Saiba+ - Edição Outubro de 2012

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O projeto Viva Bike Campinas, que foi inaugurado no dia 22 de setembro, promete ser uma nova opção de transporte público e desafogar as vias da cidade. A Prefeitura estima reduzir o trânsito em 16% até 2016. Porém, a falta de ciclovias e segurança pode minar o projeto. A partir do olhar dos militantes: por que os partidos políticos caíram no conceito do meio público? Jornada de Jornalismo discute Nel- son Rodrigues, seleção profissional, escrita criativa e jornalismo esportivo. Após crise politica e longa espera, artistas contemporâneos ganham espaço na Estação Cultura. Pág. 3 Pág . 5, 6 e 7 Pág 11 Ano 10 - Nº 102 - Faculdade de Jornalismo - PUC-Campinas - 5 a 20 de Outubro de 2012 Pág 4 Foto: Ana Carolina Mora Partidos perdem confiança do povo Jornada de Jornalismo 2012 Arte encontra abrigo seguro

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O projeto Viva Bike Campinas, que foi inaugurado no dia 22 de setembro, promete ser uma nova opção de transporte público e desafogar as vias da cidade. A Prefeitura estima reduzir o trânsito em 16% até 2016. Porém, a falta de ciclovias e segurança pode minar o projeto.

A partir do olhar dos militantes: por que os partidos políticos caíram no conceito do meio público?

Jornada de Jornalismo discute Nel-son Rodrigues, seleção profissional, escrita criativa e jornalismo esportivo.

Após crise politica e longa espera, artistas contemporâneos ganham espaço na Estação Cultura.

Pág. 3 Pág . 5, 6 e 7 Pág 11

Ano 10 - Nº 102 - Faculdade de Jornalismo - PUC-Campinas - 5 a 20 de Outubro de 2012

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Foto: Ana Carolina Mora

Partidos perdem confiança do povo Jornada de Jornalismo 2012 Arte encontra abrigo seguro

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Carta ao Leitor

Notas

Dar chance ao novo

De filho para pai

O jornalismo e o tempo

5 a 20 de Outubro de 20122

Muito além do Khronos, da passagem do tempo or-ganizada em segundos, ho-ras, meses, anos, a filosofia grega considerava o Kairos, o “momento oportuno”, a experiência de fato no mun-do. Com o passar das cen-tenas de anos, esse conceito desapareceu das percepções humanas. A tecnologia au-mentou ainda mais a pres-são pela velocidade.

Contudo, o período elei-toral suspende toda a cro-nologia e faz emergir o Kai-ros, o “momento oportuno” para que todas as coisas em-perradas aconteçam. Nesta edição do Saiba+, uma das bases na qual se sustenta o jornalismo, as contradições sociais, é uma busca inces-sante nas reportagens. A contradição de que a vonta-de política prescinde os pla-nejamentos, que o Kairos se sobrepõe ao Khronos. A população passa a po-der alugar bicicletas e em-barcar na sustentabilidade, mesmo que não existam

ciclovias por onde percor-rer, mesmo que coloque a vida em risco seu pedalar. Artistas podem passar pelo menos cinco anos em busca de algum lugar para existir e, de repente, em menos de 14 dias, montarem uma ex-posição com vezes de big show pela arte.

Candidatos passam a ser personalidades em detri-mento das bandeiras le-vantadas por partidos sob o som de músicas feitas de maneira estratégica.

Um evento importante do jornalismo em uma univer-sidade que deve acontecer em determinado momento, mesmo tendo o Khronos do planejamento ao seu lado, desagradou aos tão incisivos futuros jornalis-tas e gerou a discussão sobre outras edições do evento. Talvez, na era da velocidade, os momentos decisivos e oportunos se-jam, então, retomados. Isso, claro, quando importa.

Recentemente, a versão em português da tradicio-nal revista literária britâni-ca Granta resolveu montar sua lista de 20 melhores jovens escritores brasilei-ros, incentivando um ques-tionamento. “Afinal, será mesmo que os selecionados são os melhores escritores do Brasil?”. Veículos de comunicação endossaram a discussão, outros escrito-res que julgam ter sido re-jeitados sem critério algum pelos jurados emprestaram sua voz para o discurso, mas ficou por isso mes-mo: a Granta foi criticada

Seu José, um brasileiro como qualquer outro levan-tou em um domingo para tomar seu café. Ao sair de casa se deparou com uma imensa sujeira no quintal de sua casa, eram papeis das mais variadas cores e tipos. Andando pela rua ele vê uma aglomeração de pessoas a cumprimentá-lo. Seu José lembrava que esse dia tinha algo de especial, mas não lembrava o que era. Ao voltar pra casa, li-gando a tevê, ele se lembra do motivo de tal aglomera-ção. Hoje é o dia das elei-

É verdade que entrei no mundo jornalístico aci-dentalmente, afinal, três anos de cursinho pré-vestibular para medici-na jamais me levariam a pensar na faculdade de jornalismo. Sempre me interessei por leitura e pela escrita, mas era algo corriqueiro, nada que chamasse muita atenção ou me guiasse para comu-nicação.

Por uma incrível coin-cidência, em meados de 2009 o diploma de jor-nalismo foi extinto, já não era necessária uma formação acadêmica para exercer a profissão.

No ano seguinte eu en-trei na faculdade, a con-

e pouco se fez do lado de fora para mudar o quadro.

Tão carentes por leitura, cada vez mais substituin-do as horas dos livros por procrastinação, o possível público alvo acaba se aco-modando. Os concursos literários passam desper-cebidos por quem não é do meio. É pouco o incentivo à leitura de novos autores no Brasil.

Mas, assim como os veí-culos especializados em música fazem todos os anos as suas listas de pro-messas musicais, melhores álbuns e tudo o mais, será

ções, dia de decidir o futuro de sua cidade.

Mas para Seu José isso pouco importava. Cansado da corrupção em sua cidade e das promessas não cum-pridas Seu José havia deci-dido que não votaria mais, afinal a cidade onde ele e seus filhos nasceram aca-bara de ser sumariamente assaltada. Preferia pagar multa.

Tomada a decisão Seu José se deita na sala, seu filho caçula com 18 anos recém-completados passa pelo pai com certa pressa.

tragosto de uma minoria familiar. Já tinha grande admiração pelas revistas Piauí, Bravo! e TPM.

Essa última eu lia de cabo a rabo, até o dia em que me peguei folheando a revista de trás para fren-te. Para quem não sabe, é lá que fica a Coluna do Meio, da jornalista Milly Lacombe.

Poucas vezes na vida alguém me encantou tan-to quanto ela. Através de seus textos, me permiti entrar no enredo e assistir os episódios de mais uma aventura de sua vida. E admito que um texto em especial me encheu os olhos d’água, o Carta Ao Pai, em que ela escreve

que a literatura não mere-cia o mesmo? Será que a Granta é a única que tem o poder de apitar quem são os melhores?

A literatura brasileira pre-cisa de um transplante de pulmão. Os melhores estão em todas as partes, em to-dos os olhares - basta cada um encontrar seu espaço. E resta torcermos por uma realidade na qual escritores como Clarice Lispector não sejam os únicos e perpétuos (e compartilhados massiva-mente nas redes sociais). Todos precisam dar chance ao novo.

Seu José indaga a pressa do filho e ele responde: “tenho que ir votar logo, não quero pegar fila”. Seu José repete para o filho a mesma histó-ria e o aconselha a não vo-tar, pois não vale a pena. O garoto esbraveja e mostra para o pai que se as coisas estão ruins, não é cruzando os braços que elas vão me-lhorar. Basta apenas tomar uma atitude. Emocionado, Seu José abraça o filho, se desculpa e parte junto com ele para ajudar a decidir o futuro da cidade que eles tanto amam.

uma carta para seu pai, falecido há 10 anos.

Há pouco tempo minha avó havia falecido instan-taneamente, sem avisar, dar um beijo ou simples-mente dizer: Estou indo.

Nessa semana que pas-sou conheci Milly La-combe, dona de um vo-zeirão e incríveis olhos azuis. Através de suas palavras encorajadoras pude perceber que os al-tos e baixos da profissão de jornalista estão ali para nos dar um empur-rão, mostrar o caminho.

Com ela aprendi que contar uma história é mais do que mostrar os fatos, é envolver o leitor nela.

Por Izadora Pimenta

Por Luis Felipe Mlaker Leone

Por Ana Carolina Mora

Do dia 26 a 28 de outu-bro, o FestFut reúne, em Bragança Paulista, torce-dores e ex-jogadores que marcaram época na capi-tal paulista, como Careca, Evair e Ronaldo. São três dias, onde em cada um os presentes poderão tirar fo-tos, beber e comer a vonta-de.

O evento acontecerá na quadra da escola de sam-ba 9 de Julho, no Lago do Taboão. Mais informa-ções, através do telefone: (11)95339.4646.

FestFut

A Unicamp abre seleção de quatro intervenções ar-tísticas para ocupar o marco zedo na Praça do Ciclo Bá-sico. Cada projeto recebe-rá R$ 5 mil. As inscrições podem ser feitas até dia 31 de outubro no Serviço de Apoio ao Estudante (SAE).

A universidade vai reali-zar de 4 até 6 de outubro, uma feira de profissões, contando com stands que apresentarão cursos de gra-duação e pós-graduação. O evento vai acontecer no es-tacionamento do Shopping Iguatemi, dás 14h às 20h.

Arte na Unicamp

Mostra de Profissões

PaulíniaArena Music 2012

Taxi paradeficientes

Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, Centro de Linguagem e Comunicação (CLC). Diretor: Prof. Dr. Rogério E. R. Bazi. Diretora-Adjunta: Maura PAdula. Diretor da Faculdade de Jornalismo: Prof. Me. Lindolfo A. de SouzaTiragem: 2.000. Impressão: RAC.

Endereço: CLC - Campus I - Rod. D. Pedro, Km 136 Cep: 13086-900 E-mail de contato: [email protected]

ExpedienteProfessor Resp.: Prof. Me. Luiz R. Saviani Rey (MTb 13.254)Editora: Virgginia LaborãoCapa e Diagramação: Bárbara BigonReportagem: Ana Carolina Mora, Bárbara Bigon, Fábio Loiola, Ga-briela Pincinato, Isadora Almeida, Juliana Vieira, Marina de Sordi, Maurício Assis, Tamires Daniel, Virgginia Laborão.

A partir de Outubro os deficientes da cidade têm mais uma opção de trans-porte. Os novos taxis acessíveis são veículos modificados para atender, principalmente, cadeiran-tes. Quatro deles já estão operando e a previsão é que até novembro os ou-tros 16 estejam nas ruas.

De 11 a 21 de outubro, Paulínia recebe o PAM 2012 (Paulínia Arena Mu-sic), festival que une músi-ca sertaneja e competições de montaria.

Artistas do sertanejo uni-versitário como Gusttavo Lima e Jorge e Mateus so-bem ao palco, além da atra-ção internacional, o rapper Pitbull.Para mais informa-ções sobre o evento, você pode acessar o site oficial: www.pauliniaarena.com.br

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População confia pouco em partidosMilitantes destacam as principais causas da desilusão popular pelas siglas políticas

Em tempos de cavaletes e redes sociais, tradicional jingle ainda seduz os eleitores

O que significam as siglas partidárias? Representam uma bandeira carregada pelo partido ou mera no-menclatura? Para a maior parte da população, a sigla é o que menos importa. A credibilidade dos partidos tem decaído no conceito popular. O último levanta-mento sobre o tema, divul-gado no primeiro semestre deste ano pela Fundação Getúlio Vargas, avaliou que apenas 5% das pessoas con-fiam nos partidos políticos.

Otávio Nunes é militan-te em Campinas. Embora acredite na sigla do partido, afirma que existe, sim, uma grande rejeição popular pelas legendas. “O partida-rismo perdeu força. O que existe hoje é uma rejeição aos partidos, por conta da corrupção. Além disso, tem ocorrido uma pasteuriza-ção de ideais entre os par-tidos, ou seja, as principais legendas do Brasil fazem campanha de forma muito parecida, sem grandes di-ferenças, o que confunde o eleitor, que não distingue os

GabrielaPincinato

FábioLoiola

ideais de cada um. Existem diferenças programáticas? Sim! Mas o comportamen-to cotidiano dos partidos é muito parecido, em espe-cial nas campanhas”, expli-ca. Além disso, o militante aponta um outro problema: o culto aos candidatos. “O culto às pessoas –persona-lismo--, é maior que a defe-sa de ideias, que o ideal co-mum no partido. Isso não é saudável”, afirma.

Aglomerado de candidatos

Para o militante Renato Manjaterra, os partidos, de um modo geral, perderam a ideologia. Ele acredita que algumas siglas de esquerda se centralizaram devido aos próprios filiados, que des-caracterizaram o modelo partidário em troca de in-teresses pessoais. Hoje em dia fica difícil distinguir um partido de esquerda de um de direta. “Prefiro nem per-der meu tempo falando so-bre o PPS, PSDB, PSD, PP, PR. Para mim, esses nunca tiveram uma ideologia. São um aglomerado de candi-datos”, opina. Manjaterra comenta as diferenças entre

partidos. Ele cita o Partido dos Trabalhados (PT) como um partido de massas, de sindicatos, setores progres-sistas; o PSOL, de vanguar-da, surgido da intelectua-lidade. Mas ele afirma que até o próprio partido do qual faz parte vem perden-do a característica inicial. “Infelizmente, meu partido se transformou na maior máquina eleitoral do Bra-sil, uma máquina que está se especializando em ope-rar industrialmente, e esse método é incompatível com aquele que eu executava”, explica o militante.

A filiada a mesma legen-da, Ana Paula Pereira, de 23 anos, confia no partido como um mecanismo de re-presentação da população. “Qualquer partido político é composto por pessoas, que são suscetíveis a er-ros. Eu confio nos partidos como instituição democrá-tica e representativa da po-pulação (ou de parte dela), não como algo de valor imutável. Pelo contrário, alguns projetos partidários estão sempre em desenvol-vimento”, diz a Ana Pau-la. Ela afirma também que os partidos carregam, sim,

Compre, veja, experi-mente. A linguagem publi-citária é, invariavelmente, imperativa. No entanto, entre os inúmeros recursos do mercado publicitário e a despeito de tendências di-gitais, a simpatia pelo jin-gle (termo em inglês que remete ao badalar dos si-nos) é quem sobrevive.

As peças musicais publi-citárias nasceram no Brasil como ferramenta eleitoral no ano de 1929, período ano em que os primeiros jingles foram criados para as campanhas de Júlio Prestes e Getúlio Vargas, então candidatos à presi-dência do país.

Publicitário e apresen-tador do extinto programa “Jingles Inesquecíveis” pela Rádio CBN, Lula Vieira reforça o potencial afetivo que tais peças pu-blicitárias podem alcançar, sobretudo quando asso-

ciadas à televisão. “Dois exemplos: os mamíferos da Parmalat e o ‘pipoca com Guaraná’ que, assim como o jingle da sandália Ipanema, conseguiu casar perfeitamente a ideia tra-dicional do jingle com a imagem”.

Para o estrategista políti-co e autor do livro “Jingles Eleitorais e Marketing Po-lítico – Uma dupla do ba-rulho” Carlos Manhanelli, a principal característica do jingle é saber qualificar o candidato. Por se tratar de uma composição musical, possibilita vínculo emocio-nal por parte do público, tendo em vista o lado artís-tico essencial no processo de criação. “Pegou emoção, guardou na cabeça e no co-ração, o jingle vira eterno”, crava o estrategista.

Por outro lado, Manha-nelli adverte que, apesar da aparente simplicidade de uma música de poucos segundos e de fácil memo-rização, a composição de

um jingle demanda plane-jamento estratégico prévio, pautado sob conceitos da área de marketing e pes-quisas de mercado. “É ba-seado nisso que o jingle é feito” lembra, desmistifi-cando associações com os métodos convencionais de composição musical.

Advento do rádio e ob-jeto de saudosismo, o jin-

gle, comercial ou eleitoral, não demonstra qualquer desgaste enquanto atributo de difusão publicitária. Já figura no mundo virtual e se adapta às diversas muta-ções do dinâmico mercado publicitário. “O jingle nas-ce no rádio e se atualiza na televisão através do video-clipe, pois ele hoje nada mais é do que um videocli-

pe das campanhas” diz Ma-nhanelli, corroborando a fle-xibilidade da peça musical. Sua capacidade de se tornar “prefixo musical”, como de-nomina o estrategista, resiste ao tempo de maneira única. “ ‘O tempo passa, o tempo voa... ’ precisa falar do que é? Foi feita uma coisa tão boa que o produto faliu, mas o jingle ficou”.

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Carlos Manhanelli, estrategista político e escritor, em palestra para os alunos da PUC-Campinas

Propaganda musicada toma as ruas

uma identidade. Para ela, é possível perceber dife-renças entre um partido e outro quando se analisa a fundo os planos de gover-no e as propostas apresen-tadas: “São características de identidade, as diferenças são gritantes”.

Fidelidade partidária

Algumas pessoas se ques-tionam sobre ser justo vo-tar ou deixar de votar em algum candidato por causa do partido do qual ele faz parte, mesmo tendo ideias boas e interessantes. “Os mandatos são dos partidos”, afirma o militante Otávio. “Como vou confiar única e exclusivamente na pes-soa que representa a sigla? Existe fidelidade partidá-ria. Se o cara desobedece à deliberação do partido, ele pode ser expulso e até per-der o mandato. É claro que isso depende de diversos fatores, mas, em linhas ge-rais, vale isso”, explica. Ele lembra também de outros mecanismos que acabam enquadrando-se aos manda-tários do partido, como o fi-nanciamento de campanhas por empresas interessadas

em benefícios particulares. “Construtoras bancam mais da metade de algumas cam-panhas; será que elas fazem isso por civilidade ou cida-dania? Quando o cara ga-nha a eleição elas vão dei-xar ele fazer o que quiser?”, questiona.

O militante Reginaldo Al-ves do Nascimento concor-da com a afirmação de Otá-vio. Embora acredite que uma pessoa de bom caráter se mantenha em um parti-do ruim, de má índole, ele comenta que a coligação e as parcerias firmadas entre as legendas são de grande influência no mandato do candidato lançado. “Mas é muito difícil permanecer fiel aos ideais corretos ro-deado de pessoas com ín-dole questionável”.

Para Ana Paula, uma polí-tica melhor, mais “limpa” e mais justa sob todos os as-pectos depende justamen-te daqueles que hoje estão fora dela e que têm muito a contribuir pelo bairro, cida-de e país: os cidadãos. São deles a responsabilidade de cobrar dos candidatos ele-gidos as promessas e planos traçados.

Foto: Fábio Loiola

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Campinas segue moldes europeus Com jeitinho brasileiro, a cidade tenta pedalar no mesmo rumo de Barcelona

Após dois dias de chu-vas, tempo fechado e frio, o sábado, 22 de setembro, amanheceu ensolarado para que os representantes de empresa espanhola, o secretário de transportes e a prefeitura de Campinas pedalassem rumo a uma cidade mais sustentável – e europeia. O Dia Mundial Sem Carro foi marcado pela 4ª Bicicletada e pela inauguração do primeiro transporte público de bi-cicletas do Brasil, o Viva Bike Campinas.

A primeira estação de aluguel de bicicletas foi instalada na Lagoa do Ta-quaral, em dois pontos, e o sistema ainda será insta-lado em mais cinco pontos da cidade, sendo eles nos distritos de Barão Geraldo e Sousas, Aparecidinha, Amarais e Terminal Cen-tral. A empresa Brasil Mo-vimento, versão brasileira da Movement, espera que em até 12 meses o núme-ro de bicicletas disponíveis salte de 200 para 6 mil. Os números parecem promis-sores, mas não levam em conta a extensão de ciclo-vias da cidade, que não passa dos 25 quilômetros em pontos fragmentados e sem ligação.

Segundo a Empresa Mu-

Ana Carolina Mora

nicipal de Desenvolvimen-to de Campinas (Emdec), o deslocamento dos ciclistas deverá ser feito por vias locais, sem ciclovias e apenas com indicações de rotas. Já os pontos de ins-talação, foram estipulados pela prefeitura após um estudo sobre as facilidades de implantação e acesso aos locais, mas especia-listas afirmam que alguns pontos são inviáveis.

Para o secretário de Transportes, André Aranha Ribeiro, a cidade é, sim, um local seguro para o trá-fego de bicicletas. “Campi-nas não é exatamente uma cidade perigosa para o uso das bicicletas, até porque eu usei a bicicleta muitos anos aqui, inclusive para ir trabalhar e, felizmente, du-rante esse período de qua-se 20 anos eu não tive ne-nhum acidente na via por conflito”, e ressaltou ainda que para que acidentes não ocorram é necessário ter educação no trânsito.

Tal afirmação contradiz a opinião de quem usa esse meio de transporte ou que não utiliza por medo de an-dar entre os carros. Segun-do o advogado e cicloati-vista, João Pedro Dias, o projeto criado na Espanha deu certo, mas são cidades completamente diferen-tes, tendo em vista que, na opinião dele, os cidadãos de Campinas não tem uma conduta disciplinada no trânsito. “A todo momento se vê ônibus fechando car-ro, motocicleta passando em altíssima velocidade pelos corredores. Trocaria meu carro por uma bici-cleta para ir trabalhar, mas não assim sem nós, ciclis-tas, termos segurança”, afirma Dias.

Em locais pouco movi-mentados é possível que não haja problemas, mas uma das estações será ins-talada no Terminal Central,

área de grande movimenta-ção de veículos de grande e médio porte, onde não há nem um resquício de es-trutura para comportar tal projeto. Além da inexis-tência de ciclovias, o tráfe-go de veículos é intenso, o que dificulta a mobilidade das bicicletas com segu-rança e tranquilidade.

Supondo que uma pessoa retire a bicicleta no Ter-minal Central, ela poderia andar durante meia hora, que é o período estipula-do para que o usuário não pague nada além da taxa anual de R$ 80. Exceden-do esse tempo, a cada meia hora a mais seria cobrado R$ 5. , é um tempo muito limitado de uso para que se possa percorrer o centro da cidade em meio aos carros e devolver a bicicleta no mesmo lugar.

Entre os benefícios do emprego das bicicletas estão melhorias na saúde, diminuição do trânsito, redução da emissão dos gases do efeito estufa. Se-gundo a prefeitura, adotan-do o sistema de bicicletas como meio de transporte público, o tráfego inten-so de veículos diminuiria 16% até 2016. Essa meta a ser cumprida em quatro anos parece utopia, mas a empresa garante eficácia no projeto. “Tudo foi pen-sado conforme os moldes de Campinas, o projeto é bem fundamentado e nós trabalhamos com expecta-

tivas. Nossa meta são 450 estações e houve um es-tudo para se chegar a esse número. Demos o primeiro passo com 18 estações, é pouco, mas ainda é expe-rimental por seis meses”, disse Adolfo Heras, presi-dente do grupo Movement na Espanha.

Na inauguração da pri-meira estação, na Lagoa do Taquaral, a população já pôde fazer o chamado teste drive. Em aproxima-damente 30 minutos de passeio, quatro bicicle-tas apresentaram defeito, com os pedais acabando por cair na rua. Quando perguntado sobre os inci-dentes, Adolfo Heras foi enfático. “As bicicletas che-garam aqui às 6h30, só foi feita a revisão de fábrica, não tivemos tempo de faz-er nossa revisão supervi-sionada como normalmen-te ocorre. Tínhamos pressa em entregar hoje.”

Depois de dez dias de funcionamento, o projeto Viva Bike Campinas rece-beu cerca de 2,3 mil cadas-tros em quatro estações, duas em Barão Geraldo (Praça do Henfil e Praça 31 de Dezembro) e duas na Lagoa do Taquaral (Por-tões 1 e 7). A previsão para os próximos seis meses é de que o número de esta-ções salte de quatro para 18 com 250 bicicletas em circulação.

Renato Frison, da empresa Brasil em Movimento ensina a ciclista a usar as bicicletas em uma das estações inauguradas em Campinas

André Aranha na inauguração da Estação na Lagoa do Taquaral

Fotos: Ana C

arolina Mora

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Fotos: Ana C

arolina Mora

Jornalismo estampado na camisaEdison Veiga e Rafael Bellatini falam do início da carreira e desafios da profissão

Ganhar uma camiseta da revista predileta era o sonho em comum deles quando adolescentes. Edison Veiga venceu um concurso da revista Super Interessante, aos 13 anos e virou notícia. Logo foi convidado para trabalhar no jornal da cidade de Taquarituba, interior de São Paulo. Rafael Bellatini também escrevia para a publicação esportiva Placar na tentativa de receber uma camisa. Na primeira atividade na faculdade de Jornalismo, fã de esportes e do Juca Kfouri, mandou um e-mail para o ídolo que prontamente o atendeu. Anos depois, ele seria

Juliana Vieira

convidado a ser moderador do blog do comentarista. Por meios diferentes, os jovens vestiram a mesma camisa: a do jornalismo.

Interiorano especialista em cidade grande

Veiga é editor da coluna “Paulistices”, do jornal Estado de S. Paulo. O espaço é dedicado a curiosidades e cultura geral sobre a metrópole. A “especialização” foi sendo formada por acaso: “estagiei na editora Alto Astral, do astrólogo João Bidu, onde aprendi a escrever jornalisticamente e pensar em quem lê”. Pouco antes de se formar, entrou na Vejinha São Paulo e, segundo ele, se

transformou no síndico da redação: “era o primeiro a chegar e último a sair porque era uma grande oportunidade”. As notas rejeitadas pelos jornalistas passaram a ser produzidas por ele. Logo Veiga assinou a coluna e por este trabalho, posteriormente, foi convidado a integrar o Estadão e criou o “Paulistices”. A coluna ganhou um blog e um programa na rádio Estadão.

Segundo ele, anotar ideias e ter um ‘olhar curioso’ pra tudo o ajudou a se atentar aos detalhes da cidade, hoje já desbravada pelo rapaz. Apaixonado por literatura e autor dos livros “Mingutas: correndo da carranca do carimbo, caramba!”, “Enigma” e

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“Essa Tal Proclamação da República”, para Veiga a escrita é desenvolvida com o tempo e há uma linha tênue entre o estilo e o ridículo.

Esporte calculado

No colégio, Bellatini era bom aluno de matemática, “achavam que eu seria engenheiro”, confessa, mas conheceu o rádio e já fascinado por esportes decidiu jornalismo. Produzindo o programa Giro Brasil, da ESPN e ainda moderador no blog do Juca Kfouri, o jovem afirma que entrou na grande mídia “mostrando a cara”. “Hoje tenho o privilégio de esbarrar no corredor com profissionais experientes

na área como o PVC e João Palomino”.

Sobre a especialização cobiçada por parte da ala masculina na área, Bellatini desmitifica alguns estereótipos: jornalismo esportivo não é só futebol; jornalistas não necessariamente são amigos dos jogadores; além dos clássicos, jogos da série D, aos sábados também precisam da cobertura da imprensa. E ainda esclarece que neste campo profissional há muita opinião e, por isso, estudar e ler sobre vários assuntos é imprescindível, “as pessoas discordam de você e isso é normal. Por isso a argumentação coerente e a auto avaliação devem ser constantes”, afirma.

Do banco de imprensa ao gramadoJornada de Jornalismo discutiu de Nelson Rodrigues à situação atual do futebol

O tradicional evento de jornalismo da PUC-Cam-pinas, que ocorreu nos dias 1º e 2 de outubro, teve como tema o “Mercado de trabalho, profissionaliza-

ção e jornalismo esporti-vo”, além de homenagear a vida e a obra de Nelson Rodrigues, em comemo-ração aos 100 anos do nascimento do jornalista, cronista esportivo e dra-maturgo.

Dois eventos da Jorna-

da se relacionaram direta-mente com o escritor ho-menageado. A palestra de Fátima Antunes, socióloga e doutora em Nelson Ro-drigues, e a encenação feita por alunos na PUC-Campi-nas de uma cena da peça 'Senhora dos Afogados', de

autoria de Rodrigues. Os demais palestrantes

que participaram do even-to na sala 800 no campus I da universidade trataram de questões relacionadas à comunicação social, como o mercado de trabalho da área, o início da carreira e

o jornalismo esportivo. Além de palestras infor-

mativas e formais como a da jornalista da Folha de São Paulo, Ana Estela, palestras emocionadas e descontraídas como a da jornalista Milly Lacombe compuseram o evento.

BárbaraBigon

Especial: Jornada de Jornalismo

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O projeto social de Nelson RodriguesSocióloga analisa conceitos clássicos do escritor como “complexo de vira-lata”

Virgginia LaborãoJuliana Vieira

Dizendo-se uma apai-xonada por Nelson Ro-drigues, a doutora em sociologia Fátima Antu-nes elencou os elementos da narrativa da crônica esportiva do jornalista e dramaturgo na primeira noite da Jornada de Jor-nalismo.

Autora da obra “Com brasileiro não há quem possa”, a socióloga resva-lou pouco em discussões jornalísticas em torno da produção de crônicas es-portivas, explanando lon-gamente sobre a biogra-

fia do autor e destacando pontos do discurso literá-rio do autor. “Tudo que ele produziu se pautou na produção literária”, afir-ma Fátima.

Através de trechos da produção de Nelson Rodrigues, a socióloga ressaltou a construção de conceitos feitos pelo jornalista e dramaturgo, como a clássica e cunha-da noção de “complexo de vira-lata”, uma infe-rioridade voluntária pre-sente no povo brasileiro.

Outro ponto expos-to por Fátima Antunes constituiu no destino trágico dos personagens ficcionais do autor e tam-

bém delineados na crôni-ca. Segundo a socióloga, disso deve vir uma cons-ciência não só do trágico mas dos valores positivos para a luta do povo brasi-leiro. “Ele acaba por ela-borar um projeto social”, sentencia a doutora.

Da multifacetada per-sonalidade, a pesquisa-dora enfatizou, ainda, o lado dramaturgo de Nel-son que criou clássicos um tanto escandalosos à época como: “Bonitinha, mas Ordinária” e “Os 7 Gatinhos”. Além do tex-to “A Vida Como Ela É” popularizado com a pro-dução de uma mini série para a televisão.

“Processo seletivo nunca é veredito”Segundo Ana Estela, não existe perfil específico para escolha de novos jornalistas

Juliana Vieira

A pergunta mais frequente é: Qual é o perfil para trabalhar no jornal? Não há, segundo Ana Estela de Souza Pinto. A jornalista já foi selecionadora no Programa de Treinamento e hoje é editora do caderno Mercado, na Folha de S. Paulo. Ana Estela esclarece que a seleção significa ir bem em uma prova, pois os processos são arbitrários, nunca um veredito. Mas ressalva: “o que te deixa fora é burrice, preguiça e erro de português”.

Contabilizando cerca de quatro mil entrevistados durante o período de selecionadora dos novos profissionais, Ana Estela conclui como fator

determinante para escolha “a vontade do candidato em fazer um trabalho bem feito”. Além disso, é imprescindível conhecer o veículo e a editoria que pretende trabalhar.

Sobre a preparação durante a faculdade, Ana Estela indica estudar e praticar com as atividades laboratoriais, porém esse processo deve prever uma reflexão sobre o que é feito senão não existe aprendizagem. E afirma: “o conhecimento te coloca em plataformas maiores, em um trampolim”.

Com experiência você começa a errar menos, mas até lá é preciso trabalhar muito, diz. Formada em Agronomia e Jornalismo, Ana Estela ingressou no primeiro Programa de Treinamento da Folha, há 25

anos e desde então passou por diversas funções e áreas. A frase de Hélio Gasparini, de acordo com ela, diz muito sobre a rotina da redação: “É preciso cometer erros novos. Quem sempre faz igual ou não faz, não erra”.

Outra questão recorrente é a pauta. Para a profissional, a pauta é o mais difícil e importante no jornalismo, “quanto mais específica melhor” e, aponta ainda, o vigor da máxima “quem não tem pauta é pautado” vigente nas redações: se você não sugere, acaba fazendo o que é preciso fazer. Já a edição é uma função de escolher pelos outros e a preocupação maior é com o leitor, o cliente: “o jornalismo impresso é como uma curadoria”. E finaliza, “no jornalismo você pode influir

no que está acontecendo” e isso já vale todo o esforço.

Currículo-Lide

Ana Estela é enfática: o currículo deve ser um lide. Concisão e objetividade são fundamentais. Além

»Programas de Treinamento em empresas de comunicação: Processo em diversas etapas de provas on-line, presencial e entrevista.

»Concursos de instituições públicas e privadas

»Frilas: Veículos impressos e multimídia têm grande aceitação desse tipo de profissional. O deve enviar sugestões de pautas paraos editores.

»QI: O Quem Indica existe e tem uma lógica inquestionável, “quem contrata quer solução e não problema; se o indicado é bom ele fica”.

Portas para o Mercado de Trabalho

Fotos: Ana C

arolina Mora

Há 25 anos na Folha, Ana Estela de Souza Pinto aconselha edição do currículo conforme cada vaga

disso, ele deve ser editado de acordo com cada vaga pretendida. Dica: Coloque no primeiro parágrafo porque deseja tal vaga. Caso não tenha experiência, escreva brevemente porque deve ser chamado pra conversar com o editor.

10 à 30 de Outubro de 20126 Especial: Jornada de Jornalismo

Page 7: Saiba+ - Edição Outubro de 2012

Jornalismo é contar uma boa históriaMilly Lacombe é craque em narrar a sua vida aos alunos presentes na Jornada

Foi com essa frase que Milly Lacombe, jornalis-ta esportiva e colunista mensal da revista TPM, concluiu sua palestra para a Jornada de Jornalismo na noite do último dia 2.

No começo pôde até pa-recer que a conversa se basearia em clichês que envolveram sua carreira, como o escândalo nacio-nal com o jogador Rogé-rio Ceni, que lhe rendeu dois processos e a famosa “geladeira”, ou o sexismo que ocorre no jornalis-mo esportivo. Mas não, Lacombe ultrapassou os 45 minutos do segundo tempo e abordou ques-tões da vida pessoal e os caminhos percorridos que ajudaram a esclarecer sua trajetória e dar conselhos aos futuros focas.

Entre seu discurso, a colunista apresentou-se como uma pessoa trans-parente que não tem nada a esconder, inclusive sua sexualidade. Citou erros e acertos, suas faltas e seus gols, criticou e abusou de palavrões sem nenhum constrangimento.

Com a total reprovação da mãe pelo jornalismo, Lacombe tentou várias faculdades e o curso em que se graduou foi Rádio e TV, na Fundação Ar-mando Álvares Penteado (Faap). Nesse interva-lo de vida, com seus 20 anos, começou a vender anúncios para revistas e chegou a faturar mais dinheiro que seu próprio pai, jornalista.

Apaixonou-se por uma mulher e aos 29 anos ven-deu tudo o que tinha para mudar-se para o exterior com ela. Nos Estados Unidos ajudava a namo-rada, também jornalista, com algumas legendas e pequenos textos. Foi aí que sua vida profissional tomou outro rumo.

Com a novidade de uma corrida de aventura que ocorreria nos Esta-dos Unidos em 1996, La-combe sugeriu para Paulo Lima, editor da revista Trip, que ela participasse para uma possível repor-tagem, Seu amigo adorou a ideia, mas com a con-dição de que fosse ela a responsável pelo texto. Ela duvidou de seu poten-

cial de escrita, mas com o conselho de “você só pre-cisa me contar uma boa história” dado por Lima, o resultado foi seu texto publicado sem qualquer alteração.

Depois de algumas pu-blicações, voltou ao Bra-sil e procurou veículos de comunicação para se apresentar. “Foi aí que fiz meu voto de pobreza e virei jornalista”, brin-ca. Uma de suas colabo-rações foi para a Folha de S. Paulo de forma fixa para a Ilustrada. Ela che-gou a cobrir o atentado de 11 de setembro, das Torres Gêmeas, no cader-no principal.

Nessa época, ela tenta-va seguir o conceito de tentar não exprimir seus sentimentos na história, seguir o lide e buscar a imparcialidade. Lacombe percebeu que o jornalis-mo era carente de criati-vidade, e foi a partir daí que passou a elaborar textos diferentes, “textos humanizados”, como ela diz.

A colunista declarou que a fórmula perfeita para um bom jornalista de texto é ter interesse, curiosidade e uma expe-riência, seja no exterior ou não, mas principal-mente sair da “zona de conforto” e visitar terri-tórios desconhecidos “É no drama e também no lado ruim das histórias que estão suas essências

Tamires DanielIsadora Almeida

Fotos: Ana C

arolina Mora

Descontraída, Milly Lacombe abre o coração e a vida profissional para os alunos

principais”, con-clui.

Como em uma coletiva de joga-dores, Lacombe foi recheada de per-guntas vindas de estudantes, sobre questões corriquei-ras, mas especial-mente perguntas relacionadas ao futebol brasileiro nos dias de hoje e a erros que tomam proporções enor-mes. Logo se fez notar com palavras de incentivo “Errar é bom, é a melhor válvula para a for-mação de um cará-ter, você não será o primeiro e nem o último”.

Uma de tantas perguntas que en-volveram mais a sua vida pessoal do que profissional deixou a colunista aos prantos. Abor-dada por questões de erros, dores e perdas, a colunista revelou que perdeu o amor de sua vida em um acidente de trânsito há um ano, quando deve-ria estar na Jorna-da do ano passado. “Era ela quem mais entendia de futebol, tudo o que aprendi foi com ela. Eu sou uma pessoa melhor e mais forte por causa des-sa dor, a dor faz parte”,

declara.Foi defendendo a ideia

de que as pessoas devem inovar e criar mais, que a jornalista finalizou sua primeira biografia sobre a Deputada Federal Mara

Gabrilli, e encerrou sua íntima conversa afirman-do que o bom jornalista não é aquele que vive, mas sim o que convive com o fato e se interessa por ele.

Lacombe conta sobre a dor de perder uma pessoa importante, e diz que esses momentos formam nosso caráter

Especial: Jornada de Jornalismo 10 à 30 de Outubro de 2012 7

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Especial: Jornada de Jornalismo

(Veiga)

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Resumoda jornada

Busquem imperfeições, por-que elas humanizam a gente.

(Lacombe)

Vale a pena ser jornalista. A dificuldade é que cada matéria tem o ̒ peso ̓ de uma tese que deve ser produzida em um curto tempo.

Foto:Ana Carolina Mora

Foto: Juliana Vieira

Você pode ter nascido em 84, mas saber o que aconteceu na copa de 70. É só estudar.

(Bellantani)

Três coisas te tiram de um processo seletivo: burrice, preguiça e erro de portiguês.

(Ana Estela)

Jornadade jornalismo

2012

Page 9: Saiba+ - Edição Outubro de 2012

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Diversidade cultural sem incentivoO 13º Festival do Instituto de Artes da Unicamp teve visibilidade através de redes sociais

Foi em cima de um tra-pézio, pendurado no alto de uma estrutura presa por cabos de aço e reves-tida de lona de circo, que o grupo de teatro Ponte Para Lua abriu a temporada de apresentações das diversas vertentes culturais do 13º Festival do Instituto de Artes da Unicamp. O espe-táculo Árvore no Deserto, inspirado no desenhista e escritor Lourenço Mutarel-li, Brecht e Platão, não se limitou aos elementos bá-sicos do teatro e mostrou traços de circo e dança, expostos no trapézio e no enlace das pernas da artista circense.

O Festival é planejado durante todo o ano pelos alunos do Instituto de Ar-tes e do Instituto de Es-tudos da Linguagem. A divulgação do evento é feita através de parcerias com instituições priva-das e o apoio dos alunos da universidade. Segundo Bruna Scorsatto, uma das organizadoras, ʻʻA divul-gação esse ano foi um dos maiores focos do festival, os esforços para construir o FEIA começaram já no começo do ano, com os pré-FEIAS. Foram shows e palestras para que os pró-prios alunos da Unicamp lembrassem do festival ao longo do ano e não só du-

Ana Carolina Mora

rante a última semana de setembro.”

Como nas edições ante-riores, a divulgação não teve o apoio da Unicamp, os organizadores optaram por difundir a informação através de redes sociais, “O Facebook foi uma das ferramentas mais utili-zadas, o próprio público do Festival ajudou mui-to compartilhando nossas postagens.”, disse Bruna.

Além das apresentações, diversas oficinas foram realizadas no Instituto de Artes, que durante a se-mana do evento, paralisou suas aulas para ceder espa-ço para o FEIA. Para Isa-bela Moura, aluna do curso de Midialogia, a universi-dade parece não ter olhos para o Festival, “Nós alu-nos nos programamos du-rante o ano para participar das oficinais, mas o ideal é mostrar o trabalho rea-lizado dentro do campus, priorizar e divulgar nossos grupos, e a universidade pouco faz.”

Procurada para esclare-cimentos, a assessoria de imprensa da universidade não retornou telefonemas e emails. E mesmo sem o apoio da instituição e com o frio, que chegou em plena primavera, as apre-sentações tiveram saldo positivo e deixaram um questionamento em pauta: por que não divulgar um evento que ocorre na pró-pria instituição?

Fotos: Ana Carolina Mora

Page 10: Saiba+ - Edição Outubro de 2012

Fotos: Marina de Sordi

Juliana Franco afirma que é quase impossível manter uma dieta saudável morando longe de casa

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Sobrevivendo fora da casa dos paisPesquisa revela que um terço dos universitários não sabe nem cozinhar um ovo

A cena é comum: chega a hora de fazer uma faculda-de e os estudantes precisam muitas vezes se aventurar fora da residência dos pais. Apesar da empolgação e dos lados positivos de con-seguir independência, as dificuldades aparecem em momentos simples do coti-diano, como na hora de co-zinhar ou lavar as próprias roupas.

Uma pesquisa de setem-bro deste ano feita por uma rede britânica de su-permercados relevou da-dos sobre as habilidades domésticas de estudantes universitários entre 18 e 25 anos morando fora da casa dos pais. A pesquisa mostra, por exemplo, que metade deles não sabe fa-zer um macarrão simples com carne moída, 35% nunca usaram o aspirador de pó e 62% não sabem como escolher produtos de limpeza no mercado.

Marina De Sordi

A alimentação é um dos fatores mais preocupantes para os jovens que mo-ram em repúblicas, kitnets ou dividem apartamen-tos com os colegas. “O prato mais elaborado que sei cozinhar é miojo com milho e batata palha”, ex-plica Marcelo Trindade Costa, de 22 anos, aluno de Engenharia Mecâni-ca da Unicamp. Ele mora em uma república em Ba-rão Geraldo, com outros 4 universitários. O estudante garante que nunca fritou um ovo na vida. A solução encontrada para conseguir manter uma alimentação equilibrada é trazer comi-da de casa. “Minha mãe manda refeições congela-das todo final de semana, que eu consumo no jantar. No almoço geralmente como no ‘bandejão’, que é baratinho”, explica ele referindo-se ao restaurante da universidade, que custa R$2 por estudante. Muitos dos que se arriscam a cozi-nhar apelam para comidas

mais simples. “Nossa des-pensa é lotada de macar-rão. O pessoal da repúbli-ca varia entre espaguete e parafuso”, diz.

Os serviços domésticos também figuram como uma das principais difi-culdades enfrentadas. “Eu levo as roupas sujas para lavar em casa nos finais de semana”, diz Marcelo

exemplificando um hábito comum. Segundo a pes-quisa britânica, 42% dos jovens não sabem nem ao menos passar as próprias roupas. “Quem não leva roupa pra lavar em casa, costuma colocar as cami-sas em cabides e pendurar no varal depois de tirar da máquina. Assim elas já se-cam esticadas e não preci-sam ser passadas”, sugere Marcelo. O estudante tam-bém afirma que limpeza pesada, como lavar o ba-nheiro, a cozinha ou a ga-ragem, é a mais difícil de ser realizada.

Comida pronta também é algo presente na dieta dos estudantes. “Eu até sei cozinhar arroz, feijão e carne, então acho que minha alimentação é ra-zoável. Mas em algumas vezes acabo comendo coi-sas como lasanha congela-da”, afirma Juliana Fran-co, de 21 anos, que cursa relações internacionais na Facamp. Ela explica que o grande vilão é o tempo. “A rotina é muito puxada, é difícil conseguir admi-nistrar tudo. Acaba sendo mais fácil trazer comida quando volto pra casa nos finais de semana ou, às ve-zes, até trocar o almoço por um salgado na canti-na”. A estudante admite que o mais difícil é manter o hábito de comer saladas e vegetais. “Verduras e frutas só quando a minha mãe manda”. Além da má alimentação, também é difícil manter o hábito de praticar exercícios físi-cos, por causa do tempo restrito. “Acabei de parar a natação porque perdi a única janela que eu tinha nas minhas atividades da faculdade. Já fazendo bri-gadeiro sou especialista.

É difícil se manter saudá-vel”, conta Juliana.

Pagar por comida e roupa lavada

Algumas repúblicas optam por contratar uma faxineira. É o caso da do estudante Leonardo Si-mões, de 21 anos, aluno de Engenharia de Mate-riais na Usp, na cidade de Lorena. “Apesar de ser um gasto a mais, vale a pena por nos poupar da preocupação da limpeza da casa, que leva muito tempo”, explica. Ele mora com mais seis pessoas e afirma que a presença de uma empregada domésti-ca faz diferença na quali-dade de vida deles. “Nos finais de semana, quando ela não vem, a casa fica irreconhecível de tão ba-gunçada”, diz. Ele acres-centa ainda que dessa maneira sobra mais tem-po para estudar, trabalhar ou fazer alguma atividade extra curricular oferecida pela universidade.

Apesar dos desafios, os estudantes garantem que a experiência de morar fora de casa durante a uni-versidade vale a pena. Se-gundo Leonardo, a vivên-cia com outras pessoas e a pressão para organizar a rotina sozinho trazem maturidade e senso de independência, além de uma liberdade que não se consegue no ambiente familiar. “Não tem preço poder fazer o que você quiser, na hora que qui-ser e do seu jeito. Tenho a impressão de que depois de algum tempo moran-do fora de casa, você não consegue mais voltar a viver com os seus pais”, finaliza Leonardo.

Alguns estudantes, como Marcelo Costa, sobrevivem com a comida congelada mandada pelos pais

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Foto: Cláudio A

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Oficina oferece educação audiovisual Curso gratuito ensina população de baixa renda a criar curtas e documentários

Locomotiva artística desgovernadaDepois do esquecimento, artistas de Campinas desembarcam na Estação Cultura

Certa vez alguém ecoou pelos labirintos da crítica que a obra de arte só signi-fica no mundo sob o olhar de um espectador. Sem essa relação, a arte – e por con-seguinte o artista – seria inexistente. Em um grito pela própria existência, ar-tistas contemporâneos de Campinas (SP) hastearam sua bandeira sobre a facha-da da Estação Cultura neste mês de outubro e concla-maram a população para que a arte campineira passe a existir.

“É uma briga grande e solitária. Mas não vão nos tirar daqui”, afirma Marcos Garcia, responsável pelo Museu de Arte Moderna (MAM) de Campinas. Me-nos transgressor do que a fala aparenta, o projeto faz parte do chamamento público da Secretaria de Cultura para a ocupação até dezembro deste ano dos es-paços há muito ociosos do

imponente prédio. O edital prevê apenas a cessão do espaço, sem que a prefei-tura arque com qualquer despesa adicional pelas ati-vidades.

Desde 2008 sem-teto, as obras do MAM percorre-ram exposições itinerantes pela cidade além de reco-brir provisoriamente de sensibilidade algumas das duras paredes do Palácio

dos Azulejos cedidas pelo Executivo. A mudança para tal castelo seria definitiva, as negociações seguiam em um bom ritmo. Mas claro. Se não houvesse o elemen-to surpresa que salpica não só a arte como também a vida.

Os investigadores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Or-ganizado (Gaeco) bateram

“às portas” de outro palácio, o dos Jequitibás, na madru-gada de 20 de maio de 2011 e trouxe à tona o escândalo político que conturbaria to-das as paragens campinei-ras. A pasta de Cultura não ficou fora de uma dança das cadeiras durante a crise, tendo quatro secretários di-ferentes em 2012. E assim como a construção do Tea-tro Castro Mendes e a refor-

ma do Teatro do Centro de Convivência, os projetos do MAM caminharam a lentos passos.

Além dos artistas sob o nome de modernos, mas que produzem obras na contemporaneidade, uma instalação artística sob o conceito de “arte em pro-cesso” do grupo Antro-poantro e gravuras do Mu-seu Olho Latino também compõem a exposição das obras em painéis brancos minimalistas, dispostos em uma sala rota com lâmpa-das cambaleantes no teto.

Como afirma o respon-sável pela exposição, o problema da política cultu-ral campineira vai além de questões partidárias, mas se dá em um âmbito de apren-dizagem e necessidade hu-mana. “Campinas precisa. Não é uma questão de es-colha. Nós estamos entre as 10 maiores cidades do Bra-sil... e nós não temos teatro, nós não temos museu. A vida ficou monótona e nós não temos mais fantasia”.

Virgginia Laborão

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“É muita loucura fazer quatro filmes em 11 dias”, afirma animada a cineasta Marina Santonieri, de 36 anos, com o empenho de seus jovens alunos na ofici-na de cinema que ministrou para adolescentes de baixa renda nas últimas semanas de setembro, em Valinhos. Com cinco anos de projeto, já aconteceram 92 oficinas em nove estados.

Após terem aulas teóri-cas e práticas de produção e edição os alunos pegam as câmeras e fazem todo o processo de criação, desde o roteiro, a filmagem, a de-cupagem e a montagem dos filmes. Com roteiros de fic-ção, os três curtas produzi-dos têm um quê de drama e um deles conta até com um pouco de surrealismo.

O câmera e roteirista de um dos grupos, André Oli-va, é funcionário público e conta que já tem planos futuros para continuar nes-sa área. “Estou fazendo um curso de roteiro paralela-mente, e quero continuar a trabalhar com cinema, eu

me apaixonei”. Os alunos contam sobre a experiên-cia de ter criado o roteiro em conjunto. “Tivemos três ideias, juntamos tudo e deu nisso”, complementa Sandro Ribeiro, diretor de elenco.

O grupo desenvolveu a história surrealista de uma garota com um terceiro olho na mão. Demonstran-do união e parceria, eles pensam e resolvem juntos os problemas e dificulda-des encontrados durante as filmagens. Quando não conseguem solucionar algo, recorrem ao seu educador, Diego Urbaneia, ou a pró-pria Marina. “Eu quase não acredito na intimidade que criamos, faz apenas uma semana que estamos juntos, mas já parece muito mais. Estou triste hoje é o último dia de filmagem” comenta Marina Santonieri.

Além de Marina, os alu-nos contaram com o auxílio de quatro educadores. Die-go Urbaneia, Maria Danie-le, Vitor Clin e Elaine Es-teves ajudaram os jovens a produzir uma adaptação de um roteiro escrito por Luis Bolognesi especialmente

Bárbara Bigon

para a Tela Brasil, o Ideia Genial. As outras três pro-duções foram inteiramente feitas pelos três grupos de alunos. Os projetos audio-visuais podem ser docu-mentários ou ficcionais, e têm em torno de 5 a 7 mi-

O educador Diego Urbaneia explica ao aluno André Oliva sobre como utilizar a câmera de filmagem

Foto: Virgginia Laborão

Artistas contemporâneos ganham espaço no saguão da Estação Cultura, após quatro anos sem teto

nutos de duração, “Assim fica mais fácil de inscrevê-los em festivais”, explica Marina.

Após três dias de filma-gem, os alunos passaram dois dias na produção dos filmes que foram exibidos no dia 29 de setembro no

Centro Cultural Vicente Musselli, mesmo local em que foram ministradas as aulas da oficina.

Atualmente, os filmes es-tão sendo inscritos em festi-vais brasileiros de curtas, na categoria de oficina. Aque-

les que se interessarem po-dem assistir os filmes pro-duzidos pela Oficina em seu site oficial http://www.telabr.com.br/.

O projeto de educação audiovisual que percorreu várias cidades do país foi desenvolvido pela cineasta

Lais Bodansky e pelo ro-teirista Luis Bolognesi. As atividades começaram na produtora Buriti Filmes e foram pensadas e planeja-das em parceria com a Ou-roboros Cinematografia e Educação, uma produtora

especializada em educação audiovisual. A Oficina Tela Brasil de educação audiovi-sual já ganhou três prêmios em importantes festivais brasileiros na categoria de oficinas, “Para uma disputa mais justa”, justifica Mari-na.

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“Acabou Chorare” completa 40 anosDisco dos Novos Baianos é considerado o melhor da história da música brasileira pela revista RollingStone; conheça a importância e o contexto de criação do álbum

O início da década de 70 é considerado uma fase de transição na música brasi-leira. A Bossa Nova de João Gilberto e Tom Jobim esta-va começando a ficar velha e a Tropicália de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes e compa-nhia se apresentava como um movimento cultural/musical se consolidando no imaginário popular. Inseri-dos nesse contexto, os No-vos Baianos gravam o seu segundo álbum, em 1972, o histórico “Acabou Cho-rare”.

Formado por Moraes Moreira, Jorginho Gomes, Pepeu Gomes, Baby Con-suelo, Paulinho Boca de Cantor, Dadi Carvalho e o poeta Luiz Galvão, o gru-po vinha de seu primeiro trabalho, o disco gravado pela Polygram, “É Fer-ro na Boneca” (1969), até que o rompimento com a gravadora, principalmente advindo do desejo de uma inovação sonora e da não adequação aos moldes pro-postos, proporcionou uma reviravolta artística nos Novos Baianos. Um novo contrato assinado com a produtora Som Livre - an-tes haviam flertado com a Philips -, e o contato com o produtor (e pai de Cazuza) João Araújo representaram uma nova etapa na vida da banda, etapa em que se insere “Acabou Chorare”. “João foi importantíssi-mo para nossa liberdade enquanto artistas, ele nos mandou esquecer a Poly-gram e a Philips e foi como se dissesse ‘eu sei lidar com esses caras’”, afirma Pau-linho Boca de Cantor, um dos vocalistas da banda.

O contrato com a Som Li-vre permitiu que os Novos Baianos explorassem sua sonoridade como gostariam e, a partir desse novo hori-zonte praticamente ilimita-do, acontece um encontro decisivo para aquilo que caracterizaria as composi-ções presentes em “Aca-bou Chorare”. O poeta Luiz Galvão era amigo de infân-cia de João Gilberto e des-de a formação dos Novos Baianos Galvão comenta-va sobre a genialidade de Gilberto para a banda e do talento em ebulição da ban-

Maurício Amendola Assis

da para Gilberto. Paulinho relembra: “Parecia aquele primeiro contato com os ín-dios, sabe? Nós trocávamos presentes, mesmo sem nos conhecermos. Até que um dia o poeta Galvão conven-ceu o João Gilberto a nos visitar no nosso apartamen-to no Botafogo (onde todos os Novos Baianos mora-vam) e foi amor à primeira vista”. O apartamento no Botafogo era visitado por grande parte da intelectuali-dade brasileira da época.

Paulinho afirma que o encontro com João Gilber-to trouxe a “brasilidade” para as músicas dos Novos Baianos. Com os arranjos

vindos da Bossa Nova e seu estilo purista se misturou com a juventude sedenta, que trazia consigo diversos estilos em sua musicalida-de: “Pepeu era fanático por Jimi Hendrix; Baby trazia a contestação e a rebeldia da Janis Joplin, Moraes era o vaqueiro, fazia um ‘som rural’; E eu vinha da ex-periência do palco, era um sambista... tinha a brasilida-de que foi aguçada por Gil-berto e ‘infectou’ a todos do grupo”, conta Paulinho.

O encontro com João Gilberto foi tão significati-vo para os Novos Baianos, que o próprio nome “Aca-bou Chorare” surgiu de

uma história envolvendo o pai da Bossa Nova e sua filha, com ainda menos de cinco anos, Bebel Gilberto. João contou ao grupo que quando sua filha levava um tombo ou algo semelhante e começava a chorar, ele ia acudi-la e ela o dizia – misturando português com o castelhano de quando morou no México – “aca-bou chorare, papai, acabou chorare”. O nome e a in-tenção do disco dos Novos Baianos, segundo Paulinho, se relacionavam com essa ideia: “Queríamos fazer um disco que representasse ‘uma nova manhã’ para os brasileiros que viviam no

regime militar, dizer a eles que o choro tinha acabado e que ainda era possível ser feliz”, afirma. Tendo essas novas munições musicais e ideológicos, os Novos Baianos saíram do aparta-mento na Conde de Irajá no Botafogo e se “isolaram” em um sítio na estrada para Jacarepaguá: o “Cantinho do Vovô”.

A rotina no sítio era basi-camente compor e ensaiar diariamente, se divertir e às 16h começava o “baba” (gí-ria baiana para a “pelada” de futebol), que, certa vez, até contou com a presença de Jairzinho, ponta da se-leção brasileira campeã em 1970. No período da noite começavam as gravações. Paulinho afirma que o sítio possibilitava uma qualida-de de vida fantástica, colo-cando os moradores em um estado de grande renúncia as coisas materiais e a uma vivência que proporcionava sempre um compromisso com o próximo. Além dis-so, os Novos Baianos con-taram com o entendimento e o auxílio dos vizinhos que moravam nos sítios ao lado: “Todo mundo entendeu a nossa proposta, inclusive o sítio tinha alto falantes que faziam ecoar nossos ensaios por lá. Após os en-saios, acontecia até uma mesa redonda para conver-sar sobre futebol. Os vizi-nhos ouviam, gostavam da gente”, diz Paulinho.

A influência de “Acabou Chorare” é preservada até os dias atuais em função de ser considerado o pri-meiro disco que realmente soube mesclar o pop/rock internacional com a músi-ca brasileira, chamado por alguns críticos de “samba elétrico”. A repercussão do lançamento é lembrada hoje por Paulinho como a soma da grande recep-tividade do público e da incompreensão do gover-no militar quanto a o que “queriam dizer esses baia-nos”: “A gente saía pelas ruas e ouvia gente cantando e ouvindo ‘Preta pretinha’, nos sentimos muito abraça-dos na época do lançamen-to. O governo não entendia o que era essa ‘coca-cola’ baiana, tanto que a única música censurada foi justa-mente ‘Acabou Chorare’, uma música infantil que eles não entenderam, de fato, a ideia”, diz.

5 a 20 de Outubro de 201212

O “almojanta” dos Novos Baianos sob um pé de mangueira se transformou na capa de Acabou Chorare

Foto: Divulgação