Salmo 73 Fe a Prova LLoyd-Jones

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A POSTA À PROVA (Clique em ÍNDICE) Salmo 73 Salmo de Asafe Dwight Martyn Lloyd-Jones Tradutor: Carlos Biagini Título do original em espanhol: LA FE A PRUEBA

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  • A F POSTA PROVA (Clique em NDICE)

    Salmo 73

    Salmo de Asafe

    Dwight Martyn Lloyd-Jones

    Tradutor: Carlos Biagini

    Ttulo do original em espanhol:

    LA FE A PRUEBA

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 2 NDICE

    Prefcio

    1. O Problema exposto

    2. Buscando onde firmar-se

    3. A importncia de pensar espiritualmente

    4. Enfrentando todos os aspectos

    5. Comeando a entender

    6. Exame de conscincia

    7. Alergia espiritual

    8. Todavia

    9. A perseverana dos santos at o fim

    10. A Rocha da eternidade

    11. Uma nova resoluo

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 3 PREFCIO

    O Salmo 73 trata um problema que com muita frequncia

    desconcerta e desanima o povo de Deus. um duplo problema: Por que os justos frequentemente devem sofrer, especialmente vista do fato de que os mpios aparentam ser muito mais prsperos?

    uma clssica declarao de como a Bblia trata esse problema. O

    salmista relata sua prpria experincia, expe sua alma para que a olhemos em forma dramtica, e nos guia passo a passo de um quase desesperador fim a um seguro triunfo final. ao mesmo tempo uma grande teodicia. Por estas razes, este Salmo foi um tema favorito de pregadores, de lderes espirituais e de conselheiros.

    A preparao e a pregao de mensagens, expondo este rico ensino,

    foi para mim um trabalho de amor e verdadeira satisfao. O sermo intitulado "Contudo" nesta srie foi usado por Deus para trazer alvio imediato e grande alegria a um homem que sofria uma profunda agonia de esprito e estava beira da desespero. Viajou uns 9.000 quilmetros e chegou a Londres s no dia anterior mensagem. Convenceu-se, e at o dia de hoje est seguro que Deus em Sua infinita graa o trouxe de to longa distncia para escutar esse sermo.

    Espero que tal captulo e outros provem ser uma "porta de

    esperana" para muitos outros cujos ps "quase resvalaram" e cujos passos "por pouco escorregaram".

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 4 CAPTULO I

    O PROBLEMA EXPOSTO

    Vv. 1-2: Com efeito, Deus bom para com Israel, para com os de corao limpo. Quanto a mim, porm, quase me resvalaram os ps; pouco faltou para que se desviassem os meus passos.

    O grande valor do livro dos Salmos que ali se narram as

    experincias e conflitos espirituais de homens santos. Atravs dos sculos o livro dos Salmos teve valor inaprecivel para o povo de Deus. Vez aps vez lhes proveu da consolao e ensino que necessitavam, e que no podiam encontrar em nenhuma outra parte. E se especularmos um pouco, bem poderia dizer-se que em certa medida, o Esprito Santo guiou a Igreja primitiva a adotar o Antigo Testamento por esta razo. O que encontramos na Bblia, do comeo at o fim, o relato dos procedimentos de Deus com Seu povo. Ele o mesmo Deus no Antigo Testamento que no Novo, sendo estes homens cidados do Reino de Deus como ns o somos. Fomos trasladados a um Reino ao qual j pertencem pessoas como Abrao, Isaque e Jac. O mistrio de Deus revelado aos apstolos consistiu em que os gentios fossem feitos concidados e co-herdeiros com os judeus.

    Podemos afirmar, ento, que as experincias destes homens so paralelas s nossas. O fato de que tenham vivido na antiga dispensao no faz diferena alguma. Est errado o cristianismo que rechaa o Antigo Testamento, e mais ainda pensar que ns somos em essncia diferentes destes santos do Antigo Testamento. Se estamos tentados a pensar assim, leiamos o livro dos Salmos e logo nos examinemos honestamente e comparemos nossas experincias com as do salmista. Podemos dizer: "Porque, se meu pai e minha me me desampararem, o Senhor me acolher"? Podemos dizer: "Como suspira a cora pelas correntes das guas, assim, por ti, Deus, suspira a minha alma"?

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 5 Leiamos os Salmos e as declaraes feitas neles e nos daremos conta que estes homens eram filhos de Deus. Ricos em experincias espirituais. Por esta razo, foi a prtica de homens e mulheres da Igreja Crist ir ao livro dos Salmos para encontrar ali luz, conhecimento e instruo.

    Seu valor reside em seus ensinos, que consistem principalmente em narraes de experincias. Encontramos os mesmos ensinos no Novo Testamento, somente que ali esto em forma mais didtica. Nos Salmos esto reduzidas ao nosso nvel prtico e normal. Todos estamos conscientes do valor que isto representa. H momentos em que a alma est cansada e incapaz de receber uma instruo mais direta; a prova muito grande, nossa mente est to cansada e nosso corao to dolorido, que no podemos fazer o esforo em nos concentrar em princpios, e olhar s coisas objetivamente. em tais circunstncias particularmente, quando pessoas abatidas pelos golpes da vida, podem ir aos Salmos e encontrar neles a verdade em forma mais pessoal. Leem as experincias destes homens e observam que eles tambm sofreram provas semelhantes. De algum modo, este fato em si os ajuda e fortifica. Sentem que no esto ss e que as provas pelas quais esto passando, no so excepcionais. Ento compreendem a verdade das palavras consoladoras de Paulo os Corntios: "No vos sobreveio nenhuma tentao que no seja comum aos homens...", e ao notar isso os ajuda a cobrar coragem e ser renovadas em sua f. O livro dos Salmos de inestimvel valor neste aspecto e muitos recorrem constantemente ao mesmo.

    H vrios aspectos dos Salmos que nos poderiam interessar. O que queria mencionar em especial a notria honestidade com que estes homens dizem a verdade a respeito de si mesmos. Um exemplo clssico o do Salmo 73. Abertamente admite que quase se apartaram seus passos, e que pouco faltou para que escorregassem seus ps, e logo segue dizendo que era como um animal por sua estupidez. Que honestidade! Este o grande valor dos Salmos. No acho nada mais desalentador na vida espiritual que me encontrar com aqueles que do a impresso de viver sempre no topo da montanha. Certamente no encontramos isto na

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 6 Bblia. A Bblia nos ensina que estes homens sabiam o que era estar abatidos e em graves problemas. Muitos santos, em suas peregrinaes por esta terra, deram graas a Deus pela honestidade dos que escreveram os Salmos. Estes escreveram um ensino utpico, que no tenha sido uma realidade em sua vida. As doutrinas perfeccionistas jamais so verdadeiras. No ocorrem na vida dos que as ensinam pois eles tambm so criaturas falveis como todos ns. Proclamam as teorias de suas doutrinas, porm no so realidade em suas experincias. Graas a Deus que os salmistas no fazem isto. Dizem-nos a pura verdade a respeito de si mesmos: dizem-nos a verdade a respeito do que lhes sucedeu.

    No o fazem para exibir-se. A confisso de pecados pode em alguns casos ser uma forma de exibicionismo. H certas pessoas que esto dispostas a confessar seus pecados sempre e quando puderem falar de si mesmos. um perigo muito sutil. O salmista no faz isto; conta-nos a verdade a respeito de si mesmo s para glorificar a Deus. Sua honestidade est guiada por este princpio, porque ao mostrar o contraste entre ele e Deus, ministra para a glria de Deus.

    Isto justamente o que o salmista faz aqui. Notemos que comea o Salmo com uma nota triunfante: "Com efeito, Deus bom para com Israel, para com os de corao limpo". como se dissesse: "Vou lhes contar uma histria, vou lhes contar o que me aconteceu, mas quero deixar algo bem claro: a bondade de Deus". Isto mais claro se usarmos uma melhor traduo: "Deus sempre bom para com Israel, para com os limpos de corao". Deus nunca varia, no tem limitaes nem requisitos. "Esta minha declarao", diz o salmista, "Deus sempre bom para com Israel". A maioria dos Salmos comeam com esta grandiosa adorao e ao de graas.

    Agora, como tenho dito com frequncia, os Salmos geralmente comeam com uma concluso. Isto aparentemente paradoxal, mas no estou procurando ser paradoxal: a verdade. Este homem teve uma experincia, e chegou a uma concluso. O interessante precisamente esta concluso, e portanto comea com o final; logo descreve como

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 7 chegou a essa concluso. Esta uma boa forma de ensinar, e o mtodo dos Salmos. O valor da experincia que constitui uma ilustrao desta verdade. A experincia por si s no tem valor, e o salmista no tem interesse em nos contar isso apenas por relatar. Seu valor reside em nos ilustrar a grande verdade a respeito de Deus.

    O que temos que compreender em primeiro lugar que Deus sempre bom para com o Seu povo, para com aqueles de corao limpo. Esta a declarao; mas o que nos h de ocupar no estudo deste Salmo o mtodo como chegou o salmista a esta concluso. O que nos quer dizer pode resumir-se assim: comeou sua experincia crist com esta afirmao, logo se desencaminhou para depois retornar. O grande valor dos Salmos est na anlise destas experincias. Todos conhecemos algo destas experincias: comeamos bem, logo algo vai mal, e parecesse que perdemos tudo. O problema reside em como retornar. O que este homem faz nos mostrar como voltar para o lugar em que a alma encontra sua real estabilidade.

    Este Salmo uma das tantas ilustraes. Outros expressam o mesmo. Tomemos por exemplo o Salmo 43, onde encontramos o salmista numa condio similar. Dirige-se a si mesmo e diz: "Por que ests abatida, minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?" Fala consigo mesmo; dirige-se sua prpria alma. Exatamente assim procede o do Salmo 73, somente que o elabora aqui numa maneira muito direta.

    O salmista nos conta a respeito de uma experincia especial que teve. Conta-nos que foi muito sacudido, e que quase caiu. Qual foi a causa? Simplesmente que no havia entendido o propsito de Deus para com ele. Foi consciente de um fato doloroso. Estava vivendo uma vida santa, mantendo limpo seu corao e lavado suas mos em inocncia. Em outras palavras estava vivendo piamente. Evitava o pecado, meditava nas coisas de Deus, ocupando seu tempo em orao; examinava-se a si mesmo, e quando descobria seu pecado o confessava a Deus em penitncia, buscando seu perdo e renovao. Em outras palavras, poderia dizer-se que praticava uma vida que agradava a Deus,

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 8 renunciando a este mundo e sua corrupo; separava-se dos caminhos mpios e se dedicava a viver uma vida santa. Entretanto, embora fizesse tudo isto, experimentava srios problemas, porque diz: "de contnuo sou afligido e cada manh, castigado" (Sl. 73:14). Realmente estava passando por um mau momento. No nos conta exatamente o que lhe sucedia; no se sabe se era uma enfermidade, uma doena ou problemas em sua famlia. O que quer que seja, era penoso, e sofria bastante na prova. Ao que parece tudo ia mal e nada bem.

    J por si s isto era mau, mas no era o que principalmente lhe preocupava e entristecia. Sua preocupao era que, ao fixar-se nos mpios, via um marcado contraste. "Todos sabemos que estes homens so mpios", diz, "todos veem que so mpios. Mas prosperam no mundo, aumentam suas riquezas", porque "no tm angstias como sua morte, pois seu vigor est inteiro. No passam trabalhos como os outros mortais, nem so aoitados como os outros homens". Descreve a arrogncia deles, seu engano e sua blasfmia. Esta descrio, uma perfeita pea literria do homem prspero deste mundo. Inclusive descreve sua postura, sua aparncia arrogante, seus olhos que saltam de gordura, e seu orgulho que lhe rodeia como uma cadeia. "Cobrem-se com vestido de violncia", diz, "obtm com acrscimo os desejos do corao, falam com altivez". Que descrio perfeita!

    Isto no s foi verdade dos homens que viviam naquela poca, mas tambm dos que vivem atualmente. Fazem declaraes blasfemas a respeito de Deus. Dizem: "Como sabe Deus? E h conhecimento no Altssimo?" voc fala de seu Deus; ns no cremos em seu Deus, e entretanto, olhe para ns. Em nada vai mal. Quanto a voc? Voc que to religioso, olhe as coisas que lhe esto sucedendo!

    Esta foi a causa da angstia que sobreveio ao salmista. Cria que Deus santo, justo e verdadeiro, que intervm a favor de Seu povo e os rodeia com amoroso cuidado e grandes promessas. Seu problema era reconciliar isto com o que lhe estava sucedendo, e mais ainda, com o que estava sucedendo aos mpios.

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 9 Este Salmo um pronunciamento clssico deste tpico problema: os

    procedimentos de Deus com o homem, e especialmente com Seu povo. Isto o que o tinha confundido ao contrastar sua sorte com a dos mpios. E nos relata sua reao perante tudo isto.

    Contentemo-nos por agora em deduzir de tudo isto, algumas lies gerais mas importantes. O primeiro comentrio que devemos fazer que a perplexidade perante uma situao assim no nos deve surpreender. Diria que isto fundamental, pois estamos procurando conhecer os caminhos do Deus Todo-poderoso, quem nos disse repetidamente em Seu livro: "Porque meus pensamentos no so os vossos pensamentos, nem meus caminhos os vossos caminhos". Boa parte de nossos problemas provm de no saber que temos que partir desta base. Muitos de ns passamos por dificuldades precisamente por no saber que estamos tratando com a mente de Deus, e que a mesma no como a nossa. Desejamos que tudo nesta vida seja simples e fcil e que no existam problemas nem dificuldades. Mas se h algo que a Bblia nos ensina acima de todas as coisas que este no o caso. Os caminhos de Deus so inescrutveis; Sua mente infinita e eterna, e Seus propsitos so to grandes que nossas mentes pecaminosas no os podem entender. Portanto, quando tal Ser trata conosco, no deveriam nos surpreender as coisas que s vezes nos confundem.

    Temos a tendncia de pensar que, como filhos de Deus, Ele nos tem que abenoar constantemente e nunca deve nos castigar. Quantas vezes pensamos assim! Por que Deus permite a existncia de certos governos tiranos, e mais ainda quando so totalmente pagos? Por que Deus no os castiga, e abenoa somente a Seu povo? Esta nossa maneira de pensar, mas baseada numa falcia. A mente de Deus eterna, e Seus caminhos so to imensamente superiores aos nossos, que temos que comear a pensar que nem sempre entendemos imediatamente o que Ele faz. Se, pelo contrrio, comeamos crendo que tudo deveria ser claro e singelo, encontrar-nos-emos na mesma situao que este homem. No de surpreender que ao olhar a mente do Eterno Deus, h momentos em

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 10 que recebemos a impresso que as coisas sucedem na forma oposta a que pensamos deveria ser.

    Permita-se que eu agora expresse um segundo comentrio. Estar perplexo nesta situao no surpreendente, e ainda mais, desejo enfatizar que estar perplexo no tampouco pecaminoso. Isto algo que deveria nos reconfortar. H muitos que do a impresso que para eles os caminhos de Deus so sempre claros e fceis. Parece que sempre raciocinam assim; sempre se sentem felizes e veem tudo cor-de-rosa. A nica coisa que posso dizer a isto que estas pessoas so superiores ao apstolo Paulo, pois ele nos diz em 2 Corntios 4, que "estava aflito em tudo, mas no angustiado...". Desesperar-se est mal, mas estar aflito, no. Convm esclarecer estas duas situaes. O fato de estar confundido por uma prova, no nos torna culpados de pecado. Estamos nas mos de Deus, e entretanto algo desagradvel nos est sucedendo e dizemos: "no entendo". No h nada mau nisso: "confundido, porm no desesperado". O estar perplexo no pecado porque nossas mentes no s so finitas, mas tambm, alm disso, esto debilitadas pelo pecado. No vemos as coisas claramente; no sabemos o que o melhor para ns; no divisamos o futuro, e por isso, naturalmente, estamos perplexos.

    Mas temos que entender que, apesar do fato de que a perplexidade no pecado, permanecer neste estado de confuso d lugar tentao. Esta a verdadeira mensagem do Salmo que nos ocupa. At certo ponto se entende que possamos estar perplexos, mas permanecer confundidos convidar tentao. Sem que percebamos a tentao entra. Foi isto precisamente o que sucedeu ao salmista.

    Isto nos traz para o que o salmista nos diz sobre o carter da tentao, e quo importante poder reconhec-la. A tentao pode ser to grande que sacode at o homem mais santo e forte e o derruba. Como diz o salmista: " Quanto a mim, porm, quase me resvalaram os ps".

    Mas ns raciocinamos e dizemos: "Isto ocorreu no Antigo Testamento, e o Esprito Santo ainda no tinha vindo! Estamos na era crist, enquanto que este homem viveu em outra poca". O apstolo

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 11 Paulo o expressa assim em 1 Cor. 10:13 - "Aquele, pois, que pensa estar em p veja que no caia". Para dizer isto, o apstolo tinha tomado exemplos do Antigo Testamento e no caso de algum destes corntios, sentindo-se superiores, dissessem: "recebemos o Esprito Santo, no somos assim", Paulo diz: "Aquele, pois, que pensa estar em p veja que no caia". O homem que no descobriu o poder da tentao pode ser objeto dos maiores ataques. As tentaes podem vir com diversos graus de poder e fora. A Bblia nos ensina que a mesma pode aoitar o mais espiritual como um violento furaco, varrendo tudo, com tal fora que at um homem de Deus pode ser quase dominado. Tal o poder da tentao! Mas usarei novamente as palavras do apstolo: "Tomai toda a armadura de Deus", pois nos necessrio tom-la toda. Se queremos resistir no dia mau, e estar firmes, temos que nos vestir de toda a armadura de Deus. A fora do inimigo s superada pelo poder de Deus. Satans mais poderoso que qualquer ser humano, e os santos do Antigo Testamento foram abatidos por ele. Ele tentou e provou o Senhor Jesus at o fim. Nosso Senhor o venceu, e Ele o nico que triunfou sobre o inimigo. Leiamos novamente este Salmo e nos daremos conta que a tentao sobreveio a esse homem quando menos a esperava. Veio-lhe como resultado do que lhe estava ocorrendo, e pelo contraste entre sua prova e a aparente vida feliz que os mpios estavam desfrutando.

    O seguinte ponto que temos que considerar quanto tentao a cegueira que produz. O estranho da tentao que sob seu poder nos induz a fazer coisas que normalmente no faramos. O salmista o expressa desta maneira e o faz com sarcasmo em risco prprio. Olhe o terceiro versculo: "Pois eu invejava os arrogantes" (Sl. 73:3). Invejou os mpios. Parecesse dizer-nos: "Custa-me express-lo, e me d vergonha admiti-lo, mas eu, que fui to abenoado por Deus, por um momento tive inveja destes mpios". S a cegueira da tentao pode explicar isto. Vem com tanta fora que perdemos o equilbrio e no podemos pensar com lucidez.

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 12 No h nada que seja de importncia to vital em nossa luta

    espiritual que saber que enfrentaremos tal poder, e que portanto, no podemos nos descuidar um s momento. Isto to sutil que s nos deixa ver o que interessa ao diabo e esquecemos tudo o mais. Esta a cegueira que produz a tentao.

    Ao mesmo tempo, no devemos esquecer as sutilezas de Satans. Ele se apresenta como um amigo. evidente que se apresentou assim ao salmista. Disse-lhe: "No te parece que em vo limpaste teu corao, e lavaste as tuas mos em inocncia? Isto o que estiveste fazendo", diz o diabo. "Pareceria que ests passando teu tempo em renncia e orao. Realmente algo est mal em teu enfoque. Crs no evangelho, mas olhe o que te est ocorrendo! Por que ests passando por estas provas to duras? Por que um Deus de amor te trata assim? esta a vida que ests defendendo? Amigo", diz, "ests cometendo um erro; ests-te fazendo um dano tremendo; no justo para contigo". , a terrvel sutileza de tudo isto!

    Entretanto, a tentao pareceria apresentar o caso com lgica. que aparece com um efeito deslumbrante, que aparentemente o mostra como inocente e razovel. "Afinal de contas", raciocina o salmista, "estou vivendo uma vida santa, e me sucede isto. Aqueles homens blasfemam de Deus, em sua altivez dizem coisas que no se devem dizer, nem mesmo pensar. Entretanto, prosperam, vai bem com seus filhos, e tm mais do que o corao possa desejar. Enquanto isso, aqui estou sofrendo exatamente o contrrio, s posso chegar a uma concluso". Vendo isso de um ponto de vista humano, este caso parece no ter soluo. Esta a caracterstica da tentao. Ningum cairia na tentao se no atuasse assim. to plausvel, poderosa, forte, lgica e aparentemente irrefutvel. Sabemos muito bem que no estou falando teoricamente. Todos sabemos algo disto, e se no o sabemos, no somos cristos. O povo de Deus est submetido a isto, e porque de Deus, o inimigo o usa como objetivo para abat-lo.

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 13 Chegando a este ponto, enfatizo novamente que ser tentado desta

    maneira, no pecado. Este ponto deve ser-nos bem esclarecido. Que estes pensamentos se pressentem e insinuem em nossas mentes no nos torna culpados de pecado. Novamente encontramos um ponto que fundamental em nossa luta espiritual. Devemos conhecer a diferena entre ser tentados e pecar. No podemos controlar os pensamentos que o diabo pe em nossa mente. Ele os coloca ali. Paulo fala dos "dardos inflamados do maligno". Isto o que estava sucedendo com o salmista. O diabo os estava arrojando, mas o simples fato de que estes vinham sua mente no quer dizer que era culpado de pecado. O prprio Senhor Jesus Cristo foi tentado. O diabo o acossou com ideias em Sua mente mas Ele no pecou, pois as rejeitou todas. As ideias viro nossa mente e o diabo nos far pensar que j pecamos. Mas no so nossas ideias, so as do diabo; ele as colocou ali. Foi Billy Bray de Cornwall que em sua maneira original disse: "No podes evitar que o corvo voe sobre tua cabea, mas sim podes prevenir que faa um ninho em teu cabelo". E assim digo que no podemos evitar que as ideias se insinuem em nossa mente, mas o que nos devemos perguntar : O que fazemos com elas? Falamos de pensamentos "que me passaram pela mente", mas sempre que passem, no so pecados. Convertem-se em pecados se os aceitamos e consentimos com eles. Enfatizo isto, pois constantemente tive que tratar com pessoas atormentadas pelos mpios pensamentos que cruzaram sua mente. O que eu lhes digo o seguinte: "Escuta o que me est dizendo. Dizes que 'o pensamento te cruzou'. Bom, se isto certo, no pecaste. No me disseste: 'pensei', mas sim 'cruzou-se'. Isto correto. O diabo te ps este ou aquele pensamento em tua mente, e por isso no s necessariamente culpado de pecado. A tentao em si no pecado".

    Isto nos traz para o ltimo ponto que vital. muito importante saber como agir perante a tentao, para que quando esta nos venha saibamos como encar-la. A verdade que, em certo sentido este o propsito do salmista. A nica forma de saber que lutamos com a

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 14 tentao em sua devida forma, que cheguemos correta concluso final. Comecei com a mesma e finalizarei com ela. A grande mensagem deste Salmo que se voc e eu sabemos como fazer frente tentao, poderemos torn-la numa grande fonte de vitria. Poderemos atracar, depois do processo, a uma situao muito mais forte que quando comeamos. Poderemos ter estado num lugar onde nossos ps "quase resvalaram". Isto no interessa se no final temos que chegar quela elevada meseta onde nos encontraremos face a face com Deus com uma confiana da qual carecamos antes. Podemos utilizar o diabo e as suas maquinaes, mas temos que aprender como faz-lo. Podemos fazer com que esta prova se torne numa grande vitria, e dizer "tendo passado tudo isto, agora vejo que Deus sempre bom. Houve um momento em que estive tentado a pensar o contrrio e me dou conta que estava errado. Em toda circunstncia, no interessa o que acontece comigo ou a outra pessoa, cheguei concluso que 'Deus bom para com Israel'".

    Estamos todos dispostos a dizer isto? Poderia ser que estamos passando neste momento por uma experincia similar. As coisas vo mal e estamos passando por momentos difceis. Golpe aps golpe esto descendo sobre ns. Estivemos vivendo a vida crist, lendo nossa Bblia, trabalhando na vinha do Senhor, e apesar de tudo isto, as provas nos assaltam. Pareceria que todo nos fosse mal, "foste aoitado todo o dia, e castigado todas as manhs". Uma prova segue outra. Queria fazer uma pergunta: Poderamos dizer perante tudo isto: "Deus sempre bom"? Sim, at em nossas circunstncias atuais e vendo prosperar o mau. Apesar da crueldade do inimigo ou a traio de um amigo, apesar de tudo, podemos dizer: "Deus sempre bom", no h exceo nem condicionamento? Podemos diz-lo? De outro modo, somos culpados de pecado. Podemos ter sido tentados a duvidar. Isto de esperar, mas no pecado. A pergunta que fao agora : "estvamos capacitados a vencer a tentao? Pudemos tirar esses pensamentos de nossa mente? Fomos capazes de dizer: "Deus sempre bom" sem reserva? Podemos dizer: "Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus", sem

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 15 duvidar? Eis a a comprovao. Mas gostaria que nos demos conta que apesar de o salmista dizer: "Deus bom para com Israel", no se esquece de acrescentar: "para com os de corao limpo". Devemos tomar cuidado e ser justos conosco mesmos e com Deus. As promessas de Deus so grandes e incluem tudo, mas todas tm esta condio, "... para com os de corao limpo". Em outras palavras, se voc e eu pecamos contra Deus, Ele nos vai castigar, e vai ser penoso. Mas mesmo quando Ele nos castiga, bom conosco. Pelo mesmo fato de ser bom, que nos castiga. Se no experimentarmos o castigo de Deus, somos bastardos e no filhos, como nos lembra o autor da Epstola aos Hebreus. Lembremos, que se queremos compreender isto claramente, temos que ter coraes limpos. Devemos ser verdadeiros no mais ntimo de nossos coraes, e no ter pecados escondidos, porque se "... em meu corao eu tivesse contemplado a iniquidade, o Senhor no me teria ouvido". Se no eu for honesto e reto com Deus, no tenho o direito de fazer minhas nenhuma de Suas promessas. Se, pelo contrrio, tenho o nico desejo de estar bem com Deus, ento sim, posso dizer confiantemente que "Deus sempre bom para com Israel".

    s vezes penso que a essncia da vida crist e o segredo do poder espiritual, dar-se conta de duas coisas. Esto nos primeiros dois versos: ''Com efeito, Deus bom para com Israel, para com os de corao limpo. Quanto a mim, porm, quase me resvalaram os ps; pouco faltou para que se desviassem os meus passos". Em outras palavras, tenho que ter absoluta confiana em Deus e no em mim mesmo. Sempre que voc e eu estejamos em essa posio em que adoramos e servimos a Deus no Esprito, "gloriamo-nos em Cristo Jesus, no tendo confiana na carne" (Fp. 3:3), tudo estar bem. Isto ser um cristo verdadeiro. Por um lado, absoluta confiana em Deus, e por outro, no confiar em ns mesmos nem no que possamos fazer. E se tiver este conceito de mim mesmo, ento sempre olharei a Deus. Nesta posio nunca cairei.

    Que Deus nos conceda a graa para aplicar alguns destes simples princpios a nossas vidas, e que quando o fizermos, lembremos que

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 16 temos o maior exemplo e ilustrao de todos em nosso bendito Senhor Jesus Cristo. Vejo-o o no jardim do Getsmani, o prprio Filho de Deus, e O escuto pronunciar estas palavras: "Pai, se for possvel". Nesse momento houve perplexidade. Ele perguntou: "No h outro caminho? esta a nica forma em que a humanidade pode ser salva?" A ideia que o pecado do mundo se interpunha entre Ele e Seu Pai o confundiu. Mas Se humilhou. A perplexidade no provocou uma queda; encomendou-se a Deus dizendo com efeito: "Os teus caminhos so sempre justos, tu s sempre bom, e quanto ao que tens que fazer comigo, sei que ser bom. Seja feita a tua vontade, e no a minha".

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 17 CAPTULO II

    BUSCANDO ONDE FIRMAR-SE V. 15 (RC): Se eu dissesse: Tambm falarei assim; eis que

    ofenderia a gerao de teus filhos. Vimos a concluso a que chegou o salmista, quer dizer, que Deus

    bom para com Israel, para com aqueles de corao limpo, para com aqueles que desejam agrad-Lo. Voltamos a mencionar isto, para assim descobrir a maneira em que o salmista chegou a controlar-se, e eventualmente chegar a essa grande e firme f. Ao ler os Salmos, no h nada mais proveitoso que analis-los na forma em que nos propomos faz-lo. A tendncia comum ler os Salmos rapidamente e nos contentar medianamente com suas concluses generais. H muitas pessoas que usam os Salmos como drogas. Dizem que em tempo de ansiedade ou perplexidade, encontram que bom ler um deles. "Encontra-se tanta paz neles", dizem, "e a linguagem to doce"... O ler: "O Senhor o meu pastor", parece ter um efeito psicolgico geral sobre um, e nos pe num agradvel estado mental e de paz no corao, de maneira que ficamos dormidos sem nos dar conta. um bom tratamento psicolgico. H aqueles que assim usam os Salmos. H outros que os usam como poesia. Interessa-lhes a beleza da linguagem. O livro dos Salmos contm todas estas coisas, mas me preocupa demonstrar principalmente que so uma recitao de experincias espirituais escritas para nosso proveito. Nunca encontraremos este proveito se no tomarmos o trabalho de analis-los e observar o que que o salmista quer nos dizer. Temos que esquecer, por um momento, a beleza da linguagem e nos concentrar com seu contedo. medida que vamos fazendo, descobriremos que o autor tem um mtodo bem definido.

    Neste Salmo particular, o autor no chegou a essa posio subitamente mas sim depois de vrias experincias. Os passos tomados no processo so realmente interessantes, e nos ser muito benfico

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 18 descobrir quais eram os que levaram a este homem de uma posio onde "quase se resvalaram os seus ps" a uma firme condio de f incomovvel. muito importante para ns saber que existe a disciplina na vida crist. No suficiente dizer, como o fazem alguns crentes, que no importa o que nos acontea, s "olhar ao Senhor" j est tudo solucionado. Afirmo que isto no verdade, e tampouco verdade na experincia dos que o ensinam. No um ensino escriturstico. Se tivesse sido assim, muitas destas Escrituras estariam sobrando, no as necessitaramos absolutamente. Se s tivermos que "olhar ao Senhor", as epstolas no teriam sido escritas, mas esto escritas, e foram escritas por homens inspirados divinamente. Por que? A resposta que foram escritas para nossa instruo, para nos ensinar a viver, e que num sentido nos dizem que existe uma disciplina essencial na vida crist.

    Uma das mais tristes facetas da vida de alguns crentes, que perderam a viso deste aspecto da vida crist. especialmente certo entre evanglicos, e creio saber a razo por que. Primeiro e principalmente houve uma reao contra o ensino da Igreja Catlica. O sistema da Igreja Catlica enfatiza uma certa classe de disciplina. Eles possuem grande quantidade de manuais e escritos sobre o particular. A verdade que os mais famosos instrutores nisto foram Catlicos Romanos, como por exemplo, So Bernardo do Clairvaux, ou o bem conhecido Fnlon, cujos escritos foram muito populares em certa poca.

    Agora, os protestantes reagiram contra esta classe de disciplina, e com toda razo. Certamente na Igreja Catlica o mtodo mais importante que a vida espiritual em si, e o praticante converte-se num escravo do mesmo. Como protestantes, correto que refutemos isto decididamente. Mas incorreto deduzir, por causa de seu abuso, que a disciplina desnecessria na vida crist.

    A verdade que os grandes perodos do Protestantismo se caracterizaram pela compreenso desta necessidade de disciplina. O que caracterizou mais que nenhuma outra coisa o grande perodo Puritano foi a atitude e o enfoque que guiou a Richard Baxter a escrever seu livro:

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 19 Spiritual Directory (Guia Espiritual). Os Puritanos se caracterizaram por sua nfase na aplicao das Escrituras vida diria. No sculo seguinte vemos que os lderes do Avivamento Evanglico enfatizaram o mesmo. Por que os dois irmos Wesley e Whitefield se chamaram metodistas? Porque levavam uma vida metdica. Eram Metodistas porque seguiam um mtodo em suas reunies. Traaram certas regras, formaram sociedades, e exigiram que todos aqueles que queriam fazer parte da Sociedade tivessem que observar certas regras e deixar de fazer certas coisas. O prprio termo Metodista o implica, e enfatiza o conhecimento de certa disciplina, e a importncia de disciplinar a vida de algum, e de saber dirigir-se em circunstncias e situaes variadas neste mundo em que vivemos.

    Aqui, neste Salmo, temos um grande mestre desta verdade. A pessoa que escreveu este Salmo tinha um mtodo bem definido, e no podemos fazer melhor coisa que segui-lo. Ensina-nos a nos orientar, ou seja, nos conduzir. No este um dos maiores problemas que se nos apresentam na vida a cada um de ns neste mundo? O saber conduzir-se a si mesmo, no acaso o mais difcil? muito mais fcil conduzir a outros! A grande habilidade na vida crist saber como tratar-se a si mesmo, especialmente em situaes crticas. Aqui este homem nos revela seu segredo.

    Comearemos ento, pelo primeiro passo, e o mais humilhante de todos. Sinto que h algo maravilhoso que ele nos quer dizer. Aqui vemos um homem que experimentou grandes bnos, e entretanto, a primeira coisa que o salvou de um grande desastre realmente surpreendente. Nossa reao ao descobrir este primeiro passo, servir-nos- como prova para medir nosso discernimento espiritual. Haver algum que pensa que esta situao muito humilhante para que um crente se encontre nela? Procuremos examinar-nos a ns mesmos medida que vemos o que este homem nos tem a dizer.

    Quero assinalar que ao comear nesse plano to baixo, no me interessa tanto onde nos localizamos e quo baixo seja nosso plano, a fim

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 20 de que estejamos afirmados e no escorregando. melhor estar parado no degrau mais baixo da escada que escorregar do ltimo.

    Este homem comeou a escalar desde o primeiro degrau. Como o fez? Primeiro estudaremos o mtodo, exatamente como o fez, e logo deduziremos certos princpios que podemos estabelecer como aplicveis sempre em qualquer situao em que nos encontremos.

    Aqui temos a um homem subitamente tentado; tentado a dizer algo, ou se o preferem, tentado a fazer algo. A fora da tentao to grande que quase perde o equilbrio. Est prestes a ceder tentao, porm nos quer explicar o que que o salvou. Aqui est: "Se dissesse ..." Esteve prestes a nos dizer algo "Se eu dissesse: Tambm falarei assim; eis que ofenderia a gerao de teus filhos". O que ento o que ele faz? Qual o seu mtodo?

    A primeira coisa que fez foi controlar-se a si mesmo. No creio que se deu conta por que o fez, mas o fez. Guardou-se de dizer o que tinha na ponta da lngua. Estava para diz-lo, mas no o disse. Isto tremendamente importante. O salmista deu-se conta da importncia de no falar apressada e impulsivamente. Isto foi o primeiro, e um ponto muito geral. uma boa atitude at para uma pessoa no crente, e isto precisamente o que estou querendo sugerir, que h coisas to simples e gerais que temos que fazer com relao nossa vida espiritual que primeira vista no parecem ser particularmente crists. Entretanto, se nos ajudarem, usemo-las.

    H muitas pessoas que desejam estar sempre, espiritualmente, no cimo da montanha, e por esta simples razo que muitas vezes caem ao vale. Desprezam estes mtodos simples. No evitam fazer o que o homem do Salmo 116 fez. Lembremos o que ele nos diz. Ele se confessa honestamente: "Eu disse na minha perturbao: todo homem mentiroso" [Sl. 116:11]. Confessa que o disse apressadamente, e que foi um equvoco. Este homem no Salmo 73 descobriu, at prestes a escorregar, a importncia de no apressar-se a falar. errado que um cristo fale ou aja impulsivamente. Se o quisermos em linguagem do

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 21 Novo Testamento o temos na Epstola de Tiago, "... Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tg. 1:19). No vou desenvolver este tema aqui, mas no bvio acaso que se todos praticssemos este princpio viveramos mais harmoniosamente? Quantos problemas evitaramos! Quantos desgostos e mau sangue! Quantas brigas se evitariam em todos as ordens da vida se todos tomssemos a srio este mandato! ... "seja pronto para ouvir, tardio para falar"! Detenhamo-nos e pensemos. A todo custo, detenhamo-nos! No ajamos com base em impulsos. O salmista no o fez, e foi a primeira coisa que o salvou de no cair.

    O prximo passo, evidentemente, foi considerar o que devia dizer. O problema ele o tinha na mente, e ningum o podia discutir, pois era bvio. Aqui esto os mpios; vejo sua prosperidade, e aqui estou eu sempre com problemas. to patente. Por que no diz-lo? "No", diz o salmista, "examina o problema novamente, e em condies como estas, nunca demais examin-lo vez aps vez". Comeou a falar-se consigo mesmo sobre o problema e p-lo diante de si. Olhou-o novamente. , quo importante isto! Quantas tragdias neste mundo se poderiam ter evitado se as pessoas tivessem lanado um novo olhar! Com relao tentao, quando nos ataca com todas as suas foras e quando todos os argumentos parecessem pesar s de um lado, a estratgia para combater o diabo insistir em lanar um novo olhar ao problema. E provavelmente esse outro olhar nos salvar. O salmista o olhou novamente e o examinou de diferentes pontos de vista.

    Pela ao tomada pelo salmista nos damos conta que ele calculou as consequncias que podia lhe trazer se fosse expressar o que pensava. Novamente aqui vemos outro princpio muito importante. Nada do que o homem faa nesta Terra ficar sem consequncias. Todo efeito tem sua causa e toda causa produz um efeito. Muitos de nossos problemas se originam porque esquecemos este simples princpio de que a causa produz um efeito e este, por sua vez, leva-nos a suas inevitveis consequncias. O diabo, em sua audcia, enlaa-nos fazendo-nos crer

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 22 que o que nos ocorre um acontecimento nico e isolado. Pe isto diante de nossos olhos, de tal maneira que no podemos ver nem pensar em outra coisa. Monopoliza-nos, e no consideramos as consequncias. Ele disse: "Se eu dissesse: Tambm falarei assim; eis que ofenderia a gerao de teus filhos". Minuciosamente considerou e enfrentou as consequncias.

    Na Bblia temos muitos exemplos similares. Um dos melhores o de Neemias. Neemias se encontrou numa situao em que perigava sua vida e um falso amigo o aconselhou, dizendo-lhe: "Tu s um bom homem, olha que tua vida estar em perigo se continuas comportando-te na forma em que o ests fazendo" "... nesta noite viro matar-te". Sugeriu e insinuou a Neemias que fugisse. Se Neemias lhe tivesse prestado ateno, o curso da histria de Israel teria tomado outro rumo. A ideia no o desgostou, mas Neemias se comps e disse: "Um homem como eu h de fugir?" Considerou as consequncias, e desde o momento que as viu no fez o que lhe fora sugerido. Isto o que salvou o homem do Salmo 73. Viu as consequncias e imediatamente se freou.

    Sigamos um passo mais adiante. O que fez a seguir foi aferrar-se firmemente, a qualquer preo, ao que estava seguro. Seu problema principal lhe era muito incerto, no o podia entender absolutamente. Mesmo depois de ter reagido a tempo, ainda estava perplexo e no o entendia. Mas tendo olhado novamente o problema deu-se conta que se tivesse falado como estava tentado a faz-lo, como consequncia imediata teria causado uma ofensa ao povo de Deus, e por isso se conteve. Aqui ento est o princpio. O salmista no est to seguro do trato de Deus com Seus filhos. um tema que lhe causa perplexidade. Entretanto, ele sabe perfeitamente que errado ser uma pedra de tropeo ou causar ofensa gerao dos filhos de Deus. Ele est completamente seguro disto e assim age. Podemos nos dar conta da estratgia. Quando nos sentimos confundidos ou perplexos, o que temos que fazer buscar algo no qual estejamos certos e afirmar ali nossa posio. Pode no ser o tema principal, mas no importa. Este homem viu as consequncias do

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 23 que estava por fazer, e soube certamente que era errado. Por isso disse, "no o vou dizer". Ele ainda no v claramente o problema principal, mas sim este ponto.

    A deciso que tomou o salmista que deveria contentar-se com no resolver seu principal problema no momento. Diz-nos que ainda no est claro, e no entende ainda o problema que o sacudiu e tentou to severamente. Na realidade no o entendeu at que entrou no santurio de Deus. Por isso deixou de resolv-lo, dizendo-se a si mesmo: "Terei que deixar o problema principal no momento; no falarei mais disso, porque se for rpido meus pensamentos com palavras, ofenderei gerao dos filhos de Deus. No posso fazer isso. Muito bem: assegurar-me-ei do que estou bem certo, e me contentarei com no entender o outro problema no momento". Este seu mtodo. Isto o que o salvou; e foi isto o que o ajudou.

    Quo simples foi seu mtodo, e entretanto, quo vitais so cada um de seus passos. Permita-me apresent-los sob um nmero de princpios. O primeiro princpio o poria como uma guia especial, e que nosso falar deve ser sempre essencialmente positivo. Quero dizer que ns no devemos estar sempre muito preparados para expressar nossas dvidas e proclamar nossas incertezas.

    Encontrei-me com homens que passaram muitos anos de sua vida, agonizando pelas coisas que tm dito antes de ser cristos, coisas que serviram para sacudir a f de outros. Isto terrvel.

    Lembro de um jovem que veio para ver-me alguns anos atrs. Era estudante e foi Universidade baseado e crendo na f crist. Um professor nessa Universidade orgulhoso de ser incrdulo e que no tinha em si nada positivo que dar a este jovem, ridicularizou a ele e a sua posio, no somente em classe mas tambm em particular, rindo-se de suas crenas e mofando-se de sua f. Ps o jovem numa posio desgraada e penosa. No h muitas coisas mais daninhas que a ao deste professor, quem no tendo nada em si mesmo para oferecer, tratou de tirar e destruir a f do jovem, falando contra ela e desprezando-a. Isto,

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 24 bvio, foi um malicioso e intencional ataque f de este jovem. Mas ns tambm podemos ser culpados disto mesmo, embora possvel que no nos demos conta disso. Embora dvidas e incertezas nos assaltem, no deveramos proclamar nossas ansiedades, nem expressar nossas incertezas (exceto quando buscarmos ajuda), no acontea que inconscientemente, tambm produzamos o mesmo efeito. Se no podemos contribuir com algo positivo, melhor no dizer nada.

    Isso o que fez este homem. No o entendia e estava prestes a dizer algo, mas pelo contrrio pensou: "No o direi, porque se disser algo, prejudicarei o povo de Deus". Digam o que quiserem deste homem, mas se comportou com dignidade. Se notarmos que nossa f est fraquejando, procuremos a todo custo nos comportar com dignidade. No machuquemos a ningum. Devemos aprender a nos disciplinar e a no comentar nossas dificuldades nem pensar muito de nossas inseguranas. Este homem calou at que se encontrou em condies de dizer: "Deus sempre bom para com Israel". Ento sim, teve direito de falar. Tendo comeado com isto, pde seguir narrando suas dificuldades com segurana.

    O seguinte princpio integral, e suas vrias partes esto reciprocamente relacionadas. Quero dizer que no existe tal coisa como verdade isolada. O salmista comeou pensando que existia s um problema, o problema da prosperidade dos mpios. Entretanto, relacionado com isto, havia esta outra verdade, a do povo de Deus e o que lhes estava sucedendo. Permita-me dar outra ilustrao para demonstrar a importncia de nos dar conta de este princpio: que os vrios aspectos da verdade esto reciprocamente relacionados.

    Muitas pessoas que tm uma inclinao cientfica entram em dificuldades a respeito de sua f porque esquecem este princpio. Confrontam-se com o que significa a evidncia cientfica. O que lhes apresentam os cientistas um fato, e o perigo que aceitaro estas declaraes definidas como tais, sem perceberem as consequncias da aceitao destas afirmaes em outras esferas da verdade. Por exemplo,

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 25 eu sempre digo que uma das boas razes de no aceitar a teoria da evoluo, que desde o momento que a aceito, tropeo com problemas e dificuldades com a doutrina do pecado, da f, e da expiao. A verdade est reciprocamente relacionada; uma coisa afeta a outra. No nos apressemos a formar opinies de uma s realidade ou de um conjunto de realidades. Lembremos que nossa opinio afetar outros fatores e outras posies. Olhemos o problema em todos os aspectos concebveis, levando em conta no s o problema em questo, mas tambm suas consequncias e implicncias. Procuremos entend-los todos antes de expressar uma opinio.

    O seguinte princpio que no devemos esquecer nossa relao uns com os outros. O que deteve o salmista antes de mais nada no foi a descoberta do trato de Deus com ele mesmo, mas sim a memria do trato de Deus com os demais. Penso que isto maravilhoso. Isto o que o conteve de falar. Disto ele estava seguro e se agarrou disso. O apstolo Paulo o expressa muito bem num versculo de Romanos 14, onde diz: "... Porque nenhum de ns vive para si mesmo, nem morre para si" [Rm. 14:7]. Segue elaborando e ao faz-lo analisa o problema do irmo fraco. Faz o mesmo em 1 Corntios 8 e 10. Resume-o numa frase excelente: " conscincia, digo, no a tua propriamente, mas a do outro..." (1Co. 10:29). Em outras palavras, como cristo amadurecido no deves decidir o problema pensando s em ti. Que dizer do irmo fraco por quem Cristo morreu? No devemos ofender sua conscincia. Nenhum de ns "vive para si"; todos estamos unidos. Se no podemos nos controlar para nosso prprio benefcio, temos que faz-lo para o benefcio de outros. Quando formos tentados novamente; quando o inimigo nos fizer esquecer que no somos casos isolados; quando ele nos sugira que o que nos sucede diz respeito a ns somente, pensemos nas consequncias e nos lembremos de outras pessoas, lembremo-nos de Cristo, lembremo-nos de Deus. Se tu e eu camos, no o tornemos como um caso isolado: toda a Igreja cai conosco. O salmista percebeu que ele estava unido nesta vida a outros crentes. Digamos a ns mesmos: Vejo que estes outros crentes

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 26 estaro implicados. Somos filhos do reino celestial, somos membros individuais, e em particular do Corpo de Cristo. No podemos agir de forma isolada! Se nada nos frear antes de fazer algo mau, lembremos esta verdade, lembremo-nos de nossa famlia, lembremos da Igreja a que pertencemos, lembremos seu nome que est em nossa fronte. Se nenhuma outra coisa nos contiver, seja esta verdade a que nos freie, tal como conteve a este homem.

    O seguinte princpio a importncia de ter certos valores absolutos em nossa vida. Em outras palavras, devemos reconhecer que h certas coisas que so inconcebveis, e que nunca deveramos fazer. Devemos ocupar-nos em fazer uma lista de certas coisas que nunca se devem fazer. Nem sequer devemos consider-las. No duvido em afirmar que o grande nmero de divrcios que existem hoje, devem-se ao nico fato de no levar em conta este princpio. Quero dizer que quando duas pessoas se casam e tomam os solenes votos e compromissos diante de Deus e dos homens, teriam que pr chave a certa porta detrs, a qual nunca deveriam nem mesmo olhar. Entretanto, no sucede assim hoje em dia. Parecesse que se casam deixando a porta de atrs, a qual conduz vida separada, bem aberta. Olham para trs e albergam o pensamento de separao do casamento, mesmo antes de fazer os votos. por isso que h tantos lares destrudos hoje em dia. Homens e mulheres igualmente abandonaram os princpios absolutos.

    Num tempo isto era inconcebvel e deveria ser sempre assim. H certas coisas que os cristos, tanto homens como mulheres deveriam estabelecer como princpios irrevogveis, e nunca mais reconsider-los. O salmista tinha um princpio e talvez nesse momento, seu nico, mas a este nico princpio se afirmou. Falou-se: "Nunca mais direi outra coisa que incomode ao irmo. No interessa quanto me falte para entender; um de meus princpios este, que nunca mais machucarei a meu irmo". Aferrou-se a isto com firmeza, e eventualmente comeou a entender suas prprias perplexidades. Procuremos ter nossos princpios bem estabelecidos, procuremos afirmar certas coisas irrevogavelmente. Que

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 27 os jovens especialmente embora isto no se aplique mais a eles que a outros, entretanto enquanto forem jovens e no sejam culpados ainda destas coisas afirmem seus princpios. Se no puderem ser de ajuda, no digam nada. Nunca ocasionem dano causa de Deus, nem sua famlia espiritual.

    O ltimo princpio a importncia de lembrar quem somos. Num sentido j cobrimos este aspecto, mas tu e eu somos pessoas chamadas por Deus para sair fora deste presente sculo mau. Fomos comprados com o sangue derramado pelo Unignito Filho de Deus numa Cruz do Monte Calvrio, no somente para ser perdoados e ir ao cu, mas tambm para que sejamos livrados de todo pecado e iniquidade, "e purificar para si um povo prprio, zeloso de boas obras" (Tt. 2:14). Ele fez isto e constitui nosso direito. Lembremo-lo ento, e quando nos vierem perplexidades, ou qualquer outra coisa que nos faa sacudir analisemo-lo luz disto. Embora no o entendamos, temos que dizer nesse momento: "No me importa e me conformo com no entend-lo. Tudo o que sei, que sou filho de Deus, comprado com o sangue de Cristo; h certas coisas que no posso fazer, e esta uma delas, portanto no a farei; ficarei firme, qualquer que seja a consequncia".

    Estas so, ento, minhas concluses. No interessa em que nvel nos encontremos lutando contra este inimigo de nossas almas. No interessa quo primrio o nvel, a fim de que estejamos firmes. Como disse no princpio, o salmista se afirmou a um nvel muito bsico. Ele simplesmente se afirmou no princpio: "Se fizer isto, machucarei a estas pessoas". No podia ter-se afirmado num nvel mais elementar que este. Sempre e quando encontrarmos algo em que nos possamos afirmar, usemo-lo como base. No desprezemos "o dia das coisas pequenas". No pensemos que somos to espirituais que no podemos nos afirmar nesse nvel to elementar. Se assim pensamos, ento cairemos. Firmemo-nos em qualquer ponto que possamos. Sustentemo-nos at no negativo quero dizer com isto, que talvez somos capazes de dizer somente: "No posso fazer isso". Firmemo-nos nisto. Porque assim: quando nossos ps

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 28 esto escorregando, o que precisamos poder nos firmar. Deixemos de escorregar e deslizar. Firmemos nossos ps por um momento e nos aferremos a qualquer coisa que nos sirva para tal fim; firmemo-nos nisso e fiquemos ali. Estamos ocupados em escalar uma montanha espiritual. Os pendentes so como vidro, e podemos escorregar e cair neste terrvel terreno baixo, e nos perder. Digo ento que se vemos algo, embora seja um pequeno ramo, tomemo-la e nos aferremos a ele; ponhamos nosso p no descanso que encontremos, embora seja pequeno, ou no mais precrio bordo, em qualquer coisa que nos faa firmar e nos permita deter-nos por um momento. Quando tivermos terminado de escorregar e nos escorrer, ento poderemos comear a escalar de novo.

    porque o salmista encontrou este pequeno descanso, firmou seus ps sobre ele, que deixou de escorregar. Desde esse momento comeou a escalar at que eventualmente pde alegrar-se novamente no conhecimento de Deus e at superar o problema que o aniquilava e pde dizer: "Com efeito, Deus bom para com Israel". Que parvo fui!

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 29 CAPTULO III

    A IMPORTNCIA DE PENSAR ESPIRITUALMENTE Vv. 16-17 (RC): Quando pensava em compreender isto, fiquei

    sobremodo perturbado; at que entrei no santurio de Deus; ento, entendi eu o fim deles.

    At agora chegamos concluso de que num conflito espiritual o

    principal rebater a queda, no importa que nvel inferior se obtenha. No desprezemos o nvel inferior. prefervel ter os ps no degrau mais baixo da escada que estar sobre a terra: e melhor encontrar o menor apoio que seguir escorregando por um pendente. Ao subir desde esse ponto nos encontraremos novamente no caminho para cima.

    Mas agora devemos prosseguir, porque evidentemente o salmista no permaneceu ali. Se ele se deteve ali, nunca tivesse podido dizer: "Com efeito, Deus bom para com Israel". O ponto de apoio foi somente o comeo. Existem ainda vrios degraus neste processo maravilhoso, porque, mesmo depois de haver-se apoiado, estava muito preocupado. Entendeu o suficiente para dizer: "Se eu dissesse: Tambm falarei assim; eis que ofenderia a gerao de teus filhos" [Sl. 73:15, RC]. Mas segue dizendo: "Em s refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim" [v. 16]. Embora ele no segue escorregando, ainda no compreende seu problema essencial.

    Mas o fato que no segue escorregando; no permanece em perigo de expressar aqueles pensamentos blasfemos.

    Entretanto, estava ainda em grande agonia mental e de corao estava ainda perplexo a respeito do caminho de Deus para com ele. Desejo enfatizar isto porque um assunto primordial. Embora o importante e vital seja parar de escorregar, isto no significa que agora estejamos bem, ou que desde esse momento estaremos livres de nosso problema. Este homem no estava plenamente liberto; ainda tinha seus problemas. Graas a Deus que sabe o suficiente como para no seguir

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 30 escorregando, mas o seu problema continua sendo to agudo como antes. Conheces essa posio espiritual? J estiveste ali alguma vez? Eu estive nessa situao vrias vezes. um lugar estranho, mas em vrios sentidos maravilhoso. Temos algo vital que nos sustenta embora o problema original seja to definido como foi no princpio.

    O que ele nos diz o seguinte. Estava parado ali; no escorregava mais e seus pensamentos de rebelio estavam sob controle. No obstante, seus pensamentos giravam em crculos e ele se encontrava em grande agonia mental e de corao. Isto continuou diz ele at que "... entrando no santurio de Deus, compreendeu o fim deles".

    H um ponto que devo esclarecer antes de prosseguir. Se lemos as diversas tradues deste Salmo, encontraremos que algumas delas sugerem que deveria traduzir-se na seguinte forma: "Foi muito penoso para mim at que entrei no segredo de Deus", em lugar de "at que entrando no santurio de Deus..." Mas as razes para reter aqui a palavra "santurio" me parecem terminantes. Um bom motivo que todos os Salmos nesta seo do Saltrio falam literalmente do lugar chamado o santurio. No Salmo seguinte e o 76 encontramos que cada um deles faz referncia literal e fsica ao santurio material. Tenho a impresso que isto, por si s, concludente, alm de outras evidncias que possam apresentar-se. No obstante, um ponto que no faz muita diferena, pois quando um homem entrava no Tabernculo ou no Templo de Deus, entrava ento na presena de Deus. Sob a antiga dispensao quando o povo ia ao Templo o fazia para encontrar-se com Deus. Era o lugar no qual habitava a honra de Deus; era o lugar onde a glria de Deus estava presente. Este homem certamente estava entrando na presena de Deus, mas penso que importante lembrar que o santurio aqui significa literalmente o edifcio. "... At que entrando no santurio de Deus compreendi..." Ele estava descontente, perplexo; o seu era um problema muito srio. Mas uma vez que foi ao santurio de Deus tudo ficou claro para ele. Ele mesmo foi endireitado, e comeou a subir novamente a

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 31 escada, at que eventualmente alcanou o batente e pde dizer: "Com efeito, Deus bom para com Israel"

    H certas lies vitais para ns nesta seo. Aqui temos um homem que alcanou um ponto de apoio e agora comea a ascender. Quais so as lies? A primeira que sugeriria a absoluta necessidade na vida crist de pensar espiritualmente. Explicarei o que desejo dizer. A situao de fundo do salmista at este momento era que estava enfocando seu problema somente no nvel de seus prprios pensamentos e entendimento. Isto diz ele foi um completo fracasso. Tinha diante de si seus dois fatores: a prosperidade do mpio e os problemas, tribulaes e misrias dos justos, especialmente os seus prprios. Seus pensamentos fluam mais ou menos assim: "Esta situao muito clara e absolutamente complexa. Os atos, afinal de contas, so atos e no podem ser ignorados. O que faz um homem do mundo, com senso comum e prtico, olhar aos atos. Sendo isto assim, indica que algo est mal. Eu conheo tudo referente s promessas de Deus; mas o que ocorreu com eles nesta situao? Como posso eu me encontrar nesta situao difcil e o mpio estar florescente, se a mensagem da Palavra de Deus correta e verdadeira?

    Agora, ele esteve raciocinando e retornando mesma posio vez aps vez. Todos conhecemos o processo, no verdade? Comeamos a pensar a respeito do problema e damos voltas e voltas. Buscamos esquec-lo, submergindo em negcios, prazeres, ou outras coisas. Depois nos deitamos e o processo comea novamente, "vai mal enquanto que ao mpio vai bem". E repetimos o crculo vicioso vez aps vez. Dizemos: "Pode ser que esteja cometendo um erro nisto? No; os atos so evidentes". Esta foi a posio do salmista. O que que sucedia? Digo que essencialmente a situao deste homem devia-se a que estava pensando em forma racional somente, em vez de faz-lo espiritualmente.

    Este um princpio tremendamente importante. muito difcil expressar em palavras a diferena entre o que puramente pensamento racional e o que pensamento espiritual, porque algum poderia estar

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 32 tentado a dizer: "Ah, sim, outra vez o mesmo; sempre tenho dito que o pensamento cristo irracional". Entretanto, isto uma falsa deduo. Embora estabeleo uma distino entre o pensamento racional e o pensamento espiritual, em momento algum estou sugerindo que o pensamento espiritual irracional. A diferena entre eles que o pensamento racional se acha somente sobre o nvel terrestre; o pensamento espiritual igualmente racional, mas se situa num nvel superior cobrindo ao mesmo tempo o nvel inferior. Levamos em conta todos os atos em lugar de s alguns. Mais adiante desenvolverei este tema, mas o expresso assim agora para efeito de deixar claro o que quero dizer ao contrastar o mero pensamento racional com o pensamento espiritual.

    Com isto em mente desejo enunciar certos princpios. Primeiro, existe um perigo constante de que retornemos a um pensamento meramente racional, at em nossa vida crist. Esta uma coisa muito sutil. Sem nos dar conta, embora sejamos cristos, embora tenhamos nascido de novo, embora tenhamos o Esprito Santo em ns, existe o perigo constante de voltar para um estilo de pensamento que no tem nada que ver com o cristianismo. O salmista era um homem devoto e justo, algum com grande experincia dos procedimentos de Deus; mas inconscientemente se tinha voltado quele tipo de pensamento meramente racional. Talvez possa expressar este ponto mais claramente ao dizer que devemos aprender que toda a vida crist espiritual, e no s certas partes da mesma.

    Todo cristo, bvio, estar de acordo com isto, e reconhecer imediatamente que desde o comeo, o enfoque cristo da vida totalmente diferente do enfoque racional. Tomemos o que Paulo diz em 1 Corntios 2. Ele pergunta por que algumas pessoas no so crists; por que razo os grandes deste mundo no reconheceram o Senhor Jesus Cristo quando Ele esteve aqui. A resposta diz ele que no tinham recebido o Esprito Santo. Eles olhavam a Cristo somente a nvel racional. Viram-nO somente como um campons, viram nada mais que

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 33 um carpinteiro: viram um que no tinha sido treinado na escola dos fariseus, e disseram que este homem no podia ser o Filho de Deus. Por que? Porque estavam pensando em termos puramente racionais. Estavam procedendo como o salmista nesta instncia. O caso dos grandes deste mundo e o daqueles que no creem em Cristo o mesmo. Para eles Jesus de Nazar foi somente um homem que nasceu e foi colocado num pesebre, viveu, comeu, bebeu como outros homens e trabalhou como carpinteiro. Logo foi crucificado em extrema fraqueza sobre uma cruz. "Em que base estes atos expressam, pretendem que cria que Ele o Filho de Deus? impossvel". Onde est seu erro? Esto pensando num nvel racional. Creem na teoria da evoluo e, confrontados com eventos sobrenaturais, expressam: "Estas coisas no sucedem no processo evolutivo: so impossveis". Isto pensamento racional. Se falamos com eles sobre a doutrina do novo nascimento diro: " bvio que coisas assim no sucedem, no h tal coisa como um milagre. Ns vemos leis na natureza e quando se fala de milagres est-se violando as leis da natureza". Como disse Matthew Arnold: "Os milagres no ocorrem, por isso os milagres no sucederam". Este um exemplo do pensamento racional.

    Estamos todos de acordo em que antes de um homem ser cristo deve parar de pensar desta maneira. Deve ter um novo estilo de pensamento, deve comear a pensar espiritualmente. A primeira coisa que nos sucede quando nos convertemos que comeamos a pensar de uma maneira diferente. Estamos num nvel diferente. Em outras palavras, to logo comecemos a pensar espiritualmente, os milagres no constituem mais um problema. O novo nascimento tampouco um problema; tampouco o a doutrina da expiao. Temos um novo entendimento e estamos pensando espiritualmente. Nosso Senhor foi visitado por Nicodemos, quem veio de noite e disse: "Mestre, vi Teus milagres, deves ser um Mestre enviado por Deus, porque nenhum homem pode fazer as coisas que Tu fazes, a menos que Deus esteja com ele". E estava prestes a acrescentar: "diga-me como o faz, qual a

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 34 explicao?" Mas nosso Senhor o olhou e lhe disse: "Em verdade, em verdade te digo que, se algum no nascer de novo, no pode ver o reino de Deus", e "Importa-vos nascer de novo" [Jn. 3:3, 7]. O que Ele estava dizendo realmente a Nicodemos era isto: "Nicodemos, se pensas que podes entender isto antes de te suceder contigo, ests cometendo um erro. Nunca chegars a ser cristo assim. Ests pensando racionalmente, ests procurando entender coisas espirituais com o entendimento natural. Mas no podes. Embora sejas um mestre em Israel, deves nascer novamente. Deve te tornar como uma pequena criatura se queres entrar no Reino. Deves deixar de confiar no poder de pensamento que tens como homem natural, e conhecer a essncia deste novo pensamento que espiritual. Deves nascer outra vez".

    Todos os que so cristos estaro de acordo com isto e o entendero. Ns dizemos que o problema com as pessoas que no so crists justamente que no esto dispostas a submeter essa forma natural de pensar na qual cresceram, na qual foram treinados e para a qual se deram a si mesmos. Sim; mas o ponto que estou enfatizando que temos que nos render no s no comeo de nossa vida crist e no meramente quanto ao perdo dos pecados e ao novo nascimento. Toda a vida crist espiritual, no somente algumas partes dela; no somente o comeo.

    O problema com muitos de ns, como foi com o salmista daquele tempo, que chegamos vida crist e comeamos num nvel espiritual para logo, em determinados problemas, voltar atrs para o racional. Em lugar de pensar neles espiritualmente retrocedemos e pensamos nos problemas como se fssemos homens e mulheres naturais. algo que tende a suceder-nos durante toda a vida crist. Com frequncia escutei a crentes que se encontram perplexos e, ao expressar seu problema, percebi que sua dificuldade devia-se plenamente ao fato que tinham retornado ao nvel racional de pensamento. Por exemplo, quando algo que no entendemos nos sucede, no momento que comeamos a experimentar uma sensao de ressentimento contra Deus, podemos estar

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 35 seguros que j retornamos quele nvel racional. Quando nos queixamos que o que nos sucede no parece justo, ento estamos rebaixando a Deus ao nvel inferior de nosso entendimento prprio. Isto exatamente o que fez este homem. Porm na vida crist tudo deve ser enfocado do ponto de vista espiritual. A totalidade desta vida espiritual. Tudo a respeito de ns deve ser considerado espiritualmente; toda fase, toda etapa, todo interesse, todo desenvolvimento.

    Permitam-me express-lo assim. Em ltima instncia os problemas e dificuldades da vida crist so todos espirituais, de modo que no momento de entrar nesta esfera devemos pensar de uma maneira espiritual e deixar para trs os outros modos de pensar. Isto especialmente certo com relao ao problema integral de entender os caminhos de Deus com relao a ns. Este foi o problema do salmista. "Por que Deus permite estas coisas? ele diz. Por que os mpios prosperam? Se Deus Deus, por que no os varre da face da Terra? E, pelo outro lado, se Deus Deus, por que me permite sofrer como estou sofrendo neste momento?" Este foi o problema, o procurar entender os caminhos de Deus. Em ltima anlise h uma s resposta a tudo isto. Acha-se em Isaas 55:8: "Porque os meus pensamentos no so os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor". Esta a resposta final. A primeira coisa que devemos reconhecer Deus nos diz que quando viemos a Ele e a Seus caminhos, no o devemos fazer nesse nvel baixo no qual estivemos acostumados, porque " so os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos" [Is. 55:9]. Mas, mesmo como povo cristo, no somos acaso culpados constantemente deste erro? Insistimos em pensar como homens e mulheres naturais nestes temas. Vemos que a salvao chama um pensamento espiritual, mas nas coisas que nos sucedem, nosso pensamento propenso a tornar-se novamente racional. No deveramos ento nos surpreender se no entendemos os caminhos de Deus, porque so totalmente diferentes dos nossos. A diferena entre os dois enfoques

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 36 a diferena entre o cu e a terra. Ento, quando algo nos sucede que no entendemos, a primeira coisa que devemos dizer a ns mesmos : Estou enfrentando este problema espiritualmente? Tenho presente que isto tem que ver com minha relao com Deus? Estou certo que meu pensamento espiritual neste ponto, ou tenho voltado inconscientemente minha maneira natural de pensar?

    Permitam-me dar uma ilustrao bvia. Com frequncia conheci a crentes que tm voltado completamente do pensamento espiritual ao racional quando falam de poltica. Neste tema no parecem falar j como pessoas espirituais. Todos os preconceitos do homem natural se manifestam, assim como os argumentos mundanos e as distines de classes. No poderamos deduzir de suas conversaes que so cristos. Se lhes falarmos da salvao no tero dvida alguma; mas se lhes falamos a respeito de coisas terrenas e mundanas, so culpados de todos os preconceitos do homem natural, o orgulho da vida e a forma mundana de enfocar todas as coisas. Como cristos somos ensinados a no amar o mundo com ''a concupiscncia da carne, a concupiscncia dos olhos e a soberba da vida". Nossas vidas devem ser consequentes. Devem ser consequentes em todos os seus pontos: no deve haver divergncias em lugar algum. O crente deve olhar a todas as coisas de um ponto de vista espiritual.

    Spurgeon disse uma vez a seus alunos que eles encontrariam pessoas que em reunies de orao oravam como verdadeiros santos, comportavam-se em geral como santos, mas que em reunies da Igreja, subitamente se convertiam em demnios. Infelizmente a histria da Igreja prova que a declarao de Spurgeon muito certa. Vemo-lo, pois quando oram a Deus pensam espiritualmente: logo entram nas atividades da Igreja e se convertem em demnios. Por que? A razo que comeam numa forma no espiritual: presumem que existe alguma diferena essencial entre uma reunio da Igreja e outra de orao. Tm em si um esprito sectrio e este se manifesta. Simplesmente se esquecem que em tudo devem pensar espiritualmente. O primeiro princpio que devemos

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 37 assentar, ento, que devemos aprender a pensar espiritualmente sempre. Se no o fazemos, logo nos encontraremos na mesma situao perigosa que o salmista descreve em forma to grfica.

    Isto me traz para o segundo princpio, que puramente prtico. Como devemos promover e animar o pensar espiritualmente? Evidentemente esta nossa grande necessidade. O salmista nos diz: "Em s refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; at que entrei no santurio de Deus e atinei com o fim deles". O que quer dizer? Permitam-me p-lo assim: devemos aprender como nos dirigir a ns mesmos e nossos pensamentos para esta esfera espiritual, e suficientemente claro ver como sucedeu no caso do salmista.

    Analisemos o processo psicolgico pelo qual passou. (De passagem, cabe mencionar que existe tal coisa como uma psicologia bblica e espiritual, embora no seja habitualmente chamada desta maneira). Como se concretizou em seu caso? Creio que sucedeu assim. Vimos que quando estava prestes a dizer o que no devia, pensou em seus irmos na f. Isto o levantou, endireitou-o e o manteve. Mas felizmente no ficou ali. "Devo considerar a mais crentes", disse. "Mas quem so eles? Onde os encontrarei? Sempre me encontro com eles no santurio". Ento se apressou para ir ali. Tinha estado ausente do santurio, como todos somos propensos quando experimentamos este tipo de problema. A dificuldade com este homem era que se havia embutido em seus pensamentos e dessa maneira entrou num crculo vicioso. Comeamos a pensar a respeito das coisas em forma introspectiva, tornar-nos-emos miserveis e infelizes e no desejamos ver ningum. No queremos mesclar-nos com o povo de Deus. Preocupamo-nos com nossos problemas, com os tempos difceis que experimentamos, com o sentimento de que Deus no justo conosco e que nos trata muito severamente. Somos miserveis e sentimos lstima por ns mesmos; assim andamos e seguimos dando voltas em crculos viciosos de autocompaixo. O "eu" sempre est no centro do problema.

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 38 A primeira coisa que devemos fazer ento, frear esta preocupao conosco mesmos, e deixar de dar voltas em crculos a nvel natural!

    Mas como se pode quebrar o crculo vicioso? Sugiro que h trs coisas principais aqui. Colocaria em primeiro lugar o que este homem d como prioridade: literalmente ir casa de Deus. Que maravilhoso lugar a casa de Deus! Com frequncia encontraremos libertao pelo simples fato de entrar ali. Muitas vezes agradeci a Deus por Sua casa. Dou graas a Deus que Ele estabeleceu que Seu povo se rena em grupos e adorem juntos. A casa de Deus me tem libertado das doenas comuns da alma milhares de vezes, simplesmente por entrar por suas portas. Como isto opera? Creio que assim. O simples fato de que haja uma casa de Deus a qual nos achegar, diz-nos algo. Como chegou a existir? Deus a planejou e ordenou. Ao nos darmos conta disso, por si s nos pe em condio mais saudvel. Logo percorremos a histria e nos lembramos de certas verdades. Aqui me encontro no presente com este terrvel problema, mas a Igreja Crist existiu durante longos anos. (J comeo a pensar de uma forma totalmente diferente). A casa de Deus se projeta rumo ao passado atravs dos sculos ao tempo de nosso mesmo Senhor. Para que? Que significado tem? J comeou a cura.

    Ao ir casa de Deus nos assombramos ao encontrar outros ali tambm. Surpreendemo-nos disso, pois em nossa misria e perplexidade pessoal tnhamos chegado concluso de que, talvez, no havia nada na religio, e que no valia a pena continuar ela. Mas, eis aqui, h aqueles que pensam que vale a pena seguir adiante, e nos sentimos melhor. Comeamos a nos dizer: Talvez esteja errado, todas estas pessoas creem que h algo nisso; pode ser que tenham razo. Assim prossegue o processo de cura e restaurao. Logo avanamos um passo mais. Olhamos congregao e subitamente encontramos a algum que conhecemos, que passou um perodo imensamente pior que o nosso. Cramos que nosso problema era o mais terrvel do mundo, e que ningum jamais tinha sofrido tanto como ns. Ento vemos uma mulher pobre, talvez uma viva, cujo nico filho faleceu. Mas ela permanece ali.

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 39 Isto coloca nosso problema imediatamente numa nova perspectiva. O grande apstolo Paulo tem algo que dizer quanto a isto, como para todas as demais coisas. Lembra-nos que "no vos sobreveio nenhuma tentao que no seja humana" (1Co. 10:13). aqui onde nos toma o diabo. Convence-nos de que ningum teve antes esta prova, ningum experimentou um problema como o nosso, e que ningum sofreu desta maneira. Mas diz Paulo: "No vos sobreveio tentao que no fosse humana; mas Deus fiel e no permitir que sejais tentados alm das vossas foras; pelo contrrio, juntamente com a tentao, vos prover livramento, de sorte que a possais suportar", e logo que se lembra disto se sentir melhor. Todo o povo de Deus conhece algo disto; somos criaturas estranhas e o pecado teve efeitos misteriosos sobre ns. Sempre encontramos consolo em nossos sofrimentos ao saber que outros tambm esto sofrendo! Isto certo sobre ns fisicamente como o espiritual-mente. O entender que no estamos sozinhos nos ajuda a colocar o problema em sua perspectiva real. Sou um entre muitos; algo que sucede ao povo de Deus e a casa de Deus nos lembra esta realidade.

    Logo nos lembra coisas que se projetam ainda mais para trs. Comeamos a estudar a histria da Igreja atravs dos sculos, e nos lembramos do que lemos alguns anos atrs, talvez algum relato da vida de algum dos santos. E comeamos a entender que alguns dos maiores santos que tenham adornado a vida da Igreja experimentaram provas, problemas e tribulaes que reduz a nossa a uma insignificncia. A casa de Deus, o santurio de Deus, lembra-nos tudo isso. Imediatamente comeamos a ascender; vamos para cima, localizamos nosso problema em seu devido contexto. A casa de Deus, o santurio de Deus nos ensina todas estas lies. Aqueles que so negligentes em assistir casa de Deus, no s desobedecem s Escrituras (digo-o em forma terminante) mas alm disso so nscios. Minha experincia no ministrio me ensinou que aqueles que so menos constantes em assistir casa de Deus, so os que tm mais problemas e perplexidades. H algo na atmosfera da casa de Deus. Est estabelecido que venhamos casa de Deus para nos

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 40 encontrar com Seu povo. seu mandato, no o nosso. Estabeleceu-o, no somente para que nos encontremos uns com os outros, mas sim alm para que o conheamos o melhor. Mais ainda, aqueles que no assistem casa de Deus se sentiro desiludidos algum dia, porque em alguma ocasio especial, o Senhor descer em avivamento e eles no estaro ali. O cristo que no assiste ao santurio de Deus com a maior frequncia possvel, muito nscio, sobretudo se no se entristece ao no poder faz-lo.

    A segunda coisa que nos ajuda a pensar espiritualmente a Bblia. Nos dias do salmista no possuam a Palavra de Deus como ns a temos hoje. No se acha s no santurio, mas sim est disponvel em todo lugar. Voltemos para ela no lar ou a igreja. No interessa onde, e imediatamente nos far pensar espiritualmente. feito de muitas maneiras. Uma das razes pelas quais Deus nos deu esta Palavra para nos ajudar a tratar este problema que estamos considerando. As histrias da Bblia por si s so de valor incalculvel, embora no contenham outra coisa. Tomemos um Salmo como este e sua histria. O simples fato de ler o que sucedeu a este homem nos faz bem, e todas as histrias fazem o mesmo. Mas esta a nica maneira em que Deus nos d Seu grande ensino. Comecemos a ler a Bblia e seus grandes ensinos e doutrinas e nos lembraro novamente os propsitos que Deus tem para o homem em Sua graa. De repente comearemos a nos envergonhar de nossos mpios pensamentos. Assim, de diversas maneiras, as Escrituras produzem o mesmo resultado.

    Logo, tem ensino explcito a respeito dos sofrimentos do homem justo. Paulo escreve a Timteo, que tinha uma tendncia a lamentar-se e queixar-se quando as coisas iam mal, e lhe diz: "E tambm todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus padecero perseguio" (1Tm. 3:12). Timteo no o podia entender. Estava temeroso porque viu que os servos de Deus eram perseguidos, e muitos servos de Deus sentiram o mesmo. Alm disso, Paulo, falando com as primeiras Igrejas crists lhes disse que "por muita tribulao" que devemos entrar no

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 41 Reino de Deus. Se entendssemos estes ensinos de Paulo no nos surpreenderamos das coisas que nos sucedem. Pelo contrrio, em vez de nos surpreender quase chegamos ao ponto de esperar que sucedam, e em pensar que se no temos problemas algo anda mal em nossa vida. Em outras palavras, toda a atmosfera da Bblia espiritual, e quanto mais a lemos, mais seremos libertos do nvel racional e elevados quele nvel superior onde vemos as coisas no plano espiritual.

    Acrescento uma palavra relacionada com a outra ajuda essencial: orao e meditao. Isto toma lugar no santurio de Deus. O salmista no foi simplesmente ao edifcio, foi encontrar se com Deus. O santurio o lugar onde habita a honra de Deus, o lugar de reunio de Deus e Seu povo. quando viemos a Deus face a face e meditamos a respeito dEle, que somos livrados finalmente daquele nvel inferior de pensamento racional e comeamos, de novo a pensar espiritualmente. Penso que pode haver algum que se surpreenda de que no tenha posto a orao em primeiro lugar ou que no a tenha mencionado antes. Estou certo que haver alguns, porque sempre h cristos que tm uma resposta universal a todas as perguntas. No interessa qual o problema, sempre dizem: "Ora a respeito do mesmo". Se um homem na condio do salmista tivesse vindo a algum deles, ele lhe teria dito: "Vai e ora a respeito do problema". Que conselho superficial, leve e falso pode chegar a ser este, e o digo de um plpito cristo. Pode ser que pergunte: por acaso errado dizer s pessoas que orem a respeito de seus problemas? No, nunca errneo, mas com frequncia intil. O que desejo assinalar o seguinte: O problema deste pobre homem, num sentido, era que estava to confundido em seu pensamento a respeito de Deus que no podia orar. Se tivermos pensamentos confusos em nossa mente e corao a respeito dos caminhos de Deus para conosco, como podemos orar? impossvel. Antes de podermos orar de verdade, devemos pensar espiritualmente. No h nada mais ftuo que falar levianamente a respeito da orao, como se orar fosse algo que podemos fazer sempre s pressas.

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 42 Em caso de algum duvidar de minha palavra farei referncia a um

    dos maiores homens de orao que o mundo conheceu. Refiro-me ao grande Jorge Mller de Bristol. Jorge Mller, expondo o tema da orao a ministros da Palavra, disse-lhes que por muitos anos a primeira coisa que fazia todas as manhs era orar. Fazia j tempo que tinha descoberto que este no era o melhor mtodo. Tinha encontrado que para orar de verdade e espiritualmente, devia estar no Esprito, e que devia preparar-se primeiro. Tinha descoberto que era bom e de grande ajuda, e assim o recomendava a eles, ler uma poro das Escrituras e, talvez, algum livro devocional antes de orar. Em outras palavras, tinha encontrado a necessidade de preparar a ele e a seu esprito, antes de poder orar verdadeiramente a Deus.

    Isto exatamente o que sucedeu ao salmista. Estava num crculo vicioso e no podia orar porque seu pensamento estava errado. Seguindo os passos que enumerei, seu pensamento foi corrigido e ento estava em condies de orar. Com frequncia esbanjamos nosso tempo pensando que estamos orando quando na realidade no o estamos fazendo. Muitas vezes uma espcie de grito de desespero. Nossa mente est fechada, tambm nossa atitude, e assim no podemos orar. Devemos tomar tempo para orar. Na realidade no comeamos a orar a Deus at que sentimos Sua presena, e no encontramos Sua presena at que nosso pensamento a respeito dEle seja o correto. Paulo disse aos filipenses: "Ns que somos a circunciso, ns que adoramos a Deus no Esprito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e no confiamos na carne" (Fp. 3:3). Devemos orar "no Esprito". Devemos estar preparados espiritualmente, e isto significa que nossos pensamentos devem ser corretos e verdadeiros. De modo que os passos so perfeitamente corretos: a casa de Deus; a Palavra de Deus; orao a Deus e comunho com Deus. Mas, tendo compreendido que todos aqueles pensamentos eram blasfemos e errneos, quando nosso esprito foi limpado e purificado, tornamo-nos a Deus, encontramo-nos com Ele e nosso esprito encontra descanso. Esse o processo, ou melhor dizendo, o comeo. No terminamos ainda, mas

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 43 tendo-nos firmado o processo continua. Em problemas, "at que entrando no santurio de Deus" nos encontramos face a face com Ele.

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 44 CAPTULO IV

    ENFRENTANDO TODOS OS ASPECTOS Vv. 16-17 (RC): Quando pensava em compreender isto, fiquei

    sobremodo perturbado; at que entrei no santurio de Deus; ento, entendi eu o fim deles.

    Agora devemos prosseguir, porque o processo de recuperao do

    salmista no finalizou com sua entrada ao santurio Esse passo vital, e novamente devo enfatiz-lo, mas no suficiente. O salmista foi ao santurio de Deus e somente isto ps seu modo de pensar num ambiente propcio. Mas seguiu mais adiante. O que lhe sucedeu no santurio? Diz-nos: "Em s refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; at que entrei no santurio de Deus e atinei com o fim deles".

    A primeira palavra que devemos tratar "compreender". Temos aqui outro dos maiores fundamentos de nossa f que pode ser facilmente esquecido. O que encontramos no santurio de Deus no somente uma influncia geral, no meramente um ambiente propcio. Quando este homem foi ao santurio de Deus, foi-lhe dado entendimento. No s se sentiu melhor; seu pensamento foi posto em ordem. No deixou de lado seu problema por um tempo, mas sim encontrou a soluo.

    Desejaria expor isto clara e simplesmente, pois um ponto muito importante. A religio no deveria agir em ns como as drogas. H pessoas em cujos casos a religio age como tal. Podia parecer terrvel dizer isto, mas se tiver que ser honesto, tenho que diz-lo. Com frequncia, talvez com muita frequncia, h um justificativo para dizer que a religio no mais que "o pio dos povos". Para muitas pessoas estar dopado e nada mais, e s pensam que a casa de Deus um lugar onde podem esquecer por um momento seus problemas. por esta razo que demonstram interesse no aspecto esttico: um lindo ritual num belo ambiente. No lhes interessa a exposio da Verdade; da sua preferncia por sermes curtos. Somente se interessam num efeito sedativo general,

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 45 e enquanto esto no culto se esquecem de seus problemas. Dizem: "Que lindo! Que belo!" Esta no a religio da Bblia. "Entendi eu o fim deles" [Sl 73:17, RC]. O que sucedeu com o salmista, no foi simplesmente ir ao Templo igreja, por assim dizer a escutar a toada de uma bela msica executada em rgo, ou contemplar os "vitrais" ou ver a bela iluminao e logo gradualmente sentir-se um pouco melhor e no momento esquecer suas tristezas. No foi algo racional "entendi eu o fim deles" foi chegar a uma compreenso.

    A verdadeira religio no significa produzir um efeito de bem-estar geral. A Bblia a revelao dos caminhos de Deus com relao ao homem. Pela mesma deveramos "compreender". Se a prtica de nossa religio no nos d entendimento, ento algo que nos pode danificar e estaramos melhor sem ela. Estou certo que no preciso enfatizar muito este ponto to vital. H muitas coisas que podemos fazer com que nos fariam sentir melhor por um tempo. H muitas maneiras de nos esquecermos, por um momento, de nossos problemas. Alguns vo ao cinema, outro vo ao bar ou garrafa de usque que guardam em sua casa. Sob seu efeito e influncia se sentem melhor e mais contentes; seus problemas no parecem to agudos. Outros correm aos cultos, tal como a Cincia Crist, que um lixo filosfico, mas que com frequncia faz as pessoas sentir-se melhor. H muitas maneiras de ter alvio momentneo, mas a pergunta : D-nos entendimento? Ajuda-nos realmente a compreender nosso problema?

    Agora, este falso conforto, pode tambm sentir-se na casa de Deus. H algumas pessoas que pensam que o correto na casa de Deus somente cantar coros ou certa classe de hinos que levam a ponto de intoxicao. Realmente todo o servio est feito com tal fim. A pessoa chega a sentir uma influncia emotiva e se sente melhor. O mundo faz isto. Faz cantar canes cmicas, com as quais evidentemente, embora por um momento, sentem-se melhor. Tudo isto pode ser do diabo, e a prova est em ver se s nos faz sentir bem, ou nos faz "compreender". "Entendi" foi a experincia do salmista.

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 46 Procuremos no esquecer nunca que, em primeiro lugar, a

    mensagem da Bblia est dirigido mente, ao entendimento. No h coisa mais gratificante no evangelho que isto. No somente me proporciona uma experincia, mas sim me permite entender a vida. Tenho conhecimento; tenho entendimento. Sei. Posso "dar razo" da esperana que est em mim. No s digo: "Tendo sido cego, agora vejo", sem saber por que; posso dar razo da esperana que h em mim. Graas a Deus que o salmista foi ao santurio de Deus e encontrou uma explicao. No recebeu um consolo temporrio; no era como uma injeo que s vezes dada para mitigar a dor momentaneamente, nem tampouco um tratamento que no afetaria o problema em si e que ao passar o efeito do mesmo estaria como antes. Nada disso. Tendo comeado a pensar corretamente no Templo de Deus, foi Sua casa e seguiu pensando corretamente. E finalizou produzindo este Salmo!

    Entendimento! Sabes em quem creste? Ests interessado em doutrina crist? Qual teu desejo primordial? simplesmente te sentir feliz ou saber a verdade? uma das perguntas mais penetrantes que se pode fazer aos crentes. No permita Deus que ns s busquemos entretenimento e que nossos servios religiosos s provejam isto. Falo deliberadamente, porque este perigo existe. Uma vez tive que falar numa famosa Conferncia Bblica. Estive ali quatro dias e cada culto foi apresentado com quarenta minutos de msica de vrios tipos. Em toda a conferncia no escutei a leitura das Escrituras. Meu amigo teve uma experincia similar numa famosa igreja de outro continente. manh, um nmero de pessoas foram dedicadas obra Missionria e logo se celebrou a Santa Ceia. Houve dois hinos cantados pelo coro, trs solos e uma orao muito breve. No se leu as Escrituras absolutamente. Essa igreja reconhecida como uma igreja evanglica. No se obtm entendimento desta maneira, com entretenimento musical, e sacrificando a leitura e a exposio da Palavra. Esta uma pardia do ensino bblico a respeito da Igreja. "Entendi". porque no entendem que muitos sempre

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 47 esto queixando-se e resmungando; e por esta razo que muitos no tm um verdadeiro entendimento dos tempos em que vivemos.

    Muito bem, este foi o primeiro efeito que o ir ao santurio causou ao salmista. Deu-lhe entendimento, firmou-lhe os ps. Entretanto, temos que seguir adiante. Como foi dado entendimento? A resposta que o que lhe sucedeu no santurio ensinou-lhe a pensar corretamente. Em outras palavras, no s nosso raciocinar deve ser corrigido e posto em seu lugar, no s deve ser espiritual e no racional, tem que haver tambm uma correo at nos detalhes. Isto o que sucedeu com o salmista.

    Dividamo-lo desta maneira. Primeiro nos diz que certos defeitos gerais em seu pensar foram corrigidos e logo nos diz que certos aspectos de seu pensar foram corrigidos em detalhe. No momento s nos ocuparemos do geral. Aqui o necessrio que nosso pensar seja ntegro e no parcial. Sua queda foi detida, mas ainda estava descontente. Estava numa agonia mental quando foi ao santurio de Deus. Logo: "Entendi eu o fim deles". Aqui est o que ele tinha esquecido! Descobriu que seu modo de pensar era incompleto.

    Penso, em ltima anlise, que um dos problemas centrais que nosso modo de pensar tende a ser parcial e incompleto. Conhecemos estas linhas de Matthew Arnold: "Enfocou a vida com estabilidade e em sua totalidade". difcil elogiar melhor a um homem que dizer que enfocou a vida com estabilidade e a viu em sua totalidade. Creio que foi o Conde de Oxford e Asquith quem uma vez disse que o maior dom que o homem poderia ter era a capacidade que ele chamou "pensamento cbico", ou seja a habilidade de analisar um tema por todos os seus lados. A verdade como um cubo, e temos que olh-la em todas as suas facetas. Se nos analisamos, creio que encontraremos que aqui onde falhamos. Tomemos, por exemplo, o salmista,. Evidentemente esta era a raiz de todos os seus problemas. Ele estava olhando s de um lado; no via outra coisa, e isto o sujeitou e o apanhou.

  • A F Posta Prova (Salmo 73) Lloyd-Jones 48 O que lhe sucedeu quando foi ao Santurio de Deus? Comeou a

    ver as outras facetas. Comeou a v