SALA DE AULA: RASTROS DE VIOLÊNCIA NA LINGUAGEM · manifestações de violência em sala de aula a...
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SALA DE AULA: RASTROS DE VIOLÊNCIA NA LINGUAGEM
Autora: Cristiane de Lima Farias (PDE/2010) 1
Orientadora: Tânia Maria Rechia Schroeder (UNIOESTE/Cascavel - PR.) 2
RESUMO
O presente artigo apresenta reflexões acerca da Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica intitulado: “Sala de Aula: rastros de violência na linguagem”. Esse trabalho teve como objetivo analisar a relação professor-aluno em sala de aula a partir da mediação da linguagem, na ótica dos professores, do Colégio Estadual "Presidente Costa e Silva", do município de Cascavel – PR. Serão problematizados os efeitos de linguagem no cotidiano da sala de aula, focalizando as situações que podem gerar conflitos e agressões não só verbais, mas também físicas. Trata-se de violências que tornam suas vítimas reféns de ansiedade e de emoções que interferem na autoestima e nos processos de ensino-aprendizagem. O foco desse projeto são as violências veladas ou silenciadas, não menos cruéis, nem menos incidentes que envolvem um grande número de alunos e professores. O embasamento teórico amparou-se nos estudos de Bourdieu (1996-1997), Bakhtin (2003) e Orlandi (2008), e obteve-se como resultado a compreensão das diferentes manifestações de violência em sala de aula a partir da mediação da linguagem e foi proposto, de forma conjunta, um espaço de discussões e de proposições contínuas no projeto político-pedagógico sobre as tensões presentes nas práticas pedagógicas. As atividades do projeto estiveram vinculadas ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, período 2010/2011, programa que objetiva a formação continuada de professores. Os resultados do projeto mostraram-se positivos, visto que as atividades desenvolvidas contaram com o interesse e a participação efetiva dos docentes.
Palavras-chave: Violência; Linguagem; Relação professor-aluno
1 Professora PDE. Pós-graduada em Didática e Metodologia de Ensino e Educação Especial -
Graduada em Pedagogia, pela UNIOESTE - Cascavel - PR. Pedagoga do Colégio Estadual "Presidente Costa e Silva" - Cascavel-PR
2 Professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Doutora em Ensino, Avaliação e Formação de Professores pela UNICAMP. Coordenadora da Prática de Ensino sob a forma de Estágio Supervisionado do Curso de Pedagogia. Membro dos Grupos de Pesquisa: VIOLAR – Laboratório de Estudos sobre Violência, Imaginário, Práticas Sócio-Culturais e Formação de Professores (UNICAMP); e do PECLA – Pesquisas em Educação, Cultura, Linguagem e Arte (UNIOESTE).
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada [...].
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa
Introdução
O Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE faz parte das políticas
públicas do governo do Estado do Paraná e busca estabelecer diálogo entre os
professores da Educação Superior e os da Educação Básica, por meio de atividades
teóricas e práticas orientadas, visando à produção de conhecimento e mudanças
qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense. Assim, o PDE
proporciona aos professores da rede pública estadual subsídios teórico-
metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas que
resultem no redimensionamento de sua prática.
Como participantes do referido programa e pautados na necessidade de
analisar a relação professor-aluno em sala de aula a partir da mediação da
linguagem, desenvolveu-se o Projeto de Intervenção Pedagógica, intitulado “Sala de
Aula: rastros de violência na linguagem”, na ótica dos professores do Colégio
Estadual "Presidente Costa e Silva", no segundo semestre do ano de 2011.
Compreendemos a escola a partir de sua função, como espaço social
responsável pela apropriação do saber científico historicamente elaborado, bem
como pela socialização desse saber às camadas populares, entendendo a
apropriação crítica e histórica do conhecimento enquanto instrumento de
compreensão da realidade social e atuação crítica e democrática para a
transformação dessa realidade. Ocorre, no entanto, que a escola sofre influência e é
condicionada pelos aspectos sociais, políticos e culturais da sociedade em que está
inserida, emanando assim demandas que surgem a todo o momento e que
interferem no processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, destaco aqui uma
das interferências desse processo: a violência em sala de aula.
Esse problema deve ser contemplado no Projeto Político-Pedagógico,
uma vez que a discussão atual sobre o processo de violência escolar tem se
constituído a partir do senso comum, numa análise superficial, que tem provocado
incompreensões sobre a gênese da violência na escola. Nesse sentido, o projeto foi
apresentado aos professores do Ensino Fundamental – Séries Finais – e Ensino
Médio do Colégio Estadual "Presidente Costa e Silva", que foram convidados a
participar dessa pesquisa (entrevista) através de um questionário onde realizavam a
análise de sua prática em sala de aula. Foram selecionados de forma voluntária por
acreditar num compromisso ético no desenvolvimento dessa pesquisa. O resultado
da observação e análise dos questionários foi discutido com os professores
envolvidos, por meio de oficinas com textos selecionados ao tema pesquisado
contendo elementos para seu estudo e análise sobre o fenômeno violência.
Teoricamente, o projeto foi desenvolvido na perspectiva sociológica de
Bourdieu (1996-1997), na visão sociointeracionista de linguagem proposta por
Bakhtin (2003) e Orlandi (2008). Para o fazer pedagógico adotou-se a produção de
um Caderno Pedagógico. Os textos que compuseram esse Caderno Pedagógico
foram selecionados para subsidiar as reflexões relacionadas à temática da violência
no espaço escolar, com ênfase na linguagem no interior da sala de aula por se tratar
de uma das interferências que dificultam a ação do professor durante o processo de
ensino-aprendizagem. Essa sistematização, portanto, teve como ponto de partida as
necessidades diagnosticadas no atendimento pedagógico desenvolvido durante a
atuação profissional, resultando na proposta de estudo do projeto apresentado para
o ingresso no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), no ano de 2010.
Apresentam-se, desse modo, propostas de leituras e de atividades que
objetivam refletir, discutir e intervir na temática da violência escolar no discurso do
professor, por se configurar este como um dos mediadores do processo de ensino-
aprendizagem. A relação professor-aluno é mediada pela linguagem e esta se
manifesta, muitas vezes, de forma autoritária, ali ocorre espaço para violência, por
se tratar de uma cultura de poder já naturalizada e pouco discutida no interior das
escolas.
O Caderno Pedagógico foi produzido no sentido de fortalecer o trabalho
coletivo, visto que, através das discussões em grupo, era e será possível propor
alternativas que possibilitem encaminhamentos para a melhoria do processo
pedagógico.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná, faz-se
necessário discutir as relações entre sujeitos, sociedade e escolarização como
processo que ocorre no cotidiano escolar, sem perder a dimensão do movimento
histórico e sociocultural, com o qual o conhecimento e a Educação estão envolvidos.
A linguagem e o sentido
A linguagem não é um simples instrumento de comunicação ou de
transmissão de informação conforme a ótica da análise do discurso. É muito mais do
que isso. A linguagem é o lugar de conflitos e confrontos, pois ocorre no processo de
interação social.
Nessa perspectiva, o discurso é mais do que um conceito linguístico.
Define e produz os objetos do nosso conhecimento, regula o modo como se pode
falar e raciocinar sobre determinado tópico e influencia o modo como as ideias são
colocadas em prática e empregadas para controlar a conduta alheia.
É por isso que o estudo da linguagem não pode estar afastado das
condições sociais que a produziram, pois são essas condições que criam a
evidência do sentido. Foucault (1999) esclarece que a produção do discurso é
controlada, selecionada, organizada e distribuída, a fim de que seus “perigos e
poderes” sejam conjurados.
A Análise do Discurso mostra a relação que existe entre a produção do
saber que naturaliza o sentido, com o poder que estabelecem as regras da formação
do referido saber. E, sem dúvida, não há como negar que o sujeito é historicamente
determinado.
O que define de fato o sujeito é o lugar de onde fala. Foucault diz que
“[...] não importa quem fala, mas o que ele diz não é dito de qualquer lugar” (2005, p.
139). Esse lugar é um espaço de representação social (ex.: médico, pai, professor,
motorista, etc.), que é uma unidade apenas abstratamente, pois, na prática, é
atravessada pela dispersão.
A unidade é uma criação ideológica, é uma coação da ordem do
discurso. Por isso, podemos dizer que o sujeito é um acontecimento simbólico: “Se
não sofrer os efeitos do simbólico, ou seja, se ele não se submeter à língua e à
história, ele não se constitui, ele não fala, ele não produz sentidos” (ORLANDI, 2005,
p. 49).
Por isso há a necessidade de refletir sobre a mediação da linguagem na
relação professor-aluno, uma vez que o professor pode estar reproduzindo, através
do seu discurso, o pensamento da classe dominante ao atuar como mero
repassador de conhecimento científico. Para Bourdieu e Passeron (1970, p. 57),
existe , metaforicamente falando, uma cortina de fumaça que procura ocultar o poder
reprodutor do sistema que está nas mãos dos educadores e, consequentemente,
não vem educando para formar cidadãos críticos, reflexivos e atuantes na
transformação da sociedade conforme descrito nas Diretrizes Curriculares do Estado
do Paraná, e sim para legitimar o poder simbólico da classe dominante.
Em se tratando do espaço escolar, segundo Bourdieu e Passeron (1970,
p.30), a violência simbólica “[...] nem sempre é visível, porém permeia as relações de
desigualdades existentes na escola. Uma violência que se manifesta de maneira
sutil, quase imperceptível e vai muito além da violência explícita”. É, portanto, tão
velada e tão presente em sala de aula.
Segundo Lampert (2004, p. 69):
As relações sociais permitem a ênfase da dominação na sociedade de classes porque o discurso e as leituras do mundo estabelecem como que um véu diante do real. A partir desse fato ideológico, o significado da realidade não é transparente, as causas das mudanças ficam invisíveis ao comum dos cidadãos. Para abordar essa realidade não-transparente, não-perceptível, de imediato é necessário, portanto, utilizar mediações. (LAMPERT, 2004, p. 69).
Cabem então questões como: − Quais violências estão presentes em sala
de aula? − Há violência no exercício de autoridade do professor? − O professor
percebe algum ato de violência em sua linguagem em sala de aula? Diante de tais
questões cabe propor, de forma conjunta com os professores do Colégio, um espaço
de discussões e de proposições contínuas no projeto político-pedagógico sobre as
tensões por meio da linguagem presentes nas práticas pedagógicas e que
interferem negativamente no processo de ensino-aprendizagem.
Implementação da proposta pedagógica na escola
A apresentação do Projeto de Intervenção Pedagógica, implementado no
Colégio Estadual "Presidente Costa e Silva", ocorreu durante a semana pedagógica
do ano letivo de 2011. Considerou-se que foi extremamente importante esse
momento, tanto para os professores participantes do Plano de Desenvolvimento da
Educação - PDE, quanto para a comunidade escolar, pois possibilitou divulgar o
projeto a ser implementado na escola, esclarecendo-se as dúvidas e também se
coletando as sugestões dos profissionais e dos demais segmentos da escola.
As atividades do Projeto foram desenvolvidas em forma de oficinas por se
tratar de uma prática educativa dialógica, participativa e democrática. É uma
estratégia metodológica; trata-se de uma maneira de entender nossa relação com o
conhecimento. As dimensões de uma oficina pedagógica são: ver, conhecer,
comprometer-se e celebrar. Ocorre tanto como processo individual como no coletivo
por meio do sentir, do pensar e do agir. Resultando, assim, numa síntese através de
seus momentos básicos: 1- Sensibilização: aproximar-se da realidade; reconhecer
o conhecimento já existente. 2- Aprofundamento: refletir sobre a realidade; avançar
no conhecimento. 3- Síntese: construir coletivamente; elaborar consensos. 4-
Compromisso: despertar para uma atividade concreta; sensibilizar de maneira
lúdica.
As oficinas tiveram quatro horas/aula cada, num total de oito oficinas, as
quais foram aplicadas em contraturno, totalizando 32 horas/aula. Os professores
participantes foram informados previamente pela pedagoga do Colégio e via e-mail,
respeitando um cronograma preestabelecido e com certificação pela Unioeste.
Nesse sentido, a primeira oficina “Diagnosticando a Realidade: reflexão sobre
a prática pedagógica”, teve como objetivos analisar a coleta de dados na pesquisa
de campo; problematizar os fatores que interferem na ação docente junto ao
processo de ensino-aprendizagem; identificar, com os professores, os conflitos
cotidianos em sala de aula que interferem na ação docente; problematizar os efeitos
de linguagem no cotidiano da sala de aula focalizando as situações que podem
gerar conflitos.
A organização das atividades se deu primeiro com apresentação de slides:
objetivos e a metodologia dos trabalhos que seriam desenvolvidos nas oficinas; em
segundo, com a análise e reflexão dos questionários aplicados aos professores
coletivamente.
No decorrer das atividades, os professores discutiram em grupo as seguintes
questões: − O que é ser professor hoje? − Quais são as problemáticas que
interferem na ação docente? Depois organizaram o cronograma dos demais
encontros e realizaram a leitura dos textos disponibilizados, pois através deles
encontrariam subsídios e suporte teórico para a discussão nos encontros seguintes.
A segunda oficina, “Sobre a Natureza e Especificidade da Educação”, de
Demerval Saviani, visou entender a educação como um processo de trabalho da
natureza humana. Nessa atividade, o grupo de professores foi organizado em
duplas, sendo que cada dupla, a partir da análise e leitura do texto, respondeu às
seguintes questões: − O que diferencia os homens dos demais fenômenos, o que os
diferencias dos demais seres vivos, o que os diferencia dos outros animais? − Como
se dá a produção da existência humana? − Como o autor discorre sobre o trabalho
educativo?
A terceira oficina, ”Causas da Agressividade Escolar”, de Isabel Fernández,
visou Identificar os agentes exógenos à escola e os agentes endógenos. Visou
tambem aprofundar a compreensão das diferentes manifestações de violência em
sala de aula a partir da mediação da linguagem e refletir sobre a participação no
processo de ensino-aprendizagem. Professores participaram de uma reflexão
organizando dois grupos: Grupo A – Agentes exógenos à própria escola (análise
social, meios de comunicação, família); Grupo B – Agentes endógenos (escola,
relações interpessoais, relação professor-professor, relação professor-aluno, relação
aluno-aluno). Exposição ao grande grupo a fim de buscar subsídios de análise do
real para além das aparências do cotidiano de sala de aula.
A quarta oficina, “Violência, Agressão e Disciplina”, de Rosário Ortega Ruiz,
objetivou estabelecer relações e diferenciação entre: violência, agressão e disciplina
em pequenos grupos, realizando leitura e refletindo os seguintes tópicos: 1 –
Agressividade Humana; 2 – Agressividade, violência e conflito; 3 – A violência não é
natural; 4 – Convenções dos semelhantes; 5 – Esquema domínio-submissão; 6 – A
violência, um fenômeno interpessoal; 7 – Violência e indisciplina; com exposição a
seguir. Confecção de um material explicativo (cartaz) a ser utilizado na sala dos
professores sobre os tópicos estudados.
A quinta oficina, “Linguagem, Consciência e Ideologia”, de Solange Jobim e
Souza, enfatizou a compreensão da construção de uma concepção de linguagem
entendida como espaço de recuperação do sujeito como ser histórico-social e
cultural. Os participantes realizaram a leitura do texto refletindo em duplas para a
produção de um slide (após discussão do texto) contendo a síntese produzida por
eles resultando num único ao final a ser apresentado em reunião para os demais
colegas do colégio.
A sexta oficina, “Pensar Juntos, Criar Normas”, de Isabel Fernández e Mª
Carmen Martínez Pérez, teve como objetivo sistematizar materiais que têm como
pressuposto a organização do coletivo escolar em torno da discussão sobre
violência na linguagem e definir ações. Os participantes tiveram como atividade as
seguintes questões: − A partir de que ótica queremos começar? − A partir de uma
ideia fixa de como a escola deveria ser, ou a partir do que temos e de como
podemos atuar?
A sétima oficina, “Aproximação Curricular”, de Isabel Fernández, Margarita
Blanco e Mª Del Mar Callegón, teve como objetivo propor, de forma conjunta, um
espaço de discussões e de proposições contínuas no Projeto Político-Pedagógico,
sobre as tensões presentes nas práticas pedagógicas bem como construir um
Projeto Coletivo, partindo da análise de cinco áreas de trabalho, tais como:
Educação com Valores, Habilidades Sociais, Solução de Conflitos, Metodologia
Cooperativa e Corpo Docente. Como atividade, o grupo produziu uma síntese que
foi apresentada em reunião para os colegas, de que resultou um texto que compôs o
Projeto Político-Pedagógico sobre as diferentes manifestações de violência em sala
de aula a partir da mediação da linguagem, propondo de forma conjunta, um espaço
de discussões e de proposições contínuas sobre as tensões presentes nas práticas
pedagógicas.
A oitava oficina, “Avaliando os Encontros/Resultados”, teve como objetivo
avaliar os encontros por meio do preenchimento da ficha de avaliação.
Considerações finais
A aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica “SALA DE AULA:
RASTROS DE VIOLÊNCIA NA LINGUAGEM” mostrou-se bastante produtiva, pois
os professores perceberam como o ensino e a aprendizagem são organizados e
realizados no cotidiano escolar mediados pelo discurso do professor e, a partir
dessas observações, buscaram referenciais teóricos que pudessem ajudar a
compreender a especificidade do que ocorre no cotidiano escolar com os seus
sujeitos, buscando compreender sua relação mais ampla, seja com o próprio
conhecimento, seja com as políticas educacionais e com a educação como processo
de formação política e cultural. Assim puderam alcançar uma compreensão melhor
de como formar cidadãos críticos, reflexivos e atuantes na transformação da
sociedade, conforme elucidam as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná.
O Caderno Pedagógico desenvolvido com os professores foi de grande valia,
uma vez que deu suporte à reflexão das relações sociais onde se pode originar a
violência, e é a partir dessas relações, reproduzidas no interior da escola, que esse
processo se constitui como determinante. Puderam refletir ainda sobre o espaço da
escola como espaço social e de contradições, onde a violência se caracteriza como
uma forma de recusa do próprio espaço escolar, evidenciando-se também certa
resistência em compreender a escola como um espaço para a análise e a discussão
dessas contradições.
A participação dos professores envolvidos na execução das atividades foi
muito significativa. O conteúdo foi trabalhado com cunho científico, possibilitando
aos participantes analisar seu cotidiano escolar, sobretudo na linguagem utilizada,
implicando, assim, o redirecionamento de sua prática educativa.
Essa experiência possibilitou perceber que é papel do professor ser um
pesquisador, em constante busca por novos conhecimentos e formas de ações
pedagógicas. Isso implica compreender a bagagem de conhecimento que seus
alunos já possuem e isso possibilita pensar sobre o conhecimento que ainda falta e,
a partir daí, poder planejar novos conteúdos, para assim alcançar os objetivos de
ensino que se esperam.
Nesse sentido, o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE foi uma
experiência ímpar para os professores da rede estadual. Com a carga horária
liberada no primeiro ano, houve condições para se repensar a prática em sala de
aula com as leituras e as aulas nas IES, jornadas acadêmicas, palestras, discussões
e orientações. Nos encontros de área, socializaram-se as experiências e assim
pôde-se refletir sobre assuntos pertinentes à realidade escolar de cada um.
Todas as atividades previstas pelo PDE, como a produção do Projeto de
Intervenção Pedagógica e a Produção Didático-Pedagógica, foram essenciais para a
renovação dos conhecimentos. Isso porque, durante a produção do Projeto de
Intervenção Pedagógica, assim como da Produção Didático-Pedagógica, contou-se
com as orientações da professora da IES, com indicações de literatura específica
que fundamentaram os estudos sobre a temática abordada.
Outra atividade prevista foi o GTR – Grupo de Trabalho em Rede, que se
caracteriza pela interação virtual entre os Professores PDE e os demais professores
da Rede Pública Estadual. Esse trabalho foi dividido em temáticas e visava
promover a inclusão virtual dos professores, democratizando o acesso da Educação
Básica aos conhecimentos teórico-práticos específicos das áreas/disciplinas
trabalhadas no Programa.
Em relação ao GTR, concluiu-se que o objetivo foi alcançado, ou seja,
provocar discussão e socializar o Projeto de Intervenção Pedagógica: “SALA DE
AULA: RASTROS DE VIOLÊNCIA NA LINGUAGEM”, assim como a Produção
Didático-Pedagógica. As cursistas participaram dos fóruns, fomentando ideias sobre
os temas propostos. Expuseram suas opiniões quanto à pertinência do material, à
viabilidade de aplicação ao referido público (professores do Colégio Estadual
"Presidente Costa e Silva", de Cascavel). Todas consideraram pertinente o material
e elogiaram o formato das oficinas escolhidas, frisaram que os textos trabalhados
são relevantes e contribuem para que esses professores reflitam e percebam que
podem repensar sua prática na sociedade, desde que eles tenham consciência do
seu papel social.
As pesquisas e os estudos desenvolvidos na formação continuada têm como
resultado final a produção do artigo em tela, no qual se buscou apresentar a
fundamentação teórica visitada, além da descrição da aplicação dos resultados do
projeto proposto.
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