Saiba+ Outubro

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“Não cheguei a ser censurada na ditadura. Só fui censurada na nova república”, diz Laerte Desde 2006 30 de outubro de 2014 Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas Nova Glicério custará R$ 6 mi Foto: Bruna Gomes O antes e o depois: segundo projeto divulgado, é assim que a Avenida Francisco Glicério, em frente ao campus central da PUC-Campinas, ficará após reforma Anatel deve diminuir número de orelhões em até 60% Sinfônica de Campinas reproduz concerto da década de 20 No mês seguinte a seu aniversário de 85 anos, a Orquestra Sinfônica de Campinas irá reproduzir um concerto do ano de 1929, quando foi fundada. A apresentação será na Concha Acústica da Lagoa do Taquaral, no dia 16 de novembro, com entrada gratuita. Regida por Victor Hugo Toro, terá presença especial de Ivan Lins. Pág. 8 Pág. 5 Restaurantes japoneses em Campinas crescem 700% em 10 anos Pág. 11 Artes marciais complementam tratamentos para doenças emocionais Pág. 7 Foto: Divulgação Pág. 3 “Esquecido”, MIS resiste mesmo com poucos visitantes Pág. 9 Bíblia Freestyle divide opiniões Criado por pastor Ariovaldo Junior, livro recheado de gírias e expressões de baixo calão que promove uma releitura da bíblia voltada a jovens causa polêmica entre estudiosos do assunto. “Mas, desse modo, com palavrões e expressões desnecessárias, acredito que haja certo desrespeito com os textos religiosos”, diz teólogo José Geraldo Souza, do Centro Universitário Claretiano. Pág. 11 RMC computa 25% dos votos para candidatos evangélicos Levantamento mostra que candidatos que associam seus nomes à fé nas urnas cresceu 54% em relação à eleição de 2010. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), 1,3 milhões de votos foram conquistados por três candidatos evangélicos. Pág. 5 Foto: Vinicius Tavares Foto: Amanda Bruschi Com o objetivo de valorizar e revitalizar o patrimônio cultural e arquitetônico do Centro, a Prefeitura irá iniciar em janeiro de 2015 uma série de mudanças na estrutura da Avenida Francisco Glicério. As reformas visam valorizar a acessibilidade, a mobilidade, a estética e a limpeza. Comerciantes têm dúvidas sobre os resultados. A Prefeitura também não apresentou nenhum projeto específico para os moradores de rua. Pág. 12 Foto: Camila Lourenço

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Page 1: Saiba+ Outubro

“Não cheguei a ser censurada na ditadura.

Só fui censurada na nova república”, diz Laerte

Desde 2006 30 de outubro de 2014 Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas

Nova Glicério custará R$ 6 mi

Foto: Bruna Gomes

O antes e o depois: segundo projeto divulgado, é assim que a Avenida Francisco Glicério, em frente ao campus central da PUC-Campinas, ficará após reforma

Anatel deve diminuir

número de orelhões em

até 60%

Sinfônica de Campinas

reproduz concerto da década de 20No mês seguinte a seu

aniversário de 85 anos, a Orquestra Sinfônica de Campinas irá reproduzir um concerto do ano de

1929, quando foi fundada. A apresentação será na

Concha Acústica da Lagoa do Taquaral, no dia 16 de novembro, com entrada

gratuita. Regida por Victor Hugo Toro, terá presença

especial de Ivan Lins. Pág. 8

Pág. 5

Restaurantes japoneses em

Campinascrescem 700%

em 10 anosPág. 11

Artes marciais complementam

tratamentos para doenças emocionais

Pág. 7

Foto: Divulgação

Pág. 3

“Esquecido”, MIS resiste mesmo com

poucos visitantes

Pág. 9

Bíblia Freestyle divide opiniões

Criado por pastor Ariovaldo Junior, livro recheado de

gírias e expressões de baixo calão que promove uma

releitura da bíblia voltada a jovens causa polêmica

entre estudiosos do assunto. “Mas, desse modo, com palavrões e expressões

desnecessárias, acredito que haja certo desrespeito com os textos religiosos”, diz

teólogo José Geraldo Souza, do Centro Universitário

Claretiano.Pág. 11

RMC computa 25% dos votos para candidatos evangélicos

Levantamento mostra que candidatos que associam seus nomes à fé nas urnas cresceu 54% em relação à

eleição de 2010. Na Região

Metropolitana de Campinas (RMC), 1,3 milhões de votos foram conquistados por três

candidatos evangélicos.Pág. 5

Foto: Vinicius Tavares

Foto: Amanda Bruschi

Com o objetivo de valorizar e revitalizar o patrimônio cultural e arquitetônico do Centro, a Prefeitura irá iniciar em janeiro de 2015 uma série de mudanças na estrutura da Avenida Francisco Glicério. As reformas visam valorizar a

acessibilidade, a mobilidade, a estética e a limpeza. Comerciantes têm dúvidas sobre os resultados. A Prefeitura também não apresentou nenhum projeto específico para os moradores de rua.

Pág. 12

Foto: Camila Lourenço

Page 2: Saiba+ Outubro

Página 2 30 de outubro 2014 Opinião

Giovane Caruso

MarCel Kassab

editores

RÁPIDAS

GP do Brasil de Fórmula 1 tem ingressos disponíveis

No próximo dia 9 de novembro, acontecerá o GP do Brasil de Fórmula 1, penúltima corrida do ano e que pode definir o piloto campeão da temporada. Com o título de equipe já conquistado pela equipe Mercedes, a briga agora acontece entre o piloto inglês Lewis Hamilton e o alemão Nico Ros-berg, ambos da escuderia alemã. Para o brasileiro que tiver interesse em estar presente na corrida, os ingressos estão disponíveis no site oficial do evento: https://www.gpbrasil.com.br. Os ingressos variam entre R$ 695 e R$ 6.950, po-dendo comparecer nos treinos livres (dia 7), treino classifi-catório (dia 8) e corrida (dia 9).

Essa edição do Saiba + (produzida pelos alunos da turma 43 do período ma-tutino da Faculdade da Fa-culdade de Jornalismo da PUC-Campinas) mostra o que será feito no projeto arquitetônico de R$ 6 mi-lhões, custeado pela prefei-tura, com objetivo de revi-talizar o centro da cidade.

A reportagem explica como o projeto pretende reformar a Avenida Fran-cisco Glicério, que vai ser-vir de modelo para toda a revitalização da área do centro.

Essa edição traz tam-bém uma entrevista com a cartunista Laerte, que fala sobre censura e transgene-ridade em uma reporta-gem que faz parte de um projeto interdisciplinar, também desenvolvida em vídeo que pode ser aces-sado no portal Digitais (digitais-puccampinas.wor-dpress.com/espelho-urba-no) e via QR Code.

Para usar esse recurso é preciso ter o aplicativo QR Reader no smartphone ou tablet. Ele pode ser baixado

ExpedienteJornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comu-nicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério Bazi; Diretora-Adjunta: Cláudia de Cillo; Diretor da Facul-dade: Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil. Impressão: Gráfica e Editora Z

Professor responsável: Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375).

Edição: Giovane Caruso e Marcel Kassab

Edição de capa: Giovane Caruso e Marcel Kassab

Diagramação: Ana Carolina Pertille eBárbara Garcia

Por João Augusto Damasceno

ARTIGO

Gustavo Gianola

Predadores, devastado-res ou até mesmo as-

sassinos. Sim, os adjetivos podem até soar radicais ou exagerados a nós, seres humanos. Porém se rela-cionados ao fato do desa-parecimento de mais da metade dos animais sel-vagens do nosso planeta em apenas 40 anos devido à ação do homem, temos, sim, que ser julgados por nossas péssimas atitudes em relação à preservação do meio ambiente.

Segundo o artigo “Pla-neta Vivo”, divulgado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), as po-pulações de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes foram extintas em mais de 50%. A conclusão, alarmante à conservação da biodiversidade, reflete aos maus hábitos que o homem exerce, principal-mente a caça e a agricul-tura. Em todo o mundo, as espécies terrestres e marinhas diminuíram em 39%. Já as os seres vivos de água doce decresceram mais ainda, chegando a margem de perda de 76%

PUC-Campinas promove festival de música para alunosO VI PUCFEST – Festival de Bandas PUC-Campinas – Edição “Estilo Livre”, tem início no mês de novembro. Com o período de inscrições até o dia 31 de outubro, o evento é aberto para qualquer aluno que esteja se graduan-do ou se pós-graduando na Universidade, com a matrícu-la regularizada. A ordem de apresentação das bandas será definida por sorteio, momentos antes do início do evento. Com o intuito de fazer um torneio divertido e grande pla-teia, a final está programada para acontecer no dia 3 de dezembro, na Praça de Alimentação do Campus I. Os três primeiros colocados serão premiados, nos valores de R$ 1.200 (1º colocado), R$ 600 (2º colocado) e R$ 300 (3º co-locado). Além da premiação em dinheiro, os três primei-ros colocados irão gravar um programa especial pela TV PUC-Campinas. Para mais informações acesse: www.puc-campinas.edu.br.

de suas espécies. Para nós brasileiros,

residentes da América La-tina, o buraco é mais em baixo, com a pior que-da, de 83% do total de animais. Segundo Jean-François Timmers, supe-rintendente de Políticas Públicas da WWF-Brasil, tal fato deve-se em nossa região resultante do des-matamento, da destruição dos ecossistemas aquáti-cos e da pesca no litoral.

O documento da WWF ainda mostra que a de-manda global é maior que a capacidade de reposição do planeta. Seria necessá-rio uma Terra e meia para atender às necessidades atuais. Isso explica que a mudança climática, tam-bém resultado da ação do homem no meio am-biente, é responsável pela extinção de algumas espé-cies. Estamos consumin-do 50% a mais do que a natureza é capaz de repor ao ano. E a tendência, que é crescente, só vai pio-rando a situação, devido ao crescimento da classe média, principalmente na

gratuitamente.O jornal mostra tam-

bém como artes marciais podem funcionar como aliadas no tratamento de doenças emocionais como depressão, síndrome do pânico e hiperatividade. Os novos aplicativos, que pro-metem facilitar o monito-ramento de atividades físi-cas com pulseiras e relógios inteligentes que calculam calorias queimadas, veloci-dade, distância percorrida e até padrão de sono, tam-bém são pauta.

Confira também a no-vidades e as polêmicas da nova bíblia freestyle do Pastor Ariovaldo Junior, fundador da Igreja Mani-festo Missões Urbanas de Uberlândia.

A edição mostra tam-bém que Campinas e re-gião elegem cada vez mais religiosos. No total, 25% dos 1,3 milhão de votos para deputados federais fo-ram conquistados por três candidatos ligados a reli-giões evangélicas.

Boa leitura!

GP em Interlagos, São Paulo, é o penúltimo da temporada em 2014

Foto: Divulgação Ásia, que faz a demanda aumentar ainda mais.

Nossas péssimas ações no meio ambiente acabam de ser comprovadas, po-rém ainda temos salvação para mudar nossos há-bitos e pensar no futuro. O Greenpeace divulgou em seu site soluções para que, até 2020, o Brasil faça sua parte para diminuir o ritmo do aquecimento global, assegurando a bio-diversidade e fazendo o uso responsável do patri-mônio local. Dentre elas, as principais são o desma-tamento zero, criação de mais áreas protegidas, re-gularização fundiária e a governança. Sabemos que essas alternativas nunca serão realizadas exata-mente da forma como fo-ram colocadas em pauta. Por isso devemos começar com pequenas atitudes, cada um fazendo a sua parte, pois já está mais do que na hora de criarmos consciência e pensarmos no futuro de nossas ge-rações, senão a próxima espécie a ser extinta será a nossa.

CARTA AO LEITOR

40 ANOS DE DESTRUIÇÃO

Foto: Divulgação

Page 3: Saiba+ Outubro

Página 3

Glicério gastará R$ 6 mi em revitalização Projeto prevê mudanças nos quiosques, nas calçadas, recuperação de prédios históricos e limpeza

30 de outubro de 2014

Apresentado pelo prefeito Jonas Donizette (PSB),

no dia 11 de setembro de 2014, o projeto arquitetô-nico de revitalização do Centro de Campinas, se-gundo a Prefeitura, deve ter início em janeiro de 2015 e deverá ser finali-zado antes do Natal do mesmo ano. O custo será de R$ 6 milhões.

O trecho a ser revitali-zado vai da Avenida Oro-simbo Maia até a Aquida-bã e vai servir de modelo para a revitalização de toda área central. O pro-jeto arquitetônico, doado pelo Instituto dos Arqui-tetos do Brasil (IAB), foi assinado pela arquiteta Maria Rita Amoroso e tem fotos e informações de como a Glicério fica-rá depois da obra. Alguns incentivos também serão oferecidos às empresas que desejarem se instalar no Centro, caso um pro-jeto de lei que trata desse assunto seja aprovado na Câmara.

O objetivo, segundo a Prefeitura, é valorizar a área central, revitalizar o patrimônio cultural e arquitetônico, resgatar a convivência e impulsio-nar a economia e a habi-tação, entre outras ações. Para Debora Correa, de 25 anos, atendente de um quiosque de salga-

Cultura

Bruna GomesRaíssa Bazzo

dos em frente à agência dos Correios, a obra não será benéfica para os pro-prietários das barracas estabelecidas na calçada. “Escuto sobre a refor-mulação há pelo menos seis anos, pois já trabalho aqui há oito, mas acho que não vai ser bom para os comerciantes, porque vão nos tirar dos nossos lugares e colocar as bar-racas mais para cima”. A atendente se refere ao fato de que as barracas, pelo novo projeto, passa-rão a ser instaladas ape-nas do lado esquerdo da avenida, em locais pré-determinados pela Ad-ministração Pública.

Em reunião na Câ-mara, os vereadores e secretários responsáveis pelo projeto puderam apresentá-lo aos comer-ciantes e moradores da Glicério. Segundo Adria-na Flosi, presidente da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), que também par-ticipou da reunião, o ór-gão vai contribuir com a fiscalização da obra, au-xiliando os comerciantes e moradores da avenida. De acordo com Adriana, um documento será redi-gido para expor quais são os direitos dos comer-ciantes da área.

O projeto será custea-do pela Prefeitura e pelas empresas e associações participantes. As inter-venções arquitetônicas

valorizam a acessibili-dade, a mobilidade de pedestres, a estética e a limpeza visual. As placas publicitárias serão regu-lamentadas, os fios de energia e telefonia serão aterrados e as calçadas ampliadas, padroniza-das e passarão a ter seis metros de largura. Hoje, têm metade disso. Já as barracas e bancas terão a disposição adequada e

Fotos:Bruna Gomes

Av. Glicério será restaurada a partir de janeiro de 2015 e segundo Prefeitura será entregue no final do ano

Qr Code

Reunião na Câmara dos Vereadores apresenta projeto de restauração para moradores e comerciantes

serão transformadas em quiosques. O piso da cal-çada, grande reclamação da população, será refeito com material mais resis-tente para que buracos e elevações inadequa-das possam ser evitados. Pontos de ônibus, placas de informações e luminá-rias serão trocados para valorizar prédios históri-cos da cidade.

O arquiteto e presi-dente do Conselho Muni-cipal de Desenvolvimen-to Urbano de Campinas (CMDU), Fabio Bernils, defende um plano de re-qualificação para a área central. Ele leva em con-sideração as mudanças ocorridas na Rua 13 de Maio, onde calçadas fo-ram ampliadas, aumen-tando o espaço para o pedestre caminhar sem a intervenção de veículos, mas que, em contexto ge-ral, não provocou nenhu-ma mudança extrema de intervenção urbana, como, por exemplo, na poluição visual. O arqui-teto também questiona a participação de morado-res e comerciantes que não foram incluídos no projeto e não possuem conhecimento a respeito da requalificação. “Pare-ce-me algo que vem de cima para baixo. Como uma obra desse porte

que estão propondo está sendo planejada? Quem ou qual órgão público está responsável por esta obra?”, pergunta Bernils.

Quando questiona-da sobre os moradores de rua que tomam as calçadas da avenida, a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Desen-volvimento Econômico, Social e de Turismo da Prefeitura Municipal de Campinas, não apresenta nenhuma solução práti-ca.

À noite, é comum ver dezenas de moradores de rua dormindo embaixo de marquises na avenida. A assessoria respondeu apenas que a Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social (SMCAIS), res-ponsável pelos serviços de atendimento às pes-soas em situação de rua, disponibiliza uma série de serviços para atendi-mento dessa população.

Page 4: Saiba+ Outubro

Página 4 Inclusão

Turismo adaptado cresce e gera projetosSociedade Brasileira de Espeleologia promove visitas monitoradas em cavernas, grutas e cavidades

Bárbara Garcia

30 de outubro de 2014

Quem pensa que acessibilidade sig-nifica apenas cons-

truções de rampas e estru-turas afins na cidade está enganado. Como um con-junto amplo de ações con-cretas e morais que ajudam na inclusão total, envolve também atividades turísti-cas e de lazer. O Ministé-rio do Turismo (Mtur) tem vários projetos voltados à participação das pessoas com deficiências.

O programa Turismo Acessível, lançado pelo Go-verno Federal, por meio do Decreto nº7.612/2011, é um exemplo disso. Outros programas são os projetos Destinos Turísticos de Re-ferência, Novos Rumos e o Programa Internacional Sem Limites, lançado pelo Instituto Brasileiro de Tu-rismo (Embratur).

O município de Socor-ro (a 118 quilômetros de Campinas) é um dos dez destinos de referência em turismo adaptado indica-dos pelo Mtur. A atração mais famosa é o Parque dos Sonhos, com adaptações em atrações como tirolesas, rafting, boia-crosses, ar-vorismo. O local, mantido pela iniciativa privada, foi criado há pouco mais de 7 anos. A ONG “Aventura Especial” ajudou o parque com as adaptações nas mo-dalidades de aventura. O jornalista Dadá Moreira, presidente da ONG, come-çou a utilizar o turismo de aventura como forma de reabilitação. No parque, é também possível ficar hos-pedado. Todos os quartos, banheiros e áreas comuns são adaptados com rampas, pisos táteis e placas com descrição em braile. Há também monitores para auxiliar os visitantes.

Outra iniciativa para atender ao público é co-mandada pela Comissão de Espeleoinclusão, da So-

ciedade Brasileira de Espe-leologia (SBE). Trata-se de ações que criam condições para que pessoas com defi-ciência, autismo, síndrome de Down ou idosos possam explorar ambientes natu-rais como cavernas e cavi-dades. O presidente da SBE, Marcelo Rasteiro, conta que, atualmente, existem 680 cavernas de São Pau-lo registradas no Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil (CNC) e que o con-trole das visitações nas ca-vernas do Estado de São Paulo é feito pela fundação florestal.

A iniciativa do projeto foi da coordenadora Érica Nunes, que tem deficiência motora, e utiliza cadeira de rodas. Ao visitar o Parque Estadual Turístico do Alto da Ribeira (Petar), no mu-nicípio de Iporanga (região Sul do Estado de São Pau-lo), percebeu que o local não possuía condições para receber esse tipo de públi-co. Depois de apresentar trabalho acadêmico sobre o tema no 28º Congresso Brasileiro de Espeleologia, ela foi convidada pela SBE

para fazer o levantamento das cavernas, cavidades, grutas e abismos e não pa-rou mais. Após essas análi-ses, ela e uma equipe de 10 pessoas de diferentes áreas de atuação, decidem como direcionar a visitação para as pessoas com deficiência.

As primeiras cavernas visitadas foram as de San-tana e Alambari de baixo, ambas no Petar.

Depois, foi a vez de ofe-recer o serviço no Parque Estadual Caverna do Dia-bo, em Eldorado (no litoral Sul de São Paulo), a Gru-ta do Anjo, em Socorro, e Lapa Claudina, em Monte Claros (norte do Estado de Minas Gerais). Também visitaram o Parque Estadu-al de Intervales, seguindo pelo abismo Anhumas e a Gruta do Lago Azul, em Mato Grosso do Sul, além da visita na Gruta da Be-leza, em São Desidério, na Bahia.

As adaptações são feitas apenas nos parques, que re-cebem rampas e banheiros adaptados, por exemplo. Quanto às cavernas, é a pessoa interessada que deve se adaptar, a partir de uma entrevista, da qual também faz parte o fisioterapeuta Márcio Renê Silveira.

“Nós que devemos nos adaptar à realidade da ca-verna e não a cavidade às nossas necessidades”, diz Érica. Ela ainda lembra que, após a equipe fazer o levantamento da cavidade, são definidos os locais po-síveis de visitação por pes-soas com deficiência.

Todos os parques co-

bram ingressos para visita-ção. Uma das cavidades de mais fácil acesso é a Gruta do Anjo, em Socorro, po-rém dentro do parque não há banheiros adaptados. “Outro lugar onde a equi-pe é altamente qualifica-da para atender pessoas com deficiência é o Abis-mo Anhumas, em Bonito (MS)”, conta Érica.

Segundo ela, a explo-ração desses locais ainda é pouco conhecida e restrita, já que não existem cursos específicos para profissio-nais que queiram se tornar instrutores e alguns equi-pamentos necessários estão em falta.

Apesar de enviarem muitos materiais para o Mtur informando de sua existência e necessidade, a organização não possui ne-nhum apoio ou incentivo do Ministério. Para Érica, os principais benefícios da visita é a possibilidade de descobrir algo novo sobre a fauna e flora.

“Foi uma experiência muito boa, sentir pelo tato

como é o interior da ca-verna. Quando o meu guia descrevia as formações da caverna, eu as imaginava em minha mente. É como se eu pudesse ver”, conta Argemiro Domingos dos Santos, que possui defici-ência visual.

Outra iniciativa é o li-vro digital “Turismo Adap-tado”, de Ricardo Shimo-zakai, diretor comercial e consultor em acessibilidade em turismo de sua própria empresa, que tem o mesmo nome do livro. Ele pode ser adquirido pelo email: [email protected] e custa R$ 35,00.

InternetNa internet, já existem vá-rios sites específicos para tratar de turismo adap-tado. É o caso do “Brasil para Todos” (www.brasil-paratodos.com.br), com informações detalhadas sobre a legislação relativa à acessibilidade, os melho-res destinos com guias de atrações, bares, hotéis, res-taurantes, história do local, espaço para avaliação dos internautas e descrição das adaptações disponíveis.

CampinasEm Campinas, segundo a Secretaria da Pessoa com Deficiência, a cidade pos-sui parceria com o MTur em eventos específicos, como o “bus tour” pelos pontos turísticos da cidade.

Nesses casos, a secreta-ria fornece guias em Lín-gua Brasileira de Sinais (Libras), audiodescrição e veículo acessível. Não exis-te, no entanto, nenhuma parceria com o setor priva-do nem com o governo do Estado.

A secretaria também afirmou não existir legis-lação municipal específica com relação às pessoas com deficiência terem acesso ao turismo.

Visitantes, monitorados por ONG, exploram Gruta da Beleza em São Desidério, no Estado da Bahia

Cadeirante recebe ajuda na Caverna do Diabo em São Paulo

Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE), de 2010, o País possui cerca

de 23,9% da população com alguma deficiência (em torno de 45,6 milhões) sendo a visual a mais

comum, ficando com 18,6% dos casos. O Ministério mantém, na internet, um site sobre turismo acessí-

vel (www.turismoacessível.gov.br), que pretende ser um guia colaborativo, com a possibilidade de troca

de opiniões sobre lugares e opções de lazer para pessoas com deficiência.

Fotos: Arquivo da SBE

Page 5: Saiba+ Outubro

Página 5 Cidades 30 de outubro de 2014

Orelhões devem diminuir até 60%Principal motivo para a retirada da maior parte dos telefones públicos é a grande quantidade de celulares

Ricardo Magatti

Com a relevante popu-larização dos telefones celulares, o número de

orelhões nas ruas caiu drasti-camente e os que ainda exis-tem são pouco utilizados, o que fez com que a Agência Nacional de Telecomunica-ções (Anatel) colocasse como meta a retirada de até 60% dos aparelhos. Atualmente, o País tem 845.117 telefones públicos, administrados por cinco operadoras.

De acordo com a Ana-tel, cerca de 62% dos ore-lhões processam, em média, até duas chamadas por dia, considerando as ligações re-cebidas e realizadas - aliado

à grande preferência pelo celular e formas de comuni-cação digital. Cerca de 42% dos aparelhos realizam me-nos de uma chamada por dia. Só aproximadamente 8% dos orelhões fazem mais de sete chamadas ao dia.

Segundo o Ministério de Telecomunicações, hoje exis-tem 271,1 milhões de celula-res no Brasil, o que representa 1,35 aparelho por habitante. Em comparação com os nú-meros de 2011, quando 115,4 milhões eram os donos bra-sileiros de celular, houve um aumento de quase 135% dos números de celulares.

Um fator que pesa a favor dos orelhões, para que eles não virem “peça de museu”,

é a utilização da telefonia pú-blica por turistas, principal-mente nas cidades praianas. O estudante de administra-ção Derek Dalto, de 20 anos, é uma dessas pessoas que com-pram cartões de orelhão para usar quando estão na praia e deixam o celular de lado pelo preço dos interurbanos.

“Geralmente, eu uso car-tão telefônico para ligar para os meus pais quando estou na praia, porque vale bem mais a pena. Tem cartões te-lefônicos de cargas diferentes, geralmente eu gasto R$ 10,00 e falo bastante, enquanto que, em dois minutos numa liga-ção interurbana, eu já teria gasto os mesmos R$ 10”, afir-ma o estudante. Um cartão telefônico, de acordo com a Vivo, operadora dos orelhões no Estado de São Paulo, custa entre R$ 2,50 – com 20 uni-dades – e R$ 9,37 – com 75 unidades.

Quem pode ser muito prejudicada com a diminui-ção no número de orelhões é a camada da população que tem pouco acesso ao serviço de telefonia. José Almeida, comerciante e morador do bairro Vila Brandina há mais 35 anos, reclama da situação atual, que, segundo ele, já é ruim, e lamenta a possibilida-de de piorar.

“Aqui dentro da comuni-dade tem um orelhão só para um monte de gente e o esta-do dele não é dos melhores. A gente precisa muito de um

orelhão aqui e, se houver essa diminuição, eles vão tirar esse único orelhão da gente?”, diz.

O comerciante ainda sa-lienta que os orelhões são muito necessários principal-mente em situações de emer-gência. “Praticamente todo mundo tem celular hoje, mas, se acontece alguma coisa, a gente tem que recorrer ao orelhão. Outro dia veio um moleque aqui que teve o celu-lar roubado e precisou usar o orelhão para avisar do roubo. E se não tivesse o telefone pú-blico ali na hora?”, pondera.

Já o porteiro Róbson Bo-relli, de 36 anos, é a favor da redução dos aparelhos de te-lefonia pública, pois acha ne-cessário pelo grande número de aparelhos depredados. “Hoje, apesar de praticamen-te todo mundo ter celular, o orelhão ainda é muito útil, você nunca sabe quando vai precisar usar. Mas, o que eu vejo por aí é a falta de educa-ção do povo. Aqui mesmo na rua do prédio onde eu traba-lho, tem dois orelhões, estão pichados e um deles total-mente danificado”, avalia.

De acordo com a Anatel, a diminuição dos orelhões faz parte da proposta de nova versão de revisão do Plano Geral de Metas de Universa-lização (PGMU), documento que estabelece um conjunto de resultados que devem ser alcançados pelas operado-ras na área de telefonia fixa e que terá validade entre 2016 e

2020.O novo texto propõe o fim

da regra válida atualmente, que obriga as concessionárias a manter nas cidades e loca-lidades pelo menos quatro telefones públicos para cada mil habitantes. Também ele-va de 300 para 600 metros a distância máxima entre um desses equipamentos e qual-quer ponto de uma cidade ou localidade.

A Anatel propõe o fim da obrigação de densidade em troca da instalação de tron-cos de fibra ótica em todos os municípios brasileiros. Elas são capazes de suportar os novos serviços de trans-missão oferecidos pela rede digital de serviços integrados, graças à sua grande capacida-de de transmissão, percorren-do grandes distâncias, o que reduz significantemente os custos em relação aos demais cabos e materiais utilizados para os mesmos fins.

Apesar da proposta da Anatel, a diminuição do nú-mero de orelhões passa ainda por uma consulta pública, aberta até 26 de dezembro deste ano, no endereço ele-trônico www.sistemas.anatel.gov.br/sacp. A assessoria de imprensa da Anatel explicou que a consulta à sociedade é feita para depois ser analisa-da pelo conselho diretor, que deve aprovar a minuta e en-caminhar ao Governo Fede-ral. Este, por sua vez, decide o formato do decreto.

Foto: Ricardo Magatti

Mesmo próximo a orelhões, celular é o preferido das pessoas

Política

Evangélicos conseguem 25% dos votos Três, dos seis deputados federais eleitos na RMC, ergueram bandeiras ligadas às igrejas de quem fazem parte

Guilherme Zanetti

Na Região Metropoli-tana de Campinas (RMC), 25% dos 1,3 milhão de vo-tos para deputados federais foram conquistados por três candidatos ligados a religi-ões evangélicas. Paulo Freire (PR), ligado à Assembleia de Deus, foi reeleito com 111 mil votos; o vereador de Campinas Roberto Alves (PRB), da Igreja Universal, garantiu sua vaga com 130 mil votos – o 34º mais vota-do do Estado de São Paulo; e Luiz Lauro Filho (PSB), vin-culado à Igreja do Nazareno, obteve 105 mil votos. O trio representa metade dos de-putados federais da região a partir de 2015.

O voto vinculado à re-ligião não foi um fenôme-no exclusivo da região. De acordo com levantamento do jornal O Estado de S. Paulo junto à Justiça Eleito-ral, amentou 54% o número de candidatos que associam seus nomes à fé nas urnas – como bispos, padres, mis-sionários, pastores e outros. Em 2014, foram registrados 108 candidatos nessa situa-ção no Brasil; nas eleições de 2010 eram 70. Com os resultados da eleição, a bancada evangélica na Câ-mara aumenta em 10% a partir de 1° de janeiro. Se-gundo dados do senso do IBGE (2010), os evangéli-cos representam 22,4% da população brasileira.

Para o cientista social e jornalista de política, Ma-theus Pichonelli, colunis-ta dos sites Carta Capital e Yahoo!, a falta de represen-tatividade de sindicatos e fragilidade ideológica dos partidos favorece a cria-ção de grupos homogêneos como a Frente Parlamen-tar Evangélica. “Os grupos de interesse [religioso] têm uma agenda em comum, como benefícios tributários e uma certa ‘liberdade de ofensa’ nos púlpitos. Dizem que não querem ver conde-nados pastores que defen-dem o que está na bíblia: a condenação da homossexu-alidade, expressa sobretudo no Velho Testamento. Quem tem capacidade de mobiliza-

ção hoje é a Igreja”, declara Pichonelli. Para o colunista, a fragilidade dos movimen-tos sindicais e a falta de iden-tificação das bandeiras par-tidárias resultam em uma representatividade ligada à religião. “Apesar disso, no Brasil todo mundo governa com a Constituição embaixo do braço. O Estado é laico. Mas há orações em sessões e simbologias religiosas no ambiente público”, disse.

O pastor da Assembleia de Deus Silas Malafaia afir-mou, em entrevista ao Portal UOL, que ninguém tem in-fluência total sobre o povo. “A bancada evangélica não se reúne para dizer: vamos eleger ‘x’ deputados. Não há uma coisa planejada, não

temos papa, temos líderes”, garantiu.

A Frente Parlamentar Evangélica, na Câmara dos Deputados, por exemplo, agrega partidários de con-cepções políticas muito diversas, como PT, PSDB, PROS, PSC, PRB, PDT, PPS, PTN, PMDB, PR e até PSOL.

Apesar do crescimento da bancada religiosa, o ve-reador de Campinas Rafa Zimbaldi (PP), ligado à Re-novação Carismática Cristã (RCC), obteve 38.885 votos e não foi eleito. No entanto, ainda pode assumir uma ca-deira caso o candidato Paulo Maluf (PP) – com 250 mil votos - não consiga reverter a decisão da Justiça que bar-ra sua eleição.

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Estrangeiros ganham espaço em feiraCentro de Convivência atrai comerciantes latinos e europeus para expor suas peças

Marcela Castanho

30 de outubro de 2014

Do movimento hi-ppie ao artesana-to mais luxuoso,

a feira tradicional do Centro de Convivência de Campinas atrai hoje muitos estrangeiros, tan-to comerciantes/expo-sitores quanto público também. Surgida a partir do movimento hippie, hoje se transformou em reduto de peças luxuo-sas, antiguidades e comi-das de diversas naciona-lidades.

Dentre os estrangei-ros comerciantes espa-lhados pela feira, a maio-ria deles veio de países da América do Sul como Argentina, Peru e Chile, em busca de liberdade de expressão e de oportu-nidades. Embora sejam maioria, na feira tam-bém é possível ouvir so-taques europeus, como o francês.

Resultado da junção de duas feiras realizada há 20 anos – a de Anti-guidades, antes no Largo do Rosário e a hippie, na Praça Carlos Gomes - hoje, ela possui mais de 30 barracas espalhadas por toda a praça, aos sá-bados e domingos, entre 8h e 14h.

Entre acarajés, pas-téis, tapiocas e lanches de perfil, uma barraca é decorada com uma ban-deira francesa, outra da Bretanha, no Oeste da França, e uma do Brasil.

É lá que fica Romain Brichet, de 33 anos, um

cozinheiro francês que veio ao Brasil atrás de oportunidades de em-prego e pela alegria do povo, muito diferente do francês, diz ele. A mulher de Romain é brasileira e sua cunhada, também casada com um francês, atraíram-no ao Brasil.

Há cinco anos em Campinas, ele já liderou equipes de cozinha em hotéis, antes de montar a barraca na feira. “Foi aí que senti a diferença en-tre o brasileiro e o fran-cês. Os franceses, quan-do liderados, costumam seguir as regras mais facilmente. O brasileiro posterga”, compara.

Romain conheceu o local ao frequentá-lo e logo criou uma socieda-de com a brasileira Tatia-na Braga. Há dois anos, todo final de semana eles vendem crepes doces e salgados, tentando atrair o público também por usarem somente pro-dutos orgânicos. Quem ainda não provou as de-lícias que Romain faz, corre para lá! Em janeiro de 2015 ele e sua mulher vão voltar para a Fran-ça, porém Romain já afirmou que ainda volta para o Brasil, só não sabe quando.

O chileno Eduardo Castro, de 53 anos, veio ao Brasil há 35 e há 16 está em Campinas. O co-merciante de pratas saiu do Chile por causa de problemas políticos du-rante a ditadura de Pino-

chet e descobriu a feira por meio de um amigo Argentino em São Pau-lo. Antes de vir para o Brasil, Castro estudava e hoje ele possui uma bar-raca de pratas na feira. Mesmo com a vinda não ter compensado finan-ceiramente, ele não pen-sa em voltar para o Chile porque já se acostumou com o Brasil.

Dennis Alejando Arango Jara é um peru-ano de 34 anos. Há 11 anos, mora em Hortolân-dia e trabalha numa fá-brica de alumínios de se-gunda a sexta-feira. Aos finais de semana, vem à Campinas para montar e alugar as barracas para os expositores do local.

Dennis veio para o Brasil apenas para vi-sitar as tias, que tam-bém trabalham na fei-ra, mas elas insistiram e ele aceitou ficar. Ele diz que morar no Brasil não compensa, porque acaba sendo tudo igual a todos os países latinos. Talvez ele volte ao Peru para morar, talvez só para passear. Se pudesse, Jara diz que moraria em “to-dos os lugares”.

ChileApesar dos vários sota-ques presente na feira, são os chilenos que se destacam. Cláudio Ara-cena Ramiriz, um simpá-tico chileno de 69 anos, veio ao Brasil 38 anos atrás em busca de me-lhores condições de tra-

Cotidiano

Alejandro Ellis, um dos fundadores da Feira, vende antiguidades

balho. No Chile, ele era professor de artes gráfi-cas numa escola profis-sionalizante e, quando chegou ao Brasil, traba-lhou agências como de-senhista gráfico e vende-dor.

Depois de se aposen-tar, Ramiriz passou a se dedicar somente à sua barraca na feirinha, em que vende artesanatos como pião, ioiô e bibelôs

É também do Chile que veio Eduardo Fuen-tes, 51 anos. Aos 13, mu-dou-se com o pai para o Brasil por causa da di-tadura chilena. Ele mo-rou em Poços de Caldas (MG) e há 23 anos está em Campinas. Fuentes-trabalha como serralhei-ro e caldeireiro indus-trial em uma indústria campineira e, aos finais de semana, ajuda sua mulher, brasileira, na barraca de roupas que já existe há 15 anos na fei-ra. “As condições de vida aqui são bem melhores! Aqui nós temos liberda-

de!”. O caldeireiro não pretende voltar a morar no Chile, só vai a passeio e para visitar os familia-res.

Alejandro Ellis, de 62 anos, é outro chileno que veio para o Brasil e foi um dos fundadores da feira com sua barraca de antiguidades em geral e militaria. Ellis era fun-cionário público no Chi-le e veio para Campinas há 30 anos.

Ele pensava em ir para os EUA, pois já ti-nha morado em Miami alguns anos, mas decidiu pelo Brasil porque o pai já morava aqui. O chile-no já gerenciou postos de gasolina em Campi-nas e também já teve lojas de antiguidade na cidade, mas atualmente só tem a barraca na feira aos finais de semana.

Alejandro não pre-tende voltar a morar no Chile e ainda ousa di-zer que sua vinda para o Brasil vale a pena pois ele ainda irá ganhar na O chileno Eduardo Costa e o peruano Dennis Alejandro em sua barraca de bijuterias e pratas

Barraca de piões, ioiôs e bibelôs do chileno Cláudio Ramiriz

Foto:Marcela Castanho

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Luta é aliada contra doenças emocionaisAulas de boxe, jiu-jitsu e muay thai têm sido adotadas como tratamento para ansidade, depressão e pânico

Saúde

Amanda Bruschi

Queimar calorias, aumentar a resis-tência física, perder

peso: são diversos motivos pelos quais a procura por artes marciais está em alta, quase todos relacionados à melhora da estética corpo-ral. No entanto, há quem tenha encontrado nesse esporte uma maneira de aliar os valores e condutas ensinados com o tratamen-to de doenças emocionais, por exemplo, o distúrbio de ansiedade, depressão, sín-drome do pânico, hiperati-vidade, entre outras.

A estudante de enge-nharia civil Karen Maria Petri, de 23 anos, encon-trou no boxe uma maneira de auxiliá-la no tratamento

30 de outubro de 2014

contra o distúrbio de ansie-dade. “Eu procurei o boxe porque estava infeliz com o corpo e não gostava da musculação, mas logo eu percebi que isso me ajuda-va a controlar a ansiedade.”

Karen conta que, com a prática do boxe, conseguiu reduzir a quantidade de an-tidepressivos pela metade. “As aulas fazem com que você aprenda a se concen-trar e superar seus próprios limites, e eu consegui levar isso para a minha vida fora da academia também.”

DisciplinaOutro motivo pela procura de artes marciais tem sido para controlar crianças com problemas de disci-plina e até hiperatividade.

Francisco de Freitas Silva, o “tio Barba”, como é conhe-cido pela garotada, dá aulas de jiu-jitsu para crianças na faixa dos 3 aos 15 anos de idade, e conta que muitos pais encontraram uma ma-neira de controlar os filhos por meio das aulas.

O professor afirma que a necessidade de concen-tração e a sensação de recompensa que a luta fornece ajuda as crianças a melhorar o comporta-mento. “Além de ensinar a técnica da luta, procuro conversar com os alunos sobre valores a serem leva-dos para o dia a dia deles. Por exemplo, abordamos questões como o bullying, alimentação correta, entre outras coisas.”

Estilo de VidaAderir a qualquer prática de artes marciais significa muito mais do que apenas se exercitar. É adotar um estilo de vida pautado em valores que fazem parte das regras do esporte, como disciplina, respeito e hu-mildade.

O progresso de uma pessoa em lutas como Jiu-Jitsu, Boxe e Muay Thai, é uma consequência do do-mínio desses princípios e, com isso, os alunos come-

çam a estabelecer paralelos entre os desafios encarados nos tatames e os desafios encarados em sua vida diá-ria. Entre socos e chaves de braço, o treinamento de al-guns dos esportes mais an-tigos da humanidade pode tornar a luta contra os ma-les do século uma vitória fácil.

O psiquiatra Paulo Al-meida atribui a melhora

Karen (à esquerda) reduziu os medicamentos com o boxe

Foto: Amanda Bruschi

dos praticantes de luta ao estímulo que o corpo rece-be, consequentemente libe-rando a endorfina.

“Esse neuro-hormônio tem efeito analgésico e isso ajuda o corpo a controlar a tensão. Com isso, a pes-soa tem uma sensação de tranquilidade que inibe os sintomas de estresse, ansie-dade e até a síndrome do pânico”, explica o médico.

CONHEÇA OS ESPORTES

Jiu-Jitsu: é um esporte de origens indiana e japo-nesa do século XVII. No Brasil teve sua populari-zação graças ao mestre de jiu-jitsu Carlos Gracie (1902-1994), que trouxe o esporte para o País. Ini-cialmente era uma forma de luta com a intenção de garantir a defesa pessoal. Baseia-se no equilíbrio, nas articulações corporais e nas alavancas.

Boxe: nasceu na Grécia antiga há mais de 5 mil anos. Porém, o boxe como conhecemos hoje res-surgiu na Inglaterra no século 17 e era praticado com as mãos nuas. É caracterizada pela utilização de golpes desferidos com os membros superiores, como socos.

Muay Thai: é uma arte marcial originária da Tai-lândia, onde é considerado o esporte nacional. É conhecida como “a arte das oito armas”, pois carac-teriza-se pelo uso combinado de punhos, cotove-los, joelhos, canelas e pés.

Tecnologia

Dispositivos móveis ajudam a controlar saúdeEmpresas de diversos setores lançaram produtos para monitoramento, como aplicativos para celular e relógios

Giovanni Chierighini

Na onda da vida sau-dável, cada momento tem a sua novidade. Agora, os aplicativos voltados à qua-lidade de vida e ao moni-toramento das atividades físicas ganham mercado e se tornaram a bola da vez. Os investimentos, ao contrário do que pode parecer, não são apenas de empresas de tecnologia, mas de outras áreas que descobriram um filão.

A empresa Do Bem, fa-bricante de sucos naturais e integrais, decidiu entrar de vez no mundo da tecnolo-gia. Criou a primeira pulsei-ra inteligente brasileira cha-mada “Do Bem Máquina”, comercializada nas cores marrom e preta por R$ 229. De maneira ininterrupta, a pulseira consegue marcar os passos, calcular as calo-

rias queimadas pelo usuá-rio, a distância percorrida e o padrão do sono. Todos os dados captados são trans-mitidos via bluetooth para o aplicativo disponível para iPhone 4S em diante, na Apple Store, com finalidade de demonstrar o resultado de vários dias em forma de gráficos. A durabilidade da bateria é um aspecto que impressiona, com durabi-lidade de sete dias, ou seja, uma semana e carrega em apenas uma hora. A pulseira é feita de silicone e é a prova d’água a 10 metros de pro-fundidade.

Segundo a empresa, o grande desafio é oferecer uma experiência saudável completa ao usuário, desde os sucos sem aditivos quí-micos até a pulseira inteli-gente passando pelo apli-cativo que traz o retorno desses clientes com todos os

produtos para a marca.O estudante de 17 anos

Gabriel Storani, que vai à academia diariamente e faz treinos de uma hora e meia a duas horas usa o aplicativo “Sportstracker”. Para ele, o principal motivo pelo qual usa o software é porque ele calcula a velocidade média da corrida, a distância per-corrida e os batimentos car-díacos e isso o ajuda a man-ter uma média nos treinos que precisa fazer.

Segundo o estudante, o aplicativo trouxe informa-ções importantes: “Antes de baixar o aplicativo, eu nem sabia quanto eu corria e a velocidade, então, nem se fala... Hoje, com essas infor-mações, eu consigo ter um gráfico de quanto eu corro e estabeleço metas para cada semana, para manter um desafio e aumentar o de-sempenho, alem de acom-

panhar segundo a segundo meus batimentos cardíacos”.

Relógios inteligentesA fabricante de eletrônicos Apple apresentou no dia 9 de setembro o seu primeiro relógio inteligente, o Apple Watch. Voltado para saúde, com ele, é possível checar os batimentos cardíacos, a dis-tância percorrida, a quanti-dade de passos, as calorias queimadas pelo usu-ário. Esses dados são mandados ao iPhone que salva e monta um arquivo com gráficos de todas as informações co-letadas pelo Watch. Com esse lançamen-to, a empresa começa a se posicionar no ramo dos produtos de saúde, pu-xando outras empresas para esse segmento. O relógio in-

teligente, que ainda não está disponível no Brasil, custa cerca de 350 dólares nos Es-tados Unidos. A Samsung e a Sony também lançaram seus smartwatches, mas es-peraram a Apple lançar para se posicionar no mercado. As duas marcas comercia-lizam seus relógios por R$ 600 e R$ 300, respectiva-mente.

Foto: Divulgação

Relógio Do Bem Máqui-

na custa R$ 229

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Página 8 30 de outubro de 2014Aposentadoria

INSS ou Previdência Privada?Funcionários de diversos setores indicam prós e contras dos planos de aposentadoria disponíveis no mercado

Gustavo Gianola

Conseguir um em-prego no setor pú-blico é o sonho de

milhões de brasileiros. Ter um emprego estável, sem risco de ser demitido, além da garantia de nunca ter o salário atrasado, são al-guns dos inúmeros benefí-cios que um cargo público pode oferecer. Mas e a apo-sentadoria?

Marli Alves Costa, 65 anos, é aposentada há 16 anos. Trabalhou como enfermeira chefe na Uni-versidade Estadual de São Paulo (Unesp) entre 1972 e 1998, quando conquistou a aposentadoria por idade.

Além de se aposentar com o salário integral de R$ 6 mil, que todo ano re-cebe um reajuste de 2% a 5%, a aposentada possui convênio com o Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe) e com a Asso-ciação dos Servidores da Unesp (ASU).

“Sempre que preciso ir ao médico me consultar ou fazer algum exame, utilizo o convênio, sem precisar pagar nada. Já a ASU me disponibiliza uma bolsa de R$ 600 para realizar qualquer compra, como se fosse um cartão de crédi-to, depois descontado do meu holerite”. Marli recebe

Música

Sinfônica reproduz concerto de 1929Apresentação especial na Concha Acústica será realizada após redescoberta de antigo programa

Os 85 anos recém-com-pletados pela Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC), no dia 6 de outubro, vêm seguidos de uma ocasião especial. No dia 16 de novembro, às 19 horas, na Concha Acús-tica da Lagoa do Taquaral, a OSMC fará uma repro-dução de seu primeiro concerto da história, data-do de 1929.

Essa reprodução só será possível graças ao descobrimento de docu-mentos antigos, da época de criação da Orquestra, encontrados e entregues ao Centro de Memória da Unicamp (CMU) para res-tauração e arquivamento em local climatizado, para

O representante Celso com seu cartão beneficiado pelo INSS

Foto: Gustavo Gianolaainda um salário mínimo concedido pelo INSS, her-dado da aposentadoria de seu falecido marido.

A aposentadoria com o salário atual para servido-res públicos, antes obriga-tória pelo Governo, agora toma novos rumos.

A professora de Direito do Trabalho e Advogada Trabalhista Luciana Sauer explica que, devido à refor-ma do artigo 40 da Consti-tuição Federal que entrou em vigor em 4 de fevereiro de 2013, os concursados aprovados a partir desta data seguem as normas do regime da Fundação de Previdência Complemen-tar do Serviço Público Fe-deral (Funpresp).

“O funcionário pode escolher com quanto irá contribuir para sua apo-sentadoria, podendo deci-dir se irá receber no futu-ro o salário integral ou o equivalente à sua propor-ção contribuída”. A advo-gada afirma que a aposen-tadoria pelo setor público, sem dúvidas, é mais vanta-josa que a do contribuinte do setor privado.

“Os aposentados tam-bém podem voltar a traba-lhar no setor público. Caso ele passe em um novo con-curso, poderá trabalhar e continuar recebendo a aposentadoria integral, so-mada ao seu novo salário.

Além disso, há uma gran-de variedade nos planos e convênios disponibiliza-dos pela instituição, para a qual cada servidor público trabalha.”

Já para quem trabalha em instituições privadas ou é autônomo, as normas a serem seguidas são as da previdência pública, o INSS. O trabalhador com carteira assinada contri-bui com uma porcentagem que varia de 8% a 11% de seu salário e o autônomo com 20%.

Tanto neste plano, quanto no plano para ser-vidores públicos, existem quatro tipos de aposenta-dorias: especial, por idade, invalidez ou por tempo de contribuição. Muitas pes-soas que contribuem para o INSS, com o pensamen-to de manter seu padrão de

vida no futuro, acabam fa-zendo planos de previdên-cia privada, devido ao fato do teto salarial do INSS ser, em 2014, de R$ 4.390.

Previdência PrivadaA previdência privada é um benefício opcional, que proporciona ao traba-lhador um seguro previ-denciário adicional, con-forme sua necessidade e vontade. É uma aposenta-doria contratada para ga-rantir uma renda extra ao trabalhador.

Os valores são aplica-dos pela entidade gestora, normalmente bancos, com base em cálculos propor-cionais ao dinheiro inves-tido por quem solicita o plano.

Além da aposentado-ria, o participante normal-mente tem à sua disposi-

ção proteção contra riscos de morte, acidentes, doen-ças e invalidez.

O representante co-mercial Celso De Oliveira Arruda conseguiu seu be-nefício pelo INSS em 2014, ao atingir a aposentadoria por tempo de trabalho aos 55 anos, já que começou a trabalhar aos 14.

Arruda contribuía com uma proporção desconta-da de seu ordenado de dez salários mínimos, e hoje recebe R$ 2 mil de aposen-tadoria. Apesar de adqui-rir o benefício, continua exercendo sua profissão.

O representante afirma que o valor cedido pelo Governo é muito baixo para manter seu padrão de vida, por isso também paga um plano de previ-dência privada. “Acho vá-lido para toda pessoa que tiver a oportunidade de pagar um plano privado, pois é um complemento que pode ser resgatado no futuro.”

Arruda disse que, no ano em que se aposentou pelo INSS, aplicou um va-lor de R$ 80 mil, originário de uma poupança, em um plano privado, que poderá ser resgatado em 10 anos.

“Sempre que posso, faço um aporte. Aplico alguma quantia nesse di-nheiro investido, visando aumentar o rendimento.”

Vinicius Bognone sua preservação. De acordo com a diretora do CMU, Maria Elena Bernardes, os documentos são preciosi-dades e já existem pesqui-sadores interessados em analisá-los.

A primeira-dama San-dra Ciocci, que entregou os papéis antigos ao CMU, conta que os recebeu do jornalista Clóvis Cordeiro, que os guardava há quase dez anos.

MemóriaA historiadora de músi-ca Lenita Nogueira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a quem Sandra recorreu, comprovou a importância dos documentos e aprovei-tou para fazer um pedido: “Aqueles que estiverem em

poder de papéis contendo dados históricos, doem às instituições e museus da cidade”, diz.

Os documentos con-têm dados da criação da Orquestra que, além de comprovar que ela é uma das mais antigas do país (se não a mais antiga), também traz a programa-ção de concertos antigos realizados naquela época. O espetáculo do dia 16 vai reproduzir composições de Carlos Gomes, Wagner Lohengrin, Rubinstein, Mascagni e C. M. Von We-ber.

Após a descoberta des-ses documentos, a OSMC decidiu rever a programa-ção da época de sua forma-ção e refazer o concerto, como forma de comemo-

Programa do primeiro concerto da Orquestra Sinfônica em 1929

Foto: Divulgação

70 e até hoje é considerada uma das mais importantes do País.

Sob a regência de Victor Hugo Toro e com a presen-ça especial do solista Ivan Lins, a OSMC se apresen-tará gratuitamente.

ração pelo 85º aniversário. Criada em 6 de Outubro

de 1929, sob o nome de So-ciedade Symphônica Cam-pineira, a OSMC abando-nou o nome antigo devido ao novo formato adotado entre as décadas de 60 e

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MIS resiste mesmo com baixo público Infraestrutura também apresenta problemas e investimentos ainda são insuficientes

Fernando Corilow

30 de outubro de 2014

O Museu da Ima-gem e do Som de Campinas (MIS),

localizado no Palácio dos Azulejos, além dos acer-vos permanentes, realiza diversos eventos abertos à população, como cine-clubes e debates.

Apesar dos vários eventos realizados, o público ainda é bai-xo – numa mostra, por exemplo, que até realiza programações diárias, a média de público é de 400 pessoas por mês.Funcionários e visitantes relatam, ainda, que exis-tem problemas físicos no prédio que necessitam de manutenção. Apesar dis-so, explicam visitantes, o MIS é um importante centro de debate e expo-sição cultural na cidade.

Um dos principais problemas enfrentados pelo MIS é a estrutura fí-sica. Já na fachada do Pa-lácio, é possível perceber algumas falhas na pintu-ra e buracos nas paredes, além de pichações e até lixos na calçada. Dentro do museu, também exis-tem defeitos nas pinturas e nas estruturas.

O historiador do MIS e também professor de História do Ensino Mé-dio, Orestes Toledo, indi-ca algumas das melhorias necessárias: “É preciso uma melhor iluminação, melhor sinalização, mais divulgação, segurança, convênio com os estacio-namentos. Tudo isso não é luxo, é direito. Direito de todo cidadão, que é eleitor e contribuinte.”

Para Toledo, porém, a reforma do prédio deve manter sua arquitetura e as marcas do tempo, que são “como as rugas que não são feias na velhice digna.” Além disso, ele acredita que os proble-mas na estrutura não são impedimento para as ati-vidades realizadas.

A Sala Glauber Rocha, que deveria ser o grande espaço de cinema públi-co da cidade, é provavel-mente a grande reivindi-cação dos funcionários e visitantes do MIS. Cons-truída em 2004, ela ainda não recebeu o acabamen-to e pintura das paredes, piso e teto, a iluminação e sonorização etc., por falta de investimentos.

Na 7ª Mostra Luta!,

realizada neste mês, uma das sessões de cinema foi realizada na sala como manifesto dos funcioná-rios pela finalização da construção.

De acordo com Carlos Alberto Cohon, professor aposentado da Univer-sidade Estadual Paulista (Unesp) e um dos produ-tores do filme “Crônica de uma obra aberta”, exi-bido na mostra, “o prédio tem vários problemas de manutenção e não tem recebido apoio [da pre-feitura].” Frequentador assíduo do MIS, o filme de Cohon foi produzido em oficina de desenvolvi-mento de documentários realizada pelo museu.

Para Viviana Echá-vez Molina, realizadora de cinema e que também participou da produção do filme, “o MIS como instituição sobrevive por causa desses lutadores que estão fazendo even-tos culturais apesar das fraquezas da estrutura.”

PúblicoDe acordo com Cohon, nos eventos costumam vir “sempre poucos e seletos”. Viviana conta que o pú-blico é pequeno, “mas é fiel”. Ela conta, ainda, que no MIS “existem eventos muito bons que não são muito frequentados, o que é uma pena”.

Outros eventos, po-rém, como os cineclubes de sábado, costumam re-ceber um bom número de visitantes, conta Viviana.

Toledo reconhece que o público médio nos eventos do MIS não é dos mais altos, mas reforça a

importância de um cres-cimento não só quanti-tativo, mas também qua-litativo nos eventos. Para o historiador, o público no MIS é fundamental, já que “o museu não é só o prédio, o acervo. Ele é constituído pelas pesso-as que por aqui circu-lam.” Ele conta, ainda, que “sempre é objetivo do museu atingir um maior público. Mas, quando você pensa em público, a gente tem que pensar num sujeito que está num processo permanente de construção.”

EstudantesUm dos principais pro-gramas desenvolvidos pelo museu é o da pe-dagogia da imagem, que busca inserir a população, especialmente os jovens, no universo das imagens – não só como consumi-dores mas também como produtores.

Além disso, são rea-lizadas visitas agenda-das de escolas do Ensino Médio e Fundamental e alguns cineclubes do MIS são organizadas por jovens. Segundo Toledo, o público de estudantes, composto por grupos que buscam “um novo cami-nho, uma nova visão das coisas”, vem aumentando, apesar de ainda ser redu-zido.

Para Cohon, o museu está aberto ao público jo-vem, “mas não existe, de fato, interesse da maior parte dos estudantes”. Vi-viana, que está em Cam-pinas há três anos, quan-do veio da Colômbia, seu país natal, para fazer

Cultura

São poucas as pessoas que conhecem o MIS de Campinas, mesmo aquelas que frequentam as ruas próximas. A reportagem do Saiba+ entrevistou pessoas que circulavam pela Avenida Francisco Glicério, paralela à Regente Feijó, onde está o mu-seu. Na maioria dos casos, não sabiam da existên-cia do MIS a poucos metros. O aposentado Nercy Cardoso, a atendente comercial Ninfa dos Santos e o porteiro Walter Cavalcante, por exemplo, não co-nhecem o MIS e não costumam frequentar teatros ou outros museus na cidade. Já a agente de correios Sheila Cristina Fonseca visitou uma exposição do MIS para um trabalho da faculdade. Ela conta, po-rém, que “falta uma pessoa para ficar auxiliando e

falando sobre [o acervo do Museu]”.

mestrado em Multimeios na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lamenta que não conse-gue ver o impacto das instituições de Ensino Superior no cenário cul-tural da cidade.

LutaTanto para Viviana como para Cohon, o MIS possui grande importância para o cenário cultural da ci-dade, pois valoriza a arte e o debate, além de pos-suir um ambiente acolhe-dor e criar laços entre os frequentadores. Orestes

Apresentação da Mostra Luta!, na sala Gláuber Rocha, do MIS, construída em 2004, mas não finalizada: atividade como protesto

Fotos: Fernando Corilow

Fachada do MIS: lixo e pichações diante de um patrimônio

reforça esse sentimento, e conta que “quem conhece o Museu passa a lutar por ele”.

Essa luta, especial-mente pelas melhorias estruturais, por mais pro-gramações culturais de alcance geral e melhor divulgação, passa direta-mente pelo interesse dos cidadãos, conta Toledo: “Isso é resultado de uma vontade coletiva de uma população que começa a valorizar seu patrimônio histórico e as atividades museológicas, a memó-ria, a cultura.”

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40 anos de desenhos e pouco incentivoNúcleo de Animação de Campinas completa quatro décadas, realiza trabalhos com escolas e reclama de descaso

O Núcleo de Cine-ma de Animação de Campinas, di-

rigido por Wilson Laza-retti e Maurício Squarisi, completa, em 2015, 40 anos de atuação e colecio-na em seu acervo cerca de 300 produções. O Núcleo se mantém hoje por meio de seus projetos autorais e seu trabalho de captação de recursos (patrocínios, leis de incentivo, concur-sos) para realização de seus projetos.

Os diretores recla-mam que, mesmo sendo um dos mais antigos do Brasil, não há nenhum incentivo para projetos vindo do Poder Público, o que poderia expandir a produção e envolver al-gum projeto educacional com escolas públicas.

O início das ativida-des do Núcleo remonta a 1975, quando Lazaret-ti aceita um convite para dar aulas de cinema para crianças no Conservató-rio Carlos Gomes. É só em 1980, com sede no Te-atro Castro Mendes, que o Núcleo é oficialmente fundado.

A partir daí, já com a presença de Squarisi, in-tensificam-se as produ-ções. Em meio às quase 300 produções, destaca-se o filme “Todos Devemos Amar”, de 1992, que ga-nhou a Medalha de Ouro na competição americana Broadcast Awards Com-petition, além de “Os Hai-Kais Do Príncipe”, que ganhou como melhor trilha sonora em dois fes-tivais.

Outra parte das ativi-dades do Núcleo é dedi-cada às oficinas de ani-mação, em que a entidade atua em diversos locais do País na missão de ensinar a crianças e educadores técnicas de produção de curtas, apresentando-os a esse gênero cinematográ-fico.

Com passagens pela Amazônia, Mato Grosso e Triângulo Mineiro, esse modelo de oficina é reali-zado principalmente por patrocinadores por meio de leis de incentivo à cul-tura.

Nesse semestre, tanto a Escola Estadual Dom João Nery, no Jardim Bonfim, quanto o Gru-po Primavera, no Jardim São Marcos, estão sendo

contemplados com a rea-lização do projeto. Nesse último, meninas de 8 a 18 anos puderam apren-der todo o processo de criação, roteiro, grafismo, animação e trilha sonora.

Abordando o tema das olimpíadas, a turma criou uma história próxima à realidade deles, além de desenharem os persona-gens e comporem música para a trilha. O resultado, que poderá ser conferido no final deste ano duran-te um evento de apresen-tação dos projetos, é um curta-metragem intitula-do “A esperança é a últi-ma que morre”.

Para Squarisi, as ofici-nas são umas das maiores contribuições do Núcleo ao longo desses quase 40 anos. “Os alunos não fi-cam como expectadores só, mas também como au-tores de animação. A vi-são desses alunos é muito importante para o mundo da animação, e inclusive vários profissionais que estão hoje na animação iniciaram sua carreira em oficinas do Núcleo”, conta o cineasta.

Esse é o caso, por exemplo, de Flávia Regina Gomes, hoje assistente de animação do Núcleo. Aos 17 anos, a jovem partici-pou de uma dessas ofici-nas e, a partir daí, se iden-tificou com a produção de vídeos de animação e procurou cursos na área. Para Flávia, o Núcleo tem papel fundamental na di-fusão do cinema de ani-mação no Brasil.

“Eu acho o trabalho

do Núcleo muito im-portante, de mostrar o que é uma animação. As pessoas acreditam que a animação simplesmente acontece e que não tem ninguém fazendo”, expõe Flávia.

Reconhecimento Para os educadores, o saldo das oficinas é po-sitivo. “Elas despertam a criatividade dos alunos, alimentam o trabalho co-letivo e melhoram a au-toestima, já que eles se sentem comprometidos com o trabalho”, destaca Márcia Leticia de Souza, pedagoga do Grupo Pri-mavera.

Já para os participan-tes, a oportunidade de ser responsável por todo o processo de criação é uma experiência enri-quecedora, como conta a aluna Laura Gabriela de Moraes: “No começo, a gente acha muito difícil, porque desenhar a gente

pensa que é um dom que só poucos têm. Só que é muito mais fácil fazer os desenhos quando a gente aprende com o Maurício [Squarisi]. É legal saber que eu consigo desenhar e desenhar bem. Nós já estamos pedindo pro Maurício voltar e fazer uma oficina de Natal.”

Apesar da atuação po-sitiva nas instituições, Squarisi comenta que, na cidade, ainda falta o de-vido reconhecimento do público. “Se você andar pelas escolas de Campi-nas, muita gente conhece o Núcleo porque já pas-sou pelas nossas oficinas, mas o reconhecimento do público em geral não existe, já que para a maio-ria a animação é somente entretenimento. Eles não intendem o poder e a im-portância que ela tem.”

O cineasta cita exem-plos no Rio de Janei-ro, em São Bernardo do Campo e no Acre, em que

a Secretaria de Cultura Municipal criou e inves-tiu em polos de cinema e escolas de animação. “Aqui em Campinas, pra você ter uma ideia, a gen-te nem consegue ser re-cebido pelo Secretário de Cultura, que já marcou conosco e não apareceu”, conta Squarisi.

Outro ladoA assessoria da Secreta-ria Municipal de Cultura afirmou que está sempre aberta a receber propos-tas e conversar com os profissionais da área. “Se houve algum tipo de de-sencontro, a Secretaria de Cultura lamenta pelo imprevisto e se coloca novamente à disposição para conversar, esclarecer e discutir propostas de parcerias”, afirmou a as-sessoria.

A animação no Bra-sil nos últimos anos tem crescido em quantidade e qualidade. Na década de 50, era feito apenas um filme por década. Nos anos 90, segundo registro da Associação Brasilei-ra de Animação, o Brasil produziu 216 filmes. En-tre 2000 e 2004, foi regis-trada a produção de 373 filmes. Além disso, os dois últimos ganhadores do Festival de Animação da França, considerado o mais importante do mun-do, são brasileiros.

ComemoraçãoPara comemorar seus 40 anos, o Núcleo de Ci-nema de Animação de Campinas lança seus dois primeiros longas-metra-gens: "História antes de uma História", roteiro e direção de Wilson Laza-retti e "Café - um dedo de prosa", roteiro e direção de Maurício Squarisi.

Jaqueline Zanoveli

A aluna Laura Gabriela de Moraes diz que se sente orgulhosa por conseguir desenhar bem

Página 10 Cinema 30 de outubro de 2014

Squarisi orienta aluna em mesa de luz, destinada a produzir movimentação nos desenhos animados

Fotos: Jaqueline Zanoveli

Page 11: Saiba+ Outubro

Página 11

Restaurantes japoneses crescem 700%É possível encontrar até traillers em Campinas com temakis; número de estabelecimentos supera churrascarias

Gastronomia

Vinicius Tavares

Em tempos globaliza-dos, é possível cami-nhar pelas ruas de

uma cidade interiorana de São Paulo e se deparar, com facilidade com aquilo que, há duas ou três décadas, só existia nas grandes capitais: restaurantes com diferen-tes tipos de comida de todo o mundo, inclusive uma que vem se destacando muito, a culinária japone-sa. Esse nicho econômico se tornou muito propício para quem deseja investir no mundo gastronômico. Segundo a Associação Bra-sileira de Culinária Japone-sa (ABCJ), nos últimos dez anos, ouve um aumento de cerca de 700% no aumento de estabelecimento de co-midas típicas orientais.

Na cidade de Campinas, nem a Prefeitura nem o Sindicato de Restaurantes soube responder quantos estabelecimentos de culi-nária japonesa existem, mas dois grandes veículos de comunicação listaram em seus guias gastronômi-cos os principais restauran-tes do gênero. A Veja Cam-pinas destacou 14 lugares e a Metrópole, 39. Na pri-meira publicação, para se comparar, estão presentes

30 de outubro de 2014

também sete churrascarias e 23 pizzarias. Na segunda, foram registradas dez em ambas as categorias.

Mas não é apenas os grandes restaurantes que são os responsáveis por esse aumento. Antes, pela cidade os carrinhos de lan-ches vendiam cachorros-quentes e hambúrgueres. Hoje, o cardápio também já fala japonês. O suces-so de vendas fez com que Felipe Toledo, de 39 anos, abrisse um trailler de te-maki, há seis meses. “Acre-dito que as pessoas vêm comendo mais [comida japonesa] porque é mais saudável” afirma. Durante o dia, ele permanece próxi-mo à Lagoa do Taquaral e, durante a noite, na avenida Norte-Sul, no Cambuí. E é possível encontrar sushis, sashimis, uramakis, ho-t-rolls, yakisoba entre ou-tros, assim como nos esta-belecimentos tradicionais.

Dentro dos consumido-res da culinária asiática, é nítido que o seu maior pú-blico são os jovens, como é o caso da estudante Palo-ma Secco, de 21 anos, que conta como foi influencia-da pela cultura japonesa desde criança, a partir dos desenhos do estilo Ani-me. Atualmente, não passa

uma semana sem comer pelo menos um temaki, ou alguns uramakis. “É toda semana, a partir de agora. É muito viciante”.

Mas não é só de jovens que se faz esse público. A psicóloga Fátima de Cas-tro, de 56 anos, também se apaixonou pela arte de comer com os hashis - palitos. “Faz um ano que comecei a frequentar res-taurantes, mas já estou en-

cantada com a variedade e qualidade que existe nessa comida.”

Considerada a 8ª cidade mais cara para se almoçar fora, de acordo com a As-sociação das Empresas de Refeição e Alimentação – Convênio para o Traba-lhador (Assert), Campinas tem uma média de R$ 35, 33 para conseguir uma re-feição completa (prato, be-bida não alcóolica, sobre-

Temakeria em trailler funciona próxima à Lagoa do Taquaral durante o dia; à noite, na Norte-Sul

Foto: Vinicius Tavares

mesa e café) normalmente, e quando o assunto é uma culinária mais especifica, com certeza não seria o mais acessível. Com pe-quenos pratos individuais que variam de R$ 10,00 a R$ 30,00 (temakis, hot-rolls, sushis, entre outros) até rodízios que estão em uma média de R$ 40,00, os restaurantes vêm se desta-cando, e conquistando o paladar de jovens e adultos.

Religião

Bíblia Freestyle faz inimigosReescrita dos textos sagrados tem como objetivo popularizar os ensinamentos cristãos

Danilo Christofoletti

Modernização do dis-curso ou desrespeito aos pa-drões tradicionais dos textos sagrados? Essa discussão veio à tona graças a reper-cussão da chamada “bíblia Freestyle”. Criada pelo Pas-tor Ariovaldo Junior, fun-dador da Igreja Manifesto Missões Urbanas de Uber-lândia, voltada ao público

de roqueiros, a Freestyle é a reescrita dos textos bíblicos. Ganhando cada vez mais adeptos, a igreja do Pastor Ariovaldo começa a ganhar mais inimigos.

Em julho, a Ordem dos Pastores Batistas Clássicos do Brasil (OPBCB), escre-veu um manifesto de repú-dio à bíblia Freestyle. Antes e depois disso, pastores e padres também mostraram

descontentamento com a nova abordagem.

Feita com uma lingua-gem recheada de gírias e expressões de baixo calão, a nova leitura da bíblia causa polêmica entre os estudio-sos. Os textos são publicados numa página do Facebook e usados nos cultos.

O teólogo e pastor José Geraldo Souza, do Centro Universitário Claretiano, se

diz contrário ao uso da nova linguagem: “Até concordo que, para atrair toda uma nova geração, cada vez mais modernizada e louca por in-formações, é necessário que uma nova abordagem seja adotada. Mas, desse modo, com palavrões e expressões desnecessárias, acredito que haja certo desrespeito com os textos religiosos”. Tony Costa, teólogo e professor do mesmo centro universitário, também critica: “Luto para que meus alunos se tornem pessoas com um poder de comunicação diferenciado e vem um cidadão e joga no lixo todo o trabalho que nós temos para o futuro da ju-ventude, banalizando aquilo que é mais sagrado, a fé.”

Paulo Cori, pastor, de-fende a proposta. “Olha, sou pastor há mais de 20 anos. Não consigo entender por que as pessoas ficam con-

tra as novas versões. Todas têm um pouco de loucura, mas não foge à realidade de Cristo sendo crucificado e ressurreto. O Evangelho tem que ser entendido por todos.”

Sobre a repercussão ne-gativa, o pastor Ariovaldo disse que o grande problema não são os textos, mas a falta de educadores.: “A bíblia não foi sequer entendida pela maioria dos cristãos, quanto mais pelo restante das pes-soas. A teologia ainda é um bicho de sete cabeças para o evangélico mediano. O defeito não está nos textos, mas na falta de mestres.”

O pastor diz que gas-ta metade do seu dia com o projeto e já considerou montar uma equipe para ajudá-lo. “Pretendo lançar o Novo Testamento ainda neste ano. E em 2015 a bíblia completa.”

Original: “E João andava vestido de pelos de camelo, e com um cinto de couro em re-dor de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre”. (Marcos 1:6)

Freestyle: “O tal do João não usava roupas de grife. Só da Riachuelo mesmo, feita de te-cido meia boca, com um cinto pras calças não caírem (comprada de um ambulante na rua). E comia o que encontrava pelo cami-nho. No caso dele, mel (tinha que ser ma-cho pra comer sem ter que mastigar abelha) e gafanhoto (que de gostoso não deve ter nada).” (Marcos 1:6)

Original: “Primeiramente dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo mundo é anun-ciada a vossa fé”. (Romanos 1:8)

Freestyle: “Dou mortal pra trás de ale-gria ao ver que Jesus Cristo na vida de vocês se tornou tão importante que esta fé que vocês têm merece ser contada para o mundo inteiro”. (Romanos 1:8)

Trechos

Page 12: Saiba+ Outubro

Página 12 30 de outubro de 2014Entrevista

No início da sua carreira, você desenhava para o mo-vimento sindical. Agora, você luta pelas questões da comunidade LGBT e a liberdade de gênero e sexu-alidade. Você consegue fa-zer um paralelo entre essas duas lutas?Não é bem um paralelo. É um contínuo, é uma con-tinuidade de situações. É sempre uma luta por li-berdade e direitos civis.

Da luta pela democracia, à militância LGBT. Laerte Coutinho tem 63 anos, mas 40 de car-reira. Lá pela década de 70, quando começou

a desenhar profissionalmente, seus traços defendiam o movimento sindical em plena ditadura militar. Depois, a quadrinista (Laerte usa o feminino para se definir) criou personagens como os Piratas do Tietê, Overman e Hugo, que, no início dos anos 2000, se travestiu e virou Muriel. “Às vezes, um cara tem que se montar, ué!”, foi a frase que Hugo disse em uma das tirinhas de Laerte, despertando no cartunista a descoberta da transgeneridade. Atualmente, os desenhos de Laerte ganharam tons poéticos, distanciando do humor habi-tual. Em São Paulo, Laerte recebe uma exposição em sua homenagem. O Saiba+ e o Espelho Urbano (pro-grama de TV produzido pelos alunos de Jornalismo da PUC-Campinas, que pode ser acessado pelo QR Code nesta página), conversaram com Laerte.

“Só fui censurada na nova república”, diz cartunista

Camila Lourenço Gustavo Lorón

Na época da ditadura, porque estávamos em di-tadura e o País todo pre-cisava da volta das regras democráticas que foram rompidas em 64, pelos militares e pela burguesia da época. Hoje, há muitas partes da população que estão privadas dos direitos civis que outros gozam. A população LGBT é uma dessas, mas não é a única. A população das mulhe-

res, ou dos negros, ou dos índios também sofre por falta de direitos e deve ser objeto da mesma atenção.

Na ditadura militar, você foi censurada?Eu não fui censurada na época da ditadura. Eu trabalhava no jornal Ga-zeta Mercantil, que era um jornal de economia e trabalhava também para os sindicatos de trabalha-dores. O meu trabalho já tinha uma pauta que, a princípio, não desafiava as regras da censura, que di-ziam respeito mais à gran-de imprensa. A censura brava mesmo vigorou até meados dos anos 70, que foi bem no meu comeci-nho, meu início de vida profissional. Eu não che-guei a ser censurada na ditadura não, só fui cen-surada na nova república. Foi censurada? Como?Era censura interna do jornal. Eu fiz uma char-ge, eu nem lembro di-reito como que era, mas era absolutamente críti-ca ao Sarney, ao governo da nova república. E os editores entenderam que

não podia sair. Ai eu dis-se: “Oba, finalmente, eu fui censurada. Tenho algo para contar pros meus ne-tos”.

Você já teve várias fases: o Partidão, Los 3 Amigos, Piratas do Tietê. Mas você não manteve nenhum des-ses desenhos. Você tem facilidade de se desapegar das suas próprias criações?Eu sempre paro. Depois que eu produzo um dese-nho, entrego pro mundo e lá se foi. Eu também en-cerro determinadas fases do meu trabalho, como quando eu desenhava per-sonagens.

Mas um personagem que você manteve, mesmo ao parar alguns outros, foi o Hugo, que virou Muriel. Por quê?Porque Hugo/Muriel é a personagem que me aju-dou a refletir e a fazer essa passagem, essa transição que eu ainda estou fazen-do dentro da transgeneri-dade. Como o personagem me ajuda nessa passagem, eu gosto de mantê-la, por-que é um processo que não termina.

Em algumas entrevistas você disse que optou por trabalhar com temas mais poéticos, filosóficos, com metáforas. Por que essa es-colha? Ao ir para essa área de te-mas livres, ao adotar uma

“Às vezes,

um cara tem

que se montar,

ué!”

liberdade de procedimen-tos, eu verifiquei que eu gosto de fazer um tipo de história que pode ser lido como poético, no sentido de que a linguagem utili-zada é diferente da nar-rativa cômica tradicional. Existem pesos diferentes nas representações gráfi-cas, nos sinais e símbolos que eu uso. E isso, de certa forma, aproxima a lingua-gem que eu passei a fazer do que pode ser entendido como poético.

E você é autocrítica com seu trabalho?Sou bastante, tendo a ver o que eu fiz com olhos muito críticos, de um modo geral. Eu sou rigo-rosa em relação ao que eu produzo, por temor, inse-gurança, vários tipos de sentimentos.

Cartunista Larte, 63 anos, usa o feminino para se definir

Ocupação Laerte vai até 2 de novembro, e é gratui-ta. Ela está localizada no Itaú Cultural (Av. Pau-

lista, 149). Terça à sexta, das 9h às 20h. Sábado e

domingo, das 11h às 20h.

Foto: Camila Lourenço

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