Semeando com fé, colhendo com alegria

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 9 • nº 1658 Janeiro/2015 Martins Semeando com fé, colhendo com alegria A voz de Ozelita de Amorim ecoa entre as árvores, as plantas e os canteiros. De manhã cedo, a luta do dia começa com música. Quatro horas da manhã a agricultora já está de pé, para ver o sol nascer e para respirar o ar puro da madrugada. Há mais de trinta anos, ela mora com a família, à beira de um açude, no Sítio Poção, em Martins, município que fica localizado no Oeste do Rio Grande do Norte. A agricultora que também é evangélica revela que para espantar os males, enquanto trabalha, louva a Deus, como forma de agradecer por mais um dia de vida e pela oportunidade de fazer o que gosta: trabalhar com a terra. “Toda hora que você chegar aqui em casa, você vai me ver cantando e sorrindo, porque quando a gente canta, não tem tristeza, só alegria”, completa. Mãe de 16 filhos e 2 netos, foi através do trabalho na agricultura e no artesanato que ela conseguiu dar à família uma vida melhor e mais digna apesar das dificuldades. Tirar leite da vaca, aguar as verduras e fazer as tarefas domésticas, são apenas algumas das atividades que a agricultora realiza todos os dias. “Eu faço de tudo. Não tenho preguiça de trabalhar. Limpo de enxada, faço canteiro, corto de machado, cuido dos bichos.” Ela conta que só pede duas coisas a Deus, chuva e saúde, porque o resto ela mesma é capaz de fazer acontecer com muito trabalho e força de vontade. Na pequena propriedade, a família conta com uma cisterna de primeira água, com capacidade para armanezar até 16 mil litros de água de chuva para consumo e uso doméstico. A cisterna foi construída em 2014 e representou mais autonomia para a família. “Agua de cisterna é uma bênção. É a melhor água que tem porque ela vem do céu para matar a nossa sede e a dos animais”, diz Ozelita. Através do Programa Uma Terra Duas Águas, Ozelita também foi beneficiada com uma tecnologia de segunda água. São 52 mil litros, captados em uma cisterna-enxurrada, para o consumo de animais e para investir na produção de alimentos. A agricultora ainda participou de duas capacitações em gestão e manejo da água, promovidas pela Diaconia na comunidade.

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Dona Ozelita mora com a família há mais de 30 anos no Sítio Poção, em Martins. Agricultora e artesã, ela semeia com fé e colhe com alegria.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 9 • nº 1658

Janeiro/2015

Martins

Semeando com fé,colhendo com alegria

A voz de Ozelita de Amorim ecoa entre as árvores, as plantas e os canteiros. De manhã cedo, a luta do dia começa com música. Quatro horas da manhã a agricultora já está de pé, para ver o sol nascer e para respirar o ar puro da madrugada. Há mais de trinta anos, ela mora com a família, à beira de um açude, no Sítio Poção, em Martins, município que fica localizado no Oeste do Rio Grande do Norte.

A agricultora que também é evangélica revela que para espantar os males, enquanto trabalha, louva a Deus, como forma de agradecer por mais um dia de vida e pela oportunidade de fazer o que gosta:

trabalhar com a terra. “Toda hora que você chegar aqui em casa, você vai me ver cantando e sorrindo, porque quando a gente canta, não tem tristeza, só alegria”, completa. Mãe de 16 filhos e 2 netos, foi através do trabalho na agricultura e no artesanato que ela conseguiu dar à família uma vida melhor e mais digna apesar das dificuldades.

Tirar leite da vaca, aguar as verduras e fazer as tarefas domésticas, são apenas algumas das atividades que a agricultora realiza todos os dias. “Eu faço de tudo. Não tenho preguiça de trabalhar. Limpo de enxada, faço canteiro, corto de machado, cuido dos bichos.” Ela conta que só pede duas coisas a Deus, chuva e saúde, porque o resto ela mesma é capaz de fazer acontecer com muito trabalho e força de vontade.

Na pequena propriedade, a família conta com uma cisterna de primeira água, com capacidade para

armanezar até 16 mil litros de água de chuva para consumo e uso doméstico. A cisterna foi construída em 2014 e representou mais autonomia para a família. “Agua de cisterna é uma bênção. É a melhor água que tem porque ela vem do céu para matar a nossa sede e a dos animais”, diz Ozelita.

Através do Programa Uma Terra Duas Águas, Ozelita também foi beneficiada com uma tecnologia de segunda água. São 52 mil litros, captados em uma cisterna-enxurrada, para o consumo de animais e para investir na produção de alimentos. A agricultora ainda participou de duas capacitações em gestão e manejo da água, promovidas pela Diaconia na comunidade.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

A 280 metros de casa, próximo ao açude, Ozelita divide com os filhos Francisco de Assis e Antônio José Neto, uma área produtiva de aproximadamente uma hectare. “Cada um tem seu espaço para plantar suas coisas. Eu tenho o meu e eles têm os deles”, ressalta. No terreno, a família cultiva frutas, verduras e hortaliças que são vendidas na comunidade e nos restaurantes e hotéis da cidade. “Todo dia a gente faz entrega de verdura. É colhendo e plantando para dar conta das encomendas”, complementa Francisco.

Em tempo de inverno, quando cai a primeira chuva, a família já começa a preparar a terra para plantar. Mesmo com as poucas chuvas nos últimos anos, Ozelita diz que ainda consegue colher o feijão de comer e o de guardar para plantar nos anos seguintes. A agricultora tem na propriedade uma pequena casa de alvenaria que funciona como banco de sementes familiar. Em silos e garrafas pet, ela estoca sementes de milho, feijão, fava, jerimum, trigo e gergelim. “Eu tenho guardado de tudo um pouco, até semente de algodão mocó”.

Toda a família reconhece a importância de produzir e guardar a própria semente. É mais autonomia para os agricultores e agricultoras que convivem com a realidade do semiárido nordestino.

Além das atividades na agricultura, Ozelita que também é artesã, dedica-se a produzir louças de barro, tais como, panelas, jarros, pratos e potes, de todos os tamanhos e modelos. Todo o processo de feitura das peças é realizado pela agricultora de 68 anos, desde quebrar e amassar a argila até a modelagem das peças. “Eu faço todo o trabalho de forma manual. Tem gente que não acredita que eu tenho essa idade, por causa da quantidade de coisas que eu faço.” Em um único mês, ela calcula que consegue finalizar cerca de 200 peças. Cada uma, demora cerca de dois dias para ficar pronta.

Da mesma forma que o dia começa, ele termina para Dona Ozelita, com muita música e alegria. Do alpendre de casa, ela vê o sol se pôr e trazer para todos uma noite de descanso, depois de um dia de muito trabalho. Feito vento, por onde anda, ela espalha através da sua prosa descontraída, a vontade de viver e trabalhar que carrega consigo. Nas suas orações, ela repete o versículo que lhe dá força para resistir e conviver com as dificuldades que encontra em seu torrão: “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”.

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