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.5. A AURORA DA FILOSOFIA: OS PRÉ-socRÁ TICOS A maioria dos filósofos primitivos queriam encontrar o princípio de todas as coisas existentes. Aristóteles

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.5.A AURORA DA FILOSOFIA:

OS PRÉ-socRÁ TICOS

A maioria dos filósofos primitivos queriam encontrar o princípio detodas as coisas existentes.

Aristóteles

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o declínio do mundodos mitos

(AP. 5 A AURORA DA FILOSOFIA: OS PRÉ-socRÁncos 73

A PÓLlS E O NASCIMENTODA FILOSOFIA

Na história do pensa-mento ocidental, a filosofianasce na Grécia por volta doséculo VI (ou VII) a.c. Pormeio de longo processo his-tórico, surge promovendo apassagem do saber míticoao pensamento racional,sem, entretanto, romperbruscamente com todos os co-nhecimentos do passado. Du-rante muito tempo, os primeirosfilósofos gregos compartilharam dediversas crenças míticas, enquanto de-senvolviam o conhecimento racionalque caracterizaria a filosofia. Essa pas-sagem do mito à razão 1/ significa pre-cisamente que já havia, de um lado,uma lógica do mito e que, de outrolado, na realidade filosófica ainda estáincluído o poder do lendário?'.

Mapa do mundo da época pré-socrática.

Em outras palavras, a filosofiagrega nasceu procurando desenvolvero logos (saber racional) em contrastecom o mito (saber alegórico). Para ohistoriador Pierre Grimal:

t 'd mito se opõe ao lagos como a fantasia à razão, como a palavra que narra àI j'palavra que demonstra. Lagos e mito são as duas metades da linguagem, duas

, . funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O lagos, sendo umaargumentação, pretende convencer. O lagos é verdadeiro, no caso de ser justoe conforme à "Iógica"; é falso quando dissimula alguma burla secreta (sofis-ma). Mas o mito tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-se ou nãonele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça "belo"ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atraiem torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano;por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas as suas criações.

GRIMAL, Pierre. A mitologia grega, p. 8-9.

1. CHÂTELET, François. Do mito ao pensamento racional. In: História da filosofia - idéias, doutrinas, v. 1, p. 21.

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74 UNID. 2 . HISTÓRIA DA FILOSOFIA

A força da mensagem dos mitos re-side, portanto, na capacidade que elestêm de sensibilizarestruturas profundas,inconscientes, do psiquismo humano.

• MITOLOGIA GREGA •

Os gregos cultuavam uma sériede deuses (Zeus, Hera, Ares, Atenaetc.), além de heróis ou semideuses(Teseu, Hércules, Perseu etc.). Rela-tando a vida dos deuses e dos heróise seu envolvimento com os homens,os gregos criaram uma rica mitologia,conjunto de lendas e crenças que, demodo simbólico, fornecem explica-ções para a realidade universal. Inte-gra a mitologia grega grande núme-ro de "relatos maravilhosos" e de len-das que inspiraram diversas obras ar-tísticas ocidentais.

O mito de Édipo, rico em signifi-cados, é um exemplo disso. Na Anti-güidade, ele foi utilizado pelo drama-turgo Sófocles (496-406 a.Cc), na tra-gédia Édipo rei, para uma reflexão so-bre as questões da culpa e da respon-sabilidade dos homens perante as nor-mas e tabus (comportamento que, den-tro dos costumes de uma comunida-de, é considerado nocivo e perigoso,sendo por isso proibido a seus mem-bros). Damos em seguida um resumodesse relato mítico.

Laio, rei da cidade de Tebas e ca-ado com a bela Jocasta, foi advertido

pelo oráculo (resposta que os deusesdavam a quem os consultava) de que

não poderia gerar filhos. Se esse avisofosse desobedecido, seria morto pelopróprio filho e muitas outras desgra-ças surgiriam.

A princípio, Laio não acreditou nooráculo e teve um filho com Jocasta.Quando a criança nasceu, porém, cheiode remorso e com medo da profecia, or-denou que o recém-nascido fosse aban-donado numa montanha, com os torno-zelos furados, amarrados por uma cor-da. O edema provocado pela ferida é aorigem do nome Édipo, que significa"pés inchados".

Mas o menino Édipo não morreu.Alguns pastores o encontraram e o le-varam ao rei de Corinto, Polibo, que ocriou como se fosse seu filho legítimo.Já adulto, Édipo ficou sabendo que erafilho adotivo. Surpreso, viajou em bus-ca do oráculo de Delfos para conhecero mistério de seu destino. O oráculorevelou que seu destino era matar opróprio pai e se casar com a própriamãe. Espantado com essa profecia,Édipo decidiu deixar Corinto e rum arem direção a Tebas. No decorrer daviagem encontrou-se com Laio. De for-ma arrogante o rei ordenou-lhe quedeixasse o caminho livre para sua pas-sagem. Édipo desobedeceu às ordensdo desconhecido. Explodiu, então,uma luta entre ambos, na qual Édipomatou Laio.

Sem saber que tinha matado o pró-prio pai, Édipo prosseguiu sua viagempara Tebas.No caminho deparou-se coma Esfinge, um monstro metade leão, me-tade mulher, que lançava enigmas aosviajantes e devorava quem não os deci-frasse. A Esfinge atormentava os mora-dores de Tebas.

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CAP. 5 . A AURORA DA FILOSOFIA: Os PRÉ-SOCRÁTICOS 75

'A •

A força da tragédia grega está no embate do serhumano contra o seu destino.Édipo responde à Esfinge - Ingres.

o enigma proposto pela Esfinge erao seguinte: "Qual o animal que de ma-nhã tem quatro pés, dois ao meio-dia ecrêsà tarde?" Édipo respondeu: "É o ho-mem. Pois na manhã da vida (infância)engatinha com pés e mãos; ao meio-diana fase adulta) anda sobre dois pés; e àtarde (velhice) necessita das duas pernase do apoio de uma bengala".

Furiosa por ver o enigma resolvido,a Esfinge se matou.

o povo tebano saudou Édipo comoseu novo rei. Deram-lhe como esposaJocasta, a viúva de Laio. Ignorando tudo,Édipo casou-se com a própria mãe.

Uma violenta peste abateu-se entãosobre a cidade. Consultado, o oráculorespondeu que a peste não findaria atéque o assassino de Laio fosse castigado.

Ao longo das investigações paradescobrir o criminoso, a verdade foiesclarecida. Inconformado com o desti-no, Édipo cegou-se e Jocasta enforcou-se. Édipo deixou Tebas, partindo paraum exílio na cidade de Colona.

~. eemplexe ~~ ~~il?C!

Como todo mito, a saga de Édipoapresentaria, em linguagem simbólica ecriativa, a descrição de uma realidade uni-versal da alma humana, conforme anali-sou nos tempos modernos o psiquiatraaustríaco Sigmund Freud (1856-1939),fundador da psicanálise. Elaborando umareinterpretação psicológica desse mitogrego (ocomplexo de Édipo), Freud trans-formou-o em elemento fundamental dateoria psicanalítica. O complexo de Édipopode ser entendido como:

t'~bnjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança experimentaI I relativamente aos pais. Sob a sua chamada forma positiva, o complexo apresenta-

, se como na história de Édipo rei: desejo da morte do rival, que é a personagem domesmo sexo, e desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Sob sua formanegativa, apresenta-se inversamente: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódiociumento ao progenitor do sexo oposto. Na realidade, estas duas formas encon-tram-se em graus diversos na chamada forma completa do complexo de Édipo.

Segundo Freud, o complexo de Édipo é vivido no seu período máximo entreos três e cinco anos (...)

O complexo de Édipo desempenha um papel fundamental na estruturaçãoda personalidade e na orientação do desejo humano.

LAPLANCHE, J. e PONTALIS, J. B. Vocabulário da psicanálise, p. 116.

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-76 UNID. 2 . HiSTÓRIA DA FILOSOFIA

• O EXERcíCIO DA RAZÃO NA PÓLlS GREGA •

~----~--------------------------------------------~oow~~wz

~>-z~

Ruínas da acrópole em Atenas: belíssimo conjunto de templos dedicados aos deuses do Olimpo.

o momento histórico da GréciaAntiga em que se afirma a utilizaçãodo logos (a razão) para resolver os pro-blemas da vida está vinculado à orga-nização da pólis, cidade-Estado gre-ga, conforme a análise do historiadorfrancês contemporâneo [ean-PierreVernant.

A pólis era uma nova forma de orga-

nização social e política em que os cida-dãos dirigiam os destinos da cidade. Apólis foi uma criação dos cidadãos, e nãodos deuses. E podia ser explicada e or-ganizada pela razão. Com o tempo, o ra-ciocínio correto, bem formulado, tor-nou-se o modo adotado para se pensarsobre todas as coisas, não só as questõespolíticas.

t''Sé considerarmos filosofia a atividade racional voltada à discussão e à ex-I /~Iicação intelectualizada das coisas circundantes, tem-se o século VI como

, a data provável de sua origem. (...) Segundo Vernant, (...) o nascimentodas primeiras cidades é determinante: o novo discurso é resultado da raci-onalização da vida social.

(...)A filosofia, segundo o brilhante estudo de Vernant, surgiu como algo abso-lutamente original, engendrado em praça pública, fruto da estreita relaçãomantida entre os isoi (iguais), e um embate em torno de uma questão co-mum, o poder. Nasceu,nessebreve instante da história dos gregos em que sediscutia, controvertidamente, sobre o poder a ser partilhado entre todos, emsi mesmos competentes para dirigir a pólis e decidir sobre o bem comum.

ALVES DOS SANTOS, Maria Carolina. Textos filosóficos, p. 61-2.

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CAPo 5 A AURORA DA FILOSOFIA: Os PRÉ-SOCRÁTICOS 77

PRÉ-SOCRÁTICOS

Os primeiros filósofos gregos

De acordo com a tradição históri---, a fase inaugural da filosofia grega

conhecida como período pré-crático. Esse período abrange o con-to das reflexões filosóficas desen-

lvidas desde Tales de Mileto (623-=~6 a.C.) até o aparecimento de

ates (468-399 a.c.).

Tales.

• Os PENSADORES DE MILETO:

A BUSCA DE UM PRINcíPIO PARA TODAS AS COISAS •

I. Corfu

MARJÔNICO

MAR MEDITERRÂNEO

ETÓLlA

) Delfos.

MAREGEU

Olímpia

.TebasÁTICA

• Atenas

•PELOPONESOEsporto.

Mundo grego por volta do séc. VI a.c.

Quando afirmamos que a filosofianasceuna Grécia,devemostomar essaafir-mação mais precisa. Afinal, nunca hou-ve,na Antigilidade, um Estado gregouni-ficado. O que chamamos de Crécia nadamais é que o conjunto de muitas cidades-Estado gregas (pólis), independentes

umas das outras, e muitas vezes rivais.No vasto mundo grego, a filoso-

fia teve como berço a cidade deMileto, situada na [ônia, litoral oci-dental da Ásia Menor. Caracterizadapor múltiplas influências culturais epor um rico comércio, a cidade de

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verso) que substituísse a antiga cos-mogonia (explicação sobre a origem douniverso baseada nos mitos).

Essesprimeiros filósofosqueriam des-cobrir,com base na razão e não na mitolo-gia,o princípio substancial (aarché, em gre-go) existente em todos os seres materiais.Isto é,pretendiam encontrar a "matéria-pri-ma" de que são feitas todas as coisas.

UNID. 2 . HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Mileto abrigou os três primeiros pen-sadores da história ocidental a quematribuímos a denominação filósofos.São eles: Tales, Anaximandro e Ana-xímenes.

Destaca-se, entre os objetivos des-ses primeiros filósofos, a construção deuma cosmologia (explicação racional esistemática das características do uni-

t ~'I ~~I~s.de ~i~~t~

, l/Tudo é água.rales

Tales(623-546a.c., aproximadamen-te) costuma ser considerado o primeiropensador grego, "o pai da filosofia". Nacondição de filósofo,buscou a construçãodo pensamento racional em diversos cam-pos do conhecimento que, hoje, não sãoconsiderados especialidades filosóficas.Foi astrônomo e chegou a prever o eclip-se total do Sol ocorrido a 28 de maio de585 a.c. Na área da geometria demons-trou, por exemplo, que todos os ângulosinscritos no meio círculo são retos e queem todo triângulo a soma de seus ângu-los internos é igual a 180°.

Procurando fugir das antigas expli-

Anaximandro de Mileto

,Í'J/em água nem algum dos elementos, mas

I /'alguma substância diferente, ilimitada, edela nascem os céus e os mundos nelescontidos.

Anaximandro

Anaximandro.

cações mitológicas sobre a criação domundo, Tales queria descobrir um ele-mento físico que fosse constante em to-das as coisas. Algo que fosse o princí-pio unificador de todos os seres.

Inspirando-se provavelmente emconcepções egípcias, acrescidas de suaspróprias observações da vida animal evegetal, concluiu que a água é a subs-tância primordial, a origem única de to-das as coisas. Para ele, somente a águapermanece basicamente a mesma, emtodas as transformações dos corpos, ape-sar de assumir diferentes estados ~ só-lido, líquido e gasoso.

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Anaxímenes de Mileto

Anaximandro (610-547a.c.) procu-u aprofundar as concepções de Talesbre a origem única de todas as coisas.

~ meio a tantos elementos observáveis:-0 mundo natural- a água, o fogo, o ar_ . -, ele acreditava não ser possível~ eger uma única substância materialzomo o princípio primordial de todos osseres, a arehé.

t ,~assimcomo nossaalma, que é ar, nos,/'mantém unidos, da mesma maneira

, o vento envolve todo o mundo.

Anaxímenes

Anaxímenes.

Anaxímenes (588-524a.C,} admitiaque a origem de todas as coisas éindeterminada. Entretanto, recusava-sea atribuir-lhe o caráter oculto de elemen-to situado fora dos limites da observa-ção e da experiência sensíveL

Tentando uma possível concilia-ção entre as concepções de Tales e as

CAPo 5 : A AURORA DA FILOSOFIA: Os PRÉ-SOCRÁTICOS 7'

Para Anaximandro, esse principio éalgo que transcende os limites doobservável, ou seja, não se situa numarealidade ao alcance dos sentidos. Porisso, denominou-o ápeiron, termo gregoque significa "o indeterminado", "o in-finito". O ápeiron seria a "massa gerado-ra" dos seres, contendo em si todos oselementos contrários.

de Anaximandro, concluiu ser o ar oprincípio de todas as coisas. Isso por-que o ar representa um elemento "in-visível e imponderável, quase inobser-vável e, no entanto, observável: o ar éaprópria vida, a força vital, a divinda-de que "anima" o mundo, aquilo quedá testemunho à respiração:".

2. BERNHARDT,Jean. O pensamento pré-socrático: de Tales aos sofistas. In: CHÂTELET,op. cit., V. 1, p. 28.

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p:z

UNID. 2 HISTÓRIA DA FILOSOFIA

• PITÁGORAS DE SAMOS: O CULtO DA MATEMÁTICA •

Pitágoras.

,~Todas as coisas são números.

,I Pitágoras

Pitágoras (570-490 a.c., aproxima-damente) nasceu na ilha de Samos, nacosta jônica, não distante de Mileto. Porvolta de 530 a.c., sofreu perseguição po-lítica por causa de suas idéias, sendoobrigado a deixar sua terra de origem.Instalou-se, então, em Crotona, sul da Itá-lia, região conhecida como MagnaGrécia.

Em Crotona, fundou uma poderosasociedade de caráter filosófico e religio-so e de acentuada ligação com as ques-tões políticas. Depois de exercer, por lon-gos anos, considerável influência políti-ca na região, a sociedade pitagórica foidispersada por opositores, e o próprioPitá goras foi expulso de Crotona.

Para Pitá goras, a essência de todasas coisas reside nos números, os quaisrepresentam a ordem e a harmonia. Se-gundo o historiador de filosofia norte-americano Thomas Giles, "pela primei-

ra vez se introduzia um aspecto mais for-mal na explicação da realidade, isto é, aordem e a constância". Assim, a essênciados seres, a arehé, teria uma estrutura ma-temática da qual derivariam problemascomo: finito e infinito, par e ímpar, uni-dade e multiplicidade, reta e curva, cír-culo e quadrado etc.

Pitágoras dizia que no "fundo detodas as coisas" a diferença entre os se-res consiste, essencialmente, em umaquestão de números (limite e ordem dascoisas).

As contribuições da escola pita-górica podem ser encontradas nos cam-pos da matemática (lembre-se do célebreteorema de Pitá goras), da música e da as-tronomia. A essas contribuições junta-seuma série de crenças místicas relativas àimortalidade da alma, à reencarnaçãodos pecadores, à prescrição de rígidascondutas morais etc.

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eAP. 5 . A AURORA DA FILOSOFIA: Os PRÉ-SOCRÁTICOS

• HERÁCLlTO DE ÉFESO:O MOVIMENTO PERPÉTUODO MUNDO •

"~Tudo flui, nada persiste,I I nem permanece o mesmo.

O ser não é mais que ovir-a-ser.

Heráclito

Heráclito.

81

Nascido em Éfeso, cidade da regiãonica, Herác1ito é considerado um dos

mais importantes filósofos pré-socráticos. A data de seu nascimento ea de sua morte não são conhecidas. Háreferências históricas de que, por volta

o ano 500 a.c., estava em plena "flora idade".

Herác1ito é considerado o primeirozrande representante do pensamentodialético. Concebia a realidade do mun-do como algo dinâmico, em permanentetransformação. Daí sua escola filosóficaser chamada de mobilista (de movimen-o). Para ele, a vida era um fluxo cons-

tante, impulsionado pela luta de forçascontrárias: a ordem e a desordem, o beme o mal, o belo e o feio, a construção e adestruição, a justiça e a injustiça, o racio-nal e o irracional, a alegria e a tristezaetc. Assim, afirmava que "a luta (guer-ra) é a mãe, rainha e princípio de todasas coisas". É pela luta das forças opostasque o mundo se modifica e evolui.

Atribuem-se a Heráclito frasesmarcantes, de sentido simbólico, utiliza-das para ilustrar sua concepção sobre ofluxo e a movimentação das coisas, oconstante vir-a-ser, a eterna mudança,também chamada devi r:

t'~~ãO podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam aI I cada instante. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica con-

, tinuamente sua condição.

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82 UNID. 2 . HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Assim, Heráclito imaginava a reali-dade dinâmica do mundo sob a forma defogo, com chamas vivas e eternas, gover-nando o constante movimento dos seres.

• Os PENSADORES ELEÁTICOS:

O INíCIO DOS ESTUDOS

SOBRE O SER E O CONHECER •

As diversas cosmologias que acaba-mos de estudar despertaram, na época,uma nova questão.Por que tanta divergên-cia?Por que tantas opiniões contrárias?

Heráclito de Efeso, como vimos,

acreditava que a luta dos contrários for-mava a unidade do mundo. Já para ospensadores da cidade de Eléia, a partirde seu principal expoente, Parmênides,os contrários jamais poderiam coexis-tir. Os dois pensadores representam,portanto, pólos extremos do pensa-mento filosófico.

Foi a partir dessa discussão sobre oscontrários, sobre o ser e o não-ser, que seiniciaram a lógica (os estudos sobre o co-nhecer) e a ontologia (os estudos sobreo ser) e suas relações recíprocas, confor-me veremos a seguir.

Parmênides de Eléia,'0 ente é; pois é ser e nada não é.:

,I' Parmênides

Nascido em Eléia,na Magna Grécia,litoral oeste da península !tálica,Parmênides (510-470a.c., aproximada-mente) tomou-se célebre por ter feitooposição a Heráclito. Piatão o chamavade Grande Parmênides.

Parmênides defendia a existência dedois caminhos para a compreensão darealidade. O primeiro é o da filosofia, darazão, da essência. O segundo é o dacrendice, da opinião pessoal, da aparên-cia enganosa, que ele considerava a "viade Heráclito".

Segundo Parmênides, o caminhoda essência nos leva a concluir que narealidade:a) existe o ser,e não é concebível sua não-

existência;b) o ser é; o não-ser não é.

Em vista disso, Parmênides é consi-derado o primeiro filósofo a formular osprincípios lógicos de identidade e de

não-contradição, desenvolvidos depoispor Aristóteles.

Ao refletir sobre o ser, pela via daessência, o filósofo eleático concluiu queo ser é eterno, único, imóvel e ilimitado.Essa seria a via da verdade pura, a via aser buscada pela ciência e pela filosofiaPor outro lado, quando a realidade é pen-sada pelo caminho da aparência, tudo seconfunde em função do movimento, dapluralidade e do devir (vir-a-ser).

Assim, na concepção de Parmê-nides, Heráclito teria percorrido o cami-nho das aparências ilusórias. Essa r.;

precisava ser evitada para não termos dconcluir que "o ser e o não-ser são e nãsão a mesma coisa". Parmênides te .~descoberto, assim, os atributos dopuro: o ser ideal do plano lógico. E ne-gou-se a reconhecer como verdadeiros =testemunhos ilusórios dos sentidos e :=constatar a existência do ser-no-mund

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Zenão de Eléia

t ' ., f ,

O que se move sempre esta no mesmo agora .. I'ti '. Zenão

- JERPHAGNON, Lucien. História das grandes filosofias, p. 15.

ser que se exprime de diversos modos,s seres múltiplos e mutáveis.

Mas o filósofo sabia que é no mundo= ilusão, das aparências e das sensações

-::-L os homens vivem seu cotidiano. Então,'- mundo da ilusão não é uma ilusão de

:=mdo", mas uma manifestação da reali--:: e que cabe à razão interpretar, explicar= zompreender, até que alcance a essênciazessa realidade. Não podemos confiar nas:;arências, nas incoerências, na visão en-:::=:::ladora.Pela razão, devemos buscar a es-sencia, a coerência e a verdade. "O esforço- toda sabedoria é, pois, para Parmênides,stematízar isso, tomar pensável o caos, in-

uzir uma ordem nele.'?

Os homens vivem seu cotidiano no mundo dailusão, das aparências e das sensações.

Discípulo de Parmênides, Zenão de:::léia (488-430 a.c.) elaborou argumen-

para defender a doutrina de seu mes-::e. Com eles pretendia demonstrar que:: própria noção de movimento era_ viável e contraditória.

Desses argumentos, talvez o mais.:élebre seja o paradoxo de Zenão, quese refere à corrida de Aquiles com uma:artaruga. Dizia Zenão:_ Se, na corrida, a tartaruga saísse à fren-

te de Aquiles, para alcançá-Ia ele pre-cisaria percorrer uma distância supe-rior à metade da distância inicial queos separava no começo da competição.

- Entretanto, como a tartaruga continua-

CAPo 5 . A AURORA DA FILOSOFIA: OS PRÉ-SOCRÁTlCOS

ria se locomovendo, essa distância,por menor que fosse, teria se amplia-do. Aquiles deveria percorrer, então,mais da metade dessa nova distância.

c) A tartaruga, contudo, continuaria semovendo, e a tarefa de Aquiles se re-petiria ao infinito, pois o espaço podeser dividido em infinitos pontos .

Na observação que fazemos do mun-do, através dos nossos sentidos, é evidenteque os argumentos de Zenão nãocorrespondem à realidade. Entretanto,esses argumentos demonstram as dificul-dades por que passou o pensamento ra-cional para compreender conceitos comomovimento, espaço, tempo e infinito.

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84 UNID. 2 . HISTÓRIA DA FILOSOfiA

• EMPÉDOCLES DE AGRIGENTO:

A UNIDADE DE TUDO AQUILO QUE SE AMA •,10is destes (os elementos) todos se constituíram harmonizados, e por estes é

l/que pensam, sentem prazer e dor.Empédocles

Nascido em Agrigento (ouAcragas),sul da Sicília, Empédocles (490-430a.c.,aproximadamente) esforçou-se por con-ciliar as concepções de Parmênides eHeráclito. Aceitava de Parmênides aracionalidade que afirma a existência epermanência do ser (lfo ser é"), mas pro-curava encontrar uma maneira de tornarracional os dados captados por nossossentidos.

Defendia a existência de quatro ele-mentos primordiais, que constituem asraízes de todas as coisas percebidas: ofogo, a terra, a água e o ar. Esses elemen-

tos são movidos e misturados de diferen-tes maneiras em função de dois princí-pios universais opostos:• amor (philia, em grego) - responsável

pela força de atração e união e pelomovimento de crescenteharmonizaçãodas coisas;

• ódio (neikos, em grego) - responsávelpela força de repulsão e desagregaçãoe pelo movimento de decadência, dis-solução e separação das coisas.

Para ele, todas as coisas existentesna realidade estão submetidas às forçascíclicas desses dois princípios.

• DEMÓCRITO DE ABDERA:

O ÁTOMO COMO EXPLICAÇÃO DA DIVERSIDADE •

t~homem, um microcosmo., I / Demócrito

Demócrito.

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CAPo 5 . A AURORA DA FILOSOFIA: Os PRÉ-SOCRÁTICOS

_ ascido em Abdera, cidade situada-itoral entre a Macedônia e a Trácia,

ócrito (460-370 a.c., aproximadamen-~ fui discípulo de Leucipo" e um pensa-- _brilhante. "Só a tradição impõe o títu-

-e pré-socrático a este pensador impor-.=..ã€, nascido e morto depois de Sócrates."?

Responsável pelo desenvolvimento do.LIIIIllS· mo, Demócrito afirmava que todas as.:::isas que formam a realidade são constitu-.: por partículas invisíveis e indivisíveis.

:::ssaspartículas foram chamadas de átomos,o grego que significa "não-divisível" (a

= egação; tomo = divisível).Para ele, o átomo seria o equivalen-

:e ao conceito de ser em Parrnênides._--J.érndos átomos, existiria no mundoreal o vácuo, que representaria a ausên-.::iade ser (o não-ser). Devido à existên-zía do vácuo, o movimento do ser torna-se possível. O movimento dos átomos::-ermite infinita diversidade de compo-síções. Demócrito distinguia três fatores.ásicos para explicar as diferentes com-?Osições dos átomos:

figura - a forma geométrica de cadaátomo.

Exemplo: forma de A -:t forma de B_• ordem - a seqüência espacial dos áto-

mos de mesma figura.Exemplo: AB BA.

• posição - a localização espacial dosátomos .Exemplo: B -:t Cd .

Para Demócrito, é o acaso ou a ne-cessidade que promove a aglomera-ção de certos átomos e a repulsão deoutros. O acaso é o encadeamentoimprevisível de causas. A necessida-de é o encadeamento previsível edeterminado entre causas. As infi-nitas possibilidades de aglomeraçãodos átomos explicam a infinita va-riedade de coisas existentes .

A principal contribuição trazidapelo atomismo de Demócrito à histó-ria do pensamento é a concepção me-canicista, segundo a qual "tudo o queexiste no universo nasce do acaso ou danecessidade". Isto é, "nada nasce donada, nada retorna ao nada". Tudo temuma causa. E os átomos são a causa últi-ma do mundo.

o nascimento da filosofia1. Comente a seguinte afirmação: "A filosofia grega nasceu procurando desenvolver o 1090S

em contraste com os mitos". Procure esclarecer o sentido de 1090S e de mito.

Os pensadores de Mileto2. Qual a preocupação central dos filósofos de Mileto?3. Faça um resumo do pensamento dos filósofos de Mileto (Tales, Anaximandro, Anaxímenes) a

respeito da arché.

4. Segundo a tradição, Leucipo de Mileto é considerado o fundador da escola atomista.5. BERNHARDT, op. cit., p. 51.

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86 UNID. 2 HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Pitágoras4. Qual a essência das coisas na concepção de Pitágoras?

Heráclito e Parmênides5. Qual a concepção de realidade contida nesta frase de Heráclito: "A luta é a mãe, rainha e

princípio de todas as coisas"?6. Comente as divergências fundamentaisentre Parmênidese Heráclito sobre a realidade do ser.7. Qual o objetivo de Zenão de Eléia ao criar célebres argumentos, como o da corrida de

Aquiles com uma tartaruga?

Empédocles e Demócrito8. Explique a teoria de Empédocles sobre os elementos primordiais.9. Explique a concepção mecanicista de Demócrito.

1. A persistência dos mitos• A filosofia nasceu promovendo a passagem do saber mítico ao saber racional, sem,

entretanto, romper com todas as estruturasexplicativas do mito.Onde reside a força dos mitos? Procure mencionar alguns mitos modernos.

• Oucts as diferenças das abordagens da realidade feitas pela filosofia e pelas ciências emcontraste com a da mitologia?

2. Filosofia e cidadania• SegundoJean-PierreVernant,a filosofia grega é filha da pólís. Nasceu na praça pública em

função da necessidade de racionalização da vida social. Por isso, para o grego, o Homosapiens é Homo politicus, aquele que discute os destinos da sociedade em que vive.Hoje em dia a filosofia está distanciada de suas origens, isto é, ela não é mais uma prá-tica comum entre os cidadãos, como era entre os gregos, que debatiam e decidiam sobreas grandes questões da vida pública? Dê sua opinião sobre o assunto.

Apresentamos, a seguir, um texto sobre os pré-socráticos e depois pequenostextos que ilustram a importância desses pensadores.

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CAPo 5 A AURORA DA FILOSOFIA: Os PRÉ-SOCRÁTICOS 7

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Os pré-socráticos e a ciênciaA ciência se inicia com problemas.

Um problema significa que há algo errado ou não resolvido com os fatos.

O seu objetivo é descobrir uma ordem invisível que transforme os fatos de enig-ma em conhecimento. (...)

Aqui somos forçados a viajar séculos para trás, para os tempos em que nossos pais,os gregos, começaram a pensar sobre o mundo e a se fazerem as perguntas com queos cientistas lutam até hoje. Porque as perguntas que eles fizeram não admitiamuma resposta única e final. Eram como portas que, uma vez abertas, vão dar numaoutra porta, muito maior, é verdade, que por sua vez dá em outra, indefinidamen-te. E aqui estamos nós abrindo portas com as perguntas que geraram as nossaschaves. Vamos seguir o seu pensamento.

Vocêjá notou que a nossa experiência cotidiana, o que vemos, ouvimos, sentimos, éum fluxo permanente de impressões que não se repete nunca? "Tudo flui, nada per-manece. Não se pode entrar duas vezes num mesmo rio", dizia Heráclito de Éfeso.

A despeito disso - e aqui está algo que é muito curioso - nós somos capazes defalar sobre as coisas, de ser entendidos, de ter conhecimento.

Nunca mais haverá nuvens idênticas àquelas que produziram o temporal deontem. A despeito disto serei capaz de identificar nuvens como nunca existi-ram antes e dizer que delas a chuva virá. Também nunca mais terei uma laran-jeira como aquela que morreu de velhice. Mas serei capaz de identificar umaoutra da mesma qualidade e de prever quanto tempo levará para começar adar os seus frutos.

Como explicar que o meu discurso sobre as coisas não fique colado às suas apa-rências? Parece que, ao falar, eu sou capaz de enunciar verdades escondidas, au-sentes do visível, expressivas de uma natureza profunda das coisas. Tanto assimque, quando falo, pretendo que estou dizendo a verdade não apenas sobre aquelemomento transitório, mas também sobre o passado e o futuro. Laranjas são do-ces, a água mata a sede, as estrelas giram em torno da Terra, o quadrado dahipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos: estas não são afirmaçõessobre o sensório imediato. Elas têm pretensões universais.

Esta foi a grande obsessão da filosofia grega: estabelecer um discurso que falassesobre a natureza íntima das coisas, que permanece a mesma em meio àmultiplicidade de suas manifestações. (...)

A leitura da filosofia grega nos introduz, passo a passo, às diferentes fases destabusca, a partir dos filósofos milesianos que achavam que as coisas mantinhamsua unidade em meio à multiplicidade porque, lá no fundo, todas se reduziam aum mesmo suco, uma mesma essência. Progressivamente houve uma passagemdesta posição, que explica a unidade em termos de substância, para uma outraque considera que a questão fundamental são as relações e funções.

RUBEM ALVES.Filosofia da ciência, p. 40-1.

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88 UNID. 2 HISTÓRIA DA FILOSOFIA

~~'? •1. O autor Rubem Alves estabelece uma relação entre o início do filosofia e o início do ciência.

Que relação é essa?2. O que os primeiros filósofos procuravam explicar o respeito dos coisas do natureza? De

acordo com o autor, por que essa" obsessão do filosofia grego" tem relação com o ciência?

2

Sobre Tales

A filosofiagrega parece começar com uma idéia absurda, com a proposição: a água é aorigem e a matriz de todas as coisas.Serámesmo necessário determo-nos nela e levá-Iaa sério? Sim,e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algosobre a origem das coisas;em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e,enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida (estadolatente, prestes a se transformar), está contido o pensamento: "Tudo é Um". A razãocitada em primeiro lugar deixa Talesainda em comunidade com os religiosos e supers-ticiosos,a segunda o tira dessa sociedade e no-Ia mostra como investigador da nature-za, mas, em virtude da terceira, Talesse toma o primeiro filósofogrego.

FRIEDRICH NIETZSCHE.A filosofia na época trágica dos gregos.

In: Os Pré-socráticos, p. 10.

~;;-?1. Quais os razões apontados pelo filósofo alemão Nietzsche (1844-1900) paro levarmos o sério

o proposição de Tales: "o águo é o origem e o motriz de todos os coisas"?2. Qual o pensamento latente contido no proposição de Tales?3. Segundo Nietzsche, quais os duas razões pelos quais Tales se distancio do sociedade de

religiosos e supersticiosos de seu tempo?

3

Sobre Herác1ito

Heráclito diz em alguma passagem que todas as coisas se movem e nadapermanece imóvel. E, ao comparar os seres com a corrente de um rio, afirmaque não poderia entrar duas vezes num mesmo rio. Heráclito retira do uni-verso a tranqüilidade e a estabilidade, pois isso é próprio dos mortos; e atri-bui movimento a todos os seres, eterno aos eternos, perecível aos perecíveis.

PLATÃO.Crátilo. In: Os Pré-socráticos, p. 77.

C~'?Ljusülique com trechos do texto o seguinte afirmação: "Heráclito proclamo o permanente fluir do

realidade. O ser é sempre dinôrnico".2. Interprete o significado do frase: "Heráclito retiro do universo o tranqüilidade e o

estabilidade" .

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CAPo 5 A AURORA DA FILOSOFIA: Os PRÉ-SOCRÁTICOS 89

4Sobre Parmênides

O ser É; o não-ser Não é. (._.)Este princípio, descoberto por Parmênides, é o prin-cípio lógico da identidade.

Parmênides tem uma importância histórica imensa para a filosofia ocidental. Masdesde Parmênides, e por sua culpa, temos do ser uma concepção estática em lu-gar de uma concepção dinâmica.

A própria ciência física sente-se apertada dentro do conceito parmenídico darealidade.

Mas o que não entra de maneira alguma dentro de tal conceito do ser é a ciên-cia do homem. A concepção do homem como uma essência quieta, imóvel,eterna, e que se trata de descobrir e conhecer (...) tem que ser substituída poroutra concepção de vida na qual o estático, o quieto, o imóvel, o eterno dadefinição parmenídica não nos impeça de penetrar por baixo e chegar a umaregião vital, a uma região vivente, onde o ser (...) seja precisamente o contrá-rio: um ser ocasional, um ser circunstancial, um ser que não se deixe espetarnuma cartolina como a borboleta pelo naturalista.

Parmênides tomou o ser, espetou-o na cartolina há vinte e cinco séculos e lá con-tinua ainda, preso na cartolina, e agora os filósofos atuais não vêem o modo detirar-lhe o alfinete e deixá-lo voar livremente.

Este vôo, este movimento, esta funcionalidade, esta concepção de vida comocircunstância, como chance, como resistência que nos revele a existência dealgo anterior à posse do ser, algo do qual Parmênides não podia ter idéia, éisto que o homem tem que conquistar. Mas antes de reconquistá-lo reconheça-mos que um filósofo que influenciou durante vinte e cinco séculos de maneiratão decidida o curso do pensamento filosófico merece algo mais que as pou-cas páginas que lhe costumam dedicar os manuais de filosofia.

MANUEL GARCÍA MORENTE.Fundamentos de filosofia, p. 70-7.

1. Qual a concepção de ser que herdamos de Parmênides?2. Pesquise as razões desta afirmação: liA própria ciência física sente-se apertada dentro do

conceito parmenídico da realidade". Pesquise a teoria quântica de energia.3. Segundo Gorda Morente,a concepção do homem como uma essência estática, imóvel, quieta

precisa ser substituída por uma essência dinâmica, circunstancial. Você concorda com essaafirmação? Por quê?

4. O que significa, para você, assumir uma concepção não-estática da vida? Ou você acha queexiste algo de permanente e eterno que nunca muda nem deve mudar? Discuta esta questão: opermanente e o transitório na sua vida.