Sauerbronn-Faria Codeterminacao RAM 2011

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A AGÊNCIA EM ESTRATÉGIA: CONECTANDO PRÁTICA SOCIAL E CODETERMINAÇÃO FERNANDA FILGUEIRAS SAUERBRONN Doutora em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP). Professora da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Avenida Pauster, 250, Urca, Rio de Janeiro – RJ – Brasil – CEP 22290-240 E-mail: [email protected] ALEXANDRE DE ALMEIDA FARIA Ph.D. em Business Administration pela Warwick Business School da Universidade de Warwick (Inglaterra). Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) Praia de Botafogo, 190, sala 524, Botafogo, Rio de Janeiro – RJ – Brasil – CEP 22250-900 E-mail: [email protected] RAM, REV. ADM. MACKENZIE, V. 12, N. 6, Ed. Especial SÃO PAULO, SP NOV./DEZ. 2011 ISSN 1518-6776 (impresso) ISSN 1678-6971 (on-line) Submissão: 1º jul. 2011. Aceitação: 21 set. 2011. Sistema de avaliação: às cegas dupla (double blind review). UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Walter Bataglia (Ed.), p. 49-75.

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Este artigo propõe uma perspectiva mais plural para o estudo da agência em estratégia, por meio do empréstimo do conceito de codeterminação, contribuin- do para o reconhecimento e a superação de certas limitações da área. As razões históricas que levaram a área de estratégia a focar o indivíduo são analisadas ao longo do texto, principalmente a partir do predomínio de abordagens específicas que tratam da relação entre indivíduo, organização e ambiente. Os autores argu- mentam que grande parte da literatura de estratégia privilegia uma representa- ção específica de organização e gerência (isto é, a grande corporação e o capita- lismo gerencial controlado por uma “mão visível permitiu gerar, ao longo das últimas décadas, falsas dicotomias (micro/macro, voluntarismo/determinismo) e promoveu uma conflação entre a agência do indivíduo e a agência da organiza- ção. De forma a superar essas falsas dicotomias e endereçar o estudo da agência, os autores revisitam o desenvolvimento de algumas perspectivas que procura- ram, nas últimas décadas, incorporar os debates produzidos na área de estudos organizacionais, principalmente na Europa. O artigo dá destaque às discussões acerca da perspectiva da estratégia como prática social (strategy as practice – S-as-P), principalmente aquelas vinculadas à teoria da estruturação, por causa de sua ampla utilização.

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  • AAagncia em estratgia: conectando prtica social e codeterminao

    FERNANDA FILGUEIRAS SAUERBRONNDoutora em Administrao pela Escola Brasileira de Administrao Pblica e de Empresas da

    Fundao Getulio Vargas (FGV-SP).

    Professora da Faculdade de Administrao e Cincias Contbeis da

    Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    Avenida Pauster, 250, Urca, Rio de Janeiro RJ Brasil CEP 22290-240

    E-mail: [email protected]

    ALEXANDRE DE ALMEIDA FARIAPh.D. em Business Administration pela Warwick Business School da

    Universidade de Warwick (Inglaterra).

    Professor da Escola Brasileira de Administrao Pblica e de Empresas da

    Fundao Getulio Vargas (FGV-SP)

    Praia de Botafogo, 190, sala 524, Botafogo, Rio de Janeiro RJ Brasil CEP 22250-900

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    RAM, REV. ADM. MACKENZIE, V. 12, N. 6, Ed. Especial SO PAULO, SP NOV./DEZ. 2011 ISSN 1518-6776 (impresso) ISSN 1678-6971 (on-line) Submisso: 1 jul. 2011. Aceitao: 21 set. 2011. Sistema de avaliao: s cegas dupla (double blind review).

    UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Walter Bataglia (Ed.), p. 49-75.

    113715Caixa de texto permitido copiar, distribuir, exibir e transmitir essa obra; bem como criar obras derivadas, desde que se confira o devido crdito autoral e se referencie a publicao anterior na RAM (nome da revista, edio, ano e pginas) de forma explcita e clara (mas sem sugerir que a RAM apoia ou endossa o usurio ou o uso feito da obra). Por meio dessa licena, fica explicito a restrio ao uso da obra para fins comerciais. No caso de alterao, transformao ou adaptao dessa obra, voc deve distribuir a obra resultante somente nas mesmas condies de licenciamento aqui estabelecidas.

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    RESUMO

    Este artigo prope uma perspectiva mais plural para o estudo da agncia em estratgia, por meio do emprstimo do conceito de codeterminao, contribuin-do para o reconhecimento e a superao de certas limitaes da rea. As razes histricas que levaram a rea de estratgia a focar o indivduo so analisadas ao longo do texto, principalmente a partir do predomnio de abordagens especficas que tratam da relao entre indivduo, organizao e ambiente. Os autores argu-mentam que grande parte da literatura de estratgia privilegia uma representa-o especfica de organizao e gerncia (isto , a grande corporao e o capita-lismo gerencial controlado por uma mo visvel permitiu gerar, ao longo das ltimas dcadas, falsas dicotomias (micro/macro, voluntarismo/determinismo) e promoveu uma conflao entre a agncia do indivduo e a agncia da organiza-o. De forma a superar essas falsas dicotomias e enderear o estudo da agncia, os autores revisitam o desenvolvimento de algumas perspectivas que procura-ram, nas ltimas dcadas, incorporar os debates produzidos na rea de estudos organizacionais, principalmente na Europa. O artigo d destaque s discusses acerca da perspectiva da estratgia como prtica social (strategy as practice S-as-P), principalmente aquelas vinculadas teoria da estruturao, por causa de sua ampla utilizao. Seguindo o movimento europeu, tambm crescente no Brasil o interesse por S-as-P e pelos conceitos de strategizing, organizing e microprticas; isso faz com que o conceito de agncia continue insuficientemente explorado apesar dos importantes avanos alcanados. Os autores deste artigo propem uma perspectiva baseada no conceito de codeterminao na qual a agncia se constitui ao longo de processos de interao horizontal e vertical, envolvendo mecanismos e atores que residem nos nveis microindividual, meso--organizacional e macroestrutural. O potencial do conceito de codeterminao reconhecido para que se realize, em S-as-P, uma anlise estratificada da agn-cia e discutam-se elementos que permitam revelar as camadas de influncias. Por fim, os autores traam consideraes acerca da viabilidade de perspectivas alternativas para o estudo da agncia em S-as-P e de sua importncia para con-trabalanar a literatura dominante e elevar a relevncia dos estudos no Brasil.

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    PALAVRAS-CHAVE

    Estratgia; Agncia; Prtica social; Nveis de anlise; Codeterminao.

    1 INTRODUO

    A rea de estudos organizacionais (EOs), ao longo das ltimas dcadas, vem usando diferentes correntes tericas das cincias sociais para investigar a relao entre indivduo, organizao e ambiente (ASTLEY; VAN DE VEN, 1983; HAS-SARD, 1995; BARLEY, 2007). A rea desenvolveu um quadro de pluralidade que permitiu a melhoria de nossa compreenso sobre organizaes, gesto e desem-penho. A rea de estratgia tem sido beneficiada por esses desenvolvimentos fei-tos pela rea de EOs, mas de forma insuficiente. A literatura de estratgia prioriza prescrio e desempenho econmico, em detrimento de descrio e outros tipos de desempenho. A objeo pluralidade na rea de estratgia gerou no somente a proliferao de igrejas isoladas (HAMBRICK, 2004), mas principalmente o imperialismo de posies dominantes sobre alternativas (MAHONEY, 1993).

    Um dos principais obstculos para o avano da rea que a literatura espe-cializada privilegia uma representao especfica de organizao e gerncia isto , a grande corporao e o capitalismo gerencial (CHANDLER, 1977) e, consequentemente, de agncia isto , teoria da agncia (JENSEN; MECKLING, 1976). Segundo essa perspectiva, a grande corporao moderna descrita como sendo controlada por uma classe profissional diferenciada cuja boa gesto (ou tem que ser) governada por princpios econmicos de longo prazo que desa-fiam a tendncia natural dos gerentes ao oportunismo (cf. EISENHARDT, 1989; GHOSHAL, 2005). A tese correspondente de separao entre propriedade e controle estabelecida por Berle e Means (1997) no incio dos anos 1930 aju-dou a reforar a teorizao de gerentes como agentes economicamente racionais autointeressados e maximizadores de posies individuais diante de incentivos e recompensas de ordem econmica. Essa combinao de teorizaes ajuda a expli-car a constituio da nomenclatura gesto estratgica para representar estrat-gia e por que autores da rea privilegiam o controle do oportunismo gerencial, a reduo da assimetria de informaes por meio da ampliao do monitoramento e, finalmente, o alinhamento de interesses (JENSEN; MECKLING, 1976).

    Fundamentando-se nesses pressupostos controversos (MITZRUCHI, 2004), a literatura dominante desenvolveu uma falsa dicotomia entre a perspec-tiva determinista e a perspectiva voluntarista, e entre os nveis de anlise macro e

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    micro (PETTIGREW; THOMAS; WHITTINGTON, 2002). Autores que seguem a primeira perspectiva descrevem a organizao como o agente e o ambiente como a estrutura; esta restringe a ao do agente, que tem o gerente como seu representante humano. H uma bvia conflao entre organizao e gerncia e uma clara separao entre ambiente e organizao. Autores da segunda pers-pectiva descrevem o gerente como o agente e o ambiente como estrutura; esta capacita a ao planejada do agente, que representa a organizao. A capacidade de agncia da organizao no reconhecida, em grande parte, por causa do con-troverso processo legal nos Estados Unidos que levou classificao de grandes corporaes como indivduos (LAN; HERACLEOUS, 2010). Segundo esse qua-dro, as grandes corporaes enfrentam restries impostas pelo ambiente e no tm outra capacidade de agncia, a no ser por meio da mo visvel dos seus gerentes a qual no suficientemente poderosa perante as foras do mercado (KNIGHTS; MORGAN, 1991).

    Em resposta a esses pressupostos, dilogos marcantes entre estratgia e EOs foram desenvolvidos especialmente na Europa, a partir do final dos anos 1980 (WHITTINGTON, 1988; PETTIGREW, 1992; MINTZBERG; AHLS-TRAND; LAMPEL, 2000). No Brasil, o quadro similar. A aproximao entre as reas de estratgia e EOs uma das principais caractersticas da produo acadmica em estratgia no pas, e isso ajuda a explicar a crescente importncia da perspectiva iniciada na Inglaterra em meados dos anos 1990 de strategy as practice (S-as-P) na literatura local.

    Este artigo prope uma perspectiva mais plural para o estudo da agncia, em linha com desenvolvimentos e debates produzidos pela rea de EOs no exterior (BARTUNEK, 2002; CLEGG, 2002; HININGS; GREENWOOD, 2002; MAHO-NEY, 1993) e no Brasil (JUNQUILHO, 2001, 2003; MACHADO-DA-SILVA; GUARIDO FILHO; ROSSONI, 2006). Mais especificamente, a perspectiva desenvolvida neste artigo se baseia no reconhecimento da agncia das organi-zaes por meio do emprstimo do conceito de codeterminao para ir alm da dicotomia micro-macro em estratgia.

    Ao compreendermos as razes histricas que levaram a rea de estratgia a focar o indivduo, argumentamos que a agncia em estratgia no pertence exclusivamente ao indivduo. Mais especificamente, argumentamos que a agn-cia se constitui ao longo de processos de interao horizontal e vertical, envolven-do mecanismos e atores que residem nos nveis microindividual, meso-organi-zacional e macroestrutural.

    Dividimos este artigo em mais cinco partes. Na segunda, so revistas as limitaes do conceito de agncia em estratgia em funo das representaes especficas de indivduo, organizao e ambiente. Na terceira, so analisadas as contribuies em estratgia que consideram processo e prtica social para a for-

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    mulao de perspectivas mais plurais para o estudo da agncia. Na quarta, discu-timos o foco de S-as-P sobre a agncia no nvel individual e sustentamos que este no ocasional, analisando-o luz da complexa trajetria do conceito de agncia na literatura de cincias sociais. Nessa discusso, destacam-se a influncia da teoria da estruturao de Giddens (2003) nos estudos em S-as-P e suas implica-es para um reconhecimento ainda incompleto da agncia da organizao. Na quinta, tomamos emprestado o conceito de codeterminao para a construo de uma perspectiva que reconhea os diferentes nveis de anlise, desafiando a conflao indivduo-organizao por meio de uma anlise estratificada da agncia. Por fim, traamos consideraes acerca da viabilidade dessa perspecti-vas alternativas em estratgia como prtica no Brasil e de sua importncia para contrabalanar a literatura dominante e elevar a relevncia dos estudos no pas em termos nacionais e internacionais.

    2 POTENCIALIDADES E LIMITAES DA TEORIA DA AGNCIA

    Para os economistas e seguidores da teoria da firma, h muito acostumados a tratar a organizao como uma caixa-preta, a teoria da agncia (TA) assumiu um carter revolucionrio (EISENHARDT, 1989). Segundo os fundamentos do homo economicus, o agente quase sempre visa maximizao de ganhos pes-soais e, consequentemente, ao autointeressada. Pressupe-se que gerentes agiro em seu prprio interesse custa dos proprietrios da empresa e, portanto, da sociedade. Esse pressuposto ps em xeque a viabilidade da grande corporao na sociedade por desafiar os princpios liberais de separao entre controle e propriedade da grande corporao. A teoria da agncia argumenta que as aes e intenes do gerente so pouco observveis ou difceis de monitorar.

    A TA recebeu grande destaque na literatura de gesto porque problemati-zou a relao agente-principal no tipo de organizao que representava o capi-talismo mais avanado do perodo ps-Segunda Guerra Mundial. A teoria prev como responsabilidade social que gerentes alinhassem seus interesses aos interesses dos proprietrios: em uma free enterprise um executivo corporativo um empregado do proprietrio [...]. Ele tem uma responsabilidade direta com seu empregador de conduzir o negcio de acordo com os desejos deste (FRIED-MANN, 1984, p. 133).

    J que o comportamento autointeressado dos agentes implica custos para a firma, stakeholders e sociedade, a rea de gesto reconheceu que mecanismos de monitoramento e incentivo poderiam ser fornecidos por meio de educao e

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    treinamento adequados. Segundo um dos fundadores da rea, o oportunismo gerencial inexiste na grande corporao regida pela gesto estratgica (CHAN-DLER, 1977). Segundo a TA, para que a corporao seja livre, necessrio que o gerente, aquele que monopoliza a agncia da organizao, no seja totalmente livre. Essa questo fundamental ajuda a explicar a importncia alcanada pela TA e os diversos modelos prescritivos correspondentes na rea de gesto estratgica.

    De fato, a influncia da TA pode ser observada em diferentes frentes. A lite-ratura dominante em estratgia, baseada no planejamento de cima para baixo, privilegia o controle gerencial (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). A literatura sobre viso baseada em recursos (resource-based view RBV), por sua vez, sugere que o controle dos recursos valiosos pela grande empresa um desa-fio crucial para sustentabilidade competitiva, especialmente por causa do risco de que gerentes transfiram tais recursos para a concorrncia (BARNEY, 1991).

    Ademais, alguns autores incorporaram outras dimenses teoria da agncia clssica com o propsito de contextualizar sua aplicao. Por exemplo, Cohen et al. (2007) incluram os efeitos situacionais da percepo de justia e bonda-de na tomada de deciso pelo agente. Stoney e Winstanley (2001) ressaltam as tentativas, por meio da teoria dos stakeholders, de invocar a sensibilidade e a humanidade dos agentes estrategistas para os interesses e as necessidades dos diferentes pblicos. Essas tentativas mostraram-se insuficientes para superar as limitaes centrais da TA. A TA foi questionada mais adequadamente por autores vinculados rea de EOs que defenderam maior pluralidade para com-preenso da ao o que ilustrado pelos trabalhos acadmicos de autores como Mintzberg, Pettigrew e Whittington , ou, mais especificamente, da agncia. Esses autores propuseram a descoberta de como pessoas realmente so e como se relacionam com o mundo, e isso ajuda a explicar o interesse contemporneo na prtica da estratgia.

    As crticas produzidas por autores vinculados rea de EOs indicam que as limitaes para o estudo da agncia em estratgia encontram-se na ampla difuso dos princpios do modelo de equilbrio e do modelo estrutural-funcionalista. Pri-meiro, com base na anlise de quadros estticos, estudos em estratgia deveriam explicar o (necessrio) ajuste estratgia-estrutura e legitimar o argumento de que o equilbrio produzido por processos de seleo natural, que so suposta-mente governados pelas foras de mercado. Segundo, o objetivo dos estudos na rea estaria vinculado ao estudo de solues mais eficientes para minimizar ou economizar certos tipos de custos (custos de agncia, custos de transao, entre outros) em termos funcionais (TSOUKAS; KNUDSEN, 2002, p. 413-418).

    A ampla utilizao desses modelos gerou duas consequncias importantes. Primeiro, o no reconhecimento de ontologias distintas que foram deslocadas ou suprimidas ao longo da constituio da rea (HASSARD, 1995; KNIGHTS;

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    MORGAN, 1991). Segundo, o estabelecimento de posies dicotmicas quanto natureza da realidade social e s relaes entre ao gerencial e estrutura social (ASTLEY; VAN DE VEN, 1983; WHITTINGTON, 1988).

    A dicotomia em estratgia permanece associada a dimenses macroestru-turais versus dimenses micro-organizacionais. H um movimento histrico pendular entre esses dois nveis de anlise (PETTIGREW; THOMAS; WHIT-TINGTON, 2002, p. 8). No nvel micro, a anlise se concentra em apenas uma organizao, visando ao estudo de variveis que, por exemplo, influenciam aes ou decises estratgicas relacionadas a posicionamento, crescimento, inves-timento e desinvestimento. No nvel macro, a anlise leva em considerao populaes de organizaes com o objetivo de explicar, por exemplo, como determinados fatores influenciaram na seleo natural de certos grupos com caractersticas similares em detrimento de outros e que tipos de ao competitiva so esperados de organizaes que pertencem a determinados grupos estratgi-cos (HITT; IRELAND; HOSKINGSON, 2007).

    A discusso quanto adoo dos nveis de anlise micro ou macro se sobre-ps equivocadamente ao embate entre voluntarismo e determinismo (PETTI-GREW; THOMAS; WHITTINGTON, 2002). Por um lado, a adoo do volun-tarismo de ao se associaria ao nvel de anlise microindividual, por causa do reconhecimento de que o estrategista (principalmente o CEO) ou um seleto grupo de indivduos (da elite corporativa) seriam responsveis pela anlise e definio das estratgias, seguindo os preceitos da mo visvel. Por outro lado, a adoo do determinismo ambiental impunha aos estudos a adoo de um nvel de an-lise macroestrutural, nos quais determinadas dimenses da estrutura social so consideradas centrais para explicar o fenmeno observado.

    Uma anlise das posies dicotmicas j explicitadas revela como a litera-tura de estratgia limitada no que diz respeito agncia, pois reproduz a ideia de que condies estruturais restringem a livre ao dos agentes de forma a ins-trumentalizar a ao do gerente, visando ao mapeamento e escolha de uma soluo tima. Pesquisadores que seguem essa perspectiva estudam aes, deci-ses e resultados como respostas s exigncias funcionais do sistema, sem reco-nhecer a agncia ou os mecanismos geradores ao longo do processo. Ou seja, as crticas indicam a limitao em considerar que toda e qualquer ao estratgica visa atender a alguma necessidade funcional cuja consequncia pode ser prevista e racionalizada.

    O que particularmente importante, para o propsito deste artigo, a cons-tatao de que uma literatura produzida a partir dos anos 1970, inicialmente a partir da proximidade de autores europeus com a rea de EOs, tem sido impor-tante para desafiar o domnio de uma determinada conceituao para a agncia em estratgia. Essas crticas foram fundamentais em desafiar a prescrio acerca

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    do controle do oportunismo gerencial e da racionalidade (mesmo que limitada) imposta ao agente individual.

    Sustentamos, entretanto, que uma questo negligenciada em geral por essa nova literatura que a TA desconsidera a agncia da grande corporao. Ou seja, essa nova literatura ainda reticente quanto agncia da organizao (e dos diferentes grupos internos) em codeterminar o ambiente. Essa questo de central importncia em economias emergentes, como o Brasil (CHILD; TSAI, 2005; RODRIGUES; CHILD, 2003; ELBANNA; CHILD, 2007). Portanto, anali-saremos na prxima seo as contribuies de autores que nas ltimas dcadas incorporaram ao debate as dimenses de processo e prtica social, garantindo uma certa pluralidade perspectivas para o estudo da agncia em estratgia.

    3 PLURALIDADE EM ESTRATGIA

    Grande parte dos estudos na rea de estratgia marcada pelos fundamen-tos da TA e pela imposio de racionalidade econmica (como proxis de modelo terico-ideolgico) sobre contedos subjacentes ao gerencial. Esse quadro levou a reaes na Europa (WHITTINGTON, 1992).

    Um importante movimento foi feito por autores que realizaram pesquisas focadas em processo e contexto (MINTZBERG, 1978; PETTIGREW, 1992). O desenvolvimento desse tipo de pesquisa teve um pice ao longo dos anos 1990, que desafiava a relao causal entre aes estratgicas e desempenho, reconhecia a importncia dos indivduos nas organizaes em diferentes dimenses espa-otemporais e ressaltava a importncia de investigao de conjuntos de even-tos para descrever e explicar como estratgias e organizaes se constituem no tempo e no espao (PETTIGREW; THOMAS; WHITTINGTON, 2002).

    A despeito do domnio do positivismo funcionalista em estratgia, pesqui-sadores que iniciaram a perspectiva processual basearam seus trabalhos em paradigmas mais pluralistas, interpretativos ou em perspectivas multiparadig-mticas. Segundo seus defensores, isso permitiria gerar um campo vibrante, com vises tericas distintas que podem enriquecer a compreenso da comple-xidade, da ambiguidade e dos paradoxos organizacionais (LEWIS; GRIMES, 1999, p. 73). Esses autores buscaram na combinao de diferentes epistemo-logias uma forma de superar a situao de aprisionamento em um dos quase paradigmas e de no conversao com as demais posies tidas como perifri-cas na rea (MAHONEY, 1993).

    A anlise da literatura recente de estratgia revela que a contribuio dos estudos processualistas em estratgia est vinculada ideia de mundo aberto, na qual a realidade vista como algo de fim indeterminado. H o reconheci-

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    mento de novos e inesperados eventos e aes gerenciais, e o fortalecimento de diferentes conceituaes de estratgia (normativas e/ou descritivas) ancoradas no nvel individual ou na natureza coletiva da estratgia (GARUD; VAN DE VEN, 2002, p. 206). A pluralidade de perspectivas incorporadas rea favoreceu o reconhecimento das diferentes escolas de pensamento como heursticas, capa-zes de ajudar acadmicos e praticantes a explorar as complexidades do fenmeno organizacional, ampliando o escopo, a relevncia e a criatividade dos estudos.

    Assumindo um carter ps-racional, autores processualistas investigaram estratgia a partir de uma viso do processo que combina elementos polticos e culturais, os quais evidentemente tm poder real para explicar a continuidade e a mudana na formao de estratgias (EZZAMEL; WILLMOTT, 2004, p. 47). Desafiou-se a credibilidade de modelos racionais que representam a gesto estrat-gica como uma srie de passos de formulao, implementao e controle. Foi aber-ta a possibilidade de buscar a formulao de perspectivas alternativas, inclusive para o estudo de uma agncia que no segue os fundamentos do homo economicus, logo, menos racional e maximizadora de oportunidades.

    Essa contribuio ajuda a explicar a emergncia da literatura europeia de estratgia, desenvolvida a partir do final dos anos de 1990, que entende a estrat-gia como uma prtica social strategy as practice (S-as-P). No Brasil, especialmen-te pela aproximao entre as reas de estratgia e EOs, o interesse pela prtica social crescente (WALTER; AUGUSTO, 2009).

    De forma geral, os argumentos favorveis adoo de S-as-P esto baseados na crtica quanto ao predomnio de abordagens em estratgia limitadas e redu-cionistas (CHIA, 2004), e ao distanciamento entre pesquisa e prtica, que se materializa na dificuldade de acadmicos em transferir conhecimento (GULA-TI, 2007, p. 776), na impacincia dos praticantes ante a teorizao acadmica e na tendncia a aceitar mais facilmente os modelos criativos (e prescritivos) para a soluo de problemas (FARIA, 2007).

    O advento da perspectiva de estratgia como prtica social representa um avano da pesquisa processual em estratgia e ampliou a possibilidade de escla-recer questes desprezadas pelas perspectivas clssicas em estratgia. Segun-do Carter, Clegg e Kornberger (2008a, p. 83), a S-as-P deve ser ser entendida como uma crtica sistemtica ortodoxia norte-americana hegemnica.

    A estratgia como prtica social abriu a possibilidade de tratar a estratgia, no mais sob uma perspectiva normativa e prescritiva, mas como uma prtica que contextual e historicamente formada (CLEGG; COURPARSSON; PHILLIPS, 2006). A estratgia assume o significado de prtica quando percebida como uma realizao cultural coletiva alcanada (ou construda) por meio do envolvimento de prticas sociais, disposies, tendncias e propenses que so histrica e cul-turalmente transmitidas (CHIA, 2004; CHIA; MACKAY, 2007).

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    Pesquisas que consideram a estratgia como uma prtica social esto vol-tadas para os nveis de anlise micro e macro, e tm como foco a prxis, o pra-ticante e as prticas. Por exemplo, Whittington (2006, p. 117, traduo nossa) habilmente caracteriza como strategizing o trabalho realizado no mbito da implementao de uma estratgia, que incluiria as seguintes atividades caso se considere somente o lado formal:

    Dados so coletados e analisados; documentos, escritos; e apresentaes; feitas. Acontecem reunies de projetos, reunies de conselhos, conferncias, oficinas de trabalho e eventos externos [] convocam-se gerentes seniores, gerentes mdios, planejadores estratgicos, especialistas em desenvolvimento organizacional, consultores de gesto, especialistas em comunicao e, s vezes, advogados e investidores. E h ainda mais trabalho para conseguir estratgias efetivamente implementadas.

    O interesse pela prtica da estratgia viabilizou uma (re)aproximao de aca-dmicos com a realizao cotidiana da estratgia nas organizaes, o que gerou um conhecimento de possvel interesse para o praticante e ampliou a relevn-cia da academia. Consequentemente, o aprofundamento dos estudos em S-as-P vem se traduzindo, em grande parte, no interesse por microatividades e ativida-des cotidianas que constituem a prpria realizao da estratgia (CHIA, 2004; CHIA; MACKAY, 2007; JARZABKOWSKI, 2005). Esse interesse envolve ques-tes relacionadas a onde e como o trabalho de elaborao e organizao real-mente feito; quem o faz, quais competncias possui e como as adquiriu; quais so as ferramentas e tcnicas utilizadas; como o trabalho em si organizado; como os produtos desse trabalho so comunicados e consumidos (MANTERE; VAARA, 2008; JARRATT; STILES, 2010; FLOYD et al., 2011). Consequente-mente, a pesquisa emprica deveria envolver abordagens etnogrficas (RASCHE; CHIA, 2009); entretanto, apesar dos avanos, uma parte fundamental dos estu-dos ainda possui uma natureza terica (GOLSORKHI et al., 2010).

    Ao confrontarem sua origem aos desdobramentos posteriores, autores vin-culados S-as-P ecoam as preocupaes ps-racionais dos processualistas. Porm, fazem isso com uma particular referncia ao lado formal do trabalho de design estratgico e organizacional ver crtica produzida por Ezzamel e Will-mott (2004) e Carter, Clegg e Kornberger (2008b). Suas preocupaes tendem a concentrar-se sobre as atividades concretas e situadas a fim de descobrir o que os estrategistas realmente fazem, ou seja, dar um passo para a criao de sabe-doria prtica (WHITTINGTON, 2003, p. 121). Quando esses autores se concen-tram, por exemplo, na estratgia baseada em atividade (JARZABKOWSKI, 2004,

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    2005), h uma suposio de que as prticas so compartilhadas (BALOGUN; JOHNSON, 2007), em vez de contestadas (cf. MANTERE, 2008). Enquanto o foco ps-racional sobre processo mantido, a sua ateno agncia da corpo-rao (e dimenses de cultura e poltica) tende a ser substituda por uma preo-cupao com a identificao de habilidades, as ferramentas e tcnicas que so utilizadas, e como os produtos do strategizing so consumidos.

    Os estudos em S-as-P permanecem desconsiderando a agncia da grande corporao, apesar de a literatura comear a reconhecer a relevncia de sua per-sonificao em termos institucionais e legais (LAN; HERACLEOUS, 2010). A discusso sobre personificao mostra-se interessante para o estudo da agncia, pois implica o reconhecimento formal da corporao como uma fonte nica e unitria de controle, definindo-a como ator autnomo que possui diversos direi-tos que sustentam suas aes:

    A corporao uma entidade real cuja existncia est separada de seus acionis-tas. Ela pode querer agir por meio dos grupos de indivduos que so seus rgos, assim como uma pessoa natural pode querer agir por meio da corporao [...]. A lei no cria a corporao, apenas reconhece e regula a sua existncia independente (LAN; HERACLEOUS, 2010, p. 296, traduo nossa).

    Com base na argumentao desses autores, sustentamos que os estudos sobre a agncia devem reconhecer a prpria corporao, no apenas a agncia dos acionistas, do board de diretores ou dos gerentes. Essas questes mostram-se ainda mais relevantes para o estudo da agncia em pases emergentes, como o Brasil (FARIA; WENSLEY, 2011), quando, curiosamente, os avanos mais recen-tes em pesquisa como prtica social desprezam questes de poder e poltica (CARTER; CLEGG; KORNBERGER, 2010). Mais especificamente, S-as-P no reconhece adequadamente que a agncia pode ser simultaneamente codetermi-nada por atores e influncias oriundos de diferentes nveis de anlise, propondo que futuros estudos escolham o foco sobre um ou outro nvel de anlise (JARZA-BKOWSKI; SPEE, 2009).

    Portanto, argumentamos que, para viabilizar uma perspectiva mais plural para o estudo da agncia, a guinada para a prtica no deve representar somente a adoo de estudos com foco em atividades cotidianas e microprticas. Essa pos-sibilidade apenas movimentaria o pndulo dos estudos da rea de estratgia (PETTIGREW; THOMAS; WHITTINGTON, 2002) novamente para o nvel de anlise micro e para a determinao da ao.

    Por meio da S-as-P, possvel compreender a agncia, pois esse mecanismo descreve como a estratgia praticada colocando o foco sobre o nvel micro-

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    -organizacional e sua relao com dimenses macroestruturais. Entretanto, h o risco de desconsiderar dimenses de anlise que lidam simultaneamente com a agncia do indivduo, da organizao e do ambiente. Isso resultar em recupe-rarmos, mais adiante neste artigo, o conceito de codeterminao para permitir simultaneamente o estudo da agncia nos diferentes nveis de anlise e con-tribuir para a superao dessa limitao em S-as-P. Na prxima seo, tratare-mos primeiramente de analisar essa especfica trajetria de S-as-P, visando com-preender os motivos que movimentaram o foco dos estudos da agncia para o nvel individual. Sustentamos que esse foco no ocasional e deve ser analisado e explicado luz da complexa trajetria do conceito de agncia na literatura de cincias sociais, como visto a seguir.

    4 AGNCIA INDIVIDUAL E ESTRUTURAO

    Ao longo da histria do pensamento social europeu, tratou-se o conceito de agncia de diferentes formas, e ela foi secularizada, humanizada e socializada (SZTOMPKA, 1991). Em funo do domnio do desmo, a agncia foi atribuda pelo secularismo europeu ao sobrenatural, s foras msticas, divindades ou pro-vidncias metafsicas.

    Com o advento do processo de secularizao na Europa e o declnio da auto-ridade de religio, a primeira tentativa de humanizar a agncia por meio do indi-vidualismo moral foi atribu-la aos grandes homens: profetas, heris, lderes, generais, descobridores, inventores, gnios. Essa agncia era humana, mas no para todos. No final das contas, o sagrado no desaparecera: a liberdade huma-na em relao aos controles morais repressivos dependia da qualidade sagrada dos ideais que compreendiam o individualismo moral (STONES, 2005, p. 183).

    No processo de construo da sociologia na Europa, a socializao da agn-cia tornou-se prioritria. A sociedade foi percebida por cientistas sociais, em termos orgnicos, como totalidade que se regula e transforma. A agncia pas-sou a ser tratada como poder inerente ao organismo social e que se manifesta de forma direcional e irreversvel: o indivduo s poderia ser livre se fosse um agente autnomo, capaz de dominar e compreender seus impulsos. A regulao moral da sociedade moderna era na poca a condio de autorrealizao do indi-vduo (GIDDENS, 2003).

    A agncia foi humanizada e relacionada s aes dos atores sociais. Como reao perspectiva hierrquica, foi defendido o papel do indivduo para a com-preenso dos fenmenos sociais. O mundo passou a ser visto como constitudo

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    pela atividade humana e as crenas como produto organizado dos atos e das interpretaes dos agentes (STONES, 2005, p. 285). A agncia foi estendida a todos os indivduos e no apenas a alguns poucos eleitos ou privilegiados; passou a atribuir a todos os papis sociais e no apenas s funes de poder. A sociedade passou a ser vista como constituda pelo resultado agregado e historicamente acumulado daquilo que fazem todos os seus membros com base em seus moti-vos e propsitos particulares (CASSELL, 1993). Passa ento a ser valorizada a possibilidade de estudo da relao entre as aes individuais, suas consequn-cias, os diferentes contextos de ao e as situaes complexas geradas (COHEN, 1999).

    A evoluo do conceito de agncia nas cincias sociais na Europa uma longa trajetria do divino/no humano ao humano revela o interesse dos acadmicos em decifrar os segredos de sua operao e os mecanismos pelos quais os agentes individuais produzem e reproduzem a realidade social (BOUDON; BOURRI-CAUD, 2004). Alguns pensadores sociais seguiram a tradio de estudos da teo-ria da ao interessados no estudo das prticas sociais materializadas nas aes individuais, que formam e informam as estruturas da ao (RECKWITZ, 2002). Eles tentaram resistir s polaridades do determinismo total e da liberdade total para o entendimento da agncia humana ante a dinmica social (COHEN, 1999, p. 411). Essa perspectiva mais europeia contrasta substancialmente com os fun-damentos da teoria da agncia e a bagagem estrutural-funcionalista dissemina-da por Parsons, visto que em nenhum de seus escritos Parsons dedicou uma ateno sistemtica para elaborar fundamentalmente uma teoria da agncia para abrir a caixa-preta da ao humana (EMIRBAYER; MISCHE, 1998, p. 966).

    Os autores da sociologia que se debruaram sobre a teoria da ao e a pr-tica social foram utilizados inicialmente em EOs e posteriormente em S-as-P para que pudessem rever o pressuposto da sociologia estrutural-funcionalista dominante na sociologia que ajudou a impulsionar a TA nos Estados Unidos. Autores como Bourdieu, Giddens, Garfinkel, Latour e De Certeau impulsiona-ram o desenvolvimento de perspectivas acadmicas focadas na prtica social, influenciando pesquisadores em estratgia na Europa que desafiaram a TA (cf. GOLSORKHI et al., 2010). Por causa dessas influncias, a marginalizao do agente em TA foi substituda em S-as-P por uma abordagem que humaniza a gesto e a organizao, trazendo de volta o indivduo [atores humanos, suas aes e intenes] para o palco central da pesquisa em estratgia (cf. JARZA-BKOWSKI; SPEE, 2009, p. 70).

    A teoria da estruturao (TE) uma contribuio das cincias sociais que vem sendo amplamente utilizada em S-as-P (motivo de sua escolha pelos auto-res deste artigo). Autores europeus deram especial ateno nos ltimos anos contribuio da TE nas literaturas de estudos organizacionais e estratgia. H

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    um movimento crescente de uso da TE em estratgia ao longo das ltimas dca-das: 5 artigos em 1991, 50 em 1996, 113 em 2001 e 265 em 2009 (cf. WHIT-TINGTON, 2010).

    A crescente importncia de TE em S-as-P pode ser explicada pela forma especfica com que teoriza e descreve estrutura e ao. Na teoria sociolgica de Giddens (2003), as estruturas sociais so constitudas pela ao e, ao mesmo tempo, tidas como meio de sua constituio. Ou seja, as estruturas esto sincro-nicamente envolvidas na ao: as estruturas tanto restringem como facilitam a prpria ao, permitindo a possibilidade de os atores alterarem comportamen-tos, tornando plausvel o processo contnuo de mudana social (COHEN, 1999; CASSELL, 1993). Em outras palavras, na TE os atores no esto passivos ante as regras sociais, tampouco so totalmente livres para agir de forma voluntarista. A TE desafia o funcionalismo parsoniano que minimiza o papel do agente diante de constrangimentos estruturais esmagadores (BABER, 1991).

    Giddens (2003) argumenta que as prticas sociais so construdas e recons-trudas por meio de ao humana intencional e no intencional, em processos de interao social que geram consequncias premeditadas e no premeditadas. Para que se compreenda uma ao, preciso que se leve em considerao todas as intenes e, de modo mais geral, as motivaes do ator, os meios de que ele dispe ou aceita dispor, assim como a avaliao que faz desses diferentes meios (WHITTINGTON, 1992). Portanto, a dualidade estrutura e ao proposta por Giddens (2003) tem o ator individual como foco privilegiado ao qualific-lo como agente j que no cria as prticas sociais em termos voluntaristas, mas as recria atravs dos meios estruturalmente dados e pelos quais ele se expressa ao longo da interao social (cf. REED, 1988, 1997, 2003). Na TE, o ator individual o meio para que a estruturao ocorra, pois ele materializa, em suas aes, as escolhas que realiza entre as propriedades estruturais e seus quadros internos de interpretao (STONES, 2005).

    Uma concepo estruturacionista considera que a agncia: 1. se materializa em um fluxo de intervenes individuais causais reais ou observveis ao longo dos processos; 2. constituda por uma srie de aes em curso e eventos nos quais o agente perpetrador, expressando a capacidade de realiz-las em primei-ro lugar; e 3. informada por aspectos habituais e orientada por alternativas de ao formadas ou imaginadas pelo ator em um processo de engajamento social temporalmente situado (BERTILSSON, 1984; EMIRBAYER; MISCHE, 1998).

    A agncia humana vinculada a posies singulares, ao individual (no nvel micro) e estrutura (no nvel macro). No entanto, correto afirmar que a TE possui uma limitao central: ela no suficientemente equipada para a investi-gao que vincule simultaneamente a ao individual no nvel micro s questes organizacionais no nvel meso e estas s estruturas sociais no nvel macro. Ou

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    seja, a agncia da organizao desconsiderada pela TE, uma vez que Giddens (2003) no teoriza especificamente sobre o fenmeno organizacional ou, mais especificamente, sobre as questes relacionadas a uma suposta racionalidade econmica que fundamenta a tese da separao entre propriedade e controle.

    Alm disso, h que se destacar a incapacidade da TE em reconhecer a agn-cia no humana. Essa questo vem sendo tratada mais adequadamente pela teo-ria ator-rede (actor-network-theory) (LAW; HASSARD, 1999), porm considera-mos necessrio destacar algumas contribuies que indicam as limitaes da TE. A TE no indica como investigar a agncia quando esta envolve mais do que os seres humanos, como dispositivos organizacionais e tecnolgicos que ajudam a moldar as interaes, o curso de ao e suas consequncias nas organizaes. Segundo Clegg, Courparsson e Phillips (2006, p. 240), precisamos comear a entender as diferentes formas de agncia que encontram expresso em contextos organizacionais.

    Outra limitao deve-se ao fato de a TE no apresentar um caminho meto-dolgico que possa ser trilhado por pesquisadores para esclarecer como as prti-cas podem ser efetivamente observadas e como a agncia pode ser investigada. Isso se deve ao fato de a TE ser complexa e envolver conceitos e proposies gerais que operam em um alto nvel de abstrao. Alm disso, ela no facil-mente associada a qualquer mtodo de pesquisa especfico ou abordagem meto-dolgica, sendo difcil de pr em prtica empiricamente (POZZEBON, 2004; BALOGUN; HUFF; JOHNSON, 2003; CHIA; MACKAY, 2007).

    Considerando as limitaes e os fundamentos da TE, o principal desafio para o uso dela na rea de estratgia o reconhecimento da agncia tanto do indivduo (por exemplo, o gerente) quanto da organizao, ou seja, o reconheci-mento de agncia em nveis de anlise distintos e inter-relacionados. Portanto, propomos que a agncia no pertence ao indivduo, tampouco organizao e ao ambiente, mas se materializa ao longo de um processo de interao social que pode ser observado e descrito quanto s influncias que residem em diferentes nveis. Esse desafio torna-se ainda maior quando se considera a dificuldade de operacionalizao de pesquisas com base na TE.

    Um segundo desafio para a construo de uma perspectiva mais plural para o estudo da agncia est relacionado dificuldade da rea em abraar os debates mais complexos acerca da obsolescncia dos fundamentos da grande corporao (e do livre mercado) que mantm o vnculo da rea ora ao determinismo estru-tural, ora ao voluntarismo de ao. O conceito de codeterminao resgatado a seguir, visando ao desenvolvimento de uma perspectiva que reconhea estratifi-cao e ajude a revelar as camadas de influncias dos diferentes nveis envol-vidos na agncia (REED, 1997).

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    5 CODETERMINAO E AGNCIA EM DIFERENTES NVEIS

    A partir do projeto de secularizao na Europa, a sociologia tem se ocupa-do a teorizar como atores individuais definem suas escolhas entre as alterna-tivas disponveis e as convertem em aes, segundo preferncias e influncias (BOUDON; BOURRICAUD, 2004). As teorias de cincias sociais focam no apenas os efeitos agregados da ao individual, mas principalmente os diversos elementos que influenciam a sua formao. A perspectiva de agncia privilegia-da pela literatura de estratgia como prtica uma importante reao teoriza-o dominante de agncia; entretanto, essa contribuio europeia ainda enfrenta o problema da conflao humanista. Autores contemporneos argumentam que teorias de agncia devem evitar a conflao entre as dimenses individuais, organizacionais e estruturais (REED, 1988, 1997, 2003; MUTCH; DELBRIDGE; VENTRESCA, 2006). Em estratgia, isso implica reconhecer que a agncia no pertence exclusivamente ao indivduo, tampouco organizao ou ao ambiente.

    O conceito de codeterminao (CHILD, 1972, 1997) interessante para a construo de uma perspectiva mais plural para o estudo da agncia em estrat-gia. O conceito abriu espao para reconhecer em estratgia que as organizaes no so sistemas naturais ou racionais, mas tambm um fenmeno inerente-mente poltico. Os estudos inspirados nesse conceito argumentam que a orga-nizao , simultaneamente, insumo (para) e produto (de) escolhas realizadas tanto por indivduos quanto por dinmicas de interao nos grupos (CLEGG; COURPARSSON; PHILLIPS, 2006).

    Ao recobrar a discusso sobre poder e poltica em estratgia, a ateno dos estudos voltou-se para outros atores e grupos internos que possuem poderes para influenciar politicamente a formao das estratgias em grandes organiza-es (BARRY; ELMES, 1997; BURGELMAN, 1983; CHAKRAVARTHY; WHITE, 2002; FLOYD; LANE, 2000). A escolha dentre possveis estratgias envolve o uso de poder por diferentes agentes ao longo de processos de interao em dife-rentes nveis. Segundo o conceito de codeterminao, a formao da estratgia ocorre por meio de iniciativas nas quais as redes internas de poder interagem em termos de proatividade e reao.

    Os atores individuais no se adaptam passivamente s circunstncias que encontram nas organizaes, tampouco apenas usam essas circunstncias em escolhas voluntaristas; eles usam poder para moldar regras e combinar recursos que so coletivamente estabelecidos e negociados (CLEGG; COURPARSSON; PHILLIPS, 2006). Tanto indivduos quanto grupos de indivduos avaliam alter-nativas de ao e levam em considerao as consequncias de suas aes. Essas

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    consequncias podem ser condicionadas por fatores como conhecimento, com-preenso e preferncias anteriores, que entram como informaes relevantes para reflexo e subsequente ao.

    Quando se reconhece que a formao de estratgias envolve a interao entre atores individuais ou grupos, internos ou externos: 1. atribui-se um carter essencialmente poltico ao fenmeno organizacional; 2. torna-o simultaneamen-te codeterminado pelas propriedades estruturais (no nvel macro), pelas caracte-rsticas da interao de diferentes grupos (no nvel meso) e pela predisposio para ao dos indivduos (no nvel micro). O conceito de codeterminao permite uma perspectiva mais plural de agncia, que no representa agncia como per-tencendo exclusivamente ao indivduo, tampouco organizao ou ao ambiente; ela se materializa ao longo de processos de interao em diferentes nveis.

    A codeterminao ajuda a superar certas limitaes ou crticas relacionadas TE. Giddens (2003), no estudo da agncia, considera que a estrutura virtual por ser ativada recursivamente na ao individual (EMIRBAYER; MISCHE, 1998). Alguns autores criticaram essa premissa e apontaram o risco de conflao entre as dimenses de estrutura e ao por dissolv-las em uma coisa s (STONES, 2001, 2005; REED, 1988, 1997, 2003). Em estratgia, a conflao consiste em dissolver a agncia do gerente e a agncia da organizao em uma mesma coisa, em vez de explorar a relao entre as duas (MUTCH; DELBRIDGE; VENTRES-CA, 2006, p. 615).

    Para estratificar em camadas o estudo da agncia, fundamental adotar certa insistncia realista (STONES, 2001, 2005). Essa insistncia realista deve demarcar como condies estruturais, aes (dos) e interaes (entre) os diferen-tes atores ou grupos de atores codeterminam a formao da estratgia ao longo do tempo. Essa perspectiva exige a investigao das precondies nos diferentes nveis de anlise que no existiam em um momento 1, mas que existiam nos momentos 2 ou 3 e viabilizaram a adoo de determinadas alternativas de ao em diferentes nveis de anlise. Ao insistir na preexistncia de certas proprieda-des estruturais, separando-a da ao, possvel minimizar o risco de conflao entre gerente e organizao. Na prtica, a estratgia codeterminada por diferen-tes nveis de agncia. Uma perspectiva plural de agncia inspirada no conceito de codeterminao e na insistncia realista oferece a possibilidade de ampliar a compreenso sobre a agncia em estratgia, diferenciando-as nos nveis indivi-dual, organizacional e estrutural.

    Os nveis de anlise revelados pelos estudos baseados em codeterminao permitem compreender as diferentes origens e consequncias de certas prticas sociais em estratgia, e desafiar o foco exclusivo nas microprticas e atividades cotidianas em S-as-P. Nesse sentido, procuramos nos distanciar do argumento

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    corrente de que pesquisa em S-as-P deve se concentrar em como o trabalho realmente feito e no uso de artefatos (JARZABKOWSKI, 2010, p. 138).

    A anlise dos diferentes nveis deve ser feita a partir de dimenses que cos-tumam ser discutidas na literatura de EOs, especialmente aquelas que reconhe-cem questes de poder. Em uma perspectiva mais plural de agncia, estratgia tambm um fenmeno poltico; correspondentemente, concordamos com o argumento de que mais ateno deve ser dada poltica da prtica nos estudos em S-as-P (CARTER; CLEGG; KORNBERGER, 2008b, p. 111).

    Sugerimos combinar as contribuies de diferentes autores isto , Child (1997), Clegg, Courparsson e Phillips (2006), Carter, Clegg e Kornberger (2010) e Child e Rodrigues (2011) que no vm sendo devidamente reconhecidos pela literatura de estratgia como prtica e adentrar a discusso acerca dos nveis macroestrutural, meso-organizacional e microindividual. Seguindo esses auto-res, a anlise das influncias oriundas do nvel macroestrutural deve envolver dimenses formais e informais relacionadas ao contexto econmico e sociopol-tico, regras e normas sociais, e demais organizaes e suas aes, condicionan-tes e consequncias. A anlise dessas influncias desafia a viso determinista de ambiente externo como estrutura social que restringe a agncia de gerentes ou organizaes. Uma perspectiva plural de agncia deve, portanto, desafiar os pressupostos de superioridade do mercado e incapacidade de agentes (tanto organizaes quanto gestores) em influenciar ou moldar a estrutura.

    No nvel meso-organizacional, cabe discutir a noo de agncia coletiva. Organizaes so atores sociais coletivos (SCOTT, 2008), a despeito da pouca ateno dada ao que acontece dentro delas quanto s influncias nos proces-sos de escolha entre alternativas de ao (CHILD; RODRIGUES, 2011). Situaes de escolha entre alternativas estratgicas envolvem indivduos, porm estes so informados por diretrizes da organizao formalmente descritas e, at mesmo, por prioridades negociadas por grupos internos e pessoas em diferentes posies hierrquicas. necessrio investigar questes relacionadas a polticas e objetivos organizacionais deliberadamente formulados; noes de hierarquia e participa-o na formao de estratgias; regras e normas formais e informais; critrios e disputas que permeiam, por exemplo, a coordenao de atividades e a alocao de recursos organizacionais. O estudo das influncias do nvel meso-organiza-cional deve distinguir quando a agncia coube ao indivduo ou organizao (como ator social coletivo).

    No nvel microindividual, cabe reconhecer o monitoramento reflexivo (GIDDENS, 2003, p. 6) a partir do qual atores no s controlam e regulam con-tinuamente o fluxo das atividades, como tambm monitoram rotineiramente aspectos sociais e fsicos dos contextos em que atuam. A racionalizao da ao significa que os atores mantm um contnuo entendimento das bases de sua

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    atividade e das provveis reaes dos outros atores (CHILD, 1997). Portanto, devemos investigar dimenses individuais que servem de referncia reflexo, como: a origem social e formao dos indivduos, elementos de sua socializao primria e secundria, sua familiaridade e experincia em processos de forma-o de estratgias, posio na organizao e padres de interao com os demais indivduos e grupos internos e externos organizao (CLEGG; COURPARSSON; PHILLIPS, 2006). preciso ter sensibilidade para observar as habilidades com-plexas dos atores para coordenar os contextos de interao, incluindo as intera-es com o pesquisador: detalhar a viso do ator sobre a sequncia de aes, uma possvel relao com elas, por que os atores reagem s aes e a relao com seu distanciamento espaotemporal (CASSELL, 1993). Como sugerido por Rasch e Chia (2009), as prticas em estratgia podem ser estudadas pela combinao de perspectivas neoestruturalistas e/ou neointerpretativas para revelar as caracters-ticas polticas, contextuais e ocultas da formao de estratgia.

    Argumentamos ento que o conceito de codeterminao deve ser resgatado pela pesquisa de estratgia como prtica, pois esse conceito favorece o desen-volvimento anlise multinvel (ou vertical) e processual (ou horizontal) (PET-TIGREW, 1992). As diferentes fontes de influncias podem revelar que no h apenas o controle do principal agente ao longo do processo de formao de estra-tgias. Isso especialmente importante para a correta investigao de questes de centro e periferia em estratgias de corporaes multinacionais, em pases menos desenvolvidos, como sugerem Paroutis e Pettigrew (2007).

    Uma anlise que considere as influncias e interaes meso-organizacionais e microindividuais permite reconhecer as demais influncias de poder e poltica que esto alm dos pressupostos da grande corporao pblica. O gerente no deve ser considerado o agente que, a partir de mo visvel, realiza a escolha adequada das estratgias que garantem os interesses do principal e, portanto, da sociedade.

    6 CONSIDERAES FINAIS

    Este artigo delineou uma perspectiva plural para conceituao e compreen-so da agncia em estratgia. Essa perspectiva est centrada em trs movimen-tos. Primeiro, revisitamos o conceito dominante de agncia em estratgia a partir de crticas trazidas pela rea de EOs. Segundo, revisamos as limitaes do trata-mento que vem sendo dispensado ao conceito de agncia na rea de estratgia e a importncia de perspectivas focadas em processo e prtica social vindas da Euro-pa. Terceiro, foi defendida a conexo da agncia ao conceito de codeterminao,

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    com o propsito de superar a conflao entre indivduo e organizao, e permitir o reconhecimento da agncia em diferentes nveis de anlise sob uma perspecti-va que no despreza a importncia de poder e poltica em diferentes nveis.

    O artigo destacou as potencialidades e limitaes da teoria da agncia (TA) na literatura de estratgia sob uma perspectiva inovadora. Os autores mostraram a importncia da TA para viabilizar a grande corporao como uma organizao pblica que no tem outra capacidade de agncia, a no ser por meio da mo visvel dos seus gerentes. A anlise mostrou que, segundo a TA, a boa gesto ou gesto estratgica de gerentes tem que ser governada por princpios econ-micos de longo prazo e mecanismos de controle. O pressuposto de que gerentes tm tendncia ao oportunismo econmico, a despeito da disfuno causada por esse pressuposto ao domnio das boas prticas gerenciais, acabou sendo neces-srio para viabilizar a tese de separao entre propriedade e controle da grande corporao e, correspondentemente, o controle pblico ou social desse tipo de organizao.

    Este artigo tambm mostrou que essa teorizao dominante na literatura de gesto estratgica problemtica para a compreenso da agncia como , no como deveria ser. Nesse sentido, seguimos a argumentao de autores que transitam entre as reas de EOs e estratgia e que defendem que essas limita-es devem ser desafiadas por perspectivas menos reducionistas de agncia. Foi destacado que, apesar das tentativas de superar as limitaes da teoria da agncia (TA) e as dicotomias micro/macro e voluntarismo/determinismo, quase todas foram incapazes de super-las, especialmente por no desafiarem os pressupos-tos da grande corporao e da superioridade do mercado em impor restries a essas organizaes.

    O artigo defendeu uma perspectiva de anlise que considera a estratgia uma prtica social contextualmente situada e constituda, aproveitando aproxi-mao entre estratgia e EOs, de forma a aprofundar discusses iniciadas em S-as-P quanto ao conceito de agncia. A literatura de S-as-P vem corretamente desafiando a herana terico-ideolgica da grande corporao ao problematizar o lado humano da agncia; entretanto, argumentamos, neste artigo, que a contri-buio europeia ingnua sob uma perspectiva poltica por atribuir demasiado valor agncia individual e s microatividades dos praticantes.

    Foi desenvolvida uma justificativa para as origens da nfase agncia indi-vidual em S-as-P associada complexa trajetria do conceito nas cincias sociais e ampla utilizao de formulaes da sociologia. Discutiu-se especialmente o demasiado destaque relao entre ao individual e construo/reconstruo da estrutura social, como base na teoria da estruturao de Giddens (2003), bem como os reflexos relacionados ao fato de esse autor desconsiderar a agncia da organizao.

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    Abraando uma posio semiperifrica em relao ao domnio euro-ame-ricano no campo da gesto, abraamos no artigo o conceito de codeterminao para enquadrar agncia em estratgia como no se restringindo ao indivduo. Agncia se materializa ao longo de processos de interao que podem ser obser-vados em diferentes nveis; ou seja, a partir do conceito de codeterminao e do reconhecimento da dimenso poltica na prtica da estratgia, mostramos que a agncia no pode ser determinada pelo voluntarismo de ao ou pela determina-o estrutural.

    Tomando emprestado o conceito de codeterminao, propusemos uma perspectiva de anlise estratificada que reconhece simultaneamente as pre-disposies individuais, organizacionais e estruturais, de forma a fugir do risco de conflao estruturacionista. A perspectiva formulada procurou enfatizar o reconhecimento do nvel meso-organizacional ante os nveis marcoestrutural e microindividual, ampliando as discusses quanto dimenso de poder em S-as-P.

    Esperamos que a perspectiva plural delineada neste artigo seja til para esclarecer o modo como a agncia tem sido estudada e teorizada na rea de estra-tgia, contribuindo para esboar suposies alternativas para futuras pesquisas. Isso possibilitaria, no Brasil, contrabalanar ainda mais a dependncia original nas teorias dominantes sobre a agncia e prover maturidade por meio de uma reflexo crtica a partir das contribuies advindas dos EOs. Este artigo sugere que pesquisadores de estratgia no Brasil devem buscar o desenvolvimento de uma crtica consistente ao consumo domesticado de modelos e teorias dominan-tes na literatura. Nesse sentido, entendemos que a posio ainda perifrica da academia brasileira e a persistente aproximao entre as reas de estratgia e EOs no Brasil devem ser consideradas ativas, em vez de passivas.

    AGENCY IN STRATEGY: LINKING SOCIAL PRACTICE AND CO-DETERMINATION

    ABSTRACT

    The paper proposes a more pluralistic perspective for the study of agency in stra-tegic management field, through the use of co-determination concept, aiming to contribute to overcome certain limitations its literature. The historical reasons that led the field of strategy to focus on the individual are addressed in the paper, putting focus on the prevalence of specific perspectives that address the rela-tionship between individual-organization-environment. The authors argue that a substantial part of its literature is focused on a particular representation of

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    organization and management (i.e. large corporations, managerial capitalism and its visible hand); it has generated over the past decades false dichotomies (micro/macro, voluntarism/determinism) and promoted a conflation between the individuals agency and the organizations agency. In order to overcome these false dichotomies and address the agencys study, the authors revisit the development of some perspective that sought in the last decade to approximate to some important debates produced in organizational studies field, particularly in Europe. The article gives prominence to the perspective that considers the strategy as a social practice (S-as-P), mainly that related to Structuration Theory due to its extensive use. In Brazil, there is a growing interest in the S-as-P pers-pective and the concepts of strategizing, organizing e micropractices as suggested in European literature ; nevertheless the agency concept remains inadequately addressed despite the significant progress made. The authors of this paper pro-pose a perspective based upon the concept of co-determination in which the agency is constituted throughout processes of horizontal and vertical interaction, comprising actors and mechanisms that lie at micro-individual, meso-organiza-tional and macro-structural levels. Co-determination potentiality is recognized in order to accomplish in S-as-P a stratified analysis of agency and reveal the layers of influences deriving from different levels. Finally, the authors delineate some considerations about the viability of more plural perspectives to the study of agency in S-as-P and its importance to counterbalance the dominant literature and increase the relevance of the studies in Brazil.

    KEYWORDS

    Strategy; Agency; Social practice; Levels of Analysis; Co-determination.

    AGENCIA EN ESTRATEGIA: CONECTANDO PRCTICA SOCIAL Y CO-DETERMINACIN

    RESUMEN

    El presente artculo propone una perspectiva ms plural para el estudio de la agencia en estrategia, mediante el prstamo del concepto de co-determinacin, contribuyendo para lo reconocimiento y la superacin de algunas de sus limi-taciones. Las razones histricas que llev al campo de la estrategia de centrarse en el individuo son tratados en el texto, sobre todo de la prevalencia de un enfo-que especfico en cuanto la relacin entre individuo-organizacin-ambiente. Los

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    autores argumentan que gran parte de la literatura de estrategia se centra en una representacin particular de organizacin y gestin (es decir, las grandes corporaciones y el capitalismo gerencial controlado por una mano visible), esto permiti generar durante las ltimas dcadas falsas dicotomas (micro/macro, voluntarismo/determinismo) y promovi una fusin entre la agencia individual y la agencia de la organizacin. Con el fin de superar estas falsas dicotomas y promover el estudio de la agencia, los autores volven a la elaboracin de algunas perspectivas que quiso incorporar a la discusin producida en el rea de estu-dios organizacionales, particularmente en Europa, en las ltimas dcadas. En el artculo se destacan los debates sobre la perspectiva de estrategia como prctica social (strategy as practice, S-as-P), especialmente los relacionados con la teora de la estructuracin debido a su amplio uso. Siguiendo el movimiento europeo, en Brasil tambin crece el inters en los conceptos de strategizing, organizing y micro-practicas, esto hace que el concepto de agencia sigue siendo subutilizado a pesar de los progresos significativos realizados. Los autores de este trabajo pro-pone una perspectiva basado en el concepto de co-determinacin en la que la agencia se constituye a travs de procesos de interaccin horizontal y vertical, entre actores y mecanismos que se encuentran en los niveles micro-individuales, meso-organizacionales y macro-estructurales. Se reconoce el potencial del con-cepto de co-determinacin para llevar a cabo una anlisis estratificada de la agencia en S-as-P y revelar las capas de influencia. Finalmente, los autores hacen algunas consideraciones sobre la viabilidad de perspectivas alternativas al estudio de la agencia en S-as-P y su importancia como un contrapeso a la litera-tura dominante e incremento de la relevancia de los estudios en Brasil.

    PALABRAS CLAVE

    Estrategia; Agencia; Prctica social; Niveles de anlisis; Co-determinacin.

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