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Script JANEIRO/FEVEREIRO 2014

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LG 2014-2_EC2_G6

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ScriptJaneiro/Fevereiro 2014

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SEÇÃO | PASSATEMPO

2 SCRIPT Saraiva

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Todo mundo sabe que a chegada de um novo ano é uma epóca de renovação, de novidades e é claro que nós, da Saraiva, preparamos uma novidade para 2014 que irá acompanhar vocês durante todo o ano: a nossa revista

pocket Script, distribuida gratuitamente em todas as nossas filiais! Ano passado foi marcado por várias adaptações legais que estouraram no cinema, teatro e em muitos outros meios, e, como a gente sabe que vocês adoram também dar uma conferida na obra que deu origem a uma adaptação, resolvemos criar a Script!

O conteúdo da Script será, então, centrado na temática de adaptações de textos escritos e narrativas figuradas para três outros veículos populares de entretenimento: cinema, séries de televisão e games. Através de nossas matérias, procuraremos instigar nossos leitores a conhecer mais sobre o que já foi ou será adaptado, mostrar diferenças e semelhanças entre duas versões diferentes de uma mesma obra e contar várias novidades e curiosidades envolvendo esse admirável mundo das adaptações.

A primeira edição da Script é sobre adaptações para o cinema. Será que o livro é sempre melhor que o filme? E será que os super-heróis da Marvel seriam tão populates quanto são hoje se apenas tivessem permanecido dentro dos quadrinhos? Essas são apenas algumas perguntas que vocês irão desvendar com essa primeira edição da Script! Terão muitas outras e esperamos sempre levá-los a descobertas de novas informações sobre seus atuais e futuros assuntos prediletos e a interagir com outras formas de entretenimento!

EQUIPE SCRIPT

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2 SCRIPT Saraiva

4 Bonequinha de luxo

6 Drácula de Bram Stoker

8A CLOCKWORK

ORANGE

14 Cidade de Deus

17 A Era Marvel nos Cinemas

22 Welcome to the Island of Misfit Toys

28 Os Homens Que Odeiam as Mulheres

12IDENTIDADE

DO NORDESTE BRASILEIRO

26 O DIABO VESTE

PRADA

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Equipe ScriptREDAÇÃO

ANA CAROLINA BARTH, CAROLINA ARAÚJO, ISABELLE CARDIN

E RAFAELA SILVEIRA

DESIGNCARLA CAROLINE, EDNELSON MARINHO E TICIANE FARIA

COORDENAÇÃO CAROLINA ARAÚJO

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SEÇÃO | CLÁSSICOS

4 SCRIPT Saraiva

Todo mundo já viu pelo menos uma vez a clássica foto de Audrey Hepburn em um ves-tido preto, segurando um cigarro e usando um colar de pérolas. Esta é Holly Golightly (ou devo dizer: Lula Mae? – quem já conhece o filme e/ou livro irá entender tal referência). Holly tem um estilo totalmente diferente de todas as mulheres da época: Seu corte de cabe-lo curto, sua independência, suas questões so-bre o amor, entre outras. Estas peculiaridades trouxeram uma grande polêmica para a época - Truman era considerado um dos jornalistas e autores mais polêmicos do século XX, mas

Holly Golightly. Reconhece esse nome? Esta é a famosa bonequinha de luxo. Muitos conhecem o filme, mas o que poucos sabem é que filme é uma adaptação de uma novela de Truman Capote que foi publicada em 1958. Existem certas divergências entre o livro e sua adaptação para o cinema. Isso se deve ao contexto de época em que a história está ambientada pelo autor e em relação ao roteiro do filme que teve de ser adaptado às “normas Hollywodianas”, para poder ser rodado.

Bonequinha de LuxoAna Carolina Barth

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também brilhante, pois introduziu o conhe-cido “jornalismo literário” para a literatura.

O livro, publicado em 1958, mostra uma mulher diferente, que quebra a ideia de con-formismo dos anos 50 em que tudo que di-ziam era que as mulheres apenas precisa-vam de uma família e de uma casa. Holly era exatamente o contrário dessa mulher dos anos 50. Não era mãe, não era uma garo-ta de família, ia para festas, e dormia grande parte do dia. Deste jeito, ela trouxe a mu-lher moderna dos anos 60. Hollywood te-mia não atingir o público com tais polêmi-cas, assim, houve as mudanças na adaptação.

Como já dito anteriormente, o filme e o li-vro possuem uma grande distinção devido à época em que ambos estavam inseridos. Para que o filme vendesse, foi necessário mostrar nas telas - o que a maioria das pessoas queria ver - o que julgavam ser o certo; o “final feliz” que Hollywood tanto amava naquela época. Já no livro, o fim foi totalmente revolucioná-rio. O filme tem uma preocupação com o que é considerado moral para a época, poden-do-se dizer que o roteiro era tanto machista como conservador. Outra mudança radical é: no livro, Paul tem tendências homossexuais e Holly tendências bissexuais. Já no filme, tive-ram que mudar essa parte, colocando-o como um homem que sobrevive de favores sexuais a uma mulher casada. Uma observação é que, no filme, em nenhum momento a profissão de Holly é deixada claro, mas no livro sim.

Bonequinha de Luxo é um grande exem-plo de como uma adaptação pode mudar o espírito de um livro, mas diferente de como ocorre atualmente, todas as mudanças ti-nham uma explicação devido à época in-serida. Apesar disto, o filme é uma grande obra da sétima arte, apreciado por muitos.

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SEÇÃO | CLÁSSICOS

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Drácula De Bram Stoker Isabelle Cardin

Vampiros são criaturas que há muito tempo aterrorizam o imaginário popular, mas que, ao mesmo tempo, despertam a imaginação e a criatividade de muitos ar-tistas. É assim que Francis Ford Coppola, em seu filme “Drácula de Bram Stoker”, conta a sua versão do clássico Drácula - um dos livros mais influentes sobre vam-piros até hoje, escrito pelo irlandês Bram Stoker, que transformou em romance o que antes eram histórias soltas do ima-ginário popular. O romance escrito no formato epistolar, conta as histórias de vários personagens que têm seus cami-nhos cruzados com o de uma misteriosa

criatura. Acompanhamos a história de Mina, uma mulher que perde o contato com seu noivo Jonathan - que vai vender um imóvel a um isolado conde - enquan-to vê sua amiga Lucy adoecer após uma estranha ocorrência. A história de Mina se cruza com a do Dr. Seward, que possui um paciente com problemas mentais in-comuns, e a do Dr. Van Helsing, professor de Seward, enquanto misteriosos even-tos começam a ocorrer e parecem inter-ligar todos esses casos de adoecimentos.

“Drácula” é um ícone da literatura e mescla com maestria vários gêneros lite-rários, além de criar um clima de tensão

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bastante eficaz. Ainda que o Conde Drácula já seja um conhecido personagem da cultura po-pular, é interessante ler o livro, descobrir sua origem e características. Além disso, embora o livro seja extenso, sua leitura é muito fluida e sua linguagem, ao contrário da maioria dos livros da época (séc. XIX), é bastante acessí-vel, tornando sua leitura algo indispensável.

A adaptação para o cinema, de 1992, se mantém, em grande parte, fiel ao livro; e uti-liza dos recursos que o audiovisual oferece para aumentar o ambiente gótico do filme, além de inserir um romance que preencheria algumas lacunas do livro. No filme, a estrutu-ra principal do enredo permanece a mesma, porém, a cena inicial - totalmente criada para o filme e que intenciona explicar a origem de Drácula - provoca algumas diferenças e cria dilemas psicológicos no personagem-título.

Cinematograficamente, o filme é bastante interessante e sua fotografia é muito bem cons-truída. Junto com atuações fortemente dramá-

ticas, cria o “clima gótico” com perfeição. Outro aspecto notável é a inserção de cartas e trechos de diários no livro, lidos em off, que só acres-centam à história, e aproximam o filme da obra original. Ademais, o filme não cai no erro de ser excessivamente explicativo, deixando que utilizemos nosso conhecimento prévio sobre o assunto, para entender algumas ocorrências.

Drácula é uma obra essencial tanto para todo bom leitor, quanto para o apreciador da sétima arte. Tanto seu livro, quanto seu filme de 1992 - há várias outras adaptações da his-tória, mas nenhuma tão fiel e que mantenha o foco da obra original - possuem as característi-cas que preenchem nossa mente quando pen-samos em vampiros. O livro e o filme possuem seus acréscimos e suas lacunas, mas ambos justificam sua condição de “clássicos”. Cabe a cada pessoa que lê/assiste identificar aqui-lo que mais lhe chama a atenção. Adentre os portais deste mundo gótico e sinta o toque frio de uma maldição que povoa a mente humana.

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SEÇÃO | CLÁSSICOS

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Alex DeLarge é um jovem que gosta de Be-thooven, de beber Moloko plus e de sair com seus amigos para cometer atos de ultraviolên-cia: essa é a premissa de Laranja Mecânica, uma das melhores obras literárias inglesas do século XX e um dos maiores clássicos do ci-nema mundial. A obra foi escrita nos anos 60, época em que diversas vanguardas tanto lite-rárias, como de outras manifestações artísticas se cruzavam - paralelas à efervescência políti-ca, às manifestações sociais e ao aumento da violência urbana, “o mal da modernidade” que se expande assustadoramente nessa época.

Anthony Burgess, o autor do livro, disse

ter se inspirado em um estupro que sua pri-meira esposa sofreu e no crescente aumento do número de gangues juvenis, que aterrori-zavam a Inglaterra nos anos 50, para escrever seu livro. Porém, ao em vez de criticar tais atos de forma explícita e educativa, Burgess confia em nosso bom senso e maturidade e dá voz ao delinquente que ele cria: Alex. Tudo que lemos, lemos na perspectiva de Alex, que constantemente nos chama de “my friends” - ou seja, criamos um desconfortável laço com um estuprador, assassino e psicopata, que se diverte e sente prazer ao cometer tais atos e, no decorrer do livro, muitos leitores passam a gostar dele, algo terrivelmente perigoso.

Isabelle Cardin

ACLOCKWORK

ORANGE

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Obviamente, a intenção do autor ao nos aproximar tanto assim de Alex é nos mos-trar como a mente dele é distorcida e o quão errados são seus atos. Mas ele não nos alerta disso, e a eventual simpatia que alguns sen-tem por Alex, principalmente a partir do meio da obra, é acompanhada de um des-conforto. Além disso, há um grande alerta sobre como a violência, muitas vezes, infe-lizmente, é glamourizada e como ela pode seduzir e encantar alguns, principalmente a juventude. As constantes notícias de violên-cia que são usadas para chamar atenção, os jovens que se fascinam com filmes e games violentos e a forma como armas e sangue são geralmente associados a poder, nos mostram como essa discussão é atual, e como nós, “ci-dadãos de bem”, deveríamos refletir sobre isso.

Outra discussão pertinente (e mais atu-al do que nunca) que a obra levanta é sobre o livre arbítrio, a manipulação e os limites da punição. O processo de “cura” do prota-goniosta é, obviamente, desumano - aliás, na segunda parte do livro, ou segundo ato do filme, é o único momento em que pode-mos sentir pena de Alex, sem “culpa”. Ve-mos os devastadores efeitos do “tratamento” Ludovico no personagem e como “cura” só é uma palavra para satisfazer determina-dos grupos e estabelecer certas imposições.

A “cura” de Alex é movida a interesses po-líticos, midiáticos e é também uma arma de

esvaziamento de prisões. “I just want to be good” é uma frase muito utilizada (com fal-sidade, convenhamos) pelo protagonista, já que essa frase significa que ele só quer parecer bom, “ser bom aos olhos da sociedade. Esse é outro ponto que a obra aborda: só somos o que a sociedade diz que somos - Alex vai de vilão à vítima, sem mudar nada efetivamente, status que só é consolidado com a aprovação da sociedade através da influência da mídia; como dizia Robert E. Park, fatos só são verda-de quando sofrem aprovação da mídia, se não, são só boatos e falsidade. Ou seja, Laranja Me-cânica, além de tudo ainda é uma forte crítica ao mundo de aparências em que vivemos, onde a mídia decide, através de interesses políticos e econômicos, quem é vilão e quem é mocinho.

A adaptação do livro, ficou por conta do renomado diretor americano Stanley Kubrick - que escreveu, também, o roteiro. O filme, to-talmente feito do ponto de vista do protagonis-ta, intensifica sua visão do mundo e a diversão que ele sente ao cometer atos violentos (por isso mesmo causou tanta polêmica, mas falaremos disso depois). Do ponto de vista cinematográ-fico, vemos as marcas características do dire-tor: os planos abertos, centralizados e cheios de profundidade, as cores muito usadas por ele, e um uso de planos plongée e contra-plon-gée da forma mais intensa de toda sua filmo-grafia. Enfim, todo fã de cinema deve conferir.

O livro e o filme quase não possuem pontos

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divergentes, Kubrick se manteu muito fiel ao livro e as diferenças, excluindo o 21º capítulo, estão ali de forma quase que acidental, e aju-dam a complementar a ironia do filme. A maior diferença é o último capítulo, que pode ser in-coerente para alguns - como foi para Kubrick - ou perfeitamente compreensível e necessário para outros. Cabe ao leitor formar sua opinião.

O filme causou várias polêmicas, embora fosse menos “violento e pesado” que o livro. Muitos o acusaram de incitar e glorificar a vio-lência - o próprio autor compartilhava dessa opinião, dizendo que o filme tinha distorci-do o livro. O problema foi tanto que, apesar de ter sido um grande sucesso, Kubrick fez com que o filme fosse proibido de ser exibi-do no Reino Unido até sua morte, em 1999, por causa do temor por sua família. Vemos que foi um claro caso de má interpretação do filme. Além disso, infelizmente, desde seu lançamento até hoje, muitos, principalmen-te jovens, glorificam o filme por ser violen-to, e não compreendem a crítica que ele traz.

Se você, caro leitor, nunca assistiu ou leu Laranja Mecânica corra já para corrigir isso. Nós, da Script, recomendamos que você assis-ta com um olhar crítico e tente perceber o que a obra realmente quer passar. Além disso, se puder, leia em inglês - embora recomendemos que se tenha um bom nível de inglês, já que o livro exige bastante do seu leitor e o autor ainda insere um dialeto novo, o “Nadsat”, que também aparece no filme. Recomendamos também que procure uma edição que conte com o último capítulo, para que você forme sua opinião a respeito dele. Enfim, entre nes-sa obra, mas com o senso crítico necessário.

Curiosidades

*Anthony Burgess recebeu um falso diag-nóstico de câncer, pouco antes de começar a escrever a obra. Como queria deixar dinheiro para sua família, ele escreveu vários livros ra-pidamente depois disso, e Laranja Mecânica foi um deles. Ele acabou morrendo somente em 1993, 31 anos após o lançamento do livro.*Os direitos do livro foram, inicialmen-te, comprados por Mick Jagger, por US$ 500, que queria adaptar para um filme, com ele sendo Alex e os outros Rolling Stones sendo os drugues. O projeto não foi realizado e ele vendeu novamente os direitos por um preço muito mais caro.*A música “Singing in the Rain” cantada por Alex em uma emblemática cena não esta-va no livro. Kubrick, ao filmar a cena, estava achando tudo muito convencional. Então, ele pediu que o ator cantasse e dançasse durante a cena. A única música que veio à cabeça de Malcolm McDowell foi essa.*Basil, a cobra de estimação do protago-nista, também não estava no livro. O diretor a colocou quando descobriu que McDowell tinha fobia de cobras.*Kubrick e McDoowell jogavam ping pong entre as cenas para relaxarem. Porém, o que o ator não sabia era que todas essas horas foram descontadas do seu salário.*No filme, não há nenhuma menção à ex-pressão “Laranja Mecânica”. Já no livro, esse é o título do livro que um personagem escreve.

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SEÇÃO | BRASIL

Identidade do Nordeste Brasileiro

O Auto da Compadecida é um roman-ce homônimo de Ariano Suassuna de 1955, que foi escrito, primeiramente, para peça te-atral em forma de auto, dívida em três atos. O romance foi o responsável por projetar Ariano Suassuna em todo Brasil. Antes de ser adaptado para o cinema, em 1999, Auto da Compadecida também foi série de TV de grande sucesso, ambos dirigidos por Guel Arraes e com roteiro de Adriana Falcão.

O filme não foi somente baseado nessa obra de Suassuna, ele também contou com influências de “O santo e a porca” e “Tortu-ras de um coração”, de Ariano e “Decameron”, de Giovanni Boccaccio. No geral, o filme foi bem fiel à obra original, só foram feitas algu-

mas pequenas adaptações em relação à morte dos personagens, para que tornasse o filme mais engraçado e que cativasse o público.

A adaptação é um drama-comédia sobre o Nordeste brasileiro, sendo notáveis as marcas do regionalismo, a mistura da cultura popular com a tradição religiosa do interior, o barroco católico brasileiro e a da literatura de cordel. Por Ariano Suassuna ser nordestino, ele retra-ta essa parte do Brasil com muita propriedade, o que fez com que a obra ficasse mais próxima da realidade local. Além disso, “Auto” apre-senta em sua escrita traços de linguagem oral e coloquial, para que fique claro a classe e o âmbito social em que os personagens vivem.

Rafaela Silveira

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O filme é centrado na história de Chicó e João Grillo, interpretados por Selton Mello e Mateus Nachtergale, respectivamente. A his-tória da dupla de amigos se passa em Cabecei-ras, típica cidadezinha de interior do nordeste: seca, pobre e pacata; com um coronel, igreja e cangaceiros. O filme retrata as peripécias da dupla e mostra como, através da esperte-za de João Grilo, com seus planos e lábia im-pressionantes, eles se viram para sobreviver.

A cena mais marcante desse filme é, sem duvida, o julgamento final. Onde João Grilo e Chicó se encontram com Jesus Cristo, nossa Senhora e o Diabo. A atuação impecável de Selton Melo e Mateus Nachtergale não ofusca o talento do elenco de apoio, que conta com grandes nomes da atuação brasileira, como:

Lima Duarte, Fernanda Montenegro, Diogo Villela, Marco Nanini, Denise Fraga e Mau-rício Gonçalves, que vive Jesus Cristo negro.

“O Auto da compadecida” é um dos gran-des sucessos do cinema nacional por utilizar personagens genuínos, situações cotidianas, o cenário e drama tipicamente brasileiros, que exploram a cultura popular, utilizando como base a literatura nacional. Exibido em diver-sos países, em eventos de cinema no Estados Unidos e renomeado como “Vontade de um cão” (A Dog’s Will), foi recebido positiva-mente também na América do Sul. O filme também ganhou o prêmio de melhor ator, melhor roteiro adaptado, melhor diretor e melhor lançamento, no Grande Prêmio Cine-ma Brasil, criado pelo Ministério da Cultura.

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SEÇÃO | BRASIL

CidadededeusRafaela Silveira

Quando pensamos em adaptações brasi-leiras, logo lembramos de Cidade de Deus. O filme foi inspirado no livro homônimo de Paulo Lins. Dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund; e adaptado por Bráulio Manto-vani. Lançado em 2002, ele retrata a realidade e o crescimento do tráfico de na favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, entre a década de 1960 e 1980. O Filme foi, para muitos críticos de cinema, melhor ou, pelo menos, mais con-densado e com maior coesão do que o livro. Uma das mudanças entre o romance e o filme, se dá no nome dos personagens. Cabeleira, Zé Pequeno, Bené e Mané Galinha, por exem-plo, foram nomes criados para a adaptação.

A Cidade de Deus, comunidade título, foi criada para ser o destino de moradores que foram retirados de diversas favelas da

Zona Sul, através do processo de remoções, assim como em outras inúmeras comuni-dades do Rio de Janeiro. Por ter o encon-tro de pessoas vindas de lugares onde as facções são diferentes, iniciaram-se confli-tos e disputas por bocas de fumo, que é um dos principais temas abordados no filme.

O livro é dividido em três partes: a história de Inferninho (Cabeleira), Pardalzinho (Bené) e de Zé Miúdo (Zé Pequeno). Já no filme, es-sas três histórias são compactadas em uma só trama, através de frequentes flashbacks. Este retrata a realidade da população da Cidade de Deus, fazendo uma grande crítica às consequ-ências das desigualdades social e de oportu-nidades das quais essas pessoas sofrem. Além disso, faz uma análise de como os preconcei-tos sociais e/ou raciais sofridos pelos persona-

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gens interferem no crescimento profissional, intelectual e no convívio social, dos mesmos.

A obra foi estrelada basicamente por ato-res moradores de favelas cariocas, como a própria Cidade de Deus e o Vidigal, através de um Projeto de Teatro chamado “Nós do Morro”, que contribuiu para lançar a carrei-ra de muitos bons atores. Segundo Meirel-les, a falta de profissionais negros e o desejo de originalidade foram os principais motivos que influenciaram essa escolha. O diretor de-sejava que o filme ficasse o mais próximo do real possível - “Hoje posso abrir um teste para 500 atores negros, mas há apenas 10 anos essa possibilidade não existia. Tinham no Brasil três ou quatro atores negros jovens e, ao mes-mo tempo, eu sentia que atores da classe mé-dia não conseguiriam fazer aquele filme. Eu precisava de autenticidade”, disse Fernando.

Para muitos críticos de cinema, “Cidade de Deus” é um dos melhores, se não for o melhor, filmes brasileiros contemporâneos. O filme teve sucesso, não somente no Brasil, mas também conquistou o público estrangeiro. A adaptação recebeu críticas extremamente positivas em várias publicações de referências nos EUA.  O filme foi escolhido como um dos 100 melho-res filmes da história pela Time, sétimo me-lhor filme do cinema mundial pela Empire e o sexto melhor filme de ação pelo The Guardian.

O Folha de São Paulo não poupou elogios ao filme. Publicou que “Cidade de Deus” teve uma competência narrativa impressionante e vigor espantoso. O grande diferencial do fil-me é o roteiro que foi engenhosamente cons-truído, sem pausas e nem “pontos sem nó”. “Cidade de Deus” recebeu quatro indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Diretor, Melhor fotografia e Melhor Edição. O filme também foi exibi-do no festival de Cannes, fora de competição.

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LIVROS MAIS VENDIDOS NA SARAIVA EM 2013:

1. “Nada a Perder 2 - Meus Desafios Diante do Impossível” (Edir Macedo)

2. “Kairós” (Padre Marcelo)

3. “Inferno” (Dan Brown)

4. “A Culpa é das Estrelas” (John Green)

5. “Nada a Perder 1” (Edir Macedo)

6. “Cinquenta Tons de Cinza” (E. L. James)

7. “Cinquenta Tons de Liberdade” (E. L. James)

8. “Cinquenta Tons Mais Escuros” (E. L. James)

9. “O Silêncio das Montanhas” (Khaled Hosseini)

10. “Eu Não Consigo Emagrecer” (Pierre Dukan)

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A ERA MARV EL NO CI NEMA

Fundada em 1939 por Martin Goodman (e primeiramente chamada de Timely Comics), foi comprada em 2009 pela Walt Disney Company. É líder em vendas de história em quadrinhos de super-heróis e dona de vários personagens aclamados - como os X-Men, Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Capitão América, Demolidor, Homem de Ferro, Thor, Hulk, dentre outros - que fizeram a imaginação de várias gerações.

A primeira publicação ocorreu em 1939, onde introduziram o Tocha Humana e o anti-herói Namor (príncipe submarino). Já em 1941, surge o famoso Capitão América - inserido na época da Segunda Guerra Mundial, esse herói tornou-se um símbolo do patriotismo norte-americano; e é importante ressaltar que ele foi criado com o pressuposto de fazer com que os americanos acreditassem que seu país iria vencer a guerra.

No início dos nos 50, a companhia alterou seu nome para “Atlas” e iniciou a publicação de mais histórias de faroeste e de guerra, deixando os heróis de lado. No final dos anos 50 e início dos 60, a concorrente DC Comics crescia cada vez mais, graças às suas publicações envolvendo super-heróis e estimulada pela criação do grupo da Liga da Justiça. Nessa época, na Marvel, Stan Lee e Jack Kirby criaram, “paralelamente”, o Quarteto Fantástico, que teve grande sucesso junto ao público, por ser uma “família” de heróis. A partir disso, os super-heróis foram voltando à tona.

Os heróis da Marvel começaram com

características diferentes dos heróis da DC Comics, desde o princípio; ou seja, eles eram mais humanizados. O Homem-Aranha (alter-ego de Peter Parker) é um ótimo exemplo - jovem estudante que passa por problemas normais da adolescência, mas que mordido por uma aranha radioativa adquire poderes. Outro aspecto é que várias histórias da Marvel mostram cidades existentes, diferentemente da DC Comics, que cria cidades fictícias, como Gotham City, cidade de Bruce Wayne (Batman).

Os estúdios e seus “direitos” sobre os heróis

Existe uma divisão dos estúdios entre os personagens da Marvel. A Marvel Studios é dona dos Vingadores (e seus integrantes), Dr. Estranho, Homem Formiga, Demolidor, entre outros. A 20th Century Fox, dos X-Men, Quarteto Fantástico e Deadpool. Sony Pictures, apenas do Homem-Aranha e do Venon. Já a Universal Pictures, de Namor e a Lionsgate de Man Thing.

Esta divisão ocorreu devido a um momento muito difícil que a Marvel passou. Nos anos

Ana Carolina Barth

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90, a DC Comics estava em seu auge, após ter lançado a famosa HQ “A Morte do Superman” e o filme “Batman Eternamente”.   Temendo a falência, a Marvel vendeu os direitos de adaptações de seus personagens para estúdios diferentes.

Uma curiosidade é que, entre toda essa divisão dos estúdios, existem dois personagens que pertencem tanto à Fox quanto à Marvel Studios: Mercúrio e Feiticeira Escarlate. Ambos fazem parte dos Vingadores – que irão aparecer no próximo filme (“A Era de Ultron”) – e da Irmandade de Mutantes, grupo liderado pelo pai dos dois, Magneto.

A discussão mais recente sobre os estúdios é em relação ao Homem-Aranha. A Marvel

Studios já anunciou que irá adaptar a famosa HQ da Guerra Civil. O problema é que o “Aranha” é uma peça chave nesta história, mas está em posse da Sony. A situação dos fãs é torcer para que ambos os estúdios entrem em um consenso.

As adaptações

Poucos sabem, mas a primeira adaptação de um personagem da Marvel foi em 1944. Um filme chamado “A Morte Vermelha”, que trazia o Capitão América. Em 1986, o filme de “Howard, The Duck”, produzido por George Lucas (criador de Star Wars), foi lançado pela Universal Pictures. Existe a previsão de que Howard irá voltar à tela dos cinemas no segundo filme de “Guardiões da Galáxia”.

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Em 1999, o filme “Blade, O Caçador de Vampiros” alcançou um grande faturamento nas bilheterias, o que foi uma grande surpresa. A partir disto, os estúdios começaram a apostar mais nas adaptações dos quadrinhos, surgindo, logo em 2000, o primeiro filme dos X-Men (lançado pela Fox), e, em 2002, o primeiro Homem-Aranha (lançado pela Sony).

Em 2005, uma época em que os super-heróis estavam se popularizando ainda mais graças aos filmes produzidos, foi anunciado que a Marvel Studios iria começar a fazer filmes dos personagens dos quais ainda detinha posse. Sendo assim, em 2008 foi iniciada a chamada “Primeira Fase” da Marvel Studios, com o lançamento do primeiro Homem de Ferro. Essa também lançou: “O Incrível Hulk” (2008), “Homem de Ferro 2” (2010), “Thor” (2011), “Capitão América: O Primeiro Vingador” (2011) e “Os Vingadores” (2012). Ou seja, o princípio da Primeira Fase era justamente introduzir o grupo de heróis - “Os Vingadores”.

Nos Estúdios da Fox, surge uma nova trilogia dos X-men - que foi introduzida no ano de 2011 com o nome “X-men: Primeira Classe”. Em Maio desse ano, será lançado o segundo filme da trilogia, entitulado “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido”, que, se for uma

adaptação similar a HQ, irá trazer um futuro totalmente diferente para as histórias do estúdio. Neste enredo, Wolverine é mandado para o passado, e acaba mudando várias coisas acontecidas nos filmes anteriores.

Em 2012, a Sony Pictures lançou “O Espetacular Homem-Aranha”, um reboot que acaba anulando totalmente os antigos filmes feitos do “Aranha” dirigidos por Sam Raimi. Este havia mudado algumas características básicas do personagem em seus filmes, como o fato do lançador de teia ser orgânico, e não uma invenção de Peter. Em maio deste ano, será lançado o segundo filme desta possível trilogia.

De volta a Marvel Studios, e seguindo uma linha cronológica, em 2013 foi iniciada a Segunda Fase, denominada como a fase “estrada” para os próximos “Vingadores”. O primeiro filme a ser lançado neste ano foi “Homem de Ferro 3”, seguido de “Thor: O Mundo Sombrio”. Em 2014, com previsão de estréia para abril, o segundo filme do Capitão América, levando o título de “O Soldado Invernal”. Além do novo filme do “Capitão”, será introduzido um novo time de heróis, em filme próprio, os chamados “Guardiões da Galáxia”. Estes, provavelmente, terão alguma ligação com os Vingadores na Fase Três da Marvel Studios.

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Como já se sabe, as adaptações fazem com que aumentem as vendas do produto original, não acontecendo apenas com as adaptações de livros. As HQs estão crescendo cada vez mais neste aspecto. Muitos espectadores, quando saem das salas de cinema, após terem assistido uma adaptação bem sucedida de filme de heróis, começam a se interessar por aquela história e personagem. Assim, procuram saber

mais sobre a HQ em que o filme foi inspirado e começam a acompanhá-la.

Dessa maneira, o mercado de HQs supera e se reinventa cada vez mais, trazendo novas histórias e personagens, ou personagens antigos “repaginados”, visando a empatia maior com o público de hoje em dia. E assim, as adaptações crescem juntamente com os personagens que inspiraram gerações.

O PESO DAS ADAPTAÇÕES

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SEÇÃO | ATUAIS

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Welcome to the Island of Misfits Toys

Muitos não sabem, mas esse título – que pode ser traduzido para “Bem-vindo à ilha dos brinquedos desajustados” – é uma referência ao filme “Rudolph, a Rena do Nariz Vermelho”. A história é de propriedade da The Rudolph Company, L.P. e foi adaptada para formas diversas, incluindo uma canção popular, um especial de televisão e alguns filmes. Nas “Vantagens de ser invisível” Sam usa essa frase para introduzir Charlie ao seu grupo de amigos.

Para aqueles que não conhecem, “As Vantagens” conta a história de Charlie, um menino de 15 anos, que recentemente perdeu seu melhor amigo, e está prestes a entrar no ensino médio. Se você ama “O Clube dos Cinco”

precisa ver esse filme. Charlie, introvertido e observador, tem a sorte de conhecer um grupo de pessoas maravilhosas que se tornam seus amigos. Ao longo da história, descobrimos a complexidade de Charlie, assim como dos outros personagens, e vemos pessoas que estão lutando para achar seu lugar no mundo e superar adversidades. O livro é composto por várias cartas de Charlie, direcionadas de forma anônima a uma pessoa que ele descobre ser alguém que “escuta e entende”. Isso foi traduzido para o filme. Uma boa indicação para aqueles que estão aprendendo ou querem testar seu inglês, que talvez considerem fraco, é ler o livro no original. A linguagem é muito simples! O mesmo vale para o filme, pode por legenda em inglês sem preocupações!

Carolina Araújo

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Dear Friend,

“As Vantagens de Ser Invisível”, antes de se tornar esse filme maravilhoso que conhecemos e amamos, começou com a publicação de um livro em 1999. Comparado a J.D. Salinger (“O Apanhador no Campo de Centeio”) por retratar esse período da juventude de uma forma tão sincera e verdadeira, Stephen Chbosky influenciou a vida de muitos jovens adolescentes, abordando temas que ultrapassam gerações. Stephen tem uma ligação muito pessoal com esse livro, que é semi-biográfico, e teve enorme preocupação em fazer justiça ao livro nas telinhas. Sabe aquilo de vermos o filme e falarmos “poxa, estragaram o meu personagem”, “não foi bem assim que eu imaginei...”? Nada disso acontece em “As Vantagens” porque o próprio escritor estava fazendo tudo! E mesmo as pequenas mudanças e/ou cortes não tiraram a essência da história. Em uma entrevista exclusiva que Stephen nos concedeu, ele fala sobre como foi ver seus personagens ganharem vida e explica o processo e as surpresas ao reescrever e reproduzir sua própria obra no cinema.

Love Always, Script.

Script: O fato de que você, sendo o autor do livro, ter adaptado o filme fez o público não temer que a reprodução não fizesse justiça ao livro. Você se sentiu assim durante o projeto? Ainda se sente?

Chbosky: Eu tive que fazer esse filme para os fãs do livro exatamente por isso que você está falando. Eu não sei se eu recomendo isso para todo autor, mas pra mim, era a única maneira. Esse projeto era tão pessoal para mim, eu estava tão conectado a ele, que o resultado não podia ser nada além de autêntico à história. No entanto, o lado negativo é que, às vezes, você acaba sendo tão autêntico para com o livro que falha na tentativa de torná-lo filme. Eu fiz questão de ter uma equipe muito boa e incentivei que eles opinassem sobre o

trabalho e os cortes. Porque eu não queria só filmar o livro, eu queria fazer um filme. E isso é uma colaboração.

Script: Então você não teria permitido que outra pessoa adaptasse? Porque o livro foi lançado há mais de 10 anos e fez grande sucesso. Imagino que você tenha recebido diversas propostas. O fato de que não vendeu os direitos significa que já pensava em reproduzir o filme por conta própria?

Chbosky: Segundo meu agente, após o lançamento do livro, ele recebia basicamente uma ligação por semana. Mas eu não estava interessado em nenhuma proposta. Eu já sabia desde o princípio que um dia iria querer fazer uma adaptação e sempre soube que teria que ser eu. Não sei explicar por que eu tive essa

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vontade de escrever novamente a mesma história, só posso dizer que as imagens que eu tive bem claramente quando escrevi o livro permaneceram na minha mente. Fazer o filme pareceu a coisa certa. Então eu esperei até que estivesse pronto para fazer um filme que fosse aquilo que eu imaginava. Ou eu que iria dirigir, ou não haveria filme algum. Quanto a isso não tinha debate.

Script: Foi estranha essa passagem de escritor para diretor de filme?

Chbosky: Não, foi ótimo, porque eu não estava mandando nas pessoas o tempo todo. Com esses atores, essa equipe e porque eu era o autor do livro, eu não tive aqueles problemas de estar num estúdio pela primeira vez. Eles sabiam que eu sabia o que estava fazendo e todos estavam bem animados em me ajudar a contar a história.

Script: Uma das coisas que eu amei sobre o filme é o fato de que você se sente dentro e fora da experiência do ensino médio.

Chbosky: Sim. Na verdade essa era a intenção. Minha esperança era que se você fosse um adolescente assistindo você iria gostar, pois o filme estaria te respeitando e

validando as coisas com que você está lidando diariamente; e se você fosse o pai desse jovem, você ia gostar do filme pela nostalgia que ele produziria. Eu queria igualar esses dois mundos. E o que me ajudou foi o fato de que eu escrevi o livro quando tinha 26 anos e o filme uns 10 anos depois. Então eu tive meus pés nos dois mundos. Quando eu escrevi o roteiro meio que precisei voltar no tempo e relembrar como eu me sentia naquela época – quando eu ouvia Asleep (The Smiths), me agarrando as letras “há um outro mundo, há um mundo melhor, bem, deve haver...”, querendo acreditar que haveria um tempo melhor do que aquele. E ter escrito para o cinema, quando eu estava numa posição em que eu já me encontrava nesse melhor lugar, foi desafiante... ter que lembrar como é esse sentimento de não saber.

Script: Quais foram as cenas mais difíceis de cortar?

Chbosky: A história do aborto. Nina Dobrev (Candice) foi ótima nas cenas. Eu amei essas cenas, elas estão disponíveis no DVD e são maravilhosas. Essas partes da família foram as mais difíceis de cortar. Kate Walsh fez um trabalho incrível como mãe do Charlie, e eles tiveram umas cenas lindas juntos. Outro corte difícil foi um flashback que eu escrevi de uma cena entre Michael e Charlie. Não é fácil fazer essas escolhas, mas eu tive que manter um foco.

Script: Como foi a seleção dos atores?Chbosky: Emma foi a primeira. Quando

eu vi aquela cena em Harry Potter e o Cálice de Fogo, em que ela está perto do Daniel Radcliffe, e a forma como ela chorou e a

“ O mundo pode ser qualquer coisa que a

gente quiser. ”

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maneira que ela mostrou vulnerabilidade – eu tive um instinto em relação a ela como atriz. Conhecê-la pessoalmente foi a cereja do bolo. Eu simplesmente sabia que ela era a Sam. Ezra fez a audição pelo Skype. A performance dele foi perfeita, e quando conversamos pessoalmente ele entendeu exatamente a essência do personagem e conseguiu capturá-la muito bem. Quando Logan Lerman chegou, não fazíamos ideia de que ele estava ali para o papel de Charlie. Ele se apresentou, e foi isso. Era dele. A questão dos atores era importantíssima e eu selecionei esses profissionais que eu sabia terem talento, mas que também eram pessoas divertidas de se estar por perto – esse clima que o filme conseguiu passar foi devido ao talento e às características de um grupo extraordinário de pessoas.

Script: Como os atores mudaram a sua

maneira de ver os personagens?Chbosky: O ótimo é o fato de que agora

Charlie e Sam pertencem não só a mim, mas a Logan e a Emma. Eu posso compartilhar eles com essas duas pessoas. Ambos trouxeram muito para os personagens e vão ser esses personagens para sempre na minha visão.

Script: Uma das partes principais da história, é a frase “Nós somos infinitos.” O que isso siwgnifica para você?

Chbosky: Significa que não importa de onde você veio, porque você pode ir para qualquer lugar. Não importa o que você passou você pode superar. E se a gente parar, olhar ao redor, e respirar tudo isso, nós vemos como o mundo é vasto. E tudo que precisamos fazer é tentar assumir uma atitude positiva e construtiva, e o mundo pode ser qualquer coisa que a gente quiser. É isso que significa para mim.

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O Diabo Veste Prada é uma adaptação do Bestseller literário de Lauren Weisbergercom, de 2003. A obra cinematográfica foi dirigida por David Frankel, adaptada por Aline Brosh McKenna, contando com a incrível interpretação de Meryl Streep e Anne Hathaway. O elenco de apoio também não ficou por baixo, tendo a presença de grandes nomes da atuação e da moda internacional, como: Gisele Bundchen, Heidi Klum, Valentino, Emilly Blunt, Stanley Tucci, entre outros.

Meryl Streep interpretou Miranda Priesly, a impetuosa, obcecada e poderosíssima editora-executiva da importante revista de moda Runway Magazine. Anne Hathaway interpretou Andrea Sachs, uma jovem recentemente formada na faculdade de jornalismo. O trabalho conquistado por Andy seria o sonho de consumo de milhões de jovens: trabalhar como assistente pessoal da lendária Miranda Presley. O pesadelo de Andy começa a partir daí - ela descobre que Miranda é o verdadeiro Diabo em pessoa. Capaz de fazer a sociedade de Nova Iorque temê-la por ter o poder de destruir ou levantar uma carreira, ela também transforma a vida de

seus empregados em um verdadeiro inferno.

Além do tratamento que recebe de Miranda, Andrea também é hostilizada pelos colegas de trabalho - que cultuam a beleza, roupas de grife e a forma física -, por seu estilo ser diferenciado dos padrões do escritório. Ela, muito determinada, decide mudar o visual e se torna uma verdadeira workaholic para satisfazer todos os desejos e ordens de sua chefe. Aos poucos, Andy percebe que está virando uma Clacker, apelido que ela mesmo deu as suas colegas de trabalho - relacionado ao barulho que o stilleto heels faz quando elas andam -, e que está abdicando partes da sua vida e personalidade que antes considerava importantes.

O filme teve algumas mudanças em relação à obra original. O namorado de Andrea recebeu outro nome, outra profissão e personalidade; além disso, ele também teve modificações em suas reações às situações no filme. Outra mudança simbólica foi a viagem de Andy a Paris. Porém, a principal mudança entre o livro e a adaptação é a maldade da personagem interpretada por Meryl. No livro, Miranda é a maldade em pessoa - Lauren não faz questão que sintam simpatia por ela . Já no

Rafaela Silveira

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filme, apesar de se mostrar megera, é possível enxergar um lado humano, uma relação constante de amor e ódio. Para muitos, a autora do Bestseller se inspirou em sua própria experiência como assistente de Anna Wintour, editora da Vogue. Mas ela nega, embora sua história seja praticamente idêntica à relatada.

O filme é bastante agradável, ágil, engraçado e cativa o público. Ele mostra a realidade do mundo da moda, mas também da relação trabalho-vida pessoal. Para alguns, o livro pode ser considerado um pouco cansativo, pois a autora relata vários detalhes, como descrições detalhadas de marcas de roupas - que se torna um prato cheio para estudantes de moda ou até mesmo para amantes desse universo. Isso no filme foi deixado de lado, contribuindo para dar à adaptação agilidade e um sentimento maior de evolução.

O livro recebeu críticas não muito boas após seu lançamento. Ele não foi muito bem recebido pela editora da Harper’s Bazaar, Kete Betts, que também trabalhou com Anna Wintour. Ela disse que Lauren foi ingrata e não reconheceu a experiência incrível que é trabalhar com uma grande editora de moda.

Já o filme, que foi lançado em 2006, recebeu somente elogios, foi um grande sucesso de bilheteria e não foi à toa que recebeu duas indicações ao Oscar: Melhor Atriz para Meryl Streep e Melhor Figurino.

No Globo de Ouro de 2007, o filme recebeu três indicações: Melhor Filme de Comédia/Musical, Melhor Atriz Coadjuvante (Emilly Blunt) e Melhor Atriz de Comédia/Musical (Meryl Streep), que venceu. Já no BAFTA, em 2007 (Reino Unido), o filme recebeu cinco indicações: Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Figurino e Melhor Maquiagem/Penteado.

O Rotten Tomatoes, site estadunidense especializado em resumos e críticas de filmes, definiu o sucesso de “Diabo Veste Prada”: “Um filme raro que supera a qualidade de sua nova fonte, este Diabo é um espirituoso expor de cenário de moda em Nova York, com Meryl Streep em sua melhor forma e Anne Hathaway mais do que segura”.

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Carolina Araújo

OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES

Esta é a tradução literal do título “Män som hatar kvinnor” dado por Stieg Larsson ao primeiro volume de sua trilogia. No Brasil o livro foi publicado como “Os homens que não amavam as mulheres”. Nos Estados Unidos, aparentemente, “A garota da tatuagem de dragão” era mais apelativo. A mudança no título pode parecer sutil, mas retira parte da essência do trabalho de Larsson – a denúncia as diversas formas de abuso que os homens fazem às mulheres.

Stieg foi jornalista e escritor, socialista e ativis-ta político, envolvido no combate ao racismo e fascismo. Ele tinha grande comprometimento em expor a corrupção, a situação das empresas e do jornalismo e os ideais preconceituosos da sociedade em que vivia; acreditava na igualda-de de direitos e na importante função do jor-nal para a defesa e manutenção da democra-cia. Diferentemente da maioria das pessoas, manteve seus ideais de juventude por toda a vida. Foi um dos fundadores da revista Expo - que vigia atividades antidemocráticas, racistas e de extrema direita -, o que é mais uma prova de seu comprometimento com a sociedade. Nem mesmo as constantes ameaças de morte o fizeram largar seu trabalho.

Segundo sua companheira, Eva Gabriels-son, aos 14 anos Larsson teria testemunhado

uma garota ser estuprada e não tentou impedir ou denunciar o caso – a culpa o teria acom-panhado durante sua vida, dando-lhe muito mais motivação, por ser um assunto que o tocava pessoalmente. A trilogia Millenium, que na verdade seria uma série de 10 livros, é focada nessa violência que as mulheres so-frem, abordando também corrupção e política e o contexto da sociedade sueca, incluindo seu passado e presente de fascismo. Quando Lars-son morreu, aos 50 anos, estava escrevendo o quarto volume da série, mas já havia deixado os manuscritos de três volumes com um edi-tor. Não viveu para ver o sucesso de seus livros – traduzido para 41 línguas, adaptado para cinema duas vezes e até mesmo transforma-do em minissérie –, mas suas obras abordam questões de incrível relevância social e é a que-bra do silêncio que imobilizou aquele garoto de 14 anos.

Uma das mudanças mais significativas foi que, na versão sueca, a investigação pareceu extremamente pessoal. O próprio diretor dis-se que alterou algumas coisas, que poderiam ter existido no livro, para que quando o leitor visse o filme, alguns meses depois de ter lido, não achasse estranho tais cenas; como se elas

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sempre estivessem lá.  A adaptação americana pareceu mais fiel. Mas, nesta, grande parte da pesquisa é feita pelos indivíduos separados, não dando destaque à forma como Lisbeth realiza seus trabalhos de hacker - o programa usado na versão sueca é chamado ASPHYXIA, que é grego para sufocamento.

Julgar uma adaptação é sempre uma ques-tão de opinião; mas para quem não leu o livro, não tenho dúvidas de que gostará do filme. Aconselho que procure ler, pois há muitas in-formações que tiveram que ficar de fora. Quer veja o filme ou leia o livro, o mais importante é a temática - violência contra mulher, abuso de poder, preconceito, corrupção e o papel da mídia - está tudo aí e no restante do trabalho de Larsson. Não deixe de conferir.

DUAS ADAPTAÇÕES

Niels Oplev, diretor da primeira versão, estava no meio da produção de outro filme, nem mes-mo havia ouvido falar sobre a trilogia, quando Soren Staermose lhe perguntou se ele gostaria de dirigir o filme. Anos depois Oplev admi-tiu ter sido um tanto arrogante a princípio, dizendo “por que fazer outro thriller sueco?” Mas, eventualmente, viu o potencial da obra. O objetivo era fazer um filme com uma atmos-fera sueca, qualidade europeia e inspirado nas experiências em thrillers dos americanos (in-clusive de David Fincher, que viria a fazer uma versão Hollywoodiana um ano depois!) O ma-terial antes do corte tinha por volta de 3:30h e essas cenas podem ser vistas na minissérie, que ele também dirigiu.

David Fincher, famoso diretor americano, de-parou-se com o trabalho de Larsson em 2008, quando acabava de filmar “O curioso caso de Benjamin Button”. Uma das produtoras do filme tentou fazê-lo ler o livro. Na época ele nem se deu ao trabalho. Não achava que vin-garia. Mais tarde, quando Amy Pascal disse

que havia comprado os direitos do filme, ele finalmente resolveu ler. Chegou a questio-nar-se: quero mesmo fazer outro filme nesse estilo? Mas foram os personagens principais (Lisbeth e Mikael) que o encantaram. Ele já tinha visto vários times de pessoas diferentes se unindo para resolver um caso, mas nada como esse. Eles eram um time que contraria-va tudo para o qual Fisher estava preparado. Viu o filme sueco depois de ter entrado na atmosfera dos personagens. No entanto, ape-sar de interessante, ele tinha uma versão da história um pouco diferente em sua mente. Em ambos os filmes, as questões principais foram a escolha da atriz que interpretaria Lisbeth e a maneira de representar as fortes cenas de abuso – permanecendo fiel à visão e critica de Larsson sobre o cenário de abuso na Suécia –, mas mantendo os atores e a au-diência na melhor situação possível diante das circunstâncias. As filmagens foram muito di-fíceis. Noomi Rapace ficou com machucados físicos e chegou a ter pesadelos, e o próprio diretor e os outros atores se sentiam horríveis enquanto produziam o filme. Já na adaptação americana, David disse que em algumas cenas só as pessoas estritamente necessárias para a filmagem estiveram presentes, pois os outros membros não estavam à vontade. Em ambos os casos os envolvidos, apesar de terem ficados satisfeitos com o resultado, ficaram felizes por poderem sair daquele ambiente sombrio em que estavam.

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LISBETH SALANDER

Lisbeth – que é a personagem mais interessante em ambos os filmes – é extremamente complexa. Apesar de ter 21 anos, é guardiã do Estado desde pequena.  Seu passado e presente são marcados por experiências horríveis com homens cuja função devia ser de proteger, não abusar. Não acredita na lei, que a decepcionou e abusou dela diversas vezes.

É importante ressaltar que a personagem dela não é isso: uma vítima da violência. Ela se recusa a ser uma vítima e vive pelo seu próprio código moral. Tem uma frase muito legal no livro, sobre quando ela ainda era criança, que diz “sua atitude significava que ela preferia ser batida até a morte, do que aceitar qualquer abuso” e isso é bem representado nos filmes.

Chorar não vai adiantar nada, ninguém vai ajudá-la. Ela vai atrás e resolve sozinha, e não deixa ninguém que tenha se aproveitado dela sair sem perdão. Segundo Lisbeth, cada um tem uma escolha; não existe isso de ter desculpa para tal comportamento por ter tido esse ou aquele passado – você que decide quem você vai se tornar. Um dos momentos claros disto é como ela reage às ações de Harriet e Martin. Sua personagem mostra que as mulheres são tão capazes de violência como os homens. Suas cenas de vingança dão satisfação e medo para quem assiste. Porque essas são as atitudes que gostaríamos de ter ante o mundo que vivemos, mas que sabemos racionalmente que não nos levariam a uma democracia verdadeira.

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1. Atriz principal de Bonequinha de Luxo.2. Linha editorial de banda desenhada ou histórias em quadrinhos pertencente à Walt Disney Company.3. O mais famoso vampiro da literatura.4. As principais atrizes de O Diabo Veste Prada são Anne Hathaway e...5. O Auto da Compadecida é um drama-comédia que se passa em qual região do Brasil?6. Laranja Mecânica é um filme que trata de

questões de delinquência, gangues e assuntos sociais de qual país?

7. Obra brasileira que retrata o crescimento do tráfico de drogas numa favela do Rio de Janeiro.8. Primeiro nome da personagem principal de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres.9. Que herói da Marvel enfrentou nazista durante a Segunda Guerra Mundial?10. A adaptação de As Vantagens de Ser Invisível é estrelada por Ezra Miller, Logan Lerman e...

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O que vem por aí...

Vários games são adaptados para a tela dos cinemas ou acabam tendo suas épicas aventuras descritas dentro de um livro, e poucas pessoas, quando veem o filme ou leem o livro, sabem que estão em contato com algo que previamente era um jogo. O rosto à direita te parece familiar? Se sim ou se não, fique ligado na próxima edição da Script. Iremos falar sobre os games adaptados, dando destaque a um jogo muito popular lançado ano passado chamado “The Last of Us”, que terá sua versão nas telas dos cinemas em breve. Não perca!

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