Segurança no trabalho
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
FERNANDA KRAUSE
IZABELLA DE SOUZA LORENZON
JULIANA DA COSTA MATTOS SILVA
MARIANA RUDNICK DOS SANTOS
REGINA VITÓRIA SANTOS ARAUJO
YASMIN VIEIRA
PSICOLOGIA APLICADA À SEGURANÇA DO TRABALHO
TRABALHO ACADÊMICO
CURITIBA
2015
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 3
CONCEITOS BÁSICOS.................................................................................. 5
O OLHAR DIRETO DA PSICÓLOGA JULIANA BLEY ................................... 6
ESTATÍSTICAS ............................................................................................ 10
CUSTO DA DISPLICÊNCIA ......................................................................... 13
OBJETIVOS DIRETOS E INDIRETOS DA PSICOLOGIA NA SEGURANÇA
NO TRABALHO ............................................................................................ 14
TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS ................................................................ 16
RESULTADOS PRODUZIDOS ..................................................................... 18
EXEMPLOS DE APLICAÇÕES .................................................................... 20
PROFISSIONAIS .......................................................................................... 22
CONCLUSÃO ............................................................................................... 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 25
INTRODUÇÃO
É plausível admitir que, em qualquer ambiente de trabalho, existem
riscos inerentes à profissão e que podem causar danos físicos e psicológicos ao
trabalhador.
A sociedade atual mostra-se muito punitiva e pouco educativa no que
tange à orientação e prevenção de acidentes de trabalho. O profissional mostra-
se preocupado em prevenir tais punições, e não o acidente em si, podendo se
expor a situações de risco para tal. Além disso, condições próprias do indivíduo
- como estresse elevado e problemas de saúde associados a essa condição de
estresse -, bem como fadiga física e mental, podem causar uma saturação da
percepção dos riscos e um desinteresse em seguir as normas de segurança.
A Segurança do Trabalho tem por objetivo pôr em prática uma série de
medidas que objetivam minimizar ou evitar possíveis acidentes causados por
esses riscos intrínsecos a cada ambiente. No entanto, a aplicação dessas
medidas não é tão simples quanto possa parecer, e vai muito além de um
simples problema de treinamento.
A Psicologia mostra a essencialidade de avaliar o trabalho, as condições,
a relação do trabalhador com a atividade exercida, dentre uma série de outras
informações relacionadas ao profissional e sua atividade, para que se possa
obter a ferramenta mais adequada para reverter esse quadro e tornar o trabalho
seguro para todos os campos de atuação.
Ela contracena com a Segurança no Trabalho ao retratar a importância
de se fazer intervenções preventivas que humanizem o trabalho e valorizem o
trabalhador. Revela também a necessidade de se avaliar os acertos de cada
indivíduo, e busca uma maior consciência e disciplina por parte, não apenas do
trabalhador, mas dos patrões também. Segundo a Psicologia, é necessário que
os patrões assumam uma posição de liderança e demonstrem aos funcionários
os resultados desejados quanto à segurança, e é essencial que eles sejam
exemplos aos trabalhadores.
A análise de dados estatísticos mostra a gravidade dos problemas
relacionados à segurança do trabalho e que normalmente é maior do que se
pensa. O ramo da Psicologia, portanto, abre caminhos para o esclarecimento
das condições que levam a esses problemas e atua fundamentalmente no
estabelecimento de formas eficazes de tratamento da situação, sendo essa
relação com a Segurança no Trabalho o principal objetivo do presente trabalho.
CONCEITOS BÁSICOS
A Segurança no Trabalho tem por objetivo prevenir, minimizar e evitar os
acidentes no meio de trabalho e doenças ocupacionais. Para reforçar essa
prevenção foi criado o Programa Trabalho Seguro, que visa à formulação de
ações nacionais voltadas às prevenções de acidentes de trabalho. O Trabalho
Seguro promove a articulação entre todas as partes, empregados e
empregadores, para aumentar a conscientização da importância do tema.
Em 1943 foi elaborada a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT),
definindo explicitamente os direitos e deveres de empregados e empregadores,
controlando as relações no ambiente de trabalho. Dentre os artigos, estão:
Art. 157 – Cabe às empresas: I – Cumprir e fazer cumprir as normas de
segurança e medicina do trabalho; II – Instituir os empregados, através de ordens
de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes de
trabalhos ou doenças ocupacionais; II – Adotar as medidas que lhes sejam
determinadas pelo órgão regional competente; IV – Facilitar o exercício da
fiscalização pela autoridade competente.
Art. 158 – Cabe aos empregados: I – Observar as normas de segurança
e medicina do trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II do artigo
anterior; II – Colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste
Capítulo.
A partir da CLT, elaboraram-se as Normas Regulamentadoras (NR’s), que
visam orientar os procedimentos relativos à segurança e medicina do trabalho.
Essas normas determinam os procedimentos para controlar a saúde e
segurança do trabalhador em cada área de atuação. Por exemplo, a NR 20
contempla a Saúde e Segurança no Trabalho com inflamáveis e combustíveis.
O OLHAR DIRETO DA PSICÓLOGA JULIANA BLEY
Segundo a escritora e psicóloga Juliana Bley, um dos principais objetivos
da Psicologia da Segurança é elevar o envolvimento pessoal de cada membro
da organização com a segurança e com o desenvolvimento de uma cultura
universal de segurança. Esse objetivo é alcançado pela estratégia de capacitar
o trabalhador através de palestras, cursos, treinamentos, reuniões ou qualquer
outro evento que seja capaz de “ensina-lo” a realizar suas tarefas considerando
os possíveis riscos. Entretanto, segundo a autora, a estratégia não é bem-
sucedida se aplicada de forma descontextualizada e sem levar em conta as
variáveis complementares ao comportamento relacionado a prevenção. O
sucesso virá apenas com o processo de aprender, comportamento este que
depende fundamentalmente da cultura da organização, do contexto no qual o
indivíduo está inserido.
Juliana cita Geller (2001), um dos mais importantes estudiosos da
psicologia estadunidense, que afirma que o contexto mais favorável para
aprender a prevenir se caracteriza pelo cuidado como atitude essencial, ou
cuidado ativo, como denomina o psicólogo. Uma organização que apresenta
um cuidado ativo é aquela que se apoia no seguinte tripé: cuidar de si mesmo,
cuidar do outro e deixar-se cuidar pelo outro. Segundo Geller, esse tripé torna
o ambiente muito mais favorável para o desenvolvimento do comportamento
preventivo não só no trabalhador em si, mas também na liderança e na cúpula
da empresa.
Bley esclarece que o desenvolvimento de atitudes seguras é constituído
na criação de condições para que os indivíduos compreendam os riscos e as
maneiras de evitar ferimentos e perdas, identifiquem-se e instiguem-se pela ideia
de que “prevenir é realmente melhor que remediar” e ajam de tal forma.
Os acidentes de trabalho, segundo a análise da autora, são objetos de
estudo extremamente complexos, pois são reflexo do modo da interação das
pessoas com o mundo que o cerca, com os colegas de trabalho e com a própria
empresa.
Analogamente, os comportamentos relacionados à segurança também
são multideterminados. Um comportamento seguro é definido pela capacidade
de perceber e controlar os riscos da atividade para reduzir a probabilidade de
consequências indesejáveis em momentos posteriores tendo sempre em mente
o tripé do cuidado ativo. Porém, o conceito de risco é relativo, e depende
diretamente das condições de trabalho, das decisões organizacionais, dos
procedimentos de trabalho e da relação que o trabalhador estabelece com os
perigos no seu local de trabalho. Bernstein (1998) afirma que a palavra risco
deriva do italiano riscare, cujo significado é ousar. A partir daí, Juliana examina
o risco como opção do ser humano, e não coincidência, tornando o indivíduo
ainda mais responsável nas ocorrências indesejadas nas empresas. Dessa
forma, Bley visa apenas mostrar que há níveis de influência das pessoas que
trabalham em situações de riscos em relação aos desastres, e não culpar o
trabalhador pelos acidentes
Pode-se dizer que o fato de passar muito tempo sem a ocorrência de
acidentes em uma empresa faz com que o comportamento de evitar se
enfraqueça. Como consequência, os acidentes novamente ocorrerão e o ciclo
de investigação e planos de ação reinicia. Portanto, segundo Juliana, é de
extrema importância o conhecimento das relações que compõem o ciclo para
que se possa interpretar essa alternância de períodos com e sem desastres nas
empresas.
Quanto às ações tomadas por profissionais na área de segurança de
trabalho visando evitar a ocorrência de acidentes, a autora cita o trabalho de
Rebelatto e Botomé (1996), que sistematizaram os diferentes tipos de atuação
desses profissionais, sendo eles:
Atenuar: enfatizar o sofrimento que pode ser produzido por danos
permanentes na saúde do trabalhador;
Compensar: compensar tais danos;
Reabilitar: limitar e reduzir tais danos;
Tratar: recuperar ou eliminar os danos produzidos na qualidade das
condições de saúde dos organismos;
Prevenir: evitar a existência de danos nas características das condições
de saúde;
Manter: realizar a manutenção das características adequadas;
Promover: promoção de melhores condições de saúde existentes.
Analisando essas definições, Juliana Bley salienta que a prevenção deve
agir não só em relação aos determinantes dos problemas e suas consequências,
o que é o mais comum dentre as empresas, mas também em relação aos
deslizes dos processos gerenciadores de acidentes. Essa análise à leva à
chocante conclusão de que o campo da saúde e da segurança é, portanto, mais
especializado em mortes do que em vidas.
Na promoção do ensino do comportamento preventivo em segurança do
trabalho, a psicóloga separa o que precisa ser ensinado e aprendido para melhor
compreensão.
Em relação à mudança de comportamento, o grande erro das
organizações é levar em conta somente os aspectos internos ao trabalhador, ou
seja, a falta de percepção de risco, a negligencia, a imprudência, distrações,
abalos emocionais e entre outros. Segundo Bley, deve-se ressaltar, além dos
aspectos internos, também os externos ao indivíduo, que seriam as relações
interpessoais com os colegas de equipe; o ambiente de trabalho, que deveria
estar em ótimas condições; o tempo e os recursos disponíveis para a realização
da tarefa; o sistema de gestão, normas e procedimentos; e as características
sócio culturais de todo o grupo de trabalhadores da empresa. Somente o estudo
de todas essas variáveis é que produziria um efetivo plano de segurança.
Quanto às estratégias para influencias comportamentos o impasse
encontra-se entre obedecer às regras e agir com autonomia. Ensinar o
trabalhador a ter escolhas conscientes na tomada de decisões é tão essencial
quanto torná-lo cônscio das normas a serem seguidas. Juliana Bley, por meio de
exemplos, avalia que a punição do indivíduo que não agiu de forma segura em
situações de risco tem a tendência de ser efetiva somente na presença do agente
punidor. Dessa forma, ela afirma que a utilização desse procedimento no
cotidiano da organização é desvantajosa, pois, além de causar a modificação
comportamental dos trabalhadores, ainda é capaz de gerar raiva, angústia,
revolta e ansiedade, o que reduzirá seus rendimentos. Para solucionar esse
problema, a autora sugere um reforço de comportamento com base no que a
Análise do Comportamento chama de reforço negativo do tipo esquiva, no qual
a não ocorrência de acidentes aumenta a chance do indivíduo a comportar-se
de forma segura novamente, já que não sofreu consequências desagradáveis
causadas por estes. Ou seja, na esquiva, mesmo que não haja desastres, nada
acontece. Outra forma estudada pela a Análise do Comportamento proposta pela
autora, que é oposta àquela citada anteriormente, é o reforço positivo,
caracterizado pela apresentação de um estimulo reforçador, como prêmios e
elogios ao trabalhador que evitou acidentes. Porém, a Análise do
Comportamento já descobriu que aquilo que estimula comportamentos seguros
em uma pessoa pode não estimular a mesma conduta em outra. A alternativa é
então ajustar as estratégias de modo que o trabalhador se torne o agente do seu
processo de segurança, e não apenas o expectador.
Na questão de Treinamentos e Campanhas, o ponto principal é que cada
estratégia de treinamento faça um levantamento de necessidades, no
planejamento de ensino, na realização do curso e na aplicação do conhecimento
desenvolvido. Segundo constatações da autora, a maior parte dos insucessos
das práticas de ensino ocorre devido à falta de convergência do que é ensinado
com a vida real do trabalhador.
Em última análise, Juliana fala dos desafios dos educadores para a
formação profissional do trabalhador. Para ela, os eventos que visam a educação
segura dos trabalhadores apresentam predominância de instrutores com baixa
formação didático-pedagógica, o que é alarmante, visto que conhecimento
técnico não é suficiente para promover um processo de aprendizagem efetivo.
Quando o objetivo da prática de ensino diverge daquilo que se espera
como competência desenvolvida pelos aprendizes, todo o atendimento das
demandas organizacionais que buscaram a realização dos treinamentos de
segurança é prejudicado. Assim, Bley salienta a grande necessidade de se
revisar o processo de capacitação técnica, já que as más formulações das
estratégias de ensinos podem levar a uma aprendizagem equivocada.
ESTATÍSTICAS
Segundo os dados da Previdência Social, ocorrem em média 740 mil
acidentes de trabalho por ano no Brasil. Mais de 50 mil apenas no Paraná. O
gráfico 01 mostra a distribuição da quantidade de acidentes por grandes regiões.
Gráfico 01 Fonte: Previdência Social
Em 2013, dos 737378 acidentes de trabalho que ocorreram, 14837
levaram à incapacidade permanente e quase 3 mil mortes. Isto é, 2,4% do total
de acidentes geraram consequências irremediáveis.
No mesmo ano, a faixa etária mais atingida foi de jovens entre 25 e 29
anos, com 121017 ocorrências. Destas, 70% foram do gênero masculino. Já
entre o sexo feminino, a faixa etária mais atingida foi de 30 a 34 anos, que
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000
90000
Até 19anos
20 a 24anos
25 a 29anos
30 a 34anos
35 a 39anos
40 a 44anos
45 a 49anos
50 a 54anos
55 a 59anos
60 a 64anos
Mais de65 anos
Acidentes de Trabalho por Faixa Etária e Gênero - 2013
Homens Mulheres
Acidentes de Trabalho por Região - 2013
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste
representa cerca de 20% do total de acidentes de trabalho com mulheres. O
gráfico 02 mostra a distribuição por idade e gênero.
O setor mais atingido foi o de serviços, mais especificamente o
relacionado à saúde, que representou um quinto do total de acidentes de
trabalho neste setor, no ano de 2013. A quantidade de acidentes segundo a
atividade econômica está no gráfico 03.
Em geral, a parte do corpo mais afetada em acidentes de trabalho, no
mesmo ano, foi de membros superiores: o punho e a mão, envolvendo 167154
acidentes. Seguida por lesões no tornozelo e no pé, com 76404 ocorrências e
dor nas costas, com 34253 casos registrados. O gráfico 04 contém a relação do
número de acidentes com a região do corpo.
Gráfico 04 – Partes do corpo mais afetadas em acidentes de trabalho em
2013. Fonte: MPS/AEPS
Partes do Corpo mais afetadas em Acidentes de Trabalho em 2013
Cabeça e Pescoço Membros Superiores
Membros Inferiores Tórax e Quadril
Articulações e Tecido Conjuntivo Outros
Acidentes de Trabalho por Setor Econômico - 2013
Agropecuária Serviços Indústria Extrativa Indústria de Transformação
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, cerca de 4% do
Produto Interno Bruto (PIB) mundial, 2,8 trilhões de dólares, são perdidos por
ano em custos diretos e indiretos devido a acidentes de trabalho e doenças
relacionados ao trabalho. Só no Brasil, de acordo com dados da Previdência,
entre 2008 e 2013 foram gastos 50.094 bilhões de reais, como mostrado na
tabela 01 (os dados estão em bilhões de reais).
Tabela 01 – Total de gastos por ano. Fonte: Previdência Social
Isto significa que o Brasil gasta mais de 10 bilhões por ano com encargos
previdenciários. Além disso, milhões são desperdiçados com perda da
produtividade nas empresas e afastamentos. Entre 1996 e 2014 foram
desenvolvidas 2.696.919 ações fiscais em segurança e saúde no trabalho, por
meio de auditores Fiscais do Trabalho, segundo o Ministério do Trabalho e
Emprego.
Pensões acidentárias
Aposentadoria por Invalidez
Auxílio-Doença
Auxílio-Acidente
Auxílio-Suplementar
Total
2008 1214 1628 1676 1455 308 6281
2009 1328 1850 2103 1468 124 6873
2010 1393 2082 2408 1675 112 7670
2011 1514 2371 2628 1818 125 8455
2012 1839 2656 2942 2162 240 9838
2013 2033 2994 3375 2378 197 10977
Total 9320 13581 15132 10955 1105 50094
CUSTO DA DISPLICÊNCIA
A falta de informações adequadas e a falta de orientação gera displicência
em relação à segurança no trabalho. Muitos funcionários se recusam a utilizar
as EPI’s adequadas e a tomar as devidas providências para executar um
trabalho seguro. Isso deve-se, na maioria das vezes, à necessidade de
produtividade do funcionário. A empresa só visa resultados e mais resultados,
querendo obter lucro o mais rápido possível, levando a produtividade ao primeiro
plano e a segurança e saúde ao último, quando deveria ser o contrário.
A negligência com a segurança está diretamente vinculada ao fato de que
todos querem resultados com a maior rapidez possível. Entretanto, a falta de
cuidados com a segurança pode gerar prejuízos excessivos às instituições.
Valor anual de despesa do INSS em R$Mil
Rubricas 2003 2004 2005 2006 2007
Aposentadoria Especial 4.892.584 5.379.468 5.710.124 5.998.660 5.681.891
Aposentadoria por Invalidez 827.851 999.217 1.189.937 1.373.787 1.355.762
Auxílio-Doença 1.001.006 1.281.922 1.431.509 1.257.922 1.468.371
Auxílio-Acidente 838.833 956.407 1.068.737 1.191.143 1.182.210
Auxílio-Suplementar 89.531 97.307 102.089 108.892 111.195
2008 2009 2010 2011
6.387.571 6.858.291 7.239.421 7.873.494
1.628.130 1.849.968 2.082.354 2.371.443
1.676.209 2.103.376 2.408.490 2.627.518
1.455.069 1.467.534 1.674.907 1.817.623
307.823 124.348 111.715 124.587
Fonte: MPS/AEPS 4
Portanto, a segurança e saúde devem vir sempre em primeiro lugar, pois
o trabalho seguro gera qualidade na produção e consequentemente eficiência.
De acordo com o Dr. Helder Gusso, essa é a ordem que deve ser seguida:
primeiro a segurança, depois a qualidade e por último a produtividade. ³ Ele ainda
aponta que, para um trabalho seguro, a responsabilidade não é somente a
consciência do empregado, mas sim um desempenho a ser avaliado todos os
dias por todos os envolvidos, ou seja, uma cobrança diária que aponte todas as
necessidades de trabalhar seguro.
OBJETIVOS DIRETOS E INDIRETOS DA PSICOLOGIA NA
SEGURANÇA NO TRABALHO
De acordo com o entendimento da psicóloga Juliana Bley, “a educação
para a saúde e a segurança é uma das tradicionais estratégias utilizadas em
políticas públicas e programas de prevenção de doenças e acidentes
relacionados ao trabalho como meio de capacitar trabalhadores”.
Assim, é perceptível que a psicologia é uma ferramenta fundamental
quando se trata de segurança no trabalho. Além de ser de extrema importância,
a psicologia está presente em várias etapas da intervenção dita segurança no
trabalho. Isso significa que existem vários objetivos tanto diretos quanto indiretos
para seu uso.
A essência da segurança no trabalho diz respeito ao bem-estar físico,
mental e social dos indivíduos que compõe uma empresa. Esse bem-estar pode
ser atingido, por exemplo, com estratégias preventivas. Segundo Juliana Bley,
treinamentos, cursos, palestras, procedimentos e políticas são importantes
estratégias para a promoção da mudança de comportamento em segurança.
Nesse contexto de segurança no trabalho, o objetivo mais evidente da
psicologia é a ação de conscientização. Para que exista um ambiente seguro de
trabalho é indubitavelmente necessário que todos os indivíduos que compõe
esse ambiente tenham ideias muito claras dos riscos que correm em seus
respectivos cargos, além de estratégias para evitar possíveis acidentes.
Entretanto, esse ato de conscientizar não é um processo simples, exige
da empresa uma estratégia de educação de seus funcionários que produza um
real efeito. Isso se deve ao fato de que cada indivíduo possui um nível de
entendimento que difere do outro, seja por diferenças culturais ou até mesmo
pelo fato de que dentro de uma empresa, há indivíduos com graus muito distintos
de escolaridade. Para que a conscientização atinja todas essas pessoas, a
educação para a segurança deve ser muito bem manipulada.
Segundo o professor Joaquim de Almeida Lemos Neto, o ambiente
psicológico de trabalho consiste em: relacionamentos humanos agradáveis, tipo
de atividade agradável e motivadora, estilo de gerência democrático e
participativo, eliminação de possíveis fontes de estresse e envolvimento pessoal
e emocional. Ou seja, para ele, esses são os objetivos da psicologia no que diz
respeito à segurança no trabalho.
Para Bley, para assegurar que o ambiente seja seguro, é preciso que
os funcionários estejam bem consigo mesmos, ou seja, além de saudáveis,
devem estar livres de estresse ou qualquer outro tipo de incomodo que possa
levar a uma distração ou, por exemplo, uma exaltação de humor.
TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS
A segurança do trabalho envolve três variáveis: a higiene do trabalho, a
segurança no trabalho e a qualidade de vida.
A higiene do trabalho refere-se a um conjunto de normas e procedimentos
que visa a proteção da integridade física e mental do trabalhador, de forma não
medica, preservando-o dos riscos de saúde inerentes às tarefas do cargo e ao
ambiente físico onde são executadas.
Para o bom funcionamento da higiene do trabalho, o ambiente físico de
trabalho deve levar em consideração a iluminação, ventilação, temperatura,
ruídos, conforto. E o ambiente psicológico deve levar em consideração os
relacionamentos humanos agradáveis, os tipos de atividades agradáveis e
motivadoras, os estilos de gerencias democráticos e participativos, a eliminação
de possíveis fontes de estresse e o envolvimento pessoal e emocional do
indivíduo.
A saúde ocupacional é uma obrigatoriedade do ministério do trabalho, e é
a área da saúde que estuda o estado físico, mental e social do trabalhador em
todos os momentos, e não apenas quando há ausência de doença, cuidando do
estado geral de saúde dos trabalhadores, incluindo o bem-estar psicológico.
A segurança no trabalho refere-se ao conjunto de medidas de ordem
técnica, educacional medica e psicológica utilizada para prevenir acidente,
eliminando as condições inseguras do ambiente e instruindo o indivíduo da
implantação da praticas preventivas, está relacionada com condições de
trabalho saudáveis para as pessoas. Ela envolve três áreas principais de
atividades: prevenção de acidente, prevenção de incêndios e prevenção de
roubos.
Apesar dos termos higiene e segurança no trabalho, em muitos livros-
textos serem estudados e descritos de forma separada, atualmente esses
termos são complementares.
A qualidade de vida no trabalho (QVT) refere-se à preocupação com o
bem-estar geral e a saúde dos trabalhadores no desempenho de suas
atividades, envolvendo aspectos físicos, ambientais e psicológicos do local de
trabalho.
A QVT está ligada a motivação dos funcionários, para isso é necessário
criar um espaço físico onde as pessoas possam se sentir bem. Pessoas
motivadas prestam mais atenção ao trabalho, em consequência, diminui a
chance de ocorrer acidentes de trabalho.
RESULTADOS PRODUZIDOS
Quando a higiene do trabalho não é bem aplicada pode ocorrer o estresse
no trabalho do indivíduo. Esse estresse é um conjunto de reações físicas,
químicas e mentais de uma pessoa decorrente de estímulos ou estressores que
existem no ambiente. Ele também pode vir com a condição dinâmica que surge
quando essa pessoa é confrontada com uma oportunidade, restrição ou
demanda relacionada com o que ela deseja.
As fontes do estresse podem vir de causas ambientais, que seriam fatores
externos como trabalho intensivo, insegurança e falta de tranquilidade no
trabalho, ou podem vir de causas pessoais, que seriam características
individuais que predispõem o estresse, como falta de paciência, baixa
autoestima, maus hábitos de sono e saúde precária.
As consequências desse estresse no trabalho poderiam acarretar para o
indivíduo: ansiedade, angústia, distúrbios gástricos e cardiovasculares, dores de
cabeça, nervosismo e acidentes. Algumas vezes levam ao abuso de drogas,
alienação e redução de relações interpessoais. E poderiam acarretas para a
empresa: interferência na quantidade de trabalho, aumento no absenteísmo e
rotatividade, e na predisposição a queixas, reclamações, insatisfações e greves.
As causas dos acidentes no trabalho estão divididas em condições
inseguras e atos inseguros. As condições inseguras são: o uso de equipamentos
sem proteção ou defeituoso, procedimento arriscado, iluminação deficiente ou
impropria, ventilação imprópria ou fonte de ar impuro, temperatura muito alta ou
baixa no local e condições físicas inseguras. Os atos inseguros são: o
carregamento de materiais pesados de maneira inadequada, trabalhar em
velocidades inseguras, utilizar esquemas de segurança que não funcionam.
Acidente pode ser definido como um fato súbito, inesperado, imprevisto
(embora algumas vezes previsíveis) e não premeditado ou desejado, é causador
de dano considerável (econômico ou físico). O acidente por ocorrer sem
afastamento ou com afastamento do trabalho, sendo o último dividido em:
incapacidade temporária, incapacidade parcial permanente, incapacidade
permanente total ou até morte.
Para se prevenir acidente de trabalho, todo programa focaliza duas
atividades básicas: eliminar as condições inseguras e reduzir os atos inseguros.
Para se eliminar as condições inseguras se deve mapear as áreas de risco e
analisar causas de acidente. Para se reduzir os atos inseguros se deve ter
treinamento dos trabalhadores, reforço positivo, comunicação interna e seleção
de pessoal.
O programa de higiene e segurança do trabalho (H&S) está recebendo
atualmente muita atenção, pois com a aplicação certa do programa, se tem
melhoria do desempenho no trabalho, a redução de afastamento por acidente ou
doenças e a redução de ação disciplinares. Para o programa dar certo, algumas
abordagens e critérios são imprescindíveis, como melhoria da produtividade,
ausência de acidentes e doenças profissionais, número de dias sem acidentes,
treinamento intensivo dos gerentes e de todos os funcionários, reuniões de
segurança, instalações médicas e intensa participação da alta direção.
EXEMPLOS DE APLICAÇÕES
Podemos citar um exemplo de aplicação prática e direta de uma empresa
do segmento rural. Ela trabalha em regime sazonal, podendo chegar à 1400
funcionários na época de safra. Para diminuir o desuso dos Equipamentos de
Proteção Individuais (EPI), cada funcionário ganha o equivalente a 100 pontos
por mês. Cada vez que ele é encontrado sem algum item de segurança, ele
perde parte de seus pontos (sendo que cada EPI tem uma pontuação tabelada).
No final do mês, os trabalhadores com menos pontos perdem o direito a
cesta básica e outros benefícios concedidos pela empresa. Além disso, são
advertidos pelo ato praticado, o que os levam a refletir na prática de suas ações.
Os pontos são zerados com o início do mês seguinte e o ciclo recomeça.
Outro exemplo de aplicação seria de uma maneira indireta (a empresa
contrata outra que irá realizar o serviço). Essa empresa contratada pode ser de
soluções ocupacionais, como O GRUPOMETTA, que juntamente à sua
experiência em Gestão Ocupacional e Gestão em Engenharia de Segurança,
agregou o serviço de Psicologia. O grupo é composto por psicólogos que
desenvolvem recrutamento, seleção, avaliações psicológicas e programas de
desenvolvimento organizacional que visam à segurança no trabalho, com foco
na prevenção. Seus clientes incluem empresas como a MetalMaq, comércio e
indústria de fornos, e o grupo Perfumaria Márcia.
Há também campanhas a favor da conscientização da população sobre a
importância da prevenção de acidentes de trabalho. O Sindicato dos Técnicos
de Segurança no Trabalho do Estado do Paraná (SINTESPAR), juntamente com
a Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho
(FUNDACENTRO), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a União Geral
dos Trabalhadores (UGT), entre outras empresas privadas, desenvolveu o
Movimento Abril Verde, criado em 2014, com o intuito de alertar as pessoas
sobre doenças e acidentes do trabalho, visando diminuir a crescente ocorrência
e a mortalidade dos últimos anos. Qualquer indivíduo pode participar das ações
do movimento.
Uma conquista do Movimento Abril Verde foi a criação da lei 12.814/2014
pela Câmara Municipal de João Pessoa, na Paraíba, que tornou abril o mês da
prevenção de acidentes de trabalho. O objetivo é combater doenças e acidentes
de trabalho, mas, principalmente, promover a cultura de prevenção, que
beneficia tanto os funcionários quanto os empregadores.
PROFISSIONAIS
O SESMT, Serviço especializado em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho, é uma equipe de profissionais que atuam com o objetivo
de proteger a saúde dos trabalhadores. Dentre esses profissionais estão o
Médico do Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Técnico de
Segurança do Trabalho, Enfermeiro do Trabalho, Técnico de Enfermagem do
Trabalho e Psicólogo, que tem um papel fundamental na prevenção. O SESMT
é responsável por esclarecer os riscos no ambiente de trabalho e por prevenir
os acidentes, promovendo ações para neutralizá-los.5
O Médico do Trabalho é responsável por realizar consultas admissionais
e demissionais, além de ser responsável pelo PCMSO (Programa de Controle
Médico e Saúde Ocupacional) e por coordenar programas de saúde e
prevenção.
O Engenheiro de Segurança do Trabalho visa diminuir as perdas
decorrentes de acidentes. Essas perdas podem ser tanto de humanos quanto de
máquinas, equipamentos, multas e meio ambiente.
O Enfermeiro do Trabalho é responsável pela assistência aos pacientes e
treinamento no uso de EPI’s, além de realizar coletas de dados de doenças
ocupacionais.
O Técnico em Enfermagem do Trabalho implementa a política de saúde
e segurança do trabalho, além de desenvolver ações educativas na área da
saúde e segurança.
O Psicólogo voltado à Segurança no Trabalho deve compreender as
relações humanas no trabalho e identificar as características do comportamento
na área de trabalho. Além disso, ele é responsável por interferir de modo que o
trabalhador se sinta valorizado e tenha um trabalho humanizado. O Psicólogo é
essencial pois os responsáveis pela Segurança no Trabalho, na maioria das
vezes, possuem técnicas deficientes em ciências sociais e humanas, o que pode
desmotivar os funcionários a atuarem de forma segura.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir a partir do presente projeto que a Psicologia
desempenha um papel fundamental na Segurança do Trabalho de qualquer
ambiente. Por meio de suas ações de conscientização, ela permite que os
funcionários desenvolvam ideias claras e precisas sobre os riscos inerentes aos
seus ofícios e sobre a necessidade de contribuir o máximo possível para reduzir
o número desses acidentes.
É por meio da análise criteriosa que o psicólogo faz de todas as variáveis
relacionadas ao trabalho e a segurança que é possível desenvolver uma técnica
precisa de aprimoramento da Segurança do Trabalho e, concomitantemente, da
produção e das relações interpessoais.
Por meio do trabalho mútuo com outros profissionais do Trabalho, o
psicólogo propicia uma maior proteção da integridade física e psicológica do
trabalhador, o que influi diretamente na qualidade do seu trabalho, uma vez que
reduz ou até elimina por completo fatores que afetam o bem-estar de todos os
que convivem no local.
É visível também que, apesar de os números de acidente de trabalho
ainda serem muito altos, eles sofreram forte redução em comparação com os
dados de alguns anos atrás, evidenciando a essencialidade da presença desse
profissional em qualquer campo de atuação.
Para que se possam manter essas reduções de números de acidentes, é
de extrema importância que sejam priorizadas primeiro a segurança, depois a
qualidade e por último a produtividade. Isso se mostra ainda mais claro quando
se avaliam os custos dos acidentes, não apenas ao trabalhador que os sofre,
mas às empresas e ao governo também, os quais se veem confrontados com
valores exorbitantes de impostos, multas, taxas e despesas a pagar.
Segundo a psicóloga Juliana Bley, o sucesso na prevenção e redução no
número de acidentes só pode ser obtido por meio do processo de aprendizagem.
Esse conhecimento pode ser transmitido de vários modos, mas destacam-se
palestras, cursos e treinamentos em função de sua grande eficácia.
Dentre os principais conhecimentos a serem passados aos funcionários
nessas reuniões, destaca-se o tripé do cuidado ativo: cuidar de si mesmo, cuidar
do outro e deixar-se cuidar pelo outro. Essa premissa influi positivamente tanto
no ambiente de trabalho quanto na liderança e na estrutura da empresa,
trazendo um reforçamento positivo no comportamento preventivo de acidentes e
permitindo que o indivíduo se sinta confiante para agir em uma situação de
perigo.
O conhecimento do ciclo de relações que permeiam o ambiente de
trabalho também se destaca, pois permite que se analisem períodos de
alternância com e sem desastres e possibilita agir no sentido de evitar que longos
períodos sem acidentes enfraqueçam o cuidado com a segurança. É por meio
de uma análise tanto dos aspectos internos quanto dos externos ao indivíduo
que se podem estabelecer esses ciclos e inovar cada vez mais nas técnicas de
prevenção.
Além disso, as estratégias e campanhas devem condizer com a realidade
enfrentada pelo trabalhador no dia a dia, pois a falta de aplicação do
conhecimento adquirido é a maior fonte de insucessos nas implantações das
novas normas. É essencial também que os instrutores possuam boa formação
pedagógica e saibam transmitir informações que vão além de dados técnicos,
usando para isso de uma didática de excelência.
É evidente, portanto, que apesar de ainda existirem muitas mudanças a
serem realizadas e melhorias a serem obtidas, a Segurança do Trabalho torna o
ambiente seguro a todos que nele convivem diariamente, e a Psicologia é grande
responsável por essa melhora efetiva. Seguindo suas orientações, é possível
tornam o local onde muitas vezes se passa a maior parte do dia seguro e
agradável para todos.
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