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Universidade de Brasília Faculdade de Ciência da Informação Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação Segurança contra roubo e furto de livros raros: uma perspectiva sob a ótica da Economia do Crime e da Teoria da Dissuasão Volume 2 Raphael Diego Greenhalgh Orientadora: Profa. Dra. Miriam Paula Manini Brasília-DF 2014

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  • Universidade de Brasília

    Faculdade de Ciência da Informação Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação

    Segurança contra roubo e furto de livros raros:

    uma perspectiva sob a ótica da Economia do

    Crime e da Teoria da Dissuasão

    Volume 2

    Raphael Diego Greenhalgh

    Orientadora:

    Profa. Dra. Miriam Paula Manini

    Brasília-DF

    2014

  • Universidade de Brasília Faculdade de Ciência da Informação

    Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação

    Segurança contra roubo e furto de livros raros:

    uma perspectiva sob a ótica da Economia do

    Crime e da Teoria da Dissuasão

    Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ciência da Informação.

    Orientadora: Profa. Dra. Miriam Paula Manini

    Brasília-DF 2014

  • G813s Greenhalgh, Raphael Diego

    Segurança contra roubo e furto de livros raros: uma perspectiva sob a ótica da Economia do Crime e da Teoria da Dissuasão / Raphael Diego Greenhalgh. – 2014.

    2 v. : il., color.

    Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Universidade de Brasília

    Orientação: Profa. Dra. Miriam Paula Manini

    1. Biblioteconomia de Livros Raros. 2. Obras Raras. 3. Segurança contra roubo e furto. 4. Roubo e furto de Livros Raros. 5. Economia do Crime. 6. Teoria da Dissuasão. I. Título.

    CDU 094:343.71

  • FOLHA DE APROVAÇÃO

    Título: “Segurança contra roubo e furto de livros raros: uma perspectiva sob a ótica da

    Economia do Crime e da Teoria da Dissuasão”.

    Autor (a): Raphael Diego Greenhalgh

    Área de concentração: Gestão da Informação

    Linha de pesquisa: Organização da Informação

    Tese submetida à Comissão Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Faculdade em Ciência da Informação da Universidade de Brasília como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Ciência da Informação. Tese aprovada em: 25 de novembro de 2014.

    ___________________________________________ Profª. Drª. Miriam Paula Manini Presidente (UnB/PPGCINF)

    ___________________________________________ Profª. Drª. Dulce Maria Baptista Membro Interno (UnB/PPGCINF)

    ___________________________________________ Profª. Drª. Lillian Maria Araújo de Rezende Alvares Membro Interno (UnB/PPGCINF)

    ___________________________________________ Profª. Drª. Adriana Lúcia Cox Hollós Membro Externo (Arquivo Nacional)

    ___________________________________________ Profª. Drª. Valéria Gauz Membro Externo (Museu da República)

    ___________________________________________ Profª. Drª. Eliane Braga de Oliveira Suplente (UnB/PPGCINF)

  • Sumário

    Volume 2

    APÊNDICE A - Questionário sobre prevenção situacional........................................................... 259

    APÊNDICE B - Questionário às instituições com casos de roubo ou furto................................... 265

    APÊNDICE C - Roteiro de entrevista com especialistas em segurança contra roubo e

    furto...............................................................................................................................................

    267

    APÊNDICE D - Roteiro de entrevista com Delegado da Polícia Federal...................................... 268

    APÊNDICE E - Roteiro de entrevista com funcionários do Iphan................................................. 269

    APÊNDICE F - Transcrição da entrevista com Entrevistado A..................................................... 270

    APÊNDICE G - Transcrição da entrevista com Entrevistado B.................................................... 292

    APÊNDICE H - Transcrição da entrevista com Entrevistado C.................................................... 303

    APÊNDICE I - Transcrição da entrevista com Entrevistado D...................................................... 332

    APÊNDICE J - Transcrição da entrevista com Entrevistados E e F............................................. 349

    APÊNDICE K – Lista de obras furtadas e recuperadas do Palácio do Itamaraty do Rio de

    Janeiro...........................................................................................................................................

    394

    APÊNDICE L – Lista de obras furtadas e recuperadas do Museu Nacional da Universidade

    Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).................................................................................................

    400

    APÊNDICE M – Lista de obras furtadas no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

    (AGCRJ)........................................................................................................................................

    412

    APÊNDICE N – Lista de obras furtadas e recuperadas da Biblioteca Mário de Andrade de São

    Paulo.............................................................................................................................................

    414

    APÊNDICE O – Lista de obras furtadas na Biblioteca Pública do Paraná.................................... 416

    APÊNDICE P – Lista de obras furtadas e recuperadas da Fundação Oswaldo Cruz do Rio de

    Janeiro (FIOCRUZ).......................................................................................................................

    423

    APÊNDICE Q – Lista de obras furtadas e recuperadas do Instituto Geográfico e Histórico da

    Bahia (IGHB).................................................................................................................................

    427

    ANEXO A - Lista de Instituições cadastradas no Planor.............................................................. 428

    ANEXO B - Fontes bibliográficas para determinação de raridade de livros................................. 434

    ANEXO C - Escalas ABC.............................................................................................................. 436

    ANEXO D - Escala de magnitude de riscos.................................................................................. 437

    ANEXO E - Sentença do Processo nº 0517641-33.2004.4.02.5101 da 2ª Vara Federal

    Criminal do Rio de Janeiro............................................................................................................

    438

    ANEXO F - Sentença do Processo nº 0807693-18.2009.4.02.5101 da 6ª Vara Federal

    Criminal do Rio de Janeiro............................................................................................................

    450

    ANEXO G - Sentença do Processo nº 2007.0003086-7 da 11ª Vara Criminal do Foro Central

    de Curitiba no Paraná....................................................................................................................

    467

  • 259

    APÊNDICE A – Questionário sobre prevenção situacional

    Questionário sobre Segurança em Coleções de Obras Raras em Bibliotecas Universitárias1

    Dados sobre a Instituição 1 Horário de funcionamento (marque mais de uma opção, caso necessário): ( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Noite 2 Número de funcionários: Bibliotecários _______ Estagiários _______ Terceirizados _______ Bolsistas _______ Voluntários _______ Outros (dizer quais): ___________________________________ 3 Ambientes (marque mais de uma opção, caso necessário): ( ) Livraria ( ) Lanchonete ( ) Loja ( ) Banheiro para usuários ( ) Estacionamento ( ) Reprografia ( ) Laboratório de informática ( ) Outros (dizer quais): ____________________ 4 O prédio da instituição é: ( ) Gradeado ( ) Murado ( ) Cercado ( ) Outros: _______ 5 A área externa do prédio é compartilhada com outra instituição? ( ) Sim ( ) Não 6 Em caso afirmativo, o acesso é comum às instituições? ( ) Sim ( ) Não 7 O prédio foi construído para a finalidade de seu uso atual? ( ) Sim ( ) Não 8 Em caso de prédio adaptado para o uso atual, foi feito algum estudo e/ou projeto prévio? ( ) Sim ( ) Não 9 O prédio é tombado? ( ) Sim ( ) Não 10 A área interna do prédio é compartilhada com outra instituição? ( ) Sim ( ) Não 11 Em caso afirmativo, o acesso é comum? ( ) Sim ( ) Não

    Dados sobre o Setor de Obras Raras

    1 Elaborado tendo como referência o questionário aplicado pelo Museu de Astronomia e

    Ciências Afins – MAST que está no livro: SILVA, M. C. S. M. E. et al. (Org.). Política de segurança para arquivos, bibliotecas e museus. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e

    Ciências Afins, 2006, p. 105-110.

  • 260

    12 Horário de Funcionamento (marque mais de uma opção, caso necessário): ( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Noite 13 Há funcionários exclusivos para o Setor? ( ) Sim ( ) Não 14 Em caso positivo, quantos são os funcionários? Bibliotecários _______ Estagiários _______ Terceirizados _______ Bolsistas _______ Voluntários _______ Outros (dizer quais): ___________________________________ 15 Qual o tamanho da Coleção? _________ exemplares 16 O acesso ao acervo de Obras Raras é restrito? ( ) Sim ( ) Não

    Dados sobre Segurança Física do Setor de Obras Raras 17 A Coleção de Obras Raras está separada do restante do acervo? ( ) Sim ( ) Não 18 Existe algum reforço extra nas paredes que circundam a coleção? ( ) Sim ( ) Não 19 Existe cofre para abrigar a coleção ou parte dela? ( ) Sim ( ) Não 20 O teto sobre o Setor é: ( ) Laje ( ) Forro de gesso sob telhas ( ) Forro de PVC sob telhas ( ) Telhas sem forro ( ) Telhado de metal (Alumínio, zinco, etc.) ( ) Outros: _____________________________ 21 Os funcionários do Setor têm visão total do salão de leitura? ( ) Sim ( ) Não 22 As portas que dão acesso ao Setor são consideradas resistentes? ( ) Sim ( ) Não 23 Que tipo de proteção extra existe nas portas? ( ) Cadeado ( ) Grade ( ) Ferrolho ( ) Tranca ( ) Corrente ( ) Nenhuma ( ) Outros: ___________________ 24 As janelas do Setor são consideradas resistentes? ( ) Sim ( ) Não 25 Que tipo de proteção extra existe nas janelas? ( ) Cadeado ( ) Grade ( ) Tramela ( ) Tranca ( ) Corrente ( ) Nenhuma ( ) Outros: ___________________ 26 São feitas exposições de Obras Raras no Setor ou na instituição? ( ) Sim ( ) Não 27 Em caso afirmativo, os móveis expositores são trancados e resistentes?

  • 261

    ( ) Sim ( ) Não

    Dados sobre Segurança Eletrônica no Setor de Obras Raras 28 O Setor possui monitoração por câmeras? ( ) Sim ( ) Não 29 Em caso positivo, as câmeras têm visão noturna? ( ) Sim ( ) Não 30 As filmagens são (marque mais de uma opção, caso necessário): ( ) Não gravadas ( ) Gravadas e descartadas periodicamente ( ) Gravadas e armazenadas por tempo indeterminado ( ) Monitoradas pela equipe de segurança durante o funcionamento do Setor ( ) Monitoradas pela equipe de segurança 24 horas ( ) Outros: __________________________________________________________ 31 No Setor existem detectores de movimento? ( ) Sim ( ) Não 32 No Setor existem alarmes que indiquem invasão ou arrombamento? ( ) Sim ( ) Não 33 Nas portas do Setor existem trancas eletrônicas? ( ) Sim ( ) Não 34 Em caso positivo, estas trancas abrem com (marque mais de uma opção, caso necessário): ( ) Senha ( ) Cartão magnético ( ) Biometria ( ) Outros: ________ 35 Existe plano de manutenção destes equipamentos? ( ) Sim ( ) Não 36 Em caso positivo, com que frequência é feita a manutenção? __________________________________________________________________________________________________________________________________________

    Dados sobre a equipe de segurança e guarda das chaves 37 Existe uma política de controle de chaves? ( ) Sim ( ) Não 38 Existe uma política de reposição e duplicação de chaves? ( ) Sim ( ) Não 39 A emissão de chaves e cartões magnéticos de identificação é controlada? ( ) Sim ( ) Não 40 A perda de chaves é registrada? ( ) Sim ( ) Não

  • 262

    41 A instituição possui equipe de segurança? ( ) Sim ( ) Não 42 Em caso afirmativo, o número de pessoas envolvido é considerado suficiente pela instituição? ( ) Sim ( ) Não 43 A equipe de segurança é treinada para agir em situação de roubo ou furto no acervo de Obras Raras? ( ) Sim ( ) Não 44 A equipe de segurança faz rondas pela instituição? ( ) Sim ( ) Não 45 Existe treinamento periódico para a equipe de segurança? ( ) Sim ( ) Não

    Dados sobre o Controle do Acervo 46 Todos os livros da Coleção estão catalogados? ( ) Sim ( ) Não 47 Em caso negativo, é utilizada a linguagem GW ou Didascálica para o registro dos livros não catalogados? ( ) Sim ( ) Não 48 Já foi feito inventário da Coleção? ( ) Sim ( ) Não 49 O inventário é feito periodicamente? ( ) Sim ( ) Não 50 Caso afirmativo, com qual periodicidade? __________________________________________________________________________________________________________________________________________ 51 São realizadas consultas em bibliografias especializadas? ( ) Sim ( ) Não 52 É feita análise bibliológica? ( ) Sim ( ) Não 53 Existe controle de usuário do acervo? ( ) Sim ( ) Não 54 Em caso positivo, como é feito esse controle (marque mais de uma opção caso necessário)? ( ) Apresentação de documento de identificação pessoal ( ) Anotação de dados pessoais do usuário ( ) Cadastro de usuário em sistema automatizado da Biblioteca ( ) Controle da quantidade de livros consultados por vez ( ) Anotação manual dos títulos consultados ( ) Controle dos títulos cadastrados pelo sistema automatizado da Biblioteca

  • 263

    ( ) Agendamento de consulta ( ) Outro: ____________________________________________________________ 55 É feita a digitalização do acervo? ( ) Sim ( ) Não 56 É feita microfilmagem do acervo? ( ) Sim ( ) Não 57 Existe registro de quais livros possuem gravuras originais? ( ) Sim ( ) Não 58 Após a consulta, é feita verificação de integridade dos títulos consultados? ( ) Sim ( ) Não 59 Caso positivo, descreva este processo: ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 60 O acervo está segurado? ( ) Sim ( ) Não 61 Existem normas para acesso em horários especiais, tais como a noite, finais de semana e feriados, diferenciados do horário normal de atendimento ao público? ( ) Sim ( ) Não 62 Usa-se marca de propriedade nos exemplares? ( ) Sim ( ) Não 63 Em caso positivo, quais são estas marcas (marque mais de uma opção caso necessário)? ( ) Carimbo a tinta ( ) Carimbo em relevo ( ) Etiquetas na lombada ( ) Ex libris ( ) Outros: ________________________ 64 Existe plano de emergência caso ocorra roubo ou furto no Setor? ( ) Sim ( ) Não 65 Caso positivo, descreva o plano: ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 66 Já foi feito Gerenciamento de Risco para o Setor? ( ) Sim ( ) Não 67 Existe Setor de Restauração na instituição? ( ) Sim ( ) Não 68 Existe controle formal para a transferência de Obras Raras para restauração? ( ) Sim ( ) Não

  • 264

    69 A segurança no Setor de Restauração – caso exista – ou no local de restauração externo à instituição é a mesma que no Setor de Obras Raras? ( ) Sim ( ) Não ( ) Melhor ( ) Pior 70 Há registro de empréstimo de exemplares para outras instituições? ( ) Sim ( ) Não 71 Em caso positivo, alguém da instituição de origem acompanha a obra? ( ) Sim ( ) Não 72 Foi feito seguro para os exemplares emprestados? ( ) Sim ( ) Não 73 Existe uma política de segurança formalizada para o Setor? ( ) Sim ( ) Não 74 Todos os funcionários da instituição têm conhecimento sobre a política de segurança? ( ) Sim ( ) Não 75 Existe algum caso de desaparecimento de livros do Setor? ( ) Sim ( ) Não

    Dados sobre o Responsável pela Coleção de Obras Raras 76 O responsável pela Coleção possui qual nível de formação? ( ) Ensino médio ( ) Nível superior em Biblioteconomia ( ) Nível superior em outra área: __________________________________________ ( ) Especialização: _____________________________________________________ ( ) Mestrado: _________________________________________________________ ( ) Doutorado: ________________________________________________________ 77 O responsável pela Coleção já fez curso sobre segurança contra roubo de acervos? ( ) Sim ( ) Não 78 O responsável pela Coleção permanece no Setor durante todo o seu horário de funcionamento? ( ) Sim ( ) Não 79 Quantas chefias existem acima do responsável pelo Setor? ( )1 ( ) 2 ( ) 3 ( )4 ( ) Mais de 5 80 Espaço reservado para seus comentários, críticas, depoimentos e observações sobre algo que não tenha sido incluído nas perguntas acima. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

  • 265

    APÊNDICE B – Questionário às instituições com casos de roubo ou furto

    1 Nome da Instituição:

    _______________________________________________________________

    2 Nome do respondente:

    _______________________________________________________________

    3 Data do roubo ou furto, ou descoberta do crime:

    _____________/____________/_____________

    4 Descreva os detalhes da ação criminosa ou da descoberta do roubo ou furto:

    ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    5 Quais autoridades foram informadas?

    _______________________________________________________________

    6 Houve inquérito policial?

    ( )Sim ( )Não

    7 Em caso afirmativo, qual foi data da instauração do inquérito policial?

    ________________/___________________/___________________

    8 Número do inquérito policial:

    _______________________________________________________________

    9 Houve indiciados criminalmente?

    ( ) Sim ( ) Não

    10 Em caso afirmativo, quantos foram indiciados? Quais os nomes dos indiciados?

    _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    11 Número(s) do(s) processo(s) judicial:

    _______________________________________________________________

    12 Houve condenados pela justiça?

  • 266

    ( ) Sim ( ) Não

    13 Quantos condenados? Quais os nomes?

    ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    14 Qual a pena de condenação de cada réu?

    _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    15 Quais foram os livros e materiais levados?

    ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    16 Houve livros e materiais recuperados? Quais?

    ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    17 Detalhes da recuperação de livros e materiais:

    ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    18 Outras informações pertinentes não abordadas nas questões anteriores (Por favor, detalhe tudo sobre o crime):

    ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

  • 267

    APÊNDICE C – Roteiro de entrevista com especialistas em segurança contra roubo e furto

    1 Quais seriam as condições mínimas de segurança contra roubo e furto que as instituições guardiãs de Livros raros devem ter?

    2 Quais as ferramentas de segurança contra roubo e furto adotadas especificamente para Livros raros?

    3 Qual sua opinião sobre o uso de marcas definitivas de propriedade na obra?

    4 As instituições brasileiras guardiãs de Livros raros estão seguras contra roubo e furto?

    5 Por que no Brasil não se tem diretrizes nacionais sobre segurança contra roubo e furto de Livros raros?

    6 Como seria uma situação ideal de segurança contra roubo e furto?

    7 Qual é o impacto causado pelo roubo e furto de Livros raros?

    8 Qual a maior dificuldade que as instituições enfrentam quanto à segurança contra roubo e furto?

    9 Quais a dificuldades são enfrentadas para recuperação dos Livros raros?

    10 Existe verba específica, nas instituições, para o combate ao roubo ou furto?

    11 Relate um pouco da sua experiência em situações de roubo e furto. Quais foram as dificuldades enfrentadas? Houve materiais recuperados? Como foi a ação policial? Quais as atitudes tomadas pela instituição?

  • 268

    APÊNDICE D – Roteiro de entrevista com Delegado da Polícia Federal

    1 Na sua opinião, como a instituições guardiãs de Livros raros podem se proteger quanto ao roubo e furto de Livros raros?

    2 Quais as condições para o envolvimento da PF no crime de roubo ou furto de Livros raros?

    3 O Rio de Janeiro é a cidade onde tem o maior índice deste tipo de crime. Existe algum preparo específico na Polícia Federal do RJ para a investigação deste tipo de crime?

    4 Qual a maior dificuldade da Polícia Federal em efetuar as prisões e recuperar as obras roubadas ou furtadas?

    5 Existe algum projeto da PF junto às instituições guardiãs de acervos culturais para treinamentos ou elaboração de diretrizes de prevenção?

    6 O Fato de estar submetido a essa delegacia tanto os crime sobre meio ambiente quanto do patrimônio histórico atrapalha de alguma forma a especialização na PF, quanto a estes crimes? E a rotatividade dos agentes?

    7 Existe quantidade suficiente de delegados e policiais para a apuração e acompanhamento deste tipo de crime?

    8 Diante da sua experiência o sr. Acredita que as instituições brasileiras guardiãs do patrimônio histórico documental ou de Livros raros têm uma estrutura mínima de proteção quanto ao roubo ou furto de suas obras?

    9 Qual o índice de recuperação das obras?

    10 Como é a relação da PF com o Iphan? Há autuações de negociantes identificados no cadastro realizado pelo Iphan? Como funciona essa comunicação?

  • 269

    APÊNDICE E – Roteiro de entrevista com funcionários do Iphan

    1 Existe uma fiscalização efetiva pelo Iphan dos leiloeiros, antiquários e sebos, que faça cumprir o Decreto-lei 25 e a Instrução Normativa 01, que os obriga a se cadastrarem junto ao Iphan?

    2 Caso positivo, existe pessoal suficiente para essa fiscalização?

    3 Os leiloeiro e comerciantes de antiguidades realmente atualizam as listas de obras que possuem com a periodicidade exigida?

    4 Segundo a Resolução 13/85 os acervos relacionados às igreja, capela, mosteiros estão tombados, assim como pelo art. 216 §5º da Constituição Federal estão os documentos detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. Existem casos de tombamento de acervo bibliográfico de instituição que não estão contemplados nestes dispositivos legais? Quais?

    5 Quais as características que um acervo bibliográfico deve ter para ser aceito seu tombamento?

    6 Qual a razão para tão poucos tombamentos deste tipo de acervo? Por que as instituições não solicitam o tombamento de seu acervo?

    7 Como é o procedimento para a decisão de tombar um acervo bibliográfico? A iniciativa deve partir do Iphan, da comunidade ou da própria instituição?

    8 Existe fiscalização efetiva do Iphan sobre todos os procedimentos exercidos no bem tombado?

    9 Quais são as regras pra inserção de um item roubado ou furtado no Banco de Dados de Consulta a Bens Culturais Procurados?

    10 Existe algum projeto do Iphan sobre segurança contra roubo e furto junto às instituições guardiãs de acervos raros?

  • 270

    APÊNDICE F – Transcrição da entrevista com Entrevistado A

    Entrevistador – Quais seriam as condições que você considera mínimas de

    segurança contra roubo e furto que as instituições guardiãs de Livros raros

    devem ter? Eu vou digitando aqui também.

    Entrevistado A – É, bom, primeiro é necessário estabelecer que uma

    diferença entre roubo e furto, o roubo implica o uso de violência, de retirada à

    força, e o furto é a subtração sem que se perceba em um primeiro momento

    em que ele ocorreu.

    Entrevistador – Isso.

    Entrevistado A – As condições mínimas de segurança na minha percepção

    perpassam pela gestão, pela ideia de gestão, eu diria o seguinte: se os

    Curadores, os funcionários e os terceirizados, e todas as pessoas envolvidas

    no trato com acervos preciosos, acervos de memória, acervo de Livros raros,

    praticassem o que a gente chama de empowerment, isto é, vestissem a camisa

    da instituição, eu consideraria essa como ação mínima, ela não depende de

    nada, ela não depende de um maquinário, de controle de trânsito de pessoas,

    ela implica sim em que cada servidor seja, assuma o papel de guardião, que

    tenha consciência que uma coleção de Livros raros, desse modo estruturado,

    ela configura uma sala cofre, e como toda sala cofre ela precisa de guardiões.

    Então para mim as condições mínimas, a gente vai pensar em termos de

    mínimas de segurança, é a presença física, a guarda física, sentido de

    responsabilidade como guardiões de memória, de uma memória que precisa

    ser guardada para essa e para a próxima geração.

    Entrevistador – Ótimo, muito obrigado, eu vou passar para a segunda, está

    bom? Já respondeu o suficiente, é mais ou menos o que eu penso também.

    Quais as ferramentas de segurança contra roubo e furto adotadas

    especificamente para Livros raros? É o caso talvez da análise biológica, você já

    falou a descrição e...

    Entrevistado A – É, em termos assim de ferramentas, o primeiro instrumento e

    que eu considero mais importante em termos, assim no âmbito da

  • 271

    Biblioteconomia, é o histórico do acervo, isto é, eu não tenho como gerir uma

    coleção se eu não souber absolutamente nada sobre ela. Então quando a

    gente pensa em condições mínimas de segurança contra roubo e furto, eu

    acho que eu incluiria também aí a segurança contra a má gestão, porque a má

    gestão também leva a perda de itens que são descartados, muitas vezes

    aleatoriamente, e esses itens eles acabam aparecendo em Leilões, em livrarias

    sendo negociados, porque eles foram descartados de modo irresponsável.

    Então a irresponsabilidade também acabou ocasionando essas perdas, então

    não só o roubo e o furto, existe, eu digo assim: existe a subtração por

    desconhecimento do acervo, então se eu não conheço a origem do meu

    acervo, quais são as coleções básicas históricas que o formam, como é que ele

    chegou àquele estágio, aquele estado da arte desse acervo, eu acabo

    selecionando, descartando ou subtraindo da coleção obras, que ao meu ver

    dentro de uma visão limitada pelo desconhecimento do acervo não tem

    significado ali. Então em princípio o primeiro grande instrumento é o histórico

    da coleção com a descrição, o histórico do acervo com a descrição das

    coleções incorporadas, o histórico das coleções incorporadas, quais foram as

    pessoas que doaram e tal.

    Entrevistador – A proveniência não é?

    Entrevistado A – Até para eu poder saber assim, o que eu tenho, esse é o

    primeiro passo, a outra é a descrição das obras, mesmo que eu não tenha uma

    descrição minuciosa eu preciso ter essas obras em catálogo, mesmo que seja

    mais elementar das descrições, porque eu entendo que a função precípua de

    um catálogo de Biblioteca não é o acesso à recuperação e o acesso, essa é

    uma decorrência da produção do catálogo, a função precípua do catálogo e a

    preservação.

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – O catálogo de uma Biblioteca ele primeiro, ele me possibilita

    escolher sem manusear, seleciona no catálogo sem manusear, além disso o

    catálogo avisa: ―Eu tenho.‖ Ele é um informe público de que eu possuo aquela

    cópia, a quem questione a inclusão de Obras Raras em catálogos, por

  • 272

    exemplo, de acesso público, porque argumentam o seguinte: ―Ah, se eu vou

    dizer, se eu coloco uma nota de raridade ou uma ação sobre a raridade eu

    atraio o interesse negativo pela obra, o interesse de subtrair.‖ Então eu entendo

    que só o fato de eu denominar uma coleção como: coleção de Livros raros e

    especiais, eu já estou expondo a coleção se eu pensar dessa maneira, na

    verdade ao descrevê-la como uma coleção de livros raros e especiais eu estou

    abrindo um precedente para novas formas de controle, ou uma forma de

    controle diferenciada daquela que eu aplico ao Acervo Geral. Eu estou me

    comprometendo e estou cobrando comprometimento dos Gestores que estão

    acima de mim, então o primeiro instrumento é o histórico, o segundo é o

    catálogo da obra, o terceiro que seria já um passo posterior à catalogação

    minuciosa dessas obras, daquelas obras consideradas mais importantes, de

    modo a personalizar o exemplar que está na minha mão, e com uma atenção

    especial para as obras muito ilustradas, porque são as obras de maior

    demanda. Isso tudo assim, e principalmente a seleção adequada de pessoas

    que vão transitar nessa sala cofre, a oferta por livros atinge cifras muito

    tentadoras, e nem sempre o quadro de pessoal formado para a guarda de

    acervos de memória, embora sejam guardiões de tesouros é remunerado a

    altura.

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – Então, por exemplo, você vê estagiários terceirizados que

    ganham um pouco mais do que um salário mínimo, e essas pessoas é claro

    são suscetíveis, é claro, a ofertas milionárias, por exemplo, por um pedaço de

    um livro, 15 páginas de um livro de alguém que tem um livro faltando essas 15

    páginas e sabe.

    Entrevistador – Ou uma gravura também.

    Entrevistado A – É, ele sabe que existe esse livro em uma determinada

    Biblioteca. Então: ―Ah, eu quero 15 páginas desse livro, eu quero as 16

    primeiras páginas que eu não tenho, eu te dou sei lá, R$5.000,00 para você

    conseguir aquelas 15 páginas.‖ E olha, 15 páginas de um caderno arrancado

  • 273

    de um livro que está lá na estante, o Bibliotecário só vai perceber quando o

    próximo usuário consultar aquela obra.

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – Então essas seriam, na minha opinião, as ferramentas de

    segurança, um processo seletivo a partir de currículos e entrevistas e

    informações pessoais, informações de terceiros sobre a pessoa que está sendo

    selecionada, eu tenho muito cuidado por exemplo.

    Entrevistador – Avaliar o seu pregresso.

    Entrevistado A – É, exatamente, quando selecionam estagiários e tal, então é

    o inventário, a catalogação, quer dizer, a colocação em catálogo, a catalogação

    minuciosa e a seleção cuidadosa das pessoas que formam a equipe.

    Entrevistador – Está ótimo, eu não sei se a senhora conhece a ―Economia do

    Crime‖, a senhora conhece a teoria?

    Entrevistado A – Não, pouco.

    Entrevistador – É, lá ela diz que o bandido quando ele vai cometer o crime, aí

    mais com finalidade econômica que ela analisa.

    Entrevistado A – Certo.

    Entrevistador – E ele pensa racionalmente e ele leva em consideração os

    custos com os benefícios, qual o custo que ele vai ter em relação aquele crime,

    e é isso, se ele pondera que os benefícios são maiores, os valores aí que a

    senhora falou, ele provavelmente vai decidir, e os custos porque ele está ali, no

    caso de funcionário ele está dentro da coleção ele não vai ser descoberto.

    Entrevistado A – Exatamente.

    Entrevistador – Então foi bem de encontro aí com a fala da senhora.

    Entrevistado A – Isso, o que ocorre ali especificamente? É, a Biblioteconomia

    como um todo, seja ela de Livros raros ou livros gerais, livros especiais ou

  • 274

    gerais, ela trabalha com um valor que hoje não tem mais valor nenhum que é a

    confiança.

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – Então, por exemplo, você, o Bibliotecário investe em um

    custo para selecionar, pesquisar, adquirir, comprar, existe um trabalho todo,

    longo para que a instituição libere recursos, até que o livro selecionado chegue

    e seja incorporado ao acervo, em um dado momento aquele livro é entregue na

    mão de uma pessoa que leva para casa.

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – A Biblioteca criou todas as condições de guarda, desinfestou

    a Biblioteca, higienizou, teve cuidado para que não tivesse bicho, que não

    batesse sol, e tem expectativas de que a pessoa que está levando para casa

    vai ter seus cuidados, mas isso não é natural, a pessoa não vai ter esse

    cuidado. Então a Biblioteca confia que aquela pessoa vai ter cuidados com ela,

    a mesma coisa acontece com uma coleção especial, normalmente não ocorre

    empréstimo nem deve, mas o Bibliotecário empresta de modo presencial, então

    você tem expectativa que o indivíduo vai manusear com cuidado, que ele não

    vai subtrair de modo sub-reptício uma página, uma folha, mas eles fazem isso

    com uma agilidade impressionante.

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – É, o usuário de Livros raros é um usuário cotidiano, diferente

    do usuário do Acervo Geral que vem hoje, vem fica 2h e vai embora, o usuário

    do Acervo Especial é o usuário que fica horas na Biblioteca, dias seguidos para

    atender a um projeto específico de Mestrado ou Doutorado, ou Pós-Doutorado

    que seja. E ele vai depois de algum tempo, ele acaba se socializando na

    Biblioteca, essa socialização ela é alicerçada em uma confiança, o Bibliotecário

    acredita que está lidando com o pesquisador, e de modo geral é desse modo

    que se apresenta o indivíduo de fora que vem furtar, mas é tão perigoso quanto

    o indivíduo de dentro, porque o que está dentro já conquistou essa confiança,

    ele lida com essa relação de confiança.

  • 275

    Entrevistador – É, bom, a pergunta três é qual a opinião que a senhora tem

    sobre o uso da marca definitiva, o uso da marca da propriedade? Carimbo, seja

    do modo como for, a senhora é a favor ou contra, no caso do Acervo Raro.

    Entrevistado A – É, olha só, todo e qualquer acréscimo, toda e qualquer

    interferência na materialidade do Livro Raro reduz o seu valor de mercado, isso

    quando a gente pensa em Biblioteca de uso coletivo, em uma Biblioteca de uso

    particular as interferências pela mão do colecionar, obviamente dependendo de

    quem é o colecionador ou o usuário daquela obra atribui valor. Mas em uma

    Biblioteca de uso coletivo, toda e qualquer interferência nessas condições

    reduz o valor do livro, então por exemplo, existem Bibliotecários que fazem

    marcações na página de rosto, colocam a data a lápis, se a data está em

    romanos coloca lá no rodapé, rubricam quando catalogam, rubricam quando

    classificam, são intervenções que não dizem absolutamente nada para o

    usuário, não é nenhuma contribuição para o futuro daquele livro, são

    informações exclusivamente de caráter técnico que o Bibliotecário efetivamente

    não precisa fazer. Outro exemplo de intervenção é quando por alguma razão

    bastante relevante a obra precisa ser encadernada e o encadernador não é

    orientado a não guilhotinar as páginas, então ele reduz o tamanho do suporte e

    consequentemente reduz o valor da obra. Então toda e qualquer marca de

    propriedade existem princípios, cinco grandes marcas de propriedades

    consagradas, a mais nobre de todas elas é o ex libris que é uma marca que é

    fixada no verso da capa, e é uma marca que é acolhida como meritória na

    história do livro. Então é a única marca cabível na coleção de acervos raros

    especiais, o carimbo seco ou molhado, o ex dono não é admissível, o ex dono

    é quando o indivíduo escreve o seu nome no livro, não é admitido nem o ex

    dono nem o carimbo molhado, nem o carimbo seco que é o carimbo colocado

    por pressão que altera a direção.

    Entrevistador – Aquele rompe as fibras do papel.

    Entrevistado A – Altera a direção da fibra do papel, e existe o ex libris que é o

    que eu considero mais meritório, o super libris que é praticado por

  • 276

    colecionadores abastados, porque a marca colocada, gravada na

    encadernação, é em princípio.

    Entrevistador – Com douração não é?

    Entrevistado A – É.

    Entrevistador – É, mas então aquele carimbo só com o nome da Biblioteca a

    senhora não é a favor também nos acervos.

    Entrevistado A – Nossa, nenhum deles, nenhum carimbo, nenhuma forma de

    carimbo: molhado, à seco.

    Entrevistador – Mas no ex libris a senhora defende o quê? Desde que ele seja

    aplicado em papel, talvez sem acidez.

    Entrevistado A – É o ex libris, não, os papéis.

    Entrevistador – E colocado com metil celulose.

    Entrevistado A – Os papéis, não, os papéis do mercado hoje são todos eles

    livres de acidez, todos papéis neutros, então ele deve ser fixado no lugar onde

    ele tradicionalmente é, que é no verso da capa, eventualmente na guarda

    volante ou em uma das guardas preliminares, e ele deve ser fixado com cola

    neutra, é claro que o Bibliotecário, não compete ao Bibliotecário identificar esse

    tipo de material, mas compete a ele conversar com um técnico em

    preservação, com um conservador que vai produzir essa cola diluída dentro da

    viscosidade certa para a espessura do papel que vai ser fixado no verso da

    capa.

    Entrevistador – Eu já pensei, penso muito nisso porque eu também não sou a

    favor do carimbo como marca de propriedade, mas o ex libris também ele

    acaba não sendo uma marca de propriedade, porque se for colado com metil

    celulose é reversível não é? A pessoa vai ali, umedece e retira.

    Entrevistado A – Sim, todas as marcas são reversíveis.

    Entrevistador – O que a senhora, eu estava pensando em como que a gente

    pode resolver, talvez fazer uma marca invisível não?

  • 277

    Entrevistado A – Não, não existe isso.

    Entrevistador – Não.

    Entrevistado A – Toda, a marca que as pessoas chamam de invisível é aquele

    carimbo seco.

    Entrevistador – Não, ou talvez aquela que lê com a luz negra, talvez, não? A

    senhora.

    Entrevistado A – Não, isso é uma intervenção sua.

    Entrevistador – É, porque eu fico pensando nisso.

    Entrevistado A – Veja só, toda marca é retirável, o que faz hoje quem comete

    furto de obras de arte faz parte de uma gangue, dificilmente o indivíduo faz o

    trabalho solitário, só se ele for alguém realmente, como um sóciopata, por

    exemplo. É, e boa parte deles são sóciopatas, (Ininteligível) sóciopatas, porque

    já foi realmente de ser pego no final, mas uma característica dessas gangues é

    que tem restauradores. Então o que eles fazem agora? Eles recortam os

    carimbos e preenchem o buraco como polpa de papel, então não existe marca

    de propriedade que anule ou que inviabilize o furto, o objetivo da marca de

    propriedade não é impedir que o furto ocorra, mas é marcar a propriedade da

    obra exclusivamente, dizer assim: ―Olha, essa obra é minha.‖ A encadernação,

    o fato de estar colado na encadernação muitos argumentam: ―Ah, mas não está

    não o miolo propriamente dito.‖ Isso não faz diferença, o ex libris é uma marca

    consagrada na história do livro de tal modo que ele atribui mérito a obra, se ele

    for ex libris de um colecionador original.

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – Algumas Bibliotecas inclusive praticam e eu recomendo, eu

    inclusive nomeei o ex libris atribuído, assim, eu recebo uma coleção de um

    colecionador que não praticava marca alguma.

    Entrevistador – A gente faz isso na UnB,

  • 278

    Entrevistado A – Não praticava marca alguma, então qual é a recomendação?

    Você vai criar um ex libris muito simples, normalmente só com o nome do

    colecionador, bem simples, seco, para não criar ilusão de que o colecionador

    não escolheu aquela imagem ou aquela gravura. E esse ex libris dever ser

    fixado no verso da capa antes que a coleção, no momento ou antes, momento

    imediatamente anterior a incorporação da coleção, porque você pode, por

    exemplo, dispersar os itens por materialidade ou por tipologia documental ou

    sei lá. Então seria um modo de você manter, identificar os itens de uma

    coleção, a Biblioteca fez isso, faz isso com várias coleções incorporadas, como

    por exemplo, a Coleção Dona Teresa Cristina Maria que foi identificada desse

    modo.

    Entrevistador – Ah, ótimo. A quarta pergunta: a senhora acredita que então as

    instituições brasileiras, dentro da experiência da senhora que dá curso para o

    Brasil inteiro, eu fiz um curso com senhora em Salvador, a senhora acredita

    que elas estão seguras contra rouba e furtos, as instituições de Livros raros?

    Entrevistado A – Não, não estão não, contra roubo nunca estarão, o roubo

    pressupõe o uso de arma, nós tivemos um caso no Museu em São Paulo em

    que o serviço de segurança foi afrontado com ladrões armados, e foram

    furtadas obras de arte e livros. Então contra o roubo não há efetivamente

    nenhum tipo de segurança, eu diria até que os Curadores de coleção estão

    muito solitários, vou lhe dar aqui um exemplo: não existe uma estrutura de

    proteção, porque o Brasil eu acho que ele é um pouco ingênuo nesse aspecto

    de segurança. O que acontece assim no Brasil: as pessoas acreditam que o

    brasileiro não vai fazer isso, e que se ocorre é porque é uma quadrilha

    internacional, ainda se, toda a nossa estrutura de segurança, pelo menos pelo

    ponto de vista dos guardiões, funciona no esquema de confiança e

    credibilidade, eu acredito na inocência do brasileiro. Então vou aqui dar um

    exemplo: eu trabalho na divisão de Obras Raras, se eu receber um telefonema

    de uma pessoa me dizendo que está com o meu filho sequestrado, que está

    com o revólver na cabeça do meu filho, e que eu tenho que jogar os dois

    volumes da Bíblia de Mongúncia pela janela, porque tem uma pessoa ali

    aguardando naquele momento.

  • 279

    Entrevistador – Antes de terminar a senhora já jogou.

    Entrevistado A – Você pode ter certeza, exatamente.

    Entrevistador – Com certeza.

    Entrevistado A – Então não existe uma estrutura de segurança que se

    estenda contra o furto, o roubo, porque isso se configura roubo: o indivíduo

    está usando a violência e está me usando para poder ter acesso a uma

    determinada publicação. Contra o furto o primeiro mecanismo é como eu lhe

    falei é a segurança pessoal, eu acho que não há, não está, não há proteção, a

    consciência do perigo dessas coleções é recente, agora nós temos uma nova

    geração de Bibliotecários, isso me entusiasma bastante, conscientes de que

    existem Livros raros em todo tipo de Biblioteca: nas Bibliotecas Públicas, nas

    Bibliotecas Universitárias, nas Bibliotecas Escolares, nas Bibliotecas

    Municipais, nas Bibliotecas Universitárias, não só nas Bibliotecas

    tradicionalmente guardiãs de memória. E esses Bibliotecários vêm com um

    ímpeto diferente dos Bibliotecários da minha geração, que muitos influenciados

    por uma Biblioteconomia estadunidense, diziam que: ―Não trabalhavam com

    livro velho porque estavam muito mais preocupados em catalogar e classificar

    em quantidade.‖ Então com essa nova geração, eu tenho expectativa de que

    surjam circunstâncias de segurança que evolvam por exemplo, normas de

    trânsito, normas de acesso, critérios de acesso, normas que a Biblioteca

    Nacional já tem, por exemplo.

    Entrevistador – Eu vi o livro que vocês publicaram sobre gestão de riscos, até

    eu vou fazer uma pergunta no final sobre isso.

    Entrevistado A – É, existe esse sobre gestão de risco, mas nós temos normas

    internas que são depois formalizadas pelo Presidente da instituição, como

    ordem de serviço. Então por exemplo, essas ordens de serviço estabelecem,

    por exemplo, quem pode ser o usuário da Biblioteca Nacional, estabelecem,

    por exemplo, com que tipo de material você pode entrar na Biblioteca Nacional

    e quais são as condições para você sair com ele. Então por exemplo, um

    indivíduo para entrar com o computador para ir à divisão de Obras Raras ele

    precisa da minha autorização, porque se ele não tiver a minha autorização para

  • 280

    entrar ele não sai com o computador dele, um exemplo. Todos os Servidores

    por força dessa regulamentação devem apresentar sua bagagem na saída,

    isso por quê? Porque o contrato de segurança da Biblioteca Nacional obriga a

    empresa de segurança a indenizar a Biblioteca por qualquer perda.

    Entrevistador – Ah, é? Interessante.

    Entrevistado A – Entendeu? Então o serviço de segurança é um serviço de

    segurança patrimonial, se houver qualquer subtração, é claro que se tiverem,

    alguns funcionários estiverem envolvidos eles serão inquiridos, eles serão

    arrolados no processo, mas o serviço de segurança ele responderá por isso,

    então ele tem que apresentar. Então por exemplo, eu entro com os meus livros,

    eu não saio com eles se um colega não me der um documento autorizando a

    minha saída, se dali por diante, se dali para frente descobrirem que eu furtei

    esses livros o meu colega está comprometido comigo porque ele me autorizou.

    Então nós temos normas de trânsito de pessoas, normas de trânsito para

    leitores, horário de trânsito dentro da instituição, a Biblioteca Nacional tem um

    serviço de chaveamento totalmente controlado, chaves não ficam na gavetinha,

    em uma caixinha na gaveta do Chefe, nós temos um sistema de claviculário

    que funciona, as chaves são entregues regularmente para o serviço de

    segurança. Então a partir do momento da entrega da chave toda a estrutura de

    segurança é de responsabilidade da administração, até o momento em que o

    primeiro funcionário retira a chave, nós temos documentos que formalizam

    quem pode retirar e quem pode entregar a chave, isso é, quem pode abrir e

    quem pode fechar as divisões, todas elas independente da área de acervo. É,

    por exemplo, todo o trânsito de pessoas deve ser pré-anunciado, então ao

    receber alguém na portaria essa pessoa só sobe se a pessoa que ela veio

    buscar autorizar a subida dela, por exemplo, vai ser feita a manutenção elétrica

    dentro de um armazém, a área da administração tem que encaminhar os

    nomes com os CPFs ou números de identificação das pessoas que vão

    trabalhar nesse armazém, ninguém entra com bolsas ou mochila no armazém,

    e se precisar entrar por conta de equipamentos para trabalho, esses

    equipamentos são submetidos a um Servidor da área que examina para

    verificar a bolsa antes der sair, assim como aquela pessoa, aquela bagagem

  • 281

    vai ser supervisionada na saída. Então são necessárias, nem todas as

    instituições alcançaram esse status, e a Biblioteca Nacional ainda assim está

    sobre risco, nós temos o sistema de câmeras, temos sensores de presença,

    temos roletas eletrônicas que no serviço público foi difícil de manter, porque

    isso tem tempo de validade, então nem sempre o serviço público consegue

    acompanhar o tempo de validade.

    Entrevistador – Fazendo manutenção.

    Entrevistado A – De tal modo que a manutenção não deixe buracos.

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – Mas o sistema de câmeras, o serviço de segurança

    presencial, do serviço de segurança não armada, mas uniformizado, também é

    necessário. Então eu lembro que solicitei, por exemplo, a presença de um

    segurança fixo no andar onde estão as Obras Raras, a cartografia e as Obras

    Raras, as cartografias e manuscritos, então tem o serviço de segurança que

    fica ali tempo integral, nossas vitrines são chaveadas, nós não permitimos

    fotografias nesses andares, porque nem toda fotografia é inocente ou turística,

    uma fotografia pode estar documentando as passagens, as janelas, os

    trânsitos, os modos de trânsito e assim por diante.

    Entrevistador – Ah, muito bom, muito bom, obrigado. É, realmente assim,

    igual o meu primeiro momento de pesquisa foi perguntando essas condições

    de segurança, tudo que a senhora relatou que é a BN tem, a maioria das

    instituições não têm controle de chave, que é anotar ali no papelzinho, não tem.

    Entrevistado A – É, não tem, o que é elementar.

    Entrevistador – É terrível.

    Entrevistado A – Agora, isso também é uma conquista, o Bibliotecário acaba

    bancando o chato.

    Entrevistador – É verdade.

  • 282

    Entrevistado A – No início, até que a administração realmente tenha

    consciência disso.

    Entrevistador – É, até porque você vai evitar que o Diretor entre a qualquer

    hora, qualquer coisa e ele vai se sentir, às vezes, ofendido diretamente.

    Entrevistado A – Na Biblioteca Nacional um Diretor de área, o Presidente da

    Instituição, ele não leva um livro para a mesa dele, por exemplo, um Livro Raro

    para a mesa dele, para a sala dele.

    Entrevistador – Entendi, bom, nos Estados Unidos eu conheço pelo menos o

    Rare Book Description Section, o RBMS, que estimula algumas diretrizes

    ligadas ao Livro Raro, no Brasil eu não vejo muito isso, o Planor parece que

    surgiu um pouco com essa tentativa não é? Vejo o curso da senhora, mas

    diretrizes mesmo fixadas eu não conheço, a senhora, porque será que isso,

    não sei nem se é o papel da BN ou de um Conselho Federal. (Intervenções

    simultâneas)

    Entrevistado A – É o que vai se estabelecer como diretrizes, o

    estabelecimento de critérios?

    Entrevistador – É, ou uma norma geral.

    Entrevistado A – Uma política.

    Entrevistador – Tipo ao que o Mast publicou talvez, não sei, a gente não tem

    muito isso.

    Entrevistado A – Uma política sobre trato, segurança, sobre critério.

    Entrevistador – Isso, é.

    Entrevistado A – É, isso não é a função da BN, houve uma Lei, uma Lei do

    Livro que foi vetada, não foi aprovada não é? Que tentou estabelecer que seria

    uma atribuição da BN e uma norma da ABNT, seria uma atribuição da BN dizer

    o que é Livro Raro e uma norma da ABNT também dizer. Veja só, as diretrizes

    sobre como lidar com o acervo devem levar em consideração duas pessoas

    principais, aliás três pessoas, a primeira pessoa é a instituição, como você

  • 283

    falou tem umas diretrizes do Mast. Então a instituição ela vai estabelecer muito

    sobre o ponto de vista dela, o interesse dela no que é precioso para ela, então

    essa, e eu até conto essas três instituições, essas três pessoas no meu livro O

    que é Livro Raro, então primeiro é a instituição de guarda. Quem é essa

    instituição de guarda? Essa instituição de guarda ela se manifesta no

    Presidente da instituição, no Diretor da instituição, porque uma instituição não

    pode dizer nada a partir do ponto de vista do Bibliotecário exclusivamente, ele

    precisa, é preciso que um Comitê se forme, que se estabeleça por diretrizes

    que a autoridade máxima formalize isso como uma norma ou como uma

    ordem, uma instrução de serviço. A outra pessoa é o Bibliotecário propriamente

    dito, porque ele conhece o livro em princípio, então ele conhecendo a

    Biblioteca ele vai apontar o que é precioso para a Biblioteca, o que é raro, o

    que é único tal. E a terceira pessoa é o usuário, é o indivíduo que pesquisa

    aquele acervo e conhece o acervo em termos de conteúdo, uma informação

    que não é obrigação do Bibliotecário saber, então eu entendo que a

    inexistência, não há uma diretriz única, seria quase que ditatorial, não se

    aplicaria, é como se eu dissesse assim: as normas da BN vale para todo

    mundo, não valem, valem para a Biblioteca Nacional porque ela é Biblioteca

    Nacional, até recomendei ao Planor, que tirasse as normas da BN do site,

    porque cria para a pessoa a ilusão: ―Ah, nós seguimos as normas da BN.‖ Não

    é, meu Deus, quando ouço alguém me dizer eu leio apresentações de trabalho,

    que às vezes, assim: ―Nós seguimos as normas da BN.‖ Nossa, meu coração

    sai pela boca, o primeiro fundamento é que aquela é uma Biblioteca Nacional,

    se a sua Biblioteca é uma Biblioteca Universitária, se a sua Biblioteca é uma

    Biblioteca Especializada, essas normas não se aplicam, não se aplicam porque

    a Biblioteca Nacional ela é única. A norma da Biblioteca Nacional pode ser

    modelar para outras Bibliotecas, ela pode até servir como ponto de partida,

    diante dessas dificuldades é que eu escrevi o que é Livro Raro, porque ouvia

    os Bibliotecários me perguntando: ―Como é que eu sei o que são Livros raros?‖

    Então a minha ideia não é dizer o que é, mas te dar os instrumentos, saber

    olhar, como é que eu, que instrumentos que eu vou considerar? Como é que

    eu vou mapear isso? Como é que eu vou me organizar? Quais os critérios que

    eu posso usar para definir o que é errado na minha Biblioteca?

  • 284

    Entrevistador – Entendi.

    Entrevistado A – Então essas diretrizes elas são personalíssimas, a

    competência de estabelecer uma diretriz nacional na minha concepção é

    porque o Livro Raro está dentro da obra de arte, é do Iphan, e o Iphan diz isso

    para mim naquela ordem de serviço que eu vou te passar que é a instrução

    normativa não é?

    Entrevistador – Só um instante, a de número seis, então a gente falou da

    condição mínima e uma condição mais utópica talvez, como a senhora disse:

    ―Nada vai restringir contra.‖ Eu vi um especialista no rádio falando, um

    especialista geral de segurança em eventos públicos, então ele falou: ―Ser a

    pessoa quer, não importa de ser vista ele vai dar um tiro na cabeça da

    Presidenta, daí ele vai conseguir, porque não existe esquema de segurança

    que prevê isso.‖ E foi mais ou menos, e qual que seria então a condição,

    mesmo que utópica, ideal para a segurança?

    Entrevistado A – Bom, contra furto e roubo não é? A primeira condição era

    para mim a capacitação do Bibliotecário, os Bibliotecários qualificados com

    ênfase na formação em história do livro e das Bibliotecas, que é uma disciplina

    que na minha concepção está crescendo, ela pode não estar crescendo nas

    Escolas de Biblioteconomia do país, infelizmente, mas hoje você encontra

    eventos, Congressos internacionais, Seminários, reuniões técnicas na área de

    Biblioteconomia de Livros raros no mundo e no Brasil. Para você ter uma ideia

    só agora em maio eu participei, eu dei um curso fechado sobre gestão de

    acervo de memória, por sistema de Biblioteca da Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul que eles chamam de URGS, o ―F‖ [de UFRGS] para eles é

    mudo, em maio isso foi durante uma semana inteira, curso fechado. A

    Associação de Bibliotecários do Rio Grande do Sul quando soube que eu

    estava lá me pediu que eu fizesse uma palestra aberta para Bibliotecários do

    Rio Grande do Sul, então eu tive que alterar até o horário da minha volta, para

    ficar uma manhã lá, e vieram Bibliotecários de várias cidades até, de mais de

    uma cidade do Rio Grande do Sul que foi na Biblioteca pública, agora no

    finalzinho, na semana passada eu estive na UNESP de Araraquara

  • 285

    participando do Seminário sobre gestão de acervo de memória, porque a

    UNESP tem e recebeu várias coleções de Livros raros, a UNICAMP incorporou

    coleções de Livros raros, tinha o representante da UNICAMP, da UNESP, de

    várias instituições, principalmente de São Paulo participando desse Seminário.

    Eu tenho um trabalho escrito e aprovado na IFLA, e o Congresso da IFLA que

    vai acontecer em agosto, no segmento da história dos livros e das Bibliotecas,

    existem grupos de pesquisa que estão se formando na área da história do livro

    e das Bibliotecas. Então é um segmento que está crescendo e que as Escolas

    de Biblioteconomia têm que acordar para isso, porque existe um acervo

    monumental que vai ter um destino bem definido de preservação e não de fim

    como alguns argumentam em favor da ciência da informação que seja, ou o

    que quer que seja, não de fim, mas existe um acervo que você precisa

    preservar para que você possa gerar, por exemplo, esse acervo sobre o outro

    formato digital, por exemplo. O que eu vou fazer com as obras do Heródoto?

    Elas vão parar se existir? Eles vão morrer? Porque surgiu uma nova tecnologia,

    não é isso?

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – Essas coleções precisam ser preservadas para que elas

    alcancem, ou sejam favorecidos pelos novos suportes que a tecnologia vai

    oferecer um dia.

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – Então o sentido de preservação não é que ah, eu vou

    guardar livro, não, eu vou guardar o suporte que registram essas informações

    que um dia existiram em tabuletas de argila, em papiro, em pergaminho, que

    migraram para o papel e que vão precisar migrar para algum outro tipo de

    suporte, nós ainda não sabemos qual é, não é isso?

    Entrevistador – Mas que não deixa de existir não é?

    Entrevistado A – Exatamente, então nós precisamos de Bibliotecários, eu

    acho que a primeira questão é a capacitação do Bibliotecário que começa com

    os cursos de Biblioteconomia, disciplina história do livro e das Bibliotecas,

  • 286

    especificamente. No mestrado profissional e Biblioteconomia da UNIRIO, nós

    temos uma disciplina que eu que leciono chamada Biblioteconomia de Livros

    raros.

    Entrevistador – Está ok.

    Entrevistado A – Têm 10 alunos inscritos nessa disciplina, mas a situação de

    eu dar aula, além disso, o estabelecimento de salas cofres, salas cofres com

    controle de temperatura, controle de trânsito de pessoas, uma seleção de

    obras bem definidas com critérios muito especificados. E isso assim, 24h de

    modo ininterrupto, a Biblioteca Nacional está com projeto de construção da sala

    cofre, você vai, você deve ter observado, a Biblioteca está cercada de

    tapumes.

    Entrevistador – Vi, vi sim.

    Entrevistado A – Nós já começamos o projeto de reformulação da Biblioteca,

    vai ter uma reformulação geral em todo o espaço, e uma sala cofre geral, não

    será mais uma sala cofre de obra rara.

    Entrevistador – Ah.

    Entrevistado A – Nós teremos a divisão de Obras Raras que vai ser uma sala

    cofre de leitura, teremos um cofre geral onde serão guardados os nossos

    tesouros.

    Entrevistador – Entendi, ah, que bacana.

    Entrevistado A – O ideal é a fixação de sala cofre.

    Entrevistador – É, bom, está bem geral aí, eu vou tentar diminuir um campo

    essa, restringir um pouco essa questão sete, qual é o impacto causado? Aí

    não, não sei se eu vou restringir ou vou ampliar mais, para o Patrimônio

    Cultural e para a própria instituição quando acometido de roubo e furto.

    Entrevistado A – Olha, eu acho que o primeiro sentido é o de perda completa,

    porque uma característica da obra rara ou preciosa, é que quando ocorre a

    perda muitas vezes não existe possibilidade de reposição, é? Então a perda ela

  • 287

    é completa mesmo, é para sempre em princípio, exceto se existir a expectativa

    de localização da obra e recuperação. O sentido de que você não cumpriu o

    seu deve, para o Bibliotecário é um desmerecimento, tanto que Obras Raras

    são facultadas pelo interesse de Bibliotecas há décadas, e muito recentemente

    é que isso virou notícia. E mesmo assim a primeira grande notícia do furto, eu

    acho que foi da FIOCRUZ, se eu não me engano aqui no Rio de Janeiro,

    aconteceu porque foi público em uma coluna social, uma coluna social é que

    publicou uma nota e a Polícia Federal foi lá, então os Bibliotecários não

    puderam negar que o furto aconteceu.

    Entrevistador – Não, daqui foi Itamaraty, primeiro, grande, acho que foi

    Itamaraty.

    Entrevistado A – Eu não me lembro, eu não me lembro se foi o Itamaraty.

    Entrevistado A – É, aí o que ocorre, quando houve a denúncia e os

    bibliotecários, tentando esconder isso, porque eu acho que se tentasse, se

    ficássemos no escondido ninguém saberia, ali morreu, vou lá e dou baixa,

    acabou o assunto, morreu o assunto. Então o primeiro que trouxe a baia a

    questão chamando os Bibliotecários à responsabilidade, e é claro, abrindo um

    precedente para que aquelas obras fossem encontradas, fossem reconduzidas

    de novo ao acervo, essa é uma questão de impacto. Então existe um impacto

    moral sobre a profissão muito grande, sobre a responsabilidade da profissão

    muito grande, e outro impacto assim que eu considero é primeiro essa

    consciência da fragilidade, consciência da fragilidade, e essa fragilidade acaba

    expondo as curadorias de acervo, eu digo assim em nível nacional e

    internacional, porque o Brasil acaba sendo pontuado negativamente como um

    espaço que não é seguro, não é seguro para o trânsito de obras de arte, você

    já deve ter ouvido isso, não é seguro para o trânsito, para o empréstimo, para

    exposição, para o manuseio de uso de obras de arte. É, eu acho que o maior

    impacto que eu diria do furto e do roubo é moral mesmo, hoje Bibliotecários,

    funcionários, muitas vezes são até impedidos de se aposentar, muita gente não

    tem consciência disso, mas na hora que é aberto o processo ele sequer vai

    poder se afastar, sabe, se não se configurar ao final do processo como a

  • 288

    identificação da obra ou a solução do caso, como a solução do caso. Eu acho

    basicamente a perda de patrimônio, é perda de patrimônio, é perda de

    identidade que ocorre no Brasil, a identificação, o que é uma coisa que é

    importante no sentido de que me ocorreu muito recentemente ao que se refere

    a obra rara, em que as pessoas falam assim: ―Existem obras que ninguém me

    consulta (Ininteligível).‖ É verdade, o que ocorre, a bibliografia desconhecida,

    há uma tendência do pesquisador desde sempre a buscar aquelas fontes que

    são indicadas por alguém, um Professor, por alguma referência. Então o

    pesquisador trabalha por referências, então existem obras extraordinárias que

    nunca foram consultadas, então eu entendo que elas precisam estar salvas e

    disponíveis até que elas sem identificadas, cotidianamente na visão de Obras

    Raras existem pesquisadores que falam assim: ―Descobri uma obra aqui

    extraordinária.‖ Quer dizer, não descobriu ela só está lá, ele só entrou, na

    verdade ele encontrou, aquela obra se revelou para ele como uma fonte de

    pesquisa entendeu? Então as coleções de Livros raros são cadinhos secretos

    como eu já disse em uma palestra que eu fiz no Rio Grande do Sul, são

    cadinhos secretos, pesquisador desconhece, porque as áreas de conhecimento

    científico conhece pouco a sua história bibliográfica, o Matemático conhece

    pouco as grandes fontes de matemática publicadas (Ininteligível) tipografia,

    entendeu? O Historiador, o Geógrafo, o Cientista Social, o Psicólogo, o Médico.

    Quando eu monto uma exposição de Livros raros na Biblioteca Nacional tem

    pesquisador que fala assim: ―Meu Deus, e essa obra existe? Eu não sabia que

    essa obra existia.‖

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – Então o desconhecimento da bibliografia coloca, mantém

    esses acervos sobre risco e acaba revelando isso, esse é o maior impacto, o

    grande maior impacto do furto, subtração é a perda desses referenciais para a

    construção do conhecimento científico, porque algumas obras que são furtadas

    o pesquisador sequer saber qual é o potencial dela, o pesquisador. Então são

    obras que saem, por exemplo, de um uso coletivo, a gente está falando de furto

    em Biblioteca de uso coletivo, saem do uso coletivo e muitas vezes vão para

    adoração de uso particular, um colecionador de um modo geral não sabe latim,

  • 289

    grego, ele conheceu a obra pelo fascínio, pelo encantamento físico da matéria

    didática (Ininteligível).

    Entrevistador – Qual é a maior dificuldade que as instituições enfrentam sobre

    segurança e roubo? Então, que a senhora acredita, a própria instituição

    guardiã.

    Entrevistado A – Não, a maior dificuldade que eu enfrento é a falta de

    consciência do usuário, do pesquisador de que aquilo ali é um acervo de

    memória, então eu ouço pessoas dizer assim: ―Ah, isso aqui é no Brasil.‖ Não é

    verdade, eu conheço várias Bibliotecas Nacionais curadoras de acervo de

    memória que o indivíduo até paga para pesquisar e isso não acontece no

    Brasil. Então a falta de consciência do pesquisador de que aquilo ali é um

    acervo de uso coletivo, que aquilo é acervo de memória, o pesquisador eu

    estou colocando o indivíduo que vai a Biblioteca, e até o Gestor que está acima

    e que se considera pesquisador e que acha que aquela coleção tem que

    procurar saber.

    Entrevistador – É verdade.

    Entrevistado A – A maior dificuldade para mim são as peças. (Intervenções

    simultâneas)

    Entrevistador – Eu acho que às vezes o pesquisador acha que a pesquisa

    dele vai solucionar tudo sobre a área e não se importa com a preservação do

    documento.

    Entrevistado A – Se nós tivéssemos uma parceira legal com o pesquisador,

    nossa, protegendo, essa é até um dos objetivos das exposições que eu monto

    lá, porque eu monto exposições com a história do livro dentro da vitrine,

    estimular o sentido de pertencimento: olha só como a nossa Biblioteca é rica,

    olha só esse acervo é nosso, isso aqui está na nossa Biblioteca. Porque às

    vezes eu coloco uma informação, só se conhecem dois exemplares, ou um, o

    exemplar da Biblioteca é o mais perfeito, conhecido, coloco informações.

    Entrevistador – Entendi.

  • 290

    Entrevistado A – E o sentido de pertencimento que a gente estimula no

    pesquisador é que vai trazer esse sentido de guarda, proteção.

    Entrevistador – Eu vou pular aqui rapidinho para a gente terminar aí, quais

    são as dificuldades enfrentadas para a recuperação do Livro Raro que a

    senhora verifica assim?

    Entrevistado A – Olha.

    Entrevistador – Não é o caso da BN, na BN com o Livro Raro não teve não é?

    Entrevistado A – Não, não recentemente, nós, acho que o último furto que a

    gente se tem notícia foi no final dos anos 70.

    Entrevistador – Ah, não é porque recente eu não conheço nenhum.

    Entrevistado A – Foi no final dos anos 70 na divisão de Obras Raras, isso

    porque nós somos verdadeiros soldados todo mundo ali, mas a maior

    dificuldade eu não sei, nós temos assim hoje plena colaboração da Polícia

    Federal, do IPHAN, desses órgãos que estão assim bem próximos um do

    outro. Eu acho que talvez o que está faltando é uma consciência mais nacional,

    dos Bibliotecários começarem a se socializar nesse sentido, estabelecer uma

    proximidade maior nesse sentido, de estabelecerem redes de controle e

    informação, de usarem os recursos que a Biblioteconomia oferece para fazer

    um controle de trânsito e circulação de obras, para identificar um conjunto:

    ―Olha só, acabou de ser furtada.‖ Uma parceira muito mais próxima com outros

    órgãos que são guardiões de conteúdos semelhantes.

    Entrevistador – Entendi.

    Entrevistado A – Que tenham o conteúdo identificado, por exemplo, é

    importante que o Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias tenha um

    segmento de Livro Raro, vai ter, já está previsto nele.

    Entrevistador – E o Encontro Nacional do Livro Raro, ele...

    Entrevistado A – Não. (Intervenções simultâneas) Já é dentro da temática,

    mas por exemplo, o SNBU que vai acontecer agora, eles têm um segmento,

  • 291

    criaram agora um segmento para Livro Raro. Então a ideia é: eles vão discutir

    a questão do Livro Raro, então a ideia é que as Bibliotecas Universitárias a

    partir dessas iniciativas, por exemplo, estabeleça uma linha de apoio de

    controle, de colaboração, de estabelecimento de critérios, porque são

    Bibliotecas que têm identidades. O ideal seria que Bibliotecas de Museus

    estabelecessem isso, que as Bibliotecas Jurídicas, por exemplo, promovessem

    um encontro, já fizeram um encontro uma vez em que eu participei sobre Livros

    raros, mas que estabelecessem esse contato, eu acho que esse é o caminho.

    Entrevistador – A senhora acredita que existe verba específica pensando no

    combate roubo e furto dentro das instituições? Isso de um modo geral não só

    na BN.

    Entrevistado A – Não, o que existe é uma Política de Segurança que é

    genérica, que é para toda a instituição, não é especial ou específica para o

    Livro Raro, não é específica, tanto que a Biblioteca de Obras Raras goza de

    todos os recursos de segurança que as outras áreas, que as outras áreas

    gozam na Biblioteca Nacional.

    Entrevistador – Entendi, a 11 era para falar da experiência de roubo e furto,

    mas a BN não tem não é?

    Entrevistado A – Não, não a Divisão de Obras Raras.

    Entrevistador – É, a Divisão de Obras Raras.

    Entrevistado A – Houve na iconografia.

    Entrevistador – É, sim.

    Entrevistado A – Tanto que hoje a iconografia é uma divisão que é lacrada,

    ela é lacrada diariamente.

    Entrevistador – Ah.

    Entrevistado A – Então ao fechar a divisão o funcionário coloca um lacre na

    porta, então acho que o serviço de segurança não faz vistoria ali dentro porque

    é lacrada, no dia seguinte o lacre é quebrado, aí é quando o funcionário entra.

    Porque ainda o processo ainda está rolando.

  • 292

    APÊNDICE G – Transcrição da entrevista com Entrevistado B

    Entrevistador: Quais seriam as condições mínimas de segurança contra roubo

    e furto que as instituições guardiãs de Livros raros devem ter?

    Entrevistado B – Aliás, eu acho que é uma coisa muito técnica, se a gente

    entender que as instituições no país elas passam por problemas muito sérios

    de ausência de concursos, é, ou mesmo quando os concursos acontecem, os

    concurseiros de plantão, que invistas em bibliotecários, que fazem os

    concursos, assumem e depois vão embora por um salário maior e nos deixam

    em uma situação bastante difícil. Acho que as pessoas tinham que entender o

    que significa colocar para a frente um concurso público, você seguir que a

    Câmara aprove, que o senhor Prefeito aprove que o concurso aconteça, que

    você tenha candidatos aprovados e depois você consiga chamar esses

    candidatos. Então quando você consegue chamar essas pessoas, depois não

    assumem ou assumem e vão embora e você não tem mais um banco de

    reserva, é muito duro. Então condições mínimas é alguma coisa, condições

    ideais é uma coisa utópica, condições mínimas é você ter um prédio com

    câmeras de segurança, como a que você chegou lá em baixo e foi identificado,

    que essas câmeras tem uma evolução da (Ininteligível) que cada vez que você

    vier aqui você vai ser fotografado, e não usaremos sempre a mesma foto, você

    tenha como fazer backup dessas informações, e que elas passam estar

    acessadas a qualquer momento, que você tenha. Então com isso você precisa

    de um sistema de vigilância lá em baixo treinado para essas questões, você

    tem que ter esse seu acervo completamente controlado, você sabe

    fotograficamente onde cada um dos documentos ou dos livros estejam nos

    depósitos, então você precisa de pessoas especializadas que saibam fazer

    isso. Você precisa de depósitos controlados em temperatura e umidade, a

    gente está em um país de clima tropical, manter ar condicionado, sistemas de

    manutenção de ar condicionado é uma coisa muito cara.

    Entrevistador – A gente está sofrendo como isso na UnB.

    Entrevistado B – E eu passei por isso aqui, você precisa de banco de dados, a

    gente adquiriu o Sophia para a biblioteca agora.

  • 293

    Entrevistador – Sistema de automação não é?

    Entrevistado B – É, a gente construiu junto com o (Ininteligível), que é

    empresa de informática da Prefeitura, um banco de dados todo, é um

    (Ininteligível) com toda a descrição pela NOBRADE, e já está na página do

    arquivo e o que a gente está fazendo agora é um embelezamento da página

    para ficar mais acessível e mais gostosa a leitura e a busca. Você precisa de

    continuidade no trabalho, profissionais que possam permanecer na instituição

    por um período razoável, que possa conhecer o acervo ter o domínio sobre ele,

    você precisa de pessoas que arranque (Ininteligível), no recondicionamento

    desse material, enfim. Essas são as condições mínimas e ideais em um país

    como o nosso, para que você tenha uma segurança sobre esse acervo, você

    precisa ter um sistema de combate ao furto e combate a incêndio, você tem

    que ter depósitos controlados por biometria, tudo isso requer muito dinheiro.

    Entrevistador – Verdade.

    Entrevistado B – A gente sabe o que tem que fazer, se muitos de nós não

    fizemos não é porque não queremos, é porque não conseguimos.

    Entrevistador – É, mas o que eu vejo é que também têm coisas muito baratas

    que pode-se dizer para uma Política de Segurança e as instituições, às vezes,

    não têm não é?

    Entrevistado B – Mas não tem por quê? Vamos pensar assim: aqui por

    exemplo, você tem uma quantidade pequena de funcionários, a maior parte em

    processo de aposentadoria, a maior parte dos prédios dos acervos que

    guardam os acervos eles têm danos estruturais que precisam, obras que

    precisam ser feitas, enfim. Então é impossível você dar conta de tudo, ah, é

    muito tranquilo fazer um projeto como esse, desde que você tenha as pessoas

    que consigam minimamente ter tempo para refletir.

    Entrevistador – E é, eu vou perguntar para a senhora, que a senhora é da

    área de arquivos, talvez, mas tem esse estudo aí relacionado a isso, é bem

    específico para Livros raros não sei se eu vou conseguir determinar algumas,

  • 294

    mas quais as ferramentas contra roubo e furto que a senhora acha que pode

    ser aplicado especificamente no caso de Livro Raro?

    Entrevistado B – Assim, para os livros, para os documentos, para qualquer

    coisa, qualquer uma dessas expertises é você fazer uma transferência de

    suporte, uma microfilmagem, uma digitalização e colocar online. É, tudo o que

    eu já estudei algumas atas que eu fiz nesse assunto, essas pessoas que têm

    interesse na compra, eu acho sinceramente que elas sofrem de uma doença

    psicológica grave, tudo o que está online, ao acesso de todos eles não têm

    interesse, eles têm interesse naquilo que é extremamente raro, que ninguém

    saiba que existe, que conhece. Então quanto mais a gente puder colocar toda

    essa documentação online, sejam livros, documentos, o que for, qualquer

    forma, se a gente puder fazer transferência em uma migração digital e colocar

    online, você dar o acesso, você preserva o original, você coíbe o furto.

    Entrevistador – É verdade, vou dando continuidade aqui e na medida a gente

    vai falando do que pintar, qual é a opinião que a senhora tem sobre marca

    definitiva de propriedades nos livros, em especial ou mesmo nos documentos?

    Entrevistado B – Fazer uma marca d‘água?

    Entrevistador – Ou carimbo, qualquer marca de propriedade, o que a

    senhora...

    Entrevistado B – (Ininteligível) nós tivemos isso aqui desde antes do furto, isso

    já existia na casa, cada andar hoje em dia tem um carimbo cego, sem tinta, e

    se faz a marcação em páginas específicas com a logomarca do arquivo.

    Entrevistador – Então a senhora é a favor do uso não é?

    Entrevistado B – Sou, por que deveria ser contra?

    Entrevistador – Acho que um pouco, porque é questão de preservação, para a

    gente que usou esse de relevo na peça e agora os livros já mais antigos eles

    estão tudo rompendo a fibra ali onde você carimbou, sabe? Aí...

    Entrevistado B – Mas acho que depende, acho que você pode escolher um

    bom lugar, mas isso enfim.

  • 295

    Entrevistador – É, só mais, mas por questão de segurança eu vejo que é

    estritamente necessário.

    Entrevistado B – É por aí que você coíbe, se você aprende um livro com a

    página verificada e é igual uma política daquela instituição que aquele livro na

    página tal tinha um carimbo cego é fatal isso, porque o grande problema para a

    Polícia Federal é: como é que você pode provar que isso é seu?

    Entrevistador – É, na minha tese na revisão de literatura eu fico refletindo um

    pouquinho sobre isso, sobre o uso de marca de propriedade, o que a gente vê

    é uma coisa que uma autora da área falou, que é a descrição do documento

    com o que ela chama de análise bibliológica, que se você levantar o livro tem a

    capa tal, com a marca, às vezes, vem com a marca anterior e você coloca um

    erro, mas para os livros mais antigos ainda, um erro de paginação, uma

    gravura tal.

    Entrevistado B – Você está falando de um universo que é diferente do nosso

    não é?

    Entrevistador – É isso, não é, não, por isso que eu estou perguntando a

    forma, mas eu sei que a senhora é de arquivo e aí o documento é mais difícil,

    (Intervenções simultâneas) Folhas.

    Entrevistado B – O Livro Raro ele pode ter um, dois exemplares, naquele

    documento só vai existir ele.

    Entrevistador – É, não é verdade. É, deixa eu ver o que mais aqui, é, a

    senhora na visão da senhora, na experiência que a senhora tem sobre o

    assunto, a senhora acha que as instituições guardiãs, no caso estou

    perguntando de Livros raros específicos, não sei se a senhora tem tanto

    contato com esse universo, mas de um modo geral do patrimônio histórico de

    uma forma geral, a senhora acha que elas estão seguras contra roubo e furto?

    Entrevistado B – O problema é, primeiro assim, são, é necessário um

    investimento continuado, técnicas enfim, avanços, mas o que a Polícia Federal

    sempre me disse é que o mais doloroso é que eu um dia vou ter que contratar,

    que foi alguém de dentro que mapeou o acervo e entregou para o criminoso, a

  • 296

    quem quer que seja. É, então lógico que a gente vai ter um excelente controle,

    mas se eu tenho, se outro funcionário aqui dentro que mapeia, é...

    Entrevistador – É verdade, essa é uma...

    Entrevistado B – É complexo.

    Entrevistador – É como é que controla isso não é? É extremamente

    complicado. É, deixa aqui, aí também específico para... Tudo é bem específico

    para Livros raros não é? Mas a senhora pode responder no universo do

    Patrimônio Histórico. Por que a senhora acha que no Brasil assim, eu vi, por

    exemplo, no caso de Livros raros nos Estados Unidos tem o rare book

    description section, o que traz várias diretrizes, inclusive, até um projeto de lei

    eles têm lá caso você queria adotar. E no Brasil a gente não vê muito essas

    diretrizes não é? Porque, o que a senhora acha que está faltando assim? Por

    que a senhora acha que no Brasil a gente não tem muito dessas diretrizes?

    Entrevistado B – Então, é porque tem muito na minha pesquisa de pós doc, é

    que fica muito claro por exemplo, existe uma Deputada do PCdoB, Portugal,

    Portugal? Acho que é Portugal. É, ela está tentando uma CPI eu acho, por falta

    do Fundo do Patrimônio e ela não consegue, se... Eu não sei se você chegou a

    ler um livro do Sami que era Procurador, Filial Estadual de São Paulo, que fez

    uma tese sobre, que fez uma tese em Harvard, veio transferido dos Estados

    Unidos no ano passado. É, uma Tese em Harvard, ele fez toda uma apreensão

    do acervo do Banco Safra do Moacir Ferreira.

    Entrevistador – Não, não cheguei a ler.

    Entrevistado B – É um livro muito interessante, ele vai mostrar que há o

    pedido de busca e apreensão no caso de uma determinada pessoa, há uns 10

    anos tem um Procurador sentado em cima desse pedido. Então se a gente tem

    que entender um pouco é que os Estados Unidos é um país, é uma execução

    de matriz veteriana, nós somos um país católico de uma matriz lusa onde essa

    mescla entre público e privado é muito aderente. E muitas vezes essa proteção

    ao patrimônio não se dá, porque existem interesses escusos, é um pouco a

    gente mapear na mão de quem está as principais obras barrocas desse país