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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS

E LETRAS DE PARANAGUÁ (FAFIPAR) PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

ARTIGO FINAL

DIRLÉIA APARECIDA MATIAS

O PAPEL DO PEDAGOGO/A NO COTIDIANO DA ESCOLA PÚBLIC A: Implicações e Possibilidades

CURITIBA 2012

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O PAPEL DO PEDAGOGO/A NO COTIDIANO DA ESCOLA PÚBLIC A:

Implicações e Possibilidades

Autora: Dirléia Aparecida Matias 1

Orientadora: Elizabeth Regina Streisky de Farias 2

Resumo

O presente artigo discute: O Papel do Pedagogo/a no Cotidiano da Escola Pública:

Implicações e Possibilidades, e foi escrito como artigo final do Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), turma 2010, tem como objetivo refletir e

discutir não só o papel do/a pedagogo/a como o entendimento a respeito do que

consiste a organização do trabalho pedagógico da escola pública; mais do que isso,

de que forma este profissional pode fazer a diferença. Baseia-se nas contribuições

realizadas, durante o PDE, pelos teóricos estudados nas disciplinas do Programa,

pelos diversos momentos de formação continuada, pela produção didático-

pedagógica3, pelos profissionais da educação que participaram do Grupo de

Trabalho em Rede (GTR), e especialmente pelos profissionais que participaram da

implementação do Projeto de Pesquisa no Colégio Estadual Brasílio Vicente de

Castro, localizado na Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

1 Licenciada em Pedagogia pela UFPR, pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior pelo

IBPEX. Cursando pós em Educação das Relações Raciais. Pedagoga da Rede Estadual do Paraná no Colégio Estadual Brasílio Vicente de Castro e da Rede Municipal de Araucária. Integrante do Grupo de Estudos Africanidades Araucária (GEAA), Coordenadora Pedagógica do Sindicato Municipal dos Professores de Araucária (SISMMAR), Coordenadora do Coletivo de Pedagogos/as do SISMMAR, Aluna PDE 2010.

2 Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, graduada em Pedagogia pela

Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atua como docente do Curso de Pedagogia da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Paranaguá (FAFIPAR).

3 A produção didático-pedagógica é a elaboração do professor PDE ao organizar um material didático

enquanto estratégia/metodologia que sirva aos propósitos de seu Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola. Esta elaboração, seguindo a definição proveniente do latim elabore, significa preparar com detalhes o material, organizá-lo gradualmente, dispor as partes em combinação especial segundo o seu objetivo e, sobretudo, torná-lo assimilável. Deve ser pertinente ao seu objeto/problema e estar devidamente articulado ao Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola considerando a sua área/disciplina de ingresso no Programa.

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A metodologia foi a pesquisa-ação crítica envolvendo gestores/as, pedagogos/as,

coordenadores/as de curso, professores/as, funcionários/as, alunos/as do ensino

médio e pós-médio resultando numa amostra de 73 questionários abertos dos quais

foi realizada a análise do conteúdo do discurso das respostas, onde mapeou-se a

percepção desses profissionais da Educação, dos alunos e dos pais sobre o papel

do pedagogo/a, suas implicações e possibilidades, apontando algumas alternativas

de mudança no cotidiano escolar.

Palavras-chave: Papel do pedagogo; cotidiano escolar; prática pedagógica;

organização do trabalho pedagógico; escola pública.

1 Introdução

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção (Paulo Freire).

Ao escolher este assunto O Papel do Pedagogo/a no Cotidiano da Escola

Pública: Implicações e Possibilidades, temática esta abordada na pesquisa e no

Projeto de Intervenção Pedagógica do PDE, considerei a minha experiência como

pedagoga da rede estadual, há 18 anos e por hoje estar respondendo por duas

gestões seguidas pela Coordenação Pedagógica do Coletivo de Pedagogos/as do

Sindicato dos Servidores Municipais do Magistério de Araucária (SISMMAR), da qual

sou pedagoga da rede municipal.

A pesquisa abordada no presente artigo expressa o que temos discutido

sobre a função social deste profissional na escola pública. E, de uma maneira ainda

que sintetizada, apresenta os diversos questionamentos que temos realizado sobre

o processo de ensino-aprendizagem e a apropriação do conhecimento, e como tem

se dado o acompanhamento do trabalho educativo no cotidiano escolar.

Diante disso, fiz a opção de investigar a própria prática que se apresenta na

possibilidade desafiadora de ampliar a compreensão do fazer pedagógico, tal como

afirma a autora Franco: “da perspectiva de ser o exercício pedagógico, configurado

uma ação que cientificiza a prática educativa, a partir de princípios éticos que

visualizam a contínua formação e emancipação de todos os sujeitos”. Nesse sentido,

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apresento a presente pesquisa, que busca refletir sobre o papel do pedagogo no

cotidiano da escola pública.

O papel do pedagogo/a no cotidiano da escola pública e na organização do

trabalho pedagógico (OTP) tem sofrido várias modificações ao longo dos anos.

Muito se tem discutido a respeito dessa problemática e a sua função tem sido

abordada de diferentes maneiras, tomando como referência as diversas concepções

de educação e fundamentação teórica metodológica. Na construção da identidade

deste profissional, muitas inquietações têm surgido e que merecem ser

problematizadas com o devido cuidado. Não só o seu papel desempenhado na OTP

na escola pública, mas os diferentes elementos que permeiam sua prática, uma vez

que avaliamos que esta se manifesta por vezes de forma diversa, tanto no que se

refere ao encaminhamento da OTP, quanto na atuação do pedagogo/a na escola

pública.

Percebe-se que o domínio sistemático e intencional do exercício

pedagógico, acompanhado da compreensão teórica necessária e do

reconhecimento da sua função desempenhada na escola pública com os

estudantes, poderá garantir a melhoria do trabalho educativo.

As literaturas aqui utilizadas apresentam discussões sobre qual é a função

deste profissional e evidenciam o seu caráter articulador do conhecimento e da

dinâmica que a escola pública requer. Quero salientar aqui, para efeito de discussão

que enquanto pedagoga da rede pública e com a experiência de anos atuando em

escolas, selecionei os seguintes aspectos para serem discutidos no decorrer do

presente artigo, na dimensão pedagógica, social, política e humana, e optei por

autores que foram utilizados nos grupos de discussões com o coletivo de pedagogos

e pedagogas do SISMMAR, durante esse período.

A pesquisa abordada tem como objetivo central contribuir para efetivar o

papel do pedagogo/a no cotidiano da escola pública e estruturar dentro do PDE uma

reflexão sobre as possibilidades e implicações, através da problematização da práxis

pedagógica, a partir da formação continuada e dos sujeitos envolvidos.

O desafio é buscar a mudança efetiva na prática do pedagogo/a, enquanto

profissional da educação no cotidiano da escola pública e na compreensão que a

comunidade escolar e os demais profissionais têm sobre o papel desenvolvido por

este profissional, realizada de forma coletiva e criticamente, trazendo elementos

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para a ampliação do reconhecimento e valorização do pedagogo pela comunidade

escolar como um todo.

Diante disso, absorver a “perspectiva dialética” para discutir o conceito do

pedagogo enquanto profissional “formado no curso de graduação em Pedagogia e,

portanto, ter na base da sua formação teórico-epistemológica as discussões sobre

os elementos constitutivos da organização escolar (ALMEIDA; SOARES, 2010, p.

08), tem como responsabilidade a organização do trabalho pedagógico e a melhoria

da prática educativa docente.

A pesquisa ora apresentada tomou como referência os seguintes objetivos

específicos:

1. Conceituar quem é o pedagogo/a de acordo com o Estatuto dos Servidores do

Estado do Paraná, Estatuto do Município de Araucária, Coletivo de Pedagogos do

SISMMAR;

2. Identificar os espaços de atuação e como se constrói a identidade do pedagogo/a,

discutindo como se efetiva o seu papel no cotidiano da escola pública;

3. Destacar que a organização do trabalho pedagógico e a práxis estão relacionadas

com teorias, opções políticas e ideológicas, e a compreensão do que é a escola

pública;

4. Organizar com a Comunidade Escolar do Colégio Estadual Brasílio Vicente de

Castro (alunos/as, professores/as, funcionários/as, diretores/as, equipe pedagógica,

pais) uma pesquisa sobre o que eles entendem sobre o que é o papel do pedagogo

e sobre a compreensão da organização do trabalho pedagógico;

5. Investigar o cotidiano da equipe pedagógica, para explicitar objetivos e processos

de intervenção organizativa e modos de ação.

A partir desses objetivos e da metodologia da pesquisa-ação, proponho uma

reflexão e discussão sobre o papel do pedagogo/a no cotidiano da escola pública,

implicações e possibilidades, com a intenção de fortalecer conceitualmente este

profissional e os demais trabalhadores da educação das escolas estaduais e

municipais, de modo que, historicamente, enfrentemos a divisão entre orientação

educacional e supervisão escolar, assim como a dualidade entre o fazer e o pensar

a organização do trabalho pedagógico, acreditando que a defesa da escola pública é

a defesa de uma concepção de educação para a emancipação humana.

2 Fundamentação teórica

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2.1 O papel do pedagogo

Investigar, discutir e refletir sobre o papel do/a pedagogo/a é uma tarefa

bastante complexa e desafiadora para o/a profissional e, sobretudo, para aqueles

que conseguem problematizar com mais seriedade a sua formação e atuação na

realidade social em que se encontram. Estas percepções podem estar diretamente

ligadas pela cosmovisão de sociedade, concepção teórica, metodológica e pela

prática que fundamentará esta complexidade e que envolve uma visão do mundo

para além do conhecimento científico, o qual, no universo acadêmico, é reforçado

pela ideia de que deve ser neutro.

No entanto, ocorre que nas diversas disciplinas de Fundamentos da

Educação que fazem parte do Programa PDE, e também nas discussões realizadas

anteriormente ao DEB Itinerante4 e até mesmo nas salas de aula, reuniões

pedagógicas e momentos de formação continuada e no cotidiano da escola,

percebe-se a importância de superar o mito da neutralidade científica, e isso tem

ficado evidente. Segundo Saviani (1985), “ninguém é neutro, e nenhuma análise

produzida pelo ser humano o é”. Ele está sempre fundamentado por uma teoria.

Segundo Sônia Miranda (2006) em seu texto A Função Social do Pedagogo,

mais do que nunca é tema historicamente necessário, pois vivemos em uma

sociedade de classes, de bases materiais de produção capitalista, cujo Estado é

gerado pelas classes que detêm o poder econômico e político e este constrói formas

de garantir a sua hegemonia (MIRANDA, 2006, p. 01).

A escola, nos moldes apresentados por Miranda (2006), se apresenta como

sendo um aparelho reprodutivo de hegemonia, entendida pelo Estado capitalista

como um dos seus aparelhos ideológicos, onde o Estado pode garantir a sua

hegemonia. O ambiente escolar também é responsável pela transmissão do

conhecimento acumulado ao longo das gerações e de reprodução dos pensamentos

da sociedade.

Desta forma, entender o papel da escola, a sua luta contra a hegemonia do

Estado e contra o capitalismo, requer noção de pertencimento, ou seja, que o

4 DEB Itinerante: Seminários de formação continuada descentralizada, organizado pelo Departamento

de Educação Básica com os Núcleos Regionais de Educação. Com o tema “Professor agora é a sua vez!”, a formação continuada foi composta por oficinas propostas pelos professores da rede sobre os mais variados temas.

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profissional da educação da escola pública é um trabalhador assalariado, digno, que

precisa de condições de trabalho favoráveis. E, muito mais que isso, implica

entender o processo de criação do curso de Pedagogia no Brasil, em 1939, através

do Decreto-Lei nº 1.190/1939, e também a trajetória do profissional ao longo destes

73 anos de construção identitária. Junto a isso, é preciso entender o

comprometimento do pedagogo com a transformação da sociedade e, por

conseguinte, com a lógica de pensamento que o capitalismo traz; é preciso a

superação das desigualdades sociais, culturais e raciais. É necessário superar o

racismo, a discriminação de gênero, a intolerância religiosa, ou seja, toda forma de

preconceito e estar atento ao que se ensina para aqueles sujeitos que estão dentro

da escola pública e dependem dela, como via de acesso ao conhecimento

sistematizado.

Dermeval Saviani na década de 80 teve e até hoje tem produções

importantes sobre o papel do pedagogo do ponto de vista unitário. Os seus estudos

que fundamentaram o material produzido para a oficina de pedagogos no DEB

Itinerante em 2009, da qual fui a ministrante, mostram que esse papel vem agregado

de vários questionamentos e reflexões que estimulam esse profissional a reconhecer

a função social do pedagogo.

Empenhem-se no domínio das formas que possam garantir às camadas populares o ingresso na cultura letrada, vale dizer, a apropriação dos conhecimentos sistematizados. E no interior das escolas, lembrem-se sempre de que o papel próprio de vocês será provê-las de uma organização tal que cada criança, cada educando, em especial aquela das camadas trabalhadoras, não veja frustrada a sua aspiração de assimilar os conhecimentos metódicos, incorporando-os como instrumento irreversível a partir do qual será possível conferir uma nova qualidade às suas lutas no seio da sociedade (SAVIANI, 1985, p. 27).

Para Libâneo, o/a pedagogo/a é o/a profissional que atua em várias

instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos

processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de ação, tendo em

vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização

histórica.

Segundo Miranda, em 1988, a Constituição Federal propôs toda uma

discussão sobre a Educação, especificamente, sobre as instituições formadoras em

todos os seus níveis, apresentando a necessidade da formação de um pedagogo

crítico que conheça o seu papel de articulador do trabalho pedagógico.

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A Associação Nacional de Formação de Profissionais de Educação (ANFOPE) defendia uma posição importante trazendo a docência “como base da formação do pedagogo, que, naquele momento significou a inserção do pedagogo no coletivo da Escola como um dos seus pares, numa relação orgânica e não mais hierárquica, o que significou um enorme avanço (MIRANDA, 2006, p. 05).

No mesmo texto Miranda (2006) identifica que o Fórum Paranaense dos

Cursos de Pedagogia, criado em 2005, fez várias discussões nesse período em

função da alteração das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de

Pedagogia. Sob a ótica do compromisso político da transformação social, apontou

um avanço sobre o conceito formativo do pedagogo unitário deste século.

Aquele cuja formação deverá apoiar-se no princípio da indissociabilidade não hierárquica entre docência, organização e gestão de espaços escolares e não escolares, e, produção e difusão do conhecimento, rompendo assim com a história e posição de retrocesso que afirma que a base da formação do pedagogo no Brasil é a docência, restringindo esta formação à formação do professor (MIRANDA, 2006, p. 07).

Miranda (2006) ainda argumenta que na concepção de Estados neoliberais,

a expectativa dos governos é formar pedagogos que controlem as escolas e as

comunidades numa perspectiva reprodutivista em relação às estruturas que estão

construídas nas sociedades capitalistas. Em tais concepções de Estado não se

deseja formar pedagogos que articulem coletivos escolares e não escolares nas

comunidades construindo com seus pares um trabalho pedagógico que possibilite

formar sujeitos históricos contestadores e que busquem a transformação da

sociedade.

Nesse sentido o pedagogo escolar, aqui entendido por “aquele profissional

que é egresso do curso de graduação em Pedagogia, e tem como responsabilidade

a organização do trabalho pedagógico desenvolvido na instituição escolar”.

(ALMEIDA; SOARES, 2010, p. 11), seria o responsável pela articulação da

possibilidade de repensar esta realidade mencionada anteriormente, dinâmica,

ampla rica e complexa e definir as direções teóricas a serem seguidas de acordo

com o sistema de ensino que está inserido e uma prática emancipadora.

No texto O Sentido da Pedagogia e o Papel do Pedagogo, Dermeval Saviani

(1985) conceitua o que é pedagogia para os formandos do curso de Pedagogia em

dezembro de 1984 e apresenta:

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“Pedagogia – vocês já estão cansados de saber – significa, literalmente,

condução da criança. Era, primitivamente, entre os gregos, o ato através do qual o

escravo conduzia as crianças até o local onde os preceptores lhe ministravam

ensinamentos.”

Se tomarmos como princípio o conceito de Saviani apresentado

anteriormente, a primeira função do pedagogo é conduzir as crianças, para os

ensinamentos, mas que ensinamentos são esses? No mesmo texto o autor coloca

que “o pedagogo passa a significar o próprio preceptor, o educador, o professor”.

José Carlos Libâneo (2001, p. 155), por sua vez, diz que “a ideia do senso

comum”, inclusive de muitos pedagogos, é a de que pedagogia é ensino, ou melhor,

o modo de ensinar. Uma pessoa estuda Pedagogia para ensinar crianças. O

pedagógico seria o metodológico, o modo de fazer, o modo de ensinar a matéria.

”Trabalho pedagógico seria o trabalho de ensinar, de modo que o termo pedagogia

estaria associado exclusivamente a ensino”.

Função essa exercida pelos escravos gregos, segundo Saviani (1985),

considerados pelos romanos superiores culturalmente. Os romanos confiavam aos

gregos a educação de seus filhos, aqueles que, em consequência da guerra de

conquista, se converteram em seus escravos. Tomando a palavra “paideia” no seu

sentido amplo os gregos estabeleciam uma relação dos ensinamentos com a

cultura, a qual o autor conceitua da seguinte forma: “Trata-se da formação cultural e,

numa palavra, da própria cultura. Entre os gregos a palavra paideia designava os

ideais da cultura, isto é, o nível cultural a que se queriam alçar os cidadãos da

sociedade grega” (SAVIANI, 1985, p. 27).

Saviani explica que a pedagogia significa também condução à cultura, isto é,

processo de formação cultural. E o pedagogo/a é aquele que possibilita o acesso à

cultura, organizando o processo de formação cultural. É, pois, aquele que domina as

formas, os procedimentos, os métodos através dos quais se chega ao domínio do

patrimônio cultural acumulado pela humanidade.

Para Almeida e Soares, “o/a pedagogo/a escolar é aquele que domina

sistematicamente e intencionalmente as formas de organização do processo de

formação cultural que se dá no interior da escola”. Nesse contexto a escola é o

espaço responsável pela transmissão do conhecimento elaborado, de forma

sistemática, e pelo acesso á cultura letrada, e que não deve ser apresentada de for

assistemática, espontânea, desorganizada.

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Como profissional da educação, o pedagogo deve ter o domínio das formas

através das quais o saber sistematizado – a ciência em suas diversas áreas

específicas, como a história, a geografia, a matemática, entre outras – “é convertido

em saber escolar, tornando-o, pois, transmissível e assimilável na relação professor-

aluno” (SAVIANI, 1985, p. 28).

É o profissional responsável por trabalhar os conteúdos de base científica,

organizando-os nas formas e métodos mais propícios à sua efetiva assimilação por

parte dos alunos, a fim de tornar a escola mais viva, mais atualizada e significativa;

uma escola rica de conhecimentos sistematizados para prover à sua formação

cultural, isto é, para conduzir a nova geração ao domínio da cultura letrada, aquela

que domina a sociedade em que vivemos.

De acordo com Miranda (2005, p. 45),

a formação e a atuação do pedagogo é a indissociabilidade não hierarquizada entre os eixos de docência, organização e gestão dos processos formativos escolares e não escolares, pesquisa entendida como produção e difusão do conhecimento, e articulação com os movimentos sociais populares .

Cabe uma reflexão sobre as possibilidades de construir uma prática reflexiva

crítica, sustentada pela própria prática individual e ao mesmo tempo do coletivo de

profissionais que atuam nesta perspectiva para apresentar o papel do pedagogo no

cotidiano da escola pública e suas implicações e possibilidades, tomando como

referência os intelectuais selecionados, os documentos oficiais, o Estatuto dos

Servidores do Estado do Paraná e do Município de Araucária e o documento

construído pelo coletivo de pedagogos do SISMMAR, o qual propõe a alteração do

Anexo I do Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos do Município de Araucária

(PCCV) e a análise dos mesmos discutindo as seguintes dimensões: competência

técnica pedagógica, política e humana e o compromisso do pedagogo da escola

pública.

Vê-se que os profissionais que adotam o conceito formativo do pedagogo

unitário agem para além das arbitrariedades do Estado e das hierarquias escolares.

Uma das possibilidades discutidas durante o PDE, através da Produção Didático

Pedagógica/Unidade Didática foi “O Papel do Pedagogo na Mediação do Currículo

Escolar e a Inserção da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira”, onde tenho

participado ativamente das discussões, propondo práticas pedagógicas para a

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temática em diferentes níveis de ensino, e que por ter uma relação de conteúdos

complexa é necessário o seu aprofundamento e a sua contextualização.

A opção por abordar “O Papel do Pedagogo na Mediação do Currículo

Escolar e a Inserção da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira”, considera a

fala do autor Newton Duarte (2010), professor coordenador do Grupo de Pesquisa

“Estudos Marxistas em Educação” e que tive o prazer de ouvir durante a Semana

Pedagógica de Araucária em 2010 e no processo do PDE, que apresenta que

discutir currículo é discutir conhecimento. É a seleção do acervo cultural da

humanidade e que deve fazer parte da formação do nosso passado, presente e

futuro. É ensinar as formas mais desenvolvidas, é socializar o conhecimento

sistematizado e não o improviso. É trabalhar o conhecimento numa perspectiva

crítica e de abstrações, é política de sociabilização do conhecimento sistematizado.

Recuperei ainda o conceito apresentado pela Coordenação de Gestão

Escolar da Secretaria do Estado da Educação do Paraná, Coordenação de Gestão

Escolar (CGE/Seed, 2009), quando propôs aos pedagogos e pedagogas que

apresentassem as suas experiências. Etimologicamente o termo “currículo” vem do

latim “curriculum” que significa pista de corrida, caminho ou trajetória. Expressa,

portanto, um projeto de escola e, consequentemente, de sociedade e de mundo. A

concepção de currículo na escola pública, por sua vez, deve expressar a intenção

dessa trajetória, que não é espontânea, é intencional e deve revelar as

necessidades históricas daqueles que dependem da escola pública como via de

acesso ao conhecimento. Currículo, portanto, situa-se nas disputas de poder que

ocorrem entre aqueles que veem na educação o espaço para seus projetos e

expectativas, bem como disputas de poder no interior das próprias políticas públicas.

Nesse sentido, discutir o currículo escolar e a inserção da história e cultura

africana, conforme a Lei 10.639/2003, apontada na Unidade Didática, foi a

possibilidade de discutir a concepção de uma escola pública inclusiva, mas que

apresenta estas contradições muitas vezes evidenciadas nas práticas pedagógicas

apresentadas pelos professores e na invisibilidade das discussões acerca da

problemática da questão racial no currículo escolar.

Assim, tomando como referência a Unidade Didática e as observações

acima, a Lei 10.639/2003 e os conceitos apresentados pelos autores mencionados

Antonio Flávio Moreira e Tomaz Tadeu da Silva (1994), Michael W. Apple (1994),

Newton Duarte (2010) e pela Coordenação de Gestão Escolar (CGE), a escola

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pública deve considerar todos estes itens quando discute currículo e faz a relação

com o conhecimento.

O cotidiano escolar é uma realidade dinâmica, ampla, rica e complexa, e que

permite cotidianamente “a possibilidade de um re-pensar da mesma, em outras

direções teóricas que não as convencionalmente estabelecidas” (FRANCO, 2005, p.

31) .

Será que para efetivar esse processo de respeito à diferença no ambiente

escolar é importante organizar ações pedagógicas interdisciplinares (e por

disciplina), a partir de uma proposta pedagógica que reconheça a necessidade de

respeito entre a diversidade étnica, racial, cultural e a prática não excludente no

cotidiano escolar?

Segundo Almeida e Soares (2010, p. 09), não é possível compreender

nenhum dado da realidade desvinculado de seus intervenientes históricos, políticos,

econômicos e sociais. Todas estas observações foram possíveis de ser identificadas

porque foi definido um procedimento metodológico.

2.2 Procedimentos metodológicos

Segundo Silva e Costa (2008), a Metodologia são os “caminhos para a

construção e obtenção de conhecimentos que desencadeiam necessariamente uma

transformação no próprio conhecimento” de forma cumulativa.

Para desenvolver esta pesquisa ou esta intervenção pedagógica, utilizei-me

da metodologia da pesquisa-ação crítica, como a própria palavra sugere, a pesquisa

da ação crítica a qual o autor (KINCHELOE, 1997) afirma ser pesquisa-ação, que é

crítica, rejeita as noções positivistas de racionalidade, de objetividade e de verdade

e deve pressupor a exposição entre valores pessoais e práticos. Isso se deve em

parte porque a pesquisa-ação crítica não pretende apenas compreender ou

descrever o mundo da prática, mas transformá-lo.

A condição para ser pesquisa-ação crítica é o mergulho na práxis do grupo

social em estudo, do qual extraem as perspectivas latentes, o oculto, o não familiar

que sustentam as práticas, sendo as mudanças negociadas e geridas no coletivo.

Nessa direção, as pesquisas colaborativas, na maioria das vezes, assumem também

o caráter de criticidade. A pesquisa-ação crítica deve gerar um processo de reflexão-

ação coletiva.

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A pesquisa-ação crítica considera a voz do sujeito, sua perspectiva, seu

sentido, mas não apenas para registro e posterior interpretação do pesquisador: a

voz do sujeito fará parte da tessitura da metodologia de investigação. Nesse caso, a

metodologia não se faz por meio das etapas de um método, mas se organiza pelas

situações relevantes do processo.

Durante o processo da pesquisa e do programa de desenvolvimento

educacional PDE, nos utilizamos da Intenção de Pesquisa, da Unidade Didática, do

Projeto de Intervenção, do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) e da Implementação

em si, além dos autores selecionados e da prática discutida e questionada pelos

profissionais que participaram. Isso aconteceu em momentos distintos:

Apresentação do Pré-Projeto para a Direção e Equipe Pedagógica; Entrega da

Produção Didático-Pedagógica; Elaboração dos Instrumentos de Pesquisa e

Seleção dos textos de fundamentação para discussão e os autores mais utilizados

foram Sônia Miranda Guariza (2006) e Dermeval Saviani (1985).

No Início da aplicação dos instrumentos de pesquisa, foi apresentado para

os profissionais da educação o instrumento de pesquisa, os objetivos e a

importância deles em contribuírem e participarem, principalmente indicando como

eles identificavam o papel do pedagogo/a, questão esta que deveria ser respondida

pela pesquisa. Expliquei ainda que os instrumentos estavam organizados por

segmento: gestores, equipe pedagógica, professores, funcionários, alunos e pais.

Foram aplicados os questionários para 02 gestores, 01 pedagoga, 19 turmas

do ensino médio e pós-médio. Cada turma respondeu um questionário sendo: 06

turmas de ensino médio por bloco, 05 turmas do curso técnico de Segurança do

Trabalho, 08 turmas do curso de Administração, 40 professores, 02 coordenadores

de curso do ensino médio e pós-médio de Administração e Segurança do Trabalho,

01 coordenadora pedagógica do curso de Administração ensino médio e pós-médio,

09 funcionários da escola. Uma amostra de 73 questionários.

Na análise dos dados dos instrumentos de pesquisa desenvolvidos foi

identificado o segmento do qual o entrevistado participava, e as suas respostas

foram sintetizadas, conforme o questionário aplicado destacando o foco central da

questão, construindo uma análise geral das questões organizadas no instrumento de

pesquisa e retornando na reunião de planejamento.

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2.3 Resultados obtidos

Dos 20% dos instrumentos devolvidos pelo corpo docente constituído por 40

professores/as, percebeu-se 50% de mulheres e 50% de homens entre 33 anos e 60

anos, apresentando um equilíbrio entre os gêneros presentes no noturno. Todos os

docentes são pós-graduados (especialistas) e 01 está cursando a Especialização.

Isto revela que o grupo tem procurado uma formação após a graduação, como uma

forma de capacitação contínua. O que apresenta menor tempo de docência no

Colégio Estadual Brasílio Vicente de Castro possui 09 meses de atuação e o que

tem maior tempo de atuação possui 17 anos, apresentando pouca rotatividade no

grupo de professores, entre os padrões e os professores CLTs.

Dos questionamentos levantados sobre as condições materiais foi

identificado: As condições dos equipamentos precisam melhorar (televisões, pen-

drive, laboratório de informática, rádio, datashow); os horários para reuniões ou

contatos com outros profissionais e familiares dos educandos precisam ser mais

bem organizados pela equipe pedagógica, favorecendo o diálogo com outras

disciplinas. Porém, nem sempre os professores desejam trabalhar a

interdiscilinariedade.

As condições de trabalho são boas, e os materiais didáticos necessários

também. Já o contato com os familiares dos educandos é muito pouco, pois para os

entrevistados, foi considerado que as famílias dos educandos pouco frequentam a

escola ou buscam saber como está seu filho ou sua filha, principalmente no noturno,

seja nas questões de aprendizagem nota ou formas de comportamento.

Os recursos didáticos disponíveis (televisão, data show, Xerox, ) são

apropriados, bem como o ambiente físico (salas de aula). A interdisciplinariedade foi

considerada fundamental e é possibilitada dentro da escola, que propõe atividades

coletivas.

O retorno do trabalho pedagógico e dos encaminhamentos realizados é

regular, ou muitas vezes insuficiente, deficiente, principalmente no retorno das

reuniões com os pais. Eles até podem ser favoráveis, mas depende muito de outras

variáveis que estão além das nossas condições. Em praticamente todos os itens

mencionados foram encontradas “condições satisfatórias” para o trabalho, mas a

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troca de ideias entre colegas, principalmente entre os da mesma área, poderia ser

mais frequente. Há temas que podem ser abordados no mesmo momento por várias

áreas do conhecimento obedecendo às especificidades e aos respectivos enfoques

de cada disciplina; o aproveitamento seria melhor, mais amplo, profundo e completo.

Alguns docentes colocam que falta apoio pedagógico na organização de horários, na

ajuda com os alunos, em questões pedagógicas e também disciplinares; nos

desafios pedagógicos, enfrentados no dia a dia, falta contato mais específico com os

profissionais quanto ao âmbito de atuação pedagógica, na hora de ajudar na parte

pedagógica; auxílio numa visão geral da educação.

Apontam a necessidade da organização de divisão de tarefas, aumento do

número de pedagogos desempenhando suas funções, e de não permanecer apenas

“apagando fogo”. Não sobrecarregar a equipe pedagógica de tarefas ou com um

número de turmas grande para atender. A equipe pedagógica precisa de tempo para

poder desenvolver seu trabalho e contribuir com o trabalho docente. Planejamento

de atendimento aos professores. Retomada de atitude dos alunos problemas.

Devolutiva de assuntos levantados em reuniões. Promover reuniões entre os

professores, por área de conhecimento.

Identificam que o pedagogo/a possui uma visão mais ampla da escola se

comparado com o professor e que o corpo docente em alguns momentos não

reconhece o trabalho do pedagogo, podendo atuar como um aliado na busca pela

educação de qualidade, e que este profissional o pedagogo/a deve estar para o

auxílio pedagógico e não para apagar incêndio indisciplinar. Pois ele é um

conhecedor de problemas educacionais de forma mais global.

Segundo os entrevistados, os espaços de atuação do pedagogo/a podem

ser vários, se desejarem trabalhar com dedicação e amor e não por obrigação.

Porém percebe-se a dificuldade em reconhecer o pedagogo como um profissional

que escolheu esta profissão, como opção.

Apontam ainda que este profissional deve fazer a orientação aos

educandos, quanto ao corpo docente, e ter esclarecimentos de metodologias,

atuando inclusive com diversos segmentos, com professores, pais e alunos.

Outros apresentam que o papel do pedagogo /a é ajudar e orientar

professores e alunos e incentivar os mesmos ao estudo. Auxiliar o professor em

suas dificuldades pedagógicas e disciplinares, mas nas escolas públicas, talvez não

em todas, ele trabalhe apenas “apagando fogo”, ou seja com as questões

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disciplinares, faltando tempo para encaminhar o trabalho pedagógico. Mediar,

possibilitar que os desafios pedagógicos possam ser enfrentados e superados. Por

fim , acreditam que este profissional deve estar atento aos desafios da educação,

dentro do processo de dinâmica social, sempre pautado na solidariedade e outros

princípios universais de humanismo, respeito e fraternidade.

Dos 50% dos funcionários da escola entre secretárias, inspetoras, serventes,

agente educacional, que devolveram o instrumento de pesquisa tivemos os

seguintes resultados: 88% são de mulheres entre 48 e 53 anos, apresentando um

índice maior do sexo feminino, com formação do ensino fundamental incompleto à

graduação.

Já tiveram experiências profissionais diversas, em hospital, como

vendedoras e outras; o tempo de trabalho no Colégio Estadual Brasílio Vicente de

Castro varia de 05 meses, o menor tempo de atuação, a 31 anos, a que tem o maior

tempo de atuação, na função administrativa. Reconhecem a importância do trabalho

pedagógico como um elemento para o bom andamento tanto do trabalho docente

como no aprendizado do discente.

Colocam que sua dedicação e empenho na organização da escola e no

amor pela profissão colaboram para a perseverança e para a qualidade da

educação, especificamente se procuram cumprir as suas obrigações.

Quanto ao ambiente físico e material percebem que está a contento, porém

sentem necessidade de encontros e reflexão, ou seja, dinâmica de grupo para um

melhor relacionamento entre os funcionários. Identificam que as condições de

trabalho são boas, porém ocorre muita desavença e divisão entre os companheiros,

sendo necessário melhorar a comunicação, trabalhar em conjunto, ou seja, mesmos

princípios e objetivos com uma única preocupação: o bem-estar do aluno.

Dos 50% do retorno dos coordenadores, são os seguintes resultados: 50%

masculino, com idade de 50 anos, sendo também um dado equilibrado entre os

gêneros, com formação de pós-graduação, especialista, apresentando também a

procura de uma formação continuada permanente, com experiência na área da

administração de 18 anos, consultor e supervisor e 07 anos de atuação como

coordenador de curso, 08 anos de atuação no Colégio Brasílio.

Reconhece que o pedagogo deve propor para os professores um trabalho

diferenciado em sala de aula, possibilitar a interação entre coordenação e

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professores, apoio fazendo uma ponte entre professor/professor e professor/aluno,

dentre outras atividades.

Que o cotidiano escolar do Colégio Brasílio é bom e nesse ambiente é

possível se colocar a prática, vivenciar vários instrumentos de gestão que auxiliam

na organização escolar.

Obviamente que nem tudo é perfeito, mas o ambiente físico, os

equipamentos e materiais didáticos, espaços para reuniões e o retorno das mesmas

são satisfatórios e possibilitam que se coloquem em prática vários instrumentos

pedagógicos e de gestão com o objetivo de melhorar cada vez mais a qualidade do

ensino; mesmo assim, exige-se uma maior comunicação entre equipe pedagógica,

direção e professores. Como a escola existe para proporcionar aos alunos a

possibilidade de comunicação, é um dos principais itens para se melhorar a

qualidade de ensino.

2.4 Estratégias de ação

Das estratégias de ação estabelecidas anteriormente, a implementação da

pesquisa era organizar com a Comunidade Escolar do Noturno do Colégio Estadual

Brasílio Vicente de Castro (alunos, professores, funcionários, diretores, equipe

pedagógica, pais) uma pesquisa sobre o que eles entendem a respeito do que é o

papel do pedagogo e sobre a compreensão da organização do trabalho pedagógico;

descrever o papel do pedagogo e a compreensão do que é a organização do

trabalho pedagógico pela comunidade escolar e divulgar através de um mural

pedagógico permanente no Colégio Estadual Brasílio Vicente de Castro;

implementar ações permanentes de reflexão, leitura, análise crítica da organização

do trabalho pedagógico e do espaço escolar, implementação das teorias no

cotidiano, reflexão sobre a prática.

3 Conclusão

Mediante as respostas, o conceito elaborado pela comunidade escolar sobre

O Papel do Pedagogo/a no Cotidiano da Escola Públic a: Implicações e

Possibilidades” são extremamente significativos, uma vez que permite um repensar,

sobre a prática pedagógica, ou especificamente sobre a minha prática pedagógica .

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Com base nas questões respondidas foi possível construir um painel de

conceitos, e a partir dos resultados organizamos um plano de ação de mudanças

pedagógicas na escola para o noturno, turno em que foram aplicados os

instrumentos de pesquisa.

Mediante as reflexões acerca deste profissional da Educação e do seu papel

na sociedade, associado com a indicação feita por Saviani (1985), o ponto de partida

da pesquisa foi retomar algumas questões que foram discutidas e pensadas durante

a construção do curso de Pedagogia, feitas durante os diversos momentos de

formação continuada no interior do Colégio Estadual Brasílio Vicente de Castro e

especificamente na construção do Projeto de Intenção de Pesquisa.

Para além dos nossos olhos individuais, como é possível avaliar a

organização do trabalho pedagógico e o papel do pedagogo/a e como cada área de

conhecimento/disciplina pode perceber o seu compromisso junto a este profissional?

Em que período escolar? Em que documento da escola esta discussão está

fundamentada? Qual o papel do planejamento? Como construir práticas

pedagógicas e estratégias de superação? De quem é a responsabilidade de

construir uma sociedade cidadã?

Procurar respostas a essas indagações é tarefa que cabe a todos as

educadoras e educadores do país - da Educação Infantil à Universidade. O nosso

papel de pedagogo é o de um articulador do conhecimento. Temos que nos esforçar

e nos comprometer com o cumprimento dessa função para contribuir com a

construção de uma sociedade mais justa e democrática e que repudie qualquer tipo

de discriminação no espaço escolar. Devemos absorver integralmente as palavras

de Saviani quando ele diz que temos de garantir que as camadas mais populares

tenham cultura letrada, conhecimentos sistematizados. Mas essa postura não deve

estar orientada apenas para o entendimento de que isso é um reflexo da luta de

classes presente no capitalismo.

Temos de buscar essa garantia, sim, para os representantes das camadas

que estão no interior das escolas públicas, ou seja, os filhos da classe trabalhadora,

mas também para todos os demais e que hoje estão “inseridos” na diversidade

sociocultural.

Nesse sentido, o nosso dever é incentivar que cada criança assimile o

conhecimento metódico para que consiga superar a condição social em que se

encontra e as adversidades oriundas da cultura do preconceito, intolerância e

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violência ao diferente. Só assim podemos concordar com Saviani (1985, p. 28.) e

dizer que a partir daí “será possível conferir uma nova qualidade às suas lutas no

seio da sociedade”.

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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Claudia Mara de; SOARES, Kátia C. D. Pedagogo escolar : as funções supervisora e orientadora. Curitiba: Ibpex, 2010. APPLE, Michael W. Repensando Ideologia e Currículo . Cidade: São Paulo :Editora Brasiliense, 1982. BRASIL, Câmara dos Deputados. Lei n. 10.639 , de 9 de janeiro de 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov. Acesso em: jun. 2009. ________, Matrizes Curriculares de Referência para o SAEB . Brasília: MEC/INEP, 1997 ________, Ministério de Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação d as relações étnico-raciais para o ensino de história e cultura Afro–Brasileira e Africana . Conselho Pleno 03/2004, aprovado em 10/3/2004. FERNANDES, Florestan. Significado do Protesto Negro. Cidade: São Paulo : Cortez//Autores Associados, 1989. FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia da Pesquisa-Ação. Universidade Católica de Santos. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 483-502, set./dez. 2005. MIRANDA, Sônia G. A Função Social do Pedagogo mais que nunca é tema historicamente necessário . Ponta Grossa: Editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2006. SAVIANI, Dermeval. Sentido da Pedagogia e Papel do Pedagogo. Revista da Associação Nacional de Educação (Ande) , São Paulo, v. 05, n. 9, p. 27-28, 1985. SAVIANI. Nereide. Currículo – Um Grande Desafio para o Professor. Revista da Educação , São Paulo, n. 16, p. 35-38, 2003.

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