Sentido Da Vida Na Fase Adulta

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270 disponível em www.scielo.br/prc Sentido de Vida na Fase Adulta e Velhice Meaning of Life in Adulthood and Later Life Cinara Sommerhalder * Universidade Estadual de Campinas Resumo A busca incessante de um sentido para a vida faz parte dos questionamentos existências. Viktor Frankl foi pioneiro em abordar o tema na Psicologia. Posteriormente, a pesquisa fez uso de seus ensinamentos e ampliou a definição do construto. Estudos transculturais têm contribuído para uma melhor compreensão do tema, mas as pesquisas ainda precisam ser aprofundadas. Embora os instrumentos disponíveis ainda estejam sendo testados e aperfeiçoados, as informações já alcançadas representam uma contribuição de grande relevância para o estudo do desenvolvimento do adulto e da velhice. Este artigo objetiva mostrar a evolução do conceito e como as pesquisas vêm tratando o assunto na área do desenvolvimento do adulto e da velhice. Palavras-chave: Sentido de vida; Desenvolvimento adulto; Velhice. Abstract The unceasing search for meaning to life is part of the existential questioning. Viktor Frankl is a pioneer in this field. Later, researchers have used his lessons to expand the definition of the construct ‘meaning of life’. Transcultural studies lead to a better understanding of this theme, but further research still needs to be done. The available instruments are being tested and improved; however, we already have relevant information on the theme, and it contributes largely to the study of the development of adulthood and later life. This article aims at showing the evolution of the concept ‘meaning of life’ and how researches have been dealing with the theme in the field of adulthood and later life development. Keywords: Meaning of life; Adulthood; Later life. * Endereço para correspondência: Rua Valentim Trevisan, 686 Jd. Janorama, Vinhedo, SP, Brasil, CEP 13280-000. E- mail: [email protected] O sentido de vida faz parte dos questionamentos existenciais e é uma busca constante do ser humano. A Psicologia tem uma longa trajetória de dedicação à compreensão do conceito para melhor explicitá-lo e, assim, compreender sua relação com os mecanismos de ajustamento e adaptação, contribuindo para o estudo do desenvolvimento humano e do envelhecimento. Esta pesquisa teve como objetivo realizar um levan- tamento bibliográfico exploratório para buscar: as defini- ções de sentido de vida, a evolução do conceito e as linhas de pesquisas, como as pesquisas estão sendo conduzidas e de que forma essas descobertas podem contribuir para a Psicologia do Desenvolvimento no que tange à compre- ensão dos mecanismos de ajustamento e adaptação na vida adulta e na velhice. As bases de dados consultadas foram: AgeLine, PsycoInfo, Lilacs e MedLine, com as palavras-chave: meaning of life, meaning in life, personal meaning e personal meaning sources. Foram encontrados dois grandes grupos de estudos. O primeiro relaciona sentido de vida a aspectos de saúde, que compreendem doenças graves como Aids e câncer, iminência de morte, saúde mental e saúde física, e a as- pectos psicológicos como estratégias de enfrentamento, afetividade, sentimentos positivos, traços de personali- dade, motivação, redes de suporte, bem-estar, formação da identidade de crianças e adolescentes, responsabi- lidade, ajustamento psicológico diante de perdas signi- ficativas, religiosidade e espiritualidade. Os modelos teóricos estão pautados em teorias de estresse, enfren- tamento, nos pressupostos de Viktor Frankl, em teorias de controle, de bem-estar, enfrentamento religioso/espi- ritual e depressão. O segundo grupo é mais específico, investiga as fontes de sentido na vida. Aqui, foram en- contrados estudos que definem o construto e trabalham com um modelo teórico baseado nessa definição. Essa linha de pesquisa investe em estudos transculturais e construção e validação de instrumentos. Com base nessas informações, serão apresentados re- latos de pesquisas dos dois grandes grupos de investiga- ções e as lacunas que ainda precisam ser preenchidas. Definição do Conceito: De Viktor Frankl aos Dias Atuais Na Psicologia, Viktor Frankl (1905-1997) foi pioneiro ao escrever e questionar sistematicamente sobre o senti- do da vida. Frankl dedicou-se ao trabalho clínico-tera-

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    disponvel em www.scielo.br/prc

    Sentido de Vida na Fase Adulta e Velhice

    Meaning of Life in Adulthood and Later Life

    Cinara Sommerhalder*Universidade Estadual de Campinas

    ResumoA busca incessante de um sentido para a vida faz parte dos questionamentos existncias. Viktor Franklfoi pioneiro em abordar o tema na Psicologia. Posteriormente, a pesquisa fez uso de seus ensinamentos eampliou a definio do construto. Estudos transculturais tm contribudo para uma melhor compreensodo tema, mas as pesquisas ainda precisam ser aprofundadas. Embora os instrumentos disponveis aindaestejam sendo testados e aperfeioados, as informaes j alcanadas representam uma contribuio degrande relevncia para o estudo do desenvolvimento do adulto e da velhice. Este artigo objetiva mostrara evoluo do conceito e como as pesquisas vm tratando o assunto na rea do desenvolvimento do adultoe da velhice.Palavras-chave: Sentido de vida; Desenvolvimento adulto; Velhice.

    AbstractThe unceasing search for meaning to life is part of the existential questioning. Viktor Frankl is a pioneerin this field. Later, researchers have used his lessons to expand the definition of the construct meaningof life. Transcultural studies lead to a better understanding of this theme, but further research still needsto be done. The available instruments are being tested and improved; however, we already have relevantinformation on the theme, and it contributes largely to the study of the development of adulthood andlater life. This article aims at showing the evolution of the concept meaning of life and how researcheshave been dealing with the theme in the field of adulthood and later life development.Keywords: Meaning of life; Adulthood; Later life.

    * Endereo para correspondncia: Rua Valentim Trevisan,

    686 Jd. Janorama, Vinhedo, SP, Brasil, CEP 13280-000. E-mail: [email protected]

    O sentido de vida faz parte dos questionamentosexistenciais e uma busca constante do ser humano. APsicologia tem uma longa trajetria de dedicao compreenso do conceito para melhor explicit-lo e,assim, compreender sua relao com os mecanismos deajustamento e adaptao, contribuindo para o estudodo desenvolvimento humano e do envelhecimento.

    Esta pesquisa teve como objetivo realizar um levan-tamento bibliogrfico exploratrio para buscar: as defini-es de sentido de vida, a evoluo do conceito e as linhasde pesquisas, como as pesquisas esto sendo conduzidase de que forma essas descobertas podem contribuir paraa Psicologia do Desenvolvimento no que tange compre-enso dos mecanismos de ajustamento e adaptao navida adulta e na velhice. As bases de dados consultadasforam: AgeLine, PsycoInfo, Lilacs e MedLine, com aspalavras-chave: meaning of life, meaning in life, personalmeaning e personal meaning sources.

    Foram encontrados dois grandes grupos de estudos. Oprimeiro relaciona sentido de vida a aspectos de sade,que compreendem doenas graves como Aids e cncer,

    iminncia de morte, sade mental e sade fsica, e a as-pectos psicolgicos como estratgias de enfrentamento,afetividade, sentimentos positivos, traos de personali-dade, motivao, redes de suporte, bem-estar, formaoda identidade de crianas e adolescentes, responsabi-lidade, ajustamento psicolgico diante de perdas signi-ficativas, religiosidade e espiritualidade. Os modelostericos esto pautados em teorias de estresse, enfren-tamento, nos pressupostos de Viktor Frankl, em teoriasde controle, de bem-estar, enfrentamento religioso/espi-ritual e depresso. O segundo grupo mais especfico,investiga as fontes de sentido na vida. Aqui, foram en-contrados estudos que definem o construto e trabalhamcom um modelo terico baseado nessa definio. Essalinha de pesquisa investe em estudos transculturais econstruo e validao de instrumentos.

    Com base nessas informaes, sero apresentados re-latos de pesquisas dos dois grandes grupos de investiga-es e as lacunas que ainda precisam ser preenchidas.

    Definio do Conceito: De Viktor Franklaos Dias Atuais

    Na Psicologia, Viktor Frankl (1905-1997) foi pioneiroao escrever e questionar sistematicamente sobre o senti-do da vida. Frankl dedicou-se ao trabalho clnico-tera-

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    putico e fundou a Logoterapia, tambm conhecida comoTerceira Escola Vienense de Psicoterapia, ou Psicologiado Sentido da Vida, cuja premissa bsica a busca desentido para a vida. O trabalho de Frankl todo voltados questes existenciais.

    De acordo com o autor, no possvel ao psiclogo darum sentido para a vida do outro, mas sim ajud-lo a en-contrar o seu prprio sentido (Sommerhalder &Goldstein, 2006). Ele prope quatro fatores que podemlevar a pessoa a encontrar um sentido para a vida: (a) Avalorizao do que importante para a pessoa, ou seja,aquilo que teve significado durante a vida, desde ospequenos at os grandes eventos. As experincias de vidainfluenciam na forma que cada um tem de lidar com assituaes. (b) As escolhas o indivduo responsvelpor cada escolha que faz ao longo da vida, inclusivediante de situaes adversas. Frankl aborda o sofrimentocomo uma grande oportunidade de crescimento pessoal,que, no entanto, depende de como a pessoa o enfrenta.Ela pode sucumbir dor, ou extrair ensinamentos da si-tuao difcil. (c) Responsabilidade por tudo o que apessoa faz, pelas escolhas e decises. (d) Significadoimediato dar sentido s coisas que acontecem na vidadiria, tanto as experincias positivas, quanto as negati-vas (Frankl, 1999).

    Para uma vida com sentido, trs valores so significa-tivos: valor criativo produzir algo significativo, fazeruma boa ao; valor vivencial vivenciar, experimentaraquilo que a pessoa recebe do mundo, que pode estarrelacionado s experincias de trocas afetivas ou mesmointeragindo com os objetos do mundo. O sentido podeser encontrado em uma experincia independente de qual-quer ao, e um nico momento de experincia intensapode prover significado para a vida toda; valor atitudinal transformar a tragdia pessoal em triunfo, ou seja, bus-car lies de crescimento pessoal nos momentos difceis(Frankl, 1999). Segundo esse autor, a falta de sentidopara a vida poderia desencadear sintomas como ansieda-de, depresso, falta de esperana e declnio fsico.

    Frankl contribuiu enormemente na rea clnica. J narea de pesquisa, outros autores somaram novas dimen-ses ao construto. Reker e Wong (1988) definem sentidode vida como um construto multidimensional, compostopor um componente cognitivo, englobando crenas einterpretaes do mundo. Isso ajuda o indivduo nas suaspreocupaes existenciais, na organizao e na compre-enso das experincias. H tambm um componentemotivacional, que rene os sistemas de valores de cadaindivduo, os quais interferem na realizao das metaspessoais. Por ltimo, h um componente afetivo, rela-cionado ao sentimento de satisfao, que a convicode que a vida vale a pena. As experincias pessoaismedeiam essas escolhas.

    Reker (2000) observa que o construto sentido de vidatem sido considerado, nos ltimos anos, o mais comple-xo e discutido na literatura, por diferentes abordagens.As dimenses mais exploradas levam em conta o modo

    como o sentido experienciado. A literatura denominacomponentes estruturais, que representam aquilo que aspessoas relatam das suas vivncias, como as percebem.Eles esto relacionados s experincias em si. tambmnessa perspectiva que se inserem as fontes de sentido, ouseja, em quais esferas da vida se localizam as razes doviver.

    Reker (1997) afirma que o sentido de vida est asso-ciado a ter um propsito, uma direo, uma razo para aexistncia, ter uma percepo de identidade pessoal einteresse social, alm de sentir-se satisfeito com a vida,mesmo diante de situaes difceis, quando o para queviver essencial. Na dimenso individual, as crenas,os valores e as necessidades da pessoa norteiam quais asmetas que ela deve perseguir e em quais relacionamen-tos deve investir. Isso funciona como um guia para asbuscas e os engajamentos individuais.

    O sentido de vida que compreende esquemasconceituais, categorias do self e interpretao da vida orienta o indivduo em direo ao viver. uma redecognitivo-afetiva que abrange metas, comportamentos evrias classes de padres de autoavaliao. direcionadopelos valores da vida e est associado sade mental(Prager, 1997).

    O construto ainda considerado novo na rea de estu-dos do envelhecimento. O eixo desses trabalhos o con-ceito de envelhecimento como um processo universal e,como tal, envolvido por indagaes sobre a continuidadedo ser. Um dos questionamentos mais comuns por queestou aqui; para onde vou?. Apesar disso, precisolembrar que, salvo as semelhanas inerentes espcie,adultos e pessoas idosas so indivduos com histrias devida, aspiraes e atribuies de significado para suasexistncias que corroboram suas vivncias, ou seja, en-velhecer uma experincia singular, ligada trajetriapessoal, o que define sua particularidade. Prager (1997)alerta para a necessidade de se pensar a velhice no comouma categoria etria universal, mas sim como uma fasena qual a singularidade dos indivduos deve ser pontoinicial de qualquer trabalho.

    Encontrar sentido est relacionado a um equilbrio entreperdas e ganhos, dar significado para as atitudes e oseventos cotidianos e ter um propsito na vida. Vriosfatores influenciam a percepo de sentido na vida. Osfatores internos, que esto ligados ao desenvolvimentodo indivduo, podem ser: personalidade, estratgias deenfrentamento, religiosidade, espiritualidade, sentimen-to de pertencimento, histria de vida; j os fatores exter-nos, que pertencem ao meio e corroboram o significadoque as pessoas do vida, relacionam-se a: oportuni-dades sociais, trabalho, renda, lazer, suprimento dasnecessidades bsicas de sobrevivncia e segurana.

    Encontrar sentido para as experincias da vida, estarno mundo com um objetivo, em prol de algo, conseguirdar um propsito para as atividades dirias e at mesmoencontrar significado para as dificuldades so alguns doscaminhos para dar sentido vida.

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    De Vogler e Ebersole (1980) conceituam sentido de vidaem oito dimenses: compreenso (busca de mais conhe-cimento); relacionamento (orientao interpessoal);servio (ajudar, dar orientao); crena (acreditar emalgo); expresso (artstica, esportiva, musical, literria);conquistas (respeito, posses, responsabilidade); cresci-mento (desenvolvimento do potencial pessoal, cumpri-mento de metas) e existencial-hedonstica (a importn-cia do prazer na vida diria). Paralelamente, h as metasde vida, realizao e trabalho (incluindo recompensaeconmica, sucesso, status social e satisfao), boasrelaes pessoais, metas filosficas e religiosas, serviosocial, ausncia de dificuldade (segurana, automanuten-o, sade, conforto), satisfao e crescimento pessoal(incluindo aprendizagem, conhecimento e domnio).

    Fiske e Chiriboga (1991) relatam que a dimenso cres-cimento pessoal a mais citada nos estudos sobre mu-dana e continuidade ao longo da vida, que so temasdiretamente ligados ao sentido na vida e de interesse daPsicologia do Desenvolvimento. Guttman e Huyck (1994)afirmam que o envelhecimento no s a continuidadede uma mudana, mas tambm um tempo de adaptaos perdas. Assim, encontrar um sentido para a vida epara as experincias ajuda a enfrentar as perdas, queaumentam com o avanar da idade.

    Baumeister (1991) define o sentido de vida como umarepresentao mental de possveis relaes entre coisas,eventos e relacionamentos, ou seja, a importncia que aspessoas do s pequenas e s grandes coisas da vida.Thompson e Janigiana (1988) afirmam que o indivduotem esquemas de vida que lhe conferem ordem, prop-sito e direo. Kaufman (1987) considera que a vida notem um sentido por inteiro, sustentando a ideia de frag-mentos ou histrias interessantes, atividades significa-tivas, investimento e realizao de metas. Essa posiotambm defendida pelos existencialistas, que argu-mentam que cada pessoa constri ativamente o signifi-cado de sua vida. De Vogler e Ebersole (1980) ressaltamque o relacionamento com a famlia e com os amigosest diretamente ligado ao sentido de vida. Krause(2007) afirma que o significado na vida dos idosos estassociado natureza do suporte social que eles rece-bem de familiares e amigos prximos. Em reviso dotema, Sommerhalder e Erbolato (2008) analisam pes-quisas significativas que apontam os relacionamentosmais ntimos com amigos e familiares como importantescomponentes do sentido de vida.

    O construto sentido de vida tem uma dimenso indi-vidual, como tambm tem um componente cultural. Osvalores e temas da vida, embora sejam individuais,fazem parte de um todo maior que a cultura na qual osujeito est inserido, e isso influencia as decises pes-soais, ou seja, os sujeitos decidem tambm com baseem opinies, valores e metas coletivas (Prager, 1997).A necessidade de estar inserido no contexto social, desentir-se parte da cultura faz com que muitos fatores re-

    lacionados ao sentido individual sejam compartilhadospela coletividade.

    H tericos que defendem que o sentido de vida nomuda muito ao longo da existncia, ou seja, sofre so-mente transformaes graduais na conjuno com mu-danas nos sistemas de crenas e valores (Zika &Chamberlain, 1992). Envelhecer um processo e aspreferncias no mudam drasticamente, ou seja, elasacompanham esse caminho. As escolhas vo sendo fei-tas tendo por base as crenas, os valores e as experin-cias do indivduo e, salvo em situaes extraordinrias como doenas graves, catstrofes etc., que conduzemo indivduo a uma ressignificao da sua vida que, even-tualmente, o impulsionam a mudanas drsticas , opadro de comportamento e das escolhas acompanha odesenvolvimento.

    Atchley (1989) desenvolve um modelo que trata demudanas sofridas por adultos. A premissa central de suatese, chamada de teoria da continuidade, a de que nameia-idade e na velhice as mudanas sofridas pelos adul-tos tm por finalidade a adaptao, a preservao e amanuteno de estruturas externas e internas, e defendeque, para tanto, so utilizadas estratgias ampliadas,desenvolvidas e adaptadas s novas situaes. Os adul-tos utilizam-se das experincias passadas para resolveras questes do presente, numa forma de continuidade eadaptao. Coerncia e consistncia so parte dessepressuposto, o que no significa oposio mudana.Crescimento, desenvolvimento e mudanas adaptativasno implicam permanecer sempre da mesma forma.Acontecimentos variados podem modificar a direo e ocontexto de vida, o que no significa rompimento totalcom o passado. O modelo consiste de princpios geraisadaptativos para as pessoas que esto envelhecendo nor-malmente e de formas de utilizao dessas estratgias notrabalho, na vida pessoal, na esfera familiar e no conv-vio social.

    Os resultados positivos do envelhecimento normalocorrem quando os indivduos usam estratgias de adap-tao para as mudanas associadas ao processo. Apesardas mudanas nas estruturas de identidade, na meia-idade muitos pontos resultam da continuidade e da es-tabilidade de aspectos globais do self e da identidade(Atchley, 1989).

    O modelo de continuidade liga adaptao histria devida, e estabilidade autopercebida (continuidade inter-na) rede de suporte social e interao na comunidade(continuidade externa). Continuidade interna essen-cial para a integridade do ego e necessria para a auto-estima. Kaufman (1987) afirma que adaptao na vidatardia um processo em que passado e presente esto eminterao; para isso, o passado precisa ser organizado ecompreendido como forma de auxlio para o enfrenta-mento dos eventos presentes. A interao social de sumaimportncia nesse processo e, ainda segundo o autor, seconsegussemos descobrir as fontes de sentido que esto

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    imbricadas nesse contexto, teramos informaes valio-sas a respeito de desenvolvimento e continuidade. Lazarus(1998) tambm aborda que envelhecer bem requer com-pensao de perdas fsicas e mentais, com o objetivo demanter em destaque os valores importantes e as metasde vida.

    As pessoas mais velhas necessitam manter o senso decontinuidade com o passado, porque isso ajuda no enfren-tamento das mudanas. Os estudos apontam para a con-tinuidade do sentido na vida e continuidade do self.

    Reviso de Literatura

    Pesquisando em bases de dados como AgeLine,PsycoInfo, Lilacs e MedLine, observou-se que h doisgrandes grupos de pesquisas na literatura: o primeirorene estudos que associam sentido de vida a aspectosde sade, entre os quais doenas graves como Aids ecncer, sade mental, sade fsica e iminncia de morte,e a aspectos psicolgicos, como estratgias de enfrenta-mento, afetividade, sentimentos positivos, traos de per-sonalidade, motivao, redes de suporte, bem-estar, for-mao da identidade de crianas e adolescentes, res-ponsabilidade, ajustamento psicolgico diante de perdassignificativas, inclusive morte, viuvez, asilamento, reli-giosidade, espiritualidade. Nessa linha h pesquisadoresbrasileiros, como Calache (1993), Diniz (1992), Huf(1999), Leonardi (2007), Vitola (1998) e Zaleski (1996,2001), e pesquisadores internacionais, como Davis, Nolen-Hoeksema e Larson (1998), Fry (1998, 2001), Kirby,Coleman e Daley (2004), Krause (2003, 2004), Prager(1996, 1997), Reker (1997), Reker e Wong (1988), Wong(1998). Esses estudos fundamentam-se nos pressupostosde Viktor Frankl, em teorias de enfrentamento, de estresse,de controle, de bem-estar, enfrentamento religioso/espi-ritual e depresso. Alguns relatos no investigaram es-pecificamente o sentido de vida nem utilizaram modelostericos que englobassem o tema, mas, como abordamaspectos importantes da vida adulta e do envelhecer bem,seus resultados podem ser usados como exemplos, poisnos do pistas sobre pontos essenciais que do significa-do vida.

    O segundo grupo de pesquisas enfoca especificamenteas fontes de sentido na vida, ou seja, a que esferas osindivduos atribuem sentido em suas vidas. Nessa linha,o que mais encontramos so relatos de pesquisas trans-culturais, que buscam as similaridades das fontes desentido na vida adulta e na velhice. Os pesquisadoresprocuram identificar aspectos que podem ser comuns nodesenvolvimento. Essa linha utiliza modelos tericos desentido de vida e investe em validao e construo deinstrumentos de medida.

    A seguir sero expostos dados de pesquisas, para umaviso geral de como as investigaes esto sendo condu-zidas nos dois grupos.

    Halama (2000) buscou as relaes entre sentido de vida,estratgias de enfrentamento e sentimento de frustrao

    em adolescentes eslovquios. Sua tese baseou-se na hip-tese de que o sentido na vida poderia ser um importanteauxiliar nas estratgias positivas de enfrentamento emanejo do estresse. Os resultados apontaram relao sig-nificativa entre o sentimento de vazio existencial e rea-es agressivas. Tambm indicaram que a falta de senti-do representada por tdio, apatia e sentimento de indi-ferena pode diminuir a habilidade de enfrentamentoe, consequentemente, aumentar a frustrao, que temrelao significante com a agressividade. Em sntese, apesquisa revela relao estreita entre falta de sentido devida e agressividade.

    Estudos com populaes idosas mostram a relevnciado sentido como fator protetor para depresso. Reker(1997), num estudo sobre depresso em idosos, revelaque ter um propsito e ser otimista so fatores de prote-o contra a depresso. Fry (2001), em uma pesquisacom adultos vivos, com o objetivo de investigar sevariveis existenciais como o significado pessoal, o oti-mismo, a religiosidade e a acessibilidade ao suporte reli-gioso eram preditores de bem-estar psicolgico, relataque ter um propsito na vida ajuda a superar a perdae tambm na preveno de depresso. Krause (2003)investigou o significado religioso, definido como umprocesso que envolve a religio como esforo para des-cobrir um senso de propsito na vida, um senso de dire-o e uma razo para a existncia, em idosos. O autorassociou significado religioso a bem-estar subjetivo. Con-cluiu que os idosos que tinham o senso de significadoreligioso tenderam a ter maior nvel de satisfao na vida,maior autoestima e otimismo.

    Na rea da sade, Kahana e Kahana (2001) investiga-ram o sucesso do envelhecimento de pacientes com HIV/Aids. Eles sugerem que aspectos do envelhecimento bem-sucedido como esperana, altrusmo, autoestima,estratgias de enfrentamento e satisfao com a vida podem interferir na percepo de sentido de vida e,consequentemente, na qualidade de vida dos sujeitos.No Brasil, Zaleski (1996) examinou aspectos do sentidode vida em soropositivos adultos para HIV, valendo-seda trade trgica proposta por Frankl: sofrimento, senti-mento de culpa e morte. Famlia, amigos, esperana decura, religio e amor fundamentaram o sentido de vidadessas pessoas. Posteriormente a autora pesquisou osignificado da culpa existencial em soropositivos paraHIV (Zaleski, 2001). Encontrou relaes importantesentre o sentimento de culpa e a condio que a doenatraz aos filhos. Familiares e amigos foram importantesfontes de suporte e enfrentamento da culpa. Leonardi(2007) enfocou o sentido de vida num grupo de portado-res de transtornos mentais e encontrou dados importan-tes relacionando a relevncia da solidariedade como fontede sentido para um existir pleno.

    Esses estudos mostram que as diferentes geraespercebem o sentido de vida de formas variadas, mas hpontos que so comuns, como as necessidades bsicasde comer, de se abrigar e de segurana, necessidade de

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    lazer, trabalho criativo, relacionamento pessoal, reali-zao e crescimento pessoal e social, ativismo poltico,altrusmo, valores tolerantes e ideais, tradio, cultura ereligio (Reker, Peacock, & Wong, 1987).

    As diferenas na percepo de um sentido para a vida,ao longo dos anos, esto associadas ao grau de conscin-cia de mundo que cada um experimenta em diversosmomentos da vida. Variveis como gnero, idade, nveleducacional, papel social desempenhado em um dadomomento, profisso, religiosidade e espiritualidade, his-tria de vida, fatores de personalidade e apoio socialdevem ser mais bem investigados, porque elas interfe-rem na percepo de sentido de vida. Talvez os idososconstituam um grupo que tem predisposio para perce-ber a vida com mais sentido e propsito do que adultosde meia-idade e pessoas mais jovens. Isso porque elesso mais realistas em relao persecuo de metas etm menor predisposio ao sentimento de vazio exis-tencial. Os idosos tendem a fazer uma leitura mais fielda realidade e de suas capacidades, o que os encaminhapara decises mais acessveis, realizveis, compatveiscom a situao e a finalizao efetiva da tarefa. Dessemodo, ficam menos expostos ao sentimento de frustra-o (Reker, 2001).

    Em relao s fontes de sentido na vida, os primeirosestudos mostravam que as fontes de sentido na vida esta-vam ligadas a crescimento pessoal, relacionamentos,religio, metas filosfico-espirituais, sucesso, patrimnio,ganhos em sabedoria, altrusmo, aes hedonistas, rea-lizao profissional e segurana (De Vogler & Ebersole,1980; Fiske & Chiriboga, 1991; Thurner, 1975). Basea-do nessas informaes, na dcada de 1990 Reker orga-nizou tais dados e elaborou um instrumento de medidaespecfico na investigao das fontes de sentido, oSources of Personal Meaning Profile - Revised ([SOMP-R], Reker, 1996), que foi muito utilizado em estudostransculturais. uma escala tipo Likert, com 17 itensavaliados num continuum de sete pontos e suas respostasvo de no muito significativo para mim (1) a extre-mamente significativo para mim (7), podendo ser auto-aplicada. Os itens da escala so: participao em ati-vidades de lazer, satisfao de necessidades bsicas dodia a dia, participar de atividades criativas, envolvimentoem relaes pessoais e com familiares e/ou amigos, reco-nhecimento por aquisies pessoais, experincia pessoalde crescimento, participao em atividades religiosas,interesse em causas sociais, estar a servio do outro,preservao de valores humanos e ideais, preservao dacultura e da tradio, deixar legado para as prximasgeraes, sentimento de segurana financeira, interesseem direitos humanos, participao em atividades hedo-nistas (jogos, festas), aquisio de posses materiais parapoder gozar de uma boa vida e relacionamento com anatureza. O objetivo do SOMP era buscar as similari-dades das fontes de sentido que poderiam fazer parte dodesenvolvimento humano.

    Tais estudos transculturais focavam o desenvolvimen-to do adulto e tinham por objetivo trabalhar com gruposnas trs faixas etrias: adulto jovem, meia-idade e ido-sos, de ambos os gneros, e comparar os resultados entreas diferentes faixas etrias e entre diferentes naciona-lidades. A seguir, so apresentados os principais resul-tados desses estudos que utilizaram o SOMP-R comoinstrumento de pesquisa. Reker e Wong (1988) trabalha-ram com adultos canadenses nas trs faixas etrias. Paratodos os grupos encontrou similaridade nas seguintesfontes: relacionamento pessoal, satisfao de necessi-dades bsicas, crescimento pessoal, atividades de lazer,preservao de valores e ideais, realizao pessoal ealtrusmo. O autor concluiu que h uma mudana quali-tativa na velhice, ou seja, h uma tendncia no desen-volvimento em direo a um processo mais interiorizado,egocntrico, autopreocupado, ou seja, o indivduo se voltaprogressivamente para o controle e a satisfao das suasnecessidades bsicas. Esse processo de interiorizao,expressivo a partir da segunda metade da vida, podeinfluenciar nas fontes de sentido na vida.

    Numa outra tentativa de investigar fatores culturaisligados s fontes de sentido na vida, Prager (1996) com-para os dados de seu estudo conduzido com adultosaustralianos nas trs faixas etrias aos de Reker e Wong(1988), que trabalhou com os mesmos grupos etrios,mas com amostra de canadenses. Como no estudo deReker e Wong (1988), a hiptese de tendncia inte-rioridade no envelhecimento tambm foi consideradapor Prager (1996). Segundo este autor, se ela fosse ver-dadeira, os resultados de sua pesquisa com a amostraaustraliana deveriam ser muito prximos aos achados daamostra canadense de Reker e Wong (1988), uma vezque a interiorizao faria parte do desenvolvimento doadulto e no seria apenas um fator especfico de gruposparticulares.

    Os resultados apontaram duas fontes de sentido comosendo importantes para as duas amostras e para todas asfaixas etrias: satisfao de necessidades bsicas e rela-es pessoais. Preservao de valores e ideais humanostambm foram fontes importantes para os grupos. Essesresultados indicaram os pontos de similaridade nas fon-tes de sentido nos diferentes grupos etrios e culturais, oque sugere que algumas fontes podem ser comuns aosindivduos adultos.

    Posteriormente Prager (1997) comparou os dados des-se estudo australiano com dados de uma amostra israe-lense, todos indivduos adultos, pertencentes s trsfaixas etrias e de ambos os gneros. Concluiu que hou-ve similaridade na atribuio de sentido entre os gruposetrios das diferentes nacionalidades, tanto quanto napercepo de sentido entre os diferentes grupos etriosquando comparados entre si e entre as amostras das dife-rentes nacionalidades. As mulheres idosas deram maisnfase a conceitos humanistas, sociais e culturais, corro-borando outras descobertas (por exemplo, Reker & Wong,

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    Sommerhalder, C. (2010). Sentido de Vida na Fase Adulta e Velhice.

    1988) e apontando para uma constncia da importnciada realizao individual, com o envelhecimento, e umaumento na atribuio de sentido para a tica social erespeito ao outro, incluindo a famlia. Tanto para asmulheres israelenses quanto para as australianas, oenvolvimento em relaes pessoais foi a mais importan-te fonte de sentido.

    Essas descobertas evidenciaram uma diversificaonas fontes de sentido na vida entre todos os grupos etrios;porm, foram encontradas particularidades entre os gru-pos, alm da constatao de que determinadas fontesesto relacionadas com a idade. Todos os grupos atri-buram grande importncia a relacionamento pessoal,preocupao humanista e participao em atividades delazer. Os grupos mais velhos foram unnimes em rela-o importncia de preservar valores e ideais huma-nos. Os homens mais velhos deram grande importncia segurana financeira e os grupos mais jovens enfoca-ram experincias de crescimento pessoal. As fontes desentido que refletem transcendncia do self foram signi-ficativamente mais importantes para os grupos de ho-mens mais velhos, quando comparados com os jovens.Para os jovens, as fontes ligadas ao self foram as maisimportantes (experincia de crescimento pessoal, deixarlegado para as prximas geraes e participao ematividades hedonistas como jogos, festas etc.). Fontesauto-orientadas, como realizao pessoal, foram maisrelevantes para os grupos mais jovens. Os homens maisvelhos demonstraram mais interesses em reas de sentidoque transcendiam o self, do que naquelas que refletiampreocupao com o self, com exceo da satisfao denecessidades bsicas.

    As informaes obtidas nos estudos de Prager (1996,1997) e Reker e Wong (1988) permitem afirmar que asfontes de sentido relacionamento pessoal e satisfao denecessidades bsicas so comuns aos indivduos adultos,mas no se pode deixar de considerar que o sentido devida tambm adquirido socialmente e que varia de umacultura para outra. Em relao ao gnero, Prager (1996)e Reker e Wong (1988) encontraram mais semelhanasdo que diferenas nas fontes de sentido entre homens emulheres. No entanto, atividades criativas, relaciona-mento pessoal, servir aos outros, preservao de valorese ideais humanos e atividades religiosas foram mais fre-quentes entre as mulheres. Tais descobertas so impor-tantes para a reflexo sobre a influncia da cultura, dafaixa etria e do gnero na atribuio de valor para osdiversos aspectos da vida. Esses achados devem serconsiderados nos delineamentos de pesquisas e nasconcluses sobre o que importante para o viver.

    Outros estudos tambm apontam os mesmos resulta-dos dos estudos transculturais. Anchoo e Levi (1995)investigaram as fontes de sentido na vida entre idosos nafaixa etria de 61 a 84 anos, e assim as situaram: rela-cionamento, altrusmo, criatividade, realizao/statussocial, segurana, crescimento espiritual e aumento deposses materiais, atividades de lazer, preservao de

    valores e ideais humanos, sobrevivncia, continuidadedo self e geratividade, apreciao da natureza e das artesem geral. Ranst e Marcoen (1997) observaram que indi-vduos mais velhos tm mais habilidades para perceberalguma perspectiva na vida, porque j viveram o bastan-te para avaliar no que efetivamente vale a pena investir,e se consideram mais realizadores de metas ou em pro-cesso de realizao do que os mais jovens. No Brasil,Freire (2001) tambm encontrou esses dados. A expli-cao para tais resultados est associada percepo derealizao de tarefas evolutivas: os jovens ainda estoconfigurando suas unies afetivas, consolidando-se pro-fissionalmente, escolhendo e sedimentando suas escolhas.Os idosos j passaram por isso, e agora se voltam paratarefas que consideram mais significativas, nas quaisvalha a pena investir. A capacidade de perceber a situa-o e as capacidades realizadoras de modo mais realistaauxilia no sucesso de persecuo e efetivao das metas.

    Somente estudos longitudinais poderiam dar informa-es mais precisas sobre como a maturidade e o processode envelhecimento humano interagem, assim como so-bre a constante necessidade de adaptao e ajuste paraalteraes no desenvolvimento e os esforos para manterestabilidade e continuidade no sentido de vida. Os estu-dos transversais, com diferentes grupos etrios, retratamapenas momentos especficos da vida dos indivduos,mas como tm menor exigncia operacional, custo maisreduzido e demandam menos tempo, so mais utiliza-dos. H necessidade de dados longitudinais, mas isso nodiminui a importncia das pesquisas transversais.

    Essas descobertas indicam direes sobre as fontes desentido na vida, como elas se apresentam e como sopercebidas na fase adulta. Tambm so de grande rele-vncia para uma melhor compreenso da atribuio designificado ao longo da vida adulta e da velhice.

    Concluso

    crescente o nmero de estudos sobre o sentido devida, ou seja, sobre o significado atribudo quilo que de grande valia para o viver, os quais fornecem impor-tantes informaes sobre pontos relevantes do processode adaptao e de estmulo da vontade de viver. Essesdados contribuem enormemente para o estudo do de-senvolvimento humano, para a compreenso da estabi-lidade e/ou mudana em fatores associados adaptaoe ao ajustamento temas esses ligados sade geral. Noprocesso de envelhecimento, cada vez mais os recursosinternos de enfrentamento so requeridos, porque os in-divduos esto mais expostos a perdas de todos os tipos,as quais se constituem em fatores que interferem na von-tade de viver.

    Os dois principais grupos de pesquisas do grandescontribuies para a Psicologia. Os estudos que definemo construto mostram como ele pode ser importante paraa sade, na medida em que apontam melhores resul-tados na recuperao de doenas, no enfrentamento de

  • Psicologia: Reflexo e Crtica, 23 (2), 270-277.

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    enfermidades de entes queridos e menores chances deadoecer. Em relao ao aporte para o estudo do desen-volvimento do adulto, as pesquisas apontam para acontinuidade do sentido na vida e continuidade do selfao longo da vida. Quanto pesquisa sobre as fontes desentido na vida, a maior contribuio relativa des-coberta dos pontos mais relevantes para os indivduosna atribuio de significado vida. Nessa perspectiva,os estudos transculturais do pistas importantes sobre fa-tores que so comuns ao gnero e faixa etria, como,por exemplo, o fato de as mulheres priorizarem concei-tos humanistas, sociais e culturais. J os homens valo-rizaram segurana financeira. Os homens mais velhosdemonstraram interesse em reas de sentido que trans-cendiam o self, enquanto os mais jovens priorizaram reasque refletiam preocupao com o self, como experin-cias de crescimento e realizao pessoal, deixar legadopara as prximas geraes e participao em atividadeshedonistas. J satisfao de necessidades bsicas, rela-es pessoais, preservao de valores e ideais humanosforam apontadas pela maioria dos indivduos adultos, oque indica que algumas fontes de sentido podem ser co-muns espcie. Mas essas mesmas pesquisas alertampara a importncia dos fatores relevantes para o viver eda cultura na atribuio de significado.

    A dedicao dos pesquisadores ao tema aprimorou osinstrumentos disponveis, porm, ainda so necessriosmais dados, de diferentes culturas e grupos etrios, paraque se possa compreender melhor os caminhos do de-senvolvimento das fontes de sentido na vida e clarificarsua evoluo e possveis mudanas e/ou continuidade aolongo da vida. Nesse sentido, dados de estudos longitu-dinais e mais informaes de pesquisas transculturaisseriam de grande valia. Tambm importante que osinstrumentos de pesquisa sejam adaptados realidadede cada pas, uma vez que a cultura se apresenta comofator relevante.

    Os dois grupos de pesquisas revelam uma grande pos-sibilidade de continuidade na atribuio de importnciade algumas fontes de significado. Revelam tambm asimilaridade na escala de valores de alguns fatores,independentemente da cultura, o que permite concluirque componentes do sentido de vida so reconhecidospelos indivduos, independentemente de onde eles vivem,e fazem parte do desenvolvimento.

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    Recebido: 12/01/20091 reviso: 21/04/2009

    Aceite final: 16/06/2009