Sebenta PSO

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PSICOSSOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES SOFIA SANTOS, DIANA FARIA, VERA MESQUITA

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Psicossociologia

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  • PSICOSSOCIOLOGIA DAS

    ORGANIZAES

    SOFIA SANTOS, DIANA FARIA, VERA MESQUITA

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    PSICOSSOCIOLOGIA DAS ORGANIZAES

    Ao longo da unidade curricular iremos abordar o que so as organizaes e

    especificamente organizaes de sade:

    O que

    Como se caracteriza

    Processos de transformao das organizaes ao longo do tempo

    Poder dentro das organizaes (sendo que o poder o que est institudo,

    num organigrama temos a expresso do poder mas no a sua realidade)

    Ponto de vista sociolgico e antropolgico como se como se foram

    alterando as organizaes.

    Relao entre os principais autores num hospital (mdico, enfermeiro,

    utente) e privilegiar a relao enf./utente para falar no processo de

    cuidados, visto pelo doente.

    AVALIAO:

    Prova escrita 40% com nota mnima de 7 valores

    Trabalho de grupo 60% (A representao que as crianas, que frequentam o 4

    ano de escolaridade, tm dos enfermeiros)

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    ORGANIZAES

    1. Definio

    Existe sempre uma relutncia no que se refere a definir qualquer tipo de conceito

    contudo foi-nos proposto que dissssemos um conjunto de elementos que fariam parte

    de uma organizao, sendo assim foram propostos os seguintes elementos: pessoas (pois

    sem estas no pode existir uma organizao), fins comuns, espao (fsico ou virtual)

    hierarquia (existente ou no), harmonia, regras/normas, trabalho em equipa, princpios e

    valores, misso/objetivo.

    Exemplo 1:

    Existe alguma dificuldade em enquadrar este exemplo numa organizao.

    Podemos olhar para uma organizao e que estes elementos deveriam estar presentes

    (numa escola, num hospital, ) e, apesar destes elementos serem de extrema

    importncia, nem sempre isto acontece.

    Do ponto de vista sociolgico o exemplo poder ser designado como um

    agregado (conjunto de pessoas que o que tem de diferente uma outra forma de

    associao de pessoas). No tem de apresentar obrigatoriamente uma identidade social

    ao contrrio dos grupos sociais. Como por exemplo uma claque de futebol em que

    apresentam uma identidade social (conjunto de caractersticas que identificam aquelas

    pessoas). No exemplo 1 no conseguimos encontrar algo nas pessoas que lhes seja

    comum e que as identifique socialmente por isso se d o nome de agregado.

    Existem ainda regras sociais gerais em que a sociedade se rege por elas assim

    como regras organizativas especficas em que estas j se englobam nas organizaes.

    A categoria social uma associao de pessoas em que j no necessrio a

    presena de identidade como por exemplo a classe mdia, em que as pessoas no tm de

    se conhecer uns aos outros e no tm de pertencer mesma etnia. Esta categorizao

    faz-se atravs de uma varivel que se une e que constitui um grupo, mas sem haver

    identidade especfica.

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    Uma organizao tambm uma associao de pessoas em que existe vrias

    formas de associao de pessoas. O que parece ser claro que, ao contrrio das outras

    formas de associao, esta apresenta formas de associao mais complexas. A questo

    que se coloca , que tipos de aspetos podem ser imprescindveis para uma organizao?

    Para j, um dos pontos fundamentais que esta seja constituda por pessoas, sem elas as

    organizaes no existem. As pessoas organizam-se porque tm objetivos especficos

    definidos que pretendem alcanar. A organizao deve ainda ter um espao (como por

    exemplo um hospital).

    Estamos habituados a olhar para as organizaes e a inseri-las num espao,

    sendo que o espao acaba por definir um pouco as organizaes (carateriz-las). O

    espao fsico imprescindvel para ter uma organizao? Hoje em dia isso no

    verdade porque o espao fsico tem uma importncia muito grande quando queremos

    conhecer uma organizao mas no obrigatoriamente assim que acontece podendo

    existir um espao virtual. Por isso as organizaes podem funcionar num espao virtual

    e, mesmo achando as questes hierrquicas fundamentais, estas tambm podem existir

    virtualmente. Em alguns casos, aqui podemos encontrar situaes de compra/venda.

    Nestas circunstncias a inexistncia de um espao fsico pode ser favorecedor para

    organizaes ilegais em que assim se torna mais difcil encontra-las.

    Numa organizao, as relaes que as pessoas mantm umas com as outras so

    relaes de impessoalidade. Isto quer dizer que idealmente as relaes pessoais que

    temos fora da organizao no deve prolongar-se para dentro das organizaes. Embora

    na prtica no seja isto que acontea.

    Esta acaba por ser uma caraterstica mais importante do que a hierarquia porque

    a segunda j faz distino entre os membros. Existem organizaes que adaptam uma

    hierarquia vertical.

    Hierarquia:

    Vertical

    Em organizaes, sobretudo mais pequenas, esta verticalidade acaba por ser

    mais achatada.

    Mais poderoso

    Menos poderoso

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    Um dos aspetos que conduz para o desnvel e as diferenas que se fazem

    acentuar , a diferenciao das pessoas no campo do saber. Quando temos nas

    organizaes pessoas com um nvel diferente do saber, mais ou menos equivalente, esta

    hierarquia no to acentuada, no existindo uma grande diferenciao. Embora exista

    hierarquia, esta no to demarcada.

    Quanto mais houver proximidade de conhecimento, esta torna-se uma

    hierarquia mais achatada e no to demarcada. As prprias hierarquias vo condicionar

    o modo como vai funcionar as organizaes.

    A informao algo cada vez mais crucial quando se fala em organizaes. Em

    organizaes mais achatadas a informao chega mais depressa base ao contrrio do

    que o que acontece nas outras organizaes em que mais informaes sinnimo de

    mais poder.

    O trabalho em equipa de um modo harmonioso desejvel mas nem sempre

    acontece. Quanto mais elevadas forem as organizaes, quanto mais hierrquicas, mais

    formalidade existe entre as relaes pessoais e profissionais.

    Mais concretamente o conceito de organizao :

    Um grupo de pessoas mais ou menos alargado, com relaes de

    impessoalidade, que tenham em vista objetivos especficos.

    Nem todas as pessoas que esto na organizao partilham dos ideais da

    organizao. Os fins no so comuns a todos, mesmo que esses fins sejam numa rea

    nobre como o caso da sade.

    Um ponto de vista crucial de mudana da vista das sociedades foi:

    Famlia (que faz parte

    da sociedade)

    Sociedade (so compostas por

    organizaes - instituies)

    Mulher

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    Ao longo do sculo XX existiram vrias mudanas na sociedade mas existe um

    ponto muito importante que a trajetria da mulher desde a sua casa at sociedade.

    Sendo que a sobrevivncia humana sempre dependeu muito mais da mulher do que do

    homem porque esta apanhava razes e frutos (ao nvel da recoleo enquanto o homem

    estava mais ligado caa). O que interessante pensar no processo de emancipao

    da mulher que fez com que esta tivesse direito ao voto, . Coisas que no dias de hoje

    so banais mas que na altura no eram exatamente assim.

    Este momento crucial baseia-se na altura em que a mulher sai de casa para trabalhar

    fora, na sociedade. Existe, por isso mesmo, um conjunto de organizaes em que

    quando a mulher saiu de casa, estas organizaes tambm saram porque a mulher j

    no o poderia fazer de um modo contnuo e integral. Surgiram ento os take-away, as

    lavandarias, os infantrios, os lares de idosos, as empregadas domsticas. ou seja,

    organizaes que se propem a fazer o trabalho que era exclusivo da mulher.

    Isto leva a que haja transformaes familiares muito relevantes. Porque, o facto de

    termos os dois elementos do casal a trabalhar fora de casa, em alguns casos, verificamos

    que os gastos so superiores aos ganhos.

    O que acontece com estas mulheres que se alterou na atualidade?

    A exigncia do trabalho feminino tem vindo a aumentar, sendo que a exigncia

    profissional cada vez mais elevada e o tempo disponvel para a famlia cada vez

    mais reduzido. Por isso, alguns pases pensam no regresso a casa de um dos membros

    do casal. Pois a permanncia das mes com a famlia muito reduzida e isso tem

    repercusses na vida dos filhos.

    2. Fatores que Influenciam uma Organizao Moderna

    2.1. Profissionais

    Aquilo que se exige cada vez mais que, possamos ter a pessoas com formao

    especfica na rea em que trabalham. As organizaes querem ter trabalhadores cada

    vez mais especializados. Por isso, numa sociedade como a nossa no chega ter muitos

    conhecimentos sobre uma determinada rea ou seja, as pessoas tm de se especializar

    ainda mais. Pede-se que as pessoas saibam cada vez mais e mais especificamente sobre

    um determinado assunto. Pretende-se tambm que as pessoas tenham capacidade para

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    alterar o seu campo especfico de interesse e assim investir num outro campo, porque

    rapidamente se percebe que aquele campo est saturado de pessoas.

    Grande especializao mas com capacidade de mudar o campo de interesse e

    tornar-se uma pessoa polivalente.

    2.2. Informao (Tecnologias de Informao)

    Iremos deparar-nos com um utente crnico, por exemplo, que um leigo na rea da

    sade mas que sobre a sua patologia sabe muita coisa. As tecnologias tornaram a

    informao muito acessvel e isso traz repercusses nas pessoas. Se a informaes

    ficarem centralizadas muito mais eficaz a vigilncia.

    2.3. Espao

    Sempre condicionou a relao que as pessoas mantm umas com as outras. Ns no

    conseguimos perceber o que dito por algumas pessoas se no contextualizarmos no

    espao. Se pensarmos particularmente no humor/ironia utilizados durante as aulas, se

    no tivssemos assistido s aulas anteriores, no iriamos perceber o que estaria a ser

    dito pelo professor de modo irnico.

    O contexto fundamental para compreender o que as pessoas dizem por isso no

    existem espaos neutrais. O espao condiciona as relaes que estabelecemos e criar

    hierarquias que j esto definidas desde o espao mais imvel para o espao mais

    mvel, logo no d para ser considerada uma assepsia de espao. O que se procura

    exatamente usar o espao para condicionar as relaes, assim como a prpria arquitetura

    do espao condiciona as relaes entre as pessoas.

    Por exemplo, numa consulta mdica, a mesa o espao de saber em que o utente

    no pode chegar-se muito para a frente mas o mdico/enfermeiro pode, por isso o

    profissional acaba por manipular o seu espao. Nomeadamente as cadeiras e o seu

    conforto assim como a mobilidade, sendo que o profissional pode movimentar-se de um

    lado para o outro e o utente fica imobilizado.

    Ter, ainda, a noo de lugares e no

    lugares.

    Segundo M. Etug, o que se

    encontra cada vez mais em sociedades como a

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    nossa, uma proliferao de lugares sem identidade ao que se chama de no lugares.

    Como exemplo pode ser referida a Mercearia do Bairro, que quando uma pessoa

    l vai o merceeiro j sabe tudo sobre ns, o nosso nome, o que vamos comprar,

    Exemplo:

    Na Estao de Comboios, embora estejamos todos espera do mesmo

    transporte, no nos conhecemos.

    Nos hipermercados, a senhora da caixa no tem a possibilidade de nos conhecer

    porque a cada hora que passa ocorre a rotatividade de caixa. O mesmo acontece nas

    bombas de gasolina. No conhecemos as pessoas mas tambm no necessitamos de

    conhecer.

    A proliferao, cada vez maior, dos lugares sem identidade (NO-LUGARES)

    existe onde a relao meramente comercial e no extravasa essa relao para um

    vertente mais pessoal. As pessoas movem-se de um lugar para o outro. Contudo os

    lugares e no lugares no podem ser definidos em si mesmos, dependem dos contextos

    onde esto inseridos, estes lugares e no lugares dependem da forma como as pessoas

    interagem naquele lugar concreto.

    Muitas vezes o que faz com que se cr que dada sociedade de facto um lugar

    o facto de se pedir desculpas sempre que ocorre um erro e nestes casos tem de haver

    uma relao pessoal e no comercial. Ocorre, aqui, uma mistura entre estas duas

    relaes (ex.: quando uma pessoa vai ao caf onde no conhece ningum e por mero

    acaso ocorre um erro qualquer, o dono do caf pede desculpa; mas por outro lado, se a

    pessoa que tomou o caf no tiver dinheiro suficiente para pagar, este j no pode pedir

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    desculpa para que tudo fique resolvido). A relao meramente comercial e o pedido de

    desculpa no faz qualquer sentido. A esta mistura podemos designar de perversa. A

    ttulo de exemplo, podemos mencionar o facto de um banco cobrar juros e moras s

    pessoas que se atrasam contudo quando so eles a atrasar meramente pedem desculpas.

    A subcontratao tambm um tema muito em enfoque neste caso existem

    empresas subcontratadas para que a responsabilidade se divague, havendo maior

    probabilidade de ocorrer conflitos. Nestes casos, para falar com o patro da empresa

    muito difcil porque existem vrias organizaes que trabalham para uma maior. (ex.:

    companhias de seguros)

    Assim, o ESPAO no neutral e veicula a relao de poder e desnvel nas

    relaes entre as pessoas. Para conhecer bem temos de ler esse espao, o que ele quer

    dizer. Exemplo, a ESCOLA, um espao pedaggico e no anula outro qualquer tipo de

    ralaes podem existir relaes pessoais, conjugais, etc.

    Exemplo: as mesas esto organizadas de diferentes formas consoante o tipo de

    relaes:

    Tambm nos confrontamos com a dificuldade de mudar as relaes nestes

    lugares (onde nos no lugares mais fcil). Num caf de famlia, onde trabalha o pai, a

    me e os filhos difcil mudar relaes porque difcil mudar os seus papis.

    Em espaos de prestao de cuidados temos outro tipo de relaes. As casas das

    pessoas refletem aquilo que elas so e a sua maneira de ser. Atravs de uma mesa

    podemos perceber as hierarquias por exemplo, a posio que as pessoas ocupam no

    espao no anula as relaes hierrquicas e de poder estabelecidas.

    Desta forma, podemos afirmar que a disposio que as pessoas ocupam no

    espao pode ser furtuita mas no implica que no se estabeleam relaes hierrquicas.

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    2.4. Vigilncia

    Cada vez mais se vive em locais, ou melhor, numa sociedade de vigilncia. Esta

    pode-se expressar atravs de tudo o que positivo e negativo (espionagem) uma

    vigilncia brutal que a cada dia que passa toma propores brutais e que pode

    condicionar a ao do indivduo.

    Exemplo de como em Portugal se expressa a vigilncia: Quando vamos a um

    banco levantar dinheiro, estamos a ser filmados, quando vamos ao shopping estamos a

    ser filmados, passar nas portagens, estamos a ser filmados - tudo serve de desculpa

    para se vigiar.

    - Podemos a acreditar que ns no somos importantes e que por isso no somos vigiados

    mas isso no verdade.

    - A vigilncia na internet muito grande. Facilmente se consegue reconstituir o dia de

    uma pessoa. (Nos telefonemas, quando h uma palavra suspeita a chamada

    reencaminhada.) Cada vez mais h uma preocupao imensa em saber mais sobre ns.

    A possibilidade de se ver a vida dos outros faz muito dinheiro (EX: casa ds

    segredos).

    Estamos numa sociedade de profunda vigilncia e cada vez mais h a

    necessidade de sabermos mais da vida das pessoas. Ver a vida dos outros muito

    agradvel para quem est em lugares de poder. algo que vale dinheiro.

    A vigilncia dentro das organizaes feita de uma forma intensa, muitas

    vezes atravs de cmaras de vigilncia. A cmara de filmar um panptico (ver sem

    ser visto). Um foco de luz pode ser um panptico, pois no se v quem est atrs (ver

    sem ser visto) isto um processo com enorme eficcia, pois permite de forma

    econmica vigiar uma grande quantidade de pessoas. Conseguimos ter pouca gente a

    vigiar muita gente.

    2.5. Disciplina

    Biopoder o poder exercido sobre o corpo das pessoas e que pode no ser

    fsico/deliberado, mas levamos as pessoas a fazer aquilo que queremos que seja feito.

    Por exemplo, o fazer com que a pessoa se situe num lugar.

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    Na escola disciplina-se o corpo dos alunos para escrever a letra a. A criana

    j tem de estar num lugar, sentado (e no de qualquer forma). Isto -nos imposto. Todo

    o corpo est condicionado para escrevermos. A posio diferente consoante os

    papis. Esta disciplina do corpo normal nas organizaes. A posio que se ocupa na

    sala de aula muito diferente da posio do professor.

    Fig. parada militar

    Esto todos perfeitamente alinhados.

    Para isto vai-se disciplinar o corpo.

    O sargento vai alinhar estes homens

    e este processo pode demorar imenso

    tempo e alm do mais ainda tm que

    esperar que a pessoa importante

    chegue (que por vezes o tempo de espera muito). A espera um sinal que transmite

    diferentes poderes (mdico e utente por exemplo). O que tem mais poder faz esperar o

    outro.

    Quanto mais disciplinados esto os corpos no espao, mais facilmente so

    vigiados e mais econmica a vigilncia.

    O que h de comum entre uma parada militar e uma sala de aula? que os

    corpos esto disciplinados. Na parada necessrio obedincia geral O soldado no

    pensa e tem somente de responder ao que solicitado. Por outro lado, tambm se

    espera que o espao em sala de aula seja de obedincia.

    Procrustes Tinha uma mania (era maluco) e quando recebia os seus visitantes

    em sua casa, pegava nas pessoas e deitava-as na sua cama e o que estava a mais cortava.

    Ou a pessoa tinha a medida da cama ou ento cortavam o excesso. Acrescenta-se ainda

    que este sujeito tinha uma cama mais pequena, o que significa que se cortava sempre

    alguma coisa.

    Caso o convidado no ocupasse a totalidade da cama, era esticado at que os ps

    alcanassem a terminao da cama.

  • 12

    Procrustes tinha um amigo chamado Teseu que pegou no Procrustes, deitou-o na

    transversal e cortou-lhe a cabea.

    D-quixote tinha a mania de ver o mundo de uma forma no- normalizada.

    Olhava para os moinhos e via gigantes. Os conhecidos dele pensavam que era os livros

    que o estavam a pr naquele estado e resolveram queim-los, mas no trouxe qualquer

    resultado, pois j os tinha decorado.

    Chapa impede-nos de apenas ver aquilo que

    estava previsto. As grelhas podem ser muito

    cristalizadas e j no faz parte do buraco e

    quando o professor avalia e a resposta est

    diferente j no vai ver, pois no vm para alm

    dos buracos. Pode-se acabar com as chapas, mas o pior quando ela j est

    interiorizada.

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    NOTA: Aqueles que fizeram grandes loucuras que ficam na histria. No ver o

    mundo de uma forma padronizada.

    Por este motivo, temos que ver a pessoa de uma forma individualizada e a normalizao

    uma tendncia, pois mais tranquilo. Porm perdemos o essencial. No podemos

    utilizar a normalizao, pois isso torna-se prejudicial.

    NOTA: H o pressuposto de oferecer e o outro ter que aceitar. A nossa intimidade tem

    um preo. Quase todos ns estamos venda; diferenciamo-nos pelo preo

    (PEREIRA, 2013)

    RESUMO: Quanto vigilncia e disciplina, aquilo que qualquer organizao procura

    vigiar e controlar aqueles que pertencem organizao, atravs das mais variadas

    estratgias (visuais ou documentais). O mais grave que na maior parte das vezes nem

    nos apercebemos que essa vigilncia existe. Surge assim o perigo de sermos

    permissivos de mais vigilncia (por exemplo, com o terrorismo, a vigilncia nos

    avies tornou-se maior).

    Por seu lado, a disciplina consiste em fazer com que os corpos estejam num

    determinado lugar e no onde querem estar, como refere Foucault. Ele diz que as

    sociedades se foram tornando cada vez mais disciplinadas e vigilantes, e que para isso

    temos que disciplinar os corpos do espao, e de uma forma mais econmica, poucos

    vigiam muitos.

    M. FOCAULT em relao disciplina refere-se como sendo uma forma subtil de

    exercer sobre as pessoas, aquilo porque designa biopoder (poder exercido sobre o corpo

    das pessoas). A sociedade ocidental de forma dissimulada fez com que cada um de ns

    integrasse o biopoder e se comportasse de uma certa maneira esperada sem que sequer

    se apercebesse que estava realmente a exercer biopoder. uma experincia que se

    incorpora ao longo do desenvolvimento.

    TEORIAS DAS ORGANIZAES

    Teorias Clssicas:

    Marxismo

    Taylorismo

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    Fordismo

    Teoria Burocrtica

    Aps as teorias clssicas:

    Teoria das Relaes Humanas

    Paradigma Compreensivo-estratgico

    1. Teorias clssicas

    Estamos a situa-las ao longo do sculo XX, o que faz pensar que at esta altura o

    trabalho no estava devidamente organizado, o que no verdade.

    Por exemplo, em relao ao sexo, h trabalhos que esto mais atribudos s

    mulheres e outros aos homens como no caso de que os homens eram os caadores e as

    mulheres os recolectores. A sobrevivncia das famlias acabava por estar mais

    dependente da mulher do que do homem, isto tambm porque o trabalho do homem

    acaba por ser muito incerto.

    Quando nos referimos aos tempos anteriores ao sculo XX pensamos

    Indstria artesanal: em que era organizado o trabalho. Conseguimos compreender

    melhor a organizao da teoria clssica, quanto melhor compreendermos a indstria

    artesanal. Neste contexto temos:

    Mestre

    Arteso

    Aprendiz

    O arteso sabia todo o processo de transformao. Para se formar um arteso era

    necessrio muito tempo e, por este motivo era bastante valioso. Havia um percurso de

    evoluo nas organizaes.

    Marxismo

    O arteso consegue desempenhar todo o processo de transformao da matria-

    prima em produto final, concebendo-o ao longo das suas vrias fases, estes eram por

    isso considerados produtos muito valiosos. Em que existe menos alienao e mais

    praxis completa (o trabalho do arteso muito valorizado e cada passo que est a dar

    Primeiro entrasse como um

    aprendiz, alguns chegavam a

    artesos e poucos a mestres.

  • 15

    para chegar a um determinado fim) a quantidade, na industria artesanal reduzida, pelo

    que temos de valioso tambm a singularidade de cada pea.

    1 - Os aprendizes, para entrarem, tinham que fazer o juramento de fidelidade da

    profisso em que no poderiam revelar os segredos. Era necessrio pertencer

    corporao dos sapateiros. Quem controlava o trabalho eram as corporaes. Havia uma

    grande mistura entre o trabalho e a vida pessoal.

    As ordens tambm regulam as profisses. Definem mais as diretrizes e podem

    expulsar quem no segue as ordens. Tambm podem julgar. Isto leva a que enfermeiros

    julguem enfermeiros, mdicos julguem mdicos, . Nesta relao de poder ordem-

    estado, era a ordem que se sobrepunha ao estado.

    Quantos menos mdicos houver, mais valorizada a profisso. Quando temos

    100 lugares para 1000 professores, o que acontece precisamente o contrrio. Se

    tivermos profisses que limitam a prpria profisso esta ser mais valorizada e isto

    observa-se nas prprias universidades como por exemplo atravs da mdia de acesso a

    determinados cursos, nomeadamente ao de medicina.

    Esta questo de oferta e procura vai levar a que haja uma maior

    valorizao profissional. Como por exemplo, se baixssemos o nvel de vagas em

    enfermagem, a mdia de acesso iria subir. Quantos mais enfermeiros houver menor o

    valor do trabalho. Oferta e procura so tambm influenciadas pela ordem.

    Revoluo Industrial

    A utilizao da mquina faz com que se produza em grande escala, em grande

    quantidade, mas sem a mesma singularidade. Sendo que, quando produzidas mo,

    cada pea nica.

    Havia por isso, artesos a destruir mquinas o que leva a pena de morte. Nestes

    casos as pessoas tambm iriam ser contratadas a preos mais baixos e substitudas por

    mquinas.

    Taylorismo

    Taylor procura relacionar o trabalho e torna-lo de alguma forma cientfica

    (operrio, de seguida capataz e posteriormente engenheiro).

  • 16

    Consegui conhecer algumas dinmicas. Pode haver medidas que no tm

    sucesso pois no conhecem a organizao que querem mudar. Este autor tambm afirma

    que os operrios faziam uma travagem, ou seja estes operrios podiam fazer 200 carros

    mas s faziam 100. Contudo os operrios faziam com que se pensasse que eles tinham

    produzido o desejado porque o mercado iria despedi-los pois no seriam necessrios

    tantos operrios.

    Taylor prope por isso pegar no saber e coloca-lo no topo da pirmide.

    Porm, afirmava-se ainda que quem fazia no tinha de saber, mas sim que

    produzir mais e quanto mais produzisse mais iria ganhar. Ao ficar destitudos de saber,

    tambm ficariam destitudos de poder.

    Quanto mais simples for a tarefa, menos competncia ter de abarcar. Quando

    dividimos a tarefa em vrias partes estamos a dizer que a pessoa no precisa de saber,

    tirando-lhe assim poder.

    J no feita a praxis completa. Pode ser s carimbar uma folha, mas no

    precisa de saber para que necessria aquela folha. No tm de saber para que serve o

    trabalho que esto a desenvolver.

    Fordismo

    Ford utilizou muito o trabalho seccionado, em que cada pessoa tinha uma

    pequena funo. Acabando por ser um trabalho muito mais alienado porque a pessoa

    nem sequer sai do stio. Deste modo, conseguia-se formar um funcionrio num dia,

    sendo funes muito mais simples.

    A ideia tambm passava por trabalhar mais, receber mais. Se as pessoas

    estivessem contentes com o trabalho tambm iriam satisfazer-se atravs do consumo,

    alimentando este ciclo. Ou seja, os funcionrios produziam os carros e depois acabavam

    tambm por compr-los porque tinham poder econmico para isso, at porque eles

    prprios contribuam para esta finalidade.

    No caso da enfermagem esta profisso acaba por se tornar um pouco paradoxal.

    Isto porque no ser possvel traduzir o alvio da dor em dinheiro, sendo que este se

    Operrios que estavam na base e que tinham saber,

    sendo que esse saber traduzia-se em poder

  • 17

    sobrepe a qualquer pagamento financeiro. No h correspondncia entre o trabalho de

    cuidar do outro e o pagamento, no devendo este ser reduzido a um valor econmico.

    Tal como o facto de dar aulas impagvel, a partilha do conhecimento.

    2. Teoria das Relaes Humanas (E. Mayo)

    E. Mayo contrape tudo o que est para trs. As pessoas produzem mais qualquer

    coisa, logo tm condies de trabalho que so mais valiosas como trabalhar junto da

    pessoa de quem gosta, fazer o que gosta, . A proposta de E. Mayo que as pessoas

    possam trabalhar onde querem para que haja mais produtividade. Encontramos ainda

    hoje instituies que tm a seu lado creches para os filhos dos funcionrios, ginsios,

    passeios da empresa. Pessoas que no so pagas pelo seu horrio, h uma liberdade

    desta para que cumpra o seu dever. O problema est na exclusividade e otpico

    centrarmo-nos nas relaes sociais, por isso a conflitualidade (conflitos) no foram

    calculados neste modelo. Temos por isso de ter cuidado na abordagem desta teoria.

    Teoria Burocrtica (M. Weber) VS

    3. Paradigma Compreensivo-Interpretativo (M- Geozir)

    Tambm inserida na teoria burocrtica. Quando olha para as organizaes pensa:

    qual foi a organizao que funcionou melhor? A resposta : a organizao militar. Logo,

    para compreender as organizaes, devemos estudar esta.

    M. Weber insere-se no que se chama tipo ideal (organizao que no existe na

    realidade. o ideal, mas no existe) como por exemplo, h um ideal de sade mas no

    h ningum que esteja nesse nvel. O ideal serve para que a organizao caminhe pelo

    melhor sentido possvel. A famlia sem conflitos existe? No, mas a ideal.

    Organizao militar: em qualquer organizao militar, que rgida e devidamente

    fundamentada, h uma hierarquia bem definida. Por exemplo num hospital existe um

    organograma. E, apesar de as criticarmos encontramos esta teoria em muitas

    organizaes, principalmente nas maiores.

    Cada funcionrio da organizao, sempre que quer alguma coisa tem de se

    dirigir ao seu superior hierrquico. H, por isso uma cadeia sucessiva de comando.

    Considera tambm que h objetivos definidos, vai-se pagar mais a quem trabalha mais

    e, medida que sobem, so mais valorizadas economicamente.

  • 18

    Regulamento interno: tudo o que as pessoas fazem est regulamentado. Aquilo que

    no est contemplado por Weber nesta teoria a agncia (a forma como cada actor

    cumpre as regras da sua organizao), os atores estratgicos tm objetivos que so

    diferentes dos da organizao e por isso o atingir dos objetivos uma iluso. Quando

    queremos estudar estudar o regulamento interno, via teoria burocrtica. O que

    acontece no Paradigma compreensivo-estratgico que os atores estratgicos no vo

    cumprir o regulamento.

    Quanto mais elevada a incerteza, mais facilmente podero ser tirados

    dividendos para os atores da instituio. O grau de incerteza que existe pode ser um

    grau elevado.

    Quando as pessoas tm mais saber, tm o poder para ser atores estratgicos

    (aproveita todas fontes de incerteza e o espao que est nas franjas das estruturas para

    atingir os seus objetivos). A pessoa faz com que os objetivos pessoais se sobreponham

    aos da organizao.

    Na teoria burocrtica o que acontece que se pensa que, por exemplo, o

    enfermeiro vai cumprir tudo o que est estipulado para chegar ao objetivo da instituio.

    D-nos uma informao que quase ilusria do que uma organizao porque os atores

    estratgicos tm objetivos que so pessoais e que no o vo fazer cumprir os objetivos

    da organizao.

    Vinicius de Morais escreveu O operrio em construo, em que o operrio

    est a construir algo mas tambm ele prprio e no cumpre as regras previstas dizendo

    no fao, o que acontece que este operrio um ator estratgico.

    A teoria burocrtica frgil e redutora, porque irreal pensar que todos os

    funcionrios vo cumprir o regulamento e chegar aos objetivos da organizao. O que

    ESTRUTURA

    Teoria

    Burocrtica

    AGNCIA

    Paradigma compreensivo-

    interpretativo

    M. Weber M. Geozir

  • 19

    acontece a existncia de atores estratgicos que tm objetivos pessoais que se

    sobrepem aos da instituio.

    No se deve ver um ator estratgico como algum bom ou mau mas que procura

    tirar dividendos e obter resultados favorveis a ele. Se ns no conhecemos os objetivos

    individuais podemos pensar que esta pessoa est a ser irracional e por isso, o

    conhecimento dos seus objetivos que vo percecionar as razes.

    Em contexto de aula: h algum ator estratgico?

    Quando h alunos que no tiram apontamentos nas aulas, esto por isso a ser

    atores estratgicos.

    O PODER NAS ORGANIZAES

    O objetivo do livro de Sskind olhar para um jogo de xadrez como um jogo de

    regras precisas mas que mais do que isso para alm disso e que tem uma relao de

    poder.

    Exemplo 1:

    Quando estamos a prestar cuidados, temos relao de cuidados mas tambm

    temos relao de poder. O exerccio de poder subjaza o exerccio principal que

    mantemos nas nossas aes.

    Exemplo 1:

    Numa ida ao cinema, um amigo pode influenciar o outro a ver aquele filme.

    Neste texto, percebemos que na sociedade, o exerccio de poder est sempre

    presente. No apenas o poder poltico mas sim o de influenciar os outros e isso est

    presente na sociedade e na forma como nos relacionamos com os outros. Sendo que a

    vontade de dominar a sociedade est sempre presente.

    Exemplo 3:

    Os catlicos quando vo missa comem o corpo de Cristo. Aquilo que separa

    o catolicismo de outras crenas crists que no catolicismo no apenas

    metaforicamente que Cristo est naquela ostea mas os catlicos acreditam de facto que

    est l Cristo. Assim como Zeus que acabou por, de alguma forma, dominar o seu pai

  • 20

    Cronos, sendo que Zeus toma a iniciativa de destonar o prprio pai. Existe uma profecia

    de que Cronos teve acesso de que havia um filho que o iria cortejar. Cronos, ento,

    decidiu comer todos os seus filhos at chegar a Zeus que foi protegido pela me dando

    uma pedra a comer a Cronos fazendo-o pensar que era o filho. Cronos ainda crastou seu

    pai. A vontade do exerccio de poder (na dimenso humana), seja algo que est

    sempre presente. H, por isso, uma presena continuada do poder dentro das

    relaes humanas.

    Hierarquia: marca burocrtica do poder. No o poder real mas que tem de se saber

    atravs de um organograma.

    MACROPODER:

    Poder que parte das organizaes/sociedade e que vai marcar, de alguma forma,

    a vida dos indivduos.

    Organizaes/sociedade Indivduo

    Biopoder (vigiar e punir): marca fsica do poder. Existe quase uma obrigao

    social que leva as pessoas a fazer estas coisas.

    Exemplo: nas sociedades como a nossa temos um espao individual muito curto

    e em sociedades mais pequenas h um espao individual mais alargado. No

    entanto, os atos individuais parecem livres mas esto sempre condicionadas pela

    sociedade.

    Pensando num hospital, podemos verificar que leva as pessoas a comportarem-se

    de uma determinada forma.

    MICROPODER:

    Relaes de poder estabelecidas entre atores estabelecidos na sua rea, no

    necessariamente em organizaes.

    Indivduo/Indivduo

  • 21

    Exemplo: o professor trocar algumas informaes connosco

    NOTA: O macro e micropoder vo estar sempre interligados e por vezes difcil

    separar algumas situaes.

    COMO QUE SE EXPRESSA O MICROPODER

    O que fazemos com alguma frequncia nas relaes mais imediatas que

    mantemos com os outros estabelecer uma relao de poder e isso nota-se logo por

    exemplo, atravs de processos de:

    A. Comunicao

    Por exemplo, o facto de algum ser doutor e um no doutor, o que faz que isso vai

    condicionar a interao que se mantm um com o outro. Muitas vezes, quando estamos

    a falar com algum, essa pessoa pretende saber qual a nossa profisso. Podemos

    tambm evidenciar o que ns somos, a nossa condio, pelo anel de curso (adornos).

    Outra situao tema ver com o tipo de vocabulrio que a pessoa utiliza e que faz

    com que o outro no entenda nada do que est a ser dito. Tambm esta uma forma de

    demonstrar o seu poder.

    No campo da sade: aquilo que interessante numa receita mdica a presena da

    relao mdico/doente. No ponto de vista simblico o que temos algum que vai ao

    mdico pelo seu mal estar e o mdico atribui uma doena. E, apesar da doena estar no

    doente, muitas vezes o doente no entende o que est na receita. Mas como que este

    circuito feito? Primeiro temos algum que capaz de construir uma determinada

    linguagem (uma construo de saber), o farmacutico decifra a linguagem mas no a

    consegue criar e o doente nem sequer consegue decifrar a linguagem. H por isso uma

    diferenciao do poder que est claramente definida.

    Sujeitos livres: pessoas que tm alguma liberdade, que lhes permite tomarem algum

    tipo de decises.

    Exerccio do poder: algo que tem menos a ver com a violncia (menos violncia),

    que no fsica, mas sim com uma conduta ou com o governo (mais conduta), levando-

  • 22

    as a fazer alguma coisa sem ter de lhes dizer diretamente que algo que ns queremos

    que seja feito (Foucault).

    Quando falamos em micropoder, temos aes e interaes que so continuadas.

    Quando falamos em exerccio do poder uma ao sobre o campo do outro.

    Porm devemos conhecer o campo de ao do outro para atingirmos os nossos

    objetivos. Pois, este no um campo de aes cristalizado. Por isso aqui vamos tendo

    aes e contra-aes ao mesmo tempo.

    Normalmente as crianas conhecem melhor o campo de ao dos pais e os

    pais no conhecem to bem o campo de ao dos seus filhos. As crianas, ao contrrios

    dos adultos, exploram muito bem as franjas de possibilidades de ao e sabem que

    diferente no pai, na me e nos avs, de modo que chegam ao seu objetivo.

    EXERCCIO DE PODER

    A B

    Aco

    Contra - Aco Abertura de uma franja

    de possibilidades At que algum tem

    uma ao vencedora

    FILHO

    NO; NO; NO

    PAI

    Brinquedo / Birra

    Franja de possibilidades que

    no to conhecido pelo pai

    Franja de possibilidades que a

    criana vai aproveitar e que pode

    levar o pai a dizer sim

  • 23

    Quanto mais um campo de ao se mantiver igual, mais possibilidades temos de

    conseguir aquilo que pretendemos. Na perspetiva de Foucault, no h um tipo de

    estratgia que seja definitivamente vencedora, tem de ser trabalhada. O que existe

    uma continuidade absoluta deste processo.

    Nas dimenses do micropoder, fala-se de aes e contra-aes que se sucedem

    de forma contnua. Hoje em dia, denota-se uma importncia fundamental para o

    conhecimento do campo de ao do outro, no se devendo operacionalizar juzos de

    valor sobre as estratgias utilizadas no poder, mas procurar analis-las como jogos de

    poder. De notar, que estas estratgias tanto podem servir para o lado positivo como para

    o negativo (para matar algum, ou para salvar algum da morte).

    Saber algo sobre o campo de ao do

    outro pode permitir que a pessoa mude

    aspetos da sua vida. Permite avanar para o

    campo de ao para lhe proporcionar bem-

    estyar, para adotar estilos de vida saudveis,

    etc. Por exemplo, no caso da relao

    enfermeiro/utente, se o enfermeiro conhecer

    bem o campo de ao do utente pode ser capaz de lhe induzir mudana no seu estilo de

    vida. Devemos fazer algo para intervir no campo de ao do outro e que traga algum

    efeito/algum benefcio micro poder aplicado no dia-a-dia. J o desconhecimento do

    campo de ao do outro pode ser incuo e no levam o outro a fazer algo que pode ser

    importante para a relao. ASSIM, fundamental compreender como que o

    micropoder funciona ao longo da vida das pessoas.

    EXEMPLO:

    O que por vezes acontece, a alguns alunos, perante

    uma situao e um contexto idntico ao de um teste (figura

    ao lado), que quisessem copiar.

    Colocam-se, assim, duas possveis questes:

    Se eles, verdadeiramente quisessem copiar, ento

    qual seria o seu ideal de professor, tendo este

    objetivo de base?

  • 24

    R.: Seria um professor que no se levanta-se do lugar? Que leria uma revista? No

    estaria atento ao que os alunos fize-sem?

    Neste caso, seria importante conhecer o campo de ao do professor (como o facto

    de ele se poder abstrair literalmente do ato da vigilncia ou o no sair do lugar).

    o O estar fixo nalgum lugar em concreto ajuda o aluno a delinear e a

    ajustar a sua estratgia ao campo de ao do professor.

    Ainda, no que diz respeito ao movimento, pode levantar um facto ao aluno.

    Quando algum est parado nalgum lugar mais passvel de ser controlado.

    Quando se est em movimento:

    Em movimento regular, ainda possvel, quase igual a estar parado porque

    torna-se previsvel pois podemos controlar de igual forma, prevendo o que o outro faz e

    agir de forma eficaz sobre aquilo, impedindo a ao. Se consigo, prever mais fcil

    intervir e agir sobre a ao.

    Tal no acontece no caso do movimento irregular onde prever a ao mais

    difcil. Torna-se mais difcil conhecer o campo de ao e prever o que vai acontecer.

    Do outro ponto de vista, a perceo que o aluno tem sobre o campo de ao

    do professor? Como que o professor sabe que o aluno vai copiar.

    R.: os alunos que vo para trs? O movimento dos alunos na cadeira? Quanto mais

    distante ficar, pior se consegue ver? Os que vo a correr para os lugares?

    Conhecendo o campo de ao do outro, eu posso ajustar a minha ao. Partindo do

    princpio que estou inserido nesse campo do outro, posso afirmar que tenho ajustada a

    ao. Temos um ponto de partida, mas um jogo de vrios passos.

    NOO DE JOGO: jogo dinmico e contnuo de aes e contra-aes que se

    alteram e modificam. Depois de aberto o jogo, se estivermos perante indivduos muito

    cristalizados podemos afirmar que o que tm interesse perceber que h aes e contra-

    aes

    Movimento

    Regular Irregular

  • 25

    NOO DE EFEITO PANPTICO: ter a noo de que posso Ver, sem ser

    visto.

    Existe um outro conjunto de alunos que trabalham como espelho e, mediante

    estes, que possvel saber no s se algum est a copiar como tambm quem

    estar a copiar.

    Uma outra estratgia utilizada pelos alunos pedir para ir casa de banho.

    Alunos que gostam tanto da matria que tatuam no seu corpo algumas partes da

    matria (ex.: raparigas nas coxas e rapazes nos braos a diferena que o

    professor pode pedir ao rapaz para puxar a camisola para cima, mas no o pode

    fazer rapariga que est de saia).

    Existe sempre um campo em aberto perante uma ao a pessoa tem uma estratgia

    e se a ao mudar, ter que mudar novamente a estratgia. Tambm serve para a

    relao enfermeiro/mdico; enfermeiro/utente ou enfermeiro/enfermeiro.

    M. FOUCAULT E A ESTRATGIA VENCEDORA

    aquela estratgia em que o sujeito (aluno) conhece o campo de ao do outro

    (professor). No um lugar por si s, mais do que um lugar em si h sempre um

    campo em aberto, para que se formule uma nova estratgia e, s conhecendo o campo

    de ao do outro que isso possvel. Assim, mais facilmente a estratgia que se tem

    possvel de ser vencedora.

    No devemos julgar as estratgias luz da moralidade, mas sim analis-las luz

    da mesma, pois deferentes sujeitos tem diferentes objetivos. Um dos fatores

    fundamentais o conhecimento quanto mais conhecimento tivermos, mais provvel

    de sermos estratgias vencedoras. Conhecer bem o campo de ao do outro e, ter

    informao e saber, dentro do campo do outro. Quando se trocam saberes com outras

    pessoas pode, no seu limite, troca de argumentao que um jogo de poder. Do ponto

    de vista tico utilizarmos esta estratgia para o bem-estar do utente. Quando

    discutirmos com outro enfermeiro temos que saber quais os conhecimentos que eles

    tm.

    Dominar as estratgias em si para saber utilizar os seus referenciais.

  • 26

    COMO QUE SE EXPRESSA O MACROPODER

    Foucault apresenta na sua tese uma explicao para estes macropoderes. Quando

    se pensa em organizaes como hospitais, fbricas e escolas, aquilo que ele nos diz

    que o modelo que serviram para as organizaes anteriores foi o modelo das

    organizaes carcerrias (ex.: prises e manicmios).

    As organizaes modernas, como as escolas, foram ver o seu tipo de

    organizaes a antigos conventos, mosteiros, manicmios e prises. Existem duas

    caractersticas chave neste tipo de organizaes:

    Disciplina (muito rigorosa) Como que a disciplina se pode demonstrar nas

    organizaes carcerrias? A ideia total de panptico, faz pensar no disciplinar

    o melhor possvel o corpo no espao.

    Se disciplinarmos alguns corpos no espao

    conseguimos por uma s pessoa a vigiar muitos

    outros corpos.

    Vigilncia O tipo de vigilncia exercida

    d

    e

    p

    e

    nde da forma como olhamos

    Se o utente ficar perto da sua cama porque o corpo est disciplinado e que a vigilncia

    ser mais fcil.

    A vigilncia em si no grave, pode ou no ser. Por isso, podemos identificar a

    existncia de dualidade entre a vigilncia fsica panptico Ver, sem ser visto e a

    vigilncia documental conhecer o processo do aluno, do preso, do doente. Conhecer

    o currculo mais biogrfico da pessoa e ter informaes sobre a sua vida. Quanto eu

    mais souber do outro, melhor a ao no campo de ao.

  • 27

    Casos de Vigilncia Documental: O processo (F. Rafka que documenta a

    histria deste homem que acusado de um crime onde os outros sabem mais do que ele

    prprio, sobre esse mesmo assunto); Colnia Penal; A metamorfose (G. Samsa um

    cacheiro viajante que se v transformado num gigantesco inseto. Perante, isto surgem 2

    questes: como que poderia ir trabalhar, como mexer no meu novo corpo encontrar

    uma forma de viver com um novo corpo).

    Podemos ver isto na ENFERMGEM, numa pessoa paraplgica que se v, de um

    momento para o outro, limitado e sem dois membros saber como utilizar um novo

    membro.

    Muitas vezes temos utentes em que o mdico e famlia sabem mais do que o

    prprio aluno.

    Ainda, no que diz respeito, DISCIPLINA. Uma das formas implcitas de

    disciplina o estabelecimento de horrios. Atravs deste consigo prever o tempo e o

    espao muito bem definido.

    NOO DE CORPO DCIL:

    Exercer a estratgia de biopoder que procura tornar os corpos dceis passveis

    de ser vigiados com maior eficcia e economia (forma mais eficaz de exercer poder

    sobre eles mesmos). O exerccio de biopoder fruto da mesma maneira, mas surge de

    forma diferente. o ocultar da moral que nos prende a algum lugar e permite que o

    corpo seja passvel de ser dcil pois o grau de eficcia maior.

    Na escola, no estamos aprisionados s cadeiras, mas passamos a maior parte do

    tempo nas cadeiras.

    Organizaes carcerrias

    Organizaes modernas

    Ex. Hospital, escola

    Vigilncia

    Disciplina

  • 28

    E. Goffman:

    Este autor apresenta alguns conceitos, no que respeita sua teoria da

    demonstrao de macropoder, entre eles o de instituio total.

    Podemos partir do macro poder compreendendo que as organizaes carcerrias

    serviram de modelo para as organizaes modernas, onde a vigilncia e a disciplina

    esto presentes.

    Apesar de um hospital no ser uma instituio total, est prximo desta,

    apresentando diversas caratersticas destas instituies.

    Qualquer organizao vai ter sempre tendncia, umas mais do que outras, para o

    fechamento, em que nem todas as pessoas entram l dentro.

    Nas instituies totais, o fechamento bem maior, no sendo apenas o de entrar

    mas tambm o de sair. Existe quase uma blindagem entre o interior e o exterior.

    Nestas situaes, o que acontece que havia barreiras entre as pessoas, estas

    barreiras poderiam ser atravs do preo elevado, por exemplo, em que barrava as

    pessoas a entrar naquele local.

    E. Goffman define instituio total como:

    Local de residncia e trabalho onde um grande nmero de indivduos, com

    situao semelhante, separados da sociedade mais ampla por um considervel perodo

    de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada.

    Esta definio pode caraterizar, por exemplo, uma priso.

    Goffman utiliza ainda como conceitos:

    Internados (prisioneiros, p. ex.)

    Equipa dirigente (profissionais de sade, p. ex.)

    Instituio

    Total

    Sociedade

  • 29

    Pretende-se que o tempo que se passa num hospital seja cada vez menos e a

    principal razo poder ter passado pelo processo monetrio.

    Este autor o criador do interaccionismo simblico, sendo que a sua abordagem

    terica, o seu fundo terico, semelhante.

    Caratersticas das instituies totais:

    1. Todos os aspetos da vida so realizados no mesmo local e sob uma nica

    autoridade.

    No nosso caso o que fazemos almoar com algumas pessoas, dormir com outras

    pessoas, passear com outras. Aqui, o que acontece que as atividades que so feitas no

    hospital so feitas todas no mesmo local mas tambm com outras pessoas que,

    habitualmente, so as mesmas pessoas. Comem, dormem, , na enfermaria. Estando

    por isso a comear a entrar na segunda caraterstica.

    2. Cada fase da atividade diria do participante (internado), realizada na

    companhia imediata de um grupo relativamente grande de outras pessoas,

    todas elas tratadas da mesma forma e obrigadas a fazer as mesmas coisas

    em conjunto

    Se pensarmos que ao meio-dia toda a gente est a comer, isso facilita a vigilncia. E

    quando as pessoas fazem todas ao mesmo, ao mesmo tempo, rapidamente se destaca

    aquele que no o faz. A vigilncia permite saber se, algum que no cumpre um

    conjunto de regras formais, rapidamente detetado.

    3. Todas as atividades dirias so rigorosamente estabelecidas em horrios,

    pois uma atividade leva, em tempo pr-determinado, seguinte, e toda a

    sequncia de atividades imposta de cima, por um conjunto de regras

    formais explcitas e um grande nmero de funcionrios.

    So definidas um conjunto de atividades:

    A B C D E

    Enfermeiro

    Banho Sinais Vitais Medicao Almoo

    12:00h

    Medicao

  • 30

    Quando algum entra numa enfermaria, ao meio-dia, e se alguma pessoa no estiver

    a almoar, significa que alguma coisa no est bem. Vigiamos o momento, o tempo

    presente, o tempo passado e o tempo futuro. Este torna-se num processo subtil em que,

    se calhar, a maior parte das pessoas nem reflete sobre eles mas que nos permite vigiar

    mais do que o tempo presente.

    Os internados so aqueles que passam pelo processo e que a equipa dirigente pe

    em prtica esse processo de vigia.

    Aquele que responsvel para que os internados cumpram este tipo de dinmica,

    interessante pensar que eles vigiam mas, ao mesmo tempo, so vigiados. Isto porque,

    aqueles que pem em prtica a vigilncia so tambm passveis de ser vigiados.

    O seu espao de liberdade sai diminudo. Esta sequncia de atividades de uma

    eficcia muito grande e tem uma formulao no muito visvel da vigilncia que se lhe

    oculta mas tem algo que subjaz, que tem uma sequncia bem definida contudo, no

    sendo to explicita, a vigilncia mantm-se e, por exemplo, no existe uma grande

    liberdade para que o internado se afaste muito da sua enfermaria e, preferencialmente da

    sua cama, sendo que a cama tambm um lugar definido. Isto porque, se ns

    permitirmos liberdade s pessoas, mais dificilmente iremos conseguir vigi-la.

    Como o enfermeiro est aprisionado a estas rotinas, tambm os enfermeiros podem

    ser vigiados pelos internados como, por exemplo, j meio-dia e ainda no estou a

    comer. E fazer desta forma, uma fonte de poder. Esta uma caraterstica de quem

    domina a sequncia e que sabe que est a ocorrer um lapso.

    F. Kafka d um outro exemplo. O segurana vigia a porta de entrada, mas tambm

    ele est aprisionado porta de entrada, tornando-se tambm este passvel de ser vigiado,

    disciplinado.

    A fonte de poder ocorre sobretudo com fonte de conhecimento. Quanto mais fonte

    de conhecimento tivermos, mais fonte de poder temos.

    O prisioneiro quer sair da priso e por isso vai observar cada vez mais e por isso

    qualquer pormenor vai ser fonte de poder. Assim como, para no sermos raptados no

    podemos usar rotinas, porque isso favorece que o raptor consiga vigiar-nos. Num

    hospital o que ns queremos a rotina, para podermos vigiar melhor.

  • 31

    A viso que as pessoas tm muito diferente. E por parte de alguns h um

    menosprezo da informao que estamos a partilhar que pode ser mais ou menos

    importante para as outras pessoas.

    Ouvir alguma coisa pode ser uma fonte de poder, e um uso desse poder em que pode

    ou no ter proveito prprio e esta no se baseia apenas em informao cientfica mas

    todas as outras.

    O internado vai ouvir vrias pessoas e pode usar essa informao como fonte de

    poder.

    1 Fonte de poder

    2 O que fao com esta informao? (tendo em conta o objetivo da pessoa)

    4. As vrias atividades obrigatrias esto reunidas num plano racional nico,

    supostamente planeado para atender aos objetivos oficiais da instituio.

    Podemos notar, desde logo, vrios aspetos. Quando se fala num objetivo

    racional/prepsito ltimo, verificamos que todas as instituies os tm definidos, no

    caso do hospital, o objetivo que eles recuperem a sua sade.

    Pretende-se que seja uma instituio organizativa atravs destes objetivos ltimos,

    que vo legitimar todo um conjunto de regras formais que vo ser postos em prtica

    relativamente atuao dos internados.

    Brozier afirma que, eu s posso saber o que feito por um determinado ator se eu

    tiver conhecimento dos seus objetivos.

    Nas instituies totais no a pessoa que vai mudar a instituio. H um certo

    aprisionamento porque o que as pessoas querem a sua sade e por isso condicionam o

    seu comportamento. Por exemplo, no vemos nenhum doente a criticar um mdico.

    Goffman afirma ainda que, quando as pessoas esto numa instituio total, com

    estas caratersticas, passam pelo processo de mortificao total. Mortificaes so

    atentados que tm vrias formulaes:

    1. ADMISSO.

  • 32

    Pode ser um atentado identidade da pessoa, passando a saber coisas sobre a vida

    ntima da pessoa. E, se o doente/internado, no sabe nada sobre ns, apenas que somos

    enfermeiros, ns vamos passar a saber muito mais sobre aquela pessoa (ideia de poder

    de Foucault) e verificamos que o doente vai ficar afastado da sua casa, da sua famlia,

    roupa, colar, brincos, . Goffman afirma que h um ponto intermdio entre a sociedade

    e a instituio que a nudez. A pessoa vai vestir uma bata, ou um pijama que passa da

    intimidade exposio pblica. As batas podem ter utilidade funcional mas em algumas

    situaes podem-se tornar ofensivas para a pessoa, passando esta a ser mortificao.

    Quando as pessoas envergam uma farda militar, o que se pede que honrem a farda

    ou seja, comportarem-se da forma como os militares se comportam, segundo as suas

    regras. Ou seja, quando fazemos isto a um doente, acontece que ns queremos que ele

    se comporte como um doente. Existindo assim uma mortificao identidade da

    pessoa.

    Quando eu estou aprisionado no s tenho os brao presos mas tambm toda a

    minha forma de expresso. Havendo elementos de perda de identidade que fragilizam o

    que ns queremos dizer.

    Se os enfermeiros, quando entram num hospital tiram a sua roupa e vestem uma

    farda, tambm eles sofrem mortificao sendo que o que se pede que estes dispam a

    sua identidade civil e vistam a sua identidade institucional. Temos vrias pessoas que

    fazem parte da equipa dirigente as nem todas despem a sua identidade civil e veste, a

    profissional como o caso dos mdicos.

    2. CIRCUITO

    Em organizaes totais, ou qualquer coisa que ela faa, pode voltar-se contra si

    prpria. Na sociedade mais ampla, se no gostamos de um restaurante mudamos de

    restaurante. Um preso j no pode mudar de priso como no caso das pessoas internadas

    em que bem difcil mudar de hospital. Isto condiciona o que a pessoa vai dizer.

    3. TIRANIZAO

    Mortificao muito importante porque o que se procura fazer que no exista

    autonomia nos actos dos internados. Ou seja, no se pretende que haja liberdade

    individual sendo que esta pode comprometer a funo dos outros. Enfermeiro: onde

    pensa que vai?. Esta uma afirmao efetiva de poder, pretende-se que a pessoa no

    tenha liberdade para ir a algum lado.

  • 33

    Este processo de tiranizao muito relevante nas instituies totais ou que se

    aproximam destas.

    Formas de reagir s mortificaes:

    1. AJUSTAMENTOS SECUNDRIOS

    Por exemplo, consumo de drogas nas prises. A droga no pode entrar mas ela est

    l dentro. Assim como no se poder fumar num hospital mas eles vo casa de banho e

    fumam. So formas de contornar estas caratersticas bastante opressivas das

    organizaes. Arranjar alguma maneira para criar uma adaptao do local onde o

    internado se encontrar. A equipa dirigente muitas vezes arranja um discurso para

    convencer que no assim to mau. Procurando convencer o internado que no h

    melhor stio naquele momento para estar, para alm daquele. o mundo fora agressivo,

    no interior da gaiola h comida, h dormida, h proteo.

    Procura-se ter um discurso convincente.

    O manicmio Conde de Ferreira era tudo o que carateriza uma instituio total.

    Portes e muros altos, vigilncia de toda a gente que entra e sai, .

    Muitas vezes um internado ia tomar caf com um dirigente mas muitas vezes

    incumbia-se a um internado que fosse responsvel por voltar instituio com os outros

    internados. Estes absorveram de tal forma as regras da instituio (tambm este um

    local de mortificao) que denunciavam os que no cumpriam as regras, j no sendo

    necessrio que fosse algum dirigente ao caf com eles.

    Muitas vezes isto acontecia, por causa de alguns internados possurem a angstia

    da sada. Ou seja, no to linear quanto isso que as pessoas queiram sair da

    organizao uma vez que esta implica uma confrontao da realidade. Tendo de

    encontrar novas regras e socializar-se com estas. Uma vez que tm medo de perder a

    centralidade afetiva que tiveram at ali, sendo esta uma sada difcil. E quanto mais

    opressora ela for, mais reduzida a liberdade da pessoa, mais difcil de ela sair.

    Por exemplo, quando as pessoas chegam a casa de um hospital, s a vo perceber as

    limitaes que eles tm e por isso aqui que eles sentem a angstia da sada.

  • 34

    A sada de uma organizao total, a passagem do todo de um pequeno

    mundo para a base de um mundo Goffman.

    Quando saem, as regras so diferentes e por isso j no conseguem reagir

    violncia, com violncia.

    H processos de infantilizao que so feitos aos doentes.

    CONCLUSO:

    Tiranizao (Goffman) para perceber isto temos que perceber duas coisas:

    Perceber a dinmica das instituies totais

    Enquadr-lo nas mortificaes do eu (atentados identidade das pessoas)

    Dentro das instituies totais existem vrias formas de atentar identidade das

    pessoas. Eventualmente este atentado no intencional, mas acontece, principalmente

    contra os internados. O que faz o hospital, por exemplo, ter vrias aces que vo

    ferir/fragilizar a identidade daqueles que l esto e fazem-no de vrias formas e uma

    dessas formas a tiranizao.

    O que se procura nas instituies totais de alguma forma procurar que os

    internados possam ser socializados dentro da cultura da organizao que tm duas

    dimenses: a DISCIPLINA e a VIGILNCIA, para que possamos ter corpos dceis que

    sejam passiveis de serem disciplinados e que possam estar onde a equipa dirigente

    deseja, para que, deste modo, possam ser mais facilmente vigiados.

    TIRANIZAO- Pouca vontade em que os internados possam ter liberdade de

    atuao. Se os internados tivessem liberdade poder-se-iam tornar num corpo menos

    dcil, diminuindo, deste modo a vigilncia. Quanto melhor a pessoa representar o papel

    do doente mais fcil ter disciplina e vigilncia.

    Visto isto a tiranizao tem como objectivo socializar os internados segundo as

    regras da instituio. Quando comeamos a ter utentes que no querem fazer as coisas

  • 35

    segundo a instituio (tomar banho noutro horrio, comer noutro horrio,) comea a

    haver um confronto entre a cultura da pessoa e da instituio.

    Como um hospital no completamente uma instituio total, h um espao que

    pode ser aproveitado pelos internados se estes forem actores estratgicos e aproveitam o

    melhor campo de aco do ouro, aplicando estratgias vencedoras para atingir mais

    facilmente os seus objectivos. isto pode, sem dvida, fragilizar a relao que os

    internados passam a ter com os enfermeiros.

    NOTA: os corpos dceis podem conduzir com muita facilidade a pessoas que so

    doceis. Quando estamos perante uma pessoa dcil, significa que muito mais passvel

    de ser moldada nos diferentes contextos.

    Alunos dceis acreditam em tudo o que os professores lhes dizem, no tendo reflexo

    crtica. O que ser desejvel que, apesar do nosso corpo ser dcil, no sermos pessoas

    dceis (pois no seremos pessoas crticas, mas passivas.

    1. RELAO ENTRE OS PRINCIPAIS ATORES DA

    ORGANIZAO HOSPITALAR

    (MDICO/ENFERMEIRO/UTENTE)

    Segundo Graa Carapinheiro, esta interao enquadra-se dentro do interaccionismo

    simblico.

    De alguma forma tudo o que falamos at agora pode estar presente nestas relaes.

    Ento, Graa Carapinheiro diz-nos que existe uma dualidade de saber/poder e que

    existem questes que temos que ter em conta quanto a este aspecto. Dentro do espao

    hospitalar este saber/poder notado de vrias formas:

    (Graa Carapinheiro)

  • 36

    O saber e o poder no so dois contextos divorciados, mas tm uma grande

    proximidade. Um aumento de conhecimento pode levar a um aumento de poder.

    Podemos ter utentes que tenham conhecimento mas que no tm saber e quanto mais

    conhecimento o doente tiver do enfermeiro, mais poder ter.

    a) TEMPO

    O poder notado na forma de como os actores utilizam o tempo.

    Tempo do utente - O actor doente, tem muito pouco tempo para os seus familiares e

    tm muito tempo para as relaes com os outros actores (mdicos e enfermeiros). Uma

    coisa o tempo disponvel que o utente tem e outra coisa questo o tempo

    disponibilizado pelos outros actores para com o doente.

    no momento que temos pessoas mais frgeis que frequentemente vamos isolar a

    pessoa da sua rede de apoio e vamos acrescentar debilidade sua debilidade fsica j

    existente.

    Visitas para contornar o isolamento das pessoas, os familiares encontram

    estratgias para aumentar o tempo das visitas (ou atiram o carto pela janela, ou entram

    com o nome do utente do lado, pois sabem que este no recebe visitas, etc).

    Quanto ao tempo entre enfermeiro e utente na parte da manh h uma sucesso de

    actividades que tero que ser sempre compridas, o que vai levar a que os prprios

    enfermeiros tenham o seu tempo fragmentado, aumentando tambm a vigilncia sobre

    os enfermeiros.

    Tempo dos mdicos os mdicos frequentemente gerem o tempo de uma forma

    extraordinria (ou saem da organizao ou ento tm uma gesto de tempo de acordo

    com dinmicas profissionais), gerindo o tempo e quem consegue fazer isso tem mais

    poder.

    Muitas vezes o enfermeiro que d poder excessivo ao mdico, ao utilizar

    expresses do tipo: fique na cama porque o mdico vai passar por c mas no sei

    quando.

    Outro aspecto o tempo de espera: quem faz esperar demonstra o seu poder e quem

    espera est num nvel mais inferior.

    Gnero estas questes entre mdico e enfermeiro so importantes. Antigamente

    os mdicos eram do sexo masculino e as enfermeiras eram do sexo feminino,

  • 37

    transmitindo desta forma o poder dos mdicos (homens). Ou seja, a escolha da profisso

    no dependia apenas do saber, mas tambm quanto s questes de gnero. Porm, nos

    dias de hoje ainda visvel esta questo de gnero, uma vez que uma escola de

    enfermagem tem um processo de socializao mais feminino e uma escola de medicina

    tem um processo de socializao mais masculino.

    b) ESPAO

    O uso que fazemos do espao importante. O nosso espao como alunos

    menor do que o do professor, por exemplo.

    A forma como os actores se movimentam no espao tambm transmite uma

    fonte de poder. Quanto ao doente, as suas mobilizaes so muito limitadas e o espao

    muito circunscrito.

    No caso do enfermeiro, o uso do espao j mais alargado. Segundo Graa

    Carapinheiro, o nico espao onde os enfermeiros no podem entrar de uma forma to

    directa nas salas onde os mdicos esto. No entanto, muitas vezes os mdicos

    interrompem a passagem de turno para obter alguma informao, demonstrando uma

    forma mais elevada de poder.

    Tambm quanto posio que ocupam junto da cama diferencia o mdico do

    enfermeiro. Enquanto o enfermeiro tem uma relao de maior proximidade e

    normalmente se coloca ao lado do utente, junto dele, o mdico normalmente fica aos ps

    do utente, existindo um maior distanciamento.

    Enfermeiro

    Mdico

  • 38

    S o facto de termos uma pessoa deitada e outra de p j diferenciador de

    poder, no sendo igual estas duas posies no relacionamento.

    c) - SABER/PODER (de uma forma mais especifica): e relao ao saber

    Graa Carapinheiro refere que estes trs actores tm saberes diferentes:

    Utente saber profano

    Enfermeiro saber perifrico

    Mdico poder central

    O reflexo de poder:

    Doente privado de poder/poder diminudo

    Enfermeiro subordinado ao poder do mdico (por exemplo, administra)

    Mdico tem o comando do poder (por exemplo, prescreve)

    Temos que ter cuidado ao dizer que o saber do utente profano. Cada vez vais o

    conhecimento/saber esto acessvel a mais pessoas e tambm cada vez mais h a

    possibilidade de terem acesso a temas relacionados com a sua doena e fisiologia da

    mesma (atravs da internet, programas de televiso, etc).

    Encontram-se alguns doentes crnicos que podem no saber nada de medicina, mas

    que sobre a sua doena sabem tudo, ou sabem mais que alguns profissionais. Tm o

    saber da experincia e o conhecimento devido acessibilidade ao campo especifico da

    sua doena. Logo, tem que se ter cuidado ao dizer que o conhecimento do utente

    profano e no se pode generalizar desta forma.

    Concluindo, h quase uma anulao de poder do utente e este no est privado de

    poder e pode ser mais ou menos estratgico. Tudo depender so seu saber e da forma de

    converter este em poder.

    d) - FACHADA SIMBLICA

    um conjunto de apetrechos utilizados para uma determinada funo, numa

    relao.

  • 39

    - Vestir/ despir o utente despe a sua roupa de identidade civil e veste a

    organizao (pijama/bata). Este vestir/despir faz pensar em atentados de identidade da

    prpria pessoa.

    - O enfermeiro perde tambm a sua identidade civil ao vestir a farda. Assim,

    cria-se o pressuposto de que o enfermeiro deve absorver as regras do hospital para ter

    uma identidade institucional.

    - O mdico concilia a sua identidade civil com a identidade institucional com o

    vestir da bata.

    SIMBOLOS:

    Lavatrio: na sala dos enfermeiros encontramos por exemplo um lavatrio. Um

    objecto como este, no apenas um objecto, mas um smbolo, logo quem

    necessita de lavar as mos quem tem mais relao com a impureza. Isto leva a

    pensar de alguma forma que alguns esto mais prximos da doena

    (doente/enfermeiro) e outros mais afastados e que no tm um contacto to

    fsico com a doena (mdico).

    Estetoscpio: pode-se condensar um smbolo a uma nica profisso. Quando se

    v uma pessoa com este objecto, pensa-se logo que um mdico, pois um

    simbolo que os acompanha para os variados locais. um elemento da fachada

    simblica de grande relevncia.

    Seringa: Os enfermeiros vinculam o simbolo da seringa, o que implica dor, ao

    contrrio do estetoscpio, que permite entrar no corpo do outro e saber o que a

    pessoa tem.

    NOTA: As crianas normalmente tm medo dos enfermeiros, pois so os que

    utilizam tcnicas mais dolorosas e mais invasivas (vacinas, feridas,). No

    possvel anular o enfermeiro que passa a cuidar do outro. Tem que haver espao

    para alguma singularidade.

    EXEMPLOS:

    EX 1: A relao de poder entre um professor mdico e aluno, vai ter consequncias no

    futuro, pois j se est a construir representaes de cada uma das identidades e como

    devem ser os aspectos relacionais. Neste caso, os professores que so mdicos j esto a

    transmitir uma relao de poder.

  • 40

    EX 2: o momento da vacina poderia ser aproveitado para inmeras coisas, mas s

    utilizado para provocar dor.

    EX 3: Por vezes as formas como dizemos as coisas podem diferenciar o saber e o poder.

    Por exemplo, o enfermeiro dizer que no sabe e que tem questionar ao mdico.

    EX 4: O toque fsico cria proximidade entre enfermeiro e utente.

    EX 5: A relao entre a pessoa desnudada e o que est vestido de uma forte relao de

    poder.

    RELAO ENTRE ENFERMEIRO/DOENTE

    CONSTRANGIMENTOS DESTA RELAO OPORTUNIDADES NESTA RELAO

    A dimenso pessoal A dimenso profissional A dimenso pessoal A dimenso profissional

    Enfermeiro Enfermeiro

    Comunicao

    - Morte a familiares

    - Comunicar ms notcias

    Incapacidade/Dificuldade

    em cuidar do doente

    Falta de tempo

    Falta de meios

    Lidar com a morte

    Utilidade dos cuidados

    prestados ao doente

    Doente Doente

    Doentes preferem

    determinado enfermeiro

    Depois da cura, falta de

    cuidado do doente

    Falta de compreenso

    Agressividade

    Falta de confiana nos

    enfermeiros

    Falta de colaborao

    Desconhecimento de

    funes

    - Do enfermeiro

    - Do enfermeiro/mdico

    - Falta de reconhecimento

    Compreenso por parte

    dos doentes

    Aprender com o doente

    Colaborao

    Reconhecimento

    Confiana

    Famlia do doente Famlia do doente

    Famlias querem libertar-

    se dos doentes mentais

    Falta de compreenso da

    famlia dos doentes

    Falta de participao da

    famlia

    Relao enfermeiro/doente Relao enfermeiro/doente

    Falta de empatia

    Envolvimento emocional

    Auto-crtica na relao do

    enfermeiro/doente

    Envolvimento

    emocional

    Boa relao

    Empatia

    Amizade

    CONSTRANGIMENTOS DESTA RELAO

    ENFERMEIRO

    A dimenso pessoal:

    Comunicao (esta comunicao de ms notcias torna-se desagradvel para os

    enfermeiros no que se considera sobretudo a comunicao da morte que, pesa

  • 41

    embora seja da responsabilidade dos mdicos muitas vezes incutida esta tarefa

    aos enfermeiros)

    o Morte a familiares

    o Comunicar ms notcias

    A dimenso profissional:

    Incapacidade/Dificuldade em cuidar do doente (manifesta-se particularmente

    quando a teraputica no tem xito ou quando os resultados no so os

    esperados ou os pretendidos)

    Falta de tempo (atendendo que o objetivo de enfermagem o cuidar, a falta de

    tempo a despender com o doente dificulta a empatia que desejvel que exista

    nesta relao)

    Falta de meios (a falta de tempo e a falta de meios so muitas vezes formas de

    justificao utilizadas pelos enfermeiros. Os meios so ainda mal geridos.)

    Lidar com a morte (se o objetivo ltimo da enfermagem promover a sade do

    indivduo, com a morte deste estamos perante a no concretizao do referido

    ideal. Quando a morte passa por crianas e jovens, a dificuldade em lidar com

    esta, pelos enfermeiros, maior. At porque a morte de um velho ou de uma

    criana provoca reaes bem diferentes dentro de uma comunidade, sendo que a

    sociedade valoriza o crescimento da criana.)

    DOENTE

    A dimenso pessoal:

    Doentes preferem determinado enfermeiro (existem doentes que preferem ser

    tratados por determinados enfermeiros, no aceitando que outros toquem neles)

    Depois da cura, falta de cuidado do doente (o doente no toma as precaues

    necessrias para que no provoque uma recada da patologia)

    Falta de compreenso (este tipo de comportamento por parte do doente

    desagrada ao enfermeiro. A explicao para esta falta de compreenso pode estar

    associada formao ou mesmo impacincia por parte dos doentes.)

    Agressividade (a falta de educao expressa-se tanto na vertente fsica como

    verbal, sendo que os cuidados de higiene podem ser mais suscetveis de

    despoletar este tipo de situaes. Por vezes isto acontece tambm porque as

  • 42

    concees de higiene por parte dos enfermeiros por vezes no coincidem com as

    do doente. Sendo que a conceo de higiene no absoluta e imutvel, assim

    como a conceo do corpo)

    A dimenso profissional:

    Falta de confiana nos enfermeiros (a confiana do doente no enfermeiro

    fundamental para o sucesso do tratamento, mas por vezes esta no se d e por

    isso torna-se num aspeto negativo. Referenciando-se ainda a m fama dos

    enfermeiros como sendo pessoas que provocam dor)

    Falta de colaborao (esta falta de colaborao pode muitas vezes advir da falta

    de confiana em que o doente tem sobre o enfermeiro)

    Desconhecimento de funes (particularmente doentes de menos habilitaes

    acadmicas ou de meios mais rurais no s desconhecem as funes dos

    enfermeiros como tambm as relaes destes com os mdicos, vendo os

    primeiros como criados dos segundos. Contudo sabe-se que as funes do

    enfermeiro esto estritamente ligadas do mdico)

    o Do enfermeiro

    o Do enfermeiro/mdico

    o Falta de reconhecimento (est muito presente podendo-se destacar a no

    valorizao do esforo humano ou a ingratido por parte do doente)

    FAMLIA DO DOENTE

    A dimenso pessoal:

    Famlias querem libertar-se dos doentes mentais

    Falta de compreenso da famlia dos doentes

    (Aqui as dificuldades de comunicao esto presentes, bem como a proximidade do

    enfermeiro em relao ao doente e famlia deste o que leva a que possam existir

    situaes menos agradveis podendo-se manifestar, nomeadamente, a nvel da falta de

    respeito, excesso de exigncia, libertao de mau estar, ou consequncia do facto de a

    famlia atribuir a responsabilidade do sofrimento do doente ao enfermeiro)

    A dimenso profissional:

  • 43

    Falta de participao da famlia (esta, teoricamente, parte integrante da

    recuperao do doente. Todavia, a famlia esquiva-se com frequncia

    participao no tratamento. A importncia de implementar a famlia no processo

    de tratamento dos doentes, podendo significar que tambm esta possa estar frgil

    pela situao do ser familiar)

    RELAO ENFERMEIRO/DOENTE

    A dimenso pessoal:

    Falta de empatia (por vezes a falta de empatia excede os seus limites e assume a

    forma de envolvimento emocional)

    Envolvimento emocional (a proximidade acentuada entre enfermeiro e doente

    favorece o agudizar de sentimentos, quer positivos, quer negativos)

    A dimenso profissional:

    Auto-crtica na relao do enfermeiro/doente (a prepotncia do enfermeiro torna-

    se muitas vezes como um aspeto negativo e trs, consequentemente, efeitos

    negativos para o doente, no conseguindo os enfermeiros ter a desejada viso

    holstica)

    OPORTUNIDADES NESTA RELAO

    ENFERMEIRO

    A dimenso profissional:

    Utilidade dos cuidados prestados ao doente (aqui faz-se uma focalizao no

    doente de modo a melhorar a prestao de cuidados olhando para este como um

    ser nico)

    DOENTE

    A dimenso pessoal:

    Compreenso por parte dos doentes (das dificuldades humanas, do trabalho do

    enfermeiro, este sente-se grato e mais motivado. Estas formas de agir so

    gratificantes e um enfermeiro sente-se mais motivado para cuidar dos doentes)

    Aprender com o doente (aprendem essencialmente com os mais velhos devido

    sua vasta experincia de vida, ao facto de existirem culturas diferentes,

  • 44

    aprendem tambm a tomar conhecimento de realidades sociais menos boas,

    convertendo-se em comportamentos na relao com os outros)

    A dimenso profissional:

    Colaborao (a colaborao do doente ajuda o enfermeiro na realizao do seu

    tratamento, sempre que o enfermeiro tenha possibilidade deve integrar o doente

    nas atividades conjuntas [enfermeiro/doente])

    Reconhecimento (motiva o enfermeiro para continuar a realizar as suas funes

    da melhor forma possvel, satisfazendo tambm o seu ego, podendo manifestar-

    se tambm aqui laos afetivos, visveis quer nas prendas que os doentes

    oferecem, quer nas atitudes de carinho ou visitas aps o restabelecimento)

    Confiana (esta apresenta traos pessoais bem como profissionais. Aqui o

    enfermeiro torna-se muitas vezes confidente do doente)

    RELAO ENFERMEIRO/DOENTE

    A dimenso pessoal:

    Envolvimento emocional (isto nem sempre fcil)

    Boa relao (e gratificante, o enfermeiro passa tambm a sentir-se bem consigo

    prprio, ajuda a ter a certeza de que aquele enfermeiro est vocacionado para

    ajudar os outros)

    Empatia (conhecendo o doente na sua totalidade para que o possa ajudar da

    melhor maneira possvel)

    Amizade (muitos enfermeiros acabam por estabelecer uma relao de amizade

    por pessoas que j foram seus pacientes, trocando at presentes de Natal)

    A EXPERINCIA DO PROCESSO DE HOSPITALIZAO (Doente)

    Existe uma sequncia, comeamos por falar do que eram as organizaes e agora

    aproximamo-nos das organizaes de sade chegando ao doente.

    Aquilo que vamos fazer uma aproximao do que a experincia de

    hospitalizao. H algo semelhante entre organizaes e ritos iniciticos. No sendo

    na verdade um rito inicitico mas existem aspetos que se sobrepem.

    A estranheza algo bom, quando alguma coisa singular ficamos com uma maior

    ateno quando avanamos com algo de diferente vai-nos permitir pensar.

  • 45

    Mia Couto quando dizemos que no temos tempo porque essa ao no uma

    prioridade para ns. A estranheza permite-nos refletir sobre aquilo que a minha

    ordem de organizao. No uma leitura biomdica, mas ler este processo de

    hospitalizao de uma forma simblica. Nesta leitura simblica temos de procurar ver,

    no caso da hospitalizao, como se processa essa leitura simblica. Sendo este quase

    um rito inicitico. Ao longo de uma vida inteira ritualizamos alguns acontecimentos.

    Vamos criando processos rituais que nos permitem a passagem de um estado para outro

    estado.

    (Por exemplo: de solteiro para casado)

    O que carateriza os ritos este processo transitrio. No caso do rapaz passa de

    rapaz para homem. Sai de uma aldeia, vai para uma floresta e volta sua aldeia no

    como rapaz mas como homem. Havendo um limiar em que o rapaz nem rapaz nem

    homem, estando num processo de transio.

    O QUE ACONTECE NO CASO DA HOSPITALIZAO?

    A ritualizao de um processo de cura comum a muitas sociedades.

    Santurio de Epidauro, as pessoas passavam uma noite aqui e era atravs dos

    sonhos que a pessoa se curava. Est ritualizado este processo de cura no tendo a ver

    com a atualidade contudo existe uma semelhana h algum que entra doente e sai

    curado.

    Antes das pessoas entrarem no hospital tm uma vida social de singularidade e

    no hospital pede-se que estas pessoas se afastem dessa vida social que mergulhem no tal

    espao da floresta/ limiar / communitas (V. Turner). Communitas significa um

    perodo que somos semelhantes, onde despimos a nossa identidade.

    O que nos assemelha na hospitalizao sermos todos doentes, afastados do

    nosso meio, dos nossos adornos, da famlia e, em alguns casos, de si prprio (pois vai

    abandonar dimenses pessoais para vestir identidade de doente) o que parece ser

    fundamental para o processo de cura. A parte liminar a hospitalizao.

    ESTADO 1 ESTADO 2

  • 46

    PARTE LIMINAR:

    1 ENTRADA

    Mais do que entrarmos num lugar, o que acontece na hospitalizao, as pessoas

    so afastadas do seu lugar (ao qual pertencem e esto confortveis). Este espao um

    no lugar. Vo ter uma srie de ritualizaes de entrada:

    Estar em jejum, a x horas

    Manual de acolhimento

    Vo perdendo elementos fundamentais da identidade (roupa, adornos) e tambm

    proximidade familiar (e nesta situao de maior vulnerabilidade em que h

    afastamento da famlia).

    2 - PERMANNCIA

    H semelhanas entre floresta e hospital. A floresta um lugar no domesticado e

    visto como um lugar em que nos podemos perder (labirinto). Um hospital, para um

    utente, tambm pode ser visto como um labirinto. Pode-se associar noite, a noite est

    associada a perigos. Lobo Antunes afirma que no h nada mais horrvel como uma

    noite passada no hospital.

    3 O SILNCIO, O RUDO E A LINGUAGEM

    O que carateriza os ritos o silncio, algum tipo de rudos e algum tipo de

    linguagem.

    Silncio pedido para que os utentes faam silncio.

    Existem rudos codificadores que permitem antecipar o que vai acontecer (barulho

    do carrinho da comida, rudo do carrinho da medicao, rudo da chegada/sada das

    visitas.

    Linguagem os utentes no aprendem a linguagem dos mdicos/enfermeiros, e no

    sabem o que est a ser falado sobre eles. Ns como enfermeiros temos de traduzir tudo

    aquilo que est a ser dito.

    4 A CABANA INICITICA

    Uma enfermaria pode-se assemelhar a uma cabana. So locais indicados para atuar

    sobre um corpo e identidade do doente.

    5 - CORPO

  • 47

    Corpo transformar um corpo doente num corpo saudvel.

    6 A NUDEZ E O PUDOR

    Mas para isso tem de haver algumas condies:

    Nudez um ponto crucial na passagem de identidade civil para a identidade

    hospitalar.

    Nos ritos anulam a sua sexualidade de meninos para se inscreverem na de

    homem. A nvel hospitalar esta est diminuda.

    Marcas corporais nos ritos so feitas marcas. No hospital temos a cicatriz, a

    marca do cateter, algaliaes, tricotomia, etc.

    Outro aspeto a recolha de sangue pois algo comum.

    No doente que queremos transformar numa pessoa curada, queremos que ela seja

    uma tbua rasa para adquirir conhecimentos por nossa parte para que fique curada. Nos

    ritos no para ficar curada mas para se tornar um homem.

    7 A PERDA DE IDENTIDADE

    Perda de identidade:

    Indumentria semelhante importante no processo de ritualizao. H vestes

    prprias. O uso do branco tambm muito simblico (pureza).

    Vamos disciplinar os corpos

    Podem perder o seu nome (doente da cama x). Processo pela qual pode tornar

    todas as pessoas iguais.

    So tratadas de forma infantil (dar alimentao boca, d-me o seu bracinho,

    vamos tomar um banhinho) expressa bem uma perda de identidade.

    8 TRANSFORMAO

    Transformar o doente em pessoa saudvel e o sofrimento pode ser frequentemente

    transformador e tambm de humor. Quando as pessoas esto em situaes perto da

    morte, so situaes transformadoras.

    9 PROCESSO DE SADA

    Nos ritos, os rapazes voltam a casa como homem. O doente voltar como pessoa

    saudvel.

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    A questo que se coloca , o rapaz sabe muito bem o que se faz naquela

    sociedade. No caso do hospital, os doentes quando voltam para casa h uma

    imprevisibilidade de papis (volta amputado? Dependente?) como vai conseguir

    recuperar os papis? Esta imprevisibilidade cria uma incerteza no caso de quem regressa

    a casa do hospital. Idealmente a deficincia devia ser assumida pela sociedade, mas no

    o , e as redes de apoio so diminutas.

    EM SUMA: o processo de hospitalizao quase um rito inicitico. O que o

    torna mais prximo o facto de haver uma perda de identidade, quer do rapaz, quer do

    doente. feito atravs de uma violncia simblica (roupa, silncio, marcas). O que h

    de diferente? No rito, a violncia simblica no intencional, quer-se matar o rapaz e

    o objetivo construir um homem. No caso do hospital esta violncia no intencional e

    no segue os ideais do hospital. Podemos, enquanto enfermeiros, estar na linha desta

    violncia, fragilizando a sua identidade, mas tambm estamos na linha da frente para

    manter a identidade do outro. Tudo depender do enfermeiro que seremos. A reflexo

    constante sobre aquilo que feito obrigatria para conseguirmos ser um bom

    enfermeiro.

    Estamos no limiar em acentuar ou apaziguar esta violncia simblica e levar

    perda de identidade, ou potenciar a humanizao do outro.

    QUASE

    Um pouco mais de sol eu era brasa

    Um pouco mais de azul eu era alm

    Para atingir, faltou-me o golpe de asa

    Se ao menos eu permanecesse aqum

    () (Mrio de S Carneiro)

    O hospital podia ter um golpe de asa, mas como no tem

    O enfermeiro com o seu brao armado e amado, pode contribuir para diminuir a

    desorganizao do mundo do doente, valorizando a pessoa e a sua identidade. Temos de

    compreender que no somos seres isolados e que as aes humanas so subjetivas.

    Ponto central: a pessoa possa permanecer pessoa, o que a maior parte das

    vezes no acontece. Temos de nos manter aqum da violncia simblica, permitindo

    que as pessoas se mantenham pessoas.