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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL - PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LOMDRINA

MARIA SALET WARMELING KÜRTEN

INCENTIVO À LEITURA ATRAVÉS DE CONTOS

BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS,

COM O TEMA: JUVENTUDE.

IVAIPORÃ

2011

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MARIA SALET WARMELING KÜRTEN

LER FAZ BEM À CULTURA E À MEMÓRIA

Material Didático Pedagógico – Caderno Pedagógico -

Apresentado como um dos requisitos do PDE – Programa

de Desenvolvimento Educacional, ofertado pela

Secretaria de Estado da Educação do Paraná em parceria

com a UEL – Universidade Estadual de Londrina –

Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Santos Simon.

“A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por

incrível que pareça, a quase totalidade, não sente

esta sede.”

Carlos Drummond de Andrade.

IVAIPORÃ

2011

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ÍNDICE

1 IDENTIFICAÇÃO.................................................................................................. 5

2 APRESENTAÇÃO ................................................................................................ 6

3 OBJETIVOS ......................................................................................................... 9

4 PROBLEMA/PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................... 11

5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 13

5.1 O CONTO: Definições e história ............................................................... 13

6 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO ................................................................................. 17

6.1 Apresentação do projeto. .......................................................................... 17

6.2 Trabalhando os gêneros textuais .............................................................. 17

6.3 Apresentando definição de conto .............................................................. 17

6.4 Pesquisando a história do conto na internet ............................................. 18

6.5 Contato com o conto em livros de literatura .............................................. 19

6.6 Horas de contar seus contos para a classe .............................................. 19

6.7 Realizando leitura e interpretação de contos ............................................ 20

7 UNIDADE 1 ........................................................................................................ 21

8 ELEMENTOS DA NARRATIVA .......................................................................... 31

9 TIPOS DE FOCO NARRATIVO ......................................................................... 32

10 ENREDO OU MOMENTOS DA NARRATIVA .................................................... 35

11 UNIDADE 2 ........................................................................................................ 37

12 UNIDADE 3 ........................................................................................................ 44

13 UNIDADE 4 ........................................................................................................ 49

14 ALUNOS EM AÇÃO. .......................................................................................... 56

15 GRUPO 1 ........................................................................................................... 59

16 GRUPO 2 ........................................................................................................... 61

17 GRUPO 3 ........................................................................................................... 62

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18 GRUPO 4 ........................................................................................................... 64

19 GRUPO 5 ........................................................................................................... 65

19.1 Apresentando os resultados ...................................................................... 69

19.2 Finalizando as apresentações ................................................................... 69

19.3 Concluindo as atividades com contos ....................................................... 69

20 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 70

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1 IDENTIFICAÇÃO

Professora PDE: Maria Salet Warmeling Kürten

Área PDE: Língua Portuguesa

NRE: Ivaiporã

Professor Orientador: Luiz Carlos Santos Simon

Escola de Implementação: Colégio Estadual Barão do Cerro Azul –

Ensino Fundamental e Médio.

Público objeto de intervenção: Alunos das séries finais do ensino

fundamental.

Tema: Ensino e aprendizagem de leitura através do gênero contos.

Título: Ler faz bem à cultura e à memória.

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2 APRESENTAÇÃO

Este Caderno Pedagógico é uma ferramenta realizada a partir de estudos

e orientações ofertadas pelo Programa de desenvolvimento Educacional - PDE, que

busca proporcionar ensino de qualidade para a Educação Pública.

O trabalho visa estimular a leitura, a fim de desenvolver a autonomia de

ler mais, informar e sensibilizar a buscar conhecimentos para maior concepção de

mundo e de sentido crítico.

Pensando nesse contexto, o Projeto “Ler faz bem à cultura e à memória”, faz-se necessário buscar práticas pedagógicas que incentivem os jovens

de hoje, a gostar mais da leitura e ver sentido nessa prática.

Uma das finalidades deste projeto é despertar nos alunos o gosto pela

leitura. Então escolhi contos que falem de juventude, pois é também uma etapa de

grandes desafios. “Tudo tem uma primeira vez”. Esta tão conhecida frase talvez

tenha sentido mais pleno durante a juventude: o tempo do primeiro amor, da

primeira desilusão, dos medos, da primeira opção profissional, de todos os riscos

inerentes à passagem para a vida adulta. O jovem tem um desejo urgente de lançar-

se à vida.

Tendo em vista que, quando a leitura é estimulada de forma criativa e

atraente, a mesma possibilita a redescoberta do prazer de ler, a utilização da escrita

em contextos sociais e a inserção do adolescente no mundo letrado.

É isso mesmo que podemos comprovar através dos contos: “O primeiro

amor” de Ana Miranda, onde ela fala da opção pelo impacto do primeiro amor

platônico e delicado, a sensualidade feminina rompendo com o ambiente protetor da

adolescência de moça bem nascida.

Moacyr Scliar, com o conto “O sorriso de Lúcifer”, prefere inverter as

regras do jogo, onde seu protagonista (o filho) tem mais juízo que o próprio pai, um

adulto irresponsável aprisionado ao desejo de ser eternamente jovem.

No conto “Uma viagem dentro da noite”, de Fernando Bonassi, o autor

fala de como o jovem pode correr risco de vida ao sair simplesmente para uma

caminhada na noite. Um jovem sozinho na rua é sinal de suspeita e perigo.

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Clarice Lispector, no conto “O primeiro beijo”, narra um dos momentos

mais importantes da juventude, com um conto repleto de astúcia e sutileza.

Humor, suspense e surpresas alternam-se nos contos, revelando toda

uma diversidade de experiências cuja principal indagação parece ser simplesmente:

seria a juventude a melhor época da vida?

A inserção de um projeto de contos contemporâneos, cujo tema é a

juventude, pode trazer para as atividades e para o espaço da sala de aula, tantas

vezes considerados tediosos e austeros, o caráter lúdico e de interatividade tão

desejado pelo jovem.

A possibilidade de estimular a leitura entre os alunos, apresentando o

conto, como um desafio que pressupõe algo produtivo e prazeroso pode levá-lo a

contribuir para a formação do leitor competente e autônomo. A leitura abre

horizontes, faz a diferença, oportuniza ao ser humano o direito de fazer opção, de

posicionar-se consciente e criticamente diante da realidade. Entretanto a leitura tem

outros benefícios.

Aquisição de conhecimento: ampliamos nosso conhecimento sobre

assuntos específicos e gerais.

Estímulo à brincadeira: com a leitura, criamos um mundo paralelo onde

somos livres para sonhar e nos divertir sem nos sentirmos pressionados.

Estímulo à criatividade: a leitura desenvolve prazerosamente o nosso

potencial criativo e a capacidade de interpretação.

Desenvolvimento da capacidade de argumentar: criamos bases para

fazer argumentos consistentes.

Ampliação do vocabulário: conhecemos novas palavras e aprendemos

a usá-las em seus diferentes e ricos sentidos.

Incentivo à reflexão e à formação de opinião: a leitura nos incentiva a

pensar, a refletir, a formar uma opinião, a pôr em xeque nossas convicções e a

chegar a uma conclusão.

Ampliação do campo de visão: a leitura nos permite “ver” um assunto

sob outras perspectivas, o que estimula nossa capacidade de aceitar o novo e o

diferente, bem como desenvolver o senso crítico.

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Confrontação de pontos de vista: a leitura nos leva a uma conversa

com o autor, o que nos permite reforçar, esclarecer ou mudar nossos pontos de

vista.

Utilização dos recursos da linguagem: a leitura nos permite aprender

com os bons autores, a utilizar, inventivamente, os recursos oferecidos pela

linguagem.

O neurologista e professor da PUC, Ivan Izquierdo, em entrevista ao

Jornal Folha de Londrina, no mês de Outubro de 2010, afirmou que:

“o melhor instrumento que possuímos para

exercitar e manter a memória saudável é mesmo a

leitura. Porque ao ler, a pessoa exercita simultaneamente

muitas variedades de memória: de letras, de palavras, de

línguas, de objetos, de pessoas e a memória visual.”

E o melhor de tudo isso é que a leitura não tem contraindicação e deve

ser iniciada o mais cedo possível, mas mantida durante toda a vida porque é uma

aliada da saúde mental.

A intenção deste material é que possa trazer mudanças positivas na

conduta dos alunos, como também, mudanças na prática pedagógica dos docentes

que poderão fazer uso desse material e que os resultados aqui conquistados

possam favorecer a todos que buscam melhorias significativas na Educação.

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3 OBJETIVOS

a. GERAL

Estimular, no educando, o prazer pela leitura e a interpretação de

texto, através de Contos Brasileiros Contemporâneos, buscando a

melhoria da qualidade do ensino nas escolas públicas paranaenses.

b. ESPECÍFICOS

Possibilitar ao aluno reconhecer o mecanismo de construção do conto,

seus elementos, a estrutura e os aspectos do conto brasileiro

contemporâneo.

Desenvolver o gosto e o hábito da leitura, fazendo com que o

educando sinta a importância de ler diariamente.

Construir o hábito de ouvir e contar contos, vivenciando o prazer que

envolve as leituras.

Promover atividades que colaborem com o desenvolvimento criativo do

aluno para torná-lo leitor competente e autônomo.

Exercitar habilidades de leitura para desenvolver competências

comunicativas essenciais ao exercício da cidadania na sociedade.

Compreender os diferentes gêneros textuais em circulação social,

usados em diferentes situações de comunicação.

Possibilitar ao aluno reconhecer o mecanismo de construção do conto,

seus elementos, a estrutura e os aspectos do conto brasileiro

contemporâneo.

Desenvolver o gosto e o hábito da leitura, fazendo com que o

educando sinta a importância de ler diariamente.

Construir o hábito de ouvir e contar contos, vivenciando o prazer que

envolve as leituras.

Promover atividades que colaborem com o desenvolvimento criativo do

aluno para torná-lo leitor competente e autônomo.

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Exercitar habilidades de leitura para desenvolver competências

comunicativas essenciais ao exercício da cidadania na sociedade.

Compreender os diferentes gêneros textuais em circulação social,

usados em diferentes situações de comunicação.

“[...] O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.”

(Mário Quintana)

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4 PROBLEMA/PROBLEMATIZAÇÃO

A leitura e a escrita em sala de aula são hoje um dos maiores desafios

das escolas. Ler é uma das competências mais importantes a serem trabalhadas

com o aluno, principalmente após recentes pesquisas que apontam ser esta uma

das principais deficiências do estudante.

Para alcançar a tão sonhada cidadania, certamente serão necessárias

soluções construtivas de todos os setores de sociedade, principalmente o da escola.

Para Silva (2005, p. 24; SEED – Diretrizes Curriculares de Língua

Portuguesa, p. 57):

[...] a prática de leitura é um princípio de

cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes

práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas

obrigações e também pode defender os seus direitos,

além de ficar aberto às conquistas de outros direitos

necessários para uma sociedade justa, democrática e

feliz.

Partindo desse pressuposto: de que forma o educador e mediador da

cultura poderá introduzir novos métodos para despertar no aluno o gosto pela leitura

através do conto?

Já que, ler um texto implica não só aprender o seu significado, mas

também trazer para esse texto nossa experiência e nossa visão de mundo como

leitor. Não basta identificar as palavras, mas fazê-las ter sentido, compreender,

interpretar, relacionar e reter o que for mais importante.

O que observamos nas salas de aulas de hoje é que falta aos jovens a

motivação, nossos alunos pouco lêem. Pretendo então através da leitura de contos

cujo tema é a juventude, despertar no aluno a necessidade de inventar e buscar

preencher os vazios dessa idade, decifrar os seus mistérios ou simplesmente

celebrar o que a experiência de ser jovem tem de mais vivo, de mais fantástico e

real.

E o conto, na sua forma breve, concisa e concentrada num acontecimento

preciso, se tornou um correlato perfeito do sonho ou da fantasia que compõe uma

feliz junção entre o mundo concreto e o mundo imaginado.

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Para propiciar essa leitura, é preciso transformar a escola e a sala de

aula num ambiente estimulador das mais variadas situações de leituras, uma vez

que a leitura aproxima do saber, enriquece o vocabulário e é um dos caminhos do

sucesso, porque quem lê, fala bem, escreve bem e se comunica bem. E a boa

comunicação é a ponte que leva a grandes realizações.

A leitura, portanto, não é uma questão de tudo ou nada, é uma questão

de natureza, de condições, de modos de relação, de trabalho, de produção de

sentidos, de historicidade. Por meio dela, além de adquirirmos mais conhecimentos

e cultura, ganhamos capacidade de diálogo e nos prepara melhor para atingir as

necessidades de um mercado de trabalho exigente. Através da leitura, adquirimos

novas experiências, ao conhecermos mais do mundo em que vivemos e também

sobre nós mesmos, já que ela nos leva a reflexões. Isto mostra como a leitura pode

ser um processo bastante complexo e que envolve muito mais do que habilidades

que se resolvem no imediatismo da ação de ler. Devemos ensinar a ler com prazer,

e a tirar proveito pessoal da leitura.

Não devemos poupar os alunos de novos desafios. Pois a função da

escola é ensinar novidades, abrir horizontes, ampliar o repertório do aluno com

exposição de maior diversidade de gêneros textuais.

A leitura deve ter, na escola, uma importante função no trabalho

intelectual geral. A formação do leitor é um processo de amadurecimento. Quanto

antes começar, mais sentido fará na vida do aluno-leitor.

Nesse sentido, a função do professor é propiciar ao aluno condições e

novas alternativas para a prática de leitura e escrita, uma vez que a razão

fundamental do ensino de língua materna é tornar o aluno capaz de interpretar

diferentes textos que circulam socialmente. Agindo desse modo o professor estará

desempenhando um trabalho que realmente tenha relevância.

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5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

5.1 O CONTO: Definições e história

Tendo em vista que todos os textos se manifestam sempre num ou noutro

gênero textual, um maior conhecimento do funcionamento dos gêneros textuais é

importante, tanto para a produção, como para a compreensão. Daí dizer que os

gêneros são modelos comunicativos. Servem, muitas vezes, para criar uma

expectativa no interlocutor e prepará-lo para uma determinada reação.

Bakhtin (2003) conceitua o gênero textual como:

“são tipos relativamente estáveis de enunciado definidos,

por seu conteúdo temático, por seu estilo, por sua

construção composicional.”

Os gêneros que circulam socialmente contribuem para organizar e

estabilizar as atividades comunicativas. Cada gênero apresenta conteúdos

específicos de ensino a ele relacionados, elementos estes que fazem com que o

texto pertença àquele gênero e não a outro. Dentre todos os gêneros, escolhi o

conto para desenvolver meu trabalho.

Muito se tem estudado sobre a história da teoria do conto. O conto

cumpre a seu modo o destino da ficção contemporânea. Posto entre as exigências

da narração realista, os apelos da fantasia e as seduções do jogo verbal, ele tem

assumido formas de surpreendente variedade. Ora é quase- documento folclórico,

ora a quase-crônica da vida urbana, ora o quase-drama do cotidiano burguês, ora o

quase-poema do imaginário às soltas, ora, enfim, grafia brilhante e preciosa voltadas

às festas da linguagem. Muitos teóricos da literatura tentaram encaixar a forma-

conto no interior de um quadro fixo de gêneros. Na verdade, se comparada à novela

e ao romance, a narrativa curta condensa e potencia no seu espaço todas as

possibilidades da ficção.

O conto não só consegue abraçar a temática toda do romance, como

põem em jogo os princípios de composição que regem a escrita moderna em busca

do texto sintético e do convívio de tons, gêneros e significados.

Quanto à invenção temática, o conto tem exercido, ainda e sempre, o

papel de lugar privilegiado em que se dizem situações exemplares vividas pelo

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homem contemporâneo. Se o romance é um trançado de eventos, o conto tende a

cumprir-se na visada intensa de uma situação, real ou imaginária, para a qual

convergem signos de pessoas e de ações e um discurso que os amarra. O contista

é um pescador de momentos singulares cheios de significação. Inventar, de novo:

descobrir o que os outros não souberam ver com tanta clareza, não souberam sentir

com tanta força. Literariamente: o contista explora no discurso ficcional uma hora

intensa e aguda da percepção.

O tema do qual sairá um bom conto é sempre excepcional, mas sem

querer dizer com isto que um tema deva ser extraordinário, fora do comum,

misterioso ou insólito. Pode tratar-se de uma história trivial e cotidiana.

O contista sabe que não pode proceder acumulativamente, que não tem

o tempo por aliado; seu único recurso é trabalhar em profundidade, verticalmente,

seja para cima ou para baixo do espaço literário. O tempo e o espaço do conto têm

de estar como que condensados, submetidos a uma alta pressão espiritual e formal.

Um conto é ruim quando é escrito sem essa tensão que se deve manifestar desde

as primeiras palavras ou desde as primeiras cenas. E assim podemos adiantar já

que as noções de significação, de intensidade e de tensão hão de nos permitir,

aproximarmo-nos melhor da própria estrutura do conto. Um conto é significativo

quando quebra seus próprios limites com essa explosão de energia espiritual que

ilumina bruscamente algo que vai muito além da pequena e às vezes miserável

história que conta. O conto precisa causar um efeito singular no leitor, muita

excitação e emotividade.

Júlio Cortázar, em “Alguns aspectos do conto”, nos lembra:

“se não tivermos uma ideia viva do que é o conto, teremos perdido tempo, porque um conto, em última análise, se move nesse plano do homem onde a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha fraternal, se me for permitido o termo; e o resultado dessa batalha é o próprio conto, uma síntese viva ao mesmo tempo que uma vida sintetizada, algo assim como um tremor de água dentro de um cristal, uma fugacidade numa permanência. Só com imagens se pode transmitir essa alquimia secreta que explica a profunda ressonância que um grande conto tem em nós, e que explica também por que há tão poucos contos verdadeiramente grandes”.

Diversas são as definições para o conto, porém, todas chegam à

conclusão de que contos são narrativas do gênero literário da prosa de ficção.

Geralmente curtas, nas quais o escritor cria seus personagens e monta uma

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determinada situação de maneira bem concisa. Frequentemente conta-se a amigos

histórias sobre acontecimentos da vida diária. Dessa forma, o escritor precisa saber

pintar – com poucos traços – pessoas, cenários e tramas que sejam convincentes.

Os personagens do conto são em geral retratados rapidamente com poucos

detalhes. Como o espaço é pequeno, o autor procura concentrar a atenção do leitor

num único ponto de interesse. As histórias podem ser independentes. Hoje se lê um

conto, amanhã, outro. Tudo bem, de acordo com a disposição do leitor!

O conto originou-se num tempo em que nem sequer existia a escrita; as

histórias eram narradas oralmente ao redor das fogueiras das habitações dos povos

primitivos – geralmente à noite. Por isso o suspense, o fantástico, que o

caracterizou. Nos nossos tempos, em volta da mesa, à hora das refeições, pessoas

trazem notícias, trocam ideias e... contam casos.

Inicialmente, o conto fazia parte da literatura oral, com origem na narrativa

de mitos e lendas. Foi com Boccaccio, autor do Decamerão, que o conto pela

primeira vez ocupou um lugar entre as grandes obras universais.

O antigo e novo testamento também traz muitas outras histórias com a

estrutura do conto, como os episódios de José e seus irmãos, de Sansão, de

Salomé; as parábolas: o Bom Samaritano, o Filho Pródigo, a Figueira Estéril a do

Semeador, entre outras.

Maupassant dizia que escrever contos era mais difícil do que escrever

romances. Ele escreveu cerca de 300 contos e, segundo se diz, ficou rico com eles.

Machado de Assis também não achava fácil escrever contos: “É gênero

difícil, a despeito de sua aparente facilidade”, (citado por Nádia Battella Gotlib em

Teoria do Conto).

Numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo (de 04 de fevereiro de

1996, página 5 – 11), Moacyr Scliar, nascido em 23/03/1937 e falecido em

27/02/2011, conhecido como romancista e contista, revela sua preferência pelo

conto:

“Eu valorizo mais o conto como forma literária. Em termos de criação, o conto exige muito mais do que o romance... Eu me lembro de vários romances em que pulei pedaços, trechos muito chatos. Já o conto não tem meio termo, ou é bom ou é ruim. É um desafio fantástico. As limitações do conto estão associadas ao fato de ser

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um gênero curto, que as pessoas ligam a uma idéia de facilidade; é por isso que todo escritor começa contista”.

Ítalo Calvino (1923 – 1985) em, Por que ler os clássicos, diz:

“Penso que, não por casualidade, a nossa época (anos 80) é a época do conto, do romance breve”.

Poe, que foi o primeiro teórico do gênero conto, dizia:

“Temos necessidade de uma literatura curta, concentrada, penetrante, concisa, ao invés de extensa, verbosa, pormenorizada... É um sinal dos tempos... A indicação de uma época na qual o homem é forçado a escolher o curto, o condensado, o resumido, em lugar do volumoso” (citado por Edgard Cavalheiro na introdução de Maravilhas do conto universal).

O conto sempre fascinou o ser humano. Nas palavras ditas ou escritas de

um bom narrador, os acontecimentos adquirem vida. É a arte da imaginação, onde

somos transportados para outro mundo real. Lá acompanhamos os personagens em

suas aventuras e em seus dramas e compartilhamos suas alegrias e tristezas.

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6 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

A implementação deste projeto de intervenção pedagógica será

desenvolvida com uma das turmas das séries finais do Ensino Fundamental, do

Colégio Estadual Barão do Cerro Azul, em Ivaiporã.

6.1 Apresentação do projeto.

A apresentação do projeto para a turma é muito importante, pois os alunos

terão conhecimentos de todos os passos a serem desenvolvidos durante a

implementação do mesmo.

As etapas são:

Apresentar o projeto à turma e falar sobre o gênero textual que será

trabalhado.

Dialogar com os alunos, para verificar seus conhecimentos prévios sobre o

gênero conto e o tema juventude que será abordado.

6.2 Trabalhando os gêneros textuais

Inicialmente, será feito um levantamento oral para saber o que os alunos

já sabem a respeito de gênero textual. O professor, já de posse de alguns modelos

de gêneros textuais, mostrará poema, crônica, romance, novela, poesia, receita de

remédio, carta, bilhete, conto etc., para os alunos fazendo as explicações, dando

ênfase ao gênero conto, explicando-lhes que é a partir dele que vamos desenvolver

nossas atividades.

6.3 Apresentando definição de conto

No segundo momento, o professor verifica junto aos alunos se já ouviram

ou leram algum conto e o que sabem a respeito dele. Se algum estudante quiser

contar um conto ou falar sobre o assunto poderá fazê-lo nesse momento. Após isto o

professor fará algumas explicações, falando sobre a estrutura, o tempo, o espaço, a

temática, os personagens e o mecanismo de construção do conto.

Seguindo com as atividades, agora em folha impressa o professor

mostrará algumas definições de conto de alguns escritores.

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Após esse contato com definições e opiniões de escritores, iremos até a

sala de computação, para uma pesquisa maior sobre o assunto, o conto.

O conto é um tipo de narrativa não muito longa (história curta de fatos

fictícios) em que o narrador se detém num momento especial, ou seja, a ação se

concentra em um único ponto de interesse um conflito maior vivido pelos

personagens.

Podemos destacar as seguintes características do conto moderno:

• História curta.

• Poucos personagens.

• Ação limitada a poucos lugares (espaço limitado).

• Tempo limitado a um momento significativo na vida dos personagens.

• Focaliza um momento importante, conflituoso, na vida do personagem

principal. Normalmente, o Conto apresenta episódios que fluem em direção ao

desfecho, mantendo o leitor atento ao desenrolar dos acontecimentos. O contista

moderno descreve e caracteriza apenas o essencial de seus personagens e a

atmosfera em que a ação se desenvolve. Este tipo de narrativa atrai o leitor por

tratar de episódios do dia a dia, nos quais qualquer pessoa pode se retratar.

6.4 Pesquisando a história do conto na internet

A pesquisa será direcionada sobre a história do conto. De posse da

pesquisa, já em sala de aula, formaremos grupos de quatro a cinco estudantes para

uma interação sobre o assunto entre os componentes. Depois disso formaremos um

grande círculo, onde um aluno de cada grupo expõe para os demais o conteúdo

pesquisado. No debate os alunos irão manifestar e compartilhar com o professor e

seus colegas as informações coletadas sobre contos. Estas informações serão

fixadas num quadro mural na própria sala de aula.

Sites para pesquisa:

WWW.dominiopublico.gov.br

WWW.artenaescola.org.br

WWW.sitedeliteratura.com/teori/conto

WWW.lendo.org.br

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WWW.releitura.com

WWW.2uol.com.br/machadodeassis

6.5 Contato com o conto em livros de literatura

Para essa etapa o trabalho será individual entre os alunos. O professor

levará para a sala de aula as obras pré selecionadas e já lidas por ele. Dar tempo

para que os alunos possam confrontar seus livros com os dos colegas e também

para que os mesmos possam familiarizar-se com os contos. A leitura será feita em

sala de aula, porém os educandos poderão levar os livros para casa e assim

continuar a leitura dos mesmos. Poderão também num outro momento fazer a troca

dos livros de contos entre eles, para que possam ter contato com vários contos.

6.6 Horas de contar seus contos para a classe

Determinado o dia para a contação de contos, de preferência aulas

geminadas, faremos um grande círculo em sala onde o aluno poderá compartilhar

com os demais colegas e com o professor, o conto selecionado por ele. Havendo

necessidade após o conto ter sido apresentado pelo aluno o professor poderá

intervir com algumas indagações orais sobre tema, personagens, tempo, espaço e

narrador.

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Se o tempo não for suficiente o professor determinará outro dia para dar

continuidade na contação dos contos. Para finalizar cada estudante fixará no mural

da sala de aula os contos, juntamente com as outras informações já coletadas sobre

o gênero conto.

6.7 Realizando leitura e interpretação de contos

Depois de estarem já bastante informados através da pesquisa e das

leituras sobre contos vamos trabalhar a interpretação oral e escrita do conto Uma

viagem dentro da noite de Fernando Bonassi. Conto selecionado pelo professor,

com atividades elaboradas para o texto, onde os alunos identificarão o tema, o

espaço, o tempo, os personagens, o enredo, o narrador, a linguagem utilizada no

conto, análise linguística e outros recursos presentes nos contos.

Será entregue para cada aluno o conto. Faremos leitura oral do mesmo e

o professor tecerá alguns comentários a respeito desse conto.

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7 UNIDADE 1

No conto “Uma viagem dentro da noite”, de Fernando Bonassi, ele fala

de como o jovem pode correr risco de vida ao sair simplesmente para uma

caminhada na noite. Um jovem sozinho na rua é sinal de suspeita e perigo. Está no

livro de contos, De primeira viagem. Cia Das Letras – 2006 – Ministério da

Educação.

LEITURA DO CONTO I

UMA VIAGEM DENTRO DA NOITE

Fernando Bonassi

Dizem por aí que a constituição garante o direito de ir e vir...

Em tese, cada um pode ir e vir sem dar satisfações tanto no ir como no

vir. Mas naquele bairro nada era tão simples. Às vezes você estava indo ou vindo

e... um camburão estacionava do seu lado.

“Parado aí.”

Estacionar, no caso, é apenas um modo de se referir a uma coisa que se

aproxima com estardalhaço e para com roncos esquisitos, espantando gatos, ratos,

bêbados, vaga-lume e morcegos. Mas isso ainda não era tudo... desde o final dos

anos 70, aquelas D20, muito conhecidas na vizinhança por sua camuflagem de

ferrugem, haviam rodado mais de quinhentos mil quilômetros atrás de putas,

ladrões, vagabundos, assassinos, culpados e inocentes, de forma que se podia

sentir o encosto desesperado de todas as almas perdidas que os “homens da lei”

haviam ajudado a chegar no inferno.

Tanto estímulo me fez erguer os braços imediatamente. Minha mãe disse

que eu já possuía essa reação instintiva no berço. Bastava ouvir meu nome pra

aparecer de “mãos ao alto”. Culpa genética? Vergonha? Terror? Vai saber...

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O que eu sei é que estava lá. De costas pra ameaça, quando ouço uma

porta abrir.

“Bom garoto...”

“A gente se acostuma.”

“O quê? Nós nos conhecemos?”

“Acho que não.”

“Deixa eu ver você direitinho.”

Senti um calor malcheiroso se intensificar. Passou a mão na minha

bunda.

“Hum... acho que te conheço.”

“Deve ser engano.”

“Eu me engano, Waldemar?”

Outra voz soou, dessa vez dentro da viatura:

“Não me lembro disso ter acontecido não, Dirceu.”

“E se a gente passasse um rádio pra saber desse rapaz?”

Meus ombros começaram a doer. Tive inveja daqueles caras que

ficavam pendurados pelos pulsos. Pelo menos estavam amarrados. Devia cansar

menos. Deu vontade de fazer xixi, mas não precisei pensar muito pra perceber que

era uma péssima ideia na ocasião.

Então comecei a tremer. Inteiro. Não era só cansaço.

“Po posso ba baixar o bra braço?”

“Ta com medo?”

Respirei fundo. Respondi de uma só vez, para parar de gaguejar:

“To.”

“Aí, Waldemar... o menino ta com medo!”

Outra vez o “Waldemar” cuspiu da viatura:

“Agora, né?”

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Era para dizer: “Claro, agora que vocês estão aqui”, mas tudo tem

limite. Mesmo a coragem. Ou a burrice... Fiquei quieto.

“Tem motivo pra ter medo?”

“Não sei.”

O que é que a gente responde numa hora dessas?!

Nunca me ensinaram a lidar com isso na escola...

“Ta com pressa?”

“Eu só queria...”

“Sabe, Waldemar, não vou encher o saco do pessoal da Central.

Vamos deixar eles dormirem direito essa noite. O menino aqui parece de bem. Você

é de bem?”

“Acho que sim.”

“Não tem certeza?”

“É... bom... eu trabalho.”

“Então vamos ver a profissional...”

Tornou a passar a mão na minha bunda. Pegou a carteira de dinheiro.

Reclamei. Não devia, mas reclamei:

“Ei, essa não é a carteira de trabalho!”

“Quem trabalha ganha, é ou não é?”

“Nem sempre.”

“Olha só, Waldemar, é um revoltado.”

“Pô, Dirceu, esses revoltados vivem dando trabalho pra gente.”

“Nem diga, Waldemar, nem diga...”

Dirceu fuçava nas minhas coisas.

“Só anda com dez?!”

“Tem cara de malandro... Procura, procura que tem coisa.”

Finalmente Dirceu alcançou minha profissional. Nem vou explicar

como.

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“Vamos ver o que ele tem feito...”

Enquanto Dirceu abria minha carteira de trabalho, pensei que um

registro de emprego mais duradouro poderia me dar alguma dignidade, mas não

tinha nada duradouro para oferecer além das minhas dúvidas.

“Nossa, Waldemar!”

“Que é, Dirceu?”

“O moleque não pára num emprego!”

“Um vagabundo, hem?!”

“O desemprego ta fogo, eu...”

“Puxa carro? Acho que você puxa... Tem cara...

Ou trafica um papelzinho?”

“Não, eu...”

“Vem.”

Dirceu abriu a porta de trás do camburão. Não foi dessa vez que eu

pude ver a cara dele. Do Waldemar eu desviei, seguindo pro chiqueirinho

cabisbaixo. Esperava causar boa impressão. Talvez eles pudessem desistir.

Não desistiram.

Muitas emanações diabólicas saíam daquele carro, especialmente ali,

onde amontoavam os desgraçados. Basicamente a coisa se compunha de vômito,

suor e óleo de máquina Singer. Devia haver sangue também, daí um resquício doce

no ar. Ar?

“Entra.”

Hesitei. Ou melhor, travei.

“Entra!”

Dirceu “me ajudou” com a ponta de um pé e em seguida fez baixar a

porta. Tive pouco tempo pra não ser degolado. A luz que entrava era quadriculada

por causa de uma rede que cobria os vidros. Já nesse momento, falar em “medo”

seria pouco. Quem não sabia que entrar naquele porta-miserável era ganhar

cinquenta por cento num concurso de morte certa?

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Só que eu não ia morrer instantaneamente. Antes aqueles caras se

divertiriam um bocado. O modo como arrancaram deu bem a medida de como

sabiam “amansar” um sujeito sem tocar nele, usando apenas a lataria como “apoio”.

Curvas, subidas, descidas, ziguezagues, freadas, novos arranques... bati as costas,

tentei me equilibrar, caí de cabeça, dei cambalhota, bati o rosto, voltei a ficar de

pernas para o ar, me endireitei, procurei ficar entalado num canto. Comecei a

sangrar nos lábios. Evitei encostar onde quer que fosse, podia pegar alguma doença

venérea, ou algo mais mortal.

Tentava enxergar entre a malha do ferro, mas era impossível. Só

ganhei mais uns galos e arranhões na testa. Tinha a vaga impressão de que

rumávamos pra lugares cada vez mais ermos. Me agarrei pra observar melhor. A

“vaga impressão” se transformou numa verdade bem desagradável: apartamentos

eram substituídos por casas, casas eram substituídas por indústrias, indústrias por

terrenos baldios da vasta terra-de-ninguém dos confins da periferia paulistana.

Rezei. Não era de fazer isso. Misturei Pai-Nosso com soluços, Ave-

Maria com asma. Tentava aproveitar meus últimos momentos, embora meus últimos

momentos não parecessem oferecer grande coisa pra aproveitar.

Serpenteamos por um morro coberto de lixo. Meu coração, pra não

dizer outra coisa, foi ficando apertadinho.

De repente, paramos. Ou fui parado. Estávamos em algum lugar entre

o nada e o coisa alguma. Portas abriram lá na frente. Depois a do chiqueirinho. Vi a

cara dos dois. Nada mais. A mesma cara de saco-cheio de todos nós, só que dotada

de alguma autoridade.

“Desce.”

Desci, claro.

“Vira de costas.”

Virei, óbvio.

“Toma o que é teu.”

Esperei um tiro na nuca, mas estavam passando minha carteira. Não

conferi.

“O que é que te aconteceu?”

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“Eu?”

“Tem mais cego aqui?”

“O que?”

“Perguntei se tem mais cego por aqui?!”

“Ah, quer dizer, não vi nada. Se o senhor mesmo ta dizendo que eu

sou cego, como é que eu posso ver...”

“Bom assim... Agora conta até cem.”

“Um... dois... três...”

Ouvi portas baterem.

“Quatro... cinco... seis...”

Ia sobreviver?

Ouvi o carro se afastando.

“Sete... oito...nove...”

Se afastando até desaparecer no silêncio de grilos.

“Dez... onze...”

Virei.

“Doze...”

Estava sozinho.

“Treze... cator...”

Era um pouco pra lá da casa do chapéu. Só então abri a carteira. Ainda

tinha um passe. E uma nota de um, benta, que minha avó obrigava todos da família

a carregar.

Escolhi um lado e comecei andar pelo que me parecia o caminho de

volta.

Uma placa anunciava Osasco dali a doze quilômetros.

Amanhecia. Estava vivo. Não parecia, necessariamente, um mal sinal.

Continuei andando. Homens e mulheres de cara inchada começaram a

surgir com mochilas onde as marmitas batucavam.

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Continuei andando. Seguindo os miseráveis a caminho do sacrifício.

Me preparei. Sabia que ia andar muito... muito mesmo... mas será que um dia eu ia

chegar na droga de algum lugar?

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Responda

1. O que você sabe sobre o tema da juventude tratado nesse conto?

2. Você conhece alguém que já passou por situações semelhantes à história do

conto?

3. O que você pensa sobre as autoridades abusarem do poder, maltratando e

prejudicando pessoas?

4. Quanto ao jovem andar à noite, nas ruas, você considera perigoso e suspeito,

como no conto? Comente seu ponto de vista.

5. Nos dias de hoje é frequente acontecer casos como o narrado no conto?

Explique.

6. Aponte alguns perigos do jovem caminhar à noite nas ruas.

7. Ao escrever esse conto o escritor pensou num provável leitor. Qual seria esse

leitor?

8. “... de forma que se podia sentir o encosto desesperado de todas as almas

perdidas que os “homens da lei” haviam ajudado a chegar no inferno.”

Explique qual é o conteúdo desse trecho do conto.

9. O espaço onde ocorre o conflito é:

( ) Num presídio;

( ) Num bairro;

( ) Numa delegacia.

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10. Qual é a importância desse espaço no conto?

( ) Deixa o conto mais misterioso, emocionante;

( ) Não contribui em nada para o conflito;

( ) É muito importante para o desenrolar dos acontecimentos.

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Para ficar informado...

O CONTO E SUAS CARACTERÍSTICAS:

LINGUAGEM E CONSTRUÇÃO DO TEXTO

No dia a dia, fazemos uso de diferentes gêneros textuais para dar conta

de intenções e necessidades de comunicação diversas. São exemplos de

gêneros textuais escritos e orais: bilhete, carta, convite, e-mail, notícia, reportagem,

piada, conto, crônica, poema, romance, novela, receita, bula, aviso, debate,

entrevista, etc.

O conto, como esse que você acabou de ler, é um aprimoramento da arte

de contar.

O escritor faz escolhas e combinações de palavras e de ideias para

construir o texto de acordo com uma intenção e pensando em um provável leitor.

Você vai analisar alguns aspectos do conto que ajudam a definir esse

gênero textual.

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8 ELEMENTOS DA NARRATIVA

Os alunos serão estimulados a pensar sobre a importância e os

significados dos elementos da narrativa de cada conto.

O tempo, o enredo, o espaço e as personagens.

Personagens – Quem participou ou observou o ocorrido. (Com quem ou

quem?)

Espaço ou lugar – onde o fato aconteceu. (Onde?)

Tempo – cronológico e psicológico, quando o fato ocorreu. (Quando?)

Ação - O que acontece? Como se desenrolam os fatos?

Narrador - Quem conta o conto?

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9 TIPOS DE FOCO NARRATIVO

Narrador-observador

O narrador-observador é aquele que conta a história através de uma

perspectiva de fora da história, isto é, ele não se confunde com nenhum

personagem. Este foco narrativo se dá, principalmente, na terceira pessoa do

singular ou do plural – ele (a); eles (as).

Narrador-personagem

O narrador-personagem é aquele que conta a história através de uma

perspectiva de dentro da história, isto é, ele, de alguma forma participa do enredo,

sendo um dos personagens da história, usando a primeira pessoa do singular ou do

plural (eu ou nós) para contar a história.

A modalidade narrativa de texto pode constituir-se de diferentes maneiras:

novela, conto, crônica, piada, romance, fábula etc.

Uma narrativa pode trazer falas de personagens entremeadas aos

acontecimentos, faz-se uso dos chamados: discurso direto, discurso indireto e

discurso indireto livre.

No discurso direto, o narrador transcreve as palavras da própria

personagem. Para tanto, recomenda-se o uso de algumas notações gráficas que

marquem tais falas: travessão, dois pontos, aspas. Mais modernamente alguns

autores não fazem uso desses recursos.

O discurso indireto apresenta as palavras das personagens através

do narrador que reproduz uma síntese do que ouviu, podendo suprimir ou modificar

o que achar necessário. A estruturação desse discurso não necessita de marcações

gráficas especiais, uma vez que sempre é o narrador que detém a palavra.

Quanto ao discurso indireto livre, é usado como uma estrutura

bastante informal de colocar frases soltas, sem identificação de quem a proferiu, em

meio ao texto. Traz, muitas vezes, um pensamento do personagem ou do narrador,

um juízo de valor ou opinião, um questionamento referente a algo mencionado no

texto ou algo parecido. Esse tipo de discurso é o mais usado atualmente, sobretudo

em crônicas de jornal, histórias infantis e pequenos contos.

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Atividades

1) Identifique no conto de Fernando Bonassi, Uma viagem dentro da noite os

seguintes elementos da narrativa:

a) personagens;

b) espaço em que se passa a ação;

c) tempo em que a ação se passa;

d) ações / enredo;

e) narrador;

2) Marque a alternativa que corresponde à característica do narrador do conto

analisado:

( ) narrador-personagem: participa da ação da história.

( ) narrador-observador: conta os fatos a distância, sem participar.

3) Transcreva trechos que comprovem sua escolha sobre o tipo de narrador.

4) Retire do conto um trecho que apresenta o discurso direto e outro o discurso

indireto.

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5) Neste conto, há uma predominância pelo discurso direto ou indireto?

Exemplifique com frases do conto.

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10 ENREDO OU MOMENTOS DA NARRATIVA

a) Situação inicial: situação de equilíbrio.

b) Conflito: os motivos que desencadearam a ação da história.

c) Clímax do conflito: momento de maior tensão na história.

d) Desfecho: final e resolução do conflito.

1) Identifique, ainda no conto de Fernando Bonassi, as etapas ou os momentos:

a) situação inicial;

b) conflito;

c) clímax;

d) desfecho;

2) Sobre o título do conto: Uma viagem dentro da noite é importante para a

composição do ambiente da história? Que efeito você acha que pode criar no

texto?

3) Na frase: ‘Se afastando até desaparecer no silêncio de grilos. ’ Explique o que

o narrador quis dizer com este trecho.

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4) “Dizem por aí que a constituição garante o direito de ir e vir...”

No texto há várias marcas de lugar como no exemplo citado. Encontre outras

marcas de lugar.

5) Ainda quanto à frase acima que refere-se ao direito de ir e vir o que você

sabe sobre isso? Faça uma pesquisa.

6) Em relação ao emprego dos verbos, verifique: qual o tempo verbal

predominante nessa parte do conto? Assinale a alternativa correta:

( ) presente ( ) pretérito (passado) ( ) futuro

7) Por que, em sua opinião, predomina esse tempo verbal, em se tratando do

gênero conto?

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11 UNIDADE 2

No conto, O primeiro beijo, de Clarice Lispector, onde fala de um dos

momentos mais importantes da juventude masculina, repleto de astúcia e sutileza,

faremos leitura e reflexão do conto.

Clarice Lispector, célebre escritora da nossa literatura, narra uma

experiência inesquecível da fase da juventude no conto que você vai ler. Está no

livro de contos O primeiro beijo e outros contos. Antologia. São Paulo: Ática,

1995.

Leitura do conto II

O PRIMEIRO BEIJO

Clarice Lispector

Os dois mais murmuravam do que conversavam: havia pouco iniciara-se

o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.

- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso.

Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me

beijar?

Ele foi simples:

- Sim, já beijei antes uma mulher.

- Quem era ela? Perguntou com dor.

Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.

O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no

meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe

pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às

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vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir – era tão bom. A concentração no

sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.

E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que

o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! Como deixava a garganta

seca.

E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de

reunida na boca ardente engolia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna,

porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme, maior que ele próprio, que

lhe tomava o corpo todo.

A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio-dia tornara-se quente e árida

e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente

juntava.

E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de

deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar,

esperar. Talvez minutos apenas, talvez horas, enquanto sua sede era de anos.

Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água,

pressentia-se mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a

estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada,

entre arbustos, estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada.

O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a

chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.

De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de

onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a

barriga.

Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se

saciar. Agora podia abrir os olhos.

Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que

era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saia água. [...]

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E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de

pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.

Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia-se intrigado: mas não é de

uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador de vida... Olhou a

estátua nua.

Ele a havia beijado.

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e

tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brisa viva.

Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia.

Perturbado, atônito, percebeu que uma parte do seu corpo, sempre antes relaxada,

estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.

Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração

batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida inteiramente

nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.

Até que, vinda da profundeza de seu ser jorrou de uma fonte oculta nele a

verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais

sentido: ele...

Ele se tornara homem.

Atividades sobre o conto: O primeiro beijo

1 - Comente sobre a frase: “Seria a juventude a melhor época da vida?”

Por quê?

2 - Aponte algumas vantagens e desvantagens de ser jovem hoje:

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3 - Onde e quando ocorrem os fatos? Quem é o personagem principal

desse conto? Como esse personagem se sentia? O que acontece a esse

personagem?

4 - “______ Está bem, acredito que sou a primeira namorada, fico feliz

com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher

antes de me beijar?”

Você já passou por essa situação ou já fez uma pergunta parecida com

essa?

Essa pergunta pode surgir na conversa, quando um casal “fica” ou

começa um namoro. Por que a menina quis saber se o namorado já havia beijado

outra antes dela? Cite algumas suposições:

5 - Em sua opinião, o rapaz já beijara alguém antes da namorada?

Justifique com uma frase do conto.

6 - Que fato desencadeia o clímax do conto?

7 - Os contos são textos narrativos que apresentam uma unidade

dramática, um único conflito. Em torno de que fato se desenvolve a trama narrativa

desse conto?

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8 - Nesse conto, o narrador emprega a técnica do flashback, recurso

narrativo que consiste em voltar no tempo para relembrar um fato já vivido.

a) Que fato do presente desencadeia lembranças do passado?

O conto é uma narrativa de pequena extensão, com poucos personagens

e apenas uma unidade dramática. (um único conflito). O conto é essencialmente

objetivo e o contista não se perde em divagações. A força do conto consiste no jogo

narrativo para prender a atenção do leitor. O enredo pode ser dividido em:

apresentação (ou situação inicial), complicação (ou o início do conflito), clímax (ou

auge do conflito) e desfecho (resolução do conflito e conclusão). O final deve

surpreender o leitor, deixando uma semente de reflexão perante a nova situação.

Fonte de pesquisa: Benjamin Abdala Júnior. Contos

brasileiros.

Coleção Margens do texto. São Paulo,

Scipione, 1993.

9 - Basicamente, o conto se desenvolve a partir dessas lembranças e

apresenta a seguinte estrutura abaixo. Observe o quadro e identifique no conto “O

primeiro beijo” os parágrafos correspondentes aos momentos da narrativa

completando-o.

Apresentação

complicação

clímax

desfecho

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8- Ao longo do texto, a sensação de sede do personagem vai

aumentando. Que expressão marca e intensifica essa sensação?

8- Ao sentir a proximidade da água, o personagem age semelhante a um

animal.

a) Que termos empregados reforçam essa semelhança?

9- No 18º parágrafo, narra o momento em que o personagem percebe que

“... havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra.” O que significou

esse fato para o personagem?

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12 UNIDADE 3

Atividade oral

O jovem tem um desejo urgente de lançar-se à vida. É isso mesmo que

podemos comprovar através do conto que iremos trabalhar.

O conto “O primeiro amor” de Ana Miranda fala da opção pelo impacto do

primeiro amor platônico e delicado, a sensualidade feminina rompendo com o

ambiente protetor da adolescência de moça bem nascida.

Para melhor saboreá-lo, é importante que ele seja lido em voz alta, com

toda a expressividade que um contador de histórias – ou de causos – usaria. (causo:

narração, geralmente falada, relativamente curta, que trata de um acontecimento

real; caso, história, conto.)

Treine a leitura expressiva do texto fazendo de conta que você é o

narrador desse conto. A leitura oral feita com bastante expressividade é uma forma

de melhor entender o texto.

Está no livro de contos, De primeira viagem. Cia Das Letras – 2006 –

Ministério da Educação.

Leitura do conto III

O PRIMEIRO AMOR

ANA MIRANDA

Numa noite eu estava no clube, esperando meus pais terminarem uma

conversa, quando ouvi no ginásio esportivo o barulho de uma bola batendo no chão

pá pá pá sem parar. Subi os degraus, e fui até o alto da arquibancada deserta.

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Na quadra de basquete um rapaz treinava, sozinho. Ele era alto e magro,

cabelos pretos, sobrancelhas grossas, olhos escuros. Estava de uniforme esportivo

vermelho.

Ele sentiu a minha chegada, parou um instante de correr, deu uma olhada

rápida na minha direção, secou o suor da testa com a manga da jaqueta e continuou

seu treino. Quando ele se virou de costas, vi na jaqueta o escudo do time que tinha

vindo de fora para competir com o time do nosso clube. Sentei no último degrau,

numa parte meio escura, e fiquei olhando o jogador.

Ele corria, batendo a bola no chão, pá pá pá levando a bola dessa

maneira até perto da cesta, ali ele dava um salto, levantava o braço, segurando a

bola, e às vezes dava um salto, às vezes hesitava e desistia. Sempre recomeçava

com a mesma disposição e velocidade a jogada. Dava para perceber que ele já tinha

feito aquilo mais de mil vezes. Senti que estava se exibindo para a moça magra de

cabelos pretos e compridos, que o assistia do escuro, parada, que era eu. Parecia

que tinha se criado um fio invisível entre nós. E meu coração começou a bater

fortemente, ao pensar nesse fio. Percebi que alguma coisa estava acontecendo

dentro de mim. Parecia que um líquido quente corria por todo o meu corpo, e se

derramava, e fiquei tão inquieta que dei um salto, me levantei de um salto, para ir

embora, mas vi que o jogador perdeu o controle da bola, parou, e olhou para mim.

Fiquei paralisada, ali em pé, pulsando e suando...

Num instante ele tirou a jaqueta, e vi seus braços compridos e fortes,

que eram apenas braços, eu conhecia muitos braços, os braços de papai, os braços

de um ator, os braços do vizinho, do primo, tinha visto diversos tipos de braços, mas

aqueles braços se desenhavam na minha cabeça de uma maneira diferente, parecia

que tinham alma, vida própria, atração. E o jogador voltou a jogar, agora com mais

velocidade, mais empenho, como se quisesse me prender ali, e ele parecia de

repente cercado de fogo e luz, como se fosse um sonho, minha respiração ficou

difícil, meus ouvidos zuniam, e percebi que a buzina que tocavam lá fora sem parar

era do carro de meu pai, e saí correndo, desci as escadas, cruzei o gramado,

atravessei a rua escura, abri a porta e entrei no carro, pá.

Minha mãe perguntou o que tinha acontecido, por que eu estava tão

agitada, o que eu tinha visto que me assustou tanto? Nada, eu disse.

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Sozinha, no banco de trás do carro, eu olhava a paisagem do lago, do

mato, da lua que brilhava no céu e se refletia na água, que era a mesma paisagem

de sempre, do caminho de volta do clube para casa à noite, mas havia alguma coisa

diferente naquela paisagem, lobos nas sombras, ruídos, ameaças, frutas de sabor

estranho, ela me convidava a entrar, e eu me vi correndo no mato, desabalada como

se fugisse, enquanto ouvia as batidas da bola na quadra batendo batendo pá pá pá

repetidamente, e eu chegava à beira do lago, e me jogava na água prateada, e

pensava na prova de matemática amanhã e eu não tinha estudado a matéria e ia

precisar aguar o gramado pá pá pá e as minhas meias preferidas estavam sujas e

eu não gostava de ovo cru e eu ia ter aula de italiano e eu tinha ido muito mal na

expressão oral e o disco ainda não tinha chegado e pensava nessas coisas

prosaicas mas nada tirava do meu corpo a sensação estranha que eu sentia, pá pá

pá ouvia meu coração a bater também, e via a imagem do jogador treinando na

quadra, debaixo de uma luz que iluminava apenas ele, tudo escuro em volta, e a

cada vez eu via seu rosto mais perto, mais perto, até que ele ficou tão grande que

eu levei um susto. Essa menina está tão quieta, dizia mamãe, e continuei quieta na

hora do jantar, comi pouco, pouquíssimo, deixei até mesmo a sobremesa sem tocar,

deitei na cama e não consegui dormir, rolava de um lado para outro, agarrava o

travesseiro, via o jogador na parede escura, nas frestas da persiana, ouvi a bola

batendo na quadra batendo no meu peito fechava os olhos e via a imagem do

jogador dentro da minha cabeça como se tivesse sido marcada a fogo, a luz, como

se fosse um filme se repetindo e o barulho da bola na quadra, e os braços dele me

abraçavam, as persianas deixavam entrar aos poucos os raios daquela lua cheia do

lago, e ele era aquela luz e era o silêncio da noite e era o quarto e cada estrela, eu

via o rosto dele e pensava, como podia estar vendo o rosto dele? Devia ser um rosto

imaginado, não podia ser o seu rosto verdadeiro, o que estava acontecendo

comigo? Via sua face e sentia ali a existência de algum mistério, o que era aquele

jogador? não era ele, era o que acontecia dentro de mim, o que ele tinha feito

acontecer, como se tivesse me empurrado num precipício, eu guiado por outra força,

como se não fosse mais eu, mas a força da vida, lutando contra minha força, e eu

me deixava arrastar, sem nenhuma dúvida, mesmo sem saber nada do que podia

acontecer comigo, quem era ele, se eu ao menos soubesse o nome dele, e fiquei

olhando a noite inteira para ele dentro da minha memória jogando jogando pá pá pá

sem precisar saber nada dele, só sentindo aquele movimento dentro de mim e pá pá

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os cabelos pretos os braços tudo era tão macio ele me olhou ele olhou para mim os

olhos pretos dele a luz nos seus cabelos de fogo ele se apaixonou por mim ele

parou de jogar e me olhou e me viu ele se apaixonou por mim, era isso, eu me

apaixonei por ele, e ele por mim e eu por ele e quando amanheceu eu ainda estava

apaixonada, ah sonâmbula, eu tinha acordado e sentia a maior vontade de viver, ir à

escola, chegar o outro domingo, comi ovo cru sem sentir nojo e fui para a escola

tonta de paixão, eu via o jogador no asfalto que eu pisava, via o jogador no bico do

meu sapato no portão da escola no tronco da árvore na saia xadrez das meninas no

rosto dos meninos, via o jogador no caderno no pó do giz e no quadro-negro pá pá

pá fazia fantasias eu via o jogador jogando uma partida eu no meio da multidão e ele

parava no meio do jogo e olhava para mim e ele estava numa festa no clube e

passava ao meu lado tão perto de mim que eu sentia o calor da sua pele e ele não

me via, ele passava perto de mim e sorria para mim, ele tirava para dançar ele

dançava com outra menina abraçado ele casava com outra menina e eu chorava ele

casava comigo ele vinha ser professor na minha escola ele batia o carro no nosso e

me levava no colo até o hospital, ele me chamava para fugir no seu barco à vela ele

tinha um avião e pilotava e jogava milhares de rosas sobre a minha casa ele batia na

janela do meu quarto ele me beijava os lábios ele me beijava os. lábios, ele me

levava ao cinema e segurava a minha mão ele passava na frente da minha varanda

e me olhava ele vinha de noite namorar ele me pedia em casamento ele mergulhava

comigo nas águas do lago ele me dava um filho ele me beijava os lábios segurava a

minha mão me levava a voar sobre os telhados, passei dias e dias assim pensando

nele sem um instante de descanso, achei que estava ficando louca mas adorava me

sentir assim, sem prestar atenção nas aulas, sentindo beijos nos meus lábios e calor

no meu corpo cheguei a ter febre ele não saía de minha cabeça pá pá pá beijo nos

lábios eu lia os jornais inteiros em busca de uma notícia e só queria ir ao clube ao

clube ao clube e ia à quadra vazia e escura mas ele não estava mais lá, e em lugar

nenhum, e ninguém sabia dizer quem tinha treinado na quadra na noite do domingo

e ele nunca se apagava de minha memória pá pá pá e tantos anos se passaram e

nunca o esqueci nem deixei de sentir o que ele me fez sentir, pela primeira vez, o

amor.

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Atividade escrita

Para essa atividade os alunos ficarão em duplas.

1- Identifique no conto “O primeiro amor” os momentos da narrativa

dividindo os parágrafos.

Situação inicial:______________________________________________

Conflito:____________________________________________________

Clímax do conflito:____________________________________________

Desfecho:___________________________________________________

2- Quem conta um conto... pode criar outro desfecho.

a. Crie um desfecho diferente para o conto “O primeiro amor”.

b. Contem a seus colegas como vocês terminaram o conto.

c. Ouçam o desfecho criado por seus colegas.

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13 UNIDADE 4

Atividade oral

Moacyr Scliar, com o conto “O sorriso de Lúcifer”, prefere inverter as

regras do jogo, onde seu protagonista (o filho) tem mais juízo que o próprio pai, um

adulto irresponsável aprisionado ao desejo de ser eternamente jovem. Está no livro

de contos, De primeira viagem. Cia Das Letras – 2006 – Ministério da Educação.

Leitura do conto IV

O SORRISO DE LÚCIFER

Moacyr Scliar

Uma pergunta assombrava a minha infância. Uma pergunta que me

deixava terrivelmente embaraçado, que me fazia enrubescer e gaguejar (e, numa

ocasião, quase urinar nas calças). A pergunta: o que faz teu pai?

Ah, como eu invejava meus amigos, os meus colegas de escola. “Meu

pai é advogado.” “Meu pai tem uma loja.” “Meu pai vende seguros.” Respostas

assim, dadas com a maior naturalidade, estavam irremediavelmente fora do meu

alcance. Por uma simples razão: eu nunca sabia exatamente o que meu pai estava

fazendo. Deixem-me esclarecer: isso não quer dizer que ele estivesse metido em

coisas ilegais ou secretas. Meu pai não era traficante. E também não era um James

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Bond. Eu até teria gostado disso, mas o problema não era esse. O problema é que

meu pai mudava de ramo de atividade como quem muda de roupa. Não: ele mudava

mais de ramo de atividade do que de roupa. A camisa, por exemplo, era sempre a

mesma, sobretudo porque ele não tinha dinheiro para comprar uma nova. Minha

mãe lavava-a de noite e ele a vestia pela manhã. . Com os negócios era uma coisa

alucinante, algo para o Livro Guiness dos Recordes. Se eu disser que ele chegou a

ter dois negócios num dia, vocês acreditarão? Pois isso aconteceu. Numa ocasião

ele resolveu vender pneus usados. Um amigo que arranjara uns dias antes lhe

mandaria uma grande partida desses pneus, que poderiam ser comercializados com

boa margem de lucro. Meu pai alugou um grande depósito e, no dia aprazado, foi

para lá. Os pneus deveriam ser entregues a primeira hora da manhã, mas isso não

aconteceu. Papai ficou esperando, impaciente. Perto do meio-dia, tocou o telefone:

era a esposa do homem dos pneus, anunciando que ele tinha sido preso na noite

anterior – por roubo de pneus, claro. A tarde, no mesmo depósito, papai já estava

vendendo peças usadas para carro, essas fornecidas por um outro amigo. No

segundo dia, porem, brigaram, e já no fim de semana papai tinha entregado o

depósito.

O interessante é que os planos de papai eram sempre grandiosos.

Sempre se tratava de algo de muito futuro, algo que nos faria ricos. Um loteamento

no interior do estado (só que a área foi inundada para a construção de uma represa).

Um aparelho purificador de ar (os primeiros modelos incendiaram, por algum

problema na instalação elétrica). Um jornal de bairro (que não conseguiu nem um

anúncio sequer). E assim por diante.

A pergunta que se pode fazer é: e vocês viviam de quê? E é aí que

minha mãe entra na história. O mínimo que posso dizer é que se tratava de uma

santa. Auxiliar de enfermagem, tinha dois empregos, Trabalhava num ambulatório e

num hospital. Além disso, arrumava a casa, fazia a comida, cuidava de papai e de

mim. E fazia isso com resignação. Jamais a vi queixar-se de alguma coisa. Não

apenas era tolerante em relação aos estranhos negócios do meu pai, como até a

estimulava e aplaudia: achava meu pai um homem culto, inteligente – e cultura e

inteligência eram coisas que mamãe, mulher humilde, respeitava e admirava. Minha

tia, irmã dela, ficava furiosa: esse vagabundo (papai) explora você e você ainda

acha bom.Devo dizer que eu concordava com minha tia. Irritava-me aquilo que

parecia submissão de minha mãe, e não perdia oportunidade de lhe dizer. A minha

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nascente revolta juvenil voltava-se não contra meu pai, vigarista simpático, mas

contra mamãe.

A história poderia ter continuado por um bom tempo. Mas aí papai

resolveu lançar-se em um novo empreendimento, que acabou mudando nossa vida.

E esse empreendimento, curiosamente, era aquele em que meu pai levava mais fé.

Uma fé estranha, para dizer o mínimo, mas fé, de qualquer maneira.

Fazia algum tempo que meu pai vinha estudando o Diabo. De início,

fizera-o por curiosidade: um amigo, Ezequiel, emprestara-lhe um livro sobre o

assunto, que lera com interesse. A esse livro seguiu-se outro, e mais outro – obras

cada vez mais esotéricas que ele agora lia impressionado. Como ele mesmo contou

depois, identificava-se com o Anjo Caído. Também ele fora condenado a

marginalização. Também ele conhecera o desespero.

Começou a falar com muitas pessoas a respeito. Logo descobriu

almas-irmãs: gente que, como ele, estava fascinada com o assunto. Formaram um

grupo, começaram a ler os livros. O passo seguinte eram os rituais.

A essa altura, porém, meu pai já estava pensando em outra coisa.

Estava pensando em ganhar dinheiro. Tentação do próprio demônio? Talvez. Mas

lhe ocorreu que um templo voltado para o culto de Lúcifer (para seus propósitos

esse era o nome que o Diabo teria – parecia-lhe uma denominação mais imponente,

e mais convincente, do que Satanás, por exemplo) poderia gerar uma boa demanda.

De novo alugou um depósito. E de novo pôs mão à obra. Ajudado pelo

Ezequiel, planejou uma série de rituais, de cerimoniais. Nada sinistro, nada dessas

coisas que a gente vê em filmes de terror; bom gosto, era o que meu pai exigia. O

público, de início formado pelo pequeno círculo de estudo, logo se ampliou.

E aí a sorte finalmente ajudou meu pai. A coisa atraiu a atenção da

mídia – e logo rádio, jornais, tevê estavam dando uma boa cobertura dos eventos

realizados no Templo de Lúcifer. Autoridades religiosas não gostaram nada daquilo,

mas o povo acorria em massa ao antigo depósito. O dinheiro começou a entrar, e,

pela primeira vez na vida, meu pai podia intitular-se um empreendedor bem-

sucedido. É verdade que eu ainda vacilava em dizer o que ele estava fazendo (“Meu

pai é um sacerdote do Diabo” não pegaria muito bem). Também é verdade que

Ezequiel, desagradado com o rumo que as coisas estavam tomando, abandonou o

Templo e abriu uma seita rival,Verdadeiros Discípulos de Lúcifer, que fazia certa

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concorrência a papai. Mas agora morávamos num amplo apartamento. Comíamos

bem e nos vestíamos bem. Mamãe pôde deixar um de seus empregos. O que fez

mais por insistência de papai: por ela, continuaria a trabalhar em tempo integral. Mas

papai achava que isso poderia prejudicar a imagem dele.

É claro, porém, que essa bonança não poderia durar muito tempo. Em

breve um espectro começaria a rondar o Templo de Lúcifer.

Esse espectro tinha nome: Francisco. Todo mundo o conhecia: ele era

o louco do bairro. Louco manso, desses que vagueiam pelas ruas falando sozinhos.

No caso de Francisco, tratava-se de uma loucura mística. A túnica branca que

usava, as sandálias, os longos cabelos, a longa barba, os cordos (ainda que um

tanto alucinados) olhos azuis diziam bem de sua fantasia. Ele era Cristo. Ninguém

menos do que Cristo.

Nenhum problema com isso. Todos o tratavam bem, ele não atacava

ninguém. Às vezes, vivia cenas da vida de Jesus. Por exemplo, recitava o Sermão

da Montanha. Ou então dizia a um inválido: “Levanta-te e anda” (não funcionava,

mas isso, para Francisco, não fazia muita diferença).

Pois o Templo de Lúcifer funcionava justamente na rua em que

Francisco morava. Para ser mais exato, a uns cem metros da casa dele. E isso

começou a deixar o rapaz perturbado. Ele agora ficava agitado, fazia ameaças,

coisa que, segundo os vizinhos, nunca tinha acontecido antes. A mãe dele resolveu

falar com meu pai. Contou o que estava sucedendo, sugeriu que meu pai se

mudasse:

“O senhor sabe que o Francisco não regula bem, tenho medo que ele

faça alguma coisa contra o senhor.”

Mudar-se? Papai rejeitou a ideia com um sorriso irônico. Mudar-se, e

ainda por causa de um maluco, seria idiotice. Àquela altura, o Templo estava

atraindo multidões, uma alteração de endereço seria ruinosa.

“Muito bem”, retrucou a mulher. “Depois não diga que não o avisei”.

A advertência tinha fundamento, como logo se constataria. Uma tarde

de sábado – o Templo cheio – Francisco apareceu lá. Meu pai, que estava pregando

(“Vocês sabem o que quer dizer Lúcifer? Lúcifer é aquele que leva a luz – a luz do

conhecimento da inteligência”), não notou de imediato a sua presença, mas eu,

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sentado próximo a papai, podia vê-lo bem. Francisco deteve-se na entrada do

Templo. Ali, sobre uma mesa, havia várias coisas à venda: livros sobre o demônio,

amuletos, estatuetas do diabo. E aí soltou um grito:

- Vendilhões! Vendilhões do templo!

E com uma energia inesperada naquele corpo magrinho, virou a mesa.

(Mais tarde me dei conta de que ele estava vivenciando aquela cena

em que Cristo expulsa os vendilhões do templo de Jerusalém.)

De imediato criou-se uma enorme confusão, gente gritando e correndo

de um lado para o outro. E então um dos fiéis, um homem grande e forte, pegou

uma das pernas da mesa, quebrada, e golpeou Francisco. Que de imediato caiu no

chão. Em poucos segundos o templo se esvaziou e ali estávamos, meu pai e eu,

diante do cara caído no chão, o sangue correndo-lhe de um ferimento na testa. Eu

não sabia o que fazer, nem meu pai.

Foi nesse momento que mamãe apareceu. Olhou o Francisco, deu-se

conta da situação e se transfigurou. Já não era mais a mulher quieta, submissa.

Ordenou a meu pai que trouxesse a caixa de socorros de urgência – que ela mesmo

tinha preparado. Nesse meio-tempo, Francisco começara a recobrar os sentidos. Já

não parecia violento, mas sim assustado, desorientado. Mamãe acalmou-o, fez-lhe

um curativo no ferimento. Enquanto isso, Francisco mirava-a.

Havia admiração, naquele olhar. Não: havia adoração, naquele olhar.

Você é minha mãe amantíssima, repetia o cara, naquela sua linguagem meio

esquisita. E que a mim incomodava. De repente, devo confessar, eu estava com

ciúmes.

E meu pai também. Ele parecia desconcertado, perturbado, mesmo.

Foi com alívio que vimos, ambos, o Francisco – amparado por mamãe – dirigir-se

para a porta. Nesse momento, a mãe dele, alertada por alguém, chegava ao Templo

e encarregou-se de levá-lo embora.

Não preciso dizer que as coisas daí em diante mudaram. Papai

desinteressou-se do Templo, que acabou fechando. E aí, para surpresa geral,

arranjou um emprego como gerente de uma loja de eletrodomésticos. Onde se

revelou muito capaz. Acabou sócio do estabelecimento. Faleceu num acidente de

automóvel no ano passado.

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Mamãe pediu que eu juntasse as coisas dele, o que fiz. Ao abrir uma

gaveta, encontrei um desenho de Lúcifer, muito bonito, por sinal. Fiquei a mirá-lo. Ali

estava o diabo, a sorrir. Em certo momento, tive a impressão de que me piscava o

olho. Os que conhecem o demônio sabem que isso não é impossível.

Atividades

1) Complete com dados referentes ao conto.

O que foi Narrado?

Quando? Onde? Personagens Causa que determinou o ocorrido

Como? Modo que se deu o fato

Consequências

2) Para que público você recomendaria a leitura desse conto? Por quê?

3) Na frase: ”O mínimo que posso dizer é que se tratava de uma santa”.

Quem disse esta frase? Por que a frase foi dita ou por que ela era uma

santa?

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4) Copie do texto uma fala das personagens e uma fala do narrador.

5) Qual o momento do conto que apresenta maior tensão?

6) Que aspectos nesse conto – o assunto, o título, o personagem, os fatos

narrados, o estilo do autor – mais impressionaram você? Por quê?

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14 ALUNOS EM AÇÃO.

Como acabamos de ler o conto “O sorriso de Lúcifer” de Moacyr Scliar, onde o pai,

um adulto irresponsável aprisionado ao desejo de ser eternamente jovem, vamos

fazer um trabalho para rever o que a juventude do passado tinha de bom.

JOVENS DE ONTEM

X

JOVENS DE HOJE

O que mudou? O que continua igual?

Cada geração de jovens tem os próprios interesses, gostos e também um

certo tipo de atitude que a caracteriza. Isso costuma variar muito de geração para

geração, em virtude do contexto histórico e cultural de determinada época em que

vivem ou viveram.

Constatamos isso no conto “O sorriso de Lúcifer” de Moacyr Scliar, onde o

pai do protagonista que é seu filho, vive aprisionado ao desejo de ser eternamente

jovem. Pensando neste contexto faremos uma pesquisa com os jovens de ontem e

de hoje.

O que pensam os jovens de hoje, quais seus desejos e gostos? E o que

pensavam os jovens de ontem?

Para responder a essas questões, você e seu grupo vão sair a campo para

pesquisar tanto as experiências dos jovens de hoje como as dos jovens de outra

época, para depois apresentar, em um seminário para seus colegas de classe, os

dados coletados e as conclusões a que chegaram.

Como toda exposição oral, trata-se de uma situação formal, que requer o uso

de uma linguagem formal. Assim, a fim de estabelecer uma comunicação com o

público ao qual o seminário se destina, cada grupo deverá organizar as informações

coletadas de um jeito especial e preparar a exposição oral fazendo uma introdução

interessante, dando sequência ao que apresentarão, cuidando do modo de falar

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(dicção e entonação das palavras), dos gestos (postura corporal) a fim de prender a

atenção dos ouvintes.

Caro (a) aluno (a):

O que mudou no modo de vida dos jovens de hoje

em relação aos jovens de antigamente? Prepare-se para entrar

em contato com histórias que marcaram e ainda marcam a

adolescência da maioria das pessoas.

Ontem e hoje...

Como eram os jovens de ontem?

O que era permitido?

Como lidavam com sua sexualidade?

O que mudou em relação ao

papel da mulher e do

homem?

E os jovens de hoje, como lidam com sua

sexualidade?

O que era proibido?

As regras são diferentes para homens e mulheres?

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Prepare-se para conhecer e comparar as experiências de pessoas que

viveram a juventude em outra época com as dos jovens de nossa época. Para isso,

farão quatro entrevistas: duas com seus pais ou avós e duas com jovens de hoje.

Siga o roteiro.

1º) Reúna-se com quatro colegas e conversem sobre esse assunto. Que diferenças

vocês acham mais marcantes entre os jovens de antigamente e os da geração

atual?

2º) Leiam os itens a seguir e definam, com o professor, qual assunto será

pesquisado por você e seu grupo.

Grupo 1 – Relacionamento dos jovens de ontem e de hoje.

Grupo 2 – Cotidiano dos jovens de ontem e de hoje.

Grupo 3 – Ídolos dos jovens de ontem e de hoje.

Grupo 4 – Educação: regras e limites dos jovens de ontem e de hoje.

Grupo 5 – Formação cultural dos jovens de ontem e de hoje.

Leiam as sugestões de perguntas para os assuntos propostos.

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15 GRUPO 1

Pesquisa com os jovens de ontem

1- Relacionamentos

. Como era o namoro na época de sua juventude? O que era proibido? O

que era permitido?

. Como era a relação entre pais e filhos?

2- Vantagens e desvantagens dos costumes da época

quanto aos relacionamentos

. O que havia de bom naquele tempo que não há mais? O que

não era bom e que hoje é melhor?

Pesquisa com os jovens de hoje

1- Relacionamentos

. O que é permitido e o que é proibido na relação com o sexo

oposto? Qual é sua preferência: namorar ou “ficar”?

. Como é a relação com os pais? Existe abertura para o diálogo?

2- O que gostaria de mudar nos relacionamentos de hoje

. Que atitudes e costumes gostaria que fossem diferentes nas

relações? O que ainda precisa ser melhorado?

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16 GRUPO 2

Pesquisa com os jovens de ontem

1- Cotidiano

. Qual era o cotidiano dos jovens na época? Quais eram seus

hábitos de lazer e de consumo?

. Como os jovens se comunicavam?

2- Vantagens e desvantagens da época quanto ao cotidiano

. O que havia de bom naquele tempo que não há mais? O que

não era bom e que hoje é melhor?

Pesquisa com o jovem de hoje

c. Cotidiano

. Como é o cotidiano? Quais são os hábitos de lazer e de consumo?

. Qual é a forma de comunicação mais comum entre os jovens?

d. O que gostaria de mudar no cotidiano atual?

. Que atitudes, obrigações, costumes gostaria que fossem diferentes em

relação ao cotidiano?

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17 GRUPO 3

Pesquisa com jovem de ontem

1- Ídolos de ontem

. Quais eram os ídolos de sua geração? E qual era o seu ídolo, em

particular? Por quê? Que atividades esses ídolos desenvolviam?

. Como as pessoas mais velhas daquela época reagiam a esses

ídolos? Por quê?

. Os ídolos de ontem ainda são apreciados?

2- Ídolos de hoje

. Há algum ídolo da nova geração de que você goste? Por quê?

. O que mudou nesse tipo de atividade (artística, esportiva, etc.) em

relação à época de sua juventude?

3- Vantagens e desvantagens da época em relação aos ídolos

. O que havia de bom naquele tempo que não há mais? O que não era

bom e hoje é melhor?

Pesquisa com os jovens de hoje

1- Ídolos

.Quais são os ídolos dos jovens de hoje? Que atividades desenvolvem?

Que qualidades os jovens consideram mais interessantes nesses

ídolos?

. As pessoas mais velhas também costumam gostar deles?

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2- O que poderia melhorar na relação dos jovens de hoje com

seus ídolos

. Que atitudes os jovens de hoje deveriam mudar em relação a seus

ídolos?

. Outras atividades deveriam merecer sua atenção também?

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18 GRUPO 4

Pesquisa com os jovens de ontem

1- Educação: regras e limites

. Que regras e limites eram colocados pelos pais? O que era permitido?

O que era proibido?

. Como era a escola em relação aos limites? Como era a relação com

os professores?

2- Vantagens e desvantagens da época em relação à educação

. O que havia de bom naquele tempo que não há mais? O que não era

bom e hoje é melhor?

Pesquisa com jovens de hoje

1- Educação: regras e limites

. Como os jovens lidam com os limites colocados pelos pais? O que é

permitido? O que é proibido?

. O que é ser educado para o jovem de hoje? Quais comportamentos

do jovem atual refletem isso?

2- O que poderia melhorar na educação dos jovens de hoje

quanto a regras e limites

. Que atitudes os jovens de hoje deveriam adotar em relação à

educação?

. Que atitudes, obrigações, costumes gostaria que fossem diferentes

em relação à educação?

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19 GRUPO 5

Pesquisa com os jovens de ontem

1- Formação cultural

. Que programas de TV ou filmes faziam sucesso entre os jovens da

época?

. Que tipo de literatura os jovens gostavam de ler? Quem eram os

personagens de ficção dos jovens?

. Os jovens liam mais?

2- Vantagens e desvantagens da época em relação à formação

cultural

. O que havia de bom naquele tempo que não há mais? O que não era

bom e que hoje é melhor?

Pesquisa com jovens de hoje

1- Formação cultural

. Que programas de TV ou filmes fazem sucesso entre os jovens de

hoje?

. Que tipo de literatura (ou de livros) os jovens atuais gostam de ler?

Quem são os personagens de ficção que fazem a cabeça do jovem

atual?

. Qual a influência da internet na formação cultural dos jovens?

2- O que poderia melhorar na formação dos jovens de hoje

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. Que atitudes culturais deveriam fazer parte da vida dos jovens de

hoje?

. O que gostaria que fosse diferente na formação cultural do jovem de

hoje?

3º) Conversem e decidam:

. quem serão as pessoas entrevistadas;

. podem coletar fotos e imagens que ilustrem o modo de vida, os costumes, a

moda, etc. da época da qual fala cada um dos entrevistados.

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FIQUE INFORMADO!

Eles sabem tudo. Será?

Nunca os jovens foram tão bem informados

sobre sexo.

Mas nem sempre eles levam a teoria à prática.

Angélica Oliveira

Há uma notícia ótima no campo do comportamento: pesquisas mostram que,

quando os jovens de hoje vão fazer a iniciação sexual, já conhecem bem a teoria. A

geração – principalmente os adolescentes das classes A e B – é provavelmente a

mais bem informada sobre sexo em todos os tempos. Ela lê a respeito do assunto

em revistas, suplementos de jornais e livros educacionais. Assiste a programas de

TV que tiram dúvidas sobre sexo. Têm à disposição vários sites da internet que

respondem a perguntas relativas ao tema. Por fim, a educação sexual já é

obrigatória na maioria das escolas particulares e começa a se espalhar também pelo

ensino público. Infelizmente, há uma notícia ruim, que é dada pelo psiquiatra paulista

Jairo Bouer, referência da juventude quando o assunto é sexo. “Eles não

conseguem processar toda essa massa e, na hora H, fazem quase tantas burradas

quanto a geração anterior”. Ele quer dizer que tanta teoria não se traduz

necessariamente numa prática mais cuidadosa. O índice de gravidez na

adolescência ainda cresce no país. E o uso de camisinha é abaixo do esperado,

apesar de todas as campanhas de instituições públicas e privadas.

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Quais as razões dessa distância entre a teoria e a prática? A primeira delas é

óbvia: sexo não é só uma questão de informação, mas também de maturidade. É

fundamental o adolescente conversar de maneira franca com quem está próximo a

ele e pode passar a própria experiência sobre o assunto – ou seja, os pais. [...]

Outra questão é como falar a linguagem do jovem. O grosso das campanhas

de ensino, segundo os especialistas, fracassa justamente nesse ponto. “A maior

parte das escolas recorre a palestras, e elas são chatas”, avalia a médica Albertina

Duarte Takiuti, do Hospital das Clínicas de São Paulo. [...]

Veja Especial Jovens.

Seção Comportamento. São Paulo:

Abril, 1º de setembro de 2001, págs. 24 -25.

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19.1 Apresentando os resultados

Com o conteúdo devidamente preparado, chegou a hora de expor para os

colegas e professor o que a turma aprendeu sobre o jovem de outras gerações e

sobre o de hoje.

19.2 Finalizando as apresentações

Finalizar as apresentações com o filme “Um Amor para Recordar” (2002) e a

música “Always On My Mind” (Elvis Presley) que os jovens da geração passada

curtiam e a música “Amar não é pecado” (Luan Santana) que os jovens curtem hoje.

Após isso cada aluno prepara um relatório, sobre o que aprendeu o que foi bom e o

que pode ser melhorado.

19.3 Concluindo as atividades com contos

Determinaremos um dia ou mais, conforme necessidade, para a contação

dos contos trabalhados para algumas turmas do colégio. Esses contos ficarão

expostos no mural ou em mesinhas no pátio do colégio, para que os demais alunos

tenham contato com os mesmos para ler e reler.

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Ladeira, Julieta de Godoy. Antologia de Contos Brasileiros Contemporâneos.

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em 20/09/2010.