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Selagem de Motores com Juntas Planas de Cortiça-Borracha
Influência da Percentagem de Etanol em Misturas com Gasolina
Pedro Miguel Alves Pereira Gil
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Mecânica
Júri
Presidente: Prof. Nuno Manuel Mendes Maia (IST)
Orientadores: Prof. Luís Filipe Galrão dos Reis (IST)
Prof. Miguel António Lopes de Matos Neves (IST)
Vogais: Prof. Eduardo Joaquim Anjos de Matos Almas (IST)
Eng. João Fernandes (ACC)
Setembro de 2008

i
Agradecimentos
A realização do trabalho experimental e a escrita da tese contaram com a valiosa colaboração de
algumas pessoas às quais faço questão de demonstrar o meu mais sincero agradecimento. A minha
gratidão estende-se:
Aos meus orientadores científicos, Professor Luís Reis e Professor Miguel Neves por terem
possibilitado que a tese fosse desenvolvida conjuntamente com o estágio, pelo apoio prestado ao
longo do trabalho e pelas revisões zelosas da tese que permitiram que o documento apresentasse
maior rigor científico;
Ao Eng. João Fernandes, que acompanhou e orientou o meu trabalho na Amorim Cork
Composites, pelo que me ensinou acerca da selagem, pelo que me ensinou acerca do funcionamento
duma empresa e do papel do engenheiro, pela disponibilidade em esclarecer as dúvidas com que me
ia deparando ao longo do trabalho e por ter sido a alavanca empírica que facilitou a resolução de
alguns problemas que surgiram aquando do trabalho experimental;
Aos colaboradores da secção de Desenvolvimento de Novos Produtos, pelo companheirismo que
ajudou à minha integração na empresa e que tornou o estágio não só uma experiência de
enriquecimento a nível técnico, mas também uma experiência de enriquecimento ao nível do
relacionamento interpessoal;
Aos meus pais, por tudo o que representam para mim e por me terem apoiado incondicionalmente
ao longo de toda a minha vida. Muita gente diz que tem os melhores pais do mundo, mas, sem
presunção, julgo ser o único a poder dizê-lo sem mentir;
À minha irmã, ou mana como ela prefere que eu a chame, por me ter auxiliado na fase final de
verificação e formatação do texto, mas acima de tudo por ser, há já 20 anos, uma presença
motivadora na minha vida. Isto é que são manas.

ii
Resumo
A utilização crescente de biocombustíveis, nomeadamente misturas de gasolina com etanol,
obriga a identificar o impacto que estes terão sobre os componentes constituintes do sistema de
admissão de combustível dos motores. Neste trabalho, apresentam-se os principais resultados do
estudo da adequabilidade de juntas de cortiça-borracha à selagem de motores que utilizem misturas
de gasolina com etanol.
Com o propósito de avaliar a compatibilidade química de quatro (4) compósitos de cortiça-
borracha, foram imersas várias amostras em diferentes misturas de gasolina com etanol e
determinada a variação de dureza, volume, espessura e peso ao fim de 168 horas de imersão. Os
resultados decorrentes destes testes diferiram de material para material, mas todos revelaram menor
tolerância a misturas com baixas e médias percentagens de etanol (E5, E10, E25, E50) em relação à
gasolina ou a misturas com percentagens de etanol elevadas (E85).
Com vista a testar os materiais em condições o mais próximas possível das condições de serviço,
realizaram-se dois testes de validação que permitiram avaliar o desempenho dos materiais enquanto
juntas. No primeiro teste, fizeram-se circular, durante um ciclo de 100 horas, misturas de E15 e E50
por 3 carburadores ligados a um reservatório, o que permitiu aferir a resposta dos materiais ao ataque
químico quando sujeitos à compressão. No segundo teste, instalaram-se juntas de cortiça-borracha
fabricadas com dois (2) dos quatro (4) compósitos testados num motor Honda GCV 160, sujeitando-
-as ao funcionamento do motor por períodos de 100 horas, e avaliou-se o desempenho das juntas
com base na inspecção visual das mesmas após o teste.
No final do trabalho é possível concluir que os compósitos de cortiça-borracha se mostram
capazes de garantir a selagem de gasolina e de misturas de gasolina com etanol.
Palavras-Chave: Cortiça-Borracha; Juntas planas; Selagem; Gasolina; Misturas com Etanol

iii
Abstract
The increasing use of biofuels, namely blends of gasoline with ethanol, requires the identification of
the impact they have on the components of the fuel admission system of internal combustion engines.
In this work, are presented the main results of the study of the suitability of corkrubber gaskets to seal
engines using gasoline mixed with ethanol.
In order to evaluate the chemical compatibility of four (4) corkrubber composites, several samples
were immersed in different blends of gasoline with ethanol to determine the changes of hardness,
volume, thickness and weight after 168 hours of immersion. The results of these tests differed
between materials, but all of them showed less tolerance to blends with low and medium percentages
of ethanol (E5, E10, E25, E50) when compared to gasoline or blends with higher percentages of
ethanol (E85).
To test the material in conditions as close as possible to the service conditions, it were done two
validation tests that allowed to evaluate the corkrubber gaskets performance. In the first test, E15 and
E50 blends flowing through three (3) carburetors connected to a reservoir during 100 hours cycle,
allowed to gauge the response of materials to chemical attack when subjected to compression. In the
second test, corkrubber gaskets manufactured with two (2) of the four (4) composites tested were
installed in a Honda GCV 160 engine, subjecting them to the operation of the engine for periods of
100 hours in order to evaluate the gaskets performance based on visual inspection.
At the end of the work it is possible to conclude that the corkrubber composites passed the tests for
sealing of gasoline and blends of gasoline with ethanol.
Key-words: CorkRubber; Flat Gaskets; Sealing; Gasoline; Ethanol blends

iv
Índice
AGRADECIMENTOS.............................................................................................................. i
RESUMO............................................................................................................................. ii
PALAVRAS-CHAVE............................................................................................................... ii
ABSTRACT.......................................................................................................................... iii
KEYWORDS......................................................................................................................... iii
ÍNDICE DE FIGURAS............................................................................................................. vii
ÍNDICE DE TABELAS............................................................................................................. x
NOMENCLATURA................................................................................................................. xi
ACRÓNIMOS........................................................................................................................ xiii
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................................ 4
2.1. A CORTIÇA.................................................................................................................. 4
2.1.1. Breve Enquadramento Histórico........................................................................ 4
2.1.2. Estrutura e Composição Química da Cortiça.................................................... 5
2.1.3. Comportamento em Compressão da Cortiça.................................................... 7
2.1.4. Produtos em Cortiça.......................................................................................... 10
2.2. BORRACHAS UTILIZADAS NAS MISTURAS DE CORTIÇA-BORRACHA TESTADAS.................. 12
2.3. CORTIÇA-BORRACHA – COMPÓSITO VERSÁTIL............................................................. 12
2.3.1. Produção de Cortiça-Borracha.......................................................................... 12
2.3.2. Características dos Compósitos de Cortiça-Borracha...................................... 14
2.4. ESTADO DO CONHECIMENTO DA SELAGEM DE FLUIDOS POR LIGAÇÃO APARAFUSADA
COM JUNTAS...................................................................................................................... 16
2.4.1. Introdução.......................................................................................................... 16
2.4.2. Tipos de Ligações com Juntas.......................................................................... 18
2.4.3. Selecção das Juntas.......................................................................................... 20
2.4.3.1. Material das Juntas.................................................................................... 21
2.4.3.2. Espessura das Juntas............................................................................... 24
2.4.4. Comportamento Mecânico das Juntas.............................................................. 24
2.4.4.1. Rigidez das Juntas.................................................................................... 25
2.4.4.2. Fluência e Relaxamento Sob Tensão........................................................ 25
2.4.4.3. Resistência à Tracção............................................................................... 27
2.4.4.4. O Factor PxT............................................................................................. 27
2.4.4.5. Resistência ao Esmagamento................................................................... 27
2.4.4.6. Compressibilidade e Recuperação............................................................ 28
2.4.5. Procedimento de Montagem.............................................................................. 28

v
2.4.5.1. Ferramentas Necessárias.......................................................................... 28
2.4.5.2. Inspecção dos Elementos da Ligação....................................................... 28
2.4.5.3. Tensão Requerida..................................................................................... 29
2.4.5.4. Sequência de Aperto Adequada................................................................ 30
2.4.5.5. Especificações Para Instalação de Juntas................................................ 31
2.4.5.6. Procedimento de Desmontagem............................................................... 31
2.4.6. Projecto de Juntas............................................................................................. 31
2.4.6.1. Procedimento do Código ASME................................................................. 32
2.4.6.2. Método Simplificado de Whalen................................................................. 33
2.4.6.3. Determinação da Segurança de uma Ligação Aparafusada com Junta..... 34
2.4.6.4. Outros Métodos.......................................................................................... 34
2.4.6.5. Recomendações Relativas a Geometria das Juntas.................................. 36
2.4.7. Avaliação do Desempenho das Juntas............................................................. 37
2.4.7.1. Verificação de Fugas................................................................................. 38
2.4.7.2. Compatibilidade Química........................................................................... 38
2.4.7.3. Resistência à Temperatura........................................................................ 39
2.4.7.4. Aderência aos Membros da Ligação......................................................... 40
2.4.8. Fabrico e Armazenamento de Juntas................................................................ 40
3. EQUIPAMENTO E METODOLOGIA EXPERIMENTAL.............................................. 42
3.1. EQUIPAMENTO UTILIZADO............................................................................................. 42
3.1.1. Chaves Dinamométricas.................................................................................... 42
3.1.2. Durómetro.......................................................................................................... 43
3.1.3. Comparador de Espessuras.............................................................................. 43
3.2. METODOLOGIA EXPERIMENTAL...................................................................................... 44
3.2.1. Metodologia para os Testes de Compatibilidade Química................................ 44
3.2.2. Metodologia para os Testes de Validação de Juntas Sujeitas ao Líquido em
Pressão Estacionária em Três Carburadores................................................................... 44
3.2.3. Metodologia para os Testes de Validação de Juntas com Motor em
Funcionamento................................................................................................................. 45
3.2.3.1. Fluxograma do Processo de Validação Experimental de Juntas Num Motor. 48
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS.............................................. 50
4.1. TESTES DE COMPATIBILIDADE QUÍMICA......................................................................... 50
4.1.1. Propriedades dos Materiais............................................................................... 50
4.1.1.1. Composto de Cortiça com Borracha Nitrílica TS 1400.............................. 50
4.1.1.2. Composto de Cortiça com Borracha Nitrílica TS 1800.............................. 52
4.1.1.3. Composto de Cortiça com Borracha Nitrílica TS 7100.............................. 53

vi
4.1.1.4. Composto de Cortiça com Epicloridrina TS 7110...................................... 54
4.1.2. Agentes Químicos............................................................................................. 55
4.1.3. Resultados e Discussão.................................................................................... 55
4.2. TESTES DE VALIDAÇÃO DE JUNTAS EM TRÊS CARBURADORES........................................ 59
4.2.1. Equipamento da Aplicação................................................................................ 59
4.2.2. Juntas Utilizadas................................................................................................ 60
4.2.3. Agentes Químicos............................................................................................. 61
4.2.4. Algumas Considerações Relativas à Aplicação da Metodologia....................... 61
4.2.5. Resultados e Discussão.................................................................................... 61
4.2.5.1. Teste com a Mistura de Gasolina com Etanol E15.................................... 62
4.2.5.2. Teste com a Mistura de Gasolina com Etanol E50.................................... 65
4.3. TESTES DE VALIDAÇÃO DE JUNTAS NUM MOTOR EM FUNCIONAMENTO............................ 67
4.3.1. Motor Honda GCV 160...................................................................................... 67
4.3.2. Juntas Utilizadas................................................................................................ 68
4.3.3. Agente Químico................................................................................................. 69
4.3.4. Algumas Considerações Relativas à Aplicação da Metodologia....................... 69
4.3.5. Resultados e Discussão.................................................................................... 70
4.3.5.1. Teste com Compósito de Cortiça-Borracha TS 1800................................ 72
4.3.5.2. Teste com Compósito de Cortiça-Borracha TS 1400................................ 75
4.4. RESUMO DOS RESULTADOS OBTIDOS NOS TESTES........................................................ 78
5. CONCLUSÕES E PROPOSTAS PARA DESENVOLVIMENTOS FUTUROS............ 80
5.1. CONCLUSÕES.............................................................................................................. 80
5.2. PROPOSTAS PARA DESENVOLVIMENTOS FUTUROS........................................................ 81
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 83
ANEXOS ..........................................................................................................................
Anexo A – Metodologia de Ensaio dos Testes de Compatibilidade Química................... A
Anexo B – Critérios de Avaliação da Compatibilidade Química da Norma UL157........... C
Anexo C – Tabela dos Coeficientes m e y e do Parâmetro b0 do Código ASME............. D
Anexo D – Glossário de Termos Relacionados com Juntas (Norma ASTM F 118)......... G
Anexo E – Quadros de Compatibilidade Química............................................................ J
Anexo F – Complemento da Tabela 2.5: Materiais Metálicos para Juntas K

vii
Índice de Figuras
Figura 2.1 – Estrutura da parede celular da cortiça segundo von Honel.................................... 6
Figura 2.2 – Modelo da “meia-parede” celular proposto por Sitte............................................... 6
Figura 2.3 – Secções principais da cortiça vistas com microscópio electrónico de varrimento.. 6
Figura 2.4 – Orientação das direcções principais da cortiça....................................................... 7
Figura 2.5 – Curvas experimentais em compressão radial (R) e não-radial (NR)....................... 8
Figura 2.6 – Fluxograma do processo de produção de cortiça-borracha.................................... 14
Figura 2.7 – Comparação entre a compressibilidade da cortiça, da borracha e da
cortiça-borracha........................................................................................................................... 15
Figura 2.8 – Interdependência dos elementos constituintes duma ligação com junta................ 16
Figura 2.9 – Junta Trelleborg “Gina” do túnel Øresund............................................................... 17
Figura 2.10 – Componentes típicos duma ligação com junta...................................................... 18
Figura 2.11 – Flanges com superfícies sobrelevadas................................................................. 18
Figura 2.12 – Juntas sobrepostas............................................................................................... 19
Figura 2.13 – Juntas planas........................................................................................................ 19
Figura 2.14 – Flanges com entalhe............................................................................................. 19
Figura 2.15 – Flanges macho-fêmea........................................................................................... 19
Figura 2.16 – Juntas planas e flanges com entalhe.................................................................... 20
Figura 2.17 – Junta anelar........................................................................................................... 20
Figura 2.18 – Comportamento à compressão do material usado no fabrico de juntas............... 24
Figura 2.19 – Cone de influência de um parafuso....................................................................... 25
Figura 2.20 – Sequências de aperto para configurações circulares........................................... 30
Figura 2.21 – Sequências de aperto para configurações de geometria diversa......................... 30
Figura 2.22 – Tensão de selagem vs Parâmetro de estanquicidade.......................................... 35
Figura 2.23 – Exemplos de selagem insuficiente devido à inadequada distribuição dos
parafusos..................................................................................................................................... 36
Figura 2.24 – Alterações do design da junta para prevenir ruptura junto aos furos.................... 37
Figura 2.25 – Pormenor de junta reforçada................................................................................ 37
Figura 2.26 – Juntas em que se verificam sintomas de ataque químico..................................... 39
Figura 2.27 – Fissuras radiais devido a ataque térmico.............................................................. 39
Figura 2.28 – Aderência de juntas em fibra de papel e em grafite.............................................. 40
Figura 3.1 – a) Chave Craftsman; b) Chave Tohnichi................................................................. 43
Figura 3.2 – Durómetro Shore A................................................................................................. 43
Figura 3.3 – Comparador de espessuras digital.......................................................................... 43
Figura 3.4 – Colocação das juntas nos carburadoes.................................................................. 45
Figura 3.5 – Projecto do design das juntas................................................................................. 46
Figura 3.6 – Gráficos para selecção da espessura..................................................................... 47
Figura 3.7 – Fluxograma do processo de validação experimental de juntas planas num motor. 49
Figura 4.1 – Curvas de compressão do compósito TS 1400 para diferentes espessuras.......... 51

viii
Figura 4.2 – Imagem fotográfica de uma amostra do TS 1400................................................... 51
Figura 4.3 – Curvas de compressão do compósito TS 1800 para diferentes espessuras.......... 52
Figura 4.4 – Imagem fotográfica de uma amostra do TS 1800................................................... 52
Figura 4.5 – Curvas de compressão do compósito TS 7100 para diferentes espessuras.......... 53
Figura 4.6 – Imagem fotográfica de uma amostra do TS 7100................................................... 53
Figura 4.7 – Curvas de compressão do compósito TS 7110 para diferentes espessuras.......... 54
Figura 4.8 – Imagem fotográfica de uma amostra do TS 7110................................................... 54
Figura 4.9 – Variação de dureza em misturas de gasolina com etanol...................................... 55
Figura 4.10 – Variação de volume em misturas de gasolina com etanol.................................... 56
Figura 4.11 – Variação de espessura em misturas de gasolina com etanol............................... 56
Figura 4.12 – Variação de peso em misturas de gasolina com etanol........................................ 56
Figura 4.13 – Factor de agressividade de diferentes fluidos nos compósitos testados.............. 57
Figura 4.14 – Equipamento para teste de juntas em carburadores............................................ 50
Figura 4.15 – Configuração das juntas no teste com E15........................................................... 60
Figura 4.16 – Configuração das juntas no teste com E50........................................................... 60
Figura 4.17 – Fotografia da junta em TS 1400 do carburador 1 após teste com E15................ 63
Figura 4.18 – Fotografia da junta em TS 1400 do carburador 2 após teste com E15................ 63
Figura 4.19 – Fotografia da junta em TS 1800 do carburador 2 após teste com E15................. 63
Figura 4.20 – Fotografia da junta em TS 1800 do carburador 3 após teste com E15................. 63
Figura 4.21 – Fotografia da junta em TS 7100 do carburador 1 após teste com E15................. 64
Figura 4.22 – Fotografia da junta em TS 7100 do carburador 2 após teste com E15................. 64
Figura 4.23 – Fotografia da junta em TS 7100 do carburador 3 após teste com E15................. 64
Figura 4.24 – Fotografia da junta em TS 1400 do carburador 2 após teste com E50................. 66
Figura 4.25 – Fotografia da junta em TS 1400 do carburador 3 após teste com E50................. 66
Figura 4.26 – Fotografia da junta em TS 1800 do carburador 1 após teste com E50................. 66
Figura 4.27 – Fotografia da junta em TS 1800 do carburador 2 após teste com E50................. 66
Figura 4.28 – Fotografia da junta em TS 1800 do carburador 3 após teste com E50................. 66
Figura 4.29 – Fotografia da junta em TS 7100 do carburador 1 após teste com E50................. 67
Figura 4.30 – Fotografia da junta em TS 7100 do carburador 2 após teste com E50................. 67
Figura 4.31 – Motor Honda GCV 160.......................................................................................... 68
Figura 4.32 – Nesting do conjunto de juntas do motor Honda GCV 160.................................... 69
Figura 4.33 – Sequência de aperto dos parafusos do cárter...................................................... 70
Figura 4.34 – Juntas cortadas com jacto de água....................................................................... 71
Figura 4.35 – Fotografia da junta em TS1800 para a caixa das válvulas após teste com
gasolina....................................................................................................................................... 74
Figura 4.36 – Fotografia da junta em TS1800 para a tampa do respirador após teste com
gasolina....................................................................................................................................... 74
Figura 4.37 – Fotografia do conjunto de juntas em TS1800 para o carburador após teste com
gasolina....................................................................................................................................... 74
Figura 4.38 – Fotografia da junta em TS1800 para o cárter após teste com gasolina................ 75

ix
Figura 4.39 – Fotografia da junta em TS1400 para a caixa das válvulas após teste com
gasolina....................................................................................................................................... 76
Figura 4.40 – Fotografia da junta em TS1400 para a tampa do respirador após teste com
gasolina....................................................................................................................................... 76
Figura 4.41 – Fotografia do conjunto de juntas em TS1400 para o carburador após teste com
gasolina....................................................................................................................................... 77
Figura 4.42 – Fotografia da junta em TS1400 para o cárter após teste com gasolina................ 77
Figura 4.43 – Remoção de uma junta do carburador ilustrando a fácil remoção sinónimo de
baixa aderência........................................................................................................................... 78

x
Índice de Tabelas
Tabela 2.1 – Composição química da cortiça............................................................................. 7
Tabela 2.2 – Propriedades elásticas da cortiça e respectiva formulação................................... 9
Tabela 2.3 – Cortiça versus Materiais alternativos...................................................................... 11
Tabela 2.4 – Propriedades importantes nos materiais utilizados para vedação......................... 21
Tabela 2.5 – Materiais mais utilizados no fabrico de juntas........................................................ 22
Tabela 2.6 – Inspecção visual dos elementos de uma ligação com junta................................... 29
Tabela 2.7 – Valores característicos do coeficiente K................................................................. 29
Tabela 2.8 – Coeficientes de segurança para ligações com juntas............................................ 33
Tabela 3.1 – Testes de compatibilidade química realizados e documentos de referência......... 44
Tabela 4.1 – Propriedades do compósito TS 1400..................................................................... 51
Tabela 4.2 – Propriedades do compósito TS 1800..................................................................... 52
Tabela 4.3 – Propriedades do compósito TS 7100..................................................................... 53
Tabela 4.4 – Propriedades do compósito TS 7110..................................................................... 54
Tabela 4.5 – Número de juntas e de parafusos em cada carburador......................................... 60
Tabela 4.6 – Testes nos carburadores: Binário aplicado e tensão sobre as juntas.................... 61
Tabela 4.7 – Binário de aperto retido nas ligações dos carburadores no teste com E15........... 62
Tabela 4.8 – Binário de aperto retido nas ligações dos carburadores no teste com E50........... 65
Tabela 4.9 – Juntas e parafusos nas ligações do motor Honda................................................. 68
Tabela 4.10 – Binário de aperto aplicado aos parafusos............................................................ 70
Tabela 4.11 – Dados para determinação da espessura das juntas............................................ 71
Tabela 4.12 – Temperaturas medidas em alguns componentes do motor Honda...................... 72
Tabela 4.13 – Binário de aperto retido nos parafusos do motor no teste com TS1800.............. 73
Tabela 4.14 – Binário de aperto retido nos parafusos do motor no teste com TS1400.............. 75
Tabela 4.15 – Resumo dos resultados obtidos nos testes realizados……………………………. 79

xi
Nomenclatura
A0 Área da secção perpendicular ao eixo de compressão
Ab Área de secção transversal mínima do parafuso
Ac Área de contacto entre a junta e as flanges
Ag Área de contacto da junta
Am Área onde a pressão interna do sistema é aplicada
b Largura da superfície de contacto da junta
b0 Parâmetro do código ASME
C Rigidez adimensional de uma ligação aparafusada
d Diâmetro do parafuso
E Módulo de Young
E’ Módulo de Young – Componente elástica
E’’ Módulo de Young – Componente viscosa
F Força de compressão
F0 Força mínima requerida para a selagem
Fi Pré-Tensão aplicada aos parafusos
Fm Força sobre as flanges
G Diâmetro médio ou externo da superfície de contacto
K Factor de atrito entre o parafuso e as flanges
KF Constante elástica de uma ligação aparafusada sem junta
KG Constante elástica da junta
Kj Constante elástica de uma ligação aparafusada com junta
L0 Altura inicial
Lr Taxa de fuga
m Factor de manutenção da junta
n Factor de segurança
NR Não Radial
P Pressão máxima de serviço
P1 Pressão interna
Patm Pressão atmosférica
Q Forças externas aplicadas a uma ligação aparafusada
R Radial
Sb Tensão admissível do parafuso
Sg Tensão de selagem mínima
Sm Tensão mínima de projecto
Sya Tensão de selagem que assegura Tpmin
T Binário de aperto
Tp Parâmetro de estanquicidade
Tpmin Parâmetro de estanquicidade mínima

xii
Wb Carga por parafuso
Wm1 Carga requerida numa ligação aparafusada sem considerar a pressão interna
Wm2 Carga requerida numa ligação aparafusada considerando as forças externas
aplicadas
y Tensão mínima de selagem
α Ângulo do cone de pressão com o eixo do parafuso
ΔDureza Variação de dureza
ΔEspessura Variação de espessura
ΔL Variação de altura dum provete na direcção da compressão
ΔPeso Variação de peso
ΔVolume Variação de volume
ε Extensão nominal
Coeficiente de Poisson
NR,NR Coeficiente de Poisson (Não Radial/Não Radial)
NR,R Coeficiente de Poisson (Não Radial/Radial)
R,NR Coeficiente de Poisson (Radial/Não Radial)
σ Tensão nominal
σb Tensão sobre o parafuso

xiii
Acrónimos
ACC Amorim Cork Composites
ASME American Society of Mechanical Engineers
ASTM American Society for Testing and Materials
DNP Desenvolvimento de Novos Produtos
E5 Mistura de gasolina com 5% de etanol
E10 Mistura de gasolina com 10% de etanol
E15 Mistura de gasolina com 15% de etanol
E25 Mistura de gasolina com 25% de etanol
E30 Mistura de gasolina com 30% de etanol
E50 Mistura de gasolina com 50% de etanol
E85 Mistura de gasolina com 85% de etanol
ECO Borracha de Epicloridrina
ESA European Sealing Association
FA Factor de Agressividade
FSA Fluid Sealing Association
NBR Borracha Nitrílica
PEG Mistura de 50% de Propileno Glicol com 50% de Água
PVRC Pressure Vessel Research Committee
UL Underwriters Laboratories

- 1 -
CAPÍTULO 1
1. INTRODUÇÃO
Os motores de combustão interna são utilizados numa vasta gama de aplicações onde se
pretende atingir um determinado output de trabalho com um rendimento elevado. Trata-se de
máquinas térmicas e, como tal, regem o seu funcionamento executando ciclos termodinâmicos que
permitem a transformação da energia térmica, procedente da combustão da mistura ar/combustível,
em energia mecânica. Classificando-os de acordo com o ciclo térmico em que fundamentam a sua
actuação, existem dois tipos principais de motores de combustão interna: o motor de ignição por
faísca, que realiza o ciclo Otto, e o motor de ignição por compressão, que cumpre o ciclo Diesel. Os
motores de ignição por faísca são geralmente movidos a gasolina, enquanto que nos motores de
ignição por compressão o combustível mais comummente utilizado é o gasóleo (diesel) [1].
Preocupações económicas e ambientais conduziram à procura de novos combustíveis que
permitam a redução de custos e que, simultaneamente, emitam gases de exaustão menos poluentes.
Nesta perspectiva, como alternativa à gasolina e ao gasóleo, passaram a utilizar-se os
biocombustíveis (como, por exemplo, o metanol e o etanol) e o gás de petróleo liquefeito (GPL). A
utilização destes novos combustíveis obriga a identificar o impacto que estes terão sobre os
componentes constituintes do sistema de admissão de combustível dos motores, em particular a
influência que poderão ter no desempenho das juntas de vedação. Em causa está a compatibilidade
química entre o combustível e o vedante utilizado e a permeabilidade deste, sendo que a função
principal da junta é evitar o fluxo capilar do fluido [2].
Neste estudo, analisou-se experimentalmente o comportamento de juntas de cortiça-borracha
(corkrubber) quando em contacto com gasolina e com combustíveis alternativos, nomeadamente
misturas de gasolina com etanol que se obtiveram fazendo variar a percentagem de etanol na mistura
entre 5% e 85%. Existe uma vasta gama de materiais utilizados para o fabrico de juntas de motores,
dependendo a sua selecção de diversos factores, entre os quais se destacam a temperatura de
serviço, o comportamento mecânico de compressão/deflexão da junta (que é caracterizado por
curvas de compressão, relaxamento sob tensão, etc.), o meio a selar e o tipo de ligação em que vão
estar envolvidas as juntas. Pesadas todas estas condicionantes é possível fazer uma selecção
criteriosa do material a utilizar, sendo vulgar que mais do que um material cumpra os requisitos
necessários à selagem [3].
O material utilizado em juntas é geralmente dividido em dois grandes grupos: o das juntas
metálicas e o das juntas não-metálicas [4]. As juntas metálicas são tipicamente utilizadas em
situações onde a força aplicada sobre a área de selagem é elevada e em situações onde se exige
grande paralelismo entre os membros da ligação. As juntas não-metálicas, também denominadas

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juntas macias (do inglês, soft gaskets) [3], apresentam maior compressibilidade e fluência, isto é,
maior capacidade de se adaptarem às superfícies dos membros da ligação, pelo que o paralelismo
entre componentes não é fundamental para garantir a selagem. São inúmeros os materiais ou
compostos não-metálicos utilizados para o fabrico das juntas e é neste grupo que se enquadram as
juntas de cortiça-borracha, que aliam as características de compressibilidade e recuperação elástica
da cortiça à flexibilidade, durabilidade, impermeabilidade e resistência química da borracha.
Neste documento apresentam-se os testes realizados para aferir a resposta das juntas de
cortiça-borracha quando expostas a diferentes misturas de gasolina com etanol. Para isso foram
realizados ensaios laboratoriais na secção de Desenvolvimento de Novos Produtos (DNP) da
empresa Amorim Cork Composites (ACC), em Stª Marta de Corroios. Além de testes de variação de
dureza, volume, peso e espessura, em que várias amostras foram imersas em misturas de gasolina
com diferentes percentagens de etanol para estudar aspectos relevantes da compatibilidade química
dos compostos, testaram-se juntas de cortiça-borracha num pequeno motor a gasolina Honda – GCV
160 [5], observando o seu comportamento aquando do funcionamento do motor (verificação da
existência de fugas ou de sinais evidentes de degradação das juntas) e analisando posteriormente,
por inspecção visual, a deformação e degradação das juntas, a aderência aos membros da ligação e
a eventual permeabilidade ao meio. Paralelamente, para que os testes com as misturas de
biocombustível se revestissem de um carácter mais aproximado das condições reais de
funcionamento das juntas, vazaram-se misturas de E15 (15% de etanol e 85% de gasolina) e de E50
(50% de etanol e 50% de gasolina) num reservatório previamente preparado para permitir o
acoplamento de três (3) carburadores. Assim, ensaiaram-se três tipos de compostos de cortiça com
borracha em simultâneo e com as juntas num estado de compressão semelhante ao de serviço, o
que implica que a zona de contacto com as misturas de gasolina com etanol seja limitada.
Relativamente ao funcionamento real, este ensaio nos carburadores difere nas vibrações a que as
juntas são sujeitas (enquanto que aqui não existem quaisquer vibrações, no motor elas são inerentes
ao seu funcionamento) e na temperatura (os testes nos carburadores são realizados à temperatura
ambiente), mas não era expectável que fossem estes dois factores a assumir preponderância no
desempenho das juntas devido às propriedades e características dos materiais testados.
Foi com base nos resultados obtidos nos testes de compatibilidade química que se optou pela
utilização do E15 e do E50 para o ensaio dos carburadores. Os resultados obtidos nos testes de
variação de dureza, volume, peso e espessura mostram que misturas com baixas e médias
percentagens de etanol (E5, E10, E25 e E50) são mais agressivas para os materiais testados que
misturas com percentagens elevadas, nomeadamente E85, e que a gasolina, pelo que era de maior
interesse analisar o comportamento das juntas em compressão com este tipo de misturas. A análise
dos resultados obtidos nos testes de compatibilidade química legitimou a utilização de dois
compostos (TS1400 e TS7110, que serão caracterizados no capítulo 4) como vedantes de gasolina e
de misturas de gasolina com etanol, mas obrigou a que se colocassem algumas reservas
relativamente à utilização de outros dois compostos (TS1800 e TS7100), na medida em que
apresentaram variações significativas das propriedades testadas. Contudo, o seu desempenho na

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aplicação dos carburadores revelou que quando sujeitos a compressão estes materiais são mais
resistentes ao ataque químico das misturas de gasolina com etanol.
Por fim, nos testes de validação realizados no motor Honda, em que foram testadas juntas
fabricadas com os compostos TS1400 e TS1800, obtiveram-se resultados satisfatórios, uma vez que
as juntas cumpriram o objectivo principal de garantir a selagem e, após inspecção visual, não se
detectaram quaisquer sinais de desintegração que pudessem por em causa o seu normal
funcionamento. Embora estes testes de validação tenham sido realizados utilizando gasolina e o foco
de interesse nesta tese se prenda com a resposta das juntas às misturas de gasolina com etanol, os
resultados dos testes de compatibilidade química, juntamente com os ensaios efectuados nos
carburadores, por serem satisfatórios do ponto de vista da resistência química dos materiais,
careciam essencialmente de uma validação no tocante ao desempenho das juntas quando instaladas
num motor e expostas a condições de temperatura superior à temperatura ambiente e a vibrações
que podem eventualmente conduzir à perda de carga nas ligações aparafusadas.
Findo este capítulo dedicado à introdução do tema da tese, segue-se uma breve descrição da
estrutura do documento.
Como em qualquer tese na área da engenharia, a revisão bibliográfica assume uma
importância fulcral no restante trabalho desenvolvido, uma vez que é partindo do conhecimento
adquirido em estudos e experiências anteriores que se conseguem desenvolver novos conceitos,
teorias e ideias com fundamentos científicos sólidos. Assim, o capítulo 2 dedica-se inteiramente à
apresentação da pesquisa bibliográfica realizada, focando temas como a cortiça, as borrachas
utilizadas nas misturas de cortiça com borracha, a cortiça com borracha e o estado do conhecimento
da selagem de fluidos. No capítulo 3 é feita uma descrição do equipamento laboratorial utilizado e da
metodologia experimental seguida. Atente-se a que, por questões de sigilo industrial, alguns dos
procedimentos seguidos são apresentados em anexo e não estarão disponíveis para leitura a não ser
para motivos de avaliação da tese. No entanto, será indicada a norma que rege a metodologia
experimental aplicada e que permitirá ao leitor, por consulta da mesma, perceber o trabalho
experimental desenvolvido. No capítulo 4 são analisados e discutidos os resultados obtidos nos
testes experimentais realizados. As conclusões, objectivo último do trabalho, são apresentadas no
capítulo 5 juntamente com algumas propostas de desenvolvimentos futuros que se esperam
relevantes para que se levem a cabo novos estudos nesta área e para que algumas questões que
ficaram por responder sejam esclarecidas.

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CAPÍTULO 2
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Neste capítulo, apresentam-se os principais factos, conceitos e modelos recolhidos durante o
período de pesquisa bibliográfica. Pelo facto do estudo incidir em juntas de cortiça-borracha
considerou-se importante dedicar um sub-capítulo (2.1) à cortiça, outro (2.2) às borrachas utilizadas
nas misturas de cortiça-borracha testadas e outro (2.3) à cortiça-borracha. Ao estado do
conhecimento da selagem de fluidos, por servir de base teórica à análise de resultados e às
conclusões, é dedicado um sub-capítulo (2.4) extenso e aprofundado que visa apresentar ao leitor o
essencial do conhecimento necessário para uma melhor compreensão do trabalho realizado.
2.1. A Cortiça
2.1.1. Breve Enquadramento Histórico
A utilização da cortiça, tanto quanto se sabe hoje em dia, remonta ao ano 3000 a.C., sendo
utilizada no fabrico de utensílios de pesca em países como a China, o Egipto ou a antiga Pérsia.
Vestígios datados do século IV a.C. provam que a cortiça já era utilizada em Itália e na Grécia na
concepção de bóias, tampas para tonéis, calçado e telhados. É nesta altura que o filósofo grego
Teofrasto, numa das primeiras referências feitas ao sobreiro, alude à “faculdade que esta árvore
possui em renovar a sua casca quando esta lhe é retirada”. É esta característica do sobreiro que
torna a cortiça um produto tão interessante e capaz de responder às exigências logísticas do
mercado e atender às necessidades produtivas [6].
Só mais tarde, no século XVII, surgiram novos desenvolvimentos significativos no estudo da
cortiça, quando Robert Hooke conseguiu visualizar a primeira imagem da cortiça ao microscópio e
quando Dom Perrignon passou a usar cortiça como vedante das garrafas do seu famoso champanhe.
Até então, Dom Perrignon utilizava tampões de madeira envoltos em cânhamo embebido em azeite,
tendo verificado que era frequente que estes saltassem devido à pressão do gás. Com a utilização da
cortiça este problema foi ultrapassado, o que levou a que as empresas vinícolas adoptassem este
sistema de vedação inovador. Com a expansão da indústria vinícola, já no século XVIII, iniciou-se a
exploração dos grandes sobreirais característicos da Península Ibérica e surgiu, em Gerona, na
Catalunha, a primeira instalação fabril de rolhas de cortiça. É também em meados do século XVIII
que surgem os primeiros trabalhos sobre a constituição química da cortiça, desenvolvidos pelo
químico italiano Brugnatelli, assim como o primeiro compêndio sobre subericultura [6-8].
No século XIX, França, Itália e Tunísia, países de influência mediterrânica, aderem à exploração
sistemática dos sobreirais iniciada na Península Ibérica, e países como os Estados Unidos e a
Rússia, conscientes das potencialidades aplicativas da cortiça, iniciam a plantação de sobreiros. Este
foi um século de enorme desenvolvimento na indústria rolheira, como pode ser comprovado pelo
facto de no Reino Unido ter sido patenteada a primeira máquina destinada ao fabrico de rolhas e pelo

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aparecimento de nova aplicações industriais para a cortiça, de que são exemplo os aglomerados,
inventados em 1891 pelo norte-americano John Smith, e o fabrico de rolhas em duas peças de cortiça
natural coladas [6,9].
No século seguinte, o desenvolvimento acentua-se, aparecem as rolhas constituídas por discos de
cortiça natural e corpo de aglomerado em 1903 e, alguns anos mais tarde, são registadas patentes
relativas à utilização da cortiça em correias de transmissão e pneus. Durante a Segunda Guerra
Mundial, que impulsionou o crescimento científico e tecnológico em várias áreas, a cortiça passa a
ser utilizada em diversos equipamentos militares e a investigação desenvolvida permite a utilização
da cortiça (no seu estado natural ou composto) numa miríade de aplicações até então inexploradas.
Nas últimas décadas do século houve a preocupação de definir normas internacionais para a
indústria corticeira, destacando-se a Conféderation Européenne du Liége (C.E. Liége) que, em 1996,
apresenta o Código Internacional de Práticas Rolheiras que visa o controlo da qualidade na produção
de rolhas [6].
Em pleno século XXI a cortiça continua a ser objecto de interesse quer a nível produtivo, quer
numa óptica de investigação científica. Acresce ainda, que as preocupações ambientais, que tiveram
o seu foco no final do século XX e que neste século se tornaram uma constante, conferem à cortiça o
estatuto de produto de excelência, na medida em que se trata de um material ecológico, reciclável e
biodegradável. Como prova de que a cortiça continua a gozar de uma excelente reputação como
matéria-prima multifuncional, refira-se, a título de exemplo, que foi apresentado recentemente um
projecto nacional inovador que consiste num banco de automóvel com o assento constituído por 60%
de cortiça moída, reduzindo o seu volume para metade e tornando-o três vezes mais leve [6].
2.1.2. Estrutura e Composição Química da Cortiça
Para uma melhor compreensão das propriedades mecânicas da cortiça e da sua aplicabilidade, na
sua forma natural ou de composto, como vedante, é importante conhecer a sua estrutura e a sua
composição química.
A cortiça pertence à classe dos materiais celulares, cuja denominação se deve ao facto de ser
constituída por células, devendo-se as suas propriedades especiais ao tipo de estrutura que
apresenta. As observações com microscópio óptico permitiram a R. Hooke (séc. XVII) identificar a
célula como unidade base da estrutura da cortiça, classificá-la como anisotrópica e propor um modelo
que se confirmou acertado após novas observações realizadas no século XX. As células da cortiça
são poliédricas, ocas, fechadas e geralmente constituem 15% do volume do sólido [10].
Os modelos propostos para a parede celular da cortiça têm por base o conhecimento adquirido
sobre a parede celular das madeiras, onde se considera a existência das paredes primária,
secundária e terciária que apresentam diferentes composições químicas. As figuras 2.1 e 2.2
ilustram, respectivamente, os modelos propostos por von Hohnel (1877) e Sitte (1962) e que são
consistentes com microfotografias da parede celular da cortiça obtidas por microscopia electrónica de
transmissão [10].

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Figura 2.1 – Estrutura da parede celular da cortiça segundo von Honel [7]
Figura 2.2 – Modelo da “meia-parede” celular proposto por Sitte [10]
A existência de canalículos na parede celular e a topoquímica são ainda hoje assuntos
controversos na discussão do modelo mais adequado para representação da estrutura da parede
celular da cortiça. Quanto à estrutura celular propriamente dita, a figura 2.3 é ilustrativa do aspecto
das secções tangencial, transversal e radial da cortiça amadia (cortiça retirada na idade adulta do
sobreiro quando o crescimento radial do tronco já não provoca a rotura do tecido). É notória a
semelhança entre as secções transversal e radial, pelo que se utiliza frequentemente o termo secção
não-tangencial para designar qualquer uma destas secções [10]. A figura 2.4 apresenta a orientação
das direcções principais da cortiça
Figura 2.3 – Secções principais da cortiça vistas com microscópio electrónico de varrimento [7]

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Figura 2.4 – Orientação das direcções principais da cortiça [7]
O composto principal da parede celular é a suberina, responsável pela muito baixa permeabilidade
da cortiça e que se encontra associado a lenhina, segundo componente estrutural mais importante
nas paredes celulares. Outros componentes estruturais importantes, embora presentes em menor
grau, são os polissacáridos celulose e hemiceluloses [10]. A tabela 2.1 apresenta a composição
química média da cortiça extraída de 10 árvores da região de Mora.
Tabela 2.1 – Composição Química da Cortiça [10]
% em peso seco
Componentes Cortiça virgem Cortiça amadia
Cinzas 0,9 1,2
Extractivos 16,9 14,2
Suberina 35,2 39,4
Lenhina 22,4 24,0
Polissacáridos 21,3 19,9
2.1.3. Comportamento da Cortiça em Compressão
Na selagem, como em muitas das aplicações em que se utiliza a cortiça, o comportamento em
compressão do material é uma característica determinante no seu desempenho. Como tal, uma
descrição do comportamento da cortiça nestas condições é essencial para que se perceba o
potencial desta matéria-prima como vedante. Na secção 2.4, quando for apresentado o “Estado do
Conhecimento da Selagem de Fluidos”, este tema voltará a ser abordado, mas numa perspectiva do
desempenho das juntas de vedação.
O facto da cortiça ser um material anisotrópico obriga a que as suas propriedades elásticas e
inelásticas à compressão sejam avaliadas nas direcções principais (tangencial, transversal e radial).
Atendendo à estrutura da cortiça e a resultados decorrentes de ensaios de compressão uniaxial
(estado mais simples de compressão), para pequenas deformações pode considerar-se apenas a
compressão na direcção radial e numa qualquer direcção não-radial, uma vez que as propriedades
nas direcções não-radiais são aproximadamente iguais entre si [7,10]. Nos ensaios de compressão é
registada a força F de compressão e a correspondente diminuição de altura do provete ΔL medida na

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direcção paralela à direcção de compressão [10]. Deste modo, é possível calcular a tensão nominal σ
dada por
𝜎 =𝐹
𝐴0
(1)
em que A0 é a área da secção perpendicular ao eixo de compressão, medida antes do ensaio; e a
extensão nominal ε, que representa a variação de comprimento do provete relativamente ao seu
comprimento inicial e que é dada por
𝜀 =∆𝐿
𝐿0
(2)
onde L0 é a altura inicial do provete.
Com estes dados é possível desenhar a curva de compressão do material, sendo que para o caso
da cortiça a figura 2.5 representa o aspecto não-linear tipicamente obtido após o ensaio para a
direcção radial e uma direcção não-radial [7].
Figura 2.5 – Curvas experimentais em compressão radial (R) e não-radial (NR) [7]
Importa, no entanto, referir que o comportamento da cortiça em compressão depende da
temperatura, da velocidade de compressão e do teor de humidade da cortiça, tendo este último factor
particular interesse em aplicações de selagem.
Nas curvas de compressão é possível identificar três regiões distintas quer na direcção radial, quer
nas direcções não-radiais. A primeira região está associada a pequenas tensões e deformações
(𝜀 = 5 − 7%) e corresponde à deformação elástica da cortiça, quando a relação entre σ e ε é
aproximadamente linear, sendo a constante de linearidade dada pelo quociente 𝜎 𝜀 e denominada de
módulo de Young, E (lei de Hooke). Na verdade a deformação é viscoelástica (onde o módulo de
Young apresenta parte imaginária e é denominado módulo de Young complexo ou dinâmico e é dado
por E = E’ + i·E’’ [7]), mas serve o termo elástica para indicar que nesta região não se atinge a
cedência do material. Após a cedência e até deformações de 50% a 70% identifica-se a segunda
região, onde ocorre um novo mecanismo de deformação devido ao colapso das células e que se
caracteriza por ter um declive pequeno 𝑑𝜎 𝑑𝜀 ≈ 1𝑀𝑃𝑎 . Também aqui é possível determinar um

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módulo de Young aproximado relacionando a tensão e a extensão de cedência. Deste modo,
conforme o tipo de cortiça, a direcção de compressão, a temperatura, o grau de humidade e a
velocidade de deformação tem-se que os valores de E podem variar entre 7 e 25 MPa [10]. Por fim,
na terceira região da curva, a tensão aumenta rapidamente com ε e o esmagamento das células
conduz à densificação do material. Resumindo, as três regiões enunciadas correspondem à
deformação elástica (viscoelástica) do material, ao colapso das células e à densificação do material
[10-11].
Para pequenas tensões e deformações, ou seja, ainda no domínio elástico, a deformação ocorre
principalmente devido à flexão das paredes celulares. A análise da deformação elástica da cortiça
permite a determinação das constantes elásticas efectivas, nomeadamente os módulos de Young, E,
e coeficiente de Poisson, , devendo-se mais uma vez à estrutura celular da cortiça o facto de ter de
se determinar o módulo de Young nas direcções não-radiais (tangencial ou transversal) e na direcção
radial. O efeito de Poisson está relacionado com as variações que a compressão numa direcção
induz nas direcções transversais e, como tal, a anisotropia da cortiça obriga a considerar as
diferenças de comportamento entre as direcções não-radiais (NR) e a direcção radial (R) [7,10-11]. A
tabela 2.2 apresenta os valores das propriedades referidas para pequenas deformações elásticas e a
formulação que permite o seu cálculo.
Tabela 2.2 – Propriedades elásticas da cortiça e respectiva formulação [10]
Propriedade Formulação
R,NR −
𝜀𝑁𝑅
𝜀𝑅 0,097
(*)
NR,R −𝜀𝑅𝜀𝑁𝑅
0,064(*)
NR,NR 𝜀𝑁𝑅1
𝜀𝑁𝑅2
0,26
ER [MPa] 𝜎
𝜀 (ensaio na direcção radial) 29
ENR [MPa] 𝜎
𝜀 (ensaio numa direcção não-radial) 19
(*) Neste plano o coeficiente de Poisson é praticamente nulo
Ao atingir-se a tensão de cedência, as células colapsam devido à encurvadura das paredes
celulares e inicia-se a deformação permanente do material. As células alteram a sua forma inicial,
ficando com as paredes dobradas e onduladas, mas geralmente não fracturadas e, não obstante
alguma recuperação, a deformação não é reversível. Sendo a deformação localizada, isto é,
não-uniforme, o colapso das células é progressivo, iniciando-se numa célula e propagando-se
primeiro às células adjacentes, numa mesma camada de células perpendicular à direcção de
compressão [10].
A partir de deformações de 50% a 70%, dá-se a densificação do material que aumenta também a
sua rigidez que tende, no limite, para a rigidez do material das paredes celulares. Após o colapso por
encurvadura plástica, as paredes encurvadas começam a tocar-se progressivamente, mas
geralmente, mesmo para deformações superiores a 70%, não se observa fractura das paredes

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celulares, pelo que a densificação não é total e não se atinge a rigidez do material das paredes [10-
11].
Um fenómeno interessante no comportamento da cortiça à compressão é a relaxação de tensão.
Após compressão até uma deformação correspondente a ΔL, a tensão necessária para manter este
nível de deformação vai diminuído ao longo do tempo o que, em condições de carga de compressão
constante como as que se verificam nas aplicações de selagem estática, conduz à perda de
espessura da junta e à perda de tensão de compressão em condições de deflexão constante [10-11].
A fluência, denominação dada à deformação lenta e progressiva sob a acção de uma tensão
constante, serve também para caracterizar o comportamento da cortiça em compressão. Nos ensaios
de fluência é medida a variação da altura do provete ΔL ao longo do tempo, possibilitando a
representação de uma curva ε(t). Também aqui, à imagem do que se verifica na relaxação, a
deformação é lenta e ocorre por pequenos reajustamentos a nível molecular nas paredes celulares e
que provocam deformações irreversíveis [10-11]. Observações com microscópio electrónico levam a
crer que o colapso das células contribui para a deformação permanente em fluência, o que permite
concluir que o colapso é um mecanismo de deformação dependente do tempo [12].
Conforme já foi referido, o teor de humidade da cortiça influencia o seu comportamento à
compressão. Ensaios experimentais de compressão radial e não-radial mostram que o aumento do
teor de humidade resulta numa diminuição da resistência à compressão e numa diminuição da
anisotropia. Por outro lado, aumentando o teor de humidade aumenta também a capacidade de
recuperação após descarga dos provetes [10].
2.1.4. Produtos em Cortiça
Seja na sua forma natural seja sob a forma de aglomerado, são várias e de carácter diverso as
aplicações da cortiça. O principal objectivo do processamento industrial da cortiça é a produção de
objectos de cortiça natural, nomeadamente rolhas e discos [10], mas o enorme volume de material
desperdiçado no fabrico de rolhas e de matéria-prima que não cumpre os requisitos necessários à
produção de objectos de cortiça natural leva a que se proceda à trituração destes desperdícios para
posterior utilização sob a forma de aglomerado [8].
Entre os aglomerados são geralmente diferenciados os aglomerados puros, constituídos a partir
da auto-aglomeração térmica dos grânulos de cortiça, dos aglomerados compostos, que utilizam um
adesivo ou ligante para ligar as partículas de cortiça entre si e/ou as partículas de outros materiais,
como por exemplo a borracha [10]. Muitas da inovações mais recentes que se registaram nos
produtos de cortiça aglomerada prendem-se com o método utilizado para a aglomeração e que
confere ao material diferentes características. Métodos de natureza química, em que a suberina é
despolimerizada, obtendo-se monómeros que funcionam como adesivos quando são polimerizados
durante o processo de aglutinação, permitem a obtenção de aglomerados rígidos. A aglomeração dos
grânulos de cortiça com termoplásticos consiste num método concebido para que seja possível
utilizar a grande maioria dos pós de cortiça resultantes dos desperdícios industriais. Os

- 11 -
termoplásticos com baixo ponto de fusão têm a vantagem, relativamente às colas normalmente
usadas, de não conterem solventes e de não serem tóxicos. Os compósitos resultantes são
considerados rígidos, já que apresentam baixa flexibilidade [8].
Agrupando de acordo com os domínios de utilização os produtos fabricados em cortiça, surgem
como principais campos a vedação, no qual se incluem o fabrico de rolhas para líquidos diversos e os
discos para tampas de bebidas e medicamentos; os artefactos, donde se destacam os artigos de
artesanato, os flutuadores e punhos para canas de pesca, palmilhas para calçado e peças de
vestuário; a construção civil, onde se utiliza a cortiça como isolante térmico e acústico, em tectos
falsos e no revestimento de paredes, pisos e tectos; os fins industriais, como os antivibráticos para
maquinaria, isolamentos para frio industrial, juntas para motores de explosão e a queima dos pós
para produção de energia; o desporto, em que é utilizada a cortiça para revestimento de raquetes de
ténis de mesa, alvos para setas e bases para volantes de badmington; e o ambiente, podendo a
cortiça ser utilizada na recolha de petróleo derramado [8].
A sustentabilidade é um ponto forte a favor dos produtos em cortiça relativamente a outros
materiais. A tabela 2.3 apresenta as diferenças entre a cortiça, o alumínio e o plástico no que respeita
ao fim ecológico e humano de garantir um desenvolvimento sustentável [13].
Tabela 2.3 – Cortiça versus Materiais Alternativos (adaptado do Relatório de Sustentabilidade da Corticeira Amorim [13])
Cortiça Alumínio Plástico
Origem
Produto florestal, não poluente, cuja extracção é realizada de 9 em 9 anos sem danificar a árvore
Mineral; Fonte não renovável
Petróleo; Fonte não renovável
Consumo Energético Baixo Elevado Elevado
Alterações Climáticas
A cortiça é um sumidouro de carbono. Uma parte significativa das necessidades energéticas do processo produtivo é satisfeita a partir da utilização de biomassa
A produção primária de uma tonelada de alumínio emite, em média, 12 ton de CO2; O processo industrial de transformação do alumínio em produto final (cápsulas) origina emissões adicionais de CO2
Os processos petroquímicos apresentam um elevado impacto ao nível das emissões de gases com efeito de estufa
Reciclabilidade 100% reciclável com baixo consumo de energia
100% reciclável com alto consumo de energia
Taxas de reciclagem baixas
Biodiversidade
A indústria da cortiça promove e sustenta o ecossistema do montado do qual dependem muitas espécies
As minas de bauxite têm um impacto potencialmente negativo muito significativo nos ecossistemas
A extracção e transporte de petróleo e a refinação dos respectivos produtos têm um impacto potencialmente negativo nos ecossistemas
A afirmação que a seguir se transcreve, serve não só para finalizar este sub-capítulo dedicado aos
produtos em cortiça, mas também para reflexão naquilo em que podem transformar-se de forma a
garantir um desenvolvimento sustentável [14]:

- 12 -
“A cortiça e os seus produtos parecem assim condenados, no futuro, a transmitir aos produtos ou
actividades a que venham associados, uma mensagem de excelência exótica e não propriamente a
desempenhar funções que outros materiais não possam desempenhar. Efectivamente, os produtos
derivados da cortiça, apesar das excelentes propriedades físico-químicas que possuem, parecem
bem mais destinados à nobre actividade de serem uma assinatura de excelência, mais para dignificar
opções humanas e actos de cultura, do que produtos técnicos com diversificadas aplicações
funcionais, embora efectivamente o sejam também.”
2.2. Borrachas Utilizadas nas Misturas de Cortiça-Borracha Testadas
Os compósitos de cortiça-borracha testados no âmbito da presente tese, são compostos por
cortiça e epicloridrina (ECO) ou cortiça e borrachas nitrílicas (NBR). Os elastómeros são o elemento
base dos produtos de cortiça com borracha [15] e, em aplicações de selagem, pretende-se que
confiram à mistura uma maior resistência ao ataque químico, maior flexibilidade e maior durabilidade.
Seguidamente são apresentadas algumas características e propriedades dos elastómeros ECO e
NBR com relevância no seu desempenho em aplicações de selagem.
Epicloridrina (ECO)
A ECO possui propriedades que a tornam atraente do ponto de vista da sua utilização em
aplicações de selagem, tendo vindo a substituir a NBR em algumas das suas aplicações. Pedreira
[16], na sua tese de mestrado intitulada Caracterização de Compósitos em Borracha com Cortiça
atesta a excelente resistência à variação de volume da ECO quando imersa em diferentes óleos e
combustíveis por um período de 168 horas (testes realizados de acordo com métodos internos da
ACC). Importa referir que, relativamente a estes compósitos, o E85, ao promover uma variação de
volume de 12% nas primeiras 50 horas de imersão, é um dos fluidos mais agressivos entre os
testados (gasolina, E85, diesel, biodiesel, óleo de engrenagem e PEG). Por outro lado, a imersão em
gasolina resulta numa variação de cerca de 7%, o que representa uma boa resistência à variação de
volume neste fluido [16].
Noutra referência consultada [17], é descrita a grande amplitude térmica da ECO, podendo ser
utilizada entre -40º C e 149º C sem perder a sua capacidade de resistência a óleos e a combustíveis
e a sua flexibilidade.
Borrachas de Acrilonitrilo Butadieno, Borrachas Nitrílicas (NBR)
As NBR, compostas pelos polímeros acrilonitrilo e butadieno, são vulgarmente utilizadas no fabrico
de juntas devido à sua resistência a óleos e a combustívies. Este tipo de borrachas são classificadas
de acordo com a quantidade de acrilonitrilo, sendo que quanto maior for a quantidade deste polímero
presente na composição, maior é a sua resistência à tracção e a sua resistência a óleos. Uma menor
quantidade de acrilonitrilo, aumenta a resiliência e elasticidade da borracha e melhora a sua
flexibilidade a baixas temperaturas. A sua utilização é limitada por uma gama de temperaturas entre
os -40 e os 100º C [4].

- 13 -
Pedreira [16] refere que uma das vantagens das NBR é não dilatarem quando em contacto com
gasolina, óleos ou gordura, acrescentando ainda que, neste capítulo, são superiores à maioria das
borrachas. No entanto, refere também que possuem uma fraca resistência térmica e que têm por isso
vindo a ser substituídas por outras borrachas mais resistentes ao calor. Os resultados dos testes
realizados mostram que a imersão em gasolina e E85 provocam variações de volume a alguns destes
elastómeros entre 20 e 25%, o que levou Pedreira [16] a considerar estes dois fluidos os mais
agressivos entre os testados.
2.3. Cortiça-Borracha – Compósito Versátil
A cortiça com borracha, conhecida comercialmente pela designação anglo-saxónica CorkRubber
ou RubberCork, foi desenvolvida no início da década de sessenta nos Estados Unidos da América
para concepção de juntas de vedação para óleos destinadas à indústria automóvel [18]. A ACC,
empresa líder mundial na produção de cortiça-borracha, produz composições diversas deste material
para aplicação como juntas, material antivibrático e de isolamento acústico, material para
pavimentação, material de calçado, punhos de ferramentas e canas de pesca, material diverso para
uso doméstico e material de escritório. As juntas deste tipo de material são utilizadas em caixas de
engrenagens, transmissões, tampas de válvulas, reservatórios de óleo, contadores de gás,
transformadores, bombas de óleo e de água, vedantes estáticos de óleos, solventes, massas
lubrificantes água, ar e outros fluidos [15,19].
2.3.1. Produção de Cortiça-Borracha
A cortiça-borracha resulta da aglomeração de vários produtos. Diferenciando-os de acordo com a
função que desempenham no aglomerado têm-se o produto base (elastómero), a carga activa
(granulado de cortiça), os plastificantes, as cargas inertes, os activadores, os vulcanizantes, os
aceleradores e os anti-oxidantes [15]. O processo industrial de fabrico pode resumir-se no fluxograma
apresentado na figura 2.6.
Apesar da aparente simplicidade, este é um processo onde interferem diversas variáveis que é
necessário controlar para que o produto final cumpra os requisitos. Assim, deve considerar-se a
pesagem dos produtos, a sua granulometria, o tempo de mistura, a temperatura da mistura, a altura
do bloco antes da moldagem, o peso do bloco, o tempo de vulcanização e a temperatura de
vulcanização [15].

- 14 -
Figura 2.6 - Fluxograma do processo de produção de cortiça-borracha
2.3.2. Características dos Compósitos de Cortiça-Borracha
A cortiça-borracha combina as características de compressibilidade e recuperação elástica da
cortiça com a flexibilidade, durabilidade, impermeabilidade e resistência química da borracha. A
cortiça e a borracha são materiais com atributos distintos. A cortiça é compressível, apresentando
valores do coeficiente de Poisson próximos de zero (ver tabela 2.2), o que significa que a aplicação
duma carga provoca redução de volume sem que haja um escoamento lateral significativo nas
direcções transversais à do carregamento, e reage de forma pneumática quando sujeita à
compressão. Por outro lado, a borracha é incompressível e o coeficiente de Poisson assume valores
próximos de 0,5, pelo que o escoamento de material nas direcções perpendiculares a uma carga
aplicada é evidente. A cortiça-borracha, ao combinar estes dois materiais, pode apresentar
características de compressibilidade próximas das da cortiça ou exibir um comportamento
incompressível típico das borrachas [20]. A figura 2.7 ilustra de forma qualitativa uma comparação
entre a compressibilidade da cortiça, da borracha e da cortiça com borracha.

- 15 -
Figura 2.7 – Comparação entre a compressibilidade da cortiça, da borracha e da cortiça-borracha [20]
A variação desta e de outras características da cortiça- borracha depende das percentagens de
cada um dos produtos da mistura, da granulometria da cortiça e do tipo de borracha usada. Como tal,
as propriedades e limitações da generalidade dos produtos em cortiça-borracha dependem de cada
mistura específica, na medida em que variam de acordo com diversos factores. Contudo, podem
avaliar-se estes materiais indicando a capacidade de cumprir os requisitos de determinada aplicação,
nomeadamente enquanto juntas.
A impermeabilidade, a capacidade de estabelecer um contacto total com as superfícies das
flanges bem como a de manter o contacto para diferentes condições de pressão, força e contacto
com diferentes fluidos, são algumas características que tornam a cortiça-borracha um material
adequado à concepção de juntas [20].
O contacto total entre as juntas e as superfícies das flanges é fácil de atingir com juntas em
cortiça-borracha, uma vez que este material é facilmente comprimido e, sob condições de baixa
pressão, tem uma excelente capacidade de se adaptar às irregularidades das superfícies [20].
A elasticidade e o coeficiente de atrito dos compósitos de cortiça com borracha permitem manter o
contacto entre as juntas e as flanges. O material quase não escoa lateralmente quando é comprimido
e os grânulos de cortiça em contacto com as superfícies das flanges promovem um aumento do atrito
que dificulta o escorregamento das juntas mesmo quando em contacto com óleo ou outros
lubrificantes [20].
A compatibilidade química com os meios a selar é geralmente controlada pelo tipo de borracha
usado na composição, mas a presença da cortiça impõe que não seja usado este material na
selagem de soluções fortemente ácidas ou alcalinas. Os compósitos de cortiça-borracha têm
tendência a inchar quando em contacto com fluidos, mas este não costuma ser um sinal de
deterioração das juntas [20].
No Military Handbook [20] aconselha-se a utilização de juntas em cortiça-borracha a temperaturas
inferiores a 71º C, mas também refere que algumas composições suportam temperaturas até 121º C
e 149º C. Estes dois últimos valores são mais ajustados às características indicadas nos catálogos da
ACC para composições de CorkRubber usadas na concepção de juntas.
Como última nota refira-se que, apesar de a cortiça-borracha poder ser utilizada em muitas
aplicações como substituto da cortiça ou da borracha, só a substituição da borracha pela composição
cortiça-borracha representa uma vantagem a nível económico.

- 16 -
2.4. Estado do Conhecimento da Selagem de Fluidos por Ligação
Aparafusada com Juntas
2.4.1. Introdução
A prevenção de fugas de gases ou líquidos recorrendo a ligações aparafusadas com juntas
assume uma importância fulcral na indústria e no quotidiano de quem “co-habita” com este tipo de
tecnologia. A selagem de fluidos é geralmente importante do ponto de vista económico e também
porque é frequente que os fluidos a selar sejam considerados perigosos por serem tóxicos ou
inflamáveis. Uma fuga deve ser sempre encarada como um desperdício ao qual está associado um
custo e pode resultar num risco de incêndio, explosão ou qualquer outro incidente ou acidente grave
[2].
Segundo o “American Heritage Dictionary” uma junta é um vedante usado entre duas partes
ligadas de uma máquina ou em tubos que previne a fuga de gases ou líquidos [21]. A definição da
ASTM [22] vai de encontro à anterior, classificando uma junta como um material que pode ser
apertado entre duas superfícies e que funciona como vedante. De acordo com um artigo da FSA [23],
uma junta nunca deve ser desassociada do sistema em que se insere, uma vez que nesse sistema há
uma interdependência entre os elementos que é responsável pelo sucesso da junta. Esta relação
entre elementos é ilustrada na figura 2.8.
Figura 2.8 – Interdependência dos elementos constituintes duma ligação com junta [23]
As juntas planas para a indústria, tipo de junta também utilizado na selagem de motores, surgiram
à cerca de 100 anos, inventadas pelo engenheiro austríaco Richard Klinger, sendo compostas por
amianto e borracha. O sucesso desta invenção levou a que outros inventores tentassem criar novas
juntas, o que conduziu a que vários materiais de diversas qualidades passassem a ser usados como
juntas de vedação. Assim, tornou-se urgente definir parâmetros que permitissem avaliar o
desempenho enquanto juntas dos materiais utilizados na selagem. Porque esta era uma nova
tecnologia, o estado do conhecimento encontrava-se numa fase embrionária, e a determinação da

- 17 -
tensão de rotura à compressão do material, que hoje em dia assume um papel menos relevante na
selecção deste, era na altura o método utilizado para escolher o material adequado [21].
Embora aparentemente simples, as juntas utilizadas nos motores de combustão interna são
produtos de engenharia com requisitos muito exigentes e que obrigam a que se proceda a um
considerável número de testes para assegurar a sua funcionalidade. Um facto ilustrativo da
importância das juntas é o de que durante as décadas de 1920 e 1930, uma das falhas mais
frequentes que impossibilitavam os bólides da corrida Indy 500 de terminar as provas estava
relacionada precisamente com as falhas ao nível da junta da cabeça do motor. Acrescia ainda, que
devido às fugas provocadas por uma selagem ineficiente, o óleo derramado nas pistas durante as
corridas provocava inúmeros acidentes. Actualmente, os veículos de passageiros percorrem mais de
240 000 km sem que se verifiquem fugas significativas e motores diesel de alta cilindrada fazem mais
de 1 600 000 km sem necessidade de reparações [21]. O famigerado desastre da nave espacial
Challenger é outro exemplo da importância das juntas, uma vez que a explosão que vitimou os sete
tripulantes da nave teve origem na fragilização dum O-Ring devido às baixas temperaturas que se
verificavam aquando do lançamento [24].
A aplicação de juntas está longe de se cingir aos motores de combustão interna, sendo utilizadas
também na selagem de transformadores eléctricos, em sistemas de tubagem variados, em
reservatórios de pressão e até mesmo em túneis submersos, de que é exemplo a figura 2.9 do túnel
de Øresund, que liga Malmö, na Suécia, a Copenhaga, na Dinamarca, permitindo o tráfego de
veículos entre a Europa escandinava e a Europa central.
Figura 2.9 – Junta Trelleborg “Gina” do túnel Øresund [25]
Ao longo do tempo, novos métodos de selagem têm sido desenvolvidos, especialmente para
condições de serviço mais severas, oferecendo aos utilizadores mais hipóteses de escolha no tocante
a materiais e tecnologia de selagem. Também as normas que regulamentam a tecnologia da selagem
e os testes à resposta dos vários materiais utilizados têm sofrido alterações, havendo um elevado
número de métodos que diferem de acordo com as normas de cada país. Felizmente, os avanços
mais recentes revelam uma similaridade cada vez maior entre os diferentes métodos para avaliação
das técnicas e materiais aplicados na selagem, facto que deve ser encorajado de forma a normalizar
os procedimentos de avaliação em todo o mundo [3].

- 18 -
2.4.2. Tipos de Ligação com Juntas
Por serem das mais diversas as aplicações em que se utilizam juntas de vedação, são também
vários os tipos de ligação utilizados. Tipicamente, as ligações são como a ilustrada na figura 2.10,
utilizando os elementos indicados, nomeadamente: membros da ligação (ou flanges), junta e
elementos de ligação (parafusos e porcas).
Figura 2.10 – Componentes típicos duma ligação com junta [3]
As ligações podem ser de natureza estática ou dinâmica, sendo que na selagem estática, onde se
enquadra o estudo efectuado no âmbito desta tese, se considera que as flanges têm uma posição fixa
entre si, enquanto que na selagem dinâmica se considera que há movimento relativo entre os
membros da ligação [4,15]. De acordo com o documento da ESA/FSA referenciado [3], os sistemas
mais comuns de ligação com juntas são os seguintes:
a) Flanges com superfícies sobrelevadas:
Comuns em sistemas de tubagem. As
superfícies de contacto são sobrelevadas
ficando a junta não confinada. Geralmente, o
diâmetro exterior da junta é igual ao diâmetro
do círculo dos parafusos menos o diâmetro
dos parafusos. Deste modo, é possível
instalar ou remover a junta facilmente, sem
separar completamente o sistema.
Figura 2.11 – Flanges com superfícies sobrelevadas [3]

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b) Juntas sobrepostas: Sistema semelhante
ao anterior, é usado quando é requerido que o
sistema de tubagem seja quimicamente inerte,
podendo os membros da ligação ser de um
material menos resistente ao ataque químico
do meio.
Figura 2.12 – Juntas Sobrepostas [3]
c) Juntas planas: Normalmente utilizadas
quando o material dos membros da ligação é
relativamente frágil.
Figura 2.13 – Juntas Planas [3]
d) Flanges com rasgo: Neste caso a junta
fica totalmente confinada, tendo a junta a
mesma largura que o rasgo. Este sistema
obriga a uma separação total dos membros da
ligação para remoção da junta. É exercida
sobre a junta uma pressão elevada pelo que
com este sistema não é aconselhável o uso
de juntas macias (não-metálicas).
Figura 2.14 – Flanges com Rasgo [3]
e) Flanges macho e fêmea: Aqui a junta não
está totalmente confinada. A profundidade do
membro fêmea é igual ou menor que a altura
do membro macho de forma a evitar o
contacto directo entre os membros da ligação
quando a junta é comprimida. É necessário
separar totalmente os membros da ligação
para remoção da junta.
Figura 2.15 – Flanges Macho-Fêmea [3]

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f) Juntas planas e flanges com rasgo: Junta
totalmente confinada. Um dos membros da
ligação é plano, enquanto o outro possui um
entalhe onde é instalada a junta. Este método
é utilizado quando a distância entre os
membros deve ser precisa. Apenas juntas
com elevada resiliência devem ser usadas
neste tipo de ligação.
Figura 2.16 – Juntas Planas e Flanges com rasgo [3]
g) Junta anelar: Ambos os membros da
ligação possuem canais para acomodar a
junta anelar normalmente fabricada em metal.
Note-se que difere do “O-Ring” em borracha
que é mais utilizado em selagem dinâmica.
Figura 2.17 – Junta Anelar [3]
2.4.3. Selecção das Juntas
A selecção das juntas para uma dada aplicação deve obedecer a determinadas premissas no que
se refere à escolha do material mais adequado. Os factores a ter em conta prendem-se
essencialmente com a resistência química, a resistência térmica, as resistências à tracção e ao
esmagamento, a tensão de selagem requerida, a pressão exercida pelo fluido, o custo, a resiliência
(rigidez/recuperação), a natureza do fluido a selar (explosivo, tóxico, cancerígeno, benigno, etc.), a
permeabilidade do material da junta, a lubricidade, as características de fluência, a condutividade
térmica e o design da junta [2].
Outra referência consultada [4] indica algumas propriedades importantes do material a utilizar no
fabrico de juntas. O facto de o autor ter caracterizado cada uma destas propriedades torna pertinente
que se transcreva esta nova lista de propriedades relevantes nos materiais utilizados na selagem e
que se apresentam na tabela 2.4.
As recomendações da ESA/FSA [3] são mais simples, cingindo os critérios de selecção aos
factores que considera mais relevantes. Deste modo, é referido que na escolha do material a utilizar
devem considerar-se a compatibilidade química com o meio a selar, a temperatura e pressão de
serviço, as variações das condições de serviço e o tipo de ligação em que a junta está envolvida.
Como nota, são ainda deixadas duas advertências relativas ao facto de que, independentemente da
similaridade entre os materiais disponíveis, deve sempre ter-se em consideração que as propriedades
podem variar de fornecedor para fornecedor e que devem sempre seleccionar-se juntas de boa
qualidade. Esta última advertência contraria, de certa forma, a indicação dada por Bickford [2] de que

- 21 -
o custo é outro factor a ter em conta na selecção das juntas, uma vez que o documento da ESA/FSA
[3] acrescenta que o custo das juntas é sempre insignificante quando comparado com os custos
associados à falha das juntas e com questões de segurança.
Tabela 2.4 – Propriedades importantes nos materiais utilizados para vedação [4]
Compatibilidade química Resistência da junta ao ataque químico do meio a selar.
Resistência térmica Capacidade de suportar a temperatura de serviço.
Compressibilidade ou macro-
conformabilidade
Capacidade da junta se adaptar à distorção e ondulações dos
membros da ligação.
Micro-conformabilidade
Capacidade da junta se adaptar às irregularidades do
acabamento superficial dos membros da ligação
(rugosidade).
Recuperação
Propriedade do material que lhe permite seguir as
movimentações dos membros da ligação causadas por forças
mecânicas ou por efeito da temperatura.
Fluência e Relaxamento sob
Tensão (creep relaxation)
Capacidade da junta reter a tensão suficiente para garantir a
selagem ao longo do tempo.
Resistência à erosão
Resistência ao ataque químico do fluido nos casos em que a
junta funciona como dispositivo que garante a estabilidade
dimensional.
Tensão de Compressão Resistência ao esmagamento e/ou à extrusão causada por
elevadas tensões.
Tensão radial ou de tracção Resistência mecânica à pressão aplicada pelo meio.
Tensão de corte
Capacidade de suportar os movimentos dos membros da
ligação causados por forças mecânicas e por efeitos térmicos
e que promovem o aparecimento de tensões de corte na
junta.
Tensão “Z” Facilidade de remoção de juntas usadas sem fractura interna
do material.
Anti-aderência Garantia de que a junta não fica colada aos membros da
ligação facilitando, assim, a sua remoção.
Condutividade térmica O material da junta não deve obstar à transferência de calor
necessária na aplicação.
Isolamento acústico A junta deve providenciar o isolamento acústico requerido.
Estabilidade dimensional A estabilidade dimensional deve ser assegurada para garantir
a correcta instalação das junta.
2.4.3.1. Material das Juntas
Existe uma vasta de gama de materiais utilizados para fabrico de juntas e, como tal, a escolha do
material é um dos factores mais importantes a considerar na selecção das juntas. Antes de
considerar o material específico para cada aplicação, deve escolher-se o tipo de material adequado.
As juntas não-metálicas (macias), as juntas semi-metálicas e as juntas metálicas, constituem as três
principais categorias de materiais e cada uma delas corresponde a diferentes campos de aplicação.
As juntas não-metálicas são geralmente fabricadas em materiais compósitos e são compatíveis com
uma larga variedade de sistemas em que se pretende selar meios químicos. Por norma a sua
utilização está limitada a condições de baixa ou média pressão. As juntas semi-metálicas são
igualmente fabricadas em materiais compósitos constituídos por materiais metálicos e não-metálicos.

- 22 -
O metal da composição é responsável pela resistência e resiliência das juntas, tornando-as aplicáveis
quer em condições de baixa pressão, quer em condições de pressão elevada. As juntas metálicas,
fabricadas num único metal ou com uma combinação de materiais metálicos (ligas), podem assumir
diversas formas e tamanhos. Aplicáveis em situações de elevada temperatura e pressão, é exigido
paralelismo entre as flanges [3].
Brink et. al. [4], caracterizam as juntas não-metálicas definindo as condições necessárias ao seu
bom desempenho. Uma vez que a principal função das juntas é impedir o fluxo capilar de fluido, deve
assegurar-se que o material tem a densidade necessária de modo a eliminar os “vazios” que
contribuem para a porosidade do material. Este objectivo pode ser atingido por compressão do
material e/ou preenchendo os “vazios” com aglomerantes durante o fabrico. Para manter a
impermeabilidade ao longo do tempo, os constituintes do material devem ser resistentes à
degradação e desintegração provocadas pelo ataque químico do meio a selar e pela temperatura de
serviço [4].
A maioria dos materiais não-metálicos usados em juntas são compostos por material fibroso ou
granular, que funciona como material base ou matriz, misturado ou reforçado com um aglomerante. A
escolha da combinação material base/aglomerante depende da compatibilidade entre os
componentes, do meio a selar e das condições de carregamento requeridas na ligação [4].
Em seguida, com base na informação recolhida por consulta das referências [3-4,17,20,26-28],
apresenta-se na tabela 2.5 uma lista de materiais não-metálicos usados no fabrico de juntas e
respectivas características e campos de aplicação.
Tabela 2.5 – Materiais mais utilizados no fabrico de juntas [3-4,17,20,26-28]
Material Características
Não-metálicos
Fibras de
Amianto
Durante muito tempo foi o material mais utilizado no fabrico de juntas devido
às suas excelentes propriedades. Com boa resistência até aos 425ºC, não
combustível, praticamente inerte quimicamente, fácil composição com
outros materiais e com baixa compressibilidade, garantia a selagem para
diversas condições de serviço. Contudo, a elevada toxicidade do amianto
levou a que só seja permitido usar estas fibras em aplicações industriais
especiais, em que esteja envolvida a segurança da junta e onde nenhum
outro material garanta a selagem.
Celulose (Fibra de
Papel)
Fibra natural adequada para condições de baixa temperatura e pressão
média. Apresentam boa resistência a óleos, gasolina e água, mas ciclos que
alternem condições de humidade com condições secas podem causar o
encolhimento e endurecimento da junta comprometendo o seu desempenho.
Surgiram com o objectivo de substituir as fibras de amianto.
Fibras sintéticas
(aramid)
Fibras aromáticas com elevada resistência e excelente estabilidade
dimensional em condições de temperaturas médias. Tal como a celulose
são também uma alternativa ao amianto.
Fibras de carbono
Fibras com elevada condutividade térmica que asseguram uma rápida
dissipação de calor. Funcionais a altas temperaturas e com boa resistência
química (podem ser usadas para selar meios ácidos ou básicos) têm como
principal constrangimento não serem adequadas para meios oxidantes.
Fibras de vidro
Oferecem boa resistência mecânica e razoável resistência química.
Aplicáveis em médias e altas temperaturas têm a característica de não
“desfibrarem”.

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Tabela 2.5 (cont.) – Materiais mais utilizados no fabrico de juntas [3-4,17,20,26-28]
Borrachas
Quer como material base, quer como aglomerantes, são várias as borrachas
utilizadas na selagem. As borrachas, na sua generalidade, conferem às
juntas boa resistência química e térmica, flexibilidade, impermeabilidade e
durabilidade. As borrachas usualmente utilizadas em juntas são a borracha
natural, a nitrílica, o isopropeno, o etileno-propileno, a epicloridrina, o
silicone, o neoprene, o poliuretano, os fluorelastómeros, etc.
Cortiça
Possui elevada compressibilidade o que permite aumentar facilmente a
densidade da junta. As juntas em cortiça são geralmente aplicadas em
condições de baixa tensão. A compressibilidade da cortiça também confere
às juntas a faculdade de se adaptarem às irregularidades dos membros da
ligação. Excelente resistência à água, óleo e solventes e fraca resistência a
ácidos inorgânicos, produtos alcalinos e ambientes oxidantes.
CorkRubber
Combina as características de compressibilidade e recuperação elástica da
cortiça com a impermeabilidade, flexibilidade e durabilidade da borracha.
Dependendo da borracha utilizada na formulação do compósito pode
também melhorar-se a resistência química relativamente à cortiça. As juntas
podem ainda ser reforçadas com fibras para aumentar a percentagem de
aperto retido face à pré-tensão inicial.
Plástico
Os plásticos, de que são exemplo o PTFE (vulgo Teflon) e o Kel-F,
apresentam, geralmente, maior resistência térmica e maior resistência a
ambientes corrosivos que as borrachas. A Garlock apresentou este ano dois
novos materiais em PTFE para juntas que demonstram maior capacidade de
retenção da carga e mais baixa permeabilidade. Com boa resistência
química e térmica estes novos materiais são aplicáveis em condições entre
os -267 ºC e 260ºC um, e entre -40ºC e 340ºC o outro [27].
Grafite flexível
Material tipicamente composto por mais de 95% de carbono.
Consequentemente, apresenta excelente resistência química em vários
meios e não deve ser aplicado em meios oxidantes. O material pode ser
fornecido com elevada densidade (para sistemas com fluidos a alta pressão)
ou com baixa pressão (adequado para tensões de selagem baixas ou
quando se exige boa conformabilidade ao material). As juntas Graflex da
Teadit substituem com vantagem juntas com enchimento em amianto,
apresentando melhores características de selagem.
Vermiculite (Mica)
Material composto por silicatos de alumínio e com morfologia laminar.
Possui elevada flexibilidade, elasticidade e tenacidade, assim como
excelente estabilidade térmica e boa resistência química. A Flexitallic,
empresa que se dedica à produção de juntas, lançou em 2007 um material
composto por vermiculite e pedra-pomes com resistência térmica acima dos
1000 ºC.
No anexo F, apresenta-se uma continuação da tabela 2.5 onde são indicados os materiais
metálicos usados no fabrico de juntas e as suas respectivas características. Porque não vêm
descritas na tabela 2.5, relembra-se que as juntas em materiais semi-metálicos combinam as
propriedades de cada um dos elementos da sua composição, variando as suas características
consoante os materiais utilizados.

- 24 -
2.4.3.2. Espessura das Juntas
A espessura é outro factor importante na escolha de uma junta ou um conjunto de juntas para
determinada aplicação. A ESA/FSA [3] indica que deve utilizar-se a espessura mais fina que o tipo de
ligação permita, mas suficientemente espessa para compensar as irregularidades das superfícies das
flanges, a sua falta de paralelismo e a sua rigidez. Quanto mais fina for a junta maior será a carga dos
parafusos que conseguirá suportar e menor a perda de carga devido ao relaxamento da junta. Uma
junta com menor espessura tem ainda a vantagem de ser menor a área exposta à pressão e ao
ataque químico do meio a selar [3].
Brink et. al. [4] acrescentam à informação dada no documento da ESA/FSA a importância do factor
de forma das juntas no relaxamento que sofrem. Em grande parte, o relaxamento deve-se à
expansão lateral das juntas, pelo que maiores espessuras implicam maior área lateral disponível para
expansão. O factor de forma das juntas é dado pelo rácio entre a área de uma das faces carregadas
e a área livre por onde se expande lateralmente a junta. Como tal, tem-se que quanto maior for a
espessura da junta, menor será o factor de forma, maior o relaxamento da tensão e menor a
capacidade da junta em reter a tensão inicialmente imposta [4].
No artigo [29] da FSA, também são enumeradas algumas características favoráveis ao uso de
juntas os mais finas possível, como por exemplo a menor área exposta à pressão interna, a maior
capacidade em reter o aperto inicial, as menores taxas de fuga devido à menor área lateral e o custo
mais baixo das juntas. Contudo, é referido também que nem sempre é possível optar por juntas finas,
já que na presença de irregularidades na superfície das flanges juntas mais espessas apresentam
maior conformabilidade.
2.4.4. Comportamento Mecânico das Juntas
Bickford [21] refere que as características mecânicas das juntas são de extrema importância no
projecto uma vez que são as juntas que determinam o comportamento da ligação. Acrescenta ainda
que conhecer o seu comportamento mecânico ajuda a compreender o porquê de se verificarem fugas
em algumas ligações com juntas e a responder ao que pode ser feito para as evitar.
A figura 2.18 a) visa ilustrar o comportamento característico de juntas não metálicas quando
sujeitas a compressão e a figura 2.18 b) exibe uma representação qualitativa das características de
recuperação após descarga que serão referidas adiante.
Figura 2.18 – Comportamento à compressão do material usado no fabrico de juntas [4]

- 25 -
2.4.4.1. Rigidez das Juntas
A rigidez de uma junta é caracterizada pela relação entre a tensão de compressão aplicada na
junta e a deflexão sob essa tensão. Uma junta pode ser tratada como uma mola montada em série
com o parafuso, a porca, a anilha e as flanges que também se comportam como molas [2]. Deste
modo, a constante elástica da ligação, KJ, é dada por:
𝐾𝐽 = 1
𝐾𝐺
+1
𝐾𝐹
−1
(3)
onde KG e KF são, respectivamente, a constante elástica da junta (em inglês gasket) e do sistema
sem juntas (flanges, parafuso, porca e anilha).
Um dado a reter na análise do comportamento de rigidez de uma junta prende-se com a
distribuição de pressão promovida pelos parafusos da ligação. A figura 2.19 ilustra o modelo do cone
de pressão de Rotscher que indica que a pressão é elevada até uma distância de cerca de 1,5 vezes
o raio do parafuso [30]. No referido modelo considera-se que o ângulo α do cone de pressão com o
eixo do parafuso é variável, mas por simplicidade assume-se frequentemente que α é constante e
igual a 30º.
Figura 2.19 – Cone de influência de um parafuso [30]
Principalmente no caso das juntas não metálicas, é frequente a junta ter uma constante elástica
muito inferior à constante elástica dos parafusos e das flanges. Nestes casos, o comportamento
elástico da ligação é governado pela junta, resultando numa boa aproximação considerar-se que
KJ=KG [2]. De notar que a junta não pode ser tratada como uma mola totalmente elástica, dado que
após retirado o carregamento a junta permanece deformada durante algum tempo. O seu
comportamento pode ser muito diferente em condições de carregamento estático relativamente à
aplicação de uma carga dinâmica [2].
Outro factor importante é a temperatura, uma vez que o coeficiente de contracção/expansão
térmica da junta difere significativamente dos do parafuso e das flanges, sendo o seu comportamento
afectado por gradientes térmicos elevados [2].
2.4.4.2. Fluência e Relaxamento Sob Tensão
A fluência e o relaxamento sob tensão são características mecânicas da junta com efeitos
importantes no comportamento da ligação. Estes fenómenos estão associados à perda de espessura

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da junta quando sujeita a uma carga de compressão constante (fluência pura) e à perda de tensão de
compressão na junta carregada em condições de deflexão constante (relaxamento puro) [2]. É
comum serem referidas como:
- Fluência pura: percentagem (%) da variação da espessura da junta sob uma carga de
compressão constante;
- Relaxamento puro: percentagem (%) da variação da tensão de compressão na junta face à
tensão devida à pré-tensão, em condições de deflexão constante.
Numa junta que sofre os efeitos da fluência e do relaxamento sobre tensão, à perda de espessura
está associado o relaxamento dos parafusos e, consequentemente, uma redução do alongamento
dos parafusos, da sua tensão e da força de aperto, factores que conduzem a uma perda de tensão na
junta [2]. As normas ASTM F 38 [31] e DIN 52913 [32], são exemplo de testes que permitem
determinar a fluência e relaxamento sob tensão de materiais utilizados em juntas.
Um fenómeno interessante da fluência é a fluência cíclica. Testes do PVRC mostram que muitas
juntas sentem mais os efeitos da fluência quando sujeitas a cargas cíclicas do que em carregamento
estático. Estes testes são realizados em condições de fluência pura.
Após colocação das juntas, há um conjunto de factores que afectam o seu comportamento de
fluência e o relaxamento sob tensão. Qualquer um destes fenómenos é inevitável, uma vez que uma
junta deve apresentar alguma plasticidade que lhe permita adaptar-se às eventuais irregularidades
das superfícies dos membros da ligação, mas a quantidade de fluência e de relaxamento registados
depende de determinadas variáveis. O material é, obviamente, uma dessas variáveis, mas também a
espessura da junta, o tempo de serviço, a temperatura, as cargas aplicadas e a rigidez dos parafusos
contribuem para que se verifiquem algumas alterações no comportamento da junta. De uma forma
sumária os principais parâmetros envolvidos são:
Espessura Inicial: O relaxamento é proporcional à espessura da junta, sendo recomendado que
a junta tenha a mínima espessura possível [2-4];
Tempo: Grande parte do relaxamento e da fluência ocorre nos primeiros 15/20 minutos após a
aplicação da pré-tensão aos parafusos ou após 20/25 ciclos de carga. Estes fenómenos
continuam a ocorrer durante várias horas e voltam a manifestar-se depois de aumentar a
temperatura da junta, mas as alterações adicionais na deflexão não são, por norma, suficientes
para causar problemas [2].
Após algumas horas em serviço a junta estabiliza, pelo que é recomendado que ao fim de
18/24 h se proceda a um reaperto dos parafusos para recuperar as perdas da força de aperto que
se verificaram durante a ocorrência dos fenómenos de fluência e relaxamento [2]. Apesar de ser
um procedimento comum, um estudo realizado por Abid [33] levou a conclusão que o reaperto
conduz a fugas mais severas e, em último caso, à necessidade de substituir a junta. Quando se
verificam fugas o reaperto pode parecer uma boa solução, mas o seu efeito é apenas temporário;
Temperatura: A temperatura é um factor relevante. Altas temperaturas podem aumentar
significativamente os efeitos de fluência e de relaxamento. Uma grande vantagem das fibras de

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amianto (que só são utilizadas em aplicações industriais especiais onde esteja envolvida a
segurança da junta e onde nenhum outro material garanta a selagem) prende-se com a sua
capacidade de funcionar a temperaturas de 399ºC ou superiores. Por outro lado, numa junta
elastomérica de poliamida aromática os efeitos do relaxamento sob tensão e de fluência
aumentam significativamente com o aumento da temperatura. De notar que, normalmente, as
características das juntas publicadas pelos fornecedores são baseadas em testes à temperatura
ambiente [2,4];
Pré-Tensão: A pré-tensão na junta afecta as suas taxas de fluência e relaxamento, havendo a
tendência para que carregamentos mais elevados originem maior relaxamento. Contudo,
paradoxalmente, em alguns casos o aumento da pré-tensão conduz a uma menor percentagem de
perdas [2];
Rigidez dos Parafusos: Não influi nas propriedades relativas ao relaxamento sob tensão e à
fluência, mas afecta a relação entre a redução de espessura da junta e a perda de força de aperto
a que esta é submetida. Utilizando parafusos esbeltos a perda de força de aperto para uma dada
mudança de espessura é menor que com parafusos curtos e de maior diâmetro [2].
2.4.4.3. Resistência à Tracção
Teoricamente, o material das juntas até poderia ter uma resistência à tracção nula se o aperto
dado à ligação fosse suficientemente grande para segurar a junta. Contudo, esta situação é muito
difícil de se verificar na prática, devendo a junta possuir alguma resistência à tracção para que, por
influência da pressão interna, não seja despedaçada e/ou lançada para fora da ligação [2].
2.4.4.4. O Factor PxT
A qualquer material utilizado no fabrico de juntas estão associadas uma temperatura e pressão
máximas acima das quais não há garantias da junta desempenhar correctamente a sua função. No
entanto, nunca a junta poderá ser exposta a condições de temperatura e pressão máximas
simultaneamente. Para evitar que esta situação ocorra foi criado um factor PxT, correspondente ao
produto da pressão e da temperatura, que pode ser utilizado para determinar uma combinação
aceitável de pressão e temperatura [2].
2.4.4.5. Resistência ao Esmagamento
Quanto maior for a pressão aplicada sobre uma junta menores serão as fugas, mas se as forças
de compressão forem demasiado elevadas podem provocar o esmagamento das juntas ou até a sua
rotura. A resistência ao esmagamento é uma função da temperatura de serviço e da espessura da
junta, ou seja, depende de duas variáveis que reflectem as condições e necessidades de
determinada aplicação. Como tal, por ser uma propriedade do material que depende das condições
de serviço, não costuma ser referida pelos fabricantes [2].

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2.4.4.6. Compressibilidade e Recuperação
A compressibilidade define-se como a variação de espessura da junta quando comprimida por
acção de uma carga específica, fornecendo informação relativa à rigidez da junta [11]. A
compressibilidade do material, assim como a espessura da junta, deve ser adequada à rigidez,
rugosidade e irregularidades dos membros da ligação [4]. É uma propriedade fundamental para o
correcto funcionamento da junta sendo responsável pela capacidade do material se adaptar às
irregularidades nas superfícies das flanges [15]. Bickford [2] considera que mais importante que a
compressibilidade é a recuperação. A recuperação é uma medida da recuperação de espessura da
junta quando a carga imposta é reduzida ou totalmente retirada. À perda de tensão devido ao
relaxamento e fluência da junta deve estar associada uma recuperação de espessura suficiente para
que a junta se continue a adaptar às irregularidades das flanges.
2.4.5. Procedimento de Montagem
Para que a junta se comporte de acordo com os parâmetros para os quais foi projectada, deve
proceder-se à sua colocação com procedimentos adequados. Para tal, é necessário considerar as
condições dos membros da ligação, a sua dureza, a lubricidade das superfícies, a calibração das
ferramentas, a acessibilidade dos parafusos, a tensão requerida, a sequência de aperto apropriada,
etc. [3]. De seguida, descrevem-se de forma sumária os principais aspectos associados à montagem.
2.4.5.1. Ferramentas Necessárias
Para instalação das juntas são necessárias ferramentas não só para aplicar a tensão nos
parafusos, mas também para limpar as flanges. A tensão nos parafusos é aplicada recorrendo a
chaves dinamométricas que permitam controlar o torque aplicado. Para medir a tensão aplicada
podem utilizar-se micrómetros ou medidores ultrasónicos para medir a extensão dos parafusos [3].
Em alguns casos, dependendo da complexidade e/ou tamanho dos elementos a ligar, poderão ser
necessárias outras ferramentas para auxiliar a montagem.
A exigência de que os membros da ligação estejam limpos torna indispensáveis os produtos de
limpeza adequados a cada situação. A utilização de solventes para remoção de sujidades que
tenham aderido às superfícies das flanges (restos de uma junta anteriormente utilizada, por exemplo)
é muitas vezes necessária.
Por vezes, o procedimento de montagem é um processo que envolve alguma sujidade e em que
devem considerar-se questões de segurança. Assim, em alguns casos, deve usar-se roupa
apropriada, capacete, óculos de protecção e luvas [3].
2.4.5.2. Inspecção dos Elementos da Ligação
As superfícies das flanges de ligação não devem ter qualquer defeito grave, uma vez que nem
uma junta perfeita garantirá a selagem numa ligação com flanges danificadas. Na tabela 2.6 são
indicados os pormenores a verificar aquando a inspecção visual dos elementos da ligação.

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Tabela 2.6 – Inspecção visual dos elementos de uma ligação com junta [3]
Parafusos / Porcas / Anilhas - Depois de limpos deve assegurar-se que não possuem
defeitos, tais como fendas ou acabamentos grosseiros.
Flanges da Ligação
- As superfícies não devem apresentar rasgos radiais,
encurvamentos ou outros defeitos;
- Deve assegurar-se o paralelismo adequado entre os
membros da ligação bem com a sua planeza.
Junta
- Confirmar que a junta é apropriada ao serviço (tamanho,
espessura, resistência à temperatura,...);
- Examinar a junta antes da instalação para garantir que não
apresenta defeitos.
2.4.5.3. Tensão Requerida
Apesar dos desenvolvimentos que têm surgido nesta área (como o controlo da tensão nos
parafusos, dispositivos de tensão hidráulicos, análise ultrasónica da extensão dos parafusos, etc.) o
controlo do binário aplicado aos parafusos continua a ser o método mais utilizado para controlar a
tensão aplicada na junta [3].
A relação entre o binário aplicado e a força de aperto é dada pela seguinte expressão [30]:
𝑇 = 𝐾 ×𝐹𝑖
𝑁º𝑝𝑎𝑟𝑎𝑓𝑢𝑠𝑜𝑠× 𝑑 (4)
onde T é o binário aplicado, K o factor de atrito entre o parafusos e as flanges, Fi a pré-tensão a que
ficam sujeitos os parafusos e d o diâmetro dos parafusos. A tabela 2.7 apresenta alguns valores
característicos do coeficiente K.
Tabela 2.7 – Valores característicos do coeficiente K [30]
Acabamento do Parafuso K
Não-Revestido 0,3
Zincado 0,2
Lubrificado 0,18
Cadmiado 0,16
Bowman Anti-Fricção 0,12
Com porcas Bowman Grip 0,09
Determinando a área de contacto, Ac, da junta com as flanges antes do aperto, calcula-se a tensão
de compressão na junta, σ, fazendo:
𝜎 =𝐹𝑖𝐴𝑐
(5)
A determinação da tensão nos parafusos é feita recorrendo à seguinte expressão:
𝜎𝑏 =𝐹𝑖𝐴𝑏
(6)
onde σb e Ab são a tensão e área da secção transversal do parafuso, respectivamente.

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2.4.5.4. Sequência de Aperto Adequada
Só com uma sequência de aperto adequada é possível distribuir uniformemente a tensão aplicada
nas juntas. É recomendado que se apertem os parafusos de forma cruzada caso contrário há o risco
de provocar a perda de paralelismo entre as flanges. As juntas podem até ter a capacidade de
compensar pequenas quantidades de distorção entre as flanges, mas dificilmente o farão se as
flanges estiverem longe da condição de paralelismo pretendida [3]. As figuras 2.20 e 2.21, ilustram as
sequências de aperto adequadas para diferentes números de parafusos e diferentes geometrias,
aplicando o modelo do aperto cruzado dos parafusos (em inglês, cross-bolting).
Figura 2.20 – Sequências de aperto para configurações circulares [3]
Figura 2.21 – Sequências de aperto para configurações de geometria diversa [34]

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As figuras 2.20 c) e 2.21 d) representam o caso de uma geometria circular com 16 parafusos.
Contudo, apesar de em ambos os casos se seguir o modelo de aperto cruzado, a sequência de
aperto difere a partir do 5º parafuso. Enquanto que na figura 2.20 c) se apertam primeiro os parafusos
situados nas posições intermédias, na figura 2.21 d), depois de apertados os primeiros 4 parafusos, é
aplicado o binário de aperto aos parafusos adjacentes aos já apertados, mas seguindo sempre o
aperto cruzado.
No documento da ESA/FSA em referência [3], também é indicado que deve aplicar-se o torque em
pelo menos cinco (5) passos, sendo o primeiro o aperto à mão, o segundo aplicando um aperto igual
a 30% do aperto final pretendido, o terceiro até 60% e o quarto o aperto total requerido. Nestes
passos deve seguir-se a sequência de aperto recomendada, conforme ilustrado nas figuras 2.20 e
2.21, enquanto que no quinto passo se aplica novamente o aperto total pretendido, mas na direcção
dos ponteiros do relógio. Noutra referência [4] apenas são recomendados 2 a 3 passos.
2.4.5.5. Especificações para Instalação de Juntas
Resumindo a informação dada relativa à correcta instalação de juntas, Brink et al. [4] avançam
com um conjunto de especificações para a colocação correcta de juntas. As recomendações são as
seguintes:
Garantir que os membros da ligação estão limpos e que o acabamento superficial das superfícies
está de acordo com o exigido;
Limpar os furos dos parafusos das flanges;
Verificar se a junta apresenta algum dano antes de proceder à instalação;
Garantir que a junta se adequa à aplicação (compatibilidade geométrica);
Utilizar parafusos lubrificados. A rosca e a superfície inferior dos parafusos deve ser lubrificada;
Assegurar que a extremidade inferior dos parafusos não entra em contacto com as flanges;
Especificar o binário de aperto requerido e utilizar chaves dinamométricas;
Especificar e aplicar a sequência de aperto recomendada. Deve aplicar-se o binário total em duas
ou três etapas.
2.4.5.6. Procedimento de Desmontagem
Para remoção das juntas, são indicadas algumas regras que importa referir. Antes de mais, e para
que o processo de desmontagem seja feito em segurança, deve assegurar-se que o sistema onde as
juntas estão instaladas se encontra despressurizado. Depois, deve seguir-se um procedimento
inverso ao de montagem, ou seja, os parafusos devem ser desapertados de forma inversa à de
montagem e em vários passos. No caso da junta ficar colada, a limpeza deve ser feita com escovas
de material mais macio que as flanges para que a superfície destas não fique danificada [3].
2.4.6. Projecto de Juntas
A selecção das juntas divide-se em dois passos. Primeiro deve proceder-se à selecção criteriosa
dum material que garanta a compatibilidade química com o meio a selar e que suporte as

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temperaturas de serviço. Como segundo passo, devem verificar-se a tensão mínima de selagem e a
pressão interna. Para cumprir este segundo passo são propostos os métodos ASME, Whalen e Reis
et al. [35] que a seguir se apresentam.
2.4.6.1. Método do Código ASME
O código ASME é utilizado principalmente para o projecto de juntas em reservatórios de pressão,
sendo o método mais utilizado nesta área [36].
Este método baseia-se na utilização de dois coeficientes, m e y, que dependem do material da
junta e que se apresentam no Quadro 1 do Anexo C. A ASME define estes dois coeficientes da
seguinte forma [2]:
m – frequentemente designado como factor de manutenção da junta, está associado à pressão
hidrostática do meio e ao tipo de ligação utilizado no sistema;
y – tensão mínima de selagem que é associada particularmente ao material da junta e só é afectado
pela montagem inicial do sistema [psi].
De notar, que o factor m é essencialmente um coeficiente que, multiplicado pela pressão, leva a
um aumento da força de aperto dos parafusos, procurando garantir desta forma que as forças
internas de pressão não provocam uma separação das flanges que conduza ao aparecimento de
fugas. Estes coeficientes foram determinados em 1937 [4] e apesar de alguma objecção quanto aos
seus valores específicos continuam a ser utilizados. Outra nota importante é que o código ASME
utiliza o sistema inglês, mas pode utilizar-se o sistema métrico sempre que desejável.
São utilizadas duas equações [4,36] para determinar a tensão requerida a aplicar nos parafusos,
devendo ser utilizada no projecto a que apresentar um resultado maior, i.e. máx {Wm1, Wm2}.
𝑊𝑚2 = 𝜋 ∙ 𝑏 ∙ 𝐺 ∙ 𝑦 (7)
𝑊𝑚1 =𝜋
4× 𝐺2 ∙ 𝑃 + 2𝑏 ∙ 3,14 ∙ 𝐺 ∙ 𝑚 ∙ 𝑃 (8)
onde Wm2 é a carga inicial requerida sem actuação da pressão interna do sistema [lb]; Wm1 a carga
requerida nas condições mais severas de funcionamento do sistema [lb]; G é, dependendo do valor
de b0 (parâmetro apresentado no Quadro 2 do Anexo C), o diâmetro médio ou externo da superfície
de contacto da junta [in]; P é a pressão máxima de serviço admissível [psi]; b é a largura da superfície
de contacto da junta assente na flange [in].
O cálculo do diâmetro dos parafusos [4,36] baseia-se na pré-tensão requerida e no binário a
aplicar e é efectuado recorrendo a uma das seguintes expressões:
𝑊𝑏 =𝑇
0,17∙𝐷, para parafusos lubrificados (9)
𝑊𝑏 =𝑇
0,2∙𝐷, para parafusos não-lubrificados (10)

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onde Wb representa a carga por parafuso, D o diâmetro dos parafusos [in] e T o binário [lb.in]. Nas
ligações com mais do que um parafuso tem de multiplicar-se Wb pelo número de parafusos para obter
a carga total. A determinação do diâmetro dos parafusos baseada na carga aplicada e na tensão
admissível para uma dada classe dos parafusos é feita recorrendo à expressão:
𝑊𝑏 = 𝑆𝑏 ∙ 𝐴𝑏 (11)
onde Sb é a tensão admissível para uma dada classe de resistência do parafuso [psi] e Ab é a área de
secção mínima do parafuso [in2].
Como os factores m e y não são revistos há mais de 50 anos, o PVRC tem desenvolvido testes
para obtenção de informação relativa a fugas em ligações com juntas, com vista a determinar
constantes das juntas com maior significado na sua caracterização. Também se têm procurado
desenvolver as bases para um teste à estanquicidade das juntas em condições de aperto que seja
mais significativo [4].
2.4.6.2. Método Simplificado de Whalen
O método de Whalen também se baseia na tensão de selagem mínima Sg e na pressão interna P1
do sistema para determinar a carga total dos parafusos. Este método acaba por seguir a mesma linha
do código ASME, mas simplificando as equações uma vez que considera toda a largura de contacto
da junta [4,36]. A aplicação deste método obriga a satisfazer duas condições: a força Fg deve ser
suficiente para assentar a junta na superfície das flanges assim com para prevenir que as flanges se
afastem devido à pressão interna causando fugas. Deste modo, obtém-se:
𝐹𝑏 = 𝑆𝑔 ∙ 𝐴𝑔 (12)
equação que implica que a carga dos parafusos seja suficiente para acomodar a junta às superfícies
dos membros da ligação quando as pressões internas são desprezáveis e onde Fb representa a força
total dos parafusos [lb], Sg a tensão mínima de selagem e Ag a área de contacto da junta; e
𝐹𝑏 = 𝑛𝑃1 ∙ 𝐴𝑚 (13)
sendo que esta equação já considera a pressão interna do sistema com P1 a definir a pressão interna,
Am a área onde a pressão interna é aplicada (baseada, normalmente, no diâmetro médio da junta) e n
um factor de segurança que assume os valores apresentados na tabela 2.8.
Tabela 2.8 – Coeficientes de segurança para ligações com juntas ([adaptado de [4])
Factor de segurança n Aplicação
1,2 a 1,4 Para aplicações pouco exigentes em que todos os factores são cuidadosamente controlados, com temperaturas que não excedam os 120ºC e onde são aplicadas tensões de prova adequadas.
1,5 a 2,5
Para a maioria dos casos em que o peso não é um factor decisivo, as vibrações são moderadas e com temperaturas até aos 400ºC. Para parafusos não lubrificados devem usar-se coeficientes perto dos 2,5.
2,6 a 4,0 Para casos com variações extremas de pressão, temperatura ou vibração e onde é difícil assegurar tensões uniformes nos parafusos.

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2.4.6.3. Determinação da Segurança de uma Ligação Aparafusada com Junta [35]
Neste método começa-se por estipular que a força exercida sobre as flanges, Fm, deve ser
superior à força mínima requerida para garantir a selagem, F0, o que se traduz na expressão:
𝐹𝑚 > 𝐹0 (14)
De acordo com Shigley [30] a força Fm é dada pela expressão:
𝐹𝑚 = 𝐹𝑖 − (1 − 𝐶) ∙ 𝑄 (15)
onde Fi representa a pré-tensão aplicada, C a rigidez adimensional da ligação e Q as forças externas
às quais a ligação está sujeita. Deste modo, considerando agora um factor de segurança n, vem:
𝐹0 = 𝐹𝑖 − (1 − 𝐶) ∙ 𝑛 ∙ 𝑄 (16)
Assim, por manipulação algébrica da equação (16), é possível determinar o factor de segurança da
ligação, n, que deve ser sempre maior que 1.
𝑛 =𝐹𝑖 − 𝐹0
(1 − 𝐶) ∙ 𝑄 (17)
2.4.6.4. Outros Métodos
As alterações que se têm promovido no código da ASME levaram à determinação de novas
constantes características das juntas. Apesar de na bibliografia consultada não constar o novo código
da ASME, sabe-se que vai providenciar novas constantes que poderão ser utilizadas no projecto das
juntas e que serão fornecidas pelos fabricantes de juntas [4]. Apresenta-se de seguida uma breve
descrição sobre o assunto.
a) Cálculo da Carga nos Parafusos com Base na Estanquicidade da Junta
As novas constantes devem ser utilizadas em ligações onde é importante considerar uma taxa de
fugas mínima [3,36]. Para utilização deste método é necessário introduzir três novos conceitos:
estanquicidade, parâmetro de estanquicidade (Tp) e taxa de fuga normalizada.
O parâmetro Tp é uma medida da estanquicidade proporcional à pressão e inversamente
proporcional à raiz quadrada da taxa de fuga.
𝑇𝑝 = 𝑃
𝑝𝑎𝑡𝑚
1
𝐿𝑟
0,5
(18)
onde P é a pressão interna [psi], patm a pressão atmosférica [psi] e Lr a taxa de fuga [mg/s]. Desta
forma, um valor de Tp mais alto corresponde a uma ligação mais estanque. Assim como, por
interpretação da expressão (18), se conclui que uma junta 10 vezes mais estanque, apresenta taxas
de fuga 100 vezes menores.

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O facto do projecto da ligação ser feito considerando uma taxa de fuga mínima, obrigou a fixar um
valor para essa taxa. Uma taxa de fuga de 1/2480 lb/h por polegada do diâmetro exterior da junta foi
definido como taxa de fuga admissível. Deste modo,
𝑇𝑝𝑚𝑖𝑛 = 0,1243 ∙ 𝑃 (19)
Por consulta dum gráfico semelhante ao da figura 2.22, que representa a relação típica entre o
parâmetro Tp e a tensão na junta, pode determinar-se a tensão mínima de selagem.
Figura 2.22 – Tensão de selagem vs Parâmetro de estanquicidade [21]
b) Cálculo da Carga nos Parafusos Utilizando Tpmin, Gb, a e Gs
As constantes Gb, a e Gs são utilizadas para calcular a carga a aplicar aos parafusos e têm o
mesmo significado que Wm1 e Wm2 têm no código ASME. Estas constantes são determinadas com
base na interpretação da informação obtida em testes à taxa de fuga que relacionam a tensão Sg
aplicada na junta com o parâmetro de estanquicidade Tp [4,36].
Gb e a são constantes com o mesmo significado que o coeficiente y do código ASME, ou seja,
definem a tensão mínima de selagem com base em dados obtidos em testes efectuados ao material
das juntas. Gs está associado à parte operacional dos testes de estanquicidade a que são submetidas
as juntas, em que são descarregadas e comprimidas novamente enquanto é medida a taxa de fugas.
Comparando com o código ASME a constante Gs é análoga ao coeficiente m.
Definidas as constantes, o valor mínimo do parâmetro de estanquicidade Tpmin é dador por:
𝑇𝑝𝑚𝑖𝑛 = 0,1243 ∙ 𝑐 ∙ 𝑃 (20)
com c a depender da classe de estanquicidade da junta.

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A tensão de selagem Sya requerida para assegurar que o Tpmin é atingido é dada pela expressão:
𝑆𝑦𝑎 =𝐺𝑏
𝑒× 1,5 ∙ 𝑇𝑝𝑚𝑖𝑛
𝑎 (21)
com e = ¾ para aperto manual e valores mais altos para outros métodos de montagem.
A determinação da tensão mínima de projecto Sm é obtida recorrendo à seguinte expressão:
𝑆𝑚 =𝑆𝑦𝑎
1,5−𝑝 ∙ 𝐴𝑖
𝐴𝑔
(22)
onde Ai é a área sujeita à pressão interna.
Para determinar a carga requerida, Wm, a aplicar nos parafusos tendo em conta as condições de
funcionamento utiliza-se a expressão
𝑊𝑚 = 𝑃 ∙ 𝐴𝑖 + 𝑆𝑚 ∙ 𝐴𝑔 (23)
que significa que os parafusos são carregados com a tensão necessária para igualar as forças de
pressão internas acrescida da tensão que é necessário aplicar na junta para garantir a selagem.
2.4.6.5. Recomendações relativas à geometria das Juntas
No projecto de juntas deve assegurar-se que a distribuição dos parafusos é adequada, garantindo
que não existem regiões onde a selagem é insuficiente [2,4]. A figura 2.23 ilustra uma ligação onde
estão patentes casos de selagem insuficiente devido a uma incorrecta distribuição dos parafusos.
Figura 2.23 - Exemplos de selagem insuficiente devido à inadequada distribuição dos parafusos [4]
Outra recomendação a considerar prende-se com os furos da junta onde são colocados os
parafusos. Cerca de 80% da carga do parafuso está concentrada na área ao redor do parafuso, pelo

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que alterações na geometria da junta semelhantes à ilustrada na figura 2.24 são recomendadas para
reduzir a possibilidade de ruptura da junta [4]. A aplicação de reforços, como se verifica na figura
2.25, é outra solução possível para eliminar este problema.
Figura 2.24 – Alteração do design da junta para prevenir ruptura junta aos furos [4]
Figura 2.25 – Pormenor de junta reforçada
2.4.7. Avaliação do Desempenho das Juntas
A avaliação do desempenho de uma junta é realizada não só com base na sua performance
quando instalada em determinada aplicação, mas também nos resultados decorrentes de testes de
índole diversa realizados aos materiais usados nas juntas. O documento da Garlock [34] indica como
factores decisivos para um bom desempenho das juntas que estas sejam capazes de selar o fluido;
que resistam quimicamente ao fluido, não exibindo uma degradação significativa das suas
propriedades físicas; que se deformem o suficiente de forma a se adaptarem às superfícies das
flanges, promovendo desta forma o contacto da junta com toda a superfície das flanges; que resista à
temperatura sem que se verifique uma perda das suas propriedades; que seja resiliente e resistente à
fluência, para que seja capaz de reter uma quantidade adequada da carga aplicada inicialmente; que
tenha uma tensão de rotura à compressão suficiente para suportar as cargas aplicadas; que não
contamine o fluido a selar; que não provoque a corrosão das superfícies de contacto; que seja fácil de
remover, isto é, que não revele uma aderência excessiva ao sistema.
Os testes da ASTM para caracterização e avaliação das juntas vão de encontro aos factores
indicados pela Garlock. Os volumes 09.01 e 09.02 das normas ASTM especificam um conjunto de
testes para avaliação de juntas e para caracterização dos materiais que resultam de anos de
investigação nesta área.
A norma UL 157 [37] também indica um conjunto de testes que devem ser efectuados no intuito de
avaliar a capacidade de determinados materiais serem utilizados como juntas. Os testes indicados
são similares aos desenvolvidos pela ASTM e ajudam a caracterizar a capacidade dos materiais em
cumprir os requisitos referidos pela Garlock [34].

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Os sub-capítulos que se seguem abordam os factores considerados determinantes para o
desempenho adequado das juntas bem como os testes desenvolvidos para caracterizar a sua
compatibilidade com determinada aplicação.
2.4.7.1. Verificação de Fugas
Sendo a principal função da junta evitar fugas é de extrema importância que o material utilizado
garanta a estanquicidade do sistema. A norma ASTM F 37 [38] indica dois métodos, A e B, que
consistem em comprimir uma junta anelar entre duas flanges de determinado equipamento, introduzir
o meio a selar no centro da junta, pressurizá-lo e registar o caudal de fluido [ml/h] que se escapa
através da junta. Ambos os métodos são apropriados para testar a capacidade de selar líquidos
(recomenda-se o uso de Fuel A) e para testar a capacidade de selar gases o método B é o indicado
(recomenda-se o uso de Nitrogénio). Deste modo, é possível determinar a compressão que deve ser
aplicada à junta para que não sejam registadas fugas.
Gu et al [39], no estudo que desenvolveram na tentativa de estimar o caudal das fugas numa
ligação com juntas, utilizaram outro método para detecção de fugas que consiste em criar uma
câmara de baixa pressão ao redor da junta a testar e, utilizando a equação dos gases perfeitos (PV =
nRT), determinaram o caudal de fugas medindo as variações de pressão e temperatura na câmara. A
realização de vários testes permitiu definir uma equação para a previsão do caudal das fugas, mas
que apenas é válida para os materiais testados (fibras e grafite flexível). A equação determinada é
função das pressões interna e externa, da tensão de compressão aplicada sobre a junta e de
coeficientes obtidos a partir dos dados experimentais.
Qualquer um dos métodos indicados permite determinar as condições necessárias a que deve ser
submetido determinado material para garantir a selagem. No entanto, também é possível verificar a
existência de fugas com as juntas instaladas na aplicação a que se destinam. A utilização de
produtos que são dissolvidos no líquido a selar e que exibem fluorescência quando iluminados por luz
negra, de que é exemplo o Keytect Tracer Yellow R (produto Keystone) [40], é bastante comum na
detecção de fugas, nomeadamente em motores de combustão interna.
A inspecção visual à vista desarmada é outro método possível de verificação de fugas, mas que
só deve ser utilizado quando, de acordo com o conhecimento empírico adquirido, caudais de fuga
reduzidos não tiverem um impacto significativo no desempenho do sistema.
2.4.7.2. Compatibilidade Química
A compatibilidade química dum material para juntas pode ser averiguada através da análise da
degradação das propriedades físicas do material após imersão total num fluido. A norma ASTM F 146
[41] refere que devem ser testadas as variações da tensão de rotura à tracção, da compressibilidade
em condições suaves, da flexibilidade, do volume, do peso e da espessura. A norma ASTM F 104
[42] indica as variações máximas admissíveis para algumas destas propriedades em materiais não-
metálicos para juntas. Entende-se que o ataque químico é tanto maior quanto maiores forem as
variações das propriedades testadas.

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A norma UL 157 [37] indica as propriedades que devem ser testadas para avaliar a
compatibilidade química com vários fluidos, sendo de destacar que para a gasolina e para as
misturas de gasolina com etanol a resistência à tracção, o alongamento, a variação de volume e a
variação de peso são as características utilizadas para avaliar a compatibilidade química dos
materiais após imersão nos referidos fluidos.
Stevens [43], no seu estudo para a DuPont em que analisa a resistência de fluorelastómeros a
misturas de fuel C com etanol, procede a testes de 168 horas de variação da tensão de rotura,
extensão, dureza e de volume para avaliar a compatibilidade química destes fluorelastómeros com as
referidas misturas.
Num artigo da FSA [44] são indicados os sintomas típicos de uma junta que tenha sofrido os
efeitos de ataque químico. O artigo refere que as juntas ficam baças, esfareladas, perfuradas (com
aspecto semelhante às perfurações de uma colmeia) e até fracturadas em algumas regiões. As
figuras 2.26 a) e b) mostram o aspecto típico de uma junta que tenha sofrido ataque químico.
Figura 2.26 – Juntas em que se verificam sintomas de ataque químico [44]
2.4.7.3. Resistência à Temperatura
Um composto que seja compatível com determinado químico à temperatura ambiente pode não
resistir ao ataque químico a temperaturas elevadas [45]. Um dos sintomas típicos da falha térmica
das juntas é o aparecimento de fissuras radiais que se desenvolvem do centro para o exterior da
junta [46]. A figura 2.27 ilustra este fenómeno numa junta anelar fabricada em material cerâmico.
Figura 2.27 – Fissuras radiais devido a ataque térmico [46]

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2.4.7.4. Aderência aos Membros da Ligação
A norma ASTM F 607 [47] especifica um método para medir a aderência de materiais de juntas a
superfícies metálicas. Consiste em comprimir o material da junta entre duas placas metálicas planas
nas condições em que se pretenda determinar o grau de aderência. É registada a força necessária
para separar as placas e determinada a tensão, em MPa, que é uma medida da aderência do
material às superfícies metálicas.
Aquando o procedimento de substituição as juntas não devem ser difíceis de remover nem deixar
resíduos colados às superfícies das flanges. Na figura 2.28 é possível visualizar pedaços de uma
junta de fibra de papel para um carburador e de uma junta em grafite para a cabeça do motor que
ficaram colados ao equipamento.
Figura 2.28 – Aderência de juntas: a) fibra de papel; b) grafite
2.4.8. Fabrico e Armazenamento de Juntas
Neste sub-capítulo são descritos resumidamente os processos normalmente utilizados no fabrico
de juntas e indicadas algumas recomendações relativas ao correcto armazenamento de juntas.
a) Corte em matrizes com réguas de aço
Este tipo de corte é geralmente utilizado para cortar juntas não-metálicas com tolerâncias
superiores a ±0,3 mm, podendo ser utilizadas para a produção de pequenas e grandes séries. É um
processo económico e que pode ser aplicado utilizando prensas de vários tipos. Também é aplicável
a metais de baixo calibre [4].
b) Corte com matriz e punção de aço
Este é um processo mais dispendioso que o anterior devido ao custo acrescido das ferramentas,
mas garante uma maior precisão dimensional no fabrico das juntas com tolerâncias de ±0,05 mm. É
utilizado na produção de grandes séries onde se exige elevada precisão dimensional e para metais
com 0,25 mm ou mais de espessura [4].

- 41 -
c) Corte por descarga eléctrica
A grande limitação deste processo é a sua aplicabilidade exclusiva a metais ferrosos. É um
processo de elevada precisão em que as folhas do material das juntas são empilhadas com
espessuras entre os 25 mm e os 50 mm e cortadas simultaneamente. É adequado à produção de
protótipos ou de pequenas séries, mas é um processo lento e dispendioso [4].
d) Corte a laser
Processo de corte bastante rápido, mas também bastante caro. As juntas são normalmente
cortadas a partir de uma folha do material e deve recorrer-se ao processo de nesting que consiste em
dispor o conjunto de juntas sobre a folha de material com uma configuração tal que permita um
melhor aproveitamento da matéria-prima. Apesar de permitir a imposição de tolerâncias apertadas
(±0,05 mm) deixa uma pequena marca de escória devido à operação de queima promovida pelo
laser. É aplicável à maioria dos materiais [4].
e) Corte por jacto de água
Método bastante económico, mas com menos precisão que o laser, já que a tolerância
dimensional é de ±0,25 mm. Caracteriza-se por ser um processo de corte rápido em que as folhas de
material podem ser empilhadas de forma a aumentar as taxas de produção. Tal como no laser o
nesting é aplicável o que permite um melhor aproveitamento do material [4].
Relativamente ao armazenamento de juntas, o documento da ESA/FSA [3] faz algumas
recomendações com vista à conservação das juntas não-metálicas quando são guardadas para
posterior utilização. É indicado que devem ser armazenadas num local fresco e seco, sem serem
expostas à luz solar directa e sem entrarem em contacto com água, óleo ou com produtos químicos.
Devem ser acondicionadas em locais planos e não devem ser penduradas sob o risco de originar
distorção. É recomendado ainda que não sejam submetidas a qualquer esforço mecânico e que
sejam mantidas limpas.

- 42 -
CAPÍTULO 3
3. EQUIPAMENTO E METODOLOGIA EXPERIMENTAL
Os ensaios experimentais e os testes de validação realizados decorreram na secção de
Desenvolvimento de Novos Produtos (DNP) da Amorim Cork Composites (ACC), em Stª Marta de
Corroios, empresa certificada pela norma NP EN ISO 9001:2000. A produção dos materiais testados
foi realizada na área de produção da empresa de acordo com o fluxograma da figura 2.6. Já o corte
das juntas testadas no motor Honda foi efectuado na divisão da ACC sita em Mozelos utilizando a
tecnologia do corte por jacto de água.
Neste capítulo são descritas as características do equipamento utilizado e feita uma breve
descrição da metodologia seguida sendo que, quando aplicável, é referida a norma ASTM pela qual
se regem os testes.
3.1. Equipamento Utilizado
Aquando da realização do trabalho experimental utilizaram-se diversos equipamentos e aparelhos
como por exemplo, o motor Honda GCV 160, o equipamento necessário à realização dos testes de
validação de juntas nos carburadores, chaves dinamométricas, um durómetro e um comparador de
espessuras. Algumas características do motor Honda e do equipamento de teste de juntas em
carburadores foram determinadas após medições efectuadas durante os testes, pelo que só no
capítulo 4, dedicado à análise e apresentação de resultados, são apresentadas.
A realização de todo o trabalho experimental implicou a utilização de outro tipo de acessórios e
ferramentas, dos quais se destacam balanças digitais, paquímetros e micrómetros, apalpa-folgas,
verificadores de rosca, chaves diversas, varão roscado e um multímetro para medição de
temperatura.
3.1.1. Chaves Dinamométricas
Para controlar o aperto dado aos parafusos e para aplicar o método interno da ACC denominado
Pull-Up Torque, utilizaram-se chaves dinamométricas. A chave utilizada para o aperto dos parafusos
do motor é uma chave de leitura analógica da marca Craftsman, graduada em Nm e em lbf.in, e que
permite controlar o binário de aperto aplicado para alguns valores entre 3,6 Nm e 28,25 Nm.
O aperto dado aos parafusos da aplicação de teste dos carburadores e as medições obtidas pelo
método do Pull-Up Torque são efectuadas com uma chave analógica Tohnichi DB 25N, com uma
precisão de 0,5 Nm e que permite controlar o binário para uma gama de valores entre 3 Nm e 25 Nm.
As figuras 3.1 a) e b) representam as duas chaves utilizadas.

- 43 -
Figura 3.1 – a) Chave Craftsman; b) Chave Tohnichi
3.1.2. Durómetro
A medição das variações de dureza foi efectuada recorrendo a um durómetro Shore A digital
ilustrado na figura 3.2.
Figura 3.2 – Durómetro Shore A
3.1.3. Comparador de Espessura
As variações de espessura foram determinadas com recurso a um comparador de espessura
digital com precisão até à centésima do milímetro. O comparador é semelhante ao representado na
figura 3.3.
Figura 3.3 – Comparador de espessuras digital

- 44 -
3.2. Metodologia Experimental
O trabalho experimental desenvolvido regeu-se pelos métodos internos da ACC podendo ser
dividido em três grupos: 1) os testes de compatibilidade química, em que se procurou estabelecer os
padrões de resposta de materiais em cortiça com borracha quando em contacto com gasolina e
misturas de gasolina com etanol; 2) os testes de validação de juntas em carburadores, que visaram
analisar o desempenho das juntas no seu estado típico de compressão quando em contacto com
misturas de gasolina com etanol; 3) os testes de validação num pequeno motor a gasolina, que
permitiram tirar algumas conclusões sobre o desempenho das juntas de cortiça com borracha nas
condições de serviço a que se destinam. Relativamente ao teste das juntas nos carburadores,
convém notar que o teste realizado no motor se diferencia por sujeitar as juntas a temperaturas
superiores à temperatura ambiente e a vibrações significativas.
3.2.1. Metodologia para os Testes de Compatibilidade Química
Com base nos métodos de avaliação à compatibilidade química de juntas encontrados na
bibliografia consultada, procedeu-se a ensaios de variação de dureza, volume, espessura e peso
após imersão de provetes em gasolina e em misturas de gasolina com etanol, durante 168 horas e à
temperatura ambiente. Estes testes foram realizados de acordo com métodos internos da ACC que
se baseiam em normas ASTM e na norma UL 157.
A tabela 3.1 indica os testes realizados e as normas que serviram de referência à sua execução.
No Anexo A é apresentada com maior detalhe a metodologia de cada um destes testes.
Tabela 3.1 – Testes de compatibilidade química realizados e documentos de referência
Teste Efectuado após imersão
Duração da imersão
Documentos de Referência
Variação de Dureza 168 horas
(temperatura
ambiente)
ASTM D 2240 [48] e UL 157 [37]
Variação de Volume ASTM D 471 [49], ASTM F 146 [41] e
UL 157[37]
Variação de Espessura ASTM F 146 [41]
Variação de Peso ASTM D 471 [49] e ASTM F 146 [41]
3.2.2. Metodologia para os Testes de Validação de Juntas Sujeitas ao Líquido sob Pressão
Estacionária em Três Carburadores
Os testes de validação de juntas nos carburadores devem seguir a metodologia que a seguir se
apresenta:
Inspeccionar as flanges da ligação;
Determinar a geometria das juntas com base nas juntas de origem dos carburadores;
Cortar, com um x-acto, as juntas em cortiça-borracha a partir de folhas do material;
Acoplar os carburadores com as juntas ao reservatório, aplicando o binário indicado na tabela 4.6.
Apertar os parafusos em 3 passos; A figura 3.4 ilustra a colocação das juntas.
Ligar as tubagens aos carburadores e à bomba;
Preparar a mistura de gasolina com etanol numa proveta;
Vazar a mistura no reservatório e tapar o reservatório;

- 45 -
Ligar o transformador à bomba;
Abrir a válvula da bomba e registar a hora do início do ensaio;
Acompanhar periodicamente o ensaio para detecção de eventuais fugas;
A detecção de fugas é efectuada por inspecção visual, verificando se a orla exterior da junta se
encontra humedecida. Adicionalmente pode também colocar-se um papel por baixo dos carburadores
de forma a detectar pingos da mistura que escapem entre as flanges.
Findas 100 horas desligar a bomba, o transformador e as tubagens;
Aplicar o método do Pull-Up Torque aos parafusos dos carburadores e registar o torque;
O método Pull-Up Torque consiste em desapertar ligeiramente os parafusos da ligação e voltar a
apertá-los rodando a chave dinamométrica até à posição inicial. Então, é medido o binário aplicado, o
que permite aferir o aperto retido na ligação após funcionamento. Esta operação é realizada com a
chave dinamométrica Tohnichi.
Inspeccionar as juntas visualmente para detecção de eventuais sinais de degradação (como
indicado no sub-capítulo 2.4.7.2). Além da observação à vista desarmada, pode também efectuar-
se observação microscópica.
Figura 3.4 – Colocação das juntas nos carburadores
Importa referir que este é um teste de validação, do tipo passa/não-passa, e que no que respeita
ao impacto químico que o biocombustível tem na junta servirá para legitimar ou contestar os
resultados dos testes de variação de dureza, volume, espessura e peso. Se a junta não apresentar
sinais evidentes de degradação e/ou fugas devido a essa mesma degradação, considera-se que
cumpriu os requisitos de funcionamento.
3.2.3. Metodologia para os Testes de Validação de Juntas com Motor em Funcionamento
Questões de índole funcional, como a necessidade de reabastecer o motor e de acompanhar os
testes para resolver qualquer eventual problema que ocorresse durante o ensaio, não permitiram que
os testes de 100 horas fossem realizados em contínuo. Como tal, o motor só funcionava durante o
período laboral realizando entre 8 a 10 horas diárias.
São vários os passos e tarefas a desempenhar para levar a cabo os testes no motor. Alguns
destes passos obrigam a procedimentos de tentativa/erro e a dificuldade em garantir que tudo corra

- 46 -
bem à primeira torna o processo moroso. Com vista a esclarecer toda a metodologia seguida os
testes podem ser divididos nas seguintes tarefas:
Identificação das ligações com juntas;
Desmontagem do motor e identificação do tipo de juntas, da sua espessura e dos parafusos
utilizados (classe de resistência, diâmetro, passo,...);
Limpeza da superfície das flanges com escovas e solvente;
Identificação das superfícies das flanges e projecto do desenho das juntas;
As juntas foram desenhadas com base nas juntas originalmente instaladas no motor e no design
das superfícies das flanges. Utilizando paquímetros, micrómetros e réguas graduadas mediram-se as
juntas originais e as superfícies das flanges de forma a puder desenhar as juntas. Depois de
impressos, os desenhos foram recortados, comparados com as juntas originais e colocados sobre as
superfícies das flanges. Até o acerto ser o desejado foram feitas correcções aos desenhos. De notar
que o desenho das juntas obedeceu a algumas das recomendações indicadas na secção 2.4.6.4 com
vista a diminuir o risco de falha das juntas.
A figura 3.5 ilustra o procedimento seguido que pode definir-se como um processo de engenharia
inversa.
Figura 3.5 – Projecto do design das juntas: a) Desenho em CAD; b) Recorte da junta em papel;
c) Verificação da concordância com a superfície das flanges
Nesting do conjunto de juntas do motor;
Depois de desenhadas o conjunto de juntas deve proceder-se ao nesting para um melhor
aproveitamento da matéria-prima.
Determinação da área de contacto das juntas recorrendo ao software de desenho;
Determinação da tensão de compressão aplicada às juntas utilizando as expressões (4) e (5);
Determinação da distorção entre as flanges da ligação;
A distorção entre as flanges é medida seguindo um método interno da ACC que consiste em ligar
os membros das ligações com juntas sem a junta instalada e com o binário indicado no manual do
motor. Em seguida, utilizando um apalpa-folgas, mede-se o espaçamento entre flanges devido à falta

- 47 -
de paralelismo entre elas. O aperto dos parafusos deve ser feito em pelo menos 3 passos e de
acordo com a metodologia indicada na secção 2.4.5.4.
Determinação da espessura das juntas;
Na ACC a metodologia utilizada para selecção da espessura das juntas passa por relacionar a
tensão de selagem do material com a distorção das flanges da ligação. A tensão de selagem do
material é determinada seguindo um método interno da ACC que se baseia na norma ASTM F 37
[39]. Neste método é também considerada uma taxa de fugas mínima para estabelecer o parâmetro
de estanquicidade Tp das juntas, conforme se explica na secção 2.4.6.3, e que visa determinar a
tensão mínima de selagem. A figura 3.6 apresenta os gráficos que relacionam a tensão de selagem
com a distorção das flanges e que permitem seleccionar a espessura das juntas. A teoria por detrás
desta representação gráfica faz parte do know-how da empresa.
Figura 3.6 - Gráficos para selecção da espessura [50]
Encomenda das juntas;
Colocação das juntas e montagem do motor;
Atestar o motor de óleo e com cerca de ¼ da sua capacidade em gasolina;
Ligar e testar as condições de funcionamento do motor;
Atestar de gasolina e iniciar teste;
Acompanhar o teste com vista à detecção de fugas e ao reabastecimento de gasolina;
A detecção de fugas é efectuada por inspecção visual, verificando se existem vestígios do líquido
a selar na orla exterior das juntas.
Medir com um termopar ligado a um multímetro as temperaturas das flanges de ligação (5
medições por junta e fazer a média);

- 48 -
Findas as 100 horas de teste, vazar o óleo do motor;
Proceder à desmontagem aplicando o método Pull-Up Torque nos parafusos das ligações com
juntas;
Inspeccionar visualmente as juntas para avaliar o seu estado após funcionamento, de acordo com
o indicado nos sub-capítulos 2.4.7.2 e 2.4.7.3. Deve igualmente verificar-se se as juntas aderem
às flanges e se deixam resíduos colados às superfícies.
3.2.3.1. Fluxograma do Processo de Validação Experimental de Juntas Planas num Motor
O fluxograma apresentado na figura 3.7, apresenta os passos mais relevantes a considerar na
aplicação da metodologia de validação de juntas num motor. Assim, depois de identificado o torque a
aplicar aos parafusos das ligações com junta, deve calcular-se a tensão de compressão a que as
juntas são submetidas utilizando as expressões (4) e (5). Seguidamente, atendendo às propriedades
do material, deve escolher-se um material cuja gama de tensão de selagem compreenda a tensão de
compressão determinada pelas expressões (4) e (5).
A determinação da distorção entre as flanges da ligação permite, tal como referido na secção
3.2.3, seleccionar a espessura das juntas que melhor se adequa às condições impostas pelo
equipamento.
Após encomenda das juntas realizam-se ensaios com a duração de 100 horas, após os quais se
deve proceder à determinação do relaxamento da ligação e à inspecção visual das juntas com vista à
identificação de eventuais sinais de desintegração das juntas.

- 49 -
Figura 3.7 – Fluxograma do processo de validação experimental de juntas planas num motor

- 50 -
CAPÍTULO 4
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo, apresentam-se os resultados obtidos aplicando os métodos descritos na
metodologia experimental, os quais são divididos de acordo com o tipo de teste realizado. Deste
modo, distinguem-se como: 1) testes de compatibilidade química; 2) testes de validação de juntas na
aplicação dos carburadores; 3) testes de validação no motor Honda.
4.1. Testes de Compatibilidade Química
Objectivo: Os testes de variação de dureza, volume, espessura e peso, cuja metodologia foi
descrita no sub-capítulo 3.2.1, tiveram o objectivo de caracterizar a compatibilidade química de quatro
(4) compósitos de cortiça-borracha com gasolina e com as misturas E5, E10, E25, E50 e E85. Estes
testes, embora forneçam informação específica relativamente às variações de cada uma destas
características, devem ser analisados como um conjunto. Quer isto dizer que um material que
apresente, por exemplo, uma excelente resistência à variação de volume, não pode ser considerado
adequado para o fabrico de juntas se a sua dureza e espessura variarem significativamente após 168
horas de imersão na mistura.
4.1.1. Propriedades dos Materiais
Testaram-se quatro (4) compostos de cortiça com borracha referenciados na ACC como indicados
para aplicações de selagem de óleos e combustíveis. Dos quatro materiais três são constituídos por
misturas de cortiça com uma borracha nitrílica e o outro resulta da mistura de cortiça com
epicloridrina. Apesar do seu desempenho na selagem de combustíveis como a gasolina e o diesel já
ser conhecido, tendo os quatro materiais reagido positivamente à imersão nestes meios, a sua
resposta às misturas de gasolina com etanol era desconhecida e requeria à realização de alguns
testes experimentais para ser determinada. Seguidamente, apresentam-se os materiais testados
identificando o tipo de borracha presente sua composição e algumas das suas características mais
relevantes.
4.1.1.1 Composto de Cortiça com Borracha Nitrílica TS1400
O TS1400 é um material de selagem composto por cortiça e NBR que, tal como já antes foi
referido, tem a grande vantagem de não ficar entumecida quando em contacto com gasolina, óleos ou
gorduras e a desvantagem de apresentar uma baixa resistência térmica. A tabela 4.1 apresenta as
propriedades deste compósito que maior importância assumem no seu desempenho como vedante e
outras que servem para uma melhor caracterização do material.

- 51 -
Tabela 4.1 – Propriedades do compósito TS 1400 [50]
Gama de Temperaturas - 30º C a 125º C
Tensão de Selagem 6,5 a 30 MPa
Tensão de Rotura à Compressão > 70 MPa
Densidade (1)
1100 Kg/m3
Dureza (2)
75 Shore A
Tensão de Rotura à Tracção (3)
6 MPa
Extensão (3)
30%
(1) ASTM D297;(2) ASTM D240; (3) ASTM D412, Die C
Seguindo o método interno da ACC denominado “Determinação do Comportamento à
Compressão” e que se baseia na norma ASTM D575 pôde construir-se um gráfico das curvas de
compressão do material para diferentes espessuras, que não é mais que um gráfico de Tensão [MPa]
vs Deflexão [mm], sendo a deflexão do material medida na direcção da espessura (Figura 4.1).
Figura 4.1 – Curvas de compressão do compósito TS 1400 para diferentes espessuras [50]
Na figura 4.2 apresenta-se uma imagem fotográfica de uma amostra do compósito TS 1400.
Figura 4.2 – Imagem Fotográfica de uma amostra do TS 1400

- 52 -
4.1.1.2. Composto de Cortiça com Borracha Nitrílica TS1800
Tal como o TS1400, também o TS1800 resulta da mistura de cortiça com uma borracha nitrílica,
diferenciando-se os compósitos pelas percentagens de borracha e de cortiça presentes na mistura.
Seguindo os mesmos métodos que para o composto anterior, determinaram-se as propriedades que
se apresentam na tabela 4.2 e construiu-se o gráfico Tensão [MPa] vs Deflexão [mm] ilustrado na
figura 4.3. Na figura 4.4 apresenta-se uma imagem fotográfica do compósito TS 1800.
Tabela 4.2 – Propriedades do compósito TS 1800 [50]
Gama de Temperaturas - 30º C a 110º C
Tensão de Selagem 4 a 20 MPa
Tensão de Rotura à Compressão > 70 MPa
Densidade (1)
950 Kg/m3
Dureza (2)
75 Shore A
Tensão de Rotura à Tracção (3)
3 MPa
Extensão (3)
60%
(1) ASTM D297;(2) ASTM D240; (3) ASTM D412, Die C
Figura 4.3 – Curvas de compressão do compósito TS 1800 para diferentes espessuras [50]
Figura 4.4 – Imagem Fotográfica de uma Amostra do TS 1800

- 53 -
4.1.1.3. Composto de Cortiça com Borracha Nitrílica TS7100
O TS7100 é também um compósito de cortiça com uma borracha nitrílica, usado na selagem de
combustíveis e óleos e com propriedades semelhantes aos outros dois materiais apresentados.
Seguindo a estrutura até agora apresentada, seguem-se a tabela de propriedades (Tabela 4.3), o
gráfico das curvas de compressão (Figura 4.5) e a imagem fotográfica (Figura 4.6) deste compósito.
Tabela 4.3 – Propriedades do compósito TS 7100 [50]
Gama de Temperaturas - 30º C a 110º C
Tensão de Selagem 2,5 a 15 MPa
Tensão de Rotura à Compressão > 70 MPa
Densidade (1)
900 Kg/m3
Dureza (2)
65 Shore A
Tensão de Rotura à Tracção (3)
2,5 MPa
Extensão (3)
25%
(1) ASTM D297;(2) ASTM D240; (3) ASTM D412, Die C
Figura 4.5 – Curvas de compressão do compósito TS 7100 para diferentes espessuras [50]
Figura 4.6 – Imagem Fotográfica de uma Amostra do TS 7100

- 54 -
4.1.1.4. Composto de Cortiça com Epicloridrina TS7110
O compósito TS7110 diferencia-se dos restantes por resultar da mistura de cortiça com
epicloridrina (ECO). As propriedades, já enunciadas, que caracterizam a ECO e testes anteriores
desenvolvidos no DNP da ACC atestam que o compósito TS7110 é o mais indicado quando o meio a
selar é gasolina, faltando avaliar o seu desempenho quando exposto a misturas de gasolina com
etanol. Na tabela 4.4 apresentam-se algumas propriedades do TS7110 e o gráfico da figura 4.7
caracteriza o comportamento em compressão deste compósito.
Tabela 4.4 – Propriedades do compósito TS 7110 [50]
Gama de Temperaturas - 35º C a 135º C
Tensão de Selagem 4 a 20 MPa
Tensão de Rotura à Compressão > 70 MPa
Densidade (1)
1100 Kg/m3
Dureza (2)
75 Shore A
Tensão de Rotura à Tracção (3)
4,5 MPa
Extensão (3)
35%
(1) ASTM D297;(2) ASTM D240; (3) ASTM D412, Die C
Figura 4.7 – Curvas de compressão do compósito TS 7110 para diferentes espessuras [50]
Figura 4.8 - Imagem Fotográfica de uma Amostra do TS 7110

- 55 -
4.1.2. Agentes Químicos
Gasolina: A gasolina é um combustível líquido e volátil que resulta de uma mistura complexa de
hidrocarbonetos e que pode ser obtida pela destilação do petróleo [51]. Os hidrocarbonetos
provocam variações das propriedades físicas dos elastómeros, nomeadamente variações de
dureza e de volume [16]. A gasolina utilizada nos vários ensaios é uma gasolina sem chumbo de
95 octanas.
Misturas E5, E10, E25 e E85: A adição de etanol promove um aumento do número de octanas da
gasolina. Estas misturas possuem maior volatilidade e provocam um aumento da permeabilidade
dos elastómeros, assim como maiores variações de volume, excepção feita ao E85 que, para
alguns materiais, é menos agressivo que a gasolina. O etanol é produzido através da fermentação
e destilação de colheitas agrícolas, nomeadamente o milho, a cevada e o trigo [16].
4.1.3. Resultados e Discussão
Os gráficos das figuras 4.9 à 4.12 apresentam as variações de dureza, volume, espessura e peso
dos quatro (4) materiais testados após imersão durante 168 horas em misturas com diferentes
percentagens de gasolina com etanol. Estes gráficos foram obtidos através da metodologia descrita
no sub-capítulo 3.2.1 e que se encontra detalhada no Anexo A deste documento.
Figura 4.9 – Variação de dureza em misturas de gasolina com etanol
-35
-30
-25
-20
-15
-10
-5
0
Gasolina E5 E10 E25 E50 E85
Va
ria
çã
o d
e D
ure
za
[S
ho
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]
Variação de Dureza (168h)
TS 1400
TS1800
TS 7100
TS 7110

- 56 -
Figura 4.10 - Variação de volume em misturas de gasolina com etanol
Figura 4.11 - Variação de espessura em misturas de gasolina com etanol
Figura 4.12 - Variação de peso em misturas de gasolina com etanol
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Gasolina E5 E10 E25 E50 E85
Va
ria
çã
o d
e V
olu
me
[%
]
Variação de Volume (168h)
TS 1400
TS1800
TS 7100
TS 7110
0
5
10
15
20
25
Gasolina E5 E10 E25 E50 E85
Va
ria
çã
o d
e e
sp
es
su
ra [
%]
Variação de Espessura (168h)
TS 1400
TS1800
TS 7100
TS 7110
0
10
20
30
40
50
60
70
Gasolina E5 E10 E25 E50 E85
Va
ria
çã
o d
e P
es
o [%
]
Variação de Peso (168h)
TS 1400
TS1800
TS 7100
TS 7110

- 57 -
O primeiro resultado a reter dos testes de compatibilidade química é que as variações de volume,
espessura e peso após imersão nos fluidos testados são positivas, isto é, o material entumece por
absorção do fluido registando um ganho destas três propriedades. Estes fenómenos, principalmente
as variações positivas de volume e espessura, são desejáveis, uma vez que o inverso pode implicar a
perda do contacto total entre a junta e as superfícies das flanges. Por outro lado, a dureza diminui,
ficando o material mais macio após imersão.
Da análise dos gráficos, retira-se rapidamente a conclusão de que misturas com baixas e médias
percentagens de etanol promovem maiores variações das propriedades físicas dos materiais (dureza,
volume, espessura e peso) que a gasolina ou o E85. Significa isto que as misturas de E5, E10, E25 e
E50 são mais agressivas, sendo mais susceptíveis de pôr em causa o funcionamento do material na
sua aplicação enquanto junta.
Seria importante, do ponto de vista da classificação da adequabilidade das juntas, quantificar a
agressividade dos diferentes fluidos de imersão. Como tal, sugere-se que se defina um factor de
agressividade (FA) que poderia ser determinado de acordo com a seguinte expressão:
𝐹𝐴 = −𝛼1 ∙ ∆𝐷𝑢𝑟𝑒𝑧𝑎 + 𝛼2 ∙ ∆𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 + 𝛼3 ∙ ∆𝐸𝑠𝑝𝑒𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 + 𝛼4 ∙ ∆𝑃𝑒𝑠𝑜 (24)
Admitindo que os coeficientes α1 e α4 assumem o valor 1 e que os coeficientes α2 e α3, por estarem
associados às variações de volume e espessura (que nas condições normais de pressão terão
menos influência), assumem o valor 0,5, é possível quantificar a agressividade do agente químico
sobre os materiais testados. O gráfico da figura 4.13 ilustra precisamente o factor de agressividade
dos vários fluidos testados, com base nos valores assumidos para os coeficientes α e nos valores das
variações de dureza, volume, espessura e peso dos testes realizados.
Figura 4.13 – Factor de agressividade dos diferentes fluidos nos compósitos testados
Outro facto que salta à vista são as maiores variações provocadas pela imersão no E5. Só a
variação de espessura do TS 1400 e a variação de peso do TS 7100 não exibem o seu pico máximo
para a imersão neste fluido, pelo que é coerente afirmar que o E5 é o combustível mais agressivo
entre os testados.
0
20
40
60
80
100
120
140
Gasolina E5 E10 E25 E50 E85
Fa
cto
r d
e A
gre
ss
ivid
ad
e (
FA
)
Factor de Agressividade
TS 1400
TS1800
TS 7100
TS 7110

- 58 -
Um dado que importa referir prende-se com o facto dos testes de imersão no E5 e no E50 não
terem sido realizados ao mesmo tempo que os testes de imersão nos restantes fluidos. Por o etanol
ser significativamente volátil e evaporar rapidamente, o tempo que demora a execução dos ensaios
realizados é uma variável que deve ser considerada, devendo as medições ser o mais rápidas
possível. Embora seja admissível que o E5 seja o combustível mais nocivo para os materiais, uma
vez que a generalidade dos testes revelou uma tendência padrão das variações das propriedades
dos materiais diminuírem com o aumento da percentagem de etanol, admite-se também que tenham
sido diferentes os tempos de realização dos ensaios, e que a diferença nas variações relativamente
ao E10 e ao E25, por exemplo, não seja tão grande. Os picos verificados na variação de dureza para
as imersões em E50, assinalados no gráfico da figura 4.9 com a linha vermelha a tracejado, também
poderão ser explicados por esta variabilidade entre os ensaios. Já foi referido que existe uma
tendência para que as variações das propriedades físicas dos materiais decresçam com o aumento
da percentagem de etanol na mistura e acresce ainda que as restantes variações (volume, espessura
e peso) registadas após imersão no E50 não são consentâneas com o aumento de dureza verificado.
É portanto aconselhável a repetição dos ensaios de variação de dureza após imersão no E50.
Continuando a análise gráfica com base no fluido de teste, pode também inferir-se que a imersão
no E10, E25 e E50 (exceptuando nos ensaios de variação de dureza) têm um impacto similar nos
compósitos testados.
Baseando a análise aos gráficos das figuras 4.1 à 4.4 nos compósitos testados, é possível avaliar
a capacidade de os destinar ao fabrico de juntas do ponto de vista da resposta de cada um deles ao
ataque químico. A análise dos resultados obtidos nos testes de compatibilidade química legitimou a
utilização dos compostos TS1400 e TS7110 como vedantes de gasolina e de misturas de gasolina
com etanol, mas obrigou a que se colocassem algumas reservas quanto à utilização dos compostos
TS1800 e TS7100, na medida em que apresentaram variações significativas das propriedades
testadas. Convém no entanto lembrar que, no que respeita ao ataque químico sofrido pelo material, a
imersão total no fluido é mais gravosa que a sua aplicação enquanto junta, em que área exposta ao
fluido é menor e em que o material se encontra comprimido, logo mais denso e com menor
porosidade.
Com efeito, os compósitos TS1400 e TS7110 revelaram excelente compatibilidade com todos os
combustíveis, e mesmo a imersão no E5 não afectou significativamente as suas propriedades físicas.
O TS7110, excepção feita á variação de dureza, é o material que apresenta variações mais baixas
das suas propriedades, pelo que pode afirmar-se que é superior aos restantes no que concerne à
compatibilidade química com a gasolina e com as misturas de gasolina com etanol. O TS1400 é o
composto que apresenta maior resistência à variação de dureza e nas restantes propriedades
também revela uma compatibilidade química aceitável.
Em oposição, os compósitos TS1800 e TS7100 são os que alteram mais as suas propriedades
físicas após imersões de 168 horas. Dos compósitos testados o TS1800 foi o que revelou a pior
compatibilidade química, nomeadamente nas imersões no E5 que provocaram variações de volume e
de peso de 47% e 59%, respectivamente, e uma variação de dureza de -29 Shore A.

- 59 -
Do ponto de vista da sua compatibilidade química pode classificar-se a adequabilidade dos
materiais testados à sua aplicação como juntas dispondo-os por ordem crescente: TS1800 – TS7100
– TS1400 – TS7110.
4.2. Testes de Validação de Juntas em Três Carburadores
Objectivo: Com o intuito de testar o impacto das misturas de gasolina com etanol nas juntas em
condições mais aproximadas às do seu funcionamento, utilizou-se um reservatório previamente
preparado para permitir a montagem de três carburadores e que, com o auxílio de uma bomba ligada
a um transformador, possibilitou a circulação de biocombustível pelos três carburadores acoplados
(Figura 4.14). A metodologia seguida na realização destes testes encontra-se indicada na secção
3.2.2. Desta forma, testaram-se as juntas num estado de compressão semelhante ao de serviço,
variando apenas, relativamente ao seu funcionamento real, as condições de vibração (inerentes ao
funcionamento do motor e inexistentes nesta aplicação) e de temperatura (o ensaio é realizado à
temperatura ambiente).
Foram realizados dois ensaios nesta aplicação que tiveram uma duração de 100 horas, fazendo
circular misturas E15 e E50, e testaram-se juntas em materiais de cortiça com borrachas NBR,
nomeadamente TS 1400, TS 1800 e TS 7100.
4.2.1. Equipamento da Aplicação
Para o teste da resposta das juntas instaladas em três (3) carburadores a diferentes misturas de
gasolina com etanol, foi necessário o equipamento que se encontra listado abaixo:
a) Reservatório de 3 litros
b) 3 Carburadores (1, 2 e 3)
c) Tubagens
d) Bomba
e) Transformador
Figura 4.14 – Equipamento para teste de juntas em carburadores: a) Vista frontal; b) Vista lateral

- 60 -
A ligação dos carburadores ao reservatório, bem como a compressão imposta às juntas, é feita
por intermédio de parafusos. A tabela 4.5 indica o número e tipo de parafusos utilizados e o número
de juntas instaladas em cada carburador.
Tabela 4.5 – Número de juntas e de parafusos em cada carburador
Nº de Juntas Nº e Tipo de Parafusos
Carburador 1 2 2 x M6x1.0; CR 4.8 (não-revestidos)
Carburador 2 3 2 x M6x1.0; CR 8.8 + 2x M6x1.0; CR 8.8 (não-revestidos)
Carburador 3 2 2x M6x1.0; CR 8.8 + 2x M6x1.0; CR 8.8 (não-revestidos)
4.2.2. Juntas Utilizadas
Neste ensaio foram testadas juntas cortadas a partir de amostras dos compósitos TS 1400, TS
1800 e TS 7100. A opção de testar apenas os compósitos com borrachas nitrílicas prende-se com a
maior compatibilidade química com misturas de gasolina com etanol revelada pelo TS 7110.
As figuras 4.15 e 4.16 permitem identificar as juntas colocadas em cada um dos carburadores nos
ensaios com E15 e E50, respectivamente. Como o objectivo destes testes se prendia com a
avaliação da agressividade das misturas de gasolina com etanol nas juntas, o facto das
configurações utilizadas para cada um dos testes serem diferentes não interferiu nas conclusões que
se pretendia tirar.
Figura 4.15 – Configuração das juntas no teste com E15
Figura 4.16 – Configuração das juntas no teste com E50

- 61 -
Para os compósitos TS 1400 e TS 1800 utilizaram-se juntas com 1,5 mm de espessura, enquanto
que para o TS 7100, a inexistência em stock desta espessura levou a que se utilizassem juntas com
uma espessura de 2,4 mm (valor mais próximo de 1,5 mm em stock).
4.2.3. Agentes Químicos
E15 e E50: A opção de utilizar misturas com baixas e médias percentagens de etanol deve-se ao
facto dos resultados dos testes de compatibilidade química terem revelado que este tipo de
misturas são mais agressivas para o material.
4.2.4. Algumas Considerações Relativamente à Aplicação da Metodologia
Antes de proceder à apresentação e discussão dos resultados obtidos com a metodologia indicada
no sub-capítulo 3.2.2, é indispensável indicar o aperto dado aos parafusos e verificar a tensão
aplicada sobre a junta. Como o dado mais relevante a extrair deste teste é a resposta química dos
materiais em condições de compressão (e não avaliar se cumpriam a sua missão de garantir a
selagem), não houve o cuidado de garantir que a tensão sobre a junta estivesse dentro da gama de
valores da tensão de selagem. A tensão foi determinada recorrendo às equações (4) e (5). A tabela
4.6 apresenta estes dados:
Tabela 4.6 – Testes nos carburadores: Binário aplicado e tensão sobre as juntas
Nº e Tipo de
Parafusos
Binário
Aplicado
[Nm]
Área de contacto
das juntas [mm2]
k
Tensão de
compressão
sobre as
juntas, σ [MPa]
Carburador 1 2 x M6x1.0; CR 4.8 10 1458,9 / 1036,2 0,3 7,6 / 10,7
Carburador 2 2 x M6x1.0; CR 8.8 +
2 x M6x1,0; CR 8.8 12
1102,9 / 1102,9 /
668,2 0,3
12,1 / 12,1 /
19,9
Carburador 3 2 x M6x1,0; CR 8.8 +
2 x M6x1,0; CR 8.8 12 1102,9 / 668,2 0,3 12,1 / 19,9
Uma nota que importa reter é que as flanges de ligação utilizadas não são as que originalmente
compunham o equipamento associado aos carburadores, pelo que a distorção entre flanges é
bastante acentuada. Este facto teve um impacto nos resultados que é referido na secção 4.2.5.
4.2.5. Resultados e Discussão
Tal como já foi referido, e como se depreende pelo epíteto de validação dado aos testes, os
ensaios nos carburadores serviram para autenticar os resultados obtidos nos testes de
compatibilidade química. Como foram realizados dois testes de 100 horas, um com E15 e outro com
E50, a apresentação e discussão dos resultados será dividida em duas partes, correspondentes a
cada um dos testes. Para cada teste são apresentados resultados relativos ao binário de aperto retido

- 62 -
nos parafusos que ligam os carburadores ao reservatório, à inspecção visual das juntas e à
verificação da existência de fugas durante os ensaios também por inspecção visual.
4.2.5.1. Teste com a Mistura de Gasolina com Etanol E15
A percentagem de binário de aperto retido na ligação dos carburadores ao reservatório, que foi
medida seguindo o método Pull-Up Torque descrito em 3.2.2, é apresentada na tabela 4.7,
associando o resultado a cada conjunto de parafusos responsável pela ligação.
Tabela 4.7 – Binário de aperto retido nas ligações dos carburadores no teste com E15
Material
Espessura das juntas
[mm]
Binário
Retido [%]
Tensão sobre a
junta, σ [MPa]
Carburador 1 TS 1400 1,5
60 4,6
TS 7100 2,4 6,4
Carburador 2
TS 1800 1,5 67
8,1
TS 1400 1,5 8,1
TS 7100 2,4 25 5,0
Carburador 3 TS 7100 2,4 67 8,1
TS 1800 1,5 46 9,1
Através da leitura dos dados da tabela 4.7, um resultado que salta à vista é a menor capacidade
de manter o aperto inicial que se verifica na junta em TS7100 do Carburador 2, com apenas 25% de
aperto relativamente aos 12 Nm iniciais, e na junta em TS1800 do Carburador 3, que perdeu 54% do
aperto inicialmente dado aos parafusos. Uma das justificações para esta ocorrência prende-se com o
relaxamento sob tensão e a fluência dos materiais em cortiça com borracha, mas não serve, por si só,
para justificar as perdas de 75% e 54% de aperto registadas. No caso da junta de TS7100, a sua
espessura excessiva (pelas razões apresentadas no sub-capítulo 2.4.3.2) de 2,4 mm tem muita
influência no relaxamento sofrido pela ligação, uma vez que quanto mais espessa for a junta maiores
são os fenómenos de relaxamento sob tensão na ligação. Outro factor com peso na perda de aperto
verificada é o das chapas utilizadas não serem as peças originais da ligação e de o paralelismo entre
as superfícies de contacto destas e do carburador ser muito inferior ao desejável. Nos restantes
casos, a percentagem de aperto retida é satisfatória, uma vez que, exceptuando na junta em TS1400
do carburador 1, todas as ligações retêm uma tensão superior à tensão mínima de selagem. Note-se
que os 2 parafusos do carburador 1 promovem a compressão das juntas em TS1400 e TS7100,
sendo que a espessura de 2,4 mm do 2º compósito é um factor relevante para o relaxamento da
ligação.
Durante o teste, mesmo nas ligações que sofreram maior relaxamento ou na ligação do
carburador 1 com a junta de 1400, não foram verificadas fugas podendo afirmar-se que as juntas
cumpriram o requisito principal de garantir a selagem do sistema.
No que respeita à resistência ao ataque químico sofrido pelas juntas, foi através da inspecção
visual das mesmas e com base nas indicações descritas na secção 2.4.7.2 que se avaliou a resposta
dos materiais. As figuras 4.17-23 apresentam as fotografias das juntas inspeccionadas após o

- 63 -
respectivo ensaio e permitem identificar, quando existem, sintomas de degradação das juntas por
ataque químico.
Figura 4.17 – Fotografia da junta em
TS1400 do carburador 1 após o teste com
E15
Figura 4.18 – Fotografia da junta em TS 1400 do carburador
2 após o teste com E15
O impacto do fluido na resistência química do material é bastante mais gravoso numa situação de
imersão total, como a praticada nos testes de compatibilidade química descritos no sub-capítulo 4.1,
do que quando a junta se encontra comprimida entre duas flanges. Deste modo como o TS1400
revelou uma boa resistência às variações de dureza, volume, espessura e peso, esperava-se que não
apresentasse sinais de degradação. Com efeito, a inspecção visual após ensaios comprovou este
facto, não sendo visíveis quaisquer sintomas reveladores do impacto químico do E15. Atente-se a
que mesmo na zona de contacto com o fluido continuam a distinguir-se os grânulos de cortiça (de cor
mais clara) da borracha, uma vez que não ficaram enegrecidos com a passagem do fluido.
Figura 4.19 – Fotografia da junta em TS 1800 do carburador 2
após o teste com E15
Figura 4.20 – Fotografia da junta em
TS1800 do carburador 3 após o teste com
E15
No caso do TS1800, os resultados dos testes de compatibilidade química e a ordem crescente de
adequabilidade apresentada no fim do sub-capítulo 4.1 levaram a que se colocasse em causa a
aplicabilidade deste material no fabrico de juntas. Contudo, quando em compressão o TS1800 resiste
ao ataque químico do E15, não evidenciando sintomas característicos de degradação por exposição
à mistura de gasolina com etanol, excepção feita a um ligeiro enegrecimento dos grânulos de cortiça
na zona de contacto com o fluido. Comprova-se portanto, que quando em compressão e com

- 64 -
reduzida área de exposição ao meio os materiais podem apresentar uma resistência química superior
à obtida com os testes de compatibilidade química.
Figura 4.21 – Fotografia da junta em TS 7100 do
carburador 1 após o teste com E15
Figura 4.22 – Fotografia da junta em TS 7100 do
carburador 2 após o teste com E15
Figura 4.23 – Fotografia da junta em TS 7100 do carburador 3 após o teste com E15
Entre os três materiais testados o TS7100 foi o que exibiu sinais mais evidentes de desintegração.
O enegrecimento do material na zona de contacto com o fluido é notório nas juntas dos carburadores
1 e 2 e as juntas ficam ressequidas devido ao contacto com o fluido. Importa no entanto recordar que
as juntas deste material tinham uma espessura de 2,4 mm, e não só este facto é suficiente para que
a zona de contacto com o E15 seja maior que para as juntas de TS1400 e TS1800, como o maior
relaxamento associado a uma maior espessura coloca o material sobre condições de compressão
inferiores ficando, portanto, menos denso. Observe-se que na junta do carburador 3, em que o binário
de aperto retido é superior ao das juntas em TS7100 dos carburadores 1 e 2, a junta não evidencia o
enegrecimento que se verifica nas outras juntas deste material nem ficou ressequida na zona de
contacto com o fluido.
Na junta do carburador 2 a desintegração da junta não é de natureza química, mas antes
provocada por uma tensão de compressão demasiado elevada. Embora no final do ensaio, devido ao
relaxamento da ligação, as condições de tensão sejam ajustadas à capacidade do material, no início,
o aperto dado aos parafusos coloca a junta sob uma tensão de compressão de 19,9 MPa, superando
a tensão máxima de selagem em 4,9 MPa. Este facto, que esteve na origem da desintegração da
junta, terá também contribuído para que o ataque químico do E15 tivesse um impacto negativo na
junta.

- 65 -
Outro dado com interesse na avaliação das juntas é a aderência destas às flanges, não tendo as
juntas de qualquer dos materiais testados colado aos membros da ligação.
4.2.5.2. Teste com a Mistura de Gasolina com Etanol E50
Tal como na apresentação de resultados para o teste com E15, também aqui se começará por
mostrar os resultados relativos ao binário de aperto retido nas ligações e à tensão aplicada sobre a
junta no final do ensaio (Tabela 4.8).
Tabela 4.8 – Binário de aperto retido nas ligações dos carburadores no teste com E50
Material
Espessura das juntas
[mm]
Binário
Retido [%]
Tensão sobre a
junta, σ [MPa]
Carburador 1 TS 1800 1,5
65 4,9
TS 7100 2,4 7,0
Carburador 2
TS 1400 1,5 67
8,1
TS 1800 1,5 8,1
TS 7100 2,4 < 25% -
Carburador 3 TS 1400 1,5 75 9,1
TS 1800 1,5 71 14,1
Os resultados obtidos são similares aos do teste com o E15. Mais uma vez, a espessura de 2,4
mm da junta em TS7100 parece ser um factor que provoca o relaxamento da ligação, como se pode
verificar pelo binário de aperto retido na junta do carburador 2 ser inferior a 3 Nm (valor mínimo
mensurável pela chave Tohnichi). Para as outras ligações a percentagem de aperto retida é sempre
superior a 60% e coloca as juntas sob condições de compressão adequadas à selagem.
No que diz respeito a fugas, foi detectada uma fuga na ligação com a junta de TS1800 do
carburador 1 nas primeiras 48 horas de serviço. A compressão sob a junta no início e no final do
ensaio encontra-se dentro da gama de valores da tensão de selagem do material, pelo que se poderá
justificar a fuga com a distorção entre flanges. Tal como já foi referido, os membros da ligação dos
carburadores têm um insuficiente acabamento superficial, sendo que neste teste, por ser o 2º, a falta
de paralelismo entre as flanges era ainda maior.
A exemplo do que já tinha sido feito para o teste com o E15, também neste teste como E50 são
apresentas um conjunto de figuras (4.24-30) que permitem avaliar o impacto químico do E50 sobre as
juntas através da identificação de sintomas típicos de degradação química.
Porque a inspecção visual às juntas redundou nas mesmas observações que foram feitas para o
teste anterior, em vez da discussão individualizada para cada um dos materiais é antes feito um
resumo das observações mais relevantes. Assim, têm-se que os compósitos TS1400 e TS1800
provaram mais uma vez ser capazes, para os testes realizados, de resistir ao ataque químico da
mistura não apresentando sinais evidentes de desintegração, exceptuando um ligeiro enegrecimento
do TS1800 na zona de contacto com o E50, mas que não é suficiente para que se considere que o
material não resiste quimicamente ao ataque com o fluido. Também as juntas de TS7100 se
comportaram de maneira semelhante à do teste com o E15, sendo possível visualizar o

- 66 -
enegrecimento das juntas nas figuras 4.29 e 4.30. Também o facto do material ficar ressequido na
zona de contacto com o fluido se voltou a constatar. Mais uma vez, a espessura excessiva da junta é
um factor que contribui para que o material esteja mais exposto ao fluido, assim como o relaxamento
promovido por maiores espessuras contribui para o relaxamento de tensão e consequente perda de
densidade do material.
Tal como no teste com o E15, também neste teste não se verificou qualquer tipo de aderência das
juntas às flanges de ligação.
Figura 4.24 – Fotografia da junta em TS 1400 do
carburador 2 após o teste com E50
Figura 4.25 – Fotografia da junta em TS 1400 do
carburador 3 após o teste com E50
Figura 4.26 – Fotografia da junta em TS 1800
do carburador 1 após o teste com E50
Figura 4.27 – Fotografia da junta em TS 1800 do
carburador 2 após teste com E50
Figura 4.28 – Fotografia da junta em TS 1800 do carburador 3 após teste com E50

- 67 -
Figura 4.29 – Fotografia da junta em TS 7100 do
carburador 1 após teste com E50
Figura 4.30 – Fotografia da junta em TS 7100
do carburador 2 após teste com E50
Resumindo a análise feita ao teste das juntas nos carburadores, pode dizer-se que todos os
materiais ensaiados foram capazes de garantir a estanquicidade do sistema desde que sujeitos ao
aperto adequado e a condições de distorção entre as flanges adequadas à espessura das juntas. No
caso da junta em TS 1800 do carburador 1 considerou-se que a fuga se deveu à distorção entre
flanges e não à incapacidade da junta. No respeitante à resposta ao ataque químico, ficou claro que
com as juntas comprimidas o ataque tanto do E15 como do E50 é menos evidente. Só o compósito
TS7100 evidenciou sintomas característicos de ataque químico, mas mesmo neste material estes
sintomas só foram evidentes quando a tensão retida era relativamente baixa ou quando a tensão
inicialmente imposta era superior a tensão máxima de selagem e a degradação mecânica da junta a
tornava mais susceptível ao fluido.
4.3. Testes de Validação de Juntas num Motor em Funcionamento
Objectivo: Os testes de validação no motor Honda GCV 160 constituíram a prova final da
adequabilidade dos materiais testados à concepção de juntas. Nestes testes, as juntas são
submetidas àquelas que são as condições reais de serviço, onde devem ser consideradas as
temperaturas e vibrações inerentes ao funcionamento do motor. Realizaram-se dois (2) testes com a
duração de 100 horas no motor Honda caracterizado na secção 4.3.1.
4.3.1. Motor Honda GCV 160
O motor Honda utilizado para testar as juntas é um pequeno motor a gasolina que pode ser
utilizado, por exemplo, como motor de pequenos corta-relvas. Trata-se de um motor de 160 cm3, com
uma potência de 3,3 kW a 3600 rpm e com um binário máximo de 9,4 Nm. Nesta secção são
identificadas a localização e tipo de juntas originalmente instaladas, o número e tipo de parafusos
utilizados nas ligações e o aperto dos parafusos indicado no manual do motor [5]. São utilizadas oito
(8) juntas na selagem do motor e na tabela 4.9 são indicadas as características associadas a cada
uma delas.

- 68 -
Figura 4.31 – Motor Honda GCV 160
Tabela 4.9 – Juntas e parafusos nas ligações do motor Honda
Localização Material da Junta
Original
Nº e Tipo de
Parafusos
Binário de Aperto dos
Parafusos Indicado no
Manual
Caixa das
Válvulas Silicone
4 x M6 x 1.0; CR 8.8
(aço ligado) 9
Tampa do
Respirador Cortiça com Borracha
1 x M6 x 1.0; CR 8.8
(aço ligado) 9
Carburador
Espuma com folha
metálica
2 x M6 x 1.0; CR 8.8
(aço ligado) 10 Fibra de papel
Fibra de papel
Fibra de papel
Fibra de papel
Cárter Silicone 8 x M6 x 1.0; CR 8.8
(zincados) 10
De notar que as juntas do carburador são comprimidas com recurso ao aperto dos mesmos
parafusos, uma vez que os parafusos utilizados atravessam todo o carburador ligando-o ao corpo do
motor.
4.3.2. Juntas Utilizadas
Para os testes realizados no motor, utilizaram-se juntas fabricadas com os compostos TS 1400 e
TS 1800. A utilização destes dois compósitos prende-se com os resultados obtidos nos testes de
compatibilidade química, descritos na secção 4.1 desta tese, em que ficou demonstrado que o
TS7110 é o mais resistente quimicamente, seguido em segundo lugar pelo TS1400, pelo TS7100 em
terceiro e, finalmente, em último lugar, o TS1800 que revelou ser o menos compatível com os
combustíveis de gasolina com etanol. Como o TS1800 apresentou as variações mais elevadas das
suas propriedades físicas, mas teve um comportamento aceitável nos testes de validação de juntas
nos carburadores, ao que se soma o facto de ser uma opção economicamente interessante, a sua
utilização no motor pode ser encarada como um teste crítico, onde se averigua se o material menos
provável de funcionar correctamente consegue ter um desempenho adequado. Por outro lado, a
escolha do TS1400 deve-se ao facto de estar entre os materiais com melhor resposta ao ataque
químico entre os testados, tal como se descreve na secção 4.1. A escolha deste material em

- 69 -
detrimento do TS 7110 deve-se ao maior conhecimento que se tem na ACC acerca da resposta do
TS 7110 em motores a gasolina.
A espessura e área de contacto das juntas são indicadas na secção 4.3.5.
4.3.3. Agente Químico
Gasolina: A gasolina utilizada nos 2 ensaios realizados é uma gasolina sem chumbo de 95
octanas. Foram dois os factores que influíram na decisão de testar o motor apenas com gasolina.
O primeiro deveu-se à necessidade de garantir que o motor seria capaz de realizar os ciclos de
100 horas, uma vez que era desconhecido o seu comportamento se se utilizassem misturas de
gasolina com etanol. O segundo prende-se com o facto de os testes de compatibilidade química
(mais agressivos, uma vez que se imergem totalmente os provetes) terem sido satisfatórios do
ponto de vista da resistência química dos materiais.
4.3.4. Algumas Considerações Relativamente à Aplicação da Metodologia
Aquando a descrição da metodologia de ensaio a seguir nos testes do motor, foi indicado que
deve recorrer-se ao processo de nesting para garantir um melhor aproveitamento da matéria-prima. A
figura 4.32 é representativa da configuração adoptada para que o aproveitamento do material fosse
maximizado.
Figura 4.32 - Nesting do conjunto de juntas
As juntas foram colocadas seguindo as indicações recolhidas na bibliografia que indicam o
procedimento de montagem correcto e que passam por uma selecção das ferramentas a utilizar,
inspecção dos elementos da ligação, determinação do torque a aplicar aos parafusos e especificação
da sequência de aperto adequada.
A tabela 4.10 indica o binário de aperto aplicado a cada parafuso das ligações com juntas. A
discrepância com os valores indicados no manual (ver tabela 4.9) deve-se à aproximação mais fiel
que a graduação da chave Craftsman permitia efectuar.

- 70 -
Tabela 4.10 – Binário de aperto aplicado aos parafusos
Localização dos Parafusos Binário de Aperto [Nm]
Caixa das Válvulas 8,69
Tampa do Respirador 8,69
Carburador 9,6
Cárter 9,6
Relativamente à sequência de aperto seguida, só no caso da junção dos membros do cárter, por a
geometria da figura dos parafusos não ser regular, se teve de adoptar uma sequência de aperto que
não está referida na bibliografia. Para a caixa das válvulas, em que a geometria da figura dos
parafusos é quadrangular o aperto foi dado de acordo com o ilustrado na figura 2.20 c), a ligação do
carburador ao corpo do motor só utiliza dois parafusos e a tampa do respirador apenas 1. A figura
4.33 ilustra a sequência de aperto seguida no cárter e que se fundamentou nos princípios do “cross-
bolting”. Os furos não numerados não correspondem a furos para parafusos, mas antes para
introdução de guias que facilitam a montagem do motor.
Figura 4.33 - Sequência de aperto dos parafusos do cárter
4.3.5. Resultados e Discussão
Na tabela 4.11 são indicados os valores da área de contacto das juntas com as flanges,
determinada com recurso ao programa de CAD em que foram desenhadas as juntas; a tensão de
compressão sobre as juntas, calculada utilizando as expressões (4) e (5); a distorção das ligações,
cujo método de medição utilizado foi sucintamente descrito na metodologia; e a espessura, com base
nos gráficos de selecção da espessura (figura 3.6) para os materiais utilizados.

- 71 -
Tabela 4.11 - Dados para determinação da espessura das juntas
Localização k Fi [N]
Área de
Contacto
[mm2]
Tensão
sobre as
juntas, σ
[MPa]
Distorção
Máxima
[mm]
Espessura
das juntas
[mm]
Caixa das
Válvulas 0,2 28966,7 2998,4 9,7 < 0,102
1
Tampa do
Respirador 0,2 7241,7 811,9 8,9 -
Carburador 0,2 16000
1132,4 14,1
< 0,051
1132,4 14,1
862,7 18,5
862,7 18,5
916,1 17,5
Cárter 0,17 75294,1 5881,9 12,8 < 0,051
O primeiro dado que convém salientar prende-se com o facto da tensão aplicada sobre as juntas
estar dentro da gama de valores da tensão de selagem do material (ver tabelas 4.1-2). Esta era uma
condição que era importante satisfazer, uma vez que se pretendia que o teste decorresse nas
condições mais próximas possíveis do funcionamento real, em que uma fuga deve ser sempre
encarada como uma falha da ligação aparafusada. Como tal, garantir que as juntas eram utilizadas
em condições de serviço que são capazes de suportar era um factor prioritário.
Seleccionada a espessura, procedeu-se à encomenda das juntas que foram cortadas com recurso
à tecnologia do corte por jacto de água. O conjunto de juntas TS1400 e TS1800 está representado na
figura 4.34.
Figura 4.34 – Juntas cortadas com jacto de água: a) Conjunto de juntas do TS1400; b) Conjunto de juntas
do TS1800; c) Juntas separadas do material excedente
Outra das medições que se realizaram com vista a conhecer melhor as condições a que estavam
sujeitas as juntas, foi a temperatura de alguns componentes do motor. Na revisão bibliográfica,
muitos foram os documentos consultados que referiam o efeito pernicioso da temperatura no
desempenho das juntas, tal como descrito nas secções 2.4.4.2 e 2.4.7.3, nomeadamente quando
combinado com o ataque químico do meio, pelo que se considerou a determinação das temperaturas
uma medida necessária.

- 72 -
Tabela 4.12 – Temperaturas medidas em alguns componentes do motor Honda
Caixa das Válvulas
Tampa do Respirador
Cárter
Carburador (junto ao corpo do motor)
Carburador (região mais afastada do corpo do motor)
Temperatura[ºC] 66 47 66,3 63,3 43,7
As temperaturas registadas são claramente inferiores às temperaturas máximas admissíveis que
foram indicadas para os compostos TS1400 e TS1800, considerando-se por isso que não põem em
causa o desempenho das juntas.
Até este ponto não houve necessidade de dividir a apresentação e discussão dos resultados nos
dois testes realizados. Contudo, os diferentes resultados obtidos quer no decorrer dos testes, quer
após a desmontagem aconselham a que se divida a análise dos resultados nos dois testes realizados
para uma melhor compreensão dos mesmos.
As juntas fabricadas com TS 1800 foram as primeiras a ser testadas no motor, cumprindo um ciclo
de 100 horas. Depois de realizado este ensaio, procedeu-se ao teste das juntas fabricadas com TS
1400. Seguindo a ordem dos ensaios, apresentam-se os resultados obtidos para o TS 1800 na
secção 4.3.5.1 e os resultados decorrentes do teste com as juntas de TS 1400 na secção 4.3.5.2.
4.3.5.1. Teste com Compósito de Cortiça-Borracha TS 1800
Tal como na abordagem do teste nos carburadores, apresentam-se primeiro os resultados
relativos à aplicação do método do Pull-Up Torque que permite determinar o binário retido em cada
parafuso no final das 100 horas. A tabela 4.13 apresenta estes resultados que foram obtidos de forma
similar à indicada para o teste nos carburadores.
Nos espaços assinalados com (-) o binário de aperto retido era inferior ao menor valor mensurável
pela chave dinamométrica (3 Nm), o que se traduz em perdas superiores a 65% (para a caixa das
válvulas) ou 70% (para o carburador e o cárter) nas ligações com juntas. Se no ensaio dos
carburadores este dado era um indicador do relaxamento das juntas (embora a evidente falta de
paralelismo entre as flanges também contribuísse para a perda de aperto), no motor a baixa retenção
de binário de aperto está fortemente associada às vibrações.
Há, obviamente, algum relaxamento característico dos materiais de cortiça-borracha, mas as
vibrações afiguram-se como as principais responsáveis pelas baixas percentagens de binário de
aperto retido. São dois os factos que levam a responsabilizar as vibrações pela maior parte da perda
de binário: 1) a capacidade revelada pelo TS1800 em manter uma percentagem significativa do
binário no ensaio dos carburadores; 2) o facto de os elementos onde foi impossível medir o binário
retido (caixa das válvulas e carburador) se situarem nas extremidades do motor, ficando, desta forma,
mais sujeitos aos efeitos da vibração, essencialmente a perda de aperto da ligação. No caso do
carburador, o facto de se utilizarem apenas dois parafusos para promover a compressão de cinco (5)
juntas de 1 mm é um factor relevante para a perda de aperto da ligação.

- 73 -
Tabela 4.13 – Binário de aperto retido nos parafusos do motor no teste com TS1800
Localização Parafusos Percentagem de Binário
de Aperto Retido [%]
Caixa das Válvulas
1 -
2 34,5
3 -
4 -
Tampa do Respirador 1 51,8
Carburador 1 -
2 -
Cárter
1 31,3
2 -
3 41,7
4 -
5 31,3
6 41,7
7 31,3
8 52,1
Independentemente dos valores do binário de aperto retido, não se detectaram fugas aquando o
funcionamento do motor. As juntas, mesmo em estados de baixa compressão, cumpriram o objectivo
principal de selar o sistema, o que leva a considerar satisfatório o seu desempenho. A impossibilidade
de medir o binário retido nalguns parafusos não permite calcular a tensão a que estão sujeitas as
juntas, pelo que seria especulativo assumir, ou não, que a junta se encontra sob uma tensão dentro
da gama de valores da tensão de selagem, descritas na secção 4.1.1.
A avaliação do desempenho das juntas com base na inspecção visual após as 100 horas de teste
revelou que as juntas resistiram não só ao ataque químico da gasolina e do óleo de motor, o que já
era expectável pela apreciação do resultado dos testes de compatibilidade química e pelas
indicações positivas que este material tinha revelado em testes anteriores relativamente ao contacto
com óleo de motor [51], como à fricção provocada pelas vibrações do motor e à temperatura de
serviço. As figuras que se seguem (Figuras 4.35-38) ilustram as juntas ao fim das 100 horas de
funcionamento do motor (ver metodologia de ensaio no sub-capítulo 3.2.3) e foi possível verificar que
não existiam quaisquer sintomas de desintegração passíveis de provocar a falha das juntas na sua
missão principal de garantir a estanquicidade.

- 74 -
Figura 4.35 – Fotografia da junta em TS1800 para a caixa das válvulas após teste com gasolina
Figura 4.36 – Fotografia da junta em TS1800 para a tampa do respirador após teste com gasolina
Figura 4.37 – Fotografia do conjunto de juntas em TS1800 para o carburador após teste com gasolina

- 75 -
Figura 4.38 – Fotografia da junta em TS1800 para o cárter após teste com gasolina
4.3.5.2. Teste com Compósito de Cortiça-Borracha TS 1400
Na mesma linha do procedimento seguido para a apresentação dos resultados dos testes com as
juntas de TS1800, começa por se apresentar os resultados obtidos na determinação do binário de
aperto retido. A tabela 4.14 apresenta os resultados obtidos.
Tabela 4.14 – Binário de aperto retido nos parafusos do motor no teste com TS1400
Localização Parafusos Percentagem de Binário
de Aperto Retido [%]
Caixa das Válvulas
1 -
2 34,5
3 40,3
4 -
Tampa do Respirador 1 84,3
Carburador 1 41,7
2 46,0
Cárter
1 52,1
2 36,5
3 57,3
4 62,5
5 62,5
6 57,3
7 41,7
8 62,5
Relativamente ao teste com o TS1800, neste é evidente a maior retenção de binário que as juntas
em TS1400 conferem às ligações. Paradoxalmente, detectou-se, por inspecção visual, logo após as
primeiras horas de teste, uma fuga de óleo na caixa das válvulas, a qual se registou ao longo de todo
o teste. No entanto esta fuga não foi suficiente para por em causa o funcionamento regular do motor,
não tendo sido necessário efectuar qualquer reabastecimento de óleo. Há dois factores que podem

- 76 -
estar na origem desta fuga: um aumento da distorção entre flanges relativamente ao primeiro teste,
uma vez que as vibrações do motor e o facto da caixa das válvulas já ter estado sob tensão podem
ter provocado uma diminuição do paralelismo entre as flanges; e o facto do TS1400 ser um material
mais duro que o TS1800, o que o torna um material menos conformável. A solução passaria por
aumentar a espessura da junta da caixa das válvulas. Uma vez que a compressibilidade é definida
como uma variação da espessura da junta quando comprimida por uma carga específica, para uma
espessura maior a junta melhora as suas características de compressibilidade, sendo, deste modo
capaz de se adaptar às irregularidades das superfícies das flanges.
Na avaliação da performance das juntas por inspecção visual após as 100 horas de teste não
foram detectados quaisquer sinais de degradação química, térmica ou mecânica. O TS1400
constatou o que já era esperado pelos resultados dos testes de compatibilidade química e na
aplicação dos carburadores e mostrou ser um material adequado para a selagem de motores de
combustão interna. Os rasgos que se observam nos furos inferiores da junta da caixa das válvulas
representada na figura 4.39 resultaram da remoção menos cuidadosa da junta, não devendo por isso
ser interpretados como uma falha no desempenho da junta. As figuras 4.39 à 4.42 são ilustrativas das
boas condições em que se encontram as juntas após as 100 horas de teste.
Figura 4.39 – Fotografia da junta em TS1400 para a caixa das válvulas após teste com gasolina
Figura 4.40 – Fotografia da junta em TS1400 para a tampa do respirador após teste com gasolina

- 77 -
Figura 4.41 – Fotografia do conjunto de juntas em TS1400 para o carburador após teste com gasolina
Figura 4.42 – Fotografia da junta em TS1400 para o cárter após teste com gasolina
Como última nota nesta discussão dos resultados, refira-se ainda que tanto o TS1800 como
TS1400 revelaram uma baixa aderência à superfície das flanges e, embora colando-se ligeiramente
ao equipamento a sua remoção foi fácil e não deixou vestígios nos membros da ligação. Como este
fenómeno não foi verificado na aplicação dos carburadores, é lícito admitir que a temperatura tem um
papel determinante na aderência das juntas às flanges. A figura 4.43 é ilustrativa da aderência destes
compostos.

- 78 -
Figura 4.43 – Remoção de uma junta do carburador ilustrando a fácil remoção sinónimo de baixa
aderência: a) vista geral; b) pormenor
4.4 Resumo dos Resultados Obtidos nos Testes Realizados
Os resultados testes de compatibilidade química, de validação de juntas nos carburadores e de
validação de juntas no motor que foram apresentados e discutidos nas secções 4.1, 4.2 e 4.3,
respectivamente, são agora resumidos na tabela 4.15, onde são apresentados os principais dados
recolhidos em cada um dos testes e que permitiram avaliar a adequabilidade dos quatro (4) materiais
testados na selagem de misturas de gasolina com etanol.

- 79 -
Tabela 4.15 – Resumo dos resultados obtidos nos testes realizados
Testes de Compatibilidade
Química
Testes de Validação de
Juntas em Carburadores
Testes de Validação de Juntas
num Motor em Funcionamento
TS
1400
Boa resposta à imersão nos
diferentes fluidos testados,
apresentando variações de
espessura e de volume
positivas e variações de
dureza inferiores às dos
restantes compósitos.
Confirmando o que se
esperava pelos resultados
obtidos nos testes de
compatibilidade química, as
juntas em TS 1400 tiveram um
desempenho positivo no teste
de validação nos carburadores
não exibindo quaisquer sinais
degradação por ataque
químico, tanto no teste com
E15 como no teste com E50.
A inspecção visual das juntas não
revelou sinais de degradação
química, térmica ou mecânica. Dos
materiais testados no motor, foi o
que mostrou maior capacidade para
retenção do binário de aperto dos
parafusos. Foi registada uma fuga
na caixa das válvulas no decorrer do
teste, mas admite-se que um
aumento da espessura da junta
pudesse fazer face a este problema.
TS
1800
Material que revelou menor
compatibilidade química com
os diferentes fluidos testados,
registando variações das suas
propriedades físicas superiores
aos outros materiais testados.
Boa resposta ao ataque
químico das duas misturas
testadas (E15 e E50), não
tendo sido detectados sinais
evidentes de degradação das
juntas. Apenas se verificou um
ligeiro enegrecimento dos
grânulos de cortiça na zona de
contacto com o fluido.
Desempenho positivo do TS 1800,
uma vez que não foram registadas
fugas nas ligações com juntas e a
inspecção visual das juntas não
revelou sintomas de degradação das
mesmas. Apesar da menor
capacidade em reter o binário que o
TS 1400, como não se registaram
fugas, admite-se que a capacidade
de recuperação do material tenha
sido suficiente para responder à
perda de aperto da ligação.
TS
7100
A seguir ao TS 1800 foi o
material que revelou menor
compatibilidade química com
os fluidos de teste.
Material com pior desempenho
neste teste, facto que não
pode ser desassociado da
maior espessura das juntas
deste material. Observou-se
um notório enegrecimento na
zona de contacto com o fluido,
tendo o material ficado mais
ressequido nesta zona.
---
TS
7110
Compósito que revelou maior
compatibilidade química quer
com a gasolina, quer com as
misturas de gasolina com
etanol. Só as variações de
dureza (exceptuando a
imersão em gasolina) e a
variação de espessura após
imersão no E5 registaram
valores superiores ao TS 1400.
--- ---

- 80 -
CAPÍTULO 5
5. CONCLUSÕES E PROPOSTAS PARA DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
5.1. Conclusões
Neste capítulo, apresentam-se os principais resultados do estudo realizado para avaliar a
capacidade de compósitos de cortiça-borracha serem utilizados como juntas para motores que usem
combustíveis compostos por gasolina e etanol. Para este estudo realizaram-se: 1) Testes de
compatibilidade química; 2) Testes de validação de juntas sujeitas ao líquido em pressão estacionária
em três carburadores; 3) Testes de validação de juntas num motor em funcionamento (apenas foram
realizados testes com gasolina). Sintetizam-se agora os principais resultados de cada um dos testes
realizados, apresentando-se as conclusões a que se chegou.
A primeira conclusão a tirar é que os quatro (4) compósitos testados são adequados para a
selagem estática de misturas de gasolina com etanol, uma vez que mesmo o TS1800, que se
mostrou o menos compatível com este tipo de misturas de gasolina com etanol, teve um desempenho
satisfatório tanto na aplicação dos carburadores como na selagem do motor Honda, não tendo sido
detectadas fugas durante os ensaios nem sinais evidentes de desintegração das juntas no fim dos
mesmos.
Quando totalmente imerso, por um período de 168 horas, no agente químico em teste, o TS7110
(ECO) é o material com melhor resistência química entre os testados, exibindo uma resistência
química superior, medida através das variações de dureza, volume, espessura e peso, e é,
claramente, o material mais adequado quando o fluido a selar é a gasolina. O TS1400 (NBR) é um
material com características de compatibilidade química muito semelhantes ao TS7110, diferindo
significativamente do comportamento deste composto apenas no tocante à resistência à variação de
volume. Por consulta do segundo quadro do anexo E [4], observa-se que a compatibilidade química
das borrachas nitrílicas com etanol é considerada muito boa e a da epicloridrina apenas boa.
Contudo, quando o agente químico em contacto com as juntas é uma mistura de gasolina com etanol,
os compósitos com epicloridrina superam os compósitos nitrílicos.
Os compósitos TS 1800 e TS 7100 são, entre os materiais testados, os menos compatíveis com
as misturas de gasolina com etanol, apresentando maiores variações das suas propriedades físicas
quando totalmente imersos, por 168 horas, no agente químico em teste. Já foi referido o desempenho
satisfatório do TS 1800 quando testado enquanto junta tanto na aplicação dos carburadores como no
motor. Já o TS 7100, apenas foi utilizado como junta na aplicação dos carburadores e, apesar de não
terem sido detectadas fugas através das juntas, o material exibiu alguns sinais de desintegração,
tendo ficado enegrecido e ressequido na zona de contacto com o fluido. Tal com já foi referido nesta
tese, a espessura das juntas em TS 7100, superior à espessura das juntas fabricadas com os outros

- 81 -
compósitos, é uma explicação plausível para a menor resistência química, uma vez que é maior a
área de contacto com o fluido. Como tal, seria interessante realizar novamente o teste das juntas de
TS 7100 na aplicação dos carburadores, mas com espessuras de 1,5 mm (como as utilizadas para os
compósitos TS 1400 e TS 1800).
Pelo facto do TS 1800 ter sido o material que revelou menor compatibilidade química quando
totalmente imerso no agente químico, mas não ter apresentado sinais evidentes de desintegração
das juntas nos testes de validação realizados, pode tirar-se outra conclusão que se prende com o
facto já mencionado no capítulo 4, na secção 4.2.5.1, da maior tolerância química dos materiais
testados quando se encontram comprimidos pela ligação aparafusada com pré-tensão.
Em consequência da compressão do material ser benéfica do ponto de vista da maior resistência
ao ataque químico que lhe atribui, conclui-se que um material capaz de reter o o binário de aperto
inicialmente aplicado, isto é, que não provoque o relaxamento excessivo da ligação, tem maiores
hipóteses de ser bem sucedido em aplicações de selagem. Neste capítulo o TS1400 provou ser
superior ao TS1800, tendo conservado maiores percentagens do aperto inicial tanto na aplicação dos
carburadores como no motor Honda. Relativamente ao TS7100, fazer esta análise é especulativo já
que as espessuras das juntas deste compósito na aplicação dos carburadores são superiores às
demais juntas utilizadas.
Outra conclusão que se tira do trabalho realizado prende-se com a maior agressividade de
misturas com baixas e médias percentagens de etanol face a misturas com percentagens de etanol
elevadas, de que é exemplo o E85, ou à gasolina. As maiores variações das propriedades físicas dos
materiais quando imersos neste tipo de misturas atestam esta característica. Entre estas misturas, o
E5 mostrou ser o mais agressivo para os compósitos de cortiça-borracha, observando-se também
que há uma tendência para que o aumento da percentagem de etanol nas misturas com gasolina
conduza a uma maior tolerância dos materiais ao contacto com o fluido.
Da análise aos gráficos representativos da compatibilidade química dos materiais conclui-se ainda
que as misturas E10, E25 e E50 têm um impacto similar nos compósitos testados, promovendo
variações das suas propriedades físicas da mesma ordem de grandeza.
Como nota final ficam duas conclusões, que mais não são que comprovações da informação
recolhida durante o período de pesquisa bibliográfica, mas que estiveram sempre presentes durante a
realização dos testes experimentais: a falha de uma ligação com junta não é forçosamente provocada
por uma falha da junta em si e a experiência e o know-how de quem trabalha nesta área é muitas
vezes mais importante que toda a teoria escrita sobre a selagem.
5.2. Propostas Para Desenvolvimentos Futuros
Uma vez concluída a dissertação, observa-se que muito fica por investigar e perceber dentro desta
área. Tal como tem vindo a ser referido ao longo desta tese, muitos são os factores que influem no
desempenho duma junta, pelo que o trabalho desenvolvido, por carecer de um número de amostras

- 82 -
estatisticamente significativo, não permite caracterizar na sua totalidade o desempenho dos
compósitos de cortiça-borracha testados. A determinação dum factor de agressividade, tal como
proposto no sub-capítulo 4.1.3, obriga à realização de um número significativo de testes de forma a
ajustar os valores atribuídos aos pesos αi (i=1,2,3,4). Como sugestão para continuação do trabalho
realizado, apresenta-se agora uma lista de estudos a serem desenvolvidos futuramente.
Validação de juntas no motor em funcionamento com misturas de gasolina com etanol, uma vez
que apenas foram realizados testes com gasolina.
Estudo da influência das vibrações no desempenho das juntas planas em motores. Análise da
capacidade das juntas em fazer face aos problemas provocados por vibrações parasitas que
levam à perda de aperto das ligações aparafusadas. Em particular seria importante investigar o
comportamento viscoelástico destes compósitos de cortiça-borracha, uma vez que as
propriedades viscoelásticas da cortiça alteram-se significativamente com a temperatura e a
humidade, para além de diferirem das propriedades elásticas [10].
Estudo da aderência das juntas em cortiça com borracha às flanges. Determinação dos factores
que promovem a aderência dos materiais e sua quantificação. Nesta tese, ficou mencionado o
facto de ser legítimo admitir que a temperatura é um dos parâmetros que pode influir na aderência
destes compósitos de cortiça-borracha, mas esta ideia carece de confirmação.
Determinação das características óptimas de um sistema com vista à aplicação de juntas de
cortiça-borracha. Seria interessante analisar as características das flanges e de outros elementos
de uma ligação aparafusada que melhor se adequam à aplicação de juntas de cortiça-borracha.

- 83 -
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A
ANEXOS
Anexo A – Metodologia de Ensaio do Testes de Compatibilidade Química
Variação de Dureza
Ensaios realizados com provetes rectangulares com 50,8 x 101,6 [mm] e 6mm de espessura.
a) Colocar o provete na mesa do durómetro, posicionando-o a uma distância entre o identador e
as arestas do provete de pelo menos 12 mm;
b) Carregar o manípulo para baixo de modo a elevar a mesa, até o identador entrar em contacto
com o provete de ensaio;
c) Registar o valor indicado no mostrador do durómetro, um segundo após o contacto do
identador com a amostra;
d) Levantar o manípulo e verificar se o mostrador volta a zero;
e) Repetir a leitura 3 a 5 vezes no mesmo provete em locais distanciados pelos menos 6mm
entre si;
f) Após imersão do provete, repetir as alíneas a) a e) e registar as variações de dureza.
Variação de Volume
Ensaios realizados com 3 provetes rectangulares com 25,4 x 50,8 [mm].
a) Efectuar a pesagem dos provetes numa balança de Jolly;
b) Registar a medida inicial de cada provete (Vi)
c) Colocar os provetes num tubo de ensaio;
d) Colocar o fluido pretendido no tubo de ensaio de modo a ficar 3 cm acima dos provetes;
e) Tapar os tubos de ensaio com rolhas e colocá-los num suporte à temperatura ambiente e
durante o tempo especificado;
f) No final do ensaio, retirar os provetes do fluido de teste e limpar com papel absorvente o fluido
excedente;
g) Efectuar a pesagem de cada provete numa balança de Jolly;
h) Registar a medida final de cada provete (Vf);
i) Registar a variação de volume de cada provete de acordo com a expressão apresentada em
seguida e fazer a média.
∆𝑉 % =𝑉𝑓 − 𝑉𝑖
𝑉𝑖× 100
Variação de Espessura
Ensaios realizados com 3 provetes rectangulares com 25,4 x 50,8 [mm] e 3,2mm de espessura.
a) Determinar a espessura inicial (Ei) de cada provete num comparador de espessuras em 3
zonas distintas e previamente marcadas;
b) Colocar os provetes num tubo de ensaio;
c) Colocar o fluido pretendido no tubo de ensaio de modo a ficar 3 cm acima dos provetes;
d) Tapar os tubos de ensaio com rolhas e colocá-los num suporte à temperatura ambiente e
durante o tempo especificado;

B
e) No final do ensaio, retirar os provetes do fluido de teste e limpar com papel absorvente o fluido
excedente;
f) Determinar a espessura final (Ef) de cada provete num comparador de espessuras em 3 zonas
distintas e previamente marcadas;
g) Registar a variação de espessura de cada provete de acordo com a expressão apresentada
em seguida e fazer a média.
∆𝐸 % =𝐸𝑓 − 𝐸𝑖
𝐸𝑖
× 100
Variação de Peso
Ensaios realizados com 3 provetes rectangulares com 25,4 x 50,8 [mm].
a) Pesar cada um dos provetes numa balança e registar o valor do peso inicial (Pi);
b) Sujeitar os provetes à imersão nos fluidos de testes do mesmo modo que para os ensaios de
variação de volume e espessura;
c) No fim do período de imersão, voltar a pesar os provetes e registar o valor do peso final (Pf);
d) Registar a variação de espessura de cada provete de acordo com a expressão apresentada
em seguida e fazer a média.
∆𝑃 % =𝑃𝑓 − 𝑃𝑖
𝑃𝑖× 100

C
Anexo B – Critérios de Avaliação da Compatibilidade Química da Norma UL157
Excerto da tabela 4.2 da norma UL 157 para a gasolina e misturas de gasolina com etanol.

D
Anexo C – Tabelas dos Coeficientes m e y e do Parâmetro b0 do Código ASME
Quadro 1 – Valores dos coeficientes m e y do código ASME

E
Quadro 1 (cont.) – Valores dos coeficientes m e y do código ASME

F
Quadro 2 – Valores do parâmetro b0 do código ASME

G
Anexo D – Glossário de Termos Relacionados com Juntas (Norma ASTM F 118)
Norma ASTM F 118 – 04: Standard Definitions of Terms Relating to Gaskets
Adhesion – the measurable attraction to bonding of a gasket material to a surface after the
application of a temperature, or compressive stress, or both.
Annulus – a cut gasket shape consisting of two concentric circles of known geometry.
Binder – a component of certain gasket material, which solidifies the structure, imparts uniform
adhesion to surfaces, and has an impact on the pore structure.
Blowout, gasket – the sudden release of internal pressure by a gasket sealing a flange with a given
stress applied. The internal pressure needed to create a blowout is also known as the blowout
pressure.
Classification – a means of specifying categories of gasket materials according to composition and
physical characteristics.
Combustibles – components of gasket material which are lost on ignition at a given temperature.
Compressed thickness – the measured thickness of a gasket material with a known compressive
stress applied.
Compressibility – in compressibility/recovery testing of gasket materials, the difference between the
specimen thickness under preload and thickness under total load, divided by the thickness under
preload, expressed as a percent.
Compressive strength/crush extrusion resistance – maximum compressive stress before crush
occurs at a specified temperature without regard for leakage.
Compressive yield – the point which the slope of the relationship between applied stress and
deformation of a gasket material changes.
Creep – a transient stress-strain condition in which the strain increases as the stress remains
constant. (This condition is approached in flat-face gasketing joints in which the bolt undergoes a high
elongation relative to any creep that might take place in the gasket).
Creep relaxation – a transient stress-strain condition in which the strain increases concurrently with
the decay of stress. (This is the most common condition existing in flat-face gasketing assemblies in
which the bolt exhibits a relatively large amount of elongation).
Cross-sectional area – the area of a gasket specimen defined as the width times the thickness.
Deflection – gasket material deformation in the “thickness direction” caused by the application of
stress.

H
Deformation – the percentage by which a gasket material is deformed under stress or after the
application of stress.
Density – the mass per unit volume for a given gasket material measured under defined conditions.
Description/line call out – an alphanumeric term used to define the composition and physical
properties of a gasket material.
Disintegration – the process by which a gasket material breaks up into components or fragments
after exposure to a given fluid and/or environment.
Durability – the resistance to disintegration of a gasket material after exposure to a given fluid and/or
environment.
Flange – the members of gasketed joint that compress the gasket.
Flange distortion – deviation of a contact surface from a perfect plane.
Flat faced joint – a joint or flange with no raised contact surface.
Flexibility – the ratio of mandrel size a gasket material can be bent 180 degrees around without
cracking to the thickness of said gasket material.
Fluid – a gas or liquid used for immersion and sealability testing of gasket material.
Gasket – a material that can be clamped between faces and acts as a static seal. Gaskets are cut,
formed, or molded into the desired configuration. They may consist of any of the following
constructions: (a) One or more plies of a sheet material;
(b) Composites of dissimilar materials;
(c) Materials applied as a bead or other form to one or both mating
faces prior to assembly
Gasketed joint – the collective total of all members used to effect a gasketed seal between two
separate items.
Leak – the passage of matter through interfacial openings or passageways, or both, in or around the
gasket.
Leakage – the rate at which the fluid escapes from a gasketed joint.
Linear dimensional stability – the degree to which a gasket material maintains its original size in the
x-y plane after exposure to specific conditions.
Maintenance factor, m – the factor that provides the additional preload capability in the flange
fasteners to maintain sealing pressure on a gasket after internal pressure is applied to the joint.

I
Manometer – a device used to measure pressure in a closed system. It may be used to measure
leakage of fluids through gasketed joints.
Peak load – the highest stress a gasket material can resist before tensile failure.
Recovery – in compressibility/recovery testing of a gasket material, the difference between the
specimen recovered thickness and the thickness under total load, divided by the difference between
the thickness under preload and thickness under total load, expressed as a percent.
Resiliency – in compressibility/recovery testing of a gasket material, the difference between the
specimen recovered thickness and the thickness under total load, divided by the thickness under total
load, expressed as a percent.
Sealability – the measure of leak rate a gasket material has for a given gasket geometry, fluid with
applied internal pressure, and applied flange pressure. Typically reported as a volume or mass of fluid
loss for a given period and used as means of comparison.
Strain – the deformation of a gasket specimen under action of applied forces of stress.
Stress – the force per unit area applied to a gasket material.
Stress relaxation – a transient stress-strain condition in which the stress decays as the strain
remains constant. (This condition is encountered in grooved-face gasketing joints when the bolt is
practically infinitely rigid).
Tensile strength – the maximum tensile stress applied during stretching a specimen to rupture.
Tensile stress – the applied force per unit of cross-sectional area of a specimen.
Torque bolt – a calibrated bolt made of a defined alloy that contains a pin mechanism which allows
the user to measure bolt stretch using relaxometer.
Yield factor (minimum design seating stress, y) – the factor that represents the pressure in MPa
over the contact area of the gasket that is required to provide a sealed joint, with no internal pressure
in the joint.

J
Anexo E – Quadros de Compatibilidade Química
Quadro de compatibilidade química de materiais para juntas da Amorim Industrial Solutions [15]
Compósitos de Cortiça-Borracha
SG-601 SG-625 V-50 RU-4 NC-710 NCA-50 NC-711G RU-140
Butanol
R+ R+ R+ R+ R+ R+ NR R+
Óleo Diesel NR R+ A R+ R+ A R+ R+
Etanol
R+ R R+ R+ R+ R+ R+ R+
Gasolina NR A R R R R R+ R
Óleos Lubrificantes NR R+ A R+ R+ A R+ R+
Metanol
R+ R+ R+ R+ R+ R+ R R+
Óleos Vegetais R R+ A R+ R+ A R+ R+
Água (fria) R+ R+ R+ R+ R+ R+ R NR
(R+) – Altamente Recomendado; (R) – Recomendado; (A) – Aceitável; (NR) – Não Recomendado
Os compósitos de cortiça-borracha apresentados resultam da mistura de cortiça com diferentes
borrachas. A lista que se segue indica a borracha utilizada na composição de cada um dos materiais:
SG-601: Borracha de clorosulfanato de polietileno (Hypalon®);
SG-625: Borracha acrílica de etileno (Vamac®);
V-50: Borracha poliacrílica;
RU-4, RU-140, NC-710, NCA-50: Borracha nitrílica;
NC-711G: Borracha de epicloridrina.
Quadro de compatibilidade química adaptado do Hanbook of Fluid Sealing [1]
Nitrílicas
Etileno -Propileno
Neoprene Fluorcarbono Silicone Hypalon® Epicloridrina
Ar Razoável Muito Bom
Bom Muito Bom Excelente Excelente Bom
Álcoois Muito Bom
Excelente Muito Bom
Razoável Muito Bom
Muito Bom
Bom
Óleos Animais Excelente Bom Bom Muito Bom Bom Bom Bom
Fuel de hidrocarbonetos alifáticos
Excelente Fraco Razoável Excelente Razoável Razoável Muito Bom
Fuel de hidrocarbonetos aromáticos
Bom Fraco Razoável /
Fraco Excelente Fraco
Razoável / Fraco
Muito Bom
Óleos de hidrocarbonetos (ricos em analina)
Excelente Fraco Bom Excelente Muito Bom
Excelente Excelente
Óleos de hidrocarbonetos (pobres em analina)
Muito Bom
Fraco Razoável /
Fraco Excelente Razoável
Muito Bom
Excelente
Óleos vegetais Excelente Bom Bom Excelente Excelente Bom Excelente
Água/Vapor Bom Excelente Razoável Razoável Razoável Razoável Bom

K
Anexo F – Complemento da Tabela 2.5: Materiais Metálicos para Juntas
Tabela 2.5 (cont.) – Materiais mais utilizados no fabrico de juntas
Metálicos
Aço Material adequado à generalidade das operações que não sujeitem as
juntas a condições demasiado severas.
316 (18-12 Cr/Ni:
aço inox
austenítico c/ Mo)
Excelente resistência à corrosão, mas em determinados meios fica sujeito à
fractura e à corrosão intergranular.
316L (Variante do
316 com menos
carbono)
Maior tolerância a meios potencialmente corrosivos que o aço inox 316.
304 (18-8 Cr/Ni:
aço inox
austenítico)
Excelente resistência à corrosão, mas sujeito à fractura e à corrosão
intergranular a temperaturas elevadas.
304L (Variante do
304 com menos
carbono)
Menor de risco de fractura e corrosão intergranular que o aço inox 304.
321 (18-10 Cr/Ni;
aço inox
austenítico com
Ti)
Passível de sofrer fractura por corrosão, mas com reduzida probabilidade de
se verificar corrosão intergranular.
347 (Variante do
18-10 Cr/Ni)
Características semelhantes ao aço inox 321 e apropriado para altas
temperaturas.
410 (12-9 Cr/Ni;
aço inox ferrítico) Excelente resistência térmica e boa resistência à corrosão.
Titânio Excelente resistência térmica e à corrosão e indicado para utilização em
meios oxidantes.
Liga 600 (70% Ni,
15% Cr, 8% Fe) Excelente resistência térmica e à corrosão.
Liga 625 (Ni / Cr
alloy, with Mo and
Nb)
Excelente resistência à corrosão quer em meios ácidos, quer em meios
alcalinos.
Liga 800 (32% Ni,
20% Cr, 46% Fe) Excelente resistência à corrosão a altas temperaturas.
Liga 825 (Ni, Cr,
Fe, Mo, Cu)
Elevada resistência a ácidos quentes e óptima resistência à fractura por
corrosão.
Liga 200
(99.6% Ni forjado) Elevada resistência a meios redutores e alcalinos.
Liga 400
(67% Ni, 30% Cu) Excelente resistência ao ácido fluorídrico.
Liga B2 (Ni/Mo) Excelente resistência aos ácidos acético, clorídrico, fosfórico e sulfúrico.
Liga C276
(Ni/Cr/Mo) Excelente resistência em meios redutores ou oxidantes.
Liga 20 (Fe/Ni/Cr) Desenvolvido para aplicações que requerem elevada resistência ao ácido
sulfúrico.
Liga x – 750
(Ni /Cr /Fe) Endurecido por precipitação. Aço de alta resistência.
Alumínio Excelente ductilidade e maleabilidade.
Cobre Resistente á corrosão na generalidade das aplicações.