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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

Superintendência da Educação

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais

Programa de Desenvolvimento Educacional

INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROFESSORA PDE: ELIETE DE ALMEIDA CEZAR

PROFESSOR ORIENTADOR IES

PROFESSOR MS. ROGERIO MASSAROTTO DE OLIVEIRA

ÁREA/DISCIPLINA: EDUCAÇÃO FÍSICA

ARTIGO CIENTÌFICO

PDE 2010

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RELAÇÕES ENTRE TRABALHO E EDUCAÇÃO FÍSICA NA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: POSSIBILIDADES

PEDAGÓGICAS COM A GINÁSTICA E OS

JOGOS/BRINCADEIRAS

ELIETE DE ALMEIDA CEZAR

Professora PDE do CEEBJA – Manoel Rodrigues da Silva de Maringá/PR.

Orientador: Ms. Rogerio Massarottto de Oliveira

Universidade Estadual de Maringá/PR.

RESUMO: Este artigo analisa as relações entre trabalho e educação física na

educação de jovens e adultos e suas possibilidades pedagógicas. A EJA, foi

escolhida para ser foco de investigação no PDE, pois, os estudantes dessa

modalidade de ensino no Brasil são a expressão das precárias condições de

vida de grande parte de nossa população assim como de um ensino regular

público insuficiente que, além de não atender a todos com qualidade, mantém

uma organização inadequada às necessidades da classe

dominada/trabalhadora. Sob formas da contradição, a EJA pode se apresentar

como uma possibilidade para o ensino de uma educação voltada ao

trabalhador precário, ou seja, pode servir para municiá-los com conhecimento

crítico, histórico e político e que, muitas vezes, tem sido afastada das riquezas

que ela mesma produz. Nesse sentido, ao relacionarmos essas problemáticas

históricas e a condição em que se situa a disciplina de Educação Física nessa

instituição de ensino e ao conjugarmos com o método materialismo histórico e

dialético, constatamos a relação direta com a cultura corporal e o mundo do

trabalho, visando a transformação da sociedade.

Palavras chave: Trabalho. Educação Física. Educação de jovens e adultos.

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1. INTRODUÇÃO: problema e problemática, relevâncias, justificativa,

objetivos e aspectos teórico-metodológicos.

Este estudo pretendeu analisar as relações entre trabalho e educação

física na educação de jovens e adultos, sendo a EJA a modalidade que escolhi

para ser pesquisado no PDE, uma vez que, baseada nas minhas experiências

didático-pedagógicas, constato o quadro precário que a EJA se encontra no

Brasil. Essa modalidade é o resultado das precárias condições de vida de

grande parte de nossa população assim como de um ensino regular público

insuficiente que além de não atender a todos, mantém uma organização

inadequada às necessidades das classes dominada/trabalhadora. Com essa

necessidade, a EJA pode se posicionar como uma possibilidade para uma

educação trabalhadora, ou seja, para municiar a classe dominada com

conhecimento crítico, histórico e político e que tem sido afastada das riquezas

que ela mesma produz.

É pertinente reiterar que a Educação de Jovens e Adultos se compõe,

majoritariamente, daqueles que, por questões, principalmente, econômicas,

não tiveram acesso à escola na idade dita ‘adequada’, gerando reprovações e

evasões escolares justificadas pela necessidade de sustento familiar (devido

ao salário precário da família), posicionando os jovens (e, muitas vezes,

crianças), no mercado de trabalho em detrimento do estudo. Portanto, baseado

na necessidade imediata, o aluno jovem e adulto trabalhador constata no ‘aqui

e agora’, a condição imediata para sua sobrevivência e esse fato articula-se

diretamente com a necessidade de ampliar e inserir-se no processo educativo,

que tem sido cada vez mais precarizado, (também, nos conteúdos e saberes

oferecidos pela escola).

Portanto, a educação, atualmente, distancia-se da realidade social do

aluno e fica preocupada, somente com as táticas de sobrevivência junto ao

processo de exploração que irá submeter-se ao terem que trocar sua força de

trabalho por salários, por não possuírem propriedade dos meios de produção e

por consolidarem-se como uma classe mundializada. Portanto, os valores

principais oferecidos no âmbito escolar são produtividade, eficiência,

qualificação, técnicas sobre como ser um bom empreendedor, velocidade de

ações e raciocínios rápidos, cujas necessidades são voltadas aos padrões do

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‘adequado’ assalariado para servir/adentrar em qualquer

empresa/fábrica/indústria conforme a Teoria do Capital Humano. Nesse

sentido:

[...] É possível, mas improvável, que a liberdade humana possa

florescer em meio a uma vida de labuta, pobreza e estupidez. A fim

de tornar-se uma realidade, é preciso primeiro que se crie, para

todos, as precondições para que se libertem, saibam manter-se

livres. Porém, é sensato pensar que, antes de criar uma sociedade

verdadeiramente livre, é preciso criar riqueza, para poder distribuí-la,

de acordo com as necessidades individuais livremente

desenvolvidas. Antes de tudo, porém, é indispensável possibilitar

que escravos e trabalhadores aprendam, saibam ver e pensar, para

que possam entender o que está se passando, e decidir, com

lucidez, o que fazer para mudar o estado das coisas (ARAUJO,

2000. p. 122).

Além disso, o educando, nessa escola burguesa, precisa ser envolvido,

conquistado e ‘encantado’ para se sentir parte de um contexto que o exclui

minuto a minuto. Ao relacionarmos essas problemáticas históricas e a

condição em que se situa a disciplina de Educação Física nessa instituição de

ensino, constatamos a relação direta com a cultura corporal e o mundo do

trabalho:

A Cultura Corporal representa as formas culturais do “movimento

humano” historicamente produzido pela humanidade. Nesse sentido,

entende-se que, a prática pedagógica da Educação física no âmbito

escolar deve tematizar as diferentes formas de atividades expressivas

corporais, sistematizadas aqui nos seguintes Conteúdos

Estruturantes: Esporte; Ginástica; lutas; Dança; jogos e brincadeiras

(PARANÁ, 2006, p, 44).

Já que este último faz parte dos conteúdos articuladores e está presente

nas Diretrizes Curriculares da Educação para o Estado do Paraná (Educação

Física). Assim, denotam-se as possibilidades de análise de tais conteúdos na

realidade do CEEBJA, por intermédio das aulas de Educação Física para

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melhor compreensão dessas relações a problemática apontada, surge como

aspecto central desse estudo a seguinte questão de partida:

Quais as relações entre Trabalho, Educação no CEEBJA e

Educação Física (conteúdo: ginástica e jogos/brincadeiras)?

A partir dessa questão, outras emergem, buscando compreender todos

os aspectos que envolvem o cotidiano do educando trabalhador que frequenta

as aulas de Educação Física no CEEBJA em Maringá, Paraná, tais como:

Quais as possíveis relações entre trabalho degenerativo

físico/psíquico x exploração da mão de obra assalariada dos alunos do

CEEBJA?

Qual a relação entre a jornada de trabalho e a exploração pelo

assalariado praticada pelos educandos da EJA na sociedade capitalista?

Quais as possíveis relações de se conscientizar os educandos da

EJA sobre a necessidade da organização sindical na sociedade

capitalista?

Para responder essas questões com consistência e coerência é

necessário um método de desvela mento da realidade e, portanto, identifiquei

no Materialismo Histórico e Dialético, a possibilidade teórico-metodológica para

a transformação da sociedade (e, não, reforma dela). A análise materialista

histórica e dialética ou marxista parte da questão de que a existência da

propriedade privada garante a alienação humana que ocorre no processo de

troca de mercadorias. As relações sociais são inteiramente interligadas às

forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os homens modificam o

seu modo de produção, a maneira de produzir sua vida e, também, modificam

todas as relações sociais (CASIMIRO, 2006).

Neves e Pronko (2008) em seu livro “O Mercado do Conhecimento e o

Conhecimento para o Mercado” mostram que esse método não é como indica

Jameson (1996) apud Neves & Pronko (2008), o único referencial que critica o

sistema capitalista, mas é o único que faz uma crítica radical cujo objetivo não

é a reforma do capitalismo, mas sua superação (p. 14). Portanto, o

Materialismo Histórico e Dialético surgiu através do pensamento marxista-

socialista expresso nos textos que foram produzidos por Marx e Engels (em

contraposição a produção de capital e da sociedade capitalista). Esse método

aponta a necessidade de um pensamento que aferisse à realidade, a oposição

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à concepção idealista da história (dialética no Idealismo de Hegel e dialética

materialista com preservação de valores cristãos, de Feuerbach) embora,

adotando o mesmo método dialético (de ambos) para produzir sua superação.

A seguir, apontarei algumas aproximações com o tema da investigação,

buscando relacionar a práxis pedagógica na EJA – Educação Física com as

possibilidades encontradas durante as aulas. As análises são sustentadas

pelas contradições sociais, apontadas pelos alunos nas aulas mediante sua

condição material no mundo do trabalho assalariado/alienado.

2. POSSÍVEIS RELAÇÕES ENTRE A PRÁXIS PEDAGÓGICA NA

EDUCAÇÃO FÍSICA/EJA E O TRABALHO NA SOCIEDADE

CAPITALISTA.

A existência de práticas educacionais que

permitam aos educadores e alunos

trabalharem as mudanças necessárias para

a construção de uma sociedade na qual o

capital não explore mais o tempo de lazer,

pois o que as classes dominantes impõem é

uma educação para o trabalho alienante,

com o objetivo de manter o homem

dominado. Já a educação libertadora teria

como função transformar o trabalhador em

um agente político, que pensa, age, e usa a

palavra como arma para transformar a

realidade (ISTVAN MÉSZÁROS, 2005, p.

59).

A epígrafe aponta o lócus principal no qual as relações humanas se

deparam com o processo de reificação. Assim, é exatamente no âmbito do

mercado de trabalho que se produzem as mercadorias e o capital. Nesse

sentido, pode-se conceituar trabalho como a relação entre a energia humana

com a natureza através do ato consciente que a transforma e que, por sua vez,

transforma o ato consciente, alterando as condições materiais (que, por sua

vez, altera novamente, a consciência humana) (MARX e ENGELS, 2007). Em

outras palavras: é a transformação da natureza pelo homem para suprir suas

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necessidades, ou seja, o ser humano modifica a natureza para transformá-la

em trabalho (FRIGOTO, 2000), mas com a consolidação do modo de produção

capitalista, esse trabalho, após as revoluções industriais e com o advento de

novas tecnologias e da ciência impele o trabalhador a adaptar-se ao processo

de produção do trabalho alienado (MARX, 1964). Esse trabalho alienado,

produzido essencialmente pela existência da propriedade privada, priva o

trabalhador daquilo que ele mesmo produz, pois tem trocado, apenas, a sua

força de trabalho pelo capitalista e, não, aquilo que ele produz (MARX, 1988).

O ato do trabalho assalariado (trabalho abstrato) ocupa e destitui o trabalho

concreto, cuja existência é incompatível com a existência da propriedade

privada.

Os assalariados, classe que se forma a partir da revolução burguesa

consolidada a partir de 1848, iniciada no século XII/XIII com a crise feudal

(ANDERSON, 1989; MARX, 1988; MARX e ENGELS, 2007), enfrenta,

cotidianamente, o processo de alienação e exploração, pois sua única forma de

se manter vivo é submeter-se ao mercado de trabalho como coisa, como

mercadoria, afirmando sua negação enquanto ser humano. Essa condição,

conforme os fatos históricos nos mostram, não é natural nem ao acaso. Há

uma força ideológica imensa e constante que mantém essas duas classes em

situações antagônicas e sob dependência uma da outra: a dos burgueses e a

classe proletária (MÉSZÁROS, 1996).

Nesse contexto, por meio de vários aparelhos ideológicos do Estado

burguês, como a religião, política, cultura, lazer e, fundamentalmente, a

educação, via escola como Aparelho Ideológico do Estado (ALTHUSSER,

1999), os trabalhadores são, incessantemente, induzidos a endossar,

consensualmente, os valores e a lógica dominante mesmo que estejam

extremamente contra sua própria classe e condição (MÉSZÁROS, 1996).

Neste sentido, a pesquisa desenvolvida partiu da elaboração de um

plano de estudo e atividades para serem desenvolvidas através de três

módulos divididos em três dias, utilizando-me de alguns recursos pedagógicos

tais como leituras coletivas, discussões e debates de textos pertinentes à

problemática dessa pesquisa, através do filme ‘Eles não usam Black tie’, não

só como recurso didático, mas como objeto de pesquisa e compreensão da

problemática referente ao estudo, (sob os temas do mundo e trabalho,

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sociedade capitalista, exploração do homem no mundo do trabalho, o uso do

tempo livre, da ginástica laboral, organização sindical.), atividades que

envolvam a expressão corporal (dramatizações, jogos, mímicas, alongamentos

e relaxamentos, etc.). Portanto, essa estratégia ocorreu, especialmente, para

compreender e relacionar a realidade do educando trabalhador de forma a

estimulá-lo a compreender as diversas formas de exploração e dominação

social na sociedade capitalista e o processo educacional ao qual necessita

para sobreviver no mercado de trabalho.

Neste sentido:

Uma sociedade que produz cada vez mais riqueza – a décima em

termos de Produto Interno Bruto (PIB) – e que vai se adequando aos

métodos técnico-científicos e culturais coetâneos ao capital mundo,

mas de forma desigual. Uma sociedade dependente e associada ao

grande capital, de desenvolvimento desigual e combinado, cujo papel

dominante, na divisão internacional do trabalho, mesmo com a

redefinição do trabalho simples e a ampliação do trabalho complexo,

é exercer atividades neuromusculares e, portanto, trabalhos de baixo

valor agregado. Um exemplo de capitalismo predatório que ao mesmo

tempo acumula e transfere riqueza e capital e acumula e amplia a

miséria (NEVES & PRONKO, 2008, p.14).

Por intermédio dos conteúdos oferecidos pela Educação Física na EJA,

constatei maior aproximação do tema com a ginástica e os jogos/brincadeiras,

pois tais conteúdos, sob a compreensão ampliada, mantêm relações diretas

com a compensação e o reequilíbrio do cansaço/desgaste produzidos pelo

trabalho. Assim, o lazer (via ginástica e atividades recreativas/jogos e

brincadeiras) proporciona ao trabalhador, uma semana mais descansada e

apta para o trabalho produtivo.

Baseado nessas questões, apliquei algumas práticas pedagógicas

referente a esses conteúdos estruturantes, perpassando por conteúdos

específicos como: ginástica laboral, jogos, dinâmicas e brincadeiras e como

recursos pedagógicos utilizei algumas atividades que estimulassem a

expressão corporal e o próprio filme já citado. Assim, busquei contextualizar e

refletir sobre a exploração que o sujeito social/trabalhador sofre no âmbito do

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trabalho assalariado para atender as necessidades do modo de produção

capitalista.

Com essas estratégias pedagógicas, pretendi ampliar as compreensões

sobre os interesses que as empresas possuem acerca da ginástica (laboral e,

portanto, compensatória e funcionalista), dos jogos recreativos (gincanas, caça

ao tesouro, eventos esportivos, festas, recreação, etc.) e que são utilizadas

para repor os desgastes físicos e psíquicos dos trabalhadores. Nesse sentido,

busquei analisar a situação em que se encontra a saúde dos trabalhadores e

as possibilidades que tais atividades possuem tanto para ampliar a produção

como para suportar melhor a extensa jornada e intensidade do trabalho

precário, alienado e assalariado. Além disso, refleti sobre a relação com a

minimização dos atestados médicos e afastamentos por doenças relacionadas

ao trabalho1. Neste sentido, há o possível aumento dos lucros dos donos de

empresas (mais valia absoluta), pois trabalhadores saudáveis rendem mais e

dão menos despesas para os patrões.

O trato desses assuntos/temas, ocorreu por intermédio da

implementação da produção científica, que foi aplicado na modalidade de

ensino de EJA – Educação de Jovens e Adultos com o tema Relações entre

trabalho e educação física na educação de jovens e adultos no CEEBJA

Manoel Rodrigues da Silva de Maringá na turma de ensino médio noturno, nos

dias 21, 22 e 23 de novembro de 2011. Para tanto disponibilizei um total de

12h/a, sendo distribuídos em três dias de 4h/a por período/noite. Os alunos que

se inscreveram para a oficina, já se encontravam matriculados na disciplina de

educação física e ainda, completamos com alunos que tinham interesse de

aumentar sua carga horária em outras disciplinas que estavam matriculados

(era permitido de acordo com o plano de trabalho docente e a proposta

pedagógica do CEEBJA). Cabe ressaltar que na oficina oferecida, houve um

número bastante expressivo de alunos (um total de 27 alunos e que, pela

limitação do espaço físico havia sido aberta para 20 alunos), porém, permiti o

1 Em muitas aulas me deparei com situações em que os educandos relataram que sofrem com problemas de saúde relacionados ao trabalho, como estresse, distúrbios osteomusculares (DORT), problemas cardíacos, gástricos, psiquiátricos e preocupados com a manutenção de seu emprego, muitos acabam suportando uma carga de trabalho maior do que aguentariam. Os alunos-trabalhadores chegam à escola, fisicamente e psiquicamente cansados por causa da carga horária de trabalho excessiva e intensidade do mesmo. Os índices de afastamento do trabalho por causas ligadas a doenças acima mencionadas abrangem uma grande parte dos educandos da EJA, afastando-os inclusive da escola e, como consequência, a evasão destes.

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excedente, pois atendiam os critérios necessários para cumprirem essa

atividade na instituição, tais como, ter mais de dezoito anos, estar inserido num

trabalho (seja formal ou informal) e estarem matriculados no ensino médio do

CEEBJA.

Dessa forma, a caracterização dos alunos que estavam presentes na

oficina foram: dos 19 que trabalhavam de maneira formal, treze, atuavam em

empresas do comércio local, como, lojas, oficina, posto de gasolina, empresa

de telefonia, seis em indústrias de confecção e usina e é importante destacar

que um destes alunos era funcionário de uma empresa de transporte coletivo

da cidade de Maringá e estava afastado do trabalho por problemas

psiquiátricos. Dos oito alunos que trabalhavam de maneira informal, dois

faziam ‘bicos’ esporádicos, uma era costureira, um pedreiro, um manicure, um

caminhoneiro que estava afastado pelo INSS (por ter sofrido acidente de

trânsito e não estava registrado e somente após o acidente que este foi

registrado retroativamente), um garçom e um último que fazia lanches e vendia

na frente de sua casa. Destes, havia 17 do sexo masculino e dez do sexo

feminino.

A primeira pergunta feita oralmente a eles antes de me apresentar e

apresentar os objetivos da oficina foi:

Quais eram os objetivos deles ao estarem estudando neste CEEBJA? As

maiorias das respostas relacionaram a:

• Melhorar as condições de vida;

• Melhorar o salário;

• Subir de nível na empresa;

• Concluir o ensino médio porque a empresa exige;

• Prestar vestibular.

Portanto, me fez refletir que os alunos presentes estavam em busca única

e exclusivamente da melhoria das condições postas no mundo do trabalho em

que vivem, ou seja, pois estes além da busca pelo conhecimento estavam

também à procura de algo que possam motivá-los a continuar sua incessante

caminhada para ter condições melhores de vida, nesta sociedade excludente e

capitalista. É exatamente o público que queria atingir com a proposta da

implementação desta oficina, meu receio era se conseguiria atingir meus

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objetivos de uma forma geral, por entender que o nível de compreensão crítica

sobre o assunto para muitos, era totalmente desconhecido, pois falar de

trabalho, exploração da mão de obra, patrão, horas extras, salário, organização

sindical, uso do tempo livre poderia gerar neles desconforto, este desconforto,

poderia ser gerado pela visão alienada que muitos têm de compreensão da sua

realidade de vida, o que os impedia ter um entendimento crítico a respeito da

dominação da sociedade capitalista na qual vivem e que os torna vítima de um

processo de exploração, pois sua única forma de sobrevivência é submeter-se

ao mercado de trabalho como coisa, como mercadoria, afirmando sua negação

enquanto ser humano.

Outro receio que tinha era com relação à participação nas dinâmicas de

expressão corporal, a grande maioria dos alunos estavam sempre

acostumados a desempenhar atividades corporal de forma competitiva na

educação física presente no ensino regular, muitos me relataram que a

educação física que praticavam (este foi o verbo utilizado por eles) em seu

tempo escolar era limitada à pratica de esportes, visando rendimento e eficácia,

portanto, distante daquilo que se propunha com a realização da oficina com o

tema articulador corpo e trabalho.

Encontrei aqui a necessidade de explicar que a educação física atual

baseava na concepção histórico crítico e que as diretrizes curriculares para a

educação física escolar no ensino básico estavam pautadas na cultura

corporal, com os conteúdos estruturantes eram: esporte, dança,

jogos/brincadeiras, ginástica e lutas. Expliquei que os conteúdos

jogos/brincadeiras e ginástica uso do tempo livre/lazer, teriam maior

proximidade ao conteúdo articulador cultura corporal e mundo do trabalho,

portanto, seria o objeto maior de meus estudos.

Em seguida, apresentei no data show em forma de slides quais eram

meus objetivos:

• Possibilitar reflexões críticas a respeito dos conteúdos e tema

trabalhados nas aulas/oficina.

• Relacionar a nossa história de vida com a história do modo de

produção e reprodução do capital.

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• Iniciar um movimento de pensamentos acerca da realidade postos

e das possibilidades de tornar-se um sujeito social consciente e

transformador.

Continuei explicando que estava atuando a dezessete anos como

professora de educação física no Estado do Paraná, destes, doze anos, como

professora do CEEBJA Manoel Rodrigues da Silva e a importância que eles

educandos trabalhadores tinham em meus estudos, pois estes, seria objeto

principal de minha pesquisa, expus como aconteceria à aplicação da oficina e

porque da escolha do tema Relações entre trabalho e educação física na

educação de jovens e adultos. Expliquei de forma superficial, o que era o

PDE, Programa de desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná, ou

seja, uma programa para capacitar o professor em suas práticas pedagógicas.

Na sequencia, como aconteceria à oficina, os dias, os recursos didáticos e

pedagógicos utilizados, sendo distribuídos em três módulos em dias

consecutivos:

a) Primeiro dia: módulo I, apresentação do filme: Eles não usam Black

tié, incluindo debates e análise do filme com pontos relevantes a serem

destacados como exploração da mão de obra operária e organização sindical.

b) Segundo dia: módulo II, leitura, análise e reflexões da produção de

texto e atividades complementares práticas, relacionando conteúdo cultura

corporal e mundo do trabalho, exploração da mão de obra operária e

organização sindical.

c) terceiro dia: módulo III, reflexões críticas a respeito de temas e

conteúdos da educação física, tais como: ginástica laboral, tempo livre,

descanso, compensação do desgaste físico, lazer, jogos e brincadeiras

utilizados nas empresas em dias de festa e comemoração, através de práticas

corporais relacionadas a corpo e trabalho.

Iniciei o módulo I com questionamentos que foi o ponto de partida para o

educando refletir sobre: qual a posição que ocupa dentro do contexto social

em que vivem, relacionando ao trabalho, realização profissional, salário,

educação e realização pessoal:

Como você se sente em seu trabalho? Sente-se realizado

profissionalmente? Tem prazer em desenvolver suas atividades

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profissionais e pessoais? Acha o que recebe pelo seu trabalho é suficiente

pelo tanto que trabalha?

Como você se sente ao chegar à escola, após um dia de trabalho? Tem

disposição em estudar ou sua vontade é de ficar sentado ou deitado em

frente da televisão?

Você tem tempo para o lazer? Desenvolve atividades para preencher

seu tempo livre? Ou somente sua preocupação é com o trabalho?

Após terem feita a reflexão acima, pedi que eles respondessem tais

questões no último dia ao término da oficina, como forma de conclusão e

análise final do tema. A seguir expliquei e identifique qual o tipo de sociedade

na qual fazíamos parte, “vivemos em uma sociedade capitalista”, fiz toda a

análise cultural histórico crítica e ou Marxista, e que era impossível falar de

trabalho, exploração, sindicato, luta por melhore condições de vida sem

posicioná-los sobre esta concepção de mundo e sociedade. Assistimos ao

filme · e, aqui, considerei importante dar sequência no módulo I por meio do

filme, por mostrar a realidade de exploração existente entre patrões e

empregados. Embora aconteça no final da década de 1970, ainda, se torna

atual por considerar ser a realidade de muitos educando da EJA e, por último,

por considerar o ponto de partida de toda compreensão do conteúdo proposto.

Após assistirmos ao filme, fizemos uma importante e intensa análise dos

pontos que consideraram relevantes, e que, fazem parte do cotidiano de muitos

presentes na aula, tais como: As condições de miséria da classe trabalhadora;

Salários baixos; Movimento coletivo sindical dos operários metalúrgicos;

Soluções coletivas contra busca de soluções individuais; Ditadura e repressão

policial, década de 70; A forma de atuar dos patrões, como ameaça de

demissão e suborno aos seus empregados, em troca de informações contra o

movimento sindical e, Dedurar os colegas.

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Sugeri, então, uma atividade de expressão corporal de socialização e

atividades em grupo2, procurando relacionar o conteúdo do filme com

organização coletiva.

Após essa atividade, estimulei a análise do quanto é importante

organizar-se coletivamente uma vez que o esforço coletivo trás conquistas

coletivas evitando, assim, o individualismo tão presente na sociedade

capitalista trazendo única e exclusivamente a alienação, fortalecendo assim a

classe dominante. Ressalto que todas as atividades foram desenvolvidas com

música, pois favoreceu melhores condições de aprendizagem, além de ter

trazido motivação entre os participantes. Por último, organizei todos os alunos

num círculo e solicitei que dissessem quais foram às sensações que tiveram ao

desenvolver estas atividades. Procurei direcionar as discussões para a

importância de se expressar de forma livre e o quanto é importante se

socializar e se organizar coletivamente, relacionando com a análise final do

filme.

Ao final do módulo I, concluiu-se, a importância de unir forças em

categorias de trabalhadores, se organizando e formando sindicatos, portanto,

os resultados de toda luta de classe se faz pela união de forças para o bem de

todos, no que diz respeito a melhoria das suas condições de trabalho nas

empresas, salários mais justos, para melhorar a qualidade de vida dos

trabalhadores.

No módulo II, a aula deu-se inicio com a leitura, análise e a realização

das atividades do texto ‘Relações entre trabalho e educação física na educação

de jovens e adultos’ para, em seguida, aplicar uma atividade corporal3:

2 A) De olhos vendados, ao meu comando pedi que colocassem as mãos em diferentes partes do seu corpo (cabeça, joelhos, cotovelos...); B) Em duplas, um de olhos vendados no qual, um conduziu o outro, segurando pelo antebraço, a tomar água, andar pela escola, em diferentes níveis e degraus; C) Em círculo, ainda de olhos vendados, passaram objetos ao som da música, quando pararam, aquele que estivesse com o objeto deveria falar seu grande sonho; acho importante destacar que, a maioria dos alunos declarou que seu maior sonho era melhorar de emprego e dar melhores condições de vida para seus familiares. D) Sem a venda nos olhos, fizeram a brincadeira do João bobo. Foi feita a principio em trios e após adquirirem confiança este número foi aumentando até formarem grupo de cinco alunos. O aluno que ficou no meio deixou seu corpo cair e os demais impulsionaram de volta. 3 Os alunos foram dispersos pela sala, todos receberam um balão (bexiga) vazio, encheram o balão e ao som de uma música e ao sinal do professor lançaram o balão para cima, tocando o balão com varias partes do corpo começando pelas mãos, após cotovelos, passando por todas as partes do corpo e articulações sucessivamente. Em seguida em duplas passaram os balões para o outro tocando nas partes do corpo, como na atividade anterior, após em trios, em quádruplos, até que se formaram grupos de cinco pessoas trocando balões todos ao mesmo tempo, terminou com todos os grupos juntos tocando os balões para cima e ao mesmo tempo mantendo-os no ar independente de quem fosse os balões. A cada intervalo de ações, procurava realizar um alongamento com o grupo muscular trabalhado, simulando a ginástica laboral compensatória realizada nas empresas durante o expediente de trabalho. Em seguida

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Assim, concluímos o módulo II, com a análise crítica da atividade prática

corporal, com o texto teórico e a atividade escrita, relacionando o real interesse

dos patrões em oferecer a ginástica laboral, compensatória e ou de pausa a

seus funcionários antes, durante ou após a atividade laboral que é aumentar

seus lucros, pois funcionários saudáveis geram menos atestados e faltam

menos, em conseqüência geram menos rotatividade de funcionários na

empresa. Nesse momento, o aluno da empresa de transportes coletivos citado

no início do desenvolvimento da oficina, pediu a palavra e fez um relato muito

importante, apontando o tanto que ele se sentia explorado, cansado, sem

forças, pois a empresa já tinha lhe sugado tudo que ele tinha de bom na vida,

que era a sua dignidade e hoje está encostado e a empresa não lhe quer mais

atuando, pelo nível de estresse e de fadiga na qual ele se encontrava. Esse

relato impressionou a todos, deixando os presentes indignados.

O terceiro e último módulo, buscou analisar todas as questões

apresentadas nos módulos anteriores para refletir, discutir, opinar, etc. sobre as

condições de vida do trabalhador, do tempo livre e da educação, por meio de

debates, discussões em grupo e outras dinâmicas.

Sugeri, então, uma dinâmica realizada no grande grupo, para concluirmos

e fecharmos o tema em questão e para encerrarmos a oficina. Criei algumas

questões e as coloquei em uma caixa, com os alunos em círculo e sentados,

passaram a caixa de mão em mão ao som de uma música, quando esta parar,

o aluno tirava uma questão para responder4.

Todos estavam sentados e em círculo, as respostas das questões

iniciais de partida, para refletir, proposto no inicio do módulo I foi intensamente

debatida por eles. Interessante ressaltar a indignação deles com relação ao

sentimento de prostração diante das condições postas na qual faziam parte, o

quanto que se sentiam usados, explorados e qual eram realmente os

fizemos a análise destes movimentos com o texto trabalhado. A utilização dos balões coloridos e o som de uma música serviram para motivá-los e alegrá-los ao desempenhar a tarefa, fazendo uma analogia que trabalhadores motivados e recuperados fisicamente produzem mais e geram mais lucros para a empresa. 4 As questões produzidas foram 1) O que podemos concluir a respeito da jornada de trabalho e a exploração assalariado dos educandos da EJA na sociedade capitalista? 2) Quais as possíveis relações entre trabalho degenerativo x exploração da mão de obra assalariada? 3) Como está o movimento sindical na sociedade capitalista? 4) Por que nesta sociedade capitalista o ter e mais importante que o ser? 5) Acha possível que a sociedade como está posta, que exclui que explora, onde muito está nas mãos de tão poucos possa mudar? Como isso é possível? 6) Como se vê nesta sociedade de consumo, onde a competição e o individualismo fazem das pessoas seres muitas vezes sem valores morais e éticos? 7) É possível ter valores morais e éticos numa sociedade onde a corrupção e uma constância no meio político?

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interesses da minoria da população que detém o poder, os grandes capitalistas

e exploradores da mão de obra assalariada, manter a coisas exatamente como

estão, seu status quo.

Neste sentido, (COLETIVO DE AUTORES, 1992) em seu livro,

Metodologia do Ensino de Educação Física, expõe e discute reflexões teóricas

metodológicas da Educação Física, que trata pedagogicamente de temas da

cultura corporal, (já citada neste artigo) nos faz uma reflexão importante sobre

a sociedade de classe que quer manter os interesses hegemônicos:

“O movimento social se caracteriza pela luta entre as classes sociais

a fim de afirmarem seus interesses. O interesse da classe

trabalhadora corresponde a sua necessidade de sobrevivência, à

luta pelo emprego, ao salário, à alimentação, ao transporte a

educação, enfim condições mínimas de sobrevivência.

Enquanto que os interesses da classe proprietária correspondem:

As suas necessidades de acumular riquezas, gerar mais renda,

ampliar o consumo, o patrimônio. Ainda com relação a essa classe,

seus interesses históricos correspondem à sua necessidade de

garantir o poder para manter a posição privilegiada que ocupa na

sociedade e a qualidade de vida construída e conquistada a partir

desse privilégio. (p.24).

A classe proprietária mantendo esta hegemonia, não se sente ameaçado

por uma, quem sabe, revolução de trabalhadores em busca de melhores

condições de trabalho.

Entendeu a importância de se organizarem coletivamente,

sindicalizando-se. Muitos me questionaram o porquê de apenas hoje, e não há

tempos atrás de se falar sobre o tema: Educação Física e mundo do trabalho,

ainda mais na educação física onde sempre aprenderam que a prática do

esporte era a única forma de conhecimento da disciplina e ordem, onde o

rendimento e a desempenho era o ponto de partida da disciplina e não

compreendiam como que foi possível dentro destes três dias de oficina, ter um

entendimento intenso de que, é por meio da educação formal, especificamente,

na disciplina de Educação Física, consegue-se alcançar um entendimento de si

próprio dentro do mundo e sociedade em que vivem, de forma tão crítica e

reveladora como aconteceu nestas aulas. Assim, me surpreendi com as

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respostas dadas e entendi o quanto foi importante estas aulas em forma de

oficinas propostas em módulos, o nível de compreensão deles foi excelente,

meus objetivos foram alcançados, meus medos e anseios foram superados e é

possível trabalhar Educação Física de forma crítica, consciente e democrática,

ainda mais neste perfil de educandos tão excluídos das riquezas que eles

mesmos produzem.

Outra questão que emergiu e importante destacar em um dos debates

realizados por mim neste estudo com os alunos da oficina foi quando

questionados a refletir sobre: qual a posição que ocupa dentro do contexto

social de sua realidade, relacionando ao trabalho, realização profissional,

salário, educação e realização pessoal, uso do tempo livre e lazer?

Deparei-me com respostas em sua maioria que estes não se sentiam

realizados profissionalmente, que estavam na escola em busca de

conhecimento de mundo e sociedade, para tanto, estavam em busca de

realização pessoal e profissional, pois muitos acreditavam que a escola através

do conhecimento era a única forma real de se alcançar objetivos propostos e

idealizados por eles, que não tinham tempo para o lazer, isto muito enfatizado

pelas mulheres que em sua maioria sentiam-se culpadas por deixarem casa,

filhos e família para ajudar o marido no orçamento doméstico. Portanto, quando

realizavam algum lazer era sempre direcionado a programas familiares, como ir

a igreja, e muitas não tinham a dimensão real do que significava lazer, e uso do

tempo livre, tanto que diziam que lazer para elas era fazer o serviço doméstico

acumulado da semana, ou dar atenção aos filhos na tarefa de escola. A

superposição de atividades remuneradas em detrimento às atividades

humanas se torna uma necessidade e vêm em primeiro lugar na vida humana.

Ainda na dimensão do trabalho e do lazer (tempo livre), um exemplo dessa

contradição apresenta-se na compreensão acerca da dicotomia (falsa) entre

trabalho e lazer. De acordo com (DUMAZEDIER, 2000), um sociólogo francês,

que realizou uma extensa pesquisa com trabalhadores na década de 1970

afirmando a contrariedade desse tempo pós-trabalho com o tempo de trabalho.

O autor define lazer como algo desarticulado do trabalho, pois é oposto a ele e

mais, aponta o lazer como direito de todos, aproximando-se das teorias liberais

e neoliberais. Para esse autor:

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O lazer é o conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode

entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se,

recrear-se, e entreter-se, ou ainda, para sua informação ou formação

desinteressada, sua participação social voluntária ou livre capacidade

criadora após se livrar ou desembaraçar das obrigações profissionais,

familiares e sociais, reunindo as três funções do lazer: descanso;

divertimento, recreação e entretenimento; desenvolvimento pessoal

(DUMAZEDIER, 2000, p. 34).

Portanto, ao considerar e entender o lazer como oposto ao trabalho está

nesse primeiro aspecto a (pseudo) realização humana, a (pseudo) felicidade e

a (pseudo) liberdade, pois nesse tempo, o trabalhador pode realizar-se, gritar,

extravasar, descansar, etc., mas no tempo de trabalho assalariado e alienado,

há a necessidade de seriedade e do cumprimento das ordens daquele que

compra sua vida, ao comprar sua força de trabalho. Assim, o lazer consolida-se

como um fenômeno tipicamente moderno, fruto da sociedade urbana e

industrializada, ligado ao uso do tempo livre, ou ao tempo de “não trabalho”.

Padilha (2003) faz várias reflexões sobre o uso do tempo livre e critica as

concepções funcionalistas como a de Jofre Dumazedier. Para a autora “[...]

trabalho e lazer formam um sistema em que o movimento de um, afeta o

movimento de outro; o lazer sendo quase sempre visto como um momento de

recuperação das forças físicas e psíquicas para o trabalho (p. 245)”. Ainda,

para a autora, vários autores defensores das correntes metodológicas

funcionalistas/estruturalistas, compreendem o lazer como remédio eficiente

para cura dos males que ameaçam o equilíbrio social (que são oriundas do

trabalho). Assim, se o trabalho cansa, o lazer descansa, se o trabalho aliena o

lazer desaliena. Portanto, nesta lógica de compensação que se opõe trabalho e

lazer, a sociedade capitalista permanece em harmonia.

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Considerações finais:

A análise final deste artigo que contribui para finalizar este estudo de

campo buscou responder as seguintes questões desdobradas: Quais as

possíveis relações entre trabalho degenerativo físico/psíquico x

exploração da mão de obra assalariada dos alunos do CEEBJA?

Qual a relação entre a jornada de trabalho e a exploração pelo

assalariado praticada pelos educandos da EJA na sociedade capitalista?

Quais as possíveis relações de se conscientizar os educandos da

EJA sobre a necessidade da organização sindical na sociedade

capitalista?

E, finalmente, buscou analisar a questão central: Quais as relações

entre Trabalho, Educação no CEEBJA e Educação Física (conteúdo:

ginástica e jogos/brincadeiras, via lazer)?

Para responder a tais questões me baseei na concepção histórico crítico

presente nas diretrizes Curriculares do Paraná e como base de estudo, utilizei

o conteúdo específico jogos e brincadeiras via lazer e ginástica laboral e

compensatória e, também, como tema articulador, a cultura corporal e o mundo

do trabalho.

Após as análises feitas durante a pesquisa e estudos de campo

realizados na modalidade da Educação de Jovens e Adultos, constatei que o

perfil de educandos presentes se apresenta conforme o Projeto Político

Pedagógico do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos –

CEEBJA - Escola Professor Manoel Rodrigues da Silva. (2010) que são jovens

adultos e trabalhadores e que se compõem, majoritariamente, por aqueles que

não tiveram acesso à escola na idade dita ‘adequada’. Esse fato, como

consequência gera as reprovações e evasões escolares justificadas pela

necessidade de sustento familiar (devido ao salário precário da família),

posicionando os jovens (e, muitas vezes, crianças), no mercado de trabalho em

detrimento ao estudo. Portanto, os estudantes são, também, trabalhadores que

sofrem com a exploração (que seu corpo se depara, no âmbito do trabalho para

atender as necessidades do modelo de produção capitalista).

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Também, por meio das análises dos depoimentos dos estudantes

trabalhadores e, conforme minha experiência de professora nesta instituição de

ensino, pude possibilitar por meio das aulas tematizadas, maior grau de

compreensão sobre os reais interesses que as empresas (patrões) possuem

acerca da ginástica laboral (compensatória), dos jogos recreativos (gincanas,

caça ao tesouro, eventos esportivos, festas, etc., que, normalmente,

acontecem em dias festivos) que servem para repor os desgastes físicos e

psíquicos de seus empregados.

Nesse sentido, refletiu-se sobre a dupla e contraditória ‘preocupação’

com a saúde dos trabalhadores por meio dessas atividades e sobre as

possibilidades das mesmas servirem para ampliar a produção e para suportar

melhor a extensa carga e intensidade de trabalho, evitando com isso os

atestados médicos e afastamentos por doenças relacionadas ao trabalho.

Assim, o tempo livre ficou, quase sempre, associado como compensação dos

desgastes físicos e psíquicos causados pelo trabalho como mencionado.

No âmbito da escola, a área da Educação Física se posiciona como

qualquer outra área do conhecimento e que, nos últimos 90 anos, visou apenas

a fortalecer valores dominantes. Portanto, diante desta afirmação, o Coletivo de

Autores, (1996), faz uma crítica de como a Educação Física atende a esses

valores hegemônicos: A Educação Física escolar, que tem como objeto de

estudo o desenvolvimento da aptidão física do homem tem contribuído

historicamente para defesa dos interesses da classe no poder, mantendo a

estrutura da sociedade capitalista (p. 36). A educação Física escolar pode e

deve confrontar a estes valores a partir de projetos e propostas que visem uma

educação autônoma e emancipatória. Para isso é preciso rever e confrontar as

práticas pedagógicas (no sentido de práxis) para contrapor a hegemonia da

classe dominante no âmbito da educação.

Constatou-se, também, a ampliação do nível de entendimento dos

estudantes trabalhadores desta modalidade de ensino, no que tange a

necessidade de organização coletiva (organização sindical) que, juntos, podem

lutar por melhorias de salário, de trabalho, de condições humanas descentes

de sobrevivência e, também, o quanto se faz importante alterar as condições

materiais postas desta sociedade com ideais burgueses. Esta classe, a

burguesa, utiliza de vários Aparelhos Ideológicos do Estado, para manter o

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status quo, ou seja, manter as questões organizativas da sociedade capitalista,

exatamente como está, promovendo assim, a permanente alienação humana e

não permitindo que trabalhadores organizem-se enquanto classe social.

Finalmente, respondendo a questão de partida e o foco principal desta

pesquisa: relações entre Trabalho, Educação no CEEBJA e Educação

Física (conteúdo: ginástica e jogos/brincadeiras, via lazer) me faz reafirmar

que a disciplina de educação física na escola deve atender a uma proposta

pedagógica que posicione o educando não só para os conteúdos trabalhados

cientificamente, mas, principalmente, para formar um ser social crítico e

autônomo. É preciso que o educador receba ajuda para desvelar e que tenha

bem claro o tipo de sociedade e de homem o capital está produzindo e como é

produzido. Cabe questionar quais os interesses de classe que se defende seja

no trabalho, na rua, na escola? Quais os valores, a ética e a moral que elege?

(COLETIVO DE AUTORES, 1992). As respostas a essas questões devem

emergir para se repensar a práxis pedagógica utilizada por nós educadores nas

aulas de educação física.

Assim, contraditoriamente, constatei que essa disciplina, Educação

Física, principalmente no CEEBJA, pode, também, apontar as contradições do

cotidiano (mundo do trabalho/tempo livre, doença degenerativo/ginástica

compensatória, individualismo/organização sindical) ao objeto de estudo da

área, o que possibilitou, assim, relevantes contribuições para o aluno

trabalhador, que puderam compreender questões políticas e ideológicas que se

fazem presentes nesses aspectos e, desta forma, possibilitou através destes

estudos transformações sociais.

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