moderno para o moderno neste local ou a micro escala

paralela para aquelas de política ou macro. No nível micro nós novamente

encontramos o surgimento dos três efeitos territoriais associados com a

227

Page 228: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

modernidade: o espaço esvaziável, as relações impessoais-burocráticas, e

possibilidade da camuflagem. Desta forma os processos geográficos de ambos

os níveis são interligados. Assim as duas exibiram importantes diferenças no

desenvolvimento territorial. Uma se refere ao efeito do espaço vazio. No nível

macro, um espaço métrico abstrato logo se torna uma parte da consciência

geográfica do público. As descobertas do novo permitiram a este sistema de

espaço se tornar aplicável a áreas reais, e, através do político, os espaços

vazios e os territórios do Novo Mundo puderam ser preenchidos com pessoas

e comunidades.

Ao nível local ou micro o efeito territorial de um espaço vazio se

desenvolveu diferentemente. Ao invés de começar com uma grade espacial

abstrata e que poderia caber em um espaço vasto e conceituadamente vazio

como o Novo Mundo e então colocando as coisas nele, o nível micro

começando com a geralmente tumultuada intermistura de eventos dentro um

lugar, teve que ser diminuído, por assim dizer, tal que mais e mais locais se

tornaram containner para apenas um tipo de coisa. Quando coisas suficientes

foram diminuídas (a despeito do fato de que a diminuição requer uma

delineação de mais e mais território), uma estrutura espacial métrica abstrata -

e esvaziável e preenchível, em um espaço parcelável (ilustrado na Figura 6.2

e 6.3) - surgiram como a forma geográfica destacável. Assim o espaço da

política começou como “vazio” e foi “preenchido” enquanto o espaço de

trabalho e de lazer foi “reduzido” e então “esvaziado”.

Em ambos os níveis nós encontramos uma multiplicação dos

territórios e das hierarquias e o efeito territorial de promoção das relações

impessoais e burocráticas. O próprio espaço abstrato e vazio sentido como frio

e impessoal. Assim alguns dos efeitos são experimentados com grande

intensidade no nível micro. Aqui o controle territorial pode penetrar em

detalhes menores. Um datilógrafo em um escritório não está somente preso a

sua estação de trabalho, mas o controle territorial sobre este pequeno lugar

especifica até mesmo a orientação física e a inclinação deste corpo. Embora o

micro espaço possa parecer frio e impessoal, e neste nível que nós

228

Page 229: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

encontramos os esforços mais intensos para humanizar os lugares. O nível

micro inclui a casa, que é geralmente o lugar de maior conforto. Nesta escala

também são encontradas outras tentativas de estabelecer lugares de

aconchego e conforto mesmo nos ambientes mais frios e mais impessoais. Um

trabalhador na estação de trabalho ou em uma linha de montagem pode se

sentir mais confortável em sua estação usual do que em outra, e os

prisioneiros podem tentar “humanizar” até mesmo as suas celas das ditas

prisões.

Aumentar o parcelamento territorial pode significar numa

diminuição da especialização e na divisão das atividades. Mas ele também

pode apresentar problemas de unificação e integração. Nós podemos conter

as coisas sem conhecer o que elas são e nós podemos fragmentar sem

recombinar. Estas dificuldades da integração territorial das más escolhas e

spillovers podem ter conseqüências extremamente pessoais. Trabalhar em

lugar, aprender e jogar em outros, e ir para casa, uma casa na qual

compartimentos distintos são separados para jogos, socialização, para comer

e dormir pode afetar a nossa habilidade de entender como o nosso dia está

interconectado. A segmentação geográfica das nossas próprias atividades

pode segmentar o nosso sentido de eu.

Como era o caso no nível macro, as transformações territoriais

no nível micro têm sido afetadas pelos desenvolvimentos na economia política

e na interpretação desses efeitos que dependem novamente da visão de

alguém sobre o Capitalismo. Mas, ao invés de três pontos de vistas distintos

somente dois pertencem a esta escala; o neo-Smithiano e o neo-Marxista. O

tipo de unidade territorial que expressa as diferenças na interpretação mais

acuradamente é o lugar de trabalho.

Interpretações.

229

Page 230: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Os neo-Smithianos abordariam as mudanças no lugar de trabalho

da mesma forma que eles abordariam as mudanças na organização política.

Eles argumentariam que o surgimento do Capitalismo aumentou a

complexidade econômica e a interdependência e particularmente o grau de

especialização e divisão do trabalho. Como um processo se torna mais

complexo, dividindo em tarefas mais simples aumenta a sua eficiência. Mesmo

as tarefas simples podem ser realizadas mais efetivamente com a

especialização e a divisão do trabalho. Tarefas simples e repetitivas poupam

tempo e energia e assim permitem mais para ser produzidos. Poderia se

economizar mais adiante se todos os processos pudessem ocorrer próximos

um do outro e se possível debaixo do mesmo teto. A especialização e a divisão

do trabalho também tornam a interdependência maior, e especificar e

coordenar esta interdependência é o trabalho do gerente. Estas interconexões

são mais claramente ressaltadas por Adam Smith quando ele descreve a

organização do trabalho na famosa produção de pinos:

um trabalhador não educado para o seu negócio, nem acostumado com o uso

do maquinario empregado nele poderia, escassamente talvez, com o máximo

de esforço, fazer um pino por dia, e certamente não poderia fazer vinte. Mas

da maneira que este negócio é agora realizado não somente todo negócio é

um negócio peculiar, mas está também dividido em um número de filiais, das

quais a grande parte são similarmente negócios peculiares. Um homem

desenrola o arame, outro o estica e um terceiro o corta, um quarto o aponta e

um quinto o prende pelo topo para receber a cabeça; fazer a cabeça requer

duas ou três operações distintas; laqueá-lo é um negócio peculiar, e

esbranquiçar os pinos é outro; e até mesmo um processo diferente para

colocá-los no papel; e um importante negócio de fazer um pino é, desta

maneira, divido em cerca de dezoito operações distintas, que em algumas

fábricas, são realizadas por mãos distintas, embora em outras o mesmo

homem irá às vezes realizar duas ou três delas. Eu tenho visto pequenas

fábricas deste tipo onde dez homens somente estão empregados, e onde

apenas um deles consecutivamente realiza duas ou três operações distintas.

Mas embora eles sejam muito pobres, e desta forma mais indiferentemente

230

Page 231: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

acostumados como o maquinario necessário, eles podem, quando eles se

esforçam, fazer mais de quarenta e oito mil pinos em um dia. Cada pessoa,

portanto, fazendo uma décima parte de quarenta e oito mil pinos, pode ser

considerada como se fizesse quatro mil e oitocentos pinos por dia.

Smith acredita que as lições da manufatura de pinos são

generalizáveis. “Em toda arte e manufatura, os efeitos da divisão do trabalho

são similares a este pequeno exemplo. A divisão do trabalho até agora como

pode ser introduzida, ocasiona, em cada arte, um efeito proporcional dos

poderes produtivos do trabalho”.

Smith argumenta que as vantagens da divisão do trabalho são

devido primariamente a três circunstâncias. Primeira, há um aumento na

destreza do trabalhador. Segundo, há “uma economia de tempo que é

comumente perdida ao se passar de uma espécie de trabalho para outro”.

Terceiro, a divisão do trabalho tem ocasionado a invenção de um número

grande de máquinas que facilitam o trabalho possibilitando “um homem a fazer

o trabalho de muitos”.

Acompanhar a crescente divisão do trabalho chega-se a

crescente necessidade de se coordenar as atividades econômicas e colocar

as interconectadas mais próximo possíveis. Esta necessidade por si só pode

fazer as fábricas, ao invés de pequenas casas e lojas dispersas, a forma

espacial mais econômica. Além disso, Smith aponta, que a divisão do trabalho

ajuda a aumentar a inventividade tecnológica. O surgimento do Capitalismo viu

o surgimento de novos equipamentos. Grandes maquinarios e caros vieram

para substituir as ferramentas simples. O maquinario tinha que ser colocado

em fábricas. E mais e mais as fábricas surgiram e a competição aumentou, isto

tornou ainda mais importante para o capitalista organizar o trabalho dentro da

fábrica. A sempre crescente escala de operações e as complexidades das

tarefas fez do parcelamento territorial e da hierarquia um componente

essencial do trabalho. Os lugares precisavam ser limpos para que o trabalho

ocorresse e somente um tipo de atividade poderia ocorrer em cada lugar. Esta

231

Page 232: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

diminuição territorial das atividades o aumentou com o surgimento de

necessidades da tecnologia , complexidade, escala de tempo.

É importante não se prender demais ao fato de que os processos

ocorre dentro dos contextos das classes econômicas. Um grupo possui as

fonte de produção e controla e supervisiona o trabalho, e o outro são

simplesmente trabalhadores, vendendo o seu tempo e trabalhando em um

maquinario que eles não possuem. Mas de acordo com o Smithiano a relação

a longo prazo é justa. Os trabalhadores podem sair para encontrar outros

empregos que paguem melhor e os donos ou gerentes podem despedir

trabalhadores e contratar mais baratos. Além disso, as categorias

“trabalhador”, “gerente” e “proprietário” não são separadas pelas fronteiras

imutáveis de classe. Com habilidade e uma boa sorte um trabalhador pode se

tornar um gerente ou um proprietário, e com pouca habilidade e má sorte, os

proprietários podem perder as suas fortunas. Os trabalhadores mais

esforçados trabalham e o gerenciamento mais efetivo se torna na organização

do trabalho, o melhor de que todo mundo será.

Sob esta luz, o local de trabalho - a fábrica - parece tão

necessário quanto o espaço neutro limpo, tal que as atividades essenciais

podem ser moldadas e coordenadas para fazer que todo mundo prospere.

Mesmo o caráter impessoal das grandes fábricas, as suas hierarquias de

unidades territoriais, e suas grandes cadeias de controle, com claras

demarcações de responsabilidades, acrescentam algo à eficiência do trabalho.

Relações pessoais interfeririam com o objetivo dos negócios e com decisões

gerenciais. A circunscrição territorial das tarefas aumenta a distância social

entre os trabalhadores e entre eles e a gerência. Isto ajuda a tornar as tarefas

mais claras, mais simples, e a facilitar o treinamento e reposição de

trabalhadores e gerentes.

A figura neo-Smithiana, então, a de uma progressão natural do

territorial diminuindo, da especialização, e das relações impessoais para

acompanhar o aumento na escala social e econômica, e a complexidade e a

232

Page 233: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

divisão do trabalho. Embora o neo-Marxista também reconhecesse o espaço

vazio e a impersonalidade e burocracia como efeitos da organização territorial

moderna no nível micro, eles as explicaria de maneira diferente. Porque ele vê

o conflito de classes como a base do Capitalismo que ele naturalmente

esperaria encontrar neste conflitos no lugar mais importante do processo

econômico - o lugar de trabalho. Para o neo-Marxista, as relações entre o

trabalho e o capital são desiguais e opressivas, embora a diferença seja

geralmente disfarçada pelo contrato de trabalho. Este dá a aparência de que

os trabalhadores são livres para vender o seu trabalho para qualquer

capitalista, bem como os capitalistas são livres para contratar o trabalho. Mas

na realidade, os Marxistas argumentam, que os trabalhadores deve vender o

seu trabalho e eles não capazes de escolher qualquer outro meio mais

significante.

A fábrica em si não é então um local neutro na qual o trabalho

complexo ocorre, mas ao invés disso é um território sobre o controle do capital,

para ser usado pelo capital para extrair o valor excedente do trabalho. Isto

pode ser feito literalmente mandando embora o trabalhador se ele não

trabalhasse por menores salários e por mais horas, ou, como no século XIX,

literalmente trancando os trabalhadores na fábrica desde a madrugada até o

entardecer. O controle do capital da fábrica permite segmentar o processo de

trabalho e restringir o movimento de trabalho dentro da fábrica. Os

trabalhadores que tinham conhecimento do processo inteiro logo não vão

precisar dele para realizar suas tarefas altamente especializadas e os

trabalhadores sem habilidade podem substituir formalmente os trabalhadores

com habilidade. A divisão de tarefas territorialmente pode até mesmo criar a

ilusão de que há mais para o processo industrial do que realmente existe. Esta

ilusão faz os trabalhadores se sentirem inferiores e leva-os a acreditar que eles

não podem gerenciar o processo de trabalho sozinhos. Além disso, a divisão

territorial isola o trabalhador de outros trabalhadores e o impede de

compreender as verdadeiras relações entre o trabalho e o capital. Em outras

palavras, a subdivisão territorial e as hierarquias do local de trabalho são

usadas pelo capital e pelo gerenciamento para dividir, conquistar e tirar a

233

Page 234: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

habilidade da força de trabalho. Finalmente, o neo-Marxista acrescentaria que

sobre a luz do efeito real esta divisão territorial tem isolado o trabalhador, e a

asserção do capital nesta divisão territorial é uma conseqüência natural e

mecânica da complexidade e da tecnologia e aponta o importante papel que

está sendo desempenhado pelo terceiro efeito territorial moderno - o da

camuflagem.

Novamente nós devemos ser cuidadosos em deixar claro que

esta posições são hipotéticas e que ninguém precisa ser Smithiano ou

Marxista para defender alguma ou mesmo todas elas. Mesmo os marxistas

ferrenhos podem aceitar algumas posições neo-Smithianas, e vice-versa.

Engels, por exemplo, aponta que a especialização e a integração hierárquica

foram acompanhamentos naturais da vida tecnológica moderna. Com respeito

especialmente à necessidade pela hierarquia ele disse:

Se um homem, por meio do seu conhecimento e do seu gênio inventivo,

subjugou as forças da natureza, esta se vinga dele subjugando-o, uma vez que

ele as emprega para um despotismo real, independente de toda organização

social. Querer abolir a autoridade na industria de larga escala é equivalente a

querer abolir a própria indústria, a destruir um tear mecânico para retornar a

um tear de roda.

Estas diferenças na interpretação dos efeitos modernos da

Territorialidade são melhor ilustradas através do desenvolvimento do local de

trabalho. Mas as relações entre o Capitalismo e o local de trabalho também

afetam a natureza de várias outras instituições tais como o asilo, o hospital, a

prisão, a escola e o lar. E nestas nós encontramos operando as mesma

tendências territoriais bem como a possibilidade de interpretações alternativas

dos seus significados. A evolução dessas formas e suas interconexões é algo

complexo; dentro do ambiente de trabalho, a hora de mudanças particulares

varia de acordo com uma série de fatores o tipo de processo de manufatura, o

tipo de grupo de trabalho e papel do governo. Complexidades similares

pertencem a outras instituições também. É possível rascunhar as mudanças

234

Page 235: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

rudimentares em uma poucas delas e estas se firmam como ponto de

comparação para outros estudos.

O efeito do trabalho.

Os vastos rompimentos sociais acompanhando a dissolução do

feudalismo e o surgimento do Capitalismo deixaram a sociedade com uma

necessidade por novos tipos de organizações sociais e de controles. Os

camponeses sem-terras, os exércitos de vagabundos e o surgimento das

populações urbanas forçaram os sistemas convencionais de trabalho, de bem-

estar e de formas pessoais de autoridade. Haviam vastos seguimentos das

populações que estavam em “transição” - que não se encaixavam às

categorias sociais convencionais. Uma reação significante a estas pressões foi

empregar geograficamente para isolar e conter os desajustes sociais ou os

desvios. Ninguém contribuiu mais para o entendimento deste importante

processo do que Foucault. Nos seus trabalhos ele vê que os modernos

hospitais, asilos, casas de pobre e prisões têm raízes comuns nas tentativas

dos séculos XVI e XVII de se isolar fisicamente os números crescentes e os

tipos de desabrigados sociais. Foucault chamou o século XVII do início de um

grande confinamento e, de acordo com ele , “o que tornou este confinamento

necessário foi o imperativo do trabalho”.

Categorizar os desvio tão acuradamente como nós fazemos

agora, tal que nós distinguimos entre doenças físicas e doenças mentais, entre

aqueles que não podem se manter por causa de deficiências sociais,

deficiêncais físicas, deficiêncais mentais e entre aqueles que se mantém

apenas através do crime, isto tudo levou vários séculos para ser alcançados. A

visão do século XVI e do XVII era mais rude: aqueles que nós separaríamos

em diferentes categorias e os colocaríamos em diferentes instituições - o

235

Page 236: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

criminoso, o pobre e o mentalmente doente - eram geralmente colocados

juntos na mesma instituição cruel de confinamento. Confinar pessoas diversas

juntas em geral em condições de superlotação e sub-sanitárias imediatamente

apresentou a necessidade por uma tipologia de desvios que ajudara a

subdividir e a separar fisicamente os confinados. Tal que eles poderiam ser

mais efetivamente controlados. O problema precisava que a organização

espacial do confinamento permitisse os desvios serem cuidadosamente

observados e os resultados de diferentes misturas notados. Confinar e

organizar os desviados se tornou responsabilidades especificas das agências

de governo e gerou agências novas bem como grupos de profissionais

privados. Houve, entretanto um critério predominante usado para desenvolver

a tipologia do desvio, e que foi o trabalho.

Não de se surpreender que o trabalho desempenhou um papel

central por causa que muitos problemas tinham tudo a ver com a mudança na

natureza do trabalho. A transformação de uma economia camponesa para

uma comercial significou que a interdependência econômica comunal e

tradicional estava sendo substituída por uma dependência ou por uma

economia de mercado impessoal (ver figura 3.7), alguém que tentasse

aumentar os lucros, diminuía os custos, introduzia novos produtos e substituía

um trabalhador por outro. Uma considerável extensão de desviados teve

problemas de lidar com estas mudanças. Assim parecia natural que a tipologia

do desvio devia ser guiada pela extensão a qual as pessoas eram incapazes

ou inábeis para trabalhar e as razões pelas quais suas desabilidades deveriam

ser explicadas em termos de características de trabalho. Assim o pobre com o

corpo sadio poderia ser separado do pobre que era doente demais para

trabalhar, ou do pobre que era mentalmente defeituoso e que não podia

freqüentar o local de trabalho, ou daquele que não podia ter um dia de trabalho

honesto.

As possibilidades do trabalho como um critério para a tipologia do

desvio foi elaborado com surgimento do Capitalismo Industrial. Aqui, como

ilustrado na comparação de “a” com “b” na figura 3.7, o capitalista não está

236

Page 237: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

simplesmente negociando os bens produzidos pelos artesãos e pelas pessoas

que trabalham em casa com suas próprias ferramentas, em sue próprios

estabelecimentos e com suas próprias horas. O capitalista agora está

realmente preocupado em organizar e controlar cada detalhe do processo de

trabalho. Ele pode fazer isto por causa que ele tem a posse das ferramentas

da produção, e o trabalho ocorre em seu próprio território - a fábrica - e sobre

sua supervisão. Dentro destas condições, a especialização das tarefas se

multiplica. O trabalho se tornar minuciosamente subdividido e geralmente

monótono. Os rigores da fábrica refinaram a tipologia do trabalho tal que mais

categorias e graus de desvios puderam ser isolados.

O trabalho não foi usado somente para definir o desvio, mas

também para corrigi-lo. Sobre o capitalismo e a ética Protestante o trabalho

era uma virtude. Ele estalava os hábitos da responsabilidade, disciplina e a

economia. Forçar as pessoas a trabalhar as curaria de suas desabilidades. Os

prisioneiros eram posto pra trabalhar, e assim também eram muitos dos

doentes. Eles estariam se curando através de seu trabalho, ou se falhassem

com seu trabalho eles revelariam um desvio mais adiante. Mesmo quando as

casas de confinamento de se tornavam especializadas como as prisões, asilos,

orfanatos e casas para pobres o trabalho era parte do regimento. “A função

repressiva do confinamento foi combinada com um novo uso. Não era mais

meramente uma questão de confinar aqueles fora do trabalho, mas de dar

trabalho aqueles que tinham sido confinados”. Mesmo quando estava claro

que as classes dos desviados eram simplesmente incapazes de trabalhar, as

instituições nas quais eles eram colocados eram geralmente organizadas

como fábricas. Os internos estavam separados claramente em espaços

demarcados tal que eles podiam ser supervisionados de perto. Seus dias eram

regimentados. As atividades seguiam horários rigorosos. O staff era

hierarquicamente organizado e a instituição era controlada com a eficiência de

uma fábrica.

De cabanas e prédios simples para conter pessoas, estas

instituições de confinamento, tal como os chãos das fábricas se tornaram

237

Page 238: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

estruturas para propósito arquiteturalmente sofisticadas para classificar,

conter, ordenar e integrar. Hospitais foram transformados através da

regimentação espacial e temporal de barracões de doentes para instituições

de reforma moral. As escolas, também, foram aprimoradas na sua missão

como veículos para educar as massas para trabalharem nas fábricas. William

Temple, um mercador inglês do século XVIII, quando chamado para substituir

crianças pobres nas casas de trabalho onde elas deveriam ser colocadas para

trabalhar e dada duas horas de escola por dia, foi explícito quanto a influência

social deste processo; “Há um uso considerável para o ser de uma forma ou

de outra que está constantemente trabalhando no mínimo doze horas por dia,

não importa se podem trabalhar ganhar o seu sustento ou não; por estes

meios, nós esperamos que as gerações vindouras se habituem ao trabalho

constante que será no futuro agradável e interessante a eles”.

Os trabalhadores davam valor à educação para os seus filhos,

mas eles viam a aquisição do conhecimento ao invés do encutimento da

disciplina da fábrica como sendo a missão primária da escola. As crenças nas

expectativas forma claramente colocadas em 1861 pelo comissário assistente

das áreas vizinhas de Durham e Northumberland:

A hora para freqüentar a escola é permitida somente com uma visão de ser

uma preparação para o trabalho. Os pais não têm nenhuma idéia de que haja

alguma vantagem nas crianças em passarem tanto anos na escola se a

mesma quantidade de aprendizado poderia ser adquirida num tempo menor.

Em resumo, eles vêem a escola não somente como um curso de disciplina,

mas somente como um meio de adquirir leitura, escrita, aritmética, costura e

bordado como uma preparação do principal negócio da vida - ganhar dinheiro.

O território e o espaço.

A transformação do trabalho, o surgimento da fábrica e o

desenvolvimento das prisões, asilos, hospitais e escolas foram todos

238

Page 239: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

interrelacionados. Eles foram cada um modelados sob formas racionais e

eficientes de gerenciamento. Elas todas requeriam a subdivisão minuciosa

intensa e uma integração do território. O todo devia ser territorialmente

parcelado. Cada divisão devia conter um tipo de indivíduo ou processo. E

ainda cada uma devia estar integrada no total. As metafísicas espaciais

fundamentais por de trás da diminuição geográfica dos eventos para criar uma

superfície espacial esvaziável e impessoal que contenha, classifique e

organize as ações humanas está ilustrada na discussão de Foucault da

arquitetura e do controle.

A regimentação de indivíduos ou a disciplina em suas palavras

‘procede da distribuição de indivíduos no espaço. Para alcançar este fim, ela

emprega várias técnicas”. Primeiro ela requer o estabelecimento do território

ou o “enclasuramento” conforme ele põe como - “a especificação de um lugar

heterogêneo para todos os outros e fechado em si mesmo. Ele é o lugar

protegido da monotonia disciplinar”. Com um exemplo de clausura na França,

ele descreve o grande confinamento de vagabundos e pobres; e a criação de

“colégios, ou escolas secundárias” após o modelo monástico. Haviam também

os quartéis militares: o exército, aquela massa de vagabundos, tinha que ser

mantido no local; a pilhagem e a violência deveriam ser combatidas. A

ordenância francesa de 1719 autorizou a construção de várias centenas de

barracas, para segurar os confinamentos estritos: “Todas seriam

enclausuradas por uma muralha externa de dez pés de altura, que cercaria

todas estas barracas, a uma distância de trinta pés de todos os lados”; isto

teria o efeito de manter as tropas em “ordem e disciplina, tal que um oficial

estaria em uma posição para responder por elas”.

Haviam é claro as grandes fábricas com suas grossas paredes e

portões de ferro; abertas uma vez a cada manhã num horário preciso para

admitir os trabalhadores, e trancada seguramente para confiná-los até o

momento preciso na parte da noite quando eles eram dispensados.

239

Page 240: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

A clausura é suficiente se o objetivo é simplesmente coletar e

isolar. Mas com a industrialização e o sistema de fábricas, os objetos fechados

deviam ser subdivididos, moldados e ordenados. Os espaço interior deve ser

trabalhado minuciosamente e flexivelmente. Isto é realizado primeiro de tudo

através do

princípio da locação elementar ou da divisão. Cada indivíduo tem o seu próprio

lugar e cada lugar o seu indivíduo. O espaço disciplinar tende a ser dividido em

muitas seções conforme são os corpos ou elementos a serem distribuídos.

Devem se eliminar os efeitos das distribuições imprecisas, o desaparecimento

inconsolado de indivíduos, sua circulação difusa, sua coagulação inútil e

perigosa. É um procedimento, desta forma, que almeja conhecer, lidar e usar.

A disciplina organiza um espaço analítico nos elementos básicos das “celas”.

Mas a divisão territorial deve ser integrada em um sistema

funcional.

Os lugares funcionais gradualmente, nas instituições disciplinares, codificariam

um espaço que a arquitetura deixou à disposição de vários usos diferentes. Os

lugares particulares foram definidos para corresponderem não somente à

necessidade de supervisionar, de quebrar comunicações perigosas, mas

também de criar um espaço útil. O processo parece mais claramente nos

hospitais, nas prisões, escolas e fábricas. Nas fábricas que surgiram no final

do século, o princípio da divisão individual se tornou mais complicado. Era uma

questão de distribuir indivíduos em um espaço no qual alguém podia isolá-los

e mapeá-los; mas também de articular a sua distribuição em um maquinario de

produção que tinha os seus próprios requisitos. A distribuição dos corpos, o

arranjo espacial do maquinario de produção e as diferentes formas de

atividade na distribuição dos postos tinham que ser ligados juntos.

As divisões territoriais e seus conteúdos eram ao mesmo tempo

definidos e flexíveis. A organização interior do espaço pode mudar, os

territórios podem se unir ou se tornarem mais subdivididos. Na ausência do

240

Page 241: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

maquinario, as partes podem ser interconectadas por um schedule. Enquanto

alguém se move de um lugar para o outro alguém está mudando de posição

ou de classe de acordo com a serialização dos lugares. Por exemplo, a divisão

de uma escola em classes significa que conforme os estudantes mudam de

ano na escola eles também mudam a sua localização no espaço. Cada

estudante

se move constantemente em uma série de compartimentos - alguns desses

são compartimentos “ideais”, marcando uma hierarquia de conhecimento ou

habilidade, outros expressam a distribuição de valores ou méritos em termos

materiais no espaço do colégio ou da sala de aula. A organização do “espaço

serial” (conforme Foucault chama) tornou possível a supervisão de cada

indivíduo e o trabalho simultâneo de todos. Ela fez o espaço educacional

funcionar como máquina de aprendizado, mas também como uma máquina

para supervisionar, hierarquizar e recompensar. A distribuição espacial pode

oferecer uma série de distinções de uma vez só: de acordo com o progresso

do aluno, com o valor, com o caráter, aplicação, limpeza e fortuna dos pais.

O enclausuramento, a divisão, os arranjos funcionais e a

serialização do espaço; estas são as estruturas principais de uma forma

arquitetural impessoal abstrata para organizar e controlar o comportamento. A

explicação mais clara destes princípios em um design atual é encontrada na

descrição do filosofo bem conhecido Jeremy Bentham de Panopticon. O

projeto de Bentham está contido em uma série de cartas que ele escreveu em

1787 enquanto estava visitando seu irmão na Rússia.

As cartas mais um postscript constituem a publicação de

Panopticon de 1791. Muitas das idéias contidas no Panopticon têm estado no

ar por algum tempo, mas nunca antes integradas e propostas como um arranjo

dos princípios arquiteturais. O poder compreensivo de Bentham colocado na

organização do espaço arquitetural está indicado na primeira porção do título

longo do trabalho: “Panopticon; ou, a Casa de Inspeção; contendo a idéia de

um novo princípio de construção aplicado para qualquer tipo de

241

Page 242: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

estabelecimento, nos quais pessoas de qualquer descrição são mantidas

sobre inspeção; e em particular nas casas penitenciarias, prisões, casas de

indústria, casas de trabalho, casas de pobre, manufaturas, casas de loucos,

lazarentos, hospitais e escolas: com um plano de gerenciamento adaptado ao

princípio. A compreensão das reivindicações pelo poder arquitetural é mais

expandida no prefácio. “Reformados morais - saúde preservada - indústria

revigorada - instrução difundida - encargos públicos aliviados - economia

estável, como se estivesse sobre uma rocha - o nó górdio da lei dos pobres

não corta, mas desata - tudo por uma simples idéia na arquitetura”.

Bentham continua exorta os poderes da arquitetura na Carta Um:

Será achada aplicável... sem exceção, para todo estabelecimento de qualquer

tipo no qual,.. um número de pessoas é mantido sob inspeção. Não importa o

quão diferente, ou quão oposto o propósito; se é punir o incorrigível, guardar

o insano, reformar o viciado, confinar o suspeito, empregar o ocioso,

manter o sem ajuda, curar o doente, instruir o desejoso em qualquer ramo

da indústria, ou treinar a geração que surge no caminho da educação: em uma

palavra, se ela deve ser aplicada para os propósitos das prisões perpétuas

na cela da morte, ou a prisões para confinamento antes do julgamento, ou as

casas penitenciárias, ou as casas de correção, casas de trabalhos,

manufaturas, casas de louco, hospitais ou escolas.

O Panopticon tem a intenção de manter o controle completo e a

ordem. Isto é conseguido projetando a estrutura tal que os inspetores,

enquanto saem de vista, podem observar os internos das instituições a

qualquer tempo, e tendo eles acreditando que eles estão sob vigilância a toda

hora. Ao permitir que os inspetores vejam, sem serem vistos, “as pessoas a

serem inspecionadas... se sentirão sempre como se estivessem sob inspeção,

pelo menos têm a grande chance de estar sendo”. A chave é a “onipresença

aparente do inspetor... combinada com a extrema facilidade da sua presença

real”.

242

Page 243: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Com o que este esquema poderoso e compreensível para o

controle parece? Um esquema incluindo nas última edições e mostrado na

figura 6.4 está baseado na seguinte descrição original, na qual Bentham

seleciona o papel das prisões como a ilustração primária das funções do

Panopticon.

O prédio é circular. Os apartamentos dos prisioneiros ocupam a circunferência.

Você pode chamá-los se você desejar, de celas. Estas celas (mais de 900) são

divididas uma das outras e os prisioneiros por este meio são excluídos de

toda comunicação uns com os outros, pela partição da forma do raio saindo

da circunferência em relação ao centro, e estendendo quantos forem pensados

necessário para forma a maior dimensão da cela. O apartamento do inspetor

ocupa o centro; você pode chamá-lo se você desejar de sala do inspetor.

Será conveniente na maior parte, senão em todos os casos, ter um espaço

livre ou área ao redor, entre o centro e a circunferência. Você pode chamá-la

se você quiser de área intermediária ou anelar... cada cela tem uma

circunferência externa, uma janela, grande o suficiente, não somente para

iluminar a cela, mas, através da cela, para iluminar o suficiente a parte

correspondente do compartimento. A circunferência interna da cela é formada

gradio de ferro, tal que a luz não deixe de iluminar nenhuma parte da cela da

visão do inspetor. Deste gradio, uma parte suficientemente grande abre, em

forma de uma porta, para admitir o prisioneiro na sua primeira entrada; e para

permitir a entrada em qualquer hora do inspetor e de seus assistentes. Para

cortar de cada prisioneiro a visão de outros, as divisões são realizadas a uns

poucos pés além do gradio na área intermediária: essas partes do projeto, eu

chamo de partições prolongadas. Imagina-se que a luz vindo desta maneira

através da celas e então através da área intermediária será o suficiente para o

compartimento do inspetor. Mas, para este propósito, tanto as janelas nas

celas, quanto aquelas correspondentes a elas no compartimento, devem ser

tão largas quanto a largura do prédio, o que deverá ser uma atenção

necessária para a economia. Nas janelas do compartimento existem

venezianas, tão altas quantos os olhos dos prisioneiros nas celas podem, por

qualquer meio que possam empregar, alcançar. Para prevenir a luz total, por

243

Page 244: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

conseguinte, não suportando as venezianas, os prisioneiros veriam das celas

se qualquer pessoas estava ou não no compartimento, o apartamento é

dividido em quartos , pelas partições formadas pelos dois diâmetros do

circulo, cruzando cada um com os ângulos direitos. Destas partições os

materiais mais finos podem servir; e eles podem ser removíveis a bel-prazer; e

a sua altura, o suficiente para impedir que os prisioneiros vejam acima de suas

celas. As portas para estas divisões, se deixadas abertas a qualquer hora,

podem produzir a luz total. Para impedir isto, divida cada partição em duas,

colocando a metade a tal distância da outra que deve ser igual a abertura de

uma porta. Estas janelas da sala do inspetor abrem para a área intermediária,

na forma de portas, em tantos lugares quanto se achar necessário para admitir

a sua comunicação pronta com qualquer uma das celas. Pequenas lâmpadas,

no lado de fora de cada janela do compartimento, com um refletor atrás, para

jogar a luz nas celas correspondentes, isto aumentaria para a parte da noite a

segurança do dia. Para economizar o problema do esforço da voz que pode

vez ou outra ser necessária, e para evitar que um prisioneiro saiba que o

inspetor estava ocupado com outro prisioneiro a uma certa distância, um

pequeno tubo de lata pode alcançar de cada cela até a cela do inspetor,

passando através da área, e assim até a sala do inspetor... Com relação a

instrução, nos casos onde ela não pode ser dada sem o instrutor estar perto

para o trabalho, ou sem dar o seu toque na frente do aluno, o instrutor deve

aqui como em toda parte, mudar sua atenção tão freqüentemente haja ocasião

para visitar diferentes trabalhadores; a menos que ele chame os trabalhadores

para si... ou faça uso destes tubos. Eles pouparão, por um lado, o esforço da

voz, que seria necessária pela parte do instrutor, para comunicar as instruções

aos trabalhadores sem a sua estação central no compartimento; e, por outro

lado, a confusão que seria formada se diferentes instrutores de pessoas no

compartimento ou alojamento fossem chamadas ao mesmo tempo. E, no caso

dos hospitais, o silêncio que pode ser alcançado através desse pequeno

aparelho... garante uma vantagem adicional.

A chave para o gerenciamento e organização é “a centralidade

da situação do inspetor”. Ele possui o mecanismo mais poderosos para

244

Page 245: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

supervisão: “ver sem ser visto”. A centralidade, a transparência das celas e a

invisibilidade do inspetor intensificam os efeitos da supervisão dando ao

inspetor “uma onipresença aparente”. A segmentação territorial adiciona outra

economia à supervisão. Ela permite que alguém ou uns poucos inspetores

supervisionem muitos internos e permite que os subalternos sejam também

eficientemente supervisionados.

Uma vantagem colateral que o Panopticon possui, é aquela com respeito ao

número de inspetores necessários... E, outra vantagem importante... é que sob

os guardas ou inspetores... estará o mesmo controle irresistível com respeito

ao guarda chefe ou inspetor, como os prisioneiros ou outras pessoas a serem

governadas estão com respeito a eles.

O controle pode ser absoluto, penetrante e minuciosamente

ordenado, e ainda adaptável a uma variedade de funções. As divisões

interiores do prédio são flexíveis o suficiente tal que o número de celas , seus

tamanhos e seus graus de divisões, bem como as conexões entre elas e o

alojamento, podem ser alteradas para se encaixar a diferentes propósitos. O

tipo de atividade a ser contido determina os pontos mais finos com relação a

organização espacial interna, e especialmente a intensidade de controle dentro

das celas (e o grau de permeabilidade entre elas). As celas “serão... mais ou

menos espaçosas, de acordo com os empregos aos quais estão designados

que devem ser realizados nelas”. Quando o estabelecimento é usado para

uma fabricação,

a centralidade da situação da pessoa presidente terá seu uso em todos os

eventos; para o propósito da direção e da ordem pelo menos, se pra nenhum

outro mais. O ocultamento desta pessoa será de uso até que o controle possa

ser julgado útil. Como para as partições, se elas serão mais úteis para prevenir

a distração, ou inúteis para impedir a comunicação, vai depender da natureza

particular da manufatura particular.

245

Page 246: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Mas a organização minuciosa do espaço, mesmo para os

prisioneiros, não precisa necessariamente ser usada para punir e coagir. Ao

invés disso, controlando o que está presente e ausente em um ambiente, o

Panotipticon pode ser usado para saúde, virtude e moralidade. A organização

do espaço age como o agente moral, contendo o bom e removendo o mau. É

por isso que Bentham acredita que a estrutura pode ser usada não somente

para uma prisão, mas para uma escola, separando os estudantes e as séries,

e também para um quadro da escola para “preencher o circulo total de tempo,

incluindo as horas de repouso, e descansos e a recreação”. “Toda distração

de qualquer tipo , é efetivamente banida”.

Bentham sabia que era mais difícil pessoadir os leitores dos

benefícios morais do Panopticon de que dos seus efeitos coercivos. Para

diminuir os medos do público de que a instituição pudesse ser usada somente

para a coerção ele faz consideráveis esforços para descrever a sua

adequação para propósitos humanitários como nos hospitais. “Se qualquer

pudesse ainda estar esperando para mostrar qual a distância deste plano de

qualquer conexão necessária com medidas severas e coercivas, não pode ser

a consideração mais forte do que as das vantagens com isto se aplica aos

hospitais”. No restante do tratado Bentham expõe sobre os projetos da

construção e as suas estalações (incluindo os tipos de mobília, encanamento,

ventilação e aquecimento) que são mais apropriados para funções específicas.

A contribuição de Bentham foi unir os princípios morais e os

projetos arquiteturais que já estavam em prática no início do século XVIII. Sua

síntese foi tanto abstrata quanto concreta. Embora seus projetos fossem

detalhados, eles tinham a intenção de oferecer uma estrutura versátil,

ilustrando o potencial para o controle territorial hierárquico. No abstrato, o

Panopticon incorpora os princípios da organização territorial que são

adequados para o uso do espaço pelo Capitalismo Industrial. Ele apresenta

um design arquitetural compreensivo para instituir os efeitos territoriais

modernos do espaço esvaziável e preenchível, e do facilitamento das relações

impessoais e burocráticas. A construção é uma concha contendo um volume

246

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abstrato de espaço que pode ser divido variadamente, esvaziado, preenchido

e interconectado. Dentro de suas paredes, as subdivisões espaciais impõem

relações sociais impessoais, facilita a hierarquia e a supervisão eficiente, e

torna os espaços e os eventos relacionados contingentemente.

No nível concreto, o projeto do Panopticon tem inspirado a

arquitetura institucional e de fábricas dos séculos XIX e XX. Várias tentativas

têm sido feitas para seguir os planos de Bentham literalmente e construir

prisões de formas de Panopticons. Entre os mais famosos estavam o projeto

de Robert Adam para Edinburgh Bridewell, o design de Grand para criminosas

mulheres em Lancaster Castle Gaol, o de Joshua Jebb em Pentonville, e o de

John de Haviland na Penitenciária de Filadélfia. Muitas mais estruturas

institucionais dos séculos XIX e XX têm adotados os princípios de Bentham e

alguns componentes de seus designs. Embora elas possam diferir

consideravelmente nos detalhes - especialmente na alteração da forma total

do circular, para o retangular ou quadrado, e em combinar as formas para

formar alas e unidades - e em suas funções - sejam hospitais, asilos, prisões

ou escolas - o efeito geral (conforme a figura 6.5, 6.6, e 6.7) é de uma concha

arquitetural contendo unidades sub-territorias relativamente flexíveis para

permitir a supervisão , a organização e o controle.

Foi a transformação do ambiente de trabalho que criou a

necessidade por uma arquitetura de supervisão e de controle no primeiro

lugar, mas é o ambiente de trabalho para o qual os princípios detalhados -

embora não os abstratos - do Panopticon são menos adequados. Bentham

não explica o fato de que os processos de trabalho e o maquinario e as suas

interrelações espaciais são tão variados que qualquer forma geométrica

complexa, mesmo com divisões internas flexíveis podem ser restritivas demais

para oferecer um molde geral para o trabalho. Muitas indústrias tais como as

de fundição de aço e a geração hidrelétrica precisam ser instaladas em

estruturas espaciais únicas que são projetadas especificamente para elas. Mas

existem outros processos para os quais o maquinario não é tão monumental e

existem muitos mais para qual o equipamento é relativamente pequeno. Cada

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Page 248: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

um deste processos pode ser contidos dentro de um tipo geral de prédio de

fábrica. Assim uma firma de eletrônicos, uma loja de folhas de metal, um

fabricante de caixas de papelão e uma companhia de impressão pode

simplesmente precisar de aquecimento, espaço iluminado e desta forma cada

uma podia ocupar o mesmo tipo de estrutura. Como elas usam o espaço

interior difere, mas todas podem possuir o mesmo conceito abstrato de uma

fábrica como uma concha. É para estes tipos de processos de trabalho

especialmente que a teoria, embora não os detalhes, do Panopticon se aplica.

A arquitetura industrial moderna tem um fato que considera os

princípios do Panopticon como um passo mais adiante. As divisões dentro da

fábrica se tornaram bem mais flexíveis do que Bentham antecipava, a um

ponto onde a maioria era literalmente invisível na forma das estações de

trabalho. Tal estação pode ser definida como a área pessoal imposta do

trabalhador. Ela pode ter um centro, talvez uma bancada ou uma peça do

maquinario, mas ela também tem uma fronteira, que embora não fisicamente

marcada está claramente delimitada na mente do trabalhador e do supervisor,

e podem bem ter sido especificadas nos desenhos originais para o layout da

planta.

Prender os trabalhadores a estações de trabalhos bem

ordenadas em uma planta sem divisões físicas estende a possibilidade da

supervisão e do controle. Um único supervisor, enquanto caminha de estação

para estação, dando a este ou aquele trabalhador instruções pessoais, pode

ainda estar em posição para ver, com uma única olhada, o que está

acontecendo no resto do piso. E o trabalhador também pode que o olhar do

supervisor pode alcançar o piso todo em qualquer momento. Foucault

descreve como estas condições ocorriam na fábrica de Oberkampf no final do

século XIX em Jouy.

O maior dos edifícios, construídos em 1791 por Toussaint Barré , tinha 110

metros de comprimento e tinha três andares. O andar térreo era devotado

principalmente para o bloco de impressão; ele continha 132 mesas arranjadas

248

Page 249: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

em duas fileiras, a extensão da bancada de trabalho, que tinha oitenta e oito

janelas; cada impressor trabalhava em uma mesa com o seu “empurrador”,

que preparava e espalhava as cores. Haviam 264 pessoas no total. No final de

cada mesa havia uma espécie de rack com todo material que tinha acabado de

ser impresso e que era deixado para secar...Andando para cima e para baixo

no corredor central da bancada de trabalho, era possível realizar uma

supervisão que era ao mesmo tempo geral e individual: para observar a

presença dos trabalhadores e aplicação, e a qualidade dos seus trabalhos;

para comparar os trabalhadores uns com os outros, para classificá-los de

acordo com a habilidade e a velocidade; e para acompanhar os estágios

sucessivos do processo de produção.

Os desenvolvimentos tecnológicos no material de construção

ajudou a tornar o espaço interior mais flexível. A introdução no final do século

XVIII de colunas de ferro fundido na arquitetura funcional eliminou o tijolo e as

pedras interiores obstruintes ou os pilares de madeira. As colunas de ferro

criaram visibilidade, flexibilidade e o sentido de que um espaço vazio era

ininterrupto. No meio do século XIX, o ferro fundido foi usado para estrutura

inteira de muitos edifícios, que aumentaram o tamanho e a flexibilidade dos

interiores desobstruídos.

Estes avanços na engenharia arquitetural tornou possível utilizar

cada porção do espaço interior para a produção, e com este avanços o próprio

espaço tomou um significado mais econômico permitindo que áreas do espaço

fossem divididas de acordo com o seu grau de eficiência econômica. O aluguel

era a medida monetária costumeira da economia de espaço, mas, no século

XIX, o espaço industrial começou a ser descrito e medido também como

produtivo ou improdutivo. O espaço produtivo era definido como “a área de

esforço, o teatro daquelas operações que distingue uma fábrica de um lugar

vazio”. O oposto era chamado de “solo desperdiçado”, “lugares desperdiçado”,

“espaço que não gerava renda”, ou “território improdutivo” ou simplesmente

“lugares vagos”. Estes “tinham que ser aquecidos e cuidados, e também

burilados, sem de maneira alguma adicionar algo aos poderes produtivos da

249

Page 250: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

loja; mas, ao invés disso, eles realmente diminuem a produção pelo aumento

do transporte que é sempre uma conseqüência do território improdutivo”.

No final do século XIX, a construção de aço em um formato

particular chamava-se de “construção de esqueleto” que era comumente

empregada nos prédios de escritórios e fábricas. A construção esqueleto,

representada nas figuras 6.8 e 6.9, surgiu para dar a possibilidade de se ter

uma grande parte do espaço do piso “sem as divisões tal que elas poderiam

ser subdivididas mais tarde para se adequar aos inquilinos”. É esta flexibilidade

interior que é a vantagem maior da construção de esqueleto: “o esqueleto -

seja de ferro ou aço ou de concreto reforçado - é essencialmente uma rede

espacial neutra. É uma ‘construção de gaiola’ que liga um certo volume de

espaço com completa imparcialidade, e sem nenhuma direção intrínseca”.

Este tipo de flexibilidade foi a pedra fundamental na filosofia arquitetural de um

dos maiores arquitetos industriais, Alfred Kahn. De acordo com Oswald Grube,

Kahn defendia que “o layout da fábrica deveria ser suficientemente elástico

para permitir o rearranjo de acordo com as mudanças nos métodos de

produção, ou a expansão de departamentos ou a expansão da produção sem

desorganizar o esquema exato”. Nos Estados Unidos especialmente, o design

da fábrica geralmente inclui a possibilidades para mudanças completas nos

processos de produção que ocorrem dentro do prédio. Os arquitetos

industriais falam de containers de construção, volumes, espaços ou “barracões

conectados de tamanho gigante que podem ser alterados facilmente de acordo

com as demandas de mudança por espaço das várias divisões de uma

companhia ou departamentos”.

O lar.

Nós temos discutidos os efeitos territoriais de um espaço

esvaziável e da facilitação das relações impessoais no contexto das

instituições e os locais de trabalho. Mas e a casa? Certamente o lar é o espaço

mais pessoal de todos. Ele é preenchido com conteúdo e significado, e pode

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Page 251: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

dificilmente ser comparado ao interior de instituições ou locais de trabalho.

Assim devem haver ocorridos desenvolvimentos arquiteturais na construção do

lar que sugere que o uso do espaço tem de alguma forma seguido o seu uso

no trabalho. A remoção no século XVIII e XIX de todas as atividades das ruas

que interferiam no movimento e no comércio, e a redução das funções dentro

das lojas e fábricas, tinham seus semelhantes nas arquiteturas do lar. Antes as

casas grandes e os castelos, as únicas estruturas com divisões internas para

se falar alguma coisa sobre, podem ter tido muitos compartimentos, mas

aqueles para o convívio raramente eram lugares reservados para funções

especializadas. A alimentação podia ser preparada em qualquer outro dos

vários compartimentos que continham uma lareira, dependendo do número de

pessoas a serem alimentadas; e o mesmo compartimento pode ter sido

também reservado como um dormitório ou como um hall social. Além disso,

não haviam passagens ou halls separados para propósitos únicos de se

movimentar de quarto para quarto. Chegar a um compartimento usualmente

significa atravessar outro. Somente a partir do século XVII que os interiores

das grandes casas se tornaram especializados e que as passagens foram

introduzidas.

Conforme os interiores das casas se tornavam mais especializados, as

divisões se tornavam mais flexíveis; mais nas casas americanas do que em

outras. A arquitetura americana tem sido marcada por uma tendência desde a

chegada dos primeiros colonizadores. A casa americana geralmente continha

um plano térreo que podia ser aumentado (ou contraído) quando quer que

novas condições sociais e econômicas tornassem isto desejável. O contínuo

da Nova Inglaterra é um caso clássico de uma casa expandível. Os

americanos não tinham nenhum reforço sobre cortar uma casa e dividi-la em

duas ou mais porções. As casas eram até mesmo movidas livremente de um

lote para outro. Ajudando nesta flexibilidade estava o “formato balão” da

construção americana, um precursor de madeira do modelo esqueleto de

construção. Parece que os americanos, mais do que outros, usavam portas

deslizantes como divisões flexíveis. A flexibilidade no design interior se

estendia aos apartamentos. No final do século XIX, ao mesmo tempo que os

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Page 252: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

prédios de escritório estavam sendo projetados com molduras esqueletos, os

apartamentos estavam sendo construídos com divisões removíveis tal que os

compartimentos individuais poderiam ser juntados. É claro, que o espaço

interior flexível é uma das maiores contribuições de tais arquiteturas modernas

como as de Frank Lloyd Wright.

Uma casa não é uma fábrica, ou asilo, ou prisão. A supervisão e

o gerenciamento não são suas funções explícitas. Assim a eficiência do

movimento é certamente a maior consideração no design de uma casa. As

cozinhas são dispostas tão cientificamente quanto são alguns lugares de

trabalho nas fábricas, e os corredores e os quartos são espaçados de forma a

se manter um fluxo eficiente do tráfico. Aquecimento eficiente, ventilação e

iluminação também são importantes no design da casa. Permitir que os

interiores sejam flexíveis torna a realização de eventos e o espaço mais

abertos. Isto significa que existe uma consciência com relação ao arquiteto e o

usuário de que o espaço e a coisa estão somente relacionados

contingentemente, que o espaço pode ser repetidamente subdivido e

reintegrado, esvaziado e preenchido. Pode-se argumentar, entretanto, que isto

não é um sinal de que o espaço é abstrato e impessoal, porque a flexibilidade

permite que o ocupante organize e projete o interior da casa do jeito que ele

gosta. Isto permite a oportunidade de dar ao lugar uma marca pessoal. Contra

tal argumento pode ser levantada a questão das fontes dos nossos gostos

pessoais. Com que freqüência eles vêem de outros: da televisão, dos vizinhos,

das revistas de modas ou dos projetistas de interiores? Nós estamos

expressando o nosso gosto ou nos estamos definindo aqueles de outros pelos

objetos que nós consumimos? E o quão confortável nós podemos estar com

os nossos interiores se nós os mudamos freqüentemente?

Camuflagem.

Nós temos esquematizado como a diminuição do espaço

arquitetural - o uso do território para criar um sentido de um espaço esvaziado

e preenchido e das relações impessoais sociais - desenvolveu e reforçou a

252

Page 253: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

natureza das relações sociais e de trabalho no Capitalismo. Por debaixo da

superfície desta discussão tem se escondido as questões normativas com

relação a esta transformação . o espaço esvaziável abstrato moderno e as

relações impessoais podem em si parecer nem serem benignas nem

malévolas. Mas elas têm sido usadas no geral para um ou para outro efeito?

Nós não podemos esperar de qualquer maneira provar que elas têm sido ou

não; nós somente podemos apresentar argumentos em favor de uma

interpretação ou outra.

Duas visões compreensivas que podem ser usadas para

construir os julgamentos normativos sobre os processos que nós temos

investigados são a neo-Smithiana e a neo-Marxista. Cada uma acharia na

transformação algumas misturas do bom e do mau, mas os neo-Smithianos

enfatizariam a primeira e os neo-Marxistas a última. O argumento neo-

Smithiano para o nível micro seria similar aqueles para o macro. Ele iria

defender que os usos do território dentro do capitalismo pode ser um benefício

para a sociedade como um todo. Enquanto, talvez pensando que o Panopticon

de Bentham é extremo, o neo-Smithiano defenderia que a especialização e a

divisão do trabalho requer lugares segmentados e uma hierarquia de

supervisão. Conforme esta última cresce, também cresce a primeira, e o

processo inteiro é acelerado pelo desenvolvimento de uma nova tecnologia, de

um maquinario a e da escala de operação. No geral, o efeito territorial ajuda a

aumentar a produtividade e a eficiência que, sob o capitalismo, é para

benefícios de todos.

Os neo-Marxistas, é claro, apontariam que os usos territoriais e

os efeitos não podem ser propriamente entendidos a menos que eles sejam

colocados dentro do contexto do conflito de classe do Capitalismo. Embora o

acordo trabalho-salário possa disfarçar o conflito, há uma desigualdade

inerente entre o trabalho e o capital que é traduzida no conflito sobre o

ambiente de trabalho. O capital usará o espaço de trabalho para subjugar o

trabalhador e extrair dele o valor excedente. As subdivisões territoriais e as

hierarquias dentro do local de trabalho serão usadas para dividir, conquistar e

253

Page 254: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

desabilitar a força de trabalho. Chamar o processo de natural e benéfico vem

da tecnologia e da complexidade conforme os neo-Smithianos sugerem

fortemente para os neo-Marxistas de que o Capitalismo está empregando a

Territorialidade para conseguir o terceiro efeito territorial moderno: que é o de

camuflar o conflito de classes.

É importante lembrar que os efeitos territoriais ligados

teoricamente com a obfuscação (ou camuflagem) são os mesmos que podem

ser ligados com as operações ordinárias das organizações complexas, mas

com uma abordagem malévola . a divisão territorial do conhecimento e da

responsabilidade pode ser obfuscativa se o efeito não é a verdadeira eficiência

mas ao invés disso, por exemplo, é manter a maioria ignorante do processo

total. Dar a um território de pequena escala a responsabilidade por um

processo que passa de suas fronteiras pode ser uma má opção inadvertida, ou

pode ser um meio de enganar os outros pela alegação de que alguma coisa

está sendo feita sobre este processo. Casos para a importância normativa e

especialmente para a presença da obfuscação podem ser apresentados mais

claramente se nós primeiro examinarmos exemplos relativamente simples de

mudanças micro territoriais. Uma oportunidade ideal é oferecida por estas

mudanças das indústrias caseiras para as fábricas que ocorreu antes que

houvesse maiores mudanças na tecnologia. Nestes casos as pessoas

mudaram de uma condição de trabalho com ferramentas específicas de suas

próprias casas para trabalharem praticamente com as mesmas ferramentas

em um galpão ou fábrica que pertencia a outros e era supervisionada por

outros também. Isto é para dizer que existem casos importantes nos quais o

desenvolvimento do sistema de fábrica não foi dependente da invenção do

maquinario de larga escala. Focalizando primeiro em tais exemplos nos quais

pouco ou nenhum novo maquinario foi introduzido e mantendo esses exemplos

em mente conforme nós discutimos casos mais complexos nos permite isolar

os efeitos da Territorialidade e apresentar argumentos sobre as suas

implicações normativas.

254

Page 255: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

No começo da revolução comercial muitos produtores possuíam as suas

próprias ferramentas e produziam seus produtos em suas próprias casa ou

próximo delas. O trabalho geralmente envolvia a família inteira. Mesmo os

aprendizes viviam nas casas dos trabalhadores como membros da família.

Estes domicílios eram parte do que pode ser chamados de uma economia

doméstica ou do lar (figura 3.7a). Os trabalhadores estavam produzindo uma

comodidade especializada e eram dependente do mercado para sua

sobrevivência. Eles e suas famílias geralmente trabalhavam por longas horas

sob condições pobres - as casas eram geralmente estabelecimento em

salubres. Assim o trabalhador (e o aprendiz quando se tornava o seu próprio

mestre) estava ainda responsável pelo seu próprio processo de produção. Ele

podia decidir de alguma forma quando e como ele trabalharia dentro do seu

próprio estabelecimento. Ele podia se ele quisesse ficar a noite toda de pé e

então tirar o outro dia de folga. Esta liberdade do esquema de trabalho e a

divisão das tarefas com os membros da família permitia ao trabalhador

algumas oportunidades de realizar outras atividades para suplementar as suas

rendas no mercado. Com a exceção de uma poucas fábricas de tecelagem,

que serão discutidas brevemente, a maioria da indústria têxtil na Inglaterra

estava baseada neste tipo de “sistema doméstico” até o século XIX. Antes

deste período a maioria dos trabalhadores têxteis ingleses trabalhava em seus

próprios teares em suas casas, e muitos possuíam, além disso, alguma terra

para agricultura e até mesmo para um animal ou dois.

Estas “tecelagem de tear manuais” podiam vender seus tecidos

em suas próprias casas (se eles morassem nas cidades), ou poderiam trazer

os seus produtos para o mercado central ou para o prédio da associação dos

tecelões, como era o caso em algumas partes de Yorkshire, ou, como era

comum em Leicestershire, onde um mercador poderia oferecer intermediários

chamados de “carregadores” para trazer até as residências dos tecelões lã e

algodão que tinham sido desfiado ou enrolados em outras residências, e então

coletar deles o produto final, as jardas de tecido. Várias melhorias tecnológicas

ocorreram na indústria de tecelagem, mas, para a maior parte até a invenção

dos vários teares movidos a vapor no final do século XVIII e XIX, os tecelões

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Page 256: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

de residências eram capazes de construir, comprar e até mesmo alugar essas

novas máquinas e ferramentas e assim ainda permanecerem em casa.

Embora os artesãos geralmente empobrecessem e trabalhassem por longas

horas por um pequeno pagamento, eles ainda mantinham o controle sobre o

processo de produção . eles, exceto como aprendizes, não trabalhavam fora

de casa e sobre o controle de outras pessoas.

No caso da tecelagem não foi a invenção de grandes e caros teares

dirigidos que ocasionou o surgimento das primeiras fábricas (embora esta

tecnologia eventualmente pusesse a maioria dos tecelões domésticos fora do

negócio), conforme nós notamos, os poucos experimentos com relação às

fábricas de tecelagens começaram bem antes da invenção dos teares a vapor,

em alguns casos bem antes do século XVI. Embora esses casos prematuros

fossem raros eles deixaram uma marca como protótipos da organização de

fábrica e da disciplina e eles aumentaram em número e importância conforme

nós nos aproximamos da Revolução Industrial. O que aconteceu nesses casos

prematuros foi simplesmente que alguém com capital suficiente para comprar

um número de teares e assim o fez. Talvez o mercado estivesse expandindo e

esta pessoa viu que haviam tecelões desempregados sem teares; ou talvez

houvesse uma depressão no mercado têxtil, e os tecelões domésticos, não

sendo capazes de encontrar no mercado, precisassem vender os seus teares

para levantar dinheiro para manter suas famílias. Em qualquer caso o

capitalista que comprou os teares estocou-os em um grande prédio ou

barracão , e quando o mercado se aqueceu ele tinha agora aqueles

trabalhadores que não tinham mais os seus próprios teares para trabalharem

em seu prédio sob sua supervisão.

Entre os mais famosos industrialistas têxteis precoces estão

William Stump que tem um crédito de ter colocado mais de 100 teares sobre o

mesmo teto, e Jack de Newbury que tinha um estabelecimento ainda maior.

Um livro de nome, A história de John Winchcome, publicado em 1597,

descreve a manufatura de Jack de Newbury. Este estabelecimento

supostamente teria contido 200 artesãos juntos em um grande compartimento

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Page 257: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

manuseando 200 teares, assistidos por 100 mulheres desfiadeiras, 200

enroladores, 50 prendedores e 80 vestidores. Importantemente, estes

primeiros donos de fábricas foram reconhecidos por suas habilidades de

gerenciamento e de disciplina. O crescente número de casos de tais

manufaturas ou de lojas de trabalho pode ser encontrado em outras indústrias

bem como nas têxteis conforme nós nos aproximamos da Revolução

Industrial. Pode-se achar que eles fazem parte de um contínuo territorial: da

residência, para loja de trabalho residencial, para fábrica, e para fábrica de

larga escala

O ponto crítico de comparação entre a residência e a fábrica é

que os mesmos produtos podem ser transformados nas mesmas ferramentas

em ambos os locais. Quais, então são as vantagens de um sobre o outro, e

quem lucra com elas? A maioria dos neo-Smithianos começaria a apontar que

a fábrica seria mais eficiente do que seria a residência. Colocar o processo

sobre um teto e sobre o controle de uma equipe, economiza movimentos,

horários, acordos internos e trocas. No caso da tecelagem sincronizaria os

tecelões , os enroladores e as desfiadeiras. Isto eliminaria o transporte

desperdiçado de lã ou de algodão e de tecido de uma residência para outra.

Além disso, se tendo muitas mãos dá a todo mundo a oportunidade de se

especializar, e isto, conforme Adam Smith argumentou, aumenta a eficiência

pelo aumento da habilidade e da inventividade. Isto também permite às tarefas

de serem simplificadas a ponto onde menos habilidade é necessária para cada

uma tal que uns poucos trabalhadores habilidosos por salários baratos podem

ser contratados e assim o preço do produto pode ser reduzido. Para um neo-

Smithiano, estes efeitos são a vantagem pra todos. Eles ofereceriam um

produto acessível e colocariam as pessoas pobres para trabalhar. Estas

inovações podem não ocorrer, entretanto, sem as habilidades organizacionais

do proprietário da fábrica ou do gerente. Ele deve ser capaz de subdividir o

processo de trabalho, para coordenar suas partes, e treinar e gerenciar os

trabalhadores. Oferecendo a estes as habilidades essenciais ele cria

empregos, e além disso não somente ganha mas justifica o seu lucro.

257

Page 258: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

O sucesso desses primeiros “industrialistas” em todas as áreas

era freqüentemente atribuído à sua disciplina gerencial mesmo mais do que ao

seu uso dos novos desenvolvimentos da tecnologia. Os fabricantes

contemporâneos explicam que colocando os processo sobre um teto criaria-se

eficiências de movimento e se reduziria as despesas por se ter menos

intermediários, se os trabalhadores pudessem ser treinados e disciplinados. O

papel crítico do gerenciamento tornou-se formalizado e subdividido no século

XIX em campos especializados. Embora o processo de fábrica total pudesse

parecer uma progressão natural, não era colocado em prática sem um esforço

enorme.

Era difícil disciplinar uma força de trabalho para o regime da

fábrica. O trabalho em uma fábrica era diferente do trabalho doméstico, e os

trabalhadores geralmente resistiam à mudança, embora a resistência variasse

de acordo com o tipo de trabalho e indústria. A resistência do trabalhador à

disciplina da fábrica foi uma razão importante porque o sistema de fábrica não

extinguiu a indústria têxtil antes do uso dos teares a vapor. Muito da

resistência pelo trabalho da fábrica vem daqueles moradores que viram o

sistema de fábrica com salários baixos e produtos mais baratos como uma

ameaça as suas próprias sobrevivências. Tais preocupações tomaram voz no

começo de 1550 nas reivindicações contra as lojas de trabalho de tecelagem e

as manufaturas que barateavam o trabalho.

A inconveniência e os problemas que os trabalhadores atribuíam

aos primeiros e pequenos empreendimentos de trabalho de fábrica se

tornaram maiores conforme as fábricas aumentaram em tamanho e número, e

os novos perigos se tornaram evidentes. No século XIX o sistema de fábricas

em todos os campos de manufatura era também visto como uma ameaça à

fábrica ou à vida família.

Se o sistema de fábrica prevalecer... ele tirará todos os trabalhadores pobres

de suas residências e de seus lares para colocá-los em fábricas, e então eles

serão obrigados a trabalhar separados, e não terão as mesmas ajudas e as

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Page 259: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

vantagens que eles têm em casa. Suponha que eu seja um pai que tenha

quatro, cinco ou seis crianças, e uma delas tem quatorze, outra doze e outra

dez: se eu estiver como a minha família em casa eu posso dar a eles emprego,

a um deles eu peço para bobinar, ao outro eu coloco para trabalhar no tear, e

um outro para trabalhar na fiadeira; mas se que for para a fábrica, eles não

deixarão que eu leve esses garotos, e então eu os deixarei a este mundo

grande para perecer.

Outra e velha fonte de resistência foi o medo de que o tempo da

fábrica e a disciplina iriam diminuir a flexibilidade dos trabalhadores. Ele

perderia o comando do seu próprio horário de trabalho. Mesmo quando o

trabalho em casa era incerto, quando o pagamento era baixo e quando o

número de horas na residência devotados ao trabalho era maior do que seria o

caso na fábrica, ele entretanto parecia ter um prêmio pela liberdade de

organizar o seu trabalho e lazer dentro de seu próprio lar. Esta liberdade era

difícil de se medir e estava se erodindo no início do século XVIII com a

autorização da legislação que permitiam às autoridades de entrarem nas casas

dos trabalhadores para verem se tinham guardado qualquer retalho de tecido

ou outros materiais que eram tecnicamente dos mercadores. Tais perdas de

autonomia e o aumento do passo da produção doméstica para muitos tecelões

independentes ainda não compensava o balanço em favor do emprego na

fábrica.

Os extraordinários sacrifícios que alguns fariam para manter a

liberdade do trabalho doméstico está ilustrado nas medidas tomadas pelos

tecelões de faixa de seda no século XIX em Coventry, Inglaterra. Relativo a

outras áreas de tecelagem, os teares a vapor chegaram tarde para a

tecelagem de faixas de seda. Até a metade do século XIX os teares produziam

a maioria das faixas. A indústria tinha visto a introdução da nova tecnologia na

“máquina” holandesa e tear Jacquard, mas ambos eram teares manuais, e

além disso nas produções de faixas mais finas estas eram inadequada. No

início do século XIX praticamente toda produção de Conventry era feita por

teares manuais nas residências dos trabalhadores. Este era ainda o caso até o

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Page 260: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

início do ano de 1830, embora as horas de trabalho desiguais dos artesãos

domésticos e as disputas sobre os desfalques entre eles e os mercadores fez

estes últimos pensarem seriamente no sistema de fábrica no qual “homens e

mulheres trabalham em horas regulares, em um ritmo estabelecido por toda

semana” de forma que em 1838 varias fábricas empregavam os tecelões de

teares manuais nas lojas de trabalho e nas fábricas.

As fábricas de teares modernos para faixas foram introduzidas

em Conventry no ano de 1850 e estas foram vistas pelos artificies trabalhando

em casa como uma enorme ameaça para os seus lucros e suas liberdades.

Para permanecer em casa estes artífices precisavam competir com o sistema

moderno. O ponto notável foram os passos que eles tiveram para resistir em

se tornar empregados nas fábricas com teares modernos. Muitos desses

artesãos de Conventry viviam em casa com três andares enfileiradas; melhor

dizendo, cada casa com três andares dividia as suas paredes exteriores com

outra casa tal que um bloco inteiro continha uma fileira ininterrupta de edifícios

ligados uns aos outros. O terceiro andar era um sótão o “topshop” no qual a

tecelagem ocorria. A alternativa dos donos das casas em entrarem em uma

fábrica moderna movida à vapor era deixar o “monstro” do vapor entrar em

suas casas; transformar as suas próprias casas em fábricas à vapor. O que

eles faziam era colocar o motor à vapor no final das fileiras das casas dos

artesãos, e conduzir o poder para cima até o topshop no final da fileira, e

transmitir o poder e mudando a fileira de um topshop para outro através das

partições das paredes separando as casas. No inicio de 1850 várias centenas

de casas tinham sido assim transformadas, e novas estavam sendo

construídas nessas bases. Havia um esquema para desenvolver “utopias”

urbanas pequenas de vários quarteirões baseados nessas casas-fábricas.

Claro que elas não podiam competir por muito tempo. As despesas do aluguel

do motor de vapor (a maioria senão todos, eram alugados) fez necessário para

cada morador trabalhar por longas horas. Ele tinha que pagar a sua parte do

aluguel mesmo se estivesse doente demais para trabalhar. No final do ano de

1860 estas pressões reduziram as casas de lojas de trabalho em Conventry

para uma coisa do passado.

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Page 261: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

Muitos dos medos do trabalho na fábrica expressado por estes e

outros produtores domésticos passariam uma vez que as fábricas com

máquinas de poder substituíram a indústria doméstica. As condições destas

primeiras fábricas na maioria das indústria eram geralmente cruéis. Homens,

mulheres e crianças trabalhavam por longas horas, sob condições miseráveis ,

e por pouco pagamento. A associação de fábricas com prisões, asilos e casas

de pobres não era baseada simplesmente no fato de que o trabalho era

pensado como sendo um agente moral e que as fábricas serviam como um

modelo organizacional. A conexão mais direta naqueles internos destas

instituições que geralmente faziam parte da força de trabalho da fábrica. Eles

faziam isto de duas maneiras. Primeiros as instituições ofereciam trabalhos

para os seus internos, assim havia uma combinação de prisão e fábrica.

“Algumas fábricas-casas de trabalhos foram iniciadas no final do século XVII,

incluindo em Bristol, em 1697 e em Exeter em 1698-1701, mas o principal

ímpeto veio do ato de 1723 que rapidamente levou à construção de pelo

menos sessenta casas de trabalhos nas províncias e cinqüenta em Londres.

Segundo, e mais espalhado, foi

o emprego maciço de aprendizes paupérrimos na indústria privada... Estes

aprendizes pobres não eram empregados por causa que eles necessariamente

eram baratos... Os aprendizes eram contratos porque de outra forma os

moinhos ficariam sem trabalho suficiente ou no mínimo sem o trabalho

suficiente das crianças... e as crianças pobres representavam o único tipo de

trabalho que em muitas áreas podia ser realizados neles.

Assim não há dúvida de que o controle territorial do capitalista

sobre o processo de trabalho na fábrica reduziu a liberdade dos trabalhadores,

parece impossível determinar se, no geral, o sistema da fábrica realmente

aumentou mais a dureza e o empobrecimento para o pobre trabalhador do que

fez a indústria doméstica. O neo-Smithiano argumentaria que se o pobre

trabalhador foi deixado na miséria isto era um problema temporário, e que o

padrão de vida dos trabalhadores da fábrica nos países industrializados desde

261

Page 262: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

o início e o meio do século XVIII tem aumentado consideravelmente. E, se os

trabalhadores perdem algum tipo de liberdade ao entrarem nas fábricas, eles

eventualmente ganham mais em prosperidade e encurtamento no dia de

trabalho. Estes ganhos, é claro, seriam devidos ao aumento geral na eficiência

que vem do sistema de fábrica.

O neo-Marxista apontaria que o argumento da eficiência para o

sistema de fábrica é obscuro em algumas distinções críticas. Primeiro, se há

uma eficiência em trabalhasse próximos sob um mesmo teto , então esta

mesma eficiência pode ser conseguida colocando os trabalhadores dentro de

uma cooperativa ao invés de uma fábrica capitalista. Uma cooperativa

permitiria que os trabalhadores que trabalham juntos em um local estivessem

no controle de suas próprias ferramentas e tivessem um representante no

gerenciamento dos seus processo de trabalho. Se os trabalhadores em uma

cooperativa pudesse essas mesmas ferramentas, as suas próprias, em um a

proximidade próxima um do outro para produzir as mesas comodidades que

eram produzidas nas fábricas capitalistas, então com o que o dono e o gerente

da fábrica contribuiram para a produtividade e eficiência?

A resposta neo-Marxista seria que o capitalista de fato não

contribui de maneira essencial para o processo. A eficiência imposta

gerenciamento descrita pelo Smithianos é uma medida atenue, e geralmente

incluí os trabalhadores trabalhando por horas mais longas e por menos

dinheiro. Fazer o trabalhador trabalhar por mais horas e por menos dinheiro é

como o capitalista reduz o seu custo por produto e extrai um lucro. O sistema é

baseado na descaracterização do trabalho e na desabilitação do trabalho.

Sumarizando o processo todo, Gras afirma que a mudança para

a fábrica foi

parcialmente para propósitos de disciplina, de forma que os trabalhadores

poderiam ser efetivamente controlados sob a supervisão de um capataz. Sob

um mesmo teto, ou dentro de um espaço pequeno, eles poderiam iniciar o

262

Page 263: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

trabalho com o nascer do sol e continuar trabalhando até o nascer do sol, sem

períodos para descanso e refresco. E sob pena de perda de emprego eles

poderiam ser mantidos assim por quase todo ano.

Fazendo eco a Gras, Braverman afirma:

que o controle sem a centralização do emprego (dentro de uma fábrica) era, se

não impossível, certamente muito difícil, e assim a pré-condição para o

gerenciamento era a união dos trabalhadores sob um teto único. O primeiro

efeito de tal movimento era um reforço sob as horas regulares de trabalho, em

contraste com o ritmo alto imposto que incluía muitas interrupções, dias curto e

feriados, e em geral impediam uma prolongação do dia de trabalho para os

propósitos de produzir um excedente sob as condições técnicas então

existentes.

Naquelas industria que não tinham um maquinario caro, uma

desabilitação da força de trabalho e barateamento das tarefas de trabalho

pode ter sido o único meio pelo qual um capitalista tinha o lucro. Se os

processos, que eram familiares para os artesãos, podem ser espacialmente

divididos dentro das fábricas, e se os trabalhadores não fossem permitidos de

ver a operação a operação da fábrica inteira, mas ao invés disso fossem

mantidos espacialmente segmentados, os trabalhadores podiam então pensar

que havia mais do processo do que realmente havia. Visto que cada artesão

habilidoso sozinho poderia ter realizado os planos, ordenado as matérias-

primas, operado e reparado o equipamento, e estocado o produto final até a

hora de vendê-lo; na fábrica cada um desses processos seria realizado por

especialistas que estariam espacialmente restritos a suas respectivas estações

de trabalho, seja no compartimento de planejamento, no de estocagem, no de

produção, no armazém, ou em qualquer outro compartimento. De acordo com

Marglin, “Separar as tarefas designadas para cada trabalhador era o único

meio pelo qual o capitalista poderia, nos dias precedendo o maquinario

custoso, assegurar que ele poderia continuar sendo essencial para o processo

de produção como integrador dessas operações separadas em um produto

263

Page 264: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

para o qual um grande mercado existia. Mesmo em uma relativamente simples

fábrica de algodão, um produtor notou que um competidor não permitia que

qualquer um dos seus empregados , nem mesmo o seu gerente, misturasse

algodão “de forma que ele nunca poderia arruinar o seu negócio”. O

Espectador, em 1866, admitia que o papel do gerenciamento é artificial,

quando ele apontava que uma cooperativa, “embora apontando que o

trabalhador poderia gerenciar lojas, moinhos e todas as formas de indústria

com sucesso, e que as cooperativas imensamente aumentava as condições de

vida do homem, eram entretanto defeituosas porque elas não deixavam um

lugar claro para os mestres”.

A eficiência da fábrica, que o neo-Smithiano atribui ao sistema de

trabalho capitalista, é vista pelo neo-Marxista como sendo uma medida atenue

da produção que incorpora formas perversas, embora geralmente disfarçadas,

de exploração assistida pelas relações territoriais da autoridade dentro da

fábrica - especialmente os efeitos territoriais modernos de esvaziamento do

espaço e de relações impessoais. Para os Marxistas, a segmentação espacial

do trabalho, a restrição dos movimentos dentro da fábrica, a separação

territorial do planejamento de longo e curto alcance, tudo isso ajuda a

desabilitar o trabalho, a fragmentar o conhecimento do trabalho e a

responsabilidade, e a dividir o próprio trabalho. Assim esses efeitos são

obscurecidos pela racionalização do capital que apresenta eles primariamente

como componentes geográficos neutros para um processo eficiente e

impessoal.

O desenvolvimento do maquinario dirigido melhorado e a

instrumentação transformou ainda mais os efeitos do território. Sob estas

inovações o trabalhador da fábrica é virtualmente um apêndice da máquina.

Ele está preso a ela no espaço. Mesmo a orientação do seu corpo e o

movimento dos seus membros são determinados pelas necessidades da

máquina. É a máquina dirigida e não o trabalhador que dita o ritmo do trabalho.

E este passo mecânico se torna uma ajuda em um substituto para supervisão

pessoal do gerente, uma vez que ela intensifica e disfarça as funções do

264

Page 265: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

supervisor. De acordo com Braverman: “O maquinario oferece para o

gerenciamento a oportunidade de fazer por meios totalmente mecânicos o que

tinha sido previamente tentado de se fazer por meios de supervisão e de

disciplina. Citando Babbage, Braverman acrescenta “que uma grande

vantagem que nós podemos derivar do maquinario, é a checagem que ela

impõe sobre a desatenção, o ócio ou a desonestidade dos agentes humanos”.

O supervisor não precisa mais está fisicamente presente a todo momento para

ter certeza que os trabalhadores estão trabalhando a plena capacidade. Agora

o ritmo e a duração do trabalho pode ser estabelecido pela velocidade da

máquina. Talvez somente uma olhada ocasional pelo capataz seria o suficiente

para permitir a ele julgar se o trabalhador estava realizando o trabalho. E, em

muitos casos, até mesmo essa olhada poderiam não ser necessária, para

muitos tipos de máquinas que têm alimentação instantânea que pode avisar o

supervisor se o maquinario não está funcionando bem ou se o trabalhador não

está realizando a sua tarefa. Tal maquianario pode até mesmo conter testes

embutidos para a qualidade, desta forma incorporando mais uma função do

supervisor.

Ter as máquinas assumindo parte do papel do supervisor abre a

possibilidade de novas relações geográficas entre os trabalhadores e os

supervisores. Os trabalhadores não precisavam mais serem colocados ao

longo de fileiras em um grande e aberto espaço fabril. Nem precisavam haver

mais supervisores do que os atualmente presentes no piso da fábrica. Com a

introdução de processos de telecomunicações modernos é até mesmo

possível para alguns trabalhadores de negócios não precisem estar

trabalhando juntos sob um mesmo teto. As tarefas podem ser realizadas

localidades menores e mais dispersas, e até mesmo em casa. O sistema de

comunicações pode permitir que a informação viaje eficientemente de uma

unidade para outra e os aparelhos de alimentação automática podem

monitorar a velocidade e a qualidade do trabalho. Os neo-Smithianos podem

anunciar tais mudanças conforme aumenta-se a flexibilidade do trabalhador e

a liberdade. Através dessas inovações os trabalhadores podem ser capazes

de exercitar mais controle sobre o tempo do seu trabalho e sobre a natureza

265

Page 266: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

do ambiente de trabalho. O neo-Marxista pode alegar que estas mudanças

podem tornar o processo de trabalho mais impessoal e misterioso , e ainda

mais podem obscurecer as funções gerenciais de supervisão e controle, e

podem fragmentar ainda mais a força de trabalho e reduzir a consciência de

classe.

Os dois pontos de vistas político-econômico providenciam

importantes diferenças na interpretação da Territorialidade sobre o

Capitalismo. Não deve ser esquecido entretanto que estas diferenças são

consoantes com os possíveis efeitos teoricamente da Territorialidade, e que a

teoria da Territorialidade apontou que as diferentes teorias político-econômicas

enfatizariam alguns potenciais territoriais sobre outros. A lógica da

Territorialidade não é cativa de uma teoria econômica-política particular. Isto

torna possível para diferentes visões enfatizar alguns efeitos territoriais, e para

outros efeitos simplesmente estarem além de uma teoria econômico-política

particular. Deixando de lado as implicações morais da especialização, os

teóricos concordariam no geral que o aumento da Territorialidade contribuiu

para a divisão minuciosa do trabalho sob o Capitalismo, tornando o trabalho

impessoal, e circunscrevendo as hierarquias do conhecimento e

responsabilidade. Em adição, os neo-Smithianos e os neo-Marxistas podem

concordar que existe tanto para a sociedade capitalista quanto para a não-

capitalista interrelações dinâmicas entre a Territorialidade, a tecnologia e tais

características organizacionais como a centralização, a hierarquia e o alcance

do controle. Os esboços dessas interconexões eram parte das dinâmicas

internas da teoria da Territorialidade e estão ilustrados na figura 2.1 e 2.2. Os

neo-Smithianos e os neo-Marxistas podem se basear nestas dinâmicas

particulares, mas outros teóricos sociais que têm focalizado em questões

menores da estrutura organizacional também pode ajudar a especificá-las.

Conforme nós mencionamos na discussão da Territorialidade e ilustramos no

capítulo 4, sobre a Igreja, essas interrelações se tornam mais precisas quando

a teoria da Territorialidade é combinada especialmente com os ramos dos

modelos Weberianos de organização. Nós mudaremos agora e examinaremos

a Territorialidade em várias instituições contemporâneas, focalizando nas

266

Page 267: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

dinâmicas internas entre a Territorialidade e a estrutura organizacional

enquanto mantemos em mente as interpretações neo-Smithianas e neo-

Marxistas.

As dinâmicas territoriais nos cenários

contemporâneos.

O capítulo 2 aponta que muitos dos efeitos potenciais da

Territorialidade são em oposição uns com os outros. A vantagem de não se ter

de descobrir o que está sendo realmente controlado pode também significar

que a pessoa controlando pode não saber que ela está sobre controle, e não

definir pelo tipo o que está sendo controlado pode ser uma causa de má

escolhas ineficientes. Subdividir territorialmente o conhecimento e a

responsabilidade pode fazer uma organização mais eficiente, até um ponto,

por exemplo, de requerer menos supervisores por supervisionados - em outras

palavras pelo aumento do alcance do controle da organização. Mas o mesmo

grupo de tendências pode levar à desorganização, à segmentação demais , e

à alienação (ver figura 2.2). Algumas dessas interconexões gerais entre a

Territorialidade e a estrutura organizacional têm sido ilustradas através de

exemplos da história. A tarefa agora é torná-las mais precisas e aplicáveis a

organizações contemporâneas particulares. Isto significa estender a lógica

interna da teoria para desenvolver as relações que são adequadas às

organizações modernas.

Conforme notado no capítulo 2, um caminho frutífero para

explorar as dinâmicas internas da teoria em um contexto contemporâneo seria

primeiro focalizar nas interrelações hipotetizadas entre a Territorialidade ( t), o

alcance do controle (sp) (que é a razão do supervisor por supervisionados), e a

variabilidade geográfica (gv). A interrelação entre as duas primeiras foi

discutida no capítulo 2 no contexto da combinação (d) “supervisão eficiente por

alcance do controle”, e conduz diretamente à hipótese de que , tudo mais está

267

Page 268: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

sendo igual, com tudo mais sendo igual conforme a Territorialidade (t)

aumenta, o alcance do controle (sp) aumenta até um ponto. A variabilidade

geográfica (gv) e sua relação com a Territorialidade (t) foi discutida no capítulo

2 no contexto do terceiro efeito territorial (o reforço eficiente do acesso) e

conduz à conexão da variabilidade geográfica (gv) da Territorialidade com a

variabilidade geográfica/temporal das coisas a serem controladas.

Em adição, a teoria geral propõe que a Territorialidade é uma

estratégia para estabelecer acessos diferenciais aponta para a conexão óbvia

entre a utilidade desta estratégia e a disponibilidade de outra, os meio não-

territoriais de contato (i) que por sua vez dependem em parte da disposição

tecnológica. Por exemplo, se os computadores podem substituir os

professores - um exemplo de (i) - e então seria a não necessidade dos

estudantes se encontrarem mais dentro do território da sala de aula. Duas

outras variáveis ligadas à Territorialidade - o nível de habilidade individual e o

nível de complexidade da tarefa - são partes implícitas da teoria,

especialmente na discussão das hierarquias de trabalho. A habilidade e a

complexidade estão geralmente intimamente relacionadas, e para simplificar o

assunto elas podem ser combinadas em uma medida única de complexidade

(com).

Resumindo, então, nós temos as seguintes interrelações

estipuladas diretamente, ceteris paribus:

1. conforme t aumenta, sp aumenta;

2. conforme gv aumenta, t diminui;

3. conforme gv aumenta, i aumenta;

4. conforme i aumenta, t diminui;

5. conforme i aumenta, sp aumenta.

Entre os colorários estão ceteris paribus:

6. conforme com aumenta, sp diminui;

268

Page 269: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

7. conforme com aumenta, gv aumenta;

8. conforme com aumenta, i aumenta;

9. conforme com aumenta, t diminui.

Por conveniência o arranjo completo das relações bivariadas

hipotetizadas pode de ser colocada na seguinte matriz de resumo.

t gv sp com i

t – + – –

gv – – + +

sp + – – +

com – + – +

i – + + +

Cada cela contém a direção hipotetizada da mudança entre os

pares da variáveis, mantendo todo resto constante.

Testar estas interrelações significa que organizações devem ser

encontradas para as quais os dados sobre duas os mais das cinco variáveis

existentes e para os quais os valores dessas variáveis mudam enquanto

virtualmente tudo mais é mantido constante. É a segunda parte que tornar a

seleção tão difícil entre até mesmo os casos contemporâneos, e deixa

sozinhos os casos históricos , entretanto parecem ser os dados para várias

organizações se aproximando destas condições. Uma destas é a militar.

A discussão da Territorialidade micro tem envolvido o trabalho

indoor e parece peculiar mudar para um exemplo “outdoor”, tal como o das

forças armadas. Mas a militariedade entretanto oferece um ambiente de

trabalho. Sua estrutura é claramente hierárquica e autoritária. Seu propósito é

explícito e a sua forma é a mesma na maior parte do mundo. Esta claridade e

uniformidade permite a nós focalizarmos primariamente nas interrelações

269

Page 270: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

hipotetizadas da Territorialidade e da estrutura organizacional sem ter que se

preocupar sobre quem está controlando quem e para quê propósitos.

Dentre os serviços, o exército oferece os casos mais claros de

graus de Territorialidade, e os manuais oficiais do exército descrevendo as

organizações militares têm estado disponíveis por décadas. Destas e de outras

fontes pode ser inferido o grau para o qual as tarefas de uma unidade militar

são territoriais (t), para dá a medida do alcance das unidades de controle (sp),

formas de contato indireto (i), complexidades/habilidades (com) e a

variabilidade geográfica e temporal de suas tarefas (gv).

Por exemplo, as unidades de combate de níveis mais baixos

dentro da infantaria, dos Rangers, dos Green berets ou das Forças Especiais

se diferem uma das outras nos graus de Territorialidade em suas missões, em

suas extensões de controle, em grau de contato indireto, e na complexidade

de suas tarefas. Se graus de Territorialidade (t) podem ser inferidos a partir de

descrições das suas missões. Da mesma forma pode ser feito a variabilidade

geográfica (gv) da suas tarefas. Seus alcances de controle (sp) são

simplesmente os números de oficiais por homens em cada nível na hierarquia;

os canais de comunicação (i) são medidos pelo total de equipamento de

comunicação designado a cada unidade; e as habilidades e a complexidade

das tarefas (com) são indicadas pela lista de homens e oficiais.

Localizadas ao longo de uma continuação que se estende desde

de muito territorial até levemente ou não-territorial, nós temos respectivamente

o pelotão da Infantaria, que tem como um dos seus principais objetivos a

“manutenção e a segurança do terreno”; também os Rangers áereo-

transportados, cujo principal objetivo é a exploração e cuja única função

territorial é “ a segurança dos objetivos alvos” (uma escala menor a ser

guardada por um breve período de tempo); e as Forças Especiais ou Green

Berets, cujo objetivo é a guerra não-convencional. Isto significa “operações

que incluem mas não são limitadas pela guerra de guerrilha, evasão e fuga,

subversão e sabotagem, conduzidas durante períodos de paz e guerra em

270

Page 271: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

território hostil ou politicamente sensível”. Manter o território não é uma das

suas missões estabelecidas.

Em outras palavras, os objetivos da infantaria são mais

estacionários e podem ser alcançados territorialmente, e os objetivos dos

Green Berets são menos estacionários e menos territoriais. (Podem haver

outras diferenças geográficas não-territoriais nos seus objetivos, mas quais

elas são não é tão aparente). Da nossa teoria nós esperaríamos que, tudo

mais fosse igual, quanto maior for o objetivo, maior será o alcance do controle

e menos será a necessidade pela comunicação e habilidades variadas. Por

outro lado, se o objetivo se torna menos territorial e a tarefa mais complexa e

variada geograficamente, então haverá um aumento na comunicação e na

habilidade e um decréscimo no alcance do controle. (Nós não podemos

predizer em que isto ocorre ou em que proporções).

A descrição do exército de 1970 da sua própria organização

combina com as nossas expectativas. As unidades selecionadas têm as

seguintes composições.

A mais territorial, o batalhão de Infantaria, tem:

no nível da companhia de rifle,

6 oficiais (dos quais um é um capitão), e 165 homens;

no nível de batalhão de rifle,

1 oficial ( um tenente) e 43 homens;

e no nível de esquadrão de rifle,

nenhum oficial e 10 homens com os seguintes postos;

um sargento do staff, 2 sargentos, 4 especialistas e 3 particulares

de primeiras classe;

Também no nível do esquadrão existem duas peças de

equipamento de rádio.

271

Page 272: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

No grupo intermediário territorialmente, os Rangers de transporte aéreo, tem-

se:

no nível da companhia,

8 oficiais 9 (dos quais 2 são capitães), e 208 homens;

no nível do pelotão,

3 oficiais (todos tenentes) e 129 homens;

e no nível da patrulha,

nenhum oficial e 5 homens com os seguintes postos:

1 sargento de staff, 1 sargento, 2 especialistas e um particular de

primeira classe;

também cada patrulha tem 3 peças de equipamento de rádio.

Para os Green Berets (que são menos territoriais), as unidades

são chamadas de destacamentos e são geralmente de três tipos: “A”, “B” e

“C”. O destacamento “A” é a unidade operacional básica e tem 2 oficiais (um

capitão e um tenente) e 10 homens, dos quais todos são sargentos de vários

postos. O destacamento “B” é uma unidade de comando pequena e tem 2

oficiais (um major e um capitão) e 3 homens, todos de vários postos de

sargento. O destacamento “C” tem 7 oficiais ( um tenente-coronel, 2 majores e

4 capitães) e 15 homens, todos de vários postos de sargento. Não há lista de

equipamento padrão para estas unidades. Suas necessidades variam por

missão e em geral eles terão pouco equipamento de comunicação, uma vez

que a forma preferida de contato entre eles é a face a face.

A partir desses dados, nós podemos ver que o exército, embora

relutantemente, se encaixa à nossa predição. Ele altera seus requisitos para

um alcance do controle, formas de comunicação, e habilidade de seus homens

conforme o grau da Territorialidade das missões mudam. As unidades de

infantaria têm um grande alcance de controle, o número mais baixo de oficiais

graduados por tropas e o menor número de oficiais por particulares de primeira

classe. A companhia Ranger tem o maior número de sargento por particulares

de primeira classe no nível do pelotão e mais um capitão por companhia do

272

Page 273: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

que a infantaria. Também, os Rangers são divididos em pequenas unidades -

as patrulhas - e têm mais equipamentos de rádio. (Se eles não tivessem, se

esperaria um alcance de controle mais baixo). As Forças Especiais ou os

Green Berets têm uma proporção notavelmente maior de oficiais por homens,

e todos os homens têm os postos de sargento ou acima. (Se houvesse mais

equipamento de rádio por pessoa, poderia se esperar um alcance levemente

maior de controle).

A exanimação de organizações do exército em outros países, e

no passado (comparando, por exemplo, os objetivos territoriais e as

organizações internas das unidades de cavalaria e Infantaria), provavelmente

confirmaria as relações hipotetizadas. Quanto mais estudos são realizados,

mais precisas podem ser a calibração das relações e dos seus alcances.

Esta evidência foi tirada das regras publicadas da organização.

As regras podem não ser seguidas letra por letra na prática, mas elas

realmente influenciam um comportamento. Estes manuais são distribuídos

para as tropas e são usados nos cálculos estratégicos. Conforme qualquer

levemente familiarizado com a vida do exército pode atestar, o exército segue

o “manual” e as regras tão uniformes e inflexíveis quanto elas podem ser.

A evidência para algumas dessas interrelações em outros tipos

de locais de trabalho pode ser reconstruída a partir do grande número de

trabalhos existentes sobre os ambientes da fábrica e do trabalho. Estes

estudos estão baseados no comportamento real ao invés de regras, embora

muito do comportamento no trabalho seja minuciosamente estipulado pela

regras. Muitos desses estudos não tinham a intenção de ser sobre a

Territorialidade, nem eles citam as cinco variáveis exatamente como nós

temos. Assim seus dados podem ser re-examinados para indicar os efeitos da

Territorialidade. Por exemplo, um estudo bem conhecido dos trabalhadores

industriais mede as seguintes características das tarefas: a variedade do

objeto - o número de partes, ferramentas e controles a serem estipulados; a

variedade do motor - a variedade em prescrever o local de trabalho, variedade

273

Page 274: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

na locação física do trabalho, variedade das operações físicas prescritas do

trabalho; e autonomia - quantidade de latitude do trabalho na seleção do

método de trabalho, na seleção do ritmo de trabalho, em aceitar ou rejeitar a

qualidade de materiais de entrada, em servir para serviços externos; a

interação necessária - número de pessoas necessária para se interagir por

pelo menos duas horas, o total de tempo gasto nas interações necessárias; a

interação opcional no trabalho - número de pessoas disponíveis para interação

na área de trabalho, quantidade de tempo disponível para interação enquanto

se trabalha; a interação opcional fora do trabalho - total de tempo que o

trabalhador é livre para escolher sair da área de trabalho sem repressão;

conhecimento e habilidade - total de tempo requerido para aprendera realizar

um trabalho com proficiência; responsabilidade - o grau de ação remedial

necessário para corrigir problemas da rotina do trabalho.

Em termos de variáveis da teoria, a Territorialidade (t) pode ser

encontrada nas medidas de autonomia e nas interações opcionais dentro e

fora do trabalho. A complexidade geográfica (gv) é indicada pelo objeto e pela

variedade motor, e a complexidade/habilidade da tarefa (com) é indicada pelo

conhecimento/habilidade e responsabilidade. Como nós esperaríamos da

teoria, os dados mostram que os índices que nós usamos para a

Territorialidade estão inversamente relacionados com aqueles para a

complexidade/habilidade e variabilidade geográfica. É interessante notar que o

estudo revela também que as prerrogativas para a baixa Territorialidade e a

alta complexidade e a variabilidade geográfica estão positivamente

relacionadas com a satisfação no trabalho. Pode não ser surpresa dado que

nós sabemos sobre a subdivisão minuciosa do trabalho, o controle territorial e

a resistência histórica dos trabalhadores à disciplina da fábrica.

As interrelações específicas entre estas variáveis podem se

manter somente quando tudo continua o mesmo. Mas isto acontece raramente

mesmo no laboratório. O trabalho ocorre em um contexto social sempre em

mudança e as atitudes dos trabalhadores são variáveis. O trabalho moderno

requer uma força de trabalho gerenciável, para usar os termos de Foucault, de

274

Page 275: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

“corpos dóceis”. Recentemente os trabalhadores no ocidente industrializado

têm aparentado ser menos dóceis. Nos anos de 1960 e 70 marcou-se um

período nos Estados Unidos de casos severos de ausência de trabalhadores, e

de baixa produtividade, e de sabotagem industrial. Estes problemas eram parte

de um descontentamento social mais geral.

Ignorando o contexto social maior e focalizando somente no

trabalho, têm-se colocado o peso da baixa produtividade do trabalhador sobre

os ombros do próprio trabalhador. Isto foi algo fácil demais. As uniões têm

tornado os trabalhos moles demais. O que é preciso é uma disciplina maior. As

uniões devem ser enfraquecidas, os salários abaixados ou a indústria deve ir

embora para encontrar grupos de trabalhos mais baratos ou mais dóceis. Em

resumo, a solução é ainda mais disciplina industrial. Outros nos

gerenciamentos põem a culpa no gerenciamento excessivo e geralmente

pobre. O planejamento de longo alcance e a tecnologia têm sido sacrificados

por lucros rápidos. A automação e a especialização minuciosa tem tornado os

trabalhos monótonos e o trabalho parece sem sentido. Os empregos deveriam

ser reprojetados e tornados mais interessantes e devem ser dadas maiores

responsabilidades aos trabalhadores.

Propostas para tornar o trabalho mais atraente têm passado das

mudanças essencialmente domésticas na descrição do trabalho, para o

aumento real das complexidades dos mesmos, para ter os trabalhadores se

envolvendo no gerenciamento. Daquilo que aumenta a complexidade (real ou

aparente) e as responsabilidades das tarefas, a maioria implica se não for

construída explicitamente na nova descrição, em um controle menos

estritamente territorial sobre o trabalho. É claro que é isto que a lógica

territorial sugere. Enquanto as tarefas foram simplificadas usando-se a

Territorialidade para reduzir o ambiente, relaxar a Territorialidade ajudaria a

“aumentar” e tornar as tarefas mais complexas. Como a teoria espera, e o

trabalho no gerenciamento industrial demonstra, para tarefas especificas, a

complexidade do trabalho, o movimento discreto no espaço e no tempo e uma

satisfação com o trabalho são geralmente interrelacionados. As restrições

275

Page 276: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

territoriais certamente teriam que ser elevadas até algum grau se os

trabalhadores tivessem que participar no gerenciamento. Se eles têm que

ajudar a fazer a companhia andar, eles também devem ter acesso a maioria

das áreas no local de trabalho. Mesmo as tentativas mais modesta em

aumentar a responsabilidade do trabalhador geralmente resulta em se dar aos

trabalhadores uma liberdade geográfica maior correspondentemente

Um dos esforços pioneiros em aumentar a complexidade do

trabalho e a responsabilidade do trabalhador foi realizado na indústria

automotiva sueca. No meio dos anos 70, a Volvo e a Saab deram aos

trabalhadores tarefas mais complexas alterando a linha de montagem para

incluir “grupos de trabalho” e “buffers”. Um time de trabalho para a linha de

montagem automotiva é composto de sete trabalhadores;

seis trabalham em pares enquanto que o sétimo serve como um coordenador,

vendo que materiais chegam e entrando em cena quando alguém está

temporariamente ausente. De algumas maneiras o coordenador tem a função

do capataz, mas há uma diferença importante: a posição é alternada entre os

membros do grupo numa base de uma semana. Os grupos não somente

constrói as carcaças, ele leva à cabo muitas funções até então reservadas

para trabalhadores habilidosos e para empregados de colarinho branco. Ele

faz a maior parte da manutenção do seu maquinario, a maior parte do controle

de qualidade e, em consultas com o gerente, contrata novos membros e

controla um... orçamento para um novo equipamento. Ele também pode,

dentro dos limites, contratar substitutos temporários para membros doentes.

O buffer é um meio de estocar o trabalho de forma que

a próxima peça... não chega ditada por um tempo mecânico pela linha mas é

removida do estoque do buffer; o time de produção vai ao buffer entre ele e o

grupo subsequente. As conseqüências desse sistema é que a autonomia do

grupo é radicalmente aumentada. O grupo controla o seu próprio tempo de

produção. E uma produção mais rápida para preencher o buffer, permite

276

Page 277: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

intervalos mais longos, geralmente de mais de um hora e meia. O sistema de

buffer permite a cada grupo controlar o seu próprio processo de trabalho mais

ou menos como ele gosta. Os limites são definidos pelo tamanho do buffer,

mas, dentro deles, o grupo estabelece o seu próprio tempo, determina o seu

calendário e se o buffer estiver completamente cheio, pode simplesmente tirar

uma hora ou mais de folga.

Os grupos de trabalhos e as zonas de buffer não estão sem

problemas. “A união tem dificuldade em persuadir os grupos a contratarem

mulheres e trabalhadores mais velhos que podem cortar a eficiência do

grupo... e problemas pessoais têm se desenvolvido”. E o sistema de buffer é

caro de se manter, “porque ele requer espaço para os buffers entre os grupos

e ele amarra o capital no estoque”. Entretanto ele tem os seus benefícios. Ele

tem uma flexibilidade maior e menores custos para o gerenciamento, trabalho

mais interessante e maior controle do processo de trabalho pelos

trabalhadores. Estas mudanças têm diminuído as faltas e a rotatividade de

trabalhadores.

O gerenciamento tem tentado outros sistemas menos

hierárquicos e centralizados. Um exemplo é chamado de organização matriz.

Este sistema coloca os indivíduos em arranjos sobrepostos de grupos de

tomada de decisão. Cada indivíduo pertence a mais de um grupo e quando

quer que seja possível as decisões são feitas pelo consenso. Uma tentativa

interessante na introdução da organização matriz ocorreu dentro de um dos

ambientes de trabalhos mais tradicionalmente rígido e hierárquico e territorial:

o navio. A vida e o trabalho a bordo de um navio é enormemente dividida

territorialmente. O espaço é dividido de acordo com a posição. A história dos

navios pode dar exemplos contínuos mais antigos das relações entre a

Territorialidade e a hierarquia. Para experimentos modernos, uma companhia

marítima mercante norueguesa tentou democratizar o navio; para se ter

decisões tomadas não-hierarquicamente, através de matrizes organizacionais

e consensos. Isto tornou claro que um aumento na flexibilidade significa uma

diminuição na Territorialidade. Além disso, planos para uma nova organização

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do navio e o projeto incluíam “equiparar as condições de vida; e espaço

comum para todos a bordo, incluindo uma biblioteca, um bar, etc.”.

Exemplos do aumento da flexibilidade das tarefas e a diminuição

da Territorialidade podem ser encontrados no ambiente de trabalho da escola.

As escolas elementares têm tentado criar atmosferas de sala de aula

estruturadas menos rigidamente. No lugar das tradicionais salas de aulas

“fechadas” nas quais os estudantes estão presos às suas carteiras (como se

fossem trabalhadores nas estações de trabalho de uma fábrica), recebendo

um calendário rígido de tarefas do professor que geralmente está estacionado

na frente da sala supervisionando a turma, as escolas têm tentado uma sala

de aula aberta na qual as crianças tem a permissão para se mover de um lugar

para outro dentro da sala para selecionar o seu próprio assunto e trabalhar no

seu próprio ritmo. As salas de aulas abertas geralmente contém mais de uma

série por turma, permitindo assim à criança um alcance maior de

oportunidades das quais elas podem escolher. A questão é que dando a

criança mais liberdade para selecionar o que ele quer aprender e quando ele

quer aprender aumentará o seu interesse geral no aprendizado. (Se isto

diminui ou não o alcance do controle é algo que ainda não foi determinado).

O trabalho e a Territorialidade não formam um sistema fechado.

Isto dificulta se ter confiança de que as interrelações que se mantém em um

contexto se manterão em outro. Então muito do equilíbrio depende das

preocupações sociais maiores e de como o ambiente do trabalho é percebido.

A pesquisa sobre o projeto do escritório ilustra esta complexidade. Em uma

revisão compreensiva da literatura de Oldham e Brass apontou que dois

efeitos opostos do design do escritório aberto podem ser esperados. Por um

lado, o que os autores chamavam de método da interação social nos levaria a

esperar que um plano de um escritório aberto encorajaria a interação, que a

interação maior aumentaria a amizade e estas aumentariam a performance no

trabalho. Pelo outro lado, o que os autores chamaram de método sócio-técnico

onde uma falta de barreiras claramente física, tais como as paredes, reduziria

a claridade das tarefas do sentido da autonomia individual e assim diminuiria a

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Page 279: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

efetividade do trabalho no geral. Cada um usa partes diferentes dos efeitos da

Territorialidade. O primeiro enfatiza (como aqueles que clamavam por uma

divisão menor do trabalho) o enriquecimento do trabalho que vem de menos

territorialidade, e o segundo (como aqueles que clamavam por uma divisão

maior do trabalho), a clareza da definição que vem de uma maior

Territorialidade. Os mesmos autores tentaram determinar que efeitos

realmente operaram em um caso particular.

Eles examinaram a atitude dos trabalhadores em um jornal de

tamanho médio, antes e após eles serem movidos de um lugar fechado para

uma estrutura de escritório aberto. A mudança ocorreu em parte porque o

gerenciamento esperava que um plano de escritório aberto aumentasse o

sentido de coesão do grupo - para criar uma “atmosfera familiar”. Os

resultados dessas pesquisas intensas sugerem que neste caso os

trabalhadores estavam menos satisfeitos após a mudança do que antes, e

primariamente por causa da falta de privacidade, da falta de descrição das

suas tarefas e dos seus subgrupos. Eles acharam o plano escritório aberto

barulhento , descrevendo como uma “grande estação central”, ou como “viver

em um aquário”.

Este caso particular sugere que o ponto chave foi alcançado

entre a diminuição da territorialidade, o aumento da variabilidade do emprego e

a satisfação no emprego. Mas porquê ele foi alcançado? É difícil responder

isto apesar do projeto experimental elaborado do estudo. O novo escritório era

excessivamente aberto e barulhento. Umas poucas divisões e uma diminuição

do barulho poderia ter feito com os trabalhadores sentissem que a mudança

teve uma melhoria. Mas talvez uma pista mais básica possa ser encontrada

nas razões do gerenciamento e procedimentos para a nova realização. A

mudança foi originariamente estimulada por um desejo em parte do

gerenciamento em aumentar o sentido do trabalhador de corporativismo, mas

aparentemente o processo foi feito sem a consulta e assistência dos

empregados. Talvez a motivação do gerenciamento e o sentimento dos

trabalhadores como se estivessem em um aquário, apontem que no começo

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Page 280: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

haviam sérios problemas de gerenciamento que deveriam ser agravados por

qualquer mudança iniciada pelo gerenciamento.

Os desenvolvimentos nos novos tipos de comunicação podem

ser esperados de se afetar à organização espacial territorial e não-territorial.

Nós temos visto que a Igreja Católica tem relaxado algumas de suas pressões

territoriais sob seus paroquianos na luz da sua mobilidade geográfica

crescente e que a televisão tem dado a alguns ministros evangélicos

congressos nacionais. Novos meios de “manter em contato” também têm

diminuído o controle territorial dos prisioneiros. Os convictos podem ser

liberados mais cedo se eles permitirem um pequeno transmissor seja colocado

em seus pulsos ou tornozelo tal que a polícia seja capaz de monitorar eles em

qualquer lugar. Estes são os casos da tecnologia mudando os acessos e do

uso da estratégia espacial mais eficiente (neste caso a não-territorial) para

manter o contato.

Juntar a lógica da Territorialidade com a teoria organizacional

tem ofertado hipóteses específicas sobre o território, sobre a complexidade do

trabalho, hierarquia e tecnologia. A abertura do ambiente de trabalho tornar

difícil afinar até mesmo estas relações específicas para um caso particular, e

quase impossível generalizar sobre eles e fazer previsões. O máximo que se

pode esperar é que se esteja a par das possibilidades, que é o caso para a

teoria social no geral. Uma boa teoria social ajuda a dar sentido aos eventos

do passado e do presente e indica o que razoavelmente pode ser esperado se

certas condições forem obtidas.

Se as interrelações entre a Territorialidade e a mudança das

estratégias gerenciais e tecnologia são importantes, mas difíceis de se prever,

então o que muda nas relações sociais? Como elas afetariam a organização

territorial e vice-versa? A democratização do local de trabalho reduziria as

suas necessidades pela Territorialidade? O Socialismo e o Comunismo

reduziriam o controle territorial no local de trabalho e no reino político? Ou a

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Page 281: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

organização territorial é de uma forma ou de outra essencial para qualquer

sociedade complexa e tecnologicamente avançada?

Se nós encontramos dificuldades em comparar os efeitos

territoriais de um local contemporâneo de trabalho com outro, seria tolice se

esperar respostas precisas para estas questões amplas e importantes. Tudo

que pode ser sugerido é que a Territorialidade, embora de formas diferentes e

com efeitos diferentes, parece ser um elemento onipresente da organização

em quase todas as sociedades primitivas, embora quando ela foi usada lá,

fosse um mecanismo para controlar os recursos entre as pessoas. Além disso,

está claro que a Territorialidade sozinha não pode alterar as relações sociais a

ponto de mudar a compleição de uma sociedade inteira, mas ela pode, através

de suas próprias dinâmicas internas, colocar em movimento, conseqüências

sociais imprevisíveis e geralmente indesejáveis até aqui. Isto foi verdade com

as civilizações antigas. Foi verdade com a Igreja Católica. Foi o caso com o

sistema territorial americano e o local de trabalho. De toda forma é verdade

nos países socialistas e pode-se esperar que seja verdade nas tentativas de

estabelecer organizações comunais mais utópicas. Os efeitos da

Territorialidade são múltiplos, importantes e devem ser considerados.

7. Conclusão: sociedade, território e espaço.

O espaço e o tempo são componentes fundamentais da

experiência humana. Eles não são meramente facetas da realidade geográfica,

mas são transformados por ela, e afetam as pessoas e suas relações umas

com as outras. A Territorialidade como a expressão geográfica básica da

influência e do poder oferece uma ligação essencial entre a sociedade, o

espaço e o tempo. A Territorialidade é o pano de fundo do contexto geográfico

- ela é o aparelho através do qual as pessoas controem e mantém as

organizações espaciais. Para os humanos a Territorialidade não é um instinto

ou impulso, mas ao invés disso uma estratégia complexa para afetar,

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Page 282: Sack, Robert David - Territorialidade Humana sua teoria e história

influenciar e controlar o acesso de pessoas, coisas e relações. Sua alternativa

geográfica é o comportamento espacial não-territorial. Focalizar neste último

tem levado a ciência geográfica e a social a enfatizar os efeitos no

comportamento humano de tais propriedades métricas de espaço como a

distância. Infelizmente, este enfoque tem sido restrito demais para permitir o

desenvolvimento de uma lógica espacial complexa. Adicionar um componente

territorial com uma ênfase não-métrica para a análise geográfica pode ajudar a

expandir a lógica do espaço, tornando-o mais flexível e realístico incrustando-o

nas relações sociais.

Os territórios são formas construídas socialmente de relações espaciais

e seus efeitos dependem de quem está controlando quem e para quê

propósitos. A tarefa da teoria da Territorialidade é descobrir os possíveis

efeitos da Territorialidade em níveis que são ao mesmo tempo gerais o

suficiente para englobar suas muitas formas, e também específicos o

suficiente para iluminar e seus exemplos particulares. As interrelações

múltiplas e complexas entre as tendências e as combinações constituem as

dinâmicas internas da teoria. Algumas destas, como dividir e conquistar, são

familiares. A maior parte não é. Mesmo as familiares são tornadas mais claras

quando as suas conexões lógicas com outros efeitos territoriais são

especificadas. Nós entendemos mais do papel da Territorialidade em dividir e

conquistar quando nós percebemos que a Territorialidade pode resultar no

emprego conjunto de um grupo específico de tendências, e que usar estes

com ênfases levemente diferentes podem ajudar as organizações a se

tornarem hierárquicas e burocráticas ou pode levá-las à ineficiência ao invés

de ajudá-las a dividir e conquistar.

A estrutura interna complexa da teoria - seus pontos de máximo e

mínimo - revelam as dinâmicas internas da própria Territorialidade. Quais

desses efeitos e interrelações são realmente usados e qual seria a sua

importância depende dos contextos sociais de quem está realmente usando a

Territorialidade e para quê propósitos. Especificar o contexto não é

simplesmente uma questão de descobrir os fatos, nós caminhamos para a

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evidência e as interpretações que nós damos a elas dependem de nossas

idéias ou os modelos de quem está à cargo, partindo do nível pessoal através

do social. Este livro explorou somente umas poucas das muitas muitas

conexões possíveis entre a Territorialidade, a teoria e o contexto. Reexaminar

as ligações da Territorialidade a estas, bem como explorar as suas conexões

com outras, oferece um caminho amplo para pesquisa futura.

Juntar a Territorialidade como nós fizemos a uns poucos modelos

amplos das relações sociais revela que alguns efeitos da Territorialidade

podem ocorrer em praticamente qualquer sociedade. Outros, entretanto, estão

geralmente mais associados com as organizações econômico-políticas

particulares. O surgimento das civilizações e surgimento do Capitalismo e da

modernidade, são duas transições históricas que têm visto as grandes

mudanças na Territorialidade. Na primeira, a mais importante mudança foi o

uso da Territorialidade para definir e controlar as pessoas dentro de uma

sociedade bem como entre as sociedades; e na segunda, foi o uso da

Territorialidade para criar um sentido de espaço esvaziável, de relações

impessoais e mascaramento das fontes do poder. Desta forma a

Territorialidade sofreu as duas maiores mudanças históricas, o espaço social e

o tempo parecem ter passado somente por uma mudança no significado das

proporções comparáveis, e isto ocorreu com o surgimento do Capitalismo e da

modernidade. A Territorialidade, e a mudança de significado do espaço e do

tempo, não ocasionaram estas mudanças econômico-políticas, mas elas

desempenharam papéis fundamentais na especificação da função do

significado da mudança.

As relações históricas e globais entre o território, o espaço, o

tempo e a sociedade são de longe importantes demais e complexas para que

tenhamos feito mais em um único volume do que esquematizar seus pontos

principais. Mesmo o enfoque no papel da Territorialidade nos tempos

modernos foi examinado dentro somente de um contexto cultural. Sem dúvida,

as três facetas modernas da Territorialidade - embora críticas para a

modernidade em todo lugar - aparecem com diferentes ênfases em outras

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partes do mundo além dos Estados Unidos. Na Europa, por exemplo, o

desenvolvimento de um sentido abstrato de espaço não ocorreu tão logo no

nível territorial político como ocorreu nos Estados Unidos. E nos países do

Terceiro Mundo ela ainda não penetrou em níveis tão profundos quanto na

América do norte. O continente africano que, como o continente norte-

americano, foi explorado abstratamente e geometricamente pelo poderes

coloniais, retém, em nível local, muito mais de um sentido de uma definição

social do território, muito embora muitas dessas áreas territoriais tribais fossem

originariamente demarcações coloniais que tinham sido instauradas com

sentidos sociais. Similarmente na África e em outras partes do Terceiro

Mundo, a propriedade de terra, seja social ou pessoal, não tem um significado

histórico-cultural como tinha na América do Norte onde elas aparecem como

divisões esvaziáveis e preenchíveis. Embora nessas sociedades do mundo

ocidental o uso do território tenha se tornado mais importante, eles ainda

permanecem profundamente misturados com os padrões complexos dos

significados preexistentes e dos usos, e formam diferentes misturas e

intensidades do velho e do novo que são encontrados no exemplo norte-

americano. Mesmo no Japão, uma sociedade industrial moderna em qualquer

padrão, usa-se esses potenciais modernos da Territorialidade com diferentes

intensidades do que aquelas nos Estados Unidos. Comparar essas misturas é

outro motivo para se cuidar contra a associação das mudanças territoriais

inteiramente com as econômico-políticas. Justamente como a cultura, a

tradição e a história mediam a mudança econômica, elas também devem

mediar a maneira que o povo e o local estão ligados, o jeito que as pessoas

usam a Territorialidade, e o jeito que elas avaliam a terra.

Mesmo no contexto norte-americano nós podemos apontar para

a persistência das formas pré-modernas, bem como para as estratégias sobre

o espaço e o tempo que têm sido adotadas para neutralizar as experiências

prevalecentes da modernidade. E aqui também estas tentativas são

representadas pela cultura. Os americanos têm tentado se manter no espaço

criando lugares históricos nas formas de parques históricos, monumentos

nacionais, museus ao ar livre, áreas de preservação histórica, e até mesmo

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lugares pré-históricos nas áreas selvagens. Os americanos têm encorajado o

amor e a aliança no nacionalismo e no patriotismo, eles têm estabelecidos

raízes nas vizinhanças e pequenas cidades da América. Outro antídoto para

ver o espaço tão frio e abstrato e o esforço pelos geógrafos de incluir

componentes humanisticos para as análises geográficas: para lembrar-nos

que o espaço não é experimentado nos afazeres diários somente como uma

moldura esvaziável abstrata nas quais os eventos estão contingentemente

relacionados. Ao invés disso, o espaço e o local são preenchidos com

conteúdo e significado. Mas a sociedade moderna, e especialmente a

americana, usa outros meios e talvez mais penetrantes para colocar o

conteúdo pessoal em um espaço que é frio e abstrato. Ironicamente estes

meios são parte do mesmo processo que tem ajudado a extrair estas

qualidades frias e impessoais do contexto geográfico.

Nós temos visto o desenvolvimento de um espaço métrico

abstrato andou de mãos dadas com a necessidade do Capitalismo de

aumentar a produção e o consumo. Um espaço abstrato e o tempo oferecem a

economia uma moldura poderosa, prática e facilmente manipulada para

organizar as pessoas e os recursos para uma sociedade de massa. Nós

também temos visto que este mesmo sistema espacial torna difícil se sentir em

casa, a se ligar a um lugar. Ao mesmo tempo que nós condenamos a perda

destes laços pessoais e tentamos restabelecer as raízes, o sistema econômico

com sua ênfase sobre o consumo, acena com uma promessa de uma solução

para estes paradoxos. Eles nos dizem que é através do consumo de produtos,

especialmente pela propaganda, que nós podemos novamente estar no centro

do mundo; que nós podemos estabelecer o controle sobre nossos próprios

destinos. O ato de consumir é visto como para criar conforto e contexto

significativo - ao mesmo tempo pequenos e grandes, efêmeros e substanciais -

assim ele alega citar muitos dos problemas de consumo que eles mesmo cria.

Ainda de fato o consumo aumenta o problema porque é através do consumo

que esses contextos geográficos e históricos são fragmentados, tornados

abstratos e justapostos.

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A ordem econômica é novamente inegavelmente de maior

importância. Mas suas formas e efeitos depende dos contextos. A teoria da

Territorialidade reconhece que as diferenças existem no grau de que a

modernidade é manifestada nas sociedades diferentes e que estas diferenças

podem ser devido não somente aos contextos culturais mas também às

dinâmicas organizacionais. As estruturas organizacionais, como as

burocracias, podem ser relativamente imunes de todas as maiores mudanças

dentro dos sistemas político-econômicos, e algumas organizações podem

mudar bem mais do que os seus contextos socais. Há, em outras palavras,

uma dinâmica para as organizações que a Territorialidade divide. Esta

dinâmica é vista dentro da Igreja Católica; ela pode ser vista dentro das

burocracias dos países capitalistas e socialistas. Em termos de teoria social

isto significa que além da divisão econômica do trabalho existe divisões sociais

mais amplas tendo efeitos significantes em quem está controlando quem e

para quê propósitos. E a teoria da Territorialidade ajuda a especificar os efeitos

mais prováveis que podem ocorrer dentro das organizações sociais

complexas. Quaisquer que sejam os objetivos de uma sociedade - seja ela

capitalista, socialista ou comunista - e qualquer que seja a escala geográfica -

local, nacional ou global - uma sociedade, simplesmente como uma

organização complexa, precisará da Territorialidade para coordenar os

esforços, especificar as responsabilidades e evitar que as pessoas fiquem

umas nos caminhos das outras. E uma vez que Territorialidade será de uma

maneira ou outra empregada, nós devemos estar a par que ela possui as suas

próprias potencialidades para afetar e controlar, e que algumas destas podem

ser contrárias aos objetivos da sociedade. Planejar sem estas considerações

em mente seria negligenciar determinantes significantes das relações sociais.

A Territorialidade, como um componente do poder, não é somente um meio de

criar e manter a ordem, mas é um mecanismo para criar e manter muito do

contexto geográfico através do qual nós experimentamos o mundo e damos

sentido a ele.

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