SAÚDE E EDUCAÇÃO

14
Artigo Revista Brasileira de Ciência, Tecnologia e Sociedade, v.2, n.1, p.25-38, jan/jun 2011. - 25 - EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL ATRAVÉS DE CAMPANHAS PÚBLICAS Danilo Brancalhão Berbel 1 Camila Carneiro Dias Rigolin 2 Resumo: O presente artigo revisa parte da história das campanhas públicas de saúde no Brasil de maneira crítica, ressaltando passagens que exemplifiquem e forneçam uma visão abrangente sobre os conceitos de educação em saúde e promoção da saúde. O primeiro remete àquelas desenvolvidas a partir de 1925, que tinham por objetivo moldar o comportamento da população para uma vida mais saudável. A segunda, por sua vez, surge na década de 1980 e prevê mudanças organizacionais de comportamento, geralmente através da formulação de leis. Conclui-se que a abordagem da promoção da saúde obtém maior adesão dos cidadãos, contribuindo para a melhora da qualidade da saúde da população. Palavras-chave: educação em saúde, promoção da saúde, campanhas públicas de saúde. HEALTH EDUCATION AND PROMOTION ON BRAZIL THROUGH PUBLIC CAMPAIGNS Abstract: This paper reviews part of the history of Brazilian health public campaigns, emphasizing certain chapters that exemplify and embrace the concepts of health education and health promotion. The first one refers to campaigns that first took place in 1925 and whose main goals were to shape population’s behavior for a healthier life. The second one appears around 1980’s decade and supports organizational changes of behavior, usually by law formulation. We conclude that the health promotion approach is more efficient, contributing to the improvement of population’s health quality. Key-words: health education, health promotion, public health campaigns. 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Política Científica e Tecnológica pela UNICAMP. Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos. E-mail: [email protected].

description

SAÚDE

Transcript of SAÚDE E EDUCAÇÃO

Artigo Revista Brasileira de Cincia, Tecnologia e Sociedade, v.2, n.1, p.25-38, jan/jn 2!11. - 25 -EDUCAO E PROMOO DA SADE NO BRASIL ATRAVS DE CAMPANHAS PBLICAS "anilo Brancal#$o Ber%el1 Ca&ila Carneiro "ias Rigolin2 Re!"o# ' presente artigo revisa parte da #ist(ria das ca&pan#as p)%licas desa)denoBrasilde&aneiracr*tica,ressaltandopassagens+e e,e&pli-i+e&e-orne.a&&avis$oa%rangenteso%reosconceitosde educaoemsadeepromoodasade.'pri&eirore&ete/+elas desenvolvidasapartirde1025,+etin#a&poro%jetivo&oldaro co&porta&entodapopla.$opara&avida&aissad1vel.2segnda, por sa ve3, srge na d4cada de 108! e prev &dan.as organi3acionais de co&porta&ento, geral&ente atrav4s da -or&la.$o de leis. Concli-se +e aa%ordage&dapromoodasadeo%t4&&aiorades$odoscidad$os, contri%indo para a &el#ora da +alidade da sa)de da popla.$o. P$%$&r$-'($&e#edca.$oe&sa)de,pro&o.$odasa)de,ca&pan#as p)%licas de sa)de. HEALTH EDUCATION AND PROMOTION ON BRA)IL THROU*H PUBLIC CAMPAI*NS A+tr$'t#T#ispaperrevie5sparto-t#e#istor6o-Bra3ilian#ealt#p%lic ca&paigns,e&p#asi3ingcertainc#apterst#ate,e&pli-6ande&%racet#e concepts o- health education and health promotion. T#e -irst one re-ers to ca&paignst#at-irsttoo7placein1025and5#ose&aingoals5ereto s#apepoplation8s%e#avior-ora#ealt#ierli-e.T#esecondoneappears arond108!8sdecadeandspportsorgani3ationalc#angeso-%e#avior, sall6%6la5-or&lation.9econcldet#att#e#ealt#pro&otion approac#is&oree--icient,contri%tingtot#ei&prove&ento- poplation8s #ealt# +alit6. ,e--.or/# #ealt# edcation, #ealt# pro&otion, p%lic #ealt# ca&paigns. 1:estrandodo;rogra&ade;(s-ederal de S$o Carlos. ?-&ail@ dan%er%elA#ot&ail.co&. 2"otorae&;ol*ticaCient*-icaeTecnol(gicapela=BCC2:;."ocentedo;rogra&ade;(s-ederaldeS$oCarlos.?-&ail@ ca&ilacarneiro.diasAg&ail.co&. Artigo Revista Brasileira de Cincia, Tecnologia e Sociedade, v.2, n.1, p.25-38, jan/jn 2!11. - 20 -I1tro/!23o :ovi&entossociais,cient*-icosepol*ticosse&preestivera&/-rentedas &dan.asdeco&porta&entoda#&anidadenos&aisvariadoste&as+ea circnda&.?rroseacertos&arcara&odesenvolvi&entode&a1reade con#eci&entoessencialparaagarantiade&ais+alidadedevidaparaaspessoas@a sa)de.Bestedo&*nio,osconceitosdeedca.$oepro&o.$oparaasa)des$o consideradosparadig&asnorteadoresde&odelosea%ordagensde-or&la.$ode pol*ticas p)%licas de sa)de coletiva. :es&oantesdainstitcionali3a.$odestesconceitos,oBrasilj1desenvolvia ca&pan#aspara&el#ora&entodascondi.Dessanit1rias.ederaldeSa)de;)%lica,co&a &etadesperaravar*ola,apeste%%Snicaea-e%rea&arela.;araco&%ateresta )lti&a, ele dividi a cidade do Rio de Paneiro e& de3 distritos, co& &a e+ipe &4dica e& cada, co& o o%jetivo de aper-ei.oar a opera.$o &ata-&os+itos. ;ara o co&%ate / var*ola, sa estrat4gia -oi otra, co&o e,plica Benc#i&ol H2!!!, p. 2RUK@ 'co&%ate/var*oladependiadavacina.H...K?&jn#ode 10!N,'s5aldoCr3apresentoaoCongressoprojetodelei reinstarandoao%rigatoriedadedavacina.$oerevacina.$o e&todoopa*s,co&cl1slasrigorosas+eincl*a&&ltas aosre-rat1rioseae,ignciadeatestadopara&atr*clase& escolas, acesso a e&pregos p)%licos, casa&entos, viagens etc. 2 lei -oi aprovada no dia 31 de ot%ro, co& a p%lica.$o nos jornais e& nove de nove&%ro. O neste cen1rio +e ocorre a Revolta da Gacina, co&o -ico con#ecida a &ani-esta.$opoplarcontr1ria/decis$ogoverna&entaldei&porai&ni3a.$o contra a var*ola. :olinH2!!3,p. 5!1K descreveestaocasi$oco&o&aLse&anasangrentano RiodePaneiro,e&10!N,drantea +alogoverno -ederalen-rento&averdadeira Artigo Revista Brasileira de Cincia, Tecnologia e Sociedade, v.2, n.1, p.25-38, jan/jn 2!11. - 9: -insrrei.$oM."eacordoco&aatora,estai&posi.$o-oiaco&pan#adadeopress$o policial, tili3ando a -or.a co&o a.$o para a sa)de preventiva. ?sta&edidaaca%o porcolocara popla.$ocontraoscientistase#igienistas, +esstentava&anecessidadedavacina.$o.L2revoltadrododia1!a23de nove&%rode10!N.2s-or.asrepressivas&apeara&acidadeeoestadodes*tio-oi decretado no Rio de Paneiro e Biter(iM, a-ir&a Bnes H2!!!, p. 2U!K. ?ste&odelodeinterven.$o-icocon#ecidoco&osanitarismocampanhista, e&+e osoda-or.aedaatoridadeera oinstr&ento principaldea.$o.Segndo estavis$o,os-insjsti-icaria&os&eios.Caracter*stica&arcantedesteepis(dio4a -altadeco&nica.$oentre?stadoepopla.$oso%reai&portVnciadai&ni3a.$oe sa conte,tali3a.$o co& a precariedade da sa)de p)%lica no pa*s.2pesardoatoritaris&odo&4todo,o&odelocampanhistao%teve i&portantesavan.osnocontroledasdoen.asepid&icas,co&opore,e&plo,a erradica.$oda-e%rea&arelanoRiodePaneiro.Cssoservide-ortaleci&entoparao sanitaris&o e para a &icro%iologia pasteriana no pa*s.?ste4&e,e&plo+en$oa%rangene&aedca.$oe&sa)dene&a pro&o.$odasa)de.2estrat4giadeapro,i&a.$odos(rg$osp)%licosn$opodeser consideradasatis-at(ria,apesardetervacinadograndepartedapopla.$oea prevenido da var*ola. 2 partir deste epis(dio, as ca&pan#as de sa)de co&e.ara& a ser -or&ladasvisando/apro,i&a.$o&aisa&istosajnto/popla.$o,assnto a%ordado a segir. A e/!'$23o e" $6/e 2s pr1ticas instit*das por 's5aldo Cr3 tro,era& grandes contri%i.Des para asa)dep)%lica,co&oainstiti.$odoregistrode&ogr1-ico,+etin#aporo%jetivo con#ecere&apearapopla.$oeosriscosend&icosQaintrod.$odola%orat(rio paradiagn(sticoetiol(gicoea-a%rica.$odeprodtospro-il1ticosparasoda popla.$o.'tras&dan.asocorrera&nad4cadade101!,co&ascontri%i.Desde CarlosC#agas3paraasa)dep)%lica,eapartirdad4cadade102!,+andoariaH2!!2Ke,plica+eaLreestrtra.$odo servi.o sanit1rio teve co&o &eta a pro&o.$o de a.Des de sa)de per&anentes, &enos voltadas para a.Des e&ergenciais de co&%ate a doen.as espec*-icasM. ;araai&ple&enta.$odapropostade;alaSo3a,srgira&asedcadoras sanit1rias,+eatava&noscentrosdesa)de.Sas-n.Desera&aela%ora.$ode carta3espro&ocionais,consel#osde#igiene,instr.Desaoss1rios,ela%ora.$ode palestrasee,posi.Des.?stetra%al#orepresentaainser.$odeca&pan#aslocali3adas de sa)de, a%rangendo as popla.Des pr(,i&as /s nidades de sa)de.?steepis(dio&arcaoin*ciodatili3a.$odaedca.$oe&sa)de,+e4 evidenciadapeloo%jetivocond3iroco&porta&entoindividaldosgrpossociais para ado.$o de Lpr1ticas sad1veisM, o seja, & conjnto de atitdes +e resltaria& e& &el#ora na +alidade de vida e di&ini.$o das doen.as. ;ala So3a se &anteve / -rente do Servi.o Sanit1rio at4 102R, +ando dei,o o cargo para se dedicar /s atividades do Cnstitto de Figiene. Beste ano, Loperava& no estado N5 centros de sa)de e postos de #igiene encarregados de prestar atendi&ento geral / popla.$o, al4& da reali3a.$o de pes+isas la%oratoriaisM, e,plica >aria H2!!2K. Segindoreco&enda.Desinternacionaisda'rgani3a.$o:ndialdaSa)de H':SK,inicia-se,e&10RU,o;rogra&adeCnteriori3a.$odas2.DesdeSa)dee Sanea&entoH;C2SSK,+esecon-igraco&oopri&eiroprogra&ade&edicina si&pli-icadadogoverno>ederal.'resltado4ae,pans$odoatendi&entonarede p)%lica a&%latorial.?& 10RR, ocorre a CG Reni$o dos :inistros das 2&4ricas, e& +e se discte a necessidadedeincentivodaparticipa.$oco&nit1riaparaa&plia.$odosservi.osde sa)de@ Los indiv*dos deveria& con#ecer &el#or sas pr(prias condi.Des de sa)de, de &odo+e,apartirdisto,pdesse&setrans-or&are&agentesinteressadose& pro&over se pr(prio desenvolvi&entoM HRCC? e C2B"?C2S, 1080, p. 3N8K.;aradisse&ina.$odessasideias,apostara&-senadivlga.$ode&ateriaise& &eiosdeco&nica.$o,e&alasdid1ticasepalestrase&centrosdesa)de,escolas, Artigo Revista Brasileira de Cincia, Tecnologia e Sociedade, v.2, n.1, p.25-38, jan/jn 2!11. - 92 -igrejaseotros espa.osdeco&nidades.2liadoaisso,aaten.$ointegral/sa)dese %aseavanaregionali3a.$odeatendi&ento,#ierar+i3a.$odeservi.os, disponi%ili3a.$odetecnologiassi&pli-icadaseparticipa.$odaco&nidadeH;2C:, 2!!1K.RiceeCandeiasH1080p.3N8-3N0Kelenca&algnsaspectosnegativosda iniciativa, co&o o en-o+e crativo tradicional, e& detri&ento da preven.$o, no siste&adeatendi&ento&4dico-sanit1rioQ-altadeintegra.$o dos &e&%ros da co&nidade co& a e+ipe de sa)deQ asncia deen-o+es&ltisetoriaisQceticis&oporpartedopessoal +anto/propostadetra%al#arconjnta&enteco&a co&nidadee,-inal&ente,-altadepessoal+ali-icadopara pro&overatividadesco&nit1riasna1readeedca.$oe& sa)de. ?&s*ntese,aata.$oatrav4sdoconceitodeedca.$oe&sa)dej1n$oera &aiss-icienteparasprirasnecessidadesidenti-icadas,por+en$oa%rangia &4todos preventivos para a sa)de ne& possi%ilidades de di1logo co& o s1rio. ?stas lacnasevidenciara&anecessidadedei&planta.$odenovasa%ordagens,co&oas %aseadas no conceito de pro&o.$o da sa)de, +e 4 revisto na se.$o seginte. A 5ro"o23o /$ $6/e Co&oo%jetivodetentarrevertero+adrodecrisenasa)de,ogoverno institi,e&1081,oConsel#oConsltivode2d&inistra.$odaSa)de;revidenci1ria HC'B2S;K.Ses&e&%rosera&t4cnicosligadosao&ovi&entosanit1rio,Lo+ed1 in*cioarptra,pordentro,dado&inVnciadosan4is%rocr1ticosprevidenci1riosM H;'IC2X. H;'IC?RZBCC2CBT?RB2CC'B2IS'BR?C=C"2"'S;RC:[RC'S"?S2Y"?,organi3adapela':Se& sete&%ro de 10R8, na cidade de 2l&a-2ta, antiga =RSS. Artigo Revista Brasileira de Cincia, Tecnologia e Sociedade, v.2, n.1, p.25-38, jan/jn 2!11. - 9< -Sa)deHS=SK.2d4cadade100!tro,enovasperspectivas,co&aconsolida.$oda pro&o.$o da sa)de na -or&la.$o das ca&pan#as nacionais."eve-se entender +e a transi.$o de &a a%ordage& para otra n$o ocorre de &aneira &ecVnica. ;or isso, 4 poss*vel identi-icar caracter*sticas da edca.$o e& sa)de e& ca&pan#as reali3adas a partir da d4cada de 100!. Beste conte,to, 4 desenvolvida no Brasil ca&pan#a governa&ental de preven.$o / 2ids e otras doen.as se,al&ente trans&iss*veis, te&a a%ordado a segir. C$"5$1($ +r$i%eir$ /e 5re&e123o = Ai/ 2partirde108U,segindoreco&enda.Desda'rgani3a.$o:ndialdeSa)de H':SK,oBrasilinicioodesenvolvi&entodeca&pan#asdepreven.$odeFCG/2ids Hs*ndro&e da i&node-icincia ad+iridaK atrav4s de &ecanis&os de mar!eting social. 's &eios de co&nica.$o -ora& tili3ados co&o dissipadores desses conte)dos, co& desta+eparaatelevis$o.;artedestasca&pan#asgan#odesta+einternacional, tornandooBrasil&are-erncianapro&o.$odestestra%al#os.?ntre108Ue2!!!, -ora&prod3idos&aisdeR!an)nciostelevisivosso%reessate&1ticapeloederal HS2BT'SQ 'ICG?CR2, 2!1!K.Bospri&eirosanos,asca&pan#astratava&oFCG/2idsco&oLdoen.a+e vin#ade-oraM.?stevi4s-oia%andonado+andoos*ndicesdein-ec.$o-ora& crescendonopa*s.?ntre100Ne2!!!,oto&passoparaaresponsa%ili3a.$oda &l#erparaco&oscidadosco&apr(priasa)de.2partirdoano2!!!,a n-asese de no so do preservativo &asclino Ha ca&isin#aK e os #o&ens voltara& a ser te&a das ca&pan#as. "e acordo co& ;olistc#c7 H1000K, & dos principais -atores +e contri%*ra& paraorecon#eci&entointernacionaldasca&pan#as%rasileiras-oio-orneci&ento gratitoparaosportadoresdain-ec.$o,atrav4sdo:inist4riodaSa)de,das &edica.DesdoLco+etelMprescritopeloreceit1rio&4dico.L?steprocedi&ento4 )nico,no&ndo,e-oi%astanteelogiadoporatoridadescient*-icasnaCon-erncia :ndialde2C"S,e&. Conceitos de educao e de promoo em sade% mudanas individuais e mudanas organizacionais. Sa)de ;)%lica, v. 31, n. 2, p. 2!0-13, 100R. >2RC2, Iina. ) 1undao 'oc!efeller e os servios de sade em (o Paulo ,-234564.% perspectivas hist*ricas. Fist(ria, Cincias, Sa)de W :angin#os, v. CE, n. 3, set-de3, p. 5U1-0!. Rio de Paneiro, 2!!2. "ispon*vel e&@ Artigo Revista Brasileira de Cincia, Tecnologia e Sociedade, v.2, n.1, p.25-38, jan/jn 2!11. - 97 -`#ttp@//555.scielo.%r/scielo.p#pascriptbscicartte,tdpidbS!1!N-50R !2!!2!!!3!!!!5dlngbendnr&bisoe, acesso e& nove&%ro de 2!1!. >?RR?CR2, Ii3 't1vio. Neg*cio pol$tica ci7ncia e vice5versa% uma hist*ria institucional do 8ornalismo m9dico "rasileiro entre -:3; e -:B2. Bras*lia, 2!!1. ;'IC