Santos John Ebrle a Baba Eletronica de Todas as Manhas

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A Babá Eletrônica de Todas as Manhãs: análise da programação infantil da rede Globo e do SBT Robson Souza dos Santos * Valquiria Michela John Taiana Steffen Eberle Índice Introdução 2 1 Por que avaliar a programação desti- nada ao público infantil? 3 2O Plin-Plin da Criançada 4 3 Do fundo do mar ao meio da floresta 5 4 Violência, tecnologia e efeitos espe- ciais – da animação aos seriados 6 5 Adolescentes e o mundo virtual 6 6 Em boa companhia 7 7 Brincadeiras X Violência 8 8 Influência oriental 9 9 Dos quadrinhos para as telas 9 Considerações Finais 10 * Jornalista, Mestre em Literatura Brasileira. Pro- fessor dos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Tecnólogo em Fotografia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Integrante do grupo de pesquisa Monitor de Mídia. [email protected]. Jornalista, Mestre em Educação. Doutoranda do PPGCOM/UFRGS. Professora dos cursos de Jorna- lismo e Relações Públicas da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Integrante do grupo de pesquisa Monitor de Mídia. [email protected] Bacharel em Comunicação Social Jorna- lismo pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali). [email protected]. Referências Bibliográficas 11 Resumo As crianças brasileiras passam um signi- ficativo tempo de seu dia em frente à TV, pode-se dizer que a televisão é sua princi- pal companheira. Quando em período de re- cesso escolar, sequer há a rivalidade da es- cola na dedicação desse tempo. Os conteú- dos ofertados a este público podem, a par- tir disso, exercer importante contribuição em sua forma de ver o mundo, de construir re- presentações e de formar sua opinião, seus comportamentos e valores. Esta pesquisa se propôs a analisar o conteúdo do principal produto televisivo destinado a este público no Brasil – ao menos em termos de definição de faixa etária – os desenhos animados. Foram avaliados os conteúdos dos desenhos exibidos durante um dia da programação de férias escolares de julho nas duas emissoras de maior audiência na TV aberta do país: Globo e SBT. Palavras-chave: televisão; programação infantil; desenhos animados; TV aberta.

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Santos John Ebrle a Baba Eletronica de Todas as Manhas

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  • A Bab Eletrnica de Todas as Manhs: anlise daprogramao infantil da rede Globo e do SBT

    Robson Souza dos Santos

    Valquiria Michela John

    Taiana Steffen Eberle

    ndiceIntroduo 21 Por que avaliar a programao desti-

    nada ao pblico infantil? 32 O Plin-Plin da Crianada 43 Do fundo do mar ao meio da floresta 54 Violncia, tecnologia e efeitos espe-

    ciais da animao aos seriados 65 Adolescentes e o mundo virtual 66 Em boa companhia 77 Brincadeiras X Violncia 88 Influncia oriental 99 Dos quadrinhos para as telas 9Consideraes Finais 10

    Jornalista, Mestre em Literatura Brasileira. Pro-fessor dos cursos de Jornalismo, Relaes Pblicase Tecnlogo em Fotografia da Universidade do Valedo Itaja (Univali). Integrante do grupo de pesquisaMonitor de Mdia. [email protected], Mestre em Educao. Doutoranda do

    PPGCOM/UFRGS. Professora dos cursos de Jorna-lismo e Relaes Pblicas da Universidade do Valedo Itaja (Univali). Integrante do grupo de pesquisaMonitor de Mdia. [email protected] em Comunicao Social Jorna-

    lismo pela Universidade do Vale do Itaja (Univali)[email protected].

    Referncias Bibliogrficas 11

    Resumo

    As crianas brasileiras passam um signi-ficativo tempo de seu dia em frente TV,pode-se dizer que a televiso sua princi-pal companheira. Quando em perodo de re-cesso escolar, sequer h a rivalidade da es-cola na dedicao desse tempo. Os conte-dos ofertados a este pblico podem, a par-tir disso, exercer importante contribuio emsua forma de ver o mundo, de construir re-presentaes e de formar sua opinio, seuscomportamentos e valores. Esta pesquisa seprops a analisar o contedo do principalproduto televisivo destinado a este pblicono Brasil ao menos em termos de definiode faixa etria os desenhos animados.Foram avaliados os contedos dos desenhosexibidos durante um dia da programao defrias escolares de julho nas duas emissorasde maior audincia na TV aberta do pas:Globo e SBT.

    Palavras-chave: televiso; programaoinfantil; desenhos animados; TV aberta.

  • 2 Robson Souza dos Santos, Valquiria Michela John e Taiana Steffen Eberle

    Introduo

    A televiso um dos mais importantesmeios de comunicao presentes navida dos brasileiros. Desde sua chegada aopas, na dcada de 1950, a TV passou a ocu-par os lares por meio da divulgao de in-formao e conhecimento, como forma deentretenimento preenchendo as horas delazer e distrao ou ainda para comple-tar as atividades dirias da populao. Se-gundo dados de 2010 do Instituto Brasileirode Geografia e Estatstica IBGE, a TV estpresente em 98% dos domiclios brasileiros.

    Laura Bastos (1988) afirma que atravs daproduo em grande escala, o aparelho di-fusor de imagens e sons conquistou espaoe influenciou hbitos comportamentais dostelespectadores. Suas emisses nos trazemuma poderosa iluso de fantasias, onde a rea-lidade se funde em fico e o irreal tomaa dimenso da realidade (BASTOS, 1988,p.10).

    Esse mundo fantstico que apresen-tado pela TV atrai e pode influenciar, em es-pecial, o pblico infantil. As crianas dis-pensam maior parte de seu tempo diante dateleviso do que os adultos e, as crianasbrasileiras de quatro a 11 anos so as quemais assistem ao vdeo em todo o mundo:em mdia cinco horas por dia segundo oPainel Nacional de Televiso do Ibope, de2005. Este nmero de audincia aumentaainda mais nos perodos de recesso esco-lar. STRASBURGER (1999, p. 119-120)enfatiza esse sucesso da televiso junto aopblico infantil:

    As crianas constituem um pblicode TV cativo e impressionvel.Elas so fascinadas pela televiso

    que lhes conta histrias e lhes ofe-rece imagens excitantes de mun-dos que de outra forma jamais ve-riam. Um meio de comunicaoto poderoso precisa assumir suasresponsabilidades com o pblicoinfantil muito seriamente.

    Alguns dos fatores que determinam a ex-posio das crianas ao vdeo so, por e-xemplo, o aumento da violncia urbana, queas faz permanecerem por mais tempo den-tro de casa; a insero das mes no mercadode trabalho, que no conseguem acompa-nhar por inteiro a rotina dos filhos; e aindaa permanncia da criana sozinha em casa,que lhe permite ter acesso mais fcil a estemeio de comunicao. Alm disso, inclui-senesta lista, o difcil acesso dos mais jovenss salas de cinema, uma vez que os preosnem sempre so acessveis e que, necessi-tam da companhia de um adulto, nem sempredisponvel.

    Joan Ferrs caracteriza este meio de co-municao como smbolo de identidades,capaz de gerar exigncias e dependnciaspara seu pblico telespectador, muitas vezessubstituindo o papel dos prprios pais:

    Ela amada e odiada, desejadae desprezada. E tudo isso semanifesta na multiplicidade de ex-presses com que conhecida: aescola paralela, a sala de aula semparedes, a aula eletrnica, a caixasbia, a caixa tola, a caixa m-gica, a bab eletrnica, o terceiropai. (FERRS apud SELIGMAN,2008, p. 32)

    Mas, ser que as emissoras produzem pro-gramas especiais para o pblico infantil, ca-

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    pazes de ao mesmo tempo entreter e edu-car os pequenos? Esta pesquisa analisoua programao destinada ao pblico infan-til no perodo de frias escolares de julhode 2009. Foram escolhidas, aleatoriamente,duas manhs (perodo cuja programao cos-tuma dedicar maior tempo s crianas) e aanlise deteve-se s emissoras de maior au-dincia durante o perodo: Rede Globo e oSistema Brasileiro de Televiso SBT. Oscritrios de anlise centraram-se no tempode exibio, tipos de programas, caractersti-cas dos apresentadores, propagandas de pro-dutos fora do horrio comercial (merchandi-sing), contedo exibido e presena ou no deviolncia.

    1 Por que avaliar a programaodestinada ao pblico infantil?

    O alto grau de exposio da criana TV debatido por estudiosos do mundo inteiro.A discusso geralmente gira em torno da in-fluncia que este meio pode exercer no com-portamento desse pblico, principalmente noque se refere s prticas de violncia. Acrtica a programas com contedos violen-tos se origina no fato de que as crianasno possuem capacidade ainda para dife-renciar o bom do ruim, o certo do errado.Bastos (1988, p.14) considera que este sen-tido crtico e a capacidade de julgamentoso formados por meio do contato comas mltiplas informaes recebidas do meioambiente, incluindo nestas aquelas recebidasatravs do vdeo, conforme o desenvolvi-mento e crescimento da criana.

    Sobre os contedos de veiculao destina-dos ao pblico infantil, principalmente seria-dos animados, a autora ainda ressalta que h

    identificao das crianas com os seus per-sonagens favoritos, o que as capacita a imi-taes: (...) Ao acompanharem as aventurase situaes vividas pelos heris, comparti-lham dos seus sentimentos e modo de agir(BASTOS, 1988, p. 14 e 15). Sobre as ani-maes infantis, a autora ainda afirma que

    (...) Observamos que as emissesinfantis tendem a mostrar muitosdesenhos animados que, alm deexplorarem muito as cenas de vio-lncia, com lutas e destruio dosinimigos, apresentam noes er-radas e absurdas sobre o espao, avida e os seres em geral. (BAS-TOS, 1988, p.19)

    Susan Linn, importante pesquisadoranorte-americana da relao entre crian-a/infncia e meios de comunicao, enfa-tiza esse modo de influncia dos programase personagens em relao aos comportamen-tos:

    (...) O poder das histrias (...) deafetar a vida real existe na sua ca-pacidade de nos levar, mesmo quemomentaneamente, a acreditar queo mundo criado verdadeiro e nofato de apresentar personagens quenos lembram a ns mesmos comofomos ou desejaramos ser. Ao nosespelharmos nesses personagens,eles se tornam como ns. Pode-mos, consciente ou inconsciente-mente, adotar seus comportamen-tos, valores e atitudes como se fos-sem nossos. (LINN, 2006, p. 144)

    A autora ainda acrescenta que por contado grande tempo que as crianas ficam ex-postas diante da televiso, praticamente

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    impossvel que elas no sejam influenciadasde alguma forma por este meio de comuni-cao, seja por comportamentos, linguagens,modos de vestir, assuntos discutidos ou osprprios brinquedos utilizados, que ganhamformas reais dos personagens apresentadosna programao.

    O contedo que costuma prevalecer naprogramao destinada ao pblico infantilso as animaes os desenhos que gerammuitas preocupaes dos estudiosos justa-mente por serem o espao do fantasioso.Claro que no afirmarmos aqui que as crian-as so seres manipulveis e que iro repro-duzir tudo aquilo que assistirem na televiso.O receptor, inclusive a criana, um sujeitocrtico, no algo moldvel. Como bem assi-nala Jones (2004, p. 20):

    Quando se analisam as crianasem relao mdia de massa e cultura popular, nossa tendn-cia defini-las como consumi-dores, expectadores, receptores,vtimas. Mas elas tambm sousurios daquela mdia e daquelacultura: fazem escolhas e interpre-taes, delineiam o que. Enxergaras crianas como receptoras passi-vas do poder da mdia nos colocaem conflito com as fantasias queelas escolheram e, portanto, comas prprias crianas. Enxerg-lascomo usurias ativas permite quetrabalhemos com o entretenimentoque as ajude a crescer.

    A preocupao maior com este pblico,entretanto, se d pelo fato de a criana aindano dispor de todos os mecanismos (inclu-sive fisiolgicos) que lhe permitam desen-volver o olhar amplamente crtico e fazer a

    separao entre a realidade da tela e a rea-lidade vivida. O que preocupa, conformeKohn (2007), que o contedo dos desenhosexibidos nas emissoras brasileiras, em geral,trabalha com duas temticas: o non sense ea violncia. Embora haja desenhos que tra-balhem contedos educativos e que estimu-lam valores positivos, o problema est nofato de que (...) para a criana desenho desenho, uma reunio de imagens ldicas eatraentes, que so veiculadas sem nenhumarestrio ou diferenciao, sendo, portanto,difcil saber o que bom ou ruim para o ex-pectador mirim. (KOHN, 2007, p. 2)

    Partindo desta discusso, esta pesquisateve como objetivo analisar qual o contedodos desenhos animados exibidos durante operodo de recesso escolar nas duas emisso-ras brasileiras de maior audincia, e, a par-tir desses contedos, que comportamentos,valores e atitudes podem estar ajudando apropagar nas mentes dos pequenos especta-dores televisivos brasileiros.

    A metodologia empregada foi a anlisede contedo, conforme as proposies deBardin (1977), enfatizando os aspectos dacategorizao e tematizao desenvolvidospela autora.

    2 O Plin-Plin da CrianadaNa Rede Globo, a programao voltada parao pblico infantil inicia a partir das 9 horase 40 minutos com a TV Globinho, e se es-tende at as 11horas e 30 minutos da manh.O programa tem durao de uma hora e 45minutos de segunda a sexta e, aos sbados,geralmente inicia s oito da manh. Na dataescolhida para a anlise (21/07/2009), o pro-grama apresentou desenhos animados e se-riados voltados para crianas e adolescentes.

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    Teve dois intervalos de trs minutos e, antesde seu incio, foi possvel observar a indi-cao de faixa etria recomendada, livre paratodas as idades.

    Esta edio da TV Globinho foi apresen-tada por um casal de adultos, vestidos comoadolescentes: Paulo Mathias Jnior, de 26anos e Mariah Rocha, de 19. Alm disso,o cenrio no qual ambos aparecem deco-rado com os personagens de vrios desenhosanimados, como por exemplo, a turma doMickey Mouse, do Bob Esponja, Trs Es-pis Demais, entre outros. Durante a falados apresentadores, no houve propagandasou merchandising que fizessem aluso a al-gum tipo de produto.

    O primeiro desenho exibido durante os 20primeiros minutos do programa foi DuckTales os caadores de aventuras. A ani-mao infantil da Disney produzida entre1987 e 1990 exibida no programa desdeo dia 13 de abril deste ano. A srie contaas aventuras de Tio Patinhas e seus sobri-nhos Huguinho, Zezinho e Luizinho, todosanimais em forma humana, sendo a maio-ria patos. Destinado s crianas de todas asidades, o desenho no apresentou cenas deviolncia e pode ser caracterizado como de-senho do tipo non sense, que segundo Kohn(2007, p. 3) literalmente algo sem sentido,(...) Parte da lgica que algo que se difereda realidade, o que no vida real, onde nodesenho tudo se pode. Explica ainda a au-tora sobre as caractersticas do desenho nonsense:

    Direcionado a crianas entre 2 e 12anos, evoca a um humor ingnuo ede fraco contedo, recaindo, tam-bm, ao ridculo, ao ilgico, bo-bice e ao bizarro. Apresenta, alm

    disso, uma desconstruo da rea-lidade, onde se pode atribuir ca-ractersticas e faculdades humanasaos animais e os personagens po-dem realizar qualquer faanha pos-suindo habilidades (poderes) espe-ciais. (KOHN, 2007, p. 3)

    Como se v, o caso dos Duck Tales,porm uma caracterstica evidente a grandeateno que Tio Patinhas d ao seu dinheiro,maior do que para os sobrinhos. Talvezessa atitude do personagem possa de algumaforma influenciar as crianas a valorizaremmais os bens materiais do que os relaciona-mentos familiares, tpica caracterstica doTio Patinhas.

    3 Do fundo do mar ao meio dafloresta

    Bob Esponja uma animao que surgiu hdez anos no canal pago Nickelodeon. NoBrasil, exibido em canal aberto diaria-mente pela TV Globinho. Com dez minutosde durao, relata histrias vividas por umaesponja amarela e seus amigos, que moramno Oceano Pacfico. A principal caracters-tica do desenho a inocncia do personagemem relao aos acontecimentos da trama. In-dicado a todas as idades, o pblico alvo principalmente crianas mais novas, devido infantilidade presente no seriado. Tam-bm se caracteriza como desenho do tipo nonsense.

    Com os mesmos dez minutos de du-rao, George, o rei da floresta a ter-ceira atrao da manh global exibida noBrasil. A srie norte-americana de 1967 foirefeita pelo canal pago Cartoon Network, so-bre um menino criado por macacos no meio

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    da selva, que tem histria semelhante deTarzan. No h faixa etria definida, j que odesenho tambm apresenta teor infantil, semcenas de violncia.

    4 Violncia, tecnologia e efeitosespeciais da animao aosseriados

    Trs Espis Demais uma animaofrancesa, no estilo dos quadrinhos denomi-nados mangs. O trio de adolescentes tra-balha em misses secretas e possvel perce-ber a presena de aparatos tecnolgicos como naves, computadores, equipamentosrastreadores, culos de viso raios-X, entreoutros durante os quase vinte minutos dedurao do desenho. Esto presentes algu-mas cenas de violncia na animao, se com-parada s exibies anteriores.

    Com a participao de atores ao estilo dotradicional Power Ranger, entra na progra-mao da TV Globinho s 10h50 o KamenRider Cavaleiro Drago. A histria re-lata a vida de trs amigos que utilizam car-tas para se transformarem em super-herisna batalha do bem contra o mal. A pre-sena de efeitos especiais e de lutas carac-terizam a srie. Pode ser considerada comoa atrao infantil com maior teor de violn-cia presente na programao voltada a estepblico. Alm disso, existe certa dificul-dade para quem no acompanha o seriado,em compreender a trama. A nica evidn-cia que os personagens principais buscamcombater o mal.

    Os Feiticeiros de Weaverly Place estreouna TV aberta no final do ms de junho. Oseriado norte-americano produzido e at en-to exibido pela Disney envolve o mundo da

    famlia Russo. Os trs irmos Justin, Alexe Max so filhos de um ex-mago e de umano-maga. O trio tem poderes mgicos evive competindo entre si para ver qual de-les o melhor. Em tom de comdia, a srieteve durao de vinte minutos e a ltimaatrao da TV Globinho. No apresentou ce-nas de violncia, mas por ser uma srie comencenao de atores, alguns efeitos especi-ais apresentados no episdio analisado trans-mitem, principalmente s crianas de menoridade, a sensao de que possvel existirjovens com poderes mgicos, atravs da mis-tura da fico com a realidade.

    Sendo a classificao indicativa consi-derada pela emissora como livre, podemosquestionar at que ponto os contedos soadequados para o pblico infantil, j quemuitos deles reproduzem o universo adultocom personagens adolescentes ou animais,ou at adultos, e alguns trabalham enfatica-mente o universo competitivo e violento. Seas crianas sero ou no influenciadas poresses desenhos, vai depender do contexto so-ciocultural em que se d a recepo dessesmateriais, entretanto, uma coisa parece evi-dente nos desenhos acima destacados: elespouco ou nada retratam do universo infan-til. O conceito de infncia desses contedosparece bastante difuso, difcil de visualizar.

    5 Adolescentes e o mundo virtualA emissora preparou uma minissriebrasileira especial para as frias. Em cincoepisdios, [email protected] teve meia hora dedurao, em seguida TV Globinho. Umabanda de pr-adolescentes impedida derealizar seus ensaios em um condomniodo Rio de Janeiro. Os cinco integrantesmais trs fs fiis (todos com idades entre

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    oito e 14 anos aproximadamente) que osajudam a encontrar alternativas para oscomponentes da www poderem tocar. Aminissrie foi caracterizada pelo mundodos adolescentes, que vivem em contatodireto com a tecnologia e com o excesso deinformaes.

    No h presena de violncia, porm possvel perceber os comportamentos dosjovens retratados no episdio analisado: acomunicao com os vizinhos atravs dawebcam, as roupas da moda e os estilos ado-tados por cada personagem, as amizades pormeio de sites de relacionamento, os namorosj presentes e o sucesso com a divulgao devdeos pela internet.

    Durante a anlise, houve ainda a partici-pao de msicos como Frejat e Maurcio,da banda Baro Vermelho; Jnior, da banda9 mil Anjos; entre outros msicos de sucessoque deram seu depoimento, incentivando osadolescentes a tocarem em bandas. Foi pos-svel, ainda, encontrar merchandising do siteda Globo, quando uma das personagens doepisdio acessa a pgina.

    6 Em boa companhiaEm comparao Rede Globo, o SistemaBrasileiro de Televiso (SBT) tem maiordedicao ao pblico infantil no perodomatutino. As atraes iniciam a partir dassete horas da manh, com a primeira partedo programa Carrossel Animado. Duranteuma hora, sem intervalos comerciais, a emis-sora exibiu oito animaes de Tom e Jerry,de sete minutos cada. A segunda parte doprograma, com durao de uma hora, foi a-presentada por Rebeka Angel, uma meninade nove anos.

    Por ter maior programao voltada s

    crianas, maior tambm a variedade dedesenhos animados veiculados. Alm deTom e Jerry, Riquinho, Coragem o cocovarde, Muttley e Andy e seu esquilo soas primeiras atraes do Carrossel Animado.Em todas as animaes, no houve contedode violncia explcita. Apesar de, por exem-plo, Tom e Jerry possuir cenas de brigas en-tre a caa do gato pelo rato e, em algumasa presena de cigarros e charutos consumi-dos pelos personagens, o contedo pode serclassificado como irnico e at mesmo infan-tilizado, reafirmando a classificao comonon sense. O desenho, criado na dcadade 1940, fez ainda faz parte da infncia devrias geraes. Alguns episdios chegarama ser proibidos em alguns pases, devido apologia ao tabagismo, por exemplo.

    Criado por Willian Hanna e Joseph Bar-bera, Riquinho um menino milionrio ejunto com seu cachorro Dlar vivem aven-turas no mundo onde dinheiro no pro-blema. Ambos contam com a ajuda de robse aparatos tecnolgicos, muitas vezes cria-dos especialmente para a famlia Rico. Aanimao veiculada teve sete minutos de du-rao e no houve cenas de violncia duranteo perodo de anlise.

    Coragem, o co covarde uma animaocriada pelo canal pago Cartoon Network.Com seus donos Muriel e Eustcio Bagges,o cachorro Coragem vive em uma fazendana cidade de Lugar Nenhum, nos EstadosUnidos. A cada episdio, o co medrosoenfrenta criaturas estranhas, desde monstrosat fantasmas e aliengenas. No apresentoucenas de lutas ou brigas no episdio avalia-do, entretanto costuma utilizar o humor parailustrar cenas de terror que perseguem a vidados trs personagens da histria. A indicaopara a faixa etria tambm foi livre.

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    O episdio de trs minutos de Muttleytrouxe apenas uma cena de violncia, quandoo co vira-lata torna-se o Super Muttleye agride seu ex-companheiro e vilo DickVigarista (Corrida-Maluca). Assim comoos episdios de Tom e Jerry, que muitasvezes utilizam explosivos, cofres, facas ouarmadilhas nas perseguies, Muttley tam-bm se aproveita da ironia para enfatizaro fracasso de Dick, quando o assunto seaproveitar dos outros. A evidncia da ani-mao est relacionada com o fato de que to-das as ms atitudes de Vigarista sempre sofracassadas, ou seja, incentiva as crianas ano terem o mesmo comportamento do per-sonagem.

    A presena de violncia tambm no es-teve evidente em Andy e seu esquilo, queassim como Coragem, o co covarde umacriao do Cartoon Network. A animaofica por conta das aventuras do meninoAndy, de nove anos, e de seu esquilo de es-timao falante (Rodney) que sempre os en-volve em confuses. Cada episdio do de-senho apresentou durao de dez minutos.

    7 Brincadeiras X Violncias nove horas da manh tem incio o BomDia e Cia., apresentado por Priscilla Alcn-tara e Yudi Tamashiro, com 13 e 16 anos res-pectivamente. O cenrio o mesmo do pro-grama anterior, composto por alguns saposverdes chamados de greens, duas roletasque sorteiam os brinquedos de quem venceas provas e dos equipamentos necessriospara cada brincadeira que tem participaodo telespectador.

    No total, foram quatro intervalos de qua-tro minutos e meio durante o programa que exibido das nove da manh at s 12h45. O

    merchandising esteve presente no Bom Dia eCia., quando os apresentadores divulgaram amarca de roupas Trick Nick, bem como umconcurso de desenhos que a grife est pro-movendo.

    Fazem parte do menu de atraes do BomDia e Cia., os desenhos A vida e as aven-turas de Juniper Lee, Ben 10, Liga da Justia,Teen Tits Os jovens Tits, Naruto e X-Men Evolution. Todos estes desenhos apre-sentaram cenas de lutas e violncia, algunsem menor e outros em maior grau.

    Uma das caractersticas dos dois progra-mas matinais do SBT a participao dopblico. Durante toda a manh os telespec-tadores podem participar de brincadeiras pormeio de ligaes. Ao total, foram contabi-lizadas trs brincadeiras no Carrossel Ani-mado e nove no Bom Dia e Cia., tendo aparticipao de 18 crianas. Quem venceos desafios (como jogo da velha, onde esto erro ou batalha naval) ganha prmios desde brinquedos at computadores e jogoseletrnicos. Uma brincadeira que chamoua ateno foi a Multiplicao, em que acriana precisou acertar o resultado de doisnmeros escolhidos multiplicados, conformea tabuada. Este desafio demonstrou de certaforma o incentivo do programa educao,uma vez que utiliza o entretenimento paraensinar.

    O primeiro desenho animado do Bom Diae Cia. foi A vida e as aventuras de Ju-niper Lee, sobre uma menina escolhida paralutar contra monstros e manter o equilbriodo planeta. O episdio analisado apareceuem trs momentos do programa: as duasprimeiras partes de nove e seis minutos divididas pelo intervalo comercial e, a ter-ceira parte, aps uma das brincadeiras do

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    programa. O desenho apresentou somenteuma cena de briga, no incio de sua exibio.

    8 Influncia orientalBen 10 uma animao inspirada nos dese-nhos japoneses, denominados anim. Ben um menino que possui um relgio capaz detransform-lo em dez diferentes aliengenas,que o faz combater o mal. Tambm criaodo Cartoon Network, o desenho exibido emcanal aberto pelo SBT e tem 22 minutos dedurao. Possui vrias cenas de violncia,quando o menino briga com aliengenas ououtros monstros para combater o mal. NoBom Dia e Cia, so veiculados dois epis-dios por manh.

    Assim como Ben 10, Teen Titans (OsJovens Tits) tambm um seriado norte-americano com caractersticas dos animesjaponeses e possui veiculao dupla no pro-grama 20 minutos cada uma delas. O grupode cinco jovens super-heris utiliza fantasiase possui poderes especiais utilizados paracombater o mal. H presena de cenas delutas e violncia, alm de efeitos especiais ealta tecnologia que auxiliam os personagensem suas batalhas.

    O desenho japons Naruto, tambm de es-tilo mang, apresentou cenas de luta e vio-lncia durante os 18 minutos de exibio. Oepisdio girou em torno de um duelo entredois personagens para tornarem-se ninjas. Adisputa demonstrou vrias agresses, carac-terstica de parte dos desenhos deste gnero(como Dragon Ball Z, Yu Yu Hakusho, Oscavaleiros do Zodaco, Fly, entre outros).

    9 Dos quadrinhos para as telasFormada por super-heris como Batman,Super-Homem e Mulher-Maravilha, a equipeuniu-se para combater o mal. Criada pelaWarner Bross, a Liga da Justia Sem Limitesapresenta em seu contedo cenas de luta eagresses quando os personagens enfrentambatalhas contra o mal. Teve vinte minutosde durao e se houvesse classificao porfaixa etria, deveria ser indicado para crian-as mais velhas, acima de dez anos, por e-xemplo.

    A escola do Professor Charles Xavier dedicada para alunos especiais: mutantesque desenvolveram poderes especiais. O se-riado X-Men Evolution gira em torno de mu-tantes do bem contra Magneto, um mutanteque utiliza seus poderes em benefcio de si,prejudicando os outros. Criada pela Mar-vel Comics, geralmente os episdios da srieapresentam cenas de forte violncia, com-bates, tecnologia como uma das naves queos alunos de Xavier utilizam e efeitos espe-ciais. dedicado para crianas e adoles-centes, e foi a ltima atrao do Bom Dia eCia, com durao de 16 minutos.

    Ao trmino do Bom Dia e Cia, a progra-mao segue com os episdios de Chaves.O seriado mexicano, gravado nas dcadas de1970 e 1980, exibido desde 1984 no Brasilpelo SBT. O menino pobre e rfo que viveem uma vila e dorme em um barril demons-tra a inocncia do mundo infantil e vei-culado das 12h45 s 13h15. A programaoda tarde tambm traz seriados voltados parao pblico infantil, porm no h reprise dasexibies matinais. Neste perodo de frias,h indicaes da emissora de que a progra-mao especial para as crianas.

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  • 10 Robson Souza dos Santos, Valquiria Michela John e Taiana Steffen Eberle

    Consideraes FinaisDe um modo geral, as exibies da RedeGlobo durante a manh analisada demons-traram a presena de programas mais ino-centes voltados ao pblico infantil. Porm, medida que o horrio se aproxima do meio-dia, cenas de luta e violncia so inseridasem alguns seriados. Alm disso, possvelperceber que na maioria das exibies algunsvalores so destacados: o bem que sempredeve combater o mal, assim como a corageme a amizade entre os personagens ficam e-videntes em todos os desenhos e seriados e-xibidos.

    No nos coube aqui avaliar os intervaloscomerciais. Entretanto, foi considervel onmero de inseres de publicidade voltadaao pblico infantil, principalmente brinque-dos no SBT. Isso pode ser explicado a partirdo que dizem Kincheloe e Steinberg, 2000,p. 24:

    Interesses comerciais ditam a cul-tura infantil da mdia, a margem delucro muito importante para quese importem com o que concerneao bem estar das crianas. Emcomparao promoo de mlti-plos produtos da cultura infantil,os protetores da criana tm acessolimitado a essas vias de promoo.Estas corporaes que fazem pro-pagandas de toda a parafernliapara as crianas consumirem pro-movem uma teologia de con-sumo que efetivamente prometeredeno e felicidade atravs doato de consumo.

    Ficaram evidentes tambm, as parceriasadquiridas por cada meio de comunicao: A

    Rede Globo com a Disney e a Nickelodeon,e o SBT, com o Cartoon Network, a WarnerBross e a Marvel Comics. Alm disso,este dedica sua programao por muito maistempo aos desenhos animados, enquanto aGlobo d preferncia para os seriados em suaprogramao de menor tempo dedicado aopblico infantil. Outra caracterstica comumentre ambas as emissoras foi que, no perodode frias, no houve mudanas considerveisna grade no que diz respeito veiculao deprogramas especiais, principalmente aps as18 horas. Somente a exibio de filmes comsuper-heris esteve presente em horrios queultrapassavam s 22h no SBT.

    Outro aspecto ressaltado que a maioriados desenhos animados veiculados na pro-gramao das emissoras de canal aberto temorigem estrangeira, principalmente norte-americana, o que demonstra a influncia cul-tural de outros pases atravs da veiculaodestes seriados e, de certo modo, a nooque se tem da infncia. Como afirmam Es-perana e Dias (2008, p. 191)

    O formato homogeneizante daprogramao infantil permite quecrianas de diferentes partes domundo assistam aos mesmos de-senhos animados, aos mesmos per-sonagens criados virtualmente eaos mesmos astros mirins. Almdisso, assistem as mesmas cam-panhas publicitrias de salgadi-nhos, e roupas, de jogos e brin-quedos. Diante dessa condio, aTV educa as crianas, uma vez quefabrica modos de ser infantil, inter-ferindo nos modos de pensar, sen-tir e desejar, nas formas de rela-cionamento que estabelecem com

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  • A Bab Eletrnica de Todas as Manhs 11

    seus pares e com os adultos, naconstruo de conceitos e valores.

    Pode-se afirmar que a invisibilidade deatraes com teor educativo predominou nasmanhs dedicas s crianas, j que o en-tretenimento foi a base dos contedos e-xibidos. Alm disso, grande parte das emis-ses apresentou o enredo das histrias comcontedos sem tanta infatilizao, sendo al-guns casos, mais voltados para adultos doque para as prprias crianas. A proble-mtica deste aspecto pode ser enfatizadapelas palavras de Perroti (1990, p. 98)quando afirma que

    Essa produo expressa uma visode mundo filtrada sempre pelosinteresses dos adultos produtores.Na realidade, a produo culturalpreparada para a criana mostra-lhe no aquilo que ela, criana, se-leciona, mas no mximo o que oaparelho produtor julga ser do in-teresse dela. Em tais condies,o olhar da criana sobre o mundoacha-se desviado, dirigido por taisobjetos tidos pelos adultos produ-tores como merecedores de suasatenes.

    Resta-nos ressaltar tambm a quantidadede seriados animados ou no com conte-dos de violncia e, at que ponto a exposiode crianas a essas exibies nociva parao seu comportamento e para a formao deseus valores. Ressaltamos o carter nopassivo do receptor, mas reafirmamos nossapreocupao quando este receptor ainda noest plenamente formado (em termos men-tais, intelectuais e inclusive morais) e o fato

    de a TV ser a principal companheira destepblico, as crianas, e de que em sua maio-ria elas absorvem essa violncia sem a orien-tao ou a problematizao de um adulto.

    Referncias BibliogrficasBARDIN, Laurence. Anlise de contedo.

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    IntroduoPor que avaliar a programao destinada ao pblico infantil?O Plin-Plin da CrianadaDo fundo do mar ao meio da florestaViolncia, tecnologia e efeitos especiais da animao aos seriadosAdolescentes e o mundo virtualEm boa companhiaBrincadeiras X ViolnciaInfluncia orientalDos quadrinhos para as telas Consideraes FinaisReferncias Bibliogrficas