semanario_angolense_431

download semanario_angolense_431

of 52

Transcript of semanario_angolense_431

DIRECTOR

SALAS [email protected]

Kz 250,00 EDIO 431 ANO VII SBADO 27 de Agosto de 2011 FAZ 69 NO DOMINGO JOAQUIM NAFOIA, DO PRS

W W W. S EM A N A R I O -A N G O L EN S E . CO M

Parabns Presidente!

A oposio est a ser pouco inteligenteKUANDO-KUBANGO

Smbolo do seu poder j nas mos da rebelio

FIM DO CORONEL (?)

Fome ataca feio em Nankova

Pgina 41 QUE SOFRIMENTO!

Camares devorados ao jantar

Embora diga que continua a resistir, praticamente j ningum d um chavo por Khaddafi, o homem que governou a Lbia com mo de ferro por 42 anos a fio, sob a capa de um apenas terico Estado de Massas, a Jamahiriya. O seu regime acabou. J se fazem outras contas, com outros nomes, verdade se diga, pala de uma duvidosa (mas estratgica) proteco humanitria do Ocidente. Seja como for, o que d esticar demasiado a corda, recusando-se a ler os sinais dos (novos) tempos

Pgina 3 TEMPO SB DOM SEG TER QUA QUI SEXmx min

CIDADE DO KILAMBA NO PARA QUEM QUER

Casas na EstratosferaAfinal, a esmagadora maioria da populaa necessitada no estar em condies de conseguir o seu espao na Cidade do Kilamba. O mais modesto dos fogos custa s 125 mil dlares. Contas feitas, algo fora do alcance dos comuns. A dificuldade estar no crdito. O pior que eles mesmos acabaro por ajudar a pagar a factura dos que l iro morar ou negociar

33C 17C 32C 17C 32C 17C 32C 16C 33C 16C 20C 25C 26C 19C

2

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

em Foco

uando, em vsperas das eleies legislativas de 2008, o MPLA prometeu oferecer um milho de tectos aos angolanos, muitosjhaviamconsideradotal promessacomoummeroexerccioderetrica,quevisavafundamentalmente cativar o voto dos eleitores. No fundo, tratou-se de uma promessa igual a muitas outras quetmsidofeitasumpoucopor todoomundo,geralmentenocalordaseleies,duranteasquais os partidos polticos prometem no s a terra, como tambm o cu. Ou seja, aquilo que podem e o que no podem fazer. E o MPLA, emmeio aalgumexagero,nofugiuregra,comoagora todosjsabemos,adespeitodalguns pachos quentes que nos foramimpingindoaespaos.Por maisquecustereconhecer,omilhodecasasumaquimera.Ao menosataoprximoano. Embora, em alguns sectores dasociedade,apromessadeedificao de um milho de casas no espao de quatro anos soasse mera propaganda ou, antes, tivesse sido encarada como um projecto irrealista, ela no deixou,porm,decausarumacerta expectativa, sobretudo no seio das camadas mais desfavorecidas da populao, vidas em ver resolvidos os seus problemas em matriadehabitao. De facto, a problemtica habitacional assunto bastante sensvel, que mexe com todos os angolanos, j que a maioria da populao no dispe de um tecto condigno ou de condies de habitabilidade dignas desse nome. Odireitohabitaocondigna est, alis, consagrado na Cons-

Inverso de prioridades QtituiodaRepblicadeAngola, figurando entre os direitos fundamentais que assistem a qualquer cidado angolano, pelo que no pode ser preterido ou, simplesmente,ignorado. Apesar de alguns esforos feitos pelo Governo, ao longo dos ltimos trinta anos de independncianacional,nosentidodese inverter o difcil quadro habitacionalherdadodacolonizao,o factoqueosmussequeseoscasebresqueforamerguidosnesses espaosdemarginalidadeurbana multiplicaram-se,algoqueresultou, em grande parte, da guerra queesventrouotecidohumanoe social do pas e que fez deslocar enormes massas populacionais dointeriorparaoscentrosurbanos. A crise habitacional agravouse de tal forma que Angola , provavelmente, um dos pases comashabitaesmaiscarasdo mundo, uma alta de preos que noseverificasnodomniodas vendas,comotambmdosarrendamentos. Asassimetriaseconmicassociaissodetalsortequeumnmeroreduzidodeangolanospossui elevados poderes de compra para adquirir moradias de alto padro habitacional, enquanto a maioria contnua a vegetar em casebres sem as devidas condiesdehabitabilidade. Com a promessa de construo de milho de fogos, um projecto financiado pelo Estado, ou seja com o dinheiro de todos ns, supunha-se que a prioridade recasse sobre as camadas mais sofridas, sobretudo os jovens desamparados que querem construir lar, mas que tm visto os sonhos frustrados, devido faltadecasaprpria.Esperava-se

queocrditohabitao,dentro doregimederendaresolvel,incidisse prioritariamente sobre as camadas menos favorecidas do ponto de vista econmico e social,abrindo-lhesapossibilidade deteremumacasaprpriaaofim devinteoumaisanos. Mas, a nova centralidade do Kilamba, por exemplo e aqui onde queramos chegar, semelhana do Projecto Habitacional NovaVida,ondeforamerguidas moradiasparaascamadasmdia emdiaaltadasociedade,constituemumaprovaacabadadecomo as prioridades governamentais recaram sobre as camadas economicamente mais confortveis, em detrimento da maioria da populao, que mingua, penosamente,faltadecasas,invertendo-seassimadireco. Trata-se de casas financiadas pelo errio pblico, no qual se incluem obviamente as contribuiesfiscaisdospobres.Desses mesmos pobres que, entretanto, no sero vistos ou achados na nova centralidade, j que na sua generalidadenodispemdecapacidadenemoferecemgarantias para contrair crditos junto dos bancos, com os quais o Estado angolano firmou acordos para facilitar a sua concesso teoricamente sem os esquemas da ordem. No fundo, com os preos j anunciados neste projecto que nada tem de habitao social, confirma-se que os mais pobres, para no variar, foram assim, uma vez mais, chamados a pagar a factura daqueles que tm dinheiroemaismargensdemanobra para contornar os obstculos em termos habitacionais. Numa palavra: algum inverteu asprioridades.

QUI

18 Ago 18 Ago

OExecutivoestapotenciarosistemadesade, atravsdamunicipalizaodosservios,paraque, apartirdeLuanda,sepossaestenderaredehospitalaratodoopas.QuemdizoministroJos Van-Dnem.Paraatingirodesiderato,prev-sea construodecincofaculdades.Verparacrer! MinistradaEnergiaeguas,EmanuelaVieiraLopes,estevenestedianaSapparainaugurarasubestaoelctricacomomesmonome.Ainfra-estrutura beneficiarosbairrosNand,CasasAzuis,SapVianaepartedaCamama.Eaindaservirparailuminaraauto-estradaBenfica-Cacuaco.Boa! Trs jovens morreram asfixiados, na canalizao de uns esgotos, quando, supostamente,efectuavamdesviosnumacondutada EPAL.OfactoocorreunazonadoGamek.A EPALjdesactivouainstalao,maisde100 ligaesclandestinas. AsmoradiasdaCidadedoKilambaesto,desdeestedia,venda,apreosqueoscilamentre os 125 mil e os 200 mil dlares. A responsvel pelacomercializaoaDeltaImobilirias.Trata-sedetrsmile180apartamentosdotipoT3 A,T3B,T3C,todoscomtrscompartimentos,e T5,comcinco. As moradias da Cidade do Kilamba esto, desde este dia, venda, a preos que oscilam entreos125mileos200mildlares.Aresponsvel pela comercializao a Delta Imobilirias.Trata-sedetrsmile180apartamentosdo tipoT3A,T3B,T3C,todoscomtrscompartimentos,eT5,comcinco. J abriu a 5 edio deste ano da Feira Internacional da Leitura e do Disco, no CEFOJOR. Como j tem acontecido desde que surgiu, h espao para msica ao vivo, projeco de filmes e palestras. A alta dos preosdoslivrosaindacontinuaaserocalcanhardeAquiles. Por incompetncia ou por dificuldades de comunicao,ocertoqueotcnicofrancs Michel Gomez j no vai comandar a seleco nacional no Afrobasket 2011. Ele foi demitido, atravs do presidente da Federao Angolana de Basquetebol, Gustavo da Conceio,quefezoannci Vitorino Cunha, veterano nas lides do basquetebol,deixourecomendaesvaliosasnoencontro entre o ministro Gonalves Muandumbaeanossaseleco.Paraele,devehavermais humildadee,paraostriplos,sCarlosMorais, ArmandoCostaeDomingosBonifcio.

MAIS SADE?

seX

MAIS ENERGIA

sB

GUA D MORTE

20 Ago 21 Ago

doM

ANGOLA DERROTADA

seg

CASAS VENDA

22 Ago

teR

LIVROSNAFEIRA

23 AgoAgo

QUADirector: Salas Neto Editores Editor Chefe: Ildio Manuel; Poltica: Jorge Eurico; Economia: Nelson Talapaxi Samuel Sociedade: Pascoal Mukuna; Desporto: Paulo Possas; Cultura: Salas Neto; Grande Reprter: joaquim Alves Redaco: Rui Albino, Baldino Miranda, Adriano de Sousa, Teresa Dias, Romo Brando, e Edgar Nimi Colaboradores Permanentes: Sousa Jamba, Kanzala Filho, Kajim-Bangala, Antnio Venncio, Celso Malavoloneke, Tazuary Nkeita, Makiadi, Inocncia Mata, e Antnio dos Santos Kid Correspondentes: Nelson Sul DAngola (Benguela) e Laurentino Martins (Namibe). Paginao e Design: Snia Jnior (Chefe), Patrick Ferreira, Carlos Incio e Annety Silva Fotografia: Nunes Ambriz e Virglio Pinto Impresso: Lito Tipo Secretria de Redaco: Manuela da Conceio Adminstraco: Marta Pisaterra Publicidade e Marketing: Oswaldo Graa Antnio Feliciano de Castilho n.o 119 A Luanda Registro MCS337/B/03 Contribuinte n.o 0.168.147.00-9 Propriedade: Media Investe, SA. Repblica de Angola Direco: [email protected]; Edio: [email protected]; Poltica: [email protected]; Economia: [email protected]; Sociedade: [email protected]; Cultura: [email protected]; Desporto: desporto@@semanario-angolense.com; Redaco: [email protected]; Administraco e Vendas: [email protected]; Publicidade e Marketing: [email protected]; stio: www.semanario-angolense.com As opinies expressas pelos colunistas e colaboradores do SA no engajam o Jornal.

MICHEL

GOMEZ

DEMITIDO

24

25 Ago

QUI

RECOMENDAES DE VITORINO

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

3 em Foco

Angola nas meias-finais do Afrobasket de Antananarivo

Nunca sofremos tanto assimSalas Neto (*)

N

o h memria de um jogo to dramtico na vitoriosahistriadobasquetebolangolano,como odestaltimaquinta-feira,emAntananarivo,paraosquartosdefinaldo Afrobasket2011,noqualaseleco nacional acabou por triunfar sobre a sua similar camaronesa por apenasumpontitodediferena(84-83), conseguidaadoissegundosdofinal doencontro,obrigadoaumprolongamento, aps um final tambm dramtico,aocabodotemporegulamentar. Os angolanos perdiam por trs pontosdediferenaa16segundosdo quartoperododotemponormalde jogoe,quandotodoomundojseresignavacomaderrota,eisque,como que milagrosamente, se conseguiu foraroprolongamento. Ao intervalo, os angolanos perdiam por 10 pontos de diferena, numapartidaemquesevoltouajogarmuitomal.Nosdoisquartosconclusivos,aseleco,agoracomandadaporJaimeCovilheArturBarros, depoisdademissotardiadofrancs MichelGomez,conseguiurecuperar, masquasedeixoufugiropssaronos momentosderradeirosdotemporegulamentar, com falhanos inexplicveisunsatrsdosoutros. Sem qualquer desprimor para o resto do grupo, destaque aqui para Carlos Morais, que foi o heri da noite,apontandoosdoislanceslivres quederamavitriaaAngola,depois derecuperardeumgolpeviolentssimonacara,tendochegadomesmoa sangrar. Sbado,s14horasdeAngola,a seleco nacional luta pelo passe finaldiantedasuasimilarnigeriana, que tambm est bastante moralizada, disposta a interromper a caminhadadosangolanos,comquem tmumagranderivalidade. Segundo o presidente da federao angolana da modalidade, Gustavo da Conceio, a quem muito boagenteestapediracabeapelo disparate que foi a contratao do francsMichelGomez,avitriasobreoscamaronesesabreocaminho para a revalidao do ttulo, bolo que desta vez tem como cereja a qualificaoparaosJogosOlmpicos deLondresem2012. Em declaraes imprensa, no finaldodesafio,GustavodaConceioadiantouqueocombinadosoube gerirdeformapositivaasorientaes dentrodocampo,apesardemuitas perdasdebola. Acrescentouqueestaemoode-

monstraoespritoganhadordosangolanos,quemesmoemfasecrtica podemrecuperarasuaauto-estima dentrodocampo. Olemadestaseleco:mesmo moribundos, tm que nos matar; e depoisdemortos,ressuscitamos.Foi oqueaconteceunestejogo,disse.

Adiantou que os atletas e equipa tcnica esto todos de parabns, e esperaqueselecocontinuecomo ciclodevitrias,vistoqueoquenos restaarevalidaodottulo. Ns no estamos preocupados comosnmeros,estamospreocupadoscomavitriaerecuperarosjoga-

dorespsicologicamenteparaoprximodesafiofrenteNigria,frisou. Porseulado,oministrodaJuventudeeDesportos,GonalvesMuandumba,quefoiaAntananarivoreavivaroespritoganhadordaseleco nacional, depois da novela Michel Gomez,disseestarsatisfeitocomo

espritodesacrifcioeentregadaselecoangolana. Deacordocomumdespachodos enviadosespeciaisdaAngop,oministroconsideroutersidoummrito Angolavencerestapartida,apesarde serumjogomuitosofrido,ondeesteveaperdernosltimosminutos,mas conseguiuempatarparadepoisvirar oresultadoaseufavor. A seleco angolana soube defender-seedemonstrarafricaeao Mundoporquequesomoscampees(africanos)dezvezes,disseGonalvesMuandumba. Referiu que a seleco nacional inicioumalocampeonato,masdepois da mudana do tcnico, a rapaziada ganhou outra motivao e espritoganhador. Disseesperarqueaselecoangolanatenhaamesmaatitudenoprximodesafio,agendadoparasbado, visando atingir a final desta prova. Acrescentandoqueanaoangolana estaesperadataa,porissoaatitude,agressividadeepacinciadeve estarpresentenosnossosatletas. Gonalves Muandumba disse antesqueadecisodetrocardeseleccionador,naseleconacionalde basquetebol snior masculina, foi a maisacertada,emboratardia. Falandoimprensaangolana,no final de um encontro com a nova equipatcnica,jogadoresedirigentes daFederao,onmeroumdorgoqueregeodesportonopasdisse queadecisofoibemtomada,tendo em conta a forma incaracterstica comoaselecoestavaajogar. Onossobasqueteboltemidentidadeprpriaeadecisofoibemtomada. Temos experincia e competnciaparafazermelhor,sublinhou, realandoqueogovernonadatevea vercomadecisodedemitirotcnicofrancs. Explicou que a sua presena em Antananarivodemonstraasuapreocupaocomaselecoecomobasquetebolpoucoesclarecidoquetem apresentado.Informouquefoiencorajarosjogadoresetransmitirasua solidariedadeFederaoAngolana de Basquetebol (FAB) pela atitude que tomou na demisso do tcnico francsMichelGomez. Viemos trazer a nossa solidariedadeaosjogadoreselembra-lhesdas suasresponsabilidades,darforaesabercomoestoalojadoseasquestes das ajudas de custos. Recebemos a garantiadocapitoqueesttudobem e aguardamos pelo regresso ao pas com a taa, acrescentou Gonalves Muandumba,todoeleoptimista. (*) Com Angop

4

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

em FocoVenda de casas na Nova Centralidade de Luanda

Cidade do Kilamba virou makaOs preos adiantados aquando da inauguraao inflacionaram, no estao mais ao alcance dos jovens como se previa. As pessoas se aglomeram nos postos de venda, mas no tm nenhuma informao concreta. Sobre os modos de pagamento, no h nenhuma via de financiamento estabecida. No salve-se quem puder,para a maioria, o sonho continua longe de se realizarN.TalapaxiS. A confuso que se instaurou nas bichas dos postos de atendimentodevendaaopblicodos apartamentos da cidade do KilambaKiaxi,desdesegunda-feira, 22, corresponde algazarra em que todo esse processo de aquisio acabou por se transformar, desdeaorganizaodasprprias filasatsinformaesquedeveriamestaraoalcancedetodos. Nem a Delta Imobiliria, empresa contratada pela Sociedade Imobiliria e Propriedades da Sonangol (SONIP), tem os esclarecimentos disponveis para evitarquecentenasdepessoasse aglomeremnospostosdesdemadrugada. Em alguns casos, h pessoas que chegam a passar a noite na entradadoslocaisindicados,para no final das contas, muitas descobrirem que no se enquadram no tecto salarial necessrio para efectuar a compra dos apartamentos. Sem saber se vai continuar a prestar servio SONIP, na segundafasedasvendas,otrabalho daDeltanesteperodoresume-se em inscrever os interessados. A Deltanosabequandoosinscritosserochamadosequaisoscritriosdeselecodestesparapassaremsegundafasedoprocesso devenda. Almdemanteraexpectativa, mesmodaquelesquejfizerama inscrio,porqueafinalaindano se sabe como sero selecionados, praticamentetodasasdvidassobreavendapersistemainda. Previsto para comearem a ser comercializados no incio de Agosto, os 3.180 apartamentos s agora foram disponibilizados, justamente porque, pelas informaes ao nosso alcance, a subsidiriadaSonangolencarregada do negcio no tinha ainda os preosestabelecidos. Pressupe-sequeaSONIPprecisavaenquandraropreriodos imveisnapolticasocialtraada pelo Estado, sem afastar-se da rentabilidademnimanecessria. No decurso da resoluo dessa problemtica, comparando os preos definitivos com os que tinhamsidoprevistospelasautoridadesgovernamentais,osvalores sofreramumaimportanteinflaoquecertamentedesviaocursodoperfildemoradores. Depois da inaugurao da Cilares,deacordocomoJornalde Angola, que sita como fonte o Banco Internacional de Credito (BIC). No BIC, segundo Jornal, o crdito concedido a pessoas com idade entre os 18 e os 60 anoseataxadejurosestfixada dadedoKilamba,pelopresidente Jose Eduardo dos Santos, em Julho passado, chegaram a veicular-se informaes de que esses imveisseriamvendidosapreos apartirdecercade60mildlares. Essa faixa de preo casava com um dos objectivos em torno da centralidadeanunciadopeloChefedaCasaCivildaPresidnciada Repblica,CarlosFeij. Segundo ele, na apresentao dobalanodaactividadedoExecutivo referente ao primeiro trimestredoanoemcurso,umdos princpios aprovados era o privilgioqueseriadadoaosjovens para o acesso habitao, com base em critrios estabelecidos, sobretudo os jovens que nunca tiveram casa prpria. E essa medidafoichamada,pelogovernante, como um investimento que o Estadoestariaafazerparaajudar osjovenscasais. No entanto, os preos definitivos promulgados desde segunda-feira esto entre 125 a 200 mil dlares, para apartamentos de 110 a 150 metros quadrados. Essa nova tabela de valores no se assenta no processo de inclusoquepretendiacontemplaros jovens.

Para comprar os apartamentos mais baratos

P

Renda mnima tem de ser de USD 3.500

arahabilitar-secompra dos apartamentos demenoresdimenses disponveis (T3A), com 110 metros quadrados, ao preode125.000dlares,omais provvel que a renda mnima dointeressadosejade3.500d-

em12%,comvariaodoperododeliquidaodadvida,consoanteaidadedecadacliente.O Banco Nacional de Angola no permitequesedescontemaisdo que40%dosalrioemcasosde financiamento. No Banco BAI, o financiamentocontemplapessoasat55 anosdeidadeepodeserliquidadeem20anos,pormointeressado precisa de ter depositados na sua conta 15% do valor do imvelaadquirir,refereomatutitonacional. Muitos dos interessados nos apartamentos da Cidade do Kilamba propem-se a liquidar o valortotaldosimveisentre20a 30anos,comodescontodeparcelas entre 500 a 1000 dlares porms.Nasconcessesdecrditos, recorde-se, quanto maior a idade, menor o perodo de liquidezdadvida.

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

5 em Foco

No incio da venda das casas

Mais vale tarde que nunca

Confuso e desiluso

C

PR vai corrigir o tiro?

Adriano de Sousa

A

abertura das inscries para aquisio dasprimeirascasasda Cidade do Kilamba, desdesegunda-feira,22,foimarcadoporlongasecaticasfilasde vidos clientes nos vrios posto de atendimento disponibilizado pelaempresaimobiliriaresponsvelpelacomercializao. No posto localizado na rua Rainha Ginga, na baixa de Luanda, os nimos ficaram to exaltados que at confuso teve, conforme apurou a reportagem doSemanrioAngolense. No topo das reclamaes est a alta dos preos. A juventude presente nos postos mostrou-se desapontada com a ajuda que o projecto imobilirio poderia representar, como foi aventado inicialmente. Joaquim Caetano Jos, 33 anos, mecnico industrial, um dos muitos jovens ques05h00jestavanasededa Delta Imobiliria. Segundo ele, naquelaaltura,jhaviaumafila amplaealgumtumulto,oquefoi logo superado por iniciativa de alguns candidatos. A confuso

voltouaseinstalarporquealguns passavamfrentedosoutrosmediante cunha dos organizadores,revelou. OnossointerlocutordizterescolhidoomodeloT3+1porestar num preo que mais se adapta aosseusrendimentos.Pelonvel salarial que tenho, eu escolhi o T3,quetem3quartos,maisum escritrio. O que satisfaz o meu ego e o da minha famlia tambm, referiu. Entretanto, Joaquim Caetano Jos apresentou algumasinquietaessemdeixar desereferiraospreosqueconsideraaltos.SestouaverT3e T5.Ondeestoosapartamentos T2 e os T4? H ainda a questo dostransportes.Nohautocarro nem candongueiros l, como que as pessoas, como eu que notmcarroprprio,sevolocomover?Seeuestiver certo,no seudiscurso,oPresidentedaRepublicadissequeeraumprojecto parafacilitaravidadajuventude angolana, o que no vejo aqui. Aquelediscursodeu-megrandes esperanas, mas agora estou um bocado desanimado, desabafou ojovem. Embora desiludido, o nosso

entrevistado assegurou que vai continuarataofimnalutapela casa prpria. Vou tentar ver se consigopagaracasaqueescolhi. Vou pedir algum auxlio ao patro,famlia.Seissoumprojectoparasolucionaroproblema habitacionaldajuventude,ainda est muito longe de satisfazer a expectativaedesechamarajuda. Issonoajuda,rematou. Opinio semelhante tem outra jovem, que preferiu manter o anonimato. Para ela, s os abastados podero adquirir as residncias nos preos que esto a ser praticados. So os filhos dos magnatas do pas que vo comprar esses apartamentos. Se os preos das casas estivessem na faixa dos 50 a 60 mil dlares, acho que beneficiaria muito mais gente,argumentou.Outra candidatascasasdaCidadedo Kilamba, por sua vez, comeou por saudar a iniciativa, mas reclama da organizao. Segundo ela, devia haver mais postos de atendimento e os funcionrios deviamprestarinformaescorrectasafimdeseevitardesgastes por parte dos candidatos. Eles prometeramqueiriamprvrios

postos de atendimento quando nacidadeexisteapenasumposto deatendimento.Existempessoas aquiapassaremnoite,passarem fomeporcausadessasituao.E dafaltadeorganizao,sobretudo,disse. Opostodeatendimentoaque a nossa interlocutora se referiu foi depois destinado a atender unicamente empresas, o que deixou muita gente furiosa. A medida de s atenderem empresas pssima, porque, primeiro, eles queriam dar prioridade aos jovensenosotodososjovens quetemumempregonoEstado. Paraj,osconcursospblicosso lanados e quando concorremos notemosasnossasvagas,como que eles vo priorizar as empresas? Resumindo: so sempre asmesmaspessoasquevoobter ascasas,continuaaentrevistada quevimoscitando. At a quinta-feira passada estimava-sequecercade40empresas, entre pblicas e privadas, j tinham requisitado apartamentosnaCidadedoKilamba.Havia pelo menos dois postos destinadosunicamenteparaatenderessescasos.

omo falamos no nosso editorial, o Executivo ter invertido as prioridades, ao se esquecer que a crise habitacional por que passamos devia comear a ser combatida com projectos de habitao social, de baixa renda, para possibilitar aos mais desfavorecidos, a esmagadora maioria do nosso povo, que consigam obter o seutecto,comcondiesminimamenterazoveis. Inverteu-se as prioridades porque os fogos disponveis naCidadedoKilamba,como seconfirmouagora,noestaro afinal ao alcance da populaa, em funo dos altos preospraticados. Mas,provavelmenteporse ter apercebido disso mesmo, opresidenteangolanoparece dispostoacorrigirotiro,emboracomalgumatraso.Contudo, como diz a sabedoria popular, mais vale tarde do quenunca. Segundo informaes obtidas pelo SA hora do fecho desta sua edio noite de quinta-feira -, o Chefe do ExecutivoiriazonadaNova Centralidadelanaraprimeira pedra de um grande projectodehabitaosocial,com qualsereduzirentoapresso que se vive agora ao fim daprimeirafasedaCidadedo Kilamba,cujosfogosnoso para quem quer, como diz o povo. Neste momento, o Semanrio Angolense, que tambm fora convidado a cobrir acerimnia(oquejbom), no dispunha de mais elementos sobre este projecto queoPresidentedaRepblica lanaria no dia seguinte (ontem,portanto).

6

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

em FocoMPLA pede moratria a Armando da Cruz Neto

Administrador municipal de Benguela com os dias contadosUm conflito de competncias entre o governador Armando da Cruz Neto e Manuel Lucombo poder culminar com a exonerao deste ltimo do cargo de administrador municipal de Benguela. Segundo apurou este jornal de fontes bem informadas, o afastamento de edil municipal ter sido travada in extremis pela cpula local do MPLA. Entre as figuras eleitas para substituir Manuel Lucombo, avulta o nome do general Andrade, uma alta patente do exrcito que, entretanto, no rene o consenso dos camaradas.Nelson Sul dAngola (*)

dado praticamente adquirido em terras de Ombakaqueasrelaes entre o general ArmandodaCruzNetoeoadministrador municipal de Benguela tm, deunstemposaestaparte,estado a atravessar um clima de crispao. Oalegadoclimademal-estar entre estas duas personagens agravou-se nos ltimos 4 meses, depois do administrador municipalterprocedidoauma remodelao do seu staff, sem que tivesse dado conhecimento prvio ao governador provincial, algo que ter desagradado profundamente o general Armando da Cruz Neto, que tambm 1. secretrio provincial do partido dos camaradasemBenguela. Com o gesto, Manuel Lucombo terextravasadoassuascompetn-

cias,vistoquecompetiaaogovernadorprovincialprocederataismovimentaesnotecidogovernativoda municipalidadebenguelense. A crer das fontes deste jornal, compete ao governador

provincial nomear e exonerar oschefesdeRepartiosobpropostadoadministradormunicipal, algo que Manuel Lucombo no ter levado em conta. No sesabeseteragidopordesco-

nhecimento, negligncia ou por outrasmotivaes. Dentreasmotivaesfeitaspor Manuel Lucombo, que igualmente1.secretrioMunicipalde Benguela, avulta a nomeao de

LeopoldoMuhongoparaocargo deadministradordamesmaprovncia,semquetivessetidoantes oavaldeArmandodaCruzNeto. Como resultado dessa afronta, o general Cruz Neto ter manifestado em alguns crculos locais a sua inteno de afastar o administrador municipal e, no seu lugar, colocar, o general Andrade,umafiguraque,acrerem fontesconvergentes,noreneo consenso no seio dos camaradasemBenguela. H indicaes de que o governadordeBenguelatersidomesmoconfrontadocomasuainteno de afastar Manuel Lucombo, tendo Armando da Cruz Neto ditoquenoreferidoencontroque tais informaes no passavam demerosboatos. Deixando transparecer que estavainvestidodecompetncias paraexonerarquemquerqueseja terditoquequandoassimentender iria faz-lo sem interfernciasdeterceiros.

Alta tenso no relacionamento

Demolies da discrdiaAcrernasfontesdestejornal,asrelaesentreas duaspersonalidadesteroconhecidoumperododeconturbaonomsdeJulhodesteano, depois do administrador municipal ter ordenado, sem aviso prvio ao governador, algumas demoliesnobairrodaGraa. AdecisounilateraldeManuelLucombotersidomal acolhidaporArmandodaCruzNeto,devidodelicadeza domomentoqueopas,eBenguela,emparticular,vivem emfunodaseleieslegislativasepresidenciaismarcadasparaoprximoano. QuantoexoneraodeManuelLucomodocargode administradormunicipaldeBenguelafontedestejornal, confidenciouaoSAqueeletemosdiascontados,eoseu afastamentosnoaconteceuporqueoComitMunicipaldoPartidopediuumamoratria,senoteriajsido varrido. A confirmar-se a sua exonerao, este ser o segundocasodequesetemmemria,vistoqueumasituao quasedogneroocorreunoanopassadotendolevadoao afastamento do administrador municipal da Hula, por desavenasinsanveiscomogovernadorIsaacdosAnjos. Virglio Tchova, recorde-se, havia sido irradiado do cargodepoisdeterentradoemrotadecolisocomogovernadordaHula,devidopolmicademoliodecasas noconhecidobairrodaTchavola,noLubango.

(*) Em Benguela

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

7 em Foco

Presidente da Repblica faz 69 anos no domingo

Assoprar velas com o flego do poderNo falta flego para Jos Eduardo dos Santos assoprar, como mandam as regras, as velas do seu aniversario. No lhe falta nada para renovar o mandato como presidente, em 2012. E tambm no lhe faltam nem os cabelos brancos da sabedoria nem os anos de experincia, para promover as necessrias mudanas polticas que se buscam em Angola, sendo ele uma das pedras basilares desse edifcio, h que se reconhecer. Vai conseguir ser o arquiteto da democracia, saber ser sucedido e, quia, ser finalmente tido para o Nobel da Paz? Seria bom...N. Talapaxi S.

P

oucospresidentesnomundopodem ter-se dado ao luxo de comemorarosexagsimononocacimbodassuasvidas,comquase metade deles no exerccio ininterrupto do poder.Nalistacontemporneadestesmortais privilegiados consta o nome de Jos Eduardo dos Santos, o Zdu para os ntimos, cidado que nasceu no Sambizanga aos28deAgostode1942eopresidenteda RepblicadeAngoladesde21deSetembro de1979. Aolongodessesanosjsetornoupraticamente tradicional a exploso de eventos comemorativosdoseuaniversrio.Tratando-se do sumo mandatrio da Repblica, semdeixardeseteremconsideraooutros cargos,eencargos,submetidosasicomoo de presidente do partido governante, o de chefe do executivo e o de comandante em chefe das forcas armadas esses festejos populares pululam pelo pas afora de tal forma que o prprio homenageado, talvez sesurpreendacomasuamagnitude,desde quenosejaelemesmoaencomendar. Essa e a maneira pela qual a sociedade, delegada sobejamente pelo contingente afectoaopartidonopoder,embrulhaefaz as suas prendas de aniversrio para o primeirorepresentantedanao.Assimtambm,muitosdopovomanifestamoseureconhecimentoeoseuagradecimentopelos feitos, que se julgam extraordinrios, atribudos ao presidente no cumprimento do seumandato.E,comisso,hajattulospara ohomem! Jos Eduardo dos Santos goza desde a qualificao de grande soba - como foi evocado pela autoridade tradicional de Tchitato,osobaFortuna,numalocuofeitarecentementeentremuitosdosseushomlogoslundanortenhos-ataoherosmo nacional de arquitecto da paz, merecido ao fim do processo que calou as armas da guerra e conferiu o ambiente de quase totaltranquilidadequeopovoangolanovive hoje. Um desses certames comemorativos do seuaniversrio,previstoparaacontecerem Malange,naformadeumcolquiosobrea sua trajectria poltica e o seu posicionamentonocampointernacional,javentou ahiptesedelheoferecer, noprximo ano, a indicao para o Prmio Nobel daPaz. Ofactofazperceber-secomoumaembalagemdepresentepelos70anosdevida,que esperamporZduem2012.Mas,aoestilo militanteMdeser,improvvelqueessa pretensapropostanovenhaasertambm

paracelebraros33anosdeserviosprestadosnaopeloCamaradaPresidente,a seremcompletadosnaquelaaltura. Para colher os louros desse intento, at Agosto do prximo ano, por ocasio da publicao de uma antologia bibliogrfica resultadodocolquiodeMalange,aorganizaopretenderecolherassinaturas,anvel nacional e internacional, com base nas quaispensadarazosugestodeinscrever JosEduardocomoumdirigentedignoda premiaoNobeldaPaz. Nota-sedaquenosoquaisquerosttulos consagrados, e os pretendidos, para sedistinguiropresidenteangolano.E,no obstantecertascorrentesadversassuagovernao, no se pode ignorar o quinho deesforosqueeleenvida,ecomregistode muitasmelhoriasareputar,sobretudoapartirdasperspectivascriadascomapacificaodopas.Essesaspectospodem,edevem, constarsim-noquadrodemritos.Mas, daachegaraoNobeldaPazumaquestoqueaacademianorueguesa,patronado trofu,temderesolver.evidentequeno deixariadesermotivodeorgulhonacional. Aproveitando o ensejo criado pelo aniversriodoPresidente,aodiscorrersobrea suatrajectriaeasconquistasdoporvir,j queimpossveldissociarodestinodopas eodohomemchamadoaconduzi-lo,importapassaremrevistaesseaspecto.Alis, todasassentadascomemorativasdeveriam contemplar tal momento de reflexo sobre ocarctermajestosododirigentemximo danao. Por causa das competncias que concentra,sejadevidoaotempoqueoMPLA deteveomandocomomonopartidarismo

oupelosalcanceseleitoraisdaeramultipartidria,talvezJosEduardodoSantosno precise necessariamente sair a correr da presidnciaparadarlugarapressadamente a outro correligionrio. Isso, porm, tambemnosecoadunacomeventuaisinvenesdebarreirasquedificultemoprocesso deumasucesso. J que o testemunho da estafeta no foi passada a nenhum camarada na altura queeraapropriadaparafaz-lo,quefoiduranteocongressodoseupartido,oactual presidentenotemnenhumcandidatopara temer na disputa das prximas eleies. Tem praticamente o caminho livre para eleger-se de novo e continuar a dispr do podercomolhedevido. Masumasucessoqueacontecesseagora possvel que no viesse a ser to salutar, principalmenteseonovopresidenteviesse deumoutropartido.Nopareceque,alm doMPLA,outrogrupopartidriotenhao quilatedesegurarasrdeasdagovernao deAngolanessemomento.Aoposioainda precisa de muito funji e calor para adquiriromnimodefirmezanamusculatura quelhepermitafazerpreocomopartido governante. Poroutrolado,asregrasdojogoeleitoral, emparticular,e,emgeral,asdetodooconcurso democrtico, embora legitimamente estabelecidas, ainda no parecem devidamenteconsistenteseasbrechasocasionais que nele se julgam contidas so subtis e, aparentemente,afavordopartidodirigente. Por isso mesmo, suscitam contestaes muitasvezescalorosasporpartedosector daoposio. Diante do quadro vislumbrado atraves

destespontos, relega-se ao mais alto mandatrio da nao - que no por coincidnciaocabeadoMPLA-omaiorpoder no mbito da engenharia necessria para constituirasfundaessobreasquaisademocraciaangolanasercapazdeseedificar verdadeiramente. JosEduardodosSantoschamadoacolocaremevidnciaoseutalentodearquitetodestafeitacomooarquitetodademocracia. Como cada passo dado tem a sua importncianoconjuntodopercurso,no sepodedizerqueanomeaodearquiteto da paz seja assim ultrapassada pela nova qualificao. Alis, a nova qualificao se consagraemoutrostermos. Ao ser eleito em 2012, como, venhamos e convenhamos, se espera, Zdu ter pela frente, durante o seu prximo mandato, o desafiodesegurareexplorarapressodos ventosqueclamampormudanasimediatas frente as quais o seu partido oferece resistncias.Todavia,ouve-sefalardeecos abafados desse clamor tambm dentro do seuprpriopartido. Zduteriaquetrataragoradearmarbem todasasestruturaspolticasquemovimentamaengrenagemdavidadopas,nosentidodeprepararasuaretiradadocampoe pendurarasbotascomglria. Aqualidadedeumbomengenheirono reside exactamente ai? Dar corpo ao edifcioedeixaraobradevidamentefirmee acabada para que seja usufruda e admirada? Os caminhos para uma verdadeira democracia em Angola passam por uma projecto de arquitetura poltica que o presidenteDosSantosprecisapromover.Elese afiguracomoapedraangularnacomposiodeumedifciopoliticojusto. Essa a maneira como a sociedade reconheceosseusverdadeiroslideresno pelacondiovitalciadosseuscargos,mas pelosfeitosmarcantesnocumprimentodos seusencargos. Com 69 anos de idade hoje, ao fim do prximo mandato j ter adentrado os setentaanosdevida.Nolhefaltamcabelos brancosparajustificarasabedoriamaneiradosnossoskotas.Paramanteracoroade algumamajestade-aexemplodoqueNelsonMandelafeznaAfricadoSulemostrou paraomundo,ecomissomereceuoPremio NobeldaPaz-JosEduardodosSantostem umamissoacumprir.Nofcil,masest aoseualcance.Sobpenadefiguraremlistasnotoprivilegiadasassimeatperder obrilhoquealgumdiatenhaconquistado. Emsubstncia,pelos69anosdevida,que neste domingo comemora, endereamoslhes votos de feliz aniversrio. Parabns CamaradaPresidente!

8

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

em Foco

HRW pede ao Governo de Angola para parar os despejos foradosOCerca de 3500 pessoas esto sob ameaa na cidade do Lubango, sem garantias de alojamento alternativoe crianas, continuavam a viver emabrigosimprovisadosouacu aberto, libertando desesperadamenteareadearbustoseproduzindotijolosdeadobeparaconstruir uma casa antes da chegada daestaodaschuvas. Os despejos forados de Maro de 2010, levados a cabo pelas autoridades e foras policiais da provncia de Hula, deslocaram 3000 famlias que viviam ao longo da linha ferroviria para a rea de realojamento de Tchavola, provocando uma emergncia humanitria. Os despejos foram levados a cabo durante a estao daschuvas,emilharesdepessoas -incluindoidososecrianasvulnerveis-foramexpostoschuva semrecursoaqualquerabrigo. Na sequncia de uma onda de crticas de grupos da sociedade civiledevisitasdecomitsparlamentares, o parlamento ordenou umamoratriasobreosdespejos at ao final do ano, e o Ministro da Administrao do Territrio, BornitodeSousa,dirigiuumpedidodedesculpaspblicosvtimas.Noobstante,emSetembro e Outubro, as autoridades locais despejaram mais 1500 famlias foradocentrourbanodoLubango. As autoridades deviam prestarseriamenteatenocrisehumanitriacausadapelosdespejos foradoslevadosacabonopassado, como forma de evitar causar maissofrimentodesnecessrios pessoasmaisvulnerveis,defendeuBekele. A legislao angolana no garante proteco adequada contra os despejos forados, nem prev odireitoaalojamentoadequado, afirmouaHumanRightsWatch. Ao abrigo do direito internacional,odespejoforadoaremoopermanenteoutemporria,e contra a sua vontade, de indivduos, famlias e/ou comunidades das suas casas e/ou terras por si ocupadas, sem a proviso de, ou acesso a, formas adequadas de proteco legal ou de outra natureza. Os despejos forados estobemestabelecidoscomouma violao fundamental do direito internacional e so considerados uma violao flagrante da legislao em matria de direitos humanos. governo de Angola deve adoptar imediatamente medidas para proteger os direitos humanos fundamentais das vtimas de despejo forado que justificado oficialmente pela implementao de projectos de infra-estruturas pblicas, anunciou quinta-feira a organizao HumanRightsWatch. Os planos de despejo de cerca de3500pessoasnoLubangosem a devida considerao pelos seus direitosmotivodeespecialpreocupao, afirmou a Human Rights Watch. O despejo forado, em condies semelhantes, de maisde20000damesmacidade em 2010 teve consequncias extremamente graves. As autoridades angolanas deveriam garantir que a relocalizao e o realojamentoparaprojectosdeinfra-estruturaspblicasrespeitassemas normas internacionais em matriadedireitoshumanos,afirmou a organizao internacional que vela pelo respeito dos direitos fundamentais dos cidados de todoomundoapartirdasuasede regional em Joanesburgo, frica doSul. A necessidade de obras de infra-estruturas pblicas no desculpa para pisar os direitos bsicos das pessoas; a promoo dobempblicoeorespeitopelos direitos humanos so, e devero ser sempre, mutuamente compatveis,afirmouDanielBekele,directordefricadaHumanRights Watch.Ogovernotemaobrigaoderespeitarminimamenteos devidosprocedimentos,deinformar as pessoas afectadas com a devidaantecednciaedegarantir a disponibilidade de alojamento alternativo com infra-estruturas eserviosbsicos,acrescentou. NacidadedeLubango,750famlias cerca de 3500 pessoas estosobaameaadedemolio iminentedassuascasasedespejo foradoparareasrurais.A29de Junho de 2011, a administrao local ordenou que os habitantes dobairroArcoris,noLubango, abandonassem as suas casas at ao dia 1 de Agosto, para libertar areaparaumnovoprojectorodovirio.Posteriormente,oprazo foialargadoat25deAgosto,mas no foram tomadas quaisquer providnciasquepermitissemaos habitantesencontrarumlugaral-

ternativoparasealojarem.Area derealojamentoemTchitunho,a 15kmdacidadedeLubango,no possui as infra-estruturas e os servios bsicos adequados, tais como gua, electricidade, serviosdesadeouescolas. Os habitantes devem supostamente abandonar os seus lares e construirnovascasassobpresso de tempo, sem qualquer assistncia financeira ou material da partedogoverno,disseaHuman Rights Watch. Desde o anncio feito a 29 de Junho, a administrao local no deu resposta a nenhumdospedidosdemaisinformaes dos habitantes. Alm disso,nohqualquerindicao dequeosagricultoresnolocalde realojamento, que cultivaram as terras anteriormente, receberam a devida indemnizao ou qualquer aviso prvio de requisio dassuasterras. Em 2010, as autoridades provinciais da Hula despejaram fora cerca de 25 000 habitantes dacidadedoLubango,queforam enviados para reas de realojamento em condies semelhantes.Muitasdasvtimasdosdespejos forados continuam espera dereceberassistnciadogoverno. Desde 2010, o governo tem vindo a argumentar que tinha urgncia em levar a cabo estas

remoeseprogramasderealojamentoparaquepudesseconcluir projectos de infra-estrutura, tais como a reabertura de uma linha ferroviria, um projecto de embelezamento urbano e, agora, a inaugurao de uma nova estrada. No entanto, mais de um ano depois, materializaram-se muito poucossinaisdosprojectosanunciados. Entretanto, muitos habitantes, vtimas de despejo forado em MaroeSetembrode2010,ainda no receberam o mnimo de assistncia material que o governo havia prometido, como tendas para abrigo temporrio e areia paraaproduomanualdetijolos de adobe. Devido distncia da cidadedoLubangoaqueasreas derealojamentosesituam,muitas dasvtimasdedespejoperderam oempregoouorendimentoobtidoatravsdocomrcionosmercados urbanos. As infra-estruturas e servios bsicos continuam a ser insuficientes para satisfazer as necessidades de milhares de pessoaspresasnasreasderealojamento. Um habitante do bairro Arco IriscontouHumanRightsWatch que uma comisso de moradoresligadaaopartidonopoder tentou convencer os habitantes a abandonarem as suas casas rapi-

damente,semquaisquergarantias deassistnciafutura.Queremos queasautoridadesexpliquempublicamente por que razo temos deabandonarasnossascasasese olocalparaondequeremquevamostemcondiesparalviver, antesdeconcordarmosemsair, disse. Umactivistadedireitoshumanos local disse Human Rights Watch,referindo-sereaderealojamento:Demomento,noh lnadaalmdearbustoseestradasdeterrabatida. HabitanteseactivistasdedireitoshumanoscontaramHuman Rights Watch que a comisso de moradores do bairro Arco ris lhes disse recentemente que as demoliespoderiamseradiadas para alm de 25 de Agosto. No entanto,asautoridadesaindano forneceramqualquerinformao oficial aos habitantes sobre os seusplanosouqualquergarantia deestaremalevaracaboosprocedimentosadequados. EmOutubrode2010,aHuman Rights Watch visitou as reas de realojamentodeTchavolaeTchimiuka, para as quais mais de 20 000habitantestinhamsidoforados a mudar-se, de Lubango, na sequnciadadestruiodassuas casas. Muitas pessoas despejadas em Setembro, incluindo idosos

Fonte: HWR

10

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

CapaSe Khaddafi cai ou no cai, a quem isso interessa?

Manhas da Velha Raposa do DesertoCelso Malavoloneke

N

a altura em que escrevamos estas linhas esticmos o tempo at omaistardepossvel, osrebeldeslbiostinhamentrado emTripoli,masnocontrolavam a cidade na totalidade. Os filhos de Khaddafi tinham sido presos, mas afinal no estavam presos. No se sabia onde estava o Presidente deposto (?), mas ele dizia quepasseavapelacidade,incgnito,paraveromoraldopovo.O Conselho Nacional de Transio, rgo de comando dos rebeldes vozes dizem que no comanda nada dizia que em oito horas transferir-se-ia de Benghazi para Tripoli, mas 48 horas depois no tinha mudado nada. As Naes Unidas, Unio Europeia, enfim, os pases ocidentais reconheciam oCNTcomoonovogoverno,mas os BRICs emergentes (Brasil Rssia, ndia, China e frica do Sul, as economias emergentes) diziamquenosenhor!Paraeles, KhaddafiaindaoPresidenteda Lbia.AUnioAfricanareunia-se apressadamente para mais uma das suas reunies que do em nada JES nem sequer dignou a l ir, enviando George Chicoty a represent-lo enquanto o CNT afixava uma recompensa de 1,7 milhes de dlares pela captura deKhaddafi,mortoouvivo.De esquebra, Sarkozy anunciava que convidaria os rebeldes BRICS na cimeira que os ocidentais teriamemParisa1deSetembro paraverseosdomesticamcomalguns restos do esplio? Enfim. Numapalavra:asituaonaLbia uma autntica confuso. Com Khaddafi em parte incerta, toda agentemanda,menososlbios. O SA vem acompanhando a situao na Lbia como alis em todo o Magreb desde o seu incio.Muitasvezes,contaram-se emdias,quandonoemhoras,o tempoquefaltavaparaMuammar Khaddafi tambm conhecido como a velha raposa do deserto dar o tombo final. Esta no aprimeiravezqueasredaces adiam o fecho at ao limite espera da notcia de que finalmen-

te ele tinha cado. Desta, como das outras vezes, ainda estamos a chuchar no dedo. Khaddafi desapareceu,masaparecedevezem quando nas rdios que controla na capital, Tripoli. Os rebeldes gastamasmuniesqueaNATO lhes deu (que vo pagar depois, para melhor dizer) em tiros de festejo de uma vitria que disso tem pouco. A comunidade internacionalencontra-sedivididaeo pasestnocaos,comcadatribo bem armada a mudar de campo, hoje pr-Khaddafi, amanh prrebeldes. a festa do caos num pas que at h pouco tempo era dosmaisestveisdocontinente. Como que isso aconteceu? Ser esta confuso do verdadeiro interessedoslbiosou,maisuma vez, resulta das artimanhas dos pases ocidentais desesperados pela explorao dos imensos recursosnaturaisqueopaspossui? Sabendo ns que os lbios go-

zavam dos ndices de desenvolvimento humano mais altos de frica, podero os intelectuais africanos satisfazerem-se com uma Lbia de pobreza e doenas, prostrada aos ps do capitalismo neo-liberal,apenasporquerealiza eleiesque,justasouno,servem paraingls,francseamericano ver?Oquemaisnecessriohoje na frica da nossa actualidade? Um Estado que, embora organizadosuaprpriamaneira,satisfaz as necessidades mais bsicas dos seus cidados; ou um outro que, incapaz de explorar convenientemente os seus recursos em proldosseuscidados,satisfazos ditames ideolgicos prprios da democracialiberalcommandatos, eleies, etc.? E entre o caos, apobrezaeasdoenaseafaltade eleies e mandatos limitados e as chamadas liberdades, o que escolherseforcasodisso?Entrea estabilidade,asatisfaodosIDH

e eleies segundo os ditames liberais, a organizao do Estado segundo a cartilha ocidental, se forprecisoescolheroquemais do interesse dos africanos? E, a perguntachave,serqueonico modelodedemocraciaoliberal? Algum poder dizer em conscincia que o modelo de organizao de Estado africano, tal como o vemos nos sobados e reinados espalhados pelo nosso continente, com um Ndjango (equivalenteaparlamento),osconselhos de ancios, a panplia de regras e costumes equivalentes a um verdadeiro cdigo de leis uma democracia pior que uma monarquiaconstitucionalcomoada Gr-Bretanha, por exemplo? Ou queoReidoBailundo,oumesmo odaSuazilndia,temmaispoderes que o Presidente dos Estados Unidos? Ningum pode dizer isso em sconscincia.Adiferenaque

aGr-BretanhaeosEstadosUnidossearrogamaprerrogativade refazer os pilares da organizao deEstadoquandoissoconvieraos seus interesses. A Swazilndia, o IraqueeaLbia,nopodemtambm?. So essas perguntas que procuraremos dissecar neste longo dossier sobre o que muitos consideram a etapa final da crise na Lbia.Procuraremosexplicarum poucocomoascoisasfuncionam naquelepas,paradepoisapresentarmosalgumashiptesesdoque poder ser a Lbia ps-Kadhafi. Sob uma ptica deveras incmoda: O que est a acontecer na Lbiaounodointeressedos africanosamdioelongoprazo? Estamos a aproximar-nos ou a afastar-nosdostemposnegrosdo colonialismo, quando as nossas riquezas serviam para sustentar o fausto e a opulncia dos pases ocidentais?

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

11 Capa

De Benghazi a Tripoli

Segundo um cirugio que o operou

CNT transfere comando

O

Conselho Nacional de TransiodaLbia,comandadopelos rebeldes, vai comear a governar o pas da capital Trpoli, dissenestaquinta-feira(25)AliTarhouni, dirigente dos rebeldes para assuntos financeirosepetrolferos. ProclamooinciodaretomadadotrabalhodoescritrioexecutivoemTripoli, disseTarhouni. Osrebeldes,quetinhamcomosedeacidadedeBenghazi,nolestedopas,tomaramnatera-feira(23)oprincipalcomplexodeMuammarKhaddafinacapitallbia, mas o paradeiro do veterano lder continuadesconhecido. O anncio ocorreu pouco depois que caas militares da OTAN comearam a bombardearSirte,cidadenataldoditador lbioeumdosltimosfocosderesistncia aoavanodosrebeldes.Ainformaofoi trasmitidapelarededeTVAl-Orouba. A emissora, que leal ao regime de Khaddafi,dissequeagressoresocidentais esto bombardeando Sirte. De acordo comaagnciadenotciasReuters,citado pelositebrasileiroR7,ocanalnocitou fontesnemdeudetalhesdosataques. Sirte a cidade natal de Muammar Khaddafietornou-senoredutodastropas que lhe so leais, aps os rebeldes, com ajudainternacional,tomaremacapitaldo pas. Numa nova mensagem de udio, o ditador pediu nesta quinta-feira que os cidados marchem para Tripoli e purifiquem a cidade dos rebeldes a quem chamouderatos,cruzadoseinfiis. Amensagemdeudiofoitransmitidapor redesdeTVpr-governo.

Namensagem,Khaddafipedeaosseus apoiantes que andem pelas ruas e expulsemosagentesestrangeirosdopas. ALbiaparaopovolbio,enopara agentes, no para o imperialismo, no paraaFrana,noparaSarkozy,nopara aItlia[...]ALbianoparavocs,no para aqueles que confiam na Otan [a alianamilitarocidental],dizKhaddafi. A nova mensagem do ditador foi divulgada no mesmo dia em que as foras rebeldes disseram ter cercado um grupo de prdios em Tripoli, num dos quais o ditadorlbio-desaparecidodesdedomingo(21)-poderiaestarescondidocomseus filhos. Mais cedo, o porta-voz do regime de Khaddafi, Moussa Ibrahim, disse que ele estavaescondidoemsegurana,liderando a luta contra os rebeldes, segundo a rederabeAlJazeera. Naquarta-feira,arededeTVAlRaij haviadivulgadoumamensagemdeKhaddafi,detomparecidocomadehoje:elej pediapopulaoquesassesruaspara limparacapitaldapresenadetraidores. Todososlbiosdevemestarpresentes emTripoli,jovens,homensemulheresdas tribos,todosdevemrondarasruasdacapitalelimp-lasdostraidores[...].EuestivenasruasdeTripolidiscretamente,sem servisto,enoachoqueacidadeestejaem perigo,disseo(ainda)presidentelbio. Execues A rede de TV Al Jazeera informou ter encontrado indcios de execuo de activistas polticos lbios por foras de Kha-

ddafi. Segundo a emissora do Qatar, os corpos de 15 homens foram encontrados numhospital(ainformaoinicialerade quehavia17corposnolocal,masdoisteriamsidolevadosporparentesparaserem enterrados). Os activistas teriam sido presos dias antesdasforasrebeldesseaproximarem deTripoli-elasavanaramparaacapital noltimofimdesemana-elevadospara BabalAziziya(afortalezadeKhaddafina capital).Quandoosopositoresaoregime lbio comearam a entrar no complexo, nesta tera-feira, os prisioneiros teriam sidoexecutadospelosguardas. Mdicos e especialistas ouvidos pela Al Jazeera disseram que as marcas dos tiros nos corpos so sinais de que os activistas forammortoscomtirosqueima-roupa.

cirurgio brasileiro Liacyr Ribeiro,queoperouorosto doditadorlbio,Muammar Khaddafi,acreditaqueouo coronelsermortopelosrebeldesouse suicidar,masnosairvivodocerco dosinsurgentes. Nosairvivo.Doquepudeverdo seu temperamento, ou ser morto ou ser suicidado, disse Ribeiro, citado peloR7. Omdicoestevecomoditadorem 1994, quando realizou nele um liftingfacialeumimplantedecabelo. Segundo ele, o bunker construdo porKhaddafiemTripoliincrvele contacomumapiscinaolmpica,duas salas operatrias com equipamentos alemesexcelenteseumasaladehospital. Ribeiro contou que, naquele ano, participava de um congresso internacionaldecirurgiaquandofoichamado pelo ministro da Sade da Lbia para visitarumapessoamuitoquerida. Ocirurgiopensouquesetratavada suamulher,mas,aoserlevadodecarro ataobunker,descobriuquesetratada doprpriolderlbio. Segundo o brasileiro, Gaddafi era muitoeducado,cultoefalavacorrectamenteoinglse,almdisso,noera considerado um ditador sanguinrio, tinhaaberto[opas]aoOcidenteeera chamadodechefedeEstado. O lder lbio recebeu-o em numa tenda e explicou-lhe o que queria. O mdico disse que precisaria de mais informaes para avaliar a situao, e Khaddafilevou-oentoaumconsultriomdicodosmaismodernos,segundoRibeiro. A fortaleza do ditador da Lbia na capital,conhecidacomoBabalAziziya, foiinvadidanestatera-feira(23)pelos rebeldes, que, no entanto, no encontraramKhaddafiporl. Atquinta-feira,osrebeldesacreditavamqueeleestivessenumprdioprximoaobunker,comosseusfilhos.

O

Lder lbio s sair morto

12

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

Capa

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

13 Capa

14

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

CapaDocumentos do WikiLeaks lanam luz sobre o assunto

As verdadeiras razes da interveno norte-americana na Lbia de KadhafiWashington apoiou a interveno da Aliana Atlntica por uma nica razo: a instalao de um regime que melhor sirva aos interesses estratgicos dos EUA, assim como as operaes das gigantes empresas de petrleo e gsRobert Morgan deMuammaral-Khaddafi,antes dechamaraLbiadeumaliado importante na guerra contra o terrorismo.

D

ocumentos diplomticosdosEstadosUnidos publicados pela WikiLeaks expem algumasdasrazesreaiseastenses diplomticaspordetrsdainterveno da aliana Atlntica em curso na Lbia. Longe de iniciar uma interveno humanitria para proteger os civis contra o governo de Muammar Khaddafi, Washingtonapoiouainterveno da OTAN por uma nica razo: a instalao de um regime que melhorsirvaaosinteressesestratgicos dos EUA, assim como as operaes das gigantes empresas depetrleoegs. Os documentos remontam a 2007,cercadetrsanosapsaadministrao de Bush ter retirado assaneseformalmentereestabeleceurelaescomoregimede Khaddafi, numa tentativa de garantiroacessoaosrecursosmais valiosos da Lbia. At a ecloso

Grandes expectativas No de admirar que os documentosserefiramproduo potencialdehidrocarbonetosda Lbiaesgrandesexpectativas entre as companhias internacionais de petrleo. Significativamente, o regime de Khaddafi ofereceu a Washington a possibilidade de riqueza ainda maior. De acordo com um documento de Setembro de 2009, o ento director interino da Corporao Nacional de Petrleo da Lbia (NOC), Ali Sugheir, disse embaixada dos EUA que grandes baciassedimentarescomrecursos depetrleoegsforamdescobertasnaLbia,comdadosssmicos indicandoquehaviamuitomais aserdescobertoemtodoopas. A luta de dezenas de companhias internacionais de petrleo e gs em ganhar com o fim das sanes,noentanto,logoproduziu doisgrandesproblemasparaogoverno dos EUA. Em primeiro lugar,naspalavrasdodocumentode Novembrode2007,nacionalismo dos recursos lbios, as polticas destinadasaaumentarocontroloeparticipaodogovernolbio nos rendimentos dos recursos do hidrocarboneto. A concluso unnime do documento de que os EUA devem demonstrar as desvantagensclarasaoregimelbiodestecaminho. A poltica de Khaddafi forou asempresasdepetrleoegsem renegociar os seus contratos sob a ltima verso do acordo lbio de participao de explorao e produo (EPSA IV). Entre 2007 e 2008, grandes empresas como a ExxonMobil, Petro-Canad, Repsol(Espanha),Total(Frana), ENI (Itlia) e Ocidental (EUA) foram foradas a assinar novos acordoscomoNOCemtermos muito menos favorveis do que tinhamdesfrutadoanteriormente -elevadosapagarcolectivamente

dos protestos revolucionrios em todo o Oriente Mdio este ano, Khaddafi foi recebido de braos abertosemWashingtonenoutras capitaisocidentais. Comoosdocumentosdemons-

traram,emAgostode2009,osenador dos Estados Unidos John McCain liderou uma delegao dealtonveldeambosospartidos doCongressoparasereunircom Khadhafi.McCaincaracterizouo

ritmo geral das relaes bilaterais como excelente. O senador Joe Lieberman disse que nunca teramosimaginado10anosatrs que estaramos sentados em Tripoli,sendorecebidosporumfilho

OTAN vai manter-seAOrganizao do Tratado do Atlntico Norte (OTAN)) manter s sua misso na Lbia no somenteataquedadolderMuammar Khaddafi, mas at que cessem todososataquesesepermitaoacessoajuda humanitria no pas, confirmaram nesta tera-feirafontesdaalianaatlntica. O objectivo de nossa misso proteger a populao civil e, enquanto existir uma ameaa, continuaremos sobrevoando a regio, indicaram as fontes, citadas pela agncia EFE. A Otan no quis confirmar nesta manh se na noite passada manteve umataqueareosobrearesidnciadolder lbio,comodizatelevisoporsatlitesauditaAlArabiya,nemdarmaisdetalhessobre odesenrolaratualdamisso. ResponsveisdaOTANedaoperaona Lbiaanalisaramnestatera-feiraementrevista colectiva as operaes no pas rabe diantedapossvelquedadoregimedeKhaddafiapsorecenteavanodosrebeldesem Tripoli. O secretrio-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, afirmou segunda-feira queoregimedeKhaddafiestavaclaramenteadesmoronar-se,destacandoqueolder lbio no podia ganhar a batalha contra os seusprprioscidados. Quanto mais rpido Khaddafi compreenderquenopodevencerabatalhacontra oseuprpriopovo,melhor.Assim,oslbios poderoevitarmaisderramamentodesangue e sofrimento, afirmou Rasmussen em comunicado. Desde oinciodaoperao na Lbia, em 31deMaro,aOTANrealizou19.877voos sobreopas,incluindo7.505ataquescontra alvos militares chave do regime de Tripoli, segundo o ltimo balano da organizao, divulgadonestasegunda-feira.

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

15 Capa

5,4bilhesdedlaresemadiantamentodebnusdepagamento. Um documento de Junho de 2008 dizia que o grupo Oasis- incluindo as empresas americanas ConocoPhillips, Marathon e Hess estava espera do prximo bloco, apesar de ter pago 1,8 bilio de dlares em 2005. O documentoquestionavaseaLbia podiaserconfivelemhonraros novoscontratosEPSAIV,ouiria mais uma vez querer uma fatia maior. Odocumentoaindadiscuteas implicaesmaisamplasdoscontratosEPSAIV.

Novos paradigmasEnquanto os contratos eram amplamente benficos para as companhias de petrleo, que defendiam em fazer um grande acordo em mais dinheiro por barril de petrleo produzido, a ameaa de renegociao forada dos contratos criou um perigoso precedente internacional um novoparadigmaparaaLbiaque estmanipulandoportodomundo em um nmero crescente de pasesprodutoresdepetrleo. OsgigantesdopetrleoeogovernodosEUAficaramalarmados com as ameaas feitas por Khaddafi,emJaneirode2009,emuma vdeo-confernciaparaestudantes da Universidade de Georgetown, de nacionalizar as indstrias de leo e gs. Um documento de Janeirode2010relataqueoregime de retrica no incio de 2009 envolvendoapossvelnacionalizao do sector de petrleo... trouxe o assuntonovamentetona. Khaddafi tambm tentou forar as companhias petrolferas internacionais (IOCs) em contribuir com o Acordo Estados Unidos - Lbia de Compensao de Reivindicaes. Assinado em Agosto de 2008, o acordo estabeleceu um fundo para vtimas de atentados envolvendo os dois pases. Dois documentos de Fevereiro 2009 relataram que a Lbiaapresentouascompanhiasde petrleo um ultimato: contribuir para o fundo ou sofrer srias consequncias. O Presidente da NOC,ShukriGhanem,referiu-se explicitamente s ameaas feitas por Khaddafi de nacionalizar a indstria do petrleo. O embaixador dos EUA advertiu que, ao exercerpressosobreasempresas dos EUA, o regime lbio cruzara uma linha vermelha. Ele exortou Ghanem e os seus colegas a considerarem a relao de longo prazocomosEstadosUnidos.

senvolver relaes mais estreitas comosrivaisdosEUA,especialmente na Europa, China e Rssia. Um documento de Junho de 2008descreveumsurtorecente de interesse na Lbia da parte de companhias internacionais de petrleo no ocidentais (principalmente da ndia, do Japo, da RssiaedaChina),queganharam a maior parte das concesses da NOCnasltimasrodadas. Um documento de Maro de 2009 descreve como o PrimeiroMinistro da Itlia, Slvio Berlusconi, testemunhou a ratificao do tratado de amizade e cooperao Itlia-Lbia, no qual os transalpinosteriamdepagar200 milhes de dlares por ano durante25anoscomocompensao pelo erro de colonizao, em troca da garantia da escolha de empresasitalianasparaprojectos de desenvolvimento. Um oficial italiano disse embaixada dos EUAqueacategoriadosinteressesdaItlianaLbiapetrleo, petrleo,petrleoemigrao. A crescente presena da China tambm levantou preocupaes. De acordo com um documento de Fevereiro de 2009, a Companhia de Estrada de Ferro da China foi premiada com um contrato de 805 milhes de dlares naquele ano e um contrato de 2,6 bilies de dlares no ano anterior. Um documento de Maio de 2009 relata que Khaddafi disse ao comandante americanodoComandoAfricanoGeral,WilliamWard,quea China prevalecer em frica, porqueelanointerfereemassuntosinternos.UmdocumentodeSetembrode2009disseque empresaschinesasconstruram nichosparasinomercadolbio, isto,naconstruoetelecomunicaes.

O caso da Rssia Vrios documentos apontam para o estreitamento das relaes da Lbia com a Rssia. Em Abrilde2008,opresidenterusso Vladimir Putin voou para a Lbia,acompanhadopor400delegados, jornalistas e executivos, paragarantirumacordodepermutadadvidade4,5biliesde dlaresdaLbiadaerasovitica para a Rssia por um grande contrato para o transporte ferrovirio e vrios contratos futuros em construes residenciais e desenvolvimento elctrico. Vrios memorandos de entendimentoforamassinadoscomogiganterussodeenergiaGazprom. Nessareunio,Khaddafiexpressou a sua oposio expanso daOTANUcrniaeGergia, sendo ambas questes sensveis paraaRssia. Mais significativo a partir de umaperspectivaestratgicaamericana, Khaddafi aparentemente manifestou a sua satisfao queamaiorresistnciadaRssia pode servir como um contrapesonecessrioaopoderdosEUA, ecoandooapoiocomumdolder lbiodeumsistemainternacional multipolar. Neste contexto, os Estados Unidos cultivaram relaes com certasfigurasdoregimedeKhaddafi, e secretamente discutiram os benefcios da sua remoo de cena.UmdocumentodeJulhode 2008 relata como o Sr. Ibrahim Meyet, um amigo prximo de Ghanem(eumafonteaserprotegida),disseembaixadadosEUA que ele e Ghanem concluram que no haver uma verdadeira reforma econmica e poltica na Lbia at Khaddafi sair da cena poltica, e isso no vai ocorrer enquantoeleestivervivo.

Outro documento de Janeiro de2009dissequehaviaboatosde duas linhas de pensamento no governodaLbia-umpr-americanoeumgrupoquepermaneceudesconfiadodosmotivosdos EstadosUnidosefirmementecontra um conjunto mais amplo de participao.Khaddafieosseus filhos aparentemente pertenciam aogrupopr-americano,jque ocoronelapoiouumamaiorcooperaoentrelbioseamericanos, mas com desconfianas nascidas deumapreocupaoconstantede queoobjectivofinaldocompromissodosEstadosUnidoscoma Lbiafosseamudanaderegime.

Medos fundadosOs medos de Khaddafi eram bemfundados.Nosbastidores,as tensescresceramcomachegada da administrao Obama. Um documento de Fevereiro de 2009 disse que o Governo lbio estava ansiososqueonovogovernodos EUA poderia adoptar polticas muito diferentes para a Lbia. Refere-se a pessoas poderosas naLbiaqueseopemfortemente a melhorias das relaes com os EstadosUnidos,quepodeperder muitoseasalteraesnosistema j existentes mudarem de forma significativa,eelesvosEUAprovavelmentecomo um catalisador paratalreforma. Os documentos mostram que o governo dos EUA acompanhava de perto a oposio poltica ao regime de Khaddafi no leste da Lbia, onde agora a base do Conselho Nacional de Transio rebelde. Um documento de Fevereiro 2008 refere-se a uma poltica deliberada do governo da Lbia para manter os o leste pobre como um meio de limitar aameaapolticapotencialparao

regimedeKhaddafi,oquelevou muitosjovensnolestedaLbia aacreditarquenotinhamnada aperderporparticipaonaviolnciaextremistanopasecontraasforasdosEUAnoIraque. As relaes tambm se intensificaram com elementos dentro dogovernodeKhaddafi.Quando o chanceler Musa Kusa se reuniu comogeneralWilliamWard,em Maiode2009,recordouaogeneral queelecompartilhavasuasopiniescomfrequnciaeabertamente comosseuscontactosamericanos na Agncia Central de Inteligncia (CIA) e no Departamento de Estado.KusafugiudaLbiapara a Inglaterra num jacto particular em30deMarodesteano. Os documentos do WikiLeaks tambm mostram que a proposta do governo de Obama para derrubar o governo da Lbia e o seu reconhecimento do regime rebeldenoeleitoemBenghazi notmnadaavercomaspreocupaesdeajudahumanitria. Por outro lado, a Casa Branca respondeuaosefeitosdesestabilizadores do conflito que estourou nos pases rabes, incluindo na Lbia, virando-se bruscamente contraoseuimportantealiado. A administrao Obama activou preparaes, remontando a pelo menos 2007, para derrubaroregimeeinstalarmaisum aliado dos interesses dos EUA. Longedeprotegeroscivis,ogoverno dos EUA procurou evitar qualquer revolta popular genuna contra Khaddafi, com tudo calculado com base em consideraes de ordem econmica e estratgica, impulsionado em galgargrandepoderderivalidadeelucroscorporativos.

Fonte: CiberNoticiasExpress

Ascenso dos rivaisAsegundaconsequnciaindesejvelcomofimdassanesfoio factodeterpermitidoLbiade-

16

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

CapaMuammar el-Kadhafi

O pai da JamahiriyaO excntrico coronel, o presidente mais antigo de frica e do Mundo rabe, conhecido pelo seu estilo extravagante de se vestir e por se fazer acompanhar por guarda-costas do sexo feminino, diz que concebeu teorias polticas, econmicas e sociais melhor acabadas que as de Plato ou Karl Marx. Ele criou o conceito de Jamahiriya ou Estado de massas, em que o poder teoricamente exercido por dezenas de comits populares

O LDER LBIO passeava-se pelo mundo com guarda-costas do sexo feminino

N

o poder h 42 anos, o coronel Muamar elKadhafi, 68 anos, o lder que est h mais tempo no governo, tanto em frica quanto no mundo rabe. Kadhafi comanda a Lbia desde 1969,quandotinha27anosedepsoreiIdrisI,nasequnciade umgolpedeEstadolideradopor militares. Conhecido pelo estilo extravagante de se vestir e por usar guarda-costas do sexo feminino, olderlbiotambmtidocomo um poltico habilidoso, que conseguiu tirar o seu pas do isolamentodiplomtico. Em 2003 - depois de passar duas dcadas sendo visto como pas pria - a Lbia assumiu a responsabilidade pelo atentado contraumvoodaPanAmsobrea cidadeescocesadeLockerbie,em 1988,abrindocaminhoparaquea ONUsuspendesseassuassanes contraTripoli. Mesesdepois,oregimedeKadhafiabandonouosesforospara desenvolver armas de destruio

emmassa,oquetambmfacilitou a aproximao com o Ocidente. Porcausadasduasmedidas,Kadhafi deixou o isolamento e passouaseraceitepelacomunidade internacional,aindaquecomressalvas. Ele nico no seu discurso, no seu comportamento, nas suas prticasenasuaestratgia,dissera a propsito BBC o analista da poltica lbia Saad Djebbar. Mas um poltico astuto, e um sobrevivente poltico, acrescentou. Razes bedunas Kadhafi nasceu no deserto lbio,pertodeSirte(nortedopas) em 1942. Na sua juventude, ele admiravaolderegpcioenacionalista rabe Gamal Abdel Nasser. Os seus primeiros planos para derrubar a monarquia lbia comearamduranteosseusestudos militares, tendo recebido treino militarnaGr-Bretanhaantesde retornarcidadelbiadeBengha-

zieiniciaraliogolpequeolevariaaopoder,em1desetembrode 1969. Comassuasapariesemreunies internacionais marcadas por roupas extravagantes e discursos sem rodeios, Kadhafi desenvolveu a sua prpria filosofia poltica,escrevendoumlivroque , pelo menos de acordo com o autor,toinfluentequesedestaca mais do que qualquer coisa feita porPlato,MarxouLocke. NoseuLivroVerde,lanado nosanos70,Kadhafiexpsasua filosofia poltica, apresentando uma alternativa nacional ao socialismo e ao capitalismo, combinada com aspectos do islamismo.Em1977,elecriouoconceito de Jamahiriya ou Estado das massas, em que o poder exercido atravs de milhares de comits populares. A teoria alega tambm resolver as contradies inerentes no capitalismo e comunismo,paracolocaromundo numcaminhoderevoluopoltica,econmicaesocialelibertar ospovosoprimidos.

Kadhafi gosta de prezar tradies locais em pblico. Durante viagensaoutrospases,acampou em luxuosas tendas bedunas, tpicas dos povos de sua regio. A tendatambmfoiusadadiversas vezes para receber personalidade e polticos na Lbia, durante encontrosnosquaisKadhafiseprotegia das moscas com uma crina de cavalo ou com um leque feito deumafolhadepalmeira. Cachorro louco Oex-presidenteamericanoRonaldReaganchamouolderlbio de cachorro louco e, em 1986, autorizouumataqueareoaTripoli e a Benghazi em resposta a um ataque a bomba contra uma discoteca em Berlim Ocidental, que matou dois militares americanoseumamulherturcaeque, segundoosEstadosUnidos,teria sidorealizadoporagenteslbios. Os bombardeios americanos mataram 45 soldados e funcionrios pblicos e 15 civis. Entre estesestavaumafilhaadoptivade

Kadhafi. Nosanos90,rejeitadonosseus esforos para unir o mundo rabe, o lder lbio voltou-se para a frica,propondoacriaodeum pas-federaonocontinente,nos moldesdosEstadosUnidos.Para promoveraideia,elepassouavestir-secomroupasquecarregavam emblemasdocontinenteouretratosdelderesafricanos. Mas no fim da dcada, com a Lbia em dificuldades por causa das sanes econmicas impostaspelosEstadosUnidos,Kadhafi viu-seforadoaassumiraautoria doatentadodeLockerbieedeoutros actos terroristas, para lentamente restabelecer o dilogo do pascomosEstadosUnidos.No haver mais guerras, ataques ou actosdeterrorismo,disseocoronelaocelebrar39anosnopoder. Desafios domsticos Nofimdadcadade50,reservas de petrleo foram descobertas na Lbia, mas a extraco do produtoeracontroladaporcom-

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

17 Capa

panhias estrangeiras, que estabeleciamospreosparadar vantagens aos consumidores de seus pases de origem e ficavamcommetadedarenda. Kadhafi exigiu a renegociao dos contratos, ameaando fechar a produo se as companhias petrolferas se recusassem. Ele desafiou os executivosdessascompanhias estrangeiras, afirmando que pessoasqueviveramsempetrleo por 5 mil anos podem viversemissodenovoporalguns anos para conquistar os seusdireitos. A estratgia funcionou e a Lbia transformou-se no primeiro pas em desenvolvimento a garantir uma fatia maioritriadosganhosdasua prpriaproduodepetrleo. Outros pases logo seguiram o exemplo e o boom do petrleo rabe da dcada de 70 comeou.ALbialogocolheu os benefcios. Com os nveis de produo alcanando os depasesdoGolfo,eumadas menorespopulaesdafrica (cercade3milhesdepessoas na poca), o pas enriqueceu rapidamente. Guia Noseupas,ocoronelapresentava-secomooguiaespiritual da nao, supervisionandooquediziaserumaverso local de democracia directa. Na prtica, segundo os crticos,Kadhafimanteveporanos e anos o controlo absoluto e autoritriodaLbia. Dissidncias ou crticas foram duramente reprimidas e amdiadopassemprefoirigorosamente controlada pelo governo.ALbiatemoutinha umaleiqueprobeactividades emgrupobaseadasemideologiaspolticasquefossemopostasrevoluodeKadhafi. Segundo a organizao internacional Human Rights Watch,oregimeprendeucentenas de pessoas por violar a lei e sentenciou algumas morte. Tambm h relatos de torturaedesaparecimentos.

Um pouco de histria

A

In ltimo Segundo

Lbiaumpasdonorte de frica, limitado a norte pelo Mar Mediterrneo,alestepelo Egipto e pelo Sudo, a sul pelo Chade e Nger e a oeste pela Arglia e Tunsia. A sua capital a cidadedeTripoli.Atantesdesta ltima guerra que o assolou, era opascomomaiorndicedeDesenvolvimentoHumanoemfrica (0,755), alis, um dos poucos emqueestaclassificaoeraalta. Antigo assentamento de povos to dspares quanto os fencios, os romanos e os turcos, a Lbia recebeu o seu nome dos colonos gregos, no sculo II antes da era crist. Durante grande parte da sua histria, a Lbia foi povoada por rabes e nmadas berberes, e somente na costa e nos osis se estabeleceram colnias. Fencios e gregoschegaramaopasnosculo VIIa.C.eestabeleceramcolniase cidades.Osfenciosfixaram-sena Tripolitnia e os gregos na Cirenaica. Os cartagineses, herdeiros das colnias fencias, fundaram na Tripolitnia uma provncia, e nosculoIa.C.oImprioRomanoseimpsemtodaaregio,deixando monumentos admirveis (LeptisMagna).

ALbiapermaneceucomoprovnciaromanaatserconquistada pelos vndalos em 455 d.C., aps serreconquistadapeloImpriobizantino,continuadordoromano. Osrabesestenderamareacultivadaemdirecoaointeriordo desertodoSahara. Durantepoucomaisdetrssculos,osberberesalmadasmantiveramodomniosobrearegio tripolitana, enquanto a Cirenaica estevesobocontroloegpcio. Em 1551, Solimo I, o Magnfico, incorporou a regio ao Imprio Otomano, estabelecendo o podercentralemTripoli.Aautoridadeturca,entretanto,malpassavadaregioparaalmdacosta. Dois sculos mais tarde, o reinado da dinastia Karamanli, que dominou Tripoli durante 120 anos, contribuiu para assentar mais solidamente as regies de Fez, Cirenaica e Tripolitnia, e conquistou maior autonomia, sendo apenas nominalmente pertencente ao Imprio Otomano, a regio servia de base para corsrios, o que motivou interveno norte-americana, a primeira GuerraBerbere,queocorreuentre 1801e1805. Em 1835, o Imprio Otomano restabeleceuocontrolosobreaL-

bia,emboraaconfrariamuulmanadossanusistenhaconseguido, emmeadosdosculo,dominaros territriosdaCirenaicaedeFez (interiordopas). Em1911,sobopretextodedefenderosseuscolonosestabelecidosnaTripolitnia,aItliadeclarouguerraaoImprioOtomanoe invadiuopas,factoqueinicioua Guerra talo-Turca. A seita puritana islmica dos sanusis liderou a resistncia, dificultando a penetrao do Exrcito italiano no interior.ATurquiarenunciouaos seusdireitossobreaLbiaemfavor daItlianoTratadodeLausanne ou Tratado de Ouchy (1912). Em 1914, todo o pas estava ocupado pelos italianos que, no entanto, comoosturcosantesdeles,nunca conseguiramafirmarasuaautoridade plena sobre as tribos sanusi dointeriordodeserto. Durante a Primeira Guerra Mundial,oslbiosrecuperaramo controlo de quase todo o territrio, excepo de alguns portos. Terminada a guerra, os italianos empreenderam a reconquista do pas.Em1939,aLbiafoiincorporadaaoreinodaItlia.Acolonizaonoalterouaestruturaeconmicadopas,mascontribuiupara melhorarainfra-estrutura,como

arededeestradaseofornecimentodeguascidades. Durante a Segunda Guerra Mundial, o territrio lbio foi cenrio de combates decisivos. Entre1940e1943houveacampanha da Lbia entre o Afrikakorps do generalalemoRommeleastropas inglesas. Findas as hostilidades,oReinoUnidoencarregou-se dogovernodaCirenaicaedaTripolitnia,eaFranapassouaadministrarFez.EssanaesmantiveramaLbiasobfortegoverno militaratqueaAssembleiaGeral das Naes Unidas aprovou a independncia do pas no primeiro diade1952,dataapartirdaqual foiadoptadoonomeReinoUnido daLbia.Olderreligiosodossanusis,oemirSayyidIdrisal-Sanusi,foicoroadoreicomonomede IdrisI(1951-1969). DepoisdasuaadmissonaLiga rabe, em 1953, a Lbia firmou acordosparaaimplantaodebases estrangeiras no seu territrio. Em 1954, houve a concesso de basesmilitareseareasaosnorteamericanos. A influncia econmicadosEstadosUnidosedoReino Unido, autorizados a manter tropasnopas,tornou-secadavez mais poderosa. A descoberta de jazidasdepetrleoem1959cons-

18

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

Capatituiu no entanto factor decisivo paraqueogovernolbioexigisse aretiradadasforasestrangeiras, o que provocou graves conflitos polticoscomaquelasduaspotnciasecomoEgipto.Em1961,tem incioaexploraodopetrleo. A actual histria da Lbia teve incioem1969,quandoumgrupo de oficiais nacionalistas, de forte alinhamento poltico-ideolgico comopan-arabismo,derruboua monarquiaecriouaJamairia(Repblica)rabePopulareSocialistadaLbia,muulmanamilitarizada e de organizao socialista. OConselhodaRevoluo(rgo governamental do novo regime) era presidido pelo coronel Muammar al-Khadafi. O regime de Muammar Khadafi, chefe de Estadoapartirde1970,expulsouos efectivos militares estrangeiros e decretou a nacionalizao das empresas,dosbancosedosrecursospetrolferosdopas. Em 1972, a Lbia e o Egipto uniram-se numa Confederao deRepblicasrabes,quesedissolveu em 1979. Em 1984, a Lbia e o Marrocos tentaram uma unioformal,extintaem1986. Khadafiprocuroudesencadear uma revoluo cultural, social e econmica que provocou graves tenses polticas com os Estados Unidos, Reino Unido e pases rabes moderados (Egipto e Sudo).Apoiadopelopartidonico, a Unio Socialista rabe, aproveitou-se da riqueza gerada pela explorao das grandes reservas depetrleodopasparaconstruir o seu poderio militar e interferir nosassuntosdospasesvizinhos, comooSudoeoTchad,queseria invadidopelaLbiaem1980. Depois da Guerra do Yom Kippur,aLbialevouosseusparceirosrabesanoexportarpetrleo paraosEstadosqueapoiaramIsrael.Ops-seiniciativadopresidente egpcio, Anwar al-Sadat, de restabelecer a paz com Israel, e participou activamente, junto com a Sria, da chamada frente de resistncia em 1978. O seu apoio Organizao para a Libertao da Palestina (OLP) se intensificou, e a cooperao com ospalestinosseestendeuaoutros grupos revolucionrios de pases no rabes, que receberam ajuda econmicalbia. ArejeioaIsrael,asmanifestaes anti-americanas e a aproximao com a Unio Sovitica, porpartedaLbia,geraramsrios conflitos na dcada de 1980. As relaesdaLbiacomosEstados Unidos se deterioraram quando, em 1982, os Estados Unidos impuseram um embargo s importaes de petrleo lbio. Em respostaavriosatentadoscontra soldados americanos na Europa e s acusaes de que o governo lbiopatrocinavaouestimulavao terrorismo internacional, o presidente Ronald Reagan ordenou, em Abril de 1986, um bombardas Naes Unidas, impuseram pesados embargos ao comrcio e ao trfego areo lbio, porque o governo se negava a extraditar os dois lbios suspeitos de terem colocado uma bomba num avio de passageiros norte-americano queexplodiusobreLockerbie,na Esccia, em 1988, e matou 270 pessoas. Este tipo de sano repetiu-se nos anos seguintes, mas Khadafi desrespeitou o bloqueio areomilitarviajandoparaaNigriaeNger,bemcomoenviando peregrinos a Meca em avies de bandeiralbia. Em1993,aLbiarompeurelaescomoIro,reagindocontra ocrescimentodofundamentalismo islmico. Em 1994, os lbios retiram-sedoChade.Asrelaes de Khadafi com os palestinos se deterioraram, medida que estes se mostraram dispostos a negociar uma paz com Israel, e emSetembrode1995odirigente lbio anunciou a expulso de 30 mil palestinos que trabalhavam na Lbia. A medida foi suspensa depois da deportao de 1500 pessoas, e em Outubro de 1996 Khadafi anunciou que estas seriamindemnizadas.Oregimelbiotemenfrentadoumacrescente resistncia de parte de grupos religiosos islmicos, e em 1997 seisoficiaisdoexrcitoforamfuzilados,acusadosdeespionagem. Tentandomelhorarasuaimagem internacional, Khadafi admitiu a possibilidadedeconcederaextradio dos dois agentes acusados do atentado de Lockerbie, desde que no fossem julgados nos Estados Unidos da Amrica ou no Reino Unido, como acabou por acontecer. In Wilkipedia

deio da aviao americana a vrios alvos militares em Tripoli e Bengazi, em que pereceram 130 pessoas.Kadhafi,queperdeuuma filha adoptiva quando a sua casa foi atingida, manteve-se como chefepoltico,masasuaimagem internacional deteriorou-se rapidamente. Paratiraropasdoisolamento

diplomtico, no incio da dcada de1990,ochefelbiodisps-sea melhorar o relacionamento com as potncias ocidentais e com as naes vizinhas. Em 1989, a Lbia associou-se Unio de Magreb, um acordo comercial dos Estados do norte da frica. Em 1991, durante a Guerra do Golfo Prsico,aLbiaadoptouumapo-

siomoderada,opondo-setanto invaso do Kuwait quanto ao posterior uso da fora contra o Iraque.Apesardesuaneutralidadenoconflito,aLbiamanteve-se sobcrescenteisolamentointernacionalatmeadosdadcada.Em 1992,osEstadosUnidos,oReino UnidoeaFrana,comaaprovao do Conselho de Segurana

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

19 Capa

Cronologia da revoltaOs lbios esto a pagar uma elevada factura pela revolta que j levou praticamente ao fimdoregimedeMuammarKhaddafi,comapoiodeforasestrangeiras,queintervieramnoconflitosobopretextodeacudiremas populaescivis,alvosdafria doseupresidente.Opasestagoratodopartido,masparamuitos osacrifciovaleuapena.Queiram acompanharorelatocronolgico darevolta: Fevereiro-OsprotestosnaLbia comearam no dia 16 de FevereiroinspiradosnasmanifestaesqueaconteciamnoEgiptoe naTunsiaequejseespalhavam por vrios pases, no s do no nortedafrica,comotambmdo OrienteMdio.Asmanifestaes surpreenderam, j que Khaddafi sempre proibiu qualquer tipo de revoltapopular.Oestopimparaa revoltafoiaprisodeumactivista pr-direitos humanos. A rede onlinederelacionamento,oFacebook,foidecisivanamobilizao. Neste primeiro ms, as tropas pr-Khaddafi abriram fogo contraosmanifestantesediplomatas emvriospasesdomundopediram a interveno internacional contraaondadeviolncia.Jornalistas e fotgrafos foram impedidosdeentrarnopasoudedivulgarfotosdosprotestos. Maro - A revolta que pedia o fim da ditadura de Muammar Khaddafi provocou uma crise humanitria na Lbia. Segundo a agncia de refugiados da ONU (ACNUR), quase 150 mil pessoascruzaramoutentamcruzaras fronteirasparaaTunsiaeoEgipto, fugindo da violncia no pas. Enquantoisso,arevoluorolava solta nas ruas de vrias cidades lbias.OredutodosrebeldesantiKhaddafiseconcentrouemBenghazi, enquanto os seus apoiantes se concentravam em Tripoli, capital do pas. A oposio reivindicava liberdades polticas, respeito aos direitos humanos e o fim da corrupo. A interveno internacional gerou ainda mais tenses. Neste ms, msseis foram lanados contra a manso doKhaddafieoditadordemorou aautorizaroacessodaCruzVermelhanaLbia.Astropasaliadas deKhaddafilanaramumaofensiva,retomandovriascidadesna regio leste da Lbia, ameaando Benghazi. Abril-Noterceiromsdepro-

testos, manifestantes disseram que 10 mil pessoas tinham sido mortas nas mos dos soldados de Khaddafi, assim como 20 mil desaparecidos e 30 mil feridos, dos quais 7.000 corriam perigo demorte.Acomunidadeinternacional concedeu apoio aos rebeldes, inclusive financeiro. Tropas da OTAN bombardearam vrias cidades do pas tentando atingir asforasdeKhaddafi,tendosido questionadapelamortederebeldesecivis.Enquantoisso,aONU pediaumcessar-fogoimediato. Nesse ms, vrios acordos foram propostosentreKhaddafiemanifestantes,masnenhumseconsumou. 9/04-ONUabrecorredorhumanitrionaLbiapelaprimeira vez. 05/04-OTANdizterdestrudo 30%daforamilitardeKhaddafi. 14/04-AviesdaOTANbombardeiamTripoli. 13/04 - Reino Unido prope financiamento para rebeldes na Lbia. 12/04- Rebeldes acusam Khaddafidetermatado10milpessoas. 30/04-Ataqueareomatafilho maisnovoenetosdeKhaddafi. Maio - Em Maio, comeam as especulaes sobre o fim de Khaddafi. Alguns pases, como os Estados Unidos, aceitam pela primeira vez a legitimidade dos rebeldes,masaindanoosadmi-

temcomogovernantes.AFrana expulsadiplomataslbiosaliados aKhaddafi,enquantoopresidentevenezuelanoHugoChvez,que apoia o ditador lbio, classifica a acodaOTANdeassassina. 01/05-Khaddafiescapadesegundoataqueem24horasecriticaleidaselva. 06/05 - Frana expulsa 14 diplomataslbiosfiisaGaddafi Junho - Os investigadores do TPI (Tribunal Penal Internacional) dizem ter provas de que o lder lbio, Muammar Khaddafi, ordenou estupros em massa e comprou estimulantes sexuais paraquesuastropasestuprassem mulheres. Nesse ms, os Estados Unidos,Itlia,EspanhaeFrana, entreoutros,reconheceramosrebeldeslbioscomolegtimos.Surgem novas propostas de acordo entre Khaddafi e rebeldes, entre elas que o filho do ditador organize uma eleio, mas rebeldes disseramquenoconfiamemum processopolticoorganizadocom elenopoder. 04/06 - Japo congela 4,4 biliesdedlaresdeKhaddafi. 08/06-OTANdizquevaificar naLbiaatKhaddaficair. 08/06-Khaddafipodeterdistribudo Viagra para incentivar estupros. 09/06-EUAreconhecemrebeldesnogovernodaLbia. 16/06-Rebeldesrejeitamoferta defilhodeKhaddafiparaeleies.

Julho-Cercade1,2milhode pessoas fugiram da Lbia desde Fevereiro, quando se iniciou o conflito armado entre as foras governamentais e os rebeldes. Muammar Khaddafi prometeu atacar casas, escritrios e famliasnaEuropaemretaliaoaos ataques areos da OTAN ao seu pas. Os rebeldes com postos em Misrataavanamcercade20km para o oeste rumo capital, Tripoli, onde est o reduto do ditador.Umraroencontroaconteceu entre autoridades dos EUA e representantes de Muammar Khaddafi para pressionar a renncia dolder. 01/07 - Mais de 1 milho de pessoasjfugiramdaLbia. 02/07 - Muammar Khaddafi ameaaatacaraEuropa. 06/07 - Rebeldes lbios avanamrumocapitaldopas. 18/07-Americanosrenem-se comlbiosparaexigirrennciade Khaddafi. Agosto-Almdacrisedocombustvel que afecta a vida diria dos moradores de Tripoli h vriosmeses,afaltadeenergiaelctricaeoscortesnofornecimento de gua agravam o sofrimento dos habitantes da capital da LbianoinciodoRamado,oms sagradoparaosmuulmanos.Os rebeldes lbios conseguem cercar Tripoli e a situao do ditador lbio fica ainda mais complicada

quandooseuex-primeiro-ministro, Abdessalam Jalloud, abandonaTripolieviajaparaaItlia. Doisfilhosdoditador,entreeleso seupossvelsucessorSaifalIslam, sopresos pelos rebeldes, segundofontedestes.Porm,umdeles surgiria mais tarde a dizer que noerabemassim. 07/08 - Habitantes de Tripoli iniciamoRamadosemelectricidadenemgua. 15/08-Khaddafipedeaosseus apoiantes que se preparem para retomarcidadesnaLbia. 20/08 - Ex-primeiro-ministro doregimelbiofogeparaaItlia. 20/08 - Testemunhas dizem querebeldesjestoemTripoli. 21/08 - Rebeldes dizem que capturaram dois filhos de Khaddafi. 22/08Umdeles,porm,reaparecesurpreendentementeediz quearesistnciacontinuar. 23/08Rebeldesentramfinalmente na residncia de Khaddafi emTripoli,destruindotudosua passagem. Caa um dos principais smbolos do poder do coronel, cujo paradeiro, todavia, era ento desconhecido. Uns diziam que ele permanecia em algum lugardacapitallbia,masoutros garantiam que o presidente j tinhafugidoparaoestrangeiro.Na altura, falava-se que estaria na Arglia.

In R7

20

Sbado, 27 de Agosto de 2011.

Capa

A era ps-GaddafiJustino Pinto de Andrade 1. OestadoactualdoconflitonaLbiaestadespertardiversos tipos de sentimentos: em alguns um grande regozijo pelo derrube doditador;outroslamentamofacto; no falta, porm, quem aplauda,mesmoquecomreticncias. normalestavariedadedereaces, pois o quadro que se desenhou bastantecomplexo. 2. A interveno da NATO no conflito interno daquele pas teve o condo, de certa forma, de baralhar os dados do problema, uma vez que quando estavam em jogo apenas os actores internos, tudosetornavamaislquido.Vale, pois,apenafazermosumpequeno resumo dos principais acontecimentos que ocorreram desde que explodiuacrisenaLbia. 3. Acendeu-se o rastilho comadeteno,emmeadosdeFevereiro,deumactivistadosdireitos humanos.Saram,ento,rua,na segundacidadedopas,Benghazi, alguns milhares de pessoas protestando contra essa priso mas, tambm, contra a corrupo do regime.Arepressopolicialquese seguiuprovocoumortoseferidos, um cenrio que se estendeu para outrascidadesdopas. 4. O ditador no soube interpretar a situao prevalecente no seu pas (e tambm na subregio), tendo-se socorrido do Exrcitoparaconteraondademanifestaes que, entretanto, se espalhavam,chegandomesmoats cidadesprximasdeTripoli,acapital.Aoposioorganizou-seum poucoprecipitadamenteetomouo controlo de Benghazi, fazendo da cidadeoseubastio. 5. Do-se depois algumas defeces (deseres) no prprio Exrcito, e tambm na classe poltica, sendo destas a mais espectacular a do ento Ministro da Justia que, posteriormente, veio a assumir a liderana poltica da rebelio. No havia organizao. Tambmnohaviaquempudesse serointerlocutorinternacionaldos rebeldes.Deseguida,acontestao ao regime de Muammar Gaddafi tomacontadasmesquitas,comos imanes a assumirem posio activa. 6. Com a morte de milhares de contestatrios s mos das foras de represso, cresce o isolamento do regime do ditador, ao pontodeaLigarabesuspendera Lbiadassuasreunies.Seguem-se sanesaplicadaspelaUnioEuropeia e pelos Estados Unidos mas, tambm,pelasNaesUnidas.Os rebeldescriamoCNT,oConselho Nacional de Transio, fazendo deleoseubraopoltico. 7. Paranoseremmassacrados, milhares de lbios procuram abrigoemoutrospases.Oregime doCoronelGaddafiaumentaarepresso e ameaa com extermnio. As Naes Unidas aprovam a Resoluo n 1.973 que autoriza a tomada de todas as medidas paraprotegerapopulaocivil.A Resoluo s exclui a interveno emsololbio. 8. Alguns pases iniciam, ento,acriaodeumaZonade ExclusoAreafazendobombardeamentos selectivos sobre alvos militares estratgicos, e anulando quase de imediato o potencial areo do Coronel. Segue-se a passagemdaresponsabilidadeda intervenointernacionalparaasmos da NATO, por razes polticas e para facilitar a coordenao das foras. 9. MaisministrosdeGaddafisedemarcamdoregimeeaderem aos rebeldes. Com isso, a rebelio ganha, pois, mais consistncia, mesmo que sejam demasiado evidentesassuasfragilidades.Osataques das tropas lbias tornam-se mais ferozes, o que comove a comunidade internacional e suscita maior simpatia pelos rebeldes, geralmentejovensmunidosdemeios de defesa rudimentares, com uma clarainexperincianoseumanejo. 10. O assassinato do Chefe militar dos rebeldes antigo Ministro do Interior de Gaddafi lanasombrasperigosassobrea coesonoseiodarebelio.Mesmo assim, e protegidos pelos meios areosdaNATO,osrebeldesavanam em direco Tripoli que, finalmente, tomam, deitando por terraumregimedespticoquesobreviveu42anosquaseomesmo nmerodeanosdaditaduradeSalazareCaetano(48anos)emPortugal. 11. Quem, como eu, resistiu e combateu a ditadura de Salazar e Caetano, de modo algum pode nutrirsimpatiaporoutrasditaduras. uma questo de princpio e de coerncia poltica e ideolgica: asditadurassosempreditaduras, sejam elas nossas, sejam elas dos outros; venham elas ornamentadasdeverde(comoadeGaddafi), ou envoltas com outras cores. So ditaduras.Emaisnada. 12. Aintervenoestrangeira noconflitolbiodeuargumentosa alguns para, explicitamente ou de modo encapotado, manifestarem simpatia por Muammar Gaddafi. Socorrem-se assim do interesse ocidental pelo petrleo da Lbia (fundamental para a sobrevivnciadaseconomiasocidentais,eat mesmoparaasoutras,asnoocidentais)parasuportarasuadefesa doCoronel. maisfcil,dadoqueestencravada entre dois pases do mundo rabe ondeserealizaramcomxitorevoluesdemocrticas:aTunsiaeo Egipto.Nooquesucedecoma Sria, encravada numa envolvente internacional muito mais complexa,comrepercussesimediatassobreoIro,Iraque,Israel,Palestina, Lbano,etc.

17. A comunidade internacional ainda est na fase de uso dos instrumentos de presso poltica, diplomtica e econmica, parapressionarogovernosrio.A prpria oposio sria vai se organizandoeapelanointerveno militarinternacional,paramanter ocontrolodasituaoeevitarfuturasdependnciasexternas.Contudo,ogovernosrioestinsensvel 14. Alega-se que se houve eprossegueasuaacocriminosa. intervenonaLbia,deveriatam- Pode vir a transformar-se num bm haver interveno, e de ime- prximo alvo, e cair de podre diato,naSria,ondehigualmente comoirocair,aseutempo,todas uma ditadura e um ditador a ex- asditaduras. terminaroseupovo.Setudofosse assimtofcil,jhmuitoteriam 18. H quem esteja insistenacabadoasditaduras. tementeaacenarcomoespectroda instabilidade que, seguramente, a 15. No creio que seja poss- LbiairvivernaEraps-Gaddafi, velerecomendvelabrirfrentesde muitoporcausadafaltadecultura guerraemtodosospases,sobretu- democrtica da sua classe poltica doaomesmotempo.Seriasuicid- e, sobretudo, pela enorme diversirioparaaprpriacomunidadein- dadetnica(tribos)queopasposternacional.Almdisso,hqueter sui. em conta o contexto regional em quecadapasestinserido. 19. Serqueadiversidadetnicaumimpedimentodefinitivo 16. O contexto da Lbia paraqueumpovopossaviverem 13. Nosouingnuoaoponto de pensar que a alta poltica se moveapartirdesentimentalismos equenotememcontaosseusinteressesestratgicos.Porm,somadasrazesemotivaes,eupenso quealutapel