São João

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1 À Glória do Grande Arquiteto do Universo ARLS Expansão da Luz nº 35 Fiat Lux Benemérita da Biblioteca Edgard Buytendorp Grande Oriente de Mato Grosso do Sul – COMAB Centro de Estudos e Pesquisas Maçônicas Expansão da Luz São João Que significa graça ou dom de Deus. Patrono da Maçonaria simbólica e primitiva, que usa esse nome. Dois são os aspectos sob os quais há que considerar aqui esta palavra que tão importante papel desempenha na Franco-maçonaria: um histórico, tal como a oferecem as Sagradas Escrituras, e o outro simbólico ou interpretativo, tal como o consideram os Franco-maçons filósofos. Começando pelo primeiro, temos de observar que são três os personagens deste nome que registram as Escrituras: o Batista, o Evangelista e o conhecido mais comumente com o sobrenome de Marcos. E como os três figuram na Franco-maçonaria desempenhando nela um papel mais ou menos importante, nada conceituamos tão adequado e oportuno, para preencher esta parte, com o resumo da vida de cada um. João o Batista ; filho do Sacerdote Zacarias e de Eliasabet sua mulher, nascido em Ebrom nas montanhas da Judéia uns seis meses antes do nascimento do Salvador. Seus pais eram já velhos e sem esperanças de ter filhos; e estando um dia Zacarias em suas funções no templo se lhe apareceu um anjo e lhe anunciou o nascimento de um filho que, cheio do Espírito do Senhor, iria adiante dele para preparar seus caminhos. Duvidou Zacarias das palavras do anjo, e em castigo ficou mudo até o dia do nascimento de seu filho. Chegado este momento, e quando aos oito dias foi circuncidado o menino, queriam pôr o nome de seu pai, não obstante que a mãe queria que se chamasse João, e logo se soltou sua língua e louvou a Deus. Tais acontecimentos impressionaram vivamente aos presentes, que, admirados, se perguntavam: Quem será este menino? Os fatos posteriores confirmaram esta admiração e os vaticínios que a anunciavam. Sobre sua infância, só sabemos, o que nos diz São Lucas, que o menino crescia e se fortalecia em espírito e esteve no deserto até o dia que se mostrou a Israel. Isto aconteceu no quinto ano do império de Tibério César, correspondente ao ano 29 do nascimento de Jesus Cristo. João, vestido de uma roupa de pelo de camelo, com um cinto de couro à cintura e alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre, apresentou-se no deserto da Judéia e pelos arredores do Jordão, pregando, o batismo de penitência e anunciando ao Messias, de quem era precursor. As pessoas acudiam de todas as partes a ouvir-lhe e confessando seus pecados eram batizadas no Jordão. Entre os que a ele vinham, se apresentou também Jesus a ser batizado, e João, que lhe reconheceu por revelação de Deus e que ele havia confessado como maior que ele, resistiu a batizar- lhe, mas convencido pelas palavras de Jesus, lhe batizou. Depois disto e de haver João dado repetidas vezes testemunho a Cristo, foi posto no cárcere por haver reprovado publicamente e com energia, a incestuosa união de Herodes com Herodías, mulher de seu irmão Felipe, e estando no cárcere, enviou dois de seus discípulos a Jesus, que andava pela Galiléia pregando o Evangelho do reino, e por este motivo fez grandes elogios a seu precursor. Este não deixava de reprovar no cárcere a conduta de Herodes, e isto lhe acarretou o ódio de sua incestuosa cunhada, que determinou perder- lhe, se bem aquele tinha ao povo que amava muito a João. Um dia celebrava Herodes seu natalício com seus cortesãos e durante o festim se apresentou a filha de Herodías saltando e bailando tão admiravelmente, que, entusiasmado aquele, lhe prometeu com juramento dar-lhe o que pedisse. A jovem bailarina consultou com sua mãe, e esta lhe aconselhou que pedisse a cabeça de João o Batista. Ante a esta petição Herodes sentiu haver levado tão adiante sua promessa, mas se acreditou ligado com seu juramento e deu ordem de degolar a João, cuja cabeça, posta em um prato, foi apresentada a Herodías. Então os discípulos do Batista tomaram seu corpo e o sepultaram, era o A.D. 29. O nome de João era muito respeitado dos judeus entre os quais havia muitos prosélitos que

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    Glria do Grande Arquiteto do Universo

    ARLS Expanso da Luz n 35

    Fiat Lux

    Benemrita da Biblioteca Edgard Buytendorp

    Grande Oriente de Mato Grosso do Sul COMAB

    Centro de Estudos e Pesquisas Manicas Expanso da Luz

    So Joo

    Que significa graa ou dom de Deus. Patrono da Maonaria simblica e primitiva, que usa esse nome. Dois so os aspectos sob os quais h que considerar aqui esta palavra que to importante papel desempenha na Franco-maonaria: um histrico, tal como a oferecem as Sagradas Escrituras, e o outro simblico ou interpretativo, tal como o consideram os Franco-maons filsofos. Comeando pelo primeiro, temos de observar que so trs os personagens deste nome que registram as Escrituras: o Batista, o Evangelista e o conhecido mais comumente com o sobrenome de Marcos. E como os trs figuram na Franco-maonaria desempenhando nela um papel mais ou menos importante, nada conceituamos to adequado e oportuno, para preencher esta parte, com o resumo da vida de cada um. Joo o Batista; filho do Sacerdote Zacarias e de Eliasabet sua mulher, nascido em Ebrom nas montanhas da Judia uns seis meses antes do nascimento do Salvador. Seus pais eram j velhos e sem esperanas de ter filhos; e estando um dia Zacarias em suas funes no templo se lhe apareceu um anjo e lhe anunciou o nascimento de um filho que, cheio do Esprito do Senhor, iria adiante dele para preparar seus caminhos. Duvidou Zacarias das palavras do anjo, e em castigo ficou mudo at o dia do nascimento de seu filho. Chegado este momento, e quando aos oito dias foi circuncidado o menino, queriam pr o nome de seu pai, no obstante que a me queria que se chamasse Joo, e logo se soltou sua lngua e louvou a Deus. Tais acontecimentos impressionaram vivamente aos presentes, que, admirados, se perguntavam: Quem ser este menino? Os fatos posteriores confirmaram esta admirao e os vaticnios que a anunciavam. Sobre sua infncia, s sabemos, o que nos diz So Lucas, que o menino crescia e se fortalecia em esprito e esteve no deserto at o dia que se mostrou a Israel. Isto aconteceu no quinto ano do imprio de Tibrio Csar, correspondente ao ano 29 do nascimento de Jesus Cristo. Joo, vestido de uma roupa de pelo de camelo, com um cinto de couro cintura e alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre, apresentou-se no deserto da Judia e pelos arredores do Jordo, pregando, o batismo de penitncia e anunciando ao Messias, de quem era precursor. As pessoas acudiam de todas as partes a ouvir-lhe e confessando seus pecados eram batizadas no Jordo. Entre os que a ele vinham, se apresentou tambm Jesus a ser batizado, e Joo, que lhe reconheceu por revelao de Deus e que ele havia confessado como maior que ele, resistiu a batizar-lhe, mas convencido pelas palavras de Jesus, lhe batizou. Depois disto e de haver Joo dado repetidas vezes testemunho a Cristo, foi posto no crcere por haver reprovado publicamente e com energia, a incestuosa unio de Herodes com Herodas, mulher de seu irmo Felipe, e estando no crcere, enviou dois de seus discpulos a Jesus, que andava pela Galilia pregando o Evangelho do reino, e por este motivo fez grandes elogios a seu precursor. Este no deixava de reprovar no crcere a conduta de Herodes, e isto lhe acarretou o dio de sua incestuosa cunhada, que determinou perder-lhe, se bem aquele tinha ao povo que amava muito a Joo. Um dia celebrava Herodes seu natalcio com seus cortesos e durante o festim se apresentou a filha de Herodas saltando e bailando to admiravelmente, que, entusiasmado aquele, lhe prometeu com juramento dar-lhe o que pedisse. A jovem bailarina consultou com sua me, e esta lhe aconselhou que pedisse a cabea de Joo o Batista. Ante a esta petio Herodes sentiu haver levado to adiante sua promessa, mas se acreditou ligado com seu juramento e deu ordem de degolar a Joo, cuja cabea, posta em um prato, foi apresentada a Herodas. Ento os discpulos do Batista tomaram seu corpo e o sepultaram, era o A.D. 29. O nome de Joo era muito respeitado dos judeus entre os quais havia muitos proslitos que

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    haviam sido por ele batizados. At muito depois da morte de Jesus, quando So Paulo chegou a Efeso, encontrou muitos discpulos de Joo, entre eles Apolos os quais foram batizados no nome do Senhor Jesus. Joo o Evangelista; filho do Zebedeu e irmo de Jac o maior, e portanto parente de Jesus Cristo. Natural de Bethsaida, foi chamado ao apostolado em companhia de seu irmo, achando-se ambos no barco de seu pai Zebedeu, remendando as redes a margem do mar de Genesareth. Jesus professou a es discpulo um carinho muito particular, seja devido natural bondade de seu carter ou a que era o mais jovem de seus apstolos, e esse carinho lhe deu provas inequvocas em vrias ocasies, tanto que ele prprio Joo se chamava o discpulo que amava Jesus. Ele acompanhou a seu mestre quando da cura da sogra de Pedro, quando da ressurreio da filha de Jairo. Logo no ato da transfigurao e da ltima ceia estava sentado ao lado de Jesus e reclinado em seu seio. Outra distino recebeu de seu mestre, qual foi a de encomendar-lhe a sua me para que recebendo-a, cuidasse dela como sua prpria, considerando-se ele ao mesmo tempo seu filho. Depois da ascenso de Cristo aos Cus e da vinda do Esprito, vemos Jesus acompanhar a Pedro, ou dentro de Jerusalm, ou quando ambos foram enviados pelos demais apstolos a Samaria, que havia recebido o Evangelho pela pregao de Felipe. Mais adiante quando Pedro fez uma segunda viagem a Jerusalm acompanhado de Bernab, Joo se achava ainda naquela cidade de cuja igreja era um dos alunos. Isto ocorreu no ano 52 de nossa era, precisamente quando o primeiro Conclio celebrado pelos apstolos; as tradies que estes falam so incertas na maioria dos casos por no estar fundadas em documentos anteriores e no revestir o juzo de uma severa crtica. Com respeito a Joo se cr que, permaneceu na Judia at a tomada de Jerusalm, no ano 70, e ento se transladou a sia, onde visitou e confirmou as numerosas igrejas j estabelecidas, especialmente de feso, onde residiu at seu desterro a Patmos, onde esteve at o ano 97 em que, posto em liberdade, voltou a feso e ali morreu tranqilamente no ano 100 de Jesus Cristo. Deste apstolo se tem os seguintes escritos cannicos:

    1. O Apocalipse ou livro da Revelao, escrito durante a permanncia de Joo em Patmos e dirigido s sete igrejas principais da sia, e no qual se refere s vises e revelaes que teve sobre o futuro da Igreja de Cristo na terra, suas perseguies, a apostasia da Grande Babilnia com outros mistrios relativos ao estado dos justos, e ao triunfo final da esposa do Cordeiro. um dos livros mais misterioso e mais difcil de ler que tem a Bblia.

    2. O Evangelho de Jesus Cristo que leva seu nome e foi escrito na volta de seu desterro com objetivo de provar a divindade de Jesus Cristo, negada por alguns sectrios daquele tempo. Por isto nele principia assentando a eterna gerao do verbo, e no restante se ocupa mais daqueles feitos que provam a divindade de Cristo.

    3. As trs Epstolas que levam seu nome e so os ltimos escritos revelados. A primeira considerada como universal, dirigida a todos os fiis, ainda que em alguns cdices antigos levava uma dedicatria aos Parthos, escrita sem dvida por mo estranha. A segunda est dirigida a uma senhora crist, que alguns lhe do o nome de Eleita, traduzido por nome prprio o adjetivo de escolhida com que a qualifica o Apstolo. A terceira, por fim, est acolhida a Gayo, que no consta se o mesmo que se fala nos Atos.

    Joo de sobrenome Marcos; que quer dizer varonil, liberal, filho de Maria de Jerusalm, em cuja casa se apresentou Pedro depois que o anjo do Senhor lhe tirou do crcere. Pouco depois deste acontecimento lhe vemos acompanhar Paulo e Bernab em suas viagens apostlicas at Perge de Pamphilia, onde, separando-se deles voltou a Jerusalm; mais adiante, quando se encerrou o Conclio de Jerusalm; e resolutos Paulo e Bernab a prosseguir seu ministrio, houve entre eles uma disputa por causa de querer Bernab lev-lo com eles, ao que Paulo se ops resolutamente por fazer-lhe antes abandonado em Pamphilia; o resultado foi separar-se os dois, e buscando Paulo a Silas se dirigiu Sria e Ceclia, enquanto que Bernab com Marcos embarcou para Chipre. Isto ocorreu no princpio da era crist, e depois nada nos ensina a histria apostlica sobre o paradeiro deste discpulo. Mas quando escreveu So Paulo sua segunda epstola a Timteo, lhe roga que leve consigo a Marcos, quando aquele viesse a Roma, e isto parece indicar que o ano 66 data mais provvel daquela Epstola, se achava Marcos em feso ou em alguma outra das Igrejas da sia. Na primeira Epstola de So Pedro, escrita desde a Babilnia, no Egito no ano 60, e dirigida aos cristos do Ponto Galacia, Capadocia, sia e Bittinia, se fala de Marcos como residente na Babilnia e esta circunstncia fez crer a alguns que este Marcos a quem So Pedro chama de seu filho, distinto de Joo Marcos de quem viemos falando. No h razo alguma para fazer esta distino, e a mesma circunstncia de chamar-lhe Pedro seu filho, parece confirmar que fala do mesmo Joo, a quem deu este qualificativo sem dvida por haver-lhe convertido f crist e pelo amor que professava a sua famlia em Jerusalm. Mas isto assim, no h inconveniente em admitir que na data da 2 a Timoteo se

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    fala de Marcos em feso, ou em outra parte da sia, embora seis anos antes houvesse estado na Babilnia com o apstolo Pedro. Por ltimo diremos, que nenhum fato histrico, nem nenhum dado autntico existe para afirmar, como fazem os romanistas, que Marcos houvesse estado em Roma em companhia de So Pedro, do qual era amanuense e intrprete. Em seu lugar faremos ver como aquele Apstolo nunca esteve em Roma. O Evangelho segundo So Marcos, a quem se atribuiu sempre, consta de dezesseis captulos, e a Igreja o admitiu como cannico em todo tempo, por mais que se ignore a data precisa e o lugar onde foi escrito. Admite-se, contudo, como o mais provvel, que este teve lugar em Constantinopla no ano 67 de nossa Era e foi escrito em hebraico. Cavaleiro do Templo de So Joo: Ttulo de um grau jesutico-poltico, dos antigos Captulos ingleses. Clerus (clrigo) ou Favorito de So Joo (leia-se Frates Societatis Jesu) grau 6 do sistema jesutico sueco ou de Zinnendorf. Forma parte do Captulo dos iluminados. Na Sucia este grau se denomina tambm Cavaleiro do Oriente ou Novio. Os irmos levam, como distintivo, alm da cruz vermelha dos templrios, uma medalha suspensa de uma cinta que ostenta um Ecce homo em uma face e na oposta um cordeiro com o estandarte triunfante da Igreja (sinal da primavera segundo uma interpretao simblica), com a divisa, Ecce agnus Dei qui tollit pecata mundi. Este grau se dedica interpretao do captulo 60 de Isaias. Com este mesmo ttulo se designa o grau 7 do sistema de Swedenborg, que em essncia no oferece nenhuma variante que lhe distinga do que nos ocupamos. Irmos de So Joo: Ttulo que tomaram os obreiros pertencentes s Corporaes ou Confraternidades dos Franco-maons durante o transcurso do sculo VI; qualificao que pelo jeito lhes foi dada na Inglaterra. ntimo de So Joo: Grau 6 do sistema praticado pelo Captulo unido da Grande Loja da Sucia. Este grau compreende o Cavaleiro do Oriente e parte do Cavaleiro do Ocidente, que constitui o grau 17 do Rito chamado Escocs Antigo e Aceito.

    So Joo por Jos Castellani

    POR QUE SO JOO NOSSO PADROEIRO? Alm de girar em torno de seu eixo, a Terra desloca-se no espao, com um movimento de translao em torno do Sol, quando descreve uma elipse, de acordo com as leis de Kepler. Para o observador situado na Terra, todavia, como se esta fosse fixa e o Sol se movesse em torno dela, seguindo um caminho, que, como j foi visto, chamado de eclptica. Em sua marcha em torno do Sol, a Terra, descrevendo uma elipse, ficar mais prxima, ou mais afastada do astro da luz. O ponto mais prximo 147 milhes de quilmetros o perilio; o mais afastado 152 milhes de quilmetros o aflio. Se a Terra, no movimento de translao, girasse sobre um eixo vertical em relao ao plano da rbita, as suas diferentes regies receberiam iluminao sempre sob o mesmo ngulo e a temperatura seria sempre constante, em cada uma delas. Mas, como o eixo inclinado, em relao rbita, essa inclinao faz com que os raios solares incidam sobre a Terra segundo um ngulo diferente, a cada dia que passa. E, assim, vo se sucedendo as estaes: vero, outono, inverno e primavera. Como os planos do equador terrestre e da eclptica no coincidem, tendo uma inclinao, um em relao ao outro, de 23 graus e 27 minutos, eles se cortam ao longo de uma linha, que toca a eclptica em dois pontos: so os equincios. O Sol, em sua rbita aparente, cruza esses pontos, ao passar de um hemisfrio celeste para outro; a passagem de Sul, e Norte, marca o incio da primavera no hemisfrio Norte e do outono no hemisfrio Sul; a passagem do Norte para o Sul, marca o incio do outono no hemisfrio Norte e da primavera no hemisfrio Sul. Esses so os equincios de primavera e de outono. Por outro lado, nos momentos em que o Sol atinge sua maior distncia angular do equador terrestre, ou seja, quando mximo o valor de sua declinao, ocorrem os solstcios. Os dois solstcios ocorrem a 21 de junho e a 21 de dezembro; a primeira data marca a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trpico de Cncer, enquanto que a segunda a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trpico de Capricrnio. No primeiro caso, o Sol est em aflio e o solstcio de vero no hemisfrio Norte e de inverno no hemisfrio Sul; no segundo, o Sol est em perilio e solstcio de inverno no hemisfrio Norte e de vero no hemisfrio Sul. Portanto, o solstcio de vero no hemisfrio Norte e de inverno no hemisfrio Sul, ocorre quando o Sol est em sua posio mais boreal (Norte), enquanto que o solstcio de vero no hemisfrio Sul e de inverno no hemisfrio Norte, ocorre quando o Sol est em sua posio mais austral (Sul).

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    Por herana recebida dos membros das organizaes de ofcio, que, tradicionalmente, costumavam comemorar os solstcios, essa prtica chegou Maonaria moderna, mas j temperada pela influncia da Igreja sobre as corporaes operativas. Como as datas dos solstcios so 21 de junho e 21 de dezembro, muito prximas das datas comemorativas de So Joo Batista 24 de junho e de So Joo Evangelista 27 de dezembro elas acabaram por se confundir com estas, entre os operativos, chegando atualidade. Hoje, a posse dos Gros-Mestres das Obedincias e dos Venerveis Mestres das Lojas realiza-se a 24 de junho, ou em data bem prxima; e no se pode esquecer que a primeira Obedincia manica do mundo, como j foi visto, foi fundada em 1717, no dia de So Joo Batista. Graas a isso, muitas corporaes, embora houvesse um santo protetor para cada um desses grupos profissionais, acabaram adotando os dois So Joo como padroeiros fazendo chegar esse hbito moderna Maonaria, onde existem, segundo a maioria dos ritos, as Lojas de So Joo, que abrem seus trabalhos glria do Grande Arquiteto do Universo (Deus) e em honra a S. Joo, nosso padroeiro, englobando, a, os dois santos. No templo manico, essas datas solsticiais esto representadas num smbolo, que o Crculo entre Paralelas Verticais e Tangenciais. Este significa que o Sol no transpe os trpicos, o que sugere, ao maom, que a conscincia religiosa do Homem inviolvel; as paralelas representam os trpicos de Cncer e de Capricrnio e os dois S. Joo. Tradicionalmente, por meio da noo de porta estreita, como dificuldade de ingresso, o maom evoca as portas solsticiais, estreitos meios de acesso ao conhecimento, simbolizados no crculo csmico, no crculo da vida, no zodaco, pelo eixo Capricrnio-Cncer, j que Capricrnio corresponde ao solstcio de inverno e Cncer ao de vero (no hemisfrio Norte, com inverso para Sul). A porta corresponde ao incio, ou ao ponto ideal de partida, na elptica do nosso planeta, nos calendrios gregorianos e tambm em alguns pr-colombianos, dentro do itinerrio sideral. O homem primitivo distinguia a diferena entre duas pocas, uma de frio e uma de calor, conceito que, inicialmente, lhe serviu de base para organizar o trabalho agrcola. Graas a isso que surgiram os cultos solares, com o Sol sendo proclamado como fonte de calor e de luz o rei dos cus e o soberano do mundo, com influncia marcante sobre todas as religies e crenas posteriores da humanidade. E, desde a poca das antigas civilizaes, o homem imaginou os solstcios como aberturas opostas do cu, como portas, por onde o Sol entrava e saa, ao terminar o seu curso, em cada crculo tropical. A personificao de tal conceito, no panteo romano, foi o deus Janus, representado como divindade bifsica, graas sua marcha pendular entre os trpicos; o seu prprio nome demonstra essa implicao, j que deriva de janua, palavra latina que significa porta. Por isso, ele era, tambm, conhecido como Janitur, ou seja, porteiro, sendo representado com um molho de chaves na mo, como guardio das portas do cu. Posteriormente, essa alegoria passaria, atravs da tradio popular crist, para So Pedro, mas sem qualquer relao com o solstcio. Janus era um deus bicfalo, com duas faces simetricamente opostas, cujo significado simbolizava a tradio de olhar, uma das faces, constantemente, para o passado, e a outra, para o futuro. Os Csares da Roma imperial, em suas celebraes e para dar ingresso ao Sol nos dois hemisfrios celestes, antepunham o deus Janus, para presidir todos os comeos de iniciao, por atribuir-lhe a guarda das chaves. Tradicionalmente, tanto para o mundo oriental, quanto para o mundo ocidental, o solstcio de Cncer, ou da Esperana, alusivo a So Joo Batista (vero no hemisfrio Norte e inverno no hemisfrio Sul), a porta cruzada pelas almas mortais e, por isso, chamada de Porta dos Homens. Enquanto que o solstcio de Capricrnio, ou do Reconhecimento, alusivo a So Joo Evangelista (inverno no hemisfrio Norte e vero no hemisfrio Sul), a porta cruzada pelas almas imortais e, por isso, denominada Porta dos Deuses. Para os antigos egpcios, o solstcio de Cncer (Porta dos Homens) era consagrado ao deus Anbis; os antigos gregos o consagravam ao deus Hermes. Anbis e Hermes eram, na mitologia desses povos, os encarregados de conduzir as almas ao mundo extraterreno. A importncia dessa representao das portas solsticiais pode ser encontrada com o auxlio do simbolismo cristo, pois, para o maom, as festas dos solstcios so, em ltima anlise, as festas de So Joo Batista e de So Joo Evangelista. So dois So Joo e h, a, uma evidente relao com o deus romano Janus e suas duas faces: o futuro e o passado, o futuro que deve ser construdo luz do passado. Sob uma viso simblica, os dois encontram-se num momento de transio, com o fim de um grande ano csmico e o comeo de um novo, que marca o nascimento de Jesus: um anuncia a sua vinda e o outro propaga a sua palavra. Foi a semelhana entre as palavras Janus e Joannes (Joo, que, em hebraico Ieho-hannanm = graa de Deus) que facilitou a troca do Janus pago pelo Joo cristo, com a finalidade de extirpar uma tradio pag, que se chocava com o cristianismo. E foi desta maneira que os dois So Joo foram associados aos solstcios e presidem as festas solsticiais. Continua, a, a dualidade, princpio da vida: diante de Cncer, Capricrnio; diante dos dias mais longos, do vero, os dias mais curtos, do inverno; diante de So Joo do inverno, com as

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    trevas, Capricrnio e a Porta de Deus, o So Joo do vero, com a luz, Cncer e a Porta dos Homens (vale recordar que, para os maons, simbolicamente, as condies geogrficas so, sempre, as do hemisfrio Norte). Dentro dessa mesma viso simblica, podemos considerar a configurao da constelao de Cncer. Suas duas estrelas principais tomam o nome de Aselos (do latim Asellus, i = diminutivo de Asinus, ou seja: jumento, burrico). Na tradio hebraica, as duas estrelas so chamadas de Haiot Nakodish, ou seja, animais de santidade, designados pelas duas primeiras letras do alfabeto hebraico, Aleph, e Beth, correspondentes ao asno e ao boi. Diante delas, h um pequeno conglomerado de estrelas, denominado, em latim, Praesepe, que significa prespio, estrebaria, curral, manjedoura, e que, em francs, crche, tambm com o significado de prespio, manjedoura, bero. Essa palavra crche, j foi, inclusive, incorporada a idiomas latinos, com o significado de local onde crianas novas so acolhidas, temporariamente. Esse simbolismo d sentido observao material: Jesus nasceu a 25 de dezembro, sob o signo de Capricrnio, durante o solstcio de inverno, sendo colocado em uma manjedoura, entre um asno e um boi. Essa data de nascimento, todavia, puramente simblica. Para os primeiros cristos, Jesus nascera em julho, sob o signo de Cncer, quando os dias so mais longos no hemisfrio Norte. O sentido cristo, no plano simblico, abordaria, ento, apenas a Porta dos Homens e, assim, s haveria a compreenso de Jesus, como ser, como homem. Mas Jesus o ungido, o messias, o Cristo, - segundo a teologia crist e o outro plo, obrigatoriamente complementar, a Porta de Deus, sob o signo de Capricrnio, tornando a dualidade compreensvel. Dois elementos, entretanto, um material e um religioso, viriam a influir na determinao da data de 25 de dezembro. O material refere-se aos hbitos dos antigos cristos e o religioso, ao mitrasmo da antiga Prsia, adotado por Roma. Os primeiros cristos do Imprio Romano, para escapar s perseguies, criaram o hbito de festejar o nascimento de Jesus durante as festas dedicadas ao deus Baco, quando os romanos, ocupados com os folguedos e orgias, os deixavam em paz. Mas a origem mitraica a que mais plausvel para explicar essa data totalmente fictcia: os adeptos do mitrasmo costumavam se reunir na noite de 24 para 25 de dezembro, a mais longa e mais fria do ano, numa festividade chamada no mitrasmo romano de Natalis Invicti Solis (nascimento do Sol triunfante). Durante toda a fria noite, ficavam fazendo oferendas e preces propiciatrias, pela volta da luz e do calor do Sol, assimilado ao deus Mitra. O cristianismo, ao fixar essa data para o nascimento de Jesus, identificou-o com a luz do mundo, a luz que surge depois das prolongadas trevas.

    So Joo Batista

    Este verbete foi colhido de um folheto editado em 24 de junho de 2001, pelo Departamento de Lisboa da Sociedade Brasileira de Eubiose. Como demonstrou Edouard Schur em Os Grandes Iniciados, o estado de conscincia da Humanidade atual est ainda, infelizmente, longe de poder perceber o significado do trabalho de Seres Superiores como Gautama, Jesus, Krishna, Orfeu, Hermes Trismegisto, etc., no apenas porque alguns deles, pouco mais do que mticos para a maior parte dos investigadores, deixaram poucos registros escritos; mas tambm porque apenas uma pequena parte do que operam os Avatares ou manifestaes do Esprito da Verdade, realmente incompreensvel para o homem comum, por falta de preparao intelectual, cultural e por simples falta de interesse pelos aspectos mais profundos das coisas, em resumo: espiritualidade! Henrique Jos de Souza est dentro dessas grandes luzes em forma humana, muitas das quais foram reduzidas razo de dolos pelas prprias religies que no fundaram e em nome das quais foram impostas aos povos aberraes psquicas e dogmas redutores em vez de ensinamentos verdadeiramente redentores os verdadeiros e originais! Desde tempos muito antigos, da ndia s civilizaes meso e sul-americanas, que solstcios e equincios eram, no curso anual, pontos fundamentais para todos quantos sentiam dever harmonizar-se com os ritmos do cosmo. Essas etapas devidamente ritualizadas e teatralizadas de vrias formas, de modo a que o povo sentisse algo de superior nos smbolos e incompreensveis gestos e discursos dos Iniciados, dos Hierofantes dos Mistrios. No hemisfrio norte, o solstcio de Inverno, atingido entre 21 e 22 de dezembro, era marco no qual o sol atingia menos tempo durante o seu curso diurno. Algo como uma morte fsica, na qual eram exaltados os aspectos ocultos e espirituais, redentores, no dualismo manifestado entre Morte e Ressurreio a Morte como passagem para a Vida Eterna, e o

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    nascimento como passagem da Morte para a vida manifestada. Um paradigma destas festividades era, por exemplo, os Mistrios de Mithra, na Prsia e depois em todo o Imprio Romano, celebrados na noite de 24 para 25 de dezembro, donde a Igreja retirou, por assimilao, a data do nascimento de Jesus. O dia menor do ano era, portanto, a festa da Luz espiritual, onipresente, mesmo nas trevas, nas mais fundas cavernas, hipogeus e criptas... e tambm no cu e na terra. J nos trs dias rituais que se seguiam a 21-22 de junho eram exaltados os valores relativos pujana do sol fsico, a saber, o fogo, com sua energia vivificante, que na ndia assumia a identidade de Agni, com os seus trs aspectos vdicos: no cu, o astro-sol; o relmpago no ar ou mundo intermdio; e o fogo ritual propriamente dito, na terra, entre os homens. Deste modo, se em dezembro se exaltava o Sol Espiritual, em junho era o Sol Fsico, ou psquico, diramos com o Professor Henrique Jos de Souza, que recordava ser o nosso sol a roupagem ou veste psquica acessvel ao corpo e aos sentidos do verdadeiro Sol Espiritual, nico e verdadeiro, invisvel, que por detrs desse se acha. Na tradio paleo-crist, existe um personagem que se relaciona particularmente com o fogo e com o simbolismo do cordeiro Ram ou Rama que So Joo Batista. De notar que com o signo do Carneiro que se d incio ao ano astrolgico. Justamente no equincio da Primavera, ponto anual no qual o Sol Espiritual nascido na noite de 24 de dezembro atinge a maturidade e est apto, durante 6 meses, a dispensar a sua ao benfica em termos tangveis, palpveis (sementeiras e colheitas, alegria e calor, etc.) sobre os homens e as suas obras. De tal forma que podemos talvez dizer que ele mesmo, Joo Batista e no Jesus o prprio Agnus Dei (o cordeiro de Deus), portador e sntese da tradio judaica mais pura, que ardia entre os Essnios, antes do novo impulso que seria dado Civilizao pelo Avatar de Jeoshua Ben Pandera, designado o Cristo. Sacrificado por degolao, o valor simblico e filosfico de Joo, o Batista, muito importante e ultrapassa completamente o dogma catlico: Joo batizava os seus adeptos com gua (ou seja, utilizando um smbolo material), mas afirmava que o que viria depois dele batizaria com fogo, diramos, envolvendo os discpulos com uma poderosa aura, ou impacto relativo ao Mundo das Causas, o Akasha, etc. etc. ou ... Esprito Santo. Deste modo, o simbolismo do Yohanan (Joo, em hebraico) ganha, com os sculos uma poderosa fora, que cultivada por vrias correntes gnsticas at chegar Idade Mdia, na qual Hospitalrios e Templrios, logo desde a sua origem, invocam Joo Batista para seu patrono. E os Mestres Construtores da poca, igualmente, de tal modo que ainda hoje os Maons identificam as suas Lojas como de So Joo. So Joo, o fogo e o solstcio de Vero, no hemisfrio norte, esto, ento, indissoluvelmente ligados com uma ao, um trabalho essencialmente transformador, no qual o Fogo Sagrado agir, quer como agente hermtico-alqumico, quer como condio necessria para o trabalho com os metais vejam-se os vrios mitos manicos relativos ao Mestre Hiram e construo do Templo de Jerusalm quer como inteligncia criadora, criativa, genial, avessa a qualquer tipo de controle, ou seja, prpria do Livre Pensador, o verdadeiro discpulo do Avatar porque compartilha desse mesmo fogo divino, aquele que no reconhece poder na Terra superior a Deus... por tudo isto que o trabalho que temos frente junto Humanidade imenso e riqussimo tambm, praticamente inesgotvel na medida em que aquela necessita de perceber que existe uma unidade fundamental muito acima de todos os mitos, ritos, religies e sistemas filosficos, representada pelo Avatar, presena essa, a qual, daqui para frente, ser permanente na face da Terra. Com efeito, a demonstrao ao mundo dessas sublimes verdades, terminando apenas quando o ser humano vier sentir em si mesmo e no fora essa mesma LUZ NICA e esse mesmo FOGO SAGRADO que arde no seio do Universo.

    So Joo Crisstomo

    Um dos Pais da Igreja grega, nasceu em 354 e morreu em 467. Foi vigrio de So Flaviano, bispo de Antioquia. Chamou-se Crisstomo, ou o que fala muito bem, em conseqncia de suas obras e admirveis discursos que lhe deram extraordinria celebridade. Nomeado patriarca de Constantinopla, havendo-se atrevido a condenar a conduta da imperatriz Eudoxia, esta lhe fez depor por um conclave de bispos. O povo se declarou em seu favor e o reconduziu imediatamente; mas de novo foi deposto e sacrificado, pelos complacentes mitrados, ao ressentimento da imperatriz. Desterrado e perseguido ferozmente, morreu em conseqncia das injrias e maus tratos de seus adversrios. Alguns Maons do regime jesutico-templrio lhe veneram como Patrono da Ordem e lhe dedicam sua festa anual.

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    So Joo da Esccia

    Denominao de uma Loja fundada em Marselha em 1751 por um viajante cujo nome e circunstncia no se pode precisar, a qual desempenhou importante papel na histria da Maonaria francesa. Algum tempo antes da revoluo francesa mudou este ttulo para o de Loja Me de Marselha, que logo abandonou para tomar o de Loja Me Escocesa da Frana. No deve confundir-se esta com a Loja Me Escocesa da Frana do Rito Escocs Filosfico, cujo assentamento ficava em Paris. Ttulo de duas Lojas do Rito Escocs Filosfico constitudas pela Loja Me Escocesa da Frana, deste rito, uma em Alexandria em 11 de maio de 1810 e a outra em Sienne (Frana) em 25 de julho de 1811.

    So Joo da Palestina

    Denominao de uma suposta Ordem de Cavalaria a que alguns panegiristas do sistema templrio atribuem a origem da Maonaria. tambm o ttulo de uma Loja fundada em Paris em 1 de maro de 1780 pela Loja Mater do Rito Escocs Filosfico da Frana. Cavaleiro de So Joo da Palestina: Grau 48 da nomenclatura do Captulo Metropolitano de Paris.

    So Joo de Boston

    Ttulo da primeira Grande Loja, constituda em 1733, no continente americano, e que muitos, confundindo-a com a Loja, A Vinha, sobre a qual se fundou a dita Grande Loja, reputam tambm como a primeira e mais antiga da Amrica. E, com efeito, assim admitido por grande nmero de historiadores. No obstante, no faltam eruditos e conscienciosos escritores que disputem ferozmente as primcias da antiguidade que to geralmente se concedem a Boston, sustentando que com anterioridade a esta data, existia j uma Loja regularmente constituda na Filadlfia, em 1732 celebrava suas reunies em Tun Tarven, no E. de Water Street. A Confraria de Savannha, segundo consigna Mitchel em sua histria da Franco-maonaria, pretende igualmente, por sua vez, que com muita anterioridade citada data foi introduzida a Franco-maonaria na Gergia, e consta, por ltimo, de uma maneira indubitvel, que em 1730 o Gro-Mestre da Grande Loja da Inglaterra, lord Thomas Howard, duque de Norfolk, expediu uma patente de Gro-Mestre provincial para New Jersey, em favor do irmo Daniel Cox. Mas como queira que nenhuma das asseveraes anteriores haja podido ser comprovada por nenhum documento fidedigno, nem se tem notcia de que o irmo Daniel Cox fundasse nenhuma Loja, nem que fizesse uso sequer de sua alta investidura, para a realizao do melhor trabalho, daqui a preferncia quase unnime em favor de Boston, que considerada com bero da Franco-maonaria na Amrica. Muitos, como temos dito no princpio, confundindo a constituio da primeira Loja com a da Grande Loja provincial de So Joo de Boston, do a data em que isto aconteceu, como a da introduo da Franco-maonaria na Amrica, e isto no exato; a prpria relao que fazem deste ato os principais historiadores o evidencia palpavelmente. Segundo Mitchel, Morris e outros ilustrados escritores, reputados como autoridades na matria, a Grande Loja provincial de So Joo de Boston foi constituda em 30 de junho de 1733, no seio da Loja A Vinha, daquela cidade, pelo irmo Henrique Price, que em 30 de abril daquele mesmo ano, havia recebido da Grande Loja da Inglaterra uma patente de Gro-Mestre provincial para a Nova Inglaterra, com poderes para nomear seu deputado Gro-Mestre e reunir os irmos da Amrica em uma ou em vrias Lojas, como acredita-se mais conveniente. Do dito se conclui claramente, que na citada data existia j regularmente organizada, ou no mnimo constituda, a mencionada Loja A Vinha sobre a qual aquela se assentou. Consta tambm indubitavelmente pelo jeito, por alguns documentos autnticos, que o mesmo dia em que teve lugar a constituio e aclamao da Grande Loja, o Gro-Mestre Price recebeu uma solicitao subscrita por dezoito irmos residentes em Boston, pedindo-lhe autorizao para constituir-se regulamente, ao que aquele concordou, instalando-se no ato, com o ttulo distintivo de Primeira Loja, ttulo que alguns atribuem tambm indistintamente a Grande Loja provincial, dando margem a uma lamentvel confuso. Da Grande Loja de So Joo de Boston saram logo muitas outras que se instalaram pelo continente americano, tais como as de Massachussets, New-

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    Hampshire, Pensilvnia, Carolina do Norte e de Sul, etc., e a da Filadlfia, cuja patente outorgou em favor do clebre e ilustre irmo Benjamin Franklin. A Grande Loja de So Joo de Boston (hoje em dia de Massachussets), uma das mais respeitveis e consideradas da Amrica.

    So Joo de Deus

    Guerrilheiro espanhol e depois religioso renomado. Nasceu em 1495 e morreu em 1550. Serviu nos exrcitos de Carlos V, tomando parte nas campanhas contra os franceses e guerreou na Hungria contra os turcos. Cansado da vida licenciosa que sempre havia levado, se dedicou inteiro Igreja. Fundou a ordem da Caridade, consagrando-se ao servio dos enfermos e depois de sua morte, foi canonizado pelo papa Alexandre VII. Em alguns graus templrios se invoca como patrono e se lhe honra como modelo de cavalheirescas virtudes.

    So Joo de Edimburgo (Grande Loja)

    Ttulo da Grande Loja fundada em 1736 por William Saint Clair de Rosselin, a qual este transmitiu todos os poderes e direitos hereditrios que possua, em virtude dos quais estava vinculado em sua famlia o patronato e Gro-Mestrado da Franco-maonaria na Esccia. Esta Grande Loja adotou o modesto ttulo de Ordem de So Joo, porque havia sido fundada por um simples Mestre que no conhecia outros graus que os trs do simbolismo. Em 1736, ao sair do prolongado letargio em que jazia, a Grande Loja de Santo Andr, que se havia constitudo em autoridade dos graus polticos, que se haviam criado no tempo das revoltas promovidas pela destronada dinastia dos Stuarts, renunciou esta em favor da Grande Loja de So Joo, a todo direito e autoridade sobre a Franco-maonaria simblica, reservando-se unicamente a jurisdio dos altos graus que a nova Loja se negou a admitir e reconhecer.

    So Joo de Jerusalm

    Ttulo de uma ordem cavaleiresca da Espanha. O irmo Willaume to reputado por suas obras, designa com esta denominao aos Templrios, e persiste em que estes subsistem em segredo ainda, desfrutando de altas preeminncias manicas. O Cavaleiros de So Joo, segundo manifesta este escritor, no constituem em verdade uma ordem manica; mas, como seus antepassados, fraternizam com esta Instituio e visitam as Lojas com o ttulo de Cavaleiros do Oriente. O irmo Willaume propala com isto um erro, que no se acerta a compreender como que no pode nele ningum que conhea os primeiros rudimentos da Franco-maonaria; pois sabido , que para poder visitar uma Loja, indispensvel haver sido iniciado regularmente no primeiro grau e ser membro da Instituio. Mas no o irmo Willaume, nem so outros escritores to pouco reflexivos como ele, os que mais principalmente induzem o erro, seno que os fazem de uma maneira mais temvel e poderosa, todavia, os charlates e forjadores de graus e de ritos. No Ritual do grau 8 (Cavaleiro da Palestina) do Escocismo reformado em 10 graus, atribudos ao baro de Tschoudy, se diz muito seriamente, que a Franco-maonaria foi estabelecida na Europa por 81 cavaleiros templrios da ordem de So Joo de Jerusalm, procedentes da Palestina e daqui as honras que os maons escoceses devem e tributam a estes Cavaleiros. Se por maons escoceses se entendesse os adeptos do Escocismo Reformado, nada haveria de opor a isso; mas como este e outros mil absurdos de igual calibre se aplicam sem distino Franco-maonaria em geral, com a pretenso de faze-los passar como certos e vlidos entre os legtimos Franco-maons, daqui tambm que seja necessrio que estes se achem de sobreaviso e constantemente em guarda, para no ver-se surpreendido a cada instante em sua boa f, pelos que s aspiram a fazer da Franco-maonaria um negcio, ou um trampolim para satisfazer seu orgulho e vaidade. Ttulo que agregavam ao seu distintivo muitas Lojas e grandes Lojas, muito especialmente as do sistema templrio francs, patrocinadas pela Grande Loja da Frana, cujos estatutos, expedidos em 4 de julho de 1775 esto encabeados com a seguinte frmula: Respeitosa Loja de So

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    Joo de Jerusalm da ordem de Paris, governada por Luis de Borbon, conde de Clermont, etc., etc., para servir de regra a todas as Lojas do reino. Cavaleiro de So Joo de Jerusalm: Ttulo de um grau mstico dividido em trs sees, colecionado pelo irmo Lamenceau.

    So Joo dos Trs Morteiros

    Ttulo de uma Grande Loja constituda em Cerdenha, em 24 de dezembro de 1759, pela Grande Loja da Inglaterra, que nomeou a J. Keith, conde de Kintore, Gro-Mestre provincial, encarregando-lhe do governo da mesma.

    So Joo (Festas de)

    Este nome, segundo Frau Abrines, significa graa ou dom de Deus, enquanto A. Van den Born o traduz por Jav propcio, do hebraico yohanan. Os dois So Joo foram padroeiros da Maonaria desde a Idade Mdia. Desde a instituio da Maonaria especulativa, os Maons celebraram duas grandes festas anuais, chamadas indistintamente de festas de So Joo ou festas da Ordem, durante as quais eram eleitos e empossados os novos Gro-Mestres. Estas festas correspondiam poca dos solstcios e por isso tambm se chamam Festas Solsticiais. A do solstcio de vero, no hemisfrio Norte, dedicada a So Joo Batista, realiza-se a 24 de junho; a outra, a do solstcio de inverno, dedicada a So Joo Evangelista, celebra-se a 27 de dezembro. A instituio das festas solsticiais vem dos tempos das iniciaes primitivas, nos mistrios praticados nos ritos sagrados do Nilo, Iliso e Tibre. Isto deu margem a um grande nmero de historiadores para estabelecer tal antiguidade da Franco-maonaria, que transpassando os limites da que possa atribuir-se a qualquer outra instituio, vai a perder-se nas impenetrveis nebulosidades dos tempos pr-histricos, fazendo-a arrancar do princpio do mundo e confundindo sua origem com o da Sociedade. Os solstcios determinam a passagem das duas grandes fases em que a Natureza oferece as transformaes, as mudanas e os contrastes mais notveis e opostos, fenmenos surpreendentes que todas as religies e todos os cultos comemoram sob vrias formas e alegorias. Os Captulos celebram os equincios; suas festas tm lugar nos dias de Pscoa e de Santo Andr. Os equincios e os solstcios foram chamados na linguagem metafrica de porta dos cus e das estaes, e daqui os dois So Joo, nome derivado de Janua, que significa porta, com que os cristos substituram os antiqssimos mitos pagos de Janus e os etruscos o de Saturno dos frgios e gregos. Tendo a Instituio manica, segundo os mais competentes intrpretes do simbolismo, a alta misso de ilustrar todas as classes sociais, tomou por modelo de suas importantssimas funes o quadro fsico dos fenmenos solares, imitando nos pequenos templos, chamados Lojas, o templo maravilhoso e incomensurvel que oferece em conjunto a Natureza. Por isso, o interior das Lojas reproduz as imagens do Sol, da Lua e da abbada celeste semeada de estrelas. E posto que a luz fsica vem do Oriente do mundo, as Lojas manicas, nas quais so reunidos os esforos mais sublimes e generosos que tendem a enaltecer a ilustrar a inteligncia humana, so convertidas em outros tantos focos de luz, ou seja, em outros tantos Orientes particulares. Assim, pois, nos Templos manicos, smbolos figurados da natureza, os solstcios acham-se representados pelas duas colunas que figuram no Ocidente, nos dois lados da porta de entrada. Estas marcam o Nec plus ultra da marcha aparente do Sol durante os doze meses do ano, simbolizados pelos doze trabalhos de Hrcules, cujas viagens tm tambm por limites duas colunas semelhantes. Estas festas tradicionais e eminentemente alegricas, so de rigorosa obrigao. Para celebr-las as Grandes Lojas se renem em Assemblia Geral e as Lojas em sesso magna. Umas e outras, segundo as antigas prticas e regulamentos, deveriam proceder na festa solsticial de inverno, cerimnia de instalao e posse dos Gro-Mestres, Venerveis e Dignidades previamente eleitos; mas isto sofreu algumas alteraes e hoje no se observa uma regra fixa, efetuando-o muitas entidades em distintos dias e pocas, com completa independncia das citadas festas, que seguem

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    observando pontualmente sem nenhuma alterao por todos os Franco-maons regulares do Universo.

    So Joo (Graus de)

    So assim chamados os trs graus primitivos do simbolismo: Aprendiz, Companheiro e Mestre, nicos genunos, verdadeiros, legtimos, imutveis e universalmente reconhecidos, aceitos e praticados em toda a superfcie da terra. Estes graus conservaram sempre conservaram e ainda conservam em verdade, o seu valor incontestvel, como o reconheceram e proclamaram todas as Grandes Convenes e Assemblias manicas reunidas com o objetivo de depurar a Maonaria, de toda falsa aparncia, reduzindo-a aos seus verdadeiros limites. Toda doutrina manica acha-se contida nos trs graus de So Joo. A funo dos Altos Graus consiste apenas a ministrar as instrues que as Lojas simblicas, entretidas com problemas administrativos, litrgicos, filantrpicos e outros, deixam de dar. A intruso dos altos graus e dos ritos, que to funesta tem sido sempre para a causa da verdadeira Franco-maonaria, semeando a confuso e o desconcerto em toda parte, chegou com freqncia de sobra a disvirtuar aparentemente de tal maneira a bondade inaltervel dos graus de So Joo, at o extremo de p-los a merc do capricho e da arbitrariedade mais lastimosa. E como a maior parte das criaes esprias ou pseudomanicas foi buscar na Esccia uma falsa patente de legalidade e uma autoridade que nunca lhes foi reconhecida e outorgada cremos, altamente til consignar um decreto publicado pela Grande Loja da Esccia em 1842, no qual, com o objetivo de pr verdadeira Franco-maonaria a coberto de toda suspeita aos olhos do mundo e do governo, e manter inclume a pureza de sua vista, diz:

    Que no pode menos de recordar muito seriamente a todos os Franco-maons, que a Grande Loja no reconheceu nunca outros graus que os trs de So Joo; o de Aprendiz, o de Companheiro e o de Mestre e, por conseguinte, que proceder severamente com todo o rigor da lei contra qualquer Loja que d acesso em seu seio, ou de forma corporativa ou individualmente, a nenhuma ordem, qualquer que seja, de pretendidos altos graus ou graus secundrios, com suas insgnias, estandartes ou emblemas particulares.

    Posteriormente na Solene Assemblia trimestral de 3 de maio de 1846, a mesma Grande Loja voltou a expedir um novo decreto no qual se diz:

    A Grande Loja da Esccia no reconheceu jamais, desde que existe, outros graus que os da Maonaria de So Joo, ou seja, os de Mestre, de Companheiro e de Aprendiz maom; portanto, renova e confirma aqui as instrues que dirigiu, com este objetivo, a todos os Gro-Mestres Provinciais, a saber: que probam terminante e rigorosamente, dentro dos limites de suas provncias respectivas, a intruso de todo elemento estranho. Declara, alm disso, a Grande Loja, que a eleio pode recair sobre um Mestre qualquer; que todos so igualmente aptos para presidir a Loja na qualidade de Venervel Mestre, sem que tenham necessidade de haver recebido previamente nenhum outro grau acessrio, nem que hajam sido iniciados em outros mistrios; fazendo notar muito expressamente para que o tenham todos bem entendido, que a intruso e exigncia de qualquer destes requisitos, absolutamente contrria aos regulamentos gerais da Grande Loja.

    No dito documento se agrega, alm disso; que toda Loja que haja sido instalada e aberta em Grau de Aprendiz, na qual se contem pelo menos trs Mestres, dois Companheiros e dois Aprendizes, e a falta destes em nmero igual de Mestres, que devero interinamente suprir sua falta nas colunas, est obrigada a proceder a eleio dos oficiais de Loja (inclusive o Venervel Mestre). Apesar disto, os altos graus chegaram a invadir a Esccia, como o fez em todos os demais pases; mas a Grande Loja no modificou por isso nenhuma de suas terminantes disposies, nem cedeu uma linha de seus direitos, mantendo ntegra a supremacia, a legalidade e a independncia dos Graus de So Joo.

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    So Joo Batista

    Um dos santos padroeiros da Maonaria, cuja festa ocorre a 24 de junho e geralmente celebrada pela Fraternidade manica. Segundo um ritualista: a sua firme reprovao do vcio e sua contnua pregao em prol do arrependimento e da virtude, fizeram dele um patrono bem apropriado para a Instituio manica. preciso lembrar que a Grande Loja da Inglaterra foi fundada precisamente no dia de So Joo Batista de 1717, e que a festa anual dos Maons, com eleio e posse do Gro-Mestre, foi comemorada neste dia at 1725, quando passou a ser celebrada no dia de so Joo Evangelista. Da mesma forma, os Maons escoceses conservaram a festa de So Joo at 1737, quando a Grande Loja da Esccia, fundada no ano anterior, transferiu a eleio anual para o dia de Santo Andr, padroeiro daquela nao. (Ver o verbete So Joo)

    So Joo Evangelista

    Um dos santos padroeiros da Maonaria e cuja festa celebrada a 27 de dezembro. Foram as suas constantes admoestaes, em suas Epstolas, para a prtica do amor fraternal e a natureza de suas vises apocalpticas que se tornaram as principais razes da venerao de que foi objeto na Ordem manica. O seu nome, porm, s foi introduzido no calendrio depois do sculo VI. (Ver o verbete So Joo)

    So Joo o Esmoleiro ou Caridoso

    Na instruo do grau 30, Cavaleiro Kadosch de Sudermania, se l o seguinte:

    Muitos Irmos na Arte Real, crem que nossas Lojas esto dedicadas a So Joo Batista ou ao Evangelista; um erro; a quem esto dedicadas na realidade a So Joo o Esmoleiro, que foi Gro-Mestre dos Cavaleiros de So Joo de Jerusalm no sculo XIII e que foi sempre o ornato mais belo da Ordem e o patrono mais amado e venerado dos Templrios.

    A esta afirmao agregaremos o seguinte comentrio do erudito irmo Ragon:

    No haver aqui, diz, um patente anacronismo, defeito fartamente comum e familiar em que incorrem todos os forjadores de altos graus? Porque, Joo, patriarca de Antioquia, chamado o Esmoleiro, nasceu em Amatonte (Chipre) pelo ano 550, e morreu em 619; pelo que, como se v, mal podia ser Gro-Mestre dos Templrios no Sculo XIII, a menos que hajam existido dois Joos Esmoleiros e ns o ignoramos.

    E para que se veja o acordo que impera entre os ortodoxos do templarismo e o verniz que reveste sua doutrina, acrescentaremos as seguintes linhas tomadas de uma instruo para os altos graus deste sistema:

    E quando a So Joo que os Maons tomaram por patrono, no pode ser nem o Batista nem o Evangelista de que nos fala a Bblia, que nenhuma relao tem com a Maonaria, nem um nem outro. Devemos admitir, pois, com os Irmos mais filsofos e ilustrados que assim o afirmam, que o verdadeiro patrono das Lojas So Joo o Esmoleiro ou Caridoso, filho do rei de Chipre, que no tempo das Cruzadas abandonou sua ptria e a brilhante perspectiva de um trono, para ir a Jerusalm a prodigalizar os socorros mais generosos aos peregrinos e aos cavaleiros que lutavam pela f. Joo fundou uma casa de acolhida e uma comunidade de irmos para cuidar dos enfermos e dos cristos feridos e distribuir socorros pecunirios aos viajantes que iam visitar ao Santo Sepulcro. Joo, digno por suas grandes virtudes de ser e patrono de uma Sociedade cujo principal objetivo a beneficncia, exps mil vezes a vida para socorrer a seus semelhantes e fazer o bem. A guerra, a peste, as privaes e padecimentos sem fim, o sanguinrio e feroz furor dos infiis, nada o deteve. A morte

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    lhe feriu em meio de seus trabalhos; mas logo o sublime exemplo de suas grandes virtudes aos irmos que se impuseram o dever de imit-las. Roma o canonizou com o nome de Joo o Esmoleiro ou So Joo de Jerusalm. E os Maons que haviam reconstitudo os templos demolidos pela barbrie e feroz sanha dos infiis, lhe escolheram de comum acordo por patrono da Ordem.

    So Joo (Maonaria de)

    Nome caracterstico com que se designa em geral a primitiva Franco-maonaria simblica, a nica verdadeira, imutvel e universalmente reconhecida e aceita, que se pratica por toda a superfcie da terra. Esta, como bem sabido, se compe somente de trs graus que so: os de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maom, nicos verdadeiros, e igualmente imutveis e universais como ela, e que conferem ao iniciado regularmente, os direitos e prerrogativas imanentes e anexas do Franco-maom. Esta veneradssima Maonaria Me, manancial purssimo e inesgotvel da moral e filosofia, os mais puros e dos maiores e sublimes ensinamentos, tambm fonte clarssima de todo direito e autoridade, para quantos tenham a invejvel sorte de poder-se cobiar, estreitamente unidos pelos laos da mais doce fraternidade, sob as largas pregas de seu manto augusto e bem-feitor. Em vo os inventores de sistemas e de ritos, os forjadores de graus, os fabricantes e mercadores de ttulos e condecoraes, em vo, repetimos, trataram de desnaturaliz-la e confundi-la com suas criaes esprias ou pseudomanicas, e intentado, desfigurando-a, p-la ao servio de suas vistas e interesses particulares, valendo-se para isso de quantos meios lhes sugeriu sua desenvoltura; e seus inimigos de sempre, os obcecados e eternos mantenedores do retrocesso e do obscurantismo, em vo se esforaram igualmente por sua parte, para det-la em sua carreira, opondo-lhe toda classe de obstculos, e desconcert-la e destru-la, combatendo-a sem piedade e cessar, esgrimindo sempre com raivoso e crescente dio suas mais cortantes armas contra ela. Nada, nada foi bastante eficaz, nada pde alterar-la nem empanar nenhum de seus altos prestgios, nem minguar nenhuma de suas famosas virtudes, nem roubar-lhe nenhum de seus simples e irresistveis atrativos. Nada foi bastante potente para comov-la, no mnimo, do firmssimo e glorioso pedestal sobre o qual se assenta faz j sculos atrs de sculos. Nada conseguiu dete-la, nem sequer desvia-la um s instante, em sua augusta e serena marcha, atravs dos tempos e idades, pelo largo caminho do progresso e da civilizao, que, fiel ao seu destino, vem percorrendo com passo seguro e mesurado, ao compasso do tempo, desde os insondveis antros perdidos na escura noite do passado, para o alvorecer do novo porvir, que sorridentes, amanhecem cada dia nos espaos eternos do infinito, sempre em busca de novos progressos, sempre atrs de novas civilizaes. E se no terreno especulativo pode admitir-se e seguem ainda tolerando-se, por um grande nmero de Franco-maons, algumas destas produes conhecidas com o nome de ritos, com suas produes ou escalas graduais, suas hierarquias, sua liturgia e suas leis e organizao especiais, tenha-se muito em conta e no se perca nunca de vista, que estes so simples superposies de carter eminentemente particular e meramente convencionais, que estranhas por completo a ela, em nada absolutamente afetam s doutrinas e s leis e liturgia, nem organizao e as prticas da Franco-maonaria simblica, ou seja, da Franco-maonaria histrica e universal. Portanto, qualquer que seja sua origem e tradies, suas doutrinas e suas leis, sua liturgia e hierarquias, nem por grande que seja a importncia e aceitao que hajam chegado a alcanar, nunca poder nenhum Rito reivindicar para si nenhum dos grandes atributos, nem exercer nenhuma das augustas e indeclinveis funes prprias e exclusivas da verdadeira e genuna Franco-maonaria de So Joo. Longe, muito longe da supremacia que se pretende atribuir-lhes e que muitos Franco-maons de boa-f chegaram a pressupor nos poderes e nos altos graus de certos ritos, estes, muito ao contrrio, dependem de tal maneira do Simbolismo, ou seja, da Maonaria de So Joo, que sem sua tolerncia no poderiam subsistir um s instante. E tanto assim, e se patentiza isto de uma maneira to clara e evidente, que ningum poder p-lo em dvida, quanto, at quando se congregaram expressamente para isso os poderes e os altos graus de todos os ritos, no teriam direito, nem poder e capacidade legal bastante para iniciar a um profano, ou seja, para admitir e dar um novo membro grande famlia universal, conferindo-lhe o carter e prerrogativas de franco-maom, como tampouco para privar do gozo delas, a nenhum membro regularmente iniciado. Para que um ato semelhante fosse legalmente vlido, seria necessrio que os ditos congregados, prescindindo de seus ritos e de seus graus e hierarquias, se constitussem regularmente em Loja simblica; que realizaram seus trabalhos em grau de Aprendiz e que se sujeitassem em tudo s leis e prticas universais do simbolismo. Um Aprendiz e um Companheiro cingindo o branco e modesto avental, e documentados simplesmente com um certificado expedido pela Loja a que pertenam, que acredite sua qualidade

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    manica e de seus membros ativos da mesma, e um Mestre, cruzado o peito com a simblica e honradssima faixa que lhe serve de distintivo, de igual maneira documentado, e provido de um diploma justificativo de seu grau, expedido ou referendado pela Grande Loja a que pertena, sero reconhecidos e admitidos com toda segurana, por todos os poderes e autoridades manicas, da mesma forma que por todas as Lojas e Franco-maons do mundo inteiro, porque a isso tem direito indiscutvel e porque assim o exige o cumprimento de um dever universal e comum. Enquanto que um grau 33 do Rito Escocs, por exemplo, um 90 do de Misraim ou um 96 do de Mnfis, etc., por muito que exibam suas grandes patentes, e por altas que seja sua posio e hierarquia dentro de seus ritos respectivos, no podero pretender outro tanto; e no sero reconhecidos e admitidos como tais, mais que aqueles que professam o prprio rito ou que bondosamente queiram reconhecer-lhes; porque nada lhes obriga a faz-lo e porque nada tem a Franco-maonaria universal de comum com eles. No quer isto dizer que desconheamos a grande e merecida importncia de que gozam alguns ritos, nem que tratemos de no mnimo minguar o alto prestgio que rodeia aos corpos superiores que os regem e administram, que constituem, em geral, outros tantos focos luminosos e brilhantes de irmos poderosos, ilustradssimos e dignos de toda considerao; nem tampouco que neguemos, apesar de sua origem e de sua composio, nenhum dos valiosos servios que alguns prestaram cada dia Instituio, como o consigna a histria em alguma de suas brilhantes pginas, no; unicamente tratamos de pr as coisas em seu verdadeiro lugar; de pr em claro e destruir, at onde seja dado, a confuso e os funestos erros que todavia imperam em to delicada e transcendental questo, em algumas partes, e muito particularmente na Espanha e regies da Amrica espanhola, na Frana, Itlia e Portugal, dando margem com isso s maiores perturbaes e irregularidades e at a abusos lamentveis e no interrompidos. E estas deficincias e informalidades so tanto mais sensveis, quanto pelo geral se incorre nelas, inconscientemente trabalhando com a melhor boa-f, guiados por falsas ou viciadas rotinas, ressabios de uma poca que j expirou, ou movidos irreflexivamente pelo impaciente desejo de levar certas reformas mais alm do que pode consentir-se. Um dos erros transcendentais em que com mais freqncia se incorre, o de confundir o governo e a administrao dos Ritos, muito destacadamente o chamado Escocs Antigo e Aceito, em 33 graus, com o governo e a administrao geral da Franco-maonaria, sem distinguir as essencialssimas diferenas e incompatibilidades que oferecem, tanto por sua essncia, como por sua distinta organizao e suas respectivas legislaes. Eminentemente democrtica, descentralizadora e autonomista por excelncia, a Maonaria simblica ou de So Joo, em nada se ope, seno que de grande maneira facilita, ao livre e espontneo desenvolvimento de todos os princpios iniciadores, que dentro de suas tradicionais e largos limites podem desenvolver-se to folgadamente como seja mister, e funda sua fora, sua autoridade e seu prestgio, nas distintas agrupaes orgnicas e diretoras, que a auxiliam, formadas em virtude da unio livre e espontnea de todos os elementos e de todas as foras vivas e inteligentes que tratam de se federar para form-las. Por isto sua ao uma, e irradia, cruzando-se em todas as direes e confundindo-se harmonicamente, com a que parte por igual de todos os pontos da terra; daqui seu poder e prestgio, e sua grandeza e universalidade. Muito ao contrrio dos Ritos, que invasores por excelncia e autoritrios e exclusivistas pelo geral, pretendendo demarcar e impor limites quilo que por sua prpria essncia ilimitvel; estabelecendo fronteiras e delimitando jurisdies utpicas, para atrincheirar-se nelas, qual dentro de robustas e ameadas cidadelas atrevidamente colocadas em meio do largo e despejado campo da Franco-maonaria, e fazer fortes uns sonhados poderes, com os que cada qual pretende impor-se e reduzir a vasalagem, aos demais; ab-rogando-se o direto de dirigir e governar em absoluto, a seu desejo, a Grande Instituio; proclamando-se a si mesmos nicos possuidores da verdade; definindo e propagando dogmas eminentemente conceitualistas e rendendo culto a um realismo que, detidamente analisado, bem poderia tachar-se de anti-cientfico e filosfico, pois que impe crenas e prescreve regras aos que devem sujeitar-se a razo e a conscincia, os Ritos, repetimos, ao nico que tendem em realidade de verdade, ao exclusivismo, absoro, ao autoritarismo; pelo que sua fora e sua autoridade tem que fundar-se necessariamente no centralismo e a unificao que tantas vezes temos visto degenerar, em alguns pases, em um cesarismo repugnante e corruptor, ou em focos desnaturalizadores de todas as ss doutrinas e prticas manicas, que convertendo-se quase sempre em obstculo perenes de toda unio e verdadeiro progresso. Estas concusses e extralimitaes, graas ignorncia ou a apatia dos poderes simblicos a quem compete sua extirpao, chegaram a arraigar tanto, e a revestir-se de uma autoridade e importncia to imponentes, em certos casos, que muitos Franco-maons e at no poucos poderes e autoridades legtimas, em sua grande maioria por no ter um conhecimento cabal e bastante claro da natureza e organizao legal, assim como dos direitos e poderes imanentes e exclusivos da Franco-maonaria, que lhes permita distingui-los e separ-los dos que so prprios e meramente exclusivos dos Ritos em particular, acreditando de boa f que estes se acham legalmente, investidos e em legtima possesso dos direitos e alta autoridade que se atribuem, lhes reconhecem e lhes acatam submissos, prestando-lhes cega obedincia; enquanto que outros, em grande minoria por desgraa,

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    que tendo perfeito conhecimento de seus direitos, mas conceituando-se impotentes para pr freio a tanto abuso e fatos de meios para conjurar os males que tanto lamentam, abandonam o campo e se retiram, desesperanados, da vida ativa. E nada to fcil, contudo, como prevenir e remediar estes males; com s ter bem presente e no esquecer nunca, que no sendo a Franco-maonaria universal, patrimnio de nenhum rito, nenhum deles pode ter, portanto, o menor direito sobre ela; e que forte, nica, indivisvel e independente e soberana como de seus destinos, todos, absolutamente todos os poderes genuinamente manicos, tem que emanar necessariamente dela e estar-lhe subordinados, para ser legais, haveria o bastante para consegui-lo. A divisria entre a Franco-maonaria universal ou de So Joo e a pseudomaonaria dos Ritos e altos graus, no pode estar mais bem determinada, nem mais notadamente definida do que est. Importa s sab-la distinguir e conhecer o bastante para aplic-la convenientemente; e este, qual sucede aos cidados no mundo profano com os direitos poltico-sociais, s h um meio seguro e indefectvel para consegui-lo com proveito: a instruo. L no tempo antigo, quando as Confraternidades sucessoras dos primitivos Colgios romanos institudos por Numa, multiplicando-se e espalhando-se por toda Europa e parte da frica comearam a estabelecer-se, com residncia fixa, em muitos povos e cidades, vemos aos Maons dar-se a si mesmos uma autoridade comum e criar centros reguladores, por meio da federao livre e espontnea das Lojas de uma mesma comarca e at de comarcas e regies distintas, concedendo a supremacia a uma delas e revestindo-a de autoridade e constintundo-a, com o ttulo de Grande Loja, em chefe e centro dos grmios ou de Confraternidades federadas, delegando nela os poderes e faculdades que tinham por conveniente e que acreditavam necessrios para o bom regime e governo da federao. Este sistema regeu sem alterao alguma sensvel, desde o sculo VI at princpios do sculo XVIII. Em 1717, quatro Lojas da Inglaterra, as nicas que subsistiam organizadas naquela data em Londres, se separaram da obedincia da Grande Loja de York, da qual dependiam. Federando-se e levantando a bandeira da reforma, constituram-se de sua prpria autoridade, em virtude de um direito imanente e formaram a Grande Loja de Londres, me e fonte nica da qual surgiu a Franco-maonaria moderna, se bem que conservando o antigo nome de So Joo; a s e nica que hoje em dia se reconhece e admite como verdadeira, tal como ali se proclamou e dali saiu para esparramar-se, e imperar triunfante, como impera, por toda a superfcie da terra. Pouco depois, imitando este exemplo e seguindo os mesmos tradicionais procedimentos, transformando-se e constituram-se tambm, por sua vez, com completa independncia, as grandes Lojas da Esccia e da Irlanda; e assim veio realizando-se at hoje e prosseguiro fazendo-o daqui por diante, quantos poderes simblicos, tendo perfeito conhecimento do que a verdadeira Franco-maonaria e de seus limites orgnicos universais, saibam fazer uso do direito que lhes assiste. Direito imanente, direito ilegislvel e imprescritvel, sempre reconhecido e jamais disputado e sancionado em sua prtica pelo transcurso dos sculos, leva impresso o augusto selo de uma universalidade incontestvel; que nenhum rito pode ostentar. Este e no outro o precedente legal e vlido, que pode invocar-se e servir de norma e regulador para a constituio dos poderes e autoridades genuinamente manicos; e garantia to slida e estvel para eles, que nada poder nunca prevalecer que possa desvirtu-la ou alter-la no mnimo. Pelo que, em resumo, concluiremos afirmando como fundamental; que a Franco-maonaria de So Joo, a nica legal, verdadeira e universal; que as Lojas e Grandes Lojas que dela emanam, constitudas segundo os limites e princpios universais pelo qual se rege, so os nicos poderes e autoridades legtimas para os Franco-maons; e por ltimo, que os Ritos, as Potncias Supremas, os Supremos Conselhos, os Grandes Orientes e quaisquer outros organismos que se agreguem Franco-maonaria de So Joo, no so mais que superposies ou criaes, que podero ser mais ou menos admitidas, e estar mais ou menos generalizadas, mas puramente convencionais e de carter particular em ltimo resultado. Portanto; em direito, nenhuma jurisdio pode reivindicar; nenhum direito pode fazer valer e nenhuma autoridade pode estabelecer sobre o Franco-maom e, por conseguinte, sobre a Franco-maonaria Universal chamada de So Joo. Passando agora a investigar a origem e a verdadeira interpretao do nome de So Joo aplicado Franco-maonaria, no menor a confuso que impera, nem de menor importncia os erros e at as preocupaes que h de combater. Em imitao dos pagos que dedicavam seus templos s divindades e aos gnios da mitologia, assim os primeiros cristos adotaram o costume de consagrar aos santos e aos mrtires de sua religio os monumentos que dedicavam ao culto; e as Comunidades, as Confrarias e demais associaes afiliadas ao cristianismo, imitando este exemplo, punham-se sob a proteo do santo que escolhiam por patrono. Arrastados pelas humanitrias e regeneradoras doutrinas de igualdade e fraternidade que pregava a nova religio, que to harmonicamente se ajustava com as que eles professavam, em

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    meados do sculo II, os membros dos Colgios de Artfices de Roma abraaram, em sua imensa maioria, o Cristianismo. Alguns sustentam que, seguindo a corrente, elegeram desde logo a So Joo por patrono; e esta afirmao, longe de suscitar alguma dvida, parece to lgica como natural. Outros opinam que isto no teve lugar seno muito mais tarde, e afirmam outros por ltimo, que desde o princpio cada Confraria elegeu o santo que melhor lhe satisfez, adotando por patrono, com independncia da Fraternidade; o qual nada oferece tampouco de particular; pelo que, tanto uma, como as outras, estas hipteses so racionalmente aceitveis. Do estudo detido desta questo, parece desprender-se, no obstante, que tanto fosse no princpio, como posteriormente, os Maons cristos, por razes especiais, como veremos mais adiante, deveram adotar desde logo a So Joo, e no outro, por patrono geral da Franco-maonaria, sem que isto fosse bice, sem acaso, para que cada Confraria de por si, elegesse com completa independncia o santo que melhor lhe satisfizesse para patrono particular da mesma. Com referencia a este particular, nada temos podido encontrar com anterioridade ao sculo VI que confirme, nem tampouco contradiga seriamente nenhuma destas asseres; o que se nos demonstra bem claramente a histria ao chegar a esta poca, , que a Fraternidade dos Maons, no podia considerar-se mais que como uma dbil sombra do que foi, e as Confrarias, como restos dispersos dos antigos Colgios de Artfices institudos por Numa Pompilio, que depois de sofrer grandes vicissitudes e transformaes, havia chegado a perder sua organizao e sua supremacia, e at a fisionomia particular que tanto lhes havia distinguido at os tempos do advento dos imperadores de Roma. Assim , que ainda que todas as Confrarias se regiam ainda por umas mesmas leis e observavam umas mesmas prticas, conservando intacto o depsito dos princpios e regras tradicionais da primitiva associao, contudo, j no se distinguiam por uma denominao comum, nem reconheciam um centro de autoridade, inspirador e regulador de seus trabalhos. A parte da ciso ocorrida em meados do sculo III, quando em conseqncia da adoo do cristianismo pela generalidade dos Colgios de Roma, se separaram da Fraternidade grande nmero de obreiros pertencentes a distintas artes e ofcios, constituindo-se em outras tantas associaes agremiadas e independentes, que se esparramaram por todas as partes adotando vrias denominaes, vemos que na Itlia lhes distinguiram com os antigos nomes de Colgios de Arquitetos ou de Construtores, ou simplesmente de Confraternidades manicas; nas Glias chamavam-lhes Irmos Maons, ou Irmos Pontfices e tambm Corporaes francas, e na Inglaterra, denominavam-se Franco-maons ou Maons francos, em virtude dos privilgios e isenes de que desfrutavam, por exceo naquele pas, e tambm Irmos, ou Confraternidade de So Joo. Vtimas das perseguies do cristianismo; privados de seus privilgios e atribuies pelo sombrio receio dos despticos imperadores; dissolvidos os Colgios, disseminados pelas provncias os Arquitetos e os Mestres e Obreiros mais hbeis e inteligentes e vencida Roma, as Confrarias dos Mestres foram retrocedendo pouco a pouco, at chegar a concentrar-se quase por completo nos monastrios, nos quais encontraram benvola acolhida e seguro asilo durante as invases e as sangrentas guerras internacionais que acabaram ao fim com o poder de Roma. Ocupados exclusivamente na construo dos edifcios e monumentos religiosos, cujas obras, em sua maioria eram projetadas e dirigidas pelos monges superiores das ordens monsticas, e sujeitos at certo ponto jurisdio e disciplina daqueles a cujo servio se encontravam, se excetua aqui certas prticas e as regras usuais da arte que todavia conservavam por tradio, nada lhes ficava mais, s Confrarias, de sua antiga organizao. Se em alguma parte mantinham ainda seu carter e independncia, formando um ncleo inteligente e regular, era na Bretanha, que se havia chegado a constituir no centro mais genuno e autorizado da fraternidade. Dali os vemos surgir de novo em meados do sculo X e espalhar-se por todo o continente com o nome de Irmos de So Joo; e prescindindo de si o tomaram antes ou depois, o certo, que esta a primeira vez que os encontramos designados na histria com esta denominao geral. Longe de ser a escolha deste nome meramente casual ou arbitrria, como poderia presumir-se a primeira vista, tudo induz a supor, muito ao contrrio, que foi maduramente meditada e conscienciosamente feita pelos Franco-maons, desde o momento em que adotaram o cristianismo, por ver em So Joo, no o personagem mstico que nos apresentam as Escrituras, seno um mito simblico da maior significao e importncia para eles. Com efeito; Joo, cujo nascimento, segundo se referem as Escrituras, tanta semelhana oferece com o de Jesus Cristo de quem foi precursor; Joo, produto de um sopro anglico, concebido no ventre de uma mulher estril e j entrada em anos, e a fbula de seu esposo, o bom Zacarias, reduzido a mudez durante o perodo de gestao do divino feto, para que sua lngua no ousasse proferir o que sua razo lhe sugeria, verdade --- e seja dito com todo o respeito que merecem os livros santos que o ensinam, --- so feitos que a todas luzes andam incompatveis com os princpios de uma severa moral e em completo desacordo com as funes de uma s razo. Alm disso, Joo, vivendo solitrio pelo espao de mais de trinta anos em um deserto, sem alimentar-se mais que dos raquticos frutos que podia subministrar-lhe uma natureza inculta e selvagem, sendo assim que sua misso era a de ilustrar e converter aos homens pela pregao, no

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    parece o santo mais apropriado para que os Maons, que tambm tinham uma misso altamente humanitria e civilizadora que cumprir, tomando-lhe to correto como o apresenta a Escritura, inspirando-se em seu exemplo, o adotaram por patrono; tudo convida, portanto, a penetrar nos misteriosos domnios da alegoria, para ver de encontrar neles uma explicao mais racional, ou uma interpretao mais aceitvel ao bom sentido. Crem alguns, e desta crena participa a Grande Loja Nacional da Alemanha e outros ilustrados corpos e irmos, seguindo nisto as inspiraes do Sistema Sueco, ou melhor dizendo, de Zinnendorf, que as Corporaes Manicas da Idade Mdia no se ocupavam nica e exclusivamente da Arte de construir, seno que cultivavam ao mesmo tempo, com o maior mistrio, uma cincia secreta, cuja base vinha a constituir um verdadeiro sistema religioso, e portanto, a Franco-maonaria de So Joo, no era tampouco uma simples filosofia moral, seno que estava ntima e diretamente relacionada com este mistrio cujo conhecimento constitui a escola preparatria, ou seja, o primeiro grau da iniciao manica. No aprofundaremos na questo por no ser este o verbete ideal, mas bem podemos agregar sem necessidade de faz-lo, que qualquer que seja a origem primitiva que se atribua Instituio, inegvel que a Franco-maonaria de So Joo veio a encarnar nas Corporaes de Construtores da Idade Mdia, e, portanto, de admitir-se, como cada dia vem admitindo-se com mais insistncia, a agregao que se lhe atribui, ou seja, a existncia dessa sociedade que desde os tempos mais ou menos remotos vinha subsistindo em seu seio dedicando-se ao estudo e a propagao das cincias, ao aperfeioamento do homem e ao progresso e bem-estar da humanidade, no caberia duvidar que a Franco-maonaria especulativa no descende diretamente das Corporaes dos Obreiros manufatureiros, que em geral o assinam como progenitores, seno que viria a ser uma continuao daquela sociedade que durante mais de vinte sculos, segundo alguns eruditos escritores, se perpetuou secretamente em seu seio, despojada hoje de sua tosca roupagem; e justificada plenamente ficaria com esta teoria, a remota antiguidade que se atribui cincia secreta e aos Mistrios da Franco-maonaria. De todos os modos, este o caminho que depois de maiores ou menores vacilaes, vieram a empreender decididamente todos os investigadores que se propuseram estudar detidamente a origem dos smbolos e mistrios da Franco-maonaria, e pelo qual no podemos menos que avanar para prosseguir nosso trabalho. A Franco-maonaria, segundo a grfica definio de um erudito escritor, a cincia do simbolismo; e este simbolismo, est provado, guarda a mais ntima analogia com a cincia dos ritos mticos das antigas iniciaes. Em todas elas o candidato simbolizava o Universo; e o Sol, como princpio e agente vivificador e fecundante por excelncia, constitua o principal objetivo do culto e da adorao. Todo o simbolismo manico se identifica com o ser que os Cabalistas distinguiram com o nome de Algabil (Mestre Construtor), que os Franco-maons chamam hoje GADU. A identidade de simbolismo, prova a de origem. Sem abrirmos as mitologias pags, encontraremos em todas elas um Deus a quem se evocava nos sacrifcios, que foi o primeiro que erigiu templos e instituiu os ritos misteriosos, cujas funes eram as de guardar as portas do Cu (Janua Celi), pelo que se lhe chamou Janus, de onde por derivao veio Joo. Janus um mito astronmico, originrio das primeiras teogonias conhecidas, que, apesar das transformaes que sofreu durante a evoluo das primitivas civilizaes, conservou intato o fundo de seu carter distintivo. Doce e bem feitor, sorridente mensageiro da luz e da alegria, sempre foi uma divindade simptica e popular entre os mortais. Prescindindo do papel que com distintos nomes desempenhou nas concepes indo-egpcias, j que para nosso objetivo no necessitamos remontar-nos tanto, busquemos para apresent-lo, em provas relativamente mais modernas e mais prximas de pocas que conhecemos j melhor. Houve um povo na Antiga Itlia, que desempenhou um grande papel nos primeiros dias de Roma, mas que absorvido paulatinamente pelos latinos, acabou por fundir-se com o povo rei, vindo a desaparecer sua nacionalidade da cena da histria; foi este, o povo Etrusco. Sua lngua, seus livros, quase todos seus monumentos, faz j muitos sculos que desapareceram, e desde aquela poca, as mais densas trevas paira em torno de si. Alguns jarros pintados, tumbas adornadas de magnficos baixos relevos, espelhos metlicos, bandejas e pratos, uma arquitetura particular adotada para o adorno das grutas sepulcrais, monumentos que algumas escavaes feitas em Toscana deram a conhecer, junto com alguns escritos de sua histria que nos deixaram os gregos e os romanos, eis aqui tudo o que nos resta deste povo grande e clebre, que brilhou um dia por sua civilizao, igual no mnimo, se no superior dos assrios, dos egpcios e dos gregos. A este povo que deve Roma suas leis, seus costumes e sua religio durante as primeiras idades da Monarquia e da Repblica. Entre os gnios ou os deuses que foram considerados como indgenas deste povo, aos que Roma adorou mais tarde de uma maneira muito particular, o mais notvel e importante de todos, foi Janus ou Than. Este deus presidia simbolicamente o princpio de todas as coisas. Quem bem comea, bem acaba era um provrbio que o povo etrusco tinha em muito gosto, pelo que se ps sob o patronato desta divindade bem feitora; presidia tambm o primeiro ms do ano ao que deu seu nome; abria o dia, e de noite vigiava as casas e impedia que as Lemuras, gnios malficos que espalhavam o espanto e habitavam nos tetos e telhados, entravam nos dormitrios para atormentar

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    aos mortais, tirando-lhes o sono; assim , que os etruscos e romanos lhe estavam to reconhecidos, que para demonstr-lo palpavelmente, lhe invocavam sempre o primeiro, com preferncia a todos os demais deuses, nos sacrifcios, e cada dia do amanhecer, assim como cada princpio do ano, a primeira invocao de todo fiel adorador dos deuses, se dirigia a Janus, pai da manh, (Pater Matinus). Entre as esttuas dos lares, era a primeira e mais preferida a sua, a que a famlia cuidava com mais solcito carinho e adorava com mais fervorosa e confiada devoo. Consagrando-lhe as casas e edifcios, pelo que sua esttua figurava sobre a porta principal de todas elas. Jamais recebia as oferendas da piedade, e como o mais modesto dos lares, se contentava simplesmente com incenso, vinho e tortas. Mas no s conhecia e presidia Jano o princpio de todas as coisas, seno que tambm conhecia o fim. Era, pois, alm disso, um deus augural que conhecia o passado e porvir, que em sua benevolncia se dignava revel-lo aos piedosos mortais que se o pediam. Por isso suas esttuas tinham uma cabea com duas ou quatro faces e seus templos outras tantas aberturas. Assim que os fiis, ao ver a imagem ou algum de seus templos sagrados, recordavam por este smbolo, a potestade que tinha Jano de conhecer o passado e o porvir; de abarc-lo todo a uma s vez com seu olhar; tanto o pertencente ao domnio do mundo fsico, como do intelectual. Representavam-lhe com uma chave, porque, dizia, tudo o abre e fecha, tudo o comea e o acaba. Por ele, acrescentava, tudo nasce e vive, cresce e se desenvolve; inspira as concepes ao gnio e as d luz; organiza e dirige os trabalhos; franqueia as portas do cu, que do passagem luz e aos deslumbrantes e vivificadores raios do sol, e o apresenta na presena dos mortais; sustenta as eras nutrindo-as de espessas vagens de dourado gro; faz surgir os mananciais que alimentam os rios, etc., etc. No sentido metafrico, inaugurava as lutas e os combates, com o que vem a transformar-se em gnio da guerra; e sob este aspecto, a belicosa nao que um dia devia submeter ao mundo, no podia deixar de honrar e render fervente homenagem ao deus porta-chave, e daqui a ereo do famoso templo de Janus Quirinus, que fechavam em tempo de paz e permanecia constantemente aberto em tempo de guerra. Desculpa foi dos antigos imaginar seres humanos, guerreiros, legisladores e heris nos deuses que adorava o vulgo; e at os modernos acreditaram dar provas de engenho e de s crtica, copiando e modificando aquelas concepes, apresentando-as sob novas faces. Segundo muitos destes escritores, Jano foi um prncipe que reinou na Itlia Central, no pas dos Aborgenes, chamado depois Lacio. Ainda que as naes itlicas submetidas a seu imprio, fossem indgenas, ele era estrangeiro. De onde vinha? Segundo uns, da Tesalia, do pas dos Ferebos, ou de Delfos; outros se contentam designando-lhe como originrio da Grcia, sem indicar a qual raa pertencia. No faltam judeus e tambm cristos, que hajam estampado que no era outro que No, por causa de certa semelhana que acreditaram descobrir entre seu nome e o de uma palavra hebraica que significa Vinho. Mas seja qual for sua origem, Jano, como todos os heris mitolgicos, civilizou as famlias selvagens e errantes do Lacio; fundiu as raas inimigas concentrando-as em povoaes e acostumando-as vida social; instituiu o matrimnio, lhes deu leis e lhes ensinou as artes, a escrita e a agricultura. Durante este tempo, Saturno, lanado do trono por seu filho, foi buscar um refgio na Itlia; Jano lhe acolheu benevolamente e o associou a seu imprio. Cheio de reconhecimento o ilustre e divino desterrado, lhe ajudou poderosamente em seus trabalhos civilizadores e fomentou em grande maneira a agricultura. O reinado de Jano foi felicssimo e foi cantado e exaltado pelos poetas, como o maior dos prncipes da idade do ouro, e dos benfeitores da humanidade. Assim , que Jano, o mensageiro da luz, o civilizador, o iniciador por excelncia, foi sempre o advogado e patrono dos iniciados, posto que a ele devia-se tambm a instituio dos mistrios e das iniciaes. Ao abraar o cristianismo, os iniciados Maons tiveram que escolher um santo por patrono, em substituio do deus pago que at aquele momento lhes havia auspiciado; e os encontraram em Joo, que mensageiro igualmente de luz, precursor de uma nova civilizao e iniciador por excelncia, posto que foi o que iniciou ao Redentor conferindo-lhe o Batismo, houve por merecer desde logo toda sua preferncia. Tem mais, desde a origem dos mistrios os iniciados celebraram sempre, como patronal, a festa dos Solstcios dedicada a Janus; e a de Joo, por rara e misteriosa coincidncia (como que no fosse mais que uma metamorfose do antigo mito para amold-lo nova religio) caa precisamente na mesma poca e no mesmo dia, e at tinha a mesma significao simblica. Quem podia pr, pois, em dvida, que a Joo, e no a outro haviam de escolher os Maons neocristos, principalmente quando entre este e Jano, s podia exigir, o cristianismo, a introduo de algumas ligeiras variantes no ritual, para amoldar as cerimnias ao carter e ao cerimonial do culto cristo? O escolheram, pois, sem titubear, no cabe duvid-lo; e embora no existissem outras razes confirmatrias, bastariam as consideraes que de concluem dos dados que superficialmente deixamos apontados, para adquirir esta convico. Mas apesar da deficincia da histria, esta nos subministra, no obstante, um argumento concluinte. Como acabamos de manifestar, est bem provado, que os Maons, desde a fundao dos Colgios romanos at nossos dias, celebraram sempre invariavelmente as festas solsticiais, como a maior solenidade de seu instituto; a nica diferena que oferecem, sem que por isto hajam perdido nada de seu primitivo significado, , que os pagos as celebravam sob os auspcios de Jano e os cristos sob o de So Joo.

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    Fica, pois, plenamente evidenciado a origem incontestvel do nome de So Joo, com o que se distingue a Franco-maonaria universal, e racionalmente explicado o simbolismo e a nica interpretao manica que cabe dar-lhe.

    So Joo (Ordem dos Cavaleiros de)

    Ttulo com que alguns criadores de altos graus pretenderam confundir aos Templrios e aos Cavaleiros de Malta. O primeiro que aperfeioou e que at certo ponto metodizou os graus supermanicos, foi o Baronete escocs Miguel de Ramsay. A ele se deve a inveno da fbula que coloca a origem da Franco-maonaria nas Cruzadas, e com a que pretendeu estabelecer uma relao direta entre esta e a Ordem de So Joo (Ordem dos Cavaleiros de Malta). Este, que no mencionou ainda para nada aos Templrios e outras ordens, s quais depois se pretendeu dar uma filiao manica, estabelecia, como qualidades indispensveis para poder ser admitido na Ordem, uma filantropia razovel, uma grande pureza de costumes, uma discrio a toda prova e um gosto excelente pelas belas artes. Em um de seus discursos que legaram at ns, a propsito da criao dos novos graus, diz:

    Trata-se de reprimir e de voltar a pr em prtica os antigos princpios, que, fundados na mesma natureza humana, serviram para fundar nossa sociedade. Nossos antepassados, esses nobres cruzados, reunidos na Terra Santa, procedentes de todos os povos da Cristandade, quiseram formar uma grande associao nica, que abarcava todas as inteligncias e todos os coraes, a fim de aperfeio-los e de chegar a constituir por esse meio, durante o transcurso do tempo, uma grande nao intelectual. Para conseguir este objetivo, a Ordem se fusionou mais tarde com os Cavaleiros da Ordem de So Joo de Jerusalm (que mais tarde se converteu na Ordem de Malta).

    e mais adiante acrescenta: Contamos entre ns trs classes de irmos: os Novios ou Aprendizes; os Companheiros ou Professos e os Mestres ou Perfeitos.

    Em um ritual contido no Sello roto, que se publicou em Paris em 1745, pergunta de por que as Lojas esto dedicadas a So Joo, se d a seguinte resposta: Porque os Cavaleiros maons, se fundiram nos tempos das guerras santas da Palestina, com os Cavaleiros da Ordem de So Joo.

    Referncias: ASLAN, Nicolas Grande Dicionrio Enciclopdico de Maonaria e Simbologia. ABRINES, Don Lorenzo Frau & ARDERIU, Don Rosendo Ars Diccionario Enciclopdico de la Masonera