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  • TCNICAS CONSTRUTIVAS EM ALVENARIA ESTRUTURAL: CONTRIBUIO AO USO

    por

    MARCUS DANIEL FRIEDERICH DOS SANTOS

    Dissertao apresentada ao curso de Ps-Graduao em Engenharia Civil da

    Universidade Federal de Santa Maria (RS), como requisito parcial para a obteno do grau de MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL.

    Santa Maria, RS Brasil

    1998

  • ii

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

    CURSO DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

    A COMISSO EXAMINADORA, ABAIXO ASSINADA, APROVA A DISSERTAO

    TCNICAS CONSTRUTIVAS EM ALVENARIA ESTRUTURAL: CONTRIBUIO AO USO

    ELABORADA POR

    MARCUS DANIEL FRIEDERICH DOS SANTOS

    COMO REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENO DO GRAU DE MESTRE EM ENGEHARIA CIVIL

    COMISSO EXAMINADORA:

    ___________________________________________

    Prof. M.Sc. Odilon Pancaro Cavalheiro Orientador

    ___________________________________________

    Dr. Nelson dos Santos Gomes

    ___________________________________________

    Dr. Ronaldo Bastos Duarte

    Santa Maria, 11 de setembro de 1998.

  • iii

    DEDICO

    Deus, pela plenitude da vida.

    Aos meus Pais Honorino e Maria Reni e meus irmos

    pelo contnuo apoio, f e esperana.

    minha noiva Mrcia, pelo apoio, compreenso, pacincia e carinho.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Ao professor Odilon Pancaro Cavalheiro pela amizade, orientao, dedicao

    e incentivo na realizao deste trabalho.

    Aos colegas do Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento em Alvenaria

    Estrutural: Gilson Marafiga Pedroso, Lus Eduardo Azevedo Modler, Tatiana Cureau

    Cervo e Juliana Paula Braggio pelo permanente incentivo.

    Aos grandes amigos Marco Antonio Pozzobon e Rodrigo Roderico Pereira

    dos Santos que, com dedicao e empenho pessoal possibilitaram a elaborao deste

    trabalho.

    Aos professores Jos Mrio Doleys Soares (Diretor do Laboratrio de Materiais de Construo Civil) e Joaquim Pizzutti dos Santos (Coordenador do Curso de Ps-Graduao) pelas importantes colaboraes.

    Aos fabricantes de blocos estruturais que me auxiliaram indicando seus

    clientes e, desta forma, possibilitaram o levantamento de dados almejado.

    s vinte e uma construtoras visitadas, pelo incentivo a este trabalho e a oportunidade que me proporcionaram pela obteno de to valiosos dados.

    s instituies CAPES e FAPERGS; s empresas Cermica CANDELRIA e Construtora GAMMA, que permitiram a viabilizao deste trabalho, atravs do

    apoio financeiro.

    muitas outras pessoas, que contriburam de alguma forma, sou imensamente grato. Agradeo a todos por participarem desta importante etapa de

    minha vida.

  • v

    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS ............................................................................................. IV

    LISTA DE FIGURAS ............................................................................................ VIII

    LISTA DE TABELAS ............................................................................................. XI

    LISTA DE ANEXOS .............................................................................................. XII

    RESUMO ................................................................................................................ XIII

    ABSTRACT ............................................................................................................ XIV

    1. INTRODUO ...................................................................................................... 1

    1.1 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA .............................................................................................. 1

    1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................................ 5

    1.2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................. 5

    1.2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ............................................................................................... 5

    1.3 HIPTESES GERAL E DE TRABALHO .................................................................................. 6

    1.3.1 HIPTESE GERAL ............................................................................................................. 6

    1.3.2 HIPTESES DE TRABALHO ............................................................................................. 6

    1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................................. 6

    1.5 DEFINIO DA ABRANGNCIA DA PESQUISA.................................................................. 8

    2. REVISO BIBLIOGRFICA .............................................................................. 9

    2.1 BREVE HISTRICO .................................................................................................................. 9

    2.2 CONSIDERAES INICIAIS .................................................................................................. 11

    2.3 CONCEPO DO PROJETO .................................................................................................. 14

    2.4 CONCEITOS BSICOS ........................................................................................................... 15

  • vi

    3. METODOLOGIA ................................................................................................ 24

    3.1 CONSIDERAES INICIAIS .................................................................................................. 24

    3.2 LEVANTAMENTO DAS TCNICAS CONSTRUTIVAS ...................................................... 24

    3.3 ENSAIOS COMPLEMENTARES ............................................................................................ 29

    4. RESULTADOS E COMENTRIOS DO QUESTIONRIO APLICADO ... 30

    4.1 FUNDAES ........................................................................................................................... 30

    4.2 ALVENARIA ............................................................................................................................ 32

    4.2.1 BLOCO: TIPOLOGIA E USO ........................................................................................... 32

    4.2.2 TRANSPORTE DOS BLOCOS ......................................................................................... 36

    4.2.3 CUIDADOS COM OS BLOCOS ANTES, DURANTE E APS O ASSENTAMENTO ....... 37

    4.2.4 PROJETOS DE EXECUO DA ALVENARIA ................................................................ 39

    4.2.5 AMARRAES DAS PAREDES ...................................................................................... 42

    4.2.6 TIPOS E CARACTERSTICAS DA ARGAMASSA DE ASSENTAMENTO ................... 45

    4.2.7 MISTURA, TRANSPORTE E ARMAZENAGEM DA ARGAMASSA ................................. 50

    4.2.8 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA ELEVAO DAS PAREDES ................................ 54

    4.2.9 EXECUO DA PRIMEIRA FIADA ................................................................................ 56

    4.2.10 JUNTA DE ARGAMASSA ................................................................................................ 58

    4.2.11 GRAUTE .......................................................................................................................... 63

    4.3 ABERTURAS ........................................................................................................................... 67

    4.3.1 JANELAS ........................................................................................................................... 67

    4.3.2 PORTAS ............................................................................................................................. 71

    4.4 INSTALAES ELTRICAS ................................................................................................. 75

    4.5 INSTALAES HIDRULICAS ............................................................................................ 79

    4.5.1 PAREDES HIDRULICAS ................................................................................................ 79

    4.5.2 SHAFTS VERTICAIS ........................................................................................................ 80

    4.5.3 TUBULAES NO INTERIOR DE PAREDES ESTRUTURAIS ....................................... 81

    4.5.4 ENCHIMENTO COM ARGAMASSA E/OU TIJOLOS DE VEDAO ............................ 82

    4.6 ESCADAS ................................................................................................................................ 83

  • vii

    4.7 LAJES ....................................................................................................................................... 86

    4.8 REVESTIMENTOS DAS PAREDES ...................................................................................... 88

    4.8.1 REVESTIMENTOS INTERNOS ........................................................................................ 89

    4.8.2 REVESTIMENTOS EXTERNOS ....................................................................................... 91

    5. ENSAIOS COMPLEMENTARES ..................................................................... 93

    5.1 ENSAIOS DE ESTANQUEIDADE GUA EM PAREDES ................................................. 93

    5.1.1 CAPILARIDADE EM PAREDES....................................................................................... 94

    5.1.2 DESCRIO DO ENSAIO DE ESTANQUEIDADE ......................................................... 96

    5.1.3 TIPOLOGIA DAS PAREDES ENSAIADAS ....................................................................... 98

    5.1.4 RESULTADOS ................................................................................................................. 100

    5.2 ENSAIOS ACSTICOS.......................................................................................................... 104

    5.2.1 CONCEITOS BSICOS ................................................................................................... 104

    5.2.2 ISOLAMENTO ACSTICO ............................................................................................ 106

    5.2.3 DESCRIO DO ENSAIO DE ISOLAO .................................................................... 109

    5.2.4 RESULTADOS ................................................................................................................. 110

    5.3 RESISTNCIA DA ARGAMASSA EM FUNO DO TEMPO .......................................... 111

    6. CONCLUSES E RECOMENDAES ........................................................ 114

    6.1 CONCLUSES ....................................................................................................................... 114

    6.2 RECOMENDAES .............................................................................................................. 119

    6.2.1 RECOMENDAES PARA OBRAS EM ALVENARIA ESTRUTURAL .......................... 119

    6.2.2 RECOMENDAES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................... 121

  • viii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Tipo de bloco utilizado. 32

    Figura 2 Blocos estruturais de concreto (a) e de cermica (b). 34 Figura 3 Parede sem compensador sendo completada a modulao com graute (a)

    e parede com compensador (b). 35 Figura 4 Carrinho com rodas pneumticas, adequado para transporte horizontal

    de blocos. 37

    Figura 5 Blocos armazenados na obra sobre estrados de madeira e protegidos, da

    ao direta de intempries, com lona plstica. 37

    Figura 6 Cabina mvel para armazenar plantas e outros objetos no andar de execuo da alvenaria. 42

    Figura 7 Elementos metlicos utilizados nos encontros de paredes com junta a prumo. 44

    Figura 8 Tipos de argamassa de assentamento encontrados. 45

    Figura 9 Placa de identificao dos traos de argamassa, graute e concreto. 47 Figura 10 Resistncia compresso da argamassa para diferentes alturas de

    prdios. 50

    Figura 11 Misturador de argamassa industrializada com eixo horizontal

    localizado prximo alvenaria em execuo. 51

    Figura 12 Local com grandes dimenses para depsito de argamassa de

    assentamento. 52

    Figura 13 Estruturas de colocao da caixa de argamassa para execuo da

    alvenaria. 53

    Figura 14 Recipientes, retangular (a) e/ou circular (b), para depsito de argamassa de assentamento. 54

    Figura 15 Escantilho usado em obras de alvenaria estrutural. 55

    Figura 16 Rgua metlica com bolhas utilizada para verificao do nvel, do prumo (a) e da planicidade (b) da alvenaria. 57

  • ix

    Figura 17 Juntas de argamassa horizontais (longitudinais e transversais) e verticais. 59

    Figura 18 Palheta utilizada para o assentamento de blocos. 60

    Figura 19 Relao entre as resistncias do bloco e do graute. 64

    Figura 20 Frma utilizada para facilitar a colocao do graute no interior dos vazados dos blocos. 65

    Figura 21 Cuidado especial (papel) para retirada do excesso de argamassa do interior dos vazados dos blocos a serem grauteados. 67

    Figura 22 Contra-marco de argamassa armada. 69

    Figura 23 Execuo do vo previsto para colocao do aparelho de ar

    condicionado. 74

    Figura 24 Obras com projeto eltrico mostrado nas elevaes. 75 Figura 25 Passagem de tubulao eltrica sem adequada integrao de projetos.

    76

    Figura 26 Local para o quadro de disjuntores, no previsto durante a fase de execuo da alvenaria (a) e previsto (b). 78

    Figura 27 Tubulaes hidrulicas externas s paredes estruturais. 82

    Figura 28 Quebras em blocos para fixao do patamar da escada s paredes. 84 Figura 29 Peas de escada pr-moldada. 84

    Figura 30 Escada industrializada, em pea nica. 85

    Figura 31 Cuidado especial adotado em laje de cobertura. 88 Figura 32 Revestimento interno em gesso, aplicado diretamente sobre o bloco. 89

    Figura 33 (a) Tipologia das paredes, (b) fixao da cmara s paredes com a respectiva bureta e, (c) detalhe da localizao da cmara na parede. 97

    Figura 34 Disposio das juntas de argamassa nas paredes dos blocos, representando as situaes do ensaio de estanqueidade. 99

    Figura 35 Permeabilidade em paredes de blocos estruturais de concreto com

    revestimento em uma das faces. 101 Figura 36 Permeabilidade em paredes de blocos estruturais cermicos com

    revestimento em uma das faces. 101 Figura 37 Permeabilidade em paredes de blocos estruturais de concreto com

    revestimento nas duas faces. 103

  • x

    Figura 38 Permeabilidade em paredes de blocos estruturais cermicos com

    revestimento nas duas faces. 103 Figura 39 Reflexo, dissipao e transmisso do som em uma parede. 107

    Figura 40 Espectro de freqncia para os valores de isolao acstica (dB). 110 Figura 41 Decrscimo de resistncia da argamassa com moldagem retardada. 113

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 Relao das construtoras visitadas e o nmero de prdios de

    cada canteiro de obras. ...........................................................

    24

    TABELA 2 Tipos de fundaes utilizadas nas obras de alvenaria estrutural pesquisadas. .................................................................

    29

    TABELA 3 Nmero de tipos de peas utilizadas para a construo de

    prdios em alvenaria estrutural. ...................................................

    32

    TABELA 4 Perodos de realizao de testes de resistncia compresso em

    argamassas. ................................................................................

    47

    TABELA 5 Resistncia compresso de prismas em dois blocos, com e sem

    preenchimento das juntas transversais. ........................................

    76

    TABELA 6 Tipos de lajes, com as respectivas faixas de espessuras (sem contar o revestimento). .................................................................

    86

    TABELA 7 Tipos de acabamento das peas frias. .......................................... 90 TABELA 8 ndice de reduo acstica em funo da massa da parede. ......... 107 TABELA 9 Condies das paredes ensaiadas acusticamente. ......................... 109

    TABELA 10 Comparao dos resultados obtidos nos ensaios com os

    calculados pela Lei das Massas. ............................................

    110

    TABELA 11 Caractersticas dos materiais utilizados para composio do

    trao da argamassa de assentamento. ........................................

    111

    TABELA 12 Resistncia compresso da argamassa, com moldagem

    retardada. ..................................................................................

    111

  • xii

    LISTA DE ANEXOS

    ANEXO I Questionrio aplicado nas obras........................................................ 130

    ANEXO II Planilhas com os resultados dos ensaios de permeabilidade

    gua..............................................................................................

    138

    ANEXO III Planilhas de resultados dos ensaios acsticos................................. 140

  • xiii

    RESUMO

    TCNICAS CONSTRUTIVAS EM ALVENARIA ESTRUTURAL: CONTRIBUIO AO USO

    Autor: Marcus Daniel Friederich dos Santos

    Orientador: Odilon Pancaro Cavalheiro

    A alvenaria estrutural, quando bem utilizada, minimiza ndices de desperdcio e, por este motivo, nos ltimos anos, vem crescendo o interesse e aplicao da mesma por parte das construtoras. Mesmo sem o total domnio da tecnologia, essas construtoras esto visualizando, neste sistema, uma alternativa muito competitiva para a construo de habitaes. Nesse sentido, o presente trabalho procura obter um quadro geral de como a alvenaria estrutural esta sendo empregada em obras de trs estados do Brasil. Para realizar o levantamento de dados em relao s principais tcnicas construtivas que esto sendo utilizadas na alvenaria estrutural, foi elaborado um questionrio constitudo de 150 perguntas, que aborda as etapas de fundaes, alvenaria, aberturas, tubulaes eltricas e hidrulicas, escadas, lajes e revestimentos das obras investigadas. A pesquisa foi realizada em vinte e oito canteiros de obras que totalizavam 403 prdios previstos, utilizando o sistema de alvenaria estrutural. Para a anlise crtica das tcnicas construtivas identificadas, alm de referncias bibliogrficas, foram consultados tambm engenheiros especialistas na rea, bem como resultados de ensaios laboratoriais. J para verificar tendncias de comportamento com relao a situaes particulares da alvenaria, frente a aes do som e da gua, foram realizados ensaios acsticos e de estanqueidade. A partir dos resultados, concluiu-se que, nas obras pesquisadas, de uma maneira geral, o sistema de alvenaria estrutural est sendo explorado em apenas parte do seu potencial.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CURSO DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL Dissertao de Mestrado em Engenharia Civil Santa Maria, 11 de setembro de 1998

  • xiv

    ABSTRACT

    STRUCTURAL MASONRY BUILDING TECHNIQUES: CONTRIBUTION TO THE USE

    Author: Marcus Daniel Friederich dos Santos

    Advisor: Odilon Pancaro Cavalheiro

    The interest of builders in application of structural masonry has been growing

    in the last years due to the technology cost effectiveness and minimization of wastes.

    In spite of the incomplete scope of the construction technology, this system has been

    looked upon by builders as a competitive alternative for residential buildings.

    Keeping this in mind, the present study is aimed at obtaining a general picture of the

    structural masonry applications. The main building techniques were identified based

    on a survey consisting of 150 questions, which covered stages of construction of the

    foundation, masonry, openings, electric and hydraulic tubulations, stairs, slabs, and

    revetments. 28 building sites in three Brazilian states were investigated amounting to

    a total of 403 examined buildings in which the structural masonry system was used.

    The collected data of the used construction techniques were critically analyzed basing

    on bibliographical references, on expert opinions of practical engineers in the field,

    as well as on results of laboratory testing reports. To verify behavior tendencies in

    relation to particular masonry situations related to sound and water impacts, acoustic

    and water stagnating tests were made. It was concluded that, in general, the potential

    of the structural masonry system is being just partially utilized in the studied buildings.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CURSO DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL Civil Engineering Master Dissertation Santa Maria, September 11th, 1998.

  • CAPTULO I

    1. INTRODUO

    1.1 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

    Apesar de todo o progresso conquistado para propiciar maior conforto ao

    homem, ainda o problema da habitao um desafio difcil e permanente. As

    elevadas taxas de crescimento demogrfico, aliadas aos pequenos ndices de renda da

    populao, apresentam-se como fatores agravantes deste desafio.

    O problema social aumenta, principalmente, medida em que nos grandes

    centros as correntes migratrias se intensificam. O migrante, procurando melhores

    condies de vida, muda-se para as cidades, onde ter um local para morar de

    fundamental importncia.

    A indstria da construo civil se destaca como uma das mais importantes

    em todos os pases, pois a mesma contribui no Produto Interno Bruto (PIB) com cerca de 6 a 12% do total mundial e ainda emprega cerca de 10% da populao

    economicamente ativa (MESEGUER, 1983).

    No Brasil, segundo ROSCOE (1998), a construo civil, isoladamente, tem uma participao de 9,3% no PIB, respondendo por 4,4 milhes de empregos na

    economia formal. Estes nmeros representam mais de 6,5% da populao

    economicamente ativa e alm disso, possuem importncia estratgica no

    desenvolvimento da nao, pois gera a infra-estrutura fsica para o funcionamento de

    outros setores (FRANCO, 1992) e (PICCHI, 1993).

    GONALVES (1997) comenta que mesmo com esta grande influncia sobre a economia brasileira h, atualmente, um dficit habitacional de aproximadamente

  • 2

    cinco milhes de moradias. Ano aps ano, ele agravado pela ausncia de polticas

    habitacionais que venham a implementar uma soluo vivel para suprir as

    necessidades do pas (ALY & SABBATINI, 1994).

    Alm disso, outra caracterstica marcante da indstria da construo civil no

    Brasil o desperdcio de insumos que, segundo PICCHI (1993), est em torno de 30% em relao ao custo total das edificaes, considerando o volume de entulho

    retirado, bem como o entulho que incorporado no prprio processo construtivo, em

    funo da necessidade de correes de problemas de nveis, prumos, etc.

    Este um dos fatores pelos quais se busca novas tecnologias, pois acredita-se

    que incorporadas a elas estaro melhores condies de controle da obra. Outro fator

    de peso para estas mudanas a prpria demanda de um maior nmero de

    habitaes. Sendo assim, as novas tcnicas apresentam tambm maiores chances de

    incrementar a produtividade da mo-de-obra.

    As tcnicas construtivas utilizadas atualmente pelas empresas de construo

    civil, no que se refere construo de edifcios, alm de apresentarem alto custo,

    nem sempre determinam desempenho satisfatrio das edificaes em utilizao, no

    propiciando muitas vezes, a satisfao do usurio. Diversos fatores contribuem para o

    crescimento constante deste problema, entre os quais merecem destaque: aplicaes

    inadequadas de materiais de construo, ausncia de mo-de-obra qualificada e de

    diretrizes construtivas e, alto ndice de desperdcios.

    Neste sentido, conforme ALY (1987), vrios processos construtivos foram importados e aplicados diretamente na construo de conjuntos habitacionais, sem a realizao prvia de estudos que os adequassem aos materiais, mo de obra e ao

    clima do pas. Esta prtica teve por conseqncia o aparecimento de inmeros

    problemas patolgicos nas edificaes, que poderiam ter sido minimizados, ou at

    mesmo evitados, caso os estudos tivessem sido realizados.

  • 3

    A racionalizao construtiva o caminho para a soluo dos resultados

    insatisfatrios obtidos pelas empresas de construo civil, tornando-as mais

    competitivas no mercado. Para isso, faz-se necessrio o conhecimento das

    tecnologias de produo envolvidas nos processos construtivos dos edifcios para que

    se consiga diminuir custos e aumentar a qualidade.

    Na busca de eficincia e produtividade foram tentadas, nos ltimos anos,

    muitas solues. Dentre as poucas experincias de sucesso destacam-se os processos

    em alvenaria estrutural, os quais se tornaram predominantes na construo

    habitacional de interesse social (FRANCO, 1992).

    Segundo FRANCO (1992), a alvenaria estrutural, por sua simplicidade, permite uma imediata diminuio de custos e facilita as operaes de execuo do

    edifcio. Alm disso, a utilizao desse sistema construtivo leva reduo dos

    investimentos fixos, como a compra ou aluguel de equipamentos, o que permite uma

    maior flexibilidade quanto a definio de cronogramas e fluxos de caixa,

    caractersticas essenciais para os investimentos. Na maioria dos casos ainda no foi

    explorado todo o potencial deste sistema construtivo em nosso pas, tanto no que diz

    respeito capacidade estrutural da alvenaria, quanto racionalizao do mesmo.

    Esse sistema construtivo parece ser ideal para a realidade brasileira, pois

    necessita de mo-de-obra de fcil aprendizado, possui elevado potencial de

    racionalizao e no exige grandes investimentos e imobilizao de capital para a

    aquisio de equipamentos.

    A grande vantagem que a alvenaria estrutural apresenta a possibilidade de

    incorporar facilmente os conceitos de racionalizao, produtividade e qualidade,

    produzindo, ainda, construes com bom desempenho tecnolgico aliado a baixos

    custos (ARAJO, 1995).

    A alvenaria estrutural emprega, em geral, paredes de blocos modulados como

    elementos resistentes, apresentando uma srie de aspectos tcnico-econmicos que a

  • 4

    destaca em relao aos mtodos tradicionais de construir. A principal vantagem

    reside no grande potencial de racionalizao de todas as etapas de construo, atravs

    da otimizao do uso de recursos temporais, materiais e humanos.

    A alvenaria estrutural no armada , possivelmente, entre os mtodos

    construtivos na rea habitacional, o que permite as construes a menores custos

    (FRANCO, 1987). Observa-se portanto a importncia do tema, uma vez que, se a alvenaria estrutural proporciona menores custos, trabalhar com melhores condies,

    objetivando maior produtividade com qualidade, implicar em grandes vantagens ao setor.

    A alvenaria estrutural de blocos, no Brasil, necessita de uma reviso com

    objetivos voltados racionalizao e maior produtividade da mo-de-obra. O desenvolvimento de pesquisas no campo tecnolgico da produo de blocos

    estruturais, como tambm o desenvolvimento e acompanhamento de metodologias

    para a execuo de obras , sem dvida, o caminho para o avano tecnolgico deste

    sistema (MEDEIROS, 1993).

    A utilizao de novas tecnologias que trazem reduo no consumo de mo-de-

    obra, menor desperdcio de materiais e melhores condies de trabalho deve ser

    convenientemente estudada. Mas sabe-se que para o maior aproveitamento de todas

    as condies que a alvenaria estrutural pode oferecer, deve-se promover uma

    conscientizao do meio tcnico. No Brasil, alguns centros de pesquisa vm

    trabalhando nessa rea.

    Diante das grandes vantagens encontradas, em especial aquelas de origem

    econmica, cada vez maior o interesse pelo sistema construtivo de alvenaria

    estrutural. Mesmo sem o total domnio da tecnologia necessria, condio essencial

    ao sucesso de qualquer sistema construtivo, as iniciativas privada e estatal vm, ao

    longo das ltimas dcadas, descobrindo na alvenaria estrutural uma alternativa muito

    competitiva para a construo de habitaes, principalmente quando comparada ao

  • 5

    sistema tradicional de construo (estrutura reticular de concreto armado e vedaes em alvenaria).

    A alvenaria estrutural passou ento a ser empregada correntemente, sem que

    se dispusesse de normalizao adequada e mtodos eficientes com vistas ao controle

    da qualidade do processo e dos produtos envolvidos. A falta de mecanismos como

    estes, frutos de pesquisas de desenvolvimento tecnolgico adequadas s nossas

    condies, tem gerado patologias em algumas obras de alvenaria estrutural.

    Por tudo isto, importante ter-se uma viso abrangente de como est sendo

    empregada a alvenaria estrutural no pas, atualmente.

    1.2 OBJETIVOS

    1.2.1 OBJETIVO GERAL

    Como objetivo geral deste estudo, pretende-se realizar um levantamento de tcnicas construtivas utilizadas em obras de alvenaria estrutural, em trs estados do

    Brasil, visando contribuir para o seu desenvolvimento tecnolgico.

    1.2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Em termos de objetivos mais especficos, procura-se:

    realizar um levantamento de tcnicas construtivas aplicadas em obras de

    alvenaria estrutural no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e So Paulo;

    obter um quadro geral de como as obras de alvenaria estrutural esto

    sendo executadas;

    realizar uma anlise crtica das principais tcnicas construtivas

    observadas;

  • 6

    executar alguns ensaios para obter tendncias de comportamento da

    alvenaria em situaes onde os dados, hoje disponveis, so escassos ou mesmo inexistentes.

    1.3 HIPTESES GERAL E DE TRABALHO

    1.3.1 HIPTESE GERAL

    Como hiptese geral para o desenvolvimento desta investigao, considera-se

    que as tcnicas construtivas utilizadas em obras de alvenaria estrutural obedecem

    critrios de padronizao, qualidade e economia.

    1.3.2 HIPTESES DE TRABALHO

    As hipteses de trabalho a serem consideradas so, basicamente:

    uma tcnica construtiva determinada na fase do projeto;

    podem existir fatores perceptveis que identificam a tcnica mais

    econmica a ser aplicada sem prejuzo da qualidade;

    a implantao de novas tcnicas construtivas confronta-se com a

    resistncia, por parte dos operrios, empresrios e rgos financiadores,

    em substituir as tcnicas j difundidas no setor pelas inovaes;

    a alvenaria estrutural apresenta condies favorveis para a racionalizao

    das tcnicas construtivas.

    1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

    Para atender aos objetivos propostos, o trabalho foi organizado em seis captulos, sendo completado pelos anexos. Como pode ser observado, o presente

    Captulo I, alm da exposio dos objetivos, hipteses, estruturao do trabalho e

  • 7

    abrangncia, compreende tambm incluso da pesquisa dentro do contexto da

    construo civil no Brasil. Apresenta-se a necessidade do desenvolvimento da

    alvenaria estrutural como uma alternativa para as construes habitacionais.

    J no Captulo II, so comentados conceitos de industrializao,

    racionalizao e construtibilidade, pois estes tm ntima ligao com as tcnicas

    construtivas a serem estudadas, bem como conceitos bsicos da alvenaria estrutural.

    Nesse captulo realiza-se, tambm, uma breve reviso bibliogrfica sobre a alvenaria

    estrutural.

    A metodologia utilizada para a aquisio das informaes sobre as tcnicas

    construtivas adotadas nas obras descrita no Captulo III, no qual feita uma

    explanao sobre a forma de coleta dos dados, especificaes importantes e

    comentrios sobre o levantamento dos dados.

    No Captulo IV encontram-se os resultados obtidos no questionrio bem como

    a anlise crtica das principais tcnicas construtivas observadas nos canteiros de

    obras visitados.

    J no Captulo V so relatados ensaios acsticos e de estanqueidade,

    realizados em paredes, bem como ensaios de resistncia compresso de argamassa

    em condio adversa de utilizao.

    No Captulo VI apresentam-se as concluses e comentrios das principais

    tcnicas construtivas e, ainda, recomendaes gerais para construes de alvenaria

    estrutural e para trabalhos futuros de pesquisa.

    Finalmente, em anexo, encontram-se informaes complementares, como o

    questionrio aplicado nas obras, as planilha de resultados dos ensaios de

    permeabilidade e dos ensaios acsticos.

  • 8

    1.5 DEFINIO DA ABRANGNCIA DA PESQUISA

    Em funo de haver diferentes tipos de unidades (concreto, cermica, silico-calcreo, etc.) que podem ser empregados na construo de edifcios de alvenaria estrutural, um estudo englobando todos estes casos seria muito extenso e no vai ser

    aqui apresentado. O trabalho limita-se apenas ao estudo de tcnicas construtivas

    aplicadas em prdios com mais de trs pavimentos, que utilizam blocos vazados de

    concreto e cermico estruturais.

    Esta pesquisa abrange os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e So

    Paulo. Os dois primeiros foram escolhidos para aplicao do questionrio em funo

    do Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento de Alvenaria Estrutural da Universidade

    Federal de Santa Maria (UFSM) influir nesta rea, bem como limitaes de recursos para viagens. J o estado de So Paulo foi pesquisado por ser a regio com maior

    concentrao de obras de alvenaria estrutural do Brasil.

  • CAPTULO II

    2. REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 BREVE HISTRICO

    A arte de construir tem acompanhado o homem desde os primrdios de sua

    cultura e sua evoluo tem se baseado num processo de tentativa e erro. Este

    processo, lento e gradual, foi o responsvel pelo aprendizado de muitas tcnicas que

    ainda hoje so empregadas com bastante sucesso (PRUDNCIO, 1986).

    O uso da alvenaria estrutural teve sua origem nas antigas civilizaes.

    Grandes blocos irregulares de pedra foram utilizados na execuo de paredes

    estruturais em pirmides, catedrais, palcios e fortalezas. O desenvolvimento da

    tcnica e o seu uso racional foram impedidos pela pouca trabalhabilidade dos blocos

    de pedra utilizados, como tambm pela falta de conhecimento sobre o

    comportamento das alvenarias (CAMPOS, 1993).

    No Brasil a alvenaria estrutural iniciou no perodo colonial, com o emprego

    da pedra e tijolo de barro cru. Os primeiros avanos na tcnica construtiva foram marcados, j no Imprio, pelo uso do tijolo de barro cozido, a partir de 1850, proporcionando construes com maiores vos e mais resistentes ao das guas.

    J no final do sculo XIX, a preciso dimensional dos tijolos permitia a aplicao de alguns conceitos em direo a racionalizao e industrializao.

    No limiar do sculo passado, surgiram o ao e o concreto armado,

    aumentando rapidamente o nmero de construes que passaram a utilizar estes

    tipos de materiais, pois ofereciam vantagens tcnicas e econmicas. Tambm o

    campo terico/experimental relativo a essa nova tcnica se desenvolveu

    rapidamente. Os mtodos utilizados em obras de alvenaria tornaram-se obsoletos e

  • 10

    esse material foi abandonado, passando a ser usado quase exclusivamente como

    fechamento CAMACHO (1986).

    O largo emprego das estruturas de ao na Europa e a facilidade de importao

    acabaram por ser determinante na utilizao deste sistema nas grandes obras

    nacionais at os anos 20 do sculo atual. O Viaduto Santa Efignia e a Estao da

    Luz, em So Paulo, so dois exemplos tpicos de estruturas importadas e aqui

    montadas, nesta poca.

    As estruturas em concreto armado, pelas mesmas razes, dominam grande

    faixa do mercado mundial de edificaes residenciais e comerciais.

    Aps a primeira grande guerra mundial, a instalao da indstria de cimento

    Portland no Brasil sacramenta o uso das estruturas em concreto armado, construindo-

    se prdios de grande altura, como o Edifcio Martinelli, em So Paulo, com 30

    andares.

    Seguindo uma tendncia europia e americana, iniciada nos anos 40 e 50,

    quando estudos mais profundos passaram a viabilizar a alvenaria como estrutura, em

    meados da dcada de 60 introduzida no Brasil a alvenaria estrutural de blocos

    vazados de concreto, em prdios de at 4 pavimentos, com tecnologia e

    procedimentos baseados em normas estrangeiras. Esta foi uma forma racionalizada

    encontrada para reduo de custos das obras.

    Da para frente, os processos em alvenaria estrutural, empregando tambm

    blocos slico-calcrios e blocos cermicos, comearam a ser utilizados em escala

    crescente, principalmente no estado de So Paulo, com base em normas americanas,

    inglesas e alems, entre outras.

    Atualmente, nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e em muitos outros

    pases, a alvenaria estrutural atinge nveis de clculo, execuo e controle, similares

    aos aplicados nas estruturas de ao e concreto, constituindo-se em um econmico e

  • 11

    competitivo sistema racionalizado, verstil e de fcil industrializao, face s

    diminutas dimenses do componente modular bsico empregado (bloco).

    Segundo HENDRY (1981), o sucesso econmico da alvenaria estrutural tem sido alcanado no s pela racionalizao estrutural, mas tambm porque as paredes

    que constituem a estrutura da edificao desempenham vrias outras funes

    simultaneamente, tais como subdiviso de espaos, isolamento trmico e acstico,

    proteo ao fogo e s condies climticas.

    Embora a alvenaria estrutural comece a ser largamente empregada em alguns

    centros do pas, em outros continua desconhecida. Enquanto edifcios relativamente

    altos so erguidos, utilizando a capacidade resistente da alvenaria, outras obras de

    menor porte so projetadas com estruturas independentes (concreto armado e ao) por completo desconhecimento da nova tcnica, gerando um contraste de certa forma

    interessante de ser observado.

    O sistema construtivo em alvenaria estrutural que se emprega no Brasil e em

    outros pases praticamente o mesmo. As diferenas nos processos adotados

    acontecem em funo de caractersticas como clima, sismos, cultura, identificando

    peculiaridades presentes em regies distintas da terra.

    2.2 CONSIDERAES INICIAIS

    A construo dos grandes conjuntos habitacionais no Brasil, a partir da segunda metade dos anos setenta e incio dos anos oitenta, marca pela primeira vez,

    alm da utilizao em massa de sistemas construtivos inovadores, a preocupao em

    encontrar alternativas para o aumento dos nveis de produtividade no setor da

    construo civil (FRANCO,1992). Com isso vrias alternativas construtivas apareceram nos mais diversos canteiros de obras.

    As tcnicas construtivas inovadoras trouxeram consigo alguns conceitos que

    as tornam diferentes das utilizadas nos processos convencionais. A preocupao com

  • 12

    a melhor maneira de executar o trabalho e tambm com a qualidade final do produto

    fator predominante. Neste item sero apresentados alguns conceitos que esto

    intimamente ligados concepo destas tcnicas como a industrializao, a

    racionalizao e a construtibilidade.

    SABBATINI (1989) conceitua a industrializao como sendo um processo evolutivo, que atravs de aes organizacionais e da implementao de inovaes

    tecnolgicas, mtodos de trabalho e tcnicas de planejamento e controle objetiva incrementar a produtividade e o nvel de produo e aprimorar o desempenho da

    atividade construtiva.

    A caracterstica principal da industrializao a organizao da atividade

    produtiva, empregando, de forma racionalizada, materiais, meios de transporte e

    tcnicas construtivas para atingir maior produtividade. Este incremento na

    produtividade no ocorre s com a utilizao de novos processos construtivos, novas

    tcnicas e novos materiais, mas principalmente com o aumento progressivo no nvel

    de organizao da atividade de construo civil em todas as suas fases, do projeto ao uso do produto fabricado pela indstria.

    J a racionalizao compreende uma diminuio dos desperdcios e o mximo

    aproveitamento dos insumos disponveis. Para alguns autores, conforme comentado

    por FRANCO (1992), sua aplicao vai alm do canteiro, passando pela mudana de todo o setor da construo, como por exemplo a adoo de normalizao e

    padronizao para os mais diversos servios da construo.

    Os mtodos construtivos utilizados atualmente na execuo das paredes de

    alvenaria de vedao apresentam deficincias, principalmente quanto fiscalizao

    dos servios, organizao e padronizao do processo de produo. Os

    procedimentos adotados nos processos construtivos convencionais esto baseados em

    tcnicas construtivas de uso corrente na construo civil, muitas delas ultrapassadas e

    que resultam em baixa produtividade e alto ndice de desperdcio.

  • 13

    Alm disso, h insuficincia de detalhamento nos projetos, muitas vezes determinada pelo desconhecimento por parte dos projetistas, das influncias fsicas a que esto expostas as edificaes e do comportamento dos materiais de construo

    frente a elas ao longo do tempo.

    Por outro lado, a racionalizao pode ser entendida, num enfoque mais

    especfico, como a otimizao das atividades construtivas. Neste caso, aplicam-se os

    princpios de racionalizao s tcnicas e mtodos construtivos, como forma de se

    alcanar um melhor resultado no desenvolvimento destes especficos

    empreendimentos (FRANCO, 1992).

    A habilidade ou a facilidade de um edifcio ser construdo conceituada como

    construtibilidade, possuindo uma grande relao com industrializao.

    ARAJO (1995) faz uma comparao entre os conceitos de racionalizao e construtibilidade e conclui que pouco se distanciam, na verdade, eles se completam e

    so empregados convenientemente quando se faz uso de um sistema industrializado,

    o qual busca a organizao e adequao dos meios para se obter o produto final

    desejado.

    A base da construtibilidade fundamenta-se no fator de que para ser otimizado

    todo o processo de construo, h a necessidade de se considerar, na etapa de projeto, os fatores relacionados com as operaes construtivas.

    Oliveira apud ARAJO (1995) apresenta um resumo dos principais fatores que melhoram a construtibilidade, dentre os quais podem-se citar:

    maior detalhamento dos projetos, visando facilitar a execuo; padronizao;

    seqncia executiva e interdependncia entre atividades;

    acessibilidade e espaos adequados para o trabalho;

    comunicao projetos/obra.

  • 14

    O conceito de construtibilidade integra o conhecimento e experincia

    construtiva durante as fases de concepo, planejamento, projeto e execuo da obra, visando a simplificao das operaes construtivas.

    2.3 CONCEPO DO PROJETO

    O projeto tem importncia primordial na qualidade das edificaes, sendo apontado como a principal origem de patologias das construes, em diversos

    estudos estrangeiros (PICCHI, 1993).

    MESEGUER (1991) afirma que 60% dos erros em construes, grandes e pequenas, tm sua origem em erros cometidos nas fases iniciais do trabalho. Para

    reverter este quadro de grande importncia a integrao intensa entre projeto e obra, tanto no sentido da equipe de projeto sanar eventuais dvidas ou colaborar com alteraes no previstas, como da equipe de obra contribuir com sua experincia

    durante a elaborao dos projetos para aumento da construtibilidade do mesmo.

    Na construo civil, o projeto quase sempre encarado como uma finalidade, e no como um meio para obteno de um fim, que seria a edificao. Justificando

    esta afirmativa, verifica-se a carncia de projetos executivos, o que acarreta, muitas vezes, a deciso do como executar ser tomada no canteiro de obras e o que mais

    grave, quase sempre pelo prprio mestre de obras, ou pelo engenheiro, mas sem um

    estudo prvio da melhor alternativa.

    De um modo geral, um dos problemas encontrados quando se trabalha com

    um programa de qualidade a falta de coordenao entre as fases de projetos e de execuo da obra. O aperfeioamento desta interface melhora a eficcia na aplicao

    do sistema construtivo proposto.

    O controle da qualidade deve comear na fase do projeto. A coordenao entre o projeto e a fase de execuo evita, muitas vezes, o desperdcio no canteiro, o

  • 15

    qual, quase sempre atribudo mo-de-obra ou m qualidade dos materiais, sendo

    que nem sempre so estes os nicos responsveis.

    Durante a viabilizao dos empreendimentos, uma grande ateno voltada

    aos aspectos estratgicos do gerenciamento empresarial, como fluxo financeiro e as

    etapas de comercializao. O projeto muitas vezes colocado em um segundo plano, sendo elaborado com um mnimo de aprofundamento das solues

    construtivas, postergando-se estas para a fase de execuo da obra (FRANCO, 1992).

    2.4 CONCEITOS BSICOS

    Julgou-se importante apresentar algumas definies fundamentais para o

    entendimento global das demais etapas do trabalho, procurando-se evitar, assim,

    confuses geradas por termos empregados no dia-a-dia da construo civil e, ainda,

    por expresses que possuem sentidos variados.

    a) Alvenaria

    Apesar de ser correntemente empregada em nosso meio, alvenaria muitas

    vezes mal conceituada. SABBATINI (1984) analisa diversas definies e apresenta o seguinte conceito para o termo alvenaria:

    A alvenaria um componente complexo utilizado na construo e

    conformado em obra, constitudo por tijolos ou blocos unidos entre si por juntas de argamassa, formando um conjunto rgido e coeso.

    Outra definio resumida dada por CAVALHEIRO (1996), que considera alvenaria como um produto da composio bsica, em obra, de blocos ou tijolos unidos entre si por argamassa, constituindo um conjunto resistente e estvel.

  • 16

    b) Alvenaria Estrutural

    toda a estrutura em alvenaria, predominantemente laminar, dimensionada com procedimentos racionais de clculo para suportar cargas alm do peso prprio.

    Pela dupla funo que seus elementos bsicos (paredes) desempenham nas edificaes, ou seja, vedao e resistncia, o subsistema estrutural confunde-se com o prprio processo construtivo (CAVALHEIRO, 1996).

    aquela alvenaria que resiste aos esforos solicitantes graas s propriedades de seus componentes e a interao entre eles. Atualmente, entende-se por alvenaria

    estrutural aquela dimensionada por clculo racional.

    c) Bloco

    A idia bsica que estabelece a diferenciao entre blocos e tijolos empregados na construo de paredes de alvenaria a de domnio prtico na obra: o

    tijolo pode ser manuseado facilmente, com apenas uma das mos quando do seu assentamento, o bloco no. Os blocos, devido a suas dimenses e peso, normalmente

    so assentados com ambas as mos.

    d) Bloco de Concreto

    a unidade de alvenaria constituda pela mistura homognea, adequadamente proporcionada, de cimento Portland, agregado mido e grado,

    conformado atravs de vibrao e prensagem, que possui dimenses superiores

    a 250x120x55 mm (comprimento, largura e altura) (MEDEIROS, 1993).

    Blocos vazados de concreto, ou simplesmente blocos de concreto, so

    elementos prismticos, com dois ou trs furos verticais dispostos ao longo da altura,

    em sua seo de assentamento, com rea til (rea liquida) igual ou inferior a 75% da

  • 17

    rea total da seo normal aos furos das peas (rea bruta). Se essa condio no for satisfeita, o bloco ser considerado macio.

    e) Bloco Cermico

    O bloco cermico, segundo a NBR 7171/92, definido como sendo um

    componente de alvenaria que possui furos prismticos e/ou cilndricos

    perpendiculares s faces que os contm. Os blocos cermicos so classificados de

    acordo com suas resistncias compresso, sendo que o material bsico de sua

    fabricao a argila.

    f) Prisma Simples

    um corpo de prova constitudo de duas ou trs unidades de alvenaria superpostas, unidas entre si por junta de argamassa.

    g) Parede

    Elemento laminar vertical, apoiado de modo contnuo em toda a sua base,

    com comprimento maior que cinco vezes a espessura.

    h) Parede de Vedao

    A parede de alvenaria denominada parede de vedao quando suporta

    apenas seu peso prprio, no admitindo no projeto outras cargas. Quando objetiva, tambm, embutir tubulaes hidrossanitrias chamada hidrulica.

    i) Parede Estrutural

    Toda aquela dimensionada por processos racionais de clculo, para resistir a

    cargas alm de seu peso prprio.

  • 18

    j) Alvenaria Estrutural No Armada

    Aquela construda com blocos estruturais vazados, assentados com argamassa,

    e que contm armadura com finalidade construtiva ou de amarrao, no sendo esta

    ltima considerada na absoro dos esforos calculados.

    l) Alvenaria Estrutural Armada

    Aquela construda com blocos estruturais vazados, assentados com argamassa,

    na qual alguns vazados so preenchidos continuamente com graute, contendo

    armaduras envolvidas o suficiente para absorver os esforos calculados, alm

    daquelas com finalidade construtiva ou de amarrao.

    m) Pilar

    Todo elemento estrutural em que a seo transversal retangular utilizada no

    clculo do esforo resistente possui relao de lados inferior a cinco, prevalecendo,

    no caso das sees compostas, as dimenses de cada ramo distinto.

    n) Cinta

    Elemento construtivo estrutural apoiado continuamente na parede, ligado ou

    no s lajes ou s vergas das aberturas, e que transmite cargas para as paredes estruturais, tendo funo de amarrao.

    o) Verga ou Viga

    Denomina-se verga o elemento estrutural colocado sobre vos de aberturas

    no maiores que 1,20 m, com a finalidade de transmitir cargas verticais para os

    trechos adjacentes ao vo. Considera-se como viga um elemento estrutural sobre vos

  • 19

    maiores que 1,20 m, dimensionado para suportar cargas verticais, transmitindo-as

    para pilares ou paredes.

    Este conceito de norma arbitrrio, tendo em vista que poder ocorrer casos

    de elementos de vos menores que 1,20 m com cargas elevadas, consequentemente,

    com necessidade de dimensionamento.

    p) Contra-verga

    Elemento estrutural colocado sob o vo da abertura, com a finalidade de

    absorver eventuais tenses de trao.

    q) Argamassa

    definida como um material composto, sem forma e de caractersticas plsticas, constitudo de agregado mido inerte e de uma pasta aglomerante. Tem a

    propriedade de aderir a materiais porosos e de endurecer aps certo tempo.

    (SABBATINI, 1987).

    r) Argamassa de Assentamento

    o elemento de ligao das unidades de alvenaria em uma estrutura nica, sendo normalmente constitudo de cimento, cal e areia (MUTTI, 1998).

    De acordo com SABBATINI (1984), as argamassas de assentamento no tm forma definida, mas possuem uma funo especfica: destinam-se ao assentamento de

    unidades de alvenaria. A argamassa de assentamento produz a junta de argamassa que um componente com forma e funes bem definidas.

    s) Junta de Argamassa

  • 20

    a lmina ou cordo de argamassa endurecida, intercalado e aderente s unidades de alvenaria, que garante a monoliticidade da alvenaria (CAVALHEIRO, 1996).

    t) Revestimento

    Pode ser entendido como sendo o recobrimento de superfcies lisas ou

    speras, em uma ou mais camadas, com um mesmo material ou materiais distintos,

    via de regra com espessura uniforme, utilizado com finalidade de proteo e

    embelezamento (POLISSENI, 1986).

    u) Revestimento de Argamassa

    Revestimento constitudo por argamassa de natureza diversificada, aplicada

    em camadas sobre a parede, de modo a constituir superfcie uniforme, com texturas

    lisa ou rugosa.

    Os revestimentos de argamassas so constitudos de trs camadas:

    i) Chapisco: uma camada de argamassa aplicada sobre o concreto ou alvenaria, com a finalidade de oferecer base ou superfcie adequada ao

    emboo (NBR 7200/82). Esta camada obtida pelo salpicamento de argamassa de areia e cimento contra uma base, tem a finalidade de

    melhorar a aderncia entre a base e uma camada subseqente de

    argamassa.

    ii) Emboo: camada de argamassa, utilizando areia mdia, aplicada com a finalidade de encorpar o revestimento e constituir base regular para a

    aplicao do reboco ou outro material de revestimento.

    iii) Reboco ou Massa Fina: camada de argamassa, utilizando areia fina, aplicada de maneira a constituir uma superfcie lisa e uniforme. O reboco

    normalmente aplicado sobre o emboo, havendo ocasies em que

  • 21

    aplicado diretamente sobre bases chapiscadas ou componentes com textura

    rugosa.

    v) Graute

    Elemento para preenchimento dos vazios dos blocos e canaletas para

    solidarizao da armadura a estes elementos e/ou aumento de capacidade portante;

    composto de cimento, agregado mido, agregado grado, gua e cal ou outra adio

    destinada a conferir trabalhabilidade e reteno de gua de hidratao mistura.

    x) Diafragma

    Elemento estrutural laminar, trabalhando como chapa em seu plano, e que,

    quando horizontal (laje) e convenientemente ligado s paredes resistentes, tem a finalidade de transmitir esforos de seu plano mdio s paredes, devendo apresentar

    suficiente rigidez.

    z) Nomenclatura Construtiva

    Alm dos conceitos bsicos dos componentes e elementos que compem a

    alvenaria importante estabelecer definies gerais quanto nomenclatura

    construtiva que deve ser empregada no estudo dos processos construtivos de

    edifcios. SABBATINI (1989) elaborou alguns destes conceitos, dentre os quais sero aqui adotados os seguintes:

    i) Tcnica Construtiva: um conjunto de operaes empregadas por um particular ofcio para produzir parte de uma construo.

    Segundo GAMA (1987), tcnica o conjunto de regras prticas para realizar determinadas atividades, envolvendo a habilidade do executor.

  • 22

    Deste modo entende-se por tcnicas construtivas, as operaes de elevao de

    uma parede de alvenaria, a montagem de uma frma de madeira para moldar uma laje de concreto, o assentamento de uma esquadria de janela, a fixao de uma porta, o assentamento de piso, o embutimento de canalizaes eltricas ou hidrulicas, etc.

    ii) Mtodo Construtivo: um conjunto de tcnicas construtivas interdependentes e adequadamente organizadas (noo de precedncia e seqncia), empregadas na construo de uma parte (subsistemas ou elementos) de uma edificao.

    iii) Processo Construtivo: um organizado e bem definido modo de construir um edifcio. Um especfico processo construtivo caracteriza-se pelo seu

    particular conjunto de mtodos utilizados na construo da estrutura e das vedaes do edifcio (invlucro).

    Como se v a terminologia adotada subordina a tcnica ao mtodo e este ao

    processo. Todos estes trs termos correspondem a modos de se produzir uma obra,

    sendo empregados para representar a transformao de objetos de uma para outra forma. Todos so conjuntos de operaes, de procedimentos sistematizados que, no entanto, so termos para os quais adotam-se significados diferentes.

    NOVAES (1996) comenta que o processo construtivo pode ser industrializado em meios em que se utilizam mtodos e processos de produo em srie de pr-

    fabricao total ou parcial; em que se emprega equipamentos mecnicos; em que se

    visa aumentar a qualidade, garantir a intercambiabilidade de componentes e diminuir

    custos, consumo de materiais e o tempo de produo; em que se usa intensivamente

    componentes e elementos produzidos em instalaes fixas e acopladas no canteiro;

    em que se emprega preponderantemente tcnicas industriais de produo, transporte

    e montagem e em que se aplica princpios da tcnica industrial; produo em massa

    e em srie; repetio de elementos, coordenao dimensional, uso intensivo de

    mquinas e especializao de mo-de-obra.

  • 23

    iv) Sistema Construtivo: um processo construtivo de elevados nveis de industrializao e de organizao, constitudo por um conjunto de elementos e componentes inter-relacionados e completamente integrados

    pelo processo.

    CAVALHEIRO (1996) entende que Sistema Construtivo pode ser compreendido e utilizado como uma forma de macro identificar o tipo de estrutura.

    Assim, temos os sistemas construtivos em Concreto Armado, Concreto Protendido,

    Metlico, Madeira, Alvenaria Estrutural, etc.

    A nomenclatura construtiva citada anteriormente obedece a uma hierarquia,

    de tal forma que o sistema construtivo depende dos processos empregados e cada um

    destes depende dos mtodos aplicados, sendo esses identificados pelas tcnicas

    utilizadas em cada atividade da construo.

  • CAPTULO III

    3. METODOLOGIA

    3.1 CONSIDERAES INICIAIS

    O trabalho foi desenvolvido em duas etapas bsicas. Na primeira parte foi

    realizado um amplo levantamento de dados a partir de visitas a obras em execuo

    que utilizam o sistema de alvenaria estrutural com blocos de concreto ou cermicos,

    com vazados na vertical. A segunda etapa, experimental, apresentada no Captulo V,

    aborda ensaios de avaliao de algumas tcnicas que repercutem na qualidade da

    alvenaria.

    3.2 LEVANTAMENTO DAS TCNICAS CONSTRUTIVAS

    O levantamento foi obtido atravs da aplicao de um questionrio (Anexo I), composto de 150 perguntas, em 28 obras em fase de construo, utilizando o sistema

    construtivo de alvenaria estrutural.

    Adotou-se a nomenclatura obra, durante todo o decorrer do trabalho, para

    identificar um conjunto de prdios que compem um mesmo canteiro de obra, variando de 1 a 69 o nmero de prdios por canteiro.

    O questionrio foi respondido pelo engenheiro responsvel pela execuo em

    17 obras, representando 60,71% do total das obras visitadas, pelo mestre de obras

    em 8 obras (28,57%) e pelo estagirio em 3 obras (10,72%).

    Para limitao da amostra adotou-se os seguintes critrios para aplicao

    deste questionrio:

    1) Altura dos prdios superior a 3 pavimentos; 2) Alvenaria na fase de execuo;

  • 25

    3) Alvenaria executada com blocos de concreto ou cermicos; 4) Pessoas com capacitao tcnica para responder as perguntas; 5) Obras localizadas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

    So Paulo;

    6) Finalidade da construo: residencial.

    Na Tabela 1 encontra-se a lista das construtoras onde foram aplicados os

    questionrios, o nmero de prdios previstos para serem construdos e o nmero de

    prdios na fase de execuo e j executados em cada canteiro de obra, no momento da aplicao do questionrio.

    TABELA 1 Relao das construtoras visitadas e o nmero de prdios de cada

    canteiro de obras.

    Construtora Estado Prdios Previstos Em Execuo Executados 1) Administradora e Construtora Soma Ltda. SP 38 10 - 2) Administradora e Construtora Soma Ltda. SP 28 5 - 3) Administradora e Construtora Soma Ltda. SP 25 5 1 4) Administradora e Construtora Soma Ltda. SP 8 5 - 5) APL Incorporaes e Construes Ltda. SC 10 1 - 6) Apolo Ltda. SP 1 1 - 7) Associao dos Trabalhadores sem Terra. SP 32 24 8 8) BL Empreendimentos Imobilirios Ltda. SC 4 2 1 9) Bortoncello Incorporadora Ltda. RS 3 1 - 10) Construarc S/A Construes Ltda. SP 1 1 - 11) Construtora DHZ Ltda. RS 4 3 - 12) Construtora Encomase Ltda. RS 40 2 1 13) Construtora Ipo Ltda. SP 18 8 10 14) Elage Engenharia Ltda. SP 21 6 1 15) Empreendimentos Master S. A. SP 10 4 - 16) Empreendimentos Master S. A. SP 69 19 - 17) Familiar Empreendimentos Ltda. SP 2 2 - 18) Gamma Construes e Incorporaes Ltda. RS 5 2 3 19) Giasset Construes Ltda. SP 6 2 - 20) Giasset Construes Ltda. SP 7 1 2 21) Giasset Construes Ltda. SP 16 1 - 22) Mitto Engenharia e Construes Ltda. SP 13 13 - 23) Noreno Brasil Engenharia Ltda. SP 3 1 - 24) Pereira Construes e Incorporaes Ltda. SP 5 1 - 25) Predial Cheren Empreendimentos Imobilirios SP 8 1 1 26) Predial Cheren Empreendimentos Imobilirios SP 6 1 - 27) Schahin Cury. SP 10 4 6 28) Sispar Empreendimentos Imobilirios Ltda. SP 10 2 6

    Totais 403 128 40

  • 26

    O perodo necessrio para responder o questionrio era de, aproximadamente,

    duas horas. Logo aps realizava-se uma seo de fotos de diversas etapas da obra.

    No final da coleta de dados chegou-se a um total de 645 fotos de vrias situaes

    visualizadas nas 28 obras pesquisadas.

    Em funo da existncia de um grande nmero de tcnicas construtivas

    utilizadas nas diversas etapas do sistema de alvenaria estrutural e mesmo todas

    apresentando grande importncia, este trabalho limitar-se- somente anlise dos

    seguintes tpicos das etapas da construo:

    a) Fundao: tipo e profundidade;

    dimenses das vigas de fundao;

    concepo de clculo.

    b) Alvenaria tipos de blocos;

    espessura das paredes internas e externas;

    equipamentos utilizados para o assentamento dos blocos;

    existncia de problemas de dimenses nos blocos;

    caractersticas importantes dos blocos (peso, absoro, suco, etc.); nmero de profissionais por equipe;

    produtividade mdia diria dos pedreiros (m2/dia); tipo de argamassa de assentamento;

    identificao dos componentes;

    dimenses dos recipientes utilizados para dosagem;

    cubagem dos materiais que compem o trao de argamassa;

    tempo de descanso da cal com a areia;

    dimenses do recipiente de depsito da argamassa;

    equipamentos para os transportes horizontal e vertical;

    espessura da camada de nivelamento da primeira fiada;

  • 27

    trabalho de eletricista concomitantemente com a execuo da alvenaria;

    juntas vertical e transversal preenchidas; medidas adotadas para soluo de juntas a prumo; espessuras das juntas de argamassa; detalhes apresentados na planta de primeira fiada;

    utilizao de planta de segunda fiada;

    existncia de elevaes de todas as paredes;

    projeto eltrico integrado ao projeto de alvenaria; ensaios em argamassa, graute, blocos, prismas e pequenas paredes;

    resistncias previstas;

    periodicidade de realizao dos ensaios;

    formas de controle de qualidade na execuo da alvenaria.

    c) Aberturas dimenses das janelas, portas e vos para aparelhos de ar condicionado; altura dos peitoris das janelas; utilizao de pea pr-moldada nas aberturas;

    ferragem utilizada na verga e contra-verga;

    traspasse das vergas e contra-vergas para o interior da parede;

    forma de fixao das janelas e portas s paredes; cuidados especiais adotados em relao aos blocos, em torno das aberturas.

    d) Instalaes Eltricas projeto de alvenaria (elevaes das paredes) previsto concomitantemente

    com o projeto eltrico; etapas da obra para fixao das caixas de luz;

    blocos proveniente de fbrica j com a abertura para fixao das caixas de luz;

    tubulaes eltricas pelo interior de peas pr-moldadas ou canaletas

    grauteadas;

    presena de tubulaes horizontais no interior das paredes;

  • 28

    vos maiores para caixas de comando previstos no projeto; tubulaes eltricas descendo da laje (teto) ou subindo do piso para o

    interior das paredes.

    e) Instalaes Hidrulicas paredes consideradas hidrulicas;

    vinculao das paredes hidrulicas s estruturais;

    ligao de paredes hidrulicas na laje de teto; paredes hidrulicas construdas com blocos de vedao;

    tipos de shafts utilizados; formas de fechamento dos shafts; tipos de revestimentos das paredes hidrulicas;

    locais de utilizao de forro falso;

    ocorrncia de tubulaes na horizontal e solues utilizadas.

    f) Escadas tipos;

    forma de vinculao.

    g) Lajes tipos;

    espessuras;

    contra-piso;

    lajes de cobertura.

    h) Revestimentos tipos e espessuras dos revestimentos interno e externo;

    utilizao de chapisco;

    revestimentos de paredes hidrulicas.

    O questionrio na forma como foi utilizado junto s construtoras encontra-se no Anexo I.

  • 29

    3.3 ENSAIOS COMPLEMENTARES

    Para obter-se tendncias de desempenho de outras caractersticas julgadas importantes para o sistema construtivo de alvenaria estrutural, mesmo no sendo o

    escopo principal deste trabalho, foram realizados a avaliao do comportamento das

    alvenarias frente s aes do som e da gua, alm de verificado o decrscimo de

    resistncia da argamassa nas primeiras horas aps a mistura

    Objetivando concentrar as informaes pertinentes, a metodologia especfica de cada ensaio encontra-se descrita no Captulo V.

  • CAPTULO IV

    4. RESULTADOS E COMENTRIOS DO QUESTIONRIO APLICADO

    4.1 FUNDAES

    A partir da anlise dos dados, observou-se que os tipos de fundaes e

    profundidades eram variados, em funo das caractersticas de cada terreno,

    disponibilidade de equipamentos e recursos. Por estes motivos as profundidades das

    fundaes oscilaram de 6 a 17 metros, sendo que no foram consideradas as

    profundidades das sapatas.

    Na Tabela 2, onde so indicados os tipos de fundao, observa-se que a

    fundao com estacas cravadas foi a mais utilizada, representado 46,43% dos casos

    analisados. A justificativa da grande utilizao deste tipo de fundao, alm de seu excelente desempenho, a grande difuso do mesmo no estado de So Paulo, onde

    concentra-se grande parte desta pesquisa.

    TABELA 2 Tipos de fundaes utilizadas nas obras de alvenaria estrutural pesquisadas.

    TIPO DE FUNDAO NMERO DE OBRAS PERCENTUAL (%) Estaca Cravada 13 46,43 Estaca Rotativa 5 17,86 Sapata Corrida 3 10,71

    Estaca Franki 3 10,71

    Tubulo 2 7,15 Estaca Broca 1 3,57

    Estaca Strauss 1 3,57 Total 28 100,00

  • 31

    As vigas de fundao apresentavam concepes de clculo diferentes, em

    funo da conformao estrutural do prdio, principalmente quando havia pilotis na

    estrutura do mesmo.

    Os critrios de clculo das vigas de fundao, nas obras visitadas,

    obedeceram a condicionantes diversas:

    1) absoro de toda a carga da alvenaria, interligadas umas s outras; 2) funcionamento em grupos separados e com balanos; 3) funcionamento como grelha;. 4) unio das estacas, na ocorrncia de pilotis.

    Em se tratando da absoro de toda a carga da alvenaria, verificou-se que as

    vigas eram calculadas para absorver as cargas de todas as paredes sobre os vos entre

    as estacas, sendo necessrio vigas com grandes dimenses e alta densidade de

    ferragem.

    Considerando o funcionamento em grupos separados e com balanos, o

    clculo das vigas de fundao era semelhante ao anterior, mas os balanos permitiam

    uma maior uniformidade dos esforos. Esta situao foi observada em 5 obras.

    Em termos de funcionamento como grelha, pode-se afirmar que esse tipo de

    considerao torna a estrutura mais segura quanto a eventuais recalques e reduz as

    dimenses e ferragens das vigas de fundaes.

    Quanto a unio das estacas na ocorrncia de pilotis, as vigas apresentavam dimenses bem inferiores s encontradas nos casos anteriores, decorrentes da funo

    restrita de unir as estacas e no transmitir a carga da alvenaria para as fundaes,

    porque havia pilares e vigas na estrutura de transio do prdio.

    As dimenses das vigas oscilavam de 15 x 30 a 50 x 80 cm (largura x altura) e observou-se casos com grande variao das dimenses, para prdios com

    geometrias semelhantes.

  • 32

    importante salientar que as vigas destinadas a absorver as cargas das alvenarias e conduzi-las para as estacas, devem ser projetadas levando em considerao as deformaes das mesmas, porque podem ocorrer deformaes

    excessivas, forando o efeito arco na alvenaria, com surgimento de fissuras ou

    mesmo trincas.

    4.2 ALVENARIA

    A alvenaria foi dividida em vrios sub-itens, decorrentes da diversidade de

    tcnicas na aplicao dos mtodos construtivos desse elemento.

    4.2.1 BLOCO: TIPOLOGIA E USO

    Bloco o componente bsico que, em conjunto com a junta de argamassa, compe a parede. O bloco de concreto foi utilizado em 24 obras, representando a

    maioria das obras visitadas e os blocos cermicos utilizados em 4 obras, perfazendo

    o total das 28 obras pesquisadas, como pode ser observado na Figura 1.

    concreto85,71%

    cermico14,29%

    Figura 1 Tipo de bloco utilizado.

  • 33

    Quanto quantidade de diferentes peas empregadas, observou-se uma grande diversidade nesse item, porque havia obras que utilizavam trs peas bsicas

    enquanto outras dispunham de at 13 tipos de peas, conforme mostra a Tabela 3.

    TABELA 3 Nmero de tipos de peas utilizadas para a construo de prdios em

    alvenaria estrutural.

    N DE PEAS N DE OBRAS N DE PAVIMENTOS (%) 3 2 4 7,14

    4 4 5,8,10,17 14,29 5 11 4,8,9,11,12,18 39,29 6 2 9,11 7,14 7 3 4,7 10,71

    8 3 4,10,15 10,71 9 2 12,15 7,14

    13 1 6 3,57

    As principais peas so: bloco, meio bloco, canaleta, meia canaleta e

    hidrulico (vedao), sendo que os demais tipos so utilizados para solucionar problemas especficos, tais como juntas a prumo, modulaes, passagens de tubulaes, etc.

    Os tipos de peas esto vinculados aos requisitos de projeto e capacidade de produo dos fornecedores, mas importante salientar que, quando h um pequeno

    nmero de tipos, ocorre a necessidade de quebras e improvisaes para solues de

    problemas nas amarraes. Em contrapartida, se o nmero de tipos de blocos

    aumentar demasiadamente, poder haver queda na produtividade durante o

    assentamento.

    Na Figura 2 observa-se a tipologia de vrios blocos, tanto de concreto como

    de cermica, projetados para solues de diversas situaes quotidianamente presentes em obra.

  • 34

    (a) (b)

    Figura 2 Blocos estruturais de concreto (a) e de cermica (b).

    As resistncias mdias caractersticas especificadas para os blocos utilizados

    nas obras variaram de 4,5 a 20 MPa, respeitando as recomendaes de clculo em

    funo dos esforos solicitantes.

    Observou-se que nas obras que utilizavam o bloco canaleta, com parte

    inferior fechada, havia quebras de vrias peas localizadas nas alvenarias j executadas, como conseqncia da necessidade de passagem de tubulao eltrica,

    hidrulica ou ferragem, pela canaleta.

    Essa constatao tambm foi observada nas obras construdas com peas

    cermicas em forma de U, J e L, assentadas na ltima fiada. Devido ao processo

    de fabricao difcil a confeco de furos para passagem de tubulaes e, em

    decorrncia dessa limitao, havia a necessidade de perfuraes com ferramentas

    inadequadas, causando irregularidades nas aberturas e algumas vezes

    comprometimento da pea. Aconselha-se a adoo de equipamentos que

    possibilitem a confeco de furos circulares que permitam a passagem de tubulaes

    ou ferragem, pelo interior da canaleta, sem dano pea.

    Outra pea utilizada foi o compensador, tendo como finalidade completar a

    modulao horizontal, em funo do projeto arquitetnico ou das dimenses dos blocos utilizados no serem modulares com a unidade bsica, necessitando de

    complemento.

  • 35

    Nas obras pesquisadas, 8 (28,57%) adotaram este recurso tcnico para solucionar problemas de modulao, como pode ser observado na Figura 3b.

    Entretanto a adoo deste tipo de pea pode reduzir a produtividade e dificultar a

    passagem de tubulaes e ferragens em seu interior. Por estes motivos importante

    detalhar a localizao dos mesmos nas elevaes das paredes.

    Em algumas obras, por no utilizarem esse tipo de pea, houve a necessidade

    de improvisaes, tais como:

    aumento da espessura da argamassa na junta vertical; preenchimento com graute de vazados verticais, entre os blocos, com

    espessura superior a 2 cm (Figura 3a); utilizao de outros materiais para fechamento dos vos.

    Figura 3 Parede sem compensador sendo completada a modulao com graute (a) e parede com compensador (b).

    (b) (a)

  • 36

    4.2.2 TRANSPORTE DOS BLOCOS

    Verificou-se que a maioria dos fabricantes de blocos dispunham de estrutura

    para entrega de blocos em pallets, no sendo este mecanismo aproveitado, no

    entanto, em grande parte das obras. Somente 6 obras (21,43%) dispunham de grua para transporte vertical e destas, apenas 4 obras (14,29%) a utilizavam para o transporte de blocos diretos sobre pallets.

    A grua proporciona versatilidade para a obra, facilitando significativamente o

    trabalho, reduzindo o nmero de pessoas e os movimentos horizontais de materiais,

    principalmente ao se considerar as condies de trfego em um canteiro de obra.

    Quanto maior o nmero de vezes que o bloco manejado, maior a probabilidade de ocorrer quebras, bem como necessidade de pessoal.

    O equipamento mais utilizado para o transporte vertical de blocos era o

    elevador para transporte de cargas, sendo este adotado em 21 obras (75,00%). Este equipamento possui limitaes tcnicas mas, mesmo assim muito utilizado nas

    obras no Brasil, independentemente do sistema construtivo adotado.

    Uma obra (3,57%) utilizou guincho manual para transporte vertical de material, necessitando de elevada energia humana, tendo pouca agilidade e

    apresentando grandes problemas quanto a segurana. Por estes motivos este meio

    considerado inadequado para a construo de prdios.

    Para o transporte horizontal de blocos verificou-se, com grande freqncia, a

    utilizao de carrinhos com duas rodas pneumticas semelhantes ao da Figura 4,

    sendo estes os mais indicados para este tipo de atividade. Entretanto, em algumas

    obras, ainda utilizavam o tradicional carrinho-de-mo.

  • 37

    Figura 4 Carrinho com rodas pneumticas, adequado para transporte horizontal de blocos.

    4.2.3 CUIDADOS COM OS BLOCOS ANTES, DURANTE E APS O ASSENTAMENTO

    Na anlise deste item observou-se que somente 5 obras (17,86%) adotavam cuidados de proteo dos blocos, quanto intempries, antes do assentamento. Esta

    proteo era feita atravs de lonas e estrados evitando, desta forma, a ao direta de

    variaes de temperatura e umidade.

    Figura 5 Blocos armazenados na obra sobre estrados de madeira e protegidos, da ao direta de intempries, com lona plstica.

  • 38

    Os blocos de concreto no devem ser molhados antes ou durante o

    assentamento. Esta prtica, comum em outros tipos de unidades de alvenaria, para

    equilibrar a suco de gua da argamassa e garantir uma boa aderncia, no deve ser

    empregada para blocos de concreto, devido ao fenmeno de retrao na secagem.

    Caso esta retrao seja restringida, como normalmente ocorre quando o bloco faz parte de uma parede, desenvolvem-se tenses de trao que podem dar origem a

    fissuras. Neste caso, a argamassa que deve reter gua para garantir a aderncia

    adequada entre a unidade e a junta.

    Para blocos cermicos importante conhecer o ndice de absoro inicial dos

    mesmos (suco), o qual deve ser fornecido pelo fabricante, podendo tambm haver necessidade de proteo dos mesmos ou definio da condio necessria de

    molhagem para no haver absoro da gua de hidratao do cimento contida na

    argamassa, em caso de blocos de elevado poder de suco. Nas obras analisadas, no

    entanto, esses dados no eram fornecidos pelos fabricantes de blocos, ficando na

    dependncia da experincia da pessoa a executar a alvenaria, a definio do tempo e

    forma de molhagem necessria dos blocos cermicos para regular a suco de gua.

    Verificou-se que em 15 obras (53,57%) havia necessidade do emprego de blocos de diferentes resistncias, em funo das dimenses dos prdio. Observou-se,

    entretanto, cuidados especiais para evitar trocas de lotes de blocos, como:

    a) pinturas de faixas com cores diferenciadas nas pilhas de blocos armazenados, em funo das resistncias;

    b) placas identificando a resistncia nas pilhas de blocos; c) ranhuras diferenciadas nos blocos, provenientes da fbrica, para

    identificar diferentes resistncias;

    d) organizao do canteiro de obra atravs do cronograma de entrega (utilizado para volume pequeno de obras);

    e) espessuras diferenciadas das paredes das unidades (de mesmo fck), consequentemente variando a resistncia e o peso das mesmas;

    f) anlise visual da colorao dos blocos; g) variao dimensional.

  • 39

    Ser dada nfase maior aos dois ltimos itens, para que sejam evitados em outras obras, porque facilitam a ocorrncia de erros na identificao de resistncia

    das unidades.

    Quanto ao item anlise visual da colorao de blocos foi observado que, em relao ao modo como eram identificados os diferentes nveis de resistncia dos

    blocos, tanto em obras com blocos cermicos como de concreto, ao se questionar tal

    item, afirmava-se que a identificao era pela colorao das unidades: caso os blocos

    fossem mais escuros representavam uma resistncia maior e os de colorao mais

    clara indicavam menor resistncia.

    No item variao dimensional foi observado que em obras que utilizavam

    blocos cermicos, a identificao de diferentes resistncias era pelo tamanho dos

    blocos dos lotes provenientes da fbrica: dimenses menores significavam maior

    resistncia e dimenses maiores representavam menor resistncia.

    Este fator dimensional gerava problemas na modulao das fiadas, havendo

    necessidade de um aumento na espessura das juntas horizontais e verticais e aumento das juntas de argamassa acarreta prejuzo ao desempenho da alvenaria.

    Aps o assentamento dos blocos, somente uma obra (3,57%) realizava a proteo da alvenaria contra intempries e, como fator agravante, em vrios

    conjuntos visitados, verificou-se o assentamento da alvenaria com as paredes molhadas pela chuva e, ainda em alguns casos, o assentamento de blocos com a

    incidncia de chuvas fracas. Este fato poder reduzir a aderncia argamassa/bloco,

    favorecendo a ocorrncia de patologias nas alvenarias.

    4.2.4 PROJETOS DE EXECUO DA ALVENARIA

  • 40

    Uma das plantas mais utilizada nas obras de alvenaria estrutural (em 100% dos casos observados) era a de 1a fiada, sendo que, em alguns casos, esta planta apresentava alguns detalhes diferentes daqueles convencionalmente adotados nos

    projetos.

    Os detalhes mostrados com maior freqncia, nesta planta, eram os seguintes:

    posio de cada bloco, com representao dos vazados ou no;

    dimenses das peas (dormitrios, sala, cozinha, banheiros, circulao, etc.);

    localizao das portas;

    dimenses dos vos das portas;

    tipos de blocos;

    blocos com armaduras no interior dos vazados;

    blocos grauteados;

    convenes.

    Em alguns casos, na planta de primeira fiada, outros detalhes eram mostrados,

    tais como:

    localizao de pontos eltricos (tomadas, interruptores, CD, etc.); posies das janelas com suas respectivas medidas e altura do peitoril; posies das tubulaes hidrulicas na alvenaria.

    Com o acrscimo destes detalhes, na planta de primeira fiada, a funo das

    elevaes era somente sanar algumas dvidas que porventura surgissem quanto

    amarrao da alvenaria.

    O incremento de detalhes na planta de primeira fiada pode facilitar a execuo

    da alvenaria, em funo de que o pedreiro dispe somente de uma planta para

    praticamente todas as paredes, diminuindo o deslocamento e manuseio de muitos

    projetos. Outra planta usada em quase todas as obras era a das elevaes das paredes

    (paginao), na qual eram representados:

  • 41

    amarraes dos blocos;

    amarrao de paredes;

    posies de ferragens;

    vos de janelas e portas; blocos grauteados;

    localizao de peas pr-moldadas;

    vergas e contra-vergas;

    cintas.

    Em alguns casos eram acrescentados detalhes nas elevaes das paredes

    como:

    posies de interruptores;

    tomadas;

    tubulaes hidrulicas;

    ferragens construtivas; etc.

    Somente 6 obras (21,43%), dos casos analisados, utilizavam, para a execuo da alvenaria, a planta de 2a fiada. Nesse sentido, verifica-se que para executar a

    alvenaria no h necessidade especfica dessa planta, uma vez que sua grande

    importncia est na fase de projeto.

    Observou-se que em 3 obras (10,71%) havia um cuidado especial com os projetos de execuo. Construiu-se um ambiente metlico, semelhante a uma cabina, para guardar os projetos. O objetivo era proteger os mesmos da ao do tempo, facilitar a leitura em condies adversas, evitando o constante manuseio e desgaste.

    Este recinto, ilustrado na Figura 6, era de pequena dimenso e deslocado de andar

    para andar, de acordo com a evoluo dos trabalhos de alvenaria.

  • 42

    Figura 6 Cabina mvel para armazenar plantas e outros objetos no andar de execuo da alvenaria.

    4.2.5 AMARRAES DAS PAREDES

    Os princpios de construtibilidade tambm foram empregados na concepo

    de detalhes de ligao entre os painis estruturais. Comumente encontra-se como

    solues para estas ligaes a colocao de reforos metlicos nas juntas horizontais entre os painis, ou vazados grauteados dos blocos.

    A necessidade destes tipos de ligaes, em geral, decorre da no utilizao de

    modulao planimtrica, em funo do fornecedor de blocos no dispor de blocos

    especiais para proporcionar junta em amarrao das paredes. Estes detalhes mostram-se de difcil execuo, alm de interromperem os servios normais de assentamento,

    diminuindo sensivelmente a produtividade.

    Os tipos de amarraes mais freqentes so em L, T ou em X, sendo que

    os dois ltimos necessitam de providncias adicionais para execuo das amarraes.

  • 43

    Em 21 obras (75,00%) havia juntas a prumo, decorrentes da inexistncia de peas especiais para completar a modulao. Mas em alguns desses casos havia

    possibilidade da realizao de juntas em amarrao, entretanto, por opo do calculista, visando principalmente aumentar a produtividade, optou-se pela junta a prumo nas ligaes com as paredes externas.

    Como no havia intertravamento de blocos, principalmente nos cantos, foram

    utilizados artifcios tcnicos para contornar esta situao como:

    ferragem horizontal em forma de estribo colocada na junta de argamassa (Figura 7a);

    tela metlica horizontalmente nas junta de argamassa (Figura 7b);

    ferragem horizontal em forma de L colocada na junta de argamassa (Figura 7c);

    ferragem em forma de U na vertical, colocada nos vazados de dois

    blocos (Figura 7d);

    ferragem em forma de L duplo, colocando uma parte em um vazado do

    bloco (vertical) e a outra na junta (horizontal) de argamassa de outro bloco (Figura 7e);

    ferragem em forma de U duplo na vertical, colocada entre os vazados de

    dois blocos (Figura 7f);

  • 44

    Figura 7 Elementos metlicos utilizados nos encontros de paredes com junta a prumo.

    As peas metlicas eram colocadas a cada duas ou trs fiadas de bloco e o

    dimetro variava de 3,2 a 8 mm, independente do nmero de pavimentos ou

    localizao das amarraes, seguindo as determinaes do calculista ou, at mesmo,

    deciso do prprio mestre de obras no momento da execuo da alvenaria.

    A colocao desta ferragem , de certa forma, aleatria porque no existe

    clculo especfico para esta situao relatado em bibliografia nacional, bem como

    justificativa dos engenheiros para o dimetro de ferragem e espaamento horizontal nas fiadas.

    A ferragem utilizada para realizar o papel da amarrao fsica da alvenaria

    ficava muito suscetvel a problemas durante a execuo. Isto foi verificado nas

    ferragens colocadas sobre as juntas de argamassa porque, em funo da pequena espessura da junta e certa rigidez da ferragem, dificilmente obtinha-se uma adequada aderncia da mesma na junta de argamassa, consequentemente, a armadura ficava solta sobre o bloco, no cumprindo o papel para o qual foi especificada.

  • 45

    Independente das amarraes das paredes, deve-se tomar precaues com

    relao a paredes de grandes comprimentos, as quais necessitam juntas de controle.

    4.2.6 TIPOS E CARACTERSTICAS DA ARGAMASSA DE ASSENTAMENTO

    Na Figura 8 so mostrados os tipos de argamassa utilizados para o

    assentamento dos blocos nas obras analisadas.

    Cimento, Cal e Areia - 67,86%Argamassa Industrializada - 14,29%Cimento e Areia - 7,14%Cimento, Areia e Saibro - 7,14%Cimento, Areia e Aditivo - 3,57%

    67,86%

    14,29%

    7,14%7,14% 3,57%

    Figura 8 Tipos de argamassa de assentamento encontrados.

    A argamassa mais utilizada para o assentamento de blocos, nas obras

    analisadas, foi a mista de cimento, cal e areia, a qual apresenta importantes

    propriedades.

    O cimento e a areia proporcionam uma alta resistncia, mas baixa reteno de

    gua; isto deixa a parede muito resistente, mas vulnervel fissurao e penetrao

    da chuva. J a combinao de cal (ou os finos argilosos do saibro), cimento e areia produz efeito contrrio, baixas resistncias e alta reteno de gua; paredes que usam

    este tipo de argamassa tm baixas resistncias, particularmente iniciais, se

    comparadas com as executadas com argamassa de cimento e areia, mas em

    contrapartida possuem excelente deformabilidade, o que diminui a abertura das

    fissuras e, decorrentemente, melhora a estanqueidade.

    No meio destes dois extremos, uma combinao equilibrada de cimento, cal e

    areia produz uma argamassa dotada de cada uma das boas propriedades

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    anteriormente citadas, onde se combina a resistncia dada pelo cimento com a

    trabalhabilidade e reteno de gua dadas pela cal (ou saibro).

    As vantagens de se usar argamassa mista (cimento + cal ou saibro e areia), so:

    1) No estado plstico: maior reteno de gua;

    maior tempo de manuseio;

    mistura com coeso;

    maior capacidade de incorporao de areia.

    2) No estado endurecido: melhoria da aderncia;

    maior resilincia;

    baixa eflorescncia;

    colmatao de fissuras.

    Constatou-se que a maioria das obras analisadas utilizava a cal hidratada na

    composio do trao de argamassa para assentamento. Mas importante salientar que

    em somente 4 obras (14,29%) a mistura da cal, gua e areia ficava em descanso.

    Segundo SABBATINI (1986), quando se utiliza a cal hidratada (em p) um requisito de grande importncia deixar a argamassa descansar. A cal deve ser

    misturada com a areia e gua no mnimo 16 horas antes de seu emprego na