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Secretaria de Estado do Meio Ambiente (2007-2010)
Gestão Ambiental Paulista: A Construção do Novo
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A Revolução Ambiental no Estado de São Paulo de 2007 a 2010 Os cidadãos paulistas tiveram a oportunidade de assistir, durante a gestão dos Governadores José
Serra e Alberto Goldman, a uma revolução na administração ambiental do Estado, capitaneada por
este grande brasileiro e paulista, o Engenheiro Agrônomo Francisco Graziano Neto, o Xico Graziano.
Tive o privilégio de participar deste processo histórico desde o seu início, em janeiro de 2007, até o
seu final, em dezembro de 2010, como Secretário Adjunto nos primeiros três anos e meio e, nos
últimos seis meses do governo, como Secretário de Estado do Meio Ambiente.
Ter colaborado com o Xico nesta tarefa foi uma honra e um privilégio. Tê-lo substituído – ainda que
por breve período – foi um enorme desafio.
Na série de entrevistas realizadas por Carolina Andrade, o leitor poderá ter uma idéia de quão
profundas foram as quebras de paradigmas, as ações afirmativas, as batalhas diárias, o esforço de
toda uma equipe.
Tenho dito e reafirmo que a administração ambiental paulista poderá ter equipe igual a esta. Mas
muito dificilmente terá uma equipe melhor.
Digo isso como uma forma de agradecimento ao Xico e a todos os nossos colaboradores, nominados
ou não nas páginas seguintes. Os leitores poderão ter uma noção destes fatos históricos que
certamente levarão algum tempo para serem medidos pela sua magnitude e relevância para o
avanço da agenda ambiental. Que isto não seja esquecido e estimule os nossos sucessores a fazer
mais e melhor pelo povo do nosso Estado e do Brasil!
PEDRO UBIRATAN ESCOREL DE AZEVEDO Secretário de Estado do Meio Ambiente
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Histórias de Meio Ambiente e Democracia
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Era janeiro de 1986, no Parque Estadual da Ilha do Cardoso. Criado em 1962, esse parque fica no
extremo sul do litoral de São Paulo, no município de Cananéia e tem uma área de 22.000 hectares.
Lá são encontrados quase todos os tipos de vegetação da Mata Atlântica, que se mantém
praticamente intacta. É um dos principais pontos de reprodução de espécies marinhas do Atlântico
Sul. Além de magníficas paisagens, suas dunas, costões, manguezais e a extensa restinga abrigam
tal riqueza natural que a Unesco – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) declarou os
remanescentes da Mata Atlântica, da Ilha do Cardoso, Reserva da Biosfera e Patrimônio Mundial
Natural.
O cenário era perfeito para os fatos relevantes que estavam para acontecer. Os Governadores do
Estado de São Paulo e do Estado do Paraná, André Franco Montoro e José Richa, estavam reunidos
para a assinatura de um convênio entre os dois estados, visando à proteção de uma ampla área, um
imenso banhado conhecido como Lagamar, que vai de Paranaguá a Peruíbe. Os governadores
aproveitaram essa oportunidade para resolver, também, uma questão de divisa entre os dois estados.
Foi nessa reunião que o Governador Montoro assinou o importante decreto de criação da Estação
Ecológica da Juréia-Itatins, com uma área de 79.830 hectares, que vai do nível do mar até 1.240m de
altitude e abrange uma série de características da Mata Atlântica, assentadas sobre a Serra dos
Itatins, o Maciço da Juréia e a faixa litorânea.
Paralelamente ao processo de criação da nova Unidade de Conservação para a região de Juréia-
Itatins, estava em gestação outro projeto, uma fundação de Defesa da Mata Atlântica, envolvendo
profissionais como Rodrigo Mesquita, Roberto Klabin, Fabio Feldmann, Randau Marques, Clayton
Lino, José Pedro de Oliveira Costa, entre outros. Todos defensores de longa data dos nossos
recursos naturais. Foi nesse dia, já marcado por acontecimentos importantes e no emblemático
cenário da Ilha do Cardoso, que se consolidou a fundação da ONG SOS Mata Atlântica.
Representante da Secretaria da Agricultura, Xico Graziano testemunhou esse processo.
Como se não bastassem esses três eventos tão significativos para a causa ambiental, foi também
nesse mesmo dia que Franco Montoro anunciou a criação da Secretaria de Estado do Meio
Ambiente, em caráter extraordinário, como são extraordinárias todas as secretarias quando criadas.
E ela funcionou durante o último ano do Governo Montoro. José Pedro de Oliveira Costa foi
convidado para ser o primeiro Secretário.
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O meio ambiente nos anos de chumbo
“Nos anos 60, fui preso pelo DOI-CODI” 1, relata o jornalista Randau Marques, com um extenso
currículo dedicado à causa ambiental e que atualmente trabalha na Secretaria do Meio Ambiente de
São Paulo2. Acusado de subversivo, ele estava simplesmente informando que os defensivos
agrícolas não eram defensivos e, sim, venenos. Também estava abordando a questão dos
agrotóxicos, da água contaminada. Sairia da cadeia para, obviamente, persistir no erro e continuar
denunciando. Nascia o jornalismo ambiental.
Paulo Nogueira Neto, que ocupou a Secretaria Especial do Meio Ambiente, de janeiro de 1974 a
junho de 1986, responsável pelas primeiras e importantes iniciativas federais em defesa do meio
ambiente, comenta: “Mais ou menos nos anos 70, 71, 72, um jornal de Goiânia publicou um anúncio
de meia página, com uma chaminé de uma fábrica soltando bastante fumaça e dizendo: ‘Traga para
Goiás a sua poluição’. Porque a mentalidade da época era essa. Na época, começava a nascer uma
preocupação ambientalista, que era ridicularizada, quando diziam ‘tragam para Goiás a sua poluição’.
E, realmente, o pensamento dominante no país era esse. Primeiro desenvolver e depois, então,
cuidar da poluição.” 3
Quem resume o que acontecia nesses anos é José Pedro de Oliveira Costa4: “Nós vivemos no
período militar, o que chamamos de um ‘sufocamento’ da questão ambiental, ou seja, o que
interessava era o desenvolvimento a qualquer custo. Mas, era um desenvolvimentismo que fazia com
que a questão do controle da poluição, em especial, não fosse sequer cogitada e não havia nada que
se pudesse fazer para que fosse diferente. Na década de 70, em São Paulo, a poluição era visível.
No inverno, você não via o fim das ruas, você deve se lembrar disso, a gente quase que pegava a
poluição com as mãos. Então, criou-se a Cetesb e uma serie de instituições, porque o assunto era
muito grave, mas não havia respaldo político institucional. Mesmo tendo sido criado no governo Paulo
Egydio Martins, o Parque Estadual da Serra do Mar, até hoje o maior parque da Mata Atlântica. Era
ainda uma ação isolada.”
1 DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) foi o órgão de inteligência e repressão do Governo Brasileiro durante o regime inaugurado com o golpe militar, de 31 de março de 1964. Estabelecido em praticamente todos os estados da federação, em São Paulo, suas instalações eram localizadas na Rua Tutóia, onde atualmente funciona o 36° Distrito Policial. 2 Randau acabou se especializando em matérias em defesa do meio ambiente. Escreveu inúmeros textos sobre os gravíssimos problemas que Cubatão enfrentava na época. Foi, inclusive, responsável pela expressão “Vale da Morte”, para designar a região da Baixada Santista onde bebês nasceram sem cérebro por causa da poluição. Criou igualmente a OIKOS (União dos Defensores da Terra) e a Sociedade Brasileira de Jornalismo Científico (SBJC) umas das 56 entidades filiadas ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 3 Depoimento de Paulo Nogueira Neto para o Museu da Pessoa - http://www.museudapessoa.net/ 4 José Pedro de Oliveira Costa, arquiteto, desde sempre dedicado à causa ambiental, foi o primeiro Secretário do Meio Ambiente.
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José Pedro continua: “No panorama nacional, os militares ainda associavam ecologia à esquerda e
ao terrorismo. Defender o meio ambiente, reivindicar melhor qualidade de vida era terrorismo. Coisa
de comunista. Cubatão era Área de Segurança Nacional. Volta Redonda também. E o prefeito era
indicado pelo Presidente da República. Se, atualmente, a preocupação com o meio ambiente não é
mais associada ao comunismo, o inverso não é verdadeiro: são os governos ou governantes
autoritários os que mais desdenham as questões ambientais em nome de um pseudo
desenvolvimento econômico.”
Meio ambiente e redemocratização
Franco Montoro sempre foi um político interessado e envolvido com a questão ambiental e percebeu
a importância disso ainda durante o regime militar. Sua biografia traz vários episódios que
comprovam essa postura.
José Pedro recorda: “Quando resolveu ser candidato a governador, e foi o candidato natural da
oposição em São Paulo, ele me convidou para coordenar o setor de meio ambiente. E inovou, fez
uma coisa que não existia até então: um Programa de Governo, que também serviu como parte da
campanha. Até então, tudo era imposto pela ditadura. Montoro chegou e apresentou um Programa de
Governo, que, inclusive, foi coordenado por José Serra, ex-governador de São Paulo. E esse
Programa de Governo tinha um setor de meio ambiente; e coube a mim coordená-lo e fazer uma
série de propostas, entre as quais proteger a Serra do Mar, resolver a questão da poluição de
Cubatão, ampliar a educação ambiental, criar a Secretaria do Meio Ambiente e, também, criar o
Conselho Estadual do Meio Ambiente. Isso era parte do programa, que foi sendo aprovado com
marchas e contramarchas, porque já era um governo em andamento, mesmo antes das eleições.”
Eleito, Montoro convidou José Pedro para ser o seu Assessor Especial do Meio Ambiente,
encarregado de montar, inicialmente, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), criado já
no segundo mês de governo. Em abril de 1986, foi realizada a primeira reunião do Conselho,
presidido pelo próprio Governador. Assim, o Conselho nascia com o prestígio necessário para
começar a tomar uma série de medidas importantes.
A gestão da questão ambiental, na verdade, iniciou-se com a criação do Conselho, que tinha poder
de fato porque era presidido pelo Governador e tinha como membros os Secretários de Estado, que
participavam das reuniões praticamente mensais. Já àquela altura, desenhava-se a transversalidade
das questões ambientais.
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As propostas iniciais transformaram-se em medidas concretas: criação da Área de Proteção
Ambiental da Serra do Mar, com 400.000 hectares; tombamento da Serra do Mar; controle da
poluição, especialmente de Cubatão; e definição de uma Política Estadual do Meio Ambiente,
elaborada e aprovada pelo Consema. Durante o Governo Montoro, tudo permaneceu assim. Todos
eram membros do Consema, que funcionava como “cimento” unindo as peças dessa “colcha de
retalhos”. Uma função integradora.
Em 1986, finalmente, foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente. Ela não recebeu uma
transfusão de estrutura, ficou sendo uma secretaria de coordenação. A Cetesb continuava vinculada
à Secretaria de Obras e Meio Ambiente, que passou a ser chamada apenas de Secretaria de Obras,
e a Secretaria da Agricultura continuou com a coordenação dos recursos naturais, abrigando os
Institutos Florestal, Geológico e de Botânica. Foi um ano de transição.
José Pedro continua explicando: “Terminado o governo Montoro e eleito Orestes Quércia, com a
grande votação que teve nessa mesma eleição o Deputado Fabio Feldmann, ficou evidente que a
questão ambiental havia adquirido importância no país. Então, foi uma decorrência natural que o
novo Secretário, Jorge Wilheim, já na transição, recebesse a Secretaria do Meio Ambiente mais
estruturada. Na transição dos Governos Montoro/Quércia, foram acoplados à Secretaria do Meio
Ambiente a Cetesb e o Setor de Recursos Naturais. O Departamento de Águas e Energia Elétrica
(DAEE) não veio, mas vieram algumas de suas atribuições. Então, a Secretaria começou a funcionar
com poder de administração direta a partir do governo Quércia. Durante o governo Montoro, era o
Consema que tinha não uma gestão direta, mas uma coordenação e uma definição de prioridades.
Um ensaio do que viria a ser a Secretaria.”
Cetesb e Consema, onde tudo começou
Randau Marques acompanhou os primeiros movimentos da Superintendência de Saneamento
Ambiental (Susam), que estava sendo criada, no Paraíso; e, também, no ABC, onde havia a
Comissão de Prevenção à Poluição das Águas e do Ar (Cicpaa), afinada com a questão ambiental e,
pelo lado oficial, o Fundo Estadual de Saneamento Básico (Fesb), que foi uma espécie de “pai” da
Sabesp, o “avô” da Cetesb. Tudo ainda muito incipiente. Primeiros passos. Tímidos passos. Da fusão
desses três órgãos, no início dos anos 1970, nasceu o Centro Estadual de Tecnologia e Saneamento
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Básico, o Cetesb5, inicialmente subordinado à Secretaria de Obras do Estado. E que foi se tornando o
que é hoje, uma das cinco agências de referência para as Nações Unidas no mundo.
Randau comenta: “E houve um momento em que a Secretaria de Obras passou a se chamar
Secretaria de Obras e Meio Ambiente. A Secretaria do Meio Ambiente é tardia, muito embora já
existisse de fato. No Governo Montoro, houve uma sucessão de eventos importantes, além da
criação do Consema e da própria Secretaria. Em 1986, foi feita a incorporação à Secretaria do Meio
Ambiente dos Institutos de Pesquisa e também de outro órgão, que já existia desde o final do século
XIX, que era o Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DPRN), criado na época
da Comissão Histórico Geográfica. Era para proteção da vegetação ciliar, das áreas de preservação
permanente, das minas, das fontes de água. Foi só depois disso que o atual perfil da Secretaria do
Meio Ambiente começou a se desenhar. Não havia ainda a Fundação Florestal, que passaria a ser
uma espécie de Cetesb da área verde.”
A criação do Consema é descrita pela jornalista Daniela Chiarelli no livro Imagens da Trajetória do
Consema: “Bastaram dez minutos da manhã de 26 de abril de 1983 para que a trajetória ambiental
do Estado de São Paulo mudasse de rumo e um processo histórico iniciado há anos alcançasse sua
primeira grande conquista. Em uma cerimônia rápida, no Salão de Despachos do Palácio dos
Bandeirantes, o então Governador André Franco Montoro assinou, sob o aplauso entusiasmado de
duzentos convidados, o decreto de criação do Conselho Estadual do Meio Ambiente, o Consema.”
A agenda das reuniões do conselho era variada, reflexo do entusiasmo dos participantes. Discutia-se
um pouco de tudo: da questão do vazamento de Bhopal6, ao problema da instalação de usinas
nucleares no litoral paulista, que acabou resultando na criação Estação Ecológica da Jureia. Falava-
se de todos e de tudo – da passarinhada do Embu7 aos botos cor-de-rosa expostos no aquário do
Shopping Morumbi, em São Paulo. Discutiam-se os Yanomani, a Líbia, a construção de garagens sob
as praças públicas paulistanas. Lentamente e graças a sucessivas crises e reformulações, o
Consema foi adquirindo o perfil que tem hoje: um conselho normativo e recursal, segundo o que
determina a Constituição Estadual. As questões fronteiriças entre a Secretaria e o Consema também
foram sendo resolvidas.
5 Originalmente era “o” Cetesb, Centro Estadual de Tecnologia e Saneamento Básico. 6 Em dezembro de 1984, cerca de 40 toneladas de gases letais vazaram da fábrica de agrotóxicos da Union Carbide Corporation, em Bhopal, Índia. 7 A “passarinhada” foi promovida pelo prefeito de Embu, Nivaldo Orlandi, no dia 29 de junho de 1984, onde mais de 2.400 passarinhos (tico-ticos, rolinhas e sabiás) foram assados em churrasqueira para atender cerca de 300 convidados em sua chácara. A SEAE foi informada do evento e denunciou ao IBDF (hoje IBAMA), às Polícias Florestal, Federal, Civil, além da imprensa e pessoas influentes no Embu para que se fizesse o flagrante.
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Tempo de mutações e desafios
Foi no Governo Montoro a criação da Secretaria do Meio Ambiente. De lá para cá, ela veio sofrendo
aprimoramento nas diferentes gestões. Amadureceu, aprendeu com acertos e erros. Enfrentou
desafios e se preparou para responder às grandes questões ambientais que se colocassem nessas
primeiras décadas do século XXI.
Randau Marques comenta: “Houve uma mudança na filosofia, no eixo da gestão administrativa da
questão ambiental. Mas, é uma obra em construção. Eu acredito que o saldo seja o melhor possível.
Estamos vivendo um tempo de mutações e quebras de dogmas e paradigmas. É necessário ensinar
as pessoas a tomar conta do que respiram, bebem ou gostariam de beber, da vegetação protetora,
das matas, da educação ambiental. Não sei se vai haver tempo.”
Na verdade, São Paulo é um estado complicado, com seus 645 municípios tão desiguais. São Paulo
é uma cidade absurdamente complexa. Para Randau, “não ha órgão ambiental que dê conta do fato
de ela ser esse depósito nacional de refugiados de crises econômicas, de disparidades regionais e
assimetrias. A cidade é o destino nacional de todas as crises. E elas acabam chegando justamente
às áreas de menor valor imobiliário: mangues, lagoas, brejos, beiras de rios, escarpas. Ter êxito
nessa tarefa é um trabalho hercúleo, mas temos a certeza de estarmos no bom caminho.”
Como as estradas construídas enquanto se caminha, Consema, Cetesb e, principalmente, a própria
Secretaria do Meio Ambiente foram criando as ferramentas para enfrentar o grande desafio que as
questões ambientais representam. Construindo e caminhando. Uma obra inconclusa é também uma
obra aberta, flexível, sujeita a várias leituras e aos anseios tanto de Randau Marques, cujos textos
“eco-denuncistas” foram lembrados por Xico Graziano no seu discurso de posse na SMA, como de
todos os que nela trabalham e dos cidadãos que dela esperam ações que beneficiem nossa cidade e
nosso Estado e desenhem um futuro melhor para nossas crianças.
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Os 21 Projetos Ambientais Estratégicos
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Objetivo, direto e franco. Foi assim o depoimento de Mario Mantovani, militante histórico da SOS
Mata Atlântica, entrevistado a respeito da atual gestão da Secretaria do Meio Ambiente. “Conheço a
Secretaria do Meio Ambiente desde a fundação. Ela passou por bons e maus momentos e precisava
ter outra marca. Outra cara. Quando se repete aquilo que já era o modelo normal, vão se acumulando
erros. Quando o Xico Graziano assumiu, ele disse: ‘Mário, quero pensar numa coisa inteiramente
distinta disso’. Ele tinha que sair do lugar comum e tinha que ousar, sem a preocupação de acertar ou
errar. Isso era irrelevante. Precisava era dar uma nova cara para o Meio Ambiente, que é o que está
fazendo com o Balcão Único, a gestão por projetos, etc.”
“Na verdade”, como disse Helena Carrascosa, Coordenadora de Biodiversidade e Recursos Naturais,
“a Secretaria foi sendo reformada ao longo da sua história e estava cheia de ‘puxadinhos’. Era
preciso a coragem de por tudo abaixo e construir algo novo, levantar um novo edifício. Era impossível
continuar remendando.”
“Então”, continua Mantovani, “o Xico fez isso e tudo ficou muito mais estruturado, mais sólido. Ele vai
ter o ônus e o bônus dessa reforma. Vai ser massacrado se der qualquer coisa errada, mas também
vai ser valorizado por ter feito isso. Acho que as pessoas têm que ser avaliadas por isso: pela
capacidade de inovar, aceitar desafios e superá-los.”
Para Xico Graziano, o grande desafio era fazer gestão ambiental com resultados. “Não é questão de
o Estado ser bom ou ser ruim. Geralmente, não se tem como avaliar. Sem números, sem metas, não
há como avaliar. Talvez essa postura tenha a ver com minha formação de engenheiro, administrador.
Aquele famoso relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), de março de
2007, trazia um conteúdo muito interessante. E que me animou. Falava em metas, que deveriam ser
mensuráveis e reportáveis. Eureka! Fiquei encantado com isso. Algo que, no território das políticas
públicas, não acontece. Mas, esse foi o tom das conferências preliminares ao encontro de
Copenhague. As ações para combater o aquecimento global deverão ser mensuráveis, reportáveis e
verificáveis. Se não for assim, é mero discurso.”
“A proposta do Secretário nos surpreendeu a todos”, comenta Fernando Rei, presidente da Cetesb.
“Eu posso dizer que, quando foram anunciados os 21 Projetos Ambientais Estratégicos, achamos que
eram muitos projetos para dar certo em tão pouco tempo de governo. Para nossa surpresa, vimos
que sim, foi possível colher resultados. Se precisarmos, hoje, de instrumentos de medição para
verificar se eles geraram resultados, mudaram situações, verificamos que isso é real, mensurável,
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identificável. É a prova de que foram eficientes. Talvez o segredo tenha sido escolher equipes que
trabalhassem prioritariamente na condução dos projetos, disponibilizando horas/homem para fazer
algo diferente e não cair na rotina da burocracia, enfim, no passivo que existe em muitas áreas. E
alguns projetos – não todos – vão ao encontro de demandas da própria sociedade. Acho que o que o
Secretário procurou fazer foi organizar o sistema para que possa continuar funcionando dentro de
uma lógica, mesmo quando as pessoas, que estão hoje à frente da casa, não estiverem mais aqui.”
Desburocratização, descentralização e democratização. Foram esses os pilares que nortearam as
mudanças na Secretaria do Meio Ambiente. E eles estão presentes nos alicerces dos 21 Projetos
Ambientais Estratégicos e de todas as transformações que ocorreram na Secretaria e privilegiaram o
planejamento e a educação ambiental.
Outro princípio básico da atual gestão foi deixar de lado as medidas meramente coercivas, punitivas.
Fiscalizar, sim; multar, sim. Mas, também, e antes de tudo, capacitar, apoiar, orientar. Essa é a
alavanca para bons resultados.
Para Ricardo Vedovello, diretor do Instituto Geológico e Gerente do Projeto Ambiental Estratégico
Aquíferos, “é fundamental destacar que uma das diretrizes de gestão foi a de que as ações, fossem
elas de caráter executivo, fossem as de definição e adoção de instrumentos político-institucionais,
estivessem corretamente embasadas do ponto de vista técnico e científico. Isso contribuiu para a
aproximação dos Institutos de Pesquisa da Secretaria do Meio Ambiente com as demais instâncias
executivas da Secretaria, oferecendo bases mais sólidas para a gestão ambiental do Estado”.
Portanto, a valorização e o fortalecimento dos Institutos de Pesquisa foram ações essenciais.
Nos primeiros momentos dessa gestão, no discurso de posse como Secretário, Xico Graziano foi
enfático: “Se alguém perguntar qual será a máxima das prioridades, respondo de pronto: a educação
ambiental. Em todos os níveis, de todas as formas possíveis, com qualquer parceiro, a nossa
Secretaria do Meio Ambiente comandará um enorme esforço para transmitir conhecimento, provocar
reflexão, mudar atitudes, criar nova consciência.”
Os 21 Projetos Ambientais Estratégicos, principais ferramentas de gestão da atual Secretaria, são os
seguintes: Aquíferos; Cenários Ambientais 2020; Cobrança pelo Uso da Água; Criança Ecológica;
Desmatamento Zero; Ecoturismo; Esgoto Tratado; Etanol Verde; Fauna Silvestre; Gestão de
Unidades de Conservação; Licenciamento Unificado; Lixo Mínimo; Mananciais: Guarapiranga, Billings
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e Cantareira; Mata Ciliar; Município Verde Azul; Onda Limpa; Pesquisa Ambiental; Reforma
Administrativa; Respira São Paulo; São Paulo Amigo da Amazônia; e Serra do Mar.
Com o objetivo de promover a integração das diversas áreas da Secretaria do Meio Ambiente e seus
órgãos vinculados, facilitar o processo de troca de informações e tarefas, para cada projeto foram
definidos dois ou mais subgerentes provenientes de outras estruturas, além do gerente responsável,
escolhido entre os responsáveis por cada temática. Assim, por exemplo, a gerente do Projeto
Estratégico “Pesquisa Ambiental” é também subgerente de um projeto da área de planejamento. Isso
foi parte do grande trabalho de integração para reunir e harmonizar culturas tão diferentes como a da
Cetesb e a da própria Secretaria, com os jovens recém-concursados e contratados com excelente
formação acadêmica e sem experiência profissional.
A gestão por projetos adotada pela Secretaria do Meio Ambiente apresenta aspectos interessantes.
Nessa estrutura matricial, cada projeto é uma unidade, com começo, meio e fim (ou seja,
Levantamento de Necessidades ou Iniciação, Planejamento, Execução, Monitoramento e Controle e
Encerramento ou qualquer outra divisão por etapas que se estabeleça). Segundo vários dos gerentes
dos projetos entrevistados, a grande vantagem disso é “foco”. Ou seja, aproximar o olhar de
problemas dos quais anteriormente se tinha uma visão e um interesse apenas panorâmicos.
Por outro lado, há entre eles uma grande capilaridade, que exige comunicação, troca, relação entre
os gerentes e conduz a uma forte interdependência. E, para que sejam efetivos, além dessa
capilaridade interprojetos, é preciso que seus gerentes dialoguem também com outras instâncias da
Secretaria do Meio Ambiente, com outras Secretarias de Estado, com instituições, com o mundo
acadêmico e com a sociedade civil. Uma forma de “sair da toca” e ter cada vez mais intimidade com o
mundo real. A Secretaria do Meio Ambiente tornou-se mais transparente e permeável.
Para Helena Arruda, do Grupo de Planejamento Setorial e responsável pela consolidação do
orçamento do Sistema do Meio Ambiente e pelo acompanhamento da execução orçamentária,
“trabalhar a elaboração do orçamento e a sua execução, levando em consideração os 21 Projetos,
foi uma experiência gratificante e muito importante por diversas razões. A necessidade de uma
relação estreita com os 21 Projetos Estratégicos para a melhor alocação dos recursos desenvolveu,
nos gestores envolvidos, o conhecimento, a cultura e, principalmente, a responsabilidade pública.
Todos passaram a conhecer com mais clareza problemas da nossa realidade social e a definir
melhor o nosso papel junto ao Estado e à sociedade, no que diz respeito a planejamento e
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orçamento. A participação dinâmica e ativa dos dirigentes da Secretaria na definição clara de suas
ações e metas facilitou nossas articulações com os órgãos técnicos do Estado (Secretarias da
Fazenda e de Economia e Planejamento). A precisão, padronização, agilização e clareza das
informações relativas aos Projetos Estratégicos, durante os processos de elaboração e execução do
orçamento, subsidiaram correções e ajustamentos necessários em futuros orçamentos. Os projetos
facilitam as auditorias dos Controles Interno e Externo do Estado no tocante à execução financeira
orçamentária.”
O orçamento da Secretaria do Meio Ambiente cresceu 51 %, no período de 2007 a 2010, dos quais
80% foram destinados a investimentos em parques urbanos, como o Villa Lobos e o Monsenhor
Salim; gestão de Unidades de Conservação; fiscalização ambiental; combate aos lixões a céu
aberto; dentre outros. E os 20% restantes para custeio, reflexo de contratação de especialistas
ambientais concursados. Na atual gestão, a elaboração das propostas orçamentárias assumiu um
papel fundamental, envolvendo todos os gestores para que compreendessem o processo,
vinculando as necessidades dos 21 Projetos Estratégicos à obtenção de bens e serviços. A
formulação do orçamento foi facilitada, tendo, desde o início da gestão, as diretrizes e ações
definidas pelos 21 Projetos Ambientais Estratégicos.
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Projeto Aquíferos Ricardo Vedovello
Entrevista: 15/03/2010
Luciana Martin R. Ferreira
Entrevista: 5/11/2009
A exploração da água subterrânea no Estado de São Paulo vem ocorrendo de forma intensiva e
acelerada. O crescimento da atividade econômica e a poluição das águas de superfície fazem com
que, cada vez mais, se recorra à água subterrânea, atualmente utilizada, total ou parcialmente, por
cerca de 80% dos municípios paulistas, para abastecimento público. A indústria e a agricultura
irrigada também utilizam bastante esse recurso, que sofre duas grandes ameaças: redução dos
níveis e contaminação.
O objetivo principal deste projeto é a proteção dos aquíferos do Estado de São Paulo, a partir da
identificação das áreas críticas. Para isso, foram estabelecidas metas que abrangem a elaboração e
implementação de instrumentos e procedimentos de gestão, utilização e proteção das águas
subterrâneas, e a integração do monitoramento da qualidade e quantidade das águas subterrâneas.
Entre as ações realizadas estão: a definição de mecanismos legais e institucionais para proteção da
água subterrânea em áreas críticas e vulneráveis; a produção e divulgação de informações sobre os
aquíferos no Estado de São Paulo, inclusive para fins de educação ambiental; o estabelecimento de
diretrizes regionais de gestão, utilização e proteção das águas subterrâneas; a implantação da rede
integrada de monitoramento da quantidade e da qualidade da água subterrânea e o desenvolvimento
de pesquisas aplicadas, por meio da articulação dos núcleos de pesquisa existentes em
Hidrogeologia.
Essas metas foram definidas em meados de 2007, com a participação de técnicos de vários órgãos
do Governo do Estado, como o Instituto Geológico, a Coordenadoria de Planejamento Ambiental
(CPLA), a Coordenadoria de Recursos Hídricos (CRHi), a Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo (CETESB), Instituto Florestal, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Departamento de
Águas e Energia Elétrica (DAEE), o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) e universidades estaduais
(USP, UNICAMP e UNESP).
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Depois, foi criado um grupo menor, organizado como está hoje, por meio do qual o projeto já criou
mecanismos legais e institucionais para auxiliar a gestão: divulgou os aquíferos do Estado;
estabeleceu diretrizes regionais de gestão, utilização e proteção de águas subterrâneas; efetuou o
monitoramento integrado de qualidade e quantidade de água subterrânea e realizou pesquisas e
capacitação, não apenas por meio de cursos, mas também mediante a atualização do pessoal.
Luciana Martins Ferreira, subgerente do projeto, Geógrafa, com Pós-Graduação em Hidrogeologia e
que agora trabalha com águas subterrâneas, explica: “Nessa questão das diretrizes regionais de
gestão, há, por exemplo, áreas de estudo, restrição e controle de águas subterrâneas. Foram
selecionadas algumas áreas do Estado de São Paulo, uma em São José do Rio Preto e outra em
São Paulo, na Bacia do Jurubatuba, com problemas de contaminação. Foi proposto um anteprojeto
de lei específica da Área de Proteção e Recuperação de Mananciais do Aquífero Guarani. E essa lei
é para a definição dessas Áreas de Proteção e Recuperação de Mananciais (APRM’s). Então, é bem
importante, porque é a primeira vez que um aquífero é tratado como Área de Proteção e é criada
uma área de proteção de mananciais para o aquífero. Há, também, um estudo sobre a delimitação
de áreas de alta vulnerabilidade, mas ainda está incipiente.”
Uma das principais preocupações deste projeto é promover a proteção de todos os aquíferos do
Estado, minimizando o risco de contaminação. Devido à relevância dos Aquíferos Guarani e Bauru,
que, em função de suas dimensões, produtividade e localização geográfica, são muito importantes
para o abastecimento público, houve uma ênfase especial nos estudos e ações nas suas regiões de
abrangência. O registro de elevados valores de nitrato em certas regiões do Estado onde ocorre o
aquífero Bauru levaram à constituição de um grupo de trabalho e à elaboração de um plano de ação
específico para tratar dessa questão. Nesse plano, foram definidos produtos e ações que objetivam
ampliar as restrições e proteção de poços perfurados nessas regiões. Além dos instrumentos legais
indicados, estudos de detalhe e ações de educação ambiental foram dimensionados junto às
instituições envolvidas na gestão dos recursos hídricos (Vigilância Sanitária, DAEE, CETESB), para
tratar da questão em curto, médio e longo prazo.
Como todos os demais projetos da Secretaria, as ações de capacitação, educação ambiental e
estímulo à pesquisa não foram deixadas de lado. Ao contrário, tiveram papel preponderante na
atuação do projeto. Foram ministrados cursos sobre procedimentos adotados na prevenção e
controle da contaminação das águas subterrâneas para 15 das 22 Bacias Hidrográficas do Estado de
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São Paulo, além de cursos de treinamento destinados a profissionais da área tecnológica da
administração estadual e municipal.
O projeto gerou diversas publicações, entre as quais a cartilha Os Aquíferos do Estado de São Paulo,
que teve uma tiragem de 10.000 exemplares, já esgotada; mas está disponível para download no site
da Secretaria: http://www.ambiente.sp.gov.br . Outros títulos: Águas Subterrâneas, um Valioso
Recurso que Requer Proteção; Guia do Usuário da Água Subterrânea; Manual de Operação e
Manutenção dos Poços; Orientações para Utilização das Águas Subterrâneas no Estado de São
Paulo; e Proteção e Qualidade da Água Subterrânea.
Luciana conta que “há uma publicação mais recente e que também está sendo discutida, que é um
roteiro para o estabelecimento de perímetros de proteção de poços para auxiliar as prefeituras. A
perfuração de poços é, em geral, terceirizada e nem sempre as prefeituras têm um técnico
especializado. Então, pretendemos criar um roteiro para pessoas que não são hidrogeólogos, que
não trabalham com águas subterrâneas, para que possam seguir os perímetros de proteção exigidos
pela lei. Pretendemos publicar em breve esse roteiro e distribuí-lo aos municípios.”
Ricardo Vedovello, diretor do Instituto Geológico e Gerente do Projeto Ambiental Estratégico
Aquíferos, ressalta que “o tema foi tratado de forma integrada, abordando os diferentes aspectos
envolvidos na sua gestão. Assim, foram definidos produtos relativos à pesquisa científica, estudos
técnicos aplicados, capacitação de agentes públicos, sociais e privados; e mecanismos regulatórios
(leis, decretos, resoluções) e institucionais necessários para a preservação e uso sustentável dos
aquíferos do Estado.”
Projeto Cenários Ambientais 2020 Casemiro Tércio Carvalho
Entrevista: 27/11/2009
O Projeto Cenários Ambientais 2020 é a prova concreta da extrema importância que a atual
Secretaria do Meio Ambiente atribui ao planejamento de longo prazo. Essa preocupação, presente no
discurso de posse de Xico Graziano, permeia toda a ação da Secretaria e tornou-se evidente com o
desdobramento da anterior Coordenadoria de Planejamento Estratégico e Educação Ambiental, que
resultou na instituição da Coordenadoria de Planejamento Ambiental (CPLA), acompanhada pela
criação deste Projeto Ambiental Estratégico. Seus objetivos principais são servir de pano de fundo à
elaboração de políticas e levar às outras Secretarias do Governo a transversalidade das questões
ambientais, além de colocar em pauta a discussão do planejamento em todos os Projetos
Estratégicos da própria Secretaria do Meio Ambiente.
Do ponto de vista de gestão, o que o Projeto Cenários Ambientais teve de mais significativo foi criar
um diálogo entre as diversas Secretarias, visando maior integração. Historicamente, as secretarias de
estado não discutiam em conjunto a transversalidade da questão ambiental. Um fato importante da
gestão deste projeto foi o trabalho intersecretarias, consolidado no Comitê de Prospectiva, criado em
julho de 2008, com a participação de diferentes secretarias, universidades, entidades do setor
produtivo e da sociedade civil.
Para Casemiro Tércio Carvalho, então Coordenador da CPLA e Gerente do Projeto Cenários
Ambientais 2020, “quando foram montados os 21 Projetos, a ideia era estabelecer uma lógica
matricial no gerenciamento dos projetos. Mas, foi preciso cumprir etapas. É uma questão de cultura,
principalmente na Secretaria do Meio Ambiente, que foi criada como uma ‘colcha de retalhos’. Ou
seja, a própria formação do Sistema Ambiental colocou em uma mesma instituição culturas
corporativas distintas e, nesse processo, o grande desafio da atual gestão foi quebrar a resistência à
mudança de cada componente do sistema.”
“O Projeto Cenários”, explica Tércio, “envolvia uma prospecção de cenários que diziam respeito a
diversos setores, na qual foram envolvidos muitos técnicos da casa, mas o trabalho maior foi fora da
Secretaria. Aliás, o Planejamento Ambiental acabou atuando muito mais para o Governo do que
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apenas para a Secretaria, e é um pouco o que vem sendo implementado aqui, ou seja, não adianta
ficar planejando apenas o Sistema Ambiental se a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e
Urbano da Secretaria da Habitação (CDHU) não adotar critérios socioambientais em seus processos.
A Companhia Paulista de Obras e Serviços (CPOS), por exemplo, mudou de diretor três vezes na
atual gestão e, cada vez que mudava, lá ia o gerente do Planejamento Ambiental conversar e iniciar o
processo de convencimento para estabelecer critérios ambientais nos projetos e obras do governo.
Um trabalho doutrinário. Um processo tanto de articulação e envolvimento, como de pressão. Não
basta estabelecer o marco legal se a leitura do engenheiro que projeta de fato não foca as premissas
ambientais.”
Casemiro continua: “Houve medo das pessoas perderem espaço, porque, afinal, tratava-se de uma
Coordenadoria da Secretaria de Meio Ambiente, que sempre foi uma secretaria considerada do
“empata desenvolvimento”, do “empata tudo”. Quando começamos o Projeto Cenários, tanto a
Coordenadoria de Energia, como a Secretaria de Economia e Planejamento também estavam
trabalhando na área de Cenários e essa última, inclusive, chegou a nos procurar para saber que
metodologia estávamos usando. Foi difícil deixar claro a questão da transversalidade, que queríamos
incluir um planejamento ambiental dentro do planejamento energético.”
O papel de Casemiro, do Projeto Cenários e da própria Coordenadoria de Planejamento Ambiental, é
basicamente fazer com que o planejamento ambiental seja inserido nos outros planejamentos, nas
outras rotinas. Se todas as secretarias usassem os critérios ambientais lato sensu, ou seja,
pensassem o homem e o ambiente e toda a equação que baliza as questões das mudanças
climáticas, se isso ficasse realmente claro para todos, o trabalho do planejamento ambiental seria
simplificado.
Para o Projeto Cenários, foi realizada uma pesquisa Web Delphi, com 28 temas, que mais de 5.200
pessoas responderam, dentre elas 52% com nível superior, das quais 11% são doutores e quase
20% são mestres. Foi uma abertura muito importante: em lugar de fazer um trabalho encastelando-se
entre quatro paredes, optou-se por um processo de participação da sociedade, envolvendo
pesquisadores, planejadores na área empresarial, diretores de associações patronais etc. Esse é um
avanço da gestão democrática, sem assembleísmo, porque todos os processos foram conduzidos
com muita seriedade.
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Casemiro diz que esse trabalho foi um processo “caracol”, a cada volta ia crescendo, e esse foi um
dos motivos do seu atraso. A meta era entregar o relatório final há dois anos, mas primeiro surgiram
os problemas de metodologia, porque todas as metodologias de cenários disponíveis eram
exclusivamente de narração, de envolvimento e diálogo; não existia nada que gerasse um produto
concreto. Finalmente, depois de várias tentativas, foi encontrada a metodologia, junto a militares com
experiência em assuntos estratégicos, gestão estratégica, que haviam trabalhado no Gabinete da
Presidência. Eles não entendiam nada de meio ambiente; mas, em conjunto com a equipe de
Planejamento, produziu-se um trabalho de nível estratégico com a especificidade técnica da área
ambiental, um trabalho a quatro mãos.
A metodologia foi criticada por possíveis fragilidades. No início, cogitou-se em contratar cenários no
mundo acadêmico, mas não havia nenhum cenário pronto, todas as teses de mestrado e doutorado
dos pesquisadores envolvidos nesse tema ainda estavam na fase de coleta de dados; muitos foram
apresentados apenas em 2009.
Por exemplo, na questão da geração de resíduos, existe atualmente na Cetesb uma tabela que
considera razoável, em cidades com até 50 mil habitantes, a geração de 400g/dia de resíduos por
habitante e, em cidades acima de 700 mil habitantes, de 1 kg por habitante/dia. Esse número já está
completamente fora da realidade. E por quê? Houve uma elevação na renda das classes C, D e E.
Portanto, aumentou a geração per capita de resíduos domésticos. Então, foi feita uma projeção de
geração de resíduos com as seguintes hipóteses: considerando o aumento de renda das classes C, D
e E, e o crescimento populacional, esses limites foram aumentados em 20%; e, considerando o
aumento do PIB em 4% ao ano, nos próximos 10 anos, a geração de resíduos cresceria 4% acima
desses 20%. Esse raciocínio é frágil? Pode ser.
Outro exemplo: o preço do barril do petróleo. Foi interessante porque a pesquisa foi respondida no
pico da crise, quando o barril do petróleo estava em 35 dólares e a Petrobrás começava a ficar
inquieta porque toda semana saía um novo número e todo o seu planejamento estava indo por água
abaixo. E, hoje, o barril do Brent já está em 73 dólares em Londres. E o patamar utilizado foi de 80
dólares, porque, se o petróleo estiver nesse preço, as tecnologias renováveis tornam-se
economicamente viáveis e não será necessário subsidiar energia eólica, os bioenergéticos,
biodieseis, enfim, essas fontes alternativas de energia. E, obviamente, se o petróleo estiver acima
desses níveis, haverá uma expansão da cana-de-açúcar em cima da área agricultável. Haverá um
mar de cana em 2020.
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O grande objetivo do projeto é mudar a postura, a forma de interpretar. Por exemplo, se hoje se
fomenta um determinado evento, mas o cenário diz que, se continuar fomentando esse evento, no
futuro, não vai dar certo, então vai ser necessário mudar de postura. Esse foi o foco do trabalho, que
gerou um documento que tem o respaldo de 5.200 pessoas, das quais 50% trabalham no setor
público, 9% são do terceiro setor, 6% são estudantes e o restante é da iniciativa privada. A conclusão
foi em novembro de 2008 e foi, então, que começou o tratamento dos dados em softwares e, em
seguida, a redação.
O trabalho começa com a apresentação dos três cenários: o Cenário de Referência, que envolve os
5.200 participantes da pesquisa Web Delphi; o Cenário Ideal, de máxima qualidade ambiental,
máximo bem-estar social, definido pelo Comitê de Prospectiva e o Cenário Alvo, aquele que a
capacidade institucional e orçamentária do Governo permite atingir. Todos os cenários devem ser
lidos como se estivéssemos em 2020, contando a história de trás para frente. Cada cenário foi
dividido em três macrotemas: desenvolvimento socioeconômico e de infraestrutura, planejamento e
desenvolvimento regional e planejamento e desenvolvimento urbano. Em seguida, são apresentadas
90 propostas de políticas públicas, de genéricas a específicas. Para concluir, um balanço
socioambiental mostra o que se ganha e o que se perde na comparação entre o Cenário Alvo e o
Cenário de Referência, tendo como pano de fundo a busca da melhor qualidade de vida. E a
qualidade ambiental é o caminho para a qualidade de vida.
Quais os benefícios que o Projeto Cenários Ambientais 2020 pode trazer? Seu principal objetivo
consiste em elaborar propostas de políticas públicas de médio e longo prazos, utilizando a
prospecção de cenários do ano de 2020 como referência, o que deverá influenciar o próximo Plano
Plurianual. Está na pauta das próximas ações a elaboração de um roteiro do processo de
implementação das políticas públicas propostas e a elaboração de cenários ambientais regionais.
Ferramenta de planejamento, objetiva inserir a dimensão ambiental nas ações do Estado e da
iniciativa privada, de forma a direcionar a sua trajetória ambiental para as melhores alternativas,
harmonizando os principais agentes, atividades e variáveis ambientais.
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Projeto Cobrança pelo Uso da Água Rosa Maria Mancini
Entrevista: 16/12/2009
Avançar na gestão dos recursos hídricos é prioridade. Para isso, foi criado o Projeto Cobrança pelo
Uso da Água, cuja meta concreta era iniciar a cobrança em 14 das 21 bacias hidrográficas. Um
imenso desafio para a recém-criada Coordenadoria de Recursos Hídricos: introduzir uma prática
nova, extremamente dependente de outras instituições, como o Departamento de Águas e Energia
Elétrica (DAEE) e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), e sensibilizar e envolver
a sociedade civil na defesa de uma gestão responsável dos recursos hídricos.
Quando o Secretário convidou Rosa Mancini para ser Gerente do Projeto Ambiental Estratégico
Cobrança pelo Uso da Água e para coordenar a Área de Recursos Hídricos, ela observou que a
cobrança já era um instrumento da política e parte integrante do trabalho de rotina dessa
Coordenadoria. O fato de se tornar um Projeto Estratégico teve um lado positivo: foco. Porque
obrigou a dar uma atenção especial à cobrança, o que aconteceria, talvez de forma menos
importante, dentro da rotina da Coordenadoria.
No projeto de cobrança, a grande dificuldade é que toda a responsabilidade pela sua implementação
não está totalmente dentro da Secretaria do Meio Ambiente. É compartilhada com o DAEE, que é o
órgão responsável pela cobrança e uso da água, e pela Cetesb, encarregada das informações sobre
qualidade da água, carga de poluentes, que são elementos básicos para a cobrança.
Rosa Mancini explica que “esse foi o grande nó: governar sem ter poder de fato. Isso originou uma
série de problemas desde o início. Mas, até que conseguimos. Montamos, estruturamos a
coordenação e quem toca essa parte é a nossa engenheira, Laura Stela, especialista em cobrança de
recursos hídricos no Brasil e que coordena a nossa Câmara Técnica. A minha responsabilidade é
integrar instituições, proporcionar entendimentos, convocar reuniões dos comitês das bacias,
envolver os comitês. A operacionalização do cadastro é da Laura, que divide comigo essa
responsabilidade em pé de igualdade. No DAEE, que é responsável pela outorga e pela cobrança, a
encarregada é Leila Gomes e, na Cetesb, Mauro Sato. Esse é o coração, o núcleo do projeto. Depois,
23
é o trabalho de cada um dos coordenadores de Câmara Técnica ou de grupo de trabalho dos comitês
envolvidos.”
Até então, nenhum comitê paulista estava cobrando. O de Piracicaba/Capivari/Jundiaí e o de Paraíba
do Sul estavam começando a pensar nisso e já tinham alguma experiência. Depois, em janeiro de
2007, eles aprovaram a cobrança. Rosa se perguntava: “Como conseguir isso dos outros? Era só
começar a falar de cobrança e todos fugiam. A cobrança é um instrumento complexo da política de
recursos hídricos, embora não seja o mais complexo deles”. Entretanto, ela exige uma base de dados
organizada, mobilização da sociedade, capacidade de negociação com usuários e integração
institucional. São pré-requisitos que exigem um tempo de maturação.
A grande pergunta era: “como é que se implanta a cobrança?” Para responder a isso, foi
desenvolvida uma metodologia, com um manual passo-a-passo do que era necessário fazer. E todas
as informações foram compiladas num CD-ROM: Os Nove Passos para a Implementação da
Cobrança pelo Uso da Água. Os passos são: 1 – Criação de Câmara Técnica ou Grupo de Trabalho
no Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH) para a implantação da cobrança; 2 – Elaboração da proposta
de cobrança; 3 – Aprovação da proposta de cobrança; 4 – Divulgação da cobrança; 5 – Informações
para cadastro; 6 – Cadastro específico para a cobrança; 7 – Ato convocatório; 8 – Boletos de
cobrança e 9 – Utilização dos recursos arrecadados.
A partir do CD, o comitê que quiser implantar a cobrança consulta o material e vê que a primeira
coisa que precisa fazer é montar um grupo de trabalho. Tudo está explicado nos slides,
absolutamente didáticos. Depois da produção do CD, foi a vez do treinamento, da capacitação. E de
enfrentar o segundo grande desafio: colocar numa mesa de negociações o DAEE e a Cetesb para
estabelecerem o fluxo, definirem o funcionamento, o que é responsabilidade do comitê, do DAEE e
da Cetesb.
Tudo começa pelo DAEE, que envia para a Cetesb, a qual encaminha para o comitê. A Cetesb
comprometeu-se em organizar a base de dados. Só que nada disso foi o bastante. Foi preciso ainda
que fossem visitados os 19 comitês que iam implantar a cobrança, mais de uma reunião com cada
um, para tentar trocar em miúdos tudo o que estava no CD e orientar diretamente as pessoas. Só
depois é que os primeiros frutos começaram a ser colhidos.
Quando foi imaginado o programa, o secretário disse “vamos implantar em 21 comitês”. Rosa
argumentou: “Eu acho que a 21, a gente não chega”. Depois de consultar os comitês, saber quando
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eles imaginavam que poderiam implantar, obter as informações e levar em conta a questão da
natureza de cada bacia, ela imaginou que possivelmente daria para implantar 14, até o final de 2010.
Em 2007, foram dois aprovados no Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH) ) - Piracicaba,
Capivari e Jundaí (PCJ) e Paraíba do Sul (PS); em 2008; um, no ano de 2009 - Sorocaba e Médio
Tietê, foram aprovados mais cinco - Alto Tietê, Baixada Santista, Baixo Tietê, Tietê Batalha e Tietê-
Jacaré; e há pelo menos cinco, que estão “na boca do forno”, ”- aguarda aprovação no Conselho
Estadual de Recursos Hídricos da cobrança nas seguintes Bacias Hidrográficas, já aprovada em seus
respectivos Comitês: Mogi-Guaçu, Ribeira do Iguape / Litoral Sul, Mantiqueira, Pardo, Baixo
Pardo/Grande, Sapucaí/Grande e Tietê Batalha. Há um crescimento exponencial na aprovação dos
mecanismos e valores da cobrança pelo uso da água. Superadas as dificuldades iniciais, o projeto
ganha agilidade e pode até atingir as metas iniciais.
Rosa acha importante frisar que “estamos todos fazendo tudo corretamente e com qualidade, o
envolvimento institucional foi obtido a duras penas. Eu acho que está indo bem, tem muito empenho
da Laura e da equipe dela, que está, de fato, se esforçando e atendendo às demandas dos comitês.”
A aprovação da minuta de cobrança pelo uso da água pelos usuários rurais (agricultura, pecuária,
produção florestal, aquicultura etc.) pelo Conselho de Recursos Hídricos aguarda, no momento, a
assinatura do governador. Mais um desafio no aprimoramento da gestão dos recursos hídricos no
Estado de São Paulo.
Projeto Criança Ecológica
Maria de Lourdes Rocha Freire
Entrevista: 9/12/2009
Mônica de Lima
Entrevista: 15/04/2010
Julia de Lima Krahenbuhl
Entrevista: 28/04/2010
Maria de Lourdes, a Malu, como é conhecida na Secretaria do Meio Ambiente, é gerente do projeto e
coordenadora de Educação Ambiental. Ela é categórica ao afirmar: “Eu acredito que vários problemas
ambientais, desafios na área do meio ambiente, só serão efetivamente superados, resolvidos ou
equacionados se tivermos, também, a ferramenta da educação ambiental para envolver toda a
sociedade. A gestão ambiental tem muito no que se basear do ponto de vista da tecnologia, do
controle de poluição, de técnicas importantes desenvolvidas nas últimas décadas para minimizar a
questão da poluição. Por outro lado, existe, no Estado de São Paulo, um aparato legal muito
completo na área de fiscalização e regulamentação. São ferramentas de gestão ambiental
imprescindíveis. Entretanto, somente a mudança de paradigma, a mudança de atitude da sociedade é
que vai fazer com que qualquer dessas medidas, sejam elas tecnológicas, fiscalizadoras, legais,
regulamentadoras, tenham êxito.”
Então, a criação da Coordenadoria de Educação Ambiental na atual gestão vem imbuída dessa
mudança de paradigma, no próprio governo e na visão dos dirigentes, ao abraçar um projeto de
educação ambiental mais efetivo, que impacte o restante do Governo. Porque a Secretaria do Meio
Ambiente assume, também, a missão de levar para as outras pastas a dimensão ambiental do seu
plano de governo, com reflexos mais fortes nas políticas de habitação e de saneamento.
O então Secretário Xico Graziano lançou o desafio de um projeto para a criança, ponto de partida da
educação ambiental. A primeira ideia foi receber crianças nos espaços da Secretaria, como o Parque
Villa-Lobos, exemplo de como uma área degradada pode ser recuperada e colocada à disposição da
sociedade. Em seguida, foi o desenvolvimento do Villa Ambiental, que serviu para demonstrar que a
Coordenadoria de Educação Ambiental tinha um enorme potencial de informação, que ultrapassava
os limites do Villa Ambiental. Foram feitas, então, algumas parcerias envolvendo outras instituições,
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como o Jardim Botânico, a Fundação Zoológico, o Parque Guarapiranga e cada uma delas começou
a desenvolver seu próprio projeto pedagógico, em função de temáticas definidas. Foi quando o
Secretário resolveu escrever, junto com Mônica de Lima (Coordenadora do Espaço Villa Ambiental) o
livro Criança Ecológica – Sou dessa Turma, que trouxe para os projetos o apoio de personagens
especialmente concebidos para transmitir os mais importantes conceitos de educação ambiental.
Para as crianças, isso tem muita força. É impressionante como os personagens são eloquentes:
existe uma relação de grande empatia com as crianças: Bob Água, Fred Fauno, Nika Valente, Max
Limpo e Frida Flor hoje fazem parte do seu imaginário.
Malu comenta: “Começamos a perceber que o livro tinha um grande potencial para ser adaptado aos
parâmetros curriculares, que o professor está incluindo no seu planejamento anual; e, ainda,
impulsionar, a escola a adotar um projeto pedagógico integrado: a “Escola Verde”. Ou seja, a escola
que tenha captação de água da chuva para reuso, economia de água, de energia, coleta seletiva e
que tudo isso faça parte das lições de casa e de classe.”
“Nas viagens que fizemos este ano, com os Encontros Regionais de Educação Ambiental, para
capacitação dos professores da rede municipal de ensino dos municípios para utilização do livro
Criança Ecológica – Sou dessa Turma, alguns municípios não tinham nenhuma política de educação
ambiental ou tinham apenas ações isoladas, fragmentadas ou, ainda, que não conseguiam envolver
os professores. Hoje, temos visto pelo Estado que muitos municípios, mesmo antes de participarem
dos programas de capacitação, adotaram o livro Criança Ecológica. Por exemplo, no cabeçalho da
folha de prova de muitas escolas estão reproduzidos os personagens do Criança Ecológica; quando o
assunto é água, por exemplo, a folha de redação já vem com o desenho do Bob Água para inspirar.
São experiências que nem imaginávamos.”
Malu considera dois aspectos fundamentais neste projeto, a integração de todos os órgãos da
Secretaria do Meio Ambiente no Projeto Criança Ecológica: Município Verde Azul, Instituto Florestal,
Fundação Florestal, Fundação Zoológico, Instituto de Botânica, enfim, todos estão envolvidos em
uma parceria inédita. E o segundo aspecto é que esse desafio foi lançado em outubro de 2008 e a
adesão que o projeto teve em se tratando de parcerias tanto internas, na Secretaria, como um todo,
quanto externas, com prefeituras e patrocinadores, propiciou seu desenvolvimento em tempo recorde.
O Projeto Criança Ecológica foi se revelando à medida que se deparava com uma novidade e cada
novidade foi sendo computada e absorvida pelo projeto que, cada vez mais, englobava novas ações.
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O projeto nasceu como um desafio; mas, imediatamente, se assumiu como resposta a uma demanda
reprimida; legitimado, incorporava o que a sociedade sugeria. Foi bom não ter nascido pronto,
acabado, engessado, porque pôde crescer, transformar-se, ganhar acréscimos.
O ano de 2009 foi o ano da definição e da implantação dos projetos e espaços planejados. Cinco
unidades estão localizadas na capital: Villa Ambiental, Bicho Legal, Água Amiga, Verde Vivo e
Floresta Legal, sendo esta última disseminada no interior do estado. O Projeto Floresta Legal foi
implantado nas Unidades de Conservação do Estado, como Parques Estaduais, Florestas Estaduais,
Estações Ecológicas e Estações Experimentais, buscando desmistificar a floresta do lobo mau para
mostrá-la como um lugar maravilhoso, que deve ser preservado, e fazer com que as crianças tenham
amor por ela e respeito pela biodiversidade. Ao todo são 29 espaços pedagógicos.
O objetivo inicial do projeto era sensibilizar crianças do Ensino Fundamental I em relação aos
conceitos básicos da agenda ambiental, visando mudança de comportamento e afirmação de novas
atitudes. Transformar as crianças em agentes de uma sociedade sustentável. Para isso, foram
estabelecidas metas quantificáveis que já estão sendo superadas. Buscava-se, por exemplo, a
adesão de 200 municípios ao projeto. Em dezembro de 2010, participam do Projeto Criança
Ecológica 570 municípios. Os espaços pedagógicos previstos nas metas foram criados e hoje são
frequentados por aproximadamente 111.941 crianças. Entre as atividades não previstas inicialmente,
o Teatro Criança Ecológica, com personagens do livro, já atraiu 44.400 crianças para seus
espetáculos.
A meta do Projeto Criança Ecológica é capacitar professores, enraizar a Educação Ambiental no
Ensino Fundamental, principalmente no âmbito municipal, e estabelecer parcerias com os municípios
para que eles próprios possam criar espaços do Criança Ecológica, com projetos pedagógicos que
abordem questões específicas das agendas ambientais locais. O Projeto Criança Ecológica deve ser
cada vez mais fomentador, reduzindo paulatinamente seu papel de executor.
Malu e toda a equipe do Projeto Criança Ecológica consideram-se envolvidos em um projeto
pedagógico de “alfabetização ecológica”. Para tentar fazer as pessoas entenderem que as relações
da natureza são sistêmicas e a ecologia, que é um ramo da biologia, mostra que para existir vida na
terra é imprescindível que haja equilíbrio. Pensar sistemicamente é a proposta da alfabetização
ecológica. Biologia e Ecologia na base da teia que sustenta a vida no planeta.
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Para Mônica de Lima (Criadora dos personagens do livro Criança Ecológica – Sou dessa Turma), o
Projeto Criança Ecológica é um dos maiores sucessos da atual gestão. E Mônica conta um pouco da
sua história. Para ela, o primeiro ponto foi acreditar que a mudança de atitude só pode vir por meio da
educação. Xico Graziano queria, desde o início, que o projeto se chamasse Criança Ecológica, mas
não se tinha noção de que faixa etária atingir. Até ficar definido que seriam crianças, numa fase de
aprendizagem em que já saíram da fase de alfabetização e estão desenvolvendo seu raciocínio
crítico para serem verdadeiros multiplicadores e agentes de mudança na sociedade. Em seguida,
começou o trabalho no projeto. Sempre houve um trabalho de educação ambiental, mas feito de uma
forma convencional e pontual. Às vezes, era um monitor, que podia até ter muito conhecimento, mas
colocava a criança passivamente recebendo as informações. Como nas aulas de antigamente.
Entretanto, a criança sabe, tem como interagir, contribuir. E isso não estava sendo explorado.
Portanto, os principais alicerces do projeto foram a crença na educação e a procura de uma forma
mais dinâmica de passar as informações para a criança.
Mônica relembra: “Então nos inspiramos nas agendas da Secretaria: a Azul, da água, a Verde, da
fauna e da flora, a Cinza, da poluição. E acabamos incluindo uma agenda Amarela, de atenção, pare,
pense, “olhe o aquecimento global, as mudanças climáticas”. Apresentávamos as ideias para o Xico e
nunca era o que ele queria. Até que um dia, estávamos num café, ele pegou um papel e começou a
rabiscar. E foi definindo, encaixando os temas nas agendas. Começamos a trabalhar. Várias
pessoas, várias propostas. Ele sempre afirmando que era preciso focar o objetivo mais que a
ferramenta. E sempre acompanhando de perto.”
Nesse primeiro momento, era um projeto para o Parque Villa-Lobos. Mas, um dia, o Xico convocou
uma reunião e resolveu: cada um vai cuidar de um local. O projeto vai estar no Villa-Lobos, no Parque
Ecológico da Guarapiranga, no Zoológico, no Botânico. Depois, falou das Unidades de Conservação
e definiu uma abrangência muito maior. A ideia era usar todos os espaços da Secretaria, uma
linguagem única identificada com a Secretaria. Assim, nasceu o Projeto Criança Ecológica.
A partir daí, foi decidido fazer um livro baseado nas agendas. O próprio Xico e a Monica de Lima
resolveram escrever. Mônica comenta: “Ele escreve bem, com conhecimentos técnicos, coisa que eu
não tinha – eu estava fazendo minha pós-graduação em Educação Ambiental – mas sei como lidar
com criança, como falar com criança. Foi difícil conciliar a linguagem dele com a minha visão. A
minha ideia era não fazer apenas um livro. Queria misturar tudo: conceitos, brincadeiras, cores,
historinhas infantis, curiosidades; fazer um livro que chamasse a atenção da criança e que também
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pudesse ser lido aos pedacinhos. O então Secretário Xico trabalhou os conceitos e eu criei a trama
da turma e os personagens. Antes de começar a escrever o livro, sentei uma noite para trabalhar e
passei uma madrugada inteira ‘desenhando’ os personagens. Uso aspas porque não sou desenhista.
Estava definindo como cada um seria: biótipo, características emocionais e batizando os
personagens. Brincando com eles.”
Os nomes geraram algumas críticas. Mônica queria nomes que chamassem a atenção das crianças.
Não conseguia pensar em “João Água”, Pedro... Não conseguia. Conta que ficou dias buscando.
Queria colocar os nomes das agendas: Água, Flora, Fauna... e sentiu muita dificuldade. Então saiu
Bob Água, Frida Flor, Fred Fauno... Nomes que têm uma sonoridade. Já vinha sendo discutido se
seria um herói, uma turma, o que seria. E Mônica já vinha pensando nos nomes. E, nessa
madrugada, saiu tudo. Quando mostrou ao Xico, ele ficou meio na dúvida. Será? Ele é uma pessoa
que consulta os outros. Consultou. Gostaram e aprovaram.
Sobre os personagens também houve várias tentativas. Mônica queria personagens humanos, que
tivessem poderes. Não queria que fosse, por exemplo, a Água, mas um ser humano, com algum
poder a mais. Que se transformasse em alguma coisa, mas voltasse ao seu estado humano. Queria
que a criança pudesse se identificar com os personagens, que fossem meio adolescentes. Porque a
criança está sempre procurando ser um pouco mais velha, passando um batom, colocando um
brinco. E queria brincar com as cores nos cabelos e das agendas ambientais; as meninas gostam de
mechas, cores.
A inspiração veio da infância mesmo: Sítio do Pica-pau Amarelo, super-heróis. Na verdade, ela
procurou misturar o universo das crianças com a agenda ambiental. O processo criativo foi pesquisar,
ouvir informações, armazenar dados. E, de repente, tudo se encaixou, ganhou sentido e, naquela
madrugada, nasceram os personagens.
Falando de datas e números: O Villa Ambiental foi o primeiro a ser inaugurado, em 19 de março de
2009. No início de 2008, começaram as reuniões, no primeiro semestre. A partir do segundo
semestre, o projeto estava em andamento, buscando parceiros, dando retoques, criando o livro. O
processo de elaboração foi longo. Em 2009, foram criados todos os espaços ecológicos, um depois
do outro. Em um ano, o projeto todo atendeu a umas 20.000 crianças. Só no Villa Ambiental foram
7.500 crianças.
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Até dezembro de 2010 foram distribuídos 231.046 livros e 6.656 professores capacitados. As visitas
cresceram ainda mais depois que ficou pronto o site porque os agendamentos são feitos por meio
dele. É difícil falar em números porque eles se desatualizam e crescem a cada semana. Além do site,
a inclusão do Projeto Criança Ecológica no Projeto Estratégico Município Verde Azul foi determinante.
Julia de Lima Krahenbuhl é uma das diretoras da Coordenadoria de Educação Ambiental (CEA) e foi
uma das responsáveis pela implantação do Projeto Criança Ecológica nas escolas municipais do
Estado. Para ela, o projeto consolidou-se como um critério de avaliação dos municípios pelo Projeto
Município Verde Azul. No decorrer de 2009, as experiências relacionadas aos projetos refletiram o
enorme interesse da rede municipal de ensino pela abordagem dos temas da agenda ambiental de
forma lúdica e divertida, como propõe o livro Criança Ecológica – Sou dessa Turma!, distribuído aos
municípios do Estado com menos de 60.000 habitantes. As escolas mobilizaram-se, envolveram suas
comunidades e promoveram as mais diversas ações relacionadas ao meio ambiente. Os municípios
acabaram participando profundamente e conseguiram disseminar as questões apreendidas pelos
alunos para o conjunto da população.
A Educação Ambiental, como política pública, sempre foi considerada uma tarefa difícil. O problema
nunca foi desprezado. Ao contrário, foram realizados muitos projetos, muitas ações. Só que,
geralmente, eram ações isoladas: cada entidade, instituição, empresa ou prefeitura trabalhava
individualmente. O Projeto Criança Ecológica veio responder a essa dificuldade, possibilitando a
articulação entre os diferentes atores envolvidos na implantação da Educação Ambiental, dentro da
própria Secretaria e também nos municípios. Um projeto integrador.
Julia explica: “Além da implantação no ensino formal, a Educação Ambiental está se consolidando,
também, no ensino não formal, reunindo toda a comunidade na discussão e elaboração de projetos e
ações voltadas ao meio ambiente. O interesse pelo tema vem aumentando significativamente,
demandando dos órgãos envolvidos mais ações para suprir as necessidades da população.”
Projeto Desmatamento Zero Renata Inês Ramos
Entrevista: 10/12/2009
Os objetivos do projeto são tornar mais rigoroso o licenciamento e mais efetivas as medidas
compensatórias e mitigadoras, aprimorar as ações de fiscalização da Polícia Ambiental e a punição
dos crimes ambientais para garantir a conservação da biodiversidade.
Para Renata, Gerente do Projeto, todos os Projetos Estratégicos, especialmente o Mata Ciliar,
impulsionaram uma integração entre vários setores e órgãos da Secretaria do Meio Ambiente, que
antes não existia. “Essa foi a primeira vantagem, o grande benefício, porque, uma vez estabelecido
isso, nunca mais vai deixar de acontecer. Aprendemos a trabalhar junto com outras pessoas, de
outras formações e isso foi muito rico para nós todos. A segunda vantagem foi aprender a fazer
gestão ambiental. Antes, as ações eram focadas em um determinado objetivo, mas não eram vistas
de forma global. Por exemplo, na questão do desmatamento, o órgão fiscalizador era o Departamento
Estadual de Proteção de Recursos Naturais, dividido em regionais, com a sede em São Paulo,
responsável pela emissão das licenças e pela fiscalização das matas nativas no Estado de São
Paulo. Eu dirigi o departamento por três anos e meio, quase quatro anos. Então, quem ficava na
regional de uma unidade geográfica menor, tinha apenas noção do seu pedaço de território sem ter a
visão da sua inserção no todo e, mesmo assim, não sabia muito bem quanto havia sido autorizado de
supressão de vegetação nativa, onde e para qual finalidade.”
É importante saber quanto foi autorizado e também qual a finalidade do pedido de supressão. Com
respostas às perguntas-chave “porque”, “onde” e “quando”, podem-se detectar as tendências da
região do ponto de vista socioeconômico, ou seja, obter um perfil mais integrado. Isso não se tinha e
isso é gestão. Porque, conhecendo-se a situação e as tendências, é possível estabelecer indicadores
que levem a planejar ações, monitorar e até intervir nessas tendências. Então, ao começar a
trabalhar com esses dados e a consolidá-los para o Estado de São Paulo, é possível perceber, por
região, ou melhor, por bacia hidrográfica, o que está acontecendo e qual a tendência.
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Isso é fundamental para todos os projetos. Obtiveram-se, por bacia hidrográfica, o perfil, as
tendências e as causas da pressão para corte da mata nativa em determinados locais. Ou seja,
chegou-se a um conhecimento mais detalhado e a um entendimento melhor do problema.
“Passamos a produzir relatórios consolidados do Estado, da bacia, até do município, com dados
numéricos”, conta Renata. “Por exemplo, no Vale do Ribeira, conhecido como uma região tensa, que
sofre pressão para supressão da vegetação nativa, porque ainda tem muita vegetação, a pergunta
era: ainda existe demanda de supressão para agricultura, que tipo de agricultura, familiar ou não, de
médio ou grande porte? Na Região Metropolitana de São Paulo, em Campinas e na Baixada Santista,
sabia-se que existia pressão para implantação de loteamentos, mas, de quanto? De que faixa? Que
tipo de empreendimento? E para o interior do estado? A demanda de supressão ainda é para a
agricultura?”
O Projeto Desmatamento Zero teve como produto três Resoluções importantes, além de um projeto
de lei que foi aprovado, o de Proteção do Cerrado. A primeira resolução estabeleceu uma suspensão
temporária na concessão das autorizações para supressão de vegetação nativa do bioma da Mata
Atlântica; e, também, para o bioma do Cerrado, por um período de 180 dias, para que fosse efetuada
a revisão dos critérios técnicos e definidos novos parâmetros para a concessão das mesmas. Daí
surgiram mais duas resoluções específicas para zona urbana e rural. Posteriormente, nova
suspensão foi instaurada somente para o Bioma Cerrado, frente à situação do Bioma, até que fosse
finalmente promulgada a lei. Isso teve impacto muito grande para o Estado de São Paulo, refletindo,
inclusive, na política pública da União em relação ao Cerrado. Foi um alerta para essa questão, já
que São Paulo tem menos de 1% de vegetação do Cerrado: são apenas 200.000 hectares. Grande
parte desse bioma está no centro do país, em Goiás e Mato Grosso. Depois disso, de alguma forma,
a discussão chegou ao cenário federal. No Artigo 225 da Constituição Federal, estão definidos os
biomas protegidos e o Cerrado não está contemplado. Não havia nenhuma lei de âmbito nacional
para a proteção do Cerrado, a lei paulista é a primeira do país.
Para a definição de cada Resolução, foram envolvidos mais de 40 técnicos e criados grupos de
discussão específicos, com muito contato com o meio acadêmico, a USP, o Instituto de Biociências, a
Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), por causa do Projeto Biota-Fapesp8, que tem
permeado as políticas públicas da Secretaria do Meio Ambiente.
8 Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo; o Programa Biota/Fapesp, Instituto Virtual da Biodiversidade, teve início em 1999, com a finalidade de sistematizar a coleta, organizar e disseminar informações sobre a biodiversidade do Estado de São Paulo. O resultado foi apresentado em 2008, com a proposição de diretrizes de conservação e restauração da biodiversidade paulista.
33
“Esse programa foi trabalho de mais de 150 pesquisadores”, conta Renata, “e produziu 24 mapas
temáticos e três mapas-síntese, indicativos das áreas prioritárias para a conservação da
biodiversidade do Estado de São Paulo e que norteiam as políticas da Secretaria. Vamos começar a
fazer a recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) o que, do ponto de vista da
preservação da biodiversidade, é muito importante. Inclusive, os mapas têm uma graduação de
cores, por exemplo, a cor laranja escura indica que a recuperação daquele lugar é muito importante
por questões da fauna e da flora presentes.”
A integração interna e externa com o meio acadêmico foi muito importante, não só com o meio
acadêmico, mas também com os setores que tiveram suas atividades envolvidas nas resoluções. Por
exemplo, como a principal atividade na área urbana é o loteamento, os empreendimentos imobiliários,
foi criada uma resolução específica para a supressão de vegetação na área urbana. Para a área
rural, criou-se outra resolução específica, aproveitando muito do Programa Biota, e que também teve
implicações, para se aprovar uma lei como a do Cerrado. Em ambos os casos, os setores envolvidos
foram chamados para discussão.
O Desmatamento Zero trabalhou junto com o Município Verde Azul, criou alguns dos parâmetros para
estabelecer as avaliações dos municípios na questão da vegetação. Também trabalhou junto com o
Mata Ciliar, a Educação Ambiental, Mananciais, a Fauna Silvestre. E, o que é mais importante, os
objetivos estabelecidos estão sendo atingidos, ou seja, os produtos designados foram alcançados.
Houve a redução da supressão de vegetação nativa legalmente autorizada, que caiu em mais de
50%. Em 2006, foram 6.268 hectares autorizados; em 2007, quando começou o programa, foram
reduzidos para 5.200; em 2008, o número caiu para 2.528; e o ano de 2009 foi fechado em 1.813
hectares. Entre janeiro e setembro de 2010 foram 1.107 ha autorizados para supressão. Segundo
dados da Polícia Ambiental, as autuações também vêm caindo, tanto na quantidade quanto no
tamanho das áreas de supressão de vegetação nativa. Também foram criadas normas para restringir
ainda mais a possibilidade de supressão de mata por meio de licenciamentos irregulares.
Para Renata, a atuação do Secretário foi mais que a de um agrônomo, foi a de um gestor ambiental.
Para ela, que é agrônoma, como muitos na Secretaria, foi importante ter um Secretário engenheiro-
agrônomo. É uma questão de falar a mesma linguagem. E, para ela, o trabalho feito é um caminho
sem volta. “Mesmo vivendo em um país em desenvolvimento, no qual ainda se veem resquícios do
discurso desenvolvimentista sem sustentabilidade, não estamos mais na década de 70, mas no
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século 21, e a sociedade civil, mais informada, cobra de seus governantes uma atitude mais
responsável.”
Renata explica, resumidamente, que o desafio era proteger o que ainda existia, autorizar o mínimo
possível de supressão de vegetação nativa, aprimorar a fiscalização e verificar se o que tinha sido
compromissado ao longo dos licenciamentos estava sendo cumprido. Para verificação do
cumprimento dos Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental (TCRAs) foram realizadas
operações específicas como a Operação Primavera 2008 e a Operação Outono 2009, na qual foram
feitas vistorias de campo de 6.862 TCRAs, quando foi verificado o estabelecimento de 8,72 milhões
de mudas que estavam compromissadas para plantio. Os relatórios dessas operações são
extremamente completos: com dados quantitativos e qualitativos de todos os processos vistoriados.
Os laudos de avaliação mostram se a área está cercada, se está protegida de perturbações, tais
como criação de gado, quantas mudas morreram, se há infestação por formigas etc. Tudo isso
permite saber se aquele plantio vai em frente ou não. Quando os técnicos voltam do campo com as
informações, a Secretaria manda notificação, processo por processo, elogiando ou criticando. Ou
ainda, em casos extremos, encaminha os Termos não cumpridos para execução extrajudicial.
Então, se a meta era reduzir a área autorizada, incrementar a fiscalização para nivelar a supressão
irregular e verificar se a área autorizada estava sendo recuperada, já que cada autorização tem um
termo, um compromisso de reposição, pode-se afirmar que ela foi plenamente atingida.
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Projeto Ecoturismo
Anna Carolina Lobo
Entrevista: 17/12/2009
Quando foi lançado, os principais objetivos do Projeto Ambiental Estratégico Ecoturismo eram:
estimular o aproveitamento turístico dos parques estaduais, especialmente o ecoturismo na Mata
Atlântica; consolidar a vocação do turismo sustentável na área de influência dos parques estaduais e
envolver a população, por meio da educação ambiental e da geração de emprego e renda, na
preservação do meio ambiente.
Anna Carolina Lobo, Gerente do Projeto Ecoturismo, fala com entusiasmo: “Todo mundo, no início da
gestão Serra/Graziano, traçou seus objetivos e, depois, passou a definir as metas de cada projeto,
para cada semestre. E, a cada dois ou três meses, temos uma reunião com o Secretário ou
apresentamos os relatórios sobre a evolução dos projetos, e fazemos essa análise com os outros
Gerentes ou com a Assessoria de Gestão Estratégica.”
Foram estabelecidas duas metas prioritárias: executar o Plano de Trabalho do Contrato de
Empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – Projeto de Desenvolvimento
do Ecoturismo na Mata Atlântica, envolvendo seis Unidades de Conservação; e estruturar e fortalecer
a gestão pública para o ecoturismo nas Unidades de Conservação administradas pela Secretaria do
Meio Ambiente.
O ecoturismo não existia como diretriz do Sistema de Meio Ambiente, antes de 2006, porque as
Unidades de Conservação eram geridas pelo Instituto Florestal, que tinha uma ótica voltada
principalmente para a conservação e pesquisa. Quando as unidades passaram para a Fundação
Florestal e os Projetos Estratégicos Ecoturismo e Gestão de Unidades de Conservação foram
criados, foi proposta a diretriz pela qual a sociedade deve se apropriar das Unidades de
Conservação. Só assim é possível trabalhar a Educação Ambiental, a conservação do meio ambiente
e fomentar a geração de emprego e renda para as comunidades que vivem no entorno das áreas de
conservação. Com o ecoturismo como ferramenta de desenvolvimento econômico regional, o
principal ganho é a conservação ambiental.
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Anna Carolina relembra: “A Secretaria tinha, desde 2006, um projeto financiado pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento, de 15 milhões de dólares, o Projeto de Ecoturismo na Mata
Atlântica. Entrei em abril de 2007, um ano e meio depois de criado o projeto e a equipe era formada
por apenas quatro pessoas. O Banco estava discutindo com o Secretário se cancelava ou não o
projeto. Então, começamos a estruturar a equipe, a trabalhar no projeto e foi quando o Secretário
disse que não queria um projeto de ecoturismo só para seis unidades de conservação, mas para todo
o Estado. Foi assim que nasceu o Projeto Ambiental Estratégico Ecoturismo, que teve como uma das
principais ferramentas o programa ‘Trilhas de São Paulo’.”
O programa “Trilhas de São Paulo” começou a ser desenvolvido com base em algumas diretrizes do
Projeto de Ecoturismo da Mata Atlântica para, a partir daí, ganhar escala e ser implementado em todo
o Estado. O programa Trilhas de São Paulo foi lançado em agosto de 2008, juntamente com o
“Passaporte Verde”, onde são mostradas 40 trilhas em dezenove Unidades de Conservação. O
programa “Trilhas” atendeu a uma grande demanda da sociedade, a de praticar o ecoturismo em São
Paulo. Ninguém imagina que o maior trecho contínuo da Mata Atlântica está em São Paulo.
Por meio de uma Resolução, publicada em setembro de 2008, foi criado o Conselho Consultivo de
Ecoturismo, um dos poucos conselhos de ecoturismo do mundo. A partir da publicação de outra
Resolução 59/2008, que regulamenta as diretrizes de uso público nas Unidades de Conservação de
Proteção Integral, foram publicadas várias portarias da Fundação Florestal, abordando cada tema
com mais detalhes.
Em setembro de 2009, foi lançado o segundo pacote do “Trilhas de São Paulo”, o “Passaporte Azul”,
com roteiros de mergulho. São oito roteiros de mergulho, em cinco áreas marinhas protegidas no
litoral paulista. O processo de elaboração do passaporte foi muito interessante, porque foi altamente
participativo. Foi necessário tratar do ordenamento do território marinho, em conjunto com as APAs
Marinhas. Esse foi o primeiro projeto das APAs discutido nos Conselhos Consultivos formados
também por comunidades tradicionais. Finalmente, todos os pontos e textos presentes no passaporte
foram resolvidos.
Os textos do passaporte referem-se não apenas a mergulho, mas às condutas conscientes que o
mergulhador deve ter, à importância dos pesqueiros tradicionais, das comunidades tradicionais e do
respeito a essas comunidades. É a primeira publicação de mergulho que trata, também, da
importância da pesca e das comunidades tradicionais. A partir da publicação do “Passaporte Azul”,
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está sendo elaborada, com as APAs Marinhas, a regulamentação do mergulho nesses territórios. Há,
inclusive, um acordo de cooperação com a região de Paca (Provence, Alpes, Côte-d'Azur), na
França, que tem uma regulamentação de mergulho muito avançada.
Mas, conta Anna Carolina, “no inicio do Governo, o investimento era pequeno e hoje fechamos o ano
de 2009 com um investimento de 23 milhões de reais. Ainda temos muitas coisas para fazer, mas o
pico dos trabalhos foi em 2009. Fechamos os contratos de todas as obras dos seis parques, um
centro de visitantes por parque, exposições temáticas e implementação de trilhas. São 500 km de
trilhas no total, nos seis parques, incluindo trilhas para cadeirantes. Serão, pelo menos, três trilhas
para cadeirantes em cada uma das Unidades de Conservação. E, nesses seis parques, no processo
de elaboração do plano de capacitação, foram envolvidas 600 pessoas, incluindo as comunidades
tradicionais, prefeituras e empresários. E a receptividade foi muito grande. O que a gente deixou bem
claro é que não queremos que ninguém deixe de trabalhar para ser monitor; mas, queremos colocar
todos dentro da lógica da cadeia do turismo, que envolve mais de 50 setores. E em 2011, as
capacitações vão ter andamento. Foi assinado um contrato com o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (Senac), que vai dar treinamento em alimentação, bebidas e hospedagem.”
Um dos maiores atrativos do Projeto Ecoturismo é a Trilha do Continuum de Paranapiacaba, um
contínuo de Mata Atlântica considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, que interliga os
Parques Estaduais do Petar, Carlos Botelho e Intervales. Está sendo criada uma trilha para ligar
esses três parques. É uma trilha de longo percurso, que inicialmente teria 130 km e, agora, o projeto
já está em 215 km, passando por atrativos belíssimos. E a estratégia de implementação dessas
trilhas é justamente trazer as comunidades para a gestão do contínuo. Esse produto é estratégico
não apenas para o ecoturismo nacional, mas tem forte vocação para atrair o turista internacional, já
que nos outros países as trilhas de longo percurso estão muito saturadas.
Um aspecto interessante: desde que foi lançado o “Trilhas de São Paulo”, são feitas pesquisas de
satisfação dos visitantes a cada dois meses, e constatou-se que, com o “Trilhas”, a visitação
aumentou de 10 a 15% nas Unidades e a maioria das pessoas fica conhecendo o programa pelos
amigos que já foram.
Recentemente, foi contratada a obra que é a da Ilha do Cardoso, um investimento de oito milhões de
reais. O núcleo Perequê inteiro vai ser reformado, substituindo as estruturas de concreto por madeira;
a reforma prevê uma loja de souvenirs, alojamento, pousadas, restaurantes, com destaque para uma
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trilha suspensa sobre o mangue. Será um dos maiores investimentos do projeto em um único parque,
a ser executado em 2010.
As maiores dificuldades foram as licitações. Como o contrato com o BID é internacional e as
licitações são internacionais, entram todos os países-membros. E, no início, algumas licitações
demoravam até oito meses, desde quando o termo de referência era elaborado, até a realização do
orçamento, edital, de toda a documentação necessária, que precisava ser enviada para o BID.
Ela ainda ressalta: “Outra coisa positiva: o Ecoturismo entrou em uma diretiva de Educação
Ambiental no Município Verde Azul e, a partir daí, conseguiu incentivar as prefeituras a investirem nas
áreas protegidas. Felizmente, poucas prefeituras do entorno dos parques consideram que a
preservação do meio ambiente é um fator que prejudica o desenvolvimento.”
Foi criada, na Fundação Florestal, a Gerência de Ecoturismo, que já tem um ano. Nunca houve, no
Sistema de Meio Ambiente, um núcleo de ecoturismo. Agora existe, no organograma, uma Gerência
de Ecoturismo. Atualmente, Anna Carolina é a Gerente do Projeto Ecoturismo e Gerente de
Ecoturismo da Fundação Florestal. Tem uma equipe que é a mesma para tudo e, talvez por isso,
consiga fazer com que um projeto reflita no outro. Isso traz muita agilidade.
Mais uma vez, fica evidente a capilaridade, a interdependência entre os projetos. O Projeto
Ecoturismo precisa dialogar com os Projetos Gestão de Unidades de Conservação, Município Verde
Azul, Criança Ecológica e com outras instituições da Secretaria como a Fundação Florestal. Nenhum
dos projetos é autossuficiente. Nenhum deles pode dispensar o diálogo.
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Projeto Esgoto Tratado
Marcelo Minelli
Entrevista: 17/11/2009
A meta do Projeto Esgoto Tratado é clara: proteger os recursos hídricos da carga de esgotos
domésticos, assegurando melhor qualidade e uso da água, por meio de fomento e fiscalização de
todos os municípios com serviços de coleta e esgoto doméstico, prioritariamente os municípios
poluidores dos mananciais de captação de água.
Para Marcelo Minelli, Gerente do Projeto Esgoto Tratado, a questão do lixo era um tema
acompanhado mais de perto, mas o esgoto era um assunto não eficientemente enfrentado dada a
sua complexidade. Exige investimentos significativos na política de governo, não só do Estado, mas
de cada prefeitura, com resultados mensuráveis apenas a médio prazo. Um assunto difícil de ser
resolvido. Esse projeto surgiu para “mexer na ferida”. Habitualmente, a prefeitura recebia advertência,
multa, mas não se tinha como interditar. Era preciso recorrer a uma Ação Civil Pública, Promotoria,
etc. Em quatro anos, o prefeito ia embora e nada acontecia. O projeto alterou esse quadro: incentivou
toda a população a pressionar prefeitos e secretários. E teve outro aspecto positivo: a possibilidade
de obtenção de recursos do Governo Estadual.
“Eu me lembro”, conta Marcelo, “que, no ano 2000, o diretor dizia ‘vamos autuar o município que não
trata esgoto’. Advertia, multava. E daí? Neste Projeto, o Secretário conseguiu envolver o Estado todo.
Eu participei, no início, de reuniões com alguns prefeitos, com o pessoal dos municípios e vi que eles
começavam a se preocupar com isso. Fantástico.”
A nossa legislação determina que o esgoto, de qualquer parte, tem que estar dentro dos padrões da
legislação. Limites da legislação: Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) de 60 mg, ou 80% de
remoção da carga orgânica. Nos esgotos não tratados (esgotos domésticos), cada pessoa é
responsável (em média) pelo descarte de 54 gramas diárias de matéria orgânica.
“Não tínhamos muitos dados”, continua Marcelo, “não sabia que porcentagem de coleta era tratada e
quanto desse esgoto coletado ia para o sistema de tratamento. Então, trabalhávamos porcentagem
de coleta em um mapa, porcentagem de tratamento em outro. Isso dificultava a leitura e a
40
compreensão. Um município coletava 10% e tratava mais de 80% desses 10%. Não representava
nada. Então, o que foi feito? Passamos a trabalhar com porcentagem de coleta. É preciso aumentar a
porcentagem de coleta, construir redes e emissários, e depois fazer com que essas linhas cheguem à
estação de tratamento. Neste projeto, coleta e tratamento foram reunidos em um único número.” Esse
número é o Índice de Coleta e Tratabilidade dos Esgotos Municipais (ICTEM), um indicador. Ao se
implantar uma rede de esgoto, o esgoto é retirado da sarjeta, o que é muito bom, em termos de
saúde pública. Então, esse município que tem rede é melhor do que aquele que não tem nada e joga
o esgoto na sarjeta. Esse município já é, então, contemplado. E há outro município que começou a
implantar rede de esgoto e emissário, parte ainda vai ser descartado nos rios, sem tratamento e outra
parte vai para uma estação de tratamento. Esse segundo município está ainda melhor que o anterior.
Com esse indicador, o ICTEM, é possível pontuar melhor os municípios. Assim, o projeto passa a ter
seus objetivos mensuráveis, seus ganhos acompanhados e avaliados. Condições básicas de gestão.
Saber onde se está e para onde se quer ir.
O ICTEM é uma fórmula com ponderações. Por exemplo, toda a rede com tratamento tem um peso e
a eficiência da estação de tratamento tem outro. Um município que faz uma simples decantação,
nada além, ainda assim, é melhor do que o que não faz nada. Agora, um município que tem uma
estação de tratamento com processos avançadíssimos, tem uma eficiência maior e,
consequentemente, uma pontuação maior. A fórmula contempla todas essas diferenças: na coleta, no
tratamento e na eficiência de tratamento, sem levar em conta se é a Cidade de São Paulo ou se é
Itapura. Em 2000, o enfoque era a carga. Então, a preocupação era com São Paulo, Campinas,
Ribeirão Preto. Hoje, o enfoque é outro. Todo mundo tem que se preocupar. Independentemente do
número de habitantes e do volume da carga poluidora que esteja sendo lançada.
A questão do saneamento é de outra Secretaria, com interface com a Secretaria do Meio Ambiente,
fundamentalmente com relação à qualidade da água. Sempre há conflito entre a urgência do
saneamento e a questão da qualidade. Então, apesar de o Estado ter avançado bastante,
principalmente na cobertura da rede, a questão do ponto de vista do saneamento é “precisamos
começar a tirar o esgoto do pé do cidadão: é um problema de saúde pública”. O que é legítimo, só
que não podemos ficar como ficamos durante tantos anos apenas nessa etapa. Além de tirar o
esgoto do pé do cidadão, é preciso tratá-lo. A questão de saúde pública pode ter sido contemplada
naquele primeiro momento, mas pode se agravar a qualidade do corpo d’água, que, depois, volta a
afetar a saúde do cidadão.
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Toda vez que se faz um modelo, uma equação, ele é apenas uma aproximação da realidade, mas o
grande mérito dessa sistemática é que permite comparar aquela própria região, ou seja, um
município, uma região do Estado, com eles próprios, ao longo do tempo. Sempre utilizando o mesmo
critério. E com outras regiões, outros municípios. Esse é o principal diferencial.
O desafio é grande, porque, embora a cobertura da rede tenha avançado muito, é necessário passar
para outras fases do saneamento. O projeto tem metas de longo prazo, que são investimentos
vultosos e intervenções que demandam tempo. Além da questão orçamentária, é impossível fazer
tudo isso de um dia para o outro. É questão de vários anos.
“Esperamos”, diz Marcelo Minelli, “sair dos 152 municípios inicialmente sem nenhum tratamento e
chegar, no fim de 2010, com 117 e, depois, chegar a junho de 2011 com 53. São municípios que não
têm nenhum tipo de tratamento. Para o Estado de São Paulo, 152 municípios sem nenhum
tratamento é uma enormidade. Priorizar a questão desses 152 municípios, não para resolver no ano
seguinte, mas para que isso entre na pauta de discussão orçamentária, de planejamento. A nossa
principal contribuição tem que ser essa, no momento, porque, depois de definido o orçamento e o
planejamento, não há muito o que fazer. Temos que começar a fazer os ajustes e acordos agora,
para ver se conseguimos chegar o mais próximo possível de 65 e 70% da população com esgoto
tratado no Estado de São Paulo. Para isso acontecer até 2020, é preciso começar em 2010. É mais
ou menos esse o timing necessário.”
Toda comunicação com os municípios acaba se dando por intermédio do Projeto Município Verde
Azul. Por exemplo, o Município Verde Azul tem vários projetos tocados por esta Diretoria de
Licenciamento e Gestão Ambiental: o saneamento do esgoto, o saneamento do lixo e licenciamento
ambiental. A diferença é que esses projetos têm suas metas e prazos definidos, é uma questão de
foco. O Município tem que estar ciente de sua responsabilidade e de suas ferramentas e o Estado
tem que acompanhar isso ao longo do tempo. Minelli considera “uma grande sacada dessa
Secretaria: envolver o Município e fazer uma classificação com base no desempenho dos municípios
frente aos quesitos ambientais ditados pela Secretaria. As condições de vida da população são de
responsabilidade dos Municípios.”
A última ação de fiscalização foi realizada recentemente, nos meses de setembro e outubro de 2009,
em 69 municípios. Alguns que vinham ruins e outros que estavam bem, mas tinham uma parte
inadequada, que deixaram de lado a operação e tiveram piora. Foi feita uma vistoria intensificada. A
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próxima etapa é em 2010: discutir a questão dos municípios que têm tratamento, mas que atendem a
menos de 10% da população. Estão sendo escolhidos 39 desses municípios, que podem vir a ter
impacto na qualidade do corpo d’água em que o esgoto está sendo lançado. O aspecto mais grave
disso tudo é que, nessas regiões, o abastecimento de água ainda é de água fluvial. Como já foi dito,
primeiro era preciso tirar o esgoto da sarjeta, porque era uma questão de saúde pública, mas se não
se trabalhar as etapas seguintes, o problema retorna. Apenas leva um pouco mais de tempo para
voltar.
No caso de águas subterrâneas o caso é ainda mais grave. Porque em água superficial, lagoa ou rio,
pode haver contaminação, mas é mais fácil reverter. Em águas subterrâneas, na maior parte dos
casos, as soluções de engenharia são pouco efetivas, de baixa eficácia, além de caríssimas. Há o
risco de acabar comprometendo uma extensão que pode ser gigantesca e ainda pode atingir regiões
vizinhas. Mais dia menos dia, ou mais ano menos ano. Se apenas a concentração for reduzida e não
for eliminada a fonte, a contaminação continua. E a reversão é praticamente inaplicável.
Este projeto foi um passo importante. Foco no problema, criação de um indicador – o ICTEM – para
avaliação e acompanhamento dos sistemas de coleta e tratamento, e a elaboração de um diagnóstico
dos principais rios do Estado. Resultados concretos, mensuráveis: em 2007, São Paulo tinha 249
municípios sem tratamento de esgoto; em 2010, este número foi reduzido a 117 municípios.
43
Projeto Etanol Verde Ricardo Viegas
Entrevista: 10/11/2009
A perspectiva de crescimento no setor sucroalcooleiro e o risco de expansão da queima da cana
eram ameaças concretas. Mesmo havendo uma lei especifica, que estabelecia o prazo final para a
queima em 2021, para as áreas mecanizáveis, e 2031, para as áreas não mecanizáveis. Outros
problemas importantes na agenda ambiental poderiam, também, comprometer o futuro; como, por
exemplo, a questão da cobertura vegetal, da mata ciliar, do consumo de água e da conservação do
solo.
Como o Governo entendeu que a agenda ambiental deveria estar presente na política de energia, o
Secretário do Meio Ambiente priorizou duas ações. A primeira foi o Protocolo Ambiental que, na
verdade, é uma proposta inovadora dentro de uma agenda ambiental. O Governo, por meio da
Secretaria do Meio Ambiente, da Secretaria da Agricultura e de representantes das usinas e dos
fornecedores de cana – quase 12.000 fornecedores de cana e, aproximadamente, 200 usinas em São
Paulo –, elaborou um Protocolo que estabeleceu, por consenso, importantes diretrizes técnicas a
serem cumpridas. Foram quase 70 dias conversando, discutindo. Todos concordaram com a redução
e com os prazos para o fim da queima. Foram, também, estabelecidas diretivas para proteção das
matas ciliares.
Para Ricardo Viegas, gerente do Projeto Ambiental Estratégico Etanol Verde, “o Protocolo Ambiental
foi construído praticamente a seis mãos e conseguimos avanços, inclusive em relação à própria
legislação, com a redução, por exemplo, do prazo final da queima de 2021 para 2014, nas áreas
mecanizáveis, e de 2031 para 2017, nas não mecanizáveis. Quanto às matas ciliares, também houve
consenso, por parte do setor sucroalcooleiro e sucroenergético, em priorizar a questão das Áreas de
Preservação Permanente (APPs). Há um conflito, até porque a legislação federal ainda deixa certa
dúvida em relação às ações, mas começamos a trabalhar há dois anos nesse movimento de
compromisso em relação às APPs. As questões de consumo de água, conservação do solo, emissão
de poluentes atmosféricos também estão sendo discutidas”.
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A partir desse Protocolo, começou um movimento de adesão voluntária das unidades. Foi o início da
operacionalização do Protocolo. Porque uma coisa é um acordo, outra coisa é fazer esse acordo
acontecer. A adesão das indústrias foi significativa: no primeiro ano, houve de 30 a 40% de adesão e,
no ano seguinte, março de 2008, foram firmados acordos com os plantadores de cana, que eram um
pouco mais resistentes, e isso foi de fato um avanço. Hoje, quase 94% da produção de álcool e
açúcar do Estado de São Paulo estão de acordo com o Protocolo: são 160 unidades e 26
associações de fornecedores de cana, que somam 5.500 fornecedores, aproximadamente. O Projeto
Etanol Verde acompanha e certifica as unidades signatárias do Protocolo. Elas têm uma certificação
de conformidade com as metas estabelecidas e são monitoradas ano a ano para acompanhar o grau
de compromisso de cada uma. Os resultados são concretos.
Hoje, a terceira safra a partir do Protocolo, 55,8% da colheita da cana-de-açúcar, em São Paulo, já é
feita sem queima. Isso representa um avanço significativo em todos os processos. Pode parecer
simples, mas, para a colheita de cana crua, é necessário fazer investimentos na aquisição de
equipamentos, capacitação de pessoal e adequação dos canaviais. É necessário, inclusive, adaptar o
tipo de cana, o processo industrial e modificar o recebimento da cana na usina. As consequências
são óbvias: 50% nos canaviais representam dois milhões de hectares, são dois milhões de hectares
que não são mais queimados. Para se ter uma ideia, cada hectare que não é queimado retém quase
duas toneladas de palha que ficam no solo, que vão enriquecer o solo. É uma real transformação no
processo produtivo. São Paulo, nesse aspecto, já é uma referência, é o Estado da federação com
maior índice de mecanização.
Se toda a safra paulista seguisse estritamente a Lei Estadual 11.241/02, teríamos uma área de
queima de mais de 3.000.000 de hectares, ou seja, 70% da área plantada. Isto significa que, graças
aos ganhos diante dos limites da lei, deixaram de ser queimados 1,1 milhão de hectares na última
safra. Desde o início da vigência do protocolo, houve uma redução de cerca de 7,92 milhões de
toneladas de monóxido de carbono, que seriam lançadas na atmosfera. Também deixaram de ser
emitidas 679 mil toneladas de material particulado e 1,1 milhão de toneladas de hidrocarbonetos, em
função do que deixou de ser queimado.
Outro avanço foi com relação às matas ciliares. Hoje, há um compromisso do setor de recuperação
de 251.000 hectares de matas ciliares. É muita coisa. Também importante no Protocolo é a questão
do consumo de água. O setor sucroalcooleiro, na década de 90, consumia cinco metros cúbicos de
água por tonelada de cana moída. Hoje, o setor tem tecnologia para reuso de água, para uma
45
utilização mais racional e a média de consumo, em São Paulo, caiu para 2,0 metros cúbicos com
tendência a atingir a faixa de 1,5 metro cúbico de água por tonelada de cana moída.
A questão da vinhaça ou restilo, também era um problema sério. Hoje, há uma redução da
quantidade de vinhaça em relação ao litro de álcool produzido. Houve época em que se gerava 13
litros de vinhaça por litro de álcool. Hoje, houve um avanço, uma redução para 6, 7 litros, ou seja,
quase a metade. E, além disso, há uma questão importante, que é a utilização dessa vinhaça na
fertirrigação.
Na verdade, uma usina tem hoje três produtos: o açúcar, o etanol e o bagaço. O bagaço serve de
matéria-prima para cogeração de energia. Portanto, um subproduto da usina é a cogeração de
energia. Na verdade, as usinas, em São Paulo, estão produzindo 1.820 MW de energia, dos quais
50% são exportados para a rede, ou seja, o bagaço gera energia para a própria usina e 50% disso
ela exporta para a rede. Há uma estimativa de que, se todas as usinas estivessem fazendo isso e
fossem adaptadas para isso, haveria um potencial de geração de energia em São Paulo de quase
uma Itaipu.
Um fato importante: a matriz energética renovável, que não utiliza combustível fóssil, no Estado de
São Paulo, é de 56%. Destes, 30% vêm do setor sucroalcooleiro. É a primeira fonte energética do
Estado. Quantas pessoas trabalham nisso? Quatrocentas mil com carteira assinada: 30% do
emprego na área de agricultura estão no setor sucroenergético. Setenta por cento dos municípios de
São Paulo dependem diretamente desse setor. A rede de distribuição de etanol em São Paulo tem 10
mil postos de gasolina para uma frota de carros a álcool/flex de 3,6 milhões de veículos, que
consomem mais de um bilhão de litros de álcool/mês.
Ricardo Viegas fala com entusiasmo da segunda prioridade da Secretaria, também voltada para o
setor sucroenergético: “Há um ano, fizemos em São Paulo o Zoneamento Agroambiental (ZAA), para
estabelecer um ordenamento e indicar quais seriam os locais com maiores riscos ambientais. Um ano
depois, o Governo Federal fez o seu, estabelecendo os biomas. Mas, na verdade, o nosso
Zoneamento deu base para uma resolução que rege, hoje, o licenciamento dos empreendimentos
agroambientais. Fizemos quatro classificações: áreas adequadas, áreas com limitações ambientais,
áreas com restrições ambientais e as áreas inadequadas. Se um empreendimento estiver numa área
com limitação ambiental por uma determinada razão, por exemplo, por questão de indisponibilidade
de água, ele terá que dispor de tecnologia para corrigir isso. Se ele estiver em uma área com
46
restrição ambiental por causa das águas subterrâneas, ele não poderá utilizar a vinhaça do jeito
convencional, ele terá que buscar outras tecnologias.”
Os critérios do Zoneamento estão baseados em diversas informações: mecanização, qualidade da
água, quantidade de água nos aquíferos, proteção da biodiversidade, relações climáticas da cultura
da cana etc. Todas essas informações serviram de base para ordenar e classificar as áreas do
Estado com relação à produção de cana. Hoje, o empreendimento será licenciado de acordo com as
regras de licenciamento. O Zoneamento é a ferramenta para estabelecer as regras de licenciamento
e está vinculado a este.
Hoje são cinco milhões de hectares de cana em São Paulo. Em 2014, nos próximos quatro anos,
serão perto de sete milhões de hectares. Há, também, um aumento significativo de produtividade.
São Paulo tem uma produtividade média por volta de 85 toneladas, por hectare. É a maior média do
Brasil. De cada hectare, são extraídos 7.200 litros de álcool, com tendência de alta, graças ao
desenvolvimento tecnológico, envolvendo, inclusive, a busca de variedades de cana mais produtivas.
“A nossa avaliação do problema da queima é extremamente positiva”, continua Ricardo. “Primeiro,
trouxemos todo o setor para a legalidade. Hoje, se há algum ilegal, este está incomodado. Outro
avanço importante é que o Certificado de Conformidade passou a ter valor comercial, agregou valor
ao produto. Algumas importações, em 2008, feitas pela Suécia, por exemplo. Houve uma importação
da Suécia de quase 150 milhões de litros, que envolveu, aproximadamente, 40 usinas. Um dos itens
do acordo comercial entre os dois países, além de questões como, por exemplo, proibição da mão de
obra infantil, era que as usinas tivessem o certificado do Protocolo. Nos acordos bilaterais, já está
começando a acontecer isso: o controle passa para as mãos do consumidor. Isso é bom para nós,
embora o propósito do Protocolo não seja entrar no mundo da certificação.”
Resumindo, o Projeto Etanol Verde tem duas ações importantes: o Zoneamento e o Protocolo. O
Zoneamento está vinculado ao licenciamento. Quanto ao Protocolo, os resultados são altamente
positivos: em números absolutos, mesmo com a expansão da cana de quase um milhão de hectares,
São Paulo reduziu a queima em 220 mil hectares. E a expansão da mecanização atingiu 780 mil
hectares. Houve expansão acompanhada de mecanização e, ainda assim, redução na queima.
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Projeto Fauna Silvestre Paulo Magalhães Bressan
Entrevista: 29/11/2009
Cláudia Terdiman Schaalmann
Entrevista: 19/04/2010
Dr. Paulo Bressan, gerente do projeto e Diretor Presidente da Fundação Parque Zoológico, explica o
papel do Zoológico dentro dos 21 Projetos Estratégicos: “A primeira questão é que o Zoológico é a
Fundação Parque Zoológico de São Paulo e é a mais antiga fundação do Estado. E, em seus
praticamente 50 anos de existência, ficou fora do foco da questão ambiental porque a própria
sociedade e o Estado não tinham essa visão. Em 2004, pela primeira vez na existência do Zoológico,
o Governo do Estado olhou para ele como uma instituição voltada para a questão ambiental, não
mais como um parque orientado exclusivamente para entretenimento e lazer. E ele, que estava na
Secretaria de Esporte e Turismo, foi transferido para a Secretaria do Meio Ambiente.”
Agora, nessa gestão, com a proposta de trabalhar com projetos, o Zoológico assumiu uma posição
muito mais afinada com as questões contemporâneas. Como era a única instituição da Secretaria do
Meio Ambiente que podia tratar do tema fauna, pela sua competência, especificidade e experiência, o
Secretário, ao criar o Projeto Ambiental Estratégico Fauna Silvestre, convocou o Zoológico para
auxiliar no desenvolvimento do projeto.
Dentre os objetivos do projeto, está a questão do tráfico de animais no Estado, o que vai além das
fronteiras estaduais, porque trata, também, do tráfico no Brasil: São Paulo é destino e muitas vezes
passagem do tráfico. Então, a Polícia Ambiental e os técnicos da Secretaria começaram trabalhar em
um levantamento e um diagnóstico mais preciso dos problemas existentes.
Uma das realizações mais importantes do projeto é a atualização da Lista de Animais Ameaçados de
Extinção. A primeira lista é de 1998 e, por decreto, ela deveria ser atualizada a cada quatro anos,
mas a primeira atualização foi feita apenas recentemente, em 2008. Foi um passo importante porque,
diferentemente da lista de 98, essa atualização está dentro de um projeto, inserida na sua linha de
atuação.
48
Também na linha de atuação do projeto, o Governo decidiu assumir o controle e gestão da fauna do
Estado de São Paulo. A Constituição Federal considera que essa é uma atividade concorrente da
União com o Estado (na verdade, ela é da União e pode ser exercida pelo Estado). Assim, em 2008,
foi assinado um Termo de Cooperação Técnica entre o Ibama e a Secretaria do Meio Ambiente,
dando início ao processo de transferência de atribuições e competências. Em fevereiro de 2010,
completaram dois anos do primeiro tratado e já está pronto o segundo aditivo, que dá continuidade ao
processo. Então, o Ibama transfere suas ações de controle e fiscalização da fauna silvestre para o
Estado de São Paulo. É um passo muito importante, já que se trata de uma experiência-piloto do
Ibama.
Para que tudo isso pudesse acontecer, era necessário que a Secretaria do Meio Ambiente tivesse
uma estrutura administrativa que pudesse lidar com a fauna. Na recente reforma administrativa,
dentro da CBRN (Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais), foi criada uma Diretoria de
Fauna, atualmente operando com oito técnicos concursados. Para Paulo Bressan, “se o Projeto
Fauna Silvestre terminasse aqui, ele já teria cumprido o seu papel de diagnosticar, propor e viabilizar,
dentro da Secretaria, esse espaço para a fauna.”
Paulo considera que “o que aconteceu no Projeto Fauna Silvestre foi um avanço gigantesco: São
Paulo é o primeiro estado que se organiza nesse sentido, é o primeiro em que o Ibama aposta suas
fichas. A partir do momento em que a preocupação com a fauna passa a existir na Secretaria, com
metas e objetivos concretos, as outras áreas da Secretaria começam a procurar a Fundação Parque
Zoológico para falar de fauna. Por exemplo, como é que vamos resolver os problemas da fauna que
sofre impacto da queima da cana e da coleta mecanizada, que diminui a poluição, mas continua
gerando um passivo na fauna, destruindo ninhos, fauna de solo etc. Essas questões começaram a vir
à tona. E o Grupo de Fauna passa a ser consultado para encaminhar tecnicamente licenciamentos,
autorizações, o que vinha sendo feito de maneira rotineira, mas com deficiência. Hoje, existe uma
Diretoria de Fauna, dentro da estrutura orgânica, com seu espaço, competência para análise,
licenciamento, fiscalização e autuação e que passa a trabalhar, também, com a fauna de cativeiro.”
Das metas estabelecidas no início do Projeto Fauna Silvestre, a maior parte foi ou está sendo
cumprida. Muito trabalho e trabalho de qualidade. Por exemplo, em relação ao levantamento da fauna
do Estado, diferentemente da lista anterior, foi montada uma Coordenadoria e, subordinada a ela,
coordenadores temáticos chefiaram pesquisadores dentro de cada área especializada. Isso significa
100 pesquisadores que receberam questionários-padrão com possibilidade de complementações.
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Subordinados a esses pesquisadores, alunos ou orientandos, que fazem parte de suas pesquisas, no
mínimo três orientandos para cada pesquisador. Então, estamos falando de 300 pessoas, da USP,
UNESP, UFESP e de fora de São Paulo. Todo esse processo foi coordenado pelo Zoológico.
Foi instituído, também, o Cadastro Estadual das Atividades que Utilizam Animais da Fauna Silvestre
Nativa ou Exótica (Cadfauna), seus produtos e subprodutos. E foi iniciada a construção do Cecfau
(Centro de Conservação da Fauna), que pretende proteger espécies ameaçadas de extinção.
Uma das metas não atingidas é a criação de dois Centros de Triagem de Animais Silvestres
(CETAS). Esse problema é crítico no mundo inteiro. É o local para receber animais silvestres do
resgate e apreensão, para fazer triagens desses animais e reintroduzi-los na natureza. O Ibama tem,
vários estados têm, mas estão sendo desativados porque deixam de ser um centro de triagem e
passam a ser depósito de bichos. A polícia apreende, leva para os CETAS, que têm biólogos,
veterinários, que vão resolver se vão manter ou soltar esse animal. Se a decisão for pela soltura, vai
ser preciso verificar se tecnicamente é possível fazê-lo. Avaliar, quarentenar esses animais e, depois,
resolver. Visando atender as metas do projeto, está em andamento um processamento contratual
estabelecendo os mecanismos para a administração e operacionalização do: a) Centro de
Recuperação de Animais Silvestres (CRAS) do Parque Ecológico do Tietê em Acordo de Parceria
com o DAEE; e b) do Centro de Pesquisas, Triagem e Reabilitação de Animais Selvagens (CPTRAS)
do Centro de Pesquisas e Capacitação em Meio Ambiente - CEPEMA- da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootécnica da USP. A operação destes dois centros de recepção e destinação da fauna
silvestre apreendida no Estado, visando garantir condições de reintrodução ao habitat natural.
Paulo explica os detalhes: “Se, por exemplo, o animal não é de São Paulo, mas é da Bahia, é preciso
entrar em contato com o Governo da Bahia. Não é tão simples. No Centro do Parque do Tietê é feita
a soltura programada; tem 10 ou 12 áreas de soltura, com técnicos que fazem acompanhamento.
Outro problema: animais criados em cativeiro não conseguem viver soltos. A Policia Ambiental
apreende 30 mil animais por ano, dos quais 95% são de cativeiro. É necessário um laudo do
veterinário, dizendo que aquele animal é incompatível com a vida livre, que não pode viver em
liberdade porque não se sabe onde viveu, com o que teve contato, e pode ter alguma doença e
prejudicar a fauna local. Exames? Seriam no mínimo cinco para cada animal, 30 mil vezes cinco, ou
seja, 150 mil exames. Isso exigiria uma estrutura gigante... Alguns animais são mantidos em cativeiro
porque são uma reserva genética. O problema é que existe uma questão cultural: brasileiros gostam
50
de ter um passarinho em casa. Esse é o desafio. Vamos cair fatalmente no assunto da educação
ambiental, o mais transversal dos atuais projetos da Secretaria.”
Na gestão anterior, do professor Goldemberg, foi criado o Programa de Proteção à Fauna Silvestre
do Estado de São Paulo (PPFS). Esse programa juntava o DPRN, a Fundação Florestal, o Instituto
Florestal, o Zoológico e a Polícia Ambiental. Todos os departamentos e instituições da Secretaria do
Meio Ambiente que tinham alguma ligação com fauna faziam parte do PPFS.
Quando o Programa de Proteção à Fauna se transformou no Projeto Ambiental Estratégico Fauna
Silvestre. “Agora”, conta Cláudia (Diretora do Centro de Fauna), “estamos divididos em três núcleos,
que eu acho que são importantíssimos, porque cada um deles vai trabalhar de uma maneira
específica. Um núcleo é o de Cativeiro, que diz respeito a todos os animais que vêm de Zoológicos,
de aquários, portanto, de cativeiros. O segundo núcleo é o de Manejo, que abrange aqueles animais
que eu chamo de fauna-problema: as capivaras que podem transmitir febre maculosa, os javalis que
estão sendo soltos no Estado de São Paulo e acabando com a agricultura, os caramujos africanos. O
outro núcleo é o de Destinação, que se refere à fauna apreendida pela Polícia Ambiental e envolve
centros de triagem e de recepção, além de soltura. Temos uma equipe de oito pessoas, oriundas de
concurso: são biólogos e veterinários. Eu acredito que ainda é pouca gente para atender o Estado
inteiro, mas ainda temos os centros regionais da CBRN, que é a Coordenadoria de Biodiversidade e
Recursos Naturais, à qual estamos ligados.”
Cláudia continua: “Não é a primeira vez que temos um secretário que reconhece a importância da
fauna silvestre, mas é a primeira vez que temos alguém que dá realmente forma a essa questão e
nos dá força para trabalhar. Até então, eram atitudes isoladas. O Secretário assinou uma resolução (a
Resolução SMA 25/2010) incluindo todas as nossas diretrizes, como funcionaremos. Está fechando,
também, um grande contrato do nosso Sistema Integrado de Gestão Ambiental (Sigam), para
cadastramento de todos os empreendedores interessados. A gente vai ter controle sobre eles, vai
marcar os animais, temos que saber de onde vêm tantos bichos. São Paulo é um grande centro
receptor e distribuidor de animais silvestres”. Assim que o Sisfauna, que é o sistema de informações
sobre fauna do Ibama, for integrado ao Sigam, vai ser possível manter esse controle. O Estado de
São Paulo já está pronto para receber tudo isso.
“Por enquanto”, explica ela, “estamos trabalhando bastante na questão dos autos de infração
ambiental. A Polícia Ambiental autua o pescador, o sujeito que está caçando, o infrator e nós fazemos
51
parte da Comissão de Segunda Instância, que analisa os recursos dos infratores. Estamos vendo
quais são as falhas e elaborando algumas normas sobre o que deve acontecer: se o animal vai ficar
ou não com o infrator. Queremos legalizar o fiel depositário, desde que ele pague uma taxa, marque o
animal e se comprometa a uma série de atitudes e responsabilidades perante o animal. As ONGs,
porém, entendem que não devemos deixar o animal com ninguém, porque assim a gente estaria
“esquentando” um bicho ilegal. Elas têm alguma razão, mas se um bicho habituado ao cativeiro for
solto, ele pode morrer de fome ou virar comida. A gente começou a ver que a fauna é um tema que
não pode ser tratado apenas racionalmente.”
Os questionamentos sobre a fauna silvestre são temas muito novos e a legislação é federal. Então, é
preciso conhecer bem a legislação federal e começar a regulamentar essas leis nas questões
estaduais. Existe certa confusão entre fauna silvestre, fauna doméstica e fauna exótica. Para Cláudia,
a fauna exótica seria de responsabilidade do Governo Federal, com o Ibama, a silvestre do Governo
Estadual e a doméstica, do Município.
Cláudia conta que vem fazendo reuniões com a equipe do Projeto Pesquisa Ambiental, para solicitar
pesquisas específicas para a fauna, que possam subsidiar suas políticas. Uma das pesquisas
necessárias é para ajudar a localizar áreas prioritárias, áreas em recuperação, que possam vir a ser
áreas de soltura para algumas espécies. Outra pesquisa é para dar subsídios para a fauna-problema,
como javalis e capivaras.
Outro ponto importante é o da educação ambiental. Cláudia está tentando evitar proibições: “não
tenha, não pode” para atuar mais na linha de “se você quer ter, tenha um bicho legalizado”. Existem
criadouros legalizados, que têm autorização, que marcam os animais. Quem quer mesmo ter um
bicho, deve comprar de um criadouro legalizado em lugar de ajudar o traficante que está retirando o
bicho da mata. É esse tipo de abordagem na educação ambiental. A abordagem da responsabilidade.
52
Projeto Gestão de Unidades de Conservação
José Amaral Wagner Neto
Entrevista: 21/12/2009
Os principais objetivos deste projeto são elaborar e aprovar planos de manejo das Unidades de
Conservação (parques, estações ecológicas e experimentais, reservas biológicas e florestas);
constituir os conselhos consultivos, trabalhando com o conceito de cogestão; regularizar os parques e
reforçar a fiscalização das áreas protegidas.
O Estado de São Paulo possui atualmente 251 Unidades de Conservação, sendo que 147 compõem
o Sistema Estadual de Florestas (Sieflor), compartilhado pela Fundação Florestal e pelo Instituto
Florestal. A Fundação Florestal é responsável por gerenciar 4,56 milhões de hectares de áreas
protegidas em 103 Unidades de Conservação, das quais 49 são de proteção integral. Ao ser criado, o
Projeto Gestão de Unidades de Conservação tinha pela frente uma tarefa gigantesca.
A primeira meta era elaborar os planos de manejo dos parques, das Unidades de Proteção Integral.
Havia parques com mais de 50 anos que não tinham plano de manejo. Existiam só cinco planos de
manejo e foi feito um grande trabalho na realização desses planos, que são estudos complexos,
demorados, que levam normalmente um ano, um ano e meio para serem feitos. Já foram entregues,
além dos cinco já finalizados, 23 e outros 19 estão em elaboração ou com recursos destinados, e
devem ser concluídos entre 2011 e 2012.
A outra questão que surgiu foi a necessidade de romper um paradigma antigo, de que os parques
eram ilhas, o que impedia que cumprissem seus objetivos integrais, de educação ambiental,
pesquisa, visitação pública e de serem desfrutados pela sociedade. Essa nova filosofia levou a um
grande projeto de Ecoturismo (que é outro Projeto Estratégico) nos parques, associado a melhorias
na gestão dos mesmos e à implantação dos Conselhos Consultivos dos Parques. A melhor maneira
de se proteger os parques é obter o reconhecimento de sua importância ambiental, científica e
educacional por parte da sociedade.
A Lei Federal nº 9985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC),
determina que os parques devam ter conselhos e São Paulo tinha apenas 17 conselhos constituídos
53
formalmente. Eles podem ter de 24 a 48 membros, dos quais 50% integrantes do setor público e a
outra metade de representantes da sociedade civil. Até 2010, foram constituídos 65 conselhos e isso
causou uma revolução na gestão dos parques: é a sociedade participando, cobrando, exigindo,
discutindo e sugerindo novas formas de trabalhar essas áreas protegidas. E isso é fundamental para
proteção da biodiversidade dos parques, estações ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental (APAs),
porque a tarefa de proteger tudo isso apenas com mecanismos de controle e fiscalização mostrou-se
insuficiente. É importante ter guardas nos parques, ter vigilância, fiscalização, mas é fundamental a
adesão da sociedade e a principal ferramenta para isso são os conselhos. Além disso, foram
implementados vários mecanismos indicadores de eficiência da gestão, que são revisados
periodicamente e estão revelando um resultado bastante satisfatório.
Para Wagner Neto (Gerente do Projeto e Diretor da Fundação Florestal), “a grande dificuldade foi
exatamente romper os obstáculos de gestão, que vinham da cultura anterior, uma cultura
extremamente voltada para dentro, e nós queremos que ela se volte para fora. Isso, obviamente,
significou um enorme esforço de revisão de processos, elaboração de novos procedimentos, um
grande empenho normativo e de capacitação, mudança de gestores, contratação de novos gestores.
Contratamos 26 novos gestores para os parques. E tudo foi feito em um período de transferência da
administração do Instituto Florestal para a Fundação Florestal.”
A Fundação, pela sua especificidade jurídica, tem agilidade maior do ponto de vista de execução
orçamentária, tem independência jurídica, uma consultoria jurídica própria, o seu Diretor Executivo
pode assinar convênios com as prefeituras, o que antes só poderia ser feito com a assinatura do
Governador. Então, nesse período, foram estabelecidas várias parcerias com prefeituras municipais e
entidades da sociedade civil que participam dessa nova fase. A próxima etapa é avançar na cogestão
dos parques. Já estão sendo feitas algumas experiências desse tipo.
Xico Graziano teve a ideia de criar três grandes áreas de proteção ambiental no litoral paulista,
englobando mais de um milhão de hectares. É a maior área protegida do Hemisfério Sul. Essa
questão está vinculada à da Serra do Mar e talvez seja um dos maiores feitos do atual Governo:
voltar o olhar para o mar. Foram adquiridos novos barcos de policiamento e está sendo elaborado um
convênio com a Marinha. A questão do mar é importantíssima e São Paulo está assumindo uma
posição de liderança em relação a isso. Ter áreas de proteção ambiental marinhas também significa
passar a ter muito mais informações.
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José Pedro Oliveira Costa, ex-secretário do meio ambiente e atual Subgerente do Projeto Serra do
Mar, considera que a ação mais importante do atual governo foi a criação dessas Áreas de Proteção
Ambiental Marinhas. Não só tê-las feito, mas também ter propiciado condições para cuidar da
questão marinha. Apesar de o mar de nosso litoral ser paulista, pelas condicionantes constitucionais,
a gestão desse mar é do Governo Federal. E acontece de tudo: pesca predatória, uso indevido etc.
Quando essas áreas de proteção foram decretadas, o Governo de São Paulo confirmou a sua
importância, definiu sua responsabilidade, demarcou onde vai atuar. E isso foi feito em sintonia com a
Marinha e as instituições federais. Foi um acordo, uma negociação. Mas, não foi fácil porque os
donos de iates insuflaram a população tradicional contra, houve passeatas, manifestações e muita
negociação, que foi árdua. Não está tudo feito, mas a questão foi colocada em um novo patamar. O
Governo de São Paulo afirmou: o mar de São Paulo é de responsabilidade do Estado. Então, hoje já
há conselhos gestores, com a participação de pescadores, que entendem que essas APAs são deles;
a Secretaria está prestigiando a pesca artesanal e combatendo a pesca predatória.
Indagado sobre as APAs Marinhas, Wagner Neto explica: “elas foram estabelecidas na nossa gestão
e são um avanço, uma experiência ímpar no país. Para você ter uma ideia, o Brasil tem apenas 4%
do território marinho preservado e o Estado de São Paulo tem 52%. Foi um processo que teve uma
reação contrária muito grande, no início. Foi preciso fazer um enorme esforço de diálogo com os
usuários do mar, o setor de pesca, o turismo náutico, as marinas, a pesca esportiva. E conseguimos,
dentro dessa nova visão da gestão das Unidades de Conservação. Em 60 dias, as APAs estavam
com os conselhos constituídos e esses conselhos hoje funcionam exemplarmente, com uma média
de participação, nas três APAs, de 40 a 50 pessoas por reunião. Eu diria que são os conselhos que
mais funcionam no sistema e nós estamos conseguindo avançar muito nas discussões com os
pescadores tradicionais, com a indústria da pesca.”
Todos os setores envolvidos participam. Existiam conflitos latentes nessa área marinha e não havia
nenhum fórum onde problemas importantes pudessem ser discutidos e soluções consentidas. O
Projeto Gestão das Unidades de Conservação está proporcionando isso, conduzido pelos gestores
nas três APAs. É um caso de sucesso.
Outros casos de sucesso são a criação das Unidades de Proteção Integral na Cantareira e no Litoral
Paulista. Os Parques Estaduais Itaberaba e Itapetinga, bem como o Monumento Natural da Pedra
55
Grande9 foram criados em março de 2010. Este processo definiu um marco na política ambiental de
São Paulo, pois adotou, em conjunto com o Instituto Florestal, um modelo inovador, que pela primeira
vez decretou a Limitação Administrativa Provisória (LAP) das áreas a serem protegidas, por um
período de sete meses, para melhor conhecimento da área e aperfeiçoamento da proposta, incluindo
a realização de Consulta Pública em quatro dos sete municípios envolvidos. Estas UCs abrangem
sete municípios da Região Metropolitana de São Paulo, em área estratégica para a preservação dos
recursos hídricos e para a conectividade com as Serras da Cantareira e Mantiqueira. . O Contínuo da
Cantareira foi instituído pelo Decreto nº 55.662/2010, criando os Parques Estaduais de Itaberaba e
Itapetinga, a Floresta Estadual de Guarulhos e o Monumento Estadual da Pedra Grande.
Já em Bertioga, a Fundação Florestal, o WWF-Brasil e o Instituto Florestal definiram um polígono de
oito mil hectares de restinga, incluindo 7 km de praias e costões rochosos, para criação de um
mosaico que será constituído por um Parque Estadual, parte da APA Marinha Litoral Centro, e
RPPNs, que estão sendo propostas. O Parque Estadual da Bertioga foi constituído pelo Decreto
Estadual nº 56.500/2010, numa área total de 9.312 ha.
Em 2010 outras ações de destaque são: a primeira é a recuperação socioambiental da Serra do Mar,
do Mosaico da Jureia e das APAs Marinhas, que envolvem 14 Unidades de Conservação, com
financiamento do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. Isso é do âmbito do Projeto Serra
do Mar, mas tem interface com as Unidades de Conservação. “É um projeto gigantesco”, explica
Wagner Neto, “no ano que vem vão ser aplicados nele 41 milhões de reais. É um projeto de 162
milhões de dólares, só a parte financiada pelo BID. E tem uma quantidade de ações, obras,
melhoraria da infraestrutura, capacitação da Policia Ambiental para atuar nas áreas marinhas e
terrestres dessas 14 Unidades de Conservação.”. Este contrato com o BID foi assinado em 08 de
dezembro de 2010.
Houve um problema sério com o Ibama e o Ministério Público por falta dos planos de manejo dos
parques e das cavernas, que já eram visitadas há 30, 40 anos. Wagner Neto conta: “Resolvemos
enfrentar o problema para solucionar e hoje estamos concluindo. Em março de 2010, foram
entregues 32 planos de manejo espeleológico. Nunca houve nada igual no Brasil. Fizemos um
contrato envolvendo todos os segmentos de espeleologia do Estado e concluímos 32 planos de
manejo das cavernas, o que vai permitir, primeiro, uma diretriz muito mais científica na conservação
das cavernas e, também, uma normatização mais fundamentada do uso dessas cavernas, além dos
9 Área total de 28.601,74 hectares.
56
programas de pesquisa e educação ambiental. Levamos muito em conta a importância
socioeconômica que essas cavernas têm para as regiões. Há uma predominância de cavernas na
parte mais pobre do Vale do Ribeira. Lá elas têm uma importância econômica muito grande e o
turismo passa a ser extremamente importante para a sobrevivência da população dessas regiões.”
Até 2006, o Ibama havia reconhecido 34 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs)10. Até
o final de 2010 a Fundação Florestal reconheceu mais 17 RPPNs. Novamente, o objetivo é de que a
sociedade participe cada vez mais da preservação dos recursos ambientais. O patrimônio natural do
Estado pertence ao cidadão e às gerações futuras. O foco deste projeto tem sido proteção ambiental,
fiscalização aliada à capacitação, sustentabilidade, educação ambiental e, principalmente,
comprometimento da sociedade. A gestão de recursos naturais é também parte do Projeto Serra do
Mar, dos Projetos Onda Limpa, Mata Ciliar, Município Verde. Interface múltipla que acontece em
tantos outros projetos.
Numa reunião com mais de 30 entidades ambientais chamadas para um encontro com o então futuro
Secretário do Meio Ambiente, Xico Graziano, ainda em 2006, um dos pedidos mais enfáticos foi para
que o Secretário prometesse “tirar os parques do papel”. É que, geralmente, o governo cria áreas,
parques, reservas, e depois não faz nada. É só papel. Não faz fiscalização, não cria conselhos, não
tem planos diretores. Uma terrível lacuna. Hoje, pode-se garantir que os parques saíram do papel.
Promessa cumprida.
10 Prevista na Lei Federal nº 9.985/2000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é uma categoria de unidade de conservação privada, com objetivo de conservar a diversidade biológica, na qual podem ser desenvolvidas atividades de ecoturismo, educação ambiental e pesquisa científica. A iniciativa para criação da RPPN é ato voluntário do proprietário e não acarreta perda do direito de propriedade.
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Licenciamento Unificado
Fernando Rei
Entrevista 19/11/2009
Antonio Luiz Lima de Queiroz
Entrevista 28/04/2010
O próprio nome define a proposta deste projeto: unificar o licenciamento ambiental,
desburocratizando o trabalho; atuar com rigor, agilidade e transparência; e capacitar os municípios
para virem a assumir o licenciamento de empreendimentos de impacto local. Poderia, portanto, ser
resumido em duas palavras: desburocratização e descentralização.
Trata-se, porém, de um objetivo cuja realização é extremamente complexa. Talvez seja o mais difícil
em termos operacionais dos 21 Projetos Estratégicos. O processo fundiu em um único órgão a
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), o Departamento Estadual de
Proteção de Recursos Naturais (DEPRN), o Departamento de Uso do Solo Metropolitano (DUSM) e o
Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental (DAIA), além da reformulação e criação da nova
Cetesb, que passou a ser chamada de Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.
Dos quatro órgãos que faziam o licenciamento, três eram da então Coordenadoria de Licenciamento
Ambiental e Proteção dos Recursos Naturais (CPRN) e o quarto era a Cetesb. Então, ainda na
CBRN, os órgãos que faziam o licenciamento, mas não só, tiveram suas atribuições desmembradas.
O DEPRN, que era o órgão responsável pela parte florestal, permaneceu na coordenadoria mais um
ano com a função de licenciar, preparando-se para a fusão com a Cetesb. Então, a CBRN ficou com
cinco departamentos por um ano, dois dos quais iriam para a CETESB e os demais para
cumprimento de suas atribuições. E sofreu também uma ampla reestruturação, assumindo, inclusive,
novas atribuições, como o Centro da Fauna, a madeira e a reposição florestal.
O então Governador José Serra, quando se elegeu, já sabia que deveria unificar o licenciamento. Ele
tinha muito claro que o Estado deveria ter apenas um órgão licenciador e era muito desejável que a
licença ambiental no Estado de São Paulo estivesse integrada com a outorga de água. Esse seria o
melhor modelo, o modelo acabado.
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E a primeira decisão era definir para onde iria o licenciamento ambiental. Para a Cetesb ou para a
Secretaria do Meio Ambiente? E aí foi uma decisão do então Secretário Xico Graziano. Havia
resistência dentro do Governo de que o licenciamento ambiental ficasse em uma empresa pública
como a Cetesb. Algumas áreas do Governo entendiam que o licenciamento ambiental deveria ficar na
Administração Direta. O processo de licenciamento passar para a Cetesb envolveu a elaboração de
um projeto bastante complexo, porque não se tratava apenas de transformar quatro departamentos
em um único. Exigiu mudanças de legislação, de procedimentos e a dificuldade mais sutil, mas
certamente não a menor delas, de convencer quatro culturas diferentes a se integrarem para construir
uma nova cultura.
Para Fernando Rei, Presidente da Cetesb e Gerente do Projeto Licenciamento Unificado, de tudo
aquilo que aconteceu nessa gestão, o trabalho da Cetesb foi o mais complexo. Era preciso trazer as
pessoas para um trabalho comum. Gestão de motivação. Gestão de compromisso.
Não foi fácil, porque a cultura da empresa tinha sido sedimentada ao longo de 40 anos. Então, foi
necessário promover a mudança e, ao mesmo tempo, abrir um espaço para concessões, para
receber o diferente. Ainda que não seja um processo tranquilo, que continue apresentando suas
arestas, suas tensões, na forma como ele é conduzido, é um processo pacífico, quer dizer, as
pessoas concordam que é a melhor solução. Porque, agora, embora não tenham sido dadas as
condições ideais, foram dadas as condições necessárias para que o processo pudesse ser concluído.
O Projeto Licenciamento Unificado trabalha nessa mudança, descentralizando equipes, alterando
estruturas funcionais, desburocratizando processos, ampliando, treinando e capacitando seus
quadros. Com nova estruturação e melhor distribuição no território paulista, graças à instalação de 56
agências ambientais unificadas descentralizadas. Diversos municípios já participam do licenciamento
descentralizado: Araraquara, Atibaia, Bertioga, Campinas, Colina, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Lins,
Lorena, Martinópolis, Porto Feliz, Presidente Bernardes, Ribeirão Pires, Ribeirão Preto, Rio Claro,
Santo André, São Carlos, São Vicente, Sertãozinho, Tatuí e Valinhos e 17 municípios assinaram
convênio e iniciam o licenciamento em fevereiro de 2011, Americana, Barretos, Cajamar,
Caraguatatuba, Descalvado, Franca, Hortolândia, Igaratá, Indaiatuba, Itatiba, Mogi das Cruzes, Mogi
Mirim, Monte Mor, Olímpia, Osvaldo Cruz, Piracicaba e São Bernardo do Campo. A descentralização
começa a caminhar. A meta é: licenciamento unificado e descentralizado. Mais ágil e mais próximo
dos problemas e das peculiaridades de cada região.
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Para Fernando, “isso também não vai terminar aqui, porque realizamos a primeira parte dos desejos
do Governador, que é o licenciamento ambiental unificado, quer dizer, hoje temos um único órgão
licenciador. Falta trazer a outorga da água que, provavelmente, deve vir para o sistema, mas não
para a Cetesb. Deve ficar atrelada à Secretaria do Meio Ambiente e só então o processo estará
concluído. Não sei se teremos tempo na atual gestão. Vai ser um desafio para os que nos
sucederem.”
Claro que essas alterações no licenciamento ambiental envolveram modificações na própria
metodologia, mais ainda, na ótica do licenciamento, que passou a analisar os impactos dos
empreendimentos no meio ambiente de uma forma global e menos imediatista, não mais como
simples agentes de poluição. Até o final do ano de 2010, o sistema informatizado, que permite ao
empreendedor consultar o andamento de seu processo ambiental, será finalizado e implantado. Mais
transparência no licenciamento.
Antonio Luiz Lima de Queiroz foi um dos responsáveis pelo setor de fiscalização da Secretaria e
participou do processo de unificação do licenciamento ambiental do Estado. Hoje, atua na Diretoria
de Licenciamento e Gestão Ambiental da Cetesb. Para ele, unificar o licenciamento ambiental sempre
foi um desejo de todos os que trabalham no sistema ambiental. É claro que avaliar o impacto de uma
atividade ou empreendimento envolve a análise de todos os problemas que vão afetar o meio
ambiente. Antes da unificação do licenciamento, diversos órgãos avaliavam, de forma setorizada, os
impactos no meio ambiente da implantação de uma obra ou empreendimento. Entretanto, o meio
ambiente é único, não é possível dividi-lo e avaliá-lo de forma fragmentada. Qualquer estudo para a
implantação de um novo empreendimento deve considerar todo o conjunto de intervenções de forma
integrada. A unificação do licenciamento, para os técnicos empenhados na proteção do meio
ambiente, foi um avanço para tornar mais efetiva a aplicação das leis de proteção ambiental.
Queiroz conta: “Os resultados foram imediatos. As análises dos processos que envolviam apenas a
atividade industrial, anteriormente da competência da antiga Cetesb, passam hoje pelo crivo das
exigências da legislação florestal, anteriormente avaliada apenas pelo DEPRN. Por outro lado,
processos de licenciamento que envolvam corte de vegetação nativa, passam a ser analisados
também como potencial fonte de poluição. O licenciamento ambiental é, agora, um processo
integrado, no qual todos os aspectos que afetam o meio ambiente são avaliados de forma conjunta.”
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Projeto Lixo Mínimo
Aruntho Savastano Neto
Entrevista: 10/11/2009
Aruntho Savastano Neto é engenheiro, funcionário da Cetesb e Gerente do setor de Apoio a
Programas Especiais. São programas dentro da Diretoria de Licenciamento e Gestão Ambiental que
têm vínculo com a legislação, com as atividades da Diretoria e têm começo, meio e fim. Os
programas de fiscalização em postos de gasolina e áreas contaminadas estão planejados para
terminar em um primeiro estágio e depois entrar na rotina de licenciamento junto às agências. A
questão do controle dos aterros, que é parte do Projeto Estratégico Lixo Mínimo, também. Até que se
estabeleça uma rotina que se inicia quando esses aterros deixam de ser classificados como não
adequados e passam a ser considerados adequados. A normatização de ações, instruções, técnicas
de procedimentos e licenciamentos é, também, responsabilidade desse setor.
Aruntho é Gerente do Projeto Estratégico Lixo Mínimo, que tem como principal ação promover a
redução dos resíduos sólidos urbanos ao mínimo, por meio de apoio técnico e financeiro aos
municípios, para estimular a adoção de práticas ambientalmente corretas de reutilização, reciclagem,
redução e recuperação de energia e a destinação adequada dos rejeitos. Reduzir a geração de lixo
para reduzir, também, a necessidade de criação de novos aterros sanitários.
O Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares mostra, ano a ano, a situação dos municípios
em um mapa do Estado. Esse inventário serviu para que o Estado, a Secretaria e a Cetesb
desenvolvessem programas e políticas públicas para enfrentar o problema. E essas políticas foram,
de fato, adotadas e implantadas. Entretanto, o que se percebia até 2006 era que, apesar de todos os
esforços, dos programas e recursos aplicados, o número de municípios inadequados continuava
estagnado na faixa dos 130, 140 municípios. Não baixava desse patamar.
Foi quando a Secretaria criou o Projeto Lixo Mínimo, com uma série de metas, formas de
acompanhamento e controle. Aruntho é o terceiro Gerente, embora participe do projeto desde o seu
início. Para ele, a principal ação do projeto é trazer para um nível admissível a operação desses
aterros. Está terminada a primeira década do século XXI e a ainda existem municípios lançando lixo
diretamente no meio ambiente como no século XII. Um verdadeiro absurdo. E a meta é essa: chegar
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ao final de 2010 com o todo o mapa dos aterros do Estado pintado de amarelo (controlados) ou de
verde (adequados) e eliminar os vermelhos (inadequados). Para isso, vem sendo realizada uma ação
rigorosa junto aos “municípios vermelhos”, multando e interditando os locais inadequados. E,
paralelamente a essa ação coercitiva, punitiva, há uma ação de apoio, que envolve educação
ambiental, cursos e apoio técnico, além de fornecimento de recursos para projetos, aquisição de
equipamentos de operação de aterros: uma conjugação de várias ferramentas, para apoio efetivo a
esses municípios.
Aruntho explica: “Para você ter uma ideia, entre o final de 2007 e o final de 2009, já percorremos todo
o Estado de São Paulo, falando com cada um dos representantes dos municípios do Estado,
orientando com relação às questões técnicas da operação dos aterros. Em alguns municípios de
áreas criticas, fomos duas vezes falar a mesma coisa e continuamos ainda atendendo. Estamos à
disposição deles. Acho que essa é a principal atividade do Projeto Lixo Mínimo. Em segundo lugar,
estão as ações de educação ambiental. Pela Coordenadoria de Educação Ambiental, reeditamos três
publicações importantes voltadas à coleta seletiva, à orientação da criança em idade escolar e para
as prefeituras sobre como fazer o gerenciamento de resíduos sólidos.”
Essas são as principais metas. Há outras ações como estudos e desenvolvimento de projetos para
fornecer aos municípios informações e estratégias regionais de disposição de resíduos. Foram
escolhidas algumas regiões do Estado, que, do ponto de vista do planejamento ambiental,
necessitavam de uma solução regional. Esses estudos estão a cargo da Coordenadoria de
Planejamento Ambiental. Há um estudo já pronto para os municípios de Poá, Suzano e Ferraz de
Vasconcelos. E existem outros estudos em desenvolvimento para a área do Vale do Ribeira e do
Litoral Sul, e outras regiões do Estado.
Outro objetivo é o aperfeiçoamento do Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos (IQR), que é o
índice de avaliação dos aterros, atualmente focado apenas no local de disposição dos resíduos. Uma
proposta do Projeto Lixo Mínimo, em fase de aplicação em caráter experimental, é desenvolver um
Índice de Gestão de Resíduo (IGR) para avaliar toda a gestão de resíduos dentro do território do
município, desde a coleta, a política de coleta seletiva, o gerenciamento de resíduos na construção
civil, o gerenciamento de resíduos reaproveitáveis, incluindo também a disposição.
Para Aruntho, a maior dificuldade é o enfrentamento dessas questões com os municípios. Há alguns
municípios que ainda imaginam tratar essa questão, não no plano técnico, mas no plano político,
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acreditando que conseguiriam manter sua situação de inadequação com alguma pressão política.
“Por isso”, comenta, “o apoio do Secretário foi muito importante, porque sempre que apresentamos
uma situação de inadequação e a necessidade de interditar determinada área, em função dessas
questões, ele deu apoio incondicional e, com isso, conseguimos aplicar as sanções e reverter esses
quadros.”
O monitoramento dos municípios que estão em situação-limite entre o inadequado e o controlável é
muito delicado. Qualquer descuido transforma o local controlado em inadequado: basta uma semana
de negligência. É uma situação que requer cuidado, vigilância e atenção permanentes. E esse
controle só é possível graças à participação dos técnicos das agências da Cetesb, das unidades
descentralizadas, que acompanham isso pari passu, para orientar os municípios e, quando
necessário, aplicar as sanções legais previstas. Uma forma de não andar para trás, não perder aquilo
que já foi conquistado.
Outro problema são as regiões metropolitanas, que não têm mais espaço para implantar aterros
sanitários para grandes volumes de lixo, como São Paulo, Santos e Campinas. Então, para essas
regiões que já estão saturadas, é necessário buscar tecnologias mais avançadas, soluções mais
modernas. Por isso, a Secretaria e a Cetesb firmaram um termo de cooperação técnica com o
governo do Estado Livre da Baviera, que é o Estado mais desenvolvido da Alemanha na questão do
lixo. Há soluções que hoje são aplicadas na Alemanha, adotadas em bloco, como diretrizes da
Comunidade Europeia, com datas determinadas para entrar em operação em todo o território
europeu. Trata-se de uma tecnologia de recuperação de energia, a queima do lixo com recuperação
da energia contida no lixo. É o que existe hoje de mais avançado, mais moderno, limpo e seguro em
matéria de tratamento de resíduos.
“A Secretaria e a Cetesb”, explica Aruntho, “também deram um passo à frente, com a edição recente
de uma resolução do Secretário, que reúne todo o regramento necessário para o licenciamento de
uma unidade de incineração e recuperação de energia. Não temos hoje espaço para crises com
relação ao licenciamento de um empreendimento desse tipo. Tudo o que precisa ser atendido para o
licenciamento está delineado, relacionado, organizado, dentro das regras da resolução recentemente
assinada, que já está à disposição do público interessado em geral. É a Resolução nº 79/2009. Ela
estabelece as diretrizes para o licenciamento das atividades de tratamento térmico de resíduos e
usinas de recuperação de energia. Foi um passo importante porque, cada vez que se falava em um
empreendimento desse tipo, surgiam dúvidas sobre o licenciamento, os parâmetros etc. Tudo isso já
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constava da nossa legislação, disperso em vários diplomas legais, leis, decretos, resoluções etc.
Essa resolução teve o mérito de reunir tudo e ensinar ‘o caminho das pedras’.”
O Projeto Lixo Mínimo é um bom exemplo do funcionamento do desenho matricial dos Projetos
Estratégicos. Se uma das principais vantagens da gestão por projetos consiste em focar
determinados problemas, habitualmente objetos de uma atenção diluída e concentrar esforços para a
sua solução, a partir do estabelecimento de objetivos, metas, monitoramento e controle. Este projeto
está praticamente atingindo um de seus objetivos mais ambiciosos: zerar o número de lixões a céu
aberto, no Estado de São Paulo. E tudo indica que vai conseguir. A última avaliação da Cetesb
apontou uma melhoria de 95%. Enquanto no início de 2007, eram 143 lixões, até julho de 2010 eles
foram reduzidos a quatro.
Por outro lado, sua interligação com outros Projetos Estratégicos é clara, principalmente com o
Município Verde Azul. Tal interligação é um dos itens de pontuação dos municípios estabelecido pela
Secretaria. Fica evidente, também, a interação com outras coordenadorias, como as de Educação
Ambiental e de Planejamento. E de como são importantes os mecanismos de controle, punição e,
principalmente, de treinamento e apoio no enfrentamento de problemas ambientais.
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Projeto Mananciais: Guarapiranga, Billings e Cantareira Fernanda Bandeira de Mello
Entrevista: 11/12/2009
Os objetivos deste projeto assentam-se no tripé: proteção e recuperação das bacias hidrográficas de
Guarapiranga, Billings e Cantareira; programas de educação ambiental para conscientização da
comunidade e fiscalização.
Uma das metas do projeto é a regulamentação do uso e ocupação do solo nas regiões dos
mananciais, que implica na elaboração e encaminhamento para aprovação de leis específicas. A lei
que regulamenta a Área de Proteção do Manancial da Guarapiranga foi sancionada em 2006, mas o
decreto regulamentando essa lei já foi trabalhado no âmbito do Projeto Mananciais. E foi necessário
ser aprovado em várias instâncias: depois dos trâmites internos, da necessidade de harmonizar
“dentro da casa”, foi preciso fazer o mesmo com as prefeituras envolvidas e outros órgãos do Estado
e também com a sociedade civil. Foi preciso apresentar ainda ao comitê da respectiva bacia
hidrográfica, passar pelo Conselho do Meio Ambiente (Consema), pelo Conselho de Recursos
Hídricos (CRH), pela Consultoria Jurídica e chegar, finalmente, ao Governador. São muitos trâmites,
muitas consultas, muitas opiniões. Mas, sem a elaboração desses marcos regulatórios, é impossível
qualquer ação.
O Projeto Mananciais tem uma interface complexa, dentro e fora da Secretaria. Esse é o grande
desafio. As ramificações entre os projetos e os órgãos da Secretaria do Meio Ambiente são
extremamente importantes e todos os atores têm que se apropriar disso. É uma cumplicidade mais
que desejável. É necessária.
A capilaridade entre os projetos é muito bem exemplificada pelo que aconteceu em dezembro de
2009: a inauguração de um núcleo de atendimento à população sobre leis específicas da Billings e da
Guarapiranga, no Poupatempo de São Bernardo do Campo e na Estação da CPTM no Grajaú,
envolvendo o Projeto Mananciais, a CBRN (Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais) e
a Cetesb. Nesses locais, os moradores das regiões da Billings e da Guarapiranga tiram dúvidas sobre
o processo de regularização de lotes, terrenos ou construções nas regiões dos mananciais.
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Para Fernanda Bandeira de Mello, então gerente do projeto, “a elaboração de uma lei é
evidentemente mais complexa do que a de decretos e o espectro de discussão é muito mais amplo. A
legislação sobre a Billings foi feita por nós desde o início e nela aproveitamos a experiência da
Guarapiranga e procuramos corrigir os problemas.”
A Lei Específica da Billings foi regulamentada no dia 13 de janeiro de 2010. 11 “A regulamentação da
Lei Específica da Billings é um marco, pois permite o começo do nosso trabalho”, afirmou o então
governador José Serra, quando assinou, em janeiro de 2010, o decreto que regulamenta a Lei da
Billings, que torna possível a regularização de imóveis ao mesmo tempo em que recupera
ambientalmente a área. Ao menos 100 mil proprietários de imóveis na região, que inclui seis
municípios, finalmente poderão ser, a partir de agora, donos de suas casas, com toda a
documentação em ordem. A lei também contribui para preservar o abastecimento público de água
para 1,8 milhão de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Com a Lei da Billings e o
decreto que a regulamenta, torna-se possível a aplicação dos recursos existentes para saneamento e
habitação popular. Sem essa legislação, a Área de Proteção e Recuperação do Manancial Billings –
APRM-B – não poderia se beneficiar desses investimentos das três esferas do poder público.
“Investimentos de R$1,6 bilhão de reais na Billings e Guarapiranga precisavam de uma lei para ser
possíveis”, explica Serra.
O Projeto Estratégico Mananciais trata apenas da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, que ocupa a
região metropolitana. O Alto Tietê é extremamente complexo e exige atenção especial. Para outras
bacias, é necessário analisar qual é o regramento específico necessário.
Pedro Ubiratan Escorel de Azevedo, Secretário Adjunto do Meio Ambiente, explica: “Justamente por
conta da questão da água, essa administração tirou vários esqueletos do armário. Existe uma
legislação de 1997, segundo a qual cada bacia deve ter uma legislação específica. Nessa gestão, foi
feita a regulamentação da Guarapiranga, fizemos a lei e o regulamento da Billings e foi enviado o
projeto de lei Juquehy-Cantareira que é o da Cantareira, esse mais ao norte. E ainda falta a lei
específica da região de Mogi, Salesópolis, Itaquaquecetuba, que é também um sistema produtor de
água.”.
Definir regras do jogo para área de manancial é importante porque atinge um universo extremamente
11 13/01/2010. Lei Específica da Billings é regulamentada. Governador assinou decreto que ajudará a garantir a proteção da área em torno da represa, responsável pelo abastecimento de 1,8 milhões de pessoas. Publicado no site da Secretaria do Meio Ambiente.
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amplo. Fala-se em um milhão e meio de pessoas vivendo em áreas inadequadas para isso e mais
quatro milhões de pessoas que bebem as águas desses lugares.
Algumas atividades foram negociadas com a Secretaria de Saneamento e Energia, transferindo a
participação da Secretaria do Meio Ambiente para o monitoramento da qualidade da água, numa
parceria Cetesb/Sabesp. Importante: tanto a Secretaria do Meio Ambiente como a Secretaria de
Saneamento e Energia identificam que o maior desafio do Projeto Mananciais é o monitoramento,
que integra interesses das duas Secretarias. Esboça-se atualmente uma divisão de trabalho entre
estas duas Pastas: A Secretaria do Meio Ambiente planeja e a Secretaria de Saneamento e Energia
executa.
Fernanda considera que o monitoramento “é a ferramenta que vai mostrar se estamos no caminho
certo, o que é preciso fazer e se vamos chegar lá, se vamos atingir nossos objetivos. Assim, o
sistema de monitoramento é vital. É ele que vai efetivamente dar conta do que ocorre.”
Muitas vezes, há pressão para desocupação de uma área. A desocupação pode ocorrer e a
população pode ser deslocada de um ponto para outro. Mas, é preciso monitorar e verificar se houve
algum ganho, se a população deixou um local que estava minimamente urbanizado, com esgotos etc.
e foi para uma área onde ainda não existe nenhuma infraestrutura. É preciso, enfim, acompanhar o
que acontece com essa população.
São determinadas metas de redução de carga poluidora. Na definição de carga-meta de fósforo no
Reservatório Billings, as metas estabelecidas na minuta de lei são bastante ambiciosas: preconizam
reduzir em 50%, até 2015, o aporte das cargas de fósforo avaliado no ano de 2000, mesmo com o
crescimento da população. O investimento necessário para atingir esse objetivo é compatível com o
que está previsto nos diversos programas em andamento.
Fernanda se pergunta: “Chegaremos lá ou não? Como medir a melhoria?” A Cetesb está
desenvolvendo um sistema de monitoramento, dentro do Projeto Estratégico Mananciais. O projeto
funcionou um pouco como um elemento provocador. Aliás, esses 21 Projetos Estratégicos têm sido
importantes nas questões de foco, reordenamento, interação entre Secretarias e integração entre os
projetos e órgãos da própria Secretaria do Meio Ambiente.
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Projeto Mata Ciliar
Helena Carrascosa
Entrevista: 03/12/2009
O Projeto Mata Ciliar tem um objetivo muito bem definido: ampliar a cobertura vegetal do Estado de
São Paulo, estabelecendo parcerias com a Secretaria da Agricultura e Abastecimento, a Secretaria
de Saneamento e Energia, sindicatos e cooperativas rurais e, também, com os municípios. As metas
quantitativas estabelecidas são claras: delimitar e demarcar 1,7 milhão de hectares de matas ciliares,
interditar e proteger um milhão de hectares para regeneração natural e replantar e reflorestar 180 mil
hectares. Mais complexas, mas não menos importantes, são as formas de atingir esse objetivo
principal: fomentar a recuperação e proteção das principais nascentes em cada município; executar o
contrato de financiamento com o Banco Mundial; normatizar critérios e métodos para recuperação
das matas ciliares e implementar programa de gestão de produção de sementes e mudas.
Tempos atrás, o professor José Goldemberg, então Secretário do Meio Ambiente, pediu a Helena
Carrascosa, Gerente do Projeto e Coordenadora de Biodiversidade e Recursos Naturais, uma
proposta sobre mata ciliar. Ela contatou universidades, o setor produtivo, para tentar obter recursos
para tocar algum projeto. E não havia dinheiro, orçamento, nada. Porém, nessas andanças, ela e sua
equipe descobriram que havia a possibilidade de tentar os recursos do Global Environment Facility
(GEF), o Fundo Global do Meio Ambiente, com algumas ações necessárias. E, na época, verificaram
muitas coisas, mas só parte delas se encaixava nos objetivos do GEF, que pretendia ações que
trouxessem algum benefício global. Naquele momento, perceberam que não havia condições de tocar
um grande projeto de recuperação de matas ciliares, por isso reduziu as expectativas e propôs um
programa preparatório para um grande programa posterior. Então, começaram a identificar os
“gargalos” para trabalhar neles e poder dizer: “agora sim vamos para um grande programa, porque os
instrumentos já estão viabilizados”. Quais eram os “gargalos”? Metodologia de restauração, custo de
restauração e monitoramento. Não havia nenhum instrumento de incentivo, só de comando e
controle, e era inviável do ponto de vista econômico. No início trabalhavam de maneira matricial,
envolvendo outros órgãos da Secretaria. E foram identificando os “gargalos” para poder propor ao
Governo um programa de recuperação de matas ciliares.
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Antes de concluir esse trabalho, mudou o Governo, o novo Secretário assumiu e quis dar prioridade
às matas ciliares. Foi feita uma avaliação do que era possível fazer no momento, que não dependia
do que estava sendo preparado anteriormente. Por exemplo, estava sendo discutido e foi para a
Assembleia um projeto de lei criando o pagamento por serviços ambientais, que é um instrumento de
incentivo, que vai se somar aos de comando e controle. Foram feitos diversos estudos e só agora o
projeto de lei está indo para a Assembleia. Ainda não está aprovado. Há certas ações que não podem
ser postas em prática, antes da aprovação dessa lei, mas há outras que já podem ser
implementadas.
Disso resultaram dois projetos: um deles, com recurso do GEF e o Projeto Ambiental Estratégico
Mata Ciliar, que é muito maior, mas o primeiro está dentro do segundo. Por exemplo, a articulação
com setores produtivos: os setores de açúcar e álcool assumiram o compromisso, isolaram uma área
e vão fazer a recuperação de uma área bem expressiva. As prefeituras, por meio do Projeto
Município Verde Azul, também estão assumindo ações nessa direção. Mais do que recursos para
serviços ambientais envolvendo o setor sucroalcooleiro, é necessário ter vontade política. O projeto
vai andando e tem toda condição de continuar nas próximas gestões, porque algumas ações já
vinham sendo realizadas antes e vão continuar acontecendo, já que estão sendo bem interligadas a
outros programas.
No caso do Projeto Desmatamento Zero, que atua em parceria com o Projeto Mata Ciliar, foi criada
uma série de leis para amarrar e restringir a supressão de vegetação dentro de limites. A outra ação é
instituir compensações para as supressões autorizadas e acompanhar essas ações, essas
compensações. Isso está sendo feito dentro da Secretaria do Meio Ambiente. Se alguém fizer uma
supressão autorizada de vegetação em algum lugar, vai ter que fazer compensação de mata ciliar.
Essa é a costura que vem sendo feita, pegando uma ponta daqui, outra ponta dali e juntando as
duas. Mais uma vez, fica evidente a interdependência e capilaridade dos projetos.
Para Helena, o importante é que os gerentes à frente dos projetos tenham poder sobre seus
orçamentos. Ela é coordenadora de despesas desta Coordenadoria e da unidade de recursos
internacionais do GEF: é ela quem faz o plano de como vai ser usado o dinheiro. E, a partir desse
projeto do GEF, um novo programa, que deve começar em 2010, com recursos do Banco Mundial, já
foi desenhado. É um empréstimo que o Governo está fazendo, em conjunto com a Secretaria da
Agricultura, um Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável, decorrência desse projeto.
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Helena não se preocupa com o Projeto Mata Ciliar: ela pode sair da Secretaria e o projeto continua, já
que existe um compromisso com o GEF. Há um contrato, um compromisso contratual, que tem que
ser cumprido. Compromisso com o Estado de São Paulo e não com o Governo atual.
Helena confessa: “a preocupação que eu tenho agora, em relação aos 21 Projetos Ambientais
Estratégicos, é saber como institucionalizar isso tudo, para que eles não se tornem, na próxima
gestão, apenas ‘os projetos do Secretário que foi embora’.”
“Estou diretamente envolvida no Projeto Mata Ciliar, que coordeno.” Continua: “O Etanol Verde e o
São Paulo Amigo da Amazônia estão na minha área, e também temos uma participação grande no
Projeto Desmatamento Zero. Fico imaginando como esses projetos vão ficar, mesmo que mudem de
nome. Porque não dá para a gente avançar e voltar, avançar e voltar o tempo inteiro. O Projeto Mata
Ciliar para mim é fácil de entender, porque está sob meu controle e qualquer avanço que o projeto
obtenha está sendo incorporado às ações normais da Coordenadoria. Com relação ao Projeto Etanol
Verde, construído à base de um acordo, de um compromisso firmado com o setor sucroalcooleiro,
todos os planos de ação das usinas associados aos licenciamentos, autorizações de queima etc.
estão sendo colocados no Sistema de Informações da Coordenadoria. Assim, daqui a dez anos,
alguém vai poder verificar se o que foi prometido hoje está ou não sendo cumprido. Cada usina tem
um plano de ação colocado no Sistema de Informação, para que também seja efetivamente um
compromisso com o Estado.”
A estimativa é que um milhão de hectares esteja disponível para a recuperação de matas ciliares.
Para acompanhar sua recomposição, foi feito um cadastro das áreas interditadas e protegidas de
mata ciliar, em fase de recuperação. Já foram cadastrados 397.303 hectares. É bem possível que
essas metas ambiciosas não sejam atingidas nessa gestão. Que sejam na próxima.
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Projeto Município Verde/Município Verde Azul Ubirajara Guimarães
Entrevista: 04/12/2009
José Walter Figueiredo
Entrevista: 08/03/2010
Lançado em 2007, com o nome de Município Verde, durante a Semana do Meio Ambiente, de 01 a
05 de junho de 2009, o projeto passou a se chamar “Município Verde Azul”. Essa alteração foi
sugerida pelo então governador José Serra, durante o “Pacto das Águas”, realizado em Bocaina,
interior de São Paulo, para deixar claro que o projeto também leva em conta a gestão dos recursos
hídricos dos municípios. A agenda azul se junta à agenda verde.
O projeto busca, basicamente, a descentralização da política ambiental: estimular os municípios a
participar da política ambiental, pela adesão ao Protocolo Verde – Gestão Ambiental Compartilhada;
certificar os municípios ambientalmente corretos, que passariam a ter prioridade no acesso a
recursos públicos.
Falar em descentralizar a gestão ambiental, em um discurso pode empolgar; mas, como fazer isso na
prática? Por região? Pelas características de cada cidade? Como atingir todos os municípios com
resultados mensuráveis? Essas foram as perguntas que todos os envolvidos se colocaram no início
da atual gestão. A ideia da descentralização vinha desde a criação da Secretaria do Meio Ambiente,
desde o Governo Montoro e foi claramente destacada no discurso de posse do atual Secretário.
A conclusão a que se chegou é de que deveria ser criado um programa único, caso contrário nunca
haveria um resultado unificado. E o Secretário teve, então, a ideia de pautar os municípios com
algumas diretivas. Como e quais? Depois de várias reuniões, chegou-se a dez diretivas que, para
essa gestão, eram os pontos mais comuns e necessários a serem implantados no Estado.
A adesão dos municípios ao projeto deu-se a partir da assinatura de um “Protocolo Verde”, que
propunha Dez Diretivas Ambientais relativas às questões prioritárias. Assim, foi estabelecida uma
parceria com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente que orientou, segundo critérios específicos,
as ações necessárias para que o município fosse certificado como “Município Verde Azul”. Todos os
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645 municípios paulistas assinaram o Termo de Adesão.
As Dez Diretivas são: 1) Esgoto Tratado (realizar a despoluição dos dejetos em 100% até o final
2010, ou, se inviável, firmar um termo de compromisso com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente,
para efetivar o serviço até o final de 2014), 2) Lixo Mínimo (eliminar os lixões a céu aberto,
promovendo coleta seletiva e reciclagem do lixo), 3) Mata Ciliar (auxiliar o governo na recuperação
das matas ciliares protetoras dos córregos e nascentes d’água), 4) Arborização Urbana (aprimorar as
áreas verdes municipais, diversificando as espécies plantadas, visando atingir 100 m²/habitante), 5)
Educação Ambiental (implementar um programa de Educação Ambiental na rede municipal de
ensino, promovendo a conscientização da população a respeito dos problemas ecológicos), 6)
Habitação Sustentável (definir critérios de sustentabilidade na expedição de alvarás da construção
civil, restringindo o uso de madeira da Amazônia e favorecendo tecnologias de economia de água e
energia fóssil), 7) Uso da Água (implantar um programa contra o desperdício de água), 8) Poluição do
Ar (auxiliar o Governo no combate à poluição atmosférica, especialmente no controle da fumaça preta
de veículos a diesel), 9) Estrutura Ambiental (criar um Órgão Municipal de Meio Ambiente), 10)
Conselho Municipal de Meio Ambiente (constituir órgão de participação da sociedade, envolvendo a
comunidade local na agenda ambiental).
A Secretaria Estadual de Meio Ambiente acompanha e auxilia os municípios no cumprimento dessa
agenda ambiental. A equipe do projeto faz uma avaliação do desempenho e dá uma nota ambiental
aos municípios. As notas variam de zero a 100, mas somente quem atinge nota superior a 80 recebe
o certificado de “Município Verde Azul”. Há, também, um prêmio para o melhor colocado em cada
uma das 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI), que recebe o Prêmio
Governador André Franco Montoro.
Houve e ainda há alguma reação de alguns municípios, principalmente os maiores, que são os que
têm mais dificuldades. Mesmo assim, grandes municípios conseguiram se certificar, como Sorocaba,
Ribeirão Preto, Santos e São Caetano, o que demonstra que o mecanismo de certificação vale para
todos, grandes e pequenos. São Paulo já tem oitenta e poucos pontos, mas não foi o suficiente para
se certificar em função de seus passivos ambientais. São Paulo não protege suas nascentes, mas faz
maior controle de poluição do ar do que as outras cidades do interior.
Ubirajara Guimarães, então Chefe de Gabinete e Gerente do Projeto Município Verde Azul, explica:
“Outra coisa importante foi a motivação política. E a presença do Secretário nas reuniões, nas
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conversas com os prefeitos, foi fundamental. Ele não abre mão: qualquer assunto a ser tratado entre
o prefeito e a Secretaria tem que passar pelo Município Verde Azul. Os prefeitos foram entendendo
que, para entrar na Secretaria, a chave era o Município Verde Azul. A minha escolha para ser
Gerente do projeto foi mais política do que técnica – eu trabalho com o Xico há bastante tempo e
sempre na área política.”
Isso ajudou muito no começo e depois o projeto deslanchou. A partir do evento de 2008, o I Encontro
do Município Verde, que foi um marco importante na motivação dos prefeitos. Ubirajara conta que, no
discurso que pronunciou na ocasião, disse que estava preocupado, porque, afinal, só foram
certificados 44 municípios. Foi uma bela festa, com muita gente, cujo efeito mais importante foi o fato
de os prefeitos entenderem a importância do projeto e, a partir do primeiro ranking, começarem
realmente a se preocupar com a causa. E o interesse dos prefeitos somou-se à liberação dos
recursos. No segundo ano do projeto, os prefeitos já estavam familiarizados com o seu
funcionamento e o tema passou a ter mais visibilidade na mídia.
Ubirajara diz que “foi muito gostoso trabalhar em 2009. Eu não atendo o prefeito se não trouxer o
“interlocutor”. Criei um grupo de interlocutores na internet, onde eles podem debater comigo o que
quiserem. Então, comecei a trabalhar bastante na motivação dos interlocutores. Agora, estou com
problemas, porque alguns interlocutores estão desmotivados, porque as notas foram baixas, alguns
foram demitidos pelos prefeitos que não se conformaram. Os interlocutores são peças-chave, porque
não são políticos, são técnicos. Normalmente, são jovens interessados pelo meio ambiente.”
Ubirajara rememora: “Quando definimos o modelo, ficou assim: são dez diretivas, o prefeito vai aderir
e a Secretaria vai ter uma equipe técnica para fazer o acompanhamento, o treinamento e avaliar os
projetos que os prefeitos trazem. Foi quando o Secretário perguntou: ‘E da prefeitura, quem vai
cuidar?’. Foi quando ele decidiu exigir do prefeito a indicação de um técnico, o interlocutor, para ser a
ponte entre a Prefeitura e a Secretaria do Meio Ambiente.”
Ubirajara considera que outra dificuldade enfrentada foi a necessidade de uma mudança de cultura,
porque a Secretaria estava totalmente afastada das questões políticas. E política é importante:
política é diálogo. O Projeto Município Verde Azul serviu para isso. Nos 16 treinamentos que foram
realizados no Estado, durante 2009, ele formou uma equipe e, independentemente do Município
Verde Azul, chamou os Coordenadores da Secretaria e os Diretores de Institutos e da Cetesb, e
pediu para que cada um deles indicasse dois ou três técnicos para dar treinamento no interior, junto
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com a equipe do projeto. Então, se a equipe ia falar de lixo, um membro da equipe falava de lixo, mas
junto havia três funcionários da Cetesb que davam palestra. Se o tema era Mata Ciliar, ia gente da
Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais, se fosse Ecoturismo, ia pessoal da Fundação
Florestal e assim por diante. No início, houve alguma resistência, mas no final a integração era total,
as coisas fluíam. Mudou a cultura da Secretaria, ela se integrou. E o Projeto Município Verde Azul
tem interface com todos os outros Projetos Estratégicos: ele é um grande guarda-chuva. É uma força
integradora. O Município Verde Azul é o principal agente de democratização e descentralização da
Secretaria do Meio Ambiente.
José Walter Figueiredo, então Assessor Executivo do Projeto Município Verde Azul, conta que “na
verdade, o projeto começou antes de 2007, começou em 2006, na transição do Governo
Alckmin/Cláudio Lembo. Antes da posse do novo Governador e do Secretário, estava claro para
todos que, sem a participação do município, não haveria mudança. Aí começa a história. Fui
convidado a participar da equipe em fevereiro de 2007e nesta época comecei a costurar o projeto. A
orientação do Secretário era para que fosse iniciado o processo de descentralização das ações da
Secretaria, envolvendo os municípios, as câmaras de vereadores e a sociedade civil, e que,
internamente, eu conversasse com toda a casa, Secretaria e Cetesb, à exaustão: oito, dez reuniões
por dia, buscando informações e orientação técnica. Este era o momento de montar uma equipe.
Com que perfil? Técnico, multidisciplinar, apaixonado pela causa, envolvido e desprendido, que
largasse tudo sempre que fosse preciso. Eu dizia para os entrevistados: ‘vai precisar largar tudo e
sair correndo’. Começamos a levantar números, que juntávamos às informações do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de
Dados), do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (Cepam) e, também, das
próprias prefeituras, por meio de um questionário enviado a cada uma. Fizemos um diagnóstico dos
municípios paulistas, era o início de um levantamento de dados unificados ainda hoje, utilizado pelos
interlocutores, funcionando como estímulo para que os municípios produzam e organizem dados
visando o Planejamento Ambiental, resultando no Plano de Ação. Com esse primeiro levantamento,
iniciamos a montagem do projeto. Chegamos à conclusão de que a meta seria a adesão de uns 200
municípios, com a elaboração de, pelo menos, 100 Planos de Ação. Na época, fixamos esta meta,
pois só havia 187 municípios que tinham alguma coisa ligada ao meio ambiente. O Município Verde
nasceu dividido em municípios do litoral, municípios do cerrado, municípios que tinham hidrelétrica,
municípios que tinham ICMS ecológicos, etc. Havia, também, uma divisão por número de habitantes:
com 10 mil, até 20, até 40, até, 50, até 100, etc. Era uma lista enorme de critérios dividindo os
municípios, mais de 120 diretivas, impossível dar nota e comparar. Aí, o Secretário falou: ‘Chega!
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Assim, nós vamos listar 645 categorias’. Porque todos são diferentes. ‘Encontrem o que é comum’.
Essa foi a orientação sábia, mágica, a solução genial. Nasceram as 10 diretivas.”
José Walter continua: “E com isso, eu fiz um piloto. Disparamos uma convocação para o estado
inteiro, um aviso para os municípios participarem desse piloto. Sete responderam: São Sebastião da
Grama, Dois Córregos, Joanópolis, Luis Antônio, Tupã, Botucatu e Porto Feliz. A equipe do Município
Verde visitou todos esses municípios e eu dizia ‘vamo puxá a língua’. Foi puxando a língua dos
políticos, dos técnicos, e da sociedade civil que montamos o projeto, sempre seguindo a orientação
do Secretário e da gerência, que estabeleciam os conceitos e o rumo, com liberdade para que a
equipe e eu, como coordenador, pudéssemos criar, estruturar e implantar o projeto.”
Outra questão: como fazer o contrato, o vínculo com as prefeituras. O que elas assinariam? Se é que
tinham que assinar alguma coisa. Foram outras dezenas de reuniões, consultas aos Departamentos
Jurídicos. Algumas sugestões demandavam uma quantidade de assinaturas: do Governador, do
Secretário, do Gerente, do Prefeito. Muita formalidade. Na verdade, era um convênio. Havia uma
necessidade imperiosa de instituir leis nas câmaras municipais para assinar o convênio. Aí nasceu o
documento, o “Termo de Adesão”, uma ideia do Dr. Francisco Thomas Van Acker, assessor
institucional da Secretaria do Meio Ambiente. Uma assinatura cidadã, o município se comprometeria
a desenvolver uma política municipal de meio ambiente, por meio do Plano de Ação e segundo
orientação do então Secretário Xico Graziano, no documento deveria constar a assinatura do
Prefeito, de pelo menos um vereador e um membro da sociedade civil.
No começo, alguns prefeitos perguntavam o que aconteceria se rasgassem o Termo, se não
cumprissem o acordado, haveria sanções? José Walter respondia invariavelmente: “Se você pensar
em rasgar, você já rasgou. Porque o projeto significa envolvimento, atitude, metas, melhoria na
qualidade de vida da população local. O texto final no Plano de Ação é seu. Fazemos o rascunho, o
esqueleto de um plano, mas é o município quem preenche mediante a participação da sua câmara e
de seus técnicos, da sociedade, enfim, de acordo com a situação do seu município.” E as pessoas
começaram a perceber que somente o município assinara o papel. No começo, achavam que ele era
mais leve por causa disso, não havia análise jurídica. Na verdade, ele era muito mais denso e muito
mais do que envolvimento e compromisso. E quem assinava não era só o prefeito. Era todo o
município, era um compromisso da população.
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Outra coisa interessante é o desenho, a logomarca do projeto. A Vera Severo desenhou uma “árvore
de amor.” Que é bem o projeto: técnico, mas com paixão, amor, envolvimento. O Município Verde
Azul é uma árvore de corações. A logomarca traz em seu centro o desenho de uma flor,
demonstrando que ela nasceu na terra antes do homem e que estamos destruindo a flor no planeta
Terra, destruindo a própria espécie humana. Ela induz à reflexão sobre a busca de geração de renda,
de emprego, de desenvolvimento. O desenho é, ao mesmo tempo, a forma de uma engrenagem
arredondada, leve, sugerindo a busca da sustentabilidade, seguindo os dois grandes objetivos do
projeto: incorporação da variável ambiental na gestão política dos municípios e planejamento.
Definidos o projeto, o Termo de Adesão, as diretivas e a logomarca, surge mais uma dúvida: usar um
selo ou um certificado? Optou-se pelo certificado, que seria um documento anual, coisa de professor.
Ele é reflexo de três coisas importantes: atitude, meta e eficiência. Essas três questões são básicas
no Projeto Município Verde Azul. Atitude é a vontade do executivo, da câmara, da sociedade, de fazer
a revolução, fazer a mudança, quebrar paradigmas. Sem essa vontade e envolvimento do executivo é
impossível qualquer ação. Aí vêm as metas, que é a questão ligada ao planejamento. Como está a
situação ambiental do município? O que fazer a partir do momento em que se identifica quais são os
problemas? Como e quando desenvolver as atividades necessárias previstas no Plano de Ação? E
quais as dificuldades? São essas questões básicas de planejamento, que foram incorporadas ao
projeto. Também foi criado o Índice de Avaliação Ambiental (IAA), que vai medir essas questões. É
por isso que a nota do Município Verde varia de ano a ano: porque é um índice que está sendo
aperfeiçoado.
Como se mede a eficiência da arborização urbana? Por meio da projeção de copa das árvores que
estão dentro do perímetro urbano. Quando um município vai ter seus rios recuperados? E os
municípios começam o montar seus planos de ação. Que são deles. Que estabelecem as metas. A
Secretaria apenas define um limite, para efeito de comparações, de 12 anos. Assim, todos os planos
têm que ter a duração de 12 anos ou três mandatos. Na verdade, esses planos são feitos para serem
mexidos, mas aí está um grande sucesso do projeto: todos os municípios paulistas passaram a ter
um plano de ação.
Em 2010, 614 municípios enviaram seus planos de ação, ampliando o número de municípios
envolvidos em relação ao ano anterior. E na divulgação do terceiro ranking foram 143 municípios
consagrados com o Certificado Projeto Município Verde Azul.
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• Ampliação da participação da sociedade civil na política ambiental municipal com aumento dos
Conselhos Municipais de Meio Ambiente, que em 2007 eram 236 e em 2010 passaram a ser 545,
cumprindo a meta de ter 75% dos municípios com conselhos municipais;
• Aumento do número de estruturas ambientais criadas nos municípios para trabalhar a gestão
ambiental, ampliando de 182 para 507, dados de 2007 e 2010, respectivamente, atingindo 78% dos
municípios;
• Outras ações municipais de destaque:
Ampliação dos programas de proteção e recuperação de mata ciliar; de 280 em 2008 para 488 em
2010, bem como de viveiros municipais, que passaram de 216 para 434 neste mesmo período;
Aumento do número de programas de proteção de nascentes, que subiu de 130 para 429 entre 2008
e 2010, totalizando 119.536 nascentes protegidas georreferenciadas;
Expansão das ações de inspeção veicular, que ampliado de 111 para 407 entre 2008 e 2010;
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Projeto Onda Limpa
Agostinho Kretan Guimarães
Entrevista: 14/12/2009.
Quando o projeto foi idealizado, no começo da gestão do Secretário Xico Graziano, ele se chamava
Projeto Litoral Norte e visava a melhoria da qualidade ambiental das praias do Litoral Norte, região de
clara vocação turística e notáveis características ambientais. O trabalho foi bem-sucedido e atendeu
ao seu principal objetivo: fornecer as informações e a base para a gestão da problemática questão;
que é a balneabilidade.
Como o projeto era bom, e estava no caminho certo, o passo seguinte foi a sua extensão para todo o
litoral paulista. O projeto, então, foi rebatizado como Praia Verde, porque envolvia várias ações para a
melhoria ambiental de toda a região costeira. Não só a questão da balneabilidade, mas também o
problema do lixo nas praias e uma série de outros problemas.
A Sabesp nunca investiu tanto em saneamento no litoral paulista como no atual Governo. É da
Sabesp o projeto chamado Onda Limpa: Onda Limpa do Saneamento. A Secretaria do Meio
Ambiente rebatizou novamente o Projeto Praia Verde, o qual também passou a ser chamado de
Onda Limpa Ambiental e trabalha junto ao da Sabesp. O foco da Sabesp é a coleta e o tratamento
de esgoto. O Projeto Onda Limpa Ambiental tem várias ações além do esgoto. Numa praia, afora o
problema crônico do esgoto, tem o lixo, a questão das marinas, do pescador que troca o óleo
atracado, dos restos de peixes jogados no mar etc. Uma das ações do Projeto Onda Limpa foi,
justamente, a implantação do Projeto Marinas, com o objetivo de controlar as potenciais fontes de
poluição desencadeadas pelo segmento náutico.
Portanto, além da questão do saneamento – e o esgoto doméstico é um dos principais problemas
para a balneabilidade das praias paulistas –, há uma série de questões que exigem articulação com
outros órgãos do governo: Secretaria de Saúde; Secretaria de Desenvolvimento; CDHU (Companhia
de Desenvolvimento Urbano e Habitacional do Estado de São Paulo), para o problema das
habitações; prefeituras e Ministério Público. Então, o Projeto Onda Limpa Ambiental tem o propósito
de trazer para a cena os vários atores envolvidos na questão da balneabilidade, que não é
meramente um problema de esgoto. Há certos locais em que há coleta e tratamento de esgotos, mas
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a praia continua suja. O sucesso do projeto depende da integração de todos esses participantes.
Fazer com que todos dialoguem e se perguntem: “o que podemos fazer juntos?”
Há casos em que a Sabesp já colocou a rede de esgoto, só que o cidadão não liga sua casa à rede,
ou porque não quer que a sua conta fique mais alta, já que ele vai pagar em dobro, ou porque ele tem
o que se chama “soleira negativa” (sua casa está mais baixa que a rede); ou porque seu esgoto é
clandestino mesmo. Então, em função disso, há um trabalho grande com as prefeituras, a chamada
“Operação Caça-Esgoto”. Funciona assim: um caminhão coloca um cano de fumaça na galeria de
água de chuva e a fumaça sai na janela da casa de um morador, para verificar se o esgoto dele está
caindo na galeria de água, que era para ser uma galeria de água de chuva. Muitas vezes, um
pedreiro, quando vai fazer uma casa, quebra um cano e nem sabe que aquele é o cano da galeria de
água de chuva. Ele acha que é um cano de esgoto e joga o esgoto doméstico na galeria de água de
chuva, que vai parar no mar.
Outro exemplo: o Estado não pode fazer uma intervenção em uma APP, que é uma Área de
Preservação Permanente. Mas há muita ocupação irregular, que joga o esgoto direto no córrego, que
deságua na praia. A solução é procurar uma parceria com a CDHU, que vai fazer a remoção
daquelas famílias, que estão na beira daquele rio. Nessa perspectiva, é possível obter um
compromisso no qual o Ministério Público permita que se faça temporariamente um sistema de
canalização de esgoto na área, já que aquelas pessoas serão removidas para unidades da CDHU.
Então, o principal trabalho deste projeto é articulação.
O Litoral Sul é muito deficiente em termos de canalização e tratamento de esgotos, mas não tem
muitos problemas de balneabilidade. Há vários outros pontos do litoral que têm bandeira verde.
Então, é preciso fazer um trabalho muito intenso com as prefeituras, com os Comitês de Bacias, para
manter aquelas bandeiras verdes.
Agostinho, Gerente do Projeto, comenta: “nós tentamos fortalecer a gestão descentralizada dos
Comitês de Bacias, porque a dinâmica dessas três regiões litorâneas é muito diferente. O Litoral
Norte tem uma dinâmica, a Baixada Santista tem outra, completamente diferente e o Litoral Sul,
também tem outra. Fazer um programa que abranja todas essas regiões é complicado, então
procuramos fazer essa articulação descentralizada, por meio dos três Comitês de Bacias.”
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Como o projeto começou com o Litoral Norte, lá o diagnóstico está mais maduro. Na verdade, em
2009, ficou pronto o diagnóstico dos fatores que prejudicam a balneabilidade das praias dos
municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião.
Resumindo, o Projeto Onda Limpa tinha dois objetivos principais: buscar a melhoria da qualidade
ambiental do litoral paulista e da balneabilidade das praias (por meio da redução do número de praias
com bandeira vermelha e da recuperação da qualidade dos rios e córregos que deságuam nas
praias) e promover a integração dos vários órgãos envolvidos, consolidando parcerias com as demais
secretarias estaduais e prefeituras.
Primeiro, era preciso conhecer o problema. Foi feito, pela equipe da Secretaria do Meio Ambiente, um
diagnóstico, praia por praia, de todos os fatores que interferem na queda de balneabilidade do litoral
paulista e, complementarmente, uma avaliação ambiental integrada, com o objetivo de verificar o
impacto dos programas, projetos e atividades no Litoral Norte. Em seguida, em parceria com os
municípios, é feita a consolidação das informações e diagnóstico da situação e, finalmente, a seleção
das prioridades.
80
Projeto Pesquisa Ambiental Vera Lúcia Ramos Bononi
Entrevista: 03/12/2009
Vera Bononi, Gerente do Projeto e Diretora do Instituto de Botânica, trabalha no Estado há muitos
anos. E conta que, quando o Instituto fazia parte da Secretaria da Agricultura, todo Secretário de
Agricultura enfatizava a produção. E o Instituto de Botânica, que ela dirige atualmente, em matéria de
produção, nunca teve muitas chances. Mesmo dentro da Secretaria do Meio Ambiente existem
algumas áreas que desconhecem qual é o papel da pesquisa na gestão ambiental.
Ela afirma que Xico Graziano foi o primeiro Secretário, a primeira gestão, que deu importância real à
pesquisa. Quando foram criados os 21 Projetos Ambientais Estratégicos, um dos quais
especificamente de Pesquisa Ambiental, ficou evidente o reconhecimento da pesquisa cientifica como
um dos alicerces da gestão do meio ambiente.
Os principais objetivos do Projeto Estratégico são valorizar a pesquisa ambiental, priorizando o
trabalho científico com o apoio do Governo e implantar o Conselho Científico de Pesquisa Ambiental,
envolvendo os institutos de pesquisa da Secretaria, as universidades públicas estaduais, a Fundação
de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o setor privado e a sociedade. Devem ser
incentivadas as seguintes linhas de pesquisa: recursos hídricos, biodiversidade e conservação,
bioprospecção de novos produtos e mudanças climáticas globais.
Em 2008, foi lançado o livro Diretrizes para Conservação e Restauração da Biodiversidade do Estado
de São Paulo, que reuniu o trabalho de 160 especialistas, entre biólogos, engenheiros agrônomos e
engenheiros florestais de diversas instituições brasileiras, cujo objetivo foi estabelecer estratégias
efetivas para conservar e restaurar a biodiversidade remanescente no Estado, sob a coordenação do
Programa Biota/Fapesp, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente. Foram produzidos, como
resultado, 24 mapas temáticos. Todos os mapas têm indicação de onde é preciso estudar mais,
aprofundar; onde é preciso criar uma Unidade de Conservação Integral e foram, inclusive,
fundamentais como instrumentos do Projeto Desmatamento Zero.
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O trabalho também vem sendo usado para selecionar áreas para novas UCs com recursos de
Compensação Ambiental. Os autores indicaram 14 áreas, sendo que 12 estão sendo estudadas para
se transformar em Unidades de Conservação e duas já são novos parques: de Itaberaba e Itapetinga.
Esses dados estão sendo utilizados na prática das políticas da Secretaria do Meio Ambiente. Isso
trouxe um novo alento. O pesquisador viu que, além de ser publicado, seu trabalho é reconhecido.
Ninguém mais diz “Ah! Você fica aí contando quantos bichinhos tem em tal lugar ou quantas
plantinhas... Para que serve isso?”
Há, inclusive, no final do livro Diretrizes para Conservação e Restauração da Biodiversidade no
Estado de São Paulo, um capitulo escrito em conjunto por Vera Bononi e Helena Carrascosa, que
demonstra como e onde o livro está sendo utilizado no fortalecimento da gestão ambiental.
E, também, dentro do Projeto Estratégico Pesquisa Ambiental, foi criado um Conselho de Pesquisa
Ambiental para o qual se optou pela participação de pessoas, em vez de instituições. Porque, muitas
vezes, um representante de uma instituição não está capacitado ou autorizado a falar em nome dela.
Então, foram contatados especialistas, pessoas importantes, figuras conhecidas do mundo científico
em São Paulo para constituir um conselho que conta com mais ou menos 30 membros, mas que não
é fechado. É o Conselho de Pesquisa Cientifica do Estado de São Paulo, que se reúne uma vez por
mês. As pessoas sugerem os temas que vão ser discutidos; em geral uma ou duas pessoas
apresentam o tema e ele entra na pauta de discussão.
O Secretário participa regularmente desse conselho. É uma forma de ele ter acesso ao que está
acontecendo, saber quais são as preocupações, as novidades. Participam do conselho as
universidades paulistas, institutos e, a critério do Secretário, poderão ser convidados outros
integrantes. Basta ser da área e estar interessado em pesquisas relacionadas à proteção e manejo
do meio ambiente. Do trabalho desse grupo resultou, também, uma publicação, A Síntese de um Ano
de Conhecimento Acumulado. Resumindo, o objetivo do conselho é congregar os cientistas que
trabalham com o meio ambiente, com o objetivo de aperfeiçoar a coordenação, integração e
divulgação dos trabalhos realizados nessa área, assim como estimular a pesquisa em algumas áreas
de maior interesse em gestão.
Indagada sobre os 21 Projetos Estratégicos, Vera foi franca: “Para ser sincera, no começo, achei que
não ia dar certo. Eu conheço funcionário público, conheço as secretarias... Tenho quarenta anos de
carreira. Ah, isso não vai dar certo! Cada um vai se fechar no seu feudo e não vamos conseguir.
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Porque, no Projeto Pesquisa Ambiental, por exemplo, eu tenho que interagir com três institutos e
cada instituto tem a sua direção, a sua casinha, o seu castelo, o seu feudo. No início, pensei que
seria muito difícil trabalhar assim, mas, aos poucos, embora minha primeira impressão tenha sido
ruim, as coisas foram acontecendo, as pessoas se entusiasmaram com os projetos. Alguém do
Instituto Geológico me procurava: ‘Vera, você não quer colocar isso que estamos fazendo no Projeto
Pesquisa Ambiental?’”
O Projeto Pesquisa Ambiental tem um objetivo específico: a utilização das pesquisas na definição de
políticas da Secretaria. Então, o foco é a integração. E a integração foi proposital. Foi buscada. Por
exemplo, no início, Vera, que era Diretora do Instituto de Botânica, foi nomeada Gerente do Projeto
Pesquisa Ambiental e, depois, convidada a participar do Projeto Cenários, ou seja, era a Gerente de
um, mas era Subgerente de outro projeto. Para ela, isso significou fazer contatos, conversar com
especialistas. Uma experiência enriquecedora.
Vera acha que “sempre existe um pouco de disputa do tipo ‘o meu projeto é melhor que o seu’, mas a
disputa positiva é boa, porque, de repente, eu vejo que o outro já fez isso e me pergunto o que eu
estou fazendo aqui? É um estímulo para não deixar a peteca cair. Embora seja muito difícil, por
exemplo, comparar o Projeto Município Verde Azul com o Pesquisa Ambiental; difícil porque são
atividades diferentes.”
É opinião geral, inclusive da Vera, a coincidência de um cenário mundial, que evidencia a gravidade
dos problemas ambientais, um Governador e um Secretário do Meio Ambiente conscienciosos e
interessados em resultados técnicos, acaba sendo uma conjuntura muito feliz para quem trabalha na
Secretaria.
Projeto Reforma Administrativa Neusa Marcondes
Entrevista: 9/11/2009
Criada há um quarto de século, a Secretaria do Meio Ambiente foi, aos poucos, ampliando seu
espaço no governo paulista e ganhando importância no conjunto das Secretarias de Estado de São
Paulo. Resultado de suas realizações e da nova dimensão que os problemas ambientais adquiriram
na última década. Entretanto, a forma pela qual foi criada e sua própria trajetória foram responsáveis
pelo surgimento de inadequações, indefinições, áreas cinzentas nas fronteiras entre instituições e
departamentos. Desde antes da atual gestão, havia a consciência clara da urgência de uma grande
reforma administrativa. Que definisse melhor, por exemplo, a área de ação do Consema e da
Secretaria, racionalizasse e simplificasse o Licenciamento Ambiental, valorizasse as pesquisas dos
Institutos e definisse o campo de ação das Fundações e desse um sentido às Coordenadorias.
Finalmente, era preciso criar um corpo técnico próprio, abandonando definitivamente a provisoriedade
do comissionamento. Desde a sua fundação, no governo Montoro, ela vinha sendo emendada e
remendada. Era chegado o momento de recriar a Secretaria. Gigantesca tarefa.
Foi essa complexidade que originou o primeiro de dois decretos de Reforma Administrativa da
Secretaria, o de 2008. E por que houve a necessidade de dois decretos? Porque era preciso trabalhar
por etapas. Pelo primeiro decreto, a Secretaria foi estruturada assim: ela teria quatro Coordenadorias:
a de Biodiversidade e Recursos Naturais; a de Educação Ambiental; a de Recursos Hídricos e a de
Planejamento. No que essa difere da estrutura anterior? Até então, depois de muitos arranjos, havia
uma Coordenadoria de Licenciamento de Recursos Naturais, que englobava a área de licenciamento
da Região Metropolitana, a área de licenciamento do verde e de impacto ambiental. E havia outra
Coordenadoria de Planejamento e Educação Ambiental, reunidas. Apenas isso.
Na atual gestão, a Secretaria passou a abrigar a Coordenadoria de Recursos Hídricos, logo no início
do governo. Foi a primeira modificação estrutural. Então, a Secretaria ficou inicialmente com três
coordenadorias, uma recém-chegada e duas mais antigas. Com o desdobramento, passou a ter
quatro coordenadorias, com funções de gestão específicas. A Secretaria deixou de ser um órgão
executor de licenciamento. Passou a fazer a política, a normatização de tudo em relação ao verde, à
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água, aos recursos naturais e ao planejamento. E tem, agora, uma Coordenadoria forte de Educação
Ambiental.
Para Neusa Marcondes, Gerente do Projeto, “Todos os projetos, os 21 Projetos Ambientais
Estratégicos, são acompanhados por ações de educação ambiental. E todos têm grande
interdependência. Por exemplo, para que se faça a gestão de recursos hídricos, essa é a nossa
gestão, independentemente do sistema de gestão de recursos hídricos ser diferente, já que quem
decide são os Comitês de Bacias e o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, a educação ambiental
perpassa todos esses projetos. Por outro lado, como faço gestão da quantidade e qualidade da água
se não tiver esgoto tratado? Como faço gestão da água, se não tiver proteção de mananciais? Como
faço gestão da boa qualidade de água se não proteger os aquíferos? E, fundamentalmente, tenho
que ter proteção da mata ciliar. E preciso também participar do Município Verde Azul.”
As Coordenadorias e os Institutos devem estar interligados. Isto acontece com todas as
Coordenadorias, que recebem subsídios da Coordenadoria de Planejamento e, também, fornecem
subsídios para o Planejamento, não apenas com a Coordenadoria de Educação Ambiental. No caso
do lixo, por exemplo, é fundamental que a Coordenadoria de Planejamento auxilie os municípios a
fazer seus Planos Diretores de Resíduos. A Coordenadoria de Recursos Hídricos, por exemplo, tem
um fundo de 50 milhões de reais por ano, que é repartido pelos Comitês de Bacias, que fazem um
plano de bacias, que definem as prioridades em termos da água e que coincidem com o
Planejamento da Secretaria, a qual provê subsídios para o plano de bacias. O que acontece? Os
prefeitos podem, assim, obter recursos não reembolsáveis para seus projetos.
Então, qual foi a grande mudança que se obteve com a primeira reforma? Uma Secretaria com
gestão interligada. Além disso, na primeira reforma, em 2008, a Cetesb ainda não estava preparada
para receber todas as atribuições ligadas ao licenciamento unificado. Para isso, ela precisava alterar
sua base legal, já que era uma companhia voltada fundamentalmente para a gestão do controle da
poluição. Ações que não causassem impacto na poluição, como, por exemplo, a construção de uma
usina elétrica, não passavam pela Cetesb. Então, ela teve que mudar seu embasamento legal e isso
só aconteceu em 2009. O organograma ficou praticamente separado. Melhor ainda, as funções de
licenciamento ficaram provisoriamente na Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais
(CBRN). Depois, elas iriam para Cetesb. Ninguém mexeu na Cetesb, mas as atribuições ligadas a
licenciamento, principalmente do verde e das áreas de mananciais é que passaram para a Cetesb.
Ela já realizava licenciamentos, mas exclusivamente de impactos causados pela poluição.
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Houve outra alteração fundamental para a Secretaria: ela não tinha um quadro próprio. O quadro da
Secretaria era emprestado pela Cetesb, perto de 40% dos funcionários eram comissionados da
Cetesb. Alguns poucos, que vieram da área de agricultura, eram da Fundação Florestal. Isso gerava
problemas de administração de pessoal, de disparidade de salários, etc. Com a reforma da
Secretaria, foi programada a contratação de 300 especialistas ambientais, não apenas para as
Coordenadorias, mas para toda a estrutura, inclusive institutos.
Para reestruturar a Secretaria, Neusa Marcondes, gerente do Projeto Reforma Administrativa, reuniu-
se com as Coordenarias para discutir como elas achavam que deveria ser feita a reforma
administrativa. Sua principal função era fazer com que uma atribuição não se chocasse com outra.
Por exemplo, Biodiversidade e Planejamento. A Coordenadoria de Planejamento, algumas vezes,
invadia uma seara que seria mais de pesquisa de biodiversidade ou de levantamento de dados...
Cada Coordenaria fez a sua proposta: “eu gostaria de ter essa estrutura.” E isso foi sendo discutido
com o Secretário, que não queria uma Secretaria gigantesca, inchada. Queria uma Secretaria que
tivesse cada Coordenadoria com, no máximo, três Departamentos e, cada Departamento, com, no
máximo, duas Divisões, para não vir a ser um “cabide de empregos”. Então, ela acabou ficando bem
enxuta. Uma Secretaria magrinha. Cada um fez sua “lição de casa” e depois todos se reuniram com o
Secretário. As situações de limites entre as Coordenarias foram bem definidas e, em seguida, a
reforma foi levada ao Governador.
Tanto o Instituto de Botânica como o Geológico passaram pelo processo de reorganização aprovado
pelos Decretos nº 55.165/2009 e 55.640/2010, respectivamente. Para Neusa, esse trabalho ainda
não está completo. “Deve sair ainda a reforma do Instituto Florestal. A carreira de pesquisador
cientifico é regida por uma lei particular, da Comissão Permanente do Regime de Tempo Integral
(CPRTI). Durante muito tempo, o Instituto Florestal detinha a gestão de todos os parques, mas com o
SIEFLOR, a Fundação Florestal passou a fazer a gestão das unidades de conservação. Então, o
Instituto hoje fundamentalmente realiza pesquisas e muitos dos funcionários passaram a ser
comissionados na Fundação, já que administram os parques. Antes da reforma da SMA, a
Coordenadoria de Planejamento Ambiental (CPLA) era responsável pelas gestão das Áreas de
Proteção Ambiental (APAs) e Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIEs), Unidades de
Conservação de Uso Sustentável. Houve, portanto, uma reorganização geral.”
A reforma também teve como objetivo especificar funções de modo a facilitar a gestão. Agora, quem
cuida dos parques é a Fundação Florestal. Os institutos dedicam-se prioritariamente à pesquisa. Em
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São Paulo, existem 15 institutos, com cursos de mestrado e doutorado, reconhecidos pela USP e
pelo MEC. O Conselho Nacional de Educação reconhece essas novas instituições. O Instituto de
Botânica é responsável fundamentalmente pelo desenvolvimento de plantas etc., o pesquisador do
Instituto Florestal faz mapeamento da vegetação natural e o Instituto Geológico trabalha na questão
de aquíferos, de água contaminada e geologia em geral. E por que estão sendo feitas as reformas se
os institutos estavam com as atribuições corretas? Porque era uma estrutura muito antiga. Uma
estrutura tão antiga que não atendia, inclusive, à demanda atual das pesquisas, das atividades que
estão sendo realizadas.
A estruturação dos sistemas ambientais e, em especial, a anexação do sistema de recursos hídricos
à área de meio ambiente não ocorre apenas em São Paulo. É um movimento nacional: acontece na
Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, essa estruturação de órgãos, todos interligados,
sob o comando da Secretaria do Meio Ambiente.
Ricardo Vedovello, diretor do Instituto Geológico, considera que “um dos aspectos mais importantes
da Reforma Administrativa foi evitar a dispersão do comando ou das instâncias deliberativas de uma
atividade de mesma natureza, por diferentes órgãos da Secretaria. Isso criou condições para agilizar
os procedimentos e para cada setor obter maior autonomia e dedicar-se de forma mais direta a suas
atribuições específicas. Exemplo emblemático: a unificação do licenciamento ambiental junto à
Cetesb, e o direcionamento mais claro da Coordenadoria de Planejamento como responsável pela
formulação e articulação das políticas ambientais do Estado. Também, a criação da Coordenadoria
de Recursos Hídricos (CRHi), trazendo a gestão dos recursos hídricos de forma mais clara para junto
da política ambiental e o restabelecimento da Coordenadoria de Educação Ambiental foram passos
importantes e contribuíram para que a gestão da Secretaria do Meio Ambiente se tornasse mais
completa e compatível com a amplitude da temática ambiental.”
87
Projeto Respira São Paulo Ana Cristina Pasini da Costa
Carlos Ibsen Vianna Lacava
Entrevista: 27/11/2009
A poluição do ar é um dos impactos ambientais mais sentidos pela população do Estado de São
Paulo, principalmente nos maiores centros urbanos e em regiões de queima da palha de cana.
Embora os dados da Cetesb indiquem uma melhora da qualidade do ar nos últimos dez anos, os
níveis atuais continuam afetando diretamente a saúde das pessoas, causando aumento de
atendimentos médicos, internações e mortes. O material particulado e o ozônio são os dois poluentes
que mais ultrapassam os padrões de qualidade do ar e, portanto, alvos prioritários para as ações de
controle. Nas áreas metropolitanas, forte ênfase é necessária ao controle das fontes veiculares, já
que são responsáveis pela maior parte da poluição observada.
Diante deste quadro, o Governo do Estado de São Paulo elegeu o controle da poluição do ar como
um dos temas para ações prioritárias na atual gestão da Secretaria de Meio Ambiente, tendo sido
criado o Projeto Ambiental Estratégico Respira São Paulo. Esse programa tem entre seus objetivos:
implantar novos programas de controle da poluição atmosférica, especialmente nas regiões
metropolitanas; estabelecer metas de redução das fontes mais poluentes e avaliar resultados;
intensificar a fiscalização da emissão de poluentes, com apoio do policiamento militar ambiental;
melhorar o diagnóstico da qualidade do ar e das emissões atmosféricas no Estado de São Paulo,
inclusive as causadoras do aquecimento global.
Um dos aspectos mais importantes para uma adequada gestão da qualidade do ar é o conhecimento
dos níveis de poluição do ar existentes. Houve uma ampliação da rede de monitoramento por todo o
interior, principalmente para acompanhar a expansão da atividade sucroalcoleira, além das novas
frentes de industrialização. O monitoramento era bastante concentrado na Região Metropolitana de
São Paulo e Cubatão, onde historicamente a qualidade o ar é pior. Foram instaladas 13 novas
estações fixas. Hoje, é possível afirmar que o Estado de São Paulo tem uma boa base de dados.
Levantamento de informações e melhora na fiscalização são ferramentas estruturais para gestão da
qualidade do ar. Ao mesmo tempo, houve aprimoramento na divulgação dos dados da qualidade do
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ar, por meio de um novo sistema em ambiente web. Hoje, via internet, qualquer cidadão pode ter
acesso a dez anos de dados de medições, inclusive medições de hora em hora. Esse é o Sistema de
Informações de Qualidade do Ar (Qualar), que fornece a informação de qualidade do ar de todas as
estações de medição para qualquer usuário que acesse o site. Foi desenvolvido em parceria com o
Instituto de Energia e Meio Ambiente e está sendo disponibilizado gratuitamente para ser utilizado em
outros estados. Informação e tecnologia a serviço do cidadão.
O Projeto Respira São Paulo tem uma importante interface com o Projeto Etanol Verde. A redução da
queima de palha da cana, antecipada graças à adesão do setor ao Protocolo Agroambiental, traz
grandes benefícios para a qualidade do ar. O monitoramento tem subsidiado a autorização de queima
de palha de cana para aqueles empreendimentos que ainda o fazem até o prazo acordado no
Protocolo. Essa base de dados serve não apenas para autorizar ou não a queima, mas também para
ações de fiscalização e licenciamento ambiental, entre outras.
Foi preciso construir um arcabouço legal para possibilitar o licenciamento, controle e fiscalização.
Essa última inclui, não apenas a verificação do que está acontecendo, mas também eventual
aplicação de penalidades.
No que se refere à poluição de origem veicular, várias iniciativas foram realizadas. Uma delas foi a
introdução da fiscalização de veículos movidos a diesel com equipamentos denominados
opacímetros. Segundo Carlos Lacava “O controle de poluentes de veículos pesados era baseado
exclusivamente na Escala de Ringelmann, que é um cartão com diversas graduações, que vão de
cinza-claro até o preto, permitindo mensurar, a olho nu, as emissões de fumaça preta por caminhões
e veículos pesados e aplicar punição se a coloração da fumaça estiver acima dos valores permitidos
por lei. Atualmente, com a publicação do Decreto Estadual 54.487/2009 é possível fiscalizar os
veículos utilizando opacímetros, que permitem identificar mais facilmente os veículos desregulados,
além de dar maior precisão às medições.”
O Projeto desenvolveu, também, uma série de ações integradas durante a chamada Operação
Inverno, em que se intensificam ações buscando reduzir ainda mais a emissão de poluentes. Entres
as ações da Operação Inverno, destacaram-se os comandos de fiscalização em rodovias, realizados
em conjunto com as Polícias Ambiental e Rodoviária. Para isso, foram treinados mais de 200
policiais, se refletindo no aumento significativo do número de veículos fiscalizados em rodovias.
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Na questão de divulgação de informações, foi produzido material para caminhoneiros e motoristas em
geral, que foi distribuído em eventos, feiras e centros comerciais, assim como foram realizadas
diversas campanhas de conscientização de condutores.
Ainda na questão dos veículos automotores, a equipe do Projeto deu suporte à ação do Estado de
São Paulo para cobrança do cumprimento de metas federais, como a nova fase do Proconve para
veículos leves e pesados.
Houve, também, uma série de ações ligadas à implantação da inspeção veicular, já sendo executada
no Município de São Paulo, e que idealmente deveria ocorrer em todos os municípios. Estão sendo
realizadas várias negociações, inclusive para a aprovação de uma lei que permita essa
municipalização.
O cumprimento dos objetivos do projeto apoia-se em metas bem definidas e mensuráveis, que vão
além da melhoria da qualidade do ar no Estado de São Paulo. Era preciso melhorar o diagnóstico
ambiental; dar mais transparência à informação; obter novos instrumentos de controle das fontes;
aperfeiçoar o conhecimento das fontes; procurar integração com outros órgãos, como a Policia
Ambiental e a Coordenadoria de Planejamento Ambiental; descentralizar as atividades, com maior
envolvimento de prefeituras e procurar parcerias com o setor privado, empresas responsáveis pelo
transporte e sindicatos patronais.
Em alguns casos, o projeto acabou indo muito além das metas previstas. Por exemplo: a primeira
meta era fazer o inventário das 100 maiores fontes emissoras de CO2, no Estado. Havia uma grande
falta de informação com relação às fontes poluidoras, o que dificultava qualquer ação cujos benefícios
pudessem ser, depois, mensurados e avaliados. Faltavam dados primários para se estabelecer um
programa. Atualmente, está sendo realizado um inventário mais amplo, tanto para as fontes fixas
como para as móveis.
Na questão de parcerias, que é um ponto importante porque o Estado não consegue trabalhar
sozinho, a maior dificuldade reside no fato de que a maior parte dos parceiros precisa de capacitação,
ou seja, é impossível encontrar uma prefeitura com uma equipe pronta para realizar fiscalização de
emissão de fumaça ou fiscalização veicular. É um processo de convencimento, treinamento, que
pode levar seis meses ou um ano. Nesse caso, o Projeto Respira São Paulo trabalhou um pouco com
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as prefeituras e, com a ajuda do Programa do Município Verde Azul, focalizando principalmente os
veículos das próprias prefeituras e das empresas de serviço público.
Quanto à meta de reformulação do Programa de Melhoria da Manutenção de Veículos a Diesel
(PMMVD), havia, inicialmente, apenas um parceiro, que era o Sindicato de Reparadores de Peças do
Estado de São Paulo. Agora, foi criada uma rede ampliada para fazer medições das emissões no
escapamento. Para um veículo que tenha sido multado por emissão excessiva, este pode ser levado
a alguma das oficinas conveniadas e se depois da revisão a emissão for menos “x”, o caminhão tem
um desconto na multa, já que o objetivo do projeto não é arrecadar, mas incentivar a boa regulagem
do veículo. O desconto é de 70% do valor da multa, que hoje é de 60 Ufesp (Unidade Fiscal do
Estado de São Paulo), hoje R$ 16,42. Assim, o caminhoneiro vai preferir consertar o caminhão ao
invés de apenas pagar a multa e continuar com o caminhão desregulado.
Um aspecto importante: a questão das mudanças climáticas. Antes, o inventário de fontes de
poluição do ar não tratava do efeito estufa; podia até tratar, mas apenas marginalmente. Por exemplo,
para a homologação de veículos, havia dados de emissão de CO2, mas isso não era registrado,
porque CO2 não é poluente, mas é um gás de efeito estufa. Hoje, de alguma forma, quando se
constrói um inventário de fontes poluentes móveis, é impossível deixar de fora o CO2, os
hidrocarbonetos, o metano – que é um gás de efeito estufa, irrelevante do ponto de vista da poluição.
Foi preciso incluir o CO2 no inventário. Adequação aos novos tempos.
Há um tema interessante, que não faz parte das metas explícitas do Projeto Respira São Paulo.
Trata-se do Decreto de Bacias Aéreas, de 2005, mas cuja última versão é de 2007 (Decreto
n°52.469/2007). Esse decreto define critérios para estabelecer o grau de saturação das bacias áreas.
São regiões do Estado que estão mais ou menos comprometidas em relação a determinados
poluentes. É, também, uma ferramenta de gestão porque, na hora de licenciar uma fonte que vai
emitir um determinado poluente, do qual aquela bacia está saturada, vai ser necessário estabelecer
mecanismos de compensação. Não apenas reduzir a emissão, mas também fazer um trade in
(compensação) desses poluentes. É uma área muito nova. Ainda estão sendo desenvolvidas
ferramentas para promover essa compensação.
Ana Cristina Pasini, Gerente do projeto, exemplifica: “A Grande São Paulo tem uma condição de
qualidade do ar que já não está atendendo à legislação. Aí, chega alguém para licenciar uma nova
fonte de poluição. Como fazer isso sem travar o desenvolvimento? Porque, no limite, já não se
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poderia mais licenciar nenhum automóvel, que é sempre uma nova fonte de poluição. O que fazer
para não travar o desenvolvimento, a licença para novas indústrias? Qual é o modelo de gestão para
uma área já comprometida? Foi por isso que se criou uma política de compensações. Um mecanismo
que determina que cada agente poluidor precisa compensar 110% do que polui. Então, se uma
indústria vai lançar dez toneladas/ano de um poluente, ela tem de definir como ela vai compensar
onze toneladas/ano. A ideia é que se tenha um mecanismo semelhante ao que se faz mundialmente
com os gases de efeito estufa. Para isso, novamente fica clara a importância de um mapeamento
mais cuidadoso das fontes, de inventários bem feitos.”
Tanto na concessão quanto na renovação de licenças e compensações ou nas negociações de
aprimoramento tecnológico, a Secretaria tem que se apoiar em bases técnicas muito sólidas. Só
assim sua atuação é efetiva. Foi o que se buscou neste projeto.
São Paulo Amigo da Amazônia Carlos Eduardo Beduschi
Entrevista: 16/12/2009
Capitão Diniz
Entrevista: 14/12/2009
Adriana Imparato
Entrevista: 04/03/2010
Adriana Imparato, então coordenadora do programa Rede Amigos da Amazônia (RAA), da ONG
Greenpeace, cujo objetivo era criar uma legislação municipal, que eliminasse de todas as compras
municipais a madeira de origem ilegal e de desmatamentos criminosos; e estimulasse as condições
de mercado da madeira produzida de forma sustentável na Amazônia. No fim de 2008, a RRA passou
a ser coordenada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade e em Administração Pública e
Governo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do qual Adriana fazia parte. O Greenpeace continua
acompanhando os programas, como membro do Conselho Consultivo da RRA.
Adriana conta que o Estado aderiu em 2006 e, a partir de 2007, quando o Secretário Xico Graziano
assumiu, foi criado o Projeto São Paulo Amigo da Amazônia. A primeira intenção era trabalhar com
compras públicas de madeira: era difícil fazer um levantamento e estudar o funcionamento do
processo de compra de madeira. Então, partiu-se para outra linha de ação: controlar tanto o tráfego
como a comercialização de madeira nativa da Amazônia dentro do território de São Paulo.
O Estado de São Paulo é um dos principais centros consumidores de madeira distribuída entre a
construção civil e a indústria moveleira. O objetivo deste projeto é desenvolver estratégias para
reduzir a demanda por madeira de lei, principalmente na construção civil; intensificar a fiscalização da
Polícia Ambiental, na entrada de madeira ilegal da Amazônia em território paulista; fiscalizar as
madeireiras que comercializam no atacado; incentivar o empreendimento de florestas plantadas, bem
como valorizar empresas que utilizem madeira sustentável.
Trata-se, portanto, de um projeto intimamente associado a ações da Polícia Ambiental. O Capitão
Diniz, Subgerente do projeto, nomeado pelo Secretário, desde o início de 2007, explica:
“Basicamente, a função da Polícia Ambiental em relação ao Projeto São Paulo Amigo da Amazônia é
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desencadear as ações de fiscalização. O projeto é, na verdade, um marco histórico de mudança de
legislação. O país passa por uma alteração importante em relação aos recursos naturais, aos
produtos e subprodutos florestais. E tudo isso leva a uma legislação mais forte, mais eficaz, que tem
reflexo direto no policiamento ambiental. Antes, a fiscalização era feita com base na autorização do
transporte de produto florestal, um instrumento extremamente inadequado, arcaico, manual.”
Além das alterações na legislação, o projeto passou a fornecer, também, meios para que a
fiscalização se tornasse mais eficiente. O Capitão Diniz se diz muito otimista porque, além da
mudança de legislação que permitiu instrumentos mais eficazes, começou a haver um aparelhamento
técnico do policiamento ambiental para que essa ação fosse mais efetiva.
Havia dificuldades históricas nesse tipo de fiscalização, principalmente, porque a Polícia Ambiental de
São Paulo não tinha controle sobre todo o processo: uma autorização emitida na origem era
fiscalizada aqui em São Paulo, a milhares de quilômetros da Amazônia. Não havia nenhuma condição
de saber da veracidade daquilo, se os documentos eram falsificados, e não havia condição técnica
para avaliar a madeira, a carga, o que estava em cima do caminhão.
O Projeto São Paulo Amigo da Amazônia começou a resolver esses problemas, pela coordenação
das ações da Polícia e pela interação com o Instituto Florestal, um órgão altamente técnico, com
especialistas em identificação da madeira. Assim, as pontas começaram a ser fechadas. Aparato
normativo mais forte, capacidade de identificação da madeira no local da ocorrência. Resultado? Uma
ação mais efetiva.
Anteriormente, o foco era basicamente voltado para a atividade nas estradas. Por quê? Porque a
Polícia Ambiental Paulista não tinha acesso às informações dos depósitos. Quem controlava isso era
o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), órgão federal,
que detinha o controle e as informações de estoques. Quando alguém comprava madeira em São
Paulo, ele encaminhava o documento de compra ao Ibama, assim como, periodicamente, enviava os
relatórios dos estoques. No sistema eletrônico, com o Documento de Origem Florestal (DOF), que é o
documento que substituiu a antiga Autorização de Transporte de Produto Florestal (ATPF), a Polícia
Ambiental passou a ter informações, na internet, dos estoques e pátios dentro do estado, pois esse
processo foi acompanhado pela descentralização da gestão de produtos florestais, que passou do
Ibama para os estados federativos. E, paralelamente a isso, graças à tecnologia desenvolvida pelo
“São Paulo Amigo da Amazônia”, de fiscalização e identificação macroscópica, quer dizer, com a
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técnica de ampliação da imagem, foi iniciada a inspeção nos depósitos: um enorme salto de
qualidade e um ganho ambiental muito grande também.
O projeto seguiu algumas etapas. Inicialmente, a identificação era feita no local da ocorrência, com
um técnico do Instituto Florestal presente. Só que não existem muitos técnicos habilitados para
realizar a identificação macroscópica da madeira, usando um microscópio digital. Eram poucos
técnicos para atender à demanda da Polícia Ambiental. Então, foi desenvolvida com o Instituto
Florestal uma série de pesquisas para a identificação da madeira, inclusive para produzir a imagem
digital no local e transmiti-la via internet. Foi o segundo salto de qualidade dentro do projeto. Com
apenas um técnico centralizado no Estado, era possível enviar imagens da fronteira do Estado (das
divisas com Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná) e o Instituto Florestal passava a identificar a
madeira online. Ele identificava a madeira e, imediatamente, respondia para a equipe que estava no
local.
O Capitão Diniz recorda um caso emblemático: “Foi quando apreendemos um caminhão na cidade de
Colômbia, na divisa com Mato Grosso, a mais de 560 km da capital. A imagem da madeira carregada
foi identificada pela Sandra, uma das técnicas do Instituto Florestal e, então, apreendemos o
caminhão graças a uma informação que chegou de longe e, em seguida, deslocamos uma patrulha
para apreender no depósito onde aquele caminhão ia fazer a entrega, em Diadema. Então, ao
mesmo tempo, nós tínhamos dois extremos do Estado, com duas ações simultâneas, que nasceram
de um mesmo levantamento de inteligência policial, que acabou surtindo efeito imediato. A
fiscalização não podia ficar fora da internet. Imagino que qualquer estado produtor de madeira, que
seja origem, é obrigado a jogar todas as informações na rede mundial. Então, a qualquer momento,
ao parar um caminhão em qualquer ponto do Estado de São Paulo, é possível checar, na internet, as
informações com relação àquela carga.”
Foram organizados pelo projeto cursos para que certo número de policiais tivesse condições e
habilidades para fiscalizar madeiras. Não é simples, é uma atividade bem técnica. Atualmente, há 180
policiais treinados. O objetivo é atingir de 30, 40% do efetivo bem treinado, para que, em qualquer
lugar, em qualquer ponto do Estado, a fiscalização se torne rotineira. Adriana conta que ela
coordenou uma capacitação básica de integrantes da Policia Ambiental. Eles foram levados ao Pará
para conhecer como funciona tudo, o que é um plano de manejo florestal, como é o sistema que faz o
controle na origem da madeira, como é o documento e as principais modalidades de fraude.
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Carlos Eduardo Beduschi é o atual Gerente do projeto (final de 2009). Antes ele gerenciava o
Cadastro Estadual de Madeireiras Paulistas (CadMadeira), instituído pelo Decreto Estadual nº
53.047/2008, um dos produtos do São Paulo Amigos da Amazônia, um sistema de cadastro dos
comerciantes de madeira nativa do estado, que foi disponibilizado para acesso, em novembro de
2008. Carlos recorda: “A gente estimulou o cadastro via Município Verde Azul, como uma das
diretivas do projeto. Hoje, são cerca de 270 municípios que já publicaram ou estão encaminhando
para a publicação decretos ou leis municipais, que exigem que o fornecedor de madeira para o
município seja cadastrado. Um dos requisitos para a empresa estar em conformidade com o
CadMadeira é que ela opere no Sistema DOF (Documento de Origem Florestal), implantado pelo
Ibama, em 2006, de forma regular. Faz parte da estratégia de divulgação e implementação do
CadMadeira o selo Madeira Legal, concedido a empresas madeireiras com sede ou filial no Estado de
São Paulo, com cadastro válido no CadMadeira e pátios vistoriados e aprovados.
Já, o tema da Reposição Florestal é antigo no Estado. No âmbito federal, foi abordado no Código
Florestal de 1934 e reformulado em 1965. No âmbito estadual, teve uma legislação específica em
2001 (Lei Estadual nº 10.780/2001) e, depois, um decreto (Decreto Estadual nº 52.762/2008) e uma
resolução em 2008, regulamentando com mais detalhes a lei de 2001. Por meio da Reposição
Florestal, setores consumidores de produtos ou subprodutos de origem florestal promovem a
continuidade de abastecimento de matéria-prima, fazendo o replantio obrigatório de árvores em
volume equivalente ao utilizado. Essa agenda da madeira com a instituição de seus importantes
instrumentos (Fiscalização online, Cadmadeira e Reposição Florestal) vem abordando diferentes
alternativas e iniciativas para que o consumo de madeira e seus subprodutos, no Estado de São
Paulo, seja cada vez mais responsável em busca da sustentabilidade.
Adriana comenta que os policiais e os agentes florestais, que passaram por capacitação no Instituto
Florestal, são hoje uma referência nacional em fiscalização de madeira. Inclusive, os próprios estados
amazônicos estão convidando esses agentes para fazer capacitação lá, na Amazônia. Outro fato
importante: recentemente, ela estava em Minas Gerais em uma reunião com a Prefeitura de Belo
Horizonte e o Governo do Estado de Minas, ambos muito interessados no processo de
reconhecimento de madeira desenvolvido pelo projeto ambiental estratégico. A ideia, então, é replicar
o modelo, que está sendo desenvolvido em São Paulo, em outros Estados Amigos da Amazônia,
como Minas Gerais, Bahia e Acre, e fazer com que tudo acabe dentro do mesmo sistema. E o projeto
mais ambicioso é criar, dentro do Instituto Florestal, um centro de referência de reconhecimento de
madeira que possa fazer reconhecimento de madeira para o país inteiro e até para fora do país.
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Projeto Serra do Mar Pedro Ubiratan Escorel de Azevedo
Entrevista: 11/03/2010
José Pedro de Oliveira Costa
Entrevista: 15/01/2010
Está em curso, no Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), no município de Cubatão, o maior
projeto de reassentamento para fins ambientais de que se tem notícia. São 5.350 famílias que serão
realocadas. Pedro Ubiratan Escorel de Azevedo (então Secretário Adjunto do Meio Ambiente e
Gerente do Projeto Serra do Mar) explica: “Quem confirma isso são as próprias agências
multilaterais, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Banco, especialmente, garante
que este é o maior projeto desse tipo, com uma perspectiva socioambiental, que é o nosso foco. Já
houve remoções de populações, principalmente para construção de reservatórios, mas nunca com a
perspectiva de recuperação ambiental. Isso é mais difícil. Remover uma população porque haverá um
reservatório, é uma questão física. Mas remover para recuperar um ecossistema é inusitado. Claro
que é uma área de risco, que pode desmoronar a qualquer momento. Essa é uma história antiga que
começou com a construção da Via Anchieta. O importante não é apenas remover, mas tentar
melhorar as condições socioeconômicas das pessoas, o que não é simples. Mas, estamos
procurando qualificar essas pessoas, ou seja, a população não é objeto, mas sujeito dessas
mudanças.”
O Parque Estadual da Serra do Mar foi criado em 30 de agosto de 1977. Seus 315.390 hectares
estendem-se por 23 municípios, desde Ubatuba, na divisa com o Estado do Rio de Janeiro, até Pedro
de Toledo, no Litoral Sul do Estado de São Paulo. Já, o planalto, abriga as cabeceiras formadoras
dos rios Paraíba do Sul, Tietê e Ribeira de Iguape, nos municípios de Cunha, São Luiz do Paraitinga,
Natividade da Serra, Paraibuna, Salesópolis, Biritiba-Mirim, Mogi das Cruzes, Santo André, São
Bernardo do Campo, São Paulo e Juquitiba. É o maior território contínuo de remanescentes da Mata
Atlântica no País.
O Parque, hoje, concentra as atenções da comunidade científica, organizações não governamentais
(ONGs), órgãos dos governos, empresas privadas e demais setores da sociedade, em função da
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preocupação com a preservação da Mata Atlântica e da necessidade de aprofundamento dos
conhecimentos sobre a fauna e a flora regionais. Ele protege, por exemplo, 111 espécies de
mamíferos e cerca de 20% de todos os pássaros existentes no Brasil.
Ao criar o Projeto Estratégico Serra do Mar, o Governo do Estado de São Paulo pretendia realizar
diversas ações no Parque, a partir da região de Cubatão, onde a ocupação humana e as pressões
ambientais atingiram um ponto bem acima do crítico, colocando em risco tanto moradores, quanto
recursos naturais, como os mananciais que abastecem a Baixada Santista e a cobertura vegetal, que
garante a estabilidade das encostas. Assim, o objetivo principal do projeto é recuperar as áreas
ocupadas nas encostas do Parque Estadual da Serra do Mar, eliminar riscos para as moradias
precárias, proteger a biodiversidade e a oferta de água e restaurar áreas degradadas.
No final de 2009, foram retiradas 20 famílias, que estavam instaladas no km 40 da Anchieta e até
setembro de 2010, 512 famílias dos Bairros-Cota, Água Fria e Grotão foram realocadas em conjuntos
habitacionais localizados na Baixada Santista e na Região do ABCD. Essas famílias, depois de um
trabalho de aproximação e convencimento, foram transferidas para apartamentos da Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), em São Bernardo do Campo. Em seguida, a
Secretaria do Meio Ambiente e a Secretaria de Habitação vão providenciar a demolição dos imóveis,
remoção do entulho e reflorestamento da área, que será realizado pelo Instituto Florestal, em parceria
com a Fundação Florestal.
“Tivemos uma reunião”, relembra Pedro, “eu fui com o Secretário Xico, no dia 18 de janeiro de 2007,
a primeira reunião mais ampla com o Governador. Era um assunto que preocupava muito. Na
expressão do Governador, na época, essa ocupação estava na jugular da Serra do Mar. Foi uma
expressão muito feliz, porque esse trecho do Parque é o mais estreito, muito sensível e fica entre dois
polos muito grandes, que são a Baixada Santista e a Região Metropolitana. Para que a população
seja sujeito e não objeto desse processo, como muitas vezes tem sido, é necessário requalificar essa
ocupação suburbana ou periurbana, porque ela também acaba favorecendo os delitos associados. É
uma condição urbanista ruim e esse tipo de ocupação subnormal favorece outros problemas sociais,
não menos graves, como o tráfico de drogas.”
A Serra do Mar é uma verdadeira fábrica de água. E ela, também, contribui para o microclima da
Grande São Paulo, favorece a chuva. Na Serra do Mar, chove mais que na Floresta Amazônica e
pouca gente sabe disso: a Serra do Mar é um grande refrigerador, um grande condensador. Toda a
concepção de conservação da Serra do Mar começou a ser elaborada pelo então interventor de São
98
Paulo, Fernando Costa, no final da década de 1930. Foram criadas muitas reservas, (reserva de
lenha, de madeira), mas a questão da água já era uma preocupação. Tanto o Código de Águas como
o primeiro Código Florestal são de 1934. Já existia essa preocupação, empírica, da função da floresta
como fábrica de água.
José Pedro de Oliveira Costa, um dos Subgerentes do projeto e ex-secretário do Meio Ambiente
comenta: “No parque, existem outros problemas, como questões fundiárias e questões com
prefeituras. Por exemplo, a permanência da Vila de Picinguaba no interior dessa Unidade de
Conservação, está em negociação. Já há consenso de que ela deve deixar o parque. Ela foi colocada
no parque em 1977, porque não havia como proteger seus habitantes e dentro do parque seriam
menos pressionados pela especulação imobiliária. Mesmo assim, há um número muito grande de
turistas e parece razoável retirar Picinguaba do parque, fazer uma mudança no desenho dessa UC,
tirando pessoas e acrescentando outras áreas a ele. Possivelmente, o parque vai ganhar muitas
áreas e perder poucas na compensação, e pode ser beneficiado nesse processo que está em
andamento.”
Além do primeiro ataque à Serra do Mar, em Cubatão, outro fenômeno provocou nova ocupação: a
“descoberta” do Litoral Norte nos anos 1970, quando a Rio-Santos foi asfaltada. Houve um boom
imobiliário, e esse foi o segundo ataque, porque, aí, os caiçaras que moravam na praia foram
deslocados para o “sertão”, que é tudo o que fica entre a estrada e a serra. Pedro Ubiratan explica:
“Nós vamos ter uma terceira onda, que é a que a Secretaria está tentando antever ou evitar, que é o
pré-sal. A expansão da Cosipa vai atrair 12 mil pessoas. A orientação que a Secretaria dá é de
aproveitar a população local e evitar que venha gente de fora. Costuma vir do Brasil inteiro e não é
mão de obra qualificada. A indústria tem problemas com os sindicatos e por isso não gosta de
empregar mão de obra local, mas nós, da Secretaria, na área de licenciamento, estamos exigindo
que se empregue 80% da população local. A nossa Secretaria não formula todas as políticas, mas é
transversal a todas elas.”
A nova etapa do Projeto Serra do Mar é chamada de Norte-Sul, visando encontrar uma solução
habitacional para outras regiões que não a do litoral centro, ou seja, fora de Cubatão. E é uma
solução habitacional: mais cidadania, o que inclui, como consequência, mais responsabilidades e
conservação dos recursos naturais.
99
3
As Quatro Coordenadorias
da Secretaria do Meio Ambiente
100
As Coordenadorias constituem o núcleo de Administração Direta da Secretaria. Pela primeira vez,
elas tiveram uma reestruturação completa. O Secretário Xico Graziano conta que, ao assumir a
Secretaria, tinha 550 funcionários emprestados da Fundação Florestal e da Cetesb.
Comissionamento em área pública é normal. Mas nesse montante? Isso significava que a Cetesb
pagava uma conta enorme que não era dela. Eram 380 funcionários da sua folha na Secretaria e a
Fundação Florestal tinha outro tanto. O novo modelo de gestão ambiental conta, desde maio de 2009,
com a nomeação de 300 especialistas ambientais. Todos concursados, eles compõem um quadro de
funcionários estáveis, com carreira em cinco níveis de progressão. É a primeira vez, desde a sua
criação, que a Secretaria do Meio Ambiente tem seu próprio quadro de funcionários.
Na gestão anterior, havia apenas duas Coordenadorias: a Coordenadoria de Planejamento
Estratégico e Educação Ambiental e a Coordenadoria de Licenciamento Ambiental e Proteção de
Recursos Naturais. A valorização tanto da Educação Ambiental, como do Planejamento, claramente
colocada no discurso de posse do Secretário, levou, naturalmente, ao desdobramento e criação de
duas Coordenadorias, com objetivos e responsabilidades bem definidas. Por outro lado, a
Coordenadoria de Recursos Hídricos, que anteriormente fazia parte da Secretaria de Saneamento e
Energia, fez o primeiro movimento da reestruturação, ao passar para a Secretaria do Meio Ambiente.
Finalmente, a necessidade de rever o processo de licenciamento ambiental e sua unificação em um
único órgão, a Cetesb levou a alterações na Coordenadoria de Licenciamento Ambiental e Proteção
de Recursos Naturais (CPRN) que, transformada na Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos
Naturais (CBRN), passou a ter um papel decisivo na elaboração de políticas para proteção dos
recursos naturais, assumindo ainda novas funções.
Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais (CBRN)
Helena Carrascosa
Principais atribuições:
• Planejar, coordenar e controlar a aplicação de normas e políticas, bem como a execução de planos,
programas, projetos e ações relacionados à fiscalização, proteção e recuperação dos recursos
naturais, ao uso sustentável e conservação da biodiversidade, bem como à expedição de
autorizações relativas à fauna silvestre;
101
• Apoiar, técnica e administrativamente, as unidades de policiamento ambiental, da Polícia Militar do
Estado de São Paulo, incumbidas da prevenção e repressão das infrações cometidas contra o meio
ambiente, principalmente o tráfico de animais silvestres e o comércio ilegal de madeiras nobres.
Helena Carrascosa explica que: “A estruturação da atual gestão foi realizada por etapas: iniciou-se
em junho de 2008, quando foi publicado um decreto que organizou, da forma como estão hoje, as
Coordenadorias de Planejamento e de Educação Ambiental e começou a organizar a Coordenadoria
de Licenciamento Ambiental e Proteção de Recursos Naturais (CPRN), que passou a ser a
Coordenadoria da Biodiversidade e Recursos Naturais (CBRN). Isso porque o licenciamento estava
em um processo de unificação com a Cetesb. Dos quatro órgãos que faziam o licenciamento, três
eram daqui e o quarto era a Cetesb. Então, esses órgãos que faziam o licenciamento, não só tiveram
suas atribuições desmembradas. As outras funções foram divididas entre departamentos criados
aqui. A Coordenadoria ficou com cinco departamentos durante um ano, dois deles em fase de
extinção (do departamento, mas não do assunto, porque as funções e o pessoal foram para a
Cetesb).”
E os outros três departamentos foram sendo estruturados, com parte das mesmas atribuições e
novas responsabilidades. A estrutura temporária durou um ano, fazendo licenciamento e criando uma
nova agenda. Em agosto de 2009, quando entrou em vigor a unificação do licenciamento, aqueles
dois departamentos foram extintos. A tarefa, agora, é consolidar os três departamentos que
permaneceram e suas atribuições: as herdadas dos departamentos que foram para a Cetesb e as
novas responsabilidades. Um exemplo: o Estado nunca havia trabalhado com a questão de fauna
silvestre e hoje esse é um assunto dessa Coordenadoria, com o Centro de Fauna e a perspectiva é
assumir totalmente o controle dessa área, atualmente sob responsabilidade do Ibama. São Paulo
está assumindo, também, a gestão do Sistema DOF, que é o Documento de Origem Florestal, que
autoriza o transporte de madeira e que hoje é operado pela CBRN.
Para Helena, “essa fase de construção é a melhor de todas. Essa é a disposição pro ativa que a
gente tenta passar para o pessoal, para os recém-contratados. Na minha área, são 160 novos
funcionários, a maior parte com boa qualificação acadêmica, mas que nunca trabalhou antes, e eu
vejo isso como uma oportunidade, porque é muito raro chegar a um lugar onde se diz ‘vamos
construir juntos’. E a resposta é impressionante. É uma oportunidade única.”
102
Coordenadoria de Educação Ambiental (CEA)
Maria de Lourdes Rocha Freire
Principais atribuições:
• Implementar, por meio de ações integradas às diretrizes da Secretaria do Meio Ambiente, a Política
Estadual de Educação Ambiental;
• Promover a participação do Estado de São Paulo nos programas nacionais e internacionais de
Educação Ambiental;
• Estabelecer canais permanentes de comunicação entre o Sistema Estadual de Administração da
Qualidade Ambiental, Proteção, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente e Uso Adequado dos
Recursos Naturais (SEAQUA) e os diferentes segmentos sociais;
• Fomentar atividades que envolvam a comunicação educativa.
Para Maria de Lourdes, a Malu, vários problemas ligados a questões ambientais, desafios na área do
meio ambiente, só serão realmente superados ou resolvidos, ou mesmo equacionados, pela
Educação Ambiental. E, nesta gestão, ela tem uma importância que nunca lhe foi dada anteriormente.
A criação da atual Coordenadoria da Educação Ambiental vem acompanhada por uma mudança de
paradigma no próprio Governo, na visão dos dirigentes, que já vêm educados ambientalmente.
Educação Ambiental confunde-se com gestão ambiental e impacta o restante do Governo. O próprio
Secretário leva para as outras pastas a dimensão ambiental do seu Plano de Governo. A Educação
Ambiental tem que permear todos os processos de gestão, especialmente no que diz respeito ao
Governo de São Paulo.
A Lei Nacional de Educação Ambiental foi aprovada pelo então Presidente Fernando Henrique
Cardoso, em 1999, e o Estado de São Paulo só veio aprovar sua lei agora, na gestão José Serra, em
2009, ou seja, quase 10 anos depois, o Estado de São Paulo institucionaliza a Educação Ambiental
por meio dessa lei (Lei Estadual nº 12.780/2007). Um importante avanço, que resgata o papel do
Governo do Estado na Política de Educação Ambiental.
Malu explica: “Com a criação da Coordenadoria, no atual governo, a Educação Ambiental passou a
permear os principais Projetos Estratégicos da Secretaria, tornando-se um instrumento efetivo de
gestão ambiental no Estado de São Paulo. A Coordenadoria foi criada em 2008 e, inicialmente, tinha
pouco mais de 10 funcionários, com um orçamento de R$ 200.000,00. No final de 2009, temos aqui,
uma equipe de 90 pessoas atuando em programas e ações de Educação Ambiental nas várias
103
frentes da agenda ambiental paulista, dando corpo a uma consistente política de institucionalização
da educação ambiental no governo de São Paulo.”
E não se pode deixar de mencionar o Projeto Criança Ecológica, uma ferramenta efetiva de
Educação Ambiental, porque instrumentaliza professores e educadores, ao abordar a temática
ambiental utilizando recursos pedagógicos variados, entre eles, o livro “Criança Ecológica: sou dessa
turma”, a peça de teatro Criança Ecológica, o filme, o Guia do Professor, ciclos de capacitação de
professores na agenda ambiental, além dos espaços preparados com roteiros pedagógicos para
receber os alunos do Ensino Fundamental I. Faltava, na Educação Ambiental, essa possibilidade de
integração e visibilidade.
Lucia Marins, a bibliotecária responsável pelo Centro de Referência de Educação Ambiental, que
funciona no Parque da Água Branca, conta que a Secretaria tem um acervo de 15 mil exemplares,
único do Estado, exclusivamente voltado para a área da educação ambiental. Além dos livros, fazem
parte do acervo teses e dissertações, vídeos, DVD’s e um interessante conjunto de exposições
temáticas itinerantes.
Rachel Azzari, da Coordenadoria de Educação Ambiental (CEA), responsável pela avaliação de
projetos financiados com recursos do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro), considera que
“os projetos de educação ambiental no Estado de São Paulo propostos na esfera do Fehidro têm
importância crescente. Entretanto, parte deles ainda tem alcance restrito, com ações pouco
enraizadas na bacia hidrográfica. É possível, porém, identificar mudanças importantes, que vêm
ocorrendo no Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIGRH), desde 2007. Os
projetos estão em constante melhoria, tanto do ponto de vista de apresentação, quanto técnico. É
significativo o avanço em relação à temática, abrangência e pertinência desses projetos. As falhas
que ainda apresentam (carência de elementos básicos como objetivo, metodologia e resultados
esperados) estão sendo sanadas nas análises técnicas, reuniões presenciais de orientação junto aos
Comitês de Bacia.”
Para ela, “a efetividade dos projetos de educação ambiental depende de uma maior relação com os
Planos de Bacia. Dessa forma, eles seriam desenvolvidos não mais ou não somente, a partir da visão
e interesse de um proponente, mas sim das reais questões ambientais da Bacia Hidrográfica. O
desafio é o acompanhamento dos projetos de educação ambiental pelo agente técnico e a criação de
104
mecanismos que permitam avaliar os resultados alcançados. O Fehidro é uma fonte importante de
recursos para projetos de educação ambiental, na área de recursos hídricos.”
A criação da Coordenadoria de Educação Ambiental, na Reforma Administrativa da Secretaria,
definiu esse órgão como agente técnico de projetos de educação ambiental financiados pelo Fehidro.
Assim, vem sendo construída uma nova relação com todos os entes envolvidos na elaboração e
desenvolvimento de projetos de educação ambiental no Fehidro, proporcionando a descentralização
da Educação Ambiental no Estado de São Paulo, graças à atuação direta de órgãos do estado,
municípios e, principalmente, da sociedade civil, mas que atue de forma integrada. Toda a orientação,
enquanto agente técnico, visa à otimização dos resultados e garantia de acompanhamento do
desenvolvimento do que foi proposto pelos próprios tomadores e pelo sistema como um todo.
Coordenadoria de Planejamento Ambiental (CPLA)
Casemiro Tércio Carvalho
Com a instituição dessa coordenadoria, na reforma administrativa, o papel de planejamento foi
reforçado no Sistema de Meio Ambiente. Sua atuação é diversificada, abrange as mais variadas
temáticas ambientais e é dotada da mesma transversalidade da Coordenadoria da Educação
Ambiental.
Principais competências:
• Planejar o zoneamento de áreas sob proteção especial ou de interesse ambiental estratégico;
• Propor e estabelecer formas de cooperação com órgãos e entidades, públicos e privados, visando à
promoção, recuperação e conservação da qualidade ambiental;
• Promover ações para compatibilizar planejamento ambiental e planejamento dos demais setores
públicos, visando ao desenvolvimento sustentável;
• Elaborar o planejamento estratégico do uso de recursos ambientais, de modo a compatibilizar
desenvolvimento econômico e social com a proteção ambiental, garantida a participação da
sociedade;
• Acompanhar a implantação dos planos regionais de desenvolvimento, possibilitando a incorporação
das metas de prevenção, proteção e recuperação das condições ambientais;
• Consolidar e disponibilizar informações ambientais, para suporte à tomada de decisão para a gestão
ambiental;
105
• Participar do Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos (CORHI).
Dentre suas ações, está a criação, na instituição, de um Selo Socioambiental, para identificar os itens
das compras públicas estaduais de menor impacto nos recursos naturais e redução de geração de
resíduos e de emissão de poluentes. Estão em fase de proposição as metodologias para as
Avaliações Ambientais Estratégicas, que envolvem análise integrada dos impactos ambientais e
socioeconômicos advindos dos empreendimentos humanos, considerando-se a inter-relação e a
somatória dos efeitos ocasionados em um determinado território para o desenvolvimento sustentável.
Neste âmbito, também estão em fase de elaboração os Zoneamentos Ecológico Econômicos, por
Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
A Coordenadoria elaborou o Painel de Qualidade Ambiental, que visa tornar públicas as principais
informações ambientais do Estado de São Paulo a partir de 21 indicadores básicos. Ele deverá ter
edição anual. Também propôs a assinatura do Protocolo da Construção Civil com o setor para
melhores práticas de construção sustentável, associadas à capacitação do corpo técnico da
administração direta e indireta e do Protocolo da Mineração, visando práticas sustentáveis do setor.
Também foi um produto concretizado em 2008.
Para subsidiar a tomada de decisão no âmbito do Estado, iniciou-se a elaboração dos Cadernos de
Planejamento Ambiental das Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHIs) do Estado
de São Paulo, compostos de diagnóstico, mapeamento das dinâmicas territoriais, levantamento das
políticas públicas existentes, projeção de cenários e indicadores e a proposição de um zoneamento
ecológico econômico e de diretrizes para implantação de planos de ação e gestão. Já concluído o
Caderno da UGRHI 01 – Mantiqueira –, o próximo será da UGRHI 02 – Paraíba do Sul.
Cabe destacar a elaboração do caderno Economia Verde: Desenvolvimento, Meio Ambiente e
Qualidade de Vida no Estado de São Paulo, propondo políticas e ações para o desenvolvimento
sustentável, com a definição de estratégias para crescimento econômico, emprego e renda, pesquisa
e inovação tecnológica e qualidade ambiental.
Coordenadoria de Recursos Hídricos (CRHi)
Rosa Mancini
106
A CRHi é responsável pela coordenação e implementação da Política Estadual das Águas, ou seja,
do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIGRH), unindo, na Secretaria do
Meio Ambiente, a agenda azul com a verde.
O SIGRH é constituído por três instâncias:
1. Política, representada pelos 21 Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs) e Conselho Estadual de
Recursos Hídricos, composto por representantes do Estado, dos Municípios e da sociedade civil
organizada, que decidem quais ações prioritárias devem ser realizadas para aprimorar a
qualidade e quantidade da água;
2. Técnica, representada pelo Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos e
Secretarias Executivas dos CBHs, que desenvolvem os instrumentos técnicos, que apoiam a
tomada de decisão;
3. Financeira, representada pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos, que financia projetos e
ações de interesse do Estado e das Bacias.
Principais competências:
• Coordenar e supervisionar o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIGRH) e
a aplicação dos instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos;
• Coordenar o planejamento e a execução das ações relativas à implementação da Política Estadual
de Recursos Hídricos, em articulação com os demais integrantes do Sistema Estadual de
Administração da Qualidade Ambiental, Proteção, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente e
Uso Adequado dos Recursos Naturais (Seaqua) e do Sistema Integrado de Gerenciamento de
Recursos Hídricos (SIGRH);
• Participar do Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos (CORHI);
• Prestar serviços de Secretaria Executiva ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CRH) e ao
Conselho de Orientação do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Cofehidro);
• Promover, em articulação com o Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos
(CORHI), a integração do SIGRH com os demais sistemas e programas de interesse para o
gerenciamento dos recursos hídricos;
• Acompanhar e participar da implantação e do desenvolvimento do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;
• Promover, em integração com o Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos
(CORHI), a articulação com os órgãos correlatos da União, dos estados vizinhos e dos municípios do
Estado de São Paulo;
107
• Fomentar a articulação com organismos internacionais e entidades de direito privado, objetivando a
implantação de ações de interesse para o gerenciamento de recursos hídricos.
A aprovação dos Planos de Bacias dos 21 Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs) colaborou com o
aprimoramento do processo de tomada de decisão para alocação dos recursos financeiros do Fundo
Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro), hoje integrante do Sistema do Meio Ambiente.
A Coordenadoria dos Recursos Hídricos também desenvolveu o “Pacto das Águas – São Paulo”, que
se propõe a estimular a participação, a descentralização e o cumprimento de metas estratégicas,
envolvendo municípios e entidades regionais na política das águas. As metas foram definidas em
função da análise dos Planos de Bacias e estão divididas em três blocos: saneamento, proteção das
águas e projetos de interesse local (que devem ser definidos por cada município). O objetivo é
respeitar e perseguir os preceitos e demandas contidos no documento intitulado “Consenso de
Istambul sobre Água”, aprovado pelo V Fórum Mundial da Água, realizado em 2009, em Istambul, na
Turquia. O prazo para cumprimento das metas é dezembro de 2011 e os resultados serão
apresentados no VI Fórum Mundial da Água, em março de 2012, em Marselha, na França. Na
primeira reunião, de junho de 2009, realizada em Bocaina, no interior do estado, 200 prefeitos
aderiram ao Pacto. Em dezembro de 2010, a adesão havia subido para 599 dos 645 municípios
paulistas.
108
4
Os Três Institutos
da Secretaria do Meio Ambiente
109
A pesquisa científica sobre o meio ambiente é ampla e multidisciplinar. Na Secretaria de Estado do
Meio Ambiente, três institutos são responsáveis pela pesquisa ambiental: O Instituto Florestal, o
Instituto Geológico e o Instituto Botânico. Na atual gestão, os Institutos – Botânico, Geológico e
Florestal – têm um papel fundamental, contribuindo com dados científicos para a gestão dos recursos
naturais e também para o estabelecimento de políticas.
Instituto Geológico
Ricardo Vedovello
O Instituto Geológico é oriundo da Comissão Geográfica e Geológica, criada em 1886, ainda no
tempo do Império. Teve como objetivo proporcionar o conhecimento do território da então Província
de São Paulo, e permitir a ocupação e o uso dos recursos naturais. Assim, a realização de pesquisas,
em particular geocientíficas, sempre predominou na Instituição.
Ao se aproximar dos 125 anos, e desde sua vinculação à Secretaria do Meio Ambiente, em 1987,
após o período de atuação restrita junto à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, o Instituto
Geológico retomou seu papel amplo de órgão de Geologia do Estado, atuando em todas as áreas de
aplicação dessa ciência. Atualmente, o Instituto Geológico tem cerca de 50 pesquisadores científicos,
incluindo geólogos - em sua maior parte – geógrafos e engenheiros.
A pesquisa científica e os trabalhos do Instituto Geológico geram conhecimentos do meio físico,
incluindo suas potencialidades e fragilidades, que visam subsidiar a definição e aplicação de políticas
públicas da Secretaria do Meio Ambiente, além de dar suporte às políticas setoriais relacionadas à
Geologia.
Os principais temas contemplados nas pesquisas e trabalhos incluem: mapeamento geológico,
monumentos geológicos, hidrogeologia, mineração, geomorfologia, paleontologia, climatologia,
geotecnia, riscos geológicos e geoinformação. O conhecimento produzido tem sido aplicado
principalmente em suporte à gestão de recursos hídricos subterrâneos, à gestão de recursos
minerais, à prevenção de desastres naturais, à gestão de unidades de conservação e monumentos
geológicos e ao planejamento territorial. A aplicação é feita nos diversos níveis e instrumentos de
gestão ambiental, tais como: definição de políticas específicas, planejamento e gerenciamento
ambiental, zoneamentos ecológico-econômicos, planos diretores, planos de manejo de Unidades de
110
Conservação, planos de bacias hidrográficas, licenciamentos ambientais, instrumentos de avaliação
de impactos ambientais, regulamentações, legislação, laudos e pareceres.
Uma das atuações do Instituto Geológico, em parceria com outros setores do Governo do Estado de
São Paulo, refere-se ao apoio técnico à Defesa Civil, no gerenciamento de áreas de riscos e na
prevenção de acidentes e desastres associados a deslizamentos, inundações e outros fenômenos
naturais perigosos.
Os trabalhos junto à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), da Casa Militar, estão
agrupados em dois termos de cooperação técnica: “Apoio Técnico a Planos Preventivos de Defesa
Civil” e “Mapeamento de Áreas de Risco dos Municípios do Estado.” No primeiro caso, são
contemplados planos preventivos de caráter emergencial, com ações mais intensivas entre dezembro
e março, no período das chuvas. O Instituto chega a manter equipes de plantão 24 horas. A atuação
preventiva é principalmente relacionada a deslizamentos. No âmbito da prevenção e atendimento a
desastres naturais, o Instituto Geológico realiza cursos de treinamento dirigidos às equipes
municipais, vistorias preventivas e faz atendimentos emergenciais. A outra vertente é a realização de
mapeamentos das áreas de risco de deslizamentos e inundações, atividades também relacionadas à
Defesa Civil. Nesses mapeamentos são feitas setorizações e hierarquizações de situações de risco,
com recomendações de ações mitigadoras por parte dos municípios.
“Para tratar a questão da prevenção de desastres naturais de forma ainda mais completa, o Instituto
tem procurado contemplá-la nas políticas e instrumentos de gestão e ordenamento territorial, como,
por exemplo, nos Zoneamentos Ecológico-Econômicos, em implantação junto à Coordenadoria de
Planejamento Ambiental (CPLA) e no detalhamento de ações pertinentes indicadas na Lei Estadual
de Mudanças Climáticas”, explica Ricardo Vedovello, Diretor do Instituto.
Segundo Ricardo Vedovello, “a atuação do Instituto Geológico na prevenção de desastres abrange
ações de planejamento territorial, gerenciamento e administração dos riscos existentes e mitigação.
Uma avaliação desses trabalhos indica que se trata de uma atividade institucional essencial, balizada
por conhecimento técnico e constante atualização científica, em benefício direto da comunidade.”
Em complementação à atuação diretamente vinculada às políticas públicas, o Instituto tem buscado
divulgar e difundir o conhecimento armazenado por meio de publicações, cursos, palestras e oficinas
destinadas ao público em geral e aos agentes públicos. Destaca-se, neste contexto, o programa de
111
educação ambiental, baseado em técnicas lúdicas e sensoriais, desenvolvido pelo Museu Geológico
Valdemar Lefèvre (MUGEO) do IG, a qual trabalha com o público leigo e com crianças em idade
escolar.
Recentemente, foi criado o Conselho Estadual de Monumentos Geológicos (CoMGeo), com o objetivo
de identificar e proteger o patrimônio geológico, bem como sua compatibilidade com atividades de
gestão territorial, licenciamento e fiscalização ambiental e ecoturismo.
Instituto de Botânica
Vera Bononi
O Instituto de Botânica tem suas origens no Departamento de Botânica do Estado de São Paulo,
criado em 1942 e subordinado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Em 1987, sem
alterações, foi transferido para a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, onde está até hoje.
O Instituto de Botânica tem 97 pesquisadores científicos, em sua maioria biólogos e engenheiros
agrônomos, que estudam plantas e micro-organismos nativos, incluindo sua distribuição pelo país;
produtos de interesse da medicina; nutrição; cosmética e outros usos. Seus estudos da vegetação
servem de subsídio para políticas da Secretaria, incluindo a definição de áreas mais frágeis e a
proteção de espécies ameaçadas de extinção. Entre seus trabalhos, há estudos para a recuperação
de áreas degradadas e de micro-organismos, capazes de despoluir ambientes altamente
contaminados.
Nestes três últimos anos, houve um reforço efetivo aos institutos. O reconhecimento da importância
da pesquisa e o fato de o Projeto Estratégico Pesquisa Ambiental ser considerado prioritário foi muito
importante. Nesses quatro anos, no final da gestão, entre os três institutos, serão cerca de 1.200
trabalhos publicados, muitos deles em conceituadas revistas científicas, tanto nacionais como
internacionais. Isso fortaleceu o entusiasmo dos pesquisadores e, quando foram alocados recursos
para pesquisa, o resultado ficou evidente. Chegou-se a um novo patamar na qualidade e quantidade
de trabalhos publicados. Mais que os recursos, o grande estímulo aos pesquisadores foi ver as
pesquisas serem utilizadas na elaboração das políticas da Secretaria.
112
Vera Bononi é diretora do Instituto de Botânica e Gerente do Projeto Estratégico Pesquisa Ambiental
e complementa: “Os pesquisadores veem que os resultados de trabalhos de muitos anos estão sendo
usados para estabelecer políticas. No ano passado, lançamos o livro Diretrizes para Conservação e
Restauração da Biodiversidade do Estado de São Paulo, que reúne trabalho de 160 especialistas.
Como foi feito esse trabalho? Por exemplo, no capítulo Mamíferos no Estado de São Paulo, todos os
especialistas em mamíferos, que trabalham há 20 ou 30 anos na área, foram chamados a opinar,
dizer o que era mais importante para conservação de mamíferos no Estado. Aí eu pensei, quando a
gente estava terminando o livro, que a Secretaria não ia usar. Mas, ela está usando para
licenciamento, está usando para os recursos de compensação ambiental, quando se faz o
licenciamento e entram os recursos da compensação ambiental. Esses dados estão sendo utilizados
na prática das políticas da Secretaria do Meio Ambiente. Isso trouxe outro gás para todos.”
Instituto Florestal
Rodrigo Victor
O Instituto Florestal, estabelecido na capital paulista e em outras unidades espalhadas pelo Estado,
abriga 120 pesquisadores com diferentes formações, principalmente engenheiros-agrônomos,
engenheiros florestais e biólogos, que se dedicam à pesquisa florestal: levantamento da cobertura
vegetal no Estado, ecologia e composição das formações florestais. Pesquisam, também, a fauna e
as espécies ameaçadas de extinção. O Instituto Florestal atua em estudos de manejo de florestas,
visando seu uso e aproveitamento com menor impacto e maior produtividade. Outros projetos são:
técnicas de reflorestamento, incluindo as matas ciliares para a proteção de cursos d’água, manejo de
bacias hidrográficas e compostagem de resíduos florestais.
O Instituto Florestal tradicionalmente forneceu subsídios para as políticas públicas na área florestal.
Para o monitoramento da cobertura florestal do Estado, inclusive, foi lançado o novo Inventário
Florestal do Estado de São Paulo, abrangendo toda a cobertura vegetal, mostrando onde a situação
melhorou e onde regrediu, além de fornecer uma série de outras contribuições.
No Inventário Florestal, divulgado em 2005, referente aos dados de 2001/2002, foram verificados 3,45
milhões de hectares de cobertura vegetal no Estado de São Paulo, correspondentes a 13,9% do
território. Em 2010, no novo Inventário Florestal, referente aos dados de 2008/2009, foram
identificados 4,34 milhões de hectares de vegetação nativa, correspondendo a 17,5% do território do
113
Estado de São Paulo. O aumento de 886 mil hectares é decorrente do aprimoramento das imagens e
da metodologia e, também, do aumento da cobertura vegetal nativa, de 94,5 mil hectares,
comprovando que, no Estado de São Paulo, há recuperação de cobertura florestal.
Rodrigo dá exemplos: “No Projeto Biota/Fapesp, a espacialização das suas políticas são todas
baseadas no inventário do Instituto. A questão do Município Verde Azul, no que diz respeito à
cobertura vegetal, vai ser monitorada e avaliada pelos dados do inventário do Instituto Florestal.
Políticas públicas de recomposição de florestas, políticas públicas de várias ordens podem ser
viabilizadas pela análise desse inventário florestal. O inventário é o que há de mais completo em
termos de informações na área florestal.”
“O Instituto também atua”, continua Rodrigo, “na área socioambiental, principalmente no fomento do
ecomercado de trabalho, importante na criação de unidades de conservação. Outro projeto que usa
como base a pesquisa do Instituto é o Projeto Estratégico São Paulo Amigo da Amazônia, para o qual
o Instituto faz um trabalho muito especializado, que é o da identificação de madeira. Para quase
todos os planos de manejo são feitos estudos técnicos pela nossa equipe. Afora isso, há uma série
de pesquisas no setor, além do florestal, na área de botânica, na área de fauna, que gera políticas
públicas setoriais, como foi o caso das leis de proteção do Cerrado paulista. Também fazemos
pesquisas de recomposição de florestas, as tais florestas plantadas e coordenamos a Reserva da
Biosfera do Cinturão Verde, da cidade de São Paulo, cuja importância dispensa maiores explicações.”
Rodrigo Victor conclui: “Eu acho que o Instituto está num momento de reconstrução de sua identidade
institucional, com base, claro, na pesquisa, que é da sua natureza, está presente no seu DNA. Desde
a instituição do Sieflor - Sistema Estadual de Florestas, ainda na gestão passada, o Instituto precisa
passar por um processo de reflexão para se redefinir, evitar áreas cinzentas, fronteiras indefinidas
com outros institutos, com a Fundação Florestal, num esforço de realizar ações sinérgicas e não
concorrentes. Complementaridade e sinergia.”
114
5
As Duas Fundações
da Secretaria do Meio Ambiente
115
Fundação Florestal
José Amaral Wagner Neto - Diretor Executivo
José Carlos Geraci – Diretor Administrativo e Financeiro
A ocupação desordenada do Estado de São Paulo, ao longo do tempo, levou à destruição de grande
parte da sua cobertura vegetal original. Além da destruição da biodiversidade, os desmatamentos
intensificaram processos erosivos, com aumento significativo de deslizamentos de encostas, perda de
solos agricultáveis e assoreamento de rios e represas, levando, inclusive, ao comprometimento do
abastecimento de água potável. A consciência de que era preciso fazer alguma coisa para impedir a
aceleração desses processos era clara já há algumas décadas.
A Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo, órgão vinculado à
Secretaria do Meio Ambiente, foi criada em julho de 1986 e tem por objetivo a conservação, manejo e
ampliação das florestas de proteção e produção do Estado de São Paulo. Apóia, promove e executa
ações integradas voltadas para a conservação ambiental, proteção da biodiversidade,
desenvolvimento sustentável, recuperação de áreas degradadas e reflorestamento de locais
ambientalmente vulneráveis, realizando parcerias com órgãos governamentais e instituições da
sociedade civil.
Na atual gestão, a Fundação Florestal tornou-se responsável pela gestão de 103 Unidades de
Conservação de Proteção Integral e de Uso Sustentável. A essas foram incorporadas atividades
relacionadas às Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e aquelas relativas às Estações
Ecológicas e Parques Estaduais.
A Fundação Florestal, por meio do Projeto Estratégico Gestão das Unidades de Conservação,
trabalha na fiscalização, no fortalecimento dos conselhos, no envolvimento com as comunidades
residentes, na capacitação, na valorização cultural e da produção local, na elaboração de planos de
manejo, na regularização fundiária, na sustentabilidade do entorno e no aprimoramento do uso
público, fomentando as ações de educação ambiental e ecoturismo. Para Wagner Neto, Gerente do
Projeto Gestão das Unidades de Conservação e Diretor Executivo da Fundação Florestal, a melhor
maneira de proteger os parques é pela obtenção do reconhecimento de sua importância ambiental,
cientifica e educacional, por parte da sociedade. Até 2010, foram constituídos 65 Conselhos
Consultivos nos parques: é a sociedade participando e sugerindo novas formas de tratar áreas
116
protegidas. Essa mesma filosofia, de chamar a sociedade a participar, a exemplo do que também foi
conquistado com outro Projeto Ambiental Estratégico, o do Ecoturismo.
Dentre outras ações, atuou na recuperação do palmito Juçara no Parque da Serra do Mar, com o
plantio de mais de 10.000 mudas, associado às ações de educação ambiental. Também foram
ampliados os limites do Parque Estadual do Jacupiranga, com a instituição do Mosaico do
Jacupiranga, composto por 14 Unidades de Conservação.
José Carlos Geraci, Diretor Administrativo e Financeiro da Fundação Florestal, faz algumas
observações sobre o gerenciamento florestal nessa gestão. Para ele, o decreto de criação do
Sistema Estadual de Floresta – Sieflor – foi um marco associado ao aumento de investimento em
Unidades de Conservação. Para ele, o orçamento dos últimos três exercícios, comparado a 2007,
mostra o crescimento das atividades da Fundação Florestal. Em 2008, houve um incremento
orçamentário de 122%; em 2009, foi de 205% e; em 2010, a previsão é de 173%. Isso combinado ao
investimento no custeio das Unidades de Conservação possibilitou, principalmente, um incremento
nas atividades de fiscalização, monitoramento ambiental e comunicação das ações do governo.
As atividades de monitoramento ambiental na Fundação receberam nos últimos três anos um
investimento de R$ 10 milhões, cujo objetivo é a formação, nas Unidades de Conservação, de
equipes responsáveis por atividades de educação ambiental, visitação, ecoturismo, apoio a pesquisa,
lazer e recreação. Uma ferramenta importante que pode tornar a população mais consciente e mais
sensível a questões de conservação ambiental, mais parceira na defesa dos recursos naturais,
especialmente em projetos como o Criança Ecológica.
Outro grande investimento é o Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar e
Sistemas de Mosaico da Mata Atlântica, em parceria com o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) a ser executado pela Fundação e que, em 2010, conta com investimentos na
ordem de R$ 90 milhões, com o objetivo de promover a conservação, uso sustentável e recuperação
socioambiental da Serra do Mar, das unidades Juréia-Itatins e das Áreas de Proteção Ambiental
(APAs) Marinhas e seu entorno, gerando benefícios sociais e ecológicos e promovendo a efetiva
proteção da biodiversidade e dos mananciais que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo e
da Baixada Santista.
117
Fundação Parque Zoológico
Paulo Magalhães Bressan – Diretor Presidente
O Zoológico de São Paulo foi criado em junho de 1957, obedecendo a uma instrução do Governador
Jânio Quadros, ao Diretor do Departamento de Caça e Pesca da Secretaria da Agricultura. No ano de
1958, a entrada era gratuita; mas, a partir da criação da Fundação Parque Zoológico de São Paulo,
em 1959, os ingressos passaram a ser cobrados. Foi quando a Fundação obteve personalidade
jurídica e autonomia administrativa, financeira e científica.
Paulo Magalhães Bressan (Diretor Presidente do Zoológico) explica: “Em 2004, pela primeira vez na
existência do Zoológico, o Governo do Estado olhou para ele como uma instituição voltada para a
questão ambiental, não mais como um parque destinado exclusivamente a entretenimento e lazer. E
ele, que estava na Secretaria de Esporte e Turismo, foi transferido para a Secretaria do Meio
Ambiente.”
Agora, nessa gestão, com a proposta de trabalhar com projetos, o Zoológico assumiu uma posição
mais afinada com as questões contemporâneas. Como ele era a única instituição da Secretaria do
Meio Ambiente que podia tratar do tema fauna, pela sua competência, especificidade e experiência, o
Secretário, ao criar o Projeto Estratégico Fauna Silvestre, convocou o Zoológico para auxiliar no
desenvolvimento do projeto, para o qual Paulo Magalhães Bressan foi nomeado Gerente.
Um avanço importante foi a instituição de um centro de estudos e conservação da fauna ameaçada
de extinção, denominado Centro de Conservação da Fauna (Cecfau), cujos objetivos são a proteção
da natureza e preservação de amostras ecológicas representativas para estudos científicos, o
monitoramento ambiental, a educação e a manutenção de recursos genéticos. Para as espécies
ameaçadas de extinção, o Cecfau será um importante centro para reabilitação, visando seu retorno à
vida em liberdade. A obra já foi iniciada e a primeira fase, com os recintos para animais, centro
veterinário e centros receptivos, será destinada aos primatas.
Outro resultado importante foi a certificação do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) pela ISO 14001,
em 2007, obtida por apenas 10 instituições do gênero em todo o mundo e a única na América Latina.
Para a manutenção da ISO 14001, foram realizadas diversas ações, como a implantação de coleta
seletiva, sistema de tratamento de esgoto e água, programa de redução de consumo de água,
associado à instalação de equipamentos de reuso e a construção de uma unidade de produção de
118
compostos orgânicos, para processamento do resíduo orgânico gerado no Parque Zoológico e no
Zoo Safári que, transformado em adubo, é utilizado em áreas do parque e da unidade de produção
rural em Araçoiaba da Serra.
119
6
Cetesb Fernando Rei (Presidente)
120
A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo é definida como uma empresa do Governo do
Estado de São Paulo, responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de
atividades geradoras de poluição, com a preocupação fundamental de preservar e recuperar a
qualidade das águas, do ar e do solo.
Criado em julho de 1968 e chamado de “o” Cetesb - Centro Tecnológico de Saneamento Básico, ele
incorporou a Superintendência de Saneamento Ambiental (Susam), vinculada à Secretaria da Saúde,
que absorvera a Comissão Intermunicipal de Controle da Poluição das Águas e do Ar (Cicpaa) a qual,
desde agosto de 1960, atuava nos municípios da região do ABC da Grande São Paulo.
Depois, ao longo dos anos, a empresa foi sofrendo alterações, adaptando-se aos novos tempos.
Agora, em 2009, a nova Cetesb - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo avança na sua
importante função de controle da qualidade ambiental, assumindo as novas atribuições de
licenciamento ambiental. A Cetesb renova-se, operando com maior capacidade. A Lei Estadual
13.542/2009 reuniu na “nova” Cetesb as atribuições de quatro órgãos públicos: o Departamento
Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN), o Departamento de Uso do Solo Metropolitano
(DUSM), o Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental (DAIA) e algumas das
responsabilidades da própria Cetesb. Assim, o licenciamento passa a ter um único endereço: Cetesb.
Para atender a um estado complexo, com seus 645 municípios, a rede descentralizada das unidades
da Cetesb está em fase de ampliação, no interior e na região metropolitana paulistana, com a
instalação de 56 novas Agências Ambientais, nas 22 bacias hidrográficas. A metodologia de análise
também foi alterada. A análise de supressão de vegetação passou a ser integrada ao controle da
poluição. A Cetesb, agora, analisa conjuntamente a supressão de vegetação, a recuperação de Área
de Preservação Permanente (APP) e o atendimento aos padrões de emissão de poluentes. Avaliação
conjunta dos impactos causados por um empreendimento.
A Cetesb, além de implementar o balcão único para licenciamentos e de manter atendimento
exemplar às emergências químicas em todo o estado, pode destacar o reforço e maior fiscalização de
postos de combustíveis, pois dobrou o número dos postos que funcionam com Licença de Operação.
Também o gerenciamento das áreas contaminadas do estado foi aprimorado com a instituição de um
cadastro público das áreas contaminadas, envolvendo sua identificação, classificação conforme o
risco que oferecem e a criação de um Fundo Estadual para Prevenção e Remediação de Áreas
Contaminadas (Feprac).
121
Fernando Rei, presidente da Cetesb, comenta: “O histórico da Secretaria está muito atrelado à
evolução da questão ambiental na história recente do Estado. A Cetesb nasceu com um DNA muito
focado, muito centrado no controle e fiscalização de fontes de poluição de perfil industrial. Ela é
anterior à Secretaria, é de 1968. E esse DNA é muito forte. Quando se criou a Secretaria, foram
incorporadas à gestão ambiental áreas que não guardavam, digamos, uma ligação direta com o
trabalho da Cetesb. Eu não estava aqui. Então, não sou um personagem da história, mas pelo que
ouço falar, foi acontecendo um pouco de comum acordo entre as duas instituições. Quando o
licenciamento ambiental exigiu a implementação de estudos de impacto ambiental, a Cetesb se
desinteressou por essa área, que foi devolvida para a Secretaria. O fato é que o estopim, o que
realmente provocou a reflexão de que este modelo estava equivocado – é uma leitura pessoal – foi o
incêndio na Secretaria do Meio Ambiente, em 1996, porque, enquanto não dividiam o mesmo espaço,
os corpos conviviam. A partir, porém, do momento em que a Secretaria se instalou no prédio da
Cetesb, pôde-se verificar quão diferentes eram os perfis dos corpos técnicos dos dois sistemas. Por
mais que grande parte do corpo técnico lotado na Secretaria fosse da Cetesb, tais funcionários nunca
trabalharam na Cetesb.”
O texto de Fernando Rei, publicado no site da Cetesb, em agosto de 2009 e reproduzido a seguir,
resume o grande desafio enfrentado pela companhia: “Compreender culturas diferentes e como
integrá-las tem sido crucial para o sucesso dessa fusão. A criação da nova Cetesb não passa apenas
pela reunião do corpo técnico de quatro órgãos licenciadores. Trata-se de um movimento de
crescimento profissional para todos os funcionários, de aperfeiçoamento e desafio da nova
companhia. Uma oportunidade de agregar pessoas e suas maneiras de olhar a questão ambiental.
Um dos fatores de risco mais críticos para o sucesso dessa integração é o fantasma do chamado
corporativismo técnico, que, em algumas organizações públicas e mesmo privadas, assume o
controle do gerenciamento de áreas principais, ficando a administração sem intervenção relevante na
condução de todo o processo de fusão. Felizmente, passado o primeiro ano, é importante reconhecer
que se avançou no processo para a efetiva construção da Cetesb “turbinada”, usando a expressão do
então secretário Xico Graziano, com novas atribuições, melhor estruturada, melhor distribuída no
território paulista, assumindo vocações regionais e se organizando para vencer o desafio da gestão
da sustentabilidade. Assim, espera-se construir uma nova organização que, além de valorizar a
dimensão humana na missão institucional, reconheça a riqueza da diversidade intracultural.”
122
7
Consema Germano Seara Filho (Secretário Executivo)
123
O Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) foi criado por um decreto no Governo Montoro,
nos primeiros meses do seu governo. Funcionou na base do decreto até 2009, apesar da
Constituição do Estado, de 1989, no artigo 193, prever a criação de um sistema de qualidade
ambiental, controle, proteção e desenvolvimento do meio ambiente, que seria integrado por um
Consema modificado, sobretudo no que se refere às suas atribuições – a Constituição estabeleceu
claramente que ele deveria ser um conselho normativo e recursal, com atribuições definidas em lei. O
Sistema Ambiental foi criado pela Lei 9.509/97, para ser coordenado por um órgão da administração
direta, a Secretaria do Meio Ambiente, obviamente, mas o Consema continuou com as mesmas
atribuições e funcionando nos moldes anteriores, porque esta lei teve vetados todos os artigos que
lhe diziam respeito.
Em 2003, na comemoração dos vinte anos da criação do Consema, Germano Seara Filho, seu
Secretário-Executivo, comemorava a visibilidade e a credibilidade conquistadas e afirmava a
necessidade de repensar o Conselho, tanto na sua composição, pela inclusão de setores que
pleiteavam participação, como na revisão das atribuições, alegando, principalmente, alguma
ambiguidade na definição de atribuições da Secretaria do Meio Ambiente e do Consema: algumas
zonas de conflito. Segundo ele, “às vezes, é a Secretaria que se sente ‘invadida’ pelo Conselho;
outras, é esse que se sente ‘usurpado’ de suas atribuições. Isso parece, por conseguinte, um nó
importante a ser desatado.”
A Secretaria tem, efetivamente, duas pernas: O Conselho Estadual de Meio Ambiente, órgão
normativo e recursal, cujas atribuições e composições são definidas em lei, e os órgãos executivos,
incumbidos da realização das atividades de desenvolvimento ambiental. Portanto, desde 89, que o
Conselho deveria passar por uma reforma. Era um Consema que se preocupava com as políticas
públicas, certamente, mas que se voltava, por questão do regramento anterior, muito intensamente
para o licenciamento ambiental, para a análise dos estudos de impacto ambiental. O Conselho,
sempre querendo de fato cuidar das questões maiores, dos tratados, das políticas, dos critérios, das
normas, discutir eventual planejamento ou zoneamento do estado, estava, no entanto, imerso em
Estudos de Impacto Ambiental e/ou Relatórios de Impacto no Meio Ambiente (EIAs/RIMAs), que
ocupavam grande parte de sua pauta. Sempre houve esse choque entre o macro e o micro, entre
querer tratar de temas maiores e ter que se voltar para problemas que são importantes, mas um tanto
menores.
124
Germano Seara explica: “Na verdade, desde o tempo em que o Secretário era o Fábio Feldmann,
vem se tentando adaptar o Consema ao que manda a Constituição. Foram feitos estudos, comissões,
foram formuladas propostas. Finalmente, na gestão do Xico Graziano, a discussão foi reaberta e,
agora, temos efetivamente o Conselho normativo, recursal e consultivo estabelecido pela lei
13.507/2009, que deverá se preocupar, principalmente, com o estabelecimento de normas
relacionadas com o controle, com a manutenção e com a recuperação da qualidade ambiental e com
a discussão de políticas públicas relevantes para o meio ambiente.” E os Estudos de Impacto
Ambiental serão apreciados pelo Consema somente sob duas condições: quando o Secretário de
Estado do Meio Ambiente, por alguma razão, entender necessário encaminhar ao Consema ou
quando o Conselho, por votação, chamar para si essa função.
Outro ponto importante é que o Consema se regionalizará. Essa foi, aliás, uma das questões que
motivou muitas discussões em todo esse período, desde a Lei 9.509/97, até agora. As decisões
demoraram a amadurecer para chegar à formulação atual, que ficou consignada claramente na lei, de
que teremos câmaras regionais, as quais devem constituir órgãos colegiados consultivos,
encarregados da discussão e proposição de normas e de políticas ambientais de suas respectivas
áreas territoriais, a serem apreciadas pelas comissões temáticas e pelo plenário.
Germano comenta que “as coisas acontecem no momento adequado, o fruto só amadurece na hora
ideal, em que ele recebeu certa quantidade de luz, de sol e de adubo. Mesmo quando a demora é de
26 anos. Eu sei que o Xico chegou aqui na hora certa. O sistema foi se constituindo desde que foi
criado o Consema, em 1983; depois, a Secretaria, em 1986, agregando órgãos, alguns centenários,
outros não, criando outros ainda, para poder dar conta de determinadas tarefas, mas de uma maneira
não orgânica. Por isso, havia muitos paralelismos: coisas que eram feitas por um; eram feitas por
outro também. As portas para o licenciamento eram todas as que nós conhecemos. O usuário tinha
dificuldade em saber a quem recorrer ou, então, tinha que passar por todas elas.”
“Mas, se alguém tivesse querido, alguns anos atrás, dar essa mexida, do jeito que foi dada agora,
não estaria maduro. O Xico Graziano veio, como uma pessoa jovem, com vontade e, no momento
adequado, mexeu no sistema inteiro. É definitivo? Não. A história continua, mas nós precisávamos
chegar a esse momento para que essa organização fosse feita, para que ficasse claro, para eliminar
os conflitos de competência que existiam. No que se refere à melhoria da eficiência, fica claro que é
ali que determinada coisa é feita, ali é que se pode cobrar eficiência, qualidade, e tudo fica muito
melhor.”
125
O então Secretário chegou e disse: “Vamos dar uma assentada nessa história aí”, para poder ir para
frente, para poder trabalhar. E, no que diz respeito ao Consema, estamos num momento de
transição: a lei já existe, alguns artigos já estão em vigor, regulamentados pelo Decreto nº
55.087/2009. A partir daí, vamos para os passos seguintes: reconstituir o próprio plenário do
Conselho dentro daquilo que está previsto, para poder dar conta de suas novas atribuições, começar
a formar as comissões temáticas, criar as câmaras regionais e estabelecer uma pauta de discussões
importantes.
Os problemas ambientais estão vindo, vão continuar vindo e o Consema deverá continuar a ser a
“caixa de ressonância” dos problemas ambientais do Estado. E o fato de ser um colegiado plural, é
que traz a certeza de que, dentro dele, as coisas estarão sempre em movimento, porque são várias
cabeças olhando para uma questão que diz respeito a todos, que é o meio ambiente. Com uma força
maior porque, embora as suas decisões tenham sido sempre seguidas por força da sua credibilidade,
agora têm o amparo da lei.
126
8
Gabinete Xico Graziano (então Secretário do Meio Ambiente)
Pedro Ubiratan Escorel de Azevedo (então Secretário Adjunto do Meio Ambiente)
Ubirajara Guimarães (entãoChefe de Gabinete)
Roberta Buendia Sabbagh (Assessoria de Gestão Estratégica)
Mônica Canedo e José Alberto Pereira – Sheik (Comunicação/Assessoria de Imprensa)
Renato Ramalho de Oliveira (Corregedoria)
Marcelo Pagliusi Chaves – Barrica (Ouvidoria Ambiental)
Pedro Ubiratan Escorel de Azevedo comenta: “Na área da Cooperação Internacional, totalmente a
cargo do Gabinete, concluímos o trabalho de cooperação com a Alemanha para aproveitamento de
lixo na geração de energia, que estamos transferindo para a área empreendedora do estado.
Avisamos aos alemães que a partir de agora quem vai tratar disso é a Secretaria de Saneamento e
Energia. Fizemos uma clara separação entre o Estado Licenciador e o Estado Empreendedor”.
Mediante a Resolução SMA 79/2009, foram estabelecidas condições operacionais, limites de
emissão, critérios de controle e monitoramento para disciplinar o processo de licenciamento do
aproveitamento energético, dos processos de tratamento térmico de resíduos sólidos, em Usina de
Recuperação de Energia (URE), de modo a reduzir os impactos prejudiciais à saúde e ao meio
ambiente, graças ao uso da melhor tecnologia disponível.
Na área das relações internacionais cabe destacar a assinatura do Termo de Cooperação
Descentralizada em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e o Projeto de Cooperação -
2009-2010 - “Por uma Construção Mutualizada e Solidária em Prol dos Espaços Naturais Sensíveis”,
em uma parceria Secretaria de Meio Ambiente/Governo do Estado de São Paulo e a Região
Provence-Alpes-Côte d´Azur (PACA), que oficializa as ações de educação, pesquisa e transferência
de tecnologia, capacitação profissional, intercâmbios culturais e planejamento territorial. Este acordo
interessa especificamente ao Projeto Ecoturismo.
127
Para Pedro, essas agendas internacionais são bem interessantes e São Paulo é hoje, na área de
meio ambiente, a Califórnia brasileira. Tudo o que se faz aqui, os outros estados replicam. A
Secretaria foi convidada para ir a Milão, no ano passado, justamente para discutir articulações de
governos regionais para mudanças climáticas.
O Gabinete atua, também, na área da cooperação internacional, seja com ações ou regiões
autônomas, seja com organismos multilaterais: o BID, o BIRD etc. No Projeto Serra do Mar, está em
fase de negociação um empréstimo para um projeto conjunto do meio ambiente com a área de
habitação.
“Até a uniformização dos licenciamentos”, comenta Pedro Ubiratan, “cuidávamos também dessa parte
das licenças, sob o aspecto substancial e legal. Indeferíamos as licenças e submetíamos ao Xico,
para que ele outorgasse as de maior complexidade. Agora, é responsabilidade da Cetesb. Mas, é
uma área na qual, de certa forma, ainda trabalhamos porque algumas licenças são mais importantes,
exigem mais atenção. Como consequência, esse cuidado levou a um baixo nível de ‘judicialização’
dos licenciamentos. Estou fazendo um levantamento estatístico disso. Nosso nível de contencioso é
muito baixo para o volume que temos e nosso percentual de êxito é bem alto. O Judiciário tem
considerado, estatisticamente falando, que nossas licenças são bem dadas. Isso dá ao Governo a
garantia de que um investimento vai sair bem feito, sem ser interrompido. Não adianta acomodar uma
situação para atender a um interesse imediato e, depois, ser barrado pelo Judiciário, e ficar parado
por dois, três anos. Temos, também, procurado aproximar o Ministério Público e o Judiciário da
agenda ambiental, partindo do pressuposto que todos nós ‘empurramos a carroça para o mesmo
lado’. O conflito é espacial, não substancial. Temos promovido encontros entre o Ministério Público, o
Judiciário, a Procuradoria e a Secretaria do Meio Ambiente.”
Pedro Ubiratan pretende lançar, e já está organizando, uma coletânea da legislação ambiental desse
período, que é uma quantidade impressionante. “Minha área é mais voltada para isso”, comenta, “sou
Procurador do Estado; então, tenho mais facilidade em lidar com essas questões. Sou responsável
pelas relações jurídicas dentro e fora do governo: com o Ministério Público, o Judiciário etc.”
Outra questão importante, também a cargo do Gabinete, são as relações com outros órgãos do meio
ambiente, como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e a Associação Brasileira das
Entidades Estaduais do Meio Ambiente (Abema). É o Gabinete que representa a Secretaria nesses
128
Fóruns nacionais e seu papel tem sido importante. Em agosto de 2009, foi feito o primeiro congresso
da Abema: ficou evidente que São Paulo tem peso nas decisões nacionais na área ambiental.
Muitas ações executivas foram diretamente implementadas pelo Gabinete da Secretaria do Meio
Ambiente, na consolidação do novo modelo de gestão ambiental. Algumas delas:
• A revitalização do Parque Villa-Lobos – exemplo de como uma área degradada pode ser
recuperada do ponto de vista ambiental e paisagístico e entregue à sociedade – passou a
receber investimentos significativos para melhoria do atendimento ao público e modernização
do parque. Foram concluídas a construção da nova sede administrativa e da base da Polícia
Militar, a reforma dos pisos permeáveis e da ciclovia e a aquisição de mais bebedouros. No
plano paisagístico, foram plantadas 8.400 mudas, em 2009, totalizando 37 mil árvores no
parque. Foi inaugurado o Circuito das Árvores, no qual os visitantes têm o privilégio de
caminhar numa passarela que chega a cinco metros de altura, no mesmo nível dos pássaros,
equipamento concebido para permitir também a inclusão de cadeirantes. Foram implantados
outros dois espaços: para ouvir Villa-Lobos – Ouvillas e Orquidário Ruth Cardoso, que leva o
nome da antropóloga como uma homenagem da SMA a uma das mais importantes
intelectuais paulistanas. Com o espelho d’água no entorno, o Orquidário é a nova sede das
oficinas de orquídeas, que ocorrem todos os meses no Parque, e oferecerá informações para
os visitantes sobre os cuidados que devem ter com esta espécie. E a partir de 2010 o Parque
Villa Lobos passou a contar com um novo sistema de sinalização e um novo sistema de
permissão de uso para exploração de atividades comerciais (barracas e trailer para venda de
alimentos, lanches, sorvetes, coco, pipoca, souvenires, bem como, para locação de bicicletas
e patins), pois até novembro de 2010 o Parque contava com barracas de caráter improvisado,
que ocupavam inadequadamente o espaço, sem regras específicas de uso.
• Ampliação do escopo do Projeto Pomar. Em seu oitavo ano, a experiência já está
consolidada, incluindo as 400 mil plantas que florescem às margens do rio, num exemplo de
recuperação ambiental. Com a adesão de novos parceiros, agora são 23 as empresas que
apoiam a iniciativa da Secretaria do Meio Ambiente. O projeto, conhecido mundialmente, foi
lançado em parceria com o Jornal da Tarde ainda no governo de Mário Covas.
• Recuperação paisagística do Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, localizado em
Campinas, numa área de 110 hectares, com o investimento de R$ 977.000,00. O projeto
paisagístico do parque foi desenvolvido pelo Escritório Burle Marx e, dada a importância da
129
obra para a cidade e o interesse ambiental do projeto, o parque foi tombado pelo Conselho de
Defesa do Patrimônio Arquitetônico e Cultural de Campinas (Condepacc).
• Remodelação do Fundo Estadual de Controle e Prevenção da Poluição (Fecop) segundo
critérios ambientais para o repasse de recursos aos municípios. Entre 2008 e 2010, foram
destinados aos municípios 516 novos financiamentos não reembolsáveis, no valor total de R$
91,34 milhões para combate à poluição, principalmente o controle e a manutenção adequada
de aterros.
• O Sistema do Meio Ambiente, junto à Secretaria do Verde da Prefeitura de São Paulo e a
entidades civis, luta para ver cumprida a Resolução Conama 315/2002, que estabelece os
limites de emissão dos poluentes atmosféricos para os veículos a diesel fabricados ou
comercializados no País, a partir de 2009, prevendo um teor de enxofre no óleo diesel fixado
em 50 ppms (partes por milhão).
• Instituição do Programa Ecoatitude. Todos os dirigentes das coordenadorias, dos institutos e
dos órgãos vinculados à Secretaria do Meio Ambiente serão responsáveis pela
implementação das ações necessárias para a adequação dos ambientes, com economia de
água e energia, redução de resíduos e eficiência dos transportes.
• Nesses processos de mudança do Sistema de Meio Ambiente, o atendimento ao cidadão foi
aprimorando com a ampliação dos serviços do “Disque Ambiente” e também da melhoria da
Ouvidoria Ambiental, mais ágil e transparente. Em 2007, com a ampliação do atendimento do
“Disque Ambiente” (0800-113560), além de denúncias de fumaça preta, foi ampliado o número
de atendentes capacitados também para receber denúncias e prestar informações sobre
desmatamento, tráfico de animais silvestres e de madeira ilegal, aterros irregulares e para
esclarecer dúvidas sobre licenciamento, qualidade das águas litorâneas etc. Foram realizados
mais de 70 mil atendimentos, em sua maioria denúncias de fumaça preta (38%) e informações
sobre outros órgãos ambientais (37%) no Disque Ambiente e na Ouvidoria Ambiental outros
14 mil atendimentos em 2010.
Assessoria de Gestão Estratégica
Roberta Buendia Sabbagh
130
Roberta, na Assessoria de Gestão Estratégica, tem a função de acompanhar os 21 Projetos
Ambientais Estratégicos. O que significa coordenar, integrar, viabilizar, cobrar.
Roberta relembra: “Eu cheguei logo no começo da gestão. Já estava a postos no dia 2 de janeiro de
2007. Não conhecia o Secretário. E, logo no início, ele disse que queria criar alguns projetos e que eu
deveria dar assessoria a esses projetos. A dimensão que isso assumiu nos dois meses seguintes foi
incrível: começamos em uns 10 projetos, como ações prioritárias. Só que, à medida que
conversávamos com as pessoas, o leque de assuntos ia crescendo, ficando cada vez maior. E
brincávamos: será que vamos chegar aos 21? Que é um número meio cabalístico do meio ambiente.
O próprio Governador pediu alguma coisa de etanol e Serra do Mar. E acabamos chegando mesmo
aos 21.”
O anúncio dos 21 Projetos provocou uma reação unânime: todos, sem exceção, achavam que 21 era
muita coisa, que não iríamos dar conta. E, mesmo durante o processo, nas primeiras avaliações dos
projetos, ainda havia quem sugerisse a redução desse número. Na verdade, hoje, fica evidente que
os 21 tiveram resultados. Alguns melhores, outros não tão bons, mas todos produziram alguma coisa,
realizaram ações que resultaram em benefício para a Secretaria ou para a sociedade de forma geral.
E acabaram criando um fluxo e uma integração entre as pessoas, o que, para Roberta, é uma das
características mais importantes dos projetos.
Roberta continua: “as pessoas passaram a dar atenção a um determinado assunto e se
comprometeram com aquele projeto em relação à Secretaria e ao Secretário. E são mais que
resultados reportáveis, mensuráveis. Os benefícios que o Respira São Paulo trouxe, por exemplo,
para a população e para a Secretaria, não são calculáveis. Os resultados dos projetos São Paulo
Amigo da Amazônia e Serra do Mar também não são passíveis de ser mensurados, mas são de
extrema importância. Eu acho que o fato de cada projeto ter prioridades, ter ações específicas para
trabalhar e, ao mesmo tempo, integrar outras áreas, foi o principal ganho.”
Na verdade, cada projeto não envolve apenas uma ação. Por exemplo, no São Paulo Amigo da
Amazônia, há uma ação de fiscalização, que é de um órgão de gestão, de cadastro, uma atuação
mais proativa com a sociedade, que é o que o Carlos Eduardo Beduschi, o Gerente do projeto,
desenvolve. São vários aspectos, de um mesmo problema, abordados em cada projeto. Acho que
essa é uma característica importante do sistema.
131
“Dos 21 Projetos”, comenta Roberta, “não sei dizer qual é o mais importante, mas tenho alguns tops.
O Município Verde Azul, sem sombra de dúvida, o Criança Ecológica, pela dimensão que acabou
tomando, o Etanol Verde, que foi um dos desafios maiores, porque exigia muita negociação – uma
atuação muito proativa em relação a outros entes que não faziam parte do sistema -, o
Desmatamento Zero e o Lixo Mínimo, por terem desenvolvido ações e você vê diretamente o
resultado que se obteve com aquelas ações determinadas; e eles cumpriram o ciclo completo e agora
estão planejando novas ações. Licenciamento Unificado e Gestão de Unidades de Conservação
também foram de extrema importância em função de sua atuação estrutural no Sistema de Meio
Ambiente.”
Dentro da Secretaria, há mais de um ano, a grande discussão tem sido sobre como institucionalizar
os principais projetos dessa gestão, para que não se percam os ganhos obtidos. Essa é uma
discussão que já dura mais de um ano. Roberta explica que um dos mecanismos é que as temáticas
sejam aceitas e incorporadas pelos especialistas ambientais. No caso do Desmatamento Zero, por
exemplo, é fazer com que todos os gerentes regionais da Cetesb, em cada uma das 56 agências,
absorvam as questões e tenham em mente que vão precisar de critérios específicos para trabalhar
autorização de supressão de vegetação. Não se sabe se vão permanecer os 21 Projetos, mas que
permaneçam as atribuições. Isso é importante.
Além dos técnicos, as leis, decretos e resoluções contribuem para a continuidade das ações nas
próximas gestões. Cada um dos projetos elaborou normas que instituem algumas ações e
atribuições. Exemplos: CadMadeira, do São Paulo Amigo da Amazônia; o Criança Ecológica, que foi
instituído por Decreto; ou ainda o Serra do Mar, que é um projeto financiado pelo BID nos próximos
anos.
Roberta conta qual foi o seu maior desafio: “Foi pessoal. Estudei administração pública e gestão
ambiental e meu grande aprendizado foi ver como aquilo que se aprende na faculdade se transforma
na realidade: ver na prática como funciona a gestão do meio ambiente de uma maneira estratégica,
como eu nunca vi nenhum governo fazer. Aprendi muito com o Secretário e com cada um dos
gerentes dos projetos. Acho que o maior desafio foi conciliar todas as demandas com a capacidade
do que poderia ser feito, conciliar com o possível. E fazer negociações constantes do prioritário
dentro das prioridades. Outra questão foi como fazer para criar um elo entre as pessoas. Porque eu
sabia o que cada um estava fazendo dentro dos projetos, mas os gerentes não necessariamente
sabiam o que estava acontecendo nos outros projetos. Então, era preciso informar a cada gerente
132
que tal projeto estava fazendo aquilo e talvez fosse interessante ele conversar com o responsável e
realizar ações conjuntas, ações casadas.”
Comunicação
Mônica Canedo (então Gerente)
Sheik (Assessor de Imprensa)
A Assessoria de Comunicação é um reflexo do gestor principal. Na Secretaria do Meio Ambiente, a
atividade foi intensa, porque o Secretário desenvolvia permanentemente com as equipes de várias
áreas ações, como eventos, lançamentos e encarregava a equipe da Comunicação da sua
divulgação. Durante esses três anos a área de Comunicação fez muita coisa. A demanda foi grande.
Então, por exemplo, havia algumas datas do calendário, como a Semana do Meio Ambiente e o Dia
da Criança para as quais era necessário criar e realizar algumas ações. Além disso, havia a rotina,
que foi muito intensa durante esses anos, em comparação com os anteriores.
Basta ver o site. A quantidade de assuntos, atualizações. A criação desses projetos deu um grande
impulso. Mônica Canedo, então gerente da área de Comunicação, comenta que o Projeto Estratégico
Criança Ecológica ganhou tal dimensão que virou um “produto” e a cada hora são criadas novas
peças ligadas ao projeto.
Houve uma alteração importante no papel da área de Comunicação que, nessa gestão, é muito mais
proativa, principalmente com a criação dos “mutirões”, que foram um sucesso. Um grande desafio
para a equipe, que nunca havia realizado uma ação que atingisse o estado inteiro. O primeiro mutirão
foi o do Verde. Foi na primavera e foram mobilizadas as escolas que tiveram uma grande
participação. O principal problema foi saber como fazer para chegar ao estado, sensibilizar todas as
escolas.
A partir do primeiro mutirão, a Secretaria começou a formar um leque de parcerias: a Associação dos
Supermercados do Estado, as Rodovias para uso de outdoors, dos pedágios e muitas outras. O
último mutirão foi o do lixo eletrônico. Uma novidade. Mônica conta que “ficamos um mês discutindo e
planejando e, na véspera, fiz uma busca nos sites e fiquei espantada com a quantidade de páginas
de citações. Porque todas as prefeituras haviam colocado no site. A imprensa deu destaque para a
questão. Foi um sucesso tão grande que superou todas as expectativas: inicialmente, pensávamos
133
que íamos ter uma semana de logística para recolher os materiais e acabamos levando três meses.
Outro fato importante é que esses mutirões não se esgotam em si. Não são eventos que são
realizados e depois morrem. Tanto que, no caso do lixo eletrônico, estamos criando postos de
recolhimento no Parque Villa-Lobos, uma experiência que depois pode ser ampliada para outros
parques ou outros locais.” Todos os mutirões tiveram sucesso de imprensa, de público, de retorno. E
foram replicados. Em outros governos, nos municípios ou mesmo em empresas, a partir das ações da
Secretaria.
Normalmente a área de Comunicação e a Assessoria de Imprensa funcionam como uma vitrine. Aqui
houve ações. Isso é novidade. Inicialmente, os mutirões faziam parte da Educação Ambiental.
Passaram para a área de Comunicação, porque Xico Graziano os considerou uma ação mais de
divulgação e conscientização do que de educação ambiental propriamente dita.
No início dessa gestão, cada departamento da Secretaria tinha sua Assessoria de Comunicação. Xico
Graziano logo que assumiu unificou tudo. Ele queria que toda a comunicação da Secretaria tivesse a
mesma identidade, uma única linguagem. Foi difícil e ainda é difícil. Existe um sistema ambiental,
mas as pessoas ainda se identificam como sendo do Instituto Florestal ou da Cetesb, quando o certo
seria dizer sou do Sistema Ambiental.
Sheik (José Alberto Pereira) trabalha na Comunicação da Secretaria, como Assessor de Imprensa, há
muito tempo. Acompanhou o trabalho de vários secretários com estilos de gestão bem diferentes.
Para Sheik, Fábio Feldmann e Xico Graziano tiveram criações similares, trabalharam com projetos
específicos. Com o Feldmann foram 10 projetos da Agenda 21, enquanto Xico implantou 21 Projetos
Ambientais Estratégicos. São dois gestores com propostas semelhantes em períodos históricos
diferentes. São dois momentos da história ambiental do estado, que vive ainda um processo de
construção, cuja largada foi no Governo Montoro.
Sheik continua: “Parte dos 21 projetos retoma temas iniciados na gestão do Feldmann, como é o
caso do lixo, iniciado em 1997, quando foi criado o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos. Nesta
época, ninguém dava atenção para esta questão no país. São Paulo passa a monitorar seus resíduos
domésticos e cria um sistema de nota, de avaliação dos aterros, parecido com o do Xico e começam
a ser organizados os aterros do Estado. Quando o Xico assume, descobre que tem uma parte que
não caminha e é criado o Projeto Ambiental Estratégico Lixo Mínimo.”
134
Graças ao esquema das parcerias, apoiado na sua credibilidade, o rodízio atingiu oito milhões de
pessoas, sem um centavo do Estado, só a mão de obra. Foi quando entrou na agenda a poluição do
ar nas grandes cidades. Na área da biodiversidade, outro projeto da gestão do Fábio, um programa
se inicia, tem continuidade, tem seus produtos, mas vai desaparecendo, à medida que as gestões
vão mudando, porque as prioridades são outras.
Fábio Feldmann e Xico Graziano têm uma característica em comum: ir ao interior, ir onde está o
problema ambiental. Não há condescendência porque o prefeito é aliado. A questão é resolver o
problema. “Na verdade, o Xico estabeleceu um modelo gerencial mais disciplinado, estabeleceu
metas e fez o acompanhamento das metas”, comenta Sheik, “o que não tínhamos muito com o Fábio,
que seguia meio “atirando”, chamando e cobrando. O Fábio trabalhava sob pressão, muita pressão.
Outra característica comum é que os dois são animadores, são comunicadores. O Xico é um grande
comunicador. O fato de ir ao interior, conversar com o prefeito é um dos fatores do sucesso do
Município Verde, que colocou a questão ambiental em cada município. Vai ser muito difícil
desmanchar isso. Nessa gestão, foi retomado o tema da descentralização do Montoro. Retomado e
consolidado. Esse é, na minha opinião, o maior ganho da gestão.”
O grande destaque? Para Sheik é o Município Verde Azul. “No Município Verde, criou-se uma
estrutura que acho que dificilmente será desfeita. A qualidade ambiental do estado passou a ser
medida município a município. Acho que este foi o maior ganho para a sociedade paulista: bons
resultados ambientais. Não dá mais para enganar no meio ambiente em São Paulo. Se não
existissem os 21 projetos, o Município Verde Azul dava conta, porque os grandes problemas estão
contidos nas 10 diretivas.”
Corregedoria
Renato Ramalho de Oliveira
A Corregedoria da Secretaria do Meio Ambiente, criada na atual gestão, é o órgão de fiscalização e
orientação da conduta e das atividades de seus funcionários, com o objetivo de resguardar a
qualidade da administração pública. Sua função não deve ser entendida como atividade punitiva, mas
pedagógica, orientada pelos princípios da moralidade, transparência, eficiência e excelência.
135
Renato vê a Corregedoria de forma muito otimista, pois é extremamente necessária a presença de
um órgão que, além de apurar as irregularidades, tenha como missão propor medidas saneadoras.
Assim, além do seu caráter de fiscalização, a Corregedoria tem, também, um papel pedagógico, de
corrigir falhas rotineiras, que acabam prejudicando a eficiência nos serviços prestados por um
determinado setor. A ideia de possuir Corregedoria própria é tão benéfica, que a Corregedoria Geral
da Administração iniciou a instalação de Corregedorias em outras Secretarias, começando pelas
Secretarias da Educação e da Saúde.
“De uma forma geral”, conta Renato, “a aceitação da Corregedoria pelo Sistema foi muito boa, uma
vez que sempre fomos recebidos com total atenção pelos responsáveis nos órgãos com os quais
trabalhamos. Mais do que isso, após a proposta de medida saneadora ou mesmo de abertura de
algum procedimento visando punição funcional, notamos que os servidores do órgão que sofreram a
correção, demonstraram total interesse em corrigir as falhas apontadas e melhorar os serviços
prestados por aquele órgão.”
Ouvidoria Ambiental
Marcelo Pagliusi Chaves (Barrica)
“Quando eu cheguei”, comenta Marcelo, “a ouvidoria era muito pequena. Só tinha um funcionário e
um ouvidor que nunca parava aqui. A partir da minha chegada, a gente começou a se organizar.
Coloquei mais dois funcionários e ela foi crescendo. Na reestruturação da Secretaria, na reforma
administrativa, a Ouvidoria foi também contemplada, com tudo o que precisava e foram definidas
claramente as suas funções. Criamos um sistema de controle para saber o que foi atendido e o que
não foi. Além disso, a Ouvidoria também está ‘lincada’ com o 0800 (Disque Ambiente). Então, hoje,
trabalhamos integrados com o 0800, com a ouvidoria da Cetesb e também com a do Zoológico. É
feito um relatório semestral para o Palácio do Governo, que tem o controle de todas as ouvidorias do
Estado, tanto oficiais quanto não oficiais.”
Marcelo continua: “A interlocução com todos os órgãos da Secretaria é muito boa. Temos sido bem
atendidos por todos na questão das respostas. Hoje, a média de atendimentos fica em torno de 500
casos por mês, entre denúncias, solicitações, perguntas e agradecimentos. Isto sem computar o
atendimento do Disque Ambiente, que realiza, em média, 3.500 atendimentos por mês.”
136
9
Lei da Política Estadual de Mudanças Climáticas
de São Paulo
Os efeitos das mudanças climáticas têm sido objeto de estudo e discussão na Secretaria do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo, desde 1995, quando foi instituído o Programa Estadual de
Mudanças Climáticas (Proclima), pelo então Secretário Fábio Feldmann, sob a coordenação da
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Durante essa gestão, o Proclima realizou
seminários e cursos e acompanhou de perto as Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas. Desde essa época, o tema tem estado presente na agenda ambiental de todos os
governos paulistas.
No governo José Serra foi dado mais um passo. E importantíssimo. Em meados de 2007, as equipes
técnicas da Secretaria do Meio Ambiente e da Cetesb elaboraram uma primeira minuta da Política
Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), que ficou disponível à consulta pública, via internet, entre
janeiro e agosto de 2008. Em setembro de 2008, a Consultoria Jurídica da Secretaria emitiu parecer
favorável à minuta final, encaminhada para análise à Casa Civil. Em janeiro de 2009, o projeto de lei
foi enviado pelo então Governador José Serra à Assembleia Legislativa de São Paulo, que promoveu
audiências públicas nas cidades de Ribeirão Preto, Americana e Santo André, além da capital. O
projeto foi aprovado no dia 13 de outubro de 2009 e encaminhado para a sanção do Governador.
No dia 9 de novembro de 2009, a Política Estadual de Mudanças Climáticas (Lei Estadual nº
13.798/2009) foi assinada pelo governador, estabelecendo até 2020 a redução de 20% das emissões
de CO2, tomando como base as emissões de 2005. Essa é uma meta real, determinada em lei. E
negociada com os diversos setores e com os representantes eleitos do povo paulista. A lei também
estabelece a criação do Conselho Estadual de Mudanças Climáticas para acompanhar a implantação
e fiscalizar a execução da política.
137
A iniciativa do Governo do Estado de São Paulo assemelha-se ao que ocorre na Califórnia (EUA),
que também se destaca por propor políticas regionais de combate às mudanças climáticas, posição
pioneira em relação aos outros estados e ao próprio Governo dos Estados Unidos.
Contando com a ajuda financeira da Embaixada Britânica, de cerca de 400 mil libras, o Estado de
São Paulo está realizando seu Inventário Paulista de Gases do Efeito Estufa, nos moldes do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC e dos países-membros da Convenção do
Clima. O estudo permitirá o planejamento global e setorial a médio e longo prazos. A ideia é usar
esse instrumento de planejamento para promover a integração de áreas como energia, transportes,
agricultura e educação à questão climática. O inventário permitirá a elaboração de políticas públicas
setoriais.
Enquanto no resto do país as emissões têm origem, principalmente, no desmatamento, no território
paulista, sua principal causa reside no uso de energia, responsável por 58% das emissões, estimadas
em 2005. Dessas emissões, 29% originam-se no setor de transporte, o grande vilão das emissões de
CO2 e preocupação central do programa ambiental da Secretaria do Meio Ambiente.
São Paulo apresenta uma matriz energética limpa com mais de 50% de sua energia advinda de fontes
renováveis, da hidroeletricidade e do etanol. Isso precisa ser ainda melhorado, com o uso de
biomassa para a produção de energia e expansão do uso da energia eólica, solar e hidroelétrica.
A lei paulista de mudanças climáticas compromete o governo e orienta a sociedade, setor a setor,
sobre as formas de reduzir a emissão e o lançamento de gases de efeito estufa. Traça linhas claras e
objetivas para o enfrentamento do problema e estabelece um cronograma para seu cumprimento.
Outra área importante é a de produção e consumo sustentáveis. São Paulo buscará produzir mais,
emitindo menos carbono. Buscará mostrar ao consumidor o poder de suas escolhas conscientes.
Alternativas menos poluidoras de transporte e energias renováveis são potenciais oportunidades para
investimento. Há um programa de crédito da ordem de R$ 600 milhões, com juros privilegiados,
carência de 12 meses e 60 meses para pagar, destinado a pequenas e médias empresas para o
fomento de uma economia verde.
Oswaldo Lucon, especialista em mudanças climáticas, que trabalhou na elaboração da Política
Estadual de Mudanças Climáticas, procurado para opinar, complementa: “Por ter integrado o
138
processo, sou suspeito para avaliar a atual gestão na agenda climática. Objetivamente, agora, São
Paulo tem uma lei em vigor, bastante ambiciosa e com metas. São Paulo é copresidente de uma rede
de governos locais, que ganhou força reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) na
última Conferência do Clima, em Copenhague. O Estado de São Paulo é referência mundial na área,
especialmente entre os países em desenvolvimento. Alguns problemas ambientais correlatos, como a
questão do diesel, foram corajosamente enfrentados. O bioetanol recebeu um forte impulso e
proteção no comércio internacional com o protocolo setorial. Isso ocorreu graças à abertura e pela
credibilidade concedida pelas instâncias superiores, intercedendo com coragem junto ao Governador,
às bancadas parlamentares, às instituições oficiais e às organizações não governamentais.
Contribuíram, certamente, a articulação com o meio acadêmico, a parceria com entidades do setor
produtivo e a ênfase na inovação. Metas são o cerne de qualquer política climática com
responsabilidade. O processo da aprovação da Lei 13.798, Política Estadual de Mudanças Climáticas
em São Paulo foi bastante complexo e o resultado final foi extremamente positivo. A meta paulista
inquestionavelmente induziu o Brasil a adotar a sua, quebrando o impasse nas negociações
multilaterais globais e tirando nosso país de sua posição defensiva. As metas norteiam políticas
públicas e a sociedade civil. Agora, é hora de enfrentar o desafio da implementação, que pode induzir
a grandes modificações ambientalmente positivas no Estado”.
A regulamentação da PEMC, instituída pelo Decreto nº 55.947/2010, compôs um Comitê
Gestor, sob a coordenação da Casa Civil, com o objetivo de acompanhar a elaboração e a
implementação dos planos e programas instituídos pelo decreto; constituiu o Conselho Estadual de
Mudanças Climáticas, tripartite, de caráter consultivo; definiu critérios para a elaboração da Avaliação
Ambiental Estratégica e do Zoneamento Ecológico-Econômico; instituiu Planos e Programas, além do
Plano Estadual de Transportes já instituído pela Lei com critérios legais e prazos definidos: Plano
Estadual de Inovação Tecnológica e Clima; Programa Estadual de Construção Civil Sustentável;
Plano Estadual de Energia; Plano Estratégico para Ações Emergenciais e Mapeamento das Áreas de
Risco; Programa Educação Ambiental sobre Mudanças Climáticas; e o Programas de Incentivo
Econômico a Prevenção e Adaptação as Mudanças Climáticas. Cabe destacar a instituição do
Programa de Crédito à Economia Verde, com o objetivo de oferecer linhas de crédito aos entes
privados para implementação de ações que visem à redução da emissão de gases de efeito estufa.
O decreto também fixou as diretrizes do Programa de Remanescentes Florestais e determinou
os mecanismos e critérios para realização do Pagamento por Serviços Ambientais a projetos de
proprietários rurais, com o objetivo de incentivar a preservação e recuperação de florestas nativas por
meio de um pagamento a proprietários rurais conservacionistas.
139
A SMA, pela Resolução SMA 61/10, definiu o primeiro Projeto de Pagamento por Serviços
Ambientais na modalidade Proteção de Nascentes - Projeto Mina D’água, com os critérios, atividades
e forma de valores a serem pagos. Cada proprietário rural deverá receber entre R$ 75,00 a R$
300,00 por nascente/ano, valor que varia de acordo com a condição de preservação da nascente.
Foi apresentado em novembro de 2010 o Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa do
Estado de São Paulo. O inventário foi elaborado pela CETESB, com financiamento do Governo
Britânico, e consolida mais uma etapa do cumprimento da meta de redução de 20% das emissões em
2020 com base de 2005.
Os dados apresentados são:
Emissão de Gases de Efeito Estufa do Estado de
São Paulo Gigagrama de CO2 equivalente (GWP) Porcentagem Observação
Energia 81.219 56,62%
(Transporte equivale 49% do total de energia)
Uso da Terra/Mudança de Solo/Florestas 13.162 9,17% Resíduo 9.366 6,53% Agropecuária 28.610 19,94% Indústria 11.099 7,74% TOTAL 143.456
140
10
Ambientalismo em Ação Xico Graziano (então Secretário do Meio Ambiente)
Entrevista: 02/02/2010
141
Xico Graziano foi nomeado Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, no dia 2 de janeiro
de 2007, na sede da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. De lá para cá, passaram-se três anos e
meio, tempo escasso para os compromissos tão importantes contidos no discurso de posse. Esse
tempo, porém, mostrou-se suficiente para provar que o discurso não era mera retórica, nem ecos de
promessas de campanha. Nele, já estavam delineadas as principais ações da Secretaria.
Assim, Xico Graziano anunciou: “Tolerância ambiental zero”: lixão zero, desmatamento zero, fumaça
preta zero. Combate à especulação imobiliária e proteção das Áreas de Preservação Permanente.
Fiscalização das fronteiras paulistas para coibir o trânsito criminoso da madeira amazônica. Nova
política para os parques e áreas de preservação. Reformulação do Consema (Conselho Estadual do
Meio Ambiente) e descentralização: criação de Conselhos Municipais de Meio Ambiente.
Fortalecimento dos municípios com responsabilidade ambiental; prioridade nas políticas do governo
aos “municípios verdes”. Unificação do licenciamento ambiental mais rigoroso, ágil e transparente.
Gerenciamento dos recursos hídricos e cobrança do uso da água. Educação ambiental, prioridade
máxima, para transmitir conhecimento, mudar atitudes, criar nova consciência. Implantação de
“mutirões ambientais” mobilizadores da opinião pública. Incorporar à Secretaria ações afirmativas:
políticas do “sim”.
Para colocar em prática essa agenda extremamente ambiciosa, o Secretário tinha, além das “duas
mãos e o sentimento do mundo” do poeta Carlos Drummond, a certeza de que o ponto inicial a ser
trabalhado era a questão da gestão. Era preciso organizar e criar condições para monitorar e avaliar
resultados. Fazer gestão ambiental com resultados. Era um grande desafio: essa filosofia não fazia
parte da cultura do ambientalismo, que surgira como uma grita da sociedade civil, a luta ecológica.
Idealista e desorganizada.
Xico Graziano comenta: “Então, eu me senti muito desafiado a fazer isso. Comecei a estudar, a
montar uma equipe para fazer gestão estratégica. O Tércio (Casemiro Tércio Carvalho, Coordenador
de Planejamento) fazia parte dessa equipe, depois veio a Roberta (Roberta Buendia Sabbagh, da
Assessoria de Gestão Estratégica), que se revelou a melhor auxiliar. Acho que foi isso.”
“De forma coincidente”, continua, “muito interessante, as discussões sobre as mudanças climáticas
no mundo trouxeram à tona, especialmente por causa do relatório do Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC), de março de 2007, o conceito de que as metas, as propostas e as
políticas para o meio ambiente deveriam ser mensuráveis e reportáveis.” Assim, foi sendo implantada
142
uma cultura administrativa que não existia anteriormente, ou seja, uma filosofia de trabalho mais
próxima da dos administradores, dos economistas, que é formação do Secretário, de se trabalhar
com cronogramas, metas e prazos. Foi essa “cabeça de engenheiro” que ajudou a desenhar a
estrutura matricial dos 21 Projetos Ambientais Estratégicos e a forçar o diálogo, a integração das
equipes, por meio de um artifício malicioso: cada projeto teria um Gerente da respectiva área e um
Subgerente de outra área.
Em alguns projetos, foi fácil fazer o levantamento das necessidades, estabelecer metas e definir
formas de monitoramento. Em outros, como no caso do Projeto Estratégico Município Verde Azul, o
problema era bem mais complexo. Xico Graziano explica o que fez e como fez: “Falar parece
exagero, mas eu me sentei naquele computador e escrevi um protocolo do que o município devia
fazer. Fiz isso da minha cabeça, obviamente, com todas as informações que eu tinha. Minha
preocupação era encontrar uma forma de medir os resultados do projeto. E aí tive o insight de dar
uma nota ambiental para os municípios, coisa de professor. Porque os prefeitos ou os políticos, ou os
empresários poderiam dizer que plantaram muitas árvores, que fizeram muita coisa. Mas o que isso
significa? Aí pensei em dar uma nota resultante de 10 avaliações, cada uma delas com sua nota.
Assim, nasceram as Dez Diretivas Ambientais. O José Walter Figueiredo, que é agrônomo também, e
foi responsável técnico pelo Município Verde Azul, me ajudou muito nisso. E os prefeitos adoraram a
ideia.”
Xico Graziano relembra o processo todo. “Foi muito difícil, viu? Eu fiz uma sequência de reuniões,
algumas motivadoras. Trouxe gente para dar conferência, puxei orelha, fiquei bravo, tive que cortar
gente e procurei trazer jovens para cá e treinar esses jovens, colocar gente nova. Com o concurso e
os novos contratados, essa mudança foi total.”
O então Secretário considera-se “quase realizado”, porque tem visto bons resultados. Está sendo
feita agora a terceira avaliação, projeto por projeto, verificando o cumprimento dos cronogramas, das
metas, revisando algumas coisas. E há bons resultados. Se alguns ainda não apareceram, vão
aparecer. Houve alguns atrasos, por exemplo, no Projeto Cobrança pelo Uso da Água, mas até o final
da gestão, ele pode até ultrapassar a meta. A organização geral é boa e há uma integração razoável
entre as pessoas. Há alguma demora em trazer a qualidade, a quantidade da água para a Secretaria.
A outorga da água também fará parte do Sistema Ambiental.
143
A avaliação até o momento é positiva. A grande preocupação agora é quanto à continuidade dos
projetos, a manutenção do que foi conquistado. Em alguns casos, serão necessárias algumas
medidas de institucionalização formal dos projetos ou das suas ações, por meio de decretos,
resoluções. “Se vai ter continuidade ou não é a triste sina da política brasileira: não ter continuidade,
um presidencialismo cheio de rupturas, uma burocracia muito volúvel, muitos cargos de confiança”,
lamenta Xico.
O Projeto Município Verde Azul, em mais um ano, já adquire uma dinâmica própria. O Governo não
precisará mais fazer muita coisa. Já foi feita: as equipes dos municípios foram capacitadas. Agora
elas estão treinando suas equipes. Na área de biodiversidade, da Helena Carrascosa, são 160
funcionários concursados como especialistas ambientais. E todos formados, com mestrado. Essa
equipe daqui um ano estará bem treinada e firme.
Xico Graziano é categórico: “Outra coisa que eu acho que não muda é a forma da gestão. As
pessoas estão se acostumando a elaborar projetos que tenham começo, meio e fim, metodologia,
metas, formas de aferição de resultados.” Os tempos são outros e não há como voltar atrás. Até
porque, organizações ambientalistas, como o World Wildlife Fund (WWF) e o Greenpeace, passam
por um processo semelhante, de buscar resultados nas políticas.
No discurso de posse, o então Secretário Xico Graziano afirmou: “A política ambiental de São Paulo
deixará de ser a política do ‘não’, repressiva, para incorporar ações afirmativas. Essas políticas do
‘sim’ devem estimular e premiar quem ajuda na conservação dos recursos naturais e no controle da
poluição.” Foi o que ocorreu na sua gestão: fiscalização e monitoramento, acompanhados de apoio e
capacitação. A voz da Secretaria passou a ser: “Isso não pode, o caminho é este, e eu te ajudo.” E
mais que isto, mais do que discutir, fazer. Novos paradigmas. Um caminho sem volta. Do
ambientalismo em ação.