Semântica e Pragmática daS LínguaS

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Indaial – 2019 SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DAS LÍNGUAS Prof. a Jeice Campregher Prof. a Valeria Aparecida Camerlengo 1 a Edição

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Indaial – 2019

Semântica e Pragmática daS LínguaS

Prof.a Jeice CampregherProf.a Valeria Aparecida Camerlengo

1a Edição

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Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:

Prof.a Jeice Campregher

Prof.a Valeria Aparecida Camerlengo

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

C182s

Campregher, Jeice

Semântica e pragmática das línguas. / Jeice Campregher; Valeria Aparecida Camerlengo; . – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

175 p.; il.

ISBN 978-85-515-0341-6

1. Semântica. – Brasil. 2. Pragmática. – Brasil. I. Camerlengo, Valeria Aparecida. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 415

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aPreSentaçãoAo estudarmos as línguas, poderemos receber auxílio da área da

Linguística, estudando um elemento por vez, tal como o léxico, a morfologia, a sintaxe, fonética e fonologia, a semântica e a pragmática. Faz-se relevante estudar um tópico por vez e, ao olhar para o todo, é possível verificar que cada elemento constitui a identidade de uma língua, fazendo que ela seja como for: semelhante em alguns aspectos, diferente das outras línguas em outros quesitos.

O mesmo acontece com a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Analisando-a de perto, veremos que ela possui semelhanças com outras línguas naturais – um exemplo é a própria Língua Portuguesa –, contudo, em alguns aspectos, ela possui características únicas que fazem dela uma língua única, capaz de responder às necessidades comunicativas da comunidade surda brasileira.

Esse estudo contribui muito com a compreensão das características (semelhanças ou diferenças) dessa língua tão importante em nosso país. Da mesma maneira, dá ênfase a aspectos relativos à semântica e à pragmática – como cada uma dessas áreas, entre outras, pode auxiliar na compreensão de aspectos relevantes aos seus usuários. Um deles é de que forma o contexto contribui com a compreensão de enunciados/sentenças que, sem a clareza possibilitada pelo contexto, poderiam não ser compreendidos ou, ainda, ser muito mal compreendidos. Tal confusão é possível em várias línguas, não somente na Libras. Por esse motivo, o estudo da semântica e da pragmática tem grande relevância ao estudarmos ou aprendermos uma língua.

A organização deste livro se dá em três partes: na Unidade 1 são explorados os seguintes conceitos: língua e linguagem. Tal unidade está dividida em três tópicos. O primeiro explora a construção dos significados. O segundo, o estudo das línguas orais e de sinais. O Tópico 3 conceitua o significado e o significante das línguas.

A Unidade 2 investiga a possibilidade de investigar as línguas por meio da linguística. A unidade está dividida em três tópicos. O primeiro aborda as áreas da linguística; o segundo, em especial, a ambiguidade e a polissemia; o terceiro, a semântica e a pragmática das línguas.

A Unidade 3, a linguística e a língua de sinais Brasileira, é dividida também em três etapas. No primeiro tópico, a linguística e as línguas de sinais. No segundo tópico, o sentido dos sinais na Língua Brasileira de Sinais. O terceiro tópico aborda a semântica e a pragmática das línguas naturais, com ênfase na Libras.

Desejamos que você, acadêmico, tenha sucesso em seus estudos!

Jeice CampregherValeria Aparecida Camerlengo

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IV

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

NOTA

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

UNI

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UNIDADE 1 – LÍNGUA E LINGUAGEM ............................................................................................1

TÓPICO 1 – CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS ........................................................................31 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................32 ABORDAGEM DA LÍNGUA E SEU USO ........................................................................................33 ABORDAGEM DA LINGUAGEM E SEU USO ...............................................................................6

3.1 FUNÇÕES DA LINGUAGEM .........................................................................................................93.1.1 Função referencial .....................................................................................................................93.1.2 Função poética......................................................................................................................... 103.1.3 Função conativa ...................................................................................................................... 103.1.4 Função emotiva ....................................................................................................................... 103.1.5 Função metalinguística .......................................................................................................... 113.1.6 Função fática ............................................................................................................................ 12

4 O QUE SÃO LÍNGUAS NATURAIS? .............................................................................................. 13RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17

TÓPICO 2 – ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E DE SINAIS .................................................... 191 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 192 CONTEXTO LINGUÍSTICO DAS LÍNGUAS ............................................................................... 193 LÍNGUAS DE SINAIS ......................................................................................................................... 21

3.1 A LÍNGUA DE SINAIS É UNIVERSAL? ...................................................................................... 223.2 A LÍNGUA DE SINAIS É ARTIFICIAL? ...................................................................................... 243.3 A LÍNGUA DE SINAIS TEM GRAMÁTICA? ............................................................................. 253.4 A LÍNGUA DOS SURDOS É MÍMICA? ....................................................................................... 263.5 É POSSÍVEL EXPRESSAR CONCEITOS ABSTRATOS NA LÍNGUA DE SINAIS? .............. 26

4 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE AS LÍNGUAS DE SINAIS E AS LÍNGUAS ORAIS .......................................................................................................................... 28RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 29AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 30

TÓPICO 3 – CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS ............ 331 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 332 O CONCEITO DE SIGNO .................................................................................................................. 333 O CONCEITO DE SIGNIFICADO ................................................................................................... 34

3.1 O QUE É SIGNIFICADO? .............................................................................................................. 354 O CONCEITO DE SIGNIFICANTE ................................................................................................ 375 O SIGNIFICANTE E O SIGNIFICADO NAS LÍNGUAS DE SINAIS ...................................... 37

5.1 SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO EM LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA – LIBRAS ........ 38LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 42RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 46AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 47

Sumário

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UNIDADE 2 – LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS ................................................................................ 49

TÓPICO 1 – ÁREAS DA LINGUÍSTICA ............................................................................................ 511 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 512 ESTUDOS LINGUÍSTICOS ............................................................................................................... 52

2.1 NÍVEIS LINGUÍSTICOS ................................................................................................................ 532.1.1 Fonética ................................................................................................................................... 532.1.2 Fonologia ................................................................................................................................. 552.1.3 Morfologia .............................................................................................................................. 562.1.4 Sintaxe ..................................................................................................................................... 572.1.5 Semântica ................................................................................................................................. 602.1.6 Pragmática .............................................................................................................................. 62

RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 64AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 65

TÓPICO 2 – SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DAS LÍNGUAS .................................................... 691 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 692 SEMÂNTICA ........................................................................................................................................ 69

2.1 ANTONÍMIA ................................................................................................................................... 712.2 SINONÍMIA ...................................................................................................................................... 73

3 PRAGMÁTICA .................................................................................................................................... 744 QUAL É A FINALIDADE DISSO TUDO? ...................................................................................... 76RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 80AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 81

TÓPICO 3 – AMBIGUIDADE E POLISSEMIA ................................................................................ 831 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 832 AMBIGUIDADE .................................................................................................................................. 83

2.1 AMBIGUIDADE ESTRUTURAL ................................................................................................... 832.2 AMBIGUIDADE LEXICAL ............................................................................................................ 83

3 AMBIGUIDADE LEXICAL: POLISSÊMICA E HOMÔNIMA .................................................... 863.1 POLISSEMIA ................................................................................................................................... 873.2 HOMONÍMIA .................................................................................................................................. 89

LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 94RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................100AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................101

UNIDADE 3 – A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA ...............................103

TÓPICO 1 – A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS DE SINAIS ........................................................1051 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1052 LIBRAS E OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS ...................................................................................1063 FONÉTICA E FONOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS ............................................................1074 MORFOLOGIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS ..............................................................................1165 SINTAXE DAS LÍNGUAS DE SINAIS .........................................................................................119RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................126AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................128

TÓPICO 2 – O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA ..................1311 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1312 O SENTIDO DAS PALAVRAS .......................................................................................................1313 SENTIDO DOS SINAIS ...................................................................................................................133

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3.1 POLISSEMIA: SIGNIFICANTES IGUAIS X SIGNIFICADOS DIFERENTES .....................1363.2 HOMONÍMIA: SIGNIFICANTES SEMELHANTES X SIGNIFICADOS DIFERENTES ....1393.3 SINONÍMIA: SIGNIFICANTE DIFERENTES X SIGNIFICADOS APROXIMADOS ..........1403.4 ANTONÍMIA: SIGNIFICANTES DIFERENTES X SIGNIFICADOS OPOSTOS ................1423.5 PARONÍMIA: SIGNIFICANTE PARECIDOS X SIGNIFICADOS DIFERENTES ..............146

RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................148AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................149

TÓPICO 3 – SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DAS LÍNGUAS NATURAIS ............................1511 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1512 SEMÂNTICA E O ESTUDO DOS SIGNIFICADOS DAS LÍNGUAS NATURAIS .............1513 PRAGMÁTICA E O ESTUDO DOS SIGNIFICADOS DAS LÍNGUAS NATURAIS ..........159LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................164RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................168AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................169

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................171

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UNIDADE 1

LÍNGUA E LINGUAGEM

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender a construção dos significados;

• identificar língua e linguagem;

• compreender o uso da linguagem;

• conhecer o que são línguas naturais;

• reconhecer o contexto linguístico das línguas;

• identificar significado e significante.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

TÓPICO 2 – ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E DE SINAIS

TÓPICO 3 – CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

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TÓPICO 1UNIDADE 1

CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

1 INTRODUÇÃOCaro acadêmico! A partir deste momento, iniciaremos os estudos sobre a

semântica e a pragmática das línguas. Neste tópico serão abordados os assuntos: a construção dos significados, o que é língua e o que é linguagem e o seu uso, o que são línguas naturais, conhecimentos oriundos da linguística, o significado e o significante.

A linguagem é a capacidade de desenvolvimento de compreensão que o ser humano usa para produzir, compreender e desenvolver uma língua. A linguagem é viva, é a manifestação que envolve inúmeros aspectos, expressões culturais, assim como a pintura, a música e a dança.

A língua é um conjunto organizado de elementos e regras que possibilitam a comunicação. Sem esse conjunto de regras ser respeitado, dificilmente a compreensão ocorreria entre os interlocutores – tanto na fala quanto na escrita.

2 ABORDAGEM DA LÍNGUA E SEU USO O ser humano é constituído de subjetividade, respeitado por poder se

comunicar, poder expressar suas ideias, seus pensamentos, emoções, e, é tudo isso que nos diferencia de outras espécies.

Com a língua podemos falar sobre amor e ódio; podemos persuadir e podemos nos relacionar. A língua e a linguagem humanas são demasiadamente desenvolvidas. Por meio dessa habilidade foi possível dividir o conhecimento e, também, acumular conhecimento das mais variadas formas. Entre elas, pergaminhos, livros, materiais digitais, arquivos de áudio e vídeo. Hoje, todos os conhecimentos que uma pessoa pretenda adquirir, de fato, pode ter acesso a eles de inúmeras maneiras. Tudo graças à língua e à linguagem.

A língua e a linguagem são objetos de pesquisa de muitos autores, cada autor com sua concepção e arcabouço teórico. Cada um trazendo um olhar diferenciado que muito pode contribuir com os nossos estudos.

Apresentaremos aqui a visão de língua nas pesquisas de três autores, são

eles: Quadros, Karnopp e Saussure. Vamos iniciar pelos dois primeiros. Conforme Quadros e Karnopp (2004, p. 29)

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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A língua, é um sistema altamente desenvolvido. Mas há em aspecto a considerar: Como e quando a criança começa a falar? Como a língua começou? Por que a língua começou? Parecem questões que atualmente estão mais claras. Possivelmente, ela começou porque os humanos necessitam de um grau maior de cooperação com o outro afim de sobreviverem, e esta cooperação requer uma eficiente comunicação, consequentemente a função primária da língua é a comunicação e a expressão do pensamento.

Ainda para Quadros e Karnopp (2004, p. 29),

A língua pode ser usada também para comunicar sentimentos e emoções. Além disso, há na língua o bate-papo social, as pequenas frases do dia a dia. “Oi, como vai você? Que dia frio!”. Este padrão social tem sido chamado de comunicação fática e é primariamente uma estratégia para manter contato social em um nível amigável. As pessoas podem usar a língua por razões puramente estéticas, como na poesia. Essas são apenas algumas das funções da língua.

Quadros e Karnopp (2004) abordam o uso da língua para se comunicar e apresentar sentimentos e emoções. Para Quadros e Karnopp (2004), uma das funções da linguagem é a função fática. Uma estratégia para manter o contato social, observar se o nosso interlocutor está ligado a nós no momento da interação. Adiante serão abordadas as funções da linguagem com maior ênfase. Ainda assim, vale um breve comentário.

A Função Fática é uma das funções da linguagem. Ela privilegia a interação entre um emissor e um receptor, na oralidade, um locutor e um interlocutor. Ao ser exercida a função fática, ela abre um diálogo/interação; estabelece ou interrompe a comunicação. Podem ser observadas em cumprimentos, despedidas ou em diversas maneiras nos diálogos do dia a dia.

UNI

Se entendemos que a linguagem pode utilizar-se de variados materiais, tais como imagens e palavras, precisamos também estudar mais o que são as palavras, a língua, a materialidade a partir da qual cada um dos sujeitos (na fala e na escrita) podem produzir linguagem. Em outras palavras, a partir da língua e da criatividade do sujeito, são produzidos textos orais e escritos. Esses sujeitos, claro, sempre analisando outros elementos tais como o contexto, a circunstância, o interlocutor (quem lerá ou ouvirá a mensagem), entre outros aspectos. Assim, questionamos, o que é a língua?

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TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

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Para Saussure, a língua, para se tornar um sistema coerente e inteligível, precisa que as partes considerem as relações sincrônicas – em uma mesma época, todas as peças que formam o estado de uma língua em um determinado momento. Pode-se pensar em um quebra-cabeças: cada peça ajuda a dar coerência ao todo. Para Saussure (2006), sincrônico refere-se a um estado, a um recorte, a um dado momento; já o diacrônico, a “tudo que diz respeito às evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão respectivamente um estado de língua e uma fase de evolução” (SAUSSURE, 2006, p. 96).

Veja os sentidos a seguir:

• Paradigmática: um modelo ou padrão a seguir. Tal termo tem origem no grego paradeigma que significa modelo ou padrão; diz respeito a algo que vai servir de modelo ou exemplo a ser seguido em determinada situação.

• Sintagmática: trata-se de uma unidade formada por uma ou várias palavras; juntas, desempenham uma função sintática na frase. Tais unidades se combinam em torno de um núcleo. Esse conjunto (um sintagma) desempenha uma função na frase.

UNI

Por língua entende-se um conjunto de elementos que podem ser estudados simultaneamente, tanto na associação paradigmática como na sintagmática. Por solidariedade, objetiva-se dizer que um elemento depende do outro para ser formado.

Saussure (2006, p. 17) afirma que a língua

não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias adotadas pelo corpo social para permitir o exercício desta faculdade nos indivíduos.

Você pode agora aprofundar seus estudos conhecendo a concepção de

língua segundo Ferdinand de Saussure.

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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FIGURA 1 – A LÍNGUA SEGUNDO SAUSSURE – LINGUÍSTICA

FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-zxUkFh-30pk/WSrBgk9cXFI/AAAAAAAAAFc/LBFwhqi86j8-1b0U-HCeajmdfVzqESOBACLcB/s400/A-L%25C3%25ADngua-Segundo-Saussure-

Lingu%25C3%25ADstica.jpg>. Acesso em: 26 jun. 2019.

3 ABORDAGEM DA LINGUAGEM E SEU USOQuando buscamos estudar linguagem, vem à memória o nosso primeiro

contato em ela, nos nossos primeiros anos de vida. Ainda assim, faltam-nos subsídios para termos clareza, para definirmos de forma correta, o que seria ao certo a linguagem. No meio acadêmico, faz-se necessário recorrer a autores para que possamos nos amparar em nossos estudos. Nessa busca é possível encontrar vários autores com suas experiências e suas abordagens.

Veremos a seguir a concepção de linguagem segundo alguns autores. Segundo estudos de Finger e Quadros (2008), a linguagem é, na perspectiva da teoria gerativa, um conjunto de representações mentais. Chomsky (apud FINGER; QUADROS, 2008, p. 51) compreende a língua atrelada a um conceito político e linguagem algo amplo, muito amplo.

Diante disso, Chomsky (1986 apud FINGER; QUADROS, 2008, p. 51, grifos no

original) estabelece duas perspectivas ao definir linguagem (definição metodológica):

Linguagem – E (E – language) – conceito técnico de linguagem como instância da linguagem externa, ou seja, a língua em uso no sentido de construção independente das propriedades da mente\cérebro, com caráter essencialmente epifenomenal, identificada também como performance. Linguagem – I (I- language) – objeto da teoria linguística que se caracteriza sob três pontos de vista: a) interna, no sentido de estado mental independentemente de outros elementos; b) individual, como capacidade própria do indivíduo (natureza humana); e c) intencional, de caráter funcional, no sentido de ser uma função que mapeia os princípios do estado inicial para o estado estável, identificada também como competência.

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TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

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Ainda sobre a concepção de linguagem: para Chomsky (apud FINGER; QUADROS, 2008, p. 51)

Sob essa concepção, uma teoria da linguagem, então, deve ser uma teoria linguística rigorosa e formal, capaz de tratar a linguagem como sistema computacional, em que o objeto de análise será a linguagem – I. a capacidade humana para a linguagem, ou seja, a competência, passa a ser traduzida pelo conceito de gramática – supondo-se uma relação isomórfica entre mente e cérebro – devido à postulação de que esta existe na mente e no cérebro. A partir dessa concepção é que se trata a linguagem como algo natural, ou seja, algo que é específico da natureza humana.

DICAS

Segue a capa do livro em que encontraremos várias abordagens sobre linguagem; diferentes posicionamentos sobre o mesmo assunto. Este UNI sugere tal leitura.

FIGURA – TEORIAS DE AQUISIÇAO DA LINGUAGEM

FONTE: <https://www.saraiva.com.br/teorias-de-aquisicao-da-linguagem-2609277.html#>. Acesso em: 26 jun. 2019.

Válido ainda é abordar o conceito de variação linguística. Esse conceito é muito utilizado no ensino de língua/linguagem.

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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ATENCAO

VARIEDADE LÍNGUÍSTICA, O QUE É?

A partir de Costa (1996, p. 51-53):A língua não é, como muitos acreditam, uma entidade imutável, homogênea, que paira por sobre os falantes. Pelo contrário, todas as línguas vivas mudam no decorrer do tempo e o processo em si nunca para. Ou seja, a mudança linguística é universal, contínua, gradual e dinâmica, embora apresente considerável regularidade. A crença em uma língua estática e imutável está ligada principalmente à normatividade da gramática tradicional, que remota à Grécia Antiga, numa época em que os estudiosos estavam interessados principalmente em explicar a linguagem usada nos textos dos autores clássicos e em preservar a língua grega da "corrupção" e do "mau uso". A língua escrita – especialmente a dos clássicos – era tão valorizada que era considerada mais pura, mais bonita e mais correta do que qualquer outro tipo de linguagem. A linguística moderna, no entanto, prioriza a língua falada em relação à língua escrita por vários motivos, dentre eles pelo fato de que todas as sociedades humanas conhecidas possuem a capacidade da fala, mas nem todas possuem a escrita [...].Na verdade, toda língua é um conjunto heterogêneo e diversificado porque as sociedades humanas têm experiências históricas, sociais, culturais e políticas diferentes e essas experiências se refletirão no comportamento linguístico de seus membros. A variação linguística, portanto, é inerente a toda e qualquer língua viva do mundo. Isso significa que as línguas variam no tempo, nos espaços geográfico e social e também de acordo com a situação em que o falante se encontra. Podemos exemplificar a variação temporal com a forma "você", que passou por uma grande transformação ao longo do tempo. No século XII, as pessoas diziam "vossa mercê" e hoje, na linguagem falada, e mesmo na escrita informal, encontramos "cê", que não é a melhor nem a pior que "você" ou "vossa mercê", embora entre os não-linguistas a tendência seja a de considerá-la ruim, feia ou deteriorada. Isso acontece porque a sociedade normalmente é conservadora e demora para aceitar as mudanças.

FONTE: COSTA, Vera Lúcia Anunciação. A importância do conhecimento da variação linguística. Educ. rev., Curitiba, n. 12, p. 51-60, dec. 1996. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601996000100005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 5 jun. 2019.

Já existem artigos que estão, inclusive, abordando a variação linguística em se tratando da LIBRAS. Compreendendo que há variação, que nenhuma língua é de fato totalmente homogênea, única e imutável dentro de um mesmo país.

DICAS

Sugere-se a leitura dos seguintes textos:(1) Uma dissertação disponível on-line, intitulada Variação Linguística em Língua de Sinais Brasileira – foco no Léxico, defendida em 2011 e cujo autor é Gláucio de Castro Júnior.(2) Artigo disponível on-line com a seguinte referência: RODRIGUES, A; SILVA, A. A. Reflexões

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TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

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sociolinguísticas sobre a libras (Língua Brasileira de Sinais). Estudos Linguísticos, São Paulo, 46 (2): p. 686-698, 2017.(3) Artigo disponível on-line com a seguinte referência: OLIVEIRA, R. C. A; MARQUES, R. R. Uso da variação linguística na língua brasileira de sinais. In: Revista Diálogos: linguagens em movimento. Caderno Estudos Linguísticos e Literários. Ano II, n. I, 2014. Cuiabá: 2014.

3.1 FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Quando entendemos o que é linguagem, passamos para o estágio de que a linguagem tem várias funções. Buscando entender cada uma delas, percebemos que cada função é de fundamental importância na formação da linguagem.

A linguagem tem várias funções que são usadas de acordo com a intenção do falante e estão diretamente relacionadas com elementos de comunicação, que são: emissor, receptor, contexto, mensagem, canal e código.

As funções da linguagem foram estudadas por Jakobson. Tal autor, que fazia parte do Círculo Linguístico de Praga, dedicou-se “ao estudo de temáticas variadas, dentre elas, as funções das unidades linguísticas ou, como são mais conhecidas, as funções da linguagem. O linguista buscava compreender a finalidade com que a língua é utilizada” (WINCH; NASCIMENTO, 2012, p. 221). A partir desses estudos, ele chegou às funções discriminadas a seguir.

3.1.1 Função referencial

Tal função é usada para informar ou referenciar sobre algo. É a função que dá destaque ao objeto, ao assunto do texto. O maior interesse é abordar o tema, trazendo dados ou esclarecimentos sobre o tema abordado: o referente. Por isso é chamada de “referencial” – com o foco no referente. Tal função pode estar presente em textos variados.

No texto científico, certamente, é a principal função utilizada, tendo em vista que o texto científico tem sempre um foco, um tema, um objeto de estudo. Este objeto é descrito, explicado – deixando emoções de fora ou outros adornos. Evita-se o que tira o foco do objeto/assunto. Ao mesmo tempo, em outros textos, como na publicidade, há também a função referencial, uma vez que há um produto (o referente) que será destacado. “Um anúncio normalmente faz referência a produtos, serviços ou ideias” (SANTEE; SANTOS, 2016, p. 96).

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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3.1.2 Função poética

Usada para transmitir uma mensagem com estilo, muitas vezes esse estilo – as características únicas do texto, as marcas que o deixam único – podem ganhar mais destaque que o próprio objeto ou o assunto em si. Costumamos então dizer que a função poética ressalta a própria forma de expressar. Jakobson menciona que a ênfase cai sobre a forma de apresentar a mensagem, portanto, há todo um trabalho de seleção das palavras, das imagens, sons ou ritmos (WINCH; NASCIMENTO, 2012).

Em outras palavras, quando “o texto pende para a mensagem em si mesma e demonstra interesse na forma de se comunicar, existe a função poética da linguagem. Ela não se resume à poesia, apesar de esta ser sua principal representante” (SANTEE; SANTOS, 2016, p. 97).

3.1.3 Função conativa

A função conativa tem o foco no receptor, no interlocutor da mensagem – aquele que irá ouvi-la ou lê-la. Tal função “encontra sua expressão gramatical mais pura no vocativo e no imperativo” (JAKOBON, 2010, p. 159). Pode-se então deixar clara a presença de um “tu” ou “você” – mesmo que subentendidos, podendo estar na forma dos vocativos. Da mesma maneira, nem sempre pode ser uma ordem propriamente dita (modo imperativo), pode estar na forma de uma sugestão de algo, uma indicação, um conselho ou ainda um pedido.

Também podemos observar esse exemplo em vários textos do nosso dia a dia, na conversa com amigos, conhecidos e familiares, na comunicação empresarial (como um e-mail informativo ou um aviso em mural) ou, ainda, na publicidade. Esta quase sempre apresenta seu produto ou serviço e, ao final, deixa alguma mensagem que procura orientar à compra: “não perca esta oportunidade”, “mamãe, você terá um rei na barriga”, “corra e garanta o seu”, “você não pode ficar de fora dessa”, “mulher, aproveite seu dia”, entre outros exemplos.

Vocativo é uma forma de chamamento, uma forma de chamar ou interpelar o interlocutor do discurso direto. Nos exemplos acima – presentes nos textos publicitários – temos dois exemplos de vocativo: mamãe e mulher. Dois termos usados para chamar.

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3.1.4 Função emotiva

Também chamada de expressiva, é usada para transmitir emoções e sentimentos. Essa função está centrada na pessoa do discurso, no remetente, no locutor; ou seja, no autor do texto falado ou escrito. Para Santee e Santos (2016,

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TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

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3.1.5 Função metalinguística

Usada para descrever uma linguagem usando ela mesma. Faz referência ao próprio código utilizado. Em aulas de Língua Portuguesa, a metalinguagem é muito comum: uma linguagem usada para falar da própria linguagem: artigo, adjetivo, substantivo, verbo, concordância nominal, entre outros termos que são usados para explicar, falar da própria linguagem.

Nos textos do cotidiano, podemos observar também a presença de metalinguagem. Um exemplo está em uma antiga campanha da Sprite chamada as coisas como são – foi veiculada em meados de 2007. Tal campanha apresentava vídeos, anúncios e outdoores mostrando estratégias utilizadas na própria propaganda. Em um dos anúncios (para revistas), colocaram uma pessoa bebendo refrigerante e, ao lado, a parte verbal afirmava: “ver alguém beber dá sede”. Na mesma linha, foram inúmeras peças publicitárias. Existem vídeos no YouTube ainda hoje com exemplos dessas peças publicitárias veiculadas à TV naquela época. Caso queira procurar, no YouTube ou Google, pelas palavras: Sprite as coisas como são.

Segue um exemplo de metalinguagem presente nessa campanha da Sprite, materializada em um outdoor.

FIGURA 2 – EXEMPLO DE METALINGUAGEM NA PROPAGANDA

FONTE: As autoras

p. 97), tal função apresenta uma “forte tendência à emoção, que é expressa pelas interjeições, adjetivos, advérbios, signos de pontuação etc. O emissor normalmente fala de si mesmo, dando vazão aos seus sentimentos com frases exclamativas”.

Jackobson compreende que a emoção também comunica, que há um papel nas emoções. Os publicitários sabem disso muito bem, uma vez que, ao expressar seus sentimentos, o interlocutor pode acabar se reconhecendo, vendo a si mesmo. Dessa forma, constrói-se a identificação; esta é um bom estímulo à compra.

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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3.1.6 Função fática

A função fática, como citado anteriormente, é uma forma de testar se o interlocutor está presente e em contato. O foco, portanto, é no canal, testando se de fato a comunicação está funcionando. Quantas vezes perguntamos ao nosso interlocutor: “você está me ouvindo?” – por telefone ou mesmo pessoalmente, quando notamos alguém com um olhar distraído. De acordo com Jakobson (2010, p. 161),

Há mensagens que servem fundamentalmente para prolongar ou interromper a comunicação, para verificar se o canal funciona (“Alô, está me ouvindo?”), para atrair a atenção do interlocutor ou confirmar sua atenção continuada (“Está ouvindo?” ou, na dicção shakespeariana. “Prestai-me ouvidos!” - e no outro extremo do fio, “Hum-hum!”).

Como apresentado, pode ser pelo fio (telefone) ou pessoalmente. Em sala

de aula, perguntamos se o fundão pode nos ouvir. Não raro questionamos “você está conseguindo me entender?” Trata-se de formas de testar se o interlocutor está ligado a nós no momento de comunicação.

A seguir, há uma figura que resume bem o que foi abordado nesse item (tendo como referência os dois polos. Na esquerda, o emissor (aquele que elabora a mensagem) e no lado direito, o receptor (aquele que, como o nome diz, recebe a mensagem ou a ouve). Entre os dois, os elementos como: o referente (o assunto/objeto/tema), a mensagem (a mensagem em si e como ela é elaborada), o canal (por qual meio a comunicação se dá) e o código (por exemplo, uma imagem, um signo linguístico ou visual; uma imagem etc.).

FIGURA 3 – FUNCÕES DA LÍNGUA

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/fu/nc/funcoes.jpg>. Acesso em: 26 jun. 2019.

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TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

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Ao utilizar a linguagem, realizamos o emprego de uma das funções. Afinal, a linguagem atende aos usos e às necessidades de nosso dia a dia e dos mais variados textos que circulam na sociedade. Lembramos que nesses variados textos, de fato, podem ocorrer uma ou mais funções da linguagem. Elas podem ser muito bem amarradas para alcançar os objetivos propostos naquele texto. O caso da publicidade, certamente, é um contexto que utiliza as inúmeras funções para alcançar seus objetivos: divulgar e vender produtos e serviços. Contudo, não é o único caso. Há vários exemplos de textos que fazem uso das várias funções para alcançar objetivos.

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4 O QUE SÃO LÍNGUAS NATURAIS?Em nossos estudos de língua e linguagem sabemos que a ciência que

estuda a língua se chama linguística. Esta ciência estuda as línguas naturais humanas, forma teorias e procura explicar como elas funcionam. Todavia, o que é exatamente uma língua? E qual é a diferença entre língua e linguagem? Tentando responder a estas perguntas, buscamos autores que as definem e também as respondem. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 24)

As pessoas frequentemente usam a palavra linguagem em uma variedade de sentidos: linguagem musical, linguagem corporal, linguagem das abelhas, entre outras possibilidades. Entretanto utiliza sessa palavra para significar o sistema linguístico que é geneticamente determinado para desenvolver-se nos humanos. Os seres humanos podem utilizar uma língua de acordo com a modalidade de percepção e produção desta; modalidade oral-auditiva (português, francês, inglês, etc.) ou modalidade visuoespacial (língua de sinais brasileira, língua de sinais americana língua de sinais francesa, etc.).

SAIBA MAIS: Visuoespacial é a capacidade de percepção de objetos (reconhecimento, identificação dos objetos) e das relações entre eles – disposição, organização, ordem; enfim, trata-se do processamento de informações visuais. Para saber mais sobre o assunto, basta buscar os trabalhos relacionados a seguir. Faz parte da formação acadêmica buscar artigos em fontes seguras (periódicos online e bibliotecas universitárias). Abaixo há dois exemplos que, pelo título e pelos autores, vocês podem sim ter acesso.

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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(1) GALERA, Cesar; GARCIA, Ricardo Basso; VASQUES, Rafael. Componentes funcionais da memória visuoespacial. Estud. av. São Paulo, v. 27, n. 77, p. 29-44, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000100004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 27  maio 2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000100004.(2) PESTANA, M. B. Memória de trabalho visuoespacial e posicionamento do pé no início do andar em pacientes com doença de Parkinson. 2018. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade – Interunidades) – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.

Podemos compreender que a linguagem está diretamente relacionada ao ser humano e tem enorme valor como instrumento de expressão do pensamento e de comunicação. Algumas reflexões podem ser feitas ainda nesse sentido:

Mas como definir língua e linguagem? Como distinguir uma língua de outros sistemas de comunicação? Sabe-se que para o vocabulário inglês language encontra-se, no português, dois vocabulários: língua e linguagem. A diferença entre as duas palavras esta correlacionada, até certo ponto, com a diferença entre os dois sentidos da palavra inglesa language. A palavra linguagem aplica-se não apenas às línguas portuguesas, inglesas, espanholas, mas a uma série de outros sistemas de comunicação, notação ou cálculo, que são sistemas artificias e não naturais. Por exemplo, em português a palavra é usada com referência à linguagem em geral, e a palavra língua aplica-se às diferentes línguas, não só porque é usada para se referir às linguagens em geral, mas também porque é aplicado aos sistemas de comunicação, sejam naturais ou artificiais, humanos ou não (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 24).

O linguista tem como foco de suas pesquisas as línguas naturais. Para Lyons (1987 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 24), a pergunta “o que é língua e linguagem?” traz em si pressuposição de que cada uma das milhares de línguas naturais, reconhecidamente distintas, é um caso específico que abrange algo mais geral. O que o linguista quer saber é se as línguas naturais possuem algo que não pertença a outros sistemas de comunicação; ou seja, seus aspectos únicos que façam com que ela receba o título de “língua”.

Revisando a literatura relacionada aos estudos linguísticos, podemos encontrar uma série de definições de língua. Tais definições fornecem subsídios para a indicação de propriedades consideradas pela linguística essenciais às línguas naturais. Retomando uma citação já realizada, a língua:

não se confunde com linguagem: é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade de indivíduo (SAUSSURE, 2006, p. 17).

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TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

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Outros autores trazem suas opiniões também sobre língua: Bloch e Trager (1942, p. 5 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 25) afirmam que “uma língua é um sistema de símbolos vocais arbitrários por meio do qual um grupo social coopera”. Para Hall (1968, p. 158 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 25) a língua(gem) é “a instituição pela qual os humanos se comunicam e interagem uns com os outros por meio de símbolos arbitrários orais-auditivos habitualmente utilizados”.

DICAS

Você sabe o que é arbitrário?Arbitrário é algo que é uma decisão, uma escolha. A partir dessa escolha, torna-se regra para um grupo social.

Para Quadros e Karnopp (2004), uma língua natural é uma realização da faculdade de linguagem. Cada uma das línguas naturais é um sistema que possibilita os seres humanos interagirem uns com os outros.

ATENCAO

Quando estudamos estes temas e nos aprofundamos na complexidade do que define língua e linguagem, buscamos nos amparar em autores para que assim com suas pesquisas possam nos ajudar dando-nos um norte, certa clareza em nossas pesquisas e estudos.

Lembre-se de que você é o autor dos seus conhecimentos, antes de adentrarmos no próximo tópico, procure fazer as leituras sugeridas aqui no seu livro didático, complementando seus conhecimentos, e seus aprendizados sobre os temas aqui discutidos e citados.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• A língua é um sistema altamente desenvolvido.

• A língua pode ser usada também para comunicar sentimentos e emoções. Além disso, há na língua o bate-papo social, as pequenas frases do dia a dia, tais como “oi, como vai você? Que dia frio!”

• O padrão social tem sido chamado de comunicação fática e é primariamente uma estratégia para manter contato social em um nível amigável.

• As pessoas podem usar a língua por razões puramente estéticas, como na poesia.

• Para Saussure, a língua, para se tornar um sistema coerente e inteligível, precisa que as partes considerem as relações sincrônicas – em uma mesma época, todas as peças que formam o estado de uma língua em um determinado momento.

• A linguagem tem várias funções que são usadas de acordo com a intenção do falante e estão diretamente relacionadas com elementos de comunicação, que são: emissor, receptor, contexto, mensagem, canal e código.

• Para Quadros e Karnopp (2004), uma das funções da linguagem é a função fática.

• Você aprendeu que as funções da linguagem são: função referencial, função poética, função conativa, função emotiva, função metalinguística, função fática.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Conforme Quadros e Karnopp (2004), a língua é um sistema altamente desenvolvido, consequentemente a função primária da língua é a comunicação e a expressão do pensamento. Com este pensamento, escolha a alternativa correta:

a) ( ) A língua é usada somente para manter contato em um meio social.b) ( ) As pessoas podem usar a língua por qualquer razão, embora não tem

poesia na língua, ainda assim ela é muito usada.c) ( ) A língua pode ser usada também para comunicar sentimentos e emoções,

como a poesia.d) ( ) A língua só não pode ser usada em bate-papos, em pequenas frases do

dia a dia.

2 Aprofundando nossos estudos sobre linguagem, vimos que a linguagem apresenta seis funções:

Elenque as funções de acordo com as características a seguir:

I- Função Referencial II- Função Poética III- Função Conativa IV- Função EmotivaV- Função Metalinguística VI- Função Fática

( ) Usada para convencer o receptor.( ) Usada para transmitir uma mensagem mais poética.( ) Usada para transmitir emoções e sentimentos.( ) Usada para o bate papo social, nas pequenas frases do dia a dia. Oi, como

vai você? Que dia frio!( ) Usada para informar ou referenciar algo.

Agora, de acordo com a ordem, assinale a alternativa CORRETA.a) I, III, II, V, VI, IV.b) III, II, I, VI, IV, V.c) III, II, IV, V, VI, I.d) II, I, III, V, IV, VI.e) I, II, III, IV, V, VI.

AUTOATIVIDADE

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3 (QUESTÃO ENADE, 2014, com adaptações)

Restos

Minha Nossa Senhora do Bom Parto! O caminhão do lixo já deve ter passado! Eu juro, seu poliça, foi nessa lixeira aqui! Nessa mesminha! Eu vim catar verdura, sempre acho umas tomate, umas cenoura, uns pimentão por aqui. Tudo bonzinho, é só lavar e cortar os pedaço podre, que dá pra comer... Aí quando eu puxei umas folha de alface, levei o maior susto. Quase desmaiei, até. Eu, uma mulher assim fornida que nem o seu poliça tá vendo, imagine: fiquei de pernas bambas. Me deu até tontura. Acho que também por causa do fedor... Uma carniça que só o senhor cheirando, pra saber. Mas eu juro por tudo que é mais sagrado! Tinha sim um anjinho morto nessa lixeira! Nessa aqui! Coitadinho... Deve ter se esgoelado de tanto chorar. A gente via pela sua carinha de sofrimento. Ele tava com a boquinha aberta, cheinha de tapuru. Eu nem reparei se era menino ou menina, porque eu fiquei morrendo de pena... E de medo, também... Os olho... É do que mais me alembro... Esbugalhados, mas com a bola preta virada pra dentro, sabe? Ai! Soltei um berro e saí correndo.

SERAFIM, L. Restos. In: SOUTO, A. Variação Linguística e texto literário: perspectivas para o ensino. Cadernos do CNLF,

v. XIV, n. 4, t. 4, 2010, p. 3310 (adaptado).

Considerando a variedade linguística utilizada pela personagem do texto, avalie as afirmações a seguir.

I- A redução do verbo “estar”, como em “tá” e “tava”, é uma característica evidenciada na fala de sujeitos escolarizados e não escolarizados.

II- A eliminação da marca de plural, como em “os pedaço” e “pernas bamba”, é um traço das variedades linguísticas populares faladas e escritas.

III- A prótese do fonema /a/ em “alembro” é uma característica associada à história da língua portuguesa [ou seja, é possível observarmos certa época em que essa forma era falada; assim, alguns usuários ainda utilizam esta forma].

É CORRETO o que se afirma em:a) I, apenas.b) III, apenas.c) I e II.d) II e III.e) I, II e III.

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TÓPICO 2

ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E

DE SINAIS

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃOCaro acadêmico! Você já está no Tópico 2. Dando continuidade aos nossos

estudos, nós falaremos sobre os estudos das línguas orais e de sinais e o contexto linguístico destas línguas.

Começaremos a compreender que são línguas distintas, que cada uma tem uma gramática própria, você vai se entusiasmar com estes temas, pois quando compreendemos que são línguas diferentes compreendemos também que as duas têm a sua importância na formação dos usuários.

DICAS

Caro acadêmico! Não se prenda somente à leitura deste livro didático, busque outras pesquisas e outros livros. Assim, seus estudos serão mais completos. Por meio dessa postura, você se torna um pesquisador, um investigador. O mundo da leitura é fascinante.

2 CONTEXTO LINGUÍSTICO DAS LÍNGUAS Antes de entrarmos neste tema, vamos fazer um adendo e nos familiarizar

e entender o que é linguística. Para Saussure (1916 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 15),

A linguística é o estudo científico das línguas naturais e humanas. As línguas naturais podem ser entendidas como arbitrárias e\ou como algo que nasce com o homem. Essas duas correntes estão relacionadas aos pensamentos filosóficos que se originam com Platão e Aristóteles. Esse último era naturalista quanto às proposições e convencionalista quanto às palavras, pois considera que as coisas eram infinitas e as palavras eram finitamente determinadas pelos seres humanos. Nesse sentido, a linguística estruturalista se desenvolveu.

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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Podemos então perceber, com a leitura acima, que a linguística está voltada para nos ajudar, nos dar explicações dos fatos que acontecem com a língua e, ainda, dos fatos linguísticos em si.

Entendemos que a linguística está tentando desvendar várias nuances que estão envolvidas na linguagem humana, os vários princípios. Tais nuances e características contribuem com a compreensão das línguas naturais. Quadros e Karnopp (2004, p. 16) afirmam que

A área da linguística está crescendo como área de estudo, apresentando impacto nas áreas voltadas para educação, antropologia, sociologia, psicologia cognitiva, ensino de línguas, filosofia, informática, neurologia e inteligência artificial. [...] A linguística é uma ciência que busca respostas para problemas essenciais relacionados à linguagem que precisam ser explicados: Qual a natureza da linguagem humana? Como a comunicação se constitui? Quais os princípios que determinam a habilidade dos seres humanos em produzir e compreender a linguagem? A linguística desmembra tais questões com a finalidade de explicar os problemas e elaborar uma teoria da linguagem humana e uma teoria da comunicação.

Podemos nos sentir mais seguros quando se trata de linguística, pois sabemos que esta área está em forte crescimento com inúmeras pesquisas. Pode-se dizer que a linguagem tem em si regras e estas regras fazem parte dos conhecimentos humanos que determinam a produção oral ou visuoespacial, seja qual for a língua, falada ou sinalizada.

Quadros e Karnopp (2004, p. 17) contribuem para refletirmos criticamente

acerca destes estudos linguísticos:

Outro pressuposto básico dos estudos linguísticos aqui considerado constituiu a universalidade de tais princípios, ou seja, as investigações de aspectos específicos de cada língua revelam as características da linguagem humana. Portanto, independentemente do estudo de línguas especificas, tais como o inglês, a portuguesa língua de sinais brasileira, a língua de sinais americana, e assim por diante, é possível determinar os princípios universais que regem todas as línguas e, possivelmente, todas as línguas. Apesar das diferenças entre as línguas, as estruturas apresentam aspectos comuns que interessam as investigações linguísticas por explicarem a natureza da linguagem humana.

Os estudos sobre linguagem humana, dentre diferentes abordagens

procuram verificar o que as línguas/linguagens possuem em comum. Isso nos interessa demasiadamente, pois vai ao encontro do que pretendemos aqui. Neste momento por exemplo, vamos abordar a língua de sinais e suas características.

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TÓPICO 2 | ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E

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ATENCAO

Desde o surgimento da linguística, muitos conceitos foram acrescentados, assim como outras compreensões sobre língua/linguagem. Uma delas, bastante valorizada, é a compreensão de que devemos ensinar língua/linguagem sempre a partir de situações concretas de interação. Assim, os alunos podem ir além do nível de decodificação (conseguir compreender o código), mas, também, poderá compreender as situações de usos. Isso faz muito sentido dentro dos estudos que valorizam a semântica e a pragmática. Os contextos, os usos e a língua/linguagem em momentos de interação (práticas sociais) são essenciais no processo de ensino; afinal, a língua tem essa natureza social – ela existe para nos comunicarmos uns com os outros.

Conforme aponta Geraldi (1984, p. 35):

Uma coisa é saber a língua, isto é, dominar as habilidades de uso da língua em situações concretas de interação, entendendo e produzindo enunciados, percebendo as diferenças entre uma forma de expressão e outra. Outra coisa é saber analisar uma língua dominando conceitos e metalinguagem a partir dos quais se fala sobre a língua, se apresentam suas características estruturais e de uso.

A partir dessa ótica (entre outros conceitos envolvidos), entende-se que o ensino deve utilizar-se dos gêneros textuais que existem em sociedade, ou seja, os textos sempre compreendidos em seus contextos de interação. Desligar um do outro é perder muito na análise e na compreensão de textos.

3 LÍNGUAS DE SINAIS“A língua dos surdos é transmitida cada vez que uma mãe surda segura seu bebê em seu peito e sinaliza para ele” (Halan Lane)

Quando se trata de língua, o estudo vem nos mostrando que tanto as línguas de sinais ou as línguas orais estão em constante evolução e transformação, temos ainda muitas dúvidas, nossas pesquisas e estudos têm que ser constantes. Temos muitas dúvidas sobre as línguas de sinais, que nos geram perguntas do tipo:

• A língua de sinais é universal?• A língua de sinais é artificial?• A língua de sinais tem gramática?• A língua dos surdos é mímica?• É possível expressar conceitos abstrato na língua de sinais?

Junto com alguns autores tentaremos responder a estas perguntas.

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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3.1 A LÍNGUA DE SINAIS É UNIVERSAL?

FIGURA 4 – A LÍNGUA DE SINAIS É UNIVERSAL

FONTE: <https://st2.depositphotos.com/2452383/10991/i/950/depositphotos_109913436-stock-photo-globe-in-hand-the-whole.jpg>. Acesso em: 5 jul. 2019.

Esta é uma das dúvidas mais comuns quando se fala em língua de sinais, se ela é universal, se podemos usar a mesma língua em vários países. Estudos nos mostram que cada país tem a sua língua de sinais, desenvolve sua gramática, tornando assim cada língua de sinais única. Gesser (2009, p. 11) ainda conclui que:

Uma das crenças mais recorrentes quando se fala em língua de sinais é que ela é universal. Uma vez esta universalidade está ancorada na ideia de que toda língua de sinais é um “código” simplificado apreendido e transmitido aos surdos de forma geral, é muito comum pensar que todos os surdos falam a mesma língua em qualquer parte do mundo. Ora sabemos que nas comunidades de línguas orais, cada país, por exemplo, tem a sua própria língua. Embora se possa traçar um histórico das origens e apontar possíveis parentescos e semelhanças no nível estrutural das línguas humanas (sejam elas orais ou de sinais), alguns fatores favorecem a diversificação e a mudança da língua dentro de uma comunidade linguística, como, por exemplo, a extensão e a descontinuidade territorial, além dos contatos com outras línguas.

Agora podemos compreender de forma mais clara que as línguas de sinais não são universais e que cada país tem a sua própria língua e elas são diferentes, como por exemplo: nos Estados Unidos, os surdos utilizam a língua de sinais americana. Na França, a língua de sinais francesa. No Japão, a língua japonesa de sinais. No Brasil, a língua brasileira de sinais e assim por diante. Vejamos o sinal de mãe em quatro diferentes línguas de sinais nas figuras a seguir.

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TÓPICO 2 | ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E

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FIGURA 5 – LÍNGUA ESPANHOLA DE SINAIS

FONTE: Acervo da Uniasselvi

FIGURA 6 – LÍNGUA JAPONESA DE SINAIS

FONTE: Acervo da Uniasselvi

FIGURA 7 – LÍNGUA AUTRALIANA DE SINAIS

FONTE: Acervo da Uniasselvi

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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FONTE: Acervo da Uniasselvi

FIGURA 8 – LÍNGUA AMERICANA DE SINAIS

Podemos ter certeza de que onde houver um surdo interagindo, a língua de sinais está presente. É possível afirmar que a necessidade de se comunicar é, de fato, uma característica humana, no caso dos surdos esta comunicação acontece através dos sinais.

Outra pergunta muito comum é se a língua de sinais é artificial.

3.2 A LÍNGUA DE SINAIS É ARTIFICIAL?

Sobre esta pergunta Gesser (2009, p. 12) afirma que:

Língua de sinais dos surdos é natural, pois evolui como parte de um grupo cultural do povo surdo. Consideram-se “artificiais” as línguas construídas e estabelecidas por um grupo de indivíduos com alguns propósitos específicos. O esperanto (língua oral) e o gestuno (língua de sinais) são exemplos de línguas “artificiais”, cujo objetivo maior é estabelecer a comunicação internacional. Esse tipo de língua funciona como uma língua auxiliar ou franca.

O gestuno é uma língua artificial de sinais conhecida como língua de sinais internacional, cujo objetivo é estabelecer a comunicação internacional.

FONTE: <http://periodicos.unb.br/index.php/belasinfieis/article/view/12984>. Acesso em: 1 jul. 2019.

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Na década de 1960 houve a defesa contundente de que a língua de sinais é de fato uma língua natural. Tal trabalho foi liderado por Stokoe (QUADROS; KARNOPP, 2004). Ela possui características como todas as línguas naturais: flexibilidade, versatilidade, arbitrariedade, entre outros aspectos. Nas palavras de Brito (1998, p. 19),

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TÓPICO 2 | ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E

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3.3 A LÍNGUA DE SINAIS TEM GRAMÁTICA?

Com certeza. A partir dos estudos de Stokoe, na década de 1960, a compreensão de que a língua de sinais possui uma gramática pôde avançar. Desde lá, a visão sobre a língua passou a ser completamente diferente.

É fato afirmar que as línguas orais já são estudadas há muito mais tempo

em relação à língua de sinais. A partir da década de 1960, de fato, observou-se que a língua de sinais possui gramática própria – a partir dessa gramática, com a possibilidade infinita de produção de sentenças. Apenas nos últimos 40 anos a língua de sinais veio a ser observada cientificamente. Anteriormente, o sinal não era visto como uma língua com gramática própria (GESSER, 2009, p. 14).

DICAS

Sugere-se a leitura do livro Por uma gramática de sinais, de Lucinda Ferreira, que ajudará na compreensão do assunto abordado.

FONTE: <https://images.app.goo.gl/kQzVRmZRfEK8uMuj8>. Acesso em: 27 jun. 2019.

As línguas de sinais são línguas naturais porque como as línguas orais surgiram espontaneamente da interação entre pessoas e porque devido a sua estrutura permitem a expressão de qualquer conceito descritivo, emotivo, racional, literal, metafórico, concreto, abstrato enfim, permitem a expressão de qualquer significado decorrente da necessidade comunicativa e expressiva do ser humano.

A língua além de ser histórica, humana e social, ainda é fruto da interação e meio de interação. Por meio dessa ferramenta (língua), podemos realizar atividade com o outro e sobre o outro, no momento de interação (linguagem). Em tempo: essa interação com o “outro” pode ser até mesmo consigo – sim, é possível estabelecer um diálogo consigo, uma reflexão, um questionamento, entre outras possibilidades.

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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3.4 A LÍNGUA DOS SURDOS É MÍMICA?

Sobre esta pergunta, que infelizmente ainda é muito comum, podemos responder: é uma afirmação falsa. A língua dos surdos não é mímica. Para confirmar, Gesser (2009, p. 21) afirma:

Quando me perguntam, entretanto, se a língua de sinais é mimica, entendo que está implícito a esta pergunta um preconceito muito grave, que vai além da discussão sobre a legitimidade linguística ou mesmo sobre quaisquer relações que ela possa ter (ou não) com a língua de sinais. Está associada a essa pergunta a ideia que muitos ouvintes têm sobre os surdos: uma visão embasada na anormalidade, segundo a qual o máximo que o surdo consegue expressar é uma forma pantomímica indecifrável e somente compreensível entre eles. Não à toa, as nomeações pejorativas anormais, deficiente, débil mental, mudo, surdo-mudo, mudinho tem sido equivocadamente atribuída a esses indivíduos.

Há, portanto, a possibilidade de aprendizagem do código, da gramática da língua de sinais. Somente o canal comunicativo é diferente, chamado de visual-gestual. Ainda assim, trata-se de uma língua natural, complexa e genuína (GESSER, 2009, p. 22).

3.5 É POSSÍVEL EXPRESSAR CONCEITOS ABSTRATOS NA LÍNGUA DE SINAIS?

Respondemos a esta pergunta com a afirmação: obviamente que sim. Muitas pessoas ainda pensam que não, mas pensam assim porque estão ainda ligadas ao pensamento de que a língua de sinais é limitada, pobre, simplificada, que não passa de um simples código primitivo, que é mimica, pantomima e gestos. Precisamos entender que sinais não são gestos.

Significado de pantomimaSubstantivo feminino: arte de demonstrar, através dos gestos e/ou expressões faciais, os sentimentos, pensamentos, ideias, sem utilizar palavras; mímica.

FONTE: <https://www.dicio.com.br/pantomima/>. Acesso em: 27 jun. 2019.

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Page 37: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 2 | ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E

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Gesser (2009, p. 23) afirma que:

Assim é correto afirmar que as pessoas que falam línguas de sinais expressam sentimentos, emoções e quaisquer ideias ou conceitos abstratos. Tal como os falantes de línguas orais, os falantes de línguas de sinais podem discutir filosofia, política, literatura, assuntos cotidianos etc., nessa língua, além de transitar por diversos gêneros discursivos, criar poesias, fazer apresentações acadêmicas, peças teatrais, contar e inventar histórias e piadas.

DICAS

Trazemos para confirmar a afirmação de Gesser a ilustração do livro de Emmanuelle Laborrit, surda francesa. Emmanuelle escreveu: O voo da gaivota. Caro acadêmico! Você pode encontrar este livro! Aproveite e leia, é uma leitura muito agradável, você irá se encantar.

FONTE: <https://pt.scribd.com/doc/67465405/O-VOO-DA-GAIVOTA>.Acesso em: 27 jun. 2019.

Emmanuelle Laborit (apud GESSER, 2009, p. 23) em seu belíssimo livro O voo da gaivota, afirma “Os sinais podem ser agressivos, diplomáticos, poéticos, filosóficos, matemáticos: tudo pode ser expresso por meio de sinais, sem perda nenhuma de conteúdo”.

Dessa forma, poderemos observar que sim, que através da língua de sinais elementos concretos, simbólicos, abstratos e emoções humanas podem ser expressos.

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

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4 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE AS LÍNGUAS DE SINAIS E AS LÍNGUAS ORAIS

De acordo com algumas leituras realizadas, podemos evidenciar algumas semelhanças e diferenças entre a língua oral e a língua de sinais. Uma diferença notória é a forma como se comunicam. Na língua de sinais, que é uma língua de modalidade gestual-visual, os seus usuários utilizam como meio de comunicação, movimentos e expressões faciais que percebemos através da visão. Enquanto a língua oral é uma modalidade oral-auditiva; nela, seus usuários usam os sons, percebidos pelo ouvido.

Outra diferença é que, nas línguas orais-auditivas, o que é denominado de palavras, nas línguas de sinais, é denominado de sinais.

Já quanto às semelhanças, as duas línguas apresentam semelhanças na sua estrutura gramatical. As duas são estruturadas a partir de unidades mínimas que formam unidades mais complexas, então todas possuem os seguintes níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico.

As línguas se diferem também na forma como as combinações das unidades são construídas, a língua oral é linear enquanto a de sinais é simultânea. Os autores relacionados nos dão uma explicação para esta diferença, vejamos.

Segundo Brito, Wilcox e Wilcox (1995; 1997 apud GESSER, 2009, p. 19), a

explicação “para essa diferença se dá devido ao canal de comunicação em cada língua (visual-gestual x vocal-auditivo), pois essa característica fica mais saliente em uma língua do que em outra”.

Quadros e Karnopp (2004, p. 62) contribuem para refletirmos sobre essa

discussão:

Confrontando-se língua de sinais com línguas orais, três importantes aspectos podem ser investigados: os princípios e universais linguísticos compartilhados entre línguas de sinais e línguas orais; as especificidades de cada língua; e as restrições devidas à modalidade de percepção e produção. A diferença entre línguas orais e de sinais no nível fonológico é difícil de ser estabelecida, considerando que muitos tópicos sobre a fonologia das línguas de sinais continuam sendo pesquisados e/ou ainda não foram investigados.

Dessa forma, as línguas seguem sob investigação. Há muito ainda a se

compreender sobre elas, comparativamente. Ainda assim, a compreensão que se busca na atualidade é o respeito por ambas, junto dos seus falantes/usuários.

Page 39: Semântica e Pragmática daS LínguaS

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você aprendeu que:

• A linguística é o estudo científico das línguas naturais e humanas. As línguas naturais podem ser entendidas como arbitrarias e\ou como algo que nasce com o homem.

• A linguística é a área que se preocupa com a natureza da linguagem e da comunicação.

• Vários estudos vêm nos mostrando que tanto as línguas de sinais ou as línguas orais estão em constante evolução e transformação.

• Podemos compreender de forma mais clara que as línguas de sinais não são universais e que cada país tem a sua própria língua e elas são diferentes, como por exemplo: nos Estados Unidos, os surdos “falam” a língua de sinais americana; na França a língua de sinais francesa; no Japão, a língua japonesa de sinais; no Brasil, a língua brasileira de sinais.

• A língua de sinais tem todas as características linguísticas de qualquer língua humana natural.

• É possível expressar conceitos abstratos na língua de sinais.

• Podemos evidenciar algumas semelhanças e diferenças entre a língua oral e a língua de sinais. Uma diferença notória é a forma como se comunicam. A língua de sinais que é uma língua de modalidade gestual-visual, os seus usuários utilizam como meio de comunicação, movimentos, gestuais e expressões faciais que percebemos através da visão. A língua oral é uma modalidade oral-auditiva e seus usuários usam os sons, percebidos pelo ouvido.

• Confrontando-se língua de sinais com línguas orais, dois importantes aspectos podem ser investigados: os princípios e universais linguísticos compartilhados entre línguas de sinais e línguas orais.

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1 Sabemos que a ciência que estuda as línguas é a linguística, então coloque V para as questões verdadeiras e F para as falsas, no que se refere a ela.

( ) No entanto entendemos que a linguística está tentando desvendar várias

coisas que estão envolvidas somente na língua e não na linguagem humana.( ) A linguística está voltada para nos ajudar, nos dar explicações dos fatos

que acontecem com a língua dos fatos linguístico em si.( ) Na verdade, linguística é a área que se preocupa com a natureza da

linguagem e da comunicação. ( ) A linguística está crescendo como área de estudo, apresentando impacto

nas áreas voltadas para o estudo das línguas áreas como a: educação, antropologia, sociologia, psicologia cognitiva, ensino de linguagem, filosofia, informática, neurologia e inteligência artificial.

Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) F – V –F – F. b) ( ) F – V – V – V.c) ( ) V – V – F – F.d) ( ) F – F – V –V.

2 Quando se trata de língua, o estudo vem nos mostrando que tanto as línguas de sinais ou as línguas orais estão em constante evolução e transformação; porém temos ainda muitas dúvidas, vamos analisar as perguntas a seguir e numerá-las de acordo com os estudos deste tópico.

( 1 ) A língua de sinais é universal?( 2 ) A língua de sinais é artificial?( 3 ) A língua de sinais tem gramatica?( 4 ) A língua dos surdos é mimica?( 5 ) É possível expressar conceitos abstrato na língua de sinais?

( ) Crença. ( ) Uma crença.( ) Obviamente que sim. ( ) Com certeza.( ) Preconceito.

Agora com base nas suas escolhas marque a alternativa CORRETA.a) ( ) 1,2,3,5,4.b) ( ) 1,3,2,4,5.c) ( ) 4,3,2,5,1.d) ( ) 2,1,5,3,4.

AUTOATIVIDADE

Page 41: Semântica e Pragmática daS LínguaS

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3 De acordo com a leitura realizada podemos evidenciar algumas semelhanças e diferenças entre a língua oral e a língua de sinais. Assinale V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) uma diferença notória é a forma como se comunicam, a língua de sinais que é uma língua de modalidade gestual-visual, os seus usuários utilizam como meio de comunicação, movimentos, gestuais e expressões faciais que percebemos através da visão, enquanto a língua oral é uma modalidade oral-auditiva, seus usuários utilizam os sons, percebidos pelo ouvido.

( ) Outra diferença é que nas línguas orais-auditivas o que é denominado de palavras, nas línguas de sinais é denominado de sinais.

( ) Já quanto às semelhanças, as duas línguas apresentam semelhanças na sua estrutura gramatical. As duas são estruturadas a partir de unidades mínimas que formam unidades mais complexas, então todas possuem os seguintes níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico.

( ) As línguas se diferem também na forma como as combinações das unidades são construídas, a língua oral é linear enquanto a de sinais é simultânea.

Agora, escolha a opção CORRETA.a) ( ) F, F, F, V.b) ( ) V, V, V, F.c) ( ) V, V, V, V.d) ( ) F, V, F, V.

4 (QUESTÃO ENADE 2017)

As línguas naturais são, por natureza, um fenômeno sensível ao contexto. Mas os eventos de fala variam muito em relação à dependência contextual. Quando os interagentes partilham uma grande carga de pressuposições pragmáticas sobre o mundo, sua interação tenderá a ser mais contextualmente dependente. Ao contrário, quando a interação se desenvolve entre falantes com antecedentes mais distintos, a interação tende a ser marcada por menos dependência contextual e, consequentemente, por mais explicitude e precisão na escolha das palavras. Gumperz (1976) observa que, para serem eficientes nessas ocasiões, os falantes têm de estar conscientes das diferenças no processo interpretativo. Não podem esperar que suas convenções comunicativas não verbalizadas, próprias do seu grupo primário de relações, sejam compreendidas por outros e têm de demonstrar mais flexibilidade no seu repertório estilístico. Em outras palavras, os falantes precisam monitorar-se mais ou menos, em função do grau de conhecimento compartilhado com os seus interlocutores.

BORTONI-RICARDO, S. M. Nós chegamos na escola, e agora? São Paulo: Parábola Editorial, 2005 (adaptado).

Considerando o texto, avalie as afirmações a seguir:

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I- Os eventos de fala são coconstruídos pelos participantes e seu sucesso depende, dentre outros fatores, da conscientização dos interagentes sobre as convenções de contextualização compartilhadas (ou não) pelo grupo.

II- O usuário competente da língua desvia o olhar das convenções próprias dos eventos de fala e concentra-se na organização estrutural do código e em uma seleção lexical adequada para cada interlocutor.

III- A competência comunicativa de um falante deve ser medida pelo grau de explicitação argumentativa e riqueza vocabular, sem considerar a experiência prévia deste falante nesta comunidade.

IV- Uma interação sensível ao contexto comunicativo deve levar em conta o conhecimento de mundo compartilhado (ou não) pelos interagentes, o que implicará maior envolvimento dos interlocutores no processo de comunicação.

É CORRETO apenas o que se afirma em:a) ( ) I e III.b) ( ) I e IV.c) ( ) II e III.d) ( ) I, II e IV.e) ( ) II, III e IV.

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TÓPICO 3

CONCEITUANDO SIGNIFICADO ESIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃONeste tópico falaremos sobre o significado e o significante, e não temos

como falar de significado e significante sem falar dos estudos do significado linguístico.

Apresentaremos também o estudo deste significado, falaremos

de: significado e de significante; como estes conceitos estão nas línguas e, consequentemente, nas línguas de sinais.

Para iniciarmos e termos uma compreensão completa destas terminologias,

iniciaremos este tópico falando do signo, pois ele é o elemento composto pelas suas duas faces: o significado e o significante.

2 O CONCEITO DE SIGNOA língua oral utiliza-se de sons. Esses, isoladamente, não constroem nada.

No entanto, quando são organizados a partir da organização da língua, passam a ter sentido. Eu só reconheço alguém falando francês se eu também estou inserido no universo dessa língua – nós compartilhamos o mesmo sistema. Por isso a comunicação é possível.

Sem um sistema que organize tudo isso, o próprio pensamento seria

uma massa amorfa, sem forma, sem sentido. A língua, portanto, é o que dá sentido. Pode-se dizer que ela é “o intermediário entre o pensamento e os sons, possibilitando, assim, que entre a massa amorfa do pensamento humano e a profusão indeterminada de sons, surja uma espécie de faixa de organização a qual se chamaria língua” (RODRIGUES, 2008, p. 10).

Em outras palavras, é a língua que dá sentido aos sons, organiza-os,

formando signos. Esses signos são construídos de forma arbitrária – escolhas coletivas. Ao mesmo tempo que eles são coletivos, socialmente construídos, eles podem variar em certo nível de sujeito para sujeito.

Ainda sobre o valor (o sentido) de cada signo ser produzido coletivamente, recorremos a Rodrigues (2008, p. 9-10):

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

Os fonemas seriam equivalentes ao papel e à tinta com que se fazem as notas de dinheiro. O valor atribuído às notas, por sua vez, seria comparável ao significado dos signos linguísticos. O processo de formação dos signos, sob o aspecto social, seria, portanto, exatamente o mesmo processo utilizado no sistema financeiro.

Assim, podemos compreender que o signo só fará sentido se ele tiver um significado, um valor socialmente construído. Vamos a um exemplo: ao escutar a palavra cachorro, reconhecemos a sequência de sons que formam essa palavra. Esses sons se identificam com a lembrança deles que está em nossa memória. Essa lembrança constitui uma real imagem sonora, armazenada em nosso cérebro que é o significante do signo cachorro.

Quando escutamos essa palavra, logo pensamos em um animal irracional de quatro patas, com pelos, olhos, orelhas etc. Esse conceito que nos vem à mente é o significado do signo cachorro e também se encontra armazenado em nossa memória.

Ao empregar os signos que formam a nossa língua, devemos obedecer

às regras gramaticais convencionadas pela própria língua. Desse modo, por exemplo, é possível colocar o artigo indefinido “um” diante do signo cachorro, formando a sequência “um cachorro”, o mesmo não seria possível se quiséssemos colocar o artigo “uma” diante do signo cachorro.

A sequência “uma cachorro” contraria uma regra de concordância da

língua portuguesa, o que faz com que essa sentença seja rejeitada. Os signos que constituem a língua obedecem a padrões determinados de organização. O conhecimento de uma língua engloba tanto a identificação de seus signos, como também o uso adequado de suas regras combinatórias.

Signo: elemento representativo que possui duas partes indissolúveis: significado e significanteSigno = significado (é o conceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata do signo) + significante (é a imagem sonora, a forma, a parte concreta do signo, suas letras e seus fonemas).

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3 O CONCEITO DE SIGNIFICADOQuando pensamos nessa temática nos vem à mente as aulas de português,

e é isso mesmo precisaremos entender primeiro: na língua portuguesa o que é significado? Para depois adentrarmos em outra língua, neste caso, a língua de sinais.

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TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

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Vêm-nos à mente também alguns questionamentos. O que é o significado? O que entendemos por significado? Quando nos questionamos, levantamos a hipótese de que realmente existe algo que seja o significado.

Vamos dar continuidade aos nossos estudos respondendo às perguntas acima.

3.1 O QUE É SIGNIFICADO?

Os significados são entidades abstratas que existem na mente dos falantes de uma determinada língua. Significado é, portanto, entidade mental. Ou seja, nós temos um conjunto complexo de informações acumuladas ao longo da história da humanidade. Então quando usamos uma determinada palavra da nossa língua fazemos ecoar por meio desta palavra um processo histórico que forma conceitos sobre a vida e sobre o mundo.

Vamos tentar deixar este estudo mais prazeroso. Traremos exemplos para

que fique mais claro. O significado do signo árvore, por exemplo, vai muito além do conceito de "vegetal lenhoso". Há muitos valores simbólicos e ideológicos que se podem associar a esse signo (em várias culturas a árvore é símbolo da vida; em tempos de movimentos ambientalistas ativos como os nossos, a árvore é um símbolo da preservação das matas); há também valores que só se conseguem definir na efetiva interlocução (imagine todo o conjunto de sentidos que a palavra árvore assume em uma conversa entre donos de madeireiras, ao falarem sobre a extração de mogno).

FIGURA 9 – SIGNIFICADO DE ÁRVORE

FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-QuR2XafqoKY/UUIbvzvst-I/AAAAAAAAAJE/eXyImOLrFD8/s1600/images%5B10%5D.jpg>. Acesso em: 27 jun. 2019.

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36

UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

Podemos então dizer que o significado vai muito além. É o conceito que damos a um signo. Vai depender de nossa experiência de vida, de nosso conhecimento de mundo, de quanto temos de afinidade com o tema que nos é apresentado.

QUADRO 1 – IMAGEM DE CACHORROS

SIGNIFICANTE É A PALAVRA CACHORRO

SIGNIFICADO É A IMAGEM

FONTE: <https://statig2.akamaized.net/bancodeimagens/5w/6r/ep/5w6rep16o2e497c3x5n8ydhi0.jpg>. Acesso em: 5 jul. 2019.

No exemplo acima, quando falamos a palavra “cachorro”, nos vem à memória o animal mamífero, com a pele cheia de pelos, certo? Errado! Quando falamos a palavra cachorro virá sim em nossa mente o animal cachorro, peludo etc., porém, pode também vir à memória uma raça de cachorro sem pelos, podemos pensar em uma raça muito grande ou em uma raça muito pequena. Tudo dependerá de nossas experiências com este animal. Algumas pessoas podem até evitar pensar devido a algum trauma com o bicho.

Podemos então definir significado como a experiência que temos que

vivenciamos com o tema falado, o significado que damos, a importância que damos ao tema. Quadros e Karnopp (2004, p. 22) afirmam que “o significado ou os significados de uma expressão linguística apresentam características comuns compartilhadas entre os utentes de uma língua”.

Page 47: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

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DICAS

Utente é aquele que tem o direito de usufruir; aquele que utiliza; o usuário.

4 O CONCEITO DE SIGNIFICANTE Para Saussure (2006), o signo é uma associação de um conceito (chamado

significado) e uma imagem acústica, ou ótica, chamada significante.

Podemos definir tanto o significante quanto o significado como entidades mentais, abstratas que estão dentro da mente de um falante de uma determinada língua – esses elementos foram registrados na mente, uma vez que foram incorporados a partir da fala, da comunicação a qual foi exposto, sendo inserida nesse universo de sentidos.

Portanto, para esses autores significado e significante são entidades mentais, estabelecendo, assim, uma relação simbólica. Isto significa dizer, também, que a língua por ser um sistema de signos é simbólica. Por isso, é que ao pronunciarmos ou sinalizarmos palavras, sentenças e/ou discursos inteiros, estamos designando conceitos (MCCLEARY; VIOTTI, 2009, p. 4).

Ao mesmo tempo, vale apontar que a relação entre significado e significante é arbitrária, ou seja, não existe algo que liga automaticamente as duas faces do signo. É uma escolha – o significante poderia ser outro. Houve uma convenção para que fosse eleita uma composição. Vamos ver o exemplo do significante “mar”: “a ideia de ‘mar’ não está ligada por relação alguma interior, a sequência de sons m-a-r que lhe serve de significante poderia ser representada por outra cadeia” (GUIMARÃES, 2018, p. 164). Poderia ser “m-o-r”, ou “m-i-r”, ou qualquer outra combinação: inclusive “abóbora” – se essa fosse a convenção social. Em vez de “mar”, chamaríamos o oceano de “abóbora”.

5 O SIGNIFICANTE E O SIGNIFICADO NAS LÍNGUAS DE SINAISAs línguas de sinais não poderiam ser diferentes. O significante e o

significado estão presentes em seus estudos. Neste tópico teremos a oportunidade de conhecer o significante e significado nas línguas de sinais.

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

5.1 SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO EM LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA – LIBRAS

Após suas leituras, até aqui, você deve se perguntar, o que é significante e significado para libras. Como foi observado anteriormente, o signo linguístico é a unidade mínima da oração que é composta por um significado e por um significante, unidos de forma inseparável através da significação.

Anteriormente observamos os conceitos de significante e significado. O significante é um fonema ou uma sequência de fonemas que constituem um signo linguístico ao associar-se com um significado. E o signo linguístico é, portanto, a unidade mínima da oração que é composta por um significado e por um significante, unidos de forma inseparável através da significação.

Pode-se dizer que o signo é a unidade mínima da oração. Da mesma maneira, o signo está condicionado tanto pelo sistema quanto pelo contexto. O significado que é o aspecto conceitual é estabelecido pelo aspecto material que é o significante. Podemos observar o conjunto de fonemas que formam a palavra "casa". Esses fonemas articulados formam a seguinte sequência (/k/, /a/, /z/, /a/) – o significante designa um significado específico. Ao ouvir casa, na mente do ouvinte ou leitor evoca-se o conceito mental daquilo que é casa, um local a se morar ou habitar. O significante, portanto, designa algo, enquanto que o significado é aquilo que é designado. A partir de Saussure, compreendemos que a língua se organiza como um sistema coerente de signos – que dá unidade às orações. Cada signo, pode-se dizer, possui faces, assim como uma folha possui duas faces, de um lado, o significante (também chamado de imagem acústica) e o significado (também chamado de conceito) (SAUSSURE, 2006).

Já em libras existe também o signo linguístico assim como nas outras línguas. Para Stokoe (1960), os sinais em Libras têm combinações simultâneas de organizações dos elementos das línguas de sinais:

• A configuração de mão.• A locação (lugar no corpo ou no espaço onde o sinal é feito).• O movimento.

Outros pesquisadores com suas novas pesquisas acrescentaram outros parâmetros:

• Orientação (ou seja, a direção que a palma da mão faz).• Expressões faciais e corporais (sinais não manuais).

Então vimos desta forma que o signo linguístico das línguas de sinais dá origem ao significado e, também, cria o significado, imagem ótica (no caso de língua de sinais) ou mental (no caso da língua oral) ambas formam o signo linguístico.

As noções de significado podem ser resumidas pela fórmula em (01) e visualizadas no quadro a seguir.

Page 49: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

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QUADRO 2 – IMAGENS DE CASAS

SIGNO = A PALAVRA, O

NOME SENTIDO = SIGNIFICADO

O DESENHO OU O SINAL

CASA

Construção destinada à

moradia; lugar onde residem

pessoas; prédio; lar; residência;

FONTE: Acervo da Uniasselvi

FONTE: Acervo da Uniasselvi

QUADRO 3 – IMAGEM DE ÁRVORE

SIGNO = ÁRVORE o nome

a palavra em português

SENTIDO SIGNIFICADO(DESENHO OU O SINAL)

A palavra

ÁRVORE

Vegetal lenhoso

Page 50: Semântica e Pragmática daS LínguaS

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

QUADRO 4 – IMAGEM DE CARRO

FONTE: <https://carros2019.com.br/wp-content/uploads/2018/08/selomaisbaratos-1024x740.jpg>. Acesso em: 23 jul. 2019.

SIGNO = CARRO O NOME A

PALAVRA EM PORTUGUES

SENTIDO SIGNIFICADO (O DESENHO OU O SINAL)

CARRO Meio de transporte

Caro acadêmico! Neste tópico estamos falando de significado, porém não é uma tarefa fácil, nem mesmo os estudiosos das línguas têm um consenso do que é realmente o significado. Sempre temos três tipos de informação sobre as palavras podendo ser informações em Libras e em Português:

1) A informação fonológica, como a palavra é pronunciada ou sinalizada. 2) Informação gramatical, sintática e morfológica – os discursos.3) Informação semântica, significado da palavra ou do sinal.

Caro acadêmico, iremos aprofundar este tema nas unidades a seguir, mas você pode pesquisar em outras fontes os temas citados neste tópico. Sabemos que é um tema complexo, mas com certeza nas unidades a seguir, você irá sanar todas as suas dúvidas, então desafiamos você a continuar suas pesquisas, e se tornar um grande pesquisador.

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Page 51: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

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Veja por que as línguas de sinais apresentam as propriedades das línguas humanas.

QUADRO 5 – PROPRIEDADES DAS LÍNGUAS HUMANAS NAS LÍNGUAS DE SINAIS

FONTE: Quadros, Pizzio e Rezende (2009, p. 11)

Flexibilidade e versatilidade. As línguas apresentam várias possibilidades de uso em diferentes contextos.

As línguas de sinais são usadas para pensar, são usadas para desempenhar diferentes funções. Você pode argumentar em sinais, pode fazer poesia em sinais, pode simplesmente informar, pode persuadir, pode dar ordens, fazer perguntas em sinais. Glosas em LIBRAS: VOCÊ GOSTAR MAÇÃ. VOCÊ <GOSTAR MAÇÃ>sn IX CASA DEFEITO EU PRECISO ARRUMAR <PROJETO>to AULA EU APRESENTAR

ArbitrariedadeA palavra (signo linguístico) é arbitrária porque é sempre uma convenção reconhecida pelos falantes de uma língua.

As línguas de sinais apresentam palavras em que não há relação direta entre a forma e o significado. Glosas em LIBRAS:CONHECER AMIGOTRABALHO

DescontinuidadeDiferenças mínimas entre as palavras e os seus significados são descontinuados por meio da distribuição que apresentam nos diferentes níveis linguísticos.

Na língua de sinais verificamos o caráter descontínuo da diferença formal entre a forma e o significado. Há vários exemplos que ilustram isso, por exemplo, o sinal de MORENO e de SURDO são realizados na mesma locação, com a mesma configuração de mão, mas com uma pequena mudança no movimento, mesmo assim nunca são confundidos ao serem produzidos em um enunciado. Tais sinais apresentam uma distribuição semântica que não permite a confusão entre os significados apresentados dentro de um determinado contexto. Glosas em LIBRAS: TRABALHO VÍDEOCASSETE TV MORENO-SURDO

Criatividade/produtividadeVocê pode dizer o que quiser e de muitas formas uma determinada informação seguindo um conjunto finito de regras. A partir desse conjunto, você pode produzir uma sentença infinita nas línguas humanas.

As línguas de sinais são produtivas assim como quaisquer outras línguas. Glosas em LIBRAS: EU AMAR GISELE PORQUE ELA BONITA, LEGAL, ESPECIAL, 1AJUDAR2, GOSTAR TRABALHAR, INTELIGENTE ...

Dupla articulaçãoAs línguas humanas apresentam duas articulações: a primeira é das unidades menores sem significado e a segunda, das unidades que combinadas formam unidades com significado.

As línguas de sinais também apresentam o nível da forma e o nível do significado. Por exemplo, as configurações por si só não apresentam significado, mas ao serem combinadas formam sinais que significam alguma coisa. Exemplos em LIBRAS:CM sem significado L sem significado M sem significadoCM+L+M=significado (L+bochecha+semicírculo para trás)

Padrão As línguas têm um conjunto de regras compartilhadas por um grupo de pessoas.

As línguas de sinais são altamente restringidas por regras. Você não pode produzir os sinais de qualquer jeito ao usar a língua de sinais brasileira, por exemplo. Você deve observar suas regras. Exemplo em LIBRAS:Obedecer às regras de formação de sinais e de sentenças. (ajudar com CM S – mostrar exemplos de sinais com CM errada, ou L errada, ou M errado).

Dependência estruturalHá uma relação estrutural entre os elementos da língua, ou seja, eles não podem ser combinados de forma aleatória.

Também é observada uma dependência estrutural entre os termos produzidos nas línguas de sinais.Glosas em LIBRAS: PAULO TRABALHAR+asp *TRABALHAR+asp PAULOSINAL BRASIL*BRASIL SINAL

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

LEITURA COMPLEMENTAR

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA EM DEBATE:CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA

Joseilson Jales Alves Maria Graceli de Lima

Maria Lúcia Pessoa Sampaio

[...] CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM

Considerando o fato de existir diversas formas de pensar e compreender o fenômeno linguístico, ao fazermos opção por uma perspectiva de abordagem, estamos também aderindo a determinadas práticas e metodologias e, ainda, a uma linha teórica específica.

Sobre esse aspecto, Oliveira e Wilson (2008) observam que num enfoque estruturalista, a língua é vista enquanto sistema virtual, abstrato, separada do seu contexto de uso. Nesse caso, a concepção que se adota é uma concepção formalista de linguagem, na qual o fenômeno linguístico é tratado de modo abstrato, não se considerando nessa perspectiva, as diversas situações de uso da língua.

No que se trata de ensino, as autoras comentam que, os estudos tradicionais, especificamente os gramaticais, situam-se nesta perspectiva formalista. Tal perspectiva trata-se de uma concepção já antiga e de forte prestígio, que fez e faz parte da formação dos professores de Letras. Nesse sentido, Oliveira e Wilson destacam algumas práticas de sala de aula que se orientam através dessa concepção, quais sejam: as noções de certo e errado, as tarefas de análise linguística que ficam no âmbito da palavra, sintagma ou oração, atividades de interpretação, as quais buscam a “verdadeira” compreensão ou intenção do autor e respostas de exercícios presentes nos livros didáticos.

No entendimento de Marcuschi (2008), há nessa perspectiva uma certa dificuldade de tratar a significação e os problemas voltados para a compreensão. Uma vez que a língua, aqui, é tratada apenas como código ou sistema de signos composto de vários níveis de análise formal, quais sejam: fonológico, morfológico, sintático e semântico.

Para esse pesquisador os estudos nesta abordagem não se ocupam do uso da língua, as unidades são trabalhadas isoladamente, fora de qualquer contexto, não ultrapassando, assim, a unidade máxima da frase.

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TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

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A concepção formalista de linguagem se encontra presente, ainda, na incompreensão da linguagem enquanto fenômeno de comunicação e expressão, proposta do quadro de funções da linguagem de Jakobson, um dos mais importantes funcionalista do Círculo Linguístico de Praga. Essa incompreensão deu-se pelo fato de os materiais didáticos restringirem a proposta do autor a um esquema de seis funções da linguagem, assegurando-lhes um caráter mais formal do que funcional.

Assim, embora os funcionalistas tenham tentado superar a concepção formalista da língua através dessa proposta, não tiveram o êxito esperado, já que o fenômeno linguístico continuou sendo tratado de modo estrutural, desvinculado das situações reais de interação.

Com a abertura das pesquisas sobre o fenômeno linguístico, as perspectivas mais amplas e com a integração da linguística com outras ciências, surgiram novas abordagens sobre os fatos da linguagem.

Com efeito, Oliveira e Wilson (2008) apresentam-nos a concepção da linguagem denominada por elas de concepção funcional e pragmática. Para estas autoras o que caracteriza esse tipo de abordagem é a visão que se tem do fenômeno linguístico enquanto produto e processo da interação humana. Ao compartilhar dessa compreensão de língua, Antunes (2009) defende que esta é provida de duas dimensões: a dimensão de sistema em si mesmo, do sistema autônomo e a dimensão de sistema em uso, ligada à realidade histórico-social do povo.

Pela ótica dessa última dimensão, conforme Antunes (2009, p. 21),

a língua deixa de ser apenas um conjunto de signos (que tem um significante e um significado), deixa de ser apenas um conjunto de regras ou um conjunto de frases gramaticais, para definir-se como um fenômeno social, como uma prática de atuação interativa, dependente da cultura de seus usuários, no sentido mais amplo da palavra. Assim, a língua assume um caráter político, um caráter histórico e sociocultural, que ultrapassa em muito o conjunto de suas determinações internas, ainda que consistentes e sistemáticas.

Nessa abordagem o uso da linguagem é resultante das condições de sua produção e recepção, como se apresenta, por exemplo, na sociolinguística, segundo a qual, a língua é portadora de interferências sociais, como localidade, profissão, sexo, escolaridade e outros.

Em termos de ensino, uma das grandes contribuições da abordagem sociolinguística, segundo Oliveira e Wilson (2008, p. 238) foi

a possibilidade efetiva de se superar o tratamento estigmatizado dos usos linguísticos por intermédio da consideração de que todas as expressões têm sua legitimação e motivação justificadas pela multiplicidade de fatores intervenientes do âmbito social. Com base nessa perspectiva, a chamada “norma culta” ou “língua padrão” passa a ser vista como mais uma variante de uso, uma forma de expressão tão eficiente como todas as outras que circulam na comunidade linguística.

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UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

Assim, se as aulas de língua portuguesa se voltam para as questões que envolvem os usos linguísticos e os fatores sociais determinantes desses usos, assume-se, portanto, a concepção funcional da linguagem. Nesse caso nenhuma variedade é mais rica ou mais certa do que outra, pois a variedade linguística que aprendemos é aquela falada no grupo social de que fazemos parte. Não se trata, assim, de substituir uma variedade por outra, mas de construir possibilidades de situações de interação dos alunos entre si e com o professor.

Com o surgimento da pragmática, as pesquisas sobre o fenômeno linguístico passam a privilegiar o contexto extralinguístico onde a linguagem é produzida, deslocando suas preocupações para o processo interativo entre as pessoas. Assim sendo, nessa abordagem se tornam relevantes as intenções comunicativas dos falantes da língua, os modos de dizer e a eficácia do ato de fala. Oliveira e Wilson (2008, p. 240) citam algumas contribuições importantes dessa abordagem para o ensino-aprendizagem, como:

a) os estudos sobre modalização, que focam não especificamente os conteúdos veiculados, mas os modos de produção e de organização do dizer; b) a investigação das formas de comportamento e expressão de sentimentos, calcadas na teoria da polidez, de acordo com a cultura de cada comunidade; c) a relevância do caráter interacional da linguagem, da necessária e previsível presença do outro, do interlocutor, a quem se dirige qualquer mensagem veiculada, em versão falada ou escrita.

A abordagem funcional-pragmática da língua é, pois, a perspectiva por

nós adotada, levando em consideração que esta tem muito a contribuir tanto na formação dos professores quanto na conscientização de seu papel nas salas de aula de língua portuguesa, que deixa de ser o de centro e passa a ser o de intermediário da experiência com o uso linguístico. Com isso, Oliveira e Wilson (2008) chamam atenção para o fato de que o professor deve sempre procurar atualizar-se nas novas pesquisas que envolvem o seu trabalho, a fim de optar por concepções de língua afinadas com os estudos mais recentes, para, assim, poder desenvolver práticas de ensino transformadoras.

[...]

O texto como objeto de ensino

Depois de ser tema de discussão de especialistas de diversas áreas do conhecimento, o ensino de língua materna passou a fazer parte das discussões dos linguistas, os quais deram uma contribuição extremamente significativa na crítica ao modo como a escola trata o ensino de linguagem. Faraco & Castro (2000) ressaltam que essa crítica dos linguistas ao ensino tradicional incidiu sobre o caráter excessivamente normativo do trabalho com a linguagem nas escolas brasileiras. De acordo com essa crítica, as escolas além de não considerarem a realidade multifacetada da língua, estabeleceram as regras e conceitos gramaticais como o objeto de estudo, confundindo, assim, ensino de língua com ensino de gramática.

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TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

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Segundo os linguistas, se quisermos abandonar o formalismo gramatical, devemos eleger o texto como objeto de ensino de linguagem, já que ele é, de fato, a linguagem em uso. Nesse sentido, a proposta dos linguistas reivindica que o ensino dos aspectos normativos da gramática tradicional esteja subordinado ao trabalho com o texto, ou seja, as regras ou conceitos gramaticais não seriam mais ensinados por meio de frases soltas, e sim considerando sua funcionalidade textual.

Nesse sentido, Faraco & Castro (2000) ressaltam que,

Ao elegerem o texto como objeto central do ensino, eles estão implicitamente sugerindo um outro entendimento do que vem a ser a linguagem. Agora, ao invés de um olhar monológico sobre a relação do ser humano com a linguagem, temos uma proposta que assume, mesmo que implicitamente, que o aprendizado com a linguagem se dá por meio do uso que fazemos dela na interação (oral ou escrita) que estabelecemos com o outro, seja ele real ou virtual (p. 2).

Essa posição dialoga com as ideias de Bakhtin, uma vez que para ele “a língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta...” (BAKHTIN, 1986, p. 124), logo:

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua (BAKHTIN, 1986, p. 123).

Bakhtin (1986) justifica, assim, por que devemos mudar de concepção de linguagem se queremos entender o ato de ensinar língua nas escolas. Se, para ele, a interação verbal é o que importa, o professor de língua tem a importante tarefa de privilegiar em suas aulas o contato frequente do aluno com a leitura e a produção de textos, de modo a fazer dessas atividades uma relação linguística viva.

Para Faraco & Castro (2000), um ponto da teoria bakhtiniana que nos é muito relevante nas reflexões sobre o ensino de língua se relaciona ao conceito de texto. Para esses pesquisadores, quando os linguistas falam da interlocução na produção de textos, deixam subentendido a ideia de que para eles “texto é linguagem colocada em uso, uma vez que a sua construção visa o estabelecimento da comunicação entre os interlocutores” (2000, p. 6).

FONTE: ALVES, J. J. A.; LIMA, M. G.; SAMPAIO, M. L. P.. O ensino de língua portuguesa em debate: contribuições da linguística. IV FIPED – Fórum Internacional de Pedagogia. Campina Grande: REALIZE Editora, 2012. Disponível em: http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/cc1aa436277138f61cda703991069eaf.pdf. Acesso em: 31 maio 2019.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• O significado são entidades abstratas que existem na mente dos falantes de uma determinada língua. Significado são, portanto, entidades mentais.

• O significado é o conceito que damos a um signo.

• O significado é a experiência que temos, que vivenciamos com o tema falado, o significado que damos à importância que damos a este tema falado.

• O significante é um conceito, um dado do conhecimento humano sobre o mundo.

• A Linguística é o signo linguístico e que este signo é uma associação de um conceito, chamado significado, a uma imagem acústica, ou ótica, que chamamos de significante.

• Em libras existe o signo linguístico assim como nas outras línguas, que são: a

configuração de mão; a locação (lugar no corpo ou no espaço onde o sinal é feito) e o movimento.

• Podemos descobrir que temos três tipos de informação sobre as palavras. A informação fonológica, como a palavra é pronunciada ou sinalizada. Informação gramatical, sintática e morfológica – os discursos. Informação semântica, significado da palavra.

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1 Com a leitura deste tópico, você, acadêmico, já é capaz de diferenciar significado de significante, leia atentamente as alternativas e classifique as sentenças a seguir em V para as verdadeiras e F para as falsas no que se refere ao significado e significante.

( ) O significado são entidades abstratas que existem na mente dos falantes de

uma determinada língua. ( ) Significado são entidades mentais.( ) O significante é um conceito, um dado do conhecimento humano sobre o

mundo.( ) Tanto o significante quanto o significado são entidades mentais, abstratas

que estão dentro da mente de um falante de uma determinada língua.

Diante das afirmativas, escolha a alternativa CORRETA:a) ( ) V – F – F – V.b) ( ) V – V – V – F.c) ( ) V – V – V – V.d) ( ) F – F – F – F.

2 Quando se trata de palavras, nós temos três tipos de informações. Analise e relacione cada informação com o seu significado.

(1) Fonológica.(2) Gramatical. (3) Semântica.

( ) Como a palavra é pronunciada ou sinalizada.( ) Significado da palavra.( ) Sintática e morfológica – os discursos.

a) ( ) 1, 3, 2.b) ( ) 3, 2, 1.c) ( ) 2, 1, 3.d) ( ) 1, 2, 3.

3 Analisando o quadro intitulado Propriedades das línguas humanas nas línguas de sinais, segundo Quadros, Pizzio e Resende, 2009, foi possível verificar que as línguas têm propriedades, então, leia com atenção as alternativas a seguir e assinale a correta.

AUTOATIVIDADE

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( ) Flexibilidade e versatilidade, arbitrariedade, descontinuidade, elementos da língua, Padrão.

( ) Padrão, criatividade/produtividade, dupla articulação, relação estrutural, dependência estrutural.

( ) Criatividade/produtividade, dupla articulação, elementos da língua, dependência cultural.

( ) Flexibilidade e versatilidade, arbitrariedade, descontinuidade, criatividade/produtividade, dupla articulação, padrão, dependência estrutural.

4 (QUESTÃO ENADE 2014) Entre os conteúdos que fazem parte da trajetória acadêmica do graduando em Letras, destacam-se os níveis de análise da língua, os quais permeiam os estudos de aquisição da língua materna e tornam-se, portanto, referência básica nos estudos da linguagem.

SCARPA, E. M. Aquisição da Linguagem. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. (Orgs.).Introdução à linguística. São Paulo: Cortez, 2001 (adaptado).

Nesse contexto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.

I- Nos estudos sobre aquisição da língua materna, a aquisição do sistema entonacional, da acentuação e da estrutura silábica pertence ao nível fonológico, entretanto, tais processos contribuem para o desenvolvimento dos níveis morfológico, sintático, semântico e pragmático, embora sejam estudados separadamente.

PORQUE

II- Os níveis de análise da língua estabelecem redes de relações entre si e, portanto, o estudo do funcionamento de cada nível, de forma estanque, deve ser considerado um critério meramente metodológico.

A respeito dessas asserções, assinale a alternativa CORRETA:a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa

correta da I.b) ( ) As asserções I e II são proposições verdades, mas a II não é uma

justificativa correta da I.c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira.e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.

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UNIDADE 2

LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender o que é linguística;

• compreender a importância dos estudos linguísticos;

• reconhecer o contexto linguístico das línguas.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ÁREAS DA LINGUÍSTICA

TÓPICO 2 – SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DAS LÍNGUAS TÓPICO 3 – AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

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TÓPICO 1

ÁREAS DA LINGUÍSTICA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃONeste tópico falaremos de linguística e suas áreas, suas pesquisas e

investigações. A área da linguística está crescendo e com ela uma gama de pesquisas. Também abordaremos a linguística e conceitos dados a ela.

Ao estudar língua e linguagem, faz-se necessário entender conceitos que fundamentaram/pavimentaram os caminhos para as presentes pesquisas. Sem esse caminho ter sido deixado, dificilmente poderíamos lançar um olhar sensível, percebendo semelhanças e diferenças entre as línguas.

Segundo Cagliari (2007, p. 42)

[...] a linguística é o estudo científico da linguagem. Está voltada para a explicação de como a linguagem humana funciona e de como são as línguas em particular, quer fazendo o trabalho descritivo usando os conhecimentos adquiridos para beneficiar outras ciências e artes que usam de algum modo, a linguagem falada ou escrita.

Muitos profissionais da área da linguagem formaram-se sem ter contato algum com a linguística. Muitos estudaram e se profissionalizaram prontos a ingressar na rede de ensino que já estava também orientada ao ensino da gramática normativa (OLIVAN, 2009). Esse quadro apenas começou a ser alterado com a divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Através das discussões, reflexões e práticas propostas por esses documentos,

a linguística ganhou destaque no conteúdo programático, visto que ela propõe um trabalho cujo enfoque é aprimorar a capacidade de compreensão e expressão dos alunos em situações de comunicação, isto é, facilitar sua interação na sociedade (OLIVAN, 2009, p. 46).

Vale destacar que os Parâmetros não ignoram ou desqualificam o ensino de gramática normativa. Apenas sugerem que o ensino da língua/linguagem seja sempre atrelado a situações comunicativas, afinal, aprendemos a ler, escrever e a falar – ou seja, a nos comunicar em alguma língua/linguagem – com o intuito de nos comunicarmos, de nos relacionarmos com pessoas, nos contextos dos quais muitos fazem ou desejam fazer parte. Esses contextos podem ser: familiar, interpessoal (entre amigos ou conhecidos), profissional, acadêmico (escolar ou ensino superior), entre outros contextos possíveis (variando de pessoa para pessoa).

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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Esperamos, caro acadêmico, que você se encante com estes estudos. Façam bom proveito!

2 ESTUDOS LINGUÍSTICOSOs estudos que se apoiam na linguística ou áreas que vieram depois

dela estão crescendo demasiadamente ano a ano. Pode-se dizer que outras áreas passaram a reconhecer a língua/linguagem como material de análise após bases terem sido deixadas pela ciência da linguagem.

Hoje vemos áreas utilizando a língua ou linguagem como objeto de análise nas mais variadas áreas: educação, antropologia, sociologia, psicologia cognitiva, ensino de línguas, filosofia, informática, neurologia e outros. Ainda, essas áreas, entre elas, cooperam em diversas investigações – umas dando suporte às outras. Quase todas, reconhecendo o valor da língua ou linguagem na construção do conhecimento.

Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 16),

A linguística é uma ciência que busca respostas para problemas essenciais relacionados à linguagem que precisam ser explicados: Qual a natureza da linguagem humana? Como a comunicação se constitui? Quais os princípios que determinam a habilidade dos seres humanos em produzir e compreender a linguagem? A linguística desmembra tais questões com a finalidade de explicar os problemas e elaborar uma teoria da linguagem humana e uma teoria da comunicação.

Essas e outras questões movem os estudos linguísticos. Sem questionamentos, dúvidas e inquietações não existiriam investigações e pesquisas. São as dúvidas que movem os pesquisadores. Ainda, segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 16),

A linguística parte de pressupostos básicos que determinam as investigações. Um dos mais importantes pressupostos assumido aqui é o de que a linguagem é restrita por determinados princípios (regras) que fazem parte do conhecimento humano e determinam a produção oral ou visuoespacial, dependendo da modalidade das línguas (faladas ou sinalizadas), das formações das palavras da construção das sentenças e da construção dos textos. Os princípios expressam as generalizações e as regularidades da linguagem humana nesses diferentes níveis.

A partir disso, pode-se compreender que a linguística é uma ciência que busca respostas para problemas essenciais relacionados à linguagem. Tais problemas/questionamentos procuram ser explicados. A linguística também possui áreas interdisciplinares, tais como a sociolinguística, a psicolinguística, a linguística textual e a análise do discurso.

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TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

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2.1 NÍVEIS LINGUÍSTICOS

A seguir serão apresentadas diferentes perspectivas sobre o funcionamento da linguagem. Ainda que, ao realizar as análises, costuma-se dar ênfase a um item por vez, ainda assim, esses itens contribuem para uma análise mais ampla da linguagem quando abordados um a um.

2.1.1 Fonética

A fonética estuda os sons como entidades fisicoarticulatorias isoladas. Para Silva (2001, p. 23), a fonética é a “ciência que apresenta os métodos para a descrição, classificação e transcrição dos sons da fala, principalmente aqueles sons utilizados na linguagem humana”.

Ao serem comparadas entre si, essas entidades são reconhecidas por traços distintivos – intensidade na produção, ou ponto de articulação na boca, por exemplo. Sons aparentemente semelhantes irão se diferenciar quando analisados cautelosamente em sua composição, podendo ser somente a posição da língua ou ser ou não nasalizado o item distintivo.

FIGURA 1 – FONÉTICA

FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/artigos/a-fonetica-estuda-os-sons-produzidos-em-uma-lingua-5a059d9420a26.jpg?i=http://brasilescola.uol.com.br/upload/conteudo/images/a-

fonetica-estuda-os-sons-produzidos-em-uma-lingua-5a059d9420a26.jpg>. Acesso em: 27 jun. 2019.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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Esses itens costumam ser bastante estudados por professores alfabetizadores, por exemplo. No caso das nasais, ensinam seus alunos a colocar a mão no nariz observando que este “treme” ao ser produzido algum som nasalado, como o caso das palavras terminadas em “ão”. A fonética, portanto, em muito pode contribuir com os estudos das línguas, auxiliando os menos experientes no reconhecimento das distinções. Em alguns casos em que as crianças apresentarem muitas dificuldades, o professor reconhece a necessidade de encaminhar a criança a outra ajuda especializada, como de um fonoaudiólogo. Este poderá examinar se de fato se trata de alguma dificuldade em distinguir os sons ou de algo além, que requeira uma análise mais demorada do caso. Calou e Leite (1990 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 17) afirmam que:

A fonética tem por estabelecer um conjunto de traços, ou propriedades, que possam descrever todos os sons utilizados na linguagem humana. Assim à fonética cabe descrever os sons da linguagem e analisar suas particularidades articulatórias, acústicas e perceptivas.

Os especialistas reconhecem que o aparelho fonador, composto pelos órgãos fonadores – responsáveis pela formação dos sons do interior do corpo humano, desde o pulmão, até o exterior, os lábios – relacionam-se em harmonia, formando um maravilhoso balé ao elaborar cada um dos sons. Cada um dos sons da fala recebe um símbolo, esse é chamado de fonema. A organização desses fonemas forma o sistema coerente que é compartilhado entre os falantes de uma mesma língua.

DICAS

Em uma busca rápida pela internet, usando o Google ou o YouTube, é possível encontrar videoaulas sobre:

• aparelho fonador;• órgãos fonadores;• pregas vocais;• cordas vocais em funcionamento; entre outros.

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TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

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2.1.2 Fonologia

FIGURA 2 – FONOLOGIA

FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/upload/conteudo_legenda/142815fbc6828c3b953f49dde475c459.jpg>. Acesso em: 27 jun. 2019.

A fonologia estuda os sons do ponto de vista funcional como elementos que integram um sistema linguístico determinado. Os mesmos autores, Callou e Leite (1990, p. 11 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 17), definem fonologia como

À fonologia cabe estudar as diferenças fônicas intencionais, distintas, a de significados e, além disso, estabelecer como se relacionam entre si os elementos de diferenciação e as condições em que se combinam uns com os outros para formar morfemas, palavras e frases.

Podemos então entender que a fonética tem por unidade o som que forma a fala ou o fone, já a fonologia tem como unidade o fonema. É natural que áreas do conhecimento sejam divididas em subáreas; a razão desse fenômeno é o fato de surgir necessidade de explicação de novos fenômenos. Para eles, surgem novos focos, novas teorias e abordagens que procuram analisar e compreender os fenômenos que antes não eram reconhecidos. Quem fez a separação da fonética da fonologia foi N. S. Troubetzkoy. A Fonética passou a ter como foco os sons da fala do ponto de vista articulatório, acústico e auditivo, enquanto a Fonologia ocupou-se dos sons relativos ao sistema da língua: os morfemas, as sílabas, palavras, frases – realizando a descrição desses itens e seus funcionamentos.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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Dois fatos sobre a Fonologia:

1) Em 1928 ocorreu o Congresso Internacional de Linguistas, reunidos em Haia, entre 10 e 15 de abril daquele ano. Nele, os linguistas russos N. S. Troubetzkoy, R. Jakobson e S. Kartzevski, a partir de uma pergunta realizada no evento, apresentaram o delineamento de uma nova disciplina, a Fonologia. A pergunta interrogava sobre o melhor método de analisar de forma prática a gramática de uma língua.

2) N. S. Troubetzkoy morreu em Viena em 1938. Sua obra foi publicada de forma póstuma, mais especificamente em Praga, em 1939. A obra é intitulada “Princípios de Fonologia” (Grundzüge der Phonologie) (ROSETTI, 1974).

UNI

A forma sistemática como a língua organiza os sons é objeto da fonologia. As sílabas, os morfemas, as palavras e as frases se organizam de determinadas maneiras e, ao mesmo tempo, há a relação entre a mente e a língua – essa é a forma que a comunicação é possível. Por essa razão há a comunicação entre duas pessoas – por esses sistemas. Os sons são meios de veiculação de significados. Quem ouve não reconhece apenas sons, mas cada som desempenha uma função na língua (BISOL, 1999).

2.1.3 Morfologia

Podemos aqui dizer que morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras, da formação e da classificação delas. Quadros e Karnopp (2004, p. 19) afirmam que:

Uma das questões que a morfologia busca responder é: o que nós sabemos quando conhecemos uma palavra? Há vários tipos de informação que são necessários para identificação e compreensão de uma palavra, por exemplo, a informação fonética\fonológica (dominar a pronúncia, os sons, a sequência dos sons), a informação morfológica (saber como o plural se forma, como o gênero é marcado, perceber as relações entre as palavras), a informação sintática (saber onde a palavra se encaixa na estrutura), a informação semântica (compreender o/os significado (s) da palavra).

Os estudos da morfologia são muito amplos. A etimologia da palavra “morfologia” aponta a origem nas formas gregas morphê (forma) e logos (estudo). Trata-se, portanto, do estudo da forma. Ao realizarmos uma busca em dicionários, temos: estudo da estrutura, da formação e da classificação das palavras.

Vamos ver o caso das palavras a seguir:

PEDRARIAPEDREIROAPEDREJAREMPEDRAR

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TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

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É possível perceber que eles possuem um elemento em comum, “pedr”. Quando estudamos a morfologia, observamos que dependendo da terminação, alteramos o significado da palavra, como no caso de “pedraria” e “pedreiro” – o segundo, remetendo a uma profissão.

O radical é o morfema básico (morfema é a menor unidade de significação), no exemplo acima, é “pedr”. Os outros morfemas que se unem ao radical são chamados de afixos. Estes podem ser divididos em prefixos (antes do radical) e sufixos (depois do radical).

Em Pedr ArPrefixo Radical Sufixo

Ainda, por meio do estudo da morfologia, apenas para citar alguns outros casos, podem ser estudados (as): a marcação de gênero (masculino/feminino), número (singular/plural); quanto aos estudos dos verbos, observamos o tempo, modo, número e pessoa; também observamos as formas no infinitivo, gerúndio e particípio, entre outras análises possíveis.

A morfologia, como observado, é um dos olhares investigativos para a linguagem.

2.1.4 Sintaxe

FONTE: <https://s.dicio.com.br/sintaxe.jpg>. Acesso em: 4 fev. 2019.

FIGURA 3 – SINTAXE

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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A sintaxe estuda a estrutura da frase, a combinação das unidades significativas da frase. A sintaxe “trata das funções, das formas e das partes do discurso. É a parte da linguística que estuda a estrutura interna das sentenças e a relação interna entre as suas partes” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 20).

No início apresentamos o termo estrutura, isso quer dizer que a estrutura sintática envolve restrições que estão nas sentenças de uma língua para que esta língua consiga ser organizada de uma determinada maneira.

As línguas apresentam certas restrições que determinam a ordem das palavras em uma sentença. No português e na língua de sinais brasileira, a ordem básica das sentenças é sujeito-verbo-objeto (SVO). Isso não significa que esta ordem não possa ser mudada, apenas que ela existe como elemento da estrutura sintática dessas línguas (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 21).

Vamos a alguns exemplos da ordem básica acima citada: sujeito-verbo-objeto (SVO).

Ela Gosta De chocolatesSujeito Verbo Objeto

Eu Quero comer Pipoca

Sujeito Verbo (s)

(auxiliar + verbo principal)

Objeto

Júlia Ama PedroSujeito Verbo Objeto

Na disciplina de Língua Portuguesa, muitos termos da análise sintática são considerados o “terror” dos alunos. As terminologias não são agradáveis a eles, muitos inclusive não reconhecem a função de estudar tal conteúdo. Por vezes, a análise sintática é trabalhada apenas como forma de decorar metalinguagem (termos complexos), deixando o docente de construir o sentido desses estudos: escrever melhor, ler e entender frases complexas.

Ao reconhecer o sujeito de uma frase, por exemplo, podemos passar a ter a interpretação de texto que antes eu não teria caso não fosse capaz de identificar o sujeito. Muitos termos que virão após no andar de uma frase ou das frases seguintes retomam o sujeito, só que por meio de outros elementos como por meio de pronomes (ele, ela, esse, essa, aquele, aquela, entre outros). A análise sintática possui sim sua validade – se bem trabalhada, levando o aluno a compreender sua relevância, poderá trazer benefícios à leitura, à escrita e à compreensão dos textos.

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TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

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DICAS

São muitos os elementos estudados em análise sintática. Vale a pena realizar um estudo aprofundado dos termos. Um dos elementos estudados é chamado de conjunção. A conjunção estabelece relações entre orações. Essas conjunções não somente são utilizadas para realizar a classificação sintática. As orações que utilizam conjunções são chamadas de “sindéticas” e, a partir da presença de uma ou outra conjunção, elas recebem diferentes nomenclaturas. Exemplo:

• as orações coordenadas sindéticas aditivas geralmente apresentam a conjunção “e”. Exemplo: “Discutimos várias propostas e analisamos possíveis soluções”.

• as orações coordenadas sindéticas adversativas geralmente são ligadas pelas conjunções: mas, porém, contudo, todavia, entretanto.

Existem ainda as orações alternativas, as conclusivas e as explicativas que utilizam outras conjunções. Vale ressaltar que algumas orações são ligadas (coordenadas) por outras conjunções ou ainda por meio de locuções. Observação: a linguagem formal pede que as orações sejam adequadamente ligadas por conjunções ou locuções adequadas. Contudo, na linguagem informal, por vezes, alguma locução é utilizada em lugar de outra (mantendo o mesmo valor semântica àquela oração. Exemplo:

• nadamos, nadamos, nadamos e não saímos do lugar.

Em tal exemplo, a linguagem formal pediria “mas não saímos do lugar”. Trata-se de um fenômeno comum na língua, quando tratamos da linguagem informal: mudança de conjunção quando não ocorre alteração semântica (a mensagem essencial ainda pode ser entendida.Em linguagem formal, ainda em relação ao exemplo acima, é adequado que o “e” seja substituído por “mas”.

Alguns termos que fazem parte dos estudos sintáticos da língua portuguesa são: sujeito, sujeito indeterminado, sujeito oculto, oração sem sujeito, verbo transitivo (direto, indireto, direto e indireto), verbo intransitivo, complemento nominal, agente da passiva, entre outros. Todos eles demonstrando a relação que os termos estabelecem uns com os outros.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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2.1.5 Semântica

FIGURA 4 – SEMÂNTICA

FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-wsNm1YM84g8/VPhJ1-_yKkI/AAAAAAAAAcw/suRzWEGFdWs/s1600/SEMANTICA.jpg>. Acesso em: 29 jun. 2019.

Há um universo de palavras. Esse universo precisa ser explorado e analisado. Veja a figura a seguir:

FIGURA 5 – SEMÂNTICA – PLANTA

FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-1bY4pBgcX3I/WYvASeYFkYI/AAAAAAAAAQI/NBAWJGOGMnokX1wqlKVHQryxYQzSlhSbwCLcBGAs/s320/FI-Sem%25C3%25A1nticannn.jpg>.

Acesso em: 28 jun. 2019.

Aqui temos dois falantes da língua que, ao estarem diante da palavra “planta”, evocam em suas memórias dois sentidos possíveis, socialmente construídos. Vamos entender brevemente essa área de estudo da linguagem.

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TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

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O termo “utente”, segundo o Dicionário on-line de Português, corresponde a um substantivo masculino e feminino: usuário; pessoa que faz uso de alguma coisa; quem se serve ou desfruta de algo.

FONTE: <https://www.dicio.com.br/utente/>. Acesso em: 18 mar. 2019.

UNI

No próximo tópico, a semântica será abordada com maior profundidade. Nesta etapa de estudo, o objetivo é diferenciar as perspectivas e formas de observar a linguagem. A partir de cada perspectiva, avançamos mais no conhecimento linguístico; ampliamos um pouco mais o nosso olhar ao realizar cada um desses estudos.

Segue uma representação de como as áreas acrescentam uma em relação às outras, ampliando a visão sobre a linguagem.

FONTE: <https://luconcursos.blogspot.com/2017/04/morfologia-x-sintaxe-x-semantica-para.html>. Acesso em: 28 jun. 2019.

FIGURA 6 – MORFOLOGIA

A semântica, como citado brevemente na Unidade 1, é o estudo do significado. É a parte da linguística que estuda a natureza do significado individual das palavras e do conjunto das palavras na sentença. Para Quadros e Karnopp (2004, p. 22)

o significado ou significados de uma expressão linguística apresentam características comuns compartilhadas entre os utentes de uma língua. Uma descrição semântica poderá ser feita ao nível da palavra, da frase e, ainda, do discurso.

Page 72: Semântica e Pragmática daS LínguaS

UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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2.1.6 Pragmática

A pragmática também pode acrescentar muito aos estudos sobre a linguagem, acrescentando, trazendo novos elementos.

FIGURA 7 – PRAGMÁTICA

FONTE: <https://s.dicio.com.br/pragmatica.jpg>. Acesso em: 28 jun. 2019.

A pragmática é o estudo da linguagem, é o uso do contexto e dos princípios de comunicação. Essa definição é considerada tradicional; no entanto, vale registrar que há várias tendências ao definir-se a área de pragmática. Levison (1983 apud QUADROS; KARNOPP, 2004) aborda algumas definições dadas à pragmática. A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto.

Para Quadros e Karnopp (2004, p. 22-23)

A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto. É uma área que inclui os estudos da dêixis (utilização de elementos da linguagem através da demonstração – indicação –, que envolve basicamente os pronomes), das pressuposições (inferências e antecipações com base no que foi dito), dos atos de fala (como se organizam os atos de fala e quais as condições que observam), das implicaturas (as coisas que estão subentendidas nas entrelinhas, incluindo o significado que não foi dito explicitamente) e dos aspectos da estrutura conversacional (a estrutura das conversas entre duas ou mais pessoas e a organização da tomada de turnos durante a conversação).

Para ficar mais claro o texto acima apresentado, daremos um exemplo do que seria implicatura.

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TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

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–– Você tem horas?–– Nove e trinta.

Neste momento, vamos realizar uma análise no seguinte sentido:

Ninguém responde a pergunta em (a) com um ‘sim’. Mas com a hora. Isso acontece porque os falantes implicam que ao ser realizada tal pergunta quer-se obter a informação referente à hora e não ao fato de ter ou não o relógio. Esse é um exemplo de como o significado ultrapassa as fronteiras do que realmente foi dito (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 23).

Podemos perceber com estas leituras e com as pesquisas destes autores que a pragmática procura resolver as estratégias, as formas, as dúvidas e as estruturas que são acionadas pelos usuários de uma língua.

DICAS

Caro acadêmico, em seus estudos, você pode acessar o link a seguir: <https://www.youtube.com/watch?v=qxSlL884fu8> e assistir à um vídeo com uma explicação simples, porém esclarecedora, do que é pragmática. Ele está em Libras e possui legendas. Bons estudos.

Acadêmico, nesta etapa, o objetivo é observar que existem diferentes perspectivas ao estudar a linguagem. Faz-se relevante reconhecer essas diferentes perspectivas. Ao abordar cada uma delas, ganhamos muito em análise de textos – da mesma maneira, podemos contribuir com a compreensão de leitores menos experientes que nós. Adiante, voltaremos a falar de pragmática.

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RESUMO DO TÓPICO 1Neste tópico, você aprendeu que:

• A linguística possui diferentes perspectivas e objetos de investigação.

• Analisando as áreas, pode-se observar quanto tal ciência acaba contribuindo com outras áreas do conhecimento.

• A linguística é uma ciência que busca respostas para problemas essenciais relacionados à linguagem que precisam ser explicados.

• Cada uma das áreas de estudo precisa de um estudo vagaroso e atenciosos e que eles se completam na compreensão de uma língua.

• Fonética é a ciências que estuda os sons como entidades fisicoarticulatorias isoladas.

• Fonologia estuda os sons do ponto de vista funcional como elementos que integram um sistema linguístico determinado.

• Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras, dos elementos que se combinam para formarem uma palavra, quanto a número, gênero tempo e pessoa.

• Sintaxe trata das funções, das formas e das partes do discurso. É a parte da linguística que estuda a estrutura interna das sentenças e a relação interna entre as suas partes.

• Semântica é o estudo do significado da palavra na sentença, é a parte da linguística que estuda a natureza do significado individual das palavras e do conjunto das palavras na sentença.

• Pragmática é o estudo da linguagem, é o uso do contexto, e dos princípios de comunicação.

• A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto.

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AUTOATIVIDADE

Caro acadêmico! Propomos aqui algumas atividades que ajudarão você a compreender melhor o tópico.

1 Quando falamos das áreas da linguística, observamos que elas são:

I- Fonética. II- Fonologia.III- Morfologia.IV- Sintaxe. V- Semântica.VI- Pragmática.

Agora elenque-as de acordo com a área que elas estudam.

( ) Estuda os sons do ponto de vista funcional dos elementos.( ) Estuda a estrutura das palavras.( ) Estuda a linguagem, em uso, em contexto é um dos princípios de

comunicação. ( ) Estuda a estrutura da frase.( ) Estuda o significado da palavra e da sentença.( ) E estuda os sons como entidades fisicoarticulatorias isoladas.

De acordo com a ordem, assinale a alternativa CORRETA:a) ( ) I, III, II, V, VI, IV.b) ( ) III, II, I, VI, IV, V.c) ( ) III, II, IV, V, VI, I.d) ( ) II, III, VI, IV, V, I.e) ( ) I, II, III, IV, V, VI.

2 (QUESTÃO ENADE 2011)

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A conjunção é um fator indicativo da natureza das relações entre orações. Quando se trata de conjunções coordenadas, pode-se falar não só de uma classificação sintática, mas de um valor semântico subjacente que estabelece o vínculo das orações. Dessa forma, é correto afirmar que a conjunção coordenativa presente no quadrinho:

a) ( ) Funciona com valor de explicação e justifica o sentido tanto da primeira quanto da segunda oração.

b) ( ) Tem valor semântico de soma, pois agrega duas orações sem estabelecer relações semânticas entre elas.

c) ( ) Funciona com valor adversativo nas ideias expressas na sentença e poderia ser substituída por uma conjunção dessa natureza.

d) ( ) Funciona com valor expletivo e pode ser extraída das sentenças sem alteração no modo de conexão sintática e semântica do período.

e) ( ) Funciona como elo conclusivo entre as ideias contidas nas orações e expressa a conclusão a que chegou um dos personagens do quadrinho.

3 (QUESTÃO ENADE 2014)1 Vizinho

2 Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou

3 a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria

4 visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou

5 desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o

6 senhor ainda teria ao seu lado a lei e a polícia. Quem trabalha dia inteiro tem direito ao repouso noturno

7 e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao

8 903 dormir quando 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos

9 reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a

10 leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao alto pelo 1103

11 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu

12 e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos

13 agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das

14 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa

15 (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21h 45, e explicarei: o 903 precisa repousar das

16 22 às 7, pois às 8h 15 deve deixar o 783 para tomar o 109, que o levará até o 527 de outra rua, onde ele

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Em relação à crônica de Rubem Braga, avalie as seguintes afirmações a seguir.

I- Na linha 13, o modalizador “sinceramente” atribui valor de verdade ao enunciado, ao mesmo tempo em que marca a subjetividade e contribui para a construção da ironia, que permeia todo o texto.

II- Nas linhas 18 e 19, o operador argumentativo “mas” é empregado com funções diferentes nos trechos “não incomoda outro número, mas o respeita” e “Mas que seja permitido sonhar”. Na segunda ocorrência, funciona como reorientador argumentativo, quando o locutor, embora admitindo a realidade, passa a valorizar outra mais ideal e pertinente a seu modo de conceber as relações interpessoais.

III- Na linha 5, o autor usou o operador argumentativo “e”, no trecho “Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão”, para produzir o efeito de reforço das expectativas geradas no conteúdo do enunciado anterior, o que mantém a força argumentativa construída e marca a resignação do locutor em face da realidade vivida.

É CORRETO o que se afirma em:a) ( ) I, apenas.b) ( ) III, apenas.c) ( ) I e II.d) ( ) II e III.e) ( ) I, II e III.

BRAGA, R. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 1978

17 trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável

18 quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus

19 algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio. – Mas que me seja permitido sonhar com outra

20 vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da

21 manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou”. E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu

22 pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e

23 a lua é bela”. E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho

24 entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o

25 dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

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TÓPICO 2

SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

DAS LÍNGUAS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃOCaro acadêmico! Já foram citadas várias vezes as palavras semântica e pragmática.

Neste tópico falaremos especificamente de cada uma das áreas da linguística.

Vamos estabelecer as bases para a compreensão destes componentes do sistema linguístico, pensando que a semântica e a pragmática são imprescindíveis para a compreensão dos estudos, e tem grande relação aos estudos das línguas. Será um tópico um pouco mais teórico, porém necessário para podermos adentrar na próxima unidade.

2 SEMÂNTICA

DICAS

Neste momento, acadêmico, você pode pesquisar mais sobre o conceito de “dialeto”. Por meio dele, podemos entender que, de região para região, temos as variedades linguísticas.

Para saber mais sobre essas variedades, busque os seguintes conceitos:

• variação diatópica;• variação diastrática.

Alguns autores falam ainda em variação diafásica.

Seguem algumas contribuições sobre variações ou variedades linguísticas:

A variação geográfica ou diatópica está relacionada às diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre falantes de origens geográficas distintas. A variação social ou diastrática, por sua vez, relaciona-se a um conjunto de fatores e que têm a ver com a identidade dos falantes e também com a organização sociocultural da comunidade de fala (MUSSALIN; BENTES, 2006, p. 34).

Falaremos então da semântica, a semântica é a parte da linguística que estuda a natureza dos significados individuais das palavras e do agrupamento das palavras na sentença. Vale ainda reconhecer que essa natureza pode apresentar variações regionais e sociais nos diferentes dialetos de uma língua.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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Ainda, vale compreender

Todos os aprendizes devem ter acesso às variedades linguísticas urbanas de prestígio, não porque sejam as únicas formas “certas” de falar e de escrever, mas porque constituem, junto com outros bens sociais, um direito do cidadão, de modo que ele possa se inserir plenamente na vida urbana contemporânea, ter acesso aos bens culturais mais valorizados e dispor dos mesmos recursos de expressão verbal (oral e escrita) dos membros das elites socioculturais e socioeconômicas (BAGNO, 2008, p. 16).

Cagliari (2007, p. 83) acrescenta:

Para o aluno, o respeito às variedades linguísticas muitas vezes significa a compreensão do seu mundo e dos outros. Um aluno na escola não pode chegar à conclusão que seus pais são “burros” porque falam errado, não pode achar que as pessoas de sua comunidade são incapazes porque falam errado, não têm valor porque falam errado, ao passo que a cultura só está com quem fala o dialeto padrão, que a lógica do raciocínio só pode ser expressa nessa variedade linguística, que o bom, belo e perfeito só pode ser expresso através das “palavras bonitas” do dialeto-padrão.

Voltando à semântica...

A semântica pode ser definida como “a subdivisão da linguística que desenvolve seus estudos – das manifestações linguísticas do significado, ou seja, dos sentidos – tomando como base a seguinte concepção geral” (FERRAREZI JÚNIOR, 2008, p. 24). Qual concepção geral seria essa? A de que “uma língua natural é um sistema de representação do mundo e de seus eventos. Para poder fazer isso, uma língua usa sinais cujos sentidos são especializados em um contexto [...]” (FERRAREZI JÚNIOR, 2008, p. 24). A semântica, portanto, é considerada o estudo do sentido das palavras.

Para Quadros e Karnopp (2004) é válido reconhecer que o utente da língua pode incluir o literal e o não literal das expressões que é o caso das ironias e das metáforas. O significado ou significados são compartilhados entre os falantes/utentes da língua. Assim, a “descrição semântica poderá ser feita ao nível da palavra, da frase e, ainda, do discurso” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 22).

A partir dos estudos semânticos, poderemos reconhecer a presença de ambiguidade; vejamos:

No nível lexical, a palavra manga pode significar uma parte do vestuário ou uma fruta. No nível da frase, há a ambiguidade estrutural, em que uma sentença do tipo “O João disse a Pedro que sua mulher foi para o hospital” apresenta dois significados possíveis: sua mulher refere à mulher de Pedro ou à mulher de João. No nível do discurso, os termos “ele”, “essa”, “seu” podem ser ambíguos (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 22).

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TÓPICO 2 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

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Essas pequenas confusões podem ser desfeitas ou evitadas a partir dos estudos da semântica. Por essa razão, faz-se necessário estudarmos conceitos que são relevantes à Semântica.

No nível da palavra, temos a antonímia e a sinonímia entre outros aspectos analisados pela semântica. Vejamos o que Quadros e Karnopp (2004, p. 22) afirmam:

As oposições observadas entre pares de palavras como “bonito” e “feio”, “quente” e “frio”, bem como as similaridades que aproximam o significado de diferentes palavras, tais como “belo” e “bonito”, são exemplos de antonímia e sinonímia, respectivamente. Os traços que identificam cada palavra parecem coincidir ou não, provocando tais aproximações e oposições entre os significados de diferentes palavras. A semântica busca conhecer e definir tais traços. As sentenças também podem ser consideradas sinônimas. Por exemplo: “O assaltante atacou o João” e “O João foi atacado pelo assaltante” apresentam significados equivalentes. Enfim, a semântica busca desvendar as propriedades do significado nos diferentes níveis da expressão.

Analisar sentenças a partir dos estudos da semântica pode, portanto, contribuir em muito com a compreensão delas – ou na busca por evitar construções que possam vir a causar algum problema interpretativo.

2.1 ANTONÍMIA

A antonímia é a relação estabelecida entre duas ou mais palavras que apresentam significados diferentes, contrários, sendo então, os antônimos. Ocorre a oposição de significados. Vale ressaltar que esses sempre devem ser analisados dentro de um contexto.

A língua portuguesa é repleta de léxicos que, entre eles, podemos estabelecer relações de oposição. Esses vocábulos podem ser de inúmeras naturezas, tais como: qualidades, valores, sentimentos, estados de alma, dimensões, processos reversivos, entre outros. Exemplos: bonito/feio, bom/ruim, feliz/triste, quente/frio, rápido/devagar.

Analisar esse tipo de relação é relevante não só para os falantes de uma língua, mas também para o desenvolvimento de uma postura analítica em relação àquela língua que se pretende dominar ainda mais, indo a outros níveis de compreensão e de uso.

A relação mais comum entre os termos é a de complementariedade (LYONS, 1979). A partir de tal relação (de complementariedade), veja a abordagem dada por (SILVA; SANT’ANNA, 2009, p. 36).

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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A primeira pode ser definida por uma relação que se estabelece entre pares de palavras como solteiro e casado. Além disso, a complementaridade acrescenta a tais pares de unidades lexicais o fato de que a negação de um implica a afirmação do outro e a afirmação de um implica a negação do outro.

Exemplo: “João não é casado” implica “João é solteiro”. “João é casado” implica “João não é solteiro”.

Embora ocorra normalmente o fato de que a negação de um implica a afirmação do outro, é em geral possível “anular” uma ou ambas as implicações.

Exemplo: “João é casado e solteiro”.

Ainda, os antônimos podem apresentar outro tipo de relação (LYONS, 1979). Esta é chamada da relação “antonímia” propriamente dita. Seguem mais alguns exemplos a partir das autoras Silva e Sant’Anna (2009, p. 36):

O segundo tipo de oposição que o autor apresenta é a antonímia propriamente dita. O que caracteriza os antônimos dessa classe é o fato de poderem ser regularmente graduáveis. E a comparação entre eles pode ser explícita ou implícita.

As frases explicitamente comparativas podem ser de dois tipos:

• Duas coisas podem ser comparadas em relação a certa “propriedade”. Ex.: Nossa casa é maior que a sua. • Dois “estados” da mesma coisa podem ser comparados em relação à

“propriedade” em questão. Ex.: Nossa casa é maior do que era.

Na comparação entre antônimos implicitamente graduados, a negação de um de um termo antonímico não implica a afirmação do outro.

Ex.: “Nossa casa não é grande” não implica “Nossa casa é pequena”.

Os antônimos grande e pequeno não se referem a qualidades independentes e opostas; são simples recursos lexicais de gradação. Assim, o item grande é relativo; perde toda a sua significação quando privado de sua conotação mais do que e menos do que; significa qualquer tamanho tomado como ponto de partida; esse ponto varia de acordo com o contexto.

Por fim, ainda pode-se estabelecer outro tipo de relação. Esta é chamada de reciprocidade (LYONS, 1979). Silva e Sant’Anna (2009, p. 37) trazem um exemplo:

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TÓPICO 2 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

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A reciprocidade, por fim, é a relação em que os termos opostos estão em permuta assimétrica: pai/filho (se A é pai de B, então B é pai de A).

Ex.: “Certa ocasião perguntaram a Sérgio Buarque de Holanda se o Chico Buarque era filho dele e ele respondeu:

- Não, o Chico não é meu filho, eu é que sou o pai dele”. (PINHEIRO, Liliana. O Estado de São Paulo, 25.12.94, B1).

2.2 SINONÍMIA

Sinonímia: palavras que têm relação entre si, com significado semelhante. Exemplos: preto – negro, bonito – lindo, aquele menino é veloz – aquele menino é rápido.

Dois termos são considerados sinônimos quando há a possibilidade de substituir um pelo outro, sem haver qualquer alteração do sentido pretendido. O autor irá julgar se é passível de substituição ou não, sempre dentro de um contexto. Aqui novamente o contexto é essencial em qualquer análise – seja por parte do autor, ao analisar termos quando ele deseja escrever da forma mais adequada possível, seja o leitor, quando este analisa um texto e toda a carga semântica de palavras e frases. Este pode procurar substituir mentalmente termos por outros sinônimos inclusive com o objetivo de compreender em profundidade a mensagem ou, muitas vezes, a carga emocional pretendida pelo autor (em textos poéticos, por exemplo, faz-se necessária uma análise procurando entender as afirmações e interrogações do poeta pelas mais variadas perspectivas, extraindo do texto a riqueza de sentidos que é própria do universo da poesia.

Silva e Sant’Anna (2009) trazem o exemplo da palavra jovem e novo. Quando o assunto for uma pessoa, por exemplo, uma pessoa jovem, esse termo se torna sinônimo de “novo”. Ambas estabelecem uma relação de sinonímia. Ainda assim, não se pode dizer que esses termos sejam sinônimos perfeitos.

Nas palavras das autoras (SILVA; SANT’ANNA, 2009, p. 39): “No entanto, não existem sinônimos perfeitos, porque eles não são intercambiáveis em todos os contextos. Isto significa que no discurso, o enunciador pode tornar sinônimas palavras ou expressões que em outro contexto não o são”.

Analisar essas relações também se faz relevante ao se estudar uma língua – amplia o conhecimento linguístico e o domínio vocabular, o que aprimora tanto a oralidade, a escrita e a interpretação dos textos.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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3 PRAGMÁTICA A pragmática é o estudo da linguagem em uso e dos princípios de

comunicação, porém esta definição é considerada tradicional, pois há várias tendências ao se definir a área de pragmática.

Levinson (1983 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 22) aborda algumas

definições dadas à pragmática:

A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto. É uma área que inclui os estudos das dêixis (utilização de elementos da linguagem através da demonstração – indicação –, que envolve basicamente os pronomes), das pressuposições (inferências e antecipações com base no que foi dito), dos atos de fala (como se organiza os atos de fala e quais as condições que observam), das implicaturas (as coisas que estão subentendidas nas entrelinhas, incluindo o significado que não foi dito explicitamente) e dos aspectos das estruturas conversacional (a estrutura das conversas entre duas ou mais pessoas e a organização da tomada de turnos durante a conversação).

Um exemplo de implicatura seria o seguinte:

a) –– Você tem horas? –– Dez e vinte.

Já um exemplo de pressuposição pode ser o seguinte:

b) Carlos morreu em um acidente de carro. Essa informação pressupõe que “Carlos um dia estava vivo”, apesar de isso não estar dito explicitamente. A pragmática busca desvendar as estratégias, as formas, as intuições e as estruturas que são acionadas pelos utentes ao usarem a língua.

Conforme McCleary e Viotti (2009), a semântica e a pragmática interessam-se pelos conceitos produzidos na mente; sempre se relacionando a um signo linguístico já existente e produzido socialmente. Assim, por exemplo, sabemos que o conceito associado a palavras como “obeso” e “gordo”, nas sentenças (1) e (2), são semelhantes:

1) O Joaquim está a cada dia mais “obeso”.2) O Joaquim está a cada dia mais “gordo”.

Ou seja, tanto o uso da palavra “obeso” quanto o uso da palavra “gordo”, nas sentenças acima, nos levam ao conceito relativo de que alguém está fora do peso.

Assim também formamos o conceito quando ouvimos algo como uma

sentença igual (3), percebemos a semelhança ao conceito que formamos quando ouvimos uma sentença como (4):

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TÓPICO 2 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

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3) Márcia ainda acredita que João gosta dela. 4) Márcia continua achando que João gosta dela.

Agora vamos pensar em uma sentença como a seguinte (MCCLEARY;

VIOTTI, 2009):

5) A porta está aberta.

O que pensamos ao ouvir algo assim, não estando em contexto algum? Podemos formar o conceito de um objeto físico que serve para marcar o ponto de entrada e de saída de um determinado lugar, “sala” e que este objeto não impede a entrada e nem a saída de ninguém deste lugar, a “sala”.

Agora vamos pensar em outra situação. Uma professora está dando aula, e vários alunos não param de conversar e fazer muita bagunça, a professora pede várias vezes que os alunos fiquem quietos, porém eles a ignoram. Então a professora chama pelo nome os alunos que estão fazendo bagunça e diz: “ A porta está aberta”. Qual o significado dessa sentença nesse contexto? É diferente daquele que formamos na sentença (5), pois neste contexto “A porta está aberta” entendemos que a professora faz um pedido para que os alunos se retirem da sala.

Vamos agora pensar nesta mesma frase “A porta está aberta” em um outro contexto. Um professor está dando aula, a porta da sala está aberta, e do lado de fora tem alguém parado olhando para dentro da sala com ar de curiosidade, o professor bem simpático, olha para a pessoa do lado de fora da sala de aula e diz, com voz bem simpática, “A porta está aberta” e com certeza fazendo um gesto, analisando esta frase podemos perceber que o seu significado se mantém igual da anterior? Neste momento, observamos que não, afinal, o professor desta vez não está pedindo que alguém se retire da sua sala de aula, mas sim está convidando que alguém entre em sua sala de aula.

Agora podemos imaginar outro exemplo: o mesmo professor esforçando-se para dar sua aula, contudo, ele pode ouvir, do lado de fora, muito barulho. Lá podem ser ouvidas muitas pessoas passando e falando alto. O professor se vira para um aluno que está sentado bem ao lado da porta e fala, em tom de voz baixa: “A porta está aberta”. Neste caso, qual será o significado da sentença? Percebemos o seu significado uma de suas alunas levanta e fecha a porta: de fato, foi um pedido para que a porta fosse fechada.

Percebemos, então, que o uso do contexto dos signos linguísticos influi na construção de seu significado. Temos correntes teóricas que fazem separação entre o estudo do significado das expressões linguísticas quando estas expressões são analisadas fora do contexto de uso (da mesma forma que fizemos quanto apresentamos a sentença (5)), e o estudo do significado das expressões em situações de uso, assim (como fizemos quando apresentamos os três contextos de sala de aula, acima).

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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4 QUAL É A FINALIDADE DISSO TUDO?Antes de concluir o tópico, torna-se válida uma reflexão: qual o objetivo

de todos esses estudos da língua? Certamente não se trata de utilizar elementos para que os alunos decorem os termos. Essa postura em sala faz com que os alunos considerem sem sentido estudar uma língua. Eles se interrogam “por que isso tudo?”, ou, “qual a finalidade de estudar todos esses termos?” Esses tais termos complexos fazem parte da metalinguagem – a língua falando dela mesma, ou seja, utiliza-se termos para descrever a linguagem.

A metalinguagem é útil para compreendermos os elementos da linguagem, possibilitando melhor entendimento e levando o falante/autor a um outro nível de domínio das mais variadas formas de se comunicar. Se for com esse objetivo, sem dúvida os estudantes ganharão muito. Estudar a língua/linguagem para que possamos aplicá-la melhor, fazer escolhas mais conscientes tendo em vista as mais variadas ferramentas e as situações de comunicação. Nas palavras de Geraldi (1984, p. 89):

Uma coisa é saber a língua, isto é, dominar as habilidades de uso da língua em situações concretas de interação, entendendo e produzindo enunciados, percebendo as diferenças entre uma forma de expressão e outra. Outra coisa é saber analisar uma língua dominando conceitos e metalinguagem a partir dos quais se fala sobre a língua, se apresentam suas características estruturais e de uso.

Exatamente, nesse sentido é que fazem sentido os estudos da semântica, pragmática ou de qualquer área da linguística anteriormente apontada. É relevante sim falar sobre a língua; contudo, até mesmo falar sobre a língua precisa ter objetivos relacionados às habilidades de uso da língua em situações. Afinal, serão nessas variadas situações que nossos alunos irão se relacionar com a língua/linguagem; nas situações concretas e reais, sejam elas formais, informais, profissionais ou interpessoais.

Exatamente por se considerar essas mais variadas situações de comunicação é que, atualmente, tanto se fale em “gêneros discursivos” ou “gêneros textuais. Sabe-se que os textos são sempre situados em um dado momento, em uma situação mais formal (em universidades, ao preencher um documento em um departamento público, ao se fazer uma ata de uma reunião, ao se apresentar um trabalho acadêmico) ou informal (em relações interpessoais, entre amigos e familiares, em situações descontraídas e de lazer, ao escrever em um diário pessoal). Cada uma dessas situações interfere – ou deveria interferir – nas escolhas dos sujeitos ao utilizar a linguagem.

A quem deseja dar aulas – trabalhando com línguas e linguagens –, essa compreensão da existência dos mais variados gêneros textuais que circulam em sociedade torna-se essencial para a seleção desses materiais. Não somente utilizando gêneros de uma só natureza, mas diversificando, familiarizando os estudantes com esses materiais e as linguagens. Em cada um desses gêneros,

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TÓPICO 2 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

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analisando inúmeros aspectos – além dos já apontados até aqui –, podem ser analisadas questões relativas ao léxico (escolha lexical/vocabular), as construções sintáticas (como são feitas para construir uma argumentação, por exemplo), o uso de articuladores e modalizadores, enfim, quais as escolhas que o autor fez tendo em vista as intenções comunicativas e os sentidos pretendidos (efeitos de sentido). Dessa maneira, foge-se somente da memorização ou fixação de nomes complexos, buscando-se: sensibilização do olhar, ampliação da capacidade analítica, a compreensão de aspectos que podem ser aprimorados em sua própria escrita, entre outros.

Para compreender melhor o que são os contextos, temos que observar para além das clássicas interrogações:

• Quem escreveu o texto?• Para quem?• Em qual situação imediata?• Com quais propósitos?• Com quais estratégias?• Qual o tipo de registro selecionado (a linguagem empregada)?• Qual a região, idade, gênero, grau de instrução dos envolvidos?

Devemos olhar outros aspectos que envolvem a produção. Entre eles o contexto de circulação; ele é chamado de esfera discursiva ou, a partir de Marcuschi (2008), domínios discursivos. Tais domínios apresentam natureza própria que acaba interferindo nos gêneros textuais/discursivos produzidos em tal esfera/domínio. A seguir, estão elencados os domínios destacados pelo autor e os gêneros que costumam circular neles (MARCUSCHI, 2008, p. 194-196).

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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QUADRO 1 – DOMÍNIOS E SEUS RESPECTIVOS GÊNEROS

Domínios discursivos ESCRITA ORALIDADE

Instrucional(científico,

acadêmico eeducacional)

Artigos científicos; verbetes de enciclopédias; relatórios científicos; notas de aula; nota de rodapé; diários de campo; teses; dissertações; monografias; glossário; artigos de divulgação científica; tabelas; mapas; gráficos; resumos de artigos de livros; resumos de livros; resumos de conferências; resenhas; comentários; biografias; projetos; solicitação de bolsa; cronograma de trabalho; organograma de atividade; monografia de curso; monografia de disciplina; definição; autobiografias; manuais de ensino; bibliografia; ficha catalográfica; memorial; curriculum vitae; parecer técnico; verbete; parecer sobre tese; parecer sobre artigo; parecer sobre projeto; carta de apresentação; carta de recomendação; ata de reunião; sumário; índice remissivo; diploma; índice onomástico; dicionário; prova de língua; prova de vestibular; prova de múltipla escolha; diploma; certificado de especialização; certificado de proficiência; atestado de participação; epígrafe.

Conferências; debates; discussões; exposições; comunicações; aulas participativas; aulas expositivas; entrevistas de campo; exames orais; exames finais; seminários de iniciantes; seminários avançados; seminários temáticos; colóquios; prova oral; arguição de tese; arguição de dissertação; entrevistas de seleção de curso; aula de concurso; aulas em vídeo; aulas pelo rádio; aconselhamentos.

JORNALÍSTICO

Editoriais; notícias; reportagens; nota social; artigos de opinião; comentário; jogos; histórias em quadrinhos; palavras cruzadas; crônica policial; crônica esportiva; entrevistas jornalísticas; anúncios classificados; anúncios fúnebres; cartas do leitor; carta ao leitor; resumo de novelas; reclamações; capa de revista; expediente; boletim do tempo; sinopse de novela; resumo de filme; cartoon; caricatura; enquete; roteiros; errata; charge; programação semanal; agenda de viagem.

Entrevistas jornalísticas; entrevistas televisivas; entrevistas radiofônicas; entrevista coletiva; notícias de rádio; notícia de TV; reportagens ao vivo; comentários; discussões debates; apresentações; programa radiofônico; boletim do tempo.

RELIGIOSOOrações; rezas; catecismo; homilias; hagiografias; cânticos religiosos; missal; bulas papais; jaculatórias; penitências; encíclicas papais.

sermões; confissão; rezas; cantorias; orações; lamentações; benzeções; cantos medicinais.

SAÚDE receita médica; bula de remédio; parecer médico; receitas caseiras; receitas culinárias;

Consulta; entrevista médica; conselho médico.

COMERCIAL

rótulo; nota de venda; fatura; nota de compra; classificados; publicidade; comprovante de pagamento; nota promissória; nota fiscal; boleto; boletim de preços; logomarca; comprovante de renda; carta comercial; parecer de consultoria; formulário de compra; carta-resposta; comercial; memorando; nota de serviço; controle de estoque; controle de venda; bilhete de avião; bilhete de ônibus; carta de representação; certificado de garantia; atestado de qualidade; lista de espera; balanço comercial; instruções de montagem; descrição de obras; ordens.

publicidade de feira; publicidade de TV; publicidade de rádio; refrão de feira; refrão de carro de venda de rua.

INDUSTRIALinstruções de montagem; descrição de obras; código de obras; avisos; controle de estoque; atestado de validade; manuais de instrução;

Ordens.

JURÍDICO

contratos; leis; regimentos; estatutos: certidão de batismo; certidão de casamento; certidão de óbito; certidão de bons antecedentes; certidão negativa; atestados; certificados; diplomas; normas; regras; pareceres; boletim de ocorrência; edital de convocação; edital de concurso; aviso de licitação; auto de penhora; auto de avaliação; documentos pessoais; requerimento; autorização de funcionamento; alvará de licença; alvará de soltura; alvará de prisão; sentença de condenação; citação criminal; mandado de busca; decreto-lei; medida provisória; desmentido; editais; regulamentos; contratos; advertência.

tomada de depoimento; arguição; declarações; exortações; depoimento; inquérito judicial; inquérito policial; ordem de prisão.

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TÓPICO 2 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

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PUBLICITÁRIO

propagandas; publicidades; anúncios; cartazes; folhetos; logo marcas; avisos; necrológios; outdoors; inscrições em muros; inscrições em banheiros; placas; endereço postal; endereço eletrônico; endereço de internet.

publicidade na TV; publicidade no rádio.

LAZER piadas; jogos; adivinhas; histórias em quadrinhos; palavras cruzadas; horóscopo;

fofocas; piadas; adivinhas; jogos teatrais.

INTERPESSOAL

cartas pessoais; cartas comerciais; cartas abertas; cartas do leitor, cartas oficiais; carta-convite; cartão de visita; e-mail; bilhetes; atas; telegramas; memorandos; boletins; relatos; agradecimentos; convites; advertências; informes; diário pessoal; aviso fúnebre; volantes; lista de compras; endereço postal; endereço eletrônico; autobiografia; formulários; placa; mapa; catálogo; papel timbrado.

recados; conversações espontâneas; telefonemas; bate-papo virtual; convites;agradecimentos; advertências:avisos; ameaças; provérbios.

MILITAR ordem do dia; roteiro de cerimônia oficial; roteiro de formatura; lista de tarefas;

Ordem do dia.

FICCIONAL

épica - lírica - dramática; poemas; diários; contos; mito; peça de teatro; lenda; parlendas: fábulas; histórias em quadrinhos; romances; dramas; crônicas; roteiro de filme.

Fábulas; contos; lendas; poemas; declamações; encenação.

FONTE: Marcuschi (2008, p. 194-196)

Muito bem, acadêmico. Por meio dessa discussão, é possível perceber como o trabalho com língua e linguagem pode e deve ser diversificado. São inúmeros os contextos (esferas/domínios) de interação humana – ainda maior é o número de gêneros textuais existentes. Esses gêneros fazem parte de qualquer língua existente. Cada uma delas com suas próprias particularidades, exigindo dos seus falantes/usuários a análise do contexto e outros elementos para bem produzir textos e bem interpretar os textos produzidos.

Vale ressaltar que o quadro acima não pretende abarcar todos os gêneros que circulam nos determinados domínios. Há outros autores que podem nomear os domínios ou esferas de outras maneiras. Da mesma forma, podem destacar outros gêneros não apontados por Marcuschi (2008). Esse trabalho de pretender findar a discussão dos gêneros ou elencar todos os gêneros é tarefa quase impossível, tendo em vista que vivemos em uma época líquida, em que novas e novas formas de interagir por meio de gêneros surgem e seguirão surgindo.

Esperamos que tenham gostado! Até o próximo tópico!

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você aprendeu que:

• A semântica é a parte da linguística que estuda a natureza dos significados individual das palavras e do agrupamento das palavras na sentença que podem vir apresentar variações (dialetos).

• A palavra “utente”, segundo o dicionário on-line de Português é o substantivo

masculino e feminino, usuário; pessoa que faz uso de alguma coisa, quem se serve ou desfruta de algo.

• Temos também a ambiguidade e que pode ser encontrada em todos os níveis.

• No nível da palavra temos a antonímia e a sinonímia entre outros aspectos analisados pela semântica.

• A antonímia é a relação estabelecida entre duas ou mais palavras que apresentam significados diferentes, contrários, sendo então, os antônimos.

• A sinonímia corresponde a palavras que têm relação entre si, com significado semelhante.

• A pragmática é o estudo da linguagem em uso, e dos princípios de comunicação, porém esta definição é considerada tradicional.

• Há várias tendências ao se definir a área de pragmática.

• A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto.

• A semântica e a pragmática estudam os conceitos que construímos em nossas mentes quando estamos diante de um signo linguístico, seja ele uma palavra, uma sentença ou um texto.

• O uso do contexto dos signos linguísticos influencia na construção de seu significado.

• Temos correntes teóricas que fazem separação entre o estudo do significado das expressões linguísticas quando estas expressões são analisadas fora do contexto de uso.

• Torna-se essencial envolver os estudantes nos mais variados contextos de interação (esferas/domínios discursivos), exatamente para que eles leiam e produzam um variando número de textos orais e escritos. Essa é uma forma de desenvolver habilidades linguísticas no mundo atual.

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AUTOATIVIDADE

1 (QUESTÃO ENADE 2011) Desde o final da década de 1970, começou um forte questionamento sobre a validade do ensino da redação como um mero exercício escolar, cujos objetivos principais seriam observar e apontar, através de uma corre-ção quase estritamente gramatical, os “erros” cometidos pelos alunos. [...] Os alunos exercitariam uma forma escrita que raramente dialoga com outros textos e com vá-rios leitores.

BUNZEN, C. Da era da composição à era dos gêneros: reflexões sobre o ensino de produção de texto no ensino médio. In: BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. (Orgs.). Português no ensino médio e a formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006, p. 147.

Considerando o texto acima e a prática de redação em ambiente escolar, assinale a opção correta:

a) ( ) A moderna pedagogia linguística recomenda a prática da redação como estratégia de avaliação.

b) ( ) A redação escolar tem mantido identidade com outros gêneros textuais divulgados na escola.

c) ( ) É salutar que a produção de textos na escola abranja outras esferas da comunicação humana.

d) ( ) Nas produções de textos escolares, a função referencial da linguagem deve sempre ser priorizada como propósito comunicativo.

e) ( ) A redação escolar deve ser um exercício de escrita direcionado ao professor leitor.

2 (QUESTÃO ENADE 2014) Uma coisa é saber a língua, isto é, dominar as habilidades de uso da língua em situações concretas de interação, entendendo e produzindo enunciados, percebendo as diferenças entre uma forma de expressão e outra. Outra coisa é saber analisar uma língua dominando conceitos e metalinguagem a partir dos quais se fala sobre a língua, se apresentam suas características estruturais e de uso.

GERALDI, J. W. (Org.). O texto na sala de aula. Cascavel, Paraná: Assoeste/UNICAMP, 1984.

A partir do texto acima, avalie a adequação das seguintes propostas de construção de atividades de ensino de língua portuguesa.

I- O professor seleciona o gênero a ser trabalhado com a turma de acordo com seu interlocutor e seus objetivos de ensino. A partir da seleção, elabora uma série de atividades articuladas que possibilitem ao aluno interagir com o gênero discursivo, percebendo as características contextuais, textuais e linguísticas, e compreendendo como esses níveis em interação concorrem para a construção de sentido.

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II- O professor, a partir de determinado gênero discursivo, elabora situações que levem o aluno a perceber o uso efetivo da língua, a observar as escolhas lexicais, as construções sintáticas, o uso de articuladores e modalizadores, em função da interlocução e das intenções comunicativas, e os efeitos de sentido produzidos.

III- O professor seleciona um texto pertencente a determinado gênero discursivo previsto no programa. A partir disso, escolhe determinados elementos gramaticais nele recorrentes para, então, conceituá-los e criar exercícios de fixação, além de elaborar questões de leitura e de interpretação textual.

Assinale a alternativa que indica as afirmações que expressam atividade(s) de ensino adequada(s):

a) ( ) II, apenas.b) ( ) III, apenas.c) ( ) I e II, apenas.d) ( ) I e III, apenas.e) ( ) I, II e III.

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TÓPICO 3

AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃONeste tópico, falaremos da ambiguidade e da polissemia, conheceremos

estas duas questões, ambas são investigadas pela semântica. Veremos como o ser humano tem a habilidade de identificar e evitar a ambiguidade.

Também conheceremos a polissemia, saberemos que um termo pode apresentar significados distintos, tudo vai depender do contexto em que ele será usado. Ou seja, a semântica busca descrever as propriedades do significado em diferentes níveis de expressão.

2 AMBIGUIDADE O termo ambiguidade, na língua portuguesa, significa algo que pode vir

a ter mais de um significado ou sentido. A ambiguidade nos dá a impressão de indecisão, incerteza, indeterminação. A ambiguidade pode estar presente nas frases, nas palavras, expressões ou sentenças completas. Podemos dizer também que ambiguidade é a falta de clareza em uma expressão. Olhemos o exemplo a seguir:

“João disse ao pai que havia chegado”. (Quem havia chegada? João ou o pai?).

A ambiguidade pode se apresentar de duas formas:

2.1 AMBIGUIDADE ESTRUTURAL

A ambiguidade estrutural provoca ambiguidade por causa da posição das palavras em um enunciado, gerando uma má compreensão do seu significado. Veja no exemplo: “O computador se tornou um grande aliado do homem, mas esse nem sempre realiza todas as suas tarefas”. As palavras “esse” e “suas” podem se referir tanto ao computador, quanto ao homem, dificultando a direta intepretação da frase e causando ambiguidade.

2.2 AMBIGUIDADE LEXICAL

Ambiguidade lexical é quando uma determinada palavra assume dois ou mais significados, como acontece com a polissemia que veremos logo a seguir. Exemplo: “O rapaz pediu um prato ao garçom”. No exemplo, a palavra “prato” pode se referir ao objeto em que se coloca a comida ou a um tipo de refeição.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Então, na gramática, ambiguidade ou anfibologia é todo duplo sentido causado pela má construção da frase. A função da ambiguidade é sugerir significados diversos para uma mesma mensagem. É uma figura de palavra e de construção, embora funcione como recurso estilístico, a ambiguidade também pode ser um vício de linguagem, que decorre da má seleção da posição da palavra na frase, vindo a comprometer o entendimento do sentido pretendido.

ATENCAO

Quando falamos em figuras ou linguagem figurada, estamos abordando um recurso estilístico utilizado de forma consciente pelo autor. O autor realiza aquele jogo de palavras com algum propósito. De fato, a ambiguidade pode ser utilizada com o intuito de provocar a graça ou o humor – útil na realização de um poema, de uma crônica humorística ou, ainda, útil para chamar a atenção de um público na venda de um produto. O duplo sentido pode de fato ser, portanto, uma seleção, uma escola autoral. Porém, além dessa forma de ambiguidade, pode-se produzir textos com a presença de duplo sentido sem sequer o autor se dar conta que assim o fez. Quando é sem querer e sem perceber, chama-se de vício de linguagem – não se trata de uma escolha consciente, mas de um erro, de um equívoco que pode custar inclusive a má interpretação por parte de quem lê ou ouve a mensagem.

As figuras a seguir nos mostram diferentes ambiguidades.

FIGURA 8 – EXEMPLOS DE AMBIGUIDADE

FONTE: <https://d28wddiwk4qifq.cloudfront.net/2016/01/08154053/3-ambiguidade-3-638.jpg>. Acesso em: 28 jun. 2019.

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TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

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FIGURA 9 – EXEMPLOS DE AMBIGUIDADE

FONTE: <http://www.estudavest.com.br/sis_questoes/imagens/640176/2d7f10b4b629fd58f548adbbaa718758.png>. Acesso em: 9 jul. 2019.

FIGURA 10 – EXEMPLOS DE AMBIGUIDADE

FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/1c/da/5c/1cda5c7f7b9d88d11093129fecdbe13e.gif>. Acesso em: 9 jul. 2019.

FIGURA 11 – EXEMPLOS DE AMBIGUIDADE

FONTE: <https://d28wddiwk4qifq.cloudfront.net/2016/01/08152823/143-401x400.jpg>.Acesso em: 26 jun. 2019.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Nesses casos, a ambiguidade tem um propósito: criar o humor, a graça. Trata-se de textos que possuem o objetivo de deleitar o leitor. Construir o humor é o objetivo de tais textos. Por esse motivo, a ambiguidade faz parte de tais textos. Além disso, a própria ambiguidade deixa alguns personagens confusos – vê-los confusos é o motivo de o leitor achar engraçados os textos. Rimos imaginando a cena: irmos comprar um pastel, mordermos e dentro dele haver uma nota de um real em vez de algum recheio habitual como palmito ou carne. No caso criança que “vende o pôr do sol”, há um adulto que é feito de bobo por uma criança – quem não acha graça em uma criança sendo mais sagaz do que um adulto? É algo inesperado, surpreendente. Enfim, a ambiguidade possui grande efeito de humor nesses casos.

3 AMBIGUIDADE LEXICAL: POLISSÊMICA E HOMÔNIMAAmbiguidade é um fenômeno que ocorre nas línguas naturais, além de ser

um fenômeno bastante curioso. Trata-se das possibilidades de sentidos que uma determinada expressão linguística pode apresentar. As línguas podem apresentar duplo sentido por meio de vocábulos utilizados em sentenças orais e escritas – quando essas sentenças não contribuem para que esse duplo sentido seja desfeito ou, ainda, quando a situação, o contexto em que a sentença se dá não estiver claro o suficiente. Para Ullmann (1964 apud MARTINS; BIDARRA, 2011, p. 138),

A ambiguidade lexical pode ser homônima ou polissêmica. Homônima ocorre quando as palavras são iguais, mas apresentam significados diferentes e não há relações semânticas entre si. Polissemia diz respeito à variação de sentidos que uma mesma palavra pode ter, neste caso há relação semântica entre elas.

Considera-se, a partir dos autores aqui abordados, que existe maior complexidade nos casos polissêmicos que nos casos de homonímia. Por vezes, para desfazer o duplo sentido – processo de desambiguação (MARTINS; BIDARRA, 2011) –, faz-se necessário incluir outras informações (vocábulos ou sentenças) no intuito de esclarecer possíveis conflitos gerados pela informação dúbia.

ATENCAO

Dúbio é aquilo que está sujeito a diferentes interpretações; que é ambíguo; que pode haver mais de um sentido; que é difícil definir; que não tem limites determinados.

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TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

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3.1 POLISSEMIA

Polissemia é a propriedade da palavra de apresentar significados distintos que só podem ser explicados dentro de um contexto. A polissemia apresenta um grande número de significados em uma só palavra cujo significado dependerá do contexto em que a palavra está inserida. Vejamos os exemplos a seguir da palavra “cabo”.

Exemplo:

O lavrador quebrou o “cabo” da enxada.O navio contornou o “cabo” cuidadosamente.Aquele soldado será promovido a “cabo”.O marinheiro amarrou o “cabo” do navio no cais.Os sequestradores deram “cabo” do infeliz empresário.Ele nunca quis ser “cabo” eleitoral.Trocaram os “cabos” telefônicos da minha rua.

Segundo Almeida (2009), as expressões polissêmicas são resultado de processos

de extensão de significados que só podem ser explicados dentro de um contexto.

O que (01) e (02) significam?

Mulher

(01) (02)

Casa

FIGURA 12 - EXEMPLO 1 e 2

FONTE: As autoras

Agora, pensando, diga o que (01) e (02) significam.

Observou? Ao pararmos para pensar, verificamos que as palavras vão ganhando ainda mais significados. Na verdade, a razão para isso é que as palavras de fato já possuem inúmeros significados. Cada palavra é carregada de significações construídas ao longo da história pelas pessoas, nas relações, desde os primórdios da comunicação humana e do nascimento de novas línguas. Esses significados, quando nós paramos para refletir, começam a imergir a partir do conhecimento que cada um possui acerca daquele vocábulo/léxico, seja em uma língua que possui escrita ou em alguma língua que não.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Voltando à análise do que foi apresentado acima: (01) e (02) são exemplos do que chamamos de casos polissêmicos – que apresentam polissemia. Polissemia é uma característica de um signo.

DICAS

Não lembra o que é signo? Revise a primeira unidade. Lá você perceberá que o signo possui dois lados assim como uma moeda: o significado e o significante.

O signo possui muitos sentidos. Para ser polissêmico, ele precisa ter mais que um significado relacionado a ele. Ao usarmos as palavras, toda essa vida borbulhante de significados emerge – por isso o papel do autor ou do falante é sempre procurar organizar bem a comunicação para que ele mesmo não se perca nesses variados sentidos – vindo a dizer algo que nem pretendia ou, ainda, deixando seu leitor/interlocutor confuso, sem conseguir precisar o sentido pretendido.

Quanto à LIBRAS, no caso (01), acima representado, pode-se observar que existe certa relação semântica. Vejamos:

1) pessoa adulta do sexo feminino; 2) esposa; 3) homem afeminado.

Aqui podemos observar que os três sentidos apresentados são, de fato, diferentes entre si. Contudo, possuem algum valor semântico que os diferencia. Podemos observar que se trata de uma carga semântica que, em essência, trata-se de uma pessoa do gênero feminino ou com características femininas (padrão / semelhante ao feminino).

Semelhanças e diferenças de sentidos também ocorrem com (02).

Você pode se perguntar: e quanto ao contexto? Ele é útil ao realizamos estes estudos?

Sim, sem dúvidas!

As expressões polissêmicas são resultadas de processos de extensão de significados que só podem ser explicados dentro de um contexto (ALMEIDA, 2009). Não há como realizar uma análise semântica sem a compreensão do contexto de produção – outros fatores que ajudam a compreender o valor semântico dos vocábulos.

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TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

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Além disso, faz-se necessário estudar outras formas de estudar os vocábulos – outras formas de nos atentarmos para os sentidos possíveis dos vocábulos.

3.2 HOMONÍMIA

Outro fenômeno que podemos categorizar como sendo ambiguidade lexical é a homonímia. Homonímia é a relação de identidade formal entre pelo menos dois signos distintos, observe o Exemplo 3.

Assim, esclarecemos que, nas línguas orais, a origem é da mesma palavra (escrita ou som). No caso das línguas de sinais, a origem é do mesmo sinal.

FIGURA 13 - LARANJA/SÁBADO

FONTE: As autoras

Ao realizar uma análise da imagem, você poderia dizer que o valor semântico dela corresponde ao “fruto da laranjeira”. Tal resposta, de fato, seria uma leitura bastante pertinente. Contudo, ao estudar, você iria descobrir que ainda é possível apresentar a seguinte resposta: “sétimo dia da semana”. Também seria outra resposta muito boa.

Neste momento, surge a dúvida: o que semanticamente há de relação entre as duas compreensões possíveis – sétimo dia da semana e fruto da laranjeira?

Como não é possível estabelecer alguma relação entre os sentidos, diz-se que a forma na Figura 13 representa dois sinais distintos: sábado e laranja. Ainda que tenham a mesma forma(Figura 13), os seus sentidos, “fruto da laranjeira” e “sétimo dia da semana”, não podem ser relacionados entre si.

Aqui está um caso de uma sentença homônima: podemos interpretar tanto a Figura 14 como “eu gosto de sábado” quanto “eu gosto de laranja”. Vejamos:

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

FIGURA 14 - GOSTAR/SÁBADO/LARANJA

FIGURA 15 - EXEMPLO 1

FONTE: As autoras

A partir dos estudos, verificamos que a ambiguidade só existe uma vez que não há contexto. A partir da análise do contexto, poderemos observar quando a sentença afirma que gosta de sábado ou quando ela afirma que gosta de laranja. Por isso é essencial a presença do contexto na aprendizagem de qualquer língua – e claro, na análise de qualquer sentença em nossas rotinas, seja em relacionamentos interpessoais ou profissionais.

Neste momento, definindo melhor o contexto linguístico, tomamos

a Figura 13 para formar a Figura 15. Uma vez que outros elementos ajudam a construir o sentido pretendido, verificaremos que a interpretação adequada para (a Figura 14) será “Eu gosto de laranja”. Vejamos:

Gostar

TerPorque

Laranja

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TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

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FONTE: As autoras

Eu gosto de laranja porque tem vitamina C

Como podemos perceber “laranja” é a melhor interpretação para a ocorrência da (Figura 13) na (Figura 15). Pode-se dizer que dentro do próprio enunciado um elemento altera o outro. Cada elemento linguístico atua dentro de uma combinação. A presença da “vitamina C”, a partir de nosso conhecimento e do nosso vocabulário, compreendemos que tal termo combina muito mais com “laranja” que com “sábado”.

Como a construção de uma receita culinária: a soma de todos os itens gerará o resultado desejado. Para fazer ovo mexido teremos que ter ovo + temperos = ovo mexido. Não terei ovo mexido se colocar abóbora + temperos. Da mesma maneira, nas frases, as composições (as construções) irão contribuir com o sentido desejado. Além é claro da presença do contextos, a situação: quem diz, quando diz, entre outros elementos.

Vitamina C

DICAS

Indicamos a leitura sobre “isotopia” no site a seguir: <http://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/isotopia/>.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

FIGURA 16 - VITAMINA C

FIGURA 17 - EXEMPLO 2

FONTE: As autoras

VITAMINA C

Se tomarmos novamente (Figura 14) para formarmos (Figura 17), podemos compreender que (Figura 13) significará apenas “sábado”. Também observaremos que (Figura 18) não estabelece relação com fruta, em vez disso, pode ser associado a tempo – e sábado pode ser relacionado a tempo.

Gostar Sábado

Quando

Porque

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FONTE: As autoras

EU GOSTO DE SÁBADO PORQUE É QUANDO DURMO ATÉ TARDE

FIGURA 18 - QUANDO

FONTE: As autoras

Aqui novamente vemos a relação de todos os elementos da sentença, um alterando o entendimento do todo – contribuindo para eliminar o duplo sentido, a ambiguidade. Lembrando que em todo o tempo o contexto deve ser analisado e considerado – tanto na produção quando na recepção da mensagem.

Quando

Durmo

Tarde

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

LEITURA COMPLEMENTAR

POR QUE ESTUDAR SEMÂNTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA?

Me. Josinaldo Trajano da COSTA (PPGL – UERN)Me. Francisco Gomes da SILVA (Prof. SEEC-PB)

Esp. Francisca Emídia da Costa OLIVEIRA (Prof.ª SMEC – SOUSA-PB) Ma. Antônia Sueli da Silva Gomes TEMÓTEO (Prof.ª CAP UERN)

[...]

2. O EDUCANDO E A COMPREENSÃO DA ARBITRARIEDADE NO SIGNO

A Língua Portuguesa apresenta-se versátil no tocante ao seu uso, pois é marcada por um caráter heterogêneo, passível de variações inerentes ao tempo, à localidade, à idade e a classe socioeconômica de seus falantes. Já o léxico está propenso a alterações no seu uso e, como mudam as formas das palavras, seus significados também se alteram, o que muitas vezes poderá confundir a assimilação dos sentidos por parte do aluno da escola básica, em face ao seu contínuo processo de aquisição da linguagem. Tal aprendizagem da língua é sempre vista de maneira complexa, e, em muito, quando se trata de Língua Portuguesa, é entendido assim:

O que é língua? Olha... Isso é uma coisa difícil, porque cada vez mais eu tenho dúvidas a respeito do que seja a língua por causa da complexidade. Veja, não me satisfazem definições como instrumento de comunicação, ou como sistema ordenado com vistas à expressão do pensamento, nada disso. Eu penso, na verdade, que a linguagem humana é a condensação de todas as experiências históricas de uma dada comunidade. É nesse sentido que nós temos a ver com a língua. É claro que ela tem uma gramática, ela tem um léxico, eu não estou negando isso, mas para mim, o aspecto mais relevante a verificar é que a língua é, de certa forma, a condensação de um homem historicamente situado. Uma língua é isso (FIORIN, 2003, p. 72).

São questões comumente levantadas, não se podendo deixar de registrar os dinamismos linguísticos ocorridos com frequência. Tais modificações resultam de influências tanto internas quanto externas, advindas do universo sociocultural, propiciando novos significados às palavras e o desuso de outras, caracterizando um processo dinâmico. A princípio, é louvável se eleger o contexto no qual está inserto o educando a fim de poder se detectar melhor o seu conhecimento linguístico, o que facilitará a prática docente em sala de aula, reconhecendo ser necessário um preparo didático-pedagógico, na intenção de trazer informações e vieses direcionados ao ensino e aprendizagem de quem apenas conhece a língua adquirida em sua formação social ou se propõe a conhecê-la formalmente via escola.

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[...] as práticas de linguagem são uma totalidade e que o sujeito expande a sua capacidade de uso da linguagem e de reflexão sobre ela em situações significativas de interlocução, as propostas didáticas de ensino de Língua Portuguesa devem organizar-se tornando o texto (oral ou escrito) como unidade básica de trabalho, considerando a diversidade de textos que circulam socialmente. Propõe-se que as atividades planejadas sejam organizadas de maneira a tornar possível a análise crítica dos discursos para que o aluno possa identificar pontos de vista, valores e eventuais preconceitos neles veiculados (BRASIL, 1998, p. 58-59).

Ao se inteirar desta situação, torna-se possível interpretar e compreender as palavras num patamar equivalente ao do educando, possibilitando-o identificar-se melhor com o código linguístico e perceber o dinamismo das palavras. Assim é preciso fazer uma abordagem sobre a produção de significados no contexto da língua, trazendo à luz do aluno a importância do contexto para a interpretação de sentidos, bem como a possibilidade de se ter a ocorrência de um pluralismo de sentidos, o que o indivíduo ainda não conseguiu internalizar em face a sua aprendizagem em andamento. Podem ser estudadas abordagens fonéticas, morfossintáticas e semânticas, sobretudo, estas para enfocar os níveis do léxico, indo da estrutura da frase ao texto, buscando-se captar os significados.

De forma inegável, há de se considerar o crescimento da Linguística embasada das teorias de Saussure, dentre as quais, para o tratamento da linguagem, é influenciado pelos postulados semântico-linguísticos, constituído pela junção de um significante, a imagem acústica, e um significado, o conceito, o que evidencia a definição dada por Saussure (1995, p. 81) ao dizer: “o signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces”. Daí, se fazer imprescindível estudá-los, pautado no referente e no conceito, reforçando a tese de que o significado de uma palavra não ser absoluto, único, podendo mudar em função do contexto no qual se insere o falante ou os falantes, sendo tais significados definidos mediante a situação comunicativa em evidência.

Para Ducrot (2005, p.10), “o sentido de uma palavra se constrói sempre com a consideração do contexto em que ela aparece”, É a comunicação sincrônica que concretiza os significados no processo interativo falante/ouvinte. Para tanto, o educador, a princípio mais conhecedor, pode se embasar em várias teorias, dentre elas a de Gottlob Frege, em seu artigo “Sobre o Sentido e a Referência” (1978), no qual concebe o sinal, ou nome próprio, como resultante de uma referência (a coisa por ele designada) e um sentido (o modo de apresentação do objeto), sendo que entre ambos se dá um sentido determinado e, a este, corresponde uma referência determinada, sendo que uma referência (a um objeto) não deve partir de um único sinal.

Ele reforça a ideia de que “entender-se um sentido nunca assegura sua referência (1978:63), ainda sendo adicionada a representação associada ao sinal, permitindo que uma certa imagem possa ser captada de modo objetivo ou subjetivo.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Partindo desta, é importante que o professor se posicione mediante as suas análises no intuito de facilitar a assimilação discente. Ao discutir e analisar o contexto da enunciação, deve levar em conta a intenção de se identificarem os significados objetivados por um falante em seus enunciados, considerando a plurissignificação e, com ela a possibilidade de uma dada palavra portar significados diversificados, conforme afirma Possenti (1997, p. 7): “o sentido não é algo prévio ou pronto que uma forma embala; é, antes, um efeito”. Compete, pois, ao facilitador da linguagem analisar tais ocorrências e torná-las conhecidas junto aos seus alunos.

É sugestivo se buscarem vias mais acessíveis, entre elas a da tese de estudo dos componentes do signo a saber, o conceito (significado) e a imagem acústica significado são passíveis a entendimentos arbitrários. O elo entre significante e significado é discutível, especificamente qual se vê tal relação como um todo; tal entendimento precisa ser esclarecido a fim de não prevalecer a concepção dominante da sempre arbitrariedade, deixando evidente que o “arbitrário” também não faculta uma associação livre de uma palavra a outras significações, não se dando a ideia de que o significante seja dependente da livre escolha do que fala.

O significante não possui uma ligação natural com o significado; o aluno precisa ser esclarecido sobre todas essas evidências a fim melhor poder se encontrar com as palavras dentro do seu universo de significações no contexto linguístico, no qual língua e pensamento mantêm estreitas relações. Necessário também, se esclarecer a existência de valores linguísticos de significação que vai aparecer no campo conceitual e pode envolver tanto situações sinonímicas quanto paradoxais, sendo mais que imprescindível que então se considere a interpretação, objetivando se chegar à pretendida significação.

Assim, levando em conta a real existência da variedade linguística que se pontua por caracterizar “as diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com valor de verdade”, conforme Tarallo (2002, p. 8), torna-se mister que a escola realize trabalhos no intuito de facilitar a aquisição linguística, orientando crianças, jovens e adolescentes, permitindo-os tornarem dominantes e eficientes falantes de sua língua materna, o que vai lhes assegurar futura cidadania, pois isto se constitui importante passo para a inclusão social e, sobretudo, tornando-os sujeitos de uma ação discursiva.

3. PALAVRAS: FACILITADORAS DAS RELAÇÕES HOMEM E MUNDO CONCRETO

Cotidianamente a comunicação humana se dá em grande escala através das palavras, fazendo com que estas tornem-se facilitadoras nas relações com o mundo material e concreto. No tocante ao uso linguístico por parte do aluno na educação básica, deve-se considerar o seu conhecimento informal, mas é louvável que o educador o oriente a voltar a atenção para elas, conscientizando de que sempre que são usadas há um outro a ouvir, apreciar o falado e o escrito, observando o enlace natural entre as palavras e o novo sentido em cadeia com outras.

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A motivação que prevalece para a escolha de palavras em um texto é, portanto, de ordem sociognitiva, quer dizer, está presa aos sentidos e aos propósitos que partilhamos em cada situação de interação. Escolhemos palavras conforme elas nos pareçam adequadas para expressarem o que queremos dizer e fazer com elas. Ninguém, ao falar ou escrever nas atividades sociais do dia a dia, faz escolhas aleatórias ou seleciona as palavras pelo tamanho que elas têm, pela classe gramatical a que pertencem ou pela letra ou fonema com que se iniciam (ANTUNES, 2005, p. 126).

Nesse contexto, deve-se orientar para o uso do uso correto da linguagem, o que vem se constituir numa grande saída, uma abertura para a inserção no grande mundo. Com isso, virão conquistas de ideais e a realização de grandes sonhos povoadores da cabeça desses inúmeros constituintes da escola em sua formação básica. Imprescindível se abordar o poder que as palavras exercem em sua dimensão semântica, tornando-se fundamental que elas sejam escolhidas antes de serem proferidas, a fim de traduzirem substancialmente uma realidade e consigam chegar devidamente ao seu receptor.

O aluno precisa ser advertido de que a palavra lida ou falada cria reações na atitude de quem a lê ou a escuta e, como ação em constantes movimentos gera resultados. A palavra detém forças as quais concretizam o pensamento e nas relações humanas é a ferramenta indispensável para a interação social e o consolidar de projetos tanto em âmbito pessoal quanto profissional. Ao se aprender a linguagem já se constitui em ato reflexivo sobre esta; as ações linguísticas ocorridas nas interações sociais promovem tal reflexão, considere-se que compreender a fala do outro e fazer-se compreender por este constitui o diálogo; ao compreender o outro, ocorre uma correspondência entre as palavras dos falantes.

Evidentemente um ato comunicativo não deve ser marcado por uma ruptura, pois se assim acontecer denota falha no entendimento, sendo que o deve ocorrer uma busca de sentido, a qual vai trazer à tona uma outra constituindo elos comunicativos, os quais se dão com êxito, mediante correlação precisa entre as partes. Logo, desde a mais tenra idade a criança já deve ser trabalhada no sentido de conscientizar-se de que a boa aquisição e o bom uso da linguagem podem ser superssignificativos em suas vidas, para usarem a palavra certa no momento ideal, com o sentido preciso, com o tom de voz adequado no intuito de os ventos da realidade soprarem a seu favor.

Uma temática que não pode deixar de ser abordada e, consequentemente estimulada como um despertar para o uso linguístico do educando, é a do signo e a persuasão, podendo serem tomadas como referências os pensamentos de Emile Benveniste, que avança as discussões em torno da natureza e das funções do signo linguístico.

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UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

O seu entendimento a relação entre palavras e coisas não está apenas determinada pela arbitrariedade (mesmo que ela exista), mas, sim, pela necessidade. Toda a conjuntura na qual o humano está inserido, envolvendo o mundo concreto, os anseios espirituais são pontuados por uma carência de nomeação aos objetos. Daí, a arbitrariedade assumir plano secundário, decorrente da necessidade. Assim devem ser feitas observações no sentido de ser o signo o mediador em toda essa contextualização e a maneira como se articulam, organizam constitui-se em determinante dos rumos a serem tomados pelo discurso, o qual pode ser portador de um índice maior ou menor de persuasão.

Para tanto, precisa-se repassar a informação de que o signo vem sempre revestido de ideologias, considerando-se ser de extrema importância estudar a natureza do signo, por parte do professor, a fim de dar mais amplitude ao assunto e, consequentemente, ser repassado com maior eficácia para o aluno, alvo do ensino que em se tratando de aprendizagem, levando em conta situação histórico-social, como espaço que propicia os entendimentos, a interação como relação envolvendo um eu e um tu; uma relação interlocutiva, a qual se dá a partir de um conjunto; a produção de discursos significativos, aproximados pelo significado e a língua enquanto sistematização aberta, permitindo serem produzidos outros discursos, mesmo que esta não seja a condição vital para estes ocorrerem.

Se entendermos a linguagem como mero código, e a compreensão como descrição mecânica, a reflexão pode ser dispensada; se a entendermos como uma sistematização aberta de recursos expressivos cuja concretude significativa se dá na singularidade dos acontecimentos interativos, a compreensão já não é mera decodificação e a reflexão sobre os próprios recursos utilizados é uma constante em cada processo (GERALDI, 1997, p. 18).

Tal consciência da importância dessa pontuação, pode ser provada através dos postulados de Bakhtin em sua obra Marxismo e filosofia da linguagem, a qual é impensável distanciar-se das ideologias dos signos, e que a questão destes vincula-se a das ideologias, havendo entre os dois uma relação de dependência que se torna perceptível ao serem estudados os valores e as ideias contidas nos signos constitutivos.

Ressalte-se que uma ideologia constitui uma realidade (social ou natural) comparando-se a um corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo; entretanto, reflete uma realidade exterior. Tudo o que se considera ideológico é detentor de significado remetente a algo fora de si mesmo. Bakhtin comprovou com propriedade tais colocações quanto tomou como referência o “martelo” que além de instrumento de trabalho, ao se unir à foice, passou a produzir a concepção de que o Estado Soviético formava-se pela aliança dos trabalhadores urbanos com os rurais, assumindo uma postura político-social, ou seja, o martelo e a foice tornaram-se signos, dado a situação de terem sido perpassados pelas ideologias e estas ganham continuidade na ocorrência descrita chegando a fazer parte da bandeira da ex-URSS. Por tudo isto, reforça-se a tese de que é mais que cabível estudar as relações nas quais se fundem as palavras e o mundo concreto no processo formativo, com especialidade na educação básica.

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Para ampliar e facilitar o entendimento, podem ser tomados outros instrumentos, bens de consumo, os quais perderam o sentido inicial e passaram a ser signos, a título de exemplos o pão e o vinho para os cristãos, a balança para a justiça, a maçã para o pecado, entre outros, ou seja, aqueles que se tornaram repassadores de ideologias, o que vai facilitar o entender em face à intenção didática docente, desde que este também se preocupe em reconhecer e, consequentemente, trabalhar as ideologias trazidas por tais elementos. Algo que deve ser trabalhado é o fato de o signo ocorre em função das organizações sociais, daí só poder ser pensado social e contextualmente, criando-se uma forte elo entre e a formação da consciência individual e o universo dos signos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

[...] Mostrou-se a necessidade de que o professor se empenhe em possibilitar o aluno enxergar mais longe por meio das palavras e consequentemente, pelo funcionar linguístico, manipular esse saber em prol de uma expressão competente e inserir-se no mundo social, sendo capaz de lidar com o conhecimento de forma favorável.

Em linguagem objetiva, sugere práticas construtivas com os alunos, uma avaliação constante das vivências e relação professor-aluno encaminhando-os para um ensino produtivo na educação básica. A sugestão é reconhecer o outro no processo de comunicação, o que poderá somar resultados reconhecidos e duradouros. Em suma, a ideia defendida é que se estude a significação das palavras e seus desdobramentos a fim de que o domínio linguístico se efetive.

FONTE: COSTA et al. Por que estudar semântica na educação básica? V SEMAM A DE ESTUDOS, TEORIAS E PRÁTICAS EDUCATIVAS (SETEPE) I Colóquio das Licenciaturas que integram o PIBID/UERN. Disponível em: http://www.editorarealize.com.br/revistas/setepe/trabalhos/Modalidade_1datahora_21_08_2014_14_51_38_idinscrito_39_9b94afe5f765531264ee4a5251f31ac8.pdf. Acesso em: 30 maio 2019.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• O termo ambiguidade, na língua portuguesa, significa algo que pode vir a ter mais de um significado ou sentido.

• A ambiguidade nos dá a impressão de indecisão, incerteza, indeterminação.

• A ambiguidade pode estar presente nas frases, nas palavras, expressões ou sentenças completas.

• Podemos dizer também que ambiguidade é a falta de clareza em uma expressão.

• A ambiguidade pode se apresentar de duas formas: ambiguidade estrutural e ambiguidade lexical.

• Na gramática, ambiguidade ou anfibologia é todo duplo sentido causado pela má construção da frase.

• A função da ambiguidade é sugerir significados diversos para uma mesma mensagem.

• Todas as línguas naturais apresentam ambiguidade.

• Polissemia é a propriedade da palavra de apresentar significados distintos que só podem ser explicados dentro de um contexto.

• A polissemia apresenta um grande número de significados numa só palavra.

• Segundo Almeida (2009), as expressões polissêmicas são resultadas de processos de extensão de significados que só podem ser explicados dentro de um contexto.

• Homonímia é a relação de identidade formal entre pelo menos dois signos distintos.

• Assim, esclarecemos que nas línguas orais a origem é da mesma palavra. Mas, no caso das línguas de sinais, a origem é do mesmo sinal.

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1 Após a leitura desta unidade, você já conhece um pouco mais sobre ambiguidade, então leia com atenção as afirmativas a se-guir e coloque V para verdadeiro e F para falso, em se tratando de ambiguidade.

( ) O termo ambiguidade, na língua portuguesa, significa algo que pode vir a ter mais de um significado ou sentido.

( ) A ambiguidade nos dá a impressão de indecisão, incerteza, indeterminação.( ) A ambiguidade pode estar presente nas frases, nas palavras, expressões

ou sentenças completas.( ) Podemos dizer também que ambiguidade é a falta de clareza em uma

expressão.( ) A ambiguidade só está presente nas línguas de sinais.

Agora faça a escolha conforme a sequência:a) ( ) V – V – F – F – F.b) ( ) V – V – V – F – F.c) ( ) V – V – V – V – F.d) ( ) V – V – V – V – V.e) ( ) F – F – F – V – V.

2 Leia com atenção os exemplos a seguir e depois numere de acordo com o conceito de:

1) Ambiguidade Lexical 2) Ambiguidade Estrutural

a) ( ) “O computador se tornou um grande aliado do homem, mas esse nem sempre realiza todas as suas tarefas”.

b) ( ) “O rapaz pediu um prato ao garçom”.

AUTOATIVIDADE

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3 (QUESTÃO ENADE 2014)

Verifica-se que a palavra “pena”, na primeira fala, foi empregada com o mesmo sentido que no seguinte trecho.

a) ( ) “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido” (Fernando Pessoa).

b) ( ) “Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cínica com a vida, o que também foi uma pena, mas necessário. Viver pra se-mpre tão boba e perdida teria sido fatal” (Tati Bernardi).

c) ( ) “E pra deixar acontecer / A pena tem que valer / Tem que ser com você” (Jorge e Mateus).

d) ( ) “A primeira imagem que surge quando o assunto é pena são os pássaros” (Arte no Corpo).

e) ( ) “De boas palavras transborda o meu coração. Ao Rei consagro o que compus; a minha língua é como a pena de habilidoso escritor” (Bíblia Sagrada – Salmo 45).

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UNIDADE 3

A LINGUÍSTICA E A LÍNGUADE SINAIS BRASILEIRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a linguística da Língua de Sinais Brasileira;

• identificar ambiguidade e polissemia na língua de sinais;

• conhecer os parâmetros que formam os sinais;

• reconhecer o uso destes parâmetros na Língua de Sinais Brasileira;

• compreender Semântica e Pragmática da Língua de Sinais Brasileira.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS DE SINAIS

TÓPICO 2 – O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

TÓPICO 3 – SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DAS LÍNGUAS NATURAIS

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TÓPICO 1

A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

DE SINAIS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃONeste tópico, falaremos das línguas de sinais, seus estudos e pesquisas

dentro da área da linguística, sabemos que as línguas são constituídas e alteradas no relacionamento entre os homens. É porque existem outros humanos além de mim é que existe comunicação. Foi com esse propósito de interação e compreensão (convivência em grupo) que as línguas surgiram – com a língua de sinais não poderia ser diferente.

Vimos também nas outras unidades que a linguística tem várias áreas de estudos, vamos agora estudar esta área, mas voltada para as línguas de sinais, e também para a Língua de Sinais Brasileira – Libras, sabemos que quando se trata da Libras os estudos são recentes e poucas pesquisas encontramos, porém vamos trazer para você, acadêmico, o que temos de mais atual nas pesquisas desta área.

Ao longo desta unidade, você irá se deparar com algumas aplicações de um código chamado QR Code. Não conhece?Ele foi desenvolvido no Japão, especialmente para o uso da indústria automobilística. É um tipo de código bidimensional, trata-se de uma alteração do clássico código de barras. Cada vez mais é utilizado em diversas partes do mundo, incluído em campanhas publicitárias e em cartões. Você pode conhecer mais em: <https://tecnologia.ig.com.br/dicas/2013-03-04/qr-code-o-que-e-e-como-usar.html>.A seguir veja um exemplo para você poder reconhecer. Já se deparou com algum por aí?

UNI

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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2 LIBRAS E OS ESTUDOS LINGUÍSTICOSComunicar-se é uma necessidade do homem; há algum tempo, a forma

gestual vem despertando interesse. Muitos estudiosos e linguistas estão tendo muitas discussões a respeito da Língua de Sinais, e pesquisas novas motivam estes pesquisadores fazendo com que descobertas sobre a língua de sinais nos sejam apresentadas.

Como já vimos nas unidades anteriores deste livro didático, de acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 15) “a linguística é o estudo científico das línguas naturais e humanas” como em outras línguas, a língua de sinais também está se tornando um objeto de estudo mais claro.

Para Quadros (2004, p. 47) as línguas “são denominadas línguas de modalidade gestual-visual (ou espaço-visual), porque as informações linguísticas são recebidas pelos olhos e produzida pelas mãos”.

ATENCAO

A partir de Quadros e Karnopp (2004), podemos perceber que ao usar as nomenclaturas, gestual-visual (ou espaço-visual) tratamos de uma modalidade das línguas de sinais. Porém, quando usamos a nomenclatura visuoespacial, tratamos de um sistema. Então Libras (sistema) é uma Língua visuoespacial e não oral-auditiva.

As pesquisas mostram, que as línguas de sinais,

contêm os mesmos princípios subjacentes de construção que as línguas orais, no sentido de que tem um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais, e uma gramática, um sistema de regras que regem o uso desses símbolos (QUADROS, 2004, p. 48).

Há algo que as línguas de sinais se diferem das línguas orais. Há uma estrutura “simultânea de organização dos elementos das línguas de sinais” (QUADROS, 2004, p. 48). As pesquisas nos mostram que a LIBRAS, assim como todas as línguas, contém os seguintes níveis linguísticos: fonológico, morfológico, sintático e semântico, tornando a LIBRAS uma língua completa.

Significado de simultâneoAdjetivo: que se realiza ao mesmo tempo; aproximadamente ao mesmo tempo que alguma outra coisa; concomitante: procedimentos simultâneos.

UNI

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TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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3 FONÉTICA E FONOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS Para muitos, trata-se de uma grande surpresa que existam estudos

fonéticos e fonológicos na língua de sinais. Sim, há esse estudo. No que ele consiste? “A fonética e a fonologia das línguas de sinais são áreas da linguística que estudam as unidades mínimas dos sinais e que não apresentam significados isoladamente” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 81).

Neste momento, vamos observar os estudos da fonética e da fonologia em relação à LIBRAS.

A fonologia e fonética da Língua de Sinais é composta pelos seguintes parâmetros:

a) Configuração de Mãos (CM).b) Ponto de Articulação (PA).c) Movimento (M).d) Orientação/Direção. e) Expressão fácil e/ou corporal.

A seguir, explicaremos cada um desses parâmetros (FELIPE, 2001).

a) A configuração de mãos

A configuração de mão (CM) é forma adquirida pelas mãos; esta pode ser a datilologia – constituída pelo alfabeto manual, ou outras formas. Essas podem ser elaboradas pela mão predominante, ou, ainda, pelas duas mãos do emissor (GRASSI; ZANONI; VALENTIN, 2011).

Segue uma imagem com o objetivo de ilustrar as configurações de mãos (CM).

FIGURA 1 – CONFIGURAÇÃO DAS MÃOS

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-AclfqbfH4HY/Vknm50iH-bI/AAAAAAAAHUc/xMc7I6SAmOY/s640/co3.jpg>. Acesso em: 8 jul. 2019.

b) Ponto de articulação

Podemos definir o ponto de articulação (PA) como “o lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até a cabeça) e horizontal na frente do emissor” (FELIPE, 2001, p. 20-21).

É possível citar um exemplo. No caso dos sinais desistir e discutir – ambos

são feitos no espaço neutro, ou seja, são realizados sem contato com alguma parte do corpo do emissor. Ao compararmos esse exemplo com os sinais entender e desculpar, vemos uma diferença. Entender é realizado na região da cabeça e desculpar é realizado com contato no queixo, portanto, ambos os sinais tocam alguma parte do corpo do emissor. Veja os sinais:

FIGURA 2 - SINAIS NO ESPAÇO NEUTRO

Desistir Discutir

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TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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c) Movimento

Ao estudar a língua de sinais, podemos observar que alguns sinais podem ter movimentos (M) ou não (FELIPE, 2001). Por exemplo, os sinais desenhar e desenvolver apresentam movimentos. Contudo, o sinal em pé, não apresenta movimento, conforme segue:

FONTE: Dados institucionais

FIGURA 3 - SINAIS COM MOVIMENTO

Entender Desculpa

FONTE: Dados institucionais

Desenhar Ficar em pé Desenvolver

d) Orientação ou direção

Os parâmetros necessitam de uma orientação ou direção (FELIPE, 2001). Neste item, podemos observar os sinais: ir, avisar e me avisar – esses são exemplos de sinais que se opõem em relação à direcionalidade.

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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FONTE: Dados institucionais

e) Expressão facial ou corporal

Compreende-se que a expressão facial/corporal é um dos elementos mais importantes no ato da comunicação – isso em algumas línguas, não somente na língua de sinais. Em libras, em especial, trata-se de um mecanismo facilitador; ele contribui com a compreensão de um determinado sinal ou enunciado.

FIGURA 4 - ORIENTAÇÃO/DIREÇÃO

Avisar Avisar MeIr

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TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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FIGURA 5 - EXPRESSÕES FACIAIS

A expressão facial funciona como uma forma de entonação Língua de Sinais. Nas palavras de Quadros (2004, p. 60), “as expressões não manuais (movimento da face, dos olhos, da cabeça ou tronco) prestam-se a dois papéis na língua de sinais: a marcação de construção sintática e a diferenciação de itens lexicais”.

Veja alguns exemplos de expressões faciais.

Triste

Preocupada

Nojo

Medo

Assustada

Neutro

Bravo

Feliz

FONTE: Dados institucionais

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 82),

Pode-se deste modo, considerar a fonética como área que investiga o aspecto material das unidades mínimas das línguas de sinais, ou seja, as bases visuais relacionadas com a percepção e as bases fisiológicas relacionadas com a produção. A fonética estuda as unidades mínimas dos sinais independentemente da função que eles possam desempenhar numa língua determinada.

Cada uma dessas unidades merece ser observada com destreza ao se estudar a língua de sinais. Cada uma possui características próprias, como foi apresentado anteriormente. Ignorar essas nuances poderá produzir alguma sentença não desejada, produzindo duplo sentido. Certamente nossos interlocutores terão grande dificuldade de compreender a mensagem ou, ainda, entenderão algo completamente inesperado por nós.

E quanto à fonologia? Nas Línguas de Sinais a fonologia é um ramo da

linguística que tem por objetivo estruturar e organizar os constituintes fonológicos. A fonologia, em relação às línguas de sinais, tem como objetivo e tarefa determinar e descobrir quais são as unidades mínimas que formam os sinais.

Tem ainda uma segunda tarefa que é de estabelecer quais são os padrões possíveis que fazem a combinação entre estas unidades; além do que é possível no ambiente fonológico. Quadros e Karnopp (2004, p. 84) esclarecem este aspecto:

A fonologia estuda configuração de mão, locação, movimento, expressão não manual e orientação de mão segundo a função que eles cumprem numa língua específica, as unidades relacionadas às diferenças de significado e a sua inter-relação significativa para formar sílabas, morfemas e sinais.

Aqui vemos o estudo da relação dessas unidades (significados). A fonologia estuda as diferenças percebidas e produzidas, relacionadas, ainda, às diferenças de significado, como nos sinais a seguir, que podem ser observados e que se opõem quanto à configuração de mão:

FIGURA 6 - PEDRA/QUEIJO

Pedra

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TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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FONTE: Dados institucionais

FONTE: Dados institucionais

A seguir, podem ser observados sinais que se opõem quanto ao movimento.

FIGURA 7 - FAMÍLIA/REUNIÃO

Família

Reunião

Queijo

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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FONTE: Dados institucionais

FIGURA 8 - OPOSIÇÃO DO MOVIMENTO

Trabalhar

Vídeo

Irmão

Igual

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TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

115

FIGURA 9 -SE OPÕEM A LOCAÇÃO

Aqui podemos observar sinais que se opõem quanto à locação.

FONTE: Dados institucionais

A fonologia está relacionada à parte da teoria geral da linguagem humana, esta teoria investiga as propriedades do sistema visuoespacial de todas as línguas de sinais. Sabemos que as unidades mínimas da fonologia são os fonemas que são representados entre barras inclinadas //, também nas línguas de sinais. Ao analisar as línguas individualmente, veremos que cada uma delas possui unidades mínimas que, quando organizadas, produzem os sentidos pretendidos.

Em libras não seria diferente, essas unidades mínimas determinam a diferença de significado de um sinal em relação a um outro sinal. Por exemplo, o sinal PEDRA diferencia-se de QUEIJO pelo uso de diferentes configurações de mão. Vale observar que a locação, movimento, orientação de mão e expressões não manuais permanecem inalteradas.

Sábado/Laranja Aprender

Papai Verde

Page 126: Semântica e Pragmática daS LínguaS

UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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FONTE: Dados institucionais

Para Quadros e Karnopp (2004, p. 84): “A fonética e a fonologia são áreas diferentes que operam com seus próprios métodos; porém, elas se condicionam mutualmente em seu valor e desenvolvimento”. Podemos ver que são áreas complementares, que se relacionam ao realizar os estudos das línguas de sinais.

Após abordarmos os conceitos sobre fonética e fonologia, surge uma nova

questão: o que estuda a morfologia das línguas de sinais?

4 MORFOLOGIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS Ao abordar este tema, cabe inicialmente apresentar alguns questionamentos

gerais feitos ao estudo da morfologia da língua de sinais brasileira. Segue um quadro de alguns tópicos a serem analisados em se tratando da morfologia.

Esses tipos de unidades como /L/ e /A/, que permitem diferenciar significados, denominam-se fonemas. Assim /L/ e /A/ são fonemas da língua de sinais brasileira.

FIGURA 10 - PEDRA/QUEIJO

Pedra

Queijo

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TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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QUADRO 1 – PROBLEMATIZAÇÕES ACERCA DA MORFOLOGIA

a) Tradição decorrente do estudo das línguas orais – a primeira dificuldade ao se tentar descrever e explicar a morfologia da língua de sinais brasileira é o peso da tradição, que dificulta a revisão e a adoção de novas posições. A questão é: realizar um estudo da morfologia a partir de análise da morfologia das línguas de sinais? Ao optar – se pela primeira, pode-se desconsiderar a especificidade das línguas de sinais, quanto a sua modalidade de percepção e produção. Ao optar-se pela segunda, depara-se com uma bibliografia reduzida e limitada, principalmente ao estudo da língua de sinais americana. Além disso, na língua de sinais brasileira, raros são os estudos linguísticos realizados nesta área.

b) Omissão – o fator preocupante não é, na verdade, aquilo que é investigado acerca da morfologia, mas aquilo que não há condições de investigar pela abrangência de aspectos a serem analisados e pela carência de evidências empíricas teóricas.

c) Pesquisas – a pesquisa linguística não pode ser restringida ou controlada por questões relacionadas com o ensino da língua. A preocupação é com a descrição e explicação de fatos linguísticos acerca da morfologia da língua de sinais brasileira. O cunho é, portanto, mais linguístico do que pedagógico.

d) Nomenclatura – as gramáticas das línguas orais usam determinada nomenclatura nas abordagens apresentadas. A preocupação está centrada na definição da nomenclatura utilizada e na busca por universos linguísticos compartilhados entre língua de sinais e línguas orais, sem querer impor uma camisa de força a todos os dados e evidências obtidos através da investigação da língua de sinais brasileira.

FONTE: Quadros e Karnopp (2004, p. 86) (grifos no original)

Tais questionamentos são úteis para a contextualização dos estudos sobre a morfologia da Língua de Sinais Brasileira. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 86) será apresentada a definição de morfologia e de morfema.

Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que determinam a formação das palavras. A palavra morfema deriva do grego morphé, que significa forma. Os morfemas são as unidades mínimas de significado.

Quando conhecemos uma língua, passamos a conhecer milhares de palavras. As pessoas que falam uma língua de sinais conseguem associar o sinal com os seus significados, conseguindo fazer correspondência entre palavras e sinais. As pessoas surdas, usuárias de uma determinada língua de sinais, sabem, por terem um conhecimento fonológico, se uma cadeia de CM, M e L faz, de fato, parte da sua língua.

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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Quando nos referimos a uma “Cadeia”, estamos falando do grupo dos parâmetros de LIBRAS, que são eles: Configuração de Mão (CM), Locação (L), Ponto de Articulação (PA) e Movimento (M).

UNI

Vamos entender isso melhor! Se não conhecem o significado do seguinte sinal (a seguir), talvez pudessem julgar que este sinal não é conhecido ou que não pertence a sua língua.

FONTE: Dados institucionais

Quadros e Karnopp (2004, p. 87) afirmam que

Assim como as palavras em todas as línguas humanas, mas diferentemente dos gestos, os sinais pertencem a categorias lexicais ou à classe de palavras tais como nome, verbo, adjetivo, adverbio etc. As línguas de sinas têm um léxico e um sistema de criação de novos sinais em que as unidades mínimas com significados (morfemas) são combinadas.

Por essa razão, faz-se necessário estudar a morfologia de uma língua, no caso, das línguas de sinais. A combinação das unidades mínimas de significados, os morfemas, é o que possibilita a construção dos sentidos pretendidos.

Filosofia

FIGURA 11 - FILOSOFIA

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TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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5 SINTAXE DAS LÍNGUAS DE SINAIS Temos também outro nível linguístico que é o sintático. A língua de sinais

brasileira, usada pela comunidade surda brasileira – esta que vive ao longo de toda a extensão do território brasileiro – é organizada de forma tão complexa quanto às línguas orais auditivas. Analisar alguns aspectos da sintaxe de uma língua de sinais requer “enxergar” esse sistema que é visuoespacial e não oral auditivo. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 20),

Sintaxe é o estudo da estrutura da frase, ou seja, da combinação das unidades significativas da frase. A sintaxe trata das funções das formas e das partes do discurso. É a parte da linguística que estuda a estrutura interna das sentenças e a relação interna entre as suas partes.

A organização espacial da língua de sinais apresenta possibilidades de estabelecimento de relações gramaticais no espaço, através de diferentes formas. No espaço em que são realizados os sinais, o estabelecimento nominal e o uso do sistema pronominal são de fundamental importância, para tais relações sintáticas. Qualquer que seja a referência usada no ato do discurso requer o estabelecimento de um local no espaço de sinalização (espaço definido na frente do corpo do sinalizador), observando várias restrições. Esse local pode ser marcado através de vários mecanismos espaciais, apresentados a seguir.

ATENCAO

Antes de adentrarmos em exemplos, alguns conceitos são necessários. Vamos a eles:

Deixis  – palavra grega que significa ‘apontar’ ou ‘indicar’ – descrever uma forma particular de estabelecer nominais no espaço que são utilizados pelos verbos com concordância como parte de sua flexão. A função dêitica em línguas de sinais, como na língua de sinais brasileira e na ASL, é marcada através da apontação propriamente dita. Os referentes são introduzidos no espaço à frente do sinalizador, através da apontação em diferentes locais. As formas verbais para pessoa são estabelecidas através do início e fim do movimento e da direção do verbo, incorporando estes pontos previamente indicados no espaço para determinar referentes (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 112).

Observação sobre ASL: corresponde à língua de sinais americana – ela é considerada a língua de sinais dominante. Amplamente usada na comunidade surda nos Estados Unidos da América, nos lugares de expressão anglófona do Canadá e, ainda, em algumas partes do México.

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

120

Quanto à apontação, vamos observar mais de perto.Possíveis pontos estabelecidos no espaço – veja o caso da 1ª, 2ª e 3ª pessoa

do singular e 1ª do plural.

FONTE: Dados institucionais

FONTE: Dados institucionais

Agora sim, depois de termos observado do que se trata o termo “apontação”, vamos a alguns exemplos adaptados de Quadros e Karnopp (2004):

a) Fazer o sinal em um local particular (se a forma do sinal permitir por exemplo, o sinal de CASA pode ser acompanhado do local estabelecido para o referente).

FIGURA 12 - EU/VOCÊ/NÓS/ELA

FIGURA 13 - CASA

Casa (do João) Casa (do Pedro)

Eu Você

ElaNós

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TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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b) Vamos ver outro caso – direcionar a cabeça e os olhos (e talvez o corpo) em direção a uma localização particular ao mesmo tempo com o sinal de um substantivo ou com apontação para baixo.

FIGURA 14 - DIREÇÃO/CABEÇA/OLHOS

FIGURA 15 - DIREÇÃO/CABEÇA/OLHOS

Casa (do João) IX (casa)

Casa IX

FONTE: Dados institucionais

c) Usar a apontação ostensiva antes do sinal de um referente específico (por exemplo, apontar para o ponto “a” associando esta apontação com o sinal CASA; assim o ponto “a” passa a referir CASA).

FONTE: Dados institucionais

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

122

FONTE: Dados institucionais

d) Usar um pronome (a apontação ostensiva) numa localização particular quando a referência for óbvia.

e) Usar um classificador (que representa aquele referente) em uma localização particular.

FONTE: Dados institucionais

f) Usar um verbo direcional (com concordância) incorporando os referentes previamente introduzidos no espaço.

FIGURA 16 - APONTAÇÃO OTENSIVA

FIGURA 17 - CARRO

IX (casa) NOVA

CARRO(carro passou pelo outro)

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TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

123

FONTE: Dados institucionais

FONTE: Dados institucionais

Os verbos direcionais são também chamados de verbos com concordância, na Língua de Sinais Brasileira, esses verbos têm que concordar com o sujeito e ou com o objeto indireto / direto da frase. Como se pode observar nas fotos a seguir, há uma relação entre os pontos estabelecidos no espaço e os argumentos que estão incorporados no verbo. Verifica-se que a direção do olhar também acompanha o movimento. Esse é um tipo de flexão própria das línguas de sinais que aparecem com essa classe de verbos.

FIGURA 18 - IR

FIGURA 19 - VERBOS DIRECIONAIS

(el@)<OLHARb>(el@) (el@)<aAJUDARb>do(el@)

(eu) IR (casa)

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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FONTE: Dados institucionais

Na Língua de Sinais Brasileira, os sinalizadores estabelecem os referentes associados à localização no espaço, sendo que tais referentes podem estar fisicamente presentes ou não. Quadros e Karnopp (2004, p. 130) compreendem que:

Depois de serem introduzidos no espaço, os pontos específicos podem ser referidos posteriormente no discurso. Quando os referentes estão presentes, os pontos no espaço são estabelecidos baseados na posição real ocupada pelo referente. Por exemplo o sinalizador aponta para si indicando a primeira pessoa, para o interlocutor, indicando a segunda pessoa e para os outros indicando a terceira pessoa.

Além desses casos citados anteriormente, há outro: quando os referentes estão ausentes da situação de enunciação. Nessa situação são estabelecidos pontos abstratos no espaço. Seguem imagens que deixarão mais clara tal explicação. Formas pronominais usadas com referentes presentes.

FIGURA 20 - ENTREGAR

(el@)<aENTREGARb>do(el@)

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TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

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FONTE: Dados institucionais

FIGURA 21 - FORMAS PRONOMINAIS

Seguem formas pronominais usadas com referentes ausentes.

Sinalizador

Sinalizador

Sinalizador

João Receptor

Interlocutor

Interlocutor

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que: • As línguas “são denominadas línguas de modalidade gestual-visual (ou

espaço-visual) porque as informações linguísticas são recebidas pelos olhos e produzidas pelas mãos”.

• As línguas de sinais contêm os mesmos princípios subjacentes de construção que as línguas orais, no sentido de que têm um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais, e uma gramática, um sistema de regras que regem o uso desses símbolos.

• A fonética e a fonologia das línguas de sinais são áreas da linguística que estudam as unidades mínimas dos sinais.

• A fonética da Língua de Sinais é constituída pelos seguintes parâmetros que formam os sinais: Configuração de Mãos (CM), Ponto de Articulação (PA), Movimento (M), Expressão fácil e/ou corporal, Orientação/Direção.

• A configuração de mão (CM) é a forma das mãos.

• O ponto de articulação (PA) é o local em que incide a mão que está predominando; está pode incluir algum toque em alguma parte do corpo ou, ainda, ocupar algum espaço neutro.

• Movimentos, em Libras, os sinais podem ter movimentos (M) ou não.

• Orientação ou direção, todos os parâmetros precisam de uma orientação ou direção.

• A expressão facial ou corporal é um dos elementos mais importantes no ato da comunicação, pois pode ser um mecanismo facilitador para a compreensão de um determinado enunciado e para o entendimento real do sinal. Além disso, é através da expressão facial que mostramos a entonação na Língua de Sinais.

• A fonologia das línguas de sinais é um ramo da linguística que objetiva identificar a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo modelos descritivos e explanatórios.

• A primeira tarefa da fonologia para as línguas de sinais é determinar quais são as unidades mínimas que formam os sinais.

Page 137: Semântica e Pragmática daS LínguaS

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• A segunda tarefa é estabelecer quais são os padrões possíveis de combinação entre essas unidades e as variações permitidas/possíveis no ambiente fonológico.

• Cada língua apresenta um número determinado de unidades mínimas cuja função é determinar a diferença de significado de um sinal em relação a um outro sinal.

• A morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que determinam a formação das palavras.

• A sintaxe é o estudo da estrutura da frase, ou seja, da combinação das unidades significativas da frase.

• A sintaxe trata das funções das formas e das partes do discurso.

• A sintaxe é a parte da linguística que estuda a estrutura interna das sentenças e a relação interna entre as suas partes.

• A organização espacial da língua de sinais apresenta possibilidades de estabelecimento de relações gramaticais no espaço, através de diferentes formas.

• Os verbos direcionais são também chamados de verbos com concordância, que na língua de sinais brasileira, esses verbos têm que concordar com o sujeito e ou com o objeto indireto / direto da frase.

• Na língua de sinais brasileira, os sinalizadores estabelecem os referentes associados à localização no espaço, sendo que tais referentes podem estar fisicamente presentes ou não.

• Depois de serem introduzidos no espaço, os pontos específicos podem ser referidos posteriormente no discurso.

• Quando os referentes estão presentes, os pontos no espaço são estabelecidos baseados na posição real ocupada pelo referente.

• Foi observado o exemplo do sinalizador que aponta para si, indicando a primeira pessoa, para o interlocutor, indicando a segunda pessoa e para os outros indicando a terceira pessoa.

• Quando os referentes estão ausentes da situação de enunciação, são estabelecidos pontos abstratos no espaço.

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1 Muitos estudiosos e linguistas estão fazendo muitas discussões a respeito da Língua de Sinais e pesquisas novas motivam estes pesquisadores, fazendo com que descobertas sobre a língua de sinais nos sejam apresentadas. Com base nestas pesquisas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) Como em outras línguas, a língua de sinais também está se tornando compreendida e estudada.

( ) São denominadas línguas de modalidade gestual-visual (ou espaço-visual), porque as informações linguísticas são recebidas pelos olhos e produzidas pelas mãos.

( ) Contém os mesmos princípios de construção que as línguas orais, no sentido de que tem um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais, e uma gramática, um sistema de regras que regem o uso desses símbolos.

( ) A estrutura simultânea de organização dos elementos das línguas de sinais é diferente das línguas orais.

( ) Assim como todas as línguas, contém os seguintes níveis linguísticos: fonológico, morfológico, sintático e semântico, tornando a LIBRAS uma língua completa.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:a) ( ) V – V – V – F – V.b) ( ) F – F – V – V – F.c) ( ) V – V – V – V – V.d) ( ) V – F – V – V – V.

2 A LIBRAS, como qualquer língua natural, possui os seguintes níveis linguísticos: fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático. Então, podemos afirmar que a LIBRAS é sim uma língua completa. Sobre os níveis linguísticos da LIBRAS, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) A Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que determinam a formação das palavras.

( ) A Sintaxe é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que determinam a formação das palavras.

( ) O objetivo da fonologia é identificar a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo modelos descritivos e explanatórios.

( ) A fonética da Língua de Sinais é constituída pelos parâmetros: Configuração de Mãos (CM), Ponto de Articulação (PA), Movimento (M), Expressão fácil e/ou corporal, Orientação/Direção.

( ) Sintaxe é o estudo da estrutura da frase, ou seja, da combinação das unidades significativas da frase.

AUTOATIVIDADE

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Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:a) ( ) V – V – V – F – V.b) ( ) F – F – V – V – F.c) ( ) F – V – V – F – F.d) ( ) V – F – V – V – V.

3 Os estudos fonéticos e fonológicos na língua de sinais estudam as unidades mínimas dos sinais e que não apresentam significados isoladamente. A fonologia e fonética da Língua de Sinais é compos-ta pelos parâmetros: Configuração de Mãos (CM); Ponto de Articu-lação (PA); Movimento (M); Orientação/Direção e Expressão fácil e/ou corporal.

Sobre os parâmetros da LIBRAS, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A configuração de mão (CM) – é o lugar em que incide a mão predominante configurada. Movimento (M) – os sinais podem ter movimentos (M) ou não.

b) ( ) O ponto de articulação (PA) – é a forma das mãos ao executar o sinal.c) ( ) A expressão facial ou corporal pode ser um mecanismo facilitador para

a compreensão de um determinado enunciado e para o entendimento real do sinal. Através da expressão facial ou corporal, mostramos a entonação na Língua de Sinais.

d) ( ) Alguns parâmetros não precisam de uma orientação ou direção.

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TÓPICO 2

O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

DE SINAIS BRASILEIRA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃONeste tópico observaremos as peculiaridades do sentido dos sinais na

Língua brasileira de sinais – Libras. Diante destas peculiaridades, é interessante que consideremos a parte da Semântica que estuda os significados das palavras e, também, dos sinais, pois a partir deste conhecimento este tópico e os demais serão construídos.

É relevante, ainda, o estudo do significado das palavras na Língua

Portuguesa, pois o entendimento destes significados na língua Portuguesa nos levará a uma compreensão mais ampla do significado dos sinais em Libras.

Não podemos estudar de forma separada o Português da Libras, pois

ambas são línguas naturais, com gramática própria. O que vai diferenciar a gramática de cada língua é a construção destes significados.

Assim sendo, a língua é um sistema padronizado de sinais/sons arbitrários, caracterizados pela estrutura dependente, criatividade, deslocamento, dualidade e transmissão cultural. Isso é verdade para todas as línguas no mundo, que são reconhecidamente semelhantes em seus traços principais (QUADROS; KARNOPP (2004, p. 28).

Ao estudar uma língua, não há problema em utilizar outra para servir de

apoio, suporte, meio de esclarecimento. Durante muito tempo, em se tratando da aprendizagem de línguas, muitos estudiosos consideravam proibido o uso da língua materna, ou seja, a primeira língua adquirida. Atualmente, isso tem mudado – uma pode servir de auxílio na compreensão da segunda língua. Em LIBRAS não é diferente.

2 O SENTIDO DAS PALAVRAS Compreende-se que é natural do ser humano construir suas próprias palavras,

mas desde que sigamos algumas regras básicas. Ou seja, esse construir nos remete a (res)significar conceitos e usos (FERRAREZI JR., 2008). Tal ideia vai ao encontro dos estudos da semântica, da significação das palavras – mas como já bastante frisado na Unidade 2, sempre faz-se necessário o estudo dentro de um dado contexto, em uma dada situação. Por isso, é interessante considerar a parte da Semântica que estuda a significação das palavras, pois, é a partir dela que este tópico será produzido.

Page 142: Semântica e Pragmática daS LínguaS

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

O quadro a seguir vai retomar/reforçar alguns itens já discutidos na unidade anterior – necessários para a compreensão do que virá adiante. Além disso, há alguns itens que vão além em alguns aspectos.

QUADRO 2 – SÍNTESE PARA RELEMBRAR E IR ALÉM

SinonímiaSinonímia: relação entre duas ou mais palavras que apresentam significados semelhantes/próximos, ou seja, os sinônimos:Exemplos: • Cômico – engraçado.• Débil – fraco, frágil.• Distante – afastado, remoto.

AntonímiaAntonímia: relação entre duas palavras de significados opostos, diferentes, contrários, isto é, os antônimos: Exemplos: • Economizar – gastar.• Bem – mal.• Bom – ruim.

Homonímia Homonímia: é a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica (pronúncia) ou a mesma escrita. Elas podem ser divididas em:

a) Homógrafas: palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia.Exemplos: • Gosto (substantivo) – gosto (1ª pessoa do singular do presente indicativo do

verbo gostar).• Conserto (substantivo) – conserto (1ª pessoa do singular do presente

indicativo do verbo conserta.

A pronúncia, nesses exemplos, muda. A sílaba tônica muda. Veja:• O conserto (substantivo) do carro saiu muito caro.• Eu conserto (verbo consertar) a máquina de lavar sempre no mesmo lugar.

Percebe a mudança da pronúncia/ sílaba tônica?

b) Homófonas: palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita.

Exemplos: • Cela (substantivo) / sela (verbo).• Cessão (substantivo) / sessão (substantivo).

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TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

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FONTE: Adaptado de Lima e Cruz (2014)

A pronúncia é a mesma, a escrita é diferente (o sentido também).

c) Perfeitas: palavras iguais na pronúncia e na escrita.

Exemplos: • Cura (verbo) – cura (substantivo).• Verão (verbo) – verão (substantivos).• Cedo (verbo) – cedo (adverbio).

Mesma escrita e mesma pronúncia, viu?

Além das homônimas, temos as parônimas.

Paronímia Paronímia: é a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que possuem significados deferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita, são os parônimos.

Exemplos:• Cavaleiro / cavalheiro. • Absolver/ absorver.

Polissemia Foi bastante abordada na unidade anterior; é a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários significados.Exemplos: • Ele ocupa um alto posto na empresa.• Abasteci meu carro no posto da esquina.

3 SENTIDO DOS SINAIS A língua de sinais e as línguas orais possuem diferenças em alguns

sentidos. Uma das características das línguas de sinais é quanto ao sistema visuoespacial (QUADROS; KARNOPP, 2014) e pela sua simultaneidade dos elementos das línguas de sinais.

Ou seja, pela modalidade de percepção e produção, em que os sinais são percebidos pela visão e produzido pelas mãos. Apesar de as línguas de sinais terem essas características que tornam uma língua como qualquer outra, elas apresentam particularidades em relação às línguas orais, por serem gestuais-visuais (LIMA; CRUZ, 2014, s.p.).

Todas as línguas possuem semelhanças e diferenças, uma em relação às outras. As línguas de sinais possuem características próprias, possuindo particularidades em relação às línguas orais, por serem gestuais-visuais.

Page 144: Semântica e Pragmática daS LínguaS

134

UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Além disso, há uma estrutura sublexical; esta é constituída a partir de parâmetros (BRITO, 1995).

A estrutura sublexical dos sinais é constituída a partir de suas unidades mínimas distintivas. Tais unidades distintivas também já foram exploradas anteriormente.

UNI

Como citado anteriormente, há três parâmetros:

• Configuração de mão (CM). • Ponto de articulação (PA).• Movimento (M).

Caso tenha dúvidas, faz-se relevante retornar aos conceitos já discriminados. Vamos adiante, eis alguns casos!

FONTE: Dados institucionais

FIGURA 1 - CONFIGURAÇÕES DE MÃO DESCULPA/SURDO/NÃO PODE

Desculpa Não podeSurdo

Page 145: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

135

FONTE: Dados institucionais

FIGURA 2 - SINAIS DESCULPA/SURDO/NÃO PODE

FIGURA 3 - PARAQUEDAS/RESPIRAR

Desculpa Surdo Não pode

Paraquedas

Page 146: Semântica e Pragmática daS LínguaS

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Temos ainda da orientação de mão (O), que é quando os sinais podem ter uma orientação/direção da palma da mão diferente para cada sinal e a inversão desta pode significar ideia de oposição, concordância número-pessoal. Há ainda as Expressões Não Manuais (ENM), que são as Expressões Faciais e/ou Corporais.

Com relação a estes parâmetros, verificam-se: alguns sinais podem apresentar CM, M, PA, O e ENM, mas a distinção ocorrerá em um ponto específico que proporcionará a diferenciação dos significados. Assim, saber se expressar em Libras é saber combinar esses parâmetros de tal maneira que formem sinais em uma estrutura gramatical complexa, assim como ocorre em qualquer outra língua (QUADROS; KARNOPP, 2004).

Assim, o significado dos sinais em Libras, por exemplo, também leva em

consideração:

3.1 POLISSEMIA: SIGNIFICANTES IGUAIS X SIGNIFICADOS DIFERENTES

As expressões polissêmicas são resultado de processos de extensão de significados que só podem ser explicados dentro de um contexto (ALMEIDA, 2009). Assim, esclarecemos que, nas línguas orais, a origem é da mesma palavra. Todavia, no caso das línguas de sinais a origem é do mesmo sinal. Observe as imagens a seguir:

Respirar

FONTE: Dados institucionais

Page 147: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

137

FONTE: Dados institucionais

FONTE: adaptado de Brito (1995)

Em português, uma mesma palavra poderá ter vários sentidos. Em Libras, um mesmo sinal pode ter mais que um sentido.

FIGURA 4 - LARANJA/SÁBADO

FIGURA 5 - SEXTA-FEIRA/PEIXE/COMER/VIAJAR

Laranja/Sábado

*Comer *Viajar*Comer e viajar não são POLISSEMIA.

PeixeSexta-feira

Page 148: Semântica e Pragmática daS LínguaS

138

UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

O sinal acima pode obter o sentido de PEIXE, em LIBRAS, como pode também significar SEXTA – FEIRA. Por isso, somente o contexto será o responsável em desfazer a ambiguidade.

Mostramos no exemplo as seguintes frases:

FONTE: Dados institucionais

FIGURA 6 - HOJE/AGORA/PRESENTE/AULA/ALUNO

a) Sexta-feira eu vou viajar.

a) Hoje eu estou cansada.

b) Agora eu preciso ir.

c) O aluno está presente na aula.

b) Eu gosto de comer peixe.

Hoje/Agora/Presente *Aula *Aluno*Aula e aluno não são POLISSEMIA.

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TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

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FONTE: Dados institucionais

A polissemia é o contrário de sinonímia. Há polissemia quando uma só palavra (ou sintagma ou lexia) está carregado de vários sentidos.

3.2 HOMONÍMIA: SIGNIFICANTES SEMELHANTES X SIGNIFICADOS DIFERENTES

Aqui os significantes são muito semelhantes – olhando apressadamente, diríamos que são iguais – e os significados são diferentes. Sobre os significantes, podemos observar que o no sinal a (CM) é igual, o (PA) é igual, porém o (M) é diferente – o que produz um significado diferente.

FIGURA 7 - VERDE/FRIO/COR/SENTIR

A polissêmica e a homonímia, em alguns casos, torna-se complexo fazer a distinção de uma ou outra. A tarefa de diferenciar uma e outra é bastante complexa. Se uma dada palavra possui vários significados, não podemos afirmar, de fato, que se trata de um exemplo de polissemia (uma palavra com vários significados), ou de homonímia (várias palavras com o mesmo significado). Tal compreensão vai ao encontro de Lima e Cruz (2004), apoiando-se em estudos de outros autores, também compreendem que essa atividade de diferenciar uma e outra é uma tarefa complexa.

a) A professora gosta da cor verde.

b) A professora sente muito frio.

Verde*Cor e Sentir não são HOMONÍMIA.

*Cor *SentirFrio

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140

UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

FONTE: Dados institucionais

3.3 SINONÍMIA: SIGNIFICANTE DIFERENTES X SIGNIFICADOS APROXIMADOS

No exemplo (V), percebemos ter dois sinais, isto é, dois significantes distintos para representar significados aproximados. Válido é destacar que, apesar da representatividade visuoespacial dos sinais ilustrados acima serem diferentes, o sentido/significado é utilizado em situações parecidas levando em consideração o seguinte:

VELHO (1) – (para objetos) para representar que são coisas usadas.VELHO (2) – (para pessoas/animais) para representar o envelhecimento.

Assim temos:

FIGURA 8 - TIPOS DE VELHO

Velho (1) Velho (2)

Podemos fazer uma relação deste questionamento mostrando o exemplo já citado anteriormente: (VERDE) e (FRIO). Percebemos que o sinal para representar essas duas palavras é o mesmo, exceto pelo Movimento de Mãos (M) e pela expressão facial.

Se observarmos pela ótica da polissemia, temos significados diferentes; ao olharmos tendo em vista o conceito de homonímia, teremos formas diferentes. Se considerarmos que tanto a polissemia quanto a homonímia pertencem ao caso de significação múltiplas, um significante com vários significados, como afirmado anteriormente, é difícil traçar uma linha divisória entre elas.

a) (1) meu carro é velho.

Page 151: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

141

Da mesma forma, em língua portuguesa não há sinônimos perfeitos. Há alguns termos que servem para expressar os sentidos pretendidos. Dependendo da sentença, um ficará melhor que o outro. Em Libras não é diferente.

FONTE: Dados institucionais

Novamente, nesse exemplo (V), percebemos que há dois sinais distintos (SIGNIFICANTES) representando uma mesma “palavra” (em português), embora com (SIGNIFICADO) aproximado. Destacamos aqui, quanto à representatividade visuoespacial dos sinais ilustrados – que há dois sinais, aparentemente, com o mesmo sentido/significado, mas são utilizados em situações distintas.

NOVO (1) – (para objetos) para representar que são coisas novas.NOVO (2) – (para pessoas/animais) para representar a juventude.

Nas frases estes sinais são usados assim:

FIGURA 9 - TIPOS DE NOVOS

b) (2) aquele homem tem 90 anos; está velho.

a) (1) meu carro é novo.

Novo (1)

Novo (2)*Idade não é SINONÍMIA.

*Idade

Page 152: Semântica e Pragmática daS LínguaS

142

UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Em (VI), temos a oposição SIGNIFICADO X SIGNIFICANTE de dois SINAIS distintos. No primeiro exemplo, temos o sinal significando (pessoa/ jovem). Já no segundo, temos o sinal significando/representando (pessoa/ velha).

a) Pessoa velha. b) Pessoa jovem.

As frases ficariam assim:

3.4 ANTONÍMIA: SIGNIFICANTES DIFERENTES X SIGNIFICADOS OPOSTOS

FONTE: Dados institucionais

FIGURA 10 - JOVEM/VELHO/MEU

b) (2) meu filho é novo.

a) Meu pai é velho.

b) Meu irmão é jovem.

Jovem*Meu não é ANTONÍMIA.

Velho *Meu

Page 153: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

143

No exemplo (VII), destacamos a oposição SIGNIFICADO X SIGNIFICANTE de três SINAIS distintos com sentidos opostos.

Nas línguas orais, sabe-se que a relação de antonímia também se apresenta com auxílio de alguns prefixos de sentido negativo ou de prefixos de sentido oposto, para a construção de oposição de sentido de algumas palavras, como por exemplo: FELIZ X (IN) FELIZ.

As frases ficam assim:

Com as línguas de sinais, em um caso parecido, ocorre de maneira distinta, pois a oposição se dá, como vimos nos exemplos (VI) e (VII), por meio de sinais (palavras) distintos – não por meio de prefixos ou sufixos (formação de palavras, morfologia).

Vale destacar que a antonímia pode apresentar tipos de oposição. Os

objetos podem apresentar oposição em relação à qualidade daquilo que indicam. Prestamos atenção nos exemplos a seguir:

FONTE: Dados institucionais

FIGURA 11 - PASSADO/PRESENTE/FUTURO

Passado Presente Futuro

a) Passado: ano passado eu viajei.

b) Presente: este ano eu não vou viajar.

c) Futuro: ano que vem eu viajarei.

Page 154: Semântica e Pragmática daS LínguaS

144

UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

FONTE: Dados institucionais

No exemplo acima, há a oposição de termos (palavras), ou seja, sinais distintos.

Pode ser citado ainda o exemplo de “triste” – pode opor-se à “alegre”.

Além disso, nas línguas orais, podemos encontrar outras formas de oposição, em “gradações”, tais como “muito triste”, “tristíssimo”, “extremamente triste”, “triste como nenhum outro”, “mais triste que todos naquele lugar” (LIMA; CRUZ, 2014).

Com as línguas de sinais, também, não é diferente – podemos combinar

elementos como expressões faciais, Movimento de Mão (M), entre outros.

FIGURA 13 - DIFÍCIL/MUITO DIFÍCIL

Difícil Difícil (muito)

FIGURA 12 - FÁCIL/DIFÍCIL/PROVA

FONTE: Dados institucionais

a) A prova foi fácil.

b) A prova foi difícil.

a) Fácil. b) Difícil.

Nas frases ficaria assim:

Fácil Difícil *Prova*Prova não é ANTONÍMIA.

Page 155: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

145

Para Gesser (2009, p. 17) “as mãos não são o único veículo usado pelas línguas de sinais para produzir informação linguística”. Os surdos têm por costume fazer uso extensivo de marcadores não manuais, como por exemplo, as expressões faciais.

As línguas orais utilizam de traços paralinguísticos, como: sotaque, expressões faciais, hesitações, entonação, velocidade, ritmo, entre outros. Já nas línguas de sinais, as expressões faciais são consideradas elementos gramaticais (esses podendo ser movimento de cabeça, olhos, boca, sobrancelhas etc.), tudo isso compõe a estrutura de tal língua (LIMA; CRUZ, 2014).

É o que mostramos no exemplo acima ilustrado, pois a posição dos sinais se dá por meio da intensificação da expressão facial.

a) Difícil.b) Difícil (muito).

As frases ficariam assim:

Paralinguística é o estudo da paralinguagem – o foco são os aspectos não verbais que acompanham a comunicação verbal. Estes podem ser: o tom de voz, o ritmo da fala, o volume de voz, as pausas utilizadas na pronúncia verbal e demais características que transcendem a própria fala.

UNI

a) A prova foi difícil.

b) A prova foi muito difícil.

Page 156: Semântica e Pragmática daS LínguaS

146

UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Precisamos destacar que as palavras sinalizadas acima na Língua Portuguesa não são consideradas parônimas. Bem diferente do que ocorre na Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, porque neste caso são representadas pela modalidade visuoespacial, levamos em consideração muitos fatores.

O importante é acontecer a comunicação; esta se dá através: da datilologia, por meio do Alfabeto Manual, das Expressões Faciais, dos Parâmetros etc. Precisamos deixar bem claro que esta língua não se dá somente por meio de sinais, precisamos de outros meios para ter êxito no processo comunicativo.

Para Ferrarezi Jr. (2008), além da palavra, há ainda elementos que auxiliam o ato comunicativo. Esses elementos são o corpo, os gestos, enfim, tudo o que pode contribuir para a compreensão dos sentidos pretendidos.

Percebemos que com LIBRAS não é diferente, como podemos ver nos exemplos mostrados anteriormente. Por isso, para Ferrarezi Jr. (2008), na perspectiva semântica, o sentido de uma “palavra – sinal” só poderá realmente ser definida ou entendida dentro de um contexto.

No exemplo “laranja/aprender”, os sinais são os mesmos quanto ao (M) Movimento e a (CM) Configuração de Mão, isto é, o significante semelhante. Porém, o que distingue o significado dessas “palavras” é o (PA) Ponto de Articulação. Então, na LIBRAS, falamos que essas “palavras” (sinais) são parônimas (LIMA; CRUZ, 2014).

Vamos observar os sinais representados a seguir.

FIGURA 15 - FÁCIL/AMANHÃ

FONTE: Dados institucionais

Fácil Amanhã

FONTE: Dados institucionais

3.5 PARONÍMIA: SIGNIFICANTE PARECIDOS X SIGNIFICADOS DIFERENTES

FIGURA 14 - LARANJA/APRENDER

Laranja Aprender

Page 157: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

147

Lima e Cruz (2004), ao apresentar alguns desenhos, afirmam “Desenho adaptado do Livro Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais, por Cilene Lima, em setembro de 2011”. Contudo, nas referências, não apresenta a obra. Da mesma forma, ao apresentarem figuras, logo abaixo delas, Lima e Cruz (2004) disponibilizam links que não mais estão disponíveis. Por essa razão, abaixo de cada uma das imagens adaptadas, apontamos a obra consultada: Lima e Cruz (2004). Os links apontados por Lima e Cruz (2004), abaixo das imagens, são:

(1) http://www.ip.usp.br/lance/Livros/novo_deit.html Dicionário Ilustrado Trilíngue- 14/08/2011

(2) http://www.feneismg.org.br/doc/Aspectos_linguisticos_LIBRAS.pdf

UNI

Voltando ao exemplo de fácil/amanhã (apresentado acima), os sinais são muito parecidos, no (M) Movimento e a (CM) Configuração de Mãos, mas com relação ao (PA) Ponto de Articulação, não é o mesmo. A partir disso, podemos compreender que essas palavras (esses sinais) são parônimas – são palavras que possuem significantes parecidos, porém com significados diferentes (LIMA; CRUZ, 2014).

a) Fácil. b) Amanhã.

As frases ficariam assim:

Caro acadêmico! Todas estas frases estarão sinalizadas e você poderá conferir usando os QRCODE.

UNI

a) A prova foi fácil.

b) Amanhã não teremos prova.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Sinonímia é a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam significados iguais ou semelhantes.

• Antonímia é a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam significados diferentes.

• Homonímia é a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica.

• As palavras homônimas podem ser: homógrafas que são as que possuem palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia.

• As homófonas são palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita.

• Perfeitas são palavras iguais na pronúncia e na escrita.

• Paronímia é a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que possuem significados deferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita.

• Polissemia é a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários significados.

• A diferença entre as línguas de sinais, com relação às orais, não é somente pelo sistema visuoespacial, mas sim, pela simultaneidade dos elementos das línguas de sinais.

• Apesar de as línguas de sinais terem características que as tornam línguas como qualquer outra, elas apresentam particularidades em relação às línguas orais.

• As expressões polissêmicas são resultados de processos de extensão de significados que só podem ser explicados dentro de um contexto.

• As mãos não são o único veículo usado pelas línguas de sinais para produzir informação linguística, pois os surdos fazem uso extensivo de marcadores não manuais, como por exemplo, as expressões faciais.

• Diferentemente das línguas orais que utilizam de traços paralinguísticos, como: entonação, velocidade, ritmo, sotaque, expressões faciais, hesitações, entre outros – nas línguas de sinais, as expressões faciais são os elementos gramaticais (movimento de cabeça, olhos, boca, sobrancelhas etc.) que compõem a estrutura dessa língua.

• O sentido de uma “palavra – sinal” só vai ser de fato definido dentro de um contexto, em um cenário específico.

Page 159: Semântica e Pragmática daS LínguaS

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AUTOATIVIDADE

1 O sentido das palavras na Língua Portuguesa leva em consideração a sinonímia, a antonímia, a polissemia, além da parônima e da homônima. Sobre o sentido das palavras, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- SinonímiaII- AntonímiaIII- HomônimaIV- ParônimaV- Polissemia

( ) É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica.

( ) É a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que possuem significados deferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita.

( ) É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam significados diferentes, contrários.

( ) É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam significados iguais ou semelhantes.

( ) É a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários significados.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:a) ( ) III – IV – II – I – V.b) ( ) II – V – III – I – IV.c) ( ) I – II – III – IV – V.d) ( ) III – V – I – II – IV.

2 As línguas orais utilizam traços paralinguísticos, como: entona-ção, velocidade, ritmo, sotaque, expressões faciais, hesitações, en-tre outros. Como esses traços se apresentam nas línguas de sinais?

3 As línguas de sinais possuem características, e estas caracte-rísticas as tornam uma língua, igual a outra língua, possuindo particularidades em relação às línguas orais, por serem gestu-ais-visuais. Assim, quando falamos dos significados dos sinais em Libras, por exemplo, temos que levar em consideração a:

I- PolissemiaII- SinonímiaIII- AntonímiaIV- Paronímia

Page 160: Semântica e Pragmática daS LínguaS

150

Relacione tais itens ao que segue:( ) Significantes diferentes x significados opostos.( ) Significantes parecidos x significados diferentes. ( ) Significantes iguais x significados diferentes.( ) Significantes diferentes x significados aproximados.

Agora assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:a) ( ) I – II – IV – III.b) ( ) III – II – IV – I.c) ( ) III – IV – I – II.d) ( ) II – IV – III – I.

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TÓPICO 3

SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

DAS LÍNGUAS NATURAIS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃOCaro acadêmico! Chegamos até aqui, sabendo que os estudos linguísticos

podem ser desenvolvidos em cinco áreas: a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a semântica e a pragmática, certo? Estudamos os parâmetros e sabemos que nos aspectos fonológicos abordam as configurações dos sinais, os aspectos morfológicos, são eles responsáveis pela estruturação e classificação dos sinais/palavras, e os aspectos sintáticos referem-se às regras necessárias para se construir os sintagmas nas sentenças/frases. Porém, meu caro, precisamos atentamente sempre considerar o significado e o contexto. É sob esta perspectiva que construiremos, por fim, este tópico, o último do seu livro didático, que tem por objetivo geral identificar a abordagem dos aspectos semânticos e pragmáticos das línguas naturais.

2 SEMÂNTICA E O ESTUDO DOS SIGNIFICADOS DAS LÍNGUAS NATURAIS

Para compreendermos os aspectos semânticos da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, precisamos relembrar-nos do que trata a semântica. A semântica, como anteriormente já foi abordado, é o estudo do sentido das palavras de uma língua. A semântica é

o estudo do significado da palavra e da sentença. A semântica trata da natureza, da função e do uso dos significados ou pressupostos. É a parte da linguística que estuda a natureza do significado individual das palavras e do agrupamento das palavras nas sentenças, que podem apresentar variações regionais e sociais nos diferentes dialetos de uma língua (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 21).

Com este conhecimento, podemos ainda dizer que semântica é o estudo

dos significados, que dentro do contexto estudam conceitos/significados das palavras. Sobre este assunto, Lima e Cruz (2014) afirmam que há uma dificuldade em definir o significado da semântica. Ferrarezi Jr. (2008) corrobora a mesma ideia, apontando que há diferentes definições para a Semântica, mas ele a define como o estudo das manifestações do significado. Assim a semântica é:

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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[...] a subdivisão que desenvolve seus estudos – das manifestações linguísticas do significado, ou seja, dos sentidos – tomando como base a seguinte concepção geral: uma língua natural é um sistema de representação do mundo e de seus eventos. [...] [Os] sentidos são especializados em um contexto, sendo que este só tem sentido especializado em um cenário [...] (FERRAREZI JÚNIOR, 2008, p. 24 apud LIMA; CRUZ, 2014, p. 1525).

Podemos entender então que toda manifestação linguística faz parte de um sistema pleno e aberto que é associado a um sentido. Percebemos que o significado tem uma recepção maior, nas conversas do dia a dia; já quando estamos analisando a partir da semântica, ele é ainda mais limitado. Precisamos de início compreender o que se entende por um termo quando estamos estudando semântica.

Este tópico começou com a explicação de significado nos estudos da

Semântica, então podemos dizer que, para a Semântica, o significado se limita ao significado que as sentenças de uma língua têm. Essa perspectiva não leva em consideração o que a pessoa que vai falar “quer dizer”, ou seja, a intenção do falante.

Vamos trazer alguns exemplos para uma melhor compreensão!

Podemos observar a informação semântica das palavras do português. Vamos observar um caso específico: o sentido da palavra manga.

1) A fruta. 2) A parte de uma peça de roupa que usamos, peça esta que cobre o braço.

FIGURA 1 – FRUTA (MANGA) E MANGA (PEÇA DO VESTUÁRIO

FONTE: <https://abrilboaforma.files.wordpress.com/2018/07/

thinkstockphotos-928914016.jpg>. Acesso em: 15 jul. 2019.

FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/otv7tiposdeblusasycamisas-130205123326-

phpapp01/95/otv-7-tipos-de-blusas-y-camisas-4-638.jpg?cb=1360067695>. Acesso

em: 15 jul. 2019.

Aqui um outro exemplo: caso em língua portuguesa alguém lesse, de forma isolada – sem imagem ou sem explicação de contexto –, a palavra “colher”. Dependendo das experiências de cada um, do vocabulário que mais utiliza, se vive no campo ou não, o leitor poderia imaginar um dos dois casos a seguir.

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TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

153

FIGURA 2 – COLHER – (UTENSÍLIO) COLHER (VERBO)

COLHER (utensílio) VERBO COLHER, AÇÃO DE PEGAR ALGO

FONTE: <https://www.google.com/search?-q=COLHER&source=lnms&tbm=isch&sa=X&-ved=0ahUKEwiMm8jlsZLjAhWLD7kGHfpCD-CIQ_AUIECgB&biw=1242&bih=533#imgrc=-dgFMVAexno2iaM>. Acesso em: 30 jun. 2019.

FONTE: <http://aconteceunovale.com.br/portal/wp-content/uploads/2015/11/

PomarEmater2-310x165.jpg>. Acesso em: 30 jun. 2019.

Usando as imagens e trazendo para os estudos da semântica, se proferíssemos somente a palavra solta, “manga” ou “colher”, o falante poderia ter em sua mente o significado do que estava proferindo. Para quem fala, o sentido é claro. Contudo, quem recebesse a mensagem precisaria de um contexto para saber diferenciar, qual o significado dessa palavra.

Daremos alguns exemplos para podermos entender como se dão os

significados quando eles utilizam outros elementos para esclarecer o que poderia ser dúbio.

Ex. 1: A manga é uma fruta que contém fibra.Ex. 2: Vou comprar uma blusa de manga longa.Ex. 3: Eu gosto de ir ao sítio da minha família para colher frutas.Ex. 4: Ganhei de presente uma colher, seu cabo tem muitas borboletas.

Podemos dizer também das imagens acima, as palavras são iguais, porém

os significados diferentes. Os exemplos acima se dão na Língua Portuguesa. Neste momento, vamos abordar algumas questões pertinentes à Libras. Em Libras, também já apresentamos um sinal que pode ter diferentes sentidos. É o caso do sinal LARANJA/SÁBADO, ou seja, pode ser tanto uma fruta como um dia da semana.

Em Libras os sinais não iguais em todos os Parâmetros, Configuração de Mão (CM), Ponto de Articulação (PA), Localização (L) e Movimento (M), a palavra que vem a ser diferente.

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

154

ATENCAO

Caro acadêmico! Você teve estes exemplos na UNIDADE 2, TÓPICO 3. Em tal unidade, trouxemos a ambiguidade e polissemia. A diferença desta fase do livro é que vamos trazer, além dos sinais, um QRCODE – como citado na introdução desta unidade. Por meio dele, você terá a oportunidade de ver tal vocabulário sendo sinalizado dentro de um contexto. Tal sinalização contribuirá com seus estudos.

Podemos dizer que, para a Semântica, o significado se limita ao significado que as palavras têm; em especial, dentro de sentenças; não levando em consideração o que a pessoa “quis dizer” ou suas estratégias. Veja os exemplos citados.

FONTE: Dados institucionais

Assim, ao construir sentenças, temos o esclarecimento de quando se trata da fruta ou quando se trata do dia da semana.

FIGURA 3 - LARANJA/SÁBADO

Laranja

Sábado

Ex. 1: Eu gosto de sábado porque é quando durmo até tarde.

Page 165: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

155

FIGURA 4 - SENTAR/CADEIRA

Frase 1: A professora precisa sentar porque está cansada.

Frase 2: A professora precisa da cadeira.

Ex. 2: Eu gosto de laranja porque tem vitamina C.

Temos também o sentido semântico do sinal em Libras de SENTAR/CADEIRA. Em tais exemplos não seria diferente, precisamos do contexto para reconhecer o sinal em Libras.

FONTE: Dados institucionais

A seguir, você encontra dois exemplos destas palavras inseridas no contexto das frases.

FIGURA 5 - PROFESSORA/PRECISA/SENTAR/PORQUE/CANSADA

FONTE: Dados institucionais

Page 166: Semântica e Pragmática daS LínguaS

UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

156

Podemos ainda verificar a presença de dois sentidos para um sinal – este é o sinal de LUCRO/ADOTIVO. Conforme segue, sem contexto, dificultará reconhecer quando o sinal adquire valor de “lucro” ou o valor de “adotivo”.

FONTE: Dados institucionais

A seguir, os termos são apresentados dentro de frases e, logo depois, as sentenças são sinalizadas em Libras., 1 e 2).

Os sinais a seguir, com a descrição do que cada um significa, poderá contribuir com os que iniciam sua caminhada na aprendizagem da Libras. Tais sinais poderão auxiliar quando observarem o vídeo com a sinalização das sentenças (exemplos acima, 1 e 2).

FIGURA 6 - LUCRO/ADOTIVO

Ex. 1: O lucro que tive foi ótimo.

Page 167: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

157

FONTE: Dados institucionais

FONTE: Dados institucionais

A seguir, há mais um exemplo de sinal que pode adquirir diferentes sentidos. Como nos exemplos anteriores, faz-se necessário perceber que um sinal pode ter todos os parâmetros iguais, o que vai diferenciar é a utilização deste sinal dentro do contexto, de uma frase. Vejamos o caso de LADRÃO\ROUBAR a seguir.

FIGURA 8 - LADRÃO/ROUBAR

FIGURA 7 - TER/ÓTIMO/IRMÃO/MORAR/SÃO PAULO

Ex. 2: Eu tenho um irmão adotivo que mora em São Paulo.

Page 168: Semântica e Pragmática daS LínguaS

UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

158

FONTE: Dados institucionais

Aqui trazemos mais sinais que irão ajudar a compreender o vídeo disponível em QRCODE. Em tal vídeo, esses sinais formam sentenças em Libras.

Somente quando sinalizamos ou vimos alguém sinalizar, irá se tornar possível perceber qual a diferença de “ladrão” e de “roubar”. Mais uma vez o contexto é tudo. Veremos como ficam estas frases a seguir sinalizadas:

FIGURA 9 - LOJA/HOMEM/ENTRAR/TENTAR/MAS/NÃO CONSEGUIU

Ex. 1: Um ladrão entrou na loja.

Ex. 2: Aquele homem tentou roubar a loja, mas não conseguiu.

Page 169: Semântica e Pragmática daS LínguaS

TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

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Podemos observar com as imagens e os vídeos apresentados anteriormente que, em LIBRAS, o significado está no sinal, já em português está na palavra. Ou seja, em LIBRAS, há sinais iguais que podem receber valores semânticos diferentes. Em Português, também há palavras iguais e significados diferentes, como já vimos nos tópicos anteriores.

Em LIBRAS temos o sinal e o significado deste sinal (construído com outros elementos que ajudam a esclarecer os sentidos). Já em Português temos a palavra e o significado que a palavra adquire dentro de um contexto específico, ao unir-se a outras palavras. Em outras palavras, a produção e a compreensão das línguas necessitam de outros elementos.

Há um conjunto de fatores que são evocados na produção e na análise de sentenças – o que depende do conhecimento e do domínio dos elementos daquela língua. Quanto mais se estuda e se utiliza uma língua nos mais variados contextos, mais o falante/usuário irá sentir-se confiante, fazendo novas descobertas. Vamos adiante! Nesta etapa, dando ênfase à pragmática.

3 PRAGMÁTICA E O ESTUDO DOS SIGNIFICADOS DAS LÍNGUAS NATURAIS

Ao estudar a Pragmática, estudamos elementos colocados em prática por um falante ou usuário. Da mesma maneira, a pragmática considera o uso, o contexto. Como anteriormente apresentado, analisar a língua e a linguagem solicita conhecimentos variados, neste caso, sobre o contexto e outros princípios. A pragmática é “o estudo da linguagem em uso (contexto) e dos princípios de comunicação. Essa definição é considerada tradicional; no entanto, vale registrar que há várias tendências ao definir-se de pragmática” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 22).

Com todos os estudos até aqui, podemos dizer então que semântica estuda o significado linguístico e a pragmática estuda o significado resultante do uso linguístico. Vamos entender isso melhor. Também podemos dizer que o sentido muitas vezes sofre influência do contexto pragmático; este sendo um conjunto de circunstâncias nas quais (ou a partir dos quais) sentenças, textos ou afirmações são produzidos.

Em pragmática, interessam os atos de fala. A unidade de sentido da

pragmática é o enunciado, este em uso, dentro de um contexto. Vamos entender melhor, colocando em prática a noção pragmática de significado, vamos responder à pergunta, qual é o significado pragmático de (01) a seguir?

Page 170: Semântica e Pragmática daS LínguaS

UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

160

FONTE: Dados institucionais

A foto apresentada anteriormente pode dizer muitas coisas. Pode ir ao encontro de um pedido, reclamação, repreensão, entre outros usos. Então podemos dizer que o significado pragmático da imagem (01) lança um olhar aos usos ou às ações quando usamos os enunciados. Em outras palavras, se usarmos o enunciado para perguntar que horas são, ele significa uma pergunta/pedido. Se for discutindo ou indagando quanto ao atraso de algo ou alguém, então, o enunciado significa uma reclamação. Se um chefe chama o funcionário para chamar a atenção sobre ele ter chegado atrasado ao trabalho, o mesmo enunciado vai ao encontro de uma repreensão.

01

Algumas imagens foram inspiradas/adaptadas em/de um documento intitulado “Semântica e Pragmática”. A autoria do documento não está clara. Trata-se de um documento feito em conjunto. O autor que faz a apresentação do livro é Magdiel Medeiros Aragão Neto, professor da Federal da Paraíba.

NOTA

Dessa maneira, a pragmática se interessa pelas ações e usos ao elaborarmos os enunciados. Dessa maneira, novamente vale reforçar que para a pragmática é essencial o contexto, a situação, entender o que está se dando naquele momento. Se eu sei que o horário de entrada em uma empresa é 8 horas, um funcionário chegando 8 horas e 40 minutos contribuirá para o entendimento do enunciado em questão. Neste momento, interessam os elementos: onde, por que, como, quando, quem, locutor, interlocutores, entre outros elementos extralinguísticos.

FIGURA 10 - HORAS

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TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

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DICAS

EXTRALINGUÍSTICO: Ao falarmos extralinguístico, são outros elementos para além dos elementos verbais; esses podem ser relacionados ao conhecimento de mundo, às vivências, experiências daqueles envolvidos na situação comunicativa, além de outros elementos que a própria situação oferece. Ao estar no mundo e conviver uns com os outros, constrói-se uma bagagem experiencial.

Seguem exemplos que irão contribuir com seu aprendizado. Antes, vale lembrar que a pragmática leva em consideração o significado que o falante dá para o enunciado. Quando olhar algum exemplo, sempre é necessário olhar para além dos enunciados ou dos sinais – no caso de Libras.

Em especial, em Libras, faz-se necessário observar todos os parâmetros; em especial, a expressão facial e corporal do intérprete dos vídeos. Por meio dessa análise, poderemos compreender cada um deles de forma mais abrangente.

Enunciado 1 – Pergunta: Que horas você tem? Enunciado 2 – Reclamação: Que horas vem o ônibus? Que demora! Enunciado 3 – Repreensão: Isso são horas?

Antes das frases em QRCODE, para você que não é fluente em Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, apresentaremos os sinais soltos e, depois, estes sinais no contexto das frases como em exemplos anteriores.

FIGURA 11 - QUE/HORAS

FONTE: Dados institucionais

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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FONTE: Dados institucionais

Traremos estes três enunciados em forma de frases em Libras no QRCODE para mostrar que o significado pragmático vai depender do estudo da linguagem e seu uso no contexto.

FIGURA 12 - DEMORA/ÔNIBUS

Que horas você tem?

Que horas vem o ônibus? Que demora!

Isso são horas?

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TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

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Podemos, grosso modo, dizer que à Semântica cabe o estudo do significado da sentença, enquanto cabe à Pragmática o estudo do significado a partir do falante, do uso que este faz dos enunciados elaborados, a partir dos contextos e das situações mais variadas, sejam elas em contextos formais ou informais de comunicação.

UNI

FIGURA 13 – SEMÂNTICA E PRGMÁTICA

FONTE: <https://www.google.com/search?q=pragmatica+imagem&source=lnms&tbm=isch&-sa=X&ved=0ahUKEwjex6zRqZLjAhXZKLkGHfGTB8AQ_AUIECgB&biw=1242&bih=533#imgrc=-

00vXUmXSfyIf6M>. Acesso em: 30 jun. 2019.

DICAS

Caro acadêmico! Apresentamos um vídeo a partir do YouTube. Tal material aborda conceitos que vão ao encontro dos nossos estudos de Semântica e Pragmática. O vídeo é em Libras e está disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qxSlL884fu8>. Acesso em: 10 jul. 2019.

Caro acadêmico! Nosso livro termina logo após você realizar as autoatividades deste tópico. Contudo, os estudos e pesquisas devem continuar, afinal, a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS é uma língua viva e precisa ser estudada todos os dias.

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

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LEITURA COMPLEMENTAR

ASPECTOS SEMÂNTICOS E PRAGMÁTICOS DA LIBRAS: ABORDAGEM NO CONTEXTO SALA DE AULA

M. A. C. B. LIMA (1) M. M. ARAGÃO NETO (2)

(1) Especialista em Gestão e Avaliação da Educação Superior. Mestranda em Informática pela UFPB. Técnica em Tecnologia da Informação da PRPG-UFPB.

(2) Doutor em Linguística. Professor Adjunto do DLCV/CCHLA/UFPB.

[...]

[...]

[...]

2.4 ASPECTOS SEMÂNTICOS E PRAGMÁTICOS

Retomando os conceitos de semântica e pragmática a primeira estuda o significado linguístico e a segunda estuda o significado resultante do uso linguístico. Além disso, entendemos que o sentido muitas vezes sofre influência do

Interlocutor Interlocutor Interlocutor

Sinalizante Sinalizante Sinalizante

Maria Maria Maria

João

João João

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TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

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contexto pragmático, sendo este último tomado como o conjunto de circunstâncias em que a mensagem que se deseja transmitir é emitida. Desta forma no presente trabalho optamos por trabalhar a semântica e pragmática em conjunto.

De acordo com Fiorin (2010, p. 138-139)

Dentre as várias possibilidades de investigação do significado, uma delas, se concentra no estudo da relação existente entre as expressões linguísticas e o mundo. Não se pode negar que uma das características importantes das expressões linguísticas é que elas são sobre alguma coisa. [...] Esse mundo sobre o qual falamos quando usamos a linguagem pode ser tomado como o mundo real, parte dele ou mesmo outros mundos ficcionais ou hipotéticos.

Assim, o significado é entendido como sendo a relação entre a linguagem e o que ela fala, ou seja, o mundo. Fiorin (2010) afirma que conhecer a verdade sobre a sentença é entender em que circunstância de mundo esta será verdadeira ou falsa.

Então o significado linguístico do enunciado, em Libras, é influenciado substancialmente, de acordo com o que vimos na seção anterior, pelos aspectos sintáticos da classe morfológica ‘verbo’ (Figura 8 e 9). E segundo Silva (2006) esta classe morfológica também é bastante influenciadora das relações semânticas da língua. Tal fato dá-se diante de importância do conhecimento do sentido do verbo para entender o seu comportamento e consequentemente predizer as suas propriedades sintáticas.

Substanciado com essa afirmativa Silva (2006) relata que as propriedades sintáticas e semânticas de um verbo, em Libras, determinam o comportamento deste, sendo a diferença de comportamento percebida de acordo com os elementos dêiticos. Sendo assim, os verbos em Libras quando classificados considerando suas características morfológicas e semânticas, de acordo com Felipe (2001) são enquadrados em:

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UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

166

2.4.1 O papel do contexto

Um dos princípios da língua é comunicar e o da comunicação é fazer-se entender. É nesta perspectiva que Bernardino (1999) fala que alguém que deseja socializar informações deve fazer uso de uma linguagem e para se fazer compreender necessita que use as regras convencionadas pelo uso social, ou seja, deve usar uma língua. Acrescenta ainda, que a contextualização do discurso é importante para que o compartilhamento de conhecimento seja eficiente e eficaz.

Fiorin (2010) apresenta-nos que o enunciado do discurso é realizado em uma situação estabelecida pelos participantes da comunicação, pelo momento da enunciação e pelo lugar onde este enunciado é produzido.

Bernardino (1999) também relata que é importante o receptor da mensagem estar ciente daquilo que permeia os arredores do objeto discutido em uma cena, sendo este chamado de contexto intrínseco ao processo. Soma-se a este processo o conhecimento de mundo do receptor, ou seja, as experiências vivenciadas naquele momento, sendo este contexto denominado de incidental.

Como o entendimento da mensagem depende do conhecimento de

mundo do receptor esta pode ser interpretada de forma distorcida, por isso, para se ter garantias da compreensão da mensagem o emissor deverá identificar três evidências durante o processo, são elas, copresença física, copresença linguística e pertencer a mesma comunidade (BERNARDINO, 1999).

A copresença física é garantir que os interlocutores têm conhecimento do evento; a copresença linguística é garantir que estão falando sobre o mesmo assunto e usam a mesma linguagem; e, pertencer a mesma comunidade, para garantir que eles estão falando de algo que elas entendem com o mesmo significado (BERNARDINO, 1999).

2.4.2 Construção do significado

Marcuschi diz que (1999) o conhecimento linguístico é certamente adquirido e que o que é inato seria apenas um dispositivo para a aquisição da linguagem. Entretanto, a língua não seria adquirida diretamente da experiência e nem seria usada para referir diretamente o mundo. Fala que a língua não é um “retrato” da experiência, mas pode ser um “trato” desta, no sentido de que “nossas representações são projeções de um mundo elaborado mentalmente na base de experiências, não apenas individuais, mas socializadas e constituídas em discursos”; da mesma forma, o conhecimento seria uma forma de relacionar, e não de copiar a realidade. Ele diz ainda que há muitos tipos de conhecimento envolvidos na linguagem e não apenas o linguístico e que o problema está em explicar como esses conhecimentos se integram para formar a cognição como um todo.

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TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

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Em um processo centrado no contexto, os ouvintes usam a situação e o contexto da sentença para a compreensão do que o falante quer dizer. Quanto mais informações o contexto provê, maior é a confiança conseguida na construção do significado.

Portanto, a construção do significado não é realizada a partir apenas do conhecimento do léxico e da gramática, ocorre através da relação de processos cognitivos que promovem a compreensão do signo linguístico e da criação do significado baseado na perspectiva de uso linguístico.

FONTE: LIMA, M. A. C. B.; ARAGÃO NETO, M. M. Aspectos Semânticos e Pragmáticos da Libras: abordagem no contexto. In: Colóquio Internacional de Pesquisas em Educação Superior, 2013, João Pessoa – PB. Colóquio Internacional de Pesquisas em Educação Superior: Políticas de inclusão e igualdade social, 2013.

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168

RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A Semântica é o estudo do sentido das palavras de uma língua. • A Semântica é a parte da linguística que estuda a natureza do significado

individual das palavras e do agrupamento das palavras nas sentenças. • Podemos também entender que toda manifestação linguística faz parte de um

sistema pleno e aberto que é associado a um sentido. • O significado tem uma recepção maior, nas conversas do dia a dia e ele é mais

limitado quando estamos pesquisando em Semântica. • Precisamos de início compreender: o que se entende por um termo quando

estamos estudando semântica. • Então podemos dizer que, para a Semântica, o significado se limita ao

significado que as sentenças de uma língua têm, não levando em consideração o que a pessoa que vai falar quer dizer.

• Precisamos lembrar, que um sinal ele pode ter todos os parâmetros iguais, o

que vai diferenciar é a colocação deste sinal dentro do contexto – uma sentença e uma situação.

• Somente quando sinalizamos ou vimos alguém sinalizar que perceberemos que alguns sinais possuem mais que uma significação – dessa maneira, mais uma vez o contexto é de grande relevância.

• Em se tratando de Semântica, o significado está no sinal, enquanto em português

está na palavra. Ou seja, em LIBRAS, há sinais iguais, palavras diferentes, dando significado diferentes a estes sinais.

• Em Português, também há palavras iguais e significados diferentes. • A pragmática estuda o significado resultante do uso linguístico, prático, dentro

de uma situação comunicativa. • Podemos dizer que o sentido muitas vezes sofre influência do contexto

pragmático, sendo um conjunto de circunstâncias que fazem parte e ajudam a construir a mensagem pretendida.

• Podemos, grosso modo, dizer que à Semântica interessa o estudo da sentença, já à Pragmática, o estudo do significado levando em consideração o falante e o contexto, a situação.

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AUTOATIVIDADE

1 Estudamos, neste tópico, que a informação semântica está pre-sente na palavra da Língua Portuguesa, bem como no sinal da LIBRAS. Disserte sobre as semelhanças e diferenças semânti-cas entre essas línguas.

2 A LIBRAS possui níveis linguísticos, o que a torna uma língua natural, completa. Entre esses níveis, destacamos neste tópico os níveis semânticos e pragmáticos. Sobre a semântica e a pragmáti-ca, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) Para a Semântica, o significado se limita ao significado que as sentenças de uma língua têm, não levando em consideração o que a pessoa que vai falar quer dizer.

( ) A Pragmática estuda o significado resultante do uso linguístico. ( ) A Semântica é o estudo do sentido das palavras de uma língua. ( ) À Semântica cabe o estudo do significado do falante enquanto cabe à

Pragmática o estudo do significado da sentença.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – F. b) ( ) F – F – V – V. c) ( ) F – V – V – F. d) ( ) V – F – V – V.

3 Observe o sinal abaixo:

A foto acima pode dizer muitas coisas, entre elas: pedido, reclamação, repreensão, entre outros. Então podemos dizer que o significado pragmático da imagem, acima, pode ser cada um dos usos ou as ações que venhamos a realizar quando usamos os enunciados. Com base em seus estudos, numere as frases a seguir:

FONTE: Dados institucionais

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I- Pergunta.II- Reclamação.III- Repreensão.

A partir de tais itens, numere as sentenças a seguir:

( ) Que horas você tem?( ) Isso são horas?( ) Que horas vem o ônibus? Que demora!

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:a) ( ) I, II, III.b) ( ) III, II, III.c) ( ) I, III, II. d) ( ) II, I, III.

Page 181: Semântica e Pragmática daS LínguaS

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