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Saulo GomeS

bastidores do filme

ana Karla DubielaJúlio SonSol

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abel SiDneyCarloS baCCelli

CleuniCe orlanDi De limaDivalDo FranCo

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ChiCo xavier & emmanuelClayTon levy & SCheilla

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CelSo aFonSoeurípeDeS humberTo DoS reiS

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abrahão oToChSoraya ramalho

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Em cEna, as mãEs da vida rEal

AnA KArlA dubielA

as mães de ChiCo Xavier não têm rosto, nem dá para contar quantas são, onde moram, o que fazem. São

milhares de mulheres, de todas as idades, que chegavam a Uberaba em ônibus superlotados, de avião, em carros parti-culares, como fosse. As mães de Chico Xavier não são somen-te a pequena minoria que recebia cartas psicografadas dos filhos que já se foram. A grande maioria delas ia ao Grupo Espírita da Prece para receber o conforto através das cartas e das histórias de outras mães, voltando para casa ao menos com a sensação de que o filho estava vivo e também com o apoio e o carinho de Chico Xavier. Mães que ele adotou e aninhou no colo, dividindo com elas a dor, como se dele fosse. “Oh! minha filha, como está doendo em nós a saudade do nosso filhinho, não é?”, conta uma das mães, Célia Diniz. E acrescenta ainda: “Ele colocava tanto amor nessas palavras e nos dava um abraço tão especial e com olhos tão lacrime-jantes quanto os nossos que, como que por encanto, a nossa dor se dividia, agora numa intensidade mais suportável.”

O filme As mães de Chico Xavier une realidade e ficção ao contar três histórias inspiradas em cartas psicografadas e três depoimentos de mães reais, que sofreram a perda de um filho e procuraram Chico Xavier em busca de consolo. Célia Diniz, 60, cuja história serviu de base para o drama de Elisa, Guilherme e Theo; Maria Graciela Farias Ferreira

e Neusa Martinez Collis também dão seus depoimentos no filme. Além dessas, outras quatro foram entrevistadas e contarão suas histórias aqui: Lucy Ianez da Silva, Francisca Ruiz Dellalio, Neyde de Sá Cambôa Fava e Shirley Rodrigues.

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Célia DinizCélia mora em Pedro Leopoldo, a 30 km de Belo Horizonte. É professora de química aposentada. Mãe de três filhos, mas somente um continua encarnado. Hoje, Célia faz palestras espíritas e conforta mães que viveram situações semelhantes à sua. Ela perdeu os filhos Rangel Diniz Rodrigues, o Teteo, quando ele tinha ainda três anos, e Mariana, com 27 anos. Célia conta com detalhes o acidente que culminou com a morte de Rangel e as semelhanças entre o que aconteceu e o roteiro do filme.

a bicicletaEm 1983, como funcionária pública, eu tinha direito a uma licença-prêmio. Resolvi tirar esses dias de folga para cur-tir o Rangel antes que ele fosse para a escola. Parece que eu estava prevendo que algo aconteceria, como realmente aconteceu. Foi no dia 15 de agosto de 1983, ele tinha três anos. Naquela época, era muito comum as babás levarem as crian-ças para passear de bicicleta, com uma cadeirinha acoplada. Elas davam uma ou duas voltas no quarteirão, para tomar sol. Naquele dia, a bicicleta com cadeirinha furou o pneu e eles foram numa bicicleta maior. O Rangel ia na garupa da bicicleta. Pararam na padaria, ele e a Çãozinha [Conceição, a babá de 16 anos], para comprar picolé e quando voltaram para a bicicleta, antes mesmo de subir, o Rangel caiu e bateu a cabeça. Levou dois pontos. Depois, ele começou a ter con-vulsões. Foi entubado, para que investigassem a causa das convulsões, e teve uma parada cardiorrespiratória. Tive uma conversa com Chico, quatro meses depois, e ele disse que no momento da queda pequenos vasos se romperam, devido a um aneurisma que ele tinha, ou seja, com ou sem queda,

esses vasos iriam romper-se de qualquer jeito. E isso já estava na programação reencarnatória dele, pois de acordo com as leis de Deus ele teria que evoluir dessa maneira, já que em outra vida ele fez mau uso da sua inteligência. Um ano depois, eu recebi a carta, cheia de detalhes da minha família e do nosso cotidiano.

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O filmeA Vanessa [Gerbelli], que faz a minha história, é maravilho-sa! Ela faz com tanto carinho, com tanto respeito pela mi-nha dor, que realmente me lembra tudo o que vivi na época. O roteiro é fiel à história do meu filho em muitos aspectos. O Chico realmente me perguntou se eu já havia perdoado a babá e também perguntou se eu já havia agradecido a ela, exatamente como está no filme. A explicação do acidente é muito semelhante. A participação do Aguinaldo, com re-lação ao Rangel, é de aprofundamento de sua fé, de espe-rança. A reação do Guilherme, pai do Theo, representa a de centenas de pais, colhidos pela dor de perdas quando estão distanciados da família e da religiosidade, pela dedicação excessiva ao trabalho: revolta, culpa e incredulidade diante da busca das esposas por notícia dos filhos. A doutrina espí-rita foi o que nos consolou quando o Rangel se foi, e que, de certo modo, nos preparou para uma segunda perda.

Chico XavierMeu pai trabalhava na Fazenda Modelo, junto com o Chico. Eu tenho uma foto nos braços do Chico, quando eu tinha oito meses de idade. O Chico era muito mais do que um simples intermediário entre nossos filhos e nós. A empatia que ele era capaz de sentir com a nossa dor, quando ele nos abraçava, ele nos envolvia numa aura de tanto amor que nós saíamos de lá reconfortadas. O amor com que ele nos recebia era algo inexplicável. A capacidade de amar era impressionante, com ou sem mensagem, a gente sempre voltava do Grupo Espíri-ta da Prece muito melhor do que chegara. Ele literalmente nos colocava no colo. Era como estar tomando um banho de amor e luz. E complementando tudo isso, a carta cheia

de particularidades que comprovavam a veracidade: era meu filho que estava ali, eu o reconhecia em cada detalhe. Apesar do Chico ter trabalhado com o meu pai na Fazenda Modelo e ainda que ele me conhecesse, ele não sabia do meu filho além do nome e da idade. E isso é extraordinário. Eu tinha ali naquela mensagem a prova de que meu filho estava bem. O espiritismo é o consolador prometido por Jesus, e o Chico com sua psicografia é a expressão máxima desse consolo.

O espiritismo desvendando essas verdades nos consola muito. A gente realmente muda a ótica, não é “o meu filho morreu, minha filha morreu, ela não está mais aqui”, é “o meu filho vive lá, a minha filha vive lá”, é alargar o limite da vida para além do túmulo. E isso nos consola muito.

“A gente aprende o que é o verdadeiro

amor quando nossos filhos voltam para casa antes de nós.

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a saudadeOs primeiros meses, depois que meu filho voltou para casa [no plano espiritual], foi um trauma muito forte. A gente não tem nem tempo de pensar na saudade. E a saudade para mim chegou num momento muito conturbado, com duas crianças pequenas, a vida me solicitando ao trabalho, a fa-mília me solicitando, então eu posso dizer que passei vá-rios meses com a sensação de que eu estava sem tempo para chorar, sem poder me entregar à dor. Meu coração queria que eu sentisse aquela saudade dentro de um quarto escuro, sem sair para fazer nada. Mas só existe uma maneira de não sucumbir diante dessa saudade: é não se entregar a ela. É perceber que, se eu havia perdido um filho, os meus outros dois filhos e o meu marido não poderiam me perder. Meu marido havia perdido um filho, ele não poderia me perder junto. Então, eu não poderia me entregar à dor. E eu aprendi isso sofrendo muito. Sem tempo para chorar.

Eu acho que a gente aprende o que é o verdadeiro amor quando nossos filhos voltam para casa antes de nós. O mes-mo amor que me fazia sentir tanta saudade, sofrer tanto, era o amor que me fazia soerguer, levantar, levar a vida em frente, porque eu sabia que a morte não mata o amor que nos une aos nossos filhos e eles precisam da nossa força, eles precisam de nós. É naquele momento que você aprende a amar, esquecendo-se de si mesma.

“só existe uma maneira de não sucumbir diante dessa saudade: é não

se entregar a ela. se eu havia perdido um filho, os meus outros filhos e o meu marido não poderiam me perder.

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Pedaço de mim (Chico Buarque)

Oh, pedaço de mimOh, metade afastada de mimLeva o teu olharQue a saudade é o pior tormentoÉ pior do que o esquecimentoÉ pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mimOh, metade exilada de mimLeva os teus sinaisQue a saudade dói como um barcoQue aos poucos descreve um arcoE evita atracar no cais

Oh, pedaço de mimOh, metade arrancada de mimLeva o vulto teuQue a saudade é o revés de um partoA saudade é arrumar o quartoDo filho que já morreu

Oh, pedaço de mimOh, metade amputada de mimLeva o que há de tiQue a saudade dói latejadaÉ assim como uma fisgadaNo membro que já perdi

Oh, pedaço de mimOh, metade adorada de mimLeva os olhos meusQue a saudade é o pior castigoE eu não quero levar comigoA mortalha do amorAdeus

“o seu filhinho é um espírito que voltou

para casa para rever os velhos novos amigos.

”Chico Buarque, o acalantoNo dia em que eu entrei no quarto da minha filha Maria-na para tirar as coisas dela, tive uma dor que era como se eu a enterrasse de novo. Enterrei a “pessoa legal” quando dei baixa em todos os documentos dela. Enterrei a “pessoa digital” quando apaguei os arquivos do computador… Você vai enterrando seu filho várias vezes. No quarto, encontrei cartas de amigas da época da adolescência dela. Nessas car-tinhas, estava escrito: “confidencial”. Peguei aquelas cartas e respeitei a privacidade da minha filha, mesmo ela já do outro lado. Arrumei o quarto, tirei toda aquela papelada e fui para a cozinha ajeitar o café. Mariana não almoçava em casa du-rante a semana em razão do trabalho, mas fazia questão de ficar conosco nos fins de semana. Lembrei-me dos nossos al-moços e coloquei aleatoriamente um Cd. A música que tocou foi Pedaço de mim, do Chico Buarque. Emocionei-me e refleti sobre a genialidade do poeta que consegue expressar um sentimento tão forte que eu jamais conseguiria descrever:

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aprender com a dorEu fiquei imaginando o que eu aprendi com essa dor, por-que a dor só acontece na nossa vida para nos ensinar alguma coisa. O espiritismo ensina que ninguém sofre um minuto a mais que a sua necessidade de aprender algo. E eu precisava aproveitar aquela dor toda para eu sair dali maior. Eu queria que aquela dor me ensinasse algo e eu aprendi a duras penas que é muito fácil arrumar o quarto do filho que chega. O espiritismo e as duas perdas que eu tive me ensinaram que o verdadeiro amor a gente só sente quando a gente entrega o filho a Deus de novo. Esse é o amor, é o que você entrega, acreditando que ele está melhor lá do que com você. Então, esse foi um aprendizado muito grande e foi aí que eu com-preendi o que Moisés quis dizer no primeiro mandamento:

“Amarás a Deus sobre todas as coisas.” Só amando a Deus você consegue entregar dois filhos de volta, sem que essa dor des-trua você e sem que você atrapalhe o seu filho do lado de lá.

Chico me disse: “O seu filhinho é um Espírito que vol-tou para casa para rever os velhos novos amigos.” Isso me consolava, saber, na vivência, que meu filho era um Espírito universal. Que antes de ser meu filho, ele era filho de Deus, ele tinha outra vivência, ele tinha outros amigos e ele estava voltando para casa, que morrer era voltar para casa.

“A morte não mata o amor aos nossos filhos.

“só amando a deus você consegue entregar dois filhos de volta, sem que essa dor destrua você e sem que você atrapalhe o seu filho do lado de lá.

”as lágrimasAs nossas lágrimas não atrapalham os que se foram, pelo contrário. Já pensaram: o filho parte e a mãe nem chora? Uai, isso não existe! Pedir a uma mãe que não chore seu filho é pedir à água para não molhar, é contra a natureza. Então eu choro os meus filhos, sinto saudade deles até hoje, mas não são lágrimas de desespero, são lágrimas de saudade, só. Eu não agrego nenhuma dor a essa saudade, não fico incon-formada. Quando a minha filha se foi, ela na Uti, pedindo a Deus que nos amparasse a todos, eu dizia: “Seja feita a vossa vontade, mas, meu Deus, tomara que seja a mesma minha vontade, que é ficar com minha filha aqui.” Desta vez eu pensei: “Não, a minha filhinha não vai embora, 27 anos, noiva, linda.” Mas o médico dizia que ela estava muito mal,

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e eu rezava e pensava: “Não! um raio não cai duas vezes no mesmo lugar!” Do alto da minha prepotência, eu pensava:

“Não! eu já aprendi tudo o que eu tinha de aprender com a perda de um filho, eu não preciso passar por isso de novo.” Porém, eu não havia aprendido tudo. E mais uma vez a sen-sação de que o mundo ia desmoronar nas minhas costas. Mas eu disse ao meu marido: nós sabemos o caminho que a gente vai percorrer, a gente já sabe que essa dor passa, como esquecer e amar de forma desprendida. E realmente eu con-segui superar e sou feliz hoje – entendendo como felicidade essa paz que eu sinto por saber que os meus dois filhos do lado de lá estão mais felizes, mais tranquilos que o daqui.

“A dor só acontece na nossa vida para nos

ensinar alguma coisa. ninguém sofre um minuto a mais que a sua necessidade de aprender algo.

a cartaO Dr. Bezerra de Menezes, com sua extrema bondade, numa noite mandou um recado para mim: “Seu filhinho está aqui, está de volta, realmente ele foi aí para ficar pouco tempo e ele está estudando para escrever em breve.” Quando eu voltei um ano depois, Chico disse: “O teu filhinho vai te mandar uma mensagem.” E mandou. A carta era cheia de detalhes. Era meu filho que estava ali, eu o reconhecia em cada deta-lhe. Coisas que Chico não sabia sobre o Teteo (Rangel), e ali estava o nome da minha secretária, as circunstâncias em que ele foi carregado do quarto para o hospital, o nome dos irmãozinhos, o nome dos vizinhos mais chegados. Receber uma carta de um filho da gente é uma das emoções mais in-críveis que a gente vivencia, porque é como ter o nosso filho de volta. Cada notícia dele cai no nosso coração como um bálsamo: “Eu estou vivo e vou crescer”, “Papai, se eu estivesse aí, com a boca doente, você me trataria, pois os meninos e a gente grande que o procuram são como eu mesmo.” Então, além da notícia, a gente encontra ali muitos motivos para sair do egoísmo da própria dor e tocar a vida em frente, re-construir a vida. Quando a gente sepulta um filho, a gente não imagina que vai ter condições de reconstruir a vida, de ser feliz de novo. E a carta5 nos traz a notícia que eles estão vivos e que estão reconstruindo a vida deles lá.

5. Mensagem psicografada por Chico Xavier em 30 de junho de 1984, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, mG. Transcrita em: Cara-vana de amor. Francisco Cândido Xavier, Espíritos diversos, Hércio m.C. Arantes (org.). 7.ª ed. ide, Araras, sp, 2009 [pp. 38–40].

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Procurei obedecer, mas estava com muitas saudades de Aguinaldinho e Mariana, do papai e da mamãe, da Cota, da vovó Lia, da vovó Dite, do vovô Totone, da tia Lé, do tio Neca e da tia Maria, mas não queria falar nisso porque o meu avô e a minha tia se mostravam tão bons para mim.

Muitos dias se passaram e vovô Lico me levou lá em casa. Papai, você estava pensando por que não me havia levado nos passeios com meus irmãozinhos e chorava… Expliquei que era muito doente e que você e mamãe não podiam sair sempre co-migo. Não chore mais, meu pai, pensando que eu ficasse triste. Eu ficava sempre alegre esperando.

Aqui vovô Lico me disse que eu não fui para a nossa casa para ficar muito tempo, e que minha cabeça não me permitia passear muito. Estou dizendo isso para o papai e a mamãe não ficar preocupados.

Papai Aguinaldo, o vovô Lico pede para você não desani-mar com o serviço e não deixe a tia Bete desmarcar as con-sultas. Papai, se eu estivesse aí, com a boca doente, você me trataria, pois os meninos e a gente grande que o procuram con-forme penso hoje são como eu mesmo. Já vi você falando com a vovó Dite que está desanimado. Não fique assim, eu estou vivo e vou crescer.

Querido papai Aguinaldo e querida mamãe Célia, com vovó Lia.

Sou eu, o Teteo. Estou aqui com meu avô Lico e com minha

tia Gilda.

Vovô me auxilia a escrever porque estou aprendendo.

Estou vendo tia Lé e nosso amigo Sérgio, e vovô me diz que

um menino educado não deve esquecer os amigos.

Papai Aguinaldo e mamãe Célia, venho pedir para não

chorarem tanto por mim.

Mamãe, eu já estava doente quando falava e brincava

com a Cota. Depois bati com a cabeça no chão, mas fiquei forte.

Mas a cabeça ficou pesada e você lembra a noite em que chorei

com a cabeça doendo…

Vi que papai ficou assustado e depois lembro-me que saí

carregado do quarto. Depois nada mais vi. Ficou tudo tão

escuro; depois ouvi papai me chamar: “Meu filho, meu filho!”

Quis responder, mas não consegui. Acho que dormi muito.

Quando acordei estava perto de mim a moça que me

pedia para não chorar e chamar a ela minha tia Gilda. Depois

o vovô Lico veio ao lugar onde eu estava e comecei a chorar

pedindo a ele para me levar para casa. Ele me abraçou e me

disse: Rangel, você não é um rapaz da moleza. Não chore assim,

pois estamos em casa…

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“eu estou vivo e vou crescer. Papai, se eu

estivesse aí, com a boca doente, você me trataria,

pois os meninos e a gente grande que o procuram

são como eu mesmo.

Estou aprendendo a escrever só para dizer ao seu carinho

e ao carinho da mamãe que não morri. Vou aprender muitas

coisas e muitas lições para saber escrever melhor. Mas já estou

mais adiantado do que Mariana e creio que Aguinaldinho

ficará satisfeito.

Papai e mamãe, vovó Lia e tia Lé, não posso escrever mais,

porque fiquei cansado de fazer letras. Mas, quando eu pu-

der, voltarei. Estou com muitas saudades e isso vovô Lico me

diz que posso escrever. Muitos abraços para os meus irmãos e

digam a eles que o Teteo não desapareceu.

Mamãe Célia, estou feliz com a fé que as suas preces me

oferecem.

Papai Aguinaldo, peço para que o seu coração esteja sorrin-

do. Vovó Lia abraçará a todos por mim.

E para meu pai e minha mãezinha, muitos beijos do filho

que lhes pede a bênção,

Teteo

Rangel Diniz Rodrigues

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