Seminario Final - Poluição, os riscos ambientais em analise

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Universidade de Coimbra Faculdade de Letras Departamento de GeografiaPoluição, os riscos ambientais em análise• o caso de estudo da “Ria de Aveiro” •Seminário orientado pelo Professor Doutor Lúcio Sobral CunhaA imagem da capa refere-se à fábrica da Portucel, sendo um dos principais focos poluentes. Fonte da imagem da capa: Lúcio CunhaNuno Rafael Almeida Andrade Coimbra – 2010ÍndiceÍndice ..............................................................................................

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Universidade de Coimbra

Faculdade de Letras

Departamento de Geografia

Poluição, os riscos ambientais em análise

• o caso de estudo da “Ria de Aveiro” •

Seminário orientado pelo Professor Doutor Lúcio Sobral Cunha

A imagem da capa refere-se à fábrica da Portucel, sendo um dos principais focos poluentes.

Fonte da imagem da capa: Lúcio Cunha

Nuno Rafael Almeida Andrade

Coimbra – 2010

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Índice

Índice ............................................................................................................................................. 4

1. Introdução ............................................................................................................................. 1

1.1 Objectivos ...................................................................................................................... 2

1.2 Metodologia .................................................................................................................. 3

2. Teoria do Risco ...................................................................................................................... 4

2.1 Sequência: Risco-Perigo-Crise ....................................................................................... 5

2.2 Os tipos de risco ............................................................................................................ 8

2.3 Riscos Ambientais e a Poluição ..................................................................................... 9

3. A laguna “Ria de Aveiro” ..................................................................................................... 12

3.1 Enquadramento Geográfico ........................................................................................ 13

3.2 Hidrogeomorfologia .................................................................................................... 15

3.3 Geologia e Litologia ..................................................................................................... 19

3.1 Clima ............................................................................................................................ 22

3.2 Uso do Solo .................................................................................................................. 24

4. Os riscos na laguna de Aveiro ............................................................................................. 24

4.1 Identificação das situações danosas ........................................................................... 26

4.2 As vulnerabilidades na laguna ..................................................................................... 30

4.3 Localização e avaliação dos focos poluentes .............................................................. 31

5. Laguna de Aveiro! Que futuro? ........................................................................................... 33

Anexos ......................................................................................................................................... 37

Bibliografia .................................................................................................................................. 39

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Índice de Ilustrações

Ilustração 1 - Água residuais lançadas directamente na "Ria de Aveiro" - Carregal ................... 11

Ilustração 2 - Reconstituição do antigo litoral junto à foz do Rio Vouga, baseado em A. Girão

(1922) .......................................................................................................................................... 13

Ilustração 3 - Enquadramento geográfico da área de estudo ......... Erro! Marcador não definido.

Ilustração 4 - Caracteristicas típicas de uma laguna. Sector da Tijosa ........................................ 20

Ilustração 5 - Carta litológica para a área de estudo .................................................................. 21

Ilustração 6 - Carta de uso do solo para a área em estudo, Fonte: Corine Land Cover 2000 ..... 25

Ilustração 7 - Flamingos fazem da laguna o seu habitat ............................................................. 30

Ilustração 8 - Espacialização dos principais focos poluentes na laguna ..................................... 34

Ilustração 9 - Agricultura no sector de Carregal-Tijosa ............................................................... 37

Ilustração 10 - Pressão urbana na Torreira ................................................................................. 37

Ilustração 11 - Visão sobre o terminal químico do Porto de Aveiro, S.Jacinto ........................... 38

Ilustração 12 - Centro de bombagem de água da SIMRIA .......................................................... 38

Índice de Quadros

Quadro I - Gráfico termopluviométrico da Estação meteorológica de Aveiro/Barra.................. 22

Quadro II - Gráfico com as situações de ventos predominantes ................................................. 23

Quadro III - Classificação dos principais focos poluentes .......................................................... 31

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1. Introdução

A importância que os riscos vêm ganhando na actualidade é algo que nos tem chamado

à atenção. A alteração de mentalidades das pessoas, a humanização em torno das

catástrofes naturais, a mediatização destes fenómenos torna os riscos, tanto naturais

como tecnológicos e ambientais, casos de intensos estudos ao nível da compreensão dos

fenómenos como ao nível da própria prevenção, sendo que este último aspecto vem

ganhando enorme importância no ordenamento do território ao nível nacional como ao

nível municipal.

O interesse para realizar esta investigação recai sobre a importância e actualidade

atribuída a esta temática. Deste modo para se perceber a realidade dos factos, pois por

vezes o que ouvimos e lemos são realidades distorcidas ou imparciais, informações

manipuladas, alimentadas por interesses económicos associados a estas matérias,

decidimos estudar portanto esta problemática pelo motivo principal de obter uma visão

mais pessoal e de certa forma o mais actual possível.

Desta forma iremos abordar a temática dos riscos ambientais, mais especificamente o

caso da poluição, que será tratado numa área de estudo específica, a “Ria de Aveiro”.

Esta área está constantemente sobre a acção de agentes poluidores devido à presença de

algumas indústrias químicas pesadas que se encontram instaladas nas suas margens, à

forte ocupação agrícola, silvícola, pecuária que podemos ver nos terrenos envolventes e

pela rede deficitária de saneamento básico que afecta alguns pontos aquela região.

A “Ria de Aveiro” é um depósito litoral provocado pela extensão de um longo cordão

dunar fechando assim um plano de água que só tem ligação ao mar a partir de uma barra

artificial. Ora esta forma, pouco comum de gerar, provocou algumas dúvidas acerca da

sua formação, destacando-se em Portugal apenas a “Ria Formosa” e algumas “lagoas”

se podemos lhes chamar assim que se localizam no Golfo de Setúbal, que possam ter

uma génese semelhante. Este acidente geográfico tem uma biodiversidade muito própria

e muito frágil, sendo que a degradação ambiental afecta não só as espécies endémicas

mas também as diversas espécies migratórias que escolhem a “Ria de Aveiro” como

destino.

Deste modo iremos começar por abordar a temática das Ciências Cindínicas, baseando-

nos nas análises feitas por alguns autores que tem estudado estas matérias. De seguida

faremos uma síntese dos tipos de risco existentes e os subtipos em que estes se dividem

abordando mais profundamente a temática dos riscos de poluição, assim como a análise

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ao conceito de poluição. Num terceiro momento iremos fazer uma caracterização da

laguna de Aveiro, onde realizamos uma breve introdução à da hidrogeomorfologia,

remontando aos motivos da formação da laguna, assim como o enquadramento

geográfico desta e a caracterização física da área.

No seguimento da estrutura do estudo surge a análise específica da temática proposta

nos objectivos do trabalho, identificar e cartografar os principais focos poluidores na

laguna. Deste modo foi indispensável o recurso a saídas de campo, onde foi realizada

uma vasta recolha fotográfica para análise posterior, assim como o estudo de vários

relatórios de qualidade ambiental.

Por fim iremos realizar uma síntese geral ao ponto de situação da laguna ao nível da

poluição, e apontar possíveis caminhos com fim a minimizar a problemática da poluição

que afecta directa e indirectamente par alem da população envolvente e os demais

utilizadores, afecta de igual modo algumas espécies de seres vivos que fazem deste

meio o seu habitat.

Antes de prosseguir deixamos uma palavra de apreço ao nosso orientador, pela

disponibilidade que sempre demonstrou na orientação da investigação, pela cedência de

algum material de trabalho e acima de tudo um obrigado pela formação como geógrafos

que seremos, deste modo ficaremos gratos ao Doutor Lúcia Cunha que nos marcará para

sempre no nosso futuro.

1.1 Objectivos

Nesta dissertação de seminário na licenciatura de Geografia Física além da procura de

conhecimentos sobre as temáticas aqui abordadas, não só os riscos e a sua problemática

mas também uma abordagem aos Ambientes Litorais mais especificamente a

hidrogeomorfologia das lagunas, iremos procurar uma aplicação espacial do nosso

estudo. Assim, como objectivo principal para este trabalho ambicionamos que este nos

permita localizar e cartografar os principais focos de poluição da “Ria de Aveiro”, deste

modo propomo-nos a:

Apurar de que forma as actividades praticadas na área de estudo podem

contribuir para a poluição das águas;

Realizar a análise das áreas afectadas;

Determinar o tipo de contaminação (qualidade da água);

Procurar possíveis soluções para a problemática da poluição.

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Assim, no primeiro ponto procuramos saber que tipos de fontes poluentes são mais

comuns na área de estudo, assim como os danos que podem causar ao meio ambiente,

no segunda ponto procuramos delimitar zonas de estudo, criando deste modo sectores

de análise por forma a saber qual ou quais os focos predominantes nesses sectores. No

terceiro ponto procuramos cruzar os dados estudados em relatórios de qualidade

ambiental com o observado em cada sector, realizando uma análise qualitativa e de

forma subjectiva da qualidade da água. Por fim, no quarto ponto tentaremos fazer uma

síntese dos resultados obtidos dando algumas orientações sobre o rumo que deve ser

tomado no âmbito da requalificação e planeamento desta área.

Resumidamente, teremos que fazer uma análise geral dos riscos e de vulnerabilidades

para a área, para que consigamos obter uma percepção da realidade em relação às

temáticas em estudo.

1.2 Metodologia

Ora este tipo de investigação que pretendemos realizar, envolve vários aspectos a ter em

conta e várias fases de desenvolvimento. Assim optamos por seguir três métodos de

investigação, a pesquisa bibliográfica, o trabalho de campo e a análise de dados e da

informação recolhida.

Com a pesquisa bibliográfica pretendemos fundamentar as nossas ideias, analisando os

conceitos e percebendo os pontos de vista de diferentes autores sobre a matéria em

estudo e a área de investigação. A necessidade do trabalho de campo é de mais

importante, isto porque, sendo a nossa especialização em geografia o contacto com a

realidade e o que nós retemos do que observamos no campo é fundamental para o nosso

estudo. Deste modo pretendemos levar a cabo vários percursos pelas margens da “ria” e

possivelmente alguns percursos de barco pela necessidade de acessibilidade a

determinadas zonas, uma recolha fotográfica como forma de complemento às

observações realizadas e também análises à água, neste aspecto fica o sentimento de

poder ter sido feito algo mais, mas os custos inerentes a este tipo de trabalho entrava em

conflito com a dimensão que pretendíamos para este estudo e deste modo optamos pela

utilização de estudos de qualidade ambiental já realizados assim como análises

qualitativas como já referimos anteriormente. Após toda a recolha de informação que a

pesquisa bibliográfica e o trabalho de campo envolvem será necessária a edição e

análise dos dados obtidos tanto a nível estatístico como a nível cartográfico.

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Mais à frente será abordada a metodologia adoptada relativamente à teoria do risco.

Esta temática tem gerado algumas discussões científicas em relação às componentes que

devem fazer parte da sequência risco-perigo-crise, daí termos que ter alguma atenção

quando optarmos por uma teoria.

2. Teoria do Risco

Os riscos têm sido alvo de investigação intensiva desde algum tempo para cá, pois

procura-se perceber e prevenir situações de catástrofe para a população. O conceito de

risco é algo que está presente no nosso quotidiano sendo aplicado as coisas mais

simples. Lucien Faugères foi dos primeiros geógrafos a estudar esta temática

apresentando-a como uma nova ciência, as ciências cindínicas ou dos riscos, numa

comunicação intitulada “La dimension des faits et la théorie du risque”. Assim,

devemos inserir a sequência Risco-Perigo-Crise, que formam a base da “teoria do

risco”. Deste modo entende-se por risco as possibilidades negativas de algo que poderá

actuar, directa ou indirectamente, sobre o Homem provocando prejuízos neste. O perigo

não é mais que os sinais de ameaça que a natureza transmite ao Homem através de

fenómenos, em suma é um fenómeno capaz de causar dano com gravidade no local

onde se produz. A crise, uma situação mais rara mas muito mais danosa, é a plena

manifestação dos riscos. A incerteza sobre o seu desenvolvimento e a incapacidade de

acção sobre esta é algo que está associada à crise. Na análise a esta sequência F.

REBELO (1999) compara-a a uma viagem de automóvel, em que os riscos que estão

associados à viagem são a doença, a avaria ou o acidente, mas só por vezes surgem os

sinais de alerta de perigo (na estrada, no automóvel, ou no condutor) que nos traz à

memória os danos que podemos sofrer e aí tomar precauções, caso contrário poderá

revelar-se a crise que neste caso seria o acidente.

Devemos ainda introduzir o conceito de vulnerabilidade, pois a maior parte dos autores

não considera o conceito de risco sem a vulnerabilidade. Deste modo, vulnerabilidade é

as características de determinada população para se preparar para o tipo de risco que se

possa fazer sentir, de tal forma que o mesmo risco pode ter consequências diferentes

dependendo da sua localização. Devemos ainda dizer que não existe vulnerabilidade

zero só porque o Homem não é afectado directamente por determinado fenómeno, pois

a vulnerabilidade está sempre presente assim como o risco por mais insignificante que

seja.

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Relativamente ao tipo de riscos definiu-se a quando da organização da teoria do risco,

que estes estariam agrupados em duas grandes categorias – riscos naturais, riscos

tecnológicos. No primeiro tratava-se sobretudo as inundações, os furacões e os sismos,

no segundo tratava-se as incidências do Homem sobre a natureza. Hoje em dia há uma

especificidade maior para cada tipo de risco podendo-os agrupar em três grandes grupos

– Causas Naturais (riscos geofísicos, riscos climatológicos, riscos geomorfológicos),

Causas Antrópicas (riscos tecnológicos, riscos sociais, riscos biofísicos) e Causas

Mistas.

2.1 Sequência: Risco-Perigo-Crise

A organização das Ciências Cíndinicas iniciadas por KEVERN e RUBISE (1991) nos

seus estudos intitulados de “L’Archipel du danger”, que consideravam o perigo como

medida do risco, deste modo se se prevêem muitos perigos o risco é grande; se se

prevêem poucos perigos, o risco é pequeno (F. REBELO, 2003), evoluíram mais tarde

para a “Teoria do Risco” após o trabalho de L. FAUGÈRES (1990) apresentado durante

o Seminário sobre “Risques natureles, risques techologiques. Gestion des risques,

gestion des crises” e assenta numa sequência hierarquizada de três conceitos base: risco,

perigo e crise (L. LOURENÇO, 2003). Esta sequência foi também analisada de uma

forma bastante simplista e quotidiana por F. REBELO (1999) que a compara a uma

viagem de automóvel. Por sua vez R. JULIÃO; F. NERY; J. RIBEIRO; M. BRANCO;

J. ZÊZERE (2009) aponta uma perspectiva um pouco mais actual e mais ligada à gestão

dos riscos, portanto é uma perspectiva a montante da sequência apresentada por

Faugères. Assim relaciona os conceitos de vulnerabilidade e de perigosidade como

estando na origem do risco, que por sua vez dá origem ao perigo e depois à crise.

Existe no entanto quem não partilhe a base inicial das ideias dos autores apresentadas

anteriormente. A escola geográfica francesa por J. TRICART (1992) considera que o

perigo é omnipresente enquanto o risco só existe de vez em quando. Ora esta visão é um

pouco mais difícil de explicar de uma maneira tão simplista como as já referidas.

Para se entender um pouco melhor a sequência risco-perigo-crise, devemos abordar os

conceitos que estão inerentes a esta perspectiva. Assim, por risco entende-se o grau de

perda previsto devido a um determinado fenómeno, tendo em conta a função do perigo e

da vulnerabilidade (Nações Unidas in L. LOURENÇO, 2003), por sua vez F. REBELO

(1999) considera que não existe risco zero pois o seu raciocínio é baseado numa

fórmula que dá grande importância às vulnerabilidades, já R. JULIÃO; F. NERY; J.

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RIBEIRO; M. BRANCO; J. ZÊZERE (2009) diz que risco é a probabilidade de

ocorrência de um processo (ou acção) perigoso e respectiva estimativa das suas

consequências sobre pessoas, bens ou ambiente, expressas em danos corporais e/ou

prejuízos materiais e funcionais, directos ou indirectos. Relativamente ao conceito de

perigo devemos referir que este está relacionado com o franquiar do limite máximo do

risco máximo (F. REBELO, 2003), isto é, aplicando este caso ao exemplo do Risco de

Incêndio, quando estamos perante condições meteorológicas e da vegetação favoráveis

à ocorrência de um incêndio o visionamento de uma coluna de fuma significa a

instalação do perigo. Por outras palavras podemos dizer que o perigo é um processo

natural, tecnológico ou misto susceptível de criar perdas e danos na população. Por fim

a crise ou catástrofe só se revela de vez em quando, mas os seus resultados são

devastadores. É a tradução do franqueamento dos limiares normais, ou seja, pela

incapacidade de agir sobre os processos e pela incerteza absoluta sobre o

desenvolvimento da crise e dos seus impactes (L. FAUGÈRES in L. LOURENÇO,

2003).

Pegaremos agora nos conceitos que Rui Julião utilizou no “Guia Metodológico” de

apoio à realização de SIG de base municipal. Destacamos assim dois conceitos, além

dos já referidos pela “Teoria do Risco”, que achamos convenientes para lançar uma

perspectiva simplificada, pessoal mas que acaba por apoiar, juntando o que foi dito por

alguns autores, a sequência risco-perigo-crise. Deste modo usaremos a definição de

perigosidade e de vulnerabilidade, como sendo a operação de onde resulta risco.

Com isto devemos começar por explicar o conceito de perigosidade, que significa a

probabilidade de ocorrência de um processo ou acção (natural, tecnológico ou misto)

com potencial destruidor com uma determinada severidade1, numa dada área e num

dado período de tempo (R. JULIÃO; F. NERY; J. RIBEIRO; M. BRANCO; J.

ZÊZERE, 2009). Já o conceito de vulnerabilidade é o grau de perda de um elemento ou

conjunto de elementos expostos, em resultado da ocorrência de um processo natural,

tecnológico ou misto de determinada severidade, e é expressa numa escala de 0 (sem

perda) e 1 (perda total) (op.cit, 2009), o conceito de vulnerabilidade deve conter tanto os

factores sociais como económicos visto os prejuízos expectáveis recaírem sobre estas

duas vertentes. Ainda neste aspecto da vulnerabilidade e perigosidade, J. ZÊZERE; A.

1 Capacidade do processo ou acção para danos em função da sua magnitude, intensidade, grau,

velocidade ou outro parâmetro que melhor expresse o seu potencial destruidor (R. JULIÃO; F. NERY; J. RIBEIRO; M. BRANCO; J. ZÊZERE, 2009)

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PEREIRA; P. MORGADO (2006), apoiados nas ideias de Panizza diz-nos que na

perigosidade inserem-se os fenómenos perigosos (sismos, cheias e inundações,

movimentos de vertente…) susceptíveis de ocorrer e na vulnerabilidade inserem-se os

elementos em risco (população, edificado, valores culturais e paisagísticos…).

Assim, o risco resulta do produto entre as vulnerabilidades de determinada população e

a probabilidade de ocorrência de uma determinada acção. Devemos ter ainda presente a

análise aos elementos expostos e à localização dos riscos. Estas têm muita importância

pois é fundamental ter um conhecimento destes aspectos para que se possa avaliar tanto

a perigosidade dos riscos, assim com as vulnerabilidades dos elementos expostos.

Desta forma apresentamos assim um modelo (figura 1) onde articulamos os conceitos

das duas perspectivas apresentadas sobre a temática dos riscos, sendo que no nosso

entender esta óptica de leitura promove uma rápida percepção da teoria do risco. Assim

de uma forma prática e aplicável, podemos dizer que a montante do risco será a fracção

de intervenção e prevenção (é necessário o estudo prévio do terreno ao nível da

vulnerabilidade e perigosidade), onde se procura evitar a crise (resultado danoso de toda

a sequencia), o estudo do perigo e da crise também são importantes de forma a realizar e

aplicar os planos de emergência2 no local de perigo/crise.

2 Visa fornecer um conjunto de diretrizes e informações com o intuito de promover a adoção de

procedimentos lógicos, técnicos e administrativos, estruturados de forma a proporcionar uma resposta rápida e eficiente em situações emergenciais por parte das autoridades competentes (Policia, Protecção Civil e Bombeiros…).

CRISE

PERIGO

RISCO

PERIGOSIDADE VULNERABILIDADE

R = P x V

Figura 1 – Articulação dos conceitos fundamentais na teoria do risco

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2.2 Os tipos de risco

Depois de abordada a “Teoria do Risco” é tempo agora para referir os diferentes

tipos de risco. Na primeira abordagem feita por L. FAUGÈRES (1990) este apenas

considerava os riscos naturais e os riscos tecnológicos, em que os primeiros estavam

ligados a fenómenos da natureza como as inundações provocadas por precipitações

fortes repentinas ou de longa duração, os sismos e as erupções vulcânicas, os

movimentos de vertente entre muitos outros casos e os riscos tecnológicos estavam

associados aos transportes tanto colectivos como privados, às industrias de produção,

aos incêndios ou seja tudo que tivesse influência do ser humano. Mas da análise de

determinados riscos assistimos a uma relação directa entre os riscos ambientais e os

tecnológicos, assim L. LOURENÇO (2003) propôs um agrupamento diferente dos

diversos riscos quanto à sua origem, que passamos deste modo a referenciar. Assim,

quando o fenómeno que produz os danos tem a sua origem na natureza temos riscos

naturais, se o fenómeno que causa o dano tem origem em acções humanas estamos

perante riscos antrópicos, quando o fenómeno causador do prejuízo tem causas

combinadas, relação entre causas naturais e antrópicas consideramos que é um risco

misto. Dada a importância que esta ultima origem do risco têm para a realização deste

estudo será tratado num ponto à parte no seguimento do trabalho.

Ora a cada tipo de risco apresentado anteriormente associam-se vários subtipos mais

específicos, para o caso dos riscos naturais enunciamos os seguintes casos:

Riscos Geofísicos – estão relacionados tanto com actividade magmática

como a vulcânica que se associam aos riscos sísmicos. São riscos que actuam

ao nível da crusta terrestre, na convergência de placas e em zonas de falha.

Riscos Climático-Meteorológicos – este tipo de risco está ligado tanto às

variações climáticas como às variações de tempo. Neste âmbito podemos

incluir a passagem de furacões, chuvas torrenciais, avalanches e degelos

repentinos, as secas prolongadas, geadas tardias e ventos muito fortes.

Riscos Geomorfológicos – há neste caso uma relação com a actuação de

processos morfogenéticos, cujo resultado geralmente é a erosão de vertentes.

Geralmente associa-se estes processos a acção de condições meteorológicas

típicas (a precipitação é um factor importante) que provoca movimento em

massa (deslizamentos, desabamentos…) e ravinamentos.

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Poluição, os riscos ambientais em análise

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Riscos Hidrológicos – encontram-se associados geralmente à hidrologia

fluvial. Neste aspecto é necessário fazer uma distinção de riscos pois

podemos ter risco de cheia – aumento repentino do caudal do leito de

determinado rio ou outro canal passível de transporte de água; risco de

inundação – geralmente é o transbordo do rio quando este ultrapassa o leito

de cheia. Mas este caso pode também ser aplicado a inundações marinhas e

cársicas assim numa definição mais genérica será o transbordo da água para

fora dos limites que normalmente a contêm.

Relativamente aos riscos antrópicos também este possuem vários subtipos de riscos,

lembramos que estes são resultantes da acção humana, assim temos Riscos

Tecnológicos, Riscos Sociais e Riscos Biológicos:

Riscos Tecnológicos – surgem do desrespeito pelas normas de segurança e

pelos princípios que não só regem o transporte mas também o manuseamento

do produto, quebrando-se de certa forma o equilíbrio entre o ser humano e o

ambiente. Temos por exemplo o Risco NRBQ (Nuclear, Radioactivo,

Biológico e Químico) que surge associado ao terrorismo podendo prejudicar

gravemente não só o ser humano mas também o ar, a água e os solos, e o

Risco de Radioactividade para fins pacíficos como a produção de energia,

exploração mineira, em unidades hospitalares e industriais.

Riscos Sociais – estão relacionados com a incapacidade do Homem conviver

com o seu semelhante dentro dos princípios de liberdade, igualdade e

fraternidade manifestando-se através de greves, guerras, violência, fome,

sabotagem e terrorismo.

Riscos Biológicos – são resultantes de desequilíbrios entre o Homem e os

outros seres vivos (epidemias e pragas, animais e vegetais).

Por fim falta mencionar os riscos mistos que é quando concorrem condições naturais e

acções antrópicas, como já referimos o próximo ponto será apenas dedicado a este tipo

de riscos, em particular a poluição.

2.3 Riscos Ambientais e a Poluição

Ora no início de abordar esta temática devemos começar por referir que alguns autores

preferem mencionar os riscos mistos como sendo Riscos Ambientais (L. LOURENÇO,

2003), isto porque resultam da combinação de acções continuadas da actividade humana

com o funcionamento dos sistemas naturais (R. JULIÃO, 2009), como exemplo temos

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os casos dos incêndios florestais, da contaminação dos cursos de água e aquíferos e

contaminação dos solos.

Mais uma vez apoiados nas ideias de L. LOURENÇO (2003) devemos dizer que

pertencem a esta categoria de riscos, os seguintes tipos:

Riscos dendrocaustológicos ou de incêndio florestal – sobre este tipo de

riscos tem sido desenvolvidos muitos estudos em Portugal. Assim,

genericamente podemos dizer que há uma relação entre as condições

meteorológicas, assim como ventos mais favoráveis à deflagração do

incêndio, o Homem faz parte deste sistema em muito dos casos como

elemento de ignição do incêndio.

Riscos de erosão – resulta da actuação de processos morfogenéticos, os quais

em Portugal se resumem na maioria à erosão hídrica.

Risco de desertificação – a desertificação prende-se com a degradação dos

solos, perdendo ao longo do tempo a sua flora. Surge muitas vezes da

persistência de períodos de seca que criam condições à expansão de desertos.

Risco de poluição3 - que se manifesta tanto na atmosfera como no solo e

também nas águas, quer continentais (superficiais e subterrâneas) quer

oceânicas (orlas costeiras e fossas abissais). Resulta de actividade do ser

humano associadas à exploração de alguns recursos naturais, tais como a

extracção mineira, do petróleo e de inertes, ou à transformação em grandes

unidades industrias bem como o uso de fertilizantes e pesticidas na

agricultura e da actuação continua da natureza como o exemplo as queda de

chuvas leva a infiltração dos fertilizantes nas camadas mais profundas do

solo.

Relativamente aos riscos de poluição existe legislação aplicável aos casos de

contaminação e degradação da água, esta “protege” as águas da poluição provocada por

nitratos de origem agrícola, legislação que controla a descarga de águas residuais

urbanas nos meios aquáticos, gestão dos resíduos provenientes da actividade pecuária e

legislação de protecção do ambiente e em especial os solos na utilização agrícola de

lamas de depuração. Deste modo procuremos agora explicar como se desencadeia e se

desenvolve a poluição de solos e de meios aquáticos.

3 Aproveitamos a definição de L. LOURENÇO (2003) apesar deste considerar que o risco de poluição

pertence aos riscos tecnológicos.

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Poluição, os riscos ambientais em análise

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A libertação de substâncias químicas indesejáveis emitidas para a atmosfera, emitindo

depois sobre os ecossistemas ou lançadas na água, constitui o fenómeno de poluição. A

poluição está associada ao aumento rápido da indústria, P. Duvigneaud (1996) estende

este conceito ainda a perturbações acústicas, térmicas e visuais. De certo modo todas as

acreções ao meu ambiente, neste contexto vamos trabalhar ao nível terrestre e aquático,

estão relacionados com a libertação de resíduos químicos e metais pesados.

Na superfície terrestre a presença de metais pesados provêm essencialmente de adubos

carbonatados e fosfatados, de lamas dos esgotos, de depósitos das minas e os seus

afluentes líquidos e pesticidas, cujos elementos mais frequentes são o Cu (cobre), Zn

(zinco), Cd (cádmio), As (arsénio), e sobretudo Hg (mercúrio). A utilização exagerada e

mal conduzida de pesticidas e herbicidas pode levar à poluição dos ecossistemas

terrestres pois a toxicidade presente nesses produtos é passível de criar cancros nos

órgãos de animais e do Homem (P. DUVIGNEAUD, 1996).

A evolução da poluição da superfície terrestre para água ocorre por arrastamento ou

drenagem lateral, a maior parte das substâncias químicas atrás enunciadas seguem uma

cadeia de poluição e são emitidas nos ribeiros, em lagos e rios. As águas de drenagem

transportam azoto, fósforo e potássio provenientes da adubação excessiva, a infiltração

nos solos faz com que a poluição da água doce seja mais diversificada.

Outro dos casos que provoca a poluição das águas são as águas dos estabelecimentos

humanos levados para os rios pelos esgotos (figura 2), os dejectos tornam as águas sujas

e malcheirosas (op. cit, 1996). Devemos referir também as águas residuais industriais

contêm um imenso conjunto de produtos minerais e orgânicos muito diversos que

libertam azoto na água reagindo com a matéria orgânica produz bactérias que levam ao

Ilustração 1 - Água residuais lançadas directamente na "Ria de Aveiro" - Carregal

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 12

consumo do oxigénio da água prejudicando a vida animal. Outro factor de poluição nos

planos de água navegáveis é os hidrocarbonetos provenientes dos motores dos barcos

que afectam a capacidade de reoxigenação da água subjacente às películas de óleo

libertadas na água.

3. A laguna “Ria de Aveiro”

Neste âmbito entramos na abordagem à área de estudo, que como já vem sido referida é

a “Ria de Aveiro”. Procuraremos aqui fazer um enquadramento geográfico em que

delimitaremos a área de investigação, iremos também a bordar a temática da

hidrogeomorfologia, faremos um estudo do clima, da geologia e do uso do solo de

modo a que se consiga caracterizar da melhor forma possível o local geográfico que

estará em análise.

Deste modo começaremos por referir a evolução histórica do ambiente lagunar ao qual

chamaram inapropriadamente “ria”, mas já lá chegaremos. A laguna formou-se ainda há

não muito tempo, pois segundo um mapa do portulano Petrus Vesconte, de 1318 o

traçado da costa difere do actual (M. NUNES, 1967). Segundo as «Memórias

Paroquiais» datadas de 1758, quando “se procura saber do Rio dessa terra”

relativamente a Ovar, a resposta enviada ao D. João V foi “o ditto Rio tem nesta

freguezia o seu principio, porque sahindo daqui das tres Ilhas a saber Cobello Ribeira

e Puxadouro corre de Norte a Sul com a costa do oceano, ficando entre ambos huma

faxa d’area, se vai recolher ao mar”, ora esta “faxa d’area” não é mais do que a

restinga formada desde Espinho até São Jacinto como iremos ver. Surgem mais

características sobre a capacidade de navegação de todo o tipo de navegação e a

predominância de pescado abundante durante todo o ano. Ora este é o registo mais

antigo do que se aproxima das características da “Ria de Aveiro” relativamente à sua

existência.

Relativamente à utilização inapropriada do termo “ria” de Aveiro, Amorim Girão

explica que no século XIX, Friederich von Richtofen tinha definido ria como “uma

espécie típica de reentrância em costas escarpadas, como caracteristicamente sucede na

Galiza”, só mais tarde Alfredo Fernandes Martins se referiu à “impropriamente

chamada ria de Aveiro, verdadeira laguna (Haff) isolada por cordões litorais” (F.

REBELO, 2007).

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 13

Apesar da formação actual ser uma laguna, F. REBELO (2007) considera a existência

de uma verdadeira ria de Aveiro. Ora há cerca de 10000 anos o aumento da temperatura

no holocénico levou ao desaparecimento dos glaciares na S. Estrela e da diminuição da

calote glaciar do norte da Europa, acontecendo

o mesmo para o grande inlandsis escandinavo

e dos glaciares da Grã-Bretanha (J. CHALINE

in F.REBELO, 2007). Este aumento da

temperatura média do ar provocou assim a

subida do nível do mar que invadiu todos os

vales do litoral entre eles o do Vouga que se

encontrava muito para o interior, como

podemos comprovar pela ilustração 2. Com o

início do arrefecimento geral do clima o mar

torna a recuar, ocorrendo a deposição de

areias. Por acção da deriva litoral começou a

estender-se uma restinga desde Espinho em

direcção ao sul e outra a partir de Mira

desenvolvendo-se para norte. No interior

destas duas barreiras formadas por cordões

dunares iam-se formando pequenas ilhotas no século XV, como referem Amorim Girão

e Fernandes Martins. O cordão dunar foi “entulhando” de areia e foi-se prolongando até

que acabou por se unir, ficando assim um lago interior que acabou por ser aberto

artificialmente em 1808, devido a problemas sócio-económicos provocados pela

estagnação das águas e da perda de acessibilidade marítima, no local que hoje podemos

ver. Deste modo temos uma verdadeira laguna.

3.1 Enquadramento Geográfico

A formação litoral que se situa na zona da costa ocidental portuguesa, cientificamente

conhecida como laguna de Aveiro localiza-se na região Centro portuguesa, estende-se a

partir de norte desde o concelho de Ovar para sul até Mira, “banhando” sete concelhos

em toda a sua extensão a saber, Ovar, Murtosa, Estarreja, Albergaria-a-Velha, Aveiro,

Ílhavo e Vagos.

Para o caso de estudo iremos abordar apenas o sector da laguna a norte do porto de

Aveiro (como podemos observar pela aproximação feita a essa zona na Ilustração 3),

Ilustração 2 - Reconstituição do antigo litoral junto à foz do Rio Vouga, baseado em A. Girão (1922)

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 14

deste modo grande parte do concelho de Ílhavo e de Vagos não farão parte do estudo.

Esta decisão recai dada a grande extensão da área obtida caso se introduzisse este

concelhos e também porque o sector que achamos que é mais afectado pela poluição se

situa a norte, deste modo conseguimos obter um estudo mais aprofundado sobre as áreas

ditas industriais.

Quanto à população residente nos concelhos envolvente da “Ria de Aveiro”,

contabilizamos cerca de 250 037 habitantes sendo que Aveiro é o concelho com mais

habitantes (73 335 hab) seguido de Ovar (55 198 hab) e o concelho com menos é o da

Murtosa (9 458 hab), sendo que os dados se referem a 2001. Relativamente à realidade

da zona centro, estes concelhos mostraram uma tendência para ganhar população ao

longo do tempo, mostrando serem áreas atractivas e com potencial de desenvolvimento

devido as suas características.

No domínio da altimetria devemos dizer que esta se encontra fortemente dominada pela

formação lagunar, deste modo encontramos uma extensa área aplanada, sendo que na

zona de influência da laguna encontramos alturas entre os 0 e os 5 metros. A zona de

maior altitude está no concelho de Albergaria-a-Velha (cerca de 450 metros)

influenciada pelo suergimento da Serra do Arestal. Aliás a serra marca claramente a

mudança de características geográficas e geológicas relativamente a toda a área, ainda a

destacar a presença da maioria das nascentes da rede hidrográfica que desagua na

laguna na Serra do Arestal.

Ao nível das acessibilidades terrestres que comunicam e que circundam a laguna

destacamos as estradas a A25, a A29, a N327 e a N109, destaque também para a linha

de caminhos-de-ferro que liga as várias vilas e cidades que são “banhadas” pelas águas

da laguna assim como a ligação ferroviária do porto comercial de Aveiro, que veio

melhorar as condições de transporte de mercadorias que desembarcam nesse porto

aumentando substancialmente a centralidade do Porto de Aveiro relativamente ao país e

à Europa. Relativamente ao porto de Aveiro e à barra devemos dizer que são os

principais responsáveis pela acessibilidade marítima ao interior da “Ria de Aveiro”

apoiada por uma diversidade de portos de abrigo, no Carregal, na Torreira, na Bestida,

na Doca Velha, na Costa Nova, na Gafanha da Encarnação e Vagueira que começam a

sentir em alguns pontos graves problemas de navegabilidade.

Relativamente às actividades económicas nota-se em grande parte dos povoados uma

grande proximidade à “ria”, tanto pela dedicação ao sector da pesca como à agricultura,

destaque para as actividades artesanais como a apanha do moliço e a exploração das

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 15

salinas que se perderam ao longo do tempo e que correm mesmo o risco de se extinguir,

mas claro que com o evoluir dos tempos e pelo desenvolvimento de centros urbanos,

Aveiro, Estarreja e Ovar, houve uma maior predominância da indústria.

3.2 Hidrogeomorfologia

O nosso caso de estudo é uma formação litoral, uma laguna de águas pouco profundas,

com um traçado muito irregular e caracteriza-se pela existência de canais estreitos,

Ilustração 3 - Enquadramento geográfico da área em estudo

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 16

ilhotas e esteiros. Nestas superfícies interiores lodosas são característicos os sapais

(vegetação adaptada a águas salobras, que ajudam a fixação de sedimentos finos).

Para o estudo das lagunas baseamo-nos nas ideias de R. PASKOFF (1985), deste modo

as lagunas encontram normalmente a cotas muito baixas. Estas são planos de água,

longos e paralelos ao traçado litoral, pouco profundas estando isoladas do mar por um

cordão móvel de sedimentos. A comunicação com o mar faz-se por aberturas mais ou

menos numerosas no cordão, apesar de essa comunicação não ser indispensável pois

existem lagunas que estão encerradas temporariamente e algumas ficam mesmo

encerradas permanentemente (o que ocorreu com a laguna de Aveiro antes de 1808).

As lagunas distinguem-se das lagoas pela salinidade da água. Nas lagunas a salinidade

da água é muito variável, estando dependente da zona, da tributação de rios ou da

predominância do mar (havendo uma relação directa com o tamanho da barra/abertura

para o mar) assim como os níveis de evaporação na laguna. A água das lagunas acaba

por ter várias origens que se combinam em condições variáveis consoante os agentes

que actuem sobre a laguna, assim a água pode ter uma predominância marítima,

continental, da precipitação ou dos níveis freáticos. Geralmente consideram-se as águas

das lagunas, de salobras, devido aos níveis de concentração de água doce e salgada o

que se pode confirmar pelo tipo de vegetação nas margens, geralmente predominam os

sapais, vegetação adaptada a esse tipo de ambientes salobros, e calmas o que permite a

deposição de sedimentos. Do ponto de vista biológico as lagunas são ecossistemas

bastante produtivos.

A formação das lagunas está dependente de alguns factores de tal forma que devemos

considerar a ondulação, a maré, os rios e os ventos como principais agentes no

desenvolvimento das lagunas. A onda possui um trajecto oblíquo ao se aproximar da

margem favorece a deriva litoral e desse modo a formação e manutenção de restingas,

mas sendo estes cordões de pouca altitude quando sofrem acreções das vagas de

tempestade pode levar ao galgamento (washover) processo em que a água do mar

derruba o cordão dunar assoreando a laguna. As marés são importantes para que se

mantenha a abertura com o mar, em lagunas de grandes dimensões ocorrem atrasados

em relação à altura da maré na barra. Os rios também tem uma importância significativa

devido à carga sólida que transportam e ao seu caudal, se os materiais que são

transportados no seu leito ficarem depositados dentro da laguna sem conseguirem

chegar ao mar, a laguna corre o risco de ficar entulhada. Por fim os ventos são

responsáveis pelo transporte de areias de acordo com a sua direcção tendencial, podem

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 17

mesmo ajudar à formação do cordão dunar, mas em condições de ventos fortes pode

também ajudar a destruição deste provocando a formação de vagas com intensidade

suficiente para galgar o cordão dunar.

Roland Paskoff faz distinção entre pseudo-lagunas e lagunas, sendo que no primeiro

caso o autor considera que estão compreendidos nesses casos as lagunas isoladas por

recifes de coral nas regiões quentes e também os planos de água que ficam separados do

mar por razões estruturais e de erosão. Deste modo iremos partir para a classificação das

lagunas. Estas podem ser classificadas quanto à sua inserção na linha de costa e segundo

o número de comunicações com o mar. Assim iremos começar por abordar a

classificação relativa à inserção na linha de costa:

Lagunas associadas a ilhas barreira – neste caso estas lagunas são muito

largas e complexas. É necessária uma fraca inclinação da plataforma

continental e de correntes de maré fortes. Como casos mais conhecidos

temos a costa atlântica dos EUA na zona do Golfo do México e em Portugal

a Ria Formosa.

Lagunas sobre frentes de delta – este tipo de lagunas situam-se em planícies

deltaicas. À medida que esta avança, a deriva litoral vai “arrumando” os

sedimentos depositados, confinando o mar a uma ou várias lagunas sendo

mais longas que as do tipo apresentadas anteriormente. Destacamos como

exemplo o Delta do Nilo.

Fundos de baía fechada por restingas – têm uma superfície muito variável,

está dependem do tamanho da baía, e apresenta uma forma grosseiramente

circular. Como exemplo temos a laguna da Tunísia e em Portugal associam

este tipo de formação à laguna de Aveiro.

Embocaduras de rios fechados por restingas – nestes casos o mar tem maior

predomínio, pois o fraco caudal do rio não consegue manter uma barra

constantemente aberta. Assim, são lagunas efémeras que estão dependentes

de cheias para que o caudal do rio consiga abrir uma barra. Este tipo de

formações é típico da costa do Golfo de Setúbal ao norte de Sines.

Lagunas das ilhas de Madalena – para que este tipo de formações aconteça é

necessário haver pouca profundidade nas zonas onde se acumulam as

restingas junto às ilhas e dessa forma “aprisionam” o mar total ou

parcialmente.

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 18

O outro tipo de classificação dos estuários é baseado no tipo de abertura da laguna com

o mar e com a movimentação de sedimentos relacionada com a força de maré. Assim

temos quatro tipos:

Lagunas estuarianas – a acção das correntes de maré é muito forte, o que

provoca uma deposição dos sedimentos na boca do estuário. A laguna tem

uma forma embrionária característica.

Lagunas abertas – aqui a corrente de maré tem força suficiente para manter

as aberturas, assegurando uma auto-dragagem do seu interior evitando a

obstrução.

Laguna semi-fechada – neste caso a corrente de maré perde importância

relativamente à deriva litoral que tenta colmatar a barra que se mantêm

dificilmente aberta.

Laguna fechada – a acção fluvial e a deriva litoral tem um impacto muito

fraco no seu desenvolvimento acabando por contribuir para a acumulação de

sedimentos e consequente encerramento da abertura. É o caso aplicado à

laguna de Aveiro, caso não existisse uma abertura artificial.

As lagunas também adquirem determinadas características consoante a sua latitude, há

assim uma variação consoante o domínio climático. Desta forma será realizado uma

classificação com base em critérios zonais:

As lagunas das altas latitudes – os principais agentes só actuam durante parte

do ano devido à presença do gelo e da neve, mas após este período, há

grandes quantidades de sedimentos transportados pelos rios, por isso as

lagunas são normalmente entulhadas.

As lagunas das latitudes temperadas – em certos casos existem a presença de

antigas moreias frontais de glaciares que favorecem a formação de lagunas

devido ao material disponível para a formação de restingas. As condições

climáticas são igualmente favoráveis ao desenvolvimento de sapais que

permitem a retenção dos sedimentos nas margens, consolidando-as e desta

forma ajudando ao desenvolvimento da laguna.

As lagunas das regiões áridas e semi-áridas – nesta zona climática os

sistemas fluviais apenas funcionam esporadicamente, por isso as águas ficam

confinadas o que leva à sua forte evaporação ficando a laguna hipersalina.

Nas margens ocorre o depósito de cristais.

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 19

As lagunas das regiões tropicais húmidas – é a região que possui as lagunas

melhor conservadas, sendo que a deriva litoral arrasta muitos sedimentos

deveria haver a tendência a encerrar as lagunas, mas a precipitação que se

faz sentir nestas zonas aumenta os níveis de água doce o que mantêm as

barras abertas. Há ainda a existência de rios tributários ricos em matéria

orgânica que permite o crescimento de mangais e sapais que leva à fixação

dos sedimentos finos nas margens.

Depois da introdução feita acerca do tema das lagunas podemos dizer que esta laguna

tem uma origem segundo um fundo de baía fechado por restingas. Ao vermos que a

antiga linha de costa se prolongava em forma de “meia-lua” desde Espinho até ao Cabo

Mondego, sendo que sensivelmente a meio do percurso se encontrava a foz do Vouga, e

analisarmos com o que hoje existe podemos verificar que houve uma acumulação de

sedimentos de sul para norte a partir da Serra da Boa Viagem e só junto a Mira é que

estendeu a restinga. Já a norte a seguir a Espinho formou-se outra restinga com

desenvolvimento para sul que acabou por fechar a baía. Em relação ao tipo de canais

podemos dizer que existem bastantes caneiros, que provam a formação de pequenos

ilhéus e ilhas no interior da laguna, nesse meio encontramos esteiros que não tem mais

de um metro de profundidade e com uma vegetação rasteira bastante adaptada a este

meio (ilustração 4). Há ainda a existência de um canal artificial de navegação que por

vezes tem que sofrer intervenção de dragas, para que não se perca a navegabilidade.

Relativamente aos principais tributários na laguna, destacamos o Rio Vouga e o Antuã,

assim como dezenas de outros rios e ribeiras que drenam aquela superfície, atribuindo

uma característica salubridade à água da “Ria de Aveiro”.

3.3 Geologia e Litologia

Na análise geológica que levámos acabo, baseamos a nossa interpretação nos estudos

realizados por C. TEIXEIRA (1976) na Noticia Explicativa da folha 13-C (Ovar) e 16-

A (Aveiro). Desta forma na área de estudo observamos uma grande presença de areias e

lodos, mas devemos falar essencialmente das seguintes unidades geológicas:

Depósitos Modernos

Plistocénico

Cretácico

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 20

Deste modo encontramos zonas baixas e pantanosas perto de Aveiro, sendo que esta

região é formada por depósitos de aluvião, areias de dunas e areias de praia, esta última

faz parte de um estreito cordão litoral que se alinha com as dunas.

Na zona de Ovar e Cacia encontramos materiais do plistocénico, em depósitos de praias

antigas. Estes depósitos são formados essencialmente por leitos de areias e cascalheiras

de calhaus rolados, por vezes muito espessos e de cor clara.

Na zona de Cacia encontramos também unidades do Cretácico, este é formado

essencialmente por arenitos margosos e argilas. Estas formações são em grande parte

cobertas por depósitos modernos mas podem ser observados nos vales das linhas de

água que abundam nessa zona.

Deste modo fazemos a ligação à litologia, que de certa forma será mais importante para

percebermos que tipo de características os solos possuem e a importância que isso terá

na relação com a infiltração da água no solo.

Ilustração 4 - Caracteristicas típicas de uma laguna. Sector da Tijosa

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 21

Como era de esperar, a área de estudo é maioritariamente constituída por rochas

sedimentares desagregadas, como podemos confirmar pela ilustração 5, a excepção

surge já sobre a Serra do Arestal, zona a partir da qual se altera o tipo de litologia,

passando a observa-se algumas rochas do pré-câmbrico mais especificamente xistos.

Ilustração 5 - Carta litológica para a área de estudo

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Temperatura

Mas voltando à área de influência da laguna e especificamente a área de estudo,

observamos a presença expressiva tanto de dunas e areias eólicas do Holocénico como

alguns aluviões do Holocénico, areias e arenitos onde as primeiras são do Plio-

Plistocénico e as segundas do Cretácico. Ora como já tínhamos referido, o interesse

sobre a litologia da área de estudo iria recair sobre a importância da infiltração da água

no solo, isto porque a água ao infiltra-se no solo arrasta consigo outro tipo de materiais

como é o caso de alguns minerais e substancias químicas sejam elas naturais ou tóxicas.

Deste modo quando a água infiltrada leva consiga substâncias tóxicas, estas podem

contaminar as águas subterrâneas presentes nos aquíferos.

3.1 Clima

Neste ponto faremos uma pequena abordagem ao clima que se faz sentir na região da

laguna de Aveiro. Para fazer essa avaliação baseamo-nos nos dados obtidos pela estação

meteorológica de Aveiro/Barra generalizando-os a todo os espaço, pois a variabilidade

neste ambiente não é muito intensa. Da análise do gráfico termopluviométrico (Quadro

I) podemos concluir que o clima característicos desta zona pode se classificar de

Temperado sem Inverno “Português”.4 Com isto podemos dizer que os meses pluviosos

são entre Outubro e Março, e os períodos secos se encontram entre Junho e Setembro.

Relativamente às temperaturas destacamos o mês de Janeiro como sendo o mês mais

frio, em que a temperatura média do ar ronda os 9,9º C, pelo contrário Agosto acaba por

4 É aplicada a classificação climática segundo E. de Martonne

Quadro I - Gráfico termopluviométrico da Estação meteorológica de

Aveiro/Barra

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 23

ser o mês mais quente com a temperatura média do ar em cerca de 18,4º C. Nota-se

assim uma clara influência oceânica, esta vai fazer com que as temperaturas entre o

Verão e o Inverno tenham uma oscilação baixas mantendo-se amenas ao longo do ano,

já as precipitações são maiores no Inverno do que no Verão.

Quanto à direcção predominante do vento podemos dizer que na região o vento “sopra”

preferencialmente de Noroeste e de Norte (como podemos confirmar no Quadro II), mas

conforme a época do ano o vento é mais forte do quadrante Sul (durante o Inverno) e do

quadrante Norte (conhecidas como as Nortadas de Verão). Devemos ter tambem especial

atenção para as calmas, pois têm também um registo bastante significativo de 15,5%, a

este período de calmas por vezes se associam manhas de muito nevoeiro, características

desta região mais concretamente na época do verão.

Quadro II - Gráfico com as situações de ventos predominantes

Sendo que a laguna está exposta às massas de ar oceânicas, estas condições vão

condicionar desde logo a evolução da laguna, pois o vento que como já vimos é

predominante de Norte e Noroeste, vai fazer o transporte de sedimentos das dunas de

Norte para Sul permitindo não só o alongamento da restinga mas mais recente mente

provoca a deposição de materiais no interior da laguna. Em alguns casos a presença

junto ao oceano pode provocar situações de washover, quando em Invernos mais

rigorosos ocorre a formação da “storm surge”5 que leva ao entulhamento de alguns

sectores da laguna com materiais provenientes das dunas. Esta situação é difícil de

acontecer no local da área de estudo pois a extensão entre a laguna e o oceano é

suficientemente grande para evitar esta situação, mas em zonas mais curtas, como é o

caso de Mira, esta situação já se verificou.

5 Ou maré de tempestade consiste na elevação da água próxima à costa, associada com um sistema

de condições climáticas de baixa pressão. A maré de tempestade é causada principalmente pelos fortes ventos que empurram a superfície do Oceano. O vento faz com que a água se empilhe mais elevadamente do que no nível do mar normal.

0102030

N

NE

E

SE

S

SW

W

NW

Direcção do Vento

Vento

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 24

3.2 Uso do Solo

No âmbito do nosso estudo, a análise do uso do solo é relativamente importante pois dá-

nos a percepção das actividades que se desenrolam naquela superfície de solo. Como

para o nosso estudo é demais importante ter uma percepção de determinadas

actividades, como o caso da expansão do tecido urbano, zonas industriais e agrícolas,

isto porque consideramos nós, serem das actividades que mais podem influenciar a

laguna ao nível da poluição, que é o tema que interessa aqui ser tratado.

Em relação ao uso do solo pouco há para dizer nesta zona, visto ser uma zona bastante

homogénea em termos de uso de solo, sendo claramente influenciada pelas

características dos ambientes lagunares, deste modo os principais usos do solo

atribuídos à zona em estudo são,

Lagunas litorais

Praia, dunas

Florestas resinosas e mistas

Zonas de cultura permanente, regadio e sequeiro

Pastagens

Sapais e salinas

Industria, comércio e equipamentos gerais

Tecido urbano descontínuo

Na ilustração 6 podemos ter uma perspectiva mais vasta sobre a área, mas os elementos

atrás enunciados são os que mais se destacam naquela zona, temos que referir também a

confirmação através do uso do solo de quatro manchas bem definidas relativamente a

tecido urbano descontínuo em Aveiro, Estarreja, Murtosa e Ovar. Nota-se também uma

grande disponibilidade dos solos em torno da laguna para actividades agrícolas. E é

neste contexto que teremos que trabalhar, analisando a influência que estas pequenas

manchas de actividades, tanto agrícolas, indústrias e urbanas, e a sua localização terão

na laguna.

4. Os riscos na laguna de Aveiro

É deste modo que chegamos às questões práticas da nossa investigação. Neste ponto

necessitámos de restringir a nossa área de estudo, como já referimos anteriormente,

localizando a nossa área de avaliação ao sector a norte da Barra de Aveiro,

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 25

subdividimos ainda em alguns sectores de análise mais restritos que apresentaremos

mais à frente.

Ilustração 6 - Carta de uso do solo para a área em estudo, Fonte: Corine Land Cover 2000

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 26

Assim neste capítulo procuramos então abordar a questão dos riscos na laguna de

Aveiro, procurando identificar as componentes passíveis de serem utilizadas numa carta

de risco ambientais para a zona. Desta forma procurámos, estudámos, recolhemos e

analisámos informação com o intuito de localizar e cartografar os principais focos

poluentes na área de estudo. Com isto lançamos uma ideia primaria do que poderíamos

encontrar na área de estudo à cerca dos principais focos poluentes, sendo que definimos

como alvos a identificar e a localizar no terreno situações como industrias, explorações

agrícolas e agropecuárias, pressão do contínuo urbano e aglomerados populacionais e

rede de saneamento público deficitário. Alguns destes parâmetros careceram ainda de

apoio em relatórios sobre qualidade ambiental. Foi ainda necessário identificar quais a

vulnerabilidades da área de estudo ao nível da biodiversidade, do impacto paisagístico e

a identificação das espécies de seres vivos que fazem da laguna o seu habitat.

Estes foram os elementos que na nossa opinião eram os mais importantes para serem

inseridos numa cartografia de risco ambiental para a laguna de Aveiro, mas a influencia

de outro tipo de factores, como o caso da influencia das mares, o nível de caudais, força

da corrente, a proveniência de cursos de água já contaminados, assim como a

capacidade de regeneração de nova água na laguna visto a entrada de água proveniente

do mar poder alterar esses factores, a delimitação dos diversos tipos dos habitats são

assuntos que transcendem a magnitude deste trabalho, portanto restringimo-nos a dar os

primeiros passos para a realização de um estudo mais aprofundado sobre esta temática

neste meio muito sensível e frágil que é a laguna de Aveiro, que em alguns pontos da

sua superfície aquosa já se provou que as suas águas eram de utilização proibida devido

ao nível de contaminação mas que aos poucos tem se tentado modificar essa situação.

Desta forma destacamos a importância de estudos como este para que de uma vez por

todas se procure diminuir cada vez mais as acreções que se fazem a este meio e para

isso é necessário determinar essas zonas.

4.1 Identificação das situações danosas

Antes de apresentar os resultados obtidos compete-nos identificar e explicar a escolha

de determinadas situações danosas presentes na laguna capazes de interferir na

qualidade ambiental da área, em anexo apresentamos imagens de alguns casos

importantes de focos poluentes.

Assim começamos por falar sobre a agricultura, esta como tem grande expressão nos

terrenos circundantes à laguna teria de ser um factor a ter em conta, visto na sua pratica

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 27

ter se aumentado a utilização de fertilizantes e pesticidas, ora estes componentes são

geralmente ricos em nitratos e sendo os solos da área caracterizados por ter uma fraca

retenção de água, é passível de ocorrer a contaminação tanto dos níveis freáticos como

de nascentes. A mesma situação ocorre na prática da agropecuária, aliás a situação fica

um pouco mais grave pois ocorre a acumulação dos dejectos dos animais em fossas que

quando tem que ser limpas nem sempre tem o tratamento nem o destino aconselhável,

sendo libertados na maioria dos casos directamente nos cursos de água, sendo desta

forma uma situação directa e muito danosa ao nível da poluição dos cursos de água.

Outro dos casos que definimos para analisar é a presença de indústrias, que nesta região

são essencialmente produtoras e utilizadoras de produtos químicos onde se destaca tanto

o Quimiparque de Estarreja como a Portucel em Cacia, sendo que estas têm duas

situações passíveis de ocorrer. Num primeiro momento podemos assistir a libertação de

resíduos, tratados ou não, nos cursos de água, já num segundo momento devemos ter a

consciência que a ocorrência de um desastre ambiental em algumas destas empresas tem

que ser equacionadas pois traria graves problemas para toda a área ao nível da

contaminação dos solos e dos cursos de água. Em relação à pressão urbana devemos

dizer que não tem uma influência tão grave como as situações anteriores mas é um

factor de análise interessante pois as zonas urbanizadas tendem a influenciar o ambiente

em redor, pois aumentam as construções, aumenta o tráfego, aumenta os resíduos, e

deste modo surgem alguns problemas para o meio ambiente, por outro lado temos a

noção que nestas zonas a gestão de resíduos é feita de melhor maneira sendo que as suas

redes de saneamento permitem que o problema que vamos apresentar de seguida não

seja uma realidade. Assim apresentamos o deficit na extensão da rede de saneamento

como sendo um problema grave para determinadas povoações não só pelos

inconvenientes que essas situações acarretam para a laguna mas também ao nível da

qualidade de vida das povoações. Deste modo as casas que não estão ligadas à rede de

saneamento necessitam de verter todos os seus esgotos para fossas sépticas colectivas,

só que alguns casos, estas começam a deteriorar-se nas suas paredes deixando escapar

os seus líquidos que acabam por se infiltrar nos solos. Desta forma apresentámos os

principais focos poluentes para a laguna de Aveiro.

Mas dentro desta temática surge ainda a necessidade de referir o risco inerente ao

assoreamento da laguna, apesar deste ponto se desviar um pouco da temática da

poluição, o assoreamento da área traz de igual modo problemas para a população

residente na área da laguna. Amorim Girão em 1922 já tinha referido que “a ria está

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 28

inevitavelmente condenada a desaparecer”, mas seus estudos baseavam-se na influência

do Rio Vouga e o seu transporte de sedimentos que provocava a formação de um delta

interior na sua foz como capaz de entulhar a “Ria” e desta forma acabar por se formar

“um contínuo areal sem vegetação e sem vida” (A. GIRAO, 1922). A verdade é que 88

anos volvidos essa ideia ainda é considerada uma hipótese, mas com uma evolução um

pouco diferente dos moldes apresentados na tese de doutoramento, “Bacia do Vouga.

Estudo Geográfico.” (1922). Os materiais transportados pelo leito do Vouga e

depositados na sua foz entulhando grande parte da laguna, como podemos ver pela

extensão de terrenos húmidos cobertos por sapais e atravessados por esteiros, nunca

deram a essa zona a possibilidade de serem navegáveis. A questão de hoje prende-se

essencialmente pela importância que obtiveram os três canais de navegação principais

da laguna, o canal de Mira, o de São Jacinto e o de Ovar. É certo que dada a posição

destes canais, que estão relativamente afastados da foz do Vouga, dificilmente poderiam

desaparecer pela acção dos materiais trazidos pelo rio assim, A. Girão apresentou ainda

algumas hipóteses sobre isso, a influência dos ventos de NNO que transporta areias

desde as dunas para o interior mas também falou-nos crescimento de alguma vegetação

marinha que permitiu a acumulação dos sedimentos impedindo que estes fossem

levados de volta para o mar.

Antes de mais convêm realçar a importância da sobrevivência dos canais, estes são

utilizados tanto a nível das actividades económicas como a nível das actividades de

lazer, e são muitos os utilizadores deste meio assim como as actividades praticadas.

Podem ainda surgir problemas a nível ambiental mas também de saúde pública, tal

como aconteceu a quando do encerramento da Barra em 1575 que levou à estagnação

das águas, em que a região que até então dependia da “Ria” passou tempo de miséria

tanto a nível económico como do aparecimento de doenças. Visto isto convêm agora

tentar perceber o que está a acontecer na laguna para assistirmos a um assoreamento que

tem acelerado ao longo do tempo.

Num pequeno artigo F. REBELO (2007) confirma as teorias apresentadas por A.

GIRÃO (1922) mas ainda destaca a importância que o abandono dos campos de

salicultura assumem neste processo, pois os seus muros feitos com os materiais da

laguna começam a desmoronar-se ajudando desta forma ao assoreamento, assim como

apresenta as situações de “storm surge” que leva à entrada de areia vinda do mar e que

depois não tem capacidade e também os casos em que ocorre “washover”. Mas estas

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Poluição, os riscos ambientais em análise

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situações somente são passíveis de acontecer a sul, dada a proximidade da barra e

também da curta distância de costa entre o mar e o interior da laguna.

Desta forma leva-nos a tentar perceber outro tipo de situações que possam ter

influenciado a rapidez do assoreamento para norte. Na nossa óptica o que temos é não

só um assoreamento rápido mas também ocorre um aumento e uma melhor percepção

que temos deste. Passamos a explicar, dada a dificuldade de explicar o que ocorre a

norte pelos mesmos processos que assistimos a sul da laguna, devemos referir que este

entulhamento possa estar a ser influenciado pela deposição dos sedimentos e partículas

orgânicas que estariam em suspensão na água ao longo destes anos todos, pois os

fundos da laguna são completamente constituídos por lodos, temos também a questão

do colapso das margens da “ria” que tem alimentado o com muito material arenoso a

superfície aquosa da laguna. Por fim apresentamos um factor que não tem tido relevo

mas que achamos ter um papel fundamental no modo de como percebemos o

assoreamento da “ria”, falamos da influência da barra e forma como esta altera as

marés. Ora a barra de Aveiro foi aberta artificialmente em 1808, mas com o passar do

tempo tem se aumentado a profundidade da sua passagem por motivos comerciais, este

aumento de profundidade vai de certa forma influenciar o caudal permitindo tanto a

entrada como a saída de maiores quantidades de água. Em alturas de maré baixa, com a

passagem de grande parte da água para o mar no interior fica visível todo o fundo da

laguna o que não aconteceria se amplitude de maré fosse mais baixa, actualmente e

conforme as marés temos uma amplitude de cerca de 3 metros quando há mais de 30

anos seria de aproximadamente 40 cm6. Ainda relativamente à força da maré, e o último

aspecto que queremos apresentar sobre este tema, há que referir que esta não é

constante. Isto é, a velocidade tanto da vazante como da enchente é gradual assim

começa por ser lenta ao inicio e mais rápida para o fim do período de maré. Desta forma

para norte vai sendo difícil a água ter força para arrastar os materiais para o mar

enquanto para as zonas mais perto da barra, logo a corrente é mais forte portanto menos

materiais no fundo provocando profundidades de cerca 9 metros.

E deste modo fizemos a apresentação dos principais problemas da laguna e apesar de

termo-nos estendido um pouco na análise do último aspecto pensamos que foi

importante dar uma perspectiva um pouco mais pessoal do que se tem assistido na

laguna com o passar do tempo.

6 Estes valores são apoiados em relatos contados por habitantes do lugar do Carregal

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Poluição, os riscos ambientais em análise

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4.2 As vulnerabilidades na laguna

A laguna de Aveiro é considerada área de especial interesse para a conservação, devido

a sua diversidade de espécies que alberga e habitats que dela fazem parte. É também um

espaço fortemente humanizado onde se reflecte o aproveitamento de recursos naturais

de forma equilibrada com os ecossistemas presentes como são o caso das salinas e da

piscicultura que proporcionam a instalação de novas comunidades e espécies,

contribuindo desta forma para a riqueza e diversidade do sistema. Assim, devemos

considerar este espaço como um ambiente de frágil, que necessita de muito tempo para

se regenerar visto ter-se desenvolvido numa relação mútua com as actividades

praticadas e que a modelarão da forma que hoje a observamos. Conforme se pode ler no

Plano Estratégico da Intervenção de Requalificação e Valorização da Ria de Aveiro

(2010) “a dinâmica física, química e biológica que caracteriza este local condiciona

todo o ambiente lagunar e proporciona uma diversidade de biótopos de grande interesse

conservacionista, constituindo-se como o suporte de todo este complexo ecossistema

natural e social.”

É de destacar toda a diversidade e riqueza ambiental e paisagística que faz deste espaço

não só uma grande potencialidade turística mas também a escolha de muitas espécies

para seu habitat, por isto a “Ria de Aveiro” é classificada como Zona de Protecção

Especial desde Setembro de 1999. Sendo local de alimentação e reprodução para

diversas espécies de aves como é o caso de Pato-preto (Melanitta nigra), Alfaiate

(Recurvirostra avosetta), Pilrito (Calidris alpina), Borrelho-de-coleira-interrompida

(Charadrius alexandrinus), Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula), Pato-

Ilustração 7 - Flamingos fazem da laguna o seu habitat

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Poluição, os riscos ambientais em análise

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real (Anas platyrhynchos) e Flamingo (Phoenicopterus roseus) (ilustração 7). Dentro

desta zona de protecção insere-se ainda a Reserva Natural das Dunas de São Jacinto,

que foi criada com o objectivo de criar condições necessárias à prevenção de um cordão

dunar muito sensível tendo-se vindo a expandir os seus limites com fim de protecção a

determinadas espécies. Como podemos ver todo o sistema lagunar é muito susceptível a

acreções externas, ainda mais quando falamos em termos de poluição, sendo ainda que é

uma forte fonte de rendimentos turísticos e é a base de sustento de muitas pessoas que

procuram nas suas águas algum pescado, a “Ria de Aveiro” tem de ser considerada

vulnerável no seu todo.

4.3 Localização e avaliação dos focos poluentes

É finalmente neste ponto que abordamos e sintetizamos toda a pesquisa feita em torno

das temáticas dos riscos ambientais presentes na laguna de Aveiro. Desde já

começaremos por fazer a avaliação da gravidade de cada foco poluente em cada sector,

definindo uma escala de avaliação de três níveis de influência do foco poluente na

laguna, assim: 1 - Baixa influência; 2 – Média influência; 3 - Alta influência. Os

resultados estão sintetizados no Quadro III.

Quadro III - Classificação dos principais focos poluentes

Sect

ore

s d

e an

ális

e

Principais fontes poluentes

Agricultura Agropecuária Industria Pressão Urbana

Rede Saneamento

Avanca - Válega 3 3 1 1 2

Ovar 1 1 3 3 1

Carregal - Tijosa 3 2 2 1 3

Carregal - Torreira 2 2 1 1 3

Estarreja 2 2 3 2 3

Pardilhó 3 2 1 2 2

Torreira 1 1 1 3 2

Murtosa 2 1 1 2 1

Cacia 2 2 3 1 2

Torreira - S.Jacinto 1 1 1 1 1

S.Jacinto 1 1 3 2 1

Iremos começar então por analisar o sector Avanca-Válega, onde se destaca como

principal foco poluente a agricultura e a agropecuária, esta zona é sem dúvida um dos

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Poluição, os riscos ambientais em análise

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pontos onde se encontra maior número de registo de campos agrícolas trabalhados que

em conjunto com as numerosas linhas de água que cruzam esse sector tendem a ser um

factor em conta na hora de fazer este tipo de avaliações. No sector de Ovar destacamos

tanto a industria como a pressão urbana como os focos poluentes principais, a poluição

pela indústria neste sector implica que expliquemos que a proveniência da mesma

refere-se as linhas de água que nascem nos concelhos vizinhos (no caso, Santa Maria da

Feira) e acabam por desaguar na laguna. Relativamente ao sector Carregal-Tijosa onde

também destacamos a agricultura e o deficit na rede de saneamento, sendo um sector

que se localiza nas margens da laguna a influencia dos poluentes será mais rápida que

nos outros casos que apresentamos até agora, por tanto apesar de este sector ser pouco

expressivo em termos de unidades (tem poucos campos e poucas habitações) a sua

proximidade tem que se ter em conta. O mesmo acontece para o sector Carregal-

Torreira, onde destacamos essencialmente o deficit na rede de saneamento público mas

em alguns pontos particulares ocorre a prática da agropecuária que apesar de ser

avaliada com uma influência média a sua pontualidade associada à proximidade à

laguna leva a que seja necessário mencionarmos esse facto. Apresentamos agora o que

na nossa opinião é o sector mais que esteve em análise com mais perigos para a laguna,

pois os seus principais focos poluentes são a indústria, claramente influenciada pelas

descargas efectuadas pelo Parque Industrial de Estarreja, e o deficit da rede de

saneamento. Estas conclusões são obtidas em função de alguns relatórios de qualidade

ambiental que apontam para uma classificação das águas, que provem de Estarreja, de

muito má. Segundo os relatórios identificam-se nesse sector a contaminação por metais

pesados (mercúrio, cádmio, zinco, cobre, chumbo e arsénio) assim como a confirmação

de que 43% da poluição de proveniência urbana pertence a fossas sépticas colectivas e

10% pertence a descargas directas. No sector de Pardilhó destacamos a agricultura e o

deficit na rede de saneamento, e no sector da Torreira a pressão urbana. O sector da

Torreira é essencialmente uma zona que se divide entre “aldeia piscatória” e local de

residências de 2ª habitação ou de férias, pois é uma vila virada essencialmente para o

turismo de Verão. A Murtosa é também outro sector que no nosso entender não provoca

grandes acreções à laguna, destacamos apenas alguns campos agrícolas perto da laguna

mas acaba por não ter grande influência, assim como o seu aglomerado populacional

que se localiza ligeiramente afastado da laguna, não é atravessado por linhas de água

que possam influenciar o grau de poluição da laguna. Surge-nos agora outro sector

problemático ao nível da poluição industrial, falamos do sector de Cacia que sofre

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Poluição, os riscos ambientais em análise

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essencialmente a acção da fábrica da Portucel. Apesar da fábrica ter uma ETAR

particular para o tratamento dos seus efluentes e também dos efluentes das povoações

vizinhas, os resultados apresentados para a qualidade da água no Rio Vouga perto

daquela zona revela que a qualidade da água é má. Falando agora do sector Torreira-

S.Jacinto, claramente o sector em que não se aponta qualquer tipo de foco de poluição,

isto porque é nessa área que se estende o Parque Natural das Dunas de São Jacinto

assim como uma vasta zona de pinhais. Mesmo ao observamos a água nesse sector não

conseguimos apontar grandes problemas à sua qualidade, pois neste sector já se nota

alguma influencia da água do mar assim como as fortes correntes de maré que se fazem

sentir promovem uma regeneração da água. Por fim analisamos o sector de São Jacinto

ao qual aglomerámos o sector do Porto Comercial de Aveiro, o que de certa forma vai

influenciar a análise deste sector. Deste modo definimos que a indústria e a pressão

urbana são os focos poluentes presentes neste sector, o Porto de Aveiro surge aqui não

só pela influência que o tráfego marítimo provoca, mas também pelos riscos que estão

inerentes ao Terminal químico onde são descarregadas substâncias químicas como é

caso do cloreto de vinilo, da anilina, do metanol e de alguns combustíveis. Devemos

ainda referir uma situação que também é susceptível de prejudicar gravemente a laguna

em caso de ruptura, falamos pois de um oleoduto que atravessa grande parte de terrenos

da laguna desde o Terminal Químico do Porto de Aveiro até ao Parque Industrial de

Estarreja e que transporta no seu interior graneis líquidos do tipo que já referimos

anteriormente quando falávamos dos tipos de substâncias químicas que eram

descarregadas no terminal.

Com isto concluímos a apresentação da percepção que temos dos focos poluentes

presentes na laguna de Aveiro, assim o mapa (ilustração 8) que de seguida se propõe

resulta da informação disponível e do conhecimento actual do território. Podem assim

ocorrer algumas falhas que não nos dão desta forma o detalhe e o pormenor que é

exigido.

5. Laguna de Aveiro! Que futuro?

É com este capítulo que encerramos a nossa investigação científica no âmbito dos riscos

ambientais. Foi sem dúvida um trabalho enriquecedor a nível pessoal tanto pelo

conhecimento obtido sobre as temáticas mas também aumentou a nossa visão em

relação a uma área onde apenas tínhamos uma relação afectiva forte. Então com este

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Poluição, os riscos ambientais em análise

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capítulo pretendemos fazer uma síntese geral dos resultados obtidos assim como traçar

algumas ideias sobre soluções para a problemática que afecta a “Ria de Aveiro”.

Ilustração 8 - Espacialização dos principais focos poluentes na laguna

Na nossa opinião a laguna tem potenciais paisagísticos que devem ser realçados, e

apostar no ecoturismos de forma sustentável é uma opção a ter em aberto, não só para

aproveitar a riqueza que essa actividade poderia gerar numa área que cada vez mais é

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Poluição, os riscos ambientais em análise

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afectada por elevados índices de desemprego mas também como uma forma de

promover este meio rico em biodiversidade. O plano de águas, que dadas as suas

condições climáticas e de espelho de água, da laguna deve também ser alvo de uma

aposta na organização de eventos desportivos não só a nível regional como já acontece

mas também uma maior aposta a nível nacional, onde se destacam uma forte presença

de modalidades como a vela e canoagem assim como desportos radicais (windsurf e

kaytsurf). Ainda relacionado com o ponto anterior, devemos referir que o assoreamento

do canal de navegação tem prejudicado seriamente algumas actividades.

São assim estas as grandes apostas que poderiam vir a dinamizar o ambiente lagunar,

que em virtude da proximidade de algumas das melhores praias da zona centro a

utilização da laguna para lazer é preterida em relação às praias, pois existe a noção de

que as águas da “ria” são sujas o que em alguns sectores não deixa de ser verdade, como

podemos concluir com a nossa investigação. Cabe então às autoridades competentes

procurar alterar esta visão, intervindo sobre as problemáticas da “ria”.

Ao nível da intervenção sobre a rede de saneamento público destaca-se a importância

dos esforços levados a cabo pela SIMRIA, empresa intermunicipal que gere os resíduos

urbanos fazendo o seu tratamento levando depois à emissão, já no oceano, dos resíduos

já tratados. Espera-se assim o alargar da rede de saneamento público, para algumas

zonas já existe o projecto de expansão, nas zonas apontadas anteriormente, para que se

possam ligar a este grande sistema minimizando desta forma os efeitos poluentes

provocados pelas fossas sépticas. Relativamente à poluição proveniente da agricultura e

das actividades agropecuárias a solução passa um pouco pela sensibilização dos seus

praticantes para estas problemáticas, pois não se pode nem se deve inibir este sector de

actividade que desde muito cedo foi a principal forma de subsistência de muitas famílias

e hoje em dia, apesar de menor em número, continua a selo. O mesmo não pode

acontecer com as industrias que ao longo destes anos de actividade tem libertado

enormes quantidades de metais pesados para a laguna, assim os culpados devem ser

responsabilizados assim como deve haver uma aplicação de coimas severas para quem

não cumprir os limites legais referentes ao tratamento dos seus resíduos.

Há ainda a destacar o projecto de requalificação e valorização para a “Ria da Aveiro”

inserido no programa Polis Litoral, é sobre ele que recai alguma esperança sobre um

futuro mais risonho em termos de valorização ambiental da laguna. O projecto nesse

aspecto é bastante ambicioso, pois está previsto criar não só espaços de lazer em

determinados pontos das margens da “ria”, mas também criar condições de

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Poluição, os riscos ambientais em análise

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navegabilidade ao longo de todo percurso. Em nosso entender será interessante tentar

perceber de que forma é que esta intervenção fará aproximar a população da laguna,

pois a noção que temos é que muitas das pessoas não dão importância a este espaço.

Deste modo verifica-se o que “na mão do homem está apenas retardar esse fatal

desenlace” A. GIRÃO (1922), quando se referia a extinção da laguna, e na nossa óptica

também pensamos o mesmo. Neste momento a laguna precisa de vários tipos de

intervenção para poder potenciar todas as suas qualidades, se não iremos assistir em

poucos anos ao declínio e ao anunciado desaparecimento da “mais bonita forma litoral

do nosso país” F. REBELO (2007).

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Anexos

Ilustração 9 - Agricultura no sector de Carregal-Tijosa

Ilustração 10 - Pressão urbana na Torreira

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Ilustração 11 - Visão sobre o terminal químico do Porto de Aveiro, S.Jacinto

Ilustração 12 - Centro de bombagem de água da SIMRIA

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Poluição, os riscos ambientais em análise

Nuno Rafael Almeida Andrade| 39

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