SEMINÁRIO COMEMORATIVO LIEBIG 200 ANOS · Seminário Comemorativo dos 200 Anos de nascimento de...

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SEMINÁRIO COMEMORATIVO LIEBIG 200 ANOS Antonio Roque Dechen Quirino Augusto de Camargo Carmello Francisco Antonio Monteiro Gilmar Ribeiro Nachtigall Editores PIRACICABA Estado de São Paulo - Brasil Maio – 2003

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SEMINÁRIO COMEMORATIVO LIEBIG 200 ANOS

Antonio Roque Dechen Quirino Augusto de Camargo Carmello

Francisco Antonio Monteiro Gilmar Ribeiro Nachtigall

Editores

PIRACICABA Estado de São Paulo - Brasil

Maio – 2003

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ" DEPARTAMENTO DE SOLOS E NUTRIÇÃO DE PLANTAS Av. Pádua Dias, 11 Caixa Postal 9 13418-900 Piracicaba, SP Telefone: (0xx) 19 3429 4170

Fax: (0xx) 19 3434 7947 Endereço eletrônico: http://www.esalq.usp.br SEMINÁRIO COMEMORATIVO – LIEBIG 200 ANOS

Tiragem: 200 exemplares

PROMOÇÃO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ" Reitor da Universidade de São Paulo – USP

DEPARTAMENTO DE SOLOS E NUTRIÇÃO DE PLANTAS Adolpho José Melfi Diretor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP José Roberto Postali Parra COORDENADORES Antonio Roque Dechen Vice-Diretor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ / USP

Francisco Antonio Monteiro Quirino Augusto de Camargo Carmello

Raul Machado Neto Godofredo César Vitti Jorge de Castro Kiehl Gilmar Ribeiro Nachtigall Diretor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura – CENA/USP Gláucia Regina Anti Reinaldo Luís Victória APOIO Prefeito do Campus “Luiz de Queiroz Marcos Vinícius Folegatti Departamento de Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ/USP FEALQ Fundação Agrisus Chefe do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas CONFEA – CREA/SP

Programa de Pós- Graduação em Solos e Nutrição de Plantas Pablo Vidal Torrado

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APRESENTAÇÃO É com grande satisfação que o Departamento de Solos e Nutrição

de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz realiza este Seminário Comemorativo dos 200 Anos de nascimento de Justus von Libieg que, graças à sua excepcional capacidade de trabalho, deixou extensa e valiosa contribuição para a ciência da Química, e suas aplicações à Filosofia, à Fisiologia, à Agricultura e ao Comércio.

Liebig, que é considerado o Pai da Nutrição Mineral de Plantas,

definiu a lei do mínimo: "O crescimento de uma planta é dependente do nutriente que está disponível em quantidade mínima". Seu livro: A Química Orgânica e suas Aplicações à Morfologia e à Patologia, editado em 1842, foi um “best seller”, com edições na Inglaterra, França, Dinamarca, Holanda, Itália, Polônia e Rússia.

Apresentamos, nesta publicação, as cartas de números 11 a 16,

que mostram a abrangência e atualidade dos temas enfocados por Liebig: causas da exaustão da terra; necessidade de princípios científicos; ciência e arte da agricultura; racionalização dos processos agrícolas; necessidade da química para uma agricultura avançada e perfeita; usos do calcário; efeitos da queima da vegetação; a natureza e os efeitos dos adubos; fontes de carbono e nitrogênio para as plantas; necessidade da pesquisa por meio de análises para progresso da agricultura; importância dos fosfatos de cálcio e das bases para o cultivo dos cereais.

Enfim, como afirmava Liebig: A Agricultura é uma Ciência e uma

Arte. Boa leitura, Antonio Roque

Dechen Francisco Antonio

Monteiro Quirino A. de C.

Carmello

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PROGRAMA DO EVENTO SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO 1

PAINEL DA MANHÃ CARTAS DE LIEBIG 3

Coordenador: Dr. Aristeu Mendes Peixoto (Coordenador da Enciclopédia Agrícola ESALQ - USP). PREFÁCIO DE LIEBIG PARA AS SUAS CARTAS 3

CARTA XI 508:30-09:30 - Abertura e Homenagens

CARTA XII 11 09:30-10:30 - Nutrição Mineral de Plantas: Liebig e Pós-Liebig CARTA XIII 17Dr. Eurípedes Malavolta ( CENA-USP) CARTA XIV 2310:30-11:00 - Intervalo

CARTA XV 29 11:00-12:00 - Nutrição Mineral de Plantas: A contribuição

brasileira. CARTA XVI 41 Dr. Ondino Cleante Bataglia (IAC) 50 ANOS DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS NA ESALQ 47

PROFESSOR EURÍPEDES MALAVOLTA 50

PROFESSOR HENRIQUE PAULO HAAG 52 PAINEL DA TARDE PROFESSOR JOSÉ RENATO SARRUGE 54 Coordenador: Dr. Guido Ranzani (Sócio Fundador da

Sociedade Brasileira de Ciência do Solo – ESALQ/USP).

PROFESSOR ANTONIO ROQUE DECHEN 55

PROFESSOR QUIRINO AUGUSTO DE CAMARGO

CARMELLO 56

14:00-15:00 - Fertilizantes: Início e evolução. Dr. Fernando Penteado Cardoso (Fundação AGRISUS)

PROFESSOR FRANCISCO ANTONIO MONTEIRO 57 15:00-15:30 - Intervalo. 15:30-16:00 - A Nutrição Mineral de Plantas nas Sociedades

Científicas. Dr. Ciro Antonio Rosolem (UNESP-Botucatu)

16:00-16:30 - A Evolução da Análise de Solos.

Dr. Bernardo van Raij (IAC) vi

Sem ter telefones ou e-mails e contando com o sistema europeu de correios, que era eficiente e barato, os cientistas da época de Liebig confiavam muito em escrever cartas para trocar opiniões, novidades e as últimas informações técnicas, antes que elas fossem publicadas nos artigos científicos mais lidos. Além disso, sem a oportunidade dos encontros regulares, que as conferências e as viagens aéreas trouxeram para os cientistas dos séculos XX e XXI, a geração de Liebig baseava suas relações de amizade nas correspondências que trocavam. Liebig e Wöhler, mesmo tendo feito trabalhos conjuntos e passado algumas férias juntos, devem ter-se encontrado somente uma dúzia de vezes durante suas vidas, por outro lado, eles trocaram mais de 1000 cartas. Embora um número desconhecido, de cartas escritas e recebidas por Liebig tenham sido destruídas, há no mínimo 1.500 itens de correspondências no Museu de Liebig em Giessen e mais de 6.000 cartas na Bayerische Staatbibliothek em Munique.

As cartas familiares, como a versão inglesa dessas cartas é

chamada, trazem um aspecto importante da atividade literária de Liebig antes de 1840 e, são responsáveis por muito da sua fama mundial, pois elas não foram traduzidas somente para o inglês, mas também para o francês, o italiano, o espanhol, o dinamarquês, o sueco, o holandês, o polonês e o russo, sendo publicada em 1952 uma versão em japonês.

Neste seminário comemorativo do Bicentenário de nascimento de

Justus von Liebig, apresentamos agora a tradução para o português das cartas XI a XVI, que tem informações sobre Agricultura e Nutrição de Plantas. Como as dez primeiras cartas tratam de assuntos ligados à Química e não à Nutrição Mineral de Plantas, não serão apresentadas, contudo, para aqueles que tiverem interesse, elas estão disponíveis no site: http://www.ul.ie/~childsp/liebig.

INTRODUÇÃO

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CARTAS DE LIEBIG

Prefácio de Liebig para as suas cartas

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As cartas contidas neste pequeno volume abordam alguns dos pontos mais importantes da ciência da Química, na sua aplicação à Filosofia, Fisiologia, Agricultura e Comércio. Muitas delas tratam de assuntos que já tem sido ou serão aqui, mais tarde, discutidos mais profundamente nos meus trabalhos maiores. Elas foram planejadas para serem meramente esboços e foram escritas com o propósito especial de estimular a atenção dos governos e de um público erudito, para a necessidade de estabelecer Escolas de Química e promover, em todos os sentidos, o estudo dessa ciência tão intimamente ligada às artes, a pesquisa e o bem estar social das modernas nações civilizadas.

De minha própria parte, eu não tenho dúvida em confessar a convicção, que é grande, de que um conhecimento das principais verdades da Química pode ser esperado em todo homem educado, e que isso deve ser necessário para os Políticos, os Economistas Políticos e os Agricultores Práticos, como já é indispensável para os Físicos e os Industriais.

Na Alemanha, onde estas cartas já foram publicadas, não deixou de produzir alguns dos resultados já esperados. Novas cadeiras foram estabelecidas nas Universidades de Goettingen e Wuertzburg, com o propósito expresso de facilitar a aplicação das verdades químicas às artes práticas da vida e, elevar à nova linha de investigação e à pesquisa, o apoio da Química sobre a Fisiologia, Medicina e Agricultura, a qual pode-se dizer está somente começando.

Meu amigo, o dr. Ernest Dieffenbach, um dos meus primeiros alunos, o qual é bem informado, em todos os ramos da Química, Física, História Natural e Medicina, sugeriu-me que a reunião destas cartas seria aceitável para o público inglês, o qual recebeu tão favoravelmente meus trabalhos anteriores.

Eu realmente consenti na publicação de uma edição inglesa, e concordei em escrever algumas cartas adicionais, que pudessem levar algumas conclusões a que eu cheguei em meus experimentos recentes, sobre a aplicação da ciência química à fisiologia das plantas e à Agricultura.

Meu estimado amigo, o dr. Gardner, para quem eu não posso deixar de expressar meus maiores agradecimentos, teve a amabilidade de revisar os manuscritos e as folhas de prova da publicação.

Só me falta dizer, que eu espero que esta pequena publicação sirva para fazer novos amigos da nossa bela e útil ciência, e seja uma relembrança àqueles velhos amigos que tiveram, há muitos anos atrás, tido um vivo interesse por todos os meus trabalhos.

Justus von Liebig

Giessen, agosto de 1843.

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CARTA XI CIRCULAÇÃO DE MATERIAIS NOS REINOS ANIMAL E VEGETAL. Os Oceanos. AGRICULTURA. RESTITUIÇÃO DE UM EQUILÍBRIO

NO SOLO. Causas da exaustão da terra. Virginia, Inglaterra. Recuperação conseguida com a importação de ossos. Empirismo

insatisfatório para se cultivar. Necessidade de princípios científicos. Influência da atmosfera e de materiais salinos e terrosos do solo.

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Meu caro senhor, Na imensa e ainda limitada extensão dos oceanos, os reinos animal

e vegetal são mutuamente dependentes de si e, sucessivamente, do outro. Os animais obtêm seus elementos constituintes das plantas, e restabelecem-nos à água na sua forma original, quando eles servem, novamente, de nutrientes para uma nova geração das plantas.

O oxigênio, que os animais marinhos retiram do ar dissolvido na água de mar, através de sua respiração, é retornado para a água pelos processos vitais das plantas do mar. Esse ar é mais rico em oxigênio do que o ar atmosférico que contém de 32 a 33 por cento. O oxigênio também se combina com os produtos da putrefação dos corpos dos animais mortos, transformando seu carbono em ácido carbônico, seu hidrogênio em água, e seu nitrogênio assume, novamente, a forma da amônia.

Assim, nós observamos que ocorre um ciclo, nos oceanos, sem que ocorra a adição ou a subtração de nenhum elemento, ciclo esse, ilimitado na duração, porém limitado na extensão, visto que, em um espaço confinado, a nutrição das plantas existe em uma quantidade limitada.

Nós sabemos bem, que as plantas marinhas não podem utilizar uma fonte de húmus para sua nutrição através de suas raízes. Observe a grande espiga-do-mar, o Fucus giganteus, essa planta, de acordo com COOK, alcança uma altura de 360 pés e, uma única planta, com suas imensas ramificações, nutre milhares de animais marinhos, contudo suas raízes são pequenas, não maiores do que um punho fechado. Que nutrição pode haver dessa ligação com uma rocha nua, em cima da superfície da qual nenhuma alteração é perceptível? É bastante óbvio, que essa planta requer somente um apoio, uma ligação para impedir sua mudança do lugar, como um contrapeso da sua densidade, que é menor do que aquela do meio em que ela flutua. Esse meio fornece a nutrição necessária e a libera na superfície de cada parte da planta. A água do mar não contém somente ácido carbônico e amônia, mas também, os fosfatos dos metais alcalinos e alcalino-terrosos e os carbonatos requeridos por essas plantas para seu crescimento e que nós encontramos sempre, como constituintes constantes das suas cinzas.

Todos os experimentos demonstram que as condições para a existência das plantas marinhas são as mesmas que são essenciais para as plantas terrestres. Mas estas últimas não vivem, como as plantas do mar, num meio que contém todos seus elementos e que as cerca de nutrição apropriada cada parte de seus órgãos, ao contrário, elas necessitam de dois meios, um dos quais, o solo, que contém aqueles elementos essenciais, os quais estão ausentes no meio que a cerca, isto é, a Atmosfera.

Será possível que, depois de tantas pesquisas conclusivas sobre a origem dos elementos dos animais e dos vegetais, sobre o uso das bases, do calcário e dos fosfatos, possa existir alguma dúvida à respeito dos

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princípios sobre os quais se baseia a Agricultura racional? Pode a arte da Agricultura estar baseada em algo que permita a restituição desse equilíbrio perturbado? Pode-se imaginar que, algum país que embora rico, fértil e, com um comércio florescente que exportou por séculos seus produtos na forma de grãos e de gado, consiga manter sua fertilidade, se esse comércio não restaurar, através de alguma forma de adição, aqueles elementos que foram removidos do solo e que não podem ser substituídos pela Atmosfera? Não deve ser esperado o mesmo destino para os países onde ocorre, o outrora solo produtivo de Virgínia que agora, em muitas partes, é incapaz de atingir as suas antigas altas produções de trigo e de tabaco?

Nas grandes cidades da Inglaterra, os produtos tanto da Agricultura inglesa como da estrangeira, são bastante consumidos e, os elementos do solo, indispensáveis para as plantas não retornam aos campos, como resultado das maneiras e dos costumes do povo inglês, que é peculiar a eles, tornando difícil e talvez impossível, a coleta da enorme quantidade de fosfatos, os quais são carreados para os rios, diariamente, como excrementos sólidos e líquidos. Esses fosfatos, embora presentes no solo nas menores quantidades, são os mais importantes dos seus constituintes minerais. Observou-se que muitos campos ingleses, esgotados dessa maneira, dobraram imediatamente sua produção, como que por milagre, quando foi aplicada a farinha de ossos importada do continente. Mas se a exportação dos ossos da Alemanha continuar, na quantidade que tem ocorrido, nosso solo deve ser gradualmente, também esgotado, e o tamanho da nossa perda, pode ser estimada, considerando-se que uma libra dos ossos contém tanto ácido fosfórico quanto cem vezes esse peso de grãos.

O conhecimento imperfeito possuídos pelos alquimistas, da natureza, das propriedades e das relações da matéria, levou-os, no seu tempo, a uma opinião de que os metais poderiam ser produzidos, tal como as plantas, a partir de uma semente. As formas e as ramificações regulares que são vistas nos cristais, os levou a imaginar que eram folhas e ramos das plantas do metal e, como eles viram que as sementes das plantas cresciam, produzindo raízes, hastes e folhas, e novamente flores, frutos e sementes e que, aparentemente, não recebiam nenhuma fonte do material apropriado, julgaram ser digna, uma pesquisa cuidadosa para descobrir a semente do ouro e qual seria o meio necessário para o seu desenvolvimento. Se as sementes do metal fossem obtidas, elas não poderiam trazer esperanças de seu crescimento?

Tais idéias poderiam existir, somente quando nada era conhecido sobre a Atmosfera e sua participação, junto com a terra, na administração dos processos vitais das plantas e dos animais. A química moderna, certamente produz os elementos da água e combinando-os forma água de novo, mas não consegue criar aqueles elementos, deriva-os da água. A água recém formada artificialmente, já foi água antes.

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Muitos dos nossos fazendeiros são como os antigos alquimistas, e estão procurando pela semente milagrosa e os meios pelos quais, sem qualquer fonte adicional de nutrientes, um solo rico o suficiente para ficar repleto de plantas nativas, possa, com plantas produtoras de grãos, produzir cem vezes mais grãos.

A experiência dos séculos, conseguida nos milhares de anos, é insuficiente para proteger os homens contra essas falácias. Nossa única segurança contra esses e outros absurdos semelhantes, deve derivar de um conhecimento correto dos princípios científicos.

No primeiro período da filosofia natural, a vida orgânica foi considerada como tendo sido derivada somente da água, mais tarde, admitiu-se que certos elementos derivados do ar devem ser adicionados à água, mas nós sabemos hoje, que outros elementos devem ser fornecidos pela terra, se as plantas devem crescer e multiplicar.

A quantidade de materiais contidos na Atmosfera e utilizados na nutrição das plantas é limitada, mas ela deve ser suficientemente abundante para cobrir toda a superfície da terra com uma vegetação rica. Nos trópicos e naquelas partes de nosso globo onde existem as melhores condições de fertilidade, ou seja, um solo apropriado, uma Atmosfera úmida e uma alta temperatura, a vegetação é limitada pelo espaço e, onde o solo está em repouso, os materiais são fornecidos, gradualmente, pela deterioração das folhas, cascas das árvores e galhos das plantas. É óbvio que não há nenhuma deficiência para as plantas que estão naquelas regiões, quanto à nutrição atmosférica, nem as deficiências são esperadas nos nossos próprios campos cultivados, pois tudo o que as plantas precisam para o seu desenvolvimento, é transportado até elas pelo movimento incessante da Atmosfera. O ar entre os trópicos, não contém mais desses elementos do que aquele das zonas árticas, no entanto, como é diferente a produção em uma superfície igual de terra, nas duas situações!

Isso é facilmente explicável, pois todas as plantas de clima tropical, as palmas de óleo e cera, a cana-de-açúcar etc, contêm somente uma pequena quantidade dos elementos do sangue, necessário para a nutrição dos animais, quando comparadas com as nossas plantas cultivadas. Os tubérculos de batata no Chile, seu país de origem, onde a planta se assemelha a um arbusto, se forem coletados em um acre da terra, poderão dificilmente, ser suficientes para manter uma família irlandesa por um único dia (Darwin). O resultado do cultivo daquelas plantas, as quais servem como alimento, deve produzir nelas aqueles constituintes do sangue. Na ausência no solo, dos elementos essenciais para as plantas, podem ser formados o amido, o açúcar e a fibra de madeira, mas nenhuma fibrina, albumina ou caseína vegetal será formada. Se nós pretendemos produzir, em uma dada superfície de solo, mais desses últimos materiais do que as plantas podem obter da Atmosfera ou receber do solo naquela superfície de

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solo, em seu estado não cultivado e normal, nós devemos criar uma atmosfera artificial e adicionar os elementos necessários ao solo.

A nutrição, que deve ser fornecida numa determinada hora para plantas diferentes, a fim de se ter um crescimento livre e desimpedido, é muito desigual.

Na areia pura, no solo calcário e nas rochas nuas, somente alguns gêneros de plantas crescem, e elas são, na sua maioria, plantas perenes. Elas necessitam para seu crescimento lento, somente pequenas quantidades de substâncias minerais que o solo pode fornecer, embora possa ser totalmente estéril para uma outra espécie. Plantas anuais e espécies de plantas de verão crescem e alcançam seu máximo crescimento, em um período comparativamente mais curto e, conseqüentemente, não crescem em um solo que seja pobre naquelas substâncias minerais necessárias para o seu desenvolvimento. Para alcançar o crescimento máximo durante seu curto período de existência, a nutrição contida na Atmosfera não é suficiente. Uma atmosfera artificial, de ácido carbônico e amônia, deve ser criada no solo se o final da cultura deve ser conseguido e a absorção desse excesso de nutrientes, que as folhas não podem absorver do ar, deve ser feito pelos órgãos correspondentes, isto é, as raízes, e do solo. Mas a amônia, junto com o ácido carbônico, quando sozinhos, são insuficientes para tornar-se parte de uma planta destinada à nutrição dos animais. Na ausência das bases, dos fosfatos e de outros sais da terra, nenhuma fibrina ou caseína vegetal pode ser formada. O ácido fosfórico do fosfato de cálcio, o qual é indispensável para os cereais e outros vegetais, na formação de suas sementes, são liberados como um excremento, em grandes quantidades, pela pele e pelas cascas das plantas lenhosas.

Como as plantas verdes, os cactos, os musgos, as samambaias e os pinheiros são diferentes das nossas gramíneas anuais, dos cereais e dos vegetais leguminosos! O último grupo, em todas as horas do dia, durante o inverno e o verão, obtêm carbono através de suas folhas, absorvendo o ácido carbônico, o qual não é fornecido pelo solo estéril em que crescem. A água é também absorvida e retida por suas folhas coriáceas ou suculentas, com uma grande força. Elas perdem muito pouca água por evaporação, quando comparada com outras plantas. Por outro lado, a quantidade das substâncias minerais que elas retiram do solo, durante seu crescimento quase constante em um ano, é muito pequena, quando comparada com a quantidade que uma colheita de trigo, de igual peso, recebe em três meses! É por meio da umidade que as plantas recebem as bases e os sais do solo. Nos verões secos, se observa um fenômeno, o qual não podia ser explicado, quando era desconhecida a importância de elementos minerais para a vida de uma planta. As folhas das plantas, desenvolvidas inicialmente e mais velhas, e por isso, mais próxima da superfície do solo, secam e tornam-se amarelas, perdendo sua vitalidade e caindo, enquanto a planta está em um estado ativo de crescimento, sem nenhuma causa

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visível. Esse fenômeno não é visto em anos úmidos, nem em plantas verdes, e mais raramente, nas plantas que têm raízes longas e profundas, nem é visto nas plantas perenes, no outono e no inverno.

A causa dessa deterioração prematura agora é óbvia. As folhas já desenvolvidas absorvem continuamente o ácido carbônico e a amônia da Atmosfera, que são convertidos em elementos das folhas novas, botões e brotos, mas essa metamorfose não pode ser efetuada, sem a adição de bases e outras substâncias minerais. Se o solo estiver úmido, os últimos serão fornecidos continuamente, para se ter uma quantidade adequada e a planta mantém sua cor verde viva, mas se essa fonte cessar, ela necessita da umidade para dissolver os elementos minerais e ocorre uma divisão na própria planta. Os constituintes minerais do suco são retirados das folhas já formadas e são utilizados para a formação dos brotos novos e, o mais rápido possível, as sementes são desenvolvidas, sendo que a vitalidade das folhas cessa completamente. Essas folhas murchas contêm, somente quantidades muito pequenas dos sais solúveis, enquanto os botões e os brotos são muito ricos neles.

Por outro lado, observou-se que, onde um solo é altamente impregnado, em excesso, com materiais salinos solúveis, eles são depositados sobre a superfície da folha. Isso acontece, especialmente, nos vegetais utilizados na Culinária, cujas folhas ficam cobertas por uma crosta branca. Em conseqüência dessa exsudação, a planta adoece, suas atividades orgânicas diminuem, seu crescimento é perturbado e, se esse estado continuar por muito tempo, a planta morre. Isso é mais freqüentemente observado nas plantas folhosas, onde as grandes superfícies das mesmas evaporam quantidades consideráveis de água. As cenouras, abóboras, ervilhas etc, com freqüência, ficam assim doentes, quando, depois de um período seco, a planta encontra-se no seu máximo crescimento e o solo é umedecido por chuvisqueiros curtos, seguidos, outra vez, por um período de seca. A evaporação rápida carrega para fora a água absorvida pelas raízes, e ela deixa os sais na planta, em uma quantidade bem maior do que a que ela pode assimilar. Esses sais depositam sobre a superfície das folhas e, se elas forem herbáceos e suculentas, isso produz um efeito sobre elas, como se elas tivessem sido molhadas com uma solução que continha uma quantidade de sais maior do que seu organismo pode tolerar.

Se tivermos duas plantas da mesma espécie, essa doença acontece com aquela que está mais próximo do máximo crescimento, aquela que foi plantada mais tarde ou estiver mais atrasada no seu desenvolvimento e, a mesma causa externa, a qual destrói uma, pode contribuir para o crescimento da outra.

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CARTA XII

CIÊNCIA E ARTE DA AGRICULTURA. NECESSIDADE DA QUÍMICA. Racionalizando os processos agrícolas. Lavagem do ouro.

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Meu caro senhor, Tendo agora preenchido várias cartas, na tentativa de desvendar,

através da Química, algumas das mais curiosas funções do corpo animal e, como eu espero, tendo tornado claro para você, as distinções entre os dois tipos de elementos constituintes dos alimentos e, os propósitos deles ajudarem bastante, a sustentar a vida, deixem-me agora dirigir sua atenção para um assunto um pouco menos interessante, mas igualmente importante, os meios para se obter, de uma dada superfície de terra, a maior quantidade de produção, adaptada ao consumo do homem e dos animais. A Agricultura é uma ciência e uma arte. O conhecimento de todas as condições da vida dos vegetais, da origem de seus elementos e das fontes de sua nutrição, forma sua base científica.

Desse conhecimento, nós derivamos certas regras para o exercício da ARTE e os princípios sobre os quais as operações mecânicas para se cultivar dependem, a utilidade ou a necessidade delas para preparar o solo, para que ele sustente o crescimento das plantas e, para remover cada influência indesejável. Nenhuma experiência extraída do exercício da arte pode ser oposta aos verdadeiros princípios científicos, porque eles devem incluir todos os resultados das operações práticas e, estar de alguma forma, derivados unicamente, disso. A teoria deve corresponder às experiências, porque não é nada mais do que a redução de uma série de fenômenos às suas causas.

Um campo, no qual nós cultivamos a mesma planta por diversos anos sucessivos, torna-se estéril para essa planta, por um período que pode variar com a natureza do solo. Assim, um campo estará estéril por três anos, outro por sete anos, e um terceiro por vinte anos e finalmente, um quarto por cem anos. Um campo produz trigo e não ervilha, outro, feijões ou nabos, mas um nenhum tabaco, um terceiro dá uma colheita abundante dos nabos, mas não produz trevo. Qual é a razão para que um campo perca sua fertilidade para uma planta, que antes florescia nele? Qual é a razão para uma dada planta produzir em um campo, onde outra não produz?

Essas perguntas pertencem à ciência. Que meios são necessário para preservar a fertilidade de um

campo para uma planta e, sempre a mesma planta? O que fazer para se ter um campo fértil para duas, três e para todas as plantas?

Essas últimas perguntas são feitas pela Arte, mas não podem ser respondidas pela Arte.

Se um fazendeiro, sem uma orientação dos princípios científicos legítimos, estiver fazendo experiências para produzir uma planta num campo fértil, que de outra maneira não produziria, ele tem uma chance muito pequena de sucesso. Milhares de fazendeiros tentam tais experiências, nos vários sentidos, e o resultado delas é uma massa de experiências práticas, que dão forma a um método de cultivo que leva aos fins desejados, em determinados locais, mas esse mesmo método,

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freqüentemente, não chega ao sucesso, pois certamente, não é aplicável a um segundo ou um terceiro lugar na vizinhança próxima. Quanto capital e quanta energia foram desperdiçados nessas experiências! Muito diferente e muito mais seguro é o trajeto indicado pela CIÊNCIA, ela não nos leva a nenhum perigo de erro, mas ao contrário, nos permite uma garantia do sucesso. Se a causa dos erros, da esterilidade do solo para uma ou duas plantas for descoberta, os meios para corrigi-los podem ser encontrados prontamente.

Observações mais cuidadosas mostram que o método de cultivo deve variar em função das condições geognósticas do subsolo. Basalto, porfirina, arenito, rocha calcária etc fornecem determinados elementos indispensáveis para o crescimento das plantas e, a presença deles torna os solos férteis. Isso explica totalmente, as diferenças dos métodos necessários para o cultivo em locais diferentes, uma vez que, é óbvio que os elementos essenciais do solo devam variar com as diferentes composições das rochas e da desintegração da qual elas são originadas.

Trigo, trevo e nabos, por exemplo, cada um requer determinados elementos do solo, pois não vão florescer onde os elementos apropriados estão ausentes. A ciência nos ensina, os elementos que são essenciais para cada espécie de planta, pela análise de suas cinzas. Se, portanto, um solo for considerado como deficiente em alguns desses elementos, nós descobriremos de uma só vez, qual é a causa da sua esterilidade e, sua remoção pode então ser prontamente determinada.

O empírico atribui todo o seu sucesso às operações mecânicas da agricultura, ele experimenta e reconhece seu valor, sem determinar quais são as causas da sua utilidade, qual é o seu modo de ação, no entanto, até o momento, o conhecimento científico é da maior importância, para regular a aplicação de energia e o gasto de capital, para assegurar sua economicidade e prevenir o desperdício. Poderia imaginar-se que a mera passagem do arado ou da grade pelo solo, o mero contato do ferro, poderia dar a fertilidade, milagrosamente? Ninguém, eventualmente, levaria tal opinião a sério. Não obstante, a forma de operar dessas operações mecânicas, não é, de nenhuma maneira, geralmente compreendido. O fato é, certamente, que uma aração cuidadosa exerce uma influência muito favorável e a superfície é então dividida mecanicamente, mudada, aumentada e renovada, mas aração é somente auxiliar para o fim desejado.

O efeito do tempo, que em Agricultura é chamado tecnicamente de pousio, o repouso dos campos, que nós reconhecemos através da Ciência, determinadas ações químicas, que são continuamente exercidas pelos elementos da Atmosfera, sobre toda a superfície do nosso globo. Através da ação do oxigênio e do ácido carbônico, ajudado pela água, chuva, mudanças de temperatura etc, determinados constituintes elementares das rochas ou de suas partes, as quais formam o solo capaz de ser cultivado, são transformados em solúveis em água e se tornam, conseqüentemente, separáveis de todas as suas partes insolúveis.

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Essas ações químicas, denominadas poeticamente de "dente do tempo", anulam todos os trabalhos do homem e, reduz gradualmente, as rochas mais duras à condição de poeira. Por sua influência, os elementos necessários do solo tornam-se assimiláveis pelas plantas, e esse é, precisamente, o fim que é obtido pelas operações mecânicas de cultivo. Eles aceleram a decomposição do solo, a fim de nutrir uma nova geração das plantas, com os elementos necessários, em uma condição favorável para sua assimilação. É óbvio, que a rapidez da decomposição de um corpo sólido, deve aumentar com o aumento da sua superfície, assim, quanto mais pontos do contato nós oferecemos ao agente químico externo, durante um determinado tempo, mais rápida será a sua ação.

O químico, a fim preparar um mineral para a análise, o decompõe ou aumenta a solubilidade de seus elementos, procede da mesma maneira que o fazendeiro trata os seus campos, não poupa nenhum trabalho, a fim reduzi-lo ao pó mais fino e separar o impalpável, das peças mais grosseiras, lavando, e repete seu esmagamento mecânico e a trituração, sendo assegurado que todo o seu processo falhará, se ele ficar desatento a esta parte essencial e preliminar dela.

A influência, que o aumento da superfície exerce sobre a desintegração das rochas e sobre a ação química do ar e da umidade, é impressionantemente ilustrada, em uma escala macro, nas operações adotadas nas minas de ouro de Yaquil no Chile. Eles são descritos, de uma maneira muito interessante, por Darwin. A rocha que contém o minério do ouro é transformada, por moinhos, no pó mais fino e que é levado para lavagem, a qual separa as partículas mais claras das partículas metálicas, o ouro irá para o fundo, enquanto o fluxo da água levará as partes terrosas mais claras para as lagoas, onde ela será deposita no fundo, como lama. Quando esse depósito estiver, gradualmente acima a lagoa, essa lama será removida e colocada em pilhas, e mantidas expostas à ação da atmosfera e da umidade. A lavagem remove completamente toda a parte solúvel da rocha desintegrada. A parte insolúvel, além disso, não pode ser submetida à mudança, enquanto estiver recoberta pela água e assim, excluída da influência da Atmosfera, no fundo da lagoa. Mas sendo exposta, uma vez mais ao ar e à umidade, uma reação química poderosa ocorrerá em toda a massa, a qual será indicada por uma camada de sais que recobre toda a superfície das pilhas, em uma quantidade considerável. Após ser exposta por dois ou três anos, a lama estará sujeita outra vez ao mesmo processo de lavagem e uma nova quantidade considerável de ouro é obtida, sendo separado pelo processo químico de decomposição da massa. A exposição e a lavagem da mesma lama é repetida seis ou sete vezes e, em cada lavagem fornece uma nova quantidade de ouro, embora sua quantidade diminua cada vez que a operação é repetida.

Precisamente igual, é a ação química que ocorre no solo dos nossos campos, e nós a aceleramos e a aumentamos com as operações mecânicas de nossa Agricultura. Dessa forma, nós dividimos e aumentamos

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a superfície e, nos esforçamos para tornar cada átomo do solo acessível à ação do ácido carbônico e do oxigênio da Atmosfera. Nós assim, produzimos um estoque de substâncias minerais solúveis, que servem como nutriente para uma nova geração de plantas, os materiais que são indispensáveis para o seu crescimento e sua prosperidade.

Figura 1. A Química Orgânica e suas aplicações à Morfologia e à Patologia, de Justus von Liebig, publicado na Alemanha, em 1842.

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Figura 2. Fotografia da família de Liebig em 1844, ele e a esposa Henriette, com os filhos, Hermann (13), Georg (17), Agnes (16) e Johanna (8), sua outra filha Marie nasceu em 1845.

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CARTA XIII

ILUSTRAÇÃO DA NECESSIDADE DA QUÍMICA PARA UMA

AGRICULTURA AVANÇADA E PERFEITA. Forma pela qual os melhoramentos do solo são SEGUIDOS. Usos do calcário. Efeitos da

queima e da marga.

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Meu caro senhor, Tendo apresentado em minha última carta, os princípios gerais

sobre os quais devem estar baseadas a ciência e a arte da Agricultura. Vamos agora dirigir sua atenção para alguns detalhes entre a Química e a Agricultura e demonstrar a impossibilidade de se aperfeiçoar a importante arte de produzir alimentos para os homens e os animais, sem um profundo conhecimento da nossa ciência.

Todas as plantas cultivadas como alimento requerem para seu sustento saudável, os metais alcalinos e os alcalino-terrosos, cada um em uma determinada proporção e, além deles, os cereais não terão sucesso em um solo destituído de sílica em uma condição solúvel. A combinação dessa substância, encontrada como produto natural, denominada silicatos, difere muito no grau de facilidade com o qual, se submetem à decomposição, em conseqüência da resistência desigual que suas partes íntegras, opõem ao poder de dissolução dos agentes atmosféricos. Assim, o granito da Córsega degrada-se em pó, em um tempo suficiente para privar de seu brilho, o granito polido de Heidelberg.

Alguns solos ricos em silicatos são tão prontamente decomponíveis, que cada ano ou dois, tanto silicato de potássio torna-se solúvel e em condições de assimilação, quanto o que é requerido pelas folhas e pela palha de uma cultura de trigo. Na Hungria, não são incomuns os cultivos extensivos, onde o trigo e o tabaco foram cultivados alternadamente, sobre o mesmo solo por séculos e a terra nunca recebeu de volta nenhum daqueles elementos minerais que foram retirados com os grãos e a palha.

Por outro lado, há campos em que a quantidade necessária de silicatos solúveis de potássio, para um único cultivo de trigo, não foi separada da massa insolúvel do solo, em menos de dois, três, ou mesmo mais anos.

Na Agricultura, o termo pousio designa o período no qual o solo, deixado sob a influência da atmosfera, torna-se enriquecido com aqueles constituintes minerais solúveis. O pousio, entretanto, não implica geralmente, numa suspensão completa do cultivo, mas somente a interrupção do cultivo de cereais. Esse estoque de silicatos e de bases, que é a condição principal para que seu sucesso seja obtido, se as batatas ou os nabos forem cultivados sobre os mesmos campos nos períodos intermediários, uma vez que essas culturas não absorvem uma partícula de sílica e, portanto, deixa o campo igualmente fértil para a cultura de trigo seguinte.

Essas observações poderão tornar óbvio para você, que o funcionamento mecânico do solo é o método o mais simples e o mais barato de tornar os elementos nutritivos contidos nele acessíveis para as plantas.

Mas pode-se perguntar, não há outros meios de decompor o solo, além da sua subdivisão mecânica? Não há substâncias, que por sua ação

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química tornarão de forma melhor ou igual, seus constituintes apropriados para entrar nos organismos vegetais?

Sim, nós certamente possuímos tais substâncias e uma delas, conhecida como cal-virgem, foi empregada durante o último século na Inglaterra com essa finalidade e seria difícil encontrar uma substância melhor adaptada para esse serviço, porque é simples, barata e facilmente acessível em quase todos os locais.

A fim de obter as posições corretas, que respeitem o efeito da cal-virgem sobre o solo, deixe-me lembrá-los do primeiro processo empregado pelos químicos, quando eles desejam analisar um mineral e, para isso, desejam transformar seus elementos em uma forma solúvel. Suponhamos que o mineral a ser examinado seja, por exemplo, o feldspato. Essa substância, tomada sozinha, mesmo quando reduzida ao pó mais fino, necessita para a sua solução, que seja tratada com um ácido para semanas ou meses, mas se nós a misturarmos primeiramente, com a cal-virgem e, expusermos a mistura a um calor moderadamente forte, a cal entra em combinação química com determinados elementos do feldspato e sua base (potássio) torna-se livre. E agora o ácido, mesmo sem o calor, dissolve não somente a cal, mas também muita sílica do feldspato, transformando-na numa gelatina transparente. O mesmo efeito que a cal exerce sobre o feldspato nesse processo, com a adição de calor, é produzido, quando ele é misturado com os silicatos argilosos alcalinos e é mantido, por um longo tempo junto, em uma condição úmida.

A argila comum dos oleiros ou a argila dos potes de barro, difundida através da água e adicionada ao leite de cal, engrossa imediatamente sobre a mistura, e se a mistura for mantida assim por alguns meses, e sendo tratada então com ácido, a argila torna-se gelatinosa, o que não ocorreria sem a adição da cal. A cal, em combinação com os elementos da argila, a liquefaz e, o que é mais notável, libera a maior parte de suas bases. Esses fatos interessantes foram observados primeiramente, por Fuchs, em Munique, e eles levaram, não somente a um conhecimento mais intimo da natureza e das propriedades dos cimentos hidráulicos, mas o que é bem mais importante, explicam os efeitos da cal cáustica sobre o solo e guiam o agricultor na aplicação de um meio indispensável de quebrá-lo e tornar livres suas bases, substâncias tão importantes e, não somente isso, mas até tão indispensáveis para suas culturas.

No mês de outubro, os campos de Yorkshire e de Oxfordshire parecem como se eles estivessem cobertos com neve. Todas as milhas quadradas estarão com a superfície esbranquiçada pelo calcário que, durante os meses úmidos do inverno, exercerão sua influência benéfica sobre o solo duro e argiloso daqueles condados.

De acordo com a teoria do húmus, a cal-virgem deve exercer uma influência mais nociva no solo, porque todos os materiais orgânicos contidos nele, serão destruídos por ela, tornando-o incapaz de produzir seu próprio húmus para uma nova vegetação. Os fatos são certamente,

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diretamente contrários a essa teoria, que é agora abandonada. A fertilidade do solo é aumentada pela cal. Os cereais necessitam das bases e dos silicatos alcalinos, que a ação da cal torna disponível para a assimilação pelas plantas. Se, além deles, houver alguma matéria orgânica em deterioração presente no solo, fornecendo ácido carbônico, isso pode facilitar seu desenvolvimento, mas não é essencial para o seu crescimento. Se nós fornecermos amônia e fosfatos ao solo, que são indispensáveis para os cereais, junto com os silicatos alcalinos, nós teremos todas as circunstâncias necessárias para assegurar uma colheita abundante. A Atmosfera é uma fonte inesgotável de ácido carbônico.

Uma influência não menos favorável que aquela da cal, é exercida pela terra com turfa sobre o solo, pelo mero ato de queimá-la, isso aumenta extrema-mente sua fertilidade. Nós não estamos muito familiarizados com a mudança notável que as propriedades da argila sofrem com a queima. Essa observação foi feita pela primeira vez, no processo de se analisar os silicatos da argila. Muitos deles, em seu estado natural, não são atacados pelos ácidos, mas tornam-se perfeitamente solúveis se aquecidos até ficarem vermelhos, antes da aplicação do ácido. Essa propriedade pertence à argila dos oleiros, à argila dos potes de barro, ao limo e a muitas modificações diferentes da argila nos solos. Em seu estado natural, eles podem ser fervidos em ácido sulfúrico concentrado, sem uma mudança sensível, mas se forem queimados fracamente, como é feito com o pote de barro em muitas fábricas, dissolvem-se no ácido com a maior facilidade e, a sílica neles contida é separada como uma gelatina em um estado solúvel. A argila dos oleiros, pertencente aos tipos mais estéreis de solo, no entanto, contém dentro dela todos os elementos constituintes, essenciais para um crescimento mais vigoroso das plantas, mas sua mera presença é insuficiente para assegurar esse fim. O solo deve ser acessível à Atmosfera, ao seu oxigênio, ao seu ácido carbônico e estes, devem penetrá-lo, a fim de assegurar as condições necessárias para um desenvolvimento adequado e vigoroso das raízes. Os elementos presentes devem ser levados a esse estado peculiar de combinação, o qual permitirá que eles entrem nas plantas. A argila plástica não apresenta essas propriedades, mas elas lhe são dadas por uma calcinação fraca.

No condado de Hardwicke, perto de Gloucester eu vi um jardim (do Sr. Baker), que consistia de uma argila dura que era perfeitamente estéril, tornou-se extremamente fértil, através de uma mera queima. A operação foi feita até uma profundidade de três pés. Esse é um processo caro certamente, mas ele foi efetivo.

A grande diferença nas propriedades da argila queimada e da não queimada, é ilustrada pelo que é visto nas casas de tijolos construídas em situações úmidas. Na cidade de Flanders, por exemplo, onde a maior parte dos edifícios são de tijolos, camadas de sais cobrem a superfície das paredes como uma capa branca, somente alguns dias após elas serem erguidas. Se essa incrustação salina for retirada pela chuva, ela logo

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reaparece e, isso é observado, mesmo nas paredes que, como os portais de Lisle, foram erguidas há séculos. Essas incrustações salinas consistem dos carbonatos e dos sulfatos, com as bases alcalinas e é bem conhecido que ela age como uma parte importante para a vegetação. A influência da cal, em sua produção, é manifestada pelo seu surgimento primeiramente, no lugar onde a argamassa e o tijolo entram em contato.

Agora, fica óbvio para você, que em uma mistura da argila com cal existem todas as condições necessárias para a dissolução das argilas como silicatos e a solubilização dos silicatos alcalinos. A cal dissolve-se gradualmente na água carregada com ácido carbônico, agindo como o leite de cal sobre as argilas. Isso explica também, a influência favorável que a marga, termo pelo qual são designadas todas aquelas variedades de argila ricas em cálcio, exerce sobre a maior parte dos tipos do solo. Há os solos calcários, que suplantam todos os outros na fertilidade, para todos os tipos de plantas, mas eu acredito que a marga, em um estado queimado, deva ser muito mais efetiva que os outros materiais que possuem uma composição parecida, como por exemplo, aqueles tipos de rochas calcárias que são adaptadas à preparação dos cimentos hidráulicos, para que eles carreguem para o solo, não somente as bases alcalinas úteis para as plantas, mas também a sílica em um estado capaz de ser assimilada.

As cinzas de carvão e de lignina também são excelentes meios para melhorar o solo e são usadas em muitos lugares com essa finalidade. O mais disponível, pode ser facilmente conhecido por sua propriedade de formar uma massa gelatinosa, quando tratado com ácidos ou por tornar-se sólido e duro como rocha, quando misturado ao creme de cal, como o cimento hidráulico.

Eu acredito ter explicado satisfatoriamente, que as operações mecânicas da Agricultura, a aplicação da cal e do calcário às terras e a queima das argilas dependem de um e do mesmo princípio científico, que são os meios de acelerar a decomposição dos silicatos alcalinos da argila, a fim de prover as plantas com determinados materiais inorgânicos indispensáveis para a sua nutrição, no início de uma nova vegetação.

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Figura3. Tratado de Química Orgânica de Justus von Liebig, publicado em Paris, em 1840.

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CARTA XIV

NATUREZA E OS EFEITOS DOS ADUBOS. Corpos dos animais, motivo de um constante desperdício. Separando partes, dejetos,

desperdício de materiais vegetais. Juntos contém todos os elementos do solo e do alimento. Valor variável dos excrementos dos

diferentes animais como adubo.

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Meu caro senhor, Eu tratei em minha última carta, dos meios para melhorar a

condição do solo para as finalidades agrícolas, pelas operações mecânicas e pelos agentes minerais. Eu tenho agora que falar dos usos e dos efeitos dos dejetos animais e dos materiais ou dos adubos vegetais, corretamente denominados assim.

A fim de compreender a natureza desses materiais e a peculiaridade de sua influência sobre os nossos campos, é altamente importante ter-se em mente a fonte de onde eles são derivados.

É geralmente conhecido, que se nós privarmos um animal do alimento, o peso do seu corpo diminui durante cada momento de sua existência. Se essa abstinência for continuada por algum tempo, a diminuição torna-se aparente aos olhos, pois toda a gordura do corpo desaparece, os músculos diminuem em firmeza e volume e, se o animal for deixado para morrer de fome, nada além da pele, dos tendões e dos ossos restará. Esse emagrecimento, que ocorre em um corpo, de certa forma saudável, demonstramos que durante a vida de um animal, cada parte de sua substância viva está se submetendo a uma mudança perpétua, todas as suas partes componentes, assumindo a forma de compostos sem vida, que são jogados fora pela pele, pelos pulmões e pelo sistema urinário, alterado mais ou menos pelos órgãos secretores. Essa mudança no corpo vivo está intimamente relacionada com o processo da respiração, na verdade, é ocasionada pelo oxigênio da Atmosfera, na respiração, o qual combina-se com todos os materiais dentro do corpo. Em cada inspiração, uma quantidade do oxigênio passa para o sangue, nos pulmões e liga-se com seus elementos, mas, embora o peso do oxigênio que assim entra diariamente no corpo, Chegue a 32 ou mais onças, mas o peso do corpo não é aumentado dessa forma. Exatamente, todo oxigênio que é embebido nas passagens da inspiração, vai para fora na expiração na forma de ácido carbônico e da água, de modo que, a cada respiração, a quantidade de carbono e de hidrogênio do corpo é reduzida, mas o emagrecimento, a perda de peso pela fome, não depende simplesmente, da separação do carbono e do hidrogênio, mas de todas as outras substâncias que estão em combinação com esses elementos nos tecidos vivos, que são eliminadas nas secreções. O nitrogênio submete-se a uma mudança e é eliminado do sistema através dos rins. Sua secreção, a urina, contém não somente compostos ricos em nitrogênio, chamados uréia, mas o enxofre de seus tecidos, na forma de um sulfato, todos os sais solúveis do sangue e dos fluidos do animal, o sal comum, os fosfatos, o sódio e o potássio. O carbono e o hidrogênio do sangue, das fibras musculares e de todos os tecidos animais, os quais podem se submeter a mudanças e retornar para a Atmosfera. O nitrogênio e todos os elementos inorgânicos solúveis são carreados para a terra através da urina.

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Essas mudanças ocorrem no corpo de um animal saudável, durante cada momento da sua vida, o desperdício e a perda de substâncias prossegue continuamente e, se essa perda for restaurada, e o peso e as substâncias originais forem repostas, uma fonte adequada dos materiais deve ser fornecida, para que o sangue e os tecidos deteriorados possam ser regenerados. Essa fonte é obtida do alimento.

Em uma pessoa adulta, em condição normal ou saudável, nenhum aumento ou diminuição sensível de peso ocorre de um dia para outro. Na juventude o peso do corpo aumenta, enquanto na terceira idade ele diminui. Não pode haver nenhuma dúvida de que nos adultos, o alimento substituiu exatamente as perdas de substâncias, sendo fornecidos assim, apenas o carbono, o hidrogênio, o nitrogênio e os outros elementos que passaram através da pele, dos pulmões, e dos órgãos urinários. Na juventude, o fornecimento é maior que o desperdício. Parte dos elementos do alimento promove o aumento do volume do corpo. Na terceira idade, o desperdício é maior do que a ingestão, e o volume do corpo diminui. É inquestionável que, com exceção de uma determinada quantidade do carbono e do hidrogênio, os quais são secretados através da pele e dos pulmões, nós encontramos todos os elementos do seu alimento nos excrementos sólidos e fluidos do homem e dos animais.

Nós encontramos diariamente, na forma de uréia, todo o nitrogênio ingerido com os alimentos, tanto nos jovens como nos adultos e, ainda na urina, todas as quantidades de bases, fosfatos solúveis e sulfatos contidos nos vários alimentos. Nos excrementos sólidos são encontrados todas aquelas substâncias ingeridas nos alimentos e que não sofreram nenhuma alteração nos órgãos digestivos, todos os materiais indigeríveis, tais como a fibra de madeira, o material verde da coloração das folhas (clorofila), as ceras etc.

Os fisiologistas nos ensinam, que o processo de nutrição dos animais, que é responsável pelo seu aumento de volume ou pela restauração das partes danificadas, que é procedida pelo sangue. A finalidade da digestão e da assimilação é converter o alimento em sangue. No estômago e nos intestinos, conseqüentemente, todas aquelas substâncias do alimento, capazes de converter-se em sangue, são separadas dos seus outros constituintes, ou em outras palavras, durante a passagem do ali-mento através do canal intestinal, há uma absorção constante de seu nitrogênio, uma vez que somente as substâncias nitrogenadas são capazes de se converter em sangue e, conseqüentemente, os excrementos sólidos são destituídos desse elemento, exceto somente uma pequena parcela da constituição dessa secreção, a qual é formada para facilitar a sua passagem. Com os excrementos sólidos, os fosfatos, o cálcio e o magnésio, os quais estão contidos nos alimentos e não foram assimilados, são carreados para fora. Esses sais não são insolúveis em água e, conseqüentemente, não entram na composição da urina.

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Nós podemos ter uma idéia clara da constituição química dos excrementos sólidos, sem uma investigação adicional, comparando as fezes de um cão com o seu alimento. Nós damos para esse animal, carne e ossos, substâncias ricas em compostos nitrogenados, e nós obtemos como último produto da sua digestão, um excremento sólido total-mente branco quando úmido, mas que se transforma em um pó quando ao ar seco. Ele é rico em fosfato de cálcio dos ossos, com menos de um por cento de material orgânico diferente.

Assim, nós temos que todo o nitrogênio, ou em resumo, todos os ingredientes constituintes dos alimentos consumidos, solúveis e insolúveis, são retornados nos excrementos sólidos e fluidos do homem e dos animais e, enquanto os alimentos são derivados primeiramente dos campos, nós temos naqueles excrementos, todos os ingredientes que nós retiramos deles na forma de sementes, raízes ou de ervas.

Uma parte das culturas é consumida pelo homem como alimentação animal, utilizada para engordar carneiros e gado, uma outra parte é consumida diretamente, como farinha, batatas, vegetais verdes etc, uma terceira parte consiste dos vegetais descartados e da palha empregada como cama. Nenhum dos materiais do solo precisa ser perdido. Nós podemos, é óbvio, recuperar todas as suas partes constituintes, e que foram retiradas deles, como frutas, grãos e animais, nos excrementos fluidos e sólidos do homem, nos ossos, no sangue e nas peles dos animais mortos. Depende somente de nós coletarmos com cuidado, todos esses elementos dispersos, e assim restaurar o equilíbrio perturbado da composição no solo. Nós podemos calcular exatamente, quanto e quais das partes componentes do solo nós exportamos em um carneiro ou em um boi, em um quarto de cevada, de trigo ou de batatas e, nós podemos descobrir, através da composição conhecida dos excrementos do homem e dos animais, quanto nós temos que fornecer, ao restabelecer o que foi perdido dos nossos campos.

Se, entretanto, nós pudermos procurar por outras fontes das substâncias que dão aos dejetos do homem e dos animais seu valor para a Agricultura, nós não devemos precisar do último. É completamente indiferente para nossa finalidade, se nós fornecermos a amônia (a fonte do nitrogênio) na forma de urina ou naquela de um sal derivado do alcatrão de hulha, se nós derivamos o fosfato de cálcio dos ossos, da apatita ou dos excrementos fósseis (os coprólitos).

O principal problema para a Agricultura é de como substituir aquelas substâncias que foram retiradas do solo e que não podem ser fornecidas pela Atmosfera. Se o adubo fornecer uma compensação incompleta para essas perdas, a fertilidade de um campo ou de um país diminui, mas se ao contrário, for dado mais aos campos do que se retira, sua fertilidade aumenta.

Uma importação de urina ou de excrementos sólidos de um país estrangeiro é equivalente a uma importação de grãos ou de gado. Depois

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de algum tempo, os elementos daquelas substâncias assumem a forma de grãos ou de forragem, tornando-se então, carne e ossos ao entrar no corpo humano, e retorna outra vez, de um dia para o outro, para a forma que possuíam originalmente.

A única perda real de elementos e que nós não somos capazes de impedir é a dos fosfatos, e estes, de acordo com os costumes de todas as nações modernas, são depositados no túmulo. Para o restante, cada parte dessa enorme quantidade de alimentos que um homem consome durante a sua vida (digamos, em sessenta ou setenta anos) e que foi derivada dos campos, pode ser retirada e depois é retornada para ele. Nós sabemos com certeza absoluta, que no sangue de um animal jovem ou em crescimento, permanece uma determinada quantidade do fosfato de cálcio e dos fosfatos alcalinos que é utilizada no crescimento dos ossos e do volume geral do corpo, e que, com exceção dessa pequenina quantidade, nós recebemos de volta, nos excrementos sólidos e fluidos, todos os sais e as bases alcalinas, todo o fosfato de cálcio e de magnésio e, conseqüentemente, todos os elementos inorgânicos que o animal consome em seu alimento.

Nós podemos assim, verificar precisamente a quantidade, a qualidade e a composição dos excrementos dos animais, sem o problema de analisá-los. Se nós dermos diariamente a um cavalo, 4,5 libras-peso de aveia e 15 libras do feno e, sabendo-se que a aveia tem 4 por cento e o feno 9 por cento de cinzas, nós podemos calcular que os excrementos diários do cavalo conterão 21 onças de material inorgânico, as quais foram extraídas dos campos. Por análise, nós podemos determinar a exata quantidade relativa de sílica, de fosfatos e de bases contidos nas cinzas da aveia e do feno.

Você entenderá agora, que os constituintes das partes sólidas dos excrementos dos animais e, conseqüentemente, suas qualidades como adubo, devem variar com a natureza do alimento da criatura. Se nós alimentarmos uma vaca com beterrabas ou com batatas, sem feno, palha ou grãos, não haverá nenhuma sílica em seus excrementos sólidos, mas haverá fosfato de cálcio e de magnésio. Seus excrementos fluidos poderão conter carbonato de potássio e de sódio, junto com compostos semelhantes aos ácidos inorgânicos. Em outras palavras, nós temos nos excrementos fluidos, todas as partes solúveis das cinzas dos alimentos consumidos e nos excrementos sólidos, todas aquelas partes das cinzas que são insolúveis na água.

Se o alimento, após sua queima deixa para traz cinzas, contendo fosfatos alcalinos solúveis, como é o caso do pão, das sementes de todos os tipos e da carne, nós obtemos dos animais, que consumiram esses alimentos, a urina, que traz em solução esses fosfatos. Se, entretanto, as cinzas do alimento não contiverem nenhum fosfato alcalino, mas contiverem muitos fosfatos terrosos insolúveis, como o feno, as cenouras e as batatas, a urina estará livre dos fosfatos alcalinos, mas os fosfatos terrosos serão encontrados nas fezes. A urina do homem, dos animais carnívoros e dos

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animais que consomem grama contém fosfatos alcalinos, mas a dos animais herbívoros está livre desses sais.

A análise dos excrementos do homem, dos pássaros que consomem peixes (como o guano), do cavalo e do gado fornece-nos o conhecimento preciso dos sais que eles contêm e demonstra que naqueles excrementos, nós retornamos para os campos, as cinzas das plantas que serviram como alimento, os sais solúveis e insolúveis e os terrosos indispensáveis ao desenvolvimento de plantas cultivadas, e que devem ser fornecidos a elas por um solo fértil.

Não pode haver nenhuma dúvida de que, suprindo esses excrementos ao solo, nós retornamos a ele, aqueles constituintes que as colheitas removeram dele e nós renovamos sua capacidade de nutrir as novas culturas. Em outras palavras, nós restauramos o equilíbrio perturbado e, conseqüentemente, sabendo que os elementos do alimento, derivados do solo, entram na composição da urina e dos excrementos sólidos dos animais que elas nutrem, nós podemos, com a maior facilidade, determinar o valor exato dos diferentes tipos de adubo. Assim, os excrementos dos porcos, que nós alimentamos com ervilhas e batatas, servem principalmente, para adubar as culturas de batatas e de ervilhas. Alimentando uma vaca com feno e nabos, nós obteremos um adubo que contém os elementos inorgânicos dos capins e dos nabos, e que conseqüentemente, será preferível para adubar os nabos. O excremento dos pombos contém os elementos minerais dos grãos, o dos coelhos contém os elementos das ervas e dos vegetais de cozinha. Os excrementos fluidos e sólidos do homem, entretanto, contém os elementos minerais dos grãos e das sementes, na sua maior parte.

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CARTA XV

FONTES DE CARBONO E DE NITROGÊNIO PARA AS PLANTAS.

A produção de carbono nas florestas e nos prados, fornecida somente com os alimentos minerais, prova que ele é da Atmosfera.

Relações entre os constituintes minerais e o Carbono e o Nitrogênio. Efeitos do ácido carbônico e da amônia dos adubos. Necessidade dos constituintes inorgânicos para a formação dos alimentos, do sangue e, conseqüentemente, da nutrição. NECESSIDADE DE

PESQUISAS através de ANÁLISES, para avançar a AGRICULTURA.

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Meu caro senhor, Você está agora familiarizado com minhas opiniões a respeito dos

efeitos da aplicação dos agentes minerais aos nossos campos cultivados e também, com a racionalização da influência dos vários tipos de adubos. Você, conseqüentemente, compreenderá prontamente agora, o que eu tenho a dizer das fontes de onde o carbono e o nitrogênio, que são indispensáveis para o crescimento das plantas são derivados. O crescimento das florestas e a produção dos prados demonstram que, uma quantidade inesgotável de carbono será fornecida para a vegetação, pelo ácido carbônico da Atmosfera.

Nós, em uma superfície igual de floresta ou de terra de prado, onde os elementos minerais necessários do solo estão presentes em uma forma apropriada, embora nenhum material orgânico, qualquer que seja, foi fornecido nos adubos, produzimos uma quantidade de carbono, na forma da madeira ou do feno, completamente igual e, por vezes, mais do que isso é produzido em nossos campos, pelos grãos, raízes e palha, sobre o qual muito adubo foi aplicado.

É perfeitamente óbvio, que a Atmosfera deve fornecer aos nossos campos cultivados, tanto ácido carbônico quanto ela fornece para uma superfície igual de floresta ou de prado e, que o carbono desse ácido carbônico é assimilado, ou pode ser assimilado pelas plantas que lá crescem, desde que as condições essenciais para sua assimilação estejam disponíveis e, torna-se um elemento constituinte dos vegetais existentes no solo desses campos.

Em muitos países tropicais, a produção em grão ou nas raízes, da terra, durante um ano inteiro, depende de uma chuva na primavera. Se essa chuva for deficiente em quantidade, ou no conjunto esperado, a expectativa de uma colheita abundante será reduzida ou destruída.

Porém a água não pode ser meramente aquilo que produz esse estímulo e o efeito fertilizante observado e que dura por semanas e meses. A planta recebe, por meio dessa água, na época de seu primeiro desenvolvimento, os metais alcalinos, alcalino-terrosos e os fosfatos necessários para sua organização. Se esses elementos, os quais são necessários, estiverem ausentes, antes da assimilação dos nutrientes da Atmosfera, seu crescimento será retardado. De fato, o desenvolvimento duma planta está relacionado diretamente com a quantidade dos materiais que ela retira do solo. Se, portanto, um solo for deficiente nesses constituintes minerais necessários para as plantas, elas não florescerão, mesmo com um fornecimento abundante de água.

A produção de carbono em um prado ou em uma superfície igual de terra de floresta é independente de uma fonte de adubo orgânico, mas depende da presença de determinados elementos do solo, os quais não contêm nenhum carbono neles, junto com as condições para que a sua assimilação pelas plantas possa ser efetuada. Nós aumentamos, em

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carbono, a produção dos nossos campos cultivados, com o fornecimento de cálcio, cinzas e marga, substâncias que não podem fornecer o carbono para as plantas, mas, no entanto, elas são indispensáveis e, fundamentando em uma experiência abundante, de que nessas substâncias que nós fornecemos aos campos, os elementos que aumentam extremamente o volume de sua produção e, conseqüentemente, a quantidade de carbono.

Se nós admitirmos que estes fatos ocorrem, nós não podemos mais duvidar que uma produção deficiente em carbono, ou em outras palavras, a esterilidade de um campo, não depende do ácido carbônico, porque nós podemos aumentar a produção até um determinado valor, com o fornecimento de substâncias que não contêm nenhum carbono. A mesma fonte de onde é fornecido o carbono, no prado e na floresta, está também disponível para as nossas plantas cultivadas. O grande objetivo da Agricultura, portanto, é descobrir os meios melhor adaptados para permitir, que essas plantas assimilem o carbono da Atmosfera, que existe nela como ácido carbônico. Em plantas produtoras de madeira, com disponibilidade dos elementos minerais, nós damos a elas a possibilidade de se apropriar do carbono de uma fonte que seja inesgotável, enquanto, na ausência desses elementos, a fonte mais abundante de ácido carbônico ou de material vegetal decomposto, não aumentaria a produção do campo.

Com uma fonte adequada e igual desses constituintes minerais essenciais, no solo, a quantidade de ácido carbônico absorvido da Atmosfera por uma planta, em um dado momento, é limitada pela quantidade que é colocada em contato com seus órgãos de absorção.

A retirada do ácido carbônico da Atmosfera pelos organismos vegetais ocorre, principalmente, através de suas folhas, e essa absorção requer o contato do ácido carbônico com sua superfície ou com a parte da planta pela qual ele é absorvido.

A quantidade de ácido carbônico absorvido em um dado momento é diretamente proporcional à superfície das folhas e da quantidade de ácido carbônico contida no ar, isto é, duas plantas do mesmo tipo e com a mesma superfície de absorção, no mesmo tempo e sob as mesmas condições, absorvem a mesma quantidade de carbono.

Em uma atmosfera que contenha o dobro da proporção de ácido carbônico, uma planta absorve, na mesma condição, duas vezes a quantidade de carbono. Boussingault observou que as folhas da videira, fechadas dentro de um recipiente, retiraram todo o ácido carbônico de uma corrente do ar que passe através dela, embora com grande velocidade. (Dumas Léon, p.23.) Se, portanto, nós fornecermos o dobro da quantidade do ácido carbônico para uma planta, com uma superfície que é somente a metade do comprimento de outra que vive no ar atmosférico comum, a primeira pode obter e se apropriar de tanto carbono quanto a última. Por essa razão, nós encontramos os resultados dos efeitos do húmus e de todas as substâncias orgânicas decompostas, sobre a vegetação. Se nós supusermos que todas as condições para a absorção do ácido carbônico

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estiverem presentes, uma planta nova aumentará a sua massa, em um tempo limitado, somente na proporção da sua superfície absorvente, mas se nós criarmos no solo, uma nova fonte de ácido carbônico, pela decomposição das substâncias vegetais, e as raízes absorverem no mesmo período, três vezes mais ácido carbônico do solo do que o que as folhas retiram da Atmosfera, a planta aumentará o seu peso quatro vezes mais. Esse aumento quádruplo estende-se pelas folhas, botões, talos etc, e no aumento do tamanho da superfície, a planta adquire uma força ampliada para absorver a nutrição do ar, a qual continua agindo por muito tempo, depois que cesse sua derivação de ácido carbônico através das raízes. Húmus, como uma fonte do ácido carbônico para as terras cultivadas, não é somente útil como forma de aumentar a quantidade o carbono, efeito que na maioria dos casos, pode ser muito indiferente para os propósitos agrícolas, mas a massa da planta, tendo sido aumentada rapidamente, e em um curto espaço de tempo, obtém um espaço para a assimilação dos elementos do solo, necessária para a formação de novas folhas e ramos.

A água evapora incessantemente da superfície das plantas novas, e sua quantidade é diretamente proporcional à temperatura e ao tamanho da superfície. Os numerosos radicais fibriláceos substituem a água evaporada, como se fossem muitas bombas, e, desde que o solo esteja úmido ou penetrado pela água, os elementos indispensáveis do solo são fornecidos para as plantas, dissolvidos nessa água. A água absorvida pela planta, que evapora em uma folha, deixa os sais e outros constituintes minerais dentro dela. A proporção relativa desses elementos absorvidos pela planta é tanto maior quanto maior for o tamanho da superfície e mais abundante for o fornecimento de água. Onde eles são limitados, a planta alcança logo seu crescimento máximo, enquanto se o seu fornecimento for contínuo, uma quantidade maior de elementos será necessária para tornar possível que a planta continue a absorver a nutrição atmosférica, e seu desenvolvimento prossegue muito mais. A quantidade ou a massa de sementes produzida será correspondente à quantidade dos constituintes minerais presentes na planta. Essa planta, contendo, portanto, mais fosfatos alcalinos e os sais terrosos, produzirá mais ou um peso maior de sementes do que outra, que em um tempo igual, absorverá menos dele. Nós observamos em um verão quente, onde a fonte adicional de ingredientes minerais do solo cessa e, em conseqüência, precisa continuamente de água, sendo que a altura e a força das plantas, bem como o desenvolvimento de suas sementes, estarão na proporção direta da sua absorção dos elementos essenciais do solo, nas épocas anteriores ao seu crescimento.

A fertilidade do ano depende, em general, da temperatura, da umidade ou da seca da primavera, se todas as condições necessárias para a assimilação da nutrição atmosférica seja assegurada para as nossas plantas cultivadas. A ação do húmus, então, como nós explicamos acima, vem, principal-mente, da sua capacidade de ganhar tempo. Na Agricultura,

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isso deve sempre ser levado em conta e, nesse sentido, o húmus é importante, pois ele favorece o crescimento dos legumes, repolhos etc.

Mas os cereais e as plantas cultivadas por suas raízes, reunidas em nossos campos, nos restos das culturas anteriores e com uma quantidade das substâncias vegetais em decomposição, que corresponde aos seus conteúdos de nutrientes minerais do solo e, conseqüentemente, com uma quantidade do ácido carbônico adequada para o seu desenvolvimento acelerado da primavera. Uma fonte adicional de ácido carbônico, portanto, seria completamente inútil, sem um aumento correspondente nos ingredientes minerais.

De um hectare de terra de um bom prado, são obtidas em média, 2.500 libras-peso de feno, de acordo com os melhores agricultores. Esta quantidade é obtida, sem nenhuma fonte de substâncias orgânicas, sem nenhum adubo que contenha carbono ou nitrogênio. Pela irrigação e pela aplicação das cinzas ou de gesso, o dobro dessa quantidade pode ser produzido. Mas, assumindo-se que 2.500 libras-peso de feno seja o máximo, nós podemos calcular a quantidade de carbono e de nitrogênio derivados da atmosfera pelas plantas dos prados.

De acordo com a análise elementar, o feno seco numa temperatura de 100P

oP Reaumur, contém 45,8 por cento de carbono e 1,5 de nitrogênio.

Mas 14 por cento de água ficam retidos no feno que foi seco em temperaturas comuns e abaixo de 100P

oP. Assim, 2.500 libras-peso do feno

correspondem, portanto, a 2.150 libras, quando secas a 100P

oP. Isso nos

mostra que, essas 984 libras do carbono e as 32,2 libras-peso de nitrogênio foram obtidas na produção de um hectare de terra de prado. Supondo que esse nitrogênio foi absorvido pelas plantas na forma de amônia, a Atmosfera contém 39,1 libras-peso de amônia para cada 3640 libras-peso de ácido carbônico (= 984 de carbono, ou 27 por cento), ou em outras palavras, para cada 1.000 libras-peso de ácido carbônico, 10,7 libras de amônia, que representam aproximada-mente 100.000 do peso do ar, ou 60.000 de seu volume.

Para cada 100 partes do ácido carbônico absorvidas pela superfície das folhas, a planta recebe da atmosfera um pouco mais do que uma parte de amônia.

Para mil libras de carbono, tem-se: • Em um prado, 32,7 libras de nitrogênio.

Nos campos cultivados, de: • Trigo, 21,5 libras do nitrogênio. • Aveia, 22,3 libras do nitrogênio. • Centeio, 15,2 libras do nitrogênio. • Batatas, 34,1 libras do nitrogênio. • Beterrabas, 39,1 libras do nitrogênio. • Trevo, 44 libras do nitrogênio. • Ervilhas, 62 libras do nitrogênio.

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Boussingault obteve de sua fazenda em Bechelbronn, na Alsácia, em cinco anos, na forma de batatas, trigo, trevo, nabos e aveia, 8.383 libras de carbono e nitrogênio de 250,7. Nos cinco anos seguintes, como beterrabas, trigo, trevo, nabos, aveia, e centeio, 8.192 de carbono, e 284,2 de nitrogênio. Em um período adicional de mais seis anos, batatas, trigo, trevo, nabos, ervilhas, e centeio, 10.949 de carbono, 356,6 de nitrogênio. Em 16 anos, 27.424 de carbono, 858,5 de nitrogênio, que dá para cada 1.000 de carbono, 31,3 de nitrogênio.

Desses fatos interessantes e inquestionáveis, nós podemos deduzir algumas conclusões da mais elevada importância, quanto à sua aplicação na Agricultura:

1. Nós observamos que as proporções relativas de carbono e de nitrogênio ficam em uma relação fixa na superfície das folhas. Aquelas plantas, nas quais todo o nitrogênio está concentrado nas sementes, como os cereais, contém no todo, menos nitrogênio do que as plantas leguminosas, as ervilhas e o trevo.

2. A produção de nitrogênio em um prado, o qual não recebeu nenhum adubo nitrogenado, é maior do que aquele de um campo do trigo que foi adubado.

3. A produção de nitrogênio em trevo e nas ervilhas, que os agricultores sabem que não necessitam nenhum adubo nitrogenado, é muito maior do que aquela de um campo da batata ou do nabo, que são fertilizados abundante-mente com tais adubos.

Última. E esta é a dedução mais curiosa a ser derivada dos fatos acima, se nós plantarmos batatas, trigo, nabos, ervilhas e trevo, (plantas que contêm o potássio, o cálcio e o silício) sobre a mesma terra, que foi três vezes adubada, nós ganharmos em 16 anos, para uma dada quantidade de carbono, a mesma proporção do nitrogênio que nós recebemos de um prado, que não recebeu nenhum adubo nitrogenado.

Em um hectare de terra de prado, nós obtemos nas plantas, contendo silício, cálcio e potássio, 984 de carbono, nitrogênio 32,2. Em um hectare de terra cultivada, em uma média de 16 anos, nas plantas que contém os mesmos elementos minerais, silício, cálcio e potássio, carbono 857, nitrogênio 26,8.

Se nós adicionarmos o carbono e o nitrogênio das folhas das beterrabas e dos talos e das folhas de batatas, que não foram levadas em conta, fica ainda evidente que os campos cultivados, apesar do fornecimento de adubos orgânicos e nitrogenados, não produziram mais carbono e nitrogênio do que uma superfície igual de terra de prado produziu, somente com os elementos minerais.

O que é então, o efeito racional do adubo, dos excrementos sólidos e fluidos dos animais?

Essa pergunta pode agora ser respondida satisfatoriamente, esse efeito é a restauração dos constituintes elementares do solo, que foram extraídos gradualmente dela na forma de grãos e de gado. Se a terra que

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eu disse, não tivesse sido adubada durante aqueles 16 anos, não mais do que metade, ou talvez, um terço da porção de carbono e de nitrogênio seria produzida. Nós os devemos aos excrementos animais, que igualaram a produção à terra de prado, e isso por eles terem restaurado os ingredientes minerais do solo, removidos pelas colheitas. Tudo o que o fornecimento de adubo realizou foi impedir que a terra se tornasse mais pobre nesses elementos do que o prado que produziu as 2.500 libras do feno. Nós retiramos do prado, através desse feno, uma quantidade de substâncias minerais tão grande quanto a que nós retiramos numa colheita de grãos e, nós sabemos que a fertilidade do prado depende justamente da restauração desses ingredientes ao solo, como a terra cultivada depende dos adubos. Dois prados com superfícies iguais e contendo quantidades diferentes dos elementos inorgânicos de nutrição, sendo as outras circunstâncias iguais, são muito diferentes em fertilidade, pois aquele que possui mais, produz mais feno. Se nós não restaurarmos ao prado os elementos retirados, sua fertilidade diminui. Mas sua fertilidade permanece intacta, com um fornecimento adequado dos excrementos animais, líquidos e sólidos e, permanece não somente a mesma, mas pode ser aumentada, por só uma fonte de substâncias minerais, como os que sobram após a queima de plantas lígneas e de outros vegetais, a saber, as cinzas. As cinzas representam toda a nutrição que os vegetais recebem do solo. Fornecendo-os em quantidades suficientes para os nossos prados, nós damos às plantas que estão crescendo neles, o poder de condensar e absorver o carbono e o nitrogênio através de suas superfícies. O efeito dos excrementos sólidos e fluidos, os quais são as cinzas das plantas e dos grãos que tiveram sua combustão dentro dos corpos dos animais e do homem, não pode ser dependente da mesma causa? A fertilidade resultante da sua aplicação, não deve ser completamente independente da amônia que eles contêm? Seu efeito não seria precisamente o mesmo, em promover a fertilidade das plantas cultivadas, se nós tivéssemos evaporado a urina e secado e, queimado os excrementos sólidos? Certamente, os cereais e as plantas leguminosas que nós cultivamos devem derivar seu carbono e nitrogênio da mesma fonte, de onde as gramíneas e as plantas leguminosas dos prados os obtém! Não se deve ter nenhuma dúvida da sua capacidade para assim fazer.

Baseado em um cálculo primário, em Virgínia, foram retiradas anualmente 22 libras-peso de nitrogênio, em média, de cada hectare dos campos de trigo. Isso representaria, em 100 anos, 2.200 libras-peso. Se ele fosse derivado do solo, cada hectare dele deveria conter o equivalente a 110.000 libras-peso dos excrementos animais (assumindo-se que o último, quando seco na temperatura da água fervendo, conteria dois por cento).

Na Hungria, como eu já falei em uma carta anterior, tabaco e trigo foram cultivados sobre um mesmo campo por séculos, sem nenhum fornecimento de adubo nitrogenado. Será possível que o nitrogênio, que é

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essencial e entra na composição dessas culturas, poderia ter sido drenado do solo?

Cada ano renova-se a folhagem e as frutas de nossas florestas de faia, de carvalho e de nogueiras. As folhas, bolotas e nozes dessas plantas são ricas em nitrogênio, como são as amêndoas de cacau, a fruta-pão e outros produtos tropicais. Se esse nitrogênio não é fornecido pelo homem, ele pode certamente, ter sido derivado de alguma outra fonte além da Atmosfera?

Em qual forma, o nitrogênio fornecido para as plantas pode estar contido na Atmosfera, em qual estado ele pode estar quando é absorvido, ele deve ter sido derivado da Atmosfera. Os campos de Virgínia não receberam seu nitrogênio da mesma fonte que as plantas selvagens?

O fornecimento de nitrogênio através dos excrementos dos animais é um material completamente indiferente ou nós recebemos de volta de nossos campos, uma quantidade dos elementos do sangue que correspondem a essa fonte?

As pesquisas de Boussingault solucionaram este problema de uma maneira bem satisfatória. Se nos seus grandes experimentos, o adubo que forneceu aos seus campos estivesse no mesmo estado, isto é, seco a 110P

oP

sob vácuo, como estavam quando foram analisados, esses campos receberiam em 16 anos, 1.300 libras do nitrogênio. Mas nós sabemos que, por secagem, todo o nitrogênio que está contido nos excrementos animais sólidos, escapa como carbonatos voláteis de amônia. Nesse cálculo, o nitrogênio da urina, que pela decomposição é convertido em carbonato de amônia, não foi incluído. Se nós supusermos que ele pode representar a metade do que estava nos excrementos secos, isso faria a quantidade do nitrogênio fornecida aos campos igual a 1.950 libras.

Em 16 anos, entretanto, como nós vimos, somente 1.517 libras do nitrogênio estavam contidas na sua produção de grãos, de palha, de raízes etc, isto é, muito menos do que foi fornecido no adubo e, no mesmo período, a mesma superfície de terra boa de prado (um hectare = um morgen Hessiano), ao qual não foi adicionado nenhum nitrogênio no adubo, 2.062 libras de nitrogênio.

É bem conhecido, que no Egito, devido à falta de florestas, os excrementos dos animais é seco, e forma o principal combustível, e que o nitrogênio da fuligem desses excrementos, por muitos séculos, foi importado pela Europa, na forma de sais amoniacais, até que um método para produzir essa substância foi descoberto no fim do último século, por Gravenhorst de Brunsvique. Os campos no delta do Nilo não são adubados com nenhum outro adubo animal além das cinzas dos excrementos queimados, no entanto, foram proverbialmente férteis, desde o período inicial dos primórdios da história, e essa fertilidade continua tão admirável como ela era nos tempos iniciais, até os dias atuais. Estes campos recebem a cada ano, da inundação do Nilo, um novo solo, em sua lama depositada sobre sua superfície, rica naqueles elementos minerais que foram retirados

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pelas colheitas das culturas precedentes. A lama do Nilo contém tão pouco nitrogênio quanto a lama derivada dos Alpes Suíços, que fertiliza nossos campos, após a inundação do Reno. Se essa lama fertilizante tivesse essa propriedade dos materiais nitrogenados, que enormes leitos de exúvias animais e vegetais e alguma coisa remanescente existiria nas montanhas de África, nas alturas que se estendem além dos limites da neve perpétua, onde nenhum pássaro, nenhum animal encontra o alimento, devido à ausência de toda a vegetação!

Evidências abundantes para sustentar essa importante verdade, que nós estamos discutindo, podem ser derivadas de outros fatos bem conhecidos. Assim, o comércio de queijo da Holanda pode ser adicionado com prova e ilustração disso. Nós sabemos que o queijo é derivado das plantas que servem como alimento para as vacas. As terras dos prados da Holanda derivam o nitrogênio do queijo, da mesma fonte que nós, isto é, da Atmosfera. As vacas leiteiras da Holanda permanecem dia e noite nas terras de pastagem e, portanto, através de seus excrementos fluidos e sólidos retornam diretamente ao solo, todos os sais e elementos terrosos de seus alimentos, sendo somente uma quantidade muito insignificante exportada pelos queijos. A fertilidade desses prados pode ser, portanto, tão pouco danificada, quanto nossos próprios campos, aos quais nós restauramos todos os elementos do solo, que foram retirados nas colheitas como adubo. A única diferença é que, na Holanda elas permanecem no campo, enquanto que nós os coletamos no local de repouso e os carregamos, de tempos em tempos, para os campos.

O nitrogênio dos excrementos fluidos e sólidos das vacas é derivado das plantas do prado, que o recebem da Atmosfera. O nitrogênio do queijo também deve ser extraído da mesma fonte. Os prados da Holanda têm perdido no intervalo de séculos, milhões de centenas de libras-peso através do queijo. Milhares de centenas de libras-peso são exportados anualmente, no entanto, a produtividade dos prados não está, de nenhuma maneira diminuindo, embora nunca tenham recebido mais nitrogênio do que originalmente continham.

Nada então, pode ser mais certo do que o fato de que aquela exportação de produtos nitrogenados não esgota a fertilidade de um país, visto que não é o solo, mas a Atmosfera que favorece sua vegetação com o nitrogênio. Segue-se, conseqüentemente, que nós não podemos aumentar a fertilidade dos nossos campos com o fornecimento de adubo nitrogenado, ou por sais da amônia, mas antes, que sua produção aumenta ou diminui, numa relação direta, com o fornecimento dos elementos minerais capazes da assimilação. A formação dos elementos constituintes do sangue, isto é, dos princípios nitrogenados em nossas plantas cultivadas, depende da presença de materiais inorgânicos no solo, sem os quais, nenhum nitrogênio pode ser assimilado, mesmo quando há um fornecimento mais abundante. A amônia contida nos excrementos animais exerce um efeito favorável, visto que é acompanhada por outras substâncias, necessárias

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para a realização de sua transição nos elementos do sangue. Se nós fornecermos amônia associada com todas as condições necessárias para a sua assimilação, ela será utilizada na nutrição das plantas. Mas se esse fornecimento artificial não for dado, elas podem retirar todo o nitrogênio necessário da Atmosfera, uma fonte de onde toda perda é restaurada pela decomposição dos corpos mortos dos animais e pela decomposição das plantas. A amônia, certamente favorece e acelera o crescimento das plantas em todos os solos, onde todas as condições para sua assimilação estão unidas, mas ela é completamente sem efeito, com respeito à produção dos elementos do sangue, onde algumas dessas condições são necessárias. Nós podemos supor que a asparagina, o constituinte ativo dos espargos, a raiz mucilaginosa do marshmallow, o ingrediente nitrogenado e sulfuroso das sementes de mostarda e de todas as plantas crucíferas, pode originar, sem a adição dos elementos minerais do solo. Mas se os princípios daqueles vegetais, que servem como o alimento, puderem ser gerados sem a cooperação dos elementos minerais do sangue, sem potássio, sódio, fosfato de sódio, fosfato de cálcio, eles seriam inúteis para nós e para os animais herbívoros como alimento, pois não cumpri-riam o propósito para o qual a sabedoria do criador as destinou. Na ausência de bases e de fosfatos, nenhum sangue, nenhum leite, nenhuma fibra muscular pode ser formada. Sem fosfato de cálcio, nossos cavalos, carneiros e gado não teriam ossos.

Na urina e nos excrementos sólidos dos animais, nós carreamos a amônia, e, conseqüentemente, o nitrogênio para nossas plantas cultivadas e, esse nitrogênio é acompanhado por todos os elementos minerais do alimento, exatamente nas mesmas proporções, em que ambos estão contidos nas plantas que serviram como alimento dos animais, ou o que é o mesmo, naquelas proporções em que ambas podem servir como nutrição para uma nova geração de plantas, sendo essenciais para ambos.

O efeito de um fornecimento artificial de amônia como fonte de nitrogênio é, portanto, precisamente análogo ao do húmus como fonte de ácido carbônico, ela é limitada a um ganho do tempo, isto é, ela acelera o desenvolvimento das plantas. Isso é de grande importância e deve sempre ser levado em conta na jardinagem, especialmente no tratamento da horta e, tanto quanto possível, na Agricultura em grande escala, onde o tempo utilizado no crescimento das plantas cultivadas seja importante.

Quando nós determinamos exata-mente a quantidade de cinzas deixadas após a combustão das plantas cultivadas, que cresceram sobre todas as variedades de solo e, obtivermos as análises corretas dessas cinzas, nós aprende-remos com certeza, que os elementos constituintes das plantas que são constantes, os quais estão sujeitos à mudança e, nós chegaremos num conhecimento exato da soma de todos os ingredientes que nós retiramos do solo, nas diferentes colheitas.

Com esse conhecimento, o fazendeiro poderá manter um registro exato da produção de seus campos na colheita, como um livro-caixa de

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uma fábrica bem regulada, e então, por um cálculo simples, ele poderá determinar precisamente, as substâncias que ele deve fornecer para cada campo, e as quantidades deles a fim de restaurar a sua fertilidade. Ele poderá expressar, quanto disto ou desses elementos ele deve adicionar, em libras-peso, a fim de aumentar sua fertilidade, para um dado tipo de planta.

Essas pesquisas e experimentos são a grande aspiração dos dias atuais. COM A UNIÃO DOS ESFORÇOS DOS QUÍMICOS DE TODOS OS PAÍSES, NÓS PODEMOS PROCURAR, CONFIAVELMENTE, UMA SOLUÇÃO DESSAS GRANDES QUESTÕES e, adicionalmente, com os AGRICULTORES ILUMINADOS, nós chegaremos a um sistema RACIONAL de JARDINAGEM, de HORTICULTURA e de AGRICULTURA, aplicável a cada país e a todos os tipos de solo e que estarão baseados na imutável fundação dos FATOS OBSERVADOS e da INDUÇÃO FILOSÓFICA.

Figura 4. Prédio em Giessen, que abrigou os equipamentos dolaboratório original de 1824 de Liebig, foto do início dosanos 50

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Figura 5. Fotografia tirada em 1920, da casa em que Liebig nasceu, em Darmstadt, antes dela ser transformada em Museu.

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CARTA XVI

RESULTADOS DAS ÚLTIMAS INVESTIGAÇÕES DO AUTOR.

Imensa importância dos FOSFATOS DE CÁLCIO e DAS BASES, para o cultivo dos CEREAIS. Fontes de um

SUPRIMENTO desses MATERIAIS.

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Meu caro senhor, Minhas pesquisas recentes sobre os ingredientes constituintes dos

nossos campos cultivados, levaram-me à conclusão de que todos os elementos fornecidos para as plantas pelo solo e adicionados à sua nutrição, com o fosfato de cálcio, ou melhor, todos os fosfatos, em geral, devem ser considerados como o mais importante.

A fim de dar-lhe uma idéia clara da importância dos fosfatos, pode ser suficiente lembrá-lo do fato de que o sangue do homem e dos animais, além do sal comum, sempre contém fosfatos alcalinos e alcalino-terrosos. Se nós queimarmos o sangue e examinarmos as cinzas que restam, nós encontraremos determinadas partes delas, como sendo solúveis em água, e outras como insolúveis. As partes solúveis são: sal comum e fosfatos alcalinos e as insolúveis consistem de fosfato de cálcio, de fosfato de magnésio e de óxido do ferro.

Esses são os ingredientes minerais do sangue, que sem a presença deles no alimento, a formação do sangue é impossível. Tanto os homens, quanto animais, ambos derivam-nos imediata ou intermediariamente, de outros animais e de substâncias vegetais utilizadas como alimentos. Elas foram constituintes dos vegetais, elas já fizeram parte do solo, sobre o qual as substâncias vegetais se desenvolveram.

Se nós compararmos a quantidade de fosfatos nas diferentes substâncias vegetais, uma contra as outras, nós descobriremos uma grande variação, enquanto que quase nenhuma cinza das plantas, no conjunto delas e, aquelas partes das plantas que a experiência nos ensinou que são mais nutritivas, contêm as maiores proporções. A essas partes, pertencem todas as sementes e os grãos, especialmente as variedades de milho para pão, ervilhas, feijões, e lentilhas.

É um fato muito curioso, que se nós incinerarmos os grãos ou a sua farinha, de ervilhas, feijões e lentilhas, nós obteremos cinzas que são distintas das cinzas de todas as partes restantes dos vegetais, pela ausência de carbonatos alcalinos. As cinzas dessas sementes, quando preparadas recente-mente, não fervem com ácidos e, seus ingredientes solúveis consistem única-mente de fosfatos alcalinos, e a parte insolúvel de fosfato de cálcio, de fosfato de magnésio e de óxido do ferro. Conseqüentemente, muitos desses sais que estão contidos no sangue são absolutamente indispensáveis para a sua formação. Nós somos levados assim, sem dúvida, à conclusão adicional de que nenhuma semente apropriada para se transformar em alimento do homem e dos animais pode ser formada, em nenhuma planta, sem a presença e a cooperação dos fosfatos. Um campo no qual o fosfato de cálcio ou os fosfatos alcalinos não estão em nenhuma parte do solo, é totalmente incapaz de produzir grãos, ervilhas ou feijões.

Uma quantidade enorme destas substâncias, indispensáveis para a nutrição das plantas, é retirada do solo anualmente, e carregada para as

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grandes cidades na forma de farinha, de gado etc. É certo que, essa remoção incessante dos fosfatos deve levar ao esgotamento da terra e a diminuir sua capacidade de produzir grãos. Os campos da Grã-Bretanha estão em um estado de exaustão progressiva por esse motivo, como é provado pela rápida extensão das culturas de nabos e de beterraba-forrageira, as plantas que contém menores quantidades de fosfatos e requerem, portanto, uma quantidade menor para o seu desenvolvimento. Essas raízes contêm de 80 a 92 por cento de água. A sua grande quantidade torna a quantidade de produção enganosa, a respeito da sua adaptação aos alimentos dos animais, uma vez que contém os ingredientes do sangue, isto é, as substâncias que podem ser trans-formadas em carne estão numa relação direta com sua quantidade de fosfatos, sem que nenhum sangue nem carne passa ser formada.

Nossos campos tornar-se-ão mais e mais deficientes nesses ingredientes essenciais do alimento, em todas as localidades onde o costume e os hábitos não admitem a coleta dos excrementos fluidos e sólidos do homem e a sua aplicação para as finalidades agrícolas. Numa carta anterior, eu lhes mostrei que um grande desperdício dos fosfatos é inevitável na Inglaterra, e refere-se ao fato bem conhecido, de que a importação de ossos restaurou, da maneira mais admirável, a fertilidade dos campos esgotados por esse motivo. No ano de 1827, a importação de ossos para servir como adubo atingiu 40.000 toneladas, e Huskisson estimou seu valor como sendo de 100,000 a 200,000 libras-esterlinas. A importação é ainda maior hoje, mas está longe de ser suficiente para repor o desperdício.

Uma outra prova da eficácia dos fosfatos em restaurar a fertilidade da terra esgotada, é dada, pelo uso do guano, um adubo que embora introduzido recentemente na Inglaterra, encontrou tal aplicação geral e extensiva.

Nós acreditamos que a importação de cem libras-peso de guano é equivalente à importação de oitocentas libras-peso de trigo, cem libras-peso de guano podem assumir, em um tempo que pode ser estimado exatamente, a forma de uma quantidade de alimento, que corres-ponde as oitocentas libras-peso de trigo. A mesma estimativa é aplicável na avaliação dos ossos.

Se fosse possível restaurar ao solo da Inglaterra e da Escócia, os fosfatos que foram carreados para o mar, pelo Tamisa e pelo Clyde durante os últimos cinqüenta anos, seriam equivalentes à adubação com milhões de cem libras-peso de ossos e, o produto da terra aumentaria em um terço, ou talvez ele até dobraria em cinco a dez anos.

Nós não podemos duvidar que, o mesmo resultado poderia acontecer, se o preço do guano admitisse a aplicação de uma quantidade à superfície dos campos, que contenha tanto fosfato quanto o que foi retirado deles no mesmo período.

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Se uma fonte rica e barata de fosfato de cálcio e de fosfatos alcalinos estivesse à disposição da Inglaterra, não haveria nenhuma dúvida de que a importação de milho estrangeiro poderia ser, de uma forma geral, dispensada depois de um pequeno período. Para esses materiais, a Inglaterra é atual-mente dependente dos países estrangeiros e o preço alto do guano e dos ossos impede a sua aplicação generalizada e em quantidade suficiente. Cada ano, o comércio dessas substâncias deve diminuir ou seu preço elevar-se-á, porque a demanda por elas aumenta.

De acordo com essas premissas, não pode ser contestado que, a despesa anual da Grã-Bretanha para a importação de ossos e de guano é equivalente a uma taxa sobre o milho, somente com a diferença que a quantidade é paga pelos estrangeiros, e em dinheiro.

Para restaurar o equilíbrio perturbado da constituição do solo, para fertilizar seus campos, a Inglaterra precisa de um fornecimento enorme de excrementos animais, e ele deve conseqüentemente, despertar um considerável interesse em aprender, o qual ela possui, sobre seus solos, leitos de guano fóssil extraídos dos excrementos animais em um estado que permitirá, provável-mente, seu uso como um adubo com um custo muito pequeno. Os coprólitos descobertos pelo Dr. Buckland (uma descoberta com o mais elevado interesse da geologia), esses excrementos são, e parece extremamente provável que nesses extratos, a Inglaterra possua os meios para fornecer, no lugar dos ossos recentes e, conseqüentemente, as principais condições para melhorar a Agricultura e restaurar e aumentar a fertilidade de seus campos.

No outono de 1842, o Dr. Buckland indicou-me um leito de coprólitos na vizinhança de Clifton, com um meio de um pé de espessura, incluído em uma formação de rocha calcária, estendendo-se como um faixa marrom nas rochas, por milhas, ao longo dos bancos de Severn. A marga de rocha calcária de Lyme Regis consiste, na maior parte, de uma porção de um quarto de excrementos e de ossos fósseis. Os mesmos são abundantes nas lias de Bath, Eastern e nos montes da Broadway, perto de Evesham. O Dr. Buckland mencionou leitos com muitas milhas de extensão, de uma substância que é constituída, em muitos lugares, de uma quarta parte de coprólitos.

Partes da rocha calcária de Clifton, perto de Bristol, que é rica em coprólitos, em resíduos orgânicos, fragmentos dos ossos, dentes etc, foram submetidas à análise e, determinou-se que continha mais de 18 por cento de fosfato de cálcio. Se essa rocha calcária for queimada e levada dessa forma para os campos, ela deve ser um substituto perfeito para os ossos. A eficácia dela como adubo não depende, como foi génerica mas erroneamente suposto, do material nitrogenado que elas contém, mas do seu fosfato de cálcio.

A brecha óssea encontrada em muitas partes de Inglaterra merece uma atenção especial, porque é altamente provável que, em um curto tempo, se transforme em um artigo importante no comércio.

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Que assunto curioso e interessante para a nossa contemplação! Nos resíduos de um mundo animal extinto, a Inglaterra deve encontrar os meios para aumentar sua riqueza nos produtos agrícolas, como ela já tem conseguido, para sustentar a sua grande indústria de processamento de combustível fóssil, o material preservado das florestas primitivas, os resíduos de um mundo vegetal. Essa expectativa pode ser realizada! E pode assim, sua excelente população ser redimida da pobreza e da miséria!

Figura 6. Cartão de visitas de Liebig, entregue a Elizabeth Hofmann, de Dresden, em 23 de setembro de 1872.

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Figura 7. Desenho a crayon de Liebig quando era estudante em Paris, feito por Christian Julius Portmann.

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50 ANOS DE NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS NA ESALQ

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50 ANOS DO INÍCIO DO ESTUDO SISTEMÁTICO DA NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS NA ESCOLA SUPERIOR DE

AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ

"A ESALQ foi a melhor semente plantada na terra paulista". Geraldo Alckmin, 3 de junho de 2001

Durante este Seminário Comemorativo dos 200 anos de nascimento

de Justus von Liebig, celebramos também os 50 anos de início dos estudos sistemáticos de Nutrição Mineral de Plantas na ESALQ.

A preocupação com os nutrientes, nos solos e nas plantas, foi inicialmente abordada na ESALQ, com os trabalhos desenvolvidos nas disciplinas ligadas à Botânica e Química Agrícola. Nesse contexto, os professores Rosário Averna Sacca, Theodureto de Almeida Camargo, José de Melo Moraes e Walter Radamés Accorsi, entre outros, merecem destaque.

Em 1953, com seu retorno dos Estados Unidos da América, após estudos na Universidade de Berkeley, o professor Eurípedes Malavolta deu início aos trabalhos sistemáticos em nutrição mineral de plantas. Com a criação, em 1954, da 20ª Cadeira, de Química Orgânica e Química Biológica, passaram a nela atuar, os professores Darcy Martins da Silva, Henrique Paulo Haag, Henrique Viana de Amorim, José Dal Pozzo Arzolla, José Renato Sarruge, Otto Jesu Crocomo e Ruy de Araújo Caldas.

A implantação do curso de pós-graduação em Nutrição de Plantas em 1964, em nível de Mestrado, e de Solos e Nutrição de Plantas, em nível de Doutorado, em 1970, foi decisiva para a intensificação dos estudos da Nutrição Mineral de Plantas na ESALQ.

Em 1970, formou-se o Departamento de Química, com as áreas de Bioquímica, Química Analítica e Nutrição Mineral de Plantas. Pela área de Nutrição Mineral de Plantas ficaram responsáveis os professores Eurípedes Malavolta, Henrique Paulo Haag e José Renato Sarruge, à qual se agregaram Gilberto Diniz de Oliveira e, posteriormente, os atuais docentes.

A indissociabilidade entre fertilidade do solo, adubos e adubação, química analítica, fisiologia vegetal e bioquímica, remete-nos às importantes contribuições dos professores André Martin Louis Neptune, Antonio Augusto Luchesi, Antonio Octávio Jacintho, Arnaldo Antonio Rodella, Arquimedes Lavorenti, Domingos Pellegrino, Edgard Gomes Ferreira de Beauclair, Francisco Assis Ferraz de Mello, Godofredo César Vitti, Henrique Bergamin Filho, Jorge de Castro Kiehl, José Carlos Alcarde, José Carlos Chitolina, Keigo Minami, Luís Ignácio Prochnow, Luís Reynaldo Ferraciú Alleoni, Luiz Carlos Basso, Maria Emília Mattiazzo, Moacyr de Oliveira Camponez do Brasil Sobrinho, Nadir de Almeida Glória, Paulo Roberto de Camargo e Castro, Renato Amílcare Catani, Ronaldo Ivan Silveira, Sílvio Arzolla e Valdomiro Corrêa de Bittencourt.

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Com a reforma departamental de dezembro de 1998 na ESALQ, a área de Nutrição Mineral de Plantas passou a fazer parte do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas.

Nesses 50 anos de atividade em Nutrição Mineral de Plantas, além dos lecionamentos anuais regulares, em nível de graduação e pós-graduação para vários milhares de alunos, da intensa e contínua atividade de orientação em iniciação científica, da orientação de quase duas centenas de dissertações e teses, mais de 500 artigos científicos, mais de 1000 resumos em eventos científicos e 100 livros ou capítulos de livros, foram publicados. Esses indicadores são uma evidência da consolidação da Nutrição Mineral de Plantas na ESALQ.

Os orientados em nível de Mestrado e de Doutorado dos professores Antonio Roque Dechen, Eurípedes Malavolta, Francisco Antonio Monteiro, Henrique Paulo Haag, José Renato Sarruge e Quirino Augusto de Camargo Carmello, que desempenham atividades científicas nas mais variadas instituições, distribuídas em todo o território nacional, dão uma dimensão da difusão do conhecimento na área, no país e no exterior. Esses orientados são aqui nomeados, junto aos respectivos orientadores.

Que o idealismo esalqueano continue a bater forte em nossos corações e nos direcione para um trabalho solidário e eficaz, de tal forma que possamos continuar contribuindo para esta área do conhecimento, como o fizeram, com competência e brilhantismo, os que nos antecederam.

Piracicaba, maio 2003

Antonio Roque Dechen

Francisco Antonio Monteiro

Quirino A. de C. Carmello

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PROFESSOR EURÍPEDES MALAVOLTA

ORIENTADOS DE MESTRADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO Darcy Bueno dos Santos - Emiclea Cavalcante da Silva Dantas - Vladimir Visrley Scaravelli - Jose Osmar Lorenzi 1978 Ciro Antonio Rosolen 1979 Marcos Tasso de Miranda 1979 Aldo Arnaldo de Medeiros 1980 Francisco Antonio Monteiro 1980 Joao Suzuki 1980 Eduardo Lima 1981 Liem Tjian Hing 1981 Luiza Hitomi Igarashi Nakayama 1982 Jose Antonio Quaggio 1983 Lia Maria Beatriz Falanghe Jardim 1984 Isabel Etsue Eimori 1986 Manoel Raimundo Guilherme 1986 Virgilio de Moraes Ruy 1986 Silvia Regina Calcedoni Stipp 1987 Fredy Orlando Vegas Colmenarez 1989 Valdinei Tadeu Paulino 1990 Santiago Gaona Jurado 1992 Maria do Rosario Lobato Rodrigues 1996 Adônis Moreira 1999

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PROFESSOR EURÍPEDES MALAVOLTA

ORIENTADOS DE DOUTORADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO Ismael de Jesus Matos Viegas - Manoel Raimundo Guilherme - Paulo Roberto de Camargo e Castro 1969 Luiz Gonzaga da Paz 1978 Francisco Dias Nogueira 1979 Itamar Pereira de Oliveira 1980 Domingos Fornasieri Filho 1982 Godofredo Cesar Vitti 1982 Jose Pires Dantas 1982 Alcioneaurea Queiroz da Silva 1983 Ana Candida Pacheco de Aguirre Primavesi 1985 Paulo Tacito Gontijo Guimaraes 1986 Huberto Jose Kliemann 1987 Janice Guedes de Carvalho 1987 Valdemar Faquin 1989 Valdinei Tadeu Paulino 1990 Vera Lucia Carvalho Martins 1992 Daniel Fernando Piccini Anton 1995 Washington Luiz Cotrim Duete 1995 Rafael Guillermo Camacho Jaramillo 1996 Maria do Rosário Lobato Rodrigues 1998 Ronaldo Luiz Vaz de Arruda Silveira 2000

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PROFESSOR HENRIQUE PAULO HAAG

ORIENTADOS DE MESTRADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO Valmore Riera Acosta - Gilberto Diniz de Oliveira 1978 Antonio Roque Dechen 1979 Ermor Zambello Junior 1979 João Domingos Vieira 1979 Antonio Francisco Jurado Bellote 1980 Fernando Jose Hass 1980 Herminia Emilia Prieto Martinez 1980 Paulo Espindola Trani 1980 Robinson Antonio Pitelli 1980 Anthony Pena Orellana 1981 Tsuioshi Yamada 1981 Denise Hellu 1982 Lina Leme Cezario Garcia 1982 Irae Amaral Guerrini 1983 Maria Anita Gonçalves da Silva 1984 Oscarlina Lúcia dos Santos Weber 1984 Ismael de Jesus Matos Viegas 1985 Ana Maria Liner Pereira Lima 1987 Sergio Cietto 1989

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PROFESSOR HENRIQUE PAULO HAAG

ORIENTADOS DE DOUTORADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO Jose Orlando Filho 1978 Nelson Morato Ferraz Meirelles 1979 Antonio Roque Dechen 1980 Gilberto Diniz de Oliveira 1980 Robinson Antonio Pitelli 1981 Francisco Augusto Mora Solis 1982 Renato Mario Del Giudice 1982 Romildo Albuquerque dos Santos 1982 Maria Esmeralda Soares Payao Dematte 1983 Sandra dos Santos Seva Nogueira 1983 Fernando Jose Hass 1984 Cristovam Colombo Belfort 1985 Herminia Emilia Prieto Martinez 1985 Suely Maria La Torraca 1986 Wlamir do Amaral 1986 Aldi Fernandes de Souza Franca 1987 Jose Ubirajara Garcia Fontoura 1987 Newton Bueno 1987 Aldo Arnaldo de Medeiros 1988 Jose Antonio Gomes 1988 Luciano de Almeida Correa 1991

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PROFESSOR JOSÉ RENATO SARRUGE

ORIENTADOS DE MESTRADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO Francisco Morel Freire 1978 Antonio Francisco Jurado Bellote 1979 Roza Maria Schunke 1980 Demétrio Ferreira de Azeredo 1982 Júlio César Dias Chaves 1982 Elba Lucy de Freitas Donald 1983 Heroldo Weber 1983 Wlamir do Amaral 1983

ORIENTADOS DE DOUTORADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO Marcos Tasso de Miranda 1972 Herbert Barbosa de Mattos 1973 Jorge Luis Brauner 1979 Zelson Tenorio 1981 Gedi Jorge Sfredo 1983 Heroldo Weber 1983 Elba Lucy de Freitas Donald 1988

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PROFESSOR ANTONIO ROQUE DECHEN

ORIENTADOS DE MESTRADO

NOME ANO DE CONCLUSÃOHideaki Wilson Takahashi 1984 Deborah Maria Ciarelli 1989 Claudimir Pedro Penatti 1991 Helio Grassi Filho 1991 Nivaldo Lemes da Silva Filho 1991 Renato Chalita 1991 Eloisa Marques Miotto Zotarelli 1992 Maria Tereza Colozza 1993 Juarez Barbosa Tomé Junior 1994 Simone da Costa Mello 1994 Glyn Mara Figueira 1995 Ramon Marcelo Mayol 1996 Josef Andreas Nick 1998 Luciano Mauricio Bezerra Visintin 1998 Marcela Trecenti Capoani 2001 Juliano Gullo de Salvo 2002

ORIENTADOS DE DOUTORADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO Carlos Alberto D Oliveira Ventura 1987 Hideaki Wilson Takahashi 1989 Jose Renato Ben 1989 Ana Francisca Fernandes Correa 1990 Quirino Augusto de Camargo Carmello 1990 Antonio Carlos Barreto 1991 Jose Antonio Quaggio 1991 Elmar Luiz Floss 1993 Amoacy Carvalho Fabricio 1994 Antonio Francisco de Souza 1994 Helio Grassi Filho 1995 Carmen Silvia Vieira Janeiro Neves 1998 Teresinha Costa Silveira de Albuquerque 1998 César de Castro 1999 Ana Regina Araújo Martins 2001 Gilmar Ribeiro Nachtigall Em Andamento

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PROFESSOR QUIRINO AUGUSTO DE CAMARGO CARMELLO

ORIENTADOS DE MESTRADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO

Alberto Carlos de Campos Bernardi 1986 Maria de Fátima Scaf 1994 Nilson Borlina Maia 1994 Maria da Conceição Rivoli Costa 1995 Fábio Alvares de Oliveira 1996 Vanderlei Nestor Koefender 1996 Jonas Ruschel 1999 Gláucia Regina Anti 2000 Cristiane Pierrotte Carvalho 2001 Cristiaini Kano 2002 Glaucia Tiemi Yorinori 2003 Jorge Fernando Favaro Gomes 2003 Luciana Bertolotti Em andamento

ORIENTADOS DE DOUTORADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO Rita Carla Boeira 1994 Nilson Borlina Maia 1998 Alberto Carlos de Campos Bernardi 1999 Reynaldo Rocha Beltrán 1999 Fábio Alvares de Oliveira 2000 Mônica Sartori de Camargo 2001 Jonas Ruschel 2002 Gláucia Regina Anti Em andamento

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PROFESSOR FRANCISCO ANTONIO MONTEIRO

ORIENTADOS DE MESTRADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO Cecílio Viega Soares Filho 1991 Eduardo César Gontarski 1991 Mônica Sutton 1994 João Batista Rodrigues de Abreu 1995 Beatriz Dias Corrêa 1996 José Eduardo Pereira da Silva 1996 Tânia Aparecida de Nucci 1996 Renata Aparecida Martim 1997 Waldssimiler Teixeira de Mattos 1997 Júlio César Raposo de Almeida 1998 Maria Del Carmen Ferragine 1999 Cirlene Aparecida Manarin 2000 João de Deus Gomes dos Santos Júnior 2001 José Lavres Junior 2002 Karina Batista 2003 Jorge Henrique da Silva Santos Em andamento

ORIENTADOS DE DOUTORADO

NOME ANO DE CONCLUSÃO Ana Aparecida da Silva Almeida 1998 Anacleto Ranulfo dos Santos 1998 Carla Rossi 1999 João Batista Rodrigues de Abreu 1999 Linda Monica Premazzi 2001 Walcylene Lacerda Matos Pereira 2001 Waldssimiler Teixeira de Mattos 2001 Edna Maria Bonfim da Silva Em andamento João de Deus Gomes dos Santos Junior Em andamento Karina Batista Em andamento Suzana Pereira de Melo Em andamento

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