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saúde impactos, vulnerabilidades e adaptação às alterações climáticas

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SAÚDE

saúde

impactos, vulnerabilidades e adaptação às alterações climáticas

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Índice7 IMPACTOS E VULNERABILIDADES ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

13 1. INTRODUÇÃO

14 1.1. CaraterizaçãodoEstadodaSaúdenaMadeira16 1.2. Identificaçãodepossíveisimpactesnasaúde

19 2. METODOLOGIA

23 3. RESULTADOS

23 3.1. Impactesrelacionadoscomocalor26 3.2. Impactesassociadosàqualidadedoar28 3.2.1. Partículas(PM10)

28 3.2.2. Ozonotroposférico

30 3.2.3. Pólenes

35 3.3. Doençastransmitidasporvetores36 3.3.1. Doençastransmitidaspormosquitos

37 3.3.1.1. Aedesaegypti

40 3.3.1.2. Culexpipiens

43 3.3.2. Doençastransmitidasporcarraças

44 3.3.2.1. Ixodesricinus

49 4. CONCLUSÃO

55 5. REFERÊNCIAS

63 ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

67 1. INTRODUÇÃO

67 1.1. Identificaçãodepossíveisimpactesnasaúde

71 2. METODOLOGIA

72 2.1. LimitaçõesdaAvaliação

75 3. RESULTADOS & DISCUSSÃO

75 3.1. Impactesrelacionadoscomocalor82 3.2. Impactesassociadosàqualidadedoar82 3.2.1. Partículas(PM10)

88 3.2.2. Ozonotroposférico

89 3.2.3. Pólenes

92 3.3. Doençastransmitidasporvetores

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93 3.3.1. Doençastransmitidaspormosquitos

111 3.3.2. Doençastransmitidasporcarraças

121 4. CONCLUSÃO

125 5. REFERÊNCIAS

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impactos e vulnerabilidades às alterações climáticas

SAÚDE

AUTORES

Elsa Casimiro

José M. Calheiros

Carla Selada

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SAÚDE 9

SUMÁRIOEsteestudoprocedeàavaliaçãodosimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdehumanadosresidentesnailhadaMadeira,comvistaareduzirasuavulnerabilidadeadoençasassociadasàsalteraçõesclimáticas.Nesterelatóriodescrevem-seospossíveisimpactesenquantoqueasmedidasdeadaptaçãoparareduzirosimpactese,consequentemente,reduziravulnerabilidadedapopulaçãoaessesimpactesserãodiscutidasnumrelatóriosubsequente.

Nopresenteestudoforamusadososseguintescenáriostemporaisfuturos:umcenárioacurtoprazo(A2:2010_2039),doiscenáriosamédioprazo(A2:2040_2069eB2:2040_2069)edoiscenáriosalongoprazo(A2:2070_2099eB2:2070_2099).Osresultadosobtidosmostramque,relativamenteaocenáriodereferência(1970-1999),emtodososcenáriosfuturosatemperaturaaumenta,enquantoaprecipitaçãodecresce.

Combasenainformaçãoedadosdisponíveisforamavaliadososimpactesnasaúdeassociadosàsondasdecalor,àqualidadedoar(partículasinaláveis–PM10,ozonotroposférico,epólenes)eàsdoençastransmitidasporvetores(mosquitosecarraças).

TendoporbaseadefiniçãodeondadecalordaOrganizaçãoMeteorológicaMundial,concluímosque,atualmente,oimpactenasaúderesultantedeepisódiosdeondadecalorémuitobaixo(vulnerabilidadeatualneutro).Noscenáriosfuturoséexpectávelqueosepisódiosdeondadecalorpossamviraaumentar,commaiorsignificâncianocenáriodelongoprazo.

OsimpactesassociadosàqualidadedoarapenasforamavaliadosparaoFunchal.Emrelaçãoàcon-centraçãodepartículasinaláveis–PM10–verificámosqueestepoluentetem,atualmente,umimpactenegativoparaasaúde(vulnerabilidadeatualmuitonegativo)sendoexpectáveloagravamentodestasituaçãonofuturo.EmcontrastecomasPM10,asconcentraçõesdeozonoatuaisnãotêmtidoumim-pactesignificativonasaúde(vulnerabilidadeatualneutro).Éprovávelquenofuturovenhaaverificar-seumaumentogradualdosimpactesnasaúde,associadoscomasconcentraçõesmaiselevadasdePM10 etambémozono,commaiorníveldepreocupaçãoalongoprazoparaambososcenários.Osimpactesnasaúdeassociadosaospólenestambémdeverãoviraserumamaiorpreocupaçãonofuturoemboraassociadosaumadistribuiçãosazonaldiferentedaatual(vulnerabilidadeatualnegativo).

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SAÚDE10

Asdoençasqueoferecemumamaiorpreocupaçãonumaperspetivadesaúdepúblicasãoastransmitidaspelasespéciesdemosquitos-Aedes aegyptieCulex pipiensecarraças-Ixodes ricinus. ÉexpectávelquenofuturoaMadeira,estejaespecialmentevulnerávelaestesimpactesdevidoaoseuclimaameno,àsuaricafloraefaunaeàsualocalizaçãogeográfica.

OmosquitoAedes aegypti,foidetetadopelaprimeiraveznaMadeiraem2005,actualmentenãoseencontrandoinfetadocomnenhumdosvírusconsideradoscomopreocupaçãodesaúdepública(dengue,febre-amarela,chikungunya).Contudo,encontroucondiçõesfavoráveisàsuaproliferaçãoeviriaaseroresponsávelpelosurtodefebrededenguede2012/2013.Nesteestudoprocedemosapenasàavaliaçãodoriscodetransmissãoparaadengueassumindoqueosriscosdetransmissãosãoidênticosparaasdoençasanteriormentemencionadaspoisosvírussãotransmitidospelomesmovetor.Nocenáriodereferênciaassumindoqueapopulaçãodemosquitosestáinfetada,oriscoestimadodetransmissãodadenguefoibaixo(vulnerabili-dadeatualnegativo).Oriscodetransmissãoaumentaparabaixo-médio(cenáriodecurtoprazo),riscomédio(cenáriosdemédioprazo)ealto(cenárioclimáticoA2delongoprazo).

Atualmente,omosquitoCulex pipiens,osestudosdisponíveisrevelam,nãoestáinfetadocomovírusdoOestedoNiloe,consequentemente,oriscoatualdestadoençaéinsignificante.SeapopulaçãodeCulex pipiensficarinfetada,entãooriscodetransmissãodafebredoOestedoNiloconsiderou-semédioparaoperíododereferência(vulnerabilidadeatualnegativo)enocenáriodecurtoprazo,passandoparaumnívelderiscomédio-altonoscenáriosdemédioprazoeparaumriscoaltonoscenáriosdelongoprazo.

AcarraçaIxodes ricinusestáatualmenteinfetadacomváriosagentespatogénicosincluindoaBorrelia lusitaniae,abactériaresponsávelpeladoençadeLyme(ouBorreliose).OriscoatualdetransmissãodadoençadeLymefoiavaliadocomomédio(vulnerabilidadeatualmuitonegativo).Nofuturooriscodetransmissãodestadoençaéprovávelquesemantenhamédio,podendoasalteraçõesclimáticasviraalterarosperíodossazonaisfavoráveisparaatransmissãodadoença.

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SAÚDE 13

1. INTRODUÇÃO Asalteraçõesclimáticasrepresentamriscosreaisparaasaúdehumanaafetandoamesmaportrêsviasbásicas(Figura1):

•  Impactesdiretos,queserelacionamprincipalmentecomalteraçõesnafrequênciadeeven-tosextremosincluindocalor,secaechuvasintensas,

•  Efeitosmediadosatravésdossistemasnaturais,porexemplo,doençastransmitidasporvetores,doençastransmitidaspelaáguaepoluiçãoatmosférica,

•  Efeitosmediadosporsistemashumanos,porexemplo,impactesocupacionais,subnutrição,alteraçõesnossistemasdeinfraestruturassanitáriasbásicasedeprestaçãodecuidadosdesaúde.

Estábemdocumentadoque,asalteraçõesclimáticasnãosão,muitasvezes,aúnicacausadoaumentodosimpactosnasaúdesensíveisaoclima,masinteragemcomoutrosproblemasdesaúdepública.

Comaextensãoeritmocrescentesdosfenómenosassociadosàsalteraçõesclimáticas,éprevisívelqueseseconstituamcomoumdosmaisrelevantesproblemadesaúdepúblicanaspróximasdécadas(Smithetal.,2014).Umavezqueestesefeitosrefletemascondiçõesambien-taisesociaisdaspopulações,estasconsequênciassobreasaúdevariam,obviamente,entrepaíseseregiões.

Nestecapítulosãoapresentadososresultadosdaavaliaçãodosimpactesdasalteraçõesclimáti-casnaSaúdedosresidentesdailhadaMadeira,indicandoosentidopotencialdamudança.

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SAÚDE SAÚDE14 15

Funchaléde1469habitantes/km2,correspondendoaoconcelhocommaiordensidadepopula-cionaldaRAM(DREM,2014).

253 925

256 316

258 628

261 079

263 446 265 138

266 715

267 965

264 236 263 091

261 313

245 000

250 000

255 000

260 000

265 000

270 000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Popu

laçã

o re

side

nte

(n.º)

População Residente na RAM

4%

13%

41% 8% 3% 1%

5%

17%

3%

2% 2%

% População Residente em 2013 Calheta Câmara de Lobos Funchal Machico Ponta do Sol Porto Moniz Ribeira Brava Santa Cruz Santana São Vicente Porto Santo

Figura 2 – População residente na RAM entre os anos de 2003 a 2013

Ataxadenatalidade,naRAM,em2013,foide7,0nadosvivospor1000habitantes,ataxademortalidadegeralfoide9,3óbitosem1000habitantes.Ambasforaminferioresàstaxasnacio-nais,com7,9e9,3,respetivamente.Ataxademortalidadeinfantilfoide2,7óbitospor1 000nadosvivos.OíndicedeenvelhecimentonaRAMfoide95,0pessoasidosasporcada100jovens,inferioraonacionalde138,9.Aesperançadevida(2011-2013)naRAMéde77,49anos,inferioràesperançadevidaemPortugalcontinental(80anos).

Quantoàsprincipaiscausasdemorte,verifica-sequeaprimeiragrandecausasãoasdoençasdoaparelhocirculatório,responsáveispor27%dosóbitos,seguidadamortalidadeportumoresmalignos,com23%epelasdoençasdoaparelhorespiratório,com19%(DREM,2013).

Alterações climáticas globais

Mitigação e desenvolvimento sustentável

IMPACTE NA SAÚDE

Sistemas de saúde

Prevenção e adaptação

Condições ambientais

Exposições directas (eventos extremos)

Perturbações económicas e sociais

Exposições indirectas (através de alterações da ecologia dos vrectores, disponibilidade de

alimentos, etc.)

Condições socioeconómicas

Ondas de calor/frio

Poluição do ar

Doenças transmiti-das por vectores

Doenças transmi-tidas por água e

alimentos

Insegurança alimentar

Refugiados/Migração

Alterações climáticas regionais

Alterações a longo prazo no clima

(temp. etc.)

Variabilidade climática

Eventos extremos

Figura 1 – Relações entre as alterações climáticas globais e os impactes na saúde.

1.1. Caraterização do Estado da Saúde na Madeira

Osdadosdisponíveisreportam-seàRAMenãoseencontramdesagregadosparaailhadaMadeira,objetodesteestudo.

Em31dedezembrode2013,apopulaçãoresidentenaRAMfoiestimadaem261313habitantes,emque47%sãohomense53%sãomulheres.DototaldapopulaçãoresidentenaRAM,16%têmidadeinferiorouiguala14anos,69%têmentre15e64anose15%têmidadesuperiorouiguala65anos(INE,2014).

ApopulaçãoresidentenaRAMtemvindoadecrescerdesde2011comoseilustranaFigura2.Paraestavariaçãopopulacionalcontribuiuosaldomigratórionegativo(-1181indivíduos)eosaldonaturalnegativo(-597pessoas).OconcelhocommaispopulaçãoéoFunchal,com41%dapopulaçãodaRAM,seguidodeSantaCruz,com17%edeCâmaradeLobos,com13%.AdensidadepopulacionaldoArquipélagodaMadeiraéde334habitantes/km2enoconcelhodo

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SAÚDE SAÚDE16 17

Tabela 1 – Potenciais impactes das alterações climáticas sobre a saúde na ilha da Madeira.

IMPACTE SOBRE A SAÚDE ASSOCIADO A

Aumentododesconforto,morbilidadeemortali-dadeassociadosaocalor

Temperaturasmaiselevadascompossíveis“OndasdeCalor”maisfrequenteseintensas

Diminuiçãododesconforto,morbilidadeemortali-dadeassociadosaofrio

Invernosmaismoderados

Aumentodaprevalênciadeafeçõesrespiratóriasecardiovasculares

Deterioraçãodaqualidadedoar

Aumentodamortalidadeemorbilidadegeraldevidoaalteraçõesdesaúdemental

Inundações,tempestades,secas,efogos

Aumentodaincidênciadedoençastransmitidaspelaáguaealimentos

Inundações,secas,temperaturasmaiselevadas,subidadoníveldomar

Mudançasnadistribuiçãoefrequênciadasdoençastransmitidasporvetoreseroedores

Temperaturasmaiselevadas,secas,inundações, ealteraçõesdahumidade

Onúmerodeóbitosvariouaolongodosmesesdoano,comosvaloresmaiselevadosaregista-rem-seemdezembro(265óbitos)ejaneiro(264óbitos),comovalormaisbaixoaocorrernomêsdejunho(163óbitos)(DREM,2014).Estarealidademostraumpadrãodemortalidadesazonal,emqueomaiornúmerodemortesocorrenoinvernoeomenornúmerodemortesocorrenoverão,semelhanteaoqueseverificanocontinente.

Osindicadoresdascondiçõeshigiénico-sanitáriasnaMadeirasãomuitobons:99%dapopu-laçãoresidenteéservidaporsistemadeabastecimentodeágua(públicoeprivado)e96%damesmapopulaçãoéservidaporsistemasdedrenagemdeáguasresiduais(INE,2012).

OserviçodesaúdedaRAMéconstituídopor7hospitais,sendo1públicoe6privados.OnúmerodeCentrosdeSaúdeéde49.Em2012,existiam28médicose82enfermeirosporcada10 000habitantes.Nomesmoanoalotaçãomédiapraticadaemrelaçãoacamasdeinternamentoemhospitaisfoide1 860,oquecorrespondeuaumráciode7,1camaspor1 000habitantes(DREM,2014).AtaxadeocupaçãodecamasnosestabelecimentosdesaúdenaRAM,em2012,foide80%(INE,2012).

1.2. Identificação de possíveis impactes na saúde

AolongodaúltimadécadatemsidoelaboradoumnúmerocrescentedeestudosanalisandoospossíveisimpactesdasalteraçõesclimáticasemPortugal.OrelatóriodoSIAMIconstituioprimeiroestudonacionaldeumpaísdosuldaEuropaemquefoiavaliadaarelaçãoentreasalte-raçõesclimáticaseoseuimpactonasaúdehumana.NesteestudoosimpactesforamavaliadosparaPortugalcontinental(Casimiro&Calheiros2002).Subsequentemente,estesimpactesforamavaliadosaumnívelregionalparaPortugalcontinentalnoprojetoSIAMII(Calheiros&Casimiro2006),assimcomo,paraaRegiãoAutónomadaMadeira(RAM)noprojetoCLIMAATII(Casimiroetal.,2006).Reconhecendoanecessidadededispordeinformaçãosobreospotenciaisimpactesaumnívellocal,váriosmunicípiostêmpromovidoarealizaçãodeestudossobreosimpactesnasaúdedecorrentesdasalteraçõesclimáticasaonívelmunicipal.Umexemploéoestudointegradono“PlanoEstratégicodoConcelhodeCascaisfaceàsAlteraçõesClimáticas”(Casimiroetal.,2010).

NoestudoCLIMAATIIosimpactesforamavaliadosaumnívelregional,separadamente,paraailhadaMadeiraeparaailhadePortoSanto.Nopresenteestudoprocede-seaumaavaliaçãodetalhadadospotenciaisimpactessobreasaúderesultantesdasalteraçõesclimáticasemcadaumdos10concelhosdailhadaMadeira.

Natabela1apresentam-seospotenciaisimpactessobreasaúdedosresidentesdailhadaMadeirainvestigados,considerandoumaperspetivalocaltalcomoseprocedeunaavaliaçãodoprojetoCLIMAATII.

Nesteestudo,algunsdosreferidosimpactesforamavaliadoscommaiordetalhevisandocontribuirparareduzir/evitaravulnerabilidadedapopulaçãoedosturistasaodesconfortoeadoençasassociadascomasalteraçõesclimáticasnaMadeira.

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SAÚDE 19

2. METODOLOGIANesteestudoosimpactesforamavaliadosporconcelhodaRegiãoAutónomadaMadeira(Figura3).OsdadosdeclimaparaoperíododereferênciaeparaoscenáriosfuturosforamobtidosatravésdosresultadosobtidosnoCLIMAATII.ForamextraídososdadosparacadaparâmetroclimáticoemfunçãodalatitudeelongitudedecadaconcelhodailhadaMadeira ereunidosnumúnicoconjuntodedadosrepresentativosdoclimaparaesseconcelho.

Calheta

Ponta doSol Ribeira

Brava

FunchalCâmara deLobos

Santana

Porto Santo

Machico

Santa Cruz

Porto Moniz São

Vicente

Figura 3 – Concelhos da Região Autónoma da Madeira

Nopresenteestudoforamusadostrêscenáriostemporaisfuturos:umcenárioacurtoprazo(A2:2010_2039),doiscenáriosamédioprazo(A2:2040_2069eB2:2040_2069),edoiscenáriosalongoprazo(A2:2070_2099eB2:2070_2099).

AFigura4sumarizaamudançaclimáticaemcadaconcelhorelativamenteaocenáriodereferên-cia(1970-1999).Estesresultadosmostramqueemtodososcenáriosatemperaturaaumenta,enquantoaprecipitaçãodecresce.Estastendênciasverificam-seemtodososdezconcelhos.

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SAÚDE SAÚDE20 21

Duranteaavaliaçãodecadaresultadonasaúde,foramconsideradososseguintespontos:

•  Constituioimpactoestudadoumproblemaatualdesaúdenaregião?

•  Existemregistoshistóricosqueindiquemqueoimpactoeraumproblemadesaúdenopassado?

•  Qualarelaçãoclima-saúdeparaoimpacto?

•  Supondoqueasrelaçõesclima-saúdeacimaindicadassãoválidasparatodososcenáriosdealteraçãoclimática,quemudançasnasaúdepodemosesperarqueocorram?

Segue-seumadescriçãodetalhadadecadaimpacteavaliado.

1 – IDENTIFICAÇÃO DOS EFEITOS NA SAÚDE SENSÍVEIS AO CLIMA

A–Estadoactualdasaúde dapopulaçãonaregião

B–Julgamentodeperitos nacionaiseinternacionais

C–Disponibilidadede dadosparaavaliação

2 – AVALIAÇÃO DOS IMPACTES NA SAÚDE

A–Passado/Presente B–Relaçãosaúde-climaC–Impactesdas

alteraçõesclimáticas

3 – SUGESTÃO DE MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO

4 – IDENTIFICAÇÃO DE LACUNAS DE INFORMAÇÃO

Figura 5 – Metodologia de avaliação dos impactes das alterações climáticas na saúde

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

Calheta Camara dos

Lobos

Funchal Machico Ponta do Sol

Porto Moniz

Ribeira Brava

Santa Cruz

Santana São Vicente

Ilha Madeira

Temp(oC)

Temperatura Média

A2: 2010_2039 A2:2040_2069 B2:2040_2069 A2:2070_2099 B2:2070_2099

-1,80

-1,30

-0,80

-0,30

0,20 Calheta

Camara dos

Lobos Funchal Machico Ponta do

Sol Porto Moniz

Ribeira Brava

Santa Cruz Santana

São Vicente

Ilha Madeira

mm

/dia

Precipitação

A2: 2010_2039 A2:2040_2069 B2:2040_2069 A2:2070_2099 B2:2070_2099

Figura 4 – Mudança climática em cada concelho relativamente ao cenário de referência

Combasenainformaçãoenosdadosdisponíveis,avaliaram-seemmaiordetalheosseguintesimpactes:

1 ) Mortalidadeassociadaàsondasdecalor;

2 ) Mortalidadeemorbilidadeassociadaàqualidadedoar(ozonotroposféricoepólenes);

3 ) Doençastransmitidasporvetores.

Osmétodosutilizadosparaavaliarosimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdeforamseme-lhantesaosdescritosporCasimiroecolaboradores(2006).AFigura5demonstraosprincipaispassosdametodologiaaplicada.

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SAÚDE 23

3. RESULTADOS

3.1. Impactes relacionados com o calor

DeacordocomoúltimorelatóriodoPainelIntergovernamentalparaasAlteraçõesClimáticas(IPCC),amédiadatemperaturaàsuperfícieterrestreeoceânicaanívelglobalsofreuumaqueci-mentode0,85°C,noperíodoentre1880e2012.Ainda,segundoesterelatório,émuitoprovávelqueastemperaturascontinuemaaumentarnoséculoXXIemtodaaEuropaeregiãoMediterrâ-nica,assimcomoaduração,frequênciae/ouintensidadedeepisódiosdecalorouondasdecaloremtodaaregião(IPCC,2013).

ARegiãoAutónomadaMadeira,àsemelhançadeoutrasregiõesepaíses,apresentaumcomportamentosazonaldamortalidadediáriafunçãodediversasvariáveisambientais,espe-cialmenteatemperatura,comodiversosestudosilustram(Montero,1997;Alberdi,1998;Keating,2000)talcomoemPortugalcontinental(Almeidaetal.,2010).

Emváriosdestesestudos,foiencontradaumacurvaemformadeJ,UouVnaanálisedaasso-ciaçãoentremortalidadeetemperatura,sendoobservadaamortalidademaiselevadanosextremosdetemperaturaemortalidademaisbaixaparatemperaturasmoderadas(Curriero,2002;Kunst,1993;Huynen,2001;Larsen,1990,Almeidaetal.,2010).

Contudo,apopulaçãohumanaestánormalmenteaclimatizadaaoseuclimalocal,emtermosfisiológicosecomportamentaissendoasuacapacidadedeseadaptaradiferentesambientes eclimasconsiderável.(Kovats,2007)

Diversosestudossugeremqueaspessoascomdoençascardiovasculareserespiratóriaspré--existentestêmumriscoaumentadodemorteassociadoàexposiçãoaocalorequeoriscoémaiorparaalgunsgruposdapopulação,incluindoosidosos,ascrianças,aspessoasdebaixoestatutosocioeconómico(Basu,2002Michelozzietal.,2007,Reyetal.,2007)easpessoasaca-madasemedicadascomcertosfármacoscapazesdemodificaracapacidadetermoreguladora(McGeehineMirabelli,2001)comofenotiazinasebarbitúricos(WHO,2004).

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SAÚDE SAÚDE24 25

Éderealçar,noentanto,queestadefiniçãoestámaisrelacionadacomoestudoeaanálisedavariabilidadeclimáticadoquecomosimpactesnasaúdepública.

Nestascircunstânciasosprocedimentosseguidosforamosseguintes:

•  Passo1:determinaramédiadatemperaturamáximaparacadamêsdoperíododereferên-cia(1970-1999),porconcelho.

•  Passo2:paracadacenárioclimático,determinámosonúmerodediasdestressporcaloremcadamês.Osdiasdestressprovocadopelocalorforamidentificadoscomosendoaquelescomovalordamédiadatemperaturamáximasuperiorem5°Crelativamenteaocenáriodereferência.

Estaanálisefocou-senosmesesmaisquentes(deabrilaoutubro).

Osresultadosobtidosrevelam(Tabela2)queduranteoperíododereferênciamuitopoucosepisódiosdeondadecalorsãoreveladosparaailhadaMadeira.OsconcelhoscommaiorprobabilidadedesofreremosimpactesdeumaondadecalorforamMachicoePontadoSol.Globalmente,oimpactenasaúderesultantedeumaondadecalorfoimuitobaixo(vulnerabili-dadeatualneutro).

Nocenáriodecurtoprazo(2010-2039),éprevisívelumligeiroaumentodonúmerodediasdestressporcalor,comumamaiorprobabilidadedeocorreremepisódiosdeondadecalornosconcelhosdeMachico,PontadoSol,RibeiraBravaeCalheta.Omêscommaiorimpacteserájunho,seguidodeoutubroeabril.Oimpactenasaúdeéexpetávelquesejanegativo.

Nomédioprazo(2040-2069),onúmerodeepisódiosdeondadecaloréprovávelqueduplique.OsresultadosparaoscenáriosA2eB2indicamqueosconcelhosmaisafetadosserãoMachicoePontadoSolseguidosporCâmaradeLobos,RibeiraBrava,SãoVicente,Calheta,SantanaePortoMoniz.Abrilseráomêscommaiorimpacteseguidodeoutubro,setembro,maioejunho.OimpactenasaúdeéexpetávelquesejamuitonegativotantoparaocenárioA2comoparaoB2.

Alongoprazo(2070-2099),umaumentosignificativodeepisódiosdeondadecaloréesperado.ApesardoaumentosermaisevidentenocenárioA2,opadrãoglobalésimilarparaambososcenáriosavaliados.Éprovávelqueocorramepisódiosdeondadecaloremtodososconcelhos,mascommaiorsignificânciaemPontadoSoleRibeiraBrava,seguidosdeCalhetaeFunchal.Abrilemaioserãoosmesesmaisafetados,enquantojulhoeagostoserãoosmenosafetados.OimpactenasaúdeéexpetávelquesejamuitonegativoparaocenárioB2,admitindo-sequepossamocorrerníveiscríticosparaocenárioA2.

ATabela2mostraonúmerodepossíveisepisódiosdeondadecalorexpetáveisdeocorrernoperíodoentreabrileoutubro,porconcelhonoperíododereferência,acurtoprazo,amédioprazoealongoprazoeparacadaumdoscenáriosavaliados.

Poroutrolado,ascondiçõesmeteorológicasqueocorremduranteperíodosdecalorintenso/ondasdecalorfavorecemoagravamentodapoluiçãoatmosférica,nomeadamenteoaumentodosteoresdepoluentescomooozonotroposféricoeaspartículas.Umavezque,namaioriadasvezes,astemperaturaselevadaseapoluiçãodoarcoincidem,é,emregra,difícilisolarosefeitosnasaúderesultantedestasduasexposições(Euroheat,2009).

Osefeitosdastemperaturaselevadasedasondasdecalordependemdoníveldeexposição(frequência,gravidadeeduração),dadimensãodapopulaçãoexpostaedevulnerabilidadedapopulação.Outrosfatoresquecontribuemparaoimpactedocalorintensoincluemaalturadoanoemqueocorreaondadecalor,ocomportamentodapopulaçãoduranteesteeventoearespostadosserviçosdesaúde.Algunsestudosindicamqueaocorrênciadetemperaturasextremasnoiníciodaépocaestival,estáhabitualmenteassociadaaummaiornúmerodemor-tesquandocomparadacomocorrênciasmaistardias.Destaforma,nãoésurpreendentequearelaçãoentreatemperaturaeosseusefeitosnasaúderevelealgumaheterogeneidadeentrepopulaçõeseemfunçãodasualocalizaçãogeográfica(Koppe,2003).

Aexposiçãoprolongada,principalmenteduranteváriosdiasconsecutivos,podeprovocarefeitosnegativosnasaúdehumana,manifestando-sesobretudoatravésdoagravamentodedoençascrónicas(principalmenteascardio-respiratórias)ededoençasrelacionadascomocalor:cãibras,esgotamentoe,nassituaçõesmaisgraves,ogolpedecalor.

Atualmente,muitospaíseseuropeus,incluindoPortugal,têmimplementadosistemasdevigilân-ciaealerta,dosquaisconstamaçõesemedidasdeprevençãoparafazerfaceaosriscosparaasaúde,associadosafenómenosmeteorológicosextremos.Taissistemasconstituemimportan-tesmedidasdeadaptaçãoàsalteraçõesclimáticas,quetêmcomoobjetivomelhoraraatuaçãodosserviçosdesaúdeederespostasocialemperíodosdemaiorrisco,contribuindoassimparaaumentararesiliênciadapopulação(PCTEA,2014).

DeacordocomaOrganizaçãoMundialdeSaúde,osepisódiosdeondadecalordevemserdefinidospelascondiçõesmeteorológicaslocais,assimcomo,aavaliaçãodosimpactesprovo-cadospelocalorintensonasaúdedaspopulaçõeslocais.Umestudodeumasérietemporalrelacionandoestesdoisparâmetrospermiteidentificarumlimiarmeteorológicoacimadoqualosefeitosnasaúdesetornamsignificativos.Quandoascondiçõesmeteorológicasexcedemestelimiarconsideramosestarperanteuma“ondadecalor”.

Nopresenteestudonãofoipossíveldeterminarumarelaçãodesériestemporaispornãoestaremdisponíveisosdadosnecessários(i.e.mortalidadediária,dadosdequalidadedoarambienteedadosmeteorológicosparaosváriosconcelhos).Portanto,paraafinalidadedesteestudoutilizámosadefiniçãoclimatológicadeíndicededuraçãodeondadecalor(HWDI–HeatWaveDurationIndex)daOrganizaçãoMeteorológicaMundial(WCDMP-No.47,WMO-TDNo.1071),naqualseconsideraqueocorreumaondadecalorquando,numintervalodepelomenosseisdiasconsecutivos,astemperaturasmáximasdoarsão5°Csuperioresàmédiadastempera-turasmáximasnoperíododereferência(1971-2000)(IPMA).

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SAÚDE SAÚDE26 27

Tabela 2 – Número de possíveis episódios de onda de calor prováveis de ocorrer entre abril e outubro

1970_1999 2010_2039A2

2040-2069B2

2040-2069A2

2070-2099B2

2070-2099

Calheta 0 1 2 1 32 5

CâmaradeLobos 0 0 6 3 15 5

Funchal 0 0 1 0 33 4

Machico 2 4 10 4 7 5

PontadoSol 1 2 8 6 48 15

PortoMoniz 0 0 1 0 7 1

RibeiraBrava 0 2 2 2 49 10

SantaCruz 0 0 0 0 14 1

Santana 0 0 1 1 11 1

SãoVicente 0 0 2 2 16 4

AFigura6apresentaadistribuiçãomensaldopossívelnúmerodeeventosdeondadecalorparacadaconcelho,noperíododereferênciaeparacadaumdoscenáriosavaliados.

3.2. Impactes associados à qualidade do ar

Osdiversosestudosqueanalisaramasalteraçõesclimáticasglobaiseosefeitosnasaúderelacionadoscomapoluiçãodoarindicamqueosimpactosmaispreocupantessão,sobretudo,osqueestãoassociadosàexposiçãoaoozonotroposférico(O3)eaosagentesaerobiológicos(pólenesentreoutros)(Smithetal.,2014).Devidoàsualocalizaçãogeográfica,aRAMétambémvulnerávelafenómenosdeintrusãodemassasdearprovenientesdedesertosafricanosquetransportempartículas,contribuindodestaformaparaelevarasconcentraçõesdepartículas(PM10)noarambiente.

Apresençadepoluentesatmosféricoscomoodióxidodeazoto(NO2),partículas(PM10)eozonotêmumefeitosinergísticodealergiarespiratóriacomospólenes.Aspessoasquevivememáreasurbanassãomaisafetadasporestetipodealergiasrespiratóriasdoqueaspessoasquevivememáreasrurais(D’Amatoetal.2007).

NaRAM,osdadossobreaconcentraçãoatmosféricadeO3ePM10sãoapenasmonitorizadosnacidadenoFunchal.AconcentraçãodeO3émedidaemduasestações(QuintaMagnóliaeSãoGonçalo).AsPM10sãomedidasnasmesmasestações,assimcomo,numaterceiraestação(SãoJoão).Apesardeosdadosdemonitorizaçãoestaremdisponíveisdesde2003,existem,com

1970–1999

A2 2040–2069

A2 2070–2099

2010–2039

B2 2040–2069

B2 2070–2099

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

OSAJJMA0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

OSAJJMA

0

1

2

3

4

5

OSAJJMA0

1

2

3

4

5

OSAJJMA

0

2

4

6

8

10

12

14

16

OSAJJMA0

2

4

6

8

10

12

14

16

OSAJJMA

CalhetaCâmaradeLobos

FunchalMachico

PontadoSolPortoMoniz

RibeiraBravaSantaCruz

SantanaSãoVicente

Figura 6 - Distribuição mensal do número possível de eventos de onda de calor para cada concelho

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SAÚDE SAÚDE28 29

Osimpactesnasaúdeacurtoprazodeumaexposiçãoaoozonoincluem:

•  Irritaçãodosistemarespiratório,provocandotosse,irritaçãonagargantaedesconfortonopeito;

•  Inflamaçãoedestruiçãodascélulasdamucosabrônquica;

•  Aumentodonúmerodeadmissõesnoshospitaiscausadaspordoençascardio-respiratórias;

•  Agravamentodaasmaedeoutrasdoençasrespiratóriascrónicas,comoadoençapulmonarobstrutivacrónica,enfisemaebronquite,potencialmentefatais.

OsgruposdapopulaçãomaisvulneráveisàsexposiçõesdoO3são:ascrianças,osadultosquepraticamexercíciooutrabalhamaoarlivreeaspessoascomdoençasrespiratóriastaiscomoasma,enfisemaebronquite.

OsníveisdeozononaRAMsãogeralmentemaisbaixosdoqueemPortugalcontinental.Duranteoperíodoentre2006a2009,amédiaanualdebaseocto-horáriadoO3(8horas)paraoFunchalfoi42.13ug/m3.EmcontrastecomasmediçõesdePM10,2009foioanocomosmaiores(níveisdeozonoe2004oanocommenoresconcentrações.Nãoobstante,amédiaanual8hr/valoresduranteesteperíododeavaliaçãofoisempreinferioraosvaloresdereferênciadaOMS(100ug/m3).Assume-sequeoimpactenasaúdedosníveisdeozonoatuaisnoFunchalsãodepoucapreocupaçãoparaasaúdepública(vulnerabilidadeatualneutro).

Oozonotroposféricoéformadoatravésdereaçõesfotoquímicasqueenvolvemóxidosdenitro-génio(NOx),monóxidodecarbono(CO),metano(CH4)ecompostosorgânicosvoláteis(COVs)napresençadeluzsolar.Principalmentenosmesesdeverão,verificam-secondiçõespropíciasàsuaformação,nomeadamente,diasdeinsolaçãointensaeconstante,temperaturaselevadaseventofraco.Portanto,seatemperaturasubir,éexpectávelumaumentodaproduçãodeozonoespecialmentenasáreasurbanasenaszonasenvolventes(Smithetal.,2014).

Apesardenãofazerpartedoâmbitodesteestudodeterminaraconcentraçãodosprecurso-resdeozonosoboscenáriosdasalteraçõesclimáticas,érazoávelassumirqueoaumentodaurbanização,ousodecombustíveisdebiomassaeodesenvolvimentoindustrialcomausênciadecontrolodeemissões,conduzirãocertamenteaumaumentodosprecursoresquímicosdoozono.ComomostraaFigura4,todososcenáriosclimáticosusadosnesteestudoapontamparatemperaturasmaisaltas.ConsequentementeémuitoprovávelqueosníveisdeozononoFunchalaumentem,assimcomo,osimpactesrespiratóriosassociados.Esteimpacteéprovávelqueaumenteàmedidaqueatemperaturaaumenta,estimando-sequenumcenárioclimáticodecurtoprazopossaresultarumimpactenegativonasaúde,quemuitoprovavel-mentesetransformaránumclaroimpactenegativoamédioprazo(paraoscenáriosA2eB2)eatinjaníveiscríticosdepreocupaçãoparaasaúdealongoprazoparaambososcenáriosclimáticos.

frequência,períodoscomfaltadedados.DeacordocomaOMS,paraavaliaroimpactenasaúde,apenasosdadosdasestaçõesdemonitorizaçãocom90%deeficáciadevemserusados,peloquelimitámosanossainvestigaçãoaoperíodoentre2006e2010.Duranteesteperíodo,osníveisdeO3nãoexcederamoslimiaresquerequeremaemissãodeavisosdesaúdepública.Noentanto,osvaloresdeconcentraçãodePM10estabelecidosporleiparaproteçãodasaúdeforamexcedidosfrequentemente.

3.2.1. Partículas (PM10)

Aspartículasinaláveis–PM10–constituemumdospoluentesatmosféricoscommaiorimpactenasaúdepública.Aexposiçãoaestaspartículaspodeconduzirasituaçõescomoirritaçãonosolhos,narizegargantaetosse,eaoaparecimentodedoençaspulmonarescrónicas.

Duranteoperíododeestudo(2006-2010),aconcentraçãoanualmédiadePM10foide26,9ug/m3.

Oanode2009foioanocommenoresníveisdePM10(concentraçãoanualmédiade21.6ug/m3),enquanto2004foioanocomosníveisdePM10maiselevados(concentraçãoannualmédiade30.4ug/m3).EstesvaloresanuaisdePM10encontram-seacimadosvaloresdereferênciadaOMS(<20ug/m3),oquepoderáacarretarumclaroimpactenegativonasaúdedapopulação(vulnera-bilidadeatualmuitonegativo).

AsconcentraçõesdePM2.5noFunchalsãotambémmedidaspelomesmosistemadarededequalidadedoar.ArelaçãoPM2.5/PM10éfrequentementeinferiora0,5indicandoqueamaioriadaspartículasquecompõeafraçãodePM10édeorigemnatural(poeirasdodeserto,incêndiosflorestais,etc.)enãoprovenientedasatividadeshumanaslocaiscomootráfegoautomóvel.Estassãoasquesãoinfluenciadaspelossistemasdetransportedelongocurso.

AsconcentraçõesfuturasdePM10dependemdoclimaedasemissõesfuturas.ComoaavaliaçãodasemissõesfuturasdePM10nãofazpartedoâmbitodesteestudo,procedeu-seàavaliaçãodosimpactesdasalteraçõesclimáticasnasconcentraçõesfuturasdePM10,assumindoqueosníveisatuaisdeemissõesantropogénicasseirãomanter.Numclimamaissecoequente,émuitoprovávelqueoriscodeincêndiosflorestais/silvestresaumente,aumentandoassimasemissõesdePM10,especialmentenosmesesmaisquentes.Geralmente,apósumeventodeprecipitação,osníveisdePM10decrescem,umavezqueaspartículassãodepositadasnosolo.Assim,numclimafuturocommenosdiasdeprecipitação,éprovávelqueaconcentraçãodePM10aumente.Emconclusão,assumindoosníveisatuaisdeemissõesantropogénicasnumclimamaissecoequente,éprovávelqueaconcentraçãodePM10aumenteemrelaçãoaopresente,econsequentementeomesmoaconteçacomosimpactesnasaúderespiratóriaecardiovascularassociadosaníveismaiselevadosdePM10.Oimpactenegativonasaúdeéprovávelqueaumentegradualmenteduranteopróximoséculoatingindoníveiscríticosàmedidaquenosaproximarmosdofinaldoséculo.

3.2.2. Ozono troposférico

Osimpactesnasaúderelacionadoscomaexposiçãoaoozonotroposféricoresultamdofactodoozonoserumpoderosooxidante,capazdedanificarostecidosdoaparelhorespiratórioedospulmões.Oozonoétambémconhecidoporcausardanosnavegetaçãoenosecossistemas.

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SAÚDE SAÚDE30 31

transportadopeloar.Osresultadosdestaavaliaçãoencontram-seresumidosnaTabela4.Geral-mente,oestudoindicaqueosmaioresníveisdepólenestransportadospeloventoocorrememdiascomhumidaderelativaentre50e60%eníveisbaixosdeprecipitaçãoedevelocidadedovento.Apesardaamplitudetérmicaparaailhasermuitopequena,paraalgunstiposdepólenes(incluindopólenesdeUrticaceaeeAsteraceae),asmaiorescontagensverificam-sequandoastemperaturassãomaiselevadas.

Tabela 3 – Período de polinização, níveis de alergenicidade e efeitos na saúde para as três espécies/famílias de plantas com pólenes predominantes na atmosfera do Funchal

ESPÉCIE PERÍODO DE POLINIZAÇÃO ALERGENICIDADE EFEITOS NA SAÚDE

AlfavacadeCobra/ErvaParietária(Urticaceae)

Longoperíododepolinizaçãocomfrequênciasmáximasemabrilemaio MuitoElevada

Induzcomfrequênciapolinose,asmaeconjuntiviteemindivíduossensibilizados

Gramíneas(Poaceae) Quasetodooano,preferencial-mentedejaneiroajulho Elevada Desencadeiaexacerbaçõesdeasma

brônquica

Losna/Absinto/Artemísia(Asteraceae)

Todooano,compicosmaisacentua-dosentremaioejulho Elevada

Induzcomfrequênciapolinose,asmaeconjuntiviteemindivíduossensibilizados

Outrosestudosdisponibilizamevidênciasdequequantomaisquenteestiveroclimamaiorseráaproduçãodepólenes.AexposiçãodasplantasaconcentraçõesmaiselevadasdeCO2 tambémfavoreceoaumentodaproduçãodepólen(Burge&Rogers2000).

DosdadosresumidosnaTabela4,estimámosquecercade65%daconcentraçãototaldepólentransportadopeloarnoFunchalsãosensíveisaoclima.Ostrêstiposdepólenessensíveisaoclimaetambémconhecidosporteremumelevadopotencialalérgicoforamidentificados:Urti-caceae,PoaceaeeAsteraceae.Éimportanteassinalarqueestessãotambémostiposdepólenresponsáveispelamaioriadasensibilizaçãorelacionadacompólenesempacientescomrinite(Câmaraetal,2001).

Osistemademonitorizaçãodepólenestransportadospeloaratual(RedePortuguesadeAerobiologiapromovidapelaSociedadePortuguesadeAlergologiaeImunologiaClínica)temdadosparaospólenesdasduasfamíliasdeplantasmaisabundantesnaatmosferadoFunchal(UrticaceaeePoaceae).AFigura7mostraomapapolínicoparaestesdoistiposdepólen,comainformaçãodeoutubrode2008adezembrode2013.

Daanálisedestesmapaspodemosconstatarqueosmaioresníveisdepólenesocorremnosmesesdeabrilajulhoparaambosostiposdepólenes.Nãosurpreendentemente,estessãoosmesesemqueocorremmaisalergiasrelacionadascompólenes.

3.2.3. Pólenes

Opólenéumdospoluentesresponsáveisporprovocaralergias.Aformaçãodegrandeseconcentradasfontesdeemissãodepólenesestádiretamenteligadaàbaixadiversidadedeespéciesutilizadasemespaçosverdeseviaspúblicasurbanas(D’Amato,2007;Cariñanos,2011).Aspessoasquevivememáreasurbanastêm20%maisprobabilidadedesofrerdealergiasaopólendoqueaspessoasquevivememáreasrurais(D’Amato,2007;Ogren,2002).

AprincipalcausadealergiaporpólenesoupolinoseemPortugalassimcomoemoutrospaísesdaEuropanaregiãoMediterrâneasãoasGramíneas(“fenos”),seguidadaErvaParietária(“ervasdaninhas”)eentreasárvoresopólendaOliveiraéoprincipalresponsávelpelasalergias(SPAIC).

OsdadosdemonitorizaçãodepólenesindicamdiferençasnotificáveisnoespectrodepólenesatmosféricosentrePortugalcontinentaleoFunchal.NoFunchalpredominamasespéciesPoa-ceaeeUrticaceae,plantasornamentais(Asteraceae,Boraginaceae,Cupressaceae)easdacostanortedacidade(Ericaceae,MyrtaceaeePinaceae).Aprimaveraeoiníciodoverãosãoosmesescomumamaiordiversidadeeconcentraçãodepólenes(Camaraetal.,2009).

Aconcentraçãodepólenexistentenaatmosferadependedoperíododepolinizaçãoespecíficoparacadaespécieedainfluênciadasvariáveismeteorológicas(temperatura,precipitaçãoevento).Osciclospolínicosvariamderegiãopararegiãoedeanoparaano.

Asalergiasdesenvolvem-seapartirdaexposiçãorepetidaecontinuadaporumlongoperíododetempoadeterminadaconcentraçãodealergénios(substânciasquecausamreaçõesalérgi-cas)existentesnopólendasplantas(Ogren,2000),queaoentraremcontactocomasmucosasdonariz,olhosebrônquios,semanifestamporinúmerossintomasalérgicos,comoafebredosfenos,aasma,arinite,aconjuntiviteealgumasalergiascutâneas.

SegundooInternationalStudyofAsthmaandAllergiesinChildhood,aMadeiraéaregiãodePortugalqueapresentaumaprevalênciaegravidadedaasmamaiselevadas(Almeida&Pinto,1999).Constata-seaindaque,noFunchalexistemíndicesdemaiorgravidadedeasmabrônquicadoquenorestanteterritórioportuguês(Almeidaetal,2001).

AsensibilizaçãoaospólenesmaisfrequentesnaatmosferadoFunchalatingeos61,3%.UmestudosobreosníveisdesensibilizaçãoaospacientescomriniteadmitidosnoHospitalCentraldoFunchalmostraquemaisde60%doscasoseramsensíveisaopólen.Asfamíliasdepólenesqueseencon-travamassociadasaomaiornúmerodecasosdepolisensibilizaçãoforam:Urticaceae,Poaceae,eAsteraceae(Câmaraetal,2001).ATabela3mostraoperíododepolinizaçãoeosprincipaisefeitosnasaúdeparaastrêsespéciesdeplantascompólenesmaisfrequentesnoFunchal.

NotrabalhoelaboradoporIreneCamacho(2007)nasuatesededoutoramento,comdadospolínicosparaosanosde2002a2004,foramidentificadasasfamíliasdeplantascujospólenesestãopresentesnaatmosferadoFunchal.Nesteestudofoiefetuadaumaanáliseestatís-ticaparaavaliaroimpactedascondiçõesmeteorológicasnosníveisdecadatipodepólen

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SAÚDE SAÚDE32 33

PÓLEN ANO J F M A M J J A S O N D

Alfavaca de Cobra/Erva Parietária (Urticaceae)

2008 - - - - - - - - -

2009

2010

2011

2012

2013

PÓLEN ANO J F M A M J J A S O N D

Gramíneas(Poaceae)

2008 - - - - - - - - -

2009

2010

2011

2012

2013

Níveis concentração de pólenes na atmosfera do FunchalElevados(>60grão/m3) Moderados(30-60grão/m3) Baixos(1-30grão/m3) Sem(0grão/m3)

Figura 7 – Mapa polínico para os pólenes de Urticaceae e Poaceae. A informação apresentada nos mapas polínicos foi expressa em grãos por m3 de ar (informação extraída dos Boletins Polínicos da Rede Portuguesa de Alergologia)

Oimpactedasalteraçõesclimáticasnosníveisdepólennosseusdoistiposmaisrelevantesparaasaúde(UrticaceaeePoaceae)noFunchalforaminvestigadostendoemconsideraçãoque:

1 ) Umclimamaisquenteéprovávelqueacarreteumaumentodaproduçãodepólen

2 ) NíveismaiselevadosdeCO2sãoexpectáveisefavorecemaproduçãodepólen

3 ) Abaixaprecipitaçãoeafracavelocidadedoventosãoexpectáveisdefavorecerosníveisdepólentransportadospeloar.

Tabela 4 – Níveis de alergenicidade, influência das variáveis meteorológicas e concentração de pólenes transportados pelo ar das diferentes famílias de plantas entre 2002 e 2004 (resumo de Camacho, 2005)

FAMÍLIA ALERGENICIDADEINFLUÊNCIA

DAS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS

CONCENTRAÇÃO (%) DE PÓLENES TRANSPORTADOS

PELO AR

Urticaceae MuitoElevadaTemperatura,Precipitação,

Humidade26.14

Poaceae Elevada Precipitação 14.02

Corylaceae Média - 8.65

Myrtaceae Baixa - 8.11

Pinaceae Baixa Temperatura 6.25

Ericaceae Média Precipitação 6.06

Cupressaceae Média Temperatura 5.28

Chenopodiaceae--Amaranthaceae

Média - 3.66

Papilonaceae Média Vento 3.27

Asteraceae Elevada Temperatura 2.83

Myricaceae Baixa - 1.32

Euphorbiaceae Média - 1.27

Plantaginaceae Média Precipitação 1.22

Boraginaceae Baixa - 1.17

Polygonaceae Baixa - 1.03

Fabaceae Média - 0.98

Solanaceae Baixa - 0.98

Gingkoaceae Baixa Temperatura 0.88

Nyctaginaceae Baixa - 0.68

Platanaceae Elevada Vento 0.68

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SAÚDE SAÚDE34 35

NaFigura8comparámoscadacenárioclimático(%dediaspormês)comcondiçõesdefracapreci-pitação(<2mm/dia)evelocidadedoventofraca(<5Km/hora)relativamenteaoclimadereferência.Alteraçõesnamédiamensaldastemperaturasforamtambémcomparadas.Apresenta-setambémoimpacteglobalprovávelnosníveisdepólenconsiderandoestastrêsvariáveisclimáticas.

Osresultadossugeremquenocenáriodecurtoprazo(2010-2039)oimpactedaconcentraçãodepólenesnoFunchaltendeadiminuirnoverãoeaumentarnaprimavera.Apesarestasituaçãopoderresultarnodesenvolvimentodealergiasmaiscedonoano,éprovávelqueofimdoperíododealergiassazonaisrelacionadascomopólencheguetambémmaiscedo,oquelevaaqueoimpacteanualglobalprovavelmentepermaneçasimilaraocenáriodereferência(Vulnerabilidadeatualnegativo).

Emrelaçãoaoscenáriosdemédioprazo(2040-2069),paraambososcenáriosA2eB2,oimpactetendeadiminuirnoverãoeaaumentarnosmesesmaisfrios.NocenárioB2asitua-çãoémaisgravosacomoaumentodoimpactedaconcentraçãodepólenesaverificar-seempraticamenteemtodososmesesdoano,comexceçãodejunhoejulho.Consequentementeéprovávelqueoimpactenasaúderelacionadocomestasalteraçõesdosníveisdepólensigaamesmatendência:aumentodasalergiasrelacionadascompólenesmaiscedonoanoeumligeiroprolongamentodoperíodosazonaldealergias.Emgeral,conclui-sequeumaumentodosimpactesnegativosnasaúdeassociadosaexposiçõesaopólenpodeserexpectávelduranteesteperíodoquandocomparadocomoperíododereferência.

Alongoprazo(2070-2099)asituaçãoparaambososcenáriosésemelhantecomoimpacteadiminuirnoverãoeaaumentarnosmesesmaisfrios.

3.3. Doenças transmitidas por vetores

Asdoençastransmitidasporvetoressãodoençasinfeciosastransmitidasaossereshumanoseaoutrosvertebrados,porinvertebrados(vetores)comoosmosquitoseascarraças,infetadosporagentespatogénicos.Estasdoençasapresentam,frequentemente,padrõessazonaisdistintosquesugeremumaclaradependênciadoclima.Estassãoalgumasdasdoençasassociadasàsalteraçõesclimáticasmaisbemestudadas,devidoàsuaocorrênciageneralizadaesensibilidadeaosfatoresclimáticos(Smithetal.,2014).

Atransmissãodestasdoençassãoinfluenciadaspelacopresençadereservatóriosadequadosepelaexistênciadepopulaçõesdevetoresedeagentespatogénicosemnúmerosuficienteparamanteratransmissão.Atransmissãoaossereshumanosrequercontacto(exposição)comovetorquetransportaoagenteinfecioso.Estaexposiçãoéinfluenciadaporumagrandevarie-dadedefatoresincluindoocomportamentohumano,circunstânciassocioeconómicas,práticasdegestãoambientaletiposequalidadedecuidadosdesaúde.Atransmissãodadoençaocorremaioritariamentequandotodososfatoresacimaindicadossãofavoráveis,sendoqueumclimaapropriadoétambémnecessárioapesardenãoser,contudo,umacondiçãosuficiente,paraatransmissãodestetipodedoençasaossereshumanos.

CURTO PRAZO ANO J F M A M J J A S O N D

A22010–2039

Temperatura

Ventofraco

Precipitaçãofraca

Impacte

MÉDIO PRAZO ANO J F M A M J J A S O N D

A22040–2069

Temperatura

Ventofraco

Precipitaçãofraca

Impacte

MÉDIO PRAZO ANO J F M A M J J A S O N D

B22040–2069

Temperatura

Ventofraco

Precipitaçãofraca

Impacte

LONGO PRAZO ANO J F M A M J J A S O N D

A22070–2099

Temperatura

Ventofraco

Precipitaçãofraca

Impacte

LONGO PRAZO ANO J F M A M J J A S O N D

B22070–2099

Temperatura

Ventofraco

Precipitaçãofraca

Impacte

Figura 8 – comparação da média da temperatura mensal, dias com velocidade do vento baixa e dias com precipi-tação fraca para diferentes cenários climáticos relativamente ao cenário de referência para o Funchal. O impacte da possível alteração climática nos níveis de pólen é apresentado para cada mês. As setas vermelhas indicam um aumento global no número de dias por mês, enquanto as setas verdes indicam um decréscimo global. O sinal de igual sugere alterações mínimas em relação ao cenário de referência.

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SAÚDE SAÚDE36 37

3.3.1.1. Aedes aegypti

Em2005,omosquitoAedes aegyptifoidetetadonafreguesiadeSantaLuzia,Funchal.Apesardasmedidasdecombate,comrecursoadesinfestações,adotadaspelasautoridadesdesdeOutubrode2005,omosquitoestabeleceu-senailhaeéhojeuma“praga”noconcelhodoFunchaleCâmaradeLobos.AabundânciarelativadeAedes aegypti,determinadanailhadaMadeiranoestudoREVIVE2013,foide39%paramosquitosadultose88%paramosquitosimaturos(REVIVE2014).

EstemosquitofoiovetorresponsávelpelosurtodeDenguenaMadeiraqueocorreuem2012/2013.OAedes aegyptitambéméovetorquetransmiteovírusdefebre-amarela,febrechikungunyaassimcomomuitosoutrosvírus.

OimpactepotencialdasalteraçõesclimáticasnatransmissãodedenguenaMadeirafoiavaliadoemdetalhecomodescritoemCasimiroetal.,2015.Nesteestudooriscopotencialdetransmis-sãodadenguenaMadeirafoiavaliadoparadiferentescenáriosclimáticostendoemconside-raçãoosjámencionadosfatoreschavedetransmissãodadoençarelacionadoscomoclima:adensidadedomosquito,areplicaçãodovírusdadengueeocontacto“mosquito–serhumano”.

NaFigura9apresentamosascondiçõesdetemperaturamaisadequadasparaatransmissãodadengueemcadaconcelhoparatodososcenáriosclimáticos.

Osresultadosmostramqueparaoperíododereferência(baseline)avaliadocombasenastemperaturasambiente,ostrêsconcelhoscompotencialriscodetransmissãodadenguemaiselevadoforamRibeiraBrava,MachicoeFunchal.Contudo,considerandoquenamaioriadosmeses,apercentagemdediasadequadosparaatransmissãodadoençafoiinferiora25%,considerou-sebaixooriscoglobaldetransmissãodadengue(vulnerabilidadeatualnegativo).Setembrofoiomêsemqueoriscodetransmissãofoisuperiorseguidodosmesesdeoutubroeagosto.ApenasnaRibeiraBravaseobservarammesescommaisde25%dosdiasfavoráveisàtransmissão.

Osresultadosdeavaliaçãoparaocenáriodecurtoprazoindicamqueonúmerodedias(numano)adequadosparaatransmissãoduplicaquandocomparadoscomocenáriodereferência.AFigura9mostraqueapercentagemdediaspormêsadequadaparaatransmissãoaumentaemtodososmesesconsiderados.Agostoesetembrotêmamaiorpercentagemdediasadequa-dosparaatransmissão,seguidosdosmesesdeoutubroejulho.Machicopermanececomooconcelhocomoriscodetransmissãomaiselevado,maisnotórionomêsdesetembrocom60%dosdiasfavoráveisparatransmissão.RibeiraBrava,MachicoeFunchalsãoosúnicosconcelhosareportarmesescommaisde25%dosdiasdentrodastemperaturasadequadasparatransmis-sãodadoença.Duranteesteperíodo,oriscoglobaldetransmissãodadengueéavaliadocomobaixo-médio.

Ambososcenáriosclimáticosdemédioprazomostramumaumentonoriscodetransmissãodadengue,resultandonumaumentodonúmerodediasadequadosparaatransmissãodadoença.

Osefeitosdasalteraçõesclimáticasnapropagaçãodedoençastransmitidasporvetoresestábemdocumentado(Smithetal.,2014).ConsiderouquePortugalpoderiaserparticularmenteafetadoporestefenómeno,umavezqueéumdospaíseslocalizadosmaisaSulnocontinenteEuropeueéumaponteidealparaocontinenteAfricanoeAméricadoSul.ARAMéespecial-mentevulnerávelaestefenómenodadoterumclimaameno,umamarinaeumaeroportoativos,osquaissão,frequentemente,locaisfavoráveisparaapropagaçãodesurtosdedoençastransmitidasporvetores.

Considerandoquemuitoprovavelmenteasalteraçõesclimáticasemcursoirãoprovocarumaumentodetemperatura,discute-senopresentecapítulooseupossívelimpactosobreasdoençastransmitidasporvetoresnaIlhadaMadeira.

AsdoençastransmitidasporvetoresconsideradasmaispreocupantesparaaMadeiraforamidentificadascombaseemevidênciacientíficadisponível.Asdoençasqueoferecemumamaiorpreocupaçãoemsaúdepúblicasãoastransmitidaspormosquitosecarraças,sendoportalmotivoobjetodeumaavaliaçãomaisaprofundada.

3.3.1. Doenças transmitidas por mosquitos

Globalmente,osmosquitosvetoressãoresponsáveisporalgumasdasmaiorespreocupaçõesdesaúdepública.Consequentemente,diversospaísestêmimplementadossistemasdevigilânciaecontrolodestesvetores.ATabela5apresentaalistadasespéciesavaliadaseidentificadasnosestudosdevigilânciamaisrecentesrealizadosparaailhadaMadeira(REVIVE,2014).Combasenestainformação,focámosestaavaliaçãonasdoençastransmitidaspelosmosquitosCulex pipienseAedes aegypti,vistoseremasduasespéciesdemosquitosatualmentepresentesnailhaquerepresentampreocupaçõesdesaúdepública.

Tabela 5 – Mosquitos avaliados e identificados na Madeira (REVIVE, 2014)

MOSQUITOPRESENÇA NA MADEIRA

PREOCUPAÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA

Culex (Culex) pipiens Sim Sim,vetordoVírusdoOestedoNilo

Ochlerotatus (Ochlerotatus) caspius Não Sim,vetordoVírusTahyna&VírusdoOestedoNilo

Culex (Culex) theileri Não Sim,vetordoVírusdoOestedoNilo

Culiseta (Allotheobaldia) longiareolata Sim Não

Culex (Culex) perexiguus Não Sim,vetordoVírusdoOestedoNilo

Culex (Barraudius) modestus modestus Não Sim,vetordoVírusTahyna&VírusdoOestedoNilo

Anopheles (Anopheles) maculipennis Não Sim,vetordaMalaria&doVírusdoOestedoNilo

Aedes (Stegomyia) aegypti Sim Sim,vetordaDengue&Febre-Amarela

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SAÚDE SAÚDE38 39

Machico J F M A M J J A S O N D

Baseline 1% 0% 0% 0% 1% 1% 3% 13% 21% 17% 7% 2%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 1% 0% 1% 1% 1% 2% 7% 33% 60% 43% 10% 4%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 1% 1% 1% 1% 1% 4% 18% 56% 69% 52% 16% 6%

B2 2% 1% 1% 1% 1% 2% 20% 47% 59% 44% 21% 6%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 7% 5% 2% 3% 5% 22% 73% 94% 97% 88% 54% 22%

B2 4% 1% 2% 2% 2% 8% 39% 75% 85% 64% 25% 8%

Ribeira Brava J F M A M J J A S O N D

Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 7% 29% 26% 3% 0% 0%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 9% 52% 35% 4% 0% 0%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 2% 26% 65% 45% 10% 0% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 1% 31% 51% 40% 8% 0% 0%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 0% 0% 0% 0% 1% 22% 76% 86% 72% 34% 7% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 6% 51% 72% 62% 17% 1% 0%

Santa Cruz J F M A M J J A S O N D

Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 0% 0%

CurtoPrazo(2010_2039)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 2% 4% 6% 1% 0% 0%

MédioPrazo(2040_2069)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 5% 14% 21% 4% 0% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 4% 10% 10% 2% 0% 0%

LongoPrazo(2070_2099)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 5% 42% 62% 59% 19% 2% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 1% 10% 28% 32% 6% 0% 0%

Porto Moniz J F M A M J J A S O N D

Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 3% 2% 1% 1%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 0% 1% 0%

Santana J F M A M J J A S O N D

Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Funchal J F M A M J J A S O N D

Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 5% 8% 1% 0% 0%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 4% 32% 23% 2% 0% 0%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 14% 49% 37% 6% 0% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 15% 34% 29% 4% 0% 0%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 12% 69% 85% 73% 30% 3% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 2% 36% 61% 56% 10% 0% 0%

Ponta do Sol J F M A M J J A S O N D

Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 5% 8% 3% 0% 0%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 2% 12% 16% 5% 0% 0%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 7% 28% 25% 8% 1% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 7% 18% 20% 8% 1% 0%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 0% 0% 0% 0% 1% 7% 45% 65% 56% 25% 8% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 1% 16% 38% 40% 13% 2% 0%

Calheta J F M A M J J A S O N D

Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 2% 1% 0% 0%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 4% 6% 3% 0% 0%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 8% 12% 4% 0% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 2% 5% 8% 4% 1% 0%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 2% 22% 42% 39% 16% 6% 1%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 5% 16% 24% 6% 1% 0%

C. de Lobos J F M A M J J A S O N D

Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 3% 4% 2% 2%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 2% 0%

São Vicente J F M A M J J A S O N D

Baseline 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 0%

B2 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Figura 9 - Evolução dos períodos favoráveis do risco de transmissão da dengue na Madeira para diferentes cenários climáticos

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SAÚDE SAÚDE40 41

OFlavivírusOestedoNiloéoagentepatogénicoresponsávelpelafebrecomomesmonome,caracterizadaporumasíndromafebril,tipogripalecujasmanifestaçõesmaisgravestomamaformadeencefalitequepodeserfatal.OsreservatóriosdovírusdoOestedoNilonanaturezaincluemváriostiposdeaves,quenãosucumbemaovírus,mantendo-oemcirculaçãootemposuficienteparaqueosmosquitosseinfetemaopicá-lasedepoisospossamtransmitiraohomemeaocavaloquepode,igualmente,serfatalmenteafetado.Atransmissãoviraléaindamaiscom-plexaquandocomparadacomovírusdodengue,tornandoasmedidasdecontrolomaisdifíceis.

Comoamaioriadosartrópodes,atemperaturaéumdosfatoresabióticosmaisimportantesqueafetaodesenvolvimentoesobrevivênciadoCulex pipiensemtodasasfasesdoseuciclodevida.AsobrevivênciadeumindivíduoCulexadultoépossívelqueocorraentreos15°Ceos28°C(Spielman2001&Gazaveetal.2001).Masointervaloidealdesobrevivênciaparatodasasfasesdedesenvolvimentoocorreentre20-30°C.Atemperaturaótimarondaos25°C,onde76%daslarvasatingeafaseadulta(Loettietal.,2011).

Atransmissãodadoençaétambéminfluenciadaporumperíodoextrínsecodeincubação(PEI).OPEIcomeçacomomosquitoafazerumarefeiçãodesangueinfetadodeumhospedeirovirémico.OvírusdoOestedoNilopresentenosangueentranointestinomédiodomosquito,replica-see,eventualmente,dissemina-seportodoomosquito,quesetornainfeciosoapartirdomomentoemqueatingeasglândulassalivares,alturaemqueomosquitosetornainfe-ciosocompletandooPEI.TemperaturasambienteselevadasfavorecemumacurtareplicaçãoviralresultandoemPEImaiscurtos.UmPEIinferiora30diasfoicalculadoparatemperaturasambientesentre22-30°C(Reisenetal.,2006).

AtemperaturaambientepodeterimpacteemdoisfatoreschavedatransmissãodadoençadoOestedoNilo:adensidadedomosquito(indicadordodesenvolvimentoesobrevivênciadomosquito)comcondiçõesdetemperaturafavoráveisentre20-30°C,enquantoqueumatemperaturaentre22-30°Csemostraadequadaparaataxadereplicaçãoviral.Umavezqueestesdoisintervalosdetemperaturasãomuitosimilares,nesteestudoutilizámosointervalodetemperaturaentre20e30°CcomoindicadordascondiçõesclimáticasadequadasparaoriscodetransmissãodovírusdoOesteDoNilo.

AinformaçãoacercadapresençadovírusdoOestedoNilonaregiãoéescassa.NãoexistematualmentecasosdovírusdoOestedoNiloendémicosreportadosnaRAMedeacordocomonossoconhecimentonãoexistenenhumapopulaçãolocaldeavesinfetada.Seovírusnãoestiverpresentenaregião,oriscodetransmissãodadoençaéinsignificanteparatodososcenáriosclimáticos.

Contudo,considerandoqueomosquitoestápresentenailhaeestaézonafrequentadaporavesmigratórias,paraasquaisconstituiumverdadeirosantuário,existeumriscorealdovírusserintroduzidonaregiãoporavesmigratórias,portadorasdevírusprovenientesdezonasendé-micas.Destaforma,avaliámosoriscopotencialdetransmissãodafebredoOestedoNiloparadiferentescondiçõesclimáticas.Estaavaliaçãoassumeapresençadovírusnaregião.

Agostoesetembropermanecemcomoosmesescomummaiornúmerodediasfavoráveisseguidodosmesesdeoutubro,julhoenovembro.NocenárioA2existemquatroconcelhos(Machico,RibeiraBrava,FunchalePontadoSol)commesesareportarmaisde25%dias/mêsfavoráveisàtransmissãodadoença.NocenárioB2,estecritériodetransmissãodadoençaveri-fica-seemMachico,RibeiraBravaeFunchal.Oriscodetransmissãodadoençaparaesteperíodoavaliadoestima-sequesejamédioparaambososcenários.

Nocenáriodelongoprazo,observamosnovamenteumaumentosignificativononúmerodediasadequadosparatransmissãodadengue.Ambososcenários(A2eB2)reportamcincoconce-lhoscommesesateremmaisde25%dosdiasdentrodointervaloadequadodetemperaturaparaatransmissãodadoença.Istorepresentametadedosconcelhosavaliados.OsresultadosmostramquenoMachicooriscodetransmissãodadenguepodeviraserpossívelaolongodetodooano.NocenárioA2oriscodetransmissãodadoençaémaiselevadoemjulho,agostoesetembro,mastambémsignificativoemoutubroenovembro.NocenárioB2oriscodetransmis-sãodadengueémaisaltoemagostoesetembro,mastambémsignificativoemjulhoeoutubro.Oriscodetransmissãodadenguenoperíodoavaliadoestima-sequesejamédioparaocenárioB2ealtoparaocenárioA2.

OriscodetransmissãodadenguediscutidonestasecçãoassumequeovírusdadengueestavapresentenaMadeira.Seovírusnãoestiverpresente,entãoosriscosdetransmissãodadoençaparatodososcenáriosserãoinsignificantes(vulnerabilidadeneutro).

Estemosquitoétambémconhecidoporserovetordedoençascomoafebre-amarelaeafebrechikungunya.Atualmentenãoexistemcasosconhecidosdetransmissãolocaleassume-sequeapopulaçãodeAedes aegyptinaMadeiranãoestáinfetadacomestesvírus,oquetornaoriscodetransmissãodestasdoençasinsignificante.Comoambasasdoençassãoinfeçõesviraistransmi-tidaspelomesmovetorquetransmiteovírusdadengue,érazoávelassumirqueseapopulaçãolocaldomosquitoficarinfetadacomumdosreferidosvírus,oimpactedoriscodetransmissãodadoençarespetivaserásimilaraoriscodetransmissãodadengue(discutidoacima).Estasituaçãoéválidaparatodososcenários.

3.3.1.2. Culex pipiens

Culex pipienséummosquitocomumemPortugal,estandoabundantementedistribuídoportodasasregiõesincluídonaRAM(REVIVE2014).Éumaespécieconsideradaprimariamenteorni-tofílica,emboraestejademonstradoquesealimentedeoutrosvertebradosdesanguequente,incluindohumanos.Picamaisfrequentementeduranteanoite,aocontráriodoAedes aegypti quepica duranteodia.

Estemosquitoestáenvolvidonacirculaçãodeváriosarbovírusnanatureza,nomeadamenteoFlavivírusOestedoNilo,ovírusresponsávelpelafebredoOestedoNiloemsereshumanos.OmosquitoestátambémenvolvidonacirculaçãodeprotozoárioscomimportâncianaveterináriatalcomoDirofilaria immitis.NopresenterelatórioavaliamosoimpactedasalteraçõesclimáticasnatransmissãodovírusdoOestedoNilo.

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SAÚDE SAÚDE42 43

NaFigura10apresentamosascondiçõesdetemperaturamaisadequadasparaatransmissãodafebredoOestedoNiloemcadaconcelhodailhadaMadeiraparatodososcenáriosclimáticos.

Duranteoperíododereferência(1970-1999)quatroconcelhos(Machico,RibeiraBrava,FunchalePontadoSol)tiveramtemperaturasambientefavoráveisparaatransmissãodadoençaemváriosmeses.Osmesesondeoriscodetransmissãofoimaiorforamagostoesetembro.Seconsiderarmosquequatroconcelhostiverammaisde50%dosdiasfavoráveisparaatransmis-são,concluímosqueoriscoglobaldetransmissãodadoençaduranteesteperíodofoimédio(vulnerabilidadeatualnegativo).

Nocenárioclimáticodecurtoprazo,osconcelhoscommaisdiasfavoráveisparatransmissãodadoençaaumentouparaseis,incluindoSantaCruzeCalheta.Agostoesetembropermanecemcomoosmesescommaisdiasfavoráveisparatransmissãodadoença.OriscodetransmissãodafebredoOestedoNiloduranteestecenárioclimáticoestima-sequesejamédio.

Quandoconsideramosascondiçõesclimáticasparaoscenáriosdemédioprazo,notamosumclaroaumentononúmerodediasfavoráveisparatransmissãodadoença.Oriscodetransmis-sãopermanecemaisaltonosconcelhosdeMachico,RibeiraBrava,Funchal,PontadoSol,SantaCruzeCalheta.Apesardeagostoesetembroseremosmesescommaisdiasfavoráveisparaatransmissão,existetambémumaumentosignificativodediasfavoráveisemjulhoeoutubro.Concluímosqueoriscoglobaldetransmissãoserámédio-alto.

Oclimamuitomaisquenteesperadoparaambososcenáriosdelongoprazo,resultaránumaumentosignificativononúmerodediasfavoráveisparaatransmissãodovírusdoOestedoNilo.OaumentoémaispercetívelnocenárioA2ondeonúmerodeconcelhoscomamaioriadosdiasfavoráveisparaoriscodetransmissãodadoençapassaparasete,acrescentandoPortoMoniz.Namaioriadosconcelhososmesesdejunhoanovembroterãoamaioriadosdiasfavoráveisparatransmissãodadoença,consequentementeconcluímosqueoriscoglobaldetransmissãodafebredoOestedoNiloéalto.

3.3.2. Doenças transmitidas por carraças

Asdoençastransmitidasporcarraçastêmvindoaaumentarglobalmenteesãoatualmenteumapreocupaçãosignificativadesaúdepúblicanamaioriadospaíseseuropeus(Randolph,2004).

Adinâmicadetransmissãodosagentesimplicadosemdoençastransmitidasporcarraçascaracterizaseporumsistemacomplexoquerequerapresençadoorganismopatogénico,deumvetorcompetenteeoseucontactocomoHomem,bemcomodehospedeirosreservatórios.Estesfatoressãoporsuavezinfluenciadosporumadiversidadedecondicionantesnasquaisseincluemvariáveisecológicas,demográficas,socioeconómicaseclimáticas.

Ascarraçaspassamporquatrofasesduranteoseuciclodevida:ovo,larva,ninfaeadulto.Elastêmquefazerumarefeiçãodesanguedeformaamudarparaapróximafasedevidaeproduzirovos.Duranteasduasúltimasfases,ascarraçaspodemmorderossereshumanosetransmitir

CalhetaCâmaradeLobos

FunchalMachico

PontadoSolPortoMoniz

RibeiraBravaSantaCruz

SantanaSãoVicente

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

J F M A M J J A S O N D

% d

ias

favo

ráve

is p

or m

ês

1970_1999

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

J F M A M J J A S O N D

% d

ias

favo

ráve

is p

or m

ês

2010_2039

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

J F M A M J J A S O N D

% d

ias

favo

ráve

is p

or m

ês

A2_2040_2069

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

J F M A M J J A S O N D

% d

ias

favo

ráve

is p

or m

ês

B2_2040_2069

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

J F M A M J J A S O N D

% d

ias

favo

ráve

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or m

ês

A2_2070_2099

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

J F M A M J J A S O N D

% d

ias

favo

ráve

is p

or m

ês

B2_2070_2099

Figura 10 – Evolução dos períodos favoráveis do risco de transmissão da febre do Nilo Ocidental na Madeira para diferentes cenários climáticos

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SAÚDE SAÚDE44 45

Borrelia sp.eétransmitidaaossereshumanospelapicadadecarraçasinfetadas.Ossintomastípicosincluemfebre,dordecabeça,fadigaeumaerupçãocutâneacaracterísticadenominadaeritemamigrans.Estaerupçãoocorreemaproximadamente60-80%daspessoasinfetadasecomeçacercade3-30diasapósapicadanolocaldamesma.Umacaracterísticadistintivadestaerupçãoéofactodeseexpandirgradualmentecentrifugamenteaolongodeváriosdias.Sedeixadasemtratamento,ainfeçãopodeafetarasarticulações,ocoraçãoeosistemanervoso.AmaioriadoscasosdeBorreliosepodesertratadacomsucessoatravésdousoadequadodeantibióticos.

AdoençadeLymeéumadoençadedeclaraçãoobrigatória(DDO)emPortugal.EmPortugalcontinentaloscasosclínicossãoreportadosanualmente,muitasvezesassociadoscomBorre-lia lusitaniae. Contudo,naMadeiranãotêmsidoreportadoscasosclínicosdedoençadeLyme(DGS,2014).

OimpactedasalteraçõesclimáticasnatransmissãodadoençadeLymefoiavaliadanesteestudoconsiderandooslimiaresdetemperaturaehumidaderelativaquefavorecemasmaioresdensidadesdeninfascomodescritoacima.NaFigura11apresentamosopotencialriscomensaldetransmissãodadoençadeLymeparatodososconcelhosetodososcenáriosclimáticos.Osvaloresindicadosnestafigurasãoapercentagemdediaspormêsemqueatemperaturaeahumidaderelativafavorecemadensidadedasninfas.AsuadensidadeéusadacomoindicadordatransmissãopotencialdadoençadeLyme.Seasninfasestiverempresentes(mesmoemdensidadeselevadas)masnãoestivereminfetadascomBorrelia sp.,entãooriscodetransmissãodadoençaéinsignificante.Estasituaçãoverifica-separatodososcenáriosclimáticos.

Noentanto,sabemosqueapopulaçãodeIxodes ricinusnaMadeiraestádefactoinfetadacomBorrelia sp.,equeexistemmuitosanimaisquepodemserutilizadoscomoreservatórios(ratos,aves,gado,cães,etc.)equeestãoinfetados.Portanto,atualmente,oriscodetransmissãodadoençaémédio(vulnerabilidadeatualmuitonegativo).Ocenáriodereferência/baselinemostraqueosconcelhosdeFunchal,RibeiraBrava,PontadoSoleCalhetativeramcondiçõesclimáticasmaisfavoráveisparaatransmissãodadoençadeLyme.Osnossosresultadosindicamqueosmesesdefevereiroajunhoforamaquelesemqueasdensidadesdeninfasforamsuperiores(econsequentementeoriscodetransmissãodadoença).Apresenteavaliaçãoestádeacordocomosresultadosdeestudosdecampoquemostraramqueasmaioresdensidadesdeninfasocorriamnaprimavera(Lopesetal.,2011).

Àmedidaqueasalteraçõesclimáticasprogridemeatemperatureseelevaemtodososcon-celhos,osresultadosobtidosrevelamumareduçãodascondiçõesclimáticasadequadasparatransmissãodadoençaduranteosmesesmaisquentes,aomesmotempoqueseverificaumaumentofavorávelparatransmissãodadoençanosmesesmaisfrios.Estatendênciaéobser-vadaemtodososconcelhos.Assimprevê-sequeoriscoglobaldetransmissãodadoençasemantenhamédiomascommudançanopicosazonal.

adoença.Oagenteinfetadoétransmitidoaossereshumanosquandoascarraçasinfetadascomopatogénicofazemumarefeiçãodesangue.Emboraatransmissãopossaocorrerdurantequalquerumadasfasesdociclodevida,afasedeninfaéconsideradaafasemaisimportantedatransmissãodadoençaaossereshumanos.Istoocorreporqueaprevalênciadainfeçãonasninfaségeralmentemaiselevadadoquenaslarvaseasninfassãomaisabundantesepequenas(menospercetíveis)doqueascarraçasnafaseadulta.

AMadeirapossuicondiçõesclimáticaseumafloraefaunafavoráveisàexistênciadediferentesespéciesdeixodídeos(carraças),comcapacidadeparatransmitirdiferentesagentespatogénicosaossereshumanos.

3.3.2.1. Ixodes ricinus

OsresultadosdeumrecenteestudodecampoconduzidonoprojetoClimaTickmostraramque95%detodasascarraçasrecolhidasnaMadeiraeramdaespécieIxodes ricinus.OutrascarraçascapturadasincluiramHaemaphysalis punctate, Rhipicephalus sanguineus, Haemaphysalis sulcataeRhipicephalus bursa(BernandesC.,etal.,2010).Nopresenteestudofocámosanossaavaliaçãonacarraça,Ixodes ricinusporestaseracarraçamaisabundante,eestarenvolvidanatransmis-sãodeumagrandevariedadedeagentespatogénicosdeimportânciamédicaeveterinária.

OsresultadosdoprojectoClimaTickrevelaramqueascarraças(Ixodoes ricinus)seencontramativasdurantetodooanonailhadaMadeira.Asdistribuiçõesmensaisdascarraçassãomuitodiferentesdependendodafasedociclodevidaemqueseencontra.Asninfastêmdensidadesmaiselevadasduranteaprimaveraenquantoaslarvastêmdensidadesmaioresnoverão.Adensidadedascarraçasnafaseadultaparecesermaiornosmesesmaisfrios.Nesteprojecto(ClimaTick)arelaçãoentreoclimaeadensidadedascarraçasfoiavaliadaemdetalhe.Osresul-tadosapresentaramumaclararelaçãonãolinearentreadensidadedascarraçaseasvariáveisclimáticas.Omelhormodeloparaadensidadedasninfasindicoumaioresdensidadescomtemperaturasambienteentreos8-20°Cehumidaderelativaentre50-83%(Lopesetal,2011).

NaMadeiraésabidodesdehámaisde15anosqueaIxodes ricinusseencontraminfetadascomoagenteinfeciosoBorrelia sp.(Matuschkaetal.,1998).InvestigaçõesmaisrecentesidentificaramqueIxodes ricinusnaMadeiraestáatualmenteinfetadacomBorrelia lusitaniae,váriasestirpesdeRickettsia sp.eAnaplasma phagocytophilum.Tambémnãofoiincomumencontraramesmacar-raçainfectadacommaisdoqueumdestesagentesinfeciosos(LopesdeCarvalho,etal.,2008).Estestrêsagentesinfeciosossãoumapreocupaçãodesaúdepública.

Nasubsecçãoqueseseguefocamo-nosnoimpactepotencialdasalteraçõesclimáticasnaMadeiranoriscodetransmissãodadoençadeLyme.Noentanto,umavezqueéamesmacarraçaqueseencontraenvolvidanatransmissãodeBorrelia sp.,Rickettsia sp.eAnaplasma phagocytophilum érazoávelassumirqueoriscodetransmissãodetodasestasdoençasésimilar.

Impacte das Alterações Climáticas na Transmissão da Doença de Lyme

ABorreliose,tambémconhecidacomodoençadeLyme,écausadaporváriasestirpesde

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SAÚDE SAÚDE46 47

Ribeira Brava J F M A M J J A S O N D

Baseline 52% 57% 63% 75% 84% 78% 33% 15% 25% 47% 50% 39%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 52% 58% 63% 75% 83% 75% 20% 8% 18% 44% 49% 40%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 59% 65% 65% 76% 82% 54% 15% 2% 15% 38% 54% 47%

B2 53% 59% 65% 82% 82% 61% 14% 5% 15% 37% 51% 45%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 51% 56% 74% 75% 57% 21% 3% 2% 6% 20% 39% 49%

B2 53% 59% 61% 75% 76% 43% 7% 3% 9% 32% 47% 49%

Funchal J F M A M J J A S O N D

Baseline 42% 47% 57% 73% 83% 87% 60% 29% 31% 54% 48% 31%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 43% 48% 57% 73% 83% 82% 30% 10% 19% 45% 47% 33%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 48% 54% 60% 75% 84% 62% 18% 2% 15% 39% 51% 40%

B2 44% 49% 61% 79% 86% 71% 20% 5% 15% 39% 47% 37%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 46% 50% 70% 76% 66% 24% 3% 2% 5% 20% 39% 41%

B2 45% 50% 56% 75% 81% 51% 9% 3% 9% 34% 46% 43%

Ponta do Sol J F M A M J J A S O N D

Baseline 43% 48% 51% 57% 68% 73% 66% 37% 33% 46% 38% 31%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 44% 49% 51% 57% 67% 70% 43% 17% 25% 41% 38% 32%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 50% 55% 52% 59% 70% 60% 29% 9% 22% 34% 43% 37%

B2 46% 51% 51% 65% 72% 66% 30% 15% 21% 37% 39% 38%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 42% 46% 59% 60% 57% 37% 8% 3% 10% 22% 34% 40%

B2 45% 50% 50% 58% 69% 54% 18% 8% 13% 33% 38% 39%

Santa Cruz J F M A M J J A S O N D

Baseline 39% 43% 37% 48% 40% 24% 10% 7% 12% 28% 38% 35%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 37% 41% 39% 48% 37% 25% 7% 3% 7% 25% 38% 35%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 31% 34% 40% 48% 32% 18% 5% 1% 4% 19% 35% 34%

B2 32% 35% 44% 42% 29% 18% 4% 2% 4% 20% 33% 31%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 33% 38% 33% 37% 19% 8% 1% 0% 1% 7% 20% 30%

B2 34% 38% 39% 46% 28% 15% 2% 1% 2% 16% 31% 35%

São Vicente J F M A M J J A S O N D

Baseline 50% 55% 38% 25% 16% 7% 3% 4% 9% 22% 47% 63%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 50% 55% 38% 25% 16% 7% 3% 4% 9% 22% 47% 62%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 42% 47% 35% 24% 11% 6% 2% 1% 8% 20% 36% 53%

B2 49% 54% 35% 18% 11% 5% 2% 1% 8% 19% 38% 56%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 48% 54% 24% 17% 7% 3% 2% 3% 5% 14% 26% 42%

B2 47% 52% 39% 24% 11% 6% 1% 2% 4% 14% 35% 49%

Santana J F M A M J J A S O N D

Baseline 46% 50% 35% 24% 15% 7% 3% 4% 9% 20% 42% 54%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 45% 49% 35% 24% 15% 7% 3% 4% 9% 19% 42% 53%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 34% 38% 33% 24% 11% 6% 2% 1% 7% 18% 31% 47%

B2 40% 45% 32% 17% 11% 5% 2% 1% 7% 18% 34% 48%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 41% 47% 22% 16% 7% 3% 2% 2% 4% 12% 23% 34%

B2 41% 45% 36% 23% 11% 6% 1% 2% 4% 13% 31% 44%

Calheta J F M A M J J A S O N D

Baseline 41% 46% 45% 42% 37% 23% 9% 11% 15% 36% 35% 29%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 43% 48% 45% 46% 44% 21% 6% 6% 9% 28% 39% 31%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 46% 51% 44% 44% 37% 15% 4% 2% 7% 23% 38% 33%

B2 44% 48% 43% 50% 38% 16% 4% 3% 7% 25% 35% 37%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 41% 44% 48% 44% 26% 9% 0% 0% 2% 12% 30% 37%

B2 42% 46% 42% 43% 32% 10% 2% 1% 4% 22% 34% 36%

Machico J F M A M J J A S O N D

Baseline 47% 56% 43% 45% 38% 25% 5% 0% 1% 9% 31% 45%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 51% 60% 42% 45% 40% 19% 1% 0% 0% 2% 21% 41%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 48% 57% 45% 46% 35% 9% 1% 0% 0% 0% 14% 31%

B2 48% 56% 43% 43% 30% 13% 0% 0% 0% 1% 12% 34%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 28% 39% 39% 33% 12% 1% 0% 0% 0% 0% 1% 12%

B2 40% 51% 40% 42% 25% 5% 0% 0% 0% 0% 7% 27%

C. de Lobos J F M A M J J A S O N D

Baseline 51% 56% 38% 25% 16% 7% 3% 4% 9% 20% 44% 60%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 49% 55% 38% 25% 16% 7% 3% 4% 9% 19% 42% 58%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 39% 45% 33% 24% 11% 6% 2% 1% 7% 17% 30% 44%

B2 47% 53% 36% 18% 11% 4% 2% 1% 7% 17% 33% 49%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 41% 49% 23% 17% 7% 3% 1% 2% 3% 12% 23% 36%

B2 43% 50% 38% 24% 11% 6% 1% 2% 4% 13% 30% 42%

Porto Moniz J F M A M J J A S O N D

Baseline 21% 23% 12% 6% 2% 1% 0% 1% 2% 7% 20% 30%

Curto Prazo (2010_2039)

A2 20% 22% 12% 7% 2% 1% 0% 0% 1% 6% 17% 28%

Médio Prazo (2040_2069)

A2 20% 22% 8% 4% 1% 0% 0% 0% 1% 3% 13% 21%

B2 23% 26% 11% 5% 1% 0% 0% 0% 1% 4% 15% 24%

Longo Prazo (2070_2099)

A2 22% 25% 8% 3% 1% 0% 0% 0% 0% 4% 8% 19%

B2 18% 20% 9% 3% 2% 0% 0% 0% 1% 2% 13% 20%

Figura 11 – Evolução dos períodos favoráveis do risco de transmissão da doença de Lyme na Madeira para diferentes cenários climáticos

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SAÚDE 49

4. CONCLUSÃOOimpactedasalteraçõesclimáticasnasaúdehumanapodesersignificativoemváriosníveis.Temperaturasextremamenteelevadaspodemcontribuirdiretamenteparaumaumentodedoençascardiovasculareserespiratórias.Períodosmaisquentesintervêmnosníveisdepólenestransportadospeloar,assimcomo,noaumentodosníveisdeozonoeoutrospoluentesatmosféricos,comimpactediretosobreasdoençasanteriormentemencionadas.Poroutrolado,estasvariaçõesclimáticastambémpodeminfluenciarapropagaçãodedoençastransmitidasporvetores,nomeadamente,pormosquitosecarraças.

Éexpectávelquetantoatemperaturacomoaprecipitaçãosoframalteraçõessignificativasnaspróximasdécadasemtodasasregiõesdoglobo.Opresenteestudoprevêumaumentodatem-peraturaeumdecréscimodaprecipitaçãonaIlhadaMadeira,emtodososcenáriosclimáticosdosváriosperíodostemporaisrelativamenteaocenáriodereferência.

DeacordocomoúltimorelatóriodoIPCC,tem-severificadoumaumentodatemperaturadamédiaàsuperfícieterrestreeoceânicasendomuitoprovávelqueastemperaturascontinuemaaumentarnoséculoXXIemtodaaEuropaeregiãoMediterrânica,comumagrandeprobabilidadedeocorrênciadeepisódiosdecalorouondasdecalormaisfrequentesecommaiorintensidadeeduração.

TendoporbaseadefiniçãodeondadecalordaOrganizaçãoMeteorológicaMundial,concluímosquenaMadeiraatualmenteoimpactenasaúderesultantedeepisódiosdeondadecalorémuitobaixo(vulnerabilidadeatualneutro),sendoosconcelhosdeMachicoePontadoSolosmaisafetadospelocalor(graudeconfiançamédia).

Éexpectávelquenoscenáriosclimáticosfuturososepisódiosdeondadecalorpossamviraterumimpactenasaúdenegativo,commaisconcelhosaseremafetados.NocenárioamédioprazoéprovávelqueosepisódiosdeondadecalordupliquemcomumimpactenasaúdemuitonegativoparaoscenáriosA2eB2.Alongoprazoespera-seumaumentoaindamaissignificativodonúmerodeepisódiosdeondadecalor,comumimpactenasaúdemuitonegativo,atingindoníveismaiscríticosnocenárioA2(graudeconfiançamédia).

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SAÚDE SAÚDE50 51

Assumindoastemperaturasverificadasnocenáriodereferênciaeconsiderandoqueapopu-laçãodemosquitosestavainfetadacomovírusdadengue,estimamosoriscodetransmissãodestadoençaassociadoaoreferidocenáriocomobaixo(graudeconfiançaalta,vulnerabilidadeatualnegativo).Nocenárioclimáticodecurtoprazo,oriscodetransmissãodadengueestima-sequesejabaixo-médio,oriscoaumentaparamédio,noscenáriosdemédioprazoeparaumriscoaltoquandoconsideramosocenárioclimáticoA2delongoprazo(graudeconfiançaalta).

OmosquitoCulex pipienstambémestápresenteemabundâncianailha.EstemosquitonãoéatualmenteconhecidoporestarinfetadocomovírusdoOestedoNilo,econsequentementeoriscoatualdetransmissãodovírusdoOestedoNiloéinsignificante(graudeconfiançaalta,vulnerabilidadeatualnegativo).ContudoaRAMévisitadapormuitasavesmigratórias,frequen-tementeenvolvidasnaintroduçãodovírusdoOestedoNilo,havendoumriscorealdeintrodu-çãodestevírusnailha.

AnossaavaliaçãoconcluiuqueseapopulaçãodeCulex pipiensnailhaficarinfetada,entãooriscodetransmissãodafebredoOestedoNiloserámédioparaoperíododereferênciaeocenáriodecurtoprazo,passandoparaumníveldevulnerabilidademédio-altonoscenáriosdemédioprazo,eparaumavulnerabilidadealtanoscenáriosdelongoprazo(graudeconfiançaalta).

Considerandooimpactesignificativoqueestasdoençastransmitidaspormosquitospodemternasaúdepúblicaéfundamentalqueasmedidasdecontrolodomosquito,assimcomoosprogramasdevigilânciadosmosquitosedoshospedeirossejamreforçadoseavaliadosperiodicamente.

OclimaamenodaMadeiraeasuaricafloraefaunafazemdailhaalocalizaçãoidealparaascar-raçassobreviverem.Dasmuitasespéciesdecarraçasquehabitamailha,aIxodes ricinuséamaisabundante.EstacarraçaestáatualmenteinfetadacomváriosagentespatogénicosincluindoaBorrelia lusitaniae,abactériaresponsávelpeladoençadeLyme(ouBorreliose).AvulnerabilidadeatualdetransmissãodadoençadeLymefoiavaliadacomomédio(graudeconfiançaalta,vulne-rabilidadeatualmuitonegativo).Asalteraçõesclimáticaspoderãomudarosperíodossazonaisfavoráveisparaatransmissãodadoençafavorecendooinvernoeaprimaveramasreduzindoorisconoverãoenooutono.Noglobal,oriscodetransmissãodadoençaéprovávelquesemantenhamédio(graudeconfiançaalta).

NãoestádisponívelatualmentenenhumavacinacontraaBorrelioseecomotalestaratentoàpresençadascarraças,ousodevestuárioapropriadonasáreasinfestadascomcarraçasearemoçãoprecocedascarraçaspermanecemcomoasprincipaismedidasdeprevenção.

Seráigualmentedesejávelasseguraracontinuidadedosprogramasdevigilânciaepidemiológicaedosvetores(carraças)oqualnãointegra,atualmente,oprogramaREVIVE.

Apesardoclimaserofatorchavenadinâmicadetransmissãodestasdoençaspelosvetores

Emrelaçãoàconcentraçãodepartículasinaláveis–PM10–concluímosqueosvaloresanuaisdestepoluentenoFunchalsão,atualmente,superioresaosvaloresdereferênciadaOMS,oquesetraduznumimpactenegativoparaasaúde(graudeconfiançamédia,vulnerabilidadeatualmuitonegativo).Poroutrolado,verificámosqueamaioriadaspartículasquecompõemafraçãodePM10édeorigemnatural.Nofuturo,assumindoidênticosníveis(locais)deemissõesantropo-génicaseumclimamaisquenteecommenorprecipitaçãoéexpectávelqueasconcentraçõesdePM10aumentem,assimcomoosimpactesnasaúdeassociadoscomestepoluente(graudeconfiançamédia).

EmcontrastecomasmediçõesdePM10,asmediçõesatuaisdeozonoforamsempreinferioresaosvaloresdereferênciadaOMS,sendooimpactenasaúdepoucopreocupante(vulnerabili-dadeatualneutro).Emfunçãodoaumentodatemperaturaexpectávelparatodososcenáriosclimáticosfuturos,éprovávelqueosníveisdeozononoFunchaltambémaumentem.Conse-quentemente,éprovávelquevenhaaverificar-seumaumentogradualdosimpactesnasaúde,associadosasexposiçõesdeozono,commaiorníveldepreocupaçãoalongoprazoparaambososcenários–A2eB2(graudeconfiançamédia).

ConsiderandoqueaMadeiratematualmenteumaaltaprevalênciadeasmaequemaisde60%dospacientescomrinitesãosensíveisàmaioriadostiposdepólenesinvestigados,concluímosqueoníveldeimpacteatualnasaúdeassociadoàsconcentraçõesdepólennoFunchalénega-tivo(graudeconfiançaalta).ExisteumagrandeprobabilidadedequeasalteraçõesclimáticaspossamalteraradistribuiçãosazonaldasconsequênciassobreasaúdeassociadasàexposiçãoaopólennoFunchal.Estasituaçãopodeverificar-separatodososcenáriosclimáticosfuturosavaliados.Noentanto,oimpacteglobalanualnasaúdeéprovávelquepermaneçaomesmonocenárioacurtoprazomascomtendênciaaaumentarnoscenáriosclimáticosdemédioelongoprazo.Sãoexpectáveisimpactesmuitonegativosnasaúdeparaestesperíodosmasmaispronunciadosnocenáriodelongoprazo(graudeconfiançamédia).

AsalteraçõesclimáticasnaMadeiravirãomuitoprovavelmenteaaumentaroriscodetrans-missãodasdoençastransmitidaspormosquitosemtodososconcelhos.AsduasespéciesdemosquitosqueoferecemumamaiorpreocupaçãodesaúdepúblicanailhadaMadeirasãoAedes aegyptieCulex pipiens.

OmosquitoAedes aegyptiestáatualmentepresentenaMadeira.Contudo,deacordocomainformaçãomaisrecentedisponível,nãoseencontrainfetadocomnenhumdosvírusconsidera-dosumapreocupaçãodesaúdepública(dengue,febre-amarela,chikungunya).Seainfeçãodovetornãoseverificar,oriscodetransmissãodequalquerumadestasdoençaséinsignificante.Noentanto,tendoemcontaoelevadonúmerodepessoasquevisitaailhaeointercâmbiodebens,tendoemcontaaindoqueomosquitovetorcontínuapresentenailha,érazoávelassumirqueexisteumriscorealdeintroduçãodestesvírusnaMadeiraeasuapropagaçãonospróximosanos.Comojáreferimos,umavezqueestesvírussãotransmitidospelomesmovetorassumi-mosqueosriscosdetransmissãodasdoençasserãoidênticosparatodas.

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éimportanterelembrarqueoutrosfatorescomoacopresençadealimentos/hospedeirosadequadosparaovetoreosagentespatogénicosinfeciosostambémtêmumpapelsignificativo.Atransmissãodedoençasparaossereshumanosrequerumcontactohumano(exposição)comovetorparasitainfetado.Estaexposiçãoéinfluenciadaporumavariedadedefatores,incluindoocomportamentohumano,ascondiçõessocioeconómicas,aspráticasdegestãoambientaleaspráticasassociadasaoscuidadosdesaúdeprimários.Alémdisso,fatoresintrínsecostaiscomoaimunidadeafetamagravidadedadoença.Atransmissãodadoençaocorreapenassetodosestesfatoresforemfavoráveisparaatransmissão.

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SAÚDE SAÚDE60 61

Matriz de Vulnerabilidade: Impactes das doenças transmitidas por mosquitos

Impa

ctos

Id

enti

fica

dos

Expo

siçã

o

Sens

ibili

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Vuln

erab

ilida

de

Atu

al

Confi

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Vu

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A

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Vulnerabilidade Futura

Confi

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Fu

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Curto (2020-2039)

Médio (2040-2069)

Longo (2070-2099)

A2 A2 B2 A2 B2

TransmissãodadengueeFebredoNiloOcidental(semovíruspresente)

TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito

Neutro(0)

Alta 0 0 0 0 0 AltaHumidade Replicaçãoviral

Precipitação Contacto:mosquito-humano

Transmissãodadengue(comovíruspresente)

TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito

Negativo(-1)

Alta -1 -2 -2 -3 -2 AltaHumidade Replicaçãoviral

Precipitação Contacto:mosquito-humano

TransmissãoFebredoNiloOcidental(comovíruspresente)

TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito,Replicaçãoviral

Negativo(-1)

Alta -1 -2 -2 -3 -2 AltaHumidade

Precipitação

Matriz de Vulnerabilidade: Impactes das doenças transmitidas por carraças

Impa

ctos

Id

enti

fica

dos

Expo

siçã

o

Sens

ibili

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Vuln

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de

Atu

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dade

A

tual

Vulnerabilidade Futura

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

Fu

tura

Curto (2020-2039)

Médio (2040-2069)

Longo (2070-2099)

A2 A2 B2 A2 B2

TransmissãodadoençadeLyme(semoagentepatogénicopresente)

TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadacaraça

Neutro(0)

Alta 0 0 0 0 0 AltaHumidade Presençade

hospedeiros

Precipitação Contacto:caraça-humano

TransmissãodadoençadeLyme(comoagentepatogénicopresente)

TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadacaraça Muito

Negativo(-2)

Alta -2 -2 -2 -2 -2 AltaHumidade Presençade

hospedeiros

Precipitação Contacto:caraça-humano

Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados às ondas de calorIm

pact

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Iden

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Expo

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o

Sens

ibili

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Vuln

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Atu

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Vu

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A

tual

Vulnerabilidade Futura

Confi

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Vu

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Fu

tura

Curto (2020-2039)

Médio (2040-2069)

Longo (2070-2099)

A2 A2 B2 A2 B2

Mortalidadeassociadaàsondasdecalor

Temperatura Estadogeraldasaúde Neutro

(0) Média -1 -2 -2 -3 -2 MédiaHumidade Temperaturadoar

interior

Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados à qualidade do ar (exterior)

Impa

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Id

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o

Sens

ibili

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Vuln

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de

Atu

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A

tual

Vulnerabilidade Futura

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

Fu

tura

Curto (2020-2039)

Médio (2040-2069)

Longo (2070-2099)

A2 A2 B2 A2 B2

Mortalidade/mor-bilidadeassociadaàexposiçãoaPM10

Temperatura Estadogeraldasaúde

MuitoNegativo

(-2)Média -2 -2 -2 -3 -3 MédiaPrecipitação Fonte(s)de

poluição

Vento

Mortalidade/mor-bilidadeassociadaàexposiçãoaO3

Temperatura Estadogeraldasaúde

Neutro(0)

Média -1 -2 -2 -3 -3 MédiaVento

Fonte(s)depoluiçãodosprecursoresdeozono

Morbilidadeasso-ciadaàexposiçãoaoPólen

Temperatura Estadogeraldasaúde

Negativo(-1)

Alta -1 -2 -2 -2 -2 MédiaPrecipitação Tipodeplanta/pólen

Vento

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adaptação às alterações climáticas

SAÚDE

AUTORES

Elsa Casimiro

José M. Calheiros

Carla Selada

MARÇO 2015

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SAÚDE 65

SUMÁRIOOpresenterelatórioenumeraumasériedemedidasdeadaptaçãoquepodemsertomadasparafazerfaceaosimpactesnasaúdehumanaassociadosàsalteraçõesclimáticasnaRAM,nomeadamente,emrelaçãoaosimpactesrelacionadoscomocalor,qualidadedoaredoençastransmitidasporvetores(mosquitosecarraças).

Asmedidasapresentadassãosuscetíveisdetrazerbenefíciosparaasaúdedapopulação,mesmonaausênciadealteraçõesclimáticas.Sãotambémdescritasasmedidasdeadaptaçãoatualmenteemcursoesãodiscutidasasdificuldadesencontradasnaimplementaçãodasmedidas.Estadiscussãoenvolveuaparticipaçãodeváriosperitosassimcomoparceiroslocais(stakeholders).

Atualmente,jáexistemalgunssistemasdeavisoealertarelativamenteaoimpactedocaloredaexposiçãoàpoluiçãoatmosférica,assimcomo,diversasmedidasdemonitorizaçãoecontrolodemosquitos(muitodevidoaosurtodedenguequeocorreunailhaem2012-2013).

Globalmente,asmedidasdeadaptaçãoàsalteraçõesclimáticasnosetordasaúdehumanatêmvindoadesenvolver-senosúltimosanos,associadasaalgunsdosrecenteseventosclimáticosextremos(ondasdecalor,ciclones,inundações,etc.).Umadasprincipaismedidasdeadaptação,queospaísestêmimplementado,sãoossistemasdeavisoealertaparaprevenirosimpactesnegativosnasaúde,alertandoasautoridadesdesaúdecompetenteseapopulaçãoemgeralparaosriscosrelacionadoscomasalteraçõesclimáticas.

Outrasmedidaspassamporfortaleceroscuidadosdesaúdeprimáriosparaopossívelaumentodedoençascardiorrespiratóriase/outransmitidasporvetores,promovercampanhasdesensibi-lizaçãoparaosprofissionaisdesaúde,populaçãoemgeralecomunicaçãosocialsobreosriscosassociadosàsalteraçõesclimáticas,ouainda,tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais:(ex.Televisão,rádio,mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc).

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SAÚDE 67

1. INTRODUÇÃO Asalteraçõesclimáticasenvolvemumagrandevariedadederiscosparaasaúdepública.Amaioriadospotenciaisimpactesnasaúdeassociadosaestasalteraçõesdoclimapode,noentanto,serevitadaoureduzidaatravésdeumacombinaçãoentrefortalecerasfunçõeschavedossistemasdesaúdeeumamelhorgestãodosriscosapresentadosporumclimaemmudança.

Asautoridadeseoutrosparceirosinteressadosprecisamdeperceberosimpactesatuaiseprojetadosdasalteraçõesclimáticaseassuasimplicaçõesnasaúdedeformaapreparareimplementarumconjuntoderespostasparagarantirumnívelmáximodeadaptação.Exemplosdestetipoderespostasincluemsistemasdeavisoealerta,planosdegestãodeemergênciasefortalecimentodossistemasdesaúde;outrasmedidaspreventivasincluemhabitaçõesmaisseguras,proteçãocontracheias,controlodevetoresemelhoriadavigilância.Paraassegurarquesãotomadasmedidasdeadaptaçãooportunaseeficazes,osdecisoresdevemapresentarcoerênciaentresetoreseníveisdegovernação.

1.1. Identificação de possíveis impactes na saúde

Asalteraçõesclimáticasprojetadasindicamefeitosadversossubstanciaisnasaúdehumanaqueserãodistribuídosdeformadesigualdentroeentreaspopulações.OsresultadosdeumestudorecentedaOrganizaçãoMundialdeSaúdeestimamque,entre2030e2050,ocorramaproxima-damente250 000mortesadicionaisporanodevidoàsalteraçõesclimáticas.Em2030,projeta--sequeaÁfricasubsaarianavenhaasofreromaiorpesodosimpactesdamortalidadeassociadaàsalteraçõesclimáticasequeem2050,osuldaÁsiasejaaregiãomaisafetadapelosefeitosnasaúderesultantesdasalteraçõesclimáticas.Esteestudotambémconcluiuqueamaioriadasmortesrelacionadascomasalteraçõesclimáticasnospaísesdesenvolvidosestaráassociadaaostressporcaloremidosos.NaEuropaOcidental,estima-sequeostressprovocadoporcalornapopulaçãoidosaestejaassociadoa2625e5573mortesadicionaisatribuíveisàalteraçãoclimáticaem2030e2050,respetivamente(Halesetal.,2014).

AolongodaúltimadécadatemsidoelaboradoumnúmerocrescentedeestudosanalisandoospossíveisimpactesdasalteraçõesclimáticasemPortugal.OrelatóriodoSIAMIconstituio

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SAÚDE68

primeiroestudonacionaldeumpaísdosuldaEuropaemquefoiavaliadaarelaçãoentreasalte-raçõesclimáticaseoseuimpactonasaúdehumana.NesteestudoosimpactesforamavaliadosparaPortugalcontinental(Casimiro&Calheiros,2002).Subsequentemente,estesimpactesforamavaliadosaumnívelregionalparaPortugalcontinentalnoprojetoSIAMII(Calheiros&Casimiro,2006),assimcomo,paraaRegiãoAutónomadaMadeira(RAM)noprojetoCLIMAATII(Casimiroetal.,2006).Reconhecendoanecessidadededispordeinformaçãosobreospoten-ciaisimpactesaumnívellocal,váriosmunicípiostêmpromovidoarealizaçãodeestudossobreosimpactesnasaúdedecorrentesdasalteraçõesclimáticasaonívelmunicipal.Umexemploéoestudointegradono“PlanoEstratégicodoConcelhodeCascaisfaceàsAlteraçõesClimáticas”(Casimiroetal.,2010).

NoestudoCLIMAATIIosimpactesforamavaliadosaumnívelregional,separadamente,paraailhadaMadeiraeparaailhadePortoSanto.

Nopresenteestudoprocede-seaumaavaliaçãodetalhadadospotenciaisimpactessobreasaúderesultantesdasalteraçõesclimáticasemcadaumdos10concelhosdailhadaMadeira.Combasenainformaçãoedadosdisponíveisforamavaliadososimpactesnasaúdeassociadosàsondasdecalor,àqualidadedoar(partículasinaláveis—PM10,ozonotroposférico,epólenes)eàsdoençastransmitidasporvetores(mosquitosecarraças)naRAM(Casimiroetal.,2015).Aavaliaçãoconstituiumavançorelativamenteaestudosanteriores,masqueaindacontinualimitadapelaescassainformaçãoquantitativaeconhecimentodosmecanismoscausaisquerelacionamoclimacomosimpactesnasaúdeaumaescalalocal.

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SAÚDE 71

2. METODOLOGIAOsriscosdasalteraçõesclimáticassãosistémicosealongoprazonanatureza,oquerequerumaabordagemdiferenteparaaavaliaçãoemcomparaçãocomoutrosriscosparaasaúdepública.Conduzirumaavaliaçãodevulnerabilidadeeadaptaçãoàsalteraçõesclimáticaséumprocessosimilarparatodasasnaçõeseregiões:oobjetivocontinuaaserpercebermelhorcomoavariabilidadeclimáticaeasalteraçõesclimáticaspodemafetarasaúdeatualmenteenofuturo,deformaaapoiarodesenvolvimentodepolíticaseprogramasquepodemprotegerasaúdepública.Noentanto,ocontexto,aestruturaeoconteúdodaavaliaçãopodemvariar,depen-dendodecircunstânciaslocais,condiçõessocioeconómicas,quadroslegaiseregulamentaresentreoutrosfatoresquerefletemasnecessidadesdedecisãolocal.

Nopresenteestudoametodologiaconsistiuemduastarefasprincipais:primeiroforamavaliadososimpactesnasaúderelacionadoscomasalteraçõesclimáticaslocais,seguidodeumarevisãodemedidasdeadaptaçãoquepodemreduzirestesimpactes.OsimpactesnasaúdedecorrentesdasalteraçõesclimáticassãoreportadosnorelatóriodeCasimiroetal.,2015,enquantoopresenterelatórioéfocadonasmedidasdeadaptação.

Calheta

Ponta doSol Ribeira

Brava

FunchalCâmara deLobos

Santana

Porto Santo

Machico

Santa Cruz

Porto Moniz São

Vicente

Figura 1 – Concelhos da Região Autónoma da Madeira

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SAÚDE72

OsimpactesforamavaliadosporconcelhodaRegiãoAutónomadaMadeira(Figura1),usandoumcenáriodereferência(1970-1999)etrêscenáriostemporaisfuturos:umcenárioacurtoprazo(A2:2010_2039),doiscenáriosamédioprazo(A2:2040_2069eB2:2040_2069),edoiscenáriosalongoprazo(A2:2070_2099eB2:2070_2099).OsmétodosutilizadosparaavaliarosimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdeforamsemelhantesaosdescritosporCasimiroecolaboradores(2006).

Aavaliaçãodaadaptaçãoapresentadanesterelatóriofocou-seem:

•  DescrevermedidasdeadaptaçãoatualmenteimplementadasnaRAM,quedesignamoscomocapacidadeadaptativaatual.

•  Discussãodelacunasdedados/informaçãoquepossamcontribuirparamelhorarasmedidasdeadaptação.Estadiscussãoenvolveuaparticipaçãodeváriosperitosassimcomoparceiroslocais(stakeholders).

•  Finalmente,éapresentadaumalistademedidasdeadaptaçãosugeridas.Estasmedidasdeadaptaçãosãomedidas“win-win”,ouseja,medidassuscetíveisdetrazerbenefíciosparaasaúdedapopulação,mesmonaausênciadealteraçõesclimáticas.

2.1. Limitações da Avaliação

Estaavaliaçãoutilizoucenáriosclimáticosparaestimaroefeitodasalteraçõesclimáticassobredeterminadosaspetosdesaúde.Aquantificaçãodosefeitosnasaúdeporcausaespecíficanãofoipossíveldevidoadoispontos-chave:

•  Nãofoipossívelestabelecerarelação/modeloquantitativosdoclimalocalversusdoençamaioritariamentedevidoalimitaçõesdedados,e;

•  NãoestavamdisponíveisparaaRAMcenáriospopulacionais(correspondentesaoscenáriosclimáticosusados).

Osimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdetambémvãodependerdoestadodesaúdedaspopulaçõesafetadas,queporsuavezdependemdascondiçõessocioeconómicasfuturasedeoutrosfatoresimportantes,comoumacoberturadesaúdeuniversaleregulamentaçãoambien-tal.OscenáriosfuturosparaestesparâmetrosnãoestãodisponíveisparaaRAM.

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SAÚDE 75

3. RESULTADOS & DISCUSSÃO3.1. Impactes relacionados com o calor

Aexposiçãoprolongadaatemperaturaselevadas,principalmenteduranteváriosdiasconsecu-tivos,podeprovocarefeitosnegativosnasaúdehumana,manifestando-sesobretudoatravésdoagravamentodedoençascrónicas(principalmenteascardiorrespiratórias)ededoençasrelacionadascomocalor:cãibras,esgotamentoe,nassituaçõesmaisgraves,ogolpedecalor.

Noestudodeavaliaçãodeimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdehumanarelacionadoscomocalorfoiutilizadaadefiniçãoclimatológicadeíndicededuraçãodeondadecalor(HWDI

– Heat Wave Duration Index)daOrganizaçãoMeteorológicaMundial(WCDMP-No.47,WMO-TDNo. 1071),naqualseconsideraqueocorreumaondadecalorquando,numintervalodepelomenosseisdiasconsecutivos,astemperaturasmáximasdoarsão5°Csuperioresàmédiadastemperaturasmáximasnoperíododereferência(1971-2000)(IPMA).

Deseguidasãoapresentadososresultadosdosimpactesnasaúdeassociadosàsondasdecalorparaosdiferentescenáriosanalisados,representandoaTabela1–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesassociadosàsondasdecalorarespetivamatrizdevulnerabilidade.

Cenário de referência (1970-1999):

•  Poucosepisódiosdeondadecalor;

•  MachicoePontadoSol—concelhoscommaiorprobabilidadedesofreremosimpactesdeumaondadecalor;

•  Impactenasaúderesultantedeumaondadecalorfoimuitobaixo—vulnerabilidade atual neutra.

Cenário de curto prazo (2010-2039):

•  Previsívelumligeiroaumentodonúmerodediasdestressporcalor;

•  Machico,PontadoSol,RibeiraBravaeCalheta—concelhoscomumamaiorprobabilidadedeocorrerumaondadecalor;

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SAÚDE SAÚDE76 77

Capacidade adaptativa

Atualmente,paraailhadaMadeiraexisteumsistemadeavisosmeteorológicosparaapopula-çãoeautoridadesdeproteçãocivil.Estesistemaéutilizadocomoumaformaderespostanoquerespeitaaosimpactesdocalornasaúdehumana.

Sistema de avisos meteorológicos

OInstitutoPortuguêsdoMaredaAtmosfera(IPMA)asseguraavigilânciameteorológicaeemiteavisosmeteorológicosparaPortugalcontinental,ArquipélagodosAçoreseArquipélagodaMadeira.Osavisossãoemitidosquandoestãoprevistosouseobservamfenómenosmeteorológicosadver-sosquerepresentemumriscoadiferentesníveisparaapopulação,paraas24horasseguintes.

Osavisosseguemumaescaladecoresquerefleteograudeintensidadedofenómeno(verFigura 2),ounocasodeseremitidoumavisoparadoisoumaisparâmetrosmeteorológicos,acorreferenteaoparâmetroquetemoriscomaiselevadoemconjuntocomorespetivopictograma. Ainformaçãoreferenteao(s)outro(s)parâmetrosédisponibilizadaatravésdeummapainterativo.

CONSIDERAÇÕES CONSOANTE A COR DO AVISO

Cinzento Informaçãoemactualização.

Verde Nãoseprevênenhumasituaçãometeorológicaderisco.

AmareloSituaçãoderiscoparadeterminadasatividadesdependentesdasituaçãometeorológica.Acompanharaevoluçãodascondiçõesmeteorológicas.

LaranjaSituaçãometeorológicaderiscomoderadoaelevado.Manter-seaocorrentedaevoluçãodascondiçõesmeteorológicaseseguirasorientaçõesdaANPC.

VermelhoSituaçãometeorológicaderiscoextremo.Manter-seregularmenteaocorrentedaevoluçãodascondiçõesmeteorológicaseseguirasorientaçõesdaANPC.

Figura 2 – Escala de cores associada aos avisos meteorológicos emitidos pelo IPMA

NocasodaRAMsãoemitidosavisosparaquatroregiões(CostaNorte,RegiõesMontanhosas,CostaSulePortoSanto),paraasseguintessituaçõesmeteorológicas:ventoforte,precipitaçãoforte,quedadeneve,trovoada,frio,calor,nevoeiropersistenteeagitaçãomarítima,deacordocomoscritériosdeemissãodescritosnaFigura3.

•  Junho,outubroeabril—mesescomprovávelmaiorimpacte;

•  Impactenasaúderesultantedeumaondadecaloréexpetávelquesejanegativo—vulne-rabilidade curto prazo negativa

Cenário de médio prazo (2040-2069):

•  Númerodeepisódiosdeondadecaloréprovávelqueduplique;

•  Machico,PontadoSol,RibeiraBrava,Calheta,CâmaradeLobos,SãoVicente,SantanaePortoMoniz—concelhosmaisafetadosnoscenáriosA2eB2;

•  Abril,outubro,setembro,maioejunho—mesescommaiorimpacte;

•  ImpactenasaúderesultantedeumaondadecaloréexpetávelquesejamuitonegativotantoparaocenárioA2comoparaoB2—vulnerabilidade médio prazo muito negativa

Cenário de longo prazo (2070-2099):

•  Esperadoumaumentosignificativodeepisódiosdeondadecalor,maisevidentenocenárioA2,comumpadrãoglobalsimilarparaambososcenáriosavaliados;

•  Todososconcelhoscomprováveisondasdecalor.PontadoSol,RibeiraBrava,CalhetaeFunchal—concelhoscomondadecalormaiorsignificância;

•  Abrilemaio—mesesmaisafetados;julhoeagosto—mesesmenosafetados;

•  ImpactenasaúderesultantedeumaondadecaloréexpetávelquesejamuitonegativoparaocenárioB2,admitindo-seníveiscríticosparaocenárioA2—vulnerabilidade longo prazo muito negativa (cenário B2)/crítica (cenário A2).

Tabela 1 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados às ondas de calor

Impa

ctes

Id

enti

fica

dos

Expo

siçã

o

Sens

ibili

dade

Vuln

erab

ilida

de

Atu

al

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

A

tual

Vulnerabilidade Futura

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

Fu

tura

Curto (2020-2039)

Médio (2040-2069)

Longo (2070-2099)

A2 A2 B2 A2 B2

Mortalidadeassociadaàsondasdecalor

Temperatura Estadogeraldasaúde Neutro

(0) Média -1 -2 -2 -3 -2 MédiaHumidade Temperaturadoar

interior

Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico

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SAÚDE SAÚDE78 79

Foiobservadoumaumentodamortalidadeagudaassociadaàsaltastemperaturasemquasetodaapopulaçãoemquefoiestudadaestarelação.Arelaçãoentreatemperaturaeamorta-lidadeéusualmentedescritaporumacurvaemJ-ouV-,comataxademortalidademaisbaixaobservadaatemperaturasmoderadaseaumentandoprogressivamentecomoaumentodatemperatura.Oconhecimentodestacurvadose-respostaparaapopulaçãoéimportantepor-quepermitesaberdequeformaapopulaçãoreageeposteriormentediminuir/reduzirosriscosassociadosaostresstérmico.Aspopulaçõeshumanasestãoadaptadasaosseusclimaslocaiscomoindicadopelovalordolimiaracimadoqualoriscodemortalidadecomeçaaaumentar(Halesetal.,2014).

ExistemmuitopoucosestudosconduzidosnaRAMrelacionandootempolocalaosimpactesnasaúde.Amaioriadestesestudosutilizaapenasparâmetrosmeteorológicoslocaissemestabele-cerumarelaçãoquantitativaentresaúdehumanaetempo(i.e.stressporcalor).Osestudosquesefocamapenasnosaspetosmeteorológicossãobonsparafinsderastreio,masparaquantifi-caravulnerabilidadelocaldapopulaçãoaostressporcaloréimportantequesejaestabelecidaumarelaçãoquantitativalocalentreascondiçõesmeteorológicaslocaiseosefeitosnasaúdedapopulaçãolocal(i.e.mortalidade).

Arelaçãodose-respostadeveserestabelecidaaoníveldacidadebaseadaemanálisesdesériestemporais.Paraestetipodeestudoéprecisoumabasededadosdeboaqualidadedepelomenos5anosconsecutivos,contendodadosdemortalidadediária,parâmetrosmeteorológicosdiáriosedadosdepossíveisparâmetrosconfundidorescomoéocasodapoluiçãodoar.

Quandoseestabelecearelaçãodose-respostaparaumacidadeespecífica,podemserusadosdoisparâmetroschavecomobasedeumsistemadeavisoealertaparaostressprovocadopelocalor.Oparâmetro“heat threshold”(limiardecalor)representaovalordetemperaturaacimadoqualoefeitodocaloréobservado.Oparâmetro“heat slope”(declivedecalor)representaapercentagemdeaumentonoriscodemorreracimado“threshold”estimado.

Nopresenteestudonãofoipossívelestudarestarelaçãodose-respostapoisosdadosdesaúdeadequadosnãoestavamacessíveisparaosmesmosanosdosdadosmeteorológicosdiáriosedosdadosdepoluiçãodoar.Alémdisso,aspolíticasdeprivacidadededadosemPortugalproí-bemoacessodiárioadadosdemortalidadediáriaporsexo,gruposetáriosetiposdedoenças.Assim,nãofoiestabelecidaumarelaçãodose-respostaquantitativaparaaRAM.

Medidas de adaptação

Umaimportantemedidadeadaptaçãoàsalteraçõesclimáticas,atualmenteimplementadaemmuitospaíseseuropeus,incluindoPortugal,sãoossistemasdevigilânciaealerta,dosquaisconstamaçõesemedidasdeprevençãoparafazerfaceaosriscosparaasaúderesultantesdocalorintenso.Estessistemastêmcomoobjetivomelhoraraatuaçãodosserviçosdesaúdeederespostasocialemperíodosdemaiorrisco,contribuindoassimparaaumentararesiliênciadapopulação(PCTEA,2014).

PARA O ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA

Aviso Parâmetro Amarelo Laranja Vermelho Unidade Notas

VentoRajadaMáximadoVento

70a90 91a130 >130 km/h

90a110 111a130 >130 km/h Nasterrasaltas

PrecipitaçãoChuva/Aguaceiros

10a20 21a40 >40 mm/1h Milímetrosnumahora

30a40 41a60 >60 mm/6h Milímetrosem6horas

Neve QuedadeNeve5a10 11a100 >100 cm Cota(altitude>1000m)1a5 6a30 >30 cm Cota(altitude<1000m)

TrovoadaDescargasEléctricas

a) b) c)

a)FrequenteseDispersas.b)FrequenteseConcentradas.c)MuitoFrequenteseexcessivamenteconcentradas.

Nevoeiro Visibilidade *≥48h *≥72h *≥96h *-duração

TempoQuente

TemperaturaMáxima

#a#* #a#* >#* °C *-duração≥48horas

TempoFrioTemperaturaMínima

#a#* #a#* <#* °C *-duração≥48horas

AgitaçãoMarítima

AlturaSignifica-tivadasOndas

4a5 5a7 >7 m

# - Valores para cada região apresentados na tabela seguinte.

TEMPERATURA MÍNIMA TEMPERATURA MÁXIMA

REGIÃO Amarelo Laranja Vermelho Amarelo Laranja Vermelho

CostaNorte 7a8 5a6 <5 24a26 27a30 >30

RegiõesMontanhosas -2a-1 -4a-2 <-4 25a27 28a29 >29

CostaSul 10a11 8a9 <8 27a29 30a35 >35

PortoSanto 10a11 8a9 <8 26a27 28a31 >31

Figura 3 – Critérios de emissão de avisos meteorológicos para a RAM

AdivulgaçãodosavisoséfeitaatravésdosítiodainternetdoIPMA(www.ipma.pt)comointuitodeavisarasautoridadesdeProteçãoCivileapopulaçãoemgeral.

Lacunas de conhecimento

Umaumentodamortalidadefuturarelacionadacomocalorévistocomoumdosimpactesmaisprováveisdasalteraçõesclimáticasantropogénicasfuturas(Smithetal.,2014).

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SAÚDE SAÚDE80 81

1 )  Identificaremonitorizaroslocaisegruposdapopulaçãomaisvulneráveisaocalorintenso

2 ) Desenvolveríndicesdeconfortobioclimático

•  Aspopulaçõesaclimatizam-seeadaptam-seatemperaturaselevadaseclimasemaqueci-mento.Existe,contudo,poucaevidênciaemrelaçãoàtaxaouextensãodaadaptação.

Tecnologia

•  Tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais:(ex.televisão,rádio,mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc.);

•  Desenvolversistemasdeinformaçãocomosuporteàimplementaçãodeplanosdeatuaçãocalor/saúde.Deveserdesenvolvidoparaaspopulaçõeslocais,assimcomo,paraosturistas;

•  Criarmapasdevulnerabilidadeslocaiscomatemperaturaambientequeindiquemquaisaszonasurbanasquemaisprecisamdearrefecimento.

Governança

•  Planeamentoeimplementaçãodeplanosdeatuaçãocalor/saúdeparafazerfrenteaosefeitosdocalorintensonasaúdehumana;

•  Planeamentoeimplementaçãodecorredoresverdescomoobjetivodediminuiroefeitodeilhadecalorurbanoaumentandooconfortotérmico;

•  Melhoriasnahabitaçãoenosespaçosexterioresconstruídos,comooaumentodeespaçosverdeseutilizaçãodealbedo(telhadoscompinturabranca);

•  Fortalecimentodosistemadecuidadosdesaúdeprimáriosparafazerfrenteaoprovávelaumentodedoençascardiorrespiratóriasassociadasaocalorintenso;

•  Assegurarqueosistemadefornecimentodeenergianãovaificarcomprometidoduranteepisódiosdeondadecalor.

Socio economia

•  Promoverasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúdeedosmeiosdecomunicaçãosocialparaospotenciaisimpactessobreasaúde;

•  Promoveraçõesdesensibilizaçãodapopulaçãosobreosefeitosnefastosnocalorintensonasaúde;

•  Melhoriadavigilânciaecontrolodasdoençassensíveisaosefeitosdocalor;

Aadaptaçãopodepassarnofuturopelamelhoria/fortalecimentodosistemadecuidadosdesaúdeprimáriosparafazerfrenteaoprovávelaumentodedoençascardiorrespiratóriasassociadasaocalorintenso,queocorremprincipalmentenapopulaçãoidosa.SendoestegrupodapopulaçãoumdosmaisvulneráveisaosefeitosdocalorintensoevistoqueaesperançamédiadevidaeaidadedapopulaçãonaEuropaestãoaaumentar,éexpectávelqueonúmerodepessoasvulneráveisaosefei-tosdocalorintensotambémvenhaaaumentar(Koppe,2004).Aclimatizaçãodosserviçosdesaúdeedoslocaisdeacolhimentodeidososantesdaépocadeverãotambémdeveserumaprioridade.

Outramedidarelevanteconsistenasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúde,quedevemestarinformadossobreosriscosparticularesdaexposiçãoaocaloremfunçãodascondiçõesdesaúdedosdoentes.Estesprofissionaisdevemestarpreparadosparaesclarecerospacientesnaformadeadaptarosseusestilosdevidaecomoajustaramedicaçãoduranteperíodosdecalorintenso(OMS,2011).

Apopulaçãoemgeraldeveterumacessofácilatodaainformaçãorelacionadacomosimpactesdocalornasaúde,devendoserdisponibilizadasinformaçõesespecíficasparagruposdapopula-çãomaisvulneráveisaosefeitosdocalorintenso:idosos,crianças,pessoascomdoençascróni-cas,entreoutros.Noentanto,aeficáciadossistemasdealertadependedocomportamentodapopulaçãoquedeveseguirasrecomendaçõesdasautoridadesdesaúdeaquandodaocorrênciadeperíodosdecalorintenso,nomeadamente,reduzindoasuaexposiçãoaocalor,ajustandoovestuário,alimentaçãoeosníveisdeatividadefísica.

Em2003,umaondadecaloratingiutodaaEuropaduranteoverão.Oimpacteestimado,em2005,paraesteepisódiodecalorresultounumexcessodemortalidadedecercade50 000óbi-tos,alémdoesperado(Brucker,2005).Posteriormente,em2009,estaestimativafoiestabelecidaem70 000óbitosacimadoesperado(Robineetal.,2008).EmPortugal,foiestimadoumexcessodemortalidadede1953óbitos,apóscorreçãoparaaidadedosindivíduos(Caladoetal.,2004).

NumestudorealizadoparaaFrança(Finketal.,2004)apósaondadecalorde2003indicaqueoscustosestimadosemsaúdeassociadosaesteevento,incluindoaperdadevidashumanasterãosidosuperioresa500milhõesdeeuros.Considerandoqueapreparaçãodeumsistemadealertacalor-saúdeem2005foicalculadaem287 000 €,comumcustooperativoentre1dejunhoe31deagostocalculadoem454 000 €,acrescidodoscustosde741 000 €porseroprimeiroano,estaintervençãofoirelativamentepequenacomparandocomoscustosestimadosemsaúdeapósaondadecalor.

Seguidamenteapresentam-seasmedidasdeadaptaçãoquepodemseradotadasparaminimi-zarosimpactesnasaúdehumanaresultantesdeepisódiosdeondadecalor:

Conhecimento

•  Estabelecerumarelaçãodose-respostaparaaRAM,paraquepossaserimplementadoumsistemadeavisoealertalocalbaseadonasensibilidadedapopulaçãolocalaostressporcalor.Estarelaçãodeveconseguir:

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SAÚDE SAÚDE82 83

Tabela 2 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados à qualidade do ar – partículas PM10

Impa

ctes

Id

enti

fica

dos

Expo

siçã

o

Sens

ibili

dade

Vuln

erab

ilida

de

Atu

al

Confi

ança

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lner

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dade

A

tual

Vulnerabilidade Futura

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

Fu

tura

Curto (2020-2039)

Médio (2040-2069)

Longo (2070-2099)

A2 A2 B2 A2 B2

Mortalidade/mor-bilidadeassociadaàexposiçãoaPM10

Temperatura Estadogeraldasaúde

MuitoNegativo

(-2)Média -2 -2 -2 -3 -3 MédiaPrecipitação Fonte(s)de

poluição

Vento

Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico

Capacidade adaptativa

NaRegiãoAutónomadaMadeiraexisteumarededemonitorizaçãodaqualidadedoar,quemedediariamenteasconcentraçõesdeváriospoluentes,incluindo,partículasPM10eozono.Estáaindadisponívelummodelodeprevisãodetransportedepartículasnaturaisquepermiteadivulgaçãodeinformaçãosemprequeseprevejaaintrodução,emPortugal,departículasprovenientesdezonasáridascompossibilidadedeafetaraqualidadedoar.Estessistemassãoutilizadoscomoumaformaderespostaexistentenoquerespeitaaosimpactesrelacionadoscomaexposiçãoapartículaseozononasaúdehumana.

Impactes relacionados com a qualidade do ar (PM10

e ozono)

1 ) RededemonitorizaçãodaqualidadedoardaregiãoautónomadaMadeira:

ARededeMonitorizaçãodaQualidadedoArnaRAMsurgiucomorespostaàcrescentepreo-cupaçãodosefeitosdapoluiçãoatmosféricanasaúdehumanaenoambienteprovocadosporpoluentesdeorigemantropogénicaoudeorigemnatural.

NoFunchalexistemtrêsestaçõesdemedição,queregistamasconcentraçõesdiáriasehoráriasparaospoluentesPM2,5,PM10,ozono,dióxidodeenxofreedióxidodeazoto.AsestaçõesdaQuintaMagnóliaedeSãoGonçaloquesãoestaçõesurbanasdefundo,maisabrangentesemtermosdeáreademonitorizaçãoeaestaçãodeSãoJoão,queéumaestaçãourbanadetráfego,indicadaparaaavaliaçãodaqualidadedoaremfunçãodotráfegoautomóvel(Figura4).

Paraprevenirosefeitosnocivosdospoluentesatmosféricosnasaúdehumanaenoambiente,aRededeMonitorizaçãodaQualidadedoArdaRAMtemcomoobjetivos:

•  Avaliaçãodaqualidadedoar,combaseemmétodosecritériosdemediçãocomunsatodooterritórionacional;

•  Melhoriadascondiçõesdeclimatizaçãoemlaresecentrosdediaparaidosos,escolasecreches,unidadesprestadorasdecuidadosdesaúde,etc.;

•  Desenharnovosedifíciosereabilitarosantigosparaminimizarasnecessidadesdearrefeci-mento,assegurandoque,casosejanecessárioessearrefecimento,sãoutilizadosmétodosbaixo-carbonoeenergeticamenteeficientes.

Natureza

•  Utilização,noscorredoresverdes,deespéciesdiversificadas,resistentesaumclimamaisquenteesecoecommenorpotencialalérgico.

3.2. Impactes associados à qualidade do ar

Osdiversosestudosqueanalisaramasalteraçõesclimáticasglobaiseosefeitosnasaúderelacio-nadoscomapoluiçãodoarindicamqueosimpactosmaispreocupantessão,sobretudo,osqueestãoassociadosàexposiçãoaoozonotroposférico(O3)eaosagentesaerobiológicos(pólenesentreoutros)(Smithetal.,2014).Devidoàsualocalizaçãogeográfica,aRAMétambémvulnerávelafenómenosdeintrusãodemassasdearprovenientesdedesertosafricanosquetransportempar-tículas,contribuindodestaformaparaelevarasconcentraçõesdepartículas(PM10)noarambiente.

Apresençadepoluentesatmosféricoscomoodióxidodeazoto(NO2),partículas(PM10)eozonotêmumefeitosinergísticodealergiarespiratóriacomospólenes.

Foramavaliadososimpactesnasaúdeassociadosàqualidadedoar,nomeadamente,partícu-lasinaláveis—PM10,ozonotroposféricoepólenes.EstaavaliaçãofoiapenasefetuadaparaoFunchal,porserolocalondeéfeitaasuamonitorização.

3.2.1. Partículas (PM10

)

Apresenta-sedeseguidaumresumodosimpactesnasaúdeassociadosàexposiçãoapartícu-las(PM10):

•  Concentraçãoanualmédiade26,9ug/m3(período2006-2010),superioraosvaloresdereferênciadaOMS(<20ug/m3),comimpactenegativoparaasaúde—vulnerabilidade atual muito negativa;

•  Assumindoamanutençãodosníveisatuaisdeemissõesantropogénicas,umclimamaissecoequenteecommenosdiasdeprecipitação,éprovávelqueaconcentraçãodePM10aumente.Oimpactenegativonasaúdeéprovávelqueaumentegradualmente,atingindoníveiscríticosnocenáriodelongoprazo—vulnerabilidade futura muito negativa (curto e médio prazo) e crítica (longo prazo).

ATabela2–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesassociadosàqualidadedoar–partículasPM10mostraamatrizdevulnerabilidadedosimpactesassociadosàspartículas(PM10).

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SAÚDE SAÚDE84 85

2 ) Modelodeprevisãodetransportedepartículasnaturais:

Duranteosmesesdeprimaveraedeverão,podeverificar-secommaiorfrequênciaemPortugal(continenteeRegiõesAutónomas),apresençadepartículasnaatmosferaprovenientesdaszonasáridasdoNortedeÁfrica,nomeadamentedosdesertosdoSaharaeSahel.EstaspartículassãomaioritariamentedeorigemnaturalecontribuemparaoaumentodaconcentraçãodePM10.

Astemperaturaselevadaseaaltainsolaçãonasregiõesmaisáridasoriginamfortesventossuperficiaiseprocessosdeconvecção.Aaçãoerosivadoventosobreossoloslibertapartículasmineraisquesãotransportadasalongasdistânciaspelacirculaçãoatmosférica.

Emparticular,abaciadoMediterrâneoéhabitualmenteatingidaporestesepisódiosdepartícu-lasnaturais.DeacordocomoestudodePeyetal.(2013),estefenómenoémaisfrequentenasregiõesdosuldoMediterrâneodoquenospaísesdonorte,apesardepoderproduzirimpactesemzonasdistantescomoasCaraíbaseosEstadosUnidosdaAmérica(Peyetal.,2013).

Osmodelosdeprevisãodepartículasprovenientesdodesertosãoessenciaisparacomplemen-tarasobservaçõesrelacionadascomaspartículas,compreenderoseuprocessodetransporteepreveroimpactedestaspartículasnasconcentraçõesdosníveisdepartículasàsuperfície.AsprevisõesdestetipodeeventossãoobtidasrecorrendoaosmodelosDream(BarcelonaSuper-computingCenter)eSkiron(UniversityofAthens).

AAgênciaPortuguesadoAmbienteemparceriacomaFaculdadedeCiênciaseTecnologiadaUniversidadeNovadeLisboaacompanhadiariamenteaocorrênciadesteseventos,divulgandoinformaçãosemprequeseprevejaaintroduçãodepartículasprovenientesdezonasáridasemPortugal(eventosnaturais)compossibilidadedeafetaraqualidadedoar(verFigura5).

Lacunas de conhecimento

Oimpactenasaúderesultantedaexposiçãoaoarambienteéinfluenciadopelosníveisdeconcentraçãodepoluentesatmosféricos,assimcomo,doestadodesaúdegeraldaspessoas.Ambososfatoresdiferemderegiãopararegião,razãopelaqualéimportanteconduzirestudosepidemiológicosaonívellocal,paraqueosriscosassociadosàqualidadedoarnumalocalizaçãoespecíficapossamserquantificadoseidentificadososgruposmaisvulneráveisdapopulação.NaMadeiranãoforamencontradosestudosquantitativossobreosimpactesnasaúderelacionadoscomaqualidadedoarambiente.Oacessolimitadoadadosdesaúdediárioseabasededadosadequadasdeconcentraçõesdepoluentesdequalidadedoarnãopermitiuestabelecerumarelaçãodose-respostaparaaRAM.Destaforma,apresenteavaliaçãonãoquantificouosriscosdesaúdeassociadosaexposiçõesaoarambientenaRAM.

•  Obtençãodeinformaçãoadequada;

•  Disponibilizaçãodainformaçãoàsautoridadesdaáreadoambienteeaopúblicoemgeral,sobreaconcentraçãodospoluentesatmosféricoseinfluênciadosfluxosdepoluiçãotransfronteiriça.

Urbana de Fundo

Tráfego

Figura 4 – Rede de Monitorização da Qualidade do ar na RAM

Paraqueopúblicotenhaumacessomaisrápidoecompreensíveldainformaçãorelativaàqua-lidadedoarfoiestabelecidoumíndicedequalidadedoar.Esteíndiceécalculadoapartirdosvaloresmédiosdaconcentraçãodecincopoluentes:dióxidodeazoto(NO2),dióxidodeenxofre(SO2),monóxidodecarbono(CO),ozono(O3)epartículasinaláveis(PM10).

Oíndicedequalidadedoaréassociadoaumaescaladecoresevariaentre“MuitoBom”e“Mau”paracadapoluente,sendoqueoíndicedefinidoéocorrespondenteaopoluentecomapiorclassificação.

AAgênciaPortuguesadoAmbiente(APA)disponibilizaumabasededadoson-linesobreaquali-dadedoar(http://qualar.apambiente.pt/ ),comosdadosfornecidospelasComissõesdeCoorde-naçãoeDesenvolvimentoRegional(paraocontinente),pelaDireçãoRegionaldoAmbienteeOrdenamentodoTerritóriodosAçoresepelaDireçãoRegionaldoAmbienteeOrdenamentodoTerritóriodaMadeira.AinformaçãorelativaàsexcedênciasdePM10,PM2,5eozonosãodivulgadasnosítiodaAPAenosítiodaDireçãoRegionaldoAmbienteeOrdenamentodoTerritóriodaMadeira(http://www.sra.pt/index.php).

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SAÚDE SAÚDE86 87

Medidas de adaptação

Apresentam-sedeseguidaasmedidasdeadaptaçãoquepodemseradotadasparaminimizarosimpactesresultantesdaexposiçãoapartículasPM10nasaúdehumana:

Conhecimento

•  Assegurarqueosregistosdasestaçõesdemonitorizaçãodaqualidadedoarnãotêmumagrandefaltadedados.Existem,comfrequência,períodoscomfaltadedadosapesardosregistosdedadosdemonitorizaçãoestaremdisponíveisdesde2003;

•  Melhorarealargararededemonitorizaçãodaqualidadedoarassegurandoasuaboamanutenção;

•  Estabelecerummodelodeprevisãodapoluiçãoatmosféricaquepermitaquesejaestabele-cidoumsistemadeavisoealertaqueinformeapopulaçãodaprevisãoprováveldapoluiçãodoarpelomenoscomumdiadeantecedência.Éimportantequeosníveisdeconcentraçãosejamconhecidosantesdeocorreremparaqueosgruposdepopulaçãomaisvulneráveispossamlimitarasuaexposiçãonosdiasemqueestejamprevistosníveisdepoluiçãoatmos-féricaelevados.

Tecnologia

•  Tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais(ex.mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc.).

Governança

•  Prepararoscuidadosdesaúdeprimáriosparaopossívelaumentodedoençasrespiratórias;

•  Planeamentoeimplementaçãodecorredoresverdescomoobjetivodemelhoraraquali-dadedoar.

Socio economia

•  Promovercampanhasdesensibilizaçãoparaprevençãodedoençasrespiratóriascrónicas;

•  Promoverasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúdeedosmeiosdecomunicaçãosocialparaospotenciaisimpactessobreasaúde;

•  Promoveraçõesdesensibilizaçãodapopulaçãosobreosefeitosnefastosdepartículasinaláveisnasaúde.

Figura 5 – Exemplo do boletim de previsão de transporte de partículas naturais em Portugal

http://www.apambiente.pt/_zdata/DAR/Ar/Eventos/PREVISAO_EN_2014_10_26.pdf

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SAÚDE SAÚDE88 89

3.2.3. Pólenes

Apresenta-sedeseguidaumresumodosimpactesnasaúdeassociadosàexposiçãoapólenes:

•  Cercade65%daconcentraçãototaldepólenestransportadospeloarnoFunchalsãosensí-veisaoclima.Foramidentificadostrêstiposdepólenessensíveisaoclimatambémconheci-dosporteremumelevadopotencialalérgico:Urticaceae,PoaceaeeAsteraceae;

•  Abril,maio,junhoejulhosãoosmesescommaioresníveisdepólenes(UrticaceaeePoaceae)correspondendoàquelesemqueocorremmaisalergias;

•  Maisde60%dospacientescomrinitesãosensíveisàmaioriadostiposdepólenesinvestiga-dos—vulnerabilidade atual negativa;

•  OimpactedaconcentraçãodepólenesnoFunchaltendeadiminuirnoverãoeaumentarnaprimavera,comumperíododealergiassazonaisrelacionadascomopólenacomeçareaterminarmaiscedonoano—vulnerabilidade negativa (curto prazo);

•  Oimpactetendeadiminuirnoverãoeaaumentarnosmesesmaisfrios.CenárioB2(maisgravoso)—aumentodoimpactedaconcentraçãodepólenespraticamenteemtodososmesesdoano,comexceçãodejunhoejulho.Éprovávelqueoimpactenasaúdesereflitanumaumentodasalergiasrelacionadascompólenesmaiscedonoanoeumligeiroprolonga-mentodoperíodosazonaldealergias—vulnerabilidade muito negativa (médio prazo);

•  Situaçãosemelhanteparaambososcenárioscomoimpacteadiminuirnoverãoeaaumen-tarnosmesesmaisfrios—vulnerabilidade muito negativa (longo prazo).

ATabela4–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesassociadosàqualidadedoar–pólenesmostraamatrizdevulnerabilidadedosimpactesassociadosaospólenes.

Tabela 4 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados à qualidade do ar – pólenes

Impa

ctes

Id

enti

fica

dos

Expo

siçã

o

Sens

ibili

dade

Vuln

erab

ilida

de

Atu

al

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

A

tual

Vulnerabilidade Futura

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

Fu

tura

Curto (2020-2039)

Médio (2040-2069)

Longo (2070-2099)

A2 A2 B2 A2 B2

Morbilidadeasso-ciadaàexposiçãoaoPólen

Temperatura Estadogeraldasaúde

Negativo(-1)

Alta -1 -2 -2 -2 -2 MédiaPrecipitação Tipodeplanta/pólen

Vento

Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico

3.2.2. Ozono troposférico

Apresenta-sedeseguidaumresumodosimpactesnasaúdeassociadosàexposiçãoaoozonotroposférico:

•  Concentraçãoanualmédiadebaseocto-horáriadoO3(8horas)paraoFunchalde42,13ug/m3(período2006-2009),inferioraosvaloresdereferênciadaOMS(100ug/m3),nãotemtidoumimpactesignificativonasaúde—vulnerabilidade atual neutra;

•  ComoaumentodatemperaturaedaurbanizaçãoémuitoprovávelqueosníveisdeozononoFunchalaumentem,assimcomo,osimpactesrespiratóriosassociados—vulnerabili-dade futura negativa (curto prazo), muito negativa (médio prazo — cenários A2 e B2) e crítica (longo prazo para ambos os cenários climáticos).

ATabela3–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesassociadosàqualidadedoar–ozonotroposfé-ricomostraamatrizdevulnerabilidadedosimpactesassociadosaoozonotroposférico.

Tabela 3 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes associados à qualidade do ar – ozono troposférico

Impa

ctes

Id

enti

fica

dos

Expo

siçã

o

Sens

ibili

dade

Vuln

erab

ilida

de

Atu

al

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

A

tual

Vulnerabilidade Futura

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

Fu

tura

Curto (2020-2039)

Médio (2040-2069)

Longo (2070-2099)

A2 A2 B2 A2 B2

Mortalidade/mor-bilidadeassociadaàexposiçãoaO3

Temperatura Estadogeraldasaúde

Neutro(0)

Média -1 -2 -2 -3 -3 MédiaVento

Fonte(s)depoluiçãodosprecursoresdeozono

Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico

Capacidade adaptativa

Versecção3.2.1.

Lacunas de conhecimento

Versecção3.2.1.

Medidas de adaptação

Versecção3.2.1.

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SAÚDE SAÚDE90 91

Medidas de adaptação

Ainformaçãosobreapresençadepólenesnaatmosferanumadadaregiãoconstitui-sedeextremaimportânciapelofactodoconhecimentodasépocasemqueocorremcommaisfrequênciapólenesnoarajudaràinterpretaçãodoaparecimentodesintomatologiaalérgicaeàadoçãodemedidasterapêuticasmaisadequadas(Spieksmaetal.,1990;D’Amatoetal.,1992;Sánchezetal.,2002).

Aprevisãodoiníciodaestaçãoemquesãolibertadosparaaatmosferagrãosdepólenpermitequeaspessoasalérgicasaumdeterminadotipopolínicosejaminformadosatempadamentedemodoaajustaremassuasatividadesdiárias,evitandoosalergéniosdemaneiraefetiva(Peterneletal.,2004).Destaforma,arealizaçãodeestudosaerobiológicosqueforneçamdadosparaaelaboraçãodeumcalendáriopolínicoparaaregião,queincluamadefiniçãodepadrõesdesazonalidade,trarábenefíciosparaosdoentescompatologiasalérgicase/ourespiratórias.

Aimplementaçãodeprogramasnacionais/regionaisparaalergiasrespiratóriaséimportantecomomedidadeadaptaçãonosentidoemquepermitereduzircustosassociadosaotratamentodadoençaemelhorarodiagnósticoeotratamentodospacientes.Estesprogramasdevemenvolveraparticipaçãodasautoridadesdesaúde,dosprofissionaisdesaúde,dasociedadecientíficaedeoutrasentidadesrelevantesnestaárea.

Existempoucasestatísticasnacionaisdisponíveissobreocustorelacionadocomalergiasres-piratórias,particularmentedarinitealérgica.Apesardaescassezdedados,existemevidênciasquequantomaisgravesforemossintomasdaasmabrônquica,maioressãooscustosassocia-dos.Aprevençãoeocontroloadequadodadoençapodemreduzirconsideravelmenteoscustos(Haahtela,2006).

UmestudodeBugalhodeAlmeida(2009),realizadoentre2000e2007,revelaqueemPortugalexistemmaisde600 000asmáticosequeocustomédiopordoentetratadofoide1 180,18€.CombasenovalormédioanualapresentadoenoconhecimentodoscustostotaisdasdoençasrespiratóriasnaEuropa,oestudoestimouumcustoanualdaasmaemPortugaldecercade117,5milhõesdeeuros.

NaEuropa,Accordini(2012)concluiuqueocustomédiototalporpacientevariouentre509€,paraumaasmacontroladaeos2 281€paraumaasmanãocontrolada.Deacordocomesteestudo,areduçãodecustospodeserconseguidaatravésdagestãoapropriadadadoençanospacientesadultos.

Apresentam-seseguidamenteasmedidasdeadaptaçãoquepodemseradotadasparaminimi-zarosimpactesresultantesdospólenestransmitidospeloarnasaúdehumana:

Capacidade adaptativa

ARegiãoAutónomadaMadeiraestáintegradanaRedePortuguesadeAerobiologia.Estesistemaéutilizadocomoumaformaderespostaaosimpactesrelacionadoscomaexposiçãoapólenestransmitidospeloarnasaúdehumana.

Impactes relacionados com pólenes transmitidos pelo ar

1 ) RedePortuguesadeAerobiologia:

ARedePortuguesadeAerobiologia(RPA)foicriadaem2002eépromovidapelaSociedadePor-tuguesadeAlergologiaeImunologiaClínica(SPAIC).Éconstituídapornoveestaçõesoucentrosdemonitorização,setedasquaisnocontinente,umaemPontaDelgada(nailhadeSãoMiguel,Açores)eumanoFunchal(nailhadaMadeira).Estasestaçõesdemonitorizaçãofazemumarecolhacontínuadospólenesexistentesnoaratmosféricodaregiãoemqueseencontram.

ARPAestáintegradanumaredeeuropeia,denominadaEuropean Aeroallergen Network(EAN),transferindomensalmentedorespetivocentrodecoordenaçãoumapartedosdadospolíni-cosdasváriasestaçõesparaoBancodeDadosdePólenEuropeu(European Pollen Data Bank)sediadonaUniversidadedeViena,Áustria(Caeiroetal.,2007).

OsobjetivosdaRPAsãosemelhantesaosdasoutrasredesnacionaiseinternacionais,eincluem:

•  Monitorizar,anívelnacionaledeumaformacontínua,osníveispolínicosedeesporosfúngicosdiáriosdosprincipaistiposmorfológicoscomrelevânciaalergológica,eprocederàsuaprevisão;

•  Criarumabasededadoscomainformaçãoaerobiológicanacionalquesirvadesuporteàinvestigaçãoaerobiológicaealergológica;

•  Divulgar,anívellocalenacional,ainformaçãosobreosalergéniospolínicosmaiscomuns,atravésdosórgãosdecomunicação.

AinformaçãopolínicaédivulgadapelaRedePortuguesadeAerobiologianosítiodainternetdaSPAIC(www.spaic.pt)ouem(http://www.rpaerobiologia.com/?iml=PT&first=1).Desdeoutubrode2008queaSPAICdivulgaoBoletimPolínicoparaailhadaMadeiracomasprevisõessemanaisrelativamenteaostiposdepólenespredominantesnaatmosferaerespetivosníveisdeconcen-traçãopolínica.Naprimavera,quandoasconcentraçõespolínicassãomaiselevadas,oBoletimPolínicoéaindadifundidopelosmeiosdecomunicaçãosocial(rádios,televisãoejornais).Estainformaçãoéaindadisponibilizadaemhttp://iasaude.sras.gov-madeira.pt/.

Lacunas de conhecimento

Versecção3.2.1.

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SAÚDE SAÚDE92 93

3.3.1. Doenças transmitidas por mosquitos

Osmosquitossãovetoresresponsáveisporalgumasdasmaiorespreocupaçõesdesaúdepública.Combasenainformaçãodasespéciesavaliadaseidentificadasemestudosdevigilância(REVIVE,2014),estaavaliaçãofocou-senasdoençastransmitidaspelosmosquitosCulex pipiens eAedes aegypti,porseremasduasespéciesdemosquitosatualmentepresentesnaMadeiraquerepresentampreocupaçõesdesaúdepública.

Ambasasespéciessãoconhecidasporseremsensíveisaoclima.Apesardarelaçãoentreoclimaeadensidadeesobrevivênciadomosquitosercomplexa,existemevidênciassignificativasdequeoclimapodeterimpactesnostrêseventosbaseparaatransmissãodadoença:adensidadedomosquito,areplicaçãodovíruseocontacto“mosquito-serhumano”.

Comoatemperaturaéoparâmetroclimáticochavecomimpactenostrêsfatoreschavereferi-dos,avaliámosascondiçõesdetemperaturamaisadequadasparaatransmissãodaDengueedaFebredoNiloOcidentalemcadaconcelhoparatodososcenáriosclimáticos.

Apresenta-sedeseguidaumresumodosimpactesnasaúdededoençastransmitidaspormosquitos(DengueeFebredoNiloOcidental)assumindoqueovírusestápresentenailha.Seovírusdequalquerumadestasdoençasnãoestiverpresentenailha,entãooriscodetransmis-sãodadoençaéinsignificante.

Mosquito Aedes aegypti — responsável pela transmissão da DengueCenáriodereferência(1970-1999):

•  RibeiraBrava,MachicoeFunchal—concelhoscompotencialriscodetransmissãodadenguemaiselevado;

•  Setembro,outubroeagosto—mesesemqueoriscodetransmissãofoisuperior;

•  Riscoglobaldetransmissãodadenguebaixo(mesescommenosde25%dosdiasadequa-dosparatransmissãodadengue,excetoRibeiraBrava)—vulnerabilidade atual negativa.

Cenáriodecurtoprazo(2010-2039):

•  Onúmerodedias(numano)adequadosparaatransmissãoduplicaquandocomparadoscomocenáriodereferência;

•  Machico—concelhocomoriscodetransmissãomaiselevado(maisnotórioemsetembrocom60%dosdiasfavoráveisparatransmissão);

•  RibeiraBrava,MachicoeFunchal—concelhosareportarmesescommaisde25%dosdiasdentrodastemperaturasadequadasparatransmissãodadoença;

Conhecimento

•  DesenvolvermapaspolínicosparaasprincipaisespéciesidentificadasnailhadaMadeiracomelevadopotencialalérgico,definindoumcalendáriopolínicocompadrõesdesazonalidade;

•  DesenvolverumamelhorcompreensãosobreosalergéniospresentesnaatmosferadailhadaMadeiraeosseusefeitosnasaúde.

Tecnologia

•  Tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais(ex.televisão,rádio,mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc.).

Governança

•  Prepararoscuidadosdesaúdeprimáriosparaopossívelaumentodedoençasalérgicaserespiratórias;

•  Desenvolverlinhasorientadorasaquandodeprojetosdeespaçosverdesurbanoscomimpactealérgicobaixo;

•  Implementarumprogramanacional/regionalparaalergiasrespiratórias.

Socio economia

•  Promovercampanhasdesensibilizaçãoparaprevençãodedoençaspulmonaresrespiratórias;

•  Promoverasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúdeedosmeiosdecomunicaçãosocialparaospotenciaisimpactessobreasaúde;

•  Promoveraçõesdesensibilizaçãodapopulaçãosobreosefeitosnefastosdosalergéniosnasaúde.

Natureza

•  Aumentodabiodiversidadedeespéciesintroduzidasemzonasurbanas/florestais;

•  Introdução/reintroduçãodeespéciescompotencialalérgicoreduzido.

3.3. Doenças transmitidas por vetores

Comotivemosoportunidadedeassinalarnoutracomponentedesteestudo,asdoençasqueoferecemumamaiorpreocupaçãonumaperspetivadesaúdepúblicasãoastransmitidaspelasespéciesdemosquitos—Aedes aegyptieCulex pipiensepelascarraças—Ixodes ricinus.Éexpec-távelquenofuturoaMadeira,estejaespecialmentevulnerávelaestesimpactesdevidoaoseuclimaameno,àsuaricafloraefaunaeàsualocalizaçãogeográfica.

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SAÚDE SAÚDE94 95

Omosquito Aedes aegyptiétambémconhecidoporserovetordedoençascomoafebre-amarelaeafebrechikungunya.Oriscodetransmissãodeumadasreferidasdoençasseráidênticoaoriscodetransmissãodadengue,casoapopulaçãolocaldomosquitofiqueinfetadacomumdosreferidosvírus,umavezqueosvírussãotransmitidospelomesmovetor.

Mosquito Culex pipiens — responsável pela transmissão da Febre do Nilo OcidentalCenáriodereferência(1970-1999):

•  Machico,RibeiraBrava,FunchalePontadoSol—concelhoscompotencialriscodetransmis-sãodadenguemaiselevado;

•  Agostoesetembro—mesesemqueoriscodetransmissãofoisuperior;

•  RiscoglobaldetransmissãodaFebredoNiloOcidentalmédio(mesescommaisde50%dosdiasadequadosparatransmissãodadoença)—vulnerabilidade atual negativa.

Cenáriodecurtoprazo(2010-2039):

•  Machico,RibeiraBrava,Funchal,PontadoSol,SantaCruzeCalheta—concelhoscommaisdiasfavoráveisparatransmissãodadoença;

•  Agostoesetembro—mesescomamaiorpercentagemdediasadequadosparaatransmissão;

•  Riscoglobaldetransmissãodadenguemédio—vulnerabilidade curto prazo negativa.

Cenáriodemédioprazo(2040-2069):

•  Ambososcenáriosclimáticos(A2eB2)mostramumclaroaumentononúmerodediasfavoráveisparatransmissãodaFebredoNiloOcidental;

•  Machico,RibeiraBrava,Funchal,PontadoSol,SantaCruzeMachico—concelhoscomriscodetransmissãodadoençamaisalto;

•  Agosto,setembro,julhoeoutubro—mesescommaiornúmerodediasfavoráveisàtrans-missãodadoença;

•  Riscodetransmissãodadoençamédio-altoparaambososcenários—vulnerabilidade médio prazo muito negativa.

Cenáriodelongoprazo(2070-2099):

•  AumentosignificativononúmerodediasfavoráveisparaatransmissãodovírusdoOestedoNilo;

•  Agosto,setembro,outubroejulho—mesescomamaiorpercentagemdediasadequadosparaatransmissão;

•  Riscoglobaldetransmissãodadenguebaixo-médio—vulnerabilidade curto prazo negativa.

Cenáriodemédioprazo(2040-2069):

•  Ambososcenáriosclimáticos(A2eB2)mostramumaumentonoriscodetransmissãodadengueeconsequenteaumentodonúmerodediasadequadosparaatransmissãodadoença;

•  Agosto,setembro,outubro,julhoenovembro—mesescommaiornúmerodediasfavorá-veisàtransmissãodadoença;

•  Machico,RibeiraBrava,FunchalePontadoSol(nocenárioA2)—concelhosareportarmaisde25%dias/mêsfavoráveisàtransmissãodadoença;

•  Machico,RibeiraBravaeFunchal(nocenárioB2)—concelhosareportarmaisde25%dias/mêsfavoráveisàtransmissãodadoença;

•  Riscodetransmissãodadoençamédioparaambososcenários—vulnerabilidade médio prazo muito negativa.

Cenáriodelongoprazo(2070-2099):

•  Aumentosignificativononúmerodediasadequadosparatransmissãodadengue;

•  Machico,RibeiraBrava,Funchal,PontadoSoleSantaCruz—concelhoscommesescommaisde25%dosdiasdentrodointervaloadequadodetemperaturaparaatransmissãodadoença;

•  Machico—riscodetransmissãodadenguepodeviraserpossívelaolongodetodooano;

•  Julho,agosto,setembro,outubroenovembro(cenárioA2)—mesesemqueoriscodetrans-missãodadoençaémaiselevado;

•  Agosto,setembro,julhoeoutubro(cenárioB2)—mesesemqueoriscodetransmissãodadengueémaisalto;

•  RiscodetransmissãodadenguemédioparaocenárioB2ealtoparaocenárioA2—vulne-rabilidade longo prazo muito negativa (cenário B2)/crítica (cenário A2).

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SAÚDE SAÚDE96 97

Atualmente,osestudosdisponíveisrevelam,queomosquitoCulex pipiens não está infetado com o vírus do Oeste do Nilo e, consequentemente, o risco atual desta doença na RAM é insignificante.

ATabela5–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesdasdoençastransmitidaspormosquitosapre-sentaamatrizdevulnerabilidadeassociadaàsdoençastransmitidaspormosquitosdestacandoaFebredaDengueeaFebredoNiloOcidental,assumindoapresença/ausênciadovírusnailha.

Capacidade adaptativa

AcapacidadeadaptativaatualfoitestadanodecursodosurtodeFebredeDengue(2012-2013)eavaliadapeloEuropeanCentreforDiseasePreventionandControl(ECDC).Assinale-sequearespostadadafoiinequivocamenteadequadaàsituação,aqualeratambémexpectávelfaceaoconhecimentodaexistênciaedistribuiçãodovetor.FoipossívelconstatarevercorroboradaspeloECDCospontosfortesdestacapacidadeadaptativaqueraoníveldavigilânciaepidemioló-gica,daorganizaçãoerespostadosserviçosdesaúde,darespostadacomponentelaboratorialedavigilânciadosprodutosdesangue,assimcomonavigilânciadasatividadesdecontrolodovetor.Umaanálisedetalhadaaestamedidaderespostaserádiscutidanodecorrerdestasecção.

OrecentesurtodeFebredeDengue(2012-2013)verificadonailhadaMadeiraveioilustraraimportânciadasmedidasexistentesedaexistênciadeestratégiasde(bio)preparação(”prepared-ness” ),permitindoanalisarostrêsníveisdeadaptaçãoconsiderados.

Anteriormenteaosurtopodemosafirmarqueaatividadedevigilânciaepidemiológicaeapresta-çãodecuidadosdesaúdeseguiamnaRAMopadrãonacionalhabitual.

ApósoregistodapresençadomosquitonailhadaMadeiraem2005foiimplementadoumprogramadecontroloconstituídoporaçõesdesensibilizaçãojuntodapopulaçãoparareduçãodoscriadouros,recorrendo-senomeadamenteaosmeiosdecomunicaçãoeàaplicaçãodeinseticidas.Todaainformaçãosobremedidasadotadasencontra-sedisponibilizadanosítiodainternetdaSecretariaRegionaldosAssuntosSociaisdoInstitutodeAdministraçãodaSaúdeeAssuntosSociais,IPRAMemhttp://iasaude.sras.gov-madeira.pt/mosquitos/.

Desdeentãoforamdesenvolvidasasatividadesdescritasdeseguidacomoumaformaderes-postaexistentenoquerespeitaaosimpactesnasaúdehumanarelacionadoscomasdoençastransmitidaspormosquitos.

Utilização de Inseticidas e repelentes

ElaboraçãodedocumentosparacontroloquímicodomosquitoAedes aegypticombaseemrecomendaçõesdaOrganizaçãoMundialdeSaúdeenasorientaçõestécnicasdaDireção-GeraldaSaúde.

•  Utilizaçãodepesticidasdeusodoméstico(11-10-2012)

•  Machico,RibeiraBrava,Funchal,PontadoSol,SantaCruz,MachicoePortoMoniz—con-celhoscomamaioriadosdiasfavoráveisparaatransmissãodadoença(maisnotórionocenárioA2);

•  Mesesdejunhoanovembro—mesescommaisdiasfavoráveisparatransmissãodadoença;

•  RiscodetransmissãodaFebredoOestedoNiloalto—vulnerabilidade longo prazo muito negativa (cenário B2)/crítica (cenário A2).

Culex pipienséummosquitocomumemPortugal,estandoabundantementedistribuídoportodasasregiõesincluídonaRAM(REVIVE,2014).Éumaespécieconsideradaprimariamenteorni-tofílica,emboraestejademonstradoquesealimentedeoutrosvertebradosdesanguequente,incluindohumanos.Picamaisfrequentementeduranteanoite,aocontráriodoAedes aegyptiquepicaduranteodia.

Tabela 5 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes das doenças transmitidas por mosquitos

Impa

ctos

Id

enti

fica

dos

Expo

siçã

o

Sens

ibili

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Vuln

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ilida

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Atu

al

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Vu

lner

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dade

A

tual

Vulnerabilidade Futura

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

Fu

tura

Curto (2020-2039)

Médio (2040-2069)

Longo (2070-2099)

A2 A2 B2 A2 B2

TransmissãodadengueeFebredoNiloOcidental(semovíruspresente)

TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito

Neutro(0)

Alta 0 0 0 0 0 AltaHumidade Replicaçãoviral

Precipitação Contacto:mosquito-humano

Transmissãodadengue(comovíruspresente)

TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito

Negativo(-1)

Alta -1 -2 -2 -3 -2 AltaHumidade Replicaçãoviral

Precipitação Contacto:mosquito-humano

TransmissãoFebredoNiloOcidental(comovíruspresente)

TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadomosquito,Replicaçãoviral

Negativo(-1)

Alta -1 -2 -2 -3 -2 AltaHumidade

Precipitação

Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico

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SAÚDE SAÚDE98 99

•  Aintroduçãodedadospelapopulaçãoreferindoalocalizaçãodoavistamentodosmosquitos;

•  Visualizarnomapaaatividadedosmosquitosdeclarados(leve,moderada,intensa);

•  Visualizarnomapaasarmadilhaseapresença/ausênciademosquitos(semdados,ausênciademosquitos,presençademosquitos);

•  Visualizarnomapaasescolasaderentes/nãoaderentesaoprojeto.

Projeto “Dengue no Arquipélago da Madeira. Avaliação do risco de emergência de arboviro-

ses transmitidas por Aedes aegypti e ferramentas para o controlo vetorial”

ProjetofinanciadopelaFundaçãoparaaCiênciaeTecnologia(FCT/MCTES)comreferênciaPTDC/SAL-EPI/115853/2009,emparceriacomoInstitutodeHigieneeMedicinaTropicaldeLisboa(IHMT).

Nosmesesdesetembroeoutubrode2011:

•  Colocadas275ovitrapsduranteduassemanascomoobjetivodeavaliaradistribuiçãoeabundânciadeAedes aegyptinasilhasdaMadeiraePortoSanto.

AdecorrerdesdeFevereirode2012:

•  ColheitasdemosquitosadultoscomarmadilhasBG-Sentinel:consistenacapturademos-quitosadultosutilizandoas15armadilhasBG-SentinelcomiscosBGqueforamdistribuídas,13noconcelhodoFunchale2nafreguesiadeCâmaradeLobos.Ascolheitasdemosqui-tosadultossãoefetuadasquinzenalmenteeasarmadilhasfuncionamdurantedoisdiasseguidos;

•  Recolhadafitadaovitrap:consistenacolheitadeovosdemosquitocomumaovitrapouarmadilhadeoviposição.Aarmadilhaconstadeumrecipientedeplástico(balde)contendoáguaeumaréguadeplásticode30centímetrospresanabordadobaldeporumclip.Afacedaréguavoltadaparaaparteinternadobaldeérevestidacomumafitadeveludovermelho.Osmosquitosdepositamosseusovosdiretamentenasuperfíciedaáguaenasuperfícierugosadafitadeveludo.As15ovitrapsforamcolocadasnosmesmoslocaisdasarmadilhasBG.Semanalmentesãorecolhidasasfitascomousemovoseaslarvasqueestãonasovitraps;

•  Colheitassobreiscohumano:consistenacapturademosquitosadultossobreiscohumanoquernoexteriorounointerior,emdoislocaisdecolheitaselecionados:PousadadaJuven-tudeeAPEL.Estaatividadetemumaperiodicidadequinzenal,eérealizadadurantedoisdiasseguidos,aoentardecer,trêshoraspordia.Ohoráriodacolheitamudaaolongodoanodeacordocomahoradopôr-do-sol;

•  ControloquímicodoAedes aegypti(18-10-2012)

•  Inseticidasdeusodoméstico(22-11-2012)

Educação para a saúde (cartazes, folhetos, artigos, pop ups, TV e rádio)

Elaboraçãodecartazesefolhetos:

•  Flyer“Saibadistinguirsintomasdeumagripesazonaledadengue”;

•  Desdobrável“EliminaromosquitoAedes aegyptiecontrolaradenguedependedetodos”;

•  CartazDengue;

•  Cartaz“EliminaromosquitoAedes aegyptiecontrolaradenguedependedetodos”;

•  CartazAedes aegypti;

•  DesdobrávelAedes aegypti.

Participaçãoemprogramasderádio,televisãoepassagemdespotstelevisivos.

ElaboraçãodeartigossobreomosquitoAedes aegypti,sinaisesintomasdadengueeprevençãodedoençastransmitidaspormosquitos.

Coleçãodepop ups“ComoevitaracriaçãodomosquitoAedes aegypti”.

Recomendações para Viajantes

Elaboraçãoderecomendaçõesaviajantesem6línguas(português,inglês,francês,italiano,espanholealemão)referentesa“Recomendaçãoaviajantes:duranteaestadiaeaté21diasapósterregressadoacasa”e“Recomendaçõesaviajantes:noregressoacasapresteatenção”.

Informação intersectorial (turismo, construção civil, educação, segurança e saúde no trabalho)

Elaboraçãodeinformaçãosobreadengueerecomendaçõesparaáreasdeatividadedistintas:turismo,construçãocivil,educaçãoesegurançaesaúdenotrabalho.

Informação para profissionais de saúde

DivulgaçãodaOrientaçãodaDGSsobregestãoclínicadecasosdadengueedasorientaçõesdaOrganizaçãoMundialdeSaúdesobrediagnósticolaboratorialetestesdediagnóstico.

Declare!

Criaçãodaplataformadeparticipaçãodapopulaçãoquandoédetetadaapresençadosmos-quitos.Acessívelapartirdolinkhttp://iasaude.sras.gov-madeira.pt/naomosquito/.Estaplataformapermite:

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SAÚDE SAÚDE100 101

•  Avigilânciadaatividadedosmosquitosvetores,dacaracterizaçãodasespéciesedaocor-rênciasazonalemlocaisselecionados,assimcomoadeteçãoatempadadeintroduçãodemosquitosexóticos,nomeadamenteoAedes albopictuseAedes aegypti;

•  Aemissãodealertasparaadequaçãodasmedidasdecontrolo,emfunçãodadensidadedevetoresidentificada.

OProgramaincluiumaparceriaentreaDireção-GeraldaSaúde,asAdministraçõesRegionaisdeSaúde,oInstitutodaAdministraçãodaSaúdeeAssuntosSociais,IP-RAMeoCentrodeEstudosdeVetoreseDoençasInfeciosasDoutorFranciscoCambournacdoInstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge.

ApesardoREVIVEserumprogramanacional,aRAMapenasfoiintegradanoprogramaem2009-10.Nãoobstante,aRAMnãoparticipa,atualmente,noprogramadevigilânciadeixodídeos(“carraças”)assuntoaoqualvoltaremosmaisàfrente.

Análise do surto de dengue (2012/2013) e das medidas de adaptação atuais

apedidodaDireção-GeraldaSaúde,oECDC(2013)realizouumaanáliseSWOTparaosváriossectorescríticosdoprocessodecontrolointegradodosurto,naqualforamanalisadas,emdetalhe,osdomíniosqueaseguirseindicamequeirãoseranalisadossubsequentemente:

a ) Vigilânciaepidemiológica;

b ) Serviçosdesaúdeesuaorganização;

c ) Serviçoslaboratoriaisederivadosdosangue;

d ) Vigilânciadevetores;

e ) Atividadesdecontrolodosvetores.

Atravésdestaanáliseépossívelidentificarnãosóospontosforteseoportunidades,mastam-bémospontosfracoseameaçasosquaisirãoserconsideradosnasmedidasdeadaptaçãoparaosdiversoscenáriosconsiderados.

DaanáliseefetuadapeloECDC,aqualéparticularmenterelevanteparaaanálisedocenáriodereferência,destacamososseguintesaspetos:

a ) Vigilância epidemiológica

Pontos fortes•  Cooperaçãoentreasdiversasautoridadesdesaúderegionais(IASAÚDE),nacionais(DGS,INSA)eEuropeias(ECDC)norápidodesenvolvimentodeumsistemadevigilânciaautomáticobaseadonosdadosdoserviçodesaúdedaRAM.

•  ColheitaIndoor Resting(IR):consisteemcapturarfêmeascomsangueemrepouso,quinzenal-mente,nosegundodiadecolheitasdasBGenofinaldosegundodiadascolheitassobreiscohumano,emquatrolocais.

NOTA:Todoomaterialbiológicorecolhido(fitasdasovitrapscolocadasemsacosdeplástico,tuboscomlarvasconservadasemálcool,recipientescomadultoscongelados)estáaserenviadoparaoIHMT,deacordocomasdisponibilidades.

Monitorização do Mosquito Aedes aegypticonsisteemcontrolarquinzenalmenteapresençadeovos,numconjuntodeovitrapsestrategicamentecolocadas,emdiversoslocais,comotermi-naismarítimoseaéreoseoutrosespaçospúblicos.

Presentementeestãodistribuídas14ovitraps:1noconcelhodoFunchal(GareMarítima),3nocon-celhodeSantaCruz(Aeroporto,CentroSaúdeSantaCruz,CentroSaúdeCaniço),3noconcelhodeMachico(PortodoCaniçal,CentroSaúdeMachico,ParqueDesportivoÁguadePena),3noConcelhodaRibeiraBrava(CemitériodaTabua,BardoBujiga,EscolaBásicadoCampanário),2noconcelhodePontadoSol(HabitaçãodoSr.ManuelPitanoLugardeBaixo,LagoadoLugardeBaixo),2noconcelhodePortoMoniz(BarBatistaeBarNegrinho,ambosnafreguesiadaRibeiradaJanela).

Controlo e Prevenção do vetor Aedes aegypti—desde4desetembrode2012quetécnicosdesaúdeambientalencontram-seaatuarjuntodosdomicílios,informandoosseusmoradoressobreoagentetransmissoremedidasdeprevençãoapoiandoainformaçãocomadistribuiçãodeumfolhetoinformativoeuminquéritoentomológico.

Asáreasabrangidasnestaaçãosão:concelhodoFunchal(freguesiasdeS.Pedro,SantaLuzia,Sé,SantaMariaMaior),concelhodeSantaCruz(freguesiasdeCaniçoeSantaCruz),freguesiasdeCâmaradeLoboseconcelhodePontadoSol.

Programa Nacional de Vigilância de Vetores Culicídeos

REVIVE–ProgramaNacionaldeVigilânciadeVetoresCulicídeos

AcriaçãodoREVIVEdeveu-seànecessidadedemelhoraroconhecimentosobreasespéciesdevetorespresentesnopaís,asuadistribuiçãoedensidade,esclareceroseupapelcomovetoresdeagentesdedoençasedetetaratempadamenteaintroduçãodeespéciesinvasorascoimpor-tânciaemsaúdepública.

OREVIVEfoicriadoem2007,tendocomoobjetivosparaoperíodoentre2008e2010:

•  Acriaçãodeformasdecampanhasdeeducação,informaçãoàpopulaçãoecomunidademédica;

•  Acriaçãodecondiçõesparaqueascolheitasperiódicasouesporádicas,devetoresculicí-deossejamrealizadaspelasrespetivasAdministraçõesRegionaisdeSaúde;

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SAÚDE SAÚDE102 103

•  Aexperiênciaexistentecomdesastresnaturais.

•  Ainclusãododenguenoplanodecontingênciadosserviçosdeemergênciadohospitalar.

•  Aabordagemmultissectorialeoapoiodosmunicípios.

Oportunidades•  Oapoioexternoeoapoioexternoàrevisãodoprogramadecontingência.

•  Aexperiênciarecolhida.

Pontos fracos•  Nestaanálisesalienta-seaausênciadeumcenárioparaumsurto.

•  Oslimitadosrecursostécnicos.

•  Anecessidadedeosresultadoslaboratoriaisseremintegradosnosistemadeinformação.

•  Olocaldetrabalhonãoestarincluídonosistemaderegisto.

•  Aausênciadeexercíciosdesimulação.

Ameaças•  Areemergênciadovírus.

•  Areintroduçãodovírus.

•  ImunidadeparcialdapopulaçãoparaoDENV-1eapossibilidadedeocorrênciadeumsurtoporoutroserotipo.

c ) Serviços de saúde e sua organização

Pontos fortes•  Oelevadousodosectorpúblicodasaúdeesuaboaorganização.

•  Aexperiênciaexistentecomdesastresnaturais.

•  Ainclusãododenguenoplanodecontingênciadosserviçosdeemergênciadohospitalar.

•  Aabordagemmultissectorialeoapoiodosmunicípios.

Oportunidades•  Oapoioexternoeoapoioexternoàrevisãodoprogramadecontingência.

•  Desenvolvimentodeumadefiniçãoepidemiológicadecasoepreparaçãodeumquestioná-rio“online”;ajustamentodosistemadevigilâncialocaldemodoaserproduzidoduasvezesporsemanaumsumáriodasituaçãoepidemiológicaeUMboletimepidemiológicoinfor-mandodaevoluçãodosurto.

•  OsistemamuitobeneficiadofactodeoscuidadosdesaúdeprestadosàvastamaioriadoscidadãosdaRAMserefetuadopelosserviçosdesaúdepúblicos.

•  Asautoridadeslocaisnecessitamdestainformaçãoparaprepararoreferidoboletimedesenvolverasaçõesdecampo.Assimascaracterísticasdodoenteeaatualizaçãocons-tantedacurvaepidemiológica,associadasàgeo-localização(endereçododoente)epossívellocaldeexposiçãosãoinformaçõesessenciaisquepermitemaostécnicosnoterrenodesen-volvermedidasdecontrolodosvetoresnaproximidadedopossívellocaldeexposição.

•  Osesforçosdesenvolvidosduranteosurtovisaramdesenvolveracapacidadelocalereforçaroempenhodasautoridadeslocaisaomesmotempoquepromovemapartilhadecompetênciaserecursosdeoutrossectoresadministrativosnomeadamentenodomíniodossistemasdeinformaçãogeográfica.

•  Esteaumentodacapacidadeconstitui,certamente,umcréditorelevanteparaaRAMeparaoPaísnaeventualidadedeviraocorreroutrosurtodedoençaassociadaavetores.

Oportunidades•  Destedocumentoassinalamos-seaimportânciadacooperaçãocomperitosexternos,daaquisiçãodeconhecimentointegradosobreosurtoeodesenvolvimentodeplanosdecontingênciaeaexperiênciaobtidaquepoderáviraserútilaoutrosestadosmembroseemprogramasdeformação.

Pontos fracos•  Nestaanálisesalienta-seanecessidadedeosresultadoslaboratoriaisseremintegradosnosistemadeinformação,aausênciadecapacidadeparadesenvolvercompetênciasparaaanáliseepidemiológicaassimcomoanecessidadedemelhorarocircuitodeinformaçãocomosectorprivadoatravésderecordatórios,folhasinformativas.

Ameaças•  Aameaçaidentificadadizrespeitoàcomunicaçãosugerindo-seautilidadedepromover,comregularidade,exercíciosdesimulaçãoenvolvendodiversossectoresparatestaraquelacapacidade.

b ) Serviços de saúde e sua organização

Pontos fortes•  Oelevadousodosectorpúblicodasaúdeesuaboaorganização.

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SAÚDE SAÚDE104 105

•  IdentificaçãodosserotiposedesenvolvimentodeumprogramacomoINSA.

•  Desenvolvimentodeumprotocoloparaumbiobancoearmazenamentodeamostras.

Ameaças•  Custosadicionaisassociadosaatividadesderastreio(segurançadosderivadosdosangue).

e ) Vigilância de vetores

Pontos fortes•  Oprogramadevigilânciainiciou-seantesdosurto.

•  Desde2009quesãocolocadasarmadilhaspermitindoanálisedetendências.

•  Possibilidadedeseremdefinidasnovaslocalizações.

•  Informaçãosegura.

•  Envolvimentoativodapopulaçãoeautoridades.

•  Boacolaboraçãointersectorialaoníveloperacional.

•  Algumacompetêncialocaldisponível.

Oportunidades•  ColaboraçãocomaDGSeperitos.

•  ParaaRAM-Recrutamentodecoordenadorcomexperiêncianavigilânciadadengue.

•  ParaaEuropa–oportunidadedebeneficiardasituaçãonaRAMnoâmbitodavigilânciadeespéciesinvasivasdemosquitos.

•  ParaoECDC–Desenvolvimentodediretrizesparaavigilânciadevetoresinvasivos.

Pontos fracos•  Recursoshumanosreduzidos.

•  Ausênciadefinanciamentoespecífico.

•  Vigilânciadevetoresnãoéidentificadacomoumatarefaespecífica.

•  Inexistênciadecoordenaçãoentreavigilânciadevetoreseacompetêncialocal.

•  Estruturadapopulaçãodevetores(possibilidadedeocorreremmúltiplasintroduçõesdovetor).

•  Aexperiênciarecolhida.

Pontos fracos•  Nestaanálisesalienta-seaausênciadeumcenárioparaumsurto.

•  Oslimitadosrecursostécnicos.

•  Anecessidadedeosresultadoslaboratoriaisseremintegradosnosistemadeinformação.

•  Olocaldetrabalhonãoestarincluídonosistemaderegisto.

•  Aausênciadeexercíciosdesimulação.

Ameaças•  Areemergênciadovírus.

•  Areintroduçãodovírus.

•  ImunidadeparcialdapopulaçãoparaoDENV-1eapossibilidadedeocorrênciadeumsurtoporoutroserotipo.

d ) Laboratório e derivados do sangue

Pontos fortes•  Elevadacapacidadedeadaptação.

•  Rápidarespostaaemergências.

•  Infraestruturalocalad hoc.

Oportunidades•  ColaboraçãocomoINSAeoECDC.

•  Possibilidadedeanáliseretrospetivadosresultadoslaboratoriais.

•  Desenvolvimentodeumestudodeimunidadeemcolaboraçãocomparceirosexternos.

Pontos fracos•  Necessidadededesenvolvimentodeumprogramadeavaliaçãoexternadaqualidade.

•  Anecessidadededesenvolvimentodeumprotocololaboratorialdeinterpretaçãodosresultados.

•  Planeamentode“stocks”.

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SAÚDE SAÚDE106 107

Ameaças•  Ausênciadevontadepolíticaerecursoshumanoseeconómicosinsuficientes.

•  Faltadesustentabilidade(emergênciadeoutrasprioridades/perdadeinteressenofuturo).

•  OcorrênciadeoutrasdoençastransmitidaspeloAe.Aegypti.

•  Complexidadedoprocessolegalparaacontrataçãopúblicacomcompanhiasprivadas.

•  Ausênciadeorientaçãolegaldasautoridadesrelativamenteaoacessoahabitaçõesabando-nadasnoâmbitodeumaemergênciadesaúdepública.

Lacunas de conhecimento

Ainformaçãodisponívelrelativaàsdoençastransmitidasporvetoresencontra-secompiladanosdocumentosdaDireção-GeraldaSaúde(DGS)referentesàsdoençasdedeclaraçãoobrigatória(DDOs).

Estainformaçãosugereque,comoocorrenorestantepaís,ograudenotificaçãotemsidomanifes-tamentereduzidopeloqueapresenteinformaçãodeveráseranalisadacomadevidaprudência.

ComaentradaemvigordosistemaSINAVE(http://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/sinave.aspx?v=b5ef3dfe-6f5f-4ce3-8e86-fabad33830bf )eaatualizaçãodalistadasDDOsprevê-sequetaislimitaçõespossamvirasersignificativamenteminimizadas.Estalistaincluiasdoençasemapreçonesterelatório,designadamente—DoençadeLyme,FebredaDengue,FebredoNiloOcidentaleoutrasigualmenterelevantescomoéocasodaFebreEscaro-Nodular,aLeishma-niosevisceraleaLeptospirose.

Mosquito Aedes aegyptiAsprincipaislacunasdeconhecimentonoquerespeitaaestemosquitoedocênciasassociadassão:

•  Quaisosfatoresassociadosàpossibilidadede(re)emergênciadosvírusousuaeventual(re)introdução;

•  OconhecimentolimitadosobreaimunidadedapopulaçãoparaoDENV-1eapossibilidadedeocorrênciadeumsurtoporoutroserotipo;

•  PossibilidadedeocorrênciadeoutrasdoençastransmitidaspeloAe. Aegypti;

•  Inexistênciadeinformaçãoatualizadasobrearesistênciadosmosquitosaosdiversosinseticidas;

•  Limitadacompreensãodainteraçãotemperatura,humidadeeprecipitaçãoeodesenvolvi-mento,sobrevivênciadomosquito,replicaçãoviralecontacto“mosquito-serhumano”.

Ameaças•  Faltadesustentabilidade(emergênciadeoutrasprioridadesouperdadeinteressenofuturo).

•  Númeroreduzidodequeixasdapopulação.

•  RiscodeimportaçãodenovasestirpesdeAe. Aegypti.

•  RiscodeexportaçãodeAe. AegyptiparaaEuropa.

f ) Atividades de controlo dos vetores

Pontos fortes•  Agentesprivadosexperientes.

•  Forteenvolvimento.

•  Algumaexperiênciaespecíficalocal.

Oportunidades•  Apoiooperacionalecientífico(DGS,peritos,etc.).

•  ParaaRAM-Recrutamentodecoordenadorcomexperiêncianocontrolodadengue.

•  ParaaEuropa–oportunidadedebeneficiardasituaçãonaRAMnoâmbitodocontrolodeespéciesinvasivasdemosquitos.

•  RealizarnaMadeiraum“workshop”comperitosnocontrolodemosquitos.

Pontos fracos•  Inexistênciadeequipamentodeserviçopúblicoparaocontrolodevetores.

•  OsectordaSaúdePúblicanãotinhaexperiênciaprévianocontrolodevetoresdurantesurtos.

•  Inexistênciadeumaunidadedecontrolodemosquitos.

•  Inexistênciadecoordenaçãodasatividadesdecontrolodevetores.

•  Inexistênciadeinformaçãoatualizadasobrearesistênciadosmosquitosaosinseticidas.

•  Inexistênciadeorganismosdedicadosàavaliaçãodasatividadesdecontrolodevetores(avaliaçãoexterna).

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SAÚDE SAÚDE108 109

•  DesenvolverosmecanismosdereconhecimentoprecocedoriscodeimportaçãodenovasestirpesdeAe. Aegypti edoriscodeexportação paraaEuropa;

•  PromoveroconhecimentodaimunidadedapopulaçãoparaoDENV-1;

•  Estudaraestruturadapopulaçãodevetoresfaceàpossibilidadedeocorreremmúltiplasintroduçõesdomesmovetor;

•  Inexistênciadeinformaçãoatualizadasobrearesistênciadosmosquitosaosinseticidas;

•  PromoverprogramaseducacionaiscontínuosparaassegurarqueosprofissionaisdesaúdepúblicanaRAMsãobeminformadossobreaidentificaçãoetratamentodasdoençastrans-mitidaspormosquitos.Aparteimportantedanotificaçãodestasdoençasdevetambémserabordadacomestesprogramas.

Tecnologia

•  Promoveramelhoriadosrecursostécnicos;

•  Promoveraintegraçãodosresultadoslaboratoriaisnosistemadeinformação;

•  Desenvolverumprotocololaboratorialdeinterpretaçãodosresultados;

•  Desenvolvercompetênciasemepidemiologia;

•  Desenvolvereintegrarumprogramadeavaliaçãoexternadaqualidade;

•  PromoveraidentificaçãodosserotiposedesenvolverprogramacomoINSA;

•  Desenvolverprotocoloparaumbiobancoearmazenamentodeamostras;

•  Vacinaçãocomométododeprevençãodedoençastransmitidaspormosquitos;

•  Tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais(ex.televisão,rádio,mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc.).

Governação

•  Colmatarascarênciasemrecursoshumanosidentificadas;

•  Estabelecerfinanciamentoespecífico;

•  Tornaravigilânciadevetoresumatarefaespecífica;

•  Promoveracoordenaçãoentreavigilânciadevetoreseacompetêncialocal;

Faltadeestudoe/dados

•  Inexistênciadeinformaçãoatualizadasobrearesistênciadosmosquitosaosinseticidas;

•  Necessidadededesenvolverestudosquelevemàproduçãodevacinasefetivas;

•  Melhoriadosistemadeinformaçãoeregisto,cominclusãodolocaldetrabalhoeintegraçãodosresultadoslaboratoriais.

Mosquito Culex pipiensAsprincipaislacunasdeconhecimentonoquerespeitaàFebredoNiloOcidentalsão:

•  Desconhece-sequalaprobabilidadedeapopulaçãodeCulexpipiensviraficarinfetada;

•  OsreservatóriosdovírusdoOestedoNilonanaturezaincluemváriostiposdeaves,quenãosucumbemaovírus,mantendo-oemcirculaçãootemposuficienteparaqueosmosquitosseinfetemaopicá-lasedepoisospossamtransmitiraohomemeaocavaloquepode,igual-mente,serfatalmenteafetado.Existeanecessidadedepartilharcomosprofissionaisdesaúdepúblicadeinformaçãorelacionadacomainfeçãodestesanimaisreservatórios;

•  Atransmissãoviralésubstancialmentemaiscomplexaquandocomparadacomovírusdodengue,tornandoasmedidasdecontrolomaisdifíceisoqueconstituiumalacunasignifica-

tivanoconhecimento.

Medidas de adaptação

Apresentam-seseguidamenteasmedidasdeadaptaçãoquepodemseradotadasparaminimi-zarosimpactesdasdoençastransmitidaspormosquitosnasaúdehumana:

Conhecimento

•  Avaliarseadensidadedomosquitoeosmodelosdoriscodetransmissãodadoençadesen-volvidosemoutrasregiõessãoaplicáveisaoambienteecondiçõessociaisdaRAM.SeestesmodelosprovaremserbonspreditoresparaaRAMentãopodemserusadoscomopartedeumsistemadeavisoealertaparapreverperíodosdepossíveisepidemiasdestasdoenças;

•  PromoveramelhoriadacapacidadedosetordaSaúdePúblicanocontrolodesurtosevetores;

•  Promoveroestudodaestruturadapopulaçãodevetores(possibilidadedeocorreremmúltiplasintroduçõesdovetorousua(re)emergência);

•  DesenvolverosmecanismosdereconhecimentoprecocedapossibilidadedeocorrênciadeoutrasdoençastransmitidaspeloAe. Aegypti;

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SAÚDE SAÚDE110 111

•  Disponibilizarrecursosadicionaisparaatividadesderastreio(segurançadosderivadosdosangue);

•  Sensibilizaçãocontínua(nãoapenassazonal)dapopulaçãoeturistassobredoençastransmi-tidasporvetores;

•  Direcionaresforçosparasensibilizaraspopulaçõesmaisvulneráveis;

•  Promoverasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúdeedosmeiosdecomunicaçãosocialparaospotenciaisimpactessobreasaúde;

•  Promoveraçõesdesensibilizaçãodapopulaçãosobreosmosquitosvetoreseosimpactesdasdoençasporelestransmitidasnasaúde.

Natureza

•  Utilizaçãodeespéciespredadorasparacontrolarapopulaçãodevetores;

•  Utilizaçãoderepelentesnaturais(tendoemcontraalegislaçãoatualdeusodeprodutosbiocidas);

•  Procederàlimpezadelocaisdereproduçãodemosquitos.

3.3.2. Doenças transmitidas por carraças

Adinâmicadetransmissãodosagentesimplicadosemdoençastransmitidasporcarraçascaracterizaseporumsistemacomplexoquerequerapresençadoorganismopatogénico,deumvetorcompetenteeoseucontactocomoHomem,bemcomodehospedeirosreservatórios(gado,aves,cão,gato).

NaMadeiraésabidodesdehámaisde15anosqueacarraçaIxodes ricinusseencontraminfeta-dascomoagenteinfeciosoBorrelia sp.(Matuschkaetal.,1998).Investigaçõesmaisrecentesiden-tificaramqueIxodes ricinusnaMadeiraestáatualmenteinfetadacomBorrelia lusitaniae,váriasestirpesdeRickettsia sp.eAnaplasma phagocytophilum.Tambémnãofoiincomumencontraramesmacarraçainfetadacommaisdoqueumdestesagentesinfeciosos(LopesdeCarvalhoetal.,2008).Estestrêsagentesinfeciosossãoumapreocupaçãodesaúdepública.Poroutrolado,estamesmacarraçaencontra-seenvolvidanatransmissãodostrêsagentesmencionadospeloqueérazoávelassumirqueoriscodetransmissãodetodasestasdoençasésimilar.

OimpactedasalteraçõesclimáticasnatransmissãodadoençadeLyme(agenteinfeciosoBorre-lia sp.)foiavaliadonesteestudoconsiderandooslimiaresdetemperaturaehumidaderelativaquefavorecemasmaioresdensidadesdeninfas(percentagemdediaspormês).AdensidadeéusadacomoindicadordatransmissãopotencialdadoençadeLyme.

•  Criarumaunidadedecontrolodemosquitos;

•  Desenvolverumsistemaadequadodecoordenaçãodasatividadesdecontrolodevetores;

•  Criarcenáriosparaumeventualsurto;

•  Melhorarocircuitodeinformaçãocomosectorprivadoatravésderecordatórios,folhasinformativas;

•  Melhoraroplaneamentode“stocks”paraemergênciasdesaúdepública.

•  Melhorarosatuaisníveisdecomunicaçãosugerindo-seautilidadedepromover,comregula-ridade,exercíciosdesimulaçãoenvolvendodiversossectoresparatestarestacapacidade;

•  Promoveraavaliaçãoexternadosprogramaseorganismosdedicadosàavaliaçãodasatividadesdecontrolodevetores;

•  Estimularavontadepolíticaealocarrecursoshumanoseeconómicosadequados;

•  Simplificaroprocessolegalvigentereferenteàcontrataçãopúblicadecompanhiasprivadas;

•  Estabelecerorientaçãolegalquepossibiliteoacessoahabitaçõesabandonadasnoâmbitodeumaemergênciadesaúdepública;

•  Prepararoscuidadosdesaúdeprimáriosparaopossívelaumentodedoençasinfeciosastransmitidaspormosquitos;

•  Controlosdesaúdemaisseverosnaentradanopaísdeviajantesvindosderegiõesondeasdoençassãoendémicas;

•  ControloedesinfestaçãodeprodutosimportadosparaaIlha.

Socioeconomia

•  Colmatarascarênciasemrecursoshumanosidentificadas;

•  Criarequipamentosdeserviçopúblicoparaocontrolodevetores;

•  Definireatribuirfinanciamentoespecífico;

•  Promoverasustentabilidadedosprogramasfaceàemergênciadeoutrasprioridadesouàperdadeinteressenofuturo;

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SAÚDE SAÚDE112 113

Tabela 6 – Matriz de Vulnerabilidade: Impactes das doenças transmitidas por carraças

Impa

ctos

Id

enti

fica

dos

Expo

siçã

o

Sens

ibili

dade

Vuln

erab

ilida

de

Atu

al

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

A

tual

Vulnerabilidade Futura

Confi

ança

Vu

lner

abili

dade

Fu

tura

Curto (2020-2039)

Médio (2040-2069)

Longo (2070-2099)

A2 A2 B2 A2 B2

TransmissãodadoençadeLyme(semoagentepatogénicopresente)

TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadacaraça

Neutro(0)

Alta 0 0 0 0 0 AltaHumidade Presençade

hospedeiros

Precipitação Contacto:caraça-humano

TransmissãodadoençadeLyme(comoagentepatogénicopresente)

TemperaturaDesenvolvimento&sobrevivênciadacaraça Muito

Negativo(-2)

Alta -2 -2 -2 -2 -2 AltaHumidade Presençade

hospedeiros

Precipitação Contacto:caraça-humano

Escala de vulnerabilidade: 1 = positivo; 0 = neutro; -1 = negativo; -2 = muito negativo; -3 = crítico

Capacidade adaptativa

NoquerespeitaaDoençadeLyme,deacordocomLindgreneJaeson(2006),osfatoresambien-taiseclimáticosqueinfluenciamoriscodedoençaagrupam-seemtrêscategorias:

•  Fatoresqueinfluenciamaabundânciadovetoredosreservatóriosanimais

•  Fatoresqueinfluenciamocontactovetor—“serhumano”

•  Fatoresqueafetamacapacidadedeadaptaçãodasociedadeàmudança

Nãoobstante,osautoresassinalamqueasatuaismedidasdeadaptaçãosãoodiagnósticoprecocecorretoenautilizaçãoadequadadeterapêuticaantibiótica.Atualmente,questiona-seautilidadedeumavacinacusto-efetivaemzonasdebaixaincidênciaumavezqueadoençaéemregracurável.ARAMéumazonademuitobaixoincidênciaajulgarpelosdadosoficiaisdisponíveis.

Considerandoqueatualmente,ascarraçassãoosvetoresqueconstituemummaiorriscoparaaSaúdePública,emPortugalenaEuropa,foramdesenvolvidosalgunsprogramasparaoestudodeixodídeos(carraças).OprojetoClimaTickeoprogramaREVIVEsãoexemplosdeformasderespostaexistentenoquerespeitaaosimpactesnasaúdehumanarelacionadoscomasdoen-çastransmitidasporcarraças.

Apresenta-sedeseguidaumresumodosimpactesnasaúdedasdoençastransmitidasporcarraças(doençadeLyme)assumindoqueovírusestápresentenailha:

Carraça Ixodes ricinus — responsável pela transmissão da doença de LymeCenáriodereferência(1970-1999):

•  Funchal,RibeiraBrava,PontadoSoleCalheta—concelhosquetiveramcondiçõesclimáticasmaisfavoráveisparaatransmissãodadoençadeLyme;

•  Mesesdefevereiroajunho—mesesemqueasdensidadesdeninfasforamsuperiores(econsequentementeoriscodetransmissãodadoença);

•  Riscoglobaldetransmissãodadoençamédio—vulnerabilidade atual muito negativa.

Cenáriosdecurto,médioelongoprazo:

•  Reduçãodascondiçõesclimáticasadequadasparatransmissãodadoençaduranteosmesesmaisquentes;

•  Aumentofavorávelparatransmissãodadoençanosmesesmaisfrios;

•  Tendênciasdosdoispontosanterioressãoverificadasparatodososconcelhos;

•  RiscoglobaldetransmissãodadoençadeLymemédio—vulnerabilidade curto, médio e longo prazo muito negativa.

ATabela6–MatrizdeVulnerabilidade:Impactesdasdoençastransmitidasporcarraçasapre-sentaamatrizdevulnerabilidadeassociadaàsdoençastransmitidasporcarraças,dasquaisa“Ixodes ricinus”estáatualmenteinfetadacomváriosagentespatogénicosincluindoasbactériasdosgénerosRickettsia(responsávelpelaFebreEscaro-Nodular)eBorrelia(responsávelpeladoençadeLymeouBorreliosedeLyme).

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SAÚDE SAÚDE114 115

•  Formaçãointegradadostécnicosdesaúdeedeambientenestedomínio.

Medidas de adaptação

Paraminimizaroriscodasdoençastransmitidasporcarraçasamedidamaiseficazconsistenaprevençãodapicadaatravésdeutilizaçãodemétodosfísicos,químicosebiológicosquevãointervirnareduçãodadensidadedecarraças.

Ixodesricinussãosensíveisaambientescomhumidadesendoqueemlocaissecosraramentesãoumproblema.Umagestãoadequadadoslocaishúmidosdaregiãoéumaboaopçãodecontrolodascarraças.Usartécnicaspaisagísticasparacriarzonaslivresdecarraçasemtornodeescolas,emjardinspúblicos,emcaminhoserotasdelazercomaeliminaçãodegrandesquantidadesdeherbáceasouacolocaçãodemadeirasoucascalhocomoseparaçãodeespaçosarbóreosdeáreasdelazer.

Ocontroloquímicocomaaplicaçãodeacaricidasnoambienteounosanimaisdomésticoséométodomaisutilizadomasqueacarretacustos,riscosparaasaúdeeparaoambientealémdasresistênciasqueascarraçasvãoadquirindoaosprodutosquímicos.

Ocontrolobiológicopodeserumaformacomplementardecontrolodecarraçasutilizandopredadoresnaturaisvertebrados(ratos,aves)einvertebrados(formigas,aranhas),fungosouplantascompoderacaricidapodeconstituir-secomocomplementoaosmétodosquímicostradicionais.

Aprevençãoimplicatambémacontinuaçãodoprogramadevigilânciaemonitorizaçãoimple-mentadopeloREVIVE,vistoqueavigilânciapermitedetetaratempadamentequalqueralteraçãonaabundância,nadiversidadeepapeldevetor,levandoaqueasautoridadespossamdefinirmedidasdeproteçãodasaúdepública.

Asensibilizaçãodapopulaçãoeadivulgaçãodeinformaçãosobreascarraçaseosriscosassociadosàsuapresençanoambientedevetambémrealizar-sequandosepretendecontrolarapresençadecarraçaseatransmissãodedoenças.

Apresentam-seseguidamenteasmedidasdeadaptaçãoquepodemseradotadasparaminimi-zarosimpactesdasdoençastransmitidasporcarraçasnasaúdehumana:

Conhecimento

•  PromoveramelhoriadacapacidadedosectordaSaúdePúblicanocontrolodesurtosevetores;

•  Promoveroestudodaestruturadapopulaçãodevetores;

•  Desenvolverosmecanismosdediagnósticoetratamentoprecoces;

Projeto “ClimaTick - Parâmetros ambientais na alteração da dinâmica dos sistemas europeus

das doenças associadas a ixodídeos”

ProjetodesenvolvidopeloCentrodeEstudosdeVetoreseDoençasInfeciosas,InstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge(CEVDI/INSARJ),foifinanciadopelaFundaçãoparaaCiênciaeTecnologia(FCT),tendo-seiniciadonodecursodoanode2008ecomtérminoem2010.

OprincipalobjetivodesteestudofoiodemelhoraroconhecimentosobreaepidemiologiadasdoençastransmitidasporcarraçasemPortugalatravésdacombinaçãodedadosclimáticoscomdadosdaecologiadovetor.ComasinformaçõescoletadasfoipossívelcriarummodelopreditivoparaocorrênciadestasdoençasemPortugal,incluídoaRAM.

Programa Nacional de Vigilância de Vetores Culicídeos e Ixodídeos

REVIVE–ProgramaNacionaldeVigilânciadeVetoresCulicídeoseIxodídeos

Desde2011,queavigilânciadevetoresfoialargadaaoestudodeoutrosartrópodeshematófa-gos—carraças—sendopesquisadososagentespatogénicostransmitidosporestesvetores,nomeadamenterickettsias(agentesdaFebreEscaro-Nodularelinfangite)eborrélias(agentesdadoençadeLymeouborreliose).Contudo,aRAMnãoestáincluídanesteprogramademonitori-zaçãodecarraças.

Lacunas de conhecimento

AsprincipaislacunasdeconhecimentonoquerespeitaàdoençadeLymesão:

•  DadoqueascarraçasinfetadassãocomunsnaRAM,éurgenteperceberqualacausadenãoexistiremcasosclínicosreportados(DDO)dadoençadeLymenaRAM;

•  Quaisosfatoresqueinfluenciamocontactovetor—“serhumano”nocontextodaRAM,comidentificaçãodasáreasderisco,atividadesderecreio,usosderecursosnaturaiseaaplicaçãodasmedidaspreventivas(autoproteção)recomendadas;

•  Quaisosfatoresqueafetamacapacidadedeadaptaçãodasociedadeàmudança,incluindoacapacidadedevigilânciaemonitorização;

•  Qualacapacidadedascomunidadeseserviçosdesaúdeatuarememsituaçõesdesurto;

•  Quaisasestratégiasdecontrolodosvetoreserespetivosresultados.

Faltadeestudoe/dados

•  Melhoriadosistemadeinformaçãoeregistodasdoençastransmitidasporixodídeoscominclusãodolocaldetrabalhoeintegraçãodosresultadoslaboratoriais;

•  ParticipaçãoativanoprogramaREVIVEixodídeoseintegraçãodainformaçãonareferidarede;

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SAÚDE SAÚDE116 117

•  Melhoraroplaneamentode“stocks”paraemergênciasdesaúdepública;

•  Melhorarosatuaisníveisdecomunicaçãosugerindo-seautilidadedepromover,comregula-ridade,exercíciosdesimulaçãoenvolvendodiversossectoresparatestarestacapacidade;

•  Promoveraavaliaçãoexternadosprogramaseorganismosdedicadosàavaliaçãodasatividadesdecontrolodevetores;

•  Estimularavontadepolíticaealocarrecursoshumanoseeconómicosadequados;

•  Medidasoficiaisdelimpeza,controloevigilânciadeespaçosprivadosabandonados.

Socioeconomia

•  Colmatarascarênciasemrecursoshumanosidentificadas;

•  Criarequipamentosdeserviçopúblicoparaocontrolodevetores;

•  Definireatribuirfinanciamentoespecífico;

•  Promoverasustentabilidadedosprogramasfaceàemergênciadeoutrasprioridadesouàperdadeinteressenofuturo;

•  Sensibilizaçãocontínuadapopulaçãoeturistassobredoençastransmitidasporcarraças;

•  Direcionaresforçosparasensibilizaraspopulaçõesmaisvulneráveis;

•  Promoveraçõesdesensibilizaçãodapopulação,nomeadamentecrianças,sobrecarraçaseosimpactesdasdoençasporelestransmitidasnasaúde;

•  Açõesdedivulgaçãosobreociclobiológicodascarraçasedemétodospreventivos paraevitaraproliferaçãodecarraçasempropriedadesprivadas;

•  Promoverasensibilizaçãodosprofissionaisdesaúdeedosmeiosdecomunicaçãosocialparaospotenciaisimpactessobreasaúde.

Natureza

•  Promoveroestudodosdiversosreservatórios;

•  Promoveroestudoaprofundadodatransmissãoeestabelecerasmedidasdecontroloadequadas;

•  Eliminaçãodegrandesquantidadesdeherbáceasemtornodeescolas,emjardinspúblicos,emcaminhoserotasdelazer;

•  Estudaraestruturadapopulaçãodevetoreseasuadinâmica;

•  Promoverarecolhasistemáticadebaseepidemiológicaesero-epidemiológicaparaasdoençastransmitidasporixodídeos;

•  ProduzirmaisinformaçãosobreadoençadeLyme.

Tecnologia

•  Promoveramelhoriadosrecursostécnicos;

•  Promoveraintegraçãodosresultadoslaboratoriaisnosistemadeinformação;

•  Desenvolverumprotocololaboratorialdeinterpretaçãodosresultados;

•  Desenvolvercompetênciasemepidemiologia;

•  Desenvolvereintegrarumprogramadeavaliaçãoexternadaqualidade;

•  Promoveraidentificaçãodosserotipos;

•  Desenvolverprotocoloparaumbiobancoearmazenamentodeamostras;

•  Tornarainformaçãodesensibilizaçãoealertamaisacessívelutilizandodiversoscanais(ex.televisão,rádio,mensagensSMS,aplicativosmóveis(apps),etc.).

Governação

•  Colmatarascarênciasemrecursoshumanosidentificadas;

•  Estabelecerfinanciamentoespecífico;

•  Tornaravigilânciadevetoresumatarefaespecífica;

•  Promoveracoordenaçãoentreavigilânciadevetoreseacompetêncialocal;

•  Criarumaunidadedecontrolodecarraças(eventualmenteintegradacomadosmosquitos);

•  Desenvolverumsistemaadequadodecoordenaçãodasatividadesdecontrolodevetores;

•  Criarcenáriosparaumeventualsurto;

•  Melhorarocircuitodeinformaçãocomosetorprivadoatravésderecordatórios,folhasinformativas;

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•  Colocaçãodemadeiraoucascalhoemáreasarborizadaspararestringiramigraçãodecarraçasparaaszonasdelazer;

•  Utilizaçãodeespéciespredadorasparacontrolarapopulaçãodevetores;

•  Utilizaçãodefungosouplantascompoderacaricida.

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4. CONCLUSÃODevidoàinérciainerenteaosistemaclimáticoeaoperíododetemponecessárioparaodióxidodecarbonoentraremequilíbrionaatmosfera,omundoestácomprometidoemtrêsacincodécadasdealteraçõesclimáticas,nãoimportandooquãorapidamenteasemissõesdegasesdeefeitodeestufasãoreduzidas.OsresultadosdestaavaliaçãoindicamqueasalteraçõesclimáticasnaRAMirãomuitoprovavelmenteaumentarosimpactesnasaúdequesãosensíveisaoclima,taiscomoosresultantesdostressporcalor,dapoluiçãodoarambienteededoençastransmitidasporvetores.Amaioriadospotenciaisimpactesnasaúdeassociadosaestasaltera-çõesdoclimapode,noentanto,serevitadaoureduzidaatravésdeumacombinaçãoentrefor-talecerasfunçõeschavedossistemasdesaúdeeumamelhorgestãodosriscosapresentadosporumclimaemmudança.AsmedidasdeadaptaçãorecomendadasparaaRAMparareduzirospossíveisimpactesdasalteraçõesclimáticasnasaúdesãoresumidasdeseguida.

Atualmente,paraailhadaMadeiraexisteumsistemadeavisosmeteorológicosparaapopu-laçãoeautoridadesdeproteçãocivil.Estesistemautilizaapenasparâmetrosmeteorológicoslocaissemestabelecerumarelaçãoquantitativaentresaúdehumanaetempo(i.e.stressporcalor).Destaforma,sãonecessáriosnaRAMsistemasdeavisoealertabaseadosemlimiaresmeteorológicosqueconsideremasrespostasdesaúdedapopulaçãolocal.Paraqueestesis-temasejaeficaz,éimportantequeosistemadesaúdelocalestejapreparadoparaumpotencialaumentodonúmerodepacientesemperíodosdealerta.Damesmaforma,éimperativoqueopúblicoemgeralsejainformadodoquedevefazerparaseprotegereaosfamiliaresduranteestesepisódios.

Desde2003queaRAMmonitorizaaqualidadedoarnoFunchal.OsresultadosdestesistemademonitorizaçãoindicampreocupaçõesatuaisdesaúdeassociadasaosníveisdePM10.ComasalteraçõesclimáticaséprovávelqueosníveisnoambientedePM10edeozononaRAMaumen-temeconsequentementeosefeitosadversosnasaúdeassociadosaestespoluentestambémaumentem.Éassimrecomendávelestabelecerummodelodeprevisãodapoluiçãoatmosféricaquepermitaquesejaestabelecidoumsistemadeavisoealertaqueinformeapopulaçãodaprevisãoprováveldapoluiçãodoarpelomenoscomumdiadeantecedência.Éimportantequeosníveisdeconcentraçãosejamestimadoscomantecedênciaparaqueosgruposdepopulação

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maisvulneráveispossamlimitarasuaexposiçãonosdiasemqueestejamprevistosníveisdepoluiçãoatmosféricaelevados.

OsníveisdepólenestransportadospeloarsãomonitorizadosnaRAMpelaRedePortuguesadeAerobiologia.ApesardestesníveisnaRAMseremgeralmentemaisbaixosdoqueemPortugalcontinental,aindasãoumapreocupaçãoemtermosdesaúdeparaindivíduossensíveis.Éprová-velqueasalteraçõesclimáticasalteremadistribuiçãosazonaldospicosdepólenesnaatmos-fera,sendoimportantequeainformaçãosobreosníveispolínicosatinjaapopulaçãoemgeraleosprofissionaisdesaúdecom,pelomenos,umdiadeantecedênciaparaqueaspopulaçõesmaissensíveisestejamaptasareduzirasuaexposiçãoambienteomaispossível.Recomenda--setambémquesejamfeitosesforçosparaasseguraramínimautilizaçãodeplantascomumelevadopotencialalérgicodentrodasáreasurbanas.

ÉexpectávelquenofuturoaMadeira,estejaespecialmentevulneráveladoençastransmitidasporvetores.OrecentesurtodeFebredeDengue(2012-2013)verificadonailhadaMadeiraveioilustraraimportânciadasmedidasexistentesedaexistênciadeestratégiasde(bio)prepara-ção(”preparedness”).Atualmente,estãoimplementadasnaRAMváriasexcelentesmedidasdecontroloemonitorizaçãodoAedes aegypti(omosquitoquetransmiteaDengue).Contudo,estasmedidasnãobeneficiamdefinanciamentocontínuo,oquetornaasuasustentabilidadeques-tionáveleumconsequenteproblemadesaúdepública.Emcontraste,nãoexisteatualmente,naRAM,nenhumsistemadecontroloemonitorizaçãodecarraças,apesardeserbemconhecidoqueapopulaçãodecarraçasnaRAMestáinfetadacomagentespatogénicoscomrelevânciaparaasaúdepública.ÀmedidaqueascondiçõesambientaisnaRAMsetornamfavoráveisàtransmissãodedoençastransmitidasporvetoreséimportantequesejamdesenvolvidos,naRAM,sistemasdeavisoealertaparaestasdoenças.

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